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N.R.P. BARTOLOMEU DIAS - Marinha de Guerra Portuguesa

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PIRATARIA MARÍTIMA – UMA PERSPECTIVA ACTUAL<br />

O recru<strong>de</strong>scimento da Pirataria Marítima<br />

A Pirataria Marítima na costa<br />

da Somália<br />

A<br />

Somália encontra-se geograficamente localizada<br />

no nor<strong>de</strong>ste do continente africano,<br />

na região <strong>de</strong>nominada por “Corno<br />

<strong>de</strong> África”, e possui uma costa com uma extensão<br />

<strong>de</strong> aproximadamente 3025 km. As costas<br />

norte e leste <strong>de</strong>ste país são banhadas, respectivamente,<br />

pelas águas do Golfo <strong>de</strong> A<strong>de</strong>m e do<br />

Oceano Índico, passando pelas primeiras toda a<br />

navegação que vem ou vai para o canal do Suez<br />

e pelas segundas todo o tráfego marítimo que<br />

vem ou vai para o Cabo da Boa Esperança.<br />

Este país tornou-se in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte em 1 <strong>de</strong> Julho<br />

<strong>de</strong> 1960, tendo o seu último governo efectivo,<br />

chefiado pelo General Muhammad Siad<br />

Barre, caído em 1991. A partir <strong>de</strong>ste ano a Somália<br />

transformou-se num Estado falhado, essencialmente<br />

<strong>de</strong>vido à ausência dum governo<br />

efectivo, às instituições públicas terem cessado<br />

funções e às Forças Armadas terem sido dissolvidas.<br />

A extinção <strong>de</strong>stas últimas <strong>de</strong>u origem a<br />

pequenos grupos armados, que se organizaram<br />

<strong>de</strong> acordo com os seus clãs. Estas milícias têm-<br />

‐se mantido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, envolvidas em lutas<br />

permanentes entre elas. A anarquia impera em<br />

quase todo o país, com excepção para duas zonas,<br />

Somaliland a noroeste e Puntland a nor<strong>de</strong>ste,<br />

on<strong>de</strong> ainda existem alguns resquícios <strong>de</strong> lei e<br />

or<strong>de</strong>m. Ultimamente, a governação da Somália<br />

tem sido assegurada por um Governo Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Transição 1 , estabelecido em Outubro <strong>de</strong> 2004<br />

em Mombaça no Quénia.<br />

A sua actual população ronda os 10 milhões<br />

<strong>de</strong> habitantes, que se agrupam essencialmente<br />

em 5 gran<strong>de</strong>s famílias <strong>de</strong> clãs (Hawiye, Isaak,<br />

Darod, Rahanwein e Dir), que por sua vez se<br />

subdivi<strong>de</strong>m em <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> sub-clãs. Este país<br />

apresenta uma das maiores taxas anuais <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong><br />

do mundo, que se estima em 44 nascimentos<br />

por cada 1000 habitantes; em média<br />

cada mulher somali tem entre 6 a 7 filhos. A população<br />

da Somália é consi<strong>de</strong>rada jovem, sendo<br />

a sua média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 17 anos e a sua esperança<br />

<strong>de</strong> vida à nascença <strong>de</strong> 50 anos.<br />

A pirataria ao longo da costa da Somália é o<br />

resultado do ambiente permissivo que se vive<br />

neste país, e que resulta da sua actual situação<br />

<strong>de</strong> Estado falhado, incapaz <strong>de</strong> restabelecer a<br />

lei e a or<strong>de</strong>m, o que propicia o aumento das<br />

activida<strong>de</strong>s ilegais, quer em terra, quer no mar.<br />

Neste último, <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> monitorização<br />

e patrulhamento 2 , estas activida<strong>de</strong>s tomaram a<br />

forma <strong>de</strong> pesca ilegal, contrabando, Pirataria<br />

Marítima, etc.<br />

Des<strong>de</strong> 1991 que os pescadores somalis foram<br />

assistindo, <strong>de</strong> forma impotente, ao esgotar dos<br />

seus recursos piscatórios por parte dos seus congéneres<br />

estrangeiros, que têm vindo a exercer a<br />

activida<strong>de</strong> da pesca nas suas águas, sem autorização<br />

e por vezes com equipamento proibido.<br />

Muitas das embarcações <strong>de</strong> pesca somalis, <strong>de</strong><br />

