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N.R.P. BARTOLOMEU DIAS - Marinha de Guerra Portuguesa

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 432 • ANO XXXIX JULHo 2009 • MENSAL • € 1,50<br />

N.R.P. <strong>BARTOLOMEU</strong> <strong>DIAS</strong><br />

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50º ANIVERSÁRIO DO MONUMENTO<br />

A CRISTO-REI<br />

Por iniciativa do Bispo <strong>de</strong> Lisboa foi criada uma comissão para<br />

as comemorações dos 50 anos da inauguração do monumento<br />

a Cristo-Rei, da qual fez parte o CALM Luís Macieira Fragoso,<br />

dado haver intenção <strong>de</strong> recriar a<br />

travessia do Tejo da imagem <strong>de</strong> Nossa<br />

Senhora <strong>de</strong> Fátima, há 50 anos.<br />

Na tar<strong>de</strong> do dia 16 <strong>de</strong> Maio, a imagem<br />

<strong>de</strong> Nossa Senhora, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> percorrer<br />

a Baixa lisboeta em procissão,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Igreja <strong>de</strong> S. Nicolau – é recebida<br />

por um mar <strong>de</strong> gente no terreiro<br />

junto à Estação Fluvial do Terreiro do<br />

Paço. No rio, as embarcações da Escola<br />

Naval:”Bellatrix”; “Canopus”; “Blaus<br />

VII”; “Nó <strong>de</strong> Escota” e “Lais <strong>de</strong> Guia”,<br />

aproveitando o vento bonançoso <strong>de</strong><br />

NW, velejavam perto do navio-escola<br />

“Sagres”, fun<strong>de</strong>ado na área frontal<br />

à realização das cerimónias em terra.<br />

Após recitado o Terço foi celebrada<br />

uma Missa em cuja homilia ressaltam<br />

as palavras <strong>de</strong> D. José Policarpo: Toda<br />

a cida<strong>de</strong> se transformou num templo, on<strong>de</strong><br />

só não sente o amor <strong>de</strong> Cristo quem não<br />

quer. Depois, <strong>de</strong>zena e meia <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>tes<br />

da Escola Naval escoltaram a imagem<br />

peregrina até à Doca da <strong>Marinha</strong> on<strong>de</strong><br />

embarcou na lancha <strong>de</strong> fiscalização<br />

rápida “Dragão”, sendo ali colocada<br />

sobre a cobertura da ponte, avante da<br />

bitácula e ro<strong>de</strong>ada por uma <strong>de</strong>coração<br />

floral <strong>de</strong> rosas brancas. A bordo viajam<br />

o ALM CEMA e convidados com <strong>de</strong>staque<br />

para o Car<strong>de</strong>al Patriarca <strong>de</strong> Lisboa,<br />

os Presi<strong>de</strong>ntes das edilida<strong>de</strong>s das<br />

duas margens do Tejo e Bispos e Prelados<br />

nacionais e dos PALOP`s. A lancha<br />

“Cassiopeia” transportava por sua vez<br />

os representantes dos órgãos <strong>de</strong> comunicação<br />

social, enquanto a UAM “Zêzere”<br />

acolheu cerca <strong>de</strong> 600 convidados,<br />

animados liturgicamente pela Capelania da Escola Naval e jovens<br />

da Paróquia da Póvoa <strong>de</strong> Santo Adrião.<br />

Há 50 anos<br />

Foram impostas restrições à circulação da navegação entre Lisboa<br />

e Cacilhas e encerrada a estação do Terreiro do Paço, sendo os<br />

catamarãs <strong>de</strong>sviados para o Cais do Sodré. À <strong>Marinha</strong> competiu a<br />

segurança dos participantes no cortejo<br />

naval, dispondo no estuário do Tejo <strong>de</strong><br />

duas lanchas da Polícia Marítima, duas<br />

semi-rígidas e um bote salva-vidas, assim<br />

como equipas <strong>de</strong> mergulhadores e<br />

<strong>de</strong> nadadores-salvadores.<br />

Às 19H20 <strong>de</strong>u-se início à procissão<br />

naval que reuniu várias <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> embarcações<br />

à vela e a motor provenientes<br />

dos concelhos ribeirinhos da Gran<strong>de</strong><br />

Lisboa – Almada, Barreiro, Seixal,<br />

Moita, Vila Franca <strong>de</strong> Xira e Cascais,<br />

entre outros –, da Associação Nacional<br />

<strong>de</strong> Cruzeiros, para além <strong>de</strong> embarcações<br />

<strong>de</strong> outras origens nacionais e estrangeiras.<br />

Destaque para a presença da<br />

canoa do Tejo “Boneca” – do Grupo <strong>de</strong><br />

Amigos do Museu <strong>de</strong> <strong>Marinha</strong> – que<br />

embarcou jovens estudantes, <strong>de</strong> antigos<br />

cacilheiros e <strong>de</strong> diversas embarcações<br />

tradicionais da Associação dos Proprietários<br />

e Arrais <strong>de</strong> Embarcações Típicas<br />

do Tejo, conhecidas pela “<strong>Marinha</strong> do<br />

Tejo” que, com as suas velas e cores variadas,<br />

emprestaram um simbolismo<br />

muito especial a esta cerimónia. No<br />

meio da travessia a “Sagres” esten<strong>de</strong>u<br />

a sua guarnição nas vergas, prestando<br />

honras à passagem da “Dragão”.<br />

Após cerca <strong>de</strong> 30 minutos <strong>de</strong> navegação<br />

a “Dragão” atracou em Cacilhas<br />

<strong>de</strong>sembarcando a imagem <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />

perante numerosa multidão, antece<strong>de</strong>ndo<br />

uma procissão <strong>de</strong> velas até à<br />

Igreja Paroquial <strong>de</strong> Almada. Desta forma<br />

reproduziu-se o que aconteceu há<br />

50 anos por ocasião da Inauguração do<br />

Monumento a Cristo-Rei (ver caixa).<br />

<br />

(Colaboração da ESCOLA NAVAL)<br />

A imagem <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong> Fátima que no dia seguinte iria estar presente nas cerimónias da inauguração da estátua do Cristo-Rei, saiu em procissão<br />

da escadaria do Instituto Superior Técnico numa viatura aos cuidados da Brigada Naval. A imagem atravessou Lisboa – Av. Almirante Reis, Praça da<br />

Figueira, Rua Augusta – até ao seu <strong>de</strong>stino no Terreiro do Paço antes <strong>de</strong> embarcar para Cacilhas. Durante o trajecto a imagem foi saudada por milhares <strong>de</strong><br />

pessoas, num verda<strong>de</strong>iro espectáculo <strong>de</strong> luz proporcionado pelas velas dos <strong>de</strong>votos e pelas janelas iluminadas e adornadas com colchas e colgaduras.<br />

Durante o trajecto um dos turnos da escolta pertenceu a alunos da Escola Naval, bem como às varas do pálio serviram várias individualida<strong>de</strong>s como<br />

o Sub Chefe do Estado-Maior Naval e o Comandante Naval do Continente.<br />

A imagem <strong>de</strong> Nossa Senhora chegou ao Terreiro do Paço cerca das 2 horas da manhã, apagando-se <strong>de</strong> imediato as luzes, ficando aquela praça iluminada<br />

pela luz das velas, ao mesmo tempo que se agitavam milhares <strong>de</strong> lenços brancos que pareciam formar um manto <strong>de</strong> neve.<br />

O andor foi então conduzido para bordo do cacilheiro “Rio Jamor” – <strong>de</strong>corado com damasco e iluminado com 120 círios – e colocado num estrado<br />

florido sob uma enorme coroa. Quando o “Rio Jamor” começou a navegar foi lançada uma girândola <strong>de</strong> cinco mil foguetes, soando ao mesmo tempo as<br />

sereias <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 100 navios, iniciando um trajecto entre alas <strong>de</strong>finidas por cinco navios da <strong>Marinha</strong>: NRP’s “Sagres”; “Santa Cruz; “Ponta Delgada”;<br />

“S. Pedro”; “S. Nicolau”; “Sal” e “Fogo”. Fora <strong>de</strong>ste corredor a fragata “D. Fernando II e Glória” encontrava-se iluminada, assim como <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> navios<br />

atracados e fun<strong>de</strong>ados. A marcha do “Rio Jamor” era comboiada por três embarcações da Polícia Marítima, on<strong>de</strong> seguia o seu Comandante, o CFR Santiago<br />

Ponce. Sobre este evento escrevia “O Século” <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1959: Foi nesse quadro <strong>de</strong> infinita religiosida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> magnificiência e gran<strong>de</strong>za, que a imagem<br />

<strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong> Fátima começou a atravessar o Tejo.<br />

A guarda <strong>de</strong> honra a bordo foi efectuada por ca<strong>de</strong>tes da Escola Naval, que <strong>de</strong>pois transportariam o andor até ao largo <strong>de</strong> Cacilhas – após atracar às 3<br />

horas no pontão – entregando a imagem <strong>de</strong> Nossa Senhora à Irmanda<strong>de</strong> do Bom Sucesso, seguindo <strong>de</strong>pois em procissão até à Capela daquela Congregação<br />

em Cacilhas.<br />

Foto Reinaldo Carvalho<br />

Foto SCH T Arnaldo Sá<br />

Foto SCH T Arnaldo Sá<br />

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 432 • ANO XXXIX JULHo 2009 • MENSAL • € 1,50<br />

Publicação Oficial da <strong>Marinha</strong><br />

Periodicida<strong>de</strong> mensal<br />

Nº 432 • Ano XXXIX<br />

Julho 2009<br />

Director<br />

CALM EMQ<br />

Luís Augusto Roque Martins<br />

Chefe <strong>de</strong> Redacção<br />

CMG Joaquim Manuel <strong>de</strong> S. Vaz Ferreira<br />

Redacção<br />

2TEN TSN Ana Alexandra Gago <strong>de</strong> Brito<br />

Secretário <strong>de</strong> Redacção<br />

SAJ L Mário Jorge Almeida <strong>de</strong> Carvalho<br />

Colaboradores Permanentes<br />

CFR Jorge Manuel Patrício Gorjão<br />

CFR FZ Luís Jorge R. Semedo <strong>de</strong> Matos<br />

CFR SEG Abel Ivo <strong>de</strong> Melo e Sousa<br />

1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves<br />

Administração, Redacção e Publicida<strong>de</strong><br />

Revista da Armada<br />

Edifício das Instalações<br />

Centrais da <strong>Marinha</strong><br />

Rua do Arsenal<br />

1149-001 Lisboa - Portugal<br />

Telef: 21 321 76 50<br />

Fax: 21 347 36 24<br />

En<strong>de</strong>reço da <strong>Marinha</strong> na Internet<br />

http://www.marinha.pt<br />

e-mail da Revista da Armada<br />

revista.armada@marinha.pt<br />

Fotocomposição,<br />

paginação electrónica, fotolito,<br />

montagem e produção<br />

Página Ímpar, Lda.<br />

Estrada <strong>de</strong> Benfica, 317 - 1º F<br />

1500-074 Lisboa<br />

Tiragem média mensal:<br />

6000 exemplares<br />

Preço <strong>de</strong> venda avulso: € 1,50<br />

Registada na DGI em 6/4/73<br />

com o nº 44/23<br />

Depósito Legal nº 55737/92<br />

ISSN 0870-9343<br />

N.R.P. <strong>BARTOLOMEU</strong> <strong>DIAS</strong><br />

O NRP “Bartolomeu Dias”<br />

atracado em Aveiro<br />

no Dia da <strong>Marinha</strong>.<br />

Foto 1SAR FZ Pereira<br />

ANUNCIANTES:<br />

CONSELHEIROS DA VISÃO, Lda.; ROHDE & SCHWARZ, Lda;<br />

CASA DE SAÚDE DO BARREIRO.<br />

SUMÁRIO<br />

12<br />

Nos 60 Anos da Nato<br />

5Comemorações do 10 <strong>de</strong> Junho<br />

19<br />

Pirataria Marítima<br />

– Uma Perspectiva Actual<br />

25<br />

Vice-Almirante Matta Oliveira<br />

50º ANIVERSÁRIO DO MONUMENTO A CRISTO-REI 2<br />

LEALDADE E DISCIPLINA 4<br />

NRP “<strong>BARTOLOMEU</strong> <strong>DIAS</strong>” 7<br />

O NRP “CORTE-REAL” NA STANDING NATO MARITIME GROUP 1 9<br />

DIA DO CORPO DE FUZILEIROS 10<br />

COMBATE À POLUIÇÃO DO MAR 11<br />

A MARINHA DE JOÃO III (47) 15<br />

ECOS DO DIA DA MARINHA<br />

DIA DA MARINHA NOS AÇORES / MADEIRA 16<br />

O DR. GINJA BRANDÃO 17<br />

PRÉMIOS DA REVISTA DA ARMADA 18<br />

TOMADAS DE POSSE 24<br />

VIGIA DA HISTÓRIA 12 / CONVÍVIO 29<br />

NRP “JOÃO COUTINHO” / EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA 30<br />

HISTÓRIAS DA BOTICA (65) 31<br />

LIVROS 32<br />

QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33<br />

NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34<br />

INSTALAÇÕES DA MARINHA<br />

CONTRACAPA<br />

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Revista da Armada • JULHO 2009 3


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AOS CADETES DA ESCOLA NAVAL 4<br />

Lealda<strong>de</strong> e Disciplina<br />

Valores fundamentais <strong>de</strong> um militar<br />

4 JULHo 2009 • Revista da Armada<br />

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Caros ca<strong>de</strong>tes, falo-vos neste artigo<br />

da lealda<strong>de</strong> e da disciplina, os<br />

valores fundamentais <strong>de</strong> todo o<br />

militar, sem os quais nada se sustenta<br />

ou tem durabilida<strong>de</strong> na <strong>Marinha</strong>.<br />

De forma muito preliminar e sucinta:<br />

ser leal significa agir <strong>de</strong> boa-fé e confiar<br />

nos chefes, nos pares e nos subordinados;<br />

ser disciplinado implica obe<strong>de</strong>cer<br />

aos preceitos legais e regulamentares<br />

do serviço e aos superiores. Por isso, ao<br />

longo das vossas carreiras constatarão,<br />

numa base diária, que as vossas maiores<br />

alegrias e<br />

<strong>de</strong>silusões estarão<br />

ligadas a<br />

estes dois valores,<br />

que apenas<br />

os fortes têm<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

exercitar sem<br />

mácula.<br />

Para um militar,<br />

ser leal é<br />

praticar a verda<strong>de</strong>,<br />

adoptando<br />

uma conduta<br />

vertical e<br />

honrada, mantendo<br />

a palavra<br />

dada, trabalhando<br />

com<br />

sincerida<strong>de</strong>,<br />

franqueza e honestida<strong>de</strong>,<br />

e<br />

<strong>de</strong>monstrando<br />

pelos outros o apreço e a estima que robustecem<br />

os laços da amiza<strong>de</strong> fraterna,<br />

essencial aos camaradas <strong>de</strong> armas. Ser<br />

leal também é acreditar que: os superiores<br />

<strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m com acerto nas or<strong>de</strong>ns<br />

que emitem; os pares apoiam o esforço<br />

colectivo, cumprindo zelosamente<br />

o encargo que lhes cabe; os subordinados<br />

realizam correctamente as tarefas<br />

<strong>de</strong> que foram incumbidos.<br />

Nestas circunstâncias, em âmbito<br />

militar a lealda<strong>de</strong> não se po<strong>de</strong> confundir<br />

com o servilismo daqueles que anseiam<br />

pela obtenção <strong>de</strong> favores. Para<br />

além disso, também não é sinónimo <strong>de</strong><br />

cumplicida<strong>de</strong> nos <strong>de</strong>svios aos comportamentos<br />

justos e correctos. Por estar<br />

estruturada sobre a lisura dos procedimentos<br />

e a crença nas <strong>de</strong>cisões, apoios<br />

e acções <strong>de</strong> camaradas <strong>de</strong> armas, a lealda<strong>de</strong><br />

é a base da solidarieda<strong>de</strong> orgânica<br />

na <strong>Marinha</strong>, essencial para que, no mar<br />

ou em terra, na paz ou na guerra, possamos<br />

actuar como um corpo coeso.<br />

Para um militar, ser disciplinado significa<br />

submeter-se às <strong>de</strong>terminações<br />

das leis, dos regulamentos e dos superiores,<br />

no serviço ou fora <strong>de</strong>le, em todos<br />

os lugares e conjunturas, mesmo naquelas<br />

aparentemente insignificantes. Ora,<br />

isto implica: conformida<strong>de</strong>, resignação<br />

e espontaneida<strong>de</strong> no acatamento das<br />

dificulda<strong>de</strong>s do serviço; moralida<strong>de</strong><br />

nos actos públicos e privados; sobrieda<strong>de</strong><br />

no estilo <strong>de</strong> vida; serenida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

espírito e sangue-frio nas situações <strong>de</strong><br />

maior exigência; or<strong>de</strong>m, método e prática<br />

constante <strong>de</strong> hábitos sadios, rejeitando<br />

o ócio e <strong>de</strong>sprezando o vício; respeito<br />

e consi<strong>de</strong>ração do subordinado para<br />

com o superior, e <strong>de</strong>ferência e atenção<br />

<strong>de</strong>ste relativamente ao subordinado.<br />

Nestas circunstâncias, em âmbito militar<br />

a disciplina não se po<strong>de</strong> confundir<br />

com a sujeição a or<strong>de</strong>ns daqueles que<br />

ofen<strong>de</strong>m os direitos, as liberda<strong>de</strong>s e as<br />

garantias dos seus camaradas e, <strong>de</strong>sta<br />

forma, <strong>de</strong>gradam os bons costumes<br />

e estiolam as Forças Armadas. Para<br />

além disso, também não é sinónimo <strong>de</strong><br />

submissão a imposições autoritárias,<br />

por vezes brutais, relacionadas com o<br />

uso da força militar sobre inocentes ou<br />

contra regimes políticos legítimos. Por<br />

estar estruturada sobre a obediência às<br />

leis, aos regulamentos e aos superiores,<br />

a disciplina militar, embora requeira<br />

vigor e firmeza, não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

ser associada ao afecto e à bonda<strong>de</strong>, à<br />

sobrieda<strong>de</strong> e à inteligência, à fraternida<strong>de</strong><br />

e ao bom senso, à tranquilida<strong>de</strong><br />

e à imparcialida<strong>de</strong>, e à justiça e à legitimida<strong>de</strong>.<br />

Tornar leais e disciplinados os homens<br />

e as mulheres que, na <strong>Marinha</strong>, servem<br />

Portugal, é uma tarefa aliciante, mas<br />

complexa e <strong>de</strong>morada, porque implica<br />

i<strong>de</strong>ntificar e moldar as suas formas <strong>de</strong><br />

agir e a sua disponibilida<strong>de</strong> para obe<strong>de</strong>cer.<br />

É certo que ambas possuem alguns<br />

componentes inatos. Porém, também<br />

incorporam na sua estrutura outros<br />

elementos que<br />

são adquiridos<br />

por influência<br />

do ambiente,<br />

da experiência,<br />

do esforço<br />

e da educação<br />

<strong>de</strong> cada militar.<br />

Ora, é neste<br />

contexto que<br />

a conduta <strong>de</strong><br />

cada um <strong>de</strong> vós<br />

<strong>de</strong>ve ser um<br />

exemplo <strong>de</strong> lealda<strong>de</strong><br />

e disciplina,<br />

para que<br />

sirva <strong>de</strong> referência<br />

a todos<br />

aqueles com<br />

quem privam.<br />

Para além disso,<br />

uma conduta<br />

leal e disciplinada<br />

também vos permitirá ganhar<br />

o respeito e a compreensão daqueles<br />

poucos que, por se <strong>de</strong>sviarem dos comportamentos<br />

correctos, serão alvo da<br />

aplicação das sanções estabelecidas no<br />

exercício <strong>de</strong> funções <strong>de</strong> comando, direcção<br />

ou chefia.<br />

Caros ca<strong>de</strong>tes, notem que a lealda<strong>de</strong><br />

e a disciplina não são uma exigência<br />

exclusiva das Forças Armadas, nem<br />

um privilégio dos militares. São valores<br />

essenciais ao exercício <strong>de</strong> qualquer<br />

profissão e ao bom funcionamento<br />

<strong>de</strong> todas as organizações públicas ou<br />

privadas. Porém, é nas Forças Armadas<br />

que se exprimem plenamente os<br />

seus significados, <strong>de</strong>vido ao facto <strong>de</strong>,<br />

em última instância, estarem associadas<br />

ao cumprimento do <strong>de</strong>ver perante<br />

o perigo.<br />

<br />

António Silva Ribeiro<br />

CALM


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COMEMORAÇÕES DO 10 DE JUNHO<br />

Realizaram-se no dia 10 <strong>de</strong> Junho, em Santarém,<br />

as cerimónias alusivas às comemorações<br />

do Dia <strong>de</strong> Portugal, <strong>de</strong> Camões e<br />

das Comunida<strong>de</strong>s <strong>Portuguesa</strong>s.<br />

O Presi<strong>de</strong>nte da República e Comandante<br />

Supremo das Forças Armadas, presidiu à cerimónia<br />

militar, no Campo Infante da Câmara,<br />

que incluiu uma parada militar das<br />

Forças Armadas, comandadas pelo<br />

MAJGEN Raul Ferreira da Cunha,<br />

integrando as seguintes unida<strong>de</strong>s e<br />

meios: Banda do Exército; Bloco <strong>de</strong><br />

Estandartes Nacionais representativos<br />

do Estado-Maior-General das<br />

Forças Armadas, <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s da<br />

<strong>Marinha</strong>, do Exército, da Força Aérea<br />

e da Liga <strong>de</strong> Combatentes, com<br />

uma Escolta <strong>de</strong> Honra, constituída<br />

por uma Companhia <strong>de</strong> Alunos da<br />

Aca<strong>de</strong>mia Militar.<br />

Um Batalhão dos Estabelecimentos<br />

Militares <strong>de</strong> Ensino do Exército,<br />

constituído por uma companhia <strong>de</strong><br />

alunos do Colégio Militar, uma companhia do<br />

Instituto <strong>de</strong> Odivelas e uma companhia do Instituto<br />

Militar dos Pupilos do Exército.<br />

Um Batalhão <strong>de</strong> Ca<strong>de</strong>tes Alunos integrando<br />

uma companhia da Escola Naval, uma companhia<br />

da Aca<strong>de</strong>mia Militar e uma Esquadrilha da<br />

Aca<strong>de</strong>mia da Força Aérea.<br />

Um Batalhão <strong>de</strong> formandos dos cursos <strong>de</strong><br />

Sargentos, incluindo uma companhia da Escola<br />

<strong>de</strong> Tecnologias Navais da <strong>Marinha</strong>, uma<br />

companhia da Escola <strong>de</strong> Sargentos do Exército<br />

e uma Esquadrilha do Centro <strong>de</strong> Formação<br />

Militar e Técnica da Força Aérea, um Batalhão<br />

da <strong>Marinha</strong>, dois Batalhões do Exército e uma<br />

Esquadra da Força Aérea.<br />

Para além <strong>de</strong>stas forças em parada, participaram<br />

ainda na cerimónia militar outras<br />

forças, <strong>de</strong>signadamente, uma Bateria <strong>de</strong> Artilharia<br />

<strong>de</strong> Campanha do Exército que prestou<br />

as salvas regulamentares ao Presi<strong>de</strong>nte da República,<br />

Escolta a Cavalo do Colégio Militar;<br />

uma Força do Corpo <strong>de</strong> Fuzileiros da <strong>Marinha</strong><br />

e um Batalhão da Brigada <strong>de</strong> Reacção Rápida<br />

do Exército; uma Força Motorizada da <strong>Marinha</strong>;<br />

uma Força Motorizada do Exército; uma<br />

Força Motorizada da Força Aérea <strong>Portuguesa</strong>;<br />

uma Força Mecanizada da Brigada Mecanizada<br />

do Exército.<br />

As Forças em Parada prestaram as honras regulamentares,<br />

com a Banda do Exército executando<br />

o Hino Nacional e simultaneamente,<br />

uma bateria <strong>de</strong> Artilharia <strong>de</strong><br />

Campanha do Exército, executaram<br />

uma salva <strong>de</strong> 21 tiros.<br />

Seguiu-se a homenagem aos<br />

Mortos que incluía uma prece feita<br />

pelo Vigário castrense o CMG Costa<br />

Amorim.<br />

Seguidamente o Presi<strong>de</strong>nte da República<br />

pronunciou o discurso que<br />

abaixo se transcreve na íntegra.<br />

Por fim <strong>de</strong>u-se início ao <strong>de</strong>sfile<br />

das Forças em Parada e Forças Motorizadas.<br />

Encerrou o <strong>de</strong>sfile o sobrevoo <strong>de</strong><br />

formações <strong>de</strong> Aeronaves da <strong>Marinha</strong><br />

e da Força Aérea <strong>Portuguesa</strong> constituídas por 2<br />

Helicópteros Lynx da <strong>Marinha</strong> e 6 aviões F-16<br />

Fighting Falcon.<br />

Por sua vez em cerimónia civil, o Presi<strong>de</strong>nte<br />

da República con<strong>de</strong>corou diversas personalida<strong>de</strong>s,<br />

entre elas, o VALM António João Neves<br />

<strong>de</strong> Bettencourt com a Grã Cruz da Or<strong>de</strong>m Militar<br />

<strong>de</strong> Avis.<br />

Discurso do Presi<strong>de</strong>nte da Républica na Cerimónia Militar<br />

“A data que hoje celebramos,<br />

nesta histórica cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santarém,<br />

convida-nos a revisitar um<br />

passado cujo património nos enobrece<br />

e a reflectir sobre os pilares<br />

estruturantes da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional<br />

e os valores que moldaram a<br />

alma e o sentir português.<br />

Um sonho <strong>de</strong> expansão marítima,<br />

em que conjugámos <strong>de</strong> forma<br />

admirável o amor pátrio com<br />

o fascínio pelo mar, o sítio da geografia<br />

com a vocação universalista,<br />

a cultura europeia com a criação<br />

<strong>de</strong> um património comum <strong>de</strong><br />

valores da maior relevância para<br />

o entendimento entre as nações.<br />

Um <strong>de</strong>sígnio colectivo que ainda hoje <strong>de</strong>termina<br />

as priorida<strong>de</strong>s do nosso relacionamento<br />

externo, na Europa, nas Américas e<br />

em África.<br />

Nesta ocasião, e neste local, é imperativo<br />

reconhecer o valioso contributo da Instituição<br />

Militar para a edificação <strong>de</strong> Portugal, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

sua génese até aos nossos dias.<br />

Portugal é obra <strong>de</strong> todos os Portugueses.<br />

Temos a obrigação <strong>de</strong> honrar o seu legado e<br />

<strong>de</strong> o saber projectar para o futuro.<br />

Em situações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>, em que<br />

o curso normal da vida nacional perigou, os<br />

militares souberam sempre interpretar o sentir<br />

profundo e as aspirações do povo, garantindo<br />

com sucesso a in<strong>de</strong>pendência e a <strong>de</strong>fesa<br />

<strong>de</strong> Portugal.<br />

Construímos um país coeso, com fronteiras<br />

consolidadas e das mais antigas do mundo,<br />

<strong>de</strong> fácil relacionamento com outros povos e<br />

culturas, respeitado pela comunida<strong>de</strong> internacional<br />

como <strong>de</strong>fensor dos direitos humanos e<br />

do primado da Lei e activamente empenhado<br />

na segurança e na paz mundial.<br />

Também em Santarém se fez Portugal. Local<br />

frequente <strong>de</strong> reunião das Cortes, até ao século<br />

XV, a cida<strong>de</strong> esteve envolvida em diversas acções<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da nacionalida<strong>de</strong>, tendo sido<br />

das últimas a ce<strong>de</strong>r à invasão estrangeira, após<br />

a crise <strong>de</strong> 1580, e das primeiras a<br />

aclamar D. João IV.<br />

A nossa memória longínqua<br />

leva-nos também ao gran<strong>de</strong> navegador<br />

Pedro Álvares Cabral,<br />

sepultado nesta cida<strong>de</strong> e que ao<br />

<strong>de</strong>scobrir o Brasil se imortalizou.<br />

Sá da Ban<strong>de</strong>ira e Passos Manuel<br />

são, ainda, dois exemplos<br />

<strong>de</strong> notáveis militares e estadistas<br />

liberais com forte ligação a<br />

Santarém.<br />

Mais recentemente, vem-nos à<br />

memória a Escola Prática <strong>de</strong> Cavalaria<br />

e o seu contributo para a<br />

instauração e consolidação da<br />

<strong>de</strong>mocracia em Portugal. Daqui saiu a coluna<br />

militar, comandada pelo jovem capitão<br />

Salgueiro Maia, que acabo <strong>de</strong> homenagear<br />

e que em Abril <strong>de</strong> 1974 marchou para Lisboa<br />

em nome dos i<strong>de</strong>ais da liberda<strong>de</strong> e da<br />

<strong>de</strong>mocracia.<br />

Militares,<br />

Quis, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do meu mandato, associar<br />

as Forças Armadas às cerimónias <strong>de</strong> celebração<br />

do Dia <strong>de</strong> Portugal, <strong>de</strong> Camões e das<br />

Comunida<strong>de</strong>s <strong>Portuguesa</strong>s. É nesta ocasião<br />

que a elas me dirijo especialmente e procuro<br />

dar particular visibilida<strong>de</strong> e público testemunho<br />

das suas capacida<strong>de</strong>s, bem como da<br />

excelência do seu <strong>de</strong>sempenho no cumpri-<br />

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Revista da Armada • julho 2009 5


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mento das missões ao serviço <strong>de</strong> Portugal e<br />

dos Portugueses.<br />

Uma palavra <strong>de</strong> reconhecimento é <strong>de</strong>vida<br />

aos antigos combatentes, alguns <strong>de</strong>les aqui presentes,<br />

portugueses que <strong>de</strong>ram o melhor <strong>de</strong> si<br />

por Portugal. Nenhuma pátria que se respeite<br />

po<strong>de</strong> esquecer os cidadãos que, por ela, a tudo<br />

se dispuseram.<br />

Como Comandante Supremo das Forças<br />

Amadas, tenho acompanhado com particular<br />

atenção os assuntos referentes à Defesa Nacional,<br />

procurando incentivar o processo <strong>de</strong> reestruturação<br />

e o <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho e<br />

das capacida<strong>de</strong>s conjuntas e combinadas das<br />

nossas Forças Armadas.<br />

No âmbito legislativo, foram recentemente<br />

aprovados pelo Parlamento dois importantes<br />

diplomas sobre a reorganização da estrutura<br />

superior da Defesa Nacional e das Forças<br />

Armadas – A Lei <strong>de</strong> Defesa Nacional e a Lei<br />

Orgânica <strong>de</strong> Bases da Organização das Forças<br />

Armadas.<br />

Da aplicação das novas leis espera-se que<br />

resulte uma maior ligação e complementarida<strong>de</strong><br />

entre os Ramos e a criação <strong>de</strong> estruturas<br />

<strong>de</strong> comando mais ágeis e flexíveis, evitando duplicações<br />

e buscando eficácia, racionalida<strong>de</strong> e<br />

economia <strong>de</strong> meios.<br />

Militares,<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma nova or<strong>de</strong>m mundial sem<br />

guerras e em que o <strong>de</strong>senvolvimento e os direitos<br />

humanos pu<strong>de</strong>ssem constituir as bases <strong>de</strong><br />

um novo paradigma das relações internacionais<br />

permanece ainda uma realida<strong>de</strong> distante.<br />

Para promover a segurança e salvaguardar<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento das populações, os Estados<br />

estabelecem sistemas colectivos <strong>de</strong> segurança<br />

e <strong>de</strong>fesa para os quais cada país disponibiliza<br />

as suas forças, na perspectiva <strong>de</strong>, em<br />

conjunto, diminuir as suas vulnerabilida<strong>de</strong>s,<br />

contribuindo para a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> uma fronteira<br />

<strong>de</strong> segurança comum, frequentemente distante<br />

dos seus próprios territórios.<br />

É neste enquadramento que Portugal apoia<br />

e participa em operações das Nações Unidas,<br />

da NATO e da União Europeia. Devemos,<br />

para a salvaguarda dos nossos próprios interesses,<br />

continuar a honrar os compromissos<br />

com estas organizações e garantir as condições<br />

a<strong>de</strong>quadas para que as nossas Forças<br />

Armadas possam ombrear com as <strong>de</strong>mais no<br />

cumprimento das missões internacionais.<br />

No ano que passou, as nossas forças participaram<br />

em operações no Líbano, nos Balcãs,<br />

6 julho 2009 • Revista da Armada<br />

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no Afeganistão, no Cha<strong>de</strong> e nos mares do Mediterrâneo<br />

e da Somália. Desenvolveram, igualmente,<br />

acções <strong>de</strong> cooperação técnico-militar,<br />

em especial nos países africanos <strong>de</strong> língua oficial<br />

portuguesa e em Timor-Leste.<br />

Em todas estas missões, a actuação dos<br />

militares portugueses tem merecido, reiteradamente,<br />

rasgados elogios por parte dos<br />

nossos aliados, dos países e das populações<br />

que os acolhem. É motivo <strong>de</strong> orgulho para<br />

todos nós.<br />

Não quero, ainda, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> expressar, em<br />

nome <strong>de</strong> todos os Portugueses, um público<br />

reconhecimento às Forças Armadas pelas missões<br />

<strong>de</strong> apoio directo às populações, salvando<br />

vidas e haveres. É um imperativo nacional e,<br />

além disso, um acto <strong>de</strong> bom aproveitamento<br />

das capacida<strong>de</strong>s e dos recursos disponíveis nas<br />

Forças Armadas.<br />

Militares,<br />

Em todos os processos <strong>de</strong> transformação das<br />

Forças Armadas, mais do que a actualização<br />

tecnológica dos recursos materiais, sobressai<br />

a qualida<strong>de</strong> dos recursos humanos como o<br />

mais valioso activo da Instituição Militar. Daí a<br />

priorida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve ser dada ao apuramento<br />

da sua formação.<br />

Está em curso uma reforma do Ensino Superior<br />

Militar com vista à reorganização dos<br />

cursos <strong>de</strong> acordo com as orientações da Declaração<br />

<strong>de</strong> Bolonha.<br />

O ensino militar não po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r<br />

uma sólida formação ética e comportamental<br />

dos jovens militares, marca impressiva<br />

e positivamente diferenciadora das<br />

gran<strong>de</strong>s instituições.<br />

A capacida<strong>de</strong> e o treino físico são condições<br />

indispensáveis para o exercício da profissão<br />

militar.<br />

A percentagem <strong>de</strong> candidatos à admissão<br />

nas escolas militares que é eliminada nas provas<br />

físicas chega a atingir, nalguns casos, os 40<br />

por cento.<br />

Será, talvez, uma característica das socieda<strong>de</strong>s<br />

mo<strong>de</strong>rnas, mas é com certeza preocupante.<br />

Importa melhorar a condição física dos nossos<br />

jovens, não só numa perspectiva <strong>de</strong> Defesa<br />

Nacional mas também por razões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

pública e bem-estar da população.<br />

Os militares são portugueses que juraram<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a Pátria, mesmo com o risco da própria<br />

vida, e que aceitam, para tal, limitações ao<br />

exercício dos seus direitos <strong>de</strong> cidadania.<br />

Os elevados padrões <strong>de</strong> disciplina e <strong>de</strong> coesão<br />

que o País <strong>de</strong>ve exigir às Forças Armadas<br />

impõem um especial cuidado na salvaguarda<br />

da condição militar dos homens e mulheres<br />

que as integram, bem como uma preocupação<br />

acrescida <strong>de</strong> justiça na <strong>de</strong>finição das suas<br />

condições sócio-profissionais.<br />

Por outro lado, e face aos objectivos que<br />

se preten<strong>de</strong>m atingir com as Forças Armadas,<br />

importa assegurar a disponibilização <strong>de</strong> meios<br />

a<strong>de</strong>quados à existência <strong>de</strong> um sistema militar<br />

coerente, capaz <strong>de</strong> operar eficientemente <strong>de</strong>ntro<br />

dos limites orçamentais impostos.<br />

Militares,<br />

Tenho consciência <strong>de</strong> que há muito por fazer.<br />

Reconheço o esforço que tem sido realizado<br />

por todos vós, nos mais diversos postos<br />

e nas mais variadas funções.<br />

Os Portugueses confiam e revêem-se nas<br />

suas Forças Armadas como factor <strong>de</strong> afirmação<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e garante da in<strong>de</strong>pendência<br />

nacional. Como instrumento privilegiado <strong>de</strong><br />

prestígio da acção externa do Estado. Como<br />

instituição orgulhosa da sua história e do legado<br />

que as sucessivas gerações lhe <strong>de</strong>ixaram.<br />

Como vosso Comandante Supremo, sei bem<br />

que o lema que seguis é apenas um e o mais<br />

nobre: Servir Portugal”.<br />

<br />

Fotos <strong>de</strong> Luís Filipe Catarino / Presidência da República


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No passado dia 30 <strong>de</strong> Abril - 3 meses<br />

e meio <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> receber a Ban<strong>de</strong>ira<br />

