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Edição nº 195 - Exército

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AZIMUTE <strong>195</strong> - 17<br />

Uma Escola de Homens<br />

Que esta casa era uma verdadeira “escola de homens”, foi<br />

o que realmente senti depois de dois anos aqui vividos, entre 1980<br />

e 1982. E foi para mim uma honra imensa ter servido o <strong>Exército</strong> e o<br />

meu País nesta grande e nobre unidade militar, comandada na época<br />

pelo Sr. Coronel Fernando Ribeiro da Cunha.<br />

Fiz parte da Companhia de Comando e Serviços, onde desempenhei<br />

diversas funções, primeiro instruindo cadetes na Carreira<br />

de Tiro, mais tarde na secretaria da Companhia e finalmente na secretaria<br />

do Batalhão, então às ordens diretas do meu Major e amigo<br />

António Salavessa da Costa.<br />

Nesta escola aprendi imenso sobre a vida, o respeito, a solidariedade,<br />

a verdadeira camaradagem. Foram tempos de enfrentar<br />

grande dureza, de muito trabalho, de imensas responsabilidades. Mas<br />

onde houve também sempre lugar para experienciar a verdadeira<br />

amizade, a loucura sã e endiabrada e até as divertidas “progressões”<br />

noturnas pelos campos de Mafra e nas praias da Ericeira.<br />

Enquanto aqui estive, conheci melhor a natureza dos homens,<br />

as suas fraquezas e virtudes, os seus e os meus próprios limites.<br />

Vivi paixões, desgostos, alegrias, saudades, frustrações. Emocionei-me<br />

inúmeras vezes, cantei serenatas no portão norte, convivi de<br />

perto com a lua e escrevi poesia em longas madrugadas de serviço.<br />

Esta Escola Prática de Infantaria, este “calhau”, como carinhosamente<br />

o tratamos, fez de mim muito do homem que hoje sou.<br />

Estar-lhe-ei sempre imensamente grato por tudo isso.<br />

Fernando Pereira, artista<br />

depender de mim. De um momento para outro vejo-me já fardado<br />

e bem ataviado (tantas vezes irei ouvir esta expressão...) e pronto<br />

para ficar 4 meses a viver nesta casa, a Casa-Mãe da Infantaria.<br />

Meses em que vou conhecer outros amigos, perdão, Camaradas,<br />

novas palavras para o meu léxico e uma parafernália de armamento<br />

até aí desconhecida. Nesta altura a EPI é comandada pelo Sr.<br />

Coronel António Guerreiro Caetano. Começo o CGM no 1º Pelotão<br />

(Sr. AspOfMil Andrade) da 1ª Companhia (Sr. Cap. Vale Mesquita) do<br />

2º Batalhão de Instrução (Sr. Major Freire).<br />

Entre muito “arranhanço”, quedas na máscara, “enchimentos”,<br />

GAM, MARCOR e Topográficas, chego ao Juramento de Bandeira.<br />

Acontecimento que tem em mim grande significado, pois pela<br />

primeira vez na minha vida JURO SOLENE E SINCERAMENTE DE-<br />

FENDER UM IDEAL.<br />

Passo então para o CSM RIOI (Reconhecimento, Informação<br />

e Operações de Infantaria) cumprido no 1º Pelotão (Sr. ASpOfMil Simões)<br />

da 4ª Companhia (Sr. Cap. Santos Carvalho). Mais palavras para<br />

o meu léxico: PelRec, azimute, informação, contrainformação, etc.<br />

31 de Julho de 1982. 15:00 H. Chega ao fim a minha estadia<br />

na EPI. Os portões da EPI fecham-se atrás de mim. Cá fora o sol brilha,<br />

estamos no Verão. Estranhamente os sentimentos que me invadem<br />

são semelhantes aos que tinha quando aqui cheguei há 4 meses,<br />

mas por razões diferentes. Agora estou triste, melancólico como<br />

uma criança que vai ter que abandonar a mãe. E não é isso que está<br />

a acontecer Durante 4 meses a EPI foi para mim uma Mãe. E como<br />

Mãe soube acolher-me com carinho, dar-me os alicerces e os<br />

conhecimentos necessários para bem cumprir as missões para as<br />

quais eu for chamado.<br />

MAFRA 1982<br />

12 de Março de 1982. 07:00 H. Depois de uma longa e atribulada<br />

viagem do Porto a Lisboa, chego a Mafra numa camioneta<br />

da Mafrense vinda da Capital. É a primeira vez que me encontro<br />

nesta vila portuguesa.<br />

Chamo-me Carlos Norbino Sacramento Leite, foi-me atribuído<br />

pelo <strong>Exército</strong> Português o N.º de Identificação 05735378 e estou<br />

aqui para cumprir o SMO. Espero a abertura dos portões da EPI, enquanto<br />

isso sou invadido por sentimentos de desilusão, tristeza… Recém-licenciado<br />

e a dar os primeiros passos na vida profissional, sou<br />

inesperadamente convocado para “ir prá Tropa”…<br />

Ensinou-me o significado de CAMARADAGEM, ESPIRITO<br />

DE CORPO, HONESTIDADE, VERTICALIDADE e ensinou-me também<br />

a ser um HOMEM DE CARACTÉR. Acima de tudo ensinoume<br />

o significado da frase AD UNUM. Esses ensinamentos utilizei-os<br />

posteriormente quer na minha vida pessoal que profissional, onde<br />

foram fundamentais para os êxitos que fui tendo ao logo da vida.<br />

Hoje o mundo e o nosso País em especial passam por tempos<br />

conturbados, mas eu sou um homem tranquilo, porque sei que<br />

numa pacata vila do Oeste Português existe uma Instituição em que<br />

os seus elementos estarão SEMPRE PRONTOS a defender o seu<br />

PAÍS e os ideais de LIBERDADE aos quais juraram fidelidade.<br />

Não… isto não me pode estar a acontecer… O céu plúmbeo,<br />

o nevoeiro cerrado tão característico desta zona do País e a<br />

sumptuosidade aterradora do Convento de Mafra (que a partir desse<br />

dia passarei a chamar CALHAU) tornam a atmosfera ainda mais<br />

lúgubre para mim.<br />

Regresso à realidade com o barulho dos portões da EPI a<br />

abrir… O que me espera O Céu ou o Inferno Já percebi: isso só vai<br />

A todos os que comigo estiveram na EPI, Casa-Mãe da Infantaria,<br />

e me transmitiram os seus conhecimentos e experiências o<br />

meu ETERNO OBRIGADO. E eu humildemente mas com muito orgulho<br />

digo: FUI INFANTE UMA VEZ, SEREI INFANTE PARA SEMPRE!<br />

AD UNUM CAMARADAS INFANTES!<br />

Carlos Norbino Sacramento Leite, gestor de frota

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