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Contos: dos mitos e lendas aos quadrinhos - IEL - Unicamp

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Conto: <strong>dos</strong> <strong>mitos</strong> e<br />

<strong>lendas</strong> <strong>aos</strong> <strong>quadrinhos</strong><br />

Amanda M. M. Giacopini<br />

Daniela S. Menali<br />

Juliana C. Fernandes<br />

Melissa C. Forato<br />

Alunas do curso de Licenciatura em Letras do <strong>IEL</strong><br />

(Instituto de Estu<strong>dos</strong> da Linguagem) / <strong>Unicamp</strong>.<br />

Estágio Supervisionado<br />

Orientadora:<br />

Prof.ª Drª Orna Messer Levin<br />

1


Agradecimento<br />

Agradecemos ao amigo Sergio Ricardo Mazzolani que gentilmente<br />

criou a capa de nosso fascículo didático.<br />

Agradecemos também a professora Orna por sua dedicação e<br />

paciência no decorrer deste trabalho.<br />

3


Apresentação<br />

Este fascículo foi pensado especialmente para você, aluno, que<br />

vive uma realidade escolar às vezes por demais tradicional. Este<br />

trabalho é o resultado de um ano nosso como autoras e estudantes,<br />

que nos dedicamos para a construção de uma educação mais<br />

produtiva e diversificada. Os temas <strong>dos</strong> capítulos foram pensa<strong>dos</strong> de<br />

forma que a leitura se torne mais interessante e próxima de seu dia-adia.<br />

Esperamos que você se divirta enquanto aprende, de forma a<br />

conhecer o mundo literário com novas cores e matizes.<br />

Procuramos propor atividades interessantes e diferentes, para<br />

que note como a literatura não está distante de sua realidade, mas a<br />

integra de uma tal forma que você muitas vezes nem se dá conta. Não<br />

pense que existem respostas prontas: o que mais vale nesta leitura<br />

são as suas reflexões que, aliadas a este breve livro, o levarão por<br />

novos e insuspeitos caminhos.<br />

Desejamos a você que a leitura seja uma passagem agradável<br />

de se percorrer, e que você encontre no mundo <strong>dos</strong> contos inspiração<br />

para novas leituras, conhecimentos e crescimento pessoal.<br />

As autoras<br />

5


ÍNDICE<br />

Capítulo 1: Mitos, contos e <strong>lendas</strong>..................................................... 09<br />

Capítulo 2: Qualquer história é um conto.......................................27<br />

Capítulo 3: O conto contemporâneo.................................................. 41<br />

Capítulo 4: Uma nova face para o conto contemporâneo............ 51<br />

Capítulo 5: HQ – Um novo formato para o conto........................... 63<br />

Anexo 1: O burro juiz........................ .................................................80<br />

Bibliografia...............................................................................................81<br />

7


Mitos, contos e <strong>lendas</strong><br />

O começo de um conto<br />

V<br />

ocê já pode ter se perguntado: de onde vem o conto Quem o inventou<br />

Ele já nasceu escrito<br />

Hoje se sabe que não há forma de definir exatamente quando os<br />

contos começaram a ser “conta<strong>dos</strong>”. Isto ocorre porque o ato de contar é um hábito milenar.<br />

Existem hipóteses de que os contos orais mais antigos sejam os egípcios, data<strong>dos</strong> de 4.000<br />

a.C. Mas é na cultura árabe que podemos encontrar o registro escrito mais remoto de<br />

histórias: As mil e uma noites, no qual Sherazade conquista o rei por meio da arte de contar<br />

histórias. Você conhece o enredo desta obra<br />

A história de As mil e uma noites tem início quando Charchair, o rei da Pérsia,<br />

amargurado e desiludido pela traição da rainha, decide consolidar um plano cruel para<br />

castigar as mulheres do reino. Após matar sua primeira esposa, ele decide desposar uma<br />

jovem diferente a cada dia e, tendo passado a noite de núpcias dava ordens para que essa<br />

nova esposa fosse executada. Mas depois de ser desposada pelo rei, a jovem Sherazade o<br />

envolve com a narrativa de um conto. Com a chegada da manhã, Charchair se vê obrigado a<br />

cuidar de seus afazeres sem ter tido tempo de ouvir o final do relato que Sherazade lhe<br />

contara. Assim, tomado pela curiosidade, o rei poupa a vida da nova esposa por aquele dia.<br />

E deste modo, munida de sua criatividade e destreza, a nova rainha vê passarem-se 1001<br />

noites sem que o rei mandasse executar sua morte.<br />

Assim chegou até nós esta coletânea de narrativas do Antigo Oriente. Nela foram<br />

incluí<strong>dos</strong> contos belos e exóticos da cultura árabe, a qual não por coincidência é o berço da<br />

escrita.<br />

9


http://www.novomilenio.inf.br/santos/<strong>lendas</strong>/h0182be.jpg<br />

Antes do registro escrito <strong>dos</strong> contos, estes eram transmiti<strong>dos</strong> oralmente. Deste<br />

modo, a narrativa oral foi a forma primitiva do conto, presente nas noites de lua em que os<br />

antigos se reuniam e, para passar o tempo, narravam histórias de bichos, <strong>lendas</strong> populares e<br />

<strong>mitos</strong>.<br />

Estas reuniões eram muito comuns em tribos, sendo que nestas ocasiões era eleito<br />

um contador responsável por transmitir a tradição, lições de moral, etc. Com o tempo, este<br />

hábito foi incorporado como uma prática familiar. Imaginemos a cena: a família agrupada<br />

ao redor do dono da fala, o contador de histórias, repositório de<br />

<strong>lendas</strong> e histórias e possuidor da arte de narrar.<br />

Uma das figuras mais populares de contadores que<br />

conhecemos hoje no Brasil é a Dona Benta de Monteiro Lobato,<br />

uma senhora que contava histórias fabulosas para Narizinho,<br />

Pedrinho e Emília, a boneca falante. Muitas das histórias<br />

narradas por Dona Benta são <strong>lendas</strong> folclóricas do Brasil, como<br />

as <strong>lendas</strong> do Saci e da sereia Iara que passaram de geração a<br />

geração.<br />

Mitos e <strong>lendas</strong><br />

Não há uma divisão precisa a respeito do que é conto, mito ou lenda. Estes termos<br />

referem-se a narrativas com diferenças tênues. A respeito destas nomenclaturas, observe o<br />

que a Grande Enciclopédia Portuguesa Brasileira Volume XIV (p.926) aponta:<br />

Entre a lenda e o mito há de comum a porção de sobrenatural e irracional<br />

que uma e outra contém. Diferem, porém, no grau de transcendência do<br />

significado e no recuo do tempo. O mito situa-se nos tempos ante-históricos e<br />

representa em um ser ou episódio sobrenaturais, quer acontecimento que por sua<br />

excepcional grandeza e alcance houvesse profundamente impressionado os<br />

homens (e, por exemplo, a utilização do fogo, representada no mito de Prometeu,<br />

indo arrebatá-lo do Céu), quer fenômeno natural e normal, como o renascer anual<br />

da Primavera (...). Tal transcendente significado, relacionado com as origens<br />

das coisas e traduzindo em dramas de deuses e heróis mistérios religiosos ou<br />

fenômenos cósmicos, não o têm as <strong>lendas</strong> ou contos populares, cuja ação se<br />

move neste mundo, entre os homens e não recua para além das origens <strong>dos</strong><br />

povos cristãos. Por isso, se a lenda é mito pelo que encerra de sobrenatural e<br />

irracional – e até pelo que possa conter de sobrevivência mística – chama-lhe<br />

Max Muller Mitologia Moderna e A. Langhi Mitologia Romanesca restringindo<br />

por tais epítetos a transcendência de significado do substantivo. (grifos nossos)<br />

10


www.klickeducacao.com.br<br />

http://www.arara.fr/BBTUCU<br />

MA.html<br />

http://pro.corbis.com/search/searchFrame.aspx<br />

Como você pôde ver, <strong>mitos</strong> e <strong>lendas</strong> se diferem com relação à sua face<br />

transcendental. Isto ocorre porque o mito ultrapassa os limites de nosso tempo e espaço,<br />

criando um mundo sobrenatural de deuses e heróis existente antes mesmo <strong>dos</strong> homens. Já<br />

as <strong>lendas</strong>, restringem-se ao nosso mundo, numa co-habitação de deuses e homens,<br />

envolvendo fenômenos naturais tais como o surgimento da noite, que veremos a seguir.<br />

A tribo indígena Tupi, na tentativa de explicar o surgimento da noite criou uma<br />

lenda muito interessante, reproduzida para leitura atenta logo abaixo:<br />

Como a noite apareceu<br />

11<br />

Intitulado por Couto de Magalhães<br />

"No princípio não havia noite; havia dia somente em todo tempo. A<br />

noite esteve adormecida no fundo das águas. Não havia animais: todas as coisas<br />

falavam. A filha da Cobra Grande, contam, casara-se com um moço. Este moço<br />

tinha três fâmulos fiéis. Um dia chamou ele os três fâmulos e lhes disse: "Ide<br />

passear, porque minha mulher não quer dormir comigo." Os fâmulos foram-se, e<br />

então ele chamou sua mulher para dormir com ele. A filha da Cobra Grande<br />

respondeu-lhe: "Ainda não é noite". O moço disse-lhe: "Não há noite, somente<br />

há dia." A moça falou: "Meu pai tem noite". Se queres dormir comigo, manda<br />

buscá-la, lá pelo grande rio." O moço chamou os três fâmulos; a moça mandouos<br />

à casa de seu pai para trazerem um caroço de tucumã. Os fâmulos foram, chegaram à casa da Cobra<br />

Grande, esta lhes entregou um caroço de tucumã muito bem fechado e disse-lhes: "Aqui está; levai-o. Eia!<br />

não o abrais, senão todas as coisas se perderão." Os fâmulos foram-se, estavam ouvindo barulho dentro do<br />

coco de tucumã, assim: ten, ten, len...xi...era o barulho <strong>dos</strong> grilos e <strong>dos</strong> sapinhos que cantam de noite. Quando<br />

já estavam longe, um <strong>dos</strong> fâmulos disse a seus companheiros:<br />

"Vamos ver que barulho será este." O piloto disse: "Não, do<br />

contrário nos perderemos. Vamos embora, eia, rema!" Eles foram e<br />

continuaram a ouvir aquele barulho dentro do coco de tucumã e<br />

não sabiam que barulho era. Quando já estavam muito longe,<br />

ajuntaram-se no meio da canoa, acenderam fogo, derreteram o breu<br />

que fechava o coco, e o abriram. De repente tudo escureceu. O<br />

piloto então disse: "Nós estamos perdi<strong>dos</strong>; e a moça, em sua casa,<br />

já sabe que nós abrimos o coco de tucumã!" Eles seguiram viagem.<br />

A moça, em sua casa, disse então a seu marido: "Eles soltaram a<br />

noite; vamos esperar a manhã."<br />

Então todas as coisas que estavam espalhadas pelo<br />

bosque, se transformaram em animais e em pássaros. As coisas que<br />

estavam espalhadas pelo rio, se transformaram em patos e em<br />

peixes. Do paneiro gerou-se a onça; o pescador e sua canoa se<br />

transformaram em pato. A filha da Cobra Grande, quando viu a<br />

estrela-dalva, disse a seu marido: "A madrugada vem rompendo. Vou<br />

dividir o dia da noite." Então ela enrolou um fio, e disse-lhe: "Tu serás<br />

cujubim." Assim, ela fez o cujubim, pintou a cabeça do cujubim de<br />

branco, com tabatinga, pintou-lhe as pernas de vermelho com urucum, e<br />

então disse-lhe: "Cantarás para todo o sempre, quando a manhã vier<br />

raiando." Ela enrolou o fio, sacudiu cinza em cima dele, e disse: "Tu<br />

serás inambu, para cantar nos diversos tempos da noite, e de<br />

madrugada."<br />

De então para cá to<strong>dos</strong> os pássaros cantaram em seus tempos, e de<br />

madrugada para alegrar o princípio do dia.<br />

Inambu 1 Quando os três fâmulos chegaram, o moço disse-lhes: "Não fostes fiéis; abristes o caroço de tucumã,<br />

Inambu 2


http://www.tipos.com.br/media/705/20070<br />

110_tela_prometeu.jpg<br />

http://www.eclipsys.blogger.com.br/pand<br />

ora.jpg<br />

soltastes a noite e todas as coisas se perderam, e vós também que vos metamorfoseastes em macacos, andareis<br />

para todo o sempre pelos galhos de paus." A boca preta, e a risca amarela que eles têm no braço, dizem que é<br />

ainda o sinal do breu que fechava o caroço de tucumã, que escorreu sobre eles quando o derreteram."<br />

ROMERO, Sílvio. <strong>Contos</strong> Populares do Brasil. 2. ed. São Paulo: Landy, 2002. 363 p.<br />

O texto acima expressa a forma com a qual os tupis encaravam o surgimento da<br />

noite e a criação <strong>dos</strong> animais. Tudo na história se concentra no caroço de tucumã, um fruto<br />

típico do local onde a tribo tupi habita. Desta forma, podemos entender que a lenda, além<br />

de trazer uma visão primitiva de como a noite poderia ter surgido, expressa um forte tom<br />

local dessa cultura, já que esta lenda só faz sentido para esta tribo por conhecerem o<br />

tucumã. Assim, a composição das <strong>lendas</strong> é repleta de fatores locais. Além disso, há também<br />

uma porção de extraordinário nesta lenda, cuja característica também é recorrente nos<br />

<strong>mitos</strong>, pela presença do ente sobrenatural Cobra Grande, que é o protetor do tucumã e,<br />

portanto, detentor da noite.<br />

Curiosidade: Mito de Prometeu e Pandora<br />

Os gregos acreditavam que na criação do mundo, os deuses<br />

do Olimpo escolheram dois valorosos titãs para distribuírem dons às<br />

criaturas. Assim, Prometeu e Epimeteu distribuíram dons, talentos e<br />

instintos a todas as criaturas. Porém, ao chegar a vez do homem, não<br />

lhes restava mais nada. Compadecendo-se da raça humana, Prometeu<br />

invadiu secretamente o Olimpo e roubou uma chama do fogo<br />

sagrado, dotando os homens da capacidade<br />

de dominar o fogo e assim subjugar as<br />

outras criaturas. Ao descobrirem o seu<br />

pecado, os deuses do Olimpo o condenaram<br />

a ficar pendurado em um penhasco enquanto<br />

um repugnante abutre devorava seu fígado. Quanto a Epimeteu, os<br />

deuses lhe enviaram uma formosa donzela chamada Pandora para<br />

ser sua esposa. O titã ficou encantado. A moça, porém, detinha<br />

uma curiosidade muito aguçada, e sem que Epimeteu percebesse,<br />

Pandora abriu a caixa que continha to<strong>dos</strong> os males existentes,<br />

libertando todo mal que hoje conhecemos.<br />

*Titã = gigante<br />

12


Há também muitos exemplos de <strong>mitos</strong> presentes no que chamamos de mitologias<br />

grega e romana. Quem nunca ouviu sobre o mito de Cupido, o deus do Amor, ou o mito de<br />

Hércules E de Zeus, o deus do Monte Olimpo Os <strong>mitos</strong> fizeram parte da religião <strong>dos</strong><br />

povos antigos no Período Clássico, iniciando-se com os gregos por volta <strong>dos</strong> séculos VI a<br />

IV a.C. Estas crenças inspiraram diversos artistas e até hoje são bastante conhecidas, pois<br />

nos dizem muito sobre a visão de mundo da cultura a qual pertencem.<br />

Mas o que <strong>mitos</strong> e <strong>lendas</strong> têm em comum com o conto<br />

O início do registro destas narrativas existentes na cultura <strong>dos</strong> povos e tribos antigos<br />

foi a semente para o surgimento <strong>dos</strong> contos modernos. O imaginário coletivo, ao ser<br />

registrado sob a forma escrita, permitiu <strong>aos</strong> compiladores acrescentarem a estas histórias<br />

um estilo próprio, fixando uma versão particular da narrativa registrada. Com o tempo as<br />

pessoas deixaram de registrar histórias contadas pelos outros para criarem suas próprias<br />

narrativas, de forma que a autoria tornou-se fator primordial <strong>dos</strong> escritores das sociedades<br />

mais contemporâneas.<br />

Para exemplificar, podemos pensar em dois tipos de texto: os de nossa infância,<br />

como Branca de Neve ou Os três porquinhos, ou textos mais reconheci<strong>dos</strong> pela literatura<br />

canônica, como A cartomante de Machado de Assis ou Uma Galinha, de Clarice Lispector.<br />

Observe que o primeiro tipo de contos é muito divulgado, mas pouco se sabe sobre<br />

sua autoria, como é o caso da maioria <strong>dos</strong> contos de fadas. A expressão “contos de fadas” é<br />

usada para se referir às histórias anônimas que foram e vêm sendo reelaboradas, compostas<br />

por fragmentos de outras histórias, sofrendo acréscimos, supressões, mesclando-se até<br />

chegar <strong>aos</strong> nossos ouvi<strong>dos</strong>. Daí a expressão tão conhecida: quem conta um conto, aumenta<br />

um ponto.<br />

Segundo Maria de Luzia (1992), “Em língua portuguesa o termo „conto‟ serve para<br />

designar a forma popular, folclórica, criação coletiva da linguagem e daí a não-propriedade<br />

de um único criador, e, ao mesmo tempo, a forma artística atributo exclusivo de um estilo<br />

peculiar, individual”. Ou seja, são considera<strong>dos</strong> contos tanto os textos <strong>dos</strong> quais sabemos o<br />

autor quanto os textos <strong>dos</strong> quais pouco se conhece a origem.<br />

13


http://www.rosanevolpatto.trd.br/frigg.jpg<br />

moscatonta.wordpress.com<br />

http://www.reporterdiario.com.br/blogs/ocor<br />

vo/wp-content/uploads/2007/11/saci.gif<br />

Curiosidade: Freia, a rainha <strong>dos</strong> deuses nórdicos<br />

Algumas narrativas foram transmitidas oralmente por<br />

tanto tempo que as versões mais conhecidas hoje acabaram<br />

por carregar muito pouco da versão original. É o caso desta<br />

figura da cultura nórdica.<br />

Freia, “A Amada”, era para os nórdicos a esposa de<br />

Odin, o Pai-de-Tudo. Ela sentava-se em<br />

seu trono celestial e tecia as nuvens que<br />

amenizam o calor do sol. Por meio de<br />

artimanhas femininas, ela conseguia de<br />

Odin a realização <strong>dos</strong> desejos <strong>dos</strong><br />

guerreiros que a ela recorriam. Era a<br />

protetora <strong>dos</strong> que navegavam os mares e<br />

a guardiã das crianças. Porém, com o<br />

advento do cristianismo, Freia foi transformada numa figura<br />

diabólica, uma líder dentre as bruxas. Os gatos, que antes<br />

puxavam seu carro e eram vistos como seres gentis,<br />

passaram a ser criaturas satânicas que a acompanhavam, e até hoje são relaciona<strong>dos</strong> com<br />

contos de bruxaria.<br />

Atualmente, podemos dizer que ainda há um resquício do<br />

conto popular nas <strong>lendas</strong> urbanas, relatos de cunho ficcional que<br />

são amplamente divulga<strong>dos</strong> oralmente, através de e-mails ou pela<br />

própria imprensa. Quem não conhece a história da Loira do<br />

banheiro Embora não seja um exemplo clássico como o Saci<br />

Pererê, a história da loira do banheiro é conhecida principalmente<br />

nos meios escolares. Vejamos uma das mais conhecidas <strong>lendas</strong><br />

urbanas da região Sudeste.<br />

A loira do banheiro<br />

Esta história é muito contada em escolas da rede<br />

pública na cidade de São Paulo. Sua fama é muito grande<br />

entre os alunos.<br />

14


Uma garota muito bonita de cabelos loiros com aproximadamente 15 anos sempre<br />

planejava maneiras de matar aula. Uma delas era ficar ao banheiro da escola esperando o<br />

tempo passar.<br />

Porém um dia, um acidente terrível aconteceu. A loira escorregou no piso molhado<br />

do banheiro e bateu sua cabeça no chão. Ficou em coma e pouco tempo depois veio a<br />

falecer.<br />

A menina não se conformou com seu fim trágico e prematuro. Sua alma não quis<br />

descansar em paz e passou a assombrar os banheiros das escolas. Muitos alunos juram<br />

terem visto a famosa loira do banheiro, pálida e com algodão no nariz para evitar que o<br />

sangue escorresse.<br />

Você pode encontrar estas e outras versões (da boca do povo) no site:<br />

http://ifolclore.vilabol.uol.com.br/<strong>lendas</strong>/sd/sd_loira01.htm. Pode ainda conhecer diferentes<br />

versões, nos diferentes esta<strong>dos</strong> brasileiros: http://www.e-farsas.com/<strong>lendas</strong>_loira.htm<br />

