Edição nº 195 - Exército
Edição nº 195 - Exército
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AZIMU E<br />
REVISTA MILITAR DE INFANTARIA<br />
Ad unum<br />
Testemunhos de uma passagem<br />
8<br />
Testemunhos de<br />
uma passagem<br />
24<br />
Jornadas de<br />
Infantaria 2013<br />
<strong>195</strong><br />
Escola Prática de Infantaria<br />
1º Semestre<br />
2 0 1 3<br />
125 Anos a Moldar o Futuro
Diretor:<br />
Cor Inf João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro<br />
Coordenação e redação:<br />
Cor Inf Ref Nelson de Sousa Figueiredo<br />
TCor Inf Rui Manuel Mendes Dias<br />
TCorInf Rui Manuel Soares Pires<br />
Cap Inf Bruno Miguel Gaspar Mendes<br />
Relações Públicas e Protocolo:<br />
Cap Inf Bruno Miguel Gaspar Mendes<br />
420 456<br />
420 455 (faxe)<br />
Publicidade:<br />
TCor Inf José Luís Sousa Pereira<br />
<strong>Edição</strong> e composição:<br />
Escola Prática de Infantaria<br />
Paginação:<br />
Escola Prática de Infantaria<br />
Colaboradores:<br />
TGen Vaz Antunes, MGen Ref José Inácio Sousa, TCor Inf Nelson<br />
Gomes, TCor Art António Grilo, TCor Marcus Mann (<strong>Exército</strong> Alemão),<br />
Maj Inf Vitor Fernandes, Cap Inf Bruno Mendes, Cap Inf Ricardo Camilo,<br />
Cap Inf João Polho, Cap Inf Jorge Magalhães, Cap Inf Araújo e Silva, Ten<br />
Inf Luís Branquinho, Ten Inf Ivo Pereira<br />
Impressão:<br />
Sersilito - Empresa Gráfica, Lda.<br />
Travessa Sá e Melo, 209<br />
Apartado 1208<br />
4471-909 Maia<br />
22 943 69 20<br />
© Escola Prática de Infantaria<br />
Alameda da Escola Prática<br />
de Infantaria<br />
2640-777 Mafra<br />
epi.mafra@mail.telepac.pt<br />
epi.azimute@mail.telepac.pt<br />
epi@mail.exercito.pt<br />
261 81 21 05<br />
261 81 16 01 (faxe)<br />
420 400 (central)<br />
420 505 (faxe)<br />
www.exercito.pt<br />
www.exercito.pt/sites/EPI/Paginas/default.aspx<br />
www.exercito.pt/sites/EPI/Publicacoes/Paginas/default.aspx<br />
Depósito Legal n.º 4510/84<br />
1000 exemplares
Editorial<br />
Ad Unum<br />
João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro<br />
Coronel de Infantaria<br />
Nasceu há 49 anos fruto de uma vontade evidente de partilhar experiências, conhecimento e sentimentos. Nasceu há 49 anos fruto<br />
da iniciativa das pessoas que passaram por esta Casa, dos seus cadetes e instruendos, ideia de imediato acolhida pela Escola, transformando<br />
essa intenção na que ficou conhecida como a expressão escrita do seu sentir e do seu fazer - assim nasceu a revista Azimute.<br />
Do seu primeiro número, editado a 15 de Março de 1964, retiro duas expressões fundamentais: a primeira é “Esta é a nossa Revista,<br />
espero que se perpetue no tempo!”; a segunda é “Dá um pouco do teu valor e da tua capacidade ao único jornal que agora te pertence.<br />
Dentro das suas dimensões, Azimute será um grande órgão de imprensa, «uma bela recordação para o futuro», se tu quiseres...”.<br />
A cada número, a cada edição, a voz impressa da Escola tornava-se mais completa, mais abrangente, umas vezes mais sentimental,<br />
outras mais técnica e tática. Passou de um boletim de atividades para uma coletânea de estudos e artigos de investigação, incorporou a<br />
alma da Infantaria trazendo a história e o conhecimento de todas as unidades da Arma, exaltou grandes momentos da história da Infantaria<br />
e elevou a memória de alguns dos seus melhores. Evoluiu graficamente e chegou a tornar-se internacional.<br />
É assim que tudo se faz nesta Escola. Mais do que o peso e o dever de memória das paredes e das inscrições dos corredores do<br />
Convento, mais do que o extraordinário benefício da dimensão e beleza das Tapadas, a Escola faz-se de pessoas, de milhares e milhares de
pessoas, cujo denominador comum é a vontade de superar desafios,<br />
posteriormente assimilada na constatação de um sentir coletivo<br />
em volta da Escola e das lições aqui aprendidas para a vida.<br />
Efetivamente, sempre disse que a Escola é mesmo assim:<br />
ou se ama ou se odeia, mas ninguém, ninguém lhe fica indiferente.<br />
Nesta edição incluímos um conjunto de testemunhos de<br />
pessoas que têm em comum a sua passagem pela EPI. Das autoridades<br />
locais, mas também de pessoas mais conhecidas ou menos<br />
conhecidas, homens e mulheres, antigos Oficiais, Sargentos e Praças,<br />
todos gentilmente aceitaram, sem hesitações, o nosso convite para<br />
que nos deixassem a sua memória do tempo que aqui passaram.<br />
Agradeço de forma muito sentida a sua generosidade. E se dúvidas<br />
existissem, de todos resulta um elemento comum: uma Escola de<br />
Valores.<br />
No momento em que atravessamos um período de grandes<br />
perturbações e transformações, afetando-nos a todos individualmente<br />
e como Nação, orgulhamo-nos de ao longo dos tempos<br />
ter constituído sempre esta referência sobre quem, um dia, tivemos<br />
a responsabilidade de formar. Temos a absoluta convicção de que<br />
esta é a principal solução para os desafios que enfrentamos e que<br />
iremos enfrentar: a congregação em redor dos nossos valores.<br />
Esta é a última edição da Revista Azimute da Escola Prática<br />
de Infantaria. Não significa contudo que tenha que ser a última edição<br />
desta revista ou de qualquer outra onde se preconizem os mesmos<br />
valores e a mesma vontade de realizar conhecimento. Para isso<br />
contam essencialmente as pessoas, e a mesma vontade e determinação<br />
que estiveram na sua origem. Prestamos a nossa homenagem<br />
a todos quantos ao longo destes 49 anos garantiram a elaboração,<br />
produção e edição da Revista Azimute. O nosso muito obrigado.<br />
Cristalinamente, os Infantes desejam as maiores felicidades à<br />
Escola das Armas, acolhendo com a verdadeira camaradagem que<br />
nos é muito própria a Artilharia, a Cavalaria, a Engenharia e as Transmissões.<br />
Cientes de que durante 126 anos cumprimos com galhardia,<br />
brio e humildade a nossa nobre missão de servir Portugal, continuaremos<br />
genuinamente empenhados na preservação da sua condição<br />
de escola do conhecimento e de valores.<br />
AD UNUM
Índice<br />
Testemunhos de uma passagem<br />
Jornadas de Infantaria 2013<br />
08<br />
24<br />
6 Mensagem do Diretor Honorário da Arma de<br />
Infantaria<br />
8 Testemunhos de uma passagem<br />
24 Jornadas de Infantaria 2013<br />
26 German Infantry Battalion Combat Support<br />
30 O Apoio de Combate nas unidades escalão<br />
Batalhão de Infantaria Mecanizado: Possíveis<br />
tendências de evolução<br />
36 Um conceito para o Apoio de Combate nas<br />
unidades de escalão Batalhão de Infantaria da<br />
BrigInt. Possíveis abordagens e tendências de<br />
evolução<br />
42 O emprego dos morteiros orgânicos no apoio<br />
às missões táticas dos Batalhões de Infantaria<br />
Paraquedista.<br />
42 Possíveis tendências de evolução.<br />
50 Apoio de Fogos da Capacidade de Reacção<br />
Rápida. Perspetiva Holística
Urban Operations Task Group<br />
Visitas, cursos e outras atividades<br />
76<br />
84<br />
57 Cooperação Técnico‐Militar com Timor‐Leste<br />
76 Urban Operations Task Group<br />
60 O virar de uma página na European Union<br />
Training Mission (EUTM) for Somalia<br />
66 Emprego dos mini-UAV<br />
70 A simulação de tiro e as suas diferentes<br />
aplicações<br />
84 Visitas, cursos e outras atividades<br />
90 Novas áreas culturais do Museu da Infantaria<br />
92 Saudação às Escolas Práticas e à Escola das<br />
Armas
6 - AZIMUTE 194<br />
Mensagem do Diretor<br />
Honorário da Arma de<br />
Infantaria<br />
Certezas e incertezas<br />
Os Infantes, por norma, são pessoas simples que não exigem<br />
grandes explicações, pois são formados e preparados para<br />
SERVIR em qualquer situação, das mais simples às mais complexas, e<br />
acreditam, intrinsecamente, nos valores e princípios que enformam<br />
a Instituição Militar.<br />
Todavia, o Infante sabe, porque para isso é treinado, que<br />
para sobreviver no campo de batalha não bastam os valores e os<br />
princípios. Para nele sobreviver ele tem de ser conhecedor e compreender<br />
o conceito de operação do comandante por forma a que,<br />
na sua ausência, o combatente continue a cumprir a sua missão de<br />
acordo com o AZIMUTE traçado. Ora, um azimute, como sabemos,<br />
dá-nos uma direção mas não nos define um objetivo. É talvez esta<br />
visão redutora da palavra azimute, ao não ser interpretada como<br />
objetivo, que tem trazido os militares em geral, e os Infantes em particular,<br />
“inquietos”. Como é costume dizer-se, “os conceitos têm de<br />
ser simples, para militar perceber”. Quem não nos conhece interpreta,<br />
erradamente, esta necessidade de clareza de linguagem como<br />
falta de inteligência, de cultura, de visão. Nada de mais errado. O<br />
Infante precisa de conceitos claros e precisos porque não pode ter<br />
dúvidas sobre o objetivo a atingir mesmo que isso possa exigir-lhe o<br />
sacrifício da própria vida.<br />
Vivendo Portugal uma crise financeira, que dizem muito profunda,<br />
os Infantes começam por acreditar - a verdade é um dos valores<br />
que nos é ensinado e a responsabilidade algo que é vivido - e,<br />
rapidamente, tomam as medidas consideradas necessárias e ao seu<br />
alcance por forma a continuarem a cumprir a sua missão. Aceitam,<br />
enquanto acreditam, mais sacrifícios, menos descanso, menos consideração<br />
e, pasme-se, até cortes salariais, sem contestação. Ou seja,<br />
digam com clareza o que se pretende, fale-se verdade, definam-se<br />
objetivos baseados em racionais lógicos e compreensíveis e, se-
AZIMUTE <strong>195</strong> - 7<br />
guramente, não serão os Infantes que não deixarão de colaborar<br />
na recuperação económico-financeira do País. Mas é preciso falar<br />
verdade, que seja universal, baseada em valores e princípios, e não<br />
em sofismas, dogmas ou em preconceitos em que ao Infante tudo<br />
pode ser pedido e, aos outros, tudo tem de ser dado. Os militares,<br />
no seu conjunto (os três Ramos), representam 1,1% do PIB, o que<br />
quer dizer que representam uma parte muito pequena, mas mesmo<br />
muito pequena do problema e, mesmo assim, são-lhes vedadas, por<br />
vias legais de origem muito questionável, áreas de atuação onde se<br />
poupariam imensos recursos financeiros.<br />
era muito claro – manter a independência nacional – e a missão,<br />
aparentemente imoral, foi bem definida. O exército de Castela era<br />
desproporcionadamente maior mas o “milagre” aconteceu. Aconteceu<br />
porque havia liderança, e ficou claro o que se queria, como se<br />
queria, onde se queria e quando se queria. Os Infantes responderam<br />
pela afirmativa e Aljubarrota é devidamente celebrada, ainda hoje,<br />
com sentido orgulho.<br />
Tal como então, definam o AZIMUTE, dêem o exemplo, e<br />
os Infantes responderão “AD UNUM”.<br />
O Infante, por natureza, definido um AZIMUTE (no seu sentido<br />
lato), cumprirá a sua missão, a menos que esta seja imoral (por<br />
não atribuição dos recursos necessários). Os exemplos da nossa<br />
História são inúmeros. Publicando-se a revista AZIMUTE em Agosto<br />
basta relembrar os sacrifícios passados em 1385. O objetivo traçado<br />
João Nuno Jorge Vaz Antunes<br />
Tenente-General
8 - Testemunhos<br />
Testemunhos de uma<br />
passagem<br />
Etapas que marcam uma vida
AZIMUTE <strong>195</strong> - 9
10 - Testemunhos<br />
Uma relação histórica e afectiva<br />
Cada território tem a sua própria identidade, entendida<br />
como o conjunto de características essenciais e distintivas que influenciam<br />
o quotidiano das gentes. E são estas características que<br />
fazem de nós a comunidade que somos!<br />
A Escola Prática de Infantaria (EPI) é, indiscutivelmente, um<br />
referencial singular da identidade do Concelho de Mafra, numa relação<br />
que é simultaneamente histórica e afectiva: por um lado, porque<br />
nos convida a viajar no tempo até 1809, quando foi estabelecido<br />
no Convento de Mafra um “Depósito de Recrutas de Infantaria”;<br />
por outro, porque nos desafia a invocar as vivências de gerações e<br />
gerações de profissionais, não só daqueles que passaram pela Casa-<br />
Mãe da Infantaria e levaram o nome de Mafra aos quatro cantos do<br />
país e até do mundo, mas também de todos os que fixaram aqui as<br />
suas raízes e fizeram desta a sua terra!<br />
Tal significa que, além do papel fulcral desempenhado na<br />
formação humana dos infantes, assumido com disponibilidade, entusiasmo,<br />
rigor e urbanidade, a EPI contribui para o prestígio do Concelho<br />
de Mafra, associando-o a episódios que constituem verdadeiros<br />
marcos da história nacional: desde a defesa de Portugal contra o<br />
invasor francês até à Revolução dos Cravos.<br />
Paralelamente, a empenhada organização de actividades de<br />
carácter cultural, desportivo, educativo ou ambiental, imbuídas de<br />
um forte cariz pedagógico e destinadas não só aos seus militares,<br />
como também à própria comunidade local, tem permitido fomentar,<br />
ao longo do tempo, a desejada proximidade entre a instituição<br />
militar e a sociedade civil, dinâmica esta que o Município de Mafra<br />
entendeu distinguir publicamente com a atribuição da mais elevada<br />
condecoração: a Medalha de Honra da Vila de Mafra.<br />
Espelhando uma constante capacidade de adaptação e<br />
resposta aos desafios emergentes de uma sociedade onde o paradigma<br />
de funcionamento das Forças Armadas é, cada vez mais, o<br />
da cooperação, a EPI tem também pautado a sua intervenção por<br />
uma assídua, profícua e tenaz colaboração com as instituições civis<br />
do Concelho, em particular com a Câmara Municipal de Mafra no<br />
apoio às mais variadas actividades e eventos.<br />
No momento em que se inicia a materialização do processo<br />
de ampliação da EPI para a incorporação das responsabilidades<br />
formativas das restantes Armas do <strong>Exército</strong>, não pode esta autarquia<br />
deixar de desejar que este desafio seja, para o Concelho de Mafra,<br />
uma oportunidade. O tempo o dirá.<br />
O Presidente da Câmara Municipal de Mafra,<br />
José Maria Ministro dos Santos
AZIMUTE <strong>195</strong> - 11<br />
Freguesia de Mafra e Escola Prática<br />
de Infantaria sem fronteiras<br />
Enquanto Presidente do<br />
Executivo da Junta de Freguesia de<br />
Mafra tenho vindo a acompanhar<br />
a atividade da Escola Prática de Infantaria,<br />
expressando aqui o meu<br />
agrado e dando os parabéns pelo<br />
excelente trabalho que desempenham<br />
em prol da sociedade.<br />
Mafra é uma vila bastante<br />
conhecida pelo seu quartel militar e<br />
muitos são aqueles que já passaram<br />
por Mafra para cumprir o serviço<br />
militar e que escolheram, após cumprirem<br />
a formação, dedicar a sua<br />
vida à pátria em prol das missões de<br />
interesse público e da cooperação<br />
nacional e internacional.<br />
Diretamente com a comunidade<br />
mafrense, a Escola Prática<br />
de Infantaria tem estado permanentemente<br />
disponível para qualquer<br />
atividade a que é chamada a<br />
participar. A título de exemplo, somos<br />
muitas vezes agraciados com<br />
a presença dos “nossos” soldados<br />
nas procissões que se realizam na<br />
Vila de Mafra.<br />
Também a Junta de Freguesia<br />
de Mafra, e eu em particular,<br />
faço questão de estar presente<br />
nas atividades da Escola Prática de<br />
Infantaria para as quais sou convidado.<br />
É com enorme prazer que<br />
acompanho de perto a sua atividade<br />
e faço votos de muito sucesso e<br />
que continuem o excelente trabalho<br />
que têm desenvolvido.<br />
António Ramalho Pereira<br />
Presidente da Junta de<br />
Freguesia de Mafra
12 - Testemunhos<br />
Do Outro Lado da Porta<br />
Do outro lado da porta está a EPI. Do outro lado da porta<br />
há sempre a chave para a abrir. Do outro lado da porta há sempre<br />
alguém que a abre.<br />
Do outro lado da porta estava o mundo militar que nos<br />
intimidava, que nos intrigava e que nos fascinava. Intimidava pelo<br />
desconhecimento das razões da sua formação sempre ordenada.<br />
Intrigava-nos porque não sabíamos o que se passava no seio de<br />
uma organização aparentemente apostada em se fechar sobre si<br />
mesma. Fascinava-nos todo um imaginário que se construía à volta<br />
do sacrifício e da heroicidade. Esta era, em linhas gerais, a percepção<br />
que, de uma forma mais ou menos generalizada, se tinha desse<br />
mundo que vivia apartado do resto da comunidade.<br />
O convívio com o quotidiano da EPI e o conhecimento do<br />
que se vive e como vive nesta Escola colocaram-nos em contacto<br />
com uma realidade que nada tem a ver com a forma distante como<br />
eram (são) vistos os militares.<br />
A par do rigor e disciplina que enformam o seu espírito de<br />
corpo, há a herança, o peso de uma herança que durante séculos<br />
foi caldeando uma postura de respeito e de disponibilidade mas que<br />
soube deixar espaço para se ir modelando às exigências de abertura<br />
da contemporaneidade.<br />
Na EPI tivemos oportunidade de encontrar pessoas dialogantes,<br />
pessoas abertas e pessoas compreensivas. Pessoas exigentes<br />
e respeitadoras. Aqui, pudemos entender que o verdadeiro sentido<br />
da camaradagem assenta em cumplicidades que se traduzem<br />
num reforço das relações humanas.<br />
Com pessoas assim, o nosso relacionamento é simultaneamente<br />
fácil e difícil. Fácil porque sabemos sempre com o que contamos<br />
e difícil porque nunca sabemos se podemos corresponder com<br />
o mesmo grau de expectabilidade.<br />
Do outro lado da porta ouvimos sempre um vamos equacionar,<br />
vamos ponderar e vamos avaliar. Do outro lado da porta
AZIMUTE <strong>195</strong> - 13<br />
respeita-se a herança, respeita-se o património e, perante propostas<br />
razoáveis, a resposta que sempre temos é: naturalmente que vamos<br />
colaborar dentro das nossas possibilidades!<br />
Confesso que guardo da EPI e, sobretudo, através das pessoas<br />
com quem mais me relacionei, a memória e a imagem de uma<br />
verdadeira Escola do Saber. Um saber naturalmente polissémico que<br />
vai das relações humanas ao saber transmitir, passando pelo sentido<br />
de ética e pela estrutura cultural e intelectual dos seus protagonistas.<br />
A ideia com que se fica quando se tem o privilégio de privar com as<br />
chefias, aqui, na Escola, é a de que os portugueses estão muito bem<br />
servidos e representados pelos seus militares.<br />
O anunciado fim da EPI se, por um lado, pode representar<br />
a modernização e a adequação aos novos tempos, por outro lado<br />
não apagará a herança, já com alguns anos, de um bom relacionamento<br />
entre o Palácio e o Convento. Quisemos ter e construímos<br />
uma relação à volta de um Monumento que, conjuntamente, queremos<br />
preservar e valorizar.<br />
Depois de a EPI ter comemorado os seus 125 anos, e sem<br />
que queiramos fazer um balanço relacional dos muitos anos de<br />
cumplicidades com o Palácio, nada melhor para homenagear o que<br />
vivemos e projectar o futuro do que o aparente paradoxo que se<br />
expressa na frase de José Gomes Ferreira “... tenho saudades do<br />
Futuro!”.<br />
Na pessoa do seu último Comandante, Exmo Senhor Coronel<br />
de Infantaria João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro, agradecemos<br />
toda a cooperação e colaboração que sempre nos foram<br />
prestadas pela EPI, ao mesmo tempo que saudamos a nova instituição,<br />
que desejamos de excelência, com a sabedoria em manter<br />
bem oleada a fechadura do outro lado da porta.<br />
Mário Pereira<br />
Director do Palácio Nacional de Mafra
14 - Testemunhos<br />
A outra face da Tapada de Mafra<br />
Tendo assumido muito recentemente as funções de Presidente<br />
da Direção da Tapada Nacional de Mafra é com extremo<br />
orgulho e honra que aceito o desafio colocado pelo Senhor Comandante<br />
da Escola Prática de Infantaria para dar o meu testemunho<br />
sobre o significado passado, presente e futuro da Escola Prática<br />
de Infantaria para a Tapada Nacional de Mafra.<br />
Antes, porém, sugiro um pequeno enquadramento sobre a<br />
Tapada Nacional de Mafra (ou Tapada Real de Mafra como frequentemente<br />
o Senhor Comandante a designa).<br />
D. João V, o “Rei Magnânimo” (1706-1750), mandou construir<br />
um Palácio-Convento na Vila de Mafra em cumprimento da<br />
promessa que fez, caso a Rainha lhe desse descendência. Com o<br />
objetivo de proporcionar um adequado envolvimento a este Monumento,<br />
de constituir um espaço de recreio venatório do Rei e da<br />
sua corte e, ainda, de fornecer lenhas e outros produtos ao Palácio-<br />
Convento foi criada a Real Tapada de Mafra em 1747.<br />
1899) e de D. Carlos (1899-1908) que a Tapada conheceu o seu período<br />
áureo como parque de caça.<br />
Com a implantação da República passou a designar-se Tapada<br />
Nacional de Mafra, sendo, a parte civil, utilizada fundamentalmente<br />
para o exercício da caça e para atos protocolares.<br />
A partir de 1941 foi submetida ao regime florestal total, sob<br />
tutela da Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, passando<br />
a ser gerida numa perspetiva mais ambiental.<br />
Esta é a outra face da Tapada de Mafra. Falamos de uma<br />
área que ronda os 833 hectares, cuja gestão está a cargo de uma<br />
Régie-cooperativa constituída por sócios públicos (na sua maioria)<br />
e privados. Tem como desafios principais a gestão florestal sustentável,<br />
a investigação e preservação da fauna e da flora presentes<br />
neste território, a promoção da educação ambiental e de atividades<br />
turísticas (designadamente, alojamento, organização de eventos entre<br />
outros.) e a caça sobretudo, de javalis e gamos.<br />
Desde o século XVIII até à implantação da República, a Real<br />
Tapada de Mafra foi local privilegiado de lazer e de caça dos monarcas<br />
portugueses, sendo contudo nos reinados de D. Luís (1861-<br />
As instituições também valem pela impressão e pela marca<br />
que conseguem imprimir, positiva ou negativamente, na personalidade<br />
e na própria vida das pessoas que as frequentaram ou serviram.
