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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ<<strong>br</strong> />

SETOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE<<strong>br</strong> />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM<<strong>br</strong> />

A PERCEPÇÃO DA SEXUALIDADE DO CORPO IDOSO<<strong>br</strong> />

CURITIBA<<strong>br</strong> />

2006


MARCOS AUGUSTO MORAES ARCOVERDE<<strong>br</strong> />

A PERCEPÇÃO DA SEXUALIDADE DO CORPO IDOSO<<strong>br</strong> />

Dissertação apresenta<strong>da</strong> como requisito parcial para a<<strong>br</strong> />

obtenção <strong>do</strong> grau acadêmico de Mestre, no Programa<<strong>br</strong> />

de Pós-graduação em Enfermagem. Setor de<<strong>br</strong> />

Ciências <strong>da</strong> Saúde, Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Paraná.<<strong>br</strong> />

Orienta<strong>do</strong>ra: Profª. Drª Liliana Maria La<strong>br</strong>onici<<strong>br</strong> />

Co-orienta<strong>do</strong>ra: Profª. Drª Maria Tereza Campos<<strong>br</strong> />

Velho<<strong>br</strong> />

CURITIBA<<strong>br</strong> />

2006


Arcoverde, Marcos Augusto Moraes<<strong>br</strong> />

A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so / Marcos Augusto<<strong>br</strong> />

Moraes Arcoverde – Curitiba, 2006.<<strong>br</strong> />

88 f.<<strong>br</strong> />

Orienta<strong>do</strong>ra: Liliana Maria La<strong>br</strong>onici<<strong>br</strong> />

Co-orienta<strong>do</strong>ra: Maria Tereza Campos Velho<<strong>br</strong> />

Dissertação (Mestra<strong>do</strong>) – Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Paraná, Setor<<strong>br</strong> />

de Ciências <strong>da</strong> Saúde, Programa de Pós-graduação em Enfermagem,<<strong>br</strong> />

Mestra<strong>do</strong> em Enfermagem.<<strong>br</strong> />

1. Sexuali<strong>da</strong>de – I<strong>do</strong>so. I. La<strong>br</strong>onici, Liliana Maria. II. Universi<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

Federal <strong>do</strong> Paraná. Setor Ciências <strong>da</strong> saúde. Pós-graduação em<<strong>br</strong> />

Enfermagem. III. Título.<<strong>br</strong> />

NLM: WY<<strong>br</strong> />

152


TERMO DE APROVAÇÃO<<strong>br</strong> />

MARCOS AUGUSTO MORAES ARCOVERDE<<strong>br</strong> />

A PERCEPÇÃO DA SEXUALIDADE DO CORPO IDOSO.<<strong>br</strong> />

Dissertação aprova<strong>da</strong> como requisito parcial para obtenção <strong>do</strong> grau de Mestre em<<strong>br</strong> />

Enfermagem, Área de concentração Prática Profissional de Enfermagem, <strong>do</strong> Programa de<<strong>br</strong> />

Pós-Graduação Mestra<strong>do</strong> em Enfermagem, Setor de Ciências <strong>da</strong> Saúde, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

Federal <strong>do</strong> Paraná, pela seguinte banca examina<strong>do</strong>ra:<<strong>br</strong> />

Curitiba, 14 de dezem<strong>br</strong>o de 2006


AGRADECIMENTOS<<strong>br</strong> />

A DEUS que me deu o fôlego <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e a ca<strong>da</strong> dia concede-me uma nova<<strong>br</strong> />

oportuni<strong>da</strong>de para o meu aprimoramento.<<strong>br</strong> />

À minha orienta<strong>do</strong>ra Professora Drª Liliana M. La<strong>br</strong>onici pelas horas de dedicação e<<strong>br</strong> />

incentivo para que fosse possível a conclusão deste trabalho.<<strong>br</strong> />

À Professora Drª Maria Teresa Campos Velho pela co-orientação, pois nem a<<strong>br</strong> />

distância impediu de ser co-participante deste trabalho.<<strong>br</strong> />

À Professora Drª Maria de Fátima Mantovani por ouvir as dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />

pelos mestran<strong>do</strong>s e sempre apresentar soluções práticas.<<strong>br</strong> />

Aos professores <strong>do</strong> Programa de Pós-graduação de Enfermagem pelas<<strong>br</strong> />

contribuições que tornaram essa caminha<strong>da</strong> possível.<<strong>br</strong> />

Aos professores mem<strong>br</strong>os <strong>da</strong> banca que com suas sugestões e contribuições tinham<<strong>br</strong> />

o único objetivo de aprimorar esta minha jorna<strong>da</strong>.<<strong>br</strong> />

Aos meus pais, Lídio e Sarah M. Moraes Arcoverde, por sempre me apoiarem na<<strong>br</strong> />

vi<strong>da</strong> acadêmica e profissional.<<strong>br</strong> />

Aos meus irmãos, Márcio, Sarita e Silmara, pelo apoio em minhas empreita<strong>da</strong>s.<<strong>br</strong> />

As colegas de mestra<strong>do</strong> pela convivência que resultou em troca, auxílio e amizade.


RESUMO<<strong>br</strong> />

ARCOVERDE, M. A. M. A PERCEPÇÃO DA SEXUALIDADE DO CORPO IDOSO.<<strong>br</strong> />

2006. 88 f. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Enfermagem) – Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

Paraná.<<strong>br</strong> />

A sexuali<strong>da</strong>de é a dimensão humana que está presente em to<strong>da</strong> a trajetória<<strong>br</strong> />

existencial e pode ser vivencia<strong>da</strong> de diferentes maneiras em ca<strong>da</strong> momento,<<strong>br</strong> />

manifestan<strong>do</strong>-se mediante a expressão <strong>do</strong> <strong>corpo</strong>. To<strong>da</strong>via, é permea<strong>da</strong> de mitos e<<strong>br</strong> />

tabu, principalmente quan<strong>do</strong> relaciona<strong>da</strong> ao i<strong>do</strong>so, porque a colocamos dentro de<<strong>br</strong> />

padrões que, às vezes, não são acessíveis ao seu vivi<strong>do</strong>. Esta pesquisa é qualitativa<<strong>br</strong> />

de abor<strong>da</strong>gem fenomenológica e teve como objetivo perceber como o i<strong>do</strong>so entende<<strong>br</strong> />

e vive sua sexuali<strong>da</strong>de. Foi realiza<strong>da</strong> no perío<strong>do</strong> de janeiro a junho de 2006 e os<<strong>br</strong> />

atores foram 10 i<strong>do</strong>sos com i<strong>da</strong>de entre 61 e 83 anos - quatro <strong>do</strong> sexo feminino e<<strong>br</strong> />

seis <strong>do</strong> masculino. A coleta <strong>do</strong>s discursos se deu mediante entrevista semiestrutura<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

grava<strong>da</strong> em meio digital. A análise <strong>do</strong>s discursos seguiu os momentos<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> trajetória fenomenológica: descrição, redução e compreensão fenomenológica, e<<strong>br</strong> />

dela surgiram três temas: O outro como fonte de desejo, prazer e sentimentos;<<strong>br</strong> />

Faces ocultas e o emergir <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de e O reconhecimento <strong>da</strong> modificação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

expressão <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de na terceira i<strong>da</strong>de. Os discursos desvelaram a<<strong>br</strong> />

manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de a partir <strong>da</strong> relação de encontro entre os <strong>corpo</strong>s<<strong>br</strong> />

viventes que se atraem, se percebem, se tocam. Assim, estabelecem uma relação<<strong>br</strong> />

de troca e de parceria permea<strong>da</strong> pelo desejo, carinho, prazer, ternura e amor que<<strong>br</strong> />

lhes permitem não estarem unicamente foca<strong>do</strong>s no ato sexual ou na procriação, mas<<strong>br</strong> />

passam a vivenciá-la como possibili<strong>da</strong>de de prazer que alimenta a vi<strong>da</strong> amorosa e<<strong>br</strong> />

afetiva <strong>do</strong> ser humano. Os discursos também eluci<strong>da</strong>ram que os i<strong>do</strong>sos manifestam<<strong>br</strong> />

a sua sexuali<strong>da</strong>de mediante a prática de ativi<strong>da</strong>des de lazer como <strong>da</strong>nçar, ouvir<<strong>br</strong> />

música, jogar tênis, sair para jantar, ir ao teatro, visto que possibilitam o “estar com o<<strong>br</strong> />

outro” em espaços coletivos. Enfim, foi possível compreender ain<strong>da</strong> que os i<strong>do</strong>sos<<strong>br</strong> />

reconhecem as modificações que ocorrem no seu <strong>corpo</strong> como conseqüência <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

processo de envelhecimento que afeta seu desempenho sexual. Embora não<<strong>br</strong> />

possuam o conhecimento científico adequa<strong>do</strong> de to<strong>da</strong>s as alterações que<<strong>br</strong> />

acompanham o seu <strong>corpo</strong>, durante a trajetória existencial, eles as reconhecem como<<strong>br</strong> />

fatores que apenas modificam a expressão <strong>da</strong> sua sexuali<strong>da</strong>de, o que não os<<strong>br</strong> />

impede de manifestá-la, pois o desejo e a libi<strong>do</strong> permanecem. Esta pesquisa<<strong>br</strong> />

apontou para as possibili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> expressão <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de na terceira i<strong>da</strong>de que<<strong>br</strong> />

transcende a concepção biológica e possibilita uma visão mais positiva, não apenas<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> processo de envelhecimento, mas também <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos.<<strong>br</strong> />

Palavras-chave: Sexuali<strong>da</strong>de, I<strong>do</strong>so, Corpo, Enfermagem.


ABSTRACT<<strong>br</strong> />

ARCOVERDE, M. A. M. THE PERCEPTION OF THE SEXUALITY OF THE AGED<<strong>br</strong> />

BODY. 2006. 88f. Thesis (Masters gedree in Nursing) – Federal University of<<strong>br</strong> />

Paraná (UFPR), Curitiba, Brazil.<<strong>br</strong> />

Sexuality is the human being dimension that is present in all the existencial<<strong>br</strong> />

trajectory, able to be lived in different ways at each moment, disclosing itself by<<strong>br</strong> />

means of the expression the body, that is, of the <strong>corpo</strong>reity. However, is encircled of<<strong>br</strong> />

myths and taboo, mainly when related to the aged, because we put it inside it of<<strong>br</strong> />

stan<strong>da</strong>rds that, sometimes, are not accessible what was lived. This research is<<strong>br</strong> />

qualitative of phenomenological boarding that had as objective to perceive how the<<strong>br</strong> />

aged ones understands and lives its sexuality. This research was <strong>do</strong>ne through<<strong>br</strong> />

January – June 2006, and the actors were 10 aged between 61 and 83 years old,<<strong>br</strong> />

four women and six men. The collection of the speeches if gave by means of<<strong>br</strong> />

interview half-structuralized recorded in digital way. The analysis of the speeches<<strong>br</strong> />

followed the moments of the phenomenological trajectory: description, reduction and<<strong>br</strong> />

phenomenological comprehension, and of it had appeared three subjects: The other<<strong>br</strong> />

as source of desire, pleasure and feelings; Occult faces and emerging of the<<strong>br</strong> />

sexuality and The recognition of the modification of the expression of the sexuality in<<strong>br</strong> />

the third age. The speeches disclose manifestation of sexuality from relation of<<strong>br</strong> />

meeting between bodies living that are attract, perceive, touch. Thus, they establish a<<strong>br</strong> />

relation of exchange and partnership encircled for the desire, affection, pleasure,<<strong>br</strong> />

tenderness and love that allow them not only focus in the sexual act or the<<strong>br</strong> />

procreation, but start to live deeply it as pleasure possibility that feeds the loving and<<strong>br</strong> />

affective life of the human being. The speeches had also shown that the aged ones<<strong>br</strong> />

reveal its sexuality by means of the practical one of activities of leisure as to <strong>da</strong>nce,<<strong>br</strong> />

to hear music, to play tennis, to leave supper, to go to the theater, since they make<<strong>br</strong> />

possible "to be with the other" in collective spaces. At last, it was possible to still<<strong>br</strong> />

understand that the aged ones recognize the modifications that occur in its body as<<strong>br</strong> />

consequence of the aging process that affects its sexual performance. Although the<<strong>br</strong> />

alterations <strong>do</strong> not possess adequate the scientific knowledge of all that follow its<<strong>br</strong> />

body, during the existencial trajectory, them they recognize as factors that only<<strong>br</strong> />

modify the expression of its sexuality, what it <strong>do</strong>es not hinder them to reveal it,<<strong>br</strong> />

therefore the desire and the libi<strong>do</strong> remains. This research pointed not only with<<strong>br</strong> />

respect to the possibilities of the expression of the sexuality in the third age that<<strong>br</strong> />

exceeds the biological conception and makes possible a more positive vision, of the<<strong>br</strong> />

process of aging, but also of the sexuality of the aged ones.<<strong>br</strong> />

Word-key: Sexuality, Old-aged, Body, Nursing.


SUMÁRIO<<strong>br</strong> />

RESUMO ..................................................................................................................... i<<strong>br</strong> />

ABSTRACT ................................................................................................................ ii<<strong>br</strong> />

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 09<<strong>br</strong> />

2. O DISCURSO DA LITERATURA SOBRE O TEMA ............................................ 15<<strong>br</strong> />

3. A TRAJETÓRIA METODOLÓGICA PERCORRIDA ........................................... 26<<strong>br</strong> />

3.1 PROCESSO DE OBTENÇÃO E REGISTRO DOS DISCURSOS ...................... 32<<strong>br</strong> />

3.1.1 Cenário ........................................................................................................... 34<<strong>br</strong> />

3.1.2 Os atores <strong>da</strong> pesquisa .................................................................................. 34<<strong>br</strong> />

3.1.3 Delimitação temporal <strong>da</strong> pesquisa .............................................................. 35<<strong>br</strong> />

3.1.4 Aspectos éticos ............................................................................................. 35<<strong>br</strong> />

3.2 PROCESSO DE ANÁLISE DOS DISCURSOS .................................................. 35<<strong>br</strong> />

4. COMPREENSÃO DO FENÔMENO ..................................................................... 43<<strong>br</strong> />

4.1 O OUTRO COMO FONTE DE DESEJO, PRAZER E SENTIMENTOS ............. 44<<strong>br</strong> />

4.2 FACES OCULTAS E O EMERGIR DA SEXUALIDADE .................................... 54<<strong>br</strong> />

4.3 O RECONHECIMENTO DA MODIFICAÇÃO DA EXPRESSÃO DA<<strong>br</strong> />

SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE ................................................................... 64<<strong>br</strong> />

5. CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 76<<strong>br</strong> />

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 80<<strong>br</strong> />

APÊNDICE ............................................................................................................... 87<<strong>br</strong> />

ANEXO ..................................................................................................................... 89


INTRODUÇÃO


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

10<<strong>br</strong> />

A construção <strong>do</strong> conhecimento é uma busca constante e desafia<strong>do</strong>ra que<<strong>br</strong> />

me incita a refletir so<strong>br</strong>e a existência humana e sua multidimensionali<strong>da</strong>de. Esta<<strong>br</strong> />

reflexão me coloca num movimento de ir e vir entre presente, passa<strong>do</strong> e num<<strong>br</strong> />

projetar-se que aponta para vários caminhos, exigin<strong>do</strong> uma pausa no aqui e agora, a<<strong>br</strong> />

fim de que seja possível fazer as escolhas em função <strong>do</strong> objetivo que desejo<<strong>br</strong> />

alcançar. Assim, fazer escolha significa optar por um caminho e vivenciá-lo na sua<<strong>br</strong> />

plenitude. Neste senti<strong>do</strong>, o tema que escolhi para ampliar meu conhecimento foi a<<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so, visto que esta população está em constante crescimento<<strong>br</strong> />

(BRASIL, 1999), e de acor<strong>do</strong> MINAYO e COIMBRA (2002), em 2020 seremos a<<strong>br</strong> />

sexta população mais i<strong>do</strong>sa <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, com 34 milhões de <strong>br</strong>asileiros com i<strong>da</strong>des<<strong>br</strong> />

que superam os 60 anos.<<strong>br</strong> />

De acor<strong>do</strong> com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE<<strong>br</strong> />

(2002), seguin<strong>do</strong> orientações <strong>da</strong> Organização Mundial <strong>da</strong> Saúde - OMS, é<<strong>br</strong> />

considera<strong>do</strong> i<strong>do</strong>so, nos países em desenvolvimento, to<strong>da</strong> pessoa com 60 anos ou<<strong>br</strong> />

mais, e em países desenvolvi<strong>do</strong>s com 65 anos. Em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, essa situação<<strong>br</strong> />

gera deman<strong>da</strong>s de cunho político, social, educacional e <strong>da</strong> saúde, motivo pelo qual<<strong>br</strong> />

qualquer reflexão so<strong>br</strong>e os i<strong>do</strong>sos deve a<strong>br</strong>anger diversas áreas <strong>do</strong> conhecimento.<<strong>br</strong> />

To<strong>da</strong>via, cabe salientar que a i<strong>da</strong>de cronológica não se apresenta como um<<strong>br</strong> />

indica<strong>do</strong>r preciso para as mu<strong>da</strong>nças que acompanham o processo de<<strong>br</strong> />

envelhecimento, uma vez que vários fatores podem contribuir para influenciar esse<<strong>br</strong> />

processo durante a trajetória de vi<strong>da</strong>. Devemos ter em mente que envelhecemos de<<strong>br</strong> />

diferentes maneiras e que nem to<strong>da</strong>s as pessoas <strong>da</strong> mesma faixa etária apresentam<<strong>br</strong> />

características semelhantes. Simões (1994) reconhece que caracterizar a pessoa<<strong>br</strong> />

i<strong>do</strong>sa é um desafio, uma vez que a condição humana apresenta-se complexa e<<strong>br</strong> />

peculiar, o que torna difícil estabelecer um perfil comum a to<strong>do</strong>s.<<strong>br</strong> />

É importante ressaltar que o fenômeno de envelhecimento <strong>da</strong> população é<<strong>br</strong> />

local e global, e apresenta um índice de crescimento progressivo desencadean<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

novas exigências sóciopolíticas e econômicas. Dessa forma, julgo pertinente a<<strong>br</strong> />

escolha que fiz, uma vez que a sexuali<strong>da</strong>de é algo intrínseco ao ser humano - que<<strong>br</strong> />

sofre alterações socioculturais - é construí<strong>da</strong> ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, e como tu<strong>do</strong> que é<<strong>br</strong> />

humano, ao morrer, encontra-se inacaba<strong>da</strong>.<<strong>br</strong> />

A reflexão so<strong>br</strong>e a temática ampliou o meu escopo de conhecimento,<<strong>br</strong> />

transcenden<strong>do</strong> a concepção biológica. A superação foi fruto de leituras, observação,<<strong>br</strong> />

discussão e contatos com a população em foco. Nesta caminha<strong>da</strong>, encontrei apoio


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

11<<strong>br</strong> />

no pensamento de La<strong>br</strong>onici (2002), o que permitiu repensar a sexuali<strong>da</strong>de como<<strong>br</strong> />

uma <strong>da</strong>s dimensões <strong>do</strong> ser humano, e como tal, envolve a multidimensionali<strong>da</strong>de,<<strong>br</strong> />

expressa-se mediante a interação com o outro e se manifesta nas relações sociais<<strong>br</strong> />

mediante a <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

Nesse contexto, a “sexuali<strong>da</strong>de é dimensão ontológica que se manifesta na<<strong>br</strong> />

<strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de, expressa nossa maneira de ser e de estar no mun<strong>do</strong> mediante os<<strong>br</strong> />

Eros que permeiam o cotidiano humano” (LABRONICI, 2002, p. 19). É uma<<strong>br</strong> />

característica humana que não se perde com o tempo, mas vai se desenhan<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

conforme a história vivencia<strong>da</strong> pelo <strong>corpo</strong> vivente em sua trajetória existencial.<<strong>br</strong> />

Fica explícito pelo exposto que a sexuali<strong>da</strong>de não se limita apenas à reação<<strong>br</strong> />

aos estímulos eróticos (VIEIRA, 2004); ela ultrapassa o ato sexual, uma vez que<<strong>br</strong> />

inclui o amor, o carinho, a troca de palavras, o toque, o compartilhar entre as<<strong>br</strong> />

pessoas que se expressam e se percebem como homens ou mulheres<<strong>br</strong> />

(ELIOPOULOS, 2005), independente <strong>da</strong> imagem apresenta<strong>da</strong>, <strong>da</strong> tatuagem feita<<strong>br</strong> />

pela postura, pelo tempo e apresenta<strong>da</strong> pelo cabelo grisalho, pelas rugas, e outras<<strong>br</strong> />

alterações decorrentes <strong>do</strong> processo de envelhecimento. Assim, compreendi que<<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de é dimensão humana que está presente em to<strong>da</strong> a trajetória existencial,<<strong>br</strong> />

poden<strong>do</strong> ser vivencia<strong>da</strong> de diferentes maneiras em ca<strong>da</strong> momento, manifestan<strong>do</strong>-se<<strong>br</strong> />

mediante a expressão <strong>do</strong> <strong>corpo</strong>, ou seja, <strong>da</strong> <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

O que podemos perceber nesse senti<strong>do</strong>, é que o i<strong>do</strong>so não perde a<<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de, mas a redesco<strong>br</strong>e, e nessa perspectiva devemos olhar as<<strong>br</strong> />

possibili<strong>da</strong>des criativas construí<strong>da</strong>s pelo <strong>corpo</strong> vivi<strong>do</strong> (SANTOS, 2003). Isso significa<<strong>br</strong> />

olhá-la de outra forma, e esse novo olhar possibilita o vivenciar <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de de<<strong>br</strong> />

uma maneira diferente, uma vez que se manifesta na <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de que é a<<strong>br</strong> />

expressão <strong>do</strong> <strong>corpo</strong>, motivo pelo qual é fun<strong>da</strong>mental compreendê-lo como “primeiro<<strong>br</strong> />

e único lugar <strong>da</strong> experiência humana”, a fonte de to<strong>do</strong>s os nossos desejos ou Eros<<strong>br</strong> />

(LABRONICI, 2002, p. 20).<<strong>br</strong> />

Ao <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong>de ao processo de ampliação e compreensão <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de além <strong>da</strong> concepção biológica, ou seja, volta<strong>da</strong> para a reprodução,<<strong>br</strong> />

planejamento familiar, prevenção de <strong>do</strong>enças sexualmente transmissíveis, AIDS, e<<strong>br</strong> />

distúrbios sexuais, através <strong>da</strong> visão racionalista, encontrei uma escassa literatura<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e a temática, o que também é reitera<strong>do</strong> por Eliopoulos (2005) ao afirmar que<<strong>br</strong> />

são abun<strong>da</strong>ntes as publicações referentes às diversas faixas etárias, exceto para o<<strong>br</strong> />

i<strong>do</strong>so. Essa situação parece ser sugestiva, pois a não percepção desta sexuali<strong>da</strong>de


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

12<<strong>br</strong> />

a torna carrega<strong>da</strong> de pré-julgamento que contagia os profissionais na área <strong>da</strong> saúde<<strong>br</strong> />

(CAPODIECI, 2000).<<strong>br</strong> />

O tema escolhi<strong>do</strong> apresenta-se como para<strong>do</strong>xo, uma vez que vivemos em<<strong>br</strong> />

um planeta onde o processo de envelhecimento é uma reali<strong>da</strong>de concreta e, no<<strong>br</strong> />

entanto, é vista apenas no que concerne a problemas físicos, fican<strong>do</strong> alguns<<strong>br</strong> />

aspectos, como o <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de, em segun<strong>do</strong> plano. A escassez<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> literatura por si só justifica a realização <strong>do</strong> presente estu<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />

O envelhecimento surge como um <strong>da</strong><strong>do</strong> expressivo a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70,<<strong>br</strong> />

quan<strong>do</strong> se denunciou que o país envelheceria e essa situação foi constata<strong>da</strong> pelo<<strong>br</strong> />

IBGE 20 anos após. Em 1999, o Brasil contava com mais de 14,5 milhões de i<strong>do</strong>sos,<<strong>br</strong> />

o que correspondia a 8,6% <strong>da</strong> população <strong>br</strong>asileira. Um <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res<<strong>br</strong> />

demográficos que nos apontam para este crescimento é a relação criança (0-14<<strong>br</strong> />

anos) / i<strong>do</strong>so (acima de 60) que em 1980 era de 16 (15,9) i<strong>do</strong>sos para 100 crianças,<<strong>br</strong> />

em 1991 passou para 21 i<strong>do</strong>sos, e em 2000 para 29 (IBGE, 2002).<<strong>br</strong> />

Um outro indica<strong>do</strong>r demográfico relevante, divulga<strong>do</strong> na mídia, é a relação<<strong>br</strong> />

de criança entre 0 a 5 anos por i<strong>do</strong>so, e neste caso verifica-se a inversão, uma vez<<strong>br</strong> />

que em 1981 tínhamos 48,3 i<strong>do</strong>sos para ca<strong>da</strong> grupo de 100 crianças, em 1993<<strong>br</strong> />

passamos para 76,5, em 1999 para 97,8, em 2004 a população <strong>br</strong>asileira atingiu<<strong>br</strong> />

120,1 i<strong>do</strong>sos para 100 crianças entre 0 e 5 anos (SOARES, 2005). Dessa forma, ao<<strong>br</strong> />

comparar essas duas faixas etárias, nota-se que a mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong> perfil demográfico<<strong>br</strong> />

caminha para o chama<strong>do</strong> envelhecimento populacional. Estimativas apontam para<<strong>br</strong> />

que na próxima déca<strong>da</strong> teremos 10% <strong>da</strong> população com mais de 60 anos (PELÁEZ,<<strong>br</strong> />

2003), o que corresponde a uma população envelheci<strong>da</strong>. Talvez, alguns <strong>do</strong>s fatores<<strong>br</strong> />

responsáveis por este fenômeno, sejam: o planejamento familiar, a melhoria <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

assistência à saúde e <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> (BAKKER FILHO, 2000), o que, de certa<<strong>br</strong> />

forma, são resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> avanço <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong> tecnologia.<<strong>br</strong> />

O envelhecimento populacional <strong>br</strong>asileiro acompanha o envelhecimento<<strong>br</strong> />

mundial, e as estimativas prevêem que, em 2050, haverá no mun<strong>do</strong> porcentagens<<strong>br</strong> />

iguais para crianças e i<strong>do</strong>sos (ANDREWS apud IBGE, 2002). Essa mu<strong>da</strong>nça<<strong>br</strong> />

possibilitou um novo perfil na pirâmide etária <strong>da</strong> população <strong>br</strong>asileira, pois se antes<<strong>br</strong> />

tínhamos uma base larga e ápice estreito, indican<strong>do</strong> altas taxas de natali<strong>da</strong>de e de<<strong>br</strong> />

mortali<strong>da</strong>de, hoje em vários Esta<strong>do</strong>s e municípios temos uma base retangular que<<strong>br</strong> />

acompanha, com pequeno crescimento, as déca<strong>da</strong>s seguintes (IBGE, 2004).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

13<<strong>br</strong> />

Em Curitiba, 8,4% <strong>da</strong> população encontra-se com mais de 60 anos, esse<<strong>br</strong> />

percentual é maior que o registra<strong>do</strong> para a faixa etária de 0 a 4 anos (8,1%)<<strong>br</strong> />

(BRASIL, 2005). Parte dessa inversão <strong>do</strong> crescimento populacional deve-se ao<<strong>br</strong> />

desenvolvimento e aprimoramento <strong>da</strong>s ciências médicas, uma vez que <strong>do</strong>enças<<strong>br</strong> />

como a tuberculose, lepra, meningite, pneumonia, apendicite e outras que no<<strong>br</strong> />

passa<strong>do</strong> comprometiam a saúde humana, trazen<strong>do</strong> uma diminuição na expectativa<<strong>br</strong> />

de vi<strong>da</strong>, apresentam-se controla<strong>da</strong>s, de certa forma, pela ciência e pelas atenções<<strong>br</strong> />

governamentais em promoção, prevenção e educação em saúde (PINTO, 2000).<<strong>br</strong> />

Atualmente, as <strong>do</strong>enças que apresentam maiores taxas de prevalência são<<strong>br</strong> />

as crônico-degenerativas, ou seja, aquelas que surgem ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e<<strong>br</strong> />

acompanham o ser humano até o seu término, têm um potencial de mortali<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

menor, porém, uma morbi<strong>da</strong>de ou co-morbi<strong>da</strong>de maior (PINTO, 2000).<<strong>br</strong> />

O novo desenho <strong>da</strong> pirâmide populacional alia<strong>do</strong> às reflexões so<strong>br</strong>e esse<<strong>br</strong> />

fenômeno, permitiu o desenvolvimento <strong>da</strong> gerontologia, ciência que estu<strong>da</strong> o<<strong>br</strong> />

envelhecimento como processo em seus aspectos biopsicossociais, que tem como<<strong>br</strong> />

objetivos a manutenção <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o retar<strong>do</strong> <strong>do</strong> declínio físico e prolongamento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

com quali<strong>da</strong>de e novas expectativas. Dessa forma, é mais a<strong>br</strong>angente e engloba a<<strong>br</strong> />

geriatria, que se centra no estu<strong>do</strong> e tratamento <strong>do</strong>s processos de a<strong>do</strong>ecimento <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

i<strong>do</strong>so (VIEIRA, 2004).<<strong>br</strong> />

É importante ressaltar que a nossa socie<strong>da</strong>de vem sofren<strong>do</strong> mu<strong>da</strong>nças em<<strong>br</strong> />

um ritmo acelera<strong>do</strong> em função <strong>do</strong> avanço <strong>da</strong>s ciências e <strong>do</strong> desenvolvimento de<<strong>br</strong> />

novas tecnologias, e estes afetam a nossa existência de diversas maneiras. Nesse<<strong>br</strong> />

senti<strong>do</strong>, podemos dizer que o desenvolvimento tecnológico contribui para a<<strong>br</strong> />

longevi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> homem. Embora não seja acessível a to<strong>do</strong>s que caminham para a<<strong>br</strong> />

terceira i<strong>da</strong>de, faz necessário refletir no processo de viver e ser saudável inclusive,<<strong>br</strong> />

no envelhecimento. Assim, saúde e quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> não significam<<strong>br</strong> />

necessariamente ausência de <strong>do</strong>ença, mas seu controle, permitin<strong>do</strong> ao i<strong>do</strong>so uma<<strong>br</strong> />

vi<strong>da</strong> mais autônoma e independente, ou seja, a concessão <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de ele<<strong>br</strong> />

próprio conduzir sua trajetória existencial.<<strong>br</strong> />

O processo de envelhecimento permite ao <strong>corpo</strong> vivi<strong>do</strong> um momento de<<strong>br</strong> />

reflexão, no qual podemos ir em busca de um senti<strong>do</strong> individual para a nossa<<strong>br</strong> />

existência, o que possibilita à velhice um renascimento. Entretanto, a percepção que<<strong>br</strong> />

temos de <strong>corpo</strong>, inspira-se naquilo que soubemos desenvolver e realizar no conjunto<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong>s nossas experiências anteriores, ou seja, a pessoa que sabe envelhecer bem,


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

14<<strong>br</strong> />

aprende a escutar o <strong>corpo</strong> e o mun<strong>do</strong>, compreenden<strong>do</strong> seus próprios recursos<<strong>br</strong> />

(CAPODIECI, 2000).<<strong>br</strong> />

Diante <strong>do</strong> exposto, a pergunta nortea<strong>do</strong>ra desta pesquisa é:<<strong>br</strong> />

“Qual é a percepção que o i<strong>do</strong>so possui <strong>da</strong> sua sexuali<strong>da</strong>de”<<strong>br</strong> />

O objetivo é:<<strong>br</strong> />

“Perceber como o i<strong>do</strong>so entende e vive sua sexuali<strong>da</strong>de”.


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

15<<strong>br</strong> />

2. O DISCURSO DA LITERATURA SOBRE O TEMA


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

16<<strong>br</strong> />

Este capítulo abor<strong>da</strong> o tema sexuali<strong>da</strong>de, partin<strong>do</strong> <strong>da</strong> discussão de algumas<<strong>br</strong> />

peculiari<strong>da</strong>des <strong>do</strong> fenômeno apresenta<strong>da</strong>s por concepções encontra<strong>da</strong>s na<<strong>br</strong> />

literatura.<<strong>br</strong> />

Primeiramente, a sexuali<strong>da</strong>de não se restringe aos impulsos sexuais, nem<<strong>br</strong> />

aos órgãos sexuais, ou ao mero ato sexual, portanto, trata <strong>da</strong> interação harmoniosa<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> genitali<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> afetivi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> relação interpessoal, motivo pelo qual não é um<<strong>br</strong> />

meio de prazer apenas, é uma linguagem <strong>do</strong> ser humano, <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> (VIDAL, 2002), é<<strong>br</strong> />

uma reali<strong>da</strong>de humana multidimensional que não pode ser reduzi<strong>da</strong> a um único foco<<strong>br</strong> />

e tem diversas repercussões sociais (MOSER, 2001).<<strong>br</strong> />

A característica multidimensional é compara<strong>da</strong> por Moser (2001) como<<strong>br</strong> />

janelas que se a<strong>br</strong>em ao mun<strong>do</strong>, permitin<strong>do</strong> que nosso <strong>corpo</strong> se comunique com ele<<strong>br</strong> />

e com as pessoas que nos cercam. Assim, a sexuali<strong>da</strong>de envolve to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

e a<strong>br</strong>ange um conjunto de experiências e emoções que se exprimem na<<strong>br</strong> />

continui<strong>da</strong>de <strong>do</strong> prazer que acompanha a nossa trajetória existencial (CAPODIECI,<<strong>br</strong> />

2000).<<strong>br</strong> />

O <strong>corpo</strong>, segun<strong>do</strong> Merleau-Ponty (1990), além de expressão, é fala, é<<strong>br</strong> />

linguagem; é essa janela que nos permite comunicar com o mun<strong>do</strong>, é o veículo <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

ser no mun<strong>do</strong>, pois permite to<strong>do</strong> o movimento de ir e vir, ou seja, de espaciali<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

que ora aproxima, ora distancia o outro no processo de coexistência. Essa<<strong>br</strong> />

concepção permite que nos projetemos para e no mun<strong>do</strong>, e que esse se projete para<<strong>br</strong> />

dentro de nós, logo não temos <strong>corpo</strong>, somos <strong>corpo</strong>, <strong>da</strong> mesma forma não temos<<strong>br</strong> />

sexo, somos sexua<strong>do</strong>s (MERLEAU-PONTY, 1999). Nessa perspectiva de<<strong>br</strong> />

relacionamento homem e mun<strong>do</strong>, a sexuali<strong>da</strong>de amplia-se em três vertentes: o eu, o<<strong>br</strong> />

tu e o nós. A primeira orienta-se para alcançar a maturi<strong>da</strong>de e a integração pessoal<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> ser humano, ou seja, trata-se <strong>da</strong> construção <strong>do</strong> “eu”; a segun<strong>da</strong> possibilita a<<strong>br</strong> />

relação interpessoal, uma vez que se direciona para o outro; e a terceira, trata-se <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

socialização, visto que ocorre no estabelecimento <strong>da</strong>s relações interpessoais<<strong>br</strong> />

cruza<strong>da</strong>s (VIDAL, 2002).<<strong>br</strong> />

A sexuali<strong>da</strong>de apresenta-se como uma reali<strong>da</strong>de dinâmica “que faz com que<<strong>br</strong> />

o homem tenha uma história” na qual projeta sua maneira de ser no mun<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

(MERLEAU-PONTY, 1999, p. 219). Assim sen<strong>do</strong>, torna-se possui<strong>do</strong>ra de diversas<<strong>br</strong> />

dimensões tais como: a biológica, a psicológica, a dialógica, a sociocultural, a<<strong>br</strong> />

existencial e a espiritual.


