a metodologia da assistência de enfermagem no ... - Ppgenf.ufpr.br
a metodologia da assistência de enfermagem no ... - Ppgenf.ufpr.br
a metodologia da assistência de enfermagem no ... - Ppgenf.ufpr.br
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
DENISE FAUCZ KLETEMBERG<<strong>br</strong> />
A METODOLOGIA DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO<<strong>br</strong> />
BRASIL: UMA VISÃO HISTÓRICA<<strong>br</strong> />
CURITIBA<<strong>br</strong> />
2004
DENISE FAUCZ KLETEMBERG<<strong>br</strong> />
A METODOLOGIA DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO<<strong>br</strong> />
BRASIL: UMA VISÃO HISTÓRICA<<strong>br</strong> />
Dissertação apresenta<strong>da</strong> como requisito parcial à<<strong>br</strong> />
obtenção do grau <strong>de</strong> Mestre em Enfermagem, do<<strong>br</strong> />
Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Enfermagem,<<strong>br</strong> />
Área <strong>de</strong> Concentração – Prática Profissional <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem - Setor <strong>de</strong> Ciências <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná.<<strong>br</strong> />
Orientadora: Profa. Dra. Márcia Dalledone<<strong>br</strong> />
Siqueira<<strong>br</strong> />
Co-orientadora: Profa. Dra. Maria <strong>de</strong> Fátima<<strong>br</strong> />
Mantovani<<strong>br</strong> />
CURITIBA<<strong>br</strong> />
2004
Kletemberg, Denise Faucz<<strong>br</strong> />
A <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil: uma<<strong>br</strong> />
visão histórica/ Denise Faucz Kletemberg. – Curitiba, 2004.<<strong>br</strong> />
vi, 105 f.<<strong>br</strong> />
Orientadora: Dra. Márcia T. A. Dalledone Siqueira<<strong>br</strong> />
Dissertação (Mestrado) – Setor <strong>de</strong> Ciências <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná.<<strong>br</strong> />
1. Processos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. 2. História <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
NLM WY 11
TERMO DE APROVAÇÃO<<strong>br</strong> />
DENISE FAUCZ KLETEMBERG<<strong>br</strong> />
A METODOLOGIA DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO<<strong>br</strong> />
BRASIL: UMA VISÃO HISTÓRICA<<strong>br</strong> />
Dissertação aprova<strong>da</strong> como requisito parcial para obtenção do grau <strong>de</strong> Mestre em<<strong>br</strong> />
Enfermagem, <strong>no</strong> Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Enfermagem, Setor <strong>de</strong> Ciências<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, pela seguinte banca examinadora:<<strong>br</strong> />
Orientadora:<<strong>br</strong> />
Profa. Dra. Márcia Teresinha Andreatta Dalledone Siqueira<<strong>br</strong> />
Presi<strong>de</strong>nte – Departamento <strong>de</strong> História, UFPR<<strong>br</strong> />
Profa. Dra. Maria Itayra Coelho <strong>de</strong> Souza Padilha<<strong>br</strong> />
Mem<strong>br</strong>o Titular – Departamento <strong>de</strong> Enfermagem, UFSC<<strong>br</strong> />
Profa. Dra. Mariluci Alves Maftum<<strong>br</strong> />
Mem<strong>br</strong>o Titular – Departamento <strong>de</strong> Enfermagem, UFPR<<strong>br</strong> />
Curitiba, 30 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 2004.<<strong>br</strong> />
ii
AGRADECIMENTOS<<strong>br</strong> />
Ao Carlos Alberto agra<strong>de</strong>ço o apoio e o estímulo à conclusão <strong>de</strong>ste trabalho.<<strong>br</strong> />
Aos meus pais, Aluízio e Yone, o exemplo e a formação recebidos, que me<<strong>br</strong> />
propiciaram a construção do conhecimento.<<strong>br</strong> />
À Profª. Márcia que, com competência e carinho, iniciou-me na arte <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
caminhar pela História.<<strong>br</strong> />
À Profª. Maria <strong>de</strong> Fátima, o apoio e as orientações tão necessários à<<strong>br</strong> />
conclusão <strong>de</strong>ste trabalho.<<strong>br</strong> />
A to<strong>da</strong>s as professoras do Departamento <strong>de</strong> Enfermagem <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, agra<strong>de</strong>ço a luta para implementar o mestrado, que proporcio<strong>no</strong>u<<strong>br</strong> />
a realização do meu sonho.<<strong>br</strong> />
À CAPES, a concessão <strong>da</strong> bolsa <strong>de</strong> pós-graduação, que viabilizou<<strong>br</strong> />
financeiramente a construção <strong>de</strong>ste estudo.<<strong>br</strong> />
Às minhas colegas <strong>de</strong> mestrado, agra<strong>de</strong>ço dividirem comigo dúvi<strong>da</strong>s, alegrias<<strong>br</strong> />
e, principalmente, pelo companheirismo, que caracterizou <strong>no</strong>ssa turma.<<strong>br</strong> />
iii
SUMÁRIO<<strong>br</strong> />
RESUMO.............................................................................................................. v<<strong>br</strong> />
ABSTRACT.......................................................................................................... vi<<strong>br</strong> />
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1<<strong>br</strong> />
1 PROFISSIONALIZAÇÃO DA ENFERMAGEM NO BRASIL ............................ 11<<strong>br</strong> />
1.1 A IMPLANTAÇÃO DA ENFERMAGEM COMO PROFISSÃO ........................ 14<<strong>br</strong> />
1.2 A CONSOLIDAÇÃO PROFISSIONAL............................................................ 21<<strong>br</strong> />
