My title - Departamento de Matemática da Universidade do Minho
My title - Departamento de Matemática da Universidade do Minho
My title - Departamento de Matemática da Universidade do Minho
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
13 HOMEOMORFISMOS DO CÍRCULO 84<br />
O limite τ (F ) não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> ponto x. Já vimos que |(F n (x) − x) − (F n (x ′ ) − x ′ )| ≤ 1,<br />
portanto<br />
∣ ∣∣∣ F n (x) − x<br />
− F n (x ′ ) + x<br />
n<br />
n ∣ ≤ 1/n<br />
para to<strong>do</strong>s x, x ′ e n. Isto implica que τ (F ) é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> ponto x escolhi<strong>do</strong> na sua <strong>de</strong>finição.<br />
ρ (f) não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> levantamento F . Observe que <strong>do</strong>is levantamentos F e G <strong>de</strong> f diferem<br />
por um inteiro, ou seja G (x) = F (x) + k para algum k ∈ Z. Isto implica que τ (F ) = τ (G) + k,<br />
pois G n (x) − x = F n (x) − x + nk. Portanto o número <strong>de</strong> rotação ρ (f) está bem <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>, não<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> levantamento escolhi<strong>do</strong>.<br />
ρ (f) é invariante para conjugações topológicas. Seja h : R/Z → R/Z uma conjugação<br />
entre os homeomorfismos f e g. Se H é um levantamento <strong>de</strong> h e F é um levantamento <strong>de</strong> f,<br />
é imediato verificar que H ◦ F ◦ H −1 é um levantamento <strong>de</strong> g. Não é difícil mostrar que a<br />
diferença ( H ◦ F ◦ H −1) n<br />
(x) − F n (x) é limita<strong>da</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> x e <strong>de</strong> n. Basta observar<br />
que ( H ◦ F ◦ H −1) n<br />
= H ◦ F n ◦ H −1 , que |H (x) − x| e ∣ ∣H −1 (x) − x ∣ são limita<strong>do</strong>s por uma<br />
constante in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> x, e utilizar a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> triângulo. Isto implica que τ (F ) =<br />
τ ( H ◦ F ◦ H −1) , e portanto que ρ (f) = ρ (g).<br />
Exercícios.<br />
• Determine o número <strong>de</strong> rotação <strong>de</strong> uma rotação <strong>do</strong> círculo.<br />
• Seja f um homeomorfismo <strong>do</strong> círculo. Mostre que ρ (f q ) = q · ρ (f) mod Z. (Observe que, se<br />
F é um levantamento <strong>de</strong> f, então F q é um levantamento <strong>de</strong> f q ...)<br />
13.2 Teorema <strong>de</strong> classificação <strong>de</strong> Poincaré<br />
O número <strong>de</strong> rotação contém a seguinte informação acerca <strong>da</strong> dinâmica <strong>de</strong> f.<br />
Teorema.<br />
O número <strong>de</strong> rotação ρ (f) é racional sse f tem pontos periódicos.<br />
<strong>de</strong>m. ⇐ Se F q (x) = x + p com q e p inteiros, então F nq (x) − x = np para to<strong>do</strong> n, e portanto<br />
τ (F ) = p/q.<br />
⇒ Observan<strong>do</strong> que ρ (f q ) = q · ρ (f) mod Z, basta provar que ρ (f) = 0 implica que f tem um<br />
ponto fixo. Se f não tem pontos fixos, então a função F − id tem valores em R\Z. Em particuar,<br />
existe um levantamento tal que F −id tem valores no intervalo ]0, 1[ (porque F −id é contínua e o seu<br />
<strong>do</strong>mínio é conexo). Observan<strong>do</strong> que F −id é periódica <strong>de</strong> perío<strong>do</strong> um, <strong>de</strong>duzimos que o seu máximo<br />
e o seu mínimo são diferentes <strong>de</strong> 1 e 0 respetivamente, i.e. existe ε > 0 tal que ε < F (x) < 1 − ε<br />
para to<strong>do</strong> x ∈ [0, 1]. Iteran<strong>do</strong> as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s, isto implica que nε < F n (0) < n (1 − ε) e portanto<br />
que τ (F ) não é inteiro.<br />
É possível provar com pouco esforço que, se ρ (f) é racional, então to<strong>do</strong>s os pontos periódicos <strong>de</strong><br />
f têm o mesmo perío<strong>do</strong>. Portanto, para compreen<strong>de</strong>r a estrutura <strong>da</strong>s órbitas <strong>de</strong> um homeomorfismo<br />
com número <strong>de</strong> rotação racional é suficiente compreen<strong>de</strong>r as órbitas <strong>de</strong> um homeomorfismo f com<br />
pontos fixos. Se F = Fix (f), então f induzes homeomorfismos em ca<strong>da</strong> componente conexa I <strong>de</strong><br />
(R/Z) \F . As imagens f n (x) <strong>do</strong>s pontos x ∈ I ⊂ (R/Z) \F convergem para pontos <strong>de</strong> ∂I ⊂ F<br />
quan<strong>do</strong> n → ±∞. A estrutura <strong>de</strong> F é arbitrária: to<strong>do</strong> subconjunto compacto <strong>do</strong> círculo é o<br />
conjunto <strong>do</strong>s pontos fixos <strong>de</strong> um homeomorfismo.<br />
A dinâmica <strong>do</strong>s homeomorfismos com número <strong>de</strong> rotação irracional é <strong>de</strong>scrita pelo seguinte<br />
resulta<strong>do</strong>.<br />
Teorema <strong>de</strong> Poincaré. Seja f : R/Z → R/Z um homeomorfismo <strong>do</strong> círculo (que preserva a<br />
orientação) com número <strong>de</strong> rotação irracional. Então<br />
i) ou f é minimal, i.e. a órbita <strong>de</strong> to<strong>do</strong> ponto é <strong>de</strong>nsa no círculo,<br />
ii) ou existe um conjunto invariante K ⊂ R/Z, compacto, perfeito e com interior vazio (i.e.<br />
um conjunto <strong>de</strong> Cantor), tal que o conjunto ω-limite <strong>de</strong> to<strong>do</strong> ponto <strong>do</strong> círculo é igual a K.