riscos para as crianças na cadeia alimentar - Nestlé
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NESTLÉ NUTRITION WORKSHOP SERIES<br />
Programa Pediátrico<br />
No. 44<br />
RISCOS PARA AS CRIANÇAS<br />
NA CADEIA ALIMENTAR<br />
NESTLÉ NUTRITION SERVICES
© Nestec S.A. Avenue <strong>Nestlé</strong> 55, CH-1800 Vevey, Suíça<br />
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá<br />
ser reproduzida, armaze<strong>na</strong>da em um sistema que permita sua recuperação<br />
ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico,<br />
mecânico, por fotocópia ou de qualquer outra <strong>na</strong>tureza, a não ser que<br />
seja obtida autorização especial por escrito.<br />
O conteúdo desta publicação foi enviado ao editor como material inédito<br />
exceto nos c<strong>as</strong>os em que é feita referência às fontes de onde foram<br />
obtid<strong>as</strong> parte d<strong>as</strong> ilustrações. Nestec S.A. e <strong>Nestlé</strong> Br<strong>as</strong>il Ltda. não<br />
podem ser considerad<strong>as</strong> responsáveis por possíveis erros ou omissões e<br />
tampouco por qualquer conseqüência decorrente do mau uso da<br />
informação contida neste texto.<br />
© 1999, Nestec Ltd., Vevey, Suíça
RISCOS PARA AS CRIANÇAS<br />
NA CADEIA ALIMENTAR<br />
Resumo do<br />
44º<br />
Seminário de<br />
<strong>Nestlé</strong> Nutrition<br />
NESTLÉ NUTRITION SERVICES
Índice dos <strong>as</strong>suntos<br />
iv Prefácio<br />
1 Desenvolvimento de mecanismos metabólicos <strong>para</strong> os xenobióticos<br />
THIERRY CRESTEIL<br />
4 Com<strong>para</strong>ção entre exposição durante a primeira infância e idade<br />
adulta <strong>na</strong> expressão do câncer<br />
HEINO HIETANES e H. VAINIO<br />
7 Efeitos sobre a reprodução: desorganização do sistema endócrino<br />
STEPHEN H. SAFE<br />
10 Efeitos da exposição peri<strong>na</strong>tal a níveis ambientais de bifenis<br />
policlorados e dioxin<strong>as</strong><br />
E. RUDY BOERSMA<br />
13 Conseqüênci<strong>as</strong> de longo prazo sobre a saúde: a imunotoxicidade<br />
GARY A. BANNON<br />
15 O trato g<strong>as</strong>trintesti<strong>na</strong>l e o enfrentamento dos <strong>riscos</strong> oriundos da<br />
<strong>cadeia</strong> <strong>alimentar</strong> de crianç<strong>as</strong><br />
JEAN-FRANÇOIS DESJEUX e M. BOISSET<br />
19 Toxicidade hepática: mecanismos, detecção e suscetibilidade<br />
d<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong><br />
J. KEVIN CHIPMAN<br />
21 Avaliação dos níveis aceitáveis de ingestão<br />
RON WALKER<br />
24 Problem<strong>as</strong> peculiares no estabelecimento de limites<br />
<strong>para</strong> os elementos essenciais do alimento<br />
GEORGE C. BECKING<br />
27 O processo de avaliação e caracterização dos <strong>riscos</strong><br />
RON HOOGENBOOM<br />
ii
30 O processo de avaliação da exposição a substânci<strong>as</strong><br />
potencialmente tóxic<strong>as</strong><br />
JACOB D. VAN KLAVEREN, M. M. H. VAN DOOREN,<br />
D. KLOET e H. A. KUIPER<br />
33 Riscos <strong>para</strong> os lactentes <strong>na</strong> <strong>cadeia</strong> <strong>alimentar</strong>:<br />
Exposição através do leite materno<br />
WALTER J. ROGAND e N B. RAGAN<br />
35 Contami<strong>na</strong>ção ambiental, diarréia e doenç<strong>as</strong> transmitid<strong>as</strong><br />
pelo alimento<br />
MICHAEL GRACEY<br />
38 Avaliação e manejo do perigo dos pesticid<strong>as</strong> tóxicos <strong>na</strong> produção<br />
de “baby food” e no desenvolvimento de novos produtos<br />
BENOÎT SCHILTER<br />
42 Encefalopatia Espongiforme Bovi<strong>na</strong> (EEB) e saúde pública<br />
HEINO DIRINGER<br />
45 Novos alimentos e novos <strong>riscos</strong> <strong>na</strong> <strong>cadeia</strong> <strong>alimentar</strong><br />
JEAN-MICHEL WAL e G. PASCAL<br />
48 Agenda do Seminário<br />
50 Participantes<br />
iii
Prefácio<br />
O 44 0 Seminário de <strong>Nestlé</strong> Nutrition está relacio<strong>na</strong>do com os perigos<br />
potenciais presentes <strong>na</strong> <strong>cadeia</strong> <strong>alimentar</strong>. Difere dos seminários anteriores<br />
que abordaram os benefícios do alimento, do nutriente, dos conceitos da<br />
nutrição e doenç<strong>as</strong> a ela relacio<strong>na</strong>d<strong>as</strong>.<br />
Os perigos presentes <strong>na</strong> <strong>cadeia</strong> <strong>alimentar</strong> podem estar relacio<strong>na</strong>dos<br />
com a seleção de matéri<strong>as</strong> prim<strong>as</strong>, embora a elaboração e o enriquecimento<br />
dos alimentos também tenham importância significativa. Os alimentos<br />
que são seguros <strong>para</strong> adultos não são necessariamente adequados<br />
<strong>para</strong> lactentes e crianç<strong>as</strong> pequen<strong>as</strong>. As crianç<strong>as</strong> não são “pequenos adultos”<br />
e muitos dos princípios da toxicologia clássica não se aplicam a el<strong>as</strong>.<br />
A extrapolação de experiênci<strong>as</strong> em animais ou a interpretação de experiênci<strong>as</strong><br />
realizad<strong>as</strong> com populações adult<strong>as</strong> é difícil.<br />
A interpretação da informação publicada requer os esforços combi<strong>na</strong>dos<br />
de toxicólogos, de pesquisadores que trabalham no campo da genética<br />
e da biologia molecular, dos legisladores e dos pediatr<strong>as</strong>. Este campo<br />
não deveria ser domi<strong>na</strong>do por ativist<strong>as</strong> que às vezes enfocam tópicos<br />
específicos e proporcio<strong>na</strong>m informação seletiva ao público sem permitir<br />
uma adequada avaliação científica dos problem<strong>as</strong>. Este Seminário focaliza<br />
<strong>as</strong> substânci<strong>as</strong> cujos níveis superiores de consumo são objeto de debate<br />
- tóxicos <strong>na</strong>turais, aditivos, contami<strong>na</strong>ntes da <strong>cadeia</strong> <strong>alimentar</strong> e resíduos<br />
de produtos químicos. Para os alimentos produzidos pela indústria a<br />
segurança é a principal consideração. Por isso, o Seminário representa<br />
uma importante contribuição cujo objetivo é de oferecer sempre maior<br />
segurança de qualidade e do manejo adequado dos <strong>riscos</strong>.<br />
Gostaria de agradecer aos coorde<strong>na</strong>dores, Professor Peter Aggett e Dr.<br />
Harry Kuiper, por ter elaborado o programa deste Seminário e à <strong>Nestlé</strong><br />
da República Tcheca pela recepção calorosa, a excelente organização e o<br />
apoio logístico.<br />
PROFESSOR FERDINAND HASCHKE M.D.<br />
Vice-presidente<br />
Nestec S/A, Vevey, Suíça<br />
iv
Desenvolvimento de mecanismos<br />
metabólicos <strong>para</strong> os xenobióticos<br />
THIERRY CRESTEIL<br />
Os xenobióticos são molécul<strong>as</strong> hidrófob<strong>as</strong> exógen<strong>as</strong> que antes de<br />
serem excretad<strong>as</strong> pelo organismo em forma hidrossolúvel requerem<br />
biotransformações prévi<strong>as</strong>. Há du<strong>as</strong> etap<strong>as</strong> de biotransformação: <strong>na</strong><br />
primeira, os xenobióticos são oxidados principalmente por enzim<strong>as</strong> do<br />
citocromo P450 (proteín<strong>as</strong> CYP [1]) enquanto <strong>na</strong> segunda etapa est<strong>as</strong><br />
molécul<strong>as</strong> são conjugad<strong>as</strong> a aceptores celulares pela ação da UDPglicuronosil<br />
transfer<strong>as</strong>e ou a glutation S-transfer<strong>as</strong>e. Durante a primeira<br />
etapa os xenobióticos podem ser transformados em molécul<strong>as</strong> i<strong>na</strong>tiv<strong>as</strong><br />
(destoxificação) ou em metabólitos reativos (ativação) que podem ser<br />
carcinógenos ou produzir reações tóxic<strong>as</strong>.<br />
As proteín<strong>as</strong> CYP são <strong>as</strong> principais enzim<strong>as</strong> que participam da oxidação<br />
dos xenobióticos. Nos seres humanos foram identificad<strong>as</strong> e clo<strong>na</strong>d<strong>as</strong><br />
mais de 15 isoform<strong>as</strong> de CYP. A expressão dess<strong>as</strong> isoform<strong>as</strong> se faz em<br />
diferentes níveis do fígado que é o principal órgão em que se produzem<br />
<strong>as</strong> biotransformações, e nos tecidos extra-hepáticos. Tais isoform<strong>as</strong> apresentam<br />
uma ampla e sobreposta especificidade de substratos.<br />
A ontogenia d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> CYP foi investigada, pela primeira vez, no<br />
fígado fetal [2]. Foi possível demonstrar que a maior parte d<strong>as</strong> CYP<br />
estavam presentes no fígado fetal, que somente <strong>as</strong> CYP3A7 e CYP4A<br />
eram express<strong>as</strong> durante a vida fetal e que atuavam principalmente sobre<br />
esteróides e ácidos graxos. A evolução pós-<strong>na</strong>tal d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> CYP foi<br />
investigada em um banco de tecido hepático. Usando a técnica do<br />
“immunoblotting”, medição d<strong>as</strong> atividades enzimátic<strong>as</strong> e determi<strong>na</strong>ção<br />
do acúmulo de ARN, foi possível caracterizar o começo do aparecimento<br />
d<strong>as</strong> CYP durante o período pós-<strong>na</strong>tal. As CYP2D6, 2E1, 3A4 e 2C9 -<br />
que atuam sobre os xenobióticos - desenvolvem-se dentro dos primeiros<br />
di<strong>as</strong> ou seman<strong>as</strong> depois do n<strong>as</strong>cimento e alcançam os níveis do adulto<br />
nos lactentes de um ano de idade. A CYP1A2 que foi implicada <strong>na</strong><br />
bioativação de procarcinógenos começa a aumentar somente durante o<br />
primeiro trimestre da vida extra-uteri<strong>na</strong> e aumenta lentamente durante<br />
o primeiro ano de vida. A evolução pós-<strong>na</strong>tal d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> CYP não é<br />
afetada de maneira significativa pela idade gestacio<strong>na</strong>l no momento do<br />
1
4A<br />
3A7<br />
2D6<br />
2E1<br />
3A4<br />
2C9<br />
1 ano<br />
1-3 meses<br />
1A2<br />
1-7 di<strong>as</strong><br />
3-12 meses<br />
>30 seman<strong>as</strong><br />
< 30 seman<strong>as</strong> < 24 hor<strong>as</strong> 8-28 di<strong>as</strong><br />
adultos<br />
FIGURA 1 - Evolução d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> CYP no fígado durante o desenvolvimento. As<br />
proteín<strong>as</strong> CYP foram determi<strong>na</strong>d<strong>as</strong> por métodos imunoquímicos (CYP1A2, 2C9, 2E1,<br />
2D6 e 4A) ou quantificad<strong>as</strong> através de sua atividade enzimática (CYP3A4 e 3A7) nos<br />
microssom<strong>as</strong> hepáticos. As amostr<strong>as</strong> foram se<strong>para</strong>d<strong>as</strong> de acordo com a idade. O conteúdo<br />
de CYP foi padronizado em relação com valores determi<strong>na</strong>dos em amostr<strong>as</strong> de adultos,<br />
exceto no c<strong>as</strong>o da CYP3A7, <strong>para</strong> a qual o valor máximo foi encontrado em recémn<strong>as</strong>cidos<br />
com 1-7 di<strong>as</strong> de idade.<br />
n<strong>as</strong>cimento - a maturação d<strong>as</strong> CYP é independente da idade gestacio<strong>na</strong>l<br />
dentro da margem de 25 a 40 seman<strong>as</strong>. A evolução d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> CYP<br />
no fígado humano durante o desenvolvimento aparece <strong>na</strong> Figura 1.<br />
A atividade da UDP-glicuronosiltransfer<strong>as</strong>e também é baixa no fígado<br />
fetal e desenvolve-se n<strong>as</strong> seman<strong>as</strong> posteriores ao n<strong>as</strong>cimento; em<br />
compensação, <strong>as</strong> glutation S-transfer<strong>as</strong>es estão presentes em níveis baixos<br />
m<strong>as</strong> quantificáveis no fígado fetal antes que se produza um segundo e<br />
rápido incremento depois do n<strong>as</strong>cimento.<br />
2
Conclusões<br />
As proteín<strong>as</strong> CYP podem ser cl<strong>as</strong>sificad<strong>as</strong> de acordo com seu perfil<br />
de evolução, em três grupos: i) um grupo fetal que se expressa muito<br />
precocemente no primeiro trimestre de gestação e que compreende <strong>as</strong><br />
CYP3A7 e CYP4A. Est<strong>as</strong> du<strong>as</strong> enzim<strong>as</strong> CYP são ativ<strong>as</strong> especialmente<br />
sobre substratos endógenos (esteróides, ácidos graxos) e também sobre<br />
alguns substratos exógenos; ii) um grupo neo<strong>na</strong>tal que compreende <strong>as</strong><br />
CYP2D6, 2E1, 3A4 e 2C que aparecem ao fim de hor<strong>as</strong> ou di<strong>as</strong> depois<br />
do n<strong>as</strong>cimento e alcançam os valores do adulto no lactente de um ano<br />
de idade; e iii) um grupo neo<strong>na</strong>tal tardio (CYP1A2) que se desenvolve<br />
ao cabo de seman<strong>as</strong> ou meses depois do n<strong>as</strong>cimento e aumenta lentamente<br />
durante a infância.<br />
Em conclusão, <strong>as</strong> enzim<strong>as</strong> que metabolizam os xenobióticos desenvolvem-se<br />
rapidamente no fígado humano depois do n<strong>as</strong>cimento, seja<br />
qual for a idade gestacio<strong>na</strong>l no momento do parto. Embora a capacidade<br />
do fígado humano de biotransformar e elimi<strong>na</strong>r xenobióticos durante o<br />
período neo<strong>na</strong>tal seja menor do que durante a idade adulta, ainda é<br />
efetiva.<br />
Bibliografia<br />
1. Nelson DR, Koymans L, Kamataki T, e cols. P450 superfamily: update on new<br />
sequences, gene mapping, accession numbers and nomenclature. Pharmac<br />
genetics 1996;6:1-42.<br />
2. Cresteil T, Beaune P, Kremers P, e cols. Drug-metabolizing enzymes in human<br />
fetal liver: partial resolution of multiple cytochromes P450. Pediatr Pharmacol<br />
1982;2:199-207.<br />
3
Com<strong>para</strong>ção entre exposição durante<br />
a primeira infância e idade adulta<br />
<strong>na</strong> expressão do câncer<br />
HEINO HIETANEN e H. VAINIO<br />
O aumento do risco de câncer relacio<strong>na</strong>-se com a interação entre a<br />
exposição a <strong>riscos</strong> e fatores do hospedeiro que provavelmente começam<br />
durante a infância. Muitos compostos são transformados em metabólitos<br />
eletrofílicos reativos pela ação oxidativa d<strong>as</strong> enzim<strong>as</strong> relacio<strong>na</strong>d<strong>as</strong> com<br />
o citocromo P450, enquanto outr<strong>as</strong> enzim<strong>as</strong> podem destoxificar <strong>as</strong> form<strong>as</strong><br />
oxidad<strong>as</strong> dos carcinógenos. Assim, a ação conjunta dess<strong>as</strong> enzim<strong>as</strong><br />
e a exposição aos xenobióticos e fatores do hospedeiro são cruciais <strong>na</strong><br />
determi<strong>na</strong>ção do destino biológico fi<strong>na</strong>l de uma determi<strong>na</strong>da substância<br />
química [1] (Fig. 1).<br />
Em animais de experiência a exposição durante a etapa neo<strong>na</strong>tal<br />
combi<strong>na</strong>da com a exposição contínua à substância em teste ao longo da<br />
vida, produz incidência maior de tumores e menor latência até seu<br />
aparecimento [2-4]. É maior a incidência de tumores em múltiplos locais<br />
de órgãos <strong>na</strong> exposição do adulto à aflatoxi<strong>na</strong> B1, ao anetol, estragol,<br />
DDT e ao safrol em com<strong>para</strong>ção com roedores expostos aos mesmos<br />
compostos durante o período peri<strong>na</strong>tal. Inversamente, os tumores surgem<br />
com maior incidência ou em múltiplos locais de órgãos durante a exposição<br />
peri<strong>na</strong>tal acrescida de exposição <strong>na</strong> idade adulta à dietilnitrosami<strong>na</strong><br />
(DEN), ao dieldrin, à etil-enetiuréia (ETU), etil-nitrosuréia (ENU) e<br />
dietilestilbestrol (DES). Eugenol e sacari<strong>na</strong> provocam maior aumento de<br />
tumores quando soma-se a exposição peri<strong>na</strong>tal à exposição adulta do<br />
que no c<strong>as</strong>o da exposição adulta somente.<br />
O Instituto Nacio<strong>na</strong>l d<strong>as</strong> Ciênci<strong>as</strong> da Saúde Ambiental (Natio<strong>na</strong>l<br />
Institute of Environmental Health Sciences [NIEHS]) realizou estudos<br />
<strong>para</strong> exami<strong>na</strong>r a influência da exposição peri<strong>na</strong>tal e adulta a três conhecidos<br />
agentes carcinógenos <strong>para</strong> animais: 5,5 difenil-hidantoí<strong>na</strong> (DPH),<br />
etil-enetiuréia (ETU) e bifenis polibromados (PBB) [5]. Os efeitos<br />
tumorigênicos da ETU não foram afetados pela administração peri<strong>na</strong>tal<br />
