N.R.P. BARTOLOMEU DIAS - Marinha de Guerra Portuguesa
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durante os quais parte da guarnição do cruzador<br />
“República” <strong>de</strong>sembarcou para proteger<br />
a colónia portuguesa ali resi<strong>de</strong>nte e foi,<br />
a partir <strong>de</strong> 1930, a reacção dos comunistas à<br />
até então prepon<strong>de</strong>rância dos nacionalistas<br />
do general Chiang Kai-chek. O Comandante<br />
Matta Oliveira conseguiu, apesar das graves<br />
perturbações verificadas no continente chinês,<br />
que a vida no pequeno enclave sob seu<br />
governo se mantivesse sem quaisquer turbulências.<br />
Compulsando o Boletim Oficial da<br />
Colónia constata-se ter sido positiva a acção<br />
do Governador, especialmente nas reestruturações<br />
do ensino e do turismo, na construção<br />
<strong>de</strong> infraestruturas portuárias e no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
das comunicações radiotelegráficas.<br />
Foi, durante o seu governo <strong>de</strong> apenas<br />
seis meses, vendida em hasta pública a<br />
ex-canhoneira “Pátria” (1903-1931), mais<br />
tar<strong>de</strong> incorporada na <strong>Marinha</strong> da China<br />
com o nome <strong>de</strong> “Fu-yú”. Esta canhoneira<br />
e a “Macau”, durante mais <strong>de</strong> duas décadas,<br />
constituíram o símbolo da <strong>Marinha</strong><br />
<strong>Portuguesa</strong> na Colónia. Em Outubro o<br />
Comandante Matta Oliveira cessa as funções<br />
<strong>de</strong> Governador, lugar que exerceu com<br />
competência, zelo e patriotismo.<br />
Em Dezembro, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um interregno<br />
<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> dois anos e meio, volta<br />
a chefiar a 1ª Secção do Estado-Maior<br />
Naval. Inicia então a última fase da sua<br />
carreira naval, correspon<strong>de</strong>nte ao período<br />
<strong>de</strong> 1932 a 1941, durante o qual irá<br />
sucessivamente exercer os mais altos<br />
cargos da Armada. Foi uma época marcante<br />
para a <strong>Marinha</strong>. Em Março <strong>de</strong> 1933<br />
era aumentado ao efectivo o aviso <strong>de</strong> 2ª<br />
classe “Gonçalo Velho”, o primeiro navio<br />
do já atrás referido “Programa Magalhães<br />
Corrêa”, a que se seguiram mais<br />
três avisos <strong>de</strong> 2ª classe, dois <strong>de</strong> 1ª classe,<br />
três submersíveis e cinco contratorpe<strong>de</strong>iros,<br />
tendo o Programa ficado completo,<br />
em Outubro <strong>de</strong> 1937, com a entrada ao<br />
serviço do aviso <strong>de</strong> 2ª classe “João <strong>de</strong> Lisboa”,<br />
o último navio a ser construído no velho<br />
Arsenal da Ribeira das Naus. Em apenas<br />
quatro anos e meio tinham sido aumentados<br />
ao efectivo dos navios da Armada, 14 unida<strong>de</strong>s,<br />
num total <strong>de</strong> 23.400 toneladas!. Facto<br />
único na <strong>Marinha</strong> <strong>Portuguesa</strong> e que permitirá<br />
manter a soberania em águas nacionais durante<br />
a conturbada década dos anos quarenta<br />
do século passado.<br />
Capitão-<strong>de</strong>-mar-e-guerra em Novembro<br />
<strong>de</strong> 1932, Matta Oliveira torna-se indiscutivelmente<br />
um elemento <strong>de</strong> referência do Estado-<br />
Maior Naval, organismo a que na época competia<br />
todos os movimentos das forças e unida<strong>de</strong>s<br />
da Armada e a respectiva distribuição.<br />
Em Janeiro <strong>de</strong> 1934 ascendia a Subchefe do<br />
Estado-Maior Naval. Além das tarefas inerentes<br />
a um estado-maior mantinha uma intensa<br />
activida<strong>de</strong> relacionada com a formação <strong>de</strong> oficiais.<br />
De salientar uma série <strong>de</strong> seis conferências,<br />
em 1934, <strong>de</strong>stinadas ao Curso Elementar<br />
Naval <strong>de</strong> <strong>Guerra</strong>, reunidas no seu trabalho intitulado<br />
“Elementos Constitutivos das Forças<br />
Navais e Factos Internacionais”. Devido à sua<br />
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experiência ultramarina fez parte da <strong>de</strong>legação<br />
metropolitana à 1ª Conferência Económica<br />
do Império Colonial Português, realizado<br />
em Lisboa em 1934.<br />
Publica, em 1935, a obra “No Mar-Episódios<br />
da Vida dos Marinheiros”, edição da<br />
Liga Naval <strong>Portuguesa</strong>, on<strong>de</strong> recorda os seus<br />
tempos <strong>de</strong> embarque. Em Março <strong>de</strong> 1936 é<br />
promovido a contra-almirante e nomeado<br />
Superinten<strong>de</strong>nte dos Serviços da Armada<br />
passando-lhe a competir a direcção dos serviços<br />
do ramo naval do Ministério da <strong>Marinha</strong>.<br />
Desempenha então, a par com o Chefe do<br />
Estado-Maior Naval, o mais alto cargo da<br />
<strong>Marinha</strong>, logo a seguir ao <strong>de</strong> Major General<br />
da Armada.<br />
VALM Matta Oliveira.<br />
O ano <strong>de</strong> 1936 será para a <strong>Marinha</strong>, <strong>de</strong>pois<br />
dos da sua intervenção na Gran<strong>de</strong> <strong>Guerra</strong>, o<br />