AZIMUTE <strong>195</strong> - 15<br />
A TNM e a EPI são ambas Património Cultural do país e de<br />
todos os portugueses. Património Natural, a primeira, Institucional – e<br />
até mesmo Edificado, se lhe associarmos o Palácio Nacional que lhe<br />
esteve sempre indissociavelmente ligado – a segunda.<br />
Ambas têm em comum o terem influenciado de forma indelevelmente<br />
positiva a vida dos milhares de portugueses que tiveram<br />
o privilégio de as ter frequentado.<br />
A Tapada Nacional de Mafra, que começou por ser espaço<br />
privado de lazer em Monarquia, é de há muito espaço público<br />
de eleição fruído por milhares de pessoas, muitas delas, sobretudo<br />
as crianças, colhendo nela os primeiros ensinamentos e contactos<br />
quanto à realidade concreta de uma fauna bravia e de uma floresta<br />
mediterrânica das quais as populações urbanas têm hoje infelizmente<br />
uma visão distante e desfocada.<br />
A Escola Prática de Infantaria, por ter sido escola de vida<br />
para milhares de mancebos portugueses em aprendizagem das artes<br />
e das virtudes militares, que nela puderam apreender a verdadeira<br />
dimensão e o verdadeiro significado de conceitos como “espírito de<br />
corpo”, “abnegação”, sacrifício”, “solidariedade”, “despojamento”,<br />
“Pátria”.<br />
Conceitos que tão importantes foram para moldar definitivamente<br />
o carácter e a personalidade desses portugueses, não<br />
só enquanto serviram sob a Instituição militar, mas sobretudo, já de<br />
novo civis, pela vida fora, todos sem exceção para sempre saudosos<br />
de uma Casa que também passou a ter sido Sua e os acolheu de<br />
braços abertos, ainda que temporariamente, para os ajudar a serem<br />
Homens.<br />
Também por tudo isto, mais tarde ou mais cedo Tapada Nacional<br />
de Mafra, Escola Prática de Infantaria e Palácio Nacional de<br />
Mafra estavam condenados a reencontrarem-se e a completaremse,<br />
irmanados no mesmo orgulho de, cada qual à sua maneira, terem<br />
contribuído para tornar mais saudáveis o espírito e o corpo de<br />
sucessivas gerações de portugueses.<br />
Alda Mesquita<br />
Presidente da Direção da Tapada Nacional de Mafra
16 - Testemunhos<br />
Testemunho sobre a EPI, COM 1961<br />
Entre Agosto e Janeiro de 1961, a EPI foi realmente a minha casa.<br />
Aí participei, como cadete, no Curso de Oficiais Milicianos, o primeiro<br />
depois do início da guerra em Angola. Ao princípio foi um choque. Vinha<br />
das lutas estudantis, do ambiente académico de Coimbra e era contra<br />
o regime.<br />
A instrução era dura e rigorosa, mas marcou-nos: preparação<br />
física, auto disciplina, ética militar, espírito de corpo, capacidade de sofrimento<br />
e de auto superação. Mais tarde, em Angola, como comandante<br />
de pelotão, compreendi a importância da preparação recebida na EPI.<br />
Lembro os instrutores, então tenentes, Gueifão Ferreira e Ramalho Eanes.<br />
E hoje recordo o que dizia o capitão Mokenko: “De aqui a 50 anos, os<br />
nossos cadetes ainda hão de ter saudades de Mafra”. Na altura, parecianos<br />
impossível. Mas ele tinha razão.<br />
Por mais estranho que pareça, às vezes tenho saudades da EPI,<br />
dos meus camaradas e das longas, absurdas e gloriosas marchas entre<br />
Mafra e Ericeira.<br />
Manuel Alegre de Melo Duarte, poeta<br />
De Outubro de 1969 a Março de 1970 passei 6 meses da minha<br />
vida na EPI donde saí como aspirante da Arma de Infantaria e com a<br />
especialidade de Armas Pesadas.<br />
Foram meses simultaneamente agradáveis e difíceis. Difíceis para<br />
quem ou estava habituado à comodidade do sofá, ou não gostava de<br />
exercício físico. Fácil para os que se enquadravam na visão oposta. Recordo<br />
os chamamentos às 23:30h para a realização de exercícios noturnos<br />
junto ao Rio Lisandro, sob frio e chuva e que acabavam pela madrugada.<br />
Recordo os exercícios finais de três dias calcorreando a Serra de<br />
Montejunto. Recordo o sacrifício; mas não o reneguei ou recusei.<br />
Só se aprende a valorizar algumas coisas quando percebemos as<br />
dificuldades em as adquirir e manter, ou quando se sente a amargura da<br />
sua ausência. Também aprendi em Mafra algo sobre a Instituição Militar.<br />
Os rituais, as continências, os toques de corneta, as marchas enquadravam-se<br />
num propósito de disciplinar os comportamentos e dar-lhes um<br />
padrão de coerência.<br />
A realização de cada um de nós cidadãos também depende<br />
da nossa inserção em organizações, e do modo como elas reagem, se<br />
comportam, e são ou não eficazes. Só se pode gostar de algo quando o<br />
procuramos perceber, e, chegado esse momento, o procuramos preservar.<br />
Por isso, gostei de Mafra, da EPI e da Instituição Militar.<br />
Recordá-la-ei até ao fim da minha vida ciente de que servi um<br />
pilar da nossa vida coletiva, da nossa independência (onde é que ela já<br />
vai!!!) e do nosso destino.<br />
Ângelo Correia, presidente do conselho de administração da<br />
FomentInvest
AZIMUTE <strong>195</strong> - 17<br />
Uma Escola de Homens<br />
Que esta casa era uma verdadeira “escola de homens”, foi<br />
o que realmente senti depois de dois anos aqui vividos, entre 1980<br />
e 1982. E foi para mim uma honra imensa ter servido o <strong>Exército</strong> e o<br />
meu País nesta grande e nobre unidade militar, comandada na época<br />
pelo Sr. Coronel Fernando Ribeiro da Cunha.<br />
Fiz parte da Companhia de Comando e Serviços, onde desempenhei<br />
diversas funções, primeiro instruindo cadetes na Carreira<br />
de Tiro, mais tarde na secretaria da Companhia e finalmente na secretaria<br />
do Batalhão, então às ordens diretas do meu Major e amigo<br />
António Salavessa da Costa.<br />
Nesta escola aprendi imenso sobre a vida, o respeito, a solidariedade,<br />
a verdadeira camaradagem. Foram tempos de enfrentar<br />
grande dureza, de muito trabalho, de imensas responsabilidades. Mas<br />
onde houve também sempre lugar para experienciar a verdadeira<br />
amizade, a loucura sã e endiabrada e até as divertidas “progressões”<br />
noturnas pelos campos de Mafra e nas praias da Ericeira.<br />
Enquanto aqui estive, conheci melhor a natureza dos homens,<br />
as suas fraquezas e virtudes, os seus e os meus próprios limites.<br />
Vivi paixões, desgostos, alegrias, saudades, frustrações. Emocionei-me<br />
inúmeras vezes, cantei serenatas no portão norte, convivi de<br />
perto com a lua e escrevi poesia em longas madrugadas de serviço.<br />
Esta Escola Prática de Infantaria, este “calhau”, como carinhosamente<br />
o tratamos, fez de mim muito do homem que hoje sou.<br />
Estar-lhe-ei sempre imensamente grato por tudo isso.<br />
Fernando Pereira, artista<br />
depender de mim. De um momento para outro vejo-me já fardado<br />
e bem ataviado (tantas vezes irei ouvir esta expressão...) e pronto<br />
para ficar 4 meses a viver nesta casa, a Casa-Mãe da Infantaria.<br />
Meses em que vou conhecer outros amigos, perdão, Camaradas,<br />
novas palavras para o meu léxico e uma parafernália de armamento<br />
até aí desconhecida. Nesta altura a EPI é comandada pelo Sr.<br />
Coronel António Guerreiro Caetano. Começo o CGM no 1º Pelotão<br />
(Sr. AspOfMil Andrade) da 1ª Companhia (Sr. Cap. Vale Mesquita) do<br />
2º Batalhão de Instrução (Sr. Major Freire).<br />
Entre muito “arranhanço”, quedas na máscara, “enchimentos”,<br />
GAM, MARCOR e Topográficas, chego ao Juramento de Bandeira.<br />
Acontecimento que tem em mim grande significado, pois pela<br />
primeira vez na minha vida JURO SOLENE E SINCERAMENTE DE-<br />
FENDER UM IDEAL.<br />
Passo então para o CSM RIOI (Reconhecimento, Informação<br />
e Operações de Infantaria) cumprido no 1º Pelotão (Sr. ASpOfMil Simões)<br />
da 4ª Companhia (Sr. Cap. Santos Carvalho). Mais palavras para<br />
o meu léxico: PelRec, azimute, informação, contrainformação, etc.<br />
31 de Julho de 1982. 15:00 H. Chega ao fim a minha estadia<br />
na EPI. Os portões da EPI fecham-se atrás de mim. Cá fora o sol brilha,<br />
estamos no Verão. Estranhamente os sentimentos que me invadem<br />
são semelhantes aos que tinha quando aqui cheguei há 4 meses,<br />
mas por razões diferentes. Agora estou triste, melancólico como<br />
uma criança que vai ter que abandonar a mãe. E não é isso que está<br />
a acontecer Durante 4 meses a EPI foi para mim uma Mãe. E como<br />
Mãe soube acolher-me com carinho, dar-me os alicerces e os<br />
conhecimentos necessários para bem cumprir as missões para as<br />
quais eu for chamado.<br />
MAFRA 1982<br />
12 de Março de 1982. 07:00 H. Depois de uma longa e atribulada<br />
viagem do Porto a Lisboa, chego a Mafra numa camioneta<br />
da Mafrense vinda da Capital. É a primeira vez que me encontro<br />
nesta vila portuguesa.<br />
Chamo-me Carlos Norbino Sacramento Leite, foi-me atribuído<br />
pelo <strong>Exército</strong> Português o N.º de Identificação 05735378 e estou<br />
aqui para cumprir o SMO. Espero a abertura dos portões da EPI, enquanto<br />
isso sou invadido por sentimentos de desilusão, tristeza… Recém-licenciado<br />
e a dar os primeiros passos na vida profissional, sou<br />
inesperadamente convocado para “ir prá Tropa”…<br />
Ensinou-me o significado de CAMARADAGEM, ESPIRITO<br />
DE CORPO, HONESTIDADE, VERTICALIDADE e ensinou-me também<br />
a ser um HOMEM DE CARACTÉR. Acima de tudo ensinoume<br />
o significado da frase AD UNUM. Esses ensinamentos utilizei-os<br />
posteriormente quer na minha vida pessoal que profissional, onde<br />
foram fundamentais para os êxitos que fui tendo ao logo da vida.<br />
Hoje o mundo e o nosso País em especial passam por tempos<br />
conturbados, mas eu sou um homem tranquilo, porque sei que<br />
numa pacata vila do Oeste Português existe uma Instituição em que<br />
os seus elementos estarão SEMPRE PRONTOS a defender o seu<br />
PAÍS e os ideais de LIBERDADE aos quais juraram fidelidade.<br />
Não… isto não me pode estar a acontecer… O céu plúmbeo,<br />
o nevoeiro cerrado tão característico desta zona do País e a<br />
sumptuosidade aterradora do Convento de Mafra (que a partir desse<br />
dia passarei a chamar CALHAU) tornam a atmosfera ainda mais<br />
lúgubre para mim.<br />
Regresso à realidade com o barulho dos portões da EPI a<br />
abrir… O que me espera O Céu ou o Inferno Já percebi: isso só vai<br />
A todos os que comigo estiveram na EPI, Casa-Mãe da Infantaria,<br />
e me transmitiram os seus conhecimentos e experiências o<br />
meu ETERNO OBRIGADO. E eu humildemente mas com muito orgulho<br />
digo: FUI INFANTE UMA VEZ, SEREI INFANTE PARA SEMPRE!<br />
AD UNUM CAMARADAS INFANTES!<br />
Carlos Norbino Sacramento Leite, gestor de frota
18 - Testemunhos<br />
Tive a SORTE de assentar praça na Escola Prática de Infantaria<br />
(EPI), no dia 10Mar86, para cumprir o serviço militar obrigatório,<br />
onde comecei por frequentar o Curso Geral de Milicianos (CGM).<br />
Recordo-me muito bem desse dia, da porta por onde entrei, do<br />
grande corredor La Couture onde se fazia a incorporação, e acima<br />
de tudo, da camarata da 6ª Companhia, onde fiquei instalado, que<br />
era, nem mais nem menos, do que uma antiga capela.<br />
Passei à disponibilidade em AGO88 mas entrei para o QG/<br />
RMN em OUT88 até OUT90 para iniciar o curso de oficial de operações<br />
aeroportuárias em Lisboa; actualmente estou no aeroporto<br />
do Porto.<br />
Muito do que me foi ensinado na casa mãe teve relevância<br />
na profissão e obviamente na minha vida.<br />
Também não posso deixar de recordar o facto de ter passado<br />
o primeiro fim de semana da recruta sem ter ido a casa e da<br />
dureza de toda a recruta do CGM e do Curso de Oficiais Milicianos.<br />
Confesso, hoje, que nada disso me fez mal, até pelo contrário. Só<br />
algumas quedas na máscara, deixaram marcas nos joelhos, que a<br />
idade ajuda a revelar.<br />
O meu muito obrigado a todos os que participaram no meu<br />
crescimento nesses 18 meses.<br />
Ad unum.<br />
Arménio Mendes, oficial de operações aeroportuárias<br />
Após a recruta tive o privilégio de, como aspirante a Oficial<br />
Miliciano, dar umas quantas recrutas aos cursos de formação de<br />
praças, experiências que classifico de únicas e altamente enriquecedoras.<br />
Saí passados 18 meses desta magnífica Escola, mais precisamente,<br />
no dia 07Ago87.<br />
Muito do que hoje sou, não tenho dúvida que devo aos<br />
ensinamentos colhidos durante a minha passagem pela EPI. De todos<br />
estes ensinamentos, permito-me destacar: o Sentido Pátrio, a<br />
Lealdade, a Honra e a Camaradagem. Formulo votos, para que estes<br />
valores possam continuar a ser transmitidos aos vindouros, através<br />
da nova organização, que herdará de entre outros, os Saberes da EPI<br />
e que será designada de “Escola das Armas”.<br />
Obrigado à EPI e a todos aqueles que nela serviram.<br />
“AD UNUM”<br />
Hélder Sousa Silva, deputado<br />
Em 16/03/1987 entrei para a EPI para frequentar o CGM com<br />
o Tenente Milharadas. Depois de cumpridas as formalidades de integração,<br />
seguiram-se semanas de formação com muitos altos e baixos:<br />
não me refiro à lindíssima tapada ou ao monte da vela mas às<br />
situações passadas. Nos maus momentos revelámo-nos descobrindo<br />
as nossas verdadeiras capacidades e percebendo o significado<br />
de espírito de grupo ou camaradagem.<br />
020900Abr91. Vislumbrava de novo a imponência do Convento<br />
de Mafra. Várias vezes aqui tinha estado, em visitas de estudo<br />
ou em passeio com a família. Desta vez porém era diferente: ia<br />
iniciar o serviço militar obrigatório na Escola Prática de Infantaria.<br />
Ingressei no CFOM – 1º Turno/91, na 2ª CI, comandada pelo<br />
Capitão Jorge Saramago, tendo como comandante de pelotão o<br />
Tenente Rui Dias.<br />
Lembro-me que a primeira semana foi horrível e dolorosamente<br />
longa. Foi muito pior do que estava à espera.<br />
A farda e as botas, a barba sempre bem-feita, as corridas<br />
pelos corredores da EPI, onde me perdia constantemente, as formaturas<br />
na Parada Leste, a dureza da instrução na Tapada.<br />
Depois, estranhamente veio a mudança: O prazer de vestir a<br />
farda, a alegria de partilhar as conquistas diárias com os camaradas,<br />
o espírito de corpo e o reconhecimento do esforço e da dedicação<br />
dos graduados na instrução.<br />
Jurei bandeira em 120930Jul91 e posso afirmar que foi dos<br />
dias mais felizes e tristes da minha vida.<br />
Felicidade por terminar com êxito o CFOM, mas uma tristeza<br />
imensa por deixar aquela Escola e todos os camaradas com<br />
quem privei.<br />
Findo o CSM com o Alferes Sardinha na especialidade de<br />
morteiros, optei por ficar na EPI; colocado na 4ª CI, ajudei na recruta<br />
ao 2ºT/87 com o Tenente Grade e o Alferes Sobral dos Santos onde<br />
a aplicação de tudo que me tinha sido ensinado foi extremamente<br />
gratificante. Ver a evolução dos instruendos perante as adversidades<br />
é único.<br />
As semanas de instrução formaram-me como homem e<br />
como militar e nesse dia, passei a pertencer por direito próprio à<br />
grande família de militares que se formou e serviu na EPI.<br />
Foi a EPI que fez com que ingressasse no regime de contrato,<br />
onde me mantive até 20Jan2000. Foi um grande orgulho e satisfação<br />
formar-me numa Casa de inegável credibilidade e prestígio.<br />
No 1ºT/88 fiquei na secretaria dando o apoio na recruta<br />
quando solicitado; por exemplo, fui convidado pelo Alferes Boga<br />
Ribeiro a participar numa curta-metragem sobre NBQ.<br />
AD UNUM.<br />
Jorge Aveiro, empresário
AZIMUTE <strong>195</strong> - 19<br />
Foi no ano de 1993, dia 09 de Maio pelas 01:00 que entrei<br />
pela Porta de Armas da Escola Prática de Infantaria a fim de ser alistado<br />
no 2º Turno do Curso de Formação de Sargentos do Serviço<br />
Efetivo Normal que duraria aproximadamente até Setembro de 1993.<br />
Com 18 anos de idade, voluntário por decisão, acabado de completar<br />
o 12º Ano de Escolaridade, mas com o intuito de ser militar, e<br />
neste caso servir o <strong>Exército</strong> Português.<br />
Sem experiência nem conhecimentos em questão da vida<br />
militar mas com muitas histórias que me chegavam de amigos de<br />
como seria esta vida, jovem audaz e cheio de vontade de novas<br />
iniciativas na vida e com muita vontade de aprender de tudo, bom<br />
ou mau, começar uma vida pela vida militar seria o mais indicado<br />
na minha vida, uma nova experiência, saída de casa dos pais, autonomia<br />
de escolha, poder de decisão e talvez possível carreira de<br />
conhecimentos, amizades e quem sabe de futuro.<br />
Desta breve passagem pela Casa Mãe da Infantaria, Nossa<br />
Casa, ficaram conhecimentos, momentos de tristezas, dificuldades,<br />
empenho, suor, algum sangue, furor, espírito de sacrifício e camaradagem.<br />
Sendo desta última, hoje em dia, as amizades que nos fazem<br />
sentir alegrias pelos momentos bem passados e ao mesmo tempo<br />
tristezas não pela passagem mas sim pelas saudades de amigos que<br />
há 20 anos que não vemos e que gostaríamos de voltar a ver.<br />
Atualmente trabalho em Lisboa, na Companhia Carris de<br />
Ferro de Lisboa como Motorista de Serviço Público com gosto, orgulho<br />
e gosto pela profissão, pertencendo também à Banda dos<br />
Empregados da CCFL como músico.<br />
Miguel Ramalho, motorista<br />
O Meu nome é Cristiano Navalho dos Santos, tenho actualmente<br />
35 anos, e servi na EPI até ao ano de 2010, quando saí, no<br />
Posto de Tenente.<br />
Actualmente exerço funções de programador informático<br />
numa empresa multinacional do ramo dos transportes e logística.<br />
A minha passagem pela Casa-Mãe da Infantaria, abrange um<br />
período de quase dez anos, que teve início em 3 de Abril de 2000,<br />
quando, então com 22 anos, me apresentei na EPI a fim de frequentar<br />
o CFO RV/RC, do 1.º Turno de 2000.<br />
Seguiu-se o necessário período de instrução onde, o que na<br />
altura foi dificuldade e dureza, desânimo ou frustração, foi na verdade<br />
o cimentar de valores e sentimentos até então desconhecidos, foi<br />
o conhecer de certezas que na altura não se conheciam.<br />
Foi, acima de tudo, o iniciar de um período duro, mas onde<br />
tudo correu como tinha que correr. Seguiu-se o período em que,
20 - Testemunhos<br />
para alimentar o processo de formação do então Serviço Militar<br />
Obrigatório (SEN), os recém formados Aspirantes integravam as<br />
equipas de instrução, e formavam recrutas, alguns dos quais, ainda<br />
hoje, vou encontrando e com orgulho sabendo que se lembram de<br />
mim, pela positiva, por lhes ter transmitido os melhores valores da<br />
instituição militar.<br />
Esses dez anos passaram então, em funções de Adjunto de<br />
Companhias ou Batalhões, na Direcção de Formação (antiga Direcção<br />
de Estudos e Instrução), tendo acabado colocado na Subsecção<br />
de Informática, como Chefe da mesma, nos últimos quatro anos e<br />
meio do meu regime de contrato.<br />
Ao longo de todo esse período, fui cimentando as minhas<br />
relações com os meus Camaradas, acabando por fazer verdadeira<br />
parte dessa grande família, onde para além das patentes, das antiguidades,<br />
estão os verdadeiros camaradas (grande parte dos meus melhores<br />
amigos foram feitos na nossa Escola), os verdadeiros Infantes,<br />
unidos pela amizade, e pela memória dos bons tempos passados.<br />
No meu caso, os melhores dez anos da minha juventude,<br />
foram passados na<br />
EPI, numa carreira que<br />
terminou quando teve<br />
de terminar, a 3 de Fevereiro<br />
de 2010, com<br />
a passagem à disponibilidade,<br />
onde na verdade<br />
se desligou um<br />
botão, se passou da<br />
condição de militar à<br />
de Ex-Militar.<br />
Confesso que,<br />
durante mais de dois<br />
anos, me custou entrar<br />
na nossa Casa-Mãe,<br />
tão difícil que foi deixá-la...<br />
Apesar de ter<br />
entregue a minha Caderneta<br />
Militar, apesar<br />
de me chamarem de<br />
Ex-Tenente, ou de Tenente<br />
em Regime de<br />
Disponibilidade, nunca<br />
deixarei de ser Oficial<br />
de Infantaria. Hoje,<br />
sempre e até sempre.<br />
Como momento<br />
mais emblemático<br />
e marcante<br />
da minha vida militar,<br />
recordo com grande<br />
saudade e orgulho o<br />
facto de ter sido o último<br />
Oficial em Regime<br />
de Contrato (por força<br />
dos regimes actuais<br />
serem mais curtos), a<br />
ser Porta-Estandarte<br />
Nacional da Escola.
AZIMUTE <strong>195</strong> - 21<br />
Nunca esquecerei o facto de, empunhando o mais alto símbolo<br />
da Nação, à guarda da Casa-Mãe da Infantaria, cantar o Hino<br />
Nacional, a plenos pulmões, perante os soldados recrutas que Juravam<br />
Bandeira.<br />
Esse valor da Honra, esse privilégio maior, esse orgulho interior,<br />
qual alegria imensa, nunca sairá da minha memória, nunca<br />
apagará os tempos vividos e os momentos passados.<br />
AD UNUM!<br />
Recordando-me de Janeiro de 2003 ano<br />
em que cheguei à Escola Prática de Infantaria deparei-me<br />
com centenas de homens, um ambiente um tanto hostil<br />
para o que estava habituada – pensei: oh meu Deus será que não há<br />
mulheres aqui! Pois de Abrantes só partira eu e mais uma camarada<br />
do sexo feminino os restantes 120 maioritariamente paraquedistas<br />
eram homens.<br />
Escrevo estas palavras com muito apreço para explicar a<br />
minha admiração por alguns homens com que me deparei na tropa<br />
- pois normalmente estes tentam passar uma imagem que não lhes<br />
corresponde.<br />
Cristiano Navalho dos Santos, programador informático<br />
Sem excepção de ninguém gostaria de agradecer a todos<br />
os que durante 7 anos foram a minha segunda família na Escola<br />
Prática de Infantaria, educando-me e acompanhando-me no meu<br />
percurso, que incondicionalmente acreditaram em mim, pois sem os<br />
quais não seria quem sou hoje, um ser humano com uma autoestima<br />
vibrante, confiante, destemido e capaz.<br />
As situações que menciono abaixo não são para designar<br />
situações nem pessoa predilectas, apenas servem para elucidar/fundamentar<br />
as razões do meu testemunho, pois se fosse referenciar<br />
tudo por certo daria um livro.<br />
Assim, quando em Janeiro de 2003 estava eu a frequentar o<br />
já extinto Curso 031 Atirador de Infantaria, que eu ainda hoje assim<br />
designo com muito orgulho, no meio dos 120 homens num exercício<br />
da pista de obstáculos, nomeadamente a paliçada, estava um frio<br />
que só a tapada militar de Mafra conhece, fiz uma lesão grave ao<br />
qual obrigava a ter de desistir do curso devido ao tempo de recuperação<br />
– nem queria acreditar que aquilo me estava a acontecer.<br />
No meio de tanto choro de desilusão felizmente pude contar<br />
com o apoio incondicional dos camaradas de pelotão que, para<br />
eu puder recuperar o fim de semana (não fui a casa), um deles levou<br />
toda a minha roupa cheia de lama para lavar incluindo a interior,<br />
ao qual fiquei muito envergonhada, mas eles já tinham tratado de<br />
tudo quando cheguei da enfermaria – na Segunda-feira tinha tudo<br />
Posto isto, após 7 anos de serviço militar<br />
na Escola Prática de Infantaria, e em tempos controversos<br />
e difíceis, foi-me pedido que desse o<br />
me testemunho sobre a casa que tanto me ensinou<br />
na vida.<br />
Apesar de ser mulher e com 24 anos<br />
(2002) na altura quando toda gente dizia que devia<br />
era casar e ganhar juízo e que eu não tinha<br />
perfil para militar e muitos mais disparates não me<br />
deixei intimidar...<br />
Deixei os meus pais a dormir descansados<br />
na caminha às 4 da manha e lá fui eu apanhar<br />
o comboio lá da terra para me ir inscrever no centro<br />
de recrutamento do porto; passados uns meses<br />
entre altos e baixos, finalmente estava na tropa<br />
como sempre desejei desde os 13 anos... Um<br />
trauma para os meus pais quando descobriram.<br />
Entre muitas passagens na vida militar que<br />
não dá para escrever em 2 ou 3 folhas, passagens<br />
essas que não ficaram documentadas em papel<br />
mas sim no coração e que servem e irão servir de<br />
referência por toda a vida.
22 - Testemunhos<br />
lavadinho e passarinho a ferro para ir para a formatura – tudo bonito<br />
– não parece de homem pois não (segundo o padrão)<br />
Mais tarde fiquei muito triste porque o Amaral (o responsável<br />
por ter tratado da minha roupa) teve de forçosamente desistir do<br />
curso devido a problemas cardíacos – ia tendo um colapso durante<br />
a instrução – que grande susto – tenho pena de não saber nada<br />
dele; ficou na minha memória a camaradagem, generosidade e cavalheirismo<br />
de um homem que, mesmo em ambiente hostil, revelou<br />
grande altivez de comportamento – esteja ele onde estiver espero<br />
que esteja feliz.<br />
Mas não pensem que as boas memórias vêm só dos Praças;<br />
Sargentos e Oficiais também estão bem patentes na minha aprendizagem<br />
– mal que assim não fosse!<br />
Como por exemplo uma Primeiro-Sargento que me induziu<br />
a aprender que, qualquer que seja a circunstância, uma mulher é<br />
uma mulher e porta-se à altura de “M” Grande; mas de facto foram<br />
militares Oficiais que me inspiraram a traçar um perfil de líder que<br />
eu quero ser.<br />
Nomeadamente uma passagem no extinto vale escuro ao<br />
qual tínhamos de fazer chegar uma mensagem ao comandante de<br />
companhia e eu, na minha condição de mulher, perante as circunstâncias,<br />
não fui perspicaz o suficiente para esconder a mensagem<br />
e levá-la a bom porto – não imaginam a cara de desilusão do comandante<br />
de companhia quando percebeu que cheguei ao pé dele<br />
sem mensagem e, pior, sem arma – nunca mais me vou esquecer<br />
daquela expressão – mesmo agora quando escrevo tenho vontade<br />
de chorar porque foi o que tive vontade de fazer quando ele me<br />
perguntou – “não tem nada para me dar” – gelei completamente<br />
mas contive-me – “meu Deus como pude permitir tal coisa”, seguindo-se<br />
um sermão e ainda foi pior quando ele me devolveu a arma<br />
que eu permiti que me tirassem – à força – mas fiquei sem ela.<br />
Naquele dia aprendi que no dia em que for líder não poderei<br />
desiludir os meus homens para não ver nos olhos de quem confiou<br />
em mim a mesma expressão daquele comandante que tinha grande<br />
expectativa e que eu desiludi completamente.<br />
Mas entre as memórias também ficam um sem número de<br />
passagens caricatas com Oficiais Superiores – nomeadamente com<br />
animais de estimação.<br />
Hoje, na vida civil e Bombeiro de Profissão, divido a casa<br />
com 2 amigos que trouxe da EPI que estavam debaixo da caldeira<br />
da cozinha abandonados – o KIKO e o DUFI, na realidade eram<br />
3 gatos a Furriel Ribeiro adoptou 1, o Patinhas; mas o caricato não<br />
foi a adoção foi a parte em que, depois de muito discutir, com um<br />
Sargento-Ajudante que destino dar aos animais e insistir falar com<br />
o Sr. Comandante, entrei pelo seu gabinete dentro, completamente<br />
desvairada com a situação, e com os animaizinhos dentro da boina<br />
– “3 dentro de uma boina (vejam como os bichos eram grandes)
AZIMUTE <strong>195</strong> - 23<br />
” ao qual não sabia se chorava de nervos ou explicava o que tinha<br />
acontecido – imaginem o pobre comandante completamente<br />
transtornado porque, apesar de não gostar de gatos, também tinha<br />
pena dos pobres bichos terem sido abandonados e não sabia que<br />
destino lhes havia de dar – “os comandantes às vezes também ficam<br />
atrapalhados” – bem, moral da história, apesar de não gostar<br />
de gatos e de toda aquela situação constrangedora lá me dispensou<br />
um bocadinho para ir à loja os animais comprar um biberão para dar<br />
de comer aos bichos, pois eram demasiado bebés, uma vez que eu<br />
pretendia adotá-los; a generosidade e clemência, nem que seja pelo<br />
ser mais pequeno e insignificante, não é característica de patentes<br />
ou estatutos mas sim de pessoas humanas foi o contributo que este<br />
comandante deu para a minha formação de líder.<br />
Tais ensinamentos não se deveram só aos meses árduos e<br />
penosos da instrução, pois o frio e o calor de Mafra ficam não só na<br />
memória mas também nos ossos...<br />
Não só os gritos de disciplina emitidos pelos comandantes de<br />
pelotão, não só a rigidez de uma postura que era exigida... Mas sim a<br />
uma conjuntura de situações que ao longo dos anos nos fez crescer<br />
emocionalmente, psicologicamente e fisicamente - a outra mãe (EPI)<br />
que nos tira do colo da nossa mãe biológica para nos ensinar que a<br />
vida é um todo e que um dia vamos ter de caminhar sozinhos sem<br />
o amparo dos pais, embora com os seus ensinamentos, mas que<br />
teremos de enfrentar as tempestades e bonanças com a firmeza<br />
que se espera de um homem ou mulher dotados de características<br />
que lhes permitam lutar, ultrapassar e vencer, para que, quando olhar<br />
para trás, veja que a sua obra/objectivo foi atingido, aquela no qual<br />
sinta que aprendeu e ensinou deixando a sua marca pessoal mesmo<br />
ao mais pequenino dos seres nem que seja um gato...<br />
Foi em 2004 que embarquei numa aventura que desejava viver<br />
desde pequena: a vida militar e a defesa da nossa nação. Sendo<br />
algo que sempre me fascinou, acabou o destino por me conduzir à<br />
EPI, em Mafra.<br />
A separação e distância da minha família sempre foi uma<br />
questão difícil de superar mas, assim que iniciei a minha especialidade,<br />
acabei por encontrar uma nova família, onde reinava um enorme<br />
espirito de camaradagem, onde sabia nunca estar sozinha, onde<br />
reinava a disciplina, onde estranhos rapidamente deixaram de o ser,<br />
entreajudando-se e tornando-se assim nos melhores camaradas.<br />
Nos meus dias como militar passei por várias secções e dizer<br />
onde gostei mais de trabalhar ou onde me senti melhor é impossível,<br />
já que em todas elas encontrei excelentes profissionais e<br />
amigos, desde as praças aos superiores, que faziam com que os dias<br />
se passassem com o moral elevado, com o mesmo grau de profissionalismo<br />
e exigência que fazia com que desse o melhor de mim<br />
mesma, como militar e como ser humano.<br />
Agradeço a todos os meus camaradas que me ajudaram<br />
nesta importante jornada da minha vida.<br />
Recordo hoje com saudade cada momento que vivi na EPI.<br />
Foram sem dúvida momentos únicos que me tornaram uma pessoa<br />
melhor, mais responsável e com mais valores.<br />
Estando hoje a trabalhar num jardim-de-infância, acredito<br />
que a minha passagem pela Casa Mãe de Infantaria foi claramente<br />
importante para que conseguisse ultrapassar muito dos obstáculos<br />
de cabeça erguida, com afinco e sem nunca desistir.<br />
Sejamos práticos... Que a coragem e valentia sejam dotadas<br />
de carácter, generosidade e fidelidade.<br />
Foram estes os ensinamentos<br />
da escola mãe, aqueles que vinculam<br />
o meu carácter a valores para liderar<br />
as minhas futuras equipas e conduzi-<br />
-las à felicidade e sucesso.<br />
Obrigado EPI!<br />
Neuza Monteiro, trabalhadora num Jardim de Infância<br />
Minimercado MAFRENSE<br />
Silva & Cosme, Lda.<br />
Tal como disse atrás, muito<br />
mais haveria para contar sobre muitos<br />
bons exemplos para a minha formação<br />
pessoal mas, melhor do que o<br />
que fica escrito no papel, é o que fica<br />
guardado no nosso coração.<br />
Secção de revenda para bebidas<br />
nacionais e estrangeiras<br />
Um muito obrigado há minha<br />
segunda família durante os 7 anos de<br />
aprendizagem na minha vida<br />
Maria Fonseca, bombeira<br />
Rua das Tecedeiras, lote 6, cave<br />
2640-537 Mafra<br />
261819320
24 - Temas Gerais<br />
Jornadas de Infantaria<br />
2013<br />
As Jornadas de Infantaria deste ano, tal como no ano passado, puderam contar com o empenho e a presença da grande maioria<br />
das unidades da Arma, mas igualmente com a contribuição dos diferentes OCAD e CFT, da AM e da ESE, beneficiando também de uma<br />
presença internacional ampliada, este ano coincidindo pela primeira visita do Comandante do CENZUB, abordando o tratamento de uma<br />
temática que, mais uma vez tal como no ano passado, procura dar maior ênfase e importância a áreas de conhecimento estruturantes da<br />
Arma, emprestando-lhe assim o verdadeiro significado e abrangência que merecem e necessitam para que possam produzir os resultados<br />
que delas todos esperamos.<br />
O interesse das Jornadas, para além do feliz momento de congregação dos Infantes é produzir efetivamente resultados concretos<br />
que possam ser traduzidos em melhorias ou modificações construtivas do que fazemos em termos organizacionais, genéticos ou operacionais<br />
na Infantaria, ou nas áreas em que ela se relaciona com outras Armas. Foi por essa razão que este ano procurámos em primeiro lugar,<br />
dar corpo às conclusões das Jornadas do ano passado, nomeadamente na área do Tiro, onde se destaca a execução do levantamento e<br />
discussão da evolução sentida por todo o <strong>Exército</strong> nesta área e da qual foi conseguida, com a colaboração de todos, a elaboração de uma<br />
publicação de nível <strong>Exército</strong>.<br />
Continuando a dar sentido prático a estas Jornadas, avaliando as carências e dificuldades sentidas pela organização na manutenção e<br />
evolução do conhecimento fruto da intensidade e velocidade dos seus diversos empenhamentos e influência das restrições de recursos, de-
AZIMUTE <strong>195</strong> - 25<br />
cidimos este ano abordar a temática do Apoio de Combate, sempre<br />
numa perspetiva de regressar ao essencial e de a partir dele construir<br />
os modelos organizativos, doutrinários e genéticos adequados<br />
às nossas necessidades atuais e futuras.<br />
Para além destes objetivos quisemos, mais uma vez, dar a<br />
conhecer à Infantaria a evolução que nos foi possível materializar na<br />
operacionalização do Centro de Excelência de Combate em Áreas<br />
Edificadas, em particular na área da simulação do tiro e da continuidade<br />
dos projetos de investigação e desenvolvimento em curso<br />
com a colaboração da EPI e das unidades operacionais.<br />
Relativamente às notáveis apresentações efetuadas pelos<br />
conferencistas internacionais, dos EUA, da Alemanha e de Espanha<br />
que, procuraram dar uma visão sobre os desafios tecnológicos e<br />
tendências de evolução no emprego das unidades de apoio de<br />
combate ao nível do Batalhão de Infantaria salientamos as seguintes<br />
ideias chave:<br />
••<br />
A importância crescente que o ambiente urbano das<br />
operações militares vem adquirindo na articulação das<br />
organizações e do seu reequipamento com meios mais<br />
precisos, por forma a diminuir os efeitos colaterais.<br />
••<br />
Necessidade de uma maior integração/coordenação<br />
dos diferentes sistemas de armas, em particular de apoio<br />
de fogos tendo em conta as suas diferentes características,<br />
concorrendo para a sua flexibilidade e segurança<br />
de emprego.<br />
••<br />
Registo de uma tendência, nos diferentes países, de incorporar<br />
as mais recentes lições aprendidas nos teatros<br />
de operações em que têm participado em projetos de<br />
desenvolvimento do sistema de armas combatente incluindo<br />
o seu teste em TO.<br />
••<br />
Diferentes perspetivas organizacionais quanto à existência<br />
e distribuição de morteiros.<br />
Os representantes da Brigada Mecanizada, da Brigada de Intervenção<br />
e da Brigada de Reação Rápida, abordaram a temática do<br />
apoio de combate no Batalhão de Infantaria nas diversas tipologias<br />
de força do <strong>Exército</strong> Português e as suas tendências de evolução,<br />
destacando o seguinte:<br />
••<br />
A não conclusão dos diversos programas de reequipamento<br />
criou lacunas nos sistemas de apoio de combate<br />
obrigando a recorrer a sistemas de armas que condicionam<br />
o efetivo apoio da unidade.<br />
••<br />
A necessidade de, caso as restrições continuem, se<br />
adaptar os quadros orgânicos das diferentes unidades<br />
aos meios existentes por forma a garantir um todo coerente.<br />
••<br />
A importância de manter todas as capacidades do apoio<br />
de combate mesmo através de sistemas de armas não<br />
orgânicos por forma a não perder o saber fazer.<br />
••<br />
A necessidade de manter uma coerência organizacional<br />
ao nível do apoio de combate por forma a, mesmo utilizando<br />
sistemas de armas diferenciados, permitir um emprego<br />
modular e flexível das suas subunidades típicas.<br />
Em simultâneo os Alunos do Curso de Promoção a Capitão<br />
de Infantaria desenvolveram Trabalhos de Investigação de Grupo, relativos<br />
ao tema central “Apoio de Combate”, analisando a evolução<br />
organizacional, a preparação e emprego de pequenas Unidades de<br />
Infantaria no contexto da complexidade crescente da conflitualidade<br />
atual dos quais, se realçam os seguintes contributos:<br />
••<br />
Ao nível do apoio de fogos indiretos, o modelo organizacional<br />
aprovado para a BrigInt limita a capacidade de<br />
apoio de fogos das companhias de atiradores.<br />
••<br />
Quanto ao nível do apoio de fogos Anticarro e do Reconhecimento<br />
existe a necessidade de revisão das Publicações<br />
Doutrinárias.<br />
••<br />
Necessidade de revisão dos quadros orgânicos face aos<br />
meios existentes e às missões a desempenhar.<br />
Como propostas para estudo a efetuar durante o corrente<br />
ano foram levantadas as seguintes:<br />
••<br />
Estudo da viabilidade organizacional e formas de emprego<br />
da proposta do pelotão de apoio de fogos diretos<br />
da BrigMec.<br />
••<br />
Estudar o levantamento de um elemento de coordenação<br />
de apoio de fogos ao nível batalhão, inserido na<br />
estrutura da CAC.<br />
••<br />
Levantar necessidades relativas à capacidade ISR para<br />
as UEB.<br />
••<br />
Tendo em atenção as diferenças verificadas nas variadas<br />
organizações, reequacionar a forma de distribuição<br />
dos morteiros entre a Companhia de Atiradores e a<br />
Companhia de Apoio de Combate.<br />
••<br />
Estudar a organização e equipamento do PelACar da BrigInt<br />
e BRR tendo em atenção as plataformas neste momento<br />
existentes e utilizadas, considerando a viabilidade<br />
de continuidade da sua utilização e evoluções genéticas<br />
necessárias.