1.3 A EXPANSÃO DA ENFERMAGEM NO BRASIL............................................ 29<<strong>br</strong> />
2 LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL ............................................ 44<<strong>br</strong> />
2.1 EXERCÍCIO PROFISSIONAL – DECRETO 20.109/31 .................................. 48<<strong>br</strong> />
2.2 EXERCÍCIO PROFISSIONAL – LEI 2.604/55 ................................................ 51<<strong>br</strong> />
2.3 EXERCÍCIO PROFISSIONAL – LEI 7.498/86 ................................................ 55<<strong>br</strong> />
3 A METODOLOGIA DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO BRASIL ...... 61<<strong>br</strong> />
3.1 PRIMEIRAS REFERÊNCIAS SOBRE A METODOLOGIA DA<<strong>br</strong> />
ASSISTÊNCIA...................................................................................................... 62<<strong>br</strong> />
3.2 DIVULGAÇÃO DO PROCESSO DE ENFERMAGEM.................................... 70<<strong>br</strong> />
3.3 VALIDAÇÃO DO PROCESSO DE ENFERMAGEM....................................... 73<<strong>br</strong> />
3.4 O ENSINO DO PROCESSO DE ENFERMAGEM.......................................... 83<<strong>br</strong> />
3.5 A METODOLOGIA DA ASSISTÊNCIA NA DÉCADA DE 1980 ...................... 87<<strong>br</strong> />
CONCLUSÃO....................................................................................................... 91<<strong>br</strong> />
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 97<<strong>br</strong> />
FONTES HISTÓRICAS........................................................................................102<<strong>br</strong> />
iv
RESUMO<<strong>br</strong> />
KLETEMBERG, Denise Faucz. A <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
Brasil: uma visão histórica. 2004. 105f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) –<<strong>br</strong> />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, Curitiba.<<strong>br</strong> />
Estudo <strong>de</strong> natureza histórica cujo objetivo é analisar a implementação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Metodologia <strong>da</strong> Assistência <strong>de</strong> Enfermagem <strong>no</strong> Brasil, <strong>no</strong> período <strong>de</strong> 1960 a 1986.<<strong>br</strong> />
Utiliza pesquisa histórica, quando i<strong>de</strong>ntifica os <strong>de</strong>terminantes socioeconômicos e<<strong>br</strong> />
políticos que influenciaram as políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira, direcionando a<<strong>br</strong> />
implantação <strong>da</strong> profissão <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> País e, conseqüentemente, o<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência. Realiza também pesquisa so<strong>br</strong>e a<<strong>br</strong> />
legislação do exercício profissional vigente, i<strong>de</strong>ntificando as atribuições <strong>de</strong>lega<strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
ao profissional enfermeiro pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira <strong>da</strong> época. As fontes históricas<<strong>br</strong> />
compõem-se <strong>de</strong> 47 artigos selecionados na Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
período referido, que apresentassem reflexões so<strong>br</strong>e a prática assistencial <strong>da</strong> época,<<strong>br</strong> />
relatos <strong>de</strong> experiências <strong>da</strong> aplicação do Processo <strong>de</strong> Enfermagem e os artigos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
autoria <strong>de</strong> Wan<strong>da</strong> <strong>de</strong> Aguiar Horta. Os achados <strong>da</strong> análise dos artigos,<<strong>br</strong> />
contextualizados com as políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, apontam as causas <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
encontra<strong>da</strong>s pela categoria para implementação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. Assim, a escassez <strong>de</strong> tempo, a instrumentalização insuficiente na<<strong>br</strong> />
aca<strong>de</strong>mia e falta <strong>de</strong> apoio institucional, presentes <strong>no</strong> discurso <strong>da</strong> categoria <strong>no</strong>s dias<<strong>br</strong> />
atuais, encontram respaldo histórico, restringindo-se, entretanto, ao período<<strong>br</strong> />
pesquisado.<<strong>br</strong> />
Palavras-chave: Processos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>; História <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
v
ABSTRACT<<strong>br</strong> />
KLETEMBERG, Denise Faucz. A historical view of Nursing Process in Brazil.<<strong>br</strong> />
2004. Thesis (Masters <strong>de</strong>gree in Nursing) – Graduate Program in Nursing. Fe<strong>de</strong>ral<<strong>br</strong> />
University of Paraná (UFPR), Curitiba, Brazil.<<strong>br</strong> />
This is by nature a historical research, which intends to analyze the implementation<<strong>br</strong> />
of Nursing Process (Nursing Assistance Methodology) in Brazil, in the period of 1960<<strong>br</strong> />
to 1986. It makes use of historical research, when i<strong>de</strong>ntifies the social, eco<strong>no</strong>mic, and<<strong>br</strong> />
political <strong>de</strong>terminers that influenced public health politics in Brazil, gui<strong>de</strong>d the<<strong>br</strong> />