Nacional, na Holanda - chegou finalmente<br />

à Base Naval <strong>de</strong> Lisboa o mais recente<br />

meio naval da <strong>Marinha</strong> <strong>Portuguesa</strong>, o nosso<br />

navio, o NRP “Bartolomeu Dias”.<br />

É importante dizer que o NRP “Bartolomeu<br />

Dias” é um dos exemplos elucidativos<br />

do esforço <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização<br />

da <strong>Marinha</strong>, para continuar a cumprir<br />

as missões no âmbito da protecção dos<br />

interesses nacionais nas áreas marítimas<br />

on<strong>de</strong> possa estar em causa, directa<br />

ou indirectamente, a segurança nacional,<br />

contribuindo para a segurança da<br />

circulação marítima, verda<strong>de</strong>iro oxigénio<br />

<strong>de</strong> toda a economia.<br />

Assim, saindo <strong>de</strong> Den Hel<strong>de</strong>r, após<br />

um trânsito <strong>de</strong> cinco dias e um encontro<br />

ao largo das Berlengas com o NRP<br />

“Sagres”, que levava a bordo o Secretário<br />

<strong>de</strong> Estado da Defesa Nacional e dos<br />

Assuntos do Mar, Dr. João Mira Gomes<br />

e o CEMA, ALM Melo Gomes, foi com<br />

alguma ansieda<strong>de</strong> que começámos a<br />

vislumbrar os contornos familiares da<br />

costa <strong>de</strong> Cascais, cida<strong>de</strong> ao largo da<br />

qual embarcámos o Comandante Naval,<br />

VALM Saldanha Lopes, prontos<br />

para efectuarmos a <strong>de</strong>manda da Barra<br />

sul do porto <strong>de</strong> Lisboa.<br />

Pouco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> passar ao largo da<br />

Torre <strong>de</strong> Belém, e pela visão familiar<br />

da Ponte 25 <strong>de</strong> Abril, ouviu-se um som<br />

característico para todos aqueles com<br />

comissões prévias na classe “Vasco<br />

da Gama”: o som rouco <strong>de</strong> um Lynx<br />

Mk95 que se aproximou para dar as<br />

boas vindas ao navio e que o acompanhou<br />

até à BNL.<br />

Após apitar à faina pelo mestre do<br />

navio, todas as fainas ficaram prontas<br />

antes <strong>de</strong> entrar o canal do Alfeite on<strong>de</strong><br />

começamos a ter os primeiros vislumbres<br />

<strong>de</strong> todos os preparativos efectuados<br />

para nos receber. Foi com muito<br />

agrado e, porque não dizê-lo, alguma<br />

emoção, que vimos todos os navios<br />

com emba<strong>de</strong>iramento em arco e a<br />

apitar em uníssono mostrando o entrosamento<br />

<strong>de</strong>sta gran<strong>de</strong> família naval,<br />

acompanhado pelos acor<strong>de</strong>s da Banda<br />

da Armada.<br />

Após uma atracação segura no cais<br />

2 da BNL, foi com uma sensação <strong>de</strong><br />

missão cumprida que toda a guarnição<br />

po<strong>de</strong> finalmente cumprimentar os seus<br />

familiares.<br />

O embarque dos<br />

Auditores do Curso <strong>de</strong><br />

Defesa Nacional<br />

Após um breve período <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso, o navio<br />

preparou-se para largar com duas tarefas<br />

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NRP “Bartolomeu Dias”<br />

principais a cumprir: integrar o helicóptero<br />

orgânico e embarcar o curso <strong>de</strong> Auditores do<br />

Curso <strong>de</strong> Defesa Nacional (evento com especial<br />

relevância uma vez que o Curso <strong>de</strong> Defesa<br />

Nacional tem por finalida<strong>de</strong> promover a<br />

reflexão e o <strong>de</strong>bate junto <strong>de</strong> quadros superiores<br />

das estruturas do Estado e da socieda<strong>de</strong><br />

civil, através da investigação, estudo, sensibilização<br />

e divulgação dos gran<strong>de</strong>s problemas<br />

nacionais e internacionais com incidência no<br />

domínio da segurança e da <strong>de</strong>fesa).<br />

Esta missão apesar <strong>de</strong> curta (quatro dias)<br />

foi relativamente intensa e exigiu um gran<strong>de</strong><br />

empenho <strong>de</strong> toda a guarnição para que<br />

todos os preparativos estivessem concluídos<br />

a tempo.<br />

A integração do helicóptero “Bacardi”,<br />

<strong>de</strong>correu durante os quatros dias<br />

em que o navio esteve no mar e foi<br />

concluída com sucesso: a “Bartolomeu<br />

Dias” ficou finalmente pronta<br />

a operar com o seu helicóptero<br />

orgânico.<br />

No dia da <strong>de</strong>monstração ao Curso<br />

<strong>de</strong> Defesa Nacional, o navio atracou<br />

no cais Rocha <strong>de</strong> Con<strong>de</strong> Óbidos às<br />

0900, tendo embarcado os Auditores<br />

e o 2º Comandante Naval, o<br />

CALM Pires da Cunha, acompanhado<br />

pelo COMPOTG, CMG Sousa<br />

Pereira. Depois <strong>de</strong> um pequeno briefing<br />

aos visitantes, acerca das missões<br />

da <strong>Marinha</strong>, a cargo do comandante<br />

Sousa Pereira, o navio largou<br />

para cumprir o programa <strong>de</strong> seriado,<br />

que incluía manobras <strong>de</strong> aproximação<br />

RAS com o NRP “Baptista<br />

<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>” e um exercício com o<br />

submarino “Barracuda”. O submarino<br />

<strong>de</strong>monstrou a sua capacida<strong>de</strong><br />

furtiva e realizou uma apresentação<br />

<strong>de</strong> todos os seus mastros terminando<br />

com uma subida <strong>de</strong> emergência<br />

muito apreciada pela assistência.<br />

Neptuno presenteou-nos com uma<br />

tar<strong>de</strong> soalheira e com um mar agradável<br />

permitindo que o almoço, servido<br />

no hangar/convés <strong>de</strong> voo, <strong>de</strong>corresse<br />

da melhor forma. O navio<br />

atracou, no mesmo dia pelas 1500,<br />

no porto <strong>de</strong> Lisboa, <strong>de</strong>sembarcando<br />

os Auditores e o 2º Comandante<br />

Naval.<br />

A cerimónia <strong>de</strong> entrega<br />

Mais uma data marcante para a<br />

1ª guarnição do NRP “Bartolomeu<br />

Dias”: a cerimónia oficial da recepção<br />

do navio pelo Estado Português.<br />

O Ministro da Defesa Nacional,<br />

Dr. Nuno Severiano Teixeira, presidiu,<br />

no dia 19 <strong>de</strong> Maio, àquela cerimónia.<br />

A efeméri<strong>de</strong> contou ainda<br />

com a presença do Ministro da Defesa<br />

Holandês, Sr. Eimert van Mid<strong>de</strong>lkoop,<br />

dos Chefes <strong>de</strong> Estado-Maior<br />

da Armada <strong>de</strong> Portugal e da Holanda<br />

e <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>legação <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados<br />

portugueses, entre outras entida<strong>de</strong>s.<br />

No seguimento da cerimónia militar o<br />

Dr. Nuno Severiano Teixeira entregou ao<br />

Almirante CEMA, o Estandarte Nacional,<br />

que foi <strong>de</strong> seguida entregue ao Comandante<br />

do navio.<br />

Revista da Armada • JULHO 2009 7


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Já com o Estandarte Nacional junto ao<br />

peito, o Comandante e a respectiva guarda<br />

<strong>de</strong> honra marcharam ao som da banda da<br />

Armada até à prancha do NRP “Bartolomeu<br />

Dias”. Estava oficialmente entregue a mais<br />

nova fragata da <strong>Marinha</strong>.<br />

Seguiu-se a visita a bordo por parte das<br />

diversas entida<strong>de</strong>s e convidados. No final<br />

houve oportunida<strong>de</strong> para a assinatura do<br />

livro <strong>de</strong> honra do navio por ambos os Ministros<br />

da Defesa.<br />

A navegar sob ban<strong>de</strong>ira nacional <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o dia 16 <strong>de</strong> Janeiro, continuamos<br />

a contribuir para a execução das<br />

missões da <strong>Marinha</strong>, seja no plano<br />

da <strong>de</strong>fesa militar e apoio à política<br />

externa, seja no plano do<br />

exercício da autorida<strong>de</strong> do Estado<br />

no mar.<br />

As Comemorações do<br />

Dia da <strong>Marinha</strong><br />

As comemorações do “Dia da<br />

<strong>Marinha</strong>”, que este ano <strong>de</strong>correram<br />

em Aveiro, numa homenagem<br />

à estreita ligação da cida<strong>de</strong> ao<br />

Mar, e associando-se às comemorações<br />

dos 250 anos da elevação a<br />

Cida<strong>de</strong>, celebrou-se a chegada da<br />

Armada <strong>de</strong> Vasco da Gama a Calecut,<br />

em 20 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1498.<br />

No porto <strong>de</strong> Aveiro, o navio esteve<br />

aberto ao público e a a<strong>de</strong>são<br />

da população foi extraordinária.<br />

O ponto alto das comemorações<br />

<strong>de</strong>correu no dia 24, com uma cerimónia<br />

militar no Cais da Fonte<br />

Nova, com a participação do Comandante<br />

e vários oficiais, sargento<br />

e praças, junto ao Centro <strong>de</strong><br />

Congressos <strong>de</strong> Aveiro. Seguiu-se<br />

uma <strong>de</strong>monstração naval com activida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> fuzileiros na Praia do<br />

Farol, na Barra, que culminou com<br />

a saída coor<strong>de</strong>nada dos navios do<br />

porto <strong>de</strong> Aveiro, num espectáculo<br />

único, tendo sido possível comprovar,<br />

novamente, o entusiasmo<br />

dos Ilhavenses e Aveirenses com<br />

a sua <strong>Marinha</strong>: toda a Marginal<br />

repleta <strong>de</strong> pessoas incentivando<br />

os navios que iam passando, enchendo<br />

<strong>de</strong> brio os militares nos<br />

postos <strong>de</strong> honra do NRP “Bartolomeu<br />

Dias”.<br />

O embarque do Presi<strong>de</strong>nte da<br />

Assembleia da República<br />

Mal o navio saiu a barra <strong>de</strong> Aveiro ultimaram-se<br />

os preparativos finais <strong>de</strong> mais uma<br />

importante missão: o embarque do Presi<strong>de</strong>nte<br />

da Assembleia da República para visita<br />

às ilhas Selvagens, no Arquipélago da<br />

Ma<strong>de</strong>ira.<br />

Este território a cerca <strong>de</strong> 130 milhas da<br />

Ma<strong>de</strong>ira e 85 das Ilhas Canárias é constituído<br />

por duas ilhas principais - a Selvagem<br />

8 JULHO 2009 • Revista da Armada<br />

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Gran<strong>de</strong>, a Selvagem Pequena e o Ilhéu <strong>de</strong><br />

Fora - e várias ilhotas, tendo ao todo uma<br />

área total <strong>de</strong> 273 hectares. Em 1971 foi criada<br />

a Reserva Natural das Ilhas Selvagens, a<br />

única <strong>de</strong> Portugal galardoada com o diploma<br />

do Conselho da Europa, tendo em conta<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a avifauna marinha<br />

que ali nidifica <strong>de</strong> predadores humanos<br />

que foram surgindo em maior número<br />

ao longo dos anos.<br />

O Presi<strong>de</strong>nte da Assembleia da República,<br />

Dr. Jaime Gama, <strong>de</strong>slocou-se às Ilhas<br />

Selvagens, no dia 26 <strong>de</strong> Maio, a bordo da<br />

nossa “Bartolomeu Dias”, acompanhado<br />

pelo Presi<strong>de</strong>nte da Comissão Parlamentar <strong>de</strong><br />

Defesa, Dr. Miranda Calha e <strong>de</strong> Deputados<br />

da mesma Comissão, Manuel Correia <strong>de</strong> Jesus,<br />

João Rebelo e António Filipe.<br />

Na visita participaram ainda o Chefe do<br />

Estado-Maior da Armada, Almirante Melo<br />

Gomes e o Secretário Regional do Ambiente<br />

e Recursos Naturais da Ma<strong>de</strong>ira, Manuel<br />

António Correia.<br />

Antes da chegada às ilhas foi efectuada<br />

uma visita guiada ao navio, com especial<br />

incidência no Centro <strong>de</strong> Operações, Central<br />

da Plataforma e Ponte, notando-se o<br />

muito interesse <strong>de</strong>monstrado pelo senhor<br />

Presi<strong>de</strong>nte da Assembleia da República e<br />

pelos <strong>de</strong>putados. Depois do almoço volante<br />

realizado na camarinha, realizou-se<br />

o <strong>de</strong>sembarque e o reembarque por helicóptero<br />

da comitiva, após a visita à Selvagem<br />

Gran<strong>de</strong>.<br />

Apesar do curto período <strong>de</strong> permanência<br />

nas Selvagens, todos os elementos da comitiva<br />

consi<strong>de</strong>raram ter sido alcançado o objectivo<br />

da visita: uma “afirmação<br />

<strong>de</strong> presença” num território que é<br />

indiscutivelmente português.<br />

O navio atracou no Funchal ao<br />

fim do dia, abriu a visitas durante<br />

o dia 27 e largou do Funchal nesse<br />

mesmo dia à noite para integrar<br />

o exercício Contex-Phibex 09.<br />

O exercício<br />

CONTEX-PHIBEX<br />

O Contex/Phibex 2009 no qual<br />

participaram unida<strong>de</strong>s navais da<br />

<strong>Marinha</strong> <strong>Portuguesa</strong> e um navio<br />

polivalente logístico da <strong>Marinha</strong><br />

Francesa <strong>de</strong>senvolveu-se na costa<br />

Oeste e Sul <strong>de</strong> Portugal no período<br />

<strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> Maio a 05 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong><br />

2009, sob o comando do CALM<br />

Pires da Cunha, 2º Comandante<br />

Naval e Comandante da Flotilha.<br />

O exercício testou e exercitou as<br />

várias disciplinas da guerra naval<br />

entre as quais, as <strong>de</strong> vigilância e<br />

interdição marítima, <strong>de</strong>sembarque<br />

anfíbio e utilização forças especiais<br />

e <strong>de</strong> operações, num cenário<br />

criado para o efeito, tendo<br />

em conta o ambiente internacional<br />

e as actuais ameaças difusas<br />

do mundo real.<br />

Simultaneamente, embarcámos<br />

uma equipa do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong><br />

Treino e Avaliação da Flotilha com<br />

o objectivo <strong>de</strong> finalizar o plano <strong>de</strong><br />

treino operacional nacional.<br />

O Ministro da Defesa Nacional,<br />

Dr. Nuno Severiano Teixeira,<br />

acompanhado do ALM CEMA<br />

e do ALM COMNAV, embarcou,<br />

no dia 3 <strong>de</strong> Junho, assistindo a um<br />

programa <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s<br />

da <strong>Marinha</strong>.<br />

A PRÓXIMA MISSÃO<br />

A “Bartolomeu Dias” parte a 16 <strong>de</strong> Junho<br />

para o sul <strong>de</strong> Inglaterra, on<strong>de</strong> vai passar<br />

por um processo <strong>de</strong> validação externa<br />

- o “Operational Sea Training” -, através <strong>de</strong><br />

um treino <strong>de</strong> seis semanas com a <strong>Marinha</strong><br />

inglesa on<strong>de</strong> serão testadas todas as suas<br />

capacida<strong>de</strong>s.<br />

<br />

(Colaboração do COMANDO<br />

do NRP “<strong>BARTOLOMEU</strong> <strong>DIAS</strong>”)


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O N.R.P. “Corte-Real” na Standing Nato<br />

Maritime Group 1<br />

10 Sudan, Sudão, após embarcar uma<br />

<strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2009. O navio mercante<br />

<strong>de</strong> nome “Fi<strong>de</strong>l” largou <strong>de</strong> Port<br />

carga valiosíssima, tendo como <strong>de</strong>stino Berbera,<br />

cida<strong>de</strong> portuária no norte da Somália. Esta carga,<br />

chegando ao seu <strong>de</strong>stino no coração da Somália,<br />

servirá para alimentar uma população<br />

<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> refugiados, durante vários<br />

meses. A “United Nations World Food Program”<br />

(UN WFP) em resposta à grave crise<br />

humanitária que grassa na Somália, vem<br />

respon<strong>de</strong>ndo a esta urgente necessida<strong>de</strong><br />

através do envio <strong>de</strong> navios, requisitados<br />

para o efeito, <strong>de</strong> modo a transportar toneladas<br />

<strong>de</strong> alimentos que irão servir para alimentar<br />

milhões <strong>de</strong> Somalis, durante o ano<br />

<strong>de</strong> 2009. Por mês, a WFP, na Somália, vem<br />

abastecendo uma população <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong><br />

2.4 milhões <strong>de</strong> pessoas que urgentemente<br />

necessitam <strong>de</strong> ajuda alimentar. Durante<br />

o mês <strong>de</strong> Abril, a WFP distribuiu 46,200<br />

toneladas <strong>de</strong> alimentos, o suficiente para<br />

alimentar 2.8 milhões <strong>de</strong> pessoas carenciadas,<br />

<strong>de</strong> acordo com fontes da UN WFP<br />

Organization. Contudo, o número <strong>de</strong> pessoas<br />

a necessitarem <strong>de</strong> ajuda alimentar<br />

continua a aumentar.<br />

Para se ter uma i<strong>de</strong>ia concreta da situação<br />

na Somália, uma em cada seis crianças<br />

com ida<strong>de</strong> inferior a seis anos, sofre <strong>de</strong><br />

graves problemas <strong>de</strong> subnutrição. Esta crise<br />

alimentar é agravada pela situação <strong>de</strong> guerra<br />

civil, que ao longo <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 20 anos,<br />

vem fustigando a débil população Somali.<br />

Mas, por outro lado, também a falta <strong>de</strong><br />

água e fraca pluviosida<strong>de</strong> ocorrida nos últimos<br />

anos no Norte e Centro da Somália,<br />

em conjunto com as cheias e inundações<br />

no rio Juba, a Sul, tem contribuído significativamente<br />

para a escassez <strong>de</strong> alimentos<br />

neste paupérrimo país do corno <strong>de</strong> África.<br />

A Somália apresenta dos piores indicadores<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> a nível mundial. A esperança<br />

<strong>de</strong> vida à nascença é <strong>de</strong> 46,2 anos, e um<br />

quarto das crianças morre antes <strong>de</strong> atingir<br />

a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 5 anos!<br />

Face a este cenário <strong>de</strong> profunda crise<br />

humanitária, a WFP vem respon<strong>de</strong>ndo<br />

através do envio <strong>de</strong> alimentos, 90 por<br />

cento dos quais transportados por via marítima.<br />

Com a ameaça constante <strong>de</strong> pirataria nas águas<br />

da Somália, com 27 hijacks registados até à data<br />

apenas durante o ano <strong>de</strong> 2009, a UN WFP vem<br />

solicitando às forças navais na região a escolta<br />

a navios por si contratados, garantindo assim a<br />

segurança e a entrega <strong>de</strong> alimentos que servirão<br />

para sustentar milhões <strong>de</strong> refugiados.<br />

Na madrugada do dia 13 <strong>de</strong> Maio, a fragata<br />

“Corte-Real”, em resposta ao apelo solicitado<br />

pela UN WFP e após receber instruções para o<br />

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Na Zona <strong>de</strong> Acção 3 …<br />

Escolta ao MV Fi<strong>de</strong>l transportando ajuda alimentar do WFP para<br />

a Somália - 13MAI09.<br />

Visita oficial do COM MCC NWD ao Navio Almirante da SNMG1<br />

- 23MAI09.<br />

Visita <strong>de</strong> elementos da comunida<strong>de</strong> portuguesa em Muscat ao<br />

navio - 21MAI09.<br />

efeito do Comando da SNMG1 (Standing NATO<br />

Maritime Group 1), iniciou a escolta ao MV “Fi<strong>de</strong>l”<br />

fora das turbulentas águas do Golfo <strong>de</strong> A<strong>de</strong>n,<br />

ainda no Mar Vermelho, junto ao estreito <strong>de</strong> Bab<br />

El Man<strong>de</strong>b. Durante as 200 milhas <strong>de</strong> escolta que<br />

separavam o MV “Fi<strong>de</strong>l” do seu <strong>de</strong>stino na Somália,<br />

o NRP “Corte-Real” marcou presença constante<br />

na protecção <strong>de</strong>ste navio, acompanhando-<br />

‐o <strong>de</strong> muito perto, a cerca <strong>de</strong> 1000 jardas nos seus<br />

sectores <strong>de</strong> popa, sempre sob observação atenta<br />

da equipa <strong>de</strong> segurança <strong>de</strong> bordo.<br />

14 <strong>de</strong> Maio. Debaixo da escuridão da noite,<br />

com vento fraco e mar calmo, a escolta chegou<br />

à invisível fronteira das águas territoriais da Somália,<br />

sem registo <strong>de</strong> qualquer inci<strong>de</strong>nte. O dia<br />

nasceu entretanto, e pelas 08h00 locais iniciou-<br />

‐se a aproximação ao porto <strong>de</strong> Berbera, com<br />

5ª PARTE<br />

inúmeras skiffs visíveis no horizonte, perto <strong>de</strong><br />

terra, aparentemente em faina <strong>de</strong> pesca e sem<br />

comportamento suspeito. Às 09h00 o MV “Fi<strong>de</strong>l”<br />

<strong>de</strong>u entrada no porto e atracou. A escolta<br />

foi um êxito. Os preciosos bens transportados<br />

serão agora distribuídos por muitos somalis <strong>de</strong>les<br />

necessitados. Esta foi, porventura, das mais<br />

dignas tarefas atribuídas à “Corte-Real” no<br />

cumprimento da corrente missão, que muito<br />

honrou a humil<strong>de</strong>, mas nobre alma marinheira<br />

lusitana.<br />

Maio foi fulcral para aferir os indícios que<br />

apontavam para que a pirataria ao largo da<br />

Somália estivesse agora a tomar um novo<br />

rumo. A bonança do mar já conheceu melhores<br />

dias, e a Monção faz-se agora sentir!<br />

Durante a última semana <strong>de</strong>ste mês, os ataques<br />

piratas cessaram por completo junto<br />

da costa leste da Somália. E mesmo o leste<br />

do Golfo <strong>de</strong> A<strong>de</strong>n começou, também, a ser<br />

fustigado pelo estado <strong>de</strong> mar grosso e ventos<br />

fortes <strong>de</strong> sudoeste, o que levou à <strong>de</strong>slocação<br />

da suposta activida<strong>de</strong> pirata mais<br />

para o interior <strong>de</strong>ste golfo.<br />

Com a mudança <strong>de</strong> comportamento dos<br />

piratas Somalis, as forças navais presentes<br />

na área começaram a concentrar esforços<br />

ao longo das quase 500 milhas <strong>de</strong> extensão<br />

do IRTC (International Recommen<strong>de</strong>d<br />

Transit Corridor). Com cerca <strong>de</strong> 36 navios<br />

<strong>de</strong> guerra presentes, divididos pelas forças<br />

navais da NATO (SNMG1), TF 465 (EUNA-<br />

VFOR), TF 151 (USA, Turquia, Arábia Saudita,<br />

Coreia do Sul, Malásia, e Austrália),<br />

assim como das marinhas da China, Japão,<br />

Índia, Irão e Rússia, não foi <strong>de</strong> estranhar<br />

que, apesar das constantes e quase diárias<br />

tentativas <strong>de</strong> ataques, a eficácia das acções<br />

dos navios militares no combate à pirataria<br />

tenha aumentado significativamente. O<br />

último ataque pirata, com sucesso, <strong>de</strong>u-se<br />

a 07 <strong>de</strong> Maio. Muitas das skiffs <strong>de</strong>tectadas<br />

em activida<strong>de</strong> suspeita, foram <strong>de</strong>tidas ainda<br />

antes <strong>de</strong> qualquer ataque, em gran<strong>de</strong> parte<br />

<strong>de</strong>vido à intervenção dos helicópteros militares<br />

que rapidamente se colocaram na<br />

cena-<strong>de</strong>-acção.<br />

Contudo, os piratas têm vindo a adaptar-se<br />

à concentração das forças militares,<br />

apostando agora na camuflagem das suas acções.<br />

A pesca e a imigração ilegal da Somália<br />

para o Iémen têm evi<strong>de</strong>nciado, amiú<strong>de</strong>, serem<br />

activida<strong>de</strong>s utilizadas para iludir a vigilância e<br />

tornar mais rápidas e acutilantes as acções dos<br />

ataques aos navios em trânsito na área. Assim<br />

sendo, a concentração e atenção terão que estar<br />

sempre presentes, também por parte da navegação<br />

mercante, o alvo a abater neste combate<br />

<strong>de</strong>sigual. De facto, só a forte colaboração dos navios<br />

mercantes com os navios militares, através<br />

Revista da Armada • JULHO 2009 9


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do aviso antecipado e da manutenção <strong>de</strong> uma<br />

postura activa anti-pirataria, consubstanciada na<br />

adopção <strong>de</strong> medidas, comportamentos e atitu<strong>de</strong>s<br />

que limitem ou, pelo menos, dificultem a acção<br />

dos supostos piratas, permitirá encurtar distâncias<br />

e equilibrar as forças em presença, mesmo<br />

assim ainda muito a favor das velozes skiffs piratas.<br />

Estas continuam difíceis <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar, estão<br />

agora bem mais camufladas na sua activida<strong>de</strong>, e<br />

mantêm-se concentradas num único objectivo:<br />

a captura da navegação mercante que cruza as<br />

águas da região.<br />

A fragata “Corte-Real” escalou o porto da cida<strong>de</strong><br />

do Djibuti, entre os dias 4 e 7 <strong>de</strong> Maio, e<br />

o porto <strong>de</strong> Muscat, Omã, entre os dias 20 e 25<br />

do mesmo mês, tendo a guarnição tido oportunida<strong>de</strong><br />

para <strong>de</strong>scansar e conhecer um pouco<br />

<strong>de</strong> tão exóticos <strong>de</strong>stinos, e o navio tido tempo<br />

para efectuar algumas reparações e reabastecimento<br />

logístico.<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Muscat, capital do Sultanato <strong>de</strong><br />

Omã, cida<strong>de</strong> incrivelmente limpa e bem <strong>de</strong>senvolvida,<br />

<strong>de</strong> arquitectura mo<strong>de</strong>rna e traçado árabe,<br />

exibiu perante os nossos olhares toda a sua<br />

magnitu<strong>de</strong> e esplendor. Esta cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong><br />

o Sultão <strong>de</strong> Omã, foi sem dúvida uma agradável<br />

surpresa, que proporcionou inesquecíveis momentos<br />

“das Arábias” a toda a guarnição.<br />

Durante a tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> Maio, a “Corte-Real”,<br />

atracada <strong>de</strong> braço-dado ao navio reabastecedor<br />

inglês “Wave Knight”, no cais 7, <strong>de</strong> Port Sultan<br />

Qaboos, recebeu a gratificante visita <strong>de</strong> uma comitiva<br />

<strong>de</strong> 11 portugueses resi<strong>de</strong>ntes em Omã,<br />

que assim tiveram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> visitar o navio,<br />

conviver e esquecer, por momentos, a longa<br />

distância que os separa <strong>de</strong> Portugal!<br />

Na manhã <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> Maio, a fragata portuguesa<br />

teve o privilégio <strong>de</strong> receber, com as honras <strong>de</strong>vidas,<br />

o COM MCC NWD (Comman<strong>de</strong>r Allied<br />

Maritime Component Command Northwood)<br />

Admiral Sir Mark Stanhope KCB OBE, que se<br />

<strong>de</strong>slocou até Omã para visitar o Staff do COM<br />

SNMG1 e o Flag-ship (CREAL). A visita do COM<br />

MCC NWD constituiu uma excelente oportunida<strong>de</strong><br />

para a “Corte-Real” <strong>de</strong>monstrar as suas<br />

capacida<strong>de</strong>s como Navio-almirante, nomeadamente<br />

ao nível do Comando e Controlo, CIS,<br />

RMP e equipa <strong>de</strong> segurança embarcada, no <strong>de</strong>sempenho<br />

da sua missão no combate à pirataria.<br />

Visivelmente satisfeito com o que viu e constatou<br />

in loco, o COM MCC NWD <strong>de</strong>spediu-se dizendo<br />

“…I wish you and your taskgroup the very<br />

best as you complete your part in this mission”.<br />

Neste momento, a “Corte-Real” navega para<br />

Sul, em pleno Oceano Índico, ao longo da costa<br />

leste <strong>de</strong> África, com <strong>de</strong>stino a Mombassa, Quénia,<br />

on<strong>de</strong> espera atracar durante a manhã <strong>de</strong> 02<br />

<strong>de</strong> Junho. Após a largada <strong>de</strong> Mombassa, a fragata<br />

portuguesa, terá mais uma nobre missão,<br />

a escolta a 2 navios contratados pela UN WFP,<br />

<strong>de</strong>sta vez com <strong>de</strong>stino à conturbada capital da<br />

Somália, Mogadíscio.<br />

O Baptismo da Linha do Equador constitui um<br />

marco importante na vida <strong>de</strong> um marinheiro. Administra-se<br />

a todos os que passam, pela primeira<br />

vez, <strong>de</strong> um hemisfério para o outro.<br />

São 21h58m do dia 31 <strong>de</strong> Maio quando a<br />

“Corte-Real” corta essa mítica linha, pela primeira<br />

vez no Oceano Índico. África fica por estibordo<br />

a cerca <strong>de</strong> 80 milhas. A tradicional e muito marinheira<br />

festa do Rei dos Mares far-se-á, todavia,<br />

oportunamente, uma vez concluída a participação<br />

na Operação “Allied Protector”.<br />

Concedida a licença e avisado o Comandante<br />

pelo Rei Neptuno, pô<strong>de</strong> o navio prosseguir<br />

<strong>de</strong>scansado a sua viagem, com a promessa <strong>de</strong><br />

que, posteriormente, visitará esta digna barca<br />

para, então sim, presidir à cerimónia do baptismo.<br />

Aguar<strong>de</strong>mos!<br />

A “Corte-Real”, juntamente com os restantes<br />

navios da SNMG1, actualmente a conduzir a<br />

missão <strong>de</strong> contra-pirataria <strong>de</strong>nominada Operação<br />

“Allied Protector”, continuará, assim, a <strong>de</strong>sempenhar<br />

as suas tarefas nas agitadas águas em<br />

torno da Somália.<br />

<br />

(Colaboração do COMANDO<br />

DO NRP “Corte-Real”)<br />

No âmbito das comemorações do 288º<br />

aniversário do Corpo <strong>de</strong> Fuzileiros, realizou-se<br />

no passado dia 17 <strong>de</strong> Abril, uma<br />

cerimónia militar presidida pelo Comandante<br />

Naval, VALM Saldanha Lopes e à qual assistiram<br />

altas entida<strong>de</strong>s civis e militares.<br />

A cerimónia militar, que se iniciou com a revista<br />

às Forças em parada, compreen<strong>de</strong>u ainda a<br />

entrega <strong>de</strong> con<strong>de</strong>corações a militares agraciados,<br />

a entrega <strong>de</strong> trofeus aos Comandantes das<br />

Unida<strong>de</strong>s vencedoras das Estafetas <strong>de</strong> Natação<br />

e do Concurso <strong>de</strong> Patrulhas, que este<br />

ano contou com a presença <strong>de</strong> uma equipa<br />

convidada da Unida<strong>de</strong> Especial <strong>de</strong> Polícia,<br />

com uma justa homenagem aos Fuzileiros<br />

mortos em <strong>de</strong>fesa da Pátria e dos discursos<br />

do Comandante do CFZ e do Comandante<br />

Naval. A terminar teve lugar o <strong>de</strong>sfile das<br />

Forças em parada, que eram constituídas<br />

por forças apeadas das várias Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Fuzileiros<br />

e por uma força operacional motorizada e<br />

finalmente, um almoço-convívio.<br />

No seu discurso o CALM Picciochi, Comandante<br />

do CFZ, <strong>de</strong>stacou a importância do passado<br />

dos fuzileiros, os quais honram os seus antepassados<br />

procurando ser seus dignos sucessores,<br />

sublinhando que “Mas não somos só História, somos<br />

“presente” e preparamos o “futuro”. Com a<br />

fibra daqueles que se forjam no treino exigente,<br />

imbuídos dos mais nobres princípios da honra,<br />

da camaradagem e do bem-servir...”<br />

Passou em revista os aspectos que consi<strong>de</strong>rou<br />

mais relevantes no último ano, <strong>de</strong>stacando o elevado<br />

empenhamento e prontidão operacional<br />

das Unida<strong>de</strong>s, a intensa activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação<br />