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

17<<strong>br</strong> />

Ao reconhecer as diversas dimensões que compreendem a sexuali<strong>da</strong>de,<<strong>br</strong> />

não procuro fragmentá-la, como no modelo cartesiano, mas a imagino como o cubo,<<strong>br</strong> />

menciona<strong>do</strong> por Merleau Ponty (1990, p. 45), que é possui<strong>do</strong>r de várias faces e<<strong>br</strong> />

mesmo a face oculta, à minha vista, “está presente ao seu mo<strong>do</strong>”. Essa figura<<strong>br</strong> />

também se torna significativa, porque a ca<strong>da</strong> movimento ou a ca<strong>da</strong> posição que<<strong>br</strong> />

tenho perante o objeto, posso ver uma de suas faces. Dessa forma, ca<strong>da</strong> dimensão<<strong>br</strong> />

apresenta uma peculiari<strong>da</strong>de, mas ao interligar-se às outras, pertencem ao mesmo<<strong>br</strong> />

fenômeno.<<strong>br</strong> />

A dimensão biológica diz respeito ao sexo cromossômico, ao<<strong>br</strong> />

desenvolvimento anatômico e fisiológico, aos órgãos sexuais, à resposta sexual e à<<strong>br</strong> />

reprodução. É determina<strong>da</strong> pela presença <strong>do</strong>s cromossomos sexuais associa<strong>da</strong> ao<<strong>br</strong> />

acúmulo primitivo de células gona<strong>da</strong>is, na fase uterina, que se converterão em<<strong>br</strong> />

testículos ou ovários. Em segui<strong>da</strong>, to<strong>do</strong> o processo de sexualização biológica<<strong>br</strong> />

dependerá <strong>do</strong>s fatores hormonais, os quais determinarão se a genitália e os centros<<strong>br</strong> />

cere<strong>br</strong>ais serão masculinos ou femininos. E, após o nascimento, serão os hormônios<<strong>br</strong> />

que conduzirão o desenvolvimento <strong>da</strong>s características sexuais (CAVALCANTI,<<strong>br</strong> />

1996). Os hormônios sexuais estão presentes em to<strong>da</strong> a trajetória <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

apresentan<strong>do</strong> os seus picos e declínios, desenvolven<strong>do</strong> uma <strong>da</strong>nça hormonal,<<strong>br</strong> />

conforme a etapa vivi<strong>da</strong>.<<strong>br</strong> />

Na terceira i<strong>da</strong>de, as mu<strong>da</strong>nças hormonais e físicas decorrentes <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

processo de envelhecimento, não ocasionam a diminuição <strong>da</strong> libi<strong>do</strong>, motivo pelo<<strong>br</strong> />

qual o i<strong>do</strong>so tem a sua sexuali<strong>da</strong>de contempla<strong>da</strong> nessa dimensão. Isso significa que,<<strong>br</strong> />

apesar <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças nos padrões de resposta sexual entre homens e mulheres<<strong>br</strong> />

durante a trajetória existencial, eles permanecem presentes (KOLONDY, MASTERS,<<strong>br</strong> />

JOHNSON, 1982). Essa compreensão é corrobora<strong>da</strong> por Capodieci (2000, p. 12) ao<<strong>br</strong> />

afirmar que não existem, excluin<strong>do</strong> casos claramente patológicos, “obstáculos<<strong>br</strong> />

fisiológicos para uma normal ativi<strong>da</strong>de sexual nos indivíduos que passam <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

sessenta anos de i<strong>da</strong>de”.<<strong>br</strong> />

No que diz respeito à dimensão dialógica, é importante lem<strong>br</strong>ar que a<<strong>br</strong> />

existência humana se constitui na relação com o outro, e, neste senti<strong>do</strong>, a<<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de preenche to<strong>do</strong> relacionamento <strong>do</strong> eu com o tu; é uma linguagem na<<strong>br</strong> />

construção <strong>do</strong>s relacionamentos que se manifesta pelo olhar, pelo toque, pela <strong>da</strong>nça<<strong>br</strong> />

(VIDAL, 2002), ou seja, pelas múltiplas formas de manifestação <strong>da</strong> <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de,<<strong>br</strong> />

uma vez que esta é a essência que se expressa pelo <strong>corpo</strong> que vê e é visto, que


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

18<<strong>br</strong> />

toca e é toca<strong>do</strong>, que sente e é senti<strong>do</strong>, porquanto é sensível (MERLEAU-PONTY,<<strong>br</strong> />

1990).<<strong>br</strong> />

A sexuali<strong>da</strong>de, como dimensão existencial, é desvela<strong>da</strong> por Merleau-Ponty<<strong>br</strong> />

como coextensiva à vi<strong>da</strong>, porque para ele não temos sexo, somos sexua<strong>do</strong>s, o que<<strong>br</strong> />

denota uma cumplici<strong>da</strong>de entre existência e sexuali<strong>da</strong>de, ao passo que “Existe uma<<strong>br</strong> />

osmose entre sexuali<strong>da</strong>de e a existência, quer dizer, se a existência se difunde na<<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de, reciprocamente a sexuali<strong>da</strong>de se difunde na existência, de forma que é<<strong>br</strong> />

impossível determinar, para uma decisão ou para uma <strong>da</strong><strong>da</strong> ação, a parte <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

motivação sexual e a parte <strong>da</strong>s outras motivações; é impossível caracterizar uma<<strong>br</strong> />

decisão ou um ato como “sexual” ou “não-sexual”” (MERLEAU-PONTY, 1999, p.<<strong>br</strong> />

234).<<strong>br</strong> />

A ótica existencial de Merleau-Ponty possibilita compreender que a<<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de permite ao homem desenhar a sua história, porque nela projeta “sua<<strong>br</strong> />

maneira de ser, quer dizer, a respeito <strong>do</strong> tempo e a respeito <strong>do</strong>s outros homens”<<strong>br</strong> />

(MELEAU-PONTY, 1999, p. 219). Assim, não se restringe ao genital e nem a um<<strong>br</strong> />

simples processo de respostas nos quais os órgãos sexuais são o lugar, nem é<<strong>br</strong> />

instintiva, ela é compreendi<strong>da</strong> como a maneira de ser no mun<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />

É importante lem<strong>br</strong>ar que a sexuali<strong>da</strong>de também é um fenômeno psíquico, e<<strong>br</strong> />

como tal faz-se necessário esboçar o desenvolvimento psicológico <strong>do</strong> ser humano<<strong>br</strong> />

na compreensão <strong>do</strong> psicanalista Sigmund Freud, que no final <strong>do</strong> século XIX e início<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> XX, se preocupou em investigar a sexuali<strong>da</strong>de. Seus estu<strong>do</strong>s se apresentam<<strong>br</strong> />

como um divisor de águas para a compreensão moderna e contemporânea deste<<strong>br</strong> />

tema, uma vez que a sexuali<strong>da</strong>de vai além <strong>da</strong> genitali<strong>da</strong>de. Sua manifestação está<<strong>br</strong> />

presente em to<strong>da</strong>s as fases <strong>do</strong> desenvolvimento humano sob uma multiplici<strong>da</strong>de de<<strong>br</strong> />

formas, é a libi<strong>do</strong>, ou seja, a energia sexual em diferentes partes <strong>do</strong> <strong>corpo</strong>.<<strong>br</strong> />

O desenvolvimento sexual em sua dimensão psicológica ocorre seguin<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

algumas fases, que de certa forma, também acompanham o desenvolvimento<<strong>br</strong> />

biológico, e sob a ótica <strong>da</strong> psicanálise já existe manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de a partir<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> nascimento. Na criança, ela vai se fixan<strong>do</strong> em regiões erógenas diversas por<<strong>br</strong> />

apresentarem diferentes necessi<strong>da</strong>des fisiológicas, que podem mais tarde se<<strong>br</strong> />

separar <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de. Segun<strong>do</strong> essas necessi<strong>da</strong>des, verificamos no<<strong>br</strong> />

desenvolvimento infantil cinco etapas ou fases: a oral, a anal, a fálica, a edípica e a<<strong>br</strong> />

de latência (FREUD, 1979).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

19<<strong>br</strong> />

A primeira fase <strong>do</strong> desenvolvimento sexual infantil, denomina<strong>da</strong> de fase<<strong>br</strong> />

oral, ocorre entre o terceiro ou quarto mês de vi<strong>da</strong>, nos quais, a criança desco<strong>br</strong>e o<<strong>br</strong> />

prazer no fenômeno <strong>da</strong> sucção associa<strong>do</strong> ao prazer <strong>da</strong> nutrição, caracterizan<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

assim, a boca como zona erógena. Já a fase anal ou esfincteriana desenvolve-se a<<strong>br</strong> />

partir <strong>do</strong> primeiro ano e tem como característica o controle <strong>do</strong> esfíncter anal pela<<strong>br</strong> />

criança, o que passa a ser a primeira experiência de controle so<strong>br</strong>e seu <strong>corpo</strong>, e, por<<strong>br</strong> />

sua vez, a fase genital ou fálica, que se dá por volta <strong>do</strong>s três anos, caracteriza-se<<strong>br</strong> />

pelo auto-erotismo. É um perío<strong>do</strong> muito importante, porque possibilita que a criança<<strong>br</strong> />

comece a tomar consciência de si, <strong>do</strong> seu <strong>corpo</strong>.<<strong>br</strong> />

No que diz respeito à fase edípica, nela se constrói e se soluciona o<<strong>br</strong> />

Complexo de Édipo, e apesar de ser simultânea com a fase genital, costuma ser<<strong>br</strong> />

estu<strong>da</strong><strong>da</strong> separa<strong>da</strong>mente. Para que a criança atinja a maturi<strong>da</strong>de sexual desta fase<<strong>br</strong> />

é necessário estabelecer a primazia <strong>da</strong> região genital so<strong>br</strong>e as outras regiões<<strong>br</strong> />

erógenas que permanecerão, entretanto, subordina<strong>da</strong>s à região genital, e deve<<strong>br</strong> />

ain<strong>da</strong>, passar <strong>do</strong> auto-erotismo ao amor objetal, relaciona<strong>do</strong> á procura <strong>do</strong> outro. A<<strong>br</strong> />

resolução deste complexo se dá a partir <strong>do</strong> momento de aceitação <strong>da</strong> própria<<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> relação que estabelece com o objeto externo. Esse processo<<strong>br</strong> />

desenvolve-se mediante a identificação com o progenitor <strong>do</strong> mesmo sexo, e em<<strong>br</strong> />

segui<strong>da</strong> estabelece-se a última fase <strong>do</strong> desenvolvimento sexual infantil denomina<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

de perío<strong>do</strong> de latência. Neste, a criança aprende as formas de sociabili<strong>da</strong>de e a<<strong>br</strong> />

energia sexual é desloca<strong>da</strong> para as ativi<strong>da</strong>des intelectuais e esportivas (FREUD,<<strong>br</strong> />

1979).<<strong>br</strong> />

É importante lem<strong>br</strong>ar que o desenvolvimento de ca<strong>da</strong> uma dessas fases<<strong>br</strong> />

servirá de base para a construção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de, motivo pelo qual julgava-se ser<<strong>br</strong> />

importante a resolução delas (FREUD, 1979). Contu<strong>do</strong>, o autor afirma que podem<<strong>br</strong> />

ocorrer algumas variações de ordem cronológica e de eventos característicos de<<strong>br</strong> />

ca<strong>da</strong> fase que terão um senti<strong>do</strong> muito importante no desenvolvimento <strong>do</strong> ser<<strong>br</strong> />

humano. Cabe destacar que, a partir <strong>da</strong> fase fálica ou genital, as diferenças<<strong>br</strong> />

começam a existir no desenvolvimento <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de no menino e na menina.<<strong>br</strong> />

O desenvolvimento <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de continua na a<strong>do</strong>lescência e direciona-se<<strong>br</strong> />

para o próprio <strong>corpo</strong> e para o <strong>corpo</strong> <strong>do</strong> outro. Ocorre o surgimento <strong>do</strong>s caracteres<<strong>br</strong> />

sexuais secundários que leva a uma transformação mais rápi<strong>da</strong> <strong>da</strong> dimensão<<strong>br</strong> />

biológica <strong>do</strong> que <strong>da</strong> psicológica e social. Isto significa que o <strong>corpo</strong> modifica-se e<<strong>br</strong> />

prepara-se rapi<strong>da</strong>mente para a vi<strong>da</strong> adulta. Entretanto, a mente e os


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

20<<strong>br</strong> />

relacionamentos não acompanham o mesmo ritmo, poden<strong>do</strong> acarretar dificul<strong>da</strong>des<<strong>br</strong> />

nas relações, no estabelecimento <strong>do</strong> diálogo com pares diferentes.<<strong>br</strong> />

Na a<strong>do</strong>lescência ocorrem diversas mu<strong>da</strong>nças, uma vez que passará <strong>da</strong> fase<<strong>br</strong> />

infantil para a adulta, e nessa transição encontram-se transformações <strong>do</strong> <strong>corpo</strong>, na<<strong>br</strong> />

qual a manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de não só está presente, mas apresenta-se como<<strong>br</strong> />

divisor de etapas. Elas fazem parte <strong>do</strong> processo de construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

a<strong>do</strong>lescente e que o leva ao convívio em grupos, reforçan<strong>do</strong> os vínculos de amizade<<strong>br</strong> />

com seres humanos <strong>do</strong> mesmo sexo. É nesse perío<strong>do</strong> que o interesse pelo outro<<strong>br</strong> />

leva vários a<strong>do</strong>lescentes a terem sua primeira experiência relaciona<strong>da</strong> com o ato<<strong>br</strong> />

sexual (LOPES, 1993; SOUZA, 2000; VIDAL, 2002). Convém destacar que as<<strong>br</strong> />

transformações ocorrem durante to<strong>da</strong> a trajetória de vi<strong>da</strong>, contu<strong>do</strong>, em nenhum outro<<strong>br</strong> />

momento, elas são tão rápi<strong>da</strong>s como na a<strong>do</strong>lescência, visto que, em um prazo de 6<<strong>br</strong> />

a 8 anos, o <strong>corpo</strong> deixa de ser criança e se transforma em adulto.<<strong>br</strong> />

Na literatura encontramos uma fase que se inicia após a a<strong>do</strong>lescência e é<<strong>br</strong> />

denomina<strong>da</strong> juventude, compreendi<strong>da</strong> como o perío<strong>do</strong> que vai <strong>do</strong>s 18 aos 40 anos<<strong>br</strong> />

(PAPALIA & OLDS, 2000) 1 . Nela a dimensão psicológica se caracteriza pelo<<strong>br</strong> />

estabelecimento de relações interpessoais, mediante o diálogo interpessoal<<strong>br</strong> />

sexualiza<strong>do</strong> (VIDAL, 2002), e a sexuali<strong>da</strong>de direciona-se mais especificamente pela<<strong>br</strong> />

procura <strong>do</strong> outro.<<strong>br</strong> />

A fase subseqüente à juventude é a meia-i<strong>da</strong>de. Nela a sexuali<strong>da</strong>de é<<strong>br</strong> />

concebi<strong>da</strong> como madura e pode apresentar-se de diversas formas como: a união<<strong>br</strong> />

matrimonial, a condição de solteiro, a viuvez e a virgin<strong>da</strong>de consagra<strong>da</strong>. Isso<<strong>br</strong> />

significa que, a sexuali<strong>da</strong>de expressa nesta fase, na<strong>da</strong> mais é <strong>do</strong> que a<<strong>br</strong> />

manifestação <strong>da</strong>s experiências vivencia<strong>da</strong>s pelo <strong>corpo</strong> vivi<strong>do</strong> (VIDAL, 2002).<<strong>br</strong> />

Ao tentar compreender como ocorre o desenvolvimento <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de,<<strong>br</strong> />

esquematizei mentalmente três momentos ímpares: a infância, na qual o<<strong>br</strong> />

desenvolvimento <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de apresenta-se volta<strong>do</strong> para si, uma vez que ela<<strong>br</strong> />

possui características egocêntricas; a a<strong>do</strong>lescência, que se caracteriza pelo<<strong>br</strong> />

desco<strong>br</strong>imento <strong>do</strong> próprio <strong>corpo</strong>, mas simultaneamente leva ao interesse pelo <strong>corpo</strong><<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> outro; e por último a fase adulta, na qual a sexuali<strong>da</strong>de se desenvolve como uma<<strong>br</strong> />

busca pelo outro, como complemento <strong>da</strong>quilo que não tem, e, nesse senti<strong>do</strong>, ela é<<strong>br</strong> />

troca.<<strong>br</strong> />

1<<strong>br</strong> />

Por ser um contexto americano, as autoras consideram a juventude a partir <strong>do</strong>s 20 até 40 anos, a meia-i<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

40 aos 65 anos e a terceira i<strong>da</strong>de a partir <strong>do</strong>s 65 anos. Para esse estu<strong>do</strong> utilizarei as mesmas etapas,contu<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

a<strong>da</strong>ptan<strong>do</strong> as i<strong>da</strong>des a nossa reali<strong>da</strong>de (PAPALIA & OLDS, 2000, p. 27).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

21<<strong>br</strong> />

A fase que vem a seguir é a terceira i<strong>da</strong>de e, diferentemente <strong>da</strong>s outras, no<<strong>br</strong> />

que se refere à temporali<strong>da</strong>de, parece apontar para o limite <strong>da</strong> nossa existência<<strong>br</strong> />

mais rapi<strong>da</strong>mente, visto que o kronos, ou seja, o tempo cronológico torna-se fator<<strong>br</strong> />

determinante para a deterioração <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> em sua totali<strong>da</strong>de. Por este motivo não<<strong>br</strong> />

devemos nos preocupar com ele, porquanto, o tempo mais importante no processo<<strong>br</strong> />

de envelhecimento é o kairos 2 , isto é, o tempo vivi<strong>do</strong> que a ca<strong>da</strong> amanhecer nos<<strong>br</strong> />

aponta para uma multiplici<strong>da</strong>de de possibili<strong>da</strong>des, que pode colorir nosso existir,<<strong>br</strong> />

transforman<strong>do</strong> nossa existência em uma grande tela plena de significa<strong>do</strong>s que serão<<strong>br</strong> />

armazena<strong>do</strong>s em nosso <strong>corpo</strong> que é “memória que guar<strong>da</strong>, retrata, conta e faz<<strong>br</strong> />

história”, uma vez que vivencia e experiencia o ser e o estar no mun<strong>do</strong> (LABRONICI,<<strong>br</strong> />

2002, p. 20).<<strong>br</strong> />

Destarte, o tempo gera desgaste natural <strong>do</strong> nosso <strong>corpo</strong>, porquanto são 24<<strong>br</strong> />

horas por dia o coração baten<strong>do</strong>, o pulmão inspiran<strong>do</strong> oxigênio e expiran<strong>do</strong> gás<<strong>br</strong> />

carbônico, milhares de células morren<strong>do</strong> e se renovan<strong>do</strong>, o cére<strong>br</strong>o funcionan<strong>do</strong>, e<<strong>br</strong> />

assim por diante. Isso faz com que o nosso <strong>corpo</strong> jamais seja como ontem - o aqui e<<strong>br</strong> />

agora se configuram como uma sucessão de momentos únicos, singulares que<<strong>br</strong> />

desencadeiam uma multiplici<strong>da</strong>de de ações e reações (LABRONICI, 2002).<<strong>br</strong> />

To<strong>da</strong>s as transformações que acontecem no <strong>corpo</strong> afetam a sua<<strong>br</strong> />

multidimensionali<strong>da</strong>de, e, neste senti<strong>do</strong>, podemos pensar nos mitos 3 e preconceitos<<strong>br</strong> />

que permeiam a afetivi<strong>da</strong>de e sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so, visto que ela, no senso comum,<<strong>br</strong> />

parece estar em declínio ou ser inexistente, e até mesmo sem função.<<strong>br</strong> />

Historicamente, a compreensão <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de esteve e está centra<strong>da</strong> na<<strong>br</strong> />

concepção reprodutiva. Esta concepção não só limita a sexuali<strong>da</strong>de como também a<<strong>br</strong> />

desvaloriza.<<strong>br</strong> />

É interessante lem<strong>br</strong>ar que, historicamente, a desvalorização <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de inicia-se com a igreja cristã que considerava o ato sexual vergonhoso<<strong>br</strong> />

enquanto uma prática não reprodutiva. É nesta concepção que a sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

i<strong>do</strong>so se construiu (SANTOS, 2003), razão pela qual carrega o peso <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

discriminação devi<strong>do</strong> à existência <strong>da</strong> construção social de estereótipos assexua<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

representan<strong>do</strong> o envelhecimento, de forma que, o exercício <strong>do</strong>s relacionamentos<<strong>br</strong> />

afetivos e sexuais torna-se prejudica<strong>do</strong> e de alguma forma reprimi<strong>do</strong>, crian<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

2<<strong>br</strong> />

Contribuição <strong>do</strong>s apontamentos realiza<strong>do</strong>s pela orienta<strong>do</strong>ra durante a banca de qualificação deste trabalho no<<strong>br</strong> />

dia 12/06/06.<<strong>br</strong> />

3<<strong>br</strong> />

São pensamentos coletivos, geralmente, invenções populares que servem de proteção <strong>da</strong> angústia ante o<<strong>br</strong> />

desconheci<strong>do</strong> (LOPES & MAIA, 2000, p. 21).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

22<<strong>br</strong> />

dificul<strong>da</strong>des em perceber e permitir o exercício <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de após o perío<strong>do</strong> de<<strong>br</strong> />

procriação (RISMAN, 2005). Por vezes, o preconceito permite o entendimento de<<strong>br</strong> />

que a andropausa e a menopausa são os responsáveis pelas dificul<strong>da</strong>des sexuais, o<<strong>br</strong> />

que impede de perceber que a sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so está além <strong>da</strong>s limitações<<strong>br</strong> />

físicas. Este impedimento surge em nível psicológico e social, e, de certa forma, o<<strong>br</strong> />

preconceito que habita os jovens ao refutarem a sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so, também pode<<strong>br</strong> />

ser encontra<strong>do</strong> neles mesmos acerca de sua própria sexuali<strong>da</strong>de (SANTOS, 2003).<<strong>br</strong> />

No que diz respeito à dimensão sociocultural, a sexuali<strong>da</strong>de “representa um<<strong>br</strong> />

conjunto de valores e práticas <strong>corpo</strong>rais culturalmente legitima<strong>da</strong>s na história <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

humani<strong>da</strong>de” (GONÇALVES, 2005, p. 112). Por este motivo sua construção é<<strong>br</strong> />

mutável, isto é, além de ser socialmente construí<strong>da</strong>, modifica-se conforme a cultura<<strong>br</strong> />

e ao longo <strong>da</strong> história, envolven<strong>do</strong> também a percepção <strong>do</strong> próprio <strong>corpo</strong>. Assim, ser<<strong>br</strong> />

homem ou mulher ultrapassa a dimensão biológica. O que recebemos ao nascer é<<strong>br</strong> />

um status feminino ou masculino e a socie<strong>da</strong>de espera que a pessoa tenha um<<strong>br</strong> />

comportamento compatível com ele, e isso é denomina<strong>do</strong> papel sexual. Esse fato<<strong>br</strong> />

trata de uma identificação socioantropológica, na qual a criança passa a ser<<strong>br</strong> />

enquadra<strong>da</strong> dentro de estruturas próprias de ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, que definem o que é<<strong>br</strong> />

ser masculino e o que é ser feminino (CAVALCANTI, 1996).<<strong>br</strong> />

O exercício <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de possibilita diversas formas de manifestação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

<strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de que é expressão <strong>do</strong> <strong>corpo</strong>, que me faz existir e tomar consciência de<<strong>br</strong> />

mim, <strong>do</strong> outro e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Essa consciência possibilita a percepção de tu<strong>do</strong> que<<strong>br</strong> />

está a minha volta, <strong>da</strong>s singulari<strong>da</strong>des, <strong>da</strong>s diferentes relações que posso<<strong>br</strong> />

estabelecer comigo e com o outro, mediante uma postura aberta, flexível e sensível<<strong>br</strong> />

que propiciará conhecer e experimentar sentimentos de amor e ódio, de pertença e<<strong>br</strong> />

exclusão, sensações de prazer e <strong>do</strong>r, porquanto o <strong>corpo</strong> é objeto sensível, é veículo<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> ser no mun<strong>do</strong> (MERLEAU-PONTY, 1990; 1999).<<strong>br</strong> />

Ao mergulharmos na história, para ampliarmos a compreensão de como se<<strong>br</strong> />

deu a construção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de, percebemos que seu significa<strong>do</strong> vai modifican<strong>do</strong>se<<strong>br</strong> />

nos diversos contextos históricos. Ora apresentava-se carrega<strong>da</strong> de repressão,<<strong>br</strong> />

preconceitos, mitos e tabus, ora com liber<strong>da</strong>de sexual (LOPES & MAIA, 2000).<<strong>br</strong> />

Nesse senti<strong>do</strong>, a sexuali<strong>da</strong>de possui múltiplas formas de manifestação durante a<<strong>br</strong> />

trajetória existencial e que são influencia<strong>da</strong>s pela cultura.<<strong>br</strong> />

É importante salientar que cultura pode ser compreendi<strong>da</strong> como forma de<<strong>br</strong> />

organização de uma socie<strong>da</strong>de, seus costumes e tradições transmiti<strong>da</strong>s de geração


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

23<<strong>br</strong> />

a geração, ou seja, é a manifestação de padrões de comportamento aprendi<strong>do</strong>s e<<strong>br</strong> />

desenvolvi<strong>do</strong>s pelo ser humano no processo de interação social (HELMAN, 2003).<<strong>br</strong> />

Sen<strong>do</strong> assim, percebo que as formas de manifestar a sexuali<strong>da</strong>de mu<strong>da</strong>m no<<strong>br</strong> />

decorrer <strong>da</strong> trajetória existencial, mesmo ao longo <strong>da</strong> história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de e nas<<strong>br</strong> />

diferentes culturas.<<strong>br</strong> />

A cultura influencia a construção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de que ocorre no <strong>corpo</strong><<strong>br</strong> />

coletivo, uma vez que é este quem estabelece normas e comportamentos, cria<<strong>br</strong> />

tabus, mitos e preconceitos. Ao olhar para a cultura ocidental, constituí<strong>da</strong> por traços<<strong>br</strong> />

ju<strong>da</strong>ico-cristãos, é possível reconhecer suas peculiari<strong>da</strong>des no que se refere à<<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de, logo, teve suas conotações mol<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela história e religião.<<strong>br</strong> />

No que diz respeito ao i<strong>do</strong>so, a história deu conta de construir o mito <strong>da</strong> sua<<strong>br</strong> />

assexuali<strong>da</strong>de, ten<strong>do</strong> como referência o adulto viril. Dessa forma, to<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça<<strong>br</strong> />

física decorrente <strong>do</strong> processo de desenvolvimento <strong>do</strong> ser humano em sua trajetória<<strong>br</strong> />

existencial traria a diminuição, ou até mesmo o desaparecimento <strong>do</strong> desejo, e aos<<strong>br</strong> />

que tentassem manifestar a sua sexuali<strong>da</strong>de sofreriam a decepção <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des<<strong>br</strong> />

impostas pela i<strong>da</strong>de (RISMAN, 2005).<<strong>br</strong> />

Na antiga Grécia, o exercício <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de entre homens e mulheres foi<<strong>br</strong> />

construí<strong>do</strong> em torno <strong>da</strong> procriação. Alguns escritos de Aristóteles descrevem que a<<strong>br</strong> />

saúde era vista como mais importante que o amor, motivo pelo qual, caberia ao<<strong>br</strong> />

Esta<strong>do</strong> determinar a i<strong>da</strong>de mínima e máxima para a ativi<strong>da</strong>de sexual, uma vez que<<strong>br</strong> />

“filhos de pais muito jovens nascem imperfeitos de <strong>corpo</strong> e de alma, e os de pais<<strong>br</strong> />

excessivamente i<strong>do</strong>sos são débeis; conseqüentemente, este perío<strong>do</strong> deve ser<<strong>br</strong> />

limita<strong>do</strong> à fase de plenitude mental” (RISMAN, 2005).<<strong>br</strong> />

O que podemos perceber é que, de alguma forma, havia razões para tal<<strong>br</strong> />

proposição, mas que por outro la<strong>do</strong>, apresentava-se preconceituosa e<<strong>br</strong> />

discriminatória em relação ao i<strong>do</strong>so, uma vez que nessa socie<strong>da</strong>de ele era<<strong>br</strong> />

valoriza<strong>do</strong> porque, ao possuir experiência e sabe<strong>do</strong>ria, transmitia as tradições para<<strong>br</strong> />

os mais jovens. No perío<strong>do</strong> mítico, os i<strong>do</strong>sos eram conhece<strong>do</strong>res profun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

mitos e o repassavam oralmente aos mais jovens para garantir a perpetuação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

cultura e <strong>do</strong>s conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s de geração a geração (OLIVEIRA, 2000).<<strong>br</strong> />

No que diz respeito à crença no Cria<strong>do</strong>r, a visão criacionista 4 , remete a uma<<strong>br</strong> />

criação <strong>do</strong>ta<strong>da</strong> de sexuali<strong>da</strong>de, que era vista como algo bom, puro, ingênuo, uma<<strong>br</strong> />

4<<strong>br</strong> />

Teoria explicativa <strong>da</strong> origem <strong>do</strong>s seres vivos que se refere à intervenção <strong>do</strong> poder divino. Essa forma de pensar<<strong>br</strong> />

vigorou até o século XVIII (THINES & LEMPEREUR, 1970, p. 223).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

24<<strong>br</strong> />

vez que Adão e Eva estavam nus e não se envergonhavam, o que resulta no<<strong>br</strong> />

desembaraço entre os <strong>corpo</strong>s. Tu<strong>do</strong> estaria tranqüilo, se não fosse o homem ter<<strong>br</strong> />

adquiri<strong>do</strong> consciência <strong>do</strong> bem e <strong>do</strong> mal. A partir <strong>da</strong>í iniciou a desigual<strong>da</strong>de entre os<<strong>br</strong> />

gêneros, e a mulher passou a ser <strong>do</strong>mina<strong>da</strong> pelo homem (BÍBLIA, 1995; SNOEK,<<strong>br</strong> />

1981).<<strong>br</strong> />

Na visão Patrística 5 , que a<strong>br</strong>ange os pensa<strong>do</strong>res cristãos no primeiro<<strong>br</strong> />

século, a sexuali<strong>da</strong>de passa a receber influências platônicas, na qual o homem não<<strong>br</strong> />

está em seu esta<strong>do</strong> natural. Ela é compreendi<strong>da</strong> como produto <strong>do</strong> <strong>corpo</strong>, e portanto,<<strong>br</strong> />

é ti<strong>da</strong> como pecaminosa encontran<strong>do</strong> no matrimônio a redenção, por meio <strong>da</strong> prole,<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> fideli<strong>da</strong>de e <strong>do</strong> sacramento como juramento e compromisso definitivo (SNOEK,<<strong>br</strong> />

1981). Nesse contexto, ela era permiti<strong>da</strong> apenas para a procriação, e os indivíduos<<strong>br</strong> />

mais velhos que não poderiam mais desenvolver a sua prole eram ti<strong>do</strong>s como<<strong>br</strong> />

sofre<strong>do</strong>res, visto que possuíam o desejo, mas não teriam a permissão de exercê-lo.<<strong>br</strong> />

Esse aspecto retrata algumas formas de preconceito visto ain<strong>da</strong> hoje (RISMAN,<<strong>br</strong> />

2005).<<strong>br</strong> />

No perío<strong>do</strong> medieval, constituiu-se o celibato eclesiástico, o qual foi imposto<<strong>br</strong> />

por uma razão econômica e não por ordenança divina, e a devoção mariana, a qual<<strong>br</strong> />

valorizava a casti<strong>da</strong>de. Neste senti<strong>do</strong>, pensar em sexuali<strong>da</strong>de fora de padrões<<strong>br</strong> />

reprodutivos <strong>do</strong> casamento era visto como prática pecaminosa. Assim, os i<strong>do</strong>sos<<strong>br</strong> />

estavam excluí<strong>do</strong>s <strong>do</strong> exercício de sua sexuali<strong>da</strong>de devi<strong>do</strong> à impossibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

fecun<strong>da</strong>ção. Apesar dessa repressão, houve várias formas de desenvolver a<<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de extramatrimonial, e isso se manteve até aproxima<strong>da</strong>mente o ano 1540<<strong>br</strong> />

com o advento <strong>do</strong> puritanismo, ou seja, uma <strong>do</strong>utrina que busca o resgate <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

morali<strong>da</strong>de humana. Esse perío<strong>do</strong> passa a ser marca<strong>do</strong> pela inibição <strong>da</strong> nudez,<<strong>br</strong> />

polidez <strong>da</strong> linguagem, combate à masturbação e educação diferencia<strong>da</strong> para<<strong>br</strong> />

crianças, pelo fato de considerar determina<strong>do</strong>s temas impróprios para elas. Tal<<strong>br</strong> />

situação se mantém até surgir a revolução sexual a partir de 1870 (SNOEK, 1981).<<strong>br</strong> />

A revolução sexual inicia-se no perío<strong>do</strong> moderno e Snoek (1981) a divide<<strong>br</strong> />

di<strong>da</strong>ticamente em três fases: a primeira chama<strong>da</strong> de revolução <strong>do</strong>s artistas e <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

cientistas (1870-1914) na qual a sexologia dá os seus primeiros passos e já se<<strong>br</strong> />

falava na libertação <strong>da</strong> mulher; a próxima é chama<strong>da</strong> de revolução <strong>da</strong> elite<<strong>br</strong> />

intelectual (1918-1940), momento no qual as relações matrimoniais e várias outras<<strong>br</strong> />

5<<strong>br</strong> />

Filosofia cristã formula<strong>da</strong> pelos padres cristãos nos primeiros cinco séculos de nossa era, buscan<strong>do</strong> combater a<<strong>br</strong> />

descrença e o paganismo por meio de uma apologética <strong>da</strong> nova religião, calcan<strong>do</strong>-se freqüentemente em<<strong>br</strong> />

argumentos e conceitos procedentes <strong>da</strong> filosofia grega (HOUAISS, 2001, p. 2151).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

25<<strong>br</strong> />

relações so<strong>br</strong>e sexuali<strong>da</strong>de, passaram a ser questiona<strong>da</strong>s <strong>da</strong> forma como vinham<<strong>br</strong> />

sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>da</strong>s, ou seja, foi um momento em que vários pensa<strong>do</strong>res refletiram<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e o tema sexuali<strong>da</strong>de; a última fase denomina<strong>da</strong> de revolução sexual <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />

massas populares (1945 até hoje) veio derrubar praticamente to<strong>do</strong>s os tabus a<<strong>br</strong> />

respeito <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de; o sexo torna-se artigo de consumo, confere-se uma maior<<strong>br</strong> />

liber<strong>da</strong>de à busca <strong>do</strong> prazer. Devi<strong>do</strong> a essa revolução, vivemos atualmente um<<strong>br</strong> />

momento no qual a manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de é expressa em sua diversi<strong>da</strong>de, de<<strong>br</strong> />

forma mais aberta.<<strong>br</strong> />

Apesar <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças vivi<strong>da</strong>s, a construção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> se dá sob<<strong>br</strong> />

a forma de mito e preconceito, e ao referir-me à sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so, esse fato<<strong>br</strong> />

parece persistir.<<strong>br</strong> />

No que diz respeito aos estu<strong>do</strong>s referentes à sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so,<<strong>br</strong> />

encontraremos trabalhos a partir de 1960, sen<strong>do</strong> que em sua maioria investigam a<<strong>br</strong> />

dimensão biológica <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de (CAPOIECI, 2000).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

26<<strong>br</strong> />

3. A TRAJETÓRIA METODOLÓGICA PERCORRIDA


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

27<<strong>br</strong> />

A escolha <strong>do</strong> caminho a ser percorri<strong>do</strong> deve ir ao encontro <strong>do</strong> objeto a ser<<strong>br</strong> />

investiga<strong>do</strong>, uma vez que ele determina o tipo de pesquisa. Dessa maneira, esta<<strong>br</strong> />

pesquisa é qualitativa de abor<strong>da</strong>gem fenomenológica hermenêutica, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

nos conceitos percepção, <strong>corpo</strong> e <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de <strong>do</strong> filósofo Maurice Merleau-Ponty.<<strong>br</strong> />