introduction of nursing profession in the country, and, as a consequence, the<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>velopment of the assistance methodology. Also, this study does a research on<<strong>br</strong> />
nursing profession legislation, i<strong>de</strong>ntifying nurses’ attributions assigned by society in<<strong>br</strong> />
that period. The historical sources are 47 articles selected among the ones published<<strong>br</strong> />
by Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem (Brazilian Magazine on Nursing), in that period.<<strong>br</strong> />
The article selection criteria were that they had to <strong>de</strong>al somehow with reflections on<<strong>br</strong> />
nursing assistance practice, or to be experience reports on nursing process<<strong>br</strong> />
implementation, also Wan<strong>da</strong> <strong>de</strong> Aguiar Horta’s articles were selected. The findings of<<strong>br</strong> />
the articles analysis, contextualized with public health politics, indicated what caused<<strong>br</strong> />
the difficulties for the implementation of such methodology. Thus, lack of time,<<strong>br</strong> />
aca<strong>de</strong>my <strong>no</strong>t e<strong>no</strong>ugh instrumentalization, and lack of institutional support, that are<<strong>br</strong> />
present in the discourse of nurses <strong>no</strong>wa<strong>da</strong>ys, are historically back groun<strong>de</strong>d,<<strong>br</strong> />
concerning the time researched.<<strong>br</strong> />
Key-words: Nursing process; Nursing history.<<strong>br</strong> />
vi
1<<strong>br</strong> />
INTRODUÇÃO<<strong>br</strong> />
Este trabalho faz uma análise histórica <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil, contextualizando seu <strong>de</strong>senvolvimento em<<strong>br</strong> />
relação aos <strong>de</strong>terminantes socioeconômicos e políticos que direcionavam as<<strong>br</strong> />
políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira, nas déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 1960 a 1980.<<strong>br</strong> />
A escolha <strong>de</strong>ste tema <strong>de</strong>ve-se a autoquestionamentos quanto à aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ssa sistematização científica advindos em minha prática assistencial e na<<strong>br</strong> />
docência. Percebi que o enfermeiro tem encontrado dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s na aplicação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> como instrumento científico <strong>de</strong> trabalho,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>vido a obstáculos inter<strong>no</strong>s e exter<strong>no</strong>s à <strong>enfermagem</strong>, <strong>de</strong>ntre os quais estão a<<strong>br</strong> />
estrutura <strong>de</strong> organização dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que prioriza a atenção médica<<strong>br</strong> />
individualiza<strong>da</strong> e curativa, além <strong>da</strong> forma como ocorre sua aprendizagem na<<strong>br</strong> />
graduação.<<strong>br</strong> />
Ao abor<strong>da</strong>r o tema na graduação, inquietava-me não ter subsídios suficientes<<strong>br</strong> />
para respon<strong>de</strong>r a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente aos questionamentos quanto à pratici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Se o alu<strong>no</strong> não vivencia essa<<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> em campos <strong>de</strong> aula prática, sua percepção é <strong>de</strong> que se trata apenas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
mais um conteúdo acadêmico, conseqüentemente, ele não levará tão importante<<strong>br</strong> />
instrumento ao seu processo <strong>de</strong> trabalho, contribuindo para propagar essa<<strong>br</strong> />
percepção equivoca<strong>da</strong> a outros graduandos.<<strong>br</strong> />
To<strong>da</strong>via, por acreditar, como Carraro 1 que, “ao ser implementa<strong>da</strong>, a<<strong>br</strong> />
Metodologia <strong>da</strong> Assistência <strong>de</strong> Enfermagem oferece respaldo, segurança e o<<strong>br</strong> />
direcionamento para o <strong>de</strong>sempenho <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, contribuindo para a<<strong>br</strong> />
credibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, competência e visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Enfermagem, conseqüentemente para a<<strong>br</strong> />
auto<strong>no</strong>mia e satisfação profissional”, tor<strong>no</strong>u-se imperioso para mim buscar meios<<strong>br</strong> />
para transmitir ao graduando essa minha crença.<<strong>br</strong> />
Essa busca resultou <strong>no</strong> questionamento: De que modo a <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> vem influenciando historicamente o processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
trabalho do enfermeiro?<<strong>br</strong> />
1 CARRARO, T. E. Da <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> Enfermagem: sua elaboração e implementação<<strong>br</strong> />
na prática. In: CARRARO, T. E. e WESTPHALEN, M. E. A. Metodologias para a assistência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem: teorizações, mo<strong>de</strong>los e subsídios para a prática. Goiânia: AB Editora, 2001. p.25.
