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Mediunidade e autoconhecimento - Revista Cristã de Espiritismo

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MEDIUNIDADE E AUT<br />

ESPECIAL – MEDIUNIDADE E AUTOCONHECIMENTO<br />

Não se <strong>de</strong>ve enten<strong>de</strong>r o aperfeiçoamento mediúnico como estrita<br />

e exclusivamente ligado às reuniões <strong>de</strong> <strong>de</strong>sobsessão, <strong>de</strong> cura ou<br />

materialização. Precisamos enten<strong>de</strong>r a mediunida<strong>de</strong> como um<br />

sentido novo <strong>de</strong> se perceber o Divino no Homem e na Natureza<br />

O<br />

gran<strong>de</strong> esforço do homem<br />

tem sido, no curso<br />

da história, o <strong>de</strong><br />

procurar compreen<strong>de</strong>r<br />

a realida<strong>de</strong>, revelar o<br />

real. Como a realida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser<br />

conhecida Aristóteles e, muito<br />

mais tar<strong>de</strong>, Locke proclamaram<br />

que todo conhecimento era proveniente<br />

dos sentidos; os sentidos<br />

e os aparelhos que os ampliam<br />

seriam os instrumentos <strong>de</strong> conhecimento.<br />

Essa visão do senso comum<br />

vem sendo contrariada <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o início do século pela Física,<br />

