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Recomendações para o Uso do TSH Recombinante no Tratamento ...

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Recomendações <strong>para</strong> o <strong>Uso</strong> <strong>do</strong> <strong>TSH</strong> <strong>Recombinante</strong><br />

<strong>no</strong> <strong>Tratamento</strong> e Acompanhamento de Pacientes com<br />

Câncer Diferencia<strong>do</strong> de Tireóide (CDT)<br />

Coordena<strong>do</strong>r: Dr. Mario Vaisman<br />

Participantes:<br />

Sociedade Brasileira de<br />

En<strong>do</strong>cri<strong>no</strong>logia e Metabologia<br />

Dr. Hans Graf<br />

Dr. Mario Vaisman<br />

Sociedade Brasileira de<br />

Cirurgia de Cabeça e Pescoço<br />

Dr. Erivelto Volpi<br />

Dr. Luiz Paulo Kowalski<br />

Sociedade Brasileira de<br />

Biologia e Medicina Nuclear<br />

Dra. Marília Marone<br />

Dr. Carlos Buchpiguel<br />

O tratamento <strong>do</strong> CDT tem si<strong>do</strong> objetivo de discussão, com alguns aspectos ainda considera<strong>do</strong>s controversos. Apesar<br />

de algumas dúvidas acerca <strong>do</strong> enfoque ideal <strong>para</strong> o diagnóstico e tratamento <strong>do</strong> CDT, o tratamento consiste na maioria <strong>do</strong>s<br />

131<br />

casos em tireoidectomia total (TT) associada à ablação <strong>do</strong>s remanescentes tireoidia<strong>no</strong>s (ART) com I com subseqüente<br />

supressão da secreção <strong>do</strong> <strong>TSH</strong>.<br />

131<br />

A TT é a opção cirúrgica que facilita o tratamento pós-operatório com I , reduz a recorrência tumoral <strong>no</strong> lobo<br />

contralateral, reduz o risco de disseminação metastática e possibilita a a<strong>do</strong>ção de um protocolo de seguimento basea<strong>do</strong> na<br />

<strong>do</strong>sagem de tireoglobulina (Tg) e cintilografia de corpo inteiro (PCI). Lobectomia pode ser realizada raramente em casos<br />

muito bem seleciona<strong>do</strong>s, de muito baixo risco (Lesões me<strong>no</strong>res que 10mm, paciente <strong>do</strong> sexo femini<strong>no</strong>, com me<strong>no</strong>s de 40<br />

a<strong>no</strong>s, sem evidências ultra-so<strong>no</strong>gráficas de alteração em lobo contralateral ou de linfo<strong>no</strong><strong>do</strong>s cervicais). Entretanto a ART e o<br />

seguimento basea<strong>do</strong> na <strong>do</strong>sagem de Tg e PCI ficam prejudica<strong>do</strong>s, devi<strong>do</strong> à presença de teci<strong>do</strong> tireoidia<strong>no</strong> <strong>no</strong>rmal.<br />

Após a tireoidectomia total os pacientes devem ser submeti<strong>do</strong>s a ART com o objetivo de destruir qualquer<br />

remanescente de células tireoidianas <strong>no</strong>rmais ou neoplásicas <strong>no</strong> leito cervical, e também <strong>para</strong> permitir melhor eficácia <strong>do</strong>s<br />

exames de seguimento (PCI e <strong>do</strong>sagem de Tg). O benefício da ART quanto à redução das taxas de recorrência e de<br />

mortalidade é mais evidente em pacientes de maior risco, porém ainda é controverso em pacientes de baixo risco. A<br />

131<br />

atividade ideal de I administrada também é discutida, porém atividade igual ou maior que 100 mCi parece ser mais eficaz.<br />

A ART deve ser realizada sob níveis eleva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>TSH</strong> (hormônio estimulante da tireóide), igual ou superior a 30 mUI/L. Tal<br />

elevação <strong>do</strong> <strong>TSH</strong> é necessária <strong>para</strong> que a captação <strong>do</strong> radioio<strong>do</strong> ocorra de forma eficaz. Tradicionalmente, a ART é realizada<br />

com o <strong>TSH</strong> estimula<strong>do</strong> através <strong>do</strong> hipotireoidismo endóge<strong>no</strong>, ou seja, com a interrupção <strong>do</strong> uso da levotiroxina por 4 a 6<br />

semanas. Entretanto, o hipotireoidismo endóge<strong>no</strong> pode causar diversas alterações físicas e desconforto ao paciente.<br />