2<<strong>br</strong> />
Sabe-se que a premissa do empirismo, nas práticas do cui<strong>da</strong>do, tem sido<<strong>br</strong> />
contesta<strong>da</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1950. Profissionais impulsionados pelo positivismo,<<strong>br</strong> />
pela lógica do sistema capitalista e pelo avanço <strong>da</strong> ciência buscaram a valorização<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, ao iniciar a construção <strong>de</strong> um conhecimento próprio, por meio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
elaborações teóricas.<<strong>br</strong> />
Assim, o processo <strong>de</strong> trabalho do enfermeiro <strong>de</strong>veria estar embasado em uma<<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> científica, que privilegiasse cinco etapas: levantamento <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos,<<strong>br</strong> />
diagnóstico, planejamento, execução e avaliação.<<strong>br</strong> />
Correlacionado à prática <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, o levantamento <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos configurase<<strong>br</strong> />
na anamnese e <strong>no</strong> exame físico do indivíduo; o diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> é<<strong>br</strong> />
levantado na análise dos <strong>da</strong>dos coletados; em segui<strong>da</strong>, a prescrição <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>talha o planejamento <strong>da</strong> assistência; e, finalmente, a evolução <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
avalia a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa assistência.<<strong>br</strong> />
A <strong>no</strong>menclatura <strong>de</strong>ssa <strong>metodologia</strong> na <strong>enfermagem</strong> po<strong>de</strong> sofrer variações, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
acordo com a época histórica e o referencial teórico adotado.<<strong>br</strong> />
A diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> paradigmas que permeiam o dia-a-dia <strong>da</strong> Enfermagem<<strong>br</strong> />
aponta diversas <strong>no</strong>menclaturas para <strong>de</strong>signar a Metodologia <strong>da</strong> Assistência<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Enfermagem. [...] Entre elas, po<strong>de</strong>mos citar: Processo <strong>de</strong> Enfermagem,<<strong>br</strong> />
Processo <strong>de</strong> Cui<strong>da</strong>do, Metodologia do Cui<strong>da</strong>do, Processo <strong>de</strong> Assistir,<<strong>br</strong> />
Consulta <strong>de</strong> Enfermagem. 2<<strong>br</strong> />
Nesse sentido, o único termo encontrado na época <strong>de</strong>limita<strong>da</strong> para referir-se<<strong>br</strong> />
ao método científico foi Processo <strong>de</strong> Enfermagem. O termo Metodologia <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Assistência apareceu pela primeira vez em artigo <strong>de</strong> 1976, porém não foi mais<<strong>br</strong> />
encontrado até a <strong>da</strong>ta limite do estudo. Assim, na análise dos documentos, utilizei<<strong>br</strong> />
como sinônimos <strong>de</strong> Processo <strong>de</strong> Enfermagem termos contemporâneos, como<<strong>br</strong> />
‘<strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>’ e ‘sistematização <strong>da</strong> assistência’, que<<strong>br</strong> />
apesar <strong>da</strong>s diferenças conceituais aponta<strong>da</strong>s por autores contemporâneos,<<strong>br</strong> />
facilitaram a estruturação do texto e trouxeram a compreensão dos achados para a<<strong>br</strong> />
contextualização <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Entretanto, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>da</strong> <strong>no</strong>menclatura utiliza<strong>da</strong> e <strong>de</strong> suas<<strong>br</strong> />
variações, a sistematização <strong>da</strong>s ações <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong>rteou-se pelo processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, que é conceituado como: “A dinâmica <strong>da</strong>s ações sistematiza<strong>da</strong>s e<<strong>br</strong> />
