Prometeu Candeeiro - História - imagem e narrativas
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História, <strong>imagem</strong> e <strong>narrativas</strong><br />
N o 12, abril/2011 - ISSN 1808-9895 - http://www.historia<strong>imagem</strong>.com.br<br />
– nem sequer confirmado”. (ROMILLY, 2008). Pelo contrário, “A tragédia de <strong>Prometeu</strong> mais<br />
não é do que um grande grito de dor, que soa como uma acusação”. (ROMILLY, 2008).<br />
Portanto, há uma percepção de uma inquietação nessa tragédia, que segundo a mesma<br />
autora está no estilo de Ésquilo “(...) inquietar-se, protestar se for preciso (...) não se<br />
contentar com um optimismo simplista, mas procurar, na desordem aparente do mundo, os<br />
traços de uma ordem.” Assim, é indubitável a existência de um questionamento, visível<br />
através do personagem principal.<br />
Em Ésquilo, Zeus ao ser nomeado como supremo e ainda ser questionado 33 , indica a<br />
abertura para o posterior ateísmo, entendido como a não crença em deuses. Logo usamos<br />
aqui, ateísmo não no sentido de que vinculava uma falta de moral religiosa capaz de submeter<br />
os homens às leis 34 , mas no sentido de que abriu espaço para que pudessem emergir<br />
questionamentos a ponto de serem negações da existência dos deuses. Pois afirmar essa<br />
inexistência moral é dizer que a pólis não existiu, pois segundo Burkert, o poder da pólis<br />
estava justamente no seu monopólio dos cultos. Ou significaria a afirmação de uma<br />
inexistência política, pois as leis foram possíveis por essa moralidade (ou pré-ética), visto que,<br />
a criação do político foi uma tentativa de vincular os homens às leis. Pois o medo de deus é<br />
um princípio de moralidade, e este só passa a ser realmente questionado devido o<br />
desenvolvimento da filosofia, quando a religião já está questionada no geral.<br />
Constata-se assim que, ao mesmo tempo em que toma a contramarcha da linguagem mítica em<br />
muitos aspectos, a filosofia grega a prolonga e transpõe para um outro plano, desembaraçandoa<br />
do que constituía seu elemento de pura ‘fábula’. A filosofia pode então aparecer como uma<br />
tentativa para formular, desmistificando-a, essa verdade que o mito já pressentia à sua maneira<br />
e que exprimia sob a forma de relatos alegóricos. (VERNANT, 1999).<br />
E esta filosofia emergiria de forma significativa posterior à tragédia, devido a sua<br />
relação dialética com o mito e com o cotidiano, ganhando ares de “ciência”. Do mesmo modo,<br />
podemos falar de uma filosofia de antecipação do ateísmo, ou seja, de uma negação dos<br />
deuses, originária da tragédia. Pois, se inicialmente o mito foi criado pelo homem na tentativa<br />
de explicar a natureza; a tragédia foi criada pelo poeta para compreender/criar a essência do<br />
(novo) homem, já à filosofia partiu de uma compreensão das temáticas desse poeta, sem se<br />
restringir a ele, para além da arte, buscando entender o porquê dessa essência. E a ciência<br />
33 Aqui me refiro apenas à tragédia de <strong>Prometeu</strong>, pois esta mesma autora tratou pouco desta tragédia, mas utilizo,<br />
ainda, suas proposições a cerca do assunto, que inclusive são de grande relevância pela abrangência do seu<br />
trabalho.<br />
34 Que vemos explícitas em várias das passagens que remetem a um possível ensinamento proveniente da<br />
religião.<br />
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