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meteorologia geral - Redemet - Força Aérea Brasileira

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FORÇA AÉREA BRASILEIRA<br />

ESCOLA DE ESPECIALISTAS DE<br />

AERONÁUTICA<br />

METEOROLOGIA GERAL<br />

(MÓDULO ÚNICO)<br />

BMT<br />

CFS


IMPRESSO NO SETOR GRÁFICO DA EEAR<br />

2


SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL<br />

ESCOLA DE ESPECIALISTAS DE AERONÁUTICA<br />

ENSINO INDIVIDUALIZADO<br />

DISCIPLINA: METEOROLOGIA GERAL<br />

MÓDULO ÚNICO<br />

METEOROLOGIA GERAL<br />

ELABORAÇÃO: JOSÉ HÉLIO ABREU NOGUEIRA - 3S BMT / 2005<br />

COLABORAÇÃO: ROSEANNE MACHADO FERNANDES – 3S BMT/2005


DOCUMENTO DE PROPRIEDADE DA EEAR<br />

Todos os Direitos Reservados<br />

Nos termos da legislação sobre direitos autorais, é proibida a reprodução<br />

total ou parcial deste documento, utilizando-se qualquer forma ou meio eletrônico ou<br />

mecânico, inclusive processos xerográficos de fotocópias e de gravação sem a<br />

permissão, expressa e por escrito, da Escola de Especialistas de Aeronáutica-<br />

Guaratinguetá- SP.<br />

2


ÍNDICE<br />

PÁG.<br />

Introdução.................................................................................................................................04<br />

Roteiro de atividade..................................................................................................................05<br />

Texto I- ESTRUTURA DA METEOROLOGIA.......................................................................06<br />

Texto II- A TERRA E A RADIAÇÃO SOLAR........................................................................11<br />

Texto III- CALOR E TEMPERATURA NA ATMOSFERA...................................................24<br />

Texto IV- PRESSÃO ATMOSFÉRICA....................................................................................31<br />

Texto V- UMIDADE ATMOSFÉRICA.....................................................................................39<br />

Texto VI- CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO DO AR.................................................................51<br />

Texto VII- A ATMOSFERA PADRÃO E A ALTIMETRIA...................................................57<br />

Texto VIII- A ATMOSFERA EM MOVIMENTO...................................................................65<br />

Texto IX- MASSAS DE AR E FRENTES................................................................................83<br />

Texto X- PERTURBAÇÕES ATMOSFÉRICAS......................................................................93<br />

Texto XI- PROBLEMAS CLIMÁTICOS ATUAIS................................................................103<br />

Texto XII- FORMAÇÃO DE GELO EM AERONAVES.........................................................106<br />

Texto XIII- CLIMATOLOGIA.................................................................................................109<br />

Texto XIV- METEOROLOGIA ESPACIAL............................................................................114<br />

Bibliografia................................................................................................................................121<br />

3


INTRODUÇÃO<br />

O presente módulo, destinado aos alunos da 1ª Série do Curso de Formação de<br />

Sargentos, da especialidade de Meteorologia, tem por finalidade apresentar os conhecimentos<br />

básicos essenciais para o aprendizado desta ciência.<br />

Nosso principal objetivo é expor, aos que nela se iniciam, os fenômenos relativos à<br />

atmosfera terrestre, de maneira simples e objetiva, de forma a proporcionar-lhes subsídios para<br />

melhor compreensão do dia-a-dia.<br />

Assim, não é nosso intento, aqui, ensinar os princípios correlatos à previsão do<br />

tempo, mas sim apresentar o necessário para um bom desempenho profissional das atividades<br />

fundamentais àqueles que serão futuros integrantes do Serviço de Proteção ao Vôo.<br />

Os responsáveis pelo texto, cientes de que ainda não elaboraram um trabalho<br />

completo, sobretudo pela atual inconstância do tempo, agradecem antecipadamente quaisquer<br />

sugestões que tenham como objetivo o aprimoramento das próximas edições.<br />

4


ROTEIRO DE ATIVIDADES<br />

I- Assunto: METEOROLOGIA GERAL<br />

II- Objetivo: ao término do estudo deste módulo, você estará apto a identificar os fenômenos<br />

atmosféricos, suas causas e conseqüências.<br />

III- Atividade de ensino: este módulo é composto de quatorze textos:<br />

a- Texto I - Estrutura da Meteorologia<br />

b- Texto II - A Terra e a Radiação Solar<br />

c- Texto III - Calor e Temperatura na Atmosfera<br />

d- Texto IV - Pressão Atmosférica<br />

e- Texto V - Umidade Atmosférica<br />

f- Texto VI - Condições de Equilíbrio do Ar<br />

g- Texto VII - A Atmosfera Padrão e Altimetria<br />

h- Texto VIII - A Atmosfera em Movimento<br />

i- Texto IX - Massas de Ar e Frentes<br />

j- Texto X - Perturbações Atmosféricas<br />

k- Texto XI - Problemas Climáticos Atuais<br />

l- Texto XII - Formação de Gelo em Aeronaves<br />

m-Texto XIII - Climatologia<br />

n- Texto XIV - Meteorologia Espacial<br />

Para dominar os conteúdos abordados neste módulo e alcançar o desempenho<br />

exigido, você deverá ler com bastante atenção. Não passe adiante enquanto houver dúvidas.<br />

5


TEXTO I<br />

ESTRUTURA DA METEOROLOGIA<br />

1 - Introdução<br />

Ao longo dos séculos, observadores do céu e dos ventos, tais como agricultores,<br />

navegantes e pastores acumularam certos conhecimentos práticos capazes de possibilitar<br />

prognósticos com relativa precisão sobre mudanças do tempo. Atualmente, a Meteorologia e seus<br />

observadores contam com recursos tecnológicos e meios avançados para indicarem as condições<br />

do tempo com a melhor precisão possível. Baseada na Física e na Matemática, entre outras<br />

ciências, a Meteorologia deixou de ser fruto apenas do empirismo, da subjetividade, passando a<br />

ser uma ciência exata e precisa, através de modelos e métodos de previsão desenvolvidos e com<br />

auxílio de supercomputadores no processamento de dados meteorológicos. Entretanto, para que<br />

isso ocorra faz-se necessário conhecimento e responsabilidade por parte dos integrantes da ciência<br />

meteorológica – observadores e previsores – fazendo com que a exatidão da informação seja<br />

alcançada em escala global.<br />

1.1 - Definição<br />

O vocábulo Meteorologia, de origem grega, apresenta a seguinte etimologia:<br />

• Meteoro: significando fenômenos (atmosféricos);<br />

• Logus: significando estudo (tratado).<br />

Assim, a Meteorologia é a ciência que se destina ao estudo dos fenômenos que ocorrem na<br />

atmosfera terrestre.<br />

1.2 - Histórico<br />

A Meteorologia, assim com as demais ciências, evoluiu de acordo com o avanço<br />

tecnológico proporcionado pelas civilizações ao longo do tempo. Diante do exposto, alguns<br />

historiadores atribuem a Aristóteles a primeira citação dada à Meteorologia em sua obra<br />

“Meteorologa”. Daí em diante outros povos (palestinos, indianos, gregos etc) passaram a observar<br />

fenômenos naturais como a precipitação, o vento a umidade do ar entre outros.<br />

A partir do século XVI aproximadamente, começaram a surgir instrumentos capazes de<br />

medir e/ou registrar alguns desses parâmetros meteorológicos, como em 1580, quando Galileu<br />

Galilei inventou o termômetro. Barômetros, higrômetros, anemômetros e psicrômetros são<br />

exemplos de alguns instrumentos inventados. Além disso, conceitos e teorias também foram<br />

desenvolvidos, como por exemplo a circulação atmosférica nos trópicos descrita por G. Hadlen,<br />

em 1735, e métodos de se intercambiar e padronizar o serviço meteorológico (plotagem, rede<br />

meteorológica, horas padrões...)foram aperfeiçoados através de congressos mundiais.<br />

Já no século XX, valiosos aliados como a radiossonda, satélites, radares e computadores<br />

vieram a impulsionar a <strong>meteorologia</strong> no campo tecnológico, tornando as observações e<br />

conseqüentes previsões mais exatas e seguras.<br />

2 - Estrutura da Organização Meteorológica<br />

A Meteorologia abrange várias áreas das atividades humanas ( aeronáuticas, marítimas,<br />

agrícolas...) o que a torna uma ciência de alcance global. Organizá-la, portanto , é uma tarefa<br />

difícil e que deve atender aos diversos ramos de aplicação. Para isso, em 1951, foi criada a<br />

Organização Meteorológica Mundial (O.M.M.), sediada em Genebra (Suíça) com a finalidade de<br />

coordenar o desenvolvimento das atividades de <strong>meteorologia</strong> no mundo. Como membro da<br />

6


Organização das Nações Unidas, compõe-se de aproximadamente 200 países. A OMM, como<br />

organização mundial, está estruturada com os seguintes órgãos ( dados de 1991):<br />

Congresso Meteorológico Mundial : órgão supremo que reúne, uma vez a cada quarto anos, os<br />

representantes de todos os estados-membros, para determinar as normas gerais para o<br />

cumprimento das finalidades da organização.<br />

Comitê executivo : órgão composto de 24 membros, entre eles os presidentes das associações<br />

regionais, e que se reúne uma vez pelo menos a cada ano, com a finalidade de supervisionar os<br />

programas aprovados pelo Congresso.<br />

Associações regionais : em número de seis, também denominadas Regiões, reunem-se a cada 04<br />

anos e têm por finalidade coordenar as atividades meteorológicas dentro das mesmas. São elas:<br />

Região I<br />

Região II<br />

Região III<br />

Região IV<br />

Região V<br />

Região VI<br />

África<br />

Ásia<br />

América do Sul<br />

América do Norte e Central<br />

Pacífico Sudoeste<br />

Europa<br />

Comissões técnicas : são aquelas formadas por elementos designados pelos membros<br />

responsáveis pelo estudo dos ramos técnicos especiais da Meteorologia relativos à observação,<br />

análise, previsão, pesquisa e aplicações. Cada país membro pode representar-se em qualquer<br />

comissão. São elas:<br />

Meteorologia Agrícola<br />

Meteorologia Marítima<br />

Sistemas Básicos<br />

Meteorologia Aeronáutica<br />

Climatologia<br />

Hidrologia<br />

Ciências Atmosféricas<br />

Aplicações Especiais<br />

Instrumentos e Métodos de Observação<br />

Para atender às necessidades da <strong>meteorologia</strong> no campo da aviação, foi criada em 1947 a<br />

OACI, sediada em Montreal (Canadá), com o objetivo de coordenar as atividades relacionadas à<br />

segurança, economia e ao desenvolvimento das atividades aeronáuticas. Também é filiada da<br />

ONU.<br />

2.1 - A Meteorologia no mundo<br />

Os esforços internacionais em termos meteorológicos realizados nos últimos anos, levaram<br />

à criação de um sistema mundial muito eficaz de observação e controle da atmosfera. Trata-se da<br />

chamada Vigilância Meteorológica Mundial (VMM) que, para o fiel cumprimento de sua<br />

finalidade, vale-se de três grandes articulações.<br />

7


Sistema Mundial de Observações : compreende estações meteorológicas terrestres, marítimas,<br />

oceânicas e automáticas; aviões de reconhecimento meteorológico, radar e satélites<br />

meteorológicos além de outros métodos de observação.<br />

Sistema Mundial de Telecomunicações : compreende um complexo de comunicações, destinado<br />

a veicular as informações meteorológicas através dos Centros Mundiais e Regionais de<br />

Telecomunicações.<br />

Sistema Mundial de Previsão de Área (WAFS) : localizado em Washington (EUA),<br />

compreende dois Centros Mundiais de Previsão de Área (WAFC), localizados em Washington<br />

(principal) e Londres, e os Centros Nacionais de Meteorologia Aeronáutica espalhados em vários<br />

países, como no Brasil (Brasília), por exemplo.<br />

Hoje, graças ao desenvolvimento tecnológico, a Meteorologia está convenientemente<br />

aparelhada para enfrentar o desafio a que se propôs, ou seja, a análise, a previsão e o controle das<br />

condições atmosféricas<br />

2.2 - A Meteorologia no Brasil<br />

No Brasil, atuam na Meteorologia os seguintes serviços:<br />

Ministério da Agricultura (INMET)<br />

Ministério da Ciência e Tecnologia (CPTEC/INPE)<br />

Ministério da Defesa (Aeronáutica, Marinha etc)<br />

Entretanto, o órgão oficial de Meteorologia em nosso país é o Instituto Nacional de<br />

Meteorologia (INMET), pertencente ao Ministério da Agricultura, que inclusive é o representante<br />

brasileiro junto à OMM.<br />

O INMET tem por missão precípua coordenar as funções administrativas da Rede<br />

Meteorológica Nacional, tendo em vista aplicações da Meteorologia às diferentes atividades<br />

humanas, em especial às agropecuárias. Os dados de suas estações sinóticas são coletados pelos<br />

centros receptores de Brasília e do Rio de Janeiro, que, após plotados e analisados, originam<br />

previsões para todo o território nacional.<br />

Já a Meteorologia Aeronáutica, em nosso país, é coordenada pela Divisão de Meteorologia<br />

(D-MET) do Comando da Aeronáutica, órgão pertencente ao DECEA (Departamento de Controle<br />

do Espaço Aéreo) que é filiada internacionalmente à Organização de Aviação Civil Internacional<br />

(OACI).<br />

Para a consecução de seus objetivos, a D-MET dispõe da chamada Rede Meteorológica de<br />

Proteção ao Vôo, composta de uma Rede de Estações Meteorológicas e de uma Rede de Centros<br />

Meteorológicos, como vemos a seguir:<br />

REDE DE ESTAÇÕES METEOROLÓGICAS<br />

Estações Meteorológicas de Superfície (EMS)<br />

Estações Meteorológicas de Altitude (EMA)<br />

Estações de Radar Meteorológico (ERM)<br />

REDE DE CENTROS METEOROLÓGICOS<br />

Centro Nacional de Meteorologia Aeronáutica<br />

(CNMA)<br />

Centros Meteorológicos de Aeródromo (CMA)<br />

Centros Meteorológicos de Vigilância (CMV)<br />

Centros Meteorológicos Militares (CMM)<br />

Os dados sinóticos das estações meteorológicas da Rede de Proteção ao Vôo são coletados<br />

pelos Centros Meteorológicos respectivos, em que são plotados e analisados, para gerarem as<br />

8


previsões que serão empregadas visando à segurança, eficiência e economia do vôo. Outrossim,<br />

são ainda difundidas juntamente com os dados das estações do INMET em âmbito internacional.<br />

Os dados horários são armazenados no Banco de Informações Operacionais<br />

Meteorológicas (OPMET), localizado em Brasília, de onde podem ser difundidos,<br />

automaticamente para os Centros de Previsão e, mediante solicitação, às localidades que estejam<br />

integradas ao sistema de proteção ao vôo.<br />

2.2.1 - Definição das Estações e dos Centros Meteorológicos<br />

EMS - tem como finalidade efetuar observação à superfície para fins aeronáuticos e sinóticos<br />

através de estimativas e equipamentos; são instaladas nos aeródromos.<br />

EMA - tem por finalidade coletar, através de radiossondagem, dados dos níveis superiores da<br />

atmosfera (pressão, temperatura, umidade do ar e vento dos níveis superiores).<br />

ERM - tem como objetivo detectar fenômenos adversos e fazer vigilância meteorológica constante<br />

na sua área de cobertura.<br />

CNMA - órgão integrante do sistema mundial de previsão de área com finalidade de preparar<br />

cartas meteorológicas de previsão e repassá-las aos centros meteorológicos subordinados.<br />

CMA - tem a responsabilidade de prestar apoio à navegação aérea nos aeródromos em que<br />

estiverem localizados.<br />

CMM - sediados nas bases aéreas, objetiva apoiar especificamente à aviação militar.<br />

CMV - tem por finalidade monitorar as condições meteorológicas reinantes na sua área de<br />

vigilância, através da expedição e recebimento de informações meteorológicas adversas ao vôo.<br />

Todos os serviços de aviação do mundo mantêm um corpo de observadores do tempo<br />

(civis ou militares), cujo dever é detectar regularmente e com precisão as condições atmosféricas<br />

reinantes em seus locais de trabalho (estações meteorológicas) e divulgá-las de imediato numa<br />

forma codificada para o uso de previsores, aeronavegantes, controladores de tráfego aéreo e outros<br />

interessados. Esses profissionais têm uma grande responsabilidade, pois da precisão de seu<br />

trabalho dependerá a segurança de tripulações, passageiros e outras pessoas.<br />

3 - Divisão e aplicação da Meteorologia<br />

Segundo a natureza de seu estudo, a Meteorologia é dividida em duas grandes áreas:<br />

Meteorologia Pura e Meteorologia Aplicada.<br />

3.1 - Meteorologia Pura<br />

Aquela cujo estudo é voltado diretamente para a pesquisa. Compreende, dentre outros, os<br />

seguintes ramos:<br />

Meteorologia sinótica : que compreende o estudo analítico dos processos físicos que ocorrem na<br />

atmosfera e se constitui na base das análises e previsões.<br />

Meteorologia dinâmica : que compreende a interpretação matemática dos processos físicos que<br />

ocorrem na atmosfera.<br />

Meteorologia tropical : que cuida dos processos físicos da atmosfera das latitudes tropicais.<br />

9


Meteorologia polar : que cuida dos processos físicos da atmosfera das latitudes polares.<br />

Paleoclimatologia : que estuda a evolução da atmosfera desde a sua origem.<br />

Climatologia : que estuda a evolução dos processos físicos que ocorrem na atmosfera.<br />

3.2 - Meteorologia Aplicada<br />

Aquela cujo estudo é dirigido para o emprego prático dentro das diversas atividades<br />

humanas. Eis alguns ramos da <strong>meteorologia</strong> aplicada:<br />

Meteorologia agrícola : que estuda as relações existentes entre o tempo, clima e vida dos vegetais<br />

cultivados.<br />

Meteorologia marítima : que estuda a interação entre os processos físicos da atmosfera com os<br />

oceanos, visando, sobretudo à navegação marítima.<br />

Meteorologia aeronáutica : que compreende o estudo dos processos físicos que ocorrem na<br />

atmosfera, tendo em vista a economia, eficiência e segurança das atividades aeronáuticas.<br />

Meteorologia industrial : que estuda a aplicação de princípios, métodos e procedimentos<br />

meteorológicos aos problemas de engenharia industrial (poluição atmosférica).<br />

Meteorologia espacial : ramo que visa o estudo da atmosfera por meio de satélites, foguetes e<br />

outro meios, com a finalidade de se fazer uma observação de alcance global.<br />

Bioclimatologia : que estuda as relações entre tempo e clima versus vida dos seres vivos.<br />

Segundo a amplitude de seu estudo, a Meteorologia é dividida em quatro grandes áreas:<br />

micro<strong>meteorologia</strong>, meso<strong>meteorologia</strong>, macro<strong>meteorologia</strong> e <strong>meteorologia</strong> cósmica.<br />

Micro<strong>meteorologia</strong> : trata do estudo da atmosfera à superfície, numa escala de natureza local.<br />

Ex.: nuvens.<br />

Meso<strong>meteorologia</strong> : trata do estudo dos sistemas meteorológicos capazes de afetar áreas<br />

relativamente extensas. Ex.: ITCZ no Brasil, ondas de leste, frentes.<br />

Macro<strong>meteorologia</strong> : trata do estudo da atmosfera em escala hemisférica. Ex: El Niño.<br />

Meteorologia Cósmica : trata do estudo da atmosfera numa escala global. Ex: Efeito estufa.<br />

10


TEXTO II<br />

A TERRA E A RADIAÇÃO SOLAR<br />

1 - O Globo Terrestre<br />

1.1 - Características Gerais<br />

Sabemos que a Terra tem em dimensões amplas a forma de uma esfera achatada nos pólos<br />

(com raio médio de 6371 Km) e uma superfície marcada por particularidades. No entanto, os erros<br />

decorrentes em função disso são desprezíveis para o estudo dos fenômenos meteorológicos,<br />

admitindo-se que, para isso, a direção da força da gravidade seja radial e que a água esteja em<br />

equilíbrio dinâmico (sem perturbações capazes de desequilibrar a superfície hídrica).<br />

1.2 - Planos de referência e coordenadas geográficas<br />

Plano equatorial ou Equador é o plano perpendicular aos pólos geográficos, que passa pelo<br />

raio maior da Terra e a divide em duas metades: os hemisférios. Planos paralelos ao Equador<br />

determinam sobre a Terra circunferências de raio menor: os paralelos.<br />

Planos meridianos são semi-planos que contém a superfície da Terra delimitados pelos<br />

pólos, ou seja, cada meridiano começa num pólo e termina em outro.<br />

Figura 01- latitude e equador<br />

Figura 02 - meridianos<br />

Esfera celeste é a esfera imaginável em torno da Terra em cuja superfície estariam<br />

projetados os astros, onde o centro da Terra coincide com o centro da esfera.<br />

Zênite é o ponto da abóbada celeste cujo prolongamento até o centro da Terra contenha o<br />

observador (é como se o observador olhasse exatamente para o céu sobre a sua cabeça). Muda de<br />

posição com o tempo em função do movimento da Terra.<br />

A localização de pontos situados à superfície terrestre ou em suas vizinhanças é feita<br />

utilizando-se um sistema de coordenadas composto de latitude, longitude e altitude.<br />

11


Latitude de um ponto é o maior ângulo compreendido entre o Equador e o paralelo que<br />

contém o ponto. Por convenção ela é positiva no hemisfério norte e negativa no hemisfério sul e<br />

vai de -90º a 90º. O Equador é de latitude 0º.<br />

Para conceituar longitude faz-se necessário fixar um meridiano de referência. Por acordo<br />

internacional, o meridiano que passa em Greenwich (próximo à Londres), foi escolhido como<br />

referência e sua longitude é 0º. Denominamos longitude de um ponto o ângulo formado entre o<br />

meridiano de referência e o meridiano de um ponto, medido sobre o Equador. Vai de 0º a 180º<br />

para oeste e de 0º a 180º para leste. Todos os locais situados sob o mesmo meridiano possuem a<br />

mesma longitude. A cada 15º de longitude tem-se um fuso horário, totalizando 24 fusos de mesma<br />

hora cada um, que representam o Sistema de Horas Legais.<br />

Altitude (z) de um ponto é a distância vertical desse ponto ao nível médio do mar. É<br />

positiva para pontos acima do nível do mar e negativa para pontos abaixo. Não se deve confundir<br />

altitude com altura. Esta é a distância vertical de um ponto a um plano arbitrário de referência<br />

(solo, mesa, teto etc).<br />

Culminação ou passagem meridiana é o exato momento em que o Sol, por exemplo, passa<br />

sobre o meridiano do observador. Quando essa passagem é feita sobre o zênite, ela é dita<br />

culminação zenital, ou seja, o centro do astro coincide com o zênite local.<br />

Figura 03 - culminação zenital<br />

1.3 - Movimentos da Terra<br />

A Terra possui vários movimentos, sendo os de rotação e translação os mais significativos<br />

em Meteorologia. Acrescenta-se ainda o movimento de precessão, deslocamento que a Terra faz<br />

semelhante a um pião, dando uma volta completa a cada 25800 anos. Como a distância Terra - Sol<br />

é grande e a trajetória da órbita terrestre é quase circular, os efeitos meteorológicos decorrentes<br />

desse movimento são desprezados.<br />

1.3.1 - Movimento de rotação<br />

É aquele feito, diuturnamente e com velocidade constante, em torno de um eixo<br />

imaginário. Os pontos onde esse eixo corta a esfera terrestre são denominados de pólos (Norte e<br />

Sul).<br />

O movimento de rotação da Terra faz-se de oeste para leste e num período de tempo igual a<br />

vinte e quatro horas, comumente chamado de dia.<br />

12


Por ser de forma esférica, a Terra, no movimento de rotação, oferece alternadamente<br />

metade de sua superfície ao Sol, ou seja, metade acha-se ora iluminada (dia), ora não iluminada<br />

(noite) assim, por ser a causa dos dias e das noites, o movimento de rotação é também responsável<br />

pelas variações das condições atmosféricas locais, como resultantes do aquecimento diurno e do<br />

resfriamento noturno.<br />

Também do movimento de rotação resulta para um observador solidário à Terra uma<br />

aparente trajetória do Sol, no sentido este para oeste, surgindo em média às 0600 horas, no<br />

horizonte, ganhando altura gradativamente, até alcançar a vertical às 1200 horas e depois<br />

declinando, até desaparecer novamente no horizonte, por volta das 1800 horas. Daí o conceito<br />

importante de “nascer” e “pôr” do sol.<br />

1.3.2 - Movimento de translação<br />

Figura 04 - movimento de rotação<br />

Também denominado de revolução, é aquele segundo o qual a Terra percorre uma<br />

trajetória elíptica em torno do Sol, no sentido de oeste para leste e num período de tempo igual a<br />

365 dias e 6 horas, chamado ano. Para se evitar erros de acumulação, introduziu-se, a cada 4 anos,<br />

um dia a mais no ano correspondente, que passou a ser conhecido como ano bissexto.<br />

O movimento de translação da Terra, ao longo de uma órbita elíptica, faz com que ela se<br />

situe periodicamente mais perto do Sol num extremo (periélio) e mais afastado no extremo oposto<br />

(afélio). Estes dois pontos acham-se na interseção da órbita com o eixo maior da elipse, no mesmo<br />

alinhamento com o Sol, e denominam-se genericamente, de solstícios. Ocorrem eles,<br />

aproximadamente, a 22 de dezembro o periélio (solstício de inverno) e, a 21 de junho o afélio<br />

(solstício de verão). No periélio, a Terra acha-se a 146.080.000 Km do Sol e no afélio, a<br />

151.200.000 Km, resultando numa distância média de 148.640.000 Km.<br />

Os outros dois pontos extremos, localizados ao longo da órbita terrestre, na interseção com<br />

o eixo menor da elipse, denominam-se equinócios, que são eqüidistantes do Sol. Situam-se quase a<br />

meio caminho entre os solstícios e ocorrem, aproximadamente, a 21 de março (equinócio vernal<br />

ou de primavera) e a 23 de setembro (equinócio outonal ou de outono).<br />

13


Figura 05 – movimento de translação<br />

1.4 - Inclinação da Terra<br />

Ao descrever sua órbita, a Terra apresenta uma inclinação variável entre o plano do<br />

equador e o plano da órbita (de 0º a 23º27’). Em função disso, verifica-se um máximo afastamento<br />

do plano da eclíptica com relação ao plano do equador nos solstícios e afastamento nulo nos<br />

equinócios. Eclíptica é a linha imaginária descrita pelo Sol em seu movimento aparente em torno<br />

da Terra. Quando a terra se acha no periélio ou no afélio, expõe, diretamente, ou o hemisfério sul<br />

ou o hemisfério norte à incidência solar.<br />

O fato de o movimento de revolução do eixo terrestre em torno do Sol apresentar-se com<br />

uma inclinação faz com que os dias e as noites não tenham exatamente doze horas em todas as<br />

partes do mundo. Ao invés disso, eles variam muito na duração. No equador, por exemplo, o<br />

período diurno é igual ao período noturno durante todo o ano. Já nos pólos, a diferença entre a<br />

duração de ambos é bastante grande.<br />

Uma outra conseqüência da inclinação e da curvatura da Terra é o ângulo segundo o qual<br />

os raios solares atingem a superfície da Terra e que faz com que eles sejam considerados “diretos”<br />

ou “oblíquos”. Na zona equatorial eles são quase sempre diretos, e com isso as regiões tropicais<br />

são as mais quentes da Terra. Porém, à medida que se dirigem para latitudes mais elevadas, vão<br />

incidindo de forma inclinada devido à curvatura terrestre, chegando nos pólos os mais oblíquos,<br />

fazendo com que as regiões polares sejam as mais frias da Terra.<br />

Com vimos, o ângulo dos raios solares varia de lugar para lugar, por causa da curvatura da<br />

Terra, e de época para época, por causa da inclinação da Terra.<br />

14


Figura 06 – inclinação da Terra<br />

1.5 - Estações do ano<br />

Uma vez que o eixo imaginário em torno do qual a Terra gira, está inclinado em relação ao<br />

plano de sua órbita, isso determina uma considerável variação de energia solar à superfície e<br />

caracteriza épocas distintas conhecidas como estações do ano, que apresentam durações diferentes<br />

entre si, como veremos a seguir.<br />

Quando a terra se encontra no periélio (22 de dezembro), expõe o hemisfério sul à<br />

incidência solar direta, resultando com isso em uma maior concentração de insolação por unidade<br />

de área e, conseqüentemente, um maior aquecimento (é o verão do hemisfério sul). Enquanto isso,<br />

no hemisfério norte, a incidência solar se faz indiretamente, acarretando uma menor concentração<br />

de insolação por unidade de área e, conseqüentemente, um menor aquecimento (é o inverno do<br />

hemisfério norte). Por essa razão, temos aí a ocorrência do chamado solstício de inverno.<br />

Quando a terra se encontra no afélio (21 de junho), expõe o hemisfério norte à incidência<br />

solar direta, resultando com isto uma maior concentração de insolação por unidade de área, e<br />

conseqüentemente, um maior aquecimento (é o verão do hemisfério norte). Por ser verão no<br />

hemisfério norte, temos aí a ocorrência do chamado solstício de verão.<br />

No verão de qualquer hemisfério, o Sol, quando observado da superfície terrestre,<br />

permanece sempre do mesmo lado do observador (mesmo hemisfério), o que o faz elevar-se mais<br />

no horizonte e permanecer mais horas brilhando no céu (dias mais longos e noites mais curtas). Já<br />

no inverno de qualquer hemisfério, o Sol, quando observado da superfície terrestre, permanece<br />

sempre do lado oposto do observador (hemisfério oposto), o que o faz elevar-se menos no<br />

horizonte e permanecer menos horas brilhando no céu (dias mais curtos e noites mais longas).<br />

Nos pontos equinociais, os dois hemisférios recebem, praticamente, a mesma quantidade<br />

de incidência solar, posto que aí apresentam a mesma posição em relação ao Sol. A 21 de março,<br />

temos o chamado equinócio vernal ou de primavera, porque coincide com o início da Primavera<br />

no hemisfério norte e, a 23 de setembro, temos o chamado equinócio outonal ou de outono, porque<br />

coincide com o início do outono no mesmo hemisfério.<br />

Como bem vimos, as estações do ano são antagônicas e diametralmente opostas, isto é,<br />

num mesmo período ocorrem sobre a Terra ou duas estações solsticiais (verão e inverno), ou duas<br />

estações equinociais (primavera e outono). Em outras palavras, quando é verão num hemisfério é<br />

inverno no outro e, quando é primavera num hemisfério, é outono no outro.<br />

figura 07 - estações do ano<br />

15


1.6 - Latitudes Terrestres<br />

Em Meteorologia, é bastante importante o conhecimento de determinadas latitudes<br />

terrestres, porque é através delas que se processam os diversos deslocamentos de massas de ar<br />

entre o equador e os pólos e vice-versa. Vejamos, portanto, como essas latitudes são determinadas<br />

no contexto em apreço.<br />

Em função da eclíptica, nos solstícios, o hemisfério que se acha em verão tem o Sol<br />

incidindo a pino sobre a latitude de 23º e 27 estendendo sua iluminação até o pólo respectivo. A<br />

porção compreendida entre a latitude de 66º e 33 desse hemisfério e o pólo respectivo estará<br />

constantemente iluminada (dia polar). Por outro lado, a mesma porção correspondente do outro<br />

hemisfério estará constantemente sem iluminação (noite polar), pois lá é Inverno. No hemisfério<br />

sul, o dia polar ocorre de 20/10 a 24/02 e a noite polar de 16/04 a 28/08. Nos pólos, a 90º de<br />

latitude, os dias polares e as noites polares apresentam-se com ciclos de duração aproximada de<br />

seis meses cada um. O paralelo de 23º e 27 S é denominado de Trópico de Capricórnio, e o de 23º<br />

e 27’N de Trópico de Câncer, e ambos correspondem exatamente à inclinação do eixo terrestre. Já<br />

o paralelo de 66º e 33º S denomina-se Círculo Polar Antártico, e o de 66º e 33 Círculo Polar<br />

Ártico, e ambos correspondem à diferença entre o valor do ângulo polar (90º) e o valor da<br />

inclinação do eixo terrestre (23º e 27).<br />

Os paralelos acima descritos determinam, por conseguinte, as seguintes latitudes terrestres:<br />

• latitudes equatoriais: são aquelas compreendidas imediatamente em torno<br />

do equador geográfico;<br />

• latitudes tropicais: são aquelas compreendidas entre os trópicos;<br />

• latitudes subtropicais: são aquelas compreendidas entre 23º27' e 30º de<br />

cada hemisfério;<br />

• latitudes temperadas: são aquelas compreendidas entre os trópicos e<br />

círculos polares, ou seja, entre 23º e 27’ e 66º e 33’ de cada hemisfério;<br />

• latitudes polares: são aquelas compreendidas entre os círculos polares e os<br />

pólos respectivos, ou seja, entre 66º e 33’ e 90º de cada hemisfério.<br />

Figura 08 - latitudes terrestres<br />

16


2 - O Sol<br />

2.1 - Características Gerais<br />

O Sol é uma estrela cuja temperatura situa-se na média entre as mais altas e as mais baixas<br />

dessa Galáxia (Via Láctea), algo em torno de 20.10 6 K no núcleo e de 6000K na superfície. Este<br />

astro, assim como a Terra, faz um movimento orbital em torno do centro da galáxia com<br />

velocidade de aproximadamente 290 Km/s.<br />

É a estrela mais próxima da Terra, a uma distância aproximada de 150.10 6 km . Tem<br />

diâmetro de 1400000 Km e, por ter uma massa muito grande (cerca de 333000 vezes a da Terra),<br />

possui um intenso campo gravitacional ao seu redor. De uma forma simplificada, sua matéria, que<br />

é composta de gases Hélio (23%) e Hidrogênio (75%) a altas temperaturas, apresenta<br />

peculiaridades do estado da matéria chamada plasma (gases ionizados a altas temperaturas).<br />

Fotosfera é o nome que se dá a superfície do Sol, cuja pressão é da ordem de 0,01atm. Não<br />

possui luminosidade uniforme; apresenta áreas brilhantes (mais quentes) chamadas grânulos e<br />

fáculas, e zonas mais escuras (mais frias) ditas manchas solares. Os aspectos das manchas solares<br />

variam com o tempo; quando o número de manchas aumenta, o Sol é dito ativo, já que o fluxo de<br />

partículas liberadas pelo Sol para o espaço é grande; no caso contrário, o Sol está calmo. Esse<br />

ciclo de atividade solar é de aproximadamente 11 anos.<br />

A atmosfera solar acima da fotosfera é dividida em camada de inversão (mais fria, a<br />

5300k) e por fora a cromosfera ou coroa solar, formada por hélio e hidrogênio a altas<br />

temperaturas. Na cromosfera ocorrem flares- explosões solares muito intensas que emitem<br />

fabulosas quantidades de energia (radiação ) para o espaço.<br />

Figura 09 - O Sol<br />

2.2 - A radiação<br />

2.2.1 - Espectro eletromagnético<br />

Denomina-se radiação a energia que se propaga sem necessidade de matéria. O termo<br />

aplica-se também ao processo de propagação dessa mesma energia.<br />

No estudo da Física Moderna, dependendo da finalidade, a energia radiante ora se<br />

comporta como uma onda eletromagnética, ora como um fóton (partícula ou pacote de energia). À<br />

17


<strong>meteorologia</strong> interessa o aspecto ondulatório, caracterizado pelo comprimento de onda (λ) e pela<br />

freqüência de oscilação (ν). Comprimento de onda é definido como a distância que separa duas<br />

cristas consecutivas expresso em cm ou em micra (10cm); freqüência é o número de cristas que<br />

passam por um ponto de referência no tempo, expressa em Hertz.<br />

O produto de λ pela ν é igual a velocidade de propagação da luz no vácuo (c): C=λ.ν, sendo<br />

c de aproximadamente 300.000 Km/s. Espectro eletromagnético é o conjunto de todas as radiações<br />

conhecidas, desde os raios gama até ondas longas de radio. A quantidade de energia emitida por<br />

uma partícula ou onda é proporcional à freqüência (γ) da radiação produzida, isto é, quanto maior<br />

a freqüência ,ou menor o λ, maior será a energia associada. Portanto, radiações na faixa do<br />

ultravioleta possuem mais energia que radiações da faixa do visível e infravermelho. Costuma-se<br />

medir radiação ou fluxo de radiação em W (J/s).<br />

Figura 10 - espectro eletromagnético<br />

2.2.2 - Radiação solar<br />

Em primeira aproximação, aceita-se que o Sol irradia aproximadamente como um corpo<br />

negro à temperatura de 6000k. Corpo negro seria aquele (teórico) que absorve totalmente a<br />

radiação eletromagnética de todos os λ que incidem sobre ele. O espectro de radiação solar é<br />

composto de 99% de radiação de ondas curtas (λ pequeno), divididas em 3 faixas: infravermelho<br />

(λ > 0,74), ultravioleta (λ < 0,36) e visível (0,36


A atmosfera é o conjunto de gases, vapor d’água e partículas, que envolve a superfície da<br />

Terra. Não tem um limite definido, verificando-se apenas rarefação do ar com altitude. No âmbito<br />

da Meteorologia a porção mais importante é de no máximo 20Km de altitude.<br />

A composição padrão, para fins de estudo, é aquela que considera o ar seco, ou seja, sem<br />

impurezas e vapor d’água, devido a grande variação no tempo e no espaço que estes apresentam.<br />

Essa composição padrão é a seguinte:<br />

Nitrogênio 78%<br />

Oxigênio 21%<br />

Argônio 0,93%<br />

CO2 0,4%<br />

Outros gases como o hélio, radônio, xenônio, etc. , em pequenas porções compõem a<br />

atmosfera. Esta composição é praticamente constante até 25Km.<br />

3.2 - Funções dos principais componentes<br />

3.2.1 - Nitrogênio<br />

Embora seja o constituinte mais abundante, não exerce relevante papel em termos<br />

energéticos, absorvendo apenas um pouco de radiação ultravioleta nas camadas mais altas da<br />

atmosfera.<br />

3.2.2 - Oxigênio e Ozônio<br />

Além de essencial para a existência da vida no planeta, o oxigênio possibilita a formação<br />

do ozônio na atmosfera. Ao absorver ultravioleta, as moléculas de oxigênio se dissociam<br />