20 JULHO 2009 • Revista da Armada<br />

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Foto NATO<br />

O N.R.P. “Corte-Real”, navio chefe da SNMG1.<br />

fabrico artesanal, ao enfrentarem os barcos <strong>de</strong><br />

pesca forasteiros, com um <strong>de</strong>slocamento muito<br />

superior, foram abalroadas e afundadas. Consta<br />

que a frustração <strong>de</strong>sses pescadores os levou a<br />

que muitos <strong>de</strong>les se <strong>de</strong>dicassem à Pirataria Marítima,<br />

procurando nesta uma forma alternativa<br />

<strong>de</strong> vingança e <strong>de</strong> sustento.<br />

Outro factor que po<strong>de</strong> ter contribuído para<br />

o aumento da pirataria nestas águas, foi o Tsunami<br />

<strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2004, que se fez<br />

sentir com muita intensida<strong>de</strong> ao longo da costa<br />

<strong>de</strong>ste país, matando entre 40 a 50 mil pessoas e<br />

<strong>de</strong>vastando vilas inteiras. Como resultado <strong>de</strong>ste<br />

acontecimento milhares <strong>de</strong> somalis per<strong>de</strong>ram os<br />

seus bens, nomeadamente aqueles que lhes permitiam<br />

o seu sustento, as suas embarcações <strong>de</strong><br />

pesca. A Pirataria Marítima po<strong>de</strong> ter sido vista,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, como uma solução para a sobrevivência<br />

<strong>de</strong>stas populações.<br />

O aumento <strong>de</strong>stes actos ilícitos nas águas da<br />

Somália, po<strong>de</strong> ainda estar relacionado com a<br />

possibilida<strong>de</strong> da pirataria estar a servir <strong>de</strong> fonte<br />

<strong>de</strong> financiamento para o terrorismo, pois um<br />

dos grupos islamitas insurgentes, muito activo<br />

neste país, é consi<strong>de</strong>rado como tendo ligações<br />

à Al-Qaeda, no entanto isto não passa <strong>de</strong> uma<br />

mera suposição, sem suporte crível até à presente<br />

data.<br />

Os ataques aos navios mercantes, por parte<br />

dos piratas somalis, que até há uns anos atrás<br />

eram efectuados a poucas milhas <strong>de</strong> terra e com<br />

armas brancas, actualmente tomaram outras<br />

proporções, ou seja são efectuados a distâncias<br />

muito maiores da costa, já tendo chegado às<br />

700 milhas, e são sempre com o uso <strong>de</strong> armas<br />

<strong>de</strong> fogo. Esta mudança no Modus Operandi dos<br />

piratas, em muito se <strong>de</strong>ve ao facto <strong>de</strong> estes terem<br />

passado a dispor <strong>de</strong> “navios-mãe” 3 , <strong>de</strong> armas<br />

automáticas, <strong>de</strong> RPG (Rocket Propelled Grena<strong>de</strong>),<br />

<strong>de</strong> telefones via satélite, <strong>de</strong> equipamentos<br />

<strong>de</strong> navegação, <strong>de</strong> barcos <strong>de</strong> fibra com motores<br />

fora <strong>de</strong> borda, etc. A utilização <strong>de</strong> todos estes<br />

meios veio permitir aos piratas uma maior liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> acção, planeamento e perigosida<strong>de</strong> na<br />

execução dos seus actos ilícitos. Assim sendo é<br />

fácil <strong>de</strong> perceber porque é que os ataques, que<br />

inicialmente tinham como alvo as pequenas<br />

embarcações <strong>de</strong> pesca, junto a costa, e posteriormente<br />

os barcos <strong>de</strong> pesca <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>slocamento,<br />

ao largo, se direccionam agora para a<br />

navegação mercante já distante <strong>de</strong> terra.<br />

Aten<strong>de</strong>ndo ao exposto, po<strong>de</strong>-se inferir, ainda<br />

que com um certo grau <strong>de</strong> incerteza, que alguns<br />

clãs estão a virar as suas milícias para o mar, para<br />

através <strong>de</strong> actos <strong>de</strong> pirataria adquirirem dinheiro<br />