que nos tem mostrado, <strong>de</strong> modo<br />

contínuo, uma realida<strong>de</strong> bem distinta:<br />

aos poucos, os <strong>de</strong>nominados<br />

corpos simples foram reduzidos<br />

a partículas idênticas; estas<br />

foram sendo reduzidas a outras<br />

ainda mais elementares, enquanto,<br />

por sua vez, as mais diferentes<br />

radiações foram sendo reconhecidas<br />

como expressões <strong>de</strong> ondas,<br />

distintas apenas no comprimento<br />

e em sua freqüência. Mais ainda,<br />

energia e matéria foram unidas<br />

pela teoria da relativida<strong>de</strong> restrita,<br />

enquanto o espaço e o tempo<br />

vieram a formar um continuum<br />

na visão da teoria da relativida<strong>de</strong><br />

geral. Matéria e energia, espaço<br />

e tempo, e gravitação tornaramse<br />

apenas <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s do<br />

continuum. A própria matéria do<br />

mundo, no dizer <strong>de</strong> Arthur<br />

Eddington, não seria senão matéria<br />

da mente. Todos os processos<br />

físicos, as mudanças existentes no<br />

universo, resultam da intermediação<br />

<strong>de</strong> quatro forças elementares<br />

- a força nuclear forte, a força<br />

nuclear fraca, a força eletromagnética<br />

e a força gravitacional,<br />

geradas após a “gran<strong>de</strong> explosão”.<br />

A unida<strong>de</strong> inicial das forças<br />

teria sofrido contínuas divisões<br />

que se operariam entre o 10 -33 e<br />

o 10 -10 <strong>de</strong> segundo <strong>de</strong>pois do Início:<br />

surgiria, assim, o divórcio da<br />

gravida<strong>de</strong>, em seguida da força<br />

forte e, finalmente, separarse-iam<br />

as forças eletrofracas: as forças<br />

fraca e eletromagnética.<br />

Aristóteles<br />

O observador<br />

Isso tudo nos permite reconhecer<br />

que aquilo que vemos e julgamos<br />

ser a realida<strong>de</strong> não é senão<br />

uma aparência, sem dúvida <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

da mente do observador<br />

e da estrutura física dos sentidos<br />

e aparelhos com que observa<br />

o mundo. De qualquer modo,<br />

são estas as únicas “realida<strong>de</strong>s”<br />

ou conexões <strong>de</strong> acontecimentos<br />

capazes <strong>de</strong> serem percebidos<br />

Des<strong>de</strong> os tempos primitivos, o<br />

ser humano tem afirmado a existência<br />

<strong>de</strong> um mundo extrafísico,<br />

povoado por seres, energias etc.,<br />

distintos dos conhecidos e, <strong>de</strong> um<br />

modo mais profundo, submetendo<br />

a irrealida<strong>de</strong> do mundo físico<br />

à realida<strong>de</strong> do espírito divino. De<br />

que modo foi possível conceber<br />

este universo Possui ele alguma<br />

realida<strong>de</strong> ou é a realida<strong>de</strong> As religiões<br />

que se apossaram da revelação<br />

passaram a expressá-la<br />

através <strong>de</strong> mitos e dogmas, porém<br />

são apenas formas <strong>de</strong> expressão.<br />

No fundo, percebemos que uns e<br />

outros proce<strong>de</strong>m <strong>de</strong> experiências<br />

pessoais diretas que foram cristalizadas<br />

pelo sacerdócio na forma<br />

Locke<br />

Luz do <strong>Espiritismo</strong> · 34


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OCONHECIMENTO<br />

<strong>de</strong> princípios, tornando-se artigos<br />

<strong>de</strong> fé. Este universo realmente<br />

existe E, se existe, é possível<br />

re<strong>de</strong>scobri-lo Se se preten<strong>de</strong><br />

experimentar, é necessário<br />

conhecer que instrumental <strong>de</strong>ve<br />

ser utilizado para a investigação.<br />

A antropologia reconhece que<br />

inexistem povos ateus, ou seja,<br />

por toda a parte, o homem tomou<br />

conhecimento da existência <strong>de</strong><br />

um mundo invisível e <strong>de</strong> uma força<br />

superior que passou a ser adorada<br />

como a Divinda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

paleolítico. Isso vem ao encontro<br />

da afirmativa feita pelos espíritos<br />

no item 5 <strong>de</strong> O Livro dos Espíritos.<br />

De modo perspicaz, Kar<strong>de</strong>c <strong>de</strong>stacou<br />

no capítulo IV, item 1 <strong>de</strong> A<br />

Gênese, que “a história da origem<br />

<strong>de</strong> quase todos os povos antigos<br />

se confun<strong>de</strong> com a da religião:<br />

é por isso que seus primeiros<br />

livros foram livros religiosos”,<br />

e, na <strong>Revista</strong> Espírita, <strong>de</strong> janeiro<br />

<strong>de</strong> 1858: “A história do <strong>Espiritismo</strong><br />

é <strong>de</strong> certa forma a história do<br />

espírito humano”, com o que chamou<br />

a atenção não só para a antigüida<strong>de</strong><br />

do <strong>Espiritismo</strong> e sua<br />

universalida<strong>de</strong>, mas para a própria<br />

revelação do mundo espiritual<br />

ao homem. Há <strong>de</strong> reconhecerse<br />

que os primitivos utilizaram-se<br />

<strong>de</strong> um instrumento para obter a<br />

revelação <strong>de</strong> que:<br />

a) existe um Ser Supremo no Universo,<br />

origem e causa <strong>de</strong> tudo;<br />

b) como <strong>de</strong>corrência disso, existe<br />

um mundo invisível para on<strong>de</strong><br />

vão os espíritos dos mortos<br />

quando <strong>de</strong>ixam seus corpos.<br />

Essa percepção da Divinda<strong>de</strong><br />

e do Mundo Invisível não foi obtida<br />

por meios físicos nem o po<strong>de</strong>ria<br />

ser; a única conclusão possível<br />

é <strong>de</strong> que um <strong>de</strong>terminado instrumento<br />

foi utilizado no processo <strong>de</strong><br />

conhecimento, porém, não os<br />

sentidos ou instrumentos<br />

ampliativos <strong>de</strong>stes. O item 5 <strong>de</strong> O<br />

Livro dos Espíritos indica-nos a<br />

intuição como tendo sido a faculda<strong>de</strong><br />

que nos forneceu a idéia <strong>de</strong><br />

Deus. Reparemos que, ao contrário<br />

das respostas <strong>de</strong> números 6,<br />

221 e 650, nas quais os espíritos<br />

se reportam ao sentimento instintivo,<br />

ao sentimento inato, na <strong>de</strong> nº<br />

5 os espíritos respon<strong>de</strong>m à questão<br />

do sentimento intuitivo da<br />

existência <strong>de</strong> Deus, isto é, à maneira<br />

<strong>de</strong> conhecer por intuição.<br />

Allan Kar<strong>de</strong>c catalogou-a<br />

como uma forma mediúnica e<br />

O esforço do homem tem sido, no curso da história, o <strong>de</strong> procurar<br />

compreen<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong>, revelar o real<br />