Para o autor, o ser humano é <strong>corpo</strong>, consciência encarna<strong>da</strong>, constituí<strong>do</strong> de carne.<<strong>br</strong> />

A carne não é matéria, nem substância, “consiste no envolvimento <strong>do</strong> visível<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e o <strong>corpo</strong> vidente, <strong>do</strong> tangível so<strong>br</strong>e o <strong>corpo</strong> tangente, atesta<strong>do</strong>, so<strong>br</strong>etu<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

quan<strong>do</strong> o <strong>corpo</strong> se vê, se toca ven<strong>do</strong> e tocan<strong>do</strong> as coisas”, de forma simultânea<<strong>br</strong> />

(MERLEAU-PONTY, 2005, p. 141). Assim, o <strong>corpo</strong> também é compreendi<strong>do</strong> como<<strong>br</strong> />

janela que se a<strong>br</strong>e para o mun<strong>do</strong>, através <strong>da</strong> qual se percebe o mun<strong>do</strong> e com o qual<<strong>br</strong> />

interage. Não se trata simplesmente de um <strong>corpo</strong> objeto, mas <strong>corpo</strong> objeto sensível<<strong>br</strong> />

que percebe e é percebi<strong>do</strong>, porquanto, a percepção é acesso <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> ao mun<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

ao saber, ao conhecimento. Ela nos permite uma compreensão e visão de mun<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

uma vez que passa pelo <strong>corpo</strong>.<<strong>br</strong> />

É importante salientar que para Merleau-Ponty (1999) não temos <strong>corpo</strong>,<<strong>br</strong> />

somos <strong>corpo</strong>, e tu<strong>do</strong> o que sabemos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, mesmo que por meio <strong>da</strong> ciência, o<<strong>br</strong> />

sabemos a partir de uma visão individual <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ou de uma experiência <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

mun<strong>do</strong> sem a qual os símbolos <strong>da</strong> ciência não nos diriam na<strong>da</strong>, ou seja, tu<strong>do</strong> o que<<strong>br</strong> />

sabemos, o sabemos por intermédio <strong>do</strong> <strong>corpo</strong>. Nessa concepção a percepção <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

cotidiano apresenta-se como um mosaico “de um conjunto de objetos distintos”, isso<<strong>br</strong> />

devi<strong>do</strong> à “recor<strong>da</strong>ção de experiências anteriores”, ou seja, o saber (MERLEAU-<<strong>br</strong> />

PONTY, 1990, p. 25).<<strong>br</strong> />

Há um para<strong>do</strong>xo revela<strong>do</strong> pela percepção: o para<strong>do</strong>xo <strong>da</strong> imanência e <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

transcendência. “Imanência, posto que o percebi<strong>do</strong> não poderia ser estranho àquele<<strong>br</strong> />

que percebe; transcendência, posto que comporta sempre um além <strong>do</strong> que está<<strong>br</strong> />

imediatamente <strong>da</strong><strong>do</strong>”, ou seja, ela se constrói em uma visão de mun<strong>do</strong>. Na<<strong>br</strong> />

experiência vivi<strong>da</strong>, o que percebo é algo que me é <strong>da</strong><strong>do</strong> e que já tem um significa<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

na<strong>da</strong> que percebo no mun<strong>do</strong> é ausente de significa<strong>do</strong>. A visão de mun<strong>do</strong> só é<<strong>br</strong> />

possível "porque de início temos experiência dele" (MERLEAU-PONTY, 1999;1990,<<strong>br</strong> />

p. 48-9).<<strong>br</strong> />

Nos estu<strong>do</strong>s fenomenológicos, a percepção se constitui pedra angular <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

compreensão e concepção <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e <strong>do</strong> conhecimento. Ela, portanto, é o<<strong>br</strong> />

acesso à experiência originária, na qual unem-se consciência e mun<strong>do</strong> vivi<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

(FRANÇA FILHO, 2003).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

28<<strong>br</strong> />

A percepção que não pode ser decomposta como reunião <strong>da</strong>s partes ou de<<strong>br</strong> />

sensações (MERLEAU-PONTY, 1990, p. 47) passa pela consciência, visto que,<<strong>br</strong> />

refere-se a um esta<strong>do</strong> de alerta para o mun<strong>do</strong>, motivo pelo qual é sempre<<strong>br</strong> />

consciência de alguma coisa (MARTINS, 1992). Assim, “to<strong>da</strong> consciência é<<strong>br</strong> />

perceptiva, mesmo que a consciência de nós mesmos”, ou seja, consciência de que<<strong>br</strong> />

somos <strong>corpo</strong>. Ela é “o fun<strong>do</strong> sempre pressuposto por to<strong>da</strong> a racionali<strong>da</strong>de, to<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

valor e to<strong>da</strong> existência” (MERLEAU-PONTY, 1990, p. 42; 1999). A consciência<<strong>br</strong> />

perceptiva é ao mesmo tempo consciência de si e consciência <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> (FRANÇA<<strong>br</strong> />

FILHO, 2003). Nesse senti<strong>do</strong>, o percebi<strong>do</strong> se coloca não como ver<strong>da</strong>de a to<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

inteligência, mas como real para to<strong>do</strong> sujeito que partilha essa percepção, assim ela<<strong>br</strong> />

torna-se o início <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e como o ato que liga o <strong>corpo</strong> ao<<strong>br</strong> />

exterior.<<strong>br</strong> />

“É preciso, pois que pela percepção <strong>do</strong> outro, eu me ache coloca<strong>do</strong> em relação<<strong>br</strong> />

com o outro eu que esteja em princípio aberto às mesmas ver<strong>da</strong>des que eu, em<<strong>br</strong> />

relação com o mesmo ser que eu. E essa percepção se realiza, <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> de<<strong>br</strong> />

minha subjetivi<strong>da</strong>de vejo aparecer uma outra subjetivi<strong>da</strong>de investi<strong>da</strong> de direitos<<strong>br</strong> />

iguais, porque no meu campo perceptivo se esboça a conduta <strong>do</strong> outro, um<<strong>br</strong> />

comportamento que eu compreen<strong>do</strong>, a palavra <strong>do</strong> outro, um pensamento que eu<<strong>br</strong> />

a<strong>br</strong>aço e de que aquele outro, nasci<strong>do</strong> no meio de meus fenômenos, se apropria,<<strong>br</strong> />

tratan<strong>do</strong>-o segun<strong>do</strong> as condutas típicas de que eu próprio tenho a experiência”<<strong>br</strong> />

(MERLEAU-PONTY, 1990, p. 50-51).<<strong>br</strong> />

Para o autor, o ato perceptivo não se apresenta ingênuo de<<strong>br</strong> />

intencionali<strong>da</strong>de, como também não se trata apenas de mera operação intelectual. É<<strong>br</strong> />

a percepção que faz surgir o mun<strong>do</strong>, que aparece tal qual foi percebi<strong>do</strong> como mun<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

fenomenal (MERLEAU-PONTY, 1990).<<strong>br</strong> />

Percepção e o que é percebi<strong>do</strong> “têm a mesma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de existencial”, isto<<strong>br</strong> />

significa que não podemos separar <strong>da</strong> percepção a consciência que ela tem de<<strong>br</strong> />

atingir a coisa mesma. Desse mo<strong>do</strong>, perceber é perceber algo (FRANÇA FILHO,<<strong>br</strong> />

2003, p. 107) e a consciência perceptiva é consciência de algo.<<strong>br</strong> />

Verifica-se que este referencial se constrói so<strong>br</strong>e o tripé percepção,<<strong>br</strong> />

consciência e <strong>corpo</strong> (sujeito) compreendi<strong>do</strong> como objeto sensível, <strong>corpo</strong> vivi<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de percepção e consciência. Ele é o local de troca e de interação com o meio<<strong>br</strong> />

e com o outro; é por meio <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> que percebo o outro e o mun<strong>do</strong>, que tenho<<strong>br</strong> />

experiência desse, que percebo o vivi<strong>do</strong>, ou seja, tomo consciência dele. Nesse<<strong>br</strong> />

contexto, “o <strong>corpo</strong> é o conjunto de significações experiencia<strong>da</strong>s durante a trajetória<<strong>br</strong> />

existencial que passam a fazer parte <strong>do</strong> nosso ser, <strong>da</strong> nossa bagagem cultural e


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

29<<strong>br</strong> />

histórica e que fazem <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> ”memória”, memória que guar<strong>da</strong>, retrata e conta<<strong>br</strong> />

história” (LABRONICI, 2002, p. 20). Isso significa que, ele é o lugar onde tu<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

permanece; <strong>do</strong> fazer ver e <strong>da</strong> fala e onde tu<strong>do</strong> se mostra (MERLEAU-PONTY, 1999;<<strong>br</strong> />

2005); o <strong>corpo</strong> é o primeiro e único lugar <strong>da</strong> experiência humana (LABRONICI,<<strong>br</strong> />

2002) que se expressa mediante sua <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de. Esta é:<<strong>br</strong> />

“condição humana e mo<strong>do</strong> de ser que caracteriza o homem na sua existência, é<<strong>br</strong> />

o conti<strong>do</strong> em to<strong>da</strong> dimensão humana. É ser flexível, é estar disponível e aberto<<strong>br</strong> />

para o outro e para o mun<strong>do</strong>; é o resgate <strong>do</strong> <strong>corpo</strong>, é o existir, é a história de<<strong>br</strong> />

ca<strong>da</strong> um de nós, que se funde com o outro que também é <strong>corpo</strong> vivente, que<<strong>br</strong> />

traz na sua bagagem cultural suas crenças, seus valores e sua visão de mun<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

num processo de recruzamento” (POLAK, 1996, p. 46)<<strong>br</strong> />

Ao tomar o discurso <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> vivente que revela a sua experiência, e o olhar<<strong>br</strong> />

fenomenológico que busca a essência, estou falan<strong>do</strong> <strong>da</strong> expressão <strong>do</strong> <strong>corpo</strong>, isto é,<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de. Assim, nesse referencial filosófico, a experiência não provém <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

nossos antepassa<strong>do</strong>s, nem <strong>do</strong> meio físico e social, ela se move em direção a eles e<<strong>br</strong> />

os sustenta (MERLEAU-PONTY, 1999), o que permite a<strong>do</strong>tar o <strong>corpo</strong> realmente<<strong>br</strong> />

como <strong>corpo</strong> vivi<strong>do</strong> e livre para expressar sua visão de mun<strong>do</strong>, suas crenças e<<strong>br</strong> />

valores, isto é, sua <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de. A <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de é o que expressa a essência <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

<strong>corpo</strong> que vê e é visto, que toca e é toca<strong>do</strong>, que sente e é senti<strong>do</strong>, porque é sensível<<strong>br</strong> />

(MERLEAU-PONTY, 2005), ou seja, ela é a expressão <strong>do</strong> <strong>corpo</strong>.<<strong>br</strong> />

O <strong>corpo</strong> constitui a base de to<strong>da</strong> experiência humana, e é possui<strong>do</strong>r de uma<<strong>br</strong> />

intencionali<strong>da</strong>de operante que faz <strong>br</strong>otar o senti<strong>do</strong>. Essa intencionali<strong>da</strong>de é um<<strong>br</strong> />

movimento de presença no mun<strong>do</strong> e ao mun<strong>do</strong>, e apresenta-se como característica<<strong>br</strong> />

fun<strong>da</strong>mental <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> próprio (FRANÇA FILHO, 2003).<<strong>br</strong> />

Esse <strong>corpo</strong> é o que me permite experienciar o mun<strong>do</strong>, além de que é<<strong>br</strong> />

produtor e porta<strong>do</strong>r de significa<strong>do</strong>s (LABRONICI, 2002), e quan<strong>do</strong> queremos<<strong>br</strong> />

desvelá-los, compreendermos determina<strong>do</strong> fenômeno vivencia<strong>do</strong> pelo <strong>corpo</strong> vivi<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

mediante investigação científica, devemos utilizar a pesquisa qualitativa.<<strong>br</strong> />

É interessante eluci<strong>da</strong>r que a pesquisa qualitativa busca compreender as<<strong>br</strong> />

experiências vivi<strong>da</strong>s, porque são prenhes de significa<strong>do</strong>s que são atribuí<strong>do</strong>s por<<strong>br</strong> />

quem a vivencia e que emergem <strong>do</strong> contexto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Assim, “ela trabalha com o<<strong>br</strong> />

universo de significa<strong>do</strong>s, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um<<strong>br</strong> />

espaço mais profun<strong>do</strong> <strong>da</strong>s relações, <strong>do</strong>s processos e <strong>do</strong>s fenômenos que não<<strong>br</strong> />

podem ser reduzi<strong>do</strong>s à operacionalização de variáveis“ (MINAYO, 2004, p. 21).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

30<<strong>br</strong> />

As pesquisas qualitativas de outra natureza assim como a fenomenológica<<strong>br</strong> />

baseiam-se no princípio de que “os conhecimentos so<strong>br</strong>e os indivíduos só são<<strong>br</strong> />

possíveis com a descrição <strong>da</strong> experiência humana, tal como ela é vivi<strong>da</strong> e tal como<<strong>br</strong> />

ela é defini<strong>da</strong> por seus próprios atores.” (POLIT & HUNGLER, 1995, p. 270). Elas<<strong>br</strong> />

trabalham com <strong>da</strong><strong>do</strong>s não quantificáveis, coletam e analisam materiais pouco<<strong>br</strong> />

estrutura<strong>do</strong>s, mas que produzem grande quanti<strong>da</strong>de de material narrativo<<strong>br</strong> />

(HANDEM, MATIOLO & PEREIRA, 2004). Seus objetos de estu<strong>do</strong>s não são<<strong>br</strong> />

mensuráveis e visíveis, uma vez que surgem <strong>da</strong> compreensão <strong>do</strong>s sujeitos<<strong>br</strong> />

atribuí<strong>do</strong>s ao fenômeno (GOMES, 2005).<<strong>br</strong> />

De uma forma geral, as pesquisas qualitativas procuram a compreensão<<strong>br</strong> />

particular <strong>do</strong> objeto estu<strong>da</strong><strong>do</strong>, não se preocupam com generalizações. Sua forma de<<strong>br</strong> />

coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s é a comunicação entre sujeitos e o tratamento é feito por meio <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

hermenêutica 6 , ou seja, <strong>da</strong> interpretação, que é compreendi<strong>da</strong> como o mo<strong>do</strong> de<<strong>br</strong> />

aclaramento <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s e significa<strong>do</strong>s <strong>da</strong> palavra, <strong>da</strong>s sentenças e <strong>do</strong>s textos e<<strong>br</strong> />

que é desencadea<strong>da</strong> pela percepção. A generalização é aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong> e o foco <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

atenção investigativa é “centra<strong>do</strong> no específico, no peculiar, no individual, almejan<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

sempre a compreensão e não a explicação <strong>do</strong>s fenômenos estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s”. Esse<<strong>br</strong> />

modelo de pesquisa deve, portanto, “substituir as correlações estatísticas pelas<<strong>br</strong> />

descrições individuais e as conexões causais objetivas pelas interpretações<<strong>br</strong> />

subjetivas oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s experiências vivi<strong>da</strong>s” (MARTINS; BICUDO, 1989, p. 23-24).<<strong>br</strong> />

A pesquisa qualitativa fenomenológica busca a compreensão <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

fenômenos presentes no mun<strong>do</strong>. Nesse senti<strong>do</strong>, a Fenomenologia enquanto estu<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> fenômeno que é algo concreto e não um ideal deduzi<strong>do</strong>, é a reali<strong>da</strong>de própria <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

mun<strong>do</strong> humano e a existencialização <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> que passa a ser parte estrutural <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

consciência (LABRONICI, 2002); é uma filosofia que repõe as essências na<<strong>br</strong> />

existência (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 1), que recoloca o homem em sua condição<<strong>br</strong> />

existencial, partin<strong>do</strong> de seu mun<strong>do</strong> e aceitan<strong>do</strong> o seu caráter de mutabili<strong>da</strong>de e<<strong>br</strong> />

relativi<strong>da</strong>de (SANTOS & POKLADEK, 2004). Nela,<<strong>br</strong> />

“o investiga<strong>do</strong>r, de início, está preocupa<strong>do</strong> com a natureza <strong>do</strong> que vai investigar,<<strong>br</strong> />

de tal mo<strong>do</strong> que não existe, para ele, uma compreensão prévia <strong>do</strong> fenômeno.<<strong>br</strong> />

Ele não possui princípios explicativos, teorias ou qualquer indicação defini<strong>do</strong>ra<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> fenômeno. Inicia o seu trabalho interrogan<strong>do</strong> o fenômeno. Isso quer dizer que<<strong>br</strong> />

6<<strong>br</strong> />

Hermenêutica vem <strong>da</strong> palavra grega “hermeneuõ” que significa interpretar, traduzir ou falar com clareza. Essa<<strong>br</strong> />

expressão vem de Hermes, que segun<strong>do</strong> a mitologia grega era conheci<strong>do</strong> por seus discursos eloqüentes, sen<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

porta-voz de Zeus e de outros deuses. Sua função era transformar o que estava além <strong>do</strong> entendimento humano<<strong>br</strong> />

em algo que a inteligência humana pudesse assimilar (OLIVEIRA, 2004, p. 19).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

31<<strong>br</strong> />

ele não conhece as características essenciais <strong>do</strong> fenômeno que pretende<<strong>br</strong> />

estu<strong>da</strong>r” (MARTINS e BICUDO, 1898, p. 92).<<strong>br</strong> />

A fenomenologia também pode ser compreendi<strong>da</strong> como voltar às coisas<<strong>br</strong> />

mesmas, “o que significa retornar aonde elas são vivi<strong>da</strong>s e onde elas co<strong>br</strong>am<<strong>br</strong> />

senti<strong>do</strong> para a vi<strong>da</strong> e para a existência” (JOSGRILBERG, 2004, p. 34). Assim,<<strong>br</strong> />

descreve como alguém se orienta para a experiência vivi<strong>da</strong>, uma vez que está<<strong>br</strong> />

interessa<strong>da</strong> no mun<strong>do</strong> significativo <strong>do</strong> ser humano. Sob essa ótica, podemos afirmar<<strong>br</strong> />

que é sempre um questionamento <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como experienciamos o mun<strong>do</strong>; ela é<<strong>br</strong> />

uma tentativa de desvelar e descrever as estruturas de significa<strong>do</strong>s internos <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

experiência vivi<strong>da</strong>. Dessa maneira, o foco de in<strong>da</strong>gação fenomenológica é o<<strong>br</strong> />

fenômeno vivencia<strong>do</strong> pelo sujeito e como eles interpretam essa vivência (POLIT &<<strong>br</strong> />

HUNGLER, 1995, p. 270).<<strong>br</strong> />

O méto<strong>do</strong> fenomenológico é um processo de aprendiza<strong>do</strong> e de construção<<strong>br</strong> />

de significa<strong>do</strong> <strong>da</strong> experiência humana por meio <strong>do</strong> diálogo intensivo com pessoas<<strong>br</strong> />

que estão viven<strong>do</strong> a experiência (LOBIONDO-WOOD; HABER 2001, p.127). Assim,<<strong>br</strong> />

a pesquisa fenomenológica na<strong>da</strong> mais é <strong>do</strong> que o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> experiência vivi<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

obti<strong>da</strong> mediante a descrição de fenômenos tais quais se apresentam à consciência,<<strong>br</strong> />

visto que esta é o único acesso que os seres humanos têm para o mun<strong>do</strong>. É a partir<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> consciência volta<strong>da</strong> para o fenômeno que emerge a intencionali<strong>da</strong>de, a abertura<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> ser ao mun<strong>do</strong>, ou seja, a relação entre o homem e o mun<strong>do</strong>, o sujeito e o objeto<<strong>br</strong> />

(VAN MANEN, 1990).<<strong>br</strong> />

A intencionali<strong>da</strong>de é dirigir-se a algo, de forma a entrar em contato com um<<strong>br</strong> />

objeto ou de estabelecer referências entre consciência e o objeto (MARTINS,<<strong>br</strong> />

BOEMER & FERRAZ, 1990). Segun<strong>do</strong> esses autores, to<strong>da</strong> ação humana é<<strong>br</strong> />

intencionali<strong>da</strong>de e é um comportamento dirigi<strong>do</strong> a alguma coisa no mun<strong>do</strong>, ou seja,<<strong>br</strong> />

refere-se a uma direção <strong>da</strong> consciência. Dessa forma, é a condição de possibili<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

para que to<strong>da</strong> experiência possa assumir forma, pois é mediante ela que os<<strong>br</strong> />

fenômenos surgem (MARTINS, 1992).<<strong>br</strong> />

É interessante ressaltar que a pesquisa fenomenológica não procura<<strong>br</strong> />

explicar os fenômenos como acontece com outras ciências, mas sim descrevê-los.<<strong>br</strong> />

Contu<strong>do</strong>, faz-se necessária a interpretação <strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s conti<strong>do</strong>s na descrição<<strong>br</strong> />

para que se possa compreender e chegar à essência <strong>do</strong> fenômeno ou <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

experiência existencial. Nesse contexto, a arte <strong>da</strong> interpretação <strong>da</strong>s estruturas de<<strong>br</strong> />

significa<strong>do</strong>s, ou seja, a hermenêutica é imprescindível, porque possibilita


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

32<<strong>br</strong> />

transcender a descrição <strong>do</strong> fenômeno. Isto significa que, ela passa a ser a<<strong>br</strong> />

interpretação de uma reali<strong>da</strong>de e uma interpretação <strong>da</strong>quele que fala dela. Portanto,<<strong>br</strong> />

a interpretação e a compreensão que possibilitam desvelar a essência <strong>do</strong> fenômeno,<<strong>br</strong> />

estão intimamente interliga<strong>da</strong>s.<<strong>br</strong> />

Chegar à essência, por sua vez, é esclarecer o mun<strong>do</strong> como ele é e se<<strong>br</strong> />

apresenta, trata-se de colocar o mun<strong>do</strong> a ser conheci<strong>do</strong> como um fim, um objetivo a<<strong>br</strong> />

ser alcança<strong>do</strong>. O mun<strong>do</strong> é o que está em nossa percepção, não sen<strong>do</strong> construí<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

por apenas o que cogito, mas pelo que vivo. Essa comunicação com o mun<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

subentende uma intencionali<strong>da</strong>de, que necessariamente refere-se a uma direção <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

consciência, uma vez que “consciência é sempre consciência de ...” (MARTINS,<<strong>br</strong> />

1992, p. 61). Dessa maneira, ela emerge <strong>da</strong> relação entre o sujeito e o objeto, ou<<strong>br</strong> />

seja, <strong>da</strong> consciência volta<strong>da</strong> para o fenômeno. Esta relação entre consciência, fonte<<strong>br</strong> />

de significa<strong>do</strong> para o mun<strong>do</strong> e fenômeno, torna sujeito e objeto inseparáveis.<<strong>br</strong> />

3.1 PROCESSO DE OBTENÇÃO E REGISTRO DOS DISCURSOS<<strong>br</strong> />

O processo de obtenção <strong>do</strong>s discursos ocorreu por meio de entrevista semiestrutura<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

grava<strong>da</strong> em meio digital, e foi conduzi<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> o modelo de<<strong>br</strong> />

amostragem proposto por Turato (2003) denomina<strong>do</strong> de “bola de neve”, na qual o<<strong>br</strong> />

pesquisa<strong>do</strong>r entrevista um sujeito escolhi<strong>do</strong> conforme critérios <strong>da</strong> pesquisa ou<<strong>br</strong> />

indica<strong>do</strong>, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> tema em estu<strong>do</strong>. A partir <strong>do</strong> material coleta<strong>do</strong>, transcrito e<<strong>br</strong> />

analisa<strong>do</strong>, foi apresenta<strong>da</strong> uma delineação inicial de compreensão <strong>do</strong> problema. O<<strong>br</strong> />

próximo passo foi entrevistar um segun<strong>do</strong> sujeito, recomen<strong>da</strong><strong>do</strong> pelo primeiro. Em<<strong>br</strong> />

segui<strong>da</strong>, o material foi trabalha<strong>do</strong> <strong>da</strong> mesma maneira que o anterior. Esse processo<<strong>br</strong> />

foi segui<strong>do</strong> sucessivamente até que o tema proposto se esgotasse e não mais se<<strong>br</strong> />

encontrasse algo novo (TURATO, 2003). Como essa pesquisa era com i<strong>do</strong>sos, a<<strong>br</strong> />

pessoa indica<strong>da</strong> para a entrevista seguinte deveria ter i<strong>da</strong>de igual ou superior a 60<<strong>br</strong> />

anos para que pudesse participar voluntariamente.<<strong>br</strong> />

Destaco que na pesquisa fenomenológica o discurso ou a descrição é de<<strong>br</strong> />

fun<strong>da</strong>mental importância porque contém a essência <strong>do</strong> que se busca conhecer e a<<strong>br</strong> />

intencionali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ser humano. Dessa forma, a entrevista é um instrumento de<<strong>br</strong> />

conhecimento interpessoal, é um momento de encontro face a face, no qual pode


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

33<<strong>br</strong> />

ocorrer a apreensão de diversos fenômenos (TURATO, 2003), mediante a<<strong>br</strong> />

hermenêutica.<<strong>br</strong> />

Na hermenêutica fenomenológica <strong>da</strong>s ciências humanas, a entrevista presta-se<<strong>br</strong> />

a objetivos bem específicos: (1) Pode ser usa<strong>da</strong> como meio de exploração e<<strong>br</strong> />

coleta experimental de material narrativo que pode servir como um recurso para<<strong>br</strong> />

o desenvolvimento de uma compreensão mais profun<strong>da</strong> e rica <strong>do</strong> fenômeno<<strong>br</strong> />

humano e (2) pode ser usa<strong>da</strong> como um veículo para desenvolver uma relação<<strong>br</strong> />

de conversa com um parceiro (entrevista<strong>do</strong>) so<strong>br</strong>e o significa<strong>do</strong> de uma<<strong>br</strong> />

experiência (VAN MANEN, 1990, p. 66) 7 .<<strong>br</strong> />

A entrevista é um encontro intencional entre <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>des que se<<strong>br</strong> />

percebem. Contu<strong>do</strong>, para que o pesquisa<strong>do</strong>r consiga perceber o outro, penetrar no<<strong>br</strong> />

seu mun<strong>do</strong> priva<strong>do</strong>, na sua subjetivi<strong>da</strong>de, é imprescindível ser flexível, ter uma<<strong>br</strong> />

postura aberta, um olhar e uma escuta atentivos (LABRONICI, 2002). Isto<<strong>br</strong> />

possibilitará que o entrevista<strong>do</strong> se sinta menos tenso; porquanto, falar, descrever<<strong>br</strong> />

uma situação experiencia<strong>da</strong>, nem sempre é fácil, e às vezes pode fazer vir à tona<<strong>br</strong> />

sentimentos permea<strong>do</strong>s por emoções que deixaram marcas em seu <strong>corpo</strong>. Ela<<strong>br</strong> />

apresenta algumas características, tais como a empatia, a intuição e a imaginação<<strong>br</strong> />

(MARTINS & BICUDO, 1989).<<strong>br</strong> />

A empatia 8 “é uma penetração mútua de percepções” (MARTINS &<<strong>br</strong> />

BICUDO, 1989, p. 53). No momento <strong>da</strong> entrevista ela é imprescindível, uma vez que<<strong>br</strong> />

possibilita “estar com” o outro e presenciar a sua experiência, a experiência <strong>do</strong> <strong>corpo</strong><<strong>br</strong> />

vivi<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />

No que diz respeito à intuição, ela “é uma forma de contemplação”, e o que<<strong>br</strong> />

nela se apresenta é o que é aceito e o que é <strong>da</strong><strong>do</strong>. Só será possível perceber o<<strong>br</strong> />

outro contemplan<strong>do</strong> suas experiências vivi<strong>da</strong>s (MARTINS & BICUDO, 1989, p. 53).<<strong>br</strong> />

Por fim, a imaginação <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong> pode fluir <strong>da</strong> mesma maneira que a <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

entrevista<strong>do</strong>r. “Pode-se imaginar quais são os <strong>da</strong><strong>do</strong>s reais e quais os fa<strong>br</strong>ica<strong>do</strong>s e<<strong>br</strong> />

produzi<strong>do</strong>s pelos entrevista<strong>do</strong>s”, visto que ela na<strong>da</strong> mais é <strong>do</strong> que a representação<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> real (MARTINS & BICUDO, 1989, p. 53).<<strong>br</strong> />

A entrevista teve como solicitação inicial:<<strong>br</strong> />

“Fale-me so<strong>br</strong>e como você vive a sua sexuali<strong>da</strong>de no seu dia-a-dia”.<<strong>br</strong> />

E outra solicitação foi:<<strong>br</strong> />

“O que é sexuali<strong>da</strong>de para você”.<<strong>br</strong> />

7<<strong>br</strong> />

Tradução <strong>do</strong> autor.<<strong>br</strong> />

8<<strong>br</strong> />

Vem <strong>do</strong> radical grego “empátheia” que significa entrar no sentimento, ou a capaci<strong>da</strong>de de perceber a<<strong>br</strong> />

experiência <strong>do</strong> outro (GOLEMAN, 1995).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

34<<strong>br</strong> />

Os discursos obti<strong>do</strong>s mediante as entrevistas grava<strong>da</strong>s foram transcritos na<<strong>br</strong> />

íntegra e entregues por mim a ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s atores que fizeram parte <strong>da</strong> pesquisa, a<<strong>br</strong> />

fim de que tomassem conhecimento, evitan<strong>do</strong>, assim, qualquer tipo de distorção.<<strong>br</strong> />

3.1.1 Cenário<<strong>br</strong> />

A pesquisa não ocorreu no mesmo local, porque os atores eram<<strong>br</strong> />

provenientes de indicação. O cenário foi único para ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s atores envolvi<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

na pesquisa, visto que, após contato individual, a entrevista era agen<strong>da</strong><strong>da</strong> e o local<<strong>br</strong> />

determina<strong>do</strong> por eles. Aconteceram nos <strong>do</strong>micílios, em clube e no local de trabalho,<<strong>br</strong> />

na ci<strong>da</strong>de de Curitiba.<<strong>br</strong> />

3.1.2 Os atores <strong>da</strong> pesquisa<<strong>br</strong> />

O conjunto de atores que compôs a pesquisa foi constituí<strong>do</strong> de 10 i<strong>do</strong>sos<<strong>br</strong> />

sen<strong>do</strong> 01 viúva, 71 anos, cabeleireira aposenta<strong>da</strong>, mas que ain<strong>da</strong> exerce a função,<<strong>br</strong> />

católica (F I); 01 divorcia<strong>da</strong>, 61 anos, professora de educação física, aposenta<strong>da</strong>,<<strong>br</strong> />

católica (F II); 01 casa<strong>da</strong>, 65 anos, <strong>do</strong> lar, católica (F III); 01 viúva, 69 anos, <strong>do</strong> lar,<<strong>br</strong> />

pensionista, católica (F IV); 01 viúvo, 83 anos, reforma<strong>do</strong> <strong>da</strong> Força Aérea Brasileira,<<strong>br</strong> />

católico (M V); 01 casa<strong>do</strong>, 65 anos, aposenta<strong>do</strong>, ex-comerciante, católico (M VI); 01<<strong>br</strong> />

viúvo, 64 anos, fazendeiro aposenta<strong>do</strong>, católico (M VII); 01 casa<strong>do</strong>, 63 anos,<<strong>br</strong> />

motorista, evangélico (M VIII); 01 casa<strong>do</strong>, 71 anos, aposenta<strong>do</strong>, ex-comerciante,<<strong>br</strong> />

católico (M IX); 01 casa<strong>do</strong>, 61 anos, desemprega<strong>do</strong>, técnico administrativo,<<strong>br</strong> />

evangélico (M X).<<strong>br</strong> />

A primeira atriz <strong>da</strong> pesquisa foi indica<strong>da</strong> por minha orienta<strong>do</strong>ra e na<<strong>br</strong> />

seqüência <strong>da</strong>s indicações alguns não desejaram participar, motivo pelo qual foi<<strong>br</strong> />

necessário procurar um novo informante para <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong>de às entrevistas. O<<strong>br</strong> />

contato inicial acontecia por telefone. Apresentava-me como enfermeiro e aluno <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

curso de mestra<strong>do</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Paraná que estava desenvolven<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

uma pesquisa so<strong>br</strong>e sexuali<strong>da</strong>de. Perguntava se gostaria de fazer parte dela, e em<<strong>br</strong> />

caso afirmativo, combinava o agen<strong>da</strong>mento para a realização <strong>da</strong> entrevista.