É possível citar ainda diversas <strong>lendas</strong> urbanas que as pessoas comentam com<br />

freqüência: A Loira da Estrada, Elvis Não Morreu, o Roubo <strong>dos</strong> Rins, enfim, um repertório<br />

significativo presente na imaginação da sociedade.<br />

Para concluir<br />

Da incrível Sherazade e suas mil e uma noites até as histórias de Edgar Alan Poe<br />

(falaremos sobre ele no próximo capítulo), o conto tornou-se senão o mais popular, um <strong>dos</strong><br />

mais populares estilos literários. Você já se arriscou a escrever algum Você já tentou<br />

definir o que é conto Conhecemos na nossa literatura brasileira alguém que tentou. O<br />

escritor Mário de Andrade afirmou: “Conto será sempre aquilo que seu autor batizou de<br />

conto”. Você concorda<br />

O que você aprendeu<br />

O que você aprendeu:<br />

Neste capítulo foi possível conhecer ou rever:<br />

A origem do conto<br />

Diferentes <strong>mitos</strong> e <strong>lendas</strong> e sua relação com o conto<br />

Enfim,.<br />

V<br />

As <strong>lendas</strong> urbanas<br />

ale a pena conferir!<br />

considerado uma forma literária.<br />

Enfim, você pôde perceber a importância cultural do conto, hoje<br />

15


Filmes de histórias remontadas ou às avessas<br />

Como está tudo programado no mundo <strong>dos</strong> contos<br />

de fada para que haja um final feliz, o Mago,<br />

responsável pelo equilíbrio entre as forças do bem<br />

e do mal, decide sair em férias. Ele deixa seus<br />

assistentes, Mambo e Manco, cuidando de tudo.<br />

Porém um erro faz com que Frieda, a madrasta da<br />

Cinderela, tenha a posse do cajado mágico. Seu<br />

objetivo é tomar o controle do mundo de contos de<br />

fada, fazendo com que os vilões vençam e que os<br />

finais das histórias jamais sejam felizes<br />

novamente. Isto faz com que Cinderela, mais<br />

conhecida como Ella entre os amigos, tenha que<br />

encontrar um meio de, a madrasta da Cinderela, tenha a posse do<br />

cajado mágico. Seu o deter Frieda, contando com a ajuda de Rick,<br />

Manco, Mambo e um exército composto de fadas e anões.<br />

http://www.adorocinema.com.br/filmes/deu-a-louca-na-cinderela/deu-a-louca-na-cinderela.asp<br />

O filme conta a história da bela princesa Giselle<br />

que é banida por uma rainha malvada de seu<br />

mundo animado mágico e musical e vai parar na<br />

dura realidade das ruas de Manhattan <strong>dos</strong> dias de<br />

hoje. Em choque no novo e estranho ambiente<br />

que não funciona na base do "e viveram felizes<br />

para sempre", Giselle está agora à deriva em um<br />

mundo caótico e que necessita urgentemente de<br />

encantamento. Mas quando Giselle começa a se<br />

apaixonar por um advogado divorciado e<br />

charmoso que vem em seu auxílio - ela, mesmo<br />

estando prometida a um perfeito príncipe<br />

encantado de contos de fadas em sua terra, se pergunta: será que a<br />

perspectiva de romance de um livro de histórias é capaz de sobreviver<br />

no mundo real<br />

v<br />

http://www.choveu.net/cinema/cinema.aspxkeyfilme=MTMzODk=<br />

16


A tranqüilidade da vida na floresta é alterada<br />

quando um livro de receitas é roubado. Os<br />

suspeitos do crime são Chapeuzinho Vermelho, o<br />

Lobo Mau, o Lenhador e a Vovó, mas cada um deles<br />

conta uma história diferente sobre o ocorrido. Cabe<br />

então ao inspetor Nick Pirueta investigar o caso e<br />

descobrir a verdade.<br />

http://www.adorocinema.com/filmes/deu-a-louca-na-chapeuzinho/deu-a-louca-nachapeuzinho.asp<br />

Em um pântano distante vive Shrek, um<br />

ogro solitário que vê, sem mais nem menos,<br />

sua vida ser invadida por uma série de<br />

personagens de contos de fada, como três<br />

ratos cegos, um grande e malvado lobo e ainda<br />

três porcos que não têm um lugar onde morar.<br />

To<strong>dos</strong> eles foram expulsos de seus lares pelo<br />

maligno Lorde Farquaad. Determinado a<br />

recuperar a tranqüilidade de antes, Shrek<br />

resolve encontrar Farquaad e com ele faz um<br />

acordo: to<strong>dos</strong> os personagens poderão retornar<br />

<strong>aos</strong> seus lares se ele e seu amigo Burro<br />

resgatarem uma bela princesa, que é<br />

prisioneira de um dragão. Porém, quando Shrek e o Burro enfim<br />

conseguem resgatar a princesa logo eles descobrem que seus problemas<br />

estão apenas começando.<br />

http://www.adorocinema.com.br/filmes/shrek/shrek.asp<br />

17


http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Noite_Estrelada<br />

Atividades<br />

Atividade 1<br />

Responda às questões com base no conto sobre surgimento da noite apresentado neste<br />

capítulo.<br />

a) Há contos, <strong>mitos</strong> e <strong>lendas</strong> que<br />

explicam o surgimento de<br />

outros elementos da natureza.<br />

Reúna-se com seus colegas de<br />

classe (vocês podem ir à<br />

biblioteca, pesquisar na<br />

Internet ou mesmo perguntar<br />

<strong>aos</strong> professores e familiares) e<br />

pesquise sobre esses outros<br />

textos. Faça uma lista e<br />

compare com os outros grupos<br />

de sua sala.<br />

b) Pudemos perceber que no mito indígena o surgimento da noite é explicado<br />

conforme a crença do povo Tupi, ou seja, trata-se de uma explicação que<br />

não é científica. De acordo com o mito lido, conte como surgiu a noite.<br />

Descreva, em termos científicos, por que a noite surge. Para isso, é relevante<br />

lembrar das aulas de geografia, onde o professor explicou os movimentos de<br />

translação e rotação da Terra.<br />

c) A noite pode suscitar diferentes sensações nas pessoas, em algumas pode<br />

provocar melancolia, em outras, romantismo, e ainda há aquelas que vêem a<br />

noite como algo que representa medo e mistério. Qual é a sua visão a<br />

respeito da noite Na pintura acima, obra de Vincent van Gogh “Noite<br />

Estrelada”, a noite foi pintada de memória e não a partir de uma paisagem<br />

real. Acredita-se que este seja o motivo pelo qual essa obra cause um<br />

impacto ao espectador. Como você acha que o artista sentiu a noite Que<br />

impressão este quadro causou em você<br />

Respostas esperadas<br />

a) Espera-se que o aluno tenha um contato prático dentro e fora de sala de aula com<br />

alguns veículos de pesquisa para que aprofunde seus conhecimentos a respeito de<br />

contos, <strong>mitos</strong> e <strong>lendas</strong>.<br />

b) Trata-se de uma atividade interdisciplinar de compreensão do mito e refacção do<br />

surgimento da noite com base no conhecimento científico.<br />

18


c) Esta atividade permitirá com que o aluno associe o tema do texto lido à obra de<br />

Vincent van Gogh. É um exercício subjetivo que visa trazer à tona certas emoções por<br />

meio da expressão artística e assim demonstrar que a arte sempre sugere algum tipo de<br />

emoção.<br />

Atividade 2<br />

Beowulf, o guerreiro <strong>dos</strong> geats<br />

A história de Beowulf foi trazida para a Grã-Bretanha pelos vikings. Hrothgar era rei da<br />

Dinamarca e construiu em seu reino um poderoso palácio. No entanto, seu povo era afligido<br />

pelo monstro Grendel, que todas as noites<br />

invadia o salão e devorava os mais corajosos<br />

guerreiros. Sabendo da aflição deste reino,<br />

Beowulf partiu da terra <strong>dos</strong> gueats e foi ao<br />

encontro de Hrothgar, ao qual jurou acabar com<br />

a criatura. Beowulf e seus homens dormiam no<br />

salão do palácio quando o monstro chegou.<br />

Beowulf arrancou o braço de Grendel com as<br />

próprias mãos, fazendo com que a criatura<br />

fugisse para os pântanos para esperar a morte. To<strong>dos</strong> comemoraram a vitória e dormiram<br />

tranqüilos. Mas Grendel foi ao encontro de sua mãe, e quando esta viu a sua dor jurou-lhe<br />

vingança, e atacou o reino de Hrothgar, deixando um rastro de morte e destruição. Mais<br />

uma vez Beowulf partiu para a luta, e encontrou a horrenda criatura, metade lobo, metade<br />

mulher, numa caverna sob a água. Beowulf lutou bravamente com a mãe de Grendel e a<br />

derrotou, trazendo novamente a paz para o povo da Dinamarca. Anos mais tarde, quando se<br />

tornou rei do povo <strong>dos</strong> gueats, Beowulf enfrentou um poderoso dragão e conseguiu matálo,<br />

mas isto lhe custou a vida. Como recompensa por sua morte, o herói conquistou um<br />

gigantesco tesouro para o seu reino e sua fama espalhou-se por toda a Escandinávia.<br />

Beowulf, o filme<br />

Inspirado em um antigo poema, o filme conta a história do destemido guerreiro<br />

escandinavo Beowulf (Ray Winstone), que precisa defender o<br />

reino do monarca Hrothgar (Anthony Hopkins) do feroz demônio<br />

Grendel (Crispin Glover). Em uma desesperada batalha, Beowulf<br />

acaba matando o monstro, atraindo para si a terrível ira de sua<br />

impie<strong>dos</strong>a e sedutora mãe (Angelina Jolie), que decide vingar sua<br />

morte. Anos mais tarde, Beowulf irá se deparar com o maior<br />

desafio de sua vida, personificado na figura de um poderoso<br />

dragão. O filme apresenta importantes acontecimentos da lenda,<br />

não deixando, é claro, de acrescentar um toque a mais de ficção<br />

na história, que envolve muitos elementos que não estavam<br />

presentes na lenda original do guerreiro.<br />

Agora é sua vez!<br />

Reúna-se com seus amigos e assista a este filme. Releia o resumo da lenda original e<br />

discuta com sua classe: o que o filme e a lenda têm em comum Quais suas diferenças<br />

Porque vocês acham que o diretor alterou a história original<br />

19


Resposta esperada<br />

Através desta atividade pretende-se despertar nos alunos um interesse sobre as diversas<br />

versões que uma lenda pode adquirir. Ao ver o filme, eles perceberão que apesar de contar<br />

parte essencial da lenda original, o filme traz novos contornos à história. O diretor do filme<br />

pode ter alterado a história por diversos motivos: para tornar o filme mais emocionante,<br />

para que a história tivesse um clima mais romântico em alguns momentos, etc.<br />

Atividade 3<br />

Câmara Cascudo disse que o conto “É um documento vivo, que denuncia costumes, idéias,<br />

mentalidades, decisões e julgamentos”.<br />

a) Com base nessa afirmação e no que leu até agora, você pode dizer por que o conto é<br />

um documento vivo<br />

b) Dê exemplos, com base em suas experiências, de contos, <strong>mitos</strong> ou <strong>lendas</strong> que<br />

denunciem costumes ou julgamentos. Por exemplo: há contos que defendem que as<br />

pessoas boas sempre são recompensadas no final; como no caso da humilde<br />

Cinderela, que foi uma boa moça e no fim se casou com o príncipe. Ou ainda.<br />

quando Pinocchio contava mentiras, seu nariz crescia, o que demonstrava que era<br />

errado contar mentiras.<br />

Resposta esperada<br />

O aluno deverá notar que o conto é um documento vivo, porque traz registros <strong>dos</strong> traços<br />

culturais de uma determinada sociedade. E é vivo porque é transmitido de geração a<br />

geração até chegar <strong>aos</strong> nossos ouvi<strong>dos</strong>. Além disso, o aluno deverá perceber que,<br />

dependendo do contexto histórico, o conto denunciará diferentes costumes. Por exemplo:<br />

muitas coisas que não eram aceitas pela sociedade antigamente são tidas hoje como<br />

comuns.<br />

Atividade 4<br />

Neste capítulo, você aprendeu que os <strong>mitos</strong> e as <strong>lendas</strong> muitas vezes são maneiras de<br />

explicar fenômenos e/ou acontecimentos de uma forma muito típica de cada sociedade.<br />

Nosso país, de grande extensão, abriga os mais diversos tipos de culturas, com costumes,<br />

culinária e sotaques bastante diferentes entre si. Isso sem mencionar a quantidade de <strong>mitos</strong><br />

e <strong>lendas</strong>. Você já havia pensado nisso Pesquise com pessoas de outras regiões do Brasil,<br />

que porventura você conheça, ou mesmo em livros e na Internet, algum mito ou lenda que<br />

não seja conhecido nessa região, ou ainda, que tenha uma versão diferente da que você<br />

conhece.<br />

Resposta esperada<br />

Nesta atividade buscamos aproximar a questão da diversidade cultural através <strong>dos</strong> <strong>mitos</strong> e<br />

<strong>lendas</strong>, mostrando que bem próximo a nós, dentro do mesmo país, essa diversidade é<br />

grande e bastante rica, estimulando o interesse e respeito pelas diferenças. Aqui o aluno<br />

poderá citar a lenda do Boi-Bumbá (Amazonas), a lenda do Famaliá (norte de Minas e<br />

Nordeste), a lenda do Negrinho do Pastoreio ou da Salamanca do Jarau (Rio Grande do<br />

Sul), etc.<br />

20


Atividade 5<br />

Quem nunca brincou de telefone sem fio Eis um bom exemplo do que aconteceu<br />

com os contos desde o início <strong>dos</strong> tempos. Faça um círculo em sala, alguém terá que<br />

inventar uma pequena história e falará no ouvido do outro e assim sucessivamente até que a<br />

história chegue ao ouvido do criador da história. Observação: O aluno que inventou a<br />

história deverá anotar a versão inicial e a final. Depois a sala poderá discutir as mudanças e<br />

ver na prática o que está sendo abordado neste capítulo.<br />

Resposta esperada<br />

A atividade tem por objetivo mostrar <strong>aos</strong> alunos que antes de se ter registro escrito, cada<br />

pessoa que contava uma história a modificava conforme seu próprio ponto de vista, ou seja,<br />

ressaltava as partes que mais chamavam sua atenção.<br />

Atividade 6<br />

Certamente você já deve ter ouvido falar da Loira do banheiro, se não ouviu, acabou<br />

de conhecer. Então agora é sua vez de passar esse conto adiante. Reescreva essa lenda<br />

urbana, a partir de sua visão. Depois, compartilhe sua versão da história com seus colegas<br />

de classe. Essa será uma maneira interessante de perceber como os contos vão sendo<br />

modifica<strong>dos</strong> quando passam de boca em boca.<br />

Resposta esperada<br />

Espera-se com essa atividade de produção textual incentivar o aluno a pesquisar <strong>lendas</strong><br />

urbanas e discutir com seus colegas as diferentes versões de uma mesma lenda. O que<br />

prova que os contos, os <strong>mitos</strong> e as <strong>lendas</strong> foram modifica<strong>dos</strong> com o passar do tempo, pois<br />

de boca em boca sempre se modificam.<br />

Atividade 7<br />

Leia os <strong>quadrinhos</strong> e responda:<br />

21


Veja a história completa em: http://www.monica.com.br/comics/banheiro/pag1.htm<br />

22


a) A lenda da Loira do banheiro é o tipo de história que pode gerar julgamentos de<br />

valor no que se refere a acreditar ou não. Cebolinha não acredita nessa lenda urbana<br />

e você Você conhece alguma história assim que alguns acreditem e outro não Ou<br />

já foi para alguma cidade pequena de interior que tenha alguma lenda Ou conhece<br />

alguma história de acampamento Conte para a sala.<br />

b) Experimente fazer <strong>quadrinhos</strong> com a história que contou. Você pode criar<br />

personagens conversando sobre o assunto como fez Maurício de Sousa ou então<br />

fazer <strong>quadrinhos</strong> da história em si. A seguir, exponha esses <strong>quadrinhos</strong> na sala de<br />

aula.<br />

c) A Mônica disse que tem um ritual para a assombração da loira aparecer. Você sabe<br />

o que é um ritual Será que to<strong>dos</strong> os rituais são volta<strong>dos</strong> para o mal Pesquise com<br />

seu professor a respeito.<br />

Respostas esperadas<br />

a) O objetivo dessa atividade é desenvolver uma prática oral. O aluno/estudante<br />

buscará na memória alguma história do tipo fantástica e contará para a sala. Esperase<br />

que ele conte com um tom de suspense como histórias desse âmbito exigem.<br />

b) O objetivo é a produção do gênero <strong>quadrinhos</strong>. Espera-se que o aluno atente para a<br />

importância da imagem na produção de significado da história e que perceba que a<br />

parte textual deve ser estruturada por meio de diálogos e que o texto tem que ser<br />

bem mais sintético devido a essa estrutura.<br />

c) (Se necessário o professor pode auxiliar numa discussão sobre este tema). Espera-se<br />

que o aluno perceba que ritual é um procedimento realizado para algo acontecer. A<br />

pessoa que faz um ritual tem que seguir alguns passos que devem obedecer a<br />

alguma ordem. Se modificar a ordem ou fazer algum passo errado, o ritual não dará<br />

certo. É uma atividade também que exige uma reflexão. Baseado em seu<br />

conhecimento de mundo, o aluno deverá responder se os rituais são volta<strong>dos</strong><br />

somente para o mal.<br />

Atividade 8<br />

A Murta que Geme é um personagem <strong>dos</strong> livros Harry Potter. Ela era<br />

uma aluna de Hogwarts* que depois de morta virou um fantasma que<br />

assombra o banheiro feminino do segundo andar da escola. Não pára de<br />

ter acessos de raiva, inundando o banheiro. Foi morta pelo basilisco* na<br />

época em que Tom Riddle estudava em Hogwarts, quando este abriu a<br />

Câmara Secreta*. Aparentemente aconteceram vários ataques, mas o de<br />

Murta foi o único fatal, e também o último.<br />

*Hogwarts: Considerada como a melhor escola para bruxos de toda Europa, foi fundada há mais de 1.000 anos por quatro<br />

<strong>dos</strong> melhores bruxos da época.<br />

23


*Basilisco: uma cobra verde-vivo. Embora tenha um excepcional veneno, seu principal método de matar são seus grandes<br />

olhos amarelos, que mata qualquer um que olhar diretamente para eles (e petrifica aqueles que olharem através de alguma<br />

interferência).<br />

*Tom Riddle: Talvez o mais brilhante estudante que Hogwarts já teve (um personagem do lado do mal).<br />

*Câmara Secreta: Lugar criado para bruxos legítimos por um <strong>dos</strong> bruxos fundadores da escola que achava que somente<br />

bruxos legítmos poderiam frequentar Hogwards. Lá ficava o basilisco.<br />

http://potterish.com/wiki/index.php/Hogwarts<br />

Agora que você pôde ver ou rever a história da Loira do banheiro e da Murta Que<br />

Geme de Harry Potter, faça uma comparação, com base no que você já sabe e naquilo que<br />

você leu, entre esses personagens e histórias dizendo o que há em comum e as diferenças<br />

entre eles.<br />

Resposta esperada<br />

O aluno deverá dizer o que há em comum nas duas histórias, por exemplo, ambas as<br />

meninas foram mortas no banheiro e assombram as pessoas lá; ambas inundam o banheiro.<br />

Já algumas diferenças: a loira do banheiro escorregou por acidente no banheiro, bateu a<br />

cabeça e morreu, já a Murta foi assassinada pelo basilisco, além disso, não há indícios de<br />

que a Murta “cabulava aulas”, como a loira do banheiro. Todas essas semelhanças e<br />

diferenças comprovam que há uma idéia comum – a menina que morreu no banheiro e<br />

assombra as pessoas lá – e a partir dessa idéia diferentes versões foram desenvolvidas.<br />

Atividade 9<br />

Leia o texto abaixo e responda às questões:<br />

Conto de fadas (uma versão para adultos)<br />

O relógio marcava 16h45 quando Cinderela chegou à casa de<br />

chá. Esperando impacientemente lá estava a Bela, batendo os<br />

de<strong>dos</strong> no tampo da mesa. Apesar de não estar atrasada, pois o<br />

encontro foi agendado para as 17h, Cinderela se sentiu culpada<br />

por fazer a controladora Bela esperar.<br />

“Que demora!” – exclamou a Bela, que já nem era tão bela<br />

assim, depois de ter se casado com a Fera, tinha engordado uns<br />

15 quilos, para dizer o mínimo. Cinderela sentou-se à mesa e ficou quieta, contou até dez e<br />

tentou se concentrar no mantra que seu personal de ioga havia ensinado para quando<br />

estivesse muito próxima de explodir. Depois de respirar até dez por cinco seqüências<br />

seguidas, Cinderela se acalmou e, só então, conseguiu desfrutar da companhia da amiga.<br />

