jardim, mato grosso do sul - Bonito
jardim, mato grosso do sul - Bonito
jardim, mato grosso do sul - Bonito
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O CARSTE NA<br />
ÁREA DA CAVIDADE NATURAL LAGOA<br />
MISTERIOSA (JARDIM, MATO GROSSO<br />
DO SUL)<br />
Sandro M. Scheffler 1<br />
INTRODUÇÃO<br />
A Fazenda Lagoa Misteriosa, de propriedade <strong>do</strong><br />
Senhor Eduar<strong>do</strong> Folley Coelho, está localizada no<br />
Município de Jardim, su<strong>do</strong>este <strong>do</strong> Mato Grosso <strong>do</strong><br />
Sul. O acesso é realiza<strong>do</strong> pela Fazenda Cabeceira<br />
<strong>do</strong> Prata, localizada na BR 267, Km 515, zona rural<br />
de Jardim.<br />
Está situada dentro <strong>do</strong> campo de <strong>do</strong>linas<br />
descrito por Lino et al. (1984) como Núcleo<br />
Curé, onde os calcários <strong>do</strong>lomíticos Proterozóicos<br />
passam a ser recobertos pelos arenitos permocarboníferos<br />
da Formação Aquidauana. Este<br />
sistema cárstico faz parte da Província<br />
Espeleológica da Serra da Bo<strong>do</strong>quena, sen<strong>do</strong> esta<br />
serra uma das mais extensas áreas de carste<br />
contínua <strong>do</strong> Brasil (Sallun Filho & Karmann,<br />
2007).<br />
O objetivo <strong>do</strong> presente trabalho é apresentar e<br />
discutir de forma preliminar alguns da<strong>do</strong>s<br />
referentes à geomorfologia e geologia da área da<br />
Cavidade Natural Lagoa Misteriosa coleta<strong>do</strong>s<br />
durante os trabalhos de diagnóstico <strong>do</strong> plano de<br />
Manejo Espeleologico, finaliza<strong>do</strong>s em 2009.<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
Foram realizadas diversas saídas de campo,<br />
entre os quais uma descida pelo Rio da Prata, a<br />
partir da Fazenda Aurora. Os afloramentos de<br />
interesse foram identifica<strong>do</strong>s com a sigla LM<br />
seguida <strong>do</strong> número. Para exata localização <strong>do</strong>s<br />
afloramentos ver o Plano de Manejo Espeleológico<br />
da Lagoa Misteriosa (Scheffler & Fernandes,<br />
2009).<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
Caracterização da cavidade<br />
A cavidade Lagoa Misteriosa é uma típica <strong>do</strong>lina<br />
de abatimento, que expõe paredes verticais<br />
escalonadas de calcário <strong>do</strong>lomítico rosa<strong>do</strong>,<br />
permitin<strong>do</strong> em seu fun<strong>do</strong> o afloramento <strong>do</strong> lençol<br />
1 Programa de Pós-Graduação em Geologia, Instituto de<br />
Geociências, UFRJ, Av. Brigadeiro Trompowsky, s/n,<br />
Cidade Universitária, Ilha <strong>do</strong> Fundão, 21949-900, Rio de<br />
Janeiro, RJ, Brasil. schefflersm@yahoo.com.br<br />
freático em forma de um lago de aproximadamente<br />
65 m x 25 m. A espessa camada calcária se estende<br />
a grandes profundidades dentro <strong>do</strong> lençol freático e<br />
é recoberta pela camada arenítica de<br />
aproximadamente 10 metros da Formação<br />
Aquidauana. Até o nível <strong>do</strong> lago a <strong>do</strong>lina apresenta<br />
aproximadamente 70 metros de desnível.<br />
Figura 1. Mapa topográfico da Lagoa Misteriosa<br />
(modifica<strong>do</strong> de Oliveira, 2001).<br />
Quan<strong>do</strong> foi realizada a topografia sub-aquática,<br />
durante os estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong> plano de manejo (ver<br />