(rompem) e se reagrupam, formando ozônio (O3). Essa reação ocasiona concentração de O3 a<br />

aproximadamente 35Km de altitude, dita ozonosfera, que varia com a latitude e com a época do<br />

ano. O ozônio, por sua vez, ao absorver ultravioleta de energia menor que o ultravioleta absorvido<br />

pelo oxigênio, se dissocia, dando origem ao retorno do oxigênio. Esse ciclo, além de permitir a<br />

absorção de UV (nocivo à maioria dos seres vivos por ter muita energia), renova o oxigênio<br />

presente nos níveis mais baixos da atmosfera, ou seja, na biosfera.<br />

3.2.3 - Vapor d’água<br />

A concentração de vapor d’água na atmosfera, embora pequena (máximo de 4% em<br />

volume) é variável com a altitude e latitude, é de suma importância na distribuição de temperatura<br />

e energia na atmosfera, pois participa dos processos de formação de nuvens, liberando calor ao<br />

condensar-se e absorvendo calor ao evaporar-se. Além disso determina o nível de conforto<br />

ambiental. A concentração de vapor d’água está condicionada a presença de partículas sólidas em<br />

suspensão no ar (sal do mar, poeira, areia), que servem de aglutinadores de vapor d’água,<br />

chamadas de núcleos higroscópicos ou partículas hídricas.<br />

3.2.4 - Gás carbônico (CO 2 )<br />

Do total de dióxido de carbono existente no planeta, 98% está na água dos oceanos e o<br />

restante está na atmosfera. Esta concentração na atmosfera pode aumentar em regiões industriais,<br />

interferindo na energética do sistema globo - atmosfera, ao absorver energia solar e terrestre,<br />

dando origem ao chamado efeito estufa.<br />

3.3 - Variação vertical das propriedades da atmosfera<br />

19


A progressiva rarefação do ar no sentido vertical dificulta o estabelecimento de um limite<br />

físico externo para a atmosfera. Para isso, diversas tentativas no sentido de dividir a atmosfera em<br />

camadas aproximadamente homogêneas fisicamente foram feitas. Entretanto, o critério mais aceito<br />

atualmente fundamenta-se na variação vertical de temperatura, ou seja, no gradiente vertical de<br />

temperatura. Baseada nesse critério, a atmosfera divide-se em 4 camadas ( troposfera, estratosfera,<br />

mesosfera, termosfera), separadas por 3 zonas de transição (tropopausa, estratopausa e<br />

mesopausa).<br />

3.3.1 - Troposfera e Tropopausa<br />

Troposfera é a camada justaposta à superfície terrestre e a mais importante do ponto de<br />

vista da <strong>meteorologia</strong>. Nela se concentram 75% da massa total da atmosfera e quase todo seu<br />

vapor d’água, circunstância que lhe torna o ambiente de praticamente todas as nuvens e fenômenos<br />

atmosféricos. Graças ao aquecimento por contato com a superfície, a temperatura do ar diminui<br />

verticalmente nessa camada a uma razão média de 6,5°C/Km. Podem acontecer ainda nessa região<br />

camadas isotérmicas (variação nula de temperatura na vertical) e camadas de inversão<br />

(temperatura aumenta com a altitude) devido a fatores locais e de circulação do ar. A espessura<br />

dessa camada varia com a latitude e com a época do ano, oscilando entre 6 e 10 Km nos pólos e<br />

entre 15 e 18 Km nos trópicos. A tropopausa, região de transição entre a troposfera e a<br />

estratosfera, apresenta tendência de isotermia. Nas latitudes de 30° e 60° pode se apresentar difusa<br />

devido a circulação local, o que a torna de difícil detecção em observação aerológicas.<br />

3.3.2 - Estratosfera e Estratopausa<br />

Estratosfera estende-se até cerca de 50Km de altitude, apresentando nos primeiros<br />

quilômetros de sua extensão (até 30Km) um suave acréscimo de temperatura com a altitude. O<br />

progressivo aquecimento de ar observado na porção superior dessa camada é devido à geração de<br />

energia na formação do ozônio. A estratopausa justapõe-se ao topo da estratosfera, apresentando<br />

gradiente térmico vertical quase nulo. A média de temperatura do ar na região da estratopausa é de<br />

0°C.<br />

3.3.3 - Mesosfera e Mesopausa<br />

A mesosfera, de cuja camada se dispõe poucos dados para estudo, se estende até 80 Km de<br />

altitude, logo acima da estratopausa, apresentando diminuição de temperatura com a altitude,<br />

sendo que no seu limite superior a temperatura é de -95°C. É praticamente isenta de vapor d’água<br />

e apresenta acentuada rarefação do ar. Os meteoritos que nela penetram em alta velocidade<br />

incandescem devido ao atrito, originando estrelas cadentes.<br />

Acima da mesosfera, com 10Km de espessura está a mesopausa, também caracterizada por<br />

tendência isotérmica.<br />

3.3.4 - Termosfera<br />

A termosfera se situa para além de 90Km de altitude e se caracteriza por um contínuo<br />

aumento de temperatura com altitude. A amplitude de temperatura, durante o dia, nessa camada, é<br />

muito grande graças a enorme rarefação do ar reinante. Outra conseqüência dessa rarefação é que<br />

as temperaturas dessa região só podem ser estimadas a partir da pressão e densidade atmosférica<br />

no local.<br />

3.3.5 - Ionosfera<br />

20


É uma região da atmosfera que se estende a partir de 60Km de altitude, onde há uma<br />

concentração de íons (elétrons carregados eletricamente) em decorrência da absorção de radiação<br />

por partículas suspensas.<br />

A ionosfera pode absorver ou refletir ondas de rádio, dependendo da freqüência da onda e<br />

da quantidade de elétrons livres na camada. Mudanças na atividade solar provocam alteração na<br />

quantidade de elétrons desta camada e podem causar um colapso nas comunicações de rádio; tais<br />

mudanças são distúrbios chamados tempestades magnéticas.<br />

3.3.6 - Cinturões de Van Hallen<br />

São duas camadas exteriores a cerca de 3600 Km de altitude sobre o Equador magnético,<br />

compostos de elétrons principalmente de alta energia, protegendo o Terra dos raios cósmicos<br />

vindos do espaço nocivos aos seres vivos. As descargas solares de partículas eletricamente<br />

carregadas, atingem os cinturões de Van Hallen, sendo capturadas e atraídas na direção dos pólos<br />

magnéticos (em torno de 20° de latitude em cada hemisfério), onde interagem com o oxigênio e o<br />

nitrogênio na alta atmosfera, provocando emissão de energia visível (luminescência)- as auroras<br />

polares - sob forma de colunas, manchas e cortinas coloridas.<br />

21


4 - Radiação solar na atmosfera<br />

4.1 - Insolação e Fotoperíodo<br />

Figura 11- variação vertical das propriedades da atmosfera<br />

Após atingir o topo da atmosfera terrestre, a energia solar segue através da mesma até<br />

atingir a superfície da Terra. Entretanto, à medida que vai cruzando a atmosfera, vai tendo suas<br />

radiações perigosas filtradas, para que só cheguem até a superfície comprimentos de ondas<br />

benéficos à manutenção da vida, dentro de limites razoáveis. A quantidade de energia que<br />

consegue atingir a superfície, após sofrer os efeitos de filtragem seletiva da atmosfera, constitui a<br />

chamada insolação, que é o fator primordial do equilíbrio calorífico na atmosfera terrestre. Ela é,<br />

em conseqüência da eclíptica, máxima no verão, mínima no inverno e média nos equinócios<br />

A radiação solar ao atravessar a atmosfera é atenuada por 3 processos: espalhamento ou<br />

difusão, reflexão e absorção. A atmosfera terrestre, através desse processos, equilibra o sistema<br />

energético do planeta impedindo que se aqueça ou resfrie em excesso. A absorção é feita por<br />

certos constituintes atmosféricos para determinadas radiações, sendo ozônio, oxigênio, o gás<br />

carbônico e vapor d’água os principais absorvedores.<br />

Através da reflexão, que é dependente do tipo de superfície sobre a qual incide a radiação,<br />

uma boa porção de raios solares volta para o espaço. Chamamos de albedo a relação entre a<br />

radiação refletida e a incidente, sendo que a Terra tem albedo médio de 0,35 ou 35%.<br />

Espalhamento ou difusão é o processo físico segundo o qual uma parte da luz, ao passar<br />

por um meio cujas partículas apresentem diâmetro menor que o comprimento de onda da própria<br />

luz, espalha-se em várias direções, difundindo-se. A difusão é efetiva na atmosfera para as ondas<br />

de menor comprimento da luz, e a cor de mais fácil difusão é a azul, razão por que o céu apresenta<br />

em dia claro, uma coloração azulada. A difusão apresenta em Meteorologia duas grandes<br />

importâncias: primeiro, é responsável pela luminosidade diurna ou pela presença física do<br />

fenômeno "dia "e segundo, é responsável pela redução da visibilidade atmosférica. Como o<br />

processo em si depende da presença de partículas em suspensão na atmosfera, à medida que nos<br />

afastamos da superfície terrestre, vai acontecendo uma redução da difusão, o que faz com que o<br />

céu passe a um azul profundo, em seguida à violeta e, finalmente, negro nos níveis mais elevados,<br />

isto é, ausência total de difusão acima de 80 a 100 km, em média.<br />

Há também o conceito de fotoperíodo, que é a duração efetiva do dia, ou seja, como o<br />

intervalo de tempo transcorrido entre o nascimento e o pôr do Sol, em determinado local e data.<br />

Sob o ponto de vista geométrico, o nascimento e o ocaso solar ocorrem quando o centro do disco<br />

solar oincide com o plano do horizonte. Não se deve confundir insolação com fotoperíodo. A<br />

insolação é o número de horas nas quais, durante um dia, o Sol esteve visível para um observador<br />

situado à superfície da Terra. Portanto, a insolação é menor ou no máximo igual ao fotoperíodo.<br />

4.2 - Equilíbrio térmico na atmosfera<br />

22


Do total de radiação solar que atinge o topo da atmosfera, 15% é difundido pelas partículas<br />

atmosféricas, 18% é absorvido pelos componentes atmosféricos, 25% é refletido pelos topos de<br />

nuvens e pelos diversos tipos de superfícies da Terra, e os 42% restantes conseguem atingir a<br />

superfície, sob as formas de luz visível, de infravermelho e ultravioleta. A reflexão total de 25%<br />

mais 10% do total de 15% difundido compõem o albedo médio da Terra que, como já vimos, é de<br />

35%. A quantidade de radiação que atinge a superfície terrestre é convertida em calor e poderia, no<br />

final de algum tempo, tornar a Terra extremamente quente para permitir a manutenção da vida.<br />

Entretanto, um possível acúmulo é neutralizado por meio de um retorno ao espaço do excesso de<br />

energia recebido. Esse retorno é denominado de radiação terrestre e se processa por meio de ondas<br />

longas (pouca energia). Ela ocorre mais intensamente com céu isento de nuvens (céu claro). Por<br />

outro lado, o oxigênio molecular, as impurezas, o vapor d’água e as nuvens absorvem uma parte<br />

da radiação terrestre, a fim de conservar uma certa quantidade de energia calorífica para a Terra.<br />

Esse fenômeno é denominado de estufa, e sua principal finalidade é evitar que toda a energia<br />

radiante terrestre escape para o espaço, o que também seria um desastre. O perfeito equilíbrio entre<br />

a radiação solar (recebida durante o dia) e a radiação terrestre (devolvida à noite) permite manter<br />

as temperaturas do globo terrestre dentro de limites perfeitamente suportáveis pelos seres vivos e<br />

constitui parte do equilíbrio térmico da atmosfera.<br />

Devido à sua posição no espaço, como já vimos, a Terra recebe maior incidência solar<br />

sobre as latitudes tropicais e menor incidência sobre as latitudes polares, o que acarreta um grande<br />

aquecimento sobre os trópicos e um grande resfriamento sobre os pólos. Esse aquecimento<br />

diferencial, corroborado pelo movimento de rotação da Terra, obriga o ar atmosférico a deslocarse<br />

entre os extremos de cada hemisfério (do pólo para o equador e vice-versa), permitindo com<br />

isto, uma melhor distribuição das temperaturas sobre a superfície da Terra ocasionando, desse<br />

modo, o equilíbrio térmico da atmosfera.<br />

Dos 42% que atingiram a superfície da Terra durante o dia, com a ocorrência da radiação<br />

terrestre à noite, 18% é absorvido pelo oxigênio molecular, pelas impurezas, pelo vapor d'água e<br />

pelas nuvens; 14% é emitido para a atmosfera; 8% retorna diretamente ao espaço e os 2% restantes<br />

ficam retidos na superfície terrestre. Embora possa parecer pequeno, esse percentual de retenção<br />

terrestre é, na verdade, o suficiente para permitir a agitação da Atmosfera e provocar aquilo que<br />

conhecemos por tempo “bom” ou “ruim”.<br />

23


Figura 12 – equilíbrio térmico da atmosfera<br />

24


TEXTO III<br />

CALOR E TEMPERATURA NA ATMOSFERA<br />

1 - Generalidades<br />

Um elemento meteorológico de importância fundamental é a temperatura do ar, em muitas<br />

partes do mundo, sujeita a grandes extremos e mudanças súbitas. Constitui ela um importante fator<br />

na determinação das condições de vida e na produtividade do solo nas diferentes regiões do<br />

planeta, além de ser a responsável por muitas mudanças de tempo.<br />

2 - Conceitos de Calor e Temperatura<br />

A energia que se origina do movimento molecular de um corpo é chamada calor. O calor é,<br />

portanto, uma modalidade de energia que é transmitida de um corpo para outro, quando entre eles<br />

existe uma diferença de temperatura. São as sensações táteis de “quente” e de “frio” que nos<br />

transmitem a primeira noção de temperatura. Dizemos que ela é a medida da velocidade média de<br />

agitação das moléculas de um corpo ou substância e que expressa o seu grau médio de calor.<br />

Ao colocarmos em contato direto dois corpos, o mais aquecido comunica suas agitações<br />

aos átomos e moléculas menos velozes do corpo menos aquecido. Após algum tempo de contato,<br />

os dois corpos entram em equilíbrio termal, isto é, os átomos e moléculas de ambos passam a<br />

apresentar um valor médio de energia.<br />

3 - Instrumentos Avaliadores de Temperatura<br />

Quando um corpo é aquecido, suas propriedades físicas variam, e muito particularmente o<br />

seu volume aumenta. Ao ser resfriado, ocorre o contrário, ou seja, o volume diminui. Daí a<br />

facilidade de se poder avaliar as temperaturas do referido corpo, representando-as por valores que<br />

permitem medir as suas variações de volume.<br />

Certas substâncias são usadas na avaliação das temperaturas pelos valores assumidos por<br />

seus diferentes volumes. Tais substâncias são empregadas na fabricação de instrumentos que<br />

servem para avaliar as temperaturas dos corpos quando em contato direto com eles: os chamados<br />

“termômetros”.<br />

Um termômetro, portanto, avalia ou indica, apenas por comparação, a temperatura de um<br />

corpo ou meio. Quando ele é fabricado de modo a poder também registrar a temperatura sobre um<br />

diagrama próprio, recebe o nome de “termógrafo".<br />

As substâncias usadas na fabricação dos termômetros podem ser líquidas (álcool,<br />

mercúrio), gasosas (hidrogênio, hélio, nitrogênio), ou sólidas (platina, irídio). A técnica de uso dos<br />

termômetros na verificação das temperaturas recebe o nome de “termometria”.<br />

3.1 - Tipos de Termômetros<br />

O tipo de termômetro é determinado pela natureza da substância utilizada na sua<br />

fabricação. De modo <strong>geral</strong>, há quatro tipos básicos de termômetros:<br />

3.1.1 - Termômetros à gás<br />

São os termômetros que empregam as substâncias gasosas como elemento ativo. São<br />

normalmente usados como termos comparativos, por causa da sua exatidão, servindo para<br />

25


determinar de maneira precisa, em laboratórios de aferição, as temperaturas de fusão e ebulição<br />

das substâncias puras. São, de modo <strong>geral</strong>, usados para temperaturas muito baixas.<br />

3.1.2 - Termômetros de vidro<br />

São os termômetros que empregam substâncias líquidas. São assim chamados porque se<br />

compõem de um tubo de vidro com seu interior capilarizado, ligado diretamente a um reservatório<br />

ou “bulbo” que contém a substância líquida usada. Com o aumento da temperatura, a substância se<br />

dilata e sobe ao longo do capilar e, com o decréscimo da temperatura, ela se contrai e volta para o<br />

interior do bulbo. Os termômetros de vidro são de boa precisão e apresentam as seguintes<br />

variedades:<br />

3.1.2.1 - Termômetro de mercúrio<br />

É o termômetro que utiliza o mercúrio como substância termométrica. É utilizado para<br />

valores que variam de -36ºC a + 300ºC aproximadamente.<br />

3.1.2.2 - Termômetro de álcool<br />

Termômetro que utiliza o álcool como substância termométrica. É utilizado para avaliar<br />

temperaturas inferiores a -36ºC.<br />

3.1.3 - Termômetros metálicos<br />

Termômetros que empregam substâncias sólidas. Não são tão precisos como os de vidro e<br />

apresentam dois tipos principais:<br />

3.1.3.1 - Termômetro de Bourdon<br />

Termômetro que utiliza um tubo metálico, curvo e elíptico, contendo álcool etílico.<br />

Variações de temperatura fazem com que o referido tubo se contraia ou se expanda, indicando um<br />

resfriamento ou um aquecimento, respectivamente. É o sistema utilizado como elemento ativo dos<br />

chamados termógrafos.<br />

3.1.3.2 - Termômetro bimetálico<br />

Utiliza duas lâminas metálicas de coeficientes de dilatação diferentes entre si, formando<br />

um só conjunto. Variações de temperatura fazem as respectivas lâminas reagirem diferentemente,<br />

permitindo assim calibrar as distorções. É um sistema utilizado a bordo de aeronaves.<br />

3.1.4 - Termômetros elétricos<br />

Empregam as propriedades condutoras de certas substâncias. Apresentam dois grupos<br />

principais:<br />

3.1.4.1 - Termômetros de resistência<br />

Baseiam-se no fato de que a resistência elétrica de um condutor varia com a sua<br />

temperatura. Vêm sendo utilizados a bordo de aeronaves e nos equipamentos de radiossondagem.<br />

O tipo mais conhecido é o chamado termistor, que permite verificar temperaturas baixas através da<br />

radiossonda.<br />

3.1.4.2 - Termômetros termoelétricos<br />

26


Baseiam-se no princípio de que uma corrente elétrica circula entre duas junções metálicas,<br />

sempre que houver uma diferença de temperatura entre ambas. O tipo mais conhecido é o<br />

chamado termocouple, que permite verificar temperaturas elevadas.<br />

3.2 - Tempo de reposta dos termômetros<br />

Para que um termômetro possa funcionar adequadamente é necessário que esteja em<br />

equilíbrio térmico com o ambiente, cuja temperatura se deseja conhecer. Uma vez submetido a<br />

uma temperatura diferente, suas leituras vão se aproximando, gradualmente, do valor real. O<br />

intervalo de tempo necessário para adaptar-se às novas condições é chamado tempo de resposta do<br />

instrumento.<br />

Em Meteorologia, porém, o emprego de termômetros com resposta muito rápida não é<br />

aconselhável (O.M.M., 1969). No caso da temperatura do ar, por exemplo, que pode variar 1 ou<br />

2°C em poucos minutos, o uso de termômetros com pequeno tempo de resposta exigiria uma série<br />

de leituras, de cujos valores seria extraída uma média. Reciprocamente, se fossem empregados<br />

termômetros de resposta muito lenta, o retardamento em adaptar-se termicamente ao ambiente<br />

provocaria erros apreciáveis.<br />

4 - Escalas de temperatura<br />

A indicação de uma temperatura deve ser tal que, quando submetida num mesmo instante a<br />

diversos termômetros, estes representem um só valor. Para que isso se tornasse possível, foram<br />

criadas as chamadas escalas termométricas, pelas quais os termômetros são “graduados”, para que<br />

forneçam leituras de temperaturas em “graus”. As escalas termométricas são diferentes entre si,<br />

mas todas elas são fixadas entre dois limites bem definidos: o do gelo em fusão e o da água em<br />

ebulição. As principais escalas em uso são a Celsius ou Centígrada, a Fahrenheit e a Kelvin ou<br />

Absoluta.<br />

4.1 - Escala Celsius (1736)<br />

Escala atribuída a Anders Celsius (1701-1744), astrônomo sueco que submeteu uma coluna<br />

de vidro, contendo mercúrio, aos limites acima citados. A altura atingida pelo mercúrio, na<br />

primeira imersão, chamou de 0 (zero) e, na segunda imersão, chamou de 100 (cem). A seguir,<br />

dividiu o espaço entre os referidos limites em cem partes iguais e os cognominou de graus Celsius,<br />

centesimais ou centígrados (ºC).<br />

4.2 - Escala Fahrenheit (1710)<br />

Escala termométrica atribuída a Daniel Fahrenheit (1686-1736), físico polonês que<br />

submeteu uma coluna de vidro, contendo mercúrio, a uma mistura de neve, sal e amônia e chamou<br />

de 0 (zero) à altura atingida pelo mercúrio nesta imersão. A seguir, submeteu a mesma coluna à<br />

temperatura média de seu corpo e dividiu o intervalo entre esses dois pontos de referência. Depois<br />

extrapolou o mesmo intervalo para os limites definidos (fusão do gelo e ebulição da água),<br />

determinando com isso os valores de 32 e 212 para os referidos limites. Dessa maneira, o intervalo<br />

em apreço foi dividido em cento e oitenta partes iguais, cognominados de graus Fahrenheit (ºF).<br />

4.3 - Escala Kelvin<br />

Definida pelo cientista inglês Willian Thompson (Lord Kelvin), tem como principal<br />

característica, o fato de que o seu limite inferior, denominado Zero Absoluto, é um valor<br />

inatingível, uma vez que aí a energia termal desaparece por completo, e os átomos e moléculas de<br />

27


um corpo passam a um estado de repouso absoluto. Nessa escala, a temperatura do gelo em fusão<br />

corresponde a 273 graus absolutos e a temperatura da água em ebulição, a 373 graus absolutos, O<br />

zero absoluto equivale, na escala Celsius, a -273ºC.<br />

4.4 - Conversão de escalas<br />

Em nossos trabalhos práticos, muitas vezes somos obrigados a passar de uma escala<br />

termométrica para outra. Isso é muito fácil, desde que saibamos fazer a referida conversão. Para<br />

tanto, podemos contar com dois recursos:<br />

através de tabelas: normalmente encontradas na estação e feitas para facilitar o<br />

trabalho;<br />

através de fórmulas de conversão: quando não se dispõe das tabelas acima referidas.<br />

Elas devem ser bem compreendidas para se evitar atropelos de última hora. Vejamos as<br />

principais.<br />

As escalas citadas tornam-se equivalentes através das seguintes relações:<br />

C<br />

5<br />

=<br />

F − 32<br />

9<br />

=<br />

K<br />

− 273<br />

5<br />

Exemplos de aplicação:<br />

1º) Converter 72ºF em K.<br />

72 − 32 K _ 273 40 K − 273<br />

=<br />

∴ =<br />

9 5 9 5<br />

∴ 9 K − 2457 = 200 ∴ 9K<br />

= 2657 ∴ = 295K<br />

2º) Converter 20ºC em ºF<br />

20<br />

5<br />

=<br />

F<br />

− 32<br />

∴<br />

9<br />

5F<br />

−<br />

160 =<br />

180∴<br />

5F<br />

=<br />

340 ∴<br />

=<br />

68º F<br />

5 - Distribuição global da temperatura<br />

A temperatura na atmosfera varia tanto no sentido horizontal como no sentido vertical.<br />

5.1 - Variação Horizontal<br />

Também denominada de latitudinal, é a mais conhecida do homem e apresenta-se com<br />

grande inconstância. Uma prova disso, é que ela determina grandes diferenças nas médias termais<br />

verificadas de local para local da Terra, nas diversas épocas do ano. Os diversos valores de<br />

temperatura, em qualquer ponto do globo terrestre, dependem de um modo <strong>geral</strong>, das seguintes<br />

condições básicas: intensidade e duração da radiação solar, da insolação, do albedo da superfície e<br />

dos aspectos físicos da superfície. A distribuição horizontal de temperatura constitui-se num dos<br />

mais importantes fatores para as análises meteorológicas, no que tange ao estudo do<br />

comportamento da Atmosfera.<br />

28


O chamado campo termal da Atmosfera é obtido a partir do traçado de linhas nas cartas de<br />

superfície que unem pontos que apresentam os mesmos valores de temperatura. São as chamadas<br />

isotermas, que normalmente são traçadas a intervalos de 5ºC. Para melhor se representar o campo<br />

termal da Atmosfera, deve-se traçar isotermas em diferentes níveis.<br />

5.2 - Variação Vertical<br />

Também denominada de gradiente térmico vertical, é mais definida e de relativa<br />

constância. Ocorre na Troposfera numa razão média de 0,65ºC/100 m ou 2ºC/1000 pés,<br />

denominada de gradiente térmico normal ou positivo. Entretanto, costuma ocorrer na Troposfera,<br />

principalmente sobre os continentes, no inverno, e sobre os oceanos, no verão, um gradiente<br />

térmico negativo, segundo o qual a temperatura aumenta com a altitude. O resultado disso é um<br />

fenômeno chamado de inversão de temperatura ou simplesmente inversão e a camada atmosférica<br />

que a contém, chama-se camada de inversão. Por outro lado, na Tropopausa e nos primeiros níveis<br />

estratosféricos, o gradiente térmico apresenta-se nulo ou quase constante, caracterizando o<br />

fenômeno chamado isotermia.<br />

6 - Oscilações da temperatura do ar<br />

6.1 - Oscilações quase instantâneas<br />

As variações quase instantâneas na temperatura do ar à superfície são atribuídas à<br />

passagem de turbilhões ou remoinhos de ar convectivos. Sobre o superfície terrestre, tais vórtices,<br />

decorrem do atrito oferecido ao movimento do ar e da convecção. Essa variações não se aplicam à<br />

climatologia e à previsão devido à pequena duração do fenômeno.<br />

6.2 - Oscilações diárias<br />

A temperatura do ar à superfície apresenta um ciclo diário de variação, apresentando um<br />

máximo (<strong>geral</strong>mente duas horas após a culminação do Sol) e um mínimo( um pouco antes do<br />

nascer do Sol), podendo, entretanto, serem alterados pela presença de fenômenos atmosféricos<br />

(frentes). A variação diária de temperatura é maior nos trópicos e decresce em direção aos pólos.<br />

6.3 - Oscilação anual<br />

A variação de temperatura numa região durante um ano depende da energia recebida do<br />

Sol. Verifica-se que as máximas anuais ocorrem após dois meses depois do término do verão e as<br />

mínimas após dois meses transcorridos o fim do inverno. A variação de temperatura anula é maior<br />

quanto mais próxima dos pólos for o local. Vale salientar que o mar atua como regulador da<br />

temperatura do ar, suavizando as flutuações da temperatura do ar, ao mesmo tempo em que regiões<br />

afastadas do mar tendem a aumentar essa variação de temperatura. Este efeito é chamado de<br />

continentalidade.<br />

7 - Determinação da temperatura<br />

Em <strong>meteorologia</strong>, podemos obter a temperatura do ar, do solo e da água:<br />

• temperatura do ar - de grande importância em <strong>meteorologia</strong> aeronáutica,<br />

será vista com mais detalhes adiante;<br />

• temperatura do solo - de grande importância em <strong>meteorologia</strong> agrícola, é<br />

obtida através dos chamados geotermômetros ou termômetros de solo, que nada mais<br />

são do que termômetros de mercúrio enterrados no solo a profundidades diversas;<br />

29


• temperatura da água - de grande importância em <strong>meteorologia</strong> marítima e<br />

<strong>meteorologia</strong> hidrológica, é obtida através de termômetros de água, que nada mais são<br />

do que termômetros de mercúrio mergulhados na água.<br />

7.1 - Temperatura do ar<br />

É um dos elementos mais importantes para o estudo da <strong>meteorologia</strong> em <strong>geral</strong>, pois<br />

constitui-se num dos parâmetros fundamentais da atmosfera, ao lado da pressão e da umidade.<br />

Pode ser obtida à superfície ou em altitude.<br />

7.1.1 - Temperatura do ar à superfície<br />

Elemento de grande importância para as operações de pouso e decolagem, o qual pode ser<br />

obtido através de psicrômetros e de teletermômetros nos aeródromos.<br />

7.1.2 - Temperatura do ar em altitude<br />

Elemento de grande importância para a análise dos campos termais nos diferentes níveis<br />

atmosféricos e para a navegação aérea, pode ser obtida por meio de equipamentos eletrônicos de<br />

sondagem (a radiossonda). Ela se eleva na atmosfera por meio de um grande balão de neoprene,<br />

inflado com gás hélio ou gás hidrogênio. O sistema contém, dentre vários elementos, um elemento<br />

sensível à temperatura- o termistor. Também pode ser obtida em vôo, por meio de termômetros<br />

(elétricos ou metálicos), instalados a bordo de aeronaves ou por meio de equipamentos de<br />

radiossondagem usados a bordo de aeronaves de reconhecimento meteorológico- as dropsondasque<br />

permitem, dentre outras atividades, a verificação da temperatura desde o nível de vôo até a<br />

superfície.<br />

8 - O Calor<br />

Como bem vimos anteriormente, a absorção de energia radiante por uma substância é que<br />

provoca seu aquecimento. Em outras palavras, a energia absorvida pela substância converte-se em<br />

calor sensível. Entretanto, o aquecimento subseqüente depende em muito da natureza da<br />

substância. Assim, chamamos de calor específico, a quantidade de calor necessária, para aumentar<br />

em 1ºC a temperatura de 1 g de uma substância qualquer. No caso particular da água, este recebe o<br />

nome de caloria e corresponde à quantidade de calor necessária, para elevar a temperatura de 1 g<br />

de água pura, sob pressão padrão ao nível do mar, de 14,5ºC para 15,5ºC. Desse modo, a caloria<br />

expressa o calor específico da água e atribui ao mesmo o valor máximo e igual a 1. Aliás, o calor<br />

específico de uma substância é, de um modo <strong>geral</strong>, maior no estado líquido do que no estado<br />

sólido. Outrossim, o conceito de calor específico não satisfaz em muito o caso dos gases em <strong>geral</strong>,<br />

devida sua grande compressibilidade.<br />

Um outro fato que já denotamos anteriormente é que o calor utilizado por uma substância<br />

para seu aquecimento é seletivo, ou seja, ela usa apenas uma parte e o restante vai servir para o uso<br />

de outra. E isso mais uma vez, vai depender da natureza da substância. Algumas substâncias,<br />

sobretudo os metais, permitem uma transferência mais rápida de calor do que outras e são por isso<br />

denominadas de bons condutores. Outras, no entanto, tais como o papel, o barro, o amianto, a lã, já<br />

não permitem uma transferência do calor com muita facilidade e são por isso, denominadas de<br />

maus condutores. Como vemos, cada substância conduz o calor com um certo grau de facilidade<br />

ou dificuldade, que se traduz como seu coeficiente de condutibilidade. Dadas duas substâncias, é<br />

considerada melhor condutora, a de maior coeficiente de condutibilidade. São considerados<br />

péssimos condutores entre outros o ar, a cortiça, o cimento, a água e o vidro.<br />

8.1 - Propagação do calor<br />

30


Na natureza ocorrem quatro processos fundamentais de propagação do calor: a condução, a<br />

radiação, a convecção e a advecção.<br />

8.1.1 - Condução<br />

Transferência do calor, molécula a molécula, sem a mudança da posição relativa das<br />

mesmas e sim por agitação. É o processo comum aos sólidos, sendo que destes os metais são os<br />

melhores condutores, como já vimos. Já os líquidos e os gases são péssimos condutores. Não há<br />

condução em ar rarefeito e na Atmosfera, só ocorre condução próximo à superfície terrestre.<br />

8.1.2 - Radiação<br />

Transferência do calor através da conversão da energia térmica em radiação<br />

eletromagnética e a reconversão dessa radiação em calor pelo corpo sobre o qual tenha incidido a<br />

referida radiação. O exemplo mais notório disso é o aquecimento da Terra pelo calor solar, onde o<br />

processo se passa da seguinte maneira: a radiação infravermelha ao atingir a superfície terrestre,<br />

faz vibrar as moléculas desta, originando o calor. Isto porque a Atmosfera é um corpo diatérmico,<br />

ou seja, praticamente não se aquece pela radiação.<br />

8.1.3 - Convecção<br />

Transferência do calor através do movimento de massa dos fluídos. É o mesmo processo<br />

segundo o qual a água de uma vasilha exposta ao fogo aquece-se em todos os níveis, como<br />

resultante da distribuição de calor de um ponto para outro do fluído e pelo deslocamento da<br />

matéria, formando as “correntes convectivas”. Trata-se do processo mais comum da atmosfera e se<br />

traduz pela movimentação vertical do ar por meio de correntes ascendentes (que conduzem o ar<br />

quente para níveis mais elevados, a partir da superfície) e de correntes descendentes (que trazem<br />

volumes correspondentes de ar frio, dos níveis mais elevados para a superfície).<br />

8.1.4 - Advecção<br />

Transferência do calor através do movimento de massa dos fluídos, só que executado no<br />

sentido horizontal ou paralelo à superfície. Há dois tipos fundamentais de advecção: de ar frio<br />

sobre superfície quente e de ar quente sobre superfície fria.<br />

31


TEXTO IV<br />

PRESSÃO ATMOSFÉRICA<br />

1 - Generalidades<br />

Denomina-se pressão atmosférica ao peso exercido por uma coluna de ar sobre uma<br />

superfície em um dado instante e local. O estudo da pressão atmosférica é muito importante<br />

bastando lembrar que, sendo o ar um fluido, sua tendência é movimentar-se para áreas de menor<br />

pressão. O outro aspecto importante é o fato de o movimento atmosfera estar relacionada com a<br />

distribuição da pressão atmosférica.<br />

Conforme já vimos anteriormente, a nossa atmosfera acha-se sob o efeito da ação<br />

gravitacional terrestre. Isto faz com que ela permaneça sempre solidária à Terra e que exerça sobre<br />

a sua superfície uma força à qual denominamos de pressão atmosférica.<br />

Por outro lado, também vimos que por ser compressível e obedecer à lei dos gases, o ar<br />

atmosférico apresenta uma densidade variável com a altitude (maior nos níveis inferiores e menor<br />

nos níveis superiores), o que provoca conseqüentes variações de pressão na vertical. Diferenças de<br />

temperatura verificadas à superfície terrestre, associadas com outras causas de natureza dinâmica,<br />

são também responsáveis por contrastes na densidade do ar, originando assim, variações de<br />

pressão na horizontal.<br />

É importante aqui lembrar que, ao mesmo nível, a densidade do ar é função não apenas da<br />

temperatura, mas também da sua composição e da gravidade.<br />

2 - Histórico<br />

Coube a Evangelista Torricelli, em 1643, demonstrar pela primeira vez, a existência da<br />

pressão atmosférica. Para tanto, pegou um tubo de vidro medindo 1 m de comprimento e 1 cm 2 de<br />

seção, encheu-o com mercúrio (Hg) e mergulhou a extremidade aberta do mesmo numa vasilha<br />

(cuba) que também continha mercúrio. Isto foi feito ao nível do mar e o resultado era que o<br />

mercúrio descia pelo interior do tubo e parava quando atingia 76 cm de altura. Repetidas várias<br />

vezes essa experiência, o resultado era sempre o mesmo, e Torricelli pode concluir que, se o<br />

mercúrio não descia todo, era porque a pressão atmosférica exercida sobre a cuba equilibrava a<br />

coluna de mercúrio contido no tubo.<br />

Mais tarde, Pascal repetiu a mesma experiência, só que usando água no lugar do mercúrio.<br />

O resultado foi que a coluna equilibrante da pressão atmosférica teve que ser 13,60 vezes maior,<br />

posto que a densidade da água é 1g/cm 3 e a do mercúrio, de 13,6 g/cm 3 .<br />

Por sugestão de Pascal, Descartes e outros cientistas da época, J. Periers em 1648, levou o<br />

instrumento de Torricelli, então chamado de barômetro, até o cume de uma montanha francesa<br />

(Puys de Dome) e pode verificar que a pressão atmosférica variava com a altitude (diminuía<br />

quando ele subia a montanha, e aumentava, quando ele de lá descia).<br />

3 - Instrumentos Avaliadores<br />

A pressão atmosférica é um elemento meteorológico muito importante. Por isso não pode<br />

ser estimada, mas sim somente medida por meio de instrumentos especiais, denominados de<br />

barômetros, que se apresentam em duas categorias.<br />

3.1 - Barômetro de mercúrio<br />

32


Também conhecido como hidrostático, é aquele que se fundamenta na experiência de<br />

Torricelli. Baseia-se na expansão ou contração de uma coluna de mercúrio, como resultantes das<br />

variações de pressão atmosférica. Quando a pressão aumenta, a coluna se expande e, quando a<br />

pressão diminui, a coluna se contrai. Para permitir a leitura da altura da coluna de mercúrio, o<br />

barômetro dispõe de escalas graduadas em unidades de pressão e de um “vernier” ajustável ao<br />

topo da respectiva coluna.<br />

3.2 - Barômetro Aneróide<br />

Também conhecido como elástico, é aquele cujo princípio de funcionamento baseia-se na<br />

expansão ou contração de cápsulas metálicas contendo vácuo, como resultado das variações de<br />

pressão atmosférica. Quando a pressão aumenta, o conjunto de cápsulas se comprime e, quando a<br />

pressão diminui, o conjunto de cápsulas se expande. Esses movimentos são transmitidos ou a um<br />

ponteiro que desliza sobre um mostrador graduado em unidades de pressão/altitude em função de<br />

pressão ou a um braço de penas que desliza sobre um gráfico graduado em unidades de pressão.<br />

No primeiro caso, temos um barômetro aneróide propriamente dito ou um altímetro e, no segundo<br />

caso, um barógrafo, o equivalente registrador do barômetro. Ainda, como modelo de barômetro<br />

aneróide, temos que destacar o chamado indicador do ajuste do altímetro, muito usado nos órgãos<br />

de tráfego aéreo. Cumpre acrescentar que o altímetro é usado a bordo de aeronaves.<br />

4 - Unidades de Pressão Atmosférica<br />

Com base na experiência de Torricelli, por muito tempo, utilizaram-se unidades de<br />

comprimento (mm de Hg ou pol de Hg), para expressar medidas de pressão atmosférica, uma vez<br />

que para tal basta medir a altura da coluna de mercúrio.<br />

No sistema CGS, a unidade básica de pressão é o Bária, que corresponde a 1dy/cm 2 . Mas<br />

como esta unidade é muito pequena para fins meteorológicos, adotou-se de início o BAR,<br />

equivalente a 1.000.000 de bárias ou de dy/cm 2 , chamado respectivamente, de Megabária e<br />