26 - Temas Gerais<br />
German Infantry Battalion Combat<br />
Support<br />
TCor Marcus Nann (German Army)<br />
Overall Aspects<br />
During the restructuring phase from the “New Army Structure” to the “Army 2011” the “Army Concepts and Capabilities Development<br />
Center” (before 1st of april 2013 the previous “Army Office”) and the German Army Headquarter are serving as the link to the Federal Ministry<br />
of Defense. There are three major changes:<br />
••<br />
The single service staffs in the Ministry of Defense were disbanded and the relevant armed service commands established instead.<br />
The command acting on behalf of the Army is the German Army Headquarters;<br />
••<br />
The Bundeswehr Planning Office is responsible for planning the development of the armed forces across all services while the<br />
Federal Office of Bundeswehr Materiel, Information Technology and Equipment Management deals with all materiel-related matters.<br />
The two Offices are subordinate to the relevant Directorates at ministerial level;<br />
••<br />
The Army Office previously responsible for all Army affairs including capability development, training, armaments, organization<br />
and in-service use/logistics was disbanded. Its responsibilities were transferred to the German Army Headquarters, the Army
AZIMUTE <strong>195</strong> - 27<br />
Concepts and Capabilities Development Center and the<br />
Training Command; some were assumed by the Federal<br />
Office of Bundeswehr Materiel, Information Technology<br />
and Equipment Management, and the Bundeswehr Planning<br />
Office.<br />
The aim of reorganizing the Bundeswehr command and<br />
control structure is to cut the Gordian Knot, that means to end the<br />
armed service’s competition for resources by establishing the Planning<br />
Office where the allocation of scarce resources is tailored to<br />
all armed services and their capabilities and in line with the political<br />
requirements to ensure sustainable and financially feasible capability<br />
development.<br />
The framework conditions mentioned earlier resulted in this<br />
structure of the Army Concepts and Capabilities Development Center.<br />
It is designed for the holistic approach to Army development at<br />
one single stage to be achieved by taking into account the requirements<br />
of the 13 branches and the Special Forces. This design will<br />
help us to realize our goal in developing the “Army System” more<br />
effectively and efficiently. The demand on the Army Concepts and<br />
Capabilities Development Center is to focus its efforts on a holistic<br />
approach to Army development.<br />
New Army Structure “Heer 2011”<br />
Regarding the Infantry, the Army will comprise 5 Light Infantry<br />
Battalions, 3 Mountain Infantry Battalions and 2 Parachute Regiments<br />
and one caderised Light Infantry Battalion.<br />
In previous structures, the Light Infantry almost appeared<br />
like a rarity in an Army mainly consisting of armoured units. In the<br />
new structure, the Light Infantry, together with the Armoured Infantry,<br />
constitutes the core of the majority of contingents.<br />
The German Army in its future structure will be organised<br />
into three Division Headquarters with eight Brigades. The elements<br />
of the “Rapid Response Forces Division” are planned to fulfil specific<br />
tasks, e.g. within the framework of national crisis management,<br />
while the other two commands are composed of forces that are to<br />
sustain defined contingents of different nature and various sizes on<br />
operations all over the world over prolonged periods. The underlying<br />
scenarios are primarily stabilisation operations, but also rapid response<br />
operations of all intensities. Infantry-specific capabilities will be<br />
available in all 8 brigades.<br />
The various agencies will be merged into a Training<br />
Command including the remaining schools and training facilities plus<br />
a centralised Office for Conceptual Planning and Force Development.<br />
This office will combine major elements of the decentralised<br />
agencies that are currently located at the branch schools. All units in<br />
this basic structure are substantiated by the requirements evolving<br />
from the so-called Level of Ambition of specific contingents. It is a<br />
matter-of-course that a certain buffer is provided for to take account<br />
of the experiences regarding mission-ready personnel in the units<br />
and formations.<br />
Light Infantry Battalion<br />
This picture (see picture 1) depicts the structure of a German<br />
Light Infantry Battalion. Company Alpha comprises platoons<br />
providing combat service and command support. Companies Bravo,<br />
Charlie and Delta are Light Infantry Companies with three rifle platoons<br />
and one heavy weapons platoon each. The structure of the<br />
Armoured Infantry Battalions is similar, but they have neither a combat<br />
support company nor a support weapons platoon in the regular<br />
companies. The idea is, that in the armoured infantry the dismounted<br />
elements always have access to the firepower of their fighting vehicle<br />
and need therefore no additional support weapons.<br />
As already mentioned the three Light Infantry Companies in<br />
the battalion comprises three rifle platoons and one heavy weapons<br />
platoon. The heavy weapons platoon of each Company includes 3<br />
sniper teams, 3 Milan Anti-tank teams with guided missiles and 3<br />
teams with automatic grenade launchers. Every Company Commander<br />
has here the feasibility to concentrate his forces as the situation<br />
require. These sections are to complement the platoon’s capabilities<br />
on one side and enable them on the other side to concentrate on<br />
their core tasks especially in those cases, where vehicle-mounted<br />
weapons are not available or higher precision is required that cannot<br />
be delivered by heavy weapons systems.<br />
The fifth company features the battalion’s combat support<br />
assets. They include one subunit with 5 joint fire support teams (4<br />
Joint Fire Support Teams and 1 Joint Fire Support Coordination Team)<br />
whose capability for network enabled operations allows them to<br />
bring close air and fire support to bear. Equipped with Fennek they<br />
will be distributed to the companies. They are joined by one mortar<br />
platoon with 8 x 120mm mortars on Wolf (0, 75 to vehicle) and M113<br />
(able to engage enemy up to a range of 6350 m).<br />
Additional there are in the heavy company available: one<br />
platoon with Wiesel Weapon carrier (6x) to provide the antitank<br />
defence with their TOW antitank missiles (additional one machine<br />
gun each) and the direct fire support by one platoon Wiesel with<br />
machine cannon 20 mm (6x). The Battalion Commander is now able<br />
to form an antitank reserve, or he can for example protect open<br />
flanks…<br />
The commander can also shift the Wiesel to each company<br />
which is in the focus of the enemy attack.<br />
Supplementary the heavy company has the reconnaissance<br />
capacities at tactical level with one platoon Wiesel (6) with AOZ<br />
2000 (Autonomous Optronic Targeting System).<br />
In the Paratroopers Battalion we have: 4 Wiesel TOW in the<br />
antitank platoon instead of 6 and instead 6 Wiesel with machine<br />
cannons we have 3 platoons with 4 Wiesel = 12 MK Wiesel (that
28 - Temas Gerais<br />
means 12 machine cannon Wiesel). Additional we have in the Paratrooper<br />
Battalion one dog platoon (search for persons/explosive ordnance)<br />
and one special paratroopers platoon to prepare and secure<br />
landing zones for the incoming paratroopers (this special platoon are<br />
free fallers). For the Mountain Infantry Battalion the difference is not<br />
serious, they have only one additional high-mountain platoon and<br />
one mountain pack animal company for logistic support on alpine<br />
operations.<br />
The Commander of an Infantry Battalion is now able to<br />
employ his forces supported by the heavy Company with various<br />
intents on the battlefield:<br />
••<br />
Support combat op by quick reaction indirect fire weapons<br />
(up to 6350 m) against area, point and single targets;<br />
••<br />
Engage with long range anti tank capacities (up to<br />
3750 m):<br />
––<br />
to form point of main effort in anti tank issues;<br />
––<br />
to destroy hostile tanks and armored infantry fighting<br />
vehicles;<br />
––<br />
to act against enemy behind strong fighting positions;<br />
––<br />
to engage helicopters;<br />
––<br />
to protect and screen the flanks;<br />
••<br />
Engage with machine cannons 20 mm by direct fire<br />
(up to 1200 m):<br />
––<br />
to support and reinforce dismounted Infantry;<br />
––<br />
to fight against light and soft skinned vehicles;<br />
––<br />
to operate against enemy behind cover;<br />
––<br />
to act against low level airplanes;<br />
••<br />
Reconnaissance by recce platoon (up to 5000 m) - reconnoiter<br />
and observe Battalion´s area of responsibility;<br />
••<br />
Ensure quick concentration and displacement of forces.<br />
To break it down to an Infantry platoon, he is rather flexible<br />
as such even without supporting elements (see picture 2). All weapons<br />
in the sections have an effective radius of at least 200 m and<br />
deliver precise fire. Under favourable conditions sufficient accuracy<br />
is even provided out to 400 m. Some specifically qualified soldiers<br />
in the sections can effectively engage targets out to 600 m with<br />
selected weapons and in a favourable environment. The envisioned<br />
effective radius, within which the section must hold its ground with<br />
organic means and without any vehicle support, is 600 m. The weapons<br />
are not optimised for specific operational scenarios, but are<br />
designed to cover the entire target spectrum of an infantry section<br />
within its effective radius. The core question is: what is required for<br />
each soldier or the section in all scenarios<br />
The platoon leader has some flexibility through optional<br />
weapons to respond to the current threat. Additional flexibility is provided<br />
by the transport capacity of the BOXER Armoured Transport<br />
Vehicle, but the soldier‘s load, volume and training requirements are<br />
still subject to tight limits. The individual infantryman must remain<br />
a dismounted warrior rather than a mere weapons, optronics and<br />
protective equipment carrier or operator. This is especially true in<br />
difficult terrain and complex scenarios as for example in an urban<br />
environment.<br />
In the current operations, the infantryman‘s mobility is ensured<br />
primarily by transport vehicles. These vehicles must allow the<br />
soldiers to carry their equipment on board and to dismount fully<br />
equipped for the mission. We will concentrate on the BOXER with his<br />
10 soldiers; it is visible, that the infantry section comprises 2 fire teams,<br />
the driver and the gunner stay in/at the vehicle. If they are dismounted<br />
from the vehicle, each fire team is led by a sergeant. The different<br />
weapons of one squad are viewable on the picture 2. It comprises 7<br />
assault rifles, 2 light anti-tank weapons, 2 light machine guns, 2 grenade<br />
launchers, 1 designated marksman rifle, 2 machine pistols more<br />
a remote controlled weapon 200 with 12,7 mm or 40 mm.<br />
The BOXER Multi-Role Armoured Vehicle (MRAV) has proven<br />
successful on operations. The Boxer significantly adds to the<br />
infantry capabilities and considerably influences the operational procedures<br />
of the infantry platoons in certain scenarios. The BOXER<br />
is not an infantry fighting vehicle and will not convert light infantry<br />
forces into armoured infantry. The protected transport capacity and<br />
the four remote-control weapon stations per platoon, however, will<br />
offer additional options for various scenarios. It has to be underlined,<br />
though, that the light infantry will continue to predominantly<br />
conduct dismounted combat operations. Its organisational structure,<br />
command and control, training and equipment will be tailored to this<br />
role accordingly, and the potential of the BOXER will be an add-on<br />
for extraordinary situations.<br />
The Boxer is full integrated in the “Future Infantryman System”.<br />
Further transport vehicles to be mentioned are the HÄGGLUND<br />
used by the mountain infantry or the MUNGO Multi-Purpose Vehicle<br />
used by the airborne infantry. Since the BOXER is initially fielded in<br />
relatively small numbers, the FUCHS APC will continue to be in use.<br />
The DINGO and the EAGLE (for snipers) employed as special-purpose<br />
vehicles in the task forces will be the choice for the support<br />
weapon platoons.<br />
When the development process was launched and the military<br />
requirements were defined some time ago, the premise for a<br />
transport vehicle in a relatively secure area was “self-defence”. Today,<br />
the Remote-Control Weapons Stations (Fernbedienbare leichte<br />
Waffenstation) 100 and 200 are universal platforms for all protected<br />
vehicles of the Bundeswehr. The experiences from the ISAF mission<br />
produced the following premise: Wherever feasible and compliant<br />
with technical regulations, the ambition is to equip the vehicles with<br />
the heavier FLW 200 variant. There will be four BOXER in the infantry<br />
platoon, two of them with mounted heavy machine guns 12, 7 mm,<br />
the other two with automatic grenade launchers 40 mm.
AZIMUTE <strong>195</strong> - 29<br />
Picture 1<br />
Structure of a German Light Infantry Battalion.<br />
3x<br />
Sect Cdr<br />
36 - 1/7/28<br />
Rfn 1<br />
Rfn 3<br />
Rfn 5<br />
Drv<br />
26<br />
7<br />
3<br />
7<br />
7<br />
7<br />
Tm Ldr<br />
Rfn 2<br />
Rfn 4<br />
Rfn 6<br />
Gunner<br />
Picture 2<br />
Platoon and Section Structure
30 - Temas Gerais<br />
O Apoio de Combate nas unidades escalão<br />
Batalhão de Infantaria Mecanizado: Possíveis<br />
tendências de evolução<br />
Trabalho realizado pelo 1º BIMec e 2º BIMec da Brigada Mecanizada<br />
Situação Geral<br />
Com a proliferação de fundamentalismos no Norte de Africa,<br />
Médio Oriente e a tendência crescente para o aparecimento<br />
de focos de atrição na região da Ásia-Pacifico, julga-se prudente<br />
considerar, prospectivamente, a necessidade de preparar e acautelar<br />
o treino operacional para a intervenção de forças militares em cenários<br />
de alta intensidade e média intensidade.<br />
As Forças Armadas dos diferentes estados, da Europa e da<br />
América do Norte, sob o conceito de Pool and Sharing, desejavelmente,<br />
em convergência com o conceito de SMART DEFENCE da<br />
Aliança, respetivamente, procuram o desenvolvimento de um modelo<br />
cooperativo de Segurança e Defesa, que assegure os valores e<br />
cultura ocidental - Liberdade, Democracia, e o uso da Força da Lei,<br />
por oposição à Lei da Força.<br />
Reconhece-se que a existência de uma compreensão<br />
abrangente da Situação Geral (Situational Awareness) contribui para<br />
uma realística-pragmática condução das operações em todo o espetro<br />
do conflito (Full Spectrum Operations). As Operações em todo<br />
o Espectro do Conflito - alta, média e baixa intensidade - aplicam a
AZIMUTE <strong>195</strong> - 31<br />
Força em teatros de operações normalmente não lineares, tendencialmente<br />
urbanizados, e através de uma contínua e concomitante<br />
combinação de quatro elementos: ataque, defesa, estabilização e de<br />
apoio humanitário (civil support operations).<br />
Em prospetiva a natureza dos conflitos pode não ser, essencialmente,<br />
do tipo assimétrica, nem tão pouco, de natureza não letal.<br />
A alteração das políticas de imigração na Europa para o<br />
espaço Shengen, associadas à instabilidade na Ásia Pacífico, com a<br />
Síria, Irão, Índia e Paquistão em destaque, podem originar conflitos<br />
onde intervenções multinacionais do tipo de Small Joint Operation<br />
(SJO) e Major Joint Operation (MJO) ganham maior probabilidade<br />
de ocorrer.<br />
A existência de sistemas de armas letais que permitam<br />
conjugar fogo, manobra, proteção e precisão, revelam-se imprescindíveis,<br />
em associação com o emprego de escalões (i.e., Brigada,<br />
Agrupamento) com elevados níveis de descentralização na ação<br />
- Comando-Missão.<br />
Os efeitos das operações sustentam-se, consecutivamente,<br />
na força da lei, legitimando a ação, para evitar a todo o custo efeitos<br />
colaterais.
32 - Temas Gerais<br />
Situação Particular - A Ameaça<br />
A ameaça com que nos deparamos já não é clara, como no<br />
período da guerra industrial. As forças oponentes não têm formas<br />
definidas e os seus líderes e operacionais estão fora das estruturas<br />
normais da sociedade. As ameaças vão desde os terroristas, aos<br />
insurgentes no Afeganistão, aos terroristas e grupos armados dos<br />
senhores da guerra no Afeganistão e em África.<br />
A ameaça com que nos deparamos hoje em dia, misturase<br />
com a população, utiliza técnicas e táticas subversivas, tem no<br />
ambiente urbano o seu campo de batalha ideal, uma vez que consegue<br />
dissimular-se muito mais facilmente; as suas ações violentas<br />
têm maior efeito, e a natureza do combate urbano, com toda a sua<br />
complexidade, facilita o estabelecimento de santuários aos grupos<br />
subversivos.<br />
Esta caracterização da ameaça pode se tornar mais complexa,<br />
caso a população que habita o Teatro de Operações onde<br />
se desenrola a Campanha, por não lhe terem sido conquistadas as<br />
mentes nem os corações, aderir à causa dos movimentos subversivos.<br />
O ambiente de cariz subversivo, que de alguma forma hoje<br />
se perceciona em muitas operações de estabilização - com menor<br />
ou maiores probabilidades de risco -, é propenso à ocorrência<br />
de atentados em grande escala, limitando a atuação da força em<br />
consequência da dificuldade em dirimir potenciais danos colaterais.<br />
Considere-se, também, a probabilidade e severidade da ocorrência<br />
de desacatos e desobediência civil, o que rapidamente pode degenerar<br />
em tumultos de difícil controlo, ou mesmo, em combates de<br />
alta intensidade.<br />
O Presente e Futuro do Apoio de Combate<br />
Julga-se que decorrente da situação geral descrita, e de<br />
acordo com as tendências expressas, que continua a existir a necessidade<br />
de termos Forças constituídas, treinadas e certificadas com<br />
ênfase para as Capacidades - Comando e Controlo, Uso da Força<br />
e Informações/Vigilância/Reconhecimento (C4ISR) -, para combater<br />
uma ameaça organizada, para realizar operações convencionais, em<br />
conjugação com a ameaça assimétrica referida, presente, e imiscuída<br />
no meio urbano, com a população.<br />
Há neste regresso ao essencial, o reconhecer que apesar<br />
das novas tecnologias, contribuírem para aperfeiçoar a proficiência<br />
e efeitos dos exércitos na conduta da guerra em todo o espetro do<br />
conflito, mantêm-se incapazes de mesmo com estruturas centradas<br />
em rede (network centric), erradicar toda a incerteza do campo<br />
de batalha. Julga-se que os sistemas e tecnologias de informação<br />
devem contribuir para uma real descentralização da execução das<br />
operações, por oposição ao uso dos novos sistemas para exercer<br />
um comando e controlo centralizador, inviabilizador da iniciativa aos<br />
escalões subordinados - integrada com a intenção do Comandante.<br />
O apoio de combate 1 como o facilitador do processo de<br />
decisão, da manobra, com a finalidade de criar dilemas à ameaça,<br />
1 Definição de Fire Support, extraída do ATP-3.2.1, pp 2-26: the application of fire, coordinated with<br />
e também, de contribuir para a sua resolução, é obviamente indispensável<br />
para o desenvolvimento da Capacidade Emprego da Força<br />
(Engage).<br />
Efeitos a obter com o emprego do Apoio de Combate<br />
Desenvolver um Comando e Controlo descentralizado, baseado<br />
no conceito comando/missão e assente num desenvolvido<br />
e eficaz sistemas de informações, permitindo obter fluidez operacional<br />
e uma oportuna tomada de decisão em todos os níveis de<br />
comando, sob a intenção do comandante.<br />
Privilegiar a manobra em detrimento da atrição. Máxima flexibilidade<br />
- fluidez operacional - no apoio à manobra através, se<br />
necessário, da organização de forças-tarefa, dotadas de sistemas<br />
existentes ou de tecnologia avançada.<br />
Assegurar Precisão e evitar Fratricídio. Dirimir as situações<br />
que possam provocar fratricídio ou efeitos colaterais, através do<br />
exercício de uma aturada gestão do risco que contribua para antecipar<br />
a execução de medidas corretivas.<br />
Aceitar a Flexibilidade nas mentes e na organização, para<br />
desenvolver uma atitude de permanente adaptabilidade às incertezas,<br />
e ao "nevoeiro" da guerra, predispondo-nos para vencer as<br />
surpresas doutrinárias e tecnológicas ou, apenas, a ausência delas<br />
- vide a constituição de forças-tarefa.<br />
Priorizar a Proteção da Força, maximizando os sistemas tecnológicos<br />
que permitam antecipar da ameaça (i.e., mini-UAV), otimizar<br />
a estrutura do BISTAR em prol das missões do Batalhão e em<br />
proveito da eficácia do emprego do apoio de combate.<br />
Detalhar a Gradação da Força, para garantir o emprego do<br />
apoio de combate de acordo com as regras de empenhamento.<br />
Conclusões e Recomendações<br />
Correlacionando a descrição da situação geral, particular, da<br />
ameaça e após a análise elaborada sobre os vetores de desenvolvimento<br />
para o apoio de combate, julgamos que o desenvolvimento<br />
das capacidades que se descrevem de seguida, são convergentes<br />
com a ambição de aperfeiçoar o sistema de apoio de combate no<br />
Batalhão de Infantaria Mecanizado:<br />
01. Comando e Controlo - desenvolvimento desta capacidade<br />
por unidades constituídas. Evoluir na obtenção dos<br />
meios, desde os mais baixos escalões até ao escalão<br />
Agrupamento;<br />
02. Informações - Desenvolver o ISR até ao escalão Brigada<br />
(vide o BISTAR), com a aquisição de meios tecnologicamente<br />
desenvolvidos para a obtenção de maior<br />
precisão e alcance nas operações de estabilização, e se<br />
the manoeuvre of forces, to destroy, neutralize or suppress the enemy. (AAP 6)
AZIMUTE <strong>195</strong> - 33<br />
necessário em outras operações que possam vir a ser<br />
desencadeadas.<br />
flexibilidade para poder promover, quando determinado, forças<br />
tarefa, para satisfação de missões determinadas.<br />
03. Sustentação - Acautelar a recuperação de competências<br />
na área da manutenção preventiva e corretiva<br />
dos sistemas de armas do apoio de combate que, por<br />
exemplo, viabilize o uso e aumento da proficiência no<br />
emprego de morteiros 81 e 10, 7 mm. Recomenda-se,<br />
a atribuição de prioridades para investir na aquisição e<br />
preservação de simuladores de tiro, condução, também<br />
relacionados com os sistemas de tiro do apoio de combate<br />
(i.e., INFRONT).<br />
Julgamos que o Apoio de Combate nos Batalhões de<br />
Infantaria Mecanizada, no âmbito da estrutura, da orgânica e da<br />
genética se deve manter conforme estabelecido em QO 24.0.01<br />
aprovado, com exceção das seções de VCB admitido a continuação<br />
dos dados de planeamento conhecidos sobre o projeto do Batalhão<br />
de Intelligence, Surveillance Target Acquisition and Reconnaissance<br />
(BISTAR). Ele é convergente com o conceito operacional do exército<br />
para atuar em todo espetro do conflito e corresponde aos requisitos<br />
operacionais correntes e prospetivos. Garante, ainda, a necessária<br />
Gostaríamos de reiterar que, ao falarmos no apoio de Combate<br />
do regresso ao essencial (back to basics), julga-se não estarmos<br />
apenas a falar do esforço a exercer para continuar a afirmar as<br />
valências de formação técnica, tática do treino operacional, consideradas<br />
estruturantes do Soldado; deseja-se, também, uma existência<br />
de boas práticas - obviamente adaptadas e adotadas 2 - no<br />
âmbito do Comando-Missão, privilegiando a iniciativa dos escalões<br />
subordinados e a descentralização na execução das operações, de<br />
forma convergente com a intenção do Comandante. Assim, importa<br />
utilizar os sistemas de informação e comunicações para desenvolver<br />
a confiança na cadeia de comando, por oposição à centralização e<br />
micromanagement da ação de comando, predispondo as estruturas<br />
de comando para delegar.<br />
Todavia, reconhecemos que o apoio de combate necessita<br />
de um incremento tecnológico ao nível dos sistemas. O Apoio de<br />
Combate do Batalhão de Infantaria Mecanizado apresenta atual-<br />
2 SHAMIR, Eitan, Transforming Command, The pursuit of mission command in the US, British, and<br />
Israeli Forces, Stanford University Press, 2011, 203 pp.
