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N.R.P. BARTOLOMEU DIAS - Marinha de Guerra Portuguesa

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PIRATARIA MARÍTIMA – UMA PERSPECTIVA ACTUAL<br />

nições. Para consumarem o sequestro, os piratas<br />

utilizaram 3 skiffs e diversas espingardas automáticas.<br />

O navio foi posteriormente levado para<br />

a costa leste da Somália, tendo ficado fun<strong>de</strong>ado<br />

perto da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hobyo, tendo sido sempre vigiado<br />

<strong>de</strong> perto por navios da <strong>Marinha</strong> americana,<br />

que asseguraram que a sua carga não fosse <strong>de</strong>scarregada<br />

e que <strong>de</strong>sta forma não caísse nas mãos<br />

dos islamistas extremistas. Este navio foi libertado<br />

em 5 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2009, após o pagamento<br />

<strong>de</strong> um resgate, que se estima <strong>de</strong> 3,2 milhões <strong>de</strong><br />

dólares, valor muito abaixo dos 20 milhões que<br />

se pensa terem sido pedidos inicialmente.<br />

- O M/T “Sirius Star”<br />

Este superpetroleiro, <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>ira liberiana,<br />

foi sequestrado em 15 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2008,<br />

pelas 07:23 GMT (Greenwich Mean Time), por<br />

piratas somalis, na posição 04:41S - 048:43E,<br />

cerca <strong>de</strong> 445 milhas náuticas a su<strong>de</strong>ste do porto<br />

<strong>de</strong> Baraawe, na costa leste da Somália. Quando<br />

foi abordado navegava na sua rota entre a Arábia<br />

Saudita e os EUA, através do Cabo da Boa Esperança,<br />

com uma carga <strong>de</strong> cru<strong>de</strong> equivalente a 2<br />

milhões <strong>de</strong> barris, avaliada em 100 milhões <strong>de</strong><br />

dólares. Este navio, com uma tripulação <strong>de</strong> 25<br />

elementos (2 britânicos, 2 polacos, 1 croata, 1<br />

saudita e 19 filipinos) e com cerca <strong>de</strong> 332m <strong>de</strong><br />

comprimento e 58m <strong>de</strong> boca, construído em<br />

2008, foi o maior navio, até hoje, sequestrado<br />

por piratas. Foi libertado no dia 9 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong><br />

2009, após o pagamento <strong>de</strong> um resgate, que se<br />

estima <strong>de</strong> 3 milhões <strong>de</strong> dólares.<br />

“The state of the art” no<br />

combate à Pirataria Marítima<br />

Hoje em dia, o número <strong>de</strong> navios sequestrados<br />

por piratas, em <strong>de</strong>terminadas áreas do globo,<br />

tem vindo a aumentar, o que mostra bem como a<br />

navegação mercante está cada vez mais exposta<br />

e in<strong>de</strong>fesa perante os actos <strong>de</strong> Pirataria Marítima.<br />

Torna-se pois indispensável que os armadores<br />

e/ ou tripulações adoptem medidas preventivas<br />

mais eficazes, por forma a minimizarem as vulnerabilida<strong>de</strong>s<br />

existentes. Algumas <strong>de</strong>las já estão<br />

a ser implementadas, como sejam a existência a<br />

bordo <strong>de</strong> câmaras <strong>de</strong> vigilância no exterior, <strong>de</strong><br />

sistemas <strong>de</strong> alerta, <strong>de</strong> mangueiras do circuito <strong>de</strong><br />

incêndios em carga, para utilização imediata no<br />

caso <strong>de</strong> uma tentativa <strong>de</strong> abordagem, etc. Actualmente<br />

