20.01.2015 Views

A pedagogia de Rui Barbosa - Fundação Casa de Rui Barbosa

A pedagogia de Rui Barbosa - Fundação Casa de Rui Barbosa

A pedagogia de Rui Barbosa - Fundação Casa de Rui Barbosa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Assim aconteceu com <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong><br />

Não partiu <strong>de</strong> um sistema rígido <strong>de</strong> filosofia para a educação, embora aos<br />

sistemas conhecesse – como no estudo <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong> e os livros, bem <strong>de</strong>monstra Homero<br />

Pires, e como ele próprio <strong>de</strong>clarou: “Percorri as filosofias, mas nenhuma me saciou: não<br />

encontrei repouso em nenhuma” Talvez se possa dizer <strong>de</strong> <strong>Rui</strong> o que já se disse <strong>de</strong><br />

Carlyle, cuja filosofia não era <strong>de</strong> base rigorosamente especulativa, nem <strong>de</strong> base empírica,<br />

mas uma simples filosofia da vida, inseparável da experiência pessoal Partiu ele, por<br />

isso mesmo, das dificulda<strong>de</strong>s sociais e políticas, tais como as sentia, tais como as vivia,<br />

para um sistema que se <strong>de</strong>finiu numa teoria <strong>de</strong> educação, para reforma do homem e<br />

instituições políticas<br />

Po<strong>de</strong> ser assim respondido o dito mordaz <strong>de</strong> Capistrano <strong>de</strong> Abreu, ao afirmar<br />

que o que faltava a <strong>Rui</strong> era “uma filosofia” A observação do historiador po<strong>de</strong>ria ter tido<br />

apenas sentido jocoso, freqüente na sua bonomia, tomando-se a palavra na significação<br />

popular <strong>de</strong> indiferença a princípios e convicções Mas, exatamente nesse sentido, é que<br />

<strong>Rui</strong> não con<strong>de</strong>scendia, não podia transigir Justamente por possuir uma filosofia <strong>de</strong> vida, e<br />

<strong>de</strong>finida, é que não lhe sobrava a “filosofia”, em certo sentido vulgar do termo<br />

Ter uma filosofia <strong>de</strong> vida, austera e vigilante, é viver, como ele viveu, na qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> “homo sapiens”, sobrepondo-se sempre ao “homo lu<strong>de</strong>ns”, que em cada um <strong>de</strong> nós<br />

tenta existir E, <strong>de</strong> tal forma o fazia, que o seu estilo era “a linha reta entre a consciência e<br />

o <strong>de</strong>ver” Esse estilo imprimia-lhe à sensibilida<strong>de</strong> o sentido escrupuloso das obrigações,<br />

por vezes incômodo e <strong>de</strong>sconcertante aos outros; dava-lhe o gosto dialético, com<br />

indisfarçável consciência <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong> mental; impunha-lhe, enfim, aquela feição <strong>de</strong><br />

espírito que lhe retirava, <strong>de</strong> modo quase completo, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar <strong>de</strong> ironia para<br />

consigo mesmo<br />

As idéias humanitárias e igualitárias em que formara o espírito, as do século<br />

XVIII, não as baseara <strong>Rui</strong> em crenças religiosas, mas, num tipo <strong>de</strong> ética estóica cuja expressão<br />

vai se aclarar no voluntarismo <strong>de</strong> Kant<br />

Nesse sistema [sintetiza Cassirer] 7 a pedra fundamental é a idéia <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, e liberda<strong>de</strong><br />

significa autonomia É o princípio <strong>de</strong> que o sujeito moral <strong>de</strong>ve obe<strong>de</strong>cer somente<br />

às regras que ele próprio se imponha O homem não é apenas um meio que possa ser<br />

empregado para fins externos; é o próprio legislador no reino da finalida<strong>de</strong> que busque,<br />

nisso residindo a sua verda<strong>de</strong>ira dignida<strong>de</strong>, o seu privilégio sobre as coisas físicas<br />

Ou, nas próprias palavras <strong>de</strong> Kant:<br />

No reino dos fins, todas as coisas têm preço e dignida<strong>de</strong> Tudo o que tenha preço é<br />

permutável por outra coisa, po<strong>de</strong> ser substituída por coisa diferente Por outro lado,<br />

aquele que se coloque acima <strong>de</strong> qualquer preço, não admitindo, portanto, nenhum<br />

equivalente, atinge ao nível da dignida<strong>de</strong> Assim, tão-só na moralida<strong>de</strong> e na humanida<strong>de</strong>,<br />

é que o sujeito da dignida<strong>de</strong> se revela<br />

A certeza da lei moral, do imperativo categórico, é a base da vida <strong>de</strong> <strong>Rui</strong> Aí se<br />

<strong>de</strong>svenda, sem dúvida, o seu traço estóico Essa era também a fonte <strong>de</strong> sua filosofia do<br />

direito e da educação Todos os seus escritos estão repassados <strong>de</strong>ssa idéia<br />

No segundo parecer, porém, o do ensino primário, e que mais a aclara, quando diz:<br />

Instruir não é simplesmente acumular conhecimentos, mas cultivar as faculda<strong>de</strong>s por<br />

on<strong>de</strong> os adquirimos e utilizamos a bem do nosso <strong>de</strong>stino Se não as educamos simultaneamente<br />

na direção da esfera intelectual e na direção da esfera moral, tê-las-emos<br />

7 Cassirer, E El problema <strong>de</strong>l conocimento <strong>de</strong> la muerte <strong>de</strong> Hegel a nuestros dias Trad <strong>de</strong> W Roces México : Fondo <strong>de</strong><br />

Cultura Económica, 1948<br />

42 A <strong>pedagogia</strong> <strong>de</strong> <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!