Contos: dos mitos e lendas aos quadrinhos - IEL - Unicamp
Contos: dos mitos e lendas aos quadrinhos - IEL - Unicamp
Contos: dos mitos e lendas aos quadrinhos - IEL - Unicamp
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Conto: <strong>dos</strong> <strong>mitos</strong> e<br />
<strong>lendas</strong> <strong>aos</strong> <strong>quadrinhos</strong><br />
Amanda M. M. Giacopini<br />
Daniela S. Menali<br />
Juliana C. Fernandes<br />
Melissa C. Forato<br />
Alunas do curso de Licenciatura em Letras do <strong>IEL</strong><br />
(Instituto de Estu<strong>dos</strong> da Linguagem) / <strong>Unicamp</strong>.<br />
Estágio Supervisionado<br />
Orientadora:<br />
Prof.ª Drª Orna Messer Levin<br />
1
Agradecimento<br />
Agradecemos ao amigo Sergio Ricardo Mazzolani que gentilmente<br />
criou a capa de nosso fascículo didático.<br />
Agradecemos também a professora Orna por sua dedicação e<br />
paciência no decorrer deste trabalho.<br />
3
Apresentação<br />
Este fascículo foi pensado especialmente para você, aluno, que<br />
vive uma realidade escolar às vezes por demais tradicional. Este<br />
trabalho é o resultado de um ano nosso como autoras e estudantes,<br />
que nos dedicamos para a construção de uma educação mais<br />
produtiva e diversificada. Os temas <strong>dos</strong> capítulos foram pensa<strong>dos</strong> de<br />
forma que a leitura se torne mais interessante e próxima de seu dia-adia.<br />
Esperamos que você se divirta enquanto aprende, de forma a<br />
conhecer o mundo literário com novas cores e matizes.<br />
Procuramos propor atividades interessantes e diferentes, para<br />
que note como a literatura não está distante de sua realidade, mas a<br />
integra de uma tal forma que você muitas vezes nem se dá conta. Não<br />
pense que existem respostas prontas: o que mais vale nesta leitura<br />
são as suas reflexões que, aliadas a este breve livro, o levarão por<br />
novos e insuspeitos caminhos.<br />
Desejamos a você que a leitura seja uma passagem agradável<br />
de se percorrer, e que você encontre no mundo <strong>dos</strong> contos inspiração<br />
para novas leituras, conhecimentos e crescimento pessoal.<br />
As autoras<br />
5
ÍNDICE<br />
Capítulo 1: Mitos, contos e <strong>lendas</strong>..................................................... 09<br />
Capítulo 2: Qualquer história é um conto.......................................27<br />
Capítulo 3: O conto contemporâneo.................................................. 41<br />
Capítulo 4: Uma nova face para o conto contemporâneo............ 51<br />
Capítulo 5: HQ – Um novo formato para o conto........................... 63<br />
Anexo 1: O burro juiz........................ .................................................80<br />
Bibliografia...............................................................................................81<br />
7
Mitos, contos e <strong>lendas</strong><br />
O começo de um conto<br />
V<br />
ocê já pode ter se perguntado: de onde vem o conto Quem o inventou<br />
Ele já nasceu escrito<br />
Hoje se sabe que não há forma de definir exatamente quando os<br />
contos começaram a ser “conta<strong>dos</strong>”. Isto ocorre porque o ato de contar é um hábito milenar.<br />
Existem hipóteses de que os contos orais mais antigos sejam os egípcios, data<strong>dos</strong> de 4.000<br />
a.C. Mas é na cultura árabe que podemos encontrar o registro escrito mais remoto de<br />
histórias: As mil e uma noites, no qual Sherazade conquista o rei por meio da arte de contar<br />
histórias. Você conhece o enredo desta obra<br />
A história de As mil e uma noites tem início quando Charchair, o rei da Pérsia,<br />
amargurado e desiludido pela traição da rainha, decide consolidar um plano cruel para<br />
castigar as mulheres do reino. Após matar sua primeira esposa, ele decide desposar uma<br />
jovem diferente a cada dia e, tendo passado a noite de núpcias dava ordens para que essa<br />
nova esposa fosse executada. Mas depois de ser desposada pelo rei, a jovem Sherazade o<br />
envolve com a narrativa de um conto. Com a chegada da manhã, Charchair se vê obrigado a<br />
cuidar de seus afazeres sem ter tido tempo de ouvir o final do relato que Sherazade lhe<br />
contara. Assim, tomado pela curiosidade, o rei poupa a vida da nova esposa por aquele dia.<br />
E deste modo, munida de sua criatividade e destreza, a nova rainha vê passarem-se 1001<br />
noites sem que o rei mandasse executar sua morte.<br />
Assim chegou até nós esta coletânea de narrativas do Antigo Oriente. Nela foram<br />
incluí<strong>dos</strong> contos belos e exóticos da cultura árabe, a qual não por coincidência é o berço da<br />
escrita.<br />
9
http://www.novomilenio.inf.br/santos/<strong>lendas</strong>/h0182be.jpg<br />
Antes do registro escrito <strong>dos</strong> contos, estes eram transmiti<strong>dos</strong> oralmente. Deste<br />
modo, a narrativa oral foi a forma primitiva do conto, presente nas noites de lua em que os<br />
antigos se reuniam e, para passar o tempo, narravam histórias de bichos, <strong>lendas</strong> populares e<br />
<strong>mitos</strong>.<br />
Estas reuniões eram muito comuns em tribos, sendo que nestas ocasiões era eleito<br />
um contador responsável por transmitir a tradição, lições de moral, etc. Com o tempo, este<br />
hábito foi incorporado como uma prática familiar. Imaginemos a cena: a família agrupada<br />
ao redor do dono da fala, o contador de histórias, repositório de<br />
<strong>lendas</strong> e histórias e possuidor da arte de narrar.<br />
Uma das figuras mais populares de contadores que<br />
conhecemos hoje no Brasil é a Dona Benta de Monteiro Lobato,<br />
uma senhora que contava histórias fabulosas para Narizinho,<br />
Pedrinho e Emília, a boneca falante. Muitas das histórias<br />
narradas por Dona Benta são <strong>lendas</strong> folclóricas do Brasil, como<br />
as <strong>lendas</strong> do Saci e da sereia Iara que passaram de geração a<br />
geração.<br />
Mitos e <strong>lendas</strong><br />
Não há uma divisão precisa a respeito do que é conto, mito ou lenda. Estes termos<br />
referem-se a narrativas com diferenças tênues. A respeito destas nomenclaturas, observe o<br />
que a Grande Enciclopédia Portuguesa Brasileira Volume XIV (p.926) aponta:<br />
Entre a lenda e o mito há de comum a porção de sobrenatural e irracional<br />
que uma e outra contém. Diferem, porém, no grau de transcendência do<br />
significado e no recuo do tempo. O mito situa-se nos tempos ante-históricos e<br />
representa em um ser ou episódio sobrenaturais, quer acontecimento que por sua<br />
excepcional grandeza e alcance houvesse profundamente impressionado os<br />
homens (e, por exemplo, a utilização do fogo, representada no mito de Prometeu,<br />
indo arrebatá-lo do Céu), quer fenômeno natural e normal, como o renascer anual<br />
da Primavera (...). Tal transcendente significado, relacionado com as origens<br />
das coisas e traduzindo em dramas de deuses e heróis mistérios religiosos ou<br />
fenômenos cósmicos, não o têm as <strong>lendas</strong> ou contos populares, cuja ação se<br />
move neste mundo, entre os homens e não recua para além das origens <strong>dos</strong><br />
povos cristãos. Por isso, se a lenda é mito pelo que encerra de sobrenatural e<br />
irracional – e até pelo que possa conter de sobrevivência mística – chama-lhe<br />
Max Muller Mitologia Moderna e A. Langhi Mitologia Romanesca restringindo<br />
por tais epítetos a transcendência de significado do substantivo. (grifos nossos)<br />
10
www.klickeducacao.com.br<br />
http://www.arara.fr/BBTUCU<br />
MA.html<br />
http://pro.corbis.com/search/searchFrame.aspx<br />
Como você pôde ver, <strong>mitos</strong> e <strong>lendas</strong> se diferem com relação à sua face<br />
transcendental. Isto ocorre porque o mito ultrapassa os limites de nosso tempo e espaço,<br />
criando um mundo sobrenatural de deuses e heróis existente antes mesmo <strong>dos</strong> homens. Já<br />
as <strong>lendas</strong>, restringem-se ao nosso mundo, numa co-habitação de deuses e homens,<br />
envolvendo fenômenos naturais tais como o surgimento da noite, que veremos a seguir.<br />
A tribo indígena Tupi, na tentativa de explicar o surgimento da noite criou uma<br />
lenda muito interessante, reproduzida para leitura atenta logo abaixo:<br />
Como a noite apareceu<br />
11<br />
Intitulado por Couto de Magalhães<br />
"No princípio não havia noite; havia dia somente em todo tempo. A<br />
noite esteve adormecida no fundo das águas. Não havia animais: todas as coisas<br />
falavam. A filha da Cobra Grande, contam, casara-se com um moço. Este moço<br />
tinha três fâmulos fiéis. Um dia chamou ele os três fâmulos e lhes disse: "Ide<br />
passear, porque minha mulher não quer dormir comigo." Os fâmulos foram-se, e<br />
então ele chamou sua mulher para dormir com ele. A filha da Cobra Grande<br />
respondeu-lhe: "Ainda não é noite". O moço disse-lhe: "Não há noite, somente<br />
há dia." A moça falou: "Meu pai tem noite". Se queres dormir comigo, manda<br />
buscá-la, lá pelo grande rio." O moço chamou os três fâmulos; a moça mandouos<br />
à casa de seu pai para trazerem um caroço de tucumã. Os fâmulos foram, chegaram à casa da Cobra<br />
Grande, esta lhes entregou um caroço de tucumã muito bem fechado e disse-lhes: "Aqui está; levai-o. Eia!<br />
não o abrais, senão todas as coisas se perderão." Os fâmulos foram-se, estavam ouvindo barulho dentro do<br />
coco de tucumã, assim: ten, ten, len...xi...era o barulho <strong>dos</strong> grilos e <strong>dos</strong> sapinhos que cantam de noite. Quando<br />
já estavam longe, um <strong>dos</strong> fâmulos disse a seus companheiros:<br />
"Vamos ver que barulho será este." O piloto disse: "Não, do<br />
contrário nos perderemos. Vamos embora, eia, rema!" Eles foram e<br />
continuaram a ouvir aquele barulho dentro do coco de tucumã e<br />
não sabiam que barulho era. Quando já estavam muito longe,<br />
ajuntaram-se no meio da canoa, acenderam fogo, derreteram o breu<br />
que fechava o coco, e o abriram. De repente tudo escureceu. O<br />
piloto então disse: "Nós estamos perdi<strong>dos</strong>; e a moça, em sua casa,<br />
já sabe que nós abrimos o coco de tucumã!" Eles seguiram viagem.<br />
A moça, em sua casa, disse então a seu marido: "Eles soltaram a<br />
noite; vamos esperar a manhã."<br />
Então todas as coisas que estavam espalhadas pelo<br />
bosque, se transformaram em animais e em pássaros. As coisas que<br />
estavam espalhadas pelo rio, se transformaram em patos e em<br />
peixes. Do paneiro gerou-se a onça; o pescador e sua canoa se<br />
transformaram em pato. A filha da Cobra Grande, quando viu a<br />
estrela-dalva, disse a seu marido: "A madrugada vem rompendo. Vou<br />
dividir o dia da noite." Então ela enrolou um fio, e disse-lhe: "Tu serás<br />
cujubim." Assim, ela fez o cujubim, pintou a cabeça do cujubim de<br />
branco, com tabatinga, pintou-lhe as pernas de vermelho com urucum, e<br />
então disse-lhe: "Cantarás para todo o sempre, quando a manhã vier<br />
raiando." Ela enrolou o fio, sacudiu cinza em cima dele, e disse: "Tu<br />
serás inambu, para cantar nos diversos tempos da noite, e de<br />
madrugada."<br />
De então para cá to<strong>dos</strong> os pássaros cantaram em seus tempos, e de<br />
madrugada para alegrar o princípio do dia.<br />
Inambu 1 Quando os três fâmulos chegaram, o moço disse-lhes: "Não fostes fiéis; abristes o caroço de tucumã,<br />
Inambu 2
http://www.tipos.com.br/media/705/20070<br />
110_tela_prometeu.jpg<br />
http://www.eclipsys.blogger.com.br/pand<br />
ora.jpg<br />
soltastes a noite e todas as coisas se perderam, e vós também que vos metamorfoseastes em macacos, andareis<br />
para todo o sempre pelos galhos de paus." A boca preta, e a risca amarela que eles têm no braço, dizem que é<br />
ainda o sinal do breu que fechava o caroço de tucumã, que escorreu sobre eles quando o derreteram."<br />
ROMERO, Sílvio. <strong>Contos</strong> Populares do Brasil. 2. ed. São Paulo: Landy, 2002. 363 p.<br />
O texto acima expressa a forma com a qual os tupis encaravam o surgimento da<br />
noite e a criação <strong>dos</strong> animais. Tudo na história se concentra no caroço de tucumã, um fruto<br />
típico do local onde a tribo tupi habita. Desta forma, podemos entender que a lenda, além<br />
de trazer uma visão primitiva de como a noite poderia ter surgido, expressa um forte tom<br />
local dessa cultura, já que esta lenda só faz sentido para esta tribo por conhecerem o<br />
tucumã. Assim, a composição das <strong>lendas</strong> é repleta de fatores locais. Além disso, há também<br />
uma porção de extraordinário nesta lenda, cuja característica também é recorrente nos<br />
<strong>mitos</strong>, pela presença do ente sobrenatural Cobra Grande, que é o protetor do tucumã e,<br />
portanto, detentor da noite.<br />
Curiosidade: Mito de Prometeu e Pandora<br />
Os gregos acreditavam que na criação do mundo, os deuses<br />
do Olimpo escolheram dois valorosos titãs para distribuírem dons às<br />
criaturas. Assim, Prometeu e Epimeteu distribuíram dons, talentos e<br />
instintos a todas as criaturas. Porém, ao chegar a vez do homem, não<br />
lhes restava mais nada. Compadecendo-se da raça humana, Prometeu<br />
invadiu secretamente o Olimpo e roubou uma chama do fogo<br />
sagrado, dotando os homens da capacidade<br />
de dominar o fogo e assim subjugar as<br />
outras criaturas. Ao descobrirem o seu<br />
pecado, os deuses do Olimpo o condenaram<br />
a ficar pendurado em um penhasco enquanto<br />
um repugnante abutre devorava seu fígado. Quanto a Epimeteu, os<br />
deuses lhe enviaram uma formosa donzela chamada Pandora para<br />
ser sua esposa. O titã ficou encantado. A moça, porém, detinha<br />
uma curiosidade muito aguçada, e sem que Epimeteu percebesse,<br />
Pandora abriu a caixa que continha to<strong>dos</strong> os males existentes,<br />
libertando todo mal que hoje conhecemos.<br />
*Titã = gigante<br />
12
Há também muitos exemplos de <strong>mitos</strong> presentes no que chamamos de mitologias<br />
grega e romana. Quem nunca ouviu sobre o mito de Cupido, o deus do Amor, ou o mito de<br />
Hércules E de Zeus, o deus do Monte Olimpo Os <strong>mitos</strong> fizeram parte da religião <strong>dos</strong><br />
povos antigos no Período Clássico, iniciando-se com os gregos por volta <strong>dos</strong> séculos VI a<br />
IV a.C. Estas crenças inspiraram diversos artistas e até hoje são bastante conhecidas, pois<br />
nos dizem muito sobre a visão de mundo da cultura a qual pertencem.<br />
Mas o que <strong>mitos</strong> e <strong>lendas</strong> têm em comum com o conto<br />
O início do registro destas narrativas existentes na cultura <strong>dos</strong> povos e tribos antigos<br />
foi a semente para o surgimento <strong>dos</strong> contos modernos. O imaginário coletivo, ao ser<br />
registrado sob a forma escrita, permitiu <strong>aos</strong> compiladores acrescentarem a estas histórias<br />
um estilo próprio, fixando uma versão particular da narrativa registrada. Com o tempo as<br />
pessoas deixaram de registrar histórias contadas pelos outros para criarem suas próprias<br />
narrativas, de forma que a autoria tornou-se fator primordial <strong>dos</strong> escritores das sociedades<br />
mais contemporâneas.<br />
Para exemplificar, podemos pensar em dois tipos de texto: os de nossa infância,<br />
como Branca de Neve ou Os três porquinhos, ou textos mais reconheci<strong>dos</strong> pela literatura<br />
canônica, como A cartomante de Machado de Assis ou Uma Galinha, de Clarice Lispector.<br />
Observe que o primeiro tipo de contos é muito divulgado, mas pouco se sabe sobre<br />
sua autoria, como é o caso da maioria <strong>dos</strong> contos de fadas. A expressão “contos de fadas” é<br />
usada para se referir às histórias anônimas que foram e vêm sendo reelaboradas, compostas<br />
por fragmentos de outras histórias, sofrendo acréscimos, supressões, mesclando-se até<br />
chegar <strong>aos</strong> nossos ouvi<strong>dos</strong>. Daí a expressão tão conhecida: quem conta um conto, aumenta<br />
um ponto.<br />
Segundo Maria de Luzia (1992), “Em língua portuguesa o termo „conto‟ serve para<br />
designar a forma popular, folclórica, criação coletiva da linguagem e daí a não-propriedade<br />
de um único criador, e, ao mesmo tempo, a forma artística atributo exclusivo de um estilo<br />
peculiar, individual”. Ou seja, são considera<strong>dos</strong> contos tanto os textos <strong>dos</strong> quais sabemos o<br />
autor quanto os textos <strong>dos</strong> quais pouco se conhece a origem.<br />
13
http://www.rosanevolpatto.trd.br/frigg.jpg<br />
moscatonta.wordpress.com<br />
http://www.reporterdiario.com.br/blogs/ocor<br />
vo/wp-content/uploads/2007/11/saci.gif<br />
Curiosidade: Freia, a rainha <strong>dos</strong> deuses nórdicos<br />
Algumas narrativas foram transmitidas oralmente por<br />
tanto tempo que as versões mais conhecidas hoje acabaram<br />
por carregar muito pouco da versão original. É o caso desta<br />
figura da cultura nórdica.<br />
Freia, “A Amada”, era para os nórdicos a esposa de<br />
Odin, o Pai-de-Tudo. Ela sentava-se em<br />
seu trono celestial e tecia as nuvens que<br />
amenizam o calor do sol. Por meio de<br />
artimanhas femininas, ela conseguia de<br />
Odin a realização <strong>dos</strong> desejos <strong>dos</strong><br />
guerreiros que a ela recorriam. Era a<br />
protetora <strong>dos</strong> que navegavam os mares e<br />
a guardiã das crianças. Porém, com o<br />
advento do cristianismo, Freia foi transformada numa figura<br />
diabólica, uma líder dentre as bruxas. Os gatos, que antes<br />
puxavam seu carro e eram vistos como seres gentis,<br />
passaram a ser criaturas satânicas que a acompanhavam, e até hoje são relaciona<strong>dos</strong> com<br />
contos de bruxaria.<br />
Atualmente, podemos dizer que ainda há um resquício do<br />
conto popular nas <strong>lendas</strong> urbanas, relatos de cunho ficcional que<br />
são amplamente divulga<strong>dos</strong> oralmente, através de e-mails ou pela<br />
própria imprensa. Quem não conhece a história da Loira do<br />
banheiro Embora não seja um exemplo clássico como o Saci<br />
Pererê, a história da loira do banheiro é conhecida principalmente<br />
nos meios escolares. Vejamos uma das mais conhecidas <strong>lendas</strong><br />
urbanas da região Sudeste.<br />
A loira do banheiro<br />
Esta história é muito contada em escolas da rede<br />
pública na cidade de São Paulo. Sua fama é muito grande<br />
entre os alunos.<br />
14
Uma garota muito bonita de cabelos loiros com aproximadamente 15 anos sempre<br />
planejava maneiras de matar aula. Uma delas era ficar ao banheiro da escola esperando o<br />
tempo passar.<br />
Porém um dia, um acidente terrível aconteceu. A loira escorregou no piso molhado<br />
do banheiro e bateu sua cabeça no chão. Ficou em coma e pouco tempo depois veio a<br />
falecer.<br />
A menina não se conformou com seu fim trágico e prematuro. Sua alma não quis<br />
descansar em paz e passou a assombrar os banheiros das escolas. Muitos alunos juram<br />
terem visto a famosa loira do banheiro, pálida e com algodão no nariz para evitar que o<br />
sangue escorresse.<br />
Você pode encontrar estas e outras versões (da boca do povo) no site:<br />
http://ifolclore.vilabol.uol.com.br/<strong>lendas</strong>/sd/sd_loira01.htm. Pode ainda conhecer diferentes<br />