André Luiz apontou-a como espécie<br />

mediúnica existente nos<br />

primórdios da humanida<strong>de</strong>. É<br />

gênero, porém, que <strong>de</strong>ve alcançar<br />

mais amplos <strong>de</strong>senvolvimentos<br />

no futuro. Em realida<strong>de</strong>, os físicos<br />

reconhecem na intuição a<br />

origem do processo criativo. Teresa<br />

<strong>de</strong> Ávila consi<strong>de</strong>rava essa<br />

percepção intima, as intuições<br />

que recebia do Cristo, como tendo<br />

mais influência em sua vida<br />

que as visões, por serem mais<br />

reais e mais profundas, e somen-<br />

35 · Luz do <strong>Espiritismo</strong>


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ESPECIAL – MEDIUNIDADE E AUTOCONHECIMENTO<br />

Mesmo certos fenômenos muito exaltados<br />

nos círculos religiosos, sob distintas<br />

<strong>de</strong>nominações, tais como o êxtase cristão,<br />

o samadhi hindu, o satori zen etc. estão<br />

relacionados à mediunida<strong>de</strong>. Do mesmo<br />

modo que não po<strong>de</strong> existir transe num<br />

indivíduo sem que ele possua mediunida<strong>de</strong>,<br />

sem mediunida<strong>de</strong> o santo<br />

seria incapaz do êxtase.<br />

Luz do <strong>Espiritismo</strong> · 36<br />

te para simplificar é que utilizava<br />

mais a expressão “ter visto”,<br />

<strong>de</strong> modo a fazer-se compreen<strong>de</strong>r<br />

pelos leitores. Ora, bem, é esta<br />

percepção intuitiva ocorrida nos<br />

primórdios, a percepção do Divino<br />

e do mundo extracorpóreo a<br />

maior, a mais bela e a mais profunda<br />

mensagem recepcionada<br />

sobre a Terra.<br />

Autoconhecimento<br />

É preciso encarar a mediunida<strong>de</strong><br />

por esse ângulo. Não <strong>de</strong>vemos<br />

apenas nos voltar para os<br />

casos patológicos da mediunida<strong>de</strong>,<br />

os <strong>de</strong>svios, os aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />

percurso nem <strong>de</strong>vemos encará-la<br />

somente pelo seu valor terapêutico;<br />

<strong>de</strong>vemos atentar também<br />

para o sentido mais amplo e dinâmico<br />

da mediunida<strong>de</strong> como processo<br />

<strong>de</strong> conhecimento e <strong>autoconhecimento</strong><br />

em que a função<br />

<strong>de</strong> cura está inclusa.<br />

Inicialmente, não é possível<br />

esquecer que a mediunida<strong>de</strong> é<br />

um instrumento <strong>de</strong> percepção <strong>de</strong><br />

valor neutro, o que nos indica<br />

que a direção <strong>de</strong> sua utilização,<br />

o resultado <strong>de</strong>sta, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do<br />

sistema filosófico-moral-religioso<br />

que orienta o médium, ou<br />

seja, da sua própria orientação<br />

moral e concepção do mundo.<br />

Aqui também, como na Física<br />

mo<strong>de</strong>rna se reconhece, o resultado<br />

também <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do observador:<br />

não só as condições morais<br />

e espirituais do médium estabelecem<br />

as conexões possíveis,<br />

como os próprios resultados <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

