Edição nº 195 - Exército
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AZIMUTE <strong>195</strong> - 21<br />
Nunca esquecerei o facto de, empunhando o mais alto símbolo<br />
da Nação, à guarda da Casa-Mãe da Infantaria, cantar o Hino<br />
Nacional, a plenos pulmões, perante os soldados recrutas que Juravam<br />
Bandeira.<br />
Esse valor da Honra, esse privilégio maior, esse orgulho interior,<br />
qual alegria imensa, nunca sairá da minha memória, nunca<br />
apagará os tempos vividos e os momentos passados.<br />
AD UNUM!<br />
Recordando-me de Janeiro de 2003 ano<br />
em que cheguei à Escola Prática de Infantaria deparei-me<br />
com centenas de homens, um ambiente um tanto hostil<br />
para o que estava habituada – pensei: oh meu Deus será que não há<br />
mulheres aqui! Pois de Abrantes só partira eu e mais uma camarada<br />
do sexo feminino os restantes 120 maioritariamente paraquedistas<br />
eram homens.<br />
Escrevo estas palavras com muito apreço para explicar a<br />
minha admiração por alguns homens com que me deparei na tropa<br />
- pois normalmente estes tentam passar uma imagem que não lhes<br />
corresponde.<br />
Cristiano Navalho dos Santos, programador informático<br />
Sem excepção de ninguém gostaria de agradecer a todos<br />
os que durante 7 anos foram a minha segunda família na Escola<br />
Prática de Infantaria, educando-me e acompanhando-me no meu<br />
percurso, que incondicionalmente acreditaram em mim, pois sem os<br />
quais não seria quem sou hoje, um ser humano com uma autoestima<br />
vibrante, confiante, destemido e capaz.<br />
As situações que menciono abaixo não são para designar<br />
situações nem pessoa predilectas, apenas servem para elucidar/fundamentar<br />
as razões do meu testemunho, pois se fosse referenciar<br />
tudo por certo daria um livro.<br />
Assim, quando em Janeiro de 2003 estava eu a frequentar o<br />
já extinto Curso 031 Atirador de Infantaria, que eu ainda hoje assim<br />
designo com muito orgulho, no meio dos 120 homens num exercício<br />
da pista de obstáculos, nomeadamente a paliçada, estava um frio<br />
que só a tapada militar de Mafra conhece, fiz uma lesão grave ao<br />
qual obrigava a ter de desistir do curso devido ao tempo de recuperação<br />
– nem queria acreditar que aquilo me estava a acontecer.<br />
No meio de tanto choro de desilusão felizmente pude contar<br />
com o apoio incondicional dos camaradas de pelotão que, para<br />
eu puder recuperar o fim de semana (não fui a casa), um deles levou<br />
toda a minha roupa cheia de lama para lavar incluindo a interior,<br />
ao qual fiquei muito envergonhada, mas eles já tinham tratado de<br />
tudo quando cheguei da enfermaria – na Segunda-feira tinha tudo<br />
Posto isto, após 7 anos de serviço militar<br />
na Escola Prática de Infantaria, e em tempos controversos<br />
e difíceis, foi-me pedido que desse o<br />
me testemunho sobre a casa que tanto me ensinou<br />
na vida.<br />
Apesar de ser mulher e com 24 anos<br />
(2002) na altura quando toda gente dizia que devia<br />
era casar e ganhar juízo e que eu não tinha<br />
perfil para militar e muitos mais disparates não me<br />
deixei intimidar...<br />
Deixei os meus pais a dormir descansados<br />
na caminha às 4 da manha e lá fui eu apanhar<br />
o comboio lá da terra para me ir inscrever no centro<br />
de recrutamento do porto; passados uns meses<br />
entre altos e baixos, finalmente estava na tropa<br />
como sempre desejei desde os 13 anos... Um<br />
trauma para os meus pais quando descobriram.<br />
Entre muitas passagens na vida militar que<br />
não dá para escrever em 2 ou 3 folhas, passagens<br />
essas que não ficaram documentadas em papel<br />
mas sim no coração e que servem e irão servir de<br />
referência por toda a vida.