versões, nos diferentes esta<strong>dos</strong> brasileiros: http://www.e-farsas.com/<strong>lendas</strong>_loira.htm<br />
É possível citar ainda diversas <strong>lendas</strong> urbanas que as pessoas comentam com<br />
freqüência: A Loira da Estrada, Elvis Não Morreu, o Roubo <strong>dos</strong> Rins, enfim, um repertório<br />
significativo presente na imaginação da sociedade.<br />
Para concluir<br />
Da incrível Sherazade e suas mil e uma noites até as histórias de Edgar Alan Poe<br />
(falaremos sobre ele no próximo capítulo), o conto tornou-se senão o mais popular, um <strong>dos</strong><br />
mais populares estilos literários. Você já se arriscou a escrever algum Você já tentou<br />
definir o que é conto Conhecemos na nossa literatura brasileira alguém que tentou. O<br />
escritor Mário de Andrade afirmou: “Conto será sempre aquilo que seu autor batizou de<br />
conto”. Você concorda<br />
O que você aprendeu<br />
O que você aprendeu:<br />
Neste capítulo foi possível conhecer ou rever:<br />
A origem do conto<br />
Diferentes <strong>mitos</strong> e <strong>lendas</strong> e sua relação com o conto<br />
Enfim,.<br />
V<br />
As <strong>lendas</strong> urbanas<br />
ale a pena conferir!<br />
considerado uma forma literária.<br />
Enfim, você pôde perceber a importância cultural do conto, hoje<br />
15
Filmes de histórias remontadas ou às avessas<br />
Como está tudo programado no mundo <strong>dos</strong> contos<br />
de fada para que haja um final feliz, o Mago,<br />
responsável pelo equilíbrio entre as forças do bem<br />
e do mal, decide sair em férias. Ele deixa seus<br />
assistentes, Mambo e Manco, cuidando de tudo.<br />
Porém um erro faz com que Frieda, a madrasta da<br />
Cinderela, tenha a posse do cajado mágico. Seu<br />
objetivo é tomar o controle do mundo de contos de<br />
fada, fazendo com que os vilões vençam e que os<br />
finais das histórias jamais sejam felizes<br />
novamente. Isto faz com que Cinderela, mais<br />
conhecida como Ella entre os amigos, tenha que<br />
encontrar um meio de, a madrasta da Cinderela, tenha a posse do<br />
cajado mágico. Seu o deter Frieda, contando com a ajuda de Rick,<br />
Manco, Mambo e um exército composto de fadas e anões.<br />
http://www.adorocinema.com.br/filmes/deu-a-louca-na-cinderela/deu-a-louca-na-cinderela.asp<br />
O filme conta a história da bela princesa Giselle<br />
que é banida por uma rainha malvada de seu<br />
mundo animado mágico e musical e vai parar na<br />
dura realidade das ruas de Manhattan <strong>dos</strong> dias de<br />
hoje. Em choque no novo e estranho ambiente<br />
que não funciona na base do "e viveram felizes<br />
para sempre", Giselle está agora à deriva em um<br />
mundo caótico e que necessita urgentemente de<br />
encantamento. Mas quando Giselle começa a se<br />
apaixonar por um advogado divorciado e<br />
charmoso que vem em seu auxílio - ela, mesmo<br />
estando prometida a um perfeito príncipe<br />
encantado de contos de fadas em sua terra, se pergunta: será que a<br />
perspectiva de romance de um livro de histórias é capaz de sobreviver<br />
no mundo real<br />
v<br />
http://www.choveu.net/cinema/cinema.aspxkeyfilme=MTMzODk=<br />
16
A tranqüilidade da vida na floresta é alterada<br />
quando um livro de receitas é roubado. Os<br />
suspeitos do crime são Chapeuzinho Vermelho, o<br />
Lobo Mau, o Lenhador e a Vovó, mas cada um deles<br />
conta uma história diferente sobre o ocorrido. Cabe<br />
então ao inspetor Nick Pirueta investigar o caso e<br />
descobrir a verdade.<br />
http://www.adorocinema.com/filmes/deu-a-louca-na-chapeuzinho/deu-a-louca-nachapeuzinho.asp<br />
Em um pântano distante vive Shrek, um<br />
ogro solitário que vê, sem mais nem menos,<br />
sua vida ser invadida por uma série de<br />
personagens de contos de fada, como três<br />
ratos cegos, um grande e malvado lobo e ainda<br />
três porcos que não têm um lugar onde morar.<br />
To<strong>dos</strong> eles foram expulsos de seus lares pelo<br />
maligno Lorde Farquaad. Determinado a<br />
recuperar a tranqüilidade de antes, Shrek<br />
resolve encontrar Farquaad e com ele faz um<br />
acordo: to<strong>dos</strong> os personagens poderão retornar<br />
<strong>aos</strong> seus lares se ele e seu amigo Burro<br />
resgatarem uma bela princesa, que é<br />
prisioneira de um dragão. Porém, quando Shrek e o Burro enfim<br />
conseguem resgatar a princesa logo eles descobrem que seus problemas<br />
estão apenas começando.<br />
http://www.adorocinema.com.br/filmes/shrek/shrek.asp<br />
17
http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Noite_Estrelada<br />
Atividades<br />
Atividade 1<br />
Responda às questões com base no conto sobre surgimento da noite apresentado neste<br />
capítulo.<br />
a) Há contos, <strong>mitos</strong> e <strong>lendas</strong> que<br />
explicam o surgimento de<br />
outros elementos da natureza.<br />
Reúna-se com seus colegas de<br />
classe (vocês podem ir à<br />
biblioteca, pesquisar na<br />
Internet ou mesmo perguntar<br />
<strong>aos</strong> professores e familiares) e<br />
pesquise sobre esses outros<br />
textos. Faça uma lista e<br />
compare com os outros grupos<br />
de sua sala.<br />
b) Pudemos perceber que no mito indígena o surgimento da noite é explicado<br />
conforme a crença do povo Tupi, ou seja, trata-se de uma explicação que<br />
não é científica. De acordo com o mito lido, conte como surgiu a noite.<br />
Descreva, em termos científicos, por que a noite surge. Para isso, é relevante<br />
lembrar das aulas de geografia, onde o professor explicou os movimentos de<br />
translação e rotação da Terra.<br />
c) A noite pode suscitar diferentes sensações nas pessoas, em algumas pode<br />
provocar melancolia, em outras, romantismo, e ainda há aquelas que vêem a<br />
noite como algo que representa medo e mistério. Qual é a sua visão a<br />
respeito da noite Na pintura acima, obra de Vincent van Gogh “Noite<br />
Estrelada”, a noite foi pintada de memória e não a partir de uma paisagem<br />
real. Acredita-se que este seja o motivo pelo qual essa obra cause um<br />
impacto ao espectador. Como você acha que o artista sentiu a noite Que<br />
impressão este quadro causou em você<br />
Respostas esperadas<br />
a) Espera-se que o aluno tenha um contato prático dentro e fora de sala de aula com<br />
alguns veículos de pesquisa para que aprofunde seus conhecimentos a respeito de<br />
contos, <strong>mitos</strong> e <strong>lendas</strong>.<br />
b) Trata-se de uma atividade interdisciplinar de compreensão do mito e refacção do<br />
surgimento da noite com base no conhecimento científico.<br />
18
c) Esta atividade permitirá com que o aluno associe o tema do texto lido à obra de<br />
Vincent van Gogh. É um exercício subjetivo que visa trazer à tona certas emoções por<br />
meio da expressão artística e assim demonstrar que a arte sempre sugere algum tipo de<br />
emoção.<br />
Atividade 2<br />
Beowulf, o guerreiro <strong>dos</strong> geats<br />
A história de Beowulf foi trazida para a Grã-Bretanha pelos vikings. Hrothgar era rei da<br />
Dinamarca e construiu em seu reino um poderoso palácio. No entanto, seu povo era afligido<br />
pelo monstro Grendel, que todas as noites<br />
invadia o salão e devorava os mais corajosos<br />
guerreiros. Sabendo da aflição deste reino,<br />
Beowulf partiu da terra <strong>dos</strong> gueats e foi ao<br />
encontro de Hrothgar, ao qual jurou acabar com<br />
a criatura. Beowulf e seus homens dormiam no<br />
salão do palácio quando o monstro chegou.<br />
Beowulf arrancou o braço de Grendel com as<br />
próprias mãos, fazendo com que a criatura<br />
fugisse para os pântanos para esperar a morte. To<strong>dos</strong> comemoraram a vitória e dormiram<br />
tranqüilos. Mas Grendel foi ao encontro de sua mãe, e quando esta viu a sua dor jurou-lhe<br />
vingança, e atacou o reino de Hrothgar, deixando um rastro de morte e destruição. Mais<br />
uma vez Beowulf partiu para a luta, e encontrou a horrenda criatura, metade lobo, metade<br />
mulher, numa caverna sob a água. Beowulf lutou bravamente com a mãe de Grendel e a<br />
derrotou, trazendo novamente a paz para o povo da Dinamarca. Anos mais tarde, quando se<br />
tornou rei do povo <strong>dos</strong> gueats, Beowulf enfrentou um poderoso dragão e conseguiu matálo,<br />
mas isto lhe custou a vida. Como recompensa por sua morte, o herói conquistou um<br />
gigantesco tesouro para o seu reino e sua fama espalhou-se por toda a Escandinávia.<br />
Beowulf, o filme<br />
Inspirado em um antigo poema, o filme conta a história do destemido guerreiro<br />
escandinavo Beowulf (Ray Winstone), que precisa defender o<br />
reino do monarca Hrothgar (Anthony Hopkins) do feroz demônio<br />
Grendel (Crispin Glover). Em uma desesperada batalha, Beowulf<br />
acaba matando o monstro, atraindo para si a terrível ira de sua<br />
impie<strong>dos</strong>a e sedutora mãe (Angelina Jolie), que decide vingar sua<br />
morte. Anos mais tarde, Beowulf irá se deparar com o maior<br />
desafio de sua vida, personificado na figura de um poderoso<br />
dragão. O filme apresenta importantes acontecimentos da lenda,<br />
não deixando, é claro, de acrescentar um toque a mais de ficção<br />
na história, que envolve muitos elementos que não estavam<br />
presentes na lenda original do guerreiro.<br />
Agora é sua vez!<br />
Reúna-se com seus amigos e assista a este filme. Releia o resumo da lenda original e<br />
discuta com sua classe: o que o filme e a lenda têm em comum Quais suas diferenças<br />
Porque vocês acham que o diretor alterou a história original<br />
19
Resposta esperada<br />
Através desta atividade pretende-se despertar nos alunos um interesse sobre as diversas<br />
versões que uma lenda pode adquirir. Ao ver o filme, eles perceberão que apesar de contar<br />
parte essencial da lenda original, o filme traz novos contornos à história. O diretor do filme<br />
pode ter alterado a história por diversos motivos: para tornar o filme mais emocionante,<br />
para que a história tivesse um clima mais romântico em alguns momentos, etc.<br />
Atividade 3<br />
Câmara Cascudo disse que o conto “É um documento vivo, que denuncia costumes, idéias,<br />
mentalidades, decisões e julgamentos”.<br />
a) Com base nessa afirmação e no que leu até agora, você pode dizer por que o conto é<br />
um documento vivo<br />
b) Dê exemplos, com base em suas experiências, de contos, <strong>mitos</strong> ou <strong>lendas</strong> que<br />
denunciem costumes ou julgamentos. Por exemplo: há contos que defendem que as<br />
pessoas boas sempre são recompensadas no final; como no caso da humilde<br />
Cinderela, que foi uma boa moça e no fim se casou com o príncipe. Ou ainda.<br />
quando Pinocchio contava mentiras, seu nariz crescia, o que demonstrava que era<br />
errado contar mentiras.<br />
Resposta esperada<br />
O aluno deverá notar que o conto é um documento vivo, porque traz registros <strong>dos</strong> traços<br />
culturais de uma determinada sociedade. E é vivo porque é transmitido de geração a<br />
geração até chegar <strong>aos</strong> nossos ouvi<strong>dos</strong>. Além disso, o aluno deverá perceber que,<br />
dependendo do contexto histórico, o conto denunciará diferentes costumes. Por exemplo:<br />
muitas coisas que não eram aceitas pela sociedade antigamente são tidas hoje como<br />
comuns.<br />
Atividade 4<br />
Neste capítulo, você aprendeu que os <strong>mitos</strong> e as <strong>lendas</strong> muitas vezes são maneiras de<br />
explicar fenômenos e/ou acontecimentos de uma forma muito típica de cada sociedade.<br />
Nosso país, de grande extensão, abriga os mais diversos tipos de culturas, com costumes,<br />
culinária e sotaques bastante diferentes entre si. Isso sem mencionar a quantidade de <strong>mitos</strong><br />
e <strong>lendas</strong>. Você já havia pensado nisso Pesquise com pessoas de outras regiões do Brasil,<br />
que porventura você conheça, ou mesmo em livros e na Internet, algum mito ou lenda que<br />
não seja conhecido nessa região, ou ainda, que tenha uma versão diferente da que você<br />
conhece.<br />
Resposta esperada<br />
Nesta atividade buscamos aproximar a questão da diversidade cultural através <strong>dos</strong> <strong>mitos</strong> e<br />
<strong>lendas</strong>, mostrando que bem próximo a nós, dentro do mesmo país, essa diversidade é<br />
grande e bastante rica, estimulando o interesse e respeito pelas diferenças. Aqui o aluno<br />
poderá citar a lenda do Boi-Bumbá (Amazonas), a lenda do Famaliá (norte de Minas e<br />
Nordeste), a lenda do Negrinho do Pastoreio ou da Salamanca do Jarau (Rio Grande do<br />
Sul), etc.<br />
20
Atividade 5<br />
Quem nunca brincou de telefone sem fio Eis um bom exemplo do que aconteceu<br />
com os contos desde o início <strong>dos</strong> tempos. Faça um círculo em sala, alguém terá que<br />
inventar uma pequena história e falará no ouvido do outro e assim sucessivamente até que a<br />
história chegue ao ouvido do criador da história. Observação: O aluno que inventou a<br />
história deverá anotar a versão inicial e a final. Depois a sala poderá discutir as mudanças e<br />
ver na prática o que está sendo abordado neste capítulo.<br />
Resposta esperada<br />
A atividade tem por objetivo mostrar <strong>aos</strong> alunos que antes de se ter registro escrito, cada<br />
pessoa que contava uma história a modificava conforme seu próprio ponto de vista, ou seja,<br />
ressaltava as partes que mais chamavam sua atenção.<br />
Atividade 6<br />
Certamente você já deve ter ouvido falar da Loira do banheiro, se não ouviu, acabou<br />
de conhecer. Então agora é sua vez de passar esse conto adiante. Reescreva essa lenda<br />
urbana, a partir de sua visão. Depois, compartilhe sua versão da história com seus colegas<br />
de classe. Essa será uma maneira interessante de perceber como os contos vão sendo<br />
modifica<strong>dos</strong> quando passam de boca em boca.<br />
Resposta esperada<br />
Espera-se com essa atividade de produção textual incentivar o aluno a pesquisar <strong>lendas</strong><br />
urbanas e discutir com seus colegas as diferentes versões de uma mesma lenda. O que<br />
prova que os contos, os <strong>mitos</strong> e as <strong>lendas</strong> foram modifica<strong>dos</strong> com o passar do tempo, pois<br />
de boca em boca sempre se modificam.<br />
Atividade 7<br />
Leia os <strong>quadrinhos</strong> e responda:<br />
21
Veja a história completa em: http://www.monica.com.br/comics/banheiro/pag1.htm<br />
22
a) A lenda da Loira do banheiro é o tipo de história que pode gerar julgamentos de<br />
valor no que se refere a acreditar ou não. Cebolinha não acredita nessa lenda urbana<br />
e você Você conhece alguma história assim que alguns acreditem e outro não Ou<br />
já foi para alguma cidade pequena de interior que tenha alguma lenda Ou conhece<br />
alguma história de acampamento Conte para a sala.<br />
b) Experimente fazer <strong>quadrinhos</strong> com a história que contou. Você pode criar<br />
personagens conversando sobre o assunto como fez Maurício de Sousa ou então<br />
fazer <strong>quadrinhos</strong> da história em si. A seguir, exponha esses <strong>quadrinhos</strong> na sala de<br />
aula.<br />
c) A Mônica disse que tem um ritual para a assombração da loira aparecer. Você sabe<br />
o que é um ritual Será que to<strong>dos</strong> os rituais são volta<strong>dos</strong> para o mal Pesquise com<br />
seu professor a respeito.<br />
Respostas esperadas<br />
a) O objetivo dessa atividade é desenvolver uma prática oral. O aluno/estudante<br />
buscará na memória alguma história do tipo fantástica e contará para a sala. Esperase<br />
que ele conte com um tom de suspense como histórias desse âmbito exigem.<br />
b) O objetivo é a produção do gênero <strong>quadrinhos</strong>. Espera-se que o aluno atente para a<br />
importância da imagem na produção de significado da história e que perceba que a<br />
parte textual deve ser estruturada por meio de diálogos e que o texto tem que ser<br />
bem mais sintético devido a essa estrutura.<br />
c) (Se necessário o professor pode auxiliar numa discussão sobre este tema). Espera-se<br />
que o aluno perceba que ritual é um procedimento realizado para algo acontecer. A<br />
pessoa que faz um ritual tem que seguir alguns passos que devem obedecer a<br />
alguma ordem. Se modificar a ordem ou fazer algum passo errado, o ritual não dará<br />
certo. É uma atividade também que exige uma reflexão. Baseado em seu<br />
conhecimento de mundo, o aluno deverá responder se os rituais são volta<strong>dos</strong><br />
somente para o mal.<br />
Atividade 8<br />
A Murta que Geme é um personagem <strong>dos</strong> livros Harry Potter. Ela era<br />
uma aluna de Hogwarts* que depois de morta virou um fantasma que<br />
assombra o banheiro feminino do segundo andar da escola. Não pára de<br />
ter acessos de raiva, inundando o banheiro. Foi morta pelo basilisco* na<br />
época em que Tom Riddle estudava em Hogwarts, quando este abriu a<br />
Câmara Secreta*. Aparentemente aconteceram vários ataques, mas o de<br />
Murta foi o único fatal, e também o último.<br />
*Hogwarts: Considerada como a melhor escola para bruxos de toda Europa, foi fundada há mais de 1.000 anos por quatro<br />
<strong>dos</strong> melhores bruxos da época.<br />
23
*Basilisco: uma cobra verde-vivo. Embora tenha um excepcional veneno, seu principal método de matar são seus grandes<br />
olhos amarelos, que mata qualquer um que olhar diretamente para eles (e petrifica aqueles que olharem através de alguma<br />
interferência).<br />
*Tom Riddle: Talvez o mais brilhante estudante que Hogwarts já teve (um personagem do lado do mal).<br />
*Câmara Secreta: Lugar criado para bruxos legítimos por um <strong>dos</strong> bruxos fundadores da escola que achava que somente<br />
bruxos legítmos poderiam frequentar Hogwards. Lá ficava o basilisco.<br />
http://potterish.com/wiki/index.php/Hogwarts<br />
Agora que você pôde ver ou rever a história da Loira do banheiro e da Murta Que<br />
Geme de Harry Potter, faça uma comparação, com base no que você já sabe e naquilo que<br />
você leu, entre esses personagens e histórias dizendo o que há em comum e as diferenças<br />
entre eles.<br />
Resposta esperada<br />
O aluno deverá dizer o que há em comum nas duas histórias, por exemplo, ambas as<br />
meninas foram mortas no banheiro e assombram as pessoas lá; ambas inundam o banheiro.<br />
Já algumas diferenças: a loira do banheiro escorregou por acidente no banheiro, bateu a<br />
cabeça e morreu, já a Murta foi assassinada pelo basilisco, além disso, não há indícios de<br />
que a Murta “cabulava aulas”, como a loira do banheiro. Todas essas semelhanças e<br />
diferenças comprovam que há uma idéia comum – a menina que morreu no banheiro e<br />
assombra as pessoas lá – e a partir dessa idéia diferentes versões foram desenvolvidas.<br />
Atividade 9<br />
Leia o texto abaixo e responda às questões:<br />
Conto de fadas (uma versão para adultos)<br />
O relógio marcava 16h45 quando Cinderela chegou à casa de<br />
chá. Esperando impacientemente lá estava a Bela, batendo os<br />
de<strong>dos</strong> no tampo da mesa. Apesar de não estar atrasada, pois o<br />
encontro foi agendado para as 17h, Cinderela se sentiu culpada<br />
por fazer a controladora Bela esperar.<br />
“Que demora!” – exclamou a Bela, que já nem era tão bela<br />