“Branca de Neve ainda não chegou, como sempre”, queixa-se a Bela comendo mais um<br />

merengue lambuzado de açúcar.<br />

“Ela sempre chega um pouco atrasada”, confirmou Cinderela já refeita da quase explosão<br />

de raiva.<br />

“Como vão as crianças e o maridão” – indagou a Bela.<br />

“Ah, o Júnior está terrível! A professora disse que ele está aprontando na classe e, pelo<br />

jeito, nunca se encaixará no perfil de príncipe encantado, seguindo as pegadas do pai. Eu já<br />

nem sei como fazer. Cinderelazinha tem uma agressividade que nem sei como será, ela é<br />

24


toda brutalizada, não gosta de brincar de boneca e sequer usa aquelas roupas lindas cheias<br />

de fitinhas e sapatinhos de cristal. Só quer saber de aprender boxes, lutas marciais! Meus<br />

filhos não correspondem a nenhum perfil de príncipe e princesa, já não sei o que fazer com<br />

estas crianças. Sinceramente, não sei onde eu errei”, disse Cinderela caindo em prantos no<br />

meio do salão de chá.<br />

Sem saber o que falar, Bela empurra um pedaço de bolo de chocolate dizendo: “Come que<br />

logo vai passar. Mas e o príncipe não ajuda em nada Você tem que se impor, Cinderela!<br />

Afinal, a criação <strong>dos</strong> filhos é de responsabilidade <strong>dos</strong> dois!” – argumenta indignada a Bela.<br />

“Ah, o príncipe já não é mais o mesmo. Sempre me deixa de<br />

lado e agora deu para chegar muito tarde. Desconfio que ele<br />

tenha um caso com uma das empregadinhas do palácio. Ele<br />

vive de cochichos pelos cantos ao celular, agora deu para<br />

querer fazer ginástica, determinou que os costureiros reais<br />

fizessem um guarda-roupa novinho! Ele está naquela fase da<br />

meia-idade que não aceita a velhice. Sabe que ele já marcou<br />

consulta com um médico para fazer implante no cabelo Ele já<br />

não me ama mais”, sentenciou Cinderela dando uma grande<br />

fungada no fino lencinho bordado que Bela tinha lhe<br />

oferecido.(...)<br />

http://carlagiffoni.blogspot.com/2008/03/conto-de-fadas-uma-verso-para-adultos.html<br />

a) O texto acima faz referência a alguns contos de fadas muito conheci<strong>dos</strong><br />

mundialmente. Quais são eles Quais os elementos presentes no texto que podem<br />

nos levar a esta conclusão<br />

b) Podemos perceber no texto uma série de elementos que caracterizam problemas de<br />

nossa sociedade atual. Identifique-os.<br />

c) Meus filhos não correspondem a nenhum perfil de príncipe e princesa, já não sei o<br />

que fazer com estas crianças. Cinderela fala esta frase referindo-se ao perfil de<br />

príncipe do contexto no qual a história foi inicialmente escrita. Reflita: qual seria o<br />

perfil de príncipe/princesa na sociedade de hoje (Se necessário o professor pode<br />

auxiliar numa discussão sobre este tema).<br />

Respostas esperadas<br />

a) O texto acima faz referência às histórias da Branca de Neve, A Bela e a Fera e<br />

Cinderela. Podemos perceber esta relação pelo nome das personagens, pela<br />

alusão às figuras do príncipe encantado e da Fera, e às roupas lindas cheias de<br />

fitinhas e sapatinhos de cristal.<br />

b) São problemas característicos de nossa sociedade atual o desejo das mulheres de<br />

perderem peso, a compulsão pela comida, a dificuldade de educar os filhos e os<br />

problemas de traição no casamento, que não existiam nas histórias originais<br />

destas personagens.<br />

c) Esta questão tem o objetivo de gerar nos alunos uma reflexão acerca <strong>dos</strong> valores<br />

que nossa sociedade tem hoje e <strong>dos</strong> valores que eram váli<strong>dos</strong> na época em que<br />

as histórias foram escritas. Assim, o fato de que a filha de Cinderela não deseja<br />

25


Atividade 10<br />

usar roupas com fitas e nem sapatos de cristal não seria hoje um empecilho para<br />

que ela se tornasse uma “princesa”.<br />

Agora você pode verificar na prática como surge um conto, assistindo ao filme<br />

Narradores de Javé (http://pt.wikipedia.org/wiki/Narradores_de_Jav%C3%A9). Após assistir ao<br />

filme, discuta com seus colegas de classe, junte as idéias e faça seu próprio conto,<br />

utilizando o que aprendeu nesse capítulo.<br />

26


Qualquer história é<br />

um conto<br />

“Conto é aquilo que seu autor batizou com o nome de conto”.<br />

Mário de Andrade<br />

N<br />

este capítulo pretendemos tratar do conto no sentido usual do termo, não<br />

mais como relato de <strong>mitos</strong> e <strong>lendas</strong>, mas como arte literária, tal como você já<br />

deve ter lido na escola. Agora, porém, você verá alguns contos que são<br />

pouco comuns na sala de aula. É possível que você desconheça alguns <strong>dos</strong> autores:<br />

passaremos por contos da literatura mais recente, que tratam de problemas e situações<br />

bastante próximas do nosso dia-a-dia. A partir destes textos, você irá pensar sobre que<br />

estrutura permite que determinado texto seja considerado conto e questionar se tal<br />

estrutura existe de fato.<br />

conto.<br />

Para iniciar esta discussão, observaremos neste capítulo algumas definições de<br />

Vejamos a definição de um dicionário sobre o assunto:<br />

conto 1<br />

con.to 1<br />

sm (der regressiva de contar) 1 Narração falada ou escrita. 2 História ou historieta<br />

imaginadas. 3 Fábula. 4 Patranha inventada para engazopar indivíduos rústicos e<br />

geralmente de má-fé. sm pl Embustices, histórias, tretas. C. acumulativo, Folc:<br />

brinquedo infantil que consiste no encadeamento de palavras articuladas em série<br />

ininterrupta, formando histórias sem fim. C. da carochinha: conto popular para<br />

crianças; lenda. Cair no conto: ser iludido.<br />

Fonte:http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.phplingua=português portugues&palavra=conto<br />

Observamos que a primeira acepção que o dicionário traz para a palavra está<br />

relacionada ao ato de narrar. Pense agora nos contos que você conhece: tratam-se<br />

sempre de formas narrativas. Logo, podemos dizer que o conto é essencialmente uma<br />

narrativa. Afinal, o conto é uma história narrada por alguém, sendo que seu narrador<br />

pode estar em primeira ou terceira pessoa.<br />

Só isso, porém, não é suficiente para definir o que é um conto. E por que não<br />

Justamente porque novelas, romances, crônicas e diversos outros gêneros literários<br />

possuem este mesmo caráter narrativo. Então como distinguir o conto das demais<br />

27


narrativas Essa pergunta obteve diversas respostas ao longo da história - vejamos<br />

algumas delas.<br />

Um grande contista que muito falou sobre a teoria do conto foi Edgar Allan<br />

Poe. Ele definiu dois princípios básicos do conto: a extensão e a unidade de efeito.<br />

Para Poe um bom conto seria aquele que, diferentemente do romance, pudesse ser lido<br />

“numa só assentada”, e que, em um curto espaço de tempo (de meia a duas horas)<br />

conseguisse alcançar um efeito, único e intenso, previsto pelo autor. Dessa forma, ele<br />

explica que “no conto breve, o autor é capaz de realizar a plenitude de sua intenção, seja<br />

ela qual for. Durante a hora de leitura atenta, a alma do leitor está sob o controle do<br />

escritor. Não há nenhuma influência externa ou extrínseca que resulte de cansaço ou<br />

interrupção”.(p. 20)<br />

Quem foi Edgar Allan Poe<br />

Edgar Allan Poe nasceu em Boston, no dia 19 de Janeiro de 1809. Seus pais<br />

faleceram pouco tempo depois do nascimento de Rosalie, a filha mais nova do casal.<br />

Porém, Poe e sua irmã não ficaram desampara<strong>dos</strong> e foram adota<strong>dos</strong> pelo rico casal John<br />

Allan e Frances Keeling Allan.<br />

Aos 27 anos casou-se com sua prima, Virgínia Clemn.<br />

Em 1847, sofreu com a morte de sua esposa vitimada pela<br />

tuberculose. Desiludido, voltou para Richmore. Depois foi<br />

para Nova York e entregou-se à bebida. Antes de seguir para<br />

a Filadélfia, resolveu encontrar-se com velhos amigos. Na<br />

manhã seguinte, Poe foi encontrado por um amigo,<br />

inconsciente e moribundo. Morreu na manhã do domingo<br />

seguinte, <strong>aos</strong> 39 anos, em 7 de outubro de 1884.<br />

As definições de conto não páram por aí. Elas dizem respeito também ao<br />

conteúdo que ele pode ou deve envolver. No livro intitulado “Teoria do Conto”, Nadia<br />

Gotlib critica o conto visto como compromisso com a realidade, dizendo que “O conto,<br />

no entanto, não se refere só ao acontecido. Não tem compromisso com o evento real.<br />

Nele, realidade e ficção não têm limites precisos”. “Um relato, copia-se; um conto,<br />

inventa-se”, afirma Raúl Castagnino. “A esta altura, não importa averiguar se há<br />

verdade ou falsidade: o que existe é já a ficção, a arte de inventar um modo de<br />

28


http://contosdocovil.files.wordpress.com/2008/05/<br />

aut_anton_tchekhov.jpg<br />

representar algo”(p. 8). Então você poderia se perguntar: sobre o quê trata um conto E<br />

talvez a resposta para esta questão ainda não esteja clara.<br />

Curiosidades: As teorias de Tchékhov<br />

Também Anton Pavlovitch Tchékhov foi contista.<br />

Em muitos pontos coincidiu com o pensamento de Poe.<br />

Mas para Tchékhov, a brevidade e efeito do conto não<br />

bastavam: o gênero precisaria ainda de força, clareza e<br />

compactação. Força <strong>dos</strong> acontecimentos, prendendo a<br />

atenção do leitor, clareza de idéias para uma compreensão<br />

imediata da história, e compactação, pois “Quanto mais<br />

objetivo, mais forte será o efeito” (Tchékhov).<br />

Esta discussão sobre teorias do conto é uma história inacabada. O debate tomou<br />

direções tão imprecisas que Mário de Andrade, um <strong>dos</strong> grandes escritores do século<br />

XX, demonstrou sua insatisfação diante desta polêmica afirmando: “Tanto andam<br />

agora preocupa<strong>dos</strong> em definir o conto que não sei bem se o que vou contar é conto ou<br />

não, sei que é verdade” (ANDRADE, Mario. 1956)<br />

Para pensar um pouco mais sobre as dificuldades em se definir o gênero, leia<br />

atentamente o texto abaixo:<br />

Texto 1: Sinhá Secada<br />

Vieram tomar o menino da Senhora. Séria, mãe, moça <strong>dos</strong> olhos grandes, nem<br />

sequer era formosa; o filho, abaixo de ano, requeria seus afagos. Não deviam cumprir<br />

essa ação, para o marido, homem forçoso. Ela procedera mal, ele estava do lado da<br />

honra. Chegavam pelo mandado inconcebíveis pessoas diversas, pegaram em braços o<br />

inocente, a Senhora ainda fez menção de entregar algum ter, mas a mulher da cara<br />

corpulenta não consentiu; depois andaram a fora, na satisfação da presteza, dita<br />

nenhuma desculpa ou palavra.<br />

Muitos entravam na casa então, devastada de dono. Cuidavam escutar soluço,<br />

do qual mesmo não se percebendo noção. Sentada ela se sucedia, nas veras da alma,<br />

enfim enquanto repicada de tremor. Iam lhe dar água e conselhos; ela nem ouvia,<br />

inteiramente, por não se descravar de assustada dor. - "Com quê"- clamou alguém,<br />

29


contra as escritas injustiças sem medida nem remédio. Achavam que ela devia renitir,<br />

igual onça invencível; queriam não aprovar o desamparo comum, nem ponderar o medo<br />

do mundo, da rua constante e triste. Ela continha na mão lembrança de criança, a<br />

chupeta seca. - "Uf!"- e a gente se fazendo mal, com dó, com dúvida de Deus em<br />

escuros. Do jeito, o fato se endereçou, começador, no certo dia. No lugar, por conta de<br />

tudo, mães contemplavam as filhas, expostas ao adiante viver, como o fogo apura e<br />

amedronta, o que não se resume. (...)<br />

ROSA, João Guimarães. Sinhá Secada. In: BOSI, Alfredo. O Conto Brasileiro Contemporâneo.<br />

11. ed. São Paulo: Cultrix, 1995. p. 61-64.<br />

O texto narra o drama de uma mãe solteira que tem seu filho tomado. O autor,<br />

Guimarães Rosa, recorre a figuras de linguagem a fim de criar efeitos no texto. Observe<br />

a oração: “Muitos entravam na casa então, devastada de dono”. Nela, Rosa brinca com a<br />

linguagem: a casa estaria tão repleta de gente estranha, que já não existiria mais um<br />

“dono”. O trecho inteiro se passa na casa da mãe desamparada e toda a descrição do<br />

cenário gira em torno do que essa mãe sente em relação ao ocorrido. “Ela continha na<br />

mão lembrança de criança, a chupeta seca.” – esta oração exprime o que a moça trazia<br />

na mão (chupeta seca) em função do que ela trazia em seus sentimentos (lembrança de<br />

criança). O texto apresenta, ainda, momentos nos quais o foco do narrador recai sobre<br />

os pensamentos da mãe: “o filho, abaixo de ano, requeria seus afagos”. Neste trecho, a<br />

fala do narrador expressa um pensamento que pertence à mãe. Dizemos que nestes<br />

momentos o narrador é onisciente.<br />

Tome Nota!<br />

Narrador onisciente é quando a voz do narrador traduz a voz da personagem,<br />

de forma que o narrador conhece e expressa os pensamentos, desejos e sentimentos de<br />

algum personagem da história.<br />

moderno:<br />

Mas os contos possuem formatos muitos varia<strong>dos</strong>. Veja agora um conto<br />

Texto 2: O ciclista<br />

Curvado no guidão lá vai ele numa chispa. Na esquina dá com o sinal vermelho<br />

e não se perturba – levanta vôo bem na cara do guarda crucificado. No labirinto urbano<br />

persegue a morte como trim-trim da campainha: entrega sem derreter sorvete a<br />

domicílio.<br />

30


http://www.cinevideo.com.br/images/e<br />

p9_dalton.jpg<br />

É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio<br />

acorrentado ao pedal. Indefeso homem, frágil máquina, arremete impávido colosso,<br />

desvia de fininho o poste e o caminhão; o ciclista por muito favor derrubou o boné.<br />

Atropela gentilmente e, vespa furiosa que morde, ei-lo defunto ao perder o ferrão.<br />

Guerreiros inimigos trituram com chio de pneus o seu diáfano esqueleto. Se não se<br />

estrebucha ali mesmo, bate o pó da roupa e – uma perna mais curta – foge por entre<br />

nuvens, a bicicleta no ombro.<br />

Opõe o peito magro ao pára-choque do ônibus. Salta a poça d´água no asfalto.<br />

Num só corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão.<br />

Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem. Enfrenta o<br />

sono trim-trim a pé e, na primeira esquina, avança pelo céu na contramão, trim-trim.<br />

TREVISAN, Dalton. O ciclista. In: BOSI, Alfredo. O Conto Brasileiro<br />

Contemporâneo. 11. ed. São Paulo: Cultrix, 1995. p. 189.<br />

Quem é Dalton Trevisan<br />

Dalton Trevisan nasceu em Curitiba a 14 de junho de 1925. Diplomou-se pela<br />

Faculdade de Direito do Paraná. Fundou na sua cidade uma das revistas literárias mais<br />

importantes da década de 40, Joaquim. Começou a<br />

editar os seus contos em folhetos que lembram a<br />

literatura de cordel. A partir de 1959, com a<br />

publicação das Novelas Nada Exemplares, a sua<br />

obra passa a ter repercussão nacional. Atualmente<br />

vive em Curitiba e não dá entrevistas: é um autor<br />

que não gosta de publicidade.<br />

No conto acima, toda a narrativa acontece em função da forma como o ciclista se<br />

comporta – sua forma de pedalar, os riscos que corre quando está na rua, etc. Apesar de<br />

ser um conto curto, não deixa de possuir uma ação e personagens bem defini<strong>dos</strong> (o<br />

ciclista andando na rua com sua bicicleta). O segredo da brevidade deste conto está no<br />

uso constante que seu autor faz de metáforas: “Na esquina dá com o sinal vermelho e<br />

não se perturba – levanta vôo bem na cara do guarda crucificado”.<br />

31


Certamente podemos dizer que os dois textos acima são muito diferentes. Apesar<br />

<strong>dos</strong> autores terem nascido em épocas relativamente próximas, observamos que as<br />

narrativas diferem muito quanto ao tipo de tema, descrição, tempo narrativo, linguagem,<br />

extensão, etc. Apesar de tais diferenças, considera-se que ambos pertencem ao mesmo<br />

gênero: o conto. Como pode ser<br />

A estrutura do conto<br />

É possível observar nos contos a presença de uma estrutura característica, o que<br />

nos colocaria próximos, senão de uma definição precisa, ao menos de um conjunto de<br />

princípios <strong>aos</strong> quais os contos geralmente seguem: são narrativas em prosa, concisas,<br />

breves. Por conta disto, há autores que destacam como importante característica do<br />

conto a densidade, já que estes reúnem em poucas linhas uma história com início, meio<br />

e fim.<br />

Consideremos agora um conjunto de propriedades que os contos em geral<br />

apresentam. Ressaltemos, contudo, que para serem bons contos não precisam<br />

obrigatoriamente apresentar estas propriedades. Você pode fazer um texto que não se<br />

encaixe perfeitamente nestes itens que iremos expor, mas que seja um ótimo conto.<br />

Vamos apenas revisar estas propriedades que se encontram em muitos <strong>dos</strong> contos que<br />

conhecemos.<br />

1. Narração: sempre está presente, pois um conto é uma forma de narrativa. Pode<br />

estar em primeira ou terceira pessoa, não importa. Como há uma preferência pela<br />

concisão da história e concentração <strong>dos</strong> efeitos, a narrativa torna-se curta.<br />

2. Ação: o conto geralmente apresenta um único conflito, já que costuma ser uma<br />

história curta que não comportaria conflitos diversos.<br />

3. Tempo: o tempo é limitado, já que as ações são limitadas pela própria<br />

brevidade da narrativa.<br />

4. Espaço: a história costuma passar-se em um único espaço, já que não há tempo<br />

para mover os personagens por muitos cenários. Isto não quer dizer que o cenário tenha<br />

que ser único, mas apenas que sua limitação deve-se às limitações da própria ação.<br />

5. Efeito: A ação do conto converge para causar no leitor um efeito, que<br />

geralmente é o objetivo do conto. Pode ser um conto assustador, comédia, romance; não<br />

importa.<br />

32


6. Personagens: são poucas, já que isto permite que a narrativa seja mais curta.<br />

7. Descrição: os elementos descritivos costumam ser poucos. A descrição do<br />

espaço (ou ambiente) e das personagens pode ser modesta, sendo geralmente voltada<br />

para o que é exigido pela ação, ou seja, para o efeito que se deseja alcançar com o<br />

conto. Poucas vezes o conto apresenta digressões (retorno para fatos do passado) e<br />

extrapolações (inclusão de outras ações além da ação principal), já que costuma ser<br />

contido em suas reflexões. Isto, porém, não é uma regra geral, já que os contos<br />

contemporâneos muito inovaram em certas características que não eram comuns nos<br />

primeiros contos literários.<br />

8. Diálogo: costuma ser muito importante quando se trata de tornar o conto mais<br />

dinâmico. O dinamismo do diálogo pode contribuir para que se possa amplificar algum<br />

efeito desejado.<br />

9. Linguagem: geralmente é muito objetiva, visando à densidade e condensação da<br />

história. O conto pode se despir de abstrações e da preocupação com o rebuscamento, de<br />

forma que os fatos predominem na narrativa. É muito comum o uso de metáforas, como<br />

uma forma de economia da linguagem, já que através destas construímos imagens<br />

repletas de significado.<br />

A linguagem é um aspecto do conto que admitiu muitas roupagens ao longo da<br />

história, visto que a língua está sempre em transformação. Dessa forma, essa condição<br />

se transferiu para o conto, que também apresenta uma linguagem mais ou menos<br />

peculiar, de acordo com o período histórico no qual é escrito e conforme os objetivos do<br />

autor ao escrever o texto. E isso nos leva ao próximo capítulo.<br />

O que você aprendeu:<br />

Os contos são muito diferentes entre si. É muito difícil<br />

estabelecer uma definição satisfatória.<br />

As definições de conto são muito diversas, referindo-se<br />

tanto à estrutura do conto quanto a sua linguagem e<br />

extensão.<br />

O conto possui alguns elementos que o organizam, de<br />

forma a caracterizar a estrutura do gênero.<br />

33


http://www.cinemacomrapadura.com.br/filmes/imgs/irm<strong>aos</strong><br />

_grimm_filmes_2005_poster_nacional.jpg<br />

V<br />

ale a pena conferir!<br />

PARA ASSISTIR EM SALA: OS IRMÃOS GRIMM<br />

Do aclamado diretor Terry Gilliam, as aventuras <strong>dos</strong> lendários escritores de<br />

contos de fada Will (Matt Damon) e Jake Grimm (Heath<br />

Ledger), dois irmãos que viajam através da Europa de<br />

Napoleão enfrentando monstros e demônios em troca de<br />

dinheiro rápido. Mas, quando as autoridades francesas<br />

descobrem seu esquema, os trapaceiros são força<strong>dos</strong> a<br />

enfrentar uma maldição real em uma floresta encantada,<br />

onde jovens donzelas continuam a desaparecer sob<br />

circunstâncias misteriosas.<br />

Fonte: http://www.europafilmes.com.br/hotsites/osirm<strong>aos</strong>grimm/<br />

