#O meio é a mensagem: uma aproximação a McLuhan. - Nomads.usp
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# O <strong>meio</strong> <strong>é</strong> a <strong>mensagem</strong>: <strong>uma</strong> <strong>aproximação</strong> a <strong>McLuhan</strong>.<br />
“O <strong>meio</strong> <strong>é</strong> a <strong>mensagem</strong>” significa, em termos da era eletrônica, que já se criou um ambiente<br />
totalmente novo. O conteúdo deste novo ambiente <strong>é</strong> o velho ambiente mecanizado da era<br />
industrial. O novo ambiente reprocessa o velho tão radicalmente quanto a TV está reprocessando o<br />
cinema.” (McLUHAN, 1974: p. 11)<br />
Herbert Marshall <strong>McLuhan</strong>, professor de diversas universidades no Canadá e nos Estados Unidos<br />
aparece como teórico com especial atenção à pesquisa, devido sua influência como pensador do universo de<br />
mídias de comunicação em massa que surgiam com a eletricidade (em especial rádio e televisão). Dentre seus<br />
livros que tiveram grande influência, detacam-se “A galáxia de Gutenberg” de 1962 (livro que Castells faz alusão<br />
no seu “A Galáxia da Internet”) e “Os <strong>meio</strong>s de comunicação como extensões do homem” de 1974. Entender<br />
minimamente <strong>McLuhan</strong> <strong>é</strong> de extrema importância graças as suas preocupações, mais com a abrangência das<br />
mídias do que das mensagens e seus conteúdos, garantindo um panorama da ação comunicativa como<br />
norteadora da comunicação em rede, hoje em abundância com as tecnologias digitais, como discutido na<br />
passagem anterior. A obra de <strong>McLuhan</strong>, portanto, apresenta um conteúdo chave para a compreensão dos <strong>meio</strong>s<br />
de comunicação como ferramentas de compartilhamento de informação e conhecimento que se redimensionam<br />
na era eletrônica, portanto, dos <strong>meio</strong>s de comunicação como (necessárias) extensões do homem atrav<strong>é</strong>s das (na<br />
<strong>é</strong>poca) novas mídias.<br />
No período da Guerra Fria, desenvolvimento de tecnologias de comunicação era sinônimo de poderio<br />
em alcance global, cientes os envolvidos da importância estrat<strong>é</strong>gica adquirida. O rádio, por exemplo, tecnologia<br />
barata dada o número de pessoas atingidas e a economia t<strong>é</strong>cnica necessária, era um exemplo de como era<br />
possível que as informações atingissem esse âmbito global, fato que foi posteriormente reiterado pela televisão.<br />
Dentro das cidades, ocorriam as principais influências dessas mídias:<br />
“As cidades, ao mesmo tempo em que ganhavam a possibilidade de reflorescerem suas<br />
características ímpares via rádio, ao inv<strong>é</strong>s do pensamento nacionalizante do jornal, ganhavam<br />
dimensões intercontinentais e delas recebiam influencias. Com o radio as informações de diversas<br />
partes do mundo chegavam ao vivo e influenciavam as comunidades locais – um exemplo típico era<br />
o movimento das bolsas de valores. O radio inaugurava a dimensão el<strong>é</strong>trica das cidades,<br />
proporcionando <strong>uma</strong> multiplicidade informacional e reaviando a percepção auditiva que fora<br />
abandonada pelo jornal.” (DUARTE, 1999: p.67)<br />
A televisão, como já discutido anteriormente, potencializaria ainda mais esse alcance global de<br />
informação proporcionada pelo rádio na medida em que envolvia e criava opiniões. Desta forma, o conceito de<br />
<strong>McLuhan</strong> – o <strong>meio</strong> <strong>é</strong> a <strong>mensagem</strong>, se une à sua noção de “aldeia global”, que, de fato, caracteriza a abrangência<br />
dessas novas tecnologias na, então nascente, era da informação. Para Castells:<br />