10 JULHO 2009 • Revista da Armada<br />

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Dia do Corpo <strong>de</strong> Fuzileiros<br />

e treino a diversos níveis verificada na Escola<br />

<strong>de</strong> Fuzileiros, a disponibilida<strong>de</strong> acrescida <strong>de</strong> 2<br />

LAR’s e 12 Botes <strong>de</strong> assalto e a melhoria significativa<br />

verificada com as obras <strong>de</strong> conservação<br />

e recuperação da Messe <strong>de</strong> Sargentos da Escola<br />

<strong>de</strong> Fuzileiros e nas instalações do Comando<br />

do BF nº1.<br />

Olhando para o futuro próximo, apesar do<br />

<strong>de</strong>ficit <strong>de</strong> três centenas e meia <strong>de</strong> militares e da<br />

cada vez menor área autorizada para execução<br />

<strong>de</strong> exercícios, escalonou os importantes compromissos<br />

internacionais que enfrentam, <strong>de</strong>signadamente<br />

no âmbito da NRF 13 2 NRF 15, 4ª OMLT<br />

e nos exercícios Unified Bla<strong>de</strong>, <strong>de</strong> Humint, e no<br />

Bre<strong>de</strong>x e TAPON, ambos em Espanha, no âmbito<br />

do EUABG. Fez ainda uma referência ao Dia<br />

do Fuzileiro que será comemorado, pela primeira<br />

vez, ainda este ano e uma saudação especial<br />

aos “83 Fuzileiros, que neste preciso momento,<br />

empenhados em diversas missões, quer no pais,<br />

quer por esse mundo fora, entre Kabul e o Sul <strong>de</strong><br />

África, entre os Estados Unidos e Dili, no mar dos<br />

Açores ou no Golfo <strong>de</strong> A<strong>de</strong>n, connosco celebram<br />

a mesma festa”. Terminou afirmando: Olhamos<br />

o futuro com serenida<strong>de</strong>. Os Fuzileiros têm uma<br />

predisposição genética para se encontrarem aptos<br />

e disponíveis.<br />

Quando chegar a ocasião, cá estaremos,<br />

prontos!<br />

Por sua vez, o Comandante Naval, após expressar<br />

o privilégio e honra que foi o <strong>de</strong> presidir a<br />

esta cerimónia, dirigiu uma palavra <strong>de</strong> saudação<br />

e incentivo aos que se encontram em missão, especialmente<br />

aos que estão no mar, quer seja no<br />

Continente, nos Açores ou na Ma<strong>de</strong>ira, ou<br />

ainda ao largo da costa da Somália e também<br />

em terra, em Portugal, no Afeganistão,<br />

em África e em estados-maiores internacionais,<br />

ao serviço do País.<br />

Sobre os Fuzileiros, em geral, referiu que<br />

“... têm-se sempre afirmado por direito e<br />

mérito próprio, marcado pela sua qualida<strong>de</strong><br />

na acção... sendo hoje reconhecidamente<br />

uma das mais consistentes, sustentadas e<br />

flexíveis capacida<strong>de</strong>s militares da <strong>Marinha</strong> e do<br />

Sistema <strong>de</strong> Forças Nacional.”<br />

Referindo-se à qualificação <strong>de</strong>sta “Força Especial”<br />

para participar em missões no exterior:<br />

“Os Fuzileiros são uma capacida<strong>de</strong> que o Estado<br />

não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>saproveitar, particularmente<br />

perante a actual conjuntura internacional e as<br />

novas ameaças...” e acrescentou ainda “... consi<strong>de</strong>ro<br />

importante neste corpo especial a ligação<br />

às tradições, cimentadas nas memórias dos últimos<br />

50 anos, que certamente têm <strong>de</strong> servir <strong>de</strong><br />

guia na preservação dos valores que são apanágio<br />

dos fuzileiros”.<br />

<br />

(Colaboração do COMANDO<br />

DO CORPO DE FUZILEIROS)


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Realizou-se em 5 <strong>de</strong> Junho, o exercício<br />

<strong>de</strong> salvamento marítimo e <strong>de</strong> combate<br />

à poluição do mar por hidrocarbonetos<br />

“MERO 2009”, com uma componente<br />

<strong>de</strong> costa na Praia do Garajau e outra <strong>de</strong> mar<br />

ao largo da Ponta do Garajau. A Reserva <strong>Marinha</strong><br />

do Garajau foi escolhida por se reconhecer<br />

a sua sensibilida<strong>de</strong><br />

e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> treinar<br />

a protecção <strong>de</strong> zonas sensíveis.<br />

No “MERO 2009” simulou-se<br />

a resposta à colisão<br />

entre o navio <strong>de</strong> passageiros<br />

“Lobo Marinho” e um<br />

areeiro, simulado pelo<br />

NRP “Afonso Cerqueira”,<br />

na aproximação ao porto<br />

do Funchal a 5 milhas a<br />

Sul da Ponta do Garajau,<br />

<strong>de</strong> que resultaram feridos<br />

com necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evacuação<br />

e um <strong>de</strong>rrame <strong>de</strong><br />

200 m 3 <strong>de</strong> combustível<br />

IFO 180.<br />

Foi activado o Plano <strong>de</strong><br />

Salvamento do Porto do<br />

Funchal e o Plano Mar Limpo<br />

no 2º grau <strong>de</strong> prontidão.<br />

As operações foram dirigidas<br />

e coor<strong>de</strong>nadas pelo<br />

CMG Coelho Cândido, director<br />

do MRSC-Funchal,<br />

no âmbito do salvamento<br />

marítimo, e chefe do Departamento<br />

Marítimo da Ma<strong>de</strong>ira,<br />

no âmbito do combate<br />

à poluição do mar.<br />

O poluente foi simulado<br />

por 1.000 kg <strong>de</strong> pipocas,<br />

dos quais 50 kg foram<br />

lançados junto à Praia do<br />

Garajau e os restantes 950<br />

kg foram lançados em duas “manchas”, <strong>de</strong><br />

modo a os navios realizarem duas fiadas <strong>de</strong><br />

recolha no mar.<br />

Perante a constatação do “<strong>de</strong>rrame”, foi <strong>de</strong><br />

imediato implementado um dispositivo <strong>de</strong><br />

protecção da Praia do Garajau e da gruta a<br />

Leste, que constitui um habitat do lobo marinho<br />

ou foca monge (uma espécie em perigo<br />

<strong>de</strong> extinção), e um dispositivo <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong><br />

poluente na costa. Efectuou-se também treino<br />

no mar, com a participação do navio-tanque<br />

“Galp Marine”, baseado em Sines e sob<br />

contrato da Agência Europeia <strong>de</strong> Segurança<br />

Marítima (EMSA).<br />

Na Praia do Garajau, usando estilhas <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira para simular o poluente, <strong>de</strong>u-se especial<br />

ênfase ao treino do pessoal da PM, da<br />

DGAM e da <strong>Marinha</strong> na Ma<strong>de</strong>ira (Comando<br />

da Zona Marítima, Departamento Marítimo<br />

COMBATE À POLUIÇÃO DO MAR<br />

Exercício “MERO 2009” na Ma<strong>de</strong>ira<br />

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da Ma<strong>de</strong>ira e Capitania do Porto do Funchal),<br />

e <strong>de</strong> pessoal <strong>de</strong> diversas entida<strong>de</strong>s regionais,<br />

<strong>de</strong>signadamente da Administração dos Portos<br />

da Região Autónoma da Ma<strong>de</strong>ira (APRAM),<br />

da Câmara Municipal <strong>de</strong> Santa Cruz e do<br />

Parque Natural da Ma<strong>de</strong>ira, que quiseram<br />

aproveitar a oportunida<strong>de</strong> para o seu pessoal<br />

conhecer técnicas <strong>de</strong> primeira intervenção e<br />

treinar o combate à poluição do mar.<br />

No mar, usou-se a configuração em “U”,<br />

com duas barreiras oceânicas <strong>de</strong> 250 m cada<br />

uma, rebocadas por dois rebocadores da<br />

APRAM. A recolha foi feita pelo “Galp Marine”<br />

e, pela primeira vez, pelo NRP “Bacamarte”,<br />

equipado com uma barreira com um<br />

braço articulado (“V-Sweep”) a EB, um recuperador<br />

e tanques portáteis no poço para <strong>de</strong>positar<br />

o “poluente”, que seguia a ré e que visava<br />

recolher o poluente que tinha escapado<br />

ao “Galp Marine”.<br />

Além do NRP “Bacamarte”, o primeiro navio<br />

da <strong>Marinha</strong> com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> combate<br />

à poluição do mar por hidrocarbonetos, validada<br />

já em 2009, o Comando Naval atribuiu<br />

ao “MERO 2009” o NRP “Afonso Cerqueira”<br />

e o NRP “Zaire”, que lançou as pipocas e<br />

efectuou a interdição da área do exercício.<br />

A fraca agitação marítima, o vento fraco e<br />

a temperatura amena foram muito favoráveis<br />

e <strong>de</strong>cisivos no êxito do “MERO 2009”, ainda<br />

que a corrente tenha colocado <strong>de</strong>safios,<br />

superados, à operação das barreiras, no mar<br />

e na praia.<br />

A s s o c i a r a m - s e a o<br />

“MERO 2009”, o Centro<br />

Internacional <strong>de</strong> Luta contra<br />

a Poluição no Atlântico<br />

Nor<strong>de</strong>ste (CILPAN), tendo,<br />

por seu intermédio, estado<br />

presentes representantes<br />

da Espanha e da França;<br />

e com meios e pessoal,<br />

a empresa APICIUS (certificada<br />

para o transporte<br />

e a gestão <strong>de</strong> resíduos), a<br />

APRAM, a Câmara Municipal<br />

<strong>de</strong> Santa Cruz (em<br />

cujo município se situa<br />

a Ponta e a Praia do Garajau),<br />

a Câmara Municipal<br />

do Funchal, a EMSA,<br />

o Parque Natural da Ma<strong>de</strong>ira<br />

(autorida<strong>de</strong> ambiental<br />

sobre a Reserva <strong>Marinha</strong><br />

do Garajau), a Porto<br />

Santo Line (armador que<br />

disponibilizou o “Lobo<br />

Marinho”), o SANAS (Associação<br />

Ma<strong>de</strong>irense para<br />

o Socorro no Mar), o Serviço<br />

Regional <strong>de</strong> Protecção<br />

Civil e Bombeiros da Ma<strong>de</strong>ira<br />

(SRPCBM) e a empresa<br />

Tecnovia-Ma<strong>de</strong>ira<br />

(com meios <strong>de</strong> elevação e<br />

transporte).<br />

Assistiram ao “MERO<br />

2009”, na praia ou no<br />

“Lobo Marinho”, cerca <strong>de</strong><br />

70 autorida<strong>de</strong>s e convidados, do Governo Regional<br />

da Ma<strong>de</strong>ira, das câmaras municipais,<br />

das autorida<strong>de</strong>s ambientais, <strong>de</strong> protecção civil<br />

(nacionais e regionais) e policiais, <strong>de</strong> administrações<br />

portuárias, <strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> salvamento,<br />

petrolíferas e <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> resíduos,<br />

<strong>de</strong> centros <strong>de</strong> investigação, museus e universida<strong>de</strong>s,<br />

em especial, da Universida<strong>de</strong> da<br />

Ma<strong>de</strong>ira. Todas estas entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ram corpo<br />

ao espírito <strong>de</strong> cooperação pluridisciplinar e<br />

pluri-institucional e serviram o fim <strong>de</strong> dotar<br />

Portugal da a<strong>de</strong>quada prontidão <strong>de</strong> resposta a<br />

todo o tipo <strong>de</strong> episódios <strong>de</strong> poluição do mar,<br />

<strong>de</strong>signadamente na a<strong>de</strong>quada protecção <strong>de</strong><br />

zonas ambientalmente sensíveis.<br />

<br />

CMG ECN Jorge Silva Paulo, Chefe do SCPMH,<br />

com a colaboração do Departamento Marítimo da<br />

Ma<strong>de</strong>ira e do NRP “Afonso Cerqueira”<br />

Revista da Armada • JULHO 2009 11


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A<br />

NATO (Organização do Tratado do<br />

Atlântico Norte) acaba <strong>de</strong> celebrar 60<br />

anos. As comemorações tiveram lugar<br />

nos dias 3 e 4 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009, durante<br />

a cimeira da NATO, que se realizou nas<br />

cida<strong>de</strong>s vizinhas <strong>de</strong> Estrasburgo (França) e<br />

Kehl (Alemanha).<br />

O seu propósito fundador, em 1949, foi<br />

a salvaguarda da liberda<strong>de</strong> e da segurança<br />

dos 12 países que se uniram na aliança transatlântica,<br />

por meios políticos e militares,<br />

segundo os princípios da Carta das Nações<br />

Unidas e com um objectivo comum, que era<br />

estabelecer uma paz duradoura na Europa.<br />

Dos 14 artigos do Tratado, o que lhe <strong>de</strong>u<br />

sentido foi o 5.º, on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> ler que “As<br />

Partes concordam em que um ataque armado<br />

contra uma ou várias <strong>de</strong>las na Europa ou<br />

na América do Norte será consi<strong>de</strong>rado um<br />

ataque a todas ...”.<br />

O valor estratégico <strong>de</strong> Portugal<br />

foi suficiente para entrar,<br />

como membro fundador,<br />

numa Aliança <strong>de</strong> países <strong>de</strong>mocráticos.<br />

Seis anos mais tar<strong>de</strong>, com<br />

a assinatura do Pacto <strong>de</strong> Varsóvia,<br />

a NATO passou a ter<br />

como bloco opositor a União<br />

Soviética.<br />

Os <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> hoje são<br />

bem diferentes dos que fundamentaram<br />

a criação da<br />

aliança, pelo que <strong>de</strong>vemos<br />

reflectir sobre o seu futuro.<br />

Isto é extremamente oportuno numa altura<br />

em que se prepara um novo Conceito Estratégico,<br />

que <strong>de</strong>verá ser assinado em Lisboa,<br />

em 2010 ou 2011. Como país anfitrião <strong>de</strong>sta<br />

cimeira <strong>de</strong> chefes <strong>de</strong> Estado e <strong>de</strong> Governo,<br />

Portugal <strong>de</strong>verá acompanhar <strong>de</strong> perto a elaboração<br />

do documento.<br />

Hoje, tal como há <strong>de</strong>z anos, por ocasião<br />

dos 50 anos da NATO, a Revista da Armada<br />

<strong>de</strong>dica uma reflexão ao futuro da Aliança.<br />

EVOLUÇÃO DO CONCEITO<br />

ESTRATÉGICO<br />

Depois da Segunda Gran<strong>de</strong> <strong>Guerra</strong> o elo<br />

transatlântico assumiu, no plano político, a<br />

<strong>de</strong>fesa dos valores oci<strong>de</strong>ntais e, no plano militar,<br />

a posição <strong>de</strong>fensiva contra uma eventual<br />

agressão do Pacto <strong>de</strong> Varsóvia.<br />

No final dos anos 80 caiu o muro <strong>de</strong> Berlim,<br />

terminou a <strong>Guerra</strong> Fria e reunificou-se a<br />

Alemanha. A União Soviética <strong>de</strong>smembrou-<br />

‐se emergindo uma Rússia fragilizada e vários<br />

novos Estados livres.<br />

As preocupações oci<strong>de</strong>ntais centraram-<br />

‐se na segurança e controlo do armamento<br />

nuclear espalhado pelas ex‐repúblicas<br />

sovié ticas. Ao mesmo tempo assistiu-se à<br />

proliferação <strong>de</strong> conflitos locais <strong>de</strong> origem étnica,<br />

religiosa e/ou nacionalista, bem como<br />

12 JULHO 2009 • Revista da Armada<br />

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Nos 60 anos da NATO<br />

a gran<strong>de</strong>s fluxos migratórios. Apareceram<br />

novas formas <strong>de</strong> terrorismo, mais tráfico <strong>de</strong><br />

drogas e crime organizado. Este ambiente <strong>de</strong><br />

enorme complexida<strong>de</strong> levou a NATO à primeira<br />

revisão do Conceito Estratégico, que<br />

viria a ser aprovada na cimeira <strong>de</strong> Roma <strong>de</strong><br />

Novembro <strong>de</strong> 1991.<br />

O pensamento geopolítico centrado em<br />

dois blocos geográficos claramente antagónicos<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> fazer sentido e <strong>de</strong>u lugar a<br />

um pensamento global vago, que conduziu<br />

a Aliança para fora das suas fronteiras tradicionais.<br />

Apareceu um novo conceito para<br />

enquadrar as novas operações militares que<br />

não visavam a retaliação a um ataque directo<br />

à Aliança, ou a um dos seus membros,<br />

previsto pelo artigo 5.º do Tratado do Atlântico<br />

Norte. A estas operações passou a dar‐se<br />

o nome <strong>de</strong> operações “não artigo 5.º”.<br />

Na cimeira da NATO <strong>de</strong> 1994, que <strong>de</strong>correu<br />

em Bruxelas, foi reafirmado que a <strong>de</strong>fesa<br />

colectiva se mantinha como objectivo principal<br />

da Aliança. Aproveitou-se, no entanto,<br />

para salientar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se adaptarem<br />

as estruturas e os procedimentos para<br />

o cumprimento <strong>de</strong> novas missões.<br />

Foram adoptadas medidas para permitir<br />

a reestruturação da estrutura <strong>de</strong> comandos<br />

(Long Term Study – LTS), o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do “European Security and Defense I<strong>de</strong>ntity”<br />

(ESDI) e para a implementação do conceito<br />

“Combined Joint Task Force” (CJTF).<br />

Neste período a NATO promoveu o “Diálogo<br />

do Mediterrâneo” ao mesmo tempo<br />

que foi avançando para Leste, cativando novos<br />

membros para a Aliança e estabelecendo<br />

um relacionamento <strong>de</strong> cooperação com<br />

outros países <strong>de</strong> Leste através do conceito<br />

“Partnership for Peace” (PfP).<br />

Nos anos 90, a NATO envolveu-se nos<br />

conflitos nos Balcãs e o confronto com a<br />

Jugoslávia revelou que as capacida<strong>de</strong>s dos<br />

membros da Aliança eram bastante díspares,<br />

em especial na capacida<strong>de</strong> aérea. Os EUA<br />

mostraram o seu gran<strong>de</strong> avanço tecnológico<br />

em relação aos países do lado <strong>de</strong> cá do Atlântico.<br />

Além disso, foi evi<strong>de</strong>nte a dificulda<strong>de</strong><br />

em projectar, sustentar e ren<strong>de</strong>r as forças em<br />

teatros <strong>de</strong> operações “não Artigo 5.º”.<br />

Há 10 anos, em Abril <strong>de</strong> 1999, comemoraram-se<br />

os 50 anos da NATO na Cimeira <strong>de</strong><br />

Washington. Aí foi aprovado o actual Conceito<br />

Estratégico da NATO, que levou 18<br />

meses a <strong>de</strong>senvolver. Lançou-se a iniciativa<br />

“Defence Capabilities Iniciative – DCI” com<br />

o objectivo <strong>de</strong> melhorar a interoperabilida<strong>de</strong><br />

entre forças NATO, <strong>de</strong> forma a permitir<br />

o empenho em missões multinacionais,<br />

em todo o espectro <strong>de</strong> operações. Entraram<br />

para a aliança a Polónia, a República Checa<br />

e a Hungria. Países <strong>de</strong> quem se tem falado<br />

actualmente a propósito da iniciativa<br />

norte-americana para instalar um sistema <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fesa antimíssil balístico, que irrita profundamente<br />

os russos.<br />

O propósito fundador da Aliança, o empenho<br />

<strong>de</strong> todos na <strong>de</strong>fesa e segurança colectiva,<br />

foi invocado pela primeira vez em 2001,<br />

após os atentados do 11 <strong>de</strong><br />

Setembro. A onda <strong>de</strong> choque<br />

fez com que os norte-americanos<br />

sentissem a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> rever toda a sua política<br />

e doutrina <strong>de</strong> segurança, organizando<br />

a <strong>de</strong>fesa e a segurança<br />

do seu território para fazer<br />

face a ameaças externas e<br />

internas. A NATO também se<br />

viu conduzida no sentido <strong>de</strong><br />

iniciar estudos para enfrentar<br />

o terrorismo, o que implicava<br />

um novo tipo <strong>de</strong> forças, novas<br />

estruturas, nova organização,<br />

novos conceitos doutrinários<br />

e treino a<strong>de</strong>quado.<br />

Na cimeira <strong>de</strong> Riga <strong>de</strong> 2006, em que se<br />

procurou a adaptação do planeamento <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fesa NATO, não havia ainda condições<br />

para o necessário consenso em torno da <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> um novo conceito estratégico. Actualmente,<br />

parecem estar reunidas as condições,<br />

porque os aliados bem sabem que<br />

o futuro da Aliança <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do consenso<br />

que reunirem em torno do novo documento<br />

estratégico, que <strong>de</strong>fine o que a NATO vai<br />

fazer no futuro e como o vai fazer.<br />

A NATO ACTUAL<br />

A NATO está actualmente envolvida em<br />

5 operações <strong>de</strong> diversas tipologias: estabilização<br />

no Afeganistão; manutenção da paz<br />

no Kosovo; assistência na reforma do sector<br />

<strong>de</strong> segurança na Bósnia-Herzegovina; patrulhamento<br />

no Mediterrâneo e Índico; e treino<br />

no Iraque. A Aliança participou também<br />

em operações humanitárias no Paquistão,<br />

transporte estratégico na região sudanesa<br />

do Darfur, apoiou os EUA na altura do furacão<br />

Katrina. Os seus AWACS apoiaram a<br />

segurança no euro 2004 e nos últimos jogos<br />

Olímpicos.<br />

Dada a sua actualida<strong>de</strong>, salienta-se a<br />

Operação “Allied Protector”, conduzida


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pela Standing NATO Maritime Group 1.<br />

Esta força naval, composta por navios <strong>de</strong><br />

vários países, entre os quais uma fragata<br />

portuguesa, é comandada por um Almirante<br />

português. Esta operação, que agora <strong>de</strong>corre<br />

sobretudo no Golfo <strong>de</strong> A<strong>de</strong>m, colabora<br />

na contenção da pirataria em conjugação<br />

com outras operações, da qual <strong>de</strong>stacamos<br />

a operação “Atalanta” da União Europeia,<br />

num teatro <strong>de</strong> operações mais a sul, ao largo<br />

da costa somali do Índico.<br />

O QUE SE PASSOU NA CIMEIRA<br />

DOS 60 ANOS<br />

A cimeira <strong>de</strong>correu em solo francês e em<br />

solo alemão, po<strong>de</strong>ndo ser um sinal <strong>de</strong> que<br />

o eixo franco-alemão preten<strong>de</strong> assumir-se<br />

na li<strong>de</strong>rança do pilar europeu da NATO. A<br />

França <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter um pé <strong>de</strong>ntro e um pé<br />

fora, ao passar a integrar, <strong>de</strong> novo, passados<br />

43 anos, a estrutura militar. Certamente que<br />

esta <strong>de</strong>cisão vai implicar a redistribuição<br />

das chefias dos comandos<br />

NATO.<br />

A França <strong>de</strong>u sinais<br />

<strong>de</strong> querer centrar<br />

mais a agenda<br />

da NATO na <strong>de</strong>fesa<br />

dos países-membros.<br />

A Alemanha, através<br />

da chanceler Merkel,<br />

já recusou uma perspectiva<br />

da NATO<br />

como «organização<br />

<strong>de</strong> segurança mundial»,<br />

ambicionada<br />

pela diplomacia norte-americana.<br />

A Aliança <strong>de</strong>u as<br />

boas vindas a mais dois membros, a Albânia<br />

e a Croácia, passando a contar com 28<br />

países membros.<br />

Foi escolhido um novo Secretário-Geral,<br />

o primeiro‐ministro dinamarquês An<strong>de</strong>rs<br />

Fogh Rasmussen. Este nome foi aprovado<br />

pelos 28 países membros, o que é significativo,<br />

aten<strong>de</strong>ndo ao consenso que foi necessário<br />

reunir. Não se sabe que contrapartidas<br />

terão levado a Turquia a alterar a sua oposição<br />

inicial, já que não aceitava o primeiro-<br />

‐ministro dinamarquês, por este ter apoiado<br />

a publicação <strong>de</strong> caricaturas do profeta Maomé,<br />

por um jornal dinamarquês, em 2005.<br />

O novo secretário-geral tomará posse no dia<br />

1 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2009, data em que termina<br />

o mandato <strong>de</strong> Jaap <strong>de</strong> Hoop Scheffer.<br />

Tal como no passado, o presi<strong>de</strong>nte norte-<br />

‐americano esteve presente para manifestar<br />

que a relação EUA-NATO não mudou com<br />

a nova administração. “Ouvir, apren<strong>de</strong>r e<br />

li<strong>de</strong>rar”, eis como Barack Obama resumiu<br />

a postura dos Estados Unidos na cimeira<br />

da NATO. Disse ainda que foram dados<br />

“passos importantes para renovar a Aliança<br />

transatlântica”.<br />

O Presi<strong>de</strong>nte Obama conseguiu o apoio<br />

pretendido para a nova estratégia americana<br />

em relação ao Afeganistão. Mais 5000<br />

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militares vão ser enviados do velho continente<br />

para combater a ameaça terrorista.<br />

O Presi<strong>de</strong>nte norte-americano lembrou aos<br />

Aliados que a luta contra o terrorismo é um<br />

problema <strong>de</strong> todos, pelo que a Europa terá<br />

<strong>de</strong> participar mais. “A Al-Qaeda está activa<br />

na região fronteiriça do Afeganistão com o<br />

Paquistão. Os terroristas ameaçam todos<br />

os membros da NATO. Atacaram tanto na<br />

Europa como na América do Norte. Estão<br />

a preparar novos ataques e é por isso que<br />

a minha administração lançou uma revisão<br />

abrangente da nossa estratégia.”<br />

Os aliados sabem que a credibilida<strong>de</strong> da<br />

Aliança <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma vonta<strong>de</strong> política<br />

forte e consensual no sentido <strong>de</strong> manterem<br />

a NATO como uma gran<strong>de</strong> instituição.<br />

Foi <strong>de</strong>finido um caminho para a elaboração<br />

<strong>de</strong> um novo conceito estratégico da<br />

NATO. Esta orientação política está contida<br />

na “Declaração <strong>de</strong> Segurança da Aliança”,<br />

“um breve documento político”, que contém<br />

os principais temas a <strong>de</strong>senvolver, conforme<br />

explicou o secretário-geral da NATO,<br />

Jaap <strong>de</strong> Hoop Scheffer.<br />

Este conceito irá ser <strong>de</strong>senvolvido por sábios<br />

que irão elaborar uma primeira reflexão.<br />

Aten<strong>de</strong>ndo a que é necessário o consenso,<br />

vai ser interessante ver como é que<br />

os aliados vão receber o primeiro projecto.<br />

Prevê-se que a aprovação do novo conceito<br />

venha a ser feita em Portugal, em 2010 ou<br />

2011, na próxima cimeira da NATO.<br />

OS DESAFIOS PARA O FUTURO<br />

CONCEITO ESTRATÉGICO<br />

DA ALIANÇA<br />

O conceito estratégico é um documento<br />

ratificado por todos os países membros<br />

da Aliança que <strong>de</strong>fine e aprofunda as linhas<br />

orientadoras da organização a médio<br />

prazo.<br />

O ambiente estratégico internacional<br />

mudou, outras ameaças à Democracia,<br />

aos valores e ao estilo <strong>de</strong> vida aparecem<br />

no horizonte. A NATO quer repensar o seu<br />

Conceito Estratégico e as suas capacida<strong>de</strong>s<br />

para fazer face às novas ameaças, para não<br />

ouvir vozes crescentes, que insinuam a sua<br />

obsolescência. Mas, logo para começar, a<br />

<strong>de</strong>finição e i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> novas ameaças<br />

não é consensual. A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resposta<br />

a problemas fora <strong>de</strong> um âmbito estritamente<br />

militar, como os ataques cibernéticos,<br />

as catástrofes provocadas pelas alterações<br />

climáticas ou a segurança energética - no<br />

qual o combate contra a pirataria na costa<br />

da Somália po<strong>de</strong> ser visto como exemplo<br />

-, bem como a luta contra o terrorismo, o<br />

narcotráfico e proliferação <strong>de</strong> armamento,<br />

são novas ameaças e <strong>de</strong>safios que a NATO<br />

vai, por certo, contemplar na sua nova estratégia.<br />

A priorida<strong>de</strong> máxima da NATO vai para a<br />

estabilização do Afeganistão, a maior operação<br />

militar <strong>de</strong> sempre da NATO e primeira<br />

missão <strong>de</strong> combate terrestre. É uma gran<strong>de</strong><br />

preocupação, aten<strong>de</strong>ndo a que se aproxima<br />

um período eleitoral. Faltam meios e há limitação<br />

à acção das forças no terreno. Neste<br />

sentido, os europeus ce<strong>de</strong>ram à pressão<br />

norte-americana para enviarem dinheiro e<br />

pessoal para o Afeganistão, embora só para<br />

um horizonte <strong>de</strong> 3 meses até às eleições <strong>de</strong><br />

20 <strong>de</strong> Agosto.<br />

A NATO tem apelado<br />

constantemente<br />

a um empenhamento<br />

mais alargado, que se<br />

traduz na contribuição<br />

<strong>de</strong> países como<br />

o Japão, a Austrália,<br />

a Coreia do Sul ou a<br />

Nova Zelândia, mas<br />

ao qual as organizações<br />

humanitárias<br />

têm mostrado reticências,<br />

<strong>de</strong>vido ao cariz<br />

militarista da Aliança<br />

e à falta <strong>de</strong> segurança<br />

no Afeganistão.<br />

A solução para o problema do Afeganistão,<br />

como referiu recentemente o Tenente‐coronel<br />

Proença Garcia num excelente<br />

artigo sobre a NATO, não é militar, já que as<br />

guerras <strong>de</strong> cariz subversivo, apesar <strong>de</strong> não<br />

se vencerem militarmente, per<strong>de</strong>m-se pela<br />

inacção militar. A eliminação da Al-Qaeda<br />

do Afeganistão e do Paquistão irá requerer<br />

uma estratégia total, obe<strong>de</strong>cer ao que agora<br />

se <strong>de</strong>signa por Comprehensive Approach,<br />

com o envolvimento <strong>de</strong> actores regionais,<br />

<strong>de</strong>signadamente a Rússia, o Irão, a China, a<br />

Índia, o Paquistão e uma miría<strong>de</strong> <strong>de</strong> organizações<br />

e agências internacionais e não governamentais,<br />

on<strong>de</strong> a Aliança <strong>de</strong>sempenha<br />

apenas o papel do instrumento militar.<br />

O segundo gran<strong>de</strong> objectivo da Aliança<br />

é o reatamento das relações com a Rússia,<br />

o que já terá levado a uma “não <strong>de</strong>cisão”<br />

sensata em relação à entrada da Geórgia e<br />

da Ucrânia para a NATO. Recorda-se que o<br />

alargamento da NATO tem sido feito à custa<br />

da entrada <strong>de</strong> países da ex-União Soviética.<br />

Entraram 12 países nos últimos <strong>de</strong>z anos.<br />

Este alargamento a leste e a iniciativa<br />

norte-americana <strong>de</strong> implementar um sistema<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa antimíssil balístico na Polónia<br />

e na República Checa não tem facilitado as<br />

relações diplomáticas da Aliança Atlântica<br />

Revista da Armada • JULHO 2009 13


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com a Rússia. A invasão da Geórgia pelos<br />

russos, no Verão do ano passado, levou a<br />

um «congelamento» das relações.<br />

Há algumas semanas, em Bruxelas, os ministros<br />

dos Negócios Estrangeiros da NATO<br />

<strong>de</strong>cidiram retomar o Conselho NATO-Rússia,<br />

mas, entretanto, Moscovo anunciou um<br />

programa <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização das suas Forças<br />

Armadas, tendo o presi<strong>de</strong>nte Dimitri Medve<strong>de</strong>v<br />

justificado esta iniciativa com, entre<br />

outras razões, o contínuo alargamento<br />

da NATO.<br />

Talvez a terceira gran<strong>de</strong> priorida<strong>de</strong> da<br />

NATO seja <strong>de</strong>finir o espaço geográfico <strong>de</strong><br />

actuação. Nas últimas cimeiras – Praga<br />

(2002), Istambul (2004), Riga (2006) e Bucareste<br />

(2008) – a Aliança tem vindo, ten<strong>de</strong>ncialmente,<br />

a afastar-se <strong>de</strong> uma agenda<br />

<strong>de</strong> segurança eurocêntrica e a direccionar-<br />

‐se, cada vez mais, para uma agenda <strong>de</strong><br />

segurança global. Embora a perspectiva<br />

global seja a que, certamente, mais se a<strong>de</strong>qua<br />

aos interesses <strong>de</strong> todos<br />

os aliados, não conta com<br />

consenso, já evi<strong>de</strong>nciado<br />

pela posição franco-alemã.<br />

A segurança <strong>de</strong> hoje não<br />

está apenas ligada à <strong>de</strong>fesa<br />

territorial mas sim, cada vez,<br />

mais ligada ao combate a novas<br />

ameaças transnacionais,<br />

<strong>de</strong>slocalizadas, na maioria<br />

das vezes fora das fronteiras<br />

tradicionais da Europa e que<br />

exigem uma resposta integrada,<br />

na qual o vector militar é<br />

apenas parte da solução.<br />

Assim, é fundamental<br />

i<strong>de</strong>ntificar o espaço geográfico<br />

<strong>de</strong> intervenção e o tipo<br />

<strong>de</strong> operações em que a Aliança se <strong>de</strong>ve<br />

empenhar. Quanto à geografia, as opiniões<br />

variam entre uma NATO global capaz <strong>de</strong><br />

conduzir operações, especialmente <strong>de</strong> segurança,<br />

on<strong>de</strong> necessário, ou uma Aliança<br />

regional, <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa colectiva, preocupada<br />

com as ameaças junto à fronteira. Em relação<br />

à tipologia das operações, é preciso<br />

<strong>de</strong>cidir se a Aliança só <strong>de</strong>ve actuar como<br />

instrumento militar e em todo o espectro do<br />

conflito, ou só em parte do espectro e com<br />

valências civis, ou não. Os <strong>de</strong>fensores <strong>de</strong><br />

uma NATO global (atacar o mal na origem),<br />

enfatizam que só uma Aliança Global po<strong>de</strong><br />

fazer face aos <strong>de</strong>safios globais do presente<br />

e que esta já tem parcerias fora da comunida<strong>de</strong><br />

transatlântica, como a Euro Atlantic<br />

Partnership Council, o diálogo com o Mediterrâneo,<br />

a iniciativa <strong>de</strong> Istambul, e já conta<br />

nas suas operações com a Austrália, o Japão<br />

e a Coreia do Sul. A nova Arquitectura<br />

passaria assim pela criação <strong>de</strong> uma Global<br />

Partnership Council, com países que partilhassem<br />

os mesmos valores e interesses.<br />

Esta situação implicaria a alteração do art.º<br />

10.º do Tratado <strong>de</strong> Washington, que permite<br />

a entrada para a Aliança apenas a países<br />

europeus. Além disso, para este tipo <strong>de</strong> actuação,<br />

a Aliança necessita <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong><br />

