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Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campi<strong>na</strong>s<br />

Instituto de Física Gleb Wataghin<br />

Tese de Doutorado<br />

Sist<strong>em</strong>a de Micromanipulação e<br />

Microanálise com Pinças Ópticas<br />

Adria<strong>na</strong> Fontes<br />

Orientador: Prof. Dr. Carlos Lenz Cesar<br />

Banca Exami<strong>na</strong>dora:<br />

Prof. Dr. Ricardo de Carvalho Ferreira<br />

Prof. Dr. Herch Moysés Nussenzveig<br />

Prof. Dr. Antonio Manoel Mansa<strong>na</strong>res<br />

Prof. Dr. Luiz Carlos Barbosa


FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA<br />

BIBLIOTECA DO IFGW - UNICAMP<br />

F737s<br />

Fontes, Adria<strong>na</strong><br />

Sist<strong>em</strong>a de micromanipulação e microanálise com<br />

pinças óticas / Adria<strong>na</strong> Fontes. -- Campi<strong>na</strong>s, SP :<br />

[s.n.], 2004.<br />

Orientador: Carlos Lenz Cesar.<br />

Tese (doutorado) - Universi<strong>da</strong>de Estadual de<br />

Campi<strong>na</strong>s, Instituto de Física “Gleb Wataghin”.<br />

1. Pinças óticas. 2. Análise espectral. 3. Células.<br />

4. Microanálise. 5. Microscópio e microscopia.<br />

6. Lasers. I. Cesar, Carlos Lenz. II. Universi<strong>da</strong>de<br />

Estadual de Campi<strong>na</strong>s. Instituto de Física “Gleb<br />

Wataghin”. III. Título.<br />

(vsv/ifgw)<br />

-Título <strong>em</strong> inglês: Micromanipulation and microa<strong>na</strong>lysis in an optical tweezers syst<strong>em</strong>s<br />

- Palavras-chave <strong>em</strong> inglês (Keywords):<br />

1. Optical tweezers<br />

2. Spectrum a<strong>na</strong>lysis<br />

3. Cells<br />

4. Microa<strong>na</strong>lysis<br />

5. Microscope and microscopy<br />

6. Lasers<br />

- Área de concentração: Física<br />

- Titulação: Doutora <strong>em</strong> ciências<br />

- Banca exami<strong>na</strong>dora:<br />

Prof. Carlos Lenz Cesar<br />

Prof. Ricardo de Carvalho Ferreira<br />

Prof. Luiz Carlos Barbosa<br />

Prof. Herch Moysés Nussenzveig<br />

Prof. Antonio Manoel Mansa<strong>na</strong>res<br />

iii


Agradecimentos<br />

Gostaria de agradecer especialmente:<br />

• Ao meu orientador Prof. Carlos Lenz Cesar pelo estímulo e atenção.<br />

• Aos meus pais, especialmente à minha mãe Leonides Gandini, pelo incentivo e compreensão.<br />

• Aos meus amigos: Antônio, Wendel, André, Lilia<strong>na</strong>, Diogo, Herculano e Eugênio de<br />

Campi<strong>na</strong>s e também Patrícia e Beate de Recife.<br />

• Às agências FAPESP, CAPES e CNPq pelo suporte fi<strong>na</strong>nceiro.<br />

• Ao H<strong>em</strong>ocentro e à Profa. Selma Giorgio do Departamento de Parasitologia do Instituto de<br />

Biologia <strong>da</strong> UNICAMP pelo fornecimento de amostras, discussões e idéias.<br />

iv


Resumo<br />

A pinça óptica é um instrumento capaz de aprisio<strong>na</strong>r e mover partículas <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de<br />

micrômetros, consistindo basicamente de um laser infravermelho fort<strong>em</strong>ente focalizado que<br />

incide sobre um objeto com índice de refração maior do que o meio ao seu redor. As forças que<br />

uma pinça óptica exerce sobre uma partícula são <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de f<strong>em</strong>to a pico Newtons. Por esse<br />

motivo sua principal aplicação é no mundo microscópico, especialmente no estudo de células e<br />

organelas, que pod<strong>em</strong> ser manipula<strong>da</strong>s individualmente s<strong>em</strong> qualquer <strong>da</strong>no térmico. Neste<br />

trabalho abor<strong>da</strong>mos aspectos teóricos e experimentais relacio<strong>na</strong>dos às pinças ópticas. No<br />

capítulo 2, <strong>em</strong> conjunto com a descrição <strong>da</strong>s várias montagens utiliza<strong>da</strong>s nesta Tese, <strong>da</strong>mos<br />

especial atenção ao funcio<strong>na</strong>mento de uma pinça óptica e aos pontos cruciais para entendê‐la e<br />

utilizá‐la. No capítulo 3, faz<strong>em</strong>os uso de sua ultra‐sensibili<strong>da</strong>de tanto para observar<br />

ressonâncias de Mie <strong>em</strong> microesferas captura<strong>da</strong>s e ilumi<strong>na</strong><strong>da</strong>s por on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s e feixes<br />

focalizados. Nesse mesmo capítulo também realizamos uma medi<strong>da</strong> dinâmica <strong>da</strong> sua<br />

intensi<strong>da</strong>de <strong>em</strong> função <strong>da</strong> distância do foco do laser ao centro <strong>da</strong> partícula. Os resultados<br />

obtidos revelam o papel fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> polarização <strong>da</strong> luz <strong>na</strong> força <strong>da</strong> pinça óptica e só pod<strong>em</strong><br />

ser explicados com o formalismo <strong>da</strong> óptica eletromagnética. No capítulo 4, mostramos que é<br />

possível unir a capaci<strong>da</strong>de de manipulação <strong>da</strong> pinça óptica com a de caracterização de<br />

diferentes técnicas espectroscópicas lineares e não lineares, colocando‐as <strong>em</strong> um mesmo<br />

sist<strong>em</strong>a. Com esse acoplamento fomos capazes de fazer espectroscopia Raman, Hiper Raman,<br />

Hiper Rayleigh e fluorescência excita<strong>da</strong> por absorção de 2 fótons <strong>em</strong> materiais biológicos e<br />

outras amostras. No capítulo 5, mostramos que uma calibração <strong>da</strong> pinça óptica nos possibilita<br />

medir forças <strong>em</strong> partículas microscópicas e aplicamos a mesma <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> força do parasita<br />

leishmania, encontrando valores tão pequenos quanto 200 f<strong>em</strong>to Newtons. Também utilizamos<br />

esse instrumento para medir a elastici<strong>da</strong>de de h<strong>em</strong>ácias normais, estoca<strong>da</strong>s, irradia<strong>da</strong>s e<br />

falciza<strong>da</strong>s. Fechamos a Tese com o capítulo 6 que traz uma conclusão geral e perspectivas.<br />

v


Abstract<br />

The optical tweezers is a tool capable of capturing and manipulating particles of micrometers<br />

order. The optical tweezers, basically, consists of a tightly focused infrared laser incident on a<br />

particle with refractive index larger than the surrounding media index. The optical forces<br />

actuating on the particle are of order of f<strong>em</strong>to to pico Newtons. For this reason, the main<br />

application of an optical tweezers is in the microscopic world, especially in the study of cells<br />

that can be manipulated individually without thermal <strong>da</strong>mage. In this work, we treat of<br />

theoretical and experimental aspects related to the optical tweezers. Chapter 2 contains the<br />

description of the set‐ups used in this thesis. Special <strong>em</strong>phasis was given to those points critical<br />

for the understanding and to mounting an optical tweezers set up. Chapter 3 describes the use<br />

of the high sensitivity of the optical tweezers to observe the Mie reso<strong>na</strong>nces in microspheres<br />

captured and illumi<strong>na</strong>ted by plane waves and focalized beams. It also contains the description<br />

of the measur<strong>em</strong>ents of the intensity of the optical force as a function of the distance of the laser<br />

focus to the center of the particle. Our results show the fun<strong>da</strong>mental hole of the laser<br />

polarization for the forces of an optical tweezers. This can only be explained by a complete<br />

electromagnetic theory. Chapter 4 shows that it is possible to add the capability of manipulation<br />

of an optical tweezers to the ability of characterization of linear and non‐linear spectroscopic<br />

techniques in only one integrated syst<strong>em</strong>. With this syst<strong>em</strong>, we were able to perform Raman,<br />

Hyper Rayleigh, Hyper Raman and Two‐Photon Excited Luminescence in biological and nonbiological<br />

samples. Chapter 5 describes an optical tweezers calibration method to measure<br />

forces as small as 200 f<strong>em</strong>to Newtons of the protozoa Leishmania amazonensis. We also used<br />

the optical tweezers to measure the elasticity of normal, storaged, sickle and irradiated red<br />

blood cells. Chapter 6 contains the conclusions and perspectives.<br />

vi


Índice<br />

1. Introdução 1<br />

2. Sist<strong>em</strong>as Experimentais 7<br />

2.1 A Pinça Óptica 8<br />

2.1.1 Princípio Básico de Funcio<strong>na</strong>mento: Transferência de Momento do Fóton 9<br />

2.1.2 Influência <strong>da</strong> Reflexão e Absorção <strong>na</strong> Força Óptica 12<br />

2.1.3 Ord<strong>em</strong> de Grandeza <strong>da</strong> Força Óptica e Dimensões <strong>da</strong>s Partículas Captura<strong>da</strong>s 14<br />

2.1.5 Outros Lasers Comumente Utilizados <strong>na</strong> Pinça Óptica 21<br />

2.1.6 Microscópio Óptico Simples 22<br />

2.1.7 Microscópios de Óptica Infinita 24<br />

2.1.8 Características <strong>da</strong>s Objetivas 26<br />

2.1.9 Falsa Armadilha e a Abertura Numérica 28<br />

2.1.10 Microscópios Invertidos: Vantagens e Desvantagens 30<br />

2.1.11 O Alinhamento 32<br />

2.1.12 Resultados Obtidos com a Pinça Óptica Simples 34<br />

2.2 A Pinça Óptica Dupla 35<br />

2.2.1 Motivação e Pontos Experimentais Relevantes 35<br />

2.2.2 O Sist<strong>em</strong>a Experimental de Pinça Dupla 39<br />

2.2.3 O Alinhamento 40<br />

2.2.4 Resultados Obtidos com a Pinça Óptica Dupla 41<br />

2.3 Sist<strong>em</strong>as Experimentais para a Calibração <strong>da</strong> força <strong>da</strong> Pinça Óptica e Aplicações com Leishmanias e<br />

H<strong>em</strong>ácias 42<br />

2.4 Sist<strong>em</strong>a Experimental de Espectroscopia de Força e Medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> Força Óptica <strong>em</strong> Função do<br />

Deslocamento Centro‐Foco e <strong>da</strong> Polarização 45<br />

2.4.1 Descrição dos Componentes do Sist<strong>em</strong>a 47<br />

2.4.2 Detalhes Experimentais <strong>da</strong> Aplicação de Espectroscopia de Força 52<br />

2.5 Sist<strong>em</strong>a Experimental de Pinça Óptica com Espectroscopias Confocais 56<br />

2.5.1 Laser de Ti:Safira de f<strong>em</strong>tosegundos (Tsu<strong>na</strong>mi) 57<br />

2.5.2 Monocromador 62<br />

vii


2.5.3 CCD 63<br />

2.5.4 Filtros Super NOTCH plus 63<br />

2.5.5 Detalhes Experimentais 65<br />

3. Teoria Óptica Eletromagnética 69<br />

3.1 “MDR modes” <strong>em</strong> Microesferas Excita<strong>da</strong>s por Incidência de On<strong>da</strong> Pla<strong>na</strong> 74<br />

3.1.1 Soluções <strong>da</strong> Equação de On<strong>da</strong> Vetorial 74<br />

3.1.2 Expansão de uma On<strong>da</strong> Incidente Arbitrária <strong>em</strong> Função dos Harmônicos Esféricos Vetoriais 78<br />

3.1.3 Cálculos dos Coeficientes de Mie para um Campo Incidente Arbitrário 80<br />

3.1.4 Expansão de uma On<strong>da</strong> Pla<strong>na</strong> <strong>em</strong> Função dos Vetores Harmônicos Esféricos 83<br />

3.1.5 Cálculos dos Coeficientes de Mie para On<strong>da</strong>s Pla<strong>na</strong>s 85<br />

3.1.6 “MDR modes” 86<br />

3.1.7 Cálculo <strong>da</strong>s Eficiências de Ressonâncias de Mie 90<br />

3.2 Pinças Óptica, Microesferas e Feixes Gaussianos Focalizados 104<br />

3.2.1 Aproximação <strong>da</strong> Integral Localiza<strong>da</strong> 105<br />

3.2.2 Aproximação de Davis e a Descrição do Feixe Incidente 106<br />

3.2.3 Expansão do Feixe Gaussiano Incidente Focalizado, os Fatores de Forma e os Coeficientes de Mie 112<br />

3.2.4. Seções de Choque 117<br />

3.2.5 Resultados 118<br />

4. Aplicações de Pinça Óptica com Espectroscopias Confocais 131<br />

4.1 Motivação 131<br />

4.1.1 Oportuni<strong>da</strong>de de Incorporação de Técnicas de Microanálise à Pinça Óptica 134<br />

4.1.2 Objetivos e Desafios do Trabalho Descrito nesse Capítulo 135<br />

4.1.3 Estrutura do Capítulo 136<br />

4.2 Espectroscopia Raman 136<br />

4.3 Resultados de Raman com Pinça Óptica 141<br />

4.4 Processos Ópticos Envolvendo Dois Fótons 144<br />

4.5 Processos de Absorção Multifotônica 145<br />

viii


4.6 Luminescência Excita<strong>da</strong> por Absorção Multifotônica 150<br />

4.7 Aplicações e Resultados de Luminescência por Absorção de 2 Fótons 155<br />

4.8 Processos Hiper Rayleigh e Hiper Raman 157<br />

4.9 Resultados de Hiper Raman e Hiper Rayleigh 163<br />

4.10 Integrando as Espectroscopias 164<br />

5. Óptica geométrica, Hidrodinâmica e Aplicações <strong>da</strong> Pinça Óptica 167<br />

5.1 Calibração <strong>da</strong> Pinça Óptica 170<br />

5.1.1 Teoria Óptica Geométrica 170<br />

5.1.2 Teoria Hidrodinâmica 172<br />

5.1.3 Métodos e Resultados 174<br />

5.2 Medi<strong>da</strong>s de Forças do Protozoário <strong>da</strong> Leishmaniose, o Parasita Leishmania amazonensis 177<br />

5.2.1 Motivação 177<br />

5.2.2. O Parasita 178<br />

5.2.3. Metodologia, Resultados e Conclusões 180<br />

5.3 Medi<strong>da</strong>s de Elastici<strong>da</strong>de de H<strong>em</strong>ácias Normais e Altera<strong>da</strong>s 184<br />

5.3.1. Motivação 184<br />

5.3.3 Vali<strong>da</strong>ção Experimental do Modelo Hidro‐elástico 191<br />

5.3.4 Aplicações às Medi<strong>da</strong>s de Elastici<strong>da</strong>de de H<strong>em</strong>ácias de Pacientes com An<strong>em</strong>ia e Traço Falciforme 197<br />

5.3.5. Aplicações às Medi<strong>da</strong>s de Elastici<strong>da</strong>de de H<strong>em</strong>ácias Irradia<strong>da</strong>s <strong>em</strong> Função do T<strong>em</strong>po de Estocag<strong>em</strong> 200<br />

5.3.6. Aplicações às Medi<strong>da</strong>s de Elastici<strong>da</strong>de de H<strong>em</strong>ácias Estoca<strong>da</strong>s de Pacientes com Traço Falciforme 202<br />

5.4 Teoria Hidrodinâmica 204<br />

5.4.1 Mundo Microscópico: Baixos Números de Reynolds. 204<br />

5.4.2 Equações de Continui<strong>da</strong>de 207<br />

5.4.3 Continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Massa 207<br />

5.4.4 Continui<strong>da</strong>de do Momento 207<br />

5.4.5 Fontes e Sumidouros de Momento 207<br />

5.4.6. Lei de Hooke Generaliza<strong>da</strong>. 210<br />

5.4.7. Equação de Navier‐Stokes 211<br />

ix


5.4.8. Equação de Stokes ou “Creeping Motion” 211<br />

5.4.9. Teor<strong>em</strong>as Integrais <strong>em</strong> Escoamento de Stokes ou “Creeping Motion” 211<br />

5.4.10 Presença de Singulari<strong>da</strong>des ou Funções de Green 216<br />

6. Conclusão e Perspectivas 219<br />

Apêndice 1 223<br />

Apêndice 2 241<br />

Referências 253<br />

x


Capítulo 1<br />

Introdução<br />

A incorporação de lasers <strong>na</strong> microscopia óptica nessas duas últimas déca<strong>da</strong>s t<strong>em</strong><br />

colaborado consideravelmente para as mais moder<strong>na</strong>s pesquisas <strong>na</strong>s áreas de<br />

Biomedici<strong>na</strong> com propósitos de manipulação, medi<strong>da</strong>s, diagnóstico, microanálise e<br />

construção de imagens.<br />

Dentre as várias utilizações de lasers nessas áreas, destaca‐se o trabalho pioneiro<br />

de Ashkin e colaboradores. Em 1986, eles d<strong>em</strong>onstraram o uso de um instrumento,<br />

denomi<strong>na</strong>do pinça óptica, baseado <strong>na</strong> transferência de momento de fótons para<br />

capturar partículas dielétricas [1]. Embora essa ferramenta não tenha sido<br />

primeiramente desenvolvi<strong>da</strong> para aplicações biológicas, logo ficou claro que essa seria a<br />

sua principal área de aplicação. Já no seu próximo artigo [2], Ashkin aplicou a pinça<br />

óptica <strong>na</strong> captura e manipulação de partículas biológicas com tamanhos variando de<br />

décimos a cente<strong>na</strong>s de micra. Inicialmente, Ashkin utilizou um laser de argônio<br />

operando <strong>em</strong> λ = 514 nm, porém, devido ao alto coeficiente de absorção de radiação no<br />

comprimento de on<strong>da</strong> visível, esse causava <strong>da</strong>nos aos organismos vivos levando‐os à<br />

1


morte celular. Passaram assim a utilizar um laser Nd:YAG <strong>em</strong> λ = 1064 nm. Como a<br />

maioria <strong>da</strong>s substâncias que compõ<strong>em</strong> o ser vivo é transparente ao infravermelho, a<br />

absorção nessa região é peque<strong>na</strong> e o pouco calor gerado é rapi<strong>da</strong>mente transferido ao<br />

fluido por condução e convecção, conseqüent<strong>em</strong>ente não há <strong>da</strong>nos nesses organismos.<br />

A partir de então, a pinça óptica v<strong>em</strong> sendo amplamente utiliza<strong>da</strong> <strong>em</strong> duas vertentes:<br />

manipulação direta de microorganismos e medi<strong>da</strong>s de proprie<strong>da</strong>des mecânicas e de<br />

forças <strong>em</strong> sist<strong>em</strong>as biológicos.<br />

Como microferramenta de manipulação, a pinça óptica acopla<strong>da</strong> a outro<br />

instrumento denomi<strong>na</strong>do bisturi óptico já foi utiliza<strong>da</strong> para inserir DNA no interior de<br />

diferentes tipos de células [3], para conectar DNA ao silício <strong>na</strong> tentativa de construção<br />

de uma interface biomecânica [4], para fertilizações in vitro [5] e para fusão de células.<br />

O bisturi óptico é fun<strong>da</strong>mental para uma <strong>completa</strong> manipulação celular, pois é<br />

essencialmente um laser capaz de fazer perfurações <strong>em</strong> paredes e m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong>s celulares.<br />

Como os cortes são feitos por transferência de calor e não se pode <strong>da</strong>nificar o material<br />

biológico, usa‐se nesse instrumento um laser pulsado operando no verde. Geralmente,<br />

os tecidos orgânicos têm alta absorção nessa região do espectro.<br />

Por outro lado, como microferramenta de medi<strong>da</strong>, a pinça óptica já foi utiliza<strong>da</strong><br />

para medir e comparar deslocamentos celulares e forças de proteí<strong>na</strong>s (miosi<strong>na</strong>s)<br />

cardíacas [6], para caracterização de motores biológicos moleculares [7] e rigidez<br />

flexural de microtúbulos [8], para medir o comprimento de uma molécula de DNA [9] e<br />

a motili<strong>da</strong>de de espermatozóides humanos [10], para detectar concentrações de<br />

antígenos <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de f<strong>em</strong>tomolares [11] e para observar a ausência de travamento do<br />

movimento de rotação reversa de flagelos motores de bactérias [12]. Além de to<strong>da</strong>s<br />

essas aplicações, muito recent<strong>em</strong>ente, a pinça óptica também t<strong>em</strong> começado a ser<br />

utiliza<strong>da</strong> como uma ferramenta versátil e peça fun<strong>da</strong>mental, <strong>em</strong> conjunto com técnicas<br />

espectroscópicas como, por ex<strong>em</strong>plo, fluorescência e Raman, <strong>na</strong> construção de imagens<br />

e <strong>em</strong> estudos de células isola<strong>da</strong>s e microorganismos flagelados.<br />

2


Nesta Tese de Doutorado tratamos de aspectos teóricos e experimentais<br />

relacio<strong>na</strong>dos à pinça óptica. No capítulo 2, descrev<strong>em</strong>os to<strong>da</strong>s as montagens utiliza<strong>da</strong>s<br />

s<strong>em</strong>, no entanto, relatar os resultados obtidos abrindo uma exceção ape<strong>na</strong>s para os que<br />

envolveram as manipulações com a pinça óptica simples e dupla. Fiz<strong>em</strong>os essa opção<br />

de apresentar todos os sist<strong>em</strong>as experimentais utilizados conjuntamente ao perceber<br />

que os mesmos compartilhavam de equipamentos e procedimentos. Além disso,<br />

também descrev<strong>em</strong>os, s<strong>em</strong> utilizar qualquer modelo quantitativo mais sofisticado,<br />

intuitivamente, o que v<strong>em</strong> a ser a pinça óptica e os pontos teóricos e experimentais mais<br />

relevantes para um bom aproveitamento desse instrumento. Para realizar medi<strong>da</strong>s de<br />

forças de adesão e elastici<strong>da</strong>des, montamos um sist<strong>em</strong>a de pinça dupla <strong>em</strong> que ca<strong>da</strong><br />

uma delas pode ser manipula<strong>da</strong> independent<strong>em</strong>ente. Com isso observamos o intrigante<br />

comportamento de adesão de h<strong>em</strong>ácias entre si. Nossas observações mostram que elas<br />

deslizam facilmente umas sobre as outras, mas se ligam fort<strong>em</strong>ente pelas bor<strong>da</strong>s. Após<br />

a pinça dupla, passamos a detalhar as montagens <strong>da</strong>s aplicações realiza<strong>da</strong>s nessa Tese;<br />

são elas: medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> força óptica <strong>em</strong> função <strong>da</strong> posição do centro <strong>da</strong><br />

partícula <strong>em</strong> relação ao foco do laser e <strong>da</strong> polarização, observação de ressonâncias de<br />

Mie <strong>em</strong> microesferas, acoplamento de espectroscopia com a pinça óptica, calibração <strong>da</strong><br />

pinça óptica e medi<strong>da</strong> de força e elastici<strong>da</strong>de de leishmanias e h<strong>em</strong>ácias.<br />

No capítulo 3 apresentamos primeiramente as ressonâncias de Mie observa<strong>da</strong>s<br />

através <strong>da</strong> fluorescência excita<strong>da</strong> por absorção de dois fótons. Esse foi o ponto de<br />

parti<strong>da</strong> para as observações <strong>da</strong>s mesmas ressonâncias <strong>na</strong>s forças ópticas. Para tanto,<br />

utilizamos a sensibili<strong>da</strong>de e estabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pinça óptica para observar diferenças muito<br />

peque<strong>na</strong>s de espalhamento e detectar as ressonâncias de Mie. Os “MDR modes” ou<br />

ressonâncias de Mie são previstos pelo formalismo de Mie para on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong> e depend<strong>em</strong><br />

do tamanho, forma e índices de refração do objeto espalhador e do meio <strong>em</strong> que está<br />

<strong>em</strong>bebido e são divididos <strong>em</strong> TE e TM. Nós usamos a pinça óptica para excitar esses<br />

modos <strong>em</strong> duas situações: a. através <strong>da</strong> incidência por on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong> e b. depois com o<br />

3


feixe focalizado <strong>na</strong> bor<strong>da</strong> <strong>na</strong>s posições ( R , 00 , ) , ( 0, R , 0)<br />

e ⎡( RR )<br />

⎣<br />

, , 0 / 2⎤<br />

⎦ , utilizando<br />

uma técnica que denomi<strong>na</strong>mos Espectroscopia Ultra‐sensível de Força. Com essa<br />

experiência concluímos que as ressonâncias de Mie depend<strong>em</strong> fort<strong>em</strong>ente <strong>da</strong> posição do<br />

feixe <strong>em</strong> relação à polarização do laser, de forma que pod<strong>em</strong>os excitar seletivamente os<br />

modos TE e TM. Ain<strong>da</strong> nesse mesmo capítulo relatamos a medi<strong>da</strong> dinâmica <strong>da</strong><br />

intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> força óptica <strong>em</strong> função <strong>da</strong> posição do centro ao foco do laser e <strong>da</strong><br />

polarização. Com ele concluímos que a força <strong>da</strong> pinça óptica não é somente anisotrópica<br />

com relação às forças verticais e horizontais, mas também que as próprias forças<br />

horizontais <strong>em</strong> x e y são anisotrópicas entre si, ou seja, não há sequer uma simetria<br />

azimutal, pois as mesmas depend<strong>em</strong> do movimento <strong>da</strong> partícula <strong>em</strong> relação à<br />

polarização do feixe incidente. Para explicar tanto a observação <strong>da</strong>s ressonâncias de Mie<br />

como também a medi<strong>da</strong> dinâmica <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de, tiv<strong>em</strong>os que deixar de lado a teoria<br />

de óptica geométrica, e utilizar a teoria eletromagnética para pinças ópticas, que acabou<br />

se mostrando muito boa <strong>na</strong> descrição dos nossos resultados.<br />

No capítulo 4 apresentamos o nosso sist<strong>em</strong>a de pinça óptica acoplado com as<br />

espectroscopias confocais Raman, Hiper Rayleigh, Hiper Raman e fluorescência por<br />

absorção de dois fótons. Comparamos a performance de nosso sist<strong>em</strong>a “hom<strong>em</strong>ade” de<br />

microanálise com a de outros grupos repetindo suas medi<strong>da</strong>s. Essa comparação<br />

mostrou que nossos t<strong>em</strong>pos de aquisição e relação si<strong>na</strong>l ruído eram iguais ou melhores<br />

do que os apresentados por outros grupos, incluindo os trabalhos de nosso colaborador,<br />

Dr. Katsuhiro Ajito <strong>da</strong> Nippon Telegraph & Telephone do Japão [13]. Além disso, nosso<br />

sist<strong>em</strong>a traz uma inovação <strong>em</strong> relação aos outros sist<strong>em</strong>as de espectroscopia & pinça<br />

óptica pelo fato de estarmos usando lasers de pulsos ultracurtos e um laser sintonizável<br />

para espectroscopia diferente do laser <strong>da</strong> pinça óptica. Com o laser pulsado foi possível<br />

observar espalhamento Hiper Raman e Hiper Rayleigh <strong>na</strong> pinça óptica, um resultado<br />

origi<strong>na</strong>l. O laser de f<strong>em</strong>tosegundos também nos permitiu observar simultaneamente a<br />

luminescência gera<strong>da</strong> por absorção de dois fótons <strong>na</strong> região do visível (500 nm), o<br />

4


espalhamento Raman <strong>na</strong> região do infravermelho próximo (800 nm) e os espalhamentos<br />

Hiper Rayleigh e Hiper Raman <strong>na</strong> região do azul (400 nm). Usualmente, a presença <strong>da</strong><br />

luminescência impede a observação do Raman, mas no nosso caso as regiões espectrais<br />

são <strong>completa</strong>mente diferentes. Talvez uma <strong>da</strong>s maiores vantagens do acoplamento <strong>da</strong><br />

pinça óptica com a espectroscopia é que agregando microanálise à pinça óptica<br />

pod<strong>em</strong>os a<strong>na</strong>lisar a composição e metabolismo de uma única célula, inclusive de células<br />

vivas <strong>em</strong> movimento. Também pod<strong>em</strong>os aproximar e afastar partículas umas <strong>da</strong>s<br />

outras, exercer tensões e forças sobre as mesmas e a<strong>na</strong>lisar as conseqüências dessas<br />

manipulações. O objetivo principal dessa pesquisa foi o de construir um sist<strong>em</strong>a<br />

integrando a habili<strong>da</strong>de de manipulação <strong>da</strong> pinça óptica com a de caracterização <strong>da</strong>s<br />

diferentes técnicas espectroscópicas.<br />

No capítulo 5 tratamos de óptica geométrica, hidrodinâmica e as aplicações<br />

biológicas realiza<strong>da</strong>s com a pinça óptica. Para medi<strong>da</strong>s de forças <strong>em</strong> microesferas<br />

obtiv<strong>em</strong>os, teórica e experimentalmente, as forças ópticas e hidrodinâmica atuantes<br />

sobre essa partícula quando força<strong>da</strong> a movimentar‐se <strong>em</strong> um líquido. Um dos objetivos<br />

de medir forças <strong>em</strong> microesferas é poder determi<strong>na</strong>r forças atuantes <strong>em</strong> partículas de<br />

geometria complexa. O cálculo <strong>da</strong>s forças ópticas e hidrodinâmica <strong>em</strong> objetos que não<br />

são esféricos é praticamente impossível. Assim, a microesfera é usa<strong>da</strong> como um<br />

calibrador cuja precisão está intimamente liga<strong>da</strong> à concordância entre as forças que<br />

ag<strong>em</strong> sobre a mesma. Do mesmo modo que a microesfera sofre um deslocamento <strong>na</strong><br />

direção contrária ao seu movimento no líquido, ela também sofrerá quando estiver<br />

acopla<strong>da</strong> à partícula causadora <strong>da</strong> força que se quer determi<strong>na</strong>r. Pod<strong>em</strong>os usar o<br />

deslocamento como uma medi<strong>da</strong> do valor dessa força. Afi<strong>na</strong>l, ela é igual e contrária à<br />

força óptica, que por sua vez é calibra<strong>da</strong> com esse deslocamento. Retomamos a<br />

calibração desenvolvi<strong>da</strong> <strong>na</strong> Tese de Mestrado, pois apesar de termos obtido resultados<br />

razoáveis, ao longo do Doutorado perceb<strong>em</strong>os a importância do uso <strong>da</strong> esfera<br />

integradora para uma medi<strong>da</strong> mais precisa <strong>da</strong> potência, que <strong>na</strong> época era realiza<strong>da</strong> com<br />

detectores para feixes paralelos e não convergentes, assim como é o caso <strong>da</strong> pinça<br />

5


óptica. Uma medi<strong>da</strong> precisa <strong>da</strong> potência reflete <strong>em</strong> uma calibração mais precisa <strong>da</strong><br />

pinça óptica.<br />

Depois de feita a calibração <strong>da</strong> pinça óptica, calculamos a força do<br />

protozoário Leishmania amazonensis, causador <strong>da</strong> doença Leishmaniose. Agora é o<br />

parasita que causa o deslocamento <strong>na</strong> microesfera. Sabendo o seu valor pod<strong>em</strong>os<br />

quantificar a força deseja<strong>da</strong>. Nesse mesmo capítulo também aplicamos a pinça óptica<br />

para estu<strong>da</strong>r a elastici<strong>da</strong>de de h<strong>em</strong>ácias. O bom des<strong>em</strong>penho <strong>da</strong>s funções dessas células<br />

<strong>na</strong> corrente sangüínea está fort<strong>em</strong>ente ligado à sua capaci<strong>da</strong>de de deformação, que por<br />

sua vez é manti<strong>da</strong> pelas proprie<strong>da</strong>des de elastici<strong>da</strong>de celular e viscosi<strong>da</strong>de de sua<br />

m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong>. A fim de quantificar essas proprie<strong>da</strong>des simulamos a deformação dessas<br />

células no laboratório. Para isso, capturamos as h<strong>em</strong>ácias com a pinça óptica, as<br />

submet<strong>em</strong>os a veloci<strong>da</strong>des constantes e estu<strong>da</strong>mos as forças elástica e hidrodinâmica<br />

que ag<strong>em</strong> sobre a mesma. A determi<strong>na</strong>ção <strong>da</strong> elastici<strong>da</strong>de e viscosi<strong>da</strong>de é muito<br />

importante, pois a partir de uma caracterização de h<strong>em</strong>ácias normais pod<strong>em</strong>os<br />

observar, por ex<strong>em</strong>plo, o quanto as h<strong>em</strong>ácias doentes ou o quanto as h<strong>em</strong>ácias<br />

estoca<strong>da</strong>s para transfusão estão com suas proprie<strong>da</strong>des altera<strong>da</strong>s. Após a caracterização<br />

<strong>da</strong>s h<strong>em</strong>ácias normais estu<strong>da</strong>mos a deformabili<strong>da</strong>de de h<strong>em</strong>ácias de pacientes com<br />

an<strong>em</strong>ia falciforme homozigotos, medicados ou não com hidroxuréia, de h<strong>em</strong>ácias de<br />

doadores de sangue com traço falciforme correlacio<strong>na</strong><strong>da</strong> ao t<strong>em</strong>po de estocag<strong>em</strong> de<br />

bolsas e de h<strong>em</strong>ácias trata<strong>da</strong>s com radiação γ, normalmente transfundi<strong>da</strong>s <strong>em</strong> pacientes<br />

imuno‐suprimidos, também correlacio<strong>na</strong><strong>da</strong> ao t<strong>em</strong>po de estocag<strong>em</strong>. Ao realizar essa<br />

pesquisa perceb<strong>em</strong>os que para se aproveitar to<strong>da</strong> a varie<strong>da</strong>de de aplicações que a pinça<br />

óptica pode nos proporcio<strong>na</strong>r é fun<strong>da</strong>mental entendermos a hidrodinâmica para baixos<br />

números de Reynolds do universo habitado pelos microorganismos, por isso esse<br />

capítulo traz também estudos teóricos nessa área.<br />

Por fim, no último capítulo falamos um pouco <strong>da</strong>s perspectivas abertas pelos<br />

estudos realizados nessa Tese de Doutorado.<br />

6


Capítulo 2<br />

Sist<strong>em</strong>as Experimentais<br />

Neste capítulo descrev<strong>em</strong>os, do ponto de vista experimental, to<strong>da</strong>s as montagens<br />

utiliza<strong>da</strong>s ao longo dessa Tese. Entretanto, não incluímos a apresentação e a discussão<br />

dos resultados, que serão feitas nos capítulos posteriores. Os únicos resultados exibidos<br />

nesse capítulo são aqueles cuja maior dificul<strong>da</strong>de para obtê‐los reside no sist<strong>em</strong>a<br />

experimental e que falam por si próprios s<strong>em</strong> justificar maiores análises. Optamos por<br />

esse modo de apresentação ao perceber que as montagens compartilham de muitos<br />

equipamentos e procedimentos. Dessa forma todos os seus detalhes são então relatados<br />

aqui neste capítulo, s<strong>em</strong> mais detalhes nos capítulos subseqüentes.<br />

Como um fio condutor para as diversas aplicações, adotamos a estratégia de<br />

apresentar: as metas <strong>da</strong> experiência <strong>em</strong> questão, um esqu<strong>em</strong>a <strong>da</strong> montag<strong>em</strong> com a<br />

descrição dos equipamentos e dos detalhes que se mostraram os mais importantes para<br />

o sucesso fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> aplicação, uma discussão dos probl<strong>em</strong>as que nos impediam de<br />

alcançar as metas e, dentro de um ponto de vista exclusivamente intuitivo e<br />

experimental, indicar como foi possível resolver ca<strong>da</strong> um deles.<br />

7


Os sist<strong>em</strong>as experimentais utilizados nessa Tese foram: 1. Pinça óptica simples; 2.<br />

Aplicação <strong>da</strong> pinça óptica simples para medi<strong>da</strong>s de força, elastici<strong>da</strong>de e viscosi<strong>da</strong>de; 3.<br />

Pinça óptica dupla; 4. Espectroscopia de força com pinças ópticas e 5. Espectroscopia<br />

linear (Raman) e não linear (luminescência excita<strong>da</strong> por absorção de dois fótons, Hiper<br />

Rayleigh e Hiper Raman) <strong>em</strong> conjunto com pinças ópticas.<br />

S<strong>em</strong> utilizar qualquer modelo quantitativo mais sofisticado apresentamos as<br />

idéias intuitivas dos fenômenos físicos envolvidos no experimento que nos permit<strong>em</strong><br />

entender as opções de montagens experimentais utiliza<strong>da</strong>s e as dificul<strong>da</strong>des que<br />

apareceram. Foi dessa forma que nós desenvolv<strong>em</strong>os o nosso trabalho, usando a<br />

intuição experimental <strong>na</strong>s montagens e usando uma análise quantitativa sobre os<br />

resultados obtidos como realimentação para a melhora do sist<strong>em</strong>a e a obtenção de<br />

resultados mais precisos.<br />

Assim, iniciamos este capítulo explicando, baseado <strong>na</strong> óptica geométrica, o<br />

princípio básico de funcio<strong>na</strong>mento de uma pinça óptica, o qual é suficiente para definir<br />

variáveis e parâmetros importantes <strong>na</strong> montag<strong>em</strong> e <strong>na</strong> operação dos sist<strong>em</strong>as<br />

experimentais.<br />

2.1 A Pinça Óptica<br />

Uma pinça óptica utiliza as forças de radiação de um laser para capturar e<br />

manipular partículas microscópicas. Os dois equipamentos fun<strong>da</strong>mentais <strong>na</strong> sua<br />

montag<strong>em</strong> são o microscópio, dentro do qual a objetiva t<strong>em</strong> o papel principal, e o laser.<br />

A Figura 1 mostra um esqu<strong>em</strong>a <strong>da</strong> montag<strong>em</strong> experimental <strong>da</strong> nossa pinça óptica<br />

simples. Para entender a importância dos diversos componentes do sist<strong>em</strong>a iniciamos,<br />

de forma intuitiva, com os fenômenos envolvidos <strong>na</strong> captura <strong>da</strong>s partículas por uma<br />

pinça óptica.<br />

8


VCR<br />

Laser<br />

de Nd:YAG<br />

Ocular<br />

Câmera<br />

BS<br />

BS<br />

Telescópio<br />

M1<br />

Figura 1. Sist<strong>em</strong>a Experimental de Pinça Óptica simples.<br />

2.1.1 Princípio Básico de Funcio<strong>na</strong>mento: Transferência de Momento do Fóton<br />

A forma mais simples de entender o princípio de operação de uma pinça óptica é<br />

através <strong>da</strong> óptica geométrica (aplica<strong>da</strong> quando r >> λ , onde r é o raio <strong>da</strong> partícula e λ é<br />

o comprimento de on<strong>da</strong>) a<strong>na</strong>lisando a trajetória dos raios e associando‐os a uma<br />

<br />

partícula, o fóton, que transporta momento p = hν<br />

c (no vácuo). Um obstáculo que<br />

mu<strong>da</strong> ape<strong>na</strong>s a direção do fóton recebe um impulso <strong>na</strong> direção <strong>da</strong> bissetriz do ângulo<br />

entre os fótons incidentes e refratados, como se fosse um choque entre partículas,<br />

conforme ilustra a Figura 2.<br />

direção<br />

<strong>da</strong> força<br />

p <br />

refratado<br />

p <br />

incidente<br />

incidente<br />

recuo <strong>da</strong> partícula<br />

que desviou o raio<br />

9<br />

∆ p<br />

partícula<br />

p <br />

incidente<br />

p <br />

refratado<br />

∆ p<br />

fóton<br />

Figura 2. Choque entre fóton e centro espalhador.<br />

Os trabalhos pioneiros de A. Ashkin <strong>em</strong> levitação de partículas iniciaram‐se com<br />

a utilização de feixes de lasers contra‐propagantes [14, 15, 16, 17] até que notou que<br />

ape<strong>na</strong>s um feixe altamente focalizado era suficiente para capturá‐las [18, 1]. Foi só a<br />

partir desse momento que essa técnica experimental passou a ser chama<strong>da</strong> de pinça<br />

óptica.


Para entender como um único feixe altamente focalizado é capaz de capturar<br />

uma partícula, mesmo contra um campo gravitacio<strong>na</strong>l, vamos a<strong>na</strong>lisar ape<strong>na</strong>s a<br />

trajetória de dois raios meridio<strong>na</strong>is, simétricos, que se encontrariam com o eixo z <strong>na</strong><br />

posição z<br />

0<br />

se não sofress<strong>em</strong> desvio devido ao centro espalhador. Vamos considerar que<br />

a partícula espalhadora é uma esfera com o eixo <strong>na</strong> vertical oposto à gravi<strong>da</strong>de,<br />

conforme pode ser visto <strong>na</strong> Figura 3 e <strong>na</strong> Figura 4. Pod<strong>em</strong> ocorrer quatro situações<br />

distintas dependendo se o índice de refração <strong>da</strong> esfera n1 for maior, ou menor, do que o<br />

índice de refração do meio externo n2, e se a posição do foco é positiva, z<br />

0<br />

> 0, ou<br />

negativa, z<br />

0<br />

< 0. Quando n1 > n2, o raio se aproxima <strong>da</strong> normal ao entrar <strong>na</strong> partícula e se<br />

afasta <strong>da</strong> mesma ao sair. O oposto ocorre se n1 < n2. Assim, para n1 > n2 e z<br />

0<br />

> 0, a<br />

trajetória será como mostra a Figura 3 a. Já se n1 > n2 e z<br />

0<br />

< 0, será como <strong>na</strong> Figura 3 b.<br />

Nota‐se então que a diferença entre esses casos, z<br />

0<br />

> 0 e z<br />

0<br />

< 0, é que o raio se incli<strong>na</strong><br />

para “baixo” ou para “cima”. A situação se inverte quando n1 < n2, conforme apresenta a<br />

Figura 4.<br />

raio incidente<br />

raio incidente<br />

z 0<br />

g<br />

z 0<br />

n 1<br />

> n 2<br />

z 0 > 0<br />

raio refratado n 1<br />

> n 2<br />

z 0 < 0<br />

raio refratado<br />

Figura 3. Trajetórias dos raios para n1 > n2.<br />

g<br />

raio incidente<br />

raio incidente<br />

raio refratado<br />

z 0<br />

n 1 < n 2<br />

z 0 > 0<br />

z 0<br />

raio refratado<br />

n 1 < n 2<br />

z 0 < 0<br />

Figura 4. Trajetórias dos raios para n1 < n2.<br />

10


Essa análise nos permite entender como um único feixe de laser pode capturar<br />

uma partícula, inclusive se opondo à gravi<strong>da</strong>de, no caso n1 > n2, e como a partícula é<br />

expulsa do foco do laser no caso oposto. Para tanto, vamos considerar o foco <strong>na</strong> posição<br />

z<br />

0<br />

> 0 no eixo vertical e a<strong>na</strong>lisar ape<strong>na</strong>s as trajetórias de dois raios opostos a e b nos dois<br />

casos, n1 > n2 e n1 < n2.<br />

a<br />

raios incidentes<br />

b<br />

a<br />

Fa<br />

z 0<br />

Fb<br />

Fa<br />

Fb<br />

b<br />

raios refratados<br />

n 1 > n 2<br />

Figura 5. Forças e trajetórias de dois raios para o caso n1 > n2.<br />

a<br />

a<br />

raios incidentes<br />

b<br />

Fa<br />

b<br />

raios refratados<br />

z 0<br />

Fa<br />

Fb<br />

Fb<br />

n 1<br />

< n 2<br />

Figura 6. Forças e trajetórias de dois raios para o caso n1 < n2.<br />

Na Figura 5, nota‐se que as componentes horizontais se anulam e a força<br />

resultante é para “cima”, oposta à gravi<strong>da</strong>de, tendendo a trazer o centro <strong>da</strong> partícula<br />

para o foco do laser. Já <strong>na</strong> Figura 6, a força resultante é para “baixo”, <strong>na</strong> direção <strong>da</strong><br />

gravi<strong>da</strong>de, tendendo a afastar o centro <strong>da</strong> partícula do foco do laser. A Figura 7 ilustra<br />

os raios e a direção <strong>da</strong> força para o foco do laser <strong>em</strong> diferentes posições no caso n1 >n2.<br />

Delas, se compreende que, se n1 > n2, a força é restauradora tendendo s<strong>em</strong>pre a trazer o<br />

centro <strong>da</strong> partícula para o foco do laser, e se n1 < n2 a tendência é expulsar a esfera do<br />

foco do laser.<br />

11


Figura 7. Forças de dois raios para o caso n1 < n2 e várias posições de foco.<br />

2.1.2 Influência <strong>da</strong> Reflexão e Absorção <strong>na</strong> Força Óptica<br />

Desconsiderando as reflexões, a força óptica seria nula quando o foco do laser<br />

coincidisse com o centro <strong>da</strong> esfera. Entretanto, associado à refração que desvia a<br />

trajetória dos raios, s<strong>em</strong>pre existe uma reflexão cuja intensi<strong>da</strong>de para incidência normal<br />

2<br />

é <strong>da</strong><strong>da</strong> por R = [( n2 − n1<br />

) /( n2<br />

+ n1<br />

)] . Os fótons refletidos tend<strong>em</strong> a expulsar a esfera do<br />

foco do laser conforme mostra a Figura 8 a. Dessa forma, a reflexão gera uma força que<br />

se contrapõe à força restauradora <strong>da</strong> pinça óptica. Normalmente a reflexão é muito<br />

menor que a transmissão, mas conforme a razão entre os índices de refração<br />

n n 2 1<br />

aumenta, o papel <strong>da</strong> reflexão será ca<strong>da</strong> vez mais significativo, impedindo a<br />

operação <strong>da</strong> pinça óptica quando n1 >> n2.<br />

Figura 8. (a). Efeito <strong>da</strong> reflexão <strong>na</strong> força óptica. (b). Efeito radiômetro.<br />

Não só a reflexão pode impossibilitar a captura de uma partícula pela pinça<br />

óptica, mas também a absorção. A absorção t<strong>em</strong> dois efeitos: direto, por transferência de<br />

momento de um fóton, que desaparece como se fosse um choque plástico e que também<br />

tende a expulsar a partícula do foco do laser, e indireto, através do calor gerado pela<br />

absorção do fóton. Nesse caso pode ocorrer o “efeito radiômetro” se a parte <strong>da</strong> partícula<br />

<strong>em</strong> que o feixe incide se tor<strong>na</strong> mais aqueci<strong>da</strong> do que a parte oposta. Quando aparece um<br />

12


gradiente de t<strong>em</strong>peratura assimétrico entre amostra e o meio externo, as moléculas do<br />

fluido que ating<strong>em</strong> a superfície <strong>da</strong> partícula adquir<strong>em</strong> maior veloci<strong>da</strong>de por aumento<br />

de t<strong>em</strong>peratura e são relança<strong>da</strong>s, transferindo a diferença de momento para a partícula.<br />

A Figura 8 b ilustra esse efeito que também tende a expulsar a partícula <strong>da</strong> armadilha<br />

óptica.<br />

Mesmo que o efeito térmico seja pequeno do ponto de vista <strong>da</strong> força ele deve ser<br />

evitado ao máximo, pois um dos principais objetivos <strong>da</strong> pinça óptica é capturar e<br />

estu<strong>da</strong>r partículas biológicas vivas, s<strong>em</strong> <strong>da</strong>nificá‐las termicamente. A maior parte <strong>da</strong>s<br />

substâncias orgânicas presentes tende a ter alta absorção <strong>na</strong> região do visível onde<br />

encontram as ressonâncias eletrônicas dos elétrons de valência. A absorção dos modos<br />

vibracio<strong>na</strong>is tende a ocorrer no infravermelho mais longínquo, deixando uma janela no<br />

infravermelho próximo com pouca absorção, conforme mostra a Figura 9, <strong>na</strong> qual<br />

apresentamos os espectros de absorção <strong>da</strong> melani<strong>na</strong> e <strong>da</strong> h<strong>em</strong>oglobi<strong>na</strong>. A água, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, o componente mais abun<strong>da</strong>nte <strong>em</strong> todos os nossos estudos, possui linhas de<br />

absorção pouco intensas <strong>na</strong> região de 1.4 µm e muito fortes <strong>na</strong> região de 2.7 µm. Além<br />

<strong>da</strong> absorção, o espalhamento Rayleigh que também tende a expulsar a partícula<br />

captura<strong>da</strong> cai proporcio<strong>na</strong>lmente ao fator<br />

4<br />

1 λ no infravermelho. Nas primeiras<br />

d<strong>em</strong>onstrações de uso <strong>da</strong> pinça óptica, Ashkin utilizou um laser de Argônio no visível,<br />

para capturar partículas inorgânicas <strong>em</strong> água. Entretanto, bactérias apareceram após<br />

certo t<strong>em</strong>po e ele observou que elas morriam depois de captura<strong>da</strong>s por t<strong>em</strong>pos <strong>da</strong><br />

ord<strong>em</strong> de 3 a 5 minutos, dependendo <strong>da</strong> potência do laser [19]. Isso lhe chamou a<br />

atenção para a importância <strong>da</strong>s aplicações <strong>da</strong> pinça óptica <strong>em</strong> sist<strong>em</strong>as biológicos vivos<br />

e <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de evitar <strong>da</strong>nos térmicos aos mesmos. Para tanto, a idéia foi trocar o<br />

comprimento o laser para o infravermelho próximo [2]. Por isso, usou o laser comercial<br />

mais comum nessa região, o Nd:YAG, operando <strong>na</strong> região de 1064 nm, conforme<br />

também ilustra a Figura 9.<br />

13


H<strong>em</strong>oglobi<strong>na</strong><br />

Absorção%<br />

(%)<br />

Melani<strong>na</strong><br />

Vísivel Visível<br />

Infravermelho<br />

Ti:safira<br />

Argônio Nd:YAG<br />

Nd:YAG<br />

dobrado<br />

comprimento Comprimento<br />

de on<strong>da</strong>nm<br />

(nm)<br />

Figura 9. Espectro de absorção <strong>da</strong> melani<strong>na</strong> e h<strong>em</strong>oglobi<strong>na</strong>.<br />

2.1.3 Ord<strong>em</strong> de Grandeza <strong>da</strong> Força Óptica e Dimensões <strong>da</strong>s Partículas Captura<strong>da</strong>s<br />

Uma estimativa superior <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de grandeza <strong>da</strong> força <strong>da</strong> pinça óptica pode<br />

ser feita supondo que um feixe de laser unidirecio<strong>na</strong>l com 1 W de potência seja<br />

<strong>completa</strong>mente absorvido pelo objeto. Neste caso a força será <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />

o<br />

−<br />

dp n fótons potência hν<br />

F = = × p<br />

potência<br />

fóton = × =<br />

dt t<strong>em</strong>po hν<br />

c c<br />

(2. 1)<br />

Aqui vale ressaltar que, muito antes do conceito de fótons como partículas,<br />

Maxwell já d<strong>em</strong>onstrara que a força transmiti<strong>da</strong> por uma on<strong>da</strong> eletromagnética era<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />

ord<strong>em</strong> de:<br />

F = potência<br />

c . Usando essa expressão, t<strong>em</strong>os que o valor <strong>da</strong> força será <strong>da</strong><br />

1 W<br />

−9<br />

F = = 3×<br />

10 N<br />

8<br />

3×<br />

10 m/s<br />

(2. 2)<br />

Na prática ape<strong>na</strong>s 100 a 200 mW de laser incide <strong>na</strong> partícula e os fótons são<br />

ape<strong>na</strong>s desviados, e não <strong>completa</strong>mente absorvidos, de modo que as força ópticas são<br />

b<strong>em</strong> menores do que nN. Forças máximas <strong>da</strong> pinça óptica são <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 100 pN.<br />

Apesar de muito peque<strong>na</strong>s são forças consideráveis para partículas microscópicas.<br />

Suponha que o objeto capturado é uma partícula cúbica de 1 µm de aresta com<br />

densi<strong>da</strong>de igual a <strong>da</strong> água, ou seja<br />

3 3 −6 3 3 −15<br />

m = (10 kg/m ) × (10 ) m = 10 kg . Nesse caso a<br />

aceleração causa<strong>da</strong> por uma força óptica de 100 pN vale a= F m =<br />

−10 −15 5 2 4<br />

10 N 10 kg = 10 m/s = 10 ×g , onde g é a aceleração <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong>de. Tomando uma<br />

14


partícula 10 vezes maior, a massa cresce e a aceleração decresce, por um fator 10 3 , ain<strong>da</strong><br />

<strong>na</strong> faixa de 10 g’s. Entretanto para partículas com 100 µm a aceleração seria 10 ‐2 g’s, já<br />

desprezível frente a outras interações microscópicas. Dessa forma, fica claro que a<br />

aceleração causa<strong>da</strong> pela força do laser só é considerável para partículas menores do que<br />

50 µm.<br />

Em princípio, a força óptica não t<strong>em</strong> limite inferior, pois a potência do laser pode<br />

ser nula. Entretanto, a menor força óptica que pod<strong>em</strong>os detectar é <strong>da</strong><strong>da</strong> pela menor<br />

força ain<strong>da</strong> capaz de aprisio<strong>na</strong>r uma partícula <strong>da</strong> mesma ord<strong>em</strong> de grandeza <strong>da</strong>s forças<br />

causa<strong>da</strong>s pelo movimento browniano gerado a partir de flutuações térmicas. Para uma<br />

estimativa desse limite inferior, vamos considerar a pinça óptica como um oscilador<br />

harmônico com constante elástica K(P), proporcio<strong>na</strong>l à potência do laser incidente. Pelo<br />

teor<strong>em</strong>a de eqüipartição de energia t<strong>em</strong>os:<br />

2<br />

Kδx kT B<br />

kT B<br />

= ⇒ δ x = (2. 3)<br />

2 2<br />

K<br />

onde T é a t<strong>em</strong>peratura, kB é a constante de Boltzmann e<br />

δ x o deslocamento causado<br />

pelo movimento browniano. Portanto, a expressão para a força devido às flutuações é<br />

F = K( P) δ x=<br />

K( P)<br />

k T . Para estimar seu valor basta saber a constante elástica K(P)<br />

flut<br />

B<br />

<strong>da</strong> pinça. Usando nossas medi<strong>da</strong>s de calibração descritas no capítulo 5, obtiv<strong>em</strong>os uma<br />

constante elástica para potência de 70 mW do laser <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de<br />

−6<br />

K(100mW) = 18× 10 N/m . Utilizando esse valor de K para T = 300 K t<strong>em</strong>os<br />

F flut = 027pN . = 270fN. Diminuindo a potência do laser por um fator de 100, para 1 mW,<br />

cai pelo mesmo fator e a força de flutuação por um fator de 10, ou seja pod<strong>em</strong>os<br />

considerar<br />

F flut = 27 fN como o limite inferior para nossa medi<strong>da</strong> de força. Por outro<br />

lado baixas potências limitam a força máxima, logo a estratégia é usar potências altas<br />

para medir forças altas e baixas potências para medi<strong>da</strong> de forças peque<strong>na</strong>s.<br />

Partículas muito peque<strong>na</strong>s adquir<strong>em</strong> facilmente energia cinética suficiente para<br />

escapar do potencial óptico. Nas condições experimentais típicas <strong>em</strong> líquidos à<br />

15


t<strong>em</strong>peratura ambiente, a pinça óptica pode aprisio<strong>na</strong>r partículas com dimensão até <strong>da</strong><br />

ord<strong>em</strong> de 50 nm, abaixo do limiar de resolução típica de 200 nm dos microscópios<br />

ópticos. Embora partículas dessa dimensão não sejam visíveis seu aprisio<strong>na</strong>mento pode<br />

ser detectado com técnicas espectroscópicas. Dessa forma a pinça é capaz de manipular<br />

partículas com dimensões entre 50 nm a 50 µm, o que a tor<strong>na</strong> uma ferramenta ideal para<br />

estudos de células e microorganismos.<br />

2.1.4 Laser de Nd:YAG<br />

Na nossa pinça óptica usamos um laser de Nd:YAG modelo 3800 S <strong>da</strong> Spectra<br />

Physics operando <strong>em</strong> modo contínuo (“continuous wave” – cw) no comprimento de<br />

on<strong>da</strong> de λ = 1064 nm. Trata‐se de um laser comercial de alta potência, mais de 10 W<br />

(exist<strong>em</strong> lasers de Nd:YAG com cente<strong>na</strong>s de W), com o comprimento de on<strong>da</strong> b<strong>em</strong> <strong>na</strong><br />

janela deseja<strong>da</strong>, conforme mostrou a Figura 9 acima, e excelente quali<strong>da</strong>de de modo,<br />

geralmente TEM00, tor<strong>na</strong>ndo‐o a ferramenta ideal para a pinça óptica. É um laser de<br />

estado sólido capaz de operar por deze<strong>na</strong>s de anos ape<strong>na</strong>s com troca <strong>da</strong>s lâmpa<strong>da</strong>s de<br />

bombeio e reposição <strong>da</strong> água deioniza<strong>da</strong>.<br />

O principal componente desse laser é o íon de terra rara Nd 3+ <strong>em</strong>bebido <strong>em</strong> um<br />

cristal de YAG (Ytrium, Aluminium, Garnet – Y3Al5O12) no qual o Nd entra <strong>em</strong><br />

substituição ao Y, já <strong>em</strong> um ambiente químico balanceado do ponto de vista <strong>da</strong>s 3<br />

cargas negativas à sua volta. O Nd faz parte <strong>da</strong> família dos Lantanídeos, terras raras<br />

com orbitais 4f incompletos, <strong>em</strong> que quase todos os el<strong>em</strong>entos, exceto o Promécio por<br />

ser radioativo, são utilizados como meios laser ativos (Figura 10). O estado de oxi<strong>da</strong>ção<br />

usual <strong>da</strong>s terras raras é 3, que quase s<strong>em</strong>pre se apresentam <strong>na</strong> forma de íons trivalentes.<br />

Para tanto elas perd<strong>em</strong> dois elétrons do orbital 6s e um dos orbitais 4f. Entretanto, as<br />

funções de on<strong>da</strong> dos orbitais 5p, mesmo com energias mais baixas do que os 4f, são<br />

mais espalha<strong>da</strong>s espacialmente. O orbital 5p completo cria uma distribuição esférica de<br />

cargas que blin<strong>da</strong> os elétrons dos orbitais 4f de campos elétricos e magnéticos de<br />

átomos vizinhos. Dessa forma os níveis 4f se modificam muito pouco quando colocados<br />

16


<strong>em</strong> diferentes hospedeiros, mantendo quase intacta a estrutura de níveis do átomo<br />

isolado.<br />

2<br />

4<br />

12<br />

20<br />

38<br />

56<br />

2p 6<br />

1s 2<br />

2s 2<br />

3s 2 3p 6<br />

3d 10<br />

4s 2 4p 6<br />

4d 10<br />

4f n<br />

5s 2<br />

5p 6<br />

6s<br />

Lantânideos<br />

Figura 10. Distribuição dos elétrons <strong>em</strong> cama<strong>da</strong>s para as terras raras.<br />

Quando colocados <strong>em</strong> um hospedeiro sólido, os níveis tend<strong>em</strong> a se alargar por<br />

influência dos fônons, a se deslocar por algumas cente<strong>na</strong>s de cm ‐1 ape<strong>na</strong>s devido ao<br />

efeito Stark e a quebrar a degenerescência magnética <strong>em</strong> J. O Nd 3+ possui três elétrons<br />

nos orbitais 4f que dev<strong>em</strong> ser colocados segundo o esqu<strong>em</strong>a de Russel‐Saunders, no<br />

qual os spins S e os momentos angulares orbitais L se somam independent<strong>em</strong>ente, para<br />

<br />

fi<strong>na</strong>lmente <strong>da</strong>r orig<strong>em</strong> ao momento angular total J = L + S , cujos números quânticos<br />

variam de<br />

L − S até L + S . Para íons com menos <strong>da</strong> metade <strong>da</strong> cama<strong>da</strong> cheia, o estado<br />

fun<strong>da</strong>mental corresponde ao menor J. A Figura 11 mostra a disposição dos 3 elétrons do<br />

Nd 3+ no estado de energia mais baixa. Somando os spins, obt<strong>em</strong>os S = ½+ ½ + ½ = 3/2 , e<br />

somando os m’s obt<strong>em</strong>os L = 3+2+1 = 6.<br />

+3 +2 +1 0 -1 -2 -3<br />

Figura 11. Disposição dos elétrons de Nd 3+ segundo a regra de Russel‐Saunders.<br />

A notação espectroscópica é <strong>da</strong> forma 2S+1 LJ, usando as letras S, P, D, F, G, H, I, J,<br />

etc para L = 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 etc. No caso do Nd 3+ , então, 2S+1 = 4, L = 6 = I, e o menor J<br />

= 6 ‐ 3/2 = 9/2, portanto o estado fun<strong>da</strong>mental é 4 I9/2 com degenerescência 10. Os<br />

próximos 4 principais níveis excitados correspond<strong>em</strong> ape<strong>na</strong>s aos J’s seguintes de 11/2<br />

até 15/2. Níveis superiores são <strong>da</strong>dos por rearranjos dos elétrons entre os m’s. A<br />

17


<strong>em</strong>issão laser <strong>em</strong> 1064 nm ocorre entre os níveis 4 F3/2 e 4 I11/2, conforme ilustrado <strong>na</strong><br />

Figura 12 onde v<strong>em</strong>os o diagrama de níveis do Nd 3+ . Esse é um sist<strong>em</strong>a laser de 4 níveis,<br />

no qual elétrons fotoexcitados para os níveis acima do 4 F3/2 rapi<strong>da</strong>mente deca<strong>em</strong> para o<br />

mesmo, não radiativamente, via <strong>em</strong>issão de fônons devido à peque<strong>na</strong> separação entre<br />

esses níveis. A <strong>em</strong>issão de fônons do nível 4 F3/2 é muito peque<strong>na</strong> pois seriam necessários<br />

muitos fônons para atingir o nível mais próximo 4 I15/2. Por isso esse estado t<strong>em</strong> um<br />

t<strong>em</strong>po de vi<strong>da</strong> razoavelmente longo, <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 200 µs. Já os elétrons dos níveis 4 I11/2<br />

até 4 I15/2 deca<strong>em</strong> rapi<strong>da</strong>mente para o estado fun<strong>da</strong>mental por <strong>em</strong>issão de fônons <strong>em</strong><br />

cascata. As duas linhas principais utiliza<strong>da</strong>s nos lasers de Nd:YAG são a de 1064 nm, a<br />

mais intensa, do nível 4 F3/2 para o 4 I11/2, e a de 1350 nm, do 4 F3/2 para o 4 I13/2, conforme<br />

pod<strong>em</strong>os ver <strong>na</strong> Figura 12. O bombeio é feito opticamente usando as ban<strong>da</strong>s <strong>em</strong> torno<br />

de 800 nm, 750 nm e 580 nm, marca<strong>da</strong>s com setas pretas. A Figura 13 mostra o espectro<br />

de absorção do Nd 3+ no YAG.<br />

2.4<br />

Níveis de Energia do Nd 3+<br />

4 G 7/2 1064 nm<br />

2.0<br />

4 G 5/2<br />

2 H 11/2<br />

Energia (eV)<br />

1.6<br />

1.2<br />

0.8<br />

4 S 3/2 4 F 7/2<br />

2 H 9/2<br />

4 F 9/2<br />

4 F 5/2<br />

4 F 3/2<br />

1350 nm<br />

4 I 15/2<br />

0.4<br />

4 I 13/2<br />

0.0<br />

4 I 11/2<br />

4 I 9/2<br />

Figura 12. Diagrama de níveis do Nd:YAG.<br />

Para bombeio de lasers cw se usa lâmpa<strong>da</strong>s de arco de Kriptônio <strong>em</strong> alta pressão<br />

cujas linhas se ajustam b<strong>em</strong> ao espectro de excitação do Nd 3+ . Essa lâmpa<strong>da</strong>, <strong>na</strong> forma<br />

18


de um tubo de comprimento igual ao do bastão de Nd:YAG, <strong>em</strong> torno de 10 cm, é<br />

coloca<strong>da</strong> no foco de uma cavi<strong>da</strong>de elíptica com o bastão de YAG no outro foco. Dessa<br />

forma todos os raios <strong>em</strong>itidos pela lâmpa<strong>da</strong> atingirão o bastão. Uma opção mais barata<br />

é a lâmpa<strong>da</strong> de Xenônio. Hoje também t<strong>em</strong> se tor<strong>na</strong>do comum o uso de lasers de diodo<br />

como fonte de bombeio, devido à vantag<strong>em</strong> de melhor casamento <strong>da</strong>s linhas e menor<br />

geração de calor. Entretanto, os lasers de diodo tend<strong>em</strong> a ter vi<strong>da</strong> curta e são muito<br />

mais caros do que as lâmpa<strong>da</strong>s de Kriptônio. O laser de Nd:YAG cw funcio<strong>na</strong> muito<br />

b<strong>em</strong>, mesmo com uma tecnologia antiqua<strong>da</strong>, sendo estável e s<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as de<br />

operação. Um estoque de lâmpa<strong>da</strong>s pode mantê‐lo operacio<strong>na</strong>l por déca<strong>da</strong>s, s<strong>em</strong><br />

maiores necessi<strong>da</strong>des de manutenção e importações.<br />

absorção<br />

Absorbância<br />

500 600 700 800 900<br />

comprimento de on<strong>da</strong><br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

Figura 13. Espectro de absorção do laser de Nd:YAG.<br />

O nível 4 I11/2 está <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 200 meV do estado fun<strong>da</strong>mental, ou seja, <strong>em</strong> torno<br />

de 10 KBT para 300 K, t<strong>em</strong>peratura ambiente. Porém, se a t<strong>em</strong>peratura aumenta para<br />

600 K, esses níveis já pod<strong>em</strong> ser termicamente populados com o fator de<br />

−5<br />

e , tor<strong>na</strong>ndo o<br />

t<strong>em</strong>po de decaimento para o estado fun<strong>da</strong>mental mais longo, prejudicando a in<strong>versão</strong><br />

de população e o des<strong>em</strong>penho do laser. Por isso, o laser de Nd:YAG é refrigerado.<br />

Entretanto, a parti<strong>da</strong> <strong>da</strong> lâmpa<strong>da</strong> de arco de Kriptônio se dá através de uma descarga<br />

de alta tensão. Assim, se a água de refrigeração <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> lâmpa<strong>da</strong> apresentar<br />

resistência menor do que a do gás dentro <strong>da</strong> lâmpa<strong>da</strong>, a descarga ocorrerá pela água,<br />

19


não ionizando o gás <strong>da</strong> lâmpa<strong>da</strong>. Dessa forma, é fun<strong>da</strong>mental que se utilize água<br />

bidestila<strong>da</strong> e deioniza<strong>da</strong> <strong>na</strong> refrigeração <strong>da</strong> lâmpa<strong>da</strong> e do bastão de Nd:YAG. A fonte<br />

do laser já v<strong>em</strong> com colu<strong>na</strong>s para deionizar a água que requer<strong>em</strong> manutenção<br />

periódica. A extração fi<strong>na</strong>l de calor se dá por troca de calor entre o circuito primário <strong>da</strong><br />

água deioniza<strong>da</strong> e um circuito secundário de água comum ou refrigera<strong>da</strong>. O controle<br />

grosso <strong>da</strong> potência do laser é feito através <strong>da</strong> corrente <strong>da</strong> lâmpa<strong>da</strong> de bombeio.<br />

O bastão de Nd:YAG é cortado <strong>em</strong> ângulo de Brewster de modo que o laser sai<br />

polarizado, pois a per<strong>da</strong> por reflexão para a polarização s <strong>em</strong> cente<strong>na</strong>s de i<strong>da</strong>s e vin<strong>da</strong>s<br />

<strong>na</strong> cavi<strong>da</strong>de é muito grande para competir com a polarização p. Em alta potência,<br />

entretanto, pod<strong>em</strong>os observar 4 lóbulos <strong>na</strong> luz transmiti<strong>da</strong> por um polarizador cruzado.<br />

Esse efeito se deve a birrefringência termicamente induzi<strong>da</strong> no bastão pelo gradiente de<br />

t<strong>em</strong>peratura, que vai tor<strong>na</strong>ndo os raios fora dos eixos x e y elipticamente polarizados.<br />

Para garantir um bom modo <strong>da</strong> luz <strong>em</strong>iti<strong>da</strong> se coloca uma abertura intracavi<strong>da</strong>de no<br />

laser. A forma correta de alinhamento do laser para se ter um bom modo TEM00 é,<br />

primeiro retirar essa abertura, e depois buscar o máximo de potência alinhando os<br />

espelhos de trás e <strong>da</strong> frente. Só depois se recoloca a abertura movendo‐a lateralmente<br />

até encontrar o máximo de potência. Daí, se pode repetir o procedimento até não mais<br />

ser possível melhorar o valor <strong>da</strong> potência. Para exami<strong>na</strong>r o modo, abrimos o feixe com<br />

uma lente divergente e observamos se a figura forma<strong>da</strong> <strong>em</strong> um anteparo está b<strong>em</strong><br />

circular. Alguns pesquisadores prefer<strong>em</strong> utilizar o modo <strong>na</strong> forma de “donought” do<br />

laser, Figura 14, com o argumento de que os raios próximos do eixo do cone de luz<br />

incidente não geram forças <strong>na</strong> direção vertical. Nesse caso é necessário colocar uma<br />

abertura também <strong>na</strong> forma de “donought” <strong>em</strong> substituição à abertura circular dentro <strong>da</strong><br />

cavi<strong>da</strong>de do laser.<br />

a. b.<br />

Figura 14. Modos dos laser. a. TEM00 e b.“donought”.<br />

20


2.1.5 Outros Lasers Comumente Utilizados <strong>na</strong> Pinça Óptica<br />

T<strong>em</strong> sido comum o uso de lasers de diodo para pinça óptica que <strong>em</strong>it<strong>em</strong> <strong>na</strong><br />

região de 800 nm e utilizam como transições laser a recombi<strong>na</strong>ção de portadores <strong>da</strong><br />

ban<strong>da</strong> de condução para a ban<strong>da</strong> de valência. A grande vantag<strong>em</strong> desse laser é que o<br />

bombeio é realizado simplesmente por injeção de portadores, ou seja, através de uma<br />

corrente elétrica. Esses lasers, entretanto, têm apresentado probl<strong>em</strong>as de baixa potência<br />

e péssima quali<strong>da</strong>de do modo. Isso porque a região <strong>da</strong> junção p‐n que <strong>em</strong>ite luz nesses<br />

lasers é retangular, levando a modos elípticos, como ilustra a Figura 15.<br />

ban<strong>da</strong> de condução<br />

ban<strong>da</strong> de valência<br />

Figura 15. Laser de diodo.<br />

Ao focalizar modos desse tipo se perde boa parte <strong>da</strong> energia localiza<strong>da</strong> no foco<br />

do laser, pode‐se s<strong>em</strong>pre tentar torná‐los mais quadrados usando prismas a<strong>na</strong>mórficos<br />

ou “limpar” o modo com um filtro espacial, mas isso é geralmente obtido às custas de<br />

per<strong>da</strong> de potência. Nossa experiência com esses lasers mostra pinças com pouca força,<br />

limita<strong>da</strong>s <strong>em</strong> torno de 10 pN. Lasers de Nd:YAG operam facilmente com 10 W<br />

enquanto os lasers de diodo usualmente têm potências abaixo de 1 W. Lasers de diodo<br />

com maiores potências geralmente têm t<strong>em</strong>pos de vi<strong>da</strong> b<strong>em</strong> mais curtos e preços muito<br />

mais altos.<br />

Outra desvantag<strong>em</strong> dos lasers de diodo v<strong>em</strong> dos <strong>da</strong>nos térmicos no<br />

comprimento de on<strong>da</strong> <strong>em</strong> torno de 800 nm, b<strong>em</strong> maiores do que <strong>em</strong> 1064 nm. Apesar de<br />

não ser necessário usar 10 W <strong>na</strong> pinça óptica, é s<strong>em</strong>pre desejável ter mais potência do<br />

que o mínimo necessário. Boa parte <strong>da</strong> potência será perdi<strong>da</strong> <strong>na</strong> abertura <strong>da</strong> objetiva e<br />

<strong>na</strong>s reflexões de suas lentes. Isso porque to<strong>da</strong>s as objetivas vêm com “coating antirefletor”<br />

para o visível para evitar o aparecimento de artefatos <strong>na</strong> imag<strong>em</strong> devido a<br />

múltiplas reflexões <strong>em</strong> suas superfícies. Esse “coating anti‐refletor” para o visível acaba<br />

21


aumentando a reflexão no infravermelho, de modo que ape<strong>na</strong>s de 8‐10% <strong>da</strong> luz do<br />

Nd:YAG é transmiti<strong>da</strong> pela objetiva. Só ultimamente têm aparecido objetivas com<br />

“coating anti‐refletor” para o visível e o infravermelho simultaneamente, devido<br />

exatamente ao uso de lasers <strong>em</strong> microscopia, como microscopia confocal e pinças<br />

ópticas. Uma pinça óptica “fraca” se tor<strong>na</strong> incapaz de capturar microorganismos vivos<br />

com capaci<strong>da</strong>de motora, principalmente os flagelados, pois ao se debater<strong>em</strong> acabam<br />

escapando pela direção de menor força, geralmente <strong>na</strong> vertical. O grande teste <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong>de de uma pinça é sua capaci<strong>da</strong>de de capturar espermatozóides, um dos<br />

campeões entre os microorganismos flagelados, com forças <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 50 pN [10].<br />

2.1.6 Microscópio Óptico Simples<br />

O quadro intuitivo traçado até aqui pode nos aju<strong>da</strong>r a entender a importância<br />

dos diversos componentes <strong>da</strong> montag<strong>em</strong> experimental <strong>da</strong> pinça óptica, iniciando pelo<br />

microscópio, e dentro dele, <strong>da</strong> objetiva. Nossa descrição do microscópio irá se restringir<br />

aos aspectos importantes para a operação <strong>da</strong> pinça óptica. A Figura 16 mostra um objeto<br />

e sua imag<strong>em</strong> obti<strong>da</strong> através de uma objetiva de aumento m.<br />

h<br />

‘ X<br />

f<br />

X<br />

H<br />

Figura 16. Formação de imag<strong>em</strong>.<br />

Usando a regra <strong>da</strong> óptica geométrica de que raios que passam pelo foco sa<strong>em</strong><br />

paralelos e raios que entram paralelos passam pelo foco no plano <strong>da</strong> imag<strong>em</strong>, obt<strong>em</strong>os<br />

por s<strong>em</strong>elhança de triângulos que<br />

h<br />

X<br />

H H f<br />

= → m = = (2. 4),<br />

f h X<br />

onde m é a magnificação lateral. Da<strong>da</strong> uma magnificação m, o objeto que está <strong>em</strong> foco<br />

se encontra a uma distância<br />

X = f m do foco <strong>da</strong> objetiva. Entretanto, um feixe de luz<br />

22


paralelo típico de um laser incidindo <strong>na</strong> objetiva pelo lado oposto <strong>da</strong> imag<strong>em</strong>, será<br />

focalizado no foco <strong>da</strong> mesma objetiva, fora do plano de visão. Isso significa que as<br />

partículas captura<strong>da</strong>s estarão <strong>completa</strong>mente fora de foco e não serão detecta<strong>da</strong>s, assim<br />

como mostra a Figura 17. Para focalizar o feixe do laser no plano de visão dev<strong>em</strong>os<br />

torná‐lo ligeiramente divergente.<br />

objetiva<br />

plano do ponto focal<br />

plano de visão<br />

formação de imag<strong>em</strong><br />

laser focalizado<br />

pela objetiva<br />

(s<strong>em</strong> lentes)<br />

Figura 17. Plano do ponto focal e plano de visão.<br />

Isso é feito através de um telescópio, um sist<strong>em</strong>a de duas lentes coloca<strong>da</strong>s uma<br />

no foco <strong>da</strong> outra, conforme ilustra a Figura 18, <strong>na</strong> qual se percebe que afastando as duas<br />

lentes se obtém um feixe convergente e aproximando‐as se obtém um feixe divergente.<br />

Ele nos permite controlar a profundi<strong>da</strong>de z <strong>em</strong> que o laser é focalizado. Utilizamos<br />

lentes com distância focal b<strong>em</strong> curta para ganhar sensibili<strong>da</strong>de, ou seja, um pequeno<br />

deslocamento entre as lentes com um transla<strong>da</strong>dor micrométrico xyz terá um efeito<br />

apreciável <strong>na</strong> posição do foco do laser. Auxiliando alguns grupos que desejavam<br />

montar seus próprios sist<strong>em</strong>as de pinças ópticas perceb<strong>em</strong>os que um dos fatores que<br />

mais haviam dificultado o alinhamento foi o fato de usar<strong>em</strong> lentes de grande distância<br />

focal. Fica difícil manter o alinhamento quando é necessário mover lentes por vários cm<br />

até encontrar o foco. Do ponto de vista do alinhamento <strong>da</strong> pinça esse telescópio é o<br />

ponto crucial.<br />

23


lentes<br />

Figura 18. Importância do telescópio.<br />

É importante notar que dev<strong>em</strong>os ser capazes de visualizar as partículas<br />

“pinça<strong>da</strong>s”, significando que não pod<strong>em</strong>os obstruir o caminho dos raios do microscópio<br />

utilizados para a formação <strong>da</strong> imag<strong>em</strong>. Por isso o “beam splitter” que desvia o feixe do<br />

laser de Nd:YAG para a objetiva t<strong>em</strong> que ser transparente ao visível, ou seja, um<br />

espelho dicróico. Espelhos dielétricos para Nd:YAG com mais de 99% de reflexão são<br />

b<strong>em</strong> transparentes ao visível se tor<strong>na</strong>ndo a escolha ideal para o BS mostrado no<br />

esqu<strong>em</strong>a <strong>da</strong> Figura 1. Esses espelhos dielétricos, além de atuar<strong>em</strong> como espelhos<br />

também atuam como filtro, mas não de 100%, <strong>da</strong> luz do laser retroespalha<strong>da</strong>. Filtros<br />

compl<strong>em</strong>entares dev<strong>em</strong> ser usados para segurança se o operador olha diretamente <strong>na</strong><br />

ocular. No caso de uso exclusivo <strong>da</strong> câmera de vídeo pode‐se usar o pequeno<br />

vazamento de luz desse espelho para alinhamento do sist<strong>em</strong>a. Nos microscópios<br />

“upright” pod<strong>em</strong>os usar a porta de epi‐ilumi<strong>na</strong>ção, por cima, ou de excitação de<br />

fluorescência para envio do laser. Foi o que fiz<strong>em</strong>os no nosso caso <strong>em</strong> que o<br />

microscópio foi um Olympus modelo BH2.<br />

2.1.7 Microscópios de Óptica Infinita<br />

Até aqui, tratamos do microscópio convencio<strong>na</strong>l, também chamado de óptica<br />

finita. Os microscópios mais modernos são de óptica infinita funcio<strong>na</strong>ndo de forma<br />

s<strong>em</strong>elhante a uma lupa, onde o objeto é colocado no foco <strong>da</strong> objetiva. Assim, ca<strong>da</strong><br />

porção do objeto, vai <strong>da</strong>r orig<strong>em</strong> a um feixe de raios paralelos que passam incli<strong>na</strong>dos<br />

24


pelo centro <strong>da</strong> objetiva, como mostra a Figura 19. Para focalizar esses raios paralelos e<br />

reconstruir a imag<strong>em</strong> desse objeto, coloca‐se uma outra lente, chama<strong>da</strong> “lente de tubo”.<br />

f tubo<br />

hf obj H<br />

Figura 19. Formação de imag<strong>em</strong> <strong>em</strong> um microscópio de óptica infinita.<br />

Nessa configuração, o aumento fi<strong>na</strong>l será:<br />

h<br />

f<br />

obj<br />

H H fobj<br />

= → m = = (2. 5)<br />

f h f<br />

tubo<br />

tubo<br />

Como os raios de luz, que são formados entre a objetiva e a “lente de tubo”, são<br />

paralelos, el<strong>em</strong>entos ópticos como prismas, filtros e polarizadores pod<strong>em</strong> ser colocados<br />

nesse espaço s<strong>em</strong> causar aberrações <strong>na</strong> formação <strong>da</strong> imag<strong>em</strong> <strong>na</strong> ocular. Há um número<br />

máximo de componentes que pod<strong>em</strong> ser colocados, o qual é limitado pela distância<br />

existente entre a objetiva e a “lente de tubo”. Colocar a “lente de tubo” muito longe <strong>da</strong><br />

objetiva reduz a quanti<strong>da</strong>de de raios periféricos coletados resultando <strong>em</strong> imagens<br />

borra<strong>da</strong>s e/ou escureci<strong>da</strong>s reduzindo assim sua quali<strong>da</strong>de. Nos microscópios de óptica<br />

infinita, se o laser for acoplado ao microscópio s<strong>em</strong> passar pela “lente de tubo”, não<br />

haveria a necessi<strong>da</strong>de do uso do telescópio, pois o laser seria focalizado no foco que<br />

agora é o plano de visão. Entretanto, se a “lente de tubo” estiver no caminho do laser,<br />

haverá a necessi<strong>da</strong>de do telescópio para compensar o desvio que será sofrido pelo feixe,<br />

pois nesse caso o plano focal não mais será o mesmo que o plano de visão.<br />

Na grande maioria <strong>da</strong>s vezes o feixe de laser entra no microscópio pelas portas<br />

reserva<strong>da</strong>s para câmeras, máqui<strong>na</strong>s fotográficas e/ou fluorescência e por isso fatalmente<br />

passa pela “lente de tubo”. Apesar disso, mesmo quando pode ser feita alguma<br />

modificação no microscópio de forma a possibilitar que o laser entre diretamente pela<br />

25


objetiva e não se t<strong>em</strong> a necessi<strong>da</strong>de direta de visualizar a captura, o telescópio permite<br />

corrigir a divergência do feixe de laser e é a única forma de controlar a posição vertical<br />

do foco.<br />

2.1.8 Características <strong>da</strong>s Objetivas<br />

Os parâmetros que defin<strong>em</strong> as proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s objetivas são: aumento,<br />

abertura numérica, distância de trabalho e se são de imersão <strong>em</strong> óleo ou água. O<br />

aumento já foi discutido, e é <strong>da</strong>do pela razão f / X , ou f / f . A abertura numérica é<br />

defini<strong>da</strong> como o ângulo do cone de luz <strong>na</strong> saí<strong>da</strong> <strong>na</strong> objetiva NA . . = r/<br />

f, como mostra a<br />

Figura 20. De acordo com a lei do seno de Abbe, r/<br />

f = senθ onde θ é a abertura angular<br />

de um cone de luz que atravessa uma objetiva. Se não é o ar que está entre a mesma e a<br />

lâmi<strong>na</strong>, a abertura numérica é então defini<strong>da</strong> por NA . . = nsenθ , onde n é o índice de<br />

refração do meio.<br />

r<br />

obj<br />

tubo<br />

cone<br />

de luz<br />

θ<br />

f<br />

Figura 20. Definição de abertura numérica.<br />

Quanto maior for a abertura numérica, maior é o ângulo de abertura do cone de<br />

luz formado. A abertura numérica, o aumento e o campo de visão de uma objetiva estão<br />

relacio<strong>na</strong>dos. Da Figura 21 v<strong>em</strong>os que o ângulo máximo que passa pela abertura <strong>da</strong><br />

objetiva é <strong>da</strong>do por<br />

2 h X = NA , e usando m = f X t<strong>em</strong>os que 2 h = ( f m)NA<br />

, ou seja o<br />

campo de visão cai com o aumento <strong>da</strong> objetiva e aumenta com sua abertura numérica.<br />

f<br />

f<br />

h<br />

X<br />

Figura 21. A objetiva e o campo de visão.<br />

26


Para evitar campos de visão muito pequenos, menores dos que os objetos que se<br />

pretende visualizar, é necessário crescer a abertura numérica com o aumento <strong>da</strong><br />

objetiva. Vejamos o ex<strong>em</strong>plo de uma objetiva de 100X com distância focal de 5 µm. Para<br />

uma abertura numérica de 1, o campo de visão inteiro é <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de ape<strong>na</strong>s 50 µm.<br />

Aberturas <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 1 significam ângulos muito grandes. Tão grandes que parte <strong>da</strong><br />

luz sofreria reflexão inter<strong>na</strong> total e seria praticamente impossível conseguir uma boa<br />

correção <strong>da</strong>s aberrações. A forma encontra<strong>da</strong> para obter aberturas numéricas acima de 1<br />

foi o uso <strong>da</strong>s objetivas de imersão esqu<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong>s <strong>na</strong> Figura 22. O fluido representado<br />

pela cor azul <strong>da</strong> figura t<strong>em</strong> o mesmo índice de refração do vidro <strong>da</strong> esfera corta<strong>da</strong>. Isso<br />

significa que o ponto P sai dessa primeira lente como se viesse de P 1 e do menisco a<br />

seguir como se viesse de P 2 <strong>em</strong> um ângulo b<strong>em</strong> menor do que o inicial. A partir <strong>da</strong>í se<br />

usam outras lentes para fazer correção <strong>da</strong>s aberrações cromáticas.<br />

Óleo<br />

P 2<br />

P 1<br />

P<br />

C<br />

Lamínula<br />

Figura 22. Objetivas de imersão.<br />

As objetivas de imersão <strong>em</strong> óleo pod<strong>em</strong> chegar a aberturas numéricas de 1.4.<br />

Outro fator relacio<strong>na</strong>do às aberturas numéricas é a distância de trabalho de uma<br />

objetiva. Ela é defini<strong>da</strong> como a distância do objeto à saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> objetiva, no caso de<br />

objetivas de imersão, <strong>da</strong> lamínula até o objeto, conforme pod<strong>em</strong>os ver <strong>na</strong> Figura 23.<br />

Dessa forma percebe‐se que quanto maior o aumento, maior é a abertura numérica e<br />

menor é a distância de trabalho.<br />

27


laminula<br />

distância de trabalho<br />

Figura 23. Abertura numérica e distância de trabalho.<br />

2.1.9 Falsa Armadilha e a Abertura Numérica<br />

Uma pinça óptica deve ser capaz de capturar um objeto tridimensio<strong>na</strong>lmente,<br />

com forças <strong>na</strong>s 3 direções x, y e z. Para isso é necessário garantir que os raios de luz<br />

tenham componentes nessas 3 direções. Entretanto, também é possível se criar uma<br />

falsa armadilha, capaz de capturar uma partícula <strong>em</strong> ape<strong>na</strong>s duas dimensões, e não <strong>em</strong><br />

três. Ela opera s<strong>em</strong>pre que um agente externo fornece a força necessária para que a<br />

partícula não mova <strong>na</strong> direção vertical, como por ex<strong>em</strong>plo, uma partícula no fundo <strong>da</strong><br />

lâmi<strong>na</strong>, ou que flutua no líquido. Para criar uma “pinça óptica” ver<strong>da</strong>deira é necessário<br />

usar feixes de grande abertura numérica, enquanto mesmo ape<strong>na</strong>s um feixe de luz<br />

paralelo é capaz de criar a falsa armadilha. Pod<strong>em</strong>os entender isso acompanhando a<br />

trajetória de um raio vertical que incide lateralmente <strong>na</strong> esfera à uma certa distância de<br />

seu centro como mostrado <strong>na</strong> Figura 24. Esse raio se incli<strong>na</strong> <strong>na</strong> direção <strong>da</strong> esfera e<br />

aparec<strong>em</strong> duas forças, uma perpendicular ao raio tendendo a colocar o centro <strong>da</strong> esfera<br />

ao longo do raio e outra ao longo do raio, <strong>na</strong> direção z, acelerando a partícula<br />

verticalmente. A partícula poderia ficar <strong>em</strong> qualquer posição de equilíbrio ao longo do<br />

raio que passa pelo seu centro caso não houvesse a reflexão. Com a reflexão não há<br />

como estabilizar a partícula <strong>em</strong> alguma posição. Os primeiros trabalhos de Ashkin<br />

sobre levitação de partículas utilizavam uma configuração de 6 feixes contrapropagantes,<br />

para cancelar as forças de reflexão, <strong>na</strong>s três direções para capturar as<br />

partículas.<br />

28


aio incidente<br />

z<br />

raio refratado<br />

seis feixes<br />

Figura 24. Configuração de uma falsa armadilha.<br />

Num cone de luz são os raios mais incli<strong>na</strong>dos, com maiores componentes<br />

horizontais, que geram as forças <strong>na</strong> direção vertical. A parte central do cone, quase to<strong>da</strong><br />

vertical, gera forças restauradoras <strong>na</strong> direção horizontal. Quanto maior a abertura<br />

numérica, maior a força <strong>na</strong> direção vertical às custas de uma força menor <strong>na</strong> direção<br />

horizontal, conforme esqu<strong>em</strong>atizado <strong>na</strong> Figura 25 e <strong>na</strong> Figura 26.<br />

raios<br />

incidentes<br />

raios<br />

incidentes<br />

f .<br />

forças<br />

raios<br />

refratados<br />

Figura 25. Falsa armadilha e a abertura numérica.<br />

Armadilhas <strong>em</strong> 3 dimensões só são obti<strong>da</strong>s com aberturas numéricas <strong>da</strong> ord<strong>em</strong><br />

de 1, tipicamente com aumentos acima de 60X. Qualquer movimento horizontal<br />

observado com objetivas de 40X ou menos são, <strong>na</strong> reali<strong>da</strong>de, de falsa armadilha,<br />

usualmente de partículas no fundo <strong>da</strong> lâmi<strong>na</strong> que não pod<strong>em</strong> se mover <strong>na</strong> direção<br />

vertical.<br />

Para essas partículas pode‐se observar movimento horizontal, mas não se<br />

consegue levantá‐las, pois a força vertical não é maior que seu peso. Um cui<strong>da</strong>do extra<br />

deve ser tomado no caso de microscópios invertidos, <strong>em</strong> que o feixe incide<br />

verticalmente contra a gravi<strong>da</strong>de, pois a tendência <strong>da</strong> reflexão de expelir a partícula<br />

pode cancelar a gravi<strong>da</strong>de e mesmo uma falsa armadilha pode movimentar a partícula<br />

29


<strong>em</strong> 3 dimensões. Entretanto, não será capaz de capturar microorganismos com força<br />

motriz própria, a menos que existam forças <strong>na</strong>s 3 dimensões.<br />

R<br />

F<br />

NA = 0,3<br />

NA = 1<br />

Peque<strong>na</strong> abertura numérica:<br />

menor componente horizontal<br />

Grande abertura numérica:<br />

maior componente horizontal<br />

menor força vertical<br />

maior força vertical<br />

Figura 26. A abertura numérica e a força vertical.<br />

Os cui<strong>da</strong>dos com a falsa armadilha vão além do uso de uma objetiva com<br />

abertura numérica de alto valor. Esse valor é <strong>da</strong>do para a coleta <strong>da</strong> luz e definido pelas<br />