Scheffler & Fernandes, 2009), a área da superfície<br />
da lâmina d’água era de aproximadamente 900 m 2 .<br />
As entradas <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is poços estão situadas a<br />
aproximadamente 6 metros <strong>do</strong> nível <strong>do</strong> lago e<br />
apresentam área somada de aproximadamente 300<br />
m 2 . Nesta cavidade o mergulha<strong>do</strong>r Gilberto<br />
Menezes de Oliveira, em 1998, atingiu uma<br />
profundidade de 220 metros (Fig. 1).<br />
Outra característica da cavidade é a ausência de<br />
espeleotemas, o que indica que mesmo parte da<br />
cavidade nunca teria esta<strong>do</strong> acima <strong>do</strong> nível <strong>do</strong>
lençol, ou teria permaneci<strong>do</strong> pouco tempo e os<br />
espeleotemas forma<strong>do</strong>s teriam si<strong>do</strong> dissolvi<strong>do</strong>s.<br />
A gênese desta cavidade assim como das outras<br />
<strong>do</strong>linas e cavernas da região está condiciona<strong>do</strong> por<br />
um sistema de falhas de senti<strong>do</strong> normalmente <strong>sul</strong>su<strong>do</strong>este/norte-nordeste.<br />
O maior desenvolvimento<br />
das cavidades e <strong>do</strong>linas da área sempre está<br />
alinha<strong>do</strong> nesta direção [eg. Gruta <strong>do</strong> Curé (LM41),<br />
maior desenvolvimento N25-30E (Lino et al.,<br />
1984); Gruta <strong>do</strong> Cateto (LM22), maiores galerias<br />
orientadas N15W e N20E; LM40, uma <strong>do</strong>lina com<br />
maior comprimento N25E].<br />
A Lagoa apresenta um níti<strong>do</strong> condicionamento<br />
estrutural, originada inicialmente da dissolução da<br />
rocha através deste sistema de falhas principal<br />
aproximadamente norte-<strong>sul</strong> (maior comprimento da<br />
Lagoa Misteriosa - N10E), provavelmente<br />
ocorren<strong>do</strong> posteriormente um abatimento de blocos<br />
após o rebaixamento relativo <strong>do</strong> lençol freático,<br />
originan<strong>do</strong> a <strong>do</strong>lina.<br />
Parece haver três sistemas de falhas principais:<br />
um sistema aproximadamente N10-25E; um N50-<br />
55E; e um aproximadamente E-W.<br />
A espessura destes calcários <strong>do</strong>lomíticos na área<br />
da Lagoa Misteriosa alcança mais de 200 metros, o<br />
que pode ser comprova<strong>do</strong> pelo perfil <strong>do</strong> Poço 1<br />
situa<strong>do</strong> na Fazenda Cabeceira <strong>do</strong> Prata.<br />
Geomorfologia<br />
Conforme compartimentação das formas de<br />
relevo <strong>do</strong> carste da região, apresentada por Sallun<br />
Filho & Boggiani (2004) a área de estu<strong>do</strong> estaria<br />
posicionada em região de limite entre as unidades<br />
DRM2 e PMCG1. A unidade DRM2 é<br />
caracterizada por planícies com morros residuais<br />
isola<strong>do</strong>s, e a unidade PMCG1 é caracterizada por<br />
superfície aplainada com <strong>do</strong>linas e desenvolvimento<br />
de carste inter-estratal. A área apresenta<br />
características das duas unidades apresentan<strong>do</strong> uma<br />
superfície aplainada da porção basal da Formação<br />
Aquidauana com muitas <strong>do</strong>linas e desenvolvimento<br />
de carste inter-estratal, porém apresentan<strong>do</strong> ainda,<br />
alguns morros residuais, onde encontram-se<br />