“A difusão da televisão nas três d<strong>é</strong>cadas após a Segunda Guerra Mundial (...) criou <strong>uma</strong> nova<br />
galáxia de comunicação, permitindo-me usar a terminologia de <strong>McLuhan</strong>. Não que os outros <strong>meio</strong>s<br />
de comunicação desaparecessem, mas foram reestruturados em um sistema cujo coração<br />
compunha-se de válvulas eletrônicas e cujo rosto atraente era <strong>uma</strong> tela de televisão. O rádio<br />
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perdeu sua centralidade, mas ganhou em penetrabilidade e flexibilidade, adaptando modalidades e<br />
temas ao ritmo da vida cotidiana das pessoas.” (CASTELLS, 1999: p. 415)<br />
E mais al<strong>é</strong>m:<br />
“O que era fundamentalmente novo na televisão A novidade não era tanto seu poder centralizador<br />
e potencial como instrumento de doutrinação [afinal o rádio já o era]. (...) O que a TV representou,<br />
antes de tudo, foi o fim da Galáxia de Gutenberg, ou seja, de um sistema de comunicação<br />
essencialmente dominado pela mente tipográfica e pela ordem do alfabeto fon<strong>é</strong>tico.” (CASTELLS,<br />
1999: p. 417)<br />
Para <strong>McLuhan</strong>, e daí <strong>uma</strong> de suas análises bem apropriadas, o <strong>meio</strong> <strong>é</strong> essencialmente a <strong>mensagem</strong> na<br />
medida em que “<strong>é</strong> o <strong>meio</strong> que configura e controla a proporção e a forma das ações e associações h<strong>uma</strong>nas” e<br />
“o conteúdo desses <strong>meio</strong>s são tão diversos quanto ineficazes na estruturação da forma das associações<br />
h<strong>uma</strong>nas”, já que o “conteúdo” de qualquer <strong>meio</strong> ou veículo <strong>é</strong> sempre um outro <strong>meio</strong> ou veículo. Utilizando<br />
como exemplo a luz el<strong>é</strong>trica como <strong>meio</strong>, <strong>McLuhan</strong> afirma que ela <strong>é</strong> informação pura (quando não ilumina um<br />
anúncio) e que não quer constituir nenhum tipo de significado, embora haja dificuldade na percepção da luz<br />
el<strong>é</strong>trica como <strong>meio</strong> de comunicação, ou seja:<br />
“A <strong>mensagem</strong> da luz el<strong>é</strong>trica <strong>é</strong> como a <strong>mensagem</strong> da energia el<strong>é</strong>trica na industria: totalmente<br />
radical, difusa e descentralizada. Embora desligadas de seus usos, tanto a luz como a energia<br />
el<strong>é</strong>trica eliminam os fatores de tempo e espaço da associação h<strong>uma</strong>na como o fazem o rádio, o<br />
tel<strong>é</strong>grafo, o telefone e a televisão, criando participação em profundidade.” (McLUHAN, 1974:<br />
p.23)<br />
E indo al<strong>é</strong>m, a <strong>mensagem</strong> seria, no caso:<br />
“a mudança de escala, cadência ou padrão que esse <strong>meio</strong> ou tecnologia introduz nas coisas<br />
h<strong>uma</strong>nas. A estrada de ferro não introduziu movimento, transporte, roda ou caminhos na sociedade<br />
h<strong>uma</strong>na, mas acelerou e ampliou a escala das funções h<strong>uma</strong>nas anteriores, criando tipos de<br />
cidades, de trabalho e de lazer totalmente novos.” (McLUHAN, 1974: p. 22)<br />
Como coloca Duarte (1999), a eletricidade foi um dos mais excepcionais e revolucionários <strong>meio</strong>s do<br />
s<strong>é</strong>culo XX, superando a linearidade nas tecnologias mecânicas e atribuindo novas dinâmicas na sociedade e seus<br />
<strong>meio</strong>s de produção, desde a ruptura da seqüência dia/noite at<strong>é</strong> a possibilidade de transmissão de informações<br />
em redes globais. Como propõe:<br />
“As transformações tecnológicas recriam nossas noções de território e habitat, que são a base da<br />
arquitetura; e <strong>McLuhan</strong>, vivendo num universo polissensorial de circuitos el<strong>é</strong>tricos, propunha que<br />