íris ao longo <strong>da</strong> objetivas. Do ponto de vista <strong>da</strong> luz incidindo <strong>na</strong> objetiva pelo lado <strong>da</strong><br />

imag<strong>em</strong> só se obtém sua abertura numérica nomi<strong>na</strong>l quando a mesma é <strong>completa</strong>mente<br />

preenchi<strong>da</strong>, como mostra o esqu<strong>em</strong>a <strong>da</strong> Figura 27. Um feixe que incide <strong>na</strong> objetiva com<br />

diâmetro menor <strong>da</strong> que sua íris vai corresponder a um feixe focalizado com abertura<br />

menor do que a nomi<strong>na</strong>l.<br />

Figura 27. Falsa armadilha e o preenchimento <strong>da</strong> objetiva.<br />

2.1.10 Microscópios Invertidos: Vantagens e Desvantagens<br />

Um outro aspecto relevante <strong>na</strong> montag<strong>em</strong> de uma pinça óptica é se o<br />

microscópio é convencio<strong>na</strong>l “upright” ou invertido. Na Figura 28 a t<strong>em</strong>os um esqu<strong>em</strong>a<br />

de um microscópio convencio<strong>na</strong>l, onde v<strong>em</strong>os que o laser entra por cima, passa<br />

primeiramente pela objetiva e depois incide sobre uma amostra que está<br />

30


necessariamente delimita<strong>da</strong> por uma lamínula e uma lâmi<strong>na</strong>, de forma que logo a<br />

seguir já está a plataforma. Ou seja, nesse caso só cabe uma lâmi<strong>na</strong> de profundi<strong>da</strong>de<br />

máxima <strong>em</strong> torno de 150 µm entre a objetiva e a plataforma, l<strong>em</strong>brando que as<br />

distâncias de trabalho <strong>da</strong>s objetivas usa<strong>da</strong>s <strong>na</strong> pinça óptica são extr<strong>em</strong>amente peque<strong>na</strong>s.<br />

Já <strong>na</strong> Figura 28 b, t<strong>em</strong>os a ilustração de um microscópio invertido. Diferent<strong>em</strong>ente do<br />

microscópio “upright”, agora o laser entra por baixo, encontra a objetiva e então incide<br />

sobre a amostra, tal que para podermos utilizar as objetivas de grande abertura<br />

numérica t<strong>em</strong>os que inverter a lâmi<strong>na</strong> para o laser passar primeiramente pela lamínula<br />

e depois pela lâmi<strong>na</strong> respeitando assim os pequenos valores de distância de trabalho. A<br />

grande vantag<strong>em</strong> do microscópio invertido é o espaço considerável que há entre a<br />

lâmi<strong>na</strong> e a lâmpa<strong>da</strong> e condensadores, o qual nos propicia trabalhar com câmaras abertas<br />

que é bastante desejável para estudos com aplicações biológicas onde muitas vezes<br />

quer<strong>em</strong>os estu<strong>da</strong>r efeitos de determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s substâncias ou também quando a<br />

experiência requer o uso micro‐manipuladores. Assim, uma boa maneira de aproveitar<br />

esse recurso e que também nos livra <strong>da</strong> tarefa de in<strong>versão</strong> de lâmi<strong>na</strong>, é trocar as câmaras<br />

convencio<strong>na</strong>is por uma lamínula acopla<strong>da</strong> a um O’ring. Dessa forma pod<strong>em</strong>os<br />

introduzir, <strong>em</strong> conjunto com a pinça óptica, substâncias e/ou instrumentos. O uso do<br />

“O’ring” ain<strong>da</strong> traz outra vantag<strong>em</strong>, como a amostra só está delimita<strong>da</strong> pela face <strong>da</strong><br />

lamínula, os modelos de hidrodinâmica envolvidos nos experimentos são b<strong>em</strong> mais<br />

simples do que no caso anterior do microscópio convencio<strong>na</strong>l onde a amostra está<br />

delimita<strong>da</strong> por duas faces.<br />

lâmi<strong>na</strong> e lamínula<br />

condensador e lâmpa<strong>da</strong><br />

micromanipuladores<br />

condensador e lâmpa<strong>da</strong><br />

lâmi<strong>na</strong> e “o’ ring”<br />

a. b.<br />

Figura 28. a. Microscópio convencio<strong>na</strong>l “upright”. b. Microscópio invertido.<br />

31


2.1.11 O Alinhamento<br />

O procedimento que utilizamos para o alinhamento <strong>da</strong> pinça óptica no<br />

microscópio foi:<br />

1. Em primeiro lugar garantir que o foco do laser caia no campo de visão do<br />

microscópio. S<strong>em</strong> as duas lentes do telescópio, obriga‐se o feixe do laser a incidir<br />

perpendicularmente <strong>na</strong> objetiva do microscópio, certificando‐se de que ele está<br />

centralizado <strong>na</strong> mesma e a atravessa. Faz<strong>em</strong>os isso s<strong>em</strong> a objetiva e com um papel<br />

espalhador para ver o ponto central do laser b<strong>em</strong> no meio de onde seria o círculo <strong>da</strong><br />

abertura <strong>da</strong> objetiva. Feito isso, colocamos a objetiva e procuramos visualizar o feixe <strong>na</strong><br />

TV, começando com objetivas de pouco aumento para ampliar o campo de visão. As<br />

CCD’s <strong>da</strong>s câmeras de vídeo são fabrica<strong>da</strong>s com detectores de silício capazes de<br />

detectar si<strong>na</strong>is até 1100 nm, logo seriam sensíveis ao 1064 nm do Nd:YAG. Entretanto,<br />

para não apresentar<strong>em</strong> artefatos que o olho humano não enxerga, elas inclu<strong>em</strong> um filtro<br />

que só deixa passar o visível. Abrindo a câmera e retirando esse filtro pode‐se visualizar<br />

a peque<strong>na</strong> parcela do infravermelho <strong>em</strong> 1064 nm refleti<strong>da</strong> <strong>na</strong> lâmi<strong>na</strong> e que vaza pelo<br />

espelho dielétrico, incapaz de <strong>da</strong>nificar a CCD. Centralizamos o laser no campo de<br />

visão <strong>da</strong>s objetivas de menor aumento, usualmente de 10X e passamos ao procedimento<br />

2 de verticalizar a incidência do feixe do laser. Quando o mesmo estiver perpendicular<br />

ver<strong>em</strong>os <strong>na</strong> TV um círculo concêntrico de laser simétrico que irá abrir e fechar<br />

uniform<strong>em</strong>ente conforme mov<strong>em</strong>os o parafuso de ajuste focal do microscópio – Figura<br />

29.<br />

2. Para garantir a verticali<strong>da</strong>de utilizamos um procedimento que converge<br />

movimentando‐se alter<strong>na</strong><strong>da</strong>mente o espelho BS dentro do microscópio e o espelho M1<br />

do esqu<strong>em</strong>a <strong>da</strong> Figura 1, de forma que o movimento de um compense o do outro até se<br />

visualizar o círculo perfeito <strong>na</strong> TV. O ponto central do círculo deve estar mais ou menos<br />

no centro <strong>da</strong> imag<strong>em</strong>, ou sairá do campo de visão quando usarmos objetivas de maiores<br />

aumentos.<br />

32


feixe perpendicular<br />

feixe incli<strong>na</strong>do<br />

foco<br />

microscópio<br />

círculos concêntricos<br />

círculos não concêntricos<br />

Figura 29. Esqu<strong>em</strong>a de alinhamento.<br />

3. Nesse momento dev<strong>em</strong>os introduzir o telescópio, ain<strong>da</strong> utilizando uma objetiva de<br />

10X. Para centralizar o feixe ao longo dos eixos <strong>da</strong>s várias lentes, primeiramente<br />

colocamos ape<strong>na</strong>s a primeira delas que é normalmente monta<strong>da</strong> sobre um sist<strong>em</strong>a de<br />

translação XY. Essa lente tor<strong>na</strong>rá o laser divergente e mu<strong>da</strong>rá <strong>completa</strong>mente a posição<br />

z do foco, que deve ser reencontra<strong>da</strong>. Agora, movendo ape<strong>na</strong>s a lente que acabamos de<br />

introduzir no seu plano horizontal obrigamos o foco do laser a coincidir no mesmo<br />

ponto <strong>em</strong> que estava antes <strong>da</strong> lente ser coloca<strong>da</strong>. Para isso, usamos a TV com um círculo<br />

desenhado <strong>na</strong> tela com uma caneta de retroprojetor. Repetimos então o processo de<br />

“verticalização”. Movimentando ape<strong>na</strong>s a lente nos certificamos que o feixe, apesar de<br />

divergente, continua perpendicular formando círculos simétricos. Garanti<strong>da</strong> que a<br />

primeira lente está centraliza<strong>da</strong>, colocamos a segun<strong>da</strong> lente do telescópio, que deve ser<br />

monta<strong>da</strong> <strong>em</strong> sist<strong>em</strong>a de translação XYZ, para se poder variar a distância entre as duas<br />

lentes <strong>na</strong> direção z. Repetimos o procedimento anterior. Com o foco do laser b<strong>em</strong><br />

próximo do centro <strong>da</strong> tela pod<strong>em</strong>os passar para objetivas de maior aumento até chegar<br />

a de 100X.<br />

4. Agora, o procedimento para colocar o foco do laser no plano de visão. Nesse ponto é<br />

bom usar uma câmara de Neubauer (Figura 30). Trata‐se de um dispositivo utilizado<br />

para a contag<strong>em</strong> de glóbulos vermelhos do sangue e consiste <strong>em</strong> uma lâmi<strong>na</strong> escava<strong>da</strong><br />

com profundi<strong>da</strong>de de 100 µm cujo fundo é riscado com um quadriculado de 50 x 50 µm.<br />

33


A lamínula fecha essa “micro‐pisci<strong>na</strong>” por cima. Preparamos a câmara de Neubauer<br />

com água, fechamos com a lamínula e colocamos óleo de imersão sobre a mesma para<br />

usar a objetiva de 100X. Focalizamos a imag<strong>em</strong> até enxergar b<strong>em</strong> as ranhuras de 50 µm<br />

<strong>da</strong> câmara de Neubauer, nos certificando assim que estamos no plano de visão do<br />

microscópio. Liberamos o laser. Já deve ser possível visualizar um círculo nesse estágio<br />

se as etapas anteriores foram b<strong>em</strong> feitas. Agora, movendo a segun<strong>da</strong> lente do telescópio<br />

ape<strong>na</strong>s <strong>na</strong> direção z, dev<strong>em</strong>os ver esse círculo abrindo e fechando, que nos permite<br />

encontrar a distância z para o menor ponto focal do laser no plano de visão. Feito isso<br />

voltamos ao procedimento <strong>da</strong> “verticalização” movendo a lente do telescópio <strong>na</strong>s<br />

direções XY até garantir a formação dos círculos concêntricos novamente. Nesse ponto,<br />

a captura ocorrerá b<strong>em</strong> próxima do plano de visão do microscópio.<br />

Profundi<strong>da</strong>de 100 µm<br />

Fundo quadriculado 50 x 50 µm<br />

Figura 30. Ilustração <strong>da</strong> câmara de Neubauer.<br />

5. A última etapa é feita com a captura de microesferas de poliestireno. Qualquer tinta<br />

branca de parede está cheia dessas microesferas. Diluímos b<strong>em</strong> essas microesferas <strong>em</strong><br />

água e colocamos essa solução <strong>na</strong> câmara de Neubauer, usando a objetiva de 100X e<br />

ligando o laser de Nd:YAG. Se as etapas anteriores foram b<strong>em</strong> feitas, dev<strong>em</strong>os ser<br />

capazes de visualizar esferinhas sendo captura<strong>da</strong>s no fundo <strong>da</strong> lâmi<strong>na</strong>. Capturamos<br />

uma delas e a subimos movendo o foco do microscópio. Fi<strong>na</strong>lmente realizamos o ajuste<br />

fino do telescópio movendo‐o <strong>na</strong> direção z até obter a microesfera b<strong>em</strong> focaliza<strong>da</strong>.<br />

Nessa etapa o ponto de captura não precisa estar obrigatoriamente no centro <strong>da</strong> tela.<br />

2.1.12 Resultados Obtidos com a Pinça Óptica Simples<br />

Abaixo estão algumas imagens de manipulação feitos <strong>em</strong> nosso laboratório com<br />

a pinça óptica simples.<br />

34


a. b. c.<br />

Figura 31 a. Cristal de oxalato de cálcio de célula de cebola. b. Espermatozóide. c. M<strong>em</strong>bra<strong>na</strong><br />

estica<strong>da</strong> de célula de cebola.<br />

2.2 A Pinça Óptica Dupla<br />

2.2.1 Motivação e Pontos Experimentais Relevantes<br />

Normalmente, a maneira prática de transportar a partícula captura<strong>da</strong> de um local<br />

para o outro <strong>na</strong>s direções x e y é mantendo a pinça fixa e movimentando a plataforma<br />

ou plati<strong>na</strong>, do microscópio. Isso porque mover a posição do feixe de pinça é muito mais<br />

complicado, podendo até desalinhar o sist<strong>em</strong>a. Entretanto, para vários estudos, tais<br />

como adesão de partículas e medi<strong>da</strong>s estáticas de elastici<strong>da</strong>des, é necessário usar dois<br />

ou mais pontos de captura e assegurar a capaci<strong>da</strong>de de movimentá‐los um <strong>em</strong> relação<br />

ao outro de forma independente. Incli<strong>na</strong>ndo o feixe de laser incidente pod<strong>em</strong>os mover a<br />

posição de uma pinça <strong>em</strong> relação à outra conforme mostra a Figura 32 a. O probl<strong>em</strong>a<br />

com esse procedimento é que a incli<strong>na</strong>ção do feixe que estava centralizado, o desalinha<br />

<strong>em</strong> relação à abertura <strong>da</strong> objetiva, esbarrando nos seus limites, perdendo potência e<br />

obtendo um feixe totalmente assimétrico, assim como apresenta a Figura 32 b. Essa<br />

per<strong>da</strong> de potência vai ocorrer s<strong>em</strong>pre se a objetiva está <strong>completa</strong>mente preenchi<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />

um bom alinhamento <strong>da</strong> pinça óptica.<br />

Para se resolver essa questão, é necessário defletir o feixe incidente de forma que<br />

sua rotação seja pivota<strong>da</strong> <strong>em</strong> torno do centro <strong>da</strong> abertura <strong>na</strong> entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> objetiva,<br />

conforme mostra a Figura 33. Além disso, essa incli<strong>na</strong>ção t<strong>em</strong> que ser realiza<strong>da</strong><br />

satisfazendo a captura no plano de visão e o preenchimento <strong>da</strong> objetiva. Fi<strong>na</strong>lmente,<br />

também é desejável controlar independent<strong>em</strong>ente a potência de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s pinças<br />

ópticas.<br />

35


Feixe incli<strong>na</strong>do<br />

incli<strong>na</strong>ção<br />

Abertura abertura<br />

<strong>da</strong> objetiva<br />

b<br />

pinça 1 pinça 2<br />

a<br />

Figura 32. a. Movimento <strong>da</strong> pinça dupla. b. Incli<strong>na</strong>ção do feixe <strong>na</strong> objetiva.<br />

pivot de rotação – s<strong>em</strong> per<strong>da</strong> de potência<br />

Figura 33. Ilustração <strong>da</strong> melhor forma de incli<strong>na</strong>r os feixes.<br />

Para isso usamos a montag<strong>em</strong> esqu<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong> <strong>na</strong> Figura 34 abaixo. O laser é<br />

dividido por um “polarizer beam splitter” – PBS1 que transmite a parte do feixe<br />

polariza<strong>da</strong> paralelamente e reflete a polariza<strong>da</strong> perpendicularmente e que são<br />

recombi<strong>na</strong><strong>da</strong>s no segundo PBS2 de onde segu<strong>em</strong> colineares. Girando a polarização do<br />

laser incidente através <strong>da</strong> placa de meia on<strong>da</strong> HWP1, pod<strong>em</strong>os controlar<br />

arbitrariamente a potência relativa dos dois feixes. Já a placa de meia on<strong>da</strong> HWP2 é<br />

usa<strong>da</strong> como um atenuador para controlar a potência do braço no qual está. Com essas<br />

duas placas somos capazes então de controlar individualmente a potência <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> uma<br />

<strong>da</strong>s pinças ópticas.<br />

L HWP1<br />

PBS1<br />

5<br />

L 6<br />

objetiva<br />

L f 4<br />

4<br />

f<br />

L 1<br />

1<br />

L f<br />

3<br />

3<br />

HWP2<br />

GM<br />

d 3<br />

PBS2<br />

f<br />

2 d 1<br />

d 12<br />

GM<br />

L 2<br />

d 2<br />

Figura 34. Esqu<strong>em</strong>a de montag<strong>em</strong> <strong>da</strong> pinça dupla.<br />

36


Os espelhos GM são “gimbal mounts” produzidos para garantir que o centro do<br />

espelho seja o ponto de interseção dos eixos de rotação vertical e horizontal e são<br />

utilizados para incli<strong>na</strong>r o laser. Entretanto, é necessário transferir uma rotação do laser<br />

<strong>em</strong> torno do “gimbal mount” para uma rotação <strong>em</strong> torno do centro <strong>da</strong> objetiva. Para<br />

isso utilizamos um conjunto de 3 telescópios, L1+ L2, L3 + L4<br />

e L5 + L6com distâncias<br />

focais f i , tal que i = 1 até 6 . Os telescópios L3 + L4<br />

e L5 + L6<br />

são utilizados para o foco<br />

do laser estar no plano de visão e o L1+ L2<br />

para assegurar a rotação pivota<strong>da</strong> no centro<br />

<strong>da</strong> abertura <strong>da</strong> objetiva.<br />

Para satisfazer to<strong>da</strong>s essa condições utilizamos traçado de raios <strong>da</strong> óptica<br />

geométrica. Os pontos de rotação no “gimbal mount” e <strong>na</strong> abertura <strong>da</strong> objetiva dev<strong>em</strong><br />

ser pontos conjugados, ou seja, um é a imag<strong>em</strong> do outro. Para isso os suportes GM<br />

dev<strong>em</strong> estar a uma distância d = d1 + d12 + d2 dessa objetiva.<br />

d 12<br />

f 2<br />

f 1<br />

d 1 d 2<br />

d d’<br />

Figura 35. Diagrama de raios para as lentes L 1 e L 2 .<br />

Usando a Figura 35 obt<strong>em</strong>os para a lente 1:<br />

e para a lente 2:<br />

de onde tiramos que:<br />

1 1 1 f1d1<br />

− f1d12−d1( d12−<br />

f1)<br />

+ = → d = e d′ =<br />

(2. 6)<br />

d d f d − f<br />

( d − f )<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1 1 1 f d′<br />

d d f d f<br />

2<br />

+ = → d2<br />

=<br />

2<br />

′<br />

2<br />

′− 2<br />

37<br />

1 1<br />

(2. 7)<br />

fd 1 12−d1( d12−<br />

f1)<br />

− f2<br />

d1− f1 f2[ f1d12 −d1( d12 − f1)]<br />

d2<br />

= = ⇒<br />

fd 1 12−d1( d12− f1) −<br />

− f<br />

fd 1 12−d1( d12− f1)<br />

+ d1f2−<br />

f1f2<br />

2<br />

d1−<br />

f1<br />

f2[ f1d12 − d1( d12 − f1)]<br />

d2<br />

=<br />

(2. 8)<br />

f1( d12 − f2) −d1( d12 − f1−<br />

f2)


Substituindo agora d 12 , t<strong>em</strong>os:<br />

d<br />

f2<br />

f2<br />

= ( f2<br />

+ f1<br />

− 1<br />

f<br />

f<br />

) (2. 9).<br />

2 d<br />

1<br />

1<br />

Usando s<strong>em</strong>elhança de triângulos, pod<strong>em</strong>os obter o tamanho do feixe r 2 no<br />

suporte GM <strong>da</strong> Figura 36, onde consideramos as relações:<br />

1<br />

f<br />

1 1 f3d3<br />

= − + → X′<br />

= (2. 10),<br />

X′<br />

d ( d − )<br />

3 3<br />

3 f3<br />

r1 r′<br />

r1<br />

r<br />

= → r′ = ( d34 − X′<br />

− f4)<br />

→ r′ = 1 ( d34 − f4)(( d3 − f3)<br />

− f3d3<br />

f4 d34 − X′<br />

− f4 f4<br />

f4( d3 − f3)<br />

( d<br />

3<br />

r r′<br />

( d3<br />

− f<br />

= → r2<br />

=<br />

− f ) f<br />

f3<br />

2 3 )<br />

3<br />

3<br />

[ ]<br />

r′<br />

(2. 12)<br />

(2. 11)<br />

e portanto,<br />

( d − f )<br />

r = [( d − f )(( d − f ) − f d r →<br />

[ ]<br />

3 3<br />

2 34 4 3 3 3 3 1<br />

f3f4( d3 − f3)<br />

r<br />

2<br />

⎛ d<br />

⎜<br />

⎝<br />

( d<br />

−<br />

f<br />

)( d<br />

− f ) ⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

3 34 4 3 3<br />

= −<br />

⎜<br />

−<br />

r1<br />

f4<br />

f4<br />

f ⎟ (2. 13),<br />

3<br />

sendo r 1 o tamanho antes <strong>da</strong> lente f 4 e d 34 = f3<br />

+ f4<br />

.<br />

d 34<br />

X’<br />

r 1<br />

f 3 r 2<br />

f 4 r’<br />

Se fizermos f3 = d3, t<strong>em</strong>os:<br />

d 4 d 3<br />

Figura 36. Diagrama de raios para as lentes L 3 e L 4 .<br />

r<br />

f<br />

= (2. 14)<br />

3<br />

2<br />

− r1<br />

f4<br />

e o tamanho do feixe r 2 no GM é s<strong>em</strong>pre o mesmo, independent<strong>em</strong>ente <strong>da</strong><br />

convergência ou divergência resultante <strong>da</strong> distância d34, pois não é função <strong>da</strong> mesma,<br />

assim como mostra a Figura 37.<br />

38


GM<br />

f 3 + f 4<br />

GM<br />

f 3 + f 4<br />

GM<br />

f 3 + f 4<br />

Figura 37. Telescópio relacio<strong>na</strong>do ao tamanho do feixe.<br />

Levando isso <strong>em</strong> consideração e o fato de que o GM e a abertura <strong>da</strong> objetiva são<br />

planos conjugados, t<strong>em</strong>os que o tamanho fi<strong>na</strong>l do feixe r 4 <strong>na</strong> objetiva relacio<strong>na</strong>do ao<br />

tamanho do feixe que entrou no sist<strong>em</strong>a de lentes e espelhos é <strong>da</strong>do por:<br />

r<br />

f f<br />

=<br />

⎛ ⎞⎛<br />

⎞<br />

⎟ (2. 15)<br />

⎝ ⎠⎝<br />

⎠<br />

1 3<br />

4 ⎜ f ⎟⎜<br />

r1<br />

2<br />

f<br />

4<br />

Por outro lado o tamanho do feixe no “gimbal mount” r 2 está relacio<strong>na</strong>do ao<br />

f<br />

tamanho r 4 <strong>na</strong> entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> objetiva por r<br />

1<br />

4 =<br />

⎛ ⎞<br />

⎜ f ⎟ r2<br />

. Dessa forma, uma deflexão<br />

⎝ 2 ⎠<br />

angular θ 1 no “gimbal mount” ocasio<strong>na</strong>rá uma deflexão do laser <strong>na</strong> entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> objetiva<br />

de:<br />

f<br />

2<br />

1<br />

( f )<br />

θ = θ e o deslocamento entre os focos será d= f obj θ 2<br />

onde f obj é o foco <strong>da</strong><br />

2 1<br />

2<br />

objetiva. Escolhendo as distâncias focais <strong>da</strong>s diversas lentes pod<strong>em</strong>os ampliar ou<br />

comprimir o movimento no microscópio.<br />

Considerando‐se as equações acima, garantimos a condição de preenchimento <strong>da</strong><br />

objetiva, <strong>da</strong> rotação pivota<strong>da</strong> <strong>na</strong> sua abertura e do foco do laser no plano de visão, para<br />

obter uma pinça óptica dupla operando eficient<strong>em</strong>ente.<br />

2.2.2 O Sist<strong>em</strong>a Experimental de Pinça Dupla<br />

A Figura 38, apresenta uma foto do nosso sist<strong>em</strong>a experimental de pinça dupla.<br />

Os valores escolhidos para os pares de telescópio {(f1, f2), (f3, f4)} foram respectivamente<br />

39


30, 50, 2.5, 5 cm. As distâncias d1 e d2 foram 38 e 25 cm. Os feixes são movimentados<br />

pelo computador ou por joystick com atuadores piezoelétricos <strong>da</strong> NewFocus colocados<br />

<strong>em</strong> “gimbal mounts” <strong>da</strong> Newport e incid<strong>em</strong> <strong>na</strong> amostra através de uma objetiva de<br />

100X e abertura numérica de 1.25. Uma mini‐câmera CCD JVC faz parte do sist<strong>em</strong>a e<br />

registra as imagens <strong>da</strong>s partículas captura<strong>da</strong>s que pod<strong>em</strong> ser estoca<strong>da</strong>s e a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s<br />

qualitativa e quantitativamente <strong>em</strong> VHS ou no computador. O microscópio “upright”<br />

Olympus está equipado com uma plataforma motoriza<strong>da</strong> <strong>da</strong> Prior para movimentar a<br />

partícula captura<strong>da</strong> <strong>em</strong> x e y para aplicações com a pinça óptica simples e com um<br />

micrômetro com um rotator motorizado também <strong>da</strong> Prior para movimentos <strong>em</strong> z. Essa<br />

plataforma motoriza<strong>da</strong> pode ser controla<strong>da</strong> via joystick ou via software.<br />

PBS1<br />

telescópio<br />

GM2<br />

GM1<br />

PBS2<br />

Figura 38. Montag<strong>em</strong> <strong>da</strong> pinça óptica dupla.<br />

2.2.3 O Alinhamento<br />

Para alinhar a pinça dupla adotamos os seguintes procedimentos:<br />

1. S<strong>em</strong> qualquer lente e placas de meia‐on<strong>da</strong> e com o auxílio de um visor ou um cartão<br />

sensível ao infravermelho, dividimos, recombi<strong>na</strong>mos e direcio<strong>na</strong>mos o feixe<br />

infravermelho até o microscópio, assegurando a perpendiculari<strong>da</strong>de de ambos os feixes.<br />

Isso é feito para ca<strong>da</strong> feixe separa<strong>da</strong>mente, respeitando‐se as distâncias calcula<strong>da</strong>s nos<br />

itens anteriores. Para o primeiro feixe a perpendiculari<strong>da</strong>de é garanti<strong>da</strong> através de um<br />

espelho M1 fora do microscópio e M2 (BS) interior ao microscópio, assim como <strong>na</strong> pinça<br />

40


óptica simples. Com o “gimbal mount” GM2 e o BPS2 obrigamos os dois feixes a ser<strong>em</strong><br />

colineares se certificando <strong>da</strong> perpendiculari<strong>da</strong>de do segundo feixe.<br />

2. As lentes f1 e f 2 são coloca<strong>da</strong>s uma de ca<strong>da</strong> vez de forma que o círculos volt<strong>em</strong> a ser<br />

obtidos no mesmo ponto <strong>da</strong> TV e a abrir e fechar uniform<strong>em</strong>ente. Para isso só dev<strong>em</strong>os<br />

utilizar os atuadores <strong>da</strong>s lentes.<br />

3. Fi<strong>na</strong>lmente, introduzimos os telescópios L3 + L4<br />

e L5 + L6<br />

de ca<strong>da</strong> braço repetindo o<br />

alinhamento <strong>da</strong> pinça simples para ca<strong>da</strong> um deles separa<strong>da</strong>mente até que as respectivas<br />

pinças se encontrar<strong>em</strong> no plano de visão.<br />

Dessa forma, fomos capazes de capturar duas microesferas e movimentá‐las por<br />

todo o campo de visão no aumento de 100X. Também conferimos se a potência<br />

transmiti<strong>da</strong> se mantinha constante quando se movimentava a posição <strong>da</strong> pinça óptica<br />

dupla.<br />

2.2.4 Resultados Obtidos com a Pinça Óptica Dupla<br />

Abaixo estão algumas imagens obti<strong>da</strong>s <strong>em</strong> nosso laboratório de manipulação<br />

com pinça óptica duplas.<br />

a. b. c.<br />

Figura 39 a. Duas esferas captura<strong>da</strong>s, ca<strong>da</strong> uma por uma pinça óptica. b. H<strong>em</strong>ácia sendo<br />

estica<strong>da</strong> pela pinça dupla. c. H<strong>em</strong>ácias sendo desconecta<strong>da</strong>s pela pinça dupla.<br />

Um resultado interessante foi o comportamento <strong>da</strong> adesão de h<strong>em</strong>ácias entre si<br />

mostrado <strong>na</strong> Figura 40. Nesse experimento capturamos um aglomerado de h<strong>em</strong>ácias,<br />

chamado “rouleaux” <strong>na</strong> área de h<strong>em</strong>atologia, mantendo a pinça óptica <strong>da</strong> direita fixa<br />

enquanto se afastava a pinça <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong> para forçar a separação <strong>da</strong>s h<strong>em</strong>ácias. Da<br />

figura, percebe‐se que as h<strong>em</strong>ácias deslizam facilmente umas sobre as outras, mas se<br />

41


ligam fort<strong>em</strong>ente pelas bor<strong>da</strong>s. Esse é um probl<strong>em</strong>a interessante do ponto de vista<br />

biológico. Primeiro porque não se deseja que ocorra a adesão <strong>da</strong>s h<strong>em</strong>ácias com a<br />

formação de coágulos, e depois porque quase todos os mecanismos de infecção de<br />

células por parasitas e vírus se iniciam por um processo de adesão.<br />

a. b. c.<br />

Figura 40 a. “rouleaux” de h<strong>em</strong>ácias. b. deslizando entre si. c. adesão forte <strong>na</strong>s bor<strong>da</strong>s.<br />

Esse sist<strong>em</strong>a de pinça dupla abriu perspectivas para inúmeras novas aplicações<br />

que ain<strong>da</strong> não tiv<strong>em</strong>os t<strong>em</strong>po de explorar <strong>completa</strong>mente. Entre essas se encontram as<br />

medi<strong>da</strong>s de adesão <strong>em</strong> h<strong>em</strong>ácias e outros sist<strong>em</strong>as biológicos e estudos de quimiotaxia.<br />

2.3 Sist<strong>em</strong>as Experimentais para a Calibração <strong>da</strong> força <strong>da</strong> Pinça Óptica e Aplicações<br />

com Leishmanias e H<strong>em</strong>ácias<br />

Usamos um sist<strong>em</strong>a experimental de pinça óptica simples para realizar uma<br />

calibração <strong>da</strong> pinça óptica e também para estu<strong>da</strong>r h<strong>em</strong>ácias e leishmanias. A calibração<br />

<strong>da</strong> força pinça óptica é feita arrastando a partícula <strong>em</strong> um fluido com várias veloci<strong>da</strong>des<br />

e comparando as forças óptica e hidrodinâmica que dev<strong>em</strong> se anular no equilíbrio.<br />

O experimento consiste <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> do deslocamento do centro <strong>da</strong> microesfera <strong>em</strong><br />

relação à sua posição de equilíbrio <strong>na</strong> ausência e <strong>na</strong> presença do campo de veloci<strong>da</strong>des<br />

hidrodinâmico. Para isso foi necessário imprimir uma veloci<strong>da</strong>de conheci<strong>da</strong> e calibra<strong>da</strong><br />

ao estágio de translação <strong>da</strong> Prior que nos permite atingir controla<strong>da</strong>mente veloci<strong>da</strong>des<br />

tão peque<strong>na</strong>s quanto 10 µm/s. O experimento foi repetido para diferentes<br />

profundi<strong>da</strong>des z e com fluidos de diferentes viscosi<strong>da</strong>des. Para controlar a translação<br />

construímos um programa <strong>na</strong> linguag<strong>em</strong> LabView <strong>da</strong> Natio<strong>na</strong>l Instruments, que foi<br />

42


desenvolvido especialmente para facilitar a interface computador/equipamentos<br />

usando portas paralelas e seriais. Os códigos são escritos graficamente como se foss<strong>em</strong><br />

um diagrama de fluxo <strong>em</strong> que ape<strong>na</strong>s conectamos os blocos <strong>da</strong> maneira deseja<strong>da</strong>, como<br />

mostram as figuras do apêndice 2. Geralmente partimos dos ex<strong>em</strong>plos que<br />

acompanham o próprio software para modificá‐los de acordo com as nossas<br />

necessi<strong>da</strong>des.<br />

As imagens obti<strong>da</strong>s foram grava<strong>da</strong>s <strong>em</strong> vídeo ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que foram<br />

digitaliza<strong>da</strong>s usando a placa de captura de imagens <strong>da</strong> Pin<strong>na</strong>cle Syst<strong>em</strong> e a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s<br />

pelo software Image Pro‐Plus <strong>da</strong> Media Cybernetic.<br />

Um dos fatores mais importantes para a obtenção de uma calibração precisa <strong>da</strong><br />

força <strong>da</strong> pinça óptica é a medi<strong>da</strong> correta <strong>da</strong> potência. O probl<strong>em</strong>a de utilizar um<br />

medidor de potência convencio<strong>na</strong>l é que ele fornece a leitura erra<strong>da</strong> se o feixe incidente<br />

não for paralelo. Conforme a Figura 41, isso pode ocorrer por dois motivos: diferença de<br />

caminho óptico e reflexão exter<strong>na</strong> total. Porém, o feixe <strong>da</strong> pinça óptica é<br />

obrigatoriamente altamente convergente.<br />

l l 2 > l 0<br />

2 l 0<br />

Figura 41. Detector de potência convencio<strong>na</strong>l e a incli<strong>na</strong>ção dos raios.<br />

Para solucio<strong>na</strong>r esse probl<strong>em</strong>a optamos pelo uso de uma esfera integradora<br />

capaz de realizar uma medi<strong>da</strong> proporcio<strong>na</strong>l de todos os raios incidentes<br />

independent<strong>em</strong>ente de seus ângulos. A idéia <strong>da</strong> esfera integradora é a de espalhar<br />

<strong>completa</strong>mente os raios incidentes tor<strong>na</strong>ndo a ilumi<strong>na</strong>ção de um detector uniforme,<br />

assim como mostra a Figura 42. Ela opera <strong>da</strong> seguinte forma: a luz é coleta<strong>da</strong> por uma<br />

de suas portas e é refleti<strong>da</strong> e espalha<strong>da</strong> no seu interior de forma que a luz que sai por<br />

uma <strong>da</strong>s outras portas, <strong>na</strong> qual é detecta<strong>da</strong>, <strong>em</strong>bora menos intensa, é uniforme. O<br />

anteparo <strong>da</strong> figura é utilizado para evitar que os raios inci<strong>da</strong>m diretamente no detector.<br />

43


Figura 42. Esfera integradora e algumas de suas aplicações.<br />

Os materiais usados no interior <strong>da</strong> esfera integradora, comumente spectralon,<br />

spectraflect, duraflect e infragold, são altamente refletores e espalhadores. Para a<br />

medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> grandeza de interesse, seja ela, a potência, o fluxo, a intensi<strong>da</strong>de ou a<br />

irradiância, há a necessi<strong>da</strong>de de se fazer uma calibração, determi<strong>na</strong>ndo a refletância <strong>da</strong><br />

esfera integradora com uma fonte conheci<strong>da</strong>. A relação entre as potências de entra<strong>da</strong> e<br />

saí<strong>da</strong> é:<br />

Pe<br />

ρ Ae<br />

As<br />

=<br />

P (1 −ρ (1 −A A ))<br />

a p s<br />

(2. 16),<br />

onde<br />

P<br />

e<br />

é a potência <strong>na</strong> porta de saí<strong>da</strong>,<br />

P<br />

a<br />

é a potência incidente,<br />

A<br />

e<br />

é a área <strong>da</strong> porta<br />

de saí<strong>da</strong>,<br />

A<br />

s<br />

é a área <strong>da</strong> esfera integradora,<br />

A<br />

p<br />

é a área <strong>da</strong>s somas <strong>da</strong>s portas e ρ é a<br />

refletância.<br />

No nosso caso, não há a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> calibração, pois desejamos ape<strong>na</strong>s<br />

determi<strong>na</strong>r o quanto se perde <strong>da</strong> potência incidente <strong>na</strong> objetiva e <strong>na</strong> lamínula. Dessa<br />

forma, basta realizar uma medi<strong>da</strong> comparativa, entre a potência do feixe de laser<br />

paralelo e do feixe convergente s<strong>em</strong> modificar a geometria <strong>da</strong> esfera integradora. Os<br />

esqu<strong>em</strong>as do posicio<strong>na</strong>mento <strong>da</strong> esfera integradora para as medi<strong>da</strong>s de feixes paralelos<br />

e convergentes são mostrados <strong>na</strong> Figura 43. Com essa razão e a medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> potência do<br />

feixe paralelo, agora determi<strong>na</strong><strong>da</strong> com precisão, obt<strong>em</strong>os a potência total transmiti<strong>da</strong><br />

pela pinça óptica, incluindo as per<strong>da</strong>s <strong>da</strong> objetiva, tanto <strong>na</strong> sua abertura quanto <strong>na</strong>s<br />

reflexões, e considerando o óleo de imersão e a lamínula.<br />

44


detector<br />

detector<br />

feixe<br />

anteparo<br />

Figura 43. Configuração de medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> potência para feixes paralelos e convergentes.<br />

Para isso usamos uma esfera integradora Labsphere de spectralon que t<strong>em</strong> mais<br />

de 95% de refletância para comprimentos de on<strong>da</strong> de 250 a 2500 nm e com 2.5 cm de<br />

raio.<br />

2.4 Sist<strong>em</strong>a Experimental de Espectroscopia de Força e Medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> Força Óptica <strong>em</strong><br />

Função do Deslocamento Centro‐Foco e <strong>da</strong> Polarização<br />

O objetivo desse experimento foi caracterizar quantitativamente, dentro de um<br />

modelo mais sofisticado do que a óptica geométrica, a força óptica <strong>em</strong> uma microesfera<br />

captura<strong>da</strong> <strong>na</strong> pinça óptica <strong>em</strong> função do comprimento de on<strong>da</strong>, <strong>da</strong> polarização e <strong>da</strong><br />

distância do foco do laser ao centro <strong>da</strong> microesfera. Como a pinça óptica pode ser é um<br />

instrumento muito sensível para medi<strong>da</strong>s de forças decidimos utilizá‐la para<br />

caracterizar a sua própria força óptica. Para tanto s<strong>em</strong>pre utilizamos dois lasers, um<br />

para manter a microesfera fixa <strong>em</strong> determi<strong>na</strong><strong>da</strong> posição e o outro, de potência b<strong>em</strong><br />

menor e modulado por um chopper mecânico, para perturbar essa partícula e estu<strong>da</strong>r<br />

sua ação <strong>em</strong> função dos parâmetros desejados. Os dois lasers que utilizamos nessa<br />

montag<strong>em</strong> foram Nd:YAG e o Ti:Safira cw.<br />

Para estu<strong>da</strong>r a força óptica <strong>em</strong> função do comprimento de on<strong>da</strong> e polarização<br />

usamos o laser de Nd:YAG para fixar a microesfera, e o de Ti:Safira sintonizável, para<br />

causar a perturbação conforme mostra o esqu<strong>em</strong>a <strong>da</strong> Figura 44. Neste caso o laser de<br />

Ti:Safira é modulado por um chopper mecânico e o monitoramento do movimento <strong>da</strong><br />

microesfera é realizado através <strong>da</strong> luz de um laser de HeNe cujo espalhamento é<br />

modulado pelo movimento <strong>da</strong> microesfera. Essa luz espalha<strong>da</strong> é detecta<strong>da</strong> pela<br />

fotomultiplicadora e filtra<strong>da</strong> eletronicamente pelo amplificador lock‐in para medir<br />

45


ape<strong>na</strong>s si<strong>na</strong>is com a mesma freqüência de modulação do chopper. Para varrer o<br />

comprimento de on<strong>da</strong> foi necessário construir um sist<strong>em</strong>a para sintonizar o laser de<br />

Ti:Safira tanto do ponto de vista mecânico quanto de software. Usando um espelho<br />

dicróico juntamos os dois feixes de laser enviados para o microscópio.<br />

Por outro lado, para caracterizar a força <strong>em</strong> função <strong>da</strong> posição do foco e<br />

polarização invert<strong>em</strong>os, usando o Ti:Safira para fixar a microesfera e o Nd:YAG para<br />

perturbá‐la, assim como ilustra o esqu<strong>em</strong>a <strong>da</strong> Figura 45. Agora o laser de Nd:YAG é<br />

qu<strong>em</strong> está sendo modulado pelo chopper mecânico. Para esse experimento foi<br />

fun<strong>da</strong>mental o movimento controlado por computador do foco do laser de Nd:YAG<br />

permitido pela montag<strong>em</strong> <strong>da</strong> pinça dupla. Dessa forma obtiv<strong>em</strong>os os resultados<br />

discutidos no capítulo 3.<br />

fotomultiplicadora<br />

lockin<br />

laser Nd:Yag<br />

BS<br />

Controlador do<br />

comprimento de on<strong>da</strong><br />

filtros<br />

BS<br />

laser argônio<br />

filtros<br />

laser Ti:Sa<br />

contínuo<br />

laser HeNe<br />

chopper<br />

Figura 44. Sist<strong>em</strong>a de observação dos modos de ressonância de Mie com pinças ópticas.<br />

46


fotomultiplicadora<br />

controlador dos<br />

atuadores<br />

lockin<br />

lockin<br />

atuadores<br />

piezoelétricos<br />

laser Nd:Yag<br />

BS<br />

filtros<br />

chopper<br />

BS<br />

Placas de ½ on<strong>da</strong><br />

laser argônio<br />

laser HeNe<br />

laser Ti:Sa<br />

contínuo<br />

Figura 45. Sist<strong>em</strong>a experimental <strong>da</strong> medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de de força <strong>da</strong> pinça óptica.<br />

2.4.1 Descrição dos Componentes do Sist<strong>em</strong>a<br />

2.4.1.A Laser de Ti:Safira sintonizável cw<br />

O laser de Ti:Safira cw utilizado <strong>na</strong>s nossas medi<strong>da</strong>s foi o modelo 3900S <strong>da</strong><br />

Spectra Physics. Ele é um laser de estado sólido bombeado opticamente por um laser de<br />

argônio <strong>da</strong> Coherent modelo Innova 400 que fornece uma potência de saí<strong>da</strong> de 15 W ao<br />

ser alimentado com 60A no modo multilinha. As linhas mais intensas do laser de<br />

Argônio são as de 488 nm e 514 nm as quais além de bombear opticamente geram calor<br />

que deve ser dissipado por um circuito de refrigeração de água gela<strong>da</strong>. Tanto a potência<br />

quanto o modo são fun<strong>da</strong>mentais para um bom funcio<strong>na</strong>mento dos lasers de Ti:Safira e<br />

esses dois parâmetros depend<strong>em</strong> principalmente <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura do laser, a qual<br />

depende <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura <strong>da</strong> água gela<strong>da</strong>. Isso tor<strong>na</strong> a t<strong>em</strong>peratura de refrigeração <strong>da</strong><br />

água, b<strong>em</strong> como o seu fluxo, parâmetros críticos do sist<strong>em</strong>a como um todo.<br />

47


O principal componente de um laser de Ti:Safira é o íon Ti 3+ <strong>em</strong>bebido <strong>em</strong> um<br />

cristal de Safira (Al2O3), caracterizado por uma ban<strong>da</strong> larga de luminescência, uma<br />

estrutura de níveis simples e uma seção de choque de ganho relativamente alta, assim<br />

como mostra a Figura 46. A estrutura eletrônica do Ti 3+ envolve uma cama<strong>da</strong> fecha<strong>da</strong><br />

mais um elétron 3d. Os níveis 3d têm sua degenerescência levanta<strong>da</strong> pelo campo<br />

cristalino do cristal hospedeiro. Dessa forma o estado excitado 2 E0 é duplamente<br />

degenerado com uma energia <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 19000 cm ‐1 (1000 cm ‐1 = 124 meV), enquanto<br />

o nível fun<strong>da</strong>mental é composto de três estados 2 T2 quase degenerados, sendo um o<br />

estado fun<strong>da</strong>mental e os outros dois separados por energias de 38 cm ‐1 e 107 cm ‐1 . A<br />

transição laser ocorre entre o estado 2 E0 e o estado 2 T2 de energia mais alta (107 cm ‐1 ),<br />

indicando que dev<strong>em</strong>os resfriar o cristal para evitar popular termicamente o nível laser<br />

inferior (l<strong>em</strong>brando que para T = 300K, KBT = 208 cm ‐1 ) e diminuir a eficiência do laser.<br />

A curva de absorção se estende por aproxima<strong>da</strong>mente 250 nm com o máximo <strong>em</strong> torno<br />

de 500 nm. Assim, o laser de argônio operando continuamente e <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as linhas do<br />

visível é a escolha mais usa<strong>da</strong> para bombear o laser de Ti:Safira. Na Figura 46 também<br />

mostramos os espectros de absorção e o de <strong>em</strong>issão, que t<strong>em</strong> uma largura à meia altura<br />

de quase 200 nm, com um pico <strong>em</strong> torno de 780 nm; ou seja, o laser de Ti:Safira é um<br />

laser sintonizável. Por isso, o utilizamos <strong>em</strong> sua forma cw para os experimentos de<br />

ressonância de Mie cujos resultados estão no capítulo 3.<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a. u.)<br />

absorção<br />

<strong>em</strong>issão<br />

Energia 10 3 cm -1<br />

relaxação<br />

2 E g fluorescência<br />

infravermelha<br />

absorção<br />

azul-verde<br />

2 T 2g<br />

comprimento de on<strong>da</strong><br />

Figura 46. Espectros de absorção e <strong>em</strong>issão e esqu<strong>em</strong>a de níveis do Ti:Safira.<br />

A Figura 47 apresenta um esqu<strong>em</strong>a <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>de do laser de Ti:Safira. O laser de<br />

Argônio é focalizado no bastão de Ti:Safira através do espelho M1 e atravessa o espelho<br />

dicróico M2, criando o feixe focalizado de cor verde no bastão de Ti:Safira. O feixe no<br />

48


infravermelho é <strong>completa</strong>mente refletido pelos espelhos M2 e M3 para o espelho HR<br />

(“High Reflector”) e o OC (“Output Coupler”). Só haverá ganho <strong>na</strong>s regiões com alta<br />

intensi<strong>da</strong>de do laser de bombeio no bastão. Por isso é tão importante o casamento de<br />

modos entre o laser de bombeio e do infravermelho. Os espelhos HR e OC têm seu foco<br />

um no outro, formando a cavi<strong>da</strong>de estável. O OC transmite 10% <strong>da</strong> luz intracavi<strong>da</strong>de.<br />

Feixe de saí<strong>da</strong> do Laser<br />

Placa birrefringente<br />

Bastão de Ti:safira<br />

Output Coupler<br />

Laser de Ar:Bombeio<br />

M 1 M 2 M 3<br />

Feixe intracavi<strong>da</strong>de do infravermelho<br />

Espelho High Reflector<br />

Figura 47. Esqu<strong>em</strong>a <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>de do laser de Ti:Safira.<br />

A placa birrefringente do esqu<strong>em</strong>a faz o papel do el<strong>em</strong>ento de sintonia <strong>da</strong><br />

cavi<strong>da</strong>de, modulando as per<strong>da</strong>s por reflexão. Exist<strong>em</strong> 4 superfícies intracavi<strong>da</strong>de<br />

coloca<strong>da</strong>s <strong>em</strong> ângulo de Brewster para a polarização p, 2 superfícies para a placa<br />

birrefringente e 2 para o bastão de Ti:Safira, significando que as per<strong>da</strong>s para a<br />

polarização s serão apreciáveis. Uma placa birrefringente mu<strong>da</strong> o estado de polarização<br />

<strong>da</strong> luz incidente de linearmente polariza<strong>da</strong>, p, para elíptica, circular e até polariza<strong>da</strong><br />

perpendicularmente, s, dependendo do seu ângulo de rotação, do comprimento de<br />

on<strong>da</strong> <strong>da</strong> luz incidente e de sua espessura. Não há qualquer per<strong>da</strong> extra para o<br />

comprimento de on<strong>da</strong> que não mu<strong>da</strong> a polarização linear de incidência, enquanto os<br />

outros comprimentos de on<strong>da</strong> sofrerão as per<strong>da</strong>s de reflexão. Dessa forma, o laser é<br />

obrigado a operar <strong>em</strong> torno do comprimento de on<strong>da</strong> de menor per<strong>da</strong>. A sintonia é<br />

obti<strong>da</strong> através <strong>da</strong> rotação dessa placa birrefringente. A curva de sintonia para diferentes<br />

conjuntos de óptica não consta no manual do laser mas é similar a Figura 48 que é<br />

referente laser Ti:Safira pulsado ‐ Tsu<strong>na</strong>mi.<br />

49


potência (W)<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

Figura 48. Curva de sintonia do Ti:Safira.<br />

2.4.1.B Fotomultiplicadora<br />

Na fotomultiplicadora o primeiro elétron é <strong>em</strong>itido através do efeito fotoelétrico<br />

e dá orig<strong>em</strong> a uma <strong>em</strong>issão <strong>em</strong> cascata e amplifica<strong>da</strong> através <strong>da</strong> colisão com placas<br />

polariza<strong>da</strong>s contra as quais foi acelerado como mostra a Figura 49. A <strong>em</strong>issão do elétron<br />

fotoexcitado requer uma energia mínima para ultrapassar a função trabalho <strong>da</strong><br />

superfície dos metais e a reposta espectral <strong>da</strong>s fotomultiplicadoras tende a ser nula <strong>na</strong><br />

região do infravermelho. Tratamentos <strong>da</strong> interface como GaAs pod<strong>em</strong> ampliar a região<br />

de resposta espectral, até pouco t<strong>em</strong>po limita<strong>da</strong> <strong>em</strong> torno de 900‐1000 nm.<br />

fótons<br />

catodo<br />

janela<br />

dinodo<br />

anodo<br />

resistores<br />

medidor<br />

fonte<br />

Figura 49. Configuração de uma fotomultiplicadora.<br />

O fator de amplificação depende <strong>da</strong> voltag<strong>em</strong> de polarização utiliza<strong>da</strong>, que foi<br />

manti<strong>da</strong>, no nosso caso até o valor de 600 V, uma vez que a intensi<strong>da</strong>de era bastante<br />

alta. As fotomultiplicadoras são muito sensíveis sendo importante evitar excesso de luz<br />

<strong>na</strong>s mesmas que pod<strong>em</strong> <strong>da</strong>nificá‐las por excesso de corrente. Nós fiz<strong>em</strong>os as medi<strong>da</strong>s<br />

com uma fotomultiplicadora Hamamatsu R282, com t<strong>em</strong>pos de resposta <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de<br />

ns e resposta espectral entre 185‐700 nm conforme pod<strong>em</strong>os ver <strong>na</strong> Figura 50.<br />

50


Alimentamos a fotomultiplicadora com uma fonte de tensão <strong>da</strong> Products for Reserch<br />

Inc.<br />

1000000<br />

100000<br />

10000<br />

sensibili<strong>da</strong>de radiante<br />

do anodo (A/W)<br />

eficiência quântica %<br />

1000<br />

sensibili<strong>da</strong>de relativa %<br />

100<br />

100 200 300 400 500 600 700 800 900<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

Figura 50. Resposta espectral <strong>da</strong> fotomultiplicadora.<br />

2.4.1.C Amplificador Lock‐in<br />

A idéia do amplificador lock‐in é amplificar ape<strong>na</strong>s o si<strong>na</strong>l de entra<strong>da</strong> de mesma<br />

freqüência que um si<strong>na</strong>l de referência. Para tanto ele faz a seguinte operação com o<br />

si<strong>na</strong>l:<br />

τ<br />

S = ∫ S ()sen( t ω t+φ)<br />

dt (2. 17).<br />

saí<strong>da</strong> entra<strong>da</strong> ref<br />

0<br />

O si<strong>na</strong>l de entra<strong>da</strong> pode ser decomposto <strong>na</strong>s suas freqüências por uma transforma<strong>da</strong><br />

seno de Fourier, por ex<strong>em</strong>plo, Sentra<strong>da</strong><br />

= ∫ S( ω)sen( ωt)<br />

dω<br />

(2. 18).<br />

E assim obt<strong>em</strong>os:<br />

∞<br />

S = S( ω)[ sen( ωt)sen( ω t+φ) dt]<br />

dω<br />

saí<strong>da</strong><br />

el<strong>em</strong>entar resultando <strong>em</strong>:<br />

0<br />

∞ τ<br />

∫ ∫ ref<br />

(2. 19). A integral <strong>em</strong> τ é<br />

0 0<br />

τ τ τ<br />

1 1<br />

sen( ωt) sen( ω rt +φ ) dt = cos[( ω−ω r) t +φ] dt − cos[( ω+ω r) t +φ]<br />

dt<br />

2 2<br />

∫ ∫ ∫<br />

0 0 0<br />

para<br />

r<br />

1 sen[( ω−ωr) τ+φ] 1 sen[( ω s +ωr) τ+φ] 1 sen[( ω−ωr) τ+φ]<br />

= − ≅<br />

(2. 20)<br />

2 ( ω−ω ) 2 ( ω+ω ) 2 ( ω−ω )<br />

r r r<br />

w grande. O termo sen[( ω −ω ) τ+φ]/ 2( ω−ω ) funcio<strong>na</strong> como um filtro<br />

r<br />

r<br />

vetorial de freqüência tendendo à função delta de Dirac para τ tendendo à infinito.<br />

Nesse caso, o si<strong>na</strong>l de saí<strong>da</strong> é <strong>da</strong>do por S = S( ω )sen( φ ), ou seja, o lock‐in mede a<br />

saí<strong>da</strong><br />

51<br />

ref


intensi<strong>da</strong>de e a fase <strong>da</strong> componente <strong>na</strong> freqüência de referência do si<strong>na</strong>l. O t<strong>em</strong>po de<br />

integração τ pode ser escrito <strong>em</strong> função <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de ciclos <strong>da</strong> freqüência de<br />

referência, τ = n . 2π / ω 0 , então ∆ω = 2π / τ = ω0 / n é largura de ban<strong>da</strong> que o lock‐in deixa<br />

passar. A regra prática aqui é usar n <strong>em</strong> torno de 10. Desta forma, quanto maior o<br />

t<strong>em</strong>po de integração utilizado, mais se filtram as freqüências indeseja<strong>da</strong>s. Por outro<br />

lado, esse t<strong>em</strong>po de integração define o t<strong>em</strong>po mínimo s<strong>em</strong> variações no si<strong>na</strong>l<br />

necessário para a filtrag<strong>em</strong> do ruído, definindo o t<strong>em</strong>po total de uma varredura. Outra<br />

regra prática utiliza<strong>da</strong> é que ca<strong>da</strong> passo para a aquisição de um si<strong>na</strong>l d<strong>em</strong>ore um t<strong>em</strong>po<br />

igual ao t<strong>em</strong>po de integração. Isso significa que o t<strong>em</strong>po de varredura para obter 600<br />

pontos com t<strong>em</strong>po de integração de 1 s é de 600 s, ou 10 min.<br />

No nosso caso, por ex<strong>em</strong>plo, o laser de Ti:Safira é o laser modulado pelo chopper<br />

mecânico de onde sai o si<strong>na</strong>l de referência para o lock‐in. O laser de Ti:Safira obriga a<br />

partícula a se mover nessa mesma freqüência modulando o espalhamento <strong>da</strong> luz do<br />

laser de HeNe. A fotomultiplicadora só detecta a luz espalha<strong>da</strong> do laser de HeNe,<br />

modula<strong>da</strong> e não modula<strong>da</strong>, pois utilizamos um filtro que corta o laser de Ti:Safira e o<br />

Nd:YAG. O lock‐in então fi<strong>na</strong>lmente filtra ape<strong>na</strong>s a componente <strong>da</strong> luz espalha<strong>da</strong><br />

modula<strong>da</strong> <strong>na</strong> freqüência de referência, ou seja, a variação do espalhamento gera<strong>da</strong> pelo<br />

movimento <strong>da</strong> microesfera.<br />

Utilizamos o lock‐in SR830 <strong>da</strong> Stanford Research Syst<strong>em</strong> com o si<strong>na</strong>l de<br />

referência modulado <strong>em</strong> 12 Hz e t<strong>em</strong>po de integração de 1 s no experimento de<br />

espectroscopia de força. Na medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> força <strong>em</strong> função <strong>da</strong> posição aumentamos a<br />

freqüência de modulação para 80 Hz mas deixamos o t<strong>em</strong>po de integração <strong>em</strong> 1 s.<br />

2.4.2 Detalhes Experimentais <strong>da</strong> Aplicação de Espectroscopia de Força<br />

Observamos os modos de ressonância de Mie, ou “Morphology Dependent<br />

Reso<strong>na</strong>nces” (MDR),<br />

<strong>em</strong> microesferas de poliestireno de 9 µm diluí<strong>da</strong>s <strong>em</strong> água<br />

coloca<strong>da</strong>s <strong>em</strong> uma câmara de Neubauer. Para garantir que o laser de Ti:Safira<br />

representasse ape<strong>na</strong>s uma perturbação usamos filtros de densi<strong>da</strong>de neutra para atenuá‐<br />

52


lo até potências 10 vezes menores do que a do laser <strong>da</strong> pinça óptica. O programa para<br />

varrer o comprimento de on<strong>da</strong> do laser de Ti:Safira e fazer a aquisição do si<strong>na</strong>l foi<br />

escrito <strong>em</strong> LabView, com entra<strong>da</strong>s para as variáveis de controle tais como tamanho do<br />

passo, t<strong>em</strong>po de espera entre medi<strong>da</strong>s sucessivas e média entre as medi<strong>da</strong>s. O<br />

comprimento de on<strong>da</strong> do laser é ajustado através de um motor de passo de rotação<br />

colocado no micrômetro que controla uma placa birrefringente no interior <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>de<br />

do laser. A relação entre o comprimento de on<strong>da</strong> e o passo do motor é calibra<strong>da</strong> através<br />

de uma CCD e um monocromador.<br />

Nós observamos os espectros de força MDR <strong>em</strong> 4 situações distintas que<br />

pod<strong>em</strong>os classificar <strong>em</strong> dois grupos:<br />

1. Feixe de Ti:Safira incidindo como uma on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong>. Para isso movimentamos a<br />

distância entre as lentes do telescópio do Ti:Safira até que seu foco estivesse muito<br />

distante do foco do laser de Nd:YAG. Com esse deslocamento, o raio do Ti:Safira se<br />

tornou <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 40% maior do que o raio <strong>da</strong> microesfera no plano horizontal de seu<br />

centro, conforme mostra a Figura 51 a. Nessa situação, por simetria, o movimento <strong>da</strong><br />

microesfera se dá no direção vertical, z.<br />

Nd:Yag<br />

x<br />

z<br />

Ti:Sa<br />

Nd:Yag<br />

a<br />

Ti:Sa<br />

Figura 51. Posição do feixe de Nd:YAG e Ti:Safira incidindo como uma on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong> a. e<br />

focalizado b. para as medi<strong>da</strong>s de modos MDR. Onde z é a direção de propagação.<br />

2. Feixe de Ti:Safira como pinça óptica incidindo lateralmente. Nesse caso fiz<strong>em</strong>os os<br />

focos do laser de Nd:YAG e de Ti:Safira coincidir<strong>em</strong> no centro <strong>da</strong> microesfera até que<br />

não existisse qualquer modulação <strong>da</strong> luz espalha<strong>da</strong>. Usando o atuador de uma <strong>da</strong> lentes<br />

movimentamos o feixe de Ti:Safira até a bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> microesfera assim como ilustra a<br />

53<br />

b


Figura 51 b. Esse é um ponto crítico <strong>da</strong> medi<strong>da</strong>, não se observam os modos <strong>em</strong> qualquer<br />

posição <strong>da</strong> bor<strong>da</strong>, pois os modos de uma microcavi<strong>da</strong>de possu<strong>em</strong> mínimos e máximos<br />

<strong>na</strong> superfície, como ilustrado <strong>na</strong> Figura 52. É necessário acertar um máximo do modo. O<br />

procedimento experimental utilizado foi mover a posição do laser de Ti:Safira até<br />

observar um forte espalhamento no lado oposto, indicando que a luz acopla<strong>da</strong> <strong>na</strong><br />

microcavi<strong>da</strong>de deu a volta sobre a mesma. Essas medi<strong>da</strong>s foram feitas <strong>na</strong>s direções x, y<br />

e a 45º entre x e y, sendo x o eixo definido pela polarização do laser de Ti:Safira,<br />

conforme mostra a Figura 53. As 3 medi<strong>da</strong>s foram feitas <strong>na</strong> mesma microesfera.<br />

a 2 b 2<br />

a 3 b 3<br />

a 4<br />

b 4<br />

E ∝ N e12 E ∝ M o12 E ∝ N e13 E ∝ M o13 E ∝ N e14 E ∝ M o14<br />

Figura 52. Modos de Mie no interior de uma esfera.<br />

z<br />

x<br />

y<br />

a b c<br />

sentido <strong>da</strong> polarização<br />

Figura 53. Posição do feixe focalizado de Ti:Safira para as medi<strong>da</strong>s de modos MDR. Figura<br />

representando o plano do microscópio, vista <strong>da</strong> posição z de incidência do feixe. a. polarizado<br />

paralelamente ao movimento <strong>da</strong> partícula. b. polarizado perpendicularmente ao movimento <strong>da</strong><br />

partícula. c. polarizado a 45 o <strong>em</strong> relação o movimento <strong>da</strong> partícula. O ponto vermelho<br />

representa o laser de Ti:Safira.<br />

2.4.3 Detalhes Experimentais <strong>da</strong> Medi<strong>da</strong> de Força Óptica <strong>em</strong> Função do Deslocamento<br />

Centro‐Foco e <strong>da</strong> Polarização<br />

O movimento de ca<strong>da</strong> um dos feixes de Nd:YAG e conseqüent<strong>em</strong>ente o<br />

movimento <strong>da</strong> partícula é feito através dos atuadores piezoelétricos <strong>da</strong>s montagens de<br />

“gimbal mount”. Nesse caso, como já mencio<strong>na</strong>do, a pinça dupla do Nd:YAG foi usa<strong>da</strong><br />

para perturbar a posição <strong>da</strong> microesfera captura<strong>da</strong> pelo laser de Ti:Safira. Garantimos<br />

54


que as potências dos dois braços foss<strong>em</strong> as mesmas utilizando as placas de meia on<strong>da</strong><br />

para dividir a potência. A seguir obrigamos que todos os feixes de lasers, o Ti:Safira e os<br />

dois braços <strong>da</strong> pinça dupla do Nd:YAG, capturass<strong>em</strong> a partícula <strong>na</strong> mesma posição x, y<br />

e z, movimentando‐os até não mais observar qualquer modulação <strong>da</strong> microesfera.<br />

Nesse ponto atenuamos igualmente os dois braços do Nd:YAG através de um filtro de<br />

densi<strong>da</strong>de neutra após o PBS2, tor<strong>na</strong>ndo‐os ape<strong>na</strong>s uma perturbação frente ao Ti:Safira,<br />

<strong>da</strong> mesma forma que <strong>na</strong> experiência de espectroscopia de força.<br />

Bloqueamos um dos feixes <strong>da</strong> pinça dupla e movimentamos a posição do outro<br />

no microscópio através de um software de controle do atuador usando LabView para<br />

fazer a aquisição de si<strong>na</strong>l modulado no lock‐in versus distância do Nd:YAG ao centro<br />

<strong>da</strong> microesfera, assim como pod<strong>em</strong>os ver <strong>na</strong> Figura 54. Repetimos a medi<strong>da</strong> trocando os<br />

braços bloqueados e desbloqueado. Nesses dois casos estamos medindo deslocamentos<br />

diferentes, com o movimento horizontal <strong>da</strong> partícula paralelo ou perpendicular à<br />

polarização do laser de Nd:YAG. A varredura foi feita desde zero até 6 µm, para<br />

certificar que não houvesse mais luz atingindo a partícula, com passo de 0.1 µm, para a<br />

microesfera de 4.5 µm de raio. O manual dos atuadores piezoelétricos <strong>da</strong> NewFocus<br />

afirma que os mesmos apresentam um erro aleatório de 10 % no seu posicio<strong>na</strong>mento.<br />

Adquirimos esses atuadores ape<strong>na</strong>s para controlar a posição <strong>da</strong>s duas pinças <strong>da</strong> pinça<br />

dupla de forma monitora<strong>da</strong>, de modo que esse erro não significava qualquer probl<strong>em</strong>a.<br />

A precisão dessa medi<strong>da</strong>, entretanto, teria sido b<strong>em</strong> mais alta se dispuséss<strong>em</strong>os de um<br />

estágio de rotação mais preciso. Apesar disso os resultados foram muito claros e a<br />

concordância teoria–resultados experimentais foi boa, conforme se verá no capítulo 3.<br />

Nd:Yag<br />

Ti:Sa<br />

x<br />

z<br />

Figura 54. Configuração <strong>da</strong> movimentação dos feixes de Nd:YAG para a medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de<br />

<strong>em</strong> função do deslocamento centro‐foco.<br />

55


2.5 Sist<strong>em</strong>a Experimental de Pinça Óptica com Espectroscopias Confocais<br />

Fi<strong>na</strong>lmente, a última montag<strong>em</strong> experimental foi a <strong>da</strong> incorporação de<br />

espectroscopias linear e não linear à pinça óptica. Essa montag<strong>em</strong> <strong>na</strong> reali<strong>da</strong>de se inicia<br />

<strong>em</strong> 1999 com obras civis para trazer o laboratório de pinça óptica para um espaço<br />

vizinho ao laboratório onde tínhamos o sist<strong>em</strong>a de lasers de pulsos curtos operacio<strong>na</strong>l e<br />

com a aquisição de duas mesas ópticas extras para acoplamento com as duas já<br />

existentes deixando todos os lasers e microscópios <strong>em</strong> uma única mesa óptica. Isso<br />

significou um bom investimento de t<strong>em</strong>po e trabalho, mas nos permitiu acoplar os<br />

diferentes lasers à pinça óptica assim como a incorporação de espectroscopias. Desde<br />

1998, após um estudo <strong>na</strong> literatura utilizado como exame de qualificação, decidimos<br />

incorporar duas técnicas espectroscópicas à pinça óptica: luminescência excita<strong>da</strong> por<br />

absorção de dois fótons, usando o laser de Ti:Safira de f<strong>em</strong>tosegundos de nosso<br />

laboratório, e micro Raman, usando laser de Ti:Safira cw. Entretanto, só no fi<strong>na</strong>l de 2002<br />

tiv<strong>em</strong>os condições técnicas de <strong>completa</strong>r esse projeto. Basicamente nos faltava o<br />

conjunto monocromador, CCD e filtros super NOTCH plus para impl<strong>em</strong>entar essas<br />

idéias. A montag<strong>em</strong> fi<strong>na</strong>l está mostra<strong>da</strong> no esqu<strong>em</strong>a <strong>da</strong> Figura 55.<br />

VCR<br />

computador<br />

laser Nd:Yag<br />

BS<br />

pinça dupla<br />

BS<br />

filtros notch<br />

lente<br />

laser Ti:Sa<br />

pulsado<br />

laser Ti:Sa<br />

contínuo<br />

laser argônio<br />

monocromador<br />

CCD<br />

Figura 55. Sist<strong>em</strong>a Experimental de Espectroscopias Raman, Mutifotônica, Hiper Raman e<br />

Hiper Rayleigh acopla<strong>da</strong>s à pinça óptica.<br />

56


O laser de Nd:YAG continua a fazer o papel <strong>da</strong> pinça óptica, simples ou dupla,<br />

enquanto o laser de argônio pode bombear ou o laser de Ti:Safira cw, para<br />

espectroscopia micro Raman, ou o laser de Ti:Safira pulsado de f<strong>em</strong>tosegundos, para<br />

espectroscopias não lineares. Ca<strong>da</strong> um desses lasers t<strong>em</strong> seu próprio telescópio e entra<br />

colinear no microscópio, exigindo alinhamento de todos <strong>na</strong> mesma posição focal <strong>em</strong> x, y<br />

e z. Os lasers de Ti:Safira, cw ou pulsado, são utilizados para excitar Raman, ou<br />

luminescência, Hiper Rayleigh ou Hiper Raman. A coleta do si<strong>na</strong>l gerado é feita através<br />

<strong>da</strong> mesma objetiva utiliza<strong>da</strong> <strong>na</strong> excitação, ou seja estamos utilizando a geometria de<br />

retroespalhamento, onde o “beam splitter” BS é utilizado para enviar ape<strong>na</strong>s o si<strong>na</strong>l<br />

retroespalhado ao monocromador. Esse é o esqu<strong>em</strong>a básico do sist<strong>em</strong>a, sobre o qual<br />

dev<strong>em</strong>os acrescentar detalhes s<strong>em</strong> os quais não é possível a obtenção de resultados, tais<br />

como procedimentos e respostas espectrais dos diferentes componentes. Para tanto<br />

vamos descrever primeiro os componentes principais, ou seja, laser de Ti:Safira de<br />

f<strong>em</strong>tosegundos, monocromador, CCD e os filtros super NOTCH plus.<br />

2.5.1 Laser de Ti:Safira de f<strong>em</strong>tosegundos (Tsu<strong>na</strong>mi)<br />

Esse laser parte <strong>da</strong> geometria básica do Ti:Safira cw descrita <strong>na</strong> seção 2.4.1A<br />

modificando‐a para gerar pulsos entre 60 a 120 f<strong>em</strong>tosegundos (FWHM – “Full Width<br />

Half Maximum”) de duração, potência média de até 2 W, potência de pico de até 400<br />

kW e taxa de repetição de 80 MHz. Trata‐se do primeiro laser de pulsos de<br />

f<strong>em</strong>tosegundos largamente comercializado, que apareceu por volta de 1990‐1991. No<br />

início foi chamado de “magic mode locked lasers” porque não se entendia como era<br />

capaz de funcio<strong>na</strong>r, não sendo similar aos lasers pulsados utilizados até então.<br />

Fi<strong>na</strong>lmente se percebeu que isso se devia ao fenômeno não linear de autofocalização no<br />

bastão de Safira. Basicamente o bastão de Ti:Safira t<strong>em</strong> uma não‐lineari<strong>da</strong>de alta o<br />

suficiente para, <strong>na</strong>s potências de intracavi<strong>da</strong>de do laser, funcio<strong>na</strong>r como uma lente nãolinear.<br />

Na região central de um pulso de perfil gaussiano a intensi<strong>da</strong>de é maior. O<br />

índice de refração de um material com n2 positivo, segundo a forma n(I) = no + n2I, será<br />

57


maior no centro, o que é equivalente a uma lente. Como a mu<strong>da</strong>nça do índice de<br />

refração com a intensi<strong>da</strong>de do laser é chama<strong>da</strong> de efeito Kerr, esse mecanismo de<br />

geração dos pulsos ultracurtos é hoje conhecido como “Kerr Lens Modelocking”. A<br />

grande vantag<strong>em</strong> desse laser é que ele é capaz de gerar pulsos de f<strong>em</strong>tosegundos <strong>em</strong><br />

todo o intervalo de ganho do Ti:Safira, ou seja de 750 a 1100 nm.<br />

A idéia intuitiva do travamento de modos, “mode‐locking”, é que se obtém um<br />

pulso curto adicio<strong>na</strong>ndo on<strong>da</strong>s com diferentes freqüências com uma orig<strong>em</strong> t<strong>em</strong>poral<br />

<strong>em</strong> comum, ou seja, existe um determi<strong>na</strong>do momento <strong>em</strong> que to<strong>da</strong>s as diferentes<br />

freqüências se somam. Se essas on<strong>da</strong>s possuír<strong>em</strong> uma relação de fase relativa b<strong>em</strong><br />

defini<strong>da</strong> pod<strong>em</strong>os atingir o limite de um pulso curto limitado por transforma<strong>da</strong> de<br />

Fourier, ∆ν ∆Τ > ½. Na cavi<strong>da</strong>de de um laser só sobreviv<strong>em</strong> as freqüências diferentes<br />

correspondentes aos modos longitudi<strong>na</strong>is <strong>da</strong> mesma. Por isso, se obtém pulso curto<br />

quando se consegue travar esses modos <strong>em</strong> uma relação de fase b<strong>em</strong> defini<strong>da</strong>.<br />

Um laser opera <strong>na</strong> forma pulsa<strong>da</strong> s<strong>em</strong>pre que a janela de t<strong>em</strong>po <strong>na</strong> qual o ganho<br />

supera as per<strong>da</strong>s se repete no t<strong>em</strong>po com o mesmo “round trip time” do pulso dentro<br />

<strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>de, como mostra a Figura 56. O laser operando assim obriga a todos os modos<br />

oscilar<strong>em</strong> conjuntamente <strong>na</strong> janela t<strong>em</strong>poral de ganho, gerando o “mode‐locking”. O<br />

travamento de modos (“mode‐locking”) é ativo quando existe um meio externo<br />

modulando as per<strong>da</strong>s <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>de, tal como um modulador acusto‐óptico desviando o<br />

feixe, por ex<strong>em</strong>plo, e passivo quando essa modulação ocorre <strong>na</strong>turalmente. No<br />

bombeamento ativo é necessário sincronizar o modulador com a freqüência de<br />

repetição própria <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>de, enquanto no passivo essa sincronização ocorre<br />

automaticamente. No caso do Ti:Safira pulsado as diferenças de ganho se dev<strong>em</strong> ape<strong>na</strong>s<br />

à presença <strong>da</strong> lente Kerr, que só aparece <strong>em</strong> altas intensi<strong>da</strong>des. Se as per<strong>da</strong>s <strong>na</strong> cavi<strong>da</strong>de<br />

for<strong>em</strong> menores para o laser operando com essa lente extra do que s<strong>em</strong> ela, o laser tende<br />

a operar <strong>na</strong> forma de travamento de modos (mode‐locked) pulsado, caso contrário<br />

opera <strong>na</strong> forma cw.<br />

58


Figura 56. Esqu<strong>em</strong>a do ganho e as per<strong>da</strong>s <strong>na</strong> cavi<strong>da</strong>de do laser. Nas janelas onde o ganho é<br />

maior que as per<strong>da</strong>s o laser pode pulsar.<br />

Como as diferenças de per<strong>da</strong>s entre as operações cw e pulsa<strong>da</strong> do laser de<br />

Ti:Safira são peque<strong>na</strong>s, esse laser pode operar tanto cw, quanto pulsado e até de forma<br />

mista, com pulsos sobre uma <strong>em</strong>issão cw. A lente Kerr só aparece quando se formam os<br />

primeiros pulsos intensos, usualmente a partir do ruído, de modo que o laser não é<br />

“self‐starting”. Diferentes esqu<strong>em</strong>as foram utilizados para obrigar esse laser a operar <strong>na</strong><br />

forma “mode‐locked”, dentre elas a Spectra Physics optou pela inserção de um<br />

modulador acusto‐óptico dentro <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>de, iniciando a operação pulsa<strong>da</strong> através de<br />

um “mode‐locking” ativo. Entretanto, o “round trip time” <strong>na</strong> cavi<strong>da</strong>de de um pulso<br />

muito intenso é diferente do de um pulso pouco intenso, pois o índice de refração<br />

depende <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de. Isso significa que o mode‐locked ativo inicial logo estaria fora<br />

de sincronia. A estratégia utiliza<strong>da</strong>, então, foi manter a operação pulsa<strong>da</strong> através de<br />

uma realimentação do modulador com um detector do próprio pulso do laser, abrindo<br />

e fechando a janela de ganho do modulador acusto‐óptico no mesmo “round trip time”<br />

do pulso <strong>na</strong> cavi<strong>da</strong>de. Trata‐se, portanto, de uma forma de operação que mistura<br />

“mode‐lockings” ativo e passivo. Quando b<strong>em</strong> alinhado pode‐se desligar esse<br />

modulador e o laser se manterá <strong>na</strong> operação pulsa<strong>da</strong> por horas segui<strong>da</strong>s.<br />

Além do modulador acusto‐óptico duas modificações dentro <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>de <strong>em</strong><br />

relação ao laser de Ti:Safira cw são necessárias. A primeira delas é <strong>em</strong> relação à placa de<br />

birrefringente de sintonia, que deve permitir ganho para uma ban<strong>da</strong> espectral b<strong>em</strong> mais<br />

larga do que a do laser cw, caso contrário a duração do pulso estaria limita<strong>da</strong> por<br />

transforma<strong>da</strong> de Fourier (largura espectral). A outra é a necessi<strong>da</strong>de de incluir um<br />

dispositivo para correção <strong>da</strong> dispersão de veloci<strong>da</strong>de de grupo dentro <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>de. S<strong>em</strong><br />

esse dispositivo as diferentes freqüências do pulso do laser sincroniza<strong>da</strong>s <strong>em</strong> t = 0<br />

59


perderiam esse sincronismo <strong>na</strong>s voltas seguintes, porque ca<strong>da</strong> componente de<br />

freqüência possui veloci<strong>da</strong>de de grupo diferente. Por isso todos os lasers pulsados de<br />

Ti:Safira utilizam o dispositivo de correção <strong>da</strong> dispersão de veloci<strong>da</strong>de de grupo<br />

formado por quatro prismas, mostrado <strong>na</strong> Figura 57. A inserção dos prismas no ângulo<br />

de Brewster evita per<strong>da</strong>s por reflexão. A idéia intuitiva é que o primeiro prisma abre o<br />

feixe e o último o recombi<strong>na</strong>, tor<strong>na</strong>ndo diferente o caminho óptico percorrido por ca<strong>da</strong><br />

componente. No ex<strong>em</strong>plo <strong>da</strong> figura o caminho óptico percorrido pelo azul é maior do<br />

que o percorrido pelo vermelho, ou seja, estamos atrasando o azul <strong>em</strong> relação ao<br />

vermelho. Essa dispersão é oposta à dispersão normal dos materiais existente <strong>na</strong><br />

cavi<strong>da</strong>de do laser e pode ser usa<strong>da</strong> para compensá‐la. A forma experimental de obter<br />

essa compensação é através <strong>da</strong> introdução de maior ou menor quanti<strong>da</strong>de de vidro dos<br />

dois prismas P2 e P3 movimentando‐os conjuntamente. Isso não modifica a dispersão<br />

de caminho geométrico dos prismas mas introduz mais ou menos vidro <strong>na</strong> cavi<strong>da</strong>de<br />

mu<strong>da</strong>ndo a dispersão material. Essa quanti<strong>da</strong>de de prisma intracavi<strong>da</strong>de é o parâmetro<br />

chave para a boa operação de forma pulsa<strong>da</strong> do laser de Ti:Safira de pulso curto.<br />

Figura 57. Configuração dos prismas <strong>na</strong> cavi<strong>da</strong>de.<br />

O esqu<strong>em</strong>a de 4 prismas é o responsável pela compensação <strong>da</strong> dispersão. Só com<br />

eles é possível ter pulsos de f<strong>em</strong>tosegundos de largura.<br />

Prismas para<br />

correção de<br />

dispersão<br />

M 2<br />

Ti:S<br />

High<br />

Reflector<br />

Placa<br />

birrefringente<br />

M 1<br />

Output<br />

Modulador<br />

Coupler<br />

Acusto<br />

Óptico<br />

Figura 58. Esqu<strong>em</strong>a geral <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>de do laser.<br />

60


A Figura 58 mostra um esqu<strong>em</strong>a simplificado <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>de do Ti:Safira pulsado<br />

que pode ser compara<strong>da</strong> à cavi<strong>da</strong>de do Ti:Safira cw <strong>da</strong> Figura 47. O alinhamento do<br />

laser pulsado é b<strong>em</strong> mais complexo e sensível do que o do laser cw exigindo um<br />

trei<strong>na</strong>mento de qu<strong>em</strong> o faz. Sobre ele ape<strong>na</strong>s dir<strong>em</strong>os que é feito <strong>em</strong> etapas, separando<br />

os braços entre M1 e o HR, e entre M2 e o OC, procurando maximizar a potência<br />

independent<strong>em</strong>ente do laser estar ou não pulsando. Com o laser operando <strong>em</strong> alta<br />

potência vamos introduzindo os prismas e monitorando a freqüência <strong>da</strong> taxa de<br />

repetição dos pulsos. Quando o laser está próximo <strong>da</strong> operação pulsa<strong>da</strong>, mesmo com o<br />

modulador acusto‐óptico desligado, começam a aparecer instabili<strong>da</strong>des conheci<strong>da</strong>s<br />

como “noise bursts”. A experiência nos ensinou o truque do corante, o qual diminuiu<br />

muito o t<strong>em</strong>po gasto com o alinhamento desse laser. Esse truque consiste <strong>em</strong> focalizar a<br />

saí<strong>da</strong> do laser <strong>em</strong> uma cubeta contendo ro<strong>da</strong>mi<strong>na</strong>. A ro<strong>da</strong>mi<strong>na</strong> não é excita<strong>da</strong> pelos<br />

comprimentos de on<strong>da</strong> entre 750 – 1000 nm do Ti:Safira, mas pode ser excita<strong>da</strong> pelo seu<br />

segundo harmônico, entre 375 – 500 nm. Como a eficiência do processo de absorção de<br />

dois fótons é proporcio<strong>na</strong>l à intensi<strong>da</strong>de do pulso ao quadrado, a intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

luminescência aumenta muito à medi<strong>da</strong> que a duração t<strong>em</strong>poral do pulso diminui.<br />

Ligando o modulador acusto‐óptico o laser pode não operar <strong>em</strong> f<strong>em</strong>tosegundos mas é<br />

obrigado a operar pulsado, com pulsos de deze<strong>na</strong>s a cente<strong>na</strong>s de picosegundos. Isso é o<br />

suficiente para a geração de alguma luminescência visível, <strong>em</strong>bora pouco intensa, <strong>na</strong><br />

cubeta com ro<strong>da</strong>mi<strong>na</strong>. Vê‐se um aumento muito intenso dessa luminescência à medi<strong>da</strong><br />

que o pulso vai ficando mais curto, o que a tor<strong>na</strong> uma realimentação instantânea entre<br />

as ações do alinhador e seus resultados. Com isso, basta otimizar essa intensi<strong>da</strong>de<br />

movendo os prismas e realinhando. A otimização fi<strong>na</strong>l é feita acompanhando a duração<br />

e intensi<strong>da</strong>de do pulso no autocorrelador, dispositivo utilizado <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> de duração<br />

de t<strong>em</strong>pos ultracurtos descrito <strong>na</strong> Tese de Doutorado do Gaston Tudury [20].<br />

61


2.5.2 Monocromador<br />

Nos experimentos com espectroscopias confocais utilizamos um monocromador<br />

de 30 cm <strong>da</strong> Acton Research modelo Spectra‐Pro 300i <strong>em</strong> conjunto com a CCD “backillumi<strong>na</strong>ted”<br />

<strong>da</strong> Princeton Instruments. O monocromador é equipado com duas grades<br />

de difração com blaze <strong>em</strong> 500 nm, uma com 1200 e outra com 300 linhas/mm. Ele e a<br />

CCD são coman<strong>da</strong>dos pelo computador através do programa WinSpec.<br />

A Figura 59 apresenta um esqu<strong>em</strong>a desse monocromador. A luz que entra pela<br />

fen<strong>da</strong> de entra<strong>da</strong> é direcio<strong>na</strong><strong>da</strong> por um espelho côncavo até a grade de difração que<br />

abre o feixe <strong>em</strong> suas componentes espectrais. Outro espelho côncavo reflete o feixe para<br />

uma CCD que registra todo o espectro de uma vez só. Para o máximo de eficiência do<br />

monocromador é importantes escolher a grade com blaze para o comprimento de on<strong>da</strong><br />

correto e número de linhas por mm adequa<strong>da</strong> à resolução deseja<strong>da</strong>. A melhor resolução<br />

<strong>da</strong> grade de difração ocorre quando ela é <strong>completa</strong>mente preenchi<strong>da</strong>, por isso o feixe de<br />

entra<strong>da</strong> deve estar no mesmo cone de luz definido pelas dimensões dos componentes<br />

do monocromador. Para tanto, dev<strong>em</strong>os escolher a óptica de focalização <strong>na</strong> fen<strong>da</strong><br />

casando com parâmetro do monocromador chamado f‐number. O f‐number ou<br />

f/number é definido como f/number = F/W = NA/2, sendo NA a abertura numérica do<br />

feixe.<br />

Figura 59. Interior do monocromador.<br />

62


2.5.3 CCD<br />

Nossa câmera CCD – Charge‐coupled device – <strong>da</strong> Princeton Instruments é<br />

composta de uma matriz de pixels de 100 X 1200 fotodiodos de silício <strong>na</strong> configuração<br />

“back‐illumi<strong>na</strong>ted” e refrigera<strong>da</strong> a nitrogênio líquido. Por software pod<strong>em</strong>os aumentar<br />

o tamanho do pixel acio<strong>na</strong>ndo a forma binning que soma a carga de pixels adjacentes.<br />

Essa operação troca resolução espectral por razão si<strong>na</strong>l/ruído, importante para si<strong>na</strong>is<br />

fracos. Como a luz do espectro se espalha ape<strong>na</strong>s <strong>na</strong> horizontal adicio<strong>na</strong>mos os pixels<br />

verticais, tomando o cui<strong>da</strong>do de evitar os pixels <strong>da</strong> região não ilumi<strong>na</strong><strong>da</strong> que só<br />

contribu<strong>em</strong> com ruído.<br />

A Figura 60 mostra a diferença entre as configurações “front‐illumi<strong>na</strong>ted” e<br />

“back‐illumi<strong>na</strong>ted”. Na configuração “back‐illumi<strong>na</strong>ted” a luz atinge os pixels após<br />

atravessar uma cama<strong>da</strong> de 25‐30 µm de espessura com “coating antirefletor”,<br />

diminuindo as per<strong>da</strong>s por absorção e reflexão e aumentando a eficiência quântica por<br />

um fator maior do que 2. Na região espectral <strong>em</strong> que o “coating antireflector” deixa de<br />

atuar, usualmente no infravermelho próximo, as reflexões <strong>da</strong>s duas superfícies pod<strong>em</strong><br />

interferir formando um padrão típico de um etalon, que apareceriam como artefatos no<br />

espectro. Não observamos quaisquer desses artefatos.<br />

Dióxido<br />

de S ílic io<br />

Front<br />

Back<br />

Fi<strong>na</strong><br />

cam a<strong>da</strong> de<br />

s ilíc io<br />

Fótons<br />

Fótons<br />

Fotodiodo<br />

Figura 60. Esqu<strong>em</strong>a de CCDs back e front‐illumi<strong>na</strong>ted.<br />

2.5.4 Filtros Super NOTCH plus<br />

O grande probl<strong>em</strong>a <strong>da</strong> espectroscopia Raman v<strong>em</strong> do fato de que sua<br />

intensi<strong>da</strong>de pode ser 10 10 vezes menor do que a intensi<strong>da</strong>de do espalhamento Rayleigh.<br />

Mesmo nos melhores monocromadores existe uma certa quanti<strong>da</strong>de de luz espalha<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as direções, a “stray light”, que acaba chegando ao detector e mascarando um<br />

63


si<strong>na</strong>l Raman. A solução encontra<strong>da</strong> no passado para conseguir contraste para detecção<br />

de Raman foi o uso de monocromadores duplos de 1 m. A “stray light” de um pequeno<br />

monocromador simples de 30 cm tor<strong>na</strong>ria <strong>completa</strong>mente inviável a observação de<br />

Raman. Ultimamente, entretanto, esse probl<strong>em</strong>a foi contor<strong>na</strong>do através de filtros notchs<br />

que chegam a rejeitar por fatores de 10 6 a luz incidente <strong>em</strong> determi<strong>na</strong>do comprimento<br />

de on<strong>da</strong>. Dois filtros desses <strong>em</strong> série permit<strong>em</strong> uma rejeição de 10 12 , significando que<br />

<strong>na</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong> luz advin<strong>da</strong> do espalhamento Rayleigh penetra no monocromador. O filtro<br />

ideal teria uma ban<strong>da</strong> de corte muito estreita e intensa. Quanto mais estreita a ban<strong>da</strong><br />

espectral de corte mais caro é o filtro. Os melhores filtros no mercado são os super<br />

NOTCH plus, com largura total de ban<strong>da</strong> de 350 cm ‐1 , conforme exibe a curva <strong>da</strong> Figura<br />

61 extraí<strong>da</strong> <strong>da</strong> folha de especificações de nosso filtro, especificado para 785 nm. Esses<br />

filtros funcio<strong>na</strong>m refletindo <strong>completa</strong>mente luz com comprimento de on<strong>da</strong> <strong>na</strong> ban<strong>da</strong> de<br />

rejeição, mas transmitindo outros comprimentos de on<strong>da</strong>. Dessa forma ele se tor<strong>na</strong> útil<br />

como o espelho dicróico utilizado para dirigir o laser de Ti:Safira ao microscópio,<br />

enquanto bloqueia o Rayleigh transmite o Raman retroespalhado para o<br />

monocromador. Para acoplar os lasers antes do microscópio, usamos um dos filtros<br />

NOTCH, assim como mostra a Figura 62 já que ele reflete somente o comprimento de<br />

on<strong>da</strong> do Ti:Safira e permite que passe por ele os outros, tais como o 1064 nm do<br />

Nd:YAG.<br />

Transmissão<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

Figura 61. Curva <strong>da</strong> transmissão do filtro NOTCH <strong>em</strong> função do comprimento de on<strong>da</strong>.<br />

64


Ti:safira<br />

monocromador<br />

microscópio<br />

Nd:YAG<br />

Figura 62. Acoplamento dos lasers.<br />

2.5.5 Detalhes Experimentais<br />

Para medi<strong>da</strong> do Raman operamos o laser de Ti:Safira cw no centro do<br />

comprimento de on<strong>da</strong> do filtro super NOTCH plus, 785 nm, com potências variando de<br />

10 a 500 mW. Foi necessário o uso de um filtro passa ban<strong>da</strong> para cortar muitos<br />

comprimentos de on<strong>da</strong> gerados inter<strong>na</strong>mente <strong>na</strong> cavi<strong>da</strong>de do laser que são pouco<br />

intensos frente ao 785 nm porém mais intensos do que o Raman. A luz retroespalha<strong>da</strong><br />

do Nd:YAG usado <strong>na</strong> pinça óptica não representou probl<strong>em</strong>a maior por três razões: (1)<br />

é fácil bloqueá‐la com filtros comuns, o próprio espelho dielétrico do Nd:YAG fez papel<br />

de filtro, (2) espectralmente ela está b<strong>em</strong> afasta<strong>da</strong> <strong>da</strong> região de 785 nm e (3) a resposta<br />

<strong>da</strong> CCD cai bastante para a região de 1064 nm, já no limiar do gap óptico do silício. Foi<br />

necessário trocar o espelho BS dentro do microscópio que desviava o Nd:YAG por um<br />

espelho dielétrico próprio para o Ti:Safira. Nesse caso optamos por perder potência do<br />

Nd:YAG <strong>em</strong> lugar de perder eficiência <strong>na</strong> coleta do Raman. A transmissão <strong>da</strong>s objetivas<br />

<strong>na</strong> região de 785 nm é melhor do que <strong>na</strong> região de 1064 nm chegando a quase 30%.<br />

Para garantir resolução espacial o micro Raman deve ser montado <strong>na</strong><br />

configuração confocal, <strong>em</strong> que o foco do laser e a abertura do detector são conjugados,<br />

um <strong>na</strong> imag<strong>em</strong> do outro, conforme Figura 62.<br />

