Relatório Oficial Vestibular UFSC/2008 [PDF]
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ANÁLISE DAS PROPOSTAS DE REDAÇÃO<br />
Uma vez mais, a banca para a prova de redação apresentou três propostas. A primeira,<br />
voltada para aspectos ligados à ética, embasados em personagens das obras literárias indicadas<br />
para este vestibular. A segunda, uma proposta aberta com base na complementação de<br />
uma frase. A terceira, a imagem da “Primeira Missa no Brasil”, de Vítor Meirelles, seguida de<br />
excerto do “I-Juca Pirama”, de Gonçalves Dias e mais duas manchetes sobre massacre aos<br />
índios.<br />
A única voltada diretamente para as obras literárias foi a primeira das propostas. Do total<br />
de 22.810 redações corrigidas, em torno de 2.909 foram os candidatos que optaram pela proposta<br />
1. Sem dúvida, eram candidatos que conheciam os textos literários, indicando que a comunidade<br />
estudantil vem, paulatinamente, abraçando a leitura. Afinal, pensando nos anos anteriores,<br />
era de se esperar que ao menos uma das propostas estaria voltada para os títulos da<br />
literatura brasileira.<br />
Algumas observações não foram favoráveis à proposta, julgando-a muito difícil para<br />
candidatos oriundos do Ensino Médio. A crítica se deu por conta do excerto filosófico de autoria<br />
de Marilena Chauí que conceitua o que seja sujeito moral. Evidentemente, a Banca não concorda<br />
com os críticos da proposta. Primeiro, porque não subestimou a inteligência dos estudantes.<br />
Segundo, porque o assunto sobre ética nunca esteve em tanta evidência como nos últimos<br />
anos. Terceiro porque remeteu a disciplina de Filosofia que já faz parte da grade curricular do<br />
Ensino Médio.<br />
Portanto, pelo contrário, a proposta deve ser considerada fácil e, até mesmo, um verdadeiro<br />
presente para os candidatos que, efetivamente, leram as obras. Afinal, não há dificuldades<br />
em encontrar entre os personagens citados problemas referentes ao comportamento ético.<br />
A proposta 2 apresentava a frase “Eu preciso de ...” inscrita dentro de um balão de história em<br />
quadrinhos sugerindo o ato de pensar. A mesma era seguida do comando: “Redija um texto<br />
tomando por base a complementação que você der para a frase acima.”<br />
Eis uma indicação que foi, de fato, um “presente” para todos os candidatos, em especial<br />
para os que não se aplicaram à leitura das obras literárias estabelecidas. Foi nada menos que<br />
em torno de 8.696 o número de candidatos que enveredaram por esta segunda proposta.<br />
Embora a Banca entenda como de qualidade uma proposta que prime pela liberdade<br />
aberta aos candidatos quanto à escolha do tema, ela apresentava riscos que identificamos<br />
desde que nos deparamos com a mesma. Aliás, os mesmos riscos apontados por vários membros<br />
da banca avaliadora em suas considerações sobre o exame de redação.<br />
O primeiro deles diz respeito à incidência de “redações feitas” que poderiam surgir. Bastava<br />
que o candidato apresentasse um “gancho” coeso e coerente para entrar diretamente com<br />
o texto de sua pretensão. Quanto ao segundo risco, trata-se da baixa qualidade própria de<br />
candidatos com nível estreito (sem prática) para interpretação, o que redunda em abordagens<br />
pobres, (falhas) sobretudo nos quesitos “informação e argumentação” e/ou, mais do que isso, a<br />
problemática das adequações quanto ao tema e vocabulário. Afinal, tais são os critérios de base<br />
na produção textual, pois quem os domina não se embaraça nos quesitos de coesão e coerência,<br />
meras decorrências daqueles.<br />
De acordo com as muitas observações da Banca avaliadora a respeito da proposta em<br />
tela, anote-se: “nem sempre propostas muito abertas são adequadas a esse tipo de prova”.<br />
Acaba se tornando mais importante, para o ato de avaliação, “o como do texto” e não o “o<br />
quê”. Vêm daí as sugestões para que a Coperve passe a diligenciar melhor sobre as tipologias,<br />
isto é, que se defina “o como”, ou antes, o tipo de texto que o candidato deva apresentar.<br />
No caso, fosse exigida uma narração (aliás, sugerida na subjetividade do pronome “Eu”), possivelmente<br />
não haveria a ocorrência de tantas redações com a cara de coisa “feita”.<br />
Enfim, a terceira proposta, das mais ricas, acabou sendo sacrificada tanto quanto os<br />
personagens que ela enfoca o foram ao longo de nossa História.<br />
Malgrado a boa intenção da Banca responsável pela Prova de Redação, ao trazer a excelência<br />
tanto estética quanto histórica do quadro de Victor Meirelles, representando a Primeira<br />
Missa no Brasil, ricamente inspirado na Carta de Pero Vaz de Caminha, o tema, ou temas pos-<br />
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