<strong>de</strong> uma forma fácil, e que estas po<strong>de</strong>rão estar a<br />

ser formadas, essencialmente, por pescadores<br />

e por antigos militares da <strong>Marinha</strong>, <strong>de</strong>vido aos<br />

seus conhecimentos náuticos.<br />

As operações navais <strong>de</strong><br />

combate à Pirataria Marítima<br />

na Somália<br />

- A operação “Allied Protector”<br />

Esta operação naval está a ser lavada a cabo<br />

pela NATO e é consi<strong>de</strong>rada por esta, como o<br />

seu contributo para o esforço que a comunida<strong>de</strong><br />

internacional está a efectuar em prole do<br />

aumento da segurança das rotas comerciais marítimas<br />

na área do “Corno <strong>de</strong> África”. A NATO<br />

está a utilizar uma força, constituída por navios<br />

<strong>de</strong> diversas nações aliadas, que se tem mantido<br />

empenhada, quer na dissuasão das activida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> pirataria nesta região, quer na protecção da<br />

navegação mercante contra este tipo <strong>de</strong> ilícitos.<br />

Esta força tem a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> Standing NATO<br />

Maritime Group 1 (SNMG1) e é constituída actualmente<br />

por 5 navios, o N.R.P. “Corte-Real”<br />

(Portugal – navio chefe), o HMCS “Winnipeg”<br />

(Canadá), o HNLMS “De Zeven Provinciën”<br />

(Holanda), o ESPS “Blas <strong>de</strong> Lezo” (Espanha) e o<br />

USS “Halyburton” (EUA).<br />

O actual comandante <strong>de</strong>sta força é o Contra-<br />

‐almirante português José Domingos Pereira da<br />

Cunha, tendo a cerimónia <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> posse<br />

ocorrido em El Ferrol – Espanha, em 23 <strong>de</strong><br />

Janeiro <strong>de</strong> 2009. O comando <strong>de</strong>sta força naval<br />

vai alternando entre as várias nações que contribuem<br />

regularmente com navios para esta, como<br />

sejam Portugal, Alemanha, Holanda, Espanha,<br />

Polónia, Noruega, Dinamarca, Reino Unido e<br />

Estados Unidos da América.<br />

Por norma, a SNMG1 costuma actuar no<br />

Oceano Atlântico e no Mar Mediterrâneo, nas<br />

mais diversas missões e nos mais variados cenários<br />

<strong>de</strong> actuação, quer em situações <strong>de</strong> paz,<br />

quer <strong>de</strong> crise e conflito. É a primeira vez que esta<br />

está <strong>de</strong>stacada nas regiões do “Corno <strong>de</strong> África”<br />

e do su<strong>de</strong>ste asiático, o que vem <strong>de</strong>monstrar a<br />

importância que a NATO está a atribuir ao combate<br />

à pirataria nestas áreas.<br />

A operação “Allied Protector” veio dar continuida<strong>de</strong><br />

ao que já havia sido feito pela NATO<br />

durante a operação “Allied Provi<strong>de</strong>r”, que <strong>de</strong>correu<br />

entre 24 <strong>de</strong> Outubro e 12 <strong>de</strong> Dezembro<br />

<strong>de</strong> 2008 no Mar Arábico, na qual participou a<br />

SNMG2, e que permitiu assegurar a entrega <strong>de</strong><br />

30.000 toneladas <strong>de</strong> ajuda humanitária à Somália.<br />

Esta força foi constituída por 7 navios das<br />

seguintes <strong>Marinha</strong>s, italiana, alemã, americana,<br />

grega, turca e britânica e teve como principal<br />

missão escoltar os navios mercantes <strong>de</strong> apoio ao<br />

“Programa Alimentar Mundial” da ONU, no fornecimento<br />

<strong>de</strong> alimentos à Somália, tendo sido

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