2 CARRARO, T. E. Op. cit. 2001. p.18.
3<<strong>br</strong> />
inter-relaciona<strong>da</strong>s, visando à assistência ao ser huma<strong>no</strong>. Caracteriza-se pelo interrelacionamento<<strong>br</strong> />
e dinamismo <strong>de</strong> suas fases ou passos” 3 .<<strong>br</strong> />
Corroboram esse entendimento outros autores, como Alfaro-Lefevre, quando<<strong>br</strong> />
diz que “Processo <strong>de</strong> Enfermagem é um método sistemático <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
cui<strong>da</strong>dos humanizados, que enfoca a obtenção <strong>de</strong> resultados <strong>de</strong>sejados <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />
maneira rentável” 4 .<<strong>br</strong> />
Essa <strong>no</strong>va maneira <strong>de</strong> ver a prática <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>,<<strong>br</strong> />
aperfeiçoa<strong>da</strong> e aplica<strong>da</strong> em vários países <strong>da</strong> América e Europa. Autores <strong>no</strong>rteamerica<strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
5 , <strong>no</strong> início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1950, já <strong>de</strong>screviam o pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos.<<strong>br</strong> />
No Brasil, o emprego <strong>da</strong> sistematização <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> ocorreu<<strong>br</strong> />
com Wan<strong>da</strong> <strong>de</strong> Aguiar Horta, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970. Basea<strong>da</strong> na teoria <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
‘necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas básicas’ <strong>de</strong> Maslow, sob a classificação <strong>de</strong> João Mohana 6 ,<<strong>br</strong> />
ela propôs uma <strong>metodologia</strong>, a qual <strong>de</strong><strong>no</strong>mi<strong>no</strong>u processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Permea<strong>da</strong> pelo método científico, essa <strong>metodologia</strong> compunha-se <strong>de</strong> seis etapas:<<strong>br</strong> />
histórico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, pla<strong>no</strong> assistencial, prescrição<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, evolução e prognóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Foram os estudos <strong>de</strong> Horta que impulsionaram o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
assistência nas escolas <strong>de</strong> graduação em <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil, pois coincidiram<<strong>br</strong> />
com o surgimento dos primeiros cursos <strong>de</strong> pós-graduação e mestrado em<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> País 7 .<<strong>br</strong> />
To<strong>da</strong>via, apesar dos estudos <strong>de</strong>senvolvidos, a aplicação <strong>da</strong> Metodologia <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Assistência <strong>de</strong> Enfermagem como instrumento científico <strong>de</strong> trabalho confrontou-se<<strong>br</strong> />
com resistências. Essa percepção, <strong>no</strong>s dias atuais, é referen<strong>da</strong><strong>da</strong> por pesquisas na<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> quanto à aplicação <strong>de</strong> <strong>metodologia</strong> científica nas práticas do cui<strong>da</strong>do,<<strong>br</strong> />
quando relatam as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s encontra<strong>da</strong>s nesse sentido.<<strong>br</strong> />
Em estudo so<strong>br</strong>e o processo <strong>de</strong> trabalho do enfermeiro, Meier relata que:<<strong>br</strong> />
3 HORTA, W. A. Processo <strong>de</strong> Enfermagem. São Paulo: EPU, 1979. p.35.<<strong>br</strong> />
4 ALFARO-LEFEVRE, R. Aplicação do Processo <strong>de</strong> Enfermagem: um guia passo a passo. 4.ed.<<strong>br</strong> />
Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. p.29.<<strong>br</strong> />
5 FRIEDLANDER, M. R. O processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> ontem, hoje e amanhã. Revista <strong>da</strong> Escola <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem <strong>da</strong> USP, v.15, n.2, p.129-134. 1981.<<strong>br</strong> />
6 Horta baseia sua teoria nas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas básicas, conceituando-as como estados <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
tensões, conscientes ou inconscientes, resultantes dos <strong>de</strong>sequilí<strong>br</strong>ios homeodinâmicos dos<<strong>br</strong> />
fenôme<strong>no</strong>s vitais. Utilizando a <strong>de</strong><strong>no</strong>minação <strong>de</strong> Mohana, classifica-as em: necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do nível<<strong>br</strong> />
psicobiológico, psicossocial e psicoespirituais.<<strong>br</strong> />
7 A <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência passou a fazer parte dos currículos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em meados <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970. Os cursos <strong>de</strong> mestrado iniciaram em 1972 e os cursos <strong>de</strong> doutorado em<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, em 1982.
