Brochura - Enquadramento.pdf - SIAM - Universidade de Lisboa
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Editorial<br />
Numa época em que as alterações do clima começam já a fazerse<br />
sentir à escala mundial, em que as previsões apontam para o<br />
seu aquecimento, para modificações na precipitação, para<br />
alterações meteorológicas extremas e para a subida do nível do<br />
mar, o protocolo com a Fundação da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>, traduzido no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um<br />
estudo sobre as alterações climáticas no concelho <strong>de</strong> Sintra, dos<br />
impactos que po<strong>de</strong>rão ter neste território e nas medidas <strong>de</strong><br />
adaptação a adoptar para minimizar os seus efeitos, assumiu-se<br />
como um <strong>de</strong>safio particularmente importante em termos<br />
estratégicos para este Município.<br />
Congratulamo-nos em ter trabalhado com uma equipa muito<br />
empenhada e com gran<strong>de</strong> experiência nesta área, coor<strong>de</strong>nada<br />
pelo reputado Professor Doutor Filipe Duarte Santos, que <strong>de</strong>u o<br />
seu contributo a tantos Projectos nesta área, com <strong>de</strong>staque para<br />
o <strong>SIAM</strong> - Climate Change in Portugal; Scenarios, Impacts and<br />
Adaptation Measures.<br />
Procurou-se assim <strong>de</strong>senvolver este projecto a um nível local,<br />
com o objectivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>le resultarem indicações úteis para a acção<br />
futura <strong>de</strong>sta Câmara Municipal nas vertentes das zonas costeiras,<br />
da biodiversida<strong>de</strong>, das florestas e agricultura, dos recursos hídricos,<br />
da energia, do turismo, e da saú<strong>de</strong> humana, com claro benefício<br />
para o nível <strong>de</strong> bem-estar e segurança dos munícipes.<br />
É ainda <strong>de</strong>vida uma palavra <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento às muitas entida<strong>de</strong>s<br />
que colaboraram para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste estudo.<br />
Temos consciência da importância <strong>de</strong>ste Plano, enquanto<br />
instrumento estratégico para o concelho, no sentido em que vem<br />
alertar para os problemas que iremos enfrentar no futuro e para<br />
as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mitigação, mas não <strong>de</strong>ixamos <strong>de</strong> reforçar a<br />
convicção <strong>de</strong> que cada um <strong>de</strong> nós, à sua escala, é responsável<br />
pela mudança <strong>de</strong> comportamento face às alterações climáticas.<br />
O Presi<strong>de</strong>nte da Câmara Municipal <strong>de</strong> Sintra<br />
Fernando Roboredo Seara<br />
1
Enten<strong>de</strong>r as Alterações Climáticas<br />
2<br />
As alterações climáticas antropogénicas, ou seja, causadas por<br />
algumas activida<strong>de</strong>s humanas, constituem um dos maiores <strong>de</strong>safios<br />
ambientais à escala global no século XXI. O risco situa-se sobretudo<br />
a médio e longo prazo, da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 50 a 100 anos, embora existam<br />
já alguns sinais <strong>de</strong> mudanças climáticas e <strong>de</strong> impactos <strong>de</strong>ssas<br />
mudanças climáticas em alguns sectores socioeconómicos e<br />
sistemas biofísicos, como, por exemplo, os ecossistemas terrestres<br />
e marinhos. As alterações climáticas antropogénicas são provocadas<br />
pelas emissões <strong>de</strong> gases com efeito <strong>de</strong> estufa (GEE) em diversas<br />
activida<strong>de</strong>s humanas (IPCC, 2007). Os principais <strong>de</strong>stes GEE são o<br />
dióxido <strong>de</strong> carbono (CO 2 ), o metano (CH 4 ) e o óxido nitroso (N 2 O).<br />
Destes três aquele que provoca um maior forçamento radiativo<br />
na atmosfera é o CO 2 , cujas emissões resultam principalmente da<br />
queima <strong>de</strong> combustíveis fósseis - carvão, petróleo, gás natural - e<br />