Figura 63. Configuração do Raman confocal.<br />

65


Tor<strong>na</strong>mos o nosso micro‐Raman confocal quando focalizamos a luz<br />

retroespalha<strong>da</strong> do laser <strong>na</strong> fen<strong>da</strong> do monocromador. Para saber se o Raman irá incidir<br />

no centro <strong>da</strong> fen<strong>da</strong>, usamos a luz do laser retroespalha<strong>da</strong> por um espelho colocado após<br />

a objetiva no microscópio, para isso sintonizamos o Ti:Safira fora de 785 nm, onde é<br />

transmitido pelo filtro NOTCH. Uma maneira de certificar se o sist<strong>em</strong>a está confocal é<br />

observar a imag<strong>em</strong> de um modo Raman <strong>na</strong> CCD, se ela estiver b<strong>em</strong> focaliza<strong>da</strong> estamos<br />

<strong>na</strong> configuração deseja<strong>da</strong>. Dessa forma, os si<strong>na</strong>is Raman gerados fora do plano de visão<br />

são bastante atenuados. Com essa montag<strong>em</strong> conseguimos ver si<strong>na</strong>is Raman Stokes e<br />

anti‐Stokes de partículas captura<strong>da</strong>s e não captura<strong>da</strong>s, que serão descritos no capítulo 4.<br />

Para as espectroscopias não lineares, ou seja, luminescência excita<strong>da</strong> por<br />

absorção de dois fótons, Hiper Rayleigh e Hiper Raman, foram necessárias algumas<br />

modificações. A mais importante foi trocar o laser de Ti:Safira cw pelo laser pulsado de<br />

f<strong>em</strong>tosegundos. Outra modificação importante foi a troca de espelhos e filtros, pois<br />

agora desejamos coletar si<strong>na</strong>is <strong>na</strong>s regiões espectrais de 500 nm e 390 nm. O<br />

retroespalhamento do próprio laser <strong>na</strong> região de 800 nm é facilmente bloqueado com<br />

um filtro passa baixa que corta acima de 600 nm. O maior probl<strong>em</strong>a foi a resposta<br />

espectral do BS pois deve refletir tanto o Nd:YAG, o Ti:Safira e os si<strong>na</strong>is retroespalhados<br />

coletados pela objetiva para o monocromador. Usar o espelho dielétrico para os lasers<br />

de Nd:YAG ou Ti:Safira significaria uma per<strong>da</strong> enorme <strong>na</strong> coleta dos si<strong>na</strong>is para 500 –<br />

390 nm. Acabamos optando pelo uso de um espelho s<strong>em</strong>i‐metálico, com refletivi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 80% e resposta espectral praticamente constante <strong>na</strong> ban<strong>da</strong> de 350‐1100 nm.<br />

Essa resposta espectral constante é um fator importante para não introduzir artefatos<br />

nos espectros. O uso de espelhos dielétricos <strong>em</strong> ban<strong>da</strong>s espectrais muito largas é s<strong>em</strong>pre<br />

probl<strong>em</strong>ático nesse aspecto. Em relação às intensi<strong>da</strong>des, nossa regra prática foi de<br />

sacrificar a intensi<strong>da</strong>de onde a luz é muito intensa <strong>em</strong> prol <strong>da</strong>s intensi<strong>da</strong>des menores. O<br />

aumento <strong>da</strong> potência dos lasers pode compensar facilmente as per<strong>da</strong>s sofri<strong>da</strong>s no BS.<br />

Por outro lado, também aumentamos a intensi<strong>da</strong>de do ilumi<strong>na</strong>dor do microscópio para<br />

poder compensar a per<strong>da</strong> de potência <strong>da</strong> luz visível que incide <strong>na</strong> câmera de vídeo JVC.<br />

66


A transmissão no visível foi de ape<strong>na</strong>s 20%, entretanto, mais do que suficiente para<br />

visualizar e gravar as nossas imagens.<br />

Com essas modificações nossa pinça óptica ficou equipa<strong>da</strong> com possibili<strong>da</strong>des de<br />

obter espectros de absorção, luminescência simples e excita<strong>da</strong> por absorção de dois<br />

fótons, Raman, Hiper Raman e Hiper Rayleigh para partículas captura<strong>da</strong>s <strong>na</strong> pinça<br />

óptica.<br />

67


Capítulo 3<br />

Teoria Óptica Eletromagnética<br />

Quando observamos as ressonâncias de Mie, ou “Morphology Dependent<br />

Reso<strong>na</strong>nces” (MDR), <strong>na</strong> luminescência excita<strong>da</strong> por absorção de dois fótons <strong>em</strong><br />

microesferas de poliestireno cora<strong>da</strong>s, como mostra a Figura 64, ficou claro que se<br />

exist<strong>em</strong> ressonâncias no espalhamento <strong>da</strong> luz do laser incidente e <strong>na</strong> fluorescência, elas<br />

também deveriam aparecer como ressonâncias <strong>na</strong>s forças ópticas. Experiências de<br />

espalhamento de Mie usualmente med<strong>em</strong> a intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz espalha<strong>da</strong>, para a qual<br />

exist<strong>em</strong> detectores ultrasensíveis, atingindo o limite de uni<strong>da</strong>des de fótons. Perceb<strong>em</strong>os<br />

então que a própria pinça óptica seria a única possibili<strong>da</strong>de de substituir as<br />

fotomultiplicadoras como detector ultrasensível para a medi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s forças ópticas muito<br />

peque<strong>na</strong>s envolvi<strong>da</strong>s no espalhamento. A pinça óptica também satisfaz o critério de que<br />

uma boa medi<strong>da</strong> de força deve ser realiza<strong>da</strong> com um sist<strong>em</strong>a estável, através de forças<br />

restauradoras, como as molas, que operam no mínimo de potencial. É impossível medir<br />

forças com sist<strong>em</strong>as de equilíbrio instável e é muito difícil a medi<strong>da</strong> com sist<strong>em</strong>as de<br />

equilíbrio indiferente. Um ex<strong>em</strong>plo de medi<strong>da</strong> de força com sist<strong>em</strong>as indiferentes foi a<br />

69


medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> carga do elétron de Millikan <strong>na</strong> qual a força elétrica e gravitacio<strong>na</strong>l se<br />

cancelavam, mas as partículas podiam se mover para qualquer posição.<br />

A grande inovação desse capítulo, que foi o uso <strong>da</strong> própria pinça óptica para<br />

a<strong>na</strong>lisar as forças ópticas através de dois lasers, um para a medi<strong>da</strong> e outro como causa<br />

do efeito, nos permitiu estu<strong>da</strong>r diretamente as forças no espalhamento de Mie, através<br />

dos experimentos que denomi<strong>na</strong>mos “Espectroscopia Ultrasensível de Força” e<br />

“Medi<strong>da</strong> Ultrasensível <strong>da</strong> Força <strong>em</strong> Função do Deslocamento”.<br />

Outra grande vantag<strong>em</strong> do uso <strong>da</strong> pinça óptica para esse estudo é o fato de que<br />

ela permite realizar a medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> partículas isola<strong>da</strong>s, e também <strong>em</strong> diferentes condições<br />

<strong>na</strong> mesma partícula. Isso nos permitiu excitar seletivamente os modos TE e TM.<br />

Embora a teoria <strong>da</strong> óptica geométrica tenha apresentado resultados satisfatórios<br />

<strong>na</strong> calibração <strong>da</strong> força óptica, o fato é que se trata de um formalismo restrito. Os<br />

próprios resultados obtidos <strong>na</strong> luminescência excita<strong>da</strong> por absorção de dois fótons <strong>em</strong><br />

microesferas de poliestireno cora<strong>da</strong>s nos obrigou a abando<strong>na</strong>r a estratégia de usar a<br />

teoria mais simples para explicar os nossos resultados experimentais. Para usar a óptica<br />

geométrica nesse caso, seria necessário no mínimo, incluir efeitos de interferência.<br />

Entretanto, um tratamento desse tipo, além de limitado, se tor<strong>na</strong> mais complicado do<br />

que resolver de uma vez o probl<strong>em</strong>a eletromagnético completo.<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a. u.)<br />

438 458 478 498<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

Figura 64. Ressonâncias de Mie <strong>em</strong> uma microesfera de poliestireno cora<strong>da</strong>.<br />

O formalismo para on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong> prevê a existência de ressonâncias de Mie que<br />

depend<strong>em</strong> do tamanho, forma e índices de refração do objeto espalhador e do meio <strong>em</strong><br />

70


que está <strong>em</strong>bebido. Descobrimos, após a obtenção dos nossos primeiros resultados, que<br />

o próprio Arthur Ashkin [21, 22] havia observado os “MDR modes” nos seus<br />

experimentos de levitação óptica <strong>em</strong> gotas de óleo de silicone suspensas no ar. Nas<br />

experiências de levitação a partícula flutua pela compensação <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong>de com a força<br />

óptica de reflexão, de forma análoga à <strong>da</strong> experiência de Millikan, um sist<strong>em</strong>a<br />

indiferente. Para conseguir seus resultados Ashkin precisou construir um sist<strong>em</strong>a de<br />

realimentação que modificava a potência do laser s<strong>em</strong>pre que a partícula tendia a subir<br />

ou descer. O fato de que a experiência não foi repeti<strong>da</strong> por outros grupos desde 1977,<br />

d<strong>em</strong>onstra que ape<strong>na</strong>s a excepcio<strong>na</strong>l habili<strong>da</strong>de experimental de Ashkin e seu técnico<br />

Dziedzic, permitiu a obtenção <strong>da</strong>queles resultados. Nas experiências de levitação,<br />

entretanto, a partícula está obrigatoriamente centra<strong>da</strong> <strong>em</strong> relação a um feixe incidente.<br />

As ressonâncias de Mie também já foram observa<strong>da</strong>s através de espalhamentos<br />

Rayleigh, Raman e fluorescência convencio<strong>na</strong>l [23].<br />

Neste capítulo relatamos os nossos resultados experimentais, os quais<br />

concor<strong>da</strong>m com o formalismo eletromagnético adotado. A técnica que utilizamos para<br />

desenvolver a teoria óptica eletromagnética pode ser explica<strong>da</strong> de maneira resumi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

seguinte forma:<br />

1. É necessário aplicar condições de contorno <strong>em</strong> uma superfície esférica, logo os<br />

campos incidentes e espalhados dev<strong>em</strong> ser decompostos <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s parciais, ou seja,<br />

dev<strong>em</strong> ser descritos <strong>em</strong> coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s esféricas com a orig<strong>em</strong> no centro <strong>da</strong> partícula. A<br />

solução <strong>da</strong> equação de on<strong>da</strong> <strong>em</strong> coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s esféricas é <strong>da</strong><strong>da</strong> pelas funções esféricas de<br />

Bessel para a parte radial e pelos harmônicos esféricos para a angular.<br />

2. As dificul<strong>da</strong>des que se contrapõ<strong>em</strong> a essa estratégia são: feixes de luz simétricos<br />

prefer<strong>em</strong> a descrição <strong>em</strong> coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s cilíndricas, não esféricas. Além disso, nosso feixe<br />

t<strong>em</strong> que ser focalizado, e com o foco obrigatoriamente fora do centro <strong>da</strong> partícula. O<br />

quadro piora quando se considera que o feixe antes de incidir <strong>na</strong> objetiva é linearmente<br />

polarizado <strong>na</strong> direção x, quebrando qualquer traço de simetria que porventura ain<strong>da</strong><br />

existisse para facilitar os cálculos.<br />

71


3. É fácil encontrar descrições do feixe de luz focalizado por uma objetiva usando o<br />

formalismo de difração escalar para peque<strong>na</strong>s aberturas numéricas. Entretanto, o<br />

espalhamento de Mie requer um tratamento vetorial desde o início e nossos<br />

experimentos são realizados <strong>em</strong> condições de grandes aberturas numéricas.<br />

4. A maior dificul<strong>da</strong>de encontra<strong>da</strong> pelos pesquisadores <strong>em</strong> óptica é <strong>na</strong> descrição do<br />

feixe incidente e sua decomposição <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s parciais, assim como afirma Gouesbet <strong>em</strong><br />

um dos seus artigos [24]: “In all these theories, a crucial step is to describe the incident<br />

beam correctly. Unfortu<strong>na</strong>tely, the usual theoretical models of shaped beams do not<br />

exactly satisfy Maxwell’s equations. This is, for instance, the case for the so called Davis<br />

sch<strong>em</strong>e for Gaussian beams. Such features then necessarily introduce inconsistencies in<br />

light scattering theories of shaped beams“ 1 . Quase todos os experimentos nessa área são<br />

explicados com on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s porque sua expansão <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s parciais é conheci<strong>da</strong><br />

desde o século XIX. Além do probl<strong>em</strong>a central de encontrar os campos<br />

eletromagnéticos vetoriais para feixes focalizados, expandi‐los <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s parciais<br />

usualmente tor<strong>na</strong>va inviáveis os cálculos computacio<strong>na</strong>is.<br />

5. O grupo de Gouesbet d<strong>em</strong>onstrou que o princípio <strong>da</strong> localização fornecia uma<br />

excelente aproximação para a expansão de qualquer feixe <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s parciais. Os<br />

resultados obtidos utilizando essa técnica <strong>na</strong> aproximação de Davis, para feixes<br />

gaussianos paraxiais, são suficientes para explicar nossos resultados de espectroscopia<br />

de força, tanto para a posição espectral dos picos quanto para a excitação seletiva dos<br />

modos TE e TM <strong>da</strong> microesfera através <strong>da</strong> polarização. A aproximação de Davis é mais<br />

apropria<strong>da</strong> para feixes com peque<strong>na</strong> abertura numérica. Uma descrição quantitativa <strong>da</strong><br />

intensi<strong>da</strong>de dos picos com maior precisão requer modelos mais gerais para o feixe<br />

incidente, como as encontra<strong>da</strong>s nos trabalhos de Richards & Wolf [42] e,<br />

1<br />

Em to<strong>da</strong>s essas teorias, o passo crucial é descrever o feixe incidente corretamente. Infelizmente, os modelos teóricos<br />

usuais de feixes focalizados (shaped beams) não satisfaz<strong>em</strong> as equações de Maxwell exatamente. Este é o caso, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, do assim chamado esqu<strong>em</strong>a de Davis para feixes gaussianos. Tais feições, portanto, necessariamente<br />

introduz<strong>em</strong> inconsistências <strong>na</strong>s teorias de espalhamento de luz de feixes focalizados.<br />

72


particularmente, nos artigos de Paulo Américo Maia Neto e Moysés Nussenzveig [25,<br />

26]. Dois motivos nos levaram a escolha do modelo de Gouesbet et al: 1 a facili<strong>da</strong>de<br />

computacio<strong>na</strong>l dessa técnica, devido a aproximação <strong>da</strong> localização e 2 a possibili<strong>da</strong>de<br />

para li<strong>da</strong>r com feixes polarizados, única forma de excitação seletiva dos modos TE e<br />

TM, <strong>em</strong> lugar de feixes circularmente polarizados descritos por Mazolli et al [27]. Para<br />

descrever a excitação seletiva a única restrição é que o “spot size” do feixe seja b<strong>em</strong><br />

menor do que o raio <strong>da</strong> partícula, tor<strong>na</strong>ndo a aproximação de Davis irrelevante.<br />

Nesse capítulo apresentamos o formalismo eletromagnético e os resultados<br />

obtidos <strong>na</strong> seguinte ord<strong>em</strong>. Iniciamos com a teoria de incidência por on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s que<br />

descreve b<strong>em</strong> os resultados do espalhamento <strong>da</strong> força óptica <strong>na</strong> direção vertical com o<br />

feixe de Ti:Safira desfocalizado e <strong>da</strong> luminescência excita<strong>da</strong> por absorção de 2 fótons. Já<br />

os resultados para a força <strong>da</strong> pinça óptica incidindo <strong>na</strong> bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> partícula e <strong>da</strong> força <strong>em</strong><br />

função do deslocamento só pod<strong>em</strong> ser explicados com o feixe focalizado. Assim, a<br />

segun<strong>da</strong> parte do capítulo descreve como utilizamos o princípio <strong>da</strong> localização para<br />

calcular os coeficientes de expansão <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s parciais de feixes gaussianos, e também<br />

como os mesmos foram usados para calcular as forças ópticas <strong>na</strong>s diferentes direções.<br />

Todos os nossos programas numéricos foram realizados com o software Math<strong>em</strong>atica e<br />

estão no apêndice 2. Fi<strong>na</strong>lmente apresentamos os gráficos experimentais e teóricos para<br />

as ressonâncias observa<strong>da</strong>s <strong>na</strong> bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> partícula e a força <strong>em</strong> função do deslocamento.<br />

Muitos cálculos teóricos, integrais e provas de relações foram omitidos nesse capítulo e<br />

desenvolvidos no apêndice 1, para melhor compreensão do texto. Por outro lado,<br />

desenvolvimentos já existentes <strong>na</strong> literatura que requereriam um número excessivo de<br />

pági<strong>na</strong>s de pura álgebra foram omitidos, os substituindo pela simples referência à fonte<br />

origi<strong>na</strong>l.<br />

Acreditamos ter d<strong>em</strong>onstrado com os resultados desse capítulo a necessi<strong>da</strong>de de<br />

utilizar um formalismo b<strong>em</strong> mais complexo para a descrição <strong>da</strong>s forças envolvi<strong>da</strong>s <strong>em</strong><br />

experimentos de pinças ópticas. As aplicações <strong>da</strong> pinça óptica são s<strong>em</strong>pre realiza<strong>da</strong>s <strong>em</strong><br />

meio fluido <strong>na</strong> presença de inevitáveis forças hidrodinâmicas anisotrópicas. Além disso,<br />

73


<strong>na</strong> descrição hidrodinâmica de uma partícula captura<strong>da</strong> é s<strong>em</strong>pre necessário considerar<br />

a proximi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s paredes <strong>da</strong> lâmi<strong>na</strong> e lamínula, pois a distância de trabalho <strong>da</strong>s<br />

objetivas capazes de aprisio<strong>na</strong>r é de ape<strong>na</strong>s 200 µm. Já sabíamos de ant<strong>em</strong>ão através <strong>da</strong><br />

análise intuitiva do capítulo 2 que a própria força óptica é anisotrópica, com a força<br />

vertical menor do que a força horizontal, mas preservando uma simetria azimutal.<br />

Nossos resultados, entretanto, mostram que sequer existe essa simetria azimutal, pois<br />

mesmo a força óptica horizontal depende <strong>da</strong> direção do movimento <strong>em</strong> relação à<br />

polarização do feixe incidente. Em outras palavras, a polarização do laser quebra a<br />

simetria azimutal.<br />

3.1 “MDR modes” <strong>em</strong> Microesferas Excita<strong>da</strong>s por Incidência de On<strong>da</strong> Pla<strong>na</strong><br />

As principais referências para os cálculos de on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong> dessa seção são os livros<br />

de Bohren & Huffman [28], bastante didático, Van de Hulst [29], não tão didático mas<br />

fun<strong>da</strong>mental <strong>na</strong> área e praticamente citado por todos os artigos no assunto, e do Jackson<br />

[30], que <strong>em</strong>bora não trate especificamente desse probl<strong>em</strong>a, t<strong>em</strong> a linguag<strong>em</strong> mais<br />

comum para os físicos <strong>da</strong> geração que o utilizaram como livro texto de Eletrodinâmica.<br />

3.1.1 Soluções <strong>da</strong> Equação de On<strong>da</strong> Vetorial<br />

Provavelmente, um dos probl<strong>em</strong>as mais importantes com solução exata <strong>na</strong> teoria<br />

de absorção e espalhamento por peque<strong>na</strong>s partículas seja o de um centro espalhador<br />

esférico com raio e índice de refração arbitrários. O equacio<strong>na</strong>mento desse tipo de<br />

probl<strong>em</strong>a começa com as equações de Maxwell <strong>na</strong> ausência de cargas livres <strong>em</strong> meios<br />

<br />

homogêneos para os campos D=εE<br />

e H = B µ <strong>da</strong><strong>da</strong>s por:<br />

<br />

1. ∇⋅ D = 0 , 2. ∇ ⋅ H = 0 , 3.<br />

<br />

∂H<br />

∇× E =−µ ∂ t<br />

e 4.<br />

<br />

∂E<br />

∇× H =ε ∂ t<br />

(3. 1)<br />

Aplicando o ∇ × <strong>na</strong>s equações 3 e 4, encontramos as equações de on<strong>da</strong> vetoriais:<br />

<br />

2<br />

<br />

<br />

2 1 ∂ E 2<br />

2 1 ∂ H<br />

∇ E − = 0 e<br />

c<br />

2 t<br />

2<br />

∇ H − = 0 (3. 2).<br />

2 2<br />

∂<br />

c ∂ t<br />

Há duas estratégias para achar a solução dessas equações:<br />

74


i t<br />

1. Partindo de um campo elétrico <strong>na</strong> forma Er ( , t) = Er ( ) e − ω<br />

resolve‐se a equação<br />

diferencial vetorial para a dependência espacial do campo elétrico<br />

<br />

impondo a condição de que ∇⋅ E = 0<br />

<br />

Hrt ( , )<br />

i<br />

=− ∇×<br />

µω<br />

<br />

E.<br />

<br />

2 ω <br />

∇ E+ =<br />

c<br />

2<br />

E 0<br />

2<br />

e se obtém o campo magnético através de<br />

i t<br />

2. Partindo de um campo magnético <strong>na</strong> forma Hrt ( , ) = Hr ( ) e − ω resolve‐se a equação<br />

vetorial<br />

<br />

2 ω <br />

∇ H+ =<br />

c<br />

2<br />

H 0<br />

2<br />

<br />

elétrico através de Er ( , t)<br />

impondo a condição de que ∇ ⋅ H <br />

= 0<br />

i<br />

= ∇×<br />

εω<br />

<br />

H.<br />

e se obtém o campo<br />

De qualquer forma dev<strong>em</strong>os iniciar encontrando as soluções <strong>da</strong>s equações<br />

<br />

2 2<br />

diferenciais vetoriais do tipo ∇ F+ k F = 0 , onde k = ω c. Quando as condições de<br />

contorno permit<strong>em</strong>, esse probl<strong>em</strong>a pode ser decomposto <strong>em</strong> uma equação diferencial<br />

escalar para ca<strong>da</strong> componente. Infelizmente, <strong>na</strong> nossa situação, as condições de<br />

contorno <strong>em</strong> uma superfície esférica misturam as diferentes componentes tor<strong>na</strong>ndo a<br />

técnica de decomposição muito complica<strong>da</strong>. Nesse caso, é melhor utilizar outra técnica<br />

para encontrar a solução <strong>da</strong>s equações diferenciais vetoriais, partindo <strong>da</strong>s soluções <strong>da</strong>s<br />

equações diferenciais escalares <strong>da</strong> forma<br />

2 2<br />

∇ φ+ k φ= 0 . Para isso, suponha que se<br />

conhece a solução de um operador escalar L φ = 0, e que o operador vetorial A comuta<br />

com L. Então, L A φ = A <br />

L φ = 0, e u= Aφ<br />

é uma solução <strong>da</strong> equação vetorial. Desse<br />

modo, é necessário encontrar os operadores vetoriais que comutam com o operador<br />

2 2<br />

∇ + k . No apêndice 1 d<strong>em</strong>onstramos que os operadores ∇ , L e ∇ × L <br />

comutam com o<br />

2<br />

<br />

∇ e, portanto, as funções vetoriais A = ∇φ , D = Lφ<br />

e F = ( ∇× L)<br />

φ são possíveis soluções<br />

<br />

<strong>da</strong> equação vetorial, onde L=− ir×∇<br />

é o operador momento angular.<br />

Entretanto, o gradiente deve ser descartado para equações de on<strong>da</strong>s<br />

2<br />

eletromagnéticas porque ele não é solenoi<strong>da</strong>l, isto é, ∇ ⋅∇φ=∇ φ≠ 0 , uma vez que<br />

2 2<br />

∇φ=−k<br />

φ. Já as outras duas são solenoi<strong>da</strong>is, pois ⋅∇ × = 0<br />

75<br />

∇ V e


∇⋅ L =∇⋅( − ir×∇ ) =−i∂ [ ε x ∂ ] =−i [ ε x ∂ ∂ +ε δ ∂ ] = 0<br />

j jkl k l jkl k j l jkl jk l<br />

pois os tensores<br />

∂∂ j l e δ jk<br />

são simétricos e o εijk antisimétrico 2 .<br />

<br />

O produto escalar r ⋅ L = −ixjεjklxk∂ l = −iεjklxjxk∂ l = 0 pois xx j k é simétrico.<br />

<br />

<br />

Assim, ao escolher uma solução do tipo E= Lφ<br />

e H = − i µω∇× ( Lφ)<br />

a componente radial<br />

<br />

do campo elétrico Er<br />

= r⋅ E=<br />

0 é nula, o campo elétrico será transversal e estamos no<br />

<br />

<br />

caso denomi<strong>na</strong>do TE. Já a escolha H = Lφ<br />

e E= − i µεω∇× ( Lφ)<br />

leva a um campo<br />

magnético transversal e de maneira análoga estamos no caso TM.<br />

2 2<br />

A equação escalar ∇φ+ k φ= 0 , sendo<br />

2 2 2 2 2<br />

∇ = 1 r∂ ∂r ( r)<br />

− L r é resolvi<strong>da</strong> por<br />

m<br />

separação de variáveis com φ= ZrY ( ) n ( θ, ϕ ). L<strong>em</strong>brando que LY 2 = nn ( + 1)<br />

Y , onde<br />

m<br />

Y n<br />

são os harmônicos esféricos.<br />

m<br />

n<br />

m<br />

n<br />

a qual é igual a:<br />

m<br />

m<br />

d ( + 1) n 2 m<br />

2 rZ<br />

2 k Y l Z<br />

Yn<br />

n n Y Z<br />

( ) − + = 0 (3. 3)<br />

r dr r<br />

2<br />

2 dZ dZ 2 2<br />

r + 2 r + [ k r − n( n+ 1)] Z= 0 (3. 4)<br />

2<br />

dr dr<br />

que é a equação <strong>da</strong>s funções esféricas de Bessel.<br />

Assim,<br />

1 2<br />

n = n( ), η n( ), n( ) = n+ η n e n( ) = n+ η n, onde jn( kr ) e<br />

Z j kr kr h kr j i h kr j i<br />

η n( kr ) são as funções esféricas de Bessel e de Neumann e 1<br />

hn<br />

( kr ) e<br />

2<br />

h ( kr ) são as funções<br />

l<br />

de Hankel de primeiro e segundo tipo. A função n ( kr ) diverge <strong>na</strong> orig<strong>em</strong> e<br />

n<br />

1 ( )~<br />

ikr<br />

hn<br />

kr e r e<br />

2 ( )~<br />

−ikr<br />

h kr e r. Por isso dev<strong>em</strong>os usar j ( kr ) como solução para os<br />

n<br />

n<br />

campos no interior <strong>da</strong> esfera e para as on<strong>da</strong>s incidentes, sejam as mesmas pla<strong>na</strong>s ou<br />

não, e<br />

1<br />

h ( kr ) para os campos espalhados.<br />

n<br />

2<br />

A contração de um tensor simétrico Sij com um antisimétrico Aij é s<strong>em</strong>pre nula, pois Sij Aij = Sji Aji por simples<br />

troca de letras, agora usando as proprie<strong>da</strong>des de simetria Sij Aij = (Sij) (‐Aij) = ‐ Sij Aij levando a 2 Sij Aij = 0, (c.q.d.).<br />

76


Com o intuito de facilitar os cálculos e tor<strong>na</strong>r nossos resultados comparáveis com<br />

os dos livros de Van de Hulst e Bohren & Huffman não usar<strong>em</strong>os diretamente os<br />

harmônicos esféricos<br />

m<br />

Y n , mas sim combi<strong>na</strong>ções lineares com pari<strong>da</strong>de defini<strong>da</strong><br />

construí<strong>da</strong>s a partir de<br />

m<br />

Y n e<br />

m<br />

n<br />

Y − , mantendo s<strong>em</strong>pre m ≥ 0 . Assim, pod<strong>em</strong>os utilizar:<br />

m (2 1)( )!<br />

( 1) m n+ n−m<br />

n<br />

n<br />

m (cos )<br />

im ϕ<br />

Y = − P θ e<br />

4 π ( n+<br />

m)!<br />

e<br />

m (2n 1)( n m)!<br />

Yn<br />

− + −<br />

= Pn<br />

m (cos θ)<br />

e<br />

−imϕ<br />

4 π ( n+<br />

m)!<br />

(3. 5)<br />

para construir as funções:<br />

m m −m m (2n+ 1)( l−n)!<br />

m imϕ −imϕ<br />

Yn + ( − 1) Yn = ( −1) Pn<br />

(cos θ ) [ e + e ] =<br />

4 π ( n+<br />

m)!<br />

m (2n+ 1)( n−m)!<br />

m<br />

= ( −1) Pn<br />

(cos θ) cos m ϕ<br />

π ( n+<br />

m)!<br />

(3. 6)<br />

e,<br />

m m −m m (2n+ 1)( n−m)!<br />

m imϕ −imϕ<br />

Yn −− ( 1) Yn =− ( 1) Pn<br />

(cos θ) [ e − e ] =<br />

4 π ( n+<br />

m)!<br />

m (2n+ 1)( n−m)!<br />

m<br />

= ( −1) i P n (cos θ) sen mϕ<br />

π ( n+<br />

m)!<br />

(3. 7),<br />

que estão relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s as funções comumente utiliza<strong>da</strong>s pelas relações:<br />

m m π ( n + m)!<br />

m m −m<br />

ψ enm = Pn (cos θ)cos mϕ= ( − 1) [ Yn + ( −1) Yn<br />

] (3. 8)<br />

(2n+ 1) ( n−m)!<br />

m m π ( n + m)!<br />

m m −m<br />

ψ onm = Pn (cos θ) sen mϕ=−i( −1) [ Yn −( −1) Yn<br />

]<br />

(2n+ 1) ( n−m)!<br />

(3. 9)<br />

as quais possu<strong>em</strong> as mesmas proprie<strong>da</strong>des de ortogo<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de dos harmônicos esféricos.<br />

Usamos também as mesmas convenções dos livros supracitados com os subscritos e e o<br />

para indicar as pari<strong>da</strong>des pares e ímpares (e, de even, significa par e o, de odd, ímpar).<br />

Com essas funções construímos os vetores harmônicos esféricos M <br />

e N , definidos de<br />

maneira adimensio<strong>na</strong>l, como:<br />

1 1 1 1 <br />

Menm = Zn( kr)<br />

Lψenm<br />

, Monm = Zn( kr)<br />

Lψonm<br />

, Nenm = ∇× [ Zn( kr) Lψ enm]<br />

= ∇× Menm<br />

i<br />

i<br />

ik<br />

k<br />

1 1 <br />

Nonm = ∇× [ Zn( kr) Lψ onm]<br />

= ∇× Monm<br />

(3. 10).<br />

ik<br />

k<br />

77<br />

e


Usando<br />

eˆ<br />

L i [ θ ∂ ∂<br />

= −eˆ<br />

ϕ ]<br />

sen θ∂ϕ ∂θ<br />

e explicitando as dependências de M e N com<br />

ψ , conforme detalhado no apêndice, ficamos com:<br />

<br />

m<br />

−m<br />

m<br />

dP ( cos )<br />

( sen ) ( cos ) ( ) ˆ ( cos<br />

n θ<br />

Menm = mϕ Pn θ Zn ρ eθ<br />

− mϕ)<br />

Zn<br />

( ρ)<br />

eˆϕ<br />

(3. 11),<br />

sen θ<br />

dθ<br />

<br />

m<br />

m<br />

m<br />

dP ( cos )<br />

( cos ) ( cos ) ( ) ˆ<br />

n θ<br />

Monm = mϕ Pn θ Zn ρ eθ<br />

−( sen mϕ)<br />

Zn<br />

( ρ)<br />

eˆϕ<br />

(3. 12),<br />

sen θ<br />

dθ<br />

e<br />

<br />

m<br />

Zn( ρ) ( )<br />

( ) ( )<br />

m<br />

dP cos 1<br />

cos 1 ( cos ) ˆ ( cos )<br />

n θ d<br />

Nenm = mϕ n n+ Pn θ er + mϕ ⎡ρZn<br />

( ρ)<br />

⎤ eˆθ<br />

ρ dθ ρ dρ<br />

⎣ ⎦<br />

m<br />

( θ)<br />

Pn<br />

cos 1 d<br />

−m( sen mϕ)<br />

⎡ρZn<br />

( ρ)<br />

⎤ eˆ<br />

sen θ ρ dρ<br />

⎣ ⎦<br />

ϕ<br />

(3. 13),<br />

<br />

m<br />

Zn( ρ) ( )<br />

( ) ( )<br />

m<br />

dP cos 1<br />

sen 1 ( cos ) ˆ ( sen )<br />

n θ d<br />

Nonm = mϕ n n+ Pn θ er + mϕ ⎡ρZn<br />

( ρ)<br />

⎤ eˆθ<br />

ρ dθ ρ dρ<br />

⎣ ⎦<br />

m<br />

( θ)<br />

Pn<br />

cos 1 d<br />

−m ( cos mϕ)<br />

⎡ρZn<br />

( ρ)<br />

⎤ eˆ<br />

sen θ ρ dρ<br />

⎣ ⎦<br />

ϕ<br />

(3. 14).<br />

onde<br />

ρ= kr . No cálculo de N usamos a equação diferencial dos polinômios associados<br />

de Legendre,<br />

1<br />

sen<br />

m<br />

2<br />

d dP<br />

(sen n<br />

m m<br />

θ ) + [ nn ( + 1) − ] P 0<br />

2 n =<br />

θ dθ θ sen θ<br />

. Os vetores M são também<br />

ortogo<strong>na</strong>is a N e ortogo<strong>na</strong>is entre si.<br />

3.1.2 Expansão de uma On<strong>da</strong> Incidente Arbitrária <strong>em</strong> Função dos Harmônicos<br />

Esféricos Vetoriais<br />

Resolvi<strong>da</strong> a equação vetorial pod<strong>em</strong>os agora encontrar os campos elétricos e<br />

magnéticos de uma on<strong>da</strong> incidente. Para tanto, vamos então expandi‐los <strong>em</strong> termos dos<br />

vetores M e N , segundo a forma:<br />

∞ <br />

E= A M + B N<br />

∑<br />

nm ,<br />

nm nm nm nm<br />

e<br />

∞<br />

iεω<br />

ik <br />

H = ∑ − A M − B N<br />

k<br />

µω<br />

nm ,<br />

nm nm nm nm<br />

(3. 15)<br />

Nosso objetivo é determi<strong>na</strong>r os coeficientes<br />

A nm e B nm<br />

. Far<strong>em</strong>os isso somente<br />

para uma <strong>da</strong>s pari<strong>da</strong>des, pois o desenvolvimento para a outra é análogo. Iniciamos<br />

78


obtendo o produto escalar de r <br />

com os campos e usando o fato de que r⋅ E=<br />

0<br />

<br />

campos TE e r⋅ H = 0 para os campos TM:<br />

<br />

nn ( + 1)<br />

r ⋅ E = ∑ Bnm r ⋅ Nnm = ∑ Bnm ( Znψnm<br />

) e<br />

k<br />

<br />

−ik<br />

<br />

− in( n + 1)<br />

r ⋅ H = ∑ Anm r ⋅ Nnm = ∑ Anm ( Znψnm<br />

) (3. 16).<br />

µω µω<br />

para<br />

Usando a ortogo<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s funções angulares para extrair um único termo do<br />

somatório:<br />

∫<br />

<br />

∗<br />

nn ( + 1) ∗ n′ ( n′ + 1) 2 π ( n′ + m′<br />

)!<br />

r ⋅Eψnm ′ ′ dΩ= ∑ ZnBnm nm nm ′ ′ d Zn′ Bnm<br />

′ ′<br />

k<br />

∫ψ ψ Ω=<br />

k 2n′ + 1 ( n′ −m′<br />

)!<br />

k(2n+ 1) ( n−<br />

m)!<br />

∗ <br />

Zn( kr) Bnm = ψnm( r⋅E)<br />

dΩ<br />

( n+ m)! 2 π n ( n+ 1)<br />

∫<br />

(3. 17)<br />

∫<br />

e<br />

<br />

∗<br />

nn ( + 1) − ik ∗ n′ ( n′ + 1) 2 π ( n′ + m′<br />

)!<br />

r⋅Hψnm ′ ′ dΩ= ∑<br />

ZnAnm ψnmψnm ′ ′ dΩ=−i Zn′ Anm<br />

′ ′<br />

k µω<br />

∫<br />

µω 2n′ + 1( n′ − m′<br />

)!<br />

iµω (2n+ 1)( n−<br />

m)!<br />

∗ <br />

Zn( kr) Anm = ψnm( r⋅H)<br />

dΩ<br />

2 π nn ( + 1) ( n+ m)!<br />

∫<br />

(3. 18)<br />

onde<br />

dΩ= sen θdθdϕ é o diferencial do ângulo sólido. Em princípio, para soluções<br />

exatas <strong>da</strong>s equações de Maxwell, as funções radiais Z ( kr) j ( kr)<br />

n<br />

= de ambos os lados<br />

deveriam se cancelar, o que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre ocorre com as aproximações. Uma opção para<br />

elimi<strong>na</strong>r a dependência radial dos coeficientes é multiplicar por j ( kr)<br />

usando a identi<strong>da</strong>de:<br />

obtendo:<br />

∞<br />

π<br />

2 (2n+<br />

1)<br />

0<br />

∫ j ( ) ( ) ( )<br />

n kr j n ′ kr d kr = δ nn ′ (3. 19)<br />

n<br />

n<br />

′ e integrar <strong>em</strong> r<br />

∞ π 2π<br />

k(2n+ 1) ( n− m)! 2(2n+<br />

1)<br />

∗ <br />

Bnm = jn′<br />

( kr) d( kr)<br />

ψnm( r ⋅E)<br />

dΩ<br />

( n+ m)! 2 π n ( n+ 1) π<br />

∫ ∫ ∫<br />

0 0 0<br />

(3. 20)<br />

∞ π 2π<br />

iµω (2n+ 1)( n− m)! 2(2n+<br />

1)<br />

∗ <br />

Anm = jn′<br />

( kr) d( kr)<br />

ψnm( r ⋅H)<br />

dΩ<br />

2 π nn ( + 1) ( n+ m)!<br />

π<br />

∫ ∫ ∫<br />

(3. 21)<br />

0 0 0<br />

79


3.1.3 Cálculos dos Coeficientes de Mie para um Campo Incidente Arbitrário<br />

Com a expansão <strong>da</strong> on<strong>da</strong> incidente pod<strong>em</strong>os agora encontrar os assim chamados<br />

coeficientes de Mie, definidos como as razões entre os coeficientes de mesma ord<strong>em</strong> n,m<br />

<strong>da</strong> expansão dos campos espalhados/campos incidentes e internos à partícula/campos<br />

incidentes. Para isso, é necessário aplicar as condições de contorno <strong>da</strong> continui<strong>da</strong>de dos<br />

campos elétricos e magnéticos tangenciais <strong>em</strong> r<br />

= a, onde a é o raio <strong>da</strong> esfera. Isso pode<br />

ser feito separa<strong>da</strong>mente para as funções pares e ímpares, considerando as diferenças<br />

entre o meio interno e externo à partícula. Definimos os campos<br />

<br />

E e H ,<br />

respectivamente, para as on<strong>da</strong>s incidentes, interior à esfera e espalha<strong>da</strong> como:<br />

<br />

E ( g M ig N )<br />

∞<br />

m 1 m 1<br />

i = ∑ nTE omn − nTM <strong>em</strong>n<br />

nm ,<br />

<br />

( )<br />

∞<br />

k m 1 m 1<br />

e Hi =− ∑ gnTMM<strong>em</strong>n + ignTENomn<br />

µω<br />

nm ,<br />

(3. 22)<br />

<br />

E ( c M id N )<br />

∞<br />

m 1 m 1<br />

d = ∑ n omn − n <strong>em</strong>n<br />

nm ,<br />

<br />

E ( ia N b M )<br />

∞<br />

m 3 m 3<br />

s = ∑ n <strong>em</strong>n − n omn<br />

nm ,<br />

<br />

( )<br />

∞<br />

k m 1 m 1<br />

e Hd =− ∑ dn M<strong>em</strong>n + icn Nomn<br />

µω 1 nm ,<br />

<br />

( )<br />

∞<br />

k m 3 m 3<br />

e Hs =− ∑ an M<strong>em</strong>n + ibn Nomn<br />

µω nm ,<br />

(3. 23)<br />

(3. 24)<br />

1<br />

onde os índices “1” e “3” representam Z ( ρ ) = j ( ρ ) e Z ( ρ ) = h ( ρ ). As condições de<br />

n<br />

contorno são: E + E = ( E + E ) − ( E + E ) e H + H = ( H + H ) − ( H + H ).<br />

iθ iϕ dθ dϕ sθ sϕ<br />

Para a pari<strong>da</strong>de ímpar os campos incidentes são <strong>da</strong>dos por:<br />

n<br />

n<br />

n<br />

iθ iϕ dθ dϕ sθ sϕ<br />

<br />

E g [ A ( , ) Z ( ka) e A ( , ) Z ( ka) eˆ<br />

]<br />

∞<br />

m<br />

i = ∑ nTE 1 θ ϕ n<br />

ˆθ<br />

+ 2 θ ϕ n<br />

nm ,<br />

ϕ<br />

(3. 25)<br />

<br />

H g { B ( , ) [ ka Z ( ka)] e B ( , ) [ ka Z ( ka)] eˆ<br />

]}<br />

∞<br />

−ki m 1 d 1 d<br />

i = ∑ nTE 1 θ ϕ n<br />

ˆθ<br />

+ 2 θ ϕ<br />

n<br />

ωµ<br />

nm ,<br />

ka dka<br />

ka dka<br />

ϕ<br />

(3. 26)<br />

os campos internos por:<br />

<br />

E c [ A ( , ) Z ( ka) e A ( , ) Z ( ka) eˆ<br />

]<br />

∞<br />

m<br />

d = ∑ n 1 θ ϕ n<br />

ˆθ<br />

+ 2 θ ϕ n<br />

nm ,<br />

ϕ<br />

(3. 27)<br />

<br />

H c { B ( , ) [ ka Z ( ka)] e B ( , ) [ ka Z ( ka)] eˆ<br />

]}<br />

∞<br />

−ki m 1 d 1 d<br />

d = ∑ n 1 θ ϕ n<br />

ˆθ<br />

+ 2 θ ϕ<br />

n<br />

ωµ 1 nm ,<br />

ka dka<br />

ka dka<br />

ϕ<br />

(3. 28)<br />

e os campos <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s espalha<strong>da</strong>s por:<br />

80


E b [ A ( , ) Z ( ka) e A ( , ) Z ( ka) eˆ<br />

] (3. 29)<br />

∞<br />

m<br />

s = ∑ − n 1 θ ϕ n<br />

ˆθ<br />

+ 2 θ ϕ n<br />

nm ,<br />

ϕ<br />

<br />

H b { B ( , ) [ ka Z ( ka)] e B ( , ) [ ka Z ( ka)] eˆ<br />

]}<br />

∞<br />

ki m 1 d 1 d<br />

s = ∑ n 1 θ ϕ n<br />

ˆθ<br />

+ 2 θ ϕ<br />

n<br />

ωµ nm ,<br />

ka dka<br />

ka dka<br />

ϕ<br />

(3. 30)<br />

onde A1, A2, B1 e B 2 expressam as dependências <strong>em</strong> θ e ϕ dos M ʹ s e Nʹs.<br />

Definindo x = ka = 2πNa<br />

λ como o parâmetro de tamanho e M = k k = N N<br />

1 1<br />

como o índice de refração relativo, onde N é o índice de refração do meio, N1 o índice de<br />

refração <strong>da</strong> partícula, a o raio <strong>da</strong> partícula e λ o comprimento de on<strong>da</strong>, t<strong>em</strong>os que a<br />

continui<strong>da</strong>de dos campos elétricos leva a:<br />

m<br />

m<br />

[ A1( θϕ , ) eθ + A2( θϕ , ) eϕ] g nTE jn( x) = [ A1( θϕ , ) eθ + A2( θϕ , ) eϕ] cn jn( Mx)<br />

m 1<br />

+ [ A ( θ, ϕ ) e + A ( θ, ϕ) e ] b h ( x)<br />

⇒<br />

1 θ 2<br />

m m 1 m<br />

nTE n( ) n( ) n n( ) n<br />

Repetindo para os campos magnéticos:<br />

g j x = j Mx c + h x b (3. 31)<br />

m<br />

gnTE<br />

1 m<br />

1 θϕ ˆθ + 2 θϕ ˆϕ n = 1 θϕ ˆθ + 2 θϕˆϕ<br />

n n<br />

µ µ 1<br />

1 m 1<br />

+ [ B1( θ, ϕ ) eˆθ<br />

+ B2( θ, ϕ) eˆϕ] [ bn<br />

[ x hn( x)]<br />

′ ⇒<br />

µ 1<br />

m m m<br />

gnTE cn bn<br />

1<br />

[ xjn( x)] ′ = [ Mxjn( Mx)] ′ + [ xhn( x)]<br />

′ (3. 32)<br />

µ µ 1 µ 1<br />

[ B ( , ) e B ( , ) e ] [ x j ( x)] ′ [ B ( , ) e B ( , ) e ] [ c [ Mx j ( Mx)]<br />

′<br />

Multiplicando por µµ 1 obt<strong>em</strong>os:<br />

1<br />

1[ xj ( )] g m [ ( )] m 1[ ( )]<br />

m<br />

n x ′<br />

nTE Mxjn Mx ′ cn xhn x ′ bn<br />

µ =µ +µ (3. 33)<br />

Repetindo para a pari<strong>da</strong>de par:<br />

ϕ<br />

n<br />

n<br />

<br />

E i g { C ( , ) [ kaZ ( ka)] e C ( , ) [ kaZ ( ka)] eˆ<br />

]}<br />

∞<br />

m 1 d<br />

1 d<br />

i =−∑<br />

nTM 1 θϕ n<br />

ˆθ<br />

+ 2 θϕ<br />

n<br />

nm ,<br />

ka dka<br />

ka dka<br />

ϕ<br />

(3. 34);<br />

<br />

H g [ D ( , ) Z ( ka) e D ( , ) Z ( ka) eˆ<br />

]<br />

∞<br />

−k<br />

m<br />

i = ∑ nTM 1 θ ϕ n<br />

ˆθ<br />

+ 2 θ ϕ n<br />

ωµ nm ,<br />

ϕ<br />

(3. 35);<br />

<br />

E i d { C ( , ) [ kaZ ( ka)] e C ( , ) [ kaZ ( ka)] eˆ<br />

]} (3. 36);<br />

∞<br />

m 1 d<br />

1 d<br />

d =−∑<br />

n 1 θ ϕ n<br />

ˆθ<br />

+ 2 θ ϕ<br />

n<br />

nm ,<br />

ka dka<br />

ka dka<br />

ϕ<br />

81


H d [ D ( , ) Z ( ka) e D ( , ) Z ( ka) eˆ<br />

]<br />

∞<br />

−k<br />

m<br />

d = ∑ n 1 θ ϕ n<br />

ˆθ<br />

+ 2 θ ϕ n<br />

ωµ 1 nm ,<br />

ϕ<br />

(3. 37);<br />

<br />

E i a [ A ( , ) Z ( ka) e A ( , ) Z ( ka) eˆ<br />

]<br />

∞<br />

m<br />

s = ∑ n 1 θ ϕ n<br />

ˆθ<br />

+ 2 θ ϕ n<br />

nm ,<br />

ϕ<br />

(3. 38);<br />

<br />

H a { B ( , ) [ kaZ ( ka)] e B ( , ) [ kaZ ( ka)] eˆ<br />

]}<br />

∞<br />

ki m 1 d 1 d<br />

s = ∑ n 1 θ ϕ n<br />

ˆθ<br />

+ 2 θ ϕ<br />

n<br />

ωµ nm ,<br />

ka dka<br />

ka dka<br />

ϕ<br />

(3. 39);<br />

A continui<strong>da</strong>de dos campos elétricos leva a:<br />

m<br />

g<br />

1<br />

ˆ<br />

2<br />

ˆ<br />

nTM<br />

θϕ θ + θϕ ϕ n<br />

′ = 1 θϕ ˆθ + 2 θϕˆϕ<br />

[ C ( , ) e C ( , ) e ] [ x j ( x)] [ C ( , ) e C ( , ) e ]<br />

k<br />

1 1<br />

d [ Mx j ( Mx)] ′ + [ C ( θ, ϕ ) eˆ<br />

+ C ( θ, ϕ) eˆ<br />

] a [ x h ( x)]<br />

′ ⇒<br />

m<br />

m 1<br />

n n 1 θ 2 ϕ n n<br />

k1<br />

k<br />

m<br />

gnTM<br />

1 1<br />

[ xj ( x)] ′ = d [ Mxj ( Mx)] ′ + a [ xh( x)]<br />

′ (3. 40)<br />

k k k<br />

Multiplicando por k 1 :<br />

m<br />

m 1<br />

n n n n n<br />

1<br />

M[ xj ( x)] ′ g = [ Mxj ( Mx)] ′ d + Mxh [ ( x)]<br />

′ a (3. 41)<br />

m m 1 m<br />

n nTM n n n n<br />

Já a continui<strong>da</strong>de dos campos magnéticos:<br />

k<br />

ˆ ˆ ˆ ˆ<br />

m<br />

1 m<br />

[ D1( θϕ , ) eθ + D2( θϕ , ) eϕ] gnTM jn( x) = [ D1( θϕ , ) eθ + D2( θϕ , ) eϕ] dn jn( Mx)<br />

µ µ 1<br />

k m 1<br />

+ [ D1( θ, ϕ ) eˆθ<br />

+ D2( θ, ϕ) eˆϕ] anhn( x)<br />

⇒<br />

µ<br />

k g j ( x) k d j ( Mx) k a h ( x)<br />

(3. 42)<br />

µ µ µ<br />

m 1 m m 1<br />

nTM n = n n + n n<br />

1<br />

Multiplicando por µµ 1 e dividindo por k ,<br />

m m 1 m<br />

1jn( xg ) nTM M jn( Mxd ) n 1hn( xa ) n<br />

µ = µ +µ (3. 43)<br />

Dessa forma, no fi<strong>na</strong>l ficamos com quatro equações para determi<strong>na</strong>r quatro<br />

coeficientes desconhecidos, <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s interior e espalha<strong>da</strong>, <strong>em</strong> termos dos coeficientes<br />

<strong>da</strong> on<strong>da</strong> incidente, supostamente conhecidos:<br />

m m 1 m<br />

n( ) g nTE n( ) n n( ) n<br />

j x = j Mx c + h x b (3. 44)<br />

µ ′ =µ ′ +µ ′ (3. 45)<br />

m m 1 m<br />

1[ xjn( x)] g nTE [ Mxjn( Mx)] cn 1[ xhn( x)]<br />

bn<br />

k<br />

m m 1 m<br />

n<br />

′<br />

nTM n<br />

′<br />

n n<br />

′<br />

n<br />

M[ xj ( x)] g = [ Mxj ( Mx)] d + Mxh [ ( x)]<br />

a (3. 46)<br />

82


m m 1 m<br />

1jn( xg ) nTM M jn( Mx) dn 1hn( x)<br />

an<br />

µ = µ +µ (3. 47)<br />

Essas equações pod<strong>em</strong> ser resolvi<strong>da</strong>s duas a duas e independent<strong>em</strong>ente para<br />

ca<strong>da</strong> pari<strong>da</strong>de, com as duas primeiras determi<strong>na</strong>ndo os coeficientes c e b; e as duas<br />

últimas os coeficientes a e d. Para achar c, multiplicamos a primeira equação por<br />

1<br />

−µ 1[ xhn( x )]′<br />

, a segun<strong>da</strong> por<br />

h<br />

1 ( x ) e somamos:<br />

n<br />

1 m 1 m 1 1 m<br />

1[ xhn( x)] ′ jn( xg ) nTE 1[ xhn( x)] ′ jn( Mx) cn 1[ xhn( x)] ′ hn( x)<br />

bn<br />

−µ = −µ − µ<br />

1 m 1 m 1 1 m<br />

1hn( x)[ xjn( x)] ′ g nTE hn( x)[ Mxjn( Mx)] ′ cn 1hn( x)[ xhn( x)]<br />

′ bn<br />

µ =µ +µ ⇒<br />

m<br />

1 1 m 1 1<br />

1 nTE n ′ n n ′ n n n n ′ 1 n ′ n<br />

µ g {[ xj ( x)] h ( x) − [ xh ( x)] j ( x)} = c { µ h ( x)[ Mxj ( Mx)] −µ [ xh ( x)] j ( Mx)}<br />

c<br />

m<br />

1 1<br />

m µ 1 nTE n<br />

′<br />

n − n<br />

′<br />

n<br />

n 1 1<br />

µ n n<br />

′ −µ 1 n<br />

′<br />

n<br />

g {[ x j ( x)] h ( x) [ x h ( x)] j ( x)}<br />

= ⇒<br />

{ h ( x)[ Mx j ( Mx)] [ x h ( x)] j ( Mx)}<br />

c<br />

m<br />

1 1<br />

cn<br />

µ 1 n n − n n<br />

n = =<br />

m 1 1<br />

nTE µ 1 n n −µ n n<br />

{[ j ( x) x h ( x)] ′ h ( x)[ x j ( x)]}<br />

′<br />

g { j ( Mx)[ x h ( x)] ′ h ( x)[ Mx j ( Mx)]}<br />

′<br />

(3. 48)<br />

Repetindo para os outros termos obt<strong>em</strong>os:<br />

m<br />

2<br />

an<br />

{ µ M jn( Mx) [ xjn( x)] ′<br />

−µ 1 jn( x)[ Mxjn( Mx)<br />

]} ′<br />

an = =<br />

(3. 49)<br />

m<br />

g<br />

2 1 1<br />

nTM µ M jn( Mx) [ x hn( x) ]<br />

′<br />

−µ 1 hn( x) [ Mx jn( Mx)<br />

]<br />

′<br />

d<br />

{ Mj ( x)[ x h x ] M h x [ x j x ]}<br />

′<br />

g M j Mx [ x h x ]<br />

′<br />

h x [ Mx j Mx ]<br />

′<br />

1 1<br />

n n( ) ′ n( ) n( )<br />

( ) ( ) ( ) ( )<br />

m<br />

dn<br />

µ 1<br />

−<br />

n = =<br />

m 2 1 1<br />

nTM µ n n −µ 1 n n<br />

(3. 50)<br />

m<br />

bn<br />

{ µ 1 jn( Mx) [ x jn( x)] ′<br />

−µ jn( x)[ Mx jn( Mx)<br />

]}<br />

′<br />

bn = =<br />

m (3. 51)<br />

g<br />

1 1<br />

nTE µ 1 jn( Mx) [ x hn( x) ]<br />

′<br />

−µ hn( x) [ Mx jn( Mx)<br />

]<br />

′<br />

que são coeficientes de Mie, e independentes de m.<br />

3.1.4 Expansão de uma On<strong>da</strong> Pla<strong>na</strong> <strong>em</strong> Função dos Vetores Harmônicos Esféricos<br />

Usando os resultados <strong>da</strong> seção 3.1.2 pod<strong>em</strong>os decompor os campos elétricos e<br />

magnéticos uma on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong> incidente <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s parciais. Assumindo E e H <br />

como<br />

<br />

<br />

E=<br />

E e e x H = ( − i µω) E ∇× e eˆ<br />

= ( kE µω) e ikz eˆ<br />

. T<strong>em</strong>os,<br />

ikz<br />

0<br />

ˆ<br />

e ikz 0 x 0<br />

y<br />

<br />

ikz ikr cosθ<br />

iE0<br />

d ikr cosθ<br />

r⋅ E= E0e x= E0e rsen θ cos ϕ= ( e )cosϕ<br />

(3. 52)<br />

k dθ<br />

83


k ikz k ikr cos θ<br />

iE0<br />

d ikr cosθ<br />

r ⋅ H = E0e y = E0e rsen θ sen ϕ = ( e )senϕ<br />

µω µω µω dθ<br />

(3. 53)<br />

Assim,<br />

k(2n+ 1) ( n−m)!<br />

iE0<br />

d ikr cosθ<br />

∗<br />

Zn( kr) Bnm = ( e )cosϕ ψnm<br />

sen θ dθ dϕ<br />

( n+ m)! 2 π n( n+ 1)<br />

∫<br />

(3. 54).<br />

k dθ<br />

Se<br />

m<br />

ψ = P (cos θ)sen<br />

mϕ, t<strong>em</strong>os<br />

nm<br />

m<br />

n<br />

ψ = P (cos θ)cos<br />

mϕ,<br />

nm<br />

n<br />

2π<br />

∫<br />

0<br />

2π<br />

cosϕcos mϕ dϕ =πδm<br />

Kronecker. Dessa forma, ficamos com:<br />

∫ cos ϕ sen mϕ dϕ = 0 . Por outro lado com<br />

0<br />

,1<br />

, onde δ representa a função delta de<br />

e integrando por partes,<br />

π<br />

iE0π k(2n+ 1) ( n−1)!<br />

1 d ikr cosθ<br />

n 1n n<br />

k ( n+ 1)! 2 π n( n+ 1)<br />

dθ<br />

0<br />

Z ( kr) B = ∫ sen θ P (cos θ)( e ) dθ<br />

(3. 55)<br />

π<br />

iE0π k(2n+ 1) ( n−1)!<br />

ikr cosθ<br />

d<br />

1<br />

n 1n n<br />

k ( n+ 1)! 2 π n( n+ 1) dθ<br />

0<br />

Z ( kr) B = − ∫ e [ [sen θ P (cos θ)]<br />

dθ<br />

(3. 56).<br />

Usando novamente a equação diferencial dos polinômios de Legendre, t<strong>em</strong>os:<br />

π<br />

iE0(2n + 1) nn ( + 1) ikr cosθ<br />

1<br />

n 1n 2<br />

n<br />

[ nn ( 1)] 2<br />

0<br />

Z ( kr) B =− e P (cos θ)sen<br />

θdθ<br />

+<br />

∫<br />

(3. 57).<br />

π<br />

ikr cosθ<br />

1<br />

2<br />

Entretanto, ∫ e Pn(cos θ)sen θ dθ= jn( kr)<br />

, tal que<br />

n<br />

( − i)<br />

0<br />

iE0(2n + 1) nn ( + 1) 2<br />

Z n ( kr) B1 n =−<br />

j ( )<br />

2<br />

n<br />

[ ( 1)] 2 ( )<br />

n kr<br />

nn+ −i<br />

(3. 58),<br />

ii () E0<br />

(2n+<br />

1)<br />

e portanto, no fi<strong>na</strong>l t<strong>em</strong>os B1n<br />

=−<br />

nn ( + 1)<br />

ímpar.<br />

Já,<br />

n<br />

para<br />

ψ par e B 1 = 0 para ψ nm<br />

nm<br />

n<br />

iµω (2n+ 1)( n−<br />

m)!<br />

iE0<br />

d ikr cosθ<br />

∗<br />

Zn( kr) Anm = ( e )senϕψnm<br />

sen θ dθ dϕ=<br />

2 π nn ( + 1) ( n+ m)!<br />

∫<br />

µω dθ<br />

E0 (2n+ 1)( n−m)!<br />

d ikr cos<br />

( e<br />

θ<br />

∗<br />

)sen nm sen d d<br />

= − ϕψ θ θ ϕ<br />

2 π nn ( + 1) ( n+ m)!<br />

∫<br />

(3. 59)<br />

dθ<br />

84


e agora t<strong>em</strong>os que se<br />

∫<br />

m<br />

ψ nm = Pn<br />

(cos θ)sen<br />

mϕ, senϕsen mϕdϕ =πδm<br />

,1<br />

, porém se<br />

m<br />

ψ = P (cos θ)cos<br />

mϕ, senϕcos mϕdϕ = 0 . Portanto,<br />

nm<br />

n<br />

e desse modo,<br />

∫<br />

π E0<br />

(2n+ 1)( n−<br />

1)!<br />

1 d ikr cosθ<br />

Zn( kr) A1n =− sen θPn(cos θ)( e ) dθ=<br />

2 π nn ( + 1) ( n+ 1)!<br />

∫<br />

dθ<br />

E (2n+<br />

1) d<br />

2[ nn ( + 1)]<br />

∫<br />

dθ<br />

0<br />

1 ikr cosθ<br />

= ( [sen θ P (cos )]<br />

2<br />

n θ e =<br />

π<br />

0 ikr cosθ<br />

1<br />

0<br />

2<br />

n<br />

nn<br />

0<br />

E (2n+ 1) E (2n+<br />

1) 1<br />

= nn ( + 1) e P(cos θ)sen θ dθ=<br />

jn( kr)<br />

n<br />

2 [ ( + 1)]<br />

∫<br />

(3. 60)<br />

nn ( + 1) ( −i)<br />

n<br />

0 1<br />

0<br />

n( ) 1n = n( ) ⇒<br />

n<br />

1n<br />

=<br />

E (2n+ 1) ( i) E (2n+<br />

1)<br />

Z kr A j kr A<br />

nn ( + 1) ( −i)<br />

nn ( + 1)<br />

para<br />

ψ nm par.<br />

No fim dos cálculos, v<strong>em</strong>os que o campo E é <strong>da</strong>do por:<br />

ψ ímpar e A 1 = 0 para<br />

( ) (2 1) ( ) (2 1) ()(2 1)<br />

E = M − N = E ( M −iN<br />

<br />

) ⇒<br />

∞ n n ∞ n<br />

i E0 n+ i i E0<br />

n+ i n+<br />

∑<br />

o1n e1n 0∑<br />

o1n e1n<br />

n= 1 nn ( + 1) nn ( + 1) n=<br />

1 nn ( + 1)<br />

∞ <br />

E = E ( M −iN<br />

) (3. 61)<br />

∑<br />

i n o1n e1n<br />

n=<br />

1<br />

Para encontrar H <br />

basta aplicar H = ( − i µω)<br />

∇× E :<br />

nm<br />

n<br />

iE<br />

H −<br />

= ( ) ∇× [( M − iN )] = ( ) ( ∇× M −i∇×<br />

N<br />

<br />

)<br />

µω + µω +<br />

∞ n<br />

∞ n<br />

0 ()(2 i n+ 1) −iE0<br />

()(2 i n+<br />

1)<br />

∑<br />

o1n e1n ∑<br />

o1n e1n<br />

n= 1 nn ( 1) n=<br />

1 nn ( 1)<br />

iE<br />

H − + +<br />

= ( ) ( kN − ikM ) =− ( M + iN<br />

<br />

) ⇒<br />

µω + µω +<br />

∞ n<br />

∞ n<br />

0 ()(2 i n 1) kE0<br />

()(2 i n 1)<br />

∑<br />

o1n e1n ∑<br />

e1n o1n<br />

n= 1 nn ( 1) n=<br />

1 nn ( 1)<br />

∞<br />

k<br />

H =− ∑<br />

<br />

E ( M + iN ) (3. 62)<br />

µω<br />

i n e1n o1n<br />

n=<br />

1<br />

3.1.5 Cálculos dos Coeficientes de Mie para On<strong>da</strong>s Pla<strong>na</strong>s<br />

Comparando as expressões para os campos elétrico e magnéticos incidentes<br />

calculado para on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong> com os definidos <strong>na</strong> seção 3.1.3 e definindo os campos<br />

espalhados e interior como:<br />

85


E E ( c M id N )<br />

∞<br />

1 1<br />

d = ∑ n n o1n − n e1n<br />

n=<br />

1<br />

<br />

( )<br />

∞<br />

k<br />

1 1<br />

e<br />

1<br />

Hd =− ∑ En dnMe1n + icnNo1n<br />

µω 1 n=<br />

1<br />

(3. 63)<br />

<br />

E E ( ia N b M )<br />

∞<br />

3 3<br />

s = ∑ n n e1n − n o1n<br />

n=<br />

1<br />

<br />

( )<br />

∞<br />

k<br />

3 3<br />

e Hs = ∑ En anMe1n + ibnNo1n<br />

µω n=<br />

1<br />

(3. 64)<br />

onde, os índices “1” e “3” também representam as funções Z ( kr) = j ( kr)<br />

e<br />

1<br />

n<br />

Z ( kr) = h ( kr)<br />

. V<strong>em</strong>os então que, os coeficientes de Mie definidos <strong>na</strong> seção 3.1.3<br />

n<br />

n<br />

n<br />

aparec<strong>em</strong> <strong>na</strong>turalmente <strong>na</strong> decomposição <strong>da</strong> on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong>:<br />

m m<br />

nTE nTM n<br />

g = g = E ,<br />

c<br />

m<br />

n<br />

= E c ,<br />

n n<br />

d<br />

m<br />

n Endn<br />

= ,<br />

a<br />

m<br />

n<br />

= E a e<br />

n n<br />

b<br />

m<br />

n<br />

= E b .<br />

n n<br />

3.1.6 “MDR modes”<br />

Os valores de x’s para os quais os denomi<strong>na</strong>dores são exatamente nulos são<br />

chamados freqüências <strong>na</strong>turais <strong>da</strong> esfera, são complexos e os modos normais associados<br />

são denomi<strong>na</strong>dos modos virtuais. Como os denomi<strong>na</strong>dores não possu<strong>em</strong> raízes reais, as<br />

ressonâncias acontec<strong>em</strong> para as raízes complexas <strong>em</strong> que a parte imaginária é b<strong>em</strong><br />

menor que a parte real, ou <strong>em</strong> outras palavras, para valores de x real <strong>em</strong> que os valores<br />

absolutos dos denomi<strong>na</strong>dores passam por mínimos. Esses modos dão orig<strong>em</strong> a picos de<br />

ressonância que tanto pod<strong>em</strong> ser vistos através de espectros de radiação retroespalha<strong>da</strong><br />

como através do monitoramento do espalhamento Raman, <strong>da</strong> fluorescência e <strong>da</strong> força<br />

de pressão de radiação <strong>da</strong> pinça óptica. Suas posições espectrais são s<strong>em</strong>pre as mesmas<br />

não importando o tipo de medi<strong>da</strong> realiza<strong>da</strong>. Para as on<strong>da</strong>s espalha<strong>da</strong>s, quando a n = 0<br />

campo elétrico espalhado é <strong>da</strong> forma<br />

<br />

<br />

E E ( b M ),<br />

∞<br />

3<br />

s = ∑ n n o1n<br />

n=<br />

1<br />

s<strong>em</strong> componente radial, só existindo modos TE. No outro caso, quando b n = 0 , no qual<br />

<br />

<br />

H E ( a M )<br />

∞<br />

k<br />

3<br />

s =− n n e1n<br />

µω<br />

∑<br />

n=<br />

1<br />

modos TM.<br />

não t<strong>em</strong> componente radial e<br />

86<br />

<br />

<br />

E E ( ia N )<br />

∞<br />

3<br />

s = ∑ n n e1n<br />

n=<br />

1<br />

, o<br />

só existirá os<br />

Intuitivamente pod<strong>em</strong>os interpretar as ressonâncias de duas maneiras. A<br />

primeira é através <strong>da</strong> óptica geométrica, onde a luz fica confi<strong>na</strong><strong>da</strong> por um pequeno


t<strong>em</strong>po dentro de uma esfera devido às múltiplas reflexões que ocorr<strong>em</strong> <strong>na</strong> superfície<br />

inter<strong>na</strong>. A outra maneira, segundo Nussenzveig [31], é através <strong>da</strong> associação <strong>da</strong> óptica<br />

com a trajetória de uma partícula <strong>na</strong> mecânica clássica, ou mesmo <strong>na</strong> mecânica<br />

quântica, quando se consideram efeitos de interferência e tunelamento. A a<strong>na</strong>logia <strong>da</strong><br />

trajetória de um raio <strong>da</strong> óptica geométrica com a trajetória de uma partícula sujeita a<br />

um campo de forças <strong>na</strong> mecânica clássica é direta. Basicamente pod<strong>em</strong>os mostrar que<br />

s<strong>em</strong>pre existirá um potencial para o qual as duas trajetórias, do raio <strong>da</strong> óptica<br />

geométrica e <strong>da</strong> partícula no campo de forças, serão idênticas. Isso pode ser mostrado<br />

através dos dois princípios de ação mínima, o de Fermat <strong>da</strong> óptica geométrica, que<br />

afirma que:<br />

<br />

onde ( )<br />

s2<br />

∫<br />

s1<br />

<br />

n ds é mínima (3. 65),<br />

( r )<br />

n r é o índice de refração dependente <strong>da</strong> posição r e ds é o deslocamento<br />

infinitésimal ao longo <strong>da</strong> trajetória do raio, e o princípio <strong>da</strong> ação mínima para o<br />

movimento de uma partícula <strong>em</strong> um campo de forças conservativo, que afirma que:<br />

t<br />

∫ 2<br />

t1<br />

T dt (3. 66),<br />

sujeita à restrição de que a conservação <strong>da</strong> energia mecânica, T + V = E, é mínima [32],<br />

onde T é a energia cinética e V a energia potencial.<br />

Mu<strong>da</strong>ndo <strong>da</strong> variável t<strong>em</strong>po para a variável s que representa o deslocamento ao<br />

longo <strong>da</strong> trajetória <strong>da</strong> partícula, t<strong>em</strong>os que<br />

2<br />

2<br />

ds = dx + dy + dz e<br />

2<br />

2<br />

. . .<br />

2 2 2<br />

( )<br />

2<br />

T = m[( x ) + ( y ) + ( z ) ] 2 = ⎡m ds dt ⎤ 2 . Assim:<br />

⎣ ⎦<br />

t t s<br />

m⎛ds⎞ds m⎛ds⎞<br />

Tdt= ⎜ ⎟ dt=<br />

⎜ ⎟ds(3. 67)<br />

2 ⎝ dt ⎠ dt 2 ⎝ dt ⎠<br />

2 2 2<br />

∫ ∫ ∫<br />

t t s<br />

1 1 1<br />

A conservação <strong>da</strong> energia, por outro lado, é expressa como:<br />

2<br />

m⎛ds<br />

⎞ ds 2<br />

⎜ ⎟ + V = E ⇒ = E − V<br />

2 ⎝ dt ⎠<br />

dt m<br />

integral<br />

s<br />

2<br />

∫<br />

s<br />

1<br />

( )<br />

. Substituindo <strong>na</strong> equação 3.65 obt<strong>em</strong>os que a<br />

m mE<br />

( E − V ) ds deve ser mínima, ou, extraindo a constante , que<br />

2<br />

2<br />

87


S<br />

2<br />

V<br />

∫ (1 − ) ds é mínima (3. 68).<br />

E<br />

S<br />

1<br />

As integrais (3.66) e (3.67) serão idênticas se<br />

n( r<br />

) = 1−<br />

V E , logo o potencial<br />

2 <br />

V( r)<br />

= E[<br />

1− n ( r)]<br />

dá orig<strong>em</strong> uma trajetória <strong>da</strong> partícula idêntica a trajetória do raio de<br />

luz. Nota‐se que o potencial será atrativo para regiões com maior índice de refração.<br />

Figura 1 a e b mostra o ex<strong>em</strong>plo do potencial equivalente <strong>em</strong> uma região que apresenta<br />

descontinui<strong>da</strong>de no índice de refração entre as posições − L / 2 e + L / 2 , situação típica<br />

de uma partícula homogênea <strong>em</strong>bebi<strong>da</strong> <strong>em</strong> outro meio, também homogêneo.<br />

Potencial equivalente V(x)<br />

-0.8<br />

-1.3<br />

-1.8<br />

-5 -3 -1 1 3 5<br />

Posição x<br />

Índice de Refração n(x)<br />

1.6<br />

1.4<br />

1.2<br />

-5 -3 -1 1 3 5<br />

Posição x<br />

a. b.<br />

Figura 65. Potencial equivalente.<br />

<br />

O caso de uma partícula esférica, <strong>na</strong> qual nr ( ) = nr ( ), onde<br />

2 2 2<br />

r = x + y + z ,<br />

corresponde ao caso do movimento <strong>da</strong> partícula <strong>em</strong> um campo de força central. Se o<br />

<br />

potencial é tal que φ ( r) =φ( r)<br />

, então F= φ′( r)<br />

e<br />

<br />

r e dL <br />

<br />

= τ= r× F =0 , ou seja, o momento<br />

dt<br />

angular L se conserva. Como,<br />

2<br />

L= r× p= mre × r <br />

= mre × ( re + rθ e ) = mr θ <br />

e × e<br />

2 <br />

= mr θe<br />

e<br />

T<strong>em</strong>os,<br />

88<br />

( )<br />

r r r θ<br />

r θ<br />

z<br />

mr 2 2 2 2 2 2 4 2 2 2<br />

m 2 2 2 mr mr θ mr m r θ mr<br />

L<br />

T = = ( r + r θ ) = + = + = + ,<br />

2 2<br />

2 2 2 2 2 2mr<br />

2 2mr<br />

2 2<br />

2<br />

mr<br />

L mr<br />

E= + +φ () r = +φef<br />

() r ,<br />

2<br />

2 2mr<br />

2<br />

2<br />

2<br />

L ll ( + 1) <br />

onde φ<br />

ef<br />

() r =φ () r + =φ () r + é o potencial efetivo que permite estados<br />

2 2<br />

2mr<br />

2mr<br />

ligados e também tunelamento.


Estendendo essa a<strong>na</strong>logia entre a óptica geométrica e a mecânica clássica para<br />

uma a<strong>na</strong>logia entre a óptica geométrica‐ondulatória e a mecânica quântica, pod<strong>em</strong>os<br />

relacio<strong>na</strong>r o índice n dos coeficientes de Mie com o número quântico principal e as<br />

autofunções com os próprios coeficientes de Mie an e bn. O índice n também representa o<br />

número de nodos <strong>da</strong>s autofunções. Também pod<strong>em</strong>os dizer que nessa associação com a<br />

mecânica quântica, a luz está sujeita a um potencial efetivo que é composto por um<br />

poço de potencial quadrado que representa a própria esfera somado a uma barreira<br />

centrífuga, assim como ilustra a Figura 66 a, onde a é o raio <strong>da</strong> esfera. Associando a<br />

largura <strong>da</strong>s ressonâncias com a largura do poço pod<strong>em</strong>os concluir que a largura <strong>da</strong>s<br />

ressonâncias decresce com n.<br />

U n (r)<br />

tunelamento<br />

r 3<br />

T<br />

n 1<br />

n 2<br />

n 3<br />

r 2<br />

r 1<br />

a<br />

c<br />

b<br />

b<br />

a<br />

B<br />

0 c<br />

a<br />

b<br />

r<br />

a. b. c.<br />

Figura 66. A<strong>na</strong>logia dos modos de Mie com a mecânica quântica.<br />

De acordo com o princípio <strong>da</strong> localização de Van de Hulst que ver<strong>em</strong>os um<br />

pouco mais adiante, pod<strong>em</strong>os associar o número n de um modo de ressonância a um<br />

raio que passa pela partícula <strong>na</strong> distância kr = (n +1 2<br />

) de seu centro. Vamos então<br />

associar aos números de modos n1, n2 e n3 <strong>da</strong> Figura 66 b a raios que passam<br />

respectivamente <strong>na</strong>s distâncias r1 = c, r2 = a e r3 = b do centro <strong>da</strong> esfera. Ou seja, o raio c<br />

cruza a esfera, o raio a é tangente a sua bor<strong>da</strong> e o raio b passa por fora <strong>da</strong> esfera. Porém,<br />

ape<strong>na</strong>s os modos que estão entre T e B são do nosso interesse, pois somente esses<br />

correspond<strong>em</strong> às ressonâncias de Mie. Vamos a<strong>na</strong>lisar então o raio b <strong>na</strong> Figura 66 c.<br />

Assim como para partículas (tais como elétrons) <strong>na</strong> mecânica quântica, o raio b t<strong>em</strong> que<br />

tunelar pela barreira centrífuga e atravessar a região proibi<strong>da</strong> entre a e b para atingir o<br />

89


interior <strong>da</strong> esfera. Uma vez dentro do poço, uma partícula sofre reflexões entre as<br />

paredes a e c até que tunele novamente para fora <strong>da</strong> barreira de potencial. Essa situação<br />

justamente corresponde a raios que sofr<strong>em</strong> múltiplas reflexões no interior <strong>da</strong> esfera até<br />

que tunel<strong>em</strong> novamente para fora <strong>da</strong> mesma e deêm orig<strong>em</strong> aos conhecidos modos ou<br />

ressonâncias de Mie.<br />

3.1.7 Cálculo <strong>da</strong>s Eficiências de Ressonâncias de Mie<br />

A eficiência Q <strong>da</strong>s ressonâncias de Mie representa o comportamento <strong>da</strong> seção de<br />

choque <strong>em</strong> função do comprimento de on<strong>da</strong>, ou do parâmetro de tamanho, e é defini<strong>da</strong><br />

por<br />

Q<br />

C<br />

a<br />

2<br />

= π , onde C é a seção de choque, defini<strong>da</strong> como C s Ws Is<br />

= com W s<br />

sendo a taxa de energia eletromagnética que atravessa uma superfície e I s a irradiância<br />

incidente. Para calcular a seção de choque para uma on<strong>da</strong> retroespalha<strong>da</strong>, usamos:<br />

onde<br />

1<br />

W = Re E × HdΩ<br />

2<br />

∫ (3. 69),<br />

<br />

<br />

E× H = S é o vetor de Poynting. Decompondo Ee<br />

H <strong>em</strong> coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s esféricas<br />

<br />

E= E eˆ + E eˆ + E eˆ<br />

r r<br />

θ θ<br />

ϕ ϕ<br />

<br />

e H = H eˆ + H eˆ + H eˆ<br />

r r<br />

θ θ<br />

ϕ ϕ<br />

<br />

, t<strong>em</strong>os que S= E H eˆ −E H eˆ<br />

θ ϕ r ϕ θ r<br />

componentes tangenciais que não interessam no caso <strong>da</strong> on<strong>da</strong> espalha<strong>da</strong>. Assim,<br />

obt<strong>em</strong>os,<br />

1 Re ( )<br />

2<br />

θ ϕ ϕ θ sen<br />

Ws<br />

= E H − E H r θ dθdϕ<br />

2<br />

∫<br />

(3. 70)<br />

Assumindo os campos elétrico e magnético espalhados como,<br />

<br />

E = α ( a M − a M −ib N −ib N ) (3. 71)<br />

∑<br />

s nm enm enm onm onm enm enm onm onm<br />

nm ,<br />

k<br />

H ∑<br />

<br />

( b M b M ia N ia N ) (3. 72)<br />

µω<br />

∗ ∗ ∗ ∗ ∗ ∗ ∗ ∗ ∗ ∗<br />

s =− α nm ′ ′ enm ′ ′ enm ′ ′ + onm ′ ′ onm ′ ′ − enm ′ ′ enm ′ ′ − onm ′ ′ onm ′ ′<br />

n′ , m′<br />

<br />

E θ = α { −a sen mϕ h ( ρ ) + a cos mϕ h ( ρ)<br />

m<br />

m<br />

mPn<br />

mPn<br />

s ∑ nm enm n onm n<br />

nm ,<br />

sen θ<br />

sen θ<br />

m<br />

dPn [ ρ hn ( ρ)] ′ dPn [ ρ hn( ρ)]<br />

′<br />

−ibenm<br />

cos mϕ − ibonm<br />

sen mϕ<br />

}<br />

dθ ρ dθ ρ<br />

m<br />

(3. 73)<br />

+<br />

90


m′ m′<br />

∗ −k<br />

∗ ∗ dPn′ ∗ ∗ dPn′<br />

∗<br />

sϕ<br />

∑ nm ′ ′ enm ′ ′ ′<br />

n′ onm ′ ′ ′<br />

n′<br />

µω<br />

n′ , m′<br />

dθ dθ<br />

H = α { b cos mϕ h ( ρ) −b sen mϕ h ( ρ)<br />

m′ ∗<br />

m′<br />

∗ mP ′<br />

n′ [ ρ hn′ ( ρ)] ′ ∗ mP ′<br />

n′ [ ρ hn′<br />

( ρ)]<br />

′<br />

+ iaen′ m′ sen m′ ϕ + iaon′ m′<br />

cos m′<br />

ϕ }<br />

sen θ ρ sen θ ρ<br />

∗<br />

(3. 74)<br />

<br />

m<br />

m<br />

mPn<br />

mPn<br />

Esϕ = ∑ α nm{ − aenm cos m hn( ) aonm sen m hn( )<br />

nm<br />

sen θ<br />

ϕ ρ − sen θ<br />

ϕ ρ<br />

(3. 75)<br />

m<br />

m<br />

dPn [ ρ hn( ρ)] ′ dPn [ ρ hn( ρ)]<br />

′<br />

+ ibenm<br />

sen mϕ −ibonm<br />

cos mϕ<br />

}<br />

dθ ρ dθ ρ<br />

m′ m′<br />

∗ −k<br />

∗ ∗ dPn′ ∗ ∗ dPn′<br />

∗<br />

Hsθ<br />

= ∑ αnm ′ ′{ benm ′ ′ sen m′ ϕ hn′ ( ρ) −bonm ′ ′ cos m′<br />

ϕ hn′<br />

( ρ)<br />

µω dθ dθ<br />

nm ′ ′<br />

′ ′<br />

m<br />

∗<br />

m<br />

∗<br />

∗ mP ′<br />

n′ [ ρ hn′ ( ρ)] ′ ∗ mP ′<br />

n′ [ ρ hn′<br />

( ρ)]<br />

′<br />

+ iaen′ m′ cos m′ ϕ + iaon′ m′<br />

sen m′<br />

ϕ }<br />

sen θ ρ sen θ ρ<br />

(3. 76).<br />

2π<br />

∫<br />

0<br />

t<strong>em</strong>os,<br />

Agora, pod<strong>em</strong>os integrar <strong>em</strong> ϕ e utilizar o fato de que:<br />

cos mϕ cos m′<br />

ϕ d ϕ= (1 +δ ) πδ ,<br />

2π<br />

∫<br />

0<br />

m0<br />

mm′<br />

2π<br />

2π<br />

0 0<br />

2π<br />

∫ sen mϕsen m′<br />

ϕ dϕ= (1 −δm0<br />

) πδmm′<br />

e<br />

0<br />

∫ cos mϕ sen m′ ϕ dϕ= 0 = ∫ sen mϕ cos m′<br />

ϕ dϕ<br />

(3. 77)<br />

m m<br />

πk<br />

mP dP<br />

E H dϕ=− α α { −a b (1 −δ ) h ( ρ) h ( ρ ) +<br />

∑<br />

∗ ∗ ∗ n n′<br />

∗<br />

sθ<br />

sϕ<br />

nm nm ′ enm onm ′ m0<br />

n n′<br />

µω<br />

nn , ′,<br />

m<br />

sen θ dθ<br />

2<br />

∗<br />

∗ m m m ρ hn′<br />

enm en′ m(1 m0) 2 n n′<br />

n( )<br />

[ ( ρ)]<br />

′<br />

ia a −δ P P h ρ +<br />

sen θ<br />

ρ<br />

m m<br />

∗ n n′<br />

∗ ∗<br />

onm en′ m +δm0 n ρ n′ ρ + onm on′<br />

m +δm0<br />

mP dP m<br />

a b (1 ) h ( ) h ( ) ia a (1 ) P P h<br />

2<br />

sen θ dθ<br />

sen θ<br />

2<br />

∗<br />

m m ρ hn<br />

′<br />

n n′<br />

n( ρ)<br />

m m m m<br />

∗<br />

∗ dPn dPn′ hn ∗ ∗<br />

mPn dPn′ hn hn′<br />

enm enm ′ m0 n′ enm onm ′ m0<br />

m m<br />

∗ dPn dPn′<br />

[ ρ hn( ρ)]<br />

′ ∗ ∗<br />

onm on′ m m0<br />

n′ onm en′<br />

m<br />

[ ( ρ)]<br />

′<br />

ρ<br />

[ ρ ( ρ)] ′ [ ρ ( ρ)] ′[ ρ ( ρ)]<br />

′<br />

− ib b (1 +δ ) h ( ρ ) + b a (1 +δ )<br />

dθ dθ ρ sen θ dθ ρ ρ<br />

−ib b (1 −δ ) h ( ρ) −b a (1−δ<br />

dθ dθ ρ<br />

(3. 78)<br />

m0<br />

m m<br />

∗<br />

n n′ n n′<br />

mP dP [ ρ h ( ρ)] ′ [ ρ h ( ρ)]<br />

′<br />

) }<br />

sen θ dθ ρ ρ<br />

91


earrajando os termos,<br />

<br />

<br />

2 π<br />

∗<br />

∗ πk<br />

∗ ∗ ∗ [ ρ h ′ ρ ′<br />

∫ θ ϕ ϕ=− ∑<br />

2<br />

n ( )] m m m<br />

Es Hs d αnmα n′ m{[ i aenmaen′ m + aonmaon′ m] hn( ρ)<br />

P<br />

2 n Pn′<br />

µω , ′,<br />

ρ sen θ<br />

0<br />

nn m<br />

m m<br />

∗ ∗ dPn dPn′<br />

[ ρ hn( ρ)]<br />

′ ∗<br />

− ib [ enmben′ m(1 +δ m0) + bonmbon′ m(1 −δm0)] hn′<br />

( ρ)<br />

dθ dθ ρ<br />

m m m m<br />

∗<br />

∗<br />

∗ mPn<br />

dPn′ ∗ ∗ ∗ mPn dPn′ [ ρ hn( ρ)] ′ [ ρ hn′<br />

( ρ)]<br />

′<br />

+− [ aenmbon′ m + aonmben′<br />

m] hn( ρ) hn′ ( ρ ) + [ benmaon′ m −bonmaen′<br />

m] }<br />

sen θ dθ sen θ dθ ρ ρ<br />

(3. 79)<br />

e<br />

2π<br />

∫<br />

0<br />

m m<br />

′<br />

E H d i a a a a h<br />

∗<br />

∗ πk<br />

∗ ∗ ∗ [ ρ hn′ ( ρ)]<br />

dPn dPn′<br />

sϕ<br />

sθ<br />

ϕ=− ∑ αnmαnm ′ { − [ enm enm ′ (1 +δ m0) + onm onm ′ (1 −δm0)] n( ρ)<br />

µω nn , ′,<br />

m<br />

ρ dθ dθ<br />

2<br />

∗ ∗ m m m [ ρ hn( ρ)]<br />

′ ∗<br />

+ ib [ enmben′ m + bonmbon′ m] P ′ ′( ρ)<br />

2 n Pn hn<br />

sen θ ρ<br />

m m m m<br />

∗<br />

∗<br />

∗ mPn<br />

dPn′ ∗ ∗ ∗ mPn dPn′ [ ρ hn( ρ)] ′ [ ρ hn′<br />

( ρ)]<br />

′<br />

+− [ aenmbon′ m −aonmben′<br />

m] hn( ρ) hn′ ( ρ ) + [ − benmaon′ m + bonmaen′<br />

m] }<br />

sen θ dθ sen θ dθ ρ ρ<br />

(3. 80)<br />

tal que no fi<strong>na</strong>l,<br />

π 2π<br />

∫∫<br />

0 0<br />

<br />

( E H −E H ) sen θ dθ dϕ<br />

∗<br />

∗<br />

sθ sϕ sϕ sθ<br />

∗ π m m 2<br />

∗ ∗ ∗ [ ρ hn′ ( ρ)]<br />

′ dPn dPn′<br />

m m m<br />

∑ nm n′ m enm en′ m m0 onm on′ m m0 n ∫<br />

2 n n′<br />

nn , ′, m<br />

d d sin<br />

0<br />

πk<br />

=− α α {[ ia a (1 +δ ) + a a (1 −δ )] h( ρ ) ( + P P ) sen θ dθ<br />

µω ρ θ θ θ<br />

m m 2<br />

∗<br />

∗ [ ρ hn( ρ)]<br />

′ ∗ dPn dPn′<br />

m m m<br />

− ib [ enmben′ m(1 +δ m0) + bonmbon′<br />

m(1 −δm0)]<br />

hn′ ( ρ ) + ′ θ θ<br />

ρ<br />

∫( P ) sen<br />

2 n Pn<br />

d<br />

dθ dθ sen θ<br />

π<br />

0<br />

π m m m m<br />

∗ ∗ ∗ mPn dPn′ mPn′<br />

dPn<br />

enm onm ′ onm enm ′ n n′<br />

∫<br />

sen θ dθ sen θ dθ<br />

0<br />

+− [ a b + a b ] h ( ρ) h ( ρ ) ( + ) sen θdθ<br />

(3. 81)<br />

∗ π m m m m<br />

∗ ∗ [ ρ hn( ρ)] ′[ ρ hn′ ( ρ)]<br />

′ mPn dPn′ mPn′<br />

dPn<br />

enm on′ m onm en′<br />

m<br />

ρ ρ<br />

∫<br />

sen θ dθ sen θ dθ<br />

0<br />

+ [ b a − b a ] ( + ) senθdθ<br />

As integrais <strong>em</strong> θ são de dois tipos:<br />

92


π<br />

0<br />

m<br />

n<br />

m<br />

n′ m<br />

n<br />

m<br />

n′<br />

2<br />

dP dP P P 2 nn ( + 1) ( n+<br />

m)!<br />

∫ { + }sen θ dθ = δnn′<br />

(3. 82) e<br />

dθ dθ sen θ<br />

2n+ 1 ( n−m)!<br />

π<br />

dPn′ Pn dPn Pn′<br />

∫ ( )sen d 0<br />

dθ senθ + dθ senθ<br />

θ θ = (3. 83)<br />

0<br />

m m m m<br />

ficamos com,<br />

π 2π ∗<br />

∗ ∗ πk<br />

∗ ∗ ∗<br />

ρ hn<br />

( EsθHsϕ −EsϕHsθ) sen θ dθ dϕ=− ∑ αnmα nm{ i [ aenmaenm(1 +δ m0) + aonmaonm(1 −δm0)] hn( ρ)<br />

0 0<br />

nm ,<br />

∫∫ [ ( ρ)]<br />

′<br />

µω ρ<br />

)!<br />

(3. 84)<br />

2 nn ( + 1)( n+ m)! ∗ ∗ [ ρ hn( ρ)]<br />

′ ∗ 2 nn ( + 1)( n+<br />

m<br />

− ib [ enmbenm(1 +δ m0) + bonmbonm(1 −δm0)] hn( ρ)<br />

2n+ 1 ( n−m)! ρ 2n+<br />

1 ( n−<br />

m)!<br />

de onde pod<strong>em</strong>os notar que quando m = 0 ,<br />

π 2π<br />

∗<br />

∗<br />

∫∫( E s H θ s ϕ − E s H ϕ s θ ) sen θ dθ dϕ=<br />

0 .<br />

0 0<br />

Para<br />

r → ∞ ,<br />

n+<br />

1<br />

ikr<br />

h ~[( − i) kr]<br />

e e então<br />

n<br />

∗ n+ 1 −ikr<br />

n ~[( ) ]<br />

h i kr e<br />

, tal que<br />

n+<br />

1<br />

ikr<br />

d dkr[ kr h ( kr)] ~ [( − i) ( i)]<br />

e e<br />

n<br />

∗ n+ 1 −ikr<br />

n<br />

−<br />

d dkr[ kr h ( kr)] ~ [( i) ( i)]<br />

e<br />

. Dessa forma:<br />

π 2π<br />

<br />

* * 2<br />

∫∫( EsθHsϕ −EsϕHsθ) r sen θ dθ dϕ=<br />

0 0<br />

(3. 85)<br />

∞ ∞<br />

π 2 2 nn ( + 1) ( n+<br />

m)! 2 2 2 2<br />

∑∑α nm {( aenm + benm )(1 +δ m0 ) + ( aonm + bonm )(1 −δm0<br />

)}<br />

kµω 2n+ 1 ( n−<br />

m)!<br />

m= 0 n=<br />

m<br />

E portanto,<br />

Ws<br />

=<br />

∞ ∞<br />

π 2 2 nn ( + 1) ( n+<br />

m)! 2 2 2 2 (3. 86)<br />

∑∑ α nm {( aenm + benm )(1 +δ m0 ) + ( aonm + bonm )(1 −δm0<br />

)}<br />

2kµω 2n+ 1 ( n−<br />

m)!<br />

m= 0 n=<br />

m<br />

Para o caso de incidência por on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong>,<br />