a ratos e camundongos. A exposição à DPH exclusivamente durante a<br />
etapa peri<strong>na</strong>tal não aumentou os tumores nos ratos m<strong>as</strong> produziu um<br />
4
pequeno aumento dos tumores hepatocelulares nos camundongos<br />
fême<strong>as</strong>. A administração de PBB limitada à etapa peri<strong>na</strong>tal aumentou<br />
de maneira margi<strong>na</strong>l a incidência de tumores hepatocelulares só nos<br />
ratos machos, enquanto a mesma exposição peri<strong>na</strong>tal exclusiva produzia<br />
tumores hepatocelulares em camundongos de ambos os sexos.<br />
Fatores do hospedeiro<br />
Atividade física<br />
Doenç<strong>as</strong> hepátic<strong>as</strong><br />
Outr<strong>as</strong> doenç<strong>as</strong><br />
Ambiente hormo<strong>na</strong>l<br />
Fatores imunológicos<br />
Fatores genéticos<br />
Idade, sexo<br />
Polimorfismo<br />
Mutações<br />
Fatores ambientais<br />
Drog<strong>as</strong><br />
Fumo<br />
Alcoolismo<br />
Exposições ocupacio<strong>na</strong>is<br />
Fatores dietéticos<br />
Produtos químicos<br />
Poluição<br />
Variabilidade do metabolismo<br />
Farmacocinética<br />
Toxicocinética<br />
Ativação metabólica<br />
FIGURA 1 - Interações hospedeiro-meio ambiente <strong>na</strong> regulação d<strong>as</strong> biotransformações<br />
Estes estudos sugerem: 1) que a exposição peri<strong>na</strong>tal sozinha não<br />
aumenta consistentemente a incidência dos tumores; 2) que se observam<br />
tipos semelhantes de tumores em tecidos semelhantes com exposições<br />
unicamente durante a etapa peri<strong>na</strong>tal ou unicamente durante a<br />
etapa adulta; e 3) a exposição conjunta durante a etapa peri<strong>na</strong>tal e <strong>na</strong><br />
idade adulta resulta em incidência mais elevada de tumores, em com<strong>para</strong>ção<br />
com qualquer outro tipo de exposição. Certa substânci<strong>as</strong><br />
carcinógen<strong>as</strong> como a DEN, o dieldrin, a ETU, ENU e DES expressam<br />
todo seu potencial carcinogênico quando se somam a exposição à idade<br />
adulta com a peri<strong>na</strong>tal no projeto experimental. No entanto, a partir de<br />
5
observações em seres humanos sabemos que alguns destes produtos<br />
químicos, especialmente o DES, são indutores mais potentes de tumores<br />
durante os primeiros anos da idade adulta depois de uma exposição que<br />
se tenha produzido exclusivamente durante a gestação.<br />
A confluência de divers<strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong>, a falta de informação que<br />
relacione os mecanismos da carcinogênese com o metabolismo e a possibilidade<br />
de que se produza exposição durante tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> idades, inclusive<br />
a primeira infância, tor<strong>na</strong>m prudente sugerir que os ensaios de<br />
carcinogenicidade de agentes químicos que, potencialmente, podem<br />
produzir exposição muito ampla, também incluam uma f<strong>as</strong>e peri<strong>na</strong>tal.<br />
Bibliografia<br />
1. Raunio H, Husgafvel-Pursiainen K, Anttila S, e cols. Diagnosis of polymorphisms<br />
in carcinogen-activating and i<strong>na</strong>ctivating enzymes and cancer susceptibility -a review.<br />
Gene 1995; 159:113-21.<br />
2. Hattan DG. In utero ph<strong>as</strong>e carcinogenicity testing. Int J Toxicol 1998;17: 337-53.<br />
3. McConnell EE. Com<strong>para</strong>tive response in carcinogenesis bio<strong>as</strong>say <strong>as</strong> a function of<br />
age at first exposure. In: Guzelian PS, Henry CJ, Olin SS, eds. Similarities and<br />
differences between children and adults: implications for risk <strong>as</strong>sessment.<br />
W<strong>as</strong>hington DC: ILSI Press, 1992:66-78.<br />
4. Leeder JS, Kearns GL. Pharmacogeneties in pediatrics. Pediatr Clin North Am<br />
1997;44:55-77.<br />
5. US Environmental Protection Agency. Comparison of the effect of chemicals with<br />
combined peri<strong>na</strong>tal and adult exposure versus adult-only exposure in carcinogenesis<br />
bio<strong>as</strong>says. In: Report of US Environmental Protection Agency to FIFRA Scientific<br />
Advisory Panel, 29-30 October 1996. Arlington, VA, 1996: 1-31.<br />
6
Efeitos sobre a reprodução:<br />
desorganização do sistema endócrino<br />
STEPHEN H. SAFE<br />
O desenvolvimento do feto e do lactente é sensível à exposição a<br />
produtos químicos exógenos, pois observam-se agud<strong>as</strong> respost<strong>as</strong> advers<strong>as</strong><br />
durante o desenvolvimento pós-<strong>na</strong>tal precoce ou durante a idade<br />
adulta. Houve, recentemente, considerável preocupação por parte de<br />
entidades científic<strong>as</strong>, legisladores e público em geral quanto a possíveis<br />
impactos adversos sobre a saúde huma<strong>na</strong> por poluentes ambientais<br />
constituídos de compostos com atividade endócri<strong>na</strong> (CAE) que atuam<br />
n<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> metabólic<strong>as</strong> endócrin<strong>as</strong> [1].<br />
Uma d<strong>as</strong> <strong>as</strong>sociações mais importantes entre exposição a um composto<br />
químico com atividade endócri<strong>na</strong> e respost<strong>as</strong> advers<strong>as</strong> foi relatada<br />
em relação à droga dietilestilbestrol (DES). Surgiram numerosos problem<strong>as</strong><br />
de saúde em crianç<strong>as</strong> de mães que receberam o DES, inclusive<br />
carcinom<strong>as</strong> vagi<strong>na</strong>is de célul<strong>as</strong> clar<strong>as</strong> em filh<strong>as</strong> de pacientes que receberam<br />
DES; muit<strong>as</strong> dess<strong>as</strong> reações foram observad<strong>as</strong> também em estudos<br />
com animais de laboratório. A exposição in utero ao DES, por exemplo,<br />
produz deformação dos genitais em meninos bem como outr<strong>as</strong> anomali<strong>as</strong><br />
do aparelho reprodutor. Os efeitos do DES têm sido usados como<br />
apoio científico <strong>para</strong> a hipótese que propõe que os produtos químicos<br />
ativos do ponto de vista endócrino e que se encontram presentes no<br />
ambiente, especialmente os que têm atividade estrogênica, podem ser<br />
responsáveis pela diminuição global da capacidade reprodutiva dos<br />
machos. Carlsen e cols revisaram 61 estudos sobre a qualidade do sêmen<br />
de 14.947 indivíduos do sexo m<strong>as</strong>culino que não tinham história<br />
prévia de infertilidade [2]. Os resultados de meta-análise dos dados<br />
publicados entre 1938 e 1991 mostraram que a contagem média de<br />
espermatozóides diminuiu de 113 x 10 6 <strong>para</strong> 66 x 10 6 /ml e que o volume<br />
semi<strong>na</strong>l diminuiu de 3,40ml <strong>para</strong> 2,75ml entre 1940 e 1990. A diminuição<br />
da contagem de espermatozóides é <strong>para</strong>lela com o aumento do câncer<br />
testicular <strong>na</strong> maioria dos países. Conclui-se que os fatores responsáveis<br />
por estes efeitos são ambientais e não genéticos. Em 1993, Sharpe<br />
e Skakkebaek formularam pela primeira vez, a hipótese de que<br />
a exposição a compostos estrogênicos e provavelmente a produtos<br />
7
químicos semelhantes às dioxin<strong>as</strong>, durante períodos críticos do desenvolvimento<br />
(in utero e <strong>na</strong> etapa pós-<strong>na</strong>tal precoce), diminuía a capacidade<br />
reprodutora dos machos [3], embora reconhecendo que “<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong><br />
<strong>na</strong> exposição de seres humanos a estrógenos são difíceis de<br />
quantificar”.<br />
Também foi formulada uma hipótese que postula que o p,p’- DDE,<br />
um poluente ambiental ubíquo e persistente que foi recentemente caracterizado<br />
como um antiandrógeno, pode desempenhar um papel nos problem<strong>as</strong><br />
<strong>as</strong>sociados com o desenvolvimento e com os problem<strong>as</strong><br />
reprodutivos dos indivíduos machos.<br />
As meta-análises origi<strong>na</strong>is foram exami<strong>na</strong>d<strong>as</strong> em divers<strong>as</strong> publicações<br />
que confirmam ou criticam o trabalho realizado e su<strong>as</strong> conclusões.<br />
Adicio<strong>na</strong>lmente, em vários estudos recentes provenientes de investigações<br />
realizad<strong>as</strong> em vári<strong>as</strong> clínic<strong>as</strong> de divers<strong>as</strong> regiões da América do<br />
Norte e da Europa, constatou-se que a contagem de espermatozóides ou<br />
diminuiu, ou aumentou, ou manteve-se i<strong>na</strong>lterada nos últimos 20 ou 25<br />
anos. Fisch e cols. investigaram a qualidade do sêmen que 1283 indivíduos<br />
do sexo m<strong>as</strong>culino depositaram entre 1970 e 1994 em bancos de<br />
esperma antes de submeter-se a v<strong>as</strong>ectomi<strong>as</strong> [4]. Não houve modificações<br />
significativ<strong>as</strong> <strong>na</strong> qualidade do sêmen durante esse período. No entanto,<br />
foram encontrad<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> significativ<strong>as</strong> n<strong>as</strong> contagens de diferentes<br />
localidades.<br />
FIGURA 1 - Ingestão dietética de algum<strong>as</strong> substânci<strong>as</strong> <strong>na</strong>turais e sintétic<strong>as</strong> ativ<strong>as</strong> do<br />
ponto de vista endócrino, inclusive compostos com atividade estrogênica (E2) e inibidores<br />
de E2. Os valores <strong>para</strong> o DES foram calculados a partir de tratamentos durante a<br />
gravidez.<br />
8<br />
Flavo- OC DES HRT I3C PAH PCDD Fitóis<br />
nóides Pest PCDF<br />
ESTRÓGENOS INIBIDORES DE E 2
As contagens mais elevad<strong>as</strong> corresponderam à cidade de New York<br />
(131,5±3,5x10 6 /ml) seguid<strong>as</strong> d<strong>as</strong> contagens de Minnesota (100,8±2,9x10 6 /<br />
ml) e Califórnia (72,7±3,1x10 6 /ml. Estes resultados indicaram a existência<br />
de diferenç<strong>as</strong> demográfic<strong>as</strong> importantes <strong>na</strong> qualidade do esperma<br />
que foram confirmad<strong>as</strong> recentemente por dois estudos realizados <strong>na</strong><br />
França e Di<strong>na</strong>marca. Um estudo recente realizado nos Estados Unidos<br />
indicou que a incidência de hipospadia havia duplicado e a monitoração<br />
futura desta patologia pode ser importante <strong>para</strong> detectar possíveis agentes<br />
etiológicos.<br />
Progresso nesta área exigirá abordagens diferentes e nov<strong>as</strong> hipóteses<br />
que estudem grupos auto-selecio<strong>na</strong>dos vs grupos selecio<strong>na</strong>dos ao ac<strong>as</strong>o<br />
e que considerem a demografia, gradientes de poluentes e diferenç<strong>as</strong><br />
nutricio<strong>na</strong>is. Esta última variável pode ser especialmente importante,<br />
pois a dieta contém níveis elevados de substânci<strong>as</strong> <strong>na</strong>turais que são<br />
ativ<strong>as</strong> sob o <strong>as</strong>pecto hormo<strong>na</strong>l (Fig. 1).<br />
É desconhecido o risco que oferecem os xenoestrógenos e outros<br />
produtos químicos sintéticos em combi<strong>na</strong>ção com níveis mais altos de<br />
substânci<strong>as</strong> <strong>na</strong>turais com atividade endócri<strong>na</strong> presentes nos alimentos.<br />
Assim, a avaliação do risco que representam est<strong>as</strong> substânci<strong>as</strong> exigirá<br />
maiores informações sobre seus teores <strong>na</strong> dieta e no soro, sua captação<br />
por tecidos suscetíveis e su<strong>as</strong> inter-relações com outros compostos<br />
exógenos e <strong>na</strong>turais que também influem n<strong>as</strong> respost<strong>as</strong> endócrin<strong>as</strong>.<br />
Bibliografia<br />
1. Colborn T, Vom Saal FS, Soto AM. Developmental effects of endocrine-disrupting<br />
chemicals in wildlife and humans. Environ Health Perspect 1993;101:378-84.<br />
2. Carlsen E, Giwercman A, Keiding N, Skakkebaek NE. Evidence for decre<strong>as</strong>ing<br />
quality of semen during the p<strong>as</strong>t 50 years. BMJ 1992;305:609-12.<br />
3. Sharpe RM, Skakkebaek NE. Are oestrogens involved in falling sperm counts and<br />
disorders of the male reproductive tract? Lancet 1993;341:1392-5.<br />
4. Fisch H, Goluboff ET, Olson JH, e cols. Semen a<strong>na</strong>lyses in 1,283 men from the<br />
United States over a 25-year period: no decline in quality. Fertil Steril 1996;65:<br />
1009-14.<br />
9
Efeitos da exposição peri<strong>na</strong>tal<br />
a níveis ambientais<br />
de bifenis policlorados e dioxin<strong>as</strong><br />
E. RUDY BOERSMA<br />
Os níveis atuais de exposição aos bifenis policlorados (PCB) e dioxin<strong>as</strong><br />
encontrados no meio ambiente dos Países Baixos situam-se entre os<br />
mais altos do mundo ocidental, embora se encontrem níveis ainda mais<br />
altos em alguns territórios que pertenceram à esfera de influência da<br />
antiga União Soviética e em áre<strong>as</strong> com alto consumo de pescado.<br />
Demonstrou-se que a exposição aos PCB in utero produz deficiênci<strong>as</strong> no<br />
crescimento fetal e pós-<strong>na</strong>tal e retardo do desenvolvimento psicomotor<br />
[1,2].<br />
Efeitos sobre o desenvolvimento<br />
Acompanhamos do n<strong>as</strong>cimento aos 6 anos de idade um grupo homogêneo<br />
de 400 crianç<strong>as</strong> por nós considerad<strong>as</strong> como de baixo risco <strong>para</strong><br />
alterações neurológic<strong>as</strong>. Quando os lactentes foram exami<strong>na</strong>dos du<strong>as</strong><br />
seman<strong>as</strong> após o n<strong>as</strong>cimento pudemos demonstrar que a exposição pré<strong>na</strong>tal<br />
e pós-<strong>na</strong>tal precoce aos PCB e às dioxin<strong>as</strong> exercia um efeito<br />
adverso sobre sua condição neurológica avaliada através do exame neurológico<br />
de Prechtl [3]. As concentrações mais alt<strong>as</strong> de PCB no leite<br />
materno <strong>as</strong>sociavam-se a incidênci<strong>as</strong> mais elevad<strong>as</strong> de hipotonia. Aos<br />
18 meses de idade era possível atribuir à exposição pré-<strong>na</strong>tal aos PCB<br />
um efeito negativo sobre o rendimento neurológico - avaliado por meio<br />
do exame neurológico de Hempel e Touwen, específico <strong>para</strong> a idade -<br />
embora aparentemente não houvesse efeitos sobre o desenvolvimento<br />
cognitivo avaliado mediante <strong>as</strong> escal<strong>as</strong> de Bailey de desenvolvimento<br />
infantil. Aos três anos e meio, a exposição aos PCB <strong>na</strong> f<strong>as</strong>e pré-<strong>na</strong>tal<br />
havia produzido efeito adverso sobre o desenvolvimento cognitivo (K-<br />
ABC) m<strong>as</strong> não sobre o desenvolvimento neurológico (Touwen/Hempel).<br />
Os achados nest<strong>as</strong> diferentes idades não podem ser com<strong>para</strong>dos entre si<br />
em razão d<strong>as</strong> grandes modificações que ocorrem no cérebro e no sistema<br />
nervoso durante os primeiros anos de vida.<br />
10
A exposição aos PCB e às dioxin<strong>as</strong> através do leite materno não teve<br />
efeito sobre o desenvolvimento neurocognitivo aos 18 e aos 42 meses de<br />
idade, embora aos 42 meses <strong>as</strong> concentrações pl<strong>as</strong>mátic<strong>as</strong> de PCB<br />
houvessem quadruplicado nos lactentes amamentados ao peito, com<strong>para</strong>tivamente<br />
com os alimentados com fórmul<strong>as</strong> infantis. Todavia, a alimentação<br />
ao peito tinha um acentuado efeito benéfico sobre a função<br />
motora (escore agrupado de fluidez [4]) tanto aos 18 como aos 42 meses<br />
de idade depois de feitos os ajustes <strong>para</strong> <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> neurológic<strong>as</strong><br />
derivad<strong>as</strong> de fatores sociais, obstétricos, peri<strong>na</strong>tais e neo<strong>na</strong>tais. Nos<br />
fetos e n<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> n<strong>as</strong>cid<strong>as</strong> pré-termo determinou-se que a fluidez dos<br />
movimentos é um reflexo da integridade do cérebro e um marcador de<br />
capacidades comportamentais e cognitiv<strong>as</strong> em idades posteriores.<br />
Mecanismos<br />
Não se conhecem precisamente os mecanismos através dos quais a<br />
exposição pré-<strong>na</strong>tal aos PCBs e dioxin<strong>as</strong> pode afetar o desenvolvimento.<br />
Divers<strong>as</strong> ações foram propost<strong>as</strong> a partir da evidência derivada de<br />
estudos em animais. Em primeiro lugar, estes compostos têm elevada<br />