da <strong>de</strong>sflorestação (cerca <strong>de</strong> 20 a 25% das emissões globais <strong>de</strong> CO 2 ).<br />
Importa salientar que o planeta Terra <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua formação tem<br />
sido palco <strong>de</strong> alterações climáticas naturais <strong>de</strong> período longo, da<br />
or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 100 000 anos ou muito mais, cujas causas são<br />
relativamente bem conhecidas. A estas sobrepõem-se agora as<br />
alterações climáticas antropogénicas cuja escala <strong>de</strong> tempo é,<br />
presentemente, da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 150 anos (IPCC, 2007). Para efeitos<br />
<strong>de</strong> simplificação <strong>de</strong> texto, passarão a ser aqui <strong>de</strong>signadas por<br />
alterações climáticas.<br />
As alterações climáticas manifestam-se principalmente por uma<br />
tendência <strong>de</strong> subida da temperatura média global da baixa<br />
atmosfera ou troposfera. Este aumento não é espacialmente<br />
uniforme, sendo mais acentuado nas regiões polares. O aumento<br />
da temperatura média anual na Europa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a época préindustrial<br />
até 2007, foi <strong>de</strong> 1,2 °C, o que é superior ao aumento da<br />
temperatura média global que, para o mesmo período, foi <strong>de</strong> 0,8 °C<br />
(EEA, 2008). Em Portugal Continental o aumento da temperatura<br />
média anual, por década, entre 1976 e 2006, foi cerca <strong>de</strong> 0,5 °C.<br />
A outra característica importante das alterações climáticas é a<br />
tendência para o aumento da frequência e intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
fenómenos climáticos e meteorológicos extremos, tais como ondas<br />
<strong>de</strong> calor, secas e precipitação intensa em períodos curtos. Na<br />
Europa, durante o século XX, observou-se um aumento da<br />
precipitação média anual na parte norte do continente <strong>de</strong> 10 a<br />
40% e uma diminuição da precipitação média anual <strong>de</strong> 20 a 40%<br />
em algumas regiões do Sul da Europa. Em Portugal continental<br />
registou-se um pequeno <strong>de</strong>crescimento da precipitação média<br />
anual da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 30 a 60 mm por década no período <strong>de</strong> 1961 a<br />
2006 (EEA, 2008).<br />
Para além <strong>de</strong>stes aspectos, há ainda a consi<strong>de</strong>rar a subida do nível<br />
médio do mar provocada indirectamente pelas alterações<br />
climáticas. Esta subida resulta da dilatação das águas superficiais<br />
oceânicas motivada pelo aumento da sua temperatura média, do<br />
<strong>de</strong>gelo dos glaciares das montanhas e, numa pequena parte, pelo<br />
menos por enquanto, do <strong>de</strong>gelo dos glaciares e campos <strong>de</strong> gelo<br />
situados acima do nível do mar nas regiões polares. Durante o<br />
século XX o aumento médio global do nível médio do mar foi<br />
17 cm, próximo do valor <strong>de</strong> 15 cm observado em Portugal<br />
Continental (<strong>SIAM</strong> I, 2002; <strong>SIAM</strong> II, 2006). Durante os últimos 15<br />
anos o nível médio do mar subiu a uma taxa anual <strong>de</strong> 3,1 mm,<br />
superior à média do século passado (1,7 mm/ano).<br />
De acordo com os mo<strong>de</strong>los climáticos, que permitem simular o<br />
sistema climático da Terra e obter cenários climáticos futuros, é<br />
provável que as tendências observadas durante as últimas décadas<br />
se agravem. Consequentemente, as alterações climáticas em<br />
Portugal irão ter tendência para aumentar a temperatura média,<br />
diminuir a precipitação anual, aumentar a frequência e intensida<strong>de</strong><br />
dos fenómenos climáticos e meteorológicos extremos, tais como<br />
ondas <strong>de</strong> calor, secas e precipitações elevadas em períodos curtos,<br />
e ainda, para aumentar o nível médio do mar.