cavernas com pequeno desenvolvimento e secas,<br />
em sua maioria.<br />
Também conforme mapa geomorfológico da<br />
Serra da Bo<strong>do</strong>quena (Sallu Filho & Karmann,<br />
2007) a área de estu<strong>do</strong> estaria na transição entre<br />
estas formas de relevo, no entanto as unidades são<br />
denominadas de zona de planícies cársticas com<br />
morros residuais (KPRH) e planícies arenosas com<br />
<strong>do</strong>linas (SPD).<br />
Os morros residuais são forma<strong>do</strong>s por calcários<br />
e <strong>do</strong>lomitos e sustenta<strong>do</strong>s por quartzitos, como<br />
verifica<strong>do</strong> no morro a leste da Gruta Curé (LM23).<br />
Na área em estu<strong>do</strong> várias feições de relevos<br />
cársticos são facilmente reconhecidas: (1) morros<br />
residuais com formas arre<strong>do</strong>ndadas de topo<br />
convexo; (2) afundamentos <strong>do</strong> terreno por<br />
dissolução gradativa ou por colapso originan<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>linas (extremamente comuns); (3) feições<br />
subterrâneas, como a formação de cavernas e<br />
espeleotemas; e (4) sumi<strong>do</strong>urous e,<br />
principalmente, ressurgências.<br />
O grande número de feições de relevo cárstico,<br />
alia<strong>do</strong> ao grande desenvolvimento vertical de<br />
cavidades como a Lagoa Misteriosa, além de<br />
escassa drenagem superficial, demonstra,<br />
conforme já comenta<strong>do</strong> por Sallum Filho &<br />
Karman (2007), que na região sudeste da Serra da<br />
Bo<strong>do</strong>quena existe um sistema cárstico intraestratal<br />
bem desenvolvi<strong>do</strong>, com um aqüífero com<br />
muitos condutos de grande profundidade<br />
evidencia<strong>do</strong>s pelas inúmeras <strong>do</strong>linas e nascentes e<br />
um carste acima <strong>do</strong> nível d’água menos<br />
desenvolvi<strong>do</strong> com cavernas de menor porte.<br />
Conforme Lino et al. (1984) toda região da<br />
Fazenda Santa Maria e arre<strong>do</strong>res constitui um carste<br />
ainda ativo, no qual o processo de abertura das<br />
<strong>do</strong>linas é muito rápi<strong>do</strong>. Isto pôde ser verifica<strong>do</strong>,<br />
quan<strong>do</strong> após chuva de aproximadamente 100 mm<br />
ocorrida no dia 08 de outrubro de 2005, houve o<br />
surgimento de uma <strong>do</strong>lina de tamanho razoável a<br />
beira da estrada em fazenda vizinha (LM30).<br />
Hidrografia<br />
A drenagem <strong>do</strong> Rio da Prata, principal rio da<br />
área de estu<strong>do</strong> corta as morrarias da região,<br />
demonstran<strong>do</strong> grande independência em relação às<br />
estruturas tectônicas, o que poderia sugerir superimposição<br />
a partir da primitiva cobertura <strong>do</strong><br />
Arenito Aquidauana. No entanto, seus afluentes<br />
como os Córregos Aurora, o Rio Pidaíva, a parte<br />
inicial <strong>do</strong> córrego Mutum, e parcialmente o Rio<br />
Verde e o córrego Braúna no trecho inicial,<br />
parecem estar condiciona<strong>do</strong>s por sistemas de<br />
falhas no senti<strong>do</strong> NE-SO.<br />
Já para leste e <strong>sul</strong> da área os rios se encontram<br />
mais ramifica<strong>do</strong>s e com menos dependência das<br />
estruturas tectônicas, devi<strong>do</strong> a maior espessura <strong>do</strong><br />
Arenito Aquidauana que recobre as rochas précambrianas.<br />