afinidade pelo receptor Ah tendo sido documentad<strong>as</strong> conseqüênci<strong>as</strong><br />
no metabolismo cerebral. Em segundo lugar, efeitos sobre os<br />
neurotransmissores no cérebro (dopami<strong>na</strong>, serotoni<strong>na</strong> e sistem<strong>as</strong><br />
noradrenérgicos, por exemplo) também podem desempenhar um papel.<br />
Em terceiro lugar, recentemente focou-se a atenção sobre a capacidade<br />
desses compostos de desorganizar o sistema endócrino durante o período<br />
mais vulnerável, quando se produz a rápida multiplicação celular<br />
durante o desenvolvimento dos órgãos fetais. O momento em que se<br />
produzem estes períodos de rápida multiplicação celular no feto bem<br />
como sua duração variam nos diferentes órgãos. Os PCB maternos p<strong>as</strong>sam<br />
facilmente através da placenta e produz-se um equilíbrio em sua<br />
distribuição entre os lípides fetais e maternos desde <strong>as</strong> f<strong>as</strong>es mais precoces<br />
da gestação. Isto poderia indicar que todos os órgãos fetais correm<br />
o mesmo risco de sofrer os efeitos negativos de alguns PCBs, particularmente<br />
de seus metabólitos hidroxilados mais polares. Estes PCBs<br />
hidroxilados parecem ser potentes modificadores tanto dos sistem<strong>as</strong><br />
endócrinos tireoidogênicos quanto estrogênicos. Como resultado, estes<br />
compostos podem alterar de forma permanente a “programação” fetal<br />
dos órgãos suscetíveis, inclusive cérebro, o que pode determi<strong>na</strong>r efeitos<br />
a longo prazo sobre a ação dos hormônios e o desenvolvimento de tais<br />
órgãos em f<strong>as</strong>es posteriores da vida.<br />
11
Bibliografia<br />
1. Fein GG, Jacobson JL, Jacobson SW, e cols. Pre<strong>na</strong>tal exposure to polychlori<strong>na</strong>ted<br />
biphenyls: effects on birth size and gestatio<strong>na</strong>l age. J Pediatr 1984;105:315-20.<br />
2. Jacobson JL, Jacobson SW. Intellectual impairment in children exposed to<br />
polychlori<strong>na</strong>ted biphenyls in utero. N Engl J Med 1996;335:783-9.<br />
3. Huisman M, Koopman-Esseboom C, Fidler V, e cols. Peri<strong>na</strong>tal exposure to<br />
polychlori<strong>na</strong>ted biphenyls and dioxins and its effect on neo<strong>na</strong>tal neurological<br />
development. Early Hum Dev 1995; 41:111-27.<br />
4. Prechtl HFR, Einspieler C, Cioni G, e cols. An early marker for neurological deficits<br />
after peri<strong>na</strong>tal brain lesions. Lancet 1997;349:1361-3.<br />
12
Conseqüênci<strong>as</strong> de longo prazo<br />
sobre a saúde: a imunotoxicidade<br />
GARY A. BANNON<br />
O público consumidor reflete o amplo interesse e a preocupação<br />
existente sobre <strong>as</strong> reações advers<strong>as</strong> provocad<strong>as</strong> por certos alimentos e<br />
aditivos. Em uma recente pesquisa com consumidores 30% dos indivíduos<br />
entrevistados declararam que eles próprios ou algum membro da<br />
família era alérgico a um alimento [1]. Este levantamento também demonstrou<br />
que 22% dos entrevistados evitava certos alimentos pela simples<br />
possibilidade de que contivessem algum alérgeno. A maior parte<br />
d<strong>as</strong> hipersensibilidades a alimentos são mediad<strong>as</strong> pela IgE que se une<br />
a proteín<strong>as</strong> específic<strong>as</strong> presentes no alimento.<br />
Certos vegetais como <strong>as</strong> leguminos<strong>as</strong> são importantes como alimento<br />
por seu elevado teor de proteín<strong>as</strong>, tanto <strong>para</strong> o consumo humano quanto<br />
animal. A porcentagem média de proteín<strong>as</strong> <strong>na</strong> porção seca d<strong>as</strong> sementes<br />
é de 20 a 25%, com<strong>para</strong>da com somente 10 a 15% nos grãos de cereais.<br />
As proteín<strong>as</strong> de leguminos<strong>as</strong> armaze<strong>na</strong>d<strong>as</strong> constituem, mundialmente, a<br />
terceira fonte de proteín<strong>as</strong> da dieta e têm especial importância nos<br />
países em desenvolvimento que carecem de fontes abundantes de proteín<strong>as</strong><br />
de origem animal. O amendoim é uma d<strong>as</strong> leguminos<strong>as</strong> mais<br />
amplamente usad<strong>as</strong> tanto nos países ocidentais quanto nos países em<br />
via de desenvolvimento. Durante os últimos dez anos observou-se um<br />
aumento da incidência de alergia ao amendoim possivelmente devida ao<br />
aumento do emprego de seus derivados <strong>na</strong> dieta de lactentes. Para o<br />
público, <strong>as</strong>sim, é sempre mais difícil evitar uma fonte de alimentação<br />
que é usada em abundância e freqüentemente sob forma disfarçada<br />
como no c<strong>as</strong>o do amendoim que causa sensibilização em indivíduos<br />
geneticamente predispostos e que, ao ser ingerido acidentalmente por<br />
pacientes alérgicos pode causar a<strong>na</strong>filaxia e às vezes a morte.<br />
A evolução de uma resposta a um alérgeno b<strong>as</strong>eada <strong>na</strong> síntese da<br />
IgE compreende interações complex<strong>as</strong> entre <strong>as</strong> diferentes célul<strong>as</strong> do<br />
sistema imune, compreendendo <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> apresentador<strong>as</strong> de antígenos,<br />
<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> T e <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> B. A seqüência d<strong>as</strong> etap<strong>as</strong> necessári<strong>as</strong> <strong>para</strong><br />
13
produzir uma IgE específica <strong>para</strong> um alérgeno sugere a existência de<br />
vári<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> potenciais de intervenção imuno-reguladora, tudo requerendo<br />
um detalhado conhecimento da estrutura primária do alérgeno em<br />
questão. A identificação e purificação dos alérgenos tem sido uma etapa<br />
indispensável <strong>para</strong> os estudos estruturais e imunológicos necessários<br />
<strong>para</strong> chegar a compreender de que modo est<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> estimulam a<br />
produção de IgE. Além disso, foram identificados alérgenos em uma<br />
considerável variedade de alimentos.<br />
A hipersensibilização ao amendoim é uma d<strong>as</strong> reações alérgic<strong>as</strong> a<br />
alimentos mais graves e afeta crianç<strong>as</strong> e adultos. Estudos recentes<br />
realizados em meu laboratório e em outros centros identificaram vários<br />
dos principais alérgenos do amendoim (Tabela I) e foram identificados<br />
os sítios específicos de união da IgE e os epítopos d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> T dos<br />
principais alérgenos do amendoim. A identificação da seqüência de<br />
aminoácidos presentes nest<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> será importante <strong>para</strong> o desenvolvimento<br />
de nov<strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> imunoterapêutic<strong>as</strong> <strong>para</strong> o tratamento<br />
dest<strong>as</strong> enfermidades.<br />
TABELA I<br />
Homologia<br />
Clo<strong>na</strong>gem<br />
Alérgeno 1 PM d<strong>as</strong> seqüênci<strong>as</strong> 2 Função completa do ADNc<br />
Ara h 1 63 kD Vicili<strong>na</strong> Armaze<strong>na</strong>mento sim<br />
Ara h 2 17 kD Congluti<strong>na</strong> Armaze<strong>na</strong>mento sim<br />
Ara h 3 60 kD 3 Glicini<strong>na</strong> Armaze<strong>na</strong>mento sim<br />
1<br />
Os pesos moleculares foram calculados a partir de géis de SDS-PAGE e só representam aproximações<br />
2<br />
As homologi<strong>as</strong> d<strong>as</strong> seqüênci<strong>as</strong> foram determi<strong>na</strong>d<strong>as</strong> pela realização de busc<strong>as</strong> em b<strong>as</strong>es de dados<br />
com a seqüência determi<strong>na</strong>da de aminoácido. As proteín<strong>as</strong> indicad<strong>as</strong> apresentavam a mais alta<br />
homologia com o alérgeno do amendoim.<br />
3<br />
Indica o tamanho do alérgeno antes de sua fragmentação por proteólise.<br />
As investigações descrit<strong>as</strong> podem conduzir ao desenvolvimento de<br />
plant<strong>as</strong> hipoalergênic<strong>as</strong> que poderiam prevenir reações a<strong>na</strong>filátic<strong>as</strong> em<br />
c<strong>as</strong>o de ingestão acidental e prevenir a sensibilização de indivíduos<br />
geneticamente predispostos.<br />
Bibliografia<br />
1. Sloan AE, Powers ME. A perspective on popular perceptions of adverse reactions<br />
to foods. J Allergy Clin Immunol 1986;78:127-33.<br />
14
O trato g<strong>as</strong>trintesti<strong>na</strong>l e o<br />
enfrentamento dos <strong>riscos</strong> oriundos<br />
da <strong>cadeia</strong> <strong>alimentar</strong> de crianç<strong>as</strong><br />
JEAN-FRANÇOIS DESJEUX e M. BOISSET<br />
A principal função do trato g<strong>as</strong>trintesti<strong>na</strong>l é a absorção seletiva dos<br />
nutrientes necessários <strong>para</strong> o crescimento e a manutenção da estrutura<br />
do organismo. Participa, deste modo, do desenvolvimento físico e mental<br />
da criança. Os principais sistem<strong>as</strong> de absorção e secreção do tubo<br />
digestivo aparecem <strong>na</strong> Fig. 1. A seletividade de su<strong>as</strong> propriedades digestiv<strong>as</strong><br />
e da absorção pressupõe tanto a p<strong>as</strong>sagem dos nutrientes do<br />
lúmen intesti<strong>na</strong>l <strong>para</strong> a circulação sangüínea e linfática como a função<br />
de barreira contra agentes nocivos [1]. A contami<strong>na</strong>ção dos alimentos<br />
com bactéri<strong>as</strong> é, de longe, o risco mais importante a que está submetido<br />
o trato intesti<strong>na</strong>l, com um máximo de freqüência e de gravidade no<br />
momento do desmame. Além disso, n<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> geneticamente suscetíveis,<br />
muit<strong>as</strong> doenç<strong>as</strong> estão <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> à composição dos alimentos: <strong>na</strong><br />
doença celíaca o glúten é o agente nocivo, <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> do leite podem<br />
desencadear reações alérgic<strong>as</strong> e a lactose pode ser a responsável pela<br />
diarréia de crianç<strong>as</strong> com deficiência de lact<strong>as</strong>e.<br />
O intestino pode ser exposto a uma variedade de agentes nocivos ou<br />
potencialmente nocivos e pode reagir de form<strong>as</strong> diferentes. A seguir,<br />
apresentamos alguns exemplos. a) Nos recém-n<strong>as</strong>cidos e em alguns<br />
adultos a lecti<strong>na</strong> do amendoim liga-se ao grupo sangüíneo TF presente<br />
<strong>na</strong> superfície d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> epiteliais do cólon [2]. Conseqüentemente, há<br />
um aumento da proliferação da mucosa do reto, indicando que a lecti<strong>na</strong><br />
pode participar do mecanismo que <strong>as</strong>socia dieta ao câncer do cólon. b)<br />
A biodisponibilidade dos metais como contami<strong>na</strong>ntes parece ser maior<br />
no período neo<strong>na</strong>tal do que em etap<strong>as</strong> posteriores [3]; existe evidência<br />
de interação com outros componentes <strong>alimentar</strong>es e com sistem<strong>as</strong> de<br />
transporte intesti<strong>na</strong>is. c) O processamento dos alimentos pode produzir<br />
molécul<strong>as</strong> que interagem com o aparelho digestivo.<br />
15
Conteúdo intesti<strong>na</strong>l<br />
CO-TRANSPORTADOR<br />
DE Na+, Glicose<br />
GLICOSE<br />
Na +<br />
➀<br />
sangue portal<br />
K +<br />
Ca<strong>na</strong>l K +<br />
CO-TRANSPORTADOR<br />
Ca<strong>na</strong>l<br />
2Cl -<br />
de Cl -<br />
de Na + , K + , Cl -<br />
Na +<br />
Na +<br />
K + ATP<strong>as</strong>e Na + , K + K + ATP<strong>as</strong>e NA + K +<br />
K + 2<br />
Antiportador<br />
Na + / H + H + Na +<br />
H +<br />
H 2<br />
O<br />
+<br />
CO 2<br />
HCO 3<br />
-<br />
- -<br />
3<br />
K +<br />
Na +<br />
Antiportador<br />
Cl / HCO Cl -<br />
3<br />
ATP<strong>as</strong>e Na + , K +<br />
Glicoproteí<strong>na</strong> P<br />
4<br />
FIGURA 1 - Principais sistem<strong>as</strong> de absorção e secreção de molécul<strong>as</strong> hidrossolúveis pel<strong>as</strong><br />
célul<strong>as</strong> epiteliais do intestino. A especificidade depende da seletividade do transportador,<br />
da energia proveniente da hidrólise da ATP e da direção da distribuição <strong>as</strong>simétrica dos<br />
transportadores entre a membra<strong>na</strong> lumi<strong>na</strong>l e a membra<strong>na</strong> b<strong>as</strong>olateral do enterócito.<br />
Assim, a absorção da glicose e d<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> parecid<strong>as</strong> (painel 1) requer um transportador<br />
específico, SLGT1, <strong>na</strong> membra<strong>na</strong> lumi<strong>na</strong>l e outro transportador específico, GLUT4,<br />
<strong>na</strong> membra<strong>na</strong> b<strong>as</strong>olateral. A glicose acumula-se no interior da célula contra um gradiente<br />
de concentração porque se acopla com o gradiente eletroquímico do Na produzido<br />
pela ATP<strong>as</strong>e Na + /K dependente. A glicose é liberada <strong>na</strong> superfície serosa do enterócito por<br />
um mecanismo de difusão facilitada. O processo todo é eletrogênico ou reogênico. O<br />
acoplamento entre os transportadores (painel 3) <strong>na</strong> mesma membra<strong>na</strong> (Antiportadores<br />
Na + /H + e CO 3<br />
-/C l - ) produz como resultado a secreção neutra de NaCl e a secreção<br />
também neutra de H 2<br />
CO 3<br />
. A secreção eletrogênica de Cl - (painel 2) resulta da captação<br />
de Cl - contra um gradiente eletroquímico ao nível da membra<strong>na</strong> b<strong>as</strong>olateral e de sua<br />
secreção no sentido do lúmen intesti<strong>na</strong>l através de um ca<strong>na</strong>l seletivo (CFTR). De modo<br />
semelhante, os xenobióticos podem ser transportados por qualquer destes transportadores<br />
(muitos outros transportadores, não mostrados aqui, também estão presentes n<strong>as</strong> membran<strong>as</strong><br />
dos enterócitos) conforme sua seletividade. Uma vez captados pelos enterócitos, seja<br />
a partir do conteúdo lumi<strong>na</strong>l, seja a partir do sangue, podem ser secretados ao lúmen<br />
intesti<strong>na</strong>l por um transportador (glicoproteí<strong>na</strong> P, painel 4).<br />
A biotransformação e o manejo dos xenobióticos compreende uma<br />
série de mecanismos como a acidificação, a hidrólise, a solubilização,<br />
o metabolismo intralumi<strong>na</strong>l, a captação pelo epitélio, o metabolismo e<br />
a secreção e todos os mecanismos defensivos da mucosa intesti<strong>na</strong>l [4].<br />
16
Célul<strong>as</strong> da<br />
lâmi<strong>na</strong> própria<br />
Neurotransmissores<br />
Linfocin<strong>as</strong><br />
Antígenos<br />
Toxin<strong>as</strong><br />
Bactéri<strong>as</strong><br />
Vírus<br />
Par<strong>as</strong>it<strong>as</strong><br />
Antígenos<br />
Xenobióticos<br />
Glicose, aminoácidos<br />
Na +<br />
Na +<br />
Cl -<br />
Célul<strong>as</strong><br />
corporais<br />
Linfocin<strong>as</strong><br />
Prostaglandin<strong>as</strong><br />
Leucotrienos<br />
Radicais livres<br />
NO<br />
Neurotransmissores<br />
Histami<strong>na</strong><br />
Cl -<br />
Epitélio intesti<strong>na</strong>l<br />
FIGURA 2 - Esquema da interação dinâmica entre xenobióticos, toxin<strong>as</strong>, antígenos e<br />
nutrientes presentes no lúmen intesti<strong>na</strong>l e a mucosa que consiste em uma capa de célul<strong>as</strong><br />
epiteliais e os diferentes tipos de célul<strong>as</strong> da lâmi<strong>na</strong> própria. A principal característica<br />
desta representação está <strong>na</strong> interação direta dos nutrientes presentes no lúmen intesti<strong>na</strong>l<br />
com os enterócitos ou indireta por estimularem <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> da lâmi<strong>na</strong> própria. A resposta<br />
é local, ao nível da mucosa e geral, no âmbito de todo o organismo. Na mucosa, a<br />
resposta do epitélio intesti<strong>na</strong>l compreende: (1) a secreção de cloreto que leva à secreção<br />
de água e à diluição do conteúdo do lúmen e eventualmente, à diarréia; (2) a alteração<br />
da permeabilidade do epitélio; (3) a indução do metabolismo (citocromo P450) e secreção<br />
retrógrada do xenobiótico no sentido do lúmen intesti<strong>na</strong>l (glicoproteí<strong>na</strong> P); a renovação<br />