()(2 i n+<br />

1) E<br />

α nm = En<br />

=<br />

nn ( + 1)<br />

n<br />

0<br />

e<br />

2<br />

2 2 2 (2n<br />

+ 1)<br />

nm En<br />

E0 2 2<br />

α = =<br />

n ( n+<br />

1)<br />

(3. 87),<br />

m = 1 e só t<strong>em</strong>os um coeficiente para as função pares que é o a n e um coeficiente para a<br />

função ímpar que é o b n . Então:<br />

∞<br />

2<br />

π 2 n+ n n+ n+ n n−<br />

2 2<br />

s = ∑ 0 2 2<br />

2k 1 ( 1) 2 1 ( 1)!<br />

n +<br />

µω n<br />

n=<br />

n n+<br />

n+ n−<br />

(2 1) 2 ( 1) ( 1) ( 1)!<br />

W E {( a b )}<br />

93


∞<br />

π<br />

2 2 2<br />

s = 0 + n + n<br />

k n = 1<br />

W ∑ E (2n 1){ a b } (3. 88)<br />

µω<br />

1 <br />

∗<br />

ikz<br />

Mas, I<br />

i<br />

= Re( Ei<br />

× Hi<br />

), com Ei<br />

= E0e eˆ<br />

2<br />

então a seção de choque é <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />

e a eficiência por:<br />

I =<br />

i<br />

E<br />

0<br />

2<br />

2<br />

x<br />

<br />

∗ k −ikz<br />

e Hi<br />

= E0e eˆ<br />

y ⇒<br />

µω<br />

k<br />

(3. 89)<br />

µω<br />

W<br />

C ∑ (2n 1){ a b } (3. 90)<br />

∞<br />

s 2 π<br />

2 2<br />

s = = +<br />

2<br />

n + n<br />

I i k n = 1<br />

∞<br />

C s 2<br />

2 2<br />

s = = +<br />

2 2<br />

n + n<br />

a x n = 1<br />

Q ∑ (2n 1){ a b } (3. 91)<br />

π<br />

Há outras definições de eficiência, tais como a de retroespalhamento e a de<br />

extinção. Por ex<strong>em</strong>plo, eficiência de retroespalhamento é <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />

2<br />

∑ ( 2 1 )( 1) n ( ) .<br />

Q = n+ − a −b x<br />

b n n<br />

n<br />

Vamos agora calcular a seção de choque de pressão de radiação para on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong>.<br />

O tensor <strong>da</strong>s tensões de Maxwell e a força são <strong>da</strong>dos por:<br />

1 <br />

T = ED + H B − ( E⋅ D+ H⋅B)<br />

δ<br />

2<br />

ij i j i j ij<br />

(3. 92)<br />

F<br />

= ∫ T n <strong>da</strong> (3. 93)<br />

i ij j<br />

S<br />

onde S é qualquer superfície que engloba o objeto espalhador. Em particular pod<strong>em</strong>os<br />

usar a superfície <strong>em</strong><br />

r →∞ para meio externo não‐absorvente. Como os campos pod<strong>em</strong><br />

ser complexos mas a força t<strong>em</strong> que ser real, t<strong>em</strong>os que<br />

* * 1 * *<br />

Fi Re Tijnj<strong>da</strong> Re<br />

⎡<br />

<br />

= = ED i jnj + HiBjnj − ( E⋅ D + H⋅B ) n<br />

⎤<br />

∫ ∫ ⎢<br />

i <strong>da</strong><br />

⎣<br />

2<br />

⎥⎦<br />

<br />

(3. 94)<br />

com,<br />

<br />

n = e ˆ ,<br />

r<br />

<br />

D ⋅ n= D , B ⋅ n=<br />

B<br />

* * * *<br />

r<br />

r<br />

e<br />

<strong>da</strong> = r 2 senθdθdϕ,<br />

onde eˆ = senθcos ϕ eˆ + sen θsen ϕ eˆ + cos θ eˆ<br />

(3. 95)<br />

r x y z<br />

t<strong>em</strong>os,<br />

94


∫<br />

* * 1 <br />

* *<br />

{ }<br />

2 2 i<br />

Fi = Re ε EE i r +µ HiHr<br />

− [ εE⋅ E +µ H⋅H ] n <strong>da</strong> (3. 96)<br />

2<br />

Os componentes radiais dos campos, tanto incidente quanto espalhado, levam a<br />

função Z ( ) i<br />

n ρ e ±ρ<br />

ρ<br />

∼<br />

ρ<br />

2<br />

. O el<strong>em</strong>ento de área é proporcio<strong>na</strong>l a<br />

2<br />

r , logo qualquer produto<br />

3 4<br />

com uma <strong>da</strong>s componentes radiais vai com F F ~1/ ρ e F F ~1/ ρ , assim as relações<br />

2 2 2<br />

r t 1/ e r t 1/<br />

r t r t<br />

r F F ∼ r r F F ∼ r , se anulam para r →∞. Dessa forma, os dois primeiros<br />

* *<br />

i r e i r<br />

termos <strong>na</strong> integral EE HH são nulos. Além disso, para r →∞:<br />

<br />

* * * * * *<br />

EE ⋅ = EE<br />

r r<br />

+ EE<br />

θ θ<br />

+ EE<br />

ϕ ϕ<br />

= EE<br />

θ θ<br />

+ EE<br />

ϕ ϕ<br />

<br />

e H⋅ H = H H + H H + H H = H H + H H (3. 97)<br />

E então,<br />

* * * * * *<br />

r r θ θ ϕ ϕ θ θ ϕ ϕ<br />

1<br />

{ ( ) ( ) }<br />

* * * *<br />

θ θ ϕ ϕ θ θ ϕ ϕ i<br />

Fi<br />

= Re ∫ − [ ε E E + E E +µ H H + H H ] n <strong>da</strong> (3. 98)<br />

2<br />

<br />

inc sca<br />

Como o campo elétrico é E= E + E ,<br />

* inc sca inc* sca* inc inc* inc sca* sca inc* sca sca*<br />

EθEθ = ⎡⎣Eθ + Eθ ⎤⎡ ⎦⎣Eθ + Eθ ⎤⎦ = Eθ Eθ + Eθ Eθ + Eθ Eθ + Eθ Eθ<br />

(3. 99)<br />

Entretanto, o termo<br />

inc inc*<br />

Eθ Eθ só depende do campo incidente e, portanto, não está<br />

relacio<strong>na</strong>do à partícula, logo não deve entrar no cálculo <strong>da</strong> força. Antes de continuar o<br />

cálculo vamos definir as funções reais de θ :<br />

m<br />

m Pn<br />

m dPn<br />

π<br />

n<br />

= e τ<br />

n<br />

=<br />

senθ dθ m<br />

(3. 100).<br />

L<strong>em</strong>brando que os campos elétricos e magnéticos são:<br />

n 2n<br />

1 1 1 1 1<br />

E +<br />

i<br />

= E0∑i [ M o1n − iN e1n ] = ∑En [ M o1n −iN<br />

<br />

e1n<br />

] (3. 101)<br />

nn ( + 1)<br />

k n 2n 1 1 1 k<br />

1 1<br />

H +<br />

i<br />

=− E0∑i [ M e1n + iN o1n ] =− ∑En [ M e1n+<br />

iN<br />

<br />

o1n<br />

] (3. 102)<br />

µω nn ( + 1)<br />

µω<br />

n 2n<br />

1 3 3 3 3<br />

E +<br />

s<br />

= E0∑i [ iaN n e1n − bM n o1n ] = ∑En [ iaN n e1n −bM<br />

<br />

n o1n<br />

] (3. 103)<br />

nn ( + 1)<br />

k n 2n 1 3 3 k<br />

3 3<br />

H +<br />

s<br />

= E0∑i [ ibN n o1n + aM n e1n ] = ∑En [ ibN n o1n + aM<br />

<br />

n e1n<br />

] (3. 104)<br />

µω nn ( + 1)<br />

µω<br />

E considerando as formas assintóticas <strong>da</strong>s funções de Bessel,<br />

95


( ) ( ) 1 iρ<br />

1 n+ e 1 n+ , ( ) ( ) 1 iρ<br />

n+<br />

( )<br />

1<br />

n ρ = − ⎡<br />

n ρ = − +<br />

−ρ i<br />

h i j i e i e ⎤ e<br />

ρ 2ρ⎣ ⎦<br />

iρ<br />

1<br />

⎡<br />

1<br />

n e 1 1 n iρ<br />

n −ρ i<br />

ρ hn( ρ ) ⎤′ = ( −i) , ⎡⎣ρ jn( ρ ) ⎤⎦<br />

′ = ⎡( − i) e + ( i)<br />

e ⎤ (3.<br />

⎣ ⎦<br />

105),<br />

ρ ρ ρ 2ρ⎣ ⎦<br />

n+ {() 1 −iρ<br />

n+<br />

[ ] ( ) 1<br />

iρ<br />

[ ] }<br />

cosϕ<br />

Eiθ<br />

= ∑ En i e πn −τ n + −i π n +τn<br />

e (3. 106)<br />

2ρ n+ {() 1 −ρ i<br />

n+<br />

[ ] ( ) 1 iρ[ ]}<br />

senϕ<br />

Eiϕ<br />

= ∑ En i e πn−τn − −i e π n+τn<br />

(3. 107)<br />

2ρ assim, ficamos com as combi<strong>na</strong>ções:<br />

+<br />

{( ) 1 ρ<br />

[ ]}<br />

cosϕ<br />

n i<br />

Esθ<br />

= ∑ En −i e anτ n+ bnπn<br />

(3. 108)<br />

ρ<br />

+<br />

{( ) 1 ρ<br />

[ ]}<br />

senϕ<br />

n i<br />

Esϕ<br />

= ∑ En −i e anπ n+ bnτn<br />

(3. 109)<br />

ρ<br />

n′+ 1 n+<br />

1 * *<br />

() i ( i) [ n n] ⎡an ′ n′ bn′ n′<br />

⎤}<br />

{<br />

2<br />

* cos ϕ * n+ 1 n′<br />

+ 1 −2 iρ<br />

* *<br />

iθ<br />

sθ<br />

=<br />

2 ∑ n n′ −() () [ πn −τn]<br />

⎡<br />

n′ τ n′ + n′ πn′<br />

E E E E i i e a b<br />

2ρ<br />

⎣<br />

− − π +τ<br />

⎣<br />

τ + π<br />

n′+ 1 n+<br />

1<br />

() i ( i) [ n′ n′<br />

][ an n bn n]}<br />

⎦<br />

n′+ 1 n+ 1 iρ<br />

{ ( ) ( ) [ ][ ]<br />

2<br />

* cos ϕ * 2<br />

sθ<br />

iθ<br />

=<br />

2 ∑ n n′ − − − πn′ −τn′<br />

nτ n + nπn<br />

E E E E i i e a b<br />

2ρ<br />

− − π +τ τ + π<br />

⎤<br />

⎦<br />

(3. 110)<br />

(3. 111)<br />

2<br />

* cos ϕ * n n<br />

* *<br />

sθ<br />

sθ<br />

=<br />

2 n n − nτ n + nπn nτ n + nπn<br />

+ 1 ′ + 1<br />

∑ ′( ) ( ) [ ] ⎡<br />

′ ′ ′ ′<br />

⎤ (3. 112)<br />

E E E E i i a b<br />

⎣<br />

a b<br />

ρ<br />

⎦<br />

2<br />

* sen ϕ * n+ 1 n′<br />

+ 1 −2 iρ<br />

* *<br />

iϕ<br />

sϕ<br />

=<br />

2 ∑ n n′ {( ) () [ πn −τn]<br />

⎡<br />

n′ πn′ − n′ τn′<br />

E E E E i i e a b<br />

2ρ<br />

⎣<br />

n+ 1 n′<br />

+ 1 * *<br />

( i) ( i) [ n n] ⎡an ′ n′ bn′ n′<br />

⎤}<br />

− − π +τ<br />

⎣<br />

π + τ<br />

⎦<br />

⎤<br />

⎦<br />

(3. 113)<br />

+ 1 ′ + 1<br />

{( ) ( ) [ ] ⎡<br />

⎤}<br />

2<br />

* sen ϕ * n n<br />

* * * *<br />

sϕ<br />

sϕ<br />

=<br />

2 ∑ n n′ − nπ n + nτn n′ π n′ + n′ τn′<br />

(3. 114)<br />

E E E E i i a b<br />

⎣<br />

a b<br />

ρ<br />

⎦<br />

96


n+ 1 n′<br />

+ 1<br />

( i) ( i) [ an n bn n][ n′ n′<br />

]}<br />

n+ 1 n′<br />

+ 1<br />

{( ) ( ) [ ][ ]<br />

2<br />

* sen ϕ *<br />

sϕ<br />

iϕ<br />

=<br />

2 ∑ n n′ − nπ n + nτn πn′ −τn′<br />

E E E E i i a b<br />

2ρ<br />

− − π + τ π −τ<br />

(3. 115)<br />

2π<br />

∫<br />

0<br />

Agora já pod<strong>em</strong>os fazer as integrais <strong>em</strong> ϕ :<br />

Para Fz<br />

→ e ˆ = cosθ→<br />

rz<br />

2π<br />

2π<br />

2 2<br />

∫ cos ϕ dϕ= ∫ sen ϕdϕ=π, e para<br />

0 0<br />

2π<br />

2π<br />

2 2<br />

F → e = senθcos ϕ e F → e = senθsenϕ⇒ cos ϕcos ϕ dϕ= cos ϕsen ϕ dϕ=<br />

0<br />

x rx y ry<br />

∫ ∫ .<br />

0 0<br />

Portanto, só haverá força <strong>em</strong> z, como já sabíamos pela simetria do probl<strong>em</strong>a.<br />

Continuando o cálculo de acordo com o apêndice,<br />

n′+ 1 n+ 1 iρ<br />

{{ ( ) ( ) [ ][ ]}<br />

* * * π<br />

2<br />

( EE θ θ + EE ϕ ϕ)<br />

dϕ= ∑ EE n n′ − −i −i e π<br />

2<br />

n′ −τn′<br />

anτ n + bnπn −anπn−bnτn<br />

−<br />

2ρ<br />

n+ 1 n′<br />

+ 1 −2 iρ<br />

* * * *<br />

{() i () i e [ πn −τn]<br />

⎡an ′ n′ bn′ n′ an′ n′ bn′ n′<br />

⎤<br />

⎣<br />

τ + π − π − τ<br />

⎦}<br />

−<br />

n+ 1 n′<br />

+ 1<br />

{( −i) ( i) [ π n′ +τn′<br />

][ anπ n + bnτ n + anτ n + bnπn]<br />

} −<br />

n+ 1 n′<br />

+ 1 * * * *<br />

{() i ( −i) [ π n +τn]<br />

⎡an ′ π n′ + bn′ τ n′ + an′<br />

n′ bn′ n′<br />

⎤<br />

⎣<br />

τ + π<br />

⎦}<br />

+<br />

n+ 1 n′<br />

+ 1 * * * *<br />

{ 2( −i) ( i) {[ anτ n + bnπn]<br />

⎡an ′ n′ bn′ n′ ⎤} { ⎡an ′ n′ bn′ n′<br />

⎤<br />

⎣<br />

τ + π<br />

⎦<br />

+<br />

⎣<br />

π + τ<br />

⎦[ anπ n + bnτn]<br />

}}<br />

(3. 116)<br />

Rearranjando os termos de<br />

EE<br />

+ EE e chamando o último de I<br />

1<br />

,<br />

* *<br />

θ θ ϕ ϕ<br />

t<strong>em</strong>os<br />

2 π<br />

* * * *<br />

I1 = ∫dθsen θcos θr ∑ − i i E E b b + a a τ τ +π π + 2a b π τ +τ π<br />

2<br />

ρ<br />

⎣ ⎦<br />

(3. 117)<br />

n+ 1 n′<br />

+ 1<br />

( ) ( ) n n′ { ⎡<br />

n n′ n n′ ⎤[ n n′ n n′ ] n n′ [ n n′ n n′<br />

]}<br />

Já os terceiro e quarto termos ficam como I<br />

2<br />

,<br />

π<br />

2 π * 1 1<br />

2 = ∫ θ senθcos<br />

θ ∑ 2 n n′ { − − n+ n πnπ n′ +τnτ n′ + n+ n τnπ n′ +πnτn′<br />

2ρ ⎣<br />

0<br />

n+ n′<br />

+<br />

( ) ( ) 2Re ⎡[ ][ ] [ ][ ] ⎤}<br />

I d r E E i i a b a b<br />

(3. 118)<br />

⎦<br />

Só falta agora, definir a integral I3<br />

que é referente aos primeiros e segundos<br />

termos,<br />

97


π<br />

π<br />

I = dθ θ θ E E − −i − i e ×<br />

{<br />

* n′+ 1 n+ 1 2iρ<br />

∫ sen cos<br />

n n′<br />

2Re ( ) ( )<br />

2k<br />

(3. 119)<br />

3 2<br />

0<br />

∑<br />

[ an n n′ bn n n′ an n n′ an n n′ an n n′ bn n n′ bn n n′ bn n n′<br />

]}<br />

× τ π + π π − π π − τ τ + π τ − τ π − π τ + τ τ<br />

Usando as soluções dessas integrais <strong>em</strong> θ d<strong>em</strong>onstra<strong>da</strong>s por Gouesbet [33],<br />

t<strong>em</strong>os,<br />

( 2n<br />

+ 1)<br />

4π 2 π nn ( + 2)<br />

I E a b E b b a a<br />

∞<br />

∞<br />

2 * 2<br />

* *<br />

1<br />

=<br />

2 0 ∑<br />

n n+ ∑ 2 0<br />

⎡<br />

n n+ 1+<br />

n n+<br />

1<br />

k n= 1 n( n+ 1) n=<br />

1 k ( n+<br />

1)<br />

⎣<br />

∞<br />

2 π 2 ( n+ 1)( n−1)<br />

* *<br />

+ ∑ E<br />

2 0<br />

⎡bnbn−<br />

1+ a<strong>na</strong>n−<br />

1⎤=<br />

k n<br />

⎣<br />

⎦<br />

n=<br />

1<br />

⎤⎦<br />

(3. 120)<br />

Na terceira somatória faz<strong>em</strong>os n− 1= n→ n= n+ 1, pois ela poderia começar de 2<br />

por causa do n − 1 e obt<strong>em</strong>os:<br />

( 2n<br />

+ 1)<br />

4π 4 π nn ( + 2)<br />

I E ⎡⎣a b ⎤⎦ E ⎡⎣b b a a ⎤⎦<br />

∞<br />

∞<br />

2 * 2<br />

* *<br />

1<br />

=<br />

0<br />

Re<br />

2 n n<br />

+<br />

2 0<br />

Re<br />

n n+ 1+<br />

n n+<br />

1<br />

k n= 1 n( n+ 1) k n=<br />

1 ( n+<br />

1)<br />

∑ ∑ (3. 121)<br />

Agora para I 2 ,<br />

2<br />

∞ ∞ ∞<br />

π E ⎧<br />

0 ⎪ ⎧ 2 nn ( + 2) 2( n+ 1)( n− 1) ⎛ 2n+<br />

1 ⎞ ⎫⎫ ⎪⎪<br />

I2 =− 2Re<br />

2 ⎨ ⎨∑ [ an+ 1+ bn+ 1] + ∑ [ an−1+ bn−1] + ∑2⎜<br />

⎟[ an + bn]<br />

⎬⎬<br />

2 k ⎩⎪<br />

⎩n= 1 ( n+ 1) n= 1 n n=<br />

1 ⎝n( n+<br />

1) ⎠ ⎭⎭ ⎪⎪<br />

(3. 122)<br />

Fazendo <strong>na</strong> primeira somatória n+ 1= n→ n= n− 1 e <strong>na</strong> segun<strong>da</strong><br />

n− 1= n→ n= n + 1:<br />

2<br />

∞<br />

2π<br />

E0<br />

2 2<br />

k n=<br />

1<br />

{ [ ]}<br />

I =− ∑ Re (2n+ 1) an + b (3. 123)<br />

n<br />

Quanto a I 3 , vamos deixá‐la por enquanto <strong>na</strong> sua forma integral.<br />

De maneira similar, t<strong>em</strong>os para o campo magnético H ,<br />

n+ {() 1 −iρ<br />

n+<br />

[ ] ( ) 1<br />

iρ<br />

[ ] }<br />

k senϕ<br />

Hiθ<br />

= ∑ En i e πn −τ n + −i π n +τn<br />

e (3. 124)<br />

µω 2ρ n+ {() 1 −ρ i<br />

n+<br />

[ ] ( ) 1 iρ[ ]}<br />

k cosϕ<br />

Hiϕ<br />

=− ∑ En i e πn −τn − −i e π n +τn<br />

(3. 125)<br />

µω 2ρ +<br />

{( ) 1 ρ<br />

[ ]}<br />

k senϕ<br />

n i<br />

Hsθ<br />

= ∑ En −i e bnτ n + anπn<br />

(3. 126)<br />

µω ρ<br />

98


+<br />

{( ) 1 ρ<br />

[ ]}<br />

k cosϕ<br />

n i<br />

Hsϕ<br />

=− ∑ En −i e bnπ n + anτn<br />

(3. 127)<br />

µω ρ<br />

e portanto:<br />

n′+ 1 n+<br />

1 * *<br />

() i ( i) [ n n] ⎡bn ′ n′ an′ n′<br />

⎤}<br />

{<br />

2 2<br />

* k ⎛sen<br />

ϕ ⎞ * n+ 1 n′<br />

+ 1 −2 iρ<br />

* *<br />

HiθHiθ<br />

=<br />

2 ⎜ 2 ⎟∑<br />

EnEn′ −() i () i e [ πn −τn]<br />

⎡bn ′ τ n′ + an′ πn′<br />

⎤<br />

( µω)<br />

2ρ<br />

⎣ ⎦<br />

⎝ ⎠<br />

− − π +τ<br />

⎣<br />

τ + π<br />

⎦<br />

(3. 128)<br />

( µω)<br />

n′+ 1 n+<br />

1<br />

() i ( i) [ n′ n′<br />

][ bn n an n]}<br />

n′+ 1 n+ 1 iρ<br />

{ ( ) ( ) [ ][ ]<br />

2 2<br />

* k sen ϕ * 2<br />

sθ<br />

iθ<br />

=<br />

2 2 n n′ − − − πn′ −τn′<br />

nτ n + nπn<br />

∑<br />

H H E E i i e b a<br />

2ρ<br />

− − π +τ τ + π<br />

(3. 129)<br />

2 2<br />

* ⎛ k ⎞ sen ϕ * n n<br />

* *<br />

sθ<br />

sθ<br />

=<br />

2 n n − nτ n + nπn nτ n + nπn<br />

+ 1 ′ + 1<br />

∑ ′ ( ) ( ) [ ] ⎡<br />

′ ′ ′ ′<br />

⎤ (3. 130)<br />

H H ⎜ ⎟ E E i i b a<br />

⎣<br />

b a<br />

µω ρ<br />

⎦<br />

⎝ ⎠<br />

2 2<br />

* k cos ϕ * n+ 1 n′<br />

+ 1 −2 iρ<br />

* *<br />

iϕ<br />

sϕ<br />

=<br />

2 2 n n′ {( ) () [ πn −τn]<br />

⎡<br />

n′ πn′ − n′ τn′<br />

H H E E i i e b a<br />

2ρ<br />

⎣<br />

( µω)<br />

∑<br />

n+ 1 n′<br />

+ 1 * *<br />

( i) ( i) [ n n] ⎡bn′ n′ an′ n′<br />

⎤}<br />

− − π +τ<br />

⎣<br />

π + τ<br />

⎦<br />

⎤<br />

⎦<br />

(3. 131)<br />

( µω)<br />

n+ 1 n′<br />

+ 1<br />

( i) ( i) [ bn n an n][ n′ n′<br />

]}<br />

n+ 1 n′<br />

+ 1<br />

{( ) ( ) [ ][ ]<br />

2 2<br />

* k cos ϕ *<br />

sϕ<br />

iϕ<br />

=<br />

2 2 n n′ − nπ n + nτn πn′ −τn′<br />

∑<br />

H H E E i i b a<br />

2ρ<br />

− − π + τ π −τ<br />

(3. 132)<br />

2 2<br />

* ⎛ k ⎞ cos ϕ * n n<br />

* * * *<br />

sϕ<br />

sϕ<br />

=<br />

2 n n′ − nπ n + nτn n′ π n′ + n′ τn′<br />

+ 1 ′ + 1<br />

{( ) ( ) [ ] ⎡<br />

⎤}<br />

H H ⎜ ⎟ ∑ E E i i b a<br />

⎣<br />

b a<br />

µω ρ<br />

⎦<br />

(3. 133)<br />

⎝ ⎠<br />

então dessa forma, ficamos com:<br />

2π<br />

2<br />

* * * π k<br />

∫ ( HH θ θ+ HH ϕ ϕ)<br />

dϕ=<br />

∑EE<br />

n n′<br />

2 2<br />

2ρ<br />

0<br />

µω<br />

99<br />

( ) {<br />

n′+ 1 n+ 1 2iρ<br />

{ −( −i) ( −i) e [ πn′ −τn′<br />

][ bnτ n+ anπn−bnπn−anτn]<br />

}<br />

n+ 1 n′<br />

+ 1 −2 iρ<br />

* * * *<br />

{() i () i e [ n n]<br />

⎡bn ′ n′ an′ n′ bn′ n′ an′ n′<br />

⎤}<br />

− π −τ<br />

⎣<br />

τ + π − π − τ<br />

n+ 1 n′<br />

+ 1<br />

{( i) ( i) [ n′ n′<br />

][ bn n an n bn n an n]<br />

}<br />

− − π +τ π + τ + τ + π<br />


n+ 1 n′<br />

+ 1 * * * *<br />

−{ () i ( −i) [ π n +τn]<br />

⎡<br />

⎣<br />

bn′ π n′ + an′ τ n′ + bn′ τ n′ + an′ πn′<br />

⎤<br />

⎦}<br />

n+ 1 n′<br />

+ 1 * * * *<br />

{ 2( i) ( i) {[ bn n an n]<br />

⎡<br />

⎣<br />

bn′ n′ an′ n′ ⎤<br />

⎦} { ⎡<br />

⎣<br />

bn′ n′ an′ n′<br />

⎤<br />

⎦[ bn n an n]<br />

}}<br />

+ − τ + π τ + π + π + τ π + τ<br />

(3. 134)<br />

tal que as integrais ficam,<br />

( 2n<br />

+ 1)<br />

4π 4 π nn ( + 2)<br />

I E ⎡⎣a b ⎤⎦ E ⎡⎣b b a a ⎤⎦<br />

∞<br />

∞<br />

2 * 2<br />

* *<br />

4<br />

=<br />

0<br />

Re<br />

2 2 n n<br />

+<br />

2 2 0<br />

Re<br />

n n+ 1+<br />

n n+<br />

1<br />

µω n= 1 nn ( + 1) µω n=<br />

1 ( n+<br />

1)<br />

π<br />

∑ ∑ (3. 135)<br />

2<br />

2π<br />

E0<br />

5 2 2<br />

∞<br />

n=<br />

1<br />

{ [ ]}<br />

I =− ∑ Re (2n+ 1) an + bn<br />

(3. 136)<br />

µω<br />

π<br />

I = dθ θ θ E E − −i − i e ×<br />

{<br />

* n′+ 1 n+ 1 2iρ<br />

∫ sen cos<br />

n n′<br />

2 Re ( ) ( )<br />

2( µω)<br />

(3. 137)<br />

6 2<br />

0<br />

∑<br />

[ bn n n′ an n n′ bn n n′ bn n n′ bn n n′ an n n′ an n n′ an n n′<br />

]}<br />

× τπ + ππ − ππ − ττ + πτ − τπ − πτ + ττ<br />

Combi<strong>na</strong>ndo I1 com I4 = I7, I2 com I5 = I8<br />

e I3 com I6 = I9, e de acordo com a<br />

1<br />

{ i}<br />

* * * *<br />

expressão de força<br />

i<br />

= ∫ − ε ( θ θ<br />

+<br />

ϕ ϕ) +µ ( θ θ<br />

+<br />

ϕ ϕ)<br />

F Re [ E E E E H H H H ] n <strong>da</strong>, ficamos com:<br />

2<br />

( 2n+<br />

1)<br />

∞<br />

∞<br />

⎛4π 2 4 π 2 ⎞⎛<br />

* nn ( + 2)<br />

* *<br />

⎞<br />

I7 = ⎜ E<br />

2 0<br />

ε+µ E<br />

2 2 0 ⎟⎜<br />

Re ⎡anbn⎤+ Re ⎡bnbn+ 1+<br />

a<strong>na</strong>n+<br />

1⎤⎟<br />

k µω n= 1 n( n+ 1)<br />

⎣ ⎦<br />

n=<br />

1 ( n+<br />

1)<br />

⎣ ⎦<br />

⎝ ⎠⎝ ⎠<br />

<br />

2<br />

usando a relação k⋅ k =ω εµ :<br />

( 2n<br />

+ 1)<br />

∑ ∑ (3.138)<br />

∞<br />

∞<br />

8 π 2 ⎛<br />

* nn ( + 2)<br />

* *<br />

⎞<br />

I7 =<br />

⎛<br />

E<br />

⎞<br />

⎜ 2 0<br />

ε ⎟⎜<br />

Re ⎡anbn⎤+ Re ⎡bnbn+ 1+<br />

a<strong>na</strong>n+<br />

1⎤⎟<br />

⎝ k n= 1 n( n+ 1)<br />

⎣ ⎦<br />

n=<br />

1 ( n+<br />

1)<br />

⎣ ⎦<br />

⎠⎝ ⎠<br />

e agora por último,<br />

π<br />

0<br />

∑ ∑ (3. 139)<br />

2<br />

4π<br />

E0<br />

8 2<br />

∞<br />

n=<br />

1<br />

{ [ ]}<br />

I =− ε ∑ Re (2n+ 1) an + bn<br />

(3. 140)<br />

k<br />

⎛ πε πµ ⎞<br />

* n′+ 1 n+ 1 2iρ<br />

I3 + I6 = ⎜ + d sen cos E Re<br />

2 2 2 ⎟ θ θ θ<br />

nEn′<br />

−( −i) ( − i)<br />

e ×<br />

⎝ k µω<br />

∫ ∑<br />

⎠<br />

[ anτπ n n′ + bnππ n n′ −anππ n n′ −anττ n n′ + anπτ n n′ −bnτπ n n′ −bnπτ n n′ + bnττ n n′<br />

] +<br />

[ bn n n′ an n n′ bn n n′ bn n n′ bn n n′ an n n′ an n n′ an n n′<br />

] }<br />

τπ + ππ − ππ − ττ + πτ − τπ − πτ + ττ ⇒0<br />

{<br />

(3. 141)<br />

Dessa forma, no fi<strong>na</strong>l dos cálculos a força devido a pressão de radiação é:<br />

100


2<br />

E0<br />

2<br />

∞<br />

2π<br />

F = ε ∑ Re {(2n+ 1) [ an<br />

+ bn]<br />

} −<br />

k<br />

n=<br />

1<br />

( 2n<br />

+ 1)<br />

∞<br />

∞<br />

⎛4 π 2 * nn ( 2)<br />

* *<br />

E<br />

⎞⎛<br />

+<br />

⎞<br />

⎜ 2 0<br />

ε ⎟⎜∑<br />

Re ⎡anbn Re bnbn+ 1<br />

a<strong>na</strong>n+<br />

1<br />

k n= 1 n( n 1)<br />

⎣ ⎤⎦+ ∑ ⎡ + ⎤⎟<br />

⎝ + n=<br />

1 ( n+<br />

1)<br />

⎣ ⎦<br />

⎠⎝ ⎠<br />

(3. 142).<br />

F<br />

Definindo a relação entre a força e a seção de choque como C = , a<br />

2<br />

ε E<br />

eficiência para a pressão de radiação de uma on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong> é:<br />

∞<br />

C 2<br />

Q = = Re ( n+ ) a + b −<br />

∑<br />

( 2n<br />

+ 1)<br />

{ 2 1 [ ]}<br />

pr 2 2 2<br />

n n<br />

πa<br />

k a n=<br />

1<br />

∞<br />

∞<br />

⎛ 4π 2<br />

* nn ( 2)<br />

* *<br />

E<br />

⎞⎛<br />

+<br />

⎞<br />

⎜ 2 0<br />

ε ⎟⎜∑<br />

Re ⎡anbn Re bnbn+ 1<br />

a<strong>na</strong>n+<br />

1<br />

k n= 1 n( n 1)<br />

⎣ ⎤⎦+ ∑<br />

⎡ + ⎤⎟⇒<br />

⎝ + n=<br />

1 ( n+<br />

1)<br />

⎣ ⎦<br />

⎠⎝ ⎠<br />

∞<br />

2<br />

Q = Re ( n+ ) a + b −<br />

∑<br />

{ 2 1 [ ]}<br />

pr 2<br />

n n<br />

x n=<br />

1<br />

(3. 143)<br />

∞<br />

∞<br />

⎛4π 2 ( 2n<br />

1)<br />

* nn ( 2)<br />

* *<br />

E<br />

⎞⎛<br />

+<br />

+<br />

⎞<br />

⎜ 2 0<br />

ε ⎟⎜∑<br />

Re ⎡anbn⎤ Re ⎡bnbn+ 1<br />

a<strong>na</strong>n+<br />

1⎤<br />

k n= 1 n( n 1)<br />

⎣ ⎦+ ∑<br />

+ ⎟<br />

⎝ + n=<br />

1 ( n+<br />

1)<br />

⎣ ⎦<br />

⎠⎝ ⎠<br />

0<br />

3.1.8 Aplicação dos Cálculos <strong>na</strong> Interpretação dos Experimentos de Espectroscopia de<br />

Força e Luminescência Excita<strong>da</strong> por Absorção de 2 Fótons<br />

Na Figura 67, <strong>na</strong> Figura 68 e <strong>na</strong> Figura 69 a seguir estão os resultados teóricos e<br />

experimentais obtidos por excitação com on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong>. A Figura 67 mostra o gráfico <strong>da</strong><br />

medi<strong>da</strong> de espectroscopia de força. Na Figura 68 apresentamos os espectros de<br />

luminescência gerados através <strong>da</strong> absorção de 2 fótons, onde as curvas verde e<br />

vermelha se refer<strong>em</strong> respectivamente a microesferas captura<strong>da</strong>s de 2.5 e 6 µm de<br />

diâmetro, cora<strong>da</strong>s com uma substância similar ao DAPI 3 . A partir dela, v<strong>em</strong>os que<br />

ape<strong>na</strong>s <strong>na</strong> curva vermelha, para a microesfera maior, observamos as ressonâncias de<br />

Mie. A Figura 69 mostra o gráfico dos “MDR modes” s<strong>em</strong> a fluorescência de fundo.<br />

Para tanto, ajustamos a intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> curva verde <strong>da</strong> Figura 68 e a subtraímos <strong>da</strong><br />

curva vermelha. O valor nomi<strong>na</strong>l do diâmetro <strong>da</strong>s microesferas de poliestireno usa<strong>da</strong>s<br />

<strong>na</strong> espectroscopia de força e fornecido pela Polysciences é de (9.126 ± 0.5) µm. Já as<br />

3<br />

O nome oficial do corante não é fornecido pelo fabricante.<br />

101


microesferas cora<strong>da</strong>s são <strong>da</strong> Molecular Probes e têm diâmetro nomi<strong>na</strong>l de (6 ± 0.6) µm.<br />

Os respectivos índices de refração nunca foram medidos.<br />

experimental<br />

Intensi<strong>da</strong>de Intesi<strong>da</strong>de (a. u.)<br />

teórico<br />

720 740 760 780<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

Figura 67. Resultado <strong>da</strong> Espectroscopia Ultrasensível de Força para microesferas de poliestireno<br />

de 9 µm com incidência de on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong>. Em azul estão os <strong>da</strong>dos experimentais e <strong>em</strong> vermelho os<br />

teóricos.<br />

Para o cálculo do espectro teórico consideramos para o índice de refração as<br />

relações de dispersão <strong>da</strong> água <strong>na</strong><br />

−3 2<br />

[ λ ] = 1.324 + 3.046× 10 λ e do poliestireno<br />

−3 2<br />

n p [ λ= ] 1.5683 + 10.087× 10 λ obti<strong>da</strong>s do artigo de Bat<strong>em</strong>an [34], com o comprimento de<br />

on<strong>da</strong> λ <strong>da</strong>do <strong>em</strong> <strong>na</strong>nômetros. Através do programa desenvolvido no Math<strong>em</strong>atica,<br />

apresentado no apêndice 2, ajustamos o raio <strong>da</strong> partícula até encontrar uma<br />

concordância entre os picos teóricos e os experimentais. Isso ocorreu para os raios de 4.5<br />

µm para a espectroscopia ultrasensível de força e 2.73 µm para a medi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

luminescência excita<strong>da</strong> por absorção de 2 fótons, que estão dentro do erro de 10%<br />

fornecido do fabricante. Após encontrados os raios, fiz<strong>em</strong>os os gráficos teóricos usando<br />

as expressões de Q de espalhamento para a experiência de luminescência e<br />

Q pr de<br />

pressão de radiação para a medi<strong>da</strong> através <strong>da</strong> força.<br />

Até onde sab<strong>em</strong>os esse é um dos raros relatos de observação de “MDR modes”<br />

através <strong>da</strong> luminescência excita<strong>da</strong>s por absorção de 2 fótons, sendo o primeiro <strong>em</strong><br />

102


partículas captura<strong>da</strong>s pela pinça óptica. As ressonâncias de Mie também nunca foram<br />

observa<strong>da</strong>s <strong>em</strong> microesferas de poliestireno pela medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> força óptica. Nos<br />

experimentos de espectroscopia de força, a on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong> é forma<strong>da</strong> pela desfocalização<br />

do feixe de laser que incide no objeto, assim como está descrito no capítulo 2 e Figura<br />

52. A posição <strong>da</strong>s ressonâncias dos nossos resultados experimentais concor<strong>da</strong>m com as<br />

previsões teóricas para, pelo menos, 10 picos. Já no outro caso, a on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong> é gera<strong>da</strong><br />

no interior <strong>da</strong> microesfera pela luminescência. No total mais de 16 picos foram<br />

observados e a diferença entre as suas posições experimental e teórica é b<strong>em</strong> menor do<br />

que a largura <strong>da</strong>s ressonâncias que é defini<strong>da</strong> pela parte imaginária dos a ʹs e b ʹs .<br />

Conforme descrito no capítulo 2, usamos o laser de Ti:Safira pulsado para excitar<br />

a fluorescência por absorção de 2 fótons e observamos os espectros com a grade de 1200<br />

<strong>em</strong> 60s. Os primeiros estudos sobre a teoria de interação entre lasers pulsados e<br />

microcavi<strong>da</strong>des esféricas começaram a surgir agora <strong>em</strong> 2001 e 2002 [35].<br />

Os respectivos coeficientes a<br />

n<br />

e b<br />

n<br />

responsáveis pelos modos vão de a<br />

56<br />

e b<br />

56<br />

até<br />

a<br />

52<br />

e b<br />

52<br />

para a microesfera de poliestireno comum a 57 e b 57 até a 50 e b 50 para a<br />

microesfera cora<strong>da</strong>. Os coeficientes a<br />

n<br />

são referentes ao modo TM e os b<br />

n<br />

ao modo TE.<br />

n<br />

n<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a. u.)<br />

438 458 478 498<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

Figura 68. Espectros de fluorescência excita<strong>da</strong> por absorção de 2 fótons, curva verde –<br />

microesfera de 2.5 µm, curva vermelha – microesfera de 6 µm e modos MDR.<br />

103


Intensi<strong>da</strong>de Intensi<strong>da</strong>de (a. (a.u.)<br />

u.)<br />

438 448 458 468 478 488 498<br />

comprimento comprimento de de on<strong>da</strong> on<strong>da</strong> (nm)<br />

(nm)<br />

Figura 69. Preto: espectro para a microesfera de 6 µm <strong>da</strong> Figura 66 subtraído <strong>da</strong> fluorescência;<br />

vermelho: resultados teóricos.<br />

3.2 Pinças Óptica, Microesferas e Feixes Gaussianos Focalizados<br />

O aspecto mais importante no estudo <strong>da</strong> pressão de radiação e ressonâncias de<br />

Mie nessa seção é a descrição do feixe incidente focalizado. A representação de Davis<br />

para feixes gaussianos paraxiais traz como grande atrativo o controle <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> <strong>da</strong><br />

aproximação, mas ca<strong>da</strong> ord<strong>em</strong> isola<strong>da</strong>mente não satisfaz as equações de Maxwell [36].<br />

As principais referências que utilizam o feixe de Davis são os trabalhos de Gouesbet,<br />

Lock, Ren e também de Barton [37, 38, 39, 40, 41].<br />

Exist<strong>em</strong> outras estratégias para descrição de feixes gaussianos. Uma delas é<br />

partir <strong>da</strong>s funções de Green do tipo ( | <br />

ik r − r′<br />

e | / 4 | <br />

π r −r′<br />

| )<br />

, que sab<strong>em</strong>os ser solução <strong>da</strong>s<br />

<br />

equações de Maxwell mas com singulari<strong>da</strong>des <strong>em</strong> r = r′ , e usar um vetor complexo<br />

<br />

para r′ a fim de garantir uma solução s<strong>em</strong> singulari<strong>da</strong>des <strong>em</strong> qualquer posição. No<br />

entanto, essa descrição também leva a uma expressão do feixe gaussiano idêntica à<br />

forma de Davis de ord<strong>em</strong> zero. Outra estratégia é usar a teoria <strong>da</strong> difração no limite<br />

gaussiano, para aberturas numéricas peque<strong>na</strong>s. Porém, para isso precisamos considerar<br />

a teoria de difração vetorial, e não escalar. Nesse caso os feixes satisfaz<strong>em</strong> as equações<br />

de Maxwell mas são obtidos <strong>na</strong> forma integral. Essa é a estratégia utiliza<strong>da</strong> por<br />

Richards & Wolf [42] e por Cheng [43].<br />

104


3.2.1 Aproximação <strong>da</strong> Integral Localiza<strong>da</strong><br />

Vamos procurar apresentar os feixes incidentes <strong>na</strong> forma mais apropria<strong>da</strong> para a<br />

aplicação <strong>da</strong> Aproximação <strong>da</strong> Integral Localiza<strong>da</strong> proposta pela primeira vez por<br />

Gouesbet [44] e b<strong>em</strong> sintetiza<strong>da</strong> por Ren, Gouesbet e Gréhan [45] <strong>em</strong> uma receita com<br />

um conjunto de 5 regras para evitar o cálculo <strong>da</strong>s integrais <strong>da</strong> seção 3.1.2 e utiliza<strong>da</strong>s<br />

<strong>na</strong>s determi<strong>na</strong>ção dos coeficientes <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s parciais. O princípio <strong>da</strong> localização foi<br />

proposto por Van de Hulst que fez um paralelo entre a teoria eletromagnética de Mie e<br />

a posição de um raio <strong>da</strong> óptica geométrica, percebendo que a função esférica de Bessel<br />

jn ( kr ) vai a zero para kr < ( n + 1<br />

2<br />

). Ao expandir uma on<strong>da</strong> <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s parciais, as<br />

m<br />

2 2 <br />

<br />

componentes com j ( kr) Y carregam L = n( n+<br />

1) e p = k, como L= r×<br />

p<br />

n<br />

n<br />

⇒ L= bp⇒ b= L P= n( n+<br />

1) k, para n grande nn ( + 1) = n (1+ 1 n) ≅ n(1+<br />

1 2 n)<br />

= n +12, então o parâmetro de impacto b será b≅ ( n+<br />

1 2) k. Por isso, Van de Hulst<br />

associou o número do modo n a um raio que cruza a partícula <strong>na</strong> distância<br />

( n 1<br />

)<br />

r = λ<br />

2π<br />

+<br />

2<br />

de seu centro. Dessa forma, Ren, Gouesbet e Gréhan construíram o<br />

operador localização G ˆ n que atua ape<strong>na</strong>s <strong>na</strong>s funções de r e θ transformando kr <strong>em</strong><br />

1<br />

n + e θ <strong>em</strong> π / 2 , deixando intactas as funções de ϕ. Veja por ex<strong>em</strong>plo a Figura 70 a<br />

2<br />

abaixo, jn( kr ) <strong>em</strong> função de ρ = kr para n=20, jn( kr ) vai a zero para<br />

r< ( n+ 1 ) (20 1<br />

2<br />

≈ +<br />

2<br />

) ≈ 20. A<strong>na</strong>logamente, v<strong>em</strong>os outro ex<strong>em</strong>plo <strong>na</strong> Figura 70 b, agora<br />

de jn( kr ) <strong>em</strong> função de n para ρ = 20, v<strong>em</strong>os que jn( kr ) vai a zero para<br />

n> ( r−1 ) (20 1<br />

2<br />

≈ −<br />

2<br />

) ≈ 20.<br />

0.2<br />

0.1<br />

- 0.1<br />

0.2<br />

0.1<br />

a) b)<br />

10 20 30 40<br />

10 20 30 40<br />

- 0.1<br />

Figura 70. Princípio <strong>da</strong> localização. a. jn( kr ) <strong>em</strong> função de ρ. b. jn( kr ) <strong>em</strong> função de n.<br />

- 0.2<br />

105


A receita para encontrar os coeficientes <strong>da</strong> expansão<br />

m<br />

g nTM e<br />

m<br />

g nTE é a seguinte:<br />

1. Expandir as componentes radiais dos campos elétricos e magnéticos <strong>em</strong> modos<br />

azimutais <strong>na</strong> forma Er(, r , ) Er(,) r e<br />

im ϕ<br />

θϕ = ∑ θ e Hr(, r , ) Hr(,) r e<br />

im ϕ<br />

θϕ = ∑ θ .<br />

m<br />

r<br />

m<br />

r<br />

2. Criar as novas funções F (,) r θ e I (,) r θ através <strong>da</strong> r<strong>em</strong>oção dos modos azimutais<br />

<strong>da</strong>s contribuições de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s, isto é,<br />

m ikz m<br />

r<br />

r<br />

m ikz m<br />

r<br />

r<br />

E = E0 sen θ e F e H = H0 sen θ e I .<br />

1. Aplicar o operador localização <strong>na</strong>s funções F (,) r θ e I (,) r θ , transformando‐as <strong>em</strong><br />

ˆ m m<br />

GF = F n + / k, π/<br />

r<br />

r<br />

m<br />

r<br />

⎡⎣( 1 2)<br />

2⎤⎦ e m m<br />

r r ⎡ ( )<br />

m<br />

r<br />

GI ˆ = I ⎣ n + 1 / 2 k, π/<br />

2 ⎤⎦ .<br />

4. Multiplicar as expressões resultantes pelos fatores de normalização<br />

Z<br />

m −1<br />

m nn ( + 1) i ⎡ −i<br />

⎤<br />

n = δ m,0 + −δm,0<br />

n+ 1/2 ⎢n+<br />

1/2⎥<br />

⎣ ⎦<br />

(1 ) .<br />

m m m<br />

nTM n r<br />

5. Os coeficientes de forma do feixe <strong>da</strong> expansão são <strong>da</strong>dos por g = Z Gˆ( F ) e<br />

g<br />

= Z Gˆ( I ) .<br />

m m m<br />

nTE n r<br />

Os autores vali<strong>da</strong>ram essa receita <strong>em</strong> muitas situações diferentes que<br />

d<strong>em</strong>onstraram ser uma boa aproximação para a expansão <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s parciais de feixes<br />

paraxiais. Nós vamos utilizá‐la <strong>na</strong> descrição de Davis.<br />

3.2.2 Aproximação de Davis e a Descrição do Feixe Incidente<br />

O primeiro passo é encontrar a expressão para os campos elétricos e magnéticos<br />

de um feixe gaussiano focalizado paraxial <strong>na</strong> representação de Davis com a polarização<br />

<strong>na</strong> direção x. Davis utiliza uma expansão <strong>em</strong> série <strong>em</strong> termos do parâmetro s= 1 kω 0 ,<br />

onde ω 0 é o “beam size” ou “spot size” e k o número de on<strong>da</strong>, trunca<strong>da</strong> <strong>em</strong> alguma<br />

potência de s. Quanto maior a potência de s, melhor é a aproximação.<br />

<br />

Para fazer essa aproximação voltamos às equações de Maxwell. Se ∇ ⋅ B = 0<br />

<br />

<br />

pod<strong>em</strong>os escrever o campo magnético como B= ∇× A e usando ∇× E=−∂B ∂t⇒<br />

<br />

<br />

∇× E=−∇×∂A ∂t⇒<br />

∇× [ E+∂A ∂ t] = 0⇒ E+∂A ∂ t =−∇φ , pod<strong>em</strong>os escrever o campo<br />

<br />

elétrico como E=−∇φ−∂A ∂t. T<strong>em</strong>os então que,<br />

106


2 ∂ ρ 2 ∂ ρ<br />

∇⋅ E=−∇ φ− ∇⋅ A= ⇒∇ φ+ ∇⋅ A=−<br />

(3. 144)<br />

∂t<br />

ε ∂t<br />

ε<br />

Já,<br />

<br />

<br />

<br />

2 ∂E<br />

<br />

2<br />

∂ ∂A<br />

∇× B=∇×∇× A=−∇ A+∇( ∇⋅ A) =µ J +µε ⇒∇ A−∇( ∇⋅ A) =−µ J−µε [ −∇φ− ]<br />

∂t ∂t ∂t<br />

<br />

<br />

2 2<br />

∂φ ∂ A <br />

2 ∂ A ∂φ <br />

= −µ J + µε[ −∇ + ] ⇒ ∇ A− µε − ∇[ ∇ . A+ µε ] = −µ J<br />

2 2<br />

(3. 145)<br />

∂t<br />

∂t<br />

∂t<br />

∂t<br />

2<br />

usando µε = 1 c ,<br />

<br />

2<br />

2 1 ∂ A 1 ∂φ <br />

∇ A − −∇[ ∇⋅ A+ ] =−µ J<br />

2 2 2<br />

(3. 146)<br />

c ∂t c ∂t<br />

<br />

s<strong>em</strong> cargas, ρ= 0 e J = 0 , ficamos com<br />

<br />

1. B= ∇× A ,<br />

<br />

2. E= −∇φ − ∂A ∂t,<br />

2 ∂ <br />

3. ∇ φ+ ∇⋅ A = 0 e<br />

∂t<br />

<br />

2<br />

2 1 ∂ A 1 ∂φ<br />

4. ∇ A− −∇[ ∇⋅ A+ ] = 0<br />

2 2 2<br />

c ∂t c ∂t<br />

1 ∂φ<br />

Usando o calibre de Lorentz, onde∇ ⋅ A + = 0<br />

2<br />

c ∂t<br />

(3. 147).<br />

e substituindo <strong>na</strong> equação 3<br />

para φ, t<strong>em</strong>os<br />

2<br />

2 ∂ <br />

2 ∂ 1 ∂φ 2 1 ∂ φ<br />

∇φ+ ∇⋅ A =∇φ+ [ − ] =∇φ− = 0<br />

2 2 2<br />

∂t ∂t c ∂t<br />

c ∂t<br />

(3. 148)<br />

Assim, v<strong>em</strong>os que no calibre de Lorentz as seguintes equações são váli<strong>da</strong>s:<br />

<br />

2<br />

2 1 ∂ A<br />

1. ∇ A − = 0 ,<br />

c<br />

2 t<br />

2<br />

∂<br />

2 1 ∂φ<br />

2. ∇ φ− = 0 ,<br />

2 2<br />

c ∂t<br />

1 ∂φ<br />

3. ∇ ⋅ A + = 0 ,<br />

2<br />

c ∂t<br />

<br />

4. B= ∇× A e<br />

107<br />

2


Fazendo, A=<br />

A()<br />

r e −ω<br />

i t<br />

<br />

5. E= −∇φ − ∂A ∂t<br />

(3. 149)<br />

i t<br />

e φ=φ( re )<br />

− ω , ficamos com:<br />

<br />

2 2<br />

1. ∇ A + k A=<br />

0 ,<br />

2 2<br />

2. ∇ φ+ k φ= 0 ,<br />

c<br />

3. φ =−i<br />

∇⋅A<br />

,<br />

k<br />

c <br />

4. E= i ∇∇⋅ ( A)<br />

+ω i A e<br />

k<br />

<br />

5. B= ∇× A (3. 150)<br />

No formalismo de Davis, o potencial vetor A é linearmente polarizado <strong>na</strong> forma<br />

<br />

A = eˆ<br />

ψ( r) e<br />

ikz . Para usar a equação 1 logo acima precisamos de:<br />

x<br />

2 ikz ikz 2 ikz 2 ikz 2 ∂ψ<br />

∇ [ ψ ( re ) ] = e ∇ ψ ( r) + 2 ∇ψ⋅∇ e +ψ( r) ∇ e ⇒∇ ψ ( r) + 2ik = 0, ou seja,<br />

∂ z<br />

2 2 2<br />

∂ψ ∂ψ ∂ψ ∂ψ<br />

+ + + 2ik<br />

= 0<br />

x<br />

2 y<br />

2 z<br />

2<br />

∂ ∂ ∂ ∂ z<br />

(3. 151)<br />

rearranjando essa equação e usando k e ω 0 obt<strong>em</strong>os:<br />

2 2 2 2<br />

∂ψ ∂ψ ω0<br />

∂ψ ∂ψ<br />

2<br />

+<br />

2<br />

+<br />

2 4<br />

2<br />

+ 2i<br />

= 0<br />

⎛ x ⎞ ⎛ y ⎞ k ω0<br />

⎛ z ⎞ ⎛ z ⎞<br />

∂⎜ ⎟ ∂⎜ ⎟ ∂⎜ ∂<br />

2 ⎟ ⎜ 2 ⎟<br />

⎝ω k<br />

0 ⎠ ⎝ω0 ⎠ ⎝kω ω<br />

0 ⎠ ⎝ 0 ⎠<br />

(3. 152)<br />

e, fi<strong>na</strong>lmente, redefinindo as coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s <strong>da</strong> forma:<br />

ξ= x ω<br />

0<br />

, y<br />

0<br />

η= ω e<br />

2<br />

ζ = z ( kω 0<br />

) e s 1 k<br />

0<br />

= ω (3. 153),<br />

chegamos à equação fi<strong>na</strong>l:<br />

2 2 2<br />

∂ψ 1<br />

+ ∂ψ + ∂ψ + 2i<br />

∂ψ = 0<br />

∂ξ ∂η ω ∂ζ ∂ζ<br />

2 2 2 2 2<br />

k 0<br />

(3. 154).<br />

Para a<strong>na</strong>lisar as ordens de grandeza notamos que:<br />

1 1<br />

s = kω<br />

= 2 π 0 ω<br />

λ<br />

0<br />

e ω0<br />

≈λ, então<br />

1<br />

s < é pequeno.<br />

2 π<br />

108


Vamos procurar, portanto, soluções para ψ <strong>em</strong> termos de potências de<br />

2<br />

s :<br />

2 4<br />

0<br />

s<br />

2<br />

s<br />

4<br />

...<br />

ψ=ψ + ψ + ψ + , e coletar termos de mesmo potência <strong>em</strong> s. Dessa forma as<br />

equações para as ordens zero, dois e quatro são <strong>da</strong><strong>da</strong>s por:<br />

2 2<br />

∂ψ0 ∂ψ0 ∂ψ0<br />

+ + 2i<br />

= 0<br />

2 2<br />

∂ξ ∂η ∂ζ<br />

∂ψ ∂ψ ∂ψ<br />

∂ξ ∂η ∂ζ ∂ζ<br />

2 2<br />

2<br />

2 2 2<br />

∂ ψ0<br />

+ + 2i =−<br />

2 2 2<br />

∂ψ ∂ψ ∂ψ ∂ψ<br />

∂ξ ∂η ∂ζ ∂ζ<br />

2 2 2<br />

4 4 4 2<br />

+ + 2i =−<br />

2 2 2<br />

(3. 155)<br />

A estratégia é encontrar primeiro a solução de ord<strong>em</strong> zero, usá‐la <strong>na</strong> equação<br />

seguinte para encontrar a solução de ord<strong>em</strong> 2 e assim sucessivamente. Para ord<strong>em</strong> zero<br />

verificamos que a função<br />

Para tanto, usamos:<br />

2<br />

ρ<br />

−i i−<br />

2 ζ<br />

ie<br />

ψ 0 =<br />

i −2ζ com 2 2 2<br />

ρ =ξ +η é uma solução.<br />

2<br />

ρ<br />

−i i−<br />

2 ζ<br />

∂ψ 0 ie 2 iξ 2 iξ<br />

=− =− ψ<br />

∂ξ ( i− 2 ζ)(1− 2 ζ) i− 2ζ<br />

0<br />

(3. 156)<br />

2 2<br />

2<br />

0 2i ⎛ 2i ⎞ 2i<br />

4<br />

= ψ<br />

2 0 + ⎜ ⎟ ψ 0 = { − } ψ<br />

2 0<br />

∂ψ − − ξ − ξ<br />

∂ξ i−2ζ ⎝i−2ζ⎠<br />

i−2ζ<br />

i 2<br />

( − ζ)<br />

(3. 157)<br />

2 2 2<br />

0 0 4i<br />

4<br />

+ = ψ<br />

2 2 0 − ψ<br />

2 0<br />

∂ψ ∂ψ − − ρ<br />

∂ξ ∂η i −2ζ<br />

−2ζ<br />

( i )<br />

(3. 158)<br />

( )<br />

2 2<br />

iρ<br />

iρ<br />

−<br />

i 2 2 1<br />

−<br />

− ζ<br />

i−2ζ<br />

i−2 ζ ie ( −iρ )[ − ]( −2) −ie<br />

( −2)<br />

−<br />

∂ψ0<br />

2 − ζ<br />

2 2<br />

= = { − + }<br />

2 2<br />

∂ζ − 2ζ i− 2ζ<br />

2<br />

( i − ζ)<br />

ie<br />

i 2<br />

2<br />

iρ<br />

( i−2ζ) i ( i−2ζ)<br />

iρ<br />

2<br />

(3. 159)<br />

assim:<br />

2<br />

∂ψ0<br />

4ρ<br />

4i<br />

2 i =ψ 0{ + }<br />

2<br />

∂ζ<br />

( i −2ζ)<br />

i − 2ζ<br />

(3. 160)<br />

109


e portanto,<br />

2 2<br />

0 0 0<br />

∂ψ ∂ψ ∂ψ<br />

+ + 2i<br />

= 0, d<strong>em</strong>onstrando nossa afirmação inicial.<br />

2 2<br />

∂ξ ∂η ∂ζ<br />

Falta determi<strong>na</strong>r os campos elétricos e magnéticos. Isso é feito à partir de<br />

c <br />

<br />

<br />

E= i ∇( ∇ . A)<br />

+ iωA<br />

com ˆ ( )<br />

ikz<br />

∂ψ( r)<br />

ikz<br />

A = exψ<br />

r e , t<strong>em</strong>os que ∇ . A = e e, portanto:<br />

k<br />

∂ x<br />

∂ ikz ∂ψ ∂ ikz ∂ψ ∂ ikz ∂ψ<br />

∇∇ ( . A) = eˆx [ e ] + eˆy [ e ] + eˆz<br />

[ e ] =<br />

∂x ∂x ∂y ∂x ∂z ∂x<br />

(3. 161)<br />

2 2 2 2 2 2<br />

ikz ∂ψ ikz ∂ψ ikz ∂ψ ikz ∂ψ ikz ∂ψ ∂ψ ∂ψ ∂ψ<br />

ˆ ˆ [ ] ˆ { ˆ ˆ [ ] ˆ<br />

2 x y z 2 x y z<br />

= e e + e e + ike + e e = e e + e + ik + e<br />

∂x<br />

∂∂ xy ∂x ∂∂ xz ∂x<br />

∂∂ xy ∂x ∂∂ xz<br />

O campo elétrico pode ser calculado por:<br />

<br />

2 2 2<br />

1 ∂ψ 1 ∂ψ i ∂ψ 1 ∂ψ<br />

E=ωψ+ i {[ ] eˆ [ ] ˆ [ ] ˆ }<br />

2 2 x + e<br />

2 y + + e<br />

2 z<br />

k ∂x k ∂∂ xy k∂x k ∂∂ xz<br />

(3. 162)<br />

entretanto,<br />

2 2 2<br />

2<br />

= = s<br />

2 2 2 2 2 2<br />

∂ ω0<br />

∂ξ<br />

1 ∂ψ 1 ∂ψ ∂ψ<br />

k x k ⎛ x ⎞<br />

∂ ⎜ ⎟<br />

ω<br />

⎝ 0 ⎠<br />

2 2 2<br />

2<br />

= = s<br />

2 2 2<br />

∂xy<br />

∂ ω0<br />

⎛ x ⎞⎛ ⎞<br />

1 ∂ψ 1 ∂ψ ∂ψ<br />

k k y ∂ξ∂η<br />

∂ ⎜ ⎟⎜ ⎟<br />

ω ω<br />

⎝ 0 ⎠⎝ 0 ⎠<br />

1 ∂ψ 1<br />

= ∂ψ = s<br />

∂ψ<br />

k ∂x kω0<br />

⎛ x ⎞ ∂ξ<br />

∂ ⎜ ⎟<br />

ω<br />

⎝ 0 ⎠<br />

2 2 2 2<br />

2<br />

= = = s<br />

2 2 2 2 2 3 3<br />

xz ω0 ω0 ⎛ x ⎞⎛ y ⎞ ω0<br />

∂ ⎜ ⎟⎜ 2 2 ⎟<br />

ω0 k ω0<br />

1 ∂ψ 1 1 ∂ψ 1 ∂ψ ∂ψ<br />

k ∂∂ k k k ∂ξ∂ζ ∂ξ∂ζ<br />

⎝ ⎠⎝ ⎠<br />

(3. 163)<br />

de forma que, no fi<strong>na</strong>l dos cálculos, o campo elétrico vale:<br />

<br />

2 2 2<br />

{[ 2 ∂ψ ] ˆ [ 2 ∂ψ ] ˆ [ ∂ψ 3 ∂ψ<br />

E=ωψ+ i s e ] ˆ }<br />

2 x + s ey + is + s ez<br />

∂ξ ∂ξ∂η ∂ξ ∂ξ∂ζ<br />

(3. 164)<br />

Tomando até a ord<strong>em</strong> de<br />

0<br />

s :<br />

110


Ex<br />

= iωψ e , E y = 0 e E z = 0 (3. 165)<br />

Tomando até a ord<strong>em</strong> de s 1 :<br />

x<br />

ikz<br />

ikz<br />

E = iωψ e , E = 0 e<br />

Para o campo magnético, t<strong>em</strong>os:<br />

y<br />

Ez<br />

∂ψ ikz<br />

=−ω e (3. 166)<br />

∂ξ<br />

eˆx eˆy eˆz<br />

∇× E<br />

1 ikz<br />

ikz<br />

H = = ∂x ∂y ∂ z = { ∂z[ ψe ] eˆy −∂y[ ψe ] eˆz}<br />

µ µ<br />

ikz<br />

ψe<br />

0 0<br />

1 ikz ∂ψ ikz ∂ψ ikz ike i ∂ψ i ∂ψ<br />

= {[ ikψ e + e ] eˆy − e eˆz} = {[ ψ− ] eˆy + eˆz}<br />

=<br />

µ ∂z ∂ y µ k ∂z k ∂y<br />

ikz<br />

ikz<br />

2<br />

eˆy eˆz is eˆy is eˆz<br />

k y<br />

0<br />

2<br />

0 ω0<br />

ike i ∂ψ i ∂ψ ike ∂ψ ∂ψ<br />

= {[ ψ− ] + } = {[ ψ− ] + }<br />

2<br />

µ kk ( ω0<br />

) z ∂<br />

ω ∂<br />

µ ∂ζ ∂η<br />

kω<br />

Em ord<strong>em</strong> zero, os campos elétrico e magnético são <strong>da</strong>dos por:<br />

ikz<br />

(3. 167)<br />

ikz<br />

ik<br />

Ex<br />

=ωψ i 0e<br />

, E y = 0 e E z = 0 e H x = 0 , Hy<br />

= ψ0e<br />

µ<br />

com a função ψ 0 defini<strong>da</strong> como:<br />

ikz<br />

e H z = 0 (3. 168),<br />

2 2<br />

ξ +η<br />

−i<br />

i−2ζ<br />

2 2<br />

x + y<br />

2<br />

ω<br />

−i<br />

0<br />

z<br />

i−2<br />

2<br />

kω0<br />

ie ie<br />

ψ 0 = =<br />

i −2ζ<br />

z<br />

i − 2<br />

kω<br />

2<br />

0<br />

e<br />

z<br />

z<br />

−i<br />

−2 2<br />

1<br />

k<br />

= = −<br />

z<br />

i − 2 4z 4z 4z<br />

1+ 1+ 1+<br />

kω k ω k ω k ω<br />

2 2<br />

ω0 −i<br />

kω0<br />

2 2 2<br />

2 2 4 2 4 2 4<br />

0 0 0 0<br />

(3. 169)<br />

Chamando<br />

z−<br />

z0<br />

−1<br />

D= [ i− 2 ] , onde<br />

l<br />

2<br />

l= kω 0<br />

, os campos são expressos <strong>em</strong><br />

coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s cartesia<strong>na</strong>s <strong>na</strong> forma:<br />

ikz<br />

2 2 2 2<br />

x + y x + y<br />

−iD<br />

−iD<br />

2 2<br />

ik( z−z0)<br />

ω0 ikz<br />

ω0 −ikz0<br />

Ex<br />

= iωψ 0e = E0e iDe = E0 e [ iDe e ] (3. 170)<br />

2 2 2 2<br />

x + y x + y<br />

−iD<br />

−iD<br />

2 2<br />

ik( z−z0)<br />

ω0 ikz<br />

ω0 −ikz0<br />

ik ikz<br />

Hy<br />

= ψ 0e = H0e iDe = H0 e [ iDe e ]<br />

µ<br />

(3. 171)<br />

ou <strong>em</strong> coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s esféricas como:<br />

111


0<br />

ikz<br />

2 2<br />

x + y<br />

−iD<br />

2<br />

ω0 −ikz0<br />

E = E senθcos ϕ e [ iDe e ] e<br />

r<br />

0<br />

ikz<br />

2 2<br />

x + y<br />

−iD<br />

2<br />

ω0 −ikz0<br />

H = H senθsin ϕ e [ iDe e ] (3. 172).<br />

r<br />

ikz<br />

Dessa forma observamos que os termos do tipo E0 senθcos ϕ e se refer<strong>em</strong> à<br />

on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong>. Nessa descrição, pod<strong>em</strong>os expressar os campos elétricos e magnéticos que<br />

descrev<strong>em</strong> um feixe gaussiano como:<br />

ikz<br />

E gE sen cos e<br />

r = 0 θ ϕ e r 0<br />

ikz<br />

H = gH senθsin ϕ e , onde<br />

2 2<br />

x + y<br />

−iD<br />

2<br />

ω0 −ikz0<br />

g = [ iDe e ] (3. 173).<br />

3.2.3 Expansão do Feixe Gaussiano Incidente Focalizado, os Fatores de Forma e os<br />

Coeficientes de Mie<br />

Para aplicar a receita de Gouesbet a primeira providência é colocar a orig<strong>em</strong> no<br />

centro <strong>da</strong> esfera ao invés do foco do laser. Feito isso dev<strong>em</strong>os ser capazes de explicitar a<br />

dependência azimutal. Na nossa situação experimental o foco do laser está <strong>em</strong> z 0 = 0<br />

<br />

(plano equatorial) e xe 0 x + ye 0 y <strong>em</strong> relação ao centro <strong>da</strong> partícula como ilustra a Figura<br />

71. Neste caso:<br />

2 2 2 2<br />

( x− x ) + ( y−y ) ( x− x ) + ( y−y<br />

)<br />

0 0 0 0<br />

−iD<br />

−<br />

2 2<br />

ω<br />

ω<br />

0 0<br />

ψ 0 = iDe<br />

= e<br />

com<br />

1 1<br />

D = =<br />

2z<br />

i − 0 i<br />

kω<br />

0<br />

(3. 174)<br />

Assim,<br />

2 2 2 2 2 2 2 2<br />

( x− x ) + ( y− y ) ( x + y ) + ( x + y ) −2xx −2yy<br />

0 0 0 0 0 0<br />

ρ +ρ 2ρρ<br />

0 0<br />

− − − (cosϕcosϕ 2 2 2 2<br />

0+ sin ϕsin ϕ0)<br />

ω ω ω ω<br />

0 0 0 0<br />

ψ 0 = e = e = e e<br />

=<br />

2 2<br />

ρ +ρ0 2ρρ0 cos( ϕ−ϕ0)<br />

−<br />

2 2<br />

0 0<br />

e ω<br />

e ω<br />

= (3. 175)<br />

z<br />

{0, 0, 0}<br />

y<br />

x<br />

{x 0 , y 0 , 0}<br />

Figura 71. Sist<strong>em</strong>a de coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s.<br />

112


Nesse ponto, economizamos pági<strong>na</strong>s de álgebra <strong>em</strong> relação ao artigo de<br />

Gouesbet e seu grupo [38, 39, 40] fazendo<br />

i<br />

t = e ϕ → <strong>na</strong> função geratriz para as funções<br />

modifica<strong>da</strong>s de Bessel,<br />

para reencontrar a fórmula<br />

dependência azimutal diretamente como:<br />

1 1<br />

zt ( + )<br />

t m<br />

m<br />

∞<br />

zcosϕ<br />

imϕ<br />

e e I m ( z)<br />

m=−∞<br />

e2 = ∑ t I ( z)<br />

(3. 176)<br />

= ∑ que nos permite explicitar a<br />

2 2 2 2<br />

ρ+ρ0 2ρρ0 cos( ϕ−ϕ0)<br />

ρ+ρ0<br />

− − ∞<br />

2 2 2<br />

ω ω ω im( ϕ−ϕ ) ⎛2ρρ<br />

⎞<br />

0 0 0 0<br />

e e = e e I 0<br />

∑ m<br />

2<br />

(3. 177)<br />

⎜ ⎟<br />

m=−∞<br />

⎝ ω0<br />

⎠<br />

Para o campo elétrico falta incluir um cosϕ e para o magnético um senϕ.<br />

Incluindo o cosϕ obt<strong>em</strong>os:<br />

2 2 2 2<br />

ρ+ρ 2ρρcos( ϕ−ϕ)<br />

ρ+ρ<br />

0 0 0 0<br />

− − ∞ iϕ −iϕ<br />

2 2 2<br />

ω ω ω −imϕ 2<br />

0 0 0 0<br />

imϕ<br />

e + e ⎛ ρρ ⎞<br />

cos ϕ e e = e e e I 0<br />

∑<br />

m<br />

=<br />

2 ⎜ 2<br />

⎟<br />

m=−∞<br />

⎝ ω0<br />

⎠<br />

2 2<br />

ρ+ρ0<br />

− ∞<br />

ω<br />

2<br />

0 − im ϕ<br />

0<br />

im ( 1) im ( 1) 2 0<br />

(<br />

+ ϕ − ϕ<br />

⎛ ρρ<br />

) m ⎜ 2<br />

m=−∞<br />

ω0<br />

1<br />

⎞<br />

= e ∑ e e + e I ⎜ 2<br />

⎟<br />

(3. 178)<br />

⎝ ⎠<br />

Como nosso objetivo é obter um campo do tipo E (,) r θ e redefinimos os m´s<br />

<strong>da</strong>s somatórias para expressar ψ 0 <strong>na</strong> forma:<br />

m<br />

r<br />

imϕ<br />

⎧<br />

⎪ ⎛ ⎞ ⎛ ⎞ ⎤<br />

= e ⎨ e e I ⎜ ⎟<br />

+ e I<br />

⎜ ⎟ ⎥<br />

⎪ ⎣ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ⎥⎦<br />

2 2<br />

ρ+ρ0<br />

− ∞<br />

ω<br />

2<br />

⎪1<br />

0<br />

im ϕ<br />

⎡ − im ( + 1) ϕ 2ρρ<br />

0 0 − im ( − 1) ϕ 2ρρ<br />

0<br />

0<br />

∑ ⎢<br />

m+ 1 2 m−1<br />

2<br />

2<br />

m=−∞<br />

⎢<br />

ω0 ω0<br />

⎪⎩ m≠0<br />

1 2<br />

(<br />

iϕ0 −iϕ<br />

⎛ ρρ ⎞<br />

0 )<br />

0 ⎪<br />

e e I1 ⎜ 2 ⎟⎥⎬<br />

0<br />

⎡ ⎤⎫<br />

+ ⎢ + =<br />

2<br />

⎜ ω ⎟<br />

⎣⎢<br />

⎝ ⎠⎥⎦⎭<br />

⎪<br />

2 2<br />

ρ+ρ<br />

⎧⎡<br />

⎤<br />

⎫<br />

0<br />

− ∞<br />

2 1<br />

0<br />

im im<br />

0<br />

i 2<br />

0 0 i 2<br />

0<br />

0 2 0<br />

e ω ⎪<br />

⎢<br />

e ϕ<br />

e − ϕ<br />

⎡<br />

e − ϕ<br />

⎛ ρρ ⎞<br />

Im<br />

1 e ϕ<br />

⎛ ρρ ⎞⎤⎥<br />

⎛ ρρ ⎞⎪<br />

= ⎨⎢<br />

∑ ⎢ + I<br />

2 m−1 cos<br />

2 0I1<br />

2<br />

2<br />

⎜ ⎟<br />

+ ⎜ ⎟⎥⎥+ ϕ ⎜ ⎟⎬=<br />

⎪⎢<br />

m=−∞<br />

⎣⎢<br />

⎝ ω0 ⎠ ⎝ ω0 ⎠⎥⎦⎥<br />

⎝ ω0<br />

⎠⎪<br />

⎪⎩⎢⎣<br />

m≠0<br />

⎥⎦<br />

⎪⎭<br />

2 2<br />

ρ+ρ<br />

⎧⎡<br />

⎤<br />

⎫<br />

0<br />

− ∞<br />

2 1<br />

0<br />

im im ( 1) 2<br />

0 0 2i<br />

2<br />

0<br />

0 2 0<br />

e ω ⎪<br />

⎢<br />

e ϕ<br />

e − − ϕ<br />

⎡ ⎛ ρρ ⎞<br />

Im<br />

1 e − ϕ<br />

⎛ ρρ ⎞⎤⎥<br />

⎛ ρρ ⎞<br />

⎪<br />

= ⎨⎢<br />

∑ ⎢ − I<br />

2 + m+<br />

1 cos<br />

2 ⎥⎥+ ϕ0I1<br />

2<br />

⎬ (3. 179)<br />

2<br />

⎜ ⎟ ⎜ ⎟ ⎜ ⎟<br />

⎪⎢<br />

m=−∞<br />

⎢⎣<br />

⎝ ω0 ⎠ ⎝ ω0 ⎠⎥⎦⎥<br />

⎝ ω0<br />

⎠⎪<br />

⎪⎩⎢⎣<br />

m≠0<br />

⎥⎦<br />

⎪⎭<br />

113


Já a inclusão do senϕ leva a:<br />

ρ+ρ 2ρρcos( ϕ−ϕ)<br />

ρ+ρ<br />

−<br />

ω ω ω − ϕ imϕ<br />

2 2 2 2<br />

0 0 0 0<br />

− ∞<br />

2 2 2<br />

0 0 0<br />

im<br />

0<br />

e − e ⎛2ρρ<br />

⎞<br />

0<br />

sen ϕ e e = e ∑ e e Im<br />

2<br />

=<br />

m=−∞<br />

2i<br />

⎜ ω ⎟<br />

⎝ 0 ⎠<br />

iϕ<br />

−iϕ<br />

2 2<br />

ρ+ρ0<br />

− ∞<br />

ω<br />

2<br />

0 − im ϕ<br />

0<br />

im ( 1) im ( 1) 2 0<br />

(<br />

+ ϕ − ϕ<br />

⎛ ρρ<br />

∑<br />

) m<br />

⎜ 2<br />

m=−∞<br />

ω0<br />

1<br />

⎞<br />

= e e e − e I<br />

=<br />

2i<br />

⎟<br />

⎝ ⎠<br />

⎧<br />

⎪ ⎛ ⎞ ⎛ ⎞⎤<br />

= e ⎨ e e I ⎜ ⎟<br />

− e I<br />

⎜ ⎟⎥<br />

+<br />

⎪ ⎣ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎥⎦<br />

2 2<br />

ρ+ρ0<br />

− ∞<br />

ω<br />

2<br />

⎪ 1<br />

0<br />

im ϕ<br />

⎡ − im ( + 1) ϕ 2ρρ<br />

0 0 − im ( − 1) ϕ 2ρρ<br />

0<br />

0<br />

∑ ⎢<br />

m+ 1 2 m−1<br />

2<br />

2i<br />

m=−∞<br />

⎢<br />

ω0 ω0<br />

⎪⎩ m≠0<br />

⎛2ρρ<br />

⎞⎤<br />

0<br />

e − e I1 ⎜ =<br />

2 ⎟⎥<br />

0<br />

⎡ 1 (<br />

iϕ0 −iϕ0<br />

⎢<br />

)<br />

2i<br />

⎜ ω ⎟<br />

⎢⎣<br />

⎝ ⎠⎥⎦<br />

2 2<br />

ρ+ρ<br />

⎧⎡<br />

⎤<br />

⎫<br />

0<br />

− ∞<br />

2 1<br />

0<br />

im im<br />

0<br />

i 2<br />

0 0 i 2<br />

0<br />

0 2 0<br />

e ω ⎪<br />

⎢<br />

e ϕ<br />

e − ϕ<br />

⎡<br />

e − ϕ<br />

⎛ ρρ ⎞<br />

Im<br />

1 e ϕ<br />

⎛ ρρ ⎞⎤⎥<br />

⎛ ρρ ⎞<br />

⎪<br />

= ⎨⎢<br />

∑ ⎢ + I<br />

2 m−1 sin<br />

2 0I1<br />

2<br />

2i<br />

⎜ ⎟<br />

− ⎜ ⎟⎥⎥+ ϕ ⎜ ⎟⎬=<br />

⎪<br />

m=−∞<br />

⎢⎣<br />

⎝ ω0 ⎠ ⎝ ω0 ⎠⎥⎦<br />

⎝ ω0<br />

⎠⎪<br />

⎪⎩⎢⎣<br />

m≠0<br />

⎥⎦<br />

⎪⎭<br />

2 2<br />

ρ+ρ<br />

⎧⎡<br />

⎤<br />

⎫<br />

0<br />

− ∞<br />

2 1<br />

0<br />

im im ( 1) 2<br />

0 0 2i<br />

2<br />

0<br />

0 2 0<br />

e ω ⎪⎢<br />

e ϕ<br />

e − − ϕ<br />

⎡ ⎛ ρρ ⎞<br />

Im<br />

1 e − ϕ<br />

⎛ ρρ ⎞⎤⎥<br />

⎛ ρρ ⎞<br />

⎪<br />

= ⎨⎢<br />

∑ ⎢ − I<br />

2 − m+<br />

1 sin<br />

2 ⎥⎥+ ϕ0I1<br />

2<br />

⎬ (3. 180)<br />

2i<br />

⎜ ⎟ ⎜ ⎟ ⎜ ⎟<br />

⎪<br />

m=−∞<br />

⎢⎣<br />

⎝ ω0 ⎠ ⎝ ω0 ⎠⎥⎦<br />

⎝ ω0<br />

⎠⎪<br />

⎪⎩⎢⎣<br />

m≠0<br />

⎥⎦<br />

⎪⎭<br />

Com isso, os campos radiais elétrico e magnético ficam <strong>da</strong>dos por:<br />

2 2<br />

ρ+ρ0<br />

∞ −<br />

2<br />

m ikz 1<br />

0<br />

( 1) 2<br />

0 0 2 2<br />

0<br />

0<br />

0 sin ω ⎪ im ϕ − im − ϕ ρρ − i ϕ ρρ<br />

r = ∑ θ ⎢ m− 1 +<br />

2 m+<br />

1 2<br />

m=−∞<br />

⎩<br />

2<br />

⎢ ω0 ω0<br />

m≠0<br />

⎧ ⎡ ⎛ ⎞ ⎛ ⎞⎤<br />

E E e e ⎨ e e I ⎜ ⎟<br />

e I<br />

⎜ ⎟⎥<br />

⎪ ⎣ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎥⎦<br />

⎛ ⎞⎫<br />

+ cosϕ → = θ<br />

∞<br />

2ρρ0<br />

⎪ m ikz imϕ<br />

m<br />

0I1 ⎜ 2 ⎟⎬⎟<br />

Er<br />

∑ E0e sin e Fr<br />

⎝ ω0<br />

⎠⎭⎪<br />

m=−∞<br />

m≠0<br />

(3. 181)<br />

2 2<br />

ρ+ρ0<br />

∞ −<br />

2<br />

m ikz 1<br />

0<br />

( 1) 2<br />

0 0 2 2<br />

0<br />

0<br />

0 sin ω ⎪ im ϕ − im − ϕ ρρ − i ϕ ρρ<br />

r = ∑ θ ⎢ m− 1 −<br />

2 m+<br />

1 2<br />

m=−∞<br />

2i<br />

⎩<br />

⎢ ω0 ω0<br />

m≠0<br />

⎧ ⎡ ⎛ ⎞ ⎛ ⎞⎤<br />

H H e e ⎨ e e I ⎜ ⎟<br />

e I<br />

⎜ ⎟⎥<br />

⎪ ⎣ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎥⎦<br />

(3. 182).<br />

⎛ ⎞⎫<br />

+ sin ϕ → = θ<br />

∞<br />

2ρρ0<br />

⎪ m ikz imϕ<br />

m<br />

0I1 ⎜ 2 ⎟⎬⎟<br />

Hr<br />

∑ H0e sin e Ir<br />

⎝ ω0<br />

⎠⎭⎪<br />

m=−∞<br />

m≠0<br />

Agora pod<strong>em</strong>os usar uma relação <strong>em</strong> m <strong>da</strong>s funções modifica<strong>da</strong>s de Bessel<br />

I− m( x) = Im( x)<br />

para limitar os somatórios de m = 0 até infinito, isolando o termo com<br />

m = 0 , reescrevendo as expressões acima como:<br />

114


k ρ+ k ρ<br />

2 2 2 2<br />

0<br />

−<br />

∞<br />

2 2<br />

m k ω ⎪<br />

⎧⎡<br />

i( m−1)<br />

ϕ<br />

⎡ ⎛2kρρ ⎞<br />

0 0<br />

0 2iϕ<br />

⎛2kρρ ⎞⎤⎤<br />

⎛<br />

0<br />

0 2kρρ<br />

⎞<br />

0 ⎪<br />

⎫<br />

Er = e ⎨⎢∑ e ∓ ⎢Im− 1 ⎜<br />

e I<br />

2 + m+<br />

1<br />

cos<br />

2<br />

⎥⎥+ ϕ0I1<br />

2<br />

m=<br />

1<br />

k ⎟ ∓ ⎬ (3. 183)<br />

⎢<br />

ω ⎜<br />

0 kω ⎟ ⎜<br />

0 ⎥<br />

kω<br />

⎟<br />

⎪⎩⎣<br />

⎢⎣<br />

⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎥⎦⎦<br />

⎝ 0 ⎠⎪⎭<br />

k ρ+ k ρ<br />

2 2 2 2<br />

0<br />

−<br />

∞<br />

2 2<br />

m k ω ⎪<br />

⎧⎡1<br />

i<br />

0<br />

( m−1)<br />

ϕ<br />

⎡ ⎛2kρρ ⎞<br />

0<br />

0 2iϕ<br />

⎛2kρρ ⎞⎤⎤<br />

⎛<br />

0<br />

0 2kρρ<br />

⎞<br />

0 ⎪<br />

⎫<br />

Hr = e ⎨⎢<br />

∑ e ∓ ⎢Im− 1 e I<br />

2 m+<br />

1<br />

sen<br />

2 0I1<br />

2<br />

i ⎜ − ⎥⎥+ ϕ<br />

m=<br />

1<br />

k ⎟ ∓ ⎬ (3. 184)<br />

⎢<br />

ω ⎜<br />

0 kω ⎟ ⎜<br />

0 ⎥<br />

kω<br />

⎟<br />

⎪⎩⎣<br />

⎢⎣<br />

⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎥⎦⎦<br />

⎝ 0 ⎠⎪⎭<br />

Nesse ponto já cumprimos com os passos 1 e 2 <strong>da</strong> receita. Os passos 3 e 4 são<br />

<strong>da</strong>dos pela aplicação do operador localização e multiplicação pelo fator de<br />

normalização:<br />

g<br />

= Z GE ˆ =<br />

m m m<br />

nTM n r<br />

2 2 2<br />

( n+ 1/2)<br />

+ k ρ0<br />

∞ ∞ −<br />

2 2 ⎧<br />

m k ω ⎪ ∓i 0<br />

( m−1)<br />

ϕ<br />

⎡ ⎛ 2( n+ 1/ 2) ρ ⎞<br />

0<br />

0 2i<br />

2( n 1/ 2) ⎤<br />

∓ ϕ<br />

⎛ + ρ ⎞<br />

0<br />

0<br />

= Zn e e Im− 1 + e I<br />

(3. 185)<br />

∑∑<br />

⎨ ⎢<br />

⎜ 2 m+<br />

1<br />

2<br />

n= 1m=<br />

1<br />

k ⎟ ⎜ ⎥<br />

0 k ⎟<br />

⎩⎪ ⎢⎣ ⎝ ω ⎠ ⎝ ω0<br />

⎠⎥⎦<br />

⎛ 2( n + 1/ 2) ρ ⎞⎫<br />

0 ⎪<br />

+ cosϕ0I1 ⎜ 2 ⎟⎬<br />

kω<br />

⎟<br />

⎝ 0 ⎠⎭⎪<br />

m m ˆ m<br />

g = Z GH =<br />

nTE n r<br />

2 2 2<br />

( n+ 1/2) + k ρ0<br />

∞ ∞ −<br />

( 1)<br />

2 2<br />

⎧ ∓ i m − ϕ0<br />

m k ω ⎪ e ⎡ ⎛ 2( n+ 1/ 2) ρ ⎞<br />

0 0 2i<br />

2( n 1/ 2) ⎤<br />

∓ ϕ<br />

⎛ + ρ ⎞<br />

0<br />

0 (3. 186)<br />

= ∑∑Zn e ⎨ ⎢I m − 1 e I<br />

2 m + 1<br />

2<br />

n= 1m=<br />

1<br />

i ⎜ k ⎟<br />

−<br />

⎜ ⎥<br />

0 k ⎟<br />

⎩⎪ ⎢⎣ ⎝ ω ⎠ ⎝ ω0<br />

⎠⎥⎦<br />

⎛ 2( n + 1/ 2) ρ ⎞⎫<br />

0 ⎪<br />

+ senϕ0 I1 ⎜ 2 ⎟⎬<br />

kω<br />

⎟<br />

⎝ 0 ⎠⎭⎪<br />

definindo,<br />

m −1<br />

1<br />

ρ<br />

s = , 0<br />

Q= 2( s n+<br />

1/2) e m nn ( + 1) i ⎡ −i<br />

⎤<br />

Zn = δ m,0 + (1 −δm,0)<br />

k ω ω n+ 1/2 ⎢n+<br />

1/2⎥<br />

⎣ ⎦<br />

0<br />

0<br />

(3. 187)<br />

ficamos com,<br />

2<br />

⎛ρ<br />

2<br />

2 ⎞<br />

0<br />

∞ − s ( n 1/2)<br />

2<br />

0 nn ( 1) i<br />

⎜ + + ⎟<br />

⎛ + ⎞<br />

ω0<br />

gnTM<br />

= ∑ cos 0e ⎝<br />

⎠<br />

⎜<br />

ϕ<br />

I1( Q)<br />

n=<br />

1<br />

n + 1/2<br />

⎟<br />

(3. 188)<br />

⎝ ⎠<br />

2<br />

m 1 ⎛ρ<br />

2<br />

2 ⎞<br />

0<br />

∞ i<br />

−<br />

0<br />

s ( n 1/2)<br />

2<br />

m<br />

⎛<br />

∓ ϕ − + +<br />

−ie<br />

⎞ ⎜ ⎟<br />

0 2i<br />

0<br />

gnTM e<br />

⎝ω<br />

⎠⎡<br />

∓ ϕ<br />

= ∑<br />

Im− 1( Q) + e Im+<br />

1( Q)<br />

⎤ (3. 189)<br />

⎜<br />

nm , = 1<br />

n + 1/2⎟ ⎣ ⎦<br />

⎝ ⎠<br />

115


2<br />

⎛ρ<br />

2<br />

2 ⎞<br />

0<br />

∞ − s ( n 1/2)<br />

2<br />

0 nn ( 1) i<br />

⎜ + + ⎟<br />

⎛ + ⎞<br />

ω0<br />

gnTE<br />

= ∑ sen 0e ⎝<br />

⎠<br />

⎜<br />

ϕ<br />

I1( Q)<br />

n=<br />

1<br />

n + 1/2<br />

⎟<br />

(3. 190)<br />

⎝ ⎠<br />

os<br />

2<br />

m 1 ⎛ρ<br />

2<br />

2 ⎞<br />

0<br />

∞ i<br />

−<br />

0<br />

s ( n 1/2)<br />

2<br />

m 1⎛<br />

∓ ϕ − + +<br />

± −ie<br />

⎞ ⎜ ⎟<br />

0 2i<br />

0<br />

gnTE e<br />

⎝ω<br />

⎠⎡<br />

∓ ϕ<br />

= ∑<br />

Im− 1( Q) −e Im+<br />

1( Q)<br />

⎤ (3. 191)<br />

nm , = 1<br />

i ⎜n+<br />

1/2⎟ ⎣ ⎦<br />

⎝ ⎠<br />

No caso particular <strong>em</strong> que o foco se desloca ape<strong>na</strong>s <strong>na</strong> direção x,<br />