Através de observação <strong>do</strong> Mapa Municipal<br />
Estatístico de Jardim elabora<strong>do</strong> pelo IBGE
objetivan<strong>do</strong> a coleta <strong>do</strong> Censo – 2000, que<br />
apresenta a hidrografia, é possível observar que<br />
toda a área onde se situa as fazendas Santa Maria,<br />
Lagoa Misteriosa, Cabeceira <strong>do</strong> Prata, Nevasla,<br />
Águas <strong>do</strong> Prata e outras propriedades a montante<br />
<strong>do</strong> Rio da Prata, apresentam uma drenagem<br />
superficial muito esparsa quan<strong>do</strong> comparadas com<br />
as áreas das fazendas mais a jusante.<br />
Esta região é uma área de recarga <strong>do</strong> lençol<br />
evidenciada pela grande quantidade de <strong>do</strong>linas<br />
existentes e pelos sumi<strong>do</strong>uros parciais <strong>do</strong> Rio<br />
Prata. Na área a leste da maior concentração de<br />
cavernas e <strong>do</strong>linas da Fazenda Santa Maria ocorre<br />
em uma faixa norte <strong>sul</strong> e muito próximas, um<br />
grande número de nascentes. Próximo a esta área o<br />
Rio da Prata apresenta um cotovelo pronuncia<strong>do</strong>,<br />
sugerin<strong>do</strong> a existência de alguma estrutura<br />
tectônica (Fig. 2).<br />
espessamento é bastante considerável, tanto que na<br />
Dolina Buraco das Araras a camada de arenito<br />
chega a uma espessura de mais de 100 m (Fig. 3).<br />
Os tipos litológicos mais comuns são camadas<br />
decimétricas de arenitos <strong>grosso</strong>s, mal seleciona<strong>do</strong>s<br />
e com grãos angulosos a levemente arre<strong>do</strong>nda<strong>do</strong>s,<br />
apresentan<strong>do</strong> pequenos clastos (LM61a, LM7,<br />
LM25), e conglomera<strong>do</strong>s matriz suporta<strong>do</strong>s,<br />
forma<strong>do</strong>s por areia grossa, grânulos e clastos<br />
arre<strong>do</strong>nda<strong>do</strong>s de até 2 cm (LM61b). Em alguns<br />
afloramentos ocorre estratificação cruzada. Estes<br />
depósitos sedimentares são semelhantes aos<br />
descritos por outros autores para a parte inferior da<br />
formação, tais como Corrêa et al. (1976).<br />
Figura 3. Mapa geológico simplifica<strong>do</strong> da área em estu<strong>do</strong>,<br />
apresentan<strong>do</strong> a distribuição das unidades litológicas.<br />
Figura2. Imagem apresentan<strong>do</strong> a localização das<br />
princiapais feições cársticas da área de estu<strong>do</strong>.<br />
Geologia<br />
A Formação Aquidauana recobre as rochas précambrianas<br />
nas áreas mais planas. Estas rochas<br />
proterozóicas afloram somente nos morros, nas<br />
cavernas, nas <strong>do</strong>linas mais profundas, e nas<br />
drenagens <strong>do</strong> Rio da Prata e córrego Olho D’água.<br />
Na área da Lagoa esta capa de arenitos da<br />
Formação Aquidauana apresenta uma espessura<br />
em torno de 8 a 10 m. Esta camada de arenito<br />
tende a adelgaçar para oeste e noroeste, e tende a<br />
se tornar mais espessa para leste e sudeste. Este<br />
Na área das fazendas Santa Maria e Lagoa<br />
Misteriosa as rochas precambrianas são<br />
basicamente calcários <strong>do</strong>lomíticos, não ocorren<strong>do</strong><br />
rochas detríticas, porém a oeste foram observa<strong>do</strong>s<br />
camadas de argilitos e siltitos intercalan<strong>do</strong><br />
calcários calcíticos (LM052, LM053) da Formação<br />