da capacida<strong>de</strong> conceptual<br />

e interpretativa do médium,<br />

isto é, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do parâmetro<br />

que André Luiz <strong>de</strong>nominou<br />

“capacitância por analogia com<br />

o circuito elétrico”. Recor<strong>de</strong>mos<br />

que Allan Kar<strong>de</strong>c, no item 443 <strong>de</strong><br />

O Livro dos Espíritos e no capítulo<br />

<strong>de</strong> Obras Póstumas sobre a<br />

emancipação da alma, chamou a<br />

atenção para o condicionamento<br />

mental. Os próprios fenômenos<br />

<strong>de</strong> vidência espiritual lhe estão<br />

submetidos, como <strong>de</strong>stacou Mira<br />

Alfassa em Conversas com a<br />

Mãe (1931), André Luiz em Nos<br />

Domínios da <strong>Mediunida<strong>de</strong></strong><br />

(1955>, Emmanuel no livro Seara<br />

dos Médiuns (1961), Pierre<br />

Weil e nós mesmos em uma<br />

apostila intitulada Chacras e<br />

<strong>Mediunida<strong>de</strong></strong> (1985) e no livro<br />

Pérolas no Fio (1991). Como adverte<br />

Weil, isso não <strong>de</strong>põe contra<br />

a veracida<strong>de</strong> do fenômeno, pois<br />

a codificação cultural é a estrutura<br />

que compreen<strong>de</strong> todas as espécies<br />

<strong>de</strong> percepção. Peat e<br />

Bohm, em Ciência, Or<strong>de</strong>m e<br />

Criativida<strong>de</strong> (1987), <strong>de</strong>stacam<br />

que toda a percepção sensória<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da disposição total da<br />

mente e do corpo, disposição<br />

esta que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da cultura geral<br />

e da estrutura social, fatores<br />

que também condicionam a percepção<br />

através da mente.<br />

Todo instrumento <strong>de</strong> ampliação<br />

das percepções tem seu <strong>de</strong>stino<br />

condizente: como instrumento<br />

<strong>de</strong> percepção, a mediunida<strong>de</strong><br />

nos indica sua utilida<strong>de</strong>. Costumamos<br />

empregá-la nos serviços <strong>de</strong>


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cura, ajudando pacientes a atingir<br />

o equilíbrio, refazer suas forças e<br />

libertar-se <strong>de</strong> pressões externas<br />

provenientes <strong>de</strong> <strong>de</strong>sencarnados<br />

ou <strong>de</strong> encarnados. É necessário ir<br />

mais além: a mediunida<strong>de</strong> nos<br />

coloca, por antecipação, em um<br />

meio distinto, no mundo do alémtúmulo,<br />

que costumamos chamar<br />

<strong>de</strong> mundo espiritual, mundo invisível,<br />

porque não perceptível aos<br />

sentidos normais. A expressão não<br />

<strong>de</strong>ve enganar-nos e, assim, apesar<br />

<strong>de</strong> sua singularida<strong>de</strong>, ela se reporta<br />

a uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> planos<br />

que se interligam e nos quais os<br />

espíritos vivem <strong>de</strong> acordo com o<br />

grau <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong> alcançado<br />

e, até po<strong>de</strong>mos dizer, <strong>de</strong> acordo<br />

com o peso específico dos corpos<br />

<strong>de</strong> que se revestem.<br />

A questão do conhecimento passa pela questão do <strong>autoconhecimento</strong>;<br />

para se ter uma visão do mundo, é preciso que o observador se conheça<br />

Percepção ampliada<br />

Estes são mundos invisíveis<br />

que a mediunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>scortina,<br />