0 0<br />

m<br />

g n ’s são <strong>da</strong>dos por:<br />

2<br />

⎛ρ<br />

2<br />

2 ⎞<br />

0<br />

∞ − s ( n 1/2)<br />

2<br />

0 nn ( 1) i<br />

⎜ + + ⎟<br />

⎛ + ⎞ ω0<br />

gnTM<br />

= ∑ e ⎝<br />

⎠<br />

⎜ I1<br />

( Q)<br />

n=<br />

1<br />

n + 1/2<br />

⎟<br />

⎝ ⎠<br />

(3. 192)<br />

ϕ = e ρ 0 = x0,<br />

2<br />

m 1 ⎛ρ<br />

2<br />

2 ⎞<br />

0<br />

∞ i<br />

−<br />

0<br />

s ( n 1/2)<br />

2<br />

m<br />

⎛<br />

∓ ϕ − + +<br />

−ie<br />

⎞ ⎜ ⎟<br />

ω0<br />

gnTM = e<br />

⎝<br />

⎠<br />

∑<br />

⎡Im− 1( Q) Im+<br />

1( Q)<br />

⎤<br />

⎜ +<br />

nm , = 1<br />

n + 1/2⎟ ⎣ ⎦<br />

⎝ ⎠<br />

(3. 193)<br />

0<br />

nTE<br />

g = 0 (3. 194)<br />

2<br />

m 1 ⎛ρ<br />

2<br />

2 ⎞<br />

0<br />

∞ i<br />

−<br />

0<br />

s ( n 1/2)<br />

2<br />

m 1⎛<br />

∓ ϕ − + +<br />

± −ie<br />

⎞ ⎜ ⎟<br />

ω0<br />

gnTE = e<br />

⎝<br />

⎠<br />

∑<br />

⎡Im− 1( Q) −Im+<br />

1( Q)<br />

⎤<br />

nm , = 1<br />

i ⎜n+<br />

1/2⎟ ⎣ ⎦<br />

⎝ ⎠<br />

(3. 195)<br />

Já para deslocamentos ao longo do eixo y, ϕ π<br />

0 = e<br />

2<br />

ρ 0 = y0:<br />

0<br />

nTM<br />

g = 0 (3. 196)<br />

2<br />

m 1 ⎛ρ<br />

2<br />

2 ⎞<br />

0<br />

∞ i<br />

−<br />

0<br />

s ( n 1/2)<br />

2<br />

m<br />

⎛<br />

∓ ϕ − + +<br />

−ie<br />

⎞ ⎜ ⎟<br />

ω0<br />

gnTM = e<br />

⎝<br />

⎠<br />

∑<br />

⎡Im− 1( Q) Im+<br />

1( Q)<br />

⎤<br />

⎜ −<br />

nm , = 1<br />

n + 1/2⎟ ⎣ ⎦<br />

⎝ ⎠<br />

(3. 197)”<br />

2<br />

⎛ ρ 2<br />

2 ⎞<br />

0<br />

∞ − s ( n 1/2)<br />

2<br />

0 nn ( 1) i<br />

⎜ + + ⎟<br />

⎛ + ⎞ ω0<br />

gnTE<br />

= ∑ e ⎝<br />

⎠<br />

⎜ I1<br />

( Q)<br />

n=<br />

1<br />

n + 1/2<br />

⎟<br />

(3. 198)<br />

⎝ ⎠<br />

2<br />

m 1 ⎛ρ<br />

2<br />

2 ⎞<br />

0<br />

∞ i<br />

−<br />

0<br />

s ( n 1/2)<br />

2<br />

m 1⎛<br />

∓ ϕ − + +<br />

± −ie<br />

⎞ ⎜ ⎟<br />

ω0<br />

gnTE = e<br />

⎝<br />

⎠<br />

∑<br />

⎡Im− 1( Q) + Im+<br />

1( Q)<br />

⎤<br />

nm , = 1<br />

i ⎜n+<br />

1/2⎟ ⎣ ⎦<br />

⎝ ⎠<br />

(3. 199)<br />

Com os coeficientes g’s t<strong>em</strong>os a expansão dos campos elétrico e magnético <strong>em</strong><br />

on<strong>da</strong>s parciais:<br />

<br />

E ( g M ig N )<br />

∞<br />

n 1 n 1<br />

i = ∑ mTE omn − mTM <strong>em</strong>n<br />

nm ,<br />

<br />

( ) (3. 200)<br />

∞<br />

k<br />

e<br />

n 1 n 1<br />

Hi =− ∑ gmTMM<strong>em</strong>n + igmTENomn<br />

µω<br />

nm ,<br />

116


A expansão dos campos espalhados é obti<strong>da</strong> multiplicando os fatores de forma<br />

m<br />

g n pelos coeficientes de Mie,<br />

n<br />

m<br />

nTM<br />

ag e<br />

n<br />

m<br />

nTE<br />

bg .<br />

3.2.4. Seções de Choque<br />

m<br />

n<br />

Com os fatores de forma g ´ s do feixe pod<strong>em</strong>os calcular as seções de choque e<br />

eficiências para as forças de pressão de radiação exerci<strong>da</strong>s por pinças ópticas <strong>em</strong><br />

partículas esféricas. Entretanto, se o cálculo <strong>da</strong> eficiência para a on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong>, s<strong>em</strong> a<br />

inclusão dos m´s, exigiu algumas pági<strong>na</strong>s de álgebra, um feixe geral vai requerer muito<br />

mais. Pod<strong>em</strong>os obter de forma geral as diferentes seções de choque e eficiências <strong>em</strong><br />

termos dos fatores de forma e para tanto será necessário utilizar inúmeras relações de<br />

recorrência e integrais. Felizmente todo esse desenvolvimento já foi feito por diferentes<br />

autores e está disponível <strong>na</strong> literatura [45, 46, 41]. Comparamos as fórmulas dos<br />

diferentes trabalhos para detectar algum erro que tenha passado desapercebido, mas<br />

todos eles chegaram ao mesmo resultado. As expressões para as seções de choque para<br />

as componentes x, y e z <strong>da</strong> força de captura <strong>da</strong> pinça óptica são <strong>da</strong><strong>da</strong>s por:<br />

( n p )<br />

( n−<br />

p ) !<br />

2 ∞ n<br />

λ ⎛ 1 + 1 + !<br />

* * p p*<br />

Cpr, z = ∑∑<br />

× Re[( a<br />

2<br />

n + an+ 1 −2 a<strong>na</strong>n+ 1 ) gnTM ,<br />

gn+<br />

1, TM<br />

π ⎜<br />

n= 1 p=−n⎝<br />

( n + 1)<br />

(3.201)<br />

* * p p*<br />

2n<br />

+ 1 ( n+<br />

p ) !<br />

⎞<br />

* * p p<br />

+ ( bn + bn+ 1 − 2 bnbn+ 1 ) gnTE ,<br />

gn+<br />

1, TE] + p × Re[ i(2 a )<br />

2 2<br />

nbn −an −bn<br />

gnTM ,<br />

gnTE<br />

,<br />

] ⎟<br />

n ( n+<br />

1) ( n−<br />

p ) !<br />

⎠<br />

para a componente z, e<br />

2<br />

∞ ∞ ∞<br />

λ ( n+<br />

p)! p−1 −p p−1<br />

−p<br />

⎛ 1 1 ⎞<br />

C = ∑∑ ∑ × [( Smn , + Snm , −2Umn , − 2 Unm , ) × ⎜ δ<br />

2 mn , + 1 − δ<br />

2 nm , + 1⎟+<br />

2 π<br />

p= 1n= p m= p−1≠0( n− p)!<br />

⎝ m n ⎠ (3. 202)<br />

2n<br />

+ 1<br />

p−1 −p p−1<br />

−p<br />

×δ<br />

2 2 nm , ( Tmn , −Tnm , − 2Vmn , + 2 Vnm<br />

, )]<br />

n ( n+<br />

1)<br />

onde, C , = Re[ C]<br />

é a seção de choque para a componente x e C , = Im[ C]<br />

para a<br />

pr x<br />

componente y, com as seguintes definições:<br />

p * p p+ 1* * p p+<br />

1*<br />

nm , = n m nTM , mTM ,<br />

+ n m nTE , mTE ,<br />

U a a g g b b g g<br />

pr y<br />

p * p p+ 1* * p p+<br />

1*<br />

nm , = n m nTE , mTM ,<br />

− n m nTM , mTE ,<br />

V ib a g g ia b g g<br />

117


p<br />

* p p+ 1* * p p+<br />

1*<br />

nm , = ( n+ m) nTM , mTM ,<br />

+ ( n+<br />

m)<br />

nTE , mTE ,<br />

S a a g g b b g g<br />

p<br />

* p p+ 1* * p p+<br />

1*<br />

nm , ( n m) nTE , mTM ,<br />

( n m)<br />

nTM , mTE ,<br />

T = i b + a g g − i a + b g g (3. 203)<br />

Utilizando os fatores de forma obtidos para os feixes gaussianos, os coeficientes<br />

de Mie e as seções de choque acima pod<strong>em</strong>os comparar nossos resultados<br />

experimentais com os cálculos teóricos.<br />

3.2.5 Resultados<br />

3.2.5.1 Espectroscopia de Força para Feixes Focalizados<br />

Nessa experiência a orig<strong>em</strong>, o centro <strong>da</strong> microesfera, é defini<strong>da</strong> pela posição do<br />

foco do laser de Nd:YAG. A força que estamos estu<strong>da</strong>ndo é gera<strong>da</strong> pelo laser de<br />

Ti:Safira cw focalizado <strong>na</strong> bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> microesfera mas com a mesma posição vertical do<br />

Nd:YAG. Dessa forma asseguramos experimentalmente a condição z 0 = 0 utiliza<strong>da</strong> nos<br />

cálculos acima. Em relação aos modelos teóricos, nossos resultados experimentais<br />

fornec<strong>em</strong> um valor proporcio<strong>na</strong>l à seção de choque para força óptica <strong>em</strong> função do<br />

comprimento de on<strong>da</strong> de um feixe polarizado <strong>na</strong> direção x focalizado <strong>em</strong> três posições<br />

diferentes ( R , 0,<br />

0)<br />

, ( 0, , 0)<br />

R e (( RR , ,0)/ 2)<br />

Capítulo 2 apresentamos detalhes do procedimento experimental.<br />

118<br />

, onde R é o raio <strong>da</strong> partícula. No<br />

É importante salientar que os nossos resultados para o feixe focalizado <strong>na</strong>s 3<br />

posições <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> microesfera foram todos obtidos com a mesma microesfera. Isso<br />

foi possível porque nossa pinça é capaz de manter a partícula aprisio<strong>na</strong><strong>da</strong> por horas,<br />

uma vez que ca<strong>da</strong> espectro d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>va mais de 30 minutos. Mesmo assim, foi<br />

necessário repetir o experimento algumas vezes, pois quando ocorria uma colisão com<br />

outras microesferas <strong>em</strong> volta, ou a partícula inicialmente presa escapava ou as duas<br />

microesferas ficavam presas conjuntamente. Isso chegou a ocorrer nos últimos minutos<br />

<strong>da</strong> última medi<strong>da</strong> invali<strong>da</strong>ndo 2 horas de medi<strong>da</strong>s já adquiri<strong>da</strong>s. Resolv<strong>em</strong>os esse<br />

probl<strong>em</strong>a diminuindo bastante a concentração <strong>da</strong>s microesferas e, com isso, a


probabili<strong>da</strong>de de colisão. Além disso, um outro ponto fun<strong>da</strong>mental nessa medi<strong>da</strong> é o<br />

acoplamento <strong>da</strong>s ressonâncias, não basta colocar o laser <strong>na</strong> bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> partícula para<br />

observarmos os “MDR modes”. Existe uma posição ótima para a qual eles são<br />

excitados. O procedimento para encontrar essa posição foi: 1. focalizar o feixe <strong>na</strong> bor<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> partícula e fazer um espectro ape<strong>na</strong>s <strong>na</strong> região de um pico; 2. mu<strong>da</strong>r lev<strong>em</strong>ente a<br />

posição do laser e obter outro espectro. 3. repetir esses passos até maximizar a<br />

intensi<strong>da</strong>de do picos 4. refazer o mesmo procedimento para to<strong>da</strong>s as situações<br />

estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s. O t<strong>em</strong>po total <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s <strong>em</strong> uma mesma microesfera foi de quase 4 horas.<br />

Esses são os resultados apresentados nessa Tese.<br />

Com o programa de on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong> encontramos o raio <strong>da</strong> microesfera utiliza<strong>da</strong><br />

através <strong>da</strong> comparação entre os picos teóricos e experimentais, assim como foi feito <strong>na</strong><br />

seção 3.1.8. Usando, novamente, as relações de dispersão <strong>da</strong> água e do poliestireno de<br />

Bat<strong>em</strong>an chegamos ao raio de 4.66 µm.<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a.u)<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a.u)<br />

710 720 730 740 750<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

710 720 730 740 750<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

a. b.<br />

Figura 72. Espectro obtido com o feixe focalizado <strong>na</strong> posição a. ( R, 0, 0)<br />

e b. ( 0, R, 0)<br />

.<br />

Esse será portanto o valor do raio <strong>da</strong> microesfera utilizado no cálculo <strong>da</strong>s forças<br />

com feixe localizado <strong>na</strong>s bor<strong>da</strong>s, no formalismo do feixe gaussiano focalizado <strong>da</strong>s<br />

seções 3.2.2, 3.2.3 e 3.2.5 para as três posições do foco do Ti:Safira. Para calcular a força<br />

no caso do feixe focalizado escrev<strong>em</strong>os o programa no Math<strong>em</strong>atica (apêndice 2). Como<br />

se pode ver, o programa é quase todo escrito <strong>na</strong> forma algébrica, o que permite<br />

entender facilmente sua estrutura. Entretanto, foi necessário usar um pequeno truque<br />

119


para evitar que o programa voltasse a calcular os mesmos coeficientes de Mie a ca<strong>da</strong><br />

passo, o que o tor<strong>na</strong>va d<strong>em</strong>asia<strong>da</strong>mente lento. Para isso incluímos comandos do tipo<br />

an[n_, λ_]:= (an[n, λ] = an[n, mn[λ], xa[λ]]); Table [an[n, λ], {n, 0, 100}, {λ, 0.71, 0.760}]. As<br />

Figura 72 a e b apresentam os resultados experimentais comparados aos resultados<br />

teóricos para o feixe focalizado <strong>em</strong> ( R, 0,<br />

0)<br />

e( 0, , 0)<br />

120<br />

R .<br />

Percebe‐se claramente como os resultados experimentais desses gráficos são<br />

diferentes dos resultados obtidos para on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong> <strong>da</strong> Figura 67 <strong>em</strong> que os picos<br />

aparec<strong>em</strong> <strong>em</strong> duplas. Ficou claro que para o feixe focalizado estamos excitando<br />

seletivamente os modos TE e TM, <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> um dos casos, e os picos de ca<strong>da</strong> um desses<br />

modos aparec<strong>em</strong> isola<strong>da</strong>mente. A idéia intuitiva sobre essas situações é mostra<strong>da</strong> <strong>na</strong><br />

Figura 73. Com o foco <strong>na</strong> posição ( , 0,<br />

0)<br />

e ape<strong>na</strong>s os modos TM são excitados. Já <strong>na</strong> posição ( 0, , 0)<br />

R só o campo elétrico t<strong>em</strong> componente radial<br />

R só o campo magnético t<strong>em</strong><br />

componente radial e só os modos TE são excitados. Quando se excita com uma on<strong>da</strong><br />

pla<strong>na</strong> que incide sobre to<strong>da</strong> a partícula haverá excitação dos modos TM devido aos<br />

raios incidentes ao longo de x e dos modos TE devido aos raios incidentes <strong>na</strong> direção y,<br />

exibindo a estrutura característica de picos duplos observa<strong>da</strong>.<br />

H H <br />

H E H <br />

E H <br />

a E b c<br />

H <br />

E E E <br />

Figura 73. Campos elétrico e magnético para o feixe é focalizado <strong>na</strong> posição a. ( R, 0, 0)<br />

e b.<br />

( 0, R, 0)<br />

. c. on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong>.<br />

Essa mesma idéia é d<strong>em</strong>onstra<strong>da</strong> no caso <strong>em</strong> que o feixe é focalizado <strong>na</strong> posição<br />

(( RR , ,0)/ 2)<br />

, conforme representado <strong>na</strong> Figura 74.<br />

Figura 74. Campos elétrico e magnético quando o feixe é focalizado <strong>na</strong> posição (( RR , ,0)/ 2)<br />

.<br />

H <br />

E


Neste caso, tanto o campo elétrico quanto o magnético possu<strong>em</strong> componentes<br />

radiais, logo ambos os modos, TE e TM, serão excitados. Isso é confirmado pelos nossos<br />

resultados tanto experimentais quanto teóricos apresentados <strong>na</strong> Figura 75.<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a.u.)<br />

712 722 732 742 752<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

Figura 75. Espectro obtido com o feixe focalizado <strong>na</strong> posição (( RR , ,0)/ 2)<br />

.<br />

A Figura 76 faz uma sín<strong>tese</strong> de todos esses resultados mostrando os quatro<br />

espectros, teórico de on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong>, e focalizados ( R , 0,<br />

0)<br />

, ( 0, , 0)<br />

mesmo gráfico.<br />

R e (( , ,0)/ 2)<br />

RR no<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a. u.)<br />

710 725 740 755<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

Figura 76. Sín<strong>tese</strong> dos resultados. Na seqüência de cima para baixo: on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong>, focalizado <strong>em</strong><br />

( R, 0, 0)<br />

e ( 0 R 0)<br />

, , , focalizado <strong>em</strong> (( , ,0)/ 2)<br />

RR .<br />

Os <strong>da</strong>dos teóricos se ajustaram muito b<strong>em</strong> aos experimentais para um total de 16<br />

picos observados <strong>na</strong> mesma microesfera. Os respectivos coeficientes<br />

a<br />

n<br />

e<br />

b<br />

n<br />

responsáveis pelos modos vão de a<br />

56<br />

e b<br />

56<br />

até a<br />

59<br />

e b<br />

59<br />

. Os coeficientes<br />

a<br />

n<br />

são<br />

referentes ao modo TM e os<br />

b<br />

n<br />

ao modo TE. Esses resultados d<strong>em</strong>onstram o papel<br />

121


fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> polarização para as ressonâncias de Mie e comprovam as previsões do<br />

modelo teórico do feixe gaussiano. Acreditamos que essa concordância d<strong>em</strong>onstra tanto<br />

a quali<strong>da</strong>de do modelo teórico quanto do experimento <strong>em</strong> si. Essa comparação seria<br />

impossível se ca<strong>da</strong> espectro tivesse sido obtido com partículas diferentes. Menos ain<strong>da</strong><br />

se nossa pinça óptica fosse incapaz de segurar uma partícula por horas segui<strong>da</strong>s, s<strong>em</strong><br />

mencio<strong>na</strong>r a idéia de utilizar a própria ultrasensibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pinça para medir forças<br />

ópticas ultrapeque<strong>na</strong>s.<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a.u)<br />

1 8 15 22 29<br />

valor de p<br />

Figura 77. Gráfico de F x <strong>em</strong> função de p.<br />

Na comparação modelo teórico versus resultados experimentais observamos<br />

alguns fatos. A idéia intuitiva de um raio passando pela bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> partícula, conforme<br />

mostra a Figura 24 do capítulo 2, indica que a força terá componentes tanto <strong>na</strong> direção<br />

horizontal, x e/ou y, quanto <strong>na</strong> vertical z. Por isso nosso programa somou <strong>em</strong><br />

quadratura<br />

+ + as diferentes seções choque. Para o caso ( , 0,<br />

0)<br />

F F F<br />

2 2 2<br />

x y z<br />

R só F x e F z ,<br />

para o caso ( 0, , 0)<br />

R só F y e F z e as três para o ângulo de 45º. Notamos que as forças<br />

<strong>em</strong> z <strong>na</strong> bor<strong>da</strong> têm a mesma ord<strong>em</strong> <strong>da</strong>s forças no plano. Para decidir o limite para os<br />

valores de p utilizados no cálculo <strong>da</strong> força horizontal, fixamos o comprimento e o raio<br />

<strong>na</strong>s condições de ressonância e calculamos a força <strong>em</strong> função de p, assim como<br />

pod<strong>em</strong>os ver <strong>na</strong> Figura 77. Perceb<strong>em</strong>os então que a força converge até p <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de<br />

15. Observamos que espectros com p = 15 e p = 30 não difer<strong>em</strong>.<br />

Outro aspecto que merece discussão é o papel do “spot size” <strong>em</strong> relação ao raio<br />

<strong>da</strong> partícula para a excitação seletiva dos modos TE e TM. Conforme mostra a Figura 78<br />

122


para o caso de um feixe focalizado no eixo x, à medi<strong>da</strong> que o spot size <strong>em</strong> relação ao<br />

tamanho <strong>da</strong> partícula aumenta, aumenta a excitação do modo TE, pois diferentes<br />

regiões do feixe terão componentes de H <strong>na</strong> direção radial. Ape<strong>na</strong>s no limite <strong>em</strong> que o<br />

“spot size” vai a zero é possível suprimir <strong>completa</strong>mente um dos modos. É difícil medir<br />

o “spot size” do laser, que, no nosso caso, foi ajustado para os melhores resultados, com<br />

valor de ω 0 <strong>em</strong> torno de 0.4 – 0.5 µm (ou seja <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> do comprimento de on<strong>da</strong>),<br />

muito bom do ponto de vista experimental.<br />

H <br />

E <br />

H <br />

E <br />

Figura 78. O tamanho do “spot size” e os modos de ressonância.<br />

Chegamos a tentar observar as ressonâncias largas de Fabry‐Perot existentes<br />

quando o foco incide b<strong>em</strong> no centro <strong>da</strong> partícula devido à interferência entre as<br />

múltiplas reflexões previstas <strong>na</strong> Tese de Mazzolli [27] e já observados por Ashkin no<br />

experimento de levitação. Entretanto, essas ressonâncias são muito mais largas do que<br />

as ressonâncias de Mie aqui observa<strong>da</strong>s, e sua profundi<strong>da</strong>de de modulação depende<br />

fort<strong>em</strong>ente do coeficiente de reflexão. Para incidência normal a reflexão é <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />

R =<br />

n<br />

− n<br />

1 2 2<br />

[ ]<br />

n1+<br />

n2<br />

, e cai muito com a diferença entre os dois índices de refração. Ashkin<br />

usava microesferas de óleo com n = 1, 6 <strong>em</strong>bebi<strong>da</strong>s no ar, com n = 1, enquanto nós<br />

usamos microesferas de poliestireno n = 1, 6 <strong>em</strong>bebi<strong>da</strong> <strong>em</strong> água com n = 1, 3 , com uma<br />

refletivi<strong>da</strong>de muito menor. Por isso nossa medi<strong>da</strong> ficou dentro do ruído. Sequer t<strong>em</strong>os a<br />

opção de aumentar d<strong>em</strong>ais a diferença de índices de refração pois perderíamos a pinça<br />

óptica. A única chance de fazer essa observação seria utilizar um material com baixo<br />

índice de refração para o laser <strong>da</strong> pinça <strong>em</strong> 1064 nm mas muito alto para o laser de<br />

123


Ti:Safira. Materiais s<strong>em</strong>icondutores pod<strong>em</strong> apresentar esse comportamento, pois o<br />

índice de refração cresce muito para comprimentos de on<strong>da</strong> abaixo do gap óptico.<br />

Faltou entretanto a microesfera dos mesmos. Um material ideal seria o GaAs.<br />

3.2.5.2 Medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> Força Óptica <strong>em</strong> Função do Deslocamento Centro‐Foco e <strong>da</strong><br />

Polarização<br />

A montag<strong>em</strong> do experimento de Espectroscopia Ultrasensível de Força abriu a<br />

perspectiva de usá‐la <strong>em</strong> um experimento ultrasensível de medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> força <strong>da</strong> própria<br />

pinça óptica, usando outra pinça óptica. Experiências de medi<strong>da</strong> de força <strong>da</strong> pinça<br />

óptica e comparações com modelos teóricos tradicio<strong>na</strong>lmente envolveram calibrações<br />

através de modelos hidrodinâmicos ou uso de movimento Browniano. Como ver<strong>em</strong>os<br />

no capítulo 5, modelos hidrodinâmicos <strong>em</strong> baixos números de Reynolds <strong>na</strong> presença<br />

inevitável de paredes estão longe de total consenso, mesmo entre os especialistas <strong>na</strong><br />

matéria. Probl<strong>em</strong>as seculares nessa área estão sendo revisitados <strong>em</strong> publicações do<br />

século XXI. Isso significa que essas calibrações, no mínimo, representam testes de<br />

modelos contra modelos. Com esses resultados obtidos nessa seção é possível testar<br />

vários modelos e diferenciá‐los com base <strong>em</strong> detalhes tão pequenos que jamais seriam<br />

detectados com medi<strong>da</strong>s de ape<strong>na</strong>s valores numéricos. Um ex<strong>em</strong>plo disso são as<br />

oscilações que aparec<strong>em</strong> <strong>na</strong>s curvas que ir<strong>em</strong>os mostrar.<br />

As Figura 79 a e b e Figura 80 a e b apresentam os <strong>da</strong>dos experimentais. To<strong>da</strong>s<br />

elas foram realiza<strong>da</strong>s para o foco <strong>em</strong> z 0 = 0 , <strong>da</strong> mesma forma que <strong>na</strong>s medi<strong>da</strong>s de<br />

espectroscopia de força. A diferença nesse caso é que medimos a força <strong>em</strong> função <strong>da</strong><br />

posição do foco para um comprimento de on<strong>da</strong> fixo, 1064 nm do laser de Nd:YAG, que<br />

variou continuamente, com passos de 0.1 µm, de zero até cerca de 8 µm. Conforme<br />

descrito no capítulo 2, as potências do feixe para as polarizações horizontais e verticais<br />

foram calibra<strong>da</strong>s para ser<strong>em</strong> iguais após a objetiva, de modo a permitir comparações<br />

entre as forças medi<strong>da</strong>s para movimentos paralelos e perpendiculares à polarização.<br />

Nas medi<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s Figura 79 a e Figura 80 a, o movimento <strong>da</strong> partícula foi perpendicular<br />

124


à polarização do laser, enquanto <strong>na</strong>s Figura 79 b e Figura 80 b foi paralelo à polarização<br />

do laser.<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a.u.)<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a.u.)<br />

0 1 2 3 4 5 6<br />

deslocamento (µm)<br />

0 1 2 3 4 5 6<br />

deslocamento (µm)<br />

Figura 79. Dados experimentais para partículas de raio de 4.5 µm a. movimento perpendicular a<br />

polarização b. movimento paralelo a polarização.<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a.u.)<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a.u.)<br />

0 1 2 3 4 5 6 7<br />

deslocamento (µm)<br />

0 1 2 3 4 5 6<br />

deslocamento (µm)<br />

Figura 80. Dados experimentais para partículas de raio de 4.5 µm a. movimento perpendicular a<br />

polarização b. movimento paralelo a polarização.<br />

Para obter as curvas teóricas só foi necessário inverter o programa escrito para a<br />

espectroscopia de força fixando o comprimento de on<strong>da</strong> e variando a posição do foco<br />

do laser, mas utilizando as mesmas expressões para as forças <strong>na</strong>s direções horizontal e<br />

vertical. Também aqui somamos vetorialmente a força <strong>na</strong> direção z. Vale a pe<strong>na</strong><br />

ressaltar que nossas medi<strong>da</strong>s são sensíveis às variações de posição <strong>da</strong> microesfera,<br />

independent<strong>em</strong>ente <strong>da</strong> direção desse movimento, de modo que n<strong>em</strong> a medi<strong>da</strong> n<strong>em</strong> o<br />

modelo estão diferenciando se o movimento é para cima ou para baixo, ou para fora do<br />

centro ou <strong>na</strong> direção do centro <strong>da</strong> partícula. Isso significa que oscilações que passariam<br />

de valores positivos para negativos aparecerão como lóbulos positivos ape<strong>na</strong>s. As<br />

Figura 81 a e b mostram os gráficos teóricos <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> força <strong>em</strong> função do<br />

deslocamento. Na Figura 81 a o deslocamento do foco é perpendicular à polarização e<br />

125


<strong>na</strong> Figura 81 b é paralelo à polarização. Comparando to<strong>da</strong>s as imagens, notamos que as<br />

medi<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s Figura 79 a, Figura 80 a estão de acordo a Figura 81 a e as <strong>da</strong>s Figura 79 b e<br />

Figura 80 b estão de acordo com a Figura 81 b.<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a.u.)<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a.u.)<br />

0 1 2 3 4 5 6<br />

deslocamento (µm)<br />

0 1 2 3 4 5 6<br />

deslocamento (µm)<br />

Figura 81. Dados teóricos a. movimento perpendicular a polarização<br />

b. movimento paralelo a polarização.<br />

Tanto os resultados experimentais quanto os teóricos nos levam à conclusão de<br />

que a força óptica t<strong>em</strong> uma anisotropia azimutal que depende <strong>da</strong> direção do<br />

movimento <strong>da</strong> partícula <strong>em</strong> relação à polarização do feixe. Essa assimetria se tor<strong>na</strong> mais<br />

pronuncia<strong>da</strong> quando o foco do laser se aproxima <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> microesfera, ou seja, <strong>em</strong><br />

situações de forças grandes e no limiar de escape <strong>da</strong> partícula. Na Figura 82, pod<strong>em</strong>os<br />

observar que a força óptica <strong>na</strong> partícula que se movimenta paralelamente à polarização<br />

do laser é consideravelmente maior do que a força <strong>da</strong> partícula que se movimenta <strong>na</strong><br />

direção perpendicular. Esse fato faz sentido considerando que a reflexão para a<br />

polarização s é s<strong>em</strong>pre maior do que a reflexão para a polarização p. Também notamos<br />

que o valor máximo <strong>da</strong> força ocorre <strong>em</strong> torno de r ~ 4 µm para uma partícula de raio R ~<br />

4.5 µm, ou seja, o pico <strong>da</strong> força não acontece exatamente <strong>na</strong> bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> partícula. Também<br />

faz sentido do ponto de vista intuitivo se consideramos que a largura do feixe era <strong>da</strong><br />

ord<strong>em</strong> de 0,5 µm. Isso significa que ao chegar à essa distância <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> parte do feixe<br />

incidirá fora <strong>da</strong> partícula, não sendo desvia<strong>da</strong>.<br />

126


Intensi<strong>da</strong>de (a.u.)<br />

perpendicular<br />

paralela<br />

4.5<br />

0 1 2 3 4 5 6<br />

deslocamento (µm)<br />

Figura 82. Dados teóricos, preto: movimento perpendicular a polarização, vermelho:<br />

movimento paralelo a polarização.<br />

Simulamos esses resultados também com o modelo de óptica geométrica descrito<br />

no capítulo 5 , conforme pod<strong>em</strong>os ver <strong>na</strong> Figura 83. Nesse caso não foi possível calcular<br />

a força para distâncias do foco maiores do que o raio <strong>da</strong> partícula, como obtidos<br />

experimentalmente e simulados nos cálculos eletromagnéticos. Uma forma usual de<br />

medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> força <strong>da</strong> pinça óptica é a medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> força de escape <strong>da</strong> armadilha óptica.<br />

Nossos resultados indicam que esses são exatamente os casos mais perigosos do ponto<br />

de vista dos modelos. Primeiro porque é exatamente para deslocamentos próximo <strong>da</strong><br />

bor<strong>da</strong> onde ocorr<strong>em</strong> as maiores divergências entre os modelos de óptica geométrica e o<br />

cálculo eletrodinâmico completo. Segundo porque as anisotropias são maiores também<br />

nessa situação. No caso do movimento de um microorganismo modelado como uma<br />

esfera seria necessário observar se o escape se deu <strong>na</strong> direção paralela ou perpendicular<br />

à polarização do laser, s<strong>em</strong> falar <strong>da</strong> direção vertical. Terceiro porque essas medi<strong>da</strong>s<br />

assum<strong>em</strong> que a posição do foco no escape é igual ao raio <strong>da</strong> partícula, o que não é<br />

ver<strong>da</strong>de e pode representar um erro de mais de 10%. Em último porque é exatamente<br />

para o feixe focalizado <strong>na</strong>s bor<strong>da</strong>s que se excitam as ressonâncias de Mie, de forma<br />

anisotrópica, caso o comprimento de on<strong>da</strong> do laser coinci<strong>da</strong> com uma delas. Conforme<br />

pod<strong>em</strong>os ver através <strong>da</strong> Figura 72 isto pode levar a um aumento <strong>da</strong> força de até 50%.<br />

127


Entretanto, o acoplamento <strong>na</strong> ressonância pode ser facilmente destruído pois é bastante<br />

sensível à posição e às oscilações <strong>da</strong> partícula.<br />

0.35<br />

0.3<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a. u.)<br />

0.25<br />

0.2<br />

0.15<br />

0.1<br />

0.05<br />

polarização paralela<br />

polarização perpendicular<br />

1 2 3 4 5<br />

posição (µm)<br />

Figura 83. Dados teóricos obtidos através <strong>da</strong> óptica geométrica.<br />

Um aspecto que nos pareceu muito interessante, e para o qual devotamos grande<br />

esforço nos assegurando que não se tratava de qualquer artefato <strong>na</strong>s medi<strong>da</strong>s<br />

experimentais, foram as várias oscilações que aparec<strong>em</strong> quando o foco se aproxima e<br />

ultrapassa a bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> partícula. São b<strong>em</strong> mais intensas para a polarização<br />

perpendicular ao movimento e a Figura 80 (experimental) exibe pelo menos três dessas<br />

oscilações b<strong>em</strong> distintas após o foco do laser ultrapassar a bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> partícula. Além<br />

disso percebe‐se que essas oscilações se iniciam antes de atingir a bor<strong>da</strong>. A princípio<br />

acreditávamos que as simulações com feixe puramente gaussiano não seriam capazes<br />

de mostrar essas oscilações, mas os resultados <strong>da</strong> Figura 81 comprovam que isso não é<br />

ver<strong>da</strong>de. Entretanto, essas oscilações n<strong>em</strong> são tão pronuncia<strong>da</strong>s e n<strong>em</strong> tantas quanto as<br />

<strong>da</strong> curva experimental. Nesse ponto acreditamos que é necessário considerar os efeitos<br />

<strong>da</strong> abertura <strong>da</strong> objetiva <strong>na</strong> difração do feixe incidente. Dois casos limites nos chamam a<br />

atenção: (1) o feixe gaussiano do laser não preenche <strong>completa</strong>mente a abertura <strong>da</strong><br />

entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> objetiva e será um feixe gaussiano puro <strong>na</strong> região <strong>da</strong> imag<strong>em</strong>; (2) o feixe<br />

gaussiano preenche <strong>completa</strong>mente essa abertura com intensi<strong>da</strong>de constante <strong>em</strong> to<strong>da</strong><br />

sua área. Nesse caso forma‐se o padrão típico de difração de Airy no foco do laser,<br />

128


J1(kr)/kr, com um máximo central seguido dos anéis à sua volta. Nesse caso<br />

observaríamos uma oscilação ca<strong>da</strong> vez que um dos anéis extrapolasse a bor<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

partícula. Experimentalmente sab<strong>em</strong>os que estamos entre esses dois casos, pois toma‐se<br />

o cui<strong>da</strong>do de preencher <strong>completa</strong>mente a objetiva para garantir sua alta abertura<br />

numérica, com a contraparti<strong>da</strong> de uma per<strong>da</strong> parcial de potência. Entretanto, evitamos<br />

o limite <strong>em</strong> que o feixe do laser t<strong>em</strong> uma área muito maior do que a abertura para não<br />

perder tanta potência. Isso significa que haverá efeitos <strong>da</strong> difração mas a potência do<br />

laser incidente não é uniforme <strong>em</strong> to<strong>da</strong> a abertura de entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> objetiva. Essa situação<br />

só pode ser simula<strong>da</strong> adotando a representação de Richards & Wolf [42] e resolvendo<br />

diretamente as integrais que ela contém.<br />

Uma <strong>da</strong>s últimas correções que poderiam ser introduzi<strong>da</strong>s no modelo seria a <strong>da</strong>s<br />

aberrações. Entretanto, não acreditamos que a estratégia de utilizar o modelo mais<br />

simples capaz de explicar nossos resultados experimentais tenha atingido esse limite.<br />

Sab<strong>em</strong>os que as correções <strong>da</strong>s aberrações esféricas <strong>da</strong>s objetivas dos microscópios são<br />

necessariamente muito boas para garantir uma boa imag<strong>em</strong>. Entretanto, essas correções<br />

são feitas para a região do visível e não do infravermelho. Portanto, não seria<br />

surpreendente se essas correções foss<strong>em</strong> necessárias.<br />

129


130


Capítulo 4<br />

Aplicações de Pinça Óptica com Espectroscopias<br />

Confocais<br />

4.1 Motivação<br />

Desde 1999 perceb<strong>em</strong>os quanto valor poderia ser agregado ao nosso sist<strong>em</strong>a de<br />

pinça óptica com a incorporação de técnicas espectroscópicas ou de microanálise. A<br />

idéia s<strong>em</strong>pre foi a de construir um sist<strong>em</strong>a integrando a habili<strong>da</strong>de de manipulação <strong>da</strong><br />

pinça óptica com a de caracterização <strong>da</strong>s diferentes técnicas espectroscópicas. O objetivo<br />

fi<strong>na</strong>l foi o de adquirir a possibili<strong>da</strong>de de acompanhar <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po real, processos físicoquímicos<br />

mantendo a capaci<strong>da</strong>de de manipulá‐los. Agregando microanálise à pinça<br />

poderíamos a<strong>na</strong>lisar a composição e metabolismo de uma única célula, inclusive de<br />

células vivas <strong>em</strong> movimento. Poderíamos aproximar e afastar partículas umas <strong>da</strong>s<br />

outras, exercer tensões e forças sobre as mesmas e a<strong>na</strong>lisar as conseqüências e causas<br />

dessas manipulações.<br />

131


Um ex<strong>em</strong>plo de investigação que muito se beneficiará <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de<br />

microanálise que instalamos é o estudo de quimiotaxia de microorganismos. Esse<br />

projeto, objetivo <strong>da</strong> Tese de Mestrado de uma estu<strong>da</strong>nte do nosso grupo, vai <strong>da</strong>r<br />

continui<strong>da</strong>de aos estudos sobre o protozoário Leishmania amazonensis descrito no<br />

capítulo 5. A quimiotaxia é a resposta de organismos unicelulares frente a gradientes de<br />

concentração de substâncias atratoras ou repulsoras. Ela t<strong>em</strong> sido extensivamente<br />

estu<strong>da</strong><strong>da</strong> de dois pontos de vista: 1. como uma caixa preta <strong>na</strong> qual se observa uma<br />

resposta a um estímulo, (determi<strong>na</strong>ndo a função resposta) e 2. com modelos de<br />

funcio<strong>na</strong>mento interno <strong>da</strong> caixa preta. Nesses estudos os estímulos são a presença de<br />

gradientes de concentração <strong>da</strong>s substâncias e a resposta é a direcio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de no t<strong>em</strong>po<br />

dos microorganismos. Para estudos do ponto de vista <strong>da</strong> caixa preta a simples<br />

manipulação com a pinça óptica é suficiente, pois pod<strong>em</strong>os movimentar o parasita ao<br />

longo do gradiente de concentração ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que medimos a sua resposta,<br />

basicamente a intensi<strong>da</strong>de e direção <strong>da</strong>s forças com que ele responde aos estímulos<br />

externos. Exist<strong>em</strong> modelos e controvérsias sobre como todo esse processo acontece<br />

bioquimicamente [47]. O modelo padrão afirma que quando um atrator se liga ao seu<br />

receptor induz a ligação de uma proteí<strong>na</strong> a<strong>da</strong>ptadora CheW, a qual controla a ativi<strong>da</strong>de<br />

de outra proteí<strong>na</strong> CheA. Essa proteí<strong>na</strong>, por sua vez, abastece as proteí<strong>na</strong>s CheY com<br />

radicais fosfatos que se ligam ao motor flagelar induzindo uma rotação anti‐horária. O<br />

processo termi<strong>na</strong> com a desfosforilação do CheY para CheZ. A metilação <strong>da</strong>s proteí<strong>na</strong>s<br />

intracelulares é o mecanismo inibidor. Para ter acesso a informações dentro <strong>da</strong> caixa<br />

preta in vivo seria necessário acompanhar a formação dos grupos protéicos por alguma<br />

técnica de microanálise.<br />

Desejamos, portanto, incorporar à pinça óptica, técnicas de espectroscopia com<br />

resolução micrométrica para individualizar o objeto de estudo e resolução espectral<br />

para diferenciar compostos químicos diferentes. Vale a pe<strong>na</strong> notar que <strong>em</strong> uma reação<br />

química as moléculas se modificam, mas os átomos são os mesmos. Isso significa que<br />

132


espectroscopias que detectam os níveis atômicos mais internos, como fluorescência de<br />

raios‐X, não forneceriam a informação relevante para o nosso probl<strong>em</strong>a.<br />

A absorção no infravermelho t<strong>em</strong> a alta especifici<strong>da</strong>de molecular deseja<strong>da</strong>, pois é<br />

sensível aos modos vibracio<strong>na</strong>is e constantes de forças entre átomos. Entretanto, como<br />

as energias vibracio<strong>na</strong>is estão <strong>em</strong> regiões de comprimento de on<strong>da</strong> muito longo, sua<br />

resolução espacial é pobre. S<strong>em</strong> mencio<strong>na</strong>r as dificul<strong>da</strong>des com janelas, lentes, fontes de<br />

luz intensas e detectores para região acima de 3 µm. A espectroscopia Raman, no<br />

entanto, é capaz de trazer a informação dos modos vibracio<strong>na</strong>is do infravermelho para<br />

a região do visível, com resolução espacial de até 200 nm e para a qual exist<strong>em</strong><br />

fotomultiplicadoras, CCDs e fotodiodos de avalanche (APDs) supersensíveis. Outra<br />

possibili<strong>da</strong>de de extrair informações com especifici<strong>da</strong>de química é através <strong>da</strong><br />

luminescência, tanto endóge<strong>na</strong>, dos próprios componentes químicos presentes no<br />

microorganismo, quanto exóge<strong>na</strong>, através de marcadores fluorescentes que se ligam a<br />

proteí<strong>na</strong>s ou moléculas específicas.<br />

Além <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de acompanhar a bioquímica no nível microscópico também<br />

desejamos ter a capaci<strong>da</strong>de de microscopia com seletivi<strong>da</strong>de química, isto é, obter uma<br />

imag<strong>em</strong> <strong>em</strong> 2 e/ou 3 dimensões <strong>da</strong>s regiões <strong>em</strong> que determi<strong>na</strong><strong>da</strong> substância está<br />

presente. Também desejaríamos obter essas imagens <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po real, ou seja, ser capazes<br />

de acompanhar processos bioquímicos no t<strong>em</strong>po e no espaço.<br />

Nesse aspecto houve uma grande avanço <strong>na</strong>s duas últimas déca<strong>da</strong>s com o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong>s microscopias confocais de varredura a laser, <strong>na</strong>s quais se<br />

reconstrói uma imag<strong>em</strong> através <strong>da</strong> fluorescência de um fluoróforo <strong>em</strong> função <strong>da</strong><br />

posição do foco do laser. O advento de lasers de pulsos ultracurtos comerciais de fácil<br />

manuseio <strong>na</strong> déca<strong>da</strong> de 90, principalmente Ti:Safira, abriu a oportuni<strong>da</strong>de para técnicas<br />

de óptica não linear, ou processos de mais de um fóton, como a microscopia multifóton<br />

133


e microscopia SHG (“Second Harmonic Generation”) 4 . Perceb<strong>em</strong>os, portanto, uma<br />

dupla utili<strong>da</strong>de <strong>na</strong> incorporação de espectroscopias a pinça óptica: 1. a capaci<strong>da</strong>de de<br />

acompanhar no t<strong>em</strong>po uma informação espectroscópica <strong>em</strong> uma posição fixa no espaço;<br />

2. a capaci<strong>da</strong>de de extrair imagens com alguma seletivi<strong>da</strong>de química.<br />

4.1.1 Oportuni<strong>da</strong>de de Incorporação de Técnicas de Microanálise à Pinça Óptica<br />

Nosso grupo trabalhava <strong>em</strong> duas áreas de pesquisas com objetivos e infraestruturas<br />

experimentais com pouca superposição além do envolvimento <strong>da</strong>s mesmas<br />

pessoas. Para as pesquisas de novos materiais fotônicos de resposta ultra‐rápi<strong>da</strong><br />

tínhamos um sist<strong>em</strong>a de lasers de pulsos ultracurtos sintonizável de 750 nm até quase<br />

3000 nm, enquanto a infra‐estrutura do laboratório de pinças ópticas incluía o laser de<br />

Nd:YAG e a microscopia, <strong>em</strong> espaços físicos distintos. Entretanto, os lasers pulsados e<br />

cw são as ferramentas básicas que permit<strong>em</strong> a incorporação <strong>da</strong>s técnicas<br />

espectroscópicas lineares e não lineares à pinça óptica. Dessa forma ficou claro que um<br />

investimento ordens de grandeza abaixo do necessário para a aquisição do sist<strong>em</strong>a de<br />

lasers de pulsos ultracurtos 5 era suficiente para a incorporação <strong>da</strong> microanálise à pinça<br />

óptica. Para tanto foi necessário fundir os dois espaços físicos <strong>em</strong> um só e 4 mesas<br />

ópticas <strong>em</strong> um conjunto único para evitar desalinhamento de lasers causado pelo<br />

movimento de qualquer umas <strong>da</strong>s mesmas.<br />

4<br />

Essa microscopia é denomi<strong>na</strong><strong>da</strong> hoje por microscopia SHG porque veio <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de de óptica não linear.<br />

Entretanto, o processo SHG é específico para feixes de laser e seu segundo harmônico se propagando <strong>em</strong> direções b<strong>em</strong><br />

defini<strong>da</strong>s com regras de seleção restritas. Na microscopia SHG detecta‐se, <strong>na</strong> reali<strong>da</strong>de, o espalhamento no segundo<br />

harmônico, processo conhecido como espalhamento Hiper Rayleigh. Nesse caso a denomi<strong>na</strong>ção mais adequa<strong>da</strong> seria<br />

microscopia Hiper Rayleigh.<br />

5<br />

Trata‐se de 3 lasers com preços <strong>em</strong> torno de US$ 100.000: 1 Laser de Argônio + 1 laser de Ti:Safira pulsado + 1<br />

oscilador paramétrico. Adicio<strong>na</strong>ndo US$ 40.000 para o laser de Ti:safira cw chega‐se ao custo total de US$ 340.000.<br />

134


4.1.2 Objetivos e Desafios do Trabalho Descrito nesse Capítulo<br />

Em vista do exposto, percebe‐se que nosso objetivo ao desenvolver o trabalho<br />

descrito nesse capítulo não foi o de estu<strong>da</strong>r com profundi<strong>da</strong>de as proprie<strong>da</strong>des<br />

espectroscópicas, como Raman, ou de óptica não linear, como Hiper Rayleigh ou Hiper<br />

Raman, de qualquer <strong>da</strong>s amostras com as quais obtiv<strong>em</strong>os os resultados apresentados,<br />

mas o de incorporar à pinça óptica o máximo <strong>da</strong>s técnicas de microanálise possível para<br />

d<strong>em</strong>onstrar sua viabili<strong>da</strong>de e caracterizar as performances obti<strong>da</strong>s. Os materiais foram<br />

escolhidos para caracterizar nossa instrumentação e não o inverso. Obviamente que os<br />

trabalhos futuros só farão sentido no caso inverso, usar a instrumentação para<br />

caracterizar os materiais. Portanto, no nosso caso, o desafio foi a impl<strong>em</strong>entação do<br />

sist<strong>em</strong>a experimental.<br />

Mesmo que desejáss<strong>em</strong>os e obtivéss<strong>em</strong>os todo o fi<strong>na</strong>nciamento necessário, não<br />

seria possível adquirir no mercado equipamentos comerciais com as especificações do<br />

nosso sist<strong>em</strong>a, simplesmente porque eles ain<strong>da</strong> não exist<strong>em</strong>. Exist<strong>em</strong> microscópios<br />

multifóton isolados e equipamentos de micro‐Raman isolados, mas não existe um<br />

equipamento que integre to<strong>da</strong>s essas técnicas junto com a pinça óptica <strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a<br />

único. Isso significa que foi necessário desenvolver do início, partindo de blocos<br />

preexistentes, um sist<strong>em</strong>a “hom<strong>em</strong>ade”. O enorme trabalho para a montag<strong>em</strong> dessa<br />

instrumentação, entretanto, foi compensado pelo fato de que estaríamos mais<br />

capacitados para a realização de medi<strong>da</strong>s diversifica<strong>da</strong>s do que os próprios especialistas<br />

<strong>em</strong> ca<strong>da</strong> área de espectroscopia no Brasil hoje.<br />

Gostaria de chamar a atenção para o fato de que para desenvolver uma<br />

instrumentação de sist<strong>em</strong>as de espectroscopia é necessário diagnosticar e encontrar<br />

uma solução para ca<strong>da</strong> artefato que surge, e não são poucos, principalmente quando<br />

adicio<strong>na</strong>dos aos artefatos <strong>da</strong> microscopia. É fácil perder a noção de quantas pessoas e<br />

horas de trabalho especializado foram necessários para sa<strong>na</strong>r ca<strong>da</strong> um dos probl<strong>em</strong>as<br />

de instrumentação quando simplesmente adquirimos um equipamento comercial.<br />

135


4.1.3 Estrutura do Capítulo<br />

Dentro do cenário exposto acima estruturamos esse capítulo através do seguinte<br />

critério: primeiro descrev<strong>em</strong>os o nosso trabalho com espectroscopias envolvendo 1<br />

fóton de excitação, no nosso caso, basicamente Raman; e <strong>em</strong> segundo tratamos <strong>da</strong>s<br />

espectroscopias que envolveram excitação por dois fótons, ou seja, luminescência<br />

excita<strong>da</strong> por absorção de dois fótons, espalhamentos Hiper Rayleigh e Hiper Raman. A<br />

descrição de ca<strong>da</strong> uma dessas espectroscopias foi a mais simples, isto é, utilizamos a<br />

representação mais intuitiva, seja ela clássica ou quântica, direcio<strong>na</strong><strong>da</strong> para os nossos<br />

objetivos que são as proprie<strong>da</strong>des deseja<strong>da</strong>s forneci<strong>da</strong>s pela técnica.<br />

4.2 Espectroscopia Raman<br />

Chandrasekhara Venkata Raman descobridor do efeito Raman <strong>na</strong>sceu <strong>na</strong> Índia<br />

<strong>em</strong> 1888 e morreu <strong>em</strong> 1970. Um dos seus mais importantes trabalhos foi sobre as cores<br />

dos oceanos, quando começou a estu<strong>da</strong>r o espalhamento <strong>da</strong> luz que resultou <strong>na</strong><br />

descoberta do efeito Raman <strong>em</strong> 1928, pelo qual recebeu o prêmio Nobel.<br />

Quando a luz incide sobre um material, ela pode ser absorvi<strong>da</strong> ou espalha<strong>da</strong>. A<br />

maior parte <strong>da</strong> luz espalha<strong>da</strong> t<strong>em</strong> a mesma freqüência <strong>da</strong> luz incidente, nesse caso<br />

t<strong>em</strong>os os chamados espalhamentos elásticos, tais como o espalhamento Rayleigh, que<br />

ocorre quando a luz é espalha<strong>da</strong> por partículas menores do que o comprimento de<br />

on<strong>da</strong>, e o espalhamento Mie, que ocorre quando a luz é difundi<strong>da</strong> por partículas iguais<br />

ou maiores que o comprimento de on<strong>da</strong>, conforme estu<strong>da</strong>mos exaustivamente no<br />

capítulo 3. To<strong>da</strong>via uma peque<strong>na</strong> fração <strong>da</strong> luz espalha<strong>da</strong> ‐ 1 entre 10 7 fótons, sofre<br />

troca de freqüência e, nesse caso, t<strong>em</strong>os a ocorrência do espalhamento inelástico. Como<br />

a energia <strong>da</strong> luz é proporcio<strong>na</strong>l à sua freqüência, a variação de freqüência <strong>da</strong> luz<br />

espalha<strong>da</strong> deve ser igual às diferenças de freqüências vibracio<strong>na</strong>is ou rotacio<strong>na</strong>is <strong>da</strong>s<br />

moléculas do material. Quando esse processo de troca de energia entre o material e a<br />

luz incidente envolve fônons ópticos, o efeito é chamado de Raman; e quando envolv<strong>em</strong><br />

fônons acústicos, de Brillouin. De um ponto de vista quântico esses efeitos pod<strong>em</strong> ser<br />

136


vistos como transições entre níveis de energia vibracio<strong>na</strong>is do estado eletrônico<br />

fun<strong>da</strong>mental de uma molécula por um processo envolvendo um fóton e um fônon,<br />

conforme representado <strong>na</strong> Figura 84. No espalhamento Stokes um fóton de energia mais<br />

alta é absorvido com a simultânea <strong>em</strong>issão de um fóton de energia mais baixa e um<br />

fônon. Já no anti‐Stokes ocorre à absorção de um fóton de energia mais baixa e de um<br />

fônon com a <strong>em</strong>issão simultânea de um fóton de energia mais alta. No efeito Raman não<br />

estimulado só são absorvidos fônons térmicos pré‐existentes, cuja população varia com<br />

a t<strong>em</strong>peratura, de modo que a intensi<strong>da</strong>de do pico Stokes é s<strong>em</strong>pre mais alta do que a<br />

do anti‐Stokes. No caso do espalhamento Stokes e anti‐Stokes, as diferenças de n o de<br />

on<strong>da</strong> entre os níveis vibracio<strong>na</strong>is, também chama<strong>da</strong> Raman Shift, são <strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

respectivamente por ν 1 1<br />

s =<br />

λ<br />

−<br />

λ e ν 1 1<br />

as =<br />

λ<br />

+<br />

λ , onde λ i e λ e são os comprimentos<br />

i<br />

e<br />

de on<strong>da</strong> do fóton incidente e do fóton espalhado. A intensi<strong>da</strong>de do Raman anti‐Stokes<br />

decresce exponencialmente com o aumento do Raman Shift.<br />

i<br />

estados virtuais<br />

e<br />

ω fônon<br />

níveis vibracio<strong>na</strong>is<br />

Stokes<br />

Anti Stokes<br />

Figura 84. Raman Stokes e anti‐Stokes.<br />

Já <strong>em</strong> um quadro clássico pod<strong>em</strong>os pensar o efeito Raman como a modulação de<br />

um dipolo. Para tanto consideramos uma molécula <strong>em</strong> que os núcleos estão presos <strong>em</strong><br />

uma determi<strong>na</strong><strong>da</strong> posição de equilíbrio <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> qual vibram com freqüências<br />

baixas devido as suas grandes massas, enquanto os elétrons vibram com freqüências<br />

muito mais altas por causa <strong>da</strong>s massas 1000 vezes menor. Na situação típica de<br />

espectroscopia Raman de materiais transparentes, a freqüência <strong>da</strong> luz incidente é muito<br />

menor do que a <strong>da</strong>s ressonâncias dos elétrons e muito superior a <strong>da</strong>s vibrações dos<br />

núcleos. A resposta de um oscilador harmônico amortecido forçado com freqüências<br />

muito superiores às freqüências de ressonância cai com 1/ω 2 , mas para freqüências<br />

137


inferiores às <strong>da</strong> ressonância ele responde como se fosse o caso estático,<br />

F = K x , <strong>na</strong><br />

mesma freqüência <strong>da</strong> luz incidente. Isso significa que a freqüência <strong>da</strong> luz incidente é<br />

alta d<strong>em</strong>ais para forçar as vibrações dos núcleos mas é capaz de colocar os elétrons <strong>em</strong><br />

oscilação, conforme representado <strong>na</strong> Figura 85. Entretanto é a oscilação do dipolo<br />

núcleo + elétron que irradia on<strong>da</strong>s eletromagnéticas e a vibração <strong>na</strong>tural do núcleo<br />

modula a um dipolo que, com o núcleo parado, vibraria <strong>na</strong> freqüência do elétron, igual<br />

à do fóton incidente.<br />

Amplitude de oscilação<br />

ω núcleo<br />

ω laser<br />

ω elétron<br />

Freqüência<br />

Figura 85. Freqüências de ressonância do núcleo e elétron relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> à freqüência de <strong>em</strong>issão<br />

do laser.<br />

A polarização do dipolo é função <strong>da</strong>s coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s nucleares, que não<br />

respond<strong>em</strong> ao campo elétrico incidente, mas vibram <strong>na</strong>turalmente com a freqüência do<br />

fônon, x = x + δ x cos( ω t)<br />

, e <strong>da</strong> eletrônica, que acompanha o campo incidente,<br />

n<br />

no<br />

n<br />

fônon<br />

x<br />

e<br />

= x + δx<br />

( E)<br />

cos( ωt)<br />

. Expandindo a polarização <strong>em</strong> série de Taylor até termos<br />

eo<br />

e<br />

cruzados de segun<strong>da</strong> ord<strong>em</strong> <strong>em</strong> x<br />

n<br />

e x<br />

e<br />

, obt<strong>em</strong>os:<br />

∂P<br />

∂P<br />

Px ( e , xn) = Px ( eo , xno) + δxe( E)cos( ω t) + δxn cos( ω fônon t)<br />

+<br />

∂xe<br />

∂xn<br />

2<br />

(4. 1)<br />

∂ P<br />

δxe( E) δxncos( ωfônont)cos( ωt)<br />

∂x<br />

∂x<br />

e<br />

n<br />

Se o material não é ferroelétrico, o primeiro termo, uma polarização<br />

permanente, é nulo. O segundo termo, que irradia <strong>na</strong> mesma freqüência do fóton<br />

incidente, é o espalhamento elástico de Rayleigh. O terceiro, <strong>da</strong> vibração do núcleo,<br />

138


<strong>em</strong>ite fótons no infravermelho. O quarto termo, fi<strong>na</strong>lmente, vai <strong>da</strong>r orig<strong>em</strong> ao Raman,<br />

= 1 2<br />

t<strong>em</strong>os:<br />

pois como cos A cos B { cos( A + B)<br />

+ cos( A − B)<br />

}<br />

cos( ω<br />

fônon<br />

t)cos(<br />

ω t)<br />

=<br />

1<br />

2<br />

cos[( ω − ω<br />

fônon<br />

) t]<br />

−<br />

1<br />

2<br />

cos[( ω + ω<br />

fônon<br />

) t]<br />

(4. 2)<br />

e então haverá fótons <strong>em</strong>itidos com<br />

ω − ω<br />

fônon<br />

, Stokes, e ω + ω<br />

fônon<br />

, anti‐Stokes. Neste<br />

quadro é fácil perceber a possibili<strong>da</strong>de de “overtones” e combi<strong>na</strong>ções de fônons<br />

considerando termos de ord<strong>em</strong> mais alta envolvendo ape<strong>na</strong>s uma deriva<strong>da</strong> <strong>em</strong> relação<br />

à<br />

x<br />

e<br />

. Por ex<strong>em</strong>plo, o termo com<br />

3<br />

∂ P<br />

∂x ∂x ∂x<br />

e n1 n2<br />

δ x ( E) δx δx cos( ω t)cos( ω t)cos( ωt)<br />

,<br />

e n1 n2 f1 f2<br />

que vai <strong>em</strong>itir fótons com as freqüências ω − ω1 − ω2<br />

, ω − ω1 + ω2<br />

, ω + ω1 − ω2<br />

e<br />

ω + ω1 + ω 2<br />

. Se<br />

1<br />

= ω2<br />

ω pod<strong>em</strong>os observar os vários harmônicos de um fônon.<br />

Normalmente a eficiência <strong>da</strong>s combi<strong>na</strong>ções de modos e “overtones” cai muito<br />

rapi<strong>da</strong>mente com as linhas mais intensas correspondendo a um fônon de ca<strong>da</strong> modo<br />

normal de vibração <strong>da</strong> molécula permitido pelas regras de seleção. Fabricantes de<br />

micro‐Raman têm d<strong>em</strong>onstrado a quali<strong>da</strong>de e sensibili<strong>da</strong>de de seus equipamentos com<br />

espectros que mostram até a quarta harmônica do fônon LO <strong>em</strong> torno de 500 cm ‐1 do<br />

silício.<br />

O Raman resso<strong>na</strong>nte, com uma eficiência maior que o Raman convencio<strong>na</strong>l,<br />

acontece quando a luz incidente t<strong>em</strong> energia idêntica à de uma transição eletrônica real.<br />

Usando lasers no visível ou infravermelho próximo, ape<strong>na</strong>s materiais coloridos<br />

apresentam Raman resso<strong>na</strong>nte. Por outro lado, praticamente todos os materiais<br />

possu<strong>em</strong> algum nível eletrônico <strong>na</strong> região do ultravioleta, exceto materiais especiais<br />

normalmente usados <strong>em</strong> janelas e objetivas, mas que são geralmente raros e caros.<br />

O efeito Raman, <strong>na</strong> linguag<strong>em</strong> de um engenheiro de comunicações, ocorre<br />

quando as vibrações dos núcleos dos átomos modulam diretamente a polarização<br />

núcleo‐elétrons, r<strong>em</strong>itindo, como se fosse uma ante<strong>na</strong>, um si<strong>na</strong>l modulado <strong>na</strong>s<br />

freqüências<br />

ω<br />

luz<br />

± ω<br />

núcleo<br />

. Dessa forma, o Raman traz a informação sobre as vibrações dos<br />

núcleos do infravermelho para o visível ou infravermelho próximo, de forma análoga a<br />

139


uma rádio FM que transporta a informação de voz <strong>na</strong> faixa de 20 Hz – 10 kHz por uma<br />

portadora <strong>na</strong> faixa de 100 MHz.<br />

Conforme discutido no capítulo 2, o grande probl<strong>em</strong>a do Raman é sua baixa<br />

intensi<strong>da</strong>de, que pode chegar a 10 ‐10 dos fótons incidentes, várias ordens de grandeza<br />

inferior ao espalhamento Rayleigh. Por isso a necessi<strong>da</strong>de de uso monocromadores<br />

duplos de 1 m ou de mais de um filtro NOTCH com taxas de rejeição <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 10 6 .<br />

A desvantag<strong>em</strong> do uso dos filtros NOTCH é que não são sintonizáveis. Com isso<br />

perd<strong>em</strong>os a capaci<strong>da</strong>de de sintonia do laser, obrigando‐nos a operar <strong>na</strong> região defini<strong>da</strong><br />

pelo filtro. Outra desvantag<strong>em</strong> é o fato de que os melhores desses filtros têm largura de<br />

350 cm ‐1 não permitindo observar linhas abaixo de 100 cm ‐1 . Novos sist<strong>em</strong>as Raman<br />

praticamente consist<strong>em</strong> de uma primeira passag<strong>em</strong> por um filtro NOTCH sintonizável<br />

segui<strong>da</strong> pela passag<strong>em</strong> por um monocromador ape<strong>na</strong>s. Nesse caso seria possível<br />

utilizar o laser de bombeio <strong>em</strong> todo seu intervalo de sintonia e ain<strong>da</strong> chegar tão<br />

próximo <strong>da</strong> linha do laser quanto 10 cm ‐1 <strong>na</strong> configuração normal e mesmo até 1 a 3 cm ‐1<br />

<strong>em</strong> configurações especiais. Trata‐se, no entanto, de equipamentos caros, grandes, n<strong>em</strong><br />

um pouco amigáveis para qu<strong>em</strong> deseja modificar sua configuração para incluir seu<br />

próprio microscópio, pinça óptica e software de controle.<br />

Quando decidimos incorporar espectroscopia à pinça óptica procuramos <strong>na</strong><br />

literatura qu<strong>em</strong> já havia utilizado as duas técnicas conjuntamente. O trabalho que nos<br />

pareceu mais interessante foi do Dr. Katsuhiro Ajito do NT&T Basic Science Laboratory<br />

do Japão. Entramos <strong>em</strong> contato com ele por e‐mail e acabamos convi<strong>da</strong>ndo‐o para uma<br />

visita de um mês ao Brasil. Interessante foi o fato de que nossas culturas e trajetórias<br />

estavam inverti<strong>da</strong>s. O Dr. Katsuhiro era Engenheiro Químico com doutorado <strong>em</strong><br />

Raman que evoluiu <strong>da</strong> espectroscopia para a pinça óptica. Ele adquiriu um sist<strong>em</strong>a<br />

compacto <strong>da</strong> Renishaw fabricado sob encomen<strong>da</strong> para operar <strong>na</strong> região do Ti:Safira cuja<br />

montag<strong>em</strong> confocal praticamente garantia as condições de operação <strong>da</strong> pinça óptica.<br />

Nós, por outro lado, evoluímos <strong>da</strong> pinça óptica para a espectroscopia e tiv<strong>em</strong>os que<br />

a<strong>da</strong>ptar o sist<strong>em</strong>a existente para medi<strong>da</strong> de Raman, usando ape<strong>na</strong>s componentes<br />

140


ásicos de óptica, monocromador e CCD. Por isso a colaboração com o Dr. Ajito não nos<br />

livrou do sofrimento de montar nosso instrumento quase do zero. Entretanto, jamais<br />

teríamos tido sucesso s<strong>em</strong> os filtros NOTCH, objetivas especiais e materiais que ele<br />

trouxe consigo, s<strong>em</strong> falar do compromisso de obter um espectro Raman no período de 3<br />

s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>s <strong>em</strong> que nos visitou. Por outro lado, nossa comparação de performance<br />

automática foi com o sist<strong>em</strong>a do Dr. Ajito. Uma vantag<strong>em</strong> inicial de nosso sist<strong>em</strong>a<br />

comparado ao dele foi o fato de que usamos o Ti:Safira cw ape<strong>na</strong>s para excitação do<br />

Raman deixando o Nd:YAG com o papel de pinça óptica. Com isso pod<strong>em</strong>os usar um<br />

sist<strong>em</strong>a de varredura do Ti:Safira para obtenção de imagens. Outra vantag<strong>em</strong> foi a<br />

possibili<strong>da</strong>de de uso do laser de Ti:Safira pulsado, que abre perspectivas para processos<br />

não lineares. Uma vez resolvidos os maiores detalhes experimentais passamos a obter<br />

espectros com os mesmos materiais que o Dr. Ajito havia caracterizado. Dessa forma<br />

sabíamos que ain<strong>da</strong> poderíamos melhorar o des<strong>em</strong>penho do nosso sist<strong>em</strong>a. Paramos<br />

essa otimização quando obtiv<strong>em</strong>os os mesmos espectros obtidos por ele com menores<br />

ou iguais t<strong>em</strong>pos de aquisição.<br />

4.3 Resultados de Raman com Pinça Óptica<br />

A Figura 86 ilustra como a imag<strong>em</strong> do Raman do silício aparece <strong>na</strong> CCD. Nossa<br />

CCD t<strong>em</strong> 1200 pixels <strong>na</strong> horizontal e 100 pixels <strong>na</strong> vertical. O si<strong>na</strong>l extraído do software<br />

corresponde à soma <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de dos pixels verticais para sua respectiva posição<br />

horizontal. Entretanto, para melhorar a relação si<strong>na</strong>l/ruído delimitamos a janela vertical<br />

somando ape<strong>na</strong>s as intensi<strong>da</strong>des dos pixels <strong>da</strong> região ilumi<strong>na</strong><strong>da</strong>, evitando adicio<strong>na</strong>r<br />

ape<strong>na</strong>s o ruído <strong>da</strong>s regiões escuras.<br />

400 600<br />

Raman shift (cm –1 )<br />

Figura 86. Imag<strong>em</strong> do Raman Stokes do Silício <strong>na</strong> CCD.<br />

141


Na Figura 87 mostramos espectros de Raman Stokes e anti‐Stokes do silício,<br />

partículas de a<strong>na</strong>tase <strong>na</strong> forma de pó sobre uma lâmi<strong>na</strong> e TiO2. A quali<strong>da</strong>de do sist<strong>em</strong>a<br />

foi avalia<strong>da</strong> comparando os nossos espectros com os obtidos pelo micro‐Raman do Dr.<br />

Ajito e por outros artigos [13, 48], tomando como base a relação si<strong>na</strong>l/ruído e o t<strong>em</strong>po<br />

de aquisição dos <strong>da</strong>dos. As informações sobre potência e t<strong>em</strong>po de exposição são<br />

apresenta<strong>da</strong>s <strong>na</strong>s legen<strong>da</strong>s.<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a. u.)<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a. u.)<br />

480 510 540 570<br />

raman shift (cm -1 )<br />

-800 -400 0 400 800<br />

raman shift (cm -1 )<br />

a. b.<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a.u.)<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a.u.)<br />

250 450 650<br />

raman shift (cm -1 )<br />

250 450 650<br />

raman shift (cm -1 )<br />

c. d.<br />

Figura 87. Espectros de Raman. a. Silício Stokes, 20 mW‐1 s. b. Silício Stokes/anti‐Stokes, 20<br />

mW‐1 s. c. A<strong>na</strong>tase‐Stokes, 20 mW‐1 s. d. TiO2, 20 mW‐1 s.<br />

As Figura 88 a e b exib<strong>em</strong> os espectros de uma microesfera de 6 µm e de uma<br />

h<strong>em</strong>ácia captura<strong>da</strong>s pela pinça óptica. Enquanto uma boa relação si<strong>na</strong>l/ruído é obti<strong>da</strong><br />

com ape<strong>na</strong>s 2 segundos para a microesfera de poliestireno foi necessário usar 2 minutos<br />

para observar o Raman <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia. Tipicamente, materiais biológicos apresentam<br />

espectros Raman repletos de picos. A h<strong>em</strong>ácia utiliza<strong>da</strong> nessa medi<strong>da</strong> foi obti<strong>da</strong><br />

simplesmente furando o dedo com uma agulha esteriliza<strong>da</strong> e pingando uma gota de<br />

sangue <strong>em</strong> soro fisiológico, s<strong>em</strong> qualquer outro cui<strong>da</strong>do, tanto para evitar contato com<br />

142


oxigênio, que ativa as plaquetas para iniciar o processo de coagulação, n<strong>em</strong> para a<br />

utilização de conservantes comumente <strong>em</strong>pregados <strong>em</strong> h<strong>em</strong>atologia tais como o CPDA1<br />

(citrato, fósforo, dextrose, adeni<strong>na</strong>). Os três picos destacados <strong>na</strong> Figura 88 b são<br />

idênticos aos obtidos por Xie e seu grupo para uma preparação similar <strong>da</strong> célula. As<br />

condições para se obter o espectro de Raman <strong>da</strong> microesfera e a sua quali<strong>da</strong>de foram as<br />

mesmas dos artigos do Dr. Ajito e Xie [13, 48]. Já o espectro do Raman <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia nos<br />

custou mais t<strong>em</strong>po. Enquanto Xie obteve um espectro com 5s, nós levamos cerca de 2<br />

min. Entretanto, fomos capazes de obtê‐lo <strong>em</strong> um bom intervalo de t<strong>em</strong>po apesar de<br />

não termos, assim como ele, um equipamento otimizado para o infravermelho.<br />

Microesfera<br />

H<strong>em</strong>ácia<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a. u.)<br />

622<br />

1001<br />

1030<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a. u.)<br />

667<br />

751 995<br />

600 700 800 900 1000<br />

raman shift (cm -1 )<br />

600 700 800 900 1000<br />

raman shift (cm -1 )<br />

a. b.<br />

Figura 88. Espectros de Raman de uma microesfera e uma h<strong>em</strong>ácia captura<strong>da</strong>s pela pinça<br />

óptica. a. microesfera, 20 mW‐2 s. b. h<strong>em</strong>ácia, 20 mW‐2 min.<br />

Esses resultados d<strong>em</strong>onstram o quão eficiente e sensível é o nosso equipamento<br />

e, principalmente, que com ele tiv<strong>em</strong>os sucesso <strong>em</strong> observar espectros quimicamente<br />

seletivos como Raman de partículas captura<strong>da</strong>s. Para melhorar a eficiência do nosso<br />

sist<strong>em</strong>a necessitaríamos de objetivas com “coating” anti‐refletor para a região do<br />

Ti:Safira. Não tanto por causa <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz incidente, que pode ser<br />

compensa<strong>da</strong> com o aumento <strong>da</strong> potência do laser, mas devido ao aumento <strong>da</strong> eficiência<br />

de coleta do Raman. Aumentar d<strong>em</strong>ais a potência do laser incidente pode <strong>da</strong>nificar a<br />

amostra, principalmente as biológicas. Nossa objetiva transmitia aproxima<strong>da</strong>mente 20%<br />

<strong>na</strong> região de 785 nm, mas hoje já exist<strong>em</strong> objetivas com transmissão <strong>em</strong> torno de 80%.<br />

Poderíamos aumentar a eficiência por um fator 4 com a óptica correta. Outro ponto de<br />

143


otimização viria de grades de difração com blaze para a região do infravermelho e o uso<br />

de uma grade de 600 linhas/mm. Nosso monocromador só tinha duas grades de<br />

difração, de 1200 linhas/mm que abre d<strong>em</strong>ais o espectro e de 300 linhas/mm que fecha<br />

d<strong>em</strong>ais, perdendo resolução. Em muitos casos a grade de 600 seria ideal, a mesma foi<br />

utiliza<strong>da</strong> por Xie para observar Raman de h<strong>em</strong>ácias. To<strong>da</strong>s essas otimizações,<br />

entretanto, envolveriam a compra de material importado que seria muito d<strong>em</strong>ora<strong>da</strong><br />

para nos ser útil nesse estágio.<br />

4.4 Processos Ópticos Envolvendo Dois Fótons<br />

O laser de Ti:Safira pulsado abriu a possibili<strong>da</strong>de de realização de<br />

espectroscopias não lineares por processos de dois fótons que não era permiti<strong>da</strong> pelo<br />

laser de cw Ti:Safira. O laser cw permite melhor resolução para Raman devido à sua<br />

largura de linha muito fi<strong>na</strong>, impossível de ser obti<strong>da</strong> pelo laser de pulso curto devido ao<br />

limite imposto pela transforma<strong>da</strong> de Fourier. Espectros Raman lineares também pod<strong>em</strong><br />

ser obtidos com laser pulsado mas com resolução b<strong>em</strong> menor, ou seja, espectros b<strong>em</strong><br />

mais largos, como mostra a Figura 89 abaixo. Para tanto não usamos o filtro ban<strong>da</strong>, mas<br />

o espectro do pulso, mais largo do que 350 cm ‐1 , é estreitado pelo próprio filtro NOTCH<br />

de tal forma que até pod<strong>em</strong>os observar um “vazamento” do mesmo no espectro obtido<br />

(um pulso espectralmente menor implica <strong>em</strong> duração t<strong>em</strong>poral de pulso maior). A<br />

situação ideal seria ter a largura espectral dos pulsos do laser <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> <strong>da</strong> largura de<br />

linha dos picos Raman, mas isso geralmente significa pulsos de picosegundos e não<br />

f<strong>em</strong>tosegundos. É possível controlar a largura espectral e a duração t<strong>em</strong>poral dos<br />

pulsos de laser com janelas espectrais intracavi<strong>da</strong>de, mas isso envolve um completo<br />

realinhamento do mesmo. A menos que exista uma vantag<strong>em</strong> específica para obter<br />

Raman linear com laser pulsado, todo esse trabalho não parece compensar. Talvez<br />

compense para qu<strong>em</strong> deseja obter Raman resolvido no t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> picosegundos.<br />

144


Intensi<strong>da</strong>de (a.u.)<br />

450 500 550 600<br />

raman shift (cm -1 )<br />

Figura 89. Raman do silício obtido com o laser pulsado de f<strong>em</strong>tosegundos.<br />

Por outro lado o laser de f<strong>em</strong>tosegundos se tor<strong>na</strong> vantajoso <strong>na</strong> obtenção de<br />

processos multifotônicos. Nós o utilizamos <strong>em</strong> três desses processos, para excitar<br />

luminescência por absorção de dois fótons, para gerar espalhamento no segundo<br />

harmônico (o Hiper Rayleigh) e para excitar Hiper Raman, conforme descrev<strong>em</strong>os a<br />

seguir.<br />

4.5 Processos de Absorção Multifotônica<br />

Os processos multifótons são aqueles que necessitam de mais de um fóton para<br />

ocorrer, sendo, portanto, proporcio<strong>na</strong>is à intensi<strong>da</strong>de do feixe incidente eleva<strong>da</strong> pelo<br />

número de fótons envolvidos no processo. No fundo são s<strong>em</strong>elhantes à uma reação<br />

química <strong>em</strong> que A + A+ + A→B, para a qual a veloci<strong>da</strong>de de reação depende <strong>da</strong><br />

concentração de A eleva<strong>da</strong> à enésima potência, i.e., V = c[ A] n . Nessa a<strong>na</strong>logia, [A] é a<br />

concentração de fótons que é proporcio<strong>na</strong>l à intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz. Esses processos<br />

depend<strong>em</strong> <strong>da</strong> probabili<strong>da</strong>de de encontrar mais de um fóton <strong>na</strong> mesma posição ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po. Por isso são facilmente observados com lasers pulsados, onde todos os<br />

fótons se superpõ<strong>em</strong> automaticamente no t<strong>em</strong>po, aumentando a chance de se encontrar<br />

mais de um fóton <strong>em</strong> um mesmo momento. Por outro lado a superposição espacial<br />

ocorre no foco do laser, onde os fótons estão mais concentrados. Como a probabili<strong>da</strong>de<br />

de ocorrer processos não‐lineares aumenta com<br />

n<br />

I , os mesmos só são significativos <strong>em</strong><br />

145


um pequeno volume <strong>em</strong> torno do foco do laser, onde está o ponto de maior intensi<strong>da</strong>de<br />

do feixe de excitação, garantindo assim uma alta resolução espacial.<br />

Processos de absorção por 2 ou mais fótons foram previstos por Marie Göppert‐<br />

Mayer <strong>em</strong> 1931, porém observações de processos multifotônicos só foram possíveis<br />

depois <strong>da</strong> invenção do laser pulsado de Rubi <strong>em</strong> 1960. A primeira observação de<br />

absorção de 2 fótons foi feita por Kaiser e Garret <strong>em</strong> 1961 e a de 3 fótons por Singh e<br />

Bradley <strong>em</strong> 1964 [49]. Após isso, a excitação por absorção de múltiplos fótons t<strong>em</strong> sido<br />

usa<strong>da</strong> <strong>em</strong> estudos espectroscópicos de diversos materiais. Já a aplicação dessa técnica<br />

<strong>na</strong> Biologia começou muito recent<strong>em</strong>ente, somente <strong>em</strong> 1990 com a invenção de Denk,<br />

Strickler e Webb do microscópio de fluorescência de varredura por absorção de 2 fótons<br />

[50].<br />

S<strong>em</strong> entrar <strong>em</strong> maiores detalhes, s<strong>em</strong> preocupações com as constantes<br />

multiplicativas e a densi<strong>da</strong>de de estados, pod<strong>em</strong>os extrair informações relevantes sobre<br />

esses processos através <strong>da</strong> teoria de perturbação dependente do t<strong>em</strong>po. Nessa teoria o<br />

Hamiltoniano é <strong>da</strong>do por H = H0 +λ H′<br />

() t , onde H 0 é o Hamiltoniano não perturbado<br />

i t<br />

cujas autofunções u n , tal que Hu 0 n = Eu n n, formam uma base. O termo H′ () t = V e − ω , é<br />

a perturbação e λ é o parâmetro que a liga e desliga. Expandindo a função de on<strong>da</strong> que<br />

satisfaz a equação de Schroendinger<br />

∂Ψ i =− HΨ<br />

∂t<br />

<br />

i t<br />

<strong>na</strong> forma Ψ=∑ a () t u e − (4. 3),<br />

n<br />

n<br />

n<br />

E n<br />

aplicando a deriva<strong>da</strong> t<strong>em</strong>poral, o Hamiltoniano e extraindo o produto interno com<br />

k<br />

i<br />

E k<br />

t<br />

ue − de ambos os lados chegamos a<br />

i<br />

kn<br />

a<br />

k() t =− ∑λan() t uk V un<br />

e ω −ω<br />

<br />

n<br />

i( ) t<br />

sendo<br />

E<br />

ω =<br />

kn<br />

k<br />

− E<br />

<br />

n<br />

. Usando a expansão dos coeficientes <strong>em</strong> ordens de λ <strong>na</strong> forma<br />

a<br />

k<br />

s () s<br />

∑ ak<br />

e coletando termos de mesma ord<strong>em</strong> obt<strong>em</strong>os o sist<strong>em</strong>a de equações<br />

s<br />

= λ<br />

146


diferenciais<br />

( 0)<br />

k<br />

a = 0 ,<br />

i<br />

a<br />

t =− ∑ a t V e ω −ω<br />

() s ( s 1)<br />

i( kn<br />

) t<br />

() n<br />

−<br />

k<br />

() kn<br />

<br />

n<br />

, com Vkn = uk V un<br />

. A<br />

estratégia é resolver o sist<strong>em</strong>a para a ord<strong>em</strong> mais baixa e usá‐la para encontrar as<br />

soluções <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> seguinte e assim sucessivamente. A suposição que se faz é que <strong>em</strong><br />

t = 0 o sist<strong>em</strong>a se encontrava no estado inicial i, logo<br />

equação diferencial para os coeficientes de primeira ord<strong>em</strong><br />

pode ser integra<strong>da</strong> facilmente fornecendo<br />

a <br />

( 0)<br />

k<br />

= δ<br />

ki<br />

. Com isso encontramos a<br />

i<br />

a<br />

t V e ω −ω<br />

<br />

() 1<br />

i( ki<br />

) t<br />

k<br />

() =− ki<br />

que<br />

()<br />

i( ω<br />

fi<br />

−ω)<br />

t<br />

1 i e − 1<br />

f<br />

() =− fi<br />

i( ω fi −ω)<br />

a t V<br />

(4. 4).<br />

Agora usamos esse resultado para achar a equação diferencial para os termos de<br />

segun<strong>da</strong> ord<strong>em</strong>, dos quais poder<strong>em</strong>os extrair os coeficientes de absorção de dois fótons.<br />

Nesse caso,<br />

i( ω −ω)<br />

t<br />

( 2 ) ni<br />

1 e −1<br />

a<br />

f<br />

() t =−<br />

2 ∑Vni<br />

Vfn<br />

e<br />

i( ω −ω)<br />

n<br />

ni<br />

i( ω −ω)<br />

t<br />

fn<br />

. Só estamos interessados no termo<br />

que envolve a multiplicação <strong>da</strong>s duas exponenciais, o único que contém 2ω, portanto<br />

quer<strong>em</strong>os<br />

( 2 fótons)<br />

f<br />

1 V<br />

t<br />

fn Vni i( ω<br />

ni<br />

+ωfn−2ω)<br />

t′<br />

2 ∑<br />

n<br />

i( ωni<br />

−ω)<br />

∫<br />

0<br />

a =−<br />

e dt′<br />

<br />

(4. 5).<br />

Mas<br />

E − E + E −E<br />

ω +ω = =ω<br />

<br />

n i f n<br />

ni fn fi<br />

, de modo que:<br />

a<br />

( 2 fótons)<br />

f<br />

i( ω −2ω)<br />

t<br />

1 V<br />

fi<br />

fn Vni<br />

e − 1<br />

=−<br />

2 ∑<br />

i( ω −ω) i( ω −2ω)<br />

n<br />

ni<br />

fi<br />

(4. 6).<br />

Como<br />

ixt ixt / 2 −ixt<br />

/ 2<br />

−1<br />

ixt 2 −<br />

ixt 2 xt 2<br />

e / e e<br />

/ sen( / )<br />

= e<br />

= e<br />

e<br />

ix 2i( x / 2) ( x / 2)<br />

Lim<br />

t→∞<br />

2<br />

sen [ xt / 2]<br />

= 2 πtδ ( x)<br />

, t<strong>em</strong>os:<br />

2<br />

( x / 2)<br />

() 1 2 2π<br />

2<br />

| af<br />

( t)| = t| V | ( )<br />

2 fi δωfi<br />

−ω<br />

<br />

(4. 7)<br />

e<br />

147


2π<br />

V V<br />

| a ( t)| = t| | δ( E −E<br />

−2ω)<br />

(4. 8).<br />

∑<br />

( 2 fótons)<br />

2 fn ni 2<br />

f<br />

<br />

n<br />

En − ( Ef + Ei)/<br />

2<br />

Usando um potencial de perturbação de dipolo V<br />

f<br />

i<br />

<br />

= −qr⋅eE<br />

, onde e é o vetor<br />

unitário <strong>da</strong> polarização do campo elétrico e o fato do coeficiente de absorção ser<br />

o<br />

proporcio<strong>na</strong>l a<br />

<strong>da</strong>f<br />

2<br />

/<br />

dt, v<strong>em</strong>os que a absorção por 1 fóton só ocorre se a energia do<br />

fóton for igual a diferença de energia entre os estados inicial i e fi<strong>na</strong>l f e que a força de<br />

<br />

oscilação vai ser proporcio<strong>na</strong>l à | ie⋅r f| 2 E<br />

2 0 . Isso significa que a absorção de 1 fóton<br />

é proporcio<strong>na</strong>l à I e que só existe transição entre estados de diferentes pari<strong>da</strong>des, pois<br />

<br />

e⋅r<br />

é um operador ímpar. Por outro lado, a transição por absorção de dois fótons só<br />

ocorre quando a energia de dois fótons é igual a <strong>da</strong> transição e que a força do oscilador<br />

é proporcio<strong>na</strong>l a<br />

<br />

i e⋅r n n e⋅r f<br />

| ∑<br />

|<br />

E − ( E + E )/ 2<br />

n<br />

n f i<br />

2 4<br />

E 0<br />

(4. 9).<br />

Logo será proporcio<strong>na</strong>l ao quadrado <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de e só ocorre entre estados de<br />

mesma pari<strong>da</strong>de, pois n precisa ter pari<strong>da</strong>de oposta a i e a f. O processo de absorção por<br />

3 fótons seguirá uma regra do tipo<br />

<br />

i e⋅r n n e⋅r n′ n′<br />

e⋅r f<br />

| ∑∑<br />

| 2 E<br />

6 0<br />

∆<br />

n′<br />

n<br />

(4. 10),<br />

sendo proporcio<strong>na</strong>l à intensi<strong>da</strong>de ao cubo e ocorrendo entre estados de diferentes<br />

pari<strong>da</strong>des. Apesar <strong>da</strong>s diferenças <strong>da</strong>s regras de seleção os espectros de absorção de 1 e 2<br />

fótons têm mostrado ape<strong>na</strong>s peque<strong>na</strong>s diferenças para uma boa varie<strong>da</strong>de de corantes<br />

sugerindo que estados fluorescentes geralmente degenerados são alcançados tanto com<br />

uma excitação linear como não liner [51]. Além disso, campos eletromagnéticos <strong>em</strong><br />

volta <strong>da</strong> molécula quebram a simetria local e a pari<strong>da</strong>de dos estados, permitindo to<strong>da</strong>s<br />

as transições. Nenhuma diferença foi observa<strong>da</strong> nos espectros de <strong>em</strong>issão, como era de<br />

se esperar.<br />

148


choque<br />

Processos multifótons são geralmente caracterizados através <strong>da</strong>s seções de<br />

σ k defini<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> taxa de absorção de fótons <strong>da</strong> forma,<br />

∆n<br />

( k)<br />

fótons<br />

∆t<br />

=σ<br />

k<br />

I<br />

( )<br />

hν<br />

k<br />

(4. 11).<br />

Números típicos para seções de choque para absorção de 1 fóton são <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de<br />

σ 1 = 10<br />

−16<br />

cm<br />

2<br />

, de 2 e 3 fótons são respectivamente <strong>da</strong> ord<strong>em</strong><br />

−49<br />

σ 2 = 10 cm .s e<br />

4<br />

−82 6 2<br />

σ 3 = 10 cm .s [51]. Isso significa que uma taxa de absorção de aproxima<strong>da</strong>mente<br />

7<br />

5× 10 fótons/segundo, próximo <strong>da</strong> saturação para o estado fun<strong>da</strong>mental, requer uma<br />

potência <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 140 mW no foco <strong>em</strong> um processo de um fóton. Já para se atingir<br />

essa mesma taxa de absorção com um processo de dois fótons, usando a mesma óptica e<br />

comprimento de on<strong>da</strong> <strong>em</strong> torno de 870 nm, seria necessário intensi<strong>da</strong>des de 5,4<br />

GW/cm 2 , que correspond<strong>em</strong> a uma potência média de 12 W no foco do laser [52].<br />

No caso dos lasers pulsados, com uma duração do pulso<br />

τ p <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de<br />

cente<strong>na</strong>s de f<strong>em</strong>tosegundos e t<strong>em</strong>po de repetição<br />

τ rep <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de deze<strong>na</strong>s de<br />

<strong>na</strong>nosegundos, os detectores são sensíveis ao valor médio do número de fótons por<br />

uni<strong>da</strong>de de t<strong>em</strong>po, i.e.,<br />

∆n<br />

( k)<br />

fótons<br />

∆t<br />

rep<br />

σk<br />

1 k<br />

=<br />

I () t dt<br />

k<br />

( hν)<br />

τ<br />

∫ (4. 12).<br />

rep<br />

τ<br />

0<br />

Supondo um pulso quadrado com<br />

I<br />

= Ipico<br />

no intervalo de duração do pulso p<br />

τ ,<br />

∆n<br />

( k)<br />

fótons Ipico τ<br />

k p<br />

=σk( )<br />

∆t<br />

hν τrep<br />

, que leva a<br />

I<br />

pico<br />

τrep<br />

∆n<br />

( 1/ k)<br />

= hν[ ] .<br />

στ ∆ t<br />

k p<br />

Como<br />

I<br />

pico<br />

τrep<br />

τ<br />

= I =<br />

τ τ<br />

p<br />

rep<br />

p<br />

P<br />

A<br />

(4. 13),<br />

a potência média requeri<strong>da</strong> para se obter uma determi<strong>na</strong><strong>da</strong> taxa de absorção será:<br />

τp ( k−1)/ k hc 1 ∆n<br />

( 1/ k)<br />

P= [ ] A [ ] (4. 14).<br />

τ λ σ ∆ t<br />

rep<br />

k<br />

149


Supondo um feixe gaussiano com<br />

wo<br />

abertura numérica <strong>da</strong> objetiva t<strong>em</strong>os,<br />

λ<br />

= , tal que<br />

π NA<br />

τ hcλ 1 ∆n<br />

P = [ ] [ ] (4. 15)<br />

τ π σ ∆<br />

p ( k−1)/ k ( 1/ k)<br />

2<br />

rep NA k t<br />

2<br />

2 λ<br />

A=π w o = e onde NA é a<br />

π<br />

2<br />

NA<br />

que pode chegar a ser tão peque<strong>na</strong> quanto 45 mW para processos de dois fótons com<br />

pulsos de 100 fs e taxa de repetição de 80 MHz típicas de um laser de Ti:Safira pulsado<br />

de f<strong>em</strong>tosegundos, cuja potência média pode chegar a 2 W [52]. Isso indica quão<br />

facilmente se obtém excitação por processos de dois fótons com lasers desse tipo. Não é<br />

somente o fato de poder usar pequenos valores de potência que faz do Ti:Safira um dos<br />

escolhidos, a duração e a taxa de repetição do seu pulso também possibilitam se fazer<br />

espectroscopia resolvi<strong>da</strong> no t<strong>em</strong>po [53].<br />

4.6 Luminescência Excita<strong>da</strong> por Absorção Multifotônica<br />

No processo de fluorescência, esqu<strong>em</strong>atizado <strong>na</strong> Figura 90 abaixo, um elétron de<br />

uma molécula sofre uma transição para um estado com nível de energia mais alto<br />

através <strong>da</strong> absorção de um fóton. Usualmente a molécula sofre uma mu<strong>da</strong>nça<br />

conformacio<strong>na</strong>l após a excitação, pois as forças químicas entre os átomos depend<strong>em</strong> do<br />

estado <strong>em</strong> que está o elétron, levando o elétron excitado para um nível de energia<br />

menor do que o inicial. Desse estado o elétron pode retor<strong>na</strong>r ao estado fun<strong>da</strong>mental<br />

pela <strong>em</strong>issão de um fóton. Se o decaimento for rápido, chama‐se o processo de<br />

fluorescência, se lento de fosforescência, e os dois casos são englobados pela palavra<br />

luminescência. Exist<strong>em</strong>, entretanto, outras possibili<strong>da</strong>des para o retorno do elétron ao<br />

estado fun<strong>da</strong>mental além <strong>da</strong> fluorescência. Por ex<strong>em</strong>plo, 1. ele pode ser transferido para<br />

moléculas vizinhas, processo conhecido como transferência de carga, 2. ape<strong>na</strong>s a sua<br />

energia pode ser transferi<strong>da</strong>, processo chamado de transferência de energia ou ain<strong>da</strong> 3.<br />

ele pode ficar aprisio<strong>na</strong>do <strong>em</strong> armadilhas profun<strong>da</strong>s, tal como “<strong>da</strong>ngling bonds”. Esses<br />

processos pod<strong>em</strong> levar a um esmaecimento <strong>da</strong> fluorescência ou “photobleaching”.<br />

