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Mesas-Redondas 2011 - Semana de Letras - UFSC

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Página29<br />

reconstrução <strong>de</strong> um mundo perdido numa relação mais próxima do corpo. Esta mesa-redonda preten<strong>de</strong> discutir<br />

alguns aspectos da obra <strong>de</strong> Flávio <strong>de</strong> Carvalho tendo em vista a cida<strong>de</strong>, a memória, a experiência e o corpo.<br />

Resumo <strong>de</strong> Flávia Cera:<br />

Flávio <strong>de</strong> Carvalho, precursor do happening<br />

Nos anos 1960 algumas manifestações artísticas da América Latina, sobretudo, no Brasil e Argentina, repensaram o<br />

conceito <strong>de</strong> experiência através da prática do happening. Já no entre-guerras o conceito <strong>de</strong> experiência havia sido<br />

reformulado. O texto mais conhecido <strong>de</strong>ste período é Experiência e Pobreza <strong>de</strong> Walter Benjamin. Mas também<br />

temos, em outro contexto, a publicação <strong>de</strong> África Fantasma em 1934, <strong>de</strong> Michel Leiris, que coloca em questão a<br />

experiência etnológica e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> narrar as experiências vividas. E, no Brasil, tivemos Flávio <strong>de</strong> Carvalho,<br />

integrante extemporâneo da <strong>Semana</strong> <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna e <strong>de</strong>legado antropófago no IV Congresso Panamericano <strong>de</strong><br />

Arquitetos, que publica, em 1931, o relato e análise <strong>de</strong> sua Experiência nº 2 que consistiu em atravessar na<br />

contramão e <strong>de</strong> boné uma procissão <strong>de</strong> Corpus Christi. Em 1933, Flávio <strong>de</strong> Carvalho criou o Teatro da Experiência<br />

que fazia parte do Clube dos Artistas Mo<strong>de</strong>rnos (CAM) on<strong>de</strong> seria encenada a peça <strong>de</strong> sua autoria “O Bailado do Deus<br />

Morto”. Flávio <strong>de</strong> Carvalho prossegue realizando experiências: em 1956, <strong>de</strong>sfila em São Paulo para apresentar o<br />

“new look”, traje i<strong>de</strong>al para o homem dos trópicos; em 1958 segue em uma expedição <strong>de</strong> primeiro contato com os<br />

índios <strong>de</strong> uma tribo do alto rio Negro. A proposta do trabalho consiste em analisar o conceito <strong>de</strong> experiência e sua<br />

íntima relação com a prática do happening que se <strong>de</strong>senvolve nos anos 60, sobretudo no Grupo Rex, formado em<br />

1966, que reivindica Flávio <strong>de</strong> Carvalho para sua composição.<br />

Resumo <strong>de</strong> Larissa Costa da Mata:<br />

Renovando o mundo velho: Flávio <strong>de</strong> Carvalho e as coleções<br />

O artista brasileiro Flávio <strong>de</strong> Carvalho <strong>de</strong>dica parte das “Notas para a reconstrução <strong>de</strong> um mundo perdido”,<br />

publicadas no Diário <strong>de</strong> São Paulo entre 1957 e 1958, ao que <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> “culto ao herói”, por meio do qual retoma<br />

a oposição, sempre reiterada em seus escritos, a instituições como a Igreja e o Estado e recupera a sua proximida<strong>de</strong><br />

da antropofagia mo<strong>de</strong>rnista, mais intensa nos anos 1930. A sua reflexão sobre o “culto ao herói”, formulada com<br />

base na antropologia <strong>de</strong> Sir James Frazer e na psicanálise <strong>de</strong> Sigmund Freud, nos sugere que a fundação, assim como<br />

a imagem do corpo, se caracteriza pela fissura. Desse modo, a memória implicada nesse culto passa a consistir em<br />

um passado que se inscreve no corpo e não cessa <strong>de</strong> retornar, como vemos a partir <strong>de</strong> Henri Bergson em Matéria e<br />

memória.<br />

Resumo <strong>de</strong> Vanessa Daniele <strong>de</strong> Moraes:<br />

O culto ao herói no Mundo perdido <strong>de</strong> Flávio <strong>de</strong> Carvalho<br />

Num universo <strong>de</strong> coleções, o trabalho evi<strong>de</strong>ncia o pensamento <strong>de</strong> Flávio <strong>de</strong> Carvalho, que aborda temas como o<br />

passado e a memória, e explicita a noção <strong>de</strong> sugestibilida<strong>de</strong> que o objeto colecionado po<strong>de</strong> trazer, uma vez que este<br />

objeto vive tanto quanto o próprio indivíduo. Não obstante, consi<strong>de</strong>ramos a teoria <strong>de</strong> Walter Benjamin, com seu<br />

conceito <strong>de</strong> rememoração, em que se dá atenção ao presente com aquilo que ficou do passado. Partindo da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

que toda coleção traz consigo um resíduo, <strong>de</strong>staca-se o sujeito que tensiona a or<strong>de</strong>m e a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m daquilo que<br />

reúne. Importa-nos o colecionador que ignora o valor mercadológico dos objetos, mas que dá valor à memória que o<br />

passado po<strong>de</strong> suscitar nos itens <strong>de</strong> sua coleção. Sendo a rememoração um retorno - mesmo que involuntário - ao<br />

passado, os cheiros potencializam esses caminhos, tanto para Proust quanto para Flávio.<br />

Resumo <strong>de</strong> Giórgio Zimann Gislon:<br />

Experiência N.2 – uma <strong>de</strong>riva avant la lettre<br />

Em 1931, Flávio <strong>de</strong> Carvalho realizou a Experiência N.2. Ela consistiu em caminhar, em São Paulo, na contramão <strong>de</strong><br />

uma procissão <strong>de</strong> Corpus Christi sem, apesar da insistência da massa <strong>de</strong> fiéis, tirar o chapéu. O artista narrou a<br />

Experiência N.2, que quase acabou em linchamento, em livro, que contém um capítulo intitulado “Análise”. Nele,<br />

Flávio <strong>de</strong> Carvalho utiliza conceitos freudianos como totem e fetiche para dar conta do que ele mesmo chamava <strong>de</strong><br />

experiência <strong>de</strong> psicologia <strong>de</strong> massas. Aqui, busca-se analisar a Experiência N.2 <strong>de</strong>ntro das discussões sobre cida<strong>de</strong>.<br />

Para tanto, o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>riva, elaborado por Guy Debord e publicado na revista <strong>de</strong> Internacional Situacionista em<br />

1958, po<strong>de</strong> contribuir. Pois a <strong>de</strong>riva situacionista é baseada no jogo e no acaso, características evi<strong>de</strong>ntes do<br />

experimento do arquiteto paulista. Assim, a comunicação busca vagar em torno da pergunta: fez ou não Flávio <strong>de</strong><br />

Carvalho uma <strong>de</strong>riva avant la lettre

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