assim, depois de ter se casado com a Fera, tinha engordado uns<br />
15 quilos, para dizer o mínimo. Cinderela sentou-se à mesa e ficou quieta, contou até dez e<br />
tentou se concentrar no mantra que seu personal de ioga havia ensinado para quando<br />
estivesse muito próxima de explodir. Depois de respirar até dez por cinco seqüências<br />
seguidas, Cinderela se acalmou e, só então, conseguiu desfrutar da companhia da amiga.<br />
“Branca de Neve ainda não chegou, como sempre”, queixa-se a Bela comendo mais um<br />
merengue lambuzado de açúcar.<br />
“Ela sempre chega um pouco atrasada”, confirmou Cinderela já refeita da quase explosão<br />
de raiva.<br />
“Como vão as crianças e o maridão” – indagou a Bela.<br />
“Ah, o Júnior está terrível! A professora disse que ele está aprontando na classe e, pelo<br />
jeito, nunca se encaixará no perfil de príncipe encantado, seguindo as pegadas do pai. Eu já<br />
nem sei como fazer. Cinderelazinha tem uma agressividade que nem sei como será, ela é<br />
24
toda brutalizada, não gosta de brincar de boneca e sequer usa aquelas roupas lindas cheias<br />
de fitinhas e sapatinhos de cristal. Só quer saber de aprender boxes, lutas marciais! Meus<br />
filhos não correspondem a nenhum perfil de príncipe e princesa, já não sei o que fazer com<br />
estas crianças. Sinceramente, não sei onde eu errei”, disse Cinderela caindo em prantos no<br />
meio do salão de chá.<br />
Sem saber o que falar, Bela empurra um pedaço de bolo de chocolate dizendo: “Come que<br />
logo vai passar. Mas e o príncipe não ajuda em nada Você tem que se impor, Cinderela!<br />
Afinal, a criação <strong>dos</strong> filhos é de responsabilidade <strong>dos</strong> dois!” – argumenta indignada a Bela.<br />
“Ah, o príncipe já não é mais o mesmo. Sempre me deixa de<br />
lado e agora deu para chegar muito tarde. Desconfio que ele<br />
tenha um caso com uma das empregadinhas do palácio. Ele<br />
vive de cochichos pelos cantos ao celular, agora deu para<br />
querer fazer ginástica, determinou que os costureiros reais<br />
fizessem um guarda-roupa novinho! Ele está naquela fase da<br />
meia-idade que não aceita a velhice. Sabe que ele já marcou<br />
consulta com um médico para fazer implante no cabelo Ele já<br />
não me ama mais”, sentenciou Cinderela dando uma grande<br />
fungada no fino lencinho bordado que Bela tinha lhe<br />
oferecido.(...)<br />
http://carlagiffoni.blogspot.com/2008/03/conto-de-fadas-uma-verso-para-adultos.html<br />
a) O texto acima faz referência a alguns contos de fadas muito conheci<strong>dos</strong><br />
mundialmente. Quais são eles Quais os elementos presentes no texto que podem<br />
nos levar a esta conclusão<br />
b) Podemos perceber no texto uma série de elementos que caracterizam problemas de<br />
nossa sociedade atual. Identifique-os.<br />
c) Meus filhos não correspondem a nenhum perfil de príncipe e princesa, já não sei o<br />
que fazer com estas crianças. Cinderela fala esta frase referindo-se ao perfil de<br />
príncipe do contexto no qual a história foi inicialmente escrita. Reflita: qual seria o<br />
perfil de príncipe/princesa na sociedade de hoje (Se necessário o professor pode<br />
auxiliar numa discussão sobre este tema).<br />
Respostas esperadas<br />
a) O texto acima faz referência às histórias da Branca de Neve, A Bela e a Fera e<br />
Cinderela. Podemos perceber esta relação pelo nome das personagens, pela<br />
alusão às figuras do príncipe encantado e da Fera, e às roupas lindas cheias de<br />
fitinhas e sapatinhos de cristal.<br />
b) São problemas característicos de nossa sociedade atual o desejo das mulheres de<br />
perderem peso, a compulsão pela comida, a dificuldade de educar os filhos e os<br />
problemas de traição no casamento, que não existiam nas histórias originais<br />
destas personagens.<br />
c) Esta questão tem o objetivo de gerar nos alunos uma reflexão acerca <strong>dos</strong> valores<br />
que nossa sociedade tem hoje e <strong>dos</strong> valores que eram váli<strong>dos</strong> na época em que<br />
as histórias foram escritas. Assim, o fato de que a filha de Cinderela não deseja<br />
25
Atividade 10<br />
usar roupas com fitas e nem sapatos de cristal não seria hoje um empecilho para<br />
que ela se tornasse uma “princesa”.<br />
Agora você pode verificar na prática como surge um conto, assistindo ao filme<br />
Narradores de Javé (http://pt.wikipedia.org/wiki/Narradores_de_Jav%C3%A9). Após assistir ao<br />
filme, discuta com seus colegas de classe, junte as idéias e faça seu próprio conto,<br />
utilizando o que aprendeu nesse capítulo.<br />
26
Qualquer história é<br />
um conto<br />
“Conto é aquilo que seu autor batizou com o nome de conto”.<br />
Mário de Andrade<br />
N<br />
este capítulo pretendemos tratar do conto no sentido usual do termo, não<br />
mais como relato de <strong>mitos</strong> e <strong>lendas</strong>, mas como arte literária, tal como você já<br />
deve ter lido na escola. Agora, porém, você verá alguns contos que são<br />
pouco comuns na sala de aula. É possível que você desconheça alguns <strong>dos</strong> autores:<br />
passaremos por contos da literatura mais recente, que tratam de problemas e situações<br />
bastante próximas do nosso dia-a-dia. A partir destes textos, você irá pensar sobre que<br />
estrutura permite que determinado texto seja considerado conto e questionar se tal<br />
estrutura existe de fato.<br />
conto.<br />
Para iniciar esta discussão, observaremos neste capítulo algumas definições de<br />
Vejamos a definição de um dicionário sobre o assunto:<br />
conto 1<br />
con.to 1<br />
sm (der regressiva de contar) 1 Narração falada ou escrita. 2 História ou historieta<br />
imaginadas. 3 Fábula. 4 Patranha inventada para engazopar indivíduos rústicos e<br />
geralmente de má-fé. sm pl Embustices, histórias, tretas. C. acumulativo, Folc:<br />
brinquedo infantil que consiste no encadeamento de palavras articuladas em série<br />
ininterrupta, formando histórias sem fim. C. da carochinha: conto popular para<br />
crianças; lenda. Cair no conto: ser iludido.<br />
Fonte:http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.phplingua=português portugues&palavra=conto<br />
Observamos que a primeira acepção que o dicionário traz para a palavra está<br />
relacionada ao ato de narrar. Pense agora nos contos que você conhece: tratam-se<br />
sempre de formas narrativas. Logo, podemos dizer que o conto é essencialmente uma<br />
narrativa. Afinal, o conto é uma história narrada por alguém, sendo que seu narrador<br />
pode estar em primeira ou terceira pessoa.<br />
Só isso, porém, não é suficiente para definir o que é um conto. E por que não<br />
Justamente porque novelas, romances, crônicas e diversos outros gêneros literários<br />
possuem este mesmo caráter narrativo. Então como distinguir o conto das demais<br />
27
narrativas Essa pergunta obteve diversas respostas ao longo da história - vejamos<br />
algumas delas.<br />
Um grande contista que muito falou sobre a teoria do conto foi Edgar Allan<br />
Poe. Ele definiu dois princípios básicos do conto: a extensão e a unidade de efeito.<br />
Para Poe um bom conto seria aquele que, diferentemente do romance, pudesse ser lido<br />
“numa só assentada”, e que, em um curto espaço de tempo (de meia a duas horas)<br />
conseguisse alcançar um efeito, único e intenso, previsto pelo autor. Dessa forma, ele<br />
explica que “no conto breve, o autor é capaz de realizar a plenitude de sua intenção, seja<br />
ela qual for. Durante a hora de leitura atenta, a alma do leitor está sob o controle do<br />
escritor. Não há nenhuma influência externa ou extrínseca que resulte de cansaço ou<br />
interrupção”.(p. 20)<br />
Quem foi Edgar Allan Poe<br />
Edgar Allan Poe nasceu em Boston, no dia 19 de Janeiro de 1809. Seus pais<br />
faleceram pouco tempo depois do nascimento de Rosalie, a filha mais nova do casal.<br />
Porém, Poe e sua irmã não ficaram desampara<strong>dos</strong> e foram adota<strong>dos</strong> pelo rico casal John<br />
Allan e Frances Keeling Allan.<br />
Aos 27 anos casou-se com sua prima, Virgínia Clemn.<br />
Em 1847, sofreu com a morte de sua esposa vitimada pela<br />
tuberculose. Desiludido, voltou para Richmore. Depois foi<br />
para Nova York e entregou-se à bebida. Antes de seguir para<br />
a Filadélfia, resolveu encontrar-se com velhos amigos. Na<br />
manhã seguinte, Poe foi encontrado por um amigo,<br />
inconsciente e moribundo. Morreu na manhã do domingo<br />
seguinte, <strong>aos</strong> 39 anos, em 7 de outubro de 1884.<br />
As definições de conto não páram por aí. Elas dizem respeito também ao<br />
conteúdo que ele pode ou deve envolver. No livro intitulado “Teoria do Conto”, Nadia<br />
Gotlib critica o conto visto como compromisso com a realidade, dizendo que “O conto,<br />
no entanto, não se refere só ao acontecido. Não tem compromisso com o evento real.<br />
Nele, realidade e ficção não têm limites precisos”. “Um relato, copia-se; um conto,<br />
inventa-se”, afirma Raúl Castagnino. “A esta altura, não importa averiguar se há<br />
verdade ou falsidade: o que existe é já a ficção, a arte de inventar um modo de<br />
28
http://contosdocovil.files.wordpress.com/2008/05/<br />
aut_anton_tchekhov.jpg<br />
representar algo”(p. 8). Então você poderia se perguntar: sobre o quê trata um conto E<br />
talvez a resposta para esta questão ainda não esteja clara.<br />
Curiosidades: As teorias de Tchékhov<br />
Também Anton Pavlovitch Tchékhov foi contista.<br />
Em muitos pontos coincidiu com o pensamento de Poe.<br />
Mas para Tchékhov, a brevidade e efeito do conto não<br />
bastavam: o gênero precisaria ainda de força, clareza e<br />
compactação. Força <strong>dos</strong> acontecimentos, prendendo a<br />
atenção do leitor, clareza de idéias para uma compreensão<br />
imediata da história, e compactação, pois “Quanto mais<br />
objetivo, mais forte será o efeito” (Tchékhov).<br />
Esta discussão sobre teorias do conto é uma história inacabada. O debate tomou<br />
direções tão imprecisas que Mário de Andrade, um <strong>dos</strong> grandes escritores do século<br />
XX, demonstrou sua insatisfação diante desta polêmica afirmando: “Tanto andam<br />
agora preocupa<strong>dos</strong> em definir o conto que não sei bem se o que vou contar é conto ou<br />
não, sei que é verdade” (ANDRADE, Mario. 1956)<br />
Para pensar um pouco mais sobre as dificuldades em se definir o gênero, leia<br />
atentamente o texto abaixo:<br />
Texto 1: Sinhá Secada<br />
Vieram tomar o menino da Senhora. Séria, mãe, moça <strong>dos</strong> olhos grandes, nem<br />
sequer era formosa; o filho, abaixo de ano, requeria seus afagos. Não deviam cumprir<br />
essa ação, para o marido, homem forçoso. Ela procedera mal, ele estava do lado da<br />
honra. Chegavam pelo mandado inconcebíveis pessoas diversas, pegaram em braços o<br />
inocente, a Senhora ainda fez menção de entregar algum ter, mas a mulher da cara<br />
corpulenta não consentiu; depois andaram a fora, na satisfação da presteza, dita<br />
nenhuma desculpa ou palavra.<br />
Muitos entravam na casa então, devastada de dono. Cuidavam escutar soluço,<br />
do qual mesmo não se percebendo noção. Sentada ela se sucedia, nas veras da alma,<br />
enfim enquanto repicada de tremor. Iam lhe dar água e conselhos; ela nem ouvia,<br />
inteiramente, por não se descravar de assustada dor. - "Com quê"- clamou alguém,<br />
29
contra as escritas injustiças sem medida nem remédio. Achavam que ela devia renitir,<br />
igual onça invencível; queriam não aprovar o desamparo comum, nem ponderar o medo<br />
do mundo, da rua constante e triste. Ela continha na mão lembrança de criança, a<br />
chupeta seca. - "Uf!"- e a gente se fazendo mal, com dó, com dúvida de Deus em<br />
escuros. Do jeito, o fato se endereçou, começador, no certo dia. No lugar, por conta de<br />
tudo, mães contemplavam as filhas, expostas ao adiante viver, como o fogo apura e<br />
amedronta, o que não se resume. (...)<br />
ROSA, João Guimarães. Sinhá Secada. In: BOSI, Alfredo. O Conto Brasileiro Contemporâneo.<br />
11. ed. São Paulo: Cultrix, 1995. p. 61-64.<br />
O texto narra o drama de uma mãe solteira que tem seu filho tomado. O autor,<br />
Guimarães Rosa, recorre a figuras de linguagem a fim de criar efeitos no texto. Observe<br />
a oração: “Muitos entravam na casa então, devastada de dono”. Nela, Rosa brinca com a<br />
linguagem: a casa estaria tão repleta de gente estranha, que já não existiria mais um<br />
“dono”. O trecho inteiro se passa na casa da mãe desamparada e toda a descrição do<br />
cenário gira em torno do que essa mãe sente em relação ao ocorrido. “Ela continha na<br />
mão lembrança de criança, a chupeta seca.” – esta oração exprime o que a moça trazia<br />
na mão (chupeta seca) em função do que ela trazia em seus sentimentos (lembrança de<br />
criança). O texto apresenta, ainda, momentos nos quais o foco do narrador recai sobre<br />
os pensamentos da mãe: “o filho, abaixo de ano, requeria seus afagos”. Neste trecho, a<br />
fala do narrador expressa um pensamento que pertence à mãe. Dizemos que nestes<br />
momentos o narrador é onisciente.<br />
Tome Nota!<br />
Narrador onisciente é quando a voz do narrador traduz a voz da personagem,<br />
de forma que o narrador conhece e expressa os pensamentos, desejos e sentimentos de<br />
algum personagem da história.<br />
moderno:<br />
Mas os contos possuem formatos muitos varia<strong>dos</strong>. Veja agora um conto<br />
Texto 2: O ciclista<br />
Curvado no guidão lá vai ele numa chispa. Na esquina dá com o sinal vermelho<br />
e não se perturba – levanta vôo bem na cara do guarda crucificado. No labirinto urbano<br />
persegue a morte como trim-trim da campainha: entrega sem derreter sorvete a<br />
domicílio.<br />
30
http://www.cinevideo.com.br/images/e<br />
p9_dalton.jpg<br />
É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio<br />
acorrentado ao pedal. Indefeso homem, frágil máquina, arremete impávido colosso,<br />
desvia de fininho o poste e o caminhão; o ciclista por muito favor derrubou o boné.<br />
Atropela gentilmente e, vespa furiosa que morde, ei-lo defunto ao perder o ferrão.<br />
Guerreiros inimigos trituram com chio de pneus o seu diáfano esqueleto. Se não se<br />
estrebucha ali mesmo, bate o pó da roupa e – uma perna mais curta – foge por entre<br />
nuvens, a bicicleta no ombro.<br />
Opõe o peito magro ao pára-choque do ônibus. Salta a poça d´água no asfalto.<br />
Num só corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão.<br />
Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem. Enfrenta o<br />
sono trim-trim a pé e, na primeira esquina, avança pelo céu na contramão, trim-trim.<br />
TREVISAN, Dalton. O ciclista. In: BOSI, Alfredo. O Conto Brasileiro<br />
Contemporâneo. 11. ed. São Paulo: Cultrix, 1995. p. 189.<br />
Quem é Dalton Trevisan<br />
Dalton Trevisan nasceu em Curitiba a 14 de junho de 1925. Diplomou-se pela<br />
Faculdade de Direito do Paraná. Fundou na sua cidade uma das revistas literárias mais<br />
importantes da década de 40, Joaquim. Começou a<br />
editar os seus contos em folhetos que lembram a<br />
literatura de cordel. A partir de 1959, com a<br />
publicação das Novelas Nada Exemplares, a sua<br />
obra passa a ter repercussão nacional. Atualmente<br />
vive em Curitiba e não dá entrevistas: é um autor<br />
que não gosta de publicidade.<br />
No conto acima, toda a narrativa acontece em função da forma como o ciclista se<br />
comporta – sua forma de pedalar, os riscos que corre quando está na rua, etc. Apesar de<br />
ser um conto curto, não deixa de possuir uma ação e personagens bem defini<strong>dos</strong> (o<br />
ciclista andando na rua com sua bicicleta). O segredo da brevidade deste conto está no<br />
uso constante que seu autor faz de metáforas: “Na esquina dá com o sinal vermelho e<br />
não se perturba – levanta vôo bem na cara do guarda crucificado”.<br />
31
Certamente podemos dizer que os dois textos acima são muito diferentes. Apesar<br />
<strong>dos</strong> autores terem nascido em épocas relativamente próximas, observamos que as<br />
narrativas diferem muito quanto ao tipo de tema, descrição, tempo narrativo, linguagem,<br />
extensão, etc. Apesar de tais diferenças, considera-se que ambos pertencem ao mesmo<br />
gênero: o conto. Como pode ser<br />
A estrutura do conto<br />
É possível observar nos contos a presença de uma estrutura característica, o que<br />
nos colocaria próximos, senão de uma definição precisa, ao menos de um conjunto de<br />
princípios <strong>aos</strong> quais os contos geralmente seguem: são narrativas em prosa, concisas,<br />
breves. Por conta disto, há autores que destacam como importante característica do<br />
conto a densidade, já que estes reúnem em poucas linhas uma história com início, meio<br />
e fim.<br />
Consideremos agora um conjunto de propriedades que os contos em geral<br />
apresentam. Ressaltemos, contudo, que para serem bons contos não precisam<br />
obrigatoriamente apresentar estas propriedades. Você pode fazer um texto que não se<br />
encaixe perfeitamente nestes itens que iremos expor, mas que seja um ótimo conto.<br />
Vamos apenas revisar estas propriedades que se encontram em muitos <strong>dos</strong> contos que<br />
conhecemos.<br />
1. Narração: sempre está presente, pois um conto é uma forma de narrativa. Pode<br />
estar em primeira ou terceira pessoa, não importa. Como há uma preferência pela<br />
concisão da história e concentração <strong>dos</strong> efeitos, a narrativa torna-se curta.<br />
2. Ação: o conto geralmente apresenta um único conflito, já que costuma ser uma<br />
história curta que não comportaria conflitos diversos.<br />
3. Tempo: o tempo é limitado, já que as ações são limitadas pela própria<br />
brevidade da narrativa.<br />
4. Espaço: a história costuma passar-se em um único espaço, já que não há tempo<br />
para mover os personagens por muitos cenários. Isto não quer dizer que o cenário tenha<br />
que ser único, mas apenas que sua limitação deve-se às limitações da própria ação.<br />
5. Efeito: A ação do conto converge para causar no leitor um efeito, que<br />
geralmente é o objetivo do conto. Pode ser um conto assustador, comédia, romance; não<br />
importa.<br />
32
6. Personagens: são poucas, já que isto permite que a narrativa seja mais curta.<br />
7. Descrição: os elementos descritivos costumam ser poucos. A descrição do<br />
espaço (ou ambiente) e das personagens pode ser modesta, sendo geralmente voltada<br />
para o que é exigido pela ação, ou seja, para o efeito que se deseja alcançar com o<br />
conto. Poucas vezes o conto apresenta digressões (retorno para fatos do passado) e<br />
extrapolações (inclusão de outras ações além da ação principal), já que costuma ser<br />
contido em suas reflexões. Isto, porém, não é uma regra geral, já que os contos<br />
contemporâneos muito inovaram em certas características que não eram comuns nos<br />
primeiros contos literários.<br />
8. Diálogo: costuma ser muito importante quando se trata de tornar o conto mais<br />
dinâmico. O dinamismo do diálogo pode contribuir para que se possa amplificar algum<br />
efeito desejado.<br />
9. Linguagem: geralmente é muito objetiva, visando à densidade e condensação da<br />
história. O conto pode se despir de abstrações e da preocupação com o rebuscamento, de<br />