150


Dependendo do grau desses processos de decaimento, a fluorescência pode ser muito<br />

pouco intensa. Por isso é comum a utilização de marcadores fluorescentes exógenos às<br />

amostras a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s, geralmente corantes orgânicos, envoltos <strong>em</strong> substâncias químicas<br />

para evitar o “photobleaching” ou o “quenching” <strong>da</strong> fluorescência. A desvantag<strong>em</strong> dos<br />

marcadores exógenos é que pod<strong>em</strong> ser citotóxicos. O “photobleaching” t<strong>em</strong> sido um<br />

dos grandes probl<strong>em</strong>as <strong>da</strong> microscopia confocal de fluorescência, <strong>em</strong> muitos casos<br />

fornecendo ao pesquisador ape<strong>na</strong>s um intervalo de minutos para obtenção de suas<br />

imagens.<br />

Excitação<br />

Emissão Excitação<br />

Emissão<br />

Figura 90. Esqu<strong>em</strong>a de absorção de um e múltiplos fótons.<br />

A diferença fun<strong>da</strong>mental entre processos de 1 fóton e multifóton v<strong>em</strong> <strong>da</strong><br />

quanti<strong>da</strong>de de fótons absorvidos <strong>em</strong> um determi<strong>na</strong>do volume. No caso <strong>da</strong> absorção de<br />

1 fóton esse número só depende <strong>da</strong> espessura do volume e não <strong>da</strong> área do feixe, pois o<br />

coeficiente de absorção α é independente <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de. Suponha dois feixes paralelos<br />

com a mesma potência, mas diferentes intensi<strong>da</strong>des, como mostra a Figura 91. As<br />

quanti<strong>da</strong>des de fótons absorvidos por uni<strong>da</strong>de de t<strong>em</strong>po nessas duas situações, são<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong>s por<br />

∆n<br />

∆t<br />

I A − e<br />

=<br />

(1 1 1<br />

hν<br />

−α L<br />

1<br />

)<br />

e<br />

−α<br />

∆n<br />

I A − e<br />

=<br />

(1 L 2 2 2<br />

)<br />

(4. 16),<br />

∆t<br />

hν<br />

e são iguais com a suposição de mesma potência, isto é, I<br />

1A1<br />

= I<br />

2<br />

A2<br />

. A única diferença<br />

entre esses dois casos é a densi<strong>da</strong>de superficial do número de fótons absorvidos. Já <strong>na</strong><br />

absorção de dois fótons, onde o coeficiente de absorção depende <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de<br />

incidente <strong>da</strong> forma<br />

α = α 2<br />

I<br />

feixe mais intenso. Tal que,<br />

, a quanti<strong>da</strong>de de fótons absorvidos será muito maior para o<br />

151


∆n<br />

∆t<br />

α2P<br />

− L<br />

A1<br />

1 1( )<br />

<<br />

I1A<br />

=<br />

1 − e<br />

hν<br />

α2P<br />

− L<br />

A2<br />

∆n2 I2A2( 1−<br />

e )<br />

=<br />

(4. 17),<br />

∆t<br />

hν<br />

devido ao fator exponencial. Foi essa característica que levou o grupo de W. W. Webb<br />

de Cornell à proposta <strong>da</strong> microscopia confocal multifóton. A Figura 92 mostra que,<br />

enquanto uma quanti<strong>da</strong>de uniforme de fótons de luminescência são gerados <strong>em</strong> todo o<br />

cone de luz incidente, ela é concentra<strong>da</strong> no foco do laser no processo multifóton.<br />

L<br />

Figura 91. Fótons absorvidos no processo linear.<br />

1 fóton 2 fótons<br />

Figura 92. Geração de fluorescência por um e dois fótons.<br />

A microscopia confocal convencio<strong>na</strong>l foi introduzi<strong>da</strong>, basicamente, para<br />

possibilitar a obtenção de imagens de fluorescência <strong>em</strong> 3 dimensões. O seu grande<br />

probl<strong>em</strong>a é a profundi<strong>da</strong>de e a resolução vertical <strong>em</strong> z, pois há a necessi<strong>da</strong>de de rejeitar<br />

a fluorescência gera<strong>da</strong> fora do foco do cone de luz incidente. Isso é feito através de uma<br />

abertura coloca<strong>da</strong> <strong>em</strong> frente ao detector, conforme ilustra a Figura 93, que selecio<strong>na</strong> o<br />

152


si<strong>na</strong>l coletado pela mesma objetiva responsável por focalizar o laser de excitação.<br />

Chama‐se esse processo de “descanning”.<br />

abertura<br />

Figura 93. Ilustração de funcio<strong>na</strong>mento de um microscópio confocal.<br />

Quanto menor a abertura, maior a resolução <strong>em</strong> z e menor a relação si<strong>na</strong>l ruído,<br />

pois a mesma bloqueia parte <strong>da</strong> luz advin<strong>da</strong> <strong>da</strong> amostra, principalmente se esta for<br />

espalha<strong>da</strong> durante percurso até a abertura, como mostra a Figura 94. Para aumentar a<br />

relação si<strong>na</strong>l/ruído é necessário aumentar a intensi<strong>da</strong>de do laser aumentando a chance<br />

de ocorrer<strong>em</strong> <strong>da</strong>nos térmicos e “photobleaching”. Já <strong>na</strong> microscopia confocal mutifóton<br />

só há <strong>em</strong>issão de luz no foco do laser, tor<strong>na</strong>ndo a abertura desnecessária. Além disso,<br />

no caso multifóton, ape<strong>na</strong>s o volume do foco está sendo excitado, o que evita o<br />

“photobleaching” de outras porções <strong>da</strong> amostra dentro do cone de incidência do laser.<br />

Figura 94. Microscópio Confocal e Multifóton.<br />

A denomi<strong>na</strong>ção confocal é utiliza<strong>da</strong> para sist<strong>em</strong>as <strong>em</strong> que tanto a ilumi<strong>na</strong>ção<br />

quanto a coleta <strong>da</strong> luz transmiti<strong>da</strong>, ou <strong>em</strong>iti<strong>da</strong>, pela amostra passam pela mesma óptica.<br />

Nesse caso, a resolução espacial aumenta, pois a figura de difração de Airy fica eleva<strong>da</strong><br />

ao quadrado, conforme mostra a Figura 95. Nos processos de dois fótons a própria<br />

excitação já depende <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz ao quadrado, não dependendo do sist<strong>em</strong>a<br />

153


de coleta do si<strong>na</strong>l óptico. Trata‐se, portanto, de um processo intrinsecamente confocal.<br />

Essa é a característica que tor<strong>na</strong> os processos multifótons bastante atrativos para<br />

microscopia.<br />

a. b.<br />

Figura 95. a. Gráfico 3D do padrão de difração de Airy b. padrão de difração elevado ao<br />

quadrado onde se nota um pico central mais estreito e os anéis ao seu redor muito menos<br />

intensos.<br />

Além <strong>da</strong> resolução espacial lateral exist<strong>em</strong> outras vantagens <strong>na</strong> microscopia<br />

confocal multifóton. O fato de que a fluorescência só é gera<strong>da</strong> no foco do laser elimi<strong>na</strong> a<br />

necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> abertura e uma maior quanti<strong>da</strong>de de luz pode ser coleta<strong>da</strong> melhorando<br />

a razão si<strong>na</strong>l/ruído. A excitação se dá no dobro do comprimento de on<strong>da</strong> de excitação<br />

por um fóton, significando 16 vezes menos espalhamento, o qual depende de λ com<br />

1/λ 4 . Com isso a profundi<strong>da</strong>de de observação, principalmente <strong>em</strong> meios túrbidos, é 16<br />

vezes maior do que <strong>na</strong> convencio<strong>na</strong>l, permitindo a obtenção de imagens de cama<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

amostra que estão <strong>em</strong> profundi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de cente<strong>na</strong>s de micrômetros [54, 55].<br />

A grande maioria dos fluoróforos biológicos endógenos que são intrínsecos à<br />

célula ou exógenos ‐ tais como corantes ‐ absorv<strong>em</strong> no ultravioleta próximo, <strong>em</strong> torno<br />

de 350 nm, e no visível quando estamos falando <strong>da</strong> espectroscopia convencio<strong>na</strong>l de 1<br />

fóton. Assim, uma fonte de luz de excitação com <strong>em</strong>issão entre 690 – 1050 nm permite<br />

excitação dos mesmos por absorção multifotônica. Essa região, de 690 – 1050 nm, é,<br />

muitas vezes, chama<strong>da</strong> de “janela biológica <strong>da</strong> célula” [51]. Em primeiro lugar porque<br />

nessa região do espectro, há pouca ou nenhuma absorção de um fóton pelos tecidos e<br />

pigmentos celulares evitando geração de calor e <strong>da</strong>nos térmicos significativos, e <strong>em</strong><br />

segundo possibilita a aquisição de imagens de microorganismos vivos.<br />

154


4.7 Aplicações e Resultados de Luminescência por Absorção de 2 Fótons<br />

Algumas <strong>da</strong>s imagens <strong>da</strong>s fluorescências excita<strong>da</strong>s por absorção de dois fótons<br />

<strong>em</strong> microesferas fluorescentes <strong>da</strong> Polysciences de 9 µm de diâmetro presas <strong>na</strong> lâmi<strong>na</strong> e<br />

microesferas fluorescentes <strong>da</strong> Molecular Probes com 6 µm de diâmetro captura<strong>da</strong>s <strong>na</strong><br />

pinça óptica são vistas <strong>na</strong> Figura 96. Já a Figura 97 mostra a imagens <strong>da</strong> fluorescência de<br />

uma amostra de ZnSe, <strong>na</strong> qual se percebe que chegamos a saturar a câmera de vídeo do<br />

microscópio.<br />

a. b. c.<br />

Figura 96. Imagens de Fluorescência obti<strong>da</strong> por absorção de 2 fótons. a. Microesfera presa <strong>na</strong><br />

lâmi<strong>na</strong> com laser Tsu<strong>na</strong>mi incidindo com alta potência. b. Mesma microesfera com laser<br />

Tsu<strong>na</strong>mi incidindo com baixa potência. c. Microesfera captura<strong>da</strong> fluorescendo.<br />

Figura 97. Imagens do ZnSe <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de micrometros no microscópio.<br />

A Figura 98 apresenta os espectros de fluorescência obtidos com as microesferas<br />

cora<strong>da</strong>s com materiais similares a fluoresceí<strong>na</strong> e ro<strong>da</strong>mi<strong>na</strong> respectivamente (os nomes<br />

dos corantes origi<strong>na</strong>is não são fornecidos pelos fabricantes), as quais chamar<strong>em</strong>os de<br />

microesferas verdes (fluoresceí<strong>na</strong>) e laranja (ro<strong>da</strong>mi<strong>na</strong>), por causa <strong>da</strong> cor de suas<br />

<strong>em</strong>issões. Na mesma figura também t<strong>em</strong>os o espectro <strong>da</strong> fluorescência de uma amostra<br />

de ZnSe. As medi<strong>da</strong>s foram obti<strong>da</strong>s com microesferas de 2.5 e 6 µm de diâmetro, após<br />

atenuar a potência do Tsu<strong>na</strong>mi com filtros de densi<strong>da</strong>de neutra. Potências mais altas<br />

<strong>da</strong>nificavam chegando a ponto de evaporá‐las. O espectro que apresentou os picos de<br />

ressonância de Mie descrito no capítulo 3 está repetido <strong>na</strong> Figura 99.<br />

155


Intensi<strong>da</strong>de (a. u.)<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a. u.)<br />

500 550 600<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

500 550 600 650<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

a. b.<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a. u.)<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a. u.)<br />

450 500 550 600<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

460 470 480 490<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

c. d.<br />

Figura 98. Espectros de fluorescência por absorção de 2 fótons. a. Ro<strong>da</strong>mi<strong>na</strong> – 1 s. b. Microesfera<br />

verde – 30 s. c. Microesfera laranja – 5 s. d. Luminescência do ZnSe.<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a. u.)<br />

438 458 478 498<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

Figura 99. Espectros de fluorescência por absorção de 2 fótons – 60 s , curva verde – microesfera<br />

de 2.5 µm, curva vermelha – microesfera de 6 µm e modos MDR.<br />

Esses resultados d<strong>em</strong>onstram a possibili<strong>da</strong>de de obtenção de imagens por<br />

microscopia confocal multifóton no nosso sist<strong>em</strong>a experimental. Para tanto precisamos<br />

adquirir a intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> fluorescência <strong>em</strong> função <strong>da</strong> posição x, y e z do foco do laser, o<br />

que exigiria todo um investimento de software de comando. Nosso sist<strong>em</strong>a de<br />

156


varredura, entretanto, seria b<strong>em</strong> lento pois o estágio de translação <strong>da</strong> Prior é bastante<br />

pesado, requerendo t<strong>em</strong>po para movimentá‐lo. Isso inviabilizaria a obtenção de<br />

imagens <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po real, mas não de amostras inorgânicas. Entretanto, a microscopia<br />

confocal multifóton hoje se trata de um equipamento comercial, não compensando<br />

esforço para simples reprodução de imagens com quali<strong>da</strong>de inferior aos mesmos. Juntálo<br />

à pinça óptica é novi<strong>da</strong>de e agrega valor, mas nesse caso o que mais desejamos é<br />

acompanhar processos di<strong>na</strong>micamente, ou seja, por varredura rápi<strong>da</strong>. Um dos motivos<br />

pelo qual deixamos de investir mais t<strong>em</strong>po <strong>na</strong> continui<strong>da</strong>de desse trabalho foi a<br />

aprovação <strong>da</strong> compra de um microscópio confocal multifóton comercial <strong>na</strong> FAPESP, no<br />

qual a varredura é feita com o laser e não <strong>na</strong> posição <strong>da</strong> amostra e portanto muito mais<br />

rápi<strong>da</strong>. Com isso poderíamos capturar um microorganismo e obter sua imag<strong>em</strong> <strong>em</strong> 3<br />

dimensões ao mesmo <strong>em</strong> que o manipulamos. Infelizmente as importações <strong>da</strong> FAPESP<br />

estão paralisa<strong>da</strong>s e ficamos s<strong>em</strong> esse equipamento.<br />

4.8 Processos Hiper Rayleigh e Hiper Raman<br />

Outros dois processos excitados por dois fótons que d<strong>em</strong>onstramos foram as<br />

medi<strong>da</strong>s do espalhamento Hiper Rayleigh e Hiper Raman. A Figura 100 ilustra esses<br />

processos, essencialmente s<strong>em</strong>elhantes ao Rayleigh e Raman, mas excitados com dois<br />

fótons no lugar de ape<strong>na</strong>s um. Por isso depend<strong>em</strong> <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de com I 2 , e se tratam de<br />

processos não lineares. De forma análoga à <strong>da</strong> fluorescência excita<strong>da</strong> por absorção<br />

multifotônica, apresentam as mesmas vantagens do ponto de vista de microscopia de<br />

alta resolução e <strong>em</strong> 3 dimensões [56]. Entretanto existe uma distinção clara nesses dois<br />

casos: a absorção multifotônica envolve uma transição entre estados reais <strong>em</strong><br />

ressonância com energia nhν, que não é necessário n<strong>em</strong> para o espalhamento Hiper<br />

Rayleigh n<strong>em</strong> para o Hiper Raman. Os estados tracejados são virtuais e o processo<br />

ocorre fora <strong>da</strong> ressonância pela interação entre o campo elétrico <strong>da</strong> radiação incidente a<br />

as moléculas do material.<br />

157


Energia<br />

Fóton<br />

Incidente<br />

λi<br />

Stokes<br />

λe<br />

fi<strong>na</strong>l<br />

Hyper<br />

Rayleigh<br />

fi<strong>na</strong>l<br />

a)<br />

inicial<br />

b)<br />

inicial<br />

Fóton<br />

estados vibracio<strong>na</strong>is<br />

Incidente<br />

Anti-Stokes<br />

λi<br />

λe<br />

inicial<br />

níveis vibracio<strong>na</strong>is<br />

fi<strong>na</strong>l<br />

c)<br />

Figura 100. a. Hiper Raman Stokes b. Hiper Rayleigh c. Hiper Raman anti‐Stokes.<br />

Em relação à expansão <strong>da</strong> polarização <strong>em</strong> série de Taylor, o Hiper Rayleigh<br />

aparece do termo<br />

2<br />

∂ P 2 2<br />

δ x e ( E )cos ( ω t )<br />

∂x<br />

2<br />

e<br />

(4. 18).<br />

Como<br />

2<br />

cos ( ω t) = ( 1+ cos 2ω t)/<br />

2, essa parcela <strong>da</strong> polarização vai <strong>da</strong>r orig<strong>em</strong> a uma<br />

componente contínua, chama<strong>da</strong> de retificação óptica, e outra no dobro <strong>da</strong> freqüência do<br />

campo incidente, ou segun<strong>da</strong> harmônica. Comparado com o termo do espalhamento<br />

Rayleigh ( ∂P/ ∂x ) δx ( E)cos( ω t)<br />

, pod<strong>em</strong>os perceber que os tensores envolvidos,<br />

2 2<br />

e<br />

e<br />

( ∂ P/ ∂ x e ) para o Hiper Rayleigh, e ( ∂P/ ∂ x e ) para o Rayleigh, possu<strong>em</strong> pari<strong>da</strong>des<br />

diferentes, com uma deriva<strong>da</strong> a mais no Hiper Rayleigh. Em moléculas ou cristais com<br />

simetria de in<strong>versão</strong> não se nota diferença <strong>em</strong> qualquer proprie<strong>da</strong>de com a troca de r <br />

por<br />

−r<br />

. O tensor do Hiper Rayleigh t<strong>em</strong> a mesma pari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> polarização P, ou seja<br />

ímpar, enquanto o tensor do Rayleigh é par. Isso significa que o espalhamento Hiper<br />

Rayleigh <strong>em</strong> moléculas com simetria de in<strong>versão</strong> é proibido. Entretanto, essas simetrias<br />

tend<strong>em</strong> a ser quebra<strong>da</strong>s <strong>na</strong>s interfaces. Por esse motivo o espalhamento Hiper Rayleigh<br />

é aplicado no estudo <strong>da</strong>s mesmas. Pelos mesmos motivos, a microscopia através do<br />

Hiper Rayleigh, conheci<strong>da</strong> também como Microscopia SHG, é especialmente boa para<br />

158


d<strong>em</strong>arcar os contornos. Por outro lado a intensi<strong>da</strong>de de um si<strong>na</strong>l de interfaces tende a<br />

ser b<strong>em</strong> menor do que a de si<strong>na</strong>is de volume.<br />

O termo <strong>da</strong> série de Taylor que dá orig<strong>em</strong> ao Hiper Raman envolve uma<br />

deriva<strong>da</strong> <strong>em</strong> relação às coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s nucleares e duas <strong>em</strong> relação às eletrônicas, <strong>da</strong><br />

forma<br />

3<br />

∂ P<br />

∂x<br />

∂x<br />

n<br />

2 2<br />

δx ( )cos ( )cos( )<br />

2 nδxe E ω t ωfônont<br />

e<br />

(4. 19).<br />

Combi<strong>na</strong>ndo os cosenos <strong>da</strong> forma<br />

2<br />

cos ( t) cos(<br />

fônon<br />

t) [ cos( t)]cos( fônon<br />

t)/<br />

ω ω = 1+ 2ω ω 2,<br />

obt<strong>em</strong>os as diferentes componentes:<br />

⎡cos( fônon<br />

t)/ 2 ⎡cos ( 2<br />

fônon) t / 4⎤<br />

⎣<br />

ω ⎤<br />

⎦<br />

+ ⎡<br />

⎣<br />

ω−ω ⎤<br />

⎦<br />

−⎡ ⎣<br />

cos[( 2ω+ωfônon<br />

) t]/<br />

4⎤<br />

⎣<br />

⎦<br />

⎦<br />

(4. 20),<br />

que correspond<strong>em</strong> a si<strong>na</strong>is gerados <strong>na</strong>s freqüências 2ω −ω para o Hiper Raman Stokes,<br />

e 2ω+ω para o Hiper Raman anti‐Stokes. Comparado ao Raman, cujo tensor é <strong>da</strong>do<br />

n<br />

por ( ∂ 2 P/<br />

∂xn∂x e)<br />

; o Hiper Raman, com o tensor ( ∂ 3 / ∂ 2<br />

n∂<br />

e )<br />

n<br />

P x x , t<strong>em</strong> uma deriva<strong>da</strong> à<br />

mais e, portanto, pari<strong>da</strong>de troca<strong>da</strong>. Isso significa que as regras de seleção<br />

espectroscópicas do Hiper Raman são diferentes <strong>da</strong>s regras de seleção do Raman.<br />

Especialmente, para amostras com simetrias de in<strong>versão</strong> e portanto uma técnica<br />

compl<strong>em</strong>enta a outra, vendo os modos que a outra deixa de observar. Em outras<br />

palavras o Hiper Raman contém informações espectroscópicas diferentes <strong>da</strong>s do<br />

Raman. O Hiper Raman nos fornece a mesma informação que a espectroscopia por<br />

absorção de infravermelho e mais os chamados “modos silenciosos”. Todos os modos<br />

ativos <strong>na</strong> espectroscopia por absorção de infravermelho são também ativos no Hiper<br />

Raman mas n<strong>em</strong> todos os modos ativos no Hiper Raman o são <strong>na</strong> espectroscopia por<br />

absorção de infravermelho.<br />

No vocabulário de óptica não linear a expansão <strong>da</strong> polarização é feita <strong>em</strong> termos<br />

<br />

(1) (2) (3)<br />

do campo elétrico <strong>na</strong> forma: P = P1 + P2 + P3 + ... = χ E + χ : EE + χ : EEE + ... <strong>em</strong><br />

que χʹs são as susceptibili<strong>da</strong>des. Essa é a linguag<strong>em</strong> preferi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas que<br />

trabalham com óptica não linear <strong>em</strong> sólidos e superfícies, feixes de lasers b<strong>em</strong><br />

159


direcio<strong>na</strong>dos, com regras de seleção e condições de “phase matching” b<strong>em</strong> defini<strong>da</strong>s.<br />

Termos que envolv<strong>em</strong> dois campos elétricos pod<strong>em</strong> gerar segundos harmônicos, ou<br />

freqüências soma e diferença, já termos com 3 campos elétricos pod<strong>em</strong> gerar terceiros<br />

harmônicos e misturas de 4 on<strong>da</strong>s. Normalmente os mesmos utilizam termos como<br />

geração de segundo harmônico, SHG, terceiro harmônico, THG, mistura de duas e<br />

quatro on<strong>da</strong>s, efeito Kerr, etc. Já a comuni<strong>da</strong>de de química, que trabalha mais com<br />

moléculas livres <strong>em</strong> soluções, prefere a notação <strong>em</strong> termos <strong>da</strong>s polarizabili<strong>da</strong>des e<br />

Hiperpolarizabili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> forma:<br />

<br />

P = P 1 1<br />

1 + P2 + P3<br />

+ ... = α E+ 2<br />

β : EE+ 6<br />

γ : EEE+<br />

... ,<br />

onde α é a polarizibili<strong>da</strong>de (tensor de rank 2), β é a Hiperpolarizibili<strong>da</strong>de (tensor de<br />

rank 3) e γ é a segun<strong>da</strong> Hiperpolarizibili<strong>da</strong>de (tensor de rank 4). Comumente utilizam a<br />

palavra espalhamento pouco utiliza<strong>da</strong> pela comuni<strong>da</strong>de de óptica não linear. Nesse<br />

caso se refer<strong>em</strong> a espalhamentos Hiper Rayleigh <strong>em</strong> lugar de SHG, Hiper Raman <strong>em</strong><br />

lugar de mistura de quatro on<strong>da</strong>s, etc. Comparando com a expansão de Taylor anterior<br />

perceb<strong>em</strong>os que P 1<br />

está relacio<strong>na</strong>do aos espalhamentos Rayleigh e Raman, P <br />

2<br />

está<br />

relacio<strong>na</strong>do aos efeitos Hiper Rayleigh e Hiper Raman e P <br />

3<br />

aos segundos Hiper<br />

Rayleigh e Hiper Raman.<br />

É necessário ter clara a distinção entre o espalhamento Hiper Raman <strong>na</strong>s<br />

freqüências 2ω±ω e o espalhamento Raman do segundo harmônico <strong>na</strong> mesma<br />

fônon<br />

freqüência. Os si<strong>na</strong>is do espalhamento Hiper Raman são gerados diretamente através<br />

de dois fótons <strong>na</strong> freqüência ω e um fônon, s<strong>em</strong> necessi<strong>da</strong>de sequer <strong>da</strong> geração do<br />

segundo harmônico. Em linguag<strong>em</strong> química poderíamos simbolizá‐lo como uma reação<br />

ape<strong>na</strong>s do tipo 1 fóton( ω+ ) 1 fóton( ω+ ) 1 fônon( ω) ⇒1 fóton( 2ω±ω ). Já o espalhamento<br />

Raman do segundo harmônico usa dois processos <strong>em</strong> cascata que pod<strong>em</strong>os simbolizar<br />

como 1 fóton ( ω+ ) 1 fóton( ω⇒ ) 1 fóton ( 2ω ) para o primeiro processo, e para o segundo<br />

1 fóton( 2ω+ ) 1 fônon( ω) ⇒1 fóton( 2ω±ω ). Ape<strong>na</strong>s <strong>em</strong> materiais nos quais a geração de<br />

f<br />

f<br />

f<br />

f<br />

160


segundo harmônico é muito intensa, o Raman do segundo harmônico pode ser tão<br />

intenso quanto o Hiper Raman.<br />

Outro aspecto relevante <strong>na</strong>s comparações entre Rayleigh & Raman versus Hiper<br />

Rayleigh & Hiper Raman, v<strong>em</strong> <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de relativa entre os espalhamentos Rayleigh<br />

e Raman. Em ambos os casos o Raman envolve um tensor de ord<strong>em</strong> mais alta do que o<br />

Rayleigh, entretanto, enquanto o espalhamento Raman é várias ordens de grandeza<br />

menos intenso do que o espalhamento Rayleigh, isso não é ver<strong>da</strong>de para os<br />

espalhamentos Hiper Raman e Hiper Rayleigh, que pod<strong>em</strong> ter intensi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> mesma<br />

ord<strong>em</strong> de grandeza. Isso porque o Hiper Rayleigh tende a ser proibido e é um efeito de<br />

superfície enquanto o Hiper Raman é de volume. Na prática isso significa que para<br />

observar o espalhamento Raman é necessário rejeitar o Rayleigh, mas os espalhamentos<br />

Hiper Rayleigh e Hiper Raman pod<strong>em</strong> ser observados simultaneamente no mesmo<br />

espectro. Isso traz uma grande vantag<strong>em</strong> para o Hiper Raman <strong>em</strong> relação ao Raman. No<br />

caso do Raman, não foi possível utilizar a grande janela de sintonia do laser de a<br />

Ti:Safira para procurar espalhamentos Raman resso<strong>na</strong>ntes por que os filtros NOTCH<br />

não são sintonizáveis. No espalhamento Hiper Raman, entretanto, não sendo necessário<br />

rejeitar o Hiper Rayleigh, pod<strong>em</strong>os sintonizar o laser continuamente. Além disso, os<br />

Hiper Raman entram <strong>em</strong> ressonância quando 2<br />

ω = Ef −Ei, que, para o segundo<br />

harmônico do laser de Ti:Safira, representa o intervalo de comprimento de on<strong>da</strong> de 350<br />

‐500 nm, já no limiar do ultravioleta, região <strong>em</strong> que a maioria <strong>da</strong>s amostras apresentam<br />

níveis eletrônicos.<br />

Após essa apresentação de tantas vantagens do Hiper Raman alguém poderia se<br />

perguntar porque essa técnica é tão pouco utiliza<strong>da</strong> comparativamente ao Raman<br />

<strong>em</strong>bora tenha sido d<strong>em</strong>onstra<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> <strong>na</strong> déca<strong>da</strong> de 1960. O grande probl<strong>em</strong>a é sua<br />

baixa eficiência e a necessi<strong>da</strong>de de uso de lasers de potências de pico muito intensas,<br />

como qualquer processo de dois fótons. Os relatos de obtenção de espectros Hiper<br />

Raman mostram espectros, comumente de curvas ponto a ponto, que d<strong>em</strong>oravam horas<br />

161


para ser<strong>em</strong> obtidos. O laser de escolha era o Nd:YAG Q‐switch/mode‐locked com um<br />

tr<strong>em</strong> de pulsos de duração <strong>em</strong> torno de 100 picosegundos separados por 10 ns e taxa de<br />

repetição <strong>em</strong> torno de 10 Hz. Entretanto, lasers de f<strong>em</strong>tosegundos e taxas de repetição<br />

de 80 MHz mu<strong>da</strong>m <strong>completa</strong>mente esse quadro. Primeiro porque a potência de pico de<br />

pulsos de 100 fs tende a ser mil vezes maior do que a de pulsos de 100 ps. Entretanto<br />

esse ganho <strong>na</strong> potência de pico pode ser limitado pelos limiares de <strong>da</strong>nos. Os<br />

mecanismos de limiares de <strong>da</strong>nos para efeitos térmicos e cumulativos, que depend<strong>em</strong><br />

<strong>da</strong> energia deposita<strong>da</strong> no material <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos longos são <strong>completa</strong>mente diferentes dos<br />

limiares de <strong>da</strong>nos para pulsos muito curtos. Nesse caso, campos elétricos muito<br />

intensos pod<strong>em</strong> gerar “optical breakdown” e ionização. Esse limiar é definido <strong>em</strong><br />

termos <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de, geralmente <strong>na</strong> faixa de TW/cm 2 , mesmo nos casos <strong>em</strong> que a<br />

energia por pulso é muito peque<strong>na</strong>. O outro limiar de <strong>da</strong>nos térmicos de lasers com<br />

repetição de 80 MHz é <strong>da</strong>do por sua potência média, como se fosse um laser cw. Como<br />

a absorção linear no infravermelho é baixa esse limiar tende a ser mais alto do que o de<br />

lasers cw no visível.<br />

Entretanto, mesmo considerando o caso <strong>em</strong> que as intensi<strong>da</strong>des de pico são<br />

iguais entre os lasers de Ti:Safira atuais e os lasers de Nd:YAG utilizados no passado, a<br />

taxa de repetição de 80 MHz compara<strong>da</strong> à de 10 Hz permite um ganho <strong>na</strong> relação<br />

si<strong>na</strong>l/ruído de quase 10 7 . Nesse aspecto 3 horas de t<strong>em</strong>po de acumulação com um laser<br />

de 10 Hz teria o mesmo número de pulsos contidos <strong>em</strong> 1 ms de um laser com 100 MHz.<br />

Por isso fomos capazes de observar espectros Hiper Raman <strong>em</strong> até 1 minuto, t<strong>em</strong>pos de<br />

acumulação <strong>da</strong> mesma ord<strong>em</strong> de grandeza do Raman, mesmo s<strong>em</strong> a coleta óptica<br />

otimiza<strong>da</strong> para o Hiper Raman. Com espelhos dicróicos adequados pod<strong>em</strong>os aumentar<br />

nossa eficiência de excitação e coleta por um fator 2 pelo menos. Essa é uma vantag<strong>em</strong><br />

muito importante para a microscopia, pois viabiliza a obtenção de imagens com<br />

resolução por Hiper Raman <strong>em</strong> questão de deze<strong>na</strong>s de minutos. O Hiper Raman para<br />

microscopia traz duas vantagens fun<strong>da</strong>mentais: (1) é quimicamente específico como o<br />

Raman e (2) sendo um processo de 2 fótons é intrinsecamente confocal com as mesmas<br />

162


vantagens para reconstrução de imagens <strong>em</strong> 3 D de alta resolução <strong>da</strong> microscopia<br />

confocal multifóton.<br />

4.9 Resultados de Hiper Raman e Hiper Rayleigh<br />

A Figura 101, mostra os espectros de Hiper Rayleigh e Hiper Raman do Tita<strong>na</strong>to<br />

de Estrôncio – SrTiO3, que serv<strong>em</strong> para caracterizar nossa instrumentação pois seus<br />

picos Hiper Raman são b<strong>em</strong> conhecidos e documentados [57, 58]. Notamos que<br />

pod<strong>em</strong>os ver o pico do Hiper Raman <strong>na</strong> mesma escala que o Hiper Rayleigh. As<br />

legen<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s figuras apresentam as informações sobre potências e t<strong>em</strong>pos de exposição<br />

utiliza<strong>da</strong>s. Apesar do pico do Hiper Rayleigh conter pouca informação do ponto de<br />

vista espectroscópico ele é excelente do ponto de vista do alinhamento e otimização <strong>da</strong><br />

medi<strong>da</strong>. Como ele é mais intenso e mais fácil de observar, nós otimizamos o sist<strong>em</strong>a<br />

através dele para só depois adquirir o Hiper Raman. Nessas medi<strong>da</strong>s usamos uma<br />

pastilha como amostra <strong>em</strong> lugar de um cristal para evitar probl<strong>em</strong>as com as regras de<br />

seleção e a orientação cristali<strong>na</strong>. Ambos os espectros, Hiper Rayleigh e Hiper Raman<br />

são, no mínimo, tão largos quanto o segundo harmônico do espectro do pulso utilizado,<br />

ou seja, <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 250 cm ‐1 . Por isso alguns picos citados <strong>na</strong> literatura, geralmente<br />

obtidos com pulsos de picosegundos, foram encobertos pela linha do Hiper Rayleigh no<br />

nosso caso.<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a. u.)<br />

Intensi<strong>da</strong>de (a.u.)<br />

390 395 400 405 410 415<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

500 600 700 800 900 1000<br />

raman shift (cm-1)<br />

Figura 101. Hiper Rayleigh e Hiper Raman do TiSrO3 – 60 s.<br />

Também medimos o Hiper Rayleigh de uma microesfera de sílica captura<strong>da</strong>, assim<br />

como mostra a Figura 102.<br />

163


Intensi<strong>da</strong>de (a.u.)<br />

380 390 400 410<br />

comprimento de on<strong>da</strong> (nm)<br />

Figura 102. Hiper Rayleigh de uma microesfera de vidro captura<strong>da</strong> ‐ 60 s.<br />

4.10 Integrando as Espectroscopias<br />

As figuras apresenta<strong>da</strong>s ao longo desse capítulo dão uma boa idéia do conjunto<br />

de possibili<strong>da</strong>des de espectroscopias e microscopias que abrimos com esse trabalho.<br />

Raman <strong>na</strong> região de 800 nm com laser de Ti:Safira cw, fluorescência <strong>na</strong> região de 500‐<br />

600 nm excita<strong>da</strong>s por absorção de dois fótons e Hiper Rayleigh & Hiper Raman <strong>na</strong><br />

região de 400 nm. Com isso d<strong>em</strong>onstramos que to<strong>da</strong>s espectroscopias pod<strong>em</strong> ser<br />

acopla<strong>da</strong>s <strong>em</strong> uma mesma e única montag<strong>em</strong>, agrega<strong>da</strong>s à pinça óptica, utilizando um<br />

microscópio comercial, conforme foi apresentado no capítulo 2. Todos os espectros<br />

foram obtidos com poucos segundos. Desse modo, com o micro‐Raman, o micro Hiper<br />

Raman, a pinça óptica e mais as luminescências que somos capazes obter através <strong>da</strong><br />

absorção de 2 fótons t<strong>em</strong>os agora uma ferramenta <strong>completa</strong> para estu<strong>da</strong>r células vivas e<br />

uma grande varie<strong>da</strong>de de amostras <strong>em</strong> um mesmo sist<strong>em</strong>a experimental. Pod<strong>em</strong>os<br />

fazer medi<strong>da</strong>s de uma única célula <strong>em</strong> movimento ou não pois t<strong>em</strong>os a possibili<strong>da</strong>de<br />

capturá‐la. Também somos capazes de realizar aplicações <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po real se assim for<br />

desejável, com direito a observar alterações gera<strong>da</strong>s por qualquer modificação <strong>na</strong><br />

ativi<strong>da</strong>de celular, sendo a mesma causa<strong>da</strong> ou não por uma substância acresci<strong>da</strong> ao meio<br />

onde a partícula biológica está através do monitoramento <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

fluorescência ou <strong>da</strong> observação de picos de Raman. Os espectros de Hiper Raman foram<br />

obtidos com 60 s, t<strong>em</strong>po que só pode ser obtido quando se usa um laser de<br />

f<strong>em</strong>tosegundos com 80 megahertz de repetição. As espectroscopias de Hiper Raman e<br />

164


Hiper Rayleigh, por também ser<strong>em</strong> um efeito não linear, além de ter<strong>em</strong> as mesmas<br />

vantagens que a espectroscopia de multifóton e também poder<strong>em</strong> ser usa<strong>da</strong>s para se<br />

fazer imagens de alta resolução, se for<strong>em</strong> aplica<strong>da</strong>s <strong>na</strong> biologia ain<strong>da</strong> t<strong>em</strong> a vantag<strong>em</strong><br />

adicio<strong>na</strong>l de não causar <strong>da</strong>no algum para a célula. A espectroscopia multifotônica pode<br />

causar alguns <strong>da</strong>nos a célula pois exige o uso de corantes que geralmente são bastante<br />

tóxicos. Apesar <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de para esses espalhamentos ser<strong>em</strong> b<strong>em</strong> menos intensa, já<br />

exist<strong>em</strong> relatos do uso de Hiper Rayleigh <strong>na</strong> área biomédica [59]. T<strong>em</strong>os então no fi<strong>na</strong>l<br />

um sist<strong>em</strong>a de microespectroscopia bastante eficiente para diversos tipos estudos que<br />

pode envolver desde materiais biológicos até amostra de estado sólido.<br />

165


166


Capítulo 5<br />

Óptica geométrica, Hidrodinâmica e Aplicações <strong>da</strong><br />

Pinça Óptica<br />

Na minha dissertação de Mestrado [60] nós desenvolv<strong>em</strong>os um modelo de óptica<br />

geométrica para calcular a força óptica <strong>em</strong> uma esfera e usamos um método de<br />

calibração comparando‐a com a força de arraste hidrodinâmica entre dois planos<br />

infinitos, o fundo <strong>da</strong> lâmi<strong>na</strong> e a superfície <strong>da</strong> lamínula <strong>em</strong> uma câmara de Neubauer de<br />

100 µm de profundi<strong>da</strong>de, cuja solução é conheci<strong>da</strong> [61]. Os resultados dessa calibração<br />

foram bastante razoáveis, mesmo s<strong>em</strong> tomar maiores cui<strong>da</strong>dos com a medi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

potência do laser, como discutido no capítulo 2. Ao longo do trabalho de doutorado<br />

perceb<strong>em</strong>os a importância do uso <strong>da</strong> esfera integradora e reobtiv<strong>em</strong>os as medi<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

potência do laser após a objetiva. Dessa forma, a primeira aplicação <strong>da</strong> pinça óptica<br />

discuti<strong>da</strong> nesse capítulo trata de uma reanálise dos nossos <strong>da</strong>dos de calibração <strong>da</strong> pinça<br />

óptica com as novas medi<strong>da</strong>s de potência. Assim, só reapresentar<strong>em</strong>os de forma<br />

167


esumi<strong>da</strong> os desenvolvimentos <strong>da</strong> Tese de Mestrado que são necessários para a<br />

obtenção desses novos resultados.<br />

Apesar do modelo eletromagnético fornecer uma descrição mais <strong>completa</strong> e<br />

correta sobre a pinça óptica, o modelo de óptica geométrica para x>> a λ >> 1 (a é o<br />

raio <strong>da</strong> partícula e λ é o comprimento de on<strong>da</strong>) é suficient<strong>em</strong>ente preciso para pequenos<br />

deslocamentos <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> posição de equilíbrio e pode ser utilizado <strong>em</strong> medi<strong>da</strong>s de<br />

força, principalmente quando b<strong>em</strong> calibrado. Para tanto, nós s<strong>em</strong>pre evitamos, desde o<br />

Mestrado, medi<strong>da</strong>s que envolv<strong>em</strong> a veloci<strong>da</strong>de <strong>na</strong> qual a microesfera se solta <strong>da</strong> pinça<br />

óptica. S<strong>em</strong>pre preferimos medir pequenos deslocamentos <strong>da</strong> partícula causados pela<br />

força de arraste <strong>em</strong> um fluido com veloci<strong>da</strong>des controla<strong>da</strong>s. Com isso, garantimos<br />

maior compatibili<strong>da</strong>de entre os modelos <strong>da</strong> óptica geométrica e eletromagnética. O<br />

aspecto <strong>da</strong> calibração é recorrente nos trabalhos de muitos autores <strong>na</strong> área de pinças<br />

ópticas devido a sua importância estratégica para o uso <strong>da</strong>s mesmas como técnica de<br />

medi<strong>da</strong>s quantitativas de proprie<strong>da</strong>des mecânicas no mundo microscópico.<br />

Essa calibração, por ex<strong>em</strong>plo, nos permitiu quantificar a força de um protozoário<br />

importante <strong>na</strong> área <strong>da</strong> saúde como a Leishmania amazonensis, <strong>na</strong> sua forma<br />

promastigotas, que causa a Leishmaniose, uma doença endêmica no Brasil. O objetivo<br />

fi<strong>na</strong>l foi o de <strong>da</strong>r um primeiro passo para entender o seu comportamento <strong>na</strong>s<br />

proximi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> célula alvo, o macrófago, por ela infecta<strong>da</strong>. Desde então perceb<strong>em</strong>os a<br />

importância de estu<strong>da</strong>r a quimiotaxia de microorganismos, para a qual a medi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

força e sua direcio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de são fun<strong>da</strong>mentais.<br />

Também no Mestrado desenvolv<strong>em</strong>os um modelo simples para medi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

elastici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s h<strong>em</strong>ácias que nos permitiu obter resultados quantitativos. Isso<br />

representou um grande avanço <strong>na</strong> época uma vez que era comum a apresentação de<br />

resultados ape<strong>na</strong>s através <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de si<strong>na</strong>is <strong>em</strong> forma cruzes, ou seja,<br />

qualitativos. Esse trabalho teve continui<strong>da</strong>de do ponto de vista médico e a mesma<br />

técnica foi utiliza<strong>da</strong> <strong>em</strong> diversas condições h<strong>em</strong>atológicas. Mesmo considerando que a<br />

simplici<strong>da</strong>de do modelo não permitiria a obtenção de resultados numéricos absolutos, o<br />

168


fato é que, mantendo as mesmas condições pod<strong>em</strong>os obter resultados comparativos<br />

com muito mais sensibili<strong>da</strong>de dos que os métodos qualitativos utilizados até então. Do<br />

ponto de vista experimental procuramos vali<strong>da</strong>r o método estu<strong>da</strong>ndo seu<br />

comportamento contra as previsões do modelo simples, nos certificando que quaisquer<br />

diferenças entre valores reais e valores obtidos estivess<strong>em</strong> <strong>em</strong> uma constante<br />

multiplicativa. Para garantir a comparabili<strong>da</strong>de, as medi<strong>da</strong>s obti<strong>da</strong>s para essas<br />

aplicações foram realiza<strong>da</strong>s s<strong>em</strong>pre dentro do mesmo procedimento. Nesse capítulo<br />

apresentamos, de forma sintetiza<strong>da</strong>, os resultados desse trabalho realizado <strong>em</strong><br />

colaboração com o H<strong>em</strong>ocentro <strong>da</strong> UNICAMP. Mostramos que vantagens essa técnica<br />

pode oferecer <strong>em</strong> termos de sensibili<strong>da</strong>de e individuali<strong>da</strong>de do método de medi<strong>da</strong>, nos<br />

permitindo caracterizar e diferenciar h<strong>em</strong>ácias <strong>em</strong> diversas condições, tais como, células<br />

estoca<strong>da</strong>s, irradia<strong>da</strong>s e de pacientes com an<strong>em</strong>ia falciforme.<br />

Ao mesmo t<strong>em</strong>po, do ponto de vista <strong>da</strong> física envolvi<strong>da</strong>, procuramos <strong>da</strong>r maior<br />

suporte teórico ao modelo simples, para justificá‐lo ou substituí‐lo por modelos com<br />

medi<strong>da</strong>s de valores absolutos. O aspecto que levantou as maiores discussões parece<br />

estar concentrado no modelo de escoamento de Couette que utilizamos para<br />

hidrodinâmica <strong>em</strong> baixos números de Reynolds. Dessa forma decidimos estu<strong>da</strong>r a<br />

hidrodinâmica mais a fundo, a princípio procurando por soluções já prontas para o<br />

arraste de um corpo com uma geometria pla<strong>na</strong> entre duas paredes. Para nossa surpresa<br />

não conseguimos encontrar <strong>em</strong> to<strong>da</strong> a literatura uma solução para o probl<strong>em</strong>a de um<br />

disco ou uma placa se movendo com veloci<strong>da</strong>de uniforme nessas condições. Também<br />

perceb<strong>em</strong>os que só <strong>na</strong> última déca<strong>da</strong> os probl<strong>em</strong>as de hidrodinâmica <strong>em</strong> baixos<br />

números de Reynolds se tor<strong>na</strong>ram suficient<strong>em</strong>ente importantes para merecer<strong>em</strong> a<br />

atenção dos pesquisadores. Encontramos trabalhos tão recentes quanto 2002 e 2003<br />

nessa área. Isso porque, <strong>em</strong>bora pareçam simples e análogos a probl<strong>em</strong>as de<br />

eletrostática, os probl<strong>em</strong>as hidrodinâmicos são muito mais complicados. Nesse capítulo,<br />

portanto, relatamos os resultados dos nossos estudos <strong>da</strong> hidrodinâmica <strong>em</strong> baixos<br />

números de Reynolds incluindo alguns teor<strong>em</strong>as que justificam nossas aproximações<br />

169


geométricas para a h<strong>em</strong>ácia. O universo habitado pelos microorganismos, de baixos<br />

números de Reynolds, é um universo pré‐Galileano, s<strong>em</strong> inércia, no qual os corpos só se<br />

movimentam <strong>na</strong> presença de uma força e param instantaneamente <strong>na</strong> ausência <strong>da</strong>s<br />

mesmas, e onde as forças de arraste vêm acompanha<strong>da</strong>s, inevitavelmente, por variações<br />

de pressão. Essas forças hidrodinâmicas provavelmente são muito mais relevantes para<br />

esses seres, com densi<strong>da</strong>de igual à <strong>da</strong> água, do que as advin<strong>da</strong>s do campo gravitacio<strong>na</strong>l,<br />

ao contrário do mundo <strong>em</strong> que nós habitamos.<br />

5.1 Calibração <strong>da</strong> Pinça Óptica<br />

5.1.1 Teoria Óptica Geométrica<br />

O primeiro passo para calcular a força óptica <strong>na</strong> aproximação geométrica foi<br />

calcular a força que um único pincel de luz exerce sobre um uma esfera considerando<br />

to<strong>da</strong>s as suas refrações e reflexões, Figura 103 [1, 62, 63].<br />

Figura 103. Reflexões e refrações de um pincel de luz dentro de uma esfera. Orig<strong>em</strong> <strong>da</strong>s<br />

coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s no centro <strong>da</strong> esfera e o eixo z’ está <strong>na</strong> direção do pincel de luz incidente.<br />

e y’ são:<br />

Desse modo, as força de um único pincel de luz sobre a esfera <strong>na</strong>s coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s z’<br />

n1<br />

P ⎡<br />

Fy<br />

ʹ = −R sin π+ σ + T R sin α + nβ<br />

c ⎢⎣<br />

∑ ∞<br />

n=<br />

0<br />

⎥<br />

(5. 1)<br />

2 n<br />

( 2 ) ( )<br />

n ⎡<br />

⎤<br />

= ⎢ − ( π + σ) + ∑ ∞<br />

1<br />

P<br />

2 n<br />

Fzʹ 1 R cos 2 T R cos( α + nβ) c<br />

⎥⎦ (5. 2)<br />

⎣<br />

n=0<br />

⎤<br />

⎦<br />

170


Para realizar os somatórios, escrev<strong>em</strong>os as forças no plano complexo através <strong>da</strong><br />

transformação<br />

F<br />

c<br />

Fz′ + iFy′<br />

= e assim as somas se tor<strong>na</strong>m séries geométricas e t<strong>em</strong>os:<br />

n ⎛<br />

⎡<br />

1<br />

P<br />

⎜<br />

2<br />

F c<br />

= 1 + R exp ( 2σi)<br />

− T exp( iα<br />

)<br />

⎢<br />

c ⎝<br />

⎣1<br />

−<br />

1<br />

R exp(<br />

⎤ ⎞<br />

⎥<br />

⎟<br />

iβ)<br />

⎦ ⎠<br />

(5. 3)<br />

Onde α = 2(σ ‐ x), β = (π ‐ 2 x) e sin x = n sinσ. A variável σ é o ângulo de<br />

incidência, n = n1/n2 é o índice de refração relativo sendo n1 o índice de refração referente<br />

ao fluido e n2 a esfera., c é a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz e P é a potência do laser. As variáveis<br />

( tan ( ) tan ( )) 2<br />

R= σ−x σ+ x e T = 1 − R são, respectivamente, a refletância e a<br />

transmitância para um pincel linearmente polarizado. Dentre outros parâmetros, a força<br />

F<br />

c<br />

depende do índice de refração relativo e do ângulo de incidência.<br />

O ângulo de incidência varia para ca<strong>da</strong> pincel, então é necessário trocar a orig<strong>em</strong><br />

e o sist<strong>em</strong>a de coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s para uma posição fixa que escolh<strong>em</strong>os ser o foco do feixe de<br />

laser, Figura 104. Escrevendo o ângulo de incidência σ <strong>em</strong> função dos vetores δ e r <br />

t<strong>em</strong>os que a expressão fi<strong>na</strong>l de força dependerá somente do deslocamento r vetor<br />

(variável que conecta o foco do feixe ao centro <strong>da</strong> esfera), o ângulo de convergência do<br />

feixe (abertura numérica), o raio <strong>da</strong> esfera, a potência do laser (que consideramos ser<br />

igual para ca<strong>da</strong> pincel) e o índice de refração relativo, todos parâmetros conhecidos.<br />

Usando a lei dos cossenos t<strong>em</strong>os que,<br />

<br />

onde d = δ , δ− r = a<br />

( ) 2<br />

2<br />

σ= arccos ⎡ 1+ d − r a 2d⎤<br />

(5. 4),<br />

⎣ ⎦<br />

→<br />

e o deslocamento r = ( r sin γ , 0, r cos γ ) .<br />

Figura 104. Troca do sist<strong>em</strong>a de coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s e definição de ângulos e vetores.<br />

171


A força de todo o feixe cônico do laser é obtido pela integração<br />

∫ →<br />

∫<br />

F = F dA dA .<br />

Na Tese de Mestrado obtiv<strong>em</strong>os o diferencial de integração através de r = f tgθ, de<br />

modo que<br />

2 2<br />

rdrdϕ= f sec θtgθdθdϕ conforme Ashkin havia proposto. Aqui corrigimos<br />

isso usando a condição seno de Abbe para a qual<br />

r = f senθ e<br />

rdrdϕ = f 2 senθcosθdθdϕ.<br />

A Figura 105 mostra a geometria de integração do feixe de laser incidente. A expressão<br />

<strong>da</strong> força óptica e seus valores foram obtidos usando Math<strong>em</strong>atica.<br />

z<br />

θ<br />

d<br />

y<br />

x<br />

Figura 105. Geometria de integração do feixe de laser incidente.<br />

5.1.2 Teoria Hidrodinâmica<br />

A força hidrodinâmica de arraste <strong>em</strong> uma esfera <strong>em</strong> veloci<strong>da</strong>de constante <strong>na</strong><br />

presença de duas paredes é um dos poucos probl<strong>em</strong>as hidrodinâmicos <strong>em</strong> baixos<br />

números de Reynolds suficient<strong>em</strong>ente estu<strong>da</strong>do. A presença <strong>da</strong>s paredes não permite<br />

que se utilize simplesmente a força de Stokes. O desenvolvimento desse trabalho foi<br />

abor<strong>da</strong>do <strong>na</strong> minha Tese de Mestrado seguindo os passos de Faxen descritos no livro de<br />

Brenner.<br />

As equações diferenciais <strong>em</strong> baixos números de Reynolds,<br />

2<br />

<br />

µ∇ v=∇p e ∇ ⋅ v=<br />

0,<br />

onde v é a veloci<strong>da</strong>de, p a pressão e µ a viscosi<strong>da</strong>de do fluido, são conheci<strong>da</strong>s como<br />

equações de “creeping motion”, serão deduzi<strong>da</strong>s <strong>na</strong> seção de hidrodinâmica desse<br />

capítulo. As equações do regime de “creeping motion”, ao contrário do regime oposto<br />

com altos números de Reynolds, são lineares, garantindo o princípio <strong>da</strong> superposição<br />

de soluções. Para incluir a correção <strong>da</strong>s paredes é necessário resolver essas equações<br />

<br />

com as condições de contorno de “non slip”, i.e., v = u para o fluido adjacente à<br />

172


partícula e v = 0<br />

para o fluido <strong>na</strong>s paredes. Para garantir as condições de contorno <strong>na</strong>s<br />

paredes é preciso incluir imagens, mais complica<strong>da</strong>s do que as imagens <strong>da</strong> eletrostática,<br />

e imagens <strong>da</strong>s imagens, sucessivamente. A veloci<strong>da</strong>de é escrita como uma superposição<br />

1 2 3<br />

1<br />

de veloci<strong>da</strong>des v = v + v + v + ... , onde v é a solução para a partícula livre <strong>em</strong> um<br />

líquido não delimitado e a influência <strong>da</strong>s paredes é incorpora<strong>da</strong> através <strong>da</strong>s sucessivas<br />

correções. A Figura 106 mostra a geometria do probl<strong>em</strong>a, com uma esfera de raio a<br />

separa<strong>da</strong> de uma <strong>da</strong>s paredes pela distância l e <strong>da</strong> outra b, de forma que a distância<br />

entre as mesmas é l + b, e com a orig<strong>em</strong> <strong>da</strong>s coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s no centro <strong>da</strong> esfera, para<br />

facilitar a aplicação <strong>da</strong>s condições de contorno <strong>na</strong> mesma. A veloci<strong>da</strong>de v <strong>da</strong> partícula é<br />

paralela às paredes.<br />

Figura 106. Esqu<strong>em</strong>a do modelo hidrodinâmico.<br />

O resultado fi<strong>na</strong>l para a força de arraste, até ord<strong>em</strong> de (a/l) 3 , é <strong>da</strong>do por:<br />

6πµ<br />

av<br />

F =<br />

a a<br />

1− A<br />

⎛ ⎞<br />

B<br />

⎛ ⎞<br />

⎜ ⎟+<br />

⎜ ⎟<br />

⎝ l ⎠ ⎝ l ⎠<br />

3<br />

(5. 5)<br />

onde A e B são os coeficientes integrais <strong>da</strong>dos por:<br />

+∞<br />

− h<br />

23 32 22⎡ 2 2 ⎤<br />

0<br />

x<br />

{ ( ) ⎡( ) ⎤ ( ) ⎡( ) ⎤ ( )<br />

( − )<br />

31 ( )<br />

A= s t 1 h 1 h x 1 s t 1 h 1 h x 1 4s t 2 1 h x 2x<br />

1<br />

4<br />

∫<br />

− − − + + + − + − − +<br />

N st 1<br />

⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦<br />

( ) ( ) ( ) ⎡⎣( )<br />

2 2 2 2 2 2<br />

+ 2st ⎡( 3 h ) x h⎤<br />

2s t ⎡ 3 h h⎤ 4st ⎡2 1 h x 2x 1⎤<br />

⎣<br />

− −<br />

⎦<br />

+ − + − − + + + s 1−h 1− h x + 1⎤<br />

⎣ ⎦ ⎣ ⎦<br />

⎦<br />

91 ( − h)<br />

s+ t−2<br />

+ t( 1+ h) ⎡⎣( 1+ h) x+ 1⎤⎦dx}<br />

+<br />

dx<br />

8<br />

∫<br />

st −1<br />

(5. 6)<br />

+∞<br />

0<br />

173


( − )( − )<br />

8( h−<br />

2)<br />

2 +∞ 2<br />

0<br />

{<br />

2 h 1 1 h x 2 2<br />

2<br />

B= st 21 ( h) x 1 s t 21 ( h) x 1 st⎡( 4x 1) 1⎤<br />

∫ ⎡ − − ⎤+ ⎡ + − ⎤+ − + + t⎡21 ( + h)<br />

x+<br />

1⎤<br />

N<br />

⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦<br />

3 +∞ 3<br />

[ ] } ( 1−<br />

h ) x 2 3 3 2 2 2 2<br />

21 ( ) 1d<br />

{ ( 1 ) ( 1 ) ( 8 4)<br />

( 8 2 )<br />

4<br />

∫<br />

N( st−1)<br />

+ s − h x+ x + s t − h + s t + h + s t x− −st x−<br />

h<br />

0<br />

3 +∞<br />

2 2<br />

1 h s+ t−2<br />

− st x+ h + st x+ dx−s −h − t + hdx − x d x,<br />

8<br />

∫<br />

st −1<br />

(5. 7)<br />

( ) ( ) ( ) ( ) } ( −<br />

8 2 8 4 1 1<br />

)<br />

2x(1−h)<br />

2x(1+<br />

h)<br />

N = st x st s = e , t e ,<br />

2 2<br />

com ( − 1) − 16 ,<br />

= l ( 1 − h) L e<br />

0<br />

= b = ( 1 + h)L<br />

.<br />

Na nossa calibração desprezamos os termos de ord<strong>em</strong> maior que (a/l) 3 .<br />

As<br />

constantes A e B foram obti<strong>da</strong>s com integração utilizando o Math<strong>em</strong>atica.<br />

5.1.3 Métodos e Resultados<br />

Nós conferimos experimentalmente nossos modelos teóricos usando<br />

microesferas de 9 µm de diâmetro <strong>da</strong> Polysciences. A montag<strong>em</strong> experimental usa<strong>da</strong><br />

está descrita no capítulo 2. A posição de equilíbrio é medi<strong>da</strong> no repouso, <strong>na</strong> ausência de<br />

forças óptica e hidrodinâmica, quando o foco do laser coincide com o centro <strong>da</strong> esfera<br />

<strong>na</strong> horizontal. Na vertical existe um pequeno deslocamento devido às reflexões.<br />

Quando a esfera se movimenta com veloci<strong>da</strong>de constante, a força óptica será<br />

equilibra<strong>da</strong> pela força hidrodinâmica através <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça do centro <strong>da</strong> microesfera.<br />

Esse deslocamento do foco <strong>em</strong> relação ao centro pode ser facilmente determi<strong>na</strong>do<br />

superpondo imagens <strong>da</strong> esfera <strong>em</strong> repouso e <strong>em</strong> movimento e medindo a distância<br />

entre seus centros, assim como ilustra Figura 107. O movimento <strong>da</strong>s partículas foi<br />

gravado <strong>em</strong> fitas de vídeo e digitalizado usando uma placa de captura. O deslocamento<br />

foi medido usando o software Image‐Pro Plus <strong>da</strong> Media Cybernetics. Assumimos o<br />

ângulo γ do modelo óptico como 90 o pelo fato do movimento ser feito <strong>na</strong> direção x.<br />

Variamos a profundi<strong>da</strong>de l usando o micrômetro do microscópio e b é obtido pela<br />

diferença entre a profundi<strong>da</strong>de total de 100 µm <strong>da</strong> Neubauer e l.<br />

174


A potência do laser foi medi<strong>da</strong> com a esfera integradora após a objetiva do<br />

microscópio, usando o procedimento descrito no capítulo 2. Variamos tanto os índices<br />

de refração quanto a viscosi<strong>da</strong>de do fluido usando soluções de água e açúcar <strong>na</strong>s<br />

concentrações de 14%, 20% e 28%. Verificamos os valores <strong>da</strong> solução, tabelados no<br />

Handbook de Física e Química, usando um viscosímetro de Ostwald e um refratômetro<br />

de Abbe. As veloci<strong>da</strong>des de arraste foram controla<strong>da</strong>s pelo computador variando de<br />

150 µm/s até 350 µm/s <strong>em</strong> passos de 50 µm/s. Também variamos as profundi<strong>da</strong>des l <strong>na</strong>s<br />

distâncias de 15 µm, 25 µm, 50 µm, 75 µm e 85 µm. Isso significa que nossas medi<strong>da</strong>s<br />

experimentais varreram tanto os parâmetros do modelo hidrodinâmico quanto os do<br />

modelo óptico, ou seja, para uma mesma potência do laser, variamos: veloci<strong>da</strong>de de<br />

arraste, profundi<strong>da</strong>de l, viscosi<strong>da</strong>de η e índice de refração relativo n, e usamos os<br />

valores dos mesmos nos cálculos <strong>da</strong>s forças óptica e hidrodinâmica. Dessa forma foi<br />

possível comparar os resultados obtidos.<br />

Figura 107. Deslocamento <strong>da</strong> microesfera <strong>em</strong> repouso <strong>em</strong> relação à <strong>em</strong> movimento.<br />

A Figura 108 mostra o gráfico dos valores calculados <strong>da</strong> força óptica vs. força<br />

hidrodinâmica para mais de 30 pontos. O coeficiente angular <strong>da</strong> reta é 47 o , muito<br />

próximo do valor de 45 o esperado, com R 2 <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 0,9. Antes do uso <strong>da</strong> esfera<br />

integradora e <strong>da</strong> condição seno de Abbe, nós estávamos obtendo uma incli<strong>na</strong>ção de 40 o<br />

entre as duas forças. Esse foi o principal resultado para nos <strong>da</strong>r confiança no uso <strong>da</strong><br />

técnica para medi<strong>da</strong> de forças. Vale notar, entretanto, que só estamos calibrando forças<br />

horizontais, pois só medimos deslocamentos horizontais. O método de medi<strong>da</strong> do<br />

deslocamento vertical do capítulo 3 é relativo ape<strong>na</strong>s, não permitindo comparações<br />

quantitativas. Teríamos que desenvolver métodos de calibração para torná‐lo<br />

quantitativo.<br />

175


100<br />

Força Óptica (pN)<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

0 20 40 60 80 100<br />

Força Hidrodinâmica (pN)<br />

Figura 108. Gráfico <strong>da</strong> força óptica versus força hidrodinâmica.<br />

Além de o gráfico d<strong>em</strong>onstrar as possibili<strong>da</strong>des de calibração <strong>da</strong> técnica também<br />

fornece uma boa idéia do intervalo de forças <strong>da</strong>s nossas medi<strong>da</strong>s, chegando a quase 100<br />

pN, o que d<strong>em</strong>onstra a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> nossa pinça óptica. Poucas pinças ópticas chegam<br />

a esse limite.<br />

Dado a quali<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos decidimos testar o nosso sist<strong>em</strong>a como um medidor<br />

de viscosi<strong>da</strong>de. Agora nós medimos os deslocamentos e usamos os valores calculados<br />

para força óptica a fim de determi<strong>na</strong>r a força hidrodinâmica,<br />

F = F , através <strong>da</strong> qual<br />

opt<br />

hidro<br />

calculamos as viscosi<strong>da</strong>des. Para tanto movimentamos uma microesfera <strong>em</strong> duas<br />

diferentes soluções de 20% e 32% de glicerol <strong>em</strong> água com veloci<strong>da</strong>des varia<strong>da</strong>s. A<br />

Tabela 1 apresenta os valores que obtiv<strong>em</strong>os e os valores tabelados no Handbook de<br />

Química e Física. Embora nosso objetivo jamais tenha sido o de desenvolver um<br />

viscosímetro à pinça óptica, a pergunta sobre <strong>em</strong> que situações ele poderia ser útil<br />

comparado aos convencio<strong>na</strong>is acabou ocorrendo. Perceb<strong>em</strong>os então que a vantag<strong>em</strong><br />

dessa técnica ocorreria <strong>em</strong> situações <strong>em</strong> que há pouco ou nenhum acesso ao fluido,<br />

como <strong>em</strong> microfluídica, por ex<strong>em</strong>plo. Viscosímetros convencio<strong>na</strong>is utilizam,<br />

comumente, deze<strong>na</strong>s de mililitros do fluido. A pinça óptica poderia operar <strong>na</strong> faixa de<br />

microlitros até submicrolitros. Isso abre a oportuni<strong>da</strong>de de medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> viscosi<strong>da</strong>de local,<br />

dentro de células intactas, por ex<strong>em</strong>plo. Experimentos desse tipo serão ca<strong>da</strong> vez mais<br />

176


importantes à medi<strong>da</strong> que nossa capaci<strong>da</strong>de de manipulação do mundo microscópico<br />

aumenta.<br />

20% 32%<br />

Handbook 1.73cP 2.63cP<br />

Pinça Óptica 1.83cP ±6% 2.76cP±5%<br />

Tabela 1. Viscosi<strong>da</strong>des tabela<strong>da</strong>s no Handbook de Química e Física<br />

e medi<strong>da</strong>s pela pinça óptica.<br />

5.2 Medi<strong>da</strong>s de Forças do Protozoário <strong>da</strong> Leishmaniose, o Parasita Leishmania<br />

amazonensis<br />

5.2.1 Motivação<br />

Os resultados obtidos no estudo <strong>da</strong> calibração <strong>da</strong> força óptica nos mostrou que<br />

era possível medir quantitativamente a força de cílios e flagelos de microorganismos.<br />

Uma medi<strong>da</strong> comparativa s<strong>em</strong>pre pode ser facilmente realiza<strong>da</strong> pelo fato <strong>da</strong> força<br />

óptica ser diretamente proporcio<strong>na</strong>l à potência do laser. Nesse caso seria possível, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, determi<strong>na</strong>r a motili<strong>da</strong>de de espermatozóides medindo a potência do laser no<br />

limite <strong>em</strong> que o mesmo consegue escapar <strong>da</strong> armadilha óptica. Quanto maior a<br />

motili<strong>da</strong>de maior essa potência. Entretanto, não se trata de uma medi<strong>da</strong> quantitativa.<br />

Para realização de medi<strong>da</strong>s quantitativas é necessário capturar partículas com<br />

geometrias b<strong>em</strong> defini<strong>da</strong>s <strong>na</strong>s quais seja possível quantificar ou a força óptica ou a<br />

hidrodinâmica. Por isso a calibração e o cálculo <strong>da</strong>s forças <strong>em</strong> microesferas é crucial.<br />

Assim, para a medi<strong>da</strong> de forças <strong>em</strong> microobjetos vivos ou não, deve‐se capturar uma<br />

microesfera de um material que se ligue ao microorganismo, e não diretamente o objeto<br />

de estudo. Nos regimes de escoamentos <strong>em</strong> baixos números de Reynolds, s<strong>em</strong> energia<br />

cinética, estamos s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> uma condição de equilíbrio, conforme discussão <strong>da</strong> seção<br />

5.4, e a força <strong>na</strong> microesfera será igual à força do flagelo ou cílio. No fundo o<br />

deslocamento <strong>da</strong> microesfera é o nosso transdutor de força.<br />

As forças obti<strong>da</strong>s com as pinças ópticas, de Pico a F<strong>em</strong>toNewtons ‐<br />

12<br />

10 − a 10<br />

‐15<br />

N ‐ são <strong>da</strong> mesma ord<strong>em</strong> de grandeza <strong>da</strong>s forças de motores celulares<br />

como cílios e flagelos, ou forças de adesão entre as superfícies de<br />

177


microorganismos/microorganelas. Por essa razão a pinça óptica é uma ferramenta ideal<br />

para o estudo de proprie<strong>da</strong>des mecânicas, como forças e elastici<strong>da</strong>des, de<br />

microorganismos in vivo, com a vantag<strong>em</strong> adicio<strong>na</strong>l de permitir a aproximação e<br />

afastamento de superfícies ou microorganismos aderentes de forma controla<strong>da</strong> e<br />

documenta<strong>da</strong> <strong>em</strong> vídeo. Usando essa técnica com promastigotas de Leishmania<br />

amazonensis, um protozoário parasita, pod<strong>em</strong>os entender melhor os fenômenos<br />

relacio<strong>na</strong>dos a sua mobili<strong>da</strong>de flagelar, adesão, dissociação e sensibili<strong>da</strong>de a estímulos<br />

do microambiente. O objetivo fi<strong>na</strong>l dessa aplicação é estu<strong>da</strong>r a maneira como o<br />

protozoário <strong>da</strong> Leishmaniose infecta os macrófagos do hospedeiro humano e como se<br />

comporta com a proximi<strong>da</strong>de dos mesmos. Entretanto, essa pesquisa deve se iniciar<br />

pela caracterização do comportamento do protozoário <strong>em</strong> uma situação padrão, ou seja,<br />

<strong>na</strong> ausência dos macrófagos. A medi<strong>da</strong> mais importante dessa caracterização é a <strong>da</strong><br />

força do flagelo <strong>em</strong> meio de cultura, que será compara<strong>da</strong>, posteriormente, às forças do<br />

flagelo <strong>na</strong> presença do macrófago. O objeto desse trabalho, portanto, foi d<strong>em</strong>onstrar<br />

essa técnica e estabelecer sua sensibili<strong>da</strong>de e limites para determi<strong>na</strong>ção de forças de<br />

flagelos.<br />

5.2.2. O Parasita<br />

A leishmania é um protozoário <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> Kinetoplasti<strong>da</strong> e <strong>da</strong> família<br />

Trypanossomati<strong>da</strong>e. Esses parasitas, assim como Trypanossoma cruzi e Trypanossoma<br />

brucei, são responsáveis por parasitoses com altos índices de incidência <strong>em</strong> várias<br />

regiões do mundo. Doença de Chagas, leishmaniose e tripanossomíase africa<strong>na</strong> afetam<br />

cerca de trinta milhões de pessoas [64].<br />

O ciclo evolutivo <strong>da</strong> leishmania está esqu<strong>em</strong>atizado <strong>na</strong> Figura 109 a. A forma<br />

promastigota é flagelar, móvel, t<strong>em</strong> cerca de 20 µm de extensão e vive no tubo digestivo<br />

do inseto flebótomo, ligado às microvilosi<strong>da</strong>des, onde prolifera. Essa forma pode ser<br />

cultiva<strong>da</strong> in vitro. Os mecanismos moleculares de ligação dos promastigotas ao intestino<br />

do inseto não são b<strong>em</strong> conhecidos. O inseto vetor inocula os promastigotas <strong>na</strong> pele do<br />

178


hospedeiro através <strong>da</strong> saliva. Os protozoários penetram <strong>na</strong>s células dos macrófagos,<br />

dentro <strong>da</strong>s quais mu<strong>da</strong>m para a forma amastigota. Os detalhes sobre essa<br />

transformação <strong>da</strong> forma promastigota para amastigota não são b<strong>em</strong> conhecidos, <strong>em</strong>bora<br />

existam evidências que promastigotas são sensíveis às mu<strong>da</strong>nças ambientais. As<br />

mu<strong>da</strong>nças microambientais sofri<strong>da</strong>s pelos promastigotas são drásticas, no tubo<br />

digestivo do flebotomineo a t<strong>em</strong>peratura é <strong>em</strong> torno de 26 o C e pH 7.2 e no ambiente<br />

intracelular dos macrófagos de mamíferos de 35 ‐ 37 o C e pH 5. Os amastigotas são<br />

menores <strong>em</strong> tamanho (cerca de 5 µm de diâmetro), ovóides, imóveis e com flagelo<br />

muito pequeno e intracelular. Dependendo <strong>da</strong> espécie de leishmania, observa‐se<br />

tropismo por macrófagos de diferentes tecidos, ocasio<strong>na</strong>ndo diferentes patologias,<br />

Figura 109. Não há vaci<strong>na</strong>s e a quimioterapia, utiliza<strong>da</strong> há mais de quarenta anos para<br />

todos os tipos <strong>da</strong> doença, não é totalmente efetiva, apresenta efeitos colaterais sérios e<br />

casos de resistência [65, 66]. A Leishmania amazonensis, provoca lesões cutâneas simples,<br />

e <strong>em</strong> baixa porcentag<strong>em</strong> de indivíduos infectados há evolução para a leishmaniose<br />

cutânea difusa, Figura 109 c.<br />

Embora exista uma extensa literatura sobre as moléculas e os antígenos do<br />

parasita que contribu<strong>em</strong> para a infecção celular, os aspectos relacio<strong>na</strong>dos à cinética de<br />

entra<strong>da</strong> e adesão dos promastigotas, mobili<strong>da</strong>de e sensibili<strong>da</strong>de a estímulos externos,<br />

são pouco estu<strong>da</strong>dos. Entre os raros trabalhos de cinética por filmagens, realizados com<br />

leishmania, estão os do grupo de Rabinovitch [67]. O estudo foi feito com células<br />

infecta<strong>da</strong>s com a forma amastigota e não tinha como objetivo avaliar a aderência ou o<br />

processo de infecção. Para avaliar o papel do corpo axial <strong>na</strong> mobili<strong>da</strong>de de<br />

promastigotas de Leishmania mexica<strong>na</strong> o grupo de LeBowitz [68] a<strong>na</strong>lisou a mobili<strong>da</strong>de<br />

de mutantes PFR2 ‐ , que não possu<strong>em</strong> essa estrutura. Os estudos, realizados <strong>em</strong><br />

microscopia estroboscópica <strong>em</strong> campo escuro se limitaram a medição <strong>da</strong> freqüência <strong>da</strong>s<br />

“bati<strong>da</strong>s” flagelares. Nenhum outro parâmetro, como por ex<strong>em</strong>plo, amplitude, força,<br />

elastici<strong>da</strong>de ou deformabili<strong>da</strong>de foi a<strong>na</strong>lisado.<br />

179


. Lesão cutânea simples<br />

a. Ciclo evolutivo <strong>da</strong> leishmania<br />

c. Lesão cutânea difusa<br />

e. Leishmaniose mucosa<br />

d. Leishmaniose visceral<br />

Figura 109. Ciclo evolutivo e diferentes formas <strong>da</strong> leishmaniose.<br />

Em outros microorganismos ciliados e flagelados os parâmetros citados acima<br />

são mais b<strong>em</strong> estu<strong>da</strong>dos e medi<strong>da</strong>s mais precisas são obti<strong>da</strong>s devido ao uso <strong>da</strong> pinça<br />

óptica. Por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> Escherichia coli liga<strong>da</strong>s a microesferas, o uso <strong>da</strong> pinça óptica<br />

possibilitou a análise de deze<strong>na</strong>s de bactérias individuais, os cálculos de veloci<strong>da</strong>de e<br />

t<strong>em</strong>po de rotação, de força e de torque. Medi<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s forças envolvi<strong>da</strong>s <strong>na</strong> adesão <strong>da</strong><br />

bactéria a superfícies com manose também foram possíveis usando a pinça óptica para<br />

manipulação. Os autores quantificaram e avaliaram as forças necessárias para a adesão<br />

e o desligamento <strong>da</strong> bactéria <strong>da</strong> superfície [69, 70].<br />

5.2.3. Metodologia, Resultados e Conclusões<br />

No laboratório <strong>da</strong> Dra. Selma Giorgio no Depto. de Parasitologia do Instituto de<br />

Biologia <strong>da</strong> UNICAMP, o cultivo do parasita e de várias linhagens de macrófagos e as<br />

180


infecções <strong>em</strong> modelos in vitro e in vivo são realizados rotineiramente com a seguinte<br />

metodologia:<br />

Parasitas: As formas promastigotas de Leishmania amazonensis ‐ MHOM/BR/73/M2269 ‐<br />

são cultiva<strong>da</strong>s <strong>em</strong> meio de cultura RPMI <strong>da</strong> Sigma compl<strong>em</strong>entado com antibióticos,<br />

glutami<strong>na</strong> e soro fetal bovino 10% <strong>da</strong> Cultilab <strong>em</strong> t<strong>em</strong>peratura de 26 o C <strong>em</strong> estufa após o<br />

cultivo do material de lesões cutâneas de camundongos de linhag<strong>em</strong> susceptível ‐<br />

BALB/c. A proliferação e a curva de crescimento <strong>da</strong>s culturas de promastigotas são<br />

segui<strong>da</strong>s pelas contagens <strong>em</strong> câmara de Neubauer.<br />

Medi<strong>da</strong>s com a Pinça Óptica: Cerca de um milhão de promastigotas foram diluídos <strong>em</strong><br />

meio RPMI com 10% de soro fetal bovino <strong>na</strong> presença de esferas de poliestireno e<br />

aplicados <strong>em</strong> câmara de Neubauer para podermos capturar uma única leishmania s<strong>em</strong><br />

interferência <strong>da</strong>s outras. Eles pod<strong>em</strong> se capturados diretamente com a pinça óptica,<br />

conforme mostra a Figura 110. Ao fazer isso já foi possível perceber uma mu<strong>da</strong>nça <strong>em</strong><br />

seu comportamento, tentando claramente escapar <strong>da</strong> pinça óptica, que não havia sido<br />

observa<strong>da</strong> <strong>na</strong> captura de espermatozóides. Parasitas livres passavam <strong>em</strong> volta com<br />

veloci<strong>da</strong>de constante, enquanto o capturado se debatia e usava a estratégia de encolher<br />

seu flagelo liberando‐o repenti<strong>na</strong>mente <strong>na</strong> tentativa de escapar <strong>da</strong> pinça óptica. Isso<br />

abre a perspectiva de observar seu comportamento capturado, mas sobre condições de<br />

um escoamento. Estamos supondo que esse parasita tenha mecanismo sensorial de<br />

movimento e não algum capaz de perceber a radiação eletromagnética do laser, talvez<br />

no máximo um sensor de calor por ela gerado.<br />

a. b. c.<br />

Figura 110. Promastigota de Leishmania amazonensis capturado <strong>na</strong> pinça óptica tentando escapar<br />

e dobrando seu flagelo (a e b) e c. expulsando‐o repenti<strong>na</strong>mente.<br />

181


Figura 111. Leishmania presa a uma esfera que está captura<strong>da</strong> pela pinça óptica.<br />

Para a medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> força capturamos uma esfera e colocamos <strong>em</strong> contato com uma<br />

promastigota até ocorrer uma adesão. A Figura 111 mostra o parasita preso <strong>na</strong><br />

microesfera. Essas medi<strong>da</strong>s são realiza<strong>da</strong>s individualmente. Com altas potências do<br />

laser perceb<strong>em</strong>os claramente que o movimento mais comum acontece <strong>na</strong> direção<br />

vertical, z, <strong>na</strong> qual a força óptica é menor. No vídeo notamos a microesfera entrando e<br />

saindo do foco com os anéis <strong>da</strong>s figuras de difração se modificando. Entretanto, como<br />

to<strong>da</strong> a nossa calibração foi feita para movimentos horizontais, foi necessário diminuir a<br />

potência do laser até perceber o parasita movendo a esfera lateralmente. Após vários<br />

testes com diferentes tamanhos de esferas optamos pelas microesferas com diâmetros<br />

de 4.5 µm e 6 µm, devido ao compromisso entre a capaci<strong>da</strong>de do parasita de<br />

movimentar a partícula e a nossa de visualizar e quantificar esses deslocamentos.<br />

Conhecendo, então, a potência do laser, o índice de refração <strong>da</strong> esfera, a viscosi<strong>da</strong>de, o<br />

índice de refração do meio de cultura, o tamanho <strong>da</strong> esfera e o deslocamento causado<br />

pelo parasita, nós fomos capazes de calcular a força de uma Leishmania amazonensis<br />

padrão e verificamos que essa está entre 0.19 (190 fN) ‐ 3.6 pN, onde a força média é<br />

1.49 pN. Medimos a força de aproxima<strong>da</strong>mente 30 protozoários, representa<strong>da</strong>s no<br />

gráfico Figura 112. Para ca<strong>da</strong> um deles utilizamos uma média dos deslocamentos<br />

realizados no cálculo <strong>da</strong> força.<br />

Esses resultados indicaram que valia a pe<strong>na</strong> investir um maior esforço para<br />

melhorar o entendimento do fenômeno <strong>da</strong> mobili<strong>da</strong>de flagelar <strong>da</strong> forma promastigota<br />

<strong>da</strong> leishmania e dos mecanismos de infecção desse parasita. Notamos que os parasitas<br />

livres tend<strong>em</strong> a se movimentar com seu flagelo para frente, <strong>em</strong>bora eles possam se<br />

182


movimentar <strong>da</strong>s duas formas. A leishmania captura<strong>da</strong> tende a inverter a direção do<br />

movimento, com o flagelo para trás. Mas também vimos leishmanias captura<strong>da</strong>s<br />

movendo o flagelo para frente. Exist<strong>em</strong> observações de que a maioria <strong>da</strong>s vezes <strong>em</strong> que<br />

a leishmania infecta uma célula o contato se inicia com o flagelo, o que sugere que o<br />

flagelo possa ter algum papel mais relevante no mecanismo de infecção celular. Esses<br />

resultados mostram que essa técnica é útil para responder a várias questões a nível<br />

celular sobre quais são os sensores do microorganismo e sua quimiotaxia <strong>na</strong> presença<br />

de um gradiente artificial <strong>da</strong>s substâncias atratoras ou repulsoras. Os resultados<br />

pareceram tão promissores que o estudo de leishmanias se tornou o projeto de<br />

mestrado de uma nova estu<strong>da</strong>nte.<br />

Freqüência<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

Distribuição <strong>da</strong> Intensi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> Força<br />

0,5 - 1,0<br />

1,0 - 1,5<br />

1,5 - 2,0<br />

2,0 - 2,5<br />

2,5 - 3,0<br />

3,0 - 3,5<br />

3,5 - 4,0<br />

Força (pN)<br />

Figura 112. Distribuição <strong>da</strong>s intensi<strong>da</strong>des de forças medi<strong>da</strong>s.<br />

Para melhor entender nossas limitações <strong>na</strong>s medi<strong>da</strong>s de forças muito peque<strong>na</strong>s,<br />

como os valores de 190 fN medidos para as leishmanias, decidimos estimar as forças de<br />

movimento browniano gerado a partir <strong>da</strong>s flutuações térmicas para quantificar sua<br />

influência no movimento e <strong>na</strong> força do parasita capturado. Experimentalmente foi fácil<br />

comparar o estado de movimento <strong>da</strong> microesfera com o parasita aderido com as<br />

microesferas à sua volta para<strong>da</strong>s e perceber que estávamos b<strong>em</strong> acima do limite<br />

imposto pelo movimento Browniano. Para estimar esse limite consideramos a pinça<br />

óptica como um oscilador harmônico <strong>em</strong> equilíbrio térmico para o qual:<br />

2<br />

Kx δ kT B kT B<br />

= , δ x = (5. 8)<br />

2 2 K<br />

183


e a força devido às flutuações é<br />

F<br />

= K δ x Kk T , onde K é a constante <strong>da</strong> mola, T é a<br />

flut<br />

=<br />

B<br />

t<strong>em</strong>peratura, kB é a constante de Boltzmann e δx é o deslocamento causado pelo<br />

movimento browniano. Para saber Fflut é necessário saber o valor de K e para estimá‐lo<br />

consideramos o maior valor de deslocamento obtido com a calibração usando<br />

microesferas de poliestireno, ou seja δ x = 3 µm , F = 54 pN t<strong>em</strong>os<br />

−6<br />

K = 18× 10 N/m e<br />

F flut = 027 . pN. Como F ∝ P , diminuindo a potência P por um fator de 100 para termos<br />

forças <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 0.54 pN, i. e., <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> <strong>da</strong>s forças encontra<strong>da</strong>s para o parasita,<br />

t<strong>em</strong>os F flut = 0.<br />

027 pN . Isso significa que a menor força medi<strong>da</strong> 0. 19 pN ≈ 10× Fflut<br />

ain<strong>da</strong> é<br />

<strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 10 vezes maior do que o limite do movimento Browniano.<br />

5.3 Medi<strong>da</strong>s de Elastici<strong>da</strong>de de H<strong>em</strong>ácias Normais e Altera<strong>da</strong>s<br />

5.3.1. Motivação<br />

O glóbulo vermelho normal é uma célula altamente deformável que, no estado<br />

de repouso, assume a forma de um disco bicôncavo ou discócito, com um diâmetro<br />

médio de 8 µm, como mostra a Figura 113. Essas células dev<strong>em</strong> transpor capilares e<br />

sinusóides do baço com diâmetro de 3 a 4 µm, muito menores do que as mesmas. A<br />

h<strong>em</strong>ácia normal pode se alongar <strong>em</strong> até 230% <strong>da</strong> sua dimensão origi<strong>na</strong>l e, <strong>na</strong> sua função<br />

de captar o oxigênio dos pulmões através <strong>da</strong> h<strong>em</strong>oglobi<strong>na</strong> e levá‐lo para to<strong>da</strong>s as<br />

células do corpo, atravessa os vasos sangüíneos por aproxima<strong>da</strong>mente 500.000 vezes<br />

percorrendo uma distância de aproxima<strong>da</strong>mente 250 km durante a sua vi<strong>da</strong> média de<br />

120 dias.<br />

Figura 113. H<strong>em</strong>ácias e suas características: forma bicôncava; tamanho de 7 – 9 µm; vi<strong>da</strong> média<br />

de 120 dias; flexibili<strong>da</strong>de para transpor capilares e sinusóides do baço com 3 – 4 µm; o<br />

envelhecimento aumenta sua rigidez e ela é retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> circulação.<br />

184


Tanto a forma bicôncava quanto a deformabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> célula são determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s<br />

pela <strong>na</strong>tureza e composição <strong>da</strong> bicama<strong>da</strong> lipídica, pelo citoesqueleto, pela geometria<br />

celular, pela concentração e tipo de h<strong>em</strong>oglobi<strong>na</strong> intracelular e pela manutenção <strong>da</strong><br />

relação superfície/volume celular. A geometria celular, incluindo a razão<br />

superfície/volume celular, é um dos mais importantes componentes que regulam a<br />

deformabili<strong>da</strong>de celular de h<strong>em</strong>ácias. A forma discóide bicôncava <strong>da</strong>s células normais<br />

cria uma vantag<strong>em</strong> <strong>da</strong> área de superfície <strong>em</strong> relação ao volume, permitindo que o<br />

eritrócito normal sofra uma deformação enquanto mantém constante a área de<br />

superfície. Tais fenômenos, só são possíveis se o glóbulo vermelho mantiver a<br />

integri<strong>da</strong>de de suas principais proprie<strong>da</strong>des: durabili<strong>da</strong>de e deformabili<strong>da</strong>de celular.<br />

Em conseqüência <strong>da</strong> deformabili<strong>da</strong>de, a h<strong>em</strong>ácia se comporta mais como uma<br />

gota líqui<strong>da</strong> do que propriamente como uma partícula sóli<strong>da</strong>, <strong>na</strong> ocasião <strong>em</strong> que o<br />

sangue flui através de pequenos vasos sangüíneos. Isso explica a notável baixa<br />

viscosi<strong>da</strong>de do fluxo, a despeito <strong>da</strong> eleva<strong>da</strong> proporção de h<strong>em</strong>ácias presentes (valores<br />

normais <strong>em</strong> torno de<br />

corrente sangüínea [71].<br />

6 3<br />

511 . 10 / mm<br />

× <strong>em</strong> homens e<br />

6 3<br />

45 . 10 / mm<br />

× <strong>em</strong> mulheres) <strong>na</strong><br />

A per<strong>da</strong> ou diminuição dessa capaci<strong>da</strong>de de deformação, leva a uma retira<strong>da</strong><br />

pr<strong>em</strong>atura <strong>da</strong>s h<strong>em</strong>ácias <strong>da</strong> circulação e, conseqüent<strong>em</strong>ente, à diminuição <strong>da</strong> oferta de<br />

oxigênio aos tecidos. Esta situação patológica é encontra<strong>da</strong> <strong>em</strong> algumas an<strong>em</strong>ias<br />

hereditárias como, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>na</strong> esferocitose, an<strong>em</strong>ia falciforme e eliptocitose.<br />

No projeto <strong>em</strong> colaboração entre o Instituto de Física e o H<strong>em</strong>ocentro <strong>da</strong><br />

Unicamp, no qual estou envolvi<strong>da</strong> desde a iniciação científica, ficou claro que essa era<br />

uma caracterização que muito interessava aos médicos. As primeiras idéias para a<br />

quantificação dessa proprie<strong>da</strong>de foram: 1. usar duas pinças ópticas para medir a<br />

deformação <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia frente a uma força conheci<strong>da</strong> 2. usando ape<strong>na</strong>s uma pinça<br />

óptica, medir sua deformação devido a uma força de arraste hidrodinâmica e,<br />

fi<strong>na</strong>lmente, 3. deformá‐la e medir o t<strong>em</strong>po de retorno. A pinça dupla só foi monta<strong>da</strong><br />

muito t<strong>em</strong>po depois. Rapi<strong>da</strong>mente também perceb<strong>em</strong>os que o t<strong>em</strong>po de retorno,<br />

185


<strong>em</strong>bora pudesse ser medido, estava no limite de nossa resolução de 1/30 segundos entre<br />

dois quadros sucessivos de uma câmera comum de vídeo. Além disso, notamos que<br />

essa medi<strong>da</strong> traz muito mais informações sobre a viscosi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong> <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia<br />

do que sobre sua elastici<strong>da</strong>de. De modo que optamos por iniciar esses estudos com a<br />

força de arraste hidrodinâmica. Primeiro nós observamos a sensibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

deformações frente a movimentos grosseiros, realizados com a mão mesmo. Percebendo<br />

que a resposta era boa investimos <strong>na</strong> montag<strong>em</strong> de um sist<strong>em</strong>a que permitisse<br />

controlar, e quantificar a veloci<strong>da</strong>de, <strong>na</strong> faixa de 20 a 500 µm/s. Primeiro utilizamos um<br />

motor de passo, mas o movimento <strong>em</strong> veloci<strong>da</strong>des abaixo de 70 µm/s era feito aos<br />

saltos, prejudicando a medi<strong>da</strong>. Por isso optamos pela aquisição do estágio de translação<br />

com motor de corrente contínua, mais preocupados com a precisão <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de do<br />

que com a resolução espacial e capaci<strong>da</strong>de de retor<strong>na</strong>r ao mesmo ponto. Fi<strong>na</strong>lmente<br />

chegamos ao seguinte procedimento de medi<strong>da</strong>: captura‐se uma h<strong>em</strong>ácia colocando‐a<br />

<strong>em</strong> movimento contra o fluido à sua volta com uma veloci<strong>da</strong>de constante e controla<strong>da</strong>.<br />

Esse movimento deforma a h<strong>em</strong>ácia devido às forças de viscosi<strong>da</strong>de. A medi<strong>da</strong> dessa<br />

deformação fornece a elastici<strong>da</strong>de µ <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia através de um modelo simplificado.<br />

Como as observações clínicas que se seguiram mantiveram esse padrão, vamos<br />

apresentar esses resultados nesse capítulo seguindo a ord<strong>em</strong> histórica. Primeiro a<br />

descrição do modelo simplificado, as justificativas para sua vali<strong>da</strong>de, os testes<br />

experimentais que fiz<strong>em</strong>os e depois os resultados clínicos obtidos. No fi<strong>na</strong>l ape<strong>na</strong>s<br />

entrar<strong>em</strong>os <strong>na</strong> discussão dos novos estudos de hidrodinâmica que realizamos para<br />

entender melhor a vali<strong>da</strong>de do modelo.<br />

5.3.2. Modelo Simplificado<br />

Modelo hidrodinâmico<br />

No modelo simplificado assumimos que a h<strong>em</strong>ácia, <strong>na</strong> sua forma bicôncava <strong>da</strong><br />