do epitélio que leva à re<strong>para</strong>ção do intestino. No âmbito do organismo os sintom<strong>as</strong><br />
também são resultado da estimulação d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> do sistema imune, nervos<strong>as</strong> e endócrin<strong>as</strong><br />
presentes <strong>na</strong> lami<strong>na</strong> própria e conectad<strong>as</strong> ao resto do organismo.<br />
Todos estes mecanismos atuam de modo sinérgico. Na mucosa intesti<strong>na</strong>l,<br />
por exemplo, os xenobióticos podem atuar diretamente sobre os<br />
enterócitos produzindo uma resposta secretora com o aparecimento de<br />
diarréia como manifestação clínica. Também podem atuar indiretamente<br />
estimulando diversos tipos de célul<strong>as</strong> da lâmi<strong>na</strong> própria, produzindo respost<strong>as</strong><br />
imunes, endócrin<strong>as</strong> ou inflamatóri<strong>as</strong> locais e sistêmic<strong>as</strong>. A resposta<br />
da mucosa está <strong>as</strong>sociada com uma resposta dinâmica do epitélio, com<br />
aumento da renovação dos enterócitos e alterações d<strong>as</strong> respost<strong>as</strong> celulares<br />
ao agente nocivo. O resultado é uma adaptação constante da função de<br />
barreira frente aos componentes dos alimentos, com rápida restauração da<br />
mucosa o que provavelmente explica a recuperação geralmente rápida<br />
depois de alguma lesão intesti<strong>na</strong>l.<br />
17
As alterações da barreira g<strong>as</strong>trintesti<strong>na</strong>l causad<strong>as</strong> por um estímulo<br />
genético ou ambiental podem explicar <strong>as</strong> conseqüênci<strong>as</strong> advers<strong>as</strong> de<br />
curto ou longo prazo provocad<strong>as</strong> por compostos presentes <strong>na</strong> <strong>cadeia</strong><br />
<strong>alimentar</strong> de crianç<strong>as</strong>. Isto deveria estimular <strong>as</strong> investigações que têm<br />
por fi<strong>na</strong>lidade provar a hipótese de serem causad<strong>as</strong> por exposição aos<br />
xenobióticos <strong>as</strong> doenç<strong>as</strong> inflamatóri<strong>as</strong> do tubo digestivo, a alergia às<br />
proteín<strong>as</strong> do leite de vaca ou o câncer do cólon e do reto. O <strong>as</strong>pecto<br />
principal desta hipótese seria o desequilíbrio entre <strong>as</strong> diferentes etap<strong>as</strong><br />
causado por influênci<strong>as</strong> genétic<strong>as</strong> (por exemplo, o polimorfismo da<br />
superfamília do citocromo 450, <strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> do complexo HLA presentes<br />
nos enterócitos e os linfócitos) ou ambientais (por exemplo, a quantidade<br />
ingerida do composto origi<strong>na</strong>l, a indução ou inibição d<strong>as</strong> enzim<strong>as</strong><br />
encarregad<strong>as</strong> da biotransformação). A interação entre xenobióticos do<br />
lúmen, toxin<strong>as</strong>, antígenos, nutrientes e a mucosa aparecem delineados<br />
<strong>na</strong> Figura 2.<br />
Em conclusão, parece mais fácil entender <strong>as</strong> pouco freqüentes conseqüênci<strong>as</strong><br />
de longo prazo dos agentes nocivos ingeridos do que a ausência<br />
muito mais freqüente de sintom<strong>as</strong> ou de diarréia aguda da qual<br />
a maior parte d<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> se recupera espontânea e rapidamente, sem<br />
efeitos negativos.<br />
Bibliografia<br />
1. Powell DW. Barrier function of epithelia. Am J Physiol 1994;241:G275-88.<br />
2. Pusztai A. Dietary lectins are metabolic sig<strong>na</strong>ls for the gut and modulate and hormone<br />
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3. Oskarsson A, Palminger Hallén I, Sundberg J. Exposure to toxic elements via bre<strong>as</strong>t<br />
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In: Bl<strong>as</strong>er MJ e cols., eds. Infections of the g<strong>as</strong>trointesti<strong>na</strong>l tract. New York: Raven<br />
Press, 1995:107-41.<br />
18
Toxicidade hepática:<br />
mecanismos, detecção e<br />
suscetibilidade d<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong><br />
J. KEVIN CHIPMAN<br />
Embora exista muita informação sobre os mecanismos que tor<strong>na</strong>m<br />
divers<strong>as</strong> substânci<strong>as</strong> hepatotóxic<strong>as</strong> e sobre a detecção de tal<br />
hepatotoxicidade, sabe-se relativamente pouco sobre os efeitos da idade<br />
e particularmente sobre a predisposição d<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong>. Existem vários<br />
processos hepáticos que são afetados pelos agentes tóxicos (freqüentemente,<br />
intermediários reativos do metabolismo dos xenobióticos) e estes processos<br />
podem servir de indicadores potenciais <strong>para</strong> a avaliação de sua<br />
toxicidade tanto in vitro quanto in vivo.<br />
A idade pode influir nest<strong>as</strong> reações tóxic<strong>as</strong> de divers<strong>as</strong> maneir<strong>as</strong>.<br />
Em primeiro lugar, a capacidade antioxidante - a velocidade de reposição<br />
do glutation, por exemplo - pode variar dependendo da idade do<br />
indivíduo; a capacidade antioxidante <strong>para</strong> certos radicais é relativamente<br />
mais alta nos animais jovens. Em segundo lugar, o metabolismo dos<br />
xenobióticos também pode diferir em relação à sua ativação ou<br />
desativação, uma vez que certos mecanismos enzimáticos só se desenvolvem<br />
totalmente um certo tempo depois do n<strong>as</strong>cimento. N<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong>,<br />
<strong>as</strong> deficiênci<strong>as</strong> do metabolismo são contrabalançad<strong>as</strong> pela proporção<br />
mais alta entre o peso do fígado e o peso corporal total o que gera<br />
velocidades mais elevad<strong>as</strong> de depuração.<br />
A suscetibilidade d<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> e animais jovens aos agentes<br />
hepatotóxicos pode variar dependendo do produto químico - o <strong>para</strong>cetamol<br />
e o tetracloreto de carbono, por exemplo, são menos hepatotóxicos em<br />
idades precoces, aparentemente por causa de diferenç<strong>as</strong> no metabolismo<br />
e talvez como reflexo da capacidade protetora de seus níveis de<br />
glutation. Em ratos jovens uma razão adicio<strong>na</strong>l que explica sua relativa<br />
capacidade de recuperação parece estar <strong>na</strong> sua maior capacidade de<br />
regenerar o fígado e <strong>na</strong> re<strong>para</strong>ção mais eficiente dos tecidos lesados.<br />
Inversamente, alguns outros produtos químicos - ácido valpróico, a<br />
clorpromazi<strong>na</strong> e o cobre - podem ser relativamente mais tóxicos em<br />
crianç<strong>as</strong>, em alguns c<strong>as</strong>os por causa de deficiência metabólic<strong>as</strong>.<br />
19
Foram utilizados com êxito animais de experiência e cultur<strong>as</strong> de<br />
célul<strong>as</strong> <strong>para</strong> a detecção de agentes hepatotóxicos e <strong>para</strong> conseguir melhor<br />
compreensão dos mecanismos envolvidos. Para a detecção de alterações<br />
do funcio<strong>na</strong>mento hepático nos seres humanos existem alguns índices<br />
do tipo funcio<strong>na</strong>l. As modificações de adaptação ao estresse que se<br />
produzem no fígado como a indução de enzim<strong>as</strong>, constituem indicadores<br />
relativamente sensíveis que podem ter significado toxicológico.<br />
Em conclusão, à medida que adquirimos melhor compreensão dos<br />
mecanismos por meio dos quais os xenobióticos afetam o fígado, será<br />
mais completa a avaliação da suscetibilidade de grupos populacio<strong>na</strong>is,<br />
inclusive crianç<strong>as</strong>. Em linh<strong>as</strong> gerais, <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> metabólic<strong>as</strong> potenciais,<br />
os alvos da toxicidade, os sistem<strong>as</strong> de re<strong>para</strong>ção e proteção <strong>as</strong>sim<br />
como <strong>as</strong> influênci<strong>as</strong> hormo<strong>na</strong>is devem ser considerados c<strong>as</strong>o a c<strong>as</strong>o.<br />
Leitur<strong>as</strong> suplementares<br />
1. Graeter KJ, Mortensen ME. Kids are different - developmental variability in toxicology.<br />
Toxicology 1996; 111: 15-20.<br />
2. Rikans LE, Hornbrook KR. Age-related susceptibility to hepatotoxicants. Environ<br />
Toxicol Pharmacol 1997;4:339-44.<br />
20
Avaliação dos<br />
níveis aceitáveis de ingestão<br />
RON WALKER<br />
O Comitê Conjunto de Peritos FAO/OMS sobre Aditivos nos Alimentos<br />
(Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives, JEFCA) e o<br />
Comitê Científico <strong>para</strong> os Alimentos da Comissão Européia (Scientific<br />
Committee for Food of the European Commission, SCF) comunicaram <strong>as</strong><br />
ingestões aceitáveis de xenobióticos nos alimentos em termos da ingestão<br />
diária aceitável (IDA) (acceptable daily intakes), ingestão diária tolerável<br />
(IDT) (tolerable daily intake) ou a ingestão sema<strong>na</strong>l tolerável temporariamente<br />
(ISTT) (provisio<strong>na</strong>l tolerable weekly intake).<br />
A IDA, que é definida como uma estimativa da quantidade de um<br />
produto químico que pode ser ingerida durante toda a vida sem <strong>riscos</strong><br />
apreciáveis <strong>para</strong> a saúde, é geralmente empregada em relação aos aditivos<br />
<strong>para</strong> alimentos, resíduos de pesticid<strong>as</strong> e drog<strong>as</strong> utilizad<strong>as</strong> em veterinária<br />
que se encontram presentes nos alimentos [1].<br />
A IDT, estreitamente correlacio<strong>na</strong>da, é aplicada aos contami<strong>na</strong>ntes<br />
presentes nos alimentos que têm vida média biológica curta e que não<br />
se acumulam no organismo; o termo “tolerável” é preferível a “aceitável”<br />
<strong>para</strong> indicar que, embora o contami<strong>na</strong>nte não represente um risco<br />
toxicológico apreciável neste nível de ingestão, é tolerado somente porque,<br />
se <strong>as</strong>sim não se fizesse, haveria conseqüênci<strong>as</strong> i<strong>na</strong>ceitáveis <strong>na</strong><br />
administração de alimentos [2]. Com alguns contami<strong>na</strong>ntes ambientais<br />
como o cádmio ou os bifenis policlorados que se acumulam nos tecidos<br />
(rins e tecido adiposo, respectivamente), a média da ingestão deve ser<br />
verificada <strong>para</strong> períodos mais longos e por isso usa-se a ISTT.<br />
As ingestões diári<strong>as</strong> aceitáveis (ou toleráveis) são determi<strong>na</strong>d<strong>as</strong> por<br />
uma bateria de testes de toxicidade usados <strong>para</strong> identificar e caracterizar<br />
<strong>riscos</strong> tóxicos tanto qualitativa quanto quantitativamente. Uma vez<br />
que estes testes desti<strong>na</strong>m-se a abranger <strong>as</strong> diferentes circunstânci<strong>as</strong> da<br />
exposição dos seres humanos aos produtos químicos presentes <strong>na</strong> dieta<br />
em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> etap<strong>as</strong> da vida, deveriam incluir normalmente testes de<br />
toxicidade crônica e de carcinogenicidade, às vezes com exposição in<br />
21
utero e durante a f<strong>as</strong>e da lactância. Também são necessári<strong>as</strong> informações<br />
provenientes dos ensaios de toxicidade reprodutiva que permitam<br />
estudar os efeitos sobre a capacidade reprodutiva dos pais (fertilidade<br />
e fecundidade) e sobre a d<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> durante a embriogênese (compreendendo<br />
os efeitos teratogênicos) e o desenvolvimento fetal até o parto<br />
e, posteriormente, crescimento pós-<strong>na</strong>tal. Estes testes deveriam ser<br />
complementados com ensaios especiais <strong>para</strong> detectar a genotoxicidade<br />
bem como de estudos com<strong>para</strong>tivos de absorção, metabolismo, distribuição<br />
e excreção em espécies selecio<strong>na</strong>d<strong>as</strong> e nos seres humanos, contri-<br />
AVALIAÇÃO<br />
DA SEGURANÇA<br />
AVALIAÇÃO<br />
QUANTITATIVA DO RISCO<br />
Identificação do risco<br />
Característic<strong>as</strong> do risco<br />
Determi<strong>na</strong>ção<br />
do limiar do risco<br />
Limiar de risco não determi<strong>na</strong>do<br />
Determi<strong>na</strong>ção do NNOE<br />
em estudos críticos<br />
Determi<strong>na</strong>ções d<strong>as</strong> característic<strong>as</strong><br />
dose - resposta em estudos críticos<br />
(R=f[Dose] D→0 )<br />
Avaliação da ingestão diária<br />
aceitável = (IDA)<br />
IDA =<br />
NNOE<br />
Fator - de - segurança<br />
(incerteza)<br />
Avaliação da dose<br />
virtualmente segura:<br />
DVS = dose quando:<br />
R = risco socialmente aceitável<br />
(arbitrário)<br />
FIGURA 1 - Esquema <strong>para</strong> a avaliação de <strong>riscos</strong><br />
22
uindo, <strong>as</strong>sim, <strong>para</strong> a análise da importância dos efeitos observados em<br />
animais <strong>para</strong> o ser humano. Em c<strong>as</strong>os particulares pode ser necessário<br />
realizar estudos adicio<strong>na</strong>is, desti<strong>na</strong>dos especialmente a avaliar efeitos<br />
específicos, como, por exemplo, de imunotoxicidade ou <strong>para</strong> esclarecer<br />
mecanismos de toxicidade.<br />
A IDA é normalmente calculada a partir do mais baixo Nível em<br />
que Não se Observam Efeitos, NNOE (no-observed-effect level) n<strong>as</strong><br />
espécies mais suscetíveis, a menos que existam disponíveis informações<br />
que informem o contrário. O NNOE é dividido por um fator de<br />
segurança (ou de incerteza) <strong>para</strong> derivar a IDA (ou seja, IDA = NNOE/<br />
fator de segurança) que é expresso em relação com o peso corporal (mg/<br />
kg de peso corporal).<br />
Tradicio<strong>na</strong>lmente, um fator de segurança de 100 tem sido usado<br />
<strong>para</strong> cobrir <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> inter e intra-espécies nos parâmetros<br />
toxicocinéticos e toxicodinâmicos. Todavia, nos c<strong>as</strong>os em que existe<br />
informação com<strong>para</strong>tiva de origem huma<strong>na</strong> esta pode ser usada <strong>para</strong><br />
obter fatores de segurança derivados de pesquis<strong>as</strong>. Estes valores podem<br />
ser maiores ou menores do que os valores tradicio<strong>na</strong>is calculados<br />
teoricamente por falta de dados melhores [3]. A figura 1 apresenta um<br />
esquema <strong>para</strong> a avaliação do risco.<br />
No tocante à aplicação d<strong>as</strong> IDAs às crianç<strong>as</strong> pretende-se que este<br />
conceito se aplique aos lactentes e pré-escolares, exceto recém-n<strong>as</strong>cidos<br />
e lactentes até 12 seman<strong>as</strong> de idade. Esta exceção leva em conta o fato<br />
de <strong>as</strong> enzim<strong>as</strong> que detoxicam xenobióticos e sistem<strong>as</strong> homeostáticos<br />
demoram vári<strong>as</strong> seman<strong>as</strong> até alcançar níveis de maturidade e que os<br />
testes padronizados não cobrem a situação representada pela alimentação<br />
artificial durante o período de lactância (como acontece com crianç<strong>as</strong><br />
alimentad<strong>as</strong> com fórmula). C<strong>as</strong>o os testes indiquem que <strong>as</strong> f<strong>as</strong>es<br />
reprodutiva, neo<strong>na</strong>tal ou de desenvolvimento rápido são períodos de<br />
especial sensibilidade, isto deve orientar a seleção do estudo mais<br />
importante sobre o tema e <strong>para</strong> a determi<strong>na</strong>ção quantitativa da IDA. O<br />
cuidado aplicado a este processo deve <strong>as</strong>segurar que <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> sejam<br />
cobert<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> IDA embora, proporcio<strong>na</strong>lmente ao peso, os jovens consumam<br />
mais alimento do que os adultos, exigindo precauções especiais<br />
<strong>para</strong> <strong>as</strong>segurar que <strong>as</strong> IDAs não sejam excedid<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong>.<br />
Bibliografia<br />
1. Walker R. Toxicity testing and derivation of the ADI. Food Addit Contam 1998;<br />
15:11-16.<br />
2. Renwick AG, Walker R. An a<strong>na</strong>lysis of the risk of exceeding the acceptable or<br />
tolerable daily intake. Regul Toxicol Pharmacol 1993;18:463-80.<br />
3. Renwick AG. Data-derived safety factors for the evaluation of food additives and<br />