34 - Temas Gerais<br />
Figura 1<br />
Proposta de aperfeiçoamento do Pel ACar.<br />
mente limitações para satisfazer a ambição do exército - atuar em<br />
todo o espetro do conflito. Sejam quais forem os sistemas de armas<br />
ou munições a considerar, devem ser sempre analisados os vetores<br />
de desenvolvimento que lhes estão associados - DOTLMPFII - , bem<br />
como o ciclo de vida dos materiais – Sustentabilidade.<br />
De forma realista-pragmática e atendendo à nossa interpretação<br />
sobre o regresso ao essencial, julga-se que existem condições<br />
com os sistemas de que dispomos de aperfeiçoar o nosso apoio de<br />
combate ou de o articular de outra forma, relevando para o efeito a<br />
organização de forças tarefa e os requisitos operacionais existentes;<br />
tudo isto sem esquecer as tendências e evoluções, de cariz tecnológico<br />
e tático.<br />
No âmbito dos morteiros médios e pesados, de acordo com<br />
os materiais existentes, a precisão e oportunidade de resposta a<br />
pedidos de tiro inopinados, pode evoluir se potenciarmos o uso das<br />
calculadoras de Tiro Gunzen e Morgan, obtendo a interoperabilidade<br />
entre os requisitos técnicos do sistema com os aparelhos de<br />
pontaria dos morteiros em uso no exército .<br />
Admite-se que o apoio de fogos dos morteiros pesados e<br />
morteiros médios nas unidades de infantaria mecanizada pode ser<br />
complementado com o morteiro 60 mm, desejavelmente, a atribuir<br />
às UEP, quando no desempenho de operações de estabilização, em<br />
ambiente não permissivo, de risco elevado e com reduzida probabilidade<br />
de ocorrerem efeitos colaterais.<br />
Como recomendações finais, desenvolvem-se as seguintes<br />
opções para a CAC dos Batalhões de Infantaria Mecanizada da Brigada<br />
Mecanizada:<br />
Do Pelotão Anticarro uma possível evolução assenta na<br />
existência de condições para concretizar um emprego sustentado,<br />
dos sistemas de 3º geração – TOW; embora a aquisição de sistemas<br />
com míssil de 4ª geração (tipo SPIKE), possa ser uma ambição<br />
legítima, não nos parece de fácil concretização no médio prazo –<br />
até 2020; julga-se que uma possível alternativa à incapacidade para<br />
manter os sistemas TOW e para adquirir novos sistemas anticarro<br />
pode passar por otimizar e emprego de outros sistemas de armas<br />
existentes, através de novas atribuições e da aplicação do conceito<br />
de armas combinadas.<br />
Assim, o Pel ACar/CAC, a trabalhar num conceito de armas<br />
combinadas com um Pel CC pode dar origem a dois pelotões, que<br />
em resultado da articulação e complementaridade dos sistemas, se<br />
passam a designar de pelotões de armas de fogo direto (Pel AFD)<br />
(ver Fig. 1).<br />
Partindo do prossuposto que não existem condições para<br />
sustentar os TOW, esta modalidade configura a constituição de
AZIMUTE <strong>195</strong> - 35<br />
cada pelotão AFD com os seguintes sistemas: duas seções anticarro<br />
em viatura blindada de transporte de pessoal (VBTP), equipadas<br />
cada uma com um CANHÃO S/R CARL GUSTAV 90 mm; uma<br />
secção de carros de combate a dois carros; uma secção de metralhadora<br />
pesada (MP) a 02 M113 com MP Browning 12,7 mm, onde<br />
cada viatura integra uma guarnição de 02 esquadras ML (equipadas<br />
com a metralhadora HK-21 ou MG 3) e uma secção a 2 viaturas<br />
M113 adaptadas com reparo para o Lança Granadas Automático<br />
(Santa Bárbara).<br />
Estes Pelotões mantêm-se na dependência da CAC, admitindo-se<br />
um ênfase na ação de comando do comandante da CAC, no<br />
emprego dos dois pelotões AFD, no apoio à manobra.<br />
Partindo do prossuposto que o Batalhão não é reforçado<br />
com meios que lhe permitam a constituição dos dois pelotões de<br />
AFD e da inexistência de condições para sustentar os TOW, admite-se<br />
a reorganização do PelACar num Pelotão de AFD desde que<br />
para o efeito se materializem as seguintes factos: existe CANHÃO<br />
S/R CARL GUSTAV 90 mm em número suficiente para constituir 2<br />
secções a 4 viaturas; são atribuídos 2 LGA SANTA BÁRBARA para<br />
constituir uma seção a duas esquadras. Nesta modalidade, em relação<br />
ao Pel ACar orgânico não existe atribuição adicional de viaturas.<br />
De acordo com a análise das opções acima apresentadas,<br />
sustentados nos vetores de desenvolvimento considerados e nos<br />
requisitos operacionais correntes e prospetivos implícitos, conclui-se<br />
que a modalidade que enfatiza o conceito de armas combinadas,<br />
viabilizando a existência de dois Pel AFD é, obviamente, a mais vantajosa,<br />
considerando os efeitos a obter para o apoio de combate.<br />
Do PelRecInf e de forma a garantir um aperfeiçoamento e<br />
maior ênfase nas missões do tipo ISR, deve ser dada prioridade para<br />
promover uma atualização dos sistemas de vigilância do campo de<br />
batalha, tais como: equipamento de visão noturna individual/coletivo<br />
de curto, médio e longo alcance. Estes sistemas garantem a capacidade<br />
de operar em quaisquer condições meteorológicas e de visibilidade<br />
reduzida, de forma a permitir a observação, deteção e registo<br />
de imagens de forma contínua de áreas e objetivos selecionados. O<br />
PelRecInf deve estar preparado para ser reforçado de acordo com a<br />
missão atribuída. A doutrina do Comando-Missão para o PelRecInf,<br />
não existe apenas, respira-se.<br />
Conforme estabelece o Quadro orgânico 24.0.01, de<br />
29JUN09, as missões de ISR da CAC devem ser complementadas<br />
com três secções mini UAV, desejavelmente, com a possibilidade<br />
de operar além da linha de vista, com capacidade de realizar várias<br />
missões com reduzida assinatura eletrónica, permitindo a obtenção<br />
de noticias em tempo real, de forma descentralizada, mas, sob controlo<br />
do Batalhão.<br />
Em síntese, considera-se que a harmonização dos vetores<br />
de desenvolvimento do apoio de combate - DOTLMPFII - para a<br />
obtenção de efeitos relacionados com o emprego de forças em<br />
todo o espetro do conflito, se pode e deve aperfeiçoar. No entanto<br />
o QO 24.0.01, projeta um Apoio de Combate atual, julgando-se que<br />
o regresso ao essencial (back to basics), não se trata apenas de<br />
continuar a afirmar as valências de formação e treino operacional<br />
estruturantes do Soldado; deseja-se uma existência de boas práticas<br />
- obviamente adaptadas e adotadas - no âmbito do Comando-Missão,<br />
privilegiando a iniciativa dos escalões subordinados e a descentralização<br />
na execução das operações, de forma convergente<br />
com a intenção do Comandante. Admite-se que os desempenhos<br />
táticos futuros tendencialmente vão continuar a solicitar os pequenos<br />
escalões - agrupamento e subagrupamento - o que sugere uma<br />
robusta integração tática e assegurada interoperabilidade do apoio<br />
de combate de per se, nestes escalões, com a finalidade de garantir<br />
o apoio de combate adequado para cada missão, conforme recomendações<br />
apresentadas anteriormente.<br />
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1966<br />
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NRF 5, 2006, 159 pp<br />
5. EXÉRCITO PORTUGUÊS, A Certificação do AgrMec/BrigMec/NRF 12,<br />
Reflexões e Lições Aprendidas, 2012, 184 pp<br />
6. EXÉRCITO PORTUGUÊS, Diretiva <strong>nº</strong>1 do 1º BIMec/BrigMec, 2013<br />
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8. JANES INTERNATIONAL DEFENSE REVIEW, April 2013<br />
9. NARCISO, Carlos. O Apoio de Fogos/ Combate Atual no Afeganistão, 2013.<br />
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11. NATO, Non-Article 5 Crisis Response Operations, AJP-3.4, North Atlantic Treaty<br />
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12. SMITH, Rupert, The Utility of Force: The Art of War in The Modern World,<br />
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13. SHAMIR, Eitan, Transforming Command, The pursuit of mission command in<br />
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14. TEIXEIRA, Pedro Brito, Na Procura do Alvo : A Utilidade da Força, Revista de<br />
Segurança e Defesa <strong>nº</strong> 9, 2009<br />
15. TEIXEIRA, Pedro Brito, O Desafio Da Defesa e Segurança em 2030, 2012<br />
16. UK ARMY, Countering Insurgency, 2009<br />
17. UK DEFENCE, Joint Doctrine Publication, Security and Stabilisation: The Military<br />
Contribution<br />
18. US ARMY, Field Manual 3-0 Operations, 2008<br />
19. US ARMY, Field Manual 7-0 Training the Force<br />
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• http://www.exercito.pt/sites/EPI/Publicacoes/Documents/AZ_187_AGO09(1).<br />
36 - Temas Gerais<br />
Um conceito para o Apoio de Combate nas<br />
unidades de escalão Batalhão de Infantaria<br />
da BrigInt. Possíveis abordagens e tendências<br />
de evolução<br />
Ten Inf Ivo Pereira
AZIMUTE <strong>195</strong> - 37<br />
Introdução<br />
Nas Unidades de Escalão Batalhão (UEB) o Apoio de Combate<br />
constitui-se como parte fundamental para influenciar decisivamente<br />
a condução das operações permitindo ao comandante<br />
de batalhão uma maior capacidade respeitante aos fogos indiretos,<br />
anticarro (ACar), vigilância e reconhecimento. Para que o Potencial<br />
de Combate da UEB seja o maior possível é necessário uma sinergia<br />
entre o Apoio de Combate e as Unidades de manobra para o<br />
melhor cumprimento das tarefas tácticas. Dos vários factores que<br />
potencializam essa sinergia destaca-se a necessidade de estabelecer<br />
comunicações em tempo real e numa rede digital integrada<br />
permitindo uma coordenação de apoio de fogos entre as várias<br />
componentes. O apoio de fogos de uma UEB tem de ser capaz<br />
quer de acompanhar o movimento das Unidades de manobra, assim<br />
como ter alcances que permitam um apoio eficaz.<br />
Conceito de Referência<br />
No 1ºBI o quadro orgânico aprovado (QO24.0.11) é constituído<br />
por um Estado-Maior, uma Companhia de Comando e Serviços<br />
(CCS), três Companhias de Manobra e uma Companhia de Apoio<br />
de Combate (CAC). Sendo este Batalhão equipado com VBR PAN-<br />
DUR II as companhias de manobra dispõem de uma secção<br />
Canhão equipada com PANDUR IFV 30MM, prestando<br />
apoio de fogos ACar à Companhia, não existindo o<br />
tradicional pelotão de Apoio com morteiros nem<br />
misseis ACar. Esta é uma das principais diferenças<br />
para os Batalhões de<br />
referência em<br />
que o Apoio de Combate está centralizado ao nível de Batalhão<br />
na sua CAC.<br />
A CAC tem na sua constituição um pelotão de Reconhecimento<br />
(PelRec) com o Comando com duas secções de reconhecimento<br />
e uma secção Canhão com PANDUR IFV 30MM, um pelotão<br />
Anticarro (PelACar) com duas secções ACar equipadas com<br />
armas ACar pesadas, um pelotão de Morteiros Pesados (PelMortP)<br />
com Comando e quatro secções de morteiros pesados com oito<br />
armas, uma Secção de Vigilância do Campo de Batalha (SecVCB)<br />
com quatro radares e uma Secção UAV com quatro UAV,<br />
O Apoio de Combate deve ser uma das preocupações de<br />
emprego para o Comandante de Batalhão. Os olhos e ouvidos do<br />
comandante de Batalhão são constituídos pelo PelRec, SecVCB e<br />
Secção Mini UAV, que desempenham um papel fundamental na<br />
pesquisa e recolha de informação, a nível da constituição e dispositivo<br />
do inimigo/ forças opositoras, terreno, efeitos das condições<br />
meteorológicas no terreno e respectivas consequências para a manobra.<br />
O PelRec tem na sua génese missões de reconhecimento<br />
de área, de zona e de itinerários, pode desenvolver ainda missões<br />
de segurança que se repartem em vigilância móvel, fixa ou contra<br />
reconhecimento e segurança de área. As missões de segurança permitem<br />
observar o campo de batalha para alertar atempadamente<br />
o Batalhão, evitando a observação e ataques surpresa por parte do<br />
inimigo/força opositoras, este alerta prévio permite ao Batalhão ganhar<br />
tempo para manobrar, posicionar e concentrar o potencial de<br />
Combate numa po-<br />
sição dominante. A SecVCB e<br />
Secção mini-UAV desempenham
38 - Temas Gerais<br />
um papel fundamental neste ponto porque no QO o PelRec tem<br />
disponível apenas quatro viaturas e a SecVCB nas missões de vigilância<br />
e os UAV alargam as capacidades do Batalhão neste ponto.<br />
A missão principal do PelACar é destruir as viaturas blindadas<br />
do Inimigo, tais como Carros de Combate, Viaturas de Combate de<br />
Engenharia, Viaturas de Combate de Infantaria e Viaturas Blindadas<br />
de Transporte de Pessoal. Tem como missões secundárias bater outras<br />
viaturas, armas colectivas, posições fortificadas e outros objectivos<br />
pontuais. O PelACar pode ser empregue em Acão de Conjunta<br />
(A/C), Apoio directo (A/D) e Reforço. Na A/C, o PelACar está sob o<br />
controlo do Comandante de Batalhão (Cmdt Bat) apoiando o Batalhão<br />
como um todo de forma a responder aos pedidos das Companhias.<br />
No A/D o Cmdt Bat tem comando sobre o PelACar, dispondo<br />
as respectivas Secções AntiCarro (SecACar) de forma a darem<br />
apoio a uma das Unidades de manobra. O Reforço neste caso não<br />
deve ser considerado uma missão táctica mas uma relação de comando<br />
em que as SecACar ficam sob o controlo da Unidade a que<br />
foram atribuídas de reforço, que é responsável pelo seu emprego. Na<br />
articulação o PelACar ou parte dele deve ser mantido em A/C sob<br />
controlo do Cmdt Bat, normalmente, o Cmdt Bat atribui a SecACar<br />
às CAt/SubAgr o que facilita a integração dos fogos ACar mas não<br />
deve atribuir armas isoladas por forma a assegurar o apoio mútuo<br />
(sobreposição de sectores), no mínimo uma SecACar (duas armas).<br />
O PelMortP tem como finalidade primária proporcionar o<br />
apoio de fogos imediato e contínuo à manobra das Unidades de<br />
escalão Companhia e Batalhão, complementando e reforçando os<br />
fogos directos destas Unidades. O PelMortP pode ser empregue em<br />
A/C em que o PelMortP está posicionado de forma a conseguir<br />
apoiar todas as Unidades de manobra em 1º escalão. Outra forma<br />
de emprego é em A/D, missão em que uma Unidade de Morteiros<br />
apoia directamente uma Unidade de manobra, respondendo aos<br />
pedidos de tiro efectuados pela Unidade de manobra. E por fim o<br />
Reforço, missão atribuída quando o Cmdt Bat pretende que uma<br />
Unidade de Morteiros, no todo ou em parte, seja capaz de bater<br />
Objetivos (Obj) Planeados por outra Unidade de Morteiros com as<br />
mesmas características. Pode ainda existir a possibilidade de Acção<br />
de Conjunto/Reforço que acontece quando uma Unidade está em<br />
A/C, tendo adicionalmente a missão de reforçar com fogos outras<br />
Unidades não orgânicas, a fim de aumentar o volume de fogos a<br />
essas Unidades. O comandante de Batalhão tem assim a possibilidade<br />
de aplicar o PelMortP, como um todo, dividido ao meio ou<br />
por secção. Como um todo o pelotão ocupa uma só posição de<br />
tiro existindo maior comando e controlo mas a vulnerabilidade aumenta<br />
devido à concentração. Com o PelMortP dividido ao meio,<br />
cada duas secções funcionam como um elemento de tiro colocando<br />
as armas posicionadas de modo a fazer fogo na área de<br />
responsabilidade da unidade de manobra apoiada com respectivo<br />
Posto Controlo de Tiro (PCT), este método de emprego é utilizado<br />
quando a área de Obj é muito extensa e por isso o Pelotão não tem<br />
capacidade de cobrir toda a área de um única posição de tiro. Na<br />
aplicação do Pelotão por secções como unidades de tiro separadas,<br />
em que cada uma apoia uma Unidade de manobra, é menos desejável<br />
podendo surgir em situações de apoio a forças de segurança,<br />
na defesa de frentes muito extensas, no apoio a patrulhas ou apoio<br />
ELDC. Um elemento do PCT deve acompanhar a secção isolada. O<br />
comandante de Batalhão dispõe destas possibilidades de emprego<br />
táctico do Apoio de Combate devendo fazer um estudo aprofundado<br />
das modalidades de acção (m/a) do inimigo/força opositoras para<br />
assim escolher a melhor forma de o aplicar.<br />
Situação Actual<br />
A situação actual do 1º Batalhão de Infantaria (1º BI) é diretamente<br />
influenciada pelo processo de implementação do projecto<br />
PANDUR. A CAC é a Companhia mais afetada pelo cancelamento<br />
da recepção de alguns meios. O 1º BI tem levantado uma CCS em<br />
todas as suas valências, duas Companhias de Atiradores (1ªCAt e<br />
2ªCAt) com três pelotões e Secção Canhão, a 3ªCAt encontra-se<br />
com um levantamento de 5% (Viaturas). A Companhia de Apoio de<br />
Combate tem o pelotão de Reconhecimento, o pelotão Anticarro, o<br />
pelotão de Morteiros Pesados e uma SecVCB.<br />
Na CAC, do QO previsto, só o PelRec tem todas a viaturas<br />
orgânicas, mas não recebeu os o Sistema de Míssil ACar de Médio<br />
Alcance (x2) para equipar a SecCanhão e Comando, nem o Sistema<br />
de Míssil ACar de Curto Alcance (x2) para equipar as secções de<br />
reconhecimento. Os restantes pelotões encontram-se a utilizar o<br />
material referente à orgânica antiga da Brigada Ligeira de Intervenção<br />
em viaturas e armamento, nomeadamente o morteiro Pesado<br />
Tampella Tipo B rebocado em viaturas IVECO 40.10 e o míssil Anticarro<br />
MILAN. A SecVCB tem dois radares transportados em viaturas<br />
de ¼ tonelada.<br />
O PelMortP e PelACar encontram-se neste momento a<br />
treinar as suas TTP com o morteiro Tampella tipo B rebocado e o<br />
míssil MILAN, soluções encaradas como temporárias para manter as<br />
capacidades dos pelotões activas. Comparativamente verificam-se<br />
algumas diferenças, parte delas com impacto substancial no Potencial<br />
de Combate.<br />
O PelACar está equipado com o Sistema Lança Misseis<br />
MILAN e com as viatura ligeira UMM COURNIL com montagem<br />
veicular. É um míssil ligeiro com um alcance máximo de 2 km, um<br />
tempo de voo de 12 a 13 segundos, é filo-guiado, com uma guarnição<br />
treinada tem uma cadência de tiro de 2 a 3 tiros por minuto<br />
sendo capaz de penetrar numa blindagem até 850 mm. Para equipar<br />
organicamente o PelACar com PANDUR estava previsto um míssil<br />
pesado filo-guiado como o TOW 2 ITAS com o alcance de 3,75 quilómetros,<br />
um tempo de voo de 16 a 21 segundos com uma cadência<br />
de tiro de 2 a 3 tiros por minuto e uma penetração em blindagens<br />
reactivas. O material utilizado neste momento para treino não consegue<br />
acompanhar de forma eficaz a velocidade de progressão de<br />
uma força equipada com PANDUR e os seus alcances são curtos<br />
para prestar um apoio eficaz às mais longas distâncias. Para maior<br />
interoperabilidade e capacidade de fogo a solução seria a aquisição<br />
de viaturas porta-morteiros e ACar da família PANDUR ou com as<br />
mesmas capacidades para colmatar estas falhas.
AZIMUTE <strong>195</strong> - 39<br />
Comparação de alcances do morteiro CARDOM e Tampella Tipo B<br />
6500 m<br />
9000 m<br />
Cardom<br />
Tampella tipo B<br />
O PelMortP, se equipado com o sistema de armas previsto,<br />
receberia o Morteiro Pesado 120 mm CARDOM montado em viatura<br />
em que o controlo e operação é feita de forma automática ou<br />
então manual caso haja necessidade ou falha do sistema. Este morteiro<br />
tem disponível para controlo de fogo o Mortar Fire Control Sytems<br />
(MFCS) e capacidade de Multiple Round Simultaneous Impact<br />
(MRSI), um alcance que pode ir até aos 9 quilómetros, uma cadência<br />
de tiro até 16 granadas por minuto e uma capacidade de entrada em<br />
posição a fazer o primeiro tiro de uns impressionantes 30 segundos.<br />
Capacidades que contrastam com as do morteiro Tampella Tipo B<br />
rebocado em que a seu controlo e operação é manual, com um<br />
alcance de 6,5 km, uma cadência de tiro entre 6 a 8 granadas por<br />
minuto. Este salto de capacidades aumentaria a eficácia e letalidade<br />
do PelMortP caso se tivesse adquirido este morteiro, potencializando<br />
o seu uso de forma centralizada.<br />
Desafios<br />
Vários desafios se colocaram ou ainda se afiguram no futuro<br />
do 1º BI, um desses desafios foi a regeneração e manutenção<br />
das capacidades do Batalhão após um prolongado ciclo de empenhamento<br />
operacional que começou com o aprontamento para o<br />
Battle Group (EU/BG) da União Europeia seguindo-se o aprontamento<br />
e projeção do Batalhão para o Teatro de Operações do Kosovo<br />
em Março de 2012, terminando este ciclo em Setembro de 2012.<br />
Com o EU/BG, a Companhia de Apoio de Combate tinha origem<br />
no Grupo de Auto Metralhadoras (GAM) do RC6 e depois com a<br />
projeção para o Kosovo a CAC do 1º BI ficou sem meios humanos<br />
para manter as capacidades ativas do Apoio de Combate. Em Outubro<br />
de 2012 o 1º BI entrou no processo de regeneração das suas<br />
capacidades em que se realizou o levantamento das valências da<br />
CAC que estavam inactivas bem como a restruturação das CAt. A<br />
manutenção da capacidade de Apoio de Combate é considerada<br />
fundamental para manter a coerência do treino do 1º BI.<br />
Outro dos desafios que se coloca é relativo ao processo<br />
genético em que a não implementação do Projecto PANDUR na<br />
sua totalidade e com a descontinuidade das viaturas do Apoio de<br />
Combate retira coerência ao sistema PANDUR e as capacidades<br />
modulares fundamentais para um sistema funcional capaz de prestar<br />
um Apoio de Combate eficaz à manobra do Batalhão. Esta descontinuidade<br />
carece de uma resolução breve e eficaz tendo em<br />
mente que a interoperabilidade dos sistemas a adquirir deve ser garantida<br />
bem como a capacidade modular, que é fundamental para<br />
ter a flexibilidade do Apoio de Combate e a mobilidade. O cancelamento<br />
das PANDUR MGS e o impacto na articulação com misseis<br />
em Agrupamentos ou Subagrupamentos que poderia aumentar as<br />
capacidades ACar.<br />
A dicotomia entre o Apoio de Combate centralizado e<br />
Apoio de Combate descentralizado é merecedor de uma reflecção<br />
cuidada sobre as vantagens e desvantagens das diferentes modalidades<br />
para que a decisão por uma das modalidades seja feita de<br />
forma consciente e eficaz, não impedindo que a escolha de uma<br />
invalide a outra ou que não possam ser usadas em simultâneo. No<br />
PelACar e no PelMortP as vantagens de serem utilizados de forma<br />
centralizada são a simplificação da massificação dos fogos, maior
40 - Temas Gerais<br />
capacidade de resposta ao Cmdt Bat, comando e controlo simplificado,<br />
procedimentos logísticos simplificados, PCT único (PelMortP),<br />
e uma maior segurança contra ataques. Por outro lado as desvantagens<br />
desta modalidade são a maior vulnerabilidade contra fogos de<br />
contra bateria (PelMortP) e a ocupação de posição que fica limitada<br />
pelo terreno disponível.<br />
Na modalidade descentralizada as vantagens são a cobertura<br />
de uma área superior pela dispersão das armas, menor vulnerabilidade<br />
contra fogos de contra bateria (PelMortP) e a ocupação<br />
de posições para as armas menos limitada pelo terreno. Quanto às<br />
desvantagens encontramos uma lista maior do que na modalidade<br />
centralizada destacando-se que as dificuldades de Comando e<br />
Controlo aumentam, existe mais dificuldade de massificação dos<br />
fogos, os procedimentos logísticos ficam mais dificultados, existe<br />
necessidade de mais de um PCT (PelMortP), os efeitos dos fogos<br />
nos Obj são diminutos e existe uma maior vulnerabilidade a ataques<br />
terrestres.<br />
Relativamente ao PelACar, o melhor emprego dos meios<br />
ACar do Batalhão dependerá da análise aprofundada de cada situação<br />
particular, mas a manutenção do PelACar como um todo<br />
garante uma resposta mais eficaz ao CmdtBat para poder fazer<br />
face a ameaça ACar. A descentralização destes meios parece-se<br />
justificar-se para reforçar uma Unidade que actue de forma isolada<br />
no terreno que necessite dessa valência para cumprir a missão (Ex:<br />
reforçar o PelRec com uma SecACar para lhe dar maior capacidade<br />
ACar). O PelAcar só tem duas SecACar, sendo limitada a sua descentralização,<br />
podendo o Cmdt Bat ficar sem meios ACar disponíveis<br />
caso atribua de reforço as SecACar às Unidades de manobra.<br />
O PelMortP com os dois PCT poderá ser dividido ao meio,<br />
em que duas secções com um PCT são atribuídas em A/D a uma<br />
Unidade de manobra, ficando as outras duas secções com um PCT<br />
em A/C centralizadas no Batalhão. Se a opção for atribuir as duas<br />
secções a duas Unidades de manobra em A/D o Cmdt Bat fica sem<br />
fogos indirectos sob o seu controle.<br />
Os meios de reconhecimento e vigilância a nível do Apoio<br />
de Combate na sua articulação podem ser empregues de duas formas.<br />
Fruto da orgânica o PelRec tem à sua disposição duas PANDUR<br />
IFV 30 MM e duas PANDUR ICV sendo por vezes estes meios insuficientes<br />
para cobrir toda uma necessidade de pesquisa por parte<br />
do Batalhão e com os meios de radar da SecVCB e os meios UAV,<br />
combinados ou atribuídos de reforço ao PelRec irá aumentar substancialmente<br />
a capacidade de pesquisa do Batalhão. Os meios rada-
AZIMUTE <strong>195</strong> - 41<br />
res utilizados para vigias e monitorizações permitem com os quatro<br />
radares cobrir uma vasta área e com os meios UAV completar ou<br />
aumentar as capacidades de um PelRec. Podemos assim atribuir de<br />
reforço ao PelRec a SecVCB e MiniUAV como um todo ou por<br />
esquadras conforme a missão a desempenhar. Outra possibilidade<br />
é manter as Unidades separadas na sua actuação mas fazendo um<br />
plano de integrado, que permita aplicar os três sistemas de pesquisa<br />
de forma complementar, usando as suas especificidades e capacidades<br />
para as missões onde se consiga tirar o máximo de partido<br />
dessas capacidades. Estas são as duas formas de articular os meios<br />
de reconhecimento e vigilância de forma mais eficaz.<br />
Considerações Finais<br />
Com a criação da BrigInt e com os novos QO feitos para<br />
receber as viaturas PANDUR assistiu-se a uma transformação não só<br />
nas unidades de manobra com a extinção do pelotão de Apoio bem<br />
como a restruturação do Apoio de Combate que obrigaram a uma<br />
restruturação das unidades constituintes para receber essa nova realidade.<br />
A perda dessas valências nas unidades de manobra obriga a<br />
olharmos para o Apoio de Combate de uma forma diferente do antecedente.<br />
Juntando a isto o não completamento do programa PAN-<br />
DUR na sua totalidade, obriga-nos a encontrar soluções de treino<br />
para mantermos as capacidades, mas é fundamental encontrar uma<br />
solução para o reequipar dos PelACar e PelMortP e assim assegurar<br />
o sucesso total da plataforma PANDUR em todas as suas valências.<br />
Será necessário reequacionar a atribuição de meios de<br />
Apoio de Combate às Companhias<br />
A articulação dos meios de Apoio de Combate presente<br />
na CAC está adequada É necessário uma rearticulação da CAC<br />
Referências bibliográficas:<br />
· Escola Pratica de Infantaria, 2001, Manual do Batalhão de Infantaria, <strong>Exército</strong><br />
Português<br />
· Escola Pratica de Infantaria, Manual do Curso de Instrutores de SLM MILAN,<br />
<strong>Exército</strong> Português<br />
· <strong>Exército</strong> Português, 2011, PDE 3-47-17 Morteiros, <strong>Exército</strong> Português<br />
· <strong>Exército</strong> Português, Manual do Operador TM 10 PANDUR II ICV, <strong>Exército</strong> Português<br />
· <strong>Exército</strong> Português, Manual do Operador TM 10 PANDUR II IFV, <strong>Exército</strong> Português<br />
· QO do 1BI (24.0.11)<br />
· Elbit System Land, SOLTOM CARDOM, Acedido em 05 Junho 2013, em: www.<br />
elbitsystems.com/landc4i<br />
· Rafael, Spike family, Acedido em 06 Junho de 2013, em: http://www.rafael.co.il/<br />
marketing/SIP_STORAGE/FILES/3/923.pdf<br />
· Tube-Launched,Optically-Tracked,Wire-Guide(TOW) Missiles, Acedido em<br />
05Junho 2013, em: http://www.fas.org/man/dod-101/sys/land/wsh2013/312.pdf
42 - Temas Gerais<br />
O emprego dos morteiros orgânicos no<br />
apoio às missões táticas dos Batalhões de<br />
Infantaria Paraquedista.<br />
Possíveis tendências de evolução.<br />
Maj Inf Vitor Fernandes<br />
A landing against organized and highly trained opposition is probably the most difficult undertaking<br />
which military forces are called upon to face.<br />
General of the Army George C. Marshall, 1943
AZIMUTE <strong>195</strong> - 43<br />
Finalidade<br />
Com este artigo pretende-se presentar o apoio de fogos<br />
indiretos nos Batalhões de Infantaria Paraquedistas (BIParas) e contribuir<br />
para o debate sobre o emprego dos morteiros nas Companhias<br />
e Batalhões de Infantaria na conflitualidade atual.<br />
Conceito Operacional<br />
O ambiente operacional é uma combinação de condições,<br />
circunstancias e influencias que afetam as decisões táticas e o emprego<br />
dos morteiros. Inclui as forças amigas, a força opositora e as<br />
forças neutrais bem como a compreensão da envolvente física, o<br />
governo, a tecnologia, os recursos locais, a cultura e a população<br />
onde se desenvolve a operação.<br />
O conceito operacional do <strong>Exército</strong> visa a condução de<br />
operações em todo o espetro do conflito. A execução de operações<br />
em todo o espetro exige a capacidade para combinar, de<br />
forma simultânea, todo o tipo de operações ofensivas, defensivas, de<br />
estabilização e de apoio civil. Para garantir a capacidade expedicionária,<br />
as forças terrestres devem dispor de um conjunto de forças<br />
equipadas e treinadas para que, dentro dos prazos estabelecidos,<br />
possam ser projetadas para fazer face aos compromissos assumidos<br />
e também a situações imprevistas. A Brigada de Reação Rápida<br />
(BrigRR) pode ser empenhada em todo o espectro de missões e<br />
cenários que requeiram forças ligeiras, incluindo o empenhamento<br />
contra ameaças assimétricas ou o combate ao terrorismo; deverá<br />
estar apta a constituir a base de um Battlegroup, integrar uma NATO<br />
Response Force (NRF), ou em situações excecionais, ser empenhada<br />
de forma autónoma. A BrigRR é a grande unidade do Sistema de<br />
Forças Nacional (SFN) que garante ao <strong>Exército</strong> a Capacidade de<br />
Reação Rápida. A maior probabilidade de emprego da BrigRR será<br />
em missões no âmbito das crisis response operations (CRO), noncombatant<br />
evacuation operation (NEO), Cooperação Técnico-Militar<br />
(CTM) e em Outras Missões de Interesse Publico (OMIP). Considerando<br />
ainda a forma de atuação desta Brigada, podemos inferir<br />
que a participação da BrigRR nesta tipologia de missões será previsivelmente<br />
através de forças de escalão Batalhão ou Companhia, tal<br />
como tem vindo a acontecer desde 1996, embora tal não signifique<br />
que não possa ser empenhada como um todo neste ou noutro tipo<br />
de operações.<br />
O BIPara<br />
O 1º Batalhão de Infantaria Paraquedista tem como missão,<br />
“prepara-se para conduzir operações de combate convencionais<br />
em áreas sensíveis ou negadas, através de operações de assalto aéreo<br />
por salto em paraquedas ou desembarque de assalto. Quando<br />
reforçado com meios de apoio adicionais, executa todo o espectro<br />
de missões atribuíveis a um Batalhão de Infantaria. À ordem, conduz<br />
tarefas no âmbito das Missões de Interesse Público”. O 1BIPara, alternadamente<br />
com o 2BIPara, assumem a missão de Componente Terrestre<br />
da Força de Reação Imediata (LCC/FRI) por períodos de um<br />
ano. Enquanto núcleo inicial da LCC/FRI, O 1BIPara “prepara-se para,<br />
no prazo de 5 dias, ser projetado para participar em operações de<br />
evacuação de cidadãos nacionais em áreas de tenção ou crise, em<br />
missões decorrentes de acidente grave, catástrofe ou calamidade<br />
em TN e em missões de apoio a assistência humanitária no Espaço<br />
Estratégico de Interesse Nacional (EEIN)”.<br />
Através do despacho de 02DEC09 do SEXA GEN CEME foi<br />
aprovado o atual quadro Orgânico do 1BIPara (QO 24.0.21) e através<br />
do despacho de 07NOV11 do SEXA GEN CEME foi extinta a Secção<br />
de Manutenção do Batalhão. O 1BIPara é constituído por um<br />
Comando e respetivo Estado-Maior, uma Companhia de Comando<br />
e Apoio, agregando as valências das extintas Companhias de Comando<br />
e Serviços e da Companhia de Apoio de Combate, e três<br />
Companhias de Paraquedistas.
44 - Temas Gerais<br />
Está preparado para conduzir toda a tipologia de operações<br />
no âmbito da Infantaria em todo o espectro de operações militares,<br />
nomeadamente:<br />
••<br />
Conduzir operações de assalto aéreo através de salto<br />
tático em para-quedas (desembarque aéreo) ou aterragem<br />
de assalto, em todo o tipo de conflito, qualquer tipo<br />
de terreno e condições meteorológicas, explorando a<br />
mobilidade estratégica e velocidade de reação;<br />
••<br />
Conduzir ações apeadas e/ou montadas de alta agressividade,<br />
através da concentração de potencial contra<br />
forças blindadas, mecanizadas ou apeadas com meios<br />
de fogos diretos e indiretos;<br />
••<br />
Conquistar e manter a posse de terreno importante e<br />
pontos sensíveis e preparar posições defensivas para<br />
garantir a sua defesa, normalmente até à junção com<br />
outras forças terrestres;<br />
••<br />
Reforçar forças cercadas ou apoiar a operação de rutura<br />
de cerco;<br />
••<br />
Conduzir Operações de aquisição de informações;<br />
••<br />
Conduzir Golpes de Mão a Postos de Comando, Bases<br />
de Fogos, Linhas de Comunicações ou instalações Administrativa-logísticas;<br />
••<br />
Conduzir ataques na retaguarda de posições inimigas ou<br />
impedir o empenhamento de reservas;<br />
••<br />
Conduzir operações de resposta a crises (CRO);<br />
••<br />
Participar em operações de combate ao terrorismo e<br />
outras ameaças assimétricas;<br />
••<br />
Participar nas diferentes fases de empenhamento dos<br />
Planos do <strong>Exército</strong> no âmbito das Outras Missões de<br />
Interesse Público (OMIP) e em projetos de cooperação<br />
técnico-militar.<br />
Apoio de fogos nos BIParas<br />
No âmbito da atuação, missões e tarefas das unidades de<br />
Tropas Especiais, as Forças Paraquedistas são forças de infantaria<br />
ligeira, vocacionadas para as operações convencionais, caraterizando-se<br />
pela concentração de potencial de combate, rapidez na<br />
ação e flexibilidade, dotadas de capacidade de inserção no Teatro<br />
de Operações (TO) através de salto em paraquedas. As operações<br />
aerotransportadas são as operações por “excelência” dos BIParas,<br />
constituindo-se estes como o escalão preferencial de emprego das<br />
Forças Paraquedistas. Estas são o tipo de operações para as quais<br />
estão primariamente vocacionados e nas quais se consegue rentabilizar<br />
plenamente as suas capacidades e potencial de combate.<br />
Dependentes do meio aéreo para o seu transporte, apoio<br />
de combate e apoio logístico, as forças de uma operação<br />
aerotransportada são sempre empregues num quadro Conjunto.<br />
Este aspeto constitui a característica fundamental de<br />
toda a operação.<br />
Apesar de ser possível realizar lançamentos de<br />
âmbito limitado sem superioridade aérea, as unidades aerotransportadas<br />
são altamente vulneráveis durante o deslocamento<br />
para as zonas de lançamento. Por essa razão, as<br />
defesas aéreas inimigas devem ser suprimidas ou neutralizadas<br />
durante o período dos lançamentos das unidades.<br />
As Operações Aerotransportadas necessitam de<br />
superioridade aérea local, logo o apoio aéreo para a<br />
projeção da força é fundamental.<br />
Após a chegada da força ao<br />
terreno, o Batalhão dispõe inicialmente<br />
dos seus morteiros orgânicos<br />
(60 mm e 81 mm) e posteriormente<br />
de fogos de artilharia e fogos navais.<br />
Durante o assalto aerotransportado o<br />
espaço aéreo sobre a Zona de Lançamento<br />
(ZL) é utilizado por um volume<br />
significativo de aeronaves tornando<br />
crítica a gestão do espaço aéreo.<br />
A componente aérea é o principal meio<br />
de emprego de fogos da primeira parte das<br />
operações terrestres. O emprego de fogos<br />
de artilharia naval, se estiver disponível, pode<br />
também vir a ser utilizado. A artilharia e os<br />
morteiros orgânicos só estão, normalmente,<br />
disponíveis algum tempo depois do início<br />
do assalto. O planeamento e a coordenação<br />
do emprego de fogos durante o<br />
deslocamento aéreo e nos fogos de<br />
preparação para o assalto são da responsabilidade<br />
da força conjunta que<br />
planeia os fogos de supressão das<br />
defesas aéreas inimigas (SEAD) ao<br />
longo da rota de voo e na área do<br />
objetivo. Uma vez em terra, as posições amigas terão provavelmente<br />
sido referenciadas. O oficial de apoio de fogos das<br />
forças aerotransportadas garante que os bombardeamentos aéreos<br />
de preparação são planeados para posições inimigas na área do<br />
objetivo.<br />
À chegada do escalão de assalto, o emprego de artilharia<br />
na cabeça-de-ponte aérea é limitado. Consequentemente, o maior<br />
volume de fogos é fornecido pelo apoio aéreo, morteiros orgânicos<br />
ou pelos fogos navais se disponíveis.<br />
O apoio aéreo tático, morteiros e alguma artilharia, poderão<br />
ser os fogos disponíveis até estar concluída a reorganização. Os
AZIMUTE <strong>195</strong> - 45<br />
fogos navais, quando disponíveis e dentro do alcance, são de confiança,<br />
precisos, e proporcionam grande volume de fogos. Poderá<br />
estar também disponível a artilharia das forças com as quais se fará<br />
a junção.<br />
Após a reorganização do Batalhão, e para o cumprimento<br />
da tipologia de missão atribuída, o Cmdt dispõe primariamente dos<br />
seus fogos orgânicos, podendo ou não contar também com fogos<br />
de artilharia, navais e aéreos.<br />
O Pelotão de Morteiros garante ao Batalhão o mais eficaz<br />
apoio de fogos indiretos disponíveis. A sua missão é a de garantir<br />
um apoio de fogos contínuo e imediato às unidades de manobra.<br />
O Pelotão de Morteiros cumpre a sua missão, através de: Forçando<br />
as forças blindadas inimigas a fechar as suas escotilhas; Fazendo a<br />
supressão das unidades inimigas e cegando-as; Destruindo os atiradores<br />
inimigos desmontados; Fornecendo iluminação à noite; Destruindo<br />
ou suprimindo as defesas aéreas ou as armas anticarro do<br />
inimigo.