DICA DE LIVRO: O QUE É CONTO<br />

Da coleção primeiros passos, o livro “O que é conto” de Luzia<br />

de Maria é um excelente texto para quem deseja iniciar o estudo sobre<br />

a teoria do conto. Como possui uma linguagem acessível, pode<br />

inclusive ser trabalhado em sala de aula. É uma leitura muito<br />

recomendável <strong>aos</strong> adolescentes, já que além de abordar a origem do<br />

conto o livro trata também de suas características e definições.<br />

34


Atividades<br />

Atividade 1<br />

Vamos refletir sobre os textos li<strong>dos</strong> no início do capítulo. Repare no título do primeiro<br />

texto: “Sinhá secada”. Levante hipóteses: por que este título foi escolhido para o conto<br />

Leve em consideração o trecho que você leu.<br />

Resposta esperada<br />

Esta atividade tem por objetivo avaliar a interpretação que o aluno fez do texto,<br />

fazendo-o relacionar o texto ao título. O termo “secada” pode ser relacionado ao fato de<br />

que tanto chorou a mãe da criança que ela ficou “secada”. Pode-se pensar também no<br />

fato de que, ao ter seu filho tomado, a senhora perdeu o sentido de sua vida, ficando<br />

seca, ou “secada”, nas palavras do autor.<br />

Atividade 2<br />

Os textos das páginas 21 e 22 apresentam muitas semelhanças e diferenças com relação<br />

à sua estrutura e linguagem. Vamos pensar um pouco mais sobre estas características.<br />

Observe esta oração do texto 1:<br />

“Chegavam pelo mandado inconcebíveis pessoas diversas”. Qual o efeito da utilização<br />

do adjetivo “inconcebíveis” no texto<br />

Observe agora a oração do texto 2:<br />

“Curvado no guidão lá vai ele numa chispa”. Qual o efeito da expressão “numa chispa”<br />

A partir das questões acima, responda: qual figura de linguagem é recorrente nos dois<br />

textos<br />

Resposta esperada<br />

O termo “inconcebíveis pessoas” pode ser considerada expressão do quão inconcebível<br />

era a situação para a mãe ao ter o seu filho tomado. Já o termo “numa chispa” coloca em<br />

evidência a rapidez do ciclista. Esta atividade tem o objetivo de fazer o aluno notar a<br />

recorrência de metonímias e metáforas como recursos de linguagem presentes no conto.<br />

Atividade 3<br />

Observe agora o seguinte trecho, que trata das dificuldades do ciclista em meio à<br />

correria do dia-a-dia. O texto apresenta um aspecto interessante quanto à velocidade,<br />

expresso pela construção de frases curtas, que surgem no texto como flashes:<br />

“Opõe o peito magro ao pára-choque do ônibus. Salta a poça d´água no asfalto. Num só<br />

corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão.” (texto 2)<br />

Agora responda: qual o efeito de velocidade que podemos perceber no trecho acima<br />

Em que isso se relaciona com o tema do texto<br />

35


Resposta esperada<br />

No trecho acima, podemos notar que a utilização de frases curtas e em flashes faz com<br />

que o texto adquira rapidez em seus acontecimentos. Esta rapidez está relacionada com<br />

o tema do ciclista por conta do cotidiano agitado pelo qual este tem que passar,<br />

enfrentando a velocidade <strong>dos</strong> automóveis nas ruas.<br />

Atividade 4<br />

O texto abaixo foi retirado de um site da internet. Justifique, através de elementos<br />

estruturais, por que o texto abaixo não pode ser considerado um conto.<br />

Detentas são flagradas com drogas<br />

Adagoberto Baptista / Agência Anhangüera<br />

16/05/2008 - Duas detentas da Penitenciária do São Bernardo, em Campinas, foram<br />

flagradas com porções de maconha, no final da tarde de quinta-feira. Elas cumprem<br />

penas no presídio e acabaram descobertas pelas agentes penitenciárias. Uma das<br />

acusadas, Adriana Amaro do Nascimento, de 22 anos, estava com 13 porções de<br />

maconha escondidas na calcinha.<br />

A outra presa, Charliene Alves da Silva, de 25 anos, carregava um pacote com a<br />

droga a granel. As agentes ainda acharam três bilhetes com diversas anotações com as<br />

mulheres. As duas foram levadas para o plantão da Delegacia do 5º Distrito Policial<br />

(Jardim Amazonas) e autuadas em flagrante pela acusação de tráfico de entorpecentes.<br />

Resposta Esperada<br />

O texto não pode ser considerado um conto, pois se trata de um caso verídico, uma<br />

notícia de jornal. Este texto não possui o objetivo explícito de causar um efeito em seu<br />

leitor, mas sim de informá-lo. Nele, a presença de figuras de linguagem é bastante<br />

restrita.<br />

Atividade 5<br />

Pensando um pouco sobre o conceito de introspecção, leia atentamente o trecho de<br />

conto abaixo. Localize os trechos nos quais o uso de introspecção é evidente.<br />

Tome Nota:<br />

Introspecção ocorre quando o personagem se volta para seus próprios<br />

pensamentos, num ato reflexivo interno.<br />

Feliz Aniversário – Clarice Lispector<br />

(...)<br />

Na cabeceira da mesa, a toalha manchada de coca-cola, o bolo desabado, ela era<br />

a mãe. A aniversariante piscou. Eles se mexiam agita<strong>dos</strong>, rindo, a sua família. E ela era<br />

a mãe de to<strong>dos</strong>. E se de repente não se ergueu, como um morto se levanta devagar e<br />

obriga mudez e terror <strong>aos</strong> vivos, a aniversariante ficou mais dura na cadeira, e mais alta.<br />

Ela era a mãe de to<strong>dos</strong>. E como a presilha a sufocasse, ela era a mãe de to<strong>dos</strong> e,<br />

36


impotente à cadeira, desprezava-os. E olhava-os piscando. To<strong>dos</strong> aqueles seus filhos e<br />

netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho, pensou de repente como se<br />

cuspisse. Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser a carne de seu coração,<br />

Rodrigo, com aquela carinha dura, viril e despenteada. Cadê Rodrigo Rodrigo com<br />

olhar sonolento e intumescido naquela cabecinha ardente, confusa. Aquele seria um<br />

homem. Mas, piscando, ela olhava os outros, a aniversariante. Oh o desprezo pela vida<br />

que falhava. Como! Como tendo sido tão forte pudera dar á luz aqueles seres opacos,<br />

com braços moles e rostos ansiosos Ela, a forte, que casara em hora e tempo devi<strong>dos</strong><br />

com um bom homem a quem, obediente e independente, ela respeitara; a quem<br />

respeitara e que lhe fizera filhos e lhe pagara os partos e lhe honrara os resguar<strong>dos</strong>. O<br />

tronco fora bom. Mas dera aqueles aze<strong>dos</strong> e infelizes frutos, sem capacidade sequer para<br />

uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos, fracos, sem<br />

austeridade O rancor roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns<br />

comunistas. Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua<br />

família. Incoercível, virou a cabeça e com força insuspeita cuspiu no chão. (...)<br />

http://www.releituras.com/clispector_aniversario.asp<br />

Resposta esperada<br />

Espera-se que o aluno possa notar a diversidade do gênero conto, já que no caso acima o<br />

autor se utiliza da introspecção como forma de situar o leitor com relação <strong>aos</strong><br />

sentimentos da personagem. Alguns trechos que o aluno pode destacar são:<br />

“To<strong>dos</strong> aqueles seus filhos e netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho,<br />

pensou de repente como se cuspisse.”<br />

“Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser a carne de seu coração, Rodrigo, com<br />

aquela carinha dura, viril e despenteada. Cadê Rodrigo”<br />

“Como tendo sido tão forte pudera dar à luz aqueles seres opacos, com braços moles e<br />

rostos ansiosos”<br />

“Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos, fracos, sem austeridade O rancor<br />

roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas.”<br />

Atividade 6<br />

Pense em algum livro que você leu recentemente. Faça uma lista <strong>dos</strong> principais<br />

acontecimentos do livro. O desafio será transformar essa história em um conto. Para<br />

isso, siga corretamente as indicações abaixo:<br />

- Sua história deve ter apenas 3 personagens.<br />

- A ação deve se passar em um único local.<br />

- A ação deverá durar cerca de uma hora.<br />

Resposta esperada<br />

Esse trabalho de produção textual tem o objetivo de fazer com que o leitor aplique o que<br />

foi estudado sobre linguagem, espaço, efeito, densidade, etc.<br />

Atividade 7<br />

Os dois textos abaixo não são contos. Por quê Justifique sua resposta com base nos<br />

elementos estuda<strong>dos</strong>.<br />

37


http://tiras-snoopy.blogspot.com/<br />

Texto 1<br />

Texto 2<br />

“Médico de atriz global é acusado de erro médico em caso de dengue”<br />

O médico foi acusado de erro médico porque demorou a diagnosticar a doença e<br />

realizar os devi<strong>dos</strong> procedimentos médicos no combate à doença.<br />

Essa poderia ser uma manchete <strong>dos</strong> jornais desse fim de semana, mas adivinhe:<br />

não é! Hoje vemos pessoas em uma jornada subumana em busca de atendimento<br />

médico, morrendo nas portas <strong>dos</strong> hospitais públicos do Rio de Janeiro, quase que<br />

implorando por um mínimo de atendimento.<br />

O governo federal, como forma de alívio para esse c<strong>aos</strong>, trouxe em caráter de<br />

emergência algumas dezenas de médicos de outros esta<strong>dos</strong> que nem experiência possui<br />

no tratamento à dengue.<br />

Então pergunto, pode um cidadão do Rio de Janeiro, com essa demora no<br />

diagnóstico da doença, na eterna fila de espera, indo de hospital em hospital, quase que<br />

implorando para ser atendido, questionar essa atitude do Estado do Rio<br />

Sinceramente eu acredito que tenha fundamento essa demanda. Agora imagine o<br />

c<strong>aos</strong> que seria no judiciário estadual essa enxurrada de ações. Um verdadeiro desastre.<br />

Perceba, então, que um <strong>dos</strong> fatores para o aparecimento desta explosão de<br />

litigiosidade é político. No momento em que os legisladores, na criação da Constituição<br />

de 1988, massificam o acesso à saúde, dando a to<strong>dos</strong> os direitos ao acesso e impondo ao<br />

Estado o dever de prestar este serviço, eles o fazem por uma aspiração social de ter sua<br />

dignidade, de ver seu direito como ser humano atendido no que tange a sua saúde.<br />

É notável, no entanto, que o Estado universaliza o acesso, mas não cria<br />

mecanismos eficazes para a completa prestação de serviço, pois, por diversos motivos<br />

se exime da obrigação, deixando a cargo da iniciativa privada a superação das<br />

dificuldades.<br />

E o que encontramos hoje Um sistema de Saúde Pública falido e com uma<br />

demanda tal que os hospitais da rede pública não conseguem, sequer, absorver para um<br />

atendimento inicial.<br />

http://direitodomedico.blogspot.com/2008/04/mdico-de-atriz-global-acusado-de-erro.html<br />

Resposta esperada<br />

Quer-se avaliar se o aluno é capaz de diferenciar os gêneros <strong>dos</strong> dois textos acima. O<br />

primeiro é uma história em <strong>quadrinhos</strong> que traz um jogo de imagens não reconhecido<br />

como característica <strong>dos</strong> contos. Já o segundo texto trata de fatos verídicos do nosso<br />

tempo de forma objetiva, é um texto jornalístico. Ou seja, nenhum <strong>dos</strong> dois textos acima<br />

é um conto.<br />

38


Atividade 8<br />

Você viu que “A ação do conto converge para causar no leitor um efeito, que<br />

geralmente é o objetivo do conto”. Segue abaixo um trecho de conto de Allan Poe.<br />

Trata-se de um conto de terror, no qual todo o vocabulário foi pensado para criar uma<br />

situação de tensão. Identifique no texto quais palavras contribuem para a formação de<br />

um clima tenso na história.<br />

O Gato Preto – Edgar Allan Poe<br />

(...) Durante o dia o animal não me deixava um só momento. De noite, a cada hora,<br />

quando despertava <strong>dos</strong> meus sonhos cheios de indefinível angústia, era para sentir o<br />

bafo quente daquela coisa sobre o meu rosto e o seu peso enorme, encarnação de um<br />

pesadelo que eu não tinha forças para afastar, pesando-me eternamente sobre o coração.<br />

Sob a pressão de tormentos como estes, os fracos resquícios do bem que havia em mim<br />

desapareceram. Só os pensamentos pecaminosos me eram familiares - os mais sombrios<br />

e os mais infames <strong>dos</strong> pensamentos. A tristeza do meu temperamento aumentou até se<br />

tornar em ódio a tudo e à humanidade inteira. Entretanto, a minha dedicada mulher era a<br />

vítima mais usual e paciente das súbitas, freqüentes e incontroláveis explosões de fúria a<br />

que então me abandonava cegamente.<br />

Um dia acompanhou-me, por qualquer afazer doméstico, à cave do velho<br />

edifício onde a nossa pobreza nos forçava a habitar. O gato seguiu-me nas escadas<br />

íngremes e quase me derrubou, o que me exasperou até à loucura. Apoderei-me de um<br />

machado, e desvanecendo-se na minha fúria o receio infantil que até então tinha detido<br />

a minha mão, desferi um golpe sobre o animal, que seria fatal se o tivesse atingido<br />

como eu queria. Mas o golpe foi sustido diabolicamente pela mão da minha mulher.<br />

Enraivecido pela sua intromissão, libertei o braço da sua mão e enterrei-lhe o machado<br />

no crânio. Caiu morta, ali mesmo, sem um queixume.<br />

http://www.apocalipse2000.com.br/contos06.htm<br />

Resposta esperada<br />

Pode-se dizer que contribuem para a formação de um clima tenso as palavras: angústia,<br />

encarnação, pesadelo, tormentos, pecaminosos, sombrios, infames, tristeza, ódio,<br />

vítima, fúria, pobreza, loucura, golpe, fatal, diabolicamente, enraivecido, crânio e morta.<br />

Atividade 9<br />

O texto abaixo é um trecho do livro “Laços de Família”, de Clarice Lispector. Leia-o<br />

atentamente e grife os momentos nos quais fica evidente o narrador onisciente.<br />

(...)<br />

O trem não partia e ambas esperavam sem ter o que dizer. A mãe tirou o espelho<br />

da bolsa e examinou-se no seu chapéu novo, comprado no mesmo chapeleiro da filha.<br />

Olhava-se compondo um ar excessivamente severo onde não faltava alguma admiração<br />

por si mesma. A filha observava divertida. Ninguém mais pode te amar senão eu,<br />

pensou a mulher rindo pelos olhos; e o peso da responsabilidade deu-lhe à boca um<br />

gosto de sangue. Como se "mãe e filha" fosse vida e repugnância. Não, não se podia<br />

dizer que amava sua mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o espelho na<br />

bolsa, e fitava-a sorrindo. O rosto usado e ainda bem esperto parecia esforçar-se por dar<br />

<strong>aos</strong> outros alguma impressão, da qual o chapéu faria parte. A campainha da Estação<br />

tocou de súbito, houve um movimento geral de ansiedade, várias pessoas correram<br />

pensando que o trem já partia: mamãe! disse a mulher. Catarina! disse a velha. Ambas<br />

se olhavam espantadas, a mala na cabeça de um carregador interrompeu-lhes a visão e<br />

39


um rapaz correndo segurou de passagem o braço de Catarina, deslocando-lhe a gola do<br />

vestido. Quando puderam ver-se de novo, Catarina estava sob a iminência de lhe<br />

perguntar se não esquecera de nada...<br />

Texto extraído do livro "Laços de Família", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1998, pág. 94.<br />

Resposta esperada<br />

Pode-se dizer que o narrador onisciente é evidente em orações como:<br />

“Olhava-se compondo um ar excessivamente severo onde não faltava alguma admiração<br />

por si mesma.”<br />

“A filha observava divertida.”<br />

“Não, não se podia dizer que amava sua mãe.”<br />

“Catarina estava sob a iminência de lhe perguntar se não esquecera de nada.”<br />

Atividade 10<br />

Agora você será o autor: Leia o poema abaixo, e pense sobre a história que ele conta.<br />

Transforme agora a história do poema em um conto. Atenção! Ele poderá ter no<br />

máximo 50 linhas! Procure utilizar as figuras de linguagem que você conhece.<br />

Aprende…<br />

Tu encontrarás sempre no teu caminho<br />

alguém para a lição de que precisas.<br />

Aprende, mesmo que não queiras.<br />

A boa lição… Alguém sempre a precisar.<br />

Feliz é o que aprende.<br />

Errar é humano, diz a sabedoria popular.<br />

Insistir no erro é obstinação.<br />

Pecado contra o Espírito Santo.<br />

Aquele que reconhece seu erro,<br />

está no caminho da perfeição.<br />

Aquele que confessa e se arrepende,<br />

caminha para a salvação.<br />

Reconhece teu erro.<br />

Mesmo que custe muito,<br />

ao te orgulho e vaidade.<br />

Jamais justifique o errado.<br />

“Fulano foi o culpado.”<br />

Arrepender e reparar<br />

é o caminho certo<br />

da Paz espiritual.<br />

Um dia, um salteador,<br />

condenado ao suplício,<br />

reconheceu seus erros,<br />

e justificou o inocente.<br />

E o que aconteceu com ele<br />

Poema extraído do livro “Vintém de Cobre, Meias Confissões de Aninha”, 4ª edição, editora UFG, p.197<br />

40


O Conto<br />

Contemporâneo<br />

N<br />

os capítulos anteriores pudemos conhecer e entender um pouquinho sobre o<br />

surgimento do conto e os principais aspectos estruturais que o diferenciam<br />

de uma novela ou mesmo de um romance. Pois bem, neste capítulo, vamos<br />

conhecer mais de perto a produção de contos e como o contexto histórico pode influenciar<br />

nesta produção. E mais que isso, focalizaremos a nova forma de se fazer contos face à<br />

modernidade e o desafio do contista diante desse novo mundo, tecnológico e rápido. No<br />

entanto, é importante lembrar que os aspectos do conto que serão discuti<strong>dos</strong> aqui não valem<br />

como regra geral, pois não é possível enquadrar os contos contemporâneos num mesmo<br />

formato pré-determinado.<br />

O conto contemporâneo se diferencia muito <strong>dos</strong> contos de outras épocas. Isso ocorre<br />

porque o foco muda conforme o período histórico e social da escrita <strong>dos</strong> textos.<br />

“Não se cogita mais de produzir (nem de usar como categorias) a Beleza, a Graça, a<br />

Simetria, a Harmonia. O que vale é o Impacto, produzido pela habilidade ou a Força.<br />

Não se deseja emocionar o leitor nem suscitar contemplação, mas causar choque”. 1<br />

Notaremos no decorrer desta unidade, que nas últimas décadas os autores passaram a<br />

buscar maior impacto sobre os leitores por meio de seus contos. E esse impacto, conforme<br />

Antônio Cândido, passou a ser produzido por meio de uma habilidade lingüística, que se<br />

caracteriza pelo uso mais freqüente de determinadas figuras de linguagem com o objetivo de<br />

obter algum efeito.<br />

Vamos iniciar nossa reflexão com textos que pertencem mais à nossa<br />

contemporaneidade!<br />

1 CÂNDIDO, A. “Os brasileiros e a literatura latino-americana”, in: Novos estu<strong>dos</strong> CEBRAP, SP. vol. 1, dez. 81, p. 67<br />

