20.01.2015 Views

A pedagogia de Rui Barbosa - Fundação Casa de Rui Barbosa

A pedagogia de Rui Barbosa - Fundação Casa de Rui Barbosa

A pedagogia de Rui Barbosa - Fundação Casa de Rui Barbosa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

não é mais essa eminente abstração moral, armada dos recursos da força coletiva, por<br />

interesse <strong>de</strong> todos, em apoio do direito <strong>de</strong> cada um; <strong>de</strong>saparece-lhe esse caráter impessoal,<br />

que constitui a sua eminência e a sua legitimida<strong>de</strong>, para <strong>de</strong>ixar em relevo, <strong>de</strong>scoberto,<br />

nu, em todo o odioso das paixões pessoais, ou do espírito <strong>de</strong> parcialida<strong>de</strong> que o anima, o<br />

grupo, mais ou menos numeroso dos homens que governam Se o Estado não tem fé, nem<br />

escola, essa neutralida<strong>de</strong>, igualando às <strong>de</strong> todos a religião e a opinião dos homens que<br />

atualmente ocupam as posições supremas, é a segurança imparcial <strong>de</strong> todas as escolas e<br />

<strong>de</strong> todas as crenças; mas, se é legítimo que o Estado tenha um mol<strong>de</strong> obrigatório para o<br />

ensino, longe <strong>de</strong> assentar, com isso, a perpetuida<strong>de</strong> eterna <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong>, não<br />

estabelecereis senão a inamovibilida<strong>de</strong> da intolerância (X, II, 5)<br />

Para que a filosofia não <strong>de</strong>stoe <strong>de</strong>ste nome, há <strong>de</strong> começar por se conhecer a si mesma,<br />

por confessar a sua falibilida<strong>de</strong>, por buscar na consignação dos próprios erros a autorida<strong>de</strong><br />

moral precisa para censurar os contrários; há <strong>de</strong> evitar a tentação <strong>de</strong> erigir em<br />

pontífices os seus chefes <strong>de</strong> escola, e não jurar indistintamente na palavra dos seus<br />

Aristóteles; e nós, que vemos <strong>de</strong>fendida, no grêmio do positivismo, pelo eminente<br />

continuador <strong>de</strong> Comte, (Littré) a interferência do Estado na instrução nacional, não<br />

po<strong>de</strong>mos hesitar um instante em pedir a reconstituição do organismo, que o <strong>de</strong>ve habilitar<br />

a satisfazer eficazmente essa missão civilizadora<br />

Daí o firmarmos o direito supremo do Estado à colação dos graus, direito que aliás o<br />

próprio Comte lhe reservava (X, I, 89)<br />

No regime da instrução facultativa, impor certa e <strong>de</strong>terminada qualida<strong>de</strong> ao ensino é a<br />

mais sensível das contradições; porque, se a lei protege o direito <strong>de</strong> ser analfabeto,<br />

como nos recusará o <strong>de</strong> contentar-nos com uma instrução imperfeita No regime do<br />

ensino obrigatório, é intoleravelmente odioso; porque é impor a instrução e o mestre,<br />

pren<strong>de</strong>r as gerações novas no mol<strong>de</strong> invariável do po<strong>de</strong>r<br />

Obrigar à instrução elementar é necessida<strong>de</strong> e justiça Necessida<strong>de</strong>; porque a socieda<strong>de</strong><br />

humana carece imprescindivelmente <strong>de</strong> que a inteligência dos seus membros preencha<br />

ao menos as suas funções rudimentares, as quais sem certas bases <strong>de</strong> instrução não po<strong>de</strong>m<br />

atingir o Estado normal Justiça; porque a paternida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> justificar a sua soberania,<br />

até ao ponto <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nar a prole in<strong>de</strong>fesa ao estado mentalmente embrionário da<br />

ignorância absoluta Ante a negligência ou indigência dos pais, essa intervenção é para o<br />

Estado, na frase insuspeita do católico Montalembert, “um direito e um <strong>de</strong>ver” Este <strong>de</strong>ver<br />

e este direito são fatalmente limitados pelo seu objeto: a substituição da ignorância popular<br />

pela instrução popular Um e outro param, portanto, em relação a cada indivíduo, na<br />

prova, a que <strong>de</strong>ve ficar adstrito, <strong>de</strong> ter adquirido os primeiros elementos do ensino geral<br />

Fixe-e o mínimo das matérias constitutivas da educação escolar Submeta-se a população<br />

obrigada a ela, que não freqüentar a escola pública, a uma verificação regular <strong>de</strong> que<br />

realmente se instrui na escola in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, ou no seio da família Nada mais (X, II, 19)<br />

x 4 O ensino religioso<br />

Os direitos da consciência católica não são menos sagrados, para os propugnadores<br />

da secularização da escola, do que os direitos da consciência filosófica Não nos iludamos,<br />

porém, quanto ao sentido <strong>de</strong>ssa expressão O romanismo con<strong>de</strong>na como injurioso<br />

a um direito da Igreja o casamento civil; reclama como corolário <strong>de</strong> outro direito<br />

seu o privilégio <strong>de</strong> foro para os seus ministros; e como direito seu afirma não<br />

menos a soberania <strong>de</strong> vedar a palavra livre aos dissi<strong>de</strong>ntes e aos incrédulos Mas<br />

nenhuma <strong>de</strong>ssas pretensões exprime um direito; porque todas, pelo contrário, encerram<br />

a fórmula <strong>de</strong> um monopólio Nenhuma consciência tem um direito, que não seja<br />

comum a todas as consciências Eis o característico do direito Todas as consciências<br />

possuem o direito <strong>de</strong> traduzir exteriormente a sua convicção, ou a sua crença; e por<br />

isso é direito da consciência católica ensinar livremente o catecismo Todas têm direito<br />

128 A <strong>pedagogia</strong> <strong>de</strong> <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!