forma que os fatos predominem na narrativa. É muito comum o uso de metáforas, como<br />
uma forma de economia da linguagem, já que através destas construímos imagens<br />
repletas de significado.<br />
A linguagem é um aspecto do conto que admitiu muitas roupagens ao longo da<br />
história, visto que a língua está sempre em transformação. Dessa forma, essa condição<br />
se transferiu para o conto, que também apresenta uma linguagem mais ou menos<br />
peculiar, de acordo com o período histórico no qual é escrito e conforme os objetivos do<br />
autor ao escrever o texto. E isso nos leva ao próximo capítulo.<br />
O que você aprendeu:<br />
Os contos são muito diferentes entre si. É muito difícil<br />
estabelecer uma definição satisfatória.<br />
As definições de conto são muito diversas, referindo-se<br />
tanto à estrutura do conto quanto a sua linguagem e<br />
extensão.<br />
O conto possui alguns elementos que o organizam, de<br />
forma a caracterizar a estrutura do gênero.<br />
33
http://www.cinemacomrapadura.com.br/filmes/imgs/irm<strong>aos</strong><br />
_grimm_filmes_2005_poster_nacional.jpg<br />
V<br />
ale a pena conferir!<br />
PARA ASSISTIR EM SALA: OS IRMÃOS GRIMM<br />
Do aclamado diretor Terry Gilliam, as aventuras <strong>dos</strong> lendários escritores de<br />
contos de fada Will (Matt Damon) e Jake Grimm (Heath<br />
Ledger), dois irmãos que viajam através da Europa de<br />
Napoleão enfrentando monstros e demônios em troca de<br />
dinheiro rápido. Mas, quando as autoridades francesas<br />
descobrem seu esquema, os trapaceiros são força<strong>dos</strong> a<br />
enfrentar uma maldição real em uma floresta encantada,<br />
onde jovens donzelas continuam a desaparecer sob<br />
circunstâncias misteriosas.<br />
Fonte: http://www.europafilmes.com.br/hotsites/osirm<strong>aos</strong>grimm/<br />
DICA DE LIVRO: O QUE É CONTO<br />
Da coleção primeiros passos, o livro “O que é conto” de Luzia<br />
de Maria é um excelente texto para quem deseja iniciar o estudo sobre<br />
a teoria do conto. Como possui uma linguagem acessível, pode<br />
inclusive ser trabalhado em sala de aula. É uma leitura muito<br />
recomendável <strong>aos</strong> adolescentes, já que além de abordar a origem do<br />
conto o livro trata também de suas características e definições.<br />
34
Atividades<br />
Atividade 1<br />
Vamos refletir sobre os textos li<strong>dos</strong> no início do capítulo. Repare no título do primeiro<br />
texto: “Sinhá secada”. Levante hipóteses: por que este título foi escolhido para o conto<br />
Leve em consideração o trecho que você leu.<br />
Resposta esperada<br />
Esta atividade tem por objetivo avaliar a interpretação que o aluno fez do texto,<br />
fazendo-o relacionar o texto ao título. O termo “secada” pode ser relacionado ao fato de<br />
que tanto chorou a mãe da criança que ela ficou “secada”. Pode-se pensar também no<br />
fato de que, ao ter seu filho tomado, a senhora perdeu o sentido de sua vida, ficando<br />
seca, ou “secada”, nas palavras do autor.<br />
Atividade 2<br />
Os textos das páginas 21 e 22 apresentam muitas semelhanças e diferenças com relação<br />
à sua estrutura e linguagem. Vamos pensar um pouco mais sobre estas características.<br />
Observe esta oração do texto 1:<br />
“Chegavam pelo mandado inconcebíveis pessoas diversas”. Qual o efeito da utilização<br />
do adjetivo “inconcebíveis” no texto<br />
Observe agora a oração do texto 2:<br />
“Curvado no guidão lá vai ele numa chispa”. Qual o efeito da expressão “numa chispa”<br />
A partir das questões acima, responda: qual figura de linguagem é recorrente nos dois<br />
textos<br />
Resposta esperada<br />
O termo “inconcebíveis pessoas” pode ser considerada expressão do quão inconcebível<br />
era a situação para a mãe ao ter o seu filho tomado. Já o termo “numa chispa” coloca em<br />
evidência a rapidez do ciclista. Esta atividade tem o objetivo de fazer o aluno notar a<br />
recorrência de metonímias e metáforas como recursos de linguagem presentes no conto.<br />
Atividade 3<br />
Observe agora o seguinte trecho, que trata das dificuldades do ciclista em meio à<br />
correria do dia-a-dia. O texto apresenta um aspecto interessante quanto à velocidade,<br />
expresso pela construção de frases curtas, que surgem no texto como flashes:<br />
“Opõe o peito magro ao pára-choque do ônibus. Salta a poça d´água no asfalto. Num só<br />
corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão.” (texto 2)<br />
Agora responda: qual o efeito de velocidade que podemos perceber no trecho acima<br />
Em que isso se relaciona com o tema do texto<br />
35
Resposta esperada<br />
No trecho acima, podemos notar que a utilização de frases curtas e em flashes faz com<br />
que o texto adquira rapidez em seus acontecimentos. Esta rapidez está relacionada com<br />
o tema do ciclista por conta do cotidiano agitado pelo qual este tem que passar,<br />
enfrentando a velocidade <strong>dos</strong> automóveis nas ruas.<br />
Atividade 4<br />
O texto abaixo foi retirado de um site da internet. Justifique, através de elementos<br />
estruturais, por que o texto abaixo não pode ser considerado um conto.<br />
Detentas são flagradas com drogas<br />
Adagoberto Baptista / Agência Anhangüera<br />
16/05/2008 - Duas detentas da Penitenciária do São Bernardo, em Campinas, foram<br />
flagradas com porções de maconha, no final da tarde de quinta-feira. Elas cumprem<br />
penas no presídio e acabaram descobertas pelas agentes penitenciárias. Uma das<br />
acusadas, Adriana Amaro do Nascimento, de 22 anos, estava com 13 porções de<br />
maconha escondidas na calcinha.<br />
A outra presa, Charliene Alves da Silva, de 25 anos, carregava um pacote com a<br />
droga a granel. As agentes ainda acharam três bilhetes com diversas anotações com as<br />
mulheres. As duas foram levadas para o plantão da Delegacia do 5º Distrito Policial<br />
(Jardim Amazonas) e autuadas em flagrante pela acusação de tráfico de entorpecentes.<br />
Resposta Esperada<br />
O texto não pode ser considerado um conto, pois se trata de um caso verídico, uma<br />
notícia de jornal. Este texto não possui o objetivo explícito de causar um efeito em seu<br />
leitor, mas sim de informá-lo. Nele, a presença de figuras de linguagem é bastante<br />
restrita.<br />
Atividade 5<br />
Pensando um pouco sobre o conceito de introspecção, leia atentamente o trecho de<br />
conto abaixo. Localize os trechos nos quais o uso de introspecção é evidente.<br />
Tome Nota:<br />
Introspecção ocorre quando o personagem se volta para seus próprios<br />
pensamentos, num ato reflexivo interno.<br />
Feliz Aniversário – Clarice Lispector<br />
(...)<br />
Na cabeceira da mesa, a toalha manchada de coca-cola, o bolo desabado, ela era<br />
a mãe. A aniversariante piscou. Eles se mexiam agita<strong>dos</strong>, rindo, a sua família. E ela era<br />
a mãe de to<strong>dos</strong>. E se de repente não se ergueu, como um morto se levanta devagar e<br />
obriga mudez e terror <strong>aos</strong> vivos, a aniversariante ficou mais dura na cadeira, e mais alta.<br />
Ela era a mãe de to<strong>dos</strong>. E como a presilha a sufocasse, ela era a mãe de to<strong>dos</strong> e,<br />
36
impotente à cadeira, desprezava-os. E olhava-os piscando. To<strong>dos</strong> aqueles seus filhos e<br />
netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho, pensou de repente como se<br />
cuspisse. Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser a carne de seu coração,<br />
Rodrigo, com aquela carinha dura, viril e despenteada. Cadê Rodrigo Rodrigo com<br />
olhar sonolento e intumescido naquela cabecinha ardente, confusa. Aquele seria um<br />
homem. Mas, piscando, ela olhava os outros, a aniversariante. Oh o desprezo pela vida<br />
que falhava. Como! Como tendo sido tão forte pudera dar á luz aqueles seres opacos,<br />
com braços moles e rostos ansiosos Ela, a forte, que casara em hora e tempo devi<strong>dos</strong><br />
com um bom homem a quem, obediente e independente, ela respeitara; a quem<br />
respeitara e que lhe fizera filhos e lhe pagara os partos e lhe honrara os resguar<strong>dos</strong>. O<br />
tronco fora bom. Mas dera aqueles aze<strong>dos</strong> e infelizes frutos, sem capacidade sequer para<br />
uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos, fracos, sem<br />
austeridade O rancor roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns<br />
comunistas. Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua<br />
família. Incoercível, virou a cabeça e com força insuspeita cuspiu no chão. (...)<br />
http://www.releituras.com/clispector_aniversario.asp<br />
Resposta esperada<br />
Espera-se que o aluno possa notar a diversidade do gênero conto, já que no caso acima o<br />
autor se utiliza da introspecção como forma de situar o leitor com relação <strong>aos</strong><br />
sentimentos da personagem. Alguns trechos que o aluno pode destacar são:<br />
“To<strong>dos</strong> aqueles seus filhos e netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho,<br />
pensou de repente como se cuspisse.”<br />
“Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser a carne de seu coração, Rodrigo, com<br />
aquela carinha dura, viril e despenteada. Cadê Rodrigo”<br />
“Como tendo sido tão forte pudera dar à luz aqueles seres opacos, com braços moles e<br />
rostos ansiosos”<br />
“Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos, fracos, sem austeridade O rancor<br />
roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas.”<br />
Atividade 6<br />
Pense em algum livro que você leu recentemente. Faça uma lista <strong>dos</strong> principais<br />
acontecimentos do livro. O desafio será transformar essa história em um conto. Para<br />
isso, siga corretamente as indicações abaixo:<br />
- Sua história deve ter apenas 3 personagens.<br />
- A ação deve se passar em um único local.<br />
- A ação deverá durar cerca de uma hora.<br />
Resposta esperada<br />
Esse trabalho de produção textual tem o objetivo de fazer com que o leitor aplique o que<br />
foi estudado sobre linguagem, espaço, efeito, densidade, etc.<br />
Atividade 7<br />
Os dois textos abaixo não são contos. Por quê Justifique sua resposta com base nos<br />
elementos estuda<strong>dos</strong>.<br />
37
http://tiras-snoopy.blogspot.com/<br />
Texto 1<br />
Texto 2<br />
“Médico de atriz global é acusado de erro médico em caso de dengue”<br />
O médico foi acusado de erro médico porque demorou a diagnosticar a doença e<br />
realizar os devi<strong>dos</strong> procedimentos médicos no combate à doença.<br />
Essa poderia ser uma manchete <strong>dos</strong> jornais desse fim de semana, mas adivinhe:<br />
não é! Hoje vemos pessoas em uma jornada subumana em busca de atendimento<br />
médico, morrendo nas portas <strong>dos</strong> hospitais públicos do Rio de Janeiro, quase que<br />
implorando por um mínimo de atendimento.<br />
O governo federal, como forma de alívio para esse c<strong>aos</strong>, trouxe em caráter de<br />
emergência algumas dezenas de médicos de outros esta<strong>dos</strong> que nem experiência possui<br />
no tratamento à dengue.<br />
Então pergunto, pode um cidadão do Rio de Janeiro, com essa demora no<br />
diagnóstico da doença, na eterna fila de espera, indo de hospital em hospital, quase que<br />
implorando para ser atendido, questionar essa atitude do Estado do Rio<br />
Sinceramente eu acredito que tenha fundamento essa demanda. Agora imagine o<br />
c<strong>aos</strong> que seria no judiciário estadual essa enxurrada de ações. Um verdadeiro desastre.<br />
Perceba, então, que um <strong>dos</strong> fatores para o aparecimento desta explosão de<br />
litigiosidade é político. No momento em que os legisladores, na criação da Constituição<br />
de 1988, massificam o acesso à saúde, dando a to<strong>dos</strong> os direitos ao acesso e impondo ao<br />
Estado o dever de prestar este serviço, eles o fazem por uma aspiração social de ter sua<br />
dignidade, de ver seu direito como ser humano atendido no que tange a sua saúde.<br />
É notável, no entanto, que o Estado universaliza o acesso, mas não cria<br />
mecanismos eficazes para a completa prestação de serviço, pois, por diversos motivos<br />
se exime da obrigação, deixando a cargo da iniciativa privada a superação das<br />
dificuldades.<br />
E o que encontramos hoje Um sistema de Saúde Pública falido e com uma<br />
demanda tal que os hospitais da rede pública não conseguem, sequer, absorver para um<br />
atendimento inicial.<br />
http://direitodomedico.blogspot.com/2008/04/mdico-de-atriz-global-acusado-de-erro.html<br />
Resposta esperada<br />
Quer-se avaliar se o aluno é capaz de diferenciar os gêneros <strong>dos</strong> dois textos acima. O<br />
primeiro é uma história em <strong>quadrinhos</strong> que traz um jogo de imagens não reconhecido<br />
como característica <strong>dos</strong> contos. Já o segundo texto trata de fatos verídicos do nosso<br />
tempo de forma objetiva, é um texto jornalístico. Ou seja, nenhum <strong>dos</strong> dois textos acima<br />
é um conto.<br />
38
Atividade 8<br />
Você viu que “A ação do conto converge para causar no leitor um efeito, que<br />
geralmente é o objetivo do conto”. Segue abaixo um trecho de conto de Allan Poe.<br />
Trata-se de um conto de terror, no qual todo o vocabulário foi pensado para criar uma<br />
situação de tensão. Identifique no texto quais palavras contribuem para a formação de<br />
um clima tenso na história.<br />
O Gato Preto – Edgar Allan Poe<br />
(...) Durante o dia o animal não me deixava um só momento. De noite, a cada hora,<br />
quando despertava <strong>dos</strong> meus sonhos cheios de indefinível angústia, era para sentir o<br />
bafo quente daquela coisa sobre o meu rosto e o seu peso enorme, encarnação de um<br />
pesadelo que eu não tinha forças para afastar, pesando-me eternamente sobre o coração.<br />
Sob a pressão de tormentos como estes, os fracos resquícios do bem que havia em mim<br />
desapareceram. Só os pensamentos pecaminosos me eram familiares - os mais sombrios<br />
e os mais infames <strong>dos</strong> pensamentos. A tristeza do meu temperamento aumentou até se<br />
tornar em ódio a tudo e à humanidade inteira. Entretanto, a minha dedicada mulher era a<br />
vítima mais usual e paciente das súbitas, freqüentes e incontroláveis explosões de fúria a<br />
que então me abandonava cegamente.<br />
Um dia acompanhou-me, por qualquer afazer doméstico, à cave do velho<br />
edifício onde a nossa pobreza nos forçava a habitar. O gato seguiu-me nas escadas<br />
íngremes e quase me derrubou, o que me exasperou até à loucura. Apoderei-me de um<br />
machado, e desvanecendo-se na minha fúria o receio infantil que até então tinha detido<br />
a minha mão, desferi um golpe sobre o animal, que seria fatal se o tivesse atingido<br />
como eu queria. Mas o golpe foi sustido diabolicamente pela mão da minha mulher.<br />
Enraivecido pela sua intromissão, libertei o braço da sua mão e enterrei-lhe o machado<br />
no crânio. Caiu morta, ali mesmo, sem um queixume.<br />
http://www.apocalipse2000.com.br/contos06.htm<br />
Resposta esperada<br />
Pode-se dizer que contribuem para a formação de um clima tenso as palavras: angústia,<br />
encarnação, pesadelo, tormentos, pecaminosos, sombrios, infames, tristeza, ódio,<br />
vítima, fúria, pobreza, loucura, golpe, fatal, diabolicamente, enraivecido, crânio e morta.<br />
Atividade 9<br />
O texto abaixo é um trecho do livro “Laços de Família”, de Clarice Lispector. Leia-o<br />
atentamente e grife os momentos nos quais fica evidente o narrador onisciente.<br />
(...)<br />
O trem não partia e ambas esperavam sem ter o que dizer. A mãe tirou o espelho<br />
da bolsa e examinou-se no seu chapéu novo, comprado no mesmo chapeleiro da filha.<br />
Olhava-se compondo um ar excessivamente severo onde não faltava alguma admiração<br />
por si mesma. A filha observava divertida. Ninguém mais pode te amar senão eu,<br />
pensou a mulher rindo pelos olhos; e o peso da responsabilidade deu-lhe à boca um<br />
gosto de sangue. Como se "mãe e filha" fosse vida e repugnância. Não, não se podia<br />
dizer que amava sua mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o espelho na<br />
bolsa, e fitava-a sorrindo. O rosto usado e ainda bem esperto parecia esforçar-se por dar<br />
<strong>aos</strong> outros alguma impressão, da qual o chapéu faria parte. A campainha da Estação<br />
tocou de súbito, houve um movimento geral de ansiedade, várias pessoas correram<br />
pensando que o trem já partia: mamãe! disse a mulher. Catarina! disse a velha. Ambas<br />
se olhavam espantadas, a mala na cabeça de um carregador interrompeu-lhes a visão e<br />
39
um rapaz correndo segurou de passagem o braço de Catarina, deslocando-lhe a gola do<br />
vestido. Quando puderam ver-se de novo, Catarina estava sob a iminência de lhe<br />
perguntar se não esquecera de nada...<br />
Texto extraído do livro "Laços de Família", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1998, pág. 94.<br />
Resposta esperada<br />
Pode-se dizer que o narrador onisciente é evidente em orações como:<br />
“Olhava-se compondo um ar excessivamente severo onde não faltava alguma admiração<br />
por si mesma.”<br />
“A filha observava divertida.”<br />
“Não, não se podia dizer que amava sua mãe.”<br />
“Catarina estava sob a iminência de lhe perguntar se não esquecera de nada.”<br />
Atividade 10<br />
Agora você será o autor: Leia o poema abaixo, e pense sobre a história que ele conta.<br />
Transforme agora a história do poema em um conto. Atenção! Ele poderá ter no<br />
máximo 50 linhas! Procure utilizar as figuras de linguagem que você conhece.<br />
Aprende…<br />
Tu encontrarás sempre no teu caminho<br />
alguém para a lição de que precisas.<br />
Aprende, mesmo que não queiras.<br />
A boa lição… Alguém sempre a precisar.<br />
Feliz é o que aprende.<br />
Errar é humano, diz a sabedoria popular.<br />
Insistir no erro é obstinação.<br />
Pecado contra o Espírito Santo.<br />
Aquele que reconhece seu erro,<br />
está no caminho da perfeição.<br />
Aquele que confessa e se arrepende,<br />
caminha para a salvação.<br />
Reconhece teu erro.<br />
Mesmo que custe muito,<br />
ao te orgulho e vaidade.<br />
Jamais justifique o errado.<br />
“Fulano foi o culpado.”<br />
Arrepender e reparar<br />
é o caminho certo<br />
da Paz espiritual.<br />
Um dia, um salteador,<br />
condenado ao suplício,<br />
reconheceu seus erros,<br />
e justificou o inocente.<br />
E o que aconteceu com ele<br />
Poema extraído do livro “Vintém de Cobre, Meias Confissões de Aninha”, 4ª edição, editora UFG, p.197<br />
40
O Conto<br />
Contemporâneo<br />
N<br />
os capítulos anteriores pudemos conhecer e entender um pouquinho sobre o<br />
surgimento do conto e os principais aspectos estruturais que o diferenciam<br />
de uma novela ou mesmo de um romance. Pois bem, neste capítulo, vamos<br />
conhecer mais de perto a produção de contos e como o contexto histórico pode influenciar<br />
nesta produção. E mais que isso, focalizaremos a nova forma de se fazer contos face à<br />
modernidade e o desafio do contista diante desse novo mundo, tecnológico e rápido. No<br />
entanto, é importante lembrar que os aspectos do conto que serão discuti<strong>dos</strong> aqui não valem<br />
como regra geral, pois não é possível enquadrar os contos contemporâneos num mesmo<br />
formato pré-determinado.<br />
