14 PERDA DE MEMÓRIA E INDEPENDÊNCIA ASSIMPTÓTICA 94 <strong>de</strong>m. Por simplici<strong>da</strong><strong>de</strong>, assumimos que λ seja um inteiro > 1. A i<strong>de</strong>ia é construir uma conjugação entre os conjuntos <strong>da</strong>s pré-imagens <strong>de</strong> um ponto fixo pelas itera<strong>da</strong>s <strong>de</strong> f e ×λ, e aproveitar <strong>do</strong> fato <strong>de</strong>les ser <strong>de</strong>nsos para exten<strong>de</strong>r a conjugação em to<strong>do</strong> o círculo. Sejam x i k = i/λk com i = 0, 1, ..., λ k − 1. Então ×λ(x i k ) = xi′ k−1 , on<strong>de</strong> i′ é o único inteiro entre 0 e λ k−1 − 1 tal que i = i ′ mod λ k−1 . Sejam F um levantamento <strong>de</strong> f, e p o ponto fixo <strong>de</strong> F . Como F é estrictamente crescente e F (p + 1) = p + λ, existem p = y1 0 < y1 1 < ... < y1 λ−1 < p + 1 tais que F (y1) i = p + i. Indutivamente (em k) <strong>de</strong>finimos os pontos yk i com i = 0, 1, ..., λk − 1 tais que y i k−1 = y λi k < y λi+1 k < ...y λi+λ−1 k < y λi+λ k = y i+1 k−1 e F (yk i ) = yi′ k−1 , on<strong>de</strong> i′ é o único inteiro entre 0 e λ k−1 − 1 tal que i = i ′ mod λ k−1 . Para ca<strong>da</strong> intervalo Ik i = π ([ yk i , ]) yi+1 k temos que f k (Ik i ) = R/Z. Como f é expansora, i.e. existe µ > 1 tal que |F ′ (x)| > µ em to<strong>do</strong> ponto x, ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>sses intervalos tem comprimento ∣ ∣ I i k < µ −k , e portanto a família <strong>de</strong> pontos { } yk i é <strong>de</strong>nsa em [p, p + 1]. A função k∈N, i=0,1,...,m k −1 H : { yk i } k∈N, i=0,1,...,λ k −1 → { x i } k k∈N, i=0,1,...,λ k −1 <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> por H(y i k ) = xi k é estritamente monótona. A <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s pontos { y i k} e { x i k } permite exten<strong>de</strong>r H como um homeomorfismo H : [p, p + 1] → [0, 1], logo como um homeomorfismo h : R/Z → R/Z. Vê-se facilmente que ×λ ◦ h = h ◦ f. Em particular, <strong>da</strong><strong>da</strong> uma transformação expansora <strong>do</strong> círculo f : R/Z → R/Z <strong>de</strong> classe C 1 , to<strong>da</strong> transformação g suficientemente próxima <strong>de</strong> f na topologia C 1 é topologicamente conjuga<strong>da</strong> a f, porque a expansivi<strong>da</strong><strong>de</strong> é uma condição aberta, e o grau é localmente constante (pois é uma função contínua com valores inteiros). Acabamos <strong>de</strong> provar o seguinte Teorema. As transformações expansoras <strong>do</strong> círculo <strong>de</strong> classe C 1 são C 1 -estruturalmente estáveis. 14.6 Automorfismos hiperbólicos <strong>do</strong> toro A expansivi<strong>da</strong><strong>de</strong> não é necessária para induzir o mixing topológico. Foi o Dmitri Victorovich Anosov que, a partir <strong>do</strong>s exemplos geométricos <strong>do</strong>s fluxos geodésicos em superficies <strong>de</strong> curvatura negativa estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s por Ha<strong>da</strong>mard, Hopf, ..., <strong>de</strong>scobriu nos anos sessenta uma classe muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformações ”<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s” e estruturalmente estáveis. O protótipo é a familia <strong>do</strong>s automorfismos hiperbólicos <strong>do</strong> toro. O toro <strong>de</strong> dimensão <strong>do</strong>is é o espaço quociente R 2 /Z 2 . Uma aplicação linear A : R 2 → R 2 , <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> por uma matriz 2×2 com coeficientes inteiros, induz uma aplicação contínua f : R 2 /Z 2 → R 2 /Z 2 , <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> por f ( x + Z 2) = A (x) + Z 2 Se a matriz A tem <strong>de</strong>terminante ±1, então também a sua inversa tem coeficientes inteiros, logo respeita o retículo Z 2 , e portanto f é invertível, é um ”automorfismo” <strong>do</strong> toro. A existência <strong>de</strong> tais homeomorfismos é <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> a razões aritméticas: as linhas e as colunas <strong>de</strong>stas matrizes são pares <strong>de</strong> intéiros relativamente primos. Os automorfismos <strong>do</strong> toro que preservam a orientação, i.e. induzi<strong>do</strong>s por matrizes com <strong>de</strong>terminante +1, formam o grupo SL(2, Z). Um exemplo é o automorfismo f induzi<strong>do</strong> pela matriz ( ) 2 1 A = 1 1 É imediato verificar que, se x ∈ R 2 /Z 2 é um ponto periódico, então as suas coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s são racionais. Por outro la<strong>do</strong>, o conjunto <strong>do</strong>s pontos <strong>do</strong> toro cujas coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s são múltiplos inteiros <strong>de</strong> 1/n é um conjunto finito e +invariante. Isto implica que to<strong>do</strong>s os pontos com coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s racionais são periódicos, e portanto que os pontos periódicos são <strong>de</strong>nsos. Também, é possível mostrar que |Per n (f)| = |<strong>de</strong>t (A n − id)|. Os autovalores <strong>de</strong> A são λ + = 3 + √ 5 2 e λ − = 3 − √ 5 2
14 PERDA DE MEMÓRIA E INDEPENDÊNCIA ASSIMPTÓTICA 95 Como A é simétrica, os vetores próprios são ortogonais. Resulta que R 2 é a soma direta E + ⊕ E − <strong>do</strong>s espaços próprios <strong>de</strong> A. A transformação A estica os vetores <strong>de</strong> E + pelo fator λ + e contrai os vetores <strong>de</strong> E − pelo fator λ − . Observe que f preserva a área, pois λ + · λ − = 1, mas não preserva as ”formas”. As projeções <strong>da</strong> linhas x + E ± ⊂ R 2 em R 2 /Z 2 contêm as órbitas <strong>de</strong> uma translação minimal <strong>do</strong> toro (porque λ ± são irracionais) e portanto são <strong>de</strong>nsas. Seja R um pequeno quadra<strong>do</strong> com la<strong>do</strong>s <strong>de</strong> comprimento ε paralelos às linhas E ± . A imagem f n (R) é um ”retângulo” com la<strong>do</strong>s ε · λ n + e ε · λ n −, paralelos às linhas E ± , respetivamente. Quan<strong>do</strong> n cresce, o complementar ( R 2 /Z 2) \f n (R) não contém bolas <strong>de</strong> raio maior <strong>de</strong> ε, on<strong>de</strong> ε → 0 quan<strong>do</strong> n → ∞, logo f n (R) interseta estavelmente ca<strong>da</strong> aberto não vazio <strong>do</strong> toro. Isto mostra que f é topologicamente mixing. O resulta<strong>do</strong> realmente interessante é o teorema <strong>de</strong> Anosov, que diz que f é C 1 -estruturalmente estável.