46 - Temas Gerais<br />
Quando o Pelotão não se divide, todos os morteiros respondem<br />
às missões de tiro em apoio de Batalhão como um todo.<br />
As Secções podem estar dispersas, por razões de segurança e para<br />
evitarem os fogos indiretos do inimigo. Quando o Pelotão se subdivide<br />
em dois núcleos, cada núcleo responde aos pedidos de tiro do(s)<br />
elemento(s) de manobra a quem foi dado em apoio. O emprego por<br />
núcleos pode também ser utilizado quando a zona de ação ou sector<br />
do Batalhão é demasiado extenso para que o Pelotão os possa<br />
cobrir a partir de uma única posição. Cada núcleo é colocado numa<br />
posição a partir da qual melhor possa colocar os seus fogos na área<br />
de responsabilidade da unidade apoiada.<br />
Como elemento orgânico, de apoio de fogos indiretos, do<br />
Batalhão, o Pelotão de Morteiros apoia todos os elementos de manobra<br />
do Batalhão (incluindo unidades em reforço e sob o controlo<br />
operacional). O Comandante de Batalhão normalmente atribui<br />
a prioridade de fogos, do Pelotão de Morteiros, a uma das suas<br />
Companhias. Isto permite ao Comandante de Batalhão ficar com<br />
um controlo centralizado, tornando o apoio de fogos a uma Companhia,<br />
mais eficaz.<br />
Dada a prioridade de fogos, o Pelotão deve posicionar-se<br />
por forma a garantir o apoio à unidade a quem foi dada essa prioridade.<br />
Os pedidos de tiro feitos pela unidade com prioridade de<br />
fogos são automaticamente satisfeitos. Quando é atribuída a prioridade<br />
a um objetivo, o Pelotão de Morteiros, entre cada missão, coloca<br />
as suas armas com os elementos de tiro necessários a garantir<br />
um apoio imediato.<br />
As três armas por secção das secções de morteiros ligeiros<br />
e as quatro armas do Pelotão de morteiros médios permitem garantir
AZIMUTE <strong>195</strong> - 47<br />
redundância e apoio à manobra por lanços, de acordo com a missão<br />
e tarefas a desempenhar.<br />
As secções de morteiros ligeiros das Companhias de Paraquedistas,<br />
atuando em proveito direto do Cmdt de Companhia, e o<br />
Pelotão de morteiros médios da Companhia de Comando e Apoio,<br />
atuando em proveito do BIPara como um todo, constituem-se como<br />
um meio orgânico fundamental de apoio de fogos indiretos aos comandantes<br />
das unidades de manobra. A sua elevada cadência de<br />
tiro aliada à sua capacidade única de bater ângulos mortos, resultado<br />
das altas trajetórias de tiro que pode conseguir, faz dos morteiros<br />
um elemento fundamental de apoio ao conceito de operação dos<br />
Cmdt das unidades de manobra.<br />
The mission of the mortar platoon is to provide close and<br />
immediate indirect fire support for the maneuver battalion and companies<br />
1 .<br />
Para os fogos de morteiros serem efetivos é fundamental a<br />
sua observação e regulação pelo que os Observadores Avançados<br />
(OAV) deverão estar devidamente treinados e integrados na manobra<br />
do Batalhão. Quando esta observação pelos OAV não seja<br />
possível por razoes de terreno ou distancia, deverá ser conseguida<br />
por outros meios disponíveis, nomeadamente por observação aérea,<br />
radar ou pelo som.<br />
O Pelotão de Morteiros Médios da Companhia de Comando<br />
e Apoio é constituído por um Comando de Pelotão e duas Secções<br />
de morteiros médios, tendo cada secção dois morteiros 81 mm<br />
1 FM-23-91, pag 1.
48 - Temas Gerais<br />
L16 A2, sendo a guarnição de cada arma constituída por 3 militares,<br />
por um Cabo apontador e 2 operadores de morteiro, municiador e<br />
remuniciador. Esta guarnição tem de transportar além do material<br />
individual de combate orgânico, o morteiro e respetivas munições<br />
(2/3 Days of Supply- (DOS)), consoante a missão.<br />
O Morteiro 81 mm L16 A2 é uma arma coletiva, de tiro curvo<br />
que pode ser utilizada na ofensiva e na defensiva para execução de<br />
barragens e destruição de abrigos e resistências que se revelem no<br />
decurso do ataque. Tirando partida da sua principal característica,<br />
a curvatura da sua trajetória, pode fazer tiro por cima das Nossas<br />
Tropas (NT) e bater facilmente os objetivos desenfiados ou situados<br />
em contraencosta que as armas de tiro tenso não podem atingir. O<br />
Morteiro 81 mm L16 A2, é uma arma portátil especialmente concebida<br />
para ser utilizada por forças que necessitam de grande mobilidade.<br />
As secções de morteiros ligeiros das Companhias de Paraquedistas<br />
são constituídas por um comando de secção e três esquadras<br />
de morteiros ligeiros, cada uma com um morteiro 60 mm<br />
Tampella C-06, sendo a guarnição de cada arma constituída por 3<br />
militares, por um Cabo apontador e 2 operadores de morteiro, municiador<br />
e remuniciador, tal como no morteiro 81 mm L16 A2 .<br />
O Morteiro 60 mm Tampella C-06 é uma arma coletiva de<br />
tiro curvo, que pode ser utilizada quer na ofensiva quer na defensiva,<br />
contra pessoal desabrigado e material ligeiro. O Morteiro 60 mm<br />
Tampella C-06 foi concebido para ser empregue em qualquer fase e<br />
tipo de combate terrestre, em qualquer tipo de terreno e condições<br />
meteorológicas. A leveza dos materiais, a facilidade de transporte,<br />
a rapidez da entrada em posição, simplicidade do manuseamento<br />
e a sua grande precisão, permite a esta arma alcançar um grande<br />
volume de apoio de fogos a pequenas unidades sem restringir a sua<br />
mobilidade. Este morteiro pode ser empregue por tropas de infantaria,<br />
tropas aerotransportadas bem com tropas mecanizadas quando<br />
montado em viaturas blindadas.<br />
O Morteiro 60 mm Tampella C-06 pode utilizar todo o<br />
tipo de granadas do Morteiro 60 mm M-64, em uso no <strong>Exército</strong><br />
Português, mantendo os alcances e raios de ação das mesmas (o<br />
alcance varia entre os 200 e 1800 m). Contudo, o Morteiro 60 mm<br />
Tampella C-06 obtém o seu alcance máximo de 4000 m, utilizando<br />
as granadas aprovadas pela empresa de fabrico da arma.<br />
O apoio de fogos em países aliados e amigos<br />
O <strong>Exército</strong> Inglês<br />
O <strong>Exército</strong> Inglês não tem morteiro 120 mm, apenas morteiro<br />
51 mm ou 60 mm e morteiro 81 mm. Pretendem manter o apoio<br />
de morteiros simples e dentro dos seus limites de Batalhão sem necessidade<br />
de integração; Garantir o apoio de fogos integral ao Batalhão,<br />
em alcance, flexibilidade, ritmo de tiro e letalidade, com granadas<br />
de fumos, Explosivas (HE) e iluminantes; Ser projetáveis com a<br />
força, ligados a outros apoios, e manter a capacidade de supressão<br />
de áreas objetivo e não bater objetivos pontuais; O Batalhão tem<br />
um Pelotão de morteiros com 3 armas por secção para garantir redundância<br />
e apoio à manobra por lanços. Os Paraquedistas apenas<br />
têm 2 Secções; Garantem 4 equipas de OAV, 1 por Companhia e 1 no<br />
Pelotão de Reconhecimento; Apostam no morteiro 81 mm L16 por<br />
ser eficaz, flexível, fiável e sustentável; Pretendem um morteiro projetável<br />
com a força, ligado a sensores, precisão, efeitos e mobilidade<br />
tática; Apostam nos sistemas automáticos de comando e controlo,<br />
de localização de objetivos e aparelhos de pontaria.<br />
O <strong>Exército</strong> Italiano<br />
No Exercito Italiano os morteiros são da Infantaria, exceto na<br />
Brigada Paraquedista e na Brigada de Montanha onde têm o morteiro<br />
120mm na Artilharia. Tinham morteiros 60 mm e 120 mm nos<br />
Batalhões; pretendem passar o morteiro 120 mm para a Artilharia;<br />
consideram critico o morteiro 60 mm nos pelotões (no Afeganistão<br />
50 % dos fogos de morteiro foram iluminantes); assumem o morteiro<br />
81 mm L16 como a arma mais adequada para a Infantaria e que é<br />
necessário computador balístico para o morteiro 81 mm L16, integrado<br />
no sistema de comando e controlo da Artilharia e do <strong>Exército</strong>;<br />
o Batalhão tem 3 Companhias de manobra e uma de apoio com o<br />
morteiro 120 mm (novo); as Companhias têm 3 Pelotões de manobra<br />
e um Pelotão de morteiros com o morteiro 81 mm L16; os Pelotões<br />
são a 3 Secções e uma Secção de apoio com morteiro 60 mm.<br />
O <strong>Exército</strong> Francês<br />
No Exercito Francês o morteiro 120 mm foi retirado para a<br />
Artilharia e têm nas Companhias o morteiro 81 mm (2 morteiros por<br />
Companhia). Têm o morteiro 120 mm no Regimento Paraquedista<br />
e de Montanha, que é rebocado por Jeep. Estes morteiros estão<br />
equipados com novos sistemas óticos.<br />
O <strong>Exército</strong> Dinamarquês<br />
Os Dinamarqueses tem Morteiro 120 mm na Artilharia, a Infantaria<br />
utiliza apenas o mort 60 mm.<br />
Tendências de evolução<br />
Portugal tem neste momento os Contingentes mais significativos<br />
nos Teatros do Kosovo e do Afeganistão, sendo que no Kosovo<br />
as Regras de Empenhamento (ROE) não permitem o uso de armas<br />
de tiro indireto. O moderno campo de batalha carateriza-se pelo<br />
ambiente urbano e pela sensibilidade a danos colaterais. Assim os<br />
desafios operacionais são a precisão, a capacidade de produção de<br />
objetivos e a autonomia a nível Pelotão.<br />
A QRF/FND/ISAF é uma Unidade de combate, com capacidade<br />
para efetuar missões adicionais, tais como, patrulhas de segurança,<br />
apoio a eventos governamentais e vigilância/reconhecimento<br />
de áreas urbanas. Sempre que solicitado, pode também executar<br />
missões de Force Protection a pessoal VIP. No âmbito da missão<br />
QRF/FND/ISAF, os Paraquedistas usavam nos pelotões 3 morteiretes<br />
60 mm com granadas iluminantes e HE. Próximo das bases operacionais<br />
avançadas (FOB), tinham apoio da artilharia instalada nestas<br />
e quando afastados das FOB usavam os morteiretes 60 mm como
AZIMUTE <strong>195</strong> - 49<br />
resposta imediata aos ataques e solicitavam Close Air Support (CAS),<br />
que estava disponível em permanência.<br />
A evolução dos sistemas de armas é uma realidade incontornavel<br />
e inadiavel. No referente a tendências e possibilidades,<br />
temos hoje:<br />
••<br />
Munições com mais alcance e precisão, raio de ação<br />
mais eficaz, com menos peso e ruido;<br />
••<br />
Sistemas automáticos de comando e controlo, de localização<br />
de objetivos e aparelhos de pontaria;<br />
••<br />
Novos sistemas óticos para os morteiros;<br />
••<br />
Estacas desmontáveis/articuladas e telas refletoras;<br />
••<br />
Munições de grande destruição e pequeno raio – menor<br />
risco de danos colaterais;<br />
••<br />
Sistemas de localização e designadores de objetivos;<br />
••<br />
Novos binóculos com telémetro e maior alcance;<br />
••<br />
Melhor Formação dos OAV.<br />
A combinação de morteiros de longo alcance com viaturas<br />
ligeiras e modernos sistemas de cálculo e controlo de tiro permitem<br />
incrementar significativamente a eficácia e a capacidade de resposta<br />
e diminuir os danos colaterais.<br />
Das considerações finais da FUTURE MORTAR SYSTEMS,<br />
conferência ocorrida em Londres em 30 e 31Out2012, com a presença<br />
de um significativo número de países europeus amigos e aliados,<br />
os EUA e o Canadá podemos inferir que relativamente aos morteiros<br />
a Infantaria pretende simplicidade e supressão de fogos com morteiros<br />
60 mm e 81 mm.<br />
Conclusões/propostas<br />
••<br />
A BrigRR é a grande unidade do SFN que garante ao<br />
<strong>Exército</strong> a Capacidade de Reação Rápida;<br />
••<br />
À chegada do escalão de assalto, o emprego de artilharia<br />
na cabeça-de-ponte aérea é limitado. Consequentemente,<br />
o maior volume de fogos é fornecido pelo apoio<br />
aéreo, morteiros orgânicos ou pelos fogos navais.<br />
••<br />
Os BIPara têm 4 morteiros 81 mm LR no Pelotão de<br />
morteiros da CCA e uma Secção de morteiros, com 3<br />
morteiros 60 mm Tampella, nas Companhias Paraquedistas;<br />
Face à tipologia de cenários previstos para o emprego da<br />
BrigRR, nomeadamente o dos seus Batalhões atuarem isolados, é<br />
necessário dotar a BrigRR de um meio de localização de armas de<br />
tiro indireto (morteiros) extremamente ligeiro, portátil (lançado em<br />
carga de porta) e que possa detetar os fogos inimigos em 360º.<br />
Paralelamente, a aquisição de radares de localização de armas<br />
do tipo Lightweight Counter Mortar Radar (LCMR) que possa<br />
acompanhar e fornecer o apoio às subunidades da BrigRR, bem<br />
como fornecer objetivos de contrabateria ao GAC/BrigRR.<br />
O M6C-210 Commando Mortar tem sido amplamente<br />
usado no Afeganistão, nomeadamente pelos ingleses. Este morteiro<br />
destina-se a destruir o inimigo em terreno aberto, em abrigos<br />
e trincheiras, bem como em terreno montanhoso. Esta arma tem<br />
reduzidas exigências táticas e logísticas:<br />
••<br />
Portátil por um soldado;<br />
••<br />
Alta capacidade de fogo e precisão;<br />
••<br />
De operação rápida e fácil;<br />
••<br />
Morteiro apropriado para missões especiais, especialmente<br />
apto para uso em terreno acidentado;<br />
••<br />
Todos os tipos de munições 60mm, podem ser disparadas<br />
desta arma.<br />
••<br />
As três armas por secção e as quatro armas no Pelotão<br />
permitem garantir redundância e apoio à manobra por<br />
lanços;<br />
••<br />
A capacidade de projeção com a força, a sua precisão<br />
e alcance e a sua simplicidade e portabilidade adequam<br />
estes morteiros a forças ligeiras;<br />
••<br />
À semelhança de outros países congéneres, deve ser<br />
equacionada a modernização dos sistemas de armas,<br />
aparelhos de pontaria e das respetivas munições, bem<br />
como a aquisição de novos morteiros 60 mm (morteirete)<br />
para os Pelotões, não contemplados no QO 24.0.21<br />
do 1BIPara de 02DEC2009.<br />
Referências<br />
• Lei Orgânica do <strong>Exército</strong>, aprovada pelo DL N.º 61, de 21de Março de 2006;<br />
• Plano de Médio e Longo Prazo do <strong>Exército</strong> 2007-2024;<br />
• Force proposals 2008 – Draft para o Infantry Airborne battalion;<br />
• PDE 3-00 Operações, de 30 de Abril de 2012;<br />
• PDE 3-05-00 - Operações Aerotransportadas, de 19 de Novembro de 2012;<br />
• PDE 3-47-17- Morteiros, de Janeiro 2011;<br />
• QO da BrigRR, aprovado em 08 de Julho de 2010;<br />
• Diretiva 01/BrigRR/12, Diretiva do Cmdt da BrigRR para 2012 e 2013;<br />
• QO 24.0.21 do 1BIPara de 02DEC2009;<br />
• Pára-quedista Handbook, do 1BIPara;<br />
• FM 7-90 -Tactical Employment of Mortars;<br />
• FM 23-90 - Mortars;<br />
• FM 23-91 – Mortar Gunnery;<br />
• Relatório Defense IQ Future Mortar Systems Conference, Londres 2012, do<br />
TCOR de Artilharia, António José Ruivo Grilo.
50 - Temas Gerais<br />
Apoio de Fogos da Capacidade de<br />
Reacção Rápida. Perspetiva Holística<br />
TCor Art António Grilo
AZIMUTE <strong>195</strong> - 51<br />
Introdução<br />
Este artigo pretende uma reflexão sobre o emprego do<br />
Apoio de Fogos (ApFg) dentro do contexto geral das forças terrestres<br />
e o seu conceito de emprego na Brigada de Reacção Rápida<br />
(BrigRR).<br />
Os atuais e futuros conflitos decorrem no seio da população<br />
e num espaço de batalha predominantemente urbano, não linear,<br />
multidimensional e com claras restrições relativamente à mobilidade<br />
tática e poder de fogo, como forma de limitar os danos colaterais na<br />
população e nas infraestruturas.<br />
As forças terrestres devem ser capazes de desenvolver<br />
operações em todo o espetro da conflitualidade, com uma organização<br />
flexível e modular, de forma a facilitar a constituição de<br />
unidades de acordo com a missão e a tipologia do conflito.<br />
Com impacto nas operações, estas decorrerão principalmente<br />
em terreno urbano, o conceito de crime de guerra terá as<br />
fronteiras mal definidas face à complexidade das operações, o ambiente<br />
será essencialmente internacional com diferentes coligações,<br />
parcerias e alianças e obrigará à interação com organizações não<br />
militares, pelo que os problemas de comando e controlo serão uma<br />
constante.<br />
Implicações sobre o emprego do Apoio de Fogos<br />
O ApFg deverá ter uma disponibilidade de 24 horas sobre 7<br />
dias da semana, garantindo grande precisão, oportunidade no ataque<br />
e capacidade para atacar alvos móveis, conseguir danos colaterais
52 - Temas Gerais<br />
mínimos e uma gradação de efeitos (letais e não letais), mantendo<br />
ainda a capacidade de executar fogos de massa.<br />
Colocam-se assim alguns desafios ao emprego do ApFg<br />
que devem ser considerados, nomeadamente:<br />
Danos colaterais<br />
Nos atuais e futuros conflitos existe um risco potencial que<br />
acontecimentos táticos possam ter implicações ao nível operacional,<br />
estratégico ou mesmo político 1 . Nesse sentido, os fogos letais<br />
terão de ser mais criteriosos, precisos e menos volumosos, de forma<br />
a diminuir os efeitos colaterais sobre a população e as infraestruturas.<br />
unidades de ApFg implicando um aumento dos alcances e capacidade<br />
de apoio em 360º.<br />
Tempo de resposta<br />
Os objetivos são mais fugazes, uma vez que a ameaça é<br />
maioritariamente constituída por forças móveis e de baixo escalão e<br />
atuando em áreas urbanas, ao que deve corresponder uma redução<br />
efetiva do tempo de resposta 2 .<br />
2 As FDI (Israel Defense Forces) tiveram muita dificuldade em atingir as rampas de lançadores<br />
Katiusha, uma vez que o Hezbollah a cada oito minutos disparava e reposicionava os lançadores<br />
a algumas centenas de metros, não dando o tempo necessário à aquisição e processamento dos<br />
objetivos. (Barroso 2007)<br />
Zonas de ação<br />
A não linearidade do espaço de batalha conduz à dispersão<br />
das unidades, o que provoca alterações da Zona de Ação (ZA) das<br />
1 Como por exemplo o aproveitamento que o Hezbollah fez dos danos colaterais provocados pela<br />
contrabateria Israelita na sua campanha no Líbano em 2006.
AZIMUTE <strong>195</strong> - 53<br />
Emprego coordenado de meios letais e meios não letais 3<br />
A ameaça é muitas vezes constituída por forças irregulares<br />
que procuram confundir-se com a população e obter o seu apoio,<br />
conduz a que, em coordenação com os meios letais se faça um<br />
emprego extensivo de meios não letais. Esta realidade exige novas<br />
competências à célula de coordenação de ApFg (a garantir pela<br />
Artilharia de Campanha (AC)).<br />
3 Apoio de fogos letais – são os fogos cujos efeitos diretos causam baixas no pessoal e danos<br />
físicos no material e instalações (AC, morteiros, fogos navais, apoio aéreo, etc.). Apoio de fogos não<br />
letais – inclui todos os meios, que não produzem baixas no inimigo e provocam danos reduzidos<br />
no seu material. Tais como: Guerra Eletrónica, CIMIC, Informação pública, e PSYOP. Os fogos não<br />
letais incluem ainda os fogos realizados pelas mesmas plataformas utilizadas nos fogos letais, mas<br />
que não têm efeitos letais, estando atualmente limitados aos fumos e à iluminação.<br />
Organização<br />
Uma observação atenta dos últimos conflitos, permite-nos<br />
verificar que existem diferentes níveis de conflito, exigindo a uma<br />
mesma força a capacidade de realizar em simultâneo diferentes tipos<br />
de operações (conceito de three block war), pelo que a organização<br />
das unidades de ApFg deve ser flexível de forma a permitir
54 - Temas Gerais<br />
o levantamento de módulos coerentes e autónomos adaptados às<br />
necessidades do Teatro de Operações (TO).<br />
Missões<br />
Apesar das unidades de ApFg continuarem, primariamente,<br />
a executar e integrar fogos, nas operações de estabilização podem<br />
ser chamadas a desempenhar outro tipo de missões, tais como<br />
transportes, segurança, apoio ao sistema de informações e apoio<br />
às operações CIMIC 4 , uma vez que nestas operações é expectável,<br />
de acordo com o princípio do emprego mínimo da força, uma diminuição<br />
do empenhamento dos meios de ApFg letais, existindo ocasionalmente<br />
momentos em que a intensidade das mesmas aumenta<br />
para operações de guerra 5 , onde o ApFg se torna fundamental para<br />
assegurar o apoio às forças.<br />
Interoperabilidade<br />
O caráter conjunto e combinado dos últimos conflitos exige<br />
particular atenção sobre as questões de interoperabilidade com as<br />
forças aliadas.<br />
Apoio de Fogos na BrigRR<br />
O Grupo de Artilharia de Campanha (GAC) da BrigRR é a<br />
unidade que garante a capacidade de ApFg de AC à BrigRR e a sua<br />
missão é “preparar-se para executar operações em todo o espectro<br />
das operações militares, no âmbito nacional ou internacional, de<br />
acordo com a sua natureza” 6 e constitui-se o meio terrestre de ApFg<br />
mais poderoso que o Comandante da BrigRR dispõe para influenciar<br />
o decurso do combate.<br />
Quanto à sua tipologia, insere-se nas funções de combate<br />
como unidade de ApFg de AC (Função de Fogos) e “garante o<br />
emprego de fogos indiretos de uma forma coletiva e coordenada<br />
através do processo de targeting. Inclui as tarefas associadas à integração<br />
e sincronização dos efeitos produzidos pelos fogos indiretos<br />
com os provocados pelas outras funções de combate” 7 .<br />
No que respeita à sua organização, é constituído por um<br />
Comando, um Estado-Maior, uma Bateria de Comando e Serviços,<br />
três Baterias de Bocas de Bogo (Btrbf) e uma Bateria de Morteiros<br />
Pesados (BtrMortPes). As Btrbf 8 estão equipadas com o sistema<br />
Obus Light Gun 105 mm e a BtrMortPes está equipada com<br />
o sistema Morteiro Pesado Tampella 120 mm. O Quadro Orgânico<br />
(QO) do GAC/BrigRR determina a existência de uma BtrMortPes e<br />
o conceito de emprego preconizado estabelece que este GAC “...<br />
pode ser empenhado fazendo uso dos Sistemas Obus 105 mm ou<br />
Morteiro Pesado conforme as necessidades de apoio específicas da<br />
BrigRR nas diversas tipologias de missão que lhe forem atribuídas”,<br />
sendo o pessoal desta Bateria, garantido em acumulação de funções<br />
com as Baterias de bocas de fogo (dupla valência).<br />
4 FM 3-09.42 de 22Fev06<br />
5 Tal como aconteceu em Fallujah II e Tal Afar e em muitas outras situações nas atuais campanhas<br />
do Iraque e Afeganistão (Brock 2006).<br />
6 QO 24.0.24 do GAC/BrigRR.<br />
7 PDE 3-00 Operações de 30Abr12.<br />
8 Apenas estão levantadas 2 Btrbf, de acordo com Nota <strong>nº</strong> 3519, Proc. 15.06.09 de 08Jun11 do<br />
CFT ‐ Níveis de Levantamento dos Elementos da Componente Operacional do Sistema de Forças<br />
a vigorar em 2011/2012.<br />
O pressuposto subjacente ao levantamento desta bateria foi<br />
a obtenção, em dupla valência, de maior mobilidade, flexibilidade de<br />
organização para o combate e capacidade de projeção, pelo facto<br />
de os materiais e equipamentos da BtrMortPes serem consideravelmente<br />
mais leves e menos volumosos que os materiais das Btrbf.<br />
Concretiza-se deste modo que as Baterias do Grupo operam<br />
os dois sistemas de armas mantendo a sua organização e procedimentos,<br />
adquirindo desta forma, o GAC maior versatilidade na<br />
capacidade de ApFg, com o Obus Light-Gun ou com o Morteiro<br />
Pesado, conforme as necessidades de apoio específicas da BrigRR.<br />
Conceitos e Requisitos<br />
A Brigada deve, entre outros, integrar uma subunidade de<br />
ApFg de escalão Grupo com caraterísticas aerotransportadas, de<br />
acordo com os requisitos OTAN para uma Brigada do tipo Aerotransportada.<br />
A utilização do GAC deve ser flexível, admitindo estruturas<br />
mais reduzidas e capazes no que diz respeito ao seu emprego<br />
como elemento fundamental de ApFg. O emprego descentralizado<br />
do GAC deve garantir a capacidade de ApFg proporcional às unidades<br />
de manobra de escalão Batalhão. As baterias dedicadas no ApFg<br />
complementar à Força/Tarefa, deverão possuir um núcleo de Estado-Maior<br />
(EM), bem como um núcleo administrativo-logístico constituídos<br />
caso a caso, no mesmo princípio de Forças/Tarefa, com<br />
base nas variáveis de missão do ambiente operacional/fatores de<br />
decisão, (missão, inimigo, terreno e condições meteorológicas, meios,<br />
tempo disponível e considerações de âmbito civil (MITM-TC)) 9 .<br />
Deve ter a capacidade de ser transportado por via aérea e a<br />
de ser lançado por paraquedas. Para que o GAC tenha a possibilidade<br />
de empregar os seus meios de ApFg na fase inicial de operações<br />
aerotransportadas, através de Btrbf a operar com obus ou morteiro,<br />
é necessário que o efetivo de uma Bateria tenha a qualificação paraquedista.<br />
Deste modo, o GAC estaria dotado da mesma capacidade<br />
de projeção da BrigRR e incrementaria substancialmente o ApFg da<br />
força-tarefa. De igual modo as Equipas de Apoio de Fogos (EAF) e<br />
as Equipas de Observadores Avançados devem ter a qualificação da<br />
subunidade que apoiam.<br />
O emprego isolado de uma Btrbf em apoio de um Batalhão<br />
obriga a descentralizar o comando e o controlo para que a Bateria<br />
possa efetuar coordenação direta com o Batalhão a apoiar. Para o<br />
efeito, deve ter capacidade para operar por escalões e deslocar-se<br />
por lanços sem perder a capacidade de continuar o apoio às operações,<br />
devendo o Centro de Operações da Bateria poder atuar como<br />
Posto Central de Tiro (PCT) em caso de descentralização.<br />
A utilização do Morteiro Pesado poderá permitir o apoio à<br />
Brigada conforme as suas necessidades de apoio específicas nas<br />
9 O ambiente operacional é diferente para cada campanha ou operação de grande envergadura<br />
e evolui no seu decurso. As forças terrestres usam as variáveis operacionais para entenderem o<br />
ambiente operacional e empregam as variáveis de missão para focalizar a análise em determinados<br />
elementos específicos que se aplicam à sua missão (PDE 3-00 Operações de 30Abr12 pg. 1-8 a<br />
1-13).