e face às proporções que estes actos<br />

ilícitos estão a tomar, já existem empresas <strong>de</strong> segurança<br />

a disponibilizar barcos armados, assim<br />

como mercenários, entre os quais se encontram<br />

Gurkhas reformados, para acompanharem os<br />

navios em locais <strong>de</strong> risco. Também englobados<br />

nestas medidas preventivas, os armadores já têm<br />

ao seu dispor os sistemas Secure-Ship, ShipLoc e<br />

Long Range Acoustic Device.<br />

- O sistema Secure-Ship<br />

Este sistema, <strong>de</strong>signado por “navio-seguro”, é<br />

uma das mais recentes e efectivas inovações no<br />

combate à Pirataria Marítima, consistindo numa<br />

cerca electrificada, que utiliza uma tensão intermitente<br />

<strong>de</strong> 9000 volt.<br />

Esta cerca é em tudo semelhante às que protegem<br />

as instalações militares e é instalada na<br />

22 JULHO 2009 • Revista da Armada<br />

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borda falsa, ao redor do navio. Qualquer intruso,<br />

em contacto com esta, apanha um choque<br />

eléctrico, não-letal, que o obrigará a abortar a<br />

sua iniciativa <strong>de</strong> entrada no navio. Esse contacto,<br />

por sua vez, irá activar um alarme, acen<strong>de</strong>r<br />

diversos projectores ao longo do navio e fazer<br />

tocar uma sirene <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> intensida<strong>de</strong>. O IMB<br />

recomenda vivamente que os armadores instalem<br />

este sistema a bordo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o mesmo<br />

seja viável. O sistema Secure-Ship também se<br />

encontra disponível para navios <strong>de</strong> pequeno<br />

<strong>de</strong>slocamento.<br />

- O sistema ShipLoc<br />

Actualmente, existem muitos sistemas credíveis<br />

que permitem a localização e seguimento<br />

dos navios, via satélite. O IMB, <strong>de</strong> entre os vários<br />

existentes, aprovou o ShipLoc. Este sistema<br />

é muito fiável e acessível em termos <strong>de</strong> custo,<br />

permitindo aos armadores, apenas com um<br />

computador e acesso à Internet, monitorizar<br />

O dispositivo acústico LRAD.<br />

Uma dazzle gun (Foto: U.S. Air Force).<br />

com exactidão a localização dos seus navios<br />

em qualquer parte do mundo. O ShipLoc está<br />

<strong>de</strong> acordo com o Capítulo XI-2/6 do Regulamento<br />

SOLAS 6 , nomeadamente no que respeita<br />

ao sistema <strong>de</strong> alerta <strong>de</strong> segurança dos navios<br />

(Ship Security Alert System). Este Regulamento<br />

exige que todos os navios com uma arqueação<br />

bruta superior a 500 estejam equipados com<br />

este sistema <strong>de</strong> alerta. Qualquer membro da<br />

tripulação, em caso <strong>de</strong> perigo, po<strong>de</strong> activá-lo<br />

através <strong>de</strong> um botão, enviando este, automaticamente,<br />

um sinal <strong>de</strong> socorro para o armador<br />

e para as autorida<strong>de</strong>s competentes, não sendo<br />

este <strong>de</strong>tectado por ninguém a bordo, nem pelos<br />

navios nas redon<strong>de</strong>zas.<br />

- O Long Range Acoustic Device (LRAD)<br />

Este dispositivo acústico <strong>de</strong> longa distância foi<br />

<strong>de</strong>senvolvido pela American Technology Corporation,<br />

após o ataque, em Outubro do ano 2000,<br />

ao navio <strong>de</strong> guerra americano USS “Cole”. Foi<br />

concebido para ser usado pelos navios <strong>de</strong> guerra<br />

americanos, como arma não-letal, para evitar<br />

que pequenas embarcações se aproximassem<br />

sem autorização. Este equipamento, cujo alcance<br />

máximo se situa nos 300 metros, emite um som<br />

direccionado que po<strong>de</strong>, no seu volume máximo,<br />

atingir cerca <strong>de</strong> 150dbSPL 7 por metro, o que é o<br />

suficiente para causar danos irreversíveis na audição,<br />

uma vez que o limiar da dor, para a audição<br />

humana, se situa entre os 120 e os 140 db.<br />

A utilização <strong>de</strong> protectores auriculares po<strong>de</strong> minimizar<br />