Megadina. Mais tarde, por ser o Bar uma unidade muito extravagante, foi adotada a unidade<br />

chamada Milibar (mb) e que eqüivale a 1/1.000 do bar, isto é, o equivalente a 1.000 bárias ou dyn/<br />

cm 2 . Atualmente, com base no sistema internacional (SI), esta unidade passou a chamar-se<br />

hectopascal (hpa), uma vez que a unidade de pressão deste sistema é o pascal (equivalente a 10<br />

bárias ou dy/cm 2 , ou ainda a 1N/m 2 . Há ainda a unidade atmosfera (atm) que equivale a 1013,25<br />

Hpa.<br />

Os dados da experiência de Torricelli nos levam a concluir que a coluna de mercúrio de seu<br />

barômetro exerce sobre 1 m 2 , a pressão equivalente ao demonstrado, consoante a seguinte fórmula<br />

fundamental da Hidrostática:<br />

onde:<br />

H = 76. 10 -2 m<br />

d = 13,6. 10 3 Kg/m 3<br />

g = 9,8 m/s 2<br />

P = H. d. g<br />

P = 101300 N/m 2 ou<br />

P ≅ 1013 hPa<br />

como:<br />

P = A<br />

F onde:<br />

F = força<br />

A = área (1m 2 )<br />

então resulta uma força de aproximadamente<br />

100.000 N.<br />

33


P<br />

Portanto, podemos afirmar que cada ser humano adulto (possuidor de cerca de 1 m 2 de área<br />

projetada sobre a superfície) suporta, ao nível do mar, uma pressão aproximada de 100.000 Pa<br />

proveniente de uma massa de ar de 10 toneladas.<br />

5 - Variações da Pressão<br />

A pressão atmosférica, da mesma forma que a temperatura do ar, nunca se estabiliza por<br />

um longo período de tempo. Como resultado dos movimentos complexos e constantes do ar, das<br />

variações de sua temperatura e do teor de vapor d’água, o peso do ar sobre um dado ponto varia<br />

constantemente. Ao contrário, entretanto, das mudanças de temperatura, as variações de pressão,<br />

não são, de imediato e de ordinário, perceptíveis ao homem. No entanto, constituem por si mesmas<br />

um importante aspecto do tempo, tendo em vista as relações que apresentam com as mudanças das<br />

condições meteorológicas. Dentre essas variações, destacamos as seguintes:<br />

5.1 - Variação da pressão com a altitude<br />

À medida que nos elevamos na atmosfera, a partir do nível do mar, diminui o peso do ar<br />

acima de nós e a pressão cai, em princípio, rapidamente nos níveis inferiores e, a seguir,<br />

lentamente nos níveis superiores. Considera-se que cerca de 50% do peso da Atmosfera, acha-se<br />

concentrada abaixo dos primeiros 5.500 metros, isto é, como veremos mais adiante, até o nível de<br />

500 hPa e o restante, espalha-se até os limites superiores da mesma de uma forma não linear.<br />

De uma forma <strong>geral</strong>, são considerados como valores médios de variação vertical da<br />

pressão, os seguintes:<br />

Δ1 hPa = 30 pés = 9 metros<br />

Δ1 pol Hg = 1.000 pés = 300 metros<br />

Δ1 mm Hg = 40 pés = 12 metros<br />

Esses valores devem ser usados para cálculos sem muita precisão e para altitudes, desde o<br />

nível do mar até 4.000 pés, uma vez que, a partir daí, qualquer variação exigirá uma coluna de ar<br />

cada vez maior.<br />

Como a densidade e o peso do ar dependem da temperatura, do teor de vapor d’água e da<br />

força de gravidade, nenhuma correção perfeita de pressão com a altitude poderá ser feita, se não<br />

forem levados em conta todos esses fatores, principalmente a temperatura.<br />

5.2 - Variação diuturna<br />

Faz com que a atmosfera oscile para cima e para baixo, como se fosse uma mola. Oscila<br />

para cima por efeito direto do Sol, em ressonância com a própria pressão atmosférica e para baixo,<br />

pelo seu próprio peso. Esse movimento oscilatório apresenta dois máximos e dois mínimos<br />

34


durante o dia. Normalmente as pressões máximas ocorrem às 10:00 e 22:00 horas (hora local) e as<br />

pressões mínimas às 04:00 e 16:00 horas (hora local). A variação diuturna da pressão, chamada<br />

“maré barométrica”, é mais acentuada nas regiões extratropicais.<br />

5.3 - Variação dinâmica<br />

Causada pelos deslocamentos horizontais dos grandes sistemas de pressão e de massas de<br />

ar. É muito mais definida nas latitudes temperadas, onde ocorrem os maiores contrastes entre as<br />

massas de ar.<br />

6 - Ajustes da pressão atmosférica<br />

6.1 - Pressão da Estação<br />

O valor de pressão obtido a partir da leitura do barômetro num dado ponto da superfície<br />

terrestre representa a pressão que a atmosfera está exercendo sobre o referido ponto. A este valor,<br />

dá-se o nome de Pressão da Estação ou “QFE”, que se calcula aplicando três correções à leitura<br />

barométrica:<br />

1) de temperatura;<br />

2) de gravidade;<br />

3) instrumental.<br />

6.2 - Pressão ao Nível Médio do Mar<br />

Sabendo-se que a pressão decresce na vertical, estações situadas em altitudes diferentes,<br />

terão logicamente, pressões diferentes, não sendo possível, dessa forma, uma comparação entre<br />

elas num trabalho de análise meteorológica.<br />

Para que se possa fazer uma análise das pressões incidentes em diversos locais à mesma<br />

hora, torna-se necessário ajustá-las a um nível comum de referência, que é o nível do mar. O valor<br />

de pressão assim reduzido é denominado de pressão ao nível do mar ou simplesmente QFF e ele é<br />

obtido a partir do QFE e da média de treze temperaturas (a do momento e as de doze horas<br />

passadas).<br />

Ajustar a pressão de uma estação ao nível médio do mar consiste em adicionar ou subtrair<br />

àquele valor, o peso de uma coluna hipotética de ar que se estenda do ponto de observação ao<br />

nível do mar. Para estação localizada acima do nível do mar, deve-se adicionar e para estação<br />

localizada abaixo do nível do mar, deve-se subtrair. Esta coluna hipotética de ar representa a<br />

distância vertical que separa a estação do nível do mar, ou seja, a sua altitude ou elevação. Desse<br />

modo, a diferença entre o QFF e o QFE de uma estação num dado instante corresponde a sua<br />

altitude, desde que se aplique àquela o respectivo fator de conversão. Vejamos o seguinte<br />

exemplo: se num determinado aeródromo, a um dado instante, o QFF é 1 012,8 hPa e o QFE 958,4<br />

hPa, qual a sua altitude em metros Uma vez que a diferença entre os dois valores é 54,4 hPa e<br />

como cada hPa corresponde em termos de conversão, praticamente a 9 metros, temos como<br />

altitude aproximada desse aeródromo o equivalente a 54,4 x 9 = 489,6 m.<br />

6.3 - Pressão atmosférica padrão ao nível do mar<br />

A pressão atmosférica ao nível do mar é definida como aquela exercida pela atmosfera<br />

num ponto qualquer situado naquele nível. Uma vez que a aceleração da gravidade varia<br />

latitudinalmente, os diversos valores de pressão atmosférica ao nível do mar vão também<br />

apresentar-se variáveis de local para local. Assim, a fim de se evitar um valor de pressão<br />

atmosférica ao nível do mar diferente para cada latitude, convencionou-se estabelecer um valor<br />

35


médio, oriundo de diversas observações, as quais se denominaram de pressão atmosférica padrão<br />

ou simplesmente, pressão-padrão. O valor em apreço se corresponde, em termos das diversas<br />

unidades de pressão, da seguinte forma:<br />

pressão-padrão = 1013,2 hPa = 29,92 pol Hg = 760mm Hg<br />

Daí, a possibilidade de se passar de uma unidade para outra, mediante o uso de uma<br />

simples regra de três,como por exemplo, converter 1000 hPa em mm Hg.<br />

7 - Sistemas de pressão<br />

7.1 - Sistema de alta pressão<br />

Também conhecido como Centro de Alta ou simplesmente Alta, é aquele que apresenta<br />

valores de pressão mais elevados no interior e valores mais baixos no exterior, posto que nele a<br />

pressão aumenta da periferia para o centro e diminui do centro para a periferia. É identificado<br />

numa carta de superfície pelas letras “A” ou “H”, esta última do inglês High, ambas em azul;<br />

7.2 - Sistema de baixa pressão<br />

Também conhecido como Centro de Baixa ou simplesmente Baixa, é aquele que apresenta<br />

valores de pressão mais baixo no interior e valores mais elevados no exterior, posto que nele a<br />

pressão diminui da periferia para o centro e aumenta do centro para a periferia. É identificado<br />

numa carta de superfície pelas letras “B” ou “L”, esta última do inglês Low, ambas em vermelho.<br />

Esses sistemas de pressão podem surgir numa análise dos campos báricos, ora<br />

estacionários sobre uma região, quando então são chamados de semi-permanentes, ora em<br />

deslocamento latitudinal, quando então são chamados de dinâmicos. Por outro lado, um sistema de<br />

Alta pode ser denominado de Anticiclone e um sistema de Baixa, de Ciclone.<br />

Figura 13 - sistemas de pressão<br />

8 - Superfícies Isobáricas<br />

A exemplo do que acontece ao nível médio do mar, que apresenta um valor convencionado<br />

de pressão (1 013,2 hPa), foram atribuídos valores também convencionados de pressão às<br />

superfícies encontradas acima daquele nível, as quais constituem as chamadas superfícies<br />

isobáricas, também conhecidas por superfícies de pressão constante, por apresentarem o mesmo<br />

valor de pressão em todos os seus pontos. A superfície de 1 013,2 hPa é que serve de ponto de<br />

36


partida para a distribuição dessas superfícies, as quais se apresentam paralelas entre si e àquela<br />

superfície, também conhecida como nível-padrão. As superfícies isobáricas afastam-se<br />

gradativamente do nível do mar, mantendo cada uma delas uma distância vertical sempre<br />

constante da superfície de pressão padrão de 1 013 hPa, à qual se dá o nome de altitude de pressão<br />

(AP). Dentre as superfícies de pressão constante, algumas foram selecionadas para fins de análise<br />

e pesquisa atmosférica, recebendo, então a designação de superfícies isobáricas padrões - 1000,<br />

850, 700, 500, 400, 300 hpa são alguns exemplos.<br />

8.1 - Isóbaras<br />

Para se ter uma idéia global da distribuição da pressão numa região, deve se lançar ou<br />

plotar sobre um mapa meteorológico, denominado de “carta sinótica de superfície”, os diversos<br />

valores de pressões reduzidas ao nível do mar (QFF’s), calculados para cada uma das estações<br />

meteorológicas. Feito isto, o previsor meteorologista unirá todos os pontos que apresentem os<br />

mesmos valores de pressão, mediante uma linha denominada ISÓBARA. As isóbaras devem ser<br />

traçadas apenas ao nível do mar e <strong>geral</strong>mente, a intervalos de 2 em 2 hPa. Uma vez feito o traçado<br />

isobárico, é possível se fazer uma análise do campo bárico ao nível do mar, a qual permite a exata<br />

visualização do comportamento físico da Atmosfera, através das flutuações e deslocamentos dos<br />

chamados sistemas de pressão ou centros de pressão. Carta de Superfície é a expressão usada em<br />

<strong>meteorologia</strong> para designar a representação gráfica de todas as observações sinóticas<br />

( temperatura, umidade, nuvens, vento, etc ) realizadas à superfície, em determinados locais, usada<br />

para análise da evolução das condições do tempo. A única exceção é a pressão atmosférica, cujos<br />

valoresa referem-se ao nível médio do mar.<br />

8.2 - Isoípsas ou Linhas de Contorno<br />

Os sistemas de altas e baixas são perfeitamente definidos ao nível do mar, através do<br />

traçado das isóbaras. Entretanto, a identificação desses mesmos centros acima do nível do mar,<br />

deve obedecer a outro procedimento, uma vez que é impossível o traçado de isóbaras em altitude.<br />

Para tanto, plotam-se “cartas de altitude”, também denominadas de “carta de pressão constante”,<br />

que são preparadas, tomando por base, as superfícies isobáricas padrões ou superfícies de pressão<br />

constante padronizadas. Estas apresentam, como qualquer superfície isobárica, valores constantes<br />

de altitude de pressão, as quais são lançadas nas referidas cartas. A seguir, o previsor une todos os<br />

pontos que apresentem o mesmo valor de altitude de pressão, originando disso, uma linha<br />

denominada de isoípsa ou linha de contorno, que corresponde em altitude, à isóbara ao nível do<br />

mar e que permite a identificação dos sistemas de pressão em altitude (denominados de ciclones e<br />

anticiclones). Isotermas também são traçadas juntamente com as isoípsas, a fim de melhor<br />

complementar a análise das superfícies isobáricas padrões. As altitudes de pressão das superfícies<br />

isobáricas podem ser obtidas por diversos métodos, dentre eles: radiossondagem, dropsondagem e<br />

computador de vôo.<br />

8.3 - Estrutura Vertical dos Sistemas de Pressão<br />

Como bem já vimos, através do traçado das isóbaras pode-se fazer uma análise do campo<br />

bárico da atmosfera e esta permite identificar os sistemas ou centros de pressão localizados ao<br />

nível do mar. Tais sistemas ou centros são, entretanto, verdadeiros empilhamentos de superfícies<br />

isobáricas, em número infinito que apresentam estruturas verticais bem definidas, como veremos:<br />

Sistemas de altas : expandem-se na vertical como se fossem relevos de montanhas. Com isto, as<br />

superfícies isobáricas tendem a se afastar do nível do mar nas altas;<br />

Sistemas de baixas : expandem-se na vertical como se fossem relevos de vales. Com isto, as<br />

superfícies isobáricas tendem a se aproximar do nível do mar nas baixas.<br />

37


Os sistemas de pressões, dentro de suas estruturas verticais, são caracterizados de acordo<br />

com a seguinte classificação:<br />

Sistema de alta fria : apresenta ar mais frio e mais denso no centro e ar mais quente e menos<br />

denso em torno. É mais intenso à superfície.<br />

Sistema de baixa quente : apresenta ar mais quente e menos denso no centro e ar mais frio e mais<br />

denso em torno. É mais intenso à superfície.<br />

Sistema de alta quente : apresenta ar mais quente e menos denso próximo ao centro e ar mais frio<br />

e mais denso em torno. É mais intenso em altitude.<br />

Sistema de baixa fria : ar mais frio e mais denso próximo ao centro e ar mais quente e menos<br />

denso em torno. É mais intenso em altitude.<br />

Os sistemas de pressões, dependendo da maneira com que se dispõem nas cartas de<br />

superfície, podem ainda formar as seguintes configurações isobáricas:<br />

Colo : quando os sistemas de pressão dispõem-se simetricamente, dois a dois, formando entre eles<br />

uma região apertada entre duas Altas e duas Baixas em oposição. O tempo aí consiste de ventos<br />

pouco intensos, mas muito variáveis.<br />

figura 14 - colo<br />

Cavado : quando um centro de Baixa dispõe-se de forma alongada, apertado entre dois centros de<br />

Alta. Tal aspecto físico lembra em muito um vale. O tempo aí consiste de condições sempre<br />

adversas.<br />

figura 15 - cavado<br />

Crista : quando um centro de Alta dispõe-se de forma alongada, apertado entre dois centros de<br />

Baixa. Tal aspecto físico lembra em muito uma montanha. O tempo aí <strong>geral</strong>mente é bom.<br />

38


figura 16 - crista<br />

9 - Tempo associado aos ciclones e anticiclones<br />

O ciclone, também chamado de depressão, é um fenômeno atmosférico caracterizado por<br />

uma pronunciada queda de pressão em seu centro e por uma forte convergência de ar que flui de<br />

áreas de Alta. Ocupa sempre grande extensão, alcançando comumente diâmetro mil quilômetros.<br />

Quanto mais baixa for a depressão maior será a violência dos fenômenos atmosféricos associados,<br />

porque é mais notável o estado de desequilíbrio reinante. A energia de um ciclone reside<br />

fundamentalmente na quantidade de vapor d’água que ele armazena.<br />

O conhecimento das condições físicas da alta atmosfera pode dar excelentes indicações<br />

para uma perspectiva do tempo associado a uma depressão. Assim, se houver camadas de ar com<br />

temperaturas e direções diferentes e carregadas de muita umidade, pode-se aguardar um tempo<br />

chuvoso. Por outro lado, se estas mesmas camadas estiverem carregadas de ar seco, o resultado<br />

será uma estiagem.<br />

O anticiclone é um fenômeno atmosférico de extensão muito variável, que <strong>geral</strong>mente<br />

sucede a um ciclone e cujas condições de tempo associadas normalmente são boas. Apresenta,<br />

quase sempre, uma delgada, porém às vezes espessa, camada de nuvens, acompanhada de uma<br />

inversão de temperatura.<br />

39


TEXTO V<br />

UMIDADE ATMOSFÉRICA<br />

1 - Generalidades<br />

O estudo dos hidrometeoros não poderia deixar de se iniciar pela forma gasosa. O vapor<br />

d’água vive em constante transição por diferentes regiões do globo terrestre.<br />

Assim, um volume de ar é considerado seco quando possui uma quantidade insignificante<br />

de vapor d’água. Quando essa quantidade se torna apreciável, o ar é considerado úmido, que é uma<br />

mistura de ar seco com vapor d’água. À medida que o vapor d’água aumenta, atingindo a<br />

quantidade máxima que o volume de ar pode conter, o ar é denominado saturado.<br />

A quantidade de vapor d’água que o ar pode conter varia constantemente. Essa variação<br />

faz-se em detrimento de outros elementos do ar, principalmente do oxigênio e do nitrogênio. Se<br />

considerarmos um volume de ar úmido, vamos verificar que há nele uma grande quantidade de<br />

moléculas de vapor d’água, cujo peso molecular é 18 (H 2 O). Por outro lado, em um volume de ar<br />

seco (N 2 + O 2 ) predominam o nitrogênio (pelo molecular = 14) e o oxigênio (peso molecular =<br />

16). Comprova-se, dessa forma, ser o ar úmido mais leve do que o ar seco.<br />

O vapor d’água provém principalmente da contínua evaporação que se processa sobre as<br />

superfícies líquidas (oceanos, mares, rios, lagos) e, em menor proporção, do solo úmido e da<br />

transpiração dos seres em <strong>geral</strong> ( evapotranspiração). A quantidade de vapor d’água na Atmosfera<br />

diminui com a altitude e com a latitude, e o seu estudo é denominado higrometria.<br />

Denominamos “evaporação” ao fenômeno segundo o qual uma substância líquida passa<br />

naturalmente para o estado gasoso. Esse fenômeno ocorre com a água em condições normais.A<br />

presença de uma superfície líquida, que ocupa três quartas partes do globo terrestre, assegura uma<br />

contínua fonte de provisão de vapor d’água para a atmosfera.<br />

2 - Pressão atmosférica e vapor d’água<br />

2.1 - Pressão do vapor d’água<br />

Quando o vapor d’água escapa para o ar e se mistura com outros gases da atmosfera, ele da<br />

mesma forma que estes, exerce pressão em todas as direções. Esta pressão denomina-se pressão do<br />

vapor e contribui para a pressão atmosférica total do ar.<br />

2.2 - Pressão de saturação do vapor d’água<br />

Considerando uma superfície livre de água, vamos encontrar aí não apenas uma fuga de<br />

moléculas do líquido para o ar, mas também um retorno de moléculas do ar para o líquido. Em<br />

princípio, a fuga é maior do que o retorno e dizemos que está havendo evaporação. Quando o<br />

número de moléculas que escapa é equilibrado pelo número das que retornam, não haverá mais<br />

evaporação e diz-se que o ar está saturado, isto é, sob as condições reinantes, o ar não poderá mais<br />

conter vapor d’água. A pressão do vapor passa a denominar-se, nesse caso, “pressão de saturação<br />

do vapor”.<br />

Por outro lado, se houver aquecimento do ar, este se dilatará proporcionalmente,<br />

permitindo mais evaporação de água da superfície, uma vez que, para manter o ar saturado,<br />

devemos adicionar-lhe mais vapor d’água, o que permite concluir que a pressão de saturação do<br />

vapor d’água é diretamente proporcional à temperatura do ar.<br />

40


2.3 - Tensão do vapor d’água<br />

Como já foi citado anteriormente, dizemos que está havendo evaporação enquanto<br />

o número de moléculas que escapam da superfície líquida for maior do que o número de moléculas<br />

que retornam à mesma superfície. O excesso de moléculas que passa para o ar é medido como<br />

pressão da superfície. Esta pressão da superfície que evapora é chamada “tensão do vapor”. Da<br />

mesma forma que a pressão de saturação do vapor, a tensão do vapor também é diretamente<br />

proporcional à temperatura da superfície.<br />

À medida que o vapor d’água vai se concentrando no ar, a pressão do vapor vai<br />

aumentando, até atingir um ponto em que será igual à tensão do vapor. Nesse ponto, cessa o<br />

fenômeno da evaporação, pois o ar atingiu a saturação.<br />

O índice de evaporação da água da superfície para o ar pode ser medido por meio de<br />

instrumentos denominados “Evaporímetros” e “Evaporígrafos”.<br />

2.4 - Temperatura virtual<br />

Em função de presença do vapor d’água, é possível verificar a variação da densidade ou<br />

massa específica do ar. Para tanto, dá-se ao ar um valor fictício de temperatura, capaz de fazer<br />

variar a sua densidade ou massa específica. Essa temperatura é denominada “temperatura virtual”<br />

e pode ser definida como sendo aquela a que deve ser submetido um volume de ar seco para ficar<br />

com a mesma densidade de um volume equivalente de ar úmido, submetido à mesma pressão.<br />

2.5 - Água precipitável<br />

Chama-se água precipitável à massa total de vapor d’água existente em uma coluna<br />

atmosférica, que se estenda da superfície até o nível onde não exista mais umidade. Deve-se<br />

salientar, porém, que essa expressão não significa que todo vapor d’água existente na camada irá<br />

se condensar e precipitar. Trata-se de um parâmetro útil em determinados estudos, como o da<br />

absorção da energia solar pela atmosfera terrestre.<br />

3 - Elementos representativos da umidade do ar<br />

O teor de vapor d’água presente no ar constitui o que se chama de umidade atmosférica. A<br />

presença do vapor d’água pode ser verificada através de diversos elementos, tais como umidade<br />

absoluta, umidade relativa, umidade específica, razão de mistura, temperatura do bulbo úmido e<br />

temperatura do ponto de orvalho.<br />

3.1 - Umidade Absoluta<br />

A umidade absoluta é definida como a densidade ou massa específica do vapor d’água<br />

contido num dado volume de ar. Ela é, <strong>geral</strong>mente, expressa em gramas de vapor d água por metro<br />

cúbico de ar.<br />

3.2 - Umidade Relativa<br />

A umidade relativa é uma relação entre a quantidade de vapor d’água presente num dado<br />

volume de ar e a quantidade máxima que este volume de ar pode conter, expressa em<br />

porcentagem. Desta definição, podemos concluir que, se o ar estiver saturado, ele contém todo o<br />

vapor d’água possível e a umidade relativa será 100%. Quando ele possuir a metade da quantidade<br />

41


máxima de vapor d’água, a umidade relativa é de 50%. Quando não há vapor d’água presente<br />

(apenas em teoria), a umidade relativa é de 0%.<br />

Quando, num volume de ar, a quantidade de vapor d’água for constante, um aumento na<br />

temperatura desse volume de ar fará diminuir o valor da umidade relativa e vice-versa.<br />

Para a obtenção do valor da umidade relativa usam-se instrumentos especiais denominados<br />

“higrômetros” e “higrógrafos”ou ainda o higrotermógrafo, que consiste numa associação de um<br />

higrógrafo com um termógrafo.<br />

3.3 - Umidade Específica<br />

É a relação entre a massa de vapor d’água e a massa de ar úmido. É expressa em gramas de<br />

vapor d’água por quilograma de ar úmido. Ela varia, portanto, com a variação do vapor d’água.<br />

3.4 - Razão de Mistura<br />

É a relação entre a massa de vapor d’água e a massa de ar seco. É expressa em gramas de<br />

vapor d’água por quilograma de ar seco.<br />

3.5 - Temperatura do Bulbo Úmido<br />

É a menor temperatura que se pode obter, através da evaporação da água, provocada em<br />

um termômetro de bulbo úmido, componente como já vimos, do psicrômetro. A água evaporada<br />

para o ar circundante faz com que ele vá tendendo à saturação e a temperatura correspondente que<br />

ele adquire é a “temperatura do bulbo úmido”, que vai servir como referência da umidade.<br />

3.6 - Temperatura do Ponto de Orvalho<br />

É a temperatura que um volume de ar atinge para se tornar saturado, com o vapor d’água<br />

nele existente e a uma dada pressão constante. Ela é obtida a partir do psicrômetro, valendo-se<br />

para tanto das temperaturas ali reinantes e de uma tabela adequada para tal. É sempre comparada<br />

com a temperatura do ar, a fim de permitir a determinação do teor de umidade atmosférica. O ar<br />

estará saturado quando essas duas temperaturas se igualarem. O campo de distribuição da<br />

temperatura do ponto de orvalho é representado , nos mapas de análise meteorológica, por uma<br />

linha que une pontos que apresentem o mesmo valor de ponto de orvalho e que se chama<br />

isodrosoterma.<br />

4 - Comportamento Termodinâmico da água na atmosfera<br />

Na Atmosfera, a água está continuamente mudando de estado e, para que isso ocorra, há<br />

sempre uma quantidade de energia calorífica sendo liberada ou absorvida e que recebe o nome de<br />

calor latente.<br />

4.1 - Calor latente de vaporização<br />

Quando a água passa do estado líquido para o de vapor d’água, absorve uma quantidade de<br />

calor denominada calor latente de vaporização, que se define como a quantidade de calor<br />

necessária para evaporar um grama de água. Para a água em ebulição, ele é de aproximadamente<br />

540 calorias e para a água entre 15ºC e 30ºC, de 580 calorias. Em virtude desse tipo de calor<br />

acompanhar o vapor d’água na evaporação, esta sempre produz efeito de resfriamento sobre a<br />

superfície que evapora e no ar em torno dela.<br />

42


4.2 - Calor latente de condensação<br />

Quando o vapor d’água retorna ao estado líquido através da condensação, a mesma<br />

quantidade de calor absorvida na evaporação, é agora liberada e recebe o nome de calor latente de<br />

condensação.<br />

4.3 - Calor latente de solidificação<br />

Quando a água passa do estado líquido para o sólido, através da congelação, libera uma<br />

quantidade de calor, denominada de calor latente de solidificação. À uma temperatura de 0ºC, cada<br />

grama de água que se congela libera cerca de 80 calorias.<br />

4.4 - Calor latente de fusão<br />

Quando a água retorna do estado sólido para o líquido, através da fusão, a mesma<br />

quantidade de calor liberada na solidificação, é agora absorvida e recebe o nome de calor latente<br />

de fusão.<br />

4.5 - Calor latente de sublimação<br />

Quando o vapor d’água passa diretamente para o estado sólido, libera uma quantidade de<br />

calor, denominada de calor latente de sublimação e que corresponde à soma do calor latente de<br />

condensação com o calor latente de solidificação. No processo inverso, quando cristais de gelo<br />

retornam diretamente para o estado de vapor d’água, a mesma quantidade de calor liberada na<br />

sublimação é agora absorvida e também recebe o nome de calor latente de sublimação e que<br />

corresponde à soma do calor latente de fusão com o calor latente de vaporização.<br />

5 - Processos físicos de saturação<br />

Para que ocorram a condensação e a sublimação do vapor d’água na atmosfera, é preciso<br />

que haja antes a saturação do ar. Outrossim, este mesmo ar deve conter uma quantidade apreciável<br />

de partículas sólidas, em torno das quais o vapor d’água se fixará pela condensação ou sublimação.<br />

Tais partículas são denominadas núcleos higroscópicos. A sublimação nem sempre depende desses<br />

núcleos, uma vez que experiências demonstraram que sob temperaturas de-39ºC a-40ºC ela ocorre,<br />

mesmo sem a presença de partículas higroscópicas. A temperatura que isto ocorre é denominada<br />

de temperatura espontânea ou Ponto de Schäefer.<br />

O ar pode atingir a saturação por dois meios: por acréscimo de vapor d’água ou por<br />

resfriamento.<br />

5.1 - Por acréscimo de vapor d’água<br />

Ocorre como resultado da evaporação, que permite um aumento na temperatura do ponto<br />

de orvalho. Para tanto, a temperatura do ar e a pressão devem permanecer constantes. Quando a<br />

saturação resultante ocorre com umidade relativa superior a 100%, temos a chamada<br />

supersaturação, e, neste caso, o excesso de umidade é condensado ou sublimado de forma<br />

instantânea, constituindo-se no princípio de formação da nebulosidade (nuvens e nevoeiros).<br />

5.2 - Por resfriamento<br />

Ocorre como resultado de um resfriamento provocado por meios naturais, que permitem<br />

uma diminuição na temperatura do ar. Os principais processos são os seguintes:<br />

43


5.2.1 - Radiação<br />

Quando o ar úmido entra em contato com superfície resfriada por radiação terrestre, poderá<br />

também se resfriar e saturar. Normalmente, esta situação resulta numa inversão de temperatura que<br />

pode redundar numa formação de nevoeiro de superfície. Ocasionalmente, pode também haver a<br />

formação do orvalho (sob temperaturas acima de 0ºC) ou da geada (sob temperaturas de 0ºC ou<br />

menos).<br />

5.2.2 - Advecção<br />

Trata-se do processo que ocorre como resultado do transporte horizontal do calor, por meio<br />

da respectiva movimentação do ar. De duas formas, a advecção pode contribuir para a saturação<br />

do ar:<br />

Advecção de ar frio sobre superfície quente<br />

Neste caso, a parte inferior do ar frio torna-se aquecida e menos densa e eleva-se, para em<br />

seguida resfriar-se e saturar. O resultado poderá ser camadas descontínuas de nuvens,<br />

denominadas de cumuliformes.<br />

Advecção de ar quente sobre superfície fria<br />

Neste caso, a parte inferior do ar quente resfria-se e satura. O resultado poderá ser camadas<br />

contínuas de nuvens, denominadas de estratiformes.<br />

5.2.3 - Efeito orográfico<br />

Quando uma camada de ar quente e úmido incide sobre uma elevação qualquer, ela é<br />

forçada a elevar-se mecanicamente ao longo da respectiva encosta. À medida que sobe, vai se<br />

resfriando, podendo saturar-se e condensar, originando as chamadas nuvens orográficas a<br />

barlavento (lado de onde flui o vento). A sotavento (lado para onde flui o vento), o ar desce a<br />

elevação também sob a forma quente, porém seco.<br />

5.2.4 - Efeito dinâmico<br />

Quando ventos de características diferentes (em pressão, temperatura e umidade),<br />

convergem sobre uma determinada área provocam a elevação do ar e um conseqüente resfriamento<br />

e saturação do mesmo. O resultado é a formação de nuvens cumuliformes ou lenticulares .<br />

figura 17 - processos de saturação<br />

6 - Ciclo Hidrológico<br />

44


É o processo segundo o qual a água circula da superfície para a atmosfera (via evaporação)<br />

e da atmosfera para a superfície (via precipitação). Trata-se de um sistema cíclico alimentador, que<br />

permite a circulação da água entre a hidrosfera e a atmosfera e vice-versa, sem o qual a vida não<br />

seria possível na face da Terra. O processo passa pela seguinte seqüência:<br />

• a radiação solar chega à superfície e é convertida em calor;<br />

• o calor solar provoca a evaporação dos diversos tipos de superfície,<br />

principalmente das fontes de água;<br />

• o vapor d’água é levado para a Atmosfera, onde poderá condensar-se ou<br />

sublimar-se, formando as nuvens;<br />

• algumas nuvens, não suportando a umidade condensada ou sublimada, fazem<br />

com que a mesma caia por gravidade até a superfície, caracterizando a chamada precipitação;<br />

• a precipitação, uma vez atingindo o solo, chega aos mares, rios, lagos, etc., onde<br />

novamente irá evaporar-se.<br />

7 - Hidrometeoros<br />

Os hidrometeoros também chamados meteoros aquosos são os mais comuns na atmosfera<br />

e, como o próprio nome indica, são constituídos pelo elemento água.<br />

O ciclo de vida de um hidrometeoro pode passar pelas seguintes fases: vapor d’água,<br />

nuvem ou nevoeiro, depósito ou precipitação.O estudo de hidrometeoros deve sempre considerar<br />

como ponto de partida a forma gasosa, ou seja, o vapor d’água e/ou as formas condensadas ou<br />

sublimadas do mesmo, ou seja, a nuvem. Vejamos agora alguns tipos de hidrometeoros:<br />

Chuvisco<br />

Gotículas de água uniformemente dispersas, parecendo flutuarem no ar e seguindo o sopro<br />

da brisa, que normalmente acompanha o fenômeno. Exige a presença de nuvem Stratus (ST) e é<br />

muitas vezes acompanhado de nevoeiro. O diâmetro de suas gotículas é sempre menor do que 0,5<br />

mm.<br />

Chuvisco Glacial<br />

Chuva<br />

Chuvisco que se congela quando entra em contato com superfície gelada.<br />

Gotas d’água nitidamente separadas e que visivelmente caem de certas nuvens, tais como<br />

stratocumulus (SC), altostratus (AS), nimbostratus (NS), cumulus (CU) e cumulonimbus (CB). O<br />

diâmetro de suas gotas apresenta um mínimo de 0,5 mm.<br />

Chuva glacial<br />

Chuva que se congela quando entre em contato com superfície gelada.<br />

Grãos de neve<br />

Minúsculos flocos de neve estrelados ou cristais de gelo simples, que ocorrem sob<br />

condições meteorológicas semelhantes às do chuvisco, exceto que a temperatura é igual ou menor<br />

que 0ºC. Por isso, são considerados os equivalentes sólidos do chuvisco.<br />

Água-neve<br />

45


Grãos com estrutura de neve, brancos, opacos e redondos e com um diâmetro entre 2 e 5<br />

mm. São quebradiços ou compressíveis e ricocheteiam ao caírem em superfície dura, quando então<br />

se despedaçam.<br />

Neve<br />

Cristais de gelo hexagonais, irradiados ou estrelados (flocos de neve), comumente<br />

misturados com cristais de gelo simples, que caem de nuvens nimbostratus (NS), altostratus (AS)<br />

ou cumulonimbus (CB).<br />

Agulhas de gelo<br />

Cristais de gelo pequenos e simples, em forma de agulhas ou placas e que só podem ser<br />

vistos com “céu claro”. Estão associadas ao fenômeno do “halo” e são de difícil ocorrência em<br />

nosso país.<br />

Geada miúda<br />

Grãos de gelo sólidos e globulares originários do congelamento de gotas de chuva, ou do<br />

recongelamento de flocos de neve, que caem numa camada de ar próxima da superfície e com<br />

temperatura abaixo do ponto de congelamento.<br />

Granizo<br />

Partículas de água-neve encerradas em finas camadas de gelo, <strong>geral</strong>mente translúcidas,<br />

redondas ou cônicas e cujos diâmetros variam entre 2 e 5 mm. Exige sempre a presença de nuvem<br />

cumulonimbus (CB).<br />

Saraiva<br />

Pedras de gelo mais ou menos ovais, cujos diâmetros variam de 5 a 50 mm ou mais e que<br />

podem cair separadas ou em blocos irregulares. Exige a presença de nuvem cumulonimbus (CB).<br />

Observação: quando da precipitação de granizo ou saraiva a temperatura à superfície pode ser<br />

superior a 0ºC.<br />

Poalha<br />

Conjunto de gotículas de água retiradas da superfície da água por vento forte e conduzidas<br />

a pequena distância na atmosfera.<br />

Orvalho<br />

Gotas d’água, depositadas pela condensação do vapor d’água sobre superfícies resfriadas<br />

pela radiação noturna. A temperatura do ar é na maioria das vezes superior a 0ºC.<br />

Geada<br />

Cristais de gelo finos, em forma de agulhas ou escamas, depositados por sublimação do<br />

vapor d’água sobre superfícies resfriadas nas mesmas condições que formam o orvalho, exceto<br />

que a temperatura à superfície deve ser igual ou inferior a 0ºC.<br />

Sincelo<br />

46


Pequenas colunas pendentes de gelo formadas pela congelação da água do orvalho ou da<br />

neve derretida, que escorre de superfícies sólidas, quando a temperatura é igual ou inferior a 0ºC.<br />

Escarcha<br />

Camadas brancas de cristais de gelo depositadas em superfícies sólidas verticais,<br />

principalmente quando ocorre nevoeiro super-resfriado. O fenômeno consiste de camadas ou<br />

pontas cônicas que se acumulam no objeto a favor do vento.<br />

8 - Nebulosidade<br />

Trata-se da ocupação do céu, por nuvem ou por nevoeiro, que nada mais são, como já<br />

vimos, conseqüências da condensação ou da sublimação do vapor d’água na atmosfera.<br />

8.1 - Nuvem<br />

Aglomerado de gotículas d’água ou de cristais de gelo ou ainda de ambos misturados, em<br />

suspensão na atmosfera, sustentadas por correntes ascendentes. Apesar de parecerem flutuar, seus<br />

elementos constituintes caem lentamente em relação ao ar circundante. Os diâmetros desses<br />

elemento são muito pequenos, com um valor médio de 10 mícrons.<br />

8.2 - Nevoeiro<br />

Fenômeno cuja constituição física assemelha-se à da nuvem, diferindo apenas no tocante à<br />

localização, uma vez que ele ocorre junto à superfície. Por definição, a sua principal característica<br />