41


http://pro.corbis.com/search/searchFrame.aspx<br />

U<br />

m pouco de história<br />

“De como estrangular um general”<br />

O conto “De como estrangular<br />

um general” conta a história de um cidadão<br />

comum que em uma determinada situação<br />

sente um desejo de estrangular o general.<br />

Ele que quando criança admirava e<br />

respeitava as autoridades militares, agora<br />

queria matar o general. Américo, esse era o<br />

nome do cidadão, sonhava dias e noites<br />

preso àquele pesadelo. Finalmente, aquele<br />

período de aprisionamento e tortura<br />

psicológica passa. Américo sente-se mais<br />

feliz. Até que vê na rua o general, não<br />

magro como em seus “sonhos”, mas gordo.<br />

Ele não hesita, troca algumas palavras com<br />

o sarcástico general: “E Américo soube<br />

então que aquela era a hora, e que depois<br />

dela nada mais haveria”.<br />

- Eu te matei noites e noites<br />

seguidas, no escuro do meu quarto – disse<br />

Américo.<br />

- Verdade – resmungou o general<br />

com voz de escárnio.<br />

- Sim, verdade – disse<br />

Américo retirando a faca do bolso e<br />

enterrando-a toda naquela enorme barriga<br />

fofa. Porque o general crescera, pensou<br />

sarcasticamente, e ele não seria nenhum<br />

idiota para julgar-se forte o suficiente para<br />

matá-lo apenas com as duas fracas e débeis<br />

mãos”.<br />

De como estrangular um general<br />

Poderia muito bem sonhar que matava um médico, um<br />

jornalista, um deputado, ou até mesmo um senador. Um dia<br />

chegou a pensar que poderia esfaquear ou balear o presidente da<br />

República, mas nunca um general. Porque um general – pensava<br />

Américo – é sempre um general.<br />

Até que um dia lhe disseram que também o<br />

presidente da República era um general. Américo sentiu um<br />

calafrio percorrer-lhe a espinha e encolheu-se todo. Aquilo era<br />

terrível.<br />

Américo era um homem tímido e temeroso,<br />

embora grande como um hipopótamo. Suas mãos eram<br />

desajeitadas, mas no sonho, dançavam ágeis e jeitosas em torno<br />

do pescoço militar. Quando acordava, porém, olhava para estas<br />

mãos e algo lhe dizia que as mãos do sonho não eram as suas.<br />

42


Mas eram. Eram as suas mãos e um dia talvez ele não pudesse jamais dominá-las.<br />

Também isto o torturava. Porque um dia, por exemplo, poderia estar caminhando por uma rua deserta,<br />

tranqüilo, quem sabe até assobiando o Hino Nacional Brasileiro. E de repente, o general. Sim, o<br />

general, o general bem ali à sua frente, disponível e magro.<br />

E então ele avançaria sobre aquela frágil e verde farda. O general abriria muito os<br />

olhos, ergueria as mãos frágeis e finas para detê-lo e seria inútil. Porque ele avançaria com seu grande<br />

corpo sobre aquela repelente figura verde e, pouco a pouco, suas manzorras descontroladas bailariam<br />

ao som de uma vaga música em torno daquele pescoço fino como um lápis.<br />

O general tentaria ainda detê-lo com uma ridícula voz de comando, e ele riria muito e<br />

apertaria com quase carinho aquele pescoço ridículo. Descansaria ali as suas duas mãos e nada faria,<br />

porque o medo que invadiria os olhos do general lhe daria prazer. E só depois, quando o general<br />

estivesse suando e tivesse borrado todas as calças ele apertaria as mãos com força. Para partir, de um<br />

só golpe, aquele miserável pescoço.<br />

EMEDIATO, Luiz Fernando. De como estrangular um general. In: Trevas no Paraíso – histórias de amor<br />

e guerra nos anos de chumbo. São Paulo: Geração Editorial, 2004.<br />

U<br />

m pouco de história<br />

“Os Homens que Descobriram as Cadeiras Proibidas”<br />

Uma família se reunia em um jantar,<br />

quando de repente alguns “homens” entram na<br />

casa e a vasculham. Os homens encontram<br />

uma cadeira na cozinha, segundo eles, ela não<br />

deveria estar ali. Os homens então intimam o<br />

dono da casa a ir prestar depoimento em uma<br />

delegacia, ao mesmo tempo em que tenta<br />

convencer o cidadão de que eles nunca<br />

estiveram ali. A partir daí o cidadão começa a<br />

questionar e refletir sobre aquela situação, o<br />

que acaba por confundir os homens que<br />

daquela situação nada têm a explicar: Por que<br />

estariam ali Por que o cidadão precisaria<br />

prestar depoimento<br />

COTIDIANO: Os Homens que Descobriam Cadeiras Proibidas<br />

Os homens não bateram, porque há muito naquela cidade, ou país, a polícia não precisava<br />

bater para entrar. Não traziam manda<strong>dos</strong> judiciais, há muito os manda<strong>dos</strong> tinham perdido a razão de<br />

ser. Não havia um estado de direito.<br />

Os homens entraram, atravessaram a sala onde a família jantava, até então tranqüilamente.<br />

43


http://cartoonices.files.wordpress.com/20<br />

07/05/cadeira-2.jpg<br />

Inspeção de rotina, comunicou o chefe <strong>dos</strong> homens que<br />

tinham entrado.<br />

Fiquem à vontade, disse o dono da casa, voltando para<br />

terminar a sopa, indiferente à súbita invasão. A indiferença<br />

significava apenas impotência.<br />

Os homens vasculharam a sala, os quartos, o banheiro,<br />

o quarto das crianças, a cozinha, a área de serviço e o quarto da<br />

empregada. Quarto Aqueles cubículos, senzalas que as<br />

imobiliárias fazem.<br />

Voltaram da cozinha com uma cadeira branca de fórmica.<br />

–Vamos levar essa cadeira. Amanhã o senhor apareça para prestar depoimento.<br />

–Não sei como ela apareceu aí. Tínhamos vendido.<br />

Não queremos saber. A cadeira estava na cozinha.<br />

“Talvez eles mesmos tenham trazido e colocado lá”, pensou o homem. Pensou, com medo que<br />

o outro percebesse o que ele estava pensando. Os pensamentos estavam proibi<strong>dos</strong> há muito,<br />

principalmente pensamentos que colocassem em dúvida, ou em cheque, as ações <strong>dos</strong> homens.<br />

BRANDÃO, Ignácio de Loyola: COTIDIANO: Os Homens que Descobriam Cadeiras Proibidas In: BRANDÃO, Ignácio de Loyola.<br />

Cadeiras Proibidas. 10. Ed. São Paulo: Global, 2003. P. 11-17<br />

A respeito <strong>dos</strong> textos acima pudemos observar que eles partilham de um mesmo<br />

contexto histórico e social de produção: a ditadura militar.<br />

Tome Nota<br />

O Regime Militar no Brasil foi um governo instaurado em 1964, após um golpe dado<br />

pelas Forças Armadas contra o governo do presidente João Goulart. Foi um período marcado<br />

por governantes que abusavam do poder e pode ser caracterizado pela violência e censura.<br />

Jornalistas, artistas ou pessoas comuns não podiam criticar o governo ou expressar uma<br />

opinião contrária, pois se o fizessem sofreriam opressão. Assim, as liberdades individuais<br />

foram suprimidas. O momento mais forte desse regime é caracterizado pela instituição do AI-<br />

5 que permitiu ao governo intervir nos esta<strong>dos</strong> sem levar em consideração a Constituição, a<br />

cassar mandatos eletivos e a suspender por 10 anos os direitos políticos de qualquer cidadão.<br />

Muitos músicos, escritores e demais artistas tiveram que se exilar em outros países ou,<br />

caso quisessem permanecer no Brasil, teriam que driblar a censura por meio de uma<br />

linguagem camuflada. Esse período da política brasileira perdurou até 1985.<br />

http://www.jornallivre.com.br/225524/o-que-foi-a-ditadura-militar-brasileira.html (acesso em 29/09/2008)<br />

Observe que os dois contos remetem ao período de repressão característico de um<br />

governo ditatorial. Quais elementos observa<strong>dos</strong> nos textos podem evidenciar isso<br />

42


Partindo de princípios semânticos, isto é, das mudanças de significação das palavras<br />

no tempo e no espaço, podemos pensar sobre a forma por meio da qual a autoridade é<br />

retratada. No primeiro texto isso se dá na figura de um homem com um desejo quase<br />

inconsciente de matar um general; no segundo fragmento, autoridades invadem a casa de um<br />

cidadão comum, intimando-o a comparecer numa delegacia para prestar depoimento.<br />

Podemos dizer que em ambos a autoridade não é vista como algo positivo e respeitoso, mas<br />

sim como uma instância abusiva.<br />

É possível constatar ainda que a linguagem teve um papel fundamental nos textos do<br />

período, pois ela foi o instrumento de expressão <strong>dos</strong> escritores brasileiros contra a repressão<br />

da época.<br />

Note que um ponto interessante e comum entre alguns escritores dessa época é que sua<br />

forma de expressão não estava propriamente no que era dito, mas sim na maneira como era<br />

dito. Geralmente, os contistas lançavam mão das figuras de linguagem para dizer o não<br />

dizível, naquele momento, no intuito de burlar a censura. Exemplo retirado do texto de<br />

Emediato:<br />

“(...) pouco a pouco, suas manzorras* descontroladas bailariam ao som de uma vaga música em torno<br />

daquele pescoço fino como um lápis”.<br />

* mão grande<br />

Neste trecho, você pode notar que o autor fala de um estrangulamento de uma forma<br />

quase poética. Isto se dá por meio do eufemismo, uma figura da linguagem que nos permite<br />

falar de determina<strong>dos</strong> fatos, geralmente ruins, de forma leve. No caso, descreve-se a morte do<br />

general como uma dança. Além disso, compara-se seu pescoço a um lápis como uma forma<br />

de evidenciar a fragilidade física do general frente ao narrador, o qual apresenta como sendo<br />

“grande como um hipopótamo” (como pode ser visto no texto lido) – figuras de comparação.<br />

Nota-se também que a linguagem <strong>dos</strong> contos pode ser fragmentada, ou seja, a história<br />

não obedece necessariamente a uma ordem cronológica, em contraste com certa linearidade e<br />

descrição detalhada, minuciosa de outros contos. Além disso, trabalha-se com elipses,<br />

supressões, saltos, deixando subentendi<strong>dos</strong> alguns da<strong>dos</strong> e pressupondo a compreensão do<br />

leitor que preencherá as lagunas deixadas.<br />

Veja um exemplo abaixo:<br />

“Ela subiu sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas<br />

espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um<br />

mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da<br />

tarde”.<br />

43


TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr do sol. In: TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr do sol e outros contos. 19. ed. São<br />

Paulo: Ática, 2001. p. 26.<br />

Apesar de Telles ser uma autora do século XX, seu estilo é extremamente descritivo e<br />

detalhista, diferindo muito de Emediato e Brandão, autores <strong>dos</strong> textos li<strong>dos</strong> no início desta<br />

unidade. Enquanto Telles desenvolve seu conto de acordo com a ordem natural <strong>dos</strong> fatos: a<br />

personagem sobe a ladeira e conforme avança, vê as crianças brincando, concluindo que essas<br />

crianças eram o único sinal de vida presente na quieta rua, Emediato apresenta a história do<br />

homem, que divaga por meio de pensamentos e sonhos, movido pela vontade de matar o<br />

general. Ou seja, Américo representa um misto de sonho e realidade que se alternam ao longo<br />

do texto. Essa alternância faz com que tenhamos a impressão de uma leitura não linear.<br />

Este é um exemplo da diferença entre contos de uma mesma época os quais<br />

demonstram que não podemos classificar to<strong>dos</strong> os autores contemporâneos numa mesma<br />

“receita”.<br />

Para muitos autores o importante é retratar de forma “nua e crua” as sujeiras da<br />

sociedade, como foi o caso de alguns contos de Dalton Trevisan, autor do livro O Vampiro de<br />

Curitiba. O autor opta por uma precisão total em sua obra ao descrever as “micro-sujeiras” da<br />

burguesia curitibana.<br />

Assim, a organização do conto contemporâneo pode permanecer a mesma, mas a<br />

linguagem se modifica muito, adequando-se ao contexto histórico, social, cultural, etc.<br />

E então, você consegue observar como há uma grande variedade na forma de<br />

linguagem entre os autores mais recentes Outro exemplo:<br />

“Veja, parou um carro. Ela vai descer. Colocar-me em posição. Ai, querida, não faça isso, eu vi tudo.<br />

Disfarce, vem o marido (...) Esse aí é um <strong>dos</strong> tais Puxa, que olhar feroz. Alguns preferem é o rapaz, seria capaz<br />

de Deus me livre, beijar outro homem, ainda mais de bigode e catinga de cigarro”<br />

TREVISAN, Dalton. O vampiro de Curitiba. In: Os cem melhores contos brasileiros do século. p. 252-254<br />

Em relação à construção acima, repare que há um intenso diálogo entre as personagens<br />

sendo que quase não há marcação nas falas das mesmas: a pontuação é escassa, não havendo<br />

parágrafos ou travessões, o que reflete uma situação caótica, de confusão... Esta é uma outra<br />

forma de se utilizar a linguagem para obter um determinado efeito. Através do que se poderia<br />

chamar de um discurso “direto livre”, no qual não há marcações formais de diálogo, o escritor<br />

pôde retratar uma situação de conflito.<br />

Vamos refletir mais um pouco:<br />

44


“Na embarcação desconfortável, tosca, apenas quatro passageiros. Uma lanterna nos iluminava com sua<br />

luz vacilante: um velho, uma mulher com uma criança e eu.”<br />

TELLES, Lygia Fagundes. Natal na barca. In: TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr do sol e outros contos. 19. ed. São<br />

Paulo: Ática, 2001. p. 20<br />

Encontramos aqui uma figura de linguagem freqüentemente utilizada por estes<br />

escritores: a elipse. Trata-se da omissão de um termo cujo sentido já está subentendido. No<br />

caso do exemplo acima podemos notar que o verbo foi omitido, ou seja, a escritora poderia ter<br />

escrito: “Na embarcação desconfortável, tosca, havia apenas quatro passageiros (...)”. Você<br />

sabe por que ela omitiu o verbo Vejamos outro exemplo de cortes abruptos e uso de elipses<br />

para percebermos isso:<br />

“Ter, haver. Uma sombra no chão, um seguro que se desvalorizou, uma gaiola de passarinho. Uma<br />

cicatriz de operação na barriga e mais cinco invisíveis, que doem quando chove. Uma lâmpada de cabeceira, um<br />

cachorro vermelho, uma colcha e os seus retalhos. Um envelope com fotografias, não aquele álbum. Um canto<br />

de sala e o livro marcado”.<br />

RAMOS, Ricardo. Circuito Fechado (4). In: BOSI, Alfredo. O Conto Brasileiro Contemporâneo. 11. ed. São Paulo: Cultrix,<br />

1997. p. 259.<br />

A partir desse exemplo, podemos pensar em alguns porquês para o uso da elipse no<br />

conto moderno. Muitos consideram a elipse como um elemento importante da construção<br />

literária, visto que gera a aceleração do ritmo da linguagem no conto. Além disso, o uso de<br />

elipses contribui para uma linguagem mais expressiva e entrecortada, como flashes, já que<br />

esta forma de expressão chama a atenção do leitor para a sucessão <strong>dos</strong> acontecimentos, ao<br />

mesmo tempo em que sugere pistas para o significado das seqüências construídas. Como<br />

podemos perceber no trecho acima, os verbos “ter” e “haver” que aparecem no início aplicamse<br />

a todas as orações que vêm na seqüência.<br />

O tamanho do texto é também um motivo significativo para o emprego dessa figura de<br />

linguagem, afinal, muitas vezes o escritor terá um espaço relativamente limitado para<br />

transmitir ao leitor o efeito desejado, utilizando então a elipse como uma forma de tornar seu<br />

texto mais econômico. O mais intrigante é saber que o desafio <strong>dos</strong> contistas está em fazer com<br />

que seus textos transmitam o máximo usando o mínimo de palavras. E será exatamente isso<br />

que veremos no próximo capítulo. A busca <strong>dos</strong> autores pelo enxugamento do texto: o menor e<br />

mais completo.<br />

45


http://images.google.com.br<br />

O que você aprendeu<br />

Os contos contemporâneos tendem causar diferentes efeitos no leitor por<br />

meio de uma linguagem:<br />

Entrecortada, violenta ou velada (décadas de 60 e 70)<br />

Figuras de linguagem – eufemismo, comparação, elipses. A fim de<br />

atingir objetivos como precisão (dizer o máximo no mínimo), concisão,<br />

ou mesmo causar algum impacto no leitor<br />

Os contos contemporâneos abarcam uma grande variedade de estilos. Não há<br />

uma receita para ser um autor contemporâneo.<br />

V<br />

ale a pena conferir – livros sobre contos contemporâneos<br />

“Um passeio pela mais deliciosa e contundente ficção curta produzida no Brasil<br />

entre 1900 e o fim <strong>dos</strong> anos 90. Uma antologia capaz de traduzir as mudanças do<br />

país e as inquietações de várias gerações de brasileiros, em cem anos de produção<br />

literária. A prova de que a arte do gênero não cessa de melhorar em nossa<br />

literatura”.<br />

http://www.objetiva.com.br/objetiva/cs/q=node/482<br />

46


Atividades<br />

Atividade 01<br />

Agora que você leu os contos, volte ao primeiro deles. Observe atentamente o título dado à<br />

história: “De como estrangular um general”. Note que a oração é iniciada por uma preposição<br />

(“de”) seguida de uma conjunção (“como”). Levante hipóteses: Qual (ou quais) efeito (s) de<br />

sentido traz esta expressão para o texto<br />

Resposta esperada<br />

Nesta atividade, pretendemos que o leitor reflita sobre os efeitos de sentido e direcionamento<br />

que a elaboração de um título pode acarretar para a leitura de um texto. No caso do conto da<br />

atividade, esperamos que o leitor perceba que a expressão “de como” traz um sentido de<br />

instrução: como se o tema do conto fosse uma receita que nos ensinasse a estrangular um<br />

general.<br />

Atividade 02<br />

Agora que você refletiu sobre os possíveis senti<strong>dos</strong> do título, elabore um texto estabelecendo<br />

uma relação entre o título e a história deste conto: de que modo o primeiro reafirma/contradiz<br />

o segundo e vice-versa<br />

Resposta esperada<br />

É esperado que o leitor perceba a dissonância entre a idéia de método que o título traz e a<br />

história do conto em si, que narra o drama de uma personagem que sonha com o<br />

estrangulamento de um general, ocorrendo uma mistura do universo racional (título) com o<br />

onírico (história).<br />

Atividade 03<br />

O conto de Loyola Brandão se inicia pela presença de uma cadeira encontrada por homens na<br />

cozinha, que segundo eles não deveria estar ali. A cadeira, no entanto, pode ser apenas uma<br />

metáfora... Reflita então o que a cadeira pode estar representando neste conto.<br />

Resposta esperada<br />

O leitor deverá refletir sobre o que simboliza a cadeira, diante da situação de invasão de<br />

propriedade e suspensão <strong>dos</strong> direitos do cidadão, expressos no conto. A cadeira pode ser<br />

qualquer livro, propriedade do cidadão, que represente na visão do governo ditatorial alguma<br />

ameaça.<br />

Atividade 04<br />

Ao longo do capítulo pudemos notar alguns aspectos da ditadura por meio das análises <strong>dos</strong><br />

contos que se referem a este contexto. Esta ilustração remete a uma marcante característica do<br />

período. Comente tal característica e se preciso recorra ao seu material de história.<br />