Cerradinho.<br />
Abaixo segue uma descrição da litologia<br />
encontrada em três poços da Fazenda Cabeceira <strong>do</strong><br />
Prata. As descrições <strong>do</strong>s poços 1 e 2 foram feitas<br />
pela empresa de perfuração “Hidroingá Poços<br />
Artesianos LTDA”, <strong>do</strong> poço 3 foi passada<br />
verbalmente pelo proprietário que acompanhou a<br />
perfuração.<br />
Poço 1 – 0 á 6 m: solo argiloso de cor marrom<br />
escuro, inconsolida<strong>do</strong>; 6 à 24 m: calcáreo de cor<br />
cinza claro, maciço; 24 à 152 m: calcáreo de cor
cinza claro, com presença de veios calcíticos, pouco<br />
fratura<strong>do</strong>; 152 à 200 m: calcáreo de cor cinza<br />
escuro, com presença de veios calcíticos; 200 à 216<br />
m: calcáreo de cor cinza claro, com presença de<br />
fraturamento aos 208 metros.<br />
Poço 2 - 0 à 18 m: solo argiloso de cor marrom<br />
escuro, inconsolida<strong>do</strong>; 18 à 24 m: marga de cor<br />
marrom amarelada, pouco calcítica e pouco<br />
consolidada; 24 à 36 m: calcáreo de cor cinza claro,<br />
maciço; 36 à 102 m: calcáreo de cor cinza escuro,<br />
com presença de veios calcíticos; 102 à 120 m:<br />
calcáreo de cor cinza claro, com presença de<br />
fraturamento aos 108 metros.<br />
Poço 3 - 0 à 6 m: solo; 6 à 15 m: arenito; 15 a<br />
110 m: filito.<br />
Na drenagem <strong>do</strong> Córrego Aurora e <strong>do</strong> Rio da<br />
Prata até a Fazenda Cabeceira <strong>do</strong> Prata também<br />
ocorre a unidade geológica Tufas da Serra da<br />
Bo<strong>do</strong>quena.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Atualmente na região su<strong>do</strong>este <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> existe<br />
uma série de divergências com relação à<br />
estratigrafia <strong>do</strong>s grupos Jacadigo, Corumbá e<br />
Cuiabá. Talvez a maior destas divergências esteja<br />
relacionada com as rochas existentes na Zona<br />
Serrana Oriental. Dizem respeito à ocorrência ou<br />
não das formações Tamengo e Guaicurus na região<br />
<strong>do</strong> Planalto da Bo<strong>do</strong>quena. Para muitos as rochas<br />
destas duas formações, na Zona Serrana Oriental,<br />
na verdade fariam parte <strong>do</strong> Grupo Cuiabá.<br />
No presente trabalho, no entanto, a<strong>do</strong>tamos a<br />
proposta de Almeida (1965), na qual as rochas <strong>do</strong><br />
Grupo Cuiabá possuem uma menor distribuição<br />
geográfica e são essencialmente detríticas.<br />
A grande concentração de feições cársticas na<br />
área (<strong>do</strong>linas a oeste e nascentes a leste), alia<strong>do</strong> aos<br />
perfis <strong>do</strong>s poços 1, 2 e 3, pode indicar a provável<br />
existência de uma falha com grande rejeito de<br />
direção nordeste-su<strong>do</strong>este. Esta falha, por colocar o<br />
filito lateralmente ao calcário, forçaria a subida das<br />
águas subterrâneas, forman<strong>do</strong> as diversas<br />
ressurgências que ocorrem nas fazendas Santa<br />
Maria e Cabeceira <strong>do</strong> Prata. Calcários com grande<br />
número de veios de quartzo encontra<strong>do</strong>s em<br />
algumas localidades (LM33) também podem<br />
colaborar com a formação das ressurgências.<br />
A possível falha seria um elemento ainda não<br />
mapea<strong>do</strong> <strong>do</strong> Lineamento Bo<strong>do</strong>quena, que tem<br />
