Relatório sobre a Situação da População Mundial 2012
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traduzida em maior bem-estar social e econômico no domicílio (Bloom e Canning, 2000; Birdsall, Kelley e Sinding, 2001; Schultz, 2008; Sinding, 2009). Em primeiro lugar, conforme documentado anteriormente, pessoas mais saudáveis trabalham mais, são física e cognitivamente mais fortes e, consequentemente, mais produtivas; ganham mais e poupam mais. Em segundo lugar, pessoas mais saudáveis têm expectativa de vida mais longa e, portanto, têm maiores oportunidades de investir amplamente e colher os retornos de seu capital de formação escolar e humano. Essa relação positiva entre saúde e riqueza é ainda mais reforçada pela baixa fecundidade e pelo conflito de escolha entre quantidade e qualidade que induz os pais a investir mais recursos em cada criança, quando há redução no número de filhos. Poupança, renda e patrimônio familiar A melhoria na saúde e a maior expectativa de vida que podem resultar do melhor acesso a serviços de saúde reprodutiva, inclusive de planejamento familiar, alteram decisões não apenas sobre educação, mas também sobre gastos e poupança ao longo da vida. Com o declínio da fecundidade, é menos provável que as pessoas se apoiem nos filhos para sustentá-las e garantir sua velhice. Inclinam-se mais, portanto, a poupar para a aposentadoria. O ímpeto de poupar é ainda mais reforçado pela melhoria na saúde e maior expectativa de vida, uma vez que a aposentadoria se torna uma perspectiva razoável, havendo ainda um potencial aumento em sua duração. Há amplas evidências que apoiam essa relação entre declínio da fecundidade e índices de poupança (Bloom e Canning, 2008). Várias pesquisas apontam uma correlação positiva entre declínio da fecundidade ou aumento da expectativa de vida, de um lado, e índices de poupança, de outro. Em Taiwan, província da China, por exemplo, os índices de poupança privados aumentaram de 5%, na década de 1950, para mais de 20%, na de 1980, quase que simultaneamente aos aumentos na expectativa de vida (Tsai, Chu e Chung, 2000). Esse efeito se amplia com a adoção de sistemas de bem-estar e previdência social. Algumas das melhores evidências em nível micro da relação entre mais baixa fecundidade, melhor saúde reprodutiva e renda novamente vêm de Matlab, Bangladesh (Joshi e Schultz, 2007; Schultz, 2008; Barham, 2009; Schultz, 2009). No geral, as evidências sugerem que o declínio da fecundidade e da mortalidade infantil contribuiu para a redução da pobreza; os filhos receberam significativamente mais escolaridade e as filhas, melhor situação nutricional; as mulheres, mais escolarizadas, alcançaram níveis proporcionalmente mais elevados de salários e passaram a viver em residências com mais posses. As residências dos vilarejos cobertos pelo programa relataram 25% mais bens por adulto, além de menores parcelas de recursos nas formas que complementam o trabalho infantil, tais como bens semoventes e de pesca, ou mesmo terrenos para cultivo anual agrícola. Tais pessoas mantinham a maior parcela de seus ativos em poupança financeira, joias, pomares e viveiros, alojamentos e bens duráveis. E esse tipo de ativos pode ser o melhor substituto para o apoio à velhice, tradicionalmente oferecido pelos filhos. A melhoria do acesso ao planejamento familiar, o declínio da fecundidade, a redução da morbimortalidade materna e a melhoria da saúde das crianças também geram o aumento da poupança e da renda através da redução de gastos com o enfrentamento das “crises de saúde”, como a súbita perda de rendimentos, a dissolução do lar e o abalo na saúde dos membros da família que sobrevivem a esse fato, particularmente os filhos. A melhoria na saúde também contribui para a produtividade econômica. 84 CAPÍTULO 4: O IMPACTO SOCIAL E ECONÔMICO DO PLANEJAMENTO FAMILIAR
Mudanças na tomada de decisão dentro do lar A disponibilidade de serviços de saúde reprodutiva, especialmente de planejamento familiar, também altera as estruturas de poder dentro do lar. Nos contextos onde o homem e a mulher têm diferentes preferências de fecundidade, e onde os serviços de planejamento familiar são independentemente acessíveis a ela, o maior controle sobre sua fecundidade se traduz em maior poder de barganha, autonomia e poder de tomada de decisão no seio da família. Um exemplo disso em nível de país vem de Bangladesh. O rápido declínio de fecundidade, de aproximadamente seis filhos por mulher, na década de 1970, para menos de três por mulher, na década de 1990, foi acompanhado por aumentos na escolaridade e participação na força de trabalho das mulheres, particularmente na indústria do vestuário (Kabeer 1997; Kabeer 2000). O acesso ao mercado de trabalho, de crédito e à sociedade, em termos mais gerais, permitiu que essas mulheres renegociassem as normas do purdah (reclusão feminina) que haviam confinado aos lares as mulheres das gerações anteriores e limitado suas vozes nas famílias patriarcalistas. Esses processos também são ilustrados por pesquisa de nível micro em uma comunidade de trabalhadoras da área da saúde de Matlab, Bangladesh, que desempenharam papel essencial na oferta de atendimento à saúde reprodutiva e também se beneficiaram da oferta de trabalho do próprio programa. O declínio da fecundidade, a melhoria na saúde e novas oportunidades de emprego e salário que vivenciaram se somaram para elevar seu status e seu poder de barganha em seus lares e comunidades (Simmons, 1996). O acesso à contracepção, em si, pode alterar o poder de barganha da mulher em seu lar. Isto melhor se ilustra no caso da África Subsaariana. Historicamente, homens e mulheres dessa região têm tido preferências divergentes com relação ao número ideal de filhos. Enquanto as mulheres incorrem em custos físicos e econômicos diretos para criá-los e sustentá-los, para os homens a prática da poligamia e da adoção dilui esses custos entre várias moradias. Como resultado, é possível que as mulheres prefiram famílias menores t Casal aguarda aconselhamento de planejamento familiar em hospital regional, em Camarões. © UNFPA/Alain Sibenaler. RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL 2012 85
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Historicamente, homens e mulheres dessa região<br />
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que as mulheres prefiram famílias menores<br />
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