AZIMUTE <strong>195</strong> - 55<br />
diversas tipologias de missão que lhe forem atribuídas, logo na fase<br />
inicial das operações, sendo posteriormente e logo que a segurança<br />
da cabeça-de-ponte aérea esteja garantida, substituído o sistema<br />
morteiro por obus, ou no caso da projeção estratégica permitir uma<br />
economia significativa de espaço em situações, nomeadamente<br />
operações NEO, onde existam restrições nos meios aéreos disponíveis,<br />
de número de levas ou de cubicagem, para a realização da<br />
operação de modo a efetuar o ApFg necessário a partir da zona de<br />
aterragem.<br />
A integração de um computador de tiro, de um sistema de<br />
navegação inercial e de comunicações digitais seguras, permitem<br />
que uma boca-de-fogo se auto localize, envie as coordenadas ao<br />
PCT de Bateria, de Pelotão ou que funcione como uma Plataforma.<br />
Este conceito permite a adoção de diversas modalidades de ação<br />
essenciais ao conceito de ApFg do GAC da BrigRR. Uma Bateria<br />
poderá ocupar uma única zona de posições, zonas de posições de<br />
pelotão ou mesmo adotar outras modalidades de ação de acordo<br />
com as necessidades de ApFg que, poderá mesmo passar por uma<br />
única boca-de-fogo cumprir uma determinada missão.<br />
O GAC embora empregue munições sem guiamento, dispõe<br />
de equipamentos de cálculo automático do tiro e de tecnologia<br />
que lhe permite aumentar a precisão dos fogos, sendo que para o<br />
morteiro se tornar um sistema de armas verdadeiramente complementar<br />
ao obus, é essencial a aquisição de um sistema de calculo<br />
automático para morteiro para um ApFg coerente e consistente<br />
com o atual ambiente operacional.<br />
Considerações Finais<br />
••<br />
O Moderno Campo de Batalha caracteriza-se por um<br />
ambiente urbano e pela sensibilidade a danos colaterais,<br />
sendo que os desafios operacionais no Afeganistão<br />
passam por uma necessidade de elevada precisão, de<br />
uma capacidade contínua de produção de objetivos e a<br />
autonomia ao nível Pelotão.<br />
••<br />
Os fogos com Artilharia ou Morteiro são integrados no<br />
EM/GAC, onde o sistema automático de Comando e<br />
Controlo e a estrutura de Apoio de Fogos garantem a<br />
integração dos fogos na manobra.<br />
••<br />
Verifica-se um contra-ciclo nos Morteiros, se a Infantaria<br />
deseja rapidez, procedimentos simples e supressões de<br />
fogos com o Morteiro 81 mm, por seu lado a Artilharia<br />
deseja aumento da precisão e do alcance com Morteiro<br />
120 mm.<br />
••<br />
Os Batalhões estão a fugir aos Morteiros pesados, ficam-se<br />
pelo Morteiro 81 mm, sendo o Morteiro 120 mm<br />
atribuído à Artilharia. Quanto maior o alcance, maior a<br />
necessária precisão e efeitos controlados.<br />
••<br />
O objetivo para os Morteiros de 60 mm e 81 mm é o<br />
aumento da precisão e não do alcance, uma vez que<br />
trabalham nos limites dos Batalhões e o aumento do alcance<br />
é para sistemas Morteiro de 120 mm.<br />
••<br />
A qualificação básica dos nossos OAv e os equipamentos<br />
de localização só são adequados para supressões e<br />
não permitem a precisão ao primeiro tiro e aos longos<br />
alcances necessários à Artilharia. Urge melhor equipamento<br />
de observação e localização.<br />
••<br />
Os <strong>Exército</strong>s do Canadá, Alemanha, Itália, Holanda, Roménia,<br />
Suécia, França, Inglaterra (marines) e Dinamarca<br />
apresentam sistemas Morteiros na Artilharia, quer se<br />
apresentem nas unidades de reação rápida ou em dupla<br />
valência de apoio de fogos.<br />
••<br />
Em termos de organização das unidades de artilharia o<br />
GAC é a unidade fundamental. No entanto, a sua estrutura<br />
será modular e flexível por forma a adaptar-se às<br />
necessidades operacionais da missão. A tendência será<br />
para que incorpore baterias equipadas com diferentes<br />
materiais (bocas-de-fogo, foguetes, morteiros) e diferentes<br />
capacidades.<br />
••<br />
O conceito de Apoio de Fogos à Brigada está centrado<br />
na prontidão para o combate de acordo com a capacidade<br />
de prossecução da Missão da BrigRR, visando<br />
encarar os Morteiros no GAC como mais um sistema<br />
de armas da capacidade de apoio de fogos à Brigada,<br />
mantendo-se a missão de apoio e adquirindo maior flexibilidade<br />
conforme as necessidades de apoio específicas<br />
da Brigada de Reacção Rápida.<br />
••<br />
O Morteiro 120 mm integra-se num sistema de sistemas<br />
onde as prioridades neste momento se colocam na busca<br />
de precisão, pelo que a maioria dos países presentes<br />
na conferência apostam em equipamentos de cálculo,<br />
de pontarias e de localização. Procurando enquadrar<br />
esta prioridade, a melhoria da capacidade do sistema de<br />
armas 120 mm na BrigRR, deverá consubstanciar como<br />
1ª prioridade a aquisição de colimadores, aparelhos de<br />
pontaria oculares e computador balístico, como 2ª prioridade<br />
a aquisição de novos goniómetros-bussola e novos<br />
binóculos com telémetro e maior alcance, sistemas<br />
de localização (inerciais das armas e objetivos - Lightweight<br />
Counter Mortar Radar (LCMR)) e designadores<br />
de objetivos e como prioridade de longo prazo a aquisição<br />
de um novo Morteiro 120 mm estriado.
56 - Temas Gerais
AZIMUTE <strong>195</strong> - 57<br />
Cooperação<br />
Técnico‐Militar com<br />
Timor‐Leste<br />
Proj. n.º 4 - Centro de Instrução Militar<br />
TCor Inf Nelson Couto Gomes<br />
O projeto 4 de Cooperação Técnico-Militar Luso-Timorense, cuja Entidade Técnica Responsável é a EPI, possui como objetivo global<br />
apoiar o Centro de Instrução Comandante Nicolau Lobato. Este projeto encontra-se enquadrado pelo Acordo de Cooperação Técnico-Militar<br />
entre a República Portuguesa e a República Democrática de Timor-Leste assinado em Díli em 20 de Maio de 2002 e está definido pelo<br />
Programa-Quadro 2011-2013.<br />
O apoio ao Centro de Instrução Comandante Nicolau Lobato materializa-se através da consecução dos seguintes objetivos específicos,<br />
que se encontram expressos no Programa-Quadro 2011-2013:<br />
••<br />
Apoio técnico ao levantamento do modelo, organização e funcionamento do Centro de Instrução.<br />
••<br />
Apoio técnico à organização e funcionamento da Direção da Instrução e à elaboração dos curricula dos cursos a ministrar.<br />
••<br />
Apoio técnico e pedagógico às ações de formação de formadores dos cursos a ministrar no Centro de Instrução.<br />
••<br />
Apoio técnico à formação de Quadros das FALINTIL-Forças de Defesa de Timor Leste (F-FDTL), incluindo na área das Operações<br />
de Apoio à Paz.<br />
••<br />
Apoio técnico à formação de especialidades das F-FDTL.<br />
••<br />
Apoio técnico à formação do contingente geral das F-FDTL.<br />
••<br />
Apoio técnico na produção de material de instrução para os diversos cursos ministrados no Centro de Instrução.<br />
••<br />
Apoio em formação em Língua Portuguesa dos militares das FDTL.
58 - Temas Gerais<br />
Exercício de escalão Secção do CECAE para Sargentos 2013â<br />
ãCurso de Instrutores para Sargentos 2013
AZIMUTE <strong>195</strong> - 59<br />
Com a finalidade de garantir uma maior eficácia do Projeto foram implementados em 2013 um modelo de atuação assente na mentoria<br />
e centrado no princípio da transferência de responsabilidades na formação, dos militares portugueses para os militares timorenses, e um<br />
plano de atividades com a capacidade e a flexibilidade de proporcionar as ações de formação que satisfaçam as necessidades apresentadas<br />
pelo Comando das F-FDTL.<br />
Entre Jan13 e Jul13 o balanço de atividades do projeto n.º 4 é o seguinte:<br />
Objetivo Específico<br />
Atividade Desenvolvida<br />
01. Apoio técnico ao levantamento do modelo, organização<br />
e funcionamento do Centro de Instrução.<br />
••<br />
Proposta de QO e Missões/Tarefas das Subunidades do Centro de Instrução<br />
ao Comando das F-FDTL.<br />
••<br />
Elaboradas as Normas de Cerimónias Militares.<br />
••<br />
Elaborado o Regulamento do Sistema de Formação das F-FDTL.<br />
••<br />
Elaboração do Plano de Ação Anual da Componente de Formação e Treino<br />
(CFT – Unidade Superior do Centro de Instrução).<br />
••<br />
Ministrado Curso Expediente e Arquivo.<br />
02. Apoio técnico à organização e funcionamento da<br />
Direção da Instrução e à elaboração dos curricula<br />
dos cursos a ministrar<br />
••<br />
Proposto o QO, a Missão e as Tarefas da Direção de Instrução do Centro de<br />
Instrução.<br />
••<br />
Assessoria (mentoria) à Direção da Instrução no planeamento e na conceção<br />
do CECAE para Sargentos, Curso de Ação de Comando e Curso de Promoção<br />
a Cabos.<br />
••<br />
Implementação da Missão e das Tarefas da Direção de Instrução do Centro<br />
de Instrução.<br />
••<br />
Assessoria (mentoria) à Direção da Instrução na execução e avaliação do<br />
CECAE para Sargentos.<br />
03. Apoio técnico e pedagógico às ações de formação<br />
de formadores dos cursos a ministrar no Centro<br />
de Instrução.<br />
••<br />
A aplicação da técnica de mentoria.<br />
••<br />
Realizado o curso de formação de instrutores para Sargentos.<br />
••<br />
Realizado o CECAE para Oficiais.<br />
••<br />
Realizado o CECAE para Sargentos.<br />
04. Apoio técnico à formação de Quadros das F-<br />
FDTL, incluindo na área das Operações de Apoio<br />
à Paz.<br />
05. Apoio técnico à formação de especialidades das<br />
F-FDTL.<br />
06. Apoio técnico à formação do contingente geral<br />
das F-FDTL.<br />
••<br />
Executados em Abr/Mai13 três Cursos de Expediente e Arquivo às F-FDTL<br />
••<br />
Elaborado o Regulamento do Sistema de Treino.<br />
••<br />
Divulgação das atividades de Formação nos meios de Comunicação Social de<br />
Timor Leste, designadamente na RTTL.<br />
••<br />
Apoio ao Projeto 1 com formação de TEM com a finalidade de preparar o EM/<br />
QG para o Felino 2014 a decorrer em Timor Leste.<br />
07. Apoio técnico na produção de material de instrução<br />
para os diversos cursos ministrados no Centro<br />
de Instrução.<br />
••<br />
Elaborado o manual escolar de ordem unida (Ordem unida a pé firme, em<br />
marcha, com o militar desarmado e com o militar armado com Esp Aut M16)<br />
em português com base no manual de ordem unida em tetum.<br />
••<br />
Apoio à revisão das FII, realizada pelos Oficias e Sargentos Instrutores sob a<br />
direção do Chefe da Seção de Formação da DF/CICNL.<br />
••<br />
Elaborado o Manual de Combate em Áreas Edificadas.<br />
08. Apoio em formação em Língua Portuguesa dos<br />
militares das FDTL.<br />
••<br />
A partir de 2012 passou a ser garantido pelo Projeto de Língua Portuguesa.<br />
••<br />
Aprovada pelo Comando das F-FDTL uma proposta do Centro de Instrução<br />
com vista à contratação de 2 professores de língua portuguesa pelas F-FDTL.
60 - Temas Gerais<br />
O virar de uma página na<br />
European Union Training<br />
Mission (EUTM) for<br />
Somalia<br />
Reestruturação da Somali National<br />
Security Forces (SNSF) através da<br />
formação especializadas de quadros<br />
Cap Inf João Polho
AZIMUTE <strong>195</strong> - 61<br />
Desde o início da missão da União Europeia (UE) na Somália<br />
em 2010, foi incumbido a Portugal, no âmbito das contribuições<br />
nacionais para a European Union Training Mission for Somalia<br />
(EUTM-Somália), projetar equipas de formação militar na vertente<br />
do combate em áreas edificadas, designada por “Módulo de Formação<br />
em Áreas Edificadas (MFCAE)”. A formação seria ministrada no<br />
Centro de Treino de Bihanga (BTC) no sudoeste do Uganda, sendo o<br />
objetivo primário destas equipas (constituída por militares oriundos<br />
da Escola Prática de Infantaria e de outras unidades de Infantaria do<br />
<strong>Exército</strong> Português), ministrar fundamentalmente técnicas e táticas<br />
relacionadas com o combate urbano, a soldados e graduados das<br />
Forças Nacionais da Somália, a fim de contribuir para o aumento da<br />
estabilidade do Governo de Transição da Somália e assim contribuir<br />
para a segurança no próprio país, pois sem segurança não existem<br />
condições de desenvolvimento e sem um desenvolvimento sustentado<br />
não existirão condições para desenvolver a segurança.<br />
Passados quase três anos desde a projeção do 1º INTAKE<br />
para o BTC, existe a plena certeza de que o nível de segurança e de<br />
desenvolvimento na região do “Corno de África” tem vindo a consolidar-se.<br />
Os comentários e afirmações públicas dos governantes<br />
Somalis e das Chefias Militares Somalis, afirmam que o crescimento<br />
da estabilidade e da segurança no seio do país, tem a ver, em grande<br />
parte, com a formação militar ministrada pelos representantes<br />
nacionais dos países que integram e integraram a EUTM - Somalia.<br />
Em termos globais, até aos dias de hoje, Portugal e os restantes<br />
membros participantes na EUTM-Somalia contribuíram para a<br />
formação e integração de 24 Capitães, 96 Oficiais Subalternos, 706<br />
Sargentos, 2043 Soldados e ainda 120 formadores especialistas em<br />
determinadas áreas de formação (nomeadamente o combate em<br />
áreas edificadas), contribuído assim para o fortalecimento dos alicerces<br />
das seis Brigadas que compõem as Forças Nacionais da Somália.<br />
A situação atual do país difere, em muito, da situação vivida<br />
em 2010, surgindo a necessidade de continuar a evoluir e a fazer<br />
crescer este sentimento de estabilidade na segurança do território.<br />
A esta vontade de mudança aliaram-se novas propostas por parte<br />
dos países e organizações diretamente envolvidos neste processo<br />
de estabilização das forças de segurança somalis. De um lado os<br />
Estados Unidos da América (USA) que defenderam fortemente a<br />
transferência do centro de gravidade das ações de formação para<br />
a Somália, reduzindo progressivamente as atividades no exterior, reforçando<br />
a apropriação da Somália e o investimento direto em solo<br />
somali. Na mesma linha, as autoridades militares do Uganda expressaram<br />
o seu compromisso em prol do desenvolvimento do sector<br />
da segurança na Somália e mantiveram estreita parceria com a UE<br />
propondo a extensão da formação em Bihanga até ao final do ano<br />
2013 com foco na formação de especialistas em altos níveis de comando.<br />
Uganda também viria, neste esforço integrado de contribuir<br />
para o desenvolvimento e segurança na Somália, a se oferecer para<br />
fornecer uma formação mais estruturada e duradoura para futuros<br />
oficiais somalis na sua Academia Militar. Assunto que está a ser estudado<br />
e que será em breve uma realidade.<br />
Ambos os parceiros concordaram com as autoridades somalis<br />
que o treino militar básico deixaria de ser realizado no Uganda<br />
e que os oficiais subalternos poderiam ser formados em academias<br />
militares no Uganda (e existem outras opções) em vez do Centro de<br />
Treino de Bihanga. Fatos que vieram a contribuir decisivamente para<br />
a transferência da formação para a Somália e para o encerramento<br />
das atividades formativas no BTC até ao final de 2013.<br />
Surgiu então a necessidade de melhor definir quais as áreas<br />
mais úteis de formação para as Forças de Segurança Somalis, associado<br />
a novas linhas de pensamentos e uma conceptualização mais<br />
avançada e melhor estruturada da formação. As prioridades das autoridades<br />
militares somalis continuam a incidir sobre as operações<br />
militares no intuito de recuperar o controlo do país e a integração<br />
de todas as forças federais sob uma única estrutura de comando e<br />
controlo e assim permitir o desenvolvimento de infraestruturas básicas<br />
para acolher órgãos e unidades de comando.<br />
O modelo de formação da EUTM-Somalia era até há pouco<br />
tempo focado principalmente no desenvolvimento de técnicas<br />
individuais do combatente, bem como em tarefas relacionadas com<br />
o comando e os aspetos logísticos de pequenas unidades, desenvolvido<br />
de acordo com uma situação de segurança completamente<br />
diferente da atualmente vivida no território. Neste cenário foi necessário<br />
uma adaptação do modelo de formação inicial perante a<br />
evolução das necessidades de segurança, procurando evoluir para<br />
um sistema mais estruturado com base em objetivos de longo prazo<br />
e que possibilite a consolidação de um sistema de formação mais<br />
coordenado e coerente com as reais necessidades futuras das forças<br />
somalis.<br />
Aparece assim, através de uma solicitação por parte do Vice-Primeiro-Ministro<br />
e Chefe das Forças de Defesa Somalis, o pedido<br />
de inclusão no programa de treino de mais áreas especializadas,<br />
nomeadamente na parte da Intelligence, Trainers, CIMIC, Combat<br />
Enginery, Military Police, bem como no treino de comando e liderança<br />
através da formação de Comandantes de Companhia (Coy<br />
Cdr). Contudo, continuava óbvia a vontade de transportar todas<br />
essas formações para Mogadíscio, mas a falta de segurança e a<br />
insuficiência a nível de infraestruturas de formação no campo de<br />
formação da Jazeera, fizeram com que o BTC fosse utilizado como<br />
base de treino militar por mais um período de tempo, e a unidade<br />
hospedeira dessa formação o <strong>Exército</strong> do Uganda, Uganda People<br />
Defense Force (UPDF).<br />
Portugal vira assim uma nova página da sua participação na<br />
missão EUTM-Somalia, deixando para trás a certeza que o tempo<br />
despendido a formar jovens combatentes Somalis, nas áreas do<br />
combate urbano, com a qualidade, saber fazer e as excelentes relações<br />
humana que foram criados e que caracteriza a nossa gente,<br />
tem contribuído para elevar o prestígio e bom nome da Nação<br />
Portuguesa.
62 - Temas Gerais<br />
Após decisão do Conselho da UE sobre os processos e<br />
principais linhas de ação sobre a formação dos militares das forças<br />
nacionais da Somália e a conferência de geração de forças no passado<br />
mês de Fevereiro 2013, foi atribuída a Portugal e ao <strong>Exército</strong><br />
a missão de preparar, aprontar e projetar para este novo mandato,<br />
duas equipas de formação na área de Comandantes de Companhia<br />
(Coy Cdr), conjuntamente com Espanha, constituindo assim o 5º e<br />
o 6º INTAKE da EUTM-Somalia. Foi também decisivo que a primeira<br />
equipa de formação destacada para o Teatro de Operações seria<br />
sob comando Espanhol e que Portugal lideraria a segunda equipa<br />
a ser projetado na última fase do mandato em solo ugandês. Cada<br />
equipa de formação para o Coy Cdr é constituída por um Team<br />
Leader de posto Major e oito Formadores, quatro de cada país,<br />
constituindo equipas de formação que rotativamente se integram na<br />
missão de ministrar em condições difíceis a formação base em 15<br />
semanas para garantir os conhecimentos e ferramentas necessários<br />
para formar um Capitão, Comandante de Companhia.<br />
A Escola Prática de Infantaria, como unidade aprontadora<br />
dos últimos contingentes da EUTM-Somalia, recebeu como missão<br />
planear e executar o aprontamento e preparação dos militares<br />
Portugueses nomeados para os próximos dois mandatos. Dada a
AZIMUTE <strong>195</strong> - 63<br />
A equipa de formação tem por objetivo facultar toda a informação<br />
possível e adequada aos militares do curso de capitães<br />
de forma que no final do período formativo de cerca de três meses,<br />
estejam aptos a responderem aos principais deveres e responsabilidades<br />
de um comandante de subunidade e colaborarem como<br />
elementos constituinte de uma unidade de escalão batalhão. Deverão<br />
ainda ser capazes de tomar decisões acertadas nas suas ações<br />
de comando, de forma rápida ou em tempo eficiente, estudando<br />
as possíveis opções que dispõem ao seu alcance, e aptos para as<br />
comunicarem corretamente.<br />
Tendo o anterior objetivo em foco, a equipa de formadores<br />
concentrou os seus métodos de ensino em quatro ideias gerais: Liderança,<br />
Prática de Comando, Planeamento de Operações e desenvolvimento<br />
dos conhecimentos Técnicos, Táticos e Procedimentos<br />
do emprego das unidades de escalão Companhia. Em coordenação<br />
estreita com o país vizinho, elaborou-se um detalhe de instrução<br />
(SYLLABUS) e um horário de acordo com uma fita do tempo e<br />
os requisitos estipulados pelo comando da missão EUTM-Somalia.<br />
Das 720 horas de formação, distribuídas ao longo de 15 semanas,<br />
seis dias por semana, destacam-se instruções de organização militar,<br />
tática geral de operações, ordens e planos, logística das subunidades,<br />
prática pedagógica relativa á prática de educação física e tiro, bem<br />
como exercícios práticos de planeamento.<br />
A missão em si e todos os seus imponderáveis, tornaram<br />
esta, um desafio aliciante, que Portugal abraçou mesmo sabendo as<br />
dificuldades que poderiam apresentar os futuros formandos, nomeadamente<br />
pelo baixo grau de formação e cultura militar. A primeira<br />
equipa de formação foi projetada para o Teatro de Operações em<br />
inícios de Março deste ano com o intuito de ser proporcionado<br />
um tempo mínimo de sobreposição com os elementos nacionais<br />
existentes no TO, bem como facilitar a integração plena das duas<br />
equipas de países vizinhos que passariam a trabalhar em conjunto<br />
nesta primeira parte do mandato.<br />
importância conferida a esta missão, aos diversos níveis político-militares,<br />
a Escola Prática de Infantaria considerou que o aprontamento<br />
da Equipa Coy Cdr deveria ser realizado, no âmbito da formação<br />
dos parâmetros de qualidade anteriormente observados em outras<br />
ações de formação da Escola, incluindo o aprontamento administrativo-logístico,<br />
Para além disso, garantiu que a todos os militares<br />
nomeados fossem conferidas as competências necessárias para a<br />
tipologia da formação em questão, garantindo formação C-IED, socorrismo,<br />
inglês, tiro, prática pedagógica específica e outras matérias<br />
que ao longo de quase dois meses permitiram um aprontamento<br />
adequado para a missão.<br />
À chegada ao Campo de Treino de Bihanga, as futuras<br />
equipas de formadores da EUTM-Somalia receberam um brífingue<br />
sobre as novas especificidades do treino, exigidas para este novo<br />
mandato. Após um período de adaptação, seguiu-se a fase de preparação<br />
estrutural e documental com vista a receber os futuros<br />
formandos procurando-se logo ai a qualidade que força nacional<br />
se tinha comprometido antes de deixar o Território Nacional e a<br />
nossa Escola. Era de facto o sentido do dever e sobretudo a vontade<br />
de por em prática o lema “Saber Fazer”. Por parte do comando<br />
da missão foi atribuído os meios humanos e materiais para permitir<br />
o sucesso das instruções futuras, onde se destacam duas salas de<br />
aulas recentemente recondicionadas para o efeito, dois intérpretes<br />
de origem queniana por cada curso para auxiliar numa tradução<br />
da língua inglesa para somalis da forma mais correta, bem como<br />
oficiais do Exercito Ugandês (UPDF), para auxiliarem as equipas na<br />
gestão logística e tática dentro da Escola de Formação de Bihanga,<br />
área onde está inserido o BTC.
64 - Temas Gerais<br />
Após um demorado e não muito fácil processo de seleção<br />
e transporte dos futuros formandos entre a Somália e Bihanga, eis<br />
que se inicia o período de formação em meados de Abril. Apresentaram-se<br />
para frequentar o Coy Cdr Course, 25 elementos com<br />
postos compreendidos entre tenente e major e com idades compreendidas<br />
entre os 20 e os 54 anos. A disparidade entre os graus<br />
de conhecimentos era tanta que tornaria as tarefas atribuídas às<br />
equipas de formação, num desafio maior do que se estaria a espera<br />
inicialmente. Após vencer as primeiras barreiras culturais e linguísticas,<br />
começa o curso a entrar na rotina de formação desejada em<br />
que as semanas de formação decorreram sem problemas de maior<br />
e de forma como anteriormente haviam sido planeadas. Os formandos<br />
foram ganhando novos conhecimentos e capacidades, de<br />
tal forma que o curso nos tenha surpreendido com uma evolução<br />
bastante significativa. O desafio inicial de querer “talhar uma pedra<br />
em bruto” sem ter disponíveis as ferramentas adequadas estava a<br />
tomar uma forma que agradava ao conjunto dos formadores envolvidos.<br />
Após 14 semanas de instrução sobre múltiplas matérias chega<br />
a hora de por à prova os conhecimentos adquiridos através de um<br />
exercício final com duração de cinco dias. Para este exercício, a<br />
equipa de formação adotou o método CPX, criando uma situação<br />
tática inicial e jogando o jogo da guerra em tempo real. Para isso o<br />
curso foi dividido em dois batalhões de infantaria, cada batalhão a<br />
três companhias e uma força opositora constituída por duas companhias<br />
de forma a proporcionar o máximo de incidentes e permitir<br />
o planeamento possível aos dois batalhões. Foi sem dúvida uma<br />
semana árdua para os alunos, que se viam pela primeira vez responsáveis<br />
pelo planeamento das suas operações, sentindo diretamente
AZIMUTE <strong>195</strong> - 65<br />
os efeitos de pequenos detalhes não pensados com o rigor devido, e<br />
logo aproveitados como vantagem pelas partes opositoras. Também<br />
não foi tarefa fácil para a equipa de formação, que para além de<br />
controlar todo o jogo da guerra em várias dimensões, teriam que<br />
aproveitar este tempo como continuação e aperfeiçoamento das<br />
materiais dadas, porque nunca será demais, continuar a ensinar mais<br />
a quem não sabia quase nada!<br />
No final do exercício, podemos constatar com agrado que<br />
ambas as partes teriam alcançado os objetivos pretendidos inicialmente<br />
para o exercício. Após tamanha vitória chegava o fim do<br />
curso na semana seguinte, com a cerimónia final do 5º INTAKE,<br />
onde cada curso apresentou de forma singela mas bastante prática<br />
e eficaz, os ensinamentos conseguidos dos últimos três meses em<br />
Bihanga.<br />
Chegando a hora de sermos rendidos na missão pelos 2º<br />
INTAKE deste mandado e da nossa saída do TO, olhamos para trás,<br />
analisando a missão inicialmente dada e recordando os resultados<br />
finais vividos, ficando cientes de que todo o esforço despendido, o<br />
suportar o clima quente e muitas vezes sufocante e os dias longe de<br />
Portugal, servirão para pôr mais uma pedra de grande valor na construção<br />
da infraestrutura base de comando e controlo das unidades<br />
das Forças de Segurança Somalis e assim contribuir um pouco mais<br />
para a consolidação da paz e do desenvolvimento na Somália.
66 - Formação<br />
Emprego dos mini-UAV<br />
Da experiência à doutrina<br />
Cap Inf Jorge Magalhães
AZIMUTE <strong>195</strong> - 67<br />
Introdução<br />
Atualmente, a tecnologia utilizada pelas Forças Armadas nos<br />
equipamentos militares que operam está em constante evolução,<br />
de tal forma que, estes sentem necessidade de se atualizar o mais<br />
rapidamente possível seguindo três vias: comprando tecnologia às<br />
empresas, através do desenvolvimento da tecnologia pelo próprio<br />
<strong>Exército</strong> ou realizando parcerias entre a Instituição Militar/<strong>Exército</strong>,<br />
Instituições Académicas e Empresas no sentido de se rentabilizar o<br />
tempo, recursos financeiros despendidos na evolução de equipamentos<br />
e sistemas que poderão ser utilizados nos diversos Teatros<br />
de Operações. Esta cooperação tripartida em prol de equipamentos<br />
visa trazer mis valias para o desenvolvimento das capacidades operacionais<br />
do Sistema de Forças.<br />
Na situação particular do <strong>Exército</strong> Português, o projeto<br />
MINI-UAS AR4 LIGHT RAY é um projeto de I2D (Investigação,<br />
Inovação e Desenvolvimento) em que participa o <strong>Exército</strong> Português,<br />
a Universidade de Aveiro e a empresa TEKEVER com o objetivo<br />
de se desenvolver um sistema MINI-UAS 1 comercializável pela<br />
empresa e testado pelo <strong>Exército</strong> em Teatro de Operações, criando<br />
assim condições de operacionalidade para os requisitos técnicos e<br />
operacionais idealizados.<br />
Este projeto entrou, em 2013, no terceiro ano de desenvolvimento,<br />
tendo sido constantes as reuniões, testes de campo e testes<br />
em exercícios militares que em muito contribuíram para o desenvolvimento<br />
que este sistema tem sofrido nestes últimos dois anos<br />
1 MINI-UAS: conjunto formador pelo MINI-UAV (veículo) mais um conjunto variado de componentes:<br />
payloads, ser humano, comunicações que possibilitam de uma forma integrada e sistemática a<br />
operacionalidade do UAV.
68 - Formação<br />
provando que a forma de evoluir esta tecnologia tem sido a mais<br />
adequada.<br />
Classificação dos MINI-UAV<br />
Foi no final do século passado que os <strong>Exército</strong>s chegaram à<br />
conclusão que os MINI-UAS de pequenas dimensões poderiam ser<br />
utilizados pelas pequenas unidades, i.e. Companhias, na frente de<br />
combate, resultando daí os UAS com o prefixo “MICRO” e “MINI”<br />
consoante o seu peso e altitude a que operam nos Teatros de Operações.<br />
Apesar de atualmente os diferentes países não chegarem<br />
a um consenso no que diz respeito aos critérios de classificação/<br />
categorização dos UAS, para este efeito utilizaremos, neste artigo, a<br />
categorização em uso pela OTAN e que tem por base a categorização<br />
do JAPCC (Joint Air Power Competence Center) (ver tabela).<br />
Estágio para operador e lançador de sistema MINI UAS<br />
Tal como foi referido anteriormente, foram já realizados diversos<br />
testes de campo para testagem/verificação de funcionamento<br />
dos diferentes payloads que poderão ser utilizados pelo MINI-UAV<br />
bem como as comunicações entre os componentes do sistema, o<br />
voo e aterragem dos sistemas sob efeito de diferentes condições<br />
meteorológicas etc., e ainda dois testes com utilização dos sistemas<br />
MINI-UAS em exercícios operacionais da Brigada de Intervenção.<br />
Como tal, a Escola Prática de Infantaria, juntamente com os restantes<br />
colaboradores (CINAMIL/AM, DCSI, EPC, DPF/EME, BrigInt) juntamente<br />
com a empresa TEKEVER, chegaram à conclusão que para<br />
uma melhor utilização do sistema MINI-UAV, por parte dos militares<br />
e de forma independente nos exercícios operacionais, seria essencial<br />
ser ministrada formação específica para o operador do sistema<br />
(1º/2ºSargento) e para o lançador do MINI-UAV (Soldado/Cabo).<br />
Nesse sentido, foi criado um estágio para o operador e para<br />
o lançador do sistema, com duração de uma semana, ministrado<br />
entre elementos da EPI e da empresa TEKEVER, com o objetivo de<br />
treinar a equipa (operador/lançador) a trabalhar de forma eficiente<br />
com o sistema em questão.<br />
gerais:<br />
Esta semana de formação, consta dos seguintes objetivos<br />
Introdução aos MINI-UAV<br />
Sistema MINI-UAV AR4 Light Ray<br />
História dos MINI-UAV<br />
Os MINI-UAV no <strong>Exército</strong> Português<br />
Emprego dos MINI-UAV no apoio à população civil<br />
GCS<br />
Preparação e lançamento da<br />
aeronave<br />
Aeronave<br />
Recolha da aeronave<br />
Planeamento de missão<br />
Prática de missões de voo<br />
Recolha e interpretação da<br />
informação<br />
Exercício<br />
Prática de missões de voo<br />
Avaliação<br />
Manual Escolar MINI-UAV<br />
Este projeto de I2D, tal como todos os projetos de investigação,<br />
não ficaria nunca completo se, deste conjunto de testes já<br />
realizados que conduziram à evolução do sistema MINI-UAV não<br />
resultasse um manual sobre os MINI-UAV. Este manual escolar da<br />
Escola Prática de Infantaria, terá como objetivo abordar a temática
AZIMUTE <strong>195</strong> - 69<br />
Tabela<br />
Classificação dos MINI-UAV segundo JAPCC/OTAN<br />
dos MINI-UAV (não específico) e aproveitar todas as lições apreendidas,<br />
resultantes das testagens que foram sendo realizadas ao longo<br />
destes últimos dois anos e das quais resultou(aram) a(s) versão(s)<br />
final(ais) do MINI-UAS AR4 Light Ray.<br />
Este Manual Escolar terá o seguinte índice:<br />
01. Introdução<br />
02. Planeamento de Missões<br />
03. Operações de Reconhecimento<br />
O Futuro<br />
Relativamente aos próximos passos que irão ser dados neste<br />
projeto de I2D, depois de ter sido dado despacho positivo de<br />
SEXA CEME para continuação deste projeto no biénio 2013/14, é de<br />
salientar que irá decorrer em Vila-Real, um estágio com o objetivo<br />
de formar uma equipa para operar com os MINI-UAS AR4 Light Ray,<br />
bem como mais um conjunto de testes no sentido de serem criadas<br />
condições para enviar este sistema para o TO.<br />
04. Operações de Segurança<br />
05. Operações de Combate<br />
––<br />
Operações Ofensivas<br />
––<br />
Operações Defensivas<br />
––<br />
Operações em Ambiente Urbano<br />
06. Operações de Estabilização<br />
Em simultâneo, irão ser revistos os requisitos operacionais e<br />
técnicos no sentido de continuar a evoluir cada vez mais o sistema<br />
para que este cumpra todos os requisitos técnicos e operacionais<br />
previamente estabelecidos pelas partes intervenientes neste projeto<br />
de Investigação, Inovação e Desenvolvimento.