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

35<<strong>br</strong> />

Cabe salientar que, na pesquisa qualitativa, a amostra não tende a ser<<strong>br</strong> />

numerosa e os pesquisa<strong>do</strong>res evitam impor controles à pesquisa (POLIT &<<strong>br</strong> />

HUNGLER, 1995).<<strong>br</strong> />

3.1.3 Delimitação temporal <strong>da</strong> pesquisa<<strong>br</strong> />

As dez entrevistas foram realiza<strong>da</strong>s no perío<strong>do</strong> de janeiro a julho de 2006.<<strong>br</strong> />

3.1.4 Aspectos éticos<<strong>br</strong> />

Por se tratar de uma pesquisa que envolve seres humanos, no que diz<<strong>br</strong> />

respeito aos aspectos éticos, o projeto segue a Resolução 196/96 <strong>do</strong> Ministério <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

Saúde, foi encaminha<strong>do</strong> ao Comitê de Ética <strong>do</strong> Setor de Ciências <strong>da</strong> Saúde <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Paraná para avaliação e parecer, e aprova<strong>do</strong> em 23 de<<strong>br</strong> />

novem<strong>br</strong>o de 2005 (ANEXO I).<<strong>br</strong> />

Antes de <strong>da</strong>r início às entrevistas, elucidei a pesquisa, seu objetivo; li e<<strong>br</strong> />

expliquei o termo de consentimento livre e esclareci<strong>do</strong> (TCLE), o motivo <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

gravação; solicitei que assinassem as duas vias <strong>do</strong> TCLE e entreguei-lhes uma. O<<strong>br</strong> />

anonimato <strong>do</strong>s atores participantes foi garanti<strong>do</strong> mediante a utilização <strong>da</strong>s iniciais F<<strong>br</strong> />

para indicar participante feminina e M para masculino segui<strong>do</strong> de algarismos<<strong>br</strong> />

romanos de I a X para identificação <strong>do</strong>s discursos, sen<strong>do</strong> de I a IV para os<<strong>br</strong> />

participantes <strong>do</strong> sexo feminino e V a X para os masculinos, seguin<strong>do</strong> a ordem<<strong>br</strong> />

apresenta<strong>da</strong> no item 3.1.2.<<strong>br</strong> />

3.2 PROCESSO DE ANÁLISE DOS DISCURSOS<<strong>br</strong> />

A análise <strong>do</strong>s discursos foi fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> na trajetória fenomenológica<<strong>br</strong> />

proposta por Martins (1992) constituí<strong>da</strong> por três momentos: descrição, redução e<<strong>br</strong> />

compreensão.<<strong>br</strong> />

A descrição, que assume a forma de texto na pesquisa fenomenológica “é<<strong>br</strong> />

um procedimento para obter <strong>da</strong><strong>do</strong>s que deverão ser analisa<strong>do</strong>s e interpreta<strong>do</strong>s


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

36<<strong>br</strong> />

fenomenologicamente, visan<strong>do</strong> à busca <strong>da</strong> essência e de sua transcendência, posta<<strong>br</strong> />

em termos contextuais” (BICUDO, 2000, p. 75). Ela é a investigação <strong>da</strong>quilo que se<<strong>br</strong> />

mostra e que é possível ser descoberto, mas nem sempre é visto: dá-se mediante o<<strong>br</strong> />

discurso ingênuo <strong>do</strong> sujeito, fornecen<strong>do</strong> a indicação de como o sujeito percebe<<strong>br</strong> />

determina<strong>do</strong> fenômeno (LABRONICI, 2002). Os discursos se caracterizam como<<strong>br</strong> />

forma de aproximação <strong>do</strong> fenômeno investiga<strong>do</strong> (BICUDO,2000). Esse é o momento<<strong>br</strong> />

de descrever a natureza <strong>da</strong> experiência tal como ela é vivi<strong>da</strong> pelo <strong>corpo</strong> vivente<<strong>br</strong> />

(MERLEAU-PONTY, 1999).<<strong>br</strong> />

É importante lem<strong>br</strong>ar que a descrição apresenta-se como ponto<<strong>br</strong> />

fun<strong>da</strong>mental <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> fenomenológico, uma vez que é a forma de ir às coisas<<strong>br</strong> />

mesmas (MARTINS, 1992). O autor fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong> em Maurice Merleau-Ponty<<strong>br</strong> />

afirma que ela possui três elementos:<<strong>br</strong> />

“a percepção que assume uma primazia no processo reflexivo; a consciência<<strong>br</strong> />

que se direciona para o mun<strong>do</strong>-vi<strong>da</strong>, isto é, consciência <strong>do</strong> corps propre, ou seja,<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> <strong>corpo</strong> vivi<strong>do</strong>, consciência esta que é a descoberta <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

intersubjetivi<strong>da</strong>de; e o sujeito, pessoa ou indivíduo que se vê capaz de<<strong>br</strong> />

experienciar o <strong>corpo</strong> vivi<strong>do</strong> por meio <strong>da</strong> consciência que é a conexão entre o<<strong>br</strong> />

indivíduo, os outros e o mun<strong>do</strong>” (MARTINS, 1992, p. 59).<<strong>br</strong> />

A descrição, como primeiro momento <strong>da</strong> trajetória fenomenológica é<<strong>br</strong> />

caracteriza<strong>da</strong> pela epoché, que significa pôr em suspensão ou entre parênteses<<strong>br</strong> />

(MARTINS, 1992). O fenômeno, que é aquilo que se mostra, ou que se manifesta, é<<strong>br</strong> />

descrito como se o pesquisa<strong>do</strong>r não soubesse absolutamente na<strong>da</strong> a seu respeito.<<strong>br</strong> />

Esse aban<strong>do</strong>na a memória, o desejo, a imaginação e valores sugeri<strong>do</strong>s pelo objeto<<strong>br</strong> />

em descrição. É como descrever um cenário, em uma carta, com a maior exatidão<<strong>br</strong> />

possível sem se concentrar na preferência. Ela deve ser fiel o suficiente para que o<<strong>br</strong> />

leitor sinta-se à vontade e em condições de realizar o seu próprio julgamento.<<strong>br</strong> />

“A tarefa de descrever desven<strong>da</strong> progressivamente a postura de um sujeito<<strong>br</strong> />

em relação ao mun<strong>do</strong> em que vive, revelan<strong>do</strong> um mo<strong>do</strong> de existir. O resulta<strong>do</strong> é a<<strong>br</strong> />

definição de um senti<strong>do</strong>, de uma perspectiva, enfim, de uma intencionali<strong>da</strong>de”<<strong>br</strong> />

(GOMES, 1997, p. 314-15). Isto significa que a descrição constitui um passo<<strong>br</strong> />

importante no desenvolvimento <strong>da</strong> pesquisa fenomenológica, uma vez que permite<<strong>br</strong> />

ao pesquisa<strong>do</strong>r o acesso à vivência original <strong>do</strong> fenômeno estu<strong>da</strong><strong>do</strong>, bem como o<<strong>br</strong> />

acesso à intencionali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong> (GONÇALVES, 2005). Ela relata e aponta<<strong>br</strong> />

para o percebi<strong>do</strong> na percepção, no fun<strong>do</strong> onde esta se dá e se expõe por meio <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

linguagem (BICUDO, 2002).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

37<<strong>br</strong> />

A linguagem assumi<strong>da</strong> pela atitude fenomenológica solicita sempre uma<<strong>br</strong> />

interpretação hermenêutica, pois presentifica uma síntese unifica<strong>do</strong>ra, embora<<strong>br</strong> />

provisória, <strong>da</strong> coisa percebi<strong>da</strong>/percepção/explicitação <strong>do</strong> percebi<strong>do</strong>, trazen<strong>do</strong> em<<strong>br</strong> />

si, o mistério e a complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> relação signo/significa<strong>do</strong>/significante/contexto<<strong>br</strong> />

cultural (BICUDO, 2002, p.79).<<strong>br</strong> />

O momento seguinte é o <strong>da</strong> redução fenomenológica, “que se constitui <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

relação de um objeto com a consciência que dá senti<strong>do</strong> à existência <strong>do</strong> mesmo”.<<strong>br</strong> />

Para tanto, o fenômeno é reduzi<strong>do</strong> a tal relação para melhor compreender sua<<strong>br</strong> />

essência, com isso é permiti<strong>do</strong> que a experiência <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> vivente seja <strong>da</strong><strong>da</strong> ao que<<strong>br</strong> />

é “autenticamente manifesto”. A redução ain<strong>da</strong> pode ser entendi<strong>da</strong> como um<<strong>br</strong> />

procedimento que visa a encontrar um núcleo essencial presente na experiência<<strong>br</strong> />

vivencia<strong>da</strong> (HANDEM et al., 2004, p. 30-31).<<strong>br</strong> />

A redução eidética proposta por MERLEAU-PONTY (1999, p. 13) “é a<<strong>br</strong> />

resolução de fazer o mun<strong>do</strong> aparecer tal como ele é, antes de qualquer retorno<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e nós mesmos, é a ambição de igualar a reflexão à vi<strong>da</strong> irrefleti<strong>da</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

consciência”. A redução passa pelo ato de refletir so<strong>br</strong>e as partes <strong>da</strong> experiência<<strong>br</strong> />

que parecem possuir significa<strong>do</strong>s ao pesquisa<strong>do</strong>r (MARTINS, 1992). Essa reflexão<<strong>br</strong> />

“se manifesta como uma ver<strong>da</strong>deira criação, como uma mu<strong>da</strong>nça de estrutura <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

consciência, e cabe-lhe reconhecer, para aquém de suas próprias operações, o<<strong>br</strong> />

mun<strong>do</strong> que é <strong>da</strong><strong>do</strong> ao sujeito, porque o sujeito é <strong>da</strong><strong>do</strong> a si mesmo”, “e a ca<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

momento, meu campo perceptivo é preenchi<strong>do</strong> de reflexos” (MERLEAU-PONTY,<<strong>br</strong> />

1999, p. 5).<<strong>br</strong> />

No contexto fenomenológico, reduzir significa determinar e selecionar quais<<strong>br</strong> />

partes <strong>da</strong> descrição são considera<strong>da</strong>s essenciais, e o seu objetivo é isolar o objeto<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> consciência que constitui a experiência (MARTINS, 1992).<<strong>br</strong> />

O último momento <strong>da</strong> análise é a compreensão fenomenológica que para<<strong>br</strong> />

Merleau-Ponty (1999) significa reapoderar-se <strong>da</strong> intenção total, não apenas aquilo<<strong>br</strong> />

que é para representar as proprie<strong>da</strong>des percebi<strong>da</strong>s, mas a maneira única de existir<<strong>br</strong> />

que se exprime nas proprie<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s fenômenos. É o momento no qual o<<strong>br</strong> />

pesquisa<strong>do</strong>r destaca <strong>da</strong> descrição e <strong>da</strong> redução, as uni<strong>da</strong>des de significa<strong>do</strong>, que são<<strong>br</strong> />

uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> descrição que fazem senti<strong>do</strong> para o pesquisa<strong>do</strong>r, a partir de uma<<strong>br</strong> />

interrogação formula<strong>da</strong> (BICUDO, 2000; LABRONICI, 2002).<<strong>br</strong> />

Para chegar à compreensão fenomenológica é necessário assumir o<<strong>br</strong> />

resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> redução como um conjunto de asserções significativas para o


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

38<<strong>br</strong> />

pesquisa<strong>do</strong>r, mas que apontam para a experiência <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> vivi<strong>do</strong>. Esse conjunto de<<strong>br</strong> />

asserções é o que Martins (1992) denomina de uni<strong>da</strong>des de significa<strong>do</strong>. A princípio,<<strong>br</strong> />

essas uni<strong>da</strong>des devem ser toma<strong>da</strong>s exatamente como são propostas pelo <strong>corpo</strong><<strong>br</strong> />

vivi<strong>do</strong> que descreve o fenômeno. Em segui<strong>da</strong>, transforma-se a expressão <strong>do</strong> <strong>corpo</strong><<strong>br</strong> />

vivi<strong>do</strong> em expressão própria ao pesquisa<strong>do</strong>r, que sustente o seu trabalho. E,<<strong>br</strong> />

finalmente, o pesquisa<strong>do</strong>r desenvolve uma síntese <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des de significa<strong>do</strong>s, a<<strong>br</strong> />

qual é resultante <strong>da</strong>s análises <strong>da</strong>s expressões <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> vivi<strong>do</strong>. O critério observa<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

serão as convergências, divergências e idiossincrasias 9 .<<strong>br</strong> />

Para iniciar a análise <strong>do</strong>s discursos ou descrições, fiz uma leitura minuciosa<<strong>br</strong> />

e atentiva com o intuito de me familiarizar com o conteú<strong>do</strong>. Em segui<strong>da</strong>, dei início à<<strong>br</strong> />

redução, len<strong>do</strong> e relen<strong>do</strong> várias vezes ca<strong>da</strong> uma delas para identificar as<<strong>br</strong> />

convergências e divergências e assim, chegar às uni<strong>da</strong>des de significa<strong>do</strong>s, conti<strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />

na linguagem ingênua <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong>, que depois de serem agrupa<strong>da</strong>s, foram<<strong>br</strong> />

transcritas na linguagem <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> origem às seguintes uni<strong>da</strong>des<<strong>br</strong> />

temáticas:<<strong>br</strong> />

O outro como fonte de desejo, prazer e sentimentos;<<strong>br</strong> />

Faces ocultas e o emergir <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de;<<strong>br</strong> />

O reconhecimento <strong>da</strong> modificação <strong>da</strong> expressão <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de na<<strong>br</strong> />

terceira i<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

seguir:<<strong>br</strong> />

O processo de análise que deu origem ao primeiro tema está eluci<strong>da</strong><strong>do</strong> a<<strong>br</strong> />

9<<strong>br</strong> />

Disposição <strong>do</strong> temperamento <strong>do</strong> indivíduo, que faz com que ele sinta de um mo<strong>do</strong> peculiar a<<strong>br</strong> />

influência de diversos agentes; maneira de ver, sentir e reagir própria de ca<strong>da</strong> pessoas (EGERIA,<<strong>br</strong> />

1979, p. 330).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

39<<strong>br</strong> />

Processo de Análise<<strong>br</strong> />

Uni<strong>da</strong>des de<<strong>br</strong> />

significa<strong>do</strong> na<<strong>br</strong> />

linguagem <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

... Porque não é só<<strong>br</strong> />

sexo em si, né.<<strong>br</strong> />

Você tem que ter<<strong>br</strong> />

carinho, tem que<<strong>br</strong> />

ter beijos [...] Eu<<strong>br</strong> />

tenho um par de<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong>nça. Eu não<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong>nço com to<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

[...] O beijo é<<strong>br</strong> />

importante, o toque<<strong>br</strong> />

de pele é<<strong>br</strong> />

importante. ( FI )<<strong>br</strong> />

Hoje o que me<<strong>br</strong> />

deixa feliz é que<<strong>br</strong> />

ele tá em casa. Ele<<strong>br</strong> />

me trata bem, me<<strong>br</strong> />

dá carinho. Ele<<strong>br</strong> />

quan<strong>do</strong> a gente<<strong>br</strong> />

tem relação, ele é<<strong>br</strong> />

uma pessoa que<<strong>br</strong> />

ele fala: “Você tá<<strong>br</strong> />

ca<strong>da</strong> vez fican<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

melhor, você era<<strong>br</strong> />

boa, mas tá<<strong>br</strong> />

fican<strong>do</strong> melhor<<strong>br</strong> />

com essa i<strong>da</strong>de”.<<strong>br</strong> />

[...]To<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> nós<<strong>br</strong> />

saímos, nós<<strong>br</strong> />

saímos de mão<<strong>br</strong> />

pega<strong>da</strong>, se ele saí<<strong>br</strong> />

com a mão no<<strong>br</strong> />

bolso, eu me<<strong>br</strong> />

engancho nele.<<strong>br</strong> />

Quan<strong>do</strong> a gente<<strong>br</strong> />

vai sair junto, ele<<strong>br</strong> />

sempre me<<strong>br</strong> />

esperou, nunca ele<<strong>br</strong> />

foi na frente e eu<<strong>br</strong> />

atrás, nunca. To<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

vi<strong>da</strong> fomos um<<strong>br</strong> />

casal” (F III).<<strong>br</strong> />

Uni<strong>da</strong>des de<<strong>br</strong> />

significa<strong>do</strong> na<<strong>br</strong> />

linguagem <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

pesquisa<strong>do</strong>r<<strong>br</strong> />

A sexuali<strong>da</strong>de não<<strong>br</strong> />

se resume a<<strong>br</strong> />

relação sexual e se<<strong>br</strong> />

manifesta pelo<<strong>br</strong> />

toque <strong>do</strong> outro,<<strong>br</strong> />

pela carícia.<<strong>br</strong> />

A sexuali<strong>da</strong>de é o<<strong>br</strong> />

convívio que<<strong>br</strong> />

propicia afeto,<<strong>br</strong> />

carinho e<<strong>br</strong> />

satisfação.<<strong>br</strong> />

Síntese de<<strong>br</strong> />

significa<strong>do</strong>s (FI,<<strong>br</strong> />

FIII, FIV, MV, MVI,<<strong>br</strong> />

MVII, MX)<<strong>br</strong> />

Situações de<<strong>br</strong> />

encontro<<strong>br</strong> />

oportunizan<strong>do</strong> o<<strong>br</strong> />

emergir <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

Tema<<strong>br</strong> />

emergente.<<strong>br</strong> />

A)<<strong>br</strong> />

O outro como<<strong>br</strong> />

fonte de desejo,<<strong>br</strong> />

prazer e<<strong>br</strong> />

sentimentos.


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

40<<strong>br</strong> />

Uni<strong>da</strong>des de<<strong>br</strong> />

significa<strong>do</strong> na<<strong>br</strong> />

linguagem <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

pega<strong>da</strong>, se ele saí<<strong>br</strong> />

com a mão no<<strong>br</strong> />

bolso, eu me<<strong>br</strong> />

engancho nele.<<strong>br</strong> />

Quan<strong>do</strong> a gente<<strong>br</strong> />

vai sair junto, ele<<strong>br</strong> />

sempre me<<strong>br</strong> />

esperou, nunca ele<<strong>br</strong> />

foi na frente e eu<<strong>br</strong> />

atrás, nunca. To<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

vi<strong>da</strong> fomos um<<strong>br</strong> />

casal. [...] Quan<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

é três horas, eu<<strong>br</strong> />

venho aqui, faço o<<strong>br</strong> />

chimarrão que ele<<strong>br</strong> />

gosta, vou lá e<<strong>br</strong> />

tomamos, ficamos<<strong>br</strong> />

nós <strong>do</strong>is juntos, par<<strong>br</strong> />

mim não tem coisa<<strong>br</strong> />

melhor <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

é ta junto com ele.<<strong>br</strong> />

(FIII)<<strong>br</strong> />

Sexuali<strong>da</strong>de... é a<<strong>br</strong> />

carícia e o desejo,<<strong>br</strong> />

né, principalmente<<strong>br</strong> />

a carícia, é coisa<<strong>br</strong> />

que atrai o homem<<strong>br</strong> />

e atrai a mulher. É<<strong>br</strong> />

através <strong>da</strong> carícia<<strong>br</strong> />

e <strong>do</strong> conviver que<<strong>br</strong> />

você tá com a<<strong>br</strong> />

pessoa, que se<<strong>br</strong> />

torna um<<strong>br</strong> />

relacionamento<<strong>br</strong> />

melhor, porque<<strong>br</strong> />

onde entra amor e<<strong>br</strong> />

confiança na<<strong>br</strong> />

pessoa, que torna<<strong>br</strong> />

o sexo mais<<strong>br</strong> />

gostoso, e é um<<strong>br</strong> />

prazer <strong>da</strong> pessoa.<<strong>br</strong> />

(MVII)<<strong>br</strong> />

Uni<strong>da</strong>des de<<strong>br</strong> />

significa<strong>do</strong> na<<strong>br</strong> />

linguagem <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

pesquisa<strong>do</strong>r<<strong>br</strong> />

A sexuali<strong>da</strong>de é a<<strong>br</strong> />

carícia e o desejo<<strong>br</strong> />

expressos no<<strong>br</strong> />

convívio.<<strong>br</strong> />

Síntese de<<strong>br</strong> />

significa<strong>do</strong>s (FI,<<strong>br</strong> />

FIII, FIV, MV, MVI,<<strong>br</strong> />

MVII, MX)<<strong>br</strong> />

Tema<<strong>br</strong> />

emergente.


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

41<<strong>br</strong> />

Uni<strong>da</strong>des de<<strong>br</strong> />

significa<strong>do</strong> na<<strong>br</strong> />

linguagem <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

Um ser humano é<<strong>br</strong> />

gera<strong>do</strong> através <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de, [...] O<<strong>br</strong> />

jeito <strong>da</strong> natureza<<strong>br</strong> />

normal é a<<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de. Eu<<strong>br</strong> />

acho que é normal.<<strong>br</strong> />

É o que dá prazer<<strong>br</strong> />

pro homem, pra<<strong>br</strong> />

mulher, é através<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> amor que<<strong>br</strong> />

acontece [...]<<strong>br</strong> />

Sexuali<strong>da</strong>de...é o<<strong>br</strong> />

prazer de fazer o<<strong>br</strong> />

sexo..., pelo amor,<<strong>br</strong> />

pela vi<strong>da</strong>, por<<strong>br</strong> />

gostar um <strong>do</strong> outro,<<strong>br</strong> />

né, ter prazer né,<<strong>br</strong> />

que aí que ele<<strong>br</strong> />

passa a ser uma<<strong>br</strong> />

coisa normal. (MVI)<<strong>br</strong> />

Uni<strong>da</strong>des de<<strong>br</strong> />

significa<strong>do</strong> na<<strong>br</strong> />

linguagem <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

pesquisa<strong>do</strong>r<<strong>br</strong> />

A sexuali<strong>da</strong>de é o<<strong>br</strong> />

ato sexual, o<<strong>br</strong> />

prazer e o amor.<<strong>br</strong> />

Síntese de<<strong>br</strong> />

significa<strong>do</strong>s (FI,<<strong>br</strong> />

FIII, FIV, MV, MVI,<<strong>br</strong> />

MVII, MX)<<strong>br</strong> />

Tema<<strong>br</strong> />

emergente.<<strong>br</strong> />

Sexuali<strong>da</strong>de eu<<strong>br</strong> />

acho que é um<<strong>br</strong> />

complemento entre<<strong>br</strong> />

o casal que é<<strong>br</strong> />

casa<strong>do</strong>, né. Um<<strong>br</strong> />

complemento de<<strong>br</strong> />

carinho e amor<<strong>br</strong> />

(FIV)<<strong>br</strong> />

A sexuali<strong>da</strong>de é<<strong>br</strong> />

um relacionamento<<strong>br</strong> />

com amor, carinho,<<strong>br</strong> />

ternura,<<strong>br</strong> />

sinceri<strong>da</strong>de,<<strong>br</strong> />

leal<strong>da</strong>de e<<strong>br</strong> />

fideli<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

Sexuali<strong>da</strong>de... é o<<strong>br</strong> />

relacionamento<<strong>br</strong> />

entre <strong>do</strong>is seres de<<strong>br</strong> />

sexo opostos, com<<strong>br</strong> />

amor, carinho,<<strong>br</strong> />

ternura,<<strong>br</strong> />

sinceri<strong>da</strong>de,<<strong>br</strong> />

leal<strong>da</strong>de e<<strong>br</strong> />

fideli<strong>da</strong>de. (MX)


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

42<<strong>br</strong> />

Uni<strong>da</strong>des de<<strong>br</strong> />

significa<strong>do</strong> na<<strong>br</strong> />

linguagem <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

Eu acho o<<strong>br</strong> />

seguinte, que nós<<strong>br</strong> />

os seres humanos,<<strong>br</strong> />

a não ser que<<strong>br</strong> />

tenha um grande<<strong>br</strong> />

distúrbio mental.<<strong>br</strong> />

Nós precisamos de<<strong>br</strong> />

contato, contato,<<strong>br</strong> />

Freud já vai dizer<<strong>br</strong> />

que isso é sexo.<<strong>br</strong> />

Você a<strong>br</strong>açar uma<<strong>br</strong> />

pessoa – ah isso aí<<strong>br</strong> />

já é malicioso, mas<<strong>br</strong> />

não é. É que nós<<strong>br</strong> />

precisamos de<<strong>br</strong> />

contato. Não há<<strong>br</strong> />

uma pessoa<<strong>br</strong> />

normal que não<<strong>br</strong> />

goste de contato,<<strong>br</strong> />

uma bati<strong>da</strong> no<<strong>br</strong> />

om<strong>br</strong>o [...] O gosto<<strong>br</strong> />

que dá, que existe<<strong>br</strong> />

em haver um<<strong>br</strong> />

contato de ser<<strong>br</strong> />

humano a ser<<strong>br</strong> />

humano, seja de<<strong>br</strong> />

homem com<<strong>br</strong> />

homem, assim<<strong>br</strong> />

quan<strong>do</strong> um amigo<<strong>br</strong> />

gosta de <strong>da</strong>r um<<strong>br</strong> />

a<strong>br</strong>aço no amigo...<<strong>br</strong> />

uma festa de<<strong>br</strong> />

aniversário, que<<strong>br</strong> />

to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> se<<strong>br</strong> />

a<strong>br</strong>aça, isso é<<strong>br</strong> />

bom, é gostoso. O<<strong>br</strong> />

homem, o ser<<strong>br</strong> />

humano necessita<<strong>br</strong> />

disso. (MV)<<strong>br</strong> />

Uni<strong>da</strong>des de<<strong>br</strong> />

significa<strong>do</strong> na<<strong>br</strong> />

linguagem <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

pesquisa<strong>do</strong>r<<strong>br</strong> />

A sexuali<strong>da</strong>de é<<strong>br</strong> />

contato com o<<strong>br</strong> />

outro.<<strong>br</strong> />

Síntese de<<strong>br</strong> />

significa<strong>do</strong>s (FI,<<strong>br</strong> />

FIII, FIV, MV, MVI,<<strong>br</strong> />

MVII, MX)<<strong>br</strong> />

Tema<<strong>br</strong> />

emergente.


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

43<<strong>br</strong> />

4. COMPREENSÃO DO FENÔMENO


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

44<<strong>br</strong> />

4.1 O OUTRO COMO FONTE DE DESEJO, PRAZER E SENTIMENTOS<<strong>br</strong> />

O ser humano tem necessi<strong>da</strong>de de compartilhar e viver com seus<<strong>br</strong> />

semelhantes, porque é um ser gregário por natureza e por condicionamento cultural<<strong>br</strong> />

(FERRIGNO, 1998). Esse fato apresenta-se tão intenso e liga<strong>do</strong> à vi<strong>da</strong>, que sua<<strong>br</strong> />

ausência pode acarretar <strong>da</strong>nos físicos e mentais, e até mesmo a morte (SCHUTZ,<<strong>br</strong> />

1989). Dessa forma, pode ser cria<strong>da</strong> uma relação de dependência, ou seja, de<<strong>br</strong> />

necessi<strong>da</strong>de de estar com o outro no processo de coexistência.<<strong>br</strong> />

A necessi<strong>da</strong>de de estar com o outro pode levar ao encontro, ao<<strong>br</strong> />

relacionamento interpessoal, ao contato físico, e até a uma atração, uma vez que<<strong>br</strong> />

necessitamos nutrir e sermos nutri<strong>do</strong>s, tocar e sermos toca<strong>do</strong>s, ver e sermos vistos,<<strong>br</strong> />

perceber e sermos percebi<strong>do</strong>s, sentir e sermos senti<strong>do</strong>s, porque somos objeto<<strong>br</strong> />

sensível (MERLEAU-PONTY, 1999). Isso se dá <strong>do</strong> nascimento até a morte, e<<strong>br</strong> />

possibilita a manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de na <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de Assim, a sexuali<strong>da</strong>de se<<strong>br</strong> />

manifesta nas diversas formas de relações, fazen<strong>do</strong> com que a presença <strong>do</strong> outro se<<strong>br</strong> />

torne algo, ao mesmo tempo, agradável e difícil de ser dispensa<strong>do</strong> (CAPODIECI,<<strong>br</strong> />

2000; MOSER, 2001).<<strong>br</strong> />

É interessante lem<strong>br</strong>ar que BUBER (2001) compreende a vi<strong>da</strong> atual como<<strong>br</strong> />

encontro, e, nesse senti<strong>do</strong>, não se refere ao tempo cronológico, mas ao instante<<strong>br</strong> />

presente <strong>da</strong> relação, que se dá somente quan<strong>do</strong> existe a presença <strong>do</strong> outro. Por<<strong>br</strong> />

isso, não se trata de um encontro agen<strong>da</strong><strong>do</strong>, pois é fato peculiar no aqui e agora que<<strong>br</strong> />

implica sensibili<strong>da</strong>de e espontanei<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

Compreen<strong>do</strong> o encontro como necessário para continui<strong>da</strong>de e manutenção<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e que é uma necessi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s seres vivos, muito embora o grau de<<strong>br</strong> />

necessi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ser humano seja mais complexo que para os outros seres. Assim, o<<strong>br</strong> />

encontro foge <strong>da</strong> concepção cartesiana de tempo, ele é a temporali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> aqui e<<strong>br</strong> />

agora, ou seja, <strong>do</strong> presenteísmo.<<strong>br</strong> />

O encontro significa estar junto, unir-se; o contato entre <strong>corpo</strong>s, ver,<<strong>br</strong> />

observar, tocar, sentir, participar, amar, compreender; conhecer intuitivamente<<strong>br</strong> />

mediante o silêncio ou ao movimento, ao beijo ou ao a<strong>br</strong>aço, a palavra ou ao gesto,<<strong>br</strong> />

não é apenas uma reunião, é vivência, momento de experiência humana (MORENO<<strong>br</strong> />

apud ALMEIDA, 1988). É preciso que exista uma intencionali<strong>da</strong>de, a qual leva os<<strong>br</strong> />

<strong>corpo</strong>s viventes a moverem-se em direção ao outro, de forma que, no momento de<<strong>br</strong> />

sua concretização haja uma realização. Assim, ele propicia o relacionamento


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

45<<strong>br</strong> />

interpessoal e manifesta, segun<strong>do</strong> Schutz (1989), necessi<strong>da</strong>des compreendi<strong>da</strong>s por<<strong>br</strong> />

inclusão, controle e afeição.<<strong>br</strong> />

A inclusão diz respeito a associações entre pessoas, aceitação e<<strong>br</strong> />

companhia. Trata-se de um sentimento de pertença que nos leva a ser<<strong>br</strong> />

completamente identificável, o que nos permite concluir que alguém está interessa<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

em nós e é capaz de nos perceber e desco<strong>br</strong>ir nossas características singulares<<strong>br</strong> />

armazena<strong>da</strong>s no <strong>corpo</strong>, na subjetivi<strong>da</strong>de. É a partir dessa descoberta que<<strong>br</strong> />

possibilitamos a criação de vínculos, desde os primeiros anos de vi<strong>da</strong>. A nossa<<strong>br</strong> />

necessi<strong>da</strong>de de ser e nos sentir incluso manifesta-se pelo desejo de receber<<strong>br</strong> />

atenção e efetuar interações (SCHUTZ, 1989).<<strong>br</strong> />

O comportamento <strong>do</strong> ser humano no processo de inclusão é determina<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

pelo mo<strong>do</strong> como se sente a respeito <strong>do</strong> que significa como existência, e esse<<strong>br</strong> />

sentimento é denomina<strong>do</strong> autoconceito. Desta forma, o “eu” deve se encontrar<<strong>br</strong> />

primeiro significante para si mesmo, e, conseqüentemente se encontrará significante<<strong>br</strong> />

para outras pessoas. Isto significa que, a necessi<strong>da</strong>de de inclusão envolverá o<<strong>br</strong> />

processo de formação de grupo, ou seja, de pertencer a um grupo, no qual<<strong>br</strong> />

procuramos identificação. Quan<strong>do</strong> ela se apresenta resolvi<strong>da</strong>, poderemos desfrutar<<strong>br</strong> />

de momentos prazerosos conviven<strong>do</strong> com várias pessoas, sem que isso nos traga<<strong>br</strong> />

ansie<strong>da</strong>de nem dependência, e assim, seremos capazes de compreender o nosso<<strong>br</strong> />

valor e a importância própria de ser humano (SCHUTZ, 1989).<<strong>br</strong> />

Uma outra necessi<strong>da</strong>de para a construção <strong>do</strong> encontro apresenta<strong>da</strong> por<<strong>br</strong> />

Schutz (1989) é a afeição ou afeto, que se refere às emoções íntimas e de contato<<strong>br</strong> />

estreitos entre duas pessoas. Ela envolve vínculo, portanto, demonstra-se mais<<strong>br</strong> />

profun<strong>da</strong> e sensível que a inclusão. Essa necessi<strong>da</strong>de, de um mo<strong>do</strong> geral, será a<<strong>br</strong> />

última fase que pode emergir no desenvolvimento <strong>da</strong>s relações humanas.<<strong>br</strong> />

A construção de vínculos pode ser representa<strong>da</strong> no senti<strong>do</strong> literal ou<<strong>br</strong> />

figurativo, pelo a<strong>br</strong>aço entre as pessoas envolvi<strong>da</strong>s, o que significa a interação<<strong>br</strong> />

afetiva existente. Esta situação ocorrerá de forma adequa<strong>da</strong>, quan<strong>do</strong> as interações<<strong>br</strong> />

emocionais com outras pessoas não constituem problemas, ou seja, quan<strong>do</strong> não se<<strong>br</strong> />

tem me<strong>do</strong> de <strong>da</strong>r ou receber afeto.<<strong>br</strong> />

É interessante destacar que o vínculo será forma<strong>do</strong> a partir <strong>da</strong> elaboração<<strong>br</strong> />

de afeto próprio, ou amor por si mesmo, quan<strong>do</strong> o ser humano desco<strong>br</strong>e que é<<strong>br</strong> />

ama<strong>do</strong> e capaz de amar. A partir dessa descoberta, ele a<strong>br</strong>e-se para o<<strong>br</strong> />

desenvolvimento afetivo com outras pessoas. É importante para ele sentir-se


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

46<<strong>br</strong> />

queri<strong>do</strong>, deseja<strong>do</strong>, ama<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, se isto não for possível mediante um<<strong>br</strong> />

relacionamento, não significa que ele seja desprovi<strong>do</strong> de afeto, e sim que, a<<strong>br</strong> />

necessi<strong>da</strong>de de afeto é bem ajusta<strong>da</strong>, será possível vivenciar relações de<<strong>br</strong> />

proximi<strong>da</strong>de e de distanciamento sem que elas abalem a capaci<strong>da</strong>de de se sentir<<strong>br</strong> />

ama<strong>do</strong> (SCHUTZ, 1989). Esta espaciali<strong>da</strong>de que propicia o ir e vir durante o<<strong>br</strong> />

processo de coexistência, possibilita vivenciar a relação “eu-tu”, e a manifestação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

<strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de entre <strong>corpo</strong>s viventes.<<strong>br</strong> />

O <strong>corpo</strong> é o primeiro e único lugar <strong>da</strong> experiência humana. Essa<<strong>br</strong> />

possibili<strong>da</strong>de concreta de existência faz com que ele seja o veículo <strong>do</strong> ser no<<strong>br</strong> />

mun<strong>do</strong>; pois, coloca-nos em movimento, em contato com o outro e com o mun<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

(MERLEAU-PONTY, 1999). Dele fluem nossas ações e reações, nossos desejos e<<strong>br</strong> />

prazeres, emerge uma multiplici<strong>da</strong>de de sentimentos vivencia<strong>do</strong>s mediante o<<strong>br</strong> />

encontro. Desse mo<strong>do</strong>, ele deixa de ser apenas um objeto de estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> biologia e<<strong>br</strong> />

passa a ser compreendi<strong>do</strong> como lugar de relações interpessoais, espaço onde<<strong>br</strong> />

ocorre a experiência humana (LABRONICI, 2002), visto que é gera<strong>do</strong>r e receptor de<<strong>br</strong> />

sentimentos dinamicamente contraditórios, no qual constantemente, revela e<<strong>br</strong> />

esconde, dá e recebe, toca e é toca<strong>do</strong>, sente e é senti<strong>do</strong>, porque é objeto sensível,<<strong>br</strong> />

ele é linguagem, é fala, é expressão (MERLEAU-PONTY, 1999).<<strong>br</strong> />

Destarte, o <strong>corpo</strong> nos permitirá não apenas a relação com o outro e com o<<strong>br</strong> />

mun<strong>do</strong>, como o conhecimento ou o saber. O mo<strong>do</strong> de acesso ao saber ou ao<<strong>br</strong> />

conhecimento se dá por meio <strong>da</strong> percepção, que se faz no mun<strong>do</strong> e não na<<strong>br</strong> />

consciência, uma vez que se põe diante <strong>do</strong> meu <strong>corpo</strong> (MERLEAU-PONTY, 1999).<<strong>br</strong> />

É importante destacar que mediante o toque, o <strong>corpo</strong> percebe e é percebi<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

pelo outro, e isso é possível porque ele é campo perceptivo e prático, e, desse<<strong>br</strong> />

mo<strong>do</strong>, a minha experiência liga-se à experiência <strong>do</strong> outro. Assim, é necessário “que<<strong>br</strong> />

pela percepção <strong>do</strong> outro eu me ache coloca<strong>do</strong> em relação com um outro eu que<<strong>br</strong> />

esteja em princípio aberto às mesmas ver<strong>da</strong>des que eu, em relação com o mesmo<<strong>br</strong> />

ser que eu”. E essa percepção se realiza quan<strong>do</strong>, “<strong>do</strong> fun<strong>do</strong> de minha subjetivi<strong>da</strong>de,<<strong>br</strong> />

vejo aparecer uma outra subjetivi<strong>da</strong>de investi<strong>da</strong> de direitos iguais, porque no meu<<strong>br</strong> />

campo perceptivo se esboça a conduta <strong>do</strong> outro, um comportamento que eu<<strong>br</strong> />

enten<strong>do</strong>, a palavra <strong>do</strong> outro, um pensamento que eu a<strong>br</strong>aço” (MERLEAU-PONTY,<<strong>br</strong> />

1990, p. 50-51). Nesse contexto, a consciência <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> que percebe e é percebi<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

está carrega<strong>do</strong> de intencionali<strong>da</strong>de, e é a percepção que irá captar a subjetivi<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> outro. O outro se apresenta como vi<strong>da</strong> aberta, <strong>da</strong> mesma forma que a minha, e


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

47<<strong>br</strong> />

deste mo<strong>do</strong>, se comunicam. Assim, o <strong>corpo</strong> vivente pode se colocar em uma postura<<strong>br</strong> />

de abertura deixan<strong>do</strong>-se penetrar na existência <strong>do</strong> outro por meio <strong>do</strong> encontro<<strong>br</strong> />

(VIDAL, 2002).<<strong>br</strong> />

A percepção que visa ao outro é para MERLEAU-PONTY (1999) uma<<strong>br</strong> />

percepção sexual. To<strong>da</strong>via, a compreensão a respeito <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de não se<<strong>br</strong> />

apresenta relaciona<strong>da</strong> aos órgãos sexuais, mas sim ao <strong>corpo</strong>, porque algo é sexual,<<strong>br</strong> />

quan<strong>do</strong> é percebi<strong>do</strong> pelo <strong>corpo</strong> - consciência encarna<strong>da</strong> - quan<strong>do</strong> passa a existir<<strong>br</strong> />

para a pessoa enquanto <strong>corpo</strong> vivente. Quan<strong>do</strong> manifestamos a sexuali<strong>da</strong>de é o<<strong>br</strong> />