4<<strong>br</strong> />
[...] pô<strong>de</strong>-se perceber que a gran<strong>de</strong> maioria <strong>da</strong>s enfermeiras não utiliza um<<strong>br</strong> />
referencial teórico <strong>no</strong> seu cotidia<strong>no</strong>. O processo <strong>de</strong> Enfermagem <strong>de</strong> Wan<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Horta foi mencionado, mesmo assim uma única vez e, quando<<strong>br</strong> />
implementado, o foi <strong>de</strong> forma parcial, apenas algumas etapas sendo<<strong>br</strong> />
realiza<strong>da</strong>s, como exame físico e a prescrição <strong>de</strong> Enfermagem. 8<<strong>br</strong> />
A aplicação parcial ou a ausência <strong>de</strong>la é referi<strong>da</strong> também por Men<strong>de</strong>s e<<strong>br</strong> />
Bastos, em sua pesquisa so<strong>br</strong>e o processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>:<<strong>br</strong> />
No entanto, observa-se que apenas alguns serviços aplicam uma<<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> mais elabora<strong>da</strong> na organização <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
A maioria <strong>da</strong>s instituições tem sua prática cotidiana guia<strong>da</strong> por <strong>no</strong>rmas e<<strong>br</strong> />
rotinas preestabeleci<strong>da</strong>s. Os serviços que buscam a implantação <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong>, por sua vez, se localizam, em sua gran<strong>de</strong> parte, <strong>no</strong>s centros<<strong>br</strong> />
urba<strong>no</strong>s ou estão ligados a serviços <strong>de</strong> formação acadêmica. Na tentativa<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> facilitar a operacionalização do método, muitas vezes, o serviço <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, inicialmente, faz a opção <strong>de</strong> trabalhar algumas etapas <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong>. Mas esse trabalho sistematizado ain<strong>da</strong> não está incorporado à<<strong>br</strong> />
prática assistencial, estando mais presente <strong>no</strong> discurso dos profissionais do<<strong>br</strong> />
que <strong>no</strong> fazer cotidia<strong>no</strong>. 9<<strong>br</strong> />
Segundo Thofehrn et al. 10 , a não-utilização do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
pelos profissionais <strong>de</strong>ve-se ao “distanciamento muito gran<strong>de</strong> entre o pensar e o<<strong>br</strong> />
fazer, entre teoria e prática, principalmente por não haver uma preocupação maior<<strong>br</strong> />
com a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> assistência e sim com a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> do serviço”.<<strong>br</strong> />
A lógica capitalista que prioriza a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, favorecendo a dicotomia<<strong>br</strong> />
teoria-prática, aparece <strong>no</strong> discurso <strong>de</strong> enfermeiros, como na conclusão <strong>de</strong> estudo<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e o processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>de</strong> acadêmicos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e<<strong>br</strong> />
enfermeiros:<<strong>br</strong> />
Conseqüentemente para o enfermeiro, o Processo <strong>de</strong> Enfermagem não é<<strong>br</strong> />
utilizado na prática, por haver um distanciamento muito gran<strong>de</strong> entre o<<strong>br</strong> />
pensar e o fazer, entre a teoria e a prática, e principalmente por não haver<<strong>br</strong> />
uma preocupação maior com a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> assistência presta<strong>da</strong> e sim com<<strong>br</strong> />
a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> do serviço, não <strong>da</strong>ndo a <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> importância para a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
assistência, que é o cui<strong>da</strong>do a<strong>de</strong>quado a ca<strong>da</strong> paciente, baseado em<<strong>br</strong> />
conhecimentos científicos. 11<<strong>br</strong> />
8 MEIER, M. J. Técnica e tec<strong>no</strong>logia mediando o saber-fazer na Enfermagem. 1998. 89f.<<strong>br</strong> />
Dissertação (Mestrado em Tec<strong>no</strong>logia) – Centro Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação Tec<strong>no</strong>lógica do Paraná,<<strong>br</strong> />
(CEFET), Curitiba, p.70.<<strong>br</strong> />
9 MENDES, M. A.; BASTOS, M. A. R. Processo <strong>de</strong> Enfermagem: seqüências <strong>no</strong> cui<strong>da</strong>r fazem a<<strong>br</strong> />
diferença. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 56, n. 3, p.271-276, mai./jun. 2003. p.271.
5<<strong>br</strong> />
Vale ain<strong>da</strong> ressaltar a percepção <strong>de</strong> enfermeiros quanto à aplicação do<<strong>br</strong> />
método científico, como sendo ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> burocrática, aponta<strong>da</strong> por Peduzzi e<<strong>br</strong> />
Anselmi:<<strong>br</strong> />
[...] todo o registro é concebido como “parte burocrática”, inclusive a<<strong>br</strong> />
evolução e prescrição <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> feitas pela enfermeira e que<<strong>br</strong> />
representam momentos centrais do planejamento do cui<strong>da</strong>do. Também as<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong>tações <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, realiza<strong>da</strong>s por to<strong>da</strong> equipe <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> são<<strong>br</strong> />
interpreta<strong>da</strong>s como burocracia, ou seja, predomina a premissa que <strong>de</strong>vem<<strong>br</strong> />
ser feitas porque permitem o controle do processo <strong>de</strong> trabalho e serão, elas<<strong>br</strong> />
próprias, objeto <strong>de</strong> controle. 12<<strong>br</strong> />
Entretanto, to<strong>da</strong>s essas pesquisas, apesar <strong>de</strong> apontar dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s na<<strong>br</strong> />
aplicação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, trazem o reconhecimento<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>la, por parte dos enfermeiros:<<strong>br</strong> />
Observa-se que a maioria dos entrevistados acha importante a aplicação do<<strong>br</strong> />
Processo <strong>de</strong> Enfermagem, alguns porque acreditam que esse instrumento<<strong>br</strong> />
facilita a assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, outros porque se po<strong>de</strong> acompanhar o<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvimento do paciente, melhorando sua quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e<<strong>br</strong> />