70 - Formação<br />
A simulação de tiro e as<br />
suas diferentes aplicações<br />
Cap Inf Ricardo Camilo
AZIMUTE <strong>195</strong> - 71<br />
A Escola Prática de Infantaria (EPI) constitui-se como uma<br />
unidade com elevada responsabilidade na área do conhecimento de<br />
tiro, por várias razões. A primeira, a institucional, porque no <strong>Exército</strong><br />
é a entidade técnica responsável pelo tiro, ao nível da formação<br />
específica, ministra o Curso de Tiro a oficiais e sargentos, habilitando-os<br />
a desempenhar as funções de oficial e sargento de tiro, a<br />
ministrar formação e treino de tiro e a planear o treino de tiro. A formação<br />
dos sargentos e oficiais de infantaria, com um programa de<br />
formação bastante intenso e exigente na área do tiro, porque serão<br />
estes os futuros comandantes das pequenas unidades de infantaria,<br />
os pelotões e as secções de atiradores, e por último mas não menos<br />
importante, porque historicamente o tiro sempre foi e continuará<br />
a ser uma área do conhecimento fundamental na formação e no<br />
treino de todos os soldados de infantaria.<br />
A EPI fazendo jus do seu lema “é dever da escola saber<br />
fazer”, que está bem enraizado nas suas colossais paredes e principalmente<br />
no sentido de missão de todos os que servem nesta casa,<br />
sempre procurou inovar, desenvolver e aperfeiçoar novas ferramentas<br />
para melhorar a formação, neste caso concreto, o enfoque foi<br />
dado ao tiro. Com base neste mote, a EPI desenvolveu e implementou<br />
recentemente um Centro de Simulação e Treino de Tiro (CST2),<br />
um projeto que está integrado no Centro de Excelência de Combate<br />
em Áreas Edificadas (CdECAE), que vem dinamizar a formação<br />
e treino do tiro de armas ligeiras, não só, mas principalmente em<br />
ambiente urbano.<br />
A simulação de treino de tiro atualmente é baseada na utilização<br />
de sistemas integrados de computadores, câmaras, projetores<br />
e lasers, criando vários cenários virtuais, transformando as salas de<br />
simulação em verdadeiras carreias de tiro virtuais. Este sistema de<br />
treino já à algum tempo que é utilizado por várias forças de países<br />
aliados, como por exemplo, os Estados Unidos da América, Alemanha,<br />
França e Inglaterra, estes foram os países que inovaram muito<br />
no treino com base em simuladores, quer a nível militar, mas também<br />
no âmbito civil, e os exemplos mais conhecidos são os simuladores<br />
de voo para pilotos das empresas comerciais. No meio militar, existe<br />
uma variada panóplia de sistemas de simulação, entre os quais podemos<br />
encontrar, simuladores de aeronaves, de navios, de carros de<br />
combate, sistemas de armas (ligeiras e pesadas), de postos de co-
72 - Formação<br />
mando 1 , entre outros. Os objetivos dos simuladores são os mesmos<br />
e aplicam-se de igual forma a todos:<br />
••<br />
Garantir que a formação e o treino são o mais real possível;<br />
••<br />
Com reduzidos custos;<br />
••<br />
Aumentar a proficiência dos formandos;<br />
de sistemas de armas, ligeiras e peadas, individuais e coletivas. No<br />
entanto, atualmente o CST2 dispõe apenas de programas que garantem<br />
o treino individual, de parelha e de Esquadra de Atiradores 5 , com<br />
armento ligeiro. Os programas disponíveis são os seguintes:<br />
Combat Skills Trainer<br />
Programa que permite treinar a destreza, rapidez, memória<br />
muscular e reflexos do atirador, ideal para sessões de tiro reativo e<br />
dinâmico.<br />
••<br />
Redução dos riscos com acidentes, durante as sessões<br />
de formação e treino.<br />
No caso concreto do CST2, é um simulador de tiro de armas<br />
ligeiras, virtual 2 de nível 1 3 , o que significa, que cria cenários virtuais<br />
através de computador e é para aplicação a baixos escalões.<br />
Infraestrutura e organização<br />
O CST2 está instalado no edifício junto ao gimnodesportivo,<br />
mesmo à entrada para a tapada militar, pelo acesso do Alto da Vela,<br />
num edifício recuperado, que nos seus dias mais gloriosos funcionou<br />
durante muito tempo como um teatro de tiro. O comando da<br />
EPI decidiu manter a mesma finalidade, treinar o tiro, mas com um<br />
importante salto tecnológico, na área da simulação de tiro. No final<br />
do ano passado (Novembro 2013), a escola recebeu da empresa<br />
Laser Shot Europe, os equipamentos necessários para montar e organizar<br />
o centro em 3 salas de simulação de tiro. Estas salas que o<br />
compõem têm as mesmas características e capacidades, variando<br />
apenas as suas dimensões.<br />
Equipamentos Laser Shot<br />
Para o sistema funcionar com o máximo de rendimento, são<br />
necessários os seguintes equipamentos: computador, projetor, colunas<br />
de som, câmara Laser Shot e arma com um sistema laser incorporado<br />
ou adaptado. Para utilização nas salas de simulação, existem<br />
12 réplicas de pistolas com laser incorporado e 12 adaptadores laser<br />
para espingarda, permitindo a utilização das 3 salas em simultâneo,<br />
tendo como referência, que os programas permitem a realização de<br />
tiro, com uma linha de tiro de 4 atiradores 4 .<br />
Programas de Laser Shot<br />
Os programas disponíveis permitem a formação e treino<br />
com armas ligeiras, pistola e espingarda, contudo existe uma larga<br />
variedade de programas e equipamentos para uma variada tipologia<br />
1 Exemplo do sistema VIGRESTE.<br />
2 A simulação pode ser classificada em real, virtual e construtiva. A real envolve pessoal verdadeiro<br />
operando sistemas reais, utilizando apenas sistemas de simulação dos efeitos provocados pelo<br />
armamento/equipamento utilizado, ex: SITPUL. A virtual envolve pessoal verdadeiro operando<br />
sistemas/equipamentos simulados, num ambiente virtual gerado por computador ex: simuladores<br />
de voo, simuladores de condução e simuladores de tiro. A simulação construtiva envolve pessoal<br />
simulado operando sistemas/equipamentos simulados. Uma simulação construtiva poderá incluir a<br />
combinação de meios informáticos (programas de gestão de incidentes e de jogos de guerra) com<br />
simulação através de atores reais (Role Players), ex: VIGRESTE.<br />
3 A simulação pode ser classificada de nível 1, 2 e 3:<br />
A de nível 1, permite formação/treino de guarnições, assim como o treino de tiro até ao escalão<br />
pelotão. A de nível 2, permite a formação/treino de táctica até ao escalão Companhia/Bataria/<br />
Esquadrão. A de nível 3, permite formação/treino de comandantes e estados-maiores de unidades<br />
constituídas, normalmente de escalão batalhão ou superior (podendo ir até nível operacional ou<br />
estratégico da guerra).<br />
4 Sistema foi desenvolvido com base na Fire Team do US Army, composta por 4 elementos (Team<br />
Leader, Grenadier, Automatic Rifleman e Rifleman).<br />
Course of Fire<br />
Este programa simula virtualmente uma carreira de tiro, com<br />
várias opções para selecionar tipos de alvos e distâncias, ideal para<br />
o treino de tiro de precisão, permitindo o treino completo do ciclo<br />
de tiro 6 .<br />
Branching Videos<br />
Este programa permite a visualização de filmes com cenários<br />
reais, excelente para um treino realista com a integração do tiro<br />
e da técnica de combate numa sessão de treino de tiro, sem risco de<br />
acidente e com a possibilidade ilimitada de repetições.<br />
Outra grande possibilidade é o seu programa editor, que tem<br />
a capacidade de editar filmes, significa que os cenários podem ser<br />
desenvolvidos (montados tipo um filme) de acordo com as necessidades<br />
de treino de uma força, tendo em consideração os fatores<br />
de decisão 7 .<br />
Fase de experimental<br />
Esta fase decorreu durante o primeiro semestre do presente<br />
ano, contou com o apoio de vários formandos de cursos ministrados<br />
na EPI e de várias unidades que realizaram exercícios na tapada<br />
militar de Mafra. A avaliação final relativamente ao CST2, superou<br />
as espectativas, sendo que o feedback dos militares que utilizaram o<br />
simulador foram neste sentido, desde do soldado ao capitão, Cmdt<br />
de Companhia, todos foram unânimes ao considerem que o sistema<br />
permite uma melhoria significativa do atirador, identificaram como<br />
principais vantagens, o facto de o sistema conseguir corrigir imediatamente<br />
os erros cometidos, antes de avançar para a carreira de tiro,<br />
repetir procedimentos até atingir o padrão exigido para cada sessão<br />
de tiro e o fator motivacional para os soldados, porque o sistema dá<br />
uma resposta imediata sobre o resultado do tiro.<br />
Formação<br />
Na área da formação, o CST2 tem uma aplicabilidade<br />
quase ilimitada, dependendo apenas do fator tempo<br />
disponível para a sua utilização e de recursos<br />
humanos (controladores do sistema e formado-<br />
5 Esquadra de Atiradores com efectivo de 4 militares, tem aplicabilidade para todas as unidades de<br />
Infantaria do <strong>Exército</strong>. Se não vejamos, nas unidades de infantaria mecanizadas, as SecAtMec, tem<br />
um efectivo de 10 militares (1 sarg e 9 pr), sendo que 1 é o condutor da VBTP e outro é o CmdtSec.<br />
Nas unidades blindadas de rodas, é exactamente igual às unidades mecanizadas. Nas unidades de<br />
infantaria ligeira, dos BI da ZMA e da ZMM, as SecAt, tem um efectivo de 9 militares (1 sarg e 8<br />
pr), por último, nas unidades de infantaria paraquedistas, as SecAt, tem um efectivo de 8 militares (1<br />
sarg e 7 pr).<br />
6 Relacionado diretamente com os fundamentos do tiro.<br />
7 Fatores de decisão: Missão, Inimigo, Terreno e Condições Meteorológicas, Meios, Tempo e<br />
Considerações Civis (MITM+TC).
AZIMUTE <strong>195</strong> - 73
74 - Formação<br />
res). Mas consideramos, que de todos os cursos da responsabilidade<br />
da EPI, os que mais podem beneficiar da simulação de tiro são:<br />
• Tirocínio para Oficial de Infantaria;<br />
• Curso de Formação de Oficiais (RV/RC);<br />
• Curso de Formação de Sargentos de Infantaria;<br />
• Curso de Formação de Sargentos (RV/RC);<br />
• Curso de Tiro;<br />
• Curso Elementar de Operações de Apoio à Paz;<br />
• Curso Elementar de Combate em Áreas Edificadas.<br />
O conceito de utilização é o da complementaridade com<br />
as sessões de tiro real, isto é, os formandos realizam as sessões de<br />
tiro no simulador, antes de avançar para a carreira de tiro (CT). O<br />
resultado é imediato, verificado no atirador através do aumento da<br />
proficiência e na redução de risco de acidente (qualidade e segurança),<br />
permitindo que, quando chega à linha de tiro da CT, já tem na<br />
memória a sessão que vai realizar e os erros que cometeu já foram<br />
corrigidos no simulador.<br />
Treino Operacional<br />
Para as unidades operacionais que realizam treino nas infraestruturas<br />
da EPI, o CST2 constitui uma excelente oportunidade<br />
para realizar o treino de tiro dos seus elementos, garantindo uma<br />
variedade de cenários modificáveis e complexos, consoante as suas<br />
necessidades de treino. Como exemplo de um possível modelo de<br />
treino para uma unidade de escalão companhia a 3 pelotões, em<br />
simultâneo, pode ter um pelotão a treinar no Centro de Formação e<br />
Treino de Combate em Áreas Edificadas, outro a realizar tiro na CT<br />
e um outro no CST2, com uma Secção em cada sala de simulação<br />
de tiro , rentabilizando todo o potencial de ferramentas de treino ao<br />
dispor das unidades. Com a conclusão do projeto de CT de Combate<br />
em Áreas Edificadas ficam disponíveis um conjunto de infraestruturas<br />
de tiro que, pela sua diversidade e aproximação, permitem<br />
uma rentabilização de recursos para o treino das forças.<br />
Continuação do projeto CST2<br />
O futuro deste projeto depende essencialmente da vontade<br />
em conseguir rentabilizar os meios tecnológicos atualmente disponíveis,<br />
para aumentar a qualidade e a segurança da formação e do<br />
treino. Consideramos que o CST2, será uma importante ferramenta<br />
na futura Escola das Armas, exemplo do caminho para a excelência<br />
da formação militar do nosso <strong>Exército</strong>.
AZIMUTE <strong>195</strong> - 75<br />
Este projeto, para o qual já foram canalizados importantes recursos financeiros e materiais, e ao qual outros já se encontram alocados,<br />
associados sempre a outros projetos de forma a rentabilizá-los, não pode cristalizar, como tal, pretendemos que o CST2 possa evoluir,<br />
como por exemplo, através da montagem de uma sala com capacidade de tiro virtual em 360°, sistemas de simulação de recuo para espingardas,<br />
equipamentos para simulação de tiro de metralhadora ligeira e pesada, entre outros.<br />
Só assim podemos transformar este centro de simulação num verdadeiro laboratório de formação e treino de tiro.<br />
Em resumo, o CST2 é um teatro de treino de tiro virtual, que garante um treino realista, que possibilita aumentar os níveis de eficiência<br />
dos militares na utilização do armamento individual e coletivo ligeiro. O desenvolvimento da simulação de tiro tem como objectivos:<br />
••<br />
Aumentar os padrões de eficiência dos militares no manejo de armamento individual e colectivo ligeiro;<br />
••<br />
Aumentar o realismo do treino;<br />
••<br />
Reduzir custos inerentes à execução do tiro em Infra-estruturas de tiro.<br />
A criação deste Centro permite executar o treino de tiro em cenários variáveis e modificáveis de acordo com os objetivos de aprendizagem,<br />
de formação e de treino, quer no âmbito da formação e dos cursos, quer no treino de Unidades da Componente Operacional.<br />
Assim, o sistema em apreço pode ser de utilização extensiva por militares e forças do <strong>Exército</strong>, especialmente nos módulos de instrução de<br />
tiro dos cursos ministrados na EPI (TPOI, CFSI, CFO/CFS RV/RC, Curso de Tiro, CECAE, CEOAP), no futuro próximo pelos vários cursos da<br />
Escola das Armas, bem como no treino de Unidades em aprontamento (FND, NRF, OMLT, MAT, etc.).<br />
O investimento num projeto deste tipo, significa uma forte aposta na formação e no treino do soldado, especialmente no Soldado<br />
da Infantaria, porque este, em última análise, utiliza a força com uma espingarda automática nas mãos.
Urban Operations Task<br />
Group
AZIMUTE <strong>195</strong> - 77
78 - Tecnicamente Falando<br />
…The central problem for (alliance)<br />
forces is now to operate in an urban<br />
environment to defeat (ir)regular threats<br />
embedded and diffused within the<br />
population, without causing catastrophic<br />
damage to the functioning elements<br />
of the society and causalities to<br />
non‐combatants…<br />
ATrainP-3<br />
Cap Inf Araújo e Silva
AZIMUTE <strong>195</strong> - 79<br />
Situação<br />
Dando continuidade aos trabalhos realizados pelo NATO<br />
Urban Operations NATO Training Group Task Group (NUONTGTG),<br />
realizou-se mais uma reunião do grupo (reunião do 1º Semestre) a<br />
cargo das Forças Armadas Suíças.<br />
A reunião teve lugar em Walenstadt/Maienfeld no Swiss<br />
Land Forces Training Centre de 15 a 19 de Abril de 2013 e contou<br />
com a presença de elementos de diferentes Países 1 , num total de<br />
22 participantes.<br />
A missão do NUONTGTG, definida pelo seu mandato emanado<br />
pelo Executive Working Group (EWG), definia que até final<br />
de Abril 2013 fosse criado um STANAG relativo a Urban Operations<br />
Training and Education.<br />
Como vem sendo habitual, para além da missão explícita<br />
do mandato, é também escolhido uma tema de interesse relevante,<br />
para formação e emprego de forças militares em operações urbanas,<br />
com a finalidade de partilhar informação bem como se constituir<br />
como fórum discussão, entre os diferentes participantes, tendo<br />
sido nesta reunião abordado o tema simulação e os sistemas de<br />
simulação no apoio ao treino de operações urbanas.<br />
A reunião contou também com a presença de uma empresa<br />
(Re-Lion) que desenvolve tecnologias, de treino utilizando a simulação<br />
virtual, em parceria com o exército holandês.<br />
Meeting<br />
A reunião teve cinco dias de duração, tendo sido o primeiro<br />
dia reservado para as boas vindas, introdução aos trabalhos e apre-<br />
1 Aliados NATO e Partners for Peace..<br />
sentação do Swiss Land Forces Training Centre, tendo-se dado inicio<br />
aos trabalhos com a apresentação do trabalho realizado pela Tiger<br />
Team para o STANAG 2593 e ATrainP-3.<br />
Foi feita também uma apresentação pela empresa Re-Lion<br />
sobre o seu sistema de treino.<br />
No segundo e terceiro dias, realizaram-se trabalhos para a<br />
conclusão do STANAG e ATrainP tendo havido tempo para uma<br />
demonstração das capacidades do sistema de simulação virtual da<br />
Re-Lion.<br />
No quarto dia realizou-se uma demonstração no Land Forces<br />
Training Centre em Walenstadt.<br />
Inicialmente foi apresentado ao grupo o centro de operações,<br />
edifício que possui um auditório para brífingues e debrífingues<br />
as ações que decorrem na área de treino e um centro de controlo<br />
para os sistemas de simulação existentes na área de treino, para<br />
além de gabinetes de formadores e arrecadações de material.<br />
De seguida a comitiva dirigiu-se para a área de treino onde<br />
lhe foram apresentados os sistemas de simulação em uso para armas<br />
e equipamentos (LASSIM). Este sistema permite simular a interação<br />
entre todas as armas que equipam os soldados, as suas viaturas<br />
e os próprios edifícios, permitindo também simular campos de minas<br />
e fogos indiretos.<br />
De seguida foi feita uma demonstração por parte de um<br />
pelotão de atiradores, de um assalto a dois edifícios com uso desses<br />
mesmos sistemas de simulação, tendo terminado a mesma com a
80 - Tecnicamente Falando<br />
mostra e explicação da orgânica, equipamento e armamento de um<br />
pelotão de atiradores.<br />
Por último foi realizado uma demonstração de uma situação<br />
tática com utilização de fogos reais na carreira de tiro imediatamente<br />
adjacente à área de treino.<br />
Esta carreira de tiro permite a realização de fogo real da<br />
orla da área de treino (interior dos edifícios) para a mesma, possui<br />
diferentes tipos de alvos permitindo utilizar os diferentes sistemas de<br />
armas orgânicos, bem como a realização de pequenas ações de<br />
assalto e limpeza de edifícios.<br />
Tendo no leito da carreira de tiro quatro infraestruturas em<br />
betão (tipologia de casa com dois compartimentos sem teto) permite<br />
o fogo real e a utilização de granadas de mão reais no seu interior.<br />
A visita ao centro terminou com uma ida ao museu de armamento<br />
do Land Forces Training Centre.<br />
Foi realizada uma apresentação sobre os moldes como irá<br />
decorrer a próxima reunião do grupo (2º Semestre). Esta reunião<br />
decorrerá em França, no comando das forças terrestres e terá<br />
uma visita ao Centre d’Entraînment aux actions en Zone Urbaine<br />
(CENZUB).<br />
Como corolário dos trabalhos desta semana, o STANAG<br />
2593 e o ATrainP-3, foram concluídos, sendo o passo seguinte o seu<br />
envio para aprovação.<br />
Futuro<br />
Tendo o grupo terminado a missão que recebeu do EWG<br />
para este novo mandato e tendo bem presente a utilidade do grupo<br />
quer a nível de produção de doutrina específica quer como fórum<br />
de troca de conhecimento sobre Operações Urbanas, o grupo definiu<br />
(para submeter a aprovação e receber novo mandato) novos<br />
objetivos.<br />
Estes novos objetivos passam pela criação de outro<br />
STANAG, agora o ATP, de Urban Operations.<br />
O último dia da reunião, de novo na área onde decorreu<br />
a reunião, serviu para as últimas decisões referentes aos trabalhos,<br />
bem como para delinear as linhas futuras de atuação do grupo.<br />
Outro dos objetivos para reuniões futuras é o de aumentar<br />
as temáticas abordadas possibilitando o trabalho paralelo de criação<br />
de doutrina (principal motivo da existência do grupo) e abordagem e
82 - Tecnicamente Falando
AZIMUTE <strong>195</strong> - 83<br />
discussão de assuntos aos mais baixos escalões referentes a formação<br />
e treino de combate em áreas edificadas.<br />
Tendo o grupo considerado de muita utilidade a possibilidade<br />
de interação entre desenvolvimento de tecnologias e grupo de<br />
trabalho com a finalidade de dar a conhecer a todos os intervenientes<br />
novas tecnologias passíveis de serem utilizadas em operações<br />
urbanas, irá o grupo continuar a apoiar e interagir com empresas<br />
durante as próximas reuniões.<br />
Conclusões<br />
Sendo claramente a temática das operações urbanas atual<br />
e de grande importância, para o <strong>Exército</strong> Português a possibilidade<br />
de ter um representante neste grupo constitui-se claramente como<br />
uma mais-valia.<br />
Consequentemente sendo a Escola Prática de Infantaria (EPI)<br />
e entidade técnica responsável no exército para o combate em<br />
áreas edificadas e estando o Centro de Excelência de Combate em<br />
Áreas Edificadas (CdECAE) sediado na EPI, a possibilidade de o representante<br />
Nacional no NUONTGTG ser da EPI rentabiliza as suas<br />
capacidades, constituindo-se assim o CdECAE como o local ideal<br />
para recolha, discussão e disseminação de temáticas relacionadas<br />
com o combate em áreas edificadas, quer no âmbito da formação<br />
e treino, quer no que diz respeito aos equipamentos e projetos de<br />
desenvolvimento relacionados com esta temática.<br />
Assim uma participação cada vez mais ativa nestes fóruns<br />
permite, não só a recolha como o debate dos temas mais atuais,<br />
mantendo garantida a permanência na vanguarda da informação<br />
referente à Operações Urbanas.
84 - Visitas, cursos e outras atividades<br />
Cerimónia de receção dos Tenentes que frequentaram o Curso de Promoção a Capitão (parte comum das Armas e Serviços, Serviço de<br />
Saúde e Serviços Técnicos) e Cerimónia de Abertura do Curso de Promoção a Capitão de Infantaria<br />
No dia 07Jan2013 teve lugar a Cerimónia de Abertura do<br />
Curso de Promoção a Capitão de Infantaria. O curso deste ano<br />
contou com a presença de 28 Tenentes de Infantaria.<br />
No dia seguinte deu-se início à Parte Comum do Curso de<br />
Promoção a Capitão que foi frequentado por 86 Tenentes de todas<br />
as Armas e Serviços, Serviço de Saúde e Serviços Técnicos. A Cerimónia<br />
fde Receção foi presidida pelo Exmo. TGen Comandante da<br />
Instrução e Doutrina e da sua agenda,constou uma Cerimónia de<br />
Homenagem aos Mortos, uma fotografia de grupo, a Sessão Solene<br />
e um almoço .<br />
Visita do Exmo. Vice-Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, Tenente<br />
General António Carlos de Sá Campos Gil<br />
Estágio de Formação e Mentoria ao 6º Contingente Nacional para<br />
a International Security Assistance Force (ISAF)<br />
No âmbito do Desenvolvimento e Operacionalização do<br />
processo da Escola das Armas realizou-se no dia 10 de janeiro de<br />
2013, uma visita de trabalho do Exmo. Vice-Chefe do Estado-Maior<br />
do <strong>Exército</strong>, Tenente General António Carlos de Sá Campos Gil que<br />
se fez acompanhar pelo Exmo. TGen António Agostinho, e pelos<br />
Exmo. MGen Alfredo Ramos, José Rodrigues da Costa, Frederico<br />
Rovisco Duarte e Ulisses Nunes de Oliveira. Do programa de visita<br />
realça-se a apresentação do briefing da EPI sobre as infraestruturas<br />
e necessidades de investimentos para as áreas de formação, dos<br />
serviços, dos alojamentos, do tiro e das instalações do Alto da Vela,<br />
tendo de seguida sido feita uma visita aos diferentes locais.<br />
No âmbito da preparação e aprontamento da Military Adviser<br />
Team do 6º Contingente Nacional para a ISAF, decorreu, de 23 a<br />
25 de Janeiro na EPI o Estágio de Formação e Mentoria. O Estágio foi<br />
frequentado por um Tenente-Coronel, três Majores, dois Capitães,<br />
um Sargento-Mor e um Sargento-Ajudante, abrangendo três áreas<br />
distintas – Formação, Mentoria e Técnicas de Utilização de Intérpretes.<br />
Este pacote formativo foi desenhado à medida e com base nas<br />
necessidades identificadas, quer pela equipa de mentores, quer pelos<br />
contingentes anteriores.
AZIMUTE <strong>195</strong> - 85<br />
Cerimónia de homenagem ao resistente da 1ª invasão francesa,<br />
Jacinto Correia<br />
40º Aniversário do Curso de Transmissões de Infantaria<br />
No dia 25 de janeiro de 2013 teve lugar a cerimónia de<br />
Homenagem ao Resistente Jacinto Correia, junto ao local onde foi<br />
executado, no Jardim da Alameda, em frente à Porta de Armas da<br />
Escola Prática de Infantaria. Esta cerimónia, em apoio ao Clube Militar<br />
de Oficiais de Mafra, contou com a presença do Exmo. Senhor<br />
Vereador da Câmara Municipal de Mafra, Dr. José Bizarro, Exmo.<br />
Presidente do Clube Militar de Oficiais de Mafra, MGen Inácio de<br />
Sousa, Exmo. Diretor do Palácio Nacional de Mafra, Dr. Mário Pereira,<br />
Exmo. Dr. Saldanha Lopes e do Exmo. Comandante da EPI,<br />
Coronel de Infantaria, João Pedro de Oliveira Ribeiro.<br />
Reunião de Comando do <strong>Exército</strong> e Reunião de Trabalho sobre a<br />
Escola das Armas<br />
Realizou-se no dia 23 de fevereiro de 2012 a comemoração<br />
do 40º Aniversário do Curso de Transmissões de Infantaria.<br />
Do programa salienta-se a fotografia de conjunto, junto à<br />
Porta de Armas, o descerrar da placa no seu átrio e a visita à área<br />
museológica da Escola Prática de Infantaria.<br />
Para a Escola é sempre uma enorme satisfação e com grande<br />
agrado que recebe os Infantes que antes de nós serviram na<br />
Escola Prática de Infantaria.<br />
Visita de Sua Excelência O General Chefe de Estado Maior do<br />
<strong>Exército</strong> de Espanha<br />
Realizou-se no dia 13 de fevereiro de 2013, na Escola Prática<br />
de Infantaria, a Reunião de Comando do <strong>Exército</strong> com a presença<br />
de Sua Ex.ª O General Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, dos<br />
Exmos. Tenentes-Generais Comandantes dos OCAD e do Comandante<br />
da Academia Militar em exercício de funções. Seguidamente,<br />
realizou-se na Sala de Honra de Infantaria, a Reunião de Trabalho<br />
sobre a Escola das Armas, que contou com a presença do Exmo. Tenente-General<br />
Vice-Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, Major‐General<br />
Diretor de Infraestruturas do <strong>Exército</strong>, Major-General Diretor<br />
de Formação, Exmos. Majores-Generais Comandantes das Brigadas,<br />
Exmos. Comandantes das Escolas Práticas e elementos coordenadores<br />
do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>.<br />
A Escola Prática de Infantaria recebeu a visita de Sua Excelência<br />
o General Chefe de Estado Maior do <strong>Exército</strong> de Espanha<br />
em 06 de fevereiro de 2013, que contou com a presença de Sua<br />
Excelência o General Chefe de Estado-Maior do <strong>Exército</strong>. Da visita<br />
que muito honrou todos aqueles que servem na Escola, salienta-se a<br />
Cerimónia de Homenagem aos Mortos pela Pátria, o briefing sobre<br />
a Escola Prática de Infantaria na Sala de Honra da Infantaria e uma<br />
demonstração no Centro de Formação e Treino em Combate em<br />
Áreas Edificadas, tendo terminado com a assinatura do livro de honra,<br />
do <strong>Exército</strong> e troca de lembranças.
