Relatório sobre a Situação da População Mundial 2012

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14.01.2015 Views

pré-natais e maior probabilidade de ter procurado realizar o teste de HIV. Nos últimos 15 anos, organizações não governamentais, Agências das Nações Unidas e governos investiram em programas que somaram esforços para mudar as normas de gênero, através de intervenções na saúde. Pesquisa recente demonstrou que os esforços para fortalecer atitudes de mais equidade de gênero entre os homens podem influenciar atitudes e práticas relacionadas à saúde sexual e reprodutiva (Pulerwitz e Barker, 2006; Barker, Ricardo e Nascimento, 2007). Análises globais recentes de programas de saúde sexual e reprodutiva demonstraram que aqueles que levaram em consideração as questões de gênero de forma integrada obtiveram melhores resultados (Rottach, Schuler e Hardee, 2011; Barker, Ricardo e Nascimento, 2007). Atitudes e expectativas culturais referentes à virgindade, ao casamento e a papéis familiares continuam rígidas em muitos locais, reforçadas por ansiedades sobre sexualidade, poder e independência feminina, e os perigos reais que as meninas Os abortos realizados sem condições de segurança são “um procedimento para dar fim a uma gravidez indesejada, realizado ou por uma pessoa a quem falta a necessária habilitação ou em um ambiente que não está em conformidade com os mínimos padrões médicos, ou ambos.” — Organização Mundial da Saúde (1992). podem enfrentar (Greene e Merrick, n.d.). Como muitas delas permanecem na escola por mais tempo, têm estatisticamente mais probabilidade de amadurecer sexualmente no período escolar; encaram riscos que poucas escolas abordam adequadamente, inclusive violência sexual, exposição a doenças sexualmente transmissíveis e HIV, gravidez e gestação precoces, bem como abortos inseguros (Lloyd 2009). Certamente, nem todos esses riscos são novos, nem ocorrem somente na escola; grande número de meninas que não a frequentam também casa ou continua a ter filhos na adolescência. O que é novo é a maior possibilidade de atrito entre os papéis das meninas que permanecem estáveis (trabalhos domésticos, expectativas sobre a virgindade, administração da própria sexualidade e aspirações ao casamento) e os que estão mudando (escolaridade, exposição a colegas, maior mobilidade, em alguns casos). Análise realizada em cinco países africanos sobre a experiência de jovens de 12 a 19 anos que frequentaram a escola quando tinham 12 anos demonstrou que as meninas têm menos probabilidade que os meninos, em qualquer idade, de continuar o ensino fundamental ou médio, e menos probabilidade que aqueles de fazer a transição entre esses dois graus de ensino (Biddlecom et al., 2008). As meninas enfrentam maior risco de abandono da escola quando se tornam sexualmente maduras e experimentam o sexo pré-marital; a gravidez precoce é ainda mais desastrosa para elas. Algumas pesquisas recentes sugerem que a gravidez e o casamento precoces têm mais probabilidades de ser consequências que causas de as meninas não concluírem o ensino médio (Biddlecom et al., 2008; Lloyd e Mensch, 2008). Redefinir o que significa ser um “homem de verdade” Tal como as mulheres e meninas, os homens e os meninos sofrem pressões sociais para adotar ideais rígidos sobre como devem comportar-se, sentir e interagir para serem considerados homens de verdade. Esses ideais são aprendidos e não são um simples resultado do gênero do indivíduo (Connell, 1987; Connell, 1998). Quando lhes é dada oportunidade de refletir criticamente sobre esses ideais, homens e meninos quase sempre descrevem as pressões que sentem para serem homens de verdade—, um termo que geralmente tem o significado de enfrentar ris- 46 CAPÍTULO 3: Desafios da extensão do acesso a todas e todos

