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Edição nº 195 - Exército

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96 - Cultural<br />

vam o obstáculo com entreajuda mas quando as guarnições armas<br />

se deslocavam para ocupar bases de fogos, a transposição do muro<br />

tornava-se um desafio que só a apurada instrução de serventes ajudava<br />

a resolver. O morteiro 10.7 com o seu prato base, o anel, o<br />

reparo e o tubo constituía um desafio para os já desgastados serventes<br />

da arma. Mas a verdade é que à hora do início da preparação<br />

as armas estavam instaladas e saíam as granadas para alvos no<br />

almarjão ou no baracio conseguindo-se rapidamente a eficácia. O<br />

regresso a quartéis era feito depois da concentração dos instruendos<br />

na tapada e concluía-se com um desfile, que passava em frente ao<br />

Convento, com a Banda da EPI à frente a marcar o ritmo da marcha<br />

e a dar alento às forças.<br />

Nesta dinâmica, bem coordenada, o esforço maior competia<br />

ao instrutor. Sempre presente, atento a todos os detalhes, circunstâncias<br />

e acções, era o garante que o que havia a fazer seria bem<br />

feito e em segurança. As actividades na Escola decorreram sempre<br />

sob grande pressão. Os cursos sucessivos, a preparação das instruções<br />

a variedade das matérias exigia ao instrutor um esforço que só<br />

o brio, a dignidade e o espírito de sacrifício ajudavam a ultrapassar.<br />

Merecem também ser evocadas as inúmeras e diversificadas<br />

demonstrações realizadas na tapada de Mafra. As demonstrações<br />

com fogos reais, constituíam actividade de elevado risco<br />

envolvendo quase todas as especialidades. Quando as munições<br />

não tinham limites para TCA e não havia restrições nos consumos<br />

de combustível, as demonstrações tácticas com tiro real adquiriam<br />

uma dimensão e intensidade que só envolvidos nelas poderíamos<br />

avaliar o seu grau de realismo. Mais uma vez a experiência e presença<br />

dos instrutores garantia que os apontadores, ao introduzir nos<br />

aparelhos de pontaria os elementos de tiro, ponderavam também os<br />

laqueios complementares e outras deficiências das armas, já conhecidas,<br />

e introduzissem as devidas correcções garantindo a eficácia<br />

e segurança. Conheciam bem todo o material e as suas limitações<br />

e também as condições meteorológicas de Mafra. No terreno os<br />

atiradores não progrediam um metro sem o controlo do instrutor<br />

sempre presente e atento.<br />

Há outro tempo da vida da escola que merece ser assinalado<br />

pela importância que teve na actualização dos conhecimentos<br />

de todos os oficiais da arma. Referimo-nos ao período em que o<br />

exército se voltou para a OTAN após as campanhas de África, iniciando<br />

o processo de actualização dos seus quadros. Os manuais<br />

da Guerra Subversiva mantiveram a sua importância e validade, mas<br />

com forças integradas em Brigadas, Divisões e comandos da OTAN<br />

era imperioso apreender e divulgar rapidamente, conhecimentos de<br />

natureza táctica, técnicas e procedimentos. Foi uma tarefa colossal,<br />

inteiramente apoiada pelo Comando e Chefias do <strong>Exército</strong> e pela<br />

Arma de Infantaria, que assentou num grupo de instrutores que, com<br />

grande humildade, muito trabalho, sacrifício e estudo deu corpo a<br />

essa tarefa, traduzindo e interpretando regulamentos, manuais, FM e<br />

outros documentos. Foi então o tempo dos cursos de actualização<br />

e aperfeiçoamento para oficiais mais antigos e de formação para<br />

os oficias mais jovens. Foi um tempo enriquecedor que deu frutos,<br />

contribuindo para que o desempenho das unidades e individuais em<br />

missões ou cargos OTAN fosse cumprido com dignidade e competência.<br />

Nos anos oitenta novo impulso é dado pela Infantaria na<br />

modernização e estruturação da instrução e dos métodos de ensino.<br />

Uma vez mais um grupo alargado de instrutores deu forma a uma<br />

nova concepção de instrução apoiada na definição clara dos objectivos<br />

s atingir com a formação, nas condições que os mesmos deviam<br />

ser cumpridos e nos níveis de eficiência que deviam ser alcançados.<br />

Para todos os domínios da instrução foram elaboradas e bem<br />

estruturadas as conhecidas “fichas de instrução” que davam forma<br />

clara ao modelo que tinha sido concebido. Foi de novo um período<br />

de trabalho, sem limites, com prazos rigorosos. Estes trabalhos foram<br />

difundidos para todo o <strong>Exército</strong> exigindo o empenhamento da Escola,<br />

desde os dactilógrafos até aos gráficos e de novo aos instrutores<br />

para rever os trabalhos. As oficinas gráficas da EPI laboraram de<br />

forma intensiva produzindo elevado número de manuais distribuídos<br />

por todo para todo o <strong>Exército</strong> em áreas de interesse comum.<br />

Uma nova geração de instrutores, com o mesmo empenho<br />

e competência, já com recurso a computadores, encarregou-se de<br />

modernizar estes trabalhos dando-lhes novas formas e conteúdos<br />

adaptados a modelos mais actualizados e às exigências de formação.<br />

Muito havia a referir sobre os 126 anos da Escola Prática de<br />

Infantaria. Assinalámos, sucintamente e ao correr do pensamento,<br />

apenas alguns períodos e situações da sua brilhante história, aqueles<br />

que nos tocaram de perto e nos proporcionaram vivência mais<br />

intensa numa visão interior, relacionada com todos os que contribuíram<br />

para o cumprimento da missão da Escola.<br />

Aos oficiais e sargentos que hoje servem nas Escolas Práticas<br />

coloca-se o estimulante desafio de levantar a nova Escola das<br />

Armas. Vai exigir-se mais uma vez aos instrutores muito trabalho,<br />

cooperação reforçada, clareza de objectivos, a superação de ideias<br />

contraditórias e acrescido sacrifício pessoal e familiar. Não perder<br />

identidade e manter as boas tradições cultivadas nas actuais e já<br />

centenárias escolas, não será tarefa fácil. Que o discernimento sobre<br />

o que é essencial não falte a todos os que vão participar nesta<br />

histórica e relevante missão de levantar a Escola Prática das Armas.<br />

É uma tarefa nobre e relevante para o <strong>Exército</strong>.<br />

A nossa associação, o Clube Militar de Oficiais de Mafra,<br />

que tem entre os seus membros oficiais de infantaria, cavalaria, artilharia,<br />

engenharia, transmissões, serviço de saúde, serviço geral do<br />

exército e serviço de material, da Marinha e da Força Aérea, saúda<br />

a nova Escola Prática das Armas e formula votos que se constitua<br />

como uma grande escola de formação continuadora e renovadora<br />

do espírito da Escolas que lhe deram origem.<br />

Os vossos valores são os nossos valores.

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