A pedagogia de Rui Barbosa - Fundação Casa de Rui Barbosa
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não é mais essa eminente abstração moral, armada dos recursos da força coletiva, por<br />
interesse <strong>de</strong> todos, em apoio do direito <strong>de</strong> cada um; <strong>de</strong>saparece-lhe esse caráter impessoal,<br />
que constitui a sua eminência e a sua legitimida<strong>de</strong>, para <strong>de</strong>ixar em relevo, <strong>de</strong>scoberto,<br />
nu, em todo o odioso das paixões pessoais, ou do espírito <strong>de</strong> parcialida<strong>de</strong> que o anima, o<br />
grupo, mais ou menos numeroso dos homens que governam Se o Estado não tem fé, nem<br />
escola, essa neutralida<strong>de</strong>, igualando às <strong>de</strong> todos a religião e a opinião dos homens que<br />
atualmente ocupam as posições supremas, é a segurança imparcial <strong>de</strong> todas as escolas e<br />
<strong>de</strong> todas as crenças; mas, se é legítimo que o Estado tenha um mol<strong>de</strong> obrigatório para o<br />
ensino, longe <strong>de</strong> assentar, com isso, a perpetuida<strong>de</strong> eterna <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong>, não<br />
estabelecereis senão a inamovibilida<strong>de</strong> da intolerância (X, II, 5)<br />
Para que a filosofia não <strong>de</strong>stoe <strong>de</strong>ste nome, há <strong>de</strong> começar por se conhecer a si mesma,<br />
por confessar a sua falibilida<strong>de</strong>, por buscar na consignação dos próprios erros a autorida<strong>de</strong><br />
moral precisa para censurar os contrários; há <strong>de</strong> evitar a tentação <strong>de</strong> erigir em<br />
pontífices os seus chefes <strong>de</strong> escola, e não jurar indistintamente na palavra dos seus<br />
Aristóteles; e nós, que vemos <strong>de</strong>fendida, no grêmio do positivismo, pelo eminente<br />
continuador <strong>de</strong> Comte, (Littré) a interferência do Estado na instrução nacional, não<br />
po<strong>de</strong>mos hesitar um instante em pedir a reconstituição do organismo, que o <strong>de</strong>ve habilitar<br />
a satisfazer eficazmente essa missão civilizadora<br />
Daí o firmarmos o direito supremo do Estado à colação dos graus, direito que aliás o<br />
próprio Comte lhe reservava (X, I, 89)<br />
No regime da instrução facultativa, impor certa e <strong>de</strong>terminada qualida<strong>de</strong> ao ensino é a<br />
mais sensível das contradições; porque, se a lei protege o direito <strong>de</strong> ser analfabeto,<br />
como nos recusará o <strong>de</strong> contentar-nos com uma instrução imperfeita No regime do<br />
ensino obrigatório, é intoleravelmente odioso; porque é impor a instrução e o mestre,<br />
pren<strong>de</strong>r as gerações novas no mol<strong>de</strong> invariável do po<strong>de</strong>r<br />
Obrigar à instrução elementar é necessida<strong>de</strong> e justiça Necessida<strong>de</strong>; porque a socieda<strong>de</strong><br />
humana carece imprescindivelmente <strong>de</strong> que a inteligência dos seus membros preencha<br />
ao menos as suas funções rudimentares, as quais sem certas bases <strong>de</strong> instrução não po<strong>de</strong>m<br />
atingir o Estado normal Justiça; porque a paternida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> justificar a sua soberania,<br />
até ao ponto <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nar a prole in<strong>de</strong>fesa ao estado mentalmente embrionário da<br />
ignorância absoluta Ante a negligência ou indigência dos pais, essa intervenção é para o<br />
Estado, na frase insuspeita do católico Montalembert, “um direito e um <strong>de</strong>ver” Este <strong>de</strong>ver<br />
e este direito são fatalmente limitados pelo seu objeto: a substituição da ignorância popular<br />
pela instrução popular Um e outro param, portanto, em relação a cada indivíduo, na<br />
prova, a que <strong>de</strong>ve ficar adstrito, <strong>de</strong> ter adquirido os primeiros elementos do ensino geral<br />
Fixe-e o mínimo das matérias constitutivas da educação escolar Submeta-se a população<br />
obrigada a ela, que não freqüentar a escola pública, a uma verificação regular <strong>de</strong> que<br />
realmente se instrui na escola in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, ou no seio da família Nada mais (X, II, 19)<br />
x 4 O ensino religioso<br />
Os direitos da consciência católica não são menos sagrados, para os propugnadores<br />
da secularização da escola, do que os direitos da consciência filosófica Não nos iludamos,<br />
porém, quanto ao sentido <strong>de</strong>ssa expressão O romanismo con<strong>de</strong>na como injurioso<br />
a um direito da Igreja o casamento civil; reclama como corolário <strong>de</strong> outro direito<br />
seu o privilégio <strong>de</strong> foro para os seus ministros; e como direito seu afirma não<br />
menos a soberania <strong>de</strong> vedar a palavra livre aos dissi<strong>de</strong>ntes e aos incrédulos Mas<br />
nenhuma <strong>de</strong>ssas pretensões exprime um direito; porque todas, pelo contrário, encerram<br />
a fórmula <strong>de</strong> um monopólio Nenhuma consciência tem um direito, que não seja<br />
comum a todas as consciências Eis o característico do direito Todas as consciências<br />
possuem o direito <strong>de</strong> traduzir exteriormente a sua convicção, ou a sua crença; e por<br />
isso é direito da consciência católica ensinar livremente o catecismo Todas têm direito<br />
128 A <strong>pedagogia</strong> <strong>de</strong> <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong>