My title - Departamento de Matemática da Universidade do Minho
My title - Departamento de Matemática da Universidade do Minho
My title - Departamento de Matemática da Universidade do Minho
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
13 HOMEOMORFISMOS DO CÍRCULO 85<br />
<strong>de</strong>m. Pelo lema <strong>de</strong> Zorn, a família <strong>do</strong>s subconjuntos não vazios <strong>do</strong> círculo que são compactos<br />
e invariantes, parcialmente or<strong>de</strong>na<strong>da</strong> pela inclusão, admite um elemento minimal K. Pela<br />
minimali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a órbita <strong>de</strong> to<strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> K é <strong>de</strong>nsa em K. A fronteira ∂K e o conjunto <strong>de</strong>riva<strong>do</strong><br />
K ′ são compactos, invariantes e conti<strong>do</strong>s em K, logo têm que ser vazios ou iguais a K. O<br />
homemorfismo não tem pontos periódicos, logo K não po<strong>de</strong> ser finito. Pelo teorema <strong>de</strong> Bolzano-<br />
Weierstrass K ′ ≠ ∅, logo K ′ = K, i.e. K é perfeito. Se ∂K = ∅, então K = R/Z e portanto f<br />
é minimal. Se, por outro la<strong>do</strong>, ∂K = K, então K tem interior vazio. Seja x ∈ (R/Z) \K e seja<br />
I a componente conexa <strong>de</strong> (R/Z) \K que contém x. As imagens f n (I) são <strong>do</strong>is a <strong>do</strong>is disjuntas<br />
(sempre porque f não tem pontos periódicos), e portanto diam (f n (I)) → 0 quan<strong>do</strong> n → ∞. Se<br />
x ′ ∈ ∂I ⊂ K, então ω f (x ′ ) = K, e a observação anterior implica que também ω f (x) = K, pois<br />
d (f n (x), f n (x ′ )) ≤ diam (f n (I)) → 0 quan<strong>do</strong> n → ∞. Em particular, isto mostra que o conjunto<br />
minimal K é único.<br />
Mais interessante ain<strong>da</strong> é o seguinte resulta<strong>do</strong>.<br />
Teorema <strong>de</strong> classificação <strong>de</strong> Poincaré. Seja f : R/Z → R/Z um homeomorfismo <strong>do</strong> círculo<br />
(que preserva a orientação) com número <strong>de</strong> rotação irracional.<br />
i) Se f é minimal, então f é topologicamente conjuga<strong>do</strong> à rotação +ρ (f).<br />
ii) Se f não é minimal, então a rotação +ρ (f) é um fator <strong>de</strong> f.<br />
Se f é minimal, po<strong>de</strong>mos construir uma conjugação H entre uma órbita <strong>de</strong> f e uma órbita <strong>de</strong><br />
+ρ (f), e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>finir uma conjugação h : R/Z → R/Z por continui<strong>da</strong><strong>de</strong>, utilizan<strong>do</strong> o fato <strong>da</strong>s<br />
órbitas serem <strong>de</strong>nsas. Isto é possível porque as órbitas <strong>de</strong> f têm “a mesma or<strong>de</strong>m” <strong>da</strong>s órbitas <strong>de</strong><br />
+ρ (f). Se f não é minimal, é possível construir uma semiconjugação h : R/Z → R/Z tal que o<br />
próprio R/Z seja a imagem h (K) <strong>do</strong> conjunto minimal <strong>de</strong> f. De alguma maneira, a semiconjugação<br />
“esquece” (R/Z) \K, o conjunto errante <strong>de</strong> f.<br />
13.3 Difeomorfismos <strong>do</strong> círculo e teorema <strong>de</strong> Denjoy<br />
Um homeomorfismo f : R/Z → R/Z com número <strong>de</strong> rotação irracional po<strong>de</strong> não ser minimal,<br />
logo ter um conjunto não errante (R/Z) \K, composto por intervalos abertos I com imagens f n (I)<br />
disjuntas. Se f é <strong>de</strong> classe C 1 , um controle sobre a <strong>de</strong>riva<strong>da</strong> f ′ e o teorema <strong>do</strong> valor médio aju<strong>da</strong>m<br />
a estimar os comprimentos <strong>do</strong>s f n (I). O resulta<strong>do</strong>, obti<strong>do</strong> por Arnaud Denjoy nos anos ’30, é o<br />
seguinte.<br />
Teorema <strong>de</strong> Denjoy. Um homeomorfismo f : R/Z → R/Z com número <strong>de</strong> rotação irracional,<br />
<strong>de</strong> classe C 1 e com <strong>de</strong>riva<strong>da</strong> <strong>de</strong> variação limita<strong>da</strong>, é minimal, e portanto topologicamente conjuga<strong>do</strong><br />
à rotação +ρ (f).<br />
A i<strong>de</strong>ia é provar que, se f ′ tem variação limita<strong>da</strong> e I é um “intervalo errante”, os comprimentos<br />
<strong>do</strong>s f n (I) são uniformemente > ε para algum ε > 0. Sen<strong>do</strong> disjuntos, isto leva a um absur<strong>do</strong>. O<br />
próprio Denjoy mostrou como construir homeomorfismos <strong>de</strong> classe C 1 , com <strong>de</strong>riva<strong>da</strong> f ′ <strong>de</strong> classe<br />
α-Hol<strong>de</strong>r e α < 1 arbitrário, que têm número <strong>de</strong> rotação irracional sem seres minimais.<br />
Problema. Discuta a dinâmica <strong>da</strong> família <strong>de</strong> tranformações <strong>do</strong> círculo f α,ε : R/Z → R/Z <strong>do</strong> it<br />
<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s por<br />
x + Z ↦→ x + α + ε sin (2πx) + Z<br />
2π<br />
ao variar os parâmetros α e ε.