os efeitos <strong>de</strong>ste equipamento.<br />

O cruzeiro <strong>de</strong> luxo, “Seabourn Spirit”, usou<br />

um LRAD para dissuadir os piratas que o atacaram<br />

com RPG e rajadas <strong>de</strong> AK-47, aproximadamente<br />

a 100 milhas náuticas da costa da Somália,<br />

em 5 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2005. A eficácia do<br />

dispositivo não ficou provada, contudo os piratas<br />

falharam a abordagem.<br />

Para além dos sistemas atrás <strong>de</strong>scritos existem<br />

outros, ainda em <strong>de</strong>senvolvimento, que po<strong>de</strong>rão<br />

vir a ter aplicação prática no combate à pirataria.<br />

Um exemplo dum sistema <strong>de</strong>sses são as armas<br />

não-letais <strong>de</strong> flashes (dazzle guns), criadas em<br />

2005, por uma agência da Força Aérea americana.<br />

Estas produzem um feixe laser, cujos flashes<br />

provocam cegueira momentânea e <strong>de</strong>sorientação.<br />

Se uma <strong>de</strong>stas armas for disparada contra os<br />

olhos <strong>de</strong> alguém, por exemplo dos piratas, torna-<br />

‐se impossível estes prosseguirem o seu ataque,<br />

pois não po<strong>de</strong>m atacar o que não vêem.<br />

As armas <strong>de</strong> microondas são outro dos tipos<br />

<strong>de</strong> arma não-letal que se encontram em <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Estas actuam provocando o aquecimento<br />

da pele, causando um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto,<br />

contudo o seu efeito é momentâneo e não<br />

causa lesões futuras.<br />

<br />

H. Portela Gue<strong>de</strong>s<br />

CFR<br />

Notas<br />

1<br />

O actual presi<strong>de</strong>nte é o Sheikh SHARIF Sheikh Ahmed,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2009, e o primeiro-ministro<br />

é Omar Abdirashid Ali SHARMARKE, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> Fevereiro<br />

<strong>de</strong> 2009;<br />

2<br />

A <strong>Marinha</strong> da Somália, fundada em 1965, com o auxílio<br />

da ex-União Soviética (URSS), era formada por diversas<br />

lanchas rápidas <strong>de</strong> fabrico soviético, armadas com mísseis e<br />

torpedos. Logo após a ex-URSS retirar os seus técnicos <strong>de</strong>ste<br />

país, em 1977, rapidamente todos estes meios ficaram inoperacionais.<br />

Em 1991 dá-se a extinção da própria <strong>Marinha</strong>,<br />

não se conhecendo o <strong>de</strong>stino dos seus militares;<br />

3<br />

São os navios utilizados pelos piratas para se <strong>de</strong>slocarem<br />

até perto dos seus alvos. Utilizam estes para transporte<br />

das suas lanchas <strong>de</strong> alta velocida<strong>de</strong>, que são <strong>de</strong>pois colocadas<br />

na água para o ataque final aos navios mercantes;<br />

4<br />

O International Maritime Bureau (IMB) foi estabelecido<br />

pela International Chamber of Commerce, que é uma<br />

Organização internacional fundada em 1919, que trabalha<br />

para promover e suportar o comércio internacional e<br />

a globalização;<br />

5<br />

Segundo o Ministro da Defesa ucraniano Yuri Yekhanurov,<br />

citado pela agência <strong>de</strong> notícias ucraniana Interfax;<br />

6<br />

Regulamento adoptado pela IMO na sua conferência<br />

diplomática <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2002;<br />

7<br />

SPL - Sound Pressure Level.<br />

Bibliografia<br />

Piracy and Armed Robbery Against Ships: Annual Report<br />

2008. United Kingdom: ICC International Maritime<br />

Bureau [2009].<br />

International Maritime Bureau. Disponível em http://<br />

www.icc-ccs.org. Acedido em 262200MAI09.<br />

International Maritime Organization. Disponível em<br />

http://www.imo.org. Acedido em 252130MAI09.

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