é de reduzir a visibilidade horizontal a menos de 1000 metros. Isto faz com que seja um dos<br />

fenômenos meteorológicos que mais interferem nas operações de superfície dos aeódromos. A<br />

causa dessa restrição no sentido horizontal é devida à sua densidade, que varia muito, indo de 0 a<br />

menos de 1000 metros. Por outro lado, também apresenta uma espessura muito variável, que<br />

restringe a visibilidade vertical. Sob temperatura muito baixa, ele pode constituir-se de cristais de<br />

gelo, quando então será denominado de nevoeiro glacial.<br />

8.2.1 - Formação do nevoeiro<br />

Em <strong>geral</strong>, o nevoeiro forma-se como fruto de uma inversão à superfície. Porém, a condição<br />

básica para sua formação é a temperatura do ar igual à temperatura do ponto de orvalho, ou seja,<br />

uma situação de saturação do ar que pode resultar, como já vimos, do acréscimo de vapor d’água<br />

ou do resfriamento. A formação do nevoeiro depende também de outras condições favoráveis, tais<br />

como:<br />

• umidade relativa bastante elevada;<br />

• núcleos higroscópicos abundantes;<br />

• vento fraco (velocidade de até 10 KT).<br />

8.2.2 - Classificação dos nevoeiros<br />

Dependendo de como ocorram, os nevoeiros podem ser classificados em dois grupos: de<br />

massas de ar e frontais.<br />

8.2.2.1 - Nevoeiros de massas de ar<br />

47


São aqueles que se formam no interior de massas de ar (quente ou fria), normalmente<br />

provocados pelo resfriamento. Suas principais variedades são as seguintes: de radiação e de<br />

advecção.<br />

• Nevoeiro de radiação<br />

Forma-se, <strong>geral</strong>mente, em noites de céu claro, quando o solo perde calor rapidamente por<br />

efeito da radiação terrestre. Quando o vento é calmo, é de pequena espessura e recebe o nome de<br />

nevoeiro de superfície ou nevoeiro de céu visível e quando o vento é fraco, o fenômeno se espessa,<br />

recebendo o nome de nevoeiro de céu invisível. Quando ocorre fora da estação, pode receber<br />

diversos nomes, tais como: bancos de nevoeiro, nevoeiro em bancos ou nevoeiro distante. O<br />

nevoeiro de radiação apresenta ocorrência mais freqüente no outono e no inverno das latitudes<br />

tropicais e subtropicais.<br />

• Nevoeiro de advecção<br />

Forma-se como resultado do movimento horizontal do ar sobre a superfície terrestre (ar<br />

frio sobre superfície quente ou ar quente sobre superfície fria). Costuma apresentar os seguintes<br />

tipos:<br />

Nevoeiro de vapor<br />

Forma-se como resultado do contato de ar frio com superfície líquida aquecida. É de<br />

ocorrência freqüente no outono e inverno, sobre mares, rios, lagos, lagoas e pântanos.<br />

Nevoeiro marítimo<br />

Forma-se como resultado do contato de ar quente com corrente marítima fria. É de<br />

ocorrência freqüente no verão das latitudes temperadas.<br />

Nevoeiro de brisa marítima<br />

Forma-se como resultado do contato de ar marítimo quente com litoral frio. É de<br />

ocorrência freqüente no inverno de latitudes temperadas e circumpolares.<br />

Nevoeiro orográfico<br />

Resultado de deslocamento lento e gradual de ar quente e úmido sobre a encosta suave de<br />

uma elevação.<br />

Nevoeiro glacial<br />

Resultado da sublimação do vapor d’água próximo à superfície e sob temperaturas abaixo<br />

de-30ºC. Com isto, é de ocorrência freqüente apenas nas latitudes polares.<br />

8.2.2.2 - Nevoeiros frontais<br />

Formam-se associados com frentes (fria ou quente), como resultado da evaporação de<br />

precipitação leve e contínua proveniente de nuvem estratiforme, que cai dentro do ar frio.<br />

Podemos encontrar dois tipos fundamentais de nevoeiros frontais.<br />

• Nevoeiro pós-frontal<br />

48


Ocorre associado com frente fria de deslocamento muito lento ou quase estacionário. É de<br />

ocorrência freqüente no outono e inverno.<br />

• Nevoeiro pré-frontal<br />

Ocorre associado com passagem de frente quente.<br />

8.2.2.3 - Névoa úmida<br />

Trata-se de um fenômeno semelhante em tudo ao nevoeiro, com a única diferença de que<br />

suas partículas constituintes são, em <strong>geral</strong>, menores e mais dispersas. Por esta razão, a visibilidade<br />

horizontal é sempre igual ou maior que 1000 metros e a umidade relativa é sempre igual ou<br />

superior a 80%, distinguindo-se da chamada névoa seca, que apresenta a umidade relativa inferior<br />

a 80%.<br />

8.2.3 - Dissipação do nevoeiro<br />

São vários os fatores determinantes da dissipação de um nevoeiro. Dentre esses, podemos<br />

destacar os seguintes:<br />

• o aumento na velocidade do vento;<br />

• o aquecimento solar.<br />

Deve aqui ser ressalvado que o aquecimento só provoca a dissipação de nevoeiro formado<br />

sobre superfície que não seja líquida, uma vez que para nevoeiro formado sobre este tipo de<br />

superfície a tendência da ação solar é intensificá-lo ainda mais, tendo em vista o aumento da<br />

evaporação.<br />

8.3 - Formação de gotas d’água na atmosfera<br />

Se o ar fosse completamente isento de impurezas, a formação de um simples aglomerado<br />

de moléculas de água (gota) deveria acontecer por colisão seguida de aglutinação, processo este<br />

chamado de nucleação homogênea. Porém, esse processo é pouco provável devido a baixa<br />

concentração de vapor d’água na atmosfera ( máximo de 4% em volume).<br />

Quando a condensação ou sublimação de vapor d’água se processa na superfície de<br />

partículas sólidas suspensas na atmosfera ( núcleos higroscópicos), dizemos que ocorre nucleação<br />

heterogênea. Esse meio de formação de gotas é o mais comum no interior de nuvens na atmosfera.<br />

9 - Litometeoros<br />

Como bem vimos, o ar atmosférico normalmente se apresenta com um certo grau de<br />

impurezas, sem as quais não seria possível a condensação ou sublimação do vapor d’água e<br />

conseqüentemente, todo um processo que dependa da presença da umidade. Estas impurezas,<br />

denominadas em <strong>geral</strong> de núcleos higroscópicos, consistem de minúsculas partículas sólidas em<br />

suspensão na atmosfera e recebem a designação genérica de litometeoros. Além do lado positivo,<br />

que é o de servir como núcleos em torno dos quais se fixa o vapor d’água pela condensação ou<br />

sublimação, apresentam também um lado negativo, que é o de interferir no grau de transparência<br />

da atmosfera, reduzindo a visibilidade do ar. Por outro lado, quando se apresentam em<br />

concentração maciça, podem ser responsáveis pela tão temida poluição. Naturalmente, a única<br />

maneira capaz de eliminá-los do ar é através da precipitação, que “lava” a Atmosfera. É por esta<br />

razão que, após um período mais ou menos prolongado de chuva, o ar apresenta-se com uma<br />

transparência incomum. Conheçamos agora, alguns tipos de litometeoros:<br />

49


9.1 - Névoa Seca<br />

Nome genérico dado aos litometeoros quando a visibilidade horizontal é de 1000 metros ou<br />

mais e a umidade relativa de 79% ou menos. Apresenta uma tonalidade azul-chumbo quando vista<br />

na direção de um fundo escuro, tal como uma montanha; torna-se amarelada ou alaranjada quando<br />

vista na direção de um fundo claro, tal como uma nuvem. Geralmente, tem sua origem numa<br />

mistura de fumaça com poeira.<br />

9.2 - Fumaça<br />

É a concentração de minúsculas partículas resultantes da combustão incompleta. Apresenta<br />

uma tonalidade cinza ou azul quando observada à distância mas, quando vista sobre cidade, pode<br />

aparecer como marrom, preta ou cinza-escura. Já na direção do Sol ou da Lua aparece<br />

extremamente avermelhada.<br />

9.3 - Fumaça com nevoeiro<br />

É a ocorrência de nevoeiro numa atmosfera enfumaçada. Trata-se de uma situação típica<br />

dos grandes centros urbanos industriais. Para que ocorra, exige uma inversão de temperatura a<br />

pouca altura, o que impede a dispersão dos poluentes atmosféricos. Isto provoca um acúmulo de<br />

elementos nocivos próximos à superfície, que acarreta um tremendo mal estar às pessoas e<br />

animais.<br />

9.4 - Tempestade de Areia ou Poeira<br />

Partículas de areia ou poeira retiradas da superfície por vento forte e turbulento, podendo<br />

atingir centenas de metros de espessura.<br />

10 - Índice de desconforto ambiental<br />

As variações de umidade e temperatura na camada de ar justaposta à superfície<br />

estabelecem o nível de conforto ambiental das pessoas nas diferentes regiões do planeta. A<br />

sensação de desconforto é mais devida à umidade que a temperatura. Para medir esse efeito foram<br />

propostos diversos índices, sendo o método apontado por Niewolt, baseado na seguinte fórmula, o<br />

mais usado:<br />

Id = 0,8t + (t x UR/ 500)<br />

Na equação anterior t é a temperatura do ar (ºC) e UR é a umidade relativa (%).<br />

Estudos feitos nos Estados Unidos indicaram que o valor Id em torno de 21 é o mais<br />

agradável. Para valores entre 24 e 26, o nível de desconforto já é significativo e para valores<br />

miores que 26 é notória a indisposição das pessoas para o trabalho. Deve-se salientar que esses<br />

valores podem variar de acordo com a região do globo - por exemplo na região tropical, as pessoas<br />

são mais adaptadas ao intenso calor.<br />

10.1 - Sensação térmica<br />

Sensação Térmica é a temperatura combinada com outros fatores meteorológicos, como o<br />

vento, que representa com mais precisão, o impacto das condições do tempo sobre o nosso<br />

organismo. O estudo da influência da velocidade do vento combinada com o valor da temperatura<br />

50


do ar foi iniciado ainda na década de 1930, pelo cientista americano Paul Siple. Posteriormente,<br />

com base nos estudos de Siple, foi desenvolvida a relação entre a temperatura ambiente, a<br />

velocidade do vento e a temperatura da pele seca do ser humano, dando como resultado um novo<br />

valor de temperatura, a qual foi denominada de “sensação térmica” , conhecida também como<br />

Temperatura Equivalente de Windchill ou Efeito Windchill. Ela representa, então, a temperatura<br />

que sentimos quando estamos expostos a determinadas condições de temperatura do ar e<br />

velocidade do vento.<br />

A tabela a seguir mostra alguns exemplos de sensação térmica de acordo com as condições<br />

do vento e da temperatura registrada pelos termômetros meteorológicos.<br />

51


Temperatu<br />

ra do ar<br />

(ºC)<br />

TABELA DE SENSAÇÃO TÉRMICA<br />

Velocidade do vento ( KT)<br />

10 20 29 37 45 53<br />

Temperatura correspondente de Sensação Térmica (ºC)<br />

-4 -14 -21 -24 -26 -27 -27<br />

0 -9 -15 -18 -20 -20 -20<br />

2 -6 -12 -15 -16 -17 -17<br />

5 -2 -8 -11 -12 -12 -12<br />

8 1 -3 -6 -7 -7 -7<br />

12 6 2 0 -1 -1 -1<br />

15 11 7 5 4 4 4<br />

18 14 11 10 9 9 9<br />

20 17 14 12 12 12 12<br />

A tabela nos mostra claramente que o vento tende a suavizar ou diminuir o valor de<br />

temperatura sentida na pele humana. Essa diminuição é tanto maior quanto mais veloz é o vento,<br />

razão pela qual sentimos mais frio em situações de ventos com maiores velocidades. Outro fato<br />

curioso é que essa diminuição de temperatura sentida na pele com o vento praticamente permanece<br />

constante para valores de velocidade acima de 45 KT, conforme tabela acima.<br />

52


TEXTO VI<br />

CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO DO AR<br />

1 - Processo Adiabático<br />

É o processo segundo o qual a variação do energia interna de uma parcela de ar depende de<br />

um trabalho de compressão e expansão da mesma, sem que haja significante troca de calor com a<br />

atmosfera adjacente.<br />

Um exemplo clássico adiabático na atmosfera é o lento movimento vertical (ascendente ou<br />

subsidente) de uma parcela de ar grande o suficiente para que se tornem desprezíveis as trocas de<br />

calor em sua periferia. Em função disso, a energia necessária à realização do trabalho de expansão<br />

na subida é obtida às custas da redução de sua própria energia interna (como estabelece o 1°<br />

Princípio da Termodinâmica “a variação da energia interna de um sistema depende da troca de<br />

calor com o meio e da realização do trabalho, ΔQ=Δu+Δw” ) resultando num resfriamento da<br />

parcela. Na descida a parcela se aquecerá, pois a atmosfera realiza trabalho sobre ela<br />

(compressão), aumentando sua energia interna.<br />

Nesse nosso estudo serão assumidas as seguintes condições.:<br />

a) atmosfera em equilíbrio hidrostático (sem perturbação);<br />

b) não haverá troca de calor entre a parcela e a atmosfera;<br />

c) nenhum produto de condensação abandonará a parcela na ascensão ou subsidência.<br />

Como bem vimos, as variações de altura por que passa uma parcela de ar na atmosfera<br />

transmitem-lhe conseqüentes variações de temperatura (resfriamento na subida por expansão e<br />

aquecimento na descida por compressão). Estas variações foram bastante pesquisadas e hoje, lhe<br />

são atribuídos valores diferentes, conforme o ar esteja ou não saturado.<br />

2 - Características do processo adiabático<br />

2.1 - Razão Adiabática Seca (RAS)<br />

É o nome do gradiente térmico de uma parcela de ar não saturado, que apresenta o valor<br />

particular de 1ºC / 100 m. Ele é na verdade, a variação vertical da temperatura de uma parcela de<br />

ar “seco” que, ao elevar-se adiabaticamente, resfria-se e, ao descer adiabaticamente, se aquece na<br />

mesma proporção. Não se deve, a partir de agora, confundir o gradiente térmico de uma parcela de<br />

ar que se movimenta adiabaticamente, com o gradiente térmico do ar ambiente, onde a parcela se<br />

movimenta. Aquele é sempre constante, fazendo-se na razão de 1ºC / 100 m e este poderá<br />

apresentar valores bem diferentes, que dependerão de uma pesquisa atmosférica, normalmente, via<br />

sondagem.<br />

2.1.1 - Gradiente superadiabático<br />

É o nome dado a todo gradiente térmico que apresenta um valor superior ao atribuído à<br />

Razão Adiabática Seca, ou seja, maior do que 1ºC / 100 m. O máximo permissível na atmosfera é<br />

de 3,42 ºC / 100 m e recebe a designação particular de gradiente autoconvectivo, pois ele acarreta<br />

o afundamento mecânico do ar mais frio dos níveis superiores e uma subida violenta de um<br />

volume equivalente de ar superaquecido dos níveis inferiores; o resultado disso é uma<br />

instabilidade extrema, como veremos adiante.<br />

2.2 - Razão Adiabática Úmida (RAU)<br />

53


É o nome do gradiente térmico de uma parcela de ar saturado, que apresenta o valor<br />

particular de 0,5ºC/100m. Ele é na verdade, a variação vertical da temperatura de uma parcela de<br />

ar “úmido”, que, elevando se adiabaticamente, já ultrapassou o NCC. É de menor valor porque o<br />

calor latente de condensação, liberado no processo respectivo, reaquece a parcela, reduzindo assim<br />

o valor do gradiente térmico. Na verdade, a razão adiabática úmida não apresenta um valor tão<br />

constante quanto à razão adiabática seca, pois ele varia na razão inversa da temperatura e depende<br />

da quantidade de vapor d’água envolvida no processo. Em virtude disso, varia de 0,4ºC até quase<br />

1ºC/100m, adotando-se, porém, como já vimos, um valor médio de 0,6C/100m.<br />

2.3 - Nível de condensação convectiva (NCC)<br />

À medida que uma parcela de ar se eleva convectivamente, ela vai se resfriando<br />

adiabaticamente e a diferença entre a sua temperatura e a temperatura do ponto de orvalho irá<br />

variar gradativamente. Da mesma forma que a temperatura do ar decresce de 1ºC/100m (valor da<br />

Razão Adiabática Seca), a temperatura do ponto de orvalho o faz na razão média de 0,2ºC / 100m.<br />

Quando a diferença entre os dois valores se torna nula, eles se igualam e ocorre a saturação da<br />

parcela considerada. A partir daí, inicia-se a condensação do vapor d’água e uma possível<br />

formação de nebulosidade. O nível no qual isto ocorre recebe o nome de Nível de Condensação<br />

Convectiva (NCC) ou Nível de Condensação por Elevação (NCE) e a sua altura é a mesma da base<br />

da nebulosidade aí formada. Toda atividade convectiva inicia-se à superfície e a temperatura do ar<br />

que lhe dá origem denomina-se temperatura convectiva.<br />

Para se calcular a altura da nuvem formada num processo adiabático, usa-se uma regra de<br />

três simples, lembrando que, para cada 100 metros de altura, a diferença de temperatura e do ponto<br />

de orvalho decresce numa razão de 0,8ºC.<br />

0,8ºC ----100 metros<br />

(T – td) -----h<br />

h = (T –td) x 125<br />

Onde: T = temperatura do ar à superfície em ºC<br />

Td = temperatura do ponto do orvalho em ºC<br />

125 = constante (resultado de 100: 0,8)<br />

h = altura do NCC/NCE em met<br />

Figura 18 – processo adiabático na atmosfera<br />

54


2.3.1 - Exercício de aplicação<br />

1- A temperatura do ar na base de uma nuvem Cúmulus situada a 1500 metros de altura é de 16ºC.<br />

Qual a temperatura do ponto de orvalho à superfície<br />

2- Nuvem Cúmulus formam-se a 1600 metros. Sabendo-se que a temperatura do ponto de orvalho<br />

à superfície é de 20”C, a temperatura convectiva será de ....<br />

3- Uma nuvem tem base a 1000 metros e topo a 5000 metros. Qual a temperatura do ar a 3000<br />

metros de altura, se a temperatura do ponto de orvalho a 600 metros é de 9º C<br />

4- Nuvens Cúmulus formam-se a 800 metros, tendo na base o ponto de orvalho de 6ºC. Qual a<br />

temperatura convectiva em graus celsius<br />

5- Uma parcela de ar à superfície é forçada a se elevar a 1400 metros de altura, onde atinge o NCC<br />

com ponto de orvalho de 08ºC. A sua temperatura à superfície, em graus celsius será<br />

6- Qual a temperatura no topo de uma nuvem Cúmulus, sabendo-se que tem 700 metros de<br />

extensão vertical, base a 1000 metros e que apresenta 8º C no NCC.<br />

7- Uma parcela de ar é forçada a subir a encosta de uma montanha. Essa parcela forma nuvem a<br />

1000 metros de altura, atingindo o NCC com temperatura de 08º C, produzindo saturação até o<br />

topo da montanha que é de 3000 metros. Calcule:<br />

a) a temperatura convectiva;<br />

b) a temperatura do ponto de orvalho à superfície;<br />

c) a temperatura no topo da montanha;<br />

d) a temperatura à superfície do lado oposto da montanha após a descida da parcela.<br />

Respostas:<br />

1- 19ºC<br />

2- 91ºF<br />

3- -3,8ºC<br />

4- 14ºC<br />

5- 22ºC<br />

6- 3,8ºC<br />

7- a) 18ºC; b) 10ºC; c) –04ºC; d) 26ºC<br />

2.4 - Temperaturas potencial e potencial equivalente<br />

O conceito de temperatura potencial é de extrema utilidade em Meteorologia, principalmente<br />

quando se necessita comparar as temperaturas do ar a diferentes alturas, para efeito de cálculo de<br />

fluxos de calor, pois não se pode medir diretamente a temperatura e compará-la sem considerar a<br />

pressão e altura. Neste caso então, compara-se as diferentes temperaturas potenciais.<br />

Se uma parcela de ar eleva-se até um dado ponto, a partir da superfície, e depois retorna ao<br />

ponto de partida, independente das variações de pressão por que passou, tanto na subida como na<br />

descida, voltará sempre com a mesma temperatura inicial, desde que a pressão inicial permaneça<br />

constante. A superfície de pressão escolhida para tal é a de 1000 hPa e a temperatura que uma<br />

parcela adquire quando é trazida até a mesma, é chamada de Temperatura Potencial. Variações de<br />

altura fazem variar a temperatura da parcela, mas a sua temperatura potencial será sempre<br />

constante. Entretanto, se a parcela ultrapassar o NCC e saturar todo o vapor d’água, ao retornar à<br />

superfície de 1000hPa, chegará com uma temperatura maior que a inicial. É a chamada<br />

temperatura potencial equivalente, muito usada na identificação de massas de ar. O processo que<br />

55


deu origem ao a temperatura potencial equivalente é denominado de processo pseudoadiabático e<br />

que difere do processo adiabático, porque vai além do NCC.<br />

3 - Condições de equilíbrio na Atmosfera<br />

Para o estudo das condições de equilíbrio na atmosfera será adotado o chamado “método<br />

da parcela”, que analisa o comportamento de uma parcela de ar em relação à atmosfera que a<br />

circunda (ar adjacente). Admite-se que, em um certo instante, uma dada camada da atmosfera se<br />

encontre em equilíbrio hidrostático. Em seguida sofra um impulso qualquer (orografia, por<br />

exemplo) que a obrigue a um pequeno deslocamento vertical. Ao deslocar verticalmente, a parcela<br />

experimenta uma mudança de temperatura que se processa segundo a razão adiabática seca ou<br />

úmida. Uma vez cessada a causa que obrigou a parcela a se deslocar, sua densidade poderá ser<br />

maior, igual ou menor que a da atmosfera adjacente, no nível de pressão atingido, daí resultando<br />

sua tendência a descer, estacionar ou subir, respectivamente. Dependendo de sua densidade final<br />

em relação ao ar circundante, a parcela poderá:<br />

a) descer, voltando ao nível de pressão original; neste caso, o equilíbrio do ar é dito estável;<br />

b) estacionar, permanecendo em repouso na nova posição, denominado neutro;<br />

c) subir, tendendo a se afastar da posição original chamado instável.<br />

3.1 - Tipos de equilíbrio do ar<br />

Para se determiná-los deve-se comparar o gradiente térmico do ar ambiente (valor a ser<br />

pesquisado) com o gradiente térmico da parcela de ar, RAS ou RAU, conforme tenha ou não<br />

ultrapassado o NCC. Os exemplos citados a seguir referem-se apenas à RAS, tendo em vista que o<br />

procedimento para RAU é o mesmo, somente atentando-se para os valores diferentes das razões<br />

adiabáticas seca e úmida.<br />

• Ar indiferente ou neutro<br />

Ocorre quando o gradiente térmico do ar ambiente for igual ao gradiente térmico da parcela<br />

considerada ou ambos apresentarem mesma densidade.<br />

GTA = 1ºC/100m ==> AR NEUTRO (GTA = RAS)<br />

Exemplo: feita uma sondagem num ambiente cuja temperatura convectiva é de 30ºC, verificou-se<br />

que a 2000 m de altura a temperatura é de 10ºC. Uma parcela embebida nesse meio chegará a esse<br />

nível também com 10ºC, apresentando, conseqüentemente, a mesma densidade do ar ambiente e<br />

tendendo a permanecer em repouso, caracterizando desse modo, ar indiferente ou neutro.<br />

• Ar estável<br />

Ocorre quando o gradiente térmico do ar ambiente for menor do que o gradiente térmico da<br />

parcela considerada ou a densidade ambiente for menor que a densidade da parcela.<br />

GTA < 1ºC/100m ==> AR ESTÁVEL (GTA < RAS)<br />

Exemplo: feita uma sondagem num ambiente cuja temperatura convectiva é de 30ºC, verificou-se<br />

que a 2 000 m de altura a temperatura é de 20ºC. Uma parcela embebida nesse meio chegará a esse<br />

nível com 10ºC, apresentando, conseqüentemente, uma densidade maior que a do ar ambiente e<br />

tendendo a afundar, com retorno à posição original, caracterizando, desse modo, ar estável.<br />

56


• Ar instável<br />

Ocorre, quando o gradiente térmico do ar ambiente for maior do que o gradiente térmico da<br />

parcela considerada ou densidade ambiente maior que a densidade da parcela.<br />

GTA > 1ºC/100 m ==> AR INSTÁVEL (GTA > RAS)<br />

Exemplo: feita uma sondagem num ambiente cuja temperatura convectiva é de 30ºC, verificou-se<br />

que a 2000 m de altura a temperatura é de 0ºC. Uma parcela embebida nesse meio chegará a esse<br />

nível com 10ºC, apresentando, conseqüentemente, uma densidade menor que a do ar ambiente e<br />

tendendo a continuar subindo, afastando-se da posição original, caracterizando, desse modo, ar<br />

instável.<br />

Observa-se perfeitamente que os valores de gradiente térmico ambiente dos exemplos<br />

anteriormente apresentados, são os seguintes:<br />

• no exemplo do caso (a): 1ºC/100 m;<br />

• no exemplo do caso (b): 0,5ºC/100 m;<br />

• no exemplo do caso (c): 1,5ºC/100 m.<br />

Em ar estável, não há condições para a movimentação vertical do ar, apresentando-se o<br />

mesmo calmo ou sem turbulência. Em ar instável, há condições para a movimentação vertical do<br />

ar, apresentando-se agitado ou turbulento.<br />

3.2 - Estabilidade Condicional do Ar<br />

Como já vimos anteriormente, se uma parcela de ar eleva-se adiabaticamente num ar<br />

ambiente cujo gradiente térmico seja menor que o seu, o resultado é a presença de ar estável.<br />

Admitamos por exemplo, o valor de 0,8 ºC/100 m para o referido gradiente. Ao atingir o NCC, a<br />

parcela em apreço passa a apresentar um gradiente térmico menor, como já sabemos (0,5 ºC/100<br />

m), muito embora o gradiente térmico do ar ambiente continue com o valor de 0,8 ºC/100 m. Isto<br />

irá evidenciar, como também já vimos anteriormente, a presença de ar instável, uma vez que o<br />

gradiente térmico do ar ambiente passou a ser maior que o gradiente térmico da parcela<br />

considerada. Este tipo de estabilidade do ar, no qual ele permanece estável enquanto não saturado,<br />

passando gradativamente a instável depois de saturado, denomina-se estabilidade condicional, e o<br />

nível onde ela ocorre chama-se nível de convecção livre (NCL), que pode acontecer coincidente ou<br />

abaixo do NCC.<br />

3.3 - Instabilidade Mecânica ou Absoluta do ar<br />

Normalmente, a densidade do ar diminui com a altura, mesmo que haja um gradiente<br />

superadiabático. Entretanto, em níveis próximos a superfícies superaquecidas, têm havido<br />

evidências de ar com densidade quase constante, o que caracteriza a chamada atmosfera<br />

homogênea, cujo gradiente térmico responsável é o gradiente autoconvectivo (3,42 ºC/ 100 m).<br />

Como bem já vimos, é uma situação que produz uma instabilidade extrema e automática, isto é,<br />

sem a necessidade de atuação de forças externas, tais como convergência, efeito orográfico, efeito<br />

dinâmico, etc., e que se denomina instabilidade mecânica ou absoluta. A grande importância disso<br />

é que ela é responsável pela ocorrência de fenômenos violentos, principalmente do tornado e da<br />

tromba d’água. O afundamento de ar numa área da superfície acarreta concentração de ar nesse<br />

nível (alta pressão), gerando estabilidade e formação de névoa e nevoeiros. Esse acúmulo de ar<br />

tende a divergir (sair) do centro de alta e convergir (entrar) para um centro de baixa (graças ao<br />

equilíbrio hidrostático), gerando elevação de ar e convecção nesses ciclones. Portanto,<br />

57


afundamento e divergência associam-se a áreas de alta pressão enquanto convergência e elevação<br />

caracterizam áreas de baixa pressão.<br />

4 - Outros aspectos de identificação do equilíbrio do ar<br />

A nebulosidade, quando bem interpretada, permite identificar a condição de equilíbrio<br />

reinante no momento sobre uma área. Assim, toda nuvem que apresente o termo cumulus em seu<br />

nome, caracteriza ar instável (cumulus, cumulonimbus, altocumulus e cirrocumulus). Por outro<br />

lado, toda nuvem que apresente o termo stratus em seu nome, caracteriza ar estável (stratus,<br />

nimbostratus, altostratus e cirrostratus). Já a nuvem stratocumulus caracteriza o ar neutro.<br />

Além das nuvens, outros aspectos mais comuns servem como formas de identificação do<br />

equilíbrio do ar. Dentre eles, podemos citar os seguintes:<br />

4.1 - Estabilidade Geral<br />

Visibilidade restrita, névoa úmida, céu claro ou com nebulosidade estratiforme, sem ou<br />

com precipitação leve e contínua.<br />

4.2 - Instabilidade Geral<br />

Visibilidade boa, salvo quando ocorrer precipitação proveniente da nebulosidade<br />

cumuliforme que está sempre presente (cumulus congestus e cumulonimbus).<br />

4.3 - Instabilidade Orográfica<br />

Nuvens lenticulares (forma de lentes) e cumulus nas proximidades de montanhas,<br />

associadas com ventos fortes ao nível dos respectivos topos.<br />

4.4 - Instabilidade nos níveis médios e superiores da atmosfera<br />

Nuvens altocumulus do tipo castellanus. Nuvens cirrus uncinus indicando ventos fortes,<br />

nuvens cirrocumulus e cirrus spissatus (topo de cumulonimbus).<br />

58


1 - Atmosfera Padrão da OACI<br />

TEXTO VII<br />

A ATMOSFERA PADRÃO E A ALTIMETRIA<br />

As variações irregulares de certos elementos da atmosfera real, principalmente no que diz<br />

respeito a certos parâmetros, tais como pressão, temperatura e densidade, não permitem um estudo<br />

bastante preciso da mesma. Para resolver o impasse, foi criado um termo de comparação capaz de<br />

permitir a avaliação da magnitude de tais variações dentro de limites conhecidos. Esse termo de<br />

comparação recebeu o nome de atmosfera-padrão e constitui a base de referência para o estudo de<br />

comportamento da atmosfera verdadeira, no que diz respeito aos seus parâmetros fundamentais.<br />

Segundo esse modelo, a determinação da altitude real é feita levando-se em conta a variação<br />

vertical da gravidade (geopotencial). A atmosfera padrão de uso corrente na Aeronáutica é aquela<br />

aprovada pelo Conselho da OACI e que se estende da superfície até 20000 metros. Suas<br />

características principais são as seguintes:<br />

<br />

o ar é considerado seco, isento de impurezas e partículas radioativas. Tem massa molecular de<br />

28,964 g/mol e se comporta como um gás ideal. Seus elementos mais importantes entram na<br />

composição atmosférica com as seguintes porcentagens:<br />

NITROGÊNIO........................................ 78,088<br />

OXIGÊNIO............................................. 20,948<br />

ARGÔNIO.............................................. 00,928<br />

DIÓXIDO DE CARBONO..................... 00,029<br />

<br />

<br />

<br />

reina a condição de equilíbrio hidrostático;<br />

a pressão que o ar exerce, ao nível do mar, corresponde a uma pressão de 1 013 250 dinas/cm2,<br />

relativa ao peso de uma coluna de Hg de 76 cm de altura e equivale a 1013,25 hPa,<br />

denominada de pressão-padrão;<br />

ao nível do mar, uma coluna de ar exerce valores de pressão, conforme a seguinte<br />

correspondência:<br />

Δ 1hPa 8,4m 27,7pés<br />

Δ 1 pol Hg 287m 943pés<br />

Porém, à medida que se considera altitudes mais elevadas, torna-se necessário uma coluna<br />

de ar cada vez maior para exercer a mesma pressão, uma vez que a densidade atmosférica vai<br />

diminuindo desproporcionalmente. Entretanto, para fins práticos, os termos de conversão aqui<br />

apresentados podem ser arredondados em cálculos sem muita precisão, para altitudes até 4000 pés,<br />

conforme tabela a seguir:<br />

59


Δ1hPa 9m 30pés<br />

Δ1 mm Hg<br />

Δ1 pol Hg<br />

12m<br />

300m<br />

40pés<br />

1 000pés<br />

<br />

<br />

<br />

a aceleração da gravidade é de 980,665 cm/seg², valor este considerado na latitude de 45ºC;<br />

o mercúrio utilizado no barômetro apresenta uma densidade igual a 13,595g/cm3;<br />

a temperatura padrão ao nível do mar (ou ISA- de ICAO Standard Atmosphere), equivale a<br />

15ºC ou 59ºF ou ainda 288k. A variação vertical (temperatura dimimui com a altitude)ou<br />

gradiente térmico se faz nas seguintes proporções, até a base da tropopausa (11000 metros):<br />

0,65ºC/100m<br />

2ºC/1 000 pés ou<br />

3,6ºF/1 000 pés<br />

ou<br />

<br />

<br />

na tropopausa e no início da estratosfera, a temperatura permanece constante a -56,5ºC ou-<br />

69,7ºF ou ainda 216,5 K, o que significa isotermia até 20 000 metros;<br />

de 20.000 a 32.000 m o gradiente térmico vertical é de -1º C/ Km (temperatura aumentando<br />

com a altitude)<br />

2 - Relações entre o Nível-Padrão e o Nível do Mar<br />

Como bem já vimos, existe uma superfície de pressão paralela ao nível do mar e<br />

coincidindo com ele na atmosfera-padrão, a partir da qual, verificam-se todos os demais valores de<br />

pressão, em número infinito: em escala decrescente para cima do nível do mar e escala crescente<br />

para baixo do nível do mar. Essa superfície é aquela que apresenta o valor de 1 013,2 hPa e que se<br />

denomina nível de pressão padrão ou simplesmente nível-padrão. As demais superfícies de<br />

pressão são chamadas de superfícies isobáricas ou superfícies de pressão constante, porque<br />

apresentam o mesmo valor de pressão em todos os seus pontos. Todas essas superfícies de pressão<br />

mantêm-se paralelas entre si e paralelas ao nível do mar na atmosfera-padrão. Uma vez que na<br />

atmosfera real as pressões ao nível do mar variam a todo o momento, isto acarreta oscilações do<br />

nível-padrão em relação ao nível do mar e, conseqüentemente, de todas as superfícies isobáricas<br />

que se afastarão ou se aproximarão deste. Desse modo, dois casos podem ocorrer com respeito a<br />

essas oscilações:<br />

2.1 - Pressão ao nível do mar maior que a pressão do nível-padrão<br />

Neste caso, o nível-padrão estará acima do nível do mar, numa distância vertical que será<br />

tanto maior quanto maior for a respectiva diferença de pressão.<br />

2.2 - Pressão ao nível do mar menor que a pressão do nível-padrão<br />

Neste caso, o nível-padrão estará abaixo do nível do mar, numa distância vertical que será<br />

tanto maior quanto maior for a respectiva diferença de pressão.<br />

2.3 - Valor “D”<br />

60


Quando o nível-padrão se afasta do nível do mar (para cima ou para baixo), arrasta consigo<br />

e paralelamente todas as demais superfícies isobáricas que continuam mantendo, em relação ao<br />

mesmo nível-padrão, as altitudes de pressão. Altitude de pressão é a distância vertical de qualquer<br />

ponto (superfícies isobáricas, por exemplo) ao nível de pressão-padrão, de acordo com as<br />

atmosférica padrão. Assim, cada superfície isobárica passa a apresentar, em relação ao nível do<br />

mar, uma distância vertical equivalente à sua própria altitude de pressão que deve ser somada<br />

algebricamente à diferença entre o nível do mar e o nível-padrão. A essa diferença entre a altitude<br />

real e a altitude de pressão chamamos de valor ou fator “d”, que pode ser positivo ou negativo,<br />

conforme a altitude real seja maior ou menor do que a altitude de pressão, respectivamente.<br />

Quando a altitude de pressão e a altitude real têm o mesmo valor, o valor d é nulo.<br />

Figura 19 – relações entre o nível padrão e o nível médio do mar<br />

3 - Altimetria<br />

Consiste na técnica da utilização do altímetro que, como já vimos, trata-se de um<br />

barômetro aneróide dotado de um mecanismo que indica altitude em função da variação da<br />

pressão atmosférica, de acordo com atmosfera-padrão. Desse modo, os principais ajustes por ele<br />

fornecidos são:<br />

3.1 - Ajustes Altimétricos<br />

São referências adotadas no altímetro que permitem sua utilização em diferentes situações<br />

(pouso, decolagem, rota).<br />

Ajuste do Altímetro (QNH) : aquele que fornece uma altitude relativa ao nível do mar.<br />

Ajuste-Padrão (QNE) : o que fornece uma altitude relativa ao nível-padrão.<br />

Ajuste a Zero (QFE) : o que fornece uma altura relativa ao nível do aeródromo.<br />

O altímetro mais comum é aquele que apresenta um mostrador graduado em pés, sobre o<br />

qual correm ponteiros indicadores de altitude (em número de dois ou três em tamanhos diferentes).<br />

Uma pequena abertura (denominada janela de ajustagem) mostra uma escala barométrica móvel<br />

que é acionada por um botão de ajuste, que permite girar os ponteiros e a escala simultaneamente<br />

ou cada um por vez, sempre que houver necessidade de se modificar os valores de altitude ou de<br />

pressão correspondente. Uma cápsula aneróide no interior do instrumento é a responsável pelo seu<br />

funcionamento e ela assim atua: quando a aeronave sobe, encontra pressões menores e a cápsula se<br />

61


expande indicando maiores altitudes; quando a aeronave desce, encontra maiores pressões e a<br />

cápsula se comprime indicando menores altitudes.<br />

figura 20 – o Altímetro<br />

3.2 - Ajuste Padrão e a Altitude de Pressão<br />

Seja uma dada localidade situada ao nível do mar, apresentando num dado instante, uma<br />

pressão naquele nível igual a 1013,2 hPa. Um altímetro ajustado para este valor, estará de<br />

conformidade com a Atmosfera-Padrão, ou seja, em ajuste-padrão, em ajuste universal ou em<br />

Ajuste QNE e sua indicação no momento será a distância vertical que o separa do nível-padrão ou<br />

uma Altitude de Pressão (AP) igual a zero. Porém, se o valor da pressão ao nível do mar, na<br />

mesma localidade, variar e o altímetro permanecer ajustado no mesmo valor, a sua indicação<br />

também irá variar proporcionalmente da seguinte maneira:<br />

• para menos: se a pressão ao nível do mar apresentar-se maior do que 1013,2<br />

hPa;<br />

• para mais: se a pressão ao nível do mar apresentar-se menor do que 1013,2 hPa.<br />

É importante, entretanto, lembrar que a AP se manterá inalterável nestes casos, uma vez<br />

que o altímetro acha-se ajustado para QNE ou Ajuste-Padrão. Desse modo, se o referido altímetro<br />

for conduzido para níveis superiores, irá indicar a cada nível valores de AP sempre constantes,<br />

porém os valores de altitude real oscilarão consoante as variações de pressão ao nível do mar.<br />