environmental contami<strong>na</strong>nts. Food Addit Contam 1993;10:275-305.<br />
23
Problem<strong>as</strong> peculiares<br />
no estabelecimento de limites<br />
<strong>para</strong> os elementos essenciais<br />
do alimento<br />
GEORGE C. BECKING<br />
Os métodos usados <strong>para</strong> determi<strong>na</strong>r os limites <strong>para</strong> o consumo de<br />
componentes essenciais do alimento e também o limite de exposição a<br />
esses componentes, a exemplo dos oligoelementos, requerem a adoção<br />
de princípios científicos provenientes da nutrição e da toxicologia.<br />
Quando os níveis de consumo são suficientemente altos, os oligoelementos<br />
essenciais podem chegar a ser tóxicos. No entanto, existe um nível<br />
mínimo de ingestão que os seres humanos requerem <strong>para</strong> a manutenção<br />
de um bom estado de saúde - isto é, há uma margem de ingestão <strong>na</strong> qual<br />
se mantém a homeost<strong>as</strong>e normal, ou seja, uma margem aceitável de<br />
ingestão oral (MAIO). Sob o <strong>as</strong>pecto científico, o desafio é chegar a<br />
determi<strong>na</strong>r quantitativamente os limites da MAIO <strong>para</strong> proteger os indivíduos<br />
dos efeitos adversos d<strong>as</strong> deficiênci<strong>as</strong> <strong>as</strong>sim como a toxicidade.<br />
Na curva teórica em forma de U que representa a relação dose-resposta<br />
apresentada <strong>na</strong> Figura 1, a MAIO compreende os níveis de ingestão<br />
situados entre os pontos A e B <strong>na</strong> qual o ponto A representa o nível de<br />
ingestão abaixo do qual aumenta a probabilidade de se observarem<br />
efeitos adversos produzidos por deficiênci<strong>as</strong> (isto é, o nível de ingestão<br />
recomendado [Aportes Dietéticos Recomendados - ADR ou<br />
“Recommended Dietary Allowances - RDA”]), enquanto o ponto B representa<br />
o nível de ingestão acima do qual aumenta a probabilidade de<br />
efeitos tóxicos (ingestão diária tolerável - IDT ou “tolerable daily intake”).<br />
Os métodos usados <strong>para</strong> determi<strong>na</strong>r os pontos A e B foram definidos<br />
cuidadosamente. Infelizmente, estes métodos foram desenvolvidos e<br />
recentemente empregados de forma isolada, havendo c<strong>as</strong>os em que a<br />
ingestão recomendada <strong>para</strong> o ponto B era menor do que os níveis recomendados<br />
de ingestão - ADR - como, por exemplo, no c<strong>as</strong>o do zinco. O<br />
cálculo adequado dos níveis de ingestão nos pontos A e B <strong>para</strong> seres<br />
humanos só pode ser obtido através de estreita colaboração de cientist<strong>as</strong><br />
24
dedicados à nutrição e à toxicologia que desejem aplicar toda a informação<br />
pertinente e que cheguem a um acordo sobre <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong><br />
conceituais nos princípios científicos que servem de fundamento a su<strong>as</strong><br />
metodologi<strong>as</strong>.<br />
Tradicio<strong>na</strong>lmente, o ponto B tem sido calculado dividindo-se o “nível<br />
em que não se observam efeitos” (ou o “menor nível <strong>para</strong> a observação<br />
de efeitos”) - geralmente obtido da informação sobre a doseresposta<br />
em animais de experiência ou em pequenos estudos com seres<br />
humanos - por uma série de “fatores de incerteza”, sem qualquer preocupação<br />
pelos requisitos nutricio<strong>na</strong>is ou biodisponibilidade nos seres<br />
humanos.<br />
Os requisitos nutricio<strong>na</strong>is (ponto A) b<strong>as</strong>eiam-se primariamente em<br />
dados obtidos n<strong>as</strong> populações human<strong>as</strong> adequadamente definid<strong>as</strong> no<br />
tocante a etap<strong>as</strong> de desenvolvimento, sexo e estado fisiológico e levam<br />
Porcentagem da população em<br />
situação de deficiência<br />
Deficiência<br />
Margem aceitável<br />
de ingestão oral<br />
(MAIO)<br />
Homeost<strong>as</strong>e normal<br />
Toxicidade<br />
Porcentagem da população<br />
em situação de toxicidade<br />
Exposição ou ingestão oral total<br />
FIGURA 1 - A curva em U da relação dose-resposta<br />
em conta a biodisponibilidade e <strong>as</strong> interações entre nutrientes. Presume-se<br />
que o limite de toxicidade da ingestão diária tolerável (IDT)<br />
protegerá a maior parte dos membros sadios da população, enquanto<br />
que os ADR (ou RDA) protegem a maioria (97,5%) dos indivíduos de<br />
uma população definida. A incerteza, a variabilidade e <strong>as</strong> limitações dos<br />
bancos de dados tendem a aumentar os limites estabelecidos <strong>para</strong> os<br />
requisitos nutricio<strong>na</strong>is ao mesmo tempo que reduzem os limites de<br />
toxicidade.<br />
Com b<strong>as</strong>e <strong>na</strong> revisão do conceito MAIO e dos princípios científicos<br />
que servem de b<strong>as</strong>e ao “modelo homeostático” considerado, foi proposta<br />
25
uma série de p<strong>as</strong>sos <strong>para</strong> calcular os limites da MAIO. Toda a informação<br />
científica será avaliada e os efeitos críticos que tenham significado<br />
clínico equivalente serão empregados <strong>para</strong> deduzir os limites nos pontos<br />
A e B <strong>para</strong> populações human<strong>as</strong> definid<strong>as</strong>. Depois de avaliada a ingestão/<br />
exposição será possível caracterizar o grau de risco <strong>para</strong> seres humanos<br />
quando os níveis de consumo situarem-se fora dos limites da MAIO.<br />
Em cada um destes p<strong>as</strong>sos, os cientist<strong>as</strong> devem indicar claramente<br />
quais <strong>as</strong> incertez<strong>as</strong> presentes em seus dados e indicar em que pontos<br />
foram empregad<strong>as</strong> hipóteses pré-estabelecid<strong>as</strong> por falta de melhor informação.<br />
No c<strong>as</strong>o do zinco, demonstrou-se que o modelo homeostático pode<br />
servir como <strong>para</strong>digma adequado <strong>para</strong> que se deduzam os limites da<br />
exposição aos oligoelementos essenciais. Ao incorporar informações<br />
sobre a biodisponibilidade e considerar a diferença <strong>na</strong> intensidade dos<br />
efeitos críticos considerados, foi elimi<strong>na</strong>do o aparente conflito entre os<br />
níveis recomendados no tocante à toxicidade e os requisitos nutricio<strong>na</strong>is.<br />
No entanto, faz-se necessária muita pesquisa adicio<strong>na</strong>l <strong>para</strong> que o<br />
modelo venha a ser utilizado mais intensamente. É da maior importância<br />
o desenvolvimento de marcadores biológicos <strong>para</strong> que se detectem<br />
si<strong>na</strong>is precoces de deficiência e toxicidade que permitam a previsão<br />
de efeitos clinicamente significativos em populações human<strong>as</strong> definid<strong>as</strong>,<br />
especialmente lactentes e pré-escolares. Este tipo de pesquisa é<br />
crucial c<strong>as</strong>o o modelo venha a ser empregado <strong>para</strong> definir os limites<br />
da MAIO nest<strong>as</strong> populações.<br />
Leitur<strong>as</strong> suplementares<br />
1. Dietary reference intakes. Nutr Rev 1997;55:319-26.<br />
2. A model for the development of tolerable upper intake levels. Nutr Rev 1997;55:<br />
342-50.<br />
3. Oskarsson A, Sandstrom B. A Nordic project-risk evaluation of essential elements;<br />
essential versus toxic levels of intake. A<strong>na</strong>lyst 1995;120:911-12.<br />
4. Beaton GH. Nutrient requirements and population data. Proc Nutr Soc 1988;47: 63-<br />
78.<br />
26
O processo de avaliação<br />
e caracterização de <strong>riscos</strong><br />
RON HOOGENBOOM<br />
Ao longo da vida os indivíduos estão expostos a numerosos e variados<br />
compostos, tanto <strong>na</strong>turais quanto sintetizados pelo homem. Para avaliar<br />
e enfrentar os possíveis <strong>riscos</strong> derivados dest<strong>as</strong> exposições foram desenvolvidos<br />
diferentes procedimentos, especialmente <strong>para</strong> os compostos<br />
agroquímicos e aditivos de alimentos e também <strong>para</strong> alguns poluentes<br />
ambientais (dioxin<strong>as</strong>, PCBs) e toxin<strong>as</strong> <strong>na</strong>turais (aflatoxin<strong>as</strong>). Isto pode<br />
resultar no estabelecimento de limites <strong>para</strong> os resíduos e conseqüente<br />
desenvolvimento de métodos sensíveis e específicos, principalmente<br />
químico-a<strong>na</strong>líticos <strong>para</strong> sua detecção.<br />
Em princípio, o processo de avaliação do risco pressupõe a avaliação<br />
científica da probabilidade da ocorrência de efeitos adversos sobre a<br />
saúde, conhecidos ou potenciais, resultantes da exposição do ser humano<br />
aos fatores de risco presentes nos alimentos. Antes de chegar a este<br />
ponto é preciso ultrap<strong>as</strong>sar divers<strong>as</strong> etap<strong>as</strong> que compreendem a identificação<br />
dos possíveis <strong>riscos</strong>, a caracterização do risco, o estabelecimento<br />
d<strong>as</strong> relações dose-resposta e de um Nível-em-que-Não-se-Observam-<br />
Efeitos-(Adversos) (NNOE)(A), a avaliação d<strong>as</strong> exposições e a conseqüente<br />
caracterização dos <strong>riscos</strong>. Foram elaborados diversos bioensaios<br />
em animais <strong>para</strong> identificar e caracterizar os possíveis <strong>riscos</strong> que pressupõe<br />
a exposição a um composto específico. Estes ensaios fundamentam-se<br />
em bioensaios in vitro que permitem melhor compreensão dos<br />
mecanismos que servem de b<strong>as</strong>e aos efeitos observados em animais, tais<br />
como <strong>as</strong> propriedades genotóxic<strong>as</strong> de substânci<strong>as</strong> carcinógen<strong>as</strong>. Recentemente<br />
tem havido crescente preocupação em face do grande número<br />
de compostos com propriedades (anti) hormo<strong>na</strong>is e foram desenvolvidos<br />
diversos novos bioensaios <strong>para</strong> identificar tais propriedades. Os ensaios<br />
usados <strong>para</strong> detectar <strong>as</strong> atividades estrogênic<strong>as</strong> e dos compostos similares<br />
à dioxi<strong>na</strong> (agonista do receptor Ah) são exemplos desses métodos.<br />
27
Extrapolação<br />
Extrapolação<br />
Modelos<br />
in vitro<br />
FIGURA 1 - Abordagem em multi<strong>para</strong>lelograma utilizando a informação obtida de estudos<br />
in vitro (animais de laboratório) e in vivo (animais de laboratório, animais que servem de<br />
alimento, seres humanos) <strong>para</strong> a extrapolação da informação obtida nos animais de laboratório<br />
ao ser humano e também <strong>para</strong> a extrapolação de dados sobre resíduos de animais<br />
geradores de alimentos ao homem. Os modelos in vitro podem ser usados n<strong>as</strong> com<strong>para</strong>ções<br />
entre espécies tanto da toxicidade quando da biotransformação de compostos.<br />
28
Atualmente, os principais desafios <strong>na</strong> avaliação dos perigos e <strong>riscos</strong><br />
consistem em poder melhorar a extrapolação da informação obtida em<br />
animais ao ser humano e chegar a uma melhor compreensão dos possíveis<br />
efeitos d<strong>as</strong> múltipl<strong>as</strong> exposições, inclusive interações da <strong>cadeia</strong><br />
<strong>alimentar</strong>. Outro problema importante é a possibilidade de sensibilidade<br />
aumentada entre crianç<strong>as</strong> e o reconhecimento de que o existente pacote<br />
de bioensaios de que se dispõe pode necessitar ajustes <strong>para</strong> que se<br />
identifiquem melhor os <strong>riscos</strong> deste grupo em particular. As crianç<strong>as</strong>,<br />
por exemplo, têm um compartimento de água extracelular relativamente<br />
grande, uma fração relativamente peque<strong>na</strong> de lípides, quantidades<br />
menores de proteín<strong>as</strong> pl<strong>as</strong>mátic<strong>as</strong> com capacidade de se unirem aos<br />
agentes farmacológicos, bem como padrões muito diferentes de absorção<br />
e excreção. Com b<strong>as</strong>e em nossos conhecimentos atuais, é difícil<br />
predizer o efeito líquido dest<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> [1].<br />
Os modelos farmacocinéticos b<strong>as</strong>eados <strong>na</strong> fisiologia [physiologically<br />
b<strong>as</strong>ed pharmakokinetic (PB-PK) models] podem desempenhar um papel<br />
importante <strong>na</strong> solução deste problema, inicialmente porque explicam os<br />
efeitos observados m<strong>as</strong> eventualmente por serem capazes de prognosticálos<br />
[2]. Isto pode incluir os efeitos que dependem especificamente da<br />
idade d<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> com su<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> particulares quanto à composição<br />
corporal, função dos diversos órgãos, potencial de biotransformação<br />
e consumo de alimentos.<br />
A utilização de ensaios in vitro <strong>para</strong> controlar amostr<strong>as</strong> de alimentos<br />
ou provenientes do meio com o objetivo de buscar agonist<strong>as</strong> conhecidos<br />
ou desconhecidos é uma novidade muito promissora [3]. A biotransformação<br />
de um composto pelo homem e animais de experiência, e sua toxicidade,<br />
são com<strong>para</strong>d<strong>as</strong> primeiramente in vitro. Em seguida, a informação obtida<br />
in vitro da espécie <strong>na</strong> qual foi efetuado o ensaio é com<strong>para</strong>da com a<br />
informação in vivo obtida a partir da mesma espécie. Com b<strong>as</strong>e ness<strong>as</strong><br />
com<strong>para</strong>ções os dados obtidos in vivo dos animais são extrapolad<strong>as</strong> ao ser<br />
humano. A Figura 1 ilustra est<strong>as</strong> etap<strong>as</strong>.<br />
Bibliografia<br />
1. Natio<strong>na</strong>l Academy of Sciences. Pesticides in the diets of infants and children.<br />
W<strong>as</strong>hington DC: Natio<strong>na</strong>l Academy Press, 1993.<br />
2. Clewell HJ, Anderson ME. Use of physiologically b<strong>as</strong>ed pharmacokinetic to investigate<br />
individual versus population risk. Toxicology 1996;111:315-29.<br />
3. Houston JB. Utility of in vitro drug metabolism data in predicting in vivo metabolic<br />
clearance. Biochem Pharmacol 1994;47:1469-79.<br />
29
O processo de avaliação<br />
da exposição<br />
a substânci<strong>as</strong> potencialmente tóxic<strong>as</strong><br />
JACOB D. VAN KLAVEREN, M. M. H. VAN DOOREN,<br />
D. KLOET e H. A. KUIPER<br />
A avaliação da exposição a substânci<strong>as</strong> potencialmente tóxic<strong>as</strong> através<br />
da dieta pode ser necessária por divers<strong>as</strong> razões. É necessário estimar<br />
a exposição aos resíduos <strong>para</strong> estabelecer seus limites. São necessári<strong>as</strong><br />
informações confiáveis que sirvam de referência <strong>para</strong> definir<br />
program<strong>as</strong> e polític<strong>as</strong> adequad<strong>as</strong> quanto à segurança dos alimentos e<br />
proteção à saúde. A comunicação dos <strong>riscos</strong> relativos à segurança dos<br />
alimentos não é aceitável se não estiver apoiada em informação confiável<br />
e b<strong>as</strong>eada em dados concretos. Freqüentemente, a avaliação da exposição<br />
é parte essencial da investigação epidemiológica.<br />
A avaliação da exposição se faz por métodos nos quais é utilizada<br />
informação originária tanto dos resíduos quanto do consumo de alimentos.<br />
Portanto, a qualidade da avaliação da exposição é determi<strong>na</strong>da pela<br />
confiabilidade com que são gerados esses dados relativos a resíduos e<br />
consumo de alimentos. A concentração de resíduos nos alimentos depende<br />
de modificações que se produzem ao longo do tempo, de variações<br />
que se produzem <strong>na</strong>turalmente e do esquema de amostragem <strong>para</strong><br />
a monitorização de resíduos.<br />
Os métodos de avaliação da exposição através da dieta compreendem<br />
estudos de cest<strong>as</strong> de compr<strong>as</strong>, técnic<strong>as</strong> de duplicação de diet<strong>as</strong> e<br />
métodos b<strong>as</strong>eados em cálculos. Para os dois primeiros métodos também<br />
conhecidos como estudos de dieta total, os achados b<strong>as</strong>eiam-se nos<br />
alimentos realmente consumidos. A disponibilidade de “informação real”<br />
pode ser uma vantagem <strong>na</strong> comunicação de <strong>riscos</strong>. A técnica de duplicação<br />
da dieta é o único método que mede diretamente a exposição do<br />