Para obter projecções quantitativas <strong>de</strong>stas alterações<br />
climáticas é necessário recorrer a cenários climáticos<br />
futuros obtidos a partir <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los climáticos<br />
<strong>de</strong>nominados <strong>de</strong> circulação geral que simulam o sistema<br />
climático à escala global, incluindo a atmosfera e o oceano.<br />
Note-se porém que as projecções <strong>de</strong>stes mo<strong>de</strong>los feitas<br />
normalmente até 2100, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da evolução das<br />
A vulnerabilida<strong>de</strong> às alterações climáticas varia conforme<br />
a localização geográfica e as condições sociais, económicas<br />
e ambientais. Como já foi referido, as alterações climáticas<br />
têm uma probabilida<strong>de</strong> elevada <strong>de</strong> se agravarem durante<br />
o século XXI e terão impactos geralmente negativos sobre<br />
os sistemas naturais e sociais, embora alguns possam ser<br />
positivos, sobretudo a curto prazo.<br />
Riscos estimados em várias vertentes, em proporção ao<br />
aumento <strong>de</strong> temperatura média à superfície do Globo.<br />
emissões globais <strong>de</strong> gases com efeito <strong>de</strong> estufa, ou seja,<br />
<strong>de</strong> cenários <strong>de</strong> emissões. Estes, por sua vez, obtêm-se a<br />
partir <strong>de</strong> cenários sócio-económicos sendo<br />
frequentemente usados os do IPCC (SRES, 2000). Os<br />
cenários SRES são baseados em quatro famílias <strong>de</strong><br />
possíveis narrativas do <strong>de</strong>senvolvimento sócio-económico<br />
futuro - A1, A2, B1, B2 - que incluem <strong>de</strong> forma coerente<br />
os factores <strong>de</strong>mográficos, sociais, económicos e<br />
tecnológicos.<br />
Perante este risco há essencialmente dois tipos <strong>de</strong><br />
respostas: a mitigação e a adaptação. A primeira consiste<br />
em procurar travar o aumento da concentração<br />
atmosférica <strong>de</strong> gases com efeito <strong>de</strong> estufa por meio da<br />
redução das emissões e do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
sumidouros potenciais para aqueles gases. A adaptação<br />
é um processo <strong>de</strong> resposta em que se procuram minimizar<br />
os efeitos negativos e potenciar os efeitos positivos dos<br />
impactos das alterações climáticas. Po<strong>de</strong> ser autónoma,<br />
As alterações climáticas estão a ter e, sobretudo no futuro,<br />
irão ter impactos mais ou menos gravosos sobre os<br />
sistemas naturais e sociais: recursos hídricos, zonas<br />
costeiras, agricultura, saú<strong>de</strong> humana, florestas,<br />
biodiversida<strong>de</strong>, pescas, energia, zonas urbanas, turismo,<br />
seguros, etc. O grau com que um sistema natural ou social<br />
é afectado <strong>de</strong> forma positiva ou negativa pelos estímulos<br />
climáticos caracteriza a sua sensibilida<strong>de</strong>. A capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> adaptação <strong>de</strong> um sistema traduz a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
se adaptar às alterações da média e da variabilida<strong>de</strong> dos<br />
parâmetros meteorológicos que caracterizam um clima,<br />
<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rar os estragos potenciais e <strong>de</strong> tirar vantagem<br />
das novas situações. A vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>screve o grau<br />
com que o sistema natural ou social é susceptível <strong>de</strong><br />
suportar ou não os efeitos adversos das alterações<br />
climáticas, consi<strong>de</strong>rando o seu nível <strong>de</strong> exposição, a sua<br />
sensibilida<strong>de</strong> e a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação.<br />
tal como um organismo que se adapta espontaneamente<br />
a um ambiente alterado, ou planeada quando resulta <strong>de</strong><br />
acções programadas e executadas com os objectivos da<br />
adaptação (<strong>SIAM</strong> II, 2006).<br />
Enquanto que a mitigação tem um objectivo à escala<br />
global, embora se pratique a nível local, nacional, regional<br />
e global, a adaptação tem um objectivo marcadamente<br />
local. Note-se ainda que a mitigação e a adaptação são<br />
respostas complementares que estão cada vez mais<br />
fortemente relacionadas. Algumas estratégias <strong>de</strong><br />