Ocorrem alterações <strong>no</strong> humor, déficits cognitivos e desconforto físico. Em pacientes que possuem comorbidades, há o risco<br />

de complicações cardíacas, neurológicas, pulmonares e cérebro-vasculares.<br />

Uma alternativa ao hipotireoidismo endóge<strong>no</strong> é o uso <strong>do</strong> <strong>TSH</strong> recombinante huma<strong>no</strong> (rh<strong>TSH</strong>, tirotrofina alfa;<br />

Genzyme Corp., Cambridge, MA). O rh<strong>TSH</strong> tem si<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> <strong>para</strong> o seguimento <strong>do</strong>s pacientes com CDT. Entretanto, tem<br />

se discuti<strong>do</strong> o uso <strong>para</strong> ART e <strong>no</strong> tratamento de <strong>do</strong>ença recorrente ou metastática. Em 2005, os órgãos regula<strong>do</strong>res europeus<br />

liberaram o uso <strong>do</strong> rh<strong>TSH</strong> tanto <strong>para</strong> a ART quanto <strong>para</strong> o seguimento <strong>do</strong> CDT. Nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, o uso <strong>do</strong> rh<strong>TSH</strong> por<br />

enquanto ainda é restrito ao seguimento. Para o tratamento de metástases ainda não existe aprovação.<br />

O rh<strong>TSH</strong>, <strong>para</strong> a ART e <strong>no</strong> seguimento <strong>do</strong> paciente com CDT deverá ser utiliza<strong>do</strong> nas seguintes condições:<br />

1. Pacientes que não atingem níveis satisfatórios de <strong>TSH</strong> (> 30,0 mUI/L)<br />

• Alguns pacientes em terapia supressiva com levotiroxina por um perío<strong>do</strong> muito prolonga<strong>do</strong>;<br />

• Presença de remanescentes tireoidia<strong>no</strong>s volumosos, com contra-indicação <strong>para</strong> re-intervenção e com<br />

baixa captação de radioio<strong>do</strong> em pacientes com disfunção hipotálamo-hipofisária.<br />

• Alguns pacientes i<strong>do</strong>sos<br />

2. Risco de aumento tumoral e compressão de estruturas <strong>no</strong>bres face ao estímulo prolonga<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>TSH</strong> (pacientes<br />

com metástases pulmonares, cerebrais e vertebrais);<br />

3. Risco de agravamento de comorbidades pré-existentes importantes (<strong>do</strong>ença arterial coronariana, insuficiência<br />

renal crônica, <strong>do</strong>enças cerebrais isquêmicas, depressão, <strong>do</strong>ença pulmonar obstrutiva crônica);<br />

4. Não tolerância grave ao hipotireoidismo endóge<strong>no</strong>, confirmada por relatório médico.<br />

Os efeitos adversos mais comuns decorrentes da administração <strong>do</strong> rh<strong>TSH</strong> são náusea e cefaléia. Outros eventos<br />

descritos são astenia, tontura, parestesia, tremor, febre e sintomas gripais. Há também descrições de reações alérgicas<br />

necessitan<strong>do</strong> de tratamento.


Não há estu<strong>do</strong>s ran<strong>do</strong>miza<strong>do</strong>s controla<strong>do</strong>s que avaliem o papel <strong>do</strong> rh<strong>TSH</strong> <strong>no</strong> tratamento <strong>do</strong> CDT recorrente ou<br />

metastático, tampouco há uma padronização <strong>do</strong>s parâmetros de resposta descritos na literatura. Uma compilação de 266<br />

131<br />

tratamentos com rh<strong>TSH</strong> e I , cuja maioria <strong>do</strong>s pacientes era i<strong>do</strong>sa e tinha <strong>do</strong>ença avançada com metástases, mostrou que a<br />

131<br />

maioria (75%) <strong>do</strong>s tumores recorrentes ou metastáticos ainda captava o I , tornan<strong>do</strong> possível o tratamento com este<br />

radioisótopo.<br />

O tratamento de pacientes com metástases deve ser feito com cautela, devi<strong>do</strong> ao risco de complicações<br />

neurológicas (em casos de tumores em sistema nervoso central), de insuficiência respiratória aguda (<strong>no</strong>s pacientes com<br />

tumores peritraqueais ou laríngeos) e de tireotoxicose (na presença de tumores funcionantes).<br />

Segun<strong>do</strong> as diretrizes da ATA (American Thyroid Association) há da<strong>do</strong>s insuficientes quanto aos resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

tratamento de metástases com rh<strong>TSH</strong> e radioio<strong>do</strong> (nível de recomendação D, ou seja, não recomenda<strong>do</strong> pelos especialistas).<br />