indivíduo que responde a pesquisa, um importante <strong>as</strong>pecto quando se<br />
estuda a relação entre exposição e su<strong>as</strong> conseqüênci<strong>as</strong> fisiológic<strong>as</strong>. Os<br />
30
esultados de um estudo de duplicação da dieta referem-se somente ao<br />
grupo estudado; são difíceis <strong>as</strong> extrapolações a outros grupos de idade.<br />
Todavia, devido a seus elevados custos, os estudos da dieta total são<br />
limitados quanto ao número de amostr<strong>as</strong> ou de indivíduos que podem<br />
ser exami<strong>na</strong>dos.<br />
Os cálculos da ingestão dietética que utilizam informação existente<br />
sobre o consumo de alimentos e de resíduos químicos são baratos, fáceis<br />
de fazer e rápidos. Em com<strong>para</strong>ção com os resultados sobre a dieta total<br />
esses cálculos da ingestão dietética são menos precisos. Todavia, estes<br />
sistem<strong>as</strong> de cálculo também podem ser usados n<strong>as</strong> previsões e desempenham<br />
um importante papel no estabelecimento de limites permitidos<br />
<strong>para</strong> os pesticid<strong>as</strong>.<br />
A maior parte da informação sobre os resíduos químicos origi<strong>na</strong>-se<br />
de estudos em produtos agrícol<strong>as</strong> primários e não do estudo de alimentos.<br />
É importante dispor de um banco de dados que descrevam alimentos<br />
prontos <strong>para</strong> o consumo em função dos produtos agrícol<strong>as</strong> primários.<br />
Simultaneamente, é necessário proceder à coleta estruturada de informação<br />
sobre o efeito do processamento de alimentos sobre o comportamento<br />
dos resíduos de produtos químicos e dos poluentes.<br />
A seleção do tipo de informação sobre o consumo que deve ser<br />
empregada <strong>na</strong> avaliação da exposição está relacio<strong>na</strong>da com <strong>as</strong> propriedades<br />
tóxic<strong>as</strong> de tais substânci<strong>as</strong>. As que tiverem propriedades tóxic<strong>as</strong><br />
crônic<strong>as</strong> devem ser avaliad<strong>as</strong> por meio de padrões de consumo de alimentos<br />
a longo prazo, enquanto a toxicidade aguda é avaliada pelo uso<br />
de porções volumos<strong>as</strong> ou dados provenientes de indivíduos que são<br />
grandes consumidores.<br />
O registro de alimentos e <strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong> do orçamento familiar fornecem<br />
informação sobre a ingestão habitual de alimentos no âmbito da<br />
população. A precisão desses dados, no entanto, é limitada e não são<br />
possíveis <strong>as</strong> avaliações sobre a exposição individual. Est<strong>as</strong> estatístic<strong>as</strong><br />
genéric<strong>as</strong> podem ser usad<strong>as</strong> <strong>para</strong> estimativ<strong>as</strong> grosseir<strong>as</strong> de ingestão e<br />
podem ser úteis <strong>para</strong> determi<strong>na</strong>r se são necessári<strong>as</strong> avaliações mais<br />
sofisticad<strong>as</strong>.<br />
Um registro repetido do consumo de alimentos durante um grande<br />
número de di<strong>as</strong> pode fornecer a melhor estimativa <strong>para</strong> uma ingestão<br />
habitual e individual de alimento. Esta abordagem é muito cara e não<br />
é factível nos estudos populacio<strong>na</strong>is em grande escala (epidemiológica)<br />
em que são geralmente usados questionários de freqüência de consumo<br />
de alimentos.<br />
31
Leitura suplementar<br />
1. Thompson FE, Byers T. Dietary <strong>as</strong>sessment resource manual. J Nutr 1994;124<br />
(suppl): 2245-317.<br />
2. Bingham SA, Gill C, Welch A, y cols. Comparison of dietary <strong>as</strong>sessment methods<br />
in nutritio<strong>na</strong>l epidemiology: weighed records v. 24 h recalls, food-frequency<br />
question<strong>na</strong>ires and estimated-diet records. Br J Nutr 1994;72:619-43.<br />
3. Young LR, Nestle M. Portion sizes in dietary <strong>as</strong>sessment: issues and policy<br />
implications. Nutr Rev 1995;6:149-58.<br />
4. Krebs-Smith SM, Heimendinger J, Subar AF, e cols. Using food frequency question<strong>na</strong>ires<br />
to estimate fruit and vegetable intake: <strong>as</strong>sociation between the number of<br />
questions and total intakes. J Nutr Educ 1995;27:81-5.<br />
32
Riscos <strong>para</strong> os lactentes<br />
<strong>na</strong> <strong>cadeia</strong> <strong>alimentar</strong>: exposição<br />
através do leite materno<br />
WALTER J. ROGAND e N B. RAGAN<br />
Os lactentes amamentados ao seio podem ser expostos a muitos<br />
agentes que estão presentes como contami<strong>na</strong>ntes no leite materno [1-3].<br />
Os agentes que causam preocupação tendem a estar presentes no leite<br />
em concentrações mais alt<strong>as</strong> do que no soro e geralmente são estrutur<strong>as</strong><br />
cíclic<strong>as</strong> estáveis, com variados graus de haloge<strong>na</strong>ção, geralmente de<br />
cloração. São lipofílicos e por isso parecem concentrar-se no leite que<br />
contém aproximadamente 3% de gordura enquanto o soro contém menos<br />
de 1%.<br />
Os pesticid<strong>as</strong> mais freqüentemente citados nos relatos e os produtos<br />
químicos que são poluentes industriais ambientais e aparecem no leite<br />
humano são o DDE, os PCB, o dieldrin, o heptacloroepóxido, o<br />
oxiclordano, o hexaclorobenzeno, o 2,3,7,8 TCDD, <strong>as</strong> dioxin<strong>as</strong> e os PCDF.<br />
As fontes dos dados são a vigilância contínua e automatizada da literatura,<br />
além de contato com pesquisadores e agênci<strong>as</strong> gover<strong>na</strong>mentais.<br />
Quanto à informação sobre a ocorrência de contami<strong>na</strong>ntes, são utilizados<br />
os bancos de dados mais atualizados proporcio<strong>na</strong>dos por organizações<br />
d<strong>as</strong> mais representativ<strong>as</strong> e sobre a informação da toxicidade, são<br />
usados os informes públicos origi<strong>na</strong>is disponíveis. Quando necessário, a<br />
informação sofre revisão e <strong>as</strong> concentrações são express<strong>as</strong> em escal<strong>as</strong><br />
diferentes. C<strong>as</strong>o necessário, faz-se contato com o pesquisador origi<strong>na</strong>l.<br />
Efeitos dos contami<strong>na</strong>ntes<br />
Embora os contami<strong>na</strong>ntes químicos sejam detectados facilmente, em<br />
escala mundial, n<strong>as</strong> amostr<strong>as</strong> de leite materno, existem poucos dados<br />
sobre a morbidade posterior nos lactentes amamentados ao seio. Ocorreram<br />
vários episódios de intoxicações maciç<strong>as</strong> n<strong>as</strong> quais os produtos<br />
químicos transferidos através do leite materno afetaram, sem sombra de<br />
dúvida, <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> que estavam sendo amamentad<strong>as</strong>. Existem também<br />
33
algum dados que indicam que a exposição pré-<strong>na</strong>tal a teores ambientais<br />
de contami<strong>na</strong>ção produzem um leve atr<strong>as</strong>o no desenvolvimento e que a<br />
própria lactância sofre prejuízos [4]. Apesar da presença de resíduos<br />
químicos, a amamentação ao seio deve prosseguir.<br />
O período pré-<strong>na</strong>tal, no c<strong>as</strong>o da criança, e o começo da lactação, no<br />
c<strong>as</strong>o da mãe, podem ser períodos vulneráveis <strong>para</strong> a toxicidade produzida<br />
pelos produtos químicos considerados aqui; seu potencial de<br />
toxicidade com teores mais elevados é evidente. Todavia, <strong>para</strong> a maior<br />
parte d<strong>as</strong> mulheres os benefícios da amamentação ao seio parecem ser<br />
maiores do que os <strong>riscos</strong> gerados pelos contami<strong>na</strong>ntes. Os profissio<strong>na</strong>is<br />
que proporcio<strong>na</strong>m conselhos às mães sobre nutrição infantil devem<br />
continuar a apoiar a amamentação ao peito.<br />
Bibliografia<br />
1. Rogan WJ. Pollutants in bre<strong>as</strong>t milk. Arch Pediatr Adolesc Med 1996;150:981-<br />
90.<br />
2. Rogan WJ, Ragan NB. Chemical contami<strong>na</strong>nts, pharmacokinetics, and the lactating<br />
mother. Environ Health Perspect 1994;102:89-95.<br />
3. Rogan WJ, Blanton PJ, Portier CJ, Stallard E. Should the presence of carcinogens<br />
in bre<strong>as</strong>t milk discourage bre<strong>as</strong>t feeding? Regul Toxicol Pharmacol 1991;<br />
13:228-40.<br />
4. Huisr<strong>na</strong>n M, Koopman-Esseboom C, Fidler V, e cols. Peri<strong>na</strong>tal exposure to<br />
polychlori<strong>na</strong>ted biphenyls and dioxins and its effect on neo<strong>na</strong>tal neurological<br />
development. Early Hum Dev 1995;41:111-27.<br />
34
Contami<strong>na</strong>ção ambiental,<br />
diarréia e doenç<strong>as</strong> transmitid<strong>as</strong><br />
pelo alimento<br />
MICHAEL GRACEY<br />
O trato g<strong>as</strong>trintesti<strong>na</strong>l está exposto, desde o n<strong>as</strong>cimento e diariamente,<br />
a microorganismos potencialmente prejudiciais provenientes do meio<br />
[1]. Nos indivíduos sadios que vivem em ambientes “limpos” existem<br />
mecanismos complexos, interrelacio<strong>na</strong>dos, que permitem que se estabeleça<br />
e mantenha uma microflora g<strong>as</strong>trintesti<strong>na</strong>l residente, normal, que<br />
se encontra em harmonia com o meio externo. De certa forma, esta<br />
microflora reflete o meio externo, especialmente durante <strong>as</strong> etap<strong>as</strong> precoces<br />
da infância.<br />
Esta “harmonia controlada” sofre alteração nos ambientes contami<strong>na</strong>dos<br />
por microorganismos, quando, por exemplo, a higiene pessoal,<br />
doméstica ou comunitária não é adequada e sofre a infestação de vetores<br />
humanos ou animais, ou através de água ou alimento microbiologicamente<br />
poluídos. Est<strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong> são de grande importância nos países<br />
tropicais em desenvolvimento. Lactentes e crianç<strong>as</strong> que vivem ness<strong>as</strong><br />
áre<strong>as</strong> freqüentemente sofrem de contami<strong>na</strong>ção microbiológica do intestino<br />
superior (a <strong>as</strong>sim chamada “síndrome do intestino delgado contami<strong>na</strong>do”),<br />
particularmente se forem desnutridos. Esta síndrome é importante<br />
porque pode causar má absorção de nutrientes, compreendendo<br />
carboidratos, lipídios, proteín<strong>as</strong> e vitamin<strong>as</strong>. Isto pode ser parte do<br />
espectro da enteropatia tropical que se manifesta em muit<strong>as</strong> partes do<br />
mundo. Trata-se de regiões endêmic<strong>as</strong> <strong>para</strong> a doença diarréica n<strong>as</strong> quais<br />
os visitantes vindos de países industrializados podem desenvolver diarréia<br />
enquanto <strong>as</strong> visitam ou mesmo depois de tê-lo feito. A diarréia do viajante<br />
é considerada um problema que afeta somente os adultos m<strong>as</strong> também<br />
ataca lactentes e crianç<strong>as</strong> pequen<strong>as</strong> que desenvolvem graves episódios de<br />
diarréia que às vezes se prolonga e chega a ser fatal. As inter-relações<br />
entre desnutrição infantil, diarréia e contami<strong>na</strong>ção microbiológica do<br />
ambiente e dos alimentos aparece ilustrada <strong>na</strong> Figura 1.<br />
35
INTERAÇÃO DIARRÉIA/NUTRIÇÃO<br />
DIARRÉIA<br />
Higiene deficiente<br />
Alimento e água<br />
contami<strong>na</strong>dos<br />
Vetores<br />
de doenç<strong>as</strong><br />
Outr<strong>as</strong> infecções<br />
INFECÇÕES<br />
INTESTINAIS<br />
Desmame e hábitos<br />
<strong>alimentar</strong>es<br />
Uso de medicamentos<br />
e antibióticos<br />
Sazo<strong>na</strong>lidade<br />
Idade<br />
DESNUTRIÇÃO<br />
FIGURA 1 - Inter-relações entre desnutrição infantil, diarréia e outr<strong>as</strong> infecções; a contami<strong>na</strong>ção<br />
dos alimentos e bebid<strong>as</strong> desempenha um importante papel ness<strong>as</strong> relações<br />
(Reproduzido de Acta Paediatrica Japonica com a autorização do autor e do editor).<br />
A diarréia persistente (DP) foi reconhecida desde a década p<strong>as</strong>sada<br />
como uma d<strong>as</strong> principais caus<strong>as</strong> de mortalidade <strong>as</strong>sociada à desnutrição<br />
e à doença diarréica em crianç<strong>as</strong> nos países em via de desenvolvimento<br />
[2]. Os fatores predisponentes compreendem a contami<strong>na</strong>ção<br />
microbiológica do meio e <strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> i<strong>na</strong>dequad<strong>as</strong> de desmame e alimentação,<br />
o estado nutricio<strong>na</strong>l dos lactentes e crianç<strong>as</strong> de risco e sua<br />
exposição prévia a antidiarréicos e antimicrobianos.<br />
As infecções g<strong>as</strong>trintesti<strong>na</strong>is podem ser causad<strong>as</strong> por bactéri<strong>as</strong>, vírus<br />
ou <strong>para</strong>sit<strong>as</strong>. As bactéri<strong>as</strong> podem causar diarréia devido aos efeitos da<br />
própria infecção ou através de exotoxin<strong>as</strong> pré-formad<strong>as</strong>, ingerid<strong>as</strong> com<br />
os alimentos previamente contami<strong>na</strong>dos por estafilococos, por exemplo.<br />
Est<strong>as</strong> infecções têm sua origem no ambiente e transmitem-se pela via<br />
fecal-oral. No entanto, esta <strong>cadeia</strong> de transmissão pode incluir etap<strong>as</strong><br />
intermediári<strong>as</strong> como a transmissão de pessoa a pessoa, ou de animais<br />
doentes, infecção contraída pelo contato com superfícies contami<strong>na</strong>ntes<br />
como roup<strong>as</strong> ou utensílios de cozinha ou por alimentos e água contami<strong>na</strong>dos.<br />
Uma vez que os alimentos podem sofrer contami<strong>na</strong>ção fecal através<br />
da água utilizada em seu cultivo, no preparo ou manipulação, ou<br />
através da adição de gelo contami<strong>na</strong>do às bebid<strong>as</strong> ou alimentos, est<strong>as</strong><br />
36
infecções, que se consideram transmitid<strong>as</strong> pela água mais do que através<br />
dos alimentos, têm uma importância especial.<br />
Também causam doenç<strong>as</strong> <strong>as</strong> toxin<strong>as</strong> ingerid<strong>as</strong> com plant<strong>as</strong> comestíveis<br />
como os fungos ou <strong>as</strong> toxin<strong>as</strong> ou produtos químicos presentes no<br />
meio como o mercúrio nos peixes ou o glutamato monossódico nos alimentos<br />
da cozinha chinesa.<br />
Bibliografia<br />
1. Clarkson TW. Environmental contami<strong>na</strong>nts in the food chain. Am J Clin Nutr 1995;<br />
61(suppl):6825-65.<br />
2. Black RE. Persistent diarrhea in children in developing countries. Pediatr Infect Dis<br />
J 1993;12:751-61.<br />
3. Rivera-Matos JR, Cleary TG. Foodborne and waterborne illness in children. Adv<br />
Pediatr Infect Dis 1996; 11: 101-34.<br />
37
Avaliação e manejo do perigo<br />
dos pesticid<strong>as</strong> tóxicos <strong>na</strong> produção<br />
de “baby food” e no desenvolvimento<br />
de novos produtos<br />
BENOÎT SCHILTER<br />
A produção de matéri<strong>as</strong>-prim<strong>as</strong> agrícol<strong>as</strong> <strong>para</strong> a elaboração de alimentos<br />
infantis pode requerer a aplicação de pesticid<strong>as</strong> <strong>para</strong> o controle<br />
de organismos daninhos. Seu emprego <strong>as</strong>segura o rendimento d<strong>as</strong> colheit<strong>as</strong><br />
e gera aumento da disponibilidade de matéri<strong>as</strong>-prim<strong>as</strong> de alta<br />
qualidade. Todavia, em conseqüência do tratamento d<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> detectam-se,<br />
em tais matéri<strong>as</strong>-prim<strong>as</strong> e portanto nos alimentos infantis produzidos,<br />
níveis baixos de resíduos. Como a elimi<strong>na</strong>ção total destes produtos<br />
químicos potencialmente tóxicos é impossível ou muito difícil de<br />
conseguir, é de importância crucial demonstrar que os níveis detectados<br />
não representam motivo de preocupação <strong>para</strong> a saúde d<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong>.<br />
Além disso, é necessário desenvolver e acio<strong>na</strong>r estratégi<strong>as</strong> adequad<strong>as</strong><br />
<strong>para</strong> o sistema de produção e o controle de qualidade que <strong>as</strong>segurem<br />
que os níveis toleráveis e seguros estabelecidos não sejam ultrap<strong>as</strong>sados<br />
no produto fi<strong>na</strong>l (Figura 1).<br />