47


http://farm1.static.flickr.com/218/4910<br />

26494_12858ca537.jpg<br />

Resposta esperada<br />

Espera-se que o aluno comente sobre a supressão da liberdade de expressão e a repressão que<br />

sofria quem ousasse dizer o que pensava a respeito do regime. Em relação <strong>aos</strong> olhos tapa<strong>dos</strong>,<br />

espera-se que se diga que o individuo para não ser apanhado pela censura devia ser um<br />

alienado ou fingir/ tentar não ver as atrocidades e o excesso de autoridade da ditadura. Era<br />

necessário não ver para não falar mal ou se rebelar. Essa é uma atividade interdisciplinar que<br />

visa à pesquisa.<br />

Atividade 05<br />

Agora que você conheceu alguns aspectos do conto contemporâneo, identifique quais das<br />

características discutidas neste capítulo se encontram presentes no trecho abaixo. Justifique<br />

sua resposta com base no que você leu no decorrer do capítulo.<br />

Presença da tragédia<br />

Se alguém me matasse. Se eu fosse abatido a tiros por uma amante, pelo marido de uma de minhas<br />

amantes, por um neurótico pela fama, por um serial killer americano que tivesse vindo ao Brasil, pelo<br />

engano de um traficante, por um assaltante num cruzamento, por uma das milhares de balas perdidas<br />

que cruzam a cidade, por uma dessas motos enraivecidas que alucinam o trânsito, por um colega de<br />

profissão inconformado com a minha fama. Se morresse em uma inundação, atingido por um raio ou<br />

por uma árvore derrubada por um vendaval. Por um remédio com data vencida, por uma comida<br />

estragada. Uma tragédia noticiada por toda a mídia, alimentada e realimentada, provocando manchetes<br />

vorazes, devoradas com prazer pelo público e construindo a minha legenda. Melhor que fosse algo<br />

misterioso. O noticiário duraria mais tempo, o caso seria revisto por curiosos dispostos a desvendar<br />

enigmas. Provocar a necessidade de uma autópsia, de exumação. Ser o enigma do século seria a minha<br />

glória. Se eu tivesse essa certeza, não me incomodaria de estar morto.<br />

(9.10.2000)<br />

BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O Anônimo, Cadernos de Literatura Brasileira - Instituto Moreira<br />

Salles - São Paulo, nº. 11, Junho de 2001, pág. 98.<br />

Resposta esperada<br />

O leitor deverá aplicar em um outro texto os aspectos que conseguiu identificar nos textos<br />

li<strong>dos</strong> nesse capítulo. Algumas vezes, esses aspectos se repetem em outros textos do mesmo<br />

período, como é o caso desse conto.<br />

48


http://pro.corbis.com/search/searchFr<br />

ame.aspx<br />

Atividade 06<br />

Agora é sua vez! Com base em tudo que você viu até agora sobre o conto, observe essa<br />

imagem e faça dela um conto contemporâneo, utilizando to<strong>dos</strong> os recursos vistos que julgar<br />

necessário.<br />

Resposta esperada<br />

Através dessa produção textual, o leitor poderá praticar o conteúdo trabalhado no capítulo: as<br />

metáforas, elipses, eufemismo, o ritmo da linguagem... Definitivamente esta é uma<br />

oportunidade de produção de um gênero diferente.<br />

Atividade 07<br />

Vamos pensar mais um pouco a respeito <strong>dos</strong> autores contemporâneos... Leia o texto abaixo:<br />

Ignácio de Loyola Brandão – Entrevista<br />

Como você vê o papel do escritor no mundo hoje<br />

O escritor deve escrever. Uns escrevem por escrever, fazendo disso uma arte pela arte.<br />

Bonitos e vazios. Outros, colocam a arte também em função de alguma coisa, dando importância ao<br />

homem em si. Acho que o escritor deve retratar seu tempo, apontar os furúnculos, tumores e alegrias.<br />

E também oferecer divertimento, distração.<br />

BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Entrevista. O Homem do Furo na Mão e Outras Histórias. São<br />

Paulo: Ática, 1987. p. 5. (Rosa <strong>dos</strong> Ventos)<br />

Agora reflita: qual poderia ser o papel do escritor contemporâneo Quais temas você<br />

considera que seriam interessantes de se trabalhar num conto considerando o contexto<br />

histórico e social do nosso tempo<br />

Resposta esperada<br />

Essa atividade busca fazer com que o leitor relacione os contos li<strong>dos</strong> ao seu presente e ao seu<br />

próprio contexto social.<br />

49


Atividade 08<br />

Como foi demonstrado nesse capítulo, as figuras de linguagem contribuem com o autor no<br />

sentido de atribuírem determinado sentido ao texto ou causarem alguma reação no leitor.<br />

Pesquise na biblioteca ou na internet (você encontrará apenas trechos) outros contos que se<br />

utilizem desse recurso, a figura de linguagem. Não se limite a contos contemporâneos, você<br />

pode e deve buscar contos fantásticos, de terror ou mesmo nos contos de fadas. Esta será uma<br />

oportunidade de colocar em prática o que você aprendeu nos capítulos anteriores e conhecer<br />

muitos outros contos...<br />

Resposta esperada<br />

Estimular a pesquisa e a comparação entre diferentes contos e contistas, bem como a<br />

possibilidade de trabalho com a linguagem e com os senti<strong>dos</strong> através do emprego das figuras<br />

de linguagem. Muito mais que decorar ou dar nomes, é necessário que se compreenda o por<br />

quê da utilização desse recurso.<br />

Atividade 09<br />

Reescreva o conto presente no Anexo 1, na página 80, atribuindo-lhe características<br />

contemporâneas como as estudadas no capítulo 2. Sinta-se livre para alterar o tamanho do<br />

texto ou mesmo o desenrolar da história. Agora, você é o autor.<br />

* O conto encontra-se após a atividade 10.<br />

Resposta esperada<br />

O leitor terá a oportunidade de se colocar no lugar do autor, percebendo que para escrever um<br />

conto é necessário muito mais do que inspiração é necessário um grande trabalho com a<br />

linguagem.<br />

Atividade 10<br />

Geralmente, quando um filme é lançado no cinema podemos ver em jornais e revistas textos<br />

falando sobre eles. Algumas pessoas inclusive procuram no jornal para saber se determinado<br />

filme é bom ou não. Isso também acontece na literatura, o nome dado para isso é crítica<br />

literária. São textos um pouco mais longos, depende do crítico, do que a crítica de cinema, por<br />

exemplo, e são muito interessantes para sabermos as opiniões de outras pessoas sobre<br />

determinado livro ou conto.<br />

Agora é sua vez, escolha um conto contemporâneo, se possível vá à biblioteca ou peça ao<br />

professor um conto diferente e leia-o por completo. Escreva um texto criticando ou elogiando<br />

o trabalho do autor falando do enredo, do conteúdo, das palavras utilizadas. Dessa vez, você é<br />

o crítico literário.<br />

Resposta esperada<br />

Busca-se que o aluno produza um texto crítico, com base nos conceitos que estudou até agora<br />

neste fascículo. Sugestão: a proposta dessa atividade é bem flexível, cada aluno pode avaliar o<br />

conto de outro colega feito na atividade anterior, ao invés <strong>dos</strong> contos literários propriamente<br />

ditos. É interessante também que os alunos pesquisem e tragam para discussão em sala alguns<br />

exemplos de críticas, para auxiliar na posterior execução dessa atividade.<br />

50


http://www.ciudadseva.com/textos/cuento<br />

s/esp/monte/am.jpg<br />

Uma nova face do<br />

conto contemporâneo<br />

“O conto vence por nocaute” Júlio Cortazar<br />

“Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá”.<br />

C<br />

omo você definiria a sentença acima Texto Frase Oração Pois nós lhe<br />

afirmamos que quem a concebeu a classificou como conto, por mais incrível<br />

que isso possa parecer de início. Ou melhor, como microconto. Este<br />

microconto é de autoria de Augusto Monterroso e trata-se do mais famoso microconto do<br />

mundo, segundo Marcelino Freire informa em sua coletânea “Os Cem Menores <strong>Contos</strong><br />

Brasileiros do Século” – uma clara paródia à famosa coletânea “Os Cem Melhores <strong>Contos</strong><br />

Brasileiros do Século”, de Ítalo Moriconi, já citada no capítulo 3.<br />

Augusto Monterroso nasceu em 1921, na<br />

Guatemala. Em 1944, mudou-se para o<br />

México. Foi agraciado, em 2000, com o<br />

Prêmio Príncipe de Astúrias de Letras. Um<br />

<strong>dos</strong> escritores latinos mais notáveis,<br />

Monterroso tem predileção por contos e<br />

ensaios. "O dinossauro", uma de suas obras<br />

mais célebres, é considerado o menor<br />

conto da literatura mundial. Augusto<br />

Monterroso faleceu em fevereiro de 2003.<br />

http://www.releituras.com/amonterroso_menu.asp<br />

http://www.vitruvius.com.br/arquitextos<br />

/arq000/esp435.asp<br />

O advento <strong>dos</strong><br />

microcontos – ou minicontos, como são também conheci<strong>dos</strong> –<br />

figura dentro do contexto de um movimento maior,<br />

denominado Minimalismo, o qual é característico da pósmodernidade.<br />

A palavra Minimalismo se refere <strong>aos</strong> movimentos<br />

artísticos e culturais que permearam o século XX que<br />

51


http://www.viverbemonline.co<br />

m.br/revista/165/imagens/467/medium_70<br />

8.jpg<br />

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mini<br />

malismo.<br />

http://www.vaidireto.com.br/im<br />

gdin/minimalista.jpg<br />

prezavam pela expressão artística nas suas formas mais simples e<br />

essenciais, de forma que era considerada bela a ausência de<br />

acessórios, de ornamentos, e valorizada a manifestação artística por<br />

meio de formas básicas e o mais singelas possível. Você<br />

compreenderá melhor esse movimento com o auxílio das imagens<br />

abaixo:<br />

Na música minimalista, uma obra pode resumir-se à execução de apenas duas notas. Em<br />

geral, o mesmo som é repetido à exaustão. A música minimalista nasce com a série<br />

Composições 1960, criada por La Monte Young (1935-). O destaque é Terry Riley (1935-),<br />

autor de “Em Dó”.<br />

Fonte: http://www.spiner.com.br/modules.phpname=arteecultura&file=menu/movimentos/minimalismo<br />

A primeira imagem mostra uma decoração “carregada”, cheia de móveis (mesa,<br />

cadeiras, aparadores, quadros e um grande lustre), na qual quase não há espaço para a<br />

locomoção. Já na segunda figura, temos apresentado um ambiente mais livre e espaçoso, com<br />

poucos móveis e objetos, característico do ideal minimalista.<br />

Essa tendência ao pouco (ou nenhum) detalhamento e à simplicidade de formas não é<br />

diferente na literatura. A literatura minimalista é caracterizada pela economia de palavras.<br />

Espera-se <strong>dos</strong> leitores uma participação ainda mais ativa na criação da história, pois eles<br />

52


&b=168&id_est=144213&depto=88<br />

http://www.livrariamelhoramentos.com.br/supercart/cgibin/supercart.exe/searchIDok=detalhes_livros.htm&nothing=livros_nada.htm<br />

devem tomar posição com base em dicas e insinuações, ao invés de descrições explícitas na<br />

narrativa.<br />

O escritor americano Ernest Hemingway, já falecido, ficou conhecido como fundador<br />

da Literatura Minimalista, uma vez que seus textos foram pioneiros em prezar pela concisão e<br />

pouca adjetivação, garantindo um maior espaço para a interpretação do leitor.<br />

Ernest Miller Hemingway nasceu em 1899, em Oak Park,<br />

Illinois (EUA). Filho de um médico da zona rural, cresceu em<br />

contato com um ambiente pobre e rude, que conheceu ao<br />

acompanhar o trabalho do pai na região. Esse ambiente foi<br />

descrito em seu livro de contos In Our Time (1925).<br />

Trabalhando como repórter, Hemingway alista-se no exército<br />

italiano em 1916 e é gravemente ferido na frente de batalha. Ao<br />

deixar o hospital, passa a trabalhar como correspondente em<br />

Paris. Em 1926, publica O Sol Também Se Levanta, livro que<br />

obteria um sucesso surpreendente.<br />

Ganhador do Nobel de Literatura (1954), Hemingway suicidouse<br />

em sua casa de Ketchum, em Idaho (EUA), em 1961.<br />

http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u117.jhtm<br />

os contos do livro de Trevisan, leia abaixo um <strong>dos</strong> mais longos:<br />

Na literatura brasileira, o movimento minimalista incentivou<br />

a produção de microcontos. A obra Ah, é, de subtítulo<br />

“Ministórias” de autoria de Dalton Trevisan (1994), é<br />

considerada obra-prima do estilo minimalista. A obra é<br />

composta por contos curtíssimos e a tensão da narrativa,<br />

característica do gênero conto, é valorizada. De acordo com<br />

Spalding, um estudioso de microcontos, esta tensão<br />

narrativa geralmente é produzida por meio de cortes e<br />

elipses, cabendo ao leitor imaginar o que está oculto. Dentre<br />

Tarde de verão, é levado ao jardim na cadeira de braços –<br />

sobre a palhinha dura a capa de plástico e, apesar do calor,<br />

manta xadrez no joelho. Cabeça caída no peito, um fio de<br />

baba no queixo. Sozinho, regala-se com o trino da corruíra*,<br />

um cacho dourado de giesta* e, ao arrepio da brisa, as<br />

53


0975/<br />

ttp://www.flickr.com/photos/acbc/5095<br />

50975/<br />

http://www.flickr.com/photos/acbc/509<br />

950975/<br />

hhttp://www.flickr.com/photos/acbc/50<br />

folhinhas do chorão faiscando – verde, verde! Primeira vez<br />

depois do insulto cerebral aquela ânsia de viver. De novo um<br />

homem, não barata leprosa com caspa na sobrancelha – e, a<br />

sombra das folhas na cabecinha trêmula, adormece. Gritos:<br />

Recolha a roupa. Maria, feche a janela. Prendeu o Nero<br />

Rebenta com fúria o temporal. Aos trancos João ergue o<br />

rosto, a chuva escorre na boca torta. Revira em agonia o olho<br />

vermelho – é uma coisa, que a família esquece na confusão<br />

de recolher a roupa e fechar as janelas<br />

Trevisan, Dalton. In: Ah, é 1994<br />

*Trino: gorjear, trilar, canto melodioso formado de notas rápidas,<br />

emitido por algumas aves, como a andorinha, o rouxinol, o sabiá<br />

etc.<br />

*Corruíra: nome comum dado as várias espécies de pássaros da<br />

família <strong>dos</strong> trogloditídeos.<br />

*Giesta: gênero de plantas ornamentais leguminosas, vassoura de<br />

giesta.<br />

Vemos aqui personagens, espaço, ação, enfim, todo o necessário para o<br />

desenvolvimento da história. E, como Hemingway, o autor deixa a cargo do leitor pensar e<br />

compreender o conto, ou seja, o autor não fornece nada pronto; apenas “pistas”, que, unidas<br />

por quem lê, formam um todo coerente. Trevisan garante apenas instrumentos para que o<br />

leitor tire suas próprias conclusões a respeito da personagem que é levada em uma cadeira<br />

para o jardim. Será esta personagem uma coisa Recolhe-se a roupa, fecha-se a janela,<br />

prende-se o cachorro, mas ninguém se lembra da personagem que fora levada ao jardim.<br />

A economia na linguagem pode ser notada em passagens como “Prendeu o Nero”:<br />

em momento algum se diz que Nero seria um cachorro, no entanto, o verbo “prender” e o<br />

nome próprio incomum em seres humanos fazem com que o leitor infira que se trata de um<br />

cão. É interessante notar neste conto, que a narrativa se constrói descrevendo-se um quadro,<br />

uma cena. Numa construção não minimalista, provavelmente teríamos algo como:<br />

“Numa tarde de verão, ele é levado ao jardim em sua cadeira de braços, e<br />

sobre a palhinha dura da mesma, estava a capa de plástico. Apesar do calor, tinha<br />

54


http://www.nordesteweb.com/not04_06<br />

04/ne_not_20040424e.htm<br />

uma manta xadrez sobre o joelho. Estava com a cabeça caída no peito e pendia um<br />

fio de baba em seu queixo.”<br />

Releia o início do conto de Trevisan e compare com o trecho reescrito que você acaba<br />

de ler: quantas palavras foram suprimidas Muitas, não é mesmo Porém, a falta dessas<br />

palavras, da primeira vez que você leu o conto, atrapalhou o seu entendimento do trecho<br />

Tenho certeza de que não, porque você, como bom leitor, subentendeu-as. Assim, você pode<br />

notar o quanto é importante o papel do leitor neste tipo de narrativa extremamente breve.<br />

O mais interessante nisso tudo é que o microconto, ainda que tão curto se comparado<br />

<strong>aos</strong> contos de fadas e <strong>lendas</strong>, por exemplo, exige a atenção do leitor para uma interpretação<br />

que não está ali tão clara...<br />

Vários microcontos forma obra de Marcelino Freire,<br />

denominada Os Cem Menores <strong>Contos</strong> Brasileiros do<br />

Século. Para construí-la, o autor “desafiou” (nas palavras<br />

do próprio) 100 escritores brasileiros a escreverem contos<br />

com, no máximo, 50 letras. Entre eles, participam da<br />

coletânea: Millôr Fernandes, Moacyr Scliar, Marçal<br />

Aquino, Lygia Fagundes Telles, e muitos outros grandes<br />

nomes da Literatura Brasileira Contemporânea.<br />

Os microcontos, tal como qualquer outro tipo de narrativa, podem ser construí<strong>dos</strong> nas<br />

mais variadas formas. Temos aqui alguns exemplos de microcontos (retira<strong>dos</strong> da Antologia de<br />

Marcelino Freire) nos quais podemos notar essas diferentes construções formais. Observe o<br />

microconto abaixo:<br />

Só<br />

Se eu soubesse o que procuro com esse controle remoto...<br />

Fernando Bonassi<br />

No microconto acima transcrito nota-se uma voz de narrador-personagem – alguém<br />

que fala sobre si próprio – marcada pela construção na pessoa verbal; além da presença das<br />

reticências, confirmando a não necessidade de mais palavras ou explicações. Nisto está a<br />

essência <strong>dos</strong> microcontos: dizer pouco sugerindo muito. Em relação ao conteúdo, o título<br />

55


“Só” e a cena do homem solitário e indeciso em frente à TV sugerem a falta de sentido e<br />

objetivo para a existência humana. Abaixo, veja um outro exemplo com forma distinta:<br />

Disque-denúncia<br />

-Cabeça<br />

-É.<br />

-De quem<br />

-Não sei. O dono não tá junto.<br />

Marçal Aquino<br />

Aqui o miniconto se estrutura na forma de diálogo, por meio do discurso direto. Não<br />

há presença de narrador, nem se explicita quem seriam os personagens. No entanto, é evidente<br />

a ação que se desenrola (uma denúncia por telefone) bem como seus personagens são<br />

facilmente identificáveis (cidadão/policial). Nesse microconto está clara a questão da crítica à<br />

violência nos dias atuais.<br />

Caiu da escada e foi para o andar de cima.<br />

Adrienne Myrtes<br />

No caso do microconto acima, composto por uma única sentença, podemos notar o<br />

narrador externo à ação, demonstrado pelo do uso da terceira pessoa. Temos também ação<br />

(cair/ir) e uma personagem que não é sequer descrita, o que não interfere na compreensão da<br />

narrativa.<br />

O uso de figuras de linguagens é um recurso bastante presente nos microcontos, o qual<br />

auxilia na concisão da linguagem. Neste caso, Adrienne Myrtes usa o eufemismo “foi para o<br />

andar de cima” para expressar a morte da personagem, contrastando com o verbo cair (indica<br />

uma única direção possível, ou seja, para baixo) com o ato de ir para o andar de cima.<br />

Tome Nota!:<br />

O que é Eufemismo:<br />

É a atenuação ou suavização de idéias consideradas desagradáveis, cruéis,<br />

imorais, obscenas ou ofensivas. Por exemplo:<br />

“Nos fizeram varrer calçadas, limpar o que faz todo o cão...” (Em lugar de<br />

fezes)<br />

ou mesmo:<br />

56


"Trata-se de um usurpador do bem alheio..." (Em lugar de ladrão)<br />

Vê-se, portanto, que muitas são as questões que podem surgir quando pensamos nessa<br />

nova maneira de fazer Literatura. Podemos nos perguntar se é possível contarmos uma<br />

história em tão poucas palavras... Quem defende os microcontos como gênero literário dirá<br />

que sim, e que isto irá depender da habilidade do autor em dizer o mínimo necessário em cada<br />

vez menos palavras. Por outro lado, há quem defenda que, para haver narrativas, são<br />

necessários personagem, ação e enredo, ou seja, requisitos demais pra uma única sentença. E<br />

você, agora que estudou três capítulos sobre contos, o que pensa a respeito desta novidade<br />