14 JULHO 2009 • Revista da Armada<br />

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<strong>de</strong> projecção estratégica e <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> sustentação, que não tem.<br />

A Europa tem cerca <strong>de</strong> 1,3 milhões <strong>de</strong><br />

militares, mas apenas consegue colocar 80<br />

mil em operações. Não sendo projectáveis,<br />

não existem. Mesmo a NRF, cuja capacida<strong>de</strong><br />

operacional plena foi anunciada em Novembro<br />

<strong>de</strong> 2006, em Riga, tinha apenas 26% das<br />

forças terrestres em finais <strong>de</strong> 2008.<br />

A NATO actua apenas como instrumento<br />

militar, sendo as valências civis <strong>de</strong>sempenhadas<br />

por outras organizações. Porém,<br />

coloca-se a questão se a NATO <strong>de</strong>ve ou<br />

não <strong>de</strong>senvolver capacida<strong>de</strong>s civis, em especial<br />

se preten<strong>de</strong>r intervir em ambiente<br />

não permissivo.<br />

Um quarto tema importante para a agenda<br />

do novo conceito estratégico <strong>de</strong>verá ser<br />

o próprio processo <strong>de</strong> transformação da<br />

NATO e as constantes mudanças na distribuição<br />

do po<strong>de</strong>r e no tipo <strong>de</strong> forças. À Força<br />

<strong>de</strong> Reacção da NATO (NRF) continua a<br />

faltar o propósito claro. Espera-se um importante<br />

<strong>de</strong>bate interno entre os aliados,<br />

enquadrado pelas questões geográficas e<br />

pela tipologia das operações.<br />

Um quinto tópico a consi<strong>de</strong>rar <strong>de</strong>verá ser<br />

a relação NATO - UE. Dos 27 Estados da<br />

UE, 21 pertencem à NATO. Os valores e os<br />

interesses estratégicos são partilhados, pelo<br />

que se espera que os europeus assumam<br />

uma maior partilha <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s<br />

pela sua segurança.<br />

IMPLICAÇÕES PARA PORTUGAL<br />

Des<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 90 que Portugal participa<br />

nas principais missões da Aliança<br />

Atlântica. Em 1991 com as missões aeronavais<br />

no Adriático, <strong>de</strong>pois na Bósnia-Herzegovina,<br />

no Kosovo, na Albânia, na Macedónia,<br />

no Afeganistão, na missão Active<br />

En<strong>de</strong>avour no Mediterrâneo, no Iraque, no<br />

Sudão e, no ano passado, na missão <strong>de</strong><br />

patrulhamento aéreo no Báltico. No total,<br />

mais <strong>de</strong> sete mil e quinhentos militares foram<br />

empregues em Forças Nacionais Destacadas.<br />

O <strong>de</strong>sempenho e a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes<br />

militares tem <strong>de</strong>ixado uma imagem muito<br />

positiva <strong>de</strong> Portugal no contexto internacional,<br />

o que é um importante contributo<br />

para a política externa e assim para o Po<strong>de</strong>r<br />

Nacional.<br />

Para o Ministro dos Negócios Estrangeiros,<br />

Dr. Luís Amado, e para o Ministro da<br />

Defesa Nacional, Dr. Nuno Severiano Teixeira,<br />

para além <strong>de</strong> um «recentrar» no eixo<br />

Atlântico e no Mediterrâneo, a NATO <strong>de</strong>verá<br />

dar maior importância à sua relação com<br />

o Atlântico Sul, on<strong>de</strong> Portugal po<strong>de</strong> ter um<br />

papel importante pelas suas relações históricas<br />

com o Brasil e África.<br />

Portugal encara a NATO como um palco<br />

privilegiado no contexto da política externa<br />

portuguesa e como um veículo para incrementar<br />

a sua posição na cena internacional.<br />

A posição geográfica portuguesa continua<br />

a ser <strong>de</strong>terminante, o que nos permite gozar<br />

<strong>de</strong> um estatuto, <strong>de</strong> certa forma especial,<br />

pela ligação que faz entre os dois lados<br />

do Atlântico. Essa realida<strong>de</strong> aconteceu<br />

no passado e continuará a acontecer, com<br />

tendência para ser fortalecida se a NATO se<br />

alargar ainda mais para Leste<br />

ou para Sul.<br />

A solução para a <strong>de</strong>fesa<br />

europeia <strong>de</strong>verá passar pela<br />

NATO e pela UE. O reforço<br />

do pilar europeu da NATO<br />

parece merecer o apoio <strong>de</strong><br />

Portugal. Importa pois <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

os cenários que melhor<br />

salvaguar<strong>de</strong>m os interesses<br />

nacionais.<br />

CONSIDERAÇÕES<br />

FINAIS<br />

Muito ficou por dizer. Certo<br />

é que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

das opções futuras, o passado<br />

e as capacida<strong>de</strong>s da NATO já <strong>de</strong>monstraram<br />

que a Aliança, a bem do mundo, sabe<br />

adaptar-se aos novos tempos e é, provavelmente,<br />

a única organização capaz <strong>de</strong> mobilizar<br />

vonta<strong>de</strong>s, capacida<strong>de</strong>s e mecanismos<br />

<strong>de</strong> resposta ao novo ambiente estratégico<br />

internacional. Uma direcção política firme<br />

e uma estrutura militar integrada e dinâmica<br />

serão importantes para a sua adaptação<br />

aos novos tempos.<br />

Portugal <strong>de</strong>posita no mar, <strong>de</strong> novo, gran<strong>de</strong><br />

esperança. Também chama por nós o<br />

“oceano moreno”. Na NATO, que é uma<br />

Aliança marítima, sentimo-nos bem. Estas<br />

i<strong>de</strong>ias muito simples escon<strong>de</strong>m um oceano<br />

<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s que Portugal <strong>de</strong>verá saber<br />

conjugar e explorar.<br />

Neste contexto, aos portugueses é preciso<br />

explicar a importância <strong>de</strong> uma nova<br />

NATO, que não visa apenas a <strong>de</strong>fesa militar<br />

dos aliados mas sim a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> um mundo<br />

globalizado, em que o que acontece num<br />

canto do mundo tem implicações globais,<br />

que po<strong>de</strong>m alterar radicalmente o estilo <strong>de</strong><br />

vida a que nos habituámos, como a história<br />

recente nos acaba <strong>de</strong> mostrar.<br />

<br />

Armando J. Dias Correia<br />

CFR


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A MARINHA DE D. JOÃO III (47)<br />

Os turcos em torno <strong>de</strong> Ormuz<br />

A<br />

campanha levada a cabo por D. Antão<br />

<strong>de</strong> Noronha no Golfo Pérsico, no<br />

ano <strong>de</strong> 1551 (referida na <strong>Marinha</strong> <strong>de</strong><br />

D. João III (43) com um lapso <strong>de</strong> datas), que<br />

<strong>de</strong>salojou os turcos <strong>de</strong> Catifa sem ter alcançado<br />

Bassorá, provocou uma reacção do Sultão<br />

<strong>de</strong> Constantinopla (Suleyman, o Magnífico),<br />

senhor que era <strong>de</strong> quase todo o Médio Oriente.<br />

Consciente que estava da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

atacar os portugueses na Índia, imaginou, que<br />

seria mais fácil conquistar as suas posições <strong>de</strong><br />

forma progressiva, e Ormuz parecia-lhe que<br />

um bom começo, retirando-lhes o domínio<br />

do Golfo Pérsico e criando uma base <strong>de</strong> operações.<br />

Nesse sentido, mandou<br />

preparar uma armada<br />

<strong>de</strong> 25 galés que <strong>de</strong>veria sair<br />

<strong>de</strong> Suez para Bassorá, on<strong>de</strong><br />

reuniriam as forças necessárias<br />

para atacar os persas e<br />

os portugueses, seus aliados<br />

em Ormuz. Para isso, escolheu<br />

Pirbec, um dos seus<br />

mais competentes Kapudan<br />

(ou Kaptan = Capitão), para<br />

levar a cabo a missão, dando-lhe<br />

por regimento que<br />

<strong>de</strong>veria tentar entrar no<br />

Golfo Pérsico sem importunar<br />

nenhuma fortaleza<br />

portuguesa, e procurando<br />

não ser visto em Mascate ou<br />

em Ormuz. A manobra não<br />

era fácil porque as notícias<br />

corriam mais <strong>de</strong>pressa que<br />

os navios, mas era possível<br />

fazê-la sem que alguém<br />

percebesse o real po<strong>de</strong>r da<br />

força naval.<br />

Acontece, contudo, que a tentação do saque<br />

e das presas foi mais forte que a instrução do<br />

Sultão e Pirbec não conseguiu entrar no Golfo<br />

sem <strong>de</strong>ixar um rasto <strong>de</strong> sangue e pilhagens<br />

por on<strong>de</strong> passou. A sua passagem pela costa <strong>de</strong><br />

Omã levou o espalhafato suficiente para alarmar<br />

todas as posições portuguesas, não resistindo<br />

a atacar e saquear a fortaleza <strong>de</strong> Mascate,<br />

ainda em construção e com uma guarnição<br />

muito reduzida. Já antes disso, porém, Estêvão<br />

Gomes o avistara um pouco a norte do cabo<br />

Rossalgate e, apesar das más condições meteorológicas<br />

do final da monção, conseguiu<br />

meter-se numa pequena embarcação e ir à<br />

Índia levar notícia da ameaça turca que voltava.<br />

Entretanto, Pirbec entrou no Golfo Pérsico<br />

e <strong>de</strong>sembarcou na parte oeste da ilha <strong>de</strong> Ormuz,<br />

longe da fortaleza e das posições portuguesas,<br />

que já estavam preparadas para um<br />

cerco prolongado e para os ataques que dali<br />

podiam vir. O capitão D. Álvaro <strong>de</strong> Noronha<br />

mandara prover o forte <strong>de</strong> água, lenha e outros<br />

abastecimentos necessários, resguardando os<br />

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navios perto da muralha e mantendo a guarnição<br />

em alerta contra o ataque turco que não<br />

tardou. Estava bem armado e os pelouros turcos<br />

não afectavam a muralha, <strong>de</strong> forma que o<br />

inimigo não conseguiu mais do que pilhar a<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprotegida e a ilha próxima <strong>de</strong> Quexome<br />

(Queshm), on<strong>de</strong> se tinham refugiado<br />

muitos comerciantes ricos que não pu<strong>de</strong>ram<br />

ficar na fortaleza. Daí seguiu, então, para o Shat<br />

al-Arab, on<strong>de</strong> há muito era aguardado.<br />

Nessa altura, porém, Estêvão Gomes já<br />

tinha alcançado Baçaim e Goa, lançando o<br />

alarme em toda a Índia e levando a que o<br />

Vice-Rei, D. Afonso <strong>de</strong> Noronha, resolvesse<br />

Lyvro <strong>de</strong> Plataforma das Fortalezas da Índia.<br />

Biblioteca <strong>de</strong> S. Julião da Barra.<br />

ir em pessoa ao Golfo Pérsico para por fim à<br />

esquadra turca. Reuniu mais <strong>de</strong> oitenta velas<br />

para essa missão, seguindo para norte e passando<br />

por Diu, on<strong>de</strong> recebeu a notícia <strong>de</strong> que<br />

Pirbec já estava em Bassorá, não adiantando<br />

ir no seu encalço com tamanha armada. Mandou<br />

que D. Antão <strong>de</strong> Noronha seguisse com 5<br />

galeões, 7 caravelas e 20 fustas, que <strong>de</strong>viam vigiar<br />

e atacar os turcos, invernando em Ormuz<br />

a partir <strong>de</strong> Abril ou Maio, e retirou-se para Goa.<br />

Quando acabasse a missão, D. Antão receberia<br />

a capitania da fortaleza, passando o comando<br />

da armada a D. Diogo <strong>de</strong> Noronha que regressaria<br />

à Índia com a monção.<br />

O Império Turco tinha uma re<strong>de</strong> bem montada<br />

<strong>de</strong> comunicações, que não <strong>de</strong>pendia apenas<br />

das vias marítimas, e o Baxa <strong>de</strong> Bassorá já tinha<br />

feito chegar ao Sultão as notícias dos saques <strong>de</strong><br />

Pirbec, que não iria ser perdoado. Tentou, contudo,<br />

uma outra manobra: sair dali com três<br />

navios carregados com todo o precioso saque,<br />

on<strong>de</strong> estavam muitos cativos portugueses, na<br />

esperança que tanta riqueza mo<strong>de</strong>rasse o ímpeto<br />

<strong>de</strong> Sulayman. Mas nada lhe valeu. Foi<br />

executado e substituído por um novo capitão<br />

para as galés <strong>de</strong> Bassorá. Desta vez o objectivo<br />

era sair com quinze <strong>de</strong>las e trazê-las para o Mar<br />

Vermelho, porque a missão inicial se revelara<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> risco, <strong>de</strong>morara mais do que previsto,<br />

e temia-se pela possibilida<strong>de</strong> dos portugueses<br />

atacarem o Mar Vermelho, Meca ou Suez. E<br />

foi com estas 15 galés que, em 1553, D. Diogo<br />

<strong>de</strong> Noronha se <strong>de</strong>frontou junto à costa da Pérsia,<br />

com gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s porque os seus<br />

galeões não conseguiam manobrar sem vento,<br />

nem podiam aproximar-se da costa tanto<br />

quanto as galés. Apesar <strong>de</strong> tudo, os turcos não<br />

conseguiram passar tiveram que regressar a<br />

Bassorá, com gran<strong>de</strong>s avarias<br />

e perdas.<br />

No início <strong>de</strong> 1554, D. Afonso<br />

mandou outra armada ao<br />

Golfo, sob o comando <strong>de</strong> seu<br />

filho, D. Fernando <strong>de</strong> Meneses.<br />

Zarparam <strong>de</strong> Goa seis<br />

galeões, seis caravelas e 25<br />

ou 26 fustas, que <strong>de</strong>veriam<br />

invernar em Ormuz e bloquear<br />

os turcos tentando<br />

surpreendê-los se tentassem<br />

sair o Estreito <strong>de</strong> Ormuz. Sulayman<br />

substituíra <strong>de</strong> novo<br />

o Kapudan e insistia para que<br />

regressassem ao Mar Vermelho,<br />

temendo pelo acesso a<br />

Meca. As condições, mais<br />

uma vez, não eram favoráveis<br />

para que navios <strong>de</strong> alto<br />

bordo conseguissem dar<br />

caça a galés, numa zona <strong>de</strong><br />

ventos variáveis e calmas,<br />

com possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> abrigo<br />

na costa, no meios dos baixos e das ilhas,<br />

mas a armada portuguesa bloqueou os turcos<br />

e atacou-os em frente <strong>de</strong> Mascate, conseguindo<br />

capturar seis embarcações inimigas. As restantes<br />

nove fugiram para o Guzerate, com receio<br />

<strong>de</strong> voltar a Suez, on<strong>de</strong> a justiça <strong>de</strong> Sulayman<br />

seria implacável: duas <strong>de</strong>las encalharam perto<br />

<strong>de</strong> Damão, com a perda quase total das tripulações,<br />

e as restantes fugiram para Surate on<strong>de</strong><br />

ficaram presas.<br />

Os embates com turcos, no Índico, tinham<br />

sempre um significado muito especial para<br />

a lusa gente, porque era <strong>de</strong>les que podia vir<br />

a maior ameaça contra um Po<strong>de</strong>r Naval que<br />

não se podia dar ao luxo <strong>de</strong> sofrer uma <strong>de</strong>rrota<br />

pesada. Para os portugueses todas estas<br />

batalhas eram <strong>de</strong>cisivas, e uma só <strong>de</strong>rrota podia<br />

levar à sua expulsão do Oriente. Mais uma<br />

vez isso não aconteceu, e esta seria a última<br />

gran<strong>de</strong> aventura turca nos mares da Índia, no<br />

século XVI.<br />

<br />

J. Semedo <strong>de</strong> Matos<br />

CFR FZ<br />

Revista da Armada • JULHO 2009 15


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O<br />

Dia da <strong>Marinha</strong> na Região Autónoma<br />

dos Açores, foi celebrado entre os dias<br />

04 e 23 <strong>de</strong> Maio, com activida<strong>de</strong>s em<br />

várias ilhas, conforme tem sido efectuado nos<br />

últimos anos, ocorrendo as comemorações<br />

principais na Ilha Graciosa.<br />

Nesta ilha, no dia 20 <strong>de</strong> Maio, as cerimónias<br />

iniciaram-se pelas 10 horas com uma missa na<br />

Igreja Matriz <strong>de</strong> Santa Cruz, seguida <strong>de</strong> uma<br />

homenagem aos marinheiros falecidos junto ao<br />

Monumento aos Combatentes, com a presença<br />

do CALM Comandante da Zona Marítima dos<br />

Açores e vários convidados, contando-se entre<br />

eles o Representante da República para a Região<br />

Autónoma dos Açores, o representante do<br />

Presi<strong>de</strong>nte do Governo Regional dos Açores, o<br />

Presi<strong>de</strong>nte da Câmara <strong>de</strong> Santa Cruz da Graciosa,<br />

o VALM Comandante Operacional dos<br />

Açores, o MGEN Comandante da Zona Militar<br />

dos Açores, o representante do Comandante da<br />

Zona Aérea dos Açores, entre outros.<br />

Logo <strong>de</strong>pois, realizou-se a cerimónia <strong>de</strong> entrega ao Museu da Graciosa<br />

do legado do falecido militar natural <strong>de</strong>sta ilha, o Cabo FZE Augusto<br />

Veiga, com a presença da sua viúva, na sala que alberga a colecção<br />

<strong>de</strong> molecologia e arte <strong>de</strong> marinheiro oportunamente oferecidas<br />

pelo homenageado.<br />

Na oportunida<strong>de</strong>, o Capitão do Porto <strong>de</strong> Angra do Heroísmo, que tem<br />

na sua <strong>de</strong>pendência a Delegação Marítima <strong>de</strong> Santa Cruz da Graciosa,<br />

salientou vários aspectos dos 32 anos <strong>de</strong> carreira na Armada do Cabo<br />

FZE Augusto Veiga, nomeadamente as suas 3 campanhas em África e<br />

as distinções com que foi agraciado.<br />

16 JULHO 2009 • Revista da Armada<br />

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ECOS DO DIA DA MARINHA<br />

Dia da <strong>Marinha</strong> nos Açores<br />

Por sua vez, o Dr. Jorge Cunha, Director do<br />

Museu da Graciosa, após salientar as comemorações<br />

do Dia da <strong>Marinha</strong> na ilha, fez um<br />

agra<strong>de</strong>cimento público ao Cabo Augusto Veiga,<br />

pela doação da notável colecção <strong>de</strong> molecologia,<br />

cerca <strong>de</strong> 1132 exemplares, alguns<br />

muito raros, além <strong>de</strong> 149 peças em arte <strong>de</strong> marinheiro,<br />

contribuindo com este raro gesto para<br />

o efectivo enriquecimento do Museu.<br />

As celebrações na ilha da Graciosa encerraram-se<br />

com um almoço a bordo do N.R.P.<br />

“António Enes”, com a presença dos convidados<br />

e participantes.<br />

O N.R.P. “António Enes” esteve atracado e<br />

aberto ao público na Vila da Praia, nos dias 19<br />

e 21 <strong>de</strong> Maio.<br />

Em Ponta Delgada, na Ilha <strong>de</strong> S. Miguel, na<br />

cida<strong>de</strong> da Praia da Vitória, na Ilha da Terceira e<br />

na cida<strong>de</strong> da Horta na Ilha do Faial realizaram-<br />

‐se diversas activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> carácter cultural,<br />

<strong>de</strong>sportivo e exercícios no âmbito das comemorações<br />

do Dia da <strong>Marinha</strong>.<br />

Como nota final, refere-se a iniciativa relativa à utilização <strong>de</strong> um serviço<br />

que recentemente passou a ser prestado pelos CTT: o uso <strong>de</strong> um<br />

selo, nos envelopes dos convites remetidos para a participação nos eventos,<br />

com a imagem <strong>de</strong> um dos navios que periodicamente é atribuído<br />

ao dispositivo do CZMA, com a legenda “DIA DA MARINHA - AÇO-<br />

RES”, selo esse que é <strong>de</strong>pois datado por carimbo próprio nos serviços<br />

<strong>de</strong> expedição <strong>de</strong> correspondência dos CTT.<br />

<br />

(Colaboração do CZMA e do DMA)<br />

Dia da <strong>Marinha</strong> na Ma<strong>de</strong>ira<br />

O<br />

Dia da <strong>Marinha</strong> <strong>de</strong> 2009 foi comemorado<br />

na Região Autónoma da Ma<strong>de</strong>ira,<br />

através da realização <strong>de</strong> diversas activida<strong>de</strong>s<br />

entre os dias 13 e 24 <strong>de</strong> Maio.<br />

Dessas activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>staca-se a homenagem<br />

aos Marinheiros Falecidos, realizada no dia 20<br />

<strong>de</strong> Maio a bordo do N.R.P. “Zaire”, com a bênção<br />

e o lançamento <strong>de</strong> uma coroa <strong>de</strong> flores no<br />

“Mar das Almas”, tendo para o efeito sido convidadas<br />

entida<strong>de</strong>s oficiais, nomeadamente, o<br />

Representante da República, o Vice-Presi<strong>de</strong>nte<br />

da Assembleia Legislativa em representação do Presi<strong>de</strong>nte da Assembleia<br />

Legislativa, o Secretário Regional do Ambiente e Recursos Naturais<br />

em representação do Presi<strong>de</strong>nte do Governo Regional, o Comandante<br />

Operacional da Ma<strong>de</strong>ira e o Presi<strong>de</strong>nte do Núcleo do Funchal da Liga<br />

dos Combatentes. No final da cerimónia, foi servido a bordo um Ma<strong>de</strong>ira<br />

<strong>de</strong> Honra.<br />

Após esta homenagem, teve lugar na Fortaleza <strong>de</strong> São João do Pico,<br />

a Cerimónia Militar Comemorativa do Dia da <strong>Marinha</strong> 2009, presidida<br />

pelo Representante da República, Juiz Conselheiro Antero Alves Monteiro<br />

Diniz, e na qual estiveram presentes as entida<strong>de</strong>s religiosas, civis e militares<br />

representativas da Região Autónoma da Ma<strong>de</strong>ira, <strong>de</strong> entre 55 convidados.<br />

Terminada a cerimónia, foi servido um almoço comemorativo.<br />

Também no dia 20 <strong>de</strong> Maio, o N.R.P. “Zaire” esteve aberto a visitas<br />

durante a tar<strong>de</strong>, no cais Sul do Porto do Funchal, emban<strong>de</strong>irado em arco<br />

e, durante a noite, com iluminação <strong>de</strong> gala.<br />

Este ano, as activida<strong>de</strong>s náuticas associadas ao Dia da <strong>Marinha</strong> contaram<br />

com a colaboração <strong>de</strong> diversas Associações<br />

Náuticas da Região. Assim, no dia 13 <strong>de</strong> Maio a<br />

Associação Regional <strong>de</strong> Canoagem da Ma<strong>de</strong>ira<br />

organizou várias provas, no Porto do Funchal.<br />

No dia 16 <strong>de</strong> Maio, teve lugar a regata <strong>de</strong> vela<br />

<strong>de</strong> cruzeiro organizada pelo Centro Treino Mar,<br />

realizada na baía do Funchal. Em 17 e 23 <strong>de</strong><br />

Maio, a Associação Náutica da Ma<strong>de</strong>ira realizou<br />

diversos eventos <strong>de</strong>sportivos incluindo provas <strong>de</strong><br />

Jet-Sky, regatas <strong>de</strong> vela ligeira <strong>de</strong> todas as classes<br />

e Mini mo<strong>de</strong>los. Também a Associação <strong>de</strong> Pesca<br />

Desportiva da RAM realizou uma prova <strong>de</strong> pesca <strong>de</strong>sportiva na Praia do<br />

“Vagrant”, no Funchal, em 23 <strong>de</strong> Maio.<br />

As activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sportivas também se esten<strong>de</strong>ram à Ilha do Porto Santo,<br />

on<strong>de</strong> o Clube Naval do Porto Santo, no âmbito das comemorações<br />

do Dia da <strong>Marinha</strong> 2009, realizou diversas provas <strong>de</strong> vela.<br />

Nos dias 23 e 24 <strong>de</strong> Maio, foi ainda proporcionado aos Municípios da<br />

Ilha da Ma<strong>de</strong>ira e ao Corpo Nacional <strong>de</strong> Escutas, o embarque <strong>de</strong> jovens<br />

para “Baptismos <strong>de</strong> Mar”, a bordo do N.R.P. “Zaire” e, esteve patente na<br />

Capitania do Porto do Funchal, uma exposição alusiva à data, associada<br />

a uma acção <strong>de</strong> divulgação da <strong>Marinha</strong>.<br />

As comemorações do Dia da <strong>Marinha</strong> foram encerradas com a cerimónia<br />

<strong>de</strong> entrega <strong>de</strong> prémios aos melhores classificados das provas náuticas<br />

realizadas, a qual foi efectuada com a colaboração das Associações<br />

Náuticas envolvidas na organização das provas.<br />

<br />

(Colaboração do COMANDO DA ZONA MARÍTIMA DA MADEIRA)


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No passado mês <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong>correram na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Aveiro as comemorações do<br />

Dia da <strong>Marinha</strong> <strong>de</strong> 2009.<br />

Na parte temática da Exposição <strong>de</strong> Activida<strong>de</strong>s<br />

da <strong>Marinha</strong>, privilegiou-se uma ligação <strong>de</strong><br />

vários anos – <strong>de</strong> 1918 a 1952 – da cida<strong>de</strong> com<br />

a Aviação Naval, ligação essa recordada num<br />

singelo monumento erigido num pequeno espaço<br />

ajardinado pare<strong>de</strong>s meias com a ponte<br />

do Canal das Pirâmi<strong>de</strong>s. Inaugurado em 26 <strong>de</strong><br />

Maio <strong>de</strong> 1984, quando a Câmara Municipal <strong>de</strong><br />

Aveiro <strong>de</strong>cidiu homenagear a Aviação Naval e<br />

em particular um dos seus elementos, na altura<br />

Contra-Almirante Médico Naval, que nela tinha<br />

prestado serviço por dois períodos distintos: o<br />

primeiro <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1931 a 19 <strong>de</strong><br />

Novembro <strong>de</strong> 1935, e um segundo <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong><br />

Maio <strong>de</strong> 1941 a 12 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1951. Ao<br />

todo 14 anos e meio.<br />

Luís Men<strong>de</strong>s Monteiro Ginja Brandão, o homenageado<br />

<strong>de</strong> 1984, nasceu em 27 <strong>de</strong> Fevereiro<br />

<strong>de</strong> 1902 em Lagos da Beira, concelho <strong>de</strong> Oliveira<br />

do Hospital, distrito <strong>de</strong> Coimbra. Licenciado<br />

em Medicina pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra em<br />

Janeiro <strong>de</strong> 1927, assentou praça na Armada em<br />

Maio <strong>de</strong> 1927, no posto <strong>de</strong> 2º tenente.<br />

O primeiro embarque, que durou dois<br />

anos, foi no cruzador “Carvalho Araújo”.<br />

Prestou igualmente serviço nas canhoneiras<br />

“Ibo” e “Zaire”. Entre 1936<br />

e 1939 alterna embarques no navio<br />

hidrográfico “Cinco <strong>de</strong> Outubro” e no<br />

aviso “Afonso <strong>de</strong> Albuquerque”e termina<br />

o serviço no mar a bordo do aviso<br />

“Gonçalves Zarco”, acompanhando a<br />

viagem <strong>de</strong> guardas-marinhas do curso<br />

“Príncipe Perfeito”. Este último embarque<br />

foi feito, por oferecimento, para<br />

<strong>de</strong>senrascar alguns dos seus colegas<br />

mais novos, que frequentavam os Internatos<br />

Médicos nos Hospitais Civis<br />

<strong>de</strong> Lisboa e aos quais aquela viagem<br />

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ECOS DO DIA DA MARINHA<br />

O DR. GINJA BRANDÃO<br />

Médico da Aviação Naval e do povo <strong>de</strong> S. Jacinto<br />

2TEN MN Ginja Brandão a bordo da canhoneira “Ibo”.<br />

O 1TEN MN Ginja Brandão e o 2TEN MN Veiga Rica no “Royal Naval<br />

Air Medical School”.<br />

Homenagem ao CALM Ginja Brandão em Aveiro em 1984.<br />

acarretaria um atraso <strong>de</strong> mais uma ano<br />

na sua formação. Saliente-se que nesta<br />

altura era já capitão -tenente, residindo<br />

na Base Naval <strong>de</strong> Lisboa, colocado<br />

como médico na Direcção do Serviço<br />

<strong>de</strong> Submersíveis acumulando funções<br />

<strong>de</strong> Director do Dispensário <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

do Alfeite, tinha 51 anos, pai <strong>de</strong> cinco<br />

filhos, o mais velho dos quais estava<br />

prestes a entrar para a Escola Naval.<br />

Esta atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstra bem o sólido espírito<br />

<strong>de</strong> camaradagem que sempre foi<br />

apanágio do Dr. Ginja Brandão.<br />

S. Jacinto, on<strong>de</strong> a Aviação Naval se<br />

instalou, como já citado, em 1918,<br />

era, nas primeiras décadas do século<br />

XX, uma pequena e humil<strong>de</strong> póvoa<br />

piscatória, com os seus habitantes limitados<br />

em recursos, inclusivé uma quase inexistente<br />

assistência médica e vivendo um período<br />

já <strong>de</strong> si difícil, especialmente quando da<br />

II <strong>Guerra</strong> Mundial. Assim, o Centro <strong>de</strong> Aveiro<br />

da Aviação Naval, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>nominado Escola<br />

<strong>de</strong> Aviação Naval “Almirante Gago Coutinho”,<br />

trouxe apreciáveis benefícios, entre os quais ressalta<br />

a notável acção do Dr. Ginja Brandão que,<br />

com o seu saber, disposição natural para o bem<br />

e total <strong>de</strong>dicação, salvou vidas, curou doenças<br />

e distribuiu conforto moral por aquela tão carente<br />

população.<br />

No meio da sua segunda comissão em<br />

S. Ja cinto, Chefe do Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, em 1948<br />

vai tirar um curso <strong>de</strong> especialização em Medicina<br />

Aeronáutica na “Royal Naval Air Medical<br />

Schoo l” no Reino Unido. Habilitado com esta<br />

competência, utilizou -a <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo no tratamento<br />

hipobárico a crianças com tosse convulsa, então<br />

muito frequente em Portugal, levando-as a<br />

voar a altitu<strong>de</strong>s escalonadas e com assinalável<br />

êxito, chegando a <strong>de</strong>slocarem-se pessoas fora<br />

da área <strong>de</strong> Aveiro a solicitar o novo tratamento<br />

para seus filhos. Este pioneirismo como outros<br />

nos campos académico e científico, que muito<br />

orgulham a classe <strong>de</strong> Médicos Navais,<br />

fazem parte da História <strong>de</strong> Medicina<br />

Naval <strong>Portuguesa</strong>. O Dr. Ginja Brandão,<br />

pioneiro em Portugal num tipo<br />

<strong>de</strong> tratamento hipobárico, foi um clínico<br />

geral, um bom médico, homem<br />

íntegro e corajoso.<br />

Depois do atentado a Salazar, em<br />

4 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1937 na Av. Barbosa<br />

du Bocage, foram <strong>de</strong>tidos vários indivíduos.<br />

De entre eles, figurava um<br />

enfermeiro <strong>de</strong> <strong>Marinha</strong>. Dos vários<br />

presos, ninguém conseguiu uma testemunha<br />

abonatória, salvo o enfermeiro.<br />

A testemunha foi o então ainda<br />

2º tenente Ginja Brandão, que imune<br />

às circunstâncias e eventuais consequências<br />

<strong>de</strong>u o seu apoio atestando<br />

o bom carácter do arguido.<br />

E para os que se lamentam da lenta<br />

progressão na carreira o Dr. Ginja<br />

Brandão foi oficial subalterno... quase<br />

26 anos!<br />

Em 1961 já com condições <strong>de</strong> promoção<br />

a capitão-<strong>de</strong>-mar-e-guerra ainda<br />

frequentou nos Estados Unidos,<br />

na US Naval School, em Bethesda, o<br />

“Naval Medical Management Course”.<br />

Habilitado com o Curso Superior<br />

Naval <strong>de</strong> <strong>Guerra</strong> em 1961, veio a ser<br />

promovido o comodoro em Dezembro<br />

<strong>de</strong> 1963, tendo sido professor<br />

do ISNG <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 61 a Agosto <strong>de</strong><br />

1965. Passou à reserva em 1965 e em<br />

1972 à reforma.<br />

Revista da Armada • JULHo 2009 17


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ECOS DO DIA DA MARINHA<br />

Com nove louvores individuais e vários colectivos,<br />

totalizou 22 horas e 10 minutos <strong>de</strong><br />

voo e 1466 dias <strong>de</strong> embarque, número este<br />

que hoje ainda fará inveja a alguns oficiais <strong>de</strong><br />

outras classes.<br />

No período algo conturbado a seguir<br />

ao 25 <strong>de</strong> Abril, numa assembleia pública,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u com alguma veemência o<br />

Almirante Henrique Tenreiro, que consi<strong>de</strong>rou<br />

injustamente acusado <strong>de</strong> alguns<br />

actos que lhe eram assacados. Repetiu<br />

noutro contexto, com o mesmo <strong>de</strong>sassombro<br />

que quando jovem 2º tenente, a<br />

<strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> quem consi<strong>de</strong>rava inocente.<br />

Em 1984, após a inauguração do monumento<br />

à Aviação Naval, em sessão solene<br />

na Câmara Municipal <strong>de</strong> Aveiro, o<br />

então Presi<strong>de</strong>nte da Câmara Dr. Girão<br />

Pereira entregou-lhe uma placa <strong>de</strong> prata,<br />

tendo no canto superior esquerdo o brazão do<br />

Município, e no canto superior direito a tradicional<br />

andorinha, emblema da Escola <strong>de</strong> Aviação<br />

Naval <strong>de</strong> Aveiro, com a <strong>de</strong>dicatória:<br />

A Câmara Municipal <strong>de</strong> Aveiro agra<strong>de</strong>ce reconhecida<br />

ao Almirante Médico Luís Monteiro<br />

Ginja Brandão a acção notável <strong>de</strong>senvolvida<br />

ao longo <strong>de</strong> muitos anos em prol da população<br />

<strong>de</strong> S. Jacinto.<br />

Cerca <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong>pois foi a vez da Junta da<br />