Estabelecimento de níveis seguros de exposição<br />
<strong>para</strong> lactentes e crianç<strong>as</strong><br />
A segurança dos pesticid<strong>as</strong> está prevista n<strong>as</strong> definições de níveis de<br />
ingestão diária aceitáveis (IDA) (acceptable daily intake) do Grupo de<br />
Peritos em Resíduos de Pesticid<strong>as</strong> da Organização Mundial da Saúde<br />
(OMS). Para a maior parte dos pesticid<strong>as</strong> <strong>as</strong> IDAs origi<strong>na</strong>m-se de informação<br />
obtida de animais de experiência. A seguir, p<strong>as</strong>samos a definir<br />
um nível seguro de ingestão <strong>para</strong> estes animais e os dividimos pelos<br />
fatores de incerteza (ou segurança) por falta de informações mais precis<strong>as</strong>,<br />
que levam em conta <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> potenciais entres <strong>as</strong> espécies<br />
e o seres humanos.<br />
38
Métodos específicos<br />
de crescimento<br />
Métodos específicos<br />
de análise de resíduos<br />
Alimentos<br />
infantis:<br />
Seguros e saudáveis<br />
Avaliação de inocuidade<br />
FIGURA 1 - Avaliação e manejo de pesticid<strong>as</strong> <strong>na</strong> produção de alimentos infantis. A<br />
produção de matéri<strong>as</strong>-prim<strong>as</strong> agrícol<strong>as</strong> <strong>para</strong> a produção de alimentos infantis pode exigir<br />
a aplicação de pesticid<strong>as</strong> <strong>para</strong> controlar organismos daninhos ou doenç<strong>as</strong>. Como é possível<br />
que persistam baixos níveis de resíduos no produto fi<strong>na</strong>l, é necessário demonstrar que<br />
não são um motivo de preocupação <strong>para</strong> a saúde de lactentes (avaliação de segurança).<br />
A solução mais prática <strong>para</strong> elaborar produtos fi<strong>na</strong>is com níveis toleráveis de pesticid<strong>as</strong><br />
consiste <strong>na</strong> aplicação de métodos agrícol<strong>as</strong> b<strong>as</strong>eados no emprego de pequen<strong>as</strong> quantidades<br />
de produtos agroquímicos (métodos específicos de cultivo). Para poder controlar os<br />
baixos níveis de pesticid<strong>as</strong> que podem estar presentes nos alimentos infantis é necessário<br />
desenvolver métodos específicos que sirvam de ferramenta <strong>para</strong> estabelecer estratégi<strong>as</strong><br />
adequad<strong>as</strong> ao controle de qualidade (métodos específicos de análise de resíduos).<br />
As IDAs correspondem a uma estimativa da quantidade de um<br />
pesticida que pode ser ingerida ao longo da vida, diariamente, sem<br />
<strong>riscos</strong> apreciáveis <strong>para</strong> a saúde. Aplicam-se a toda a população, exceto<br />
lactentes menores de 12 meses. No entanto, tem sido contestada recentemente<br />
[1,2] sua capacidade de proteger ple<strong>na</strong>mente lactentes e préescolares.<br />
A revisão dos procedimentos usados <strong>para</strong> avaliar a segurança dos<br />
pesticid<strong>as</strong> demonstrou que os bancos de dados toxicológicos utilizados<br />
<strong>para</strong> calcular <strong>as</strong> IDAs abrangem <strong>as</strong> mais importantes manifestações de<br />
toxicidade que podem afetar o desenvolvimento, como a morte do organismo<br />
durante a maturação, malformações e alterações do crescimento.<br />
No entanto, é possível que certos efeitos funcio<strong>na</strong>is sutis como a<br />
neurotoxicidade que afeta o comportamento ou a imunotoxicidade de<br />
certos pesticid<strong>as</strong> não tenham sido abordados satisfatoriamente. Conseqüentemente,<br />
<strong>as</strong> IDAs de um pesticida nem sempre podem ser aplicad<strong>as</strong><br />
diretamente quando se trata de estabelecer níveis seguros de exposição<br />
<strong>para</strong> <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong>.<br />
39
Os pesquisadores da <strong>Nestlé</strong> desenvolveram uma estratégia <strong>para</strong> calcular<br />
os níveis seguros de exposição <strong>para</strong> crianç<strong>as</strong>. O enfoque está n<strong>as</strong><br />
IDAs juntamente com a aplicação, nos c<strong>as</strong>os necessários, de um fator<br />
adicio<strong>na</strong>l de incerteza que leve em conta a maior suscetibilidade potencial<br />
de crianç<strong>as</strong> aos produtos tóxicos. A necessidade deste fator adicio<strong>na</strong>l<br />
depende da adequação da informação toxicológica disponível em<br />
relação aos potenciais efeitos sobre o desenvolvimento. A aplicação<br />
dessa estratégia apresentada mais acima facilita a definição de teores<br />
toleráveis de consumo <strong>para</strong> crianç<strong>as</strong> a partir dos quais é possível estabelecer<br />
diretrizes sobre a presença de pesticid<strong>as</strong> nos produtos fi<strong>na</strong>is,<br />
considerando o peso <strong>para</strong> cada idade específica e <strong>as</strong> quantidades de<br />
alimento consumid<strong>as</strong>.<br />
Estratégi<strong>as</strong> <strong>para</strong> minimizar a presença de pesticid<strong>as</strong><br />
nos alimentos infantis elaborados industrialmente<br />
A solução mais prática <strong>para</strong> que os alimentos elaborados industrialmente<br />
contenham níveis toleráveis de pesticid<strong>as</strong> está no controle rigoroso<br />
da f<strong>as</strong>e de produção agrícola. Isto foi alcançado através de um<br />
esforço de pesquisa orientado no sentido da busca de alter<strong>na</strong>tiv<strong>as</strong> <strong>para</strong><br />
a proteção d<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>. Foram desenvolvid<strong>as</strong> metodologi<strong>as</strong> específic<strong>as</strong><br />
b<strong>as</strong>ead<strong>as</strong> no uso de reduzid<strong>as</strong> quantidades de produtos agroquímicos.<br />
Algum<strong>as</strong> dest<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> b<strong>as</strong>eiam-se nos princípios de tratamento integrado<br />
de prag<strong>as</strong> (integrated pest ma<strong>na</strong>gement, IPM) e/ou da agricultura<br />
orgânica. Como conseqüência da estreita colaboração entre os serviços<br />
agrários da <strong>Nestlé</strong> e os agricultores foram acio<strong>na</strong>dos sistem<strong>as</strong> b<strong>as</strong>eados<br />
em cultur<strong>as</strong> por contrato. Os principais elementos destes contratos cobrem<br />
a seleção dos terrenos, <strong>as</strong> variedades que serão plantad<strong>as</strong> e a data<br />
em que isto será realizado, o esquema de aplicação de fertilizantes, o<br />
plano de proteção d<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> e colheit<strong>as</strong> e outros critérios de qualidade.<br />
Durante o período de crescimento d<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>, os serviços agrários<br />
da <strong>Nestlé</strong> realizarão controles sobre o terreno e inspeções de qualidade<br />
parta identificar problem<strong>as</strong> potenciais e fornecer aconselhamento. A<br />
estratégia está ilustrada <strong>na</strong> Figura 1.<br />
Desenvolvimento de produtos<br />
No c<strong>as</strong>o de nov<strong>as</strong> matéri<strong>as</strong> prim<strong>as</strong> identificad<strong>as</strong> como candidat<strong>as</strong> ao<br />
desenvolvimento de novos produtos é realizada uma cuidadosa análise<br />
sobre sua inocuidade. Isto compreende uma avaliação nutricio<strong>na</strong>l e uma<br />
análise dos potenciais <strong>riscos</strong> toxicológicos que abrangem os produtos<br />
tóxicos intrínsecos, os fatores antinutricio<strong>na</strong>is e os contami<strong>na</strong>ntes. A<br />
variedade da nova cultura é cuidadosamente selecio<strong>na</strong>da com b<strong>as</strong>e em<br />
40
muitos critérios de qualidade e segurança e é elaborado um plano seguro<br />
de proteção da cultura. A seleção dos pesticid<strong>as</strong> utilizáveis b<strong>as</strong>ei<strong>as</strong>e<br />
em dados de eficácia no campo, <strong>as</strong>pectos legais e informações sobre<br />
a segurança ambiental. O sucesso de uma nova matéria-prima depende,<br />
em última análise, da possibilidade de produzi-la de acordo com o<br />
sistema de contratação de cultur<strong>as</strong>.<br />
Bibliografia<br />
1. Schilter B, Huggett AC. The ADI <strong>as</strong> a b<strong>as</strong>is to establish standards for pesticide<br />
residues in food products for infants and children. Food Addit Contam 1998; 15<br />
(suppl):83-9.<br />
2. Schilter B, Huggett AC. Are current regulatory limits for food contami<strong>na</strong>nts suitable<br />
for infants and children? Trends Food Sci Technol 1997;8:48-53.<br />
41
Encefalopatia Espongiforme Bovi<strong>na</strong><br />
(EEB) e a saúde pública<br />
HEINO DIRINGER<br />
A encefalopatia espongiforme bovi<strong>na</strong> (EEB) é uma doença neurodegenerativa<br />
fatal do gado bovino. É transmissível e apresenta-se como<br />
uma encefalopatia espongiforme. As encefalopati<strong>as</strong> espongiformes<br />
transmissíveis (EET) caracterizam-se por períodos muito longos de incubação<br />
sem si<strong>na</strong>is clínicos, que podem durar vários anos e até décad<strong>as</strong>.<br />
Afetam os animais e também os seres humanos. Nestes, foram<br />
descrit<strong>as</strong> divers<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de apresentação clínica: a doença de Creutzfeld-<br />
Jacob (DCJ), a síndrome Gerstman-Sträussler-Scheinker (GSS), a insônia<br />
familiar fatal (IFF) e o kuru. Exceto por uma predisposição familiar,<br />
desconhece-se a principal causa dest<strong>as</strong> doenç<strong>as</strong>. Quanto a uma nova<br />
variedade da DCJ (DCJnv) existem atualmente prov<strong>as</strong> experimentais<br />
sólid<strong>as</strong> que indicam que o fator transmissível origi<strong>na</strong>-se no gado bovino<br />
[1]. O agente foi transmitido i<strong>na</strong>dvertidamente a outros rumi<strong>na</strong>ntes, a<br />
carnívoros e a primat<strong>as</strong> através do alimento. Também foi transmitido aos<br />
seres humanos, provavelmente através dos alimentos.<br />
Patogenia<br />
Sob o <strong>as</strong>pecto de sua patogenia a EEB pode ser considerada como uma<br />
amiloidose causada por um agente infeccioso não identificado. A difusão<br />
do agente e sua transmissão a outr<strong>as</strong> espécies coincide com nossos conhecimentos<br />
sobre os vírus. No p<strong>as</strong>sado, o conceito de amiloidose induzida<br />
por vírus permitiu predizer corretamente a interrelação entre <strong>as</strong> doenç<strong>as</strong><br />
de animais e dos seres humanos [2]. Isto contr<strong>as</strong>ta com o conceito de<br />
príon que atribui a transmissão e a replicação do agente à própria<br />
amilóide, ou seja, à proteí<strong>na</strong> por si [3]. C<strong>as</strong>o esta teoria esteja correta,<br />
o agente que recebeu o nome de “príon”, já foi identificado e bem<br />
caracterizado. O quadro I faz um resumo d<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> conceituais<br />
entre o conceito de vírus e o conceito de príon.<br />
42
QUADRO I - Diferenç<strong>as</strong> entre os conceitos de vírus e príon<br />
Diferença n 0 1: De acordo com o conceito de vírus o agente não foi identificado. O<br />
agente foi identificado segundo o conceito de príon.<br />
Diferença n 0 2: No conceito de vírus considera-se que a amilóide participa de maneira<br />
crítica <strong>na</strong> patogenia. Segundo o conceito de príon, a amilóide é o agente causal da<br />
doença.<br />
Diferença n 0 3: Segundo o conceito de vírus, em contr<strong>as</strong>te com o conceito de príon,<br />
outr<strong>as</strong> amilóides não podem transmitir a doença.<br />
Diferença n 0 4: Conforme o conceito de vírus a patogenia da EET pode ser descrita<br />
como o produto da interação entre um agente semelhante a um vírus e uma proteí<strong>na</strong> de<br />
superfície de uma célula que causa amiloidose. Para o agente, esta proteí<strong>na</strong> funcio<strong>na</strong><br />
como um receptor, isto é, facilita sua absorção à superfície celular o que define o<br />
tropismo do agente pel<strong>as</strong> célul<strong>as</strong>. Segundo o conceito de príon, a glicoproteí<strong>na</strong> desdobra-se<br />
de maneira anômala (num fenômeno aleatório) e transforma-se no agente.<br />
Diferença n 0 5: No conceito de vírus sempre foi considerado o ingresso do agente<br />
pela via oral com os alimentos como uma via importante <strong>para</strong> a transmissão d<strong>as</strong> EET<br />
e procurou-se uma <strong>as</strong>sociação entre o “scrapie” dos ovinos e <strong>as</strong> form<strong>as</strong> esporádic<strong>as</strong> e<br />
familiares da DCJ no ser humano. No entanto, o conceito de príon postula que a<br />
dobradura errônea de uma proteí<strong>na</strong> do hospedeiro, sem a presença de um agente infeccioso<br />
proveniente do exterior causa <strong>as</strong> form<strong>as</strong> esporádic<strong>as</strong> e familiares da DCJ nos seres<br />
humanos. (Os c<strong>as</strong>os esporádicos da DCJ são aqueles em que não há evidência de uma<br />
predisposição genética <strong>para</strong> a enfermidade. N<strong>as</strong> form<strong>as</strong> familiares da EET, como n<strong>as</strong><br />
outr<strong>as</strong> amiloidoses não transmissíveis, uma modificação genética da amilóide ou do gene<br />
que a codifica causa a predisposição <strong>para</strong> o desenvolvimento da doença).<br />
Diferença n 0 6: Em contr<strong>as</strong>te com o conceito do príon, o conceito do vírus pode<br />
explicar a via da infecção do agente e a predisposição à infecção com b<strong>as</strong>e em dados<br />
experimentais muito bem definidos sobre <strong>as</strong> doenç<strong>as</strong> infeccios<strong>as</strong>.<br />
O futuro<br />
A falta de uma prova diagnóstica prática que sirva <strong>para</strong> identificar<br />
os indivíduos com infecção subclínica (animais ou seres humanos), a<br />
incerteza sobre <strong>as</strong> concentrações absolut<strong>as</strong> do agente nos diversos tecidos<br />
dos bovinos, a incerteza sobre a possível transmissão do agente no<br />
conjunto da população huma<strong>na</strong> através do sangue ou seus derivados e,<br />
fi<strong>na</strong>lmente, embora não menos importante, o enigma de porquê os indivíduos<br />
jovens e não os de mais idade são afetados pela DCJnv são todos<br />
graves problem<strong>as</strong> de saúde pública. Nesta situação existe uma urgente<br />
necessidade de identificar o agente que causa est<strong>as</strong> doenç<strong>as</strong> fatais. O<br />
agente causal já foi realmente identificado como um príon (ou seja, a<br />
proteí<strong>na</strong> da amilóide) ou um perigoso agente patogênico se esconde <strong>na</strong><br />
fração da amilóide (o conceito do vírus). C<strong>as</strong>o o primeiro conceito seja<br />
o correto o diagnóstico precoce específico ficaria limitado à detecção da<br />
43
amilóide. Se o segundo conceito for o correto seria possível desenvolver<br />
uma prova diagnóstica sensível b<strong>as</strong>eada em uma sonda pre<strong>para</strong>da <strong>para</strong><br />
detectar o ácido nucléico do agente proposto.<br />
Um protocolo desenvolvido recentemente <strong>para</strong> purificar a amilóide a<br />
um elevado grau de pureza nos oferece a oportunidade de responder à<br />
pergunta fundamental sobre a causa dest<strong>as</strong> doenç<strong>as</strong> [4].<br />
Bibliografia<br />
1. Bruce ME, Will RG, Ironside JW, e cols. Transmissions to mice indicate that, new<br />
variant’ is caused by the BSE agent. Nature 1997;389:498-50.<br />
2. Diringer H. Hidden amyloidoses. Exp Clin Immunogenet 1992;9:212-29.<br />
3. Prusiner SB. The prion dise<strong>as</strong>e. Sci Am 1995, January:30-7.<br />
4. Diringer H, Beekes M, Ozel M, e cols. Highly infectious purified pre<strong>para</strong>tions of<br />
dise<strong>as</strong>e-specific amyloid of transmissible spongiform encephalopathies are not devoid<br />
of nucleic acids of viral size. Intervirology 1997;40:238-46.<br />
44
Novos alimentos<br />
e novos <strong>riscos</strong><br />
<strong>na</strong> <strong>cadeia</strong> <strong>alimentar</strong><br />
JEAN-MICHEL WAL e G. PASCAL<br />
A autorização <strong>para</strong> a comercialização de novos alimentos e particularmente<br />
<strong>para</strong> alimentos que contêm ou são derivados de organismos<br />
geneticamente modificados é acompanhada de uma avaliação prelimi<strong>na</strong>r<br />
de sua segurança e valor nutricio<strong>na</strong>l.<br />