mais significativo da primeira meta<strong>de</strong> do século<br />
XX. Em Janeiro tomara posse o novo Ministro,<br />
o capitão-tenente Ortins Bettencourt,<br />
que promoverá profundas transformações na<br />
<strong>Marinha</strong>. É o ano da reforma da Escola Naval,<br />
que vigorará cerca <strong>de</strong> vinte anos e da sua<br />
mudança para o Alfeite, local on<strong>de</strong> começará<br />
a ser edificado o novo Arsenal e a nascer a<br />
primeira Base Naval do país. A 8 <strong>de</strong> Setembro<br />
acontece a chamada “Revolta dos Marinheiros”<br />
em que as guarnições dos avisos “Afonso<br />
<strong>de</strong> Albuquerque”, “Bartolomeu Dias” e<br />
do contratorpe<strong>de</strong>iro “Dão” se sublevam em<br />
apoio à Organização Revolucionária da Armada,<br />
com o intuito <strong>de</strong> se juntarem às forças<br />
republicanas <strong>de</strong> Espanha, entretanto em plena<br />
guerra civil. Os resquícios da revolta, cujos<br />
efeitos se irão repercutir durante largos anos e<br />
a integração dos novos navios, com a necessida<strong>de</strong><br />
da consequente actualização da gestão<br />
do pessoal e do material, vão sobrecarregar os<br />
serviços e comprovar plenamente as elevadas<br />
qualida<strong>de</strong>s do seu Superinten<strong>de</strong>nte.<br />
Em Maio <strong>de</strong> 1937 o Contra-Almirante Matta<br />
Oliveira volta pela última vez ao Estado-<br />
Maior Naval, agora apenas por dois meses,<br />
como seu Chefe, nomeação que não só comprova<br />
os valiosos serviços que tinha ali prestado<br />
como também lhe dá oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
actualizar conhecimentos relativos à situação<br />
operacional da <strong>Marinha</strong>.<br />
Finalmente, em Julho, atinge o cargo mais<br />
elevado da sua carreira ao ser nomeado Major<br />
General da Armada e promovido a Vice-<br />
‐Almirante.<br />
A <strong>Guerra</strong> Civil em Espanha continua violenta<br />
e unida<strong>de</strong>s navais irão ao país vizinho<br />
evacuar cidadãos portugueses e participar em<br />
variadas missões e operações <strong>de</strong>licadas,<br />
numa Europa cada vez mais instável. Em<br />
todas estas situações o Chefe da <strong>Marinha</strong><br />
<strong>de</strong>ci<strong>de</strong> com prontidão e eficácia. A nível<br />
interno concretizaram-se vários projectos<br />
dos quais se <strong>de</strong>staca a inauguração do<br />
novo Arsenal do Alfeite, em 3 <strong>de</strong> Maio<br />
<strong>de</strong> 1939. Nesse ano as convulsões terminam<br />
em Espanha, mas logo em Setembro,<br />
rebenta na Europa a II <strong>Guerra</strong> Mundial.<br />
Torna-se necessário reforçar o dispositivo<br />
naval dos arquipélagos portugueses<br />
no Atlântico e ter especial atenção às colónias<br />
do Extremo-Oriente, especialmente<br />
Macau, on<strong>de</strong> é reactivado o Centro <strong>de</strong><br />
Aviação Naval para fiscalização aérea das<br />
águas do território. No Atlântico são estabelecidas<br />
missões <strong>de</strong> Busca e Salvamento,<br />
tendo em águas açoreanas sido recolhidos<br />
largas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> náufragos <strong>de</strong> navios<br />
mercantes torpe<strong>de</strong>ados. A <strong>Marinha</strong><br />
chefiada pelo Vice-Almirante Matta Oliveira<br />
<strong>de</strong>sdobra-se em várias frentes e no<br />
seu âmbito são tomadas <strong>de</strong>cisões que irão<br />
ser fundamentais para a manutenção e o<br />
reforço da sua operacionalida<strong>de</strong> durante<br />
o conflito mundial. Entre muitas medidas<br />
refira-se a construção do petroleiro “Sam<br />
Brás“ que nos últimos anos da <strong>Guerra</strong> foi<br />
fundamental para o reabastecimento <strong>de</strong> combustível<br />
ao país.<br />
Mas a lei do tempo é inexorável e assim, em<br />
Maio <strong>de</strong> 1941, o Major General da Armada<br />
atinge o limite <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e passa à situação <strong>de</strong><br />
reserva. Apesar <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>ixado o serviço efectivo<br />
ainda presi<strong>de</strong> à Comissão que estuda as<br />
novas instalações para o Museu <strong>de</strong> <strong>Marinha</strong>,<br />
<strong>de</strong>dica-se mais intensamente à investigação<br />
histórica, nomeadamente à participação da<br />
<strong>Marinha</strong> nas <strong>Guerra</strong>s Liberais (1832-1834) e<br />
escreve para os Anais da <strong>Marinha</strong> a “Batalha<br />
do Cabo Matapan”, que foi a sua última<br />
obra publicada.<br />
Faleceu em Lisboa a 24 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1948 o<br />
Vice-Almirante Matta Oliveira, distintíssimo<br />
oficial que conduziu a <strong>Marinha</strong> nos primeiros<br />
<strong>de</strong>zoito meses da II <strong>Guerra</strong> Mundial e <strong>de</strong>ve<br />
ser consi<strong>de</strong>rado um verda<strong>de</strong>iro paradigma<br />
<strong>de</strong> Marinheiro, <strong>de</strong> Oficial <strong>de</strong> Estado -Maior<br />
e <strong>de</strong> Chefe.<br />
<br />
J. L. Leiria Pinto<br />
CALM<br />
Revista da Armada • JULHo 2009 27