Entretanto, tal abordagem pode ser a<strong>do</strong>tada <strong>para</strong> pacientes seleciona<strong>do</strong>s: porta<strong>do</strong>res de comorbidades sujeitas a<br />

complicações causadas pelo hipotireoidismo; pacientes com <strong>do</strong>ença hipofisária que não atingem níveis adequa<strong>do</strong>s de <strong>TSH</strong>;<br />

ou pacientes que podem ser prejudica<strong>do</strong>s com o retar<strong>do</strong> <strong>do</strong> tratamento, necessário <strong>para</strong> o aumento <strong>do</strong> <strong>TSH</strong> através <strong>do</strong><br />

hipotireoidismo (nível de recomendação C, ou seja, recomenda<strong>do</strong> pelos especialistas).<br />

O protocolo de seguimento de pacientes com rh<strong>TSH</strong> consiste na <strong>do</strong>sagem de Tg estimulada, 9 a 12 meses após a<br />

cirurgia e ART, livres de evidência clínica de tumor e com Tg indetectável na vigência de <strong>TSH</strong> suprimi<strong>do</strong>. O rh<strong>TSH</strong> é<br />

administra<strong>do</strong> em duas <strong>do</strong>ses de 0,9 mg, <strong>no</strong>s dias D1 e D2 e a Tg <strong>no</strong> dia D5, cujo ponto-de-corte é de 2 ng/ml. Uma atividade<br />

131<br />

traça<strong>do</strong>ra de I é administrada <strong>no</strong> D3 e a PCI é realizada <strong>no</strong> D5 (figura 1).<br />

131<br />

I<br />

5 mCi<br />

PCI<br />

D1<br />

D2<br />

D3<br />

D4<br />

D5<br />

0,9 mg<br />

rh<strong>TSH</strong><br />

0,9 mg<br />

rh<strong>TSH</strong><br />

Tg<br />

Figura 1: Protocolo <strong>para</strong> seguimento com rh<strong>TSH</strong><br />

Pacientes com Tg > 2ng/ml após o rh<strong>TSH</strong> e com PCI negativa devem ser submeti<strong>do</strong>s a investigação através de<br />

imagem por ultra-so<strong>no</strong>grafia cervical (US), tomografia computa<strong>do</strong>rizada (TC) sem contraste de tórax e imagem com<br />

Tomografia de Emissão de Pósitrons com 18-Fluorodeoxiglicose FDG-PET na procura de metástases e eventualmente trata<strong>do</strong>s<br />

com <strong>no</strong>vo procedimento cirúrgico e/ou com <strong>no</strong>va atividade empírica de radioio<strong>do</strong>.<br />

Pacientes de baixo risco e com Tg < 2 ng/ml devem ser estratifica<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>is grupos: aqueles com Tg me<strong>no</strong>r que 1<br />

ng/ml e aqueles entre 1 e 2 ng/ml. Os pacientes <strong>do</strong> primeiro grupo podem ter seu seguimento basea<strong>do</strong> na <strong>do</strong>sagem de Tg<br />

sob supressão relativa <strong>do</strong> <strong>TSH</strong>, não necessitan<strong>do</strong> de <strong>no</strong>va <strong>do</strong>sagem sob estímulo. Os pacientes <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> grupo podem se<br />

beneficiar da <strong>do</strong>sagem da Tg estimulada anualmente até o terceiro a<strong>no</strong>.<br />

Recentemente, o papel da PCI em pacientes de baixo-risco tem si<strong>do</strong> questiona<strong>do</strong> por ter baixa sensibilidade. Tem<br />

si<strong>do</strong> mostra<strong>do</strong> que a <strong>do</strong>sagem da Tg estimulada pelo rh<strong>TSH</strong> combinada com a US cervical possui eficácia superior à PCI. De<br />

fato, nível de Tg < 1 ng/ml (estimulada pelo rh<strong>TSH</strong>) associa<strong>do</strong> a US cervical sem evidências de <strong>do</strong>ença significam risco nulo<br />

de recorrência em 5 a<strong>no</strong>s.<br />

O algoritmo de seguimento acima descrito não se aplica a pacientes submeti<strong>do</strong>s a cirurgia e ART incompletas (<strong>para</strong><br />

os quais haverá níveis basais eleva<strong>do</strong>s de Tg), pacientes com títulos de anticorpos anti-Tg positivos, pacientes com carci<strong>no</strong>ma<br />

de alto-risco e pacientes cuja PCI evidencie metástases logo após a ART.<br />

São Paulo, 11 de <strong>no</strong>vembro de 2006.

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