cos, encarar a dor, ser resistente, ser um provedor e ter várias parceiras (Flood, 2007). A expressão homens de verdade em geral refere-se à masculinidade hegemônica—a medida prevalecente de masculinidade pela qual os homens avaliam a si mesmos e aos outros. Os conceitos dominantes de masculinidade são complexos e diferem entre as sociedades, sendo influenciados por vários fatores, inclusive os culturais, raciais, de classe social e sexualidade (Kimmel, 2000). Por exemplo, um grupo com uma versão de masculinidade inserida em uma classe social ou grupo étnico pode exercer maior poder sobre outro, exatamente como a masculinidade heterossexual é frequentemente dominante sobre a homossexual e a bissexual (Marsiglio, 1998). Em muitas sociedades, a masculinidade hegemônica está associada à heterossexualidade, casamento, autoridade, sucesso profissional, dominância étnica e/ou resistência física (Barker, Ricardo e Nascimento, 2007). Homens e meninos que se desviam das normas do varão dominante em suas atitudes e comportamentos podem vir a expor-se ao ridículo e à crítica (Barker e Ricardo, 2005). Mais ainda, homens jovens e adultos que seguem essas visões tradicionais de virilidade têm mais probabilida- eles ocupam no seio de seu grupo de iguais, ou de famílias e comunidades, é um processo dinâmico que muda com o tempo (Connell, 1994). As atitu- t Jovens na Praça Tahrir, no Cairo. © UNFPA/Matthew Cassel. de de se envolver em práticas sexuais de maior des e experiências dos homens, particularmente as risco (Sonenstein, ed., 2000). Resultados obtidos conclusões a que chegam sobre o que é um com- a partir da Escala GEM demonstraram que os portamento socialmente aceitável, têm implicações homens que seguem pontos de vista mais rígidos para sua disposição em aceitar o acesso a serviços sobre masculinidade têm mais probabilidade de de planejamento familiar e a serem participantes ter atitudes ou comportamentos práticos que com- ativos no planejamento de suas famílias ao lado de prometem sua saúde sexual e a de suas parceiras suas parceiras. (Pulerwitz e Barker, 2008). Através de uma análise global conduzida pela Nem todos os meninos e homens se identificam Organização Mundial da Saúde descobriu-se que com as versões de masculinidade predominantes as formas de masculinidade culturalmente domi- em suas comunidades. Por exemplo, os jovens nantes, que frequentemente compelem os homens de situação socioeconômica mais elevada quase a exercer estrito controle emocional e cultivar uma sempre detêm mais poder e acesso a bens e opor- noção de invulnerabilidade, atuam como barrei- tunidades que os das classes socioeconômicas mais ras à saúde e à tendência de buscar a saúde: elas baixas (Barker, 2005). A evolução do lugar que desestimulam alguns homens e meninos a passar RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL 2012 47

pré-natais e maior probabili<strong>da</strong>de de ter procurado<br />

realizar o teste de HIV.<br />

Nos últimos 15 anos, organizações não governamentais,<br />

Agências <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s e governos<br />

investiram em programas que somaram esforços<br />

para mu<strong>da</strong>r as normas de gênero, através de intervenções<br />

na saúde. Pesquisa recente demonstrou<br />

que os esforços para fortalecer atitudes de mais<br />

equi<strong>da</strong>de de gênero entre os homens podem<br />

influenciar atitudes e práticas relaciona<strong>da</strong>s à saúde<br />

sexual e reprodutiva (Pulerwitz e Barker, 2006;<br />

Barker, Ricardo e Nascimento, 2007). Análises<br />

globais recentes de programas de saúde sexual e<br />

reprodutiva demonstraram que aqueles que levaram<br />

em consideração as questões de gênero de<br />

forma integra<strong>da</strong> obtiveram melhores resultados<br />

(Rottach, Schuler e Hardee, 2011; Barker, Ricardo<br />

e Nascimento, 2007).<br />

Atitudes e expectativas culturais referentes à<br />

virgin<strong>da</strong>de, ao casamento e a papéis familiares<br />

continuam rígi<strong>da</strong>s em muitos locais, reforça<strong>da</strong>s<br />

por ansie<strong>da</strong>des <strong>sobre</strong> sexuali<strong>da</strong>de, poder e independência<br />