Para fins de controle de tráfego aéreo, no sistema de aerovias, faz-se a correspondência de<br />

cada AP com um determinado Nível de Vôo (FL do inglês Flight Level), que sempre recebe um<br />

número identificador, equivalente ao múltiplo de centenas de pés. Assim, por exemplo, um FL080<br />

corresponde a uma altitude padrão de 8000pés.<br />

3.3 - O Ajuste do Altímetro e a Altitude Indicada<br />

Seja agora um altímetro ajustado QNE indicando uma AP de 6000 pés sobre a vertical de<br />

um ponto ao nível do mar, cujo valor de pressão no momento é de 1018,2 hPa. Como já sabemos,<br />

o referido altímetro estará a 6000 pés acima do nível-padrão, porém, com relação ao nível do mar,<br />

ele estará a 6150 pés, uma vez que a pressão ao nível do mar apresenta-se maior do que a pressão<br />

do nível-padrão em 5hPa. Multiplicando-se este valor pelo respectivo fator de conversão para<br />

transformação em pés (30), teremos um fator “D” + de 150 pés, que acrescido à AP de 6000 pés,<br />

resulta numa altitude de 6150 pés. A essa distância vertical total de 6150pés, que separa o<br />

altímetro do nível do mar, chamamos de altitude indicada e ao valor de pressão ao nível do mar<br />

utilizado como ajuste altimétrico, de ajuste do altímetro ou simplesmente de QNH. O mesmo<br />

62


aciocínio se aplica no caso de um valor de pressão ao nível do mar inferior a 1013,2 hPa, como se<br />

pode observar na figura abaixo.<br />

Como podemos observar, uma altitude indicada (AI) vem a ser a distância vertical que<br />

separa uma superfície isobárica, um plano, ponto ou objeto do nível do mar. Ela é, também, a<br />

própria AP corrigida para o erro de pressão entre o nível do mar e o nível-padrão.<br />

Figura 20 – altitude de pressão e altitude indicada<br />

3.4 - Diferença entre O QNE e o QNH<br />

O ajuste-padrão ou QNE, sem corrigir erros de pressão, permite o vôo controlado com<br />

segurança dentro de aerovia, posto que esses erros serão comuns a todas as aeronaves em vôo na<br />

mesma aerovia.<br />

O ajuste do altímetro ou QNH, por corrigir os erros de pressão, só deve ser utilizado nas<br />

operações de pouso e decolagem, permitindo-lhes assim uma maior segurança. Pode ser utilizado<br />

em vôo dentro de aerovia mas para tanto exige correções obrigatórias sobre os chamados fixos de<br />

controle (locais físicos que dispõem da informação QNH). Quanto maior for o número desses<br />

fixos, mais seguro será o sistema de altitudes.<br />

Ratificando o exposto, podemos afirmar que o QNE fornece sempre a distância vertical que<br />

separa o altímetro do nível-padrão ou seja uma AP e o QNH fornece sempre a distância vertical<br />

que separa o altímetro do nível do mar ou seja uma AI. Daí, concluímos que se o QNE é muito<br />

bom e seguro para vôos em rota, não permite todavia, segurança no pouso e decolagem; já o QNH,<br />

embora usado em rota com segurança relativa, permite operações seguras de pouso e decolagem.<br />

Podemos definir o QNH como o valor de ajuste que, introduzido num altímetro de uma<br />

aeronaves, fará com que ele indique ao piloto, quer na decolagem ou no pouso, a altitude do<br />

aeródromo em relação ao nível do mar.<br />

Uma vez que a decolagem e o pouso só devem ser efetuados com ajuste QNH e o vôo em<br />

aerovia, com ajuste QNE, vejamos, agora, quais os procedimentos adequados para as respectivas<br />

mudanças de ajustes:<br />

• De QNH para QNE : ocorre após a decolagem e deve ser efetuada na chamada<br />

altitude de transição, que é fixada para cada aeródromo, nunca inferior a 1500ft.<br />

63


• De QNE para QNH : ocorre antes do pouso e deve ser efetuada no chamado nível<br />

de transição, que é fixado para cada aeródromo de acordo com uma tabela específica.<br />

Figura 21 – altitude e nível de transição<br />

3.5 - O Ajuste a zero<br />

A pressão ao nível da pista ou QFE também poderá ser utilizado como ajuste altimétrico,<br />

mas somente a pedido do piloto, pois fornece a distância vertical que separa o altímetro do nível<br />

da estação, ou seja, a altura do aeródromo. A sua designação como ajuste a zero advém do fato de<br />

que, quando a aeronave está no solo, seu altímetro indica, teoricamente, zero de altura.<br />

Uma vez que o QNH fornece a altitude de um aeródromo e o QFE, a altura desse mesmo<br />

aeródromo, podemos, num dado instante, calcular a sua elevação ou altitude. Basta para tanto,<br />

multiplicar a diferença entre os dois valores pelo respectivo fator de conversão. Exemplo: se um<br />

aeródromo apresenta num dado instante, um QNH de 29,96 pol de Hg e um QFE de 27,84 pol de<br />

Hg, qual a sua elevação<br />

Solução: QNH- QFE ∴ 29,96- 27,84 = 2,12 x 1 000 = 2 120 pés<br />

3.6 - Erros Altimétricos<br />

O altímetro, por ser um instrumento e por ter seu funcionamento dependente do fluxo de ar<br />

atmosférico, está sujeito a erros de duas naturezas:<br />

3.6.1 - De natureza mecânica, que pode ser:<br />

a<br />

• de instalação : são os erros que dependem da sensibilidade em responder à pressão estática.<br />

• instrumentais : são os erros que dependem da precisão mecânica na indicação.<br />

3.6.2 - De natureza meteorológica que compreende os erros de:<br />

• de Pressão : são os erros decorrentes da diferença entre a pressão real ao nível do mar e a<br />

pressão padrão. Três casos devem ser considerados:<br />

• pressão-real = pressão-padrão: neste caso, um altímetro ajustado padrão<br />

fornecerá uma AI igual à AP, evidenciando um QNH igual ao QNE e um valor “D” nulo,<br />

pois não há erro de pressão e nem de indicação;<br />

• pressão-real > pressão-padrão: neste caso, um altímetro ajustado padrão<br />

fornecerá uma AI maior do que a AP, evidenciando um QNH maior do que o QNE e um<br />

Valor “D+”, pois há um erro de pressão para mais e um erro de indicação para menos;<br />

64


• pressão-real < pressão-padrão: neste caso, um altímetro ajustado padrão<br />

fornecerá uma AI menor do que a AP evidenciando um QNH menor do que o QNE e um<br />

Valor “D”-, pois há um erro de pressão para menos e um erro de indicação para mais.<br />

• de temperatura : são os erros decorrentes da diferença entre a temperatura real e a<br />

temperatura-padrão ao nível de vôo. Três casos também devem ser considerados:<br />

• temperatura-real = temperatura-padrão: neste caso, um altímetro ajustado padrão<br />

fornecerá uma AD (Altitude Densidade) igual à AP, evidenciando um ar ambiente com a<br />

mesma densidade do ar padrão, pois não há erro de temperatura e nem de indicação;<br />

• temperatura-real > temperatura-padrão: neste caso, um altímetro ajustado padrão<br />

fornecerá uma AD maior do que a AP, evidenciando um ar ambiente com densidade menor<br />

do que a do ar padrão, pois há erro de temperatura para mais e de indicação para menos;<br />

• temperatura-real < temperatura-padrão: neste caso, um altímetro ajustado padrão<br />

fornecerá uma AD menor do que a AP, evidenciando um ar ambiente com densidade maior<br />

do que a do ar padrão, pois há erro de temperatura para menos e de indicação para mais.<br />

O erro combinado, como pressão e temperatura, afeta simultaneamente um altímetro. Os<br />

erros correlatos a esses elementos meteorológicos devem ser considerados, no conjunto, através de<br />

uma soma algébrica. Esse tipo de erro é denominado de erro combinado, cujo tipo mais crítico é o<br />

que ocorre em área de pressão baixa com temperatura também baixa, principalmente sobre região<br />

de alto relevo. Situações de insegurança também podem advir sob duas hipóteses:<br />

• pressão alta, mas temperatura extremamente baixa;<br />

• temperatura alta, mas pressão extremamente baixa.<br />

De um modo <strong>geral</strong>, um piloto quando voando em aerovia, não pode determinar, com<br />

precisão acurada, o erro combinado, mas poderá corrigir o erro de pressão, verificando a média<br />

dos QNH da área e o erro de temperatura, valendo-se do computador de vôo.<br />

3.7 - Altitudes fornecidas por um altímetro<br />

Quanto às altitudes fornecidas por um altímetro, dentre as mais comuns, podemos destacar<br />

as seguintes, mais a título de reprise:<br />

Altitude de pressão<br />

Quando o altímetro está ajustado para o QNE, destinado ao vôo em FL ou em aerovia.<br />

Altitude indicada<br />

Quando o altímetro está ajustado para o QNH e se faz a correção do erro de pressão.<br />

Altitude densidade<br />

Quando o altímetro está ajustado para o QNE e se faz a correção do erro de temperatura.<br />

Altitude calibrada<br />

65


Quando o altímetro está ajustado para o QNH e se fez a correção do erro de natureza<br />

mecânica (de instalação ou instrumental).<br />

Altitude verdadeira<br />

Quando o altímetro está ajustado para o QNH e se fez a correção de todos os erros<br />

(combinado e mecânico).<br />

3.8 - Exercícios de aplicação<br />

1- Uma aeronave voa no FL050 numa região onde o QNH é de 1017,2 hPa. A distância vertical<br />

que separa a aeronave do nível do mar nessa região é de quantos pés Quanto vale o fator “D”<br />

2- Numa área onde o QNH marca 1010,2 hPa, uma ACET voa no FL060. Qual o valor da altitude<br />

indicada no altímetro dessa aeronave Qual o valor da altitude real dessa aeronave<br />

3- Uma ACFT sobrevoa Guaratinguetá num dado momento em que a pressão ao nível do mar<br />

nessa localidade é de 29,82 pol de Hg. Sabendo-se que a ACFT voa no FL080, pergunta-se a<br />

quantos pés acima do nível do mar está voando essa aeronave<br />

4- Se uma aeronave voa sobre uma área onde o QNHI é de 1018,2 hPa, ela tem no seu altímetro<br />

um erro de indicação para mais ou para menos Qual seria o valor do erro em metros<br />

5- Uma ACFT sobrevoa São Paulo no IFL070 onde o QNH é de 1008,2 hPa. Pergunta-se:<br />

a) qual o valor da altitude verdadeira da ACFT<br />

b) qual o valor do fator “D”<br />

c) se o piloto, nesse momento, ajustasse o seu altímetro para a pressão do nível de vôo, por<br />

exemplo, de 527 hPa, quanto marcaria esse altímetro<br />

6- Um piloto, no nível de transição, solicita à torre de controle o QNH do aeródromo que é de<br />

1010,2 hPa. Ao tocar a pista, o piloto verifica que o QFE do mesmo aeródromo é de 960,2 hPa.<br />

Qual a altitude, em metros, do aeródromo<br />

7- De acordo com a Atmosfera-Padrão, determine a temperatura padrão dos seguintes níveis:<br />

a) FL070 em 0 C<br />

b) 500m em 0 K<br />

c) 1000011 em 0 F<br />

d) 1200m em 0 K<br />

e) FL110 em 0 C<br />

8- Uma aeronave sobrevoa uma região onde o GTA (gradiente térmico ambiente) obtido por uma<br />

radiossondagem é de 1,5º C/ 1000 ft. Essa aeronave, voando no FL090, encontrará uma<br />

temperatura real de quantos graus Farenheit A temperatura à superfície é de 15º C.<br />

Respostas:<br />

1- 5120ft , +l20ft;<br />

2- 6000ft, 5910ft;<br />

3- 7900ft;<br />

4- p/ menos em 45 m;<br />

5- a) 6850ft, b) -l50ft, c) 0ft;<br />

6- 450m;<br />

7- calcular:<br />

8- -34,7º F.<br />

66


TEXTO VIII<br />

A ATMOSFERA EM MOVIMENTO<br />

1 - Generalidades<br />

Como bem já vimos em unidade anterior, a variação do ângulo de incidência dos raios<br />

solares de região para região da Terra traz, como conseqüência, um aquecimento diferencial do<br />

equador aos pólos. Outrossim, o fato de que os vários tipos de superfícies absorvem a radiação<br />

solar de forma diferente, faz com que também haja um aquecimento diferencial na mesma região.<br />

O resultado lógico desses fatos é que ocorrem diferenças de temperatura. Estas, por sua vez,<br />

implicam em diferenças de pressão que obrigam o ar a deslocar-se no sentido horizontal, a fim de<br />

contrabalançar as diferenças de densidade. Esses deslocamentos horizontais do ar que se fazem,<br />

quer a nível regional, quer a nível local, constituem os ventos e compõem no conjunto a chamada<br />

circulação do ar, responsável maior pelo equilíbrio térmico na atmosfera.<br />

2 - Relação entre a pressão e o vento<br />

Suponhamos dois pontos (X e Y) à superfície, ambos apresentando, num dado instante,<br />

uma pressão igual a 1015 hPa e igual densidade. Logo, o ar no ponto X estará em repouso em<br />

relação ao ar no ponto Y e vice-versa. Se, porém, a pressão no ponto Y cair para 1010 hPa,<br />

mantido o mesmo valor de 1015 hPa no ponto X, ocorrerá uma diferença de densidade entre os<br />

dois pontos, e, neste caso, o ar para equilibrá-la, fluirá da área de maior pressão (ponto X) para a<br />

área de menor pressão (ponto Y). Esse fluxo do ar tendendo a manter um certo equilíbrio de<br />

pressão é chamado de vento, definido então, como o ar em movimento aproximadamente<br />

horizontal e de forma laminar, que ocorre quando há diferença de pressão entre duas regiões,<br />

ocasionadas, principalmente, por variações de temperatura. Quanto maior for a diferença de<br />

pressão, mais intenso será o vento resultante.<br />

X<br />

1 015<br />

Y<br />

1 015<br />

AR EM EQUILÍBRIO<br />

X<br />

1015<br />

VENTO<br />

Y<br />

1 010<br />

Figura 22 – relação entre pressão e vento<br />

3 - A mecânica dos ventos e as forças atuantes<br />

3.1 - Força do Gradiente de Pressão<br />

A variação da pressão no sentido horizontal considerada sobre uma determinada distância,<br />

é chamada gradiente de pressão, e a força que desloca o ar no sentido das pressões mais baixas, de<br />

força do gradiente de pressão. Esta atua em função direta do gradiente de pressão, pois quanto<br />

maior este mais intensa será a força e vice-versa.<br />

Como o gradiente de pressão depende de uma diferença de pressão que ocorre em função<br />

de uma distância, ele pode ser expresso matematicamente através da seguinte fórmula:<br />

p −<br />

⎧ p1<br />

= pressão no ponto X<br />

p<br />

⎪<br />

1<br />

= onde ⎨ p2<br />

= pressão no ponto Y<br />

d<br />

⎪⎩ d = distância entre os pontos X e Y<br />

G<br />

2<br />

67


Uma vez que o gradiente de pressão é considerado como uma queda de pressão, medida na<br />

direção da diminuição, ele possui uma magnitude e uma direção. A magnitude deve ser expressa<br />

em unidade de pressão por unidade de distância, tal como hPa/Km e a direção, pelo sentido da<br />

diminuição da pressão.<br />

A magnitude do gradiente de pressão pode ser determinada numa carta de superfície<br />

através do espaçamento existente entre as isóbaras. Quando elas estão próximas umas das outras, é<br />

porque a pressão está variando rapidamente com a distância, e, neste caso, tem-se um gradiente<br />

forte e ventos muito intensos. Por outro lado, quando elas estão distanciadas umas das outras, é<br />

porque a pressão está variando lentamente com a distância, e, neste caso, tem-se um gradiente<br />

fraco e ventos pouco intensos. Exemplificando o exposto, observemos as seguintes configurações<br />

isobáricas:<br />

Figura 23 - gradiente de pressão<br />

Comparando-se os dois gradientes apresentados, podemos observar uma diferença comum<br />

de 2 hPa entre as isóbaras respectivas, muito embora as distâncias entre elas sejam diferentes (40 e<br />

60 Km). Aplicando a fórmula do gradiente de pressão aos dois casos, teremos:<br />

2hPa<br />

1hPa<br />

2hPa<br />

1 º<br />

=<br />

2º<br />

=<br />

40km<br />

20km<br />

60km<br />

1hPa<br />

30km<br />

Dentre os dois gradientes, o que apresenta o resultado 1/20 é naturalmente o maior e, por<br />

conseguinte, o de ventos mais intensos.<br />

O vento que flui regido exclusivamente pela força do gradiente de pressão é denominado<br />

de vento barostrófico.<br />

Várias outras forças atuam na mecânica dos ventos, como veremos mais adiante, mas<br />

dentre elas todas, a força do gradiente de pressão é a que inicia o movimento eólico, como bem<br />

vimos. Por esse motivo, ela é denominada de força motriz dos ventos.<br />

Se somente a força do gradiente de pressão atuasse sobre o ar em movimento, o vento<br />

sopraria sempre, diretamente da alta pressão para a baixa pressão. Todavia, como já foi dito acima,<br />

outras forças se fazem presentes nos diversos tipos de ventos, tais como: força centrífuga, força de<br />

coriólis e força de atrito, e, com isto, o vento nem sempre sopra diretamente da alta para a baixa.<br />

3.2 - Força centrífuga<br />

Como a Terra gira em torno de seu eixo, todos os objetos em movimento sobre sua<br />

superfície estão sujeitos a uma força que atua numa perpendicular ao mesmo eixo - é a força<br />

centrífuga. Essa força aparente é aplicada quando consideramos um objeto (parcela de ar) em<br />

repouso com relação a um sistema de coordenadas em rotação (Terra). Esse é o caso de uma<br />

parcela de ar que está em sincronia de rotação com a Terra. Se, porém, essa massa de ar desloca-se<br />

68


em relação a Terra, que está em rotação, então outra força aparente deverá ser considerada neste<br />

movimento. Essa última é chamada de força de Coriólis.<br />

3.3 - Força de Coriólis<br />

Se a Terra não fosse animada do movimento de rotação, o vento sopraria sempre da alta<br />

para a baixa, de forma direta. A rotação, entretanto, obriga esse movimento do ar que,<br />

teoricamente, é perpendicular às isóbaras, a um desvio. Este fenômeno é fruto de uma força<br />

resultante entre a força centrífuga e a força de gravidade, a força de Coriólis, também chamada de<br />

força defletora, cuja existência atribui-se ao físico e matemático francês Gaspard Gustave de<br />

Coriólis. Esta força não é real, mas sim aparente, pois determinamos a direção de um movimento<br />

em relação à superfície da Terra que, por sua vez, também se acha em movimento. Com isto, o seu<br />

efeito defletor faz-se presente em todos os movimentos com relação à superfície, porém não deve<br />

ser levado em conta nos de escala comparativamente pequena. A deflexão, independentemente da<br />

direção do movimento, sempre se faz para a direita no hemisfério norte e para a esquerda no<br />

hemisfério sul. Isto significa, que um objeto qualquer, movendo-se sobre a superfície da Terra,<br />

tende continuamente, a se desviar para a direita no hemisfério Norte e para a esquerda no<br />

hemisfério Sul, como resultado do efeito da rotação da Terra, combinada com o movimento do<br />

corpo relativamente à superfície. Pode ser expressa, na forma escalar, pela seguinte fórmula:<br />

Como qualquer outra força, a força de Coriólis também possui magnitude e direção. A<br />

magnitude depende, como podemos observar na fórmula acima, de dois fatores: velocidade do<br />

vento e latitude onde ele ocorre e é diretamente proporcional a ambas. Com isto, concluímos que a<br />

força de Coriólis é mais intensa nos pólos e nula no equador. A direção, como já vimos, é aquela<br />

da deflexão, ou seja, para a direita no hemisfério Norte e para a esquerda no hemisfério Sul. Devese<br />

ressaltar que a Força de Coriólis atua perpendicularmente à direção da velocidade do objeto que<br />

se desloca, podendo apenas mudar a sua trajetória, mas jamais influir no módulo da velocidade.<br />

3.4 - Força de atrito<br />

Figura 24 - efeito defletor da força de Coriólis<br />

O terceiro efeito exercido sobre os ventos é aquele provocado pela fricção do ar com o solo<br />

e que se denomina força de atrito. Ocorre próximo à superfície e produz um efeito de<br />

turbilhonamento que se traduz em alterações na direção e velocidade do vento. À medida que vão<br />

sendo considerados níveis mais elevados, o efeito de fricção vai diminuindo gradativamente, até<br />

desaparecer. O nível atmosférico onde isto ocorre denomina-se nível gradiente ou nível do vento<br />

geostrófico, pois, como veremos mais adiante, este tipo de vento só ocorre livre de atrito. O nível<br />

69


gradiente localiza-se, em média, a 600 metros acima da superfície, muito embora oscile entre 400<br />

e 1000 m, dependendo do aspecto orográfico. A camada atmosférica compreendida entre a<br />

superfície e o nível gradiente é chamada de camada de fricção ou camada planetária e acima desta,<br />

atmosfera livre.<br />

3.4.1 - Camada limite superficial<br />

Que vai da superfície até 100 metros aproximadamente. Os ventos que nela fluem são<br />

denominados ventos de superfície, que acontecem como um resultado do equilíbrio entre as<br />

forças: do gradiente de pressão, de Coriólis, centrífuga e de atrito.<br />

3.4.2 - Camada de transição ou de Ekman<br />

Camada que se inicia acima da camada limite e se estende até o nível gradiente. Os ventos<br />

que nela e acima dela fluem são denominados de ventos superiores ou ventos de altitude.<br />

4 - Tipos de ventos<br />

4.1 - Vento Barostrófico<br />

Como já vimos, é aquele tipo de vento que flui regido exclusivamente pela força do<br />

gradiente de pressão. Ele se caracteriza, portanto, pelo movimento do ar que sobra diretamente de<br />

uma área de alta pressão para uma outra área de baixa pressão. É muito mais teórico do que<br />

prático, pois sua existência real só se justifica para explicar a mecânica dos ventos, como ponto de<br />

partida para os demais tipos. Outrossim, só ocorre próximo ao equador e em movimentos de<br />

pequeno deslocamento, onde a força de Coriólis é nula e a força de inércia é a única a opor-se à<br />

força do gradiente de pressão.<br />

4.2 – Vento Geostrófico<br />

Logo que o ar começa a se mover de uma área de alta para uma área de baixa, sob a<br />

influência da força do gradiente de pressão, passa a sofrer o efeito defletor da força de Coriólis e é<br />

desviado, para a direita no hemisfério norte e para a esquerda no hemisfério Sul. À medida que<br />

aumenta de intensidade, o desvio é máximo ao ponto da força de Coriólis tornar-se precisamente<br />

igual e oposta à força do gradiente de pressão. O vento resultante, então, sopra numa direção em<br />

que nenhuma das duas forças componentes está atuando, ou seja, na perpendicular a ambas.<br />

figura 25 - vento geostófico no hemisfério sul<br />

O vento que sopraria, no caso da força do gradiente de pressão e da força de Coriólis, as<br />

únicas atuantes na mecânica dos ventos, tal vento seria chamado de vento geostrófico. E como<br />

estas são, <strong>geral</strong>mente, as principais forças atuantes mesmo, este tipo de vento é a melhor<br />

aproximação do vento real. Porém, para que isto possa ocorrer, é preciso que se satisfaçam duas<br />

exigências:<br />

• isoípsas retas e paralelas: para que o vento possa soprar paralelamente às mesmas;<br />

• ausência de atrito: o que só é possível acima da camada de fricção.<br />

70


Como a força de Coriólis decresce na direção do Equador, independentemente da<br />

velocidade do vento, considera-se nulo o efeito geostrófico, entre as latitudes de 20ºN e 20ºS. Por<br />

outro lado, como a força de Coriólis depende da velocidade do vento e da latitude onde o mesmo<br />

acontece, podemos dizer que o vento é controlado pela força de Coriólis. Contudo é realmente a<br />

força motriz que determina a velocidade do vento.<br />

O vento geostrófico sopra sempre numa direção em que a pressão maior (alta) fica à direita<br />

no hemisfério norte ou à esquerda, no hemisfério sul e a pressão menor (baixa) fica à esquerda, no<br />

hemisfério norte ou à direita, no hemisfério sul, conforme demonstrado nos esquemas da figura<br />

abaixo.<br />

Figura 26 - vento geostrófico<br />

4.2.1 - Lei de Buys Ballot<br />

Do apresentado anteriormente, podemos inferir uma relação entre a distribuição da pressão<br />

e a direção do vento Fato este descrito, pela primeira vez, no Séc. XVII, pelo meteorologista<br />

holandês Buys Ballot, através da seguinte lei:<br />

“Se uma pessoa ficar de costas para o vento, no hemisfério norte, terá a área<br />

de alta à sua direita e a área de baixa à sua esquerda e no hemisfério sul, terá a<br />

área de alta à sua esquerda e a área de baixa à sua direita”.<br />

4.3 - Vento Gradiente<br />

Ao vermos o vento geostrófico, consideramos apenas os efeitos de duas forças (a do<br />

Gradiente de Pressão e a de Coriólis). Isto significa dizer que ou desprezamos as demais forças ou<br />

criamos condições em que elas não existam: por exemplo, não consideramos a atuação da força<br />

centrífuga. O resultado é que as isóbaras apresentavam-se retas. Permitindo agora que a referida<br />

força atue, as isóbaras passam a apresentar-se de forma curva, como realmente o são. O<br />

movimento do ar, que considera o equilíbrio entre as forças do Gradiente de Pressão, de Coriólis e<br />

Centrífuga, caracteriza o chamado vento gradiente. Na verdade, ele resulta diretamente do<br />

gradiente de pressão, uma vez que as outras forças só começam a existir depois que o gradiente dá<br />

início ao movimento do ar.<br />

O vento gradiente sopra perpendicularmente ao gradiente de pressão e paralelamente às<br />

isóbaras, orientado para a direita da força do gradiente de pressão no hemisfério norte e para a<br />

esquerda no hemisfério Sul. Ele flui a uma velocidade tal que a força devida ao gradiente de<br />

pressão seja equilibrada pelos efeitos centrífugo e de deflexão. Aliás, o movimento real de ar é a<br />

resultante das influências simultâneas dessas três forças, sobretudo acima da camada de fricção.<br />

4.4 - Vento de Superfície<br />

71


Ao apreciarmos os aspectos da camada de fricção, tivemos oportunidade de ver que o fluxo<br />

de ar que sopra na camada limite, ou seja, da superfície até 100 metros, como fruto do equilíbrio<br />

entre as forças: do gradiente de pressão, de Coriólis, Centrífuga e de Atrito, recebe o nome de<br />

vento de superfície. Ele é muito sujeito a alterações em direção e velocidade, sobretudo devido ao<br />

efeito de atrito do ar com a superfície terrestre. Por outro lado, apresenta vital importância para as<br />

atividades humanas de modo <strong>geral</strong>, sobretudo para as aeronáuticas.<br />

4.5 - Vento Ciclostrófico<br />

Uma vez que o efeito de Coriólis decresce na direção do Equador, o vento, nas latitudes<br />

tropicais e equatoriais, sopra velozmente em função do efeito centrífugo que aumenta para<br />

compensar a ausência da força de Coriólis e assim equilibrar a força do gradiente de pressão.<br />

Desse modo, temos um vento de grande intensidade, que flui como resultado do equilíbrio entre a<br />

força do gradiente de pressão e a força centrífuga. É o chamado vento ciclostrófico, muito comum<br />

aos ciclones tropicais, como veremos adiante.<br />

4.6 - Vento Subgeostrófico<br />

É aquele que sopra na faixa latitudinal de 20º a 15º, onde o efeito de Coriólis começa a<br />

tornar-se insignificante e faz, assim, desprezível o efeito geostrófico.<br />

4.7 - Vento Térmico<br />

Traduz a variação do vento geostrófico com a altitude, possibilitando o estudo da advecção<br />

de calor sobre o movimento do ar.<br />

5 - A circulação dos ventos nos sistemas de pressão<br />

Como já sabemos, no movimento do ar, a força do gradiente de pressão obriga o vento a<br />

fluir para fora do centro de alta pressão em ambos os hemisférios, sofrendo a partir daí, em função<br />

da força de Coriólis, um desvio para a direita no hemisfério norte e para a esquerda no hemisfério<br />

sul. Isto define a divergência do vento e constitui a chamada circulação anticiclônica. Por tal<br />

motivo, os centros de altas pressões são também denominados de anticiclones. Neles, os ventos<br />

circulam no sentido horário no hemisfério norte e no sentido anti-horário no hemisfério Sul.<br />

Figura 27 - resultante do vento<br />

Por outro lado, à superfície e dentro da camada de fricção, o vento sofre o efeito de atrito e<br />

o efeito de Coriólis quase desaparece, devido às variações de direção. O gradiente de pressão, no<br />

entanto, não se altera, uma vez que o vento é função da pressão e esta não se modifica pelo<br />

simples atrito do ar com a superfície. Desse modo, se no equilíbrio das duas forças, uma quase<br />

desaparece e a outra se mantém imutável, o vento tenderá a obedecer à última, ou seja, a força do<br />

Gradiente de pressão, fluindo no sentido do centro de baixa pressão, em ambos os hemisférios,<br />

sendo que sua direção sofrerá um desvio menor em função do enfraquecimento da força de<br />

72


Coriólis causado pelo atrito. Isto define a convergência do vento e constitui a chamada circulação<br />

ciclônica. Por tal motivo, os centros de baixas pressões são também denominados de ciclones.<br />

Neles, os ventos circulam no sentido anti-horário no hemisfério norte e no sentido horário, no<br />

hemisfério sul.<br />

6 - Os elementos na observação dos ventos<br />

6.1 - Direção<br />

O fluxo <strong>geral</strong> dos ventos, num dado nível, deve ser expresso pelos seguintes elementos:<br />

É o sentido de onde o vento vem, dado em graus, com relação ao norte magnético, para fins<br />

de navegação e com relação ao norte verdadeiro ou geográfico para fins meteorológicos.<br />

6.2 - Velocidade<br />

Também conhecida como força, é a intensidade com que se manifesta o vento, dada em<br />

Km/h, m/s ou principalmente, para fins meteorológicos, em KT (nó = 1,852 km/h).<br />

6.3 - Caráter<br />

É o aspecto de continuidade com que se manifesta o vento, dentro de um certo período de<br />

tempo. Quando varia em direção, é dito ser variável, e quando varia em velocidade num pequeno<br />

intervalo de tempo, é chamado ser de rajada.<br />

Os dados do vento e superfície são obtidos por um instrumento denominado anemômetro e<br />

na sua ausência, por meio de métodos estimativos, tais como escala Beaufort, biruta, etc. Os dados<br />

do vento de altitude são obtidos através de observações aerológicas (radiossondagem,<br />

dropsondagem, código AIREP) etc.<br />

Figura 28 – elementos do anemômetro<br />

Quando, num mapa meteorológico, se traça uma linha ligando pontos que apresentam o<br />

mesmo valor de direção do vento, temos o que se chama de isógona. Da mesma forma, quando se<br />

traça uma linha ligando pontos que apresentem o mesmo valor de velocidade do vento, temos o<br />

que se chama de isotaca. O campo horizontal dos ventos é sempre representado pelo estudo de<br />

isógonas e isotacas com os valores isolados de temperaturas dispostos nas suas respectivas<br />

posições geográficas, como um complemento à informação eólica.<br />

O fluxo do vento deve ser considerado como uma partícula de ar em deslocamento.<br />

Destarte, ela irá ocupando posições sucessivas no espaço, e a linha imaginária descrita por estas<br />

vem a ser a trajetória da referida partícula. Quando se considera, num dado instante, um vetor<br />

representativo do vento, a linha que tangencia esse vetor chama-se linha de fluxo ou linha de<br />

73


corrente. Na análise horizontal dos ventos, a direção dos mesmos é normalmente representada por<br />

linhas de fluxo, ao invés de isógonas, sobretudo os dados dos ventos superiores. Paralelamente ao<br />

traçado das linhas de fluxo, é executada também a análise das velocidades por meio das isotacas.<br />

7 - A circulação <strong>geral</strong> da atmosfera<br />

Uma vez que existe um aquecimento diferencial latitudinal na superfície terrestre,<br />

provocado por um suprimento de energia solar desigual, que varia de extremo para extremo em<br />

cada hemisfério, urge que também exista um sistema que equilibre a defasagem calorífica, senão<br />

as latitudes em apreço atingiriam limites insuportáveis à vida. Assim, há um complexo sistema<br />

circulatório de ar por meio do qual o excesso de calor dos trópicos é transportado para os pólos, e<br />

o excesso de frio dos pólos é transportado para os trópicos, num processo contínuo, que tende a<br />

manter um equilíbrio térmico na Atmosfera. A esse benéfico sistema natural chamamos de<br />

circulação <strong>geral</strong> e ele assim se processa:<br />

• no equador, o aquecimento torna o ar menos denso e mais leve fazendo com que<br />

se expanda verticalmente, acarretando um acúmulo por unidade de volume. O resultado<br />

disso é uma diminuição da pressão à superfície e um aumento da pressão em altitude;<br />

• nos pólos, o resfriamento torna o ar mais denso e mais pesado fazendo com que<br />

o mesmo afunde verticalmente, acarretando uma redução por unidade de volume em<br />

altitude. O resultado disso é uma diminuição da pressão em altitude e um aumento da<br />

pressão à superfície;<br />

• em função do gradiente de pressão, o ar passa então a fluir do equador para os<br />

pólos, em níveis superiores e dos pólos para o equador, em níveis inferiores.<br />

Figura 29 - circulação <strong>geral</strong> da atmosfera<br />

Como bem vimos, existe um mecanismo genérico segundo o qual se processa a circulação<br />

<strong>geral</strong> do ar. Na verdade, este mecanismo faz-se através de etapas ou aspectos distintos, em número<br />

de três e que são os seguintes.<br />

7.1 - Aspectos da circulação <strong>geral</strong><br />

<br />

Uma zona equatorial de transição<br />

Separa as circulações gerais dos dois hemisférios e define a região, ao longo da qual,<br />

ambos os fluxos de ar se elevam para o retorno em altitude, na direção dos pólos. É a chamada<br />

Confluência Intertropical (ITCZ) ou Equador Meteorológico.<br />

<br />

Distribuição global de ventos nos níveis inferiores<br />

74


Feita latitudinalmente em faixas ou células, em ambos os hemisférios, da superfície até<br />

20000 pés.<br />

<br />

Uma circulação superior predominante de oeste<br />

Desenvolvida em forma de espiral, em torno de cada hemisfério, acima de 20000 pés e<br />

acelerando-se gradativamente até atingir latitudes polares.<br />

7.1.1 - A Confluência Intertropical (ITCZ)<br />

Trata-se de uma zona de transição que se desenvolve ao longo das latitudes equatoriais,<br />

resultante, como veremos adiante, da convergência dos chamados ventos alísios de ambos os<br />

hemisférios. Ela oscila latitudinalmente entre 15ºN e 12ºS, apresentando uma posição média anual<br />

de 6ºN. Avança sempre na direção do hemisfério que se encontra em Verão, empurrada pelas<br />

pressões mais elevadas do hemisfério que se encontra em Inverno. Permanece mais tempo sobre o<br />

hemisfério Norte, porque este apresenta um verão mais intenso. Sua largura é muito variável, mas<br />

pode chegar às vezes a atingir 500 km. Não apresenta uma continuidade ao redor do Globo<br />

Terrestre, sofrendo interrupções ou quebras. É sempre mais definida e mais intensa sobre os<br />

oceanos e consiste numa faixa de baixas pressões sempre acompanhada de mau tempo. O fato de<br />

oscilar, latitudinalmente, faz com que seja considerada como o equador meteorológico.<br />

7.1.2 - Distribuição global dos ventos nos níveis inferiores<br />

Esta faz-se da superfície até 20000 pés e latitudinalmente em faixas ou células em ambos<br />

os hemisférios, sendo estas em número de três:<br />

<br />

A primeira faixa<br />

É caracterizada pelos ventos que fluem na direção da confluência intertropical, com inicio<br />

nas latitudes de 20º. São os chamados ventos alíseos, que se apresentam bem definidos sobre o<br />

mar e com direções predominantes de sudeste no hemisfério sul, e de nordeste no hemisfério<br />

norte. A convergência desses ventos de ambos os hemisférios é que forma a CIT e nela, onde<br />

começa a ascensão do ar tropical, costumam surgir áreas de calmarias, denominadas de doldruns,<br />

onde os ventos são normalmente calmos ou muito fracos e com predominância de este, o que,<br />

aliás, é a característica dos ventos inferiores das latitudes equatoriais.<br />

<br />

A segunda faixa<br />

É caracterizada pelos ventos que sopram nas latitudes temperadas, ou seja, entre 30º e 60º<br />

de cada hemisfério. Predominam de oeste e são cada vez mais intensos à medida que se<br />

consideram latitudes mais elevadas.<br />

<br />

A terceira faixa<br />

Caracterizada pelos ventos que fluem dos pólos de ambos os hemisférios eles sofrem o<br />

efeito intensivo de Coriólis e por isso desviam-se para a esquerda no hemisfério sul e para a direita<br />

no hemisfério norte, apresentando componentes de este nos dois hemisférios. São os chamados<br />

ventos polares.<br />

Da análise feita anteriormente sobre a circulação <strong>geral</strong> da atmosfera, inferimos que ela<br />

compõem-se, nos níveis inferiores, de três faixas ou células, a seguir :<br />

75


• célula tropical ou de Halley: é a que compreende os ventos alíseos, predominantes<br />

sobre as latitudes tropicais. Caracteriza-se pela subida do ar nas latitudes equatoriais e pela<br />

descida do ar nas latitudes subtropicais;<br />

• célula temperada ou de Ferrel: é a que compreende os ventos predominantes de W,<br />

reinantes sobre as latitudes temperadas. Caracteriza-se pela descida do ar nas latitudes<br />

subtropicais (sobre os chamados anticiclones subtropicais) e pela subida do ar nos<br />

chamados ciclones polares;<br />

• célula polar: é a que compreende os ventos polares de E, predominantes sobre as<br />

latitudes polares. Caracteriza-se pela subida do ar nos ciclones polares e pela descida do ar<br />

nos pólos (sobre os chamados anticiclones polares).<br />

Figura 30 – células de circulação atmosférica<br />

7.1.2.1 - Outros componentes da circulação dos ventos até 20000ft<br />

<br />

Os anticiclones subtropicais<br />

São grandes anticiclones marítimos, quentes e semipermanentes que ocorrem nas latitudes<br />

compreendidas entre 20º e 40º de cada hemisfério, com seus centros numa posição média anual de<br />

30º. Devido às gigantescas proporções que atingem, eles são considerados integrantes diretos da<br />

circulação <strong>geral</strong>. Permanecem durante todo o tempo sobre os grandes oceanos, inclusive deles<br />

recebendo os nomes. Exemplo típico disso, é o Anticiclone Subtropical Semipermanente do<br />

Atlântico Sul, que determina os ventos alísios predominantes do nosso litoral nordestino. Aliás,<br />

como já vimos, são os lados equatoriais desses anticiclones que determinam os ventos alíseos e<br />

como eles são de natureza marítima, explica-se também a natureza marítima dos alísios.<br />

