N.R.P. BARTOLOMEU DIAS - Marinha de Guerra Portuguesa
N.R.P. BARTOLOMEU DIAS - Marinha de Guerra Portuguesa
N.R.P. BARTOLOMEU DIAS - Marinha de Guerra Portuguesa
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Generated by PDFKit.NET Evaluation<br />
AOS CADETES DA ESCOLA NAVAL 4<br />
Lealda<strong>de</strong> e Disciplina<br />
Valores fundamentais <strong>de</strong> um militar<br />
4 JULHo 2009 • Revista da Armada<br />
Click here to unlock PDFKit.NET<br />
Caros ca<strong>de</strong>tes, falo-vos neste artigo<br />
da lealda<strong>de</strong> e da disciplina, os<br />
valores fundamentais <strong>de</strong> todo o<br />
militar, sem os quais nada se sustenta<br />
ou tem durabilida<strong>de</strong> na <strong>Marinha</strong>.<br />
De forma muito preliminar e sucinta:<br />
ser leal significa agir <strong>de</strong> boa-fé e confiar<br />
nos chefes, nos pares e nos subordinados;<br />
ser disciplinado implica obe<strong>de</strong>cer<br />
aos preceitos legais e regulamentares<br />
do serviço e aos superiores. Por isso, ao<br />
longo das vossas carreiras constatarão,<br />
numa base diária, que as vossas maiores<br />
alegrias e<br />
<strong>de</strong>silusões estarão<br />
ligadas a<br />
estes dois valores,<br />
que apenas<br />
os fortes têm<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
exercitar sem<br />
mácula.<br />
Para um militar,<br />
ser leal é<br />
praticar a verda<strong>de</strong>,<br />
adoptando<br />
uma conduta<br />
vertical e<br />
honrada, mantendo<br />
a palavra<br />
dada, trabalhando<br />
com<br />
sincerida<strong>de</strong>,<br />
franqueza e honestida<strong>de</strong>,<br />
e<br />
<strong>de</strong>monstrando<br />
pelos outros o apreço e a estima que robustecem<br />
os laços da amiza<strong>de</strong> fraterna,<br />
essencial aos camaradas <strong>de</strong> armas. Ser<br />
leal também é acreditar que: os superiores<br />
<strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m com acerto nas or<strong>de</strong>ns<br />
que emitem; os pares apoiam o esforço<br />
colectivo, cumprindo zelosamente<br />
o encargo que lhes cabe; os subordinados<br />
realizam correctamente as tarefas<br />
<strong>de</strong> que foram incumbidos.<br />
Nestas circunstâncias, em âmbito<br />
militar a lealda<strong>de</strong> não se po<strong>de</strong> confundir<br />
com o servilismo daqueles que anseiam<br />
pela obtenção <strong>de</strong> favores. Para<br />
além disso, também não é sinónimo <strong>de</strong><br />
cumplicida<strong>de</strong> nos <strong>de</strong>svios aos comportamentos<br />
justos e correctos. Por estar<br />
estruturada sobre a lisura dos procedimentos<br />
e a crença nas <strong>de</strong>cisões, apoios<br />
e acções <strong>de</strong> camaradas <strong>de</strong> armas, a lealda<strong>de</strong><br />
é a base da solidarieda<strong>de</strong> orgânica<br />
na <strong>Marinha</strong>, essencial para que, no mar<br />
ou em terra, na paz ou na guerra, possamos<br />
actuar como um corpo coeso.<br />
Para um militar, ser disciplinado significa<br />
submeter-se às <strong>de</strong>terminações<br />
das leis, dos regulamentos e dos superiores,<br />
no serviço ou fora <strong>de</strong>le, em todos<br />
os lugares e conjunturas, mesmo naquelas<br />
aparentemente insignificantes. Ora,<br />
isto implica: conformida<strong>de</strong>, resignação<br />
e espontaneida<strong>de</strong> no acatamento das<br />
dificulda<strong>de</strong>s do serviço; moralida<strong>de</strong><br />
nos actos públicos e privados; sobrieda<strong>de</strong><br />
no estilo <strong>de</strong> vida; serenida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