adaptação po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>senvolvidas em<br />
conjunção com as estratégias <strong>de</strong> mitigação, como, por<br />
exemplo, no que respeita à gestão da água e dos solos.<br />
Por outro lado, na escolha das opções <strong>de</strong> mitigação <strong>de</strong>ve<br />
ter-se em atenção as vulnerabilida<strong>de</strong>s presentes e futuras<br />
às alterações climáticas e as medidas <strong>de</strong> adaptação<br />
programadas.<br />
Castelo dos Mouros<br />
foto: Ricardo Aguiar<br />
3
4<br />
Adaptação às Alterações Climáticas<br />
Na União Europeia (UE) há países mais vulneráveis que outros, mas todos<br />
reconhecem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promover a adaptação às alterações climáticas.<br />
O processo político foi iniciado na UE com a aprovação pela Comissão Europeia,<br />
em Junho <strong>de</strong> 2007, <strong>de</strong> um Livro Ver<strong>de</strong> intitulado "Adaptação às Alterações<br />
Climáticas na Europa - possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acção na UE" (UE, 2007). Este documento<br />
preconiza a integração da adaptação nas actuais e futuras legislações, políticas<br />
e programas <strong>de</strong> financiamento comunitário. Propõe a redução da<br />
incerteza associada às alterações climáticas e aos seus impactos<br />
por meio <strong>de</strong> maior investimento na investigação integrada.<br />
Defen<strong>de</strong> também o envolvimento da socieda<strong>de</strong>,<br />
empresas e sector público na preparação <strong>de</strong><br />
estratégias <strong>de</strong> adaptação coor<strong>de</strong>nadas e<br />
abrangentes. Na sequência a Comissão Europeia<br />
publicou em 1 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009 um Livro Branco<br />
que estabelece a estratégia <strong>de</strong> adaptação da UE<br />
e as respectivas opções <strong>de</strong> adaptação.<br />
muitas escolhas e acções realizadas localmente<br />
e sectorialmente que contribuem para a<br />
adaptação mas que não têm esse objectivo <strong>de</strong><br />
forma explícita ou exclusiva. Frequentemente<br />
a adaptação integra-se em políticas já existentes<br />
<strong>de</strong> prevenção e gestão <strong>de</strong> riscos, como é o caso<br />
dos <strong>de</strong>sastres naturais, da gestão dos recursos<br />
hídricos e das zonas costeiras. Há ainda outros<br />
sectores muito importantes, como sejam o<br />
or<strong>de</strong>namento do território, o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
urbano, rural e regional, os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e a<br />
conservação da natureza. Porém há medidas específicas<br />
que exigem o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma estratégia capaz <strong>de</strong> ter<br />
em conta os aspectos multisectoriais e em especial as sinergias entre<br />
os impactos em vários sectores, como é o caso, por exemplo, dos recursos<br />
hídricos e da agricultura.<br />
Os Estados membros da UE estão em diferentes fases <strong>de</strong> preparação,<br />
<strong>de</strong>senvolvimento e implementação <strong>de</strong> estratégias nacionais <strong>de</strong> adaptação (EEA,<br />
2008). No caso do nosso país os projectos <strong>SIAM</strong> I e II <strong>de</strong>senvolveram uma<br />
avaliação integrada dos impactos e medidas <strong>de</strong> adaptação às alterações climáticas<br />
em Portugal continental com base em cenários climáticos futuros, tendo sido<br />
analisados os sectores <strong>de</strong> recursos hídricos, zonas costeiras, agricultura, saú<strong>de</strong><br />
humana, energia, florestas e biodiversida<strong>de</strong> e pescas. Foram também realizados<br />
estudos do mesmo tipo para a Região Autónoma da Ma<strong>de</strong>ira (CLIMAAT, 2006).<br />
O presente estudo para o Município <strong>de</strong> Sintra constitui, tanto quanto é do nosso<br />
conhecimento, o primeiro que se realiza em Portugal a nível <strong>de</strong> uma autarquia,<br />
utilizando uma metodologia análoga <strong>de</strong> avaliação integrada e multisectorial <strong>de</strong><br />
impactos e i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> adaptação a partir <strong>de</strong> cenários climáticos<br />
construídos com base em mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> circulação geral.<br />
Sete países da UE já adoptaram uma estratégia nacional <strong>de</strong> adaptação<br />
