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My title - Departamento de Matemática da Universidade do Minho

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14 PERDA DE MEMÓRIA E INDEPENDÊNCIA ASSIMPTÓTICA 91<br />

Middle-third Cantor set.<br />

set”)<br />

O arquétipo é o conjunto <strong>de</strong> Cantor stan<strong>da</strong>rd (“middle-third Cantor<br />

K =<br />

{ ∞<br />

∑<br />

n=1<br />

x n<br />

3 n com x n ∈ {0, 2}<br />

}<br />

⊂ [0, 1]<br />

o conjunto <strong>do</strong>s números entre 0 e 1 cuja representação em base 3 utiliza só as letras 0 e 2.<br />

Outra <strong>de</strong>finição é K = [0, 1]\∪ ∞ k=1 I k , on<strong>de</strong> os intervalos abertos I k são <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s iterativamente<br />

<strong>da</strong> seguinte maneira: I 1 é o terço central ]1/3, 2/3[ <strong>de</strong> [0, 1], I 2 e I 3 são os terços centrais <strong>do</strong>s<br />

intervalos <strong>de</strong> [0, 1] \ I 1 , a saber ]1/9, 2/9[ e ]7/9, 8/9[, ...etc.<br />

Mais uma <strong>de</strong>finição é K = ∩ k≥0 K n , on<strong>de</strong><br />

K n =<br />

{ ∞<br />

∑<br />

n=1<br />

x n<br />

3 n com x 1, x 2 , ..., x k ∈ {0, 2} e x i ∈ {0, 1, 2} se i > k<br />

Observe que ... ⊂ K n+1 ⊂ K n ⊂ ... ⊂ K 0 = [0, 1], e que ca<strong>da</strong> K n é uma reunião disjunta <strong>de</strong> 2 n<br />

intervalos fecha<strong>do</strong>s <strong>de</strong> comprimento 3 −n . Em particular, K é compacto, pois é uma interseção<br />

enumerável <strong>de</strong> compactos encaixa<strong>do</strong>s.<br />

As estranhas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> conjunto <strong>de</strong> Cantor tem <strong>de</strong>monstrações muito simples observan<strong>do</strong><br />

que K é homeomorfo ao produto topológico {0, 2} N , i.e. ao espaço <strong>do</strong> <strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong> Bernoulli<br />

num alfabeto <strong>de</strong> duas letras. O homeomorfismo é simplesmente<br />

{0, 2} N ∋ x = (x 1 , x 2 , ..., x n , ...) ↦→<br />

∞∑<br />

x n /3 n ∈ K<br />

K não tem pontos isola<strong>do</strong>s, e portanto K ′ = K, i.e. é perfeito. De fato, um ponto x ∈<br />

K pertençe a uma interseção ∩ n≥1 J n , on<strong>de</strong> J n = [a n , b n ] são certas componentes conexas <strong>do</strong>s<br />

compactos K n . Logo, pelo menos as duas sucessões distintas (a n ) e (b n ) <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> K convergem<br />

para x, pois |b n − a n | = 3 −n → 0 quan<strong>do</strong> n → ∞.<br />

A componente conexa <strong>de</strong> to<strong>do</strong> ponto x ∈ K é {x}, i.e. K é totalmente <strong>de</strong>sconexo. De fato,<br />

sejam x e x ′ <strong>do</strong>is pontos distintos <strong>de</strong> K. Se n é suficientemente gran<strong>de</strong>, i.e. se 3 −n < d (x, x ′ ), os<br />

pontos x e x ′ estão em duas componentes conexas distintas <strong>de</strong> K n .<br />

A função {0, 2} N → {0, 2} N × {0, 2} N <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> por<br />

n=1<br />

(x 1 , x 2 , ..., x n , ...) ↦→ ((x 1 , x 3 , ..., x 2n−1 , ...), (x 2 , x 4 , ..., x 2n , ...))<br />

induz um homeomorfismo <strong>de</strong> K sobre K × K. Por indução, vê-se que K é homeomorfo a K n para<br />

to<strong>do</strong> n ∈ N. De fato, não é difícil provar que K é homeomorfo a K N .<br />

Observe que {0, 2} N é homeomorfo a {0, 1} N , e que a representação binária <strong>do</strong>s reais entre<br />

0 e 1 é uma aplicação contínua <strong>de</strong> {0, 1} N sobre o intervalo [0, 1]. Portanto, existe uma função<br />

contínua <strong>de</strong> K sobre o intervalo [0, 1], e em particular, pelo teorema <strong>de</strong> Schrö<strong>de</strong>r-Bernstein, K tem<br />

a cardinali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> intervalo.<br />

Outra proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> muito aprecia<strong>da</strong> <strong>do</strong> conjunto <strong>de</strong> Cantor é a “auto-similari<strong>da</strong><strong>de</strong>”. Assim<br />

como um intervalo compacto <strong>da</strong> reta é homeomorfo a to<strong>do</strong> seu subintervalo (não trivial) compacto,<br />

o conjunto <strong>de</strong> Cantor K contém muitos subconjuntos próprios homeomorfos a K. Por exemplo,<br />

a aplicação x ↦→ 3x <strong>de</strong>fine um homeomorfismo <strong>de</strong> K ∩ [0, 1/3] sobre K (isto não é casual, mas<br />

tem muito a ver com a dinâmica <strong>da</strong> transformação ×3 no círculo). De fato, to<strong>do</strong> aberto não vazio<br />

<strong>do</strong> conjunto <strong>de</strong> Cantor contém uma “cópia” <strong>do</strong> próprio conjunto. Formalmente, to<strong>do</strong> intervalo<br />

aberto <strong>da</strong> reta I tal que I ∩ K ≠ ∅ contém um subconjunto J ⊂ I ∩ K homeomorfo a K. Pois,<br />

se um intervalo aberto contém um ponto <strong>de</strong> K, então contém pelo menos uma <strong>da</strong>s componentes<br />

conexas <strong>de</strong> K n , digamos J n = [a n , b n ], <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que n seja suficientemente gran<strong>de</strong>. Não é difícil <strong>de</strong>pois<br />

arranjar um homeomorfismo (por exemplo afim, <strong>da</strong> forma x ↦→ 3 n (x − a n )) <strong>de</strong> J n sobre K.<br />

O “comprimento” (i.e. a medi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Lebesgue) <strong>de</strong> K é<br />

|K| = lim<br />

n→∞ |K n| = lim<br />

n→∞ 2n · 3 −n = 0 .<br />

O conjunto <strong>de</strong> Cantor é “muito pequeno”, mesmo ten<strong>do</strong> “o mesmo número <strong>de</strong> pontos” <strong>do</strong> intervalo!<br />

}

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