Prometeu Candeeiro - História - imagem e narrativas
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História, <strong>imagem</strong> e <strong>narrativas</strong><br />
N o 12, abril/2011 - ISSN 1808-9895 - http://www.historia<strong>imagem</strong>.com.br<br />
atualidade; logo não o diferenciaremos indistintamente aqui. Tudo isso pode parecer, de<br />
inicio, contraditório, mas veremos como o simples fato da introdução de deliberações acerca<br />
das ações humanas nessa, e noutras tragédias, abriu o espaço necessário para as posteriores<br />
fundamentações contra a crença nos deuses.<br />
O mito de <strong>Prometeu</strong> está narrado em duas das obras do poeta Hesíodo, Teogonia e Os<br />
trabalhos e os Dias, desde o inicio quando <strong>Prometeu</strong> e Zeus principiam o conflito, que faz<br />
este último ordenar a prisão de <strong>Prometeu</strong>, de onde começa a narrativa de Ésquilo, que é a<br />
única que utilizaremos aqui.<br />
O "<strong>Prometeu</strong> <strong>Candeeiro</strong>" é possivelmente o primeiro episódio de uma trilogia da<br />
mitologia grega, da qual as outras partes se perderam 24 . Propomos nesse tópico um resumo<br />
breve da obra para melhor compreensão das idéias aqui propostas. No entanto ver-se-á tal<br />
explanação insuficiente para compreender o que significa a tragédia enquanto encenação,<br />
drama do rito 25 , ausente nessa narrativa.<br />
Ela é composta por oito personagens, onde todos são imortais, (exceto Io): Poder,<br />
Violência, Hefestos, Oceaninas (Coro 26 ), Io, Oceano, Hermes e <strong>Prometeu</strong>. Este último, deus<br />
titã que sofre as conseqüências de sua ação, é o personagem principal e, portanto, portador do<br />
exemplo a ser seguido e pensado ao longo do texto diante da sua relação com os demais<br />
personagens.<br />
Na história as deliberações 27 feitas dizem respeito ao personagem principal que<br />
lamenta seu destino imposto por Zeus por conta do roubo do fogo sagrado. Além de não<br />
aceitar os desígnios desse deus, <strong>Prometeu</strong>, ainda o acusa de injustiça, ratificando tal idéia a<br />
cada diálogo que se segue com os demais personagens. Estes, por sua vez, aconselham-no a<br />
ser prudente. O que ele não concorda, pois diz ter feito muitos benefícios, inclusive para<br />
outros deuses, e possuir um segredo que tirará Zeus do trono, quando da sua libertação.<br />
Analisando a tragédia de <strong>Prometeu</strong>, vemos que o Zeus de Ésquilo representa<br />
perfeitamente o tirano de sua época e o herói Titã um conselheiro em favor do povo, portador,<br />
pois, do ideal de democracia, querendo no fundo salvar toda a humanidade da fúria de Zeus.<br />
Embora as tragédias possuam um fundo universalista, no sentido da abrangência de suas<br />
24 Além da existência e de sua autoria, ainda há discussões a cerca da ordem desta na suposta trilogia. Vide: A<br />
tragédia Grega. (Romilly, 2008)<br />
25 Vide Raquel Gazolla: Para não ler ingenuamente uma tragédia grega, 2003.<br />
26 Nessa tragédia o coro perdeu seu papel central, não sendo mais do que simpatizante, em relação às outras<br />
tragédias. Porém é “Graças à sua amplitude, este canto pode elevar-se até uma filosofia que dá sentido ao que se<br />
vai seguir (...) filosofia contribui largamente para a grandeza do teatro de Ésquilo” (Romilly, 2008).<br />
27 Lesky acredita que a contradição é característica do homem grego: “A tragédia nasceu do espírito grego e , por<br />
isso, a prestação de contas, o λογον διδοναι, é um dos seus elementos constitutivos.” (Lesky, 2006)<br />
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