às alterações climáticas (EEA, 2008). As medidas <strong>de</strong> adaptação<br />
variam conforme o país e a região <strong>de</strong> acordo com as<br />
especificida<strong>de</strong>s das áreas geográficas e as diversas<br />
vulnerabilida<strong>de</strong>s sectoriais. Há várias iniciativas na<br />
UE para <strong>de</strong>senvolver planos estratégicos <strong>de</strong><br />
adaptação às alterações climáticas ao nível<br />
regional e autárquico, naturalmente fortalecidas<br />
pelas estratégias a nível nacional e da UE.<br />
Importa salientar que a adaptação às<br />
alterações climáticas é essencialmente um<br />
processo com uma temporalida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>finida,<br />
cujo objectivo é melhorar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
adaptação e implementar medidas capazes<br />
<strong>de</strong> diminuir a vulnerabilida<strong>de</strong> e aumentar a<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recuperação (resilience). A<br />
selecção das medidas <strong>de</strong> adaptação <strong>de</strong>ve ser<br />
feita com base numa análise <strong>de</strong> custo-benefício<br />
tendo em atenção as escalas <strong>de</strong> tempo envolvidas<br />
e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> garantir a irreversibilida<strong>de</strong> dos<br />
resultados.<br />
É claramente vantajoso <strong>de</strong>senvolver a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
adaptação à escala regional e autárquica, dado o carácter<br />
eminentemente local da adaptação às alterações climáticas. Neste<br />
processo é <strong>de</strong>sejável envolver, logo <strong>de</strong> início, as entida<strong>de</strong>s públicas locais e<br />
sectoriais, bem como as empresas e as organizações não-governamentais.<br />
Melhorar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação é um processo que envolve as incertezas<br />
significativas nas avaliações <strong>de</strong> impactos, na i<strong>de</strong>ntificação e selecção das medidas<br />
<strong>de</strong> adaptação e nos cenários socioeconómicos que permitem <strong>de</strong>finir os quadros<br />
<strong>de</strong> referência futuros nos vários sectores. É necessário primeiro começar por<br />
<strong>de</strong>finir uma estratégia <strong>de</strong> adaptação a médio e longo prazo e <strong>de</strong>finir os sectores<br />
prioritários. Para que o processo possa ser bem sucedido é pois necessário<br />
sujeitá-lo a uma avaliação contínua e assumir a sua natureza cíclica<br />
(ver esquema.)
O Plano Estratégico do Concelho <strong>de</strong> Sintra face às Alterações Climáticas<br />
O presente Plano Estratégico do Concelho <strong>de</strong> Sintra face<br />
às Alterações Climáticas (PECSAC) constitui um<br />
instrumento importante para estas duas fases iniciais<br />
do processo <strong>de</strong> adaptação. Segue-se <strong>de</strong>pois a<br />
implementação das medidas <strong>de</strong> adaptação sectoriais<br />
com a participação tão activa quanto possível dos<br />
diferentes actores (stakehol<strong>de</strong>rs) envolvidos do sector<br />
público e privado. À medida que o processo <strong>de</strong><br />
adaptação for posto em prática, é necessário monitorizar<br />
e avaliar os resultados das medidas <strong>de</strong> adaptação e<br />
corrigir o rumo seguido sempre que tal se revele<br />
necessário. Finalizada esta fase, é natural que seja<br />
necessário reiniciar o processo dado que entretanto os<br />
cenários climáticos a nível regional serão mais fiáveis,<br />
existem novos dados e conhecimentos sobre os impactos<br />
e medidas <strong>de</strong> adaptação e a situação social, económica<br />
e ambiental terá também evoluído.<br />
É muito importante conjugar a nível regional e local a<br />
execução <strong>de</strong> planos <strong>de</strong> mitigação e a adaptação dado<br />
que estes dois tipos <strong>de</strong> resposta às alterações climáticas<br />
são complementares. Para as optimizar é necessário ter<br />
em conta as múltiplas interacções entre elas e <strong>de</strong>finir<br />
um plano coerente e integrado <strong>de</strong> acção nas duas<br />
vertentes. Os objectivos da mitigação são estabelecidos<br />
a nível internacional no âmbito do Protocolo <strong>de</strong> Quioto<br />
e a nível da UE para os seus Estados membros.<br />
Actualmente Portugal dispõe <strong>de</strong> um Plano Nacional para<br />