Em razão da falta de adequação dos testes toxicológicos habituais, a<br />
avaliação da segurança b<strong>as</strong>eia-se no conceito de “equivalência substancial”<br />
que estabelece que se for demonstrado que um novo alimento é<br />
“substancialmente equivalente” a um alimento convencio<strong>na</strong>l existente,<br />
poderá ser tratado do mesmo modo com relação à segurança. O estabelecimento<br />
da equivalência substancial não é uma avaliação toxicológica<br />
per se m<strong>as</strong> um exercício a<strong>na</strong>lítico que com<strong>para</strong> o novo alimento com um<br />
alimento existente que nunca havia sido avaliado m<strong>as</strong> cujo uso durante<br />
muito tempo representa uma garantia suficiente. No entanto, <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es<br />
desta com<strong>para</strong>ção não estão bem definid<strong>as</strong> e não são constantes. Podem<br />
variar dependendo d<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> geográfic<strong>as</strong> e ao longo do tempo com <strong>as</strong><br />
mudanç<strong>as</strong> dos hábitos <strong>alimentar</strong>es e dos processos agro-industriais. Por<br />
isso, os critérios <strong>para</strong> o estabelecimento d<strong>as</strong> equivalênci<strong>as</strong> substanciais<br />
ainda são objeto de discussão.<br />
Depois de revisar toda a informação disponível sobre <strong>as</strong> diferentes<br />
característic<strong>as</strong> do hospedeiro, do doador, do organismo modificado<br />
(característic<strong>as</strong> de inserção, funcio<strong>na</strong>lidade dos genes forâneos e <strong>as</strong>sim<br />
sucessivamente) e do produto fi<strong>na</strong>l podem surgir três situações<br />
diferentes:<br />
1) Estabelece-se uma equivalência substancial - isto é, <strong>na</strong>da diferencia<br />
o novo alimento do alimento convencio<strong>na</strong>l. O alimento novo é<br />
considerado tão seguro quanto o alimento convencio<strong>na</strong>l de referência e<br />
não são necessários estudos adicio<strong>na</strong>is.<br />
45
2) Não há equivalência substancial entre o novo alimento e o alimento<br />
convencio<strong>na</strong>l. Este é o c<strong>as</strong>o, por exemplo, em que a modificação<br />
genética está relacio<strong>na</strong>da com o valor nutricio<strong>na</strong>l e não somente com <strong>as</strong><br />
característic<strong>as</strong> definid<strong>as</strong> quanto ao tipo agronômico ou tecnológico.<br />
3) O c<strong>as</strong>o mais freqüente, todavia, é aquele em que se estabelece<br />
uma equivalência substancial com exceção de algum<strong>as</strong> característic<strong>as</strong><br />
específic<strong>as</strong> definid<strong>as</strong> como, por exemplo, os produtos de genes estranhos<br />
(forâneos) inseridos. Nest<strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong> é necessário realizar<br />
uma avaliação específica dos <strong>riscos</strong> potenciais de tais produtos, inclusive<br />
a identificação de possíveis perigos, a avaliação d<strong>as</strong> potenciais<br />
exposições e a identificação dos <strong>riscos</strong>. Assim, é possível distinguir<br />
quatro níveis de risco:<br />
1. A toxicidade “genética” relacio<strong>na</strong>da com <strong>as</strong> seqüênci<strong>as</strong> de DNA<br />
inserido - Refere-se principalmente ao risco de transferência e dissemi<strong>na</strong>ção<br />
horizontal de genes marcadores que codificam a resistência a<br />
antibióticos através de microorganismos do tubo digestivo.<br />
2. Toxicidade d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> forâne<strong>as</strong> (alienígen<strong>as</strong>) express<strong>as</strong> - Isto<br />
compreende <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> envolvid<strong>as</strong>, codificad<strong>as</strong> pelo gene transferido,<br />
como qualquer outra proteí<strong>na</strong> expressada pelos genes marcadores acompanhantes.<br />
As prov<strong>as</strong> de toxicidade devem ser realizad<strong>as</strong> em animais<br />
jovens que crescem rapidamente, usando uma proteí<strong>na</strong> purificada cuja<br />
estrutura deve ser estritamente idêntica à proteí<strong>na</strong> expressada pelo<br />
transgene da planta em doses máxim<strong>as</strong> compatíveis com os requisitos<br />
nutricio<strong>na</strong>is dos animais. Devido à presença de uma proteí<strong>na</strong> estranha,<br />
a possibilidade de alergi<strong>as</strong> constitui um <strong>as</strong>pecto que mereceu ênf<strong>as</strong>e<br />
especial. Não existe um modelo experimental apropriado <strong>para</strong> a avaliação<br />
e especialmente <strong>para</strong> a previsão da alergenicidade de novos alimentos<br />
que seja aplicável a um organismo que não tem história de alergia.<br />
Foram propostos métodos alter<strong>na</strong>tivos que, no entanto, ainda estão sujeitos<br />
a uma análise crítica. Todavia, não há informação que nos permita<br />
afirmar que os organismos geneticamente modificados sejam<br />
mais (ou menos) alergênicos do que os correspondentes organismos<br />
convencio<strong>na</strong>is.<br />
3. Efeitos secundários adversos gerados pela atividade da proteí<strong>na</strong><br />
expressada - Podem ser devidos a metabólitos gerados pela atividade<br />
enzimática da nova proteí<strong>na</strong> que foi expressada. As plant<strong>as</strong> que se<br />
tor<strong>na</strong>ram tolerantes a um herbicida podem acumular produtos da degradação<br />
deste herbicida ou ainda de outros produtos fito-sanitários<br />
metabolizados pela planta mediante a mesma via enzimática.<br />
4. Efeitos inesperados, não identificados e indiretos relacio<strong>na</strong>dos com<br />
a inserção do transgene - Resultam do processo de inserção, como, por<br />
exemplo, a mutação produzida pela própria inserção ou reorde<strong>na</strong>ção do<br />
46
genoma. Assim, uma única modificação genética pode interferir <strong>na</strong><br />
expressão de outros genes e afetar numeros<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> fenotípic<strong>as</strong><br />
não controlad<strong>as</strong> ou não relacio<strong>na</strong>d<strong>as</strong> que podem ser importantes <strong>para</strong> a<br />
saúde do consumidor. Estes efeitos pleiotrópicos compreendem a amplificação<br />
dos genes e a reativação de uma via metabólica i<strong>na</strong>tiva ou,<br />
inversamente, a i<strong>na</strong>tivação de genes: podem resultar em níveis aumentados<br />
de toxicantes <strong>na</strong>turalmente presentes, alteração estrutural de alguns<br />
constituintes e a presença de isoform<strong>as</strong> estranh<strong>as</strong> ou isômeros. A<br />
modificação genética também pode alterar <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> nutricio<strong>na</strong>is.<br />
Um estudo nutricio<strong>na</strong>l é necessário quando o novo alimento comporta<br />
alterações da composição de nutrientes que não eram produzidos anteriormente<br />
mediante processos convencio<strong>na</strong>is ou quando o alimento tem<br />
funções nutricio<strong>na</strong>is específic<strong>as</strong>. Estes estudos b<strong>as</strong>eiam-se em cálculos<br />
de consumo esperado do novo alimento por subpopulações mais predispost<strong>as</strong><br />
e considerad<strong>as</strong> de risco, <strong>as</strong>sim como <strong>as</strong> possíveis exposições<br />
provenientes de outr<strong>as</strong> fontes. Também podem ser necessários estudos<br />
sobre o impacto nutricio<strong>na</strong>l do novo alimento a longo prazo e sobre su<strong>as</strong><br />
interações com outros componentes da dieta, inclusive a alteração de<br />
hábitos <strong>alimentar</strong>es e desequilíbrios da dieta.<br />
Um programa de vigilância dos efeitos após a colocação do produto<br />
no mercado requer a organização e desenvolvimento de procedimentos<br />
que <strong>as</strong>segurem a possibilidade de localizar os produtos que contêm o<br />
novo alimento ao longo de toda a <strong>cadeia</strong> <strong>alimentar</strong>.<br />
Leitur<strong>as</strong> suplementares<br />
1. Organization for Economic Cooperation and Development. Food safety evaluation.<br />
Paris: OECD Publications, 1996.<br />
2. FAO-WHO. Biotechnology and food safety. Joint FAO/WHO Expert Consultation.<br />
Rome: FAO, 1996.<br />
47
Agenda do Seminário<br />
44 0 Seminário <strong>Nestlé</strong> Nutrition<br />
Riscos <strong>para</strong> <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> <strong>na</strong> <strong>cadeia</strong> <strong>alimentar</strong><br />
Coorde<strong>na</strong>dores: Professor Peter J. Agett<br />
Dr. Harry A. Kuiper<br />
Praga, República Tcheca, 21-24 de setembro de 1998<br />
Desenvolvimento de mecanismos metabólicos <strong>para</strong> os xenobióticos<br />
THIERRY CRESTEIL<br />
Com<strong>para</strong>ção entre exposição durante a primeira infância e idade adulta<br />
<strong>na</strong> expressão do câncer<br />
HEINO HIETANEN e H. VAINIO<br />
Efeitos sobre a reprodução: desorganização do sistema endócrino<br />
STEPHEN H. SAFE<br />
Efeitos da exposição peri<strong>na</strong>tal a níveis ambientais de bifenis<br />
policlorados e dioxin<strong>as</strong><br />
E. RUDY BOERSMA<br />
Conseqüênci<strong>as</strong> de longo prazo sobre a saúde: a imunotoxicidade<br />
GARY A. BANNON<br />
O trato g<strong>as</strong>trintesti<strong>na</strong>l e o enfrentamento dos <strong>riscos</strong><br />
oriundos da <strong>cadeia</strong> <strong>alimentar</strong> de crianç<strong>as</strong><br />
JEAN-FRANÇOIS DESJEUX e M. BOISSET<br />
Toxicidade hepática: mecanismos, detecção e suscetibilidade<br />
d<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong><br />
J. KEVIN CHIPMAN<br />
Avaliação dos níveis aceitáveis de ingestão<br />
RON WALKER<br />
48
Problem<strong>as</strong> peculiares no estabelecimento de limites<br />
<strong>para</strong> os elementos essenciais do alimento<br />
George C. Becking<br />
O processo de avaliação e caracterização dos <strong>riscos</strong><br />
RON HOOGENBOOM<br />
O processo de avaliação da exposição a substânci<strong>as</strong><br />
potencialmente tóxic<strong>as</strong><br />
JACOB D. VAN KLAVEREN, M. M. H. VAN DOOREN, D. KLOET e H. A. KUIPER<br />
Riscos <strong>para</strong> os lactentes <strong>na</strong> <strong>cadeia</strong> <strong>alimentar</strong>:<br />
Exposição através do leite materno<br />
WALTER J. ROGAND e N. B. RAGAN<br />
Contami<strong>na</strong>ção ambiental, diarréia e doenç<strong>as</strong> transmitid<strong>as</strong><br />
pelo alimento<br />
MICHAEL GRACEY<br />
Avaliação e manejo do perigo dos pesticid<strong>as</strong> tóxicos <strong>na</strong> produção<br />
de “baby food” e no desenvolvimento de novos produtos<br />
BENOÎT SCHILTER<br />
Encefalopatia Espongiforme Bovi<strong>na</strong> (EEB) e saúde pública<br />
HEINO DIRINGER<br />
Novos alimentos e novos <strong>riscos</strong> <strong>na</strong> <strong>cadeia</strong> <strong>alimentar</strong><br />
JEAN-MICHEL WAL e G. PASCAL<br />
49
Participantes<br />
PROF. PETER J. AGGETT<br />
Head of the Lanc<strong>as</strong>hire<br />
Postgraduate<br />
School of Medicine and Health<br />
University of Central Lanc<strong>as</strong>hire<br />
Preston PRI 1AB<br />
Reino Unido<br />
PROF. GARY A. BANNON<br />
Dept. of Biochemistry &<br />
Molecular Biology and Division of<br />
Pediatric Allergy and Immunology<br />
University of Arkans<strong>as</strong> for<br />
Medical Sciences and<br />
Children’s Hospital<br />
4301 W. Markham<br />
Little Rock, AR 72205, E.U.A.<br />
DR. GEORGE C. BECKING<br />
2347 Aspen Street<br />
Kingston, Ontario K7L 4VI<br />
Ca<strong>na</strong>da<br />
PROF. E. RUDY BOERSMA<br />
Peri<strong>na</strong>tal Nutrition and<br />
Development Unit<br />
Dept. of Obstetrics/Pediatrics<br />
University Hospital Groningen<br />
Dept. CMC 5, room Y3181<br />
P.O. Box 30001<br />
9713 GZ Groningen, Holanda<br />
DR. J. KEVIN CHIPMAN<br />
School of Biochemistry<br />
The University of Birmingham<br />
Edgb<strong>as</strong>ton<br />
Birmingham - B15 2TT<br />
Reino Unido<br />
DR. THIERRY CRESTEIL<br />
Institut Gustave-Roussy<br />
Pavillon de Recherche 2<br />
39, rue Camille Desmoulins<br />
94805 Villejuif Cedex,<br />
França<br />
DR. JEAN-FRANÇOIS DESJEUX<br />
Conservatoire Natio<strong>na</strong>l des Arts<br />
et Métiers (CNAM)<br />
292 rue St. Martin<br />
75141 Paris Cedex 03, França<br />
PROF. HEINO DIRINGER<br />
Robert Koch Institut<br />
Bundesinstitut fiir Infektionskrakheiten<br />
und nicht<br />
übertragbare krankheiten<br />
Nordufer 20<br />
13353 Berlin, Alemanha<br />
PROF. MICHAEL GRACEY<br />
Principal Medical Adviser<br />
Professor of Aborigi<strong>na</strong>l Health<br />
Health Department of Western<br />
Australia<br />
Curtin University<br />
G.P.O. Box U 1987<br />
Perth Australia, 6004 Australia<br />
50
DR. HEINO HIETANEN<br />
Department of Clinical<br />
Physiology<br />
Turku University Hospital<br />
FIN 20520 Turku, Finlandia<br />
DR. RON HOOGENBOOM<br />
State Institute for Quality Control<br />
of Agricultural Products<br />
(RIKILT-DLO)<br />
Bornsesteeg 45<br />
P.O. Box 230<br />
6700 AE Wageningen - Holanda<br />
DR. HARRY A. KUIPER<br />
State Institute for Quality<br />
Control of Agricultural Products<br />
(RIKILT-DLO)<br />
P.O. Box 230<br />
6700 AE Wageningen - Holanda<br />
DR. WALTER J. ROGAN<br />
NIEHS Epidemiology<br />
P.O.B. 12233<br />
Research Triangle Park<br />
NC 27709, North Caroli<strong>na</strong>,<br />
E.U.A.<br />
PROF. STEPHEN H. SAFE<br />
Department of Veteri<strong>na</strong>ry<br />
Physiology and Pharmacology<br />
Tex<strong>as</strong> A & M University<br />
College Station, TX 77843-4466,<br />
E.U.A.<br />
DR. JACOB D. VAN KLAVEREN<br />
State Institute for Quality<br />
Control of Agricultural Products<br />
(RIKILT-DLO)<br />
P.O. Box 230<br />
6700 AE Wageningen - Holanda<br />
DR. JEAN-MICHEL WAL<br />
Laboratoire d’lmmuno-Allergie<br />
Alimentaire<br />
Service de Pharmacologie et<br />
Immunologie (SPI)<br />
INRA-CEA Saclay Bat 136<br />
91191 Gif-sur-lvette Cedex<br />
França<br />
PROF. RON WALKER<br />
School of Biological Sciences<br />
University of Surrey<br />
Guildford<br />
GU2 5XH Surrey<br />
Reino Unido<br />
PROF. JOHN WARGO<br />
Director of Doctoral Studies<br />
School of Forestry and<br />
Environmental Studies<br />
Yale University<br />
301 Prospect Street<br />
New Haven, CT 06511<br />
E.U.A.<br />
DR. BENOIT SCHILTER<br />
Department of Quality and Safety<br />
Assurance<br />
<strong>Nestlé</strong> Research Center<br />
Vers-chez-les Blanc<br />
C<strong>as</strong>e Postale 44<br />
1000 Lausanne 26, Suiça<br />
51
NOTA IMPORTANTE: AS GESTANTES E NUTRIZES PRECI-<br />
SAM SER INFORMADAS QUE O LEITE MATERNO É O IDEAL<br />
PARA O BEBÊ, CONSTITUINDO-SE A MELHOR NUTRIÇÃO E<br />
PROTEÇÃO PARA O LACTENTE. A MÃE DEVE SER ORIENTA-<br />
DA QUANTO À IMPORTÂNCIA DE UMA DIETA EQUILIBRADA<br />
NESTE PERÍODO E QUANTO À MANEIRA DE SE PREPARAR<br />
PARA O ALEITAMENTO AO SEIO ATÉ OS DOIS ANOS DE<br />
IDADE DA CRIANÇA OU MAIS. O USO DE MAMADEIRAS,<br />
BICOS E CHUPETAS DEVE SER DESENCORAJADO, POIS PODE<br />
TRAZER EFEITOS NEGATIVOS SOBRE O ALEITAMENTO NA-<br />
TURAL. A MÃE DEVE SER PREVENIDA QUANTO À DIFICULDA-<br />
DE DE VOLTAR A AMAMENTAR SEU FILHO UMA VEZ ABAN-<br />
DONADO O ALEITAMENTO AO SEIO. ANTES DE SER RECO-<br />
MENDADO O USO DE UM SUBSTITUTO DO LEITE MATERNO,<br />
DEVEM SER CONSIDERADAS AS CIRCUNSTÂNCIAS FAMILIA-<br />
RES E O CUSTO ENVOLVIDO. A MÃE DEVE ESTAR CIENTE<br />
DAS IMPLICAÇÕES ECONÔMICAS E SOCIAIS DO NÃO ALEI-<br />
TAMENTO AO SEIO - PARA UM RECÉM-NASCIDO ALIMENTA-<br />
DO EXCLUSIVAMENTE COM MAMADEIRA SERÁ NECESSÁRIA<br />
MAIS DE UMA LATA POR SEMANA. DEVE-SE LEMBRAR À MÃE<br />
QUE O LEITE MATERNO NÃO É SOMENTE O MELHOR, MAS<br />
TAMBÉM O MAIS ECONÔMICO ALIMENTO PARA O BEBÊ.<br />
CASO VENHA A SER TOMADA A DECISÃO DE INTRODUZIR A<br />
ALIMENTAÇÃO POR MAMADEIRA É IMPORTANTE QUE SE-<br />
JAM FORNECIDAS INSTRUÇÕES SOBRE OS MÉTODOS COR-<br />
RETOS DE PREPARO COM HIGIENE, RESSALTANDO-SE QUE<br />
O USO DE MAMADEIRA E ÁGUA NÃO FERVIDAS E DILUIÇÃO<br />
INCORRETA PODEM CAUSAR DOENÇAS.<br />
OMS - CÓDIGO INTERNACIONAL DE COMERCIALIZAÇÃO DE SUBS-<br />
TITUTOS DO LEITE MATERNO. WHA 34:22, MAIO DE 1981. MS,<br />
INAN, CNS - NORMA BRASILEIRA PARA A COMERCIALIZAÇÃO DE<br />
ALIMENTOS PARA LACTENTES. RESOLUÇÃO CNS N O . 31/92 DE 12 DE<br />
OUTUBRO DE 1992.
INFORMAÇÃO DESTINADA EXCLUSIVAMENTE AO PROFISSIONAL DE SAÚDE OG/OO TA.<br />
IMPRESSO NO BRASIL 993.64.40.88