<strong>corpo</strong> que se encontra envolvi<strong>do</strong> em uma complexa teia de relações, e é ele como<<strong>br</strong> />

um to<strong>do</strong> que vai ao encontro, e não a parte (MOSER, 2001).<<strong>br</strong> />

A sexuali<strong>da</strong>de é a força que nos impele a a<strong>br</strong>ir-nos, a sair de nós mesmos e<<strong>br</strong> />

ir ao encontro <strong>do</strong> outro e sempre será estrutura<strong>da</strong> no <strong>corpo</strong>. Ao nos predispormos a<<strong>br</strong> />

esse processo, encontramos o outro, o “tu”, ao mesmo tempo em que nos<<strong>br</strong> />

desco<strong>br</strong>imos como “eu”. Essa relação “eu-tu” realiza-se pela união de <strong>do</strong>is <strong>corpo</strong>s<<strong>br</strong> />

media<strong>do</strong>s por diversos sentimentos e desejos. Esses sentimentos permanecem<<strong>br</strong> />

entre eles unin<strong>do</strong>-os, e, desta maneira, permitin<strong>do</strong> um relacionamento que envolva<<strong>br</strong> />

afetivi<strong>da</strong>de (VIDAL, 2002). Assim, afetivi<strong>da</strong>de e sexuali<strong>da</strong>de se articulam aos<<strong>br</strong> />

conceitos de relação e troca, tornan<strong>do</strong> o ser humano um ser desejante, possui<strong>do</strong>r<<strong>br</strong> />

infinito de desejo (MONTEIRO, 2004; LABRONICI, 2002).<<strong>br</strong> />

A afetivi<strong>da</strong>de para Moser (2001, p. 55) é um “conjunto de fenômenos<<strong>br</strong> />

psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões,<<strong>br</strong> />

acompanha<strong>do</strong>s sempre <strong>da</strong> impressão de <strong>do</strong>r ou prazer, de satisfação ou<<strong>br</strong> />

insatisfação, de agra<strong>do</strong> ou desagra<strong>do</strong>, de alegria ou de tristeza” (MOSER, 2001, p.<<strong>br</strong> />

55).<<strong>br</strong> />

Nas entrevistas realiza<strong>da</strong>s, a percepção de sexuali<strong>da</strong>de emergiu a partir <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

relação com o outro, que por sua vez, apresentou-se carrega<strong>da</strong> de afetivi<strong>da</strong>de e<<strong>br</strong> />

como fonte de prazer. Assim, podemos compreender que para os participantes<<strong>br</strong> />

desta pesquisa a manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de inclui afeto, sentimentos e<<strong>br</strong> />

relacionamentos experiencia<strong>do</strong>s durante to<strong>da</strong> a trajetória existencial. Isso pode ser<<strong>br</strong> />

eluci<strong>da</strong><strong>do</strong> nas falas a seguir:<<strong>br</strong> />

“Sexuali<strong>da</strong>de eu acho que é um complemento entre o casal que é casa<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

né. Um complemento de carinho e amor”. (F IV)


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

48<<strong>br</strong> />

“Hoje o que me deixa feliz é que ele tá em casa. Ele me trata bem, me dá<<strong>br</strong> />

carinho. Ele quan<strong>do</strong> a gente tem relação, ele é uma pessoa que ele fala:<<strong>br</strong> />

“Você ta ca<strong>da</strong> vez fican<strong>do</strong> melhor, se era boa, mas ta fican<strong>do</strong> melhor que<<strong>br</strong> />

essa i<strong>da</strong>de.”[...] Quan<strong>do</strong> é três horas, eu venho aqui, faço o chimarrão que<<strong>br</strong> />

ele gosta, vou lá e tomamos, ficamos nós <strong>do</strong>is juntos, par mim não tem<<strong>br</strong> />

coisa melhor <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, é ta junto com ele”. (F III)<<strong>br</strong> />

A sexuali<strong>da</strong>de para Capodieci (2000) constitui uma dimensão afetiva,<<strong>br</strong> />

sentimental e relacional, que ocorre durante to<strong>da</strong> a existência humana. Assim,<<strong>br</strong> />

respeita-se o <strong>corpo</strong> e suas peculiari<strong>da</strong>des desenha<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> fase vivi<strong>da</strong>. Dessa<<strong>br</strong> />

forma, a capaci<strong>da</strong>de de amar, desejar e desfrutar de afetivi<strong>da</strong>de não está<<strong>br</strong> />

relaciona<strong>da</strong> a um único perío<strong>do</strong> vivi<strong>do</strong>, mas apresenta-se coexistente com a vi<strong>da</strong>.<<strong>br</strong> />

Isto significa que não pode ser pensa<strong>da</strong> e relaciona<strong>da</strong> exclusivamente à genitália,<<strong>br</strong> />

mas como algo que pertence à totali<strong>da</strong>de humana, não como objeto possuí<strong>do</strong>, mas<<strong>br</strong> />

como existência, porquanto somos <strong>corpo</strong>s sexua<strong>do</strong>s. Ela apresenta-se como<<strong>br</strong> />

linguagem que permite a comunicação entre os outros <strong>corpo</strong>s assumin<strong>do</strong> uma<<strong>br</strong> />

dimensão subjetiva (VIDAL, 2002). Assim, se expressa através <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> social<<strong>br</strong> />

(MOSER, 2001).<<strong>br</strong> />

As entrevistas desvelaram que a sexuali<strong>da</strong>de manifesta-se por meio <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

<strong>corpo</strong> e apresenta-se carrega<strong>da</strong> de sentimentos diversos expressos pelos i<strong>do</strong>sos,<<strong>br</strong> />

conforme podemos constatar nos discursos a seguir:<<strong>br</strong> />

“Sexuali<strong>da</strong>de... é o relacionamento entre <strong>do</strong>is seres de sexo oposto, com<<strong>br</strong> />

amor, carinho, ternura, sinceri<strong>da</strong>de, leal<strong>da</strong>de e fideli<strong>da</strong>de”. (M X)<<strong>br</strong> />

“...É o prazer de fazer o sexo..., pelo amor, pela vi<strong>da</strong>, por gostar um <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

outro, né, ter prazer né, que aí que ele passa a ser uma coisa normal”.<<strong>br</strong> />

(IV)<<strong>br</strong> />

Nessas falas, os entrevista<strong>do</strong>s deixam transparecer que a sexuali<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

manifesta-se a partir <strong>do</strong> encontro entre <strong>do</strong>is <strong>corpo</strong>s viventes que se atraem para<<strong>br</strong> />

vivenciarem diversos sentimentos. Essa relação não é construí<strong>da</strong> por seres<<strong>br</strong> />

humanos que apenas caminham juntos, mas por <strong>corpo</strong>s que se percebem, se<<strong>br</strong> />

sentem e se deixam sentir, amam e se deixam amar. Compreen<strong>do</strong> que nesses


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

49<<strong>br</strong> />

fragmentos <strong>do</strong> discurso existe além <strong>da</strong> afetivi<strong>da</strong>de, a necessi<strong>da</strong>de de estar com o<<strong>br</strong> />

outro. Assim, o relacionamento entre eles, é uma forma singular de encontro que<<strong>br</strong> />

possibilita prazer e manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de (VIDAL, 2002).<<strong>br</strong> />

O encontro apresenta algumas características tais como: a atenção deti<strong>da</strong>,<<strong>br</strong> />

ou seja, aquela é <strong>da</strong><strong>da</strong> ao outro, e permite que as demais coisas tenham menos<<strong>br</strong> />

importância; a necessi<strong>da</strong>de de comunhão, que possibilita o “estar-com”, deixan<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

florescer o desejo de presença mútua e a idealização <strong>da</strong> pessoa ama<strong>da</strong>, que<<strong>br</strong> />

propicia a descoberta e a potencialização de valores, antes ocultos, ou<<strong>br</strong> />

imperceptíveis <strong>do</strong>s mem<strong>br</strong>os <strong>da</strong> relação (VIDAL, 2002).<<strong>br</strong> />

Nesse contexto, podemos dizer que é o <strong>corpo</strong> que possibilita o encontro<<strong>br</strong> />

como momento de coexistência media<strong>da</strong> pela sexuali<strong>da</strong>de (MERLEAU-PONTY,<<strong>br</strong> />

1999), na qual homens e mulheres são atraí<strong>do</strong>s para a consoli<strong>da</strong>ção desse<<strong>br</strong> />

relacionamento. Essa relação é recíproca e permite a descoberta e construção de si<<strong>br</strong> />

e <strong>do</strong> outro, visto que, a mulher só se torna mulher sob o olhar de um homem, <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

mesma forma que o homem, só se torna homem sob o olhar <strong>da</strong> mulher (BEAUVOIR,<<strong>br</strong> />

2001).<<strong>br</strong> />

Ressalto que o relacionamento estabeleci<strong>do</strong> entre os <strong>corpo</strong>s viventes<<strong>br</strong> />

permite a multiplici<strong>da</strong>de de manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de, e essas experiências<<strong>br</strong> />

dependem <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de reconhecer e compartilhar os próprios sentimentos,<<strong>br</strong> />

atingin<strong>do</strong> a ternura e atenção mútua com o outro. Dessa maneira, sexuali<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

apresenta-se de forma altamente emotiva, possibilitan<strong>do</strong> o desco<strong>br</strong>imento de novas<<strong>br</strong> />

experiências afetivas (CAPODIECI, 2000). Para o autor, essa “capaci<strong>da</strong>de” é uma<<strong>br</strong> />

arte desenvolvi<strong>da</strong> pelo tempo e adquiri<strong>da</strong> ao longo <strong>do</strong>s anos de experiência em<<strong>br</strong> />

saber <strong>da</strong>r e receber afeto, o que exige conhecimento estético, sensibili<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

A sensibili<strong>da</strong>de na terceira i<strong>da</strong>de pode apresentar-se aguça<strong>da</strong> em relação às<<strong>br</strong> />

situações cotidianas devi<strong>do</strong> ao acúmulo de experiências vivi<strong>da</strong>s, visto que a<<strong>br</strong> />

capaci<strong>da</strong>de de aprender com elas não se perde, e, desse mo<strong>do</strong>, é possível que<<strong>br</strong> />

justamente nesse perío<strong>do</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> possa se atingir uma sexuali<strong>da</strong>de mais madura<<strong>br</strong> />

que transcende a genitália. Segun<strong>do</strong> CAPODIECI (2000), é possível que o i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

atinja um nível de crescimento jamais alcança<strong>do</strong> antes, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> lugar aos sentimentos<<strong>br</strong> />

e afetos, e, assim, fazer frutificar as experiências amadureci<strong>da</strong>s no percurso <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

pelo fato de amar.<<strong>br</strong> />

Ao prosseguirmos a análise e interpretação <strong>da</strong>s entrevistas, percebemos em<<strong>br</strong> />

outras falas que a sexuali<strong>da</strong>de surge compreendi<strong>da</strong> como prazer e sentimentos:


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

50<<strong>br</strong> />

“Um ser humano é gera<strong>do</strong> através <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de, [...] O jeito <strong>da</strong> natureza<<strong>br</strong> />

normal é a sexuali<strong>da</strong>de. Eu acho que é normal. É o que dá prazer pro<<strong>br</strong> />

homem, pra mulher, é através <strong>do</strong> amor que acontece”. (M VI)<<strong>br</strong> />

“Sexuali<strong>da</strong>de eu acho que é um complemento entre o casal que é casa<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

né. Um complemento de carinho e amor”. (F IV)<<strong>br</strong> />

Nessas falas emergem novamente a questão <strong>da</strong> afetivi<strong>da</strong>de relaciona<strong>da</strong> ao<<strong>br</strong> />

amor e ao prazer. O amor aqui pode ser compreendi<strong>do</strong> como o sentimento que dá<<strong>br</strong> />

senti<strong>do</strong> à sexuali<strong>da</strong>de que busca a união íntima e a comunhão recíproca, vivencia<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

em um intercâmbio pessoal de <strong>do</strong>ação e aceitação. Em uma relação estável, ele<<strong>br</strong> />

apresenta-se livre, porquanto é nasci<strong>do</strong> <strong>do</strong> encontro voluntário e gratuito entre duas<<strong>br</strong> />

pessoas. É um sentimento presente no encontro (VIDAL, 2002), que se apresenta<<strong>br</strong> />

como forma de responsabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> “Eu” para com o “Tu” permitin<strong>do</strong> a cumplici<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

entre os <strong>corpo</strong>s que se amam (BUBER, 2001).<<strong>br</strong> />

A sexuali<strong>da</strong>de, como dimensão ontológica <strong>do</strong> ser humano, manifesta-se<<strong>br</strong> />

mediante os <strong>corpo</strong>s que se vêem, se tocam, se percebem (LABRONICI, 2001),<<strong>br</strong> />

possibilita, segun<strong>do</strong> JOHNSON (1996), a expressão de sentimentos como fideli<strong>da</strong>de,<<strong>br</strong> />

paixão, afeição, estima, consideração e afirmação.<<strong>br</strong> />

Na terceira i<strong>da</strong>de, a manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de pode se apresentar de<<strong>br</strong> />

forma diferente, o que justifica sentir prazer mediante um olhar, uma carícia ou um<<strong>br</strong> />

afago (CAPODIECI, 2000). Nessa perspectiva, encontramos as seguintes falas que<<strong>br</strong> />

podem eluci<strong>da</strong>r essa percepção:<<strong>br</strong> />

“Sexuali<strong>da</strong>de é a carícia e o desejo, né, principalmente a carícia, é coisa<<strong>br</strong> />

que atrai o homem e atrai a mulher. É através <strong>da</strong> carícia e <strong>do</strong> conviver<<strong>br</strong> />

que você tá com a pessoa, que se torna um relacionamento melhor,<<strong>br</strong> />

porque onde entra amor e confiança na pessoa, que torna o sexo mais<<strong>br</strong> />

gostoso, e é um prazer <strong>da</strong> pessoa”. (M VII)<<strong>br</strong> />

“O beijo é muito importante, o toque de pele é muito importante...”. (F I)


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

51<<strong>br</strong> />

Constatamos, nos fragmentos <strong>do</strong>s discursos, a importância <strong>da</strong><strong>da</strong> ao carinho,<<strong>br</strong> />

ao afeto e ao amor. Apesar de tais sentimentos serem necessários, tanto para<<strong>br</strong> />

casais jovens como para i<strong>do</strong>sos, eles são desenvolvi<strong>do</strong>s na temporali<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

vivencia<strong>da</strong> a partir <strong>do</strong> encontro “eu-tu” que se constitui um nós; propicia a troca e o<<strong>br</strong> />

amadurecimento afetivo para ambos. Aqui o tempo mostra-se como aprimora<strong>do</strong>r <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

relacionamento. Dessa forma, esses sentimentos, afetos e carinho são<<strong>br</strong> />

manifestações <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de (CAPODIECI, 2000).<<strong>br</strong> />

Outra forma encontra<strong>da</strong> de manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de, expressa pelos<<strong>br</strong> />

i<strong>do</strong>sos participantes desta pesquisa, foi o contato físico. Este pressupõe<<strong>br</strong> />

primeiramente o encontro, o estabelecimento de uma relação, e apresenta-se<<strong>br</strong> />

bastante expressivo no discurso a seguir:<<strong>br</strong> />

“Eu acho o seguinte, que nós os seres humanos, a não ser que tenha um<<strong>br</strong> />

grande distúrbio mental. Nós precisamos de contato, contato, Freud já vai<<strong>br</strong> />

dizer que isso é sexo. Você a<strong>br</strong>açar uma pessoa – “Ah isso aí já é<<strong>br</strong> />

malicioso”, mas não é. É que nós precisamos de contato. Não há uma<<strong>br</strong> />

pessoa normal que não goste de contato, uma bati<strong>da</strong> no om<strong>br</strong>o [...] O<<strong>br</strong> />

gosto que dá, que existe em haver um contato de ser humano a ser<<strong>br</strong> />

humano, seja de homem com homem, assim quan<strong>do</strong> um amigo gosta de<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong>r um a<strong>br</strong>aço no amigo... uma festa de aniversário, que to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> se<<strong>br</strong> />

a<strong>br</strong>aça, isso é bom, é gostoso. O homem, o ser humano necessita disso”.<<strong>br</strong> />

(M V)<<strong>br</strong> />

A função <strong>do</strong> tato é uma forma rudimentar e simples <strong>do</strong> encontro<<strong>br</strong> />

interpessoal, que confere uma profun<strong>da</strong> experiência de companhia, de presença <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

outro. Conforme Vi<strong>da</strong>l (2002), esse contato pode ser denomina<strong>do</strong> como carícia<<strong>br</strong> />

he<strong>do</strong>nista ou benéfica. A carícia hedônica procura o próprio prazer de quem a<<strong>br</strong> />

executa, enquanto que a benéfica proporciona alívio e prazer à pessoa acaricia<strong>da</strong>.<<strong>br</strong> />

Nesse senti<strong>do</strong>, o beijo e o a<strong>br</strong>aço são vistos por esse autor como formas de carícia.<<strong>br</strong> />

Para Schutz (1989), o a<strong>br</strong>aço é concebi<strong>do</strong> como uma representação <strong>da</strong> nossa<<strong>br</strong> />

necessi<strong>da</strong>de afetiva, e pode ser constata<strong>do</strong> na fala anterior, em que o entrevista<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

atribuiu como um gesto prazeroso, e, assim, como forma de manifestação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de.


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

52<<strong>br</strong> />

Atitudes como o a<strong>br</strong>aço, o beijo, conversas amorosas, arrumar-se de forma<<strong>br</strong> />

a sentir-se atraente e acariciar o <strong>corpo</strong> são formas de manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

para o i<strong>do</strong>so, conforme apresenta Johnson (1996), em um estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> no qual<<strong>br</strong> />

demonstrou a multidimensionali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> comportamento sexual <strong>da</strong> pessoa i<strong>do</strong>sa, em<<strong>br</strong> />

que várias ativi<strong>da</strong>des foram ti<strong>da</strong>s como prazerosas, e não prioritariamente a relação<<strong>br</strong> />

sexual. Esse <strong>da</strong><strong>do</strong> reforça que, para o i<strong>do</strong>so, as expressões de afeto representam<<strong>br</strong> />

manifestações significativas <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de. Mesmo o fato de trocar a<strong>br</strong>aços entre<<strong>br</strong> />

amigos, filhos e netos possibilitam essa reali<strong>da</strong>de (CAPODIECI, 2000).<<strong>br</strong> />

Sexuali<strong>da</strong>de e afetivi<strong>da</strong>de articulam-se com o Eros, ou seja, com o desejo<<strong>br</strong> />

humano que para Monteiro (2004), manifesta-se como encontro e desejo de união,<<strong>br</strong> />

de fusão, de estar junto. Essa forma de manifestação é expressa por vários<<strong>br</strong> />

participantes <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> e demonstra<strong>da</strong> nos trechos <strong>do</strong>s discursos a seguir:<<strong>br</strong> />

“Porque não é só sexo em si, né. Você tem que ter carinho, tem que ter<<strong>br</strong> />

beijos [...] Eu tenho um par de <strong>da</strong>nça. Eu não <strong>da</strong>nço com to<strong>do</strong>s” (F I).<<strong>br</strong> />

“Hoje o que me deixa feliz é que ele tá em casa. Ele me trata bem, me dá<<strong>br</strong> />

carinho. Ele quan<strong>do</strong> a gente tem relação, ele é uma pessoa que ele fala:<<strong>br</strong> />

“Você ta ca<strong>da</strong> vez fican<strong>do</strong> melhor, se era boa, mas ta fican<strong>do</strong> melhor com<<strong>br</strong> />

essa i<strong>da</strong>de”. [...] To<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> nós saímos, nós saímos de mão pega<strong>da</strong>, se<<strong>br</strong> />

ele saí com a mão no bolso, eu me engancho nele. Quan<strong>do</strong> a gente vai<<strong>br</strong> />

sair junto, ele sempre me esperou, nunca ele foi na frente e eu atrás,<<strong>br</strong> />

nunca. To<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> fomos um casal” (F III).<<strong>br</strong> />

Encontramos nessas falas necessi<strong>da</strong>des afetivas e inclusivas como suporte<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> relação humana. Independente <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> civil ou i<strong>da</strong>de, temos essas<<strong>br</strong> />

necessi<strong>da</strong>des e podemos supri-las mediante a manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de que<<strong>br</strong> />

ocorre de diversas maneiras no nosso cotidiano, seja a partir de gestos simples, de<<strong>br</strong> />

atitudes que aproximam, e aju<strong>da</strong>m a solidificar o relacionamento, pois vão além <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

aparência, <strong>da</strong> superficiali<strong>da</strong>de. Nesse contexto, Capodieci (2002) afirma que uma<<strong>br</strong> />

relação dura<strong>do</strong>ura não será basea<strong>da</strong> apenas na atração física, mas nas atenções<<strong>br</strong> />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sas de um parceiro para com outro. Assim, a sexuali<strong>da</strong>de não se apresenta<<strong>br</strong> />

mais foca<strong>da</strong> no ato sexual ou na procriação, mas passa a ser vivencia<strong>da</strong> como<<strong>br</strong> />

possibili<strong>da</strong>de de prazer que alimenta a vi<strong>da</strong> amorosa e afetiva <strong>do</strong> ser humano. Neste


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

53<<strong>br</strong> />

senti<strong>do</strong>, a relação se estabelece com carinho e companheirismo que podem se<<strong>br</strong> />

intensificar com o tempo, em função <strong>do</strong> convívio e <strong>da</strong> troca que a permeia<<strong>br</strong> />

(SANTOS, 2003). Tu<strong>do</strong> isso é possível de ser pensa<strong>do</strong> e realiza<strong>do</strong> porque somos<<strong>br</strong> />

<strong>corpo</strong> consciência encarna<strong>da</strong>, e como tal, carregamos o mistério <strong>da</strong> reciproci<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

(MERLEAU-PONTY, 1999). Esta pode ser vivencia<strong>da</strong> durante to<strong>da</strong> a trajetória<<strong>br</strong> />

existencial a partir <strong>do</strong> encontro e <strong>da</strong> manifestação <strong>da</strong> <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de e possibilita<<strong>br</strong> />

penetrar na subjetivi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> outro que transcende sua superficiali<strong>da</strong>de (LABRONICI,<<strong>br</strong> />

2002), ou seja, penetrar na existência <strong>do</strong> outro por meio <strong>da</strong> percepção, <strong>do</strong> contato,<<strong>br</strong> />

manifestan<strong>do</strong> assim sua sexuali<strong>da</strong>de (VIDAL, 2000).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

54<<strong>br</strong> />

4.2 FACES OCULTAS E O EMERGIR DA SEXUALIDADE<<strong>br</strong> />

A sexuali<strong>da</strong>de se manifesta na <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de, não se restringe apenas à<<strong>br</strong> />

relação sexual, ou seja, à visão biológica reprodutiva - envolve to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s -<<strong>br</strong> />

e, portanto, a<strong>br</strong>ange um conjunto de experiências, emoções e sentimentos que<<strong>br</strong> />

emergem <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> vivente em to<strong>da</strong> a sua trajetória existencial. Desse mo<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

podemos compreendê-la de forma afetiva, sentimental e relacional respeitan<strong>do</strong> o<<strong>br</strong> />

<strong>corpo</strong> e as peculiari<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> fase vivi<strong>da</strong> (CAPODIECI, 2000); ela é o poder<<strong>br</strong> />

geral que a pessoa tem de “aderir a diferentes ambientes, de fixar-se por diferentes<<strong>br</strong> />

experiências” (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 219). Por manifestar-se mediante as<<strong>br</strong> />

expressões <strong>do</strong> <strong>corpo</strong>, a sexuali<strong>da</strong>de emerge de ativi<strong>da</strong>des humanas, e nesta<<strong>br</strong> />

pesquisa, foi possível identificá-la em ativi<strong>da</strong>des destina<strong>da</strong>s ao lazer nas falas a<<strong>br</strong> />

seguir que evidenciam essa compreensão:<<strong>br</strong> />

“A<strong>do</strong>ro sair, a<strong>do</strong>ro <strong>da</strong>nçar, a<strong>do</strong>ro música. Não é porque você envelheceu<<strong>br</strong> />

que você esqueceu <strong>da</strong> tua moci<strong>da</strong>de, <strong>do</strong> contrário, a juventude fica na<<strong>br</strong> />

lem<strong>br</strong>ança”. (F I)<<strong>br</strong> />

“Dançar é um troço que me realiza bastante, sabe!”. (M VII)<<strong>br</strong> />

O lazer apresenta-se como fazer humano e constitui uma ativi<strong>da</strong>de de<<strong>br</strong> />

exploração, fantasia, imaginação, esportes e criativi<strong>da</strong>de, além <strong>do</strong> que permite a<<strong>br</strong> />

participação social e a prática de uma cultura (FERRARI, 1996). O autor salienta que<<strong>br</strong> />

o “fazer” é uma necessi<strong>da</strong>de humana básica, mediante a qual exploramos e<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong>minamos a nós mesmos e o mun<strong>do</strong> que nos cerca.<<strong>br</strong> />

É importante destacar que durante o processo de envelhecimento há uma<<strong>br</strong> />

diminuição <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des, so<strong>br</strong>etu<strong>do</strong> aquelas relaciona<strong>da</strong>s à profissão, motivo pelo<<strong>br</strong> />

qual devemos como profissionais <strong>da</strong> área de saúde, ampliar a possibili<strong>da</strong>de de<<strong>br</strong> />

realização de ativi<strong>da</strong>des lúdicas, de lazer, que contribuam com os i<strong>do</strong>sos na<<strong>br</strong> />

manutenção <strong>da</strong> saúde, e, conseqüentemente, na melhora <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>.<<strong>br</strong> />

A ampliação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de lazer cria a possibili<strong>da</strong>de para que o i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

faça escolhas prazerosas que propiciem a manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de, e ocupe<<strong>br</strong> />

seu tempo de maneira criativa, de forma a mantê-lo ativo. Esta situação de mu<strong>da</strong>nça<<strong>br</strong> />

de rotina e ocupação <strong>do</strong> tempo parece ser um grande desafio para muitos i<strong>do</strong>sos


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

55<<strong>br</strong> />

que iniciam essa fase (VIEIRA, 2004). Isto mostra a necessi<strong>da</strong>de de enriquecermos<<strong>br</strong> />

nossas vivências ao longo <strong>da</strong> trajetória existencial, mediante a busca de soluções<<strong>br</strong> />

para os problemas cotidianos (GEIS, 2003). Assim, é preciso criar sempre novas<<strong>br</strong> />

experiências que determinem nosso lugar no mun<strong>do</strong> (FERREIRA, 1996), e que nos<<strong>br</strong> />

mantenham vincula<strong>do</strong>s à socie<strong>da</strong>de porque necessitamos dessa ligação (GEIS,<<strong>br</strong> />

2003).<<strong>br</strong> />

O conceito de lazer surge na história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de associa<strong>do</strong> ao trabalho,<<strong>br</strong> />

e ao longo <strong>do</strong>s séculos ambos os conceitos vão constituin<strong>do</strong> ora relação de<<strong>br</strong> />

proximi<strong>da</strong>de, ora de afastamento entre si. Em civilizações primitivas, o trabalho<<strong>br</strong> />

representava punição ou <strong>do</strong>r e era despreza<strong>do</strong> pelas elites. Na I<strong>da</strong>de Média ele<<strong>br</strong> />

ganha digni<strong>da</strong>de e o lazer encontra lugar social nos dias festivos. Do século XVI ao<<strong>br</strong> />

início <strong>do</strong> século XX, o trabalho é supervaloriza<strong>do</strong>, enquanto que o lazer passa a ser<<strong>br</strong> />

condena<strong>do</strong> e impróprio. Nesse século, com o melhoramento tecnológico <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

civilização industrial, amplia-se a dimensão e importância <strong>do</strong> lazer recolocan<strong>do</strong>-o na<<strong>br</strong> />

socie<strong>da</strong>de (FERRARI, 1996), e, atualmente, pode ser compreendi<strong>do</strong> como conjunto<<strong>br</strong> />

de “ocupações ou distrações às quais o indivíduo se entrega espontaneamente<<strong>br</strong> />

durante o tempo que não é absorvi<strong>do</strong> pelo trabalho” (GEIS, 2003, p. 33).<<strong>br</strong> />

A importância <strong>da</strong><strong>da</strong> ao lazer na atuali<strong>da</strong>de nos permite atribuir-lhe um<<strong>br</strong> />

dimensionamento que reside na possibili<strong>da</strong>de de suscitar atitudes durante a<<strong>br</strong> />

utilização <strong>do</strong> tempo livre, como a participação consciente e voluntária na vi<strong>da</strong> social,<<strong>br</strong> />

que exige um processo de desenvolvimento de si que busca, na medi<strong>da</strong> <strong>do</strong> possível,<<strong>br</strong> />

um equilí<strong>br</strong>io pessoal entre o repouso e a distração (FERRARI, 1996).<<strong>br</strong> />

Cabe salientar que, grande parte destes i<strong>do</strong>sos teve ao longo de sua<<strong>br</strong> />

trajetória ativi<strong>da</strong>des volta<strong>da</strong>s ao trabalho, ou seja, eram <strong>corpo</strong>s viventes produtivos,<<strong>br</strong> />

com poucos momentos de ócio, de lazer. Essa característica mu<strong>da</strong> nesta fase<<strong>br</strong> />

existencial vivi<strong>da</strong>, trazen<strong>do</strong>-lhes a possibili<strong>da</strong>de de enriquecer suas experiências em<<strong>br</strong> />

busca de um desenvolvimento pessoal e momentos de prazer, diferentes <strong>do</strong> trabalho<<strong>br</strong> />

(BALESTRA, 2002; BORINI, 2002).<<strong>br</strong> />

Estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s com i<strong>do</strong>sos por Mendizábal & Carbonero (2004)<<strong>br</strong> />

demonstram que um nível alto de ativi<strong>da</strong>des sociais tende a estimular a ativi<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

física e mental entre os i<strong>do</strong>sos, favorecen<strong>do</strong> o desenvolvimento de uma boa saúde e<<strong>br</strong> />

longevi<strong>da</strong>de, o que passa a ser um motivo pelo qual é possível estimulá-los a<<strong>br</strong> />

ampliar a participação em grupos de convivência e os laços afetivos. Portanto, é<<strong>br</strong> />

importante que a socie<strong>da</strong>de desperte e possibilite ca<strong>da</strong> vez mais aos i<strong>do</strong>sos meios


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

56<<strong>br</strong> />

para tornarem-se agentes e beneficiários de seu desenvolvimento, permitin<strong>do</strong> que<<strong>br</strong> />

encontrem nas ativi<strong>da</strong>des por eles escolhi<strong>da</strong>s motivos de satisfação.<<strong>br</strong> />

É natural que os i<strong>do</strong>sos procurem espaços favoráveis a sua satisfação,<<strong>br</strong> />

encontran<strong>do</strong> em grupos sociais o local para estabelecerem suas relações, e também<<strong>br</strong> />

a manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de. Esses grupos – quer sejam recreativos ou de<<strong>br</strong> />

convivência -- são constituí<strong>do</strong>s de pessoas que se reúnem periodicamente para<<strong>br</strong> />

realizarem ativi<strong>da</strong>des nas quais o méto<strong>do</strong> fun<strong>da</strong>mental é a interação que permite o<<strong>br</strong> />

favorecimento <strong>da</strong>s relações de amizade e auxiliam no desenvolvimento pessoal de<<strong>br</strong> />

to<strong>do</strong>s os participantes (MENDIZÁBAL & CARBONERO, 2004).<<strong>br</strong> />

Para os i<strong>do</strong>sos entrevista<strong>do</strong>s, as ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s em grupo e que<<strong>br</strong> />

possibilitam satisfação podem ser evidencia<strong>da</strong>s a seguir:<<strong>br</strong> />

“Olha, eu vivo sozinho, né. E eu vou to<strong>do</strong> dia jogar tênis, e eu encontro<<strong>br</strong> />

meu amigo lá, e conto uma pia<strong>da</strong>. Eu tenho meus jantares aí fora, eu<<strong>br</strong> />

tenho as minhas tempora<strong>da</strong>s fora também, em hotel”. (M V)<<strong>br</strong> />

“O prazer que eu sinto também é sair, <strong>da</strong>nçar, divertir, trabalhar, assim na<<strong>br</strong> />

chácara, no sítio, por exemplo. Eu gosto muito, é um prazer que eu<<strong>br</strong> />

tenho”. (M VII)<<strong>br</strong> />

“Eu a<strong>do</strong>ro sair, a<strong>do</strong>ro <strong>da</strong>nçar, a<strong>do</strong>ro música... Eu extravaso esta solidão<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong>nçan<strong>do</strong>, né. Eu tenho um par de <strong>da</strong>nça. Um par só. Eu não <strong>da</strong>nço com<<strong>br</strong> />

to<strong>do</strong>s, não me exponho a to<strong>do</strong>s”. (F I)<<strong>br</strong> />

Os grupos sociais, segun<strong>do</strong> Ferrari (1996), serão forma<strong>do</strong>s a partir de<<strong>br</strong> />

diversas necessi<strong>da</strong>des, contu<strong>do</strong>, têm como objetivo permitir que o i<strong>do</strong>so crie novos<<strong>br</strong> />

valores, novas maneiras de pensar, de sentir e de agir, além de facilitar as<<strong>br</strong> />

transformações <strong>da</strong>s relações sociais que continuamente vão se enriquecen<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />

Neles, os i<strong>do</strong>sos conhecem outras pessoas, redesco<strong>br</strong>em-se, trocam, vivem,<<strong>br</strong> />

sonham, propician<strong>do</strong> assim, momentos agradáveis.<<strong>br</strong> />

As ativi<strong>da</strong>des de lazer foram classifica<strong>da</strong>s por Dumazedier (2001), de acor<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

com a área de interesse em: manuais, intelectuais, associativas, ou seja, aquelas<<strong>br</strong> />

que buscam o prazer pelo convívio social, artísticas e físicas. Elas envolvem uma<<strong>br</strong> />

gama de possibili<strong>da</strong>des que têm como objetivo principal a socialização <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so.