Freguesia <strong>de</strong> S. Jacinto, com o apoio da Câmara<br />

Municipal, inaugurar a placa toponímica:<br />

Rua Dr. Ginja Brandão Médico da Aviação<br />

Naval e do Povo <strong>de</strong> S. Jacinto, <strong>de</strong> 1931<br />

a 1951, tendo na ocasião sido oferecida ao<br />

homenageado uma salva <strong>de</strong> prata, ad qui rida<br />

por quotização pela população <strong>de</strong> S. Jacinto<br />

que, <strong>de</strong>ssa forma, testemunhou público reconhecimento<br />

e gratidão ao seu antigo<br />

médico.<br />

O Dr. Ginja Brandão veio a falecer<br />

na sua residência, na Pucariça em 6<br />

<strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1988.<br />

Uma vida e o exemplo <strong>de</strong> um notável<br />

Médico Naval.<br />

Na vitrine exposta no edifício da antiga<br />

Capitania do Porto <strong>de</strong> Aveiro, <strong>de</strong>dicada<br />

à Aviação Naval, figurava num<br />

retrato individual e num grupo <strong>de</strong> oficiais<br />

da Escola da Aviação Naval.<br />

Como era <strong>de</strong> inteira justiça.<br />

<br />

Rui <strong>de</strong> Abreu<br />

CALM MN<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos:<br />

Agra<strong>de</strong>ço ao Sr. Engº Luís Cogumbreiro Ivens Brandão<br />

e ao Comandante Luís Pessoa Brandão a autorização para<br />

consultar o processo <strong>de</strong> seu Pai e a colaboração prestada<br />

em dados e fotografias.<br />

PRÉMIOS<br />

Dentro das solenida<strong>de</strong>s do Dia da <strong>Marinha</strong>, <strong>de</strong>correu no passado<br />

dia 18 <strong>de</strong> Maio no Gabinete do Almirante CEMA, a<br />

cerimónia <strong>de</strong> entrega dos prémios da Revista da Armada<br />

referentes ao ano <strong>de</strong> 2008.<br />

O Almirante Melo Gomes acompanhado dos elementos do seu<br />

Gabinete, do Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada, do Presi<strong>de</strong>nte<br />

da Comissão Cultural <strong>de</strong> <strong>Marinha</strong>, do Sub-Chefe do Estado-<br />

Maior da Armada e Oficiais do Estado-Maior, do Director e Corpo<br />

Redactorial da R.A. proce<strong>de</strong>u à entrega do prémio “Comandante<br />

Joaquim Costa”, <strong>de</strong>stinado ao melhor trabalho publicado na R.A.<br />

no ano <strong>de</strong> 2008, ao CFR Henrique Nelson dos Santos Peyroteo<br />

Portela Gue<strong>de</strong>s autor do artigo intitulado “A dura realida<strong>de</strong> da Pirataria<br />

Marítima”, publicado no número 418/ABR08.<br />

Seguidamente, o Almirante CEMA fez a entrega do prémio “Almirante<br />

Pereira Crespo”, <strong>de</strong>stinado à melhor colaboração no ano <strong>de</strong><br />

2008, com que foi contemplado o CFR Armando José Dias Correia<br />

pela elaboração dos artigos “RCM 3G-<strong>Marinha</strong> em Re<strong>de</strong>”, “Escudo<br />

Antimíssil Balístico na Europa”, “África, numa perspectiva estratégica”<br />

e “Estratégia, Po<strong>de</strong>r e Inovação”, publicados respectivamente<br />

nos números 418/ABR, 420/JUN, 422/AGO e 425/DEZ08.<br />

O Almirante Melo Gomes enalteceu os laureados reconhecendo<br />

o valor dos trabalhos premiados que contribuíram para a difusão<br />

cultural da <strong>Marinha</strong> e valorização da Revista da Armada.<br />

Após a cerimónia o Almirante CEMA ofereceu um almoço aos<br />

premiados tendo estado presentes o Director, o Chefe da Redacção<br />

e a Redactora da R.A.<br />

<br />

Fotos Júlio Tito<br />

O Almirante CEMA entrega o Prémio “Comandante Joaquim Costa” ao CFR Henrique<br />

Nelson dos Santos Peyroteo Portela Gue<strong>de</strong>s.<br />

O Almirante CEMA entrega o Prémio “Almirante Pereira Crespo” ao CFR Armando<br />

José Dias Correia.<br />

18 JULHo 2009 • Revista da Armada<br />

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PIRATARIA MARÍTIMA – UMA PERSPECTIVA ACTUAL<br />

Reflexões sobre o combate à pirataria no séc. XXI<br />

A<br />

pirataria faz parte do imaginário cinematográfico<br />

associado a séculos passados mas, na<br />

realida<strong>de</strong>, nunca <strong>de</strong>sapareceu totalmente. O<br />

que sucedia é que a maior parte dos ataques verificados<br />

nas décadas mais recentes ocorria na Ásia –<br />

relativamente longe dos olhares oci<strong>de</strong>ntais. No entanto,<br />

este cenário mudou nos últimos anos.<br />

Por um lado, Indonésia, Singapura e Malásia associaram-se,<br />

a partir <strong>de</strong> 2004, em patrulhas tripartidas<br />

e a pirataria diminuiu drasticamente no estreito<br />

<strong>de</strong> Malaca, no estreito <strong>de</strong> Singapura, na Indonésia<br />

e na Malásia.<br />

Por outro lado, em África (no Golfo da Guiné e,<br />

sobretudo, na costa da Somália – mais perto portanto<br />

dos olhares oci<strong>de</strong>ntais), tem-se assistido a<br />

um aumento significativo da pirataria. No ano <strong>de</strong><br />

2008, 40% dos ataques relatados 1 em todo o Mundo<br />

ocorreu no Corno <strong>de</strong> África, sendo importante<br />

referir que a activida<strong>de</strong> pirata nesta<br />

área oscila, em gran<strong>de</strong> medida, ao ritmo<br />

das monções. Dessa forma tem-se<br />

verificado que os ataques piratas aumentam<br />

nos períodos entre monções,<br />

i.e. em Abril / Maio e em Outubro /<br />

Novembro. Trata-se <strong>de</strong> uma área extremamente<br />

sensível, representando a<br />

principal rota comercial entre a Europa<br />

e a Ásia, facto ilustrado pelos mais<br />

<strong>de</strong> 33.000 navios que passam todos<br />

os anos no Golfo <strong>de</strong> A<strong>de</strong>m. Em 2009,<br />

a pirataria intensificou-se ainda mais,<br />

com o número <strong>de</strong> ataques relatados<br />

nos primeiros 3 meses do ano a duplicar<br />

os valores <strong>de</strong> 2008.<br />

Face a esta realida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r-se-ia<br />

pensar que a indústria do transporte<br />

marítimo adoptasse uma rota alternativa, contornando<br />

África, em vez <strong>de</strong> seguir o atalho do Golfo<br />

<strong>de</strong> A<strong>de</strong>m / Mar Vermelho / Canal do Suez. No entanto,<br />

apesar da ameaça <strong>de</strong> pirataria, os operadores<br />

mercantes continuam a preferir a rota do Corno <strong>de</strong><br />

África. Tal <strong>de</strong>ve-se sobretudo a 2 motivos.<br />

Em primeiro lugar, a circum-navegação <strong>de</strong> África<br />

correspon<strong>de</strong> a um acréscimo na distância a percorrer<br />

que po<strong>de</strong> chegar a cerca <strong>de</strong> 5.000 milhas<br />

náuticas, o que significa que um navio mercante a<br />

12 nós <strong>de</strong>moraria mais 17 dias a fazer o percurso<br />

entre a Ásia e a Europa e vice-versa. Se tal viesse a<br />

acontecer, os custos do transporte marítimo aumentariam<br />

significativamente, o que teria um impacto<br />

enorme não só na indústria marítima, mas também<br />

e inevitavelmente no consumidor final, que veria os<br />

preços da maioria dos bens a aumentar.<br />

Em segundo lugar, embora estejamos a assistir a<br />

um aumento <strong>de</strong> ataques, a percentagem <strong>de</strong> incidência<br />

ainda é relativamente baixa face ao elevadíssimo<br />

número <strong>de</strong> navios que passam na área.<br />

Dessa forma, os operadores preferem o risco <strong>de</strong><br />

ter que pagar um resgate aos piratas, no caso <strong>de</strong> serem<br />

alvo <strong>de</strong> ataque (possibilida<strong>de</strong>, apesar <strong>de</strong> tudo,<br />

não muito elevada), à alternativa <strong>de</strong> circum-navegar<br />

África e tornarem-se menos competitivos no mercado<br />

global.<br />

Parece assim evi<strong>de</strong>nte que o tráfego marítimo<br />

continuará a passar pelo Corno <strong>de</strong> África, pelo que<br />

não será pela ausência <strong>de</strong> potenciais vítimas que<br />

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o problema da pirataria se resolverá. A solução do<br />

problema <strong>de</strong>verá passar por duas linhas <strong>de</strong> acção<br />

concorrentes: um esforço da comunida<strong>de</strong> internacional<br />

para o state building na Somália, que mitigue<br />

as causas socioeconómicas que estão na raiz<br />

da pirataria, e um efectivo patrulhamento dos mares,<br />

que dissuada os ataques, fazendo os piratas perceber<br />

que os riscos que correm são superiores aos<br />

potenciais benefícios.<br />

No entanto, na actual conjuntura geo-estratégica,<br />

em que os EUA, bem como a NATO e a maioria dos<br />

países europeus, estão profundamente envolvidos<br />

na construção <strong>de</strong> Estados viáveis no Afeganistão e<br />

no Iraque, não parece haver capacida<strong>de</strong> disponível<br />

para uma intervenção <strong>de</strong> state building na Somália.<br />

Recor<strong>de</strong>-se que os EUA tentaram uma intervenção<br />

terrestre na Somália, em 1993, no tempo da administração<br />

Clinton, tendo retirado pouco <strong>de</strong>pois na<br />

O helicóptero orgânico das fragatas portuguesas é fundamental no combate<br />

à pirataria.<br />

sequência do célebre caso da queda <strong>de</strong> dois Black<br />

Hawk, em Mogadíscio.<br />

Neste enquadramento, parece claro que a melhor<br />

forma que a comunida<strong>de</strong> internacional tem para lidar<br />

com este problema é o reforço do patrulhamento<br />

por navios <strong>de</strong> guerra. Isto mesmo foi percebido pela<br />

NATO, pela UE, e por paises como a China, os EUA,<br />

o Japão e a Rússia, entre outros, que enviaram forças<br />

navais ou navios para a área.<br />

Estarão na área cerca <strong>de</strong> 40 navios <strong>de</strong> guerra, o que<br />

mostra bem a importância que os países <strong>de</strong>senvolvidos<br />

estão a atribuir a esta questão, pelas implicações<br />

que está a ter (e po<strong>de</strong>rá ainda vir a ter) na economia<br />

mundial. No entanto, este número é ainda insuficiente,<br />

principalmente por duas or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> razões: pela<br />

vastidão da área <strong>de</strong> actuação dos piratas e pela rapi<strong>de</strong>z<br />

com que eles executam os ataques.<br />

Relativamente à área <strong>de</strong> actuação, importa referir<br />

que só para patrulhar eficazmente o Golfo <strong>de</strong> A<strong>de</strong>m<br />

(que tem uma área <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 100 mil milhas quadradas)<br />

se estima serem necessários cerca <strong>de</strong> 60 navios<br />

2 , sendo que os piratas estão a actuar cada vez<br />

mais longe da costa e com crescente violência. Já<br />

houve ataques e tentativas <strong>de</strong> ataques a cerca <strong>de</strong> 700<br />

milhas da costa e, inclusive, em latitu<strong>de</strong>s abaixo das<br />

Seicheles. Isso significa que a área <strong>de</strong> actuação dos piratas<br />

somalis extravasou do Golfo <strong>de</strong> A<strong>de</strong>m e da costa<br />

da Somália para quase todo o Índico oci<strong>de</strong>ntal.<br />

Relativamente à rapi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> execução dos ataques,<br />

cabe referir que há relatos <strong>de</strong> ataques perpetrados<br />

em cerca <strong>de</strong> 3 minutos, sendo que habitualmente<br />

não exce<strong>de</strong>m 15 minutos. Isso correspon<strong>de</strong> a<br />

dizer que o tempo <strong>de</strong> reacção dos navios <strong>de</strong> guerra<br />

é minímo, razão pela qual é requerida uma elevada<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> navios <strong>de</strong> guerra para que possam<br />

intervir atempadamente.<br />

Neste momento, já existem alguns navios mercantes<br />

que se juntam em pequenos grupos, <strong>de</strong><br />

forma a atravessarem, em companhia, o corredor<br />

<strong>de</strong> tráfego estabelecido no Golfo <strong>de</strong> A<strong>de</strong>m, habitualmente<br />

sob cobertura dos navios <strong>de</strong> guerra aí<br />

presentes. No entanto, os operadores mercantes<br />

têm mostrado relutância em organizar comboios<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> dimensão, para serem escoltados por<br />

navios <strong>de</strong> guerra, tal como suce<strong>de</strong>u na 2ª guerra<br />

mundial. Tal <strong>de</strong>ve-se fundamentalmente a dois motivos<br />

principais. Em primeiro lugar, isso obrigaria<br />

os navios a terem que se sujeitar aos horários dos<br />

comboios, o que po<strong>de</strong>ria obrigá-los a<br />

esperar largas horas, já que para este<br />

sistema ser eficiente a frequência dos<br />

comboios não po<strong>de</strong>ria ser muito elevada<br />

(eventualmente diária). Em segundo<br />

lugar, obrigaria todos os navios a navegar<br />

à velocida<strong>de</strong> do navio mais lento<br />

do comboio, provocando naturais<br />

atrasos. No entanto, em caso <strong>de</strong> agravamento<br />

do problema da pirataria, não<br />

é <strong>de</strong> excluir que a indústria do transporte<br />

marítimo reveja as suas reservas<br />

à navegação em comboio.<br />

Finalmente, gostaria <strong>de</strong> referir que,<br />

apesar da sua complexida<strong>de</strong>, as marinhas<br />

em geral, e a <strong>Marinha</strong> <strong>Portuguesa</strong><br />

em particular, estão preparadas para enfrentar<br />

este problema. A maior limitação<br />

acaba por resultar dos condicionamentos legais, tratados<br />

em artigo à parte. De qualquer maneira, é indubitável<br />

que a presença das marinhas <strong>de</strong> guerra no<br />

Corno <strong>de</strong> África é essencial para dissuadir esta activida<strong>de</strong>,<br />

que tão gran<strong>de</strong>s implicações po<strong>de</strong> vir a ter<br />

no dia-a-dia <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> nós. Os prejuízos anuais<br />

causados, actualmente, pela pirataria foram estimados<br />

em 12 mil milhões <strong>de</strong> euros, parte dos quais já<br />

estará a ser suportada pelos consumidores. No entanto,<br />

este valor multiplicar-se-á, com um impacto<br />

inimaginável nos preços <strong>de</strong> muitos bens, se a comunida<strong>de</strong><br />

internacional não conseguir pôr um travão à<br />

pirataria somali.<br />

<br />

Nuno Sardinha Monteiro<br />

CFR<br />

Notas<br />

1<br />

Segundo algumas fontes, o número <strong>de</strong> ataques relatados<br />

oscilará entre 10% a 50% do número <strong>de</strong> ataques<br />

real. De facto, os operadores evitam, sempre que<br />

po<strong>de</strong>m, comunicar às autorida<strong>de</strong>s que foram alvo <strong>de</strong><br />

um ataque pirata, pois isso po<strong>de</strong> implicar um aumento<br />

dos prémios <strong>de</strong> seguro e uma paragem do navio, para<br />

que as autorida<strong>de</strong>s investiguem a ocorrência.<br />

2<br />

Embora os 40 navios <strong>de</strong> guerra presentes na área já<br />

estejam a conseguir excelentes resultados, quase erradicando<br />

a pirataria no Golfo <strong>de</strong> A<strong>de</strong>m e obrigando os<br />

piratas a procurar outras áreas para actuarem.<br />

Agra<strong>de</strong>cimento<br />

Agra<strong>de</strong>ço os comentários e contributos do CMG Novo<br />

Palma, do CFR Neves Correia, do CFR Portela Gue<strong>de</strong>s e do<br />

CFR Cortes Lopes.<br />

Revista da Armada • JULHO 2009 19


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PIRATARIA MARÍTIMA – UMA PERSPECTIVA ACTUAL<br />

O recru<strong>de</strong>scimento da Pirataria Marítima<br />

A Pirataria Marítima na costa<br />

da Somália<br />

A<br />

Somália encontra-se geograficamente localizada<br />

no nor<strong>de</strong>ste do continente africano,<br />

na região <strong>de</strong>nominada por “Corno<br />

<strong>de</strong> África”, e possui uma costa com uma extensão<br />

<strong>de</strong> aproximadamente 3025 km. As costas<br />

norte e leste <strong>de</strong>ste país são banhadas, respectivamente,<br />

pelas águas do Golfo <strong>de</strong> A<strong>de</strong>m e do<br />

Oceano Índico, passando pelas primeiras toda a<br />

navegação que vem ou vai para o canal do Suez<br />

e pelas segundas todo o tráfego marítimo que<br />

vem ou vai para o Cabo da Boa Esperança.<br />

Este país tornou-se in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte em 1 <strong>de</strong> Julho<br />

<strong>de</strong> 1960, tendo o seu último governo efectivo,<br />

chefiado pelo General Muhammad Siad<br />

Barre, caído em 1991. A partir <strong>de</strong>ste ano a Somália<br />

transformou-se num Estado falhado, essencialmente<br />

<strong>de</strong>vido à ausência dum governo<br />

efectivo, às instituições públicas terem cessado<br />

funções e às Forças Armadas terem sido dissolvidas.<br />

A extinção <strong>de</strong>stas últimas <strong>de</strong>u origem a<br />

pequenos grupos armados, que se organizaram<br />

<strong>de</strong> acordo com os seus clãs. Estas milícias têm-<br />

‐se mantido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, envolvidas em lutas<br />

permanentes entre elas. A anarquia impera em<br />

quase todo o país, com excepção para duas zonas,<br />

Somaliland a noroeste e Puntland a nor<strong>de</strong>ste,<br />

on<strong>de</strong> ainda existem alguns resquícios <strong>de</strong> lei e<br />

or<strong>de</strong>m. Ultimamente, a governação da Somália<br />

tem sido assegurada por um Governo Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Transição 1 , estabelecido em Outubro <strong>de</strong> 2004<br />

em Mombaça no Quénia.<br />

A sua actual população ronda os 10 milhões<br />

<strong>de</strong> habitantes, que se agrupam essencialmente<br />

em 5 gran<strong>de</strong>s famílias <strong>de</strong> clãs (Hawiye, Isaak,<br />

Darod, Rahanwein e Dir), que por sua vez se<br />

subdivi<strong>de</strong>m em <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> sub-clãs. Este país<br />

apresenta uma das maiores taxas anuais <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong><br />

do mundo, que se estima em 44 nascimentos<br />

por cada 1000 habitantes; em média<br />

cada mulher somali tem entre 6 a 7 filhos. A população<br />

da Somália é consi<strong>de</strong>rada jovem, sendo<br />

a sua média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 17 anos e a sua esperança<br />

<strong>de</strong> vida à nascença <strong>de</strong> 50 anos.<br />

A pirataria ao longo da costa da Somália é o<br />

resultado do ambiente permissivo que se vive<br />

neste país, e que resulta da sua actual situação<br />

<strong>de</strong> Estado falhado, incapaz <strong>de</strong> restabelecer a<br />

lei e a or<strong>de</strong>m, o que propicia o aumento das<br />

activida<strong>de</strong>s ilegais, quer em terra, quer no mar.<br />

Neste último, <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> monitorização<br />

e patrulhamento 2 , estas activida<strong>de</strong>s tomaram a<br />

forma <strong>de</strong> pesca ilegal, contrabando, Pirataria<br />

Marítima, etc.<br />

Des<strong>de</strong> 1991 que os pescadores somalis foram<br />

assistindo, <strong>de</strong> forma impotente, ao esgotar dos<br />

seus recursos piscatórios por parte dos seus congéneres<br />

estrangeiros, que têm vindo a exercer a<br />

activida<strong>de</strong> da pesca nas suas águas, sem autorização<br />

e por vezes com equipamento proibido.<br />

Muitas das embarcações <strong>de</strong> pesca somalis, <strong>de</strong><br />

20 JULHO 2009 • Revista da Armada<br />

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Foto NATO<br />

O N.R.P. “Corte-Real”, navio chefe da SNMG1.<br />

fabrico artesanal, ao enfrentarem os barcos <strong>de</strong><br />

pesca forasteiros, com um <strong>de</strong>slocamento muito<br />

superior, foram abalroadas e afundadas. Consta<br />

que a frustração <strong>de</strong>sses pescadores os levou a<br />

que muitos <strong>de</strong>les se <strong>de</strong>dicassem à Pirataria Marítima,<br />

procurando nesta uma forma alternativa<br />

<strong>de</strong> vingança e <strong>de</strong> sustento.<br />

Outro factor que po<strong>de</strong> ter contribuído para<br />

o aumento da pirataria nestas águas, foi o Tsunami<br />

<strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2004, que se fez<br />

sentir com muita intensida<strong>de</strong> ao longo da costa<br />

<strong>de</strong>ste país, matando entre 40 a 50 mil pessoas e<br />

<strong>de</strong>vastando vilas inteiras. Como resultado <strong>de</strong>ste<br />

acontecimento milhares <strong>de</strong> somalis per<strong>de</strong>ram os<br />

seus bens, nomeadamente aqueles que lhes permitiam<br />

o seu sustento, as suas embarcações <strong>de</strong><br />

pesca. A Pirataria Marítima po<strong>de</strong> ter sido vista,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, como uma solução para a sobrevivência<br />

<strong>de</strong>stas populações.<br />

O aumento <strong>de</strong>stes actos ilícitos nas águas da<br />

Somália, po<strong>de</strong> ainda estar relacionado com a<br />

possibilida<strong>de</strong> da pirataria estar a servir <strong>de</strong> fonte<br />

<strong>de</strong> financiamento para o terrorismo, pois um<br />

dos grupos islamitas insurgentes, muito activo<br />

neste país, é consi<strong>de</strong>rado como tendo ligações<br />

à Al-Qaeda, no entanto isto não passa <strong>de</strong> uma<br />

mera suposição, sem suporte crível até à presente<br />

data.<br />

Os ataques aos navios mercantes, por parte<br />

dos piratas somalis, que até há uns anos atrás<br />

eram efectuados a poucas milhas <strong>de</strong> terra e com<br />

armas brancas, actualmente tomaram outras<br />

proporções, ou seja são efectuados a distâncias<br />

muito maiores da costa, já tendo chegado às<br />

700 milhas, e são sempre com o uso <strong>de</strong> armas<br />

<strong>de</strong> fogo. Esta mudança no Modus Operandi dos<br />

piratas, em muito se <strong>de</strong>ve ao facto <strong>de</strong> estes terem<br />

passado a dispor <strong>de</strong> “navios-mãe” 3 , <strong>de</strong> armas<br />

automáticas, <strong>de</strong> RPG (Rocket Propelled Grena<strong>de</strong>),<br />

<strong>de</strong> telefones via satélite, <strong>de</strong> equipamentos<br />

<strong>de</strong> navegação, <strong>de</strong> barcos <strong>de</strong> fibra com motores<br />

fora <strong>de</strong> borda, etc. A utilização <strong>de</strong> todos estes<br />

meios veio permitir aos piratas uma maior liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> acção, planeamento e perigosida<strong>de</strong> na<br />

execução dos seus actos ilícitos. Assim sendo é<br />

fácil <strong>de</strong> perceber porque é que os ataques, que<br />

inicialmente tinham como alvo as pequenas<br />

embarcações <strong>de</strong> pesca, junto a costa, e posteriormente<br />

os barcos <strong>de</strong> pesca <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>slocamento,<br />

ao largo, se direccionam agora para a<br />

navegação mercante já distante <strong>de</strong> terra.<br />

Aten<strong>de</strong>ndo ao exposto, po<strong>de</strong>-se inferir, ainda<br />

que com um certo grau <strong>de</strong> incerteza, que alguns<br />

clãs estão a virar as suas milícias para o mar, para<br />

através <strong>de</strong> actos <strong>de</strong> pirataria adquirirem dinheiro<br />

<strong>de</strong> uma forma fácil, e que estas po<strong>de</strong>rão estar a<br />

ser formadas, essencialmente, por pescadores<br />

e por antigos militares da <strong>Marinha</strong>, <strong>de</strong>vido aos<br />

seus conhecimentos náuticos.<br />

As operações navais <strong>de</strong><br />

combate à Pirataria Marítima<br />

na Somália<br />

- A operação “Allied Protector”<br />

Esta operação naval está a ser lavada a cabo<br />

pela NATO e é consi<strong>de</strong>rada por esta, como o<br />

seu contributo para o esforço que a comunida<strong>de</strong><br />

internacional está a efectuar em prole do<br />

aumento da segurança das rotas comerciais marítimas<br />

na área do “Corno <strong>de</strong> África”. A NATO<br />

está a utilizar uma força, constituída por navios<br />

<strong>de</strong> diversas nações aliadas, que se tem mantido<br />

empenhada, quer na dissuasão das activida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> pirataria nesta região, quer na protecção da<br />

navegação mercante contra este tipo <strong>de</strong> ilícitos.<br />

Esta força tem a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> Standing NATO<br />

Maritime Group 1 (SNMG1) e é constituída actualmente<br />

por 5 navios, o N.R.P. “Corte-Real”<br />

(Portugal – navio chefe), o HMCS “Winnipeg”<br />

(Canadá), o HNLMS “De Zeven Provinciën”<br />

(Holanda), o ESPS “Blas <strong>de</strong> Lezo” (Espanha) e o<br />

USS “Halyburton” (EUA).<br />

O actual comandante <strong>de</strong>sta força é o Contra-<br />

‐almirante português José Domingos Pereira da<br />

Cunha, tendo a cerimónia <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> posse<br />

ocorrido em El Ferrol – Espanha, em 23 <strong>de</strong><br />

Janeiro <strong>de</strong> 2009. O comando <strong>de</strong>sta força naval<br />

vai alternando entre as várias nações que contribuem<br />

regularmente com navios para esta, como<br />

sejam Portugal, Alemanha, Holanda, Espanha,<br />

Polónia, Noruega, Dinamarca, Reino Unido e<br />

Estados Unidos da América.<br />

Por norma, a SNMG1 costuma actuar no<br />

Oceano Atlântico e no Mar Mediterrâneo, nas<br />

mais diversas missões e nos mais variados cenários<br />

<strong>de</strong> actuação, quer em situações <strong>de</strong> paz,<br />

quer <strong>de</strong> crise e conflito. É a primeira vez que esta<br />

está <strong>de</strong>stacada nas regiões do “Corno <strong>de</strong> África”<br />

e do su<strong>de</strong>ste asiático, o que vem <strong>de</strong>monstrar a<br />

importância que a NATO está a atribuir ao combate<br />

à pirataria nestas áreas.<br />

A operação “Allied Protector” veio dar continuida<strong>de</strong><br />

ao que já havia sido feito pela NATO<br />

durante a operação “Allied Provi<strong>de</strong>r”, que <strong>de</strong>correu<br />

entre 24 <strong>de</strong> Outubro e 12 <strong>de</strong> Dezembro<br />

<strong>de</strong> 2008 no Mar Arábico, na qual participou a<br />

SNMG2, e que permitiu assegurar a entrega <strong>de</strong><br />

30.000 toneladas <strong>de</strong> ajuda humanitária à Somália.<br />

Esta força foi constituída por 7 navios das<br />

seguintes <strong>Marinha</strong>s, italiana, alemã, americana,<br />

grega, turca e britânica e teve como principal<br />

missão escoltar os navios mercantes <strong>de</strong> apoio ao<br />

“Programa Alimentar Mundial” da ONU, no fornecimento<br />

<strong>de</strong> alimentos à Somália, tendo sido


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PIRATARIA MARÍTIMA – UMA PERSPECTIVA ACTUAL<br />

conduzida pelo Allied Maritime Component<br />

Command em Nápoles – Itália.<br />

- A operação “Atalanta”<br />

Esta operação naval, levada a efeito pela<br />

União Europeia, é a primeira do género conduzida<br />

no âmbito da Política Europeia <strong>de</strong> Segurança<br />

e <strong>de</strong> Defesa. Com uma duração <strong>de</strong> 12 meses<br />

foi lançada formalmente no dia 9 <strong>de</strong> Dezembro<br />

<strong>de</strong> 2008, sendo a sua principal missão o combate<br />

à pirataria ao largo da costa da Somália.<br />

Tem como suporte legal as condições fixadas<br />

pelo direito internacional aplicável, nomeadamente<br />

a Convenção das Nações Unidas sobre<br />

o Direito do Mar e as Resoluções 1814(2008),<br />

1816(2008), 1838(2008) e 1846(2008) do Conselho<br />

<strong>de</strong> Segurança das Nações Unidas (CSNU).<br />

Os seus principais objectivos são:<br />

- a protecção dos navios do “Programa Alimentar<br />

Mundial” que asseguram a ajuda alimentar<br />

para as populações <strong>de</strong>slocadas da Somália;<br />

- a protecção <strong>de</strong> navios mercantes vulneráveis<br />

que navegam nas costas da Somália;<br />

- a dissuasão, a prevenção e a repressão <strong>de</strong><br />

actos <strong>de</strong> pirataria e dos assaltos à mão armada<br />

contra navios ao largo da costa da Somália.<br />

Está a ser empregue nesta operação a European<br />

Union Naval Force (EUNAVFOR), nomeadamente<br />

a Combined Task Force 465 (CTF 465).<br />

O seu comando operacional em terra está a ser<br />

assegurado pelo Contra-almirante Peter Hudson,<br />

da <strong>Marinha</strong> inglesa, no Quartel-General<br />

da NATO em Northwood, situado a noroeste <strong>de</strong><br />

Londres, no Reino Unido. O comando da força<br />

no mar, no período compreendido entre Dezembro<br />

<strong>de</strong> 2008 e 06 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009, esteve<br />

a cargo do Comodoro Antonios Papaioannou,<br />

da <strong>Marinha</strong> grega. Actualmente é o Capitão<strong>de</strong>-Mar-e-<strong>Guerra</strong><br />

Juan Garat Caramé, da <strong>Marinha</strong><br />

espanhola, que <strong>de</strong>sempenha estas funções,<br />

perspectivando-se que no terceiro período <strong>de</strong>sta<br />

operação seja um oficial da <strong>Marinha</strong> holan<strong>de</strong>sa<br />

a assumir esta incumbência.<br />

Têm contribuído, ou irão ainda contribuir,<br />

para a CTF 465, navios e aeronaves <strong>de</strong> patrulha<br />

marítima <strong>de</strong> países como, o Reino Unido,<br />

a França, a Grécia, a Suécia, a Espanha, a Holanda,<br />

a Alemanha, a Bélgica entre outros. Em<br />

31 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2009 esta força era constituída<br />

pelos seguintes meios, ESPS “Numancia” (Navio<br />

chefe) e ESPS “Marques <strong>de</strong> la Ensenada”, <strong>de</strong><br />

Espanha, FGS “Rheinland Pfalz”, FGS “Em<strong>de</strong>n”<br />

e FGS “Berlim”, da Alemanha, FS “Nivose”, FS<br />

“Albatros” e FS “Cmt. Bouan”, da França, HS<br />

“Nikiforos Fokas”, da Grécia, ITS “Maestrale”,<br />

<strong>de</strong> Itália, HSwMS “Trossoe”, HSwMS “Stockholm”<br />

e HSwMS “Malmoe”, da Suécia. Esta<br />

força conta ainda com o apoio <strong>de</strong> 3 aviões <strong>de</strong><br />

patrulha marítima, um espanhol, um alemão e<br />

um francês. Ainda nesta data encontravam-se<br />

a operar com a CTF 465, as seguintes forças,<br />

CTF 410 (SNMG1 - NATO), CTF 150, CTF 151<br />

e CTF 53, assim como os navios “Sazanami”,<br />

“Samidari”, “Tokiwa” e “Akebono”, do Japão,<br />

INS “Talwar”, da Índia, “Admiral Panteleyev”, da<br />

Rússia, “Munmu The Great”, da Coreia do Sul,<br />

KD “Hang Tuah”, da Malásia, HMAS “Ballart”<br />

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e HMAS “Sydney”, da Austrália. A China também<br />

tem alguns navios na área.<br />

O iate francês “Le Ponant” (Foto: Flickr).<br />

O M/V “Faina” (Foto: Eric L. Beauregard).<br />

O M/T “Sirius Star” (Foto: Reuters).<br />

Os números da Pirataria<br />

Marítima em 2008<br />

Durante o último ano, segundo o IMB 4 , registaram-se<br />

293 actos <strong>de</strong> pirataria em todo o<br />

mundo, dos quais 200 (68,2%) resultaram em<br />

ataques consumados, enquanto 93 <strong>de</strong>sses actos<br />

ficaram-se apenas pela tentativa. Apesar do número<br />

<strong>de</strong> ilícitos do ano passado ter sido o mais<br />

elevado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2005, este foi muito inferior aos<br />

valores registados em 2000 (469) e 2003 (445),<br />

anos em que houve o maior número <strong>de</strong> ocorrências<br />

nas últimas 2 décadas. Dos 293 ilícitos<br />

registados, 92 (31,4%) tiveram lugar no Golfo<br />

<strong>de</strong> A<strong>de</strong>m, 40 (13,6%) na Nigéria, 28 (9,5%) na<br />

Indonésia e 19 (6,5%) na bacia da Somália,<br />

ou seja apenas 4 locais representaram cerca<br />

<strong>de</strong> 61% do total <strong>de</strong>stes actos. Ao contrário do<br />

que muitos possam pensar, os ataques <strong>de</strong> pirataria<br />

não se dão apenas com os navios a navegar,<br />

pois dos 200 que foram consumados, 95<br />

(47,5%) tiveram lugar com os navios atracados<br />

e 17 (8,5%) com eles fun<strong>de</strong>ados, o que perfaz<br />

112 (56%) ataques nestas 2 últimas condições.<br />

Os portos e fun<strong>de</strong>adouros com mais inci<strong>de</strong>ntes<br />

reportados estão situados nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Lagos,<br />

na Nigéria, <strong>de</strong> Dar es Salaam, na Tanzânia e <strong>de</strong><br />