O haicai é uma forma de poema japonês, em geral composto por um total de 17<br />

sílabas poéticas, divididas na seqüência de 5, 7 e 5 sílabas. Outra questão de<br />

destaque na organização dessa forma de poema é o uso da chamada “palavra de<br />

estação”: um termo ou expressão presente no haicai que faz referência a uma<br />

estação do ano. Os haicais são construí<strong>dos</strong> dentro de uma temática das estações do<br />

ano que, de acordo com a cultura japonesa, além das quatro que conhecemos<br />

(primavera, verão, outono e inverno), englobam também o Ano Novo, totalizando,<br />

portanto, cinco estações.<br />

Abaixo, um exemplo de haicai:<br />

Primeiro frio do ano<br />

fui feliz<br />

se não me engano<br />

Paulo Leminski<br />

57


O que você aprendeu:<br />

O que é um microconto<br />

Movimento minimalista<br />

As principais diferenças e semelhanças entre contos e<br />

microcontos<br />

Consulte o site http://www.nemonox.com/1000portas/projeto.html<br />

e conheça outros microcontos.<br />

58


Atividades<br />

Atividade 1<br />

Volte agora ao capítulo 2 que trata da estrutura <strong>dos</strong> contos e responda: quais semelhanças e<br />

diferenças você pode encontrar entre os contos e os microcontos<br />

Resposta esperada<br />

Sem dúvida maior diferença é a brevidade, pois o tamanho do conto será uma das diferenças<br />

mais gritantes. Como semelhanças os alunos poderão citar a presença de um narrador, de um<br />

enredo e personagem. Nem sempre os microcontos nos fornecerão um espaço claro, mas a<br />

ação estará sempre presente. Além disso, a descrição é escassa e quase ausente nos<br />

microcontos – o professor poderá pensar em outras semelhanças e diferenças.<br />

Atividade 2<br />

A linguagem literária permite muitas interpretações. Nos microcontos, essa característica é<br />

ressaltada pela brevidade, que não permite detalhes. Leia os contos abaixo e apresente tantas<br />

interpretações quantas considerar possíveis:<br />

ACERTO<br />

-Está feito<br />

-Sim<br />

-Quem<br />

-O de treze...<br />

-É<br />

-Sim.<br />

-E agora<br />

-O enterro é às cinco.<br />

Francisco de Morais Mendes<br />

VIGÍLIA<br />

Pronto nos olhos,<br />

O pranto só espera a notícia.<br />

Resposta esperada<br />

Leitura(s) pessoal(ais) do microconto.<br />

João Anzanello Carrascoza<br />

59


Atividade 3<br />

Leia o microconto abaixo:<br />

MAS O RIO CONTINUA LINDO<br />

Pensa o desempregado<br />

Ao pular do Corcovado.<br />

Antonio Torres<br />

Agora reflita e responda: qual o recurso estilístico presente neste microconto que o diferencia<br />

<strong>dos</strong> demais Qual o efeito provocado pelo uso deste recurso<br />

Resposta esperada<br />

O recurso de que se fala é a rima. Espera-se que o aluno veja que, embora estejamos tratando<br />

de texto em prosa, a rima aparece conferindo a qualidade de prosa poética ao microconto, ou<br />

seja, ainda que não seja poesia, a sonoridade é ressaltada.<br />

Atividade 4<br />

Você pôde observar neste capítulo que os microcontos também variam em seu tamanho:<br />

podem ser de uma página ou mesmo de uma linha. Use sua criatividade e dê continuidade à<br />

narrativa do microconto abaixo, sem, contudo, fazer com que ele deixe de ser um microconto.<br />

FUMAÇA<br />

Olhou a casa, o ipê florido.<br />

Tudo para ela.<br />

Suspendeu a mala e foi.<br />

Ronaldo Correia de Brito<br />

Resposta esperada<br />

Produção de texto (microconto).<br />

Atividade 5<br />

O microconto transcrito abaixo pode provocar riso. Explique como se dá o efeito cômico.<br />

TESTE DE VISTA<br />

Ler Não, senhor.<br />

São óculos para descanso.<br />

Moacyr Godoy Moreira<br />

60


Resposta esperada<br />

Quer-se obter do aluno a explicação de que a comicidade se daria pela ambigüidade do termo<br />

“descanso”, quando relacionado à “óculos”, assim, “óculos para descanso” é entendido como<br />

“óculos para que não se leia”.<br />

Atividade 6<br />

Faça com que o microconto abaixo se transforme num conto comum, como os que você viu<br />

nos capítulos anteriores. Para isso, acrescente detalhes, descrições e o que mais lhe parecer<br />

conveniente.<br />

A DÍVIDA<br />

Mata o pai, arromba o cofre, só uma caixa vazia.<br />

José Castello<br />

Resposta esperada<br />

Produção textual de gênero conto.<br />

Atividade 7<br />

A Internet é um campo fértil para os microcontos. Atualmente, é grande o número de<br />

internautas que escrevem e postam em seus blogs os seus próprios microcontos. Faça uma<br />

breve pesquisa na Internet e liste aqui o que você encontrar e considerar interessante a<br />

respeito <strong>dos</strong> microcontos no meio digital. Depois, reflita: essas duas formas de microcontos<br />

são diferentes entre si ou se assemelham O meio de publicação (livro/Internet) interfere na<br />

construção do microconto O que você acha<br />

Resposta esperada<br />

Essa é uma questão de pesquisa e reflexão sobre a interferência do meio no gênero. Resposta<br />

pessoal.<br />

Atividade 8<br />

Ernest Hemingway, escritor já citado no capítulo, tem uma teoria muito famosa a respeito <strong>dos</strong><br />

contos. Nesta teoria, ele compara o conto a um iceberg. Formesm grupos e pesquisem a<br />

respeito dessa comparação. Depois, expliquem a teoria utilizando-se <strong>dos</strong> microcontos como<br />

exemplo.<br />

Resposta esperada<br />

Espera-se que o aluno pesquise e descubra o porque da comparação <strong>dos</strong> contos <strong>aos</strong> icebergs,<br />

explicando com base em algum(ns) microconto(s) que, como nos icebergs – os quais tem<br />

somente um oitavo do seu volume visível fora d`água - também os contos “escondem” muitos<br />

senti<strong>dos</strong> por detrás de poucas palavras.<br />

Atividade 9<br />

Leia os microcontos a seguir e defina um tema comum entre eles.<br />

BALA PERDIDA<br />

Acorda, levanta, vai ganhar a vida...<br />

(Disparos)<br />

61


...passou tão rápida.<br />

Wilson Freire<br />

PODE<br />

Você pode morrer a qualquer momento.<br />

André Sant’anna<br />

FIM DE PAPO<br />

Na milésima segunda noite, Sherazade degolou o sultão.<br />

Antônio Carlos Secchin<br />

Uma vida inteira pela frente.<br />

O tiro veio por trás.<br />

Morreu de quê<br />

Gastou-se.<br />

Cíntia Moscovich<br />

Eugênia Menezes<br />

Resposta esperada<br />

Espera-se que o aluno observe que a morte é um <strong>dos</strong> temas comuns a to<strong>dos</strong> os contos. Alguns<br />

falam de assassinato: num Sherazade mata o sultão, noutros ocorrem mortes por tiros... esta<br />

não é uma resposta única poderão haver outras possibilidades.<br />

Atividade 10<br />

Leia o microconto abaixo de Ivana Arruda Leite, cujo título foi omitido. Qual a sua<br />

interpretação a respeito dele O que ocorre nesse microconto<br />

Confesso.<br />

Fui eu que enfiei a faca na barriga desse porco.<br />

Releia o microconto agora com o seu título:<br />

FEIJOADA<br />

Confesso.<br />

Fui eu que enfiei a faca na barriga desse porco.<br />

Há uma mudança na interpretação desse microconto a partir da leitura de seu título. Explique<br />

essa mudança.<br />

Resposta esperada<br />

Espera-se que o aluno note que o título faz toda a diferença na interpretação, uma vez que<br />

direciona novo sentindo para a palavra “porco”, a qual inicialmente poderia ser interpretada<br />

como uma referência – insulto – a um ser humano, quando na verdade se trata da alusão ao<br />

animal, como fica claro depois que lemos o título.<br />

62


HQ – Um novo formato<br />

para os contos<br />

“Um belo livro desperta vocação, desperta curiosidade,<br />

ler ensina, entrete, desperta curiosidade. Ele é a junção de duas<br />

cabeças pensantes: a do autor e a do leitor”<br />

(Maurício de Sousa)<br />

Agora que você já aprendeu bastante sobre a origem do conto e sua estrutura,<br />

analisou alguns contos contemporâneos e conheceu os microcontos, vamos explorar um<br />

novo formato do conto: os <strong>quadrinhos</strong> – ou simplesmente as HQ, como também são<br />

conheci<strong>dos</strong>. Quem não leu quando criança gibis da Turma da Mônica ou Comics da<br />

Marvel, como os X-Men e o Super-Homem Você sabia que existem contos de<br />

Machado de Assis, Moacyr Scliar e Lima Barreto, dentre outros, adapta<strong>dos</strong> para os<br />

<strong>quadrinhos</strong> É isso mesmo, eles estão disponíveis para leitura tanto em forma virtual<br />

quanto impressa.<br />

Aprendendo um pouco sobre as HQ<br />

As histórias em <strong>quadrinhos</strong>, como qualquer forma de expressão artística, têm<br />

uma linguagem característica do gênero, com códigos e regras. São vários os elementos<br />

que a compõem. Os principais são:<br />

Imagem: elemento fundamental da linguagem <strong>dos</strong> <strong>quadrinhos</strong>, a imagem tem<br />

importância maior em relação à escrita nos HQs. As HQ se propõem a contar uma<br />

história baseada em imagens. Isso não quer dizer que a palavra seja sempre dispensável,<br />

mas significa que ela não é o meio primordial de comunicação como na literatura<br />

tradicional, sendo, às vezes, desnecessária. Há histórias em <strong>quadrinhos</strong> que sequer<br />

utilizam os balões de fala. As imagens abaixo, por exemplo, não apresentam falas,<br />

porém, sua compreensão é perfeitamente possível:<br />

63


http: //www.monica.com.br/cookpage/cookpage.cgi!pag=comics/tirinhas/tira248<br />

Na imagem ao lado conseguimos observar<br />

que a moça está, no mínimo, assustada, sem<br />

que para isso ela tenha dito absolutamente<br />

nada.<br />

Representação do movimento: as histórias em <strong>quadrinhos</strong> representam<br />

movimentos através de imagens, luzes e sombras. Vários recursos são utiliza<strong>dos</strong> com<br />

esse objetivo: a deformação de folhas e galhos de árvores sob ação do vento, a<br />

inclinação de um corpo para indicar que este está correndo, a alteração das dobras das<br />

roupas no sentido do deslocamento,<br />

dentre outros.<br />

Encadeamento de imagens: nas histórias em <strong>quadrinhos</strong>, o autor decompõe<br />

uma ação em um determinado número de imagens colocadas em seqüência. Não há,<br />

contudo, um recurso tecnológico digital que reproduza o movimento, como nos<br />

64


http://www.marel.pro.br/onomat.h<br />

tm<br />

http://www.marel.pro.br/onomat.h<br />

tm<br />

http://www.marel.pro.br/onomat.h<br />

tm<br />

desenhos anima<strong>dos</strong>, por exemplo. Assim, a ilusão do movimento fica por conta da<br />

linguagem visual transmitida ao leitor.<br />

Representação <strong>dos</strong> sons: além da prática comum de colocar dentro <strong>dos</strong><br />

chama<strong>dos</strong> ―balões‖ a representação escrita das falas das personagens, é freqüente<br />

também a utilização da escrita para representações sonoras que não fazem parte da<br />

linguagem humana. São, de um modo geral, representações de ruí<strong>dos</strong>. Tais<br />

representações se fazem por meio de onomatopéias, como nos exemplos abaixo:<br />

Literatura e HQs<br />

Tome Nota<br />

Como você pode perceber, onomatopéia é a figura de linguagem utilizada para<br />

representarmos algo pelo seu som. Empregamos este recurso em expressões tais como:<br />

O “cri cri” <strong>dos</strong> grilos na janela a incomodava.<br />

Ou ainda:<br />

Eu ia pela rua quando de repente - “cabrum” - começou a chover.<br />

Dessa forma, a onomatopéia é um modo de representar, através da escrita, os<br />

ruí<strong>dos</strong>.<br />

Veja outros exemplos de onomatopéia comumente encontra<strong>dos</strong> nas histórias em<br />

<strong>quadrinhos</strong>:<br />

Aaai! – grito de dor<br />

Ah! – grito de surpresa, dor, medo ou pavor<br />

Ah! Ah! Ah! – risada ou gargalhada<br />

Ahhh! – alívio<br />

Ahn! – choro<br />

Arf! – animal arfando, ofegante<br />

Argh! – nojo<br />

Eeek! ic! – soluço<br />

Er... Ahn ... – indecisão<br />

Bah! – desagrado<br />

Bam! – tiro de revólver<br />

Buá! – choro<br />

65


www.escalaeducacional.com.br/paradidalitbras.asp<br />

Além de heróis como o Super-Homem e a Mulher Maravilha, existem também<br />

HQs sobre personagens mais próximos da realidade como Calvin, Luluzinha, Turma da<br />

Mônica e Popeye. Além disso, há <strong>quadrinhos</strong> inspira<strong>dos</strong> em personagens literários,<br />

porque é cada vez mais comum encontrarmos adaptações de contos e romances.<br />

Machado de Assis, Manuel Antonio de Almeida, Lima Barreto e Moacyr Scliar – o qual<br />

teve adaptado para os HQs seu conto A orelha de Van Gogh – são alguns exemplos<br />

disso.<br />

Observe que a adaptação de contos literários para os <strong>quadrinhos</strong> não é um<br />

movimento tão simples. Adaptar uma obra para um outro gênero ou linguagem<br />

significa, em certa medida, modificá-la. A mudança é inevitável, e depende do objetivo<br />

da adaptação. Vejamos alguns casos.<br />

Dom Casmurro em <strong>quadrinhos</strong> – uma adaptação que deu certo<br />

Um caso interessante envolvendo <strong>quadrinhos</strong> e literatura foi a adaptação baseada<br />

no livro Dom Casmurro de Machado de Assis.<br />

66


O jornal Extra, do Rio de Janeiro, publicou em setembro de 2008 uma adaptação<br />

em <strong>quadrinhos</strong> da história da personagem Capitu, na qual ela é inocentada da suspeita<br />

de traição em relação a Bentinho.<br />

A obra original trata do namoro de Bentinho e Capitu que se deu desde que eram<br />

crianças, e posterior casamento. Bentinho, destinado a ser padre devido a uma promessa<br />

de sua mãe, conheceu a nova vizinha Capitu, por quem se apaixonou e desistiu de ser<br />

seminarista. Com o passar <strong>dos</strong> anos, Bentinho vai fazendo jus ao seu apelido de<br />

casmurro na mesma proporção em que seu ciúme por Capitu cresce. Seu modo<br />

rabugento e cismado de ser se agrava com o nascimento de Ezequiel, seu filho.<br />

Bentinho começa a desconfiar que o menino é filho do seu melhor amigo, Escobar. Daí<br />

surge a pergunta que mais se repete entre os leitores: ―Afinal, Capitu traiu ou não traiu<br />

Bentinho‖ – uma pergunta que o livro não responde, os críticos tentam responder e à<br />

qual os leitores ficam sem resposta...<br />

Diante de quase cem anos de polêmica, João Arruda e Vinícius Micthell<br />

elaboraram uma história em <strong>quadrinhos</strong> que inocenta Capitu. Eles criaram a narrativa na<br />

forma de um tribunal. A história se pauta nos argumentos <strong>dos</strong> advoga<strong>dos</strong> de acusação e<br />

de defesa.<br />

O final da HQ apresenta uma prova irrefutável da inocência da personagem.<br />

Contudo, tal prova é uma reviravolta completa na trama proposta por Machado de<br />

Assis, que deixou a dúvida em suspenso.<br />

Essa HQ pode ser lida na íntegra no site:<br />

http://extra.globo.com/blogs/tirandodeletra/post.aspt=<strong>quadrinhos</strong>_do_julgament<br />

o_de_capitu&cod_Post=129130&a=506<br />

Veja logo a seguir alguns trechos da HQ seleciona<strong>dos</strong>:<br />

67


Esse quadrinho criou um desfecho diferente para o romance Dom Casmurro. Além<br />

disso, no romance de Machado de Assis, Bentinho é o narrador, logo, toda a trama é<br />

apresentada sob seu ponto de vista. Observe que, no trecho da HQ acima, predomina a<br />

fala das personagens participantes, em detrimento da fala do narrador, presente apenas<br />

no topo do terceiro quadrinho.<br />

Uns Braços em <strong>quadrinhos</strong> – uma outra adaptação<br />

A versão em HQ do conto Uns Braços, de Machado de Assis, traz um texto mais fiel<br />

ao original. Nesta adaptação para HQ preservou-se a figura do narrador, tão importante<br />

para o conto machadiano.<br />

Veja a seguir um trecho da adaptação:<br />

68


Como você pode notar, o narrador está bastante presente nos <strong>quadrinhos</strong>,<br />

representado pela caixa quadrada acima das imagens. Veja agora um trecho da obra<br />

original, que corresponde <strong>aos</strong> <strong>quadrinhos</strong> retrata<strong>dos</strong> acima:<br />

Como você pode notar, o narrador está bastante presente nos <strong>quadrinhos</strong>, representado<br />

pela caixa quadrada acima das imagens. Veja agora um trecho da obra original, que<br />

corresponde <strong>aos</strong> <strong>quadrinhos</strong> retrata<strong>dos</strong> acima:<br />

Uns Braços<br />

(...) Saiu da sala, atravessou rasgadamente o corredor e foi até o quarto do<br />

mocinho, cuja porta achou escancarada. D. Severina parou, espiou, deu com ele na rede,<br />

dormindo, com o braço para fora e o folheto caído no chão. A cabeça inclinava-se um<br />

pouco do lado da porta, deixando ver os olhos fecha<strong>dos</strong>, os cabelos revoltos e um<br />

grande ar de riso e de beatitude.<br />

D. Severina sentiu bater-lhe o coração com veemência e recuou. Sonhara de<br />

noite com ele; pode ser que ele estivesse sonhando com ela. Desde madrugada que a<br />

figura do mocinho andava-lhe diante <strong>dos</strong> olhos como uma tentação diabólica. Recuou<br />

ainda, depois voltou, olhou dois, três, cinco minutos, ou mais. Parece que o sono dava à<br />

adolescência de Inácio uma expressão mais acentuada, quase feminina, quase pueril.<br />

"Uma criança!" disse ela a si mesma, naquela língua sem palavras que to<strong>dos</strong> trazemos<br />

69


http://mangasjbc.uol.com.br/fruits-basket-01/<br />

http://mangasjbc.uol.com.br/samurai-x-56/<br />

http://img111.imageshack.us/img111/8537/<br />

19ze3.jpg<br />

conosco. E esta idéia abateu-lhe o alvoroço do sangue e dissipou-lhe em parte a<br />

turvação <strong>dos</strong> senti<strong>dos</strong>.<br />

"Uma criança!"<br />

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000259.pdf<br />

Nos <strong>quadrinhos</strong>, um <strong>dos</strong> efeitos que a preferência pelo uso constante da fala do<br />

narrador produz é a preservação da atmosfera reflexiva e ambígua do conto<br />

machadiano. Enquanto na HQ de Dom Casmurro observamos uma representação<br />

consecutiva de falas, provocando uma leitura mais dramatizada, em Uns Braços<br />

notamos uma tendência a preservar o narrador da obra original. O que há, neste caso, é<br />

uma inserção de imagens de forma que a adaptação ao gênero <strong>dos</strong> <strong>quadrinhos</strong> interfira<br />

menos no enredo original.<br />

O que é Mangá<br />

Mangá é o nome dado às histórias em <strong>quadrinhos</strong> de origem japonesa. A palavra surgiu da<br />

junção de outros dois vocábulos: man, que significa involuntário, e gá, imagem.<br />

Os mangás se diferenciam <strong>dos</strong> <strong>quadrinhos</strong> ocidentais não só pela sua origem, mas<br />

principalmente por se utilizarem de uma representação gráfica completamente própria. Pra<br />

começar, o alfabeto japonês se compõe de ideogramas que não só representam sons, mas também<br />

idéias. Assim, em um mangá o texto em geral, mas principalmente as onomatopéias, fazem parte<br />

da arte. A ordem de leitura <strong>dos</strong> mangás também é diferente daquela que estamos acostuma<strong>dos</strong>. Um<br />

livro japonês começa pelo que seria o fim de uma publicação ocidental. Além disso, o texto é<br />

disposto da direita para a esquerda.<br />

Outra característica peculiar <strong>dos</strong> mangás é que eles são publica<strong>dos</strong> em volumes de mais ou<br />

menos 200 páginas cada, o que permite <strong>aos</strong> autores criar histórias mais longas e aprofundadas.<br />

Dessa forma, em um mangá é comum ver várias páginas só de imagens, sem diálogos, e também<br />

ações que se desenrolam por muitos <strong>quadrinhos</strong> e abordadas por diferentes pontos de vista. A<br />

disposição <strong>dos</strong> <strong>quadrinhos</strong> em uma página de mangá é diferente daquela que se costuma ver num<br />

comic americano, que costuma ter três ou quatro fileiras de <strong>quadrinhos</strong> por página. Como os<br />

mangakás (nome dado <strong>aos</strong> autores de mangás) dispõem de um espaço maior para contar sua<br />

história, também empregam um número menor de <strong>quadrinhos</strong> por página – não é difícil ver página<br />

até sem <strong>quadrinhos</strong>, com uma única imagem estourada.<br />

Também é característica <strong>dos</strong> mangás serem feitos completamente em preto-e-branco e em<br />

papel jornal, o que torna o produto mais barato e faz com que ele seja consumido por todo tipo de<br />

pessoa - no Japão eles são li<strong>dos</strong> por crianças, estudantes, executivos, donas-de-casa…<br />