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

57<<strong>br</strong> />

Dessa maneira, ao unir o lúdico com o relacionamento interpessoal, possibilitam a<<strong>br</strong> />

melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e a auto-estima, além <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

pensamento crítico e <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de (GASPARI & SCHWARTZ, 2005).<<strong>br</strong> />

As ativi<strong>da</strong>des menciona<strong>da</strong>s pelos i<strong>do</strong>sos como manifestação de prazer, em<<strong>br</strong> />

sua maioria, são realiza<strong>da</strong>s em grupo, possibilitam a manifestação <strong>da</strong> <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

e <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de pelos <strong>corpo</strong>s viventes que coexistem no mesmo espaço social, e<<strong>br</strong> />

esta coexistência permite que ca<strong>da</strong> um perceba e seja percebi<strong>do</strong>, veja e seja visto,<<strong>br</strong> />

toque e seja toca<strong>do</strong>, porque o <strong>corpo</strong> é veículo <strong>do</strong> ser no mun<strong>do</strong> (MERLEAU-PONTY,<<strong>br</strong> />

1999) motivo pelo qual nos coloca em movimento. Este movimento pode nos levar<<strong>br</strong> />

em direção ao outro para que o encontro se concretize, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> início a relação, e,<<strong>br</strong> />

assim, a possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> troca, porque existir é trocar (LABRONICI, 2002).<<strong>br</strong> />

É a movimentação <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> que nos mantém conecta<strong>do</strong>s com o outro e com<<strong>br</strong> />

o mun<strong>do</strong>, motivo pelo qual é imprescindível que o <strong>corpo</strong> vivente em processo de<<strong>br</strong> />

envelhecimento experiencie a descoberta de movimentos, pois quan<strong>do</strong> os objetivos<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> são manti<strong>do</strong>s e a motivação é preserva<strong>da</strong>, os i<strong>do</strong>sos não se fragilizam a<<strong>br</strong> />

ponto de perder a direção de seus movimentos rumo a novas experiências<<strong>br</strong> />

existenciais (BALESTRA, 2002).<<strong>br</strong> />

Entre as ativi<strong>da</strong>des menciona<strong>da</strong>s pelos i<strong>do</strong>sos participantes <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

encontramos a <strong>da</strong>nça, o jogo, o sair, ir ao teatro, participar de jantares e de viagens.<<strong>br</strong> />

O senti<strong>do</strong> atribuí<strong>do</strong> por eles para essas ativi<strong>da</strong>des assemelha-se com a recreação<<strong>br</strong> />

que é compreendi<strong>da</strong> como ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s com o intuito de sentir-se bem e de<<strong>br</strong> />

se divertir. A sua finali<strong>da</strong>de é fun<strong>da</strong>mentalmente lúdica, e buscam resulta<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

imediatos com a ocupação <strong>do</strong> tempo livre. Necessariamente ela não é uma ativi<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

periódica, ou com regras rígi<strong>da</strong>s, uma vez que, o que procuram é apenas a sua<<strong>br</strong> />

satisfação e realização (GEIS, 2003).<<strong>br</strong> />

Os fragmentos <strong>do</strong>s discursos possibilitam compreender que essas ativi<strong>da</strong>des<<strong>br</strong> />

proporcionam prazer e satisfação ao i<strong>do</strong>so, propiciam a sua socialização, visto que<<strong>br</strong> />

permite a convivência em grupo, renova uma rede de afetos que se apresenta<<strong>br</strong> />

entrelaça<strong>do</strong> ao fazer humano (BORINI, 2002) e a troca. Tal situação faz com que<<strong>br</strong> />

permaneça ativo, e gere um sentimento de satisfação e orgulho por sentir-se<<strong>br</strong> />

disposto, saudável e capaz de realizar tais ativi<strong>da</strong>des (SIMÕES, 1994), além <strong>do</strong> que,<<strong>br</strong> />

a participação em diferentes vivências oportuniza ao i<strong>do</strong>so a possibili<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>r<<strong>br</strong> />

novos senti<strong>do</strong>s a sua existência (GASPARI & SCHWARTZ, 2005).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

58<<strong>br</strong> />

O fato de o i<strong>do</strong>so sentir-se bem e saudável passa a ser compreendi<strong>do</strong> de<<strong>br</strong> />

maneira subjetiva, e o seu comportamento deixa de ser determina<strong>do</strong> não apenas<<strong>br</strong> />

pelas condições objetivas, mas pelas representações que a pessoa faz <strong>do</strong> seu<<strong>br</strong> />

esta<strong>do</strong> de saúde (DOLL, 1998). Dessa forma, mesmo em situações que apresentem<<strong>br</strong> />

uma diminuição objetiva <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, é possível desfrutarem de satisfação<<strong>br</strong> />

e sentimento de bem-estar, uma vez que dependem <strong>da</strong> reorganização <strong>da</strong> autoimagem,<<strong>br</strong> />

adequação <strong>do</strong>s objetivos e metas às condições reais e maior capaci<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

de controlar as emoções (OKUN cita<strong>do</strong> por DOLL, 1998).<<strong>br</strong> />

Recentemente, em 2002, a Organização Mundial de Saúde estabeleceu o<<strong>br</strong> />

conceito de envelhecimento ativo para designar o processo de envelhecer manten<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

a capaci<strong>da</strong>de funcional e a autonomia, amplian<strong>do</strong> assim, o entendimento de saúde<<strong>br</strong> />

para essa faixa etária (BRASIL, 2006).<<strong>br</strong> />

Visto dessa forma, “a abor<strong>da</strong>gem <strong>do</strong> envelhecimento ativo baseia-se no<<strong>br</strong> />

reconhecimento <strong>do</strong>s direitos <strong>da</strong>s pessoas i<strong>do</strong>sas e nos princípios de independência,<<strong>br</strong> />

participação, digni<strong>da</strong>de, assistência e auto-realização”, poden<strong>do</strong> ser compreendi<strong>do</strong> a<<strong>br</strong> />

partir de três componentes: a menor probabili<strong>da</strong>de de <strong>do</strong>ença, alta capaci<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

funcional, e engajamento social ativo com a vi<strong>da</strong>, o que nos permite contemplar a<<strong>br</strong> />

terceira i<strong>da</strong>de não mais como declínio, e sim como possibili<strong>da</strong>de de um processo<<strong>br</strong> />

saudável de vi<strong>da</strong>. Ao partir de tais considerações, as propostas internacionais<<strong>br</strong> />

sugerem que os órgãos governamentais e a socie<strong>da</strong>de civil sejam responsáveis pela<<strong>br</strong> />

implantação de políticas e programas que melhorem e estimulem a saúde, a<<strong>br</strong> />

participação e a segurança <strong>da</strong> pessoa i<strong>do</strong>sa (BRASIL, 2006, p. 7).<<strong>br</strong> />

Nesse contexto, as ativi<strong>da</strong>des físicas apresentam-se como uma forma de<<strong>br</strong> />

promover saúde e bem-estar <strong>da</strong> população i<strong>do</strong>sa, e podem ser compreendi<strong>da</strong>s como<<strong>br</strong> />

conjunto de movimentos <strong>corpo</strong>rais capazes de contribuir para a prevenção e<<strong>br</strong> />

manutenção <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des <strong>do</strong> ser humano (VIEIRA, 2004).<<strong>br</strong> />

Nas entrevistas realiza<strong>da</strong>s, surge a descrição de tais ativi<strong>da</strong>des que<<strong>br</strong> />

sugerem satisfação em executá-las.<<strong>br</strong> />

“Tenho um namora<strong>do</strong>, mas é mais velho que eu, assim é uma companhia,<<strong>br</strong> />

mas é uma coisa saudável, né! Jogo, saio, sabe! Vou a teatro, participo<<strong>br</strong> />

de ativi<strong>da</strong>des”. (F II)


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

59<<strong>br</strong> />

“Olha, eu vivo sozinho, né. E eu vou to<strong>do</strong> dia jogar tênis, e eu encontro<<strong>br</strong> />

meu amigo lá, e conto uma pia<strong>da</strong>. Eu tenho meus jantares aí fora, eu<<strong>br</strong> />

tenho as minhas tempora<strong>da</strong>s fora também, em hotel”. (M V)<<strong>br</strong> />

A ativi<strong>da</strong>de física apresenta-se liga<strong>da</strong> ao bem-estar e pode ser<<strong>br</strong> />

compreendi<strong>da</strong> como um <strong>do</strong>s fatores determinantes para um estilo de vi<strong>da</strong> saudável.<<strong>br</strong> />

Atualmente, é maior o número de pessoas que atingem a terceira i<strong>da</strong>de gozan<strong>do</strong> de<<strong>br</strong> />

saúde, o que permite e estimula ain<strong>da</strong> mais a execução desse tipo de ativi<strong>da</strong>de,<<strong>br</strong> />

lem<strong>br</strong>an<strong>do</strong>-nos que a velhice não precisa ser pensa<strong>da</strong> como um perío<strong>do</strong> de declínio,<<strong>br</strong> />

mas como possibili<strong>da</strong>de de renovação, mu<strong>da</strong>nças e realizações. Além <strong>do</strong> mais,<<strong>br</strong> />

alguns estu<strong>do</strong>s revelam que a ativi<strong>da</strong>de física nesse perío<strong>do</strong> traz inúmeros<<strong>br</strong> />

benefícios para o i<strong>do</strong>so (LEITE, 1996; GEIS, 2003) tais como: redução <strong>da</strong> pressão<<strong>br</strong> />

arterial, melhora <strong>da</strong> eficiência <strong>do</strong> músculo cardíaco, aumento <strong>da</strong> vascularização <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

miocárdio e <strong>da</strong> musculatura esquelética, <strong>do</strong> metabolismo, <strong>do</strong> HDL livre no sangue,<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> força muscular e <strong>da</strong> produção de en<strong>do</strong>rfinas e diminuição <strong>da</strong> morbi-mortali<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

em processos degenerativos (LEITE, 1996).<<strong>br</strong> />

Cabe salientar que, as ativi<strong>da</strong>des físicas, além <strong>do</strong>s benefícios menciona<strong>do</strong>s,<<strong>br</strong> />

propiciam momentos de prazer, bem como a possibili<strong>da</strong>de de vivenciar experiências<<strong>br</strong> />

criativas que colocam os i<strong>do</strong>sos em contato com o próprio <strong>corpo</strong> (BALESTRA, 2002),<<strong>br</strong> />

manten<strong>do</strong>-os ativos e retar<strong>da</strong>n<strong>do</strong> algumas características <strong>do</strong> processo de<<strong>br</strong> />

envelhecimento (SIMÕES, 1994). Isso não significa a busca <strong>da</strong> fonte <strong>da</strong> juventude,<<strong>br</strong> />

pois perceberão os efeitos <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de cronológica, mas sim a possibili<strong>da</strong>de de realizar<<strong>br</strong> />

as ativi<strong>da</strong>des com melhor disposição e desempenho em sua rotina diária, tornan<strong>do</strong>os<<strong>br</strong> />

mais autônomos e possibilitan<strong>do</strong>-lhes uma vi<strong>da</strong> mais ativa. Com isso, sentem-se<<strong>br</strong> />

capazes de tomar suas próprias decisões (BALESTRA, 2002) o que os auxilia a<<strong>br</strong> />

perceber e vivenciar esse perío<strong>do</strong> como uma nova fase existencial.<<strong>br</strong> />

É importante destacar que na terceira i<strong>da</strong>de, as respostas às novas<<strong>br</strong> />

situações cotidianas não serão resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ímpeto <strong>do</strong> vigor físico, mas <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

aprimoramento trazi<strong>do</strong> pela experiência <strong>do</strong> vivi<strong>do</strong>. Assim, o envelhecimento não<<strong>br</strong> />

carrega o sinônimo de decadência, mas de seqüência <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> (SIMÕES, 1994) que<<strong>br</strong> />

exige a<strong>da</strong>ptações diante <strong>da</strong>s transformações ocorri<strong>da</strong>s no <strong>corpo</strong>, e que é muito<<strong>br</strong> />

importante desfrutar ca<strong>da</strong> instante vivi<strong>do</strong>, perceber o mun<strong>do</strong> e o outro, enfim, de<<strong>br</strong> />

viver a vi<strong>da</strong> em sua plenitude com tu<strong>do</strong> o que ela apresenta de possibili<strong>da</strong>des e de<<strong>br</strong> />

fragili<strong>da</strong>des. Dessa forma, as ativi<strong>da</strong>des físicas deixam de cultuar o <strong>corpo</strong> belo e


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

60<<strong>br</strong> />

reforçar padrões estéticos rigorosos, passam a representar uma forma de<<strong>br</strong> />

relacionamento humano e de toma<strong>da</strong> de consciência <strong>do</strong> que o i<strong>do</strong>so é capaz<<strong>br</strong> />

(BALESTRA, 2002). Isso permite reiterarmos que o possível deve ser mais<<strong>br</strong> />

valoriza<strong>do</strong> que o perfeito (SIMÕES, 1994), e contribuem para que se libertem de<<strong>br</strong> />

preconceitos, diminuam complexos e redescu<strong>br</strong>am a alegria e a espontanei<strong>da</strong>de ao<<strong>br</strong> />

interagir socialmente, o que possibilita a percepção de si como <strong>corpo</strong> vivente, “que é<<strong>br</strong> />

movimento em direção ao mun<strong>do</strong>, o mun<strong>do</strong>, ponto de apoio de meu <strong>corpo</strong>”<<strong>br</strong> />

(MERLEAU-PONTY, 1999, p. 469).<<strong>br</strong> />

Nesse contexto, o prazer pela ativi<strong>da</strong>de física manifesta-se na ação, e por<<strong>br</strong> />

mais que exista um espírito competitivo, o que vale é a realização. Nessa fase <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

vi<strong>da</strong>, apesar de vivermos em um mun<strong>do</strong> que exige uma performance impecável que<<strong>br</strong> />

nos transforma em competi<strong>do</strong>res, não ganha o mais veloz, mas aqueles que<<strong>br</strong> />

participam <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de como uma experiência prazerosa que possibilita o contato<<strong>br</strong> />

com o outro (SIMÕES, 1994). Assim sen<strong>do</strong>, percebo que existem nas ativi<strong>da</strong>des<<strong>br</strong> />

físicas alguns elementos compensatórios para sua realização como a possibili<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

de encontro e de um convívio, de sociabili<strong>da</strong>de, ou seja, de ser e estar-com o outro<<strong>br</strong> />

propician<strong>do</strong> a construção de uma experiência rica em satisfação que pode ser<<strong>br</strong> />

constata<strong>da</strong> na fala a seguir:<<strong>br</strong> />

“O prazer que eu sinto também é sair, <strong>da</strong>nçar, divertir, trabalhar, assim na<<strong>br</strong> />

chácara, no sítio, por exemplo. Eu gosto muito, é um prazer que eu<<strong>br</strong> />

tenho”. (M VII)<<strong>br</strong> />

Os fragmentos <strong>do</strong>s discursos mostram a manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

mediante a <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de, porque os i<strong>do</strong>sos encontram nas ativi<strong>da</strong>des físicas prazer<<strong>br</strong> />

que lhes servem como estímulo para vi<strong>da</strong>. Percebo também que contribuem para a<<strong>br</strong> />

percepção <strong>do</strong> ser e estar no mun<strong>do</strong>, haja vista, que ele não se coloca como ser<<strong>br</strong> />

passivo, mas ativo na medi<strong>da</strong> em que é um <strong>corpo</strong> vivente em movimento.<<strong>br</strong> />

Outra ativi<strong>da</strong>de menciona<strong>da</strong> nas entrevistas que possibilitam a manifestação<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de foi a <strong>da</strong>nça compreendi<strong>da</strong> como “uma forma complexa de encontro”<<strong>br</strong> />

(VIDAL, 2002, p. 82), que envolve diversos senti<strong>do</strong>s como: tato, audição e visão.<<strong>br</strong> />

A <strong>da</strong>nça possibilita o respeito a si próprio e ao outro permitin<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

transformação, reafirmação e construção significativa na busca de valores pessoais,<<strong>br</strong> />

além de propiciar o refinamento <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> cinestésico, ou seja, de movimentos, a


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

61<<strong>br</strong> />

livre expressão <strong>corpo</strong>ral e a manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de, possibilitan<strong>do</strong> um<<strong>br</strong> />

sentimento de prazer (ABRÃO & PEDRÃO, 2005).<<strong>br</strong> />

É importante lem<strong>br</strong>ar que na história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, a <strong>da</strong>nça sempre<<strong>br</strong> />

esteve liga<strong>da</strong> ao <strong>corpo</strong>, representava uma <strong>da</strong>s mais antigas e elementares maneiras<<strong>br</strong> />

de expressão <strong>do</strong> ser humano, estava relaciona<strong>da</strong> à caça, à religião, à guerra, à<<strong>br</strong> />

morte, à cura, à fertili<strong>da</strong>de, e não só à arte (ALMEIDA, 2005). Nesse contexto,<<strong>br</strong> />

podemos considerá-la como linguagem, como forma de manifestação <strong>da</strong> expressão<<strong>br</strong> />

humana.<<strong>br</strong> />

A <strong>da</strong>nça é uma <strong>da</strong>s formas de expressão <strong>do</strong> <strong>corpo</strong>, envolve um conjunto de<<strong>br</strong> />

movimentos rítmicos, de gestuali<strong>da</strong>des, de sensuali<strong>da</strong>de e erotismo, “que traduzem<<strong>br</strong> />

uma linguagem na qual to<strong>do</strong> o significa<strong>do</strong> pertence ao <strong>corpo</strong> que <strong>da</strong>nça solitário, ou<<strong>br</strong> />

aos <strong>corpo</strong>s que se entrelaçam” (LABRONICI, 2002, p. 75).<<strong>br</strong> />

No discurso <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos entrevista<strong>do</strong>s, a <strong>da</strong>nça pode ser compreendi<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

também como um <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s de manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de, visto que possibilita<<strong>br</strong> />

o prazer. Isso pode ser percebi<strong>do</strong> a partir <strong>da</strong>s seguintes falas:<<strong>br</strong> />

“A<strong>do</strong>ro sair, a<strong>do</strong>ro <strong>da</strong>nçar, a<strong>do</strong>ro música. Não é porque você envelheceu<<strong>br</strong> />

que você esqueceu <strong>da</strong> tua moci<strong>da</strong>de, <strong>do</strong> contrário, a juventude fica na<<strong>br</strong> />

lem<strong>br</strong>ança [...] Quan<strong>do</strong> você <strong>da</strong>nça, você esquece de tu<strong>do</strong>. O contato <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

homem com seu <strong>corpo</strong> faz com que você fique elétrica, que você <strong>da</strong>nce<<strong>br</strong> />

mais, se arrume mais”. (F I)<<strong>br</strong> />

A <strong>da</strong>nça nos possibilita expressar nossos sentimentos, emoções, tradições e<<strong>br</strong> />

crenças, perceber o outro e o mun<strong>do</strong> que nos rodeia (ALMEIDA, 2005). Isso é<<strong>br</strong> />

possível porque também é uma forma de expressão <strong>da</strong> nossa <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de, visto<<strong>br</strong> />

que o <strong>corpo</strong> é autor e ao mesmo tempo espaço cênico dessa ativi<strong>da</strong>de (COSTA,<<strong>br</strong> />

2004). Para a autora, a linguagem <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> na <strong>da</strong>nça exprime pensamentos<<strong>br</strong> />

construí<strong>do</strong>s por ele mesmo em seu mun<strong>do</strong> vivi<strong>do</strong>, é múltipla, está aberta e<<strong>br</strong> />

inacaba<strong>da</strong>, e permite a expressão de diferentes compreensões de mun<strong>do</strong>, no qual o<<strong>br</strong> />

<strong>corpo</strong> é o espaço que sustenta essa linguagem, pois a ca<strong>da</strong> movimento ou gesto<<strong>br</strong> />

realiza<strong>do</strong> por meio <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça possibilita a inspiração de vários sentimentos. O <strong>corpo</strong><<strong>br</strong> />

apresenta-se como ponto de parti<strong>da</strong> de existência <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça, que desvela inúmeros<<strong>br</strong> />

horizontes para pensarmos e vivermos essa arte. Ele é ser sensível e pensante,


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

62<<strong>br</strong> />

porque o pensamento é <strong>corpo</strong>ral, é vivi<strong>do</strong>, é encarna<strong>do</strong> pelas experiências na <strong>da</strong>nça<<strong>br</strong> />

e na vi<strong>da</strong> (COSTA, 2004).<<strong>br</strong> />

Conforme MERLEAU-PONTY (1999), esse <strong>corpo</strong> é objeto sensível que toca<<strong>br</strong> />

ao mesmo tempo que é toca<strong>do</strong>, percebe e é percebi<strong>do</strong>, vê e é visto, sente e é<<strong>br</strong> />

senti<strong>do</strong>. Essa dimensão sensível <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> não se opõe à razão, mas coopera com<<strong>br</strong> />

uma lógica existencial que une saberes, práticas, atitudes, valores, mo<strong>do</strong> de ser e de<<strong>br</strong> />

viver, admitin<strong>do</strong> as contradições e as incertezas humanas (NÔBREGA & TIBÚRCIO,<<strong>br</strong> />

2004).<<strong>br</strong> />

A <strong>da</strong>nça possibilita o encontro de mun<strong>do</strong>s vivi<strong>do</strong>s e pode revelar o desejo<<strong>br</strong> />

pelo outro. Ela só existe como ativi<strong>da</strong>de porque o <strong>corpo</strong> a torna possível, ao mesmo<<strong>br</strong> />

tempo em que existe um outro <strong>corpo</strong> para <strong>da</strong>nçar com ele, ou para simplesmente<<strong>br</strong> />

apreciar o que <strong>da</strong>nça. Dessa forma, ele pode ser compreendi<strong>do</strong> como autor<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong>nçante e estético que se dispõe a tornar-se espaço cênico para viver o<<strong>br</strong> />

desconheci<strong>do</strong>, obter novos saberes, des<strong>do</strong><strong>br</strong>ar novos códigos de movimento e criar<<strong>br</strong> />

a linguagem que revela o <strong>corpo</strong> como ser vivente e a arte de <strong>da</strong>nça (COSTA, 2004).<<strong>br</strong> />

Ao concebermos o ato de <strong>da</strong>nçar como possibili<strong>da</strong>de de manifestação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de, corroboramos com a percepção de que essa não é apenas uma função<<strong>br</strong> />

orgânica relaciona<strong>da</strong> à procriação, e sim, uma intencionali<strong>da</strong>de que segue o<<strong>br</strong> />

movimento geral <strong>da</strong> existência e coexiste com o <strong>corpo</strong> (MERLEAU-PONTY, 1999).<<strong>br</strong> />

Por meio <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça os <strong>corpo</strong>s se encontram, entrelaçam suas histórias e<<strong>br</strong> />

experiências para tecer o momento vivi<strong>do</strong>, ca<strong>da</strong> um com sua percepção de mun<strong>do</strong> e<<strong>br</strong> />

intencionali<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

No encontro <strong>do</strong>s <strong>corpo</strong>s <strong>da</strong>nçantes, percebemos a possibili<strong>da</strong>de de<<strong>br</strong> />

transformar o estar com o outro em uma relação imprevisível devi<strong>do</strong> à<<strong>br</strong> />

espontanei<strong>da</strong>de e improvisação <strong>do</strong>s passos na <strong>da</strong>nça, ao mesmo tempo em que<<strong>br</strong> />

existe o apoio em si e no outro para segui-los. Assim, faz-se necessário que exista<<strong>br</strong> />

respeito pelo tempo e movimento <strong>do</strong> outro. A sensibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça surge pela<<strong>br</strong> />

possibili<strong>da</strong>de de percepção de si e <strong>do</strong> outro, e assim podemos notar a diferença, a<<strong>br</strong> />

peculiari<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s <strong>corpo</strong>s viventes.<<strong>br</strong> />

Ao <strong>da</strong>nçarmos podemos nos manter atentos ao <strong>corpo</strong> e aos nossos<<strong>br</strong> />

sentimentos, perceber o outro e o mun<strong>do</strong>, bem como sentir as pulsações e<<strong>br</strong> />

intencionali<strong>da</strong>des que existem em nós a ca<strong>da</strong> movimento realiza<strong>do</strong> Neste senti<strong>do</strong>, o<<strong>br</strong> />

outro se faz necessário para a construção e apreciação <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça enquanto<<strong>br</strong> />

manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de.


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

63<<strong>br</strong> />

Destarte, a <strong>da</strong>nça como possibili<strong>da</strong>de de prazer e encontro é uma <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />

múltiplas formas de expressão <strong>da</strong> <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de que manifestam a sexuali<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

Envolve vários senti<strong>do</strong>s de mo<strong>do</strong> simultâneo e recíproco, uma vez que os <strong>corpo</strong>s<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong>nçantes vêem e deixam-se ver, tocam e deixam-se tocar. Eles desejam o<<strong>br</strong> />

movimento e são capazes de sentirem-se satisfeitos por meio <strong>do</strong>s passos e gestos<<strong>br</strong> />

possíveis. Esses <strong>corpo</strong>s são arquivos vivos, os quais em si mesmo tatuam suas<<strong>br</strong> />

histórias alicerça<strong>da</strong>s em sua sexuali<strong>da</strong>de. Assim, jogar, ir ao teatro, <strong>da</strong>nçar,<<strong>br</strong> />

enquanto ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s pelos <strong>corpo</strong>s i<strong>do</strong>sos no cotidiano, são expressões <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

<strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de que manifestam a multiplici<strong>da</strong>de <strong>do</strong> desejo humano, a sexuali<strong>da</strong>de, e<<strong>br</strong> />

possibilitam um envelhecimento ativo e com quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>.


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

64<<strong>br</strong> />

4.3 O RECONHECIMENTO DA MODIFICAÇÃO DA EXPRESSÃO DA<<strong>br</strong> />

SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE<<strong>br</strong> />

Ao pensarmos no concreto <strong>da</strong> nossa existência, ou seja, no <strong>corpo</strong><<strong>br</strong> />

(MERLEAU-PONTY,1999), constatamos que <strong>do</strong> nascimento até a morte estamos<<strong>br</strong> />

fisiologicamente vivencian<strong>do</strong> um processo de envelhecimento que reflete nas várias<<strong>br</strong> />

etapas <strong>do</strong> desenvolvimento humano.<<strong>br</strong> />

As modificações biológicas que ocorrem nesse processo afetam o nosso ser<<strong>br</strong> />

e o estar no mun<strong>do</strong>, a nossa <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de, motivo pelo qual faz-se necessário<<strong>br</strong> />

enfocá-las tanto no homem, como na mulher, para que possamos compreender a<<strong>br</strong> />

necessi<strong>da</strong>de de repensar a sexuali<strong>da</strong>de na terceira i<strong>da</strong>de. Esse repensar se deve ao<<strong>br</strong> />

fato de que, se concebermos a sexuali<strong>da</strong>de exclusivamente como ato sexual,<<strong>br</strong> />

estaremos foca<strong>do</strong>s na visão reducionista, limitante e de per<strong>da</strong>s, e fortalecen<strong>do</strong> os<<strong>br</strong> />

mitos e preconceitos que a permeiam durante o processo de envelhecimento.<<strong>br</strong> />

O processo de envelhecimento tem uma importância particular para a<<strong>br</strong> />

fisiologia <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de e além de permitir novas experiências pessoais, influencia<<strong>br</strong> />

também a vi<strong>da</strong> sexual <strong>do</strong> parceiro. Entretanto, isso não impede os i<strong>do</strong>sos de<<strong>br</strong> />

desfrutarem de sua sexuali<strong>da</strong>de (CAPODIECI, 2000).<<strong>br</strong> />

No que se refere às alterações <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> feminino, é interessante lem<strong>br</strong>ar<<strong>br</strong> />

que, embora o climatério e a menopausa não aconteçam aos sessenta anos, eles<<strong>br</strong> />

interferem na manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mulher i<strong>do</strong>sa em função <strong>do</strong> declínio<<strong>br</strong> />

hormonal.<<strong>br</strong> />

O climatério é o perío<strong>do</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> situa<strong>do</strong> entre os 35 e 65 anos, no qual<<strong>br</strong> />

múltiplos fatores atuam simultaneamente modifican<strong>do</strong> o <strong>corpo</strong> e a sexuali<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

(PENTEADO et al. 2004; FAVARATO & ALDRIGHI, 2001). Embora esses autores<<strong>br</strong> />

enfoquem a visão biológica <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de em seus trabalhos, eles permitem a<<strong>br</strong> />

compreensão de que vários serão os fatores que a afetarão, mas nem to<strong>do</strong>s serão<<strong>br</strong> />

biológicos.<<strong>br</strong> />

Na mulher, a maioria <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças no processo de envelhecimento é<<strong>br</strong> />

decorrente <strong>da</strong> diminuição <strong>do</strong>s hormônios femininos que se inicia durante o<<strong>br</strong> />

climatério. Essa alteração determina uma diminuição <strong>da</strong> elastici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> parede<<strong>br</strong> />

vaginal e uma redução <strong>da</strong>s glândulas mucosas, de forma que a lu<strong>br</strong>ificação vaginal<<strong>br</strong> />

diminui. Tal situação pode em alguns casos, provocar <strong>do</strong>r durante a penetração


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

65<<strong>br</strong> />

vaginal ocorren<strong>do</strong>, especialmente, quan<strong>do</strong> a relação é demora<strong>da</strong> ou ocorre após um<<strong>br</strong> />

longo perío<strong>do</strong> de abstinência (CAPODIECI, 2000).<<strong>br</strong> />

De acor<strong>do</strong> com a Organização Mundial <strong>da</strong> Saúde (WHO, 1981), o climatério<<strong>br</strong> />

compreende uma fase pré-menopausal, que começa em torno <strong>do</strong>s quarenta anos de<<strong>br</strong> />

i<strong>da</strong>de e se estende até o início <strong>do</strong>s ciclos menstruais irregulares e/ou de<<strong>br</strong> />

sintomatologia atribuível à falência ovariana, com duração variável; uma fase perimenopausal,<<strong>br</strong> />

que ocorre antes <strong>da</strong> menopausa com o surgimento de alguns sinais e<<strong>br</strong> />

termina um ano após o seu estabelecimento e a fase pós-menopausal que acontece<<strong>br</strong> />

após a cessação <strong>da</strong> menstruação e se estende até os 65 anos de i<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

Um <strong>do</strong>s sinais mais marcantes durante o climatério é a cessação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

menstruação, que é chama<strong>da</strong> de menopausa. Cerca de 1/3 <strong>da</strong>s mulheres pode<<strong>br</strong> />

apresentar alguns desconfortos como: on<strong>da</strong>s de calor, cefaléia, tendência ao<<strong>br</strong> />

cansaço, instabili<strong>da</strong>de emocional e irritabili<strong>da</strong>de. Ocorre também alteração <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

tonici<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s pequenos e grandes lábios, e em casos de desequilí<strong>br</strong>ios hormonais,<<strong>br</strong> />

há a diminuição <strong>do</strong>s espasmos uterinos e <strong>da</strong> duração <strong>do</strong> orgasmo (CAPODIECI,<<strong>br</strong> />

2000; PEDRO et al., 2003). No que se refere aos desconfortos decorrentes <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

climatério, eles apresentam-se mais exacerba<strong>do</strong>s em mulheres que perderam seu<<strong>br</strong> />

papel social e não redefiniram seus objetivos existenciais (FAVARATO & ALDRIGHI,<<strong>br</strong> />

2001).<<strong>br</strong> />

Cabe salientar que o climatério é um fenômeno fisiológico decorrente <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

esgotamento <strong>do</strong>s folículos ovarianos que ocorre em to<strong>da</strong>s as mulheres de meia<<strong>br</strong> />

i<strong>da</strong>de, segui<strong>do</strong> <strong>da</strong> que<strong>da</strong> progressiva <strong>da</strong> secreção de estradiol, culminan<strong>do</strong> com a<<strong>br</strong> />

interrupção definitiva <strong>do</strong>s ciclos menstruais e o surgimento de sinais característicos<<strong>br</strong> />

(LORENZI et al., 2005).<<strong>br</strong> />

Devi<strong>do</strong> à falência ovariana, a produção de estrógenos diminui, o que<<strong>br</strong> />

acarreta no aumento de hormônios estimulantes ovarianos (LH – hormônio<<strong>br</strong> />

luteinizante e FSH – hormônio folículo estimulante) em uma tentativa de estimular<<strong>br</strong> />

ain<strong>da</strong> mais os ovários. Contu<strong>do</strong>, como não são absorvi<strong>do</strong>s e utiliza<strong>do</strong>s pela glândula,<<strong>br</strong> />

encontramos valores eleva<strong>do</strong>s na corrente sangüínea (NOBILE, 2002).<<strong>br</strong> />

Nenhuma <strong>da</strong>s alterações fisiológicas decorrentes <strong>do</strong> climatério altera a libi<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

feminina. O que ocorre é que a sexuali<strong>da</strong>de, muitas vezes, é construí<strong>da</strong> a partir <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

princípio de procriação (MALDONADO, 2006). Então, como a menopausa e o<<strong>br</strong> />

climatério vêm anunciar o envelhecimento <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> e que o perío<strong>do</strong> fértil <strong>da</strong> mulher<<strong>br</strong> />

está mais perto <strong>da</strong> finitude, permite-se a idéia de que a sexuali<strong>da</strong>de também se


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

66<<strong>br</strong> />

encontra no fim. To<strong>da</strong>via, alguns autores mencionam que a sexuali<strong>da</strong>de pode ser<<strong>br</strong> />

pensa<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> dissociação entre prazer e procriação, e é essa redescoberta<<strong>br</strong> />

que a torna mais prazerosa (CAPODIECI, 2000; MALDONADO, 2006; NOBILE,<<strong>br</strong> />

2002). Dessa forma, não podemos negar as etapas concluí<strong>da</strong>s, já vivi<strong>da</strong>s que<<strong>br</strong> />

desenham no <strong>corpo</strong> sua história, contu<strong>do</strong>, o mais importante é olhar para frente e<<strong>br</strong> />

enxergar as possibili<strong>da</strong>des de viver prazerosamente bem.<<strong>br</strong> />

Enquanto fenômeno compreendi<strong>do</strong> na abor<strong>da</strong>gem psicológica, o climatério<<strong>br</strong> />

deixa de ser apenas um conjunto de sinais e sintomas decorrentes de um processo<<strong>br</strong> />

fisiológico e passa a ser pensa<strong>do</strong> como uma experiência humana, única e singular,<<strong>br</strong> />

cujas respostas e formas de vivenciá-lo são resulta<strong>do</strong>s de “ingredientes que entram<<strong>br</strong> />

na composição <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> mulher” (LOPES, 1999, p. 86).<<strong>br</strong> />

No que diz respeito às modificações biológicas no homem, é importante<<strong>br</strong> />

lem<strong>br</strong>ar que a partir <strong>do</strong>s 40 anos, anualmente ocorre a diminuição de 1,2% <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

níveis circulantes de testosterona livre. O nível de testosterona total permanece<<strong>br</strong> />

estável até os 55 anos, quan<strong>do</strong> então, começa a se reduzir a uma taxa entre 0,4% a<<strong>br</strong> />

0,8% ao ano (BONACCORSI, 2001).<<strong>br</strong> />

Devi<strong>do</strong> à alteração hormonal, a elevação <strong>do</strong> testículo se torna menor, bem<<strong>br</strong> />

como seu tamanho diminui lentamente, a irrigação <strong>do</strong> sangue no escroto e nos<<strong>br</strong> />

testículos decaem, os níveis de testosterona também declinam levemente, a ereção<<strong>br</strong> />

torna-se mais lenta, ocorre a diminuição <strong>da</strong>s contrações no momento <strong>da</strong> ejaculação<<strong>br</strong> />

e <strong>do</strong> volume de líqui<strong>do</strong> seminal e a secreção de líqui<strong>do</strong> pré-ejaculatório vai se<<strong>br</strong> />

tornan<strong>do</strong> mínima ou ausente. Entretanto, nenhuma dessas situações desfavorece o<<strong>br</strong> />

homem em manifestar a sua sexuali<strong>da</strong>de (CAPODIECI, 2000).<<strong>br</strong> />

É importante ressaltar que ocorre também um prolongamento <strong>do</strong> perío<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

refratário, ou seja, perío<strong>do</strong> em que, após a ejaculação, o pênis permanece sem ter a<<strong>br</strong> />

possibili<strong>da</strong>de de ficar ereto e ocorrer uma ejaculação adicional. Na a<strong>do</strong>lescência ele<<strong>br</strong> />

pode durar minutos, alteran<strong>do</strong>-se para horas com o passar <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de e no i<strong>do</strong>so pode<<strong>br</strong> />

chegar a dias (KOLONDY, MASTERS & JOHNSON, 1982; TRINDADE, 2002). Em<<strong>br</strong> />

contraparti<strong>da</strong>, também há um aumento so<strong>br</strong>e o controle ejaculatório, poden<strong>do</strong> ter um<<strong>br</strong> />

prolongamento <strong>do</strong> tempo entre a excitação e a ejaculação (CAPODIECI, 2000). Esse<<strong>br</strong> />

processo vivencia<strong>do</strong> pelo homem é conheci<strong>do</strong> por andropausa, climatério viril ou<<strong>br</strong> />

ain<strong>da</strong> insuficiência androgênica parcial. É entendi<strong>do</strong> como um esta<strong>do</strong> pouco<<strong>br</strong> />

estu<strong>da</strong><strong>do</strong> e não está isola<strong>do</strong> na trajetória <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> masculina, mas faz parte <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

processo de envelhecimento (BONACCORSI, 2001).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