Chittagong, no Bangla<strong>de</strong>sh, tendo ocorrido nestes,<br />

respectivamente 22, 12 e 11 ataques.<br />

Em 2008 houve também um aumento muito<br />

significativo do uso da força durante os ataques,<br />

pois enquanto em 2007, dos 263 inci<strong>de</strong>ntes registados,<br />

só em 72 se tinham utilizado armas <strong>de</strong><br />

fogo, no ano passado esse número subiu para<br />

193 (65,8%), o que vem mostrar como os piratas<br />

se estão a tornar cada vez mais violentos na<br />

abordagem dos navios. Como consequência directa,<br />

o número <strong>de</strong> sequestros conseguidos, quer<br />

<strong>de</strong> navios (49), quer dos seus tripulantes (889) foi<br />

o maior <strong>de</strong> sempre dos últimos 20 anos. Só os piratas<br />

somalis contribuíram para os sequestros <strong>de</strong><br />

42 (85,7%) navios e 815 (91,6%) tripulantes.<br />

No que respeita ao tipo <strong>de</strong> navios mais atacados,<br />

são os porta contentores os mais procurados,<br />

com 16,7% (49) do total, seguidos dos graneleiros<br />

com 16,4% (48) e dos navios-tanque <strong>de</strong><br />

transporte <strong>de</strong> químicos com 13,3% (39). O facto<br />

<strong>de</strong>stes 3 tipos <strong>de</strong> navio serem os mais atacados<br />

está directamente relacionado com as suas velocida<strong>de</strong>s<br />

e/ ou com as alturas das obras mortas,<br />

pois normalmente os piratas só escolhem navios<br />

com velocida<strong>de</strong>s inferiores a 16 nós e/ ou obras<br />

mortas inferiores a 8m.<br />

Em relação aos países <strong>de</strong> registo dos navios, os<br />

mais afectados foram o Panamá com 52 (17,7%)<br />

navios atacados, Singapura com 25 (8,5%) e a Libéria<br />

com 19 (6,4%). Um dado digno <strong>de</strong> registo<br />

é o facto <strong>de</strong> que, dos 52 navios <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>ira panamiana<br />

atacados apenas 2 são <strong>de</strong> armadores<br />

panamianos, utilizando todos os restantes este<br />

país como ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> conveniência.<br />

Os casos mais mediáticos<br />

<strong>de</strong> 2008<br />

- O iate “Le Ponant”<br />

Em 04 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2008 o iate <strong>de</strong> luxo francês<br />

“Le Ponant”, <strong>de</strong> 88 metros <strong>de</strong> comprimento,<br />

quando se encontrava a cruzar o Golfo <strong>de</strong><br />

A<strong>de</strong>m, na posição 13:12N e 050:14E, foi abordado<br />

por piratas somalis armados, que se faziam<br />

<strong>de</strong>slocar em 2 embarcações <strong>de</strong> alta velocida<strong>de</strong>.<br />

Estes atacaram e sequestraram o navio e tornaram<br />

reféns os 30 membros da sua tripulação. O<br />

navio foi levado para a costa da Somália, on<strong>de</strong><br />

se seguiu uma semana <strong>de</strong> intensas negociações,<br />

que terminaram, sem inci<strong>de</strong>ntes, com a entrega<br />

dos reféns em 11 <strong>de</strong> Abril, a militares franceses,<br />

em troca <strong>de</strong> um resgate, não divulgado. Após a<br />

libertação dos reféns, uma equipa <strong>de</strong> comandos<br />

franceses seguiu os piratas em terra, utilizando<br />

um helicóptero, até um local remoto em Puntland,<br />

no nor<strong>de</strong>ste da Somália, conseguindo aí<br />

capturar seis piratas.<br />

- O M/V “Faina”<br />

No dia 25 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 2008, pelas 16:00<br />

locais, foi sequestrado o navio <strong>de</strong> carga ucraniano<br />

M/V “Faina”, <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>ira do Belize, na posição<br />

02:10N-050:40E, a cerca <strong>de</strong> 280 milhas náuticas<br />

a leste da capital da Somália, Mogadishu, com<br />

uma tripulação <strong>de</strong> 20 elementos (17 ucranianos,<br />

2 russos e 1 letão). Este navio, do tipo RO-RO<br />

(Roll-On/Roll-Off), com 162,1m <strong>de</strong> comprimento,<br />

transportava 5 na altura, entre outro material,<br />

33 tanques T-72, lançadores <strong>de</strong> granadas e mu-<br />

Revista da Armada • JULHO 2009 21


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PIRATARIA MARÍTIMA – UMA PERSPECTIVA ACTUAL<br />

nições. Para consumarem o sequestro, os piratas<br />

utilizaram 3 skiffs e diversas espingardas automáticas.<br />

O navio foi posteriormente levado para<br />

a costa leste da Somália, tendo ficado fun<strong>de</strong>ado<br />

perto da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hobyo, tendo sido sempre vigiado<br />

<strong>de</strong> perto por navios da <strong>Marinha</strong> americana,<br />

que asseguraram que a sua carga não fosse <strong>de</strong>scarregada<br />

e que <strong>de</strong>sta forma não caísse nas mãos<br />

dos islamistas extremistas. Este navio foi libertado<br />

em 5 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2009, após o pagamento<br />

<strong>de</strong> um resgate, que se estima <strong>de</strong> 3,2 milhões <strong>de</strong><br />

dólares, valor muito abaixo dos 20 milhões que<br />

se pensa terem sido pedidos inicialmente.<br />

- O M/T “Sirius Star”<br />

Este superpetroleiro, <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>ira liberiana,<br />

foi sequestrado em 15 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2008,<br />

pelas 07:23 GMT (Greenwich Mean Time), por<br />

piratas somalis, na posição 04:41S - 048:43E,<br />

cerca <strong>de</strong> 445 milhas náuticas a su<strong>de</strong>ste do porto<br />

<strong>de</strong> Baraawe, na costa leste da Somália. Quando<br />

foi abordado navegava na sua rota entre a Arábia<br />

Saudita e os EUA, através do Cabo da Boa Esperança,<br />

com uma carga <strong>de</strong> cru<strong>de</strong> equivalente a 2<br />

milhões <strong>de</strong> barris, avaliada em 100 milhões <strong>de</strong><br />

dólares. Este navio, com uma tripulação <strong>de</strong> 25<br />

elementos (2 britânicos, 2 polacos, 1 croata, 1<br />

saudita e 19 filipinos) e com cerca <strong>de</strong> 332m <strong>de</strong><br />

comprimento e 58m <strong>de</strong> boca, construído em<br />

2008, foi o maior navio, até hoje, sequestrado<br />

por piratas. Foi libertado no dia 9 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong><br />

2009, após o pagamento <strong>de</strong> um resgate, que se<br />

estima <strong>de</strong> 3 milhões <strong>de</strong> dólares.<br />

“The state of the art” no<br />

combate à Pirataria Marítima<br />

Hoje em dia, o número <strong>de</strong> navios sequestrados<br />

por piratas, em <strong>de</strong>terminadas áreas do globo,<br />

tem vindo a aumentar, o que mostra bem como a<br />

navegação mercante está cada vez mais exposta<br />

e in<strong>de</strong>fesa perante os actos <strong>de</strong> Pirataria Marítima.<br />

Torna-se pois indispensável que os armadores<br />

e/ ou tripulações adoptem medidas preventivas<br />

mais eficazes, por forma a minimizarem as vulnerabilida<strong>de</strong>s<br />

existentes. Algumas <strong>de</strong>las já estão<br />

a ser implementadas, como sejam a existência a<br />

bordo <strong>de</strong> câmaras <strong>de</strong> vigilância no exterior, <strong>de</strong><br />

sistemas <strong>de</strong> alerta, <strong>de</strong> mangueiras do circuito <strong>de</strong><br />

incêndios em carga, para utilização imediata no<br />

caso <strong>de</strong> uma tentativa <strong>de</strong> abordagem, etc. Actualmente<br />

e face às proporções que estes actos<br />

ilícitos estão a tomar, já existem empresas <strong>de</strong> segurança<br />

a disponibilizar barcos armados, assim<br />

como mercenários, entre os quais se encontram<br />

Gurkhas reformados, para acompanharem os<br />

navios em locais <strong>de</strong> risco. Também englobados<br />

nestas medidas preventivas, os armadores já têm<br />

ao seu dispor os sistemas Secure-Ship, ShipLoc e<br />

Long Range Acoustic Device.<br />

- O sistema Secure-Ship<br />

Este sistema, <strong>de</strong>signado por “navio-seguro”, é<br />

uma das mais recentes e efectivas inovações no<br />

combate à Pirataria Marítima, consistindo numa<br />

cerca electrificada, que utiliza uma tensão intermitente<br />

<strong>de</strong> 9000 volt.<br />

Esta cerca é em tudo semelhante às que protegem<br />

as instalações militares e é instalada na<br />

22 JULHO 2009 • Revista da Armada<br />

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borda falsa, ao redor do navio. Qualquer intruso,<br />

em contacto com esta, apanha um choque<br />

eléctrico, não-letal, que o obrigará a abortar a<br />

sua iniciativa <strong>de</strong> entrada no navio. Esse contacto,<br />

por sua vez, irá activar um alarme, acen<strong>de</strong>r<br />

diversos projectores ao longo do navio e fazer<br />

tocar uma sirene <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> intensida<strong>de</strong>. O IMB<br />

recomenda vivamente que os armadores instalem<br />

este sistema a bordo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o mesmo<br />

seja viável. O sistema Secure-Ship também se<br />

encontra disponível para navios <strong>de</strong> pequeno<br />

<strong>de</strong>slocamento.<br />

- O sistema ShipLoc<br />

Actualmente, existem muitos sistemas credíveis<br />

que permitem a localização e seguimento<br />

dos navios, via satélite. O IMB, <strong>de</strong> entre os vários<br />

existentes, aprovou o ShipLoc. Este sistema<br />

é muito fiável e acessível em termos <strong>de</strong> custo,<br />

permitindo aos armadores, apenas com um<br />

computador e acesso à Internet, monitorizar<br />

O dispositivo acústico LRAD.<br />

Uma dazzle gun (Foto: U.S. Air Force).<br />

com exactidão a localização dos seus navios<br />

em qualquer parte do mundo. O ShipLoc está<br />

<strong>de</strong> acordo com o Capítulo XI-2/6 do Regulamento<br />

SOLAS 6 , nomeadamente no que respeita<br />

ao sistema <strong>de</strong> alerta <strong>de</strong> segurança dos navios<br />

(Ship Security Alert System). Este Regulamento<br />

exige que todos os navios com uma arqueação<br />

bruta superior a 500 estejam equipados com<br />

este sistema <strong>de</strong> alerta. Qualquer membro da<br />

tripulação, em caso <strong>de</strong> perigo, po<strong>de</strong> activá-lo<br />

através <strong>de</strong> um botão, enviando este, automaticamente,<br />

um sinal <strong>de</strong> socorro para o armador<br />

e para as autorida<strong>de</strong>s competentes, não sendo<br />

este <strong>de</strong>tectado por ninguém a bordo, nem pelos<br />

navios nas redon<strong>de</strong>zas.<br />

- O Long Range Acoustic Device (LRAD)<br />

Este dispositivo acústico <strong>de</strong> longa distância foi<br />

<strong>de</strong>senvolvido pela American Technology Corporation,<br />

após o ataque, em Outubro do ano 2000,<br />

ao navio <strong>de</strong> guerra americano USS “Cole”. Foi<br />

concebido para ser usado pelos navios <strong>de</strong> guerra<br />

americanos, como arma não-letal, para evitar<br />

que pequenas embarcações se aproximassem<br />

sem autorização. Este equipamento, cujo alcance<br />

máximo se situa nos 300 metros, emite um som<br />

direccionado que po<strong>de</strong>, no seu volume máximo,<br />

atingir cerca <strong>de</strong> 150dbSPL 7 por metro, o que é o<br />

suficiente para causar danos irreversíveis na audição,<br />

uma vez que o limiar da dor, para a audição<br />

humana, se situa entre os 120 e os 140 db.<br />

A utilização <strong>de</strong> protectores auriculares po<strong>de</strong> minimizar<br />

os efeitos <strong>de</strong>ste equipamento.<br />

O cruzeiro <strong>de</strong> luxo, “Seabourn Spirit”, usou<br />

um LRAD para dissuadir os piratas que o atacaram<br />

com RPG e rajadas <strong>de</strong> AK-47, aproximadamente<br />

a 100 milhas náuticas da costa da Somália,<br />

em 5 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2005. A eficácia do<br />

dispositivo não ficou provada, contudo os piratas<br />

falharam a abordagem.<br />

Para além dos sistemas atrás <strong>de</strong>scritos existem<br />

outros, ainda em <strong>de</strong>senvolvimento, que po<strong>de</strong>rão<br />

vir a ter aplicação prática no combate à pirataria.<br />

Um exemplo dum sistema <strong>de</strong>sses são as armas<br />

não-letais <strong>de</strong> flashes (dazzle guns), criadas em<br />

2005, por uma agência da Força Aérea americana.<br />

Estas produzem um feixe laser, cujos flashes<br />

provocam cegueira momentânea e <strong>de</strong>sorientação.<br />

Se uma <strong>de</strong>stas armas for disparada contra os<br />

olhos <strong>de</strong> alguém, por exemplo dos piratas, torna-<br />

‐se impossível estes prosseguirem o seu ataque,<br />

pois não po<strong>de</strong>m atacar o que não vêem.<br />

As armas <strong>de</strong> microondas são outro dos tipos<br />

<strong>de</strong> arma não-letal que se encontram em <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Estas actuam provocando o aquecimento<br />

da pele, causando um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto,<br />

contudo o seu efeito é momentâneo e não<br />

causa lesões futuras.<br />

<br />

H. Portela Gue<strong>de</strong>s<br />

CFR<br />

Notas<br />

1<br />

O actual presi<strong>de</strong>nte é o Sheikh SHARIF Sheikh Ahmed,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2009, e o primeiro-ministro<br />

é Omar Abdirashid Ali SHARMARKE, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> Fevereiro<br />

<strong>de</strong> 2009;<br />

2<br />

A <strong>Marinha</strong> da Somália, fundada em 1965, com o auxílio<br />

da ex-União Soviética (URSS), era formada por diversas<br />

lanchas rápidas <strong>de</strong> fabrico soviético, armadas com mísseis e<br />

torpedos. Logo após a ex-URSS retirar os seus técnicos <strong>de</strong>ste<br />

país, em 1977, rapidamente todos estes meios ficaram inoperacionais.<br />

Em 1991 dá-se a extinção da própria <strong>Marinha</strong>,<br />

não se conhecendo o <strong>de</strong>stino dos seus militares;<br />

3<br />

São os navios utilizados pelos piratas para se <strong>de</strong>slocarem<br />

até perto dos seus alvos. Utilizam estes para transporte<br />

das suas lanchas <strong>de</strong> alta velocida<strong>de</strong>, que são <strong>de</strong>pois colocadas<br />

na água para o ataque final aos navios mercantes;<br />

4<br />

O International Maritime Bureau (IMB) foi estabelecido<br />

pela International Chamber of Commerce, que é uma<br />

Organização internacional fundada em 1919, que trabalha<br />

para promover e suportar o comércio internacional e<br />

a globalização;<br />

5<br />

Segundo o Ministro da Defesa ucraniano Yuri Yekhanurov,<br />

citado pela agência <strong>de</strong> notícias ucraniana Interfax;<br />

6<br />

Regulamento adoptado pela IMO na sua conferência<br />

diplomática <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2002;<br />

7<br />

SPL - Sound Pressure Level.<br />

Bibliografia<br />

Piracy and Armed Robbery Against Ships: Annual Report<br />

2008. United Kingdom: ICC International Maritime<br />

Bureau [2009].<br />

International Maritime Bureau. Disponível em http://<br />

www.icc-ccs.org. Acedido em 262200MAI09.<br />

International Maritime Organization. Disponível em<br />

http://www.imo.org. Acedido em 252130MAI09.


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PIRATARIA MARÍTIMA – UMA PERSPECTIVA ACTUAL<br />

Pirataria – um combate difícil<br />

“Na costa da Somália, o navio <strong>de</strong><br />

guerra actuou, evitando um<br />

ataque <strong>de</strong> piratas sobre um navio<br />

mercante, os presumíveis piratas ren<strong>de</strong>ram-se,<br />

foram <strong>de</strong>sarmados e, após i<strong>de</strong>ntificação,<br />

foram colocados em liberda<strong>de</strong>”.<br />

Esta e outras afirmações semelhantes têm<br />

sido lidas e ouvidas com muita frequência<br />

nos órgãos <strong>de</strong> comunicação social. À<br />

perplexida<strong>de</strong> provocada pelo crescimento<br />

do fenómeno da pirataria em pleno século<br />

XXI, juntam-se inúmeras interrogações sobre<br />

os factos e o seu enquadramento<br />

legal, e que aqui, <strong>de</strong> uma forma<br />

necessariamente sucinta, nos propomos<br />

abordar.<br />

Os longos 3025 Km da costa da<br />

Somália, on<strong>de</strong> se inclui o golfo <strong>de</strong><br />

Adém, uma das mais importantes<br />

rotas comerciais do mundo, têm<br />

sido patrulhados por cerca <strong>de</strong> 40<br />

navios <strong>de</strong> guerra pertencentes à<br />

União Europeia (Operação Atalanta),<br />

à NATO, a uma força internacional<br />

(CTF 151) li<strong>de</strong>rada pelos EUA<br />

e a diversos países como a Rússia,<br />

a Índia, a China, a Malásia e o Japão,<br />

entre outros. Portugal comanda<br />

a força NATO, da qual a fragata<br />

N.R.P. “Corte-Real” é o navio-chefe.<br />

Estes navios têm a sua actuação enquadrada,<br />

essencialmente, pelo Direito<br />

Internacional (DI), para além<br />

da legislação nacional. Com efeito,<br />

<strong>de</strong> acordo com a Convenção<br />

das Nações Unidas sobre o Direito<br />

do Mar (CNUDM), constitui pirataria<br />

todo o acto ilícito <strong>de</strong> violência<br />

ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>tenção, ou todo o acto <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>predação (pilhagem) cometido,<br />

para fins privados, pela tripulação<br />

ou pelos passageiros <strong>de</strong> um navio,<br />

e dirigidos contra um navio em alto<br />

mar ou pessoas ou bens a bordo dos mesmos.<br />

Ainda conforme esta Convenção, o<br />

comandante do navio <strong>de</strong> guerra tem legitimida<strong>de</strong><br />

para actuar, quando na presença<br />

<strong>de</strong> um acto <strong>de</strong> pirataria, e existe um <strong>de</strong>ver<br />

<strong>de</strong> todos os Estados cooperarem na repressão<br />

<strong>de</strong>ste ilícito.<br />

Neste contexto, po<strong>de</strong> afirmar-se que o<br />

DI conce<strong>de</strong> aos Estados legitimida<strong>de</strong> para<br />

punir actos <strong>de</strong> pirataria, consi<strong>de</strong>rada uma<br />

ofensa hedionda. No entanto, a Convenção<br />

não os <strong>de</strong>clara criminosos, pelo que a<br />

competência permitida pelo DI tem <strong>de</strong> ser<br />

legislada internamente. Neste sentido, é<br />

necessário que o crime <strong>de</strong> pirataria esteja<br />

tipificado como tal na legislação penal nacional<br />

e que seja consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> jurisdição<br />

universal, i.e. que permita julgar estes actos,<br />

on<strong>de</strong> quer que eles ocorram, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

<strong>de</strong> estar um cidadão nacional<br />

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ARQUITECTURA INDO-PORTUGUESA na região <strong>de</strong> Cochin e Kerala – Hel<strong>de</strong>r Carita<br />

envolvido como agente ou como vítima.<br />

Ora, em gran<strong>de</strong> parte dos países europeus,<br />

incluindo Portugal, o acto <strong>de</strong> pirataria não<br />

está tipificado como crime no or<strong>de</strong>namento<br />

jurídico interno, pelo que só po<strong>de</strong>mos<br />

punir se os actos praticados pelos piratas<br />

po<strong>de</strong>rem ser subsumidos a outros tipos <strong>de</strong><br />

crime: captura ou <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> navio, crime<br />

contra a segurança <strong>de</strong> transporte, homicídio,<br />

ofensas à integrida<strong>de</strong> física, roubo,<br />

rapto, entre outros. Neste caso, com a dificulda<strong>de</strong><br />

acrescida <strong>de</strong> nenhum dos crimes<br />

Representação <strong>de</strong> piratas “NOUTA QUE SÃO LADRÕES QUE ANDÃO<br />

ARROBAR PELO MAR”.<br />

Biblioteca Casanatense <strong>de</strong> Roma, Códice 1889, Fol. 36. Séc. XVI.<br />

ser <strong>de</strong> jurisdição universal, o que tem como<br />

consequência que só po<strong>de</strong>mos julgar se o<br />

ilícito se concretizar a bordo <strong>de</strong> um navio<br />

<strong>de</strong> pavilhão Português, ou se um cidadão<br />

Português for agente ou vítima do crime.<br />

Como referido, não estando em causa a<br />

legitimida<strong>de</strong> para actuar que <strong>de</strong>corre, não<br />

só da CNUDM, como da própria figura da<br />

legítima <strong>de</strong>fesa, que nos permite <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

quando estamos na presença <strong>de</strong> uma<br />

agressão ilícita, em execução ou iminente,<br />

contra nós ou contra terceiro, há contudo<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar ferramentas jurídicas<br />

para que se possam julgar os piratas. As dificulda<strong>de</strong>s<br />

resultantes do escasso enquadramento<br />

penal <strong>de</strong>sta matéria reflectem-se no<br />

acto da <strong>de</strong>tenção do agente. Assim, se não<br />

estiver em causa um cidadão português ou<br />

factos praticados a bordo <strong>de</strong> um navio <strong>de</strong><br />

pavilhão português, a <strong>de</strong>tenção só se po<strong>de</strong>rá<br />

efectuar se: (1) For possível extraditar<br />

para um país que tenha legitimida<strong>de</strong> para<br />

julgar (caso tenha sido atacado um seu nacional<br />

ou um navio com o seu pavilhão);<br />

(2) Forem utilizados shipri<strong>de</strong>rs - transporte<br />

a bordo <strong>de</strong> uma equipa <strong>de</strong> polícia do Estado<br />

costeiro, que aborda e <strong>de</strong>tém os piratas,<br />

entregando-os ao seu país; (3) For celebrado<br />

um Acordo Internacional para entrega<br />

dos <strong>de</strong>tidos a um Estado que se disponibilize<br />

para os julgar (caso do Quénia com o<br />

Reino Unido, EUA e União Europeia – só<br />

para navios que integram a Operação<br />

Atalanta); (4) For criado um<br />

tribunal internacional ad hoc que<br />

julgue os agentes <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> crime.<br />

Sobra-nos ainda a hipótese <strong>de</strong>,<br />

após a actuação que evite a concretização<br />

do crime, a <strong>de</strong>tenção<br />

ser efectuada por um navio próximo,<br />

cujo país tenha jurisdição universal<br />

relativa ao crime <strong>de</strong> pirataria<br />

ou Acordo Internacional com um<br />

país da região.<br />

Por fim, resta mencionar duas<br />

questões significativas: a actuação<br />

dos navios <strong>de</strong> guerra no mar territorial<br />

(MT) da Somália e o uso da<br />

força. Como já foi referido, os actos<br />

<strong>de</strong> pirataria só ocorrem em alto mar,<br />

pelo que os actos similares, <strong>de</strong>signados<br />

por “assalto à mão armada<br />

contra navios”, praticados <strong>de</strong>ntro<br />

do MT <strong>de</strong> um Estado são da competência<br />

das autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse Estado<br />

costeiro. No caso da Somália,<br />

com a concordância do seu Transitional<br />

Fe<strong>de</strong>ral Government, foram<br />

aprovadas quatro Resoluções do<br />

Conselho <strong>de</strong> Segurança das Nações<br />

Unidas (RCSNUs - 1816 (2JUN),<br />

1838 (7OUT), 1846 (2DEZ) e 1851<br />

(16DEZ), todas <strong>de</strong> 2008) que permitem<br />

a entrada no MT da Somália para<br />

reprimir este tipo <strong>de</strong> actos.<br />

No que diz respeito ao uso da força, esta<br />

<strong>de</strong>ve ser empregue em conformida<strong>de</strong> com<br />

o DI. Os princípios da necessida<strong>de</strong> e proporcionalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados,<br />

tendo sempre em atenção que os meios<br />

usados terão <strong>de</strong> ser a<strong>de</strong>quados aos fins,<br />

empregando o método disponível menos<br />

lesivo, mas eficaz, evitando-se excessos<br />

durante a intervenção. Os militares têm directivas<br />

sobre a utilização da força (regras<br />

<strong>de</strong> empenhamento), enquadradas pelo DI<br />

e pelas RCSNUs, que lhes permitem tomar<br />

todas as medidas necessárias em conformida<strong>de</strong><br />

com o Direito Internacional Humanitário<br />

e com os Direitos Humanos.<br />

<br />

A. Neves Correia<br />

CFR<br />

Revista da Armada • JULHo 2009 23


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TOMADAS DE POSSE<br />

PRESIDENTE DO CONSELHO SUPERIOR DE DISCIPLINA DA ARMADA<br />

Foto Júlio Tito<br />

l Realizou-se em 12MAI09 no<br />

Gabinete do ALM CEMA a tomada<br />

<strong>de</strong> posse do VALM Me<strong>de</strong>iros<br />

Alves como Presi<strong>de</strong>nte do<br />

Conselho Superior <strong>de</strong> Disciplina<br />

da Armada, tendo substituído o<br />

VALM Pires Neves. Assistiram<br />

vários oficiais-generais incluindo<br />

os que fazem ou fizeram parte do<br />

Conselho, bem como vários oficiais<br />

e pessoal do Gabinete.<br />

Na ocasião foi con<strong>de</strong>corado o<br />

anterior Presi<strong>de</strong>nte, VALM Pires<br />

Neves com a medalha <strong>de</strong> Serviços<br />

Distintos-Ouro, pelo ALM CEMA tendo-se <strong>de</strong> seguida efectuado<br />

a tomada <strong>de</strong> posse do novo Presi<strong>de</strong>nte.<br />

O ALM CEMA usou da palavra para elogiar o anterior Presi<strong>de</strong>nte<br />

e perspectivando numas breves palavras as principais orientações<br />

para aquele órgão.<br />

Por último usou da palavra o empossado <strong>de</strong> que se realça:<br />

“ ... Tenho o entendimento que nesta ocasião e local importa, por se inserir<br />

a<strong>de</strong>quadamente no circunstancialismo, reflectir sobre o envolvimento<br />

da temática disciplinar nos termos que passo a referir.<br />

No enquadramento actual das missões atribuídas e da condução das<br />

operações, os militares da <strong>Marinha</strong> têm que lidar e conjugar empenhamentos<br />

com militares conscritos, com militares voluntários e com contratados<br />

pelo Estado, como prestadores <strong>de</strong> serviços, a fim <strong>de</strong> serem empenhados<br />

militarmente, bem como com outros militares não pertencentes às Forças<br />

Armadas, <strong>de</strong>tendo regimes disciplinares<br />

próprios e enquadramentos<br />

específicos, o que constituem, claramente,<br />

novos elementos a serem consi<strong>de</strong>rados<br />

no contexto da segurança<br />

nacional e consequentemente na <strong>de</strong>fesa<br />

nacional, nomeadamente no que<br />

se refere à sua componente <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

militar e ao correspon<strong>de</strong>nte relacionamento<br />

institucional com e entre<br />

servidores militares do Estado.<br />

O VALM Luís da Franca <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros<br />

Alves frequentou o Curso <strong>de</strong> <strong>Marinha</strong><br />

da EN sendo promovido a G/M em Janeiro <strong>de</strong> 1968.<br />

Especializou-se em Comunicações e Hidrografia e possui, entre outros,<br />

CGNG e CSNG, os cursos “Hidrographic Surveying Coastal Oceanography”.<br />

Esteve embarcado em várias UN’s tendo <strong>de</strong>sempenhado funções <strong>de</strong> Chefe<br />

<strong>de</strong> Serv. <strong>de</strong> Navegação, IC, Educação Física e Comunicações NRP “Cte<br />

Hermenegildo Capelo” e Chefe do Serv. <strong>de</strong> Comunicações do NRP “Cte Roberto<br />

Ivens”.<br />

Em terra foi Chefe das BH Nº 1 e Nº 2 e Adj. do Chefe <strong>de</strong> Levantamentos<br />

Hidrográficos no IH, Chefe da Secção <strong>de</strong> Efectivos e Carreira Naval da<br />

DSP-2ª Rep, Adj. <strong>de</strong> <strong>Marinha</strong> da Rep. <strong>de</strong> Operações e Chefe do Sub-Registo<br />

OTAN no Comando Chefe das FA da Ma<strong>de</strong>ira, Adj. da 5ª Secção da 1ª Div.<br />

do EMA, Chefe da Div. <strong>de</strong> Levantamentos Hidrográficos, Chefe da Div. <strong>de</strong><br />

Log. do Material do EMA, Adj. do VALM SSM e “HC-8 Assistant Chief of<br />

Staff Resources” no SACLANT.<br />

Foi Director-Geral da Autorida<strong>de</strong> Marítima até JUL08.<br />

Da sua folha <strong>de</strong> serviço constam vários louvores e con<strong>de</strong>corações.<br />

l No passado dia 2 <strong>de</strong> Abril, em<br />

cerimónia realizada no gabinete<br />

do DSP, CALM Bonifácio Lopes,<br />

e por ele presidida, tomou posse o<br />

novo Chefe da Repartição <strong>de</strong> Reservas<br />

e Reformados, CMG RES<br />

Alves dos Santos, que substituiu<br />

naquelas funções o CMG RES<br />

Cunha Serra.<br />

Na referida cerimónia estiveram<br />

presentes diversos Oficiais,<br />

Sargentos e Praças e ainda Civis<br />

a prestar serviço na Direcção do<br />

Serviço <strong>de</strong> Pessoal.<br />

O Comandante Alves dos Santos<br />

proferiu algumas palavras agra<strong>de</strong>cendo a confiança pessoal e institucional<br />

que o CALM DSP nele <strong>de</strong>positou quando o convidou para<br />

assumir o cargo, e apontou algumas condicionantes conjunturais à<br />

capacida<strong>de</strong> plena <strong>de</strong> resposta da Repartição, sempre na expectativa<br />

<strong>de</strong> que, com <strong>de</strong>dicação, bom senso e o apoio dos militares e civis que<br />

com ele irão trabalhar, venha a ser total merecedor daquele seu crédito<br />

<strong>de</strong> confiança<br />

De seguida, o CALM DSP, manifestando a consi<strong>de</strong>ração e estima<br />

pessoal ao oficial cessante, dirigiu-lhe palavras <strong>de</strong> elevado apreço institucional<br />

pelo trabalho <strong>de</strong>senvolvido ao longo dos últimos três anos à<br />

frente daquela Repartição, publicamente reconhecido pela atribuição<br />

<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>nte louvor, <strong>de</strong>stacando o modo leal, <strong>de</strong>terminado, solidário<br />

e profissional como cumpriu a missão atribuída.<br />

Por último, o CALM Bonifácio Lopes dirigiu algumas breves palavras<br />

ao empossado no cargo, referindo nomeadamente que as qualida<strong>de</strong>s<br />

pessoais e profissionais do Comandante Alves dos Santos constituem<br />

24 JuLho 2009 • Revista da Armada<br />

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CHEFE DA REPARTIÇÃO DE RESERVAS E REFORMADOS<br />

uma garantia <strong>de</strong> que as respostas que<br />

encontrará para enfrentar os <strong>de</strong>safios<br />

serão as mais pon<strong>de</strong>radas, a<strong>de</strong>quadas e<br />

exequíveis, face à conjuntura actual e<br />

apontou ainda algumas linhas <strong>de</strong><br />

orientação para a futura acção do<br />

Chefe da Repartição <strong>de</strong> Reservas<br />

e Reformados: Antecipar o Planeamento;<br />

Promover o rigor e a transparência<br />

na execução dos actos <strong>de</strong> gestão<br />

do seu âmbito; Promover a eventual<br />

reorganização interna julgada necessária<br />

à mo<strong>de</strong>rnização efectiva dos processos<br />

e das condições <strong>de</strong> trabalho.<br />

O CMG JOSÉ ALBERTO ALVES DOS SANTOS frequentou o Curso <strong>de</strong> <strong>Marinha</strong><br />

da Escola Naval que terminou em 1976.<br />

Especializou-se em Comunicações e possui, entre outros, o Curso Geral<br />

Naval <strong>de</strong> <strong>Guerra</strong> e o Curso Complementar Naval <strong>de</strong> <strong>Guerra</strong>.<br />

Esteve embarcado em várias Unida<strong>de</strong>s Navais, tendo comandado o N.R.P.<br />

“DOM JEREMIAS”. Foi Oficial Imediato dos N.R.P. “MANDOVI”, “AUGUS-<br />

TO CASTILHO” e “GEN. PEREIRA D’EÇA” e exerceu o cargo <strong>de</strong> Chefe do<br />

Serviço <strong>de</strong> Navegação e <strong>de</strong> Comunicações no N.R.P. “JOÃO ROBY”.<br />

Em terra <strong>de</strong>sempenhou funções e cargos na Divisão <strong>de</strong> Comunicações do<br />

CINCIBERLANT, no Estado-Maior do Comando - Chefe das Forças Armadas<br />

nos Açores e Chefe do respectivo Centro <strong>de</strong> Comunicações, <strong>de</strong> Oficial <strong>de</strong> Comunicações<br />

e <strong>Guerra</strong> Electrónica do Comando Naval do Continente e Chefe<br />

do respectivo Centro <strong>de</strong> Comunicações, <strong>de</strong> Director da Estação Radionaval<br />

“ALM. RAMOS PEREIRA”, na Divisão <strong>de</strong> Comunicações do Estado – Maior<br />

da Armada, no Departamento <strong>de</strong> Planeamento Estratégico <strong>de</strong> Defesa do Ministério<br />

da Defesa, <strong>de</strong> adjunto do Capitão do Porto <strong>de</strong> Lisboa, na Cooperação<br />

Técnico - Militar com Angola e <strong>de</strong> Sub – Director do Museu da <strong>Marinha</strong><br />

Da sua folha <strong>de</strong> serviços constam vários louvores e con<strong>de</strong>corações.