Os anticiclones subtropicais, normalmente, apresentam-se estáveis em seus centros, só<br />

instabilizando-se ao aproximarem-se das áreas mais afastadas do núcleo do sistema. Por<br />

conseqüência, os ventos que os acompanham são muito fracos ou calmos. As calmarias neles<br />

freqüentes deram às latitudes, em torno de 30º N, a designação de Latitudes de Cavalos, porque<br />

eram comumente encontrados, nas águas locais, cadáveres de cavalos boiando, que eram atirados<br />

ao mar, provenientes de veleiros do Séc. XVII que, apanhados pelas calmarias, encontravam<br />

dificuldades em alimentá-los por muitos dias. Os anticiclones subtropicais compõem, ao redor das<br />

latitudes subtropicais, os chamados cinturões de anticiclones subtropicais (um em cada<br />

hemisfério).<br />

<br />

Os ciclones polares<br />

76


Da convergência dos ventos predominantes de W das latitudes temperadas com os ventos<br />

predominantes de E das latitudes polares, surge, em ambos os hemisférios, ao longo da latitude de<br />

60º, uma estreita zona de transição chamada de frente polar (ártica, no hemisfério norte e antártica,<br />

no hemisfério sul). Trata-se de um fenômeno assaz importante, como veremos mais adiante, e que<br />

se caracteriza por ondas bastante pronunciadas que se desenvolvem em intensos centros de baixas<br />

pressões, determinando com isto centros ciclônicos dinâmicos e frios, entre as latitudes de 45º e<br />

60º, denominados de ciclones polares. Eles apresentam pressões e temperaturas muito baixas,<br />

sobretudo, no outono e no inverno, quando então acarretam condições quase sempre tempestuosas<br />

para os oceanos de ocorrência. É a razão de ser dos ventos fortes e do mar agitado, predominantes,<br />

principalmente, sobre os extremos sul da América do Sul e da África.<br />

<br />

Os anticiclones polares<br />

São grandes anticiclones semipermanentes e frios, reinantes o tempo todo sobre os pólos,<br />

dos quais fluem os ventos polares de E. Adquirem suas grandes pressões devido ao acúmulo de ar<br />

sobre as calotas polares e das baixas temperaturas ali reinantes. Sua grande importância reside no<br />

fato de contribuir para a formação da chamada frente polar.<br />

figura 31 – circulação <strong>geral</strong> e detalhes até 20000ft<br />

7.1.3 - Circulação Superior Predominante de Oeste<br />

Esta ocorre acima de 20.000 pés sobre os dois hemisférios, tendo sua origem nas latitudes<br />

baixas, no retorno do ar equatorial para os pólos. Ela se desenvolve em espiral em torno de cada<br />

hemisfério, acelerando-se gradativamente, à medida que vai se aproximando das latitudes polares.<br />

Inicia com os chamados ventos contra-alíseos e termina com os chamados vórtices polares,<br />

passando pelos Jatos de Este, pela Corrente de Berson, pelos Ventos Krakatoa e pelas Correntes de<br />

Jato. Vejamos, portanto, as características de tais fenômenos.<br />

<br />

Ventos Contra - Alíseos<br />

São aqueles originários do retorno em altitude dos alíseos que se recurvam para os pólos,<br />

iniciando as espirais em torno dos hemisférios. Eles ocorrem de 5º a 15º de latitude, atingindo o<br />

máximo de 20º no inverno e fluem de oeste.<br />

<br />

Jatos de Este<br />

São aqueles que ocorrem nas grandes altitudes das latitudes equatoriais de cada hemisfério,<br />

propagando-se até 20º de latitude, em média. Normalmente, surgem acima de 40.000 pés e são<br />

mais desenvolvidos no verão, atingindo velocidade de 50 a 60 nós em certas regiões do globo<br />

terrestre, como por exemplo, no Pacífico Central.<br />

77


Corrente de Berson<br />

É aquele fluxo de ar que circunda o globo terrestre, como se fosse um anel ao longo do<br />

equador, oscilando de 4ºS a 6ºN, com posição média anual de 2ºN. Flui velozmente de W para E,<br />

acima de 60.000 pés, com velocidade superior a 100 kt, às vezes. Foi observada pela primeira vez<br />

na África Central e ela desempenha, em altitude, o mesmo papel da CIT à superfície.<br />

<br />

Ventos Krakatoa<br />

São aqueles que ocorrem acima da tropopausa, fluindo de este para oeste. Apresentam<br />

velocidades superiores a 100 nós em certas ocasiões e são mais definidos e mais velozes no verão.<br />

Cobrem as latitudes tropicais, de 15ºN a 15ºS e chegam, às vezes, a atingir cerca de 130.000 pés.<br />

<br />

Correntes de Jato<br />

É um dos fenômenos mais importantes da circulação <strong>geral</strong> da atmosfera. Foi descoberta<br />

pelo finlândes Erik Palmem, sendo o nome Jet Stream dado pelo sueco Rossby. As primeiras<br />

observações do fenômeno foram feitas sobre o Oceano Pacífico, durante a 2º Guerra Mundial,<br />

pelos americanos. A OMM define o fenômeno como uma forte e estreita corrente concentrada ao<br />

longo de um eixo quase horizontal na alta troposfera, caracterizada por turbulências nas bordas do<br />

jato.<br />

Surgem como ventos fortes <strong>geral</strong>mente de oeste, em altitudes elevadas ( 7 a15 km acima da<br />

superfície) em médias latitudes, devido à grande diferença de temperatura entre os trópicos e os<br />

pólos, principalmente no inverno. Na verdade, existem várias teorias que tentam explicar o seu<br />

aparecimento. A mais conhecida delas atribui o surgimento das correntes de jato ao gradiente de<br />

temperatura entre massas de ar. Aceita-se a existência de quatro cilindros de correntes de jato em<br />

torno da Terra: a corrente de jato polar, associada às frentes polares à superfície; a corrente de jato<br />

subtropical, que surge associada à quebra da tropopausa nas latitudes temperadas, próxima ao<br />

nível de 200hpa; o jato equatorial, que flui de este entre 20ºN e 15ºS, próximo ao nível de 100hpa<br />

e o jato ártico, localizado na estratosfera nas latitudes de 70º.<br />

<br />

Vórtices Polares<br />

A partir das latitudes tropicais, as circulações superiores de ambos os hemisférios<br />

começam a se definir em espirais de W para E que se deslocam até os pólos respectivos,<br />

aumentando gradativamente a velocidade e constituindo a verdadeira circulação superior<br />

predominante de W. São os chamados vórtices polares (ártico no hemisfério norte e antártico no<br />

hemisfério Sul). O vórtice polar antártico é sempre mais estável e mais persistente que o vórtice<br />

polar ártico, devido a maior massa gelada do Continente Antártico. O núcleo de um vórtice polar é<br />

sempre um fluxo intenso de ventos que atinge seu máximo principalmente no inverno, com<br />

velocidade ultrapassando às vezes 220 nós, na Estratosfera Polar. A grande importância desses<br />

vórtices polares reside no fato de serem eles os responsáveis pela renovação do oxigênio da<br />

Troposfera, uma vez que o oxigênio é arrastado para os níveis inferiores polares através deles, de<br />

forma natural.<br />

<br />

As Ondas Planetárias<br />

A circulação <strong>geral</strong> do ar desenvolve-se sobre as latitudes temperadas de ambos os<br />

hemisférios, de forma sinuosa, devido à irregularidade reinante nos cinturões de anticiclones<br />

subtropicais. Tais sinuosidades compreendem movimentos ondulatórios que se desenvolvem<br />

78


dentro da própria circulação <strong>geral</strong>, acompanhando o deslocamento predominante, ou seja de W<br />

para E, porém apresentando menores velocidades. Trata-se das chamadas ondas de oeste ou ondas<br />

planetárias, que podem apresentar-se também no sentido de este para oeste (ondas de este).<br />

Figura 32 - circulação acima de 20000 ft<br />

8 - A circulação secundária e os ventos periódicos<br />

A circulação <strong>geral</strong> constitui um quadro global do comportamento da atmosfera, no que diz<br />

respeito à movimentação contínua do ar, sob o efeito direto do aquecimento solar. Entretanto, ela<br />

não se apresenta com uma estrutura única, ocorrendo em seu interior perturbações de menor<br />

amplitude, que se superpõem ao fluxo em determinadas regiões do Globo Terrestre, criando<br />

irregularidades estruturais, como se fora o fluxo de um imenso rio, apresentando, aqui e ali,<br />

correntes e remoinhos que constituem, com seus fluxos peculiares, a chamada circulação<br />

secundária e elas tanto podem ser perturbações que se deslocam, tais como os ciclones e<br />

anticiclones dinâmicos, como também, perturbações de ocorrência local, causadas por efeitos<br />

puramente geográficos, tais como as brisas, as monções, etc, chamados de ventos periódicos.<br />

8.1 - Ciclone<br />

Como já visto anteriormente, trata-se de uma área de baixas pressões, cuja circulação do ar<br />

é convergente, apresentando um fluxo de ventos no sentido anti-horário no hemisfério norte e<br />

horário no hemisfério sul. Sua presença local é, quase sempre, indício de mau tempo.<br />

8.2 - Anticiclone<br />

Como já visto anteriormente, trata-se de uma área de altas pressões, cuja circulação do ar é<br />

divergente, apresentando um fluxo de ventos no sentido horário no hemisfério norte e anti-horário<br />

no hemisfério sul. Sua presença local é, quase sempre, indício de bom tempo.<br />

8.3 - Brisas<br />

São circulações locais que ocorrem sobre regiões litorâneas, tendo por causa fundamental a<br />

diferença de pressão atmosférica entre o litoral e o mar e vice-versa, resultante do diferente<br />

aquecimento solar. Pode ser marítima ou terrestre.<br />

<br />

Brisa marítima<br />

Durante o dia, o ar em contato com o litoral torna-se mais aquecido e menos denso e<br />

conseqüentemente com pressão menor; já o ar em contato com a água torna-se mais frio e mais<br />

denso e conseqüentemente com pressão maior. Em função do gradiente de pressão, o ar passa a<br />

79


circular do mar para a terra, caracterizando a chamada Brisa Marítima. Ela tem origem em torno<br />

de 20 a 40 Km mar a dentro e penetra na terra em torno de 20 a 60 km. Sua velocidade raramente<br />

excede a 10 KT, mas às vezes pode chegar a 20 nós. É mais intensa na primavera e no verão, no<br />

período da tarde, entre 1400 e 1600 horas (horário local). Acarreta um aumento da umidade<br />

relativa e uma redução na temperatura do ar, de 5º a 6ºC, principalmente à beira-mar. Devido à<br />

pequena extensão percorrida, ela atua quase que exclusivamente em função da força do Gradiente<br />

de Pressão, não havendo um efeito apreciável da força de Coriólis e desse modo é considerada<br />

como um vento de natureza barostrófica. Às margens dos grandes lagos, costuma ocorrer<br />

fenômeno semelhante denominado de Brisa Lacustre, que penetra em torno de 6 a 8 km terra a<br />

dentro.<br />

<br />

Brisa terrestre<br />

Durante a noite, o ar em contato com a água torna-se mais aquecido e menos denso e<br />

conseqüentemente com pressão menor; já o ar em contato com o litoral torna-se mais frio e mais<br />

denso e conseqüentemente com pressão maior. Em função do gradiente de pressão, o ar passa a<br />

circular da terra para o mar, caracterizando a chamada brisa terrestre. Ela tem origem em torno de<br />

10 a 20Km terra adentro e penetra mar adentro, numa profundidade equivalente. É sempre mais<br />

fraca do que a brisa marítima, sendo sua velocidade pequena. Apresenta maior intensidade no<br />

outono e no inverno. Devido à pequena extensão percorrida é também um vento de natureza<br />

barostrófica.<br />

Figura 33 - brisas marítima e terrestre<br />

8.4 - Vento de vale e de montanha<br />

As regiões montanhosas, com suas elevações e seus vales profundos, costumam apresentar<br />

circulações típicas do ar, denominadas, respectivamente, de vento de vale e vento de montanha,<br />

como veremos a seguir.<br />

<br />

Vento de vale<br />

Durante o dia, o aquecimento do fundo do vale e de suas encostas provoca também o<br />

aquecimento do ar em contato com os mesmos. Este, então se torna menos denso e começa a fluir<br />

ao longo das encostas, através de fluxos ascendentes. No centro do vale, uma mesma proporção de<br />

ar afunda, formando fluxos descendentes. O conjunto de ascendentes e descendentes passa compor<br />

uma circulação local, denominada de vento de vale. Em regiões montanhosas muito elevadas, este<br />

tipo de vento, no verão, costuma formar nuvens cumuliformes, com possíveis pancadas de chuva.<br />

80


Vento de montanha<br />

Durante a noite, o resfriamento da montanha e de suas encostas provoca também o<br />

resfriamento do ar em contato com as mesmas. Este, então, torna-se mais denso e começa a fluir<br />

ao longo das encostas, através de fluxos descendentes. No centro do vale, uma mesma proporção<br />

de ar eleva-se por convergência dinâmica, formando fluxos ascendentes. O conjunto de<br />

descendentes e ascendentes passa a compor uma circulação local, denominada de vento de<br />

montanha.<br />

Figura 34 – vento de vale e de montanha<br />

8.5 - Ventos anabático e catabático<br />

Regiões com encostas avantajadas costumam apresentar circulações típicas do ar<br />

denominadas, respectivamente, de vento anabático e vento catabático, como veremos a seguir.<br />

<br />

Vento anabático<br />

Quando uma encosta alongada é aquecida durante o dia pela radiação solar, o ar em contato<br />

com ela também se aquece, tornando-se menos denso e passa a elevar-se ao longo da mesma,<br />

caracterizando o chamado vento anabático.<br />

<br />

Vento catabático<br />

Quando uma encosta alongada é resfriada durante a noite pela radiação terrestre, o ar em<br />

contato com ela também se resfria, tornando-se mais denso e passa a descer ao longo da mesma,<br />

caracterizando o chamado vento catabático, também denominado de vento de gravidade. Em<br />

regiões cobertas de neve pode ocorrer vento catabático durante o dia, mas ele será de maior<br />

intensidade e mais freqüente à noite.<br />

Figura 35 – vento anabático e catabático<br />

8.6 - Vento Fohen<br />

81


Quando o ar quente e úmido que participa de um processo orográfico desce a sotavento<br />

quente e seco, devido à inversão de temperatura, ele recebe o nome de vento Fohen, porque o<br />

efeito que lhe dá origem tem esse nome, ou seja, efeito Fohen. Ele é de natureza barostrófica,<br />

ocorrendo em rajadas. Sua maior intensidade acontece no inverno, quando eleva a temperatura<br />

bruscamente.<br />

Figura 36 – vento Fohen<br />

8.7 - Monções<br />

São circulações termais que ocorrem com persistência e regularidade, principalmente no<br />

verão e no inverno, em algumas regiões do globo terrestre (principalmente na Índia, na Austrália<br />

Equatorial e no sudoeste da Ásia), provocadas pelo avanço da CIT no hemisfério respectivo que,<br />

empurrada pelas altas pressões do inverno do hemisfério oposto, leva consigo a convergência dos<br />

Alísios. Os exemplos mais conhecidos são as monções da Índia, que se desenvolvem no verão do<br />

hemisfério norte. Ali, o efeito de convergência dos alíseos, associado ao efeito orográfico intenso<br />

da Cordilheira do Himalaia, contribuem para a ocorrência de uma precipitação muito grande.<br />

Como vimos, as monções ocorrem nas latitudes tropicais e estão intimamente associadas aos<br />

ventos alíseos, uma vez que nada mais são do que uma irregularidade dos mesmos.<br />

9 - Turbulência<br />

Na atmosfera podemos observar dois movimentos característicos do ar:<br />

• um movimento horizontal feito de forma laminar e que se constitui no chamado<br />

vento;<br />

• um movimento vertical feito de forma agitada, caracterizada pelas correntes<br />

ascendentes e descendentes e que se constitui na chamada turbulência.<br />

A turbulência consiste num dos fenômenos atmosféricos de grande importância para uma<br />

aeronave em vôo, pois além de oferecer sérios incômodos aos seus ocupantes, pode colocar sua<br />

estrutura em jogo. De um modo <strong>geral</strong>, pode ocorrer dentro e/ou fora de nuvem, sendo classificada<br />

assim, em três tipos fundamentais: convectiva, orográfica e dinâmica.<br />

9.1 - Turbulência convectiva<br />

Também denominada de termal, é aquele tipo que ocorre devido ao efeito do gradiente<br />

térmico, tendo como causa o processo da convecção. Assim, é mais comum e mais intensa no<br />

verão, sobre a terra, durante o dia, quando o aquecimento solar atinge o máximo. Trata-se do tipo<br />

mais comum de turbulência, estando associada às nuvens cumuliformes, frutos de instabilidade,<br />

não havendo aeronauta que não a conheça. Ela aumenta em intensidade e amplitude vertical,<br />

dependendo do gradiente térmico. Assim, duas condições são bem conhecidas:<br />

• GTA < RAS (entre 0,5 ºC e 1ºC/100 metros): dá turbulência convectiva<br />

predominantemente dentro de nuvem;<br />

82


• GTA >RAS (superadiabático): dá turbulência convectiva dentro e fora de<br />

nuvem. Atinge o máximo de intensidade com valor próximo de 3,42 ºC/100 metros (gradiente<br />

auto-convectivo).<br />

O alcance vertical da turbulência convectiva na atmosfera, é limitado por um nível<br />

chamado Limite Termal de Instabilidade, cuja distância é determinada em função do gradiente<br />

térmico à superfície. Os topos de trovoadas nunca ultrapassam o referido limite e toda turbulência<br />

que ocorrer entre a superfície e ele, dentro ou fora de nuvem cumuliforme, deverá ser considerada<br />

como convectiva. De um modo <strong>geral</strong>, a turbulência convectiva é sempre mais intensa em trovoada<br />

no estágio de maturidade. Ela se faz sentir sobre uma aeronave em vôo mediante contrastes<br />

violentos de ascendentes e descendentes, precedidos e sucedidos por oscilações irregulares.<br />

Figura 38 - turbulência em aeronave<br />

9.2 - Turbulência orográfica<br />

É a que ocorre como conseqüência de ventos fortes que sopram perpendicularmente contra<br />

montanhas relativamente íngremes. Nesta situação, o ar sobe mecanicamente a barlavento, ao<br />

longo da encosta e desce do outro lado a sotavento, formando uma onda que se expande para longe<br />

da montanha. É a primeira da série de ondas chamadas de orográficas ou estacionárias, que no<br />

conjunto compõem a chamada turbulência orográfica e que serão tanto mais intensas quão mais<br />

fortes forem os ventos e mais elevada a montanha. É comum a formação de nuvens de aspecto<br />

cumuliforme sob a forma de lentes (lenticularis) nas cristas dessas ondas.<br />

A turbulência orográfica é sempre mais intensa e mais irregular a sotavento, sobretudo<br />

próximo da montanha, uma vez que a atuação das ondas estacionárias diminui para longe da<br />

mesma.<br />

Figura 39 – turbulência orográfica<br />

9.3 - Turbulência dinâmica<br />

É formada pelo atrito entre ventos adjacentes que fluem de direções diferentes ou com<br />

velocidades diferentes, como veremos a seguir.<br />

<br />

De direções diferentes<br />

Ventos adjacentes fluindo de direções diferentes criam, na área de contato, uma agitação<br />

caracterizada por um movimento ondulatório que se traduz pela chamada cortante do vento ou<br />

Wind Shear.<br />

<br />

Com velocidades diferentes<br />

83


Ventos adjacentes fluindo com velocidades diferentes criam, na área de contato, uma<br />

agitação caracterizada por um movimento ondulatório que se traduz pelo chamado gradiente do<br />

vento. O exemplo mais típico é a turbulência associada aos ventos fortes em altitude e a Corrente<br />

de Jato, conhecida como turbulência de céu claro ou CAT ( Clear Air Turbulence).<br />

Figura 40 – turbulência dinâmica<br />

9.3.1 - Turbulência de céu claro<br />

É toda turbulência dinâmica que ocorre com céu limpo de nuvens, não classificada como<br />

convectiva ou como orográfica. Ela inclui, principalmente, aquela associada à Corrente de Jato,<br />

mas refere-se também a toda turbulência que ocorra na troposfera superior e na estratosfera. Ela<br />

ocorre mais comumente entre 20.000 e 40.000 pés e sua característica principal é a de vibrações<br />

rápidas e seguidas desenvolvidas em áreas de extensão horizontal muito variável. É mais comum e<br />

mais intensa no Inverno e menos comum e menos intensa no verão, tendo em vista o ciclo da<br />

Corrente de Jato, fenômeno ao qual se acha associado.<br />

9.4 - Intensidade da turbulência<br />

Ela é definida como o grau de influência exercida sobre a aeronave e dessa forma é de<br />

muito difícil, classificação, uma vez que está intimamente relacionada a dois fatores: experiência<br />

do piloto e tipo de aeronave. Assim, a partir desse princípio, podemos classificar a intensidade em<br />

leve, moderada, forte e severa (ou muito forte).<br />

9.5 - Esteira de turbulência<br />

Trata-se de um tipo de turbulência dinâmica provocada pelo fluxo aerodinâmico sobre asas<br />

de aeronaves de grande porte operando principalmente no solo. O fenômeno é resultante de um<br />

turbilhão que forma um vórtice (ar em movimento espiralado) e se propaga com perigo para<br />

aeronaves de pequeno porte, até por volta de 150 metros à retaguarda e de duas a quatro vezes a<br />

envergadura da asa da aeronave geradora, lateralmente. São dois os vórtices e eles se dirigem<br />

sempre em direção à superfície, até cerca de 30 metros do solo quando a aeronave está próxima ao<br />

solo, antes de se deslocarem lateralmente e afastar-se um do outro, para em seguida se dissiparem.<br />

84


TEXTO IX<br />

MASSAS DE AR E FRENTES<br />

1 - Conceito de massas de ar<br />

Trata-se de um vasto volume de ar cuja estrutura apresenta características mais ou menos<br />

uniformes no plano horizontal. Ela cobre centenas de milhares de km 2 e suas características<br />

básicas são pressão, temperatura e umidade. Desse modo, toda vez que uma grande porção de ar é<br />

submetida por um tempo prolongado aos efeitos próprios de uma dada região do globo terrestre,<br />

ela termina por adquirir uma estrutura horizontal homogênea que a torna uma massa de ar.<br />

2 - Região de origem<br />

É toda região do Globo Terrestre que permite a formação de massas de ar. De um modo<br />

<strong>geral</strong>, quase todas as latitudes se constituem em regiões de origem, com exceção das latitudes<br />

temperadas, tendo em vista dois motivos fundamentais:<br />

• porque apresentam as estações do ano bem definidas. Isto não permite que o ar adquira uma<br />

homogeneidade horizontal adequada;<br />

• porque constituem as latitudes de transição ou intermediárias, ou seja, é através delas que se<br />

deslocam as massas polares na direção do equador e as massas tropicais na direção dos pólos,<br />

não havendo predominância de determinada massa de ar nessas latitudes.<br />

Quanto mais tempo uma massa de ar permanecer sobre sua respectiva região de origem,<br />

mais espessa ela se tornará, isto é, suas características básicas serão encontradas em níveis mais<br />

elevados da atmosfera. Aliás, essas características podem permanecer bem definidas até o nível<br />

médio de 500 hPa, conhecido como o Centro de Distribuição das Massas de Ar.<br />

3 - Classificação das massas de ar<br />

Ao longo do globo terrestre as massas de ar são classificadas consoante os seguintes<br />

aspectos:<br />

3.1 - Quanto à natureza<br />

• Marítima(m): quando formada sobre o superfícies líquidas.<br />

• Continental(c): quando formada sobre a superfícies terrestres.<br />

3.2 - Quanto à latitude<br />

• Tropical (T): quando induzida pela massa Equatorial.<br />

• Polar (P): quando induzida pelas massas Ártica ou Antártica.<br />

3.3 - Quanto à temperatura<br />

• Fria (k): quando se apresenta mais fria que a superfície sobre a qual se desloca.<br />

• Quente (w): quando se apresenta mais quente que a superfície sobre a qual se desloca.<br />

Como bem vimos acima, em função das respectivas abreviaturas, a classificação das<br />

massas de ar é a seguinte:<br />

85


• massas polares: mPw ou mPk e cPk ou cPw;<br />

• massas tropicais: mTw ou mTk e cTk ou cTw.<br />

As massas de ar Árticas, Antárticas e Equatoriais são aquelas que induzem ou dão origem<br />

às massas polares e tropicais, pelo fato de permanecerem sempre sobre suas regiões de origem.<br />

Outrossim, não apresentam as classificações de fria ou quente, pois possuem as mesmas<br />

características de temperatura da superfície da respectiva região de origem. O fato advém da falta<br />

de contraste nas estações do ano, permitindo, assim, um único tipo de homogeneidade horizontal o<br />

ano todo. Desse modo, essas massas são designadas assim:<br />

• massa ártica marítima: mA;<br />

• massa antártica continental: cA;<br />

• massa equatorial marítima: mE;<br />

• massa equatorial continental: cE.<br />

A massa de ar que predomina sobre a região Ártica é essencialmente de natureza marítima,<br />

porque o Pólo Norte é o próprio Oceano Ártico congelado. Já ao redor dela, sobre latitudes polares<br />

e quase polares, formam-se massas polares de natureza continental. A primeira é designada como<br />

já vimos por mA e as outras por cP.<br />

A massa de ar que predomina sobre a região da Antártida é essencialmente de natureza<br />

continental, porque o Pólo Sul é o próprio Continente Antártico congelado. Já ao redor dela, sobre<br />

latitudes polares e quase polares, formam-se massas polares de natureza marítima. A primeira é<br />

designada como já vimos por cA e as outras por mP.<br />

De um modo <strong>geral</strong>, as massas de ar de natureza marítima são sempre mais úmidas que as<br />

continentais devido à maior evaporação reinante nos oceanos. Já as massas de ar árticas, antárticas<br />

e polares são sempre mais secas que as tropicais e equatoriais, porque o teor de evaporação do gelo<br />

é muito baixo em relação à água. Porém, as mesmas massas de ar árticas e antárticas são mais frias<br />

e mais secas que as polares, do mesmo modo que as massas de ar equatoriais são pouco mais<br />

aquecidas e bem mais úmidas que as tropicais.<br />

Numa análise meteorológica, as massas de ar são representadas, como já vimos, por suas<br />

abreviaturas através de três letras designativas. Por convenção, no método policromático ou<br />

método das cores, as massas de ar equatoriais e tropicais são representadas em vermelho e as<br />

massas de ar polares, árticas e antárticas em azul.<br />

4 - Características<br />

À medida que uma determinada massa de ar vai se deslocando para longe de sua região de<br />

origem, ela vai sofrendo modificações diversas, típicas da superfície sobre a qual se desloca. Dois<br />

casos devem ser considerados:<br />

1º Caso<br />

Seja uma massa de ar deslocando-se sobre uma superfície mais quente do que ela; neste<br />

caso, a referida massa de ar é de natureza fria. À medida que vai se deslocando, irá se aquecer por<br />

baixo gerando convecção. O resultado será uma instabilidade, que permite identificar uma massa<br />

de ar fria, através das seguintes características:<br />

• GTA elevado;<br />

• instabilidade;<br />

• nebulosidade cumuliforme;<br />

• ar agitado com turbulência;<br />

86


• boa visibilidade, exceto em precipitação.<br />

<br />

2º Caso<br />

Seja uma massa de ar deslocando-se sobre uma superfície mais fria do que ela; neste caso,<br />

a referida massa de ar é de natureza quente. À medida que vai se deslocando, irá se resfriar por<br />

baixo, gerando estabilidade, que permite identificar uma massa de ar quente, através das seguintes<br />

características:<br />

• GTA de baixo valor;<br />

• estabilidade;<br />

• nebulosidade estratiforme;<br />

• ar calmo, sem turbulência;<br />

• má visibilidade, restrita por névoa e nevoeiros.<br />

5 - Modificações<br />

Como já visto, quando uma dada massa de ar se desloca para longe de sua região de<br />

origem, ela sofrerá modificações de temperatura, pressão e umidade, por causa do efeito do<br />

contato prolongado com a superfície. Estas modificações são importantes, pois vão determinar as<br />

condições meteorológicas reinantes dentro dela. Esses efeitos modificadores não ocorrem<br />

isoladamente, mas associados entre si na maioria das vezes. Também é importante lembrar que<br />

afundamento determina condições de estabilidade, e que elevação determina condições de<br />

instabilidade.<br />

Os principais efeitos modificadores são agrupados da seguinte forma:<br />

5.1 - De natureza termodinâmica<br />

Aquecimento : quando passa de uma superfície fria para outra mais aquecida ou quando sofre o<br />

efeito de radiação solar.<br />

Resfriamento : quando passa de uma superfície quente para outra mais fria ou quando sofre o<br />

efeito de radiação terrestre.<br />

Evaporação : quando recebe vapor d’água de superfície líquida.<br />

5.2 - De natureza mecânica<br />

Turbulência : quando sofre o efeito da agitação do ar no sentido vertical.<br />

Divergência : quando sofre o efeito de afundamento do ar, típico dos anticiclones.<br />

Convergência : quando sofre o efeito de elevação do ar, típico dos ciclones, ou da elevação de uma<br />

massa quente sobre outra fria.<br />

6 - Massas de ar que afetam o Brasil<br />

De um modo <strong>geral</strong>, as massas de ar que predominam sobre nosso país são as seguintes:<br />

• Equatorial Continental (cE)- que predomina sobre o interior continental das latitudes<br />

equatoriais;<br />

87


• Equatorial Marítima (mE)- que predomina sobre o litoral norte e nordeste;<br />

• Tropical Continental (cT)- que predomina sobre o interior continental, abaixo de 12ºS;<br />

• Tropical Marítima (mT)- que predomina sobre o litoral este, sudeste e sul;<br />

• Polar Marítima (mP)- que atinge, às vezes, no Inverno rigoroso, a fronteira do Rio Grande do<br />

Sul. Na maioria das vezes, atinge Porto Alegre já modificada em tropical marítima (mT).<br />

Figura 41 - massas de ar que afetam o Brasil<br />

7 - Conceito de Frente<br />

Quando uma massa de ar avança na direção de outra, determina com seu limite dianteiro<br />

um fenômeno denominado frente. Há dois casos básicos a considerar:<br />

• Frente fria : quando uma massa de ar polar avança sobre outra tropical e apresenta-se mais<br />

intensa que a mesma.<br />

• Frente quente : quando uma massa de ar tropical avança sobre outra polar e apresenta-se mais<br />

intensa que a mesma.<br />

Em ambos os casos, o ar polar, por ser mais denso, desloca-se rente à superfície, e o ar<br />

tropical, por ser menos denso, é deslocado e eleva-se sobre o ar polar. O limite de separação entre<br />

ambos não se apresenta numa vertical, como se poderia supor, mas sempre inclinado, recebendo o<br />

nome de rampa frontal. Esta forma um ângulo com a superfície denominado de declive ou<br />

inclinação frontal.<br />

88


Figura 42 – frente e superfície frontal<br />

Uma frente, quer seja fria ou quente, ocorre sempre entre dois centros de altas pressões,<br />

sendo ela própria um lugar comum de baixas pressões. Desse modo, uma área frontal sempre<br />

caracterizará uma circulação ciclônica cercada por circulações anticiclônicas. Isto implica numa<br />

conseqüente convergência de ventos, além de uma normal descontinuidade de temperatura.<br />

Quando uma frente qualquer se desloca, é indício de que o centro de alta que a empurra se<br />

apresenta mais intenso que o centro de alta que se opõe ao seu avanço. Com isto, os ventos que<br />

sopram à retaguarda do sistema (ventos pós-frontais) são mais intensos que aqueles que sopram à<br />

vanguarda do sistema (ventos pré-frontais). Quando os dois centros de altas se equivalem, o<br />

sistema frontal entra em equilíbrio e passa a se constituir na chamada frente estacionária<br />

O fenômeno da frente estacionária, que normalmente precede uma frente oclusa, quase<br />

sempre se constitui numa fonte de sérios problemas para a região afetada, pois o fato de<br />

permanecer vários dias sobre ela faz com que o tempo se mantenha bastante instável.<br />

À formação ou regeneração de uma frente qualquer dá-se o nome de frontogênese e à<br />

dissipação ou degeneração, de frontólise.<br />

As principais características que identificam a aproximação de uma frente são as seguintes<br />

(no caso de uma frente fria):<br />

Nebulosidade : representada inicialmente por nuvens do estágio alto: Cirrus (CI) ou Cirrostratus<br />

(CS).<br />

Temperatura : representada inicialmente por um aumento gradativo.<br />

Pressão : representada inicialmente por uma diminuição gradativa.<br />

Vento : representado inicialmente por uma variação de direção.<br />

Uma frente fria muito intensa costuma formar sobre latitudes médias, ondulações instáveis<br />

ao longo de sua rampa frontal. Essas ondulações desenvolvem grandes atividades, pois<br />

representam atividade da frente fria associada à atividade de uma frente quente. O fenômeno<br />

recebe o nome de oclusão ou, mais comumente, de frente oclusa. Esta, quando atinge o seu<br />

máximo em desenvolvimento, adquire características próprias de um fenômeno ciclônico muito<br />

violento, denominado de ciclone extratropical que, ao contrário do ciclone tropical, é típico de<br />

inverno, próprio de latitudes temperadas, de formação em famílias e oriundo da energia<br />

proveniente do contraste entre duas massas de ar de características diferentes.<br />

7.1 - Características da frente fria<br />

Como já vimos, uma frente fria resulta do avanço de uma massa de ar fria contra uma<br />

massa de ar quente. Em virtude disso, o ar polar, que é mais denso, penetra por baixo do ar<br />

tropical, que é menos denso, como se fora uma cunha, dando ao fenômeno o aspecto característico<br />

de uma rampa inclinada para trás, no sentido oposto ao deslocamento do sistema frontal. O declive<br />

frontal da frente fria é sempre maior do que o da frente quente, apresentando um valor médio de<br />

1:80, o que a torna mais rápida e mais violenta do que aquela. Aliás, por falar em declive frontal,<br />

ela representa sempre uma razão entre a expansão vertical e a expansão horizontal do sistema.<br />

A velocidade média de deslocamento de uma frente fria é de 36 a 40 km/h. Uma frente fria<br />

é identificada numa carta de tempo, por uma concentração de isóbaras e pelo contraste de<br />

89


temperatura entre dois centros de alta. O deslocamento de uma frente fria faz-se no hemisfério<br />

norte de noroeste para sudeste e no hemisfério sul de sudoeste para nordeste.<br />

Uma frente fria, ao avançar, carrega consigo uma convergência de ventos, com variação de<br />

direção e seguida de um aumento de intensidade na área pré-frontal; as pressões diminuem no<br />

setor pré-frontal até atingirem valores mínimos na área frontal e voltando a subirem no setor pósfrontal;<br />

as temperaturas aumentam no setor pré-frontal e sofrem uma queda brusca no setor pósfrontal;<br />

a nebulosidade é alta a poucas horas antes da frente, sendo seguida pela média e<br />

finalmente pela baixa com a chegada da frente.<br />

Proveniente da precipitação leve e contínua que cai no setor pré-frontal e evapora-se<br />

gradualmente, costuma formar com uma frente fria, o chamado nevoeiro pós-frontal. Sobre as<br />

latitudes temperadas e subtropicais, pode surgir adiante de uma frente fria (100 a 300 Km à<br />

frente), uma linha de trovoadas paralela a ela, que com igual velocidade, avança como se fora uma<br />

outra frente fria. O fenômeno só ocorre quando há uma variação brusca de pressão no setor préfrontal<br />

e é chamado de linha de instabilidade ou descontinuidade pré-frontal.<br />

Toda frente fria intensa que cruza o nível de 500hPa surge <strong>geral</strong>mente associada a uma<br />

Corrente de Jato, com o fluxo desta ocorrendo entre 500 e 600 Km à retaguarda da frente à<br />

superfície. Muito importante ainda, no que concerne ao estudo de uma frente fria, é a existência<br />

das chamadas frentes polares - fragmentos de ar frio lançados na direção do equador. Cada<br />

fragmento deste constitui o que conhecemos por uma frente fria.<br />

Como já vimos, ao avançar, uma frente fria carrega consigo pressões baixas. Desse modo,<br />

pode-se verificar que as pressões que a precedem diminuem gradativamente e as que a sucedem,<br />

aumentam gradativamente. Esta variação típica é chamada de tendência barométrica, que pode ser<br />

observada pelo barômetro, através dos respectivos valores de pressão da estação (QFE). Quando se<br />

unem, numa carta de tempo, pontos ou locais que apresentem os mesmos valores de tendências<br />

barométricas, obtém-se uma linha ou isopleta (linha de mesmo valor), chamada de isalóbara. As<br />

cartas isalobáricas são plotadas diariamente, às 1200Z, sendo as isalóbaras. Tendências positivas<br />

identificam uma alta isalobárica, designada pela letra A, em azul e tendência negativas identificam<br />

uma baixa isalobárica, designada pela letra B, em vermelho. Uma frontogênese de frente fria é<br />

normalmente verificada pela presença de uma baixa isalobárica, ao longo de uma convergência de<br />

ventos.<br />

90


Figura 43 – detalhes da frente fria<br />

7.2 - Características da frente quente<br />

Como já vimos, uma frente quente resulta do avanço de uma massa de ar quente contra<br />

uma massa de ar frio. Em virtude disso, o ar tropical, que é menos denso, sobe ao longo do ar<br />

polar, ao mesmo tempo que o vai empurrado lentamente, dando ao fenômeno o aspecto<br />

característico de uma rampa suave e inclinada para a frente, no mesmo sentido do deslocamento<br />

do sistema frontal.<br />

O declive frontal da frente quente é sempre menor do que o da frente fria, apresentando um<br />

valor médio de 1:150, o que a torna mais lenta e menos violenta do que aquela. O deslocamento de<br />

uma frente quente faz-se no hemisfério norte de sudoeste para nordeste e no hemisfério sul, de<br />

noroeste para sudeste.<br />

A principal característica da frente quente é uma seqüência de nebulosidade, através de um<br />

sistema mais ou menos padronizado de nuvens: inicialmente, cirrus (Ci) entre 1500 e 2000 Km<br />

adiante da frente; a seguir uma camada contínua de cirrostratus (CS) com formação de “HALO”;<br />

logo atrás em níveis mais baixos uma camada associada de altocumuls (AC) com altos stratus<br />

(As), cerca de 600 a 800 Km adiante da frente; finalmente nuvens baixas, tais como stratocumulus<br />