as Alterações Climáticas (PNAC) que <strong>de</strong>fine um conjunto<br />
<strong>de</strong> políticas e medidas internas que visam a redução das<br />
emissões <strong>de</strong> GEE. No que respeita a um conjunto <strong>de</strong><br />
instalações fortemente emissoras <strong>de</strong> GEE o país dispõe<br />
ainda <strong>de</strong> um Plano Nacional <strong>de</strong> Licenças <strong>de</strong> Emissão<br />
(PNALE) que é parte integrante do Comércio Europeu<br />
<strong>de</strong> Licenças <strong>de</strong> Emissão (CELE). O principal objectivo<br />
<strong>de</strong>stes planos é cumprir o compromisso que Portugal<br />
assumiu <strong>de</strong> limitar o aumento das suas emissões <strong>de</strong> GEE<br />
em 27%, no período <strong>de</strong> 2008-2012, relativamente aos<br />
valores do ano base <strong>de</strong> 1990. O cumprimento daquela<br />
meta <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> obviamente da implementação<br />
coor<strong>de</strong>nada das políticas e medidas <strong>de</strong> mitigação que<br />
tenham em atenção as respectivas especificida<strong>de</strong>s<br />
especialmente no que respeita aos sectores da energia,<br />
transporte, infraestruturas, agricultura, florestas e<br />
resíduos.<br />
No presente PECSAC fez-se uma análise do sector da<br />
energia e dos transportes no Concelho <strong>de</strong> Sintra com<br />
vista à redução das emissões dos GEE nestes dois<br />
sectores. Utilizou-se uma metodologia baseada na<br />
regionalização dos cenários socioeconómicos (SRES) do<br />
IPCC (IPCC, 2007) que permite projectar a evolução dos<br />
vários indicadores a médio e longo prazo, tais como, a<br />
população do Concelho, as características das habitações,<br />
o consumo <strong>de</strong> energia e a utilização dos vários tipos <strong>de</strong><br />
transporte (MISP, 2007)<br />
As alterações climáticas, tanto no que respeita à<br />
mitigação como à adaptação, são manifestamente<br />
multisectoriais e envolvem necessariamente a interacção<br />
entre os vários sectores sócio-económicos e sistemas<br />
naturais. O estabelecimento <strong>de</strong> um plano estratégico<br />
para as alterações climáticas a nível autárquico requer<br />
pois a conjugação com os planos sectoriais <strong>de</strong> natureza<br />
estratégica já existentes a nível nacional, regional e<br />
municipal. No caso do PECSAC foram consi<strong>de</strong>rados e<br />
analisados as seguintes estratégias, programas e planos:<br />
Estratégia Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável;<br />
Programa Nacional <strong>de</strong> Política <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>namento do<br />
Território; Plano <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>namento da Orla Costeira<br />
Sintra-Sado; Plano Regional <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>namento do<br />
Território da Área Metropolitana <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>; Plano 5<br />
foto: Ricardo Aguiar<br />
Volta do Duche, Sintra
Estratégico <strong>de</strong> Sintra 2015; Plano Municipal do Ambiente;<br />
Plano Ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sintra; Plano <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>namento do Parque<br />
Natural Sintra-Cascais; Plano Municipal <strong>de</strong> Ambiente; e<br />
Plano Energético <strong>de</strong> Sintra.<br />
Importa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo reconhecer que esta hierarquia <strong>de</strong><br />
instrumentos a nível nacional, regional e local nem<br />
sempre são inteiramente convergentes, em parte porque<br />
são realizados em tempos e com horizontes temporais<br />
distintos e por <strong>de</strong>ficiente coor<strong>de</strong>nação das entida<strong>de</strong>s<br />
responsáveis. Contudo são elementos fundamentais<br />
para o enquadramento <strong>de</strong> uma estratégia local para<br />
fazer face às alterações climáticas. Importa referir que<br />
uma das contribuições mais importantes para esta<br />
estratégia é ter em conta as alterações climáticas e os<br />
<strong>de</strong>safios que se colocam na implementação das medidas<br />
constantes dos vários planos já existentes a nível regional<br />
e local. É pôr em prática medidas cujos resultados finais<br />
sirvam simultaneamente os objectivos do crescimento<br />
