A pedagogia de Rui Barbosa - Fundação Casa de Rui Barbosa
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força, prestes <strong>de</strong>cepado Tanto mais <strong>de</strong> lamentar quanto a educação do povo constituiu em<br />
seu pensamento político um dos fundamentos <strong>de</strong> doutrina e a maior justificativa <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
social que o iluminava <strong>Rui</strong>, é certo, não viria renegar a obra pedagógica, como se vê das<br />
referências expressas aos pareceres, em artigos do Diário <strong>de</strong> Notícias, em 1889, e na plataforma<br />
política <strong>de</strong> 1909 Mas, em prol dos princípios e diretrizes aí estabelecidos, não mais<br />
batalhou, não mais lutou com aquele ardor inicial, com aquele ímpeto e fogo, que o levavam<br />
a dizer: “Um batalhador não po<strong>de</strong> ser um apóstolo”<br />
De modo que, ao traçar o projeto <strong>de</strong> constituição da República, o homem que<br />
tanto acreditava no po<strong>de</strong>r criador da lei, e que, assim, aí po<strong>de</strong>ria ter tentado dar corpo às<br />
suas concepções <strong>de</strong> reforma político-social pela educação, já não o fez Susteve a mão e a<br />
pena, para lavrar o círculo restrito da compreensão jurídica do Estado Pois, então, a ignorância<br />
popular já não seria para ele, como nos pareceres escreve,<br />
a mãe da servilida<strong>de</strong> e da miséria, a gran<strong>de</strong> ameaça à existência constitucional e livre<br />
da nação, o formidável inimigo intestino que se asila nas entranhas da pátria Ou,<br />
como no discurso em <strong>de</strong>fesa do gabinete Martinho Campos, em março <strong>de</strong> 1882, a reforma<br />
do ensino já não seria “o germe e a seiva, a base e o fastígio, o alfa e o ômega, o<br />
princípio e o fim <strong>de</strong> tudo<br />
Sim, ainda eram Na plataforma política <strong>de</strong> 1909 ele o confirma, <strong>de</strong>clarando<br />
que, em matéria <strong>de</strong> ensino, não teria por que <strong>de</strong>morar-se dado que suas idéias estavam<br />
“amplamente <strong>de</strong>senvolvidas nos dois gran<strong>de</strong>s pareceres <strong>de</strong> 1882” Também ali reafirmou<br />
que “a instrução do povo, ao mesmo tempo que o civiliza e melhora, tem especialmente em<br />
mira (notai o valor do advérbio) habilitá-lo a se governar a si mesmo”<br />
Embora com menos ardimento, ainda aí admite o primitivo esquema: “liberda<strong>de</strong>,<br />
igual a <strong>de</strong>mocracia; <strong>de</strong>mocracia, igual a instrução do povo” Eco <strong>de</strong> velhas idéias, não<br />
abandonadas<br />
Para que o entendamos, em toda a intenção, será preciso relembrar, porém,<br />
algumas das tendências sociais da época em que tratou das coisas do ensino Foi no século<br />
passado, como é sabido, que os sistemas públicos <strong>de</strong> educação começaram a expandir-se,<br />
tanto por motivos políticos, como por imperativos diretos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social É o momento<br />
da legislação escolar e o da criação dos ministérios <strong>de</strong> instrução pública, por quase todos<br />
os países da Europa, e fora <strong>de</strong>la A política começava a penetrar a dinâmica social, ou<br />
pretendia <strong>de</strong>scobrir-lhe o <strong>de</strong>terminismo, por essa feição um pouco simplista, talvez, mas<br />
em rápido <strong>de</strong>senvolvimento<br />
O pensamento político – não o literário e o filosófico – prolongava, então, o do<br />
século XVIII, e tinha como preocupação a melhoria da vida social pela cultura Certas<br />
idéias, que já vinham <strong>de</strong> Platão, tomam novo brilho em Rousseau e Kant, agitam-se na<br />
Revolução Francesa e afirmam-se na <strong>de</strong>finição dos Estados <strong>de</strong> base nacional Entendia-se,<br />
com muita razão, que não po<strong>de</strong> haver nação sem um lastro comum <strong>de</strong> pensamento e sentimento;<br />
e que, nessa atuação, a escola, já sem tanta razão, haveria <strong>de</strong> ser todo po<strong>de</strong>rosa A<br />
revolução havia indicado o rumo; os Estados <strong>de</strong> base nacional lançavam-se resolutamente<br />
à tarefa Von Humboldt, ao ser chamado a reorganizar o ensino da Prússia, em 1806, não<br />
hesitava em afirmar: “O que havemos <strong>de</strong> pôr <strong>de</strong>ntro do Estado, <strong>de</strong>vamos antes, pôr, <strong>de</strong>ntro<br />
da escola”<br />
Napoleão, ele próprio, já o havia também compreendido, como o relembra <strong>Rui</strong><br />
nesta passagem do parecer sobre o ensino primário:<br />
É bem digna <strong>de</strong> recordar sempre, a este propósito, aquela expansão íntima, aquela<br />
eloqüente confidência do déspota, cujas invasões foram, inconscientemente, no começo<br />
<strong>de</strong>ste século, o maior instrumento <strong>de</strong> propagação das idéias liberais na Europa No<br />
zênite <strong>de</strong>ssa onipotência que representava a mais <strong>de</strong>slumbrante glorificação imaginável<br />
A <strong>pedagogia</strong> <strong>de</strong> <strong>Rui</strong> 39