86 - Visitas, cursos e outras atividades<br />
Campeonato Desportivo Militar de Tiro Desportivo Fase II (Comando De Instrução e Doutrina) e Fase III (<strong>Exército</strong>)<br />
Realizou-se de 19 a 21 de março de 2013 na Escola Prática de Infantaria a Cerimónia de Encerramento do Campeonato Desportivo<br />
Militar de Tiro Desportivo Fase II, Comando de Instrução e Doutrina, que decorreu no período de 19 a 21 de março, presidida pelo Exmo. Diretor<br />
de Formação de Comando de Instrução e Doutrina, MGen Ulisses Joaquim de Carvalho Nunes de Oliveira. O campeonato dividido em<br />
3 provas, Pistola nas variantes de duelo e precisão e prova de Espingarda na variante de precisão, ambos nos escalões masculino e feminino,<br />
contou com a participação de 10 equipas em representação das Unidades do Comando de Instrução e Doutrina.<br />
Realizou-se de 27 a 31 de maio de 2013 na Escola Prática de Infantaria o Campeonato Desportivo Militar de Tiro Desportivo Fase<br />
III – <strong>Exército</strong>. O campeonato foi dividido em 4 provas, prova de Pistola, nas variantes de precisão, duelo e velocidade militar e prova de Carabina,<br />
nas variantes de precisão e velocidade militar, ambas nos escalões masculino e feminino. Contou com a participação de 09 equipas<br />
em representação das Unidades, Estabelecimentos e Órgãos do <strong>Exército</strong>. A Cerimónia de Encerramento foi presidida igualmente pelo MGen<br />
Ulisses de Oliveira.<br />
A Escola Prática de Infantaria na “Feira Das Profissões” em Mafra<br />
Receção do 4º Módulo de Formação de Combate em Áreas Edificadas<br />
da European Union Training Mission (EUTM) - Somália<br />
Uma vez mais a Escola Prática de Infantaria marcou presença<br />
na Feira das Profissões das Jornadas da Juventude do Concelho de<br />
Mafra. Esta iniciativa decorreu no dia 03 de Abril de 2013, no Pavilhão<br />
Gimnodesportivo do Parque Desportivo de Mafra. A Escola Prática<br />
de Infantaria aproveitou o espaço que lhe foi concedido dividindo-o<br />
em quatro partes: uma parte com um equipamento de treino<br />
simulado, com a montagem de um simulador de tiro; outra com<br />
uma exposição de armamento e equipamento em uso no <strong>Exército</strong>,<br />
uma parte de divulgação com folhetos informativos e uma parte<br />
com um Roll Up da Escola e 3 expositores da exposição, “ EPI - 125<br />
anos a moldar o futuro”.<br />
Realizou-se no dia 05 de abril de 2013 a Cerimónia de<br />
Receção do 4º Módulo de Formação em Combate em Áreas<br />
Edificadas (4MFCAE) da European Union Training Mission - Somalia.<br />
Esta cerimónia foi presidida pelo Exmo. Adjunto do Comandante das<br />
Forças Terrestres, MGen Luís Manuel Martins Ribeiro.<br />
Da Cerimónia salienta-se a intervenção do Exmo. MGen Luís<br />
Manuel Martins Ribeiro e a entrega, pelo Comandante do 4MFCAE<br />
ao Comandante da Escola, da imagem de Dom Nun’Álvares Pereira,<br />
que acompanhou o 4º Módulo durante a sua missão no Uganda.
AZIMUTE <strong>195</strong> - 87<br />
A 31ª Corrida dos Sinos e a 11ª Corrida dos Sininhos passam pelo interior<br />
da Escola Prática de Infantaria<br />
A Escola Prática de Infantaria é Entidade Formadora Certificada<br />
Na sequência de alguns eventos dispersos de âmbito estritamente<br />
regional (estafetas, corridas de aldeia, 24 horas a correr, etc.),<br />
e concretizando o desejo de expansão e divulgação do atletismo<br />
para todos, a Corrida dos Sinos surge no início da década de 80 do<br />
século passado. A 31ª Corrida dos Sinos, prova com a distância de<br />
15 quilómetros, e a 11ª Corrida dos Sininhos, com a distância de 10<br />
quilómetros, realizaram-se no dia 07 de abril de 2013. Uma vez mais,<br />
a prova foi organizada pelos Amigos do Atletismo de Mafra, com a<br />
colaboração da Câmara Municipal de Mafra e de diversas empresas,<br />
tendo novamente um troço pelo interior da Escola Prática de Infantaria<br />
devido ao sucesso da passagem na anterior edição.<br />
Palestra sobre “As Operações no Teatro de Operações de África”<br />
A Escola Prática de Infantaria é desde abril de 2013 reconhecida<br />
pela Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho<br />
(DGERT), como Entidade Formadora Certificada. Este reconhecimento<br />
decorre da alteração do Sistema de Acreditação de Entidades<br />
Formadoras, de que a EPI fazia parte desde 2003 como Entidade<br />
Acreditada para a Formação, para o Sistema de Certificação de<br />
Entidades Formadoras. O reconhecimento comprova que a EPI é<br />
uma entidade dotada dos recursos e da capacidade técnica e organizativa<br />
para desenvolver processos associados ao desenvolvimento<br />
da formação, objeto de avaliação e reconhecimento oficiais, sendo<br />
avaliada pela qualidade da formação e pelos resultados alcançados.<br />
1º e 2º Cursos de Promoção a Sargento-Ajudante de Infantaria de<br />
2013<br />
Dentro do ciclo de palestras do Curso de Promoção a<br />
Capitão das Armas e Serviços 2013 (CPC A/S 2013), esteve nesta<br />
Escola, em 02 de abril de 2013, a Liga de Combatentes que, através<br />
do seu Presidente, Exmo TGen Joaquim Chito Rodrigues, proferiu<br />
duas palestras. A primeira, subordinada ao tema “As operações no<br />
Teatro de Operações de África”, focou-se em torno de Angola,<br />
relatando desde os acontecimentos que levaram à deflagração do<br />
conflito armado até à resposta pronta de Portugal e das suas Forças<br />
Armadas, bem como os eventos subsequentes. Tudo contado com<br />
base em dados históricos e na rica experiência pessoal. E uma<br />
segunda sobre a Liga dos Combatentes, a sua missão e programas<br />
em desenvolvimento.<br />
Realizou-se de 17 de abril a 08 de maio de 2013 o 1º Curso<br />
de Promoção a Sargento-Ajudante de Infantaria de 2013. A parte<br />
específica do curso, ministrada na Escola Prática de Infantaria,<br />
contemplou 13 módulos de formação de onde se destacam, os<br />
procedimentos e técnicas de 2ª, 3ª e 4ª Secção, a doutrina de operações,<br />
o combate em áreas edificadas, a formação e o treino, e a<br />
administração de subunidades. O curso foi constituído por 11 (onze)<br />
1º Sargentos de Infantaria.<br />
O 2º Curso iniciou-se a 08Jul2013 e terminou a 25Jul2013<br />
sendo frequentado por 12 1º Sargentos de Infantaria.
88 - Visitas, cursos e outras atividades<br />
Curso de Apoio de Combate<br />
Curso Elementar de Combate em Áreas Edificadas de 2013<br />
Realizou-se de 29 de abril a 31 de maio de 2013, na Escola<br />
Prática de Infantaria, a Cerimónia de Encerramento do Curso de<br />
Apoio de Combate para Oficiais - 2013.<br />
O curso teve a duração de 5 semanas e foi constituído por<br />
um módulo de formação geral e módulos técnico-táticos relativos às<br />
áreas do apoio de combate: reconhecimento, anticarro e morteiros.<br />
Os 28 formandos tiveram a oportunidade de colocar em prática<br />
todos os conhecimentos adquiridos num exercício de fogos reais<br />
que decorreu na Brigada Mecanizada.<br />
Realizou-se, de 13 a 31 maio de 2013, o Curso Elementar de<br />
Combate em Áreas Edificadas que, pela 1ª vez teve a participação<br />
de elementos da Marinha e da Força Aérea. O curso teve a duração<br />
de 15 dias, nos quais os formandos receberam os conhecimentos<br />
necessários para serem formadores na área técnica do Combate<br />
em Áreas Edificadas (CAE). No âmbito da validação do curso, foram<br />
feitas um conjunto de avaliações e de exercícios da tipologia -<br />
Situation Training Exercise (STX), onde os formandos poderam pôr<br />
em prática os ensinamentos adquiridos bem como familiarizarem-se<br />
com o novo sistema de comando e controlo existente na sala de<br />
planeamento do CAE da Escola.<br />
Visita de Sua Excelência O Ministro da Defesa Nacional<br />
A Escola Prática de Infantaria recebeu a visita de Sua Excelência o Ministro da Defesa Nacional em 09 de maio de 2013, que contou<br />
com a presença de Sua Excelência o General Chefe de Estado-Maior do <strong>Exército</strong> e restantes elementos da estrutura de comando do <strong>Exército</strong>.<br />
Da visita que muito honrou todos aqueles que servem na Escola, salienta-se a cerimónia de Homenagem aos Mortos pela Pátria, o briefing<br />
sobre a implementação da Escola das Armas em Mafra e a visita às instalações da Escola e do Centro Militar e Educação Física e Desportos<br />
onde serão implementadas as diferentes unidades e departamentos da Escola da Armas. A visita terminou com um Porto de Honra na Sala<br />
de Honra da Infantaria com a presença de entidades civis de Mafra.
Visita de delegação de cadetes das Academias Militares da Bélgica,<br />
do Brasil e da França<br />
Visita de uma delegação do Centre d’Entraînement aux Actions en<br />
Zone Urbaine (CENZUB)<br />
A Escola Prática de Infantaria recebeu no dia 24 de Maio de<br />
2013 a visita de uma delegação de Cadetes das Academias Militares<br />
da Bélgica, do Brasil e da França, constituída por 3 oficiais e 2 cadetes<br />
de cada país.<br />
Do programa da visita realça-se a visita ao Salão Dom<br />
Nun’Álvares Pereira, à Direção de Formação, ao Museu da Infantaria,<br />
aos refeitórios e à cozinha conventual.<br />
No final tiveram ainda a oportunidade de visitar a Biblioteca<br />
e o Palácio Nacional de Mafra.<br />
No período de 18 a 19 de junho de 2013, esteve em visita à<br />
Escola Prática de Infantaria uma delegação francesa do Centre d’Entraînement<br />
aux Actions en Zone Urbaine. A delegação era chefiada<br />
pelo próprio Comandante do Centro, Coronel Pierre Santoni. O<br />
objetivo da visita foi, a pedido das autoridades francesas, conhecer<br />
o Centro de Formação e Treino de Combate em Áreas Edificadas.<br />
Durante a sua estadia foi realizada uma reunião de trabalho, onde<br />
esteve também presente o Presidente da Comissão Instaladora da<br />
escola das Armas, CorT Pascoal onde foi possível estabelecer possíveis<br />
ações de Cooperação Bilateral a desenvolver entre a futura<br />
Escola das Armas e o CENZUB.<br />
Visita da Comissão Parlamentar de Defesa Nacional<br />
No dia 02 de junho de 2013, a Escola Prática de Infantaria recebeu uma visita de trabalho da Comissão Parlamentar de Defesa<br />
Nacional, que contou com a presença de Sua Excelência o General Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong> e do Exmo. TGen CID.<br />
Da visita que muito honrou todos aqueles que servem na Escola, salienta-se a Cerimónia de Homenagem aos Mortos pela Pátria, o<br />
briefing sobre a implementação da Escola das Armas em Mafra, a visita às instalações da Escola onde serão implementadas as diferentes<br />
subunidades e direções da Escola da Armas e uma demonstração de 3 Block-War nas infraestruturas do Centro de Excelência de Combate<br />
em Áreas Edificadas. A visita terminou com a troca de lembranças na sala de Oficiais.
90 - Cultural<br />
Novas áreas culturais<br />
do Museu da Infantaria<br />
Sala de Mérito Desportivo<br />
TenInf Luís Branquinho<br />
A ideia de criar uma sala de mérito desportivo militar surgiu no decorrer das comemorações dos 125 anos de existência da Escola<br />
Prática de Infantaria. Com o passar do tempo este pensamento, e fazendo jus à célebre frase de Fernando Pessoa em que Deus quer, o<br />
Homem sonha e a obra nasce, foi ganhando força e forma.<br />
Com a cooperação do Arquiteto João Mareco foi possível obter uma projeção da sala em papel, tornando-se assim palpável pela<br />
primeira vez a obtenção de um espaço carregado de simbolismo que permitisse uma melhor preservação e apreciação de todos os troféus<br />
conquistados ao longo dos anos por bravos Soldados que com o seu suor engrandeceram esta Escola.<br />
Dia após dia, e depois de um notável trabalho de reabilitação da sala museológica a obra começou finalmente a definir-se. Com telas<br />
ilustrativas das diversas modalidades desportivas praticadas pelos militares da Escola Prática de Infantaria a forrar as paredes, o interior da sala
AZIMUTE <strong>195</strong> - 91<br />
de mérito desportivo militar remete-nos para uma viagem temporal<br />
inquestionável, sendo a prova de que quando existe vontade, saber,<br />
determinação e altruísmo, mesmo em alturas de grande dificuldade,<br />
conseguem-se sempre atingir os objetivos. Ao centro, numa vitrina,<br />
ordenados por modalidades desportivas, encontram-se os troféus<br />
que tanto dignificam a sala e nos enchem de prestígio e glória.<br />
Aquando da sua visita, estas são as palavras que presentearão<br />
todos os visitantes desta sala:<br />
Independentemente do contexto histórico ou operacional,<br />
o combatente terá sempre que dominar duas competências essenciais:<br />
a capacidade de suportar e vencer o desgaste físico da batalha<br />
e a capacidade de nela, eficazmente, empregar a sua arma.<br />
A Educação Física Militar e o Tiro são assim elementos fundamentais<br />
para a formação do Soldado, cuja expressão ultrapassa o<br />
plano físico, sendo igualmente crucial para a promoção do adequado<br />
espírito de corpo e camaradagem.<br />
Ao longo da sua existência, a Escola Prática de Infantaria tem<br />
assumido cabalmente esta responsabilidade e os seus elementos<br />
têm sabido de forma exímia cumpri-la, trazendo-lhe brilho e glória<br />
desportiva, num ambiente de saudável competitividade.<br />
Saudamos todos os que souberam e os que irão cumprir<br />
com brio e galhardia esta tradição e o mérito desportivo da Escola<br />
Prática de Infantaria.
92 - Cultural<br />
Saudação às Escolas<br />
Práticas e à Escola das<br />
Armas<br />
MGen Ref José Inácio Sousa<br />
Há cerca de 126 anos, no reinado de D.Luís I é criada em<br />
Mafra a Escola Prática de Infantaria e Cavalaria por carta de lei do<br />
visconde de S. Januário de 22 de Agosto de 1887. Outras escolas<br />
se lhe seguiram acompanhando o sentido da modernização dos<br />
exércitos ocorrida em finais do século XIX por razão da evolução<br />
dos instrumentos militares entre os quais merece relevo o aparecimento<br />
em força da metralhadora que rapidamente ocupou lugar de<br />
relevo nos campos de batalha. A criação da Escola foi uma decisão<br />
estruturante e de modernização, dotou o <strong>Exército</strong> com uma escola<br />
de formação que se manteve até aos nossos dias. Refira-se que a<br />
iniciativa acompanhou as tendências modernizadoras da época. Em<br />
1881 William Sherman criava em Leavenworth a Escola de Aplicação<br />
de Infantaria e Cavalaria que viria a evoluir para o actual Command<br />
and General Staff College.<br />
Três anos após a fundação da Escola Pratica de Infantaria e<br />
Cavalaria a Escola Prática de Cavalaria separa-se. Em 1890 instala-se<br />
em Vila Viçosa iniciando um caminho próprio que a levou a Torres<br />
Novas em 1902, Santarém em <strong>195</strong>7 e em 2006 para Abrantes onde<br />
hoje está sediada.<br />
A Escola Pratica de Engenharia tem a sua génese na reorganização<br />
de 1869 na então designada Escola Regimental Prática de<br />
Engenharia. O seu estabelecimento em Tancos foi confirmado em<br />
1880. Em 1886 é inaugurado o campo militar, com a presença do Rei<br />
D. luís I e do Ministro da Guerra, Fontes Pereira de Melo e criada a<br />
Escola Prática de Engenharia.<br />
Em 1857 começam os trabalhos e estudos que precederam<br />
a criação da Escola Prática de Artilharia em Vendas Novas sob a<br />
direcção do Coronel de Artilharia Caros Maria de Caula. Em 1860<br />
inicia-se o funcionamento do estabelecimento militar, e passa a designar-se<br />
por “novo campo de instrução”. O primeiro regulamento<br />
da Escola Prática de Artilharia data de 28 de Abril de 1861 data que<br />
marca o início do funcionamento regular da Escola.<br />
As Transmissões estão inicialmente integradas nas tropas de<br />
Engenharia. Em 1911, foram criados no Porto dois Corpos de Tropas<br />
de Engenharia, um no activo, outro na reserva. Fazia parte do corpo<br />
activo uma secção de telegrafistas de campanha. As transmissões<br />
viriam a permanecer integradas nos Regimentos de Sapadores Mineiros<br />
sediados em Lisboa e no Porto. Em 1965 o Regimento de<br />
Engenharia <strong>nº</strong>2 passa a Regimento de Transmissões herdando as
AZIMUTE <strong>195</strong> - 93<br />
tradições e património das unidades da arma suas antecessoras. O<br />
Regimento de Transmissões passa a designar-se por Escola Pratica<br />
de Transmissões em 1 de Fevereiro de 1977. Em 10 de Maio de 1993<br />
é transferida do Aquartelamento do Bom Pastor no Porto para o<br />
Aquartelamento do Viso ocupando as instalações do extinto Regimento<br />
de Infantaria do Porto (RI6).<br />
Esta abreviada resenha, muito sucinta, evidencia a génese<br />
das diferentes escolas criadas no contexto de modernização e estruturação<br />
concretizadas pelo exército na segunda metade do século<br />
XIX. Surge a propósito da decisão tomada de criar em Mafra<br />
a Escola Prática das Armas reunindo Infantaria, Artilharia, Cavalaria,<br />
Engenharia e Transmissões. É uma decisão reformista que acompanha<br />
os tempos e contribui para o reforço da cooperação e integração<br />
entre as armas da manobra alem de perseguir o objectivo da<br />
gestão, mais racional, destas importantes escolas de formação e do<br />
dispositivo terrestre.<br />
Em 2013 as escolas práticas estão disseminadas pelo território<br />
mantendo presença no espaço nacional mas perdendo em<br />
cooperação, racionalização e custos: EPI em Mafra, EPC em Abrantes,<br />
EPE em Tancos, EPTm no Porto, EPA em Vendas Novas. Em três<br />
séculos as Escolas fundamentais de formação dos oficiais e sargentos<br />
das armas permaneceram separadas fisicamente ainda que a<br />
cooperação entre elas tenha sido um objectivo permanente.<br />
No Clube Militar de Oficiais de Mafra sente-se de o peso<br />
da decisão e os associados reflectem sobre o futuro desta nova<br />
Escola Prática. O clube acolhe no seu seio oficiais de todas as armas<br />
e serviços, muito sensíveis a esta reforma. Muitos deles serviram na<br />
sua Escola e interrogam-se sobre o futuro. Carregam na memória os<br />
anos dedicados à arma e evocam os tempos em nela despenharam<br />
funções. O Clube Militar de Oficiais de Mafra antecipou de certo<br />
modo a criação da Escola das Armas. Reúne associados com origem<br />
no <strong>Exército</strong>, na Marinha e na Força Aérea numa convivência<br />
salutar e de respeito pela diversidade de origem. E funciona bem.<br />
Um elevado número de associados é oriundo da Infantaria<br />
mantendo portanto fortes ligações a Mafra. O tema das vivências<br />
na Escola Prática de Infantaria é recorrente sendo sempre abordado<br />
nas reuniões e convívios. Ocorre-me evocar os tempos dos anos<br />
sessenta, setenta e oitenta período em que a intensidade da instrução<br />
e os delicados e sensíveis momentos que então se viviam<br />
exigiam a todos grande dedicação, generosidade, carácter e muito
94 - Cultural<br />
trabalho. Foram tempos muito especiais, em contextos bem diferentes,<br />
que impuseram atitudes e exigiram posturas claras sempre fundadas<br />
na lealdade e na vontade de bem-fazer e bem servir Portugal.<br />
como marcante o diaporama preparado para a apresentação da<br />
Bandeira Nacional aos instruendos que viria a ser aperfeiçoado e<br />
valorizado até aos dias de hoje.<br />
Foram anos de actividade febril na formação, na renovação<br />
dos métodos de instrução na estruturação dos novos conteúdos<br />
programáticos. O esforço era naturalmente para a formação dos<br />
oficiais do quadro permanente da arma e de milhares de oficiais e<br />
sargentos milicianos que de três em três meses se apresentavam na<br />
EPI para frequentar os cursos. Os instrutores, do quadro permanente<br />
e do quadro de complemento, eram poucos. Orientavam as suas<br />
energias para a preparação das instruções, para a organização de<br />
novas estruturas e sistemas de apoio à instrução e na investigação<br />
além dos variados serviços de escala que integravam. Retemos a<br />
imagem da formatura da manhã na Parada Leste, - designada por Parada<br />
Magalhães Osório a partir de 1971 - com os pelotões a marchar<br />
para os locais de instrução na tapada ao ritmo das caixas até ao<br />
portão norte, e com os três últimos instruendos a transportar o cavalete,<br />
o quadro preto e os auxiliares de instrução cuidadosamente<br />
preparados na noite anterior nos quartos e arrecadações ou cedidos<br />
depois de muitas recomendações e cuidados impostos pelo cabo<br />
Tudela. Evocamos o momento da educação física, que muito melhorou<br />
com o aparecimento do REFE, com o eucaliptal a transbordar<br />
de instruendos, os campos de treino em circuito completamente<br />
ocupados e os “marcor” a decorrer pelos caminhos e estradas da<br />
tapada com as vozes a ressoar por entre os pinhais Recordamos<br />
as actividades nas carreiras de tiro, com os instruendos, em vagas<br />
sucessivas, a executar as tabelas, a registar os resultados e a mudar<br />
os alvos na trincheira, culminando com a limpeza de armamento<br />
e apanha dos invólucros, matéria-prima de muito valor e que era<br />
necessário devolver.<br />
No domínio da táctica, dos então chamados” métodos de<br />
instrução”, do armamento, do tiro, das transmissões, da educação física<br />
e outros, foram concretizadas iniciativas tendentes a modernizar<br />
os conteúdos, identificar objectivos de formação avaliar os níveis de<br />
aquisição de conhecimentos. Numa sala do corredor Lacouture foi<br />
instalado um moderno estúdio de televisão para apoiar a instrução<br />
de todos os cursos. Produziram-se neste estúdio inúmeros filmes<br />
e diaporamas para apoio ao ensino de variadas matérias. Recordo<br />
O elevado número de instruendos exigiu novas respostas<br />
face às carências de instrutores. Foi justamente para responder a<br />
este desafio que foram pensados os novos métodos ou processos<br />
de instrução orientados para a prática e para a integração das diversas<br />
matérias e especialidades. Os percursos tácticos na tapada,<br />
organizados por objectivos, a sala didáctica de armamento, que funcionava<br />
para uma companhia em simultâneo, apoiada nas emissões<br />
de televisão e na presença de um monitor por pelotão, as salas didácticas<br />
de tiro de precisão e de tiro instintivo que iniciavam a longa<br />
do instruendo formação como atirador. O tiro tinha uma sequência<br />
de formação complementar. Começando pelo tiro de precisão aos<br />
25 metros passando depois para os 100, 200 e 300 metros conforme<br />
os resultados alcançados. A seguir ao tiro de precisão, para a<br />
especialidade de atirador, praticava-se o tiro instintivo inicialmente<br />
na sala didáctica depois na carreira de tiro ao que se seguia o tiro<br />
individual de combate e finalmente o tiro colectivo de combate no<br />
escalão secção. Uma ficha de tiro acompanhava o instruendo e fazia<br />
parte do processo individual.<br />
O tiro estava intimamente ligado à táctica área com maior<br />
número de horas e que mais esforço exigia aos instrutores. No período<br />
a que nos estamos a referir foram produzidos manuais de<br />
apoio, merecendo relevo, entre outros, o MTIC (Manual de Técnica<br />
Individual de Combate) cuja elaboração constitui uma ajuda inestimável<br />
para o instrutor. As formações da secção e esquadra, hoje<br />
simplificadas e flexíveis, eram na época de alguma complexidade<br />
e variedade. Recordo a formação da coluna simples a coluna dobrada,<br />
em linha, em escalão à direita ou à esquerda, a coluna por<br />
um e até a formação em T. A dificuldade traduzia-se na adaptação<br />
da formação ao terreno e situação e a conversão da mesma<br />
quando as condições se alteravam. O manual da Secção e também<br />
do combate nocturno, sistematizou toda a manobra simplificando e<br />
dando sentido prático às formações, possibilitando uniformizar procedimentos<br />
e facilitar a acção de comando.
AZIMUTE <strong>195</strong> - 95<br />
A integração do tiro e da táctica dava-se quando a secção<br />
era avaliada na pista táctica e dada como apta. Começavam então<br />
as pistas de tiro de combate, individuais e colectivas culminando<br />
para os atiradores no campo de infiltração considerada como a prova<br />
de maior risco.<br />
Para as matérias ministradas aos cursos foi adoptado o<br />
mesmo padrão e as pistas - também designadas por circuitos de<br />
avaliação - eram montadas para todas as especialidades. A avaliação<br />
final ocorria nos exercícios de campo envolvendo todas as<br />
especialidades. Longas marchas, noites sem fim, os elementos nem<br />
sempre favoráveis e quase sempre adversos, golpe de mão, emboscada,<br />
defesa do estacionamento, patrulhas. Quem não se recorda<br />
das patrulhas no pinhal de Leiria e dos golpes de mão no Arieiro<br />
na serra do Montejunto, subir a serra durante a madrugada e ao<br />
alvorecer desencadear o assalto Era marchar, marchar e percorrer<br />
as longas distâncias estabelecidas no guião dos exercícios finais. Os<br />
exercícios terminavam por vezes com a montagem e realização de<br />
um ataque a objectivos no interior da tapada e incluía a realização<br />
de fogos reais. A abordagem à tapada, feita a partir da ribeira de<br />
Muxalforro, apresentava dificuldades acrescidas pelas características<br />
do terreno, pela noite, pelo cansaço e finalmente por ser necessário<br />
transpor o muro para o interior da tapada. Os atiradores ultrapassa-
96 - Cultural<br />
vam o obstáculo com entreajuda mas quando as guarnições armas<br />
se deslocavam para ocupar bases de fogos, a transposição do muro<br />
tornava-se um desafio que só a apurada instrução de serventes ajudava<br />
a resolver. O morteiro 10.7 com o seu prato base, o anel, o<br />
reparo e o tubo constituía um desafio para os já desgastados serventes<br />
da arma. Mas a verdade é que à hora do início da preparação<br />
as armas estavam instaladas e saíam as granadas para alvos no<br />
almarjão ou no baracio conseguindo-se rapidamente a eficácia. O<br />
regresso a quartéis era feito depois da concentração dos instruendos<br />
na tapada e concluía-se com um desfile, que passava em frente ao<br />
Convento, com a Banda da EPI à frente a marcar o ritmo da marcha<br />
e a dar alento às forças.<br />
Nesta dinâmica, bem coordenada, o esforço maior competia<br />
ao instrutor. Sempre presente, atento a todos os detalhes, circunstâncias<br />
e acções, era o garante que o que havia a fazer seria bem<br />
feito e em segurança. As actividades na Escola decorreram sempre<br />
sob grande pressão. Os cursos sucessivos, a preparação das instruções<br />
a variedade das matérias exigia ao instrutor um esforço que só<br />
o brio, a dignidade e o espírito de sacrifício ajudavam a ultrapassar.<br />
Merecem também ser evocadas as inúmeras e diversificadas<br />
demonstrações realizadas na tapada de Mafra. As demonstrações<br />
com fogos reais, constituíam actividade de elevado risco<br />
envolvendo quase todas as especialidades. Quando as munições<br />
não tinham limites para TCA e não havia restrições nos consumos<br />
de combustível, as demonstrações tácticas com tiro real adquiriam<br />
uma dimensão e intensidade que só envolvidos nelas poderíamos<br />
avaliar o seu grau de realismo. Mais uma vez a experiência e presença<br />
dos instrutores garantia que os apontadores, ao introduzir nos<br />
aparelhos de pontaria os elementos de tiro, ponderavam também os<br />
laqueios complementares e outras deficiências das armas, já conhecidas,<br />
e introduzissem as devidas correcções garantindo a eficácia<br />
e segurança. Conheciam bem todo o material e as suas limitações<br />
e também as condições meteorológicas de Mafra. No terreno os<br />
atiradores não progrediam um metro sem o controlo do instrutor<br />
sempre presente e atento.<br />
Há outro tempo da vida da escola que merece ser assinalado<br />
pela importância que teve na actualização dos conhecimentos<br />
de todos os oficiais da arma. Referimo-nos ao período em que o<br />
exército se voltou para a OTAN após as campanhas de África, iniciando<br />
o processo de actualização dos seus quadros. Os manuais<br />
da Guerra Subversiva mantiveram a sua importância e validade, mas<br />
com forças integradas em Brigadas, Divisões e comandos da OTAN<br />
era imperioso apreender e divulgar rapidamente, conhecimentos de<br />
natureza táctica, técnicas e procedimentos. Foi uma tarefa colossal,<br />
inteiramente apoiada pelo Comando e Chefias do <strong>Exército</strong> e pela<br />
Arma de Infantaria, que assentou num grupo de instrutores que, com<br />
grande humildade, muito trabalho, sacrifício e estudo deu corpo a<br />
essa tarefa, traduzindo e interpretando regulamentos, manuais, FM e<br />
outros documentos. Foi então o tempo dos cursos de actualização<br />
e aperfeiçoamento para oficiais mais antigos e de formação para<br />
os oficias mais jovens. Foi um tempo enriquecedor que deu frutos,<br />
contribuindo para que o desempenho das unidades e individuais em<br />
missões ou cargos OTAN fosse cumprido com dignidade e competência.<br />
Nos anos oitenta novo impulso é dado pela Infantaria na<br />
modernização e estruturação da instrução e dos métodos de ensino.<br />
Uma vez mais um grupo alargado de instrutores deu forma a uma<br />
nova concepção de instrução apoiada na definição clara dos objectivos<br />
s atingir com a formação, nas condições que os mesmos deviam<br />
ser cumpridos e nos níveis de eficiência que deviam ser alcançados.<br />
Para todos os domínios da instrução foram elaboradas e bem<br />
estruturadas as conhecidas “fichas de instrução” que davam forma<br />
clara ao modelo que tinha sido concebido. Foi de novo um período<br />
de trabalho, sem limites, com prazos rigorosos. Estes trabalhos foram<br />
difundidos para todo o <strong>Exército</strong> exigindo o empenhamento da Escola,<br />
desde os dactilógrafos até aos gráficos e de novo aos instrutores<br />
para rever os trabalhos. As oficinas gráficas da EPI laboraram de<br />
forma intensiva produzindo elevado número de manuais distribuídos<br />
por todo para todo o <strong>Exército</strong> em áreas de interesse comum.<br />
Uma nova geração de instrutores, com o mesmo empenho<br />
e competência, já com recurso a computadores, encarregou-se de<br />
modernizar estes trabalhos dando-lhes novas formas e conteúdos<br />
adaptados a modelos mais actualizados e às exigências de formação.<br />
Muito havia a referir sobre os 126 anos da Escola Prática de<br />
Infantaria. Assinalámos, sucintamente e ao correr do pensamento,<br />
apenas alguns períodos e situações da sua brilhante história, aqueles<br />
que nos tocaram de perto e nos proporcionaram vivência mais<br />
intensa numa visão interior, relacionada com todos os que contribuíram<br />
para o cumprimento da missão da Escola.<br />
Aos oficiais e sargentos que hoje servem nas Escolas Práticas<br />
coloca-se o estimulante desafio de levantar a nova Escola das<br />
Armas. Vai exigir-se mais uma vez aos instrutores muito trabalho,<br />
cooperação reforçada, clareza de objectivos, a superação de ideias<br />
contraditórias e acrescido sacrifício pessoal e familiar. Não perder<br />
identidade e manter as boas tradições cultivadas nas actuais e já<br />
centenárias escolas, não será tarefa fácil. Que o discernimento sobre<br />
o que é essencial não falte a todos os que vão participar nesta<br />
histórica e relevante missão de levantar a Escola Prática das Armas.<br />
É uma tarefa nobre e relevante para o <strong>Exército</strong>.<br />
A nossa associação, o Clube Militar de Oficiais de Mafra,<br />
que tem entre os seus membros oficiais de infantaria, cavalaria, artilharia,<br />
engenharia, transmissões, serviço de saúde, serviço geral do<br />
exército e serviço de material, da Marinha e da Força Aérea, saúda<br />
a nova Escola Prática das Armas e formula votos que se constitua<br />
como uma grande escola de formação continuadora e renovadora<br />
do espírito da Escolas que lhe deram origem.<br />
Os vossos valores são os nossos valores.