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Relatório sobre a Situação da População Mundial 2012

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par <strong>da</strong> força de trabalho. Em primeiro lugar, esse<br />

acesso permite que elas controlem o momento<br />

de engravi<strong>da</strong>r e, portanto, aumenta sua participação<br />

no mercado de trabalho. Isto é ilustrado<br />

pelo lançamento <strong>da</strong> Enovid, a primeira pílula<br />

anticoncepcional nos Estados Unidos, em 1960.<br />

A pílula concedeu às mulheres norte-americanas<br />

uma liber<strong>da</strong>de sem precedentes de decidir-se<br />

simultaneamente <strong>sobre</strong> criar filhos e desenvolver<br />

suas carreiras. Análise causal do impacto <strong>da</strong> pílula<br />

<strong>sobre</strong> o momento do primeiro nascimento e <strong>sobre</strong><br />

a participação <strong>da</strong>s mulheres na força de trabalho<br />

sugere que o acesso legalizado à pílula antes dos<br />

21 anos reduziu significativamente a probabili<strong>da</strong>de<br />

de o primeiro nascimento ocorrer antes dos 22<br />

anos, aumentou o número de mulheres na força de<br />

trabalho assalaria<strong>da</strong> e elevou a quanti<strong>da</strong>de anual de<br />

horas trabalha<strong>da</strong>s. Os efeitos são significativos: de<br />

1970 a 1990, o acesso à pílula respondeu por três<br />

dos 20 pontos de aumento percentual (14%) nas<br />

taxas de participação na força de trabalho e 67 <strong>da</strong>s<br />

450 horas adicionais trabalha<strong>da</strong>s por ano (15%),<br />

entre mulheres de 16 a 30 anos (Bailey, 2006).<br />

O acesso a serviços de planejamento familiar<br />

também afeta a participação no mercado de trabalho<br />

através <strong>da</strong> redução <strong>da</strong> morbi<strong>da</strong>de e melhoria<br />

na saúde geral. O planejamento familiar contribui<br />

para a redução de nascimentos de risco e nascimentos<br />

que apresentam complicações. Isto reduz o<br />

risco de morbi<strong>da</strong>de materna e aumenta a produtivi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> mulher.<br />

Há algumas exceções nesses padrões. Em alguns<br />

contextos, a participação <strong>da</strong> força de trabalho<br />

feminina pode diminuir à medi<strong>da</strong> que a fecundi<strong>da</strong>de<br />

declina ou à medi<strong>da</strong> que o nível de instrução<br />

e o status socioeconômico aumentam. Por exemplo,<br />

no projeto Matlab, em Bangladesh, a oferta<br />

de serviços domiciliares de planejamento familiar<br />

e de saúde reprodutiva para mulheres adultas, por<br />

um período de 20 anos, resultou em significativas<br />

melhorias no bem-estar, mas a participação<br />

feminina no trabalho assalariado de fato declinou.<br />

Os pesquisadores atribuem esse fenômeno a fortes<br />

costumes patriarcais somados a restrições à<br />

mobili<strong>da</strong>de feminina, particularmente no que diz<br />

respeito a mulheres ricas e de alto status, o que leva<br />

a mais mulheres trabalharem em casa ao invés de<br />

se dedicarem a trabalhos manuais ou assalariados<br />

fora do lar. As estimativas indicam, porém, que<br />

aquelas que exerciam trabalhos pagos recebiam<br />

salários maiores em um terço que os <strong>da</strong>s mulheres<br />

que não recebiam os serviços do programa. Esses<br />

ganhos salariais se deveram, em grande parte, aos<br />

maiores retornos recebidos pelas mulheres em função<br />

<strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de ofereci<strong>da</strong> nos vilarejos cobertos<br />

pelo programa (Schultz, 2009a).<br />

Os benefícios de saúde e ren<strong>da</strong> gerados<br />

pelo planejamento familiar também<br />

reforçam os direitos <strong>da</strong>s mulheres<br />

Os declínios de fecundi<strong>da</strong>de, as melhorias na saúde<br />

e o aumento na ren<strong>da</strong> podem atuar em proveito dos<br />

direitos <strong>da</strong>s mulheres, nos lares e nas comuni<strong>da</strong>des.<br />

Pesquisa recente ilustra que, quando a fecundi<strong>da</strong>de<br />

declina e a importância do capital humano na economia<br />

aumenta, os homens mostram mais propensão<br />

a dividir o poder com as mulheres para assegurar<br />

que os filhos tenham melhor educação, uma vez que<br />

estas investem mais no capital humano dos filhos,<br />

e seu poder de barganha passa a ter mais força nas<br />

decisões domésticas (Doepke e Tertlit, 2009). Os<br />

homens enfrentam um conflito de escolha entre seu<br />

próprio valor e o valor de seus filhos, netos e futuras<br />

gerações. Isto faz com que eles se sintam mais inclinados<br />

a ceder maiores direitos às mulheres. A prova<br />

disto é histórica: pesquisando debates parlamentares<br />

e editoriais jornalísticos, as autoras documentaram<br />

que, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos,<br />

houve uma gradual mu<strong>da</strong>nça durante o século XIX:<br />

os argumentos, que antes se centravam nos direitos<br />

dos homens, passaram a espelhar uma visão que priorizava<br />

as necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s crianças.<br />

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CAPÍTULO 4: O IMPACTO SOCIAL E ECONÔMICO DO PLANEJAMENTO FAMILIAR

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