O conto contemporâneo se diferencia muito <strong>dos</strong> contos de outras épocas. Isso ocorre<br />
porque o foco muda conforme o período histórico e social da escrita <strong>dos</strong> textos.<br />
“Não se cogita mais de produzir (nem de usar como categorias) a Beleza, a Graça, a<br />
Simetria, a Harmonia. O que vale é o Impacto, produzido pela habilidade ou a Força.<br />
Não se deseja emocionar o leitor nem suscitar contemplação, mas causar choque”. 1<br />
Notaremos no decorrer desta unidade, que nas últimas décadas os autores passaram a<br />
buscar maior impacto sobre os leitores por meio de seus contos. E esse impacto, conforme<br />
Antônio Cândido, passou a ser produzido por meio de uma habilidade lingüística, que se<br />
caracteriza pelo uso mais freqüente de determinadas figuras de linguagem com o objetivo de<br />
obter algum efeito.<br />
Vamos iniciar nossa reflexão com textos que pertencem mais à nossa<br />
contemporaneidade!<br />
1 CÂNDIDO, A. “Os brasileiros e a literatura latino-americana”, in: Novos estu<strong>dos</strong> CEBRAP, SP. vol. 1, dez. 81, p. 67<br />
41
http://pro.corbis.com/search/searchFrame.aspx<br />
U<br />
m pouco de história<br />
“De como estrangular um general”<br />
O conto “De como estrangular<br />
um general” conta a história de um cidadão<br />
comum que em uma determinada situação<br />
sente um desejo de estrangular o general.<br />
Ele que quando criança admirava e<br />
respeitava as autoridades militares, agora<br />
queria matar o general. Américo, esse era o<br />
nome do cidadão, sonhava dias e noites<br />
preso àquele pesadelo. Finalmente, aquele<br />
período de aprisionamento e tortura<br />
psicológica passa. Américo sente-se mais<br />
feliz. Até que vê na rua o general, não<br />
magro como em seus “sonhos”, mas gordo.<br />
Ele não hesita, troca algumas palavras com<br />
o sarcástico general: “E Américo soube<br />
então que aquela era a hora, e que depois<br />
dela nada mais haveria”.<br />
- Eu te matei noites e noites<br />
seguidas, no escuro do meu quarto – disse<br />
Américo.<br />
- Verdade – resmungou o general<br />
com voz de escárnio.<br />
- Sim, verdade – disse<br />
Américo retirando a faca do bolso e<br />
enterrando-a toda naquela enorme barriga<br />
fofa. Porque o general crescera, pensou<br />
sarcasticamente, e ele não seria nenhum<br />
idiota para julgar-se forte o suficiente para<br />
matá-lo apenas com as duas fracas e débeis<br />
mãos”.<br />
De como estrangular um general<br />
Poderia muito bem sonhar que matava um médico, um<br />
jornalista, um deputado, ou até mesmo um senador. Um dia<br />
chegou a pensar que poderia esfaquear ou balear o presidente da<br />
República, mas nunca um general. Porque um general – pensava<br />
Américo – é sempre um general.<br />
Até que um dia lhe disseram que também o<br />
presidente da República era um general. Américo sentiu um<br />
calafrio percorrer-lhe a espinha e encolheu-se todo. Aquilo era<br />
terrível.<br />
Américo era um homem tímido e temeroso,<br />
embora grande como um hipopótamo. Suas mãos eram<br />
desajeitadas, mas no sonho, dançavam ágeis e jeitosas em torno<br />
do pescoço militar. Quando acordava, porém, olhava para estas<br />
mãos e algo lhe dizia que as mãos do sonho não eram as suas.<br />
42
Mas eram. Eram as suas mãos e um dia talvez ele não pudesse jamais dominá-las.<br />
Também isto o torturava. Porque um dia, por exemplo, poderia estar caminhando por uma rua deserta,<br />
tranqüilo, quem sabe até assobiando o Hino Nacional Brasileiro. E de repente, o general. Sim, o<br />
general, o general bem ali à sua frente, disponível e magro.<br />
E então ele avançaria sobre aquela frágil e verde farda. O general abriria muito os<br />
olhos, ergueria as mãos frágeis e finas para detê-lo e seria inútil. Porque ele avançaria com seu grande<br />
corpo sobre aquela repelente figura verde e, pouco a pouco, suas manzorras descontroladas bailariam<br />
ao som de uma vaga música em torno daquele pescoço fino como um lápis.<br />
O general tentaria ainda detê-lo com uma ridícula voz de comando, e ele riria muito e<br />
apertaria com quase carinho aquele pescoço ridículo. Descansaria ali as suas duas mãos e nada faria,<br />
porque o medo que invadiria os olhos do general lhe daria prazer. E só depois, quando o general<br />
estivesse suando e tivesse borrado todas as calças ele apertaria as mãos com força. Para partir, de um<br />
só golpe, aquele miserável pescoço.<br />
EMEDIATO, Luiz Fernando. De como estrangular um general. In: Trevas no Paraíso – histórias de amor<br />
e guerra nos anos de chumbo. São Paulo: Geração Editorial, 2004.<br />
U<br />
m pouco de história<br />
“Os Homens que Descobriram as Cadeiras Proibidas”<br />
Uma família se reunia em um jantar,<br />
quando de repente alguns “homens” entram na<br />
casa e a vasculham. Os homens encontram<br />
uma cadeira na cozinha, segundo eles, ela não<br />
deveria estar ali. Os homens então intimam o<br />
dono da casa a ir prestar depoimento em uma<br />
delegacia, ao mesmo tempo em que tenta<br />
convencer o cidadão de que eles nunca<br />
estiveram ali. A partir daí o cidadão começa a<br />
questionar e refletir sobre aquela situação, o<br />
que acaba por confundir os homens que<br />
daquela situação nada têm a explicar: Por que<br />
estariam ali Por que o cidadão precisaria<br />
prestar depoimento<br />
COTIDIANO: Os Homens que Descobriam Cadeiras Proibidas<br />
Os homens não bateram, porque há muito naquela cidade, ou país, a polícia não precisava<br />
bater para entrar. Não traziam manda<strong>dos</strong> judiciais, há muito os manda<strong>dos</strong> tinham perdido a razão de<br />
ser. Não havia um estado de direito.<br />
Os homens entraram, atravessaram a sala onde a família jantava, até então tranqüilamente.<br />
43
http://cartoonices.files.wordpress.com/20<br />
07/05/cadeira-2.jpg<br />
Inspeção de rotina, comunicou o chefe <strong>dos</strong> homens que<br />
tinham entrado.<br />
Fiquem à vontade, disse o dono da casa, voltando para<br />
terminar a sopa, indiferente à súbita invasão. A indiferença<br />
significava apenas impotência.<br />
Os homens vasculharam a sala, os quartos, o banheiro,<br />
o quarto das crianças, a cozinha, a área de serviço e o quarto da<br />
empregada. Quarto Aqueles cubículos, senzalas que as<br />
imobiliárias fazem.<br />
Voltaram da cozinha com uma cadeira branca de fórmica.<br />
–Vamos levar essa cadeira. Amanhã o senhor apareça para prestar depoimento.<br />
–Não sei como ela apareceu aí. Tínhamos vendido.<br />
Não queremos saber. A cadeira estava na cozinha.<br />
“Talvez eles mesmos tenham trazido e colocado lá”, pensou o homem. Pensou, com medo que<br />
o outro percebesse o que ele estava pensando. Os pensamentos estavam proibi<strong>dos</strong> há muito,<br />
principalmente pensamentos que colocassem em dúvida, ou em cheque, as ações <strong>dos</strong> homens.<br />
BRANDÃO, Ignácio de Loyola: COTIDIANO: Os Homens que Descobriam Cadeiras Proibidas In: BRANDÃO, Ignácio de Loyola.<br />
Cadeiras Proibidas. 10. Ed. São Paulo: Global, 2003. P. 11-17<br />
A respeito <strong>dos</strong> textos acima pudemos observar que eles partilham de um mesmo<br />
contexto histórico e social de produção: a ditadura militar.<br />
Tome Nota<br />
O Regime Militar no Brasil foi um governo instaurado em 1964, após um golpe dado<br />
pelas Forças Armadas contra o governo do presidente João Goulart. Foi um período marcado<br />
por governantes que abusavam do poder e pode ser caracterizado pela violência e censura.<br />
Jornalistas, artistas ou pessoas comuns não podiam criticar o governo ou expressar uma<br />
opinião contrária, pois se o fizessem sofreriam opressão. Assim, as liberdades individuais<br />
foram suprimidas. O momento mais forte desse regime é caracterizado pela instituição do AI-<br />
5 que permitiu ao governo intervir nos esta<strong>dos</strong> sem levar em consideração a Constituição, a<br />
cassar mandatos eletivos e a suspender por 10 anos os direitos políticos de qualquer cidadão.<br />
Muitos músicos, escritores e demais artistas tiveram que se exilar em outros países ou,<br />
caso quisessem permanecer no Brasil, teriam que driblar a censura por meio de uma<br />
linguagem camuflada. Esse período da política brasileira perdurou até 1985.<br />
http://www.jornallivre.com.br/225524/o-que-foi-a-ditadura-militar-brasileira.html (acesso em 29/09/2008)<br />
Observe que os dois contos remetem ao período de repressão característico de um<br />
governo ditatorial. Quais elementos observa<strong>dos</strong> nos textos podem evidenciar isso<br />
42
Partindo de princípios semânticos, isto é, das mudanças de significação das palavras<br />
no tempo e no espaço, podemos pensar sobre a forma por meio da qual a autoridade é<br />
retratada. No primeiro texto isso se dá na figura de um homem com um desejo quase<br />
inconsciente de matar um general; no segundo fragmento, autoridades invadem a casa de um<br />
cidadão comum, intimando-o a comparecer numa delegacia para prestar depoimento.<br />
Podemos dizer que em ambos a autoridade não é vista como algo positivo e respeitoso, mas<br />
sim como uma instância abusiva.<br />
É possível constatar ainda que a linguagem teve um papel fundamental nos textos do<br />
período, pois ela foi o instrumento de expressão <strong>dos</strong> escritores brasileiros contra a repressão<br />
da época.<br />
Note que um ponto interessante e comum entre alguns escritores dessa época é que sua<br />
forma de expressão não estava propriamente no que era dito, mas sim na maneira como era<br />
dito. Geralmente, os contistas lançavam mão das figuras de linguagem para dizer o não<br />
dizível, naquele momento, no intuito de burlar a censura. Exemplo retirado do texto de<br />
Emediato:<br />
“(...) pouco a pouco, suas manzorras* descontroladas bailariam ao som de uma vaga música em torno<br />
daquele pescoço fino como um lápis”.<br />
* mão grande<br />
Neste trecho, você pode notar que o autor fala de um estrangulamento de uma forma<br />
quase poética. Isto se dá por meio do eufemismo, uma figura da linguagem que nos permite<br />
falar de determina<strong>dos</strong> fatos, geralmente ruins, de forma leve. No caso, descreve-se a morte do<br />
general como uma dança. Além disso, compara-se seu pescoço a um lápis como uma forma<br />
de evidenciar a fragilidade física do general frente ao narrador, o qual apresenta como sendo<br />
“grande como um hipopótamo” (como pode ser visto no texto lido) – figuras de comparação.<br />
Nota-se também que a linguagem <strong>dos</strong> contos pode ser fragmentada, ou seja, a história<br />
não obedece necessariamente a uma ordem cronológica, em contraste com certa linearidade e<br />
descrição detalhada, minuciosa de outros contos. Além disso, trabalha-se com elipses,<br />
supressões, saltos, deixando subentendi<strong>dos</strong> alguns da<strong>dos</strong> e pressupondo a compreensão do<br />
leitor que preencherá as lagunas deixadas.<br />
Veja um exemplo abaixo:<br />
“Ela subiu sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas<br />
espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um<br />
mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da<br />
tarde”.<br />
43
TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr do sol. In: TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr do sol e outros contos. 19. ed. São<br />
Paulo: Ática, 2001. p. 26.<br />
Apesar de Telles ser uma autora do século XX, seu estilo é extremamente descritivo e<br />
detalhista, diferindo muito de Emediato e Brandão, autores <strong>dos</strong> textos li<strong>dos</strong> no início desta<br />
unidade. Enquanto Telles desenvolve seu conto de acordo com a ordem natural <strong>dos</strong> fatos: a<br />
personagem sobe a ladeira e conforme avança, vê as crianças brincando, concluindo que essas<br />
crianças eram o único sinal de vida presente na quieta rua, Emediato apresenta a história do<br />
homem, que divaga por meio de pensamentos e sonhos, movido pela vontade de matar o<br />
general. Ou seja, Américo representa um misto de sonho e realidade que se alternam ao longo<br />
do texto. Essa alternância faz com que tenhamos a impressão de uma leitura não linear.<br />
Este é um exemplo da diferença entre contos de uma mesma época os quais<br />
demonstram que não podemos classificar to<strong>dos</strong> os autores contemporâneos numa mesma<br />
“receita”.<br />
Para muitos autores o importante é retratar de forma “nua e crua” as sujeiras da<br />
sociedade, como foi o caso de alguns contos de Dalton Trevisan, autor do livro O Vampiro de<br />
Curitiba. O autor opta por uma precisão total em sua obra ao descrever as “micro-sujeiras” da<br />
burguesia curitibana.<br />
Assim, a organização do conto contemporâneo pode permanecer a mesma, mas a<br />
linguagem se modifica muito, adequando-se ao contexto histórico, social, cultural, etc.<br />
E então, você consegue observar como há uma grande variedade na forma de<br />
linguagem entre os autores mais recentes Outro exemplo:<br />
“Veja, parou um carro. Ela vai descer. Colocar-me em posição. Ai, querida, não faça isso, eu vi tudo.<br />
Disfarce, vem o marido (...) Esse aí é um <strong>dos</strong> tais Puxa, que olhar feroz. Alguns preferem é o rapaz, seria capaz<br />
de Deus me livre, beijar outro homem, ainda mais de bigode e catinga de cigarro”<br />
TREVISAN, Dalton. O vampiro de Curitiba. In: Os cem melhores contos brasileiros do século. p. 252-254<br />
Em relação à construção acima, repare que há um intenso diálogo entre as personagens<br />
sendo que quase não há marcação nas falas das mesmas: a pontuação é escassa, não havendo<br />
parágrafos ou travessões, o que reflete uma situação caótica, de confusão... Esta é uma outra<br />
forma de se utilizar a linguagem para obter um determinado efeito. Através do que se poderia<br />
chamar de um discurso “direto livre”, no qual não há marcações formais de diálogo, o escritor<br />
pôde retratar uma situação de conflito.<br />
Vamos refletir mais um pouco:<br />
44
“Na embarcação desconfortável, tosca, apenas quatro passageiros. Uma lanterna nos iluminava com sua<br />
luz vacilante: um velho, uma mulher com uma criança e eu.”<br />
TELLES, Lygia Fagundes. Natal na barca. In: TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr do sol e outros contos. 19. ed. São<br />
Paulo: Ática, 2001. p. 20<br />
Encontramos aqui uma figura de linguagem freqüentemente utilizada por estes<br />
escritores: a elipse. Trata-se da omissão de um termo cujo sentido já está subentendido. No<br />
caso do exemplo acima podemos notar que o verbo foi omitido, ou seja, a escritora poderia ter<br />
escrito: “Na embarcação desconfortável, tosca, havia apenas quatro passageiros (...)”. Você<br />
sabe por que ela omitiu o verbo Vejamos outro exemplo de cortes abruptos e uso de elipses<br />
para percebermos isso:<br />
“Ter, haver. Uma sombra no chão, um seguro que se desvalorizou, uma gaiola de passarinho. Uma<br />
cicatriz de operação na barriga e mais cinco invisíveis, que doem quando chove. Uma lâmpada de cabeceira, um<br />
cachorro vermelho, uma colcha e os seus retalhos. Um envelope com fotografias, não aquele álbum. Um canto<br />
de sala e o livro marcado”.<br />
RAMOS, Ricardo. Circuito Fechado (4). In: BOSI, Alfredo. O Conto Brasileiro Contemporâneo. 11. ed. São Paulo: Cultrix,<br />
1997. p. 259.<br />
A partir desse exemplo, podemos pensar em alguns porquês para o uso da elipse no<br />
conto moderno. Muitos consideram a elipse como um elemento importante da construção<br />
literária, visto que gera a aceleração do ritmo da linguagem no conto. Além disso, o uso de<br />
elipses contribui para uma linguagem mais expressiva e entrecortada, como flashes, já que<br />
esta forma de expressão chama a atenção do leitor para a sucessão <strong>dos</strong> acontecimentos, ao<br />
mesmo tempo em que sugere pistas para o significado das seqüências construídas. Como<br />
podemos perceber no trecho acima, os verbos “ter” e “haver” que aparecem no início aplicamse<br />
a todas as orações que vêm na seqüência.<br />
O tamanho do texto é também um motivo significativo para o emprego dessa figura de<br />
linguagem, afinal, muitas vezes o escritor terá um espaço relativamente limitado para<br />
transmitir ao leitor o efeito desejado, utilizando então a elipse como uma forma de tornar seu<br />
texto mais econômico. O mais intrigante é saber que o desafio <strong>dos</strong> contistas está em fazer com<br />
que seus textos transmitam o máximo usando o mínimo de palavras. E será exatamente isso<br />
que veremos no próximo capítulo. A busca <strong>dos</strong> autores pelo enxugamento do texto: o menor e<br />
mais completo.<br />
45
http://images.google.com.br<br />
O que você aprendeu<br />
Os contos contemporâneos tendem causar diferentes efeitos no leitor por<br />
meio de uma linguagem:<br />
Entrecortada, violenta ou velada (décadas de 60 e 70)<br />
Figuras de linguagem – eufemismo, comparação, elipses. A fim de<br />
atingir objetivos como precisão (dizer o máximo no mínimo), concisão,<br />
ou mesmo causar algum impacto no leitor<br />
Os contos contemporâneos abarcam uma grande variedade de estilos. Não há<br />
uma receita para ser um autor contemporâneo.<br />
V<br />
ale a pena conferir – livros sobre contos contemporâneos<br />
“Um passeio pela mais deliciosa e contundente ficção curta produzida no Brasil<br />
entre 1900 e o fim <strong>dos</strong> anos 90. Uma antologia capaz de traduzir as mudanças do<br />
país e as inquietações de várias gerações de brasileiros, em cem anos de produção<br />
literária. A prova de que a arte do gênero não cessa de melhorar em nossa<br />
literatura”.<br />
http://www.objetiva.com.br/objetiva/cs/q=node/482<br />
46
Atividades<br />
Atividade 01<br />
Agora que você leu os contos, volte ao primeiro deles. Observe atentamente o título dado à<br />
história: “De como estrangular um general”. Note que a oração é iniciada por uma preposição<br />
(“de”) seguida de uma conjunção (“como”). Levante hipóteses: Qual (ou quais) efeito (s) de<br />
sentido traz esta expressão para o texto<br />
Resposta esperada<br />
Nesta atividade, pretendemos que o leitor reflita sobre os efeitos de sentido e direcionamento<br />
que a elaboração de um título pode acarretar para a leitura de um texto. No caso do conto da<br />
atividade, esperamos que o leitor perceba que a expressão “de como” traz um sentido de<br />
instrução: como se o tema do conto fosse uma receita que nos ensinasse a estrangular um<br />
general.<br />
Atividade 02<br />
Agora que você refletiu sobre os possíveis senti<strong>dos</strong> do título, elabore um texto estabelecendo<br />
uma relação entre o título e a história deste conto: de que modo o primeiro reafirma/contradiz<br />
o segundo e vice-versa<br />
Resposta esperada<br />
É esperado que o leitor perceba a dissonância entre a idéia de método que o título traz e a<br />
história do conto em si, que narra o drama de uma personagem que sonha com o<br />
estrangulamento de um general, ocorrendo uma mistura do universo racional (título) com o<br />
onírico (história).<br />
Atividade 03<br />
O conto de Loyola Brandão se inicia pela presença de uma cadeira encontrada por homens na<br />
cozinha, que segundo eles não deveria estar ali. A cadeira, no entanto, pode ser apenas uma<br />