estimulando o autocui<strong>da</strong>do. 13<<strong>br</strong> />
Permea<strong>da</strong> por essas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a cientifici<strong>da</strong><strong>de</strong> aplica<strong>da</strong> à prática<<strong>br</strong> />
profissional, almeja<strong>da</strong> pelos enfermeiros <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1950, somente será<<strong>br</strong> />
alcança<strong>da</strong> com a utilização <strong>de</strong> instrumentos científicos que subsidiem sua prática<<strong>br</strong> />
assistencial. Sendo assim, a <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência traduz-se em um<<strong>br</strong> />
instrumento científico que proporciona ao profissional o planejamento e a<<strong>br</strong> />
sistematização <strong>de</strong> suas ações, bem como <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Apesar dos obstáculos e <strong>da</strong>s resistências citados, a relevância <strong>da</strong> aplicação<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> científica para a valorização profissional ficou impressa na categoria,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua implantação, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960, culminando, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, com a<<strong>br</strong> />
Lei 7.498, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1986, que dispõe so<strong>br</strong>e o exercício <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
As dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa aplicação apontam para o pressuposto <strong>de</strong> que houve<<strong>br</strong> />
falhas na implementação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>no</strong> Brasil. O discurso dos<<strong>br</strong> />
10 THOFEHRN, M. B. et al. O processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>de</strong> acadêmicos <strong>de</strong> Enfermagem<<strong>br</strong> />
e enfermeiros. Revista Gaúcha <strong>de</strong> Enfermagem, Porto Alegre, v. 20, n. 1, p.69-79, Jan.1999. p.76.<<strong>br</strong> />
11 THOFEHRN, M. B. et al. Op. cit. 1999. p.76.<<strong>br</strong> />
12 PEDUZZI, M; ANSELMI, M. L. O processo <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>: a cisão entre o<<strong>br</strong> />
planejamento e execução do cui<strong>da</strong>do. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, v. 55, n. 4, p.392-398,<<strong>br</strong> />
jul./ago. 2002. p.392.<<strong>br</strong> />
13 THOFEHRN, M. B. et al. Op. cit. 1999. p.72.
6<<strong>br</strong> />
profissionais, indicado na produção científica <strong>da</strong> categoria <strong>no</strong> final do século XX,<<strong>br</strong> />
privilegia questões como: escassez <strong>de</strong> tempo; instrumentalização insuficiente na<<strong>br</strong> />
aca<strong>de</strong>mia; falta <strong>de</strong> apoio institucional; <strong>de</strong>ntre outras causas. Tais afirmações, <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
entanto, não fornecem subsídios suficientes para esclarecer como a incorporação do<<strong>br</strong> />
método científico tem influenciado o processo <strong>de</strong> trabalho do enfermeiro.<<strong>br</strong> />
Por esse motivo, este estudo tem como objetivo analisar a implementação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil, <strong>no</strong> período <strong>de</strong> 1960 a 1986. O<<strong>br</strong> />
período <strong>de</strong>marcado obe<strong>de</strong>ce à época <strong>de</strong> início <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong> sistematização<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> assistência na literatura <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e culmina com a publicação <strong>da</strong> Lei<<strong>br</strong> />
7.498, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1986, que dispõe so<strong>br</strong>e o exercício profissional <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> e introduz como incumbência do enfermeiro a elaboração, execução e<<strong>br</strong> />
avaliação dos pla<strong>no</strong>s assistenciais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
A carência <strong>de</strong> pesquisas e reflexões so<strong>br</strong>e o tema levaram à análise do<<strong>br</strong> />
processo <strong>de</strong> implementação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência sob uma perspectiva<<strong>br</strong> />
histórica, <strong>de</strong> modo a permitir contextualizar a análise <strong>da</strong> prática <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
numa visão pa<strong>no</strong>râmica, amplia<strong>da</strong>, e possibilitar um entendimento do passado para<<strong>br</strong> />
planejamento <strong>de</strong> estratégias presentes e futuras.<<strong>br</strong> />
Para Benjamín 14 , a História não é a busca <strong>de</strong> um tempo homogêneo e vazio,<<strong>br</strong> />
preenchido pelo historiador com a sua visão dos acontecimentos, ela é muito mais<<strong>br</strong> />
uma busca <strong>de</strong> respostas para os ‘agoras’.<<strong>br</strong> />
Dessa maneira, o método histórico não compreen<strong>de</strong> apenas o relato<<strong>br</strong> />
cro<strong>no</strong>lógico dos fatos, e sim, por meio <strong>da</strong> crítica histórica, busca analisá-los <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
contexto dos <strong>de</strong>terminantes socioeconômicos e políticos que os entremeavam.<<strong>br</strong> />
A História, embora busque a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, sabe que ela é parcial, pois isso<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> visão e <strong>da</strong> habili<strong>da</strong><strong>de</strong> do pesquisador, portanto, não é imune a<<strong>br</strong> />
interpretações, interesses, influências culturais e políticas, pois, em última instância,<<strong>br</strong> />
é o pesquisador quem escolhe suas fontes históricas.<<strong>br</strong> />
A intervenção do historiador que escolhe o documento, extraindo-o do<<strong>br</strong> />
conjunto dos <strong>da</strong>dos do passado, preferindo-o a outros, atribuindo-lhe um<<strong>br</strong> />
valor <strong>de</strong> testemunho que, pelo me<strong>no</strong>s em parte, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> sua própria<<strong>br</strong> />
posição na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sua época e <strong>da</strong> sua organização mental insere-se<<strong>br</strong> />
numa situação inicial que é ain<strong>da</strong> me<strong>no</strong>s “neutra” do que a sua<<strong>br</strong> />
intervenção. 15<<strong>br</strong> />
14 BENJAMÍN, W. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1986.<<strong>br</strong> />
15 LE GOFF, J. Enciclopédia Enaudi. Lisboa: Casa <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong>, 2000. p.103.