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VICE-ALMIRANTE MATTA OLIVEIRA<br />

Distinto Oficial <strong>de</strong> Estado-Maior e Major General da Armada<br />

O<br />

estudo da doutrina militar-naval,<br />

especialmente no âmbito da Estratégia,<br />

tem sido uma activida<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

se evi<strong>de</strong>nciaram alguns oficiais da Armada.<br />

As teorias do notável estratega Almirante<br />

Alfred Mahn, quanto à relevância do po<strong>de</strong>r<br />

marítimo, tiveram <strong>de</strong>stacados <strong>de</strong>fensores e<br />

divulgadores na <strong>Marinha</strong> <strong>Portuguesa</strong>, um<br />

dos quais, talvez o mais significativo pioneiro,<br />

foi o Vice-Almirante Matta Oliveira.<br />

Nascido em Lisboa, a 5 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong><br />

1874, Joaquim Anselmo da Matta Oliveira,<br />

ingressou na Escola Naval em<br />

Outubro <strong>de</strong> 1892, tendo sido promovido<br />

a guarda-marinha em 95.<br />

Após um breve período a bordo <strong>de</strong><br />

navios em missões nas águas <strong>de</strong> Portugal<br />

Continental, presta serviço nas canhoneiras<br />

do Ultramar. Inicialmente na<br />

“Zambeze”, em Cabo Ver<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pois,<br />

em mares da Índia, na “Tejo”, a que se<br />

segue a “Liberal” on<strong>de</strong> é promovido,<br />

em 1898, a 2º Tenente e viaja para Macau,<br />

visitando portos da China e do Japão.<br />

Regressa a Lisboa, no transporte<br />

“África”, em Junho <strong>de</strong> 1899.<br />

A sua estadia na Europa dura apenas<br />

três escassos meses pois em Outubro<br />

já está na canhoneira “Rio Lima”,<br />

da Divisão Naval do Índico, on<strong>de</strong> se<br />

mantém até Janeiro <strong>de</strong> 1900, mês em<br />

que assume o seu primeiro comando<br />

no mar, o do vapor “ Baptista <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>”,<br />

embarcação inicialmente construída<br />

para a balizagem do porto <strong>de</strong><br />

Lourenço Marques mas que irá, sob o<br />

comando do 2º tenente Matta Oliveira,<br />

efectuar missões nos portos <strong>de</strong> Angoche<br />

e <strong>de</strong> António Enes. Em Junho <strong>de</strong>sse<br />

primeiro ano do século XX passa a<br />

comandar a lancha-canhoneira “Obús”, integrada<br />

na Esquadrilha do Zambeze. Efectua<br />

então diversas missões <strong>de</strong> fiscalização e <strong>de</strong><br />

logística naquele rio <strong>de</strong> Moçambique e em<br />

Fevereiro <strong>de</strong> 1901 termina a sua segunda comissão<br />

no Ultramar.<br />

Em Maio tem os primeiros contactos com<br />

a Administração Central da <strong>Marinha</strong> ao<br />

prestar serviço na 2ª secção da Majoria General<br />

da Armada.<br />

Na época, os oficiais subalternos mantinham-se<br />

a maior parte do tempo embarcados<br />

e assim o 2º tenente Matta Oliveira, em<br />

Julho <strong>de</strong> 1903, é oficial da guarnição do transporte<br />

“África” que apoia logisticamente, em<br />

pessoal e material, o Ultramar. Naquele navio<br />

vai a Livorno levar a guarnição do cruzador<br />

“Vasco da Gama” e em Outubro navega<br />

para Macau, via Canal do Suez e regressa a<br />

Lisboa em Fevereiro <strong>de</strong> 1904, tendo escalado<br />

portos <strong>de</strong> Moçambique e Angola. Com base<br />

nos conhecimentos adquiridos nesta viagem<br />

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redige o seu primeiro trabalho, “Instruções<br />

Náuticas da Costa <strong>de</strong> Angola”, um roteiro<br />

que além <strong>de</strong> fornecer dados sobre a costa<br />

também disponibiliza informações práticas<br />

relativas aos portos angolanos.<br />

Depois <strong>de</strong> um breve período <strong>de</strong> embarque<br />

no vapor “Lidador”, em missões <strong>de</strong> fiscalização<br />

<strong>de</strong> pesca, volta em Novembro ao transporte<br />

“África”, efectuando uma primeira<br />

viagem ao Extremo-Oriente durante a qual<br />

2TEN Matta Oliveira.<br />

além <strong>de</strong> Macau visita Timor e uma segunda,<br />

transportando para Luanda os insurrectos<br />

da revolta <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1906 no cruzador<br />

“D. Carlos”, missões em que foi louvado pela<br />

forma como contribuiu para a maneira rápida,<br />

zelosa e inteligente <strong>de</strong>sempenhada na importante<br />

comissão <strong>de</strong> serviço do “África, na sua recente<br />

viagem às colónias portuguesas.<br />

Termina então mais um período <strong>de</strong> embarque<br />

e <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1906 a igual mês<br />

<strong>de</strong> 1908 será sucessivamente Ajudante <strong>de</strong><br />

Or<strong>de</strong>ns do Inspector Geral <strong>de</strong> <strong>Marinha</strong>, do<br />

Director Geral <strong>de</strong> <strong>Marinha</strong> e Ajudante <strong>de</strong><br />

Campo do Ministro da <strong>Marinha</strong>, situação<br />

em que é louvado no Real Nome <strong>de</strong> Sua Majesta<strong>de</strong><br />

El-Rei pelo zelo e inteligência como <strong>de</strong>sempenhou<br />

o cargo.<br />

Entretanto, em Dezembro <strong>de</strong> 1907, é promovido<br />

a 1º tenente.<br />

Foi a partir <strong>de</strong> 1906 que <strong>de</strong>u início à colaboração<br />

com a “Revista Militar” tratando <strong>de</strong><br />

temas <strong>de</strong> Política e História Naval. Citem-<br />

‐se: “As Nossas Ilhas Atlânticas e os Portos<br />

<strong>de</strong> Apoio da Esquadra”; “Preparação para a<br />

<strong>Guerra</strong> Naval”; “A <strong>Marinha</strong> Austríaca”; “O<br />

Recrutamento <strong>de</strong> Praças da Armada” e “Preparação<br />

Moral para a <strong>Guerra</strong> Marítima”, talvez<br />

a mais interessante obra <strong>de</strong>sta colaboração,<br />

on<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntifica e caracteriza as qualida<strong>de</strong>s<br />

indispensáveis ao marinheiro e consi<strong>de</strong>ra que a<br />

preparação moral, é uma condição indispensável<br />

para alcançar a vitória no mar.<br />

No “Boletim Marítimo” da Liga Naval<br />

<strong>Portuguesa</strong> foi encarregado da Secção<br />

da <strong>Marinha</strong> <strong>de</strong> <strong>Guerra</strong> e da Defesa<br />

Nacional, tendo publicado vários artigos,<br />

um dos quais, <strong>de</strong> 1909, intitulado<br />

“As Linhas <strong>de</strong> Torres”, <strong>de</strong>staca a importância<br />

do po<strong>de</strong>r marítimo na <strong>de</strong>fesa<br />

<strong>de</strong> Lisboa, em 1810, quando da 3ª<br />

invasão francesa.<br />

Após ter estado adjunto <strong>de</strong> Majoria<br />

General da Armada, durante o primeiro<br />

semestre <strong>de</strong> 1909, volta ao Extremo-<br />

‐Oriente para comandar a recém adquirida<br />

lancha-canhoneira “Macau”<br />

(1909-1943), navio que até à II <strong>Guerra</strong><br />

Mundial irá prestar inestimáveis serviços<br />

na China. Sob seu comando o<br />

navio cumpre especialmente missões<br />

<strong>de</strong> protecção da frente marítima <strong>de</strong><br />

Macau, <strong>de</strong> dissuasão a eventuais acções<br />

<strong>de</strong> pirataria e contrabando e <strong>de</strong><br />

apoio às colónias portuguesas instaladas<br />

nas costas chinesas e às missões<br />

católicas do Rio do Oeste e do Delta <strong>de</strong><br />

Cantão. A acção da “Macau” em Julho<br />

<strong>de</strong> 1910, ao bloquear a Ilha <strong>de</strong> Coloane<br />

isolando os piratas que nela se tinham<br />

instalado e evitando potenciais actos<br />

<strong>de</strong> violação <strong>de</strong> soberania por parte da<br />

China e ao proteger com a sua artilharia<br />

o <strong>de</strong>sembarque <strong>de</strong> forças, das quais faziam<br />

parte marinheiros da canhoneira “Pátria”<br />

e do cruzador “Raínha D. Amélia”, foi<br />

<strong>de</strong>cisiva para a eliminação da pirataria em<br />

águas macaenses. Amplamente documentadas<br />

em pormenorizados relatórios, estas<br />

missões evi<strong>de</strong>nciam as elevadas qualida<strong>de</strong>s<br />

e aptidões do 1º tenente Matta Oliveira,<br />

igualmente patentes numa série <strong>de</strong> viagens<br />

para obter informações acerca da região em<br />

que se pensava estabelecer na linha férrea<br />

ligando Macau a Cantão e quando do tufão<br />

<strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1909, durante o qual a<br />

lancha esteve prestes a per<strong>de</strong>r-se. Em Junho<br />

<strong>de</strong> 1911 termina o comando da “Macau”. Tinha<br />

sido um dos poucos comandantes que<br />

foi mantido no seu cargo após a implantação<br />

da República.<br />

Nos 13 anos <strong>de</strong> oficial já tinha conhecido<br />

todo o Ultramar, comandado dois navios<br />

em Moçambique e um em Macau., provado<br />

ser um experimentado marinheiro e por<br />

Revista da Armada • JULHo 2009 25


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outro lado os breves períodos em terra, na<br />

Majoria General e como ajudante <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns<br />

e <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> altos comandos da <strong>Marinha</strong>,<br />

inclusivé do respectivo Ministro, tinham-<br />

‐lhe dado conhecimentos e <strong>de</strong>spertado interesse<br />

pela doutrina e pela política<br />

naval.<br />

Inicia em fins <strong>de</strong> 1911 um longo<br />

espaço <strong>de</strong> tempo em terra,<br />

na Direcção Geral <strong>de</strong> <strong>Marinha</strong>,<br />

on<strong>de</strong> fará parte <strong>de</strong> Comissões<br />

encarregadas <strong>de</strong> estudar diversos<br />

projectos relacionados com<br />

o Fomento Marítimo, sendo-<br />

‐lhe então concedidos louvores<br />

pela proficiência e inexcedível zelo<br />

<strong>de</strong>monstrados. Passará à Administração<br />

dos Serviços Fabris<br />

do Arsenal <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong><br />

1912 até Abril <strong>de</strong> 14, mês em<br />

que regressa à Direcção Geral<br />

<strong>de</strong> <strong>Marinha</strong>.<br />

Eis que <strong>de</strong>flagra na Europa<br />

a Gran<strong>de</strong> <strong>Guerra</strong> e o 1º tenente<br />

Matta Oliveira está, em 17 <strong>de</strong><br />

Abril <strong>de</strong> 1916, embarcado nos<br />

navios ex-alemães requisitados<br />

no porto <strong>de</strong> Lisboa, <strong>de</strong>cisão do<br />

Governo Português que provocará<br />

a entrada <strong>de</strong> Portugal na<br />

<strong>Guerra</strong>.<br />

Faz então parte <strong>de</strong> uma Comissão<br />

para estudar as condições<br />

em que o Estado po<strong>de</strong>rá empregar os navios requisitados<br />

nas ligações do Continente com a Ma<strong>de</strong>ira<br />

e com os Açores e mais tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> outra Comissão<br />

para propor as modificações a introduzir na<br />

organização <strong>de</strong>fensiva do porto <strong>de</strong> Lisboa, costas<br />

<strong>de</strong> Portugal e Ilhas adjacentes.<br />

A <strong>de</strong>fesa torna-se uma priorida<strong>de</strong> para<br />

o país e assim, em Julho <strong>de</strong> 1917, termina<br />

a comissão na Direcção Geral <strong>de</strong> <strong>Marinha</strong><br />

e presta serviço, até ao fim <strong>de</strong>sse ano, no<br />

Campo Entrincheirado <strong>de</strong> Lisboa, on<strong>de</strong> é,<br />

em Setembro, promovido a capitão-tenente<br />

e <strong>de</strong>pois no Serviço <strong>de</strong> Barragens. Entretanto<br />

os ensinamentos obtidos durante a Gran<strong>de</strong><br />

<strong>Guerra</strong>, prestes a terminar, levam à necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma nova doutrina naval,<br />

pelo que é criado o Estado Maior Naval,<br />

sendo o Comandante Matta Oliveira um dos<br />

primeiros oficiais a fazer parte <strong>de</strong>sse novo<br />

organismo da <strong>Marinha</strong>.<br />

Os seus estudos sobre História e Doutrina<br />

Naval eram conhecidos e apreciados, já que<br />

tinha publicado, em 1914, “O Po<strong>de</strong>r Marítimo<br />

na <strong>Guerra</strong> da Peninsula”, obra que, premiada<br />

no concurso literário comemorativo<br />

<strong>de</strong>ste acontecimento, é uma tentativa <strong>de</strong> estudar<br />

a influência exercida pelo domínio do mar<br />

nesta guerra. O autor <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a tese que a<br />

França, sendo marcadamente uma potência<br />

terrestre, ao iniciar uma guerra essencialmente<br />

marítima, porque o mar a separava<br />

do inimigo, a Inglaterra, nunca po<strong>de</strong>ria alcançar<br />

a vitória.<br />

Revela-se então um competentíssimo oficial<br />

<strong>de</strong> Estado-Maior com notáveis trabalhos<br />

e pareceres sobre a doutrina militar-naval e<br />

igualmente um distinto conferencista, sendo<br />

louvado pelo importante serviço que prestou à<br />

<strong>Marinha</strong> na organização e manutenção do Curso<br />

Naval <strong>de</strong> <strong>Guerra</strong>.<br />

É promovido a capitão-<strong>de</strong>-fragata em<br />

Lancha-canhoneira “Macau”.<br />

Contra-torpe<strong>de</strong>iro “Douro”.<br />

Dezembro <strong>de</strong> 1919 e no ano seguinte presta<br />

serviço junto da Comissão Executiva da<br />

Conferência <strong>de</strong> Paz. Na última fase da sua<br />

permanência no Estado-Maior exerce, a partir<br />

<strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1922, o cargo <strong>de</strong> Chefe da 2ª<br />

Repartição.<br />

Profícua é, nos finais da primeira década<br />

e durante a segunda do século XX, a sua colaboração<br />

nos Anais do Clube Militar Naval<br />

tendo também feito parte <strong>de</strong> algumas das respectivas<br />

Comissões <strong>de</strong> Redacção.<br />

Em Outubro <strong>de</strong> 1923 volta a embarcar, agora<br />

no comando do contratorpe<strong>de</strong>iro “Douro”<br />

operando em águas do Atlântico Norte<br />

e efectuando manobras com outras unida<strong>de</strong>s<br />

navais.<br />

Além dos estudos <strong>de</strong> Doutrina Naval e<br />

Estratégia o comandante Matta<br />

Oliveira tinha sido autor, como<br />

citado, <strong>de</strong> alguns trabalhos <strong>de</strong><br />

História Marítima, daí ter sido<br />

feito, em Dezembro, membro da<br />

então recém formada Comissão<br />

<strong>de</strong> História Militar.<br />

Manter-se-á no comando do<br />

“Douro” cerca <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong>sempenhando<br />

em acumulação,<br />

a partir <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1924, o cargo<br />

<strong>de</strong> Chefe <strong>de</strong> Estado-Maior da<br />

Esquadrilha Ligeira.<br />

Em Outubro regressa ao Estado-Maior<br />

Naval como Chefe da<br />

1ª Secção, lugar on<strong>de</strong> permanecerá<br />

cinco anos e terá a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> aprofundar os estudos<br />

sobre Doutrina, Estratégia e<br />

Organização. É <strong>de</strong>ssa época um<br />

seu trabalho intitulado “Or<strong>de</strong>ns<br />

e Instruções” em que i<strong>de</strong>ntifica<br />

os procedimentos a empregar<br />

na transmissão das <strong>de</strong>cisões, assunto<br />

que até à data nunca tinha<br />

sido convenientemente sistematizado<br />

na <strong>Marinha</strong>. Continuará<br />

a fazer parte <strong>de</strong> Comissões com<br />

variadas tarefas, nomeadamente: revisão <strong>de</strong><br />

legislação referente a vencimentos do pessoal<br />

da Armada; parecer sobre o projecto da construção<br />

da ponte sobre o Tejo em relação à hidrografia,<br />

navegação e aspecto militar; actualização<br />

do Estatuto dos Oficiais da Armada e<br />

proposta das regras <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> embarque<br />

dos oficiais e das nomeações para comissões<br />

fora do porto <strong>de</strong> Lisboa. Estes trabalhos, pelos<br />

quais é louvado, proporcionam-lhe um<br />

substancial aumento <strong>de</strong> conhecimentos sobre<br />

a administração superior da <strong>Marinha</strong>, facto<br />

que lhe será muito útil nos altos cargos que<br />

futuramente irá <strong>de</strong>sempenhar.<br />

Em Agosto <strong>de</strong> 1929 é nomeado Chefe do<br />

Gabinete do Almirante Magalhães Corrêa,<br />

Ministro da <strong>Marinha</strong>, na vigência do qual<br />

é iniciado o mais importante Programa Naval<br />

português do século passado. A Esquadra<br />

vai finalmente ser mo<strong>de</strong>rnizada, as velhas<br />

canhoneiras, que nos últimos 50 anos<br />

tinham prestado bons serviços no Ultramar,<br />

serão substituídas pelos avisos e a <strong>Marinha</strong><br />

Oceânica igualmente reforçada com novos<br />

navios <strong>de</strong> linha, os <strong>de</strong>stroyers. Em Janeiro <strong>de</strong><br />

1931, ao terminar as funções junto ao Ministro,<br />

é louvado pelo inexcedível zelo, inteligência<br />

e franca e leal cooperação que prestou como Chefe<br />

<strong>de</strong> Gabinete.<br />

Em Março volta ao Extremo-Oriente, então<br />

como governador do longínquo Macau,<br />

on<strong>de</strong> duas décadas antes no comando <strong>de</strong><br />

uma lancha, contribuira para a eliminação<br />

da pirataria. Na época a China encontrava-<br />

‐se praticamente em guerra civil. Tinham<br />

sido os acontecimentos em Xangai, em 1927,<br />

26 JULHo 2009 • Revista da Armada<br />

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durante os quais parte da guarnição do cruzador<br />

“República” <strong>de</strong>sembarcou para proteger<br />

a colónia portuguesa ali resi<strong>de</strong>nte e foi,<br />

a partir <strong>de</strong> 1930, a reacção dos comunistas à<br />

até então prepon<strong>de</strong>rância dos nacionalistas<br />

do general Chiang Kai-chek. O Comandante<br />

Matta Oliveira conseguiu, apesar das graves<br />

perturbações verificadas no continente chinês,<br />

que a vida no pequeno enclave sob seu<br />

governo se mantivesse sem quaisquer turbulências.<br />

Compulsando o Boletim Oficial da<br />

Colónia constata-se ter sido positiva a acção<br />

do Governador, especialmente nas reestruturações<br />

do ensino e do turismo, na construção<br />

<strong>de</strong> infraestruturas portuárias e no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

das comunicações radiotelegráficas.<br />

Foi, durante o seu governo <strong>de</strong> apenas<br />

seis meses, vendida em hasta pública a<br />

ex-canhoneira “Pátria” (1903-1931), mais<br />

tar<strong>de</strong> incorporada na <strong>Marinha</strong> da China<br />

com o nome <strong>de</strong> “Fu-yú”. Esta canhoneira<br />

e a “Macau”, durante mais <strong>de</strong> duas décadas,<br />

constituíram o símbolo da <strong>Marinha</strong><br />

<strong>Portuguesa</strong> na Colónia. Em Outubro o<br />

Comandante Matta Oliveira cessa as funções<br />

<strong>de</strong> Governador, lugar que exerceu com<br />

competência, zelo e patriotismo.<br />

Em Dezembro, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um interregno<br />

<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> dois anos e meio, volta<br />

a chefiar a 1ª Secção do Estado-Maior<br />

Naval. Inicia então a última fase da sua<br />

carreira naval, correspon<strong>de</strong>nte ao período<br />

<strong>de</strong> 1932 a 1941, durante o qual irá<br />

sucessivamente exercer os mais altos<br />

cargos da Armada. Foi uma época marcante<br />

para a <strong>Marinha</strong>. Em Março <strong>de</strong> 1933<br />

era aumentado ao efectivo o aviso <strong>de</strong> 2ª<br />

classe “Gonçalo Velho”, o primeiro navio<br />

do já atrás referido “Programa Magalhães<br />

Corrêa”, a que se seguiram mais<br />

três avisos <strong>de</strong> 2ª classe, dois <strong>de</strong> 1ª classe,<br />

três submersíveis e cinco contratorpe<strong>de</strong>iros,<br />

tendo o Programa ficado completo,<br />

em Outubro <strong>de</strong> 1937, com a entrada ao<br />

serviço do aviso <strong>de</strong> 2ª classe “João <strong>de</strong> Lisboa”,<br />

o último navio a ser construído no velho<br />

Arsenal da Ribeira das Naus. Em apenas<br />

quatro anos e meio tinham sido aumentados<br />

ao efectivo dos navios da Armada, 14 unida<strong>de</strong>s,<br />

num total <strong>de</strong> 23.400 toneladas!. Facto<br />

único na <strong>Marinha</strong> <strong>Portuguesa</strong> e que permitirá<br />

manter a soberania em águas nacionais durante<br />

a conturbada década dos anos quarenta<br />

do século passado.<br />

Capitão-<strong>de</strong>-mar-e-guerra em Novembro<br />

<strong>de</strong> 1932, Matta Oliveira torna-se indiscutivelmente<br />

um elemento <strong>de</strong> referência do Estado-<br />

Maior Naval, organismo a que na época competia<br />

todos os movimentos das forças e unida<strong>de</strong>s<br />

da Armada e a respectiva distribuição.<br />

Em Janeiro <strong>de</strong> 1934 ascendia a Subchefe do<br />

Estado-Maior Naval. Além das tarefas inerentes<br />

a um estado-maior mantinha uma intensa<br />

activida<strong>de</strong> relacionada com a formação <strong>de</strong> oficiais.<br />

De salientar uma série <strong>de</strong> seis conferências,<br />

em 1934, <strong>de</strong>stinadas ao Curso Elementar<br />

Naval <strong>de</strong> <strong>Guerra</strong>, reunidas no seu trabalho intitulado<br />

“Elementos Constitutivos das Forças<br />

Navais e Factos Internacionais”. Devido à sua<br />

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experiência ultramarina fez parte da <strong>de</strong>legação<br />

metropolitana à 1ª Conferência Económica<br />

do Império Colonial Português, realizado<br />

em Lisboa em 1934.<br />

Publica, em 1935, a obra “No Mar-Episódios<br />

da Vida dos Marinheiros”, edição da<br />

Liga Naval <strong>Portuguesa</strong>, on<strong>de</strong> recorda os seus<br />

tempos <strong>de</strong> embarque. Em Março <strong>de</strong> 1936 é<br />

promovido a contra-almirante e nomeado<br />

Superinten<strong>de</strong>nte dos Serviços da Armada<br />

passando-lhe a competir a direcção dos serviços<br />

do ramo naval do Ministério da <strong>Marinha</strong>.<br />

Desempenha então, a par com o Chefe do<br />

Estado-Maior Naval, o mais alto cargo da<br />

<strong>Marinha</strong>, logo a seguir ao <strong>de</strong> Major General<br />

da Armada.<br />

VALM Matta Oliveira.<br />

O ano <strong>de</strong> 1936 será para a <strong>Marinha</strong>, <strong>de</strong>pois<br />

dos da sua intervenção na Gran<strong>de</strong> <strong>Guerra</strong>, o<br />

mais significativo da primeira meta<strong>de</strong> do século<br />

XX. Em Janeiro tomara posse o novo Ministro,<br />

o capitão-tenente Ortins Bettencourt,<br />

que promoverá profundas transformações na<br />

<strong>Marinha</strong>. É o ano da reforma da Escola Naval,<br />

que vigorará cerca <strong>de</strong> vinte anos e da sua<br />

mudança para o Alfeite, local on<strong>de</strong> começará<br />

a ser edificado o novo Arsenal e a nascer a<br />

primeira Base Naval do país. A 8 <strong>de</strong> Setembro<br />

acontece a chamada “Revolta dos Marinheiros”<br />

em que as guarnições dos avisos “Afonso<br />

<strong>de</strong> Albuquerque”, “Bartolomeu Dias” e<br />

do contratorpe<strong>de</strong>iro “Dão” se sublevam em<br />

apoio à Organização Revolucionária da Armada,<br />

com o intuito <strong>de</strong> se juntarem às forças<br />

republicanas <strong>de</strong> Espanha, entretanto em plena<br />

guerra civil. Os resquícios da revolta, cujos<br />

efeitos se irão repercutir durante largos anos e<br />

a integração dos novos navios, com a necessida<strong>de</strong><br />

da consequente actualização da gestão<br />

do pessoal e do material, vão sobrecarregar os<br />

serviços e comprovar plenamente as elevadas<br />

qualida<strong>de</strong>s do seu Superinten<strong>de</strong>nte.<br />

Em Maio <strong>de</strong> 1937 o Contra-Almirante Matta<br />

Oliveira volta pela última vez ao Estado-<br />

Maior Naval, agora apenas por dois meses,<br />

como seu Chefe, nomeação que não só comprova<br />

os valiosos serviços que tinha ali prestado<br />

como também lhe dá oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

actualizar conhecimentos relativos à situação<br />

operacional da <strong>Marinha</strong>.<br />

Finalmente, em Julho, atinge o cargo mais<br />

elevado da sua carreira ao ser nomeado Major<br />

General da Armada e promovido a Vice-<br />

‐Almirante.<br />

A <strong>Guerra</strong> Civil em Espanha continua violenta<br />

e unida<strong>de</strong>s navais irão ao país vizinho<br />

evacuar cidadãos portugueses e participar em<br />

variadas missões e operações <strong>de</strong>licadas,<br />

numa Europa cada vez mais instável. Em<br />

todas estas situações o Chefe da <strong>Marinha</strong><br />

<strong>de</strong>ci<strong>de</strong> com prontidão e eficácia. A nível<br />

interno concretizaram-se vários projectos<br />

dos quais se <strong>de</strong>staca a inauguração do<br />

novo Arsenal do Alfeite, em 3 <strong>de</strong> Maio<br />

<strong>de</strong> 1939. Nesse ano as convulsões terminam<br />

em Espanha, mas logo em Setembro,<br />

rebenta na Europa a II <strong>Guerra</strong> Mundial.<br />

Torna-se necessário reforçar o dispositivo<br />

naval dos arquipélagos portugueses<br />

no Atlântico e ter especial atenção às colónias<br />

do Extremo-Oriente, especialmente<br />

Macau, on<strong>de</strong> é reactivado o Centro <strong>de</strong><br />

Aviação Naval para fiscalização aérea das<br />

águas do território. No Atlântico são estabelecidas<br />

missões <strong>de</strong> Busca e Salvamento,<br />

tendo em águas açoreanas sido recolhidos<br />

largas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> náufragos <strong>de</strong> navios<br />

mercantes torpe<strong>de</strong>ados. A <strong>Marinha</strong><br />

chefiada pelo Vice-Almirante Matta Oliveira<br />

<strong>de</strong>sdobra-se em várias frentes e no<br />

seu âmbito são tomadas <strong>de</strong>cisões que irão<br />

ser fundamentais para a manutenção e o<br />

reforço da sua operacionalida<strong>de</strong> durante<br />

o conflito mundial. Entre muitas medidas<br />

refira-se a construção do petroleiro “Sam<br />

Brás“ que nos últimos anos da <strong>Guerra</strong> foi<br />

fundamental para o reabastecimento <strong>de</strong> combustível<br />

ao país.<br />

Mas a lei do tempo é inexorável e assim, em<br />

Maio <strong>de</strong> 1941, o Major General da Armada<br />

atinge o limite <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e passa à situação <strong>de</strong><br />

reserva. Apesar <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>ixado o serviço efectivo<br />

ainda presi<strong>de</strong> à Comissão que estuda as<br />

novas instalações para o Museu <strong>de</strong> <strong>Marinha</strong>,<br />

<strong>de</strong>dica-se mais intensamente à investigação<br />

histórica, nomeadamente à participação da<br />

<strong>Marinha</strong> nas <strong>Guerra</strong>s Liberais (1832-1834) e<br />

escreve para os Anais da <strong>Marinha</strong> a “Batalha<br />

do Cabo Matapan”, que foi a sua última<br />

obra publicada.<br />

Faleceu em Lisboa a 24 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1948 o<br />

Vice-Almirante Matta Oliveira, distintíssimo<br />

oficial que conduziu a <strong>Marinha</strong> nos primeiros<br />

<strong>de</strong>zoito meses da II <strong>Guerra</strong> Mundial e <strong>de</strong>ve<br />

ser consi<strong>de</strong>rado um verda<strong>de</strong>iro paradigma<br />

<strong>de</strong> Marinheiro, <strong>de</strong> Oficial <strong>de</strong> Estado -Maior<br />

e <strong>de</strong> Chefe.<br />

<br />

J. L. Leiria Pinto<br />

CALM<br />

Revista da Armada • JULHo 2009 27


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VIGIA DA HISTÓRIA 12<br />

Lista da Armada<br />

É<br />

<strong>de</strong> 1770 aquela que se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar como sendo a Primeira Lista<br />

da Armada, o Mapa dos Oficiais do Corpo da <strong>Marinha</strong>, <strong>de</strong>signação<br />

do manuscrito que o Comodoro António Alves dos Santos<br />

Júnior divulgou. (1)<br />

No entanto, tanto este documento <strong>de</strong> 1770, como o <strong>de</strong> 1786 que o Almirante<br />

Almeida <strong>de</strong> Eça <strong>de</strong>u a conhecer, são manuscritos elaborados fora<br />

da esfera oficial e cujo uso pouco <strong>de</strong>veria ultrapassar o dos seus autores.<br />

A fazer fé no anúncio que seguidamente se transcreve, a oficialização da<br />

Lista da Armada e a sua ampla divulgação só ocorreram em 1811.<br />

A Gazeta <strong>de</strong> Lisboa, no número <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong>sse ano, incluía o<br />

seguinte anúncio:<br />

“Saiu à luz, pela primeira vez, a lista dos oficiais da <strong>Marinha</strong> no 1º semestre<br />

<strong>de</strong> 1811, este impresso foi mandado redigir e publicar por or<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong> Sua Alteza Real, e nele se <strong>de</strong>claram os postos, nomes, datas das patentes,<br />

ou <strong>de</strong>spachos dos postos e lugares <strong>de</strong> residência habitual <strong>de</strong> todos os<br />

oficiais <strong>de</strong> <strong>Marinha</strong>, pertencentes às Forças Navais do Reino.<br />

Acha-se nesta cida<strong>de</strong>, na casa da Gazeta, por 80 reis, e na dita na cida<strong>de</strong><br />

do Porto, na Praça Nova, e em Coimbra na loja da Universida<strong>de</strong>, e em<br />

Évora e Elvas nas dos livreiros que ali há”<br />

O mesmo anúncio referia a preparação <strong>de</strong> listas dos oficiais do Estado-<br />

‐Maior do Exército, dos oficiais do Real Corpo <strong>de</strong> Engenheiros, dos oficiais<br />

do Estado-Maior dos Governos das Armas Provinciais, dos oficiais<br />

empregados nos Arsenais etc ...<br />

Se surpreen<strong>de</strong> a inclusão na Lista da indicação da residência habi tual<br />

dos oficiais mais surpreen<strong>de</strong> o facto da Lista se encontrar à venda em<br />

Coimbra, Évora e Elvas.<br />

Se a venda em Lisboa e no Porto resulta compreensível pelo facto <strong>de</strong> aí<br />

residirem os oficiais a quem a Lista interessaria, o mesmo não suce<strong>de</strong>ria<br />

relativamente aquelas outras cida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong>, quase certamente, não residiriam<br />

oficiais <strong>de</strong> <strong>Marinha</strong> ao serviço os únicos para quem a Lista tinha<br />

eventual interesse.<br />

<br />

Com. E. Gomes<br />

Nota<br />

(1)<br />

“A Primeira Lista da Armada” do Comodoro António Alves dos Santos Júnior,<br />

Ed. Ministério da <strong>Marinha</strong>, 1973.<br />

CONVÍVIO<br />

COMPANHIA Nº 10 DE FUZILEIROS<br />

l Realizou-se no passado dia 13<br />

<strong>de</strong> Junho em Alvados, Fátima o<br />

almoço comemorativo do 40º aniversário<br />

da partida para a Guiné da<br />

Companhia nº 10 <strong>de</strong> Fuzileiros.<br />

O encontro que contou com a<br />

presença <strong>de</strong> muitos “fuzos”, e o<br />

representante da Associação <strong>de</strong><br />

Fuzileiros, <strong>de</strong>correu em ambiente<br />

<strong>de</strong> sã camaradagem e confraternização.<br />

NÚCLEO DE MARINHEIROS DA ARMADA DE AVEIRO<br />

l O Núcleo <strong>de</strong> Marinheiros da Armada <strong>de</strong> Aveiro, informa que toda a correspondência<br />

passa a ser enviada para:<br />

Núcleo <strong>de</strong> Marinheiros da Armada <strong>de</strong> Aveiro, Forte da Barra – Casa nº 1<br />

3830-565 Gafanha da Nazaré em vez <strong>de</strong> Apartado 117, 3811-903 Aveiro.<br />

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Revista da Armada • JULHo 2009 29


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N.R.P. “JOÃO COUTINHO”<br />

Comemora 39 anos ao serviço<br />

da <strong>Marinha</strong><br />

O<br />

N.R.P. “João Coutinho”, o primeiro da série <strong>de</strong> seis<br />

navios construídos, os três primeiros, nos estaleiros<br />

Blohm & Voss na Alemanha e os restantes três na empresa<br />

Nacional Bazan <strong>de</strong> Construções Navais Militares em<br />

Espanha, segundo um projecto genuinamente português, da<br />

autoria do Engenheiro Construtor Naval Rogério Silva Duarte<br />

Geral D’Oliveira, celebrou no passado dia 07 <strong>de</strong> Março, o seu trigésimo<br />

nono ano <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> ao serviço da <strong>Marinha</strong>.<br />

O 39º aniversário foi comemorado no cumprimento <strong>de</strong> mais uma comissão<br />

à Zona Marítima dos Açores, encontrando-se o navio atracado no<br />

cais militar da Praia da Vitória.<br />

Além <strong>de</strong> exercer a<br />

salvaguarda da vida<br />

humana no mar, a<br />

fiscalização marítima<br />

e a acção da soberania<br />

nos espaços marítimos<br />

sob jurisdição<br />

nacional adjacentes<br />

ao arquipélago dos<br />

Açores, durante esta<br />

comissão, entre outras<br />

activida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>staca-<br />

‐se a participação do<br />

N.R.P. “João Coutinho” no exercício conjunto AÇOR 01/08, conduzido pelo<br />

Comando Operacional dos Açores e em vários exercícios VERTREP com os<br />

helicópteros SA 330 PUMA e EH 101 MERLIN da Força Aérea <strong>Portuguesa</strong><br />

se<strong>de</strong>ados na Base das Lajes, ilha Terceira, que serviram não só para manter<br />

as qualificações das tripulações daquelas aeronaves como também para assegurar<br />

os padrões <strong>de</strong> prontidão da guarnição <strong>de</strong>sta Unida<strong>de</strong> Naval.<br />