sustentável, da competitivida<strong>de</strong>, do or<strong>de</strong>namento do<br />
território, da protecção do ambiente e da valorização<br />
do património natural e do combate às alterações<br />
climáticas. O PECSAC é constituído pelos relatórios<br />
sectoriais relativos ao clima, mitigação e adaptação e<br />
pela presente síntese que resume os principais<br />
resultados obtidos. A componente <strong>de</strong> adaptação do<br />
PECSAC subdivi<strong>de</strong>-se nos principais sectores analisados,<br />
<strong>de</strong>signadamente Recursos hídricos, Zonas costeiras,<br />
Florestas, Agricultura e Biodiversida<strong>de</strong>, Turismo e Lazer,<br />
Saú<strong>de</strong> e Energia.<br />
O PECSAC preten<strong>de</strong> ter uma articulação coerente com<br />
os <strong>de</strong>mais instrumentos, estratégias, programas e planos<br />
em vigor. Assim, a estratégia que encabeça as linhas<br />
orientadoras <strong>de</strong>ste plano é a Estratégia Nacional <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento Sustentável (ENDS) e o respectivo<br />
Plano <strong>de</strong> Implementação. A ENDS insere-se numa<br />
iniciativa global, iniciada com a Conferência das Nações<br />
Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento (CNUAD) <strong>de</strong><br />
1992 tendo sido elaborada <strong>de</strong> forma compatível com os<br />
princípios orientadores da Estratégia Europeia. preten<strong>de</strong><br />
dar resposta aos principais <strong>de</strong>safios, entre os quais se<br />
<strong>de</strong>staca: "Alterações climáticas e energia limpa". O<br />
terceiro objectivo da ENDS visa precisamente "Melhor<br />
Ambiente e Valorização do Património". Este objectivo<br />
preten<strong>de</strong> assegurar um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que<br />
integre, por um lado, a protecção do ambiente, e por<br />
outro, o combate às alterações climáticas que, sendo<br />
em si mesmo um <strong>de</strong>safio para diversos sectores da<br />
socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve ser encarado como uma oportunida<strong>de</strong><br />
para promover o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />
Outro programa consultado foi o Programa Nacional <strong>de</strong><br />
Políticas <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>namento do Território (PNPOT) por<br />
constituir o guia orientador do sistema <strong>de</strong> gestão<br />
territorial e da política <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento do território, e<br />
também um instrumento chave <strong>de</strong> articulação <strong>de</strong>sta<br />
política com a política <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento económico<br />
e social, em coerência com a ENDS. Este programa<br />
reconhece a existência <strong>de</strong> 24 problemas para o<br />
Or<strong>de</strong>namento do Território, entre os quais a "elevada<br />
intensida<strong>de</strong> (reduzida eficiência) energética e carbónica<br />
das activida<strong>de</strong>s económicas e dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />
mobilida<strong>de</strong> e consumo, com fraco recurso a energias<br />
renováveis, conduzindo a uma estreita associação dos<br />
ritmos do crescimento económico com os do aumento<br />
do consumo <strong>de</strong> energia e das emissões <strong>de</strong> Gases com<br />
Efeito <strong>de</strong> Estufa (GEE)". Claramente uma preocupação<br />
foto: Ricardo Aguiar<br />
Queluz<br />
com as Alterações Climáticas que po<strong>de</strong> ser entendida<br />
como um apelo à implementação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong><br />
mitigação referidas anteriormente e que este plano vem<br />
completar. Veja-se como este PECSAC vem ao encontro<br />
das opções estratégicas do PNPOT no sentido <strong>de</strong> criar<br />
"Um espaço sustentável e bem or<strong>de</strong>nado",<br />
nomeadamente nas medidas <strong>de</strong> adaptação propostas<br />
pelas várias secções que fazem parte <strong>de</strong>ste plano: "(1)<br />
Preservar o quadro natural e paisagístico, em particular<br />
os recursos hídricos, a zona costeira, a floresta e os<br />
espaços <strong>de</strong> potencial agrícola; (2) Gerir e valorizar as<br />
6
O Plano Estratégico do Concelho <strong>de</strong> Sintra face às Alterações Climáticas<br />
foto: Ricardo Aguiar<br />
Litoral Norte<br />
