31.12.2014 Views

GT 2011 - Semana de Letras - UFSC

GT 2011 - Semana de Letras - UFSC

GT 2011 - Semana de Letras - UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Página36<br />

<strong>GT</strong>: PERSPECTIVISMO, PÓS-HUMANISMO E ZOOGRAFIAS<br />

Resumo da proposta:<br />

Pensar o animal é pensar os limites do homem e da linguagem, as fronteiras entre o humano e o inumano, entre o<br />

eu e o outro – pois é nesse encontro ético com o absolutamente outro que uma subjetivida<strong>de</strong> se constitui. Neste<br />

sentido, as zoografias são elas mesmas pós-humanistas, na medida em que, ao abrirem-se à perspectiva animal,<br />

questionam nosso antropocentrismo e nossas dicotomias i<strong>de</strong>ntitárias e conceituais. Tal abertura é a própria<br />

condição da linguagem, uma vez que ela é fundada por essa relação com a alterida<strong>de</strong>. Partindo <strong>de</strong>ssa idéia, esta<br />

mesa-redonda propõe <strong>de</strong>bater diferentes leituras e teorias sobre o animal escrito e seu impacto nas artes e na<br />

filosofia.<br />

Resumo dos <strong>de</strong>mais trabalhos apresentados no <strong>GT</strong>:<br />

ANA CAROLINA CERNICCHIARO:<br />

Neotenia e incompletu<strong>de</strong> em “Axolotl”, <strong>de</strong> Julio Cortázar<br />

Em sua entrega ao ponto <strong>de</strong> vista do outro, na transmutação <strong>de</strong> perspectivas, no <strong>de</strong>vir-animal do homem e no <strong>de</strong>virhomem<br />

do animal, o conto “Axolotl”, <strong>de</strong> Julio Cortázar, coloca em questão as dicotomias i<strong>de</strong>ntitárias e estanques da<br />

humanida<strong>de</strong>, expondo a fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossas estruturas hierárquicas que coisificam homens e animais. O<br />

“canibalismo <strong>de</strong> oro” <strong>de</strong>stas pequenas salamandras cortazarianas é ainda mais penetrante do que o olhar do<br />

simpático felino <strong>de</strong> Derrida, pois, enquanto este nos remete à “alterida<strong>de</strong> absoluta do vizinho ou do próximo”, o<br />

axolotl nos revela nossa continuida<strong>de</strong> heterogênea com o outro. Isso porque a neotenia do axolotl (retenção <strong>de</strong><br />

características infantis na maturida<strong>de</strong>) é consi<strong>de</strong>rada por muitos cientistas e filósofos - entre eles, Giorgio Agamben -<br />

uma nova chave para enten<strong>de</strong>r a evolução da espécie humana e sua essência prematura, tão bem manifesta na<br />

privação <strong>de</strong> linguagem da criança. Mais do que conseqüências biológicas, aceitar essa aproximação entre as duas<br />

espécies implica mudanças ontológicas, filosóficas, políticas e éticas. Ao assumirmos a incompletu<strong>de</strong> do homem,<br />

admitimos o ser-com que somos e nos permitimos ver o eu como um <strong>de</strong>vir entre multiplicida<strong>de</strong>s, um limiar on<strong>de</strong> o<br />

mesmo e o outro não se <strong>de</strong>limitam, mas se abrem ao mundo. Da zoogramatologia: a literatura como escrita<br />

totêmica.<br />

RODOLFO PISKORSKI :<br />

Da zoogramatologia: a literatura como escrita totêmica<br />

Uma vez <strong>de</strong>finido no humanismo secular como o vivente não-linguístico, o animal acaba se tornando a condição para<br />

a própria existência e funcionamento da linguagem. Dessa forma, o animal não-linguístico po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado<br />

como a sombra projetada sobre o humano pela linguagem e como condição <strong>de</strong> funcionamento da própria. Assim<br />

como, na leitura gramatológica <strong>de</strong>rri<strong>de</strong>ana, a fala é sempre já impregnada <strong>de</strong> escrita por estar aberta ao<br />

espaçamento, a humanida<strong>de</strong> linguística <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> sempre da animalida<strong>de</strong>, que é seu primeiro Outro, para que possa<br />

fundar o exterior que, como no estado <strong>de</strong> exceção <strong>de</strong> Agamben, <strong>de</strong>termina o interior. O totem animal presente no<br />

relato freudiano da origem da socieda<strong>de</strong> e da moral aponta para uma relação entre a escrita e a animalida<strong>de</strong> que<br />

seria mais profunda que mera analogia. Também a literatura, como movimento <strong>de</strong> linguagem, acaba se encontrando<br />

irredutivelmente endividada a uma presença animal que ela mesma acaba por conjurar em seu centro, confirmando<br />

a importância do papel da animalida<strong>de</strong> para qualquer processo <strong>de</strong> significação.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!