(Sc) e nimbostratus (Ns) predominante nas frentes estáveis e cumulus (Cu) e cumulonimbus (Cb)<br />

predominante nas frentes instáveis.<br />

Proveniente da precipitação leve e contínua que cai no setor pré-frontal e evapora-se<br />

gradualmente, costuma formar com frente quente, o chamado nevoeiro pré-frontal. A passagem de<br />

uma frente quente sobre um local acarreta para o mesmo grande aumento da temperatura, pouca<br />

variação de ventos e pequena descontinuidade isalobárica. As variações associadas às frentes<br />

quentes são menos intensas e menos definidas do que as que ocorrem naquela. O padrão de ventos<br />

de uma frente quente é o mesmo do da frente fria, com a diferença que o pós-frontal é pré-frontal e<br />

vice-versa.<br />

91


Figura 44 - representações de uma frente quente<br />

8 - Os ciclones<br />

Como bem pudemos ver linhas atrás, uma frente se constitui de uma linha de baixas<br />

pressões ou de ciclones. Em outras palavras, ela só pode existir ao longo de uma circulação<br />

ciclônica, cuja energia provém do encontro de duas massas de ar diferentes entre si em pressão,<br />

temperatura e densidade. O resultado disso é uma concentração de energia na atmosfera, traduzida<br />

por ventos fortes ao longo do sistema frontal. Esse é um dos processos formadores do chamado<br />

ciclone, que recebe o nome de ciclogênese. Os ciclones são classificados quanto à temperatura e<br />

quanto à origem.<br />

8.1 - Classificação dos ciclones quanto à temperatura<br />

• Ciclone frio : o que apresenta ar mais frio no centro, com maior intensidade em altitude, e<br />

portanto, com os ventos superiores mais velozes. É o que conhecemos por uma baixa fria.<br />

• Ciclone quente : o que apresenta ar mais quente no centro, com maior intensidade à superfície<br />

e, portanto, com os ventos inferiores mais velozes. É o que conhecemos por baixa quente.<br />

8.2 - Classificação segundo a origem dos ciclones<br />

• Ciclones frontais : os que se formam ao longo das frentes, sendo, por isso mesmo, os<br />

fenômenos mais intensos das latitudes temperadas.<br />

• Ciclones termais : os que se formam localmente, em virtude do aquecimento excessivo de<br />

certas regiões. São, por isso, mais intensos e mais extensos no verão. Sua ocorrência é mais<br />

comum em região livre de atividade frontal, pois não se associam a frentes. São quase<br />

estacionários, oscilando lentamente sobre as regiões onde se localizam.<br />

92


• Ciclones orográficos : os que se formam sobre áreas montanhosas, sendo predominantes a<br />

sotavento. São mais intensos no outono e no inverno.<br />

• Ciclones superiores : os que se formam nos níveis elevados da atmosfera (na troposfera<br />

superior) e propagam-se até a superfície. Apresentam maior freqüência e maior intensidade no<br />

Outono e no inverno.<br />

• Ciclones tropicais : os que se formam no verão das latitudes tropicais marítimas, cujas<br />

temperaturas mais baixas ficam, em média, entre 27 e 28 ºC (normalmente, na faixa de 10º a<br />

20º de cada hemisfério). Também não surgem associados com frentes e desenvolvem mais<br />

energia que os demais, mas, paradoxalmente, apresentam um centro relativamente calmo,<br />

denominado de olho.<br />

9 - Oclusão<br />

Como uma frente fria é sempre o limite entre duas massas de ar de características<br />

diferentes, ela nunca surge como uma linha contínua e rígida. Devido às variações de temperatura,<br />

densidade, pressão e vento presentes nas duas massas de ar em contato, a frente passa a apresentar,<br />

ao longo de sua estrutura, um movimento ondulatório que se faz normalmente de W para E. Cada<br />

“onda” dessa vem a se constituir um chamado ciclone frontal que pode ser estável, quando a onda<br />

respectiva mantém sua amplitude constante, ou instável, quando a onda respectiva apresenta a sua<br />

amplitude aumentando gradativamente.<br />

Um ciclone frontal instável pode evoluir até um ponto máximo, onde ocorre uma mistura<br />

do ar polar com o ar tropical, formando uma onda em desequilíbrio que lembra uma vaga<br />

“estourando” na praia após ter rolado em torno de si mesma. É o fenômeno conhecido<br />

genericamente por oclusão ou frente oclusa. Normalmente, o mecanismo mais comum que causa<br />

este fenômeno é o seguinte: uma frente fria, ao deslocar-se, pode, em algum setor, ficar retardada<br />

ou mesmo estacionada (quando é chamada de frente estacionária), devido a efeito topográfico ou à<br />

intensificação dos ventos pré-frontais. Com isso, o setor afetado passa a reduzir seu deslocamento<br />

e a proceder como se fora uma frente quente. Por outro lado, a frente fria continua a avançar e,<br />

como apresenta maior velocidade de deslocamento, tende a ultrapassar a frente quente. Há dois<br />

casos possíveis a serem considerados:<br />

9.1 - Oclusão de frente fria<br />

(o ar frio da frente fria é mais frio do que o ar frio da frente quente)<br />

Neste caso, a frente quente eleva-se ao longo da rampa da frente fria e esta oclui-se ou<br />

esconde-se sob a rampa da frente quente, permanecendo a deslocar-se rente ao solo. A parte da<br />

frente fria que se ocluiu é chamada de oclusão de frente fria ou frente oclusa fria e é mais comum<br />

do que o outro caso. Ar polar apresenta ar mais frio, que empurra a frente fria, e menos frio, que é<br />

empurrado pela frente quente.<br />

93


Figura 45 – frente oclusa<br />

9.2 - Oclusão de frente quente<br />

(o ar frio da frente quente é mais frio do que o ar frio da frente fria)<br />

Neste caso, a frente fria eleva-se ao longo da rampa da frente quente e esta oclui-se ou<br />

esconde-se sob a rampa da frente fria, permanecendo, entretanto, a deslocar-se rente ao solo. A<br />

parte da frente quente que se ocluir é chamada de oclusão de frente quente ou frente oclusa quente<br />

e é menos comum do que o outro caso. Ar polar apresenta ar menos frio, que empurra a frente fria,<br />

e ar mais frio, empurrado pela frente quente.<br />

9.3 - Considerações finais sobre a frente oclusa<br />

Em ambos os casos de oclusão, a rampa da frente que se eleva passa a constituir-se numa<br />

frente superior. Assim, a oclusão de frente fria apresenta uma frente quente superior, e a oclusão<br />

de frente quente, uma frente fria superior.<br />

O tempo numa oclusão consiste numa associação do tempo frontal frio com o tempo<br />

frontal quente. Quando ela atinge o máximo de intensidade, passa a constituir-se o fenômeno<br />

denominado de ciclone extratropical, cujas características veremos mais adiante.<br />

94


Figura 46 – configurações das frentes<br />

95


TEXTO X<br />

PERTURBAÇÕES ATMOSFÉRICAS<br />

1 - Introdução<br />

Os diferentes tipos de fenômenos atmosféricos ocorrem com graus de intensidade muito<br />

variáveis e às vezes de forma simultânea. Portanto, podemos dizer que perturbações atmosféricas<br />

são fenômenos meteorológicos que ocorrem de uma forma mais ou menos intensa e que provocam<br />

alguma alteração no estado normal da atmosfera, podendo ser através de tempestades, movimentos<br />

do ar, fotometeoros, restrição de visibilidade, entre outros.<br />

2 - Tempestades<br />

Os diferentes tipos de fenômenos atmosféricos ocorrem com graus de intensidade muito<br />

variáveis e de forma simultânea ou não. Assim, com base nisso, define-se tempestade como uma<br />

manifestação de um ou vários meteoros simultaneamente, de forma mais ou menos violenta. A<br />

grande importância de se conhecer esses fenômenos reside no fato do papel ativo que representam<br />

para as atividades humanas, sobretudo nas marítimas e aeronáuticas. A fim de facilitar o<br />

aprendizado dos diferentes tipos de tempestades, costuma-se classificá-los em microtempestades e<br />

macrotempestades.<br />

2.1 - Microtempestades<br />

São as de menor porte, produzindo pequenos distúrbios como é o caso de simples redução<br />

à visibilidade. Desse modo, não chegam a provocar, diretamente, danos generalizados. As<br />

definições mais comuns são as seguintes:<br />

Areia soprada<br />

Areia levantada do solo pelo vento e transportada em camadas. A visibilidade fica reduzida<br />

parcialmente. O conceito se aplica a poeira soprada.<br />

Neve soprada<br />

Neve levantada do solo pelo vento e transportada em camadas. É tão elevada que também a<br />

visibilidade vertical fica bastante reduzida. Normalmente, eleva-se a mais de 2 metros.<br />

Neve em suspensão<br />

Neve levantada do solo pelo vento, acumulando-se mais adiante. É tão pouco elevada (2<br />

metros ou menos) que só restringe a visibilidade horizontal.<br />

Remoinho de poeira<br />

Poeira levantada do solo por um pequeno e ligeiro rodopio do ar, resultante de um<br />

movimento ciclônico. Também conhecido vulgarmente por poeira do diabo. Tem ocorrência<br />

freqüente em tarde quente e calma.<br />

2.2 - Macrotempestades<br />

96


São as de grande porte, com violência variável, dependendo das circunstâncias em que<br />

ocorrem. Seus distúrbios chegam às vezes a oferecer danos materiais ou mesmo perigo de vida. As<br />

definições mais comuns são as seguintes:<br />

Nevasca<br />

Vento violento, extremamente frio e carregado de neve. É também conhecida por<br />

tempestade de neve.<br />

Tornado<br />

Tempestade de vento extremamente forte, com movimento ciclônico, cuja formação<br />

apresenta-se sob a forma de um funil ou tromba de elefante e que pode elevar aos ares objetos de<br />

pequeno porte. O fenômeno tem origem na base de nuvem Cumulunimbus, sob condições<br />

especiais: muita umidade e grande instabilidade.<br />

Figura 47 - tornado e tromba d’água<br />

Tromba d’água<br />

Tornado que ocorre sobre superfície líquida e cujo movimento de sucção eleva aos ares<br />

água e coisas leves da mesma.<br />

Tormenta<br />

Tempestade súbita com relâmpagos e trovões, normalmente acompanhada de chuva e<br />

vento fortes. É também conhecida pela denominação de temporal.<br />

Procela<br />

Tempestade de vento no mar, normalmente acompanhada de grandes ondas ou vagalhões.<br />

É também conhecida pela denominação de borrasca.<br />

Vendaval<br />

Vento com intensidade média, cuja velocidade oscila de 30 a 60 nós. É também conhecido<br />

por ventania.<br />

Trovoada<br />

97


Tormenta local, de curta duração e de origem convectiva, que se desenvolve a partir de<br />

uma nuvem Cumulunimbus (CB). Muitas vezes é acompanhada de chuva forte e outras vezes de<br />

granizo ou saraiva.<br />

Tempestade de poeira<br />

Poeira intensa carregada por ventos de moderado a forte que sopram sobre terreno seco e<br />

desprovido de vegetação e que reduz a visibilidade horizontal a menos de 1 000 metros.<br />

Tempestade de areia<br />

Areia intensa carregada por ventos de moderado a forte que sopram sobre terreno arenoso<br />

seco e desprovido de vegetação e que reduz a visibilidade horizontal a menos de 1000 metros.<br />

Tempestade de granizo<br />

Precipitação intensa de granizo que se acumula rapidamente no solo e que acompanha uma<br />

tormenta.<br />

3 - Trovoadas<br />

Uma trovoada é uma tormenta que se manifesta por uma seqüência de trovões<br />

acompanhada, na maioria das vezes, por precipitações intensas de chuva ou granizo e por ventos<br />

fortes. Ela é originária de uma nuvem CB, que se desenvolve a partir de células convectivas. É<br />

identificada em termos de sua manifestação elétrica, conhecida por relâmpago. Este é uma faísca<br />

luminosa causada pela descarga da eletricidade atmosférica, que pode ocorrer:<br />

• entre duas partes da mesma nuvem;<br />

• de uma nuvem para outra nuvem;<br />

• entre a nuvem e terra.<br />

Trata-se de uma descarga direta cuja duração varia de 0,0002 de segundo até um segundo<br />

completo ou mais em descarga múltipla. A corrente é de mais de 300.000 ampères; a diferença de<br />

potencial, da ordem de 100.000.000 volts; a velocidade, de 90000 Km/s, e a temperatura do ar em<br />

torno de si, 15.000 ºC.<br />

Uma vez que o ar oferece grande resistência à corrente elétrica, a passagem dela através do<br />

mesmo produz um rápido aquecimento que causa uma expansão explosiva denominada de trovão,<br />

que nada mais é do que uma conseqüência retardada do relâmpago ocorrido instantes antes. Às<br />

vezes, o trovão não se faz audível no local de observação; isso significa que o respectivo<br />

relâmpago ocorreu a mais de 20 Km do referido local. As descargas elétricas dos relâmpagos<br />

produzem efeitos perturbadores nos equipamentos de rádio, sob a forma de ruídos, denominados<br />

no conjunto de estática e que permite detectar a posição de trovoadas distantes. A trovoada é um<br />

tipo de tempestade tão freqüente sobre globo terrestre, que estima-se uma média diária de 44000.<br />

Devido ao seu pequeno tamanho e ao seu caráter local, uma trovoada não permite que se faça<br />

previsão do momento e local de ocorrência; porém, o seu desenvolvimento e progresso podem ser<br />

detectados a distância pelo radar. As trovoadas são mais freqüentes nas regiões chuvosas dos<br />

trópicos, onde há aquecimento e umidade abundantes e onde os ventos fracos facilitam a<br />

necessária convecção. Desse modo elas são raras nas regiões polares e nas áreas frias em <strong>geral</strong>.<br />

98


Figura 48 – fases de uma trovoada<br />

3.1 - Desenvolvimento<br />

Para que se produza a convecção necessária ao desenvolvimento de uma trovoada é preciso<br />

que haja:<br />

• suprimento suficiente de umidade;<br />

• levada razão de variação da temperatura na vertical.<br />

Desse modo, para que nuvens Cúmulus (CU) possam evoluir até a forma de CB,<br />

responsável pela trovoada, urge que se apresente na atmosfera local, uma condição instável na<br />

vertical a uma altura considerável. Isso requer uma razão de variação de temperatura maior que a<br />

RAS até o NCC e maior que a RAU acima do NCC. Com isso a nuvem atinge o limite máximo de<br />

crescimento vertical permissível, ao qual chamamos de LTI (Limite Termal de Instabilidade), a<br />

partir do que passa então a expandir-se lateralmente, tomando o aspecto no topo de uma<br />

“cabeleira” ou “bigorna” (nuvens Cirrus).<br />

3.2 - Estrutura<br />

Como bem já vimos, o período de vida de uma trovoada é relativamente curto, sobretudo<br />

aquela de formação local. Dessa maneira, ela não chega a durar mais do que 30 minutos sobre uma<br />

mesma área e quase sempre aparece estruturada em três fases distintas, denominadas de estágios:<br />

cumulus, maturidade e dissipação. Estes estágios caracterizam o chamado ciclo vital de uma<br />

trovoada e surgem sempre interligados.<br />

• Estágio de cumulus<br />

Representa o período inicial da célula total e surge a partir de uma nuvem CU. Caracterizase,<br />

portanto, por um único fluxo de corrente ascendente e que se reflete à superfície através de<br />

pressões ligeiramente baixas e de uma convergência suave de ventos. A nuvem cresce<br />

verticalmente a grande velocidade, e ao ultrapassar o nível de 0ºC, adquire um aspecto<br />

congestionado e passa a chamar-se grande Cumulus ou Cumulus Congestus (TCU), porém ainda<br />

não há precipitação.<br />

• Estágio de maturidade<br />

Identificado pela chegada repentina da precipitação ao solo, representa a fase na qual a<br />

intensidade máxima da tempestade pode se manifestar sob todos os aspectos possíveis. Aí, o<br />

desenvolvimento vertical atinge o máximo, chegando até o LTI (limite termal de instabilidade), e<br />

o vapor d’água, submetido então a baixas temperaturas, sublima-se, passando a compor o topo<br />

cirroso da célula.<br />

99


O excesso de energia não utilizado no crescimento acelerado do conjunto começa então a<br />

manifestar-se sob a forma de relâmpagos. Este pode apresentar-se verticalmente na dianteira ou<br />

horizontalmente na traseira, tudo em relação à célula total, que agora já se constitui na chamada<br />

nuvem CB e cuja tempestade respectiva representa a trovoada em si. Esta em plena fase de<br />

vitalidade máxima mostra um equilíbrio entre as correntes ascendentes e descendentes. Estas que<br />

são frias, ao atingirem a superfície, desviam-se e formam ventos de rajada, que sopram fora da<br />

vertical correspondente.<br />

• Estágio de dissipação<br />

Este estágio tem início logo que as descendentes se espalham por toda a célula,<br />

neutralizando-se a seguir. Com isso, cessa a alimentação de vapor d’água, a precipitação diminui<br />

e, em seguida, pára. É a morte da célula, pois grande parte dela logo se evapora, e com isso todos<br />

os fenômenos inerentes declinam até o cessar total.<br />

3.3 - Classificação<br />

As trovoadas originam-se através de vários processos, os quais são agrupados em dois<br />

grandes grupos: as trovoadas de massas de ar e as trovoadas frontais.<br />

3.3.1 - Trovoadas de massas de ar<br />

São aquelas que ocorrem como resultado da movimentação vertical do ar no seio de uma<br />

única massa de ar (fria ou quente). Os processos de formação das trovoadas nem sempre ocorrem<br />

independentemente. Dois ou mais tipos podem atuar simultaneamente e assim intensificar<br />

sobremaneira as atividades resultantes. Exemplo típico disso é o caso de uma trovoada de frente<br />

fria que está cruzando uma região montanhosa no Verão. Neste grupo estão incluídos os seguintes<br />

tipos:<br />

• Trovoadas convectivas<br />

Também conhecidas por térmicas, são aquelas induzidas por convecção, como resultantes<br />

de aquecimento local. São mais freqüentes durante o dia, no verão, sobre a terra, e à noite, no<br />

inverno, sobre o mar. Deslocam-se ao sabor dos ventos predominantes e são de grande porte,<br />

chegando a atingirem mais de 50.000 pés nas latitudes baixas.<br />

• Trovoadas advectivas<br />

Também conhecidas como de altitude, são aquelas causadas pela advecção de ar quente<br />

nos níveis inferiores ou pela advecção de ar frio nos níveis superiores. São mais freqüentes à noite<br />

e sua ocorrência mais comum é resultado do fluxo de ar úmido e aquecido sob ar<br />

condicionalmente estável. Por isso mesmo, são as trovoadas de bases mais elevadas e as menos<br />

comuns, sendo menos intensas que as termais.<br />

• Trovoadas orográficas<br />

Também conhecidas como mecânicas, são aquelas causadas pelo movimento de ar quente e<br />

úmido contra acidentes geográficos. Formam-se a barlavento, são persistentes, estacionárias e de<br />

movimento oscilatório, não ultrapassando a montanha. Sua intensidade e alcance vertical<br />

dependem da orografia e da velocidade do vento.<br />

3.3.2 - Trovoadas frontais<br />

100


São aquelas que ocorrem como resultantes da interação de duas massas de ar de<br />

características diferentes, sendo uma fria e a outra quente. Conhecidas também como dinâmicas,<br />

compreendem as trovoadas frontais, pré-frontais e de oclusão. São de um modo <strong>geral</strong> as mais<br />

intensas e normalmente quase sempre surgem lado a lado, formando verdadeiras muralhas de CB,<br />

como é o caso das trovoadas de frentes frias. Trovoadas frontais e pré-frontais podem ocorrer a<br />

qualquer hora do dia e em qualquer estação, porém são raras sobre o continente no inverno. As<br />

mais intensas são as as frentes frias intensas e as pré-frontais. Por outro lado, as menos intensas<br />

são as das frentes quentes.<br />

3.4 - Principais fenômenos associados<br />

Uma trovoada em sua plena fase de vitalidade constitui-se numa verdadeira “fábrica de<br />

mau tempo”, representado pelos seguintes fenômenos:<br />

• Precipitação<br />

No interior da nuvem é líquida (chuva) nos níveis inferiores; é mista (chuva, granizo e<br />

neve) nos níveis médios e sólida (granizo e neve) nos níveis superiores.<br />

• Turbulência<br />

Provocada pelas correntes convectivas (ascendentes e descendentes), apresenta-se em todas<br />

as intensidades possíveis, podendo provocar deslocamentos de uma aeronave, verticalmente. De<br />

um modo <strong>geral</strong>, a turbulência é menos intensa nos primeiros 2 Km a partir da base e mais intensa<br />

nos níveis médios e médios-superiores, o que acarreta ali uma zona crítica para o vôo. A<br />

turbulência pode propagar-se até o topo ou mesmo predominar até cerca de 5000 pés acima do<br />

vôo, em pleno céu isento de nuvens.<br />

• Relâmpago<br />

O peso de certos cristais de gelo formados nos níveis médios e médios-superiores da<br />

nuvem (sobretudo o granizo) faz com que eles caiam para camadas inferiores e colidam no<br />

caminho com gotas d’água. O resultado é que se estilhaçam e eletrizam formando dois fluxos<br />

diversos: um descendente, que carrega a base negativamente, e outro ascendente, que carrega o<br />

topo positivamente. A partir daí, os campos elétricos formados ao redor das duas cargas<br />

intensificam-se e ionizam o ar ao redor, liberando uma tremenda quantidade de energia em forma<br />

de centelhas não visíveis, que são o ponto de partida para a ocorrência dos relâmpagos.<br />

• Ventos de rajada<br />

Ocorrem como resultado das correntes descendentes que, ao atingirem a superfície, sopram<br />

para fora da vertical correspondente à nuvem. São bastante intensos e quase sempre servem como<br />

indicadores de trovoada nas vizinhanças.<br />

4 - Os Fotometeoros<br />

Muitas vezes, em nossa vida cotidiana, somos surpreendidos pela presença de fenômenos<br />

raros no céu, alguns dos quais de raríssima beleza. Dentre esses, destacamos os fenômenos<br />

luminosos denominados genericamente de fotometeoros. Fotometeoro é resultante de um ou mais<br />

fenômenos (difração, reflexão, refração, etc) pelos quais passa a luz ao penetrar na atmosfera. Ele<br />

pode ser observado:<br />

• no ar relativamente claro;<br />

• no interior de hidrometeoros;<br />

101


• no interior de litometeoros;<br />

• nas nuvens.<br />

4.1 - Tipos principais<br />

Reverberação<br />

Perturbação nos raios luminosos provocada pela elevação de filetes de ar provenientes de<br />

superfície superaquecida. O fenômeno pode ser visto de qualquer distância, mas é melhor<br />

observado quando no horizonte.<br />

Arco-íris<br />

Arco semicircular apresentando as cores do espectro solar, que se forma pela refração e<br />

reflexão da luz do sol sobre gotas de chuva que caem numa direção oposta a que brilha o referido<br />

astro. O fenômeno apresenta o vermelho no exterior e o violeta no interior. As demais cores nem<br />

sempre se destacam nitidamente e há, às vezes, possibilidade de ocorrência em duplicata do<br />

fenômeno.<br />

Arco de nevoeiro<br />

Arco semicircular, que se forma pela refração da luz do Sol sobre gotículas constitutivas de<br />

nevoeiro posicionados numa direção oposta a que brilha o referido astro. O fenômeno apresenta o<br />

vermelho no exterior e o violeta no interior, porém, devido ao minúsculo tamanho das gotas, as<br />

cores centrais se sobrepõem e o arco surge branco e de raio menor do que arco-íris.<br />

Halo<br />

Circunferências luminosas e concêntricas que apresentam-se com as cores do espectro solar<br />

e que se formam em torno do Sol ou da Lua, devido à reflexão e à refração da luz nos<br />

componentes minúsculos (cristais de gelo) das nuvens Cirrus ou Cirrustratus, ou ainda, em casos<br />

excepcionais, com nuvens Stratus congelado. O halo mais comum apresenta 22º de raio e é mais<br />

completo com CS.<br />

Coroa<br />

Círculo luminoso branco que se forma em torno do Sol ou da Lua, devido à difração da luz<br />

nas gotículas de água de nuvem pouco espessa e de constituição mais ou menos uniforme, como é<br />

o caso de Altostratus translúcido.<br />

Crepúsculo<br />

Luminosidade tênue proveniente do ar superior que precede o “nascente” ou que sucede o<br />

“poente” do Sol. O fenômeno é causado pela refração da luz solar na atmosfera próxima do<br />

horizonte.<br />

Raios crepusculares<br />

Feixes de luz, que ao passarem pelas nuvens, tornam-se visíveis graças às impurezas da<br />

atmosfera. Sua maior freqüência ocorre ao “nascer” e ao “pôr-do-sol”. quando a atmosfera é mais<br />

tranqüila e mais embaciada, permitindo uma melhor visão do fenômeno. Costuma aparecer em<br />

variações de cores como resultado da reflexão da luz nas impurezas atmosféricas.<br />

102


Miragem<br />

Fenômeno que consiste numa distorção de objetos observados a distância, cujas imagens<br />

podem parecer invertidas, ampliadas, múltiplas, elevadas ou mais próximas. É fruto de uma<br />

anormal refração atmosférica numa camada de ar próxima à superfície super aquecida, tais como<br />

região desértica ou via pavimentada.<br />

Fogo de santelmo<br />

Mais identificado como um eletrometeoro (meteoro associado à eletricidade atmosférica),<br />

consiste numa descarga elétrica proveniente de objetos projetados verticalmente, que se<br />

descarregam quando é vencida a resistência do ar. Trata-se de um fenômeno eletrostático (acúmulo<br />

de cargas elétricas nas pontas por atrito).<br />

Aurora polar<br />

Fenômeno luminoso de raríssima beleza que ocorre sobre as regiões polares, numa média<br />

de 100 a 300 Km acima da superfície, como resultante da associação das perturbações magnéticas<br />

da Terra com a radiação corpuscular do Sol, por isso mesmo, mais intensa com o ciclo das<br />

manchas solares. A aurora polar é denominada de boreal no hemisfério Norte e Austral no<br />

hemisfério Sul.<br />

Irisações<br />

Manchas coloridas, verdes e róseas, vistas suavemente em nuvens próximas do zênite do<br />

observador.<br />

5 - Perturbações atmosféricas de macro-escala<br />

5.1 - Ciclones Extratropicais<br />

Para a Zona de Convergência Extratropical convergem os ventos predominantes de oeste<br />

oriundos dos anticiclones subtropicais e os frios ventos polares de este, caracterizando essa região<br />

como uma fronteira natural de encontro das massas de ar quentes (tropicais) e frias (polares). A<br />

posição dessa faixa depende da localização e intensidade dos centros anticiclônicos.<br />

Como parte dessa zona de convergência, sobre o Oceano Atlântico Sul e região amazônica,<br />

está a Zona de Convergência do Atlântico Sul. Nesta região há uma tendência natural à formação<br />

de ondas na superfície de separação entre as massas de ar, composta de duas superfícies frontais:<br />

uma fria outra quente, deslocando-se uma contra a outra, caracterizando uma onda. A presença<br />

dessa onda, de sentido horário no hemisfério sul, identifica a formação de um ciclone à superfície,<br />

ponto de origem das frentes frias e quentes já mencionadas. Tais ciclones são chamados extratropicais,<br />

entendidos como perturbações que se propagam ao longo da Zona de Convergência<br />

Extratropical. É comum a presença de vários deles em diferentes estágios de desenvolvimento ao<br />

longo da frente polar, constituindo uma família de ciclones extratropicais. Apresenta, ainda,<br />

sistema de nuvens muito variável e quatro estágios de desenvolvimento, a saber:<br />

• Onda : caracterizado por um aglomerado de nuvens;<br />

• Oclusão : fase em que o sistema se apresenta sob a forma de uma vírgula invertida;<br />

• Maturação : identificado por um centro de baixa pressão à superfície e fenômeno em plena<br />

atividade; e<br />

103


• Dissipação : ocorre o desaparecimento do sistema de nuvens.<br />

5.2 - Ciclones Tropicais<br />

Também chamados de tufões ou furacões, os ciclones tropicais são vórtices ciclônicos<br />

profundos que se desenvolvem entre as latitudes de 10º a 20º de latitude, com diâmetro da ordem<br />

de 1000 km e núcleo de pressão acentuadamente baixa – cerca de 50 a 100 hpa menor que a<br />

pressão observada na área circunjacente. Surgem sobre o oceano tropical, onde a temperatura das<br />

águas é alta (cerca de 27º) e o vapor d’água abundante, a partir de um centro de baixa pressão.<br />

Nem todos os vórtices ciclônicos evoluem até formarem um furacão. Alguns são simples<br />

centros de baixa pressão migratórios, denominados tempestades tropicais e que logo desaparecem.<br />

Outros, porém, intensificam-se e podem se transformar em furacões, movendo-se rápida ou<br />

lentamente ou ainda estacionando por muitas horas, causando destruição por onde passam.<br />

Há dois tipos básicos de ciclones tropicais: aqueles cuja intensidade máxima é próxima à<br />

superfície terrestre e diminui com a altitude (núcleo quente) e outros cuja máxima intensidade<br />

ocorre na alta troposfera, diminuindo em direção à superfície (núcleo frio).<br />

Os ciclones tropicais são de fácil identificação nas imagens de satélites meteorológicos<br />

devido ao típico sistema espiralado de nuvens. Ocorre, no centro do sistema, uma área circular<br />

com 25 a 65 quilômetros de diâmetro, conhecida como “olho”, onde as condições atmosféricas são<br />

de vento calmo e sem nuvens. A ausência de nuvens no centro se dá em decorrência do intenso<br />

movimento subsidente do ar que contribui para a redução da pressão atmosférica à superfície.<br />

A velocidade do vento associado ao fenômeno facilmente ultrapassa a 100 km/h na área<br />

próxima do olho, podendo em alguns casos a chegar a 200 km/h, diminuindo em direção à<br />

periferia do ciclone.<br />

Em torno do olho, formam-se muralhas de nuvens convectivas que atingem o limiar da<br />

tropopausa, produzidas pela intensa atividade convectiva e que originam intensos aguaceiros (com<br />

grande liberação de calor latente, suprindo o sistema de energia), acompanhados de relâmpagos e<br />

trovoadas. Precipitações de 500mm, principalmente na área próxima ao centro do ciclone, são<br />

bastante comuns.<br />

Os ciclones tropicais duram cerca de uma semana. Surgem normalmente no fim do verão e<br />

início do outono na faixa tropical dos oceanos Pacífico, Atlântico Norte e Índico. A presença de<br />

uma corrente oceânica quente é favorável à formação dessas perturbações, daí então não se<br />

formarem no Atlântico Sul (águas frias e altas pressões à superfície).<br />

Em termos de velocidade dos respectivos ventos, os ciclones tropicais são classificados da<br />

seguinte forma:<br />

• depressão tropical: quando o ciclone tropical apresenta vento com velocidade inferior a 34<br />

KT;<br />

• tormenta tropical: quando o ciclone tropical apresenta ventos com velocidade de 34 a 63 KT;<br />

• tufão, furacão, ciclone, etc.: quando o ciclone tropical apresenta vento com velocidade<br />

superior a 63 KT.<br />

104


5.3 - Ondas de leste<br />

Associada aos ventos alíseos, algumas vezes se percebe a presença de um conglomerado de<br />

nuvens convectivas se deslocando para oeste, acompanhando um cavado. Esse fenômeno, que<br />

numa carta de superfície assume o aspecto de uma faixa em forma de “V” ou de vírgula, é<br />

chamado de onda de leste. Essa perturbação se forma sobre o oceano, provocando aguaceiros e<br />

dura de 01 a 02 semanas. Às vezes pode se intensificar a tal ponto que se transforma num vórtice<br />

mais desenvolvido como um furacão.<br />

5.4 - Vórtices ciclônicos de altos níveis<br />

Também chamados de baixas frias ou baixas despendidas, se formam na alta troposfera e<br />

constituem uma circulação ciclônica cujo núcleo é mais frio que a periferia. São detectados no<br />

nível de 200 hpa prolongando-se para baixo, podendo atingir a superfície em alguns casos. O<br />

sistema nebuloso é intenso, com a presença de cumulonimbus quando o fenômeno move-se sobre<br />

águas quentes.<br />

Originam-se nos meses de primavera, verão e outono sobre o Atlântico, sendo janeiro o<br />

mês de maior ocorrência. Quando penetram no continente, atingindo o Nordeste brasileiro, causam<br />

fortes precipitações nos estados de Pernambuco e Píauí, mantendo o céu limpo na Bahia. Os que<br />

surgem no Pacífico atravessam a Cordilheira dos Andes e atingem a região central da América do<br />

Sul, causando aumento de nebulosidade e precipitação, sendo mais estes frequentes no inverno.<br />

5.5 - Furacões Polares<br />

São áreas de baixa pressão observadas nas latitudes circumpolares semelhantes aos<br />

ciclones tropicais, com núcleo quente, presença de “olho” com nebulosidade em espiral ao redor.<br />

Ao se moverem para o continente, tornam-se fracos.<br />

105


TEXTO XI<br />

PROBLEMAS CLIMÁTICOS ATUAIS<br />

1 - Introdução<br />

Temas com “El Niño”, “Efeito Estufa”, “Aquecimento Global”, “Camada de Ozônio” e<br />

outros têm se tornado, nos últimos anos, cada vez mais freqüentes nas discussões sobre o clima do<br />

planeta devido as conseqüências que acarretam para a população de uma forma <strong>geral</strong>. Suas<br />

possíveis causas são estudadas em detalhes pela comunidade científica no intuito de se avaliar e<br />

quem sabe amenizar os prováveis danos gerados quando da ocorrência desses fenômenos<br />

meteorológicos, quer seja em micro-escala ou em escala global.<br />

2 - El Niño<br />

O fenômeno El Niño é uma mudança no sistema oceano-atmosfera do Oceano Pacífico-<br />

Leste, provocada pelo aumento anormal da temperatura da superfície da água do mar nesta região.<br />

O nome El Niño (menino, em espanhol) foi dado séculos atrás por pescadores peruanos que<br />

observaram, durante os anos de ocorrência do fenômeno, uma considerável diminuição da<br />

quantidade de peixes e de pássaros que se alimentavam desses peixes na costa peruana. Os peixes<br />

morriam devido ao aumento da temperatura da água. Como tal fato ocorria na época do Natal, o<br />

termo El Niño foi usado para homenagear o menino Jesus.<br />

O que normalmente ocorre sobre as águas da faixa tropical do Pacífico, por exemplo, é o<br />

vento soprando de leste para oeste (vento alíseo). Em anos de El Niño, esses ventos enfraquecem,<br />

chegando, em algumas áreas, a inverterem o sentido, soprando de oeste para leste. Isso acarreta<br />

uma mudança da área de acúmulo de águas quentes dos trópicos que <strong>geral</strong>mente se agrupam no<br />

oeste da Ásia e vão para o oeste da América do Sul. Essas águas são empurradas pelos ventos<br />

predominantes que, com a ocorrência do fenômeno, sopram no mesmo sentido de rotação da terra,<br />

isto é, de oeste para leste.<br />

Figura 49 – El Niño<br />

Essa anomalia de temperatura do Oceano Pacífico provoca mudanças climáticas regionais e<br />

globais. Nos trópicos, por exemplo, áreas com baixos índices pluviométricos passaram a<br />

apresentar chuva em abundância (oeste da América do Sul), e regiões com bastante chuva<br />

apresentaram períodos de estiagem (oeste da Ásia). O El Niño traz inundações e secas repentinas<br />

em regiões onde esse tipo de situação raramente acontece, interferindo, portanto, na economia<br />

dessas regiões.<br />

No Brasil, quando o El Niño está configurado traz as seguintes conseqüências:<br />

• redução das chuvas no nordeste brasileiro;<br />

• aumento das chuvas na região sul durante o verão;<br />

106


• inverno mais quente sobre a parte da região sul e sudeste, associados a<br />

ventos fortes em autos níveis atmosféricos.<br />

Vários recursos estão sendo usados a fim de se entender e estudar o El Niño. Satélites<br />

fazendo a monitoração do fenômeno, como o Topex/Poseidon da NASA; bóias que fornecem<br />

dados meteorológicos e oceanográficos instaladas em alguns pontos do Pacífico e, ainda, a análise<br />

climatológica são alguns desses recursos.<br />

3 - Aquecimento Global<br />

Segundo um estudo feito pela ONU, o século XX foi o mais quente dos últimos quinhentos<br />

(500) anos, com uma elevação na temperatura média do planeta de 0,3º a 0,6ºC. Pode parecer<br />

pouco, mas considerando que a terra aqueceu algo em tomo de 5º C desde o fim da última era<br />

glacial, há cerca de 10 mil anos, o aquecimento deste século torna-se bastante significativo.<br />

3.1 - Causas do aquecimento<br />

O aumento da temperatura em todo o globo terrestre é um fenômeno recente surgido com o<br />

crescimento da industrialização. É resultado do acúmulo na atmosfera de uma série de gases,<br />

dentre eles o dióxido de carbono (CO 2 ), metano, ozônio e óxido nitroso, gases esses responsáveis<br />

pelo chamado efeito estufa que favorece a retenção de calor na atmosfera. Esses gases efetuam<br />

uma espécie de filtragem, impedindo que o calor contido na radiação solar que penetra na<br />

atmosfera e incide sobre a superfície, durante o dia, se disperse ou volte para o espaço, à noite.<br />

Segundo a ONU, a concentração de CO 2 na atmosfera, o grande vilão do<br />

superaquecimento, é a maior dos últimos 420 mil anos. Os países desenvolvidos são os maiores<br />

responsáveis pela emissão desses gases, sendo que só os Estados Unidos respondem por quase um<br />

quarto de todas as emissões a nível mundial.<br />

A concentração desses gases próximos à superfície em uma determinada região é agravada<br />

quando da ocorrência de um sistema de alta pressão semi-estacionário sobre a referida área,<br />

provocando condição meteorológica desfavorável à dispersão de poluentes, devido a atuação de<br />

ventos fracos e inversões térmicas, deixando a atmosfera do local em estado de estagnação. A<br />

mudança desse estado ocorre normalmente quando um sistema frontal (frente fria, por exemplo),<br />

atinge a região instabilizando-a, provocando a circulação dos ventos e conseqüente dispersão dos<br />

gases à superfície.<br />

3.2 - Conseqüências do superaquecimento<br />

Com o fenômeno do superaquecimento global sendo cada vez mais intensificado, o planeta<br />

corre o risco de passar por desequilíbrios ambientais catastróficos, além dos que já estão<br />

acontecendo. O derretimento das geleiras e o conseqüente aumento do nível médio do mar podem<br />

originar tufões e furacões com freqüência e intensidade maiores. Os incêndios florestais também<br />

serão mais comuns e as cidades situadas nas margens de rios e mares estarão sujeitas a enchentes,<br />

fazendo com que a população dessas regiões migrem para as cidades do interior, gerando nestas<br />

elevadas densidades demográficas. Muitos organismos, como o mangue e os corais, não<br />

suportando o calor, poderão extinguir-se.<br />

4 - O buraco na camada de ozônio<br />

4.1 - O ozônio<br />

107


Como vimos anteriormente, na região da atmosfera chamada estratosfera concentra-se o<br />

ozônio, gás cuja propriedade é absorver parte da radiação ultravioleta do Sol. Sem essa camada<br />

protetora tal radiação causaria graves danos aos organismos vivos que habitam a superfície<br />

terrestre. O ozônio, que é uma variedade do oxigênio, é produzido naturalmente na estratosfera<br />

através de absorção de ultravioleta pelo próprio oxigênio.<br />

No último século, devido ao intenso desenvolvimento industrial, passaram a ser utilizados<br />

produtos que emitem clorofluorcarbono (CFC), um gás que ao atingir a camada de ozônio destrói<br />

as moléculas que a formam (0 3 ), e conseqüentemente a própria camada. As moléculas do gás<br />

