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Série Especial “Cenários e Perspectivas Setoriais” - Artigo 6<br />
Conversa com Elizabeth de Carvalhaes<br />
Como a senhora vê o tema “inovação” em nível setorial<br />
hoje em dia e com vistas ao futuro<br />
O setor de papel e celulose brasileiro é o mais competitivo<br />
do mundo e chegou até aqui com muito investimento e, também,<br />
com inovação – a base para a competitividade. Após setembro<br />
de 2008, a questão de como inovar voltou para a mesa de debate.<br />
Atualmente, todas as empresas estão com a cabeça relativamente<br />
educada para assimilar uma nova ordem da economia mundial, e<br />
vários fatores contribuem nesse sentido, a começar pelo próprio<br />
aspecto econômico. Houve forte enxugamento de demanda<br />
internacional (só entre janeiro e junho deste ano, cerca de 8<br />
milhões de toneladas de celulose deixaram de ser produzidos<br />
no mundo) e todos os países se veem obrigados a reavaliar suas<br />
bases produtivas. A concorrência vai se acirrar ainda mais, e<br />
quem não for competitivo e não tiver qualidade perderá mercado.<br />
O caso da China, por exemplo, é emblemático, ao mostrar a<br />
preocupação do país em vir ao Brasil comprar celulose de maior<br />
qualidade para alimentar sua produção de papel.<br />
Adicionalmente, a consciência da importância do tema ambiental<br />
e da sustentabilidade será crescente. Está cada vez mais<br />
presente a ideia de agir conscientemente e de consumir de forma<br />
mais qualificada. O consumidor do futuro terá outro comportamento.<br />
Será uma força de mercado muito significativa, que vem<br />
de baixo para cima e que será puxada pelas novas gerações. Em<br />
resumo, o nível de exigência subirá e será desafiador para todos<br />
aqueles que quiserem se manter competitivos. A capacidade<br />
de inovar será uma competência fundamental nesse contexto.<br />
A senhora acredita que um esforço setorial em atividades<br />
de inovação e P&D faz sentido para colocar o Brasil na<br />
vanguarda da tecnologia do setor e posicioná-lo competitivamente<br />
em termos globais<br />
Sim. Ter o melhor produto do mundo não bastará para vencer<br />
no novo contexto competitivo. O setor se propõe a realizar investimentos<br />
muito significativos, de muitos bilhões de dólares, nos<br />
próximos anos, mas isso pode não se concretizar por uma série<br />
de aspectos que jogam contra nossa competitividade, como os<br />
altos tributos existentes no País – inclusive sobre os investimentos.<br />
Há muita coisa a ser feita em termos de políticas públicas e<br />
para melhorar nosso marco regulatório. Esses temas precisam<br />
de uma abordagem setorial. Sem melhorias dessa natureza, as<br />
empresas poderão investir o que quiserem em tecnologia e em<br />
inovação, mas não será suficiente. Por outro lado, a efetivação<br />
desses investimentos trará inúmeras oportunidades, também em<br />
nível setorial, pois esses recursos gerarão mais inovação e avanços<br />
tecnológicos que tornarão o País competitivo também no futuro.<br />
O marco regulatório tende a mudar em várias partes do<br />
mundo. Veja o caso da Conferência sobre Mudanças do Clima<br />
que se aproxima. Dependendo dos resultados dessa reunião,<br />
o mundo poderá viver uma ampliação significativa das barreiras<br />
à exportação, com o risco<br />
de aumentar o protecionismo. A<br />
preocupação com toda a cadeia<br />
de produção – por exemplo,<br />
olhar para as matérias-primas e a<br />
mão-de-obra utilizada ao longo<br />
de todo o processo –, também<br />
tende a crescer, com impacto em<br />
diferentes setores. É preciso trabalhar setorialmente desde<br />
já para que não se percam mercados internacionalmente.<br />
Em relação ao tema ambiental, há também um desafio setorial<br />
de comunicação. O papel brasileiro é puro carbono sequestrado, e<br />
o ciclo de nossas florestas de eucalipto (seis a sete anos) coincide<br />
com o período de absorção máxima de carbono. Além disso,<br />
a cada novo ciclo crescem árvores geneticamente melhoradas.<br />
Acontece, porém, que esses fatos ainda não são de conhecimento<br />
da maioria das pessoas e dos consumidores em geral.<br />
Em artigo recente, fizemos propostas para fomentar a<br />
inovação em nível setorial, tais como: fazer estudos sobre o<br />
futuro de tecnologias do setor, definir prioridades tecnológicas<br />
em âmbito setorial, constituir um grupo de executivos voltado<br />
a debater com o governo os interesses tecnológicos do setor e<br />
desenvolver compartilhadamente recursos humanos para as<br />
atividades de P&D, entre outras. Como a senhora vê isso O<br />
setor estaria maduro para esse tipo de proposta<br />
No contexto que discutimos até aqui, me agrada bastante<br />
a ideia de termos um grupo de executivos discutindo o<br />
tema “inovação” e, também, a área de P&D olhando para o<br />
futuro. A inovação deve ser repensada sob as novas regras<br />
de competitividade, e esse fórum pode contribuir com a<br />
definição de focos e prioridades setoriais, visando ao ganho<br />
de competitividade coletiva.<br />
É importante lembrar que se o setor vencer os desafios à<br />
sua competitividade, a tendência é a concretização de investimentos<br />
significativos nos próximos anos – e a necessidade intelectual<br />
para lidar com isso será elevada. Recursos humanos<br />
são uma emergência. O País não tem capital intelectual para<br />
lidar adequadamente com todos esses investimentos, que vão<br />
requerer diversas competências, desde a área gerencial até<br />
a de engenharia. Soluções inovadoras nessas áreas também<br />
serão muito bem-vindas.<br />
Quais stakeholders poderiam estar envolvidos em esforços<br />
setoriais em torno da tecnologia, em sua visão, e,<br />
de forma mais geral, como o tema “inovação” poderia ser<br />
estimulado no setor<br />
De início, as principais empresas e associações setoriais<br />
devem se envolver nesse debate, até para torná-lo válido e representativo.<br />
Além dos players tradicionais, destaco o interesse<br />
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O PAPEL - Outubro 2009<br />
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