metáfora... Reflita então o que a cadeira pode estar representando neste conto.<br />
Resposta esperada<br />
O leitor deverá refletir sobre o que simboliza a cadeira, diante da situação de invasão de<br />
propriedade e suspensão <strong>dos</strong> direitos do cidadão, expressos no conto. A cadeira pode ser<br />
qualquer livro, propriedade do cidadão, que represente na visão do governo ditatorial alguma<br />
ameaça.<br />
Atividade 04<br />
Ao longo do capítulo pudemos notar alguns aspectos da ditadura por meio das análises <strong>dos</strong><br />
contos que se referem a este contexto. Esta ilustração remete a uma marcante característica do<br />
período. Comente tal característica e se preciso recorra ao seu material de história.<br />
47
http://farm1.static.flickr.com/218/4910<br />
26494_12858ca537.jpg<br />
Resposta esperada<br />
Espera-se que o aluno comente sobre a supressão da liberdade de expressão e a repressão que<br />
sofria quem ousasse dizer o que pensava a respeito do regime. Em relação <strong>aos</strong> olhos tapa<strong>dos</strong>,<br />
espera-se que se diga que o individuo para não ser apanhado pela censura devia ser um<br />
alienado ou fingir/ tentar não ver as atrocidades e o excesso de autoridade da ditadura. Era<br />
necessário não ver para não falar mal ou se rebelar. Essa é uma atividade interdisciplinar que<br />
visa à pesquisa.<br />
Atividade 05<br />
Agora que você conheceu alguns aspectos do conto contemporâneo, identifique quais das<br />
características discutidas neste capítulo se encontram presentes no trecho abaixo. Justifique<br />
sua resposta com base no que você leu no decorrer do capítulo.<br />
Presença da tragédia<br />
Se alguém me matasse. Se eu fosse abatido a tiros por uma amante, pelo marido de uma de minhas<br />
amantes, por um neurótico pela fama, por um serial killer americano que tivesse vindo ao Brasil, pelo<br />
engano de um traficante, por um assaltante num cruzamento, por uma das milhares de balas perdidas<br />
que cruzam a cidade, por uma dessas motos enraivecidas que alucinam o trânsito, por um colega de<br />
profissão inconformado com a minha fama. Se morresse em uma inundação, atingido por um raio ou<br />
por uma árvore derrubada por um vendaval. Por um remédio com data vencida, por uma comida<br />
estragada. Uma tragédia noticiada por toda a mídia, alimentada e realimentada, provocando manchetes<br />
vorazes, devoradas com prazer pelo público e construindo a minha legenda. Melhor que fosse algo<br />
misterioso. O noticiário duraria mais tempo, o caso seria revisto por curiosos dispostos a desvendar<br />
enigmas. Provocar a necessidade de uma autópsia, de exumação. Ser o enigma do século seria a minha<br />
glória. Se eu tivesse essa certeza, não me incomodaria de estar morto.<br />
(9.10.2000)<br />
BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O Anônimo, Cadernos de Literatura Brasileira - Instituto Moreira<br />
Salles - São Paulo, nº. 11, Junho de 2001, pág. 98.<br />
Resposta esperada<br />
O leitor deverá aplicar em um outro texto os aspectos que conseguiu identificar nos textos<br />
li<strong>dos</strong> nesse capítulo. Algumas vezes, esses aspectos se repetem em outros textos do mesmo<br />
período, como é o caso desse conto.<br />
48
http://pro.corbis.com/search/searchFr<br />
ame.aspx<br />
Atividade 06<br />
Agora é sua vez! Com base em tudo que você viu até agora sobre o conto, observe essa<br />
imagem e faça dela um conto contemporâneo, utilizando to<strong>dos</strong> os recursos vistos que julgar<br />
necessário.<br />
Resposta esperada<br />
Através dessa produção textual, o leitor poderá praticar o conteúdo trabalhado no capítulo: as<br />
metáforas, elipses, eufemismo, o ritmo da linguagem... Definitivamente esta é uma<br />
oportunidade de produção de um gênero diferente.<br />
Atividade 07<br />
Vamos pensar mais um pouco a respeito <strong>dos</strong> autores contemporâneos... Leia o texto abaixo:<br />
Ignácio de Loyola Brandão – Entrevista<br />
Como você vê o papel do escritor no mundo hoje<br />
O escritor deve escrever. Uns escrevem por escrever, fazendo disso uma arte pela arte.<br />
Bonitos e vazios. Outros, colocam a arte também em função de alguma coisa, dando importância ao<br />
homem em si. Acho que o escritor deve retratar seu tempo, apontar os furúnculos, tumores e alegrias.<br />
E também oferecer divertimento, distração.<br />
BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Entrevista. O Homem do Furo na Mão e Outras Histórias. São<br />
Paulo: Ática, 1987. p. 5. (Rosa <strong>dos</strong> Ventos)<br />
Agora reflita: qual poderia ser o papel do escritor contemporâneo Quais temas você<br />
considera que seriam interessantes de se trabalhar num conto considerando o contexto<br />
histórico e social do nosso tempo<br />
Resposta esperada<br />
Essa atividade busca fazer com que o leitor relacione os contos li<strong>dos</strong> ao seu presente e ao seu<br />
próprio contexto social.<br />
49
Atividade 08<br />
Como foi demonstrado nesse capítulo, as figuras de linguagem contribuem com o autor no<br />
sentido de atribuírem determinado sentido ao texto ou causarem alguma reação no leitor.<br />
Pesquise na biblioteca ou na internet (você encontrará apenas trechos) outros contos que se<br />
utilizem desse recurso, a figura de linguagem. Não se limite a contos contemporâneos, você<br />
pode e deve buscar contos fantásticos, de terror ou mesmo nos contos de fadas. Esta será uma<br />
oportunidade de colocar em prática o que você aprendeu nos capítulos anteriores e conhecer<br />
muitos outros contos...<br />
Resposta esperada<br />
Estimular a pesquisa e a comparação entre diferentes contos e contistas, bem como a<br />
possibilidade de trabalho com a linguagem e com os senti<strong>dos</strong> através do emprego das figuras<br />
de linguagem. Muito mais que decorar ou dar nomes, é necessário que se compreenda o por<br />
quê da utilização desse recurso.<br />
Atividade 09<br />
Reescreva o conto presente no Anexo 1, na página 80, atribuindo-lhe características<br />
contemporâneas como as estudadas no capítulo 2. Sinta-se livre para alterar o tamanho do<br />
texto ou mesmo o desenrolar da história. Agora, você é o autor.<br />
* O conto encontra-se após a atividade 10.<br />
Resposta esperada<br />
O leitor terá a oportunidade de se colocar no lugar do autor, percebendo que para escrever um<br />
conto é necessário muito mais do que inspiração é necessário um grande trabalho com a<br />
linguagem.<br />
Atividade 10<br />
Geralmente, quando um filme é lançado no cinema podemos ver em jornais e revistas textos<br />
falando sobre eles. Algumas pessoas inclusive procuram no jornal para saber se determinado<br />
filme é bom ou não. Isso também acontece na literatura, o nome dado para isso é crítica<br />
literária. São textos um pouco mais longos, depende do crítico, do que a crítica de cinema, por<br />
exemplo, e são muito interessantes para sabermos as opiniões de outras pessoas sobre<br />
determinado livro ou conto.<br />
Agora é sua vez, escolha um conto contemporâneo, se possível vá à biblioteca ou peça ao<br />
professor um conto diferente e leia-o por completo. Escreva um texto criticando ou elogiando<br />
o trabalho do autor falando do enredo, do conteúdo, das palavras utilizadas. Dessa vez, você é<br />
o crítico literário.<br />
Resposta esperada<br />
Busca-se que o aluno produza um texto crítico, com base nos conceitos que estudou até agora<br />
neste fascículo. Sugestão: a proposta dessa atividade é bem flexível, cada aluno pode avaliar o<br />
conto de outro colega feito na atividade anterior, ao invés <strong>dos</strong> contos literários propriamente<br />
ditos. É interessante também que os alunos pesquisem e tragam para discussão em sala alguns<br />
exemplos de críticas, para auxiliar na posterior execução dessa atividade.<br />
50
http://www.ciudadseva.com/textos/cuento<br />
s/esp/monte/am.jpg<br />
Uma nova face do<br />
conto contemporâneo<br />
“O conto vence por nocaute” Júlio Cortazar<br />
“Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá”.<br />
C<br />
omo você definiria a sentença acima Texto Frase Oração Pois nós lhe<br />
afirmamos que quem a concebeu a classificou como conto, por mais incrível<br />
que isso possa parecer de início. Ou melhor, como microconto. Este<br />
microconto é de autoria de Augusto Monterroso e trata-se do mais famoso microconto do<br />
mundo, segundo Marcelino Freire informa em sua coletânea “Os Cem Menores <strong>Contos</strong><br />
Brasileiros do Século” – uma clara paródia à famosa coletânea “Os Cem Melhores <strong>Contos</strong><br />
Brasileiros do Século”, de Ítalo Moriconi, já citada no capítulo 3.<br />
Augusto Monterroso nasceu em 1921, na<br />
Guatemala. Em 1944, mudou-se para o<br />
México. Foi agraciado, em 2000, com o<br />
Prêmio Príncipe de Astúrias de Letras. Um<br />
<strong>dos</strong> escritores latinos mais notáveis,<br />
Monterroso tem predileção por contos e<br />
ensaios. "O dinossauro", uma de suas obras<br />
mais célebres, é considerado o menor<br />
conto da literatura mundial. Augusto<br />
Monterroso faleceu em fevereiro de 2003.<br />
http://www.releituras.com/amonterroso_menu.asp<br />
http://www.vitruvius.com.br/arquitextos<br />
/arq000/esp435.asp<br />
O advento <strong>dos</strong><br />
microcontos – ou minicontos, como são também conheci<strong>dos</strong> –<br />
figura dentro do contexto de um movimento maior,<br />
denominado Minimalismo, o qual é característico da pósmodernidade.<br />
A palavra Minimalismo se refere <strong>aos</strong> movimentos<br />
artísticos e culturais que permearam o século XX que<br />
51
http://www.viverbemonline.co<br />
m.br/revista/165/imagens/467/medium_70<br />
8.jpg<br />
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mini<br />
malismo.<br />
http://www.vaidireto.com.br/im<br />
gdin/minimalista.jpg<br />
prezavam pela expressão artística nas suas formas mais simples e<br />
essenciais, de forma que era considerada bela a ausência de<br />
acessórios, de ornamentos, e valorizada a manifestação artística por<br />
meio de formas básicas e o mais singelas possível. Você<br />
compreenderá melhor esse movimento com o auxílio das imagens<br />
abaixo:<br />
Na música minimalista, uma obra pode resumir-se à execução de apenas duas notas. Em<br />
geral, o mesmo som é repetido à exaustão. A música minimalista nasce com a série<br />
Composições 1960, criada por La Monte Young (1935-). O destaque é Terry Riley (1935-),<br />
autor de “Em Dó”.<br />
Fonte: http://www.spiner.com.br/modules.phpname=arteecultura&file=menu/movimentos/minimalismo<br />
A primeira imagem mostra uma decoração “carregada”, cheia de móveis (mesa,<br />
cadeiras, aparadores, quadros e um grande lustre), na qual quase não há espaço para a<br />
locomoção. Já na segunda figura, temos apresentado um ambiente mais livre e espaçoso, com<br />
poucos móveis e objetos, característico do ideal minimalista.<br />
Essa tendência ao pouco (ou nenhum) detalhamento e à simplicidade de formas não é<br />
diferente na literatura. A literatura minimalista é caracterizada pela economia de palavras.<br />
Espera-se <strong>dos</strong> leitores uma participação ainda mais ativa na criação da história, pois eles<br />
52
&b=168&id_est=144213&depto=88<br />
http://www.livrariamelhoramentos.com.br/supercart/cgibin/supercart.exe/searchIDok=detalhes_livros.htm¬hing=livros_nada.htm<br />
devem tomar posição com base em dicas e insinuações, ao invés de descrições explícitas na<br />
narrativa.<br />
O escritor americano Ernest Hemingway, já falecido, ficou conhecido como fundador<br />
da Literatura Minimalista, uma vez que seus textos foram pioneiros em prezar pela concisão e<br />
pouca adjetivação, garantindo um maior espaço para a interpretação do leitor.<br />
Ernest Miller Hemingway nasceu em 1899, em Oak Park,<br />
Illinois (EUA). Filho de um médico da zona rural, cresceu em<br />
contato com um ambiente pobre e rude, que conheceu ao<br />
acompanhar o trabalho do pai na região. Esse ambiente foi<br />
descrito em seu livro de contos In Our Time (1925).<br />
Trabalhando como repórter, Hemingway alista-se no exército<br />
italiano em 1916 e é gravemente ferido na frente de batalha. Ao<br />
deixar o hospital, passa a trabalhar como correspondente em<br />
Paris. Em 1926, publica O Sol Também Se Levanta, livro que<br />
obteria um sucesso surpreendente.<br />
Ganhador do Nobel de Literatura (1954), Hemingway suicidouse<br />
em sua casa de Ketchum, em Idaho (EUA), em 1961.<br />
http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u117.jhtm<br />
os contos do livro de Trevisan, leia abaixo um <strong>dos</strong> mais longos:<br />
Na literatura brasileira, o movimento minimalista incentivou<br />
a produção de microcontos. A obra Ah, é, de subtítulo<br />
“Ministórias” de autoria de Dalton Trevisan (1994), é<br />
considerada obra-prima do estilo minimalista. A obra é<br />
composta por contos curtíssimos e a tensão da narrativa,<br />
característica do gênero conto, é valorizada. De acordo com<br />
Spalding, um estudioso de microcontos, esta tensão<br />
narrativa geralmente é produzida por meio de cortes e<br />
elipses, cabendo ao leitor imaginar o que está oculto. Dentre<br />
Tarde de verão, é levado ao jardim na cadeira de braços –<br />
sobre a palhinha dura a capa de plástico e, apesar do calor,<br />
manta xadrez no joelho. Cabeça caída no peito, um fio de<br />
baba no queixo. Sozinho, regala-se com o trino da corruíra*,<br />
um cacho dourado de giesta* e, ao arrepio da brisa, as<br />
53
0975/<br />
ttp://www.flickr.com/photos/acbc/5095<br />
50975/<br />
http://www.flickr.com/photos/acbc/509<br />
950975/<br />
hhttp://www.flickr.com/photos/acbc/50<br />
folhinhas do chorão faiscando – verde, verde! Primeira vez<br />
depois do insulto cerebral aquela ânsia de viver. De novo um<br />
homem, não barata leprosa com caspa na sobrancelha – e, a<br />
sombra das folhas na cabecinha trêmula, adormece. Gritos:<br />
Recolha a roupa. Maria, feche a janela. Prendeu o Nero<br />
Rebenta com fúria o temporal. Aos trancos João ergue o<br />
rosto, a chuva escorre na boca torta. Revira em agonia o olho<br />
vermelho – é uma coisa, que a família esquece na confusão<br />
de recolher a roupa e fechar as janelas<br />
Trevisan, Dalton. In: Ah, é 1994<br />
*Trino: gorjear, trilar, canto melodioso formado de notas rápidas,<br />
emitido por algumas aves, como a andorinha, o rouxinol, o sabiá<br />
etc.<br />
*Corruíra: nome comum dado as várias espécies de pássaros da<br />
família <strong>dos</strong> trogloditídeos.<br />
*Giesta: gênero de plantas ornamentais leguminosas, vassoura de<br />
giesta.<br />
Vemos aqui personagens, espaço, ação, enfim, todo o necessário para o<br />
desenvolvimento da história. E, como Hemingway, o autor deixa a cargo do leitor pensar e<br />
compreender o conto, ou seja, o autor não fornece nada pronto; apenas “pistas”, que, unidas<br />
por quem lê, formam um todo coerente. Trevisan garante apenas instrumentos para que o<br />
leitor tire suas próprias conclusões a respeito da personagem que é levada em uma cadeira<br />
para o jardim. Será esta personagem uma coisa Recolhe-se a roupa, fecha-se a janela,<br />
prende-se o cachorro, mas ninguém se lembra da personagem que fora levada ao jardim.<br />
A economia na linguagem pode ser notada em passagens como “Prendeu o Nero”:<br />
em momento algum se diz que Nero seria um cachorro, no entanto, o verbo “prender” e o<br />
nome próprio incomum em seres humanos fazem com que o leitor infira que se trata de um<br />
cão. É interessante notar neste conto, que a narrativa se constrói descrevendo-se um quadro,<br />
uma cena. Numa construção não minimalista, provavelmente teríamos algo como:<br />
“Numa tarde de verão, ele é levado ao jardim em sua cadeira de braços, e<br />
sobre a palhinha dura da mesma, estava a capa de plástico. Apesar do calor, tinha<br />
54
http://www.nordesteweb.com/not04_06<br />
04/ne_not_20040424e.htm<br />
uma manta xadrez sobre o joelho. Estava com a cabeça caída no peito e pendia um<br />
fio de baba em seu queixo.”<br />
Releia o início do conto de Trevisan e compare com o trecho reescrito que você acaba<br />
de ler: quantas palavras foram suprimidas Muitas, não é mesmo Porém, a falta dessas<br />
palavras, da primeira vez que você leu o conto, atrapalhou o seu entendimento do trecho<br />
Tenho certeza de que não, porque você, como bom leitor, subentendeu-as. Assim, você pode<br />
notar o quanto é importante o papel do leitor neste tipo de narrativa extremamente breve.<br />
O mais interessante nisso tudo é que o microconto, ainda que tão curto se comparado<br />
<strong>aos</strong> contos de fadas e <strong>lendas</strong>, por exemplo, exige a atenção do leitor para uma interpretação<br />
que não está ali tão clara...<br />
Vários microcontos forma obra de Marcelino Freire,<br />
denominada Os Cem Menores <strong>Contos</strong> Brasileiros do<br />
Século. Para construí-la, o autor “desafiou” (nas palavras<br />
do próprio) 100 escritores brasileiros a escreverem contos<br />
com, no máximo, 50 letras. Entre eles, participam da<br />
coletânea: Millôr Fernandes, Moacyr Scliar, Marçal<br />
Aquino, Lygia Fagundes Telles, e muitos outros grandes<br />
nomes da Literatura Brasileira Contemporânea.<br />
Os microcontos, tal como qualquer outro tipo de narrativa, podem ser construí<strong>dos</strong> nas<br />
mais variadas formas. Temos aqui alguns exemplos de microcontos (retira<strong>dos</strong> da Antologia de<br />
Marcelino Freire) nos quais podemos notar essas diferentes construções formais. Observe o<br />
microconto abaixo:<br />
Só<br />
Se eu soubesse o que procuro com esse controle remoto...<br />
Fernando Bonassi<br />
No microconto acima transcrito nota-se uma voz de narrador-personagem – alguém<br />
que fala sobre si próprio – marcada pela construção na pessoa verbal; além da presença das<br />
reticências, confirmando a não necessidade de mais palavras ou explicações. Nisto está a<br />
essência <strong>dos</strong> microcontos: dizer pouco sugerindo muito. Em relação ao conteúdo, o título<br />
55
“Só” e a cena do homem solitário e indeciso em frente à TV sugerem a falta de sentido e<br />
objetivo para a existência humana. Abaixo, veja um outro exemplo com forma distinta:<br />
Disque-denúncia<br />
-Cabeça<br />
-É.<br />
-De quem<br />
-Não sei. O dono não tá junto.<br />
Marçal Aquino<br />
Aqui o miniconto se estrutura na forma de diálogo, por meio do discurso direto. Não<br />
há presença de narrador, nem se explicita quem seriam os personagens. No entanto, é evidente<br />
a ação que se desenrola (uma denúncia por telefone) bem como seus personagens são<br />
facilmente identificáveis (cidadão/policial). Nesse microconto está clara a questão da crítica à<br />
violência nos dias atuais.<br />
Caiu da escada e foi para o andar de cima.<br />
Adrienne Myrtes<br />
No caso do microconto acima, composto por uma única sentença, podemos notar o<br />
narrador externo à ação, demonstrado pelo do uso da terceira pessoa. Temos também ação<br />
(cair/ir) e uma personagem que não é sequer descrita, o que não interfere na compreensão da<br />
narrativa.<br />
O uso de figuras de linguagens é um recurso bastante presente nos microcontos, o qual<br />
auxilia na concisão da linguagem. Neste caso, Adrienne Myrtes usa o eufemismo “foi para o<br />