direção aproximada norte-<strong>sul</strong>. Confome Araújo et<br />
al. (1982), este lineamento é constituí<strong>do</strong><br />
principalmente por um sistema de falhas de<br />
empurrão, responsáveis pelo cavalgamento das<br />
litologias <strong>do</strong> Grupo Cuiabá por sobre as rochas <strong>do</strong><br />
Grupo Corumbá e pelo espessamento local de<br />
suas camadas.<br />
Estes fatos levam a supor que os calcários<br />
presentes na área são pertencentes ao Grupo<br />
Corumbá e o filito poderia representar termos <strong>do</strong><br />
Grupo Cuiabá. Além disso, o encontro de argilitos e<br />
siltito que podem ser atribuí<strong>do</strong>s a formação<br />
Cerradinho (LM52 e 53) em local a leste da<br />
ocorrência no mapa da CPRM (2004) também<br />
sugere uma distribuição mais ampla <strong>do</strong> Grupo<br />
Corumbá na área.<br />
Este é um estu<strong>do</strong> preliminar e pesquisas<br />
estruturas e mineralógicas mais detalhadas devem<br />
ser realizadas para confirmar esta hipótese.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
Almeida, F. F. M., 1965. Geologia da Serra da Bo<strong>do</strong>quena<br />
(Mato Grosso). Boletim da Divisão de Geologia e<br />
Mineralogia, Rio de Janeiro, (219):1-96.<br />
Araújo, H. J. T. de; Santos Neto, A. <strong>do</strong>s; Trindade, C. A.<br />
H.; Pinto, J. C. de A.; Montalvão, R. M. G. de;<br />
Doura<strong>do</strong>, T. D. de C.; Palmeira, R. C. de B.; Tassinari,<br />
C. C. G., 1982. Geologia. In: Projeto<br />
RADAMBRASIL: levantamento de recursos naturais.<br />
Folha SF.21, Campo Grande, V. 28, p. 23-124.<br />
Corrêa, J. A.; Correia Filho, F. das C. L.; Scislewski, G.;<br />
Neto, C.; Cavallon, L. A.; Cerqueira, N. L. de S.;<br />
Nogueira, V. L., 1976. Projeto Bo<strong>do</strong>quena: relatório<br />
final. Goiânia, CPRM/DNPM, 8v. (relatório <strong>do</strong><br />
Arquivo Técnico da DGM, 2573).<br />
CPRM, 2004. Carta Geológica ao Milionésimo <strong>do</strong> Brasil.<br />
Departamento Nacional de Produção<br />
Mineral/Companhia de Pesquisa em Recursos<br />
Minerais, Rio de Janeiro, folha SF 21 – Campo Grande.<br />
Lino, C. F.; Boggiani, P. C.; Cortesão, J.; Go<strong>do</strong>u, N. M.;<br />
Karmann, I., 1984. Projeto Grutas de <strong>Bonito</strong>:<br />
Diretrizes para um plano de manejo turístico. Relatório<br />
inédito, Campo Grande: SPHAN/MS-TUR, 212p.<br />
Oliveira, G. M. de, 2001. Lagoa Misteriosa. In: As grandes<br />
cavernas <strong>do</strong> Brasil, AULER, A.; Rubbioli, E. &<br />
Brandi, R. (eds.). Grupo Bambuí de Pesquisas<br />
Espeleológicas, Belo Horizonte, 228p.<br />
Sallun Filho, W. & Boggiani, P. C, 2004. Paisagens<br />
cársticas da Serra da Bo<strong>do</strong>quena (MS).. In: Mantesso<br />
Neto, V.; Bartorelli, A.; Carneiro, C.D.R.; Brito Neves,<br />
B.B.. (Org.). Geologia <strong>do</strong> continente Sul-americano:<br />
evolução da obra de Fernan<strong>do</strong> Flávio Marques de<br />
Almeida. 1 ed, São Paulo: Beca, p. 424-433.<br />
Sallun Filho, W. & Karmann, I., 2007. Geomorphological<br />
map of the Serra da Bo<strong>do</strong>quena karst, west-central<br />
Brazil. Journal of maps, p. 282-295.<br />
Scheffler, S. M. & Fernandes, H. de M., 2009. Plano de Manejo<br />
Espeleológico da Lagoa Misteriosa (MS 043) – Jardim/MS.<br />
Relatório Técnico não publica<strong>do</strong>, <strong>Bonito</strong>/MS: 345p.