Esses são apenas alguns pontos que caracterizam os mangás. Só que o principal é a<br />

capacidade que eles têm de encantar pessoas do mundo todo. Ler um mangá é uma experiência<br />

única. É mergulhar em um mundo próprio. Cheio de ação, emoção, heróis, criaturas mágicas e<br />

muita, muita diversão.<br />

hht ttt pp: :////mmaannggaassj jbbcc. ..uuool ll. ..ccoomm. ..bbrr//oo--qquuee--ee--mmaannggaa//<br />

70


Conclusão<br />

Você pode notar que muitos contos literários tiveram em suas edições algumas<br />

ilustrações de seu enredo. Podemos dizer que esta foi a semente para chegarmos às<br />

histórias em <strong>quadrinhos</strong> – um gênero que ocupa um espaço cada vez maior nas estantes<br />

das livrarias. É possível afirmar que ―traduzir‖ obras da literatura canônica para a<br />

linguagem <strong>dos</strong> <strong>quadrinhos</strong> foi uma maneira de aproximar estas histórias de um público<br />

leitor mais jovem. Essas adaptações foram, de certa forma, uma modernização de obras<br />

da literatura brasileira, que talvez não despertassem tanto interesse nos adolescentes<br />

caso fossem apresentadas em seu formato original.<br />

Não podemos esquecer, contudo, que transpor um conto literário para <strong>quadrinhos</strong><br />

significa alterar o gênero inicial da história. Ler um quadrinho de um conto nunca será a<br />

mesma coisa do que ler o conto original, pois os <strong>quadrinhos</strong> sempre trarão uma visão<br />

limitada da história. Caberá a você ser um leitor perspicaz, buscando nos <strong>quadrinhos</strong><br />

toda a riqueza que o mundo das imagens pode nos fornecer, sem se esquecer de que a<br />

escrita é também uma forma de comunicação única, a qual traz um mundo de<br />

expressões que imagem alguma pode traduzir.<br />

.<br />

O que você aprendeu:<br />

<br />

<br />

<br />

As histórias em <strong>quadrinhos</strong> têm alguns elementos principais tais como: imagens,<br />

representação de movimentos, encadeamento de imagens e representação de<br />

sons;<br />

Alguns contos literários foram adapta<strong>dos</strong> para a linguagem <strong>dos</strong> <strong>quadrinhos</strong>, sendo<br />

que esse movimento pode valorizar a história original em maior ou menor grau;<br />

As HQs e os contos literários pertencem a gêneros diferentes, sendo que cada um<br />

tem uma riqueza própria que não pode ser comparada.<br />

71


http://images.google.com.br/imgresimgu<br />

rl<br />

ale a pena conferir<br />

V<br />

Dicas de leitura<br />

Dando seqüência à recente onda de adaptações de textos literários para<br />

os <strong>quadrinhos</strong> feitos por artistas brasileiros, a editora Desiderata<br />

divulgou o lançamento de Irmãos Grimm em Quadrinhos<br />

A obra traz 14 contos clássicos em versões criadas por diversos<br />

quadrinhistas.<br />

Os contos <strong>dos</strong> irmãos Grimm (Jacob e Wilhelm), considera<strong>dos</strong><br />

educativos e até certo ponto moralistas, foram colhi<strong>dos</strong> a partir da<br />

tradição oral européia, em especial a alemã e a francesa, em volumes<br />

publica<strong>dos</strong> entre 1811 e 1863. As adaptações tentam resgatar os contos<br />

como os Grimm os compilaram, sem o conteúdo politicamente correto<br />

que surgiu no decorrer <strong>dos</strong> anos. De acordo com o release da editora, as<br />

versões em <strong>quadrinhos</strong> buscam interpretações para as histórias, com<br />

um apelo "pop" e contemporâneo.<br />

Fonte: www.universohq.com/.../2007/n17122007_07.cfm<br />

72


Atividades<br />

Atividade 1<br />

Você se lembra da lenda urbana da Loira do banheiro que lemos no capítulo 1 Releia<br />

os <strong>quadrinhos</strong> com atenção e compare com o texto em prosa. Que diferenças você pode<br />

notar entre as duas formas de contar esta mesma lenda É possível encontrar<br />

semelhanças Explicite.<br />

Resposta esperada<br />

Espera-se que o aluno possa dizer que no texto em prosa a forma de contar a lenda é por<br />

meio de um texto corrido, sem a presença de diálogos e imagens, enquanto que nos<br />

<strong>quadrinhos</strong> o texto está dentro de balões de fala e há personagens que conversam. Os<br />

efeitos que ambos causam também são diferentes, no texto corrido a sensação que se<br />

tem é de estar recebendo uma informação, nos <strong>quadrinhos</strong>, através da fala das<br />

personagens, cria-se um clima de suspense.<br />

A semelhança está no conteúdo, pois tanto o texto quanto os <strong>quadrinhos</strong> tratam da lenda<br />

da Loira do Banheiro.<br />

Atividade 2<br />

Leia a tirinha abaixo. Com base nela redija um conto de, no mínimo, quinze linhas.<br />

Lembre-se que a linguagem do conto e da tirinha diferem. Enquanto a tirinha tem uma<br />

linguagem sintética e conta com o auxílio de imagens, o conto possui uma voz narrativa<br />

que organiza o relato.<br />

Quadro 3: É a<br />

época de provas.<br />

(http: //tirasnacionais.blogspot.com/2008/10/galerinha-do-hc-mb-rosa-duval_28.html)<br />

Resposta esperada<br />

Nesta atividade espera-se que o aluno recorra à própria criatividade e às informações<br />

esclarecidas nos capítulos iniciais sobre as características do conto. Espera-se que ele<br />

possa detalhar seu texto recorrendo ao narrador, descrevendo o cenário, as personagens,<br />

etc.<br />

Atividade 3<br />

Você se lembra do mito Tupi apresentado no capítulo 1 Releia e faça um quadrinho<br />

com base neste mito. Você poderá contar com o auxílio da professora de educação<br />

artística para aprimorar seus desenhos. Não se esqueça: nos <strong>quadrinhos</strong> você deverá<br />

usar balões de fala e onomatopéias!<br />

Resposta esperada<br />

73


Novamente uma proposta interdisciplinar. O aluno deve recorrer às técnicas adquiridas<br />

na aula de artes para produzir seus desenhos. Mas o mais importante é que ele saiba<br />

adaptar a linguagem textual para os <strong>quadrinhos</strong>, usando balões de fala, de narração e<br />

onomatopéias quando necessário.<br />

Atividade 4<br />

As onomatopéias são figuras de linguagem que imitam sons e barulhos. Crie<br />

onomatopéias para os <strong>quadrinhos</strong> abaixo:<br />

______________ _____________ _______________<br />

________________ _____________ _____________<br />

(http://www.letras.ufmg.br/redigir/HQProf.pdf )<br />

_____________<br />

_________________<br />

Resposta esperada<br />

Os alunos devem criar suas onomatopéias e discutir com os colegas a pertinência delas.<br />

É importante que eles percebam que, como a maioria das onomatopéias não é uma<br />

convenção consolidada na língua, vai haver mais de uma possibilidade para cada caso.<br />

Atividade 5<br />

Que efeito as onomatopéias <strong>dos</strong> <strong>quadrinhos</strong> abaixo produz:<br />

74


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1<br />

0/Manga_-_prawidlowy_sposob_czytania.png<br />

http://lh5.ggpht.com/xcorex2/ReD_61TBTdI/AAAAAAAAABM/JAwMfZE30RA/s288/Peanuts.1953_066.jpg<br />

Resposta esperada<br />

Espera-se que o aluno diga que o uso dessas onomatopéias contribuiu para um efeito<br />

cômico. Para chegar nessa idéia o aluno precisa interpretar os <strong>quadrinhos</strong>, observar que<br />

na primeira cena o garoto e o cão estão se estranhando, na segunda começam a rosnar,<br />

na terceira latem ferozmente um para o outro e no último quadrinho saem correndo<br />

porque se assustam com o ruído que produziram.<br />

Atividade 6<br />

Observe na figura abaixo como se deve ler um mangá:<br />

Volte ao texto do capítulo 5 e releia o Box sobre Mangás e responda:<br />

a) Qual a diferença entre os mangás e os Comics americanos<br />

b) Você já leu algum mangá Há alguém em sua sala que já tenha lido este tipo de<br />

quadrinho Converse com seus amigos e troque experiências. Discuta com eles sobre as<br />

diferenças de se ler este tipo de <strong>quadrinhos</strong> e as HQs ocidentais.<br />

Respostas esperadas:<br />

a) Os mangás se diferem <strong>dos</strong> Comics americanos em dois aspectos: no que diz respeito à<br />

forma, os mangás são li<strong>dos</strong> da direita para a esquerda, ao contrário das HQs ocidentais.<br />

75


Com relação ao conteúdo, os mangás têm mais onomatopéias, de forma que grande<br />

parte <strong>dos</strong> <strong>quadrinhos</strong> serve para expressar momentos de emoção, enquanto que os<br />

Comics americanos são mais enxutos.<br />

b) ---<br />

Atividade 7<br />

(Literatura Brasileira em Quadrinhos: O homem que sabia javanês, Editora Escala Educacional)<br />

Para adaptar um conto ao formato de história em <strong>quadrinhos</strong>, são necessárias algumas<br />

alterações. Leia, o trecho abaixo, do conto original, compare com a versão em<br />

<strong>quadrinhos</strong> e responda a questão.<br />

Em uma confeitaria, certa vez, ao meu amigo Castro contava eu as partidas que havia<br />

pregado às convicções e às respeitabilidades, para poder viver. Houve mesmo uma dada<br />

ocasião, quando estive em Manaus, em que fui obrigado a esconder a minha qualidade de<br />

bacharel, para mais confiança obter <strong>dos</strong> clientes, que afluíam ao meu escritório de feiticeiro e<br />

adivinho. Contava eu isso.<br />

O meu amigo ouvia-me calado, embevecido, gostando daquele meu Gil Blas vivido, até que, em<br />

uma pausa da conversa, ao esgotarmos os copos, observou a esmo:<br />

— Tens levado uma vida bem engraçada, Castelo!<br />

— Só assim se pode viver… Isto de uma ocupação única: sair de casa a certas horas, voltar a<br />

outras, aborrece, não achas Não sei como me tenho agüentado lá, no consulado!<br />

— Cansa-se; mas não é isso que me admiro. O que me admira é que tenhas corrido tantas<br />

aventuras aqui, neste Brasil imbecil e burocrático.<br />

— Qual! Aqui mesmo, meu caro Castro, se podem arranjar belas páginas de vida. Imagina tu<br />

que eu já fui professor de javanês<br />

76


Que alterações você observou<br />

Resposta esperada<br />

Espera-se que o aluno observe que não houve alteração do texto nesta adaptação de<br />

<strong>quadrinhos</strong>. A diferença é a inserção de imagens e a disposição do texto original em<br />

balões de fala.<br />

Atividade 8<br />

Observe o quadrinho e depois leia o trecho de Memórias de um sargento de<br />

milícias que o segue.<br />

Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se, porém do negócio, e viera<br />

ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o<br />

77


vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no<br />

mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de<br />

Lisboa, saloia rechonchuda e bonitota. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo<br />

de sua mocidade mal apessoado, e, sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria<br />

encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o<br />

ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito.<br />

A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e<br />

deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto<br />

uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado;<br />

ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez<br />

um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares,<br />

que pareciam sê-lo de muitos anos.<br />

Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dois morar<br />

juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete<br />

meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido,<br />

gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas<br />

horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o<br />

que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.<br />

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.<strong>dos</strong>elect_action=&co_obra=1969<br />

Como na atividade anterior, compare o texto com a adaptação para os <strong>quadrinhos</strong> e<br />

descreva quais foram as alterações.<br />

Resposta esperada<br />

Espera-se que o aluno observe que diferentemente do que houve na atividade anterior, o<br />

texto original não foi simplesmente transposto em balões de fala. Toda a descrição foi<br />

suprimida, mas a informação principal foi mantida.<br />

Atividade 9<br />

Leia os <strong>quadrinhos</strong> abaixo e observe atentamente o olhar de Inácio, personagem do<br />

conto Uns braços de Machado de Assis. O que você poderia dizer sobre a relação entre<br />

texto e a ilustração, considerando apenas os olhos do personagem.<br />

Atividade 10<br />

78


Escolha um conto e transforme-o em HQ. Se possível, visite o site<br />

http://ideiasemblog.blogspot.com/2008/09/hagqu-criando-<strong>quadrinhos</strong>-4.htmt e veja<br />

como disponibilizá-lo inclusive na Internet.<br />

Veja abaixo um pouquinho da proposta pedagógica desse blog:<br />

O que é o site “HagáQuê”<br />

To<strong>dos</strong> conhecem o caráter lúdico das histórias em <strong>quadrinhos</strong> (HQs) e muitos a consideram uma forma de arte. Além de<br />

entreter, as HQs podem auxiliar no processo de ensino-aprendizagem <strong>dos</strong> mais diversos conteú<strong>dos</strong>, como geografia,<br />

matemática, história, português e idiomas estrangeiros, além de ser uma excelente ferramenta para o trabalho com<br />

alunos com necessidades especiais. Baseado nestas características positivas das HQs, surgiu a proposta de<br />

desenvolvimento do software HagáQuê, um editor de histórias em <strong>quadrinhos</strong> com fins pedagógicos.<br />

79


Anexo 1<br />

Capítulo 3<br />

O burro juiz<br />

Para quem aprecia o senso de humor de Monteiro Lobato eis uma pequena fábula<br />

intitulada O burro juiz.<br />

Nossa recomendação: mesmo sendo togado é recomendável não enfiar a carapuça.<br />

Disputava a gralha com o sabiá, afirmando que a sua voz valia a dele. Como as outras<br />

aves rissem daquela pretensão, a bulhenta matraca de penas, furiosa, disse:<br />

— Nada de brincadeiras. Isto é uma questão muito séria, que deve ser decidida por um<br />

juiz. Canta o sabiá, canto eu, e a sentença do julgador decidirá quem é o melhor artista.<br />

Topam<br />

— Topamos! piaram as aves. Mas quem servirá de juiz<br />

Estavam a debater este ponto, quando zurrou um burro.<br />

— Nem de encomenda! exclamou a gralha. Está lá um juiz de primeiríssima para<br />

julgamento de música, pois nenhum animal possui maiores orelhas. Convidê-mo-lo.<br />

Aceitou o burro o juizado e veio postar-se no centro da roda.<br />

— Vamos lá, comecem! ordenou ele.<br />

O sabiá deu um pulinho, abriu o bico e cantou. Cantou como só cantam sabiás,<br />

garganteando os trinos mais melodiosos e límpi<strong>dos</strong>. Uma pura maravilha, que deixou<br />

mergulhado em êxtase o auditório em peso.<br />

— Agora eu! disse a gralha, dando um passo à frente.<br />

E abrindo a bicanca matraqueou uma grita de romper os ouvi<strong>dos</strong> <strong>aos</strong> próprios sur<strong>dos</strong>.<br />

Terminada a justa, o meritíssimo juiz deu a sentença:<br />

— Dou ganho de causa à excelentíssima senhora dona Gralha, porque canta muito mais<br />

forte que mestre sabiá. (*)<br />

Quem burro nasce, togado ou não, burro morre.<br />

(*) A condenação de Monteiro Lobato a uma pena de prisão pelo Tribunal de Segurança Nacional em 1941<br />

confirmou essa velha fábula. A sentença deu a razão ao que cantava mais forte...<br />

De Fábulas, in Obras Completas de Monteiro Lobato, Vol. 15, 17ª edição, 1969. Editora Brasiliense.<br />

80


Bibliografia<br />

BRANDÃO, Ignácio de Loyola: COTIDIANO: Os Homens que Descobriam Cadeiras<br />

Proibidas In: BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Cadeiras Proibidas. 10. ed. São Paulo: Global,<br />

2003. p. 11-17.<br />

_________: O Anônimo, Cadernos de Literatura Brasileira - Instituto Moreira Salles - São<br />

Paulo, nº. 11, Junho de 2001, p. 98.<br />

_________: Entrevista. O Homem do Furo na Mão e Outras Histórias. São Paulo: Ática,<br />

1987. p. 5. (Rosa <strong>dos</strong> Ventos).<br />

CARIOCA, Patrícia C. et al. Uma Viagem pela Poesia. 2007. 56 f. Trabalho de Conclusão de<br />

Estágio Supervisionado (Graduação) - Curso de Letras, Departamento de Teoria Literária,<br />

Instituto de Estu<strong>dos</strong> da Linguagem, Campinas, 2007.<br />

CARTER, Angela. 103 <strong>Contos</strong> de fadas. São Paulo: Companhia Das Letras, 2007. 499 p.<br />

CASCUDO, Luís da Câmara. <strong>Contos</strong> Tradicionais do Brasil. 11. ed. Rio de Janeiro: Ediouro,<br />

1998. 349 p.<br />

CHACÓN, Manuela. As mil e uma noites. Retirado de:<br />

http://conexaooriente.wordpress.com/2007/09/10/as-mil-e-uma-noites/<br />

CHINELATTO, Thaís. Apontamentos sobre o conto. Retirado de:<br />

http://www.facasper.com.br/cultura/site/noticia.phptabela=noticias&id=398.<br />

D’OLIVEIRA, Gêisa Fernandes. Cultura em <strong>quadrinhos</strong>: reflexões sobre as Histórias em<br />

Quadrinhos na perspectiva <strong>dos</strong> Estu<strong>dos</strong> Culturais. Retirado de: publique.rdc.pucrio.br/revistaalceu/media/alceu_n8_D'Oliveira.pdf<br />

Em 17/09/2008.<br />

GUIMARÃES, Edgard. Linguagem e metalinguagem na história em <strong>quadrinhos</strong>. Retirado<br />

de:http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2002/Congresso2002_Anais/2002_NP16GUIM<br />

ARAES.pdf. Em 17/09/2008.<br />

EMEDIATO, Luiz Fernando. De como estrangular um general. In: Trevas no Paraíso –<br />

histórias de amor e guerra nos anos de chumbo. São Paulo: Geração Editorial, 2004.<br />

LANG, Jean. Mitos Universais – Mitos e Lendas <strong>dos</strong> povos europeus. Editora Landy.<br />

Tradução, adaptação e apresentação de Vilma Maria da Silva. São Paulo, 2003.<br />

LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina. Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998.<br />

__________. Feliz Aniversário. In: Laços de Família, Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1998.<br />

MARIA, Luzia de. O que é conto. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1992. 99 p.<br />

MEIRELLES, Alexandre. Inácio de Loyola Brandão: vida e obra. (resumo). Retirado de<br />

http://pt.shvoong.com/books/biography/1659842-ign%C3%A1cio-loyola-brand%C3%A3ovida-obra/<br />

.<br />

81


MOISÉS, Massuad. Dicionário de Termos Literários. Cultrix –USP, São Paulo, 1974.<br />

OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA. Histórias de amor e guerra. Retirado de:<br />

http://200.226.127.23/artigos.aspcod=300AZL006.<br />

PELLEGRINI, Tania. Gavetas vazias: ficção e política nos anos 70. Campinas: Mercado de<br />

Letras; São Carlos: Edufscar, 1996.<br />

PESSOA, Alberto Ricardo. Histórias em Quadrinhos: Um meio Intermidiático. Retirado de:<br />

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TELLES, Lygia Fagundes. Natal na barca. In: TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr do<br />

sol e outros contos. 19. ed. São Paulo: Ática, 2001. p. 20.<br />

TREVISAN, Dalton. O vampiro de Curitiba. In: Os cem melhores contos brasileiros do<br />

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RAMOS, Ricardo. Circuito Fechado (4). In: BOSI, Alfredo. O Conto Brasileiro<br />

Contemporâneo. 11. ed. São Paulo: Cultrix, 1997. p. 259.<br />

ROMERO, Sílvio (Org.). <strong>Contos</strong> Populares do Brasil. 2. ed. São Paulo: Landy, 2002. 363 p.<br />

SÉRGIO, Ricardo. O conto e sua estrutura tradicional. Retirado de:<br />

http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/383103<br />

SPALDING, Marcelo. Fernando Bonassi e a reinvenção do microconto na literatura<br />

brasileira contemporânea. Retirado de:<br />

http://www.seer.ufrgs.br/index.php/NauLiteraria/article/viewFile/4856/2771 em 04.04.2008<br />

82

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