daí ter o padre Bondi <strong>de</strong>scrito o<br />

estado <strong>de</strong> consciência mediúnica<br />

como o <strong>de</strong> ver a céu aberto, como<br />

prometeu Jesus no seu primeiro<br />

encontro com Natanael, segundo<br />

o relato <strong>de</strong> João 1:51, e o pô<strong>de</strong><br />

constatar Estêvão, ao ser apedrejado,<br />

conforme os registros <strong>de</strong><br />

Lucas em 7:56. E é isto o que ocorre:<br />

ao rasgarem-se os véus do<br />

oculto, percebem os médiuns a ida<br />

e a vinda dos espíritos, que não só<br />

se revezam nos corpos físicos através<br />

da reencarnação, mas que se<br />

antecipam em seu anseio <strong>de</strong> comunicação<br />

com os homens a fim<br />

<strong>de</strong> ajudá-los a modificar a visão<br />

estreita da vida, presa ao egoísmo<br />

existencial, possibilitando uma<br />

<strong>de</strong>scrição holística <strong>de</strong>sta, que incorpore<br />

não somente os ângulos<br />

biológico, psicológico, sociológico,<br />

linguagens a que está afeito, mas<br />

a nova perspectiva espiritual através<br />

da linguagem mediúnica<br />

como meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>screvê-la, <strong>de</strong>monstrando<br />

a influência recíproca<br />

que exercem uns sobre os outros<br />

encarnados e <strong>de</strong>sencarnados,<br />

ampliando o conceito <strong>de</strong> vida e,<br />

com isso, <strong>de</strong>smistificando a visão<br />

unilateral - vida versus morte,<br />

comprovadas as expressões existenciais<br />

que sobrevivem ao <strong>de</strong>sfazimento<br />

do corpo.<br />

Multiplicida<strong>de</strong><br />

Se examinarmos bem a questão,<br />

no entanto, estamos a falar<br />

ainda <strong>de</strong> matéria em estados que<br />

a ciência <strong>de</strong>sconhece, mas, nem<br />

por isso, menos matéria, como<br />

aquela <strong>de</strong> que nos fala André<br />

Luiz no livro Obreiros da Vida<br />

Eterna, cap. X, constituída <strong>de</strong><br />

átomos etéricos cujas <strong>de</strong>scargas<br />

elétricas, em sua esfera <strong>de</strong> ação,<br />

ensejariam “realizações quase<br />

inconcebíveis à mente humana”.<br />

São mundos exteriores ainda,<br />

expressões da multiplicida<strong>de</strong>.<br />

Existe, no entanto, um outro<br />

mundo invisível do qual o sistema<br />

mediúnico <strong>de</strong>ve aperceberse,<br />

cuja indicação encontramos<br />

em Jesus, que ensinou: “A vinda<br />

do Reino <strong>de</strong> Deus não é observável”,<br />

não vem como algo espetacular,<br />

<strong>de</strong> modo que se possa dizer:<br />

“ei-lo ali; ei-lo acolá”. “O<br />

Reino <strong>de</strong> Deus está <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

vós”, no seu meio interior (Lucas<br />

17: 20-21). A indicação, portanto,<br />

refere-se à existência <strong>de</strong> um<br />

mundo mais profundo, um mundo<br />

que estaria <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada<br />

um <strong>de</strong> nós, o que nos leva a consi<strong>de</strong>rar<br />

não mais a multiplicida<strong>de</strong>,<br />

mas a unida<strong>de</strong>, mundo este<br />

que po<strong>de</strong>ríamos chamar <strong>de</strong><br />

meio crístico.<br />

A pergunta que <strong>de</strong>ve ser feita<br />

a seguir é se, apesar <strong>de</strong>ssa revelação,<br />

esse mundo é passível <strong>de</strong><br />

ser conhecido. Ainda tomaremos<br />

aqui outra indicação do Mestre<br />

Jesus: “Conhecereis a Verda<strong>de</strong> e<br />

a Verda<strong>de</strong> vos libertará” (João<br />

8:32). Que significa conhecer a<br />

verda<strong>de</strong>, senão conhecer o Reino,<br />

o meio crístico Conhecer a<br />

verda<strong>de</strong> é conhecer, portanto, o<br />

homem em si mesmo, conhecer<br />

sua origem e nele próprio a origem<br />

do Universo.<br />

37 · Luz do <strong>Espiritismo</strong>

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