andar de cima” para expressar a morte da personagem, contrastando com o verbo cair (indica<br />
uma única direção possível, ou seja, para baixo) com o ato de ir para o andar de cima.<br />
Tome Nota!:<br />
O que é Eufemismo:<br />
É a atenuação ou suavização de idéias consideradas desagradáveis, cruéis,<br />
imorais, obscenas ou ofensivas. Por exemplo:<br />
“Nos fizeram varrer calçadas, limpar o que faz todo o cão...” (Em lugar de<br />
fezes)<br />
ou mesmo:<br />
56
"Trata-se de um usurpador do bem alheio..." (Em lugar de ladrão)<br />
Vê-se, portanto, que muitas são as questões que podem surgir quando pensamos nessa<br />
nova maneira de fazer Literatura. Podemos nos perguntar se é possível contarmos uma<br />
história em tão poucas palavras... Quem defende os microcontos como gênero literário dirá<br />
que sim, e que isto irá depender da habilidade do autor em dizer o mínimo necessário em cada<br />
vez menos palavras. Por outro lado, há quem defenda que, para haver narrativas, são<br />
necessários personagem, ação e enredo, ou seja, requisitos demais pra uma única sentença. E<br />
você, agora que estudou três capítulos sobre contos, o que pensa a respeito desta novidade<br />
O haicai é uma forma de poema japonês, em geral composto por um total de 17<br />
sílabas poéticas, divididas na seqüência de 5, 7 e 5 sílabas. Outra questão de<br />
destaque na organização dessa forma de poema é o uso da chamada “palavra de<br />
estação”: um termo ou expressão presente no haicai que faz referência a uma<br />
estação do ano. Os haicais são construí<strong>dos</strong> dentro de uma temática das estações do<br />
ano que, de acordo com a cultura japonesa, além das quatro que conhecemos<br />
(primavera, verão, outono e inverno), englobam também o Ano Novo, totalizando,<br />
portanto, cinco estações.<br />
Abaixo, um exemplo de haicai:<br />
Primeiro frio do ano<br />
fui feliz<br />
se não me engano<br />
Paulo Leminski<br />
57
O que você aprendeu:<br />
O que é um microconto<br />
Movimento minimalista<br />
As principais diferenças e semelhanças entre contos e<br />
microcontos<br />
Consulte o site http://www.nemonox.com/1000portas/projeto.html<br />
e conheça outros microcontos.<br />
58
Atividades<br />
Atividade 1<br />
Volte agora ao capítulo 2 que trata da estrutura <strong>dos</strong> contos e responda: quais semelhanças e<br />
diferenças você pode encontrar entre os contos e os microcontos<br />
Resposta esperada<br />
Sem dúvida maior diferença é a brevidade, pois o tamanho do conto será uma das diferenças<br />
mais gritantes. Como semelhanças os alunos poderão citar a presença de um narrador, de um<br />
enredo e personagem. Nem sempre os microcontos nos fornecerão um espaço claro, mas a<br />
ação estará sempre presente. Além disso, a descrição é escassa e quase ausente nos<br />
microcontos – o professor poderá pensar em outras semelhanças e diferenças.<br />
Atividade 2<br />
A linguagem literária permite muitas interpretações. Nos microcontos, essa característica é<br />
ressaltada pela brevidade, que não permite detalhes. Leia os contos abaixo e apresente tantas<br />
interpretações quantas considerar possíveis:<br />
ACERTO<br />
-Está feito<br />
-Sim<br />
-Quem<br />
-O de treze...<br />
-É<br />
-Sim.<br />
-E agora<br />
-O enterro é às cinco.<br />
Francisco de Morais Mendes<br />
VIGÍLIA<br />
Pronto nos olhos,<br />
O pranto só espera a notícia.<br />
Resposta esperada<br />
Leitura(s) pessoal(ais) do microconto.<br />
João Anzanello Carrascoza<br />
59
Atividade 3<br />
Leia o microconto abaixo:<br />
MAS O RIO CONTINUA LINDO<br />
Pensa o desempregado<br />
Ao pular do Corcovado.<br />
Antonio Torres<br />
Agora reflita e responda: qual o recurso estilístico presente neste microconto que o diferencia<br />
<strong>dos</strong> demais Qual o efeito provocado pelo uso deste recurso<br />
Resposta esperada<br />
O recurso de que se fala é a rima. Espera-se que o aluno veja que, embora estejamos tratando<br />
de texto em prosa, a rima aparece conferindo a qualidade de prosa poética ao microconto, ou<br />
seja, ainda que não seja poesia, a sonoridade é ressaltada.<br />
Atividade 4<br />
Você pôde observar neste capítulo que os microcontos também variam em seu tamanho:<br />
podem ser de uma página ou mesmo de uma linha. Use sua criatividade e dê continuidade à<br />
narrativa do microconto abaixo, sem, contudo, fazer com que ele deixe de ser um microconto.<br />
FUMAÇA<br />
Olhou a casa, o ipê florido.<br />
Tudo para ela.<br />
Suspendeu a mala e foi.<br />
Ronaldo Correia de Brito<br />
Resposta esperada<br />
Produção de texto (microconto).<br />
Atividade 5<br />
O microconto transcrito abaixo pode provocar riso. Explique como se dá o efeito cômico.<br />
TESTE DE VISTA<br />
Ler Não, senhor.<br />
São óculos para descanso.<br />
Moacyr Godoy Moreira<br />
60
Resposta esperada<br />
Quer-se obter do aluno a explicação de que a comicidade se daria pela ambigüidade do termo<br />
“descanso”, quando relacionado à “óculos”, assim, “óculos para descanso” é entendido como<br />
“óculos para que não se leia”.<br />
Atividade 6<br />
Faça com que o microconto abaixo se transforme num conto comum, como os que você viu<br />
nos capítulos anteriores. Para isso, acrescente detalhes, descrições e o que mais lhe parecer<br />
conveniente.<br />
A DÍVIDA<br />
Mata o pai, arromba o cofre, só uma caixa vazia.<br />
José Castello<br />
Resposta esperada<br />
Produção textual de gênero conto.<br />
Atividade 7<br />
A Internet é um campo fértil para os microcontos. Atualmente, é grande o número de<br />
internautas que escrevem e postam em seus blogs os seus próprios microcontos. Faça uma<br />
breve pesquisa na Internet e liste aqui o que você encontrar e considerar interessante a<br />
respeito <strong>dos</strong> microcontos no meio digital. Depois, reflita: essas duas formas de microcontos<br />
são diferentes entre si ou se assemelham O meio de publicação (livro/Internet) interfere na<br />
construção do microconto O que você acha<br />
Resposta esperada<br />
Essa é uma questão de pesquisa e reflexão sobre a interferência do meio no gênero. Resposta<br />
pessoal.<br />
Atividade 8<br />
Ernest Hemingway, escritor já citado no capítulo, tem uma teoria muito famosa a respeito <strong>dos</strong><br />
contos. Nesta teoria, ele compara o conto a um iceberg. Formesm grupos e pesquisem a<br />
respeito dessa comparação. Depois, expliquem a teoria utilizando-se <strong>dos</strong> microcontos como<br />
exemplo.<br />
Resposta esperada<br />
Espera-se que o aluno pesquise e descubra o porque da comparação <strong>dos</strong> contos <strong>aos</strong> icebergs,<br />
explicando com base em algum(ns) microconto(s) que, como nos icebergs – os quais tem<br />
somente um oitavo do seu volume visível fora d`água - também os contos “escondem” muitos<br />
senti<strong>dos</strong> por detrás de poucas palavras.<br />
Atividade 9<br />
Leia os microcontos a seguir e defina um tema comum entre eles.<br />
BALA PERDIDA<br />
Acorda, levanta, vai ganhar a vida...<br />
(Disparos)<br />
61
...passou tão rápida.<br />
Wilson Freire<br />
PODE<br />
Você pode morrer a qualquer momento.<br />
André Sant’anna<br />
FIM DE PAPO<br />
Na milésima segunda noite, Sherazade degolou o sultão.<br />
Antônio Carlos Secchin<br />
Uma vida inteira pela frente.<br />
O tiro veio por trás.<br />
Morreu de quê<br />
Gastou-se.<br />
Cíntia Moscovich<br />
Eugênia Menezes<br />
Resposta esperada<br />
Espera-se que o aluno observe que a morte é um <strong>dos</strong> temas comuns a to<strong>dos</strong> os contos. Alguns<br />
falam de assassinato: num Sherazade mata o sultão, noutros ocorrem mortes por tiros... esta<br />
não é uma resposta única poderão haver outras possibilidades.<br />
Atividade 10<br />
Leia o microconto abaixo de Ivana Arruda Leite, cujo título foi omitido. Qual a sua<br />
interpretação a respeito dele O que ocorre nesse microconto<br />
Confesso.<br />
Fui eu que enfiei a faca na barriga desse porco.<br />
Releia o microconto agora com o seu título:<br />
FEIJOADA<br />
Confesso.<br />
Fui eu que enfiei a faca na barriga desse porco.<br />
Há uma mudança na interpretação desse microconto a partir da leitura de seu título. Explique<br />
essa mudança.<br />
Resposta esperada<br />
Espera-se que o aluno note que o título faz toda a diferença na interpretação, uma vez que<br />
direciona novo sentindo para a palavra “porco”, a qual inicialmente poderia ser interpretada<br />
como uma referência – insulto – a um ser humano, quando na verdade se trata da alusão ao<br />
animal, como fica claro depois que lemos o título.<br />
62
HQ – Um novo formato<br />
para os contos<br />
“Um belo livro desperta vocação, desperta curiosidade,<br />
ler ensina, entrete, desperta curiosidade. Ele é a junção de duas<br />
cabeças pensantes: a do autor e a do leitor”<br />
(Maurício de Sousa)<br />
Agora que você já aprendeu bastante sobre a origem do conto e sua estrutura,<br />
analisou alguns contos contemporâneos e conheceu os microcontos, vamos explorar um<br />
novo formato do conto: os <strong>quadrinhos</strong> – ou simplesmente as HQ, como também são<br />
conheci<strong>dos</strong>. Quem não leu quando criança gibis da Turma da Mônica ou Comics da<br />
Marvel, como os X-Men e o Super-Homem Você sabia que existem contos de<br />
Machado de Assis, Moacyr Scliar e Lima Barreto, dentre outros, adapta<strong>dos</strong> para os<br />
<strong>quadrinhos</strong> É isso mesmo, eles estão disponíveis para leitura tanto em forma virtual<br />
quanto impressa.<br />
Aprendendo um pouco sobre as HQ<br />
As histórias em <strong>quadrinhos</strong>, como qualquer forma de expressão artística, têm<br />
uma linguagem característica do gênero, com códigos e regras. São vários os elementos<br />
que a compõem. Os principais são:<br />
Imagem: elemento fundamental da linguagem <strong>dos</strong> <strong>quadrinhos</strong>, a imagem tem<br />
importância maior em relação à escrita nos HQs. As HQ se propõem a contar uma<br />
história baseada em imagens. Isso não quer dizer que a palavra seja sempre dispensável,<br />
mas significa que ela não é o meio primordial de comunicação como na literatura<br />
tradicional, sendo, às vezes, desnecessária. Há histórias em <strong>quadrinhos</strong> que sequer<br />
utilizam os balões de fala. As imagens abaixo, por exemplo, não apresentam falas,<br />
porém, sua compreensão é perfeitamente possível:<br />
63
http: //www.monica.com.br/cookpage/cookpage.cgi!pag=comics/tirinhas/tira248<br />
Na imagem ao lado conseguimos observar<br />
que a moça está, no mínimo, assustada, sem<br />
que para isso ela tenha dito absolutamente<br />
nada.<br />
Representação do movimento: as histórias em <strong>quadrinhos</strong> representam<br />
movimentos através de imagens, luzes e sombras. Vários recursos são utiliza<strong>dos</strong> com<br />
esse objetivo: a deformação de folhas e galhos de árvores sob ação do vento, a<br />
inclinação de um corpo para indicar que este está correndo, a alteração das dobras das<br />
roupas no sentido do deslocamento,<br />
dentre outros.<br />
Encadeamento de imagens: nas histórias em <strong>quadrinhos</strong>, o autor decompõe<br />
uma ação em um determinado número de imagens colocadas em seqüência. Não há,<br />
contudo, um recurso tecnológico digital que reproduza o movimento, como nos<br />
64
http://www.marel.pro.br/onomat.h<br />
tm<br />
http://www.marel.pro.br/onomat.h<br />
tm<br />
http://www.marel.pro.br/onomat.h<br />
tm<br />
desenhos anima<strong>dos</strong>, por exemplo. Assim, a ilusão do movimento fica por conta da<br />
linguagem visual transmitida ao leitor.<br />
Representação <strong>dos</strong> sons: além da prática comum de colocar dentro <strong>dos</strong><br />
chama<strong>dos</strong> ―balões‖ a representação escrita das falas das personagens, é freqüente<br />
também a utilização da escrita para representações sonoras que não fazem parte da<br />
linguagem humana. São, de um modo geral, representações de ruí<strong>dos</strong>. Tais<br />
representações se fazem por meio de onomatopéias, como nos exemplos abaixo:<br />
Literatura e HQs<br />
Tome Nota<br />
Como você pode perceber, onomatopéia é a figura de linguagem utilizada para<br />
representarmos algo pelo seu som. Empregamos este recurso em expressões tais como:<br />
O “cri cri” <strong>dos</strong> grilos na janela a incomodava.<br />
Ou ainda:<br />
Eu ia pela rua quando de repente - “cabrum” - começou a chover.<br />
Dessa forma, a onomatopéia é um modo de representar, através da escrita, os<br />
ruí<strong>dos</strong>.<br />
Veja outros exemplos de onomatopéia comumente encontra<strong>dos</strong> nas histórias em<br />
<strong>quadrinhos</strong>:<br />
Aaai! – grito de dor<br />
Ah! – grito de surpresa, dor, medo ou pavor<br />
Ah! Ah! Ah! – risada ou gargalhada<br />
Ahhh! – alívio<br />
Ahn! – choro<br />
Arf! – animal arfando, ofegante<br />
Argh! – nojo<br />
Eeek! ic! – soluço<br />
Er... Ahn ... – indecisão<br />
Bah! – desagrado<br />
Bam! – tiro de revólver<br />
Buá! – choro<br />
65
www.escalaeducacional.com.br/paradidalitbras.asp<br />
Além de heróis como o Super-Homem e a Mulher Maravilha, existem também<br />
HQs sobre personagens mais próximos da realidade como Calvin, Luluzinha, Turma da<br />
Mônica e Popeye. Além disso, há <strong>quadrinhos</strong> inspira<strong>dos</strong> em personagens literários,<br />
porque é cada vez mais comum encontrarmos adaptações de contos e romances.<br />
Machado de Assis, Manuel Antonio de Almeida, Lima Barreto e Moacyr Scliar – o qual<br />
teve adaptado para os HQs seu conto A orelha de Van Gogh – são alguns exemplos<br />
disso.<br />
Observe que a adaptação de contos literários para os <strong>quadrinhos</strong> não é um<br />
movimento tão simples. Adaptar uma obra para um outro gênero ou linguagem<br />
significa, em certa medida, modificá-la. A mudança é inevitável, e depende do objetivo<br />
da adaptação. Vejamos alguns casos.<br />
Dom Casmurro em <strong>quadrinhos</strong> – uma adaptação que deu certo<br />
Um caso interessante envolvendo <strong>quadrinhos</strong> e literatura foi a adaptação baseada<br />
no livro Dom Casmurro de Machado de Assis.<br />
66
O jornal Extra, do Rio de Janeiro, publicou em setembro de 2008 uma adaptação<br />
em <strong>quadrinhos</strong> da história da personagem Capitu, na qual ela é inocentada da suspeita<br />
de traição em relação a Bentinho.<br />
A obra original trata do namoro de Bentinho e Capitu que se deu desde que eram<br />
crianças, e posterior casamento. Bentinho, destinado a ser padre devido a uma promessa<br />
de sua mãe, conheceu a nova vizinha Capitu, por quem se apaixonou e desistiu de ser<br />
seminarista. Com o passar <strong>dos</strong> anos, Bentinho vai fazendo jus ao seu apelido de<br />
casmurro na mesma proporção em que seu ciúme por Capitu cresce. Seu modo<br />
rabugento e cismado de ser se agrava com o nascimento de Ezequiel, seu filho.<br />
Bentinho começa a desconfiar que o menino é filho do seu melhor amigo, Escobar. Daí<br />
surge a pergunta que mais se repete entre os leitores: ―Afinal, Capitu traiu ou não traiu<br />
Bentinho‖ – uma pergunta que o livro não responde, os críticos tentam responder e à<br />
qual os leitores ficam sem resposta...<br />
Diante de quase cem anos de polêmica, João Arruda e Vinícius Micthell<br />
elaboraram uma história em <strong>quadrinhos</strong> que inocenta Capitu. Eles criaram a narrativa na<br />
forma de um tribunal. A história se pauta nos argumentos <strong>dos</strong> advoga<strong>dos</strong> de acusação e<br />
de defesa.<br />
O final da HQ apresenta uma prova irrefutável da inocência da personagem.<br />
Contudo, tal prova é uma reviravolta completa na trama proposta por Machado de<br />
Assis, que deixou a dúvida em suspenso.<br />
Essa HQ pode ser lida na íntegra no site:<br />
http://extra.globo.com/blogs/tirandodeletra/post.aspt=<strong>quadrinhos</strong>_do_julgament<br />
o_de_capitu&cod_Post=129130&a=506<br />
Veja logo a seguir alguns trechos da HQ seleciona<strong>dos</strong>:<br />
67
Esse quadrinho criou um desfecho diferente para o romance Dom Casmurro. Além<br />
disso, no romance de Machado de Assis, Bentinho é o narrador, logo, toda a trama é<br />
apresentada sob seu ponto de vista. Observe que, no trecho da HQ acima, predomina a<br />
fala das personagens participantes, em detrimento da fala do narrador, presente apenas<br />
no topo do terceiro quadrinho.<br />
Uns Braços em <strong>quadrinhos</strong> – uma outra adaptação<br />
A versão em HQ do conto Uns Braços, de Machado de Assis, traz um texto mais fiel<br />
ao original. Nesta adaptação para HQ preservou-se a figura do narrador, tão importante<br />
para o conto machadiano.<br />
Veja a seguir um trecho da adaptação:<br />
68
Como você pode notar, o narrador está bastante presente nos <strong>quadrinhos</strong>,<br />
representado pela caixa quadrada acima das imagens. Veja agora um trecho da obra<br />
original, que corresponde <strong>aos</strong> <strong>quadrinhos</strong> retrata<strong>dos</strong> acima:<br />
Como você pode notar, o narrador está bastante presente nos <strong>quadrinhos</strong>, representado<br />
pela caixa quadrada acima das imagens. Veja agora um trecho da obra original, que<br />
corresponde <strong>aos</strong> <strong>quadrinhos</strong> retrata<strong>dos</strong> acima:<br />
Uns Braços<br />
(...) Saiu da sala, atravessou rasgadamente o corredor e foi até o quarto do<br />
mocinho, cuja porta achou escancarada. D. Severina parou, espiou, deu com ele na rede,<br />
dormindo, com o braço para fora e o folheto caído no chão. A cabeça inclinava-se um<br />
pouco do lado da porta, deixando ver os olhos fecha<strong>dos</strong>, os cabelos revoltos e um<br />
grande ar de riso e de beatitude.<br />
D. Severina sentiu bater-lhe o coração com veemência e recuou. Sonhara de<br />
noite com ele; pode ser que ele estivesse sonhando com ela. Desde madrugada que a<br />
figura do mocinho andava-lhe diante <strong>dos</strong> olhos como uma tentação diabólica. Recuou<br />
ainda, depois voltou, olhou dois, três, cinco minutos, ou mais. Parece que o sono dava à<br />
adolescência de Inácio uma expressão mais acentuada, quase feminina, quase pueril.<br />
"Uma criança!" disse ela a si mesma, naquela língua sem palavras que to<strong>dos</strong> trazemos<br />
69
http://mangasjbc.uol.com.br/fruits-basket-01/<br />
http://mangasjbc.uol.com.br/samurai-x-56/<br />
http://img111.imageshack.us/img111/8537/<br />
19ze3.jpg<br />
conosco. E esta idéia abateu-lhe o alvoroço do sangue e dissipou-lhe em parte a<br />
turvação <strong>dos</strong> senti<strong>dos</strong>.<br />
"Uma criança!"<br />
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000259.pdf<br />
Nos <strong>quadrinhos</strong>, um <strong>dos</strong> efeitos que a preferência pelo uso constante da fala do<br />
narrador produz é a preservação da atmosfera reflexiva e ambígua do conto<br />
machadiano. Enquanto na HQ de Dom Casmurro observamos uma representação<br />
consecutiva de falas, provocando uma leitura mais dramatizada, em Uns Braços<br />
notamos uma tendência a preservar o narrador da obra original. O que há, neste caso, é<br />
uma inserção de imagens de forma que a adaptação ao gênero <strong>dos</strong> <strong>quadrinhos</strong> interfira<br />
menos no enredo original.<br />