áreas classificadas integrantes da Re<strong>de</strong> Fundamental <strong>de</strong><br />
Conservação da Natureza; (3) Articular o sistema <strong>de</strong><br />
"espaços abertos" <strong>de</strong> natureza ambiental e paisagística<br />
com o sistema urbano e as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> infra-estruturas;<br />
(4) Estruturar nucleações que contrariem a tendência<br />
para a urbanização contínua ao longo da faixa litoral <strong>de</strong><br />
Portugal Continental".<br />
Os princípios, objectivos e orientações consagrados no<br />
PNPOT foram <strong>de</strong>senvolvidos no Plano Regional <strong>de</strong><br />
Or<strong>de</strong>namento do Território da Área Metropolitana <strong>de</strong><br />
<strong>Lisboa</strong> (PROT-AML), o qual constitui um quadro <strong>de</strong><br />
referência estratégico para o PDM <strong>de</strong> Sintra e para<br />
PECSAC. Mais uma vez a sustentabilida<strong>de</strong> ambiental é<br />
foto: Ricardo Aguiar<br />
vista como uma priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste plano e é encarada<br />
"como premissas fundamentais <strong>de</strong> criação <strong>de</strong><br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento" (PROT-AML, 2002).<br />
Este plano vem propor medidas com carácter <strong>de</strong><br />
adaptação às alterações climáticas tais como a criação<br />
<strong>de</strong> corredores e ligações ecológicas, da (re)valorização<br />
da água e a revitalização do meio rural.<br />
É muito interessante notar que todos os planos que<br />
dizem respeito directamente ao município <strong>de</strong> Sintra<br />
propõem medidas tanto <strong>de</strong> mitigação como <strong>de</strong><br />
adaptação para os vários sectores analisados neste<br />
projecto. Uma análise sectorial revela o seguinte:<br />
Zonas Costeiras - O Plano <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>namento da Orla<br />
Costeira Sintra-Sado (POOC Sintra-Sado) é a ferramenta<br />
que tutela esta zona por excelência uma vez que propõe<br />
medidas <strong>de</strong> conservação, tais como respeitar as<br />
capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> carga das praias e as Faixas <strong>de</strong> Risco e<br />
<strong>de</strong> Protecção <strong>de</strong>finidas para o litoral com arribas, bem<br />
como Unida<strong>de</strong> Operativas <strong>de</strong> Planeamento e Gestão.<br />
Recursos Hídricos - O Plano Estratégico Sintra 2015 (PES-<br />
2015) é conclusivo quando refere a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
conservar as linhas <strong>de</strong> água do concelho, mas também<br />
orientar o Quadro Infra-estrutural do concelho pelos<br />
princípios básico <strong>de</strong> "Eficácia e Eficiência das infraestruturas"<br />
(através do Plano Integrado <strong>de</strong> Combate às<br />
Perdas <strong>de</strong> Água) e a aposta em "estudos necessários à<br />
aferição da viabilida<strong>de</strong> técnica e económica <strong>de</strong> uma<br />
política integrada <strong>de</strong> promoção da reutilização das águas<br />
residuais em activida<strong>de</strong>s industriais diversas" no sentido<br />
<strong>de</strong> reduzir a sua <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>ste recurso escasso.<br />
Florestas e Agricultura - Tanto o PES-2015, como o Plano<br />
Municipal do Ambiente são coerentes quando referem<br />
a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> "preservar e valorizar as manchas<br />
florestais e <strong>de</strong> matos" e "reforçar e valorizar a activida<strong>de</strong><br />
agrícola" do município. Sendo os incêndios uma das<br />
principais preocupações <strong>de</strong>ste sector, importa referir<br />
como instrumento básico o Plano Prévio <strong>de</strong> Intervenção<br />
em Incêndios Rurais 2008 do Parque Natural Sintra<br />
Cascais.<br />
Biodiversida<strong>de</strong> - Para além do PES-2015 e do PMA, o<br />
plano que mais vai ao encontro das medidas <strong>de</strong><br />
adaptação neste sector são o Plano <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>namento<br />
do Parque Natural Sintra-Cascais e o Plano Ver<strong>de</strong> do<br />
Concelho <strong>de</strong> Sintra, uma vez que propõe uma Estrutura<br />
Ecológica Municipal que funcionará como uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
corredores <strong>de</strong> dispersão das espécies existentes.<br />
7<br />
Almargem do Bispo