feminina, e os perigos reais que as meninas<br />

Os abortos realizados sem condições de segurança<br />

são “um procedimento para <strong>da</strong>r fim a uma gravidez<br />

indeseja<strong>da</strong>, realizado ou por uma pessoa a quem falta a<br />

necessária habilitação ou em um ambiente que não está em<br />

conformi<strong>da</strong>de com os mínimos padrões médicos, ou ambos.”<br />

— Organização <strong>Mundial</strong> <strong>da</strong> Saúde (1992).<br />

podem enfrentar (Greene e Merrick, n.d.). Como<br />

muitas delas permanecem na escola por mais<br />

tempo, têm estatisticamente mais probabili<strong>da</strong>de<br />

de amadurecer sexualmente no período escolar;<br />

encaram riscos que poucas escolas abor<strong>da</strong>m adequa<strong>da</strong>mente,<br />

inclusive violência sexual, exposição<br />

a doenças sexualmente transmissíveis e HIV,<br />

gravidez e gestação precoces, bem como abortos<br />

inseguros (Lloyd 2009). Certamente, nem todos<br />

esses riscos são novos, nem ocorrem somente na<br />

escola; grande número de meninas que não a frequentam<br />

também casa ou continua a ter filhos na<br />

adolescência. O que é novo é a maior possibili<strong>da</strong>de<br />

de atrito entre os papéis <strong>da</strong>s meninas que permanecem<br />

estáveis (trabalhos domésticos, expectativas<br />

<strong>sobre</strong> a virgin<strong>da</strong>de, administração <strong>da</strong> própria sexuali<strong>da</strong>de<br />

e aspirações ao casamento) e os que estão<br />

mu<strong>da</strong>ndo (escolari<strong>da</strong>de, exposição a colegas, maior<br />

mobili<strong>da</strong>de, em alguns casos).<br />

Análise realiza<strong>da</strong> em cinco países africanos<br />

<strong>sobre</strong> a experiência de jovens de 12 a 19 anos que<br />

frequentaram a escola quando tinham 12 anos<br />

demonstrou que as meninas têm menos probabili<strong>da</strong>de<br />

que os meninos, em qualquer i<strong>da</strong>de,<br />

de continuar o ensino fun<strong>da</strong>mental ou médio, e<br />

menos probabili<strong>da</strong>de que aqueles de fazer a transição<br />

entre esses dois graus de ensino (Biddlecom et<br />

al., 2008). As meninas enfrentam maior risco de<br />

abandono <strong>da</strong> escola quando se tornam sexualmente<br />

maduras e experimentam o sexo pré-marital; a<br />

gravidez precoce é ain<strong>da</strong> mais desastrosa para elas.<br />

Algumas pesquisas recentes sugerem que a gravidez<br />

e o casamento precoces têm mais probabili<strong>da</strong>des<br />

de ser consequências que causas de as meninas<br />

não concluírem o ensino médio (Biddlecom et al.,<br />

2008; Lloyd e Mensch, 2008).<br />

Redefinir o que significa ser um<br />

“homem de ver<strong>da</strong>de”<br />

Tal como as mulheres e meninas, os homens e os<br />

meninos sofrem pressões sociais para adotar ideais<br />

rígidos <strong>sobre</strong> como devem comportar-se, sentir e<br />

interagir para serem considerados homens de ver<strong>da</strong>de.<br />

Esses ideais são aprendidos e não são um simples<br />

resultado do gênero do indivíduo (Connell, 1987;<br />

Connell, 1998). Quando lhes é <strong>da</strong><strong>da</strong> oportuni<strong>da</strong>de<br />

de refletir criticamente <strong>sobre</strong> esses ideais, homens<br />

e meninos quase sempre descrevem as pressões que<br />

sentem para serem homens de ver<strong>da</strong>de—, um termo<br />

que geralmente tem o significado de enfrentar ris-<br />

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CAPÍTULO 3: Desafios <strong>da</strong> extensão do acesso a to<strong>da</strong>s e todos

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