O que é Mangá<br />
Mangá é o nome dado às histórias em <strong>quadrinhos</strong> de origem japonesa. A palavra surgiu da<br />
junção de outros dois vocábulos: man, que significa involuntário, e gá, imagem.<br />
Os mangás se diferenciam <strong>dos</strong> <strong>quadrinhos</strong> ocidentais não só pela sua origem, mas<br />
principalmente por se utilizarem de uma representação gráfica completamente própria. Pra<br />
começar, o alfabeto japonês se compõe de ideogramas que não só representam sons, mas também<br />
idéias. Assim, em um mangá o texto em geral, mas principalmente as onomatopéias, fazem parte<br />
da arte. A ordem de leitura <strong>dos</strong> mangás também é diferente daquela que estamos acostuma<strong>dos</strong>. Um<br />
livro japonês começa pelo que seria o fim de uma publicação ocidental. Além disso, o texto é<br />
disposto da direita para a esquerda.<br />
Outra característica peculiar <strong>dos</strong> mangás é que eles são publica<strong>dos</strong> em volumes de mais ou<br />
menos 200 páginas cada, o que permite <strong>aos</strong> autores criar histórias mais longas e aprofundadas.<br />
Dessa forma, em um mangá é comum ver várias páginas só de imagens, sem diálogos, e também<br />
ações que se desenrolam por muitos <strong>quadrinhos</strong> e abordadas por diferentes pontos de vista. A<br />
disposição <strong>dos</strong> <strong>quadrinhos</strong> em uma página de mangá é diferente daquela que se costuma ver num<br />
comic americano, que costuma ter três ou quatro fileiras de <strong>quadrinhos</strong> por página. Como os<br />
mangakás (nome dado <strong>aos</strong> autores de mangás) dispõem de um espaço maior para contar sua<br />
história, também empregam um número menor de <strong>quadrinhos</strong> por página – não é difícil ver página<br />
até sem <strong>quadrinhos</strong>, com uma única imagem estourada.<br />
Também é característica <strong>dos</strong> mangás serem feitos completamente em preto-e-branco e em<br />
papel jornal, o que torna o produto mais barato e faz com que ele seja consumido por todo tipo de<br />
pessoa - no Japão eles são li<strong>dos</strong> por crianças, estudantes, executivos, donas-de-casa…<br />
Esses são apenas alguns pontos que caracterizam os mangás. Só que o principal é a<br />
capacidade que eles têm de encantar pessoas do mundo todo. Ler um mangá é uma experiência<br />
única. É mergulhar em um mundo próprio. Cheio de ação, emoção, heróis, criaturas mágicas e<br />
muita, muita diversão.<br />
hht ttt pp: :////mmaannggaassj jbbcc. ..uuool ll. ..ccoomm. ..bbrr//oo--qquuee--ee--mmaannggaa//<br />
70
Conclusão<br />
Você pode notar que muitos contos literários tiveram em suas edições algumas<br />
ilustrações de seu enredo. Podemos dizer que esta foi a semente para chegarmos às<br />
histórias em <strong>quadrinhos</strong> – um gênero que ocupa um espaço cada vez maior nas estantes<br />
das livrarias. É possível afirmar que ―traduzir‖ obras da literatura canônica para a<br />
linguagem <strong>dos</strong> <strong>quadrinhos</strong> foi uma maneira de aproximar estas histórias de um público<br />
leitor mais jovem. Essas adaptações foram, de certa forma, uma modernização de obras<br />
da literatura brasileira, que talvez não despertassem tanto interesse nos adolescentes<br />
caso fossem apresentadas em seu formato original.<br />
Não podemos esquecer, contudo, que transpor um conto literário para <strong>quadrinhos</strong><br />
significa alterar o gênero inicial da história. Ler um quadrinho de um conto nunca será a<br />
mesma coisa do que ler o conto original, pois os <strong>quadrinhos</strong> sempre trarão uma visão<br />
limitada da história. Caberá a você ser um leitor perspicaz, buscando nos <strong>quadrinhos</strong><br />
toda a riqueza que o mundo das imagens pode nos fornecer, sem se esquecer de que a<br />
escrita é também uma forma de comunicação única, a qual traz um mundo de<br />
expressões que imagem alguma pode traduzir.<br />
.<br />
O que você aprendeu:<br />
<br />
<br />
<br />
As histórias em <strong>quadrinhos</strong> têm alguns elementos principais tais como: imagens,<br />
representação de movimentos, encadeamento de imagens e representação de<br />
sons;<br />
Alguns contos literários foram adapta<strong>dos</strong> para a linguagem <strong>dos</strong> <strong>quadrinhos</strong>, sendo<br />
que esse movimento pode valorizar a história original em maior ou menor grau;<br />
As HQs e os contos literários pertencem a gêneros diferentes, sendo que cada um<br />
tem uma riqueza própria que não pode ser comparada.<br />
71
http://images.google.com.br/imgresimgu<br />
rl<br />
ale a pena conferir<br />
V<br />
Dicas de leitura<br />
Dando seqüência à recente onda de adaptações de textos literários para<br />
os <strong>quadrinhos</strong> feitos por artistas brasileiros, a editora Desiderata<br />
divulgou o lançamento de Irmãos Grimm em Quadrinhos<br />
A obra traz 14 contos clássicos em versões criadas por diversos<br />
quadrinhistas.<br />
Os contos <strong>dos</strong> irmãos Grimm (Jacob e Wilhelm), considera<strong>dos</strong><br />
educativos e até certo ponto moralistas, foram colhi<strong>dos</strong> a partir da<br />
tradição oral européia, em especial a alemã e a francesa, em volumes<br />
publica<strong>dos</strong> entre 1811 e 1863. As adaptações tentam resgatar os contos<br />
como os Grimm os compilaram, sem o conteúdo politicamente correto<br />
que surgiu no decorrer <strong>dos</strong> anos. De acordo com o release da editora, as<br />
versões em <strong>quadrinhos</strong> buscam interpretações para as histórias, com<br />
um apelo "pop" e contemporâneo.<br />
Fonte: www.universohq.com/.../2007/n17122007_07.cfm<br />
72
Atividades<br />
Atividade 1<br />
Você se lembra da lenda urbana da Loira do banheiro que lemos no capítulo 1 Releia<br />
os <strong>quadrinhos</strong> com atenção e compare com o texto em prosa. Que diferenças você pode<br />
notar entre as duas formas de contar esta mesma lenda É possível encontrar<br />
semelhanças Explicite.<br />
Resposta esperada<br />
Espera-se que o aluno possa dizer que no texto em prosa a forma de contar a lenda é por<br />
meio de um texto corrido, sem a presença de diálogos e imagens, enquanto que nos<br />
<strong>quadrinhos</strong> o texto está dentro de balões de fala e há personagens que conversam. Os<br />
efeitos que ambos causam também são diferentes, no texto corrido a sensação que se<br />
tem é de estar recebendo uma informação, nos <strong>quadrinhos</strong>, através da fala das<br />
personagens, cria-se um clima de suspense.<br />
A semelhança está no conteúdo, pois tanto o texto quanto os <strong>quadrinhos</strong> tratam da lenda<br />
da Loira do Banheiro.<br />
Atividade 2<br />
Leia a tirinha abaixo. Com base nela redija um conto de, no mínimo, quinze linhas.<br />
Lembre-se que a linguagem do conto e da tirinha diferem. Enquanto a tirinha tem uma<br />
linguagem sintética e conta com o auxílio de imagens, o conto possui uma voz narrativa<br />
que organiza o relato.<br />
Quadro 3: É a<br />
época de provas.<br />
(http: //tirasnacionais.blogspot.com/2008/10/galerinha-do-hc-mb-rosa-duval_28.html)<br />
Resposta esperada<br />
Nesta atividade espera-se que o aluno recorra à própria criatividade e às informações<br />
esclarecidas nos capítulos iniciais sobre as características do conto. Espera-se que ele<br />
possa detalhar seu texto recorrendo ao narrador, descrevendo o cenário, as personagens,<br />
etc.<br />
Atividade 3<br />
Você se lembra do mito Tupi apresentado no capítulo 1 Releia e faça um quadrinho<br />
com base neste mito. Você poderá contar com o auxílio da professora de educação<br />
artística para aprimorar seus desenhos. Não se esqueça: nos <strong>quadrinhos</strong> você deverá<br />
usar balões de fala e onomatopéias!<br />
Resposta esperada<br />
73
Novamente uma proposta interdisciplinar. O aluno deve recorrer às técnicas adquiridas<br />
na aula de artes para produzir seus desenhos. Mas o mais importante é que ele saiba<br />
adaptar a linguagem textual para os <strong>quadrinhos</strong>, usando balões de fala, de narração e<br />
onomatopéias quando necessário.<br />
Atividade 4<br />
As onomatopéias são figuras de linguagem que imitam sons e barulhos. Crie<br />
onomatopéias para os <strong>quadrinhos</strong> abaixo:<br />
______________ _____________ _______________<br />
________________ _____________ _____________<br />
(http://www.letras.ufmg.br/redigir/HQProf.pdf )<br />
_____________<br />
_________________<br />
Resposta esperada<br />
Os alunos devem criar suas onomatopéias e discutir com os colegas a pertinência delas.<br />
É importante que eles percebam que, como a maioria das onomatopéias não é uma<br />
convenção consolidada na língua, vai haver mais de uma possibilidade para cada caso.<br />
Atividade 5<br />
Que efeito as onomatopéias <strong>dos</strong> <strong>quadrinhos</strong> abaixo produz:<br />
74
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1<br />
0/Manga_-_prawidlowy_sposob_czytania.png<br />
http://lh5.ggpht.com/xcorex2/ReD_61TBTdI/AAAAAAAAABM/JAwMfZE30RA/s288/Peanuts.1953_066.jpg<br />
Resposta esperada<br />
Espera-se que o aluno diga que o uso dessas onomatopéias contribuiu para um efeito<br />
cômico. Para chegar nessa idéia o aluno precisa interpretar os <strong>quadrinhos</strong>, observar que<br />
na primeira cena o garoto e o cão estão se estranhando, na segunda começam a rosnar,<br />
na terceira latem ferozmente um para o outro e no último quadrinho saem correndo<br />
porque se assustam com o ruído que produziram.<br />
Atividade 6<br />
Observe na figura abaixo como se deve ler um mangá:<br />
Volte ao texto do capítulo 5 e releia o Box sobre Mangás e responda:<br />
a) Qual a diferença entre os mangás e os Comics americanos<br />
b) Você já leu algum mangá Há alguém em sua sala que já tenha lido este tipo de<br />
quadrinho Converse com seus amigos e troque experiências. Discuta com eles sobre as<br />
diferenças de se ler este tipo de <strong>quadrinhos</strong> e as HQs ocidentais.<br />
Respostas esperadas:<br />
a) Os mangás se diferem <strong>dos</strong> Comics americanos em dois aspectos: no que diz respeito à<br />
forma, os mangás são li<strong>dos</strong> da direita para a esquerda, ao contrário das HQs ocidentais.<br />
75
Com relação ao conteúdo, os mangás têm mais onomatopéias, de forma que grande<br />
parte <strong>dos</strong> <strong>quadrinhos</strong> serve para expressar momentos de emoção, enquanto que os<br />
Comics americanos são mais enxutos.<br />
b) ---<br />
Atividade 7<br />
(Literatura Brasileira em Quadrinhos: O homem que sabia javanês, Editora Escala Educacional)<br />
Para adaptar um conto ao formato de história em <strong>quadrinhos</strong>, são necessárias algumas<br />
alterações. Leia, o trecho abaixo, do conto original, compare com a versão em<br />
<strong>quadrinhos</strong> e responda a questão.<br />
Em uma confeitaria, certa vez, ao meu amigo Castro contava eu as partidas que havia<br />
pregado às convicções e às respeitabilidades, para poder viver. Houve mesmo uma dada<br />
ocasião, quando estive em Manaus, em que fui obrigado a esconder a minha qualidade de<br />
bacharel, para mais confiança obter <strong>dos</strong> clientes, que afluíam ao meu escritório de feiticeiro e<br />
adivinho. Contava eu isso.<br />
O meu amigo ouvia-me calado, embevecido, gostando daquele meu Gil Blas vivido, até que, em<br />
uma pausa da conversa, ao esgotarmos os copos, observou a esmo:<br />
— Tens levado uma vida bem engraçada, Castelo!<br />
— Só assim se pode viver… Isto de uma ocupação única: sair de casa a certas horas, voltar a<br />
outras, aborrece, não achas Não sei como me tenho agüentado lá, no consulado!<br />
— Cansa-se; mas não é isso que me admiro. O que me admira é que tenhas corrido tantas<br />
aventuras aqui, neste Brasil imbecil e burocrático.<br />
— Qual! Aqui mesmo, meu caro Castro, se podem arranjar belas páginas de vida. Imagina tu<br />
que eu já fui professor de javanês<br />
76
Que alterações você observou<br />
Resposta esperada<br />
Espera-se que o aluno observe que não houve alteração do texto nesta adaptação de<br />
<strong>quadrinhos</strong>. A diferença é a inserção de imagens e a disposição do texto original em<br />
balões de fala.<br />
Atividade 8<br />
Observe o quadrinho e depois leia o trecho de Memórias de um sargento de<br />
milícias que o segue.<br />
Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se, porém do negócio, e viera<br />
ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o<br />
77
vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no<br />
mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de<br />
Lisboa, saloia rechonchuda e bonitota. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo<br />
de sua mocidade mal apessoado, e, sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria<br />
encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o<br />
ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito.<br />
A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e<br />
deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto<br />
uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado;<br />
ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez<br />
um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares,<br />
que pareciam sê-lo de muitos anos.<br />
Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dois morar<br />
juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete<br />
meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido,<br />
gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas<br />
horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o<br />
que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.<br />
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.<strong>dos</strong>elect_action=&co_obra=1969<br />
Como na atividade anterior, compare o texto com a adaptação para os <strong>quadrinhos</strong> e<br />
descreva quais foram as alterações.<br />
Resposta esperada<br />
Espera-se que o aluno observe que diferentemente do que houve na atividade anterior, o<br />
texto original não foi simplesmente transposto em balões de fala. Toda a descrição foi<br />
suprimida, mas a informação principal foi mantida.<br />
Atividade 9<br />
Leia os <strong>quadrinhos</strong> abaixo e observe atentamente o olhar de Inácio, personagem do<br />
conto Uns braços de Machado de Assis. O que você poderia dizer sobre a relação entre<br />
texto e a ilustração, considerando apenas os olhos do personagem.<br />
Atividade 10<br />
78
Escolha um conto e transforme-o em HQ. Se possível, visite o site<br />
http://ideiasemblog.blogspot.com/2008/09/hagqu-criando-<strong>quadrinhos</strong>-4.htmt e veja<br />
como disponibilizá-lo inclusive na Internet.<br />
Veja abaixo um pouquinho da proposta pedagógica desse blog:<br />
O que é o site “HagáQuê”<br />
To<strong>dos</strong> conhecem o caráter lúdico das histórias em <strong>quadrinhos</strong> (HQs) e muitos a consideram uma forma de arte. Além de<br />
entreter, as HQs podem auxiliar no processo de ensino-aprendizagem <strong>dos</strong> mais diversos conteú<strong>dos</strong>, como geografia,<br />
matemática, história, português e idiomas estrangeiros, além de ser uma excelente ferramenta para o trabalho com<br />
alunos com necessidades especiais. Baseado nestas características positivas das HQs, surgiu a proposta de<br />
desenvolvimento do software HagáQuê, um editor de histórias em <strong>quadrinhos</strong> com fins pedagógicos.<br />
79
Anexo 1<br />
Capítulo 3<br />
O burro juiz<br />
Para quem aprecia o senso de humor de Monteiro Lobato eis uma pequena fábula<br />
intitulada O burro juiz.<br />
Nossa recomendação: mesmo sendo togado é recomendável não enfiar a carapuça.<br />
Disputava a gralha com o sabiá, afirmando que a sua voz valia a dele. Como as outras<br />
aves rissem daquela pretensão, a bulhenta matraca de penas, furiosa, disse:<br />
— Nada de brincadeiras. Isto é uma questão muito séria, que deve ser decidida por um<br />
juiz. Canta o sabiá, canto eu, e a sentença do julgador decidirá quem é o melhor artista.<br />
Topam<br />
— Topamos! piaram as aves. Mas quem servirá de juiz<br />
Estavam a debater este ponto, quando zurrou um burro.<br />
— Nem de encomenda! exclamou a gralha. Está lá um juiz de primeiríssima para<br />
julgamento de música, pois nenhum animal possui maiores orelhas. Convidê-mo-lo.<br />
Aceitou o burro o juizado e veio postar-se no centro da roda.<br />
— Vamos lá, comecem! ordenou ele.<br />
O sabiá deu um pulinho, abriu o bico e cantou. Cantou como só cantam sabiás,<br />
garganteando os trinos mais melodiosos e límpi<strong>dos</strong>. Uma pura maravilha, que deixou<br />
mergulhado em êxtase o auditório em peso.<br />
— Agora eu! disse a gralha, dando um passo à frente.<br />
E abrindo a bicanca matraqueou uma grita de romper os ouvi<strong>dos</strong> <strong>aos</strong> próprios sur<strong>dos</strong>.<br />
Terminada a justa, o meritíssimo juiz deu a sentença:<br />
— Dou ganho de causa à excelentíssima senhora dona Gralha, porque canta muito mais<br />
forte que mestre sabiá. (*)<br />
Quem burro nasce, togado ou não, burro morre.<br />
(*) A condenação de Monteiro Lobato a uma pena de prisão pelo Tribunal de Segurança Nacional em 1941<br />
confirmou essa velha fábula. A sentença deu a razão ao que cantava mais forte...<br />
De Fábulas, in Obras Completas de Monteiro Lobato, Vol. 15, 17ª edição, 1969. Editora Brasiliense.<br />
80
Bibliografia<br />
BRANDÃO, Ignácio de Loyola: COTIDIANO: Os Homens que Descobriam Cadeiras<br />
Proibidas In: BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Cadeiras Proibidas. 10. ed. São Paulo: Global,<br />
2003. p. 11-17.<br />
_________: O Anônimo, Cadernos de Literatura Brasileira - Instituto Moreira Salles - São<br />
Paulo, nº. 11, Junho de 2001, p. 98.<br />
_________: Entrevista. O Homem do Furo na Mão e Outras Histórias. São Paulo: Ática,<br />
1987. p. 5. (Rosa <strong>dos</strong> Ventos).<br />
CARIOCA, Patrícia C. et al. Uma Viagem pela Poesia. 2007. 56 f. Trabalho de Conclusão de<br />
Estágio Supervisionado (Graduação) - Curso de Letras, Departamento de Teoria Literária,<br />
Instituto de Estu<strong>dos</strong> da Linguagem, Campinas, 2007.<br />
CARTER, Angela. 103 <strong>Contos</strong> de fadas. São Paulo: Companhia Das Letras, 2007. 499 p.<br />
CASCUDO, Luís da Câmara. <strong>Contos</strong> Tradicionais do Brasil. 11. ed. Rio de Janeiro: Ediouro,<br />
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CHACÓN, Manuela. As mil e uma noites. Retirado de:<br />
http://conexaooriente.wordpress.com/2007/09/10/as-mil-e-uma-noites/<br />
CHINELATTO, Thaís. Apontamentos sobre o conto. Retirado de:<br />
http://www.facasper.com.br/cultura/site/noticia.phptabela=noticias&id=398.<br />
D’OLIVEIRA, Gêisa Fernandes. Cultura em <strong>quadrinhos</strong>: reflexões sobre as Histórias em<br />
Quadrinhos na perspectiva <strong>dos</strong> Estu<strong>dos</strong> Culturais. Retirado de: publique.rdc.pucrio.br/revistaalceu/media/alceu_n8_D'Oliveira.pdf<br />
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Tradução, adaptação e apresentação de Vilma Maria da Silva. São Paulo, 2003.<br />
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.<br />
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