espírito e sangue-frio nas situações <strong>de</strong><br />
maior exigência; or<strong>de</strong>m, método e prática<br />
constante <strong>de</strong> hábitos sadios, rejeitando<br />
o ócio e <strong>de</strong>sprezando o vício; respeito<br />
e consi<strong>de</strong>ração do subordinado para<br />
com o superior, e <strong>de</strong>ferência e atenção<br />
<strong>de</strong>ste relativamente ao subordinado.<br />
Nestas circunstâncias, em âmbito militar<br />
a disciplina não se po<strong>de</strong> confundir<br />
com a sujeição a or<strong>de</strong>ns daqueles que<br />
ofen<strong>de</strong>m os direitos, as liberda<strong>de</strong>s e as<br />
garantias dos seus camaradas e, <strong>de</strong>sta<br />
forma, <strong>de</strong>gradam os bons costumes<br />
e estiolam as Forças Armadas. Para<br />
além disso, também não é sinónimo <strong>de</strong><br />
submissão a imposições autoritárias,<br />
por vezes brutais, relacionadas com o<br />
uso da força militar sobre inocentes ou<br />
contra regimes políticos legítimos. Por<br />
estar estruturada sobre a obediência às<br />
leis, aos regulamentos e aos superiores,<br />
a disciplina militar, embora requeira<br />
vigor e firmeza, não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />
ser associada ao afecto e à bonda<strong>de</strong>, à<br />
sobrieda<strong>de</strong> e à inteligência, à fraternida<strong>de</strong><br />
e ao bom senso, à tranquilida<strong>de</strong><br />
e à imparcialida<strong>de</strong>, e à justiça e à legitimida<strong>de</strong>.<br />
Tornar leais e disciplinados os homens<br />
e as mulheres que, na <strong>Marinha</strong>, servem<br />
Portugal, é uma tarefa aliciante, mas<br />
complexa e <strong>de</strong>morada, porque implica<br />
i<strong>de</strong>ntificar e moldar as suas formas <strong>de</strong><br />
agir e a sua disponibilida<strong>de</strong> para obe<strong>de</strong>cer.<br />
É certo que ambas possuem alguns<br />
componentes inatos. Porém, também<br />
incorporam na sua estrutura outros<br />
elementos que<br />
são adquiridos<br />
por influência<br />
do ambiente,<br />
da experiência,<br />
do esforço<br />
e da educação<br />
<strong>de</strong> cada militar.<br />
Ora, é neste<br />
contexto que<br />
a conduta <strong>de</strong><br />
cada um <strong>de</strong> vós<br />
<strong>de</strong>ve ser um<br />
exemplo <strong>de</strong> lealda<strong>de</strong><br />
e disciplina,<br />
para que<br />
sirva <strong>de</strong> referência<br />
a todos<br />
aqueles com<br />
quem privam.<br />
Para além disso,<br />
uma conduta<br />
leal e disciplinada<br />
também vos permitirá ganhar<br />
o respeito e a compreensão daqueles<br />
poucos que, por se <strong>de</strong>sviarem dos comportamentos<br />
correctos, serão alvo da<br />
aplicação das sanções estabelecidas no<br />
exercício <strong>de</strong> funções <strong>de</strong> comando, direcção<br />
ou chefia.<br />
Caros ca<strong>de</strong>tes, notem que a lealda<strong>de</strong><br />
e a disciplina não são uma exigência<br />
exclusiva das Forças Armadas, nem<br />
um privilégio dos militares. São valores<br />
essenciais ao exercício <strong>de</strong> qualquer<br />
profissão e ao bom funcionamento<br />
<strong>de</strong> todas as organizações públicas ou<br />
privadas. Porém, é nas Forças Armadas<br />
que se exprimem plenamente os<br />
seus significados, <strong>de</strong>vido ao facto <strong>de</strong>,<br />
em última instância, estarem associadas<br />
ao cumprimento do <strong>de</strong>ver perante<br />
o perigo.<br />
<br />
António Silva Ribeiro<br />
CALM