67<<strong>br</strong> />

Nesse contexto, são os mitos e os preconceitos que nos levam a pensar que<<strong>br</strong> />

a andropausa e a menopausa são responsáveis pelas dificul<strong>da</strong>des sexuais. Se o<<strong>br</strong> />

enfoque de análise <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so for centra<strong>do</strong> na genitália, na qual o coito<<strong>br</strong> />

apresenta-se como única fonte de prazer, estaríamos decretan<strong>do</strong> a sua<<strong>br</strong> />

impossibili<strong>da</strong>de como ser sexua<strong>do</strong>. O que mais interfere na vi<strong>da</strong> sexual <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so não<<strong>br</strong> />

são apenas as limitações orgânicas, que são reflexos naturais <strong>do</strong> processo de<<strong>br</strong> />

envelhecimento, mas as questões de ordem psicológica e social que também<<strong>br</strong> />

respondem as mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s durante a trajetória existencial (SANTOS, 2003).<<strong>br</strong> />

O que deve ser compreendi<strong>do</strong> e modifica<strong>do</strong> em nossa cultura em relação ao<<strong>br</strong> />

i<strong>do</strong>so e sua sexuali<strong>da</strong>de, é o mito sustenta<strong>do</strong> que ela diminui automaticamente com<<strong>br</strong> />

o avançar <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de até chegar a uma velhice assexua<strong>da</strong>. A sexuali<strong>da</strong>de acompanha<<strong>br</strong> />

to<strong>da</strong> a trajetória existencial humana, motivo pelo qual se faz necessário entender o<<strong>br</strong> />

que pode transformá-la, e que tal transformação não faz com que na terceira i<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

ela seja esqueci<strong>da</strong>.<<strong>br</strong> />

É importante lem<strong>br</strong>ar que, o mito é construí<strong>do</strong> imaginariamente sob valores e<<strong>br</strong> />

modelos que têm o jovem como referencial, tornan<strong>do</strong> a sexuali<strong>da</strong>de inacessível ao<<strong>br</strong> />

i<strong>do</strong>so. Assim, podemos contribuir para libertar i<strong>do</strong>sos e jovens de concepções<<strong>br</strong> />

equivoca<strong>da</strong>s so<strong>br</strong>e “normali<strong>da</strong>de”, conceden<strong>do</strong> a ca<strong>da</strong> um a possibili<strong>da</strong>de de<<strong>br</strong> />

vivenciar as manifestações de seu próprio <strong>corpo</strong> e <strong>do</strong>s sentimentos como diretrizes<<strong>br</strong> />

para avaliar o que consideram justo, agravável e realmente digno de ser ama<strong>do</strong> e<<strong>br</strong> />

vivi<strong>do</strong>. Isso significa que o conceito de nomali<strong>da</strong>de não pode ser generaliza<strong>do</strong> ou<<strong>br</strong> />

padroniza<strong>do</strong>, uma vez que “a<strong>br</strong>ange um amplo leque de variações individuais e não<<strong>br</strong> />

aquele que faz referência a normas preestabeleci<strong>da</strong>s” como condição váli<strong>da</strong> para<<strong>br</strong> />

to<strong>do</strong>s (CAPODIECI, 2000, p. 63).<<strong>br</strong> />

Isso pode ser eluci<strong>da</strong><strong>do</strong> mediante as falas:<<strong>br</strong> />

“A sexuali<strong>da</strong>de é normal, a gente ain<strong>da</strong> não tem um recolhimento ain<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

assim. Não é que nem era antigamente, mas eu me considero ain<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

normal. Não sei <strong>da</strong>qui para frente, mas até agora o momento, a<<strong>br</strong> />

potenciali<strong>da</strong>de por enquanto tá normal. Não 100% que nem era, né. De<<strong>br</strong> />

acor<strong>do</strong> com a i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> gente, a gente vai fican<strong>do</strong> mais cauteloso, mas<<strong>br</strong> />

não vou dizer que tenha caí<strong>do</strong> <strong>br</strong>uscamente, por enquanto eu ain<strong>da</strong> me<<strong>br</strong> />

considero normal. [...] Me sinto normal, me sinto bem. Meu <strong>corpo</strong> mu<strong>do</strong>u e


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

68<<strong>br</strong> />

a potenciali<strong>da</strong>de também, mas o que mu<strong>do</strong>u não me impede de ter<<strong>br</strong> />

prazer”. (M VI)<<strong>br</strong> />

“Não é como se eu tivesse com, digamos assim, com 20 anos, mas com<<strong>br</strong> />

63 não tenho <strong>do</strong> que me queixar [...] Não tomo medicamento assim, para<<strong>br</strong> />

rejuvenescer, ... pra ficar mais forte, não tomo remédio nenhum nesse<<strong>br</strong> />

senti<strong>do</strong>. Então me sinto bem, estou satisfeito”. (M VIII)<<strong>br</strong> />

Os entrevista<strong>do</strong>s têm como referência o jovem que foram um dia, contu<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

não deixam de valorizar o que são e o que podem realizar no presente enquanto<<strong>br</strong> />

i<strong>do</strong>sos, utilizam tu<strong>do</strong> o que ficou armazena<strong>do</strong> no <strong>corpo</strong> para fazer a ponte entre<<strong>br</strong> />

presente e passa<strong>do</strong>. Assim, considerar “normal”, não é o padrão juvenil que está<<strong>br</strong> />

como pano de fun<strong>do</strong> para a comparação, mas sim o que foi construí<strong>do</strong> ao longo <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

vi<strong>da</strong> e que permite a manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de no presente. Existe no discurso<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s a percepção de que algo mu<strong>do</strong>u. To<strong>da</strong>via, essa mu<strong>da</strong>nça trouxe<<strong>br</strong> />

novas possibili<strong>da</strong>des, que serão compreendi<strong>da</strong>s singularmente e individualmente<<strong>br</strong> />

pelo <strong>corpo</strong> vivente, carregan<strong>do</strong> os traços que o tempo e as experiências vivi<strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />

desenharam nele.<<strong>br</strong> />

É importante destacar que, o <strong>corpo</strong> sexua<strong>do</strong>, o <strong>corpo</strong> vivi<strong>do</strong> é “memória”<<strong>br</strong> />

(LABRONICI, 2002), motivo pelo qual tem uma história. Entretanto, o que faz com<<strong>br</strong> />

que o homem tenha uma história é a sexuali<strong>da</strong>de. “Se a história sexual de um<<strong>br</strong> />

homem oferece a chave de sua vi<strong>da</strong>, é porque na sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> homem projeta-se<<strong>br</strong> />

sua maneira de ser a respeito <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, quer dizer, a respeito <strong>do</strong> tempo e a<<strong>br</strong> />

respeito <strong>do</strong>s outros homens” (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 219).<<strong>br</strong> />

A temporali<strong>da</strong>de não elimina a possibili<strong>da</strong>de de manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> i<strong>do</strong>so <strong>do</strong> ponto de vista biológico, uma vez que esta só é possível de ser pensa<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

porque o <strong>corpo</strong> é sexua<strong>do</strong>. É o preconceito cria<strong>do</strong> pela socie<strong>da</strong>de que nos impede<<strong>br</strong> />

de ver e perceber o i<strong>do</strong>so como ser sexua<strong>do</strong>, possui<strong>do</strong>r de sexuali<strong>da</strong>de. Estamos<<strong>br</strong> />

diante de um fato social, reproduzi<strong>do</strong> entre as gerações, em que, por um la<strong>do</strong>, os<<strong>br</strong> />

mais jovens não percebem a possibili<strong>da</strong>de de exercer a sexuali<strong>da</strong>de em i<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

avança<strong>da</strong>, por outro, alguns i<strong>do</strong>sos também encaram com dificul<strong>da</strong>de a sua própria<<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de (RISMAN, 2005; SANTOS, 2003).<<strong>br</strong> />

Nesse contexto, faz-se necessário conhecer o <strong>corpo</strong> e as alterações que<<strong>br</strong> />

fazem parte <strong>do</strong> desenvolvimento normal com a finali<strong>da</strong>de de minimizar experiências


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

69<<strong>br</strong> />

negativas advin<strong>da</strong>s <strong>da</strong> falta de conhecimento adequa<strong>do</strong> ou preconceito injustifica<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

(TRINDADE, 2002).<<strong>br</strong> />

Ao perceber a sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so com um outro olhar, há a possibili<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

de enfocarmos as per<strong>da</strong>s. To<strong>da</strong>via, as inúmeras experiências vivi<strong>da</strong>s e acumula<strong>da</strong>s,<<strong>br</strong> />

propiciam redesenhar a vi<strong>da</strong> e a sexuali<strong>da</strong>de. Compreen<strong>do</strong> que as alterações<<strong>br</strong> />

trazi<strong>da</strong>s no <strong>corpo</strong> afetarão naturalmente a sexuali<strong>da</strong>de, isto significa conceber que<<strong>br</strong> />

<strong>corpo</strong> e sexuali<strong>da</strong>de estão em constantemente modificação, ou seja, inacaba<strong>do</strong>s e<<strong>br</strong> />

abertos (MERLEAU-PONTY, 2000).<<strong>br</strong> />

As modificações biológicas advin<strong>da</strong>s <strong>do</strong> processo de envelhecimento podem<<strong>br</strong> />

representar uma sensação de fragili<strong>da</strong>de e uma necessi<strong>da</strong>de de revitalização que<<strong>br</strong> />

facilitará a busca de um senti<strong>do</strong> individual <strong>da</strong> própria existência (CAPODIECI, 2000),<<strong>br</strong> />

e refletem na imagem <strong>corpo</strong>ral que também pode interferir na manifestação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de pelo fato de não ser mais um <strong>corpo</strong> atraente, uma vez que o i<strong>do</strong>so tem<<strong>br</strong> />

como modelo o <strong>corpo</strong> juvenil, belo, e viril. Esses atributos são valoriza<strong>do</strong>s em nossa<<strong>br</strong> />

socie<strong>da</strong>de que vive o culto ao <strong>corpo</strong> belo. Assim, a imagem que o i<strong>do</strong>so tem de si é<<strong>br</strong> />

construí<strong>da</strong> alicerça<strong>da</strong> no que soube desenvolver e realizar a partir de suas<<strong>br</strong> />

experiências (CAPODIECI, 2000). Isto significa que esta imagem não reflete apenas<<strong>br</strong> />

o seu esta<strong>do</strong> interior, mas a sua história, a história <strong>do</strong> <strong>corpo</strong>, motivo pelo qual ele<<strong>br</strong> />

deve ser compreendi<strong>do</strong> como fonte de experiências significantes, como veículo de<<strong>br</strong> />

comunicação com o mun<strong>do</strong> e expressão possível de ser-no-mun<strong>do</strong> (SIMÕES, 1994).<<strong>br</strong> />

O <strong>corpo</strong>, a meu ver, é um ver<strong>da</strong>deiro diário vivo inesgotável de sentimentos,<<strong>br</strong> />

emoções, desejos e percepções. Os traços desenha<strong>do</strong>s pelo tempo não descrevem<<strong>br</strong> />

apenas a fisiologia <strong>do</strong> organismo, mas carregam aspectos subjetivos, singulares de<<strong>br</strong> />

ca<strong>da</strong> ser. Esse <strong>corpo</strong>, consciência encarna<strong>da</strong>, se vê, se toca ven<strong>do</strong>, toca as coisas,<<strong>br</strong> />

reconhecesse naquilo que vê (MERLEAU-PONTY, 2000). O papel utiliza<strong>do</strong> para<<strong>br</strong> />

escrever a nossa história é a própria carne, que tatua em si mesma o nosso mun<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

vivi<strong>do</strong> e as experiências construí<strong>da</strong>s escritos nas mais diversas cores.<<strong>br</strong> />

Na perspectiva de <strong>corpo</strong> que mu<strong>da</strong>, ao discutirmos questões pertinentes ao<<strong>br</strong> />

i<strong>do</strong>so e a manifestação de sua sexuali<strong>da</strong>de, não podemos nos ater às per<strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />

trazi<strong>da</strong>s pelo tempo cronológico, mas sim, no resgate <strong>do</strong> ain<strong>da</strong> possível, no acúmulo<<strong>br</strong> />

de ganhos, “onde o <strong>corpo</strong> possível é mais importante que o <strong>corpo</strong> perfeito”<<strong>br</strong> />

(SIMÕES, 1994, p.8).<<strong>br</strong> />

É importante reconhecer que as alterações <strong>do</strong> processo de envelhecimento<<strong>br</strong> />

refletem concretamente na manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de, bem como distinguir o que


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

70<<strong>br</strong> />

é normal ou patológico. O fato de o homem i<strong>do</strong>so ter mais dificul<strong>da</strong>de para alcançar<<strong>br</strong> />

e manter a ereção e <strong>da</strong> mulher i<strong>do</strong>sa para ter uma lu<strong>br</strong>ificação vaginal, não significa<<strong>br</strong> />

que ambos estejam <strong>do</strong>entes, menos excita<strong>do</strong>s ou menos desejosos um pelo outro,<<strong>br</strong> />

contu<strong>do</strong>, que o <strong>corpo</strong> está mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> e caminhan<strong>do</strong> em um processo natural de<<strong>br</strong> />

desenvolvimento (KOLODNY, MASTERS & JOHNSON, 1982). A mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong> <strong>corpo</strong><<strong>br</strong> />

é percebi<strong>da</strong> pelo i<strong>do</strong>so e entendi<strong>da</strong> de forma natural como as marcas que o tempo<<strong>br</strong> />

constrói e que pode ser observa<strong>da</strong> na fala abaixo.<<strong>br</strong> />

“Hoje o que me deixa feliz é que ele tá em casa. Ele me trata bem, me dá<<strong>br</strong> />

carinho. Ele quan<strong>do</strong> a gente tem relação, ele é uma pessoa que ele fala:<<strong>br</strong> />

“Você ta ca<strong>da</strong> vez fican<strong>do</strong> melhor, você era boa, mas tá fican<strong>do</strong> melhor<<strong>br</strong> />

que essa i<strong>da</strong>de”.” (F III)<<strong>br</strong> />

Notamos nessa fala que o tempo não acarretou impossibili<strong>da</strong>des, mas sim<<strong>br</strong> />

proporcionou vivenciar uma relação que pode ser mais prazerosa permea<strong>da</strong> pelo<<strong>br</strong> />

desejo e possibili<strong>da</strong>des. Verifica-se a percepção no i<strong>do</strong>so a respeito de sua<<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de que modifica ao longo <strong>da</strong> trajetória existencial. Os casais i<strong>do</strong>sos podem<<strong>br</strong> />

melhorar o seu relacionamento na vi<strong>da</strong> a <strong>do</strong>is, à medi<strong>da</strong> em que são capazes de<<strong>br</strong> />

reconhecer e aceitar as modificações fisiológicas, algumas específicas <strong>da</strong> fisiologia<<strong>br</strong> />

sexual, que são diferentes no homem e na mulher, e conseqüência <strong>do</strong> processo de<<strong>br</strong> />

envelhecimento, não estan<strong>do</strong> relaciona<strong>da</strong>s ao desejo, interesse ou sentimentos que<<strong>br</strong> />

um sente pelo outro (CAPODIECI, 2000). Para esse autor, a i<strong>da</strong>de permite a<<strong>br</strong> />

compreensão de que o mais importante não é o que se apresenta, mas o que<<strong>br</strong> />

somos. Isto significa que o interior deve ser mais valoriza<strong>do</strong> <strong>do</strong> que a aparência.<<strong>br</strong> />

O <strong>corpo</strong>, bem como a sexuali<strong>da</strong>de, modificam-se ao longo <strong>da</strong> trajetória<<strong>br</strong> />

existencial mostran<strong>do</strong>-nos uma nova imagem. Essa imagem não será defini<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

apenas biologicamente, mas, psicologicamente, porque passa pela percepção de<<strong>br</strong> />

<strong>corpo</strong> que o i<strong>do</strong>so tem de si. Assim, ele constrói uma outra imagem que é produto <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

sua imaginação ou concepção particular que o indivíduo tem de si, que é resultante<<strong>br</strong> />

de um processo que envolve fatos, experiências, impressões e sentimentos vivi<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

ao longo de sua existência (LINS, 2004). Assim, ao compreender que as mu<strong>da</strong>nças<<strong>br</strong> />

fazem parte de um processo pessoal e possível, é necessária uma contínua reflexão<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e a percepção a respeito <strong>do</strong> processo de envelhecimento (BALESTRA, 2002).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

71<<strong>br</strong> />

As mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s no <strong>corpo</strong> alteram a dinâmica na trajetória existencial<<strong>br</strong> />

e, conseqüentemente, trarão manifestações diferentes <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de para a vi<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> i<strong>do</strong>so e/ou <strong>do</strong> casal. Dessa forma, o momento de transformações vivi<strong>do</strong> pode<<strong>br</strong> />

propiciar uma reelaboração positiva <strong>da</strong> auto-imagem <strong>corpo</strong>ral em mu<strong>da</strong>nça,<<strong>br</strong> />

permitin<strong>do</strong> que a sexuali<strong>da</strong>de possa ser manifesta<strong>do</strong> mediante sentimentos<<strong>br</strong> />

afetuosos diferencia<strong>do</strong>s, in<strong>do</strong> além <strong>do</strong> referencial jovem, encontran<strong>do</strong> novos<<strong>br</strong> />

modelos de realização pessoal e sexual, compartilhan<strong>do</strong> uma nova intimi<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

(MESSINA, 2004).<<strong>br</strong> />

Compreen<strong>do</strong> que a terceira i<strong>da</strong>de é uma <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des naturais <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

condição humana e, que as per<strong>da</strong>s que ocorrem em função <strong>da</strong>s transformações<<strong>br</strong> />

fisiológicas, apesar de afetar a virili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so, não interferem no seu ser e estar<<strong>br</strong> />

no mun<strong>do</strong>, porque ele tem a possibili<strong>da</strong>de de encontrar um novo senti<strong>do</strong> para a sua<<strong>br</strong> />

existência, mediante a construção e reconstrução de conceitos em seu cotidiano.<<strong>br</strong> />

Podemos contemplar o processo <strong>do</strong> envelhecimento e valorizar to<strong>da</strong> a trajetória<<strong>br</strong> />

existencial realmente como condição humana, não encaran<strong>do</strong> a mu<strong>da</strong>nça como<<strong>br</strong> />

per<strong>da</strong>, mas como possibili<strong>da</strong>de. Assim, ca<strong>da</strong> momento vivi<strong>do</strong> será cele<strong>br</strong>a<strong>do</strong> como<<strong>br</strong> />

único e singular.<<strong>br</strong> />

É importante reconhecer a sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so, pois é a partir <strong>da</strong> sua<<strong>br</strong> />

redescoberta, que tanto o homem como a mulher se revitalizam, e se percebem não<<strong>br</strong> />

mais como <strong>corpo</strong> assexua<strong>do</strong>, velho. Devemos reforçar ain<strong>da</strong> que se as mu<strong>da</strong>nças<<strong>br</strong> />

advin<strong>da</strong>s com o tempo podem representar per<strong>da</strong>s, mesmo assim a vi<strong>da</strong> deve ser<<strong>br</strong> />

cele<strong>br</strong>a<strong>da</strong> e a sexuali<strong>da</strong>de vivi<strong>da</strong> mediante uma multiplici<strong>da</strong>de de maneiras.<<strong>br</strong> />

Cabe salientar que as mu<strong>da</strong>nças e as formas de responder a elas não serão<<strong>br</strong> />

iguais para to<strong>do</strong>s, isso porque ca<strong>da</strong> <strong>corpo</strong> é um ser único e singular que manifesta<<strong>br</strong> />

seus desejos de forma subjetiva. Nas entrevistas realiza<strong>da</strong>s, emergiu que os i<strong>do</strong>sos<<strong>br</strong> />

percebem as alterações ocorri<strong>da</strong>s e se adequam a ela como forma de redescoberta<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> <strong>corpo</strong> e de suas relações. Na fala a seguir, compreen<strong>do</strong> que ele vivencia essa<<strong>br</strong> />

etapa <strong>da</strong> trajetória existencial perceben<strong>do</strong> que algo mu<strong>do</strong>u em seu cotidiano.<<strong>br</strong> />

“Em função <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de houve uma regressão né, no caso de relacionamento<<strong>br</strong> />

semanais [...] Os sentimentos para mim, hoje eu creio que aprimorou mais.<<strong>br</strong> />

O relacionamento amoroso no dia-a-dia, no relacionamento mari<strong>do</strong> e mulher,<<strong>br</strong> />

esposo né Então em creio que aprimorou mais. [...] O ato sexual é um<<strong>br</strong> />

momento de minuto e segun<strong>do</strong>, e o relacionamento é de 24 horas <strong>do</strong> dia,


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

72<<strong>br</strong> />

entre <strong>do</strong>is seres. [...] Mu<strong>do</strong>u esse ponto. Diminuiu nesse fator de contato, de<<strong>br</strong> />

beijos, de lábios... o relacionamento continuou com to<strong>do</strong> respeito, com to<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

digni<strong>da</strong>de”. (M X)<<strong>br</strong> />

Encontramos nessa fala a confirmação de que algo permanece, seja ele o<<strong>br</strong> />

desejo, seja a própria forma de relacionamento ou de manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

O importante é reconhecer que o i<strong>do</strong>so continua ten<strong>do</strong> a libi<strong>do</strong>, o desejo, ou seja, o<<strong>br</strong> />

Eros, que pode impulsioná-lo a um relacionamento afetivo que envolva relações<<strong>br</strong> />

sexuais ou não, nas quais ambas serão formas <strong>da</strong> manifestação de sua sexuali<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

Devemos ain<strong>da</strong> salientar questões de razão psicológica que podem interferir<<strong>br</strong> />

em determina<strong>da</strong>s formas de manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de. Do ponto de vista<<strong>br</strong> />

psicológico, o homem precisa entender o que está acontecen<strong>do</strong> com o seu <strong>corpo</strong><<strong>br</strong> />

para não se sentir ou ser induzi<strong>do</strong> culturalmente a pensar que está enfraqueci<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

defeituoso ou debilita<strong>do</strong> (MASTERS & JOHNSON, 1984). Nessa forma de<<strong>br</strong> />

abor<strong>da</strong>gem, por se tratar de quali<strong>da</strong>de, o vivenciar <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de assume um<<strong>br</strong> />

caráter altamente subjetivo, no qual é inconcebível tentar quantificar em números de<<strong>br</strong> />

experiências ou simplesmente pela forma que se manifesta. Sen<strong>do</strong> assim, ca<strong>da</strong> um<<strong>br</strong> />

tem a liber<strong>da</strong>de de buscar o seu próprio mo<strong>do</strong> de ser, sem esquecer que para sentir<<strong>br</strong> />

prazer, amar e ser ama<strong>do</strong>, independe <strong>da</strong> funcionali<strong>da</strong>de fisiológica. Nenhuma<<strong>br</strong> />

dessas mu<strong>da</strong>nças diminui a libi<strong>do</strong>, contu<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> esse fato ocorre será<<strong>br</strong> />

provavelmente causa<strong>do</strong> por razões de ordem psicológica, que às vezes se<<strong>br</strong> />

manifestam em defesa <strong>da</strong>s alterações fisiológicas (CAPODIECI, 2000).<<strong>br</strong> />

O que percebo é que a terceira i<strong>da</strong>de pode apresentar-se tão rica, fascinante<<strong>br</strong> />

e cheia de vi<strong>da</strong> quanto os perío<strong>do</strong>s vivencia<strong>do</strong>s anteriormente a ela, e deve ser<<strong>br</strong> />

encara<strong>da</strong> como um momento em que as respostas às situações vivi<strong>da</strong>s não venham<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> vigor físico, mas <strong>do</strong> aprimoramento <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de que é conquista<strong>do</strong> pela<<strong>br</strong> />

experiência. Nessa fase existencial,<<strong>br</strong> />

“a vi<strong>da</strong> sexual encontra alimento na ternura e na necessi<strong>da</strong>de de amor. Os<<strong>br</strong> />

parceiros podem melhorar o seu relacionamento na vi<strong>da</strong> a <strong>do</strong>is na medi<strong>da</strong> em<<strong>br</strong> />

que são capazes de reconhecer que existem modificações <strong>da</strong> fisiologia sexual,<<strong>br</strong> />

como também que estas são diferentes no homem e na mulher e que constituem<<strong>br</strong> />

a conseqüência de mu<strong>da</strong>nças específicas devi<strong>da</strong>s ao processo de<<strong>br</strong> />

envelhecimento” (CAPODIECI, 2000).


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

73<<strong>br</strong> />

Outra questão que deve ser considera<strong>da</strong> em relação às a<strong>da</strong>ptações e<<strong>br</strong> />

redefinição <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de é o esta<strong>do</strong> de saúde de um ou de ambos, ou a ausência<<strong>br</strong> />

de um <strong>do</strong>s parceiros por motivo de falecimento. Nesse senti<strong>do</strong>, ca<strong>da</strong> sujeito<<strong>br</strong> />

apresentará um tipo de resposta a essas situações. Contu<strong>do</strong>, mesmo que ocorra um<<strong>br</strong> />

decréscimo nas relações sexuais, o desejo sexual permanece, porque o homem é<<strong>br</strong> />

um <strong>corpo</strong> desejante, ou seja, é possui<strong>do</strong>r e fonte de desejo que não deve ser<<strong>br</strong> />

ignora<strong>do</strong> (LABRONICI, 2002; GABBAY, 2004).<<strong>br</strong> />

É importante reconhecer que, mesmo quan<strong>do</strong> a habili<strong>da</strong>de ou o desejo de se<<strong>br</strong> />

relacionar, em termos de ativi<strong>da</strong>de sexual não estejam mais presentes, o desejo de<<strong>br</strong> />

intimi<strong>da</strong>de e afetivi<strong>da</strong>de persiste acompanhan<strong>do</strong> a trajetória de vi<strong>da</strong> (BYYNY &<<strong>br</strong> />

SPEROFF, 1996).<<strong>br</strong> />

Na busca de compreensão <strong>da</strong> redefinição <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de, podemos<<strong>br</strong> />

encontrar questões relativas ao processo saúde-<strong>do</strong>ença que afeta o <strong>corpo</strong>, e desta<<strong>br</strong> />

forma, a manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so, visto que a <strong>do</strong>ença pode provocar<<strong>br</strong> />

mu<strong>da</strong>nças <strong>corpo</strong>rais que requerem a<strong>da</strong>ptação.<<strong>br</strong> />

A redescoberta <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> envelheci<strong>do</strong>, por vezes, pode nos revelar algum<<strong>br</strong> />

tipo de limitação ou incapaci<strong>da</strong>de funcional, que por sua vez, será fonte<<strong>br</strong> />

alimenta<strong>do</strong>ra de uma imagem <strong>corpo</strong>ral distorci<strong>da</strong> (BALESTRA, 2002), dependen<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

de como a situação for compreendi<strong>da</strong> pelo i<strong>do</strong>so. Entretanto, é possível repensar e<<strong>br</strong> />

redesco<strong>br</strong>ir a sexuali<strong>da</strong>de, mesmo quan<strong>do</strong> existam tais limitações e isso pode ser<<strong>br</strong> />

constata<strong>do</strong> na fala a seguir:<<strong>br</strong> />

“Depois que deu o derrame eu perdi um pouco <strong>da</strong>..., perdi..., estacionou,<<strong>br</strong> />

mas continuo ten<strong>do</strong> relação sexual [...] Perdi um pouco <strong>da</strong> potência. Tive<<strong>br</strong> />

dificul<strong>da</strong>des, mas continuo ten<strong>do</strong> desejo”. (M IX)<<strong>br</strong> />

“Se tornar impotente, isso não quer dizer que a libi<strong>do</strong> cai. A libi<strong>do</strong> nunca<<strong>br</strong> />

cai... tem gente que pode até deixar de praticar o ato sexual, mas a libi<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

não perde nunca[...] Nenhum ser humano... deixa de ter seus desejos<<strong>br</strong> />

sexuais. Isso morre com o <strong>corpo</strong>”. (M V)<<strong>br</strong> />

Constatamos que o desejo e a libi<strong>do</strong> continuaram no i<strong>do</strong>so impulsionan<strong>do</strong> a<<strong>br</strong> />

expressão de sua sexuali<strong>da</strong>de, neste caso, direciona<strong>da</strong> para a ativi<strong>da</strong>de sexual.


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

74<<strong>br</strong> />

Um grupo significativo de i<strong>do</strong>sos, em nossa socie<strong>da</strong>de, encontra-se em um<<strong>br</strong> />

relacionamento estável e, sen<strong>do</strong> um relacionamento harmonioso, terão condições<<strong>br</strong> />

favoráveis para essa redescoberta, independentemente <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença (PENTEADO et<<strong>br</strong> />

al., 2006).<<strong>br</strong> />

Nesse contexto de mu<strong>da</strong>nças, qualquer alteração física pode afetar a nossa<<strong>br</strong> />

multidimensionali<strong>da</strong>de, o nosso ser e estar no mun<strong>do</strong>, e quan<strong>do</strong> se trata <strong>do</strong> processo<<strong>br</strong> />

de envelhecimento, não podemos deixar de mencionar as <strong>do</strong>enças crônicas.<<strong>br</strong> />

Algumas são chama<strong>da</strong>s de distúrbios cardiovasculares e representam uma parcela<<strong>br</strong> />

significativa de morte entre i<strong>do</strong>sos.<<strong>br</strong> />

Dentro de ca<strong>da</strong> faixa etária, e separa<strong>da</strong>mente por gênero, existem os riscos<<strong>br</strong> />

de desenvolver um problema cardiovascular. To<strong>da</strong>via, após a menopausa, a mulher<<strong>br</strong> />

apresenta percentual de risco de desenvolver um problema cardiovascular<<strong>br</strong> />

semelhante ao <strong>do</strong> homem, e isso ocorre provavelmente por perderem a proteção<<strong>br</strong> />

proporciona<strong>da</strong> pelos estrogênios (CAPODIECI, 2000).<<strong>br</strong> />

No que se refere aos porta<strong>do</strong>res de distúrbios cardiovasculares, há um certo<<strong>br</strong> />

me<strong>do</strong> em retornar às ativi<strong>da</strong>des sexuais, por exemplo, após um enfarto ou uma<<strong>br</strong> />

cirurgia, mas que na ver<strong>da</strong>de não representam um risco significativo para uma<<strong>br</strong> />

complicação. Alguns autores sugerem que se deve esperar o restabelecimento geral<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> i<strong>do</strong>so e que ele terá condições de avaliar, quan<strong>do</strong> pode retomar essa ativi<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

(CAPODIECI, 2000; FAVARATO & ALDRIGHI, 2001).<<strong>br</strong> />

Outro distúrbio comum entre i<strong>do</strong>sos é a diabetes. Esse é distúrbio<<strong>br</strong> />

metabólico que aumenta o risco de desenvolver a impotência sexual masculina, e<<strong>br</strong> />

em escala mais reduzi<strong>da</strong> a feminina. E pelo simples fato de saber que existe esse<<strong>br</strong> />

risco, é possível que alguns i<strong>do</strong>sos desenvolvam uma impotência advin<strong>da</strong> de<<strong>br</strong> />

aspectos psicológicos e não meramente fisiológicos. To<strong>da</strong>via, é importante lem<strong>br</strong>ar<<strong>br</strong> />

que mesmo nessa situação o desejo persiste (CAPODIECI, 2000).<<strong>br</strong> />

No que diz respeito à saúde feminina, encontramos questões bem<<strong>br</strong> />

singulares como o câncer uterino e o de mama. O câncer uterino pode resultar em<<strong>br</strong> />

uma histerectomia que implicará mu<strong>da</strong>nças na sexuali<strong>da</strong>de por razões subjetivas.<<strong>br</strong> />

Portanto, esse órgão tem um significa<strong>do</strong> singular para a feminili<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

O câncer de mama pode resultar em uma mastectomia, e este procedimento<<strong>br</strong> />

cirúrgico pode alterar a auto-imagem feminina acarretan<strong>do</strong> mu<strong>da</strong>nças na percepção<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de por parte <strong>do</strong> parceiro e de si mesma. Esse impacto é influencia<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

pela receptivi<strong>da</strong>de, cumplici<strong>da</strong>de e intimi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> companheiro, e poderá ocasionar


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

75<<strong>br</strong> />

mu<strong>da</strong>nças na manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> casal (NOBILE, 2002). Isso ocorre<<strong>br</strong> />

porque esses órgãos representam a feminili<strong>da</strong>de, sexuali<strong>da</strong>de e materni<strong>da</strong>de para a<<strong>br</strong> />

mulher (DUARTE & ANDRADE, 2003).<<strong>br</strong> />

Especificamente no homem, podemos encontrar os distúrbios <strong>da</strong> próstata<<strong>br</strong> />

como a prostatite, hiperplasia prostática (benigna) ou câncer de próstata. Esse é o<<strong>br</strong> />

problema mais grave e que pode ter repercussões mais sérias so<strong>br</strong>e a sexuali<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

masculina, devi<strong>do</strong> ao fato de que o procedimento cirúrgico destina<strong>do</strong> à cura é a<<strong>br</strong> />

prostatectomia radical, o qual pode lesionar diversas inervações <strong>da</strong> área pubiana.<<strong>br</strong> />

Nesse contexto, o maior problema que ocorre é a falta de informação, uma vez que<<strong>br</strong> />

esta permite que os i<strong>do</strong>sos acreditem que tal procedimento alterará, de forma<<strong>br</strong> />

irreversível, a sua sexuali<strong>da</strong>de (CAPODIECI, 2000).<<strong>br</strong> />

Não é objetivo deste capítulo discorrer so<strong>br</strong>e as <strong>do</strong>enças que podem trazer<<strong>br</strong> />

mu<strong>da</strong>nça na expressão <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de, to<strong>da</strong>via, compreender que várias situações<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> processo saúde <strong>do</strong>ença acarretam alterações no <strong>corpo</strong>, na auto-imagem, e por<<strong>br</strong> />

isso na sexuali<strong>da</strong>de. De acor<strong>do</strong> com MERLEAU-PONTY (1999) somos <strong>corpo</strong>, não<<strong>br</strong> />

podemos dissociá-lo em partes. Isso significa que, qualquer alteração que ocorra em<<strong>br</strong> />

algum <strong>do</strong>s órgãos, poderá trazer conseqüências em to<strong>do</strong> o nosso ser e na forma<<strong>br</strong> />

como nos vemos, percebemos e nos relacionamos com o mun<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />

É importante perceber que to<strong>da</strong>s as mu<strong>da</strong>nças vivi<strong>da</strong>s pelo <strong>corpo</strong> durante a<<strong>br</strong> />

trajetória existencial deixarão marcas, positivas ou negativas, e que, de alguma<<strong>br</strong> />

forma, afetarão a <strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de, e por sua vez, a manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

Na perspectiva <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>corpo</strong>ral, GEIS (2003) comenta que o tempo<<strong>br</strong> />

deve ser compreendi<strong>do</strong> como um continuum, no qual o ser humano apresenta-se em<<strong>br</strong> />

constante desenvolvimento, e não envelhecen<strong>do</strong>. Assim, não devemos focar para as<<strong>br</strong> />

per<strong>da</strong>s, mas sim para a conquista e redescoberta de um novo <strong>corpo</strong> que somos e<<strong>br</strong> />

seremos, viven<strong>do</strong> um novo mun<strong>do</strong> a ca<strong>da</strong> amanhecer que se inicia.