Aproveitando a ocasião, foi efectuada a bordo uma singela cerimónia<br />

on<strong>de</strong> se realizou o Juramento <strong>de</strong> Fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> das praças dos Quadros Permanentes<br />

e se proce<strong>de</strong>u à imposição <strong>de</strong> con<strong>de</strong>corações e entrega <strong>de</strong> distintivos<br />

alusivos ao tempo <strong>de</strong> embarque, seguida <strong>de</strong> um almoço-convívio<br />

entre a guarnição.<br />

<br />

(Colaboração do COMANDO DO N.R.P. “JOÃO COUTINHO”)<br />

Exposição fotográfica<br />

Em 21 <strong>de</strong> Setembro próximo pelas 17.00 horas, será inaugurada<br />

na Socieda<strong>de</strong> Histórica da In<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> Portugal uma exposição<br />

fotográfica constituída por mais <strong>de</strong> oitenta fotos <strong>de</strong> navios<br />

da pesca <strong>de</strong> arrasto, alguns <strong>de</strong>les militarizados, da colecção do<br />

Comandante José Ferreira dos Santos.<br />

A referida mostra terá por título “ARRASTÕES DO ALTO/ARRASTÕES<br />

MILITARIZADOS” e estará patente até meados <strong>de</strong> Outubro po<strong>de</strong>ndo<br />

ser visitada às 2 as , 4 as e 5 as feiras, das 15 às 17.30 h.<br />

30 JuLho 2009 • Revista da Armada<br />

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HISTÓRIAS DA BOTICA (65)<br />

O rei das pequenas coisas<br />

Qual é a essência<br />

da alma portuguesa<br />

Se o leitor meditar naquela<br />

pergunta, assim,<br />

a seco e <strong>de</strong> rompante,<br />

várias i<strong>de</strong>ias lhe ocorrerão<br />

<strong>de</strong>certo – <strong>de</strong> forma<br />

a respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma<br />

acertada. A essência<br />

da alma portuguesa,<br />

dirão alguns, está bem<br />

representada no Fado –<br />

não só na canção, mas<br />

na genérica melancolia<br />

que nos caracteriza<br />

e pela qual somos internacionalmente<br />

conhecidos.<br />

Outros que<br />

não. Não terão sido o<br />

Fado, nem a melancolia.<br />

Foi, isso sim, o espírito<br />

aguerrido <strong>de</strong> uns<br />

quantos nobres, ao longo<br />

da história, que por<br />

artes da guerra e da política,<br />

ousaram manter<br />

Portugal livre dos seus<br />

opressores e construíram<br />

um Império que<br />

abrangeu todos os continentes.<br />

Talvez ambas<br />

estas i<strong>de</strong>ias estejam correctas.<br />

Contudo, eu, homem inculto e, as<br />

mais das vezes, irreflectido, ouso aqui expor<br />

o que consi<strong>de</strong>ro ser a principal característica<br />

dos homens e mulheres <strong>de</strong> Portugal.<br />

Assim ouse também o leitor paciente<br />

seguir com atenção a história que tenho<br />

para contar.<br />

A história começa há muitos anos quando<br />

<strong>de</strong>terminado jovem médico embarcou<br />

pela primeira vez. Perdido num mundo<br />

naval, para ele, quase <strong>de</strong>sconhecido. Foi<br />

conhecendo sítios e pessoas <strong>de</strong> uma cultura<br />

nova. Percebeu com espanto que, em<br />

qualquer porto do mundo, por mais exótico<br />

que ele fosse, se ao primeiro dia o navio<br />

tardava em dar licenças. Ao segundo dia<br />

já se encontravam marinheiros em muitos<br />

pontos. Nos cafés, nos supermercados. Já<br />

havia este ou aquele marujo que travara<br />

conhecimento com este ou aquele taxista.<br />

Combinara com ele, rapidamente, uma<br />

viagem preferencial <strong>de</strong> turismo, por que o<br />

marujo português ganha pouco e é simpático…<br />

ou, pura e simplesmente, conseguira<br />

<strong>de</strong>scontos previamente negociados a<br />

preços módicos, <strong>de</strong> qualquer lugar até ao<br />

cais <strong>de</strong> atracação. Esses e outros <strong>de</strong>scontos<br />

eram extensivos a todos os camaradas,<br />

acontecendo muitas vezes que bastava que<br />

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junto do condutor do táxi, ou ao balcão <strong>de</strong><br />

qualquer loja se percebesse que o cliente<br />

era português, ou o mesmo se i<strong>de</strong>ntificasse<br />

como tal, para atingir um patamar diferente<br />

<strong>de</strong> atendimento.<br />

Acontece que esse médico acabou por<br />

gostar, ele também, <strong>de</strong> sabores exóticos<br />

como <strong>de</strong>terminados licores <strong>de</strong> frutas – tal<br />

como o licor <strong>de</strong> maracujá. Aconteceu mesmo<br />

que em <strong>de</strong>terminada estadia num país<br />

da América do Sul, a Colômbia, <strong>de</strong>cidiu<br />

comprar uma garrafa para levar <strong>de</strong> recordação<br />

– era para o dia <strong>de</strong> anos do seu pai,<br />

que ele sabia ser apreciador <strong>de</strong> tais espíritos,<br />

digamos, quase medicinais. Ora ia precisamente<br />

o doutor materializar o acto <strong>de</strong><br />

compra <strong>de</strong> tal garrafa <strong>de</strong> licor <strong>de</strong> maracujá<br />

pelo valor que correspon<strong>de</strong>ria em dinheiro<br />

português <strong>de</strong> então a cerca <strong>de</strong> 1000 escudos,<br />

quando por milagre surgiu vindo do<br />

nada o Sr. Cabo Alcino – militar antigo <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> muitos embarques. Este <strong>de</strong> imediato<br />

<strong>de</strong>svalorizou o produto, em frente do<br />

ven<strong>de</strong>dor. Que não prestava, que era azedo.<br />

Que a garrafa tinha resíduo. Não <strong>de</strong>ixou,<br />

portanto, o digníssimo clínico comprar<br />

o produto. Este jovem médico ficou a um<br />

tempo confuso e furioso, afinal tinha tudo<br />

muito bem planeado para fazer o negócio<br />

da sua vida e aquele Cabo, metediço e arreliador,<br />

gorara as suas expectativas. Fora<br />

da loja tomaram-se <strong>de</strong> razões, até que o<br />

velho Cabo sorrindo, sem dar gran<strong>de</strong> troco<br />

ao discípulo <strong>de</strong> Hipócrates, lá o foi arrastando<br />

por vielas escuras daquela também antiga<br />

cida<strong>de</strong> Colombiana. Pararam, por fim,<br />

numa tasca <strong>de</strong> aspecto pouco digno, suja<br />

até. Falou então o senhor Cabo num perfeito<br />

castelhano da Raia <strong>de</strong> Portugal, dirigindo­<br />

‐se a um rapazito que não aparentava mais<br />

<strong>de</strong> quinze anos:<br />

- Oiga Juanito, don<strong>de</strong> estan las botellitas<br />

O rapaz colombiano apresentou então,<br />

seis lustrosas garrafas, exactamente do mesmo<br />

produto licoroso e marca que o jovem<br />

médico queria levar como recordação. Estas<br />

estavam primorosamente embrulhadas<br />

em embalagem <strong>de</strong> bambu e, surpresa das<br />

surpresas, vendiam-se por menos <strong>de</strong> meta<strong>de</strong><br />

do preço que o médico esteve prestes a<br />

pagar por uma só garrafa…<br />

Encontrei este mesmo Cabo, que há muito<br />

tempo não via, por fortuito acaso, numa<br />

cama <strong>de</strong> um hospital estranho, pois o “manso”<br />

médico era eu. Não me falou logo. Li­<br />

‐lhe nos olhos o medo <strong>de</strong> que com os anos<br />

e a fraca memória <strong>de</strong> muitos, já não me<br />

Revista da Armada • JULHO 2009 31


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lembrasse <strong>de</strong>le. Enganou-se, quando o vi<br />

soube-me logo na alma o doce do licor colombiano<br />

e a memória <strong>de</strong>sta história. E nesse<br />

preciso momento, tantos anos passados,<br />

ocorreu-me que este velho marinheiro sintetizava<br />

o fundamental da alma portuguesa.<br />

A essência da alma portuguesa – concluirá<br />

a este tempo o leitor – é certamente este<br />

<strong>de</strong>sembaraço no contacto com culturas e<br />

povos, por mais estranhos que eles nos sejam.<br />

È esta capacida<strong>de</strong> para conseguir mais<br />

pela arte do que pela força simples objectivos,<br />

que tanto impressionam pela sagacida<strong>de</strong>.<br />

É, por fim, a capacida<strong>de</strong> (muitas vezes<br />

posta à prova) para sobreviver para lá<br />

da adversida<strong>de</strong>, num “logo se vê” tranquilizador.<br />

Esta é a essência da nossa alma, <strong>de</strong><br />

reis das pequenas coisas, que permitiu a um<br />

povo pequeno sobreviver e agigantar-se –<br />

em <strong>de</strong>terminado momento histórico – para<br />

lá, muito para lá da pequenez, que a alguns<br />

atormentava (…e que para muitos, acredito,<br />

ainda parece incomodar).<br />

É também seguro que são os marinheiros<br />

que melhor sintetizam estas qualida<strong>de</strong>s da<br />

gesta portuguesa, pois em poucas profissões<br />

se reúne tanto <strong>de</strong>sconforto, tanta adversida<strong>de</strong>,<br />

por vezes mesmo tanta incompreensão<br />

e, apesar <strong>de</strong> tudo, um saber levar a vida com<br />

tanta alegria e adaptabilida<strong>de</strong>. É este o segredo<br />

<strong>de</strong>ste Rei das Pequenas Coisas, o Sr.<br />

Cabo Alcino, que viverá sempre na minha<br />

memória e que, espero sinceramente, irá<br />

recuperar rapidamente.<br />

<br />

Doc<br />

Batalhas e Combates da<br />

<strong>Marinha</strong> <strong>Portuguesa</strong><br />

I VOLUME<br />

A<br />

obra “Batalhas e Combates da <strong>Marinha</strong><br />

<strong>Portuguesa</strong>” da autoria do<br />

Comandante Saturnino Monteiro,<br />

consta <strong>de</strong> oito volumes publicados em Lisboa<br />

pela Sá da Costa Editora, entre 1989­<br />

‐1999. Este estudo, que se refere às acções<br />

mais importantes da <strong>Marinha</strong> <strong>Portuguesa</strong><br />

durante o dilatado período <strong>de</strong> oito séculos<br />

(1180-1970), tornou-se uma referência incontornável<br />

para os investigadores históricos<br />

que se <strong>de</strong>dicam ao tema. O 1º Volume,<br />

entretanto galardoado com os prémios “Almirante<br />

Pereira Crespo-1988”, da Revista<br />

da Armada e “Almirante Sarmento Rodrigues-1992”,<br />

da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> <strong>Marinha</strong>, foi agora reeditado.<br />

O lançamento da reedição efectuou-se no passado dia 14 <strong>de</strong> Maio, na<br />

Livraria Buchholz tendo sido apresentada pelo Prof. Doutor António José<br />

Telo. A presente reedição, correcta e aumentada, à semelhança da 1ª edição,<br />

correspon<strong>de</strong> ao período (1139-1521) é <strong>de</strong>nominada “Po<strong>de</strong>r Naval à<br />

Escala Planetária” e constitui mais um meritório trabalho do Comandante<br />

Saturnino Monteiro sobre a História da <strong>Marinha</strong> <strong>Portuguesa</strong>. <br />

Da autoria do Tenente César Magarreiro,<br />

vencedor do Prémio Maria Rosa Colaço -<br />

Almada 2008, o livro “Ronda Filipina” foi<br />

lançado no evento Literatura em Viagem 2009, em<br />

Matosinhos, on<strong>de</strong> participaram cerca <strong>de</strong> 40 escritores<br />

<strong>de</strong> diversos países.<br />

Seguiram-se duas apresentações, uma no dia 25<br />

<strong>de</strong> Abril na Fragata “D. Fernando e Gloria” e outra<br />

no dia 26 <strong>de</strong> Abril na Ria <strong>de</strong> Aveiro.<br />

“Ronda Filipina” convida o leitor a viajar para<br />

um tempo quase secreto on<strong>de</strong> se sobrepõem o imaginário<br />

e a memória. Uma narrativa histórica que<br />

o vai situar no século XVII, durante o período da<br />

dominação filipina. Altura em que os corsários do<br />

Norte <strong>de</strong> África efectuavam incursões e saques por<br />

território europeu. Numa narração ágil e envolvente, o autor cria<br />

um universo rico e multifacetado on<strong>de</strong> as relações entre os indivíduos,<br />

bem como a relativida<strong>de</strong> das i<strong>de</strong>ias sobre o outro, são causa<br />

32 JULHO 2009 • Revista da Armada<br />

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LIVROS<br />

PALHEIROS DE MIRA<br />

Formação e <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong> um<br />

aglomerado <strong>de</strong> pescadores<br />

O<br />

estudo agora apresentado é<br />

a 3ª edição, facsimilada da<br />

obra da Prof.ª Doutora Raquel<br />

Soei ro <strong>de</strong> Brito, editada conjuntamente<br />

pela Câmara Municipal <strong>de</strong> Mira<br />

(CMM) e pelo Centro <strong>de</strong> Estudos do<br />

Mar (CEMAR).<br />

A primeira edição foi publicada em<br />

1960, pelo Centro <strong>de</strong> Estudos Geográficos<br />

– Centro <strong>de</strong> Investigação do Instituto<br />

Nacional <strong>de</strong> Investigação Científica<br />

– e uma 2ª em 1981, já facsimilada, por<br />

iniciativa <strong>de</strong>sse mesmo Instituto.<br />

Esta última edição <strong>de</strong>ve-se ao facto<br />

<strong>de</strong> a CCM e o CEMAR estarem a repor algumas obras respeitantes<br />

à terra e às gentes gandarenses, numa tentativa <strong>de</strong> se manter viva<br />

a chama <strong>de</strong> um passado recente porque este trabalho pela sua índole<br />

continua a “viver” com a população piscatória da Praia <strong>de</strong><br />

Mira (nome actual do velho lugar <strong>de</strong> Passeios <strong>de</strong> Mira), “foi um dos<br />

escolhidos para uma primeira série” <strong>de</strong>stas publicações.<br />

<br />

“RONDA FILIPINA”<br />

<strong>de</strong> reflexão. Envolto numa prosa que seduz o enredo<br />

assenta num facto verídico ocorrido em 1617, ano<br />

em que uma frota composta por oito embarcações<br />

<strong>de</strong> corsários argelinos saqueou a ilha do Porto Santo<br />

(Ma<strong>de</strong>ira), levando consigo, cativos, para o Norte<br />

<strong>de</strong> África, 900 dos seus cerca <strong>de</strong> 1000 habitantes.<br />

Regra geral, além da pilhagem, a intenção <strong>de</strong>stes<br />

corsários não era a <strong>de</strong> simplesmente escravizar esta<br />

gente, mas sim a <strong>de</strong> pedir por ela avultados resgates<br />

aos ocupantes do Reino Português, ao tempo Filipe<br />

II <strong>de</strong> Portugal, Filipe III <strong>de</strong> Espanha. Paginas lidas<br />

com interesse e proveito, um encontro <strong>de</strong> culturas,<br />

i<strong>de</strong>ias, i<strong>de</strong>ais, esforços. Uma aventura vivida num<br />

mundo composto por duras realida<strong>de</strong>s, um tempo<br />

dominado por crenças, corsários, caravelas, xavecos,<br />

<strong>de</strong>sertos, mares, diferentes povos, diferentes religiões, mas os<br />

mesmos sonhos e <strong>de</strong>sejos a cumprir.


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QUARTO DE FOLGA<br />

JOGUEMOS O BRIDGE<br />

Problema Nº 120<br />

TAPE AS MÃOS DE E–W PARA TENTAR RESOLVER A 2 MÃOS.<br />

Oeste (W):<br />

<br />

5<br />

<br />

R<br />

D<br />

V<br />

2<br />

<br />

V<br />

10<br />

9<br />

7<br />

3<br />

<br />

D<br />

9<br />

2<br />

<br />

V<br />

10<br />

8<br />

3<br />

<br />

A<br />

R<br />

D<br />

9<br />

2<br />

Norte (N):<br />

<br />

A<br />

7<br />

6<br />

Todos vuln. N-S chegam ao bom contrato <strong>de</strong> 6♠, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um leilão em<br />

que S soube que N tem 12+ pontos, 4 trunfos e 2 Ases. Como <strong>de</strong>verá S<br />

jogar para cumpri-lo após receber a saída a ♥R<br />

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 120<br />

Este (E):<br />

Analisando as 2 mãos constata que tem 10 vazas, pelo que a tentação será fazer<br />

<strong>de</strong> A, dar 1 volta <strong>de</strong> trunfo, baldar uma ♥ no 3º ♦ e <strong>de</strong>pois cortar uma ♥ e<br />

um ♦ no morto, para as outras 2. Conforme se verifica com essa linha vai cabidar,<br />

pois o 3º ♦ é cortado e dá mais uma ♥, nada resolvendo ter dado mais 1<br />

volta <strong>de</strong> trunfo ou <strong>de</strong>strunfado completamente, pois estão 3-1 e ficaria reduzido<br />

a um trunfo no morto, o que era insuficiente. Vejamos pois a linha <strong>de</strong> jogo<br />

para um completo aproveitamento dos trunfos: ♥A, ♣A e ♣ que corta <strong>de</strong> A;<br />

com o 2 vai ao morto no 8 <strong>de</strong> trunfo e joga outro ♣ para cortar <strong>de</strong> R; volta ao<br />

morto em ♦R, joga o último ♣ e corta <strong>de</strong> D; entra no morto montando o 9 <strong>de</strong><br />

trunfo com o V, tira o último trunfo <strong>de</strong> E e balda uma ♥ da mão; joga ♦ para o<br />

A seguido da D baldando uma ♥ no morto e corta o outro ♦, ou até po<strong>de</strong> ser<br />

que o faça para 13 vazas, se, por acaso, W não teve o cuidado <strong>de</strong> segurar os ♦<br />

com as várias baldas a que foi sujeito.<br />

Nunes Marques<br />

CALM AN<br />

<br />

R<br />

5<br />

Sul (S):<br />

<br />

8<br />

5<br />

4<br />

<br />

A<br />

D<br />

6<br />

2<br />

<br />

A<br />

7<br />

6<br />

5<br />

<br />

4<br />

<br />

7<br />

6<br />

4<br />

<br />

10<br />

9<br />

3<br />

<br />

8<br />

4<br />

<br />

R<br />

V<br />

10<br />

8<br />

3<br />

PALAVRAS CRUZADAS<br />

Problema Nº 403<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

8<br />

9<br />

10<br />

11<br />

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11<br />

HORIZONTAIS: 1 – Ave do Brasil ; apelido. 2 – Brilhar; instrumento para encurvar<br />

as calhas das linhas férreas. 3 – Ligam; filho do rei da Tessália, Hermes.<br />

4 – Colocar; causar terror. 5 – Vãs; outra coisa. 6 – Parte saliente da cara, entre<br />

a boca a boca e a testa; ódio, na confusão. 7 – Almofariz; pare, na confusão.<br />

8 – Rio francês; fêmea do toiro; rio suíço. 9 – Filha <strong>de</strong> Catão da Útica; an<strong>de</strong>.<br />

10 – Relativo a hospital ou às doenças que aí se tratam. 11 – Tostas; em Lisboa,<br />

nome popular <strong>de</strong> certa espécie <strong>de</strong> máscaras do Entrudo, que percorriam<br />

as ruas, tentando excitar o riso.<br />

VERTICAIS: 1 – Ave branca do Brasil, notável pelo som metálico do seu canto.<br />

2 – Emendara; no meio da ansa. 3 – Içara; o mesmo que após. 4 – Designativo<br />

<strong>de</strong> estrondo ou <strong>de</strong>tonação; vedado com silvas. 5 – No meio e no final <strong>de</strong> giz;<br />

pequenos arcos. 6 – Nome dado à doença do sono em vários pontos <strong>de</strong> África;<br />

quatrocentos em numeração romana. 7 – Gere na confusão; escu<strong>de</strong>iros. 8<br />

– Membro <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> religiosa <strong>de</strong> homens; mulher que amamenta<br />

criança alheia. 9 – Plaina gran<strong>de</strong>; compreendi coisa escrita (inv). 10 – Sinal cabalístico;<br />

irritavas. 11 – Fruta silvestre; esten<strong>de</strong> no lar, ou na lareira (inv.).<br />

SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 403<br />

HORIZONTAIS: 1 – Arapinga: Sa. 2 – Reluzir; Gim. 3 – Atam; Cefalo. 4 –<br />

Por; Aterrar. 5 – Ocas; Al. 6- Nariz; Odoi. 7 – Gral; Epra. 8 – Aa; Vaca; Aar.<br />

9 – Porcia; Va. 10 – Nosocomial. 11 – Assas; Salsa.<br />

VERTICAIS:1 – Arapongas. 2 – Retocara; Ns. 3 – Alarara; Pos. 4 – Pum;<br />

Silvosa. 5 – Iz; Aros. 6 – Nicto; Cccc. 7 – Gree; Aios. 8 – Fra<strong>de</strong>; Ama. 9 –<br />

Garlopa; Il. 10 – Sila; Iravas. 11 – Amora; Arala.<br />

Carmo Pinto<br />

1TEN REF<br />

CONVÍVIOS<br />

NÚCLEO DE MARINHEIROS DO CONCELHO<br />

DO ALANDROAL<br />

l Realizou-se no passado dia 16 <strong>de</strong> Maio o 4º almoço-convívio do<br />

Núcleo <strong>de</strong> Marinheiros do concelho do Alandroal, Évora, acompanhados<br />

dos seus familiares, no Monte<br />

do Azinhal, Mina do Bugalho.<br />

O próximo almoço-convívio ficou<br />

marcado para Maio <strong>de</strong> 2010, numa<br />

outra freguesia do concelho.<br />

A Comissão Organizadora agra<strong>de</strong>ce<br />

aos que compareceram neste<br />

convívio e faz votos para que no<br />

próximo ano sejamos muitos mais.<br />

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MARINHEIROS DO CONCELHO DO SABUGAL<br />

l Vai realizar-se no próximo dia 1 <strong>de</strong> Agosto, na freguesia da Nave, o 15º encontro<br />

e almoço-convívio dos marinheiros do concelho do Sabugal.<br />

Os interessados <strong>de</strong>verão contactar: – CFR António André TM. 933401889;<br />

Telf. 210883482. – SMOR Isaías André TM. 913862032; Telf. 212531334.<br />

“FILHOS DA ESCOLA” INCORPORAÇÃO DE SETEMBRO<br />

DE 1964<br />

l Realiza-se no dia 26 <strong>de</strong> Setembro na Vila <strong>de</strong> Benavente, no Restaurante<br />

“Miradouro”, o almoço-convívio dos “Filhos da Escola” da incorporação <strong>de</strong><br />

Setembro <strong>de</strong> 1964 que comemoram o seu 45º aniversário <strong>de</strong> incorporação na<br />

Armada. As inscrições <strong>de</strong>verão ser feitas até 18 <strong>de</strong> Setembro.<br />

Para mais informações contactar: Fernando G.Inácio, CMG-Res. Tel: 212<br />

961 837 // 964 016 487; Manuel Raposo, SMOR-Res. Tel: 212 536 280 // 964<br />

044 289.<br />

Revista da Armada • JULHO 2009 33


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NOTÍCIAS PESSOAIS<br />

COMANDOS E CARGOS<br />

NOMEAÇÕES<br />

VALM Luís da Franca <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Alves nomeado Presi<strong>de</strong>nte do Conselho<br />

Superior <strong>de</strong> Disciplina da Armada CTEN Pedro Miguel Rica Gonçalves Vigário<br />

nomeado Comandante do NRP “Afonso Cerqueira”, em substituição do CFR<br />

Rui Alexandre Soares Ribeiro Leite da Cunha.<br />

RESERVA<br />

CMG José Carlos do Vale SCH A José Acácio Nogal SCH MQ António<br />

José dos Santos Coutinho SAJ US João Alberto <strong>de</strong> Almeida Abreu SAJ FZ<br />

Carlos Alberto Lopes Ribeiro SAJ CM Sérgio Afonso <strong>de</strong> Sousa SAJ L António<br />

Manuel Rodrigues Nunes 1SAR B Carlos Alberto Glória Nunes CAB<br />

TFD Zeferino António Gonçalves Emílio.<br />

REFORMA<br />

VALM António João das Neves Bettencourt VALM Carlos António David<br />

da Silva Cardoso VALM João Manuel Lopes Pires Neves CMG FZ Vasco<br />

Manuel Teixeira da Cunha Brazão CFR SEM Joaquim José Valadas Ganhão <br />

CFR OT Ama<strong>de</strong>u Ramos dos Santos CFR Carlos José <strong>de</strong> Jesus da Conceição <br />

CTEN SEM José <strong>de</strong> Pinho Moreira Gil<strong>de</strong> SMOR H António Jacinto Cangalhas<br />

SMOR CM José Joaquim Monforte Monho SCH TF Norberto Manuel SCH<br />

CE José Joaquim Almeida Sameiro SAJ TF Agostinho dos Santos Ferreira SAJ<br />

L Luís Marques Alves SAJ M João Manuel Freire da Graça SAJ M Fernando<br />

Moreira <strong>de</strong> Jesus SAJ A Victorino Joaquim Guerreiro SAJ FZ Mário Loureiro<br />

<strong>de</strong> Amorim SAJ SE Francisco José Borreguilho SAJ H João Manuel Azedo<br />

Gaiato SAJ MQ Ângelo <strong>de</strong> Jesus Gonçalves Flores 1SAR M José Mário Marra<br />

A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> 1SAR CM Manuel Cipriano Efigénio Couvelha 1SAR C Nelson<br />

da Costa Cardoso 1SAR E José António Baptista Veiga 1SAR CM João José<br />

Pereira 1SAR CM Manuel Jacinto Marques Coelho Pereira 1SAR E Manuel<br />

Nascimento Rosa Calisto CAB A Joaquim António Pereirinha Pinto CAB FZ<br />

João Manuel Pereira CAB TFD António Manuel Lopes CAB CM Jorge Manuel<br />

Gomes Pereira CAB E José Manuel da Silva Castro CAB L José Manuel<br />

da Costa Alves CAB CCT António Manuel Ribeiro Rodrigues.<br />

FALECIMENTOS<br />

VALM REF Américo da Silva Santos CTEN OT REF António Miguel Loureiro<br />

Patrão SMOR FZ REF António Ribeiro Pais SAJ CE REF Firmino José<br />

Respício SAJ M REF António da Cruz Domingues 1SAR CM REF Ramiro<br />

Monteiro <strong>de</strong> Magalhães 1SAR MQ REF José Manuel Pacheco Fragoso 1SAR<br />

L RES Eleutério Adrião Martins.<br />

CONVÍVIOS<br />

FUZILEIROS INCORPORADOS NO ANO DE 1979<br />

l No passado dia 16 <strong>de</strong> Maio realizou-se em Leiria, no restaurante<br />

“Vale Gran<strong>de</strong>”, um almoço-convívio comemorativo do 30º aniversário<br />

da incorporação dos Fuzos <strong>de</strong> 79.<br />

O encontro <strong>de</strong>correu num ambiente <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e espírito<br />

<strong>de</strong> camaradagem, tendo estado presentes os “Filhos da Escola”<br />

das 3 incorporações (Abril, Agosto e Dezembro), bem como os seus<br />

familiares. Ficou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo nomeada uma nova Comissão que irá<br />

organizar o convívio <strong>de</strong> 2010, provavelmente no mês <strong>de</strong> Maio.<br />

ASSOCIAÇÃO DE MARINHEIROS<br />

DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO<br />

l Perto <strong>de</strong> uma centena <strong>de</strong> marinheiros <strong>de</strong> toda a região norte esteve<br />

reunida, nos arredores <strong>de</strong> Murça, no passado dia 7 <strong>de</strong> Junho.<br />

Tratou-se do encontro anual organizado pela Associação <strong>de</strong> Marinheiros<br />

<strong>de</strong> Trás-os-Montes e Alto Douro. Esta associação tem ainda<br />

como associados outros marinheiros resi<strong>de</strong>ntes na região norte.<br />

Neste encontro participaram também familiares dos marinheiros<br />

num convívio que contou com a presença <strong>de</strong> um acor<strong>de</strong>onista <strong>de</strong><br />

Murça que muito contribuiu para animar o encontro.<br />

A Associação <strong>de</strong> Marinheiros comemorou assim 10 anos da sua<br />

existência. O encontro terminou com uma visita ao Castro do Pópulo,<br />

que a chuva obrigou a encurtar.<br />

34 MARÇo 2009 • Revista da Armada<br />

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Instalações da <strong>Marinha</strong><br />

17. O De pa r ta m e n t o Marítimo d a Ma d e i r a<br />

Edificado na emblemática Avenida do Mar e das Comunida<strong>de</strong>s<br />

Ma<strong>de</strong>irenses, o edifício da Capitania do Porto do<br />

Funchal encontra-se inserido no nobre espaço do centro<br />

histórico da Cida<strong>de</strong> do Funchal, on<strong>de</strong> se encontra sediado<br />

o Departamento Marítimo da Ma<strong>de</strong>ira (DMM).<br />

O edifício foi projectado pelo então mui prestigiado Arquitecto<br />

João Guilherme Faria da Costa (1906-1971). O Arquitecto<br />

Faria da Costa para além do plano <strong>de</strong> urbanização<br />

da Cida<strong>de</strong> do Funchal, também <strong>de</strong>senvolveu à época, os<br />

planos <strong>de</strong> outras importantes cida<strong>de</strong>s do país, a título <strong>de</strong><br />

exemplo, as Cida<strong>de</strong>s do Seixal e do Montijo.<br />

Em Abril <strong>de</strong> 1945, a Câmara Municipal do Funchal ofereceu<br />

gratuitamente o actual terreno para a construção das<br />

instalações da<br />

Capitania do Porto<br />

do Funchal.<br />

Atento ao terreno<br />

e, com o envio<br />

do projecto<br />

da capitania para<br />

a Direcção-Geral<br />

dos Edifícios<br />

e Monumentos<br />

Nacionais, inicia-<br />

‐se o processo <strong>de</strong><br />

adjudicação da<br />

construção, terminando<br />

com a<br />

sua inauguração<br />

oficial em 28 <strong>de</strong><br />

Maio <strong>de</strong> 1950.<br />

O edifício é<br />

construído em três pisos, no gaveto do Largo dos Varadouros,<br />

uma das antigas entradas do Funchal. Foi projectado<br />

para albergar a Capitania do Porto do Funchal, a residência<br />

do Capitão do Porto, o Tribunal Marítimo e a Casa dos<br />

Pescadores.<br />

Actualmente, funcionam neste edifício, para além do Departamento<br />

Marítimo da Ma<strong>de</strong>ira e da Capitania do Porto<br />

do Funchal:<br />

- O Comando da Zona Marítima da Ma<strong>de</strong>ira;<br />

- O Subcentro <strong>de</strong> Busca e Salvamento Marítimo do<br />

Funchal;<br />

- O Centro <strong>de</strong> Comunicações da Ma<strong>de</strong>ira;<br />

- O Comando Regional da Polícia Marítima da Ma<strong>de</strong>ira;<br />

- O Comando Local da Polícia Marítima do Funchal.<br />

O DMM é nos termos da lei, um órgão regional da Direcção-Geral<br />

da Autorida<strong>de</strong> Marítima (DGAM), funcionando,<br />

face ao actual quadro jurídico, em razão do território, que<br />

engloba na sua esfera <strong>de</strong> competências, as Ilhas da Ma<strong>de</strong>ira,<br />

do Porto santo, das Desertas e das Selvagens, e os respectivos<br />

espaços <strong>de</strong> jurisdição marítima.<br />

Constitui o dispositivo do Departamento Marítimo da Ma<strong>de</strong>ira/Comando<br />

Regional da Polícia Marítima da Ma<strong>de</strong>ira, as<br />

Capitanias do Porto do Funchal/Comando Local da Polícia<br />

Marítima do Funchal e a Capitania do Porto do Porto Santo/<br />

Comando Local da Polícia Marítima do Porto Santo.<br />

A constituição da Capitania do Porto do Funchal tal como<br />

é reconhecida hoje, remonta ao século XIX, sob a alçada<br />

dos Serviços da Alfân<strong>de</strong>ga do Funchal. De acordo com os<br />

registos conhecidos, apenas no ano <strong>de</strong> 1900, passou a ser<br />

chefiada por um oficial superior da Armada <strong>Portuguesa</strong>,<br />

tradição que se esten<strong>de</strong> até aos nossos dias.<br />

Face aos meios portuários entretanto surgidos e às perspectivas<br />

<strong>de</strong> incremento das activida<strong>de</strong>s marítimas ligadas<br />

ao transporte, ao recreio, à pesca e ao turismo, foi criada<br />

em 1987 a Capitania do Porto do Porto Santo 1 , tendo sido<br />

extinta a Delegação Marítima ali existente.<br />

No edifício da<br />

Capitania do Porto<br />

do Porto Santo,<br />

localizado no<br />

centro histórico<br />

da Cida<strong>de</strong> do<br />

Porto Santo, para<br />

além da repartição<br />

marítima,<br />

está nele sediado<br />

o Comando Local<br />

da Polícia Marítima<br />

do Porto Santo.<br />

Durante anos<br />

foi chefiada, em<br />

acumulação <strong>de</strong><br />

funções, por um<br />

Oficial Superior,<br />

Director da Estação<br />

Radionaval <strong>de</strong> Porto Santo, até à sua <strong>de</strong>sactivação em<br />

2005. A partir <strong>de</strong>sta data o Capitão do Porto do Funchal<br />

assumiu, por inerência, as funções <strong>de</strong> Capitão do Porto do<br />

Porto Santo.<br />

Ao longo dos tempos, têm sido muitas as intervenções e<br />

investimentos nos edifícios, nomeadamente ao nível da implementação<br />

das infra-estruturas <strong>de</strong> suporte às novas tecnologias,<br />

equipamento e melhoria substancial das condições<br />

<strong>de</strong> trabalho, apresentando-se hoje um <strong>de</strong>partamento mo<strong>de</strong>rno<br />

e funcional, interligando os seus diferentes serviços,<br />

capaz <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r às exigências do serviço e solicitações<br />

internas e externas.<br />

O Departamento Marítimo da Ma<strong>de</strong>ira conta com uma<br />

lotação <strong>de</strong> 38 elementos (5 Oficiais, 2 Sargentos, 7 Praças,<br />

18 militarizados e 6 Civis), que têm como principal<br />

função exercer e fazer cumprir a Autorida<strong>de</strong> do Estado na<br />

extensão da vasta área <strong>de</strong> jurisdição da Região Autónoma<br />

da Ma<strong>de</strong>ira.<br />

(Colaboração do DEPARTAMENTO MARÍTIMO DA MADEIRA)<br />

Nota<br />

1<br />

Pelo Decreto-Lei nº 363/87 <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> Novembro, do Ministério da Defesa<br />

Nacional.<br />

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Instalações da <strong>Marinha</strong><br />

17. O De pa r ta m e n t o Marítimo d a Ma d e i r a<br />

Capitania do Porto do Funchal<br />

Capitania do Porto do Porto Santo<br />

14 Janeiro 2003 • Revista da Armada<br />

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