vivíamos num mundo onde as mudanças territoriais seriam cruciais, a ponto de todas as<br />
transformações recentes – como a consolidação dos nacionalismos do s<strong>é</strong>culo XIX – serem<br />
implodidas. Acreditava-se que, se a palavra impressa possibilitou a explosão de nossa consciência,<br />
exemplificando com a consolidação dos Estados nacionais, a era el<strong>é</strong>trica, notadamente da televisão,<br />
implodiria a nossa civilização, transformando-a n<strong>uma</strong> “aldeia global”, onde todas as ações seriam<br />
interdependentes e, com isso, viveríamos todos num território informacional único.” (DUARTE,<br />
1999: p.70)<br />
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Para <strong>McLuhan</strong>, a “aldeia global” seria a representação mais clara da ligação do mundo inteiro atrav<strong>é</strong>s<br />
de circuitos el<strong>é</strong>tricos, propagados pelos <strong>meio</strong>s de comunicação emergentes (telefone, rádio, televisão), capazes<br />
de criar um mundo altamente conectado, onde cada um deveria compreender seu papel e suas relações, ou<br />
seja, a substituição de <strong>uma</strong> consciência individual para <strong>uma</strong> id<strong>é</strong>ia global. E foi essa galáxia imaginada por <strong>McLuhan</strong><br />
capaz de construir interações sólidas nos modos de vida na expressão cultural de muitos povos. Para Baudrillard<br />
o conceito de <strong>McLuhan</strong>, “o <strong>meio</strong> <strong>é</strong> a <strong>mensagem</strong>”, era “a fórmula-chave na era da simulação” e, com muita<br />
certeza o grau de complexidade que as tecnologias de informação e comunicação imprimiram nas ações<br />
cotidianas, muito tinha a ver tamb<strong>é</strong>m como <strong>uma</strong> certa deformação da realidade, da exposição plena e<br />
escancarada de simulacros que se tornaram lugar-comum na então dita pós-modernidade. E talvez seja essa a<br />
fórmula central da cultura de nossa <strong>é</strong>poca:<br />
“(...) a mídia <strong>é</strong> a expressão de nossa cultura, e nossa cultura funciona principalmente por<br />
interm<strong>é</strong>dio dos materiais propiciados pela mídia. Nesse sentido fundamental, o sistema de mídia de<br />
massa completou a maioria das características sugeridas por <strong>McLuhan</strong> no início dos anos 60: era a<br />
Galáxia de <strong>McLuhan</strong>. Entretanto, o fato de a audiência não ser objeto passivo, mas sujeito<br />
interativo, abriu o caminho para sua diferenciação e subseqüente transformação da mídia que, de<br />
comunicação de massa, passou à segmentação, adequação ao público e individualização, a partir do<br />
momento em que a tecnologia, empresas e instituições permitiram essas iniciativas.” (CASTELLS,<br />
1999: p. 422)<br />
É claro que hoje as dimensões que essa galáxia tomou <strong>é</strong> capaz de absorver de forma ainda mais integral<br />
a relação que o indivíduo/usuário tem com espaço, sobretudo com o espaço virtual já que, na grande maioria das<br />
vezes, as inovações conseguidas pelas tecnologias de informação e comunicação não são incluídas na<br />
configuração espacial/organizacional de um projeto. É claro que, se pensarmos na relação entre os espaços<br />
urbanos de nossas cidades atuais e as extensas redes de comunicação, irrelevante seria a influência física n<strong>uma</strong><br />
primeira instância já que os cabos e fibras óticas são capazes de contornar as velhas estruturas urbanas,<br />
conectando o que (ou quem) anteriormente não passava de fragmento. Talvez devêssemos repensar nossas<br />
ferramentas e redefinir conteúdos, já que o <strong>meio</strong> nos abre possibilidades de novas mensagens.<br />
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