Figura 113 acima, pode ser aproxima<strong>da</strong> por um paralelepípedo de comprimento L,<br />

largura W e espessura ε desprezível. A h<strong>em</strong>ácia está localiza<strong>da</strong> a uma profundi<strong>da</strong>de Z 1<br />

186


do fundo <strong>da</strong> câmara de Neubauer, cuja profundi<strong>da</strong>de total é de H = 100 µm, e<br />

Z2 = Z1− H <strong>da</strong> lamínula. Essa h<strong>em</strong>ácia é arrasta<strong>da</strong> com a pinça óptica no fluido do<br />

plasma sangüíneo, cuja viscosi<strong>da</strong>de é µ, com uma veloci<strong>da</strong>de constante V, conforme<br />

mostra a Figura 114.<br />

Lamínula<br />

W<br />

Z2<br />

Z1<br />

L<br />

L<br />

u<br />

ε<br />

Fundo <strong>da</strong> lâmi<strong>na</strong><br />

Figura 114. Modelo geométrico <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia <strong>na</strong> câmara de Neubauer. Z1 e Z2 representam,<br />

respectivamente, a distância <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia ao fundo <strong>da</strong> lâmi<strong>na</strong> e ao topo <strong>da</strong> lamínula <strong>na</strong> câmara<br />

de Neubauer. L, W e ε indicam o comprimento, a largura e a espessura <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia e u é a<br />

veloci<strong>da</strong>de de arraste.<br />

Para o cálculo <strong>da</strong> força hidrodinâmica fiz<strong>em</strong>os a suposição de que esse<br />

paralelepípedo se move de acordo com o escoamento de Couette, onde há um gradiente<br />

linear de veloci<strong>da</strong>de entre duas placas conforme mostra a Figura 115 e a força de arraste<br />

é <strong>da</strong><strong>da</strong> pela expressão:<br />

F<br />

couette<br />

WL<br />

=µ u (5. 9)<br />

Z<br />

Figura 115. Gradiente de veloci<strong>da</strong>des <strong>em</strong> um escoamento de Couette.<br />

Como no nosso probl<strong>em</strong>a exist<strong>em</strong> quatro superfícies envolvi<strong>da</strong>s: duas <strong>da</strong><br />

h<strong>em</strong>ácia, uma <strong>da</strong> lâmi<strong>na</strong> e outra <strong>da</strong> lamínula, simplesmente nós decidimos adicioná‐las<br />

como dois escoamentos de Couette. Nesse caso a força total <strong>na</strong>s duas superfícies <strong>da</strong><br />

h<strong>em</strong>ácia será <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />

1 1 WL<br />

Fhidro<br />

=µ W L( + ) u =µ u (5. 10),<br />

Z Z Z<br />

1 2<br />

eq<br />

187


onde 1 Z<br />

eq<br />

= 1 Z1 + 1 Z<br />

2<br />

e W e L são os valores de largura e do comprimento <strong>da</strong> célula.<br />

Nossa justificativa para o uso do escoamento de Couette seguiu o seguinte<br />

raciocínio. Se a distância entre as placas se tor<strong>na</strong> muito grande não faz mais sentido se<br />

falar <strong>em</strong> um gradiente linear <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de entre a superfície <strong>da</strong> partícula e a parede.<br />

Entretanto, mesmo nesse caso, a força de arraste ain<strong>da</strong> estará presente, mas seria melhor<br />

descrita com um escoamento de Stokes do que com o de Couette. Na ausência <strong>da</strong>s<br />

paredes o gradiente de veloci<strong>da</strong>de deixa de ser linear e se desenvolve uma cama<strong>da</strong><br />

limite após a qual a veloci<strong>da</strong>de do fluido não mu<strong>da</strong> mais. Assim decidimos estimar a<br />

dimensão dessa cama<strong>da</strong> limite e compará‐la com a distância H entre paredes <strong>da</strong> câmara<br />

de Neubauer para decidir sobre que regime de escoamento utilizar. Para tanto<br />

utilizamos a expressão para a formação <strong>da</strong> cama<strong>da</strong> limite <strong>em</strong> uma placa s<strong>em</strong>i‐ infinita<br />

<strong>em</strong> função <strong>da</strong> distância à sua bor<strong>da</strong>, <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />

δ = 5 L<br />

R , onde R é o número de<br />

Reynolds. Essa cama<strong>da</strong> limite está representa<strong>da</strong> <strong>na</strong> Figura 116.<br />

V = u<br />

Z<br />

V = 0<br />

δ (L)<br />

L<br />

Figura 116. Desenvolvimento <strong>da</strong> cama<strong>da</strong> limite δ.<br />

Pod<strong>em</strong>os notar que L também entra <strong>na</strong> definição do número de Reynolds, de<br />

modo que a envoltória <strong>da</strong> cama<strong>da</strong> limite cresce com<br />

L e não L. No nosso caso L é o<br />

tamanho <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia de 10 µm e para veloci<strong>da</strong>des de 100 µm/s então δ≈ 1000 μm=<br />

1mm,<br />

cerca de dez vezes superior aos 100 µm de profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> câmara de Neubauer. Isso<br />

mostra que assumir o gradiente de veloci<strong>da</strong>de <strong>na</strong> condição de “non slip”, entre a<br />

h<strong>em</strong>ácia e as paredes, por um gradiente linear deve ser uma boa aproximação e que os<br />

cálculos não dev<strong>em</strong> diferir muito de modelos hidrodinâmicos mais completos.<br />

188


Nesse ponto vale a pe<strong>na</strong> ressaltar uma diferença entre o nosso modelo e outros<br />

comumente utilizados <strong>na</strong> hidrodinâmica. Usualmente os autores utilizam soluções <strong>da</strong>s<br />

equações de “creeping motion” com todo o esforço para garantir as condições de<br />

contorno de “non slip” <strong>na</strong>s superfícies envolvi<strong>da</strong>s. É comum utilizar<strong>em</strong> uma adição<br />

dessas funções como aproximação mesmo sabendo que ela não satisfaz as condições de<br />

contorno. Como diferentes formas de abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> teórica pod<strong>em</strong> levar a resultados<br />

numéricos s<strong>em</strong>elhantes, no nosso modelo garantimos as condições de contorno s<strong>em</strong> a<br />

preocupação para que o campo de veloci<strong>da</strong>des fosse uma solução <strong>da</strong>s equações de<br />

“creeping motion”. Simplesmente adotamos uma aproximação para o campo de<br />

veloci<strong>da</strong>des como sendo uma reta. Funções que variam pouco s<strong>em</strong>pre pod<strong>em</strong> ser<br />

aproxima<strong>da</strong>s por retas. Seria necessário um gradiente muito concentrado <strong>na</strong> h<strong>em</strong>ácia<br />

para nossa aproximação se tor<strong>na</strong>r muito pobre. Mas se esse fosse o caso as paredes<br />

teriam pouca influência no arraste, o que está longe <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. O fato de a cama<strong>da</strong><br />

limite ser muito maior do que as separações entre as superfícies, indica que esse<br />

gradiente não deve ser assim tão concentrado <strong>na</strong> h<strong>em</strong>ácia.<br />

Modelo elástico<br />

A célula deforma‐se sobre a ação <strong>da</strong> força hidrodinâmica criando uma força<br />

elástica igual e <strong>em</strong> direção oposta. A idéia então foi medir a constante dessa mola. Esse<br />

trabalho se iniciou com a necessi<strong>da</strong>de dos médicos de caracterizar<strong>em</strong> uma proprie<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s h<strong>em</strong>ácias que eles chamavam de deformabili<strong>da</strong>de, avalia<strong>da</strong> de forma qualitativa e<br />

subjetiva <strong>na</strong> maioria dos trabalhos publicados, e para a qual não existe a definição de<br />

uma grandeza física que pudéss<strong>em</strong>os utilizar. Mesmo pensando intuitivamente <strong>em</strong><br />

termos de constantes elásticas de molas, estava claro que essa é uma característica não<br />

ape<strong>na</strong>s do material, mas <strong>da</strong> sua geometria. Assim h<strong>em</strong>ácias de tamanhos diferentes<br />

pod<strong>em</strong> ter constantes de molas diferentes ape<strong>na</strong>s devido às suas dimensões. Para se<br />

determi<strong>na</strong>r um parâmetro intrínseco <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia, que independe de seu tamanho e sua<br />

forma, é melhor usar o conceito de elastici<strong>da</strong>de <strong>em</strong> lugar <strong>da</strong> constante elástica.<br />

189


A explicação intuitiva apresenta<strong>da</strong> aos pesquisadores de área médica para<br />

definir esse conceito partiu <strong>da</strong> idéia de associação de molas <strong>em</strong> série e <strong>em</strong> paralelo,<br />

equivalentes às associações de resistências <strong>em</strong> paralelo e <strong>em</strong> série respectivamente.<br />

Portanto, dois corpos idênticos tracio<strong>na</strong>dos ao longo de seu comprimento, um ao lado<br />

do outro, apresentarão uma constante de mola dobra<strong>da</strong>, ou seja, a constante <strong>da</strong> mola<br />

deve ser multiplica<strong>da</strong> pela largura W do corpo. Da mesma forma, um corpo sobre o<br />

outro apresentarão uma constante de mola dobra<strong>da</strong> linear proporcio<strong>na</strong>l a espessura δ.<br />

Por outro lado, dois corpos um ao longo do outro, <strong>na</strong> direção <strong>da</strong> tração, apresentarão<br />

uma constante de mola que é metade de ca<strong>da</strong> um deles. Isso então significa que a<br />

constante <strong>da</strong> mola será proporcio<strong>na</strong>l à área <strong>da</strong> seção reta do corpo e inversamente<br />

proporcio<strong>na</strong>l ao seu comprimento,<br />

K<br />

Wδ<br />

k<br />

L<br />

= (5. 11),<br />

onde k, a elastici<strong>da</strong>de, é uma proprie<strong>da</strong>de ape<strong>na</strong>s do material com que a mola é<br />

fabrica<strong>da</strong>. Quando esse material t<strong>em</strong> uma espessura constante, pod<strong>em</strong>os definir a<br />

elastici<strong>da</strong>de η = kδ, e a constante a mola é <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />

K<br />

W<br />

η<br />

L<br />

= (5. 12).<br />

No caso <strong>da</strong>s h<strong>em</strong>ácias, assumimos que a resposta elástica é <strong>da</strong><strong>da</strong> pela m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong> de<br />

cama<strong>da</strong> bilipídica de espessura constante. Dessa forma assumimos a seguinte expressão<br />

para a força elástica:<br />

onde<br />

F elástica<br />

W<br />

= K∆L<br />

= η ∆L<br />

(5. 13)<br />

L<br />

∆ L = (L − L ) L é a deformação sofri<strong>da</strong> pela célula.<br />

L 0<br />

Modelo hidro‐elástico<br />

No equilíbrio, as forças elástica e hidrodinâmica são iguais, logo vale a relação:<br />

190


que pode ser escrita como<br />

W WL µ L<br />

η ∆ L = µ v ⇒ ∆L<br />

= v (5. 14) ,<br />

L Z<br />

η<br />

eq Z eq<br />

µ L0<br />

L = L0<br />

+ v (5. 15),<br />

η Z eq<br />

2 2<br />

assumindo que L ≈ L . Dessa forma, determi<strong>na</strong>mos o método de medi<strong>da</strong>: medir a<br />

0<br />

elongação L <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia <strong>em</strong> função <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de. Pelas previsões do modelo simples<br />

deve ser uma reta com o coeficiente angular<br />

α<br />

2<br />

2<br />

µ L0<br />

= (5. 16).<br />

η Z eq<br />

Medindo esse coeficiente e conhecendo L 0 ,<br />

elastici<strong>da</strong>de η.<br />

2<br />

Z eq e µ do fluido determi<strong>na</strong>mos a<br />

5.3.3 Vali<strong>da</strong>ção Experimental do Modelo Hidro‐elástico<br />

Antes de mais <strong>na</strong><strong>da</strong>, decidimos testar experimentalmente se as h<strong>em</strong>ácias se<br />

comportavam de acordo com as previsões desse modelo simples hidro‐elástico. As<br />

variáveis, ou parâmetros, sobre nosso total controle são a veloci<strong>da</strong>de e a profundi<strong>da</strong>de<br />

<strong>na</strong> câmara de Neubauer, Z. O modelo prevê o comportamento de uma reta <strong>em</strong> função<br />

<strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de, e que a incli<strong>na</strong>ção<br />

dessa reta depende de Z, <strong>na</strong> forma<br />

1Z = 1Z+ 1( d‐ Z)<br />

.<br />

eq<br />

Para validá‐lo experimentalmente realizamos um experimento com uma mesma<br />

h<strong>em</strong>ácia capturando‐a com a pinça óptica e movimentando‐a com diferentes<br />

veloci<strong>da</strong>des <strong>em</strong> várias profundi<strong>da</strong>des Z. A Figura 117 abaixo mostra a deformação de<br />

uma h<strong>em</strong>ácia <strong>em</strong> diferentes veloci<strong>da</strong>des.<br />

Figura 117. H<strong>em</strong>ácia <strong>em</strong> deformação para veloci<strong>da</strong>des entre 120‐300 µm/s.<br />

191


Nessas medi<strong>da</strong>s utilizamos h<strong>em</strong>ácias coleta<strong>da</strong>s no H<strong>em</strong>ocentro <strong>da</strong> Unicamp de<br />

indivíduos normais doa<strong>da</strong>s no mesmo dia do experimento. A forma de coleta e o meio<br />

de preservação <strong>da</strong>s h<strong>em</strong>ácias são fun<strong>da</strong>mentais para a repetibili<strong>da</strong>de do experimento.<br />

Antes de tudo o sangue não deve entrar <strong>em</strong> contato com oxigênio para não disparar o<br />

processo de coagulação através <strong>da</strong>s plaquetas, como observamos nos nossos primeiros<br />

experimentos simplesmente com sangue coletado de um furo no dedo. As h<strong>em</strong>ácias<br />

rapi<strong>da</strong>mente se aderiam umas às outras e <strong>na</strong>s paredes <strong>da</strong> câmara. Também pingamos<br />

gotas de sangue diretamente <strong>em</strong> água e observamos h<strong>em</strong>ácias com formatos muito<br />

estranhos <strong>completa</strong>mente diferente <strong>da</strong> forma bicôncava <strong>da</strong> Figura 113. Isso porque o<br />

equilíbrio iônico entre os meios interno e externo <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia é fun<strong>da</strong>mental <strong>na</strong><br />

manutenção de suas proprie<strong>da</strong>des. Para tanto ela deve estar <strong>em</strong> um meio isotônico.<br />

Todos esses cui<strong>da</strong>dos são garantidos no protocolo de coleta de sangue para doação, e só<br />

após o uso de sangue coletado dessa forma passamos a obter resultados repetitivos. A<br />

solução preservativa e anticoagulante <strong>na</strong> bolsa foi o CPDA1 (citrato, fósforo, dextrose,<br />

adeni<strong>na</strong>) e, para a medi<strong>da</strong>, diluímos 1 µl de concentrado de h<strong>em</strong>ácias <strong>em</strong> 1000 µl de<br />

plasma AB. A viscosi<strong>da</strong>de do plasma foi medi<strong>da</strong> com um viscosímetro de Ostwald,<br />

obtendo o valor µ = 2.19 cP.<br />

12<br />

Comprimento L (µm)<br />

11.4<br />

10.8<br />

10.2<br />

9.6<br />

9<br />

100 150 200 250 300<br />

Veloci<strong>da</strong>de (µm/s)<br />

Figura 118. Deformação <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia <strong>em</strong> função <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de de arraste v.<br />

Para a medi<strong>da</strong> de deformação <strong>em</strong> função <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de mov<strong>em</strong>os cerca de 30<br />

h<strong>em</strong>ácias com veloci<strong>da</strong>des de 100, 110, 120,..., 260 e 280 µm/s , conforme descrição do<br />

capítulo 2, e as elongações foram quantifica<strong>da</strong>s com o software de análise de imagens<br />

192


Image Pro‐Plus. Mantiv<strong>em</strong>os a h<strong>em</strong>ácia no centro <strong>da</strong> câmara de Neubauer, <strong>na</strong><br />

profundi<strong>da</strong>de de 50 µm, e obtiv<strong>em</strong>os o gráfico <strong>da</strong> Figura 118, que mostra o<br />

comportamento linear previsto no modelo simples.<br />

Já para a medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> deformação <strong>em</strong> função <strong>da</strong> profundi<strong>da</strong>de <strong>na</strong> câmara de<br />

Neubauer, repetimos o procedimento para uma única h<strong>em</strong>ácia se movendo com<br />

veloci<strong>da</strong>des de 170, 200, 230, 260 e 290 µm/s <strong>na</strong>s profundi<strong>da</strong>des de 10, 13, 20, 30, 40, 50,<br />

60, 70, 80 e 85 µm. A Figura 119 mostra o gráfico do comportamento do coeficiente<br />

angular <strong>em</strong> função de Z, ajustado com uma curva do tipo<br />

1 1<br />

fZ ( ) = A ⎛ ⎞<br />

⎜ + ⎟ (5. 17).<br />

⎝ Z H − Z ⎠<br />

Consideramos essa vali<strong>da</strong>ção experimental a mais importante, pois a curva f(Z)<br />

t<strong>em</strong> um comportamento diferente, b<strong>em</strong> específico, inclusive divergindo para Z = 0 e Z =<br />

H.<br />

0.015<br />

Coeficiente Angular<br />

0.01<br />

0.005<br />

0<br />

0 20 40 60 80 100<br />

Z 1 (µm)<br />

Figura 119. Coeficiente angular <strong>da</strong> deformação <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia <strong>em</strong> função de Z1.<br />

O modelo acima se aplica ao caso estacionário. Porém tanto nos estágios iniciais,<br />

antes de <strong>completa</strong>r‐se a deformação, quanto nos fi<strong>na</strong>is, antes de retor<strong>na</strong>r à morfologia<br />

inicial, t<strong>em</strong>os uma situação não estacionária <strong>em</strong> que a força elástica <strong>na</strong> h<strong>em</strong>ácia está<br />

mu<strong>da</strong>ndo. Essa mu<strong>da</strong>nça conformacio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia dispara processos de dissipação<br />

de energia tanto através <strong>da</strong> viscosi<strong>da</strong>de inter<strong>na</strong> do citoplasma, e exter<strong>na</strong> do plasma<br />

sangüíneo, como pela viscosi<strong>da</strong>de de m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong> <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia. Nesse caso o movimento é<br />

equivalente a um sist<strong>em</strong>a massa‐mola superamortecido, no qual <strong>em</strong> lugar de oscilar, a<br />

193


mola retor<strong>na</strong> à situação de equilíbrio segundo uma exponencial decrescente do t<strong>em</strong>po<br />

<strong>da</strong> forma: L = L0 Exp ( −t<br />

τ ). Hochmuth et al [72] mostraram que as viscosi<strong>da</strong>des do<br />

citoplasma e do plasma são desprezíveis compara<strong>da</strong>s com a viscoelastici<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong> para efeitos rápidos, <strong>na</strong> escala de cente<strong>na</strong>s de milisegundos. Eles mostraram<br />

que o t<strong>em</strong>po de retorno é <strong>da</strong>do por τ =µ m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong> / η onde µ m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong> é a viscosi<strong>da</strong>de<br />

inter<strong>na</strong> <strong>da</strong> m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong> e η a sua elastici<strong>da</strong>de.<br />

Um dos últimos testes de vali<strong>da</strong>ção dos nossos resultados foi então parar o<br />

estágio de translação repenti<strong>na</strong>mente <strong>na</strong> última veloci<strong>da</strong>de, <strong>na</strong> máxima elongação,<br />

portanto, e observar o retorno <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia <strong>em</strong> função do t<strong>em</strong>po, a<strong>na</strong>lisando a seqüência<br />

de imagens que começa com a máxima deformação <strong>da</strong> célula e termi<strong>na</strong> com a<br />

recuperação de sua morfologia inicial. Para tanto capturamos e digitalizamos imagens<br />

quadro a quadro desse movimento usando o controle r<strong>em</strong>oto de um vídeo de 8 cabeças.<br />

A câmera grava <strong>na</strong> taxa de 30 quadros/s, de modo que o intervalo de t<strong>em</strong>po entre um<br />

quadro e outro é de 33 ms. O gráfico <strong>da</strong> Figura 120 mostra o resultado obtido do qual<br />

extraímos um t<strong>em</strong>po de retorno de 76.7 ms.<br />

12<br />

Comprimento L (µm)<br />

11<br />

10<br />

9<br />

0 100 200 300 400<br />

T<strong>em</strong>po (ms)<br />

Figura 120. Deformação <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia <strong>em</strong> função do t<strong>em</strong>po.<br />

Esse t<strong>em</strong>po de retorno τ é uma proprie<strong>da</strong>de intrínseca <strong>da</strong> m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong>.<br />

Concluímos então, que a pinça óptica permite que as medi<strong>da</strong>s de<br />

194<br />

µ m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong> e η sejam<br />

ambas realiza<strong>da</strong>s sobre uma mesma h<strong>em</strong>ácia simultaneamente. Do gráfico <strong>da</strong> Figura<br />

118 extraímos a elastici<strong>da</strong>de η, cujo valor obtido foi de η = (4 ± 0.1) × 10 dyn / cm .<br />

−4


Usando o t<strong>em</strong>po de retorno medido e esse valor <strong>da</strong> elastici<strong>da</strong>de encontramos<br />

−5<br />

µ = 3× 10 poise.<br />

cm para a viscosi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong>.<br />

m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong><br />

Grande parte desse trabalho já estava pronta <strong>na</strong> época <strong>da</strong> defesa de minha Tese<br />

de Mestrado. Até aquele momento a motivação do trabalho foi de quantificar de<br />

alguma forma uma proprie<strong>da</strong>de relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> à “deformabili<strong>da</strong>de” <strong>da</strong>s h<strong>em</strong>ácias. O fato<br />

de que obtiv<strong>em</strong>os resultados repetitivos e sensíveis levou ao seu uso <strong>em</strong> aplicações<br />

clínicas, após o período do meu Mestrado. O protocolo de medi<strong>da</strong> foi aperfeiçoado e<br />

mantido o mesmo para permitir comparações, e detalhes b<strong>em</strong> mais específicos sobre os<br />

mesmos pod<strong>em</strong> ser encontrados <strong>na</strong> Tese de Doutorado do Marcelo Brandão defendi<strong>da</strong><br />

pela Facul<strong>da</strong>de de Ciências Médicas [73]. Nesse momento nos perguntamos sobre até<br />

onde deveríamos considerar válido o modelo simples visto que os resultados <strong>da</strong><br />

vali<strong>da</strong>ção experimental foram surpreendent<strong>em</strong>ente bons, mesmo considerando a<br />

h<strong>em</strong>ácia com a forma de um paralelepípedo. Ao longo <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s clínicas também<br />

perceb<strong>em</strong>os que essa técnica era mais sensível <strong>na</strong> detecção de efeitos externos do que as<br />

outras técnicas comumente utiliza<strong>da</strong>s.<br />

A grandeza que medimos com essa técnica deve ser denomi<strong>na</strong><strong>da</strong> por elastici<strong>da</strong>de<br />

aparente, ou elastici<strong>da</strong>de total, <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia <strong>em</strong> lugar de elastici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong> que é<br />

uma grandeza b<strong>em</strong> defini<strong>da</strong>. Isso porque nossa técnica a<strong>na</strong>lisa a estrutura <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia<br />

como um todo e não ape<strong>na</strong>s a elastici<strong>da</strong>de intrínseca de sua m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong>. Um ex<strong>em</strong>plo<br />

que mostra a diferença entre os dois casos pode ser visualizado através <strong>da</strong>s Figura 121 a<br />

e b. Considere duas folhas de papel idênticas, uma dobra<strong>da</strong> e outra não, cujo<br />

comprimento <strong>em</strong> função <strong>da</strong> força F aplica<strong>da</strong> é observado de cima, de onde se percebe<br />

ape<strong>na</strong>s sua projeção vertical. A deformação do papel dobrado será muito maior do que<br />

a do papel não dobrado, <strong>em</strong>bora os dois sejam feitos do mesmo material. A elastici<strong>da</strong>de<br />

intrínseca do papel seria medi<strong>da</strong> no papel não dobrado, enquanto no dobrado se mede<br />

uma elastici<strong>da</strong>de muito menor do que a intrínseca. A elastici<strong>da</strong>de intrínseca pode ser<br />

medi<strong>da</strong> usando o método <strong>da</strong> pipeta no qual suga‐se com uma diferença de pressão<br />

195


conheci<strong>da</strong> ape<strong>na</strong>s a m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong> <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia para dentro de um capilar observando o<br />

comprimento de sua deformação. A nossa medi<strong>da</strong> para a elastici<strong>da</strong>de total <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia<br />

−4<br />

foi de η= ( 4± 0. 1) × 10 dyn / cm enquanto valores típicos para elastici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong><br />

−3<br />

obtidos pelo método <strong>da</strong> pipeta são de η = ( 6± 01 . ) × 10 dyn / cm [74, 75].<br />

p<br />

a<br />

F<br />

F<br />

b<br />

F<br />

F<br />

Figura 121. Folhas de papel, dobra<strong>da</strong> e não dobra<strong>da</strong>, submeti<strong>da</strong>s a uma tração F. A deformação<br />

no comprimento <strong>da</strong> folha dobra<strong>da</strong> será <strong>da</strong><strong>da</strong> pela elastici<strong>da</strong>de total e é muito menor que a<br />

elastici<strong>da</strong>de intrínseca <strong>da</strong> folha de papel medi<strong>da</strong> com a folha não dobra<strong>da</strong>.<br />

Entretanto, <strong>na</strong> corrente sanguínea é a elastici<strong>da</strong>de total <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia o fator que<br />

interessa, pois é ela que mede a habili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> célula se deformar dobrando‐se sobre si<br />

mesma e transpor vasos com dimensões menores do que ela mesma. Além disso, a<br />

elastici<strong>da</strong>de total é muito mais sensível à influência de fatores externos como pressão<br />

osmótica e presença de drogas do que a elastici<strong>da</strong>de de sua m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong>. No limite <strong>em</strong><br />

que a h<strong>em</strong>ácia for fort<strong>em</strong>ente tracio<strong>na</strong><strong>da</strong>, correspondendo à situação <strong>em</strong> que a folha<br />

dobra<strong>da</strong> se desdobrou <strong>completa</strong>mente, as duas medi<strong>da</strong>s de elastici<strong>da</strong>de dev<strong>em</strong><br />

coincidir. Isso sugere que a técnica de medi<strong>da</strong> com pinça óptica é mais adequa<strong>da</strong> para<br />

caracterizar patologias h<strong>em</strong>atológicas do que outras técnicas.<br />

Outra vantag<strong>em</strong> dessa técnica, além de sua sensibili<strong>da</strong>de, é sua individuali<strong>da</strong>de,<br />

medindo h<strong>em</strong>ácia por h<strong>em</strong>ácia. Se to<strong>da</strong>s as h<strong>em</strong>ácias de um paciente com determi<strong>na</strong><strong>da</strong><br />

doença tivess<strong>em</strong> suas proprie<strong>da</strong>des elásticas modifica<strong>da</strong>s o paciente, provavelmente,<br />

estaria morto. Assim espera‐se que a maioria de suas h<strong>em</strong>ácias ain<strong>da</strong> mantenha o<br />

comportamento normal. Medi<strong>da</strong>s que detectam ape<strong>na</strong>s valores médios teriam pouca<br />

sensibili<strong>da</strong>de, pois a parcela normal <strong>da</strong> população de h<strong>em</strong>ácias tende a trazer os valores<br />

médios dessas proprie<strong>da</strong>des para dentro <strong>da</strong> faixa de normali<strong>da</strong>de. Técnicas como<br />

medi<strong>da</strong>s de tamanho médio ou fração de h<strong>em</strong>ácias destruí<strong>da</strong>s após passag<strong>em</strong> por<br />

196


parede porosa ca<strong>em</strong> nessa categoria. A característica <strong>da</strong> doença pode ser a presença de<br />

h<strong>em</strong>ácias <strong>completa</strong>mente fora <strong>da</strong> região de normali<strong>da</strong>de que deixaria de ser percebi<strong>da</strong><br />

pelas técnicas não individuais. Esse fato já foi salientado por Narla Mohan<strong>da</strong>s & Robert<br />

Hebbel [76] <strong>em</strong> “Erythrocyte deformability, fragility and rheology” quando afirmam:<br />

“As técnicas provaram ser úteis <strong>em</strong> delinear o comportamento mecânico de populações celulares.<br />

Por não medir<strong>em</strong> individualmente as células, estes métodos não apresentam uma definição<br />

<strong>completa</strong> <strong>da</strong>s conseqüências fisiológicas do comportamento reológico alterado.”<br />

Por outro lado, as medi<strong>da</strong>s individualiza<strong>da</strong>s dev<strong>em</strong> ser feitas <strong>em</strong> grande número<br />

de h<strong>em</strong>ácias para diminuir a probabili<strong>da</strong>de de deixar de observar aquelas fora do<br />

padrão de normali<strong>da</strong>de. Para a realização de tantas medi<strong>da</strong>s precisamos aumentar a<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mesmas e esse trabalho foi feito através de uma <strong>completa</strong> automatização<br />

do sist<strong>em</strong>a de medi<strong>da</strong>, incluindo desligar o laser, mover a plati<strong>na</strong> do microscópio para<br />

uma posição aleatória assegurando uma boa amostrag<strong>em</strong>, ligar o laser, prender a<br />

h<strong>em</strong>ácia, levantá‐la até a altura deseja<strong>da</strong> e movimentá‐la com diferentes veloci<strong>da</strong>des. A<br />

seguir descrev<strong>em</strong>os de forma resumi<strong>da</strong> os resultados clínicos obtidos com esse trabalho.<br />

5.3.4 Aplicações às Medi<strong>da</strong>s de Elastici<strong>da</strong>de de H<strong>em</strong>ácias de Pacientes com An<strong>em</strong>ia e<br />

Traço Falciforme<br />

A molécula <strong>da</strong> h<strong>em</strong>oglobi<strong>na</strong> é forma<strong>da</strong> por quatro subuni<strong>da</strong>des, ca<strong>da</strong> uma<br />

contendo um grupo h<strong>em</strong>e (derivado porfirínico contendo um radical ferro) ligado a um<br />

polipeptídeo. Uma alteração hereditária <strong>na</strong> formação dessas cadeias causa a an<strong>em</strong>ia<br />

falciforme. A H<strong>em</strong>oglobi<strong>na</strong> falcêmica foi a primeira h<strong>em</strong>oglobi<strong>na</strong> anormal a ser<br />

identifica<strong>da</strong> e é de grande importância clínica. A alteração de um único nucleotídeo (A<br />

→ T), no DNA do gene para a cadeia beta <strong>da</strong> h<strong>em</strong>oglobi<strong>na</strong>, forma‐se então a<br />

h<strong>em</strong>oglobi<strong>na</strong> variante S ou HbS onde há uma substituição de uma Vali<strong>na</strong> por um Ácido<br />

Glutâmico <strong>na</strong> posição 6 (6GLU‐VAL). Quando desoxige<strong>na</strong><strong>da</strong> nos capilares, a HbS se<br />

polimeriza e forma agregados que dão ao eritrócito uma forma diferente, l<strong>em</strong>brando<br />

uma foice. A homozigose para esta mutação causa a an<strong>em</strong>ia falciforme, uma doença<br />

grave relativamente comum <strong>em</strong> algumas partes do mundo, sendo predomi<strong>na</strong>nte <strong>em</strong><br />

197


negros. Os heterozigotos possu<strong>em</strong> traço falcêmico, são normais clinicamente, porém<br />

suas h<strong>em</strong>ácias sofr<strong>em</strong> afoiçamento quando submeti<strong>da</strong>s à pressão baixa de oxigênio.<br />

A célula falciza<strong>da</strong> não t<strong>em</strong> flexibili<strong>da</strong>de, t<strong>em</strong> vi<strong>da</strong> curta e há um aumento <strong>da</strong><br />

viscosi<strong>da</strong>de sangüínea <strong>em</strong> relação aos portadores de eritrócitos normais. Em<br />

conseqüência deste aumento <strong>da</strong> viscosi<strong>da</strong>de, o fluxo sangüíneo nos capilares é<br />

retar<strong>da</strong>do e pode até mesmo parar, levando os tecidos a uma deficiência <strong>em</strong> oxigênio.<br />

Pode ocorrer lesão <strong>da</strong> parede dos capilares e coagulação sangüínea.<br />

Embora o defeito primário <strong>da</strong> an<strong>em</strong>ia falciforme seja uma alteração <strong>na</strong><br />

constituição <strong>da</strong> h<strong>em</strong>oglobi<strong>na</strong>, alterações secundárias no metabolismo, <strong>na</strong> estrutura <strong>da</strong><br />

m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong> e <strong>na</strong> função também ocorr<strong>em</strong>. Pacientes homozigotos para essa mutação<br />

(HbSS) apresentam an<strong>em</strong>ia h<strong>em</strong>olítica e crises vaso‐oclusivas que levam a <strong>da</strong>nos <strong>na</strong><br />

maioria de seus tecidos. Por outro lado os pacientes heterozigotos, ou traço falciforme<br />

(HbAS), são assintomáticos. A Hidroxiuréia (HU) t<strong>em</strong> sido usa<strong>da</strong> com sucesso no<br />

tratamento dessa doença porque ela melhora a produção fetal de h<strong>em</strong>oglobi<strong>na</strong> e a<br />

deformabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia como um todo. Usamos a an<strong>em</strong>ia falciforme como um<br />

modelo clínico para mostrar que o método <strong>da</strong> pinça óptica é bastante sensível.<br />

Estu<strong>da</strong>mos a deformabili<strong>da</strong>de de 25 pacientes com h<strong>em</strong>oglobi<strong>na</strong> S com i<strong>da</strong>des<br />

variando entre 23 e 51 anos (15 homozigotos para HbS incluindo 5 pacientes medicados<br />

com Hidroxiuréia por pelo menos 6 meses, e 10 pacientes traço falciformes) e 35<br />

controles normais. Com respeito aos haplotipos β‐globi<strong>na</strong>, 8 pacientes eram<br />

Benin/Bantu, 4 Benin/Benin e 3 Bantu/Bantu. A α‐Talass<strong>em</strong>ia estava ausente <strong>em</strong> 8 HbSS<br />

pacientes. O Comitê de Ética <strong>da</strong> UNICAMP aprovou esse estudo. Para fazer o<br />

experimento, 0.5 µl de concentrado de eritrócitos foi diluído <strong>em</strong> 1000 µl de plasma AB<br />

com viscosi<strong>da</strong>de conheci<strong>da</strong> e medi<strong>da</strong> no viscosímetro de Ostwald η = 1.85 cP. Pelo<br />

menos 17 células de ca<strong>da</strong> paciente foi submeti<strong>da</strong> a 6 diferentes veloci<strong>da</strong>des (150 a 250<br />

µm/s, com variação de 20 µm/s). A análise dos <strong>da</strong>dos foi feita segundo o modelo e o<br />

procedimento descrito anteriormente.<br />

198


Nossos resultados mostraram que as h<strong>em</strong>ácias dos pacientes HbS eram mais<br />

rígi<strong>da</strong>s que a dos indivíduos normais ( ( )<br />

−3<br />

controle →η= 089 . ± 06 . × 10 dyn/cm ;<br />

−3<br />

−3<br />

HbSS →η= ( 170 . ± 20 . ) × 10 dyn/cm ; HbAS →η= ( 180 . ± 08 . ) × 10 dyn/cm ), exceto para<br />

−3<br />

aqueles que estavam tomando Hidroxiuréia ( HbSS/HU →η= ( 096 . ± 10 . ) × 10 dyn/cm ).<br />

Mesmo <strong>em</strong> pacientes com traço falciforme foi possível detectar h<strong>em</strong>ácias bastante<br />

rígi<strong>da</strong>s. Para os pacientes homozigotos tratados com Hidroxiuréia a rigidez <strong>da</strong>s<br />

h<strong>em</strong>ácias se aproximou <strong>da</strong> distribuição dos pacientes normais do controle. A Figura 122<br />

mostra esses resultados. Não houve correlação entre a elastici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia e os<br />

haplotipos de β‐globi<strong>na</strong> ou a α‐talass<strong>em</strong>ia.<br />

15<br />

Elastici<strong>da</strong>de (dyn/cm×10 -3 )<br />

12<br />

9<br />

6<br />

3<br />

0<br />

controle HbSS HbSS/HU HbAS<br />

Figura 122. Elastici<strong>da</strong>de total <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia medi<strong>da</strong> pela pinça óptica <strong>em</strong> pacientes com an<strong>em</strong>ia<br />

falciforme (SS), homozigotos HbS tomando HU (SS/HU), heterozigotos (AS) e controles<br />

normais.<br />

Neste estudo nós mostramos através do uso <strong>da</strong> pinça óptica que foi possível<br />

detectar diferenças <strong>na</strong> elastici<strong>da</strong>de de h<strong>em</strong>ácias de portadores de HbS (HbSS e HbAS)<br />

comparados com h<strong>em</strong>ácias normais e que o uso <strong>da</strong> Hidroxiuréia levou a uma<br />

“normalização” de deformabili<strong>da</strong>de dos eritrócitos. O fato <strong>da</strong> técnica com pinças ópticas<br />

ter detectado diferenças entre indivíduos com traço falciforme e controle d<strong>em</strong>onstra sua<br />

sensibili<strong>da</strong>de, pois esses indivíduos são assintomáticos. Dessa maneira t<strong>em</strong>os que a<br />

deformabili<strong>da</strong>de dos glóbulos vermelhos é ape<strong>na</strong>s um dos aspectos clínicos <strong>da</strong> an<strong>em</strong>ia<br />

falciforme.<br />

199


O gráfico <strong>da</strong> Figura 122 ex<strong>em</strong>plifica b<strong>em</strong> a necessi<strong>da</strong>de de técnicas de medi<strong>da</strong>s<br />

individualiza<strong>da</strong>s discuti<strong>da</strong> acima. Nela perceb<strong>em</strong>os uma população de h<strong>em</strong>ácias com<br />

elastici<strong>da</strong>des muito acima <strong>da</strong> região de normali<strong>da</strong>de, com valores acima de 5 vezes o<br />

valor médio, <strong>em</strong>bora o valor médio não seja tão diferente <strong>da</strong> distribuição do controle.<br />

Esse trabalho foi publicado <strong>na</strong> revista European Jour<strong>na</strong>l of Ha<strong>em</strong>atology [77].<br />

5.3.5. Aplicações às Medi<strong>da</strong>s de Elastici<strong>da</strong>de de H<strong>em</strong>ácias Irradia<strong>da</strong>s <strong>em</strong> Função do<br />

T<strong>em</strong>po de Estocag<strong>em</strong><br />

A Doença enxerto‐hospedeiro associa<strong>da</strong> à transfusão “Transfusion associated<br />

graft‐versus‐host disease (TA‐GVHD)” é uma complicação usualmente fatal <strong>da</strong><br />

transfusão de sangue <strong>em</strong> pacientes imunosuprimidos. Nessa reação os glóbulos brancos<br />

do sangue do doador reconhec<strong>em</strong> materiais exógenos do hospedeiro disparando o<br />

processo de fagocitose. Para evitar esse fato é preciso destruir os glóbulos brancos do<br />

sangue do doador, submetendo‐o a uma irradiação com raios gama. Em princípio essa<br />

irradiação mata células nuclea<strong>da</strong>s (glóbulos brancos) s<strong>em</strong> destruir as h<strong>em</strong>ácias<br />

(anuclea<strong>da</strong>s). Entretanto, a pergunta sobre o que acontece a seguir com as h<strong>em</strong>ácias<br />

ficou s<strong>em</strong> uma boa resposta. Sabe‐se que irradiação resulta <strong>na</strong> produção de espécies de<br />

oxigênio tais como radicais hidroxilas capazes de iniciar ou amplificar o processo de<br />

peroxi<strong>da</strong>ção de lipídios comprometendo a integri<strong>da</strong>de <strong>da</strong> m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong>. Além disso, a<br />

irradiação acelera o extravazamento de íons potássio <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia, resultando <strong>em</strong><br />

aumento <strong>da</strong> viscosi<strong>da</strong>de inter<strong>na</strong> e prejudicando a deformabili<strong>da</strong>de celular.<br />

Bancos de sangue s<strong>em</strong> acesso imediato a irradiador de sangue usam o<br />

procedimento regular de armaze<strong>na</strong>r uni<strong>da</strong>des de sangue irradiados. Entretanto,<br />

enquanto bolsas de sangue coleta<strong>da</strong>s <strong>em</strong> CPDA1 pod<strong>em</strong> ser estoca<strong>da</strong>s por 35 dias, os<br />

padrões <strong>da</strong> AABB recomen<strong>da</strong>m que o t<strong>em</strong>po de estocag<strong>em</strong> de h<strong>em</strong>ácias irradia<strong>da</strong>s seja<br />

limitado a 28 dias após a irradiação. O objetivo desse estudo foi a<strong>na</strong>lisar as<br />

proprie<strong>da</strong>des mecânicas de uni<strong>da</strong>des de sangue irradia<strong>da</strong>s <strong>em</strong> função do t<strong>em</strong>po de<br />

estocag<strong>em</strong>.<br />

200


Para tanto coletamos 5 bolsas de doadores de sangue sadios <strong>em</strong> CPDA1, sendo<br />

que ca<strong>da</strong> uma foi dividi<strong>da</strong> de maneira estéril <strong>em</strong> 2 bolsas. Uma <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des<br />

resultantes <strong>da</strong> divisão recebeu radiação gama <strong>na</strong> dose de 25 Gy no mesmo dia e a outra<br />

foi manti<strong>da</strong> como controle e não recebeu radiação. To<strong>da</strong>s elas foram estoca<strong>da</strong>s a 4°C e<br />

amostras <strong>da</strong>s mesmas foram a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s nos dias 1, 14 , 21 e 28 de estocag<strong>em</strong>. Dez<br />

h<strong>em</strong>ácias de ca<strong>da</strong> bolsa eram submeti<strong>da</strong>s a 6 diferentes veloci<strong>da</strong>des (150, 170, 190, 210,<br />

230 e 250 µm/s) e a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s no computador conforme o modelo anteriormente descrito.<br />

A diluição concentrado de eritrócitos/plasma foi também 0.5 µl/1000 µl e a viscosi<strong>da</strong>de<br />

do plasma η = 1.504 cP.<br />

A Figura 123 mostra os resultados obtidos para 28 dias de estocag<strong>em</strong>. Eritrócitos<br />

<strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des irradia<strong>da</strong>s e estoca<strong>da</strong>s por 21 e 28 dias mostram um valor para a<br />

−3<br />

elastici<strong>da</strong>de significativamente mais alto ( 21 dias = ( 3. 54 ± 1. 3)<br />

× 10 dyn/cm e<br />

−3<br />

−3<br />

28 dias = ( 14± 3. 2)<br />

× 10 dyn/cm ) comparados ao controle ( 21 dias = ( 0. 37 ± 0.<br />

03)<br />

× 10 dyn/cm e<br />

−3<br />

28 dias = ( 0. 5 ± 0. 09)<br />

× 10 dyn/cm;). A elastici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s h<strong>em</strong>ácias estoca<strong>da</strong>s irradia<strong>da</strong>s<br />

−3<br />

estoca<strong>da</strong>s por 14 dias (( 043 . ± 0038 . ) × 10 dyn/cm) foi s<strong>em</strong>elhante as <strong>da</strong> não irradia<strong>da</strong>s<br />

−3<br />

( ( 0. 34 ± 0. 02)<br />

× 10 dyn/cm).<br />

Elastici<strong>da</strong>de (dyn/cm×10-3)<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

1 2 3 4 5 6 7<br />

14 dias 21 dias 28 dias<br />

Figura 123. H<strong>em</strong>ácias armaze<strong>na</strong><strong>da</strong>s e irradia<strong>da</strong>s compara<strong>da</strong>s ao controle.<br />

201


Já houve relatos de efeitos bioquímicos e morfológicos <strong>da</strong> irradiação de h<strong>em</strong>ácias<br />

usando doses terapêuticas (15 ‐ 30 Gy) e que esses efeitos pod<strong>em</strong> ser acentuados com o<br />

t<strong>em</strong>po de estocag<strong>em</strong> [78]. Estudos <strong>da</strong> deformabili<strong>da</strong>de de h<strong>em</strong>ácias irradia<strong>da</strong>s até 50 Gy<br />

com reoscópio d<strong>em</strong>onstrou que o índice de deformação entre as h<strong>em</strong>ácias irradia<strong>da</strong>s e<br />

controle não foi estatisticamente diferente [79]. Entretanto o índice de deformação <strong>da</strong>s<br />

h<strong>em</strong>ácias diminuiu ligeiramente durante a estocag<strong>em</strong>. Cicha et al, [80] mostrou que a<br />

radiação gama <strong>em</strong> 35 Gy estoca<strong>da</strong>s <strong>em</strong> manitol‐adeni<strong>na</strong>‐fosfato reduziu a<br />

deformabili<strong>da</strong>de de h<strong>em</strong>ácias e o número de células não deformáveis aumentou<br />

durante a estocag<strong>em</strong>. Ele observou a deformabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s células <strong>em</strong> fluxo constante e<br />

esta era principalmente induzi<strong>da</strong> por vazamentos de íons K + <strong>da</strong>s h<strong>em</strong>ácias. Os<br />

resultados do nosso estudo estão <strong>em</strong> acordo com os achados prévios sugerindo que a<br />

deformabili<strong>da</strong>de de h<strong>em</strong>ácias irradia<strong>da</strong>s diminui durante a estocag<strong>em</strong>. Entretanto a alta<br />

sensibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> técnica com pinça óptica nos permite concluir que não há diferença<br />

significativa até 14 dias para h<strong>em</strong>ácias estoca<strong>da</strong>s <strong>em</strong> CPDA1 porém há uma diferença<br />

bastante significativa para células estoca<strong>da</strong>s até 21 dias. Dessa forma nossos resultados<br />

suger<strong>em</strong> que as uni<strong>da</strong>des irradia<strong>da</strong>s estoca<strong>da</strong>s por 21 dias estejam comprometi<strong>da</strong>s e que<br />

a transfusão seria mais eficiente e segura se o t<strong>em</strong>po de estocag<strong>em</strong> fosse limitado a 14<br />

dias. Este trabalho foi publicado <strong>na</strong> revista Transfusion [81].<br />

5.3.6. Aplicações às Medi<strong>da</strong>s de Elastici<strong>da</strong>de de H<strong>em</strong>ácias Estoca<strong>da</strong>s de Pacientes com<br />

Traço Falciforme<br />

Indivíduos com traço falciforme AS são considerados doadores de sangue e suas<br />

h<strong>em</strong>ácias são considera<strong>da</strong>s seguras para transfusão. As células desses indivíduos são<br />

estoca<strong>da</strong>s e transfundi<strong>da</strong>s por 35 dias. Desse modo, o objetivo desse estudo foi a<strong>na</strong>lisar<br />

a deformabili<strong>da</strong>de de h<strong>em</strong>ácias de doadores AS. Para isso, 14 bolsas foram estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s,<br />

sendo 7 de indivíduos normais (controle‐AA) e 7 de indivíduos com traço falciforme<br />

(AS). As amostras foram estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s com 1, 14, 21, 28 e 35 dias de estocag<strong>em</strong>. A diluição<br />

do concentrado de h<strong>em</strong>ácias/plasma foi a mesma dos experimentos anteriores e a<br />

202


viscosi<strong>da</strong>de do plasma era 1.61 cP, pelo menos 25 células de ca<strong>da</strong> bolsa foram<br />

a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s. Os resultados encontrados estão representados no gráfico <strong>da</strong> Figura 124.<br />

Elastici<strong>da</strong>de (dyn/cm×10-3)<br />

6.0<br />

4.5<br />

3.0<br />

1.5<br />

0<br />

T<strong>em</strong>po de estocag<strong>em</strong> (dias)<br />

Figura 124. Gráfico comparando a distribuição <strong>da</strong> elastici<strong>da</strong>de de h<strong>em</strong>ácias AS e controle (AA)<br />

durante o período de estocag<strong>em</strong>.<br />

As h<strong>em</strong>ácias AS estoca<strong>da</strong>s por 1, 14 e 21 ( 1 dia = 0. 84× 10 dyn/cm ,<br />

−3<br />

−3<br />

14 dias = 0. 81× 10 dyn/cm ,<br />

−3<br />

21 dias = 1. 48× 10 dyn/cm ) são significativamente menos<br />

deformáveis que as h<strong>em</strong>ácias AA‐controle para os mesmos respectivos dias<br />

−3<br />

( 1 dia = 0. 58× 10 dyn/cm ,<br />

−3<br />

14 dias = 065 . × 10 dyn/cm ,<br />

−3<br />

21 dias = 0. 66× 10 dyn/cm ). A<br />

maioria <strong>da</strong>s h<strong>em</strong>ácias de traço falciforme com 28 e 35 dias era tão rígi<strong>da</strong> que escapava<br />

<strong>da</strong> pinça, aproxima<strong>da</strong>mente 30% dela não permanecia captura<strong>da</strong> conforme crescia o<br />

valor <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de. Dessa forma, a precisão dos valores de elastici<strong>da</strong>de para h<strong>em</strong>ácias<br />

AS de 28 e 35 dias foi prejudica<strong>da</strong>. Os valores de elastici<strong>da</strong>de para h<strong>em</strong>ácias controle<br />

para 28 e 35 dias são respectivamente ( 28 dias = 0. 77× 10 dyn/cm ,<br />

−3<br />

35 dias = 0. 92× 10 dyn/cm ). Esse nosso estudo confirma resultados prévios que<br />

mostraram que células AS são menos filtra<strong>da</strong>s que células normais. Nossos resultados<br />

suger<strong>em</strong> que muitas <strong>da</strong>s células AS tor<strong>na</strong>m‐se rígi<strong>da</strong>s com a estocag<strong>em</strong> e que mesmo<br />

uma peque<strong>na</strong> concentração de h<strong>em</strong>oglobi<strong>na</strong> S (pacientes com traço falciforme possu<strong>em</strong><br />

35% <strong>da</strong> h<strong>em</strong>oglobi<strong>na</strong> total sendo h<strong>em</strong>oglobi<strong>na</strong> S) pode comprometer a elastici<strong>da</strong>de<br />

−3<br />

203


celular. Essa diminuição <strong>da</strong> deformabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s células com traço falciforme pode<br />

interferir no seu comportamento <strong>na</strong> circulação. H<strong>em</strong>ácias AS com 28 dias ou mais de<br />

estocag<strong>em</strong> parec<strong>em</strong> estar prejudica<strong>da</strong>s e a transfusão dessas células com um menor<br />

período de estocag<strong>em</strong> pode ser mais eficiente. Este trabalho foi publicado <strong>na</strong> revista<br />

Vox Sanguinis [82].<br />

5.4 Teoria Hidrodinâmica<br />

5.4.1 Mundo Microscópico: Baixos Números de Reynolds.<br />

ρlv<br />

O número de Reynolds é definido como Re = , onde l é uma dimensão típica<br />

µ<br />

do corpo <strong>na</strong> presença de um fluido com veloci<strong>da</strong>de v. A viscosi<strong>da</strong>de cin<strong>em</strong>ática é<br />

defini<strong>da</strong> por ν = µ/ρ, de modo que<br />

lv<br />

Re = . Para a água ν = 10 ‐2 cm 2 /s. A<strong>na</strong>lisando a<br />

ν<br />

dimensão desse número perceb<strong>em</strong>os que<br />

2<br />

M LV Mv<br />

energia cinética<br />

[Re] = Lv<br />

= = (5. 18),<br />

3<br />

L F FL trabalho <strong>da</strong> viscos<br />

i<strong>da</strong>de<br />

significando que a energia cinética é desprezível <strong>em</strong> números de Reynolds muito<br />

pequenos. Notando que µ 2 /ρ t<strong>em</strong> dimensão de força e usando os números para água, ν =<br />

10 ‐2 cm 2 /s, ρ = 1 g/cm 3 v<strong>em</strong>os que o valor <strong>da</strong> força que aparece <strong>em</strong> um corpo com<br />

número de Reynolds igual a 1 será F = (µ 2 /ρ) =<br />

4<br />

10 − dy<strong>na</strong>s =<br />

9<br />

10 − N. Tratam‐se de força<br />

muito peque<strong>na</strong>s, <strong>em</strong>bora maiores do que as <strong>da</strong> pinça óptica, que só interessam para<br />

objetos muito pequenos. O número de Reynolds para um microorganismo com L = 10<br />

µm, v = 100 µm/s <strong>na</strong> água é de<br />

3<br />

10 − .<br />

Purcell [83] apresenta um ex<strong>em</strong>plo interessante sobre a <strong>completa</strong> não<br />

importância <strong>da</strong> energia cinética para um microorganismo com dimensões de micra se<br />

movendo <strong>na</strong> água com 30 µm/s. Para o movimento é necessário uma força constante.<br />

Daí ele se faz a pergunta: <strong>em</strong> quanto t<strong>em</strong>po e que distância esse corpo pára após<br />

desligar essa força Para estimar essa distância pod<strong>em</strong>os supor váli<strong>da</strong> a lei de Stokes<br />

204


para esferas F = 6πµ av<br />

, onde a é o raio <strong>da</strong> partícula. Nesse caso é fácil integrar a<br />

equação de Newton obtendo<br />

v v 0<br />

t /<br />

= e − τ<br />

com<br />

2<br />

2a ρcorpo<br />

τ= (5. 19),<br />

9 νρ<br />

H2O<br />

supondo a densi<strong>da</strong>de do microorganismo igual à <strong>da</strong> água e um raio de 10 µm, ele pára<br />

<strong>em</strong> 20 µs, e 0,2 µs para um raio de 1 µm. Integrando a veloci<strong>da</strong>de nesse intervalo de<br />

t<strong>em</strong>po t<strong>em</strong>os que ele percorre a distância de 6 Å para o raio de 10 µm e 0,06Å para o<br />

raio de 1 µm. Em outras palavras, pára instantaneamente. Não havia qualquer energia<br />

cinética armaze<strong>na</strong><strong>da</strong>. Para baixos números de Reynolds as forças estão s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong><br />

equilíbrio, i.e.,<br />

F<br />

= F .<br />

exter<strong>na</strong> viscosa<br />

A aparente s<strong>em</strong>elhança dessas equações com as equações <strong>da</strong> eletrostática é<br />

enga<strong>na</strong>dora. Não aju<strong>da</strong> muito o fato <strong>da</strong> pressão ser uma função harmônica, para a qual<br />

já existe to<strong>da</strong> uma biblioteca de soluções, porque as condições de contorno dos<br />

probl<strong>em</strong>as de hidrodinâmica são impostas <strong>na</strong> veloci<strong>da</strong>de e não <strong>na</strong> pressão. A condição<br />

de contorno típica <strong>da</strong> hidrodinâmica é a condição de “NON SLIP”, ou seja, a veloci<strong>da</strong>de<br />

do fluido <strong>em</strong> contato com uma interface rígi<strong>da</strong> é a mesma <strong>da</strong> interface. Nossos<br />

probl<strong>em</strong>as envolv<strong>em</strong> um corpo rígido se movendo com veloci<strong>da</strong>de U <br />

0<br />

entre dois<br />

planos infinitos separados por uma distância d, que são o fundo <strong>da</strong> lâmi<strong>na</strong> <strong>na</strong> câmara<br />

<br />

de Neubauer e a lamínula. Neste caso as condições de contorno são que v = U<br />

<br />

0<br />

<strong>na</strong><br />

<br />

superfícies do corpo e v = 0 <strong>na</strong>s paredes, o que complica bastante o probl<strong>em</strong>a.<br />

Exist<strong>em</strong> soluções prontas para diversas formas geométricas <strong>em</strong> um meio infinito,<br />

mas é quase i<strong>na</strong>creditável quão poucas soluções exist<strong>em</strong> para probl<strong>em</strong>as centenários de<br />

hidrodinâmica <strong>em</strong> baixos números de Reynolds, após todo o desenvolvimento <strong>da</strong><br />

aviação, mísseis teleguiados etc. Aparent<strong>em</strong>ente, houve uma grande falta de interesse<br />

nesse tipo de probl<strong>em</strong>as, como afirma Purcell: “Now, I’m going to talk about a world which,<br />

as physicists, we almost never think about. The physicist hears about viscosity in high school<br />

205


when he’s repeating Millikan’s oil drop experiment 6 and he never hears about it again, at least<br />

not in what I teach. And Reynold’s number, of course, is something for the engineers. And the<br />

low Reynolds number regime most engineers aren’t even interested in – except possibly ch<strong>em</strong>ical<br />

engineers, in connection with fluidized beds, a fasci<strong>na</strong>nt topic I heard about from a ch<strong>em</strong>ical<br />

engineering friend at MIT. But I want to take you into the world of very low Reynolds number –<br />

a world which is inhabited by the overwhelming majority of the organisms in this room. This<br />

world is quite different from the one that we developed our intuitions in.”<br />

Esse quadro, entretanto, mudou drasticamente <strong>na</strong> última déca<strong>da</strong>, não ape<strong>na</strong>s<br />

porque a mundo biológico microscópico se tornou mais importante mas também<br />

porque a diminuição do tamanho dos dispositivos eletromecânicos leva <strong>na</strong>turalmente<br />

ao regime de baixos números de Reynolds. Prova disso é que a palavra microfluídica<br />

está se tor<strong>na</strong>ndo parte do vocabulário comum. No nosso caso, li<strong>da</strong>ndo com partículas<br />

captura<strong>da</strong>s pelas pinças ópticas <strong>em</strong> fluidos, tor<strong>na</strong>‐se impossível entender<br />

<strong>completa</strong>mente os probl<strong>em</strong>as s<strong>em</strong> o uso <strong>da</strong> hidrodinâmica <strong>em</strong> baixos números de<br />

Reynolds. Muito menos se pretend<strong>em</strong>os estu<strong>da</strong>r forças <strong>em</strong> microorganismos. Isso indica<br />

que mesmo físicos interessados nos aspectos ópticos <strong>da</strong> pinça óptica e não <strong>na</strong><br />

hidrodinâmica, serão obrigados a dedicar um esforço razoável para li<strong>da</strong>r com<br />

probl<strong>em</strong>as de hidrodinâmica <strong>em</strong> baixos números de Reynolds. Apesar do interesse<br />

renovado <strong>na</strong> área só encontramos solução pronta para o probl<strong>em</strong>a de uma esfera entre<br />

duas paredes [84], mas não de um disco ou de uma figura pla<strong>na</strong>. Da mesma forma<br />

chama a atenção o grande número de trabalhos publicados no século XXI contendo<br />

soluções de probl<strong>em</strong>as que imaginávamos estar<strong>em</strong> <strong>completa</strong>mente resolvidos no século<br />

XIX, no máximo início do século XX. A impressão é de que a história dessa área ficou<br />

dormente após Stokes.<br />

6<br />

Desconfio que o autor queria se referir à graduação e não high school. No ensino médio aqui no Brasil sequer se<br />

ensi<strong>na</strong> as equações de Bernoulli, e jamais se d<strong>em</strong>onstraria experiência de Millikan.<br />

206


5.4.2 Equações de Continui<strong>da</strong>de<br />

Para deduzir a equação de Navier‐Stokes é necessário usar as equações de<br />

continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> massa e do momento. A equação <strong>da</strong> continui<strong>da</strong>de de uma grandeza<br />

qualquer é <strong>da</strong> forma<br />

∂u<br />

∇⋅ J + = Fontes −Sumidouros<br />

∂t<br />

onde,<br />

quanti<strong>da</strong>de <strong>da</strong> grandeza<br />

J =<br />

área × t<strong>em</strong>po<br />

(5. 20)<br />

é o vetor fluxo <strong>na</strong> direção do escoamento v <br />

<strong>da</strong> grandeza, tal que J = uv<br />

,<br />

quanti<strong>da</strong>de <strong>da</strong> grandeza<br />

u = é a densi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> grandeza e as fontes e sumidouros são<br />

volume<br />

definidos por:<br />

quanti<strong>da</strong>de cria<strong>da</strong><br />

quanti<strong>da</strong>de destrui<strong>da</strong><br />

Fonte =<br />

e Sumidouro =<br />

(5. 21).<br />

volume × t<strong>em</strong>po<br />

volume × t<strong>em</strong>po<br />

5.4.3 Continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Massa<br />

<br />

Para a continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> massa u = ρ , J = ρ v e não há fonte n<strong>em</strong> sumidouros de<br />

∂ρ<br />

massa, portanto a equação de continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> massa é <strong>da</strong><strong>da</strong> por ∇⋅ J + = 0 . Se o<br />

∂t<br />

∂ρ ∂ρ<br />

fluido é incompressível ρ é constante no t<strong>em</strong>po e no espaço, i.e., = 0 e = 0 ,<br />

∂t<br />

∂x i<br />

significando que ∇⋅ρ v <br />

=ρ∇⋅ v = 0 . Isso implica que a veloci<strong>da</strong>de é s<strong>em</strong>pre solenoi<strong>da</strong>l,<br />

i.e., ∇⋅ v<br />

= 0 .<br />

5.4.4 Continui<strong>da</strong>de do Momento<br />

Para a equação <strong>da</strong> continui<strong>da</strong>de do momento linear partimos <strong>da</strong>s equações de<br />

<br />

<br />

dP<br />

∆F<br />

∆P<br />

Newton F = , para criar a fonte de momento f = = . O tensor densi<strong>da</strong>de<br />

dt<br />

∆V ∆V ∆t<br />

<br />

∆P<br />

∆m<br />

v <br />

de momento é <strong>da</strong>do por u = = =ρ v e o tensor fluxo por J = ( ρ v) v , levando à<br />

∆V<br />

∆V<br />

<br />

∂ v<br />

equação <strong>da</strong> continui<strong>da</strong>de do momento ∇ ⋅ρ ( v v) +ρ = F−S.<br />

∂t<br />

5.4.5 Fontes e Sumidouros de Momento<br />

Procurando no dicionário inglês‐português percebe‐se que as palavras que<br />

utilizar<strong>em</strong>os nessa seção têm os seguintes significados: stress = pressão, tensão, carga;<br />

strain = deformação, distorção; stretch = esticamento, distenção e shear = esforço<br />

transverso, cisalhamento, ato de cortar com tesoura ou guilhoti<strong>na</strong>.<br />

207


Separamos as forças exter<strong>na</strong>s atuando <strong>em</strong> um el<strong>em</strong>ento de volume <strong>em</strong> dois tipos:<br />

volumétricas e de contato. Volumétricas são forças de ação à distância através de<br />

campos gravitacio<strong>na</strong>is ou eletromagnéticos. Neste caso as fontes de momento são <strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

por f . As forças de contato são transmiti<strong>da</strong>s através dos tensores <strong>da</strong>s tensões de<br />

superfície πij definidos através <strong>da</strong>s forças ∆ Fi = ∫ πijn<strong>da</strong><br />

j<br />

onde nj é normal à superfície <strong>na</strong><br />

direção j e do el<strong>em</strong>ento de área. Usando o teor<strong>em</strong>a <strong>da</strong> divergência <strong>em</strong> um el<strong>em</strong>ento de<br />

∫<br />

∆ F = π n <strong>da</strong> = ∂ π dV =∂ π ∆V<br />

v<strong>em</strong>os que a densi<strong>da</strong>de de força de contato<br />

volume<br />

i ij j j ij j ij<br />

∆V<br />

é <strong>da</strong><strong>da</strong> por ∆Fi ∆ V =∂jπij.<br />

∫<br />

Figura 125. El<strong>em</strong>ento de volume, as forças e<br />

o tensor <strong>da</strong>s tensões.<br />

π 12 π 22<br />

π 32 zerar. Da Figura 125 ao lado notamos as<br />

Para um el<strong>em</strong>ento de volume infinitesimal,<br />

as forças volumétricas são despreza<strong>da</strong>s e a<br />

somatória <strong>da</strong>s forças e torques de contato<br />

<strong>em</strong> um corpo de massa nula t<strong>em</strong> que se<br />

x 3 x 2<br />

x 1<br />

forças <strong>na</strong>s direções 1, 2 e 3 são <strong>da</strong><strong>da</strong>s por<br />

F 1 = π12∆x ∆<br />

1<br />

x3<br />

F 2 = π22∆x ∆<br />

1<br />

x e<br />

3<br />

F 3 =π32∆x ∆<br />

1<br />

x .<br />

3<br />

A força F 2 é normal à superfície enquanto as forças F 1 e F 3, paralelas, são forças<br />

de cisalhamento ou “shear forces”. Para uma tensão homogênea, as forças <strong>na</strong>s faces<br />

diferentes têm a mesma intensi<strong>da</strong>de e direções opostas devido às normais, como mostra<br />

a Figura 126. Isso significa que a força resultante é automaticamente nula. Para cancelar<br />

o torque, entretanto, é necessário exigir que:<br />

( ) ( )<br />

π dx dx dx = π dx dx dx (5. 22)<br />

12 1 3 2 21 2 3 1<br />

ou seja, que o tensor <strong>da</strong>s tensões seja simétrico, π ij =π ji .<br />

208


π 22 π 11 π 22<br />

π 12<br />

π 21<br />

π 21<br />

π 12<br />

π 11<br />

π 12<br />

π 21<br />

π 11<br />

Figura 126. Tensão homogênea e as forças.<br />

Figura 127. Deformação.<br />

Vamos considerar dois pontos de um corpo<br />

<br />

ur<br />

( )<br />

<br />

δ Y<br />

inicialmente <strong>em</strong> P 0 e Q 0 que se mov<strong>em</strong><br />

para os pontos P 1 e Q 1, como mostra a<br />

<br />

δ X<br />

Q o<br />

P 1 P o Q 1<br />

ur<br />

( <br />

+ δ<br />

X<br />

)<br />

Figura 127. Isso não significa que houve<br />

uma deformação pois o corpo pode ter<br />

simplesmente transla<strong>da</strong>do e girado s<strong>em</strong><br />

deformar.<br />

Para haver deformação, portanto, é necessária a existência de uma deformação.<br />

<br />

Se ur ( ) = ur ( +δ <br />

X)<br />

só ocorreu uma translação, logo só haverá deformação se<br />

<br />

δ u= u( r +δX) −u( r)<br />

≠0<br />

, <strong>em</strong>bora isso ain<strong>da</strong> não descarte a possibili<strong>da</strong>de de ter<br />

acontecido ape<strong>na</strong>s uma rotação. Expandindo δu <strong>em</strong> série de Taylor até primeira ord<strong>em</strong><br />

<br />

δ u= u( r) + ( δX⋅∇) u( r) − u( r) = ( δX⋅∇) u( r)<br />

, v<strong>em</strong>os que δ ui =δXk∂ kui<br />

onde ∂<br />

kui<br />

é um<br />

tensor de rank 2. Todo tensor de rank 2 pode ser decomposto <strong>em</strong> um tensor simétrico e<br />

um antisimétrico pois:<br />

portanto<br />

1 1<br />

Γ<br />

ij<br />

= ( Γ<br />

ij<br />

+Γ<br />

ji<br />

) + ( Γij −Γ<br />

ji<br />

) = Sij + Aij<br />

(5. 23),<br />

2 2<br />

1 1<br />

∂<br />

kui = ( ∂<br />

kui +∂<br />

iuk) + ( ∂kui −∂<br />

iuk)<br />

=η<br />

ik<br />

+ wik. A<strong>na</strong>lisando a parte antisimétrica<br />

2 2<br />

perceb<strong>em</strong>os que se trata de uma rotação ape<strong>na</strong>s, pois o tensor antisimétrico de<br />

dimensão 3 pode ser associado a um vetor dual <strong>na</strong> forma<br />

1 1<br />

w= ε<br />

ijkwjkei = ei εijk( ∂juk −∂kuj<br />

)<br />

2 2<br />

ijk j k ikj k j<br />

, onde ε<br />

ijk<br />

é o tensor de Levi‐Civita. Entretanto,<br />

ε ∂ u =ε ∂ u por simples troca de letras dos índices mudos j e k, mas<br />

209


εijk∂ juk =−εijk∂ kuj<br />

pela antisimetria do ε<br />

ijk<br />

, de modo que w= eiεijk∂ juk<br />

=∇× u . Isso<br />

<br />

significa que<br />

7<br />

w×δ X = ( ∇× u) ×δ X =−ew i ikδXk<br />

é ape<strong>na</strong>s uma rotação de um corpo rígido<br />

<br />

do tipo v<br />

<br />

=ω×<br />

<br />

r , pois nesse caso ∇× v<br />

= 2ω <br />

portanto, é <strong>da</strong><strong>da</strong> ape<strong>na</strong>s pela componente simétrica<br />

e<br />

1<br />

ω× r =<br />

2 ( ∇× v) <br />

×<br />

r . A deformação,<br />

1<br />

η<br />

2 ( )<br />

ij<br />

=η<br />

ji<br />

= ∂<br />

iuj +∂<br />

jui<br />

.<br />

5.4.6. Lei de Hooke Generaliza<strong>da</strong>.<br />

A lei de Hooke generaliza<strong>da</strong> estabelece uma relação linear entre os tensores <strong>da</strong>s<br />

tensões e deformação <strong>na</strong> forma π ij = Cjiklη kl , onde C jikl agora é um tensor de rank 4 com<br />

3 4 = 81 el<strong>em</strong>entos. As simetrias diminu<strong>em</strong> o número de el<strong>em</strong>entos distintos. Por<br />

ex<strong>em</strong>plo, π ij =π ji implica que Cjikl = Cjikl<br />

enquanto η kl = η lk implica <strong>em</strong> Cjikl = Cjilk<br />

.<br />

∂Energia<br />

∂E<br />

Existe mais uma simetria pelo fato de que Cijkl = = = Cklij<br />

. Essas<br />

∂η ∂η ∂η ∂η<br />

ij kl kl ij<br />

simetrias traz<strong>em</strong> o número de el<strong>em</strong>entos distintos para ape<strong>na</strong>s 21. Se o meio é isotrópico<br />

C<br />

ijkl<br />

pode ser decomposto nos 3 tensores isotrópicos A<br />

ijkl<br />

= δδ<br />

ij kl<br />

, B<br />

ijkl<br />

=δikδ jl<br />

+δilδ jk<br />

e<br />

D =δ δ −δ δ , de forma que C = aδ δ + b( δ δ +δ δ ) + c( δ δ −δ δ ). O tensor<br />

ijkl ik jl il jk<br />

ijkl ij kl ik jl il jk ik jl il jk<br />

<strong>da</strong>s tensões será <strong>da</strong>do por π = aδ δ η + b( δ δ +δ δ ) η + c( δ δ −δ δ ) η , mas como<br />

ij ij kl kl ik jl il jk kl ik jl il jk kl<br />

ηij é simétrico o terceiro termo se anula e π = aη δ + 2bη =−pδ + 2µη , onde p é a<br />

ij kk ij ij ij ij<br />

pressão e µ a “shear viscosity”. Até aqui t<strong>em</strong>os usado a notação para elastici<strong>da</strong>des. A<br />

notação <strong>da</strong> mecânica dos fluidos faz a troca de<br />

π ij por<br />

σ ij e<br />

η ij por<br />

D ij , <strong>na</strong> forma<br />

σ =−pδ + 2µ D e<br />

ij ij ij<br />

1<br />

D<br />

2 ( )<br />

ij<br />

= ∂<br />

iuj +∂<br />

jui<br />

.<br />

7<br />

1 1<br />

w×δ X= eiεijkwj δ Xk = eiεijkεjlmwlm δ Xk = ei( δlkδmi −δliδmk ) wlm δ Xk<br />

=<br />

2 2<br />

1 <br />

<br />

= ei( wki −wik)<br />

δ Xk =−ew i ikδXk<br />

2<br />

210


5.4.7. Equação de Navier‐Stokes<br />

Colocando então as fontes e sumidouros <strong>na</strong> equação <strong>da</strong> continui<strong>da</strong>de do momento<br />

obt<strong>em</strong>os a equação de Navier‐Stokes<br />

<br />

∂v<br />

.<br />

t<br />

i<br />

f i<br />

+∂ j<br />

σ ij<br />

=ρ(v ⋅∇ )vi<br />

+ρ ∂<br />

5.4.8. Equação de Stokes ou “Creeping Motion”<br />

∂vi<br />

Vamos voltar à equação de Navier‐Stokes, fi + 2µ∂jDij<br />

−ρv⋅∇ v=ρ ∂ t<br />

.<br />

Reescrevendo‐a <strong>na</strong> forma <strong>em</strong> função do número de Reynolds<br />

L v vi<br />

fL<br />

i<br />

2 [ L<br />

jD ρ <br />

∂<br />

+ µ ∂<br />

ij<br />

− ⋅∇ v] =ρL (5. 24),<br />

µ ∂ t<br />

v<strong>em</strong>os que o mesmo aparece no termo que contém o gradiente de v, tor<strong>na</strong>ndo‐o<br />

desprezível. Para baixos números de Reynolds, portanto, a equação de Navier‐Stokes se<br />

∂vi<br />

reduz a fi + 2µ∂ jDij<br />

=ρ . As equações de “creeping motion” para movimentos<br />

∂ t<br />

<br />

∂ v<br />

estacionários = 0 são <strong>da</strong><strong>da</strong>s por: ∂<br />

jσ ij<br />

=− fi<br />

pela continui<strong>da</strong>de do momento e ∂<br />

ivi<br />

= 0<br />

∂t<br />

pela continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> massa, com a definição σ<br />

ij<br />

=−pδ ij<br />

+µ ( ∂<br />

ivj +∂<br />

jv i<br />

). Entretanto:<br />

2 <br />

∂j[ −pδ ij<br />

+µ∂<br />

jvi +µ∂<br />

iv j] =−∂<br />

ip+µ∂j∂ jvi +µ∂∂<br />

i jv j<br />

= [ −∇ p+µ∇ v +µ∇( ∇⋅v)]<br />

i<br />

(5. 25)<br />

e como ∇⋅ v<br />

= 0 concluímos que as equações no regime viscoso são (“governing<br />

<br />

equations”): µ∇ 2 v =∇p− <br />

f junto com ∇ ⋅ v<br />

= 0 . Na ausência de forças exter<strong>na</strong>s dev<strong>em</strong>os<br />

resolver<br />

<br />

µ∇ 2 v = ∇p<br />

com ∇⋅ v<br />

= 0 . Como os operadores<br />

2<br />

∇ e ∇ ⋅ comutam entre si,<br />

aplicando o divergente <strong>na</strong> primeira equação e usando a segun<strong>da</strong> obt<strong>em</strong>os a equação<br />

escalar<br />

laplaciano<br />

p<br />

0<br />

2<br />

∇ = para p, que significa que p é uma função harmônica. Já, aplicando o<br />

<br />

v p p<br />

2 2 2 2<br />

µ∇ ∇ = ∇ ∇ = ∇∇ =<br />

de veloci<strong>da</strong>des é uma função biharmônica.<br />

0<br />

de modo que<br />

<br />

4<br />

∇ v =<br />

0, significando que o campo<br />

5.4.9. Teor<strong>em</strong>as Integrais <strong>em</strong> Escoamento de Stokes ou “Creeping Motion”<br />

5.4.9.A Teor<strong>em</strong>a <strong>da</strong> Dissipação<br />

<br />

Vamos escrever as equações de Stokes <strong>na</strong> forma: ∂ σ = 0 , D =∇⋅ v = 0 . Vejamos<br />

quanto vale ∂j(v iσ ij)<br />

: ∂j(v iσ ij<br />

) = vi∂jσ ij<br />

+σij∂ jv i<br />

=σ<br />

ij( Dij + Wij ) =σ<br />

ijDij<br />

pois σ<br />

ijWij<br />

= 0<br />

211<br />

j<br />

ij<br />

ii


porque se trata <strong>da</strong> contração de um tensor simétrico com um antisimétrico. Vamos<br />

considerar duas superfícies, S2, para<strong>da</strong>, <strong>na</strong> qual V = 0, e S1, <strong>na</strong> qual V = U0<br />

, e o campo de<br />

veloci<strong>da</strong>des e tensões <strong>na</strong> região entre elas. Aplicando o teor<strong>em</strong>a <strong>da</strong> divergência para o<br />

produto que acabamos de encontrar<br />

∫ ∫ ∫<br />

∂ (v σ ) dV = v σ n <strong>da</strong> − v σ n <strong>da</strong><br />

j i ij i ij j i ij j<br />

V S S<br />

∫<br />

S<br />

1<br />

1 2<br />

v σ n <strong>da</strong>= σ D dV<br />

∫<br />

i ij j ij ij<br />

V<br />

(5. 26)<br />

pois a veloci<strong>da</strong>de <strong>em</strong> S2 é nula. Por outro lado<br />

σ D = [ −pδ + 2µ D]<br />

D =− pD + 2µ DD = 2µ DD que nos fornece o resultado:<br />

1<br />

ij ij ij ij ij ii ij ij ij ij<br />

∫ v i<br />

σ ij<br />

n j<br />

<strong>da</strong>= 2µ<br />

∫D ij<br />

D ij<br />

dV (5. 27)<br />

S<br />

1<br />

V<br />

A interpretação do teor<strong>em</strong>a é que a potência forneci<strong>da</strong> pela força exter<strong>na</strong><br />

∫ v v ext<br />

iσ ijnj <strong>da</strong>=−∫<br />

i<br />

fi<br />

<strong>da</strong> é igual à potência dissipa<strong>da</strong> pelo sist<strong>em</strong>a 2µ∫ DD<br />

ij ij<br />

dV, visto<br />

S<br />

V<br />

que não há acumulação de energia cinética.<br />

V<br />

5.4.9.B Teor<strong>em</strong>a <strong>da</strong> Unici<strong>da</strong>de<br />

Suponha dois campos de veloci<strong>da</strong>de<br />

v i e<br />

v′<br />

i que satisfaz<strong>em</strong> as equações de<br />

“creeping motion” e as mesmas condições de contorno. Então pod<strong>em</strong>os dizer que as<br />

soluções desse probl<strong>em</strong>a são iguais. Para provar partimos de<br />

∫ ∫ (5. 28)<br />

I = ( D′ −D )( D′ − D ) dV = [ ∂ (v′ −v )]( D′<br />

−D ) dV<br />

V<br />

usando a técnica de integrais por partes,<br />

ij ij ij ij j i i ij ij<br />

V<br />

∂ [(v′ −v )( D′ − D )] =∂ [(v′ −v )]( D′ − D ) + (v′ −v ) ∂ ( D′<br />

− D ) (5. 29),<br />

j i i ij ij j i i ij ij i i j ij ij<br />

transformamos a integral no volume <strong>em</strong> integrais de superfície<br />

∫<br />

I = ∂ [(v′ −v )( D′ −D )] dV − (v′ −v ) ∂ ( D′<br />

− D ) dV =<br />

V<br />

∫<br />

j i i ij ij i i j ij ij<br />

V<br />

= (v′ −v)( D′ − D ) n <strong>da</strong>+ (v′ −v) ∂ ( D′<br />

−D ) dV<br />

S<br />

i i ij ij j i i j ij ij<br />

V<br />

∫<br />

∫<br />

(5. 30)<br />

Em S vi = v′<br />

i anulando a integral de superfície. Para o outro termo utilizamos as<br />

equações de “creeping motion”<br />

212


1<br />

∂σ<br />

j ij<br />

= 0⇒∂j[ −pδ ij<br />

+ 2µ Dij ] =−∂<br />

ip+ 2µ∂ jDij = 0⇒∂ jDij = ∂ip<br />

(5. 31)<br />

2µ<br />

1<br />

Assim, I =− (v′ i<br />

−v i) ∂i( p′<br />

−p)<br />

dV<br />

2µ ∫ . Usando a mesma técnica anterior:<br />

V<br />

∂ [(v′ −v )( p′ − p)] =∂ [(v′ −v )]( p′ − p) + (v′ −v ) ∂ ( p′<br />

− p)]<br />

.<br />

i i i i i i i i i<br />

Mas ∂ (v′ − v ) =∂ v′<br />

−∂ v = 0 logo<br />

i i i i i i i<br />

condições <strong>na</strong> superfície. Por outro lado:<br />

<br />

I = ( D′ −D )( D′ − D ) dV = 0 ⇒ D′<br />

= D ∀r∈V<br />

e provamos a unici<strong>da</strong>de.<br />

∫<br />

V<br />

ij ij ij ij ij ij<br />

1<br />

I = − (v′ i<br />

−v i)( p′<br />

− p)<br />

nj<strong>da</strong>=<br />

0<br />

2µ ∫ pelas<br />

S<br />

(5. 32)<br />

5.4.9.C Teor<strong>em</strong>a <strong>da</strong> Dissipação Mínima<br />

Vamos supor agora dois campos de veloci<strong>da</strong>des<br />

v i e<br />

v′<br />

i <strong>em</strong> que v i satisfaz as<br />

equações de “creeping motion” mas<br />

v′<br />

i satisfaz ape<strong>na</strong>s a continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> massa, i.e.,<br />

∂ v = 0. Além disso, a região de interesse está delimita<strong>da</strong> pelas superfícies S1, <strong>na</strong> qual<br />

i i ′<br />

v = v′ , e por S2, <strong>na</strong> qual v = v′ = 0 . O teor<strong>em</strong>a <strong>da</strong> Dissipação Mínima afirma que a<br />

i<br />

i<br />

i<br />

i<br />

menor dissipação possível é para o escoamento que satisfaz as equações de “creeping<br />

motion”. A d<strong>em</strong>onstração é s<strong>em</strong>elhante à do teor<strong>em</strong>a <strong>da</strong> Unici<strong>da</strong>de. Vamos partir de:<br />

( ∂ v′ −∂ v ) D = [ D′ + W′ −D − W ] D = ( D′<br />

− D ) D (5. 33)<br />

j i j i ij ij ij ij ij ij ij ij ij<br />

usando a contração de tensores simétricos com antisimétricos novamente. Por outro<br />

lado, com os resultados anteriores, pod<strong>em</strong>os colocar esses termos <strong>na</strong> forma própria para<br />

usar o teor<strong>em</strong>a <strong>da</strong> divergência:<br />

Assim:<br />

1<br />

[ ∂ (v′ j i<br />

− v<br />

i)] Dij =∂ [(v′ j i<br />

−v i) Dij] − (v′<br />

i<br />

−v i)<br />

∂ip<br />

2µ<br />

∂ [(v′ − v ) p] = (v′<br />

−v ) ∂ p ∴<br />

i i i i i i<br />

1<br />

[ ∂ (v′ j i<br />

− v<br />

i)] Dij =∂ [(v′ j i<br />

−v i) Dij] − ∂i[(v′<br />

i<br />

−v i) p]<br />

2µ<br />

∫ ∫ ∫<br />

1 2<br />

1 1<br />

− (v′ i<br />

− v<br />

i) pni<strong>da</strong><br />

+ (v′<br />

i<br />

− v<br />

i)<br />

pni<strong>da</strong><br />

= 0<br />

2µ ∫<br />

2µ<br />

∫<br />

1 2<br />

213<br />

(5. 34)<br />

( D′ − D) D dV= (v′ −v ) Dn<strong>da</strong>− (v′<br />

−v ) Dn<strong>da</strong><br />

ij ij ij i i ij j i i ij j<br />

V S S<br />

S<br />

S<br />

(5. 35)


pois <strong>em</strong> S1 vi<br />

= v′<br />

i e <strong>em</strong> S2 ambos são nulos. Agora, a dissipação do escoamento vi’ vale:<br />

<br />

E(v ′) = 2µ D′ D′ dV = 2µ [ D′ D′ −( D′<br />

− D ) D ] dV =<br />

V<br />

∫<br />

ij ij ij ij ij ij ij<br />

V<br />

= 2µ D D dV + 2µ ( D′ −D )( D′<br />

−D ) dV<br />

V<br />

∫<br />

∫<br />

∫<br />

ij ij ij ij ij ij<br />

V<br />

(5. 36)<br />

Isso significa que E(v ′) = E(v) + C e C ≥0<br />

∴E(v ′) ≥ E(v)<br />

. A menor dissipação é a<br />

do movimento de “creeping motion”.<br />

5.1.9.D Geometria Equivalente<br />

Vamos supor um escoamento de Stokes devido um corpo C1, limitado pela<br />

superfície S1, com veloci<strong>da</strong>de U, i.e. ( )<br />

v S = U, limitado pela superfície S <strong>na</strong> qual<br />

i<br />

1<br />

v i = 0 . Vamos tomar outro corpo C2 com a mesma veloci<strong>da</strong>de U, mas agora limitado<br />

por S2, de tal forma que o corpo C1 está contido <strong>em</strong> S2. A mesma superfície S limita os<br />

escoamentos nos dois casos. O campo de veloci<strong>da</strong>de v 1 satisfaz as equações de<br />

“creeping motion” entre S1 e S. Já para o campo v 2 vamos tomar uma veloci<strong>da</strong>de que<br />

satisfaz as equações de “creeping motion” entre S2 e S, mas é constante e igual à U entre<br />

S2 e S1. Isso significa que v 2 não satisfaz as equações de “creeping motion” <strong>em</strong> todo o<br />

espaço, mas é solenoi<strong>da</strong>l <strong>em</strong> todo ele. Logo as condições do teor<strong>em</strong>a de Dissipação<br />

<br />

mínima são váli<strong>da</strong>s e pod<strong>em</strong>os afirmar que E(v ′) ≥ E(v)<br />

. Por outro lado<br />

<br />

E(v ′) = 2µ D′ ijD′ ij<br />

dV + 2µ<br />

D′ ijD′<br />

ij<br />

dV<br />

∫<br />

> < <<br />

V S2 S1 V S2<br />

∫<br />

, mas D′<br />

ij<br />

= 0 no volume entre S1 e S2 porque a<br />

∫ ∫ ∫<br />

o que significa<br />

veloci<strong>da</strong>de é constante. Mas DijDij dV = Uiσ ijnj <strong>da</strong> = Ui σ<br />

ijnj <strong>da</strong> = UiFi<br />

que UF<br />

i i<br />

UF<br />

i i<br />

Fi Fi<br />

V S S<br />

′ ≥ ∴ ′ ≥ . A conclusão é que se um corpo contém outro e ambos se<br />

deslocam com a mesma veloci<strong>da</strong>de a força de arraste será maior para corpo que contém<br />

o outro.<br />

Daqui, pod<strong>em</strong>os perceber a geometria equivalente. Criamos um corpo com uma<br />

geometria G qualquer e um fator de escala λ que aumenta suas dimensões. A força de<br />

arraste será uma função contínua e crescente de λ, F(λ). Vamos considerar agora um<br />

corpo C de tal forma que C contém G(λ1) e G(λ2) contém C, conforme mostra a Figura<br />

214


128. Então, F(λ1) < F(C) < F(λ2) e existe λeq de tal forma que F(λeq) = F(C). Como a<br />

superfície exter<strong>na</strong> S <strong>na</strong> qual a veloci<strong>da</strong>de é nula não entrou no resultado para o cálculo<br />

<strong>da</strong> dissipação o λeq independe <strong>da</strong> mesma, o que nos fornece a seguinte estratégia para<br />

li<strong>da</strong>r com corpos de geometrias muito diferentes: 1. calcular a força de arraste para o<br />

corpo desejado <strong>em</strong> um escoamento infinito, s<strong>em</strong> paredes, b<strong>em</strong> mais fácil do que <strong>na</strong><br />

presença <strong>da</strong>s paredes. 2. Determi<strong>na</strong>r o λeq no fluido infinito <strong>em</strong> comparação com um<br />

corpo com uma geometria <strong>em</strong> que se conheça a solução <strong>na</strong> presença <strong>da</strong>s fronteiras S. 3.<br />

Usar esse mesmo λeq para o cálculo <strong>da</strong> força de arraste <strong>na</strong> presença <strong>da</strong> fronteira.<br />

G(λ 1 )<br />

C<br />

G(λ 2 )<br />

Figura 128. Geometria Equivalente.<br />

Uma forma de justificar mais detalha<strong>da</strong>mente a aproximação <strong>da</strong> h<strong>em</strong>ácia <strong>na</strong> sua<br />

forma bicôncava por um paralelepípedo de comprimento L, largura W e espessura ε<br />

desprezível, seria através do Teor<strong>em</strong>a de Mínima Dissipação e <strong>da</strong> geometria<br />

equivalente.<br />

5.4.9. E Teor<strong>em</strong>a Recíproco<br />

Vamos considerar agora dois escoamentos entre as superfícies S1 e S2 no qual<br />

ambos satisfaz<strong>em</strong> as equações de “creeping motion”, ambos são nulos <strong>em</strong> S2, mas que<br />

não satisfaz<strong>em</strong> as mesmas condições de contorno <strong>em</strong> S1. Então percebe‐se que<br />

σ ′ D = [ −p′ δ + 2µ D′ ] D =− pD ′ + 2µ DD ′ = 2µ DD ′ que será o mesmo trocando a linha<br />

ij ij ij ij ij ii ij ij ij ij<br />

de lugar, levando a σ ′<br />

ijDij =σ<br />

ijD′<br />

ij<br />

. Agora<br />

Logo,<br />

∂ ( σ ′ v ) = ( ∂ σ ′)v +σ′ ∂ v =σ ′( D + W ) =σ ′ D e também ∂ ( σ v ′)<br />

=σ D′<br />

.<br />

j ij i j ij i ij j i ij ij ij ij ij<br />

∫<br />

V<br />

∂ ( σ ′ v ) dV = ∂ ( σ v ′)<br />

dV<br />

j ij i j ij i<br />

V<br />

1 2 1 2<br />

j ij i ij ij<br />

(5. 37).<br />

v σ′ n <strong>da</strong>− v σ ′ n <strong>da</strong>= v′ σ n <strong>da</strong>− v′<br />

σ n <strong>da</strong><br />

∫ ∫ ∫ ∫<br />

i ij j i ij j i ij j i ij j<br />

S S S S<br />

∫<br />

215


Como v i e v′<br />

i são nulos <strong>em</strong> S2:<br />

∫<br />

v<br />

σ ′ n <strong>da</strong>= v′<br />

σ<br />

i ij j i ij j<br />

S1 S1<br />

∫<br />

v<br />

ou<br />

∫<br />

∫<br />

f ′ <strong>da</strong> = v′<br />

f <strong>da</strong><br />

i i i i<br />

S1 S1<br />

n <strong>da</strong><br />

(5. 38)<br />

5.4.10 Presença de Singulari<strong>da</strong>des ou Funções de Green<br />

Vamos considerar o probl<strong>em</strong>a do escoamento devido a uma força pontual <strong>em</strong><br />

um meio infinito, cujas equações são:<br />

<br />

∂σ =−f δ( r −r′<br />

)<br />

j ij i<br />

σ =−pδ + 2µ<br />

D<br />

ij ij ij<br />

∂ v = 0<br />

i<br />

i<br />

(5. 39)<br />

Pode‐se verificar que uma solução dessas equações, conheci<strong>da</strong> como Stokeslet, é<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />

<br />

1 f ( f ⋅ R)<br />

R<br />

v(r, f) = [ + ]<br />

3<br />

8πµ<br />

R R<br />

<br />

1 f ⋅ R<br />

p(r,f)<br />

=<br />

3<br />

4 π R (5. 40)<br />

<br />

( f ⋅ R)<br />

RR<br />

i j<br />

σ<br />

ij(r,f)<br />

=−<br />

5<br />

R<br />

<br />

onde R= r − r′<br />

e R=<br />

|| R||<br />

<br />

<br />

<br />

Claro que v ( r‐ h, f) e p( r‐ h,<br />

f)<br />

também são soluções e, dessa forma, pod<strong>em</strong>os<br />

escrever ca<strong>da</strong> um dos termos <strong>da</strong> expansão <strong>em</strong> série de Taylor dessas funções <strong>em</strong> termos<br />

de h, ou seja,<br />

<br />

<br />

n<br />

n<br />

<br />

n ( h⋅∇) <br />

n ( h⋅∇)<br />

<br />

v( r − h, f) = ∑( −1) v( r, f) e p( r − h, f) = ∑( −1) p( r, f)<br />

n! n!<br />

n<br />

n<br />

(5. 41).<br />

O primeiro termo <strong>na</strong> expansão é chamado de Doublet e é <strong>da</strong>do por:<br />

<br />

1 ( f × h) × R ( f ⋅h) R 3( f ⋅R)( h⋅R)<br />

R<br />

v<br />

D( r, f, h) = { −[ −<br />

]}<br />

3 3 5<br />

8πµ<br />

R R R<br />

<br />

(5. 42)<br />

1 ( f ⋅h) 3( f ⋅R)( h⋅R)<br />

pD( r, f, h) =− [ −<br />

]}<br />

3 5<br />

4π<br />

R R<br />

216


de onde perceb<strong>em</strong>os que a veloci<strong>da</strong>de t<strong>em</strong> dois termos com simetrias diferentes, um<br />

antisimétrico por causa do produto vetorial e o outro simétrico, já a pressão é<br />

totalmente simétrica. Por isso se quebra o Doublet <strong>em</strong> duas contribuições, o Stresslet,<br />

simétrico, e o Rotlet, antisimétrico:<br />

<br />

1 ( f ⋅h) 3( f ⋅R)( h⋅R)<br />

<br />

v<br />

SS( r, f, h) =− [ −<br />

] R<br />

3 5<br />

8πµ<br />

R R<br />

(5. 43)<br />

1 ( f ⋅h) 3( f ⋅R)( h⋅R)<br />

pSS( r, f, h) =− [ −<br />

]}<br />

3 5<br />

4π<br />

R R<br />

e<br />

<br />

1 ( f × h)<br />

× R 1 Ω× R <br />

v<br />

SR( r, f, h) = = com Ω= f × h e p ( , , ) 0<br />

3 3<br />

SR<br />

r f h =<br />

8πµ R 8πµ<br />

R<br />

(5. 44)<br />

A Figura 129 a mostra uma representação pictorial entre o Doublet, o Stresslet e o<br />

Rotlet. Nela se percebe que no Stresslet não há torque n<strong>em</strong> força resultante, só tensão, já<br />

no rotlet não há força resultante, mas existe torque. Se os vetores h e f são paralelos, i.e.,<br />

<br />

h//<br />

f o rotlet será <strong>na</strong>turalmente nulo, <strong>na</strong> forma representa<strong>da</strong> <strong>na</strong> Figura 129 b. Os<br />

próximos termos <strong>na</strong> expansão dão orig<strong>em</strong> a quadrupólos e outras ordens superiores<br />

envolvendo expressão algébricas ca<strong>da</strong> vez mais complica<strong>da</strong>s. Existe, entretanto, ain<strong>da</strong><br />

um termo simples que pode ser extraído do Stokeslet, chamado de Source Doublet,<br />

Potential Doublet ou Double Layer Potential, obtido aplicando o laplaciano <strong>na</strong> solução<br />

do Stokeslet. Em lugar de aplicar diretamente o laplaciano <strong>na</strong> veloci<strong>da</strong>de entretanto é<br />

mais simples usar o fato de que<br />

2<br />

1<br />

∇ v = ∇p<br />

µ<br />

e aplicar o gradiente diretamente no p do<br />

Stokeslet para obter<br />

<br />

2 f 3( f ⋅ R)<br />

R<br />

v<br />

SD( r, f) = [ − ]<br />

3 5<br />

8πµ<br />

R R<br />

(5. 45).<br />

A s<strong>em</strong>elhança do Source Doublet com o Stokeslet, diferindo <strong>na</strong> potência do<br />

denomi<strong>na</strong>dor o tor<strong>na</strong> muito útil para geometrias esféricas. Por ex<strong>em</strong>plo, a lei de Stokes<br />

para uma esfera de raio a <strong>em</strong> um meio infinito sai facilmente se perceb<strong>em</strong>os que<br />

pod<strong>em</strong>os usar um Stokeslet e um Source Doublet centrados <strong>na</strong> orig<strong>em</strong> para satisfazer as<br />

217


condições de contorno de veloci<strong>da</strong>de constante <strong>na</strong> superfície <strong>da</strong> mesma. Neste caso<br />

quer<strong>em</strong>os encontrar duas constantes α e β que garantam<br />

<br />

<br />

Fi ( F⋅Rx )<br />

i<br />

Fi 3( F⋅Rx<br />

)<br />

i<br />

vi<br />

=α [ + ] +β− [ + ] (5. 46).<br />

3 3 5<br />

a a a a<br />

2<br />

a<br />

<br />

Percebe‐se que β=− α cancela os termos com F⋅<br />

R e fornece v<br />

3<br />

fato de que<br />

1<br />

<br />

α= chegamos a F = 6πµ<br />

av<br />

, a lei de Stokes [85].<br />

8 πµ<br />

i<br />

4Fi<br />

=α e usando o<br />

3a<br />

<br />

f<br />

Doublet Stresslet Rotlet<br />

. h <br />

≡<br />

1<br />

2<br />

+<br />

a<br />

. ≡ .<br />

1<br />

2<br />

b<br />

Figura 129. a.Ilustração de Doublet, Stresslet e Rotlet. b. h e f são paralelos.<br />

218


Capítulo 6<br />

Conclusão e Perspectivas<br />

O trabalho desenvolvido ao longo do Doutorado abriu diversas perspectivas<br />

para novas pesquisas. O fato de incorporarmos a capaci<strong>da</strong>de de espectroscopias lineares<br />

e não lineares nos forneceu um horizonte muito vasto, impossível de ser explorado <strong>em</strong><br />

uma única Tese. A observação <strong>da</strong>s ressonâncias de Mie <strong>em</strong> microesferas captura<strong>da</strong>s e a<br />

medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> força óptica <strong>em</strong> função <strong>da</strong> posição do centro <strong>da</strong> partícula ao<br />

foco do laser e <strong>da</strong> polarização nos fez pensar sobre os métodos de calibração e sobre a<br />

Teoria de pinça óptica. As oscilações vistas nos gráficos <strong>da</strong> seção 3.2.5.2 não são<br />

explica<strong>da</strong>s por nenhum modelo óptico, abrindo a possibili<strong>da</strong>de de aplicação de novos<br />

modelos de feixes incidentes incluindo, por ex<strong>em</strong>plo, efeitos de difração, já que<br />

experimentalmente o feixe do laser não é n<strong>em</strong> muito menor e n<strong>em</strong> tão maior que o<br />

diâmetro <strong>da</strong> objetiva. Esses resultados também nos levam a um estudo mais detalhado<br />

do papel <strong>da</strong> polarização <strong>em</strong> uma pinça óptica.<br />

Outro ponto importante seria realizar uma calibração anisotrópica <strong>da</strong> pinça<br />

óptica. Até o momento t<strong>em</strong>os uma calibração para a força óptica do plano e não para a<br />

força <strong>em</strong> z. A força que o laser exerce sobre uma partícula é menos intensa <strong>na</strong> direção de<br />

219


propagação z do que <strong>na</strong> direção perpendicular. Isso significa que quando aprisio<strong>na</strong>mos<br />

microorganismos flagelados eles tenderão a se deslocar mais <strong>na</strong> direção z, onde a força<br />

óptica é menor, do que <strong>na</strong>s outras. Para quantificar esse movimento precisamos de uma<br />

calibração <strong>da</strong> força nessa direção. O sist<strong>em</strong>a ideal seria capaz de quantificar o<br />

deslocamento <strong>na</strong>s 3 direções e medir a intensi<strong>da</strong>de, direção e sentido do vetor força.<br />

Essa calibração se tor<strong>na</strong> necessária para estudos quantitativos de movimentos de<br />

microorganismos aprisio<strong>na</strong>dos.<br />

O nosso sist<strong>em</strong>a de pinça óptica acoplado à espectroscopia d<strong>em</strong>onstrou a<br />

capaci<strong>da</strong>de de obter os mais variados espectros. Isso abriu a possibili<strong>da</strong>de de realizar<br />

microscopias com esse mesmo sist<strong>em</strong>a usando linhas espectroscópicas específicas. Para<br />

tanto, é necessário associar a intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> linha com a posição do laser de excitação.<br />

Nosso sist<strong>em</strong>a atual de varredura será lento, pois o estágio de translação t<strong>em</strong> massa<br />

grande, mas isso não seria o probl<strong>em</strong>a para amostras estáticas. Isso nos permitirá<br />

obtenção de imagens tanto através <strong>da</strong> luminescência excita<strong>da</strong> por dois fótons como por<br />

Hiper Rayleigh ou Hiper Raman. No caso do Hiper Raman, por ex<strong>em</strong>plo, o t<strong>em</strong>po de<br />

integração será maior do que o t<strong>em</strong>po de varredura, não importando muito a<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mesma. Imagens construí<strong>da</strong>s a partir do SHG estão começando a ser<br />

usa<strong>da</strong>s <strong>na</strong> Biomedici<strong>na</strong>. Uma forma de aumentar a veloci<strong>da</strong>de de imagens <strong>em</strong> linhas de<br />

Raman é o uso <strong>da</strong> técnica chama<strong>da</strong> CARS – “Coherent Anti‐Stokes Raman<br />

Spectroscopy” que amplifica consideravelmente a intensi<strong>da</strong>de do si<strong>na</strong>l, com a<br />

conseqüente diminuição do t<strong>em</strong>po de aquisição. O CARS é feito usando‐se 2 lasers que<br />

têm suas freqüências sintoniza<strong>da</strong>s de forma que a diferença entre elas seja igual à<br />

freqüência de um modo de vibração <strong>da</strong> molécula <strong>em</strong> questão.<br />

A pinça dupla nos mostrou que é possível utilizá‐la no estudo, de grande<br />

importância biológica, dos processos de adesão de eritrócitos. Até o momento não existe<br />

uma medi<strong>da</strong> absoluta desse fator. Quantificar essa adesão poderia aju<strong>da</strong>r a explicar a<br />

<strong>na</strong>tureza <strong>da</strong> ligação h<strong>em</strong>ácia‐h<strong>em</strong>ácia tanto no sentido biológico como químico e<br />

colaboraria para garantir a quali<strong>da</strong>de de transfusões, no estudo de doenças e <strong>na</strong><br />

220


vali<strong>da</strong>de dos modelos <strong>em</strong>pregados no dia a dia de um banco de sangue. Poderíamos<br />

quantificar essa adesão acoplando as h<strong>em</strong>ácias <strong>em</strong> microesferas cujo deslocamento nos<br />

permitiria calibrar o valor <strong>da</strong> força. Para isso, é necessário funcio<strong>na</strong>lizar as microesferas<br />

garantindo sua ligação com as h<strong>em</strong>ácias.<br />

A calibração <strong>da</strong> medi<strong>da</strong> de forças e de elastici<strong>da</strong>de nos levou ao estudo <strong>da</strong><br />

hidrodinâmica no regime conhecido como o “creeping motion”. Afi<strong>na</strong>l, os<br />

microorganismos viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> um universo s<strong>em</strong> inércia de baixos números de Reynolds e<br />

qualquer aspecto de sua mecânica, como as técnicas ópticas se propõ<strong>em</strong> a fazer, só pode<br />

ser <strong>completa</strong>mente entendido com o conhecimento dessa hidrodinâmica. Apesar de<br />

mais de um século dos trabalhos de Stokes e outros grandes nomes <strong>da</strong> hidrodinâmica, o<br />

fato é que não encontramos desenvolvimentos teóricos prontos <strong>na</strong> literatura para as<br />

forças hidrodinâmicas <strong>na</strong> presença de duas paredes, a não ser no caso de esferas.<br />

Trabalhos de mat<strong>em</strong>áticos nessa área estão aparecendo <strong>em</strong> 2000 e 2001. Novos<br />

desenvolvimentos <strong>na</strong> microscopia e microbiologia, incluindo a pinça óptica, traz<strong>em</strong><br />

incentivos para a solução desses probl<strong>em</strong>as. A maior distância de uma partícula<br />

captura<strong>da</strong> pela pinça óptica a uma parede é a “working distance” <strong>da</strong>s objetivas de 100 X<br />

dos microscópios ópticos, que é <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 200 µm. Muitas <strong>da</strong>s nossas medi<strong>da</strong>s são<br />

realiza<strong>da</strong>s <strong>em</strong> uma câmara de Neubauer. Para um bom aproveitamento <strong>da</strong> pinça óptica<br />

é fun<strong>da</strong>mental uma maior compreensão <strong>da</strong> hidrodinâmica envolvi<strong>da</strong>. Além do estudo<br />

teórico e do seu papel <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> de forças e elastici<strong>da</strong>des, também pod<strong>em</strong>os usar a<br />

pinça óptica para compreender e vali<strong>da</strong>r modelos de dinâmica de fluidos, tais como<br />

interação entre micropartículas.<br />

Quanto mais estu<strong>da</strong>mos e compreend<strong>em</strong>os os fenômenos envolvidos, mais idéias<br />

e novas aplicações surg<strong>em</strong> para ser coloca<strong>da</strong>s <strong>em</strong> prática. Todo o trabalho dessa Tese<br />

nos ensinou que, no campo de pesquisa <strong>da</strong> pinça óptica, estamos ape<strong>na</strong>s no início. Ca<strong>da</strong><br />

novo desenvolvimento só amplia as possibili<strong>da</strong>des de sua utilização.<br />

221


222


Apêndice 1<br />

223


1. Prova de que os operadores ∇ , L e ∇ × L <br />

comutam com o<br />

Vamos mostrar que os operadores ∇ , L e<br />

224<br />

2<br />

∇ :<br />

∇ × L <br />

comutam com o<br />

2<br />

∇ , usando a<br />

notação tensorial de Einstein <strong>em</strong> que índices repetidos significa soma nos mesmos, os<br />

tensores de Levi‐Civita ε ijk = 1 para ijk = 123, 312 e 231; ε ijk =− 1 para ijk = 213, 321 e<br />

132; e ε ijk = 0 para quaisquer índices repetidos e o delta de Kronecker δ = 1 se i = j e<br />

δ = 0 se i ≠ j , obt<strong>em</strong>os:<br />

ij<br />

2 <br />

2<br />

a. ∇∇ = e ∂ ∂ ∂ = ∂ ∂ ( e ∂ ) = ∇ ∇<br />

i i j j j j i i<br />

<br />

2<br />

<br />

b. L=− ir×∇=−ie ε x ∂ ⇒∇ L=∂ ∂ ( −ie ε x ∂ ⇒<br />

j jkl k l m m j jkl k l<br />

<br />

2 <br />

∇ L = −ie ε ∂ ∂ ( x ∂ ) = −ie ε [2 δ ∂ ∂ + x ∂ ∂ ∂ ].<br />

j jkl m m k l j jkl m,<br />

k m l k l m m<br />

Se o tensor Si,j é simétrico, i.e., Si,j = Sj,i , então ε ijkSij<br />

= 0 , pois ε ijkSij =ε jikSji<br />

por simples<br />

troca de letras e ε ijkSij =ε jikSji =−ε ijkSij<br />

pela antisimétria do ε e simetria de S, logo<br />

<br />

2 <br />

<br />

2<br />

2ε ijkSij<br />

= 0. Dessa forma εjkl∂k∂ l = 0 levando a ∇ L=−iejεjklxk∂∂ l m∂ m = L∇<br />

.<br />

<br />

c. ∇× L= ejεjkl∂ kLl = ejεjkl∂k[ −iεlmnxm∂ n] =−iej[ εljkεlmn] ∂k( xm∂n)<br />

. Aqui usamos a identi<strong>da</strong>de<br />

<br />

εljkε lmn =δjmδkn −δjnδ km obtendo ∇× L=−iej[ δjmδkn −δjnδkm] ∂k( xm∂n)<br />

que, <strong>na</strong> contração<br />

<br />

com as δ’s, se transforma <strong>em</strong> ∇× L =− ie ∂ ( x ∂ ) − ∂ ( x ∂ )]. Desenvolvendo, obt<strong>em</strong>os<br />

j[ k j k k k j<br />

<br />

∇× L=−ie [ x ∂∂ +δ ∂ −x ∂∂ −∂( ∂x<br />

)] que é transformado <strong>em</strong><br />

pois<br />

∇ ×<br />

j j k k kj k k k j j k k<br />

3 3<br />

∂xk<br />

k= 1∂xk<br />

k=<br />

1<br />

∂ x = = 1=<br />

3<br />

k<br />

k<br />

<br />

L = i[2∇ − r∇<br />

<br />

∇× L=−ie [ x ∂ ∂ +∂ −x<br />

∂ ∂ −3 ∂ ],<br />

j j k k j k k j j<br />

<br />

∑ ∑ . Portanto, ∇× L = i [2 e j∂j − e j x j∂k∂ k + x k∂k( e j∂j)]<br />

2<br />

<br />

<br />

2<br />

+ ( r ⋅∇)<br />

∇]<br />

. Aplicando o Laplaciano ∇ ∇× L=∂ ∂ ∇× L<br />

m<br />

m<br />

ij<br />

, ou seja,<br />

obt<strong>em</strong>os<br />

<br />

2 <br />

∇∇× L= i[2( e ∂) ∂ ∂ −∂ ∂ ( e x )( ∂∂ ) +∂ ∂ ( x ∂)( e ∂)]<br />

. Agora é só separar os<br />

j j m m m m j j k k m m k k j j<br />

termos <strong>em</strong> que a deriva<strong>da</strong> ∂<br />

m<br />

se aplica <strong>em</strong> x dos outros para obter<br />

<br />

2 <br />

∇∇× L= i{[2 e ∂ −( e x ∂∂ ) + ( x ∂)( e ∂)] ∂ ∂ +∂ ( δ ∂)( e ∂) −∂ ( e δ )( ∂∂)}<br />

que<br />

vira<br />

j j j j k k k k j j m m m mk k j j m j mj k k<br />

<br />

<br />

∇∇× = ∂ − ∂∂ + ∂ ∂ ∂ ∂ =∇× ∇<br />

2 2<br />

L i[2 ej j ( ejxj k k) ( xj j)( ej j)] m m ( L)<br />

uma vez que


∂m( δmk∂k)( e j∂j) −∂m( e jδmj)( ∂∂ k k) = e j∂∂∂ j k k −e<br />

<br />

j∂∂∂ j k k = 0. Dessa forma, mostramos que<br />

os operadores ∇ , L e ∇ × L <br />

<br />

2<br />

comutam com o ∇ e as funções vetoriais A =∇φ, D= Lφ<br />

<br />

e F = ( ∇× L)<br />

φ satisfaz<strong>em</strong> a equação diferencial vetorial.<br />

2. Prova de que as funções ψ nm construí<strong>da</strong>s a partir dos harmônicos esféricos são<br />

ortogo<strong>na</strong>is entre si:<br />

π ( n+ m)! π ( n′ + m′<br />

)!<br />

ψ ψ = − Y + − Y Y + − Y<br />

2n+ 1( n− m)! 2n′ + 1( n′ −m′<br />

)!<br />

m+ m′ m m −m m′ m′ −m′<br />

enm en′ m′ ( 1) n ( 1) n n′ ( 1) n′<br />

π ( n+ m)! π ( n′ + m′<br />

)! 2 π ( n+<br />

m)!<br />

= ( −1) { δ δ + ( −1) δ δ } = δ δ<br />

2n+ 1( n− m)! 2l′ + 1( n′ − m′<br />

)! 2n+ 1( n−m)!<br />

m+ m′ m+<br />

m′<br />

nn′ mm′ nn′ mm′ nn′ mm′<br />

e o mesmo vale para a função par<br />

ψ onm . Também,<br />

π ( n+ m)! π ( n′ + m′<br />

)!<br />

ψ ψ = − − − + −<br />

2n+ 1( n− m)! 2n′ + 1( n′ −m′<br />

)!<br />

m+ m′ m m −m m′ m′ −m′<br />

onm en′ m′ i( 1) Yn ( 1) Yn Yn ′ ( 1) Yn<br />

′<br />

π ( l+ m)! π ( n′ + m′<br />

)!<br />

= i( −1) { δ δ −( −1) δ δ } = 0= ψ ψ<br />

2l+ 1( l− m)! 2n′ + 1( n′ −m′<br />

)!<br />

m+ m′ m+<br />

m′<br />

nn′ mm′ nn′ mm′ enm on′ m′<br />

3. Cálculo de M e N :<br />

ˆ<br />

T<strong>em</strong>os que<br />

eθ<br />

∂ ∂<br />

L = i[ −eˆ<br />

ϕ ]<br />

senθ∂ϕ<br />

∂θ<br />

e sendo<br />

1 <br />

M = Z ( kr)<br />

Lψ<br />

i<br />

nm n nm<br />

1 1 eˆ<br />

θ ∂ ∂ m<br />

M enm = Zn( ρ) Lψ enm = Zn( ρ) i[ − eˆ<br />

ϕ ] Pn<br />

(cos θ)cosmϕ<br />

i<br />

i senθ∂ϕ<br />

∂θ<br />

m<br />

m<br />

n n<br />

ˆθ<br />

n<br />

n<br />

−msen mϕ dP (cos θ)<br />

= { P (cos θ) Z ( ρ) e − cos mϕ Z ( ρ) eˆϕ<br />

}<br />

senθ<br />

dθ<br />

1 1 eˆ<br />

θ ∂ ∂ m<br />

Monm = Zn( ρ) Lψ onm = Zn( ρ) i[ − eˆ<br />

ϕ ] Pn<br />

(cos θ)senmϕ<br />

i<br />

i senθ∂ϕ<br />

∂θ<br />

L<strong>em</strong>brando que<br />

m<br />

m<br />

dP (cos θ)<br />

ˆ<br />

n<br />

n n θ<br />

n<br />

−mcos<br />

mϕ<br />

= { P (cos θ) Z ( ρ) e −sen m ϕ Z ( ρ) e ˆϕ<br />

}<br />

senθ<br />

dθ<br />

1 1 <br />

N = ∇× [ Z ( kr) Lψ ] = ∇× M<br />

ik<br />

k<br />

nm n nm nm<br />

225<br />

,


⎡<br />

⎤<br />

⎢<br />

⎥<br />

eˆr<br />

reˆθ<br />

rsen<br />

θ eˆϕ<br />

<br />

⎢<br />

⎥<br />

1 1<br />

∇× Menm<br />

= ⎢∂r<br />

∂θ ∂ϕ ⎥ =<br />

2<br />

k r senθ ⎢<br />

⎥<br />

⎢<br />

m<br />

msen m ϕ m<br />

dPn<br />

(cos θ ) ⎥<br />

⎢ 0 − Pn (cos θ) Zn( ρ) −cos mϕ Zn( ρ)<br />

⎥<br />

⎣ senθ<br />

dθ<br />

⎦<br />

1 1<br />

= {<br />

2<br />

k r senθ<br />

m m m<br />

d dPn r mcos mϕ Zn( ρ) Pn dP [ ( )]<br />

[ ( )cos [sen ] ] ˆ<br />

n d rZn<br />

ρ<br />

−rZn<br />

ρ mϕ θ + er<br />

+ r senθcos mϕ<br />

[ ] eˆ<br />

dθ dθ senθ dθ<br />

dr<br />

m sen mϕ<br />

P [ ( )] sen [<br />

n d rZn<br />

ρ<br />

−r<br />

θ ] e ˆ<br />

ϕ } =<br />

senθ<br />

dr<br />

m<br />

m 2 m<br />

n( ρ) 1 d<br />

n n<br />

m<br />

2 2<br />

rZ dP m P<br />

dP<br />

cos [ [sen ] ˆ<br />

n 1 d [ rZn( ρ)]<br />

= ϕ − θ + er<br />

+ cos mϕ<br />

[ ] eˆ<br />

kr<br />

senθ dθ dθ sen θ<br />

d θ kr dr<br />

m<br />

m sen mϕ<br />

Pn<br />

1 d [ rZn( ρ)]<br />

−<br />

[ ] eˆ<br />

senθ<br />

kr dr<br />

ϕ<br />

m<br />

θ<br />

θ<br />

usando a equação diferencial dos polinômios associados de Legendre,<br />

<br />

m<br />

m<br />

rZn( ρ) m<br />

dP 1 [ ( ρ)] sen ϕ 1 [ ( ρ)]<br />

= ϕ + ˆ<br />

n d rZn m m P<br />

cos ( 1) + cos ϕ [ ] ˆ<br />

n d rZn<br />

Nenm m n n P θ −<br />

[ ] ˆ<br />

2<br />

n er<br />

m e e<br />

kr<br />

dθ ρ dr senθ ρ dr<br />

A<strong>na</strong>logamente:<br />

ϕ<br />

m m<br />

rZn m dPn 1 d rZn m m Pn 1 d rZn<br />

onm = ϕ + + ϕ θ −<br />

2<br />

n r<br />

( ρ) [ ( ρ)] cos ϕ [ ( ρ)]<br />

N sen m n( n 1) P eˆ sen m [ ] eˆ [ ] eˆ<br />

kr<br />

dθ ρ dr senθ ρ dr<br />

<br />

4. Prova <strong>da</strong> relação i εω ik <br />

H = ∑− AnmMnm − BnmNnm<br />

:<br />

k<br />

µω<br />

<br />

Vamos escrever o campo elétrico como: E= ∑ AnmMnm + BnmNnm<br />

. No caso TE,<br />

<br />

i ik ∇× Mnm<br />

ik <br />

E= ∑ AnmMnm<br />

e H = ∑− A ∇× M = ∑− A = ∑−<br />

A N<br />

µω µω k µω<br />

nm nm nm nm nm<br />

.<br />

ϕ<br />

No caso TM,<br />

<br />

H = ∑CnmM<br />

nm<br />

e<br />

<br />

i ik ∇× M ik <br />

E= ∑ C ∇× M = ∑ C = ∑ C N<br />

εω εω k εω<br />

nm<br />

nm nm nm nm nm<br />

226


ik iεω<br />

<br />

H = ∑ − AnmNnm − BnmNnm<br />

mas,<br />

µω<br />

k<br />

ik i i<br />

E εω<br />

εω<br />

= ∑B N ⇒= B N = C N ⇒ C =− B ⇒ H = ∑−<br />

B N<br />

<br />

εω<br />

k<br />

k<br />

nm nm nm nm nm nm nm nm nm nm<br />

então:<br />

ik iεω<br />

<br />

H = ∑ − A N − B N<br />

µω<br />

k<br />

nm nm nm nm<br />

<br />

5. Cálculo de r ⋅ E<br />

<br />

e r ⋅ H<br />

<br />

:<br />

<br />

r⋅ E= A r⋅ M + B r⋅N<br />

∑<br />

nm nm nm nm<br />

<br />

mas r⋅ M = r⋅Lψ = 0<br />

nm<br />

nm<br />

<br />

então r⋅ E= Bnm r⋅Nnm<br />

−ik<br />

<br />

e r⋅ H = ∑ Anm r⋅Nnm<br />

,<br />

µω<br />

<br />

<br />

r r <br />

r⋅ Nnm = ∇× [ Zn( ρ) Lψ nm] = { ∇Zn( ρ ) × Lψ nm + Zn( ρ) ∇× Lψnm}<br />

ik<br />

ik<br />

<br />

r Z ( ρ)<br />

<br />

<br />

n<br />

= { r× Lψ nm + Zn( ρ) ∇× Lψnm<br />

}<br />

ik r<br />

<br />

<br />

r <br />

2 <br />

mas, r⋅ [ r× Lψ nm] = 0 então r⋅ Nnm = Zn( ρ)<br />

∇× Lψnm<br />

porém ∇× L= i[2 ∇−r∇ + ( r. ∇) ∇]<br />

e<br />

ik<br />

2 2<br />

<br />

r⋅∇× L= i{2( r⋅∇ ) + ( r⋅∇)( r⋅∇ ) + r ∇ } sendo que( r ⋅∇) ψ = 0 pois ψ nm não depende de r.<br />

Considerando que<br />

nm<br />

∑<br />

t<strong>em</strong>os<br />

2 2<br />

∇ = r<br />

∂<br />

∂r<br />

2<br />

L <br />

− ,<br />

2 2 2 L<br />

r ⋅∇× Lψ = −ir ∇ ψ = ir ψ = in( n + 1) ψ<br />

2<br />

r<br />

r<br />

2 2<br />

2 2<br />

nn ( + 1)<br />

r⋅ N = Z ( ρ)<br />

ψ<br />

k<br />

nm n nm<br />

e portanto<br />

nn ( + 1)<br />

r⋅ E= ∑ Z ( ρ)<br />

ψ B<br />

k<br />

n nm nm<br />

nm nm nm nm<br />

e<br />

− ik n( n + 1)<br />

r⋅ H = ∑i( ) Z ( ρ)<br />

ψ A<br />

µω k<br />

n nm nm<br />

6. Cálculo de integrais:<br />

A. Integrais de seno e cosseno:<br />

2π<br />

2π<br />

∫<br />

1<br />

cosϕcos mϕ dϕ = ∫ {cos( m −1) ϕ + cos( m + 1) ϕ}<br />

d ϕ =πδ<br />

2<br />

0 0<br />

m1<br />

227


2π<br />

2π<br />

∫<br />

1<br />

cosϕsen mϕ dϕ = ∫ {sen( m −1) ϕ+ sen( m+ 1) ϕ} d ϕ = 0<br />

2<br />

0 0<br />

2π<br />

2π<br />

∫<br />

1<br />

cos mϕcos m′ ϕ dϕ = ∫ {cos( m − m′ ) ϕ+ cos( m + m′<br />

) ϕ}<br />

dϕ = πδ + πδ δ<br />

2<br />

0 0<br />

A<strong>na</strong>logamente:<br />

= [1 + δ ] πδ<br />

m0<br />

mm′<br />

mm′ mm′<br />

m0<br />

2 π<br />

∫<br />

0<br />

senϕsen mϕ d ϕ = πδm<br />

,<br />

1<br />

2 π<br />

∫<br />

0<br />

senϕ cos mϕ d ϕ = 0 e<br />

2π<br />

∫<br />

0<br />

senmϕ sen m′<br />

ϕ d ϕ = [1 −δ ] πδ<br />

m0<br />

mm′<br />

B. Integrais por partes:<br />

1.<br />

π<br />

iE0π k(2n + 1) ( n −1)!<br />

1 d ikr cosθ<br />

n 1n n<br />

k ( n + 1)! 2 π n( n + 1)<br />

∫<br />

dθ<br />

0<br />

Z ( kr) B = sen θ P (cos θ)( e ) dθ<br />

π<br />

1 ikr cosθ π ikr cosθ<br />

1 1<br />

n 0 ∫<br />

n n<br />

0<br />

iE0π k(2n + 1) ( n −1)!<br />

d<br />

= {sen θ P (cos θ) e − e sen θ P (cos θ)[ sen θ P (cos θ)] dθ}<br />

k ( n + 1)! 2 π n( n + 1)<br />

dθ<br />

2.<br />

π<br />

iE0π k(2n + 1) ( n −1)!<br />

ikr cosθ<br />

d<br />

1<br />

n 1n n<br />

k ( n + 1)! 2 π n( n + 1)<br />

∫<br />

dθ<br />

0<br />

Z ( kr) B =− e [ sen θP (cos θ)]<br />

dθ<br />

π m m m m π m m π m m m<br />

dPn dPn′ Pn Pn′ dPn dPn′ Pn Pn′<br />

dPn<br />

∫ 2<br />

θ θ θ<br />

∫<br />

θ θ<br />

∫ 2<br />

d d sen<br />

d d sen θ<br />

dθ<br />

0 0 0<br />

{ + }sen θdθ= sen θd θ+ sen θd θ= sen θP<br />

m<br />

n′<br />

π<br />

0<br />

π m m π m m π<br />

m m<br />

d dPn dPn′ m Pn Pn′<br />

m 1 d dPn Pn<br />

∫ [ sen ] Pn′ d ′<br />

θ θ θ<br />

∫ sen d<br />

2<br />

θ<br />

∫Pn<br />

{ [sen ]<br />

2<br />

d d d sen<br />

senθ dθ dθ<br />

sen<br />

0 0 0<br />

− θ θ+ θ θ= − θ +<br />

}sen θ<br />

θ<br />

dθ<br />

π<br />

∫<br />

0<br />

2 nn ( + 1)( n+<br />

m)!<br />

= nn ( + 1) P P sen θ dθ= δ<br />

2n+ 1 ( n−m)!<br />

m m<br />

n′ n nn′<br />

3.<br />

π m m m m π m m π m π m<br />

dPn′ Pn dPn Pn′ dPn′<br />

m dPn m m m π dPn m dPn<br />

m<br />

∫ ′ ′ ′<br />

θ θ θ θ<br />

∫ n n n n 0<br />

sen sen<br />

θ θ<br />

∫ n<br />

θ<br />

∫ n<br />

d d d d d dθ<br />

0 0 0 0<br />

( + )sen θdθ= ( P + P ) dθ== P P − ( P ) dθ+ ( P ) dθ<br />

m m m m<br />

n′ n n′<br />

n<br />

= P ( −1) P ( −1) − P (1) P (1) = 0<br />

m<br />

n<br />

pois P ′ ( ± 1) = 0.<br />

228


7. Cálculo de Q pr<br />

Vamos agora calcular a seção de choque de pressão de radiação para on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong>.<br />

O tensor de stress de Maxwell e a força são <strong>da</strong>dos por:<br />

1 <br />

T = ED + H B − ( E⋅ D+ H⋅B)<br />

δ<br />

2<br />

ij i j i j ij<br />

F<br />

= ∫<br />

T n <strong>da</strong><br />

i ij j<br />

S<br />

onde S é qualquer superfície que engloba o objeto. Em particular pod<strong>em</strong>os usar a<br />

superfície <strong>em</strong><br />

r →∞. Como os campos pod<strong>em</strong> ser complexos mas a força t<strong>em</strong> que ser<br />

real, t<strong>em</strong>os que<br />

* * 1 * *<br />

Fi Re Tijnj<strong>da</strong> Re<br />

⎡<br />

<br />

= = ED i jnj + HiBjnj − ( E⋅ D + H⋅B ) n<br />

⎤<br />

∫<br />

∫ ⎢<br />

i <strong>da</strong><br />

⎣<br />

2<br />

⎥⎦<br />

com,<br />

<br />

n = e ˆ ,<br />

r<br />

<br />

D ⋅ n= D , B ⋅ n=<br />

B<br />

* * * *<br />

r<br />

r<br />

e<br />

<strong>da</strong> = r 2 senθθϕ,<br />

d d<br />

onde eˆ = senθcos ϕ eˆ + senθsen ϕ eˆ + cos θ eˆ<br />

r x y z<br />

t<strong>em</strong>os,<br />

∫<br />

* * 1 <br />

* *<br />

{ }<br />

2 2 i<br />

Fi = Re ε EE i r +µ HiHr<br />

− [ εE⋅ E +µ H⋅H ] n <strong>da</strong><br />

2<br />

Os componentes radiais dos campos, tanto incidente quanto espalhado, levam a<br />

função Z ( ) i<br />

n ρ e ±ρ<br />

ρ<br />

∼<br />

ρ<br />

2<br />

. O el<strong>em</strong>ento de área é proporcio<strong>na</strong>l a<br />

2<br />

r , logo qualquer produto<br />

3 4<br />

com uma <strong>da</strong>s componentes radiais vai com F F ~1/ ρ e F F ~1/ ρ , assim as relações<br />

2 2 2<br />

r t 1/ e r t 1/<br />

r t r t<br />

r F F ∼ r r F F ∼ r , se anulam para r →∞. Dessa forma, os dois primeiros<br />

termos <strong>na</strong> integral<br />

* *<br />

i r e i r<br />

EE<br />

<br />

EE ⋅ = EE+ EE+ EE = EE+<br />

EE<br />

* * * * * *<br />

r r θ θ ϕ ϕ θ θ ϕ ϕ<br />

HH são nulos. Além disso, para r →∞:<br />

e<br />

<br />

H⋅ H = H H + H H + H H = H H + H H<br />

* * * * * *<br />

r r θ θ ϕ ϕ θ θ ϕ ϕ<br />

E então,<br />

1<br />

∫ { ( ) ( ) }<br />

* * * *<br />

θ θ ϕ ϕ θ θ ϕ ϕ i<br />

Fi<br />

= Re − [ ε E E + E E +µ H H + H H ] n <strong>da</strong><br />

2<br />

229


Como o campo elétrico é<br />

<br />

= +<br />

inc sca<br />

E E E<br />

,<br />

E E = ⎡⎣E + E ⎤⎡ ⎦⎣E + E ⎤⎦<br />

= E E + E E + E E + E E<br />

* inc sca inc* sca* inc inc* inc sca* sca inc* sca sca*<br />

θ θ θ θ θ θ θ θ θ θ θ θ θ θ<br />

Entretanto, o termo<br />

inc inc*<br />

Eθ Eθ só depende do campo incidente e portanto não está<br />

relacio<strong>na</strong>do à partícula, logo o mesmo não entra no cálculo <strong>da</strong> força. Antes de continuar<br />

o cálculo vamos definir as funções de θ :<br />

m<br />

m Pn<br />

m dPn<br />

π<br />

n<br />

= e τ<br />

n<br />

=<br />

senθ dθ m<br />

que são reais.<br />

L<strong>em</strong>brando que os campos elétricos e magnéticos são:<br />

n 2n<br />

1 1 1 1 1<br />

E +<br />

i<br />

= E0∑i [ M o1n − iN e1n ] = ∑En [ M o1n −iN<br />

<br />

e1n<br />

]<br />

nn ( + 1)<br />

k n 2n 1 1 1 k<br />

1 1<br />

H +<br />

i<br />

=− E0∑i [ M e1n + iN o1n ] =− ∑En [ M e1n + iN<br />

<br />

o1n<br />

]<br />

µω nn ( + 1)<br />

µω<br />

n 2n<br />

1 3 3 3 3<br />

E +<br />

s<br />

= E0∑i [ iaN n e1n − bM n o1n ] = ∑En [ iaN n e1n −bM<br />

<br />

n o1n<br />

]<br />

nn ( + 1)<br />

k n 2n 1 3 3 k<br />

3 3<br />

H +<br />

s<br />

= E0∑i [ ibnN o1n + anM e1n ] = ∑En [ ibnN o1n + anM<br />

<br />

e1n<br />

]<br />

µω nn ( + 1)<br />

µω<br />

E considerando as formas assintóticas <strong>da</strong>s funções de Bessel,<br />

iρ<br />

1 n+ ( ) ( ) 1 e 1 n+ , ( ) ( ) 1 iρ<br />

n+<br />

( )<br />

1 −ρ i<br />

hn<br />

ρ = −i jn<br />

ρ = ⎡ − i e + i e ⎤<br />

ρ 2ρ⎣ ⎦<br />

e<br />

iρ<br />

1<br />

⎡<br />

1<br />

n e 1 1 n iρ<br />

n −ρ i<br />

ρ hn( ρ ) ⎤ ′ = ( −i) , ⎡ jn( ) ′<br />

⎣ρ ρ ⎤⎦<br />

= ⎡( − i) e + ( i)<br />

e ⎤ ,<br />

ρ⎣ ⎦ ρ ρ 2ρ⎣ ⎦<br />

⎧ 1 1 1<br />

1<br />

cos ( ) n + i<br />

( ) n + i<br />

cos ( ) n i<br />

( )<br />

n i ⎫<br />

Ei En n<br />

i e ρ i e − ρ i<br />

n<br />

i e ρ i e<br />

− ρ<br />

θ<br />

= ∑ ⎨ ϕπ ⎡ − + ⎤− ϕτ ⎡ − + ⎤⎬=<br />

2ρ⎣ ⎦ 2ρ⎣ ⎦<br />

⎩<br />

⎭<br />

∑<br />

∑<br />

n+ { ( ) 1 iρ n+<br />

( ) 1 −iρ n iρ n −iρ<br />

⎡ ⎤ ⎡( ) ( ) ⎤}<br />

1<br />

Encosϕ πn − i e + i e −iτn<br />

− i e + i e =<br />

2ρ<br />

⎣ ⎦ ⎣ ⎦<br />

cosϕ n 1 i n 1 i n 1 i n 1 i<br />

En ⎡<br />

+ ρ + − ρ + ρ + − ρ<br />

( −i) e π<br />

n<br />

+ ( i) e πn −( −i) e τn −( i)<br />

e τ<br />

n ⎤ =<br />

2ρ<br />

⎣<br />

⎦<br />

n+ {() 1 −iρ<br />

n+<br />

[ ] ( ) 1<br />

iρ<br />

π −τ + − [ π +τ ] }<br />

cosϕ<br />

∑ En i e<br />

n n<br />

i<br />

n n<br />

e<br />

2ρ 230


⎧ τn<br />

n+ 1 iρ n+<br />

1 −iρ n iρ n −iρ<br />

⎫<br />

Eiϕ<br />

= ∑ En⎨−senϕ ⎡ ( − i) e + ( i) e ⎤ + isenϕπn<br />

⎡ ( − i) e + ( i)<br />

e ⎤ ⎬=<br />

⎩ 2ρ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎭<br />

senϕ<br />

∑<br />

n+ 1 iρ n+ 1 −iρ n+ 1 iρ n+<br />

1 −iρ<br />

E ⎡<br />

n<br />

−( −i) e τn −( i) e τn −( −i) e π<br />

n<br />

+ ( i)<br />

e π ⎤<br />

n<br />

=<br />

2ρ ⎣<br />

⎦<br />

n+ {() 1 −ρ i<br />

n+<br />

[ ] ( ) 1 iρ<br />

π −τ − − [ π +τ ]}<br />

senϕ<br />

∑ E i e i e<br />

2ρ n n n n n<br />

cosϕ<br />

n iρ<br />

n+<br />

1 iρ<br />

Es θ<br />

= ∑ En{ ianτn( −i) e −bn( −i)<br />

π<br />

ne<br />

} =<br />

ρ<br />

+<br />

{( ) 1 ρ<br />

[ ]}<br />

cosϕ<br />

n i<br />

= ∑ E −i e a τ + b π<br />

ρ<br />

n n n n n<br />

senϕ<br />

n iρ<br />

n+<br />

1 iρ<br />

Es ϕ<br />

= ∑ En{ −ianπn( − i) e + bn( −i)<br />

τ<br />

ne<br />

} =<br />

ρ<br />

+<br />

{( ) 1 ρ<br />

[ ]}<br />

senϕ<br />

n i<br />

= ∑ E −i e a π + b τ<br />

ρ<br />

n n n n n<br />

⎛cos<br />

2ρ<br />

assim, ficamos com as combi<strong>na</strong>ções:<br />

2<br />

⎛cos<br />

ϕ ⎞<br />

⎜ 2 ⎟<br />

⎝ 2ρ<br />

⎠<br />

ϕ ⎞<br />

n+ 1<br />

{() −ρ i<br />

n+<br />

1<br />

iρ<br />

[ ] ( ) [ ] }<br />

* ⎡cosϕ<br />

⎤<br />

EE<br />

iθ<br />

sθ<br />

= ⎢ ∑ En i e πn −τ<br />

n<br />

+ −i π<br />

n<br />

+τ<br />

n<br />

e ⎥×<br />

⎣ 2ρ<br />

⎦<br />

∑<br />

⎡cosϕ<br />

⎢<br />

⎣ ρ<br />

∑<br />

n′ { () −ρ i<br />

n′+<br />

1 −ρ i<br />

() }<br />

* * *<br />

⎤<br />

En′ −ian′ τn′ i e −bn′ τn′ i π<br />

n′<br />

e ⎥ =<br />

⎦<br />

n<br />

{ () + 1 n′ () + 1 − iρ n′<br />

[ ] () + 1 n<br />

() + 1 − iρ<br />

[ ]<br />

EE −a i i e τ π −τ −b i i e π π −τ −<br />

* * 2 * 2<br />

n n′ n′ n′ n n n′ n′<br />

n n<br />

n<br />

( ) + 1 * n′ ( ) + 1 n ′<br />

[ ] () + 1 * n<br />

( ) + 1<br />

i an′ i<br />

n′ n n<br />

i bn′ i<br />

n′<br />

[ n n]}<br />

− τ π +τ − − π π +τ =<br />

n+ 1 n′ + 1 − iρ<br />

n′<br />

+ 1 n+<br />

1<br />

{ −() () [ π −τ ] ⎡ τ + π ⎤−() ( − ) [ π +τ ] ⎡ τ + π ⎤}<br />

2<br />

⎜<br />

* 2 * * * *<br />

2 ⎟ EE<br />

n n′ i i e<br />

n n ⎣an′ n′ bn′ n′ ⎦ i i<br />

n n ⎣an′ n′ bn′ n′<br />

⎦<br />

∑ ⎝ ⎠<br />

* ⎡cosϕ<br />

n<br />

i<br />

( ) ρ<br />

( )<br />

+ 1 n+<br />

1 iρ<br />

{ }<br />

⎤<br />

Es θEiθ<br />

= ⎢ ∑ En − −i anτne −bn −i π<br />

ne<br />

⎥×<br />

⎣ ρ<br />

⎦<br />

⎡cosϕ<br />

⎢<br />

⎣ 2ρ<br />

∑<br />

n′ {( ) + 1 iρ<br />

n′<br />

[ ] () + 1<br />

−iρ<br />

[ ] }<br />

*<br />

⎤<br />

En′ −i e πn′ −τ<br />

n′ + i π<br />

n′ +τ<br />

n′<br />

e ⎥ =<br />

⎦<br />

231


cos<br />

2<br />

2<br />

ϕ<br />

2 ∑<br />

ρ<br />

n′ { ( ) + 1 n<br />

( )<br />

+ 1 iρ<br />

n′<br />

[ ] ( ) + 1 n<br />

( ) + 1 iρ<br />

[ ]<br />

2<br />

cos ϕ<br />

= ∑ EE − −i −i e aτ π −τ − −i −i e bπ π −τ<br />

2<br />

2ρ<br />

* 2 2<br />

n n′ n n n′ n′ n n n′ n′<br />

n′ () + 1 n<br />

( ) + 1 n′<br />

[ ] () + 1 n<br />

( ) + 1<br />

i i an n n′ n′ i i bn n[ n′ n′<br />

]}<br />

− − τ π +τ − − π π +τ =<br />

n′ + 1 n+ 1 iρ<br />

n′<br />

+ 1 n+<br />

1<br />

{ −( − ) ( − ) [ π −τ ][ τ + π ] −() ( − ) [ π +τ ][ τ + π ]}<br />

EE i i e a b i i a b<br />

* 2<br />

n n′ n′ n′ n n n n n′ n′<br />

n n n n<br />

n iρ<br />

cosϕ<br />

{ ( ) [ ]} ∑ ( )<br />

n′<br />

−iρ<br />

{ ⎡ ⎤}<br />

* ⎡cosϕ<br />

+ 1 ⎤ ⎡ * + 1 * * ⎤<br />

Es θEsθ<br />

= ⎢ ∑En − −i e anτ n<br />

+ bnπ n ⎥× ⎢ En′ − −i e ⎣an′ τ<br />

n′ + bn′ π<br />

n′<br />

⎦ ⎥=<br />

⎣ ρ<br />

⎦ ⎣ ρ<br />

⎦<br />

2<br />

cos ϕ<br />

* n+ 1 n′<br />

+ 1<br />

* *<br />

EE ( ) ( )<br />

2 n n′ i i [ an n<br />

bn n]<br />

⎡an′ n′ bn′ n′<br />

= ∑ − τ + π ⎣ τ + π<br />

ρ<br />

⎤⎦<br />

n+ 1<br />

{() −ρ i<br />

n+<br />

1 iρ<br />

[ ] ( ) [ ]}<br />

⎡ senϕ<br />

E E = ⎢ ∑ E i e π −τ − −i e π +τ<br />

⎣ 2ρ<br />

*<br />

iϕ<br />

sϕ<br />

n n n n n<br />

n′+ 1 −ρ i<br />

{()<br />

⎡ ⎤}<br />

⎡ senϕ<br />

* * * ⎤<br />

× ⎢ ∑ En′ i e ⎣an′ π<br />

n′ + bn′ τ<br />

n′<br />

⎦ ⎥ =<br />

⎣ ρ<br />

⎦<br />

2<br />

sen ϕ<br />

* 2 * * * *<br />

= ∑ EE ′ π −τ ⎣ ′ π ′ − ′ τ ′ ⎦− − π +τ ⎣ ′ π ′ + ′ τ<br />

2 n n<br />

i i e<br />

n n<br />

an n<br />

bn n<br />

i i<br />

n n<br />

an n<br />

bn n′<br />

2ρ<br />

⎦<br />

n<br />

{() + 1 n<br />

() ′ + 1 − iρ<br />

n<br />

[ ]<br />

( ) + 1 n<br />

⎡ ⎤ ( ) ′ + 1<br />

[ ] ⎡ ⎤}<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

sen<br />

2ρ<br />

2<br />

2<br />

ϕ<br />

∑<br />

⎡ senϕ<br />

⎢<br />

⎣ 2ρ<br />

n+ 1 iρ<br />

{( ) [ ]}<br />

* ⎡ senϕ<br />

⎤<br />

Es ϕEiϕ<br />

= ⎢ ∑ En −i e anπ n<br />

+ bnτ n ⎥×<br />

⎣ ρ<br />

⎦<br />

∑<br />

n′ {( ) + 1 iρ<br />

n′<br />

[ ] () + 1 −iρ[ ]}<br />

*<br />

⎤<br />

En′ −i e πn′ −τn′ − i e π<br />

n′ +τ<br />

n′<br />

⎥ =<br />

⎦<br />

n<br />

{( ) + 1 n<br />

( ) ′ + 1 n<br />

[ ][ ] ( ) + 1 n<br />

− π + τ π −τ − − ( ) ′ + 1<br />

[ π + τ ][ π −τ ]}<br />

EE i i a b i i a b<br />

*<br />

n n′ n n n n n′ n′ n n n n n′ n′<br />

+ 1 ′ + 1<br />

{( ) ( ) [ ] ⎡ ⎤}<br />

sen ϕ<br />

n n<br />

E E ∑ E E i i a b ⎣a b<br />

ρ<br />

2<br />

* * * * * *<br />

sϕ<br />

sϕ<br />

=<br />

2<br />

n n′ −<br />

nπ n<br />

+<br />

nτn n′ π<br />

n′ +<br />

n′ τn′<br />

⎦<br />

Agora já pod<strong>em</strong>os fazer as integrais <strong>em</strong> ϕ :<br />

Para Fz<br />

→ e ˆ = cosθ→<br />

rz<br />

2π<br />

2π<br />

2 2<br />

∫ cos ϕ dϕ= ∫ sen ϕdϕ=π, e para<br />

0 0<br />

232


2π<br />

2π<br />

2 2<br />

F → e = senθcos ϕ e F → e = senθsenϕ⇒ cos ϕcos ϕ dϕ= cos ϕ sen ϕ d ϕ= 0 .<br />

x rx y ry<br />

∫<br />

0 0<br />

Portanto, só haverá força <strong>em</strong> z, como já sabíamos pela simetria do probl<strong>em</strong>a.<br />

∫<br />

2π<br />

Continuando o cálculo,<br />

{{ }<br />

* * * π<br />

n′+ 1 n+ 1 2iρ<br />

∫ ( EE θ θ EE ϕ ϕ) d ∑ EE n n′ 2<br />

( i) ( i) e [ n′ n′<br />

][ an n bn n an n bn n]<br />

0<br />

+ ϕ= − − − π −τ τ + π − π − τ −<br />

2ρ<br />

n<br />

{() + 1 n′<br />

() + 1 − 2 i ρ<br />

* * * *<br />

i i e [ n n]<br />

⎡an ′ n′ bn′ n′ an′ n′ bn′ n′<br />

⎤}<br />

π −τ<br />

⎣<br />

τ + π − π − τ<br />

⎦<br />

−<br />

n<br />

{( ) + 1 n′<br />

( ) + 1<br />

i i [ n′ n′<br />

][ an n bn n an n bn n]<br />

}<br />

− π +τ π + τ + τ + π −<br />

n<br />

() + 1 n′<br />

( ) + 1 * * * *<br />

{ i −i [ π n +τn]<br />

⎡an ′ π n′ + bn′ τ n′ + an′<br />

τn′ bn′ n′<br />

⎤}<br />

⎣<br />

+ π<br />

⎦<br />

+<br />

n<br />

{ ( ) + 1 n′<br />

( ) + 1 * * * *<br />

2 −i i {[ anτ n + bnπn]<br />

⎡<br />

′ τ ′ + ′ π ′<br />

⎤} + { ⎡<br />

′ π ′ + ′ τ ′<br />

⎤<br />

⎣<br />

an n bn n ⎦ ⎣<br />

an n bn n ⎦[ anπ n+ bnτn]<br />

}}<br />

Rearranjando os termos de<br />

EE<br />

+ EE e chamando o último de I<br />

1<br />

, t<strong>em</strong>os<br />

* *<br />

θ θ ϕ ϕ<br />

2 π n<br />

( ) + 1 n′<br />

( ) + 1 * * *<br />

I1 = ∫ dθsenθcos<br />

θ r ∑ −i i E ′ { ′[ τ τ ′ +π π ′] + ′[ π τ ′ +τ π ′]<br />

+<br />

2<br />

nEn bnbn n n n n anbn n n n n<br />

ρ<br />

[ ] aa [ ]}<br />

* *<br />

n n′ n n′ n n′ n n′ n n′ n n′<br />

ba<br />

τ π +π τ + π π +τ τ =<br />

2 π<br />

* * * *<br />

= ∫ dθsen θcos θr ∑ − i i E E b b + a a τ τ +π π + 2a b π τ +τ π<br />

2<br />

ρ<br />

⎣ ⎦<br />

n+ 1 n′<br />

+ 1<br />

( ) ( ) n n′ { ⎡<br />

n n′ n n′ ⎤[ n n′ n n′ ] n n′ [ n n′ n n′<br />

]}<br />

Já os terceiro e quarto termos ficam como I<br />

2<br />

,<br />

π<br />

2 π *<br />

1 1<br />

2 ∫ sen cos ∑ 2 n n′ { n′ n′<br />

n n n n n n n n<br />

2ρ 0<br />

π<br />

2 π<br />

* n ′<br />

{ ( ) + 1 n<br />

= θ θ θ ( ) + 1<br />

∫ d r sen cos ∑ E ′ − − 2 Re[<br />

π π ′ + τ π ′ + π π<br />

2 nEn i i an n n an n n bn n n′<br />

2ρ<br />

0<br />

n+ n′<br />

+<br />

( ) ( ) 2Re[ ][ ]}<br />

I = dθ r θ θ E E − −i i π +τ a π + b τ + a τ + b π =<br />

π<br />

+ b τπ + a πτ + a ττ + b πτ + b ττ ] =<br />

n n n′ n n n′ n n n′ n n n′ n n n′<br />

{<br />

π<br />

= ∫ dθr θ θ ∑ E E − −i i ⎣a π π +τ τ + a τ π +π τ<br />

2ρ<br />

0<br />

n<br />

( ) + 1 n′<br />

( ) + 1<br />

2 Re ⎡ [ ] [ ]<br />

2 *<br />

sen cos<br />

2 n n′ n n n′ n n′ n n n′ n n′<br />

[ ′ ′] b [ ′ ′] ⎤}<br />

+ bn πnπ n +τnτ n + n τnπ n +πnτ n ⎦ =<br />

233<br />

}


π<br />

0<br />

2 π *<br />

1 1<br />

sen cos<br />

2 n n′ { n n n n′ n n′ n n n n′ n n′<br />

n+ n′<br />

+<br />

( ) ( ) 2Re ⎡[ ][ ] [ ][ ] ⎤}<br />

= ∫dθr θ θ ∑ E E −− i i a + b ππ +ττ + a + b τπ +πτ<br />

2ρ ⎣<br />

⎦<br />

Só falta agora, definir a integral I3<br />

que é referente aos primeiros e segundos,<br />

′+ 1 + 1 ρ<br />

{{ ( ) ( ) [ ][ ]}<br />

π<br />

2 π<br />

* n n 2i<br />

3 ∫ sen cos<br />

2 ∑ n n′ n′ n′<br />

n n n n n n n n<br />

ρ<br />

0<br />

2<br />

I = dθ r θ θ E E − −i −i e π −τ a τ + b π −a π −b<br />

τ −<br />

π<br />

0<br />

n ′<br />

{() () [ ]<br />

}}<br />

+ 1 n + 1 − 2 i ρ<br />

* * * *<br />

i i e n n<br />

⎡<br />

⎣<br />

an′ n′ bn′ n′ an′ n′ bn′ n′<br />

⎤<br />

⎦<br />

π −τ τ + π − π − τ =<br />

1 1<br />

{ 2 π<br />

sen cos<br />

* 2 Re<br />

2<br />

2 n n′ n′ n′<br />

n n n n n n n n<br />

n′+ n+ iρ<br />

{ ( ) ( ) [ ][ ]}<br />

= ∫ dθ r θ θ ∑ E E − −i −i e π −τ a τ + b π −a π −b<br />

τ =<br />

2ρ π<br />

π<br />

* n′+ 1 n+ 1 2iρ<br />

I3 = ∫ dθsenθcosθ ∑ E ′ 2Re −( − ) ( − ) ×<br />

2 nEn<br />

i i e<br />

2k<br />

0<br />

[ an n n′ bn n n′ an n n′ an n n′ an n n′ bn n n′ bn n n′ bn n n′<br />

]}<br />

× τ π + π π − π π − τ τ + π τ − τ π − π τ + τ τ<br />

{<br />

Usando as soluções dessas integrais <strong>em</strong> θ d<strong>em</strong>onstra<strong>da</strong>s por Gouesbet,<br />

( n + 1)<br />

( n )<br />

π<br />

2 !<br />

∫ [ πn′ τ n +πnτn′ ] senθcos<br />

θ dθ= δn,<br />

n′<br />

2n+ 1 −1<br />

!<br />

0<br />

e<br />

π<br />

∫[ n n′ n n′<br />

]<br />

0<br />

2 2 2 2<br />

2n ( n+ 1)( n+ 2) 2n( n+ 1) ( n−1)<br />

ππ +ττ senθcos θdθ= se n′ = n+ 1, se n′ = n−1, 0 se n′<br />

≠ n±<br />

1<br />

( 2n+ 1)( 2n+ 3) ( 2n+ 1)( 2n−1)<br />

t<strong>em</strong>os,<br />

( n + )<br />

( )<br />

π n+ 1 n+<br />

1 n n 2n+ 1 2n+<br />

1 2 1!<br />

*<br />

I1 = ∑ ( −i) ( i) ( i) ( − i)<br />

E0E0<br />

2Re⎡⎣a ⎤⎦+<br />

2<br />

nbn<br />

k n( n+ 1) n( n+ 1) 2n+ 1 n−1 !<br />

∑<br />

2 2<br />

π n+ 1 n+ 2 n n+<br />

1 2n+ 1 2n+ 3 2 n ( n+ 1)( n+<br />

2) * *<br />

( −i) () i ()( i − i)<br />

E0E0 ⎡⎣b + 1+ + 1⎤⎦+<br />

2<br />

nbn a<strong>na</strong>n<br />

k n( n+ 1) n+ 1 ( n+ 2) (2n+ 1)(2n+<br />

3)<br />

( )<br />

∑<br />

π n+ 1 n n n−1<br />

2n+ 1 2n−1<br />

2 nn ( + 1) ( n−1)<br />

( −i) ()()( i i −i)<br />

E<br />

2<br />

0E0<br />

k n( n+<br />

1) n− 1 n (2n+ 1)(2n−1)<br />

( )<br />

2 2<br />

⎡⎣bb<br />

+ aa<br />

* *<br />

n n−1 n n−1<br />

⎤⎦<br />

234


( 2n<br />

+ 1)<br />

∞<br />

∞<br />

4π 2 * 2 π 2 nn ( + 2) * *<br />

1<br />

= ∑<br />

+ ∑<br />

⎡<br />

+<br />

+<br />

2 0 n n 2 0 +<br />

= + = ( + )<br />

⎣ n n 1 n n 1<br />

k n 1 n( n 1) n 1 k n 1<br />

I E a b E b b a a<br />

⎤⎦<br />

∞<br />

2 π 2 ( n+ 1)( n−1)<br />

* *<br />

+ ∑ E0 ⎡⎣b −1+ −1⎤⎦<br />

=<br />

2<br />

nbn a<strong>na</strong>n<br />

k n<br />

n=<br />

1<br />

Na terceira somatória faz<strong>em</strong>os n− 1= n→ n= n+ 1, pois ela poderia começar de 2<br />

por causa do n − 1 e obt<strong>em</strong>os:<br />

( 2n<br />

+ 1)<br />

∞<br />

∞<br />

4π 2 * 2 π 2 nn ( + 2) * *<br />

1<br />

=<br />

0 ∑ Re + ∑<br />

+<br />

+<br />

2 n n 2 0 n n 1 n n+<br />

1<br />

k n= 1 n( n+ 1) n=<br />

1 k ( n+<br />

1)<br />

I E ⎡⎣ a b ⎤⎦ E ⎡⎣b b a a ⎤⎦<br />

∞<br />

2 π 2 ( n+<br />

2)( n)<br />

* *<br />

+ ∑ E0 ⎡⎣b + 1<br />

+<br />

+ 1<br />

⎤⎦<br />

=<br />

2<br />

n<br />

bn an an<br />

k<br />

n=<br />

1<br />

( 2n<br />

+ 1)<br />

( n+<br />

1)<br />

4π 4 π nn ( + 2)<br />

I E ⎡⎣ a b ⎤⎦ E ⎡⎣b b a a ⎤⎦<br />

∞<br />

∞<br />

2 * 2<br />

* *<br />

1<br />

=<br />

2 0 ∑ Re<br />

n n<br />

+<br />

2 0 ∑ Re<br />

n n+ 1+<br />

n n+<br />

1<br />

k n= 1 n( n+ 1) k n=<br />

1 ( n+<br />

1)<br />

Agora para I 2 ,<br />

2<br />

⎧ ∞<br />

2 2<br />

π E0<br />

⎪ ⎧ n n+ 1 n+ 1 n+<br />

2 2n+ 1 2n+ 3 2 n ( n+ 1)( n+<br />

2)<br />

I2 =− ⎨2Re⎨∑( i) ( −i) ( − i) ( i)<br />

[ a<br />

+ 1+ + 1]<br />

+<br />

2<br />

n<br />

bn<br />

2 k ⎪⎩<br />

⎩ n=<br />

1<br />

n( n+ 1) ( n+ 1 )( n+ 2) (2n+ 1)(2n+<br />

3)<br />

∞<br />

∑<br />

n=<br />

1<br />

2 2<br />

n n n n 2n+ 1 2n− 1 2 n( n+ 1) ( n−1)<br />

i −i − i i a + b<br />

nn ( + 1) n− 1 n (2n+ 1)(2n−1)<br />

− 1 + 1<br />

()( ) ( ) ()<br />

( )<br />

2<br />

∞<br />

⎛ 2n<br />

+ 1 ⎞ 2 ( n + 1! )<br />

+ ∑<br />

⎫ ⎪⎪<br />

⎜ ⎟<br />

an<br />

+ bn<br />

⎬⎬ =<br />

n=<br />

1 ⎝nn<br />

( + 1) ⎠ 2n+<br />

1 n − 1 ! ⎪⎪ ⎭⎭<br />

( ) [ ] ⎫<br />

[ ]<br />

n−1 n−1<br />

2<br />

∞ ∞ ∞<br />

π E ⎧<br />

0 ⎪ ⎧ 2 nn ( + 2) 2( n+ 1)( n− 1) ⎛ 2n+<br />

1 ⎞ ⎫⎫ ⎪⎪<br />

=− 2Re<br />

2 ⎨ ⎨∑ [ an+ 1+ bn+ 1] + ∑ [ an−1+ bn−1] + ∑2⎜<br />

⎟[ an + bn]<br />

⎬⎬<br />

2 k ⎩⎪<br />

⎩n= 1 ( n+ 1) n= 1 n n=<br />

1 ⎝n( n+<br />

1) ⎠ ⎭⎭ ⎪⎪<br />

Fazendo <strong>na</strong> primeira somatória n+ 1= n→ n= n− 1 e <strong>na</strong> segun<strong>da</strong><br />

n− 1= n→ n= n + 1:<br />

2<br />

0<br />

2 2<br />

∞ ∞ ∞<br />

π E ⎪⎧<br />

⎧ nn ( + 2) ( n+ 1)( n− 1) 2n+<br />

1 ⎫⎪⎫<br />

I =− ⎨4Re⎨∑ [ an + bn] + ∑ [ an + bn] + ∑ [ an + bn]<br />

⎬⎬=<br />

2 k ⎪⎩<br />

⎩n= 1 ( n+ 1) n= 1 n n=<br />

1n( n+<br />

1) ⎭⎪⎭<br />

2<br />

∞<br />

π E ⎧<br />

0 ⎪ ⎡nn ( + 2) ( n+ 1)( n− 1) 2n+<br />

1 ⎤ ⎪⎫<br />

=− 4Re<br />

2 ⎨ ∑<br />

[ an<br />

bn]<br />

2 k<br />

⎢ + + + ⎬=<br />

n=<br />

1 ( n+ 1) n n( n+ 1)<br />

⎥<br />

⎪⎩<br />

⎣<br />

⎦ ⎪⎭<br />

235


2<br />

∞ 2 2<br />

π E ⎧<br />

0 ⎪ ⎡n ( n+ 2) + ( n+ 1)( n − 1) + 2n+<br />

1⎤<br />

⎪⎫<br />

=− 4Re<br />

2 ⎨ ∑<br />

[ an<br />

bn]<br />

2 k<br />

⎢<br />

+ ⎬=<br />

n=<br />

1<br />

n( n+ 1)<br />

⎥<br />

⎩⎪<br />

⎣<br />

⎦ ⎪⎭<br />

2<br />

∞ 3 2 3 2<br />

π E0<br />

⎪⎧<br />

⎡n + 2n + n − n+ n − 1+ 2n+<br />

1⎤<br />

⎪⎫<br />

=− 4Re<br />

2 ⎨ ∑ ⎢<br />

⎥[ an<br />

+ bn]<br />

⎬=<br />

2 k<br />

⎩⎪<br />

n=<br />

1 ⎣<br />

n( n+ 1)<br />

⎦ ⎪⎭<br />

2<br />

∞ 3 2<br />

π E ⎧<br />

0 ⎪ ⎡2n + 3n + n⎤<br />

⎪⎫<br />

=− 4Re<br />

2 ⎨ ∑<br />

[ a<br />

n b<br />

n]<br />

2 k<br />

⎢<br />

+ ⎬=<br />

n=<br />

1 n( n+ 1)<br />

⎥<br />

⎪⎩<br />

⎣<br />

⎦ ⎭⎪<br />

2<br />

∞<br />

π E ⎧<br />

0 ⎪ ⎡(2n+ 1)( n+<br />

1) ⎤ ⎪⎫<br />

=− 4Re<br />

2 ⎨ ∑<br />

[ an<br />

bn]<br />

2 k<br />

⎢<br />

+ ⎬=<br />

n=<br />

1 ( n+ 1)<br />

⎥<br />

⎪⎩<br />

⎣<br />

⎦ ⎭⎪<br />

2<br />

∞<br />

2π<br />

E0<br />

2 2 ∑<br />

k n=<br />

1<br />

{ [ ]}<br />

I =− Re (2n+ 1) an + bn<br />

Quanto a I 3 , vamos deixá‐la por enquanto <strong>na</strong> sua forma integral.<br />

e portanto:<br />

De maneira similar, t<strong>em</strong>os para o campo magnético H ,<br />

n+ {() 1 −iρ<br />

n+<br />

[ ] ( ) 1<br />

iρ<br />

[ ] }<br />

k senϕ<br />

Hiθ<br />

= ∑ En i e πn −τ n + −i π n +τn<br />

e<br />

µω 2ρ n+ {() 1 −ρ i<br />

n+<br />

[ ] ( ) 1 iρ[ ]}<br />

k cosϕ<br />

H ϕ =− ∑ E i e π −τ − −i e π +τ<br />

µω 2ρ i n n n n n<br />

+<br />

{( ) 1 ρ<br />

[ ]}<br />

k senϕ<br />

n i<br />

H θ = ∑ E −i e b τ + a π<br />

µω ρ<br />

s n n n n n<br />

+<br />

{( ) 1 ρ<br />

[ ]}<br />

k cosϕ<br />

n i<br />

H ϕ =− ∑ E −i e b π + a τ<br />

µω ρ<br />

s n n n n n<br />

{<br />

⎛ ⎞<br />

H H E E i i e b a<br />

( µω)<br />

⎝ 2ρ<br />

⎠<br />

2<br />

2<br />

* k sen ϕ<br />

* n ′<br />

() + 1 n<br />

() + 1<br />

′ − 2 i ρ<br />

* *<br />

iθ<br />

iθ<br />

= ⎜ ⎟∑<br />

− [ π −τ ] ⎡<br />

′ τ ′ + ′ π ′<br />

⎤<br />

2 2 n n n n ⎣ n n n n ⎦<br />

n′+ 1 n+<br />

1 * *<br />

() i ( i) [ n n] ⎡bn ′ n′ an′<br />

n′<br />

⎤}<br />

− − π +τ<br />

⎣<br />

τ + π<br />

⎦<br />

236


( µω)<br />

n′+ 1 n+ 1 iρ<br />

{ ( ) ( ) [ ][ ]<br />

2 2<br />

* k sen ϕ * 2<br />

sθ<br />

iθ<br />

= ′ − − − π ′ −τ ′ τ + π<br />

2 2 n n n n n n n n<br />

∑<br />

H H E E i i e b a<br />

2ρ<br />

n′+ 1 n+<br />

1<br />

() i ( i) [ n′ n′<br />

][ bn n an n]}<br />

− − π +τ τ + π<br />

2 2<br />

* ⎛ k ⎞ sen ϕ * n+ 1 n′<br />

+ 1<br />

* *<br />

sθ<br />

sθ<br />

=<br />

2 n n′ ( − ) ( ) [ nτ n + nπn]<br />

⎡<br />

n′ τ n′ + n′ πn′<br />

∑<br />

H H ⎜ ⎟ E E i i b a<br />

⎣<br />

b a ⎤<br />

µω ρ<br />

⎦<br />

⎝ ⎠<br />

2 2<br />

* k cos ϕ * n ′<br />

{( ) + 1 n<br />

() + 1<br />

′ − 2 i ρ<br />

* *<br />

iϕ<br />

sϕ<br />

= [ π −τ ] ⎡<br />

′ π ′ − ′ τ<br />

2 2 n n n n n n n n′<br />

H H E E i i e<br />

2ρ<br />

⎣<br />

b a<br />

( µω)<br />

∑<br />

n<br />

( ) + 1 n′<br />

( ) + 1 * *<br />

i i [ n n] ⎡bn ′ n′ an′ n′<br />

⎤}<br />

− − π +τ<br />

⎣<br />

π + τ<br />

⎦<br />

⎤<br />

⎦<br />

( µω)<br />

n<br />

{( ) + 1 n′<br />

( ) + 1<br />

[ ][ ]<br />

2 2<br />

* k cos ϕ *<br />

sϕ<br />

iϕ<br />

= ′ − π + τ π ′ −τ<br />

2 2 n n n n n n n n′<br />

∑<br />

H H E E i i b a<br />

2ρ<br />

n<br />

( ) + 1 n′<br />

( ) + 1<br />

i i [ bn n an n][ n′ n′<br />

]}<br />

− − π + τ π −τ<br />

2 2<br />

* ⎛ k ⎞ cos ϕ * n n<br />

* * * *<br />

sϕ<br />

sϕ<br />

=<br />

2 n n′ − nπ n + nτn n′ π n′ + n′ τn′<br />

∑<br />

+ 1 ′ + 1<br />

{( ) ( ) [ ] ⎡<br />

⎤}<br />

H H ⎜ ⎟ E E i i b a<br />

⎣<br />

b a<br />

µω ρ<br />

⎦<br />

⎝ ⎠<br />

então dessa forma, ficamos com:<br />

n′+ 1 n+ 1 iρ<br />

{{ ( ) ( ) [ ][ ]}<br />

2π<br />

2<br />

* * * π k<br />

2<br />

∫ ( HH θ θ HH ϕ ϕ)<br />

d ∑ EE n n′ i i e<br />

2 2<br />

n′ n′<br />

bn n an n bn n an n<br />

2ρ 0<br />

( µω)<br />

+ ϕ= − − − π −τ τ + π − π − τ −<br />

n<br />

{() + 1 n′<br />

() + 1 − 2 i ρ<br />

* * * *<br />

i i e [ n n]<br />

⎡bn ′ n′ an′ n′ bn′ n′ an′ n′<br />

⎤}<br />

π −τ<br />

⎣<br />

τ + π − π − τ<br />

⎦<br />

−<br />

n<br />

{( ) + 1 n′<br />

( ) + 1<br />

i i [ n′ n′<br />

][ bn n an n bn n an n]<br />

}<br />

− π +τ π + τ + τ + π −<br />

n<br />

() + 1 n′<br />

( ) + 1 * * * *<br />

{ i −i [ π n +τn]<br />

⎡bn ′ π n′ + an′ τ n′<br />

+ bn′ n′ an′ n′<br />

⎤}<br />

⎣<br />

τ + π<br />

⎦<br />

+<br />

n<br />

{ ( ) + 1 n′<br />

( ) + 1 * * * *<br />

2 −i i {[ bnτ n+ anπn]<br />

⎡<br />

′ τ ′ + ′ π ′<br />

⎤} + { ⎡<br />

′ π ′ + ′ τ ′<br />

⎤<br />

⎣<br />

bn n an n ⎦ ⎣<br />

bn n an n ⎦[ bnπ n+ anτn]<br />

}}<br />

tal que as integrais ficam,<br />

237


( 2n<br />

+ 1)<br />

2 2<br />

∞<br />

∞<br />

⎛ k ⎞ 4π 2 * ⎛ k ⎞ 4 π 2 n( n+<br />

2)<br />

* *<br />

4 ⎜ ⎟ 2 0 ∑ Re<br />

n n ⎜ ⎟ 2 0 ∑ Re<br />

n n+ 1 n n+<br />

1<br />

µω k n= 1 n( n+ 1) µω k n=<br />

1 ( n+<br />

1)<br />

I = E ⎡⎣ a b ⎤⎦+ E ⎡⎣b b + a a ⎤⎦⇒<br />

⎝ ⎠ ⎝ ⎠<br />

( 2n<br />

+ 1)<br />

4π 4 π nn ( + 2)<br />

I E ⎡⎣ a b ⎤⎦ E ⎡⎣b b a a ⎤⎦<br />

∞<br />

∞<br />

2 * 2<br />

* *<br />

4<br />

=<br />

2 2 0 ∑ Re<br />

n n<br />

+<br />

2 2 0 ∑ Re<br />

n n+ 1+<br />

n n+<br />

1<br />

µω n= 1 nn ( + 1) µω n=<br />

1 ( n+<br />

1)<br />

π<br />

2<br />

2<br />

∞<br />

k 2π<br />

E0<br />

5 2 2 2 ∑<br />

µω k n=<br />

1<br />

{ [ ]}<br />

I =− Re (2n+ 1) an + bn<br />

⇒<br />

2<br />

∞<br />

2π<br />

E0<br />

∑<br />

5 2 2<br />

µω n=<br />

1<br />

{ [ ]}<br />

I =− Re (2n+ 1) an + bn<br />

2<br />

( µω)<br />

[ bn n n′ an n n′ bn n n′ bn n n′ bn n n′ an n n′ an n n′ an n n′<br />

]}<br />

e<br />

π k<br />

* n′+ 1 n+ 1 2iρ<br />

I6 = ∫ dθsenθcos<br />

θ ∑ E ′ 2 Re −( − ) ( − ) ×<br />

2 2 nEn<br />

i i e<br />

2k<br />

0<br />

× τπ + ππ − ππ − ττ + πτ − τπ − πτ + ττ ⇒<br />

π<br />

π<br />

* n′+ 1 n+ 1 2iρ<br />

I6 = ∫ dθsenθcos<br />

θ ∑ E ′ 2 Re −( − ) ( − ) ×<br />

2 nEn<br />

i i e<br />

2<br />

0<br />

( µω)<br />

[ bn n n′ an n n′ bn n n′ bn n n′ bn n n′ an n n′ an n n′ an n n′<br />

]}<br />

× τπ + ππ − ππ − ττ + πτ − τπ − πτ + ττ<br />

{<br />

{<br />

Combi<strong>na</strong>ndo I1 com I4 = I7, I2 com I5 = I8<br />

e I3 com I6 = I9, e de acordo com a<br />

1<br />

{ i}<br />

* * * *<br />

expressão de força<br />

i<br />

= ∫ − ε ( θ θ<br />

+<br />

ϕ ϕ) +µ ( θ θ<br />

+<br />

ϕ ϕ)<br />

F Re [ E E E E H H H H ] n <strong>da</strong>, ficamos com:<br />

2<br />

( 2n<br />

+ 1)<br />

∞<br />

∞<br />

⎛4π 2 4 π 2 ⎞⎛<br />

* nn ( + 2)<br />

* *<br />

⎞<br />

I7 = ⎜ E<br />

2 0<br />

ε+µ E<br />

2 2 0 ⎟⎜<br />

∑ Re ⎡anbn Re bnbn+ 1<br />

a<strong>na</strong>n+<br />

1<br />

k n= 1 n( n 1)<br />

⎣ ⎤⎦+ ∑ ⎡ + ⎤⎟<br />

µω + n=<br />

1 ( n+<br />

1)<br />

⎣ ⎦<br />

⎝ ⎠⎝ ⎠<br />

<br />

2<br />

usando a relação k⋅ k =ω εµ :<br />

( 2n<br />

+ 1)<br />

∞<br />

∞<br />

8 π 2 ⎛<br />

* nn ( + 2)<br />

* *<br />

⎞<br />

I7 =<br />

⎛<br />

E<br />

⎞<br />

⎜ 2 0<br />

ε ⎟⎜<br />

∑ Re ⎡anbn Re bnbn+ 1<br />

a<strong>na</strong>n+<br />

1<br />

k n= 1 n( n 1)<br />

⎣ ⎤⎦+ ∑ ⎡ + ⎤⎟<br />

⎝ + n=<br />

1 ( n+<br />

1)<br />

⎣ ⎦<br />

⎠⎝ ⎠<br />

⎛ ε µ ⎞<br />

I =−2π E + Re (2n+ 1) an + bn<br />

=<br />

∞<br />

2<br />

8 0 ⎜ 2 2 2 ⎟ ∑<br />

⎝k<br />

µω ⎠ n=<br />

1<br />

{ [ ]}<br />

238


e agora por último,<br />

2<br />

E0<br />

2<br />

∞<br />

4π<br />

=− ε ∑ Re (2 + 1)<br />

n<br />

+<br />

n<br />

k<br />

π<br />

n=<br />

1<br />

{ n [ a b ]}<br />

⎛ πε πµ ⎞<br />

* n′+ 1 n+ 1 2iρ<br />

I3 + I6 = ⎜ + ⎟ θ θ θ∑<br />

′ −( − ) ( − ) ×<br />

2 2 2<br />

⎝ µω<br />

∫ d sen cos EnEn<br />

Re i i e<br />

k ⎠<br />

0<br />

[ a ′ b ′ a ′ a ′ a ′ b ′ b ′ b ′]<br />

τπ + ππ − ππ − ττ + πτ − τπ − πτ + ττ +<br />

n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n<br />

[ bn n n′ an n n′ bn n n′ bn n n′ bn n n′ an n n′ an n n′ an n n′<br />

] }<br />

τπ + ππ − ππ − ττ + πτ − τπ − πτ + ττ ⇒0<br />

Dessa forma, no fi<strong>na</strong>l dos cálculos a força devido a pressão de radiação é:<br />

∞<br />

2π<br />

E0<br />

F = ε ∑Re {(2n+ 1) [ a + ]}<br />

−<br />

2<br />

n<br />

bn<br />

k<br />

( 2n<br />

+ 1)<br />

2<br />

n=<br />

1<br />

∞<br />

∞<br />

⎛4 π 2 ⎞⎛<br />

* nn ( + 2)<br />

* *<br />

⎞<br />

⎜ E0 ε ⎟⎜∑<br />

Re ⎡⎣ a ⎤⎦+ ∑ ⎡<br />

+<br />

+<br />

+<br />

⎤<br />

2<br />

nbn Re<br />

⎟<br />

⎝ = + = ( + )<br />

⎣bnbn 1<br />

a<strong>na</strong>n<br />

1<br />

k<br />

⎦<br />

⎠⎝ n 1 n( n 1) n 1 n 1<br />

⎠<br />

{<br />

F<br />

definindo a relação entre a força e a seção de choque como C = , a eficiência para<br />

2<br />

ε E<br />

a pressão de radiação causa<strong>da</strong> por uma on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong> é:<br />

∞<br />

C 2<br />

Q = = Re ( n+ ) a + b −<br />

( 2n<br />

+ 1)<br />

∑<br />

{ 2 1 [ ]}<br />

pr 2 2 2<br />

n n<br />

πa<br />

k a n=<br />

1<br />

4π ⎛<br />

nn ( + 2)<br />

⎞<br />

ε + + ⎟⇒<br />

⎝ ⎠⎝ ⎠<br />

∞<br />

∞<br />

⎛<br />

2 ⎞<br />

* * *<br />

⎜ E<br />

2 0 ⎟⎜∑<br />

Re ⎡ ⎤ ⎡<br />

+ 1 + 1⎤<br />

= 1 1<br />

⎣anbn +<br />

⎦ ∑ Re<br />

( )<br />

= 1 ( + 1)<br />

⎣bnbn a<strong>na</strong>n<br />

k<br />

⎦<br />

n n n n n<br />

0<br />

∞<br />

2<br />

Q = Re ( n+ ) a + b −<br />

( 2n<br />

+ 1)<br />

∑<br />

{ 2 1 [ ]}<br />

pr 2<br />

n n<br />

x n=<br />

1<br />

4π ⎛<br />

nn ( + 2)<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎝ ⎠⎝ ⎠<br />

∞<br />

∞<br />

⎛ 2 ⎞<br />

* * *<br />

⎜ E<br />

2 0<br />

ε ⎟⎜∑<br />

Re ⎡ ⎤+ ⎡<br />

+ 1+<br />

+ 1⎤<br />

= 1 1<br />

⎣anbn +<br />

⎦ ∑ Re<br />

( )<br />

= 1 ( + 1)<br />

⎣bnbn a<strong>na</strong>n<br />

k<br />

⎦<br />

n n n n n<br />

239


240


Apêndice 2<br />

241


(* definir os intervalos dos tamanhos <strong>da</strong> largura dos picos *)<br />

conjuntodeintervalos =<br />

{<br />

{723,727}<br />

,<br />

{727.5,730}<br />

,<br />

{735.5,738}<br />

,<br />

{740,742}<br />

,<br />

{748,750.5}<br />

,<br />

{760.5,764}<br />

,<br />

{774.5,778}<br />

,<br />

{779.5,782}<br />

};<br />

(* programa -> acha a posição dos picos experimentais e compara a posição dos picos<br />

teóricos para ca<strong>da</strong> r do conjunto desejado *)<br />

J[k_][z_] := BesselJ[k,z];<br />

H[k_][z_] := BesselJ[k,z] - I BesselY[k,z];<br />

j[k_][z_] := Sqrt[Pi/(2 z)] J[(k) + (1/2)][z];<br />

h[k_][z_] := Sqrt[Pi/(2 z)] H[(k) + (1/2)][z];<br />

n[l_]:= (a1 + b1/(l*10^-7)^2);<br />

a1 = 1.5683;<br />

b1 = 10.087*10^-11;<br />

w[l_]:= (a2 + b2/(l*10^-7)^2);<br />

a2 = 1.324;<br />

b2 = 3.046*10^-11;<br />

m[l_] := n[l]/w[l];<br />

x[r_][l_] := (2*Pi*r*10^3*w[l])/l;<br />

a[k_][x_,m_] = (j[k][x] D[m x j[k][m x],x]/m - m^2 j[k][m x] D[x j[k][x],x])/<br />

(h[k][x] D[m x j[k][m x],x]/m - m^2 j[k][m x] D[x h[k][x],x]);<br />

b[k_][x_,m_] = (j[k][x] D[m x j[k][m x],x]/m - j[k][m x] D[x j[k][x],x])/<br />

(h[k][x] D[m x j[k][m x],x]/m - j[k][m x] D[x h[k][x],x]);<br />

Clear[Q];<br />

Q[x_,m_]:=<br />

For[<br />

242


iii = 1 ; soma = 0 ;<br />

,<br />

True<br />

,<br />

iii ++ ;<br />

,<br />

incr<strong>em</strong>ento =<br />

(2/(x^2))(2 iii + 1) ( (Abs[a[iii][x,m]])^2 + (Abs[b[iii][x,m]])^2 ) ;<br />

soma += incr<strong>em</strong>ento ;<br />

If [ iii > 70 , Return[soma]; ];<br />

];<br />

Q[r_][l_] := Q[x[r][l],m[l]] ;<br />

Q[r_,lmin_,lmax_,l_] :=<br />

If[ lmin


If[<br />

lresultante===Null<br />

,<br />

conjuntoders = DeleteCases[conjuntoders,r] ;<br />

kkk--;<br />

];<br />

];<br />

];<br />

]<br />

SetDirectory["c:"];<br />

Save["conjuntoders",conjuntoders];<br />

(*raio encontrado*)<br />

conjuntoders<br />

(*encontrado o r pode se plotar o gráfico com a função deseja<strong>da</strong>*)<br />

244


H∗ programa para o feixe gaussiano <strong>em</strong> função do comprimento de on<strong>da</strong> ∗L<br />

d@λ_D := Ha1 + b1 êHλ∗10^ −4L^2L;<br />

a1 = 1.5683;<br />

b1 = 10.087 ∗ 10 ^ −11;<br />

w@λ_D := Ha2 + b2 êHλ∗10^ −4L^2L;<br />

a2 = 1.324;<br />

b2 = 3.046 ∗ 10 ^ −11;<br />

a = 4.66;<br />

xo = 4.66;<br />

λn@λ_D =λê w@λD;<br />

s@λ_D = λn@λD<br />

2 π wo ;<br />

mn@λ_D = d@λD<br />

w@λD ;<br />

xa@λ_D =<br />

2 π a<br />

λn@λD ;<br />

lo@λ_D = IntegerPartA i j 2 π xo<br />

k λn@λD − 1 2<br />

y<br />

zE;<br />

{<br />

la@λ_D = IntegerPartA1.5 i j 2 π a<br />

k λn@λD − 1 2<br />

y<br />

zE;<br />

{<br />

q@n_, λ_D =<br />

2 s@λD Jn + 1 2 N xo<br />

;<br />

wo<br />

i<br />

Z@n_, p_, ϕo_D =<br />

j<br />

k<br />

− Sign @pD ϕo<br />

n + 1 2<br />

n Hn + 1L<br />

+<br />

n + 1 KroneckerDelta@p, 0D;<br />

2<br />

yAbs @pD−1<br />

H1 − KroneckerDelta@p, 0DL<br />

z<br />

{<br />

245


J@k_D@z_D := BesselJ@k, zD;<br />

H@k_D@z_D := BesselJ@k, zD − I BesselY@k, zD;<br />

j@k_D@z_D := Sqrt@PiêH2zLD J@HkL + H1 ê 2LD@zD;<br />

h@k_D@z_D := Sqrt@PiêH2zLD H@HkL + H1 ê 2LD@zD;<br />

an@n_, ml_, x_D = Hj@nD@xD D@ml x j@nD@ml xD, xDêml − ml ^ 2 j@nD@ml xD D@x j@nD@xD, xDL<br />

êHh@nD@xD D@ml x j@nD@ml xD, xDêml − ml ^ 2 j@nD@ml xD D@x h@nD@xD, xDL;<br />

an@n_, λ_D := Han@n, λD = an@n, mn@λD, xa@λDDL;<br />

Table@an@n, λD, 8n, 0, 100


T@n_, m_, p_D@ϕo_, λ_D := Hbn@n, λD + anst@m, λDL gTE@n, p, ϕo, λD gTMst@m, p + 1, ϕo, λD −<br />

Han@n, λD + bnst@m, λDL gTM@n, p, ϕo, λD gTEst@m, p + 1, ϕo, λD;<br />

c1@n_, m_, p_D@ϕo_, λ_D :=<br />

Jc1@n, m, pD@ϕo, λD =<br />

HS@m, n, p − 1D@ϕo, λD + S@n, m, −pD@ϕo, λD − 2 U@m, n, p − 1D@ϕo, λD − 2 U@n, m, −pD@ϕo, λDL<br />

KroneckerDelta@m, n + 1D KroneckerDelta@n, m + 1D<br />

J − NN;<br />

m2<br />

n2<br />

2 n + 1<br />

c2@n_, m_, p_D@ϕo_, λ_D :=<br />

KroneckerDelta@n, mD<br />

n2 Hn + 1L2<br />

HT@m, n, p − 1D@ϕo, λD − T@n, m, −pD@ϕo, λD − 2 V@m, n, p − 1D@ϕo, λD + 2 V@n, m, −pD@ϕo, λDL;<br />

nmin@p_, λ_D = Max@8p, lo@λD − 6


H∗programa gaussiano <strong>em</strong> função <strong>da</strong> posição foco−centro ∗L<br />

a = 4.5;<br />

λn = 1.064 ê 1.33;<br />

s =<br />

λn<br />

2 π wo ;<br />

mn = 1.6<br />

1.33 ;<br />

xa = 2 π a<br />

λn ;<br />

lo@xo_D = IntegerPartAJ 2 π xo<br />

λn<br />

− 1 2 NE;<br />

la = IntegerPartA1.5 J 2 π a<br />

λn<br />

− 1 2 NE;<br />

q@n_, xo_D =<br />

2 s Jn + 1 2 N xo<br />

;<br />

wo<br />

i<br />

Z@n_, p_, ϕo_D =<br />

j<br />

k<br />

− Sign @pD ϕo<br />

n + 1 2<br />

n Hn + 1L<br />

+<br />

n + 1 KroneckerDelta@p, 0D;<br />

2<br />

yAbs @pD−1<br />

H1 − KroneckerDelta@p, 0DL<br />

z<br />

{<br />

π x<br />

f1@n_, x_D = $%%%%%%%%%%<br />

2<br />

BesselJAn + 1 2 ,xE;<br />

f1x@n_, x_D =∂ x f1@n, xD;<br />

mn π x<br />

f2@n_, x_D = $%%%%%%%%%%%%%%%%%<br />

2<br />

BesselJAn + 1 2 ,mnxE;<br />

f2x@n_, x_D =∂ x f2@n, xD;<br />

π x<br />

g@n_, x_D = $%%%%%%%%%%<br />

2<br />

JBesselJAn + 1 2 ,xE +BesselYAn + 1 2 ,xEN;<br />

gx@n_, x_D =∂ x g@n, xD;<br />

248


an@n_D :=<br />

Han@nD = Hmn f2@n, xaD f1x@n, xaD − f1@n, xaD f2x@n, xaDL ê<br />

Hmn f2@n, xaD gx@n, xaD − g@n, xaD f2x@n, xaDLL;<br />

Table@an@nD, 8n, 0, 120


nmin@p_, xo_D := Max@8p, lo@xoD − 20


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