Freon, nome mais comum dos CFC’s, passam sem interferência pela troposfera, atingindo a<br />

estratosfera, onde os raios ultravioletas do Sol incidem com maior intensidade. Esses raios solares<br />

provocam o rompimento das partículas do freon, liberando o átomo de cloro, que por sua vez,<br />

rompe a molécula de ozônio, formando monóxido de cloro (ClO) e oxigênio (0 2 ). Como a reação é<br />

instável, continua indefinidamente provocando uma reação em cadeia. Entretanto, acontece<br />

também uma reação que beneficia o ozônio: a luz solar ao atingir os óxidos de nitrogênio<br />

(produzidos pela queima do petróleo, por exemplo), faz com que liberem os átomos de oxigênio<br />

(fotodissociação), que se combinam e produzem ozônio. Mas esse beneficio ainda é menor que a<br />

destruição do ozônio pelo freon.<br />

4.2 - O buraco na ozonosfera<br />

A região mais afetada pela destruição da camada de ozônio fica nas proximidades do Pólo<br />

Sul, na região conhecida como Antártida. Lá, principalmente no mês de setembro, praticamente a<br />

metade da concentração de ozônio sobre a região desaparece da atmosfera, deixando exposta à<br />

radiação ultravioleta uma área de aproximadamente 30 milhões de quilômetros quadrados (15% do<br />

total da região). Em outras áreas do planeta, a redução da camada também é significativa,<br />

oscilando de 1 a 3% do total dessas áreas.<br />

A redução maior na Antártida ocorre principalmente devido a fatores meteorológicos. Por<br />

todo o mundo circulam massas de ar levando consigo tudo que se encontra em suspensão na<br />

atmosfera, de forma que um poluente lançado no Brasil pode chegar a Europa carregado pelas<br />

correntes de ar. Na Antártida, graças ao rigoroso inverno, há a formação de um intenso anticiclone<br />

estacionário na região, caracterizando estabilidade e ausência de ventos. Portanto, os poluentes<br />

(CFC especificamente) atraídos durante o verão, permanecem na região austral e dão inicio a<br />

reação em cadeia já citada. Em 1988 foi constatada na região antártica uma concentração de<br />

monóxido de cloro 100 (cem) vezes maior que em qualquer outra região do planeta.<br />

4.3 - Providências para diminuir o buraco na camada de ozônio<br />

Nas últimas décadas tentou-se evitar ao máximo a utilização do CFC e mesmo assim, o<br />

buraco na camada de ozônio continua aumentando, preocupando cada vez mais a população<br />

mundial. As ineficientes tentativas de se diminuir a produção de CFC se devem a dificuldade de se<br />

substituir esse gás em suas principais aplicações. Um exemplo desse fracasso se deve aos Estados<br />

Unidos, o maior produtor de freon do mundo. Em 1978, os EUA produziam aproximadamente 500<br />

mil toneladas de CFC, passando dez anos mais tarde a produzir 10% a mais do gás. Portanto,<br />

deve-se evitar ao máximo o uso desse gás, para que se possa garantir a sobrevivência de nosso<br />

planeta.<br />

108


TEXTO XII<br />

FORMAÇÃO DE GELO EM AERONAVES<br />

1 - Introdução<br />

A formação de gelo sobre uma aeronave é um dos principais problemas meteorológicos<br />

para a aviação, sobretudo quando ocorre em vôo. O perigo advém do fato de que o fenômeno afeta<br />

o equilíbrio da aeronave, pois diminui a sustentação e o impulso e aumenta o peso e o arrasto. Isto<br />

dificulta sobremaneira o controle por parte do piloto e põe em risco a segurança da aeronave.<br />

Figura 50 – formação de gelo em aeronve<br />

2 - Condições meteorológicas favoráveis à formação<br />

Duas condições básicas podem propiciar a formação do gelo em aviação operacional:<br />

• presença no ar de gotículas d’água a 0ºC ou menos;<br />

• superfície externa da aeronave a 0ºC ou menos.<br />

Gotículas d’água na atmosfera nem sempre se congelam a 0 ºC, pois, devido a certos<br />

fatores, tais como tensão superficial, porcentagem de núcleos higroscópicos e estado de repouso,<br />

podem permanecer no estado líquido (estado de super-resfriamento), mesmo quando submetidas a<br />

temperaturas abaixo de -40 ºC. Quanto menores e mais puras, mais resistirão ao congelamento.<br />

Porém, uma vez alcançadas por uma aeronave em vôo, deixam o estado de repouso, rompem-se<br />

pelo choque, têm a tensão superficial destruída, perdem calor e congelam-se instantaneamente sob<br />

a forma de adesão aos aerofólios da aeronave.<br />

Quando uma aeronave voa numa área de temperatura muito baixa (0ºC ou menos), poderá<br />

ter a sua superfície externa afetada pela mesma e, se, em seguida, penetrar numa zona saturada,<br />

estará sujeita à formação de gelo, sobretudo se as gotículas d’água da referida zona estiverem a 0º<br />

C ou menos. Porém, mesmo que as gotículas estejam mais aquecidas, elas poderão se congelar,<br />

pois o impacto com a superfície da aeronave faz com que se rompam e se espalhem, aumentando a<br />

área de exposição e irradiação, eliminando calor, e congelando-se rapidamente.<br />

3 - Intensidade da formação e tipo de gelo<br />

Esta depende do tamanho e da quantidade das gotículas que se chocam com a aeronave e<br />

também do grau de estabilidade do ar atmosférico ambiente.<br />

Quando as gotículas são pequenas, a tensão superficial é grande, e com isso nem todas<br />

chegam a se congelar. As que conseguem, formam uma camada de gelo de pouca aderência e de<br />

forma irregular, semelhante àquele do evaporador de um refrigerador doméstico. É típico de ar<br />

estável, sem turbulência ou com pouca turbulência e apresenta pouco peso. Seu maior perigo<br />

reside na deformação dos bordos de ataque, pois, ao acumular-se irregularmente, altera as<br />

109


características aerodinâmicas, modificando o fluxo dos filetes de ar. Estamos falando do chamado<br />

gelo opaco, amorfo, escarcha ou granular.<br />

Quando as gotículas são maiores, a tensão superficial é menor, e com isso todas se<br />

congelam, formando uma camada de gelo de muita aderência e de forma regular, semelhante<br />

àquele que se forma na bandeja de um refrigerador doméstico. É típico de ar instável,<br />

predominante nas áreas de turbulência e apresenta muito peso. Seu maior perigo reside na<br />

dificuldade de remoção que apresenta. Estamos falando do chamado gelo claro, cristal, liso ou<br />

transparente.<br />

O gelo claro forma-se com temperaturas de 0 a -10ºC, e o opaco, abaixo de -10 ºC.<br />

Um outro tipo de formação de gelo não muito comum é aquele denominado de geada e que<br />

pode ocorrer em duas hipóteses:<br />

• quando uma aeronave, voando em zona de temperatura muito baixa (0ºC ou menos) e mais<br />

elevada em altitude, penetra outra mais baixa, aquecida e saturada de vapor d’água. É um tipo<br />

de gelo que não pesa nem altera perfis, mas que apenas veda a visibilidade quando sobre o<br />

pára-brisas;<br />

• quando uma aeronave esta estacionada ao relento e a temperatura à superfície é propícia para<br />

provocar a sublimação do vapor d’água presente no ar ambiente.<br />

3.1 - Nuvens propícias<br />

Como já vimos anteriormente, o gelo em aviação pode acontecer sob condições de<br />

estabilidade (gelo opaco) e de instabilidade (gelo claro). Em outras palavras, podemos dizer que<br />

ele ocorre tanto com nuvens estratiformes como com nuvens cumuliformes, muito embora alguma<br />

formação esporádica possa ocorrer com nuvens cirriformes.<br />

• Nuvens estratiformes<br />

Com essas modalidades de nuvens, a formação de gelo restringe-se a uma camada cuja<br />

espessura fica em torno de 1000 a 1300 metros. A intensidade máxima de formação ocorre no topo<br />

da camada, onde predomina o gelo amorfo com alguma ocorrência isolada de gelo claro. A nuvem<br />

nimbostratus (NS) é a única que pode gerar gelo amorfo severo, quando dela cai chuva glacial. A<br />

nuvem altostratus (AS) sempre produz gelo amorfo, quando associada à frentes.<br />

• Nuvens cumuliformes<br />

Com essas modalidades de nuvens, a formação de gelo é maior verticalmente e mais<br />

variável, pois muitos dos fatores que a propiciam dependem, sobremaneira, do grau de<br />

desenvolvimento da nuvem. Com isto, além de predominar o gelo claro, com alguma ocorrência<br />

isolada de gelo amorfo nas regiões de temperaturas baixas, a mais severa formação acontece com<br />

nuvens grandes cumulus (TCU), antes da sua transição para cumulonimbus (CB), com a maior<br />

intensidade na metade superior. Nos CB’s perfeitamente desenvolvidos, o gelo <strong>geral</strong>mente<br />

restringe-se às regiões das correntes ascendentes.<br />

• Nuvens cirriformes<br />

Raramente ocorre formação de gelo com estas modalidades de nuvens, salvo quando nelas<br />

ainda existe água super-resfriada, como é o caso dos cirrus (CI) formadores da bigorna do CB.<br />

110


3.2 - Fatores de influência na formação de gelo em aeronaves<br />

Quantidade de gotículas no ar<br />

Quanto maior, mais intenso o acúmulo de gelo formado.<br />

Temperatura do ar<br />

Quanto mais baixa, menor a presença de água gelada e, conseqüentemente, menor a<br />

quantidade de gelo formado na aeronave.<br />

Área exposta da asa da aeronave<br />

Superfície lisa dificulta a fixação do gelo, enquanto superfície rugosa facilita a fixação. Da<br />

mesma maneira, quanto maior a superfície exposta, maior a probabilidade do acúmulo.<br />

Tamanho das gotículas<br />

Gotículas maiores apresentam menor tensão superficial e com isso rompem-se mais<br />

facilmente, espalhando calor e congelando-se imediatamente.<br />

Aspecto da asa da aeronave<br />

Asa delgada acumula gelo com mais rapidez do que asa espessa, pois desvia menor<br />

quantidade de gotículas d’água.<br />

Altitude<br />

A distribuição normal da temperatura com a altitude tende a limitar a formação de gelo até<br />

os níveis máximos entre 30 000 e 35 000 pés, embora possa ocorrer raramente até 50000 pés com<br />

trovoadas e áreas frontais.<br />

Orografia<br />

Terreno irregular e montanhoso cria condições mais favoráveis ao gelo, dado a uma maior<br />

atividade convectiva. Neste caso, o maior índice a barlavento.<br />

Estação do ano<br />

Como não poderia deixar de ser, o inverno apresenta o máximo de gelo, e o verão, o<br />

mínimo. O outono secunda o inverno, e a primavera, o verão.<br />

111


TEXTO XIII<br />

CLIMATOLOGIA<br />

1 - Histórico<br />

Os gregos acreditavam que as diferenças regionais e significativas do tempo só ocorriam<br />

do norte para o sul, com regiões quentes, temperadas e frias. Foi publicada no ano 400 a.c. a<br />

primeira climatografia, “Ar, Água e Locais”, escrita por Hipócrates (filósofo grego). Só a partir do<br />

século XV, com as grandes explorações geográficas, reconheceu-se que as variações climáticas<br />

não se restringiam apenas às variações latitudinais, mas estendiam-se por áreas irregulares, sendo<br />

afetadas pela circulação <strong>geral</strong> do ar e pela distribuição dos oceanos e continentes. No século XVIII<br />

foi introduzido o uso da média aritmética no estudo do ciclo diário e anual dos elementos<br />

climáticos, numa tentativa de eliminar erros nas medições.<br />

A utilização da cartografia em Climatologia foi inserido por Von Humboldt, em 1817, que<br />

preparou mapas de isotermas anuais para algumas regiões do hemisfério norte. A introdução da<br />

análise dos ventos nos estudos climáticos ocorreu em 1820, junto com os conceitos de massas de<br />

ar e influências climáticas. O primeiro mapa mundial de precipitação, foi introduzido em 1845 e<br />

entre 1848 e 1860 foi produzida a 1º carta de vento para as regiões oceânicas. Anos mais tarde,<br />

organizaram-se os serviços meteorológicos de vários países, mostrando que a história da<br />

climatologia se confunde com a da <strong>meteorologia</strong>.<br />

2 - Definição de tempo e clima<br />

O tempo meteorológico é a reunião total das condições atmosféricas de um dado local num<br />

determinado instante. O clima é a integração das condições do tempo para um certo período, em<br />

uma determinada área. A climatologia é o estudo científico do clima, particularmente suas<br />

aplicações práticas. Utiliza-se dos mesmos dados básicos da <strong>meteorologia</strong>, e seu objetivo é<br />

descobrir, explorar e explicar o comportamento normal e anormal dos fenômenos atmosféricos<br />

visando ao benefício do homem. Para o estudo da climatologia necessita-se o conhecimento de<br />

muitas técnicas meteorológicas além de noções de geografia.<br />

3 - Subdivisões da climatologia<br />

Basicamente existem os seguintes métodos de trabalho em climatologia:<br />

• Climatografia : representação dos dados climáticos em forma de tabelas e gráficos de uma<br />

forma descritiva.<br />

• Climatologia física e dinâmica : que se preocupa com assuntos relativos à radiação, troca de<br />

calor e movimentos atmosféricos, sob o ponto de vista científico.<br />

• Climatologia aplicada : análise científica dos dados climáticos a fim de aplicá-los às diversas<br />

áreas de atividades humanas como indústrias, agricultura, florestas, medicina, etc.<br />

A climatologia pode também ser subdividida de acordo com a função a que se propõe,<br />

como a seguir:<br />

• Descritiva : com a finalidade de fornecer dados climatológicos de uma maneira fácil de se<br />

entender.<br />

• Estatística : traduz o montante de dados climáticos em dados mais compactos e precisos.<br />

112


• Matemática : representação matemática dos aspectos climáticos.<br />

• Sinótica : uso da climatologia no auxílio à previsão do tempo.<br />

• Microclimatologia : que estuda os aspectos climáticos da camada atmosférica junto à<br />

superfície.<br />

• Mesoclimatologia : estudo de variáveis meteorológicas que afetam áreas consideráveis.<br />

• Macroclimatologia : estudo de dados climáticos em escala global.<br />

4 - Elementos e fatores climáticos<br />

Elementos climáticos são as grandezas climatológicas que comunicam ao meio atmosférico<br />

suas propriedades e características. Os principais elementos são a temperatura, umidade,<br />

precipitação, vento, nebulosidade, pressão atmosférica, etc, observados nas estações sinóticas e<br />

que servem de fonte para estudos climáticos. Esses elementos variam no tempo e no espaço e são<br />

influenciados por fatores climáticos como a quantidade de energia solar emitida, variações na<br />

órbita da Terra, concentração de gás carbônico, relevo, altitude, latitude, vegetação, correntes<br />

oceânicas, etc.<br />

Várias classificações de clima foram construídas, entretanto a mais usual é a que foi<br />

instituída por Koppen, baseada em dois elementos: precipitação e temperatura.<br />

4.1 - Distribuição dos principais elementos climatológicos<br />

4.1.1 - Temperatura<br />

Sua distribuição faz-se com o traçado das isotermas. A média anual decresce do equador<br />

para os pólos, com variações provenientes das irregularidades das diversas superfícies de terra e<br />

água e da ação das correntes marítimas. A migração das isotermas faz-se com as estações do ano.<br />

A amplitude de temperatura anual é maior quanto mais se afasta do equador.<br />

4.1.2 - Precipitação<br />

Sua distribuição é feita com o traçado das isoietas – linhas de mesmo valor de precipitação.<br />

Há um máximo sobre as latitudes equatoriais e um mínimo sobre as latitudes polares, variando<br />

irregularmente, uma vez que também é maior sobre regiões mais aquecidas e menor sobre regiões<br />

mais frias e há um decréscimo dos oceanos para os continentes. Outrossim, regiões montanhosas<br />

apresentam um grande índice pluviométrico sobre os lados voltados para o mar ou para os ventos<br />

predominantes e um índice mínimo sobre o lado oposto. Regiões úmidas recebem mais de 500<br />

mm de precipitação; regiões quase desérticas ou semi-áridas, entre 250 e 500 mm, e regiões<br />

desérticas ou áridas, menos de 250 mm por ano.<br />

5 - As zonas climatológicas<br />

De um modo <strong>geral</strong>, os climas são descritos em função de uma distribuição latitudinal,<br />

dentro do que se convencionou chamar de zonas climatológicas.<br />

5.1 - Equatorial<br />

113


Apresenta um tipo quase uniforme de clima, caracterizado por uma precipitação anual<br />

muito grande (proveniente na maioria das vezes de trovoada) e por temperaturas médias<br />

normalmente elevadas. É o clima típico das florestas densas e úmidas, como a Floresta Amazônica<br />

.<br />

5.2 - Tropicais<br />

Apresentam dois regimes anuais bem-definidos: o de uma época mais quente e úmida, com<br />

elevado índice de precipitação (verão) e o de uma época mais fria e seca, com um índice mínimo<br />

de precipitação (inverno). Sobre as regiões litorâneas e sobre os oceanos predomina o chamado<br />

regime dos alíseos, caracterizado por um clima confortável. A vegetação predominante sobre estas<br />

regiões tropicais é de campo abertos ou savanas, com florestas menos densas.<br />

5.3 - Subtropicais<br />

São aquelas nas quais começam a se definir as quatro estações do ano, pois já há um<br />

Inverno frio e um verão quente, com trovoadas convectivas e muito sol. O índice de precipitação é<br />

irregular, definindo regiões desérticas ou quase desérticas.<br />

5.4 - Temperadas<br />

Apresentam uma predominância de ventos de W, e o encontro periódico das massas de ar<br />

tropical e polar. Nelas, as estações do ano são bem-definidas, pois há um inverno muito frio, um<br />

verão muito quente, um outono cinzento e uma primavera florida.<br />

5.5 - Polares<br />

Apresentam um clima sempre frio devido à presença do gelo polar que se estende mais no<br />

inverno e recua no verão, tornando difícil a sobrevivência humana nessas regiões.<br />

6 - Climas físicos<br />

Figura 51 – zonas climáticas<br />

Como já vimos, são aqueles que ocorrem dentro das zonas climatológicas, causados pelos<br />

fatores geográficos, independentemente, portanto, da latitude.<br />

114


6.1 - Climas marítimos<br />

São determinados pela influência dos oceanos. São mais úmidos e apresentam maior<br />

porcentagem de nuvens. A variação diuturna da temperatura é pequena, e os invernos são mais<br />

aquecidos.<br />

6.2 - Climas continentais<br />

São sempre mais secos que os marítimos, com invernos frios e verões quentes. O clima dos<br />

desertos é extremamente seco com uma variação diuturna de temperatura muito grande.<br />

6.3 - Climas litorâneos<br />

São os intermediários entre os marítimos e os continentais. Neles há quase sempre<br />

ocorrência de brisas, principalmente marítimas, fazendo com que sejam mais identificados como<br />

marítimos.<br />

6.4 - Climas orográficos ou de montanhas<br />

São aqueles que apresentam sempre temperaturas mais amenas, uma maior insolação e<br />

grande variação diuturna de temperatura. As noites são frias, porém bastante agradáveis.<br />

6.5 - Clima mediterrâneo<br />

É um tipo especial de clima, indicado por verão seco e inverno chuvoso, muito comum em<br />

latitudes médias, como a região do Mar Mediterrâneo, de onde se tirou o nome. Tem origem na<br />

mudança anual dos sistemas de alta e baixa pressão sobre essas regiões.<br />

7 - Princípio da teoria da modificação do tempo<br />

O homem, desde os primórdios, sempre se viu afrontado pelo seu ambiente natural e, para<br />

tanto, teve que lutar para proteger-se das duras condições que caprichosamente lhe impõe a<br />

natureza, e pode-se dizer que quase sempre foi o vencedor, muito embora, de vez em quando, essa<br />

mesma natureza lhe infrinja sérias devastações. Pelo uso da inteligência, o homem não só<br />

compreende melhor os processos naturais, como também tenta modificá-los a fim de alcançar os<br />

fins a que se propõe. Assim, cada cientista, a sua maneira, dedica-se arduamente a estudar os<br />

processos ambientais e a aplicar os resultados colhidos a fins úteis e construtivos. Na<br />

Meteorologia, além das modificações naturais do clima numa escala global, o homem também luta<br />

no intuito de modificá-lo artificialmente numa escala local. Tais modificações podem ser de dois<br />

tipos:<br />

• puramente involuntárias: contaminação do ar, desordenação urbana e rural, implantação de<br />

lagos e represas artificiais e produção ou difusão de energia de todo tipo;<br />

• absolutamente voluntárias: práticas agrícolas, dissipação de nevoeiros, eliminação de geadas,<br />

modificações em nuvem e provocação de precipitação.<br />

7.1 - Precipitação artificial<br />

Existindo nuvem no céu, dois são os casos em que a precipitação não se produzirá<br />

naturalmente:<br />

• se a temperatura for, ao longo de toda a nuvem, superior a 0ºC e a turbulência nela presente<br />

não for suficiente para misturar as gotas quentes com as gotas frias;<br />

115


• a nuvem apresenta-se em estado de super-resfriamento e assim não contém cristais de gelo<br />

para atuarem como catalisadores.<br />

No primeiro caso, basta uma projeção de água com cloreto de sódio (sal) no interior da<br />

nuvem para provocar a precipitação. É um método barato e simples.<br />

No segundo caso, basta uma projeção de partículas muito frias que se cristalizem como a<br />

água (gelo seco ou iodeto de prata) no interior da nuvem para provocar a precipitação. Trata-se de<br />

um método mais caro, porém de melhores resultados. O processo que melhor se aprovou foi a<br />

semeadura com gelo seco, demonstrando que é possível produzir até mesmo chuva forte em<br />

algumas ocasiões a partir de nuvens cumulus.<br />

116


TEXTO XIV<br />

METEOROLOGIA ESPACIAL<br />

1 - Introdução<br />

Uma vez que os serviços meteorológicos convencionais não cobrem toda a superfície do<br />

globo terrestre e há a necessidade de vigilância permanente sobre os fenômenos atmosféricos,<br />

principalmente os mais violentos, o caminho mais adequado foi o estabelecimento, pela<br />

Comunidade Meteorológica Mundial, de um sistema eficaz de observações. Esse novo sistema<br />

passou a se chamar Meteorologia Espacial ou Cósmica, que se vale de satélites e radar<br />

meteorológicos para atingir seus objetivos. Essas ferramentas modernas são o suporte<br />

indispensável de que dispõe o meteorologista moderno para o perfeito preparo das previsões.<br />

Vale lembrar que até 1960 não havia como detectar precisamente formação de furacões e<br />

tempestades e seus movimentos, acarretando prejuízo material e perdas de vida. A partir de 1º de<br />

abril de 1960, com o lançamento do satélite TIROS-1, tornou-se capaz a observação desses<br />

fenômenos em todas as regiões da superfície terrestre. Daí em diante foram e estão sendo lançados<br />

satélites cada vez mais avançados e com finalidades diversas, mas que no conjunto, visam a<br />

vigilância total e permanente das condições atmosféricas do planeta.<br />

A outra ferramenta de que dispõe o meteorologista para o preparo da previsão a curto prazo<br />

é o radar, sigla cujo significado é “Rádio, Detecção e Busca”, ou seja, detecção e medida de<br />

distância de alvos através de ondas de rádio. Inicialmente, o radar foi belicamente usado durante a<br />

2º Guerra Mundial (década de 1940) pelos americanos. Mais tarde, percebeu-se sua utilização<br />

também na detecção de formações atmosféricas pesadas (tempestades), precipitações e ventos.<br />

O emprego dessas duas ferramentas veio a ser extremamente eficaz com o surgimento e<br />

desenvolvimento dos programas operacionais de computação- os supercomputadores, capazes de<br />

processar uma enorme quantidade de informações e cálculos em frações de segundo e através de<br />

modelos matemáticos de prognósticos de tempo, fornecer as condições atmosféricas observadas<br />

sob a forma de previsão meteorológica.<br />

2 - Satélites meteorológicos<br />

2.1 - Generalidades<br />

Os satélites meteorológicos são equipados com sensores, chamados radiômetros, que<br />

formam o conjunto denominado sensoriamento remoto, pois a aquisição de dados de um alvo<br />

ocorre sem o contato entre o alvo e o sensor. Isso é possível graças ao transporte de informação<br />

(energia) por meio de ondas eletromagnéticas, que ao atingir a atmosfera, dependendo da natureza<br />

do alvo, são refletidas e/ ou absorvidas. Chamamos janela atmosférica a faixa de frequência de<br />

radiação que se propaga livremente pela atmosfera sem ser absorvida por nenhum elemento da<br />

mesma ( nuvem, por exemplo). Os satélites, então, são construídos para se aproveitarem dessas<br />

janelas, pois desse modo, a radiação refletida ou emitida pelas nuvens retorna para o satélite sem<br />

interrupção, como se a atmosfera fosse transparente para essa faixa de frequência.<br />

2.2 - Tipos de órbita dos satélites meteorológicos<br />

São dois os tipos de órbita: polar e equatorial.<br />

2.2.1 - Satélites de órbita polar<br />

117


Movendo-se de pólo a pólo do globo a auma altitude de 800 a 1200 km, estes satélites<br />

orbitam com uma inclinação de 98º em relação ao plano do equador. Possuem um ciclo<br />

heliossíncrono, ou seja, passam pelo mesmo ponto da Terra no mesmo horário solar (hora<br />

corrigida em função dos movimentos da Terra em relação ao Sol). A faixa da superfície terrestre<br />

explorada por esses satélites é de 3000 km, com período orbital de 102 minutos, acarretando 14<br />

voltas por dia ao redor do globo.<br />

O primeiro satélite de órbita polar foi lançado pelos Estados Unidos, o TIROS-1, em 1º de<br />

abril de 1960, colocando o país a frente do sistema. Outros satélites americanos foram enviados ao<br />

espaço mais tarde, sendo o avançado TIROS-N o melhor protótipo até hoje lançado pela NOAA,<br />

agência americana que coordena o programa de satélites meteorológicos.<br />

2.2.2 - Satélites Geoestacionários ou de órbita equatorial<br />

Os satélites geoestacionários, identificados pela sigla GOES, orbitam pelo planeta a uma<br />

altitude aproximada de 36000 km sobre o equador, com a mesma velocidade angular da Terra,<br />

fazendo com que cubram sempre a mesma área do globo, daí então serem chamados de<br />

geoestacionários. Um de seus principais objetivos é a obtenção de observações repetidas, o que<br />

permite o acompanhamento de sistemas meteorológicos severos através do recurso de animação de<br />

imagens.<br />

Os satélites americanos GOES, de acordo com a finalidade, podem medir a cobertura de<br />

nuvem, neve e gelo, temperatura da superfície dos oceanos, gradiente vertical, vento, cinzas<br />

vulcânicas, camada de ozônio, entre outros. Podem agir também como retransmissores de dados<br />

enviados por outros satélites ou de estações coletoras de dados meteorológicos na superfície.<br />

Atualmente, dois satélites GOES americanos cobrem a superfície da Terra, sendo um<br />

localizado a 75º W ( GOES este) e outro a 135º W (GOES oeste), com a incumbência de vigiar as<br />

Américas do Sul e do Norte, bem como os oceanos Atlântico e Pacífico.<br />

O 1º satélite de órbita equatorial americano lançado foi o ATS-1, em 1966, e anos mais<br />

tarde o SMS-1. Em 1974 lançou-se o 1º satélite da série GOES, o GOES-1, precursor de uma série<br />

que opera até hoje ( GOES 8, 9, 11 e 12).<br />

figura 52 – órbitas dos satélites meteorológicos<br />

2.3 - Operação de satélites meteorológicos nos dias de hoje<br />

118


Além dos Estados Unidos, o Japão, a Rússia, a Índia, a China e a Europa operam satélites<br />

geoestacionários e polares. O objetivo da OMM, que junto com esses países coordena o programa<br />

de satélites meteorológicos é fazer com que a Terra fique coberta por, no mínimo, 05 satélites<br />

separados de 70º de longitude cada, propiciando uma observação global e frequente ( imagens a<br />

cada 30 minutos). Para isso, atualmente (dados de 2002), fazem essa cobertura 2 satélites<br />

americanos (GOES este e oeste), 2 satélites europeus (METEOSAT 5 e 7), o japonês GMS-5, o<br />

russo GOMS, um chinês (FY-28) e o satélite indiano INSAT II. Completando essa rede de<br />

satélites equatoriais, além dos satélites americanos de órbita polar, operam os satélites russos<br />

OKEAN e METEORO e o chinês FY-1.<br />

2.4 - Tipos de imagens fornecidas pelos satélites meteorológicos<br />

As imagens fornecidas pelos satélites meteorológicos baseiam-se no espectro visível,<br />

infravermelho e banda de vapor d’água, todas necessárias para uma melhor interpretação das<br />

condições meteorológicas numa imagem, normalmente apresentada em 256 tons de cinza.<br />

2.4.1 - Imagem do espectro visível<br />

Indica a quantidade de radiação solar refletida pelas diversas superfícies da Terra, dando<br />

uma indicação do albedo dos alvos refletidos. Por convenção, tons claros de cinza indicam áreas<br />

de alta refletividade e tons escuros mostram regiões de baixo albedo. A refletividade de uma<br />

nuvem está diretamente ligada a sua espessura e quantidade de gotículas de água que contém. Essa<br />

imagem só pode ser obtida durante o dia na região coberta pelo satélite.<br />

2.4.2 - Imagem do espectro infravermelho<br />

Indica a quantidade de energia infravermelha emitida pela superfície terrestre e atmosfera,<br />

sendo essencialmente uma imagem representativa da temperatura das superfícies que emitem essa<br />

radiação. Convencionou-se que áreas frias apareceriam em tons claros de cinza ou brancas (topo<br />

de nuvens) e áreas quentes em tons escuros (continentes).<br />

2.4.3 - Imagem baseada no vapor d’água<br />

É uma imagem usada para localizar largas concentrações de vapor d’água nas camadas<br />

médias e altas da troposfera (entre 6 e 10 km de altitude), através de radiação absorvida pelo<br />

próprio vapor d’água. Estabeleceu-se que regiões de alta concentração seriam mostradas em tons<br />

claros de cinza nas imagens.<br />

2.5 - Obtenção de imagens<br />

Existem variadas maneiras de obtenção de imagens como recepção direta,<br />

telecomunicações, cd-rom e televisão. Cada um dos métodos tem suas vantagens, determinadas<br />

pela disponibilidade, qualidade e seleção da imagem, além do orçamento e finalidade do serviço.<br />

3 - O radar meteorológico<br />

3.1 - Introdução<br />

Um dos maiores progressos derivados dos esforços de guerra dos Estados Unidos durante a<br />

2º Guerra Mundial foi o desenvolvimento do radar - sistema de detecção de objetos ou partículas<br />

através da emissão e recepção de ondas eletromagnéticas. Embora desenvolvido inicialmente para<br />

detectar a movimentação de aeronaves, tropas e embarcações marítimas, logo se percebeu que o<br />

119


adar poderia auxiliar na detecção e acompanhamento de tempestades (células de trovoadas) por<br />

reflexão de ondas em gotas de chuva, gelo e outros componentes.<br />

3.2 - Características diversas<br />

O radar é um sistema eletrônico capaz de transmitir um sinal eletromagnético (onda com<br />

velocidade de 300000 km/s) dividido em pedaços chamados “pulsos”, e receber de volta os ecos<br />

dos alvos detectados. De acordo com as alterações nas características dos sinais recebidos (efeito<br />

Doppler), mede a velocidade, densidade e o deslocamento das formações meteorológicas.<br />

Algumas vezes, objetos naturais ou artificiais que se encontram no percurso das ondas<br />

eletromagnéticas são detectados. Esses objetos denominados “ clutter”, podem ser montanhas,<br />

edifícios, ecos do mar, entre outros.<br />

A cobertura teórica do radar meteorológico é de 400 km, com ângulo de elevação baixo,<br />

para o modo de operação vigilância. Quando usado para detecção e análise de nuvens, sua<br />

cobertura se restringe a 200 km, pois neste caso, necessita-se de maior precisão dos dados obtidos<br />

(inversamente proporcional à distância).<br />

Podem operar em diversas bandas de frequência, de acordo com o tipo de fenômeno a ser<br />

avaliado. Os radares meteorológicos usados para detecção de formações tempestuosas operam com<br />

banda S ( λ = 10 cm, frequência entre 2,7 e 2,9 GHz) para detectar gotículas de até 7 milímetros de<br />

diâmetro.<br />

A resolução de uma varredura efetuada pelo radar depende da distância entre os alvos pois<br />

alvos muitos próximos entre si podem ser representados com um único sistema de tempestades.<br />

Existem três tipos de varredura ( rastreamento) efetuadas pelo radar:<br />

• em azimute : horizontal, consiste de vários ângulos horizontais e um ângulo de elevação; esse<br />

modo é usado para vigilância de fenômenos à grandes distâncias ( acima de 200 km);<br />

Figura 53 – varredura em azimute<br />

• em elevação : vertical, vários ângulos de elevação e um só ângulo azimutal; usado para análise<br />

de fenômenos, como células de trovoadas.<br />

120


Figura 54 – varredura em elevação<br />

• volumétrica : combinação dos dois modos anteriores, ou seja, vários ângulos de azimute e<br />

vários ângulos de elevação, um por vez. Permite a análise da atmosfera local devido ao maior<br />

número de dados extraídos.<br />

Figura 55 - varredura volumétrica<br />

O equipamento em si é composto de várias partes, como modulador, oscilador,<br />

transmissor, receptor, visualizador, antena, etc. De acordo com o sistema de antenas usado, pode<br />

ser classificado como primário (uma antena emite e recebe os sinais) ou secundário (uma antena<br />

para emissão, outra para recepção dos ecos).<br />

3.3 - Características operacionais do radar<br />

A rede de radares proporciona o monitoramento das condições atmosféricas de forma<br />

contínua, oferecendo vigilância meteorológica efetiva para as regiões cobertas por eles.<br />

Os radares são operados remotamente (à distância) a partir dos Centros Meteorológicos de<br />

Vigilância a que estão subordinados. As informações extraídas do radar são disponibilizadas nos<br />

centros meteorológicos através do Posto de Visualização Remota (PVR) para apoiar as previsões e<br />

121


informar aos aeronavegantes. Os PVR são computadores equipados com um software apropriado<br />

denominado comumente de “colibri”, capaz de permitir a utilização de recursos e visualização de<br />

imagens do radar meteorológico. O radar pode ser operado de três formas:<br />

• Local : na própria estação de radar (ERM). Esse método só é usado para fins de teste,<br />

calibração e manutenção do equipamento; não requer a presença de profissional de<br />

<strong>meteorologia</strong>.<br />

• Remota próxima : a operação remota próxima é efetuada por intermédio da LOW (forma de<br />

operação remota próxima ao radar), localizada dentro da ERM e que permite a confecção de<br />

varreduras e produtos (imagens do radar); entretanto é utilizada eventualmente.<br />

• Remota distante : é efetuada por intermédio da ROW ( forma de operação do radar afastada da<br />

estação), localizada fora e distante da ERM, compondo com outras ROW, o Centro de<br />

Operação Remota (ROC). O Centro de Operação Remota localiza-se no CMV pesponsável<br />

pela área de cobertura dos radares. Esse modo de operação é o mais usado, permitindo a<br />

elaboração de vários tipos de imagens geradas pelo radar.<br />

Figura 56 – operação do radar meteorológico<br />

Em síntese, os operadores dos PVR solicitam aos operadores da ROW as imagens, que são<br />

obtidas através de varreduras feitas pelo radar. Essas imagens então são disponibilizadas para o<br />

Posto de Visualização Remota solicitante que as utiliza para dar informações aos aeronavegantes e<br />

no auxílio à previsão.<br />

Os produtos gerados pelo radar contém as seguintes características:<br />

• taxa de refletividade das formações, expressa em decibéis (dBz);<br />

• velocidade dos sistemas detectados;<br />

• turbulência dentro das formações; e<br />

• potencial de chuva ou água precipitável existente nas tempestades.<br />

3.4 - Visão <strong>geral</strong> da rede de radares meteorológicos<br />

A rede de ERM que está sendo implantada pelo DECEA é composta de três fases:<br />

122


• 1ª fase = instalação de 10 radares na região Centro-Sul do país, devido ao intenso tráfego de<br />

aeronaves e por ser influenciada diretamente por frentes frias.<br />

• 2ª fase = 10 radares na região amazônica a serem instalados pelo SIVAM (Sistema de<br />

Vigilância da Amazônia).<br />

• 3ª fase = complementação da rede com mais 11 radares estrategicamente localizados de modo<br />

a cobrir todo o território nacional.<br />

Figura 57 – visão <strong>geral</strong> da rede de radares meteorológicos<br />

123


124


BIBLIOGRAFIA<br />

• ANTAS, Luiz Mendes. Glossário de termos técnicos. São Paulo: Traço, 1979.<br />

• BLAIR, Thomas. Meteorologia. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1964.<br />

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Stilo, 2002.<br />

• RIHEL, Herbert. Meteorologia tropical. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1965.<br />

• VIANELLO, Rubens; ALVES, Adil Rainier. Meteorologia básica e aplicações. Viçosa: UFV,<br />

1991.<br />

• NASCIMENTO, F. J. Lino do. Meteorologia Descritiva. São Paulo : Nobel, 1986.<br />

• VAREJÃO-SILVA, M.A.. Meteorologia e Climatologia - 2º edição. Brasília : Pax, 2001 .<br />

• COMANDO DA AERONÁUTICA. Instituto de Proteção ao Vôo. Operação de Posto de<br />

Visualização Remota. São José dos Campos, 2003.<br />

125

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