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

76<<strong>br</strong> />

5. CONSIDERAÇÕES


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

77<<strong>br</strong> />

A minha caminha<strong>da</strong> para desvelar a percepção <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so so<strong>br</strong>e como<<strong>br</strong> />

entende e vive sua sexuali<strong>da</strong>de, possibilitou compreender que o processo de<<strong>br</strong> />

envelhecimento é uma condição natural <strong>do</strong> ser humano. Ocorre durante to<strong>da</strong> a<<strong>br</strong> />

trajetória de vi<strong>da</strong>, reflete as experiências vivi<strong>da</strong>s, e não envolve apenas a visão<<strong>br</strong> />

biológica, uma vez que, traz implicações à sua multidimensionali<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

Perceber o processo de envelhecimento olhan<strong>do</strong> para os vários aspectos<<strong>br</strong> />

que o acompanham, significa ir além <strong>da</strong>s transformações, per<strong>da</strong>s e degenerações, e<<strong>br</strong> />

assim possibilitar a valorização <strong>da</strong>s experiências vivi<strong>da</strong>s, <strong>do</strong> acúmulo de vi<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

encontra<strong>do</strong> na pessoa i<strong>do</strong>sa. Desse mo<strong>do</strong>, ao escolher como méto<strong>do</strong> de estu<strong>do</strong> a<<strong>br</strong> />

abor<strong>da</strong>gem fenomenológica, o<strong>br</strong>igatoriamente eu teria que retornar às coisas<<strong>br</strong> />

mesmas, ou seja, não aceitar o enco<strong>br</strong>imento e o esquecimento que acompanham<<strong>br</strong> />

as situações ou temáticas já construí<strong>da</strong>s. Precisei ir além <strong>da</strong> superficiali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> mito<<strong>br</strong> />

que desvaloriza o i<strong>do</strong>so como ser em final <strong>da</strong> carreira existencial, e, portanto, sem<<strong>br</strong> />

voz. Assim, ouvi-los a fim de perceber como vivenciam a sexuali<strong>da</strong>de, antes de mais<<strong>br</strong> />

na<strong>da</strong> foi valorizar o que construíram e armazenaram em seu <strong>corpo</strong> durante déca<strong>da</strong>s.<<strong>br</strong> />

Destarte, ao me permitirem adentrar em seu mun<strong>do</strong> priva<strong>do</strong>, pude perceber<<strong>br</strong> />

o vivi<strong>do</strong> por eles na trajetória existencial e desvelar o fenômeno em tela, contribuin<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

para a ampliação <strong>do</strong> meu conhecimento e construção <strong>do</strong> conhecimento para a<<strong>br</strong> />

Enfermagem so<strong>br</strong>e a sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so, uma vez que esta faz parte <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

multidimensionali<strong>da</strong>de humana.<<strong>br</strong> />

Semelhante ao processo de envelhecimento, acredito que a sexuali<strong>da</strong>de é<<strong>br</strong> />

uma temática carrega<strong>da</strong> de diversos tabus, mitos, e que para compreendê-la faz-se<<strong>br</strong> />

necessário o aban<strong>do</strong>no de to<strong>da</strong> idéia que se apresente pronta, bem como <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

preconceitos. Dessa forma, foi possível desprender-me de concepções unicamente<<strong>br</strong> />

biológicas, e compreendê-la como dimensão humana que está presente em to<strong>da</strong> a<<strong>br</strong> />

trajetória existencial, poden<strong>do</strong> ser vivencia<strong>da</strong> de diferentes maneiras em ca<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

momento, manifestan<strong>do</strong>-se mediante a expressão <strong>do</strong> <strong>corpo</strong>, ou seja, <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

<strong>corpo</strong>rei<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

Na pesquisa em tela, os discursos mostraram que a percepção <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so emergiu a partir <strong>da</strong> relação com o outro propicia<strong>do</strong> pelo<<strong>br</strong> />

encontro. Este possibilita que os <strong>corpo</strong>s i<strong>do</strong>sos se percebam e sejam percebi<strong>do</strong>s,<<strong>br</strong> />

toquem e sejam toca<strong>do</strong>s, sintam e sejam senti<strong>do</strong>s, desencadean<strong>do</strong> desejo, prazer e<<strong>br</strong> />

sentimentos diversos. Isto significa que o outro é necessário para a<<strong>br</strong> />

complementari<strong>da</strong>de e manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de. Assim, o estar-com torna-se


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

78<<strong>br</strong> />

momento de experiência humana rica em possibili<strong>da</strong>des de manifestar desejos e<<strong>br</strong> />

sentimentos, e, nesse senti<strong>do</strong>, a sexuali<strong>da</strong>de constitui uma dimensão afetiva,<<strong>br</strong> />

sentimental e relacional que proporciona o respeito ao <strong>corpo</strong> e as peculiari<strong>da</strong>des de<<strong>br</strong> />

ca<strong>da</strong> momento vivi<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />

Outra forma de os i<strong>do</strong>sos vivenciarem a sexuali<strong>da</strong>de foi mediante as<<strong>br</strong> />

ativi<strong>da</strong>des de lazer como a <strong>da</strong>nça, a música, a prática de esporte, jantar fora,<<strong>br</strong> />

tempora<strong>da</strong>s em hotéis, ir ao teatro, porque há a possibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> estar-com em<<strong>br</strong> />

espaços coletivos que propiciam o encontro, a troca, a reciproci<strong>da</strong>de, a convivência,<<strong>br</strong> />

a socialização e o prazer.<<strong>br</strong> />

Os i<strong>do</strong>sos entrevista<strong>do</strong>s conseguiram reconhecer que vivem a sexuali<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

de maneira diferente na terceira i<strong>da</strong>de, no que diz respeito ao desempenho sexual,<<strong>br</strong> />

pois mesmo não possuin<strong>do</strong> conhecimento suficiente e aprofun<strong>da</strong><strong>do</strong> so<strong>br</strong>e as<<strong>br</strong> />

alterações fisiológicas decorrentes <strong>do</strong> processo de envelhecimento, reconhecem as<<strong>br</strong> />

modificações ocorri<strong>da</strong>s em seus <strong>corpo</strong>s, o que os levam a fazer a travessia<<strong>br</strong> />

imaginária so<strong>br</strong>e a ponte que os conduz ao passa<strong>do</strong>. Esse processo permite a<<strong>br</strong> />

compreensão de que hoje não são como antes, contu<strong>do</strong> possibilita um<<strong>br</strong> />

aprimoramento no relacionamento em função <strong>do</strong> acúmulo de experiências, e que o<<strong>br</strong> />

desejo existente, permeia a relação e possibilita a manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de,<<strong>br</strong> />

independente <strong>da</strong> imagem apresenta<strong>da</strong>, <strong>da</strong> tatuagem feita pela postura, pelo tempo e<<strong>br</strong> />

apresenta<strong>da</strong> pelo cabelo grisalho, pelas rugas, e outras alterações decorrentes <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

processo de envelhecimento.<<strong>br</strong> />

Percebi que os <strong>corpo</strong>s i<strong>do</strong>sos vivenciam um processo de envelhecimento<<strong>br</strong> />

ativo, com autonomia e independência, pois buscam a<strong>do</strong>tar em seu cotidiano,<<strong>br</strong> />

hábitos de vi<strong>da</strong> saudáveis mediante a realização de ativi<strong>da</strong>des prazerosas que<<strong>br</strong> />

possibilitam a manifestação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de e refletem na quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>.<<strong>br</strong> />

Como enfermeiro, inseri<strong>do</strong> no cenário <strong>da</strong> saúde, acredito que precisamos<<strong>br</strong> />

conhecer as peculiari<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s <strong>corpo</strong>s i<strong>do</strong>sos viventes, respeitar as suas<<strong>br</strong> />

singulari<strong>da</strong>des e limitações, sem esquecer de reconhecer e incentivar as<<strong>br</strong> />

possibili<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> um durante o processo de envelhecimento, e contemplar<<strong>br</strong> />

ações de cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s direciona<strong>da</strong>s à promoção de saúde e bem-estar, e não apenas<<strong>br</strong> />

um procedimento técnico volta<strong>do</strong> para a <strong>do</strong>ença e medicações. Transcender isso<<strong>br</strong> />

possibilita um cui<strong>da</strong><strong>do</strong> estético e ético volta<strong>do</strong> à multidimensionali<strong>da</strong>de humana.<<strong>br</strong> />

Acredito ter contribuí<strong>do</strong> para a ampliação e construção <strong>do</strong> conhecimento<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e a sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so, porque o fenômeno vivi<strong>do</strong> já estava lá, armazena<strong>do</strong>


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

79<<strong>br</strong> />

no seu <strong>corpo</strong>, aguar<strong>da</strong>n<strong>do</strong> ser desvela<strong>do</strong>. Ao desvelá-lo, penso ter aponta<strong>do</strong> para<<strong>br</strong> />

novas possibili<strong>da</strong>des de expressão <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de na terceira i<strong>da</strong>de aproprian<strong>do</strong>-me<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> experiência <strong>do</strong>s <strong>corpo</strong>s i<strong>do</strong>sos que fizeram parte deste estu<strong>do</strong> para gerar<<strong>br</strong> />

conhecimento, mediante a pesquisa fenomenológica, além de possibilitar uma visão<<strong>br</strong> />

mais otimista so<strong>br</strong>e ela e o processo de envelhecimento. As possibili<strong>da</strong>des aqui<<strong>br</strong> />

revela<strong>da</strong>s são apenas demonstrações <strong>da</strong> potenciali<strong>da</strong>de humana, que direciona para<<strong>br</strong> />

o desejo, para a vontade de viver.<<strong>br</strong> />

Ao concluir esta etapa vivi<strong>da</strong> desco<strong>br</strong>i a importância de valorizarmos a<<strong>br</strong> />

experiência <strong>do</strong> outro, algo que lhe é tão singular, mas que por intermédio de um<<strong>br</strong> />

méto<strong>do</strong> de pesquisa pode a<strong>br</strong>ir-se para desvelar o concreto <strong>da</strong> existência humana.


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

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A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

87<<strong>br</strong> />

APÊNDICE


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

88<<strong>br</strong> />

Apêndice I<<strong>br</strong> />

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO<<strong>br</strong> />

O (a) senhor (a) está sen<strong>do</strong> convi<strong>da</strong><strong>do</strong> (a) a participar de um estu<strong>do</strong> denomina<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

“A sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so: a percepção <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> vivi<strong>do</strong>”<<strong>br</strong> />

Esse trabalho so<strong>br</strong>e a sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so tem como objetivo compreender como<<strong>br</strong> />

vocês entendem o que é a sexuali<strong>da</strong>de e como vocês li<strong>da</strong>m com ela no seu dia-a-dia.<<strong>br</strong> />

A coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s será realiza<strong>da</strong> mediante a resposta <strong>da</strong> seguinte questão “Faleme<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e como o (a) senhor (a) entende a sua sexuali<strong>da</strong>de:”, e ain<strong>da</strong> “O que é sexuali<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

para você”, que serão grava<strong>da</strong>s pelo pesquisa<strong>do</strong>r.<<strong>br</strong> />

A participação nesse estu<strong>do</strong> é consensual, haven<strong>do</strong> liber<strong>da</strong>de para ausentar-se<<strong>br</strong> />

em qualquer etapa, e isso não impedirá em na<strong>da</strong> suas ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> seu dia-a-dia. Na<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

será co<strong>br</strong>a<strong>do</strong> ou pago às pessoas participantes dessa pesquisa. E por ser de livre e<<strong>br</strong> />

espontânea a sua participação na pesquisa, em na<strong>da</strong> afetará seu dia-a-dia, ou seja, a sua<<strong>br</strong> />

participação não lhe trará privilégios ou <strong>da</strong>no algum.<<strong>br</strong> />

Estão garanti<strong>da</strong>s as informações que vocês queiram antes, durante e depois <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

estu<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />

O conteú<strong>do</strong> final deste estu<strong>do</strong> estará disponível aos participantes. Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

resultantes <strong>da</strong> entrevista serão utiliza<strong>do</strong>s para o desenvolvimento de pesquisa, dissertação e<<strong>br</strong> />

artigo a serem divulga<strong>do</strong>s nos meios acadêmico e científico, no entanto, se qualquer<<strong>br</strong> />

informação for divulga<strong>da</strong> em relatório ou publicação, isto será feito sob forma codifica<strong>da</strong>,<<strong>br</strong> />

para que a confidenciali<strong>da</strong>de seja manti<strong>da</strong>.<<strong>br</strong> />

Você terá a garantia de que qualquer problema decorrente <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> será<<strong>br</strong> />

conduzi<strong>do</strong> pelo pesquisa<strong>do</strong>r.<<strong>br</strong> />

Declaro ter recebi<strong>do</strong> as informações acima e concor<strong>do</strong> em participar dessa<<strong>br</strong> />

pesquisa nos termos apresenta<strong>do</strong>s.<<strong>br</strong> />

Assinatura: _____________________________________________ (Participante)<<strong>br</strong> />

Data: _______________<<strong>br</strong> />

______________________________________________<<strong>br</strong> />

Assinatura <strong>do</strong> Pesquisa<strong>do</strong>r<<strong>br</strong> />

Marcos Augusto Moraes Arcoverde (Fone: 8409-2523)<<strong>br</strong> />

Enfermeiro – Mestran<strong>do</strong> em Enfermagem<<strong>br</strong> />

(Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Paraná)


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

89<<strong>br</strong> />

ANEXO


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

90<<strong>br</strong> />

Anexo I – Parecer <strong>do</strong> Comitê de Ética.


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

91<<strong>br</strong> />

Anexo II – Entrevista<<strong>br</strong> />

Pesquisa<strong>do</strong>r: Gostaria que o senhor me falasse como você vive a sua sexuali<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

no seu dia-a-dia.<<strong>br</strong> />

Ator: Bem, na minha época de juventude não existia realmente nenhuma instrução,<<strong>br</strong> />

nem se falava em educação sexual, não existia nenhuma bibliografia so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />

educação sexual. Existia um livro de um escritor alemão que eu não lem<strong>br</strong>o o nome.<<strong>br</strong> />

Só um livro, e ele tratava, tratava o ato sexual assim, como assim, uma coisa<<strong>br</strong> />

extraordinária, não era uma coisa de emotivo, não era uma coisa que o homem<<strong>br</strong> />

deveria praticar. O ato sexual era tabu mesmo. Tabu mesmo. E isso não quer dizer<<strong>br</strong> />

que o libi<strong>do</strong> <strong>da</strong> juventude não despertasse. Despertava realmente, mas só que com<<strong>br</strong> />

to<strong>da</strong>s aquelas dificul<strong>da</strong>des. E com o passar <strong>do</strong> tempo essa minha geração foi<<strong>br</strong> />

amadurecen<strong>do</strong>, foi... foi se inventan<strong>do</strong> novos conceitos so<strong>br</strong>e a vi<strong>da</strong> sexual <strong>do</strong> ser<<strong>br</strong> />

humano. Mas antigamente um casal, casa<strong>do</strong> mesmo não praticava sexo pela<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

sem roupa, no claro, não. Era um tabu. Era tu<strong>do</strong> no escuro, tu<strong>do</strong> apalpan<strong>do</strong>. Hoje<<strong>br</strong> />

não, hoje os i<strong>do</strong>sos que passaram por tu<strong>do</strong> isso e se atualizaram eles tão<<strong>br</strong> />

conhecen<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>. Tu<strong>do</strong>, inclusive as maneiras, posições. O Kama Sutra é um<<strong>br</strong> />

negócio muito antigo, mas naquele tempo nem se falava, nem. Publicar um livro<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong>quele Mas nem pensar. A igreja, os moralistas iam <strong>da</strong>r em cima e não iam...<<strong>br</strong> />

seriam capaz até de queimar a livraria. E hoje não. Está bem divulga<strong>do</strong>. Eu acho<<strong>br</strong> />

que está divulga<strong>do</strong> até com muita malícia, que deveria ser divulga<strong>do</strong> com mais<<strong>br</strong> />

educação e menos malícia. E hoje há até um incentivo pra juventude praticar o sexo<<strong>br</strong> />

fora <strong>da</strong> relação, fora <strong>do</strong> amor. Porque o sexo para o ser humano seria um símbolo<<strong>br</strong> />

de amor. Pra um animal, não. Pra um animal é o cio. O animal vai pratica o sexo e<<strong>br</strong> />

pronto não quer saber mais na<strong>da</strong>. Para o ser humano, pra nós que temos<<strong>br</strong> />

inteligência, temos sentimento, que temos inteligência e sentimento, o sexo seria<<strong>br</strong> />

uma complementação <strong>do</strong> amor. Infelizmente não é o que está acontecen<strong>do</strong>. Hoje<<strong>br</strong> />

entre a juventude, você sabe muito bem disso, hoje a juventude é uma disputa pra<<strong>br</strong> />

ver quem, quem transa mais. Agora so<strong>br</strong>e o i<strong>do</strong>so, eu estou com 85 anos, eu não<<strong>br</strong> />

sou uma pessoa normal pra falar so<strong>br</strong>e isso porque eu tive cirurgia <strong>da</strong> próstata. E a<<strong>br</strong> />

cirurgia <strong>da</strong> próstata muita vezes ela é taxativa, ela determina impotência total, muitas<<strong>br</strong> />

vezes, nem to<strong>do</strong>s. Tanto que muitos senhores, não muito i<strong>do</strong>sos que têm câncer de<<strong>br</strong> />

próstata não se submete a cirurgia, preferem continuar um tratamento pra não<<strong>br</strong> />

perder, pra não correr o risco. Um caso bem típico, Darci Ribeiro, que foi ministro, foi


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

92<<strong>br</strong> />

figura <strong>da</strong> república, ele não admitiu ser, a cirurgia e morreu de câncer né, e não<<strong>br</strong> />

admitiu a cirurgia com me<strong>do</strong> de perder a potência, perder, se tornar impotente, isso<<strong>br</strong> />

não quer dizer que o libi<strong>do</strong> cai, o libi<strong>do</strong> nunca cai, se você, você vai ver que tem<<strong>br</strong> />

gente de 100 anos, isso é comum você ver isso, num asilo de velhos o cara de 100<<strong>br</strong> />

anos tá lá, chega uma menina bonita ele quer meter a mão, então o libi<strong>do</strong> não cai<<strong>br</strong> />

nunca, ele pode deixar de praticar o ato sexual, mas o libi<strong>do</strong> ele não perde nunca.<<strong>br</strong> />

Eu por exemplo na minha vi<strong>da</strong> particular, eu perdi minha mulher fazem 8 anos, e<<strong>br</strong> />

depois disso eu tive um problema, um caso sexual, um, e me arrependi, <strong>da</strong>í eu não<<strong>br</strong> />

quis\fiz mais e faço perfeitamente bem, faço perfeitamente bem, agora com certeza<<strong>br</strong> />

se eu ain<strong>da</strong> tivesse com minha mulher a minha vi<strong>da</strong> sexual continuaria, depois eu<<strong>br</strong> />

perdi minha mulher quan<strong>do</strong> eu tinha 77 anos e eu tinha vi<strong>da</strong> sexual normal, não<<strong>br</strong> />

aquela de to<strong>do</strong> dia né, isso aí também não existe, eu posso te contar uma historinha<<strong>br</strong> />

interessante, que tinha um camara<strong>da</strong> fazen<strong>do</strong> palestras so<strong>br</strong>e Educação sexual, o<<strong>br</strong> />

cara famoso no mun<strong>do</strong> inteiro né, depois que fez uma baita de uma palestra,<<strong>br</strong> />

auditório cheio, caríssimo, aí ele quis fazer uma pesquisa né e começou a perguntar<<strong>br</strong> />

a freqüência sexual <strong>do</strong> pessoal que tava assistin<strong>do</strong> né, então ele perguntava, ele ia<<strong>br</strong> />

anotan<strong>do</strong>, tantos dias tal, por semana, por mês, aí ele disse: Olha a última pergunta<<strong>br</strong> />

aqui eu vou fazer porque tá no script, quem pratica sexo uma vez por ano Aí a<<strong>br</strong> />

turma caiu na gargalha<strong>da</strong>, <strong>da</strong>í um velhinho lá no fun<strong>do</strong>, eu,eu,eu aí a turma riu de<<strong>br</strong> />

novo <strong>da</strong>í, ele tão alegre, uma vez por ano, é hoje , é hoje, aí vê, isso é um exemplo<<strong>br</strong> />

de sexo <strong>da</strong>í, é uma ane<strong>do</strong>ta é uma pia<strong>da</strong>, mas é um exemplo <strong>do</strong> que o sexo, e a<<strong>br</strong> />

mulher também, a mulher também, embora a mulher tenha mais recato, se escon<strong>da</strong>,<<strong>br</strong> />

tenha vergonha, mas eu, eu encontro muitas senhoras de 50, 60 anos que só falam<<strong>br</strong> />

em sexo, e se você conta uma pia<strong>da</strong> pesa<strong>da</strong> ela morre de rir, então eu falo de<<strong>br</strong> />

mulher, eu tenho muito, eu tenho muita oportuni<strong>da</strong>de de ter mulheres assim, na<<strong>br</strong> />

convivência né, e eu conto muita pia<strong>da</strong> pesa<strong>da</strong> mesmo, mas é a coisa que mais, vou<<strong>br</strong> />

contar uma pia<strong>da</strong> pesa<strong>da</strong>, ah que bom, que bom, então o sexo morre junto com o<<strong>br</strong> />

<strong>corpo</strong>, tem alguma outra pergunta mais Pode perguntar!<<strong>br</strong> />

Pesquisa<strong>do</strong>r: Algumas coisas o senhor até já foi responden<strong>do</strong>, assim o senhor falou<<strong>br</strong> />

a questão de ter perdi<strong>do</strong> a esposa, algumas outras questões referente ao ato sexual,<<strong>br</strong> />

mas você consegue na sua visão, a sexuali<strong>da</strong>de seria além <strong>do</strong> ato sexual


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

93<<strong>br</strong> />

Ator: Bom, eu não sei se esse aspecto chega a ser sexual por Freud tu<strong>do</strong> é sexual,<<strong>br</strong> />

Freud, tu<strong>do</strong> sexual, até o nené mamar, eu acho que não, eu acho que, agora eu<<strong>br</strong> />

acho o seguinte, que nós os seres humanos, a não ser que tenha um grande<<strong>br</strong> />

distúrbio mental, nós precisamos de contacto, contacto, e Freud já vai dizer que isso<<strong>br</strong> />

é sexo, você a<strong>br</strong>açar uma pessoa, ah isso aí já é malicioso, mas não é, e nós<<strong>br</strong> />

precisamos ter contacto, não há uma pessoa normal que não goste de um contacto,<<strong>br</strong> />

uma bati<strong>da</strong> no om<strong>br</strong>o, tanto que o nosso cumprimento é um aperto de mão, é um<<strong>br</strong> />

contacto, hoje é comum, hoje é muito comum, o rapaz encontrar uma moça e, não é<<strong>br</strong> />

beijo, é só encostar a bochecha de um la<strong>do</strong> e de outro, isso é comum, há algum<<strong>br</strong> />

tempo atrás não era, com o tempo atrás, a cerimônia era o cavalheiro nem chegava<<strong>br</strong> />

a beijar a mulher, a mão <strong>da</strong> mulher só chegava perto, fazia o gesto de beijar mas<<strong>br</strong> />

não beijava, então isso tá mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> completamente, agora, dizer que a necessi<strong>da</strong>de,<<strong>br</strong> />

ou a vontade, ou o gosto que dá, que existe em haver um contacto de ser humano a<<strong>br</strong> />

ser humano, seja de homem com homem, assim quanto ao amigo que gosta de <strong>da</strong>r<<strong>br</strong> />

um a<strong>br</strong>aço no amigo, puxa vi<strong>da</strong>, ou uma festa, aniversário, que to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> se<<strong>br</strong> />

a<strong>br</strong>aça, isso é bom é gostoso, o homem, o ser humano necessita isso, agora se isso<<strong>br</strong> />

vai pro la<strong>do</strong> sexual, eu não tenho capaci<strong>da</strong>de para dizer, eu acho que, eu acho que<<strong>br</strong> />

não. Agora veja bem, o desvirtuamento <strong>do</strong> sexo está muito avança<strong>do</strong>, não precisa ir<<strong>br</strong> />

longe, 8 indicações de Oscar é a história de <strong>do</strong>is homossexuais, até o “cowboy” se<<strong>br</strong> />

tornou homossexual, agora por que isso, porque a maioria <strong>do</strong>s roteiristas e escritos,<<strong>br</strong> />

etc, etc, são homossexuais, então tá puxan<strong>do</strong> pra esse la<strong>do</strong>, as para<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

homossexuais, que ofensivamente vão fazer para<strong>da</strong>, gritar exigir direito etc, isso pra<<strong>br</strong> />

mim é uma aberração, pra mim é, eu ain<strong>da</strong> sou <strong>do</strong> tempo antigo, eu acho que o<<strong>br</strong> />

bicha eu sei que muitas vezes até é genealógico, eu acho que ele tem até, vem até<<strong>br</strong> />

no cromossomo dele, na descendência dele, tenha parentes, as vezes não é nem o<<strong>br</strong> />

avô ou o pai, às vezes até o tatatataravô porque nos trazemos os genes de 500<<strong>br</strong> />

anos atrás, quem sabe um homem <strong>da</strong> caverna lá que era meu não sei o que, ele era<<strong>br</strong> />

homossexual, quem sabe, ninguém sabe, mas grande parte também é <strong>da</strong> educação,<<strong>br</strong> />

e é <strong>do</strong> que o mun<strong>do</strong> moderno está apresentan<strong>do</strong>, são coisas que acontecem hoje na<<strong>br</strong> />

televisão, a televisão é um instrumento com tanta divulgação, que ela transforma a<<strong>br</strong> />

mentali<strong>da</strong>de de uma socie<strong>da</strong>de, agora nenhum ser humano, a não ser de uma<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong>ença total houve imobilização, deixa de ter os seus desejos sexuais. Isso morre<<strong>br</strong> />

com o <strong>corpo</strong>, quem qual é o homem, eu vejo isso e eu vou na boca maldita to<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

sába<strong>do</strong> e lá ta cheio de velho né, passa uma <strong>do</strong>na boa, oooooooooo, o cara nunca


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

94<<strong>br</strong> />

mais, o cara tá de bengala ali an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> curva<strong>do</strong>, passa uma <strong>do</strong>na ele, o que é isso,<<strong>br</strong> />

isso é, isso é o belo, heterossexual,então é isso meu companheiro, outra coisa, é,<<strong>br</strong> />

com a educação sexual, até a igreja ela mu<strong>do</strong>u um pouco o seu aspecto.<<strong>br</strong> />

Infelizmente ela é muito conserva<strong>do</strong>ra, eu sou católico praticante, mas eu discor<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

de muito coisa <strong>do</strong> papa, e <strong>do</strong> vaticano, discor<strong>do</strong> mesmo, e já tive, uma vez eu tive<<strong>br</strong> />

uma discussão numa palestra com um camara<strong>da</strong>, eu tive uma discussão com o<<strong>br</strong> />

ci<strong>da</strong>dão, e no fim eu fui desco<strong>br</strong>ir que o ci<strong>da</strong>dão era frade, eu não sabia, eu discuti<<strong>br</strong> />

com ele sem saber na<strong>da</strong>, porque eu tava assistin<strong>do</strong> uma palestra <strong>do</strong> Padilha. O<<strong>br</strong> />

Padilha é um professor ali muito bom, não sei se você conhece, eu tava assistin<strong>do</strong> a<<strong>br</strong> />

palestra, e ele tava comentan<strong>do</strong> alguma coisa <strong>da</strong> Cirla, Cirla é Conferencia de<<strong>br</strong> />

Bispos Latinos Americanos, e a Cirla nessa reunião, a Cirla fez <strong>do</strong>is enuncia<strong>do</strong>s, um<<strong>br</strong> />

bom natural ele disse leu isso no observatório romano que ele é assinante, e o outro,<<strong>br</strong> />

ai ele se referiu a outro enuncia<strong>do</strong>, dizia o seguinte, que os casais de 2° encontro<<strong>br</strong> />

que não tivessem filhos deveriam se separar, e os que tivessem filhos deveriam<<strong>br</strong> />

continuar junto pra criar os filhos, mas como irmão e irmã, quer dizer sem sexo, aí o<<strong>br</strong> />

palestrante disse que isso na ver<strong>da</strong>de é uma coisa muito difícil, e aí o outro lá se<<strong>br</strong> />

levantou, não mas isso não é <strong>da</strong> Cirla não, isso é <strong>do</strong> Vaticano, que é o papa, e ele<<strong>br</strong> />

não pode mu<strong>da</strong>r isso, ele não pode mu<strong>da</strong>r isso, isso é uma lei de Deus e ele não<<strong>br</strong> />

pode, aí eu levantei de lá e disse, pode, não pode , pode sim, porque quan<strong>do</strong> Cristo<<strong>br</strong> />

designou Pedro como fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong> igreja, como o primeiro papa, ele disse pro Pedro<<strong>br</strong> />

que o que atares na terra, será ata<strong>do</strong> no céu e o que desatares na terra, será<<strong>br</strong> />

desata<strong>do</strong> no céu, isso no meu entender de leigo é uma procuração de amplos<<strong>br</strong> />

poderes e tão amplos poderes que João XXIII mu<strong>do</strong>u radicalmente a sistemática <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

igreja católica, porque ele tinha esses poderes. Aí o palestrante lá, o Padilha achou<<strong>br</strong> />

que eu estava com a razão, aí o camara<strong>da</strong> saiu <strong>da</strong> sala né, digo ficou 2, 3 minutos<<strong>br</strong> />

saiu, sem pedir licença, sem na<strong>da</strong>, aí o Padilha ain<strong>da</strong> falou, olha o rapaz aí o senhor,<<strong>br</strong> />

acho que ficou magoa<strong>do</strong> e saiu. Aí terminou a palestra, o pessoal chegou pra mim,<<strong>br</strong> />

mas pô rapaz, você deu o de<strong>do</strong> no freio, freio <strong>do</strong> Bom Jesus, <strong>da</strong> igreja <strong>do</strong> Bom<<strong>br</strong> />

Jesus, não <strong>do</strong> colégio, <strong>da</strong> igreja, e eu acho isso, eu acho que quan<strong>do</strong> Deus nos deu<<strong>br</strong> />

a vi<strong>da</strong>, ele nos deu a vi<strong>da</strong>, nos deu sentimento, ele nos ensinou a amar. Só nós<<strong>br</strong> />

sabemos amar, dizer que o cachorro ama o <strong>do</strong>no, conversa mole, mas o cachorro, o<<strong>br</strong> />

cachorro quer o bombom, a boa vi<strong>da</strong>, acostuma com o cheiro , o carinho, tu<strong>do</strong> isso,<<strong>br</strong> />

o <strong>do</strong>mestica<strong>do</strong> porque o cachorro selvagem não tem na<strong>da</strong> disso, e antigamente só<<strong>br</strong> />

existia cachorro selvagem, mas quan<strong>do</strong> Deus fez isso, ele queria que nós fôssemos


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

95<<strong>br</strong> />

felizes, ele fez tu<strong>do</strong> para que nós fôssemos felizes. Então se um casamento<<strong>br</strong> />

realmente se torna um transtorno, por precipitação, por não saber escolher, eu acho<<strong>br</strong> />

lógico que se separem e que ca<strong>da</strong> um procure ser feliz com outra pessoa. Eu sou a<<strong>br</strong> />

favor disso, embora seja católico, eu sou a favor <strong>do</strong> controle <strong>do</strong>, né bem controle, <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

controle <strong>da</strong> educação sexual, para efeito de procriação. Um <strong>do</strong>s flagelos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

hoje é o excesso de gente, e o excesso de gente onde mais há necessi<strong>da</strong>de que é a<<strong>br</strong> />

classe po<strong>br</strong>e, é a África, é a favela, porque a classe média e rica já faz, e a igreja<<strong>br</strong> />

católica é contra isso. E eu sou contra a igreja católica nesse ponto, pra igreja<<strong>br</strong> />

católica sexo é pra procriar e pronto. Nos meios naturais de se evitar, e outra coisa,<<strong>br</strong> />

só nós, aliás nós não, existe animais que são assim também, mas a maioria <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

animais só tem contato sexual quan<strong>do</strong> tem o cio, cio <strong>da</strong> fêmea, o macho sempre<<strong>br</strong> />

disposto, se ele cheirar o cio, ele vai, e nós seres humanos não existe isso, nós<<strong>br</strong> />

temos o desejo sexual, não precisa cheirar, não precisa a mulher tá no cio, então se<<strong>br</strong> />

fosse só pro procriar, Deus não faria o homem assim, Deus faria o homem igual o<<strong>br</strong> />

animal, quan<strong>do</strong> a mulher tivesse cio, e a mulher ia ter cio a ca<strong>da</strong> 9 meses, ou a ca<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

ano, como o elefante. Então se ele nos deu essa proprie<strong>da</strong>de de usar o sexo como<<strong>br</strong> />

prazer, como complemento <strong>do</strong> amor, eu acho que competi a nós usufruir isso e não<<strong>br</strong> />

tem esse negócio <strong>da</strong> igreja não admitir. Eu sei casos, pô pela minha vi<strong>da</strong>, eu sei de<<strong>br</strong> />

casos grandes, um número imenso de casos de casais que realmente, foi um passo<<strong>br</strong> />

erra<strong>do</strong>, casais que com 20 anos de casamento, com filhos adultos e tu<strong>do</strong> isso, e o<<strong>br</strong> />

camara<strong>da</strong> começa a se em<strong>br</strong>iagar, se torna alcoólatra, e bate na mulher, e pronto, e<<strong>br</strong> />

o que que essa mulher vai fazer Tem que separar, tem que separar, ca<strong>da</strong> um vai<<strong>br</strong> />

procurar ser feliz com outro, o cara quer encher a cara que vá encher no bar, a<<strong>br</strong> />

mulher apanha, apanha e não recebe na<strong>da</strong> em casa, o mari<strong>do</strong> não traz na<strong>da</strong>, gasta<<strong>br</strong> />

tu<strong>do</strong> com bebi<strong>da</strong>, o que que ela tem que fazer Deixar esse cara pô, e ela vai<<strong>br</strong> />

procurar um homem pra ser feliz com ele, porque o desejo sexual não morre, não<<strong>br</strong> />

morre, e então aparece os meios artificiais <strong>da</strong> mulher se satisfazer, <strong>do</strong> homem se<<strong>br</strong> />

satisfazer, você vai na internet tá cheio de troço desses, cultura <strong>do</strong> sexo, cultura <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

sexo, o sexo é muito importante.<<strong>br</strong> />

Pesquisa<strong>do</strong>r: O senhor comentou a respeito <strong>do</strong> contato né, no seu dia a dia, pelo<<strong>br</strong> />

que o senhor falou isso é muito importante, no seu dia a dia você busca esse<<strong>br</strong> />

contato


A percepção <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>corpo</strong> i<strong>do</strong>so<<strong>br</strong> />

96<<strong>br</strong> />

Ator: Olha é, eu vivo sozinho né, eu vou to<strong>do</strong> dia jogar tênis, eu encontro meus<<strong>br</strong> />

amigos lá,conto pia<strong>da</strong>s, eu tenho meus jantares aí fora, eu tenho as minhas<<strong>br</strong> />

tempora<strong>da</strong>s fora também em hotéis, aí eu faço reuniões, eu <strong>do</strong> palestras também,<<strong>br</strong> />

uma vez por mês, tenho palestra aí num Spa , tenho sexta-feira que vem dia 17 eu<<strong>br</strong> />

tenho uma, e eu não vou falar de sexo não, eu vou falar, eu falo so<strong>br</strong>e experiência<<strong>br</strong> />

de vi<strong>da</strong>, so<strong>br</strong>e lições de vi<strong>da</strong>, que eu tomei muitas lições de vi<strong>da</strong>, muitas lições.<<strong>br</strong> />

Particularmente minha vi<strong>da</strong> sexual foi muito boa, muito boa mesmo. Na igreja, hoje<<strong>br</strong> />

na igreja moderna, enfim, alguns padres fazem reuniões de casais, dão educação<<strong>br</strong> />

pra casais, e eles são taxativos porque na relação entre mari<strong>do</strong> e mulher tu<strong>do</strong> é<<strong>br</strong> />

váli<strong>do</strong>, desde que seja com amor. Então eu sou favorável a isso, tu<strong>do</strong> é váli<strong>do</strong> desde<<strong>br</strong> />

que seja com amor, não sei se os outros, não sei por exemplo quem tem 60 anos<<strong>br</strong> />

hoje, como é que tá pensan<strong>do</strong> isso, porque 60 anos hoje pra mim ele tá 25 anos<<strong>br</strong> />

atrás de mim, não sei se você vai achar alguém com mais de 85 anos aí pra<<strong>br</strong> />

entrevistar.

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