7<<strong>br</strong> />
Assim, cabe ao pesquisador que utiliza o método histórico a consciência<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sse fato e ser crítico e criativo, buscando, nas fontes e <strong>no</strong>s <strong>da</strong>dos, a<<strong>br</strong> />
contextualização histórica dos documentos.<<strong>br</strong> />
A importância do documento é foco <strong>de</strong> reflexões por parte <strong>da</strong> ciência,<<strong>br</strong> />
passando por revoluções filosóficas quanto a sua análise e ao seu significado.<<strong>br</strong> />
O documento que, para a escola histórica positivista do fim do séc. XIX e do<<strong>br</strong> />
início do séc. XX, será o fun<strong>da</strong>mento do facto histórico, ain<strong>da</strong> que resulte <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
escolha, <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>cisão do historiador, parece apresentar-se por si mesmo<<strong>br</strong> />
como prova histórica. A sua objectivi<strong>da</strong><strong>de</strong> parece opor-se à intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
do monumento. Além do mais, afirma-se essencialmente como um<<strong>br</strong> />
testemunho escrito. 16<<strong>br</strong> />
Dessa forma, na escola histórica positivista, o documento tor<strong>no</strong>u-se<<strong>br</strong> />
indispensável, e a habili<strong>da</strong><strong>de</strong> do historiador restringia-se a retirar to<strong>da</strong>s as<<strong>br</strong> />
informações que o documento <strong>de</strong>tinha, sem acrescentar na<strong>da</strong> do que ele não<<strong>br</strong> />
continha.<<strong>br</strong> />
To<strong>da</strong>via, fun<strong>da</strong>dores <strong>da</strong> revista Les Annales, <strong>de</strong> 1929, pioneiros <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />
história <strong>no</strong>va, contestam a visão restritiva imposta pela escola positivista. Não<<strong>br</strong> />
concebiam mais a história como a narrativa cro<strong>no</strong>lógica <strong>de</strong> fatos, e sim a história<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>cifra<strong>da</strong> por meio <strong>de</strong> problema, numa visão mais a<strong>br</strong>angente e permea<strong>da</strong> pela<<strong>br</strong> />
interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong>, aproximando-se <strong>da</strong>s outras ciências humanas.<<strong>br</strong> />
Ao <strong>de</strong>screver essa etapa <strong>da</strong> historiografia, Bourdé e Martin 17 relatam, <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
escritos <strong>de</strong> F. Brau<strong>de</strong>l, que dirigiu essa revista:<<strong>br</strong> />
Depois <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção dos Annales [...], o historiador quis-se e fez eco<strong>no</strong>mista,<<strong>br</strong> />
antropólogo, <strong>de</strong>mógrafo, psicólogo, lingüista [...] A história é, se se po<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
dizer, um dos ofícios me<strong>no</strong>s estruturados <strong>da</strong> ciência social, portanto um dos<<strong>br</strong> />
mais flexíveis, dos mais abertos [...] A história continuou, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> mesma<<strong>br</strong> />
linha, a alimentar-se <strong>da</strong>s outras ciências do homem [...] Há uma história<<strong>br</strong> />
econômica, [...] uma maravilhosa história geográfica, [...] uma <strong>de</strong>mografia<<strong>br</strong> />
histórica [...]; há mesmo uma história social [...] Mas se a história<<strong>br</strong> />
omnipresente põe em causa o social <strong>no</strong> seu todo, é sempre a partir <strong>de</strong>ste<<strong>br</strong> />
movimento <strong>no</strong> tempo [...] A história dialéctica <strong>da</strong> duração [...] é estudo do<<strong>br</strong> />
social, <strong>de</strong> todo o social; e portanto do passado e portanto do presente.<<strong>br</strong> />
Essa reflexão é necessária quando se opta pelo método histórico, para que o<<strong>br</strong> />
historiador não se <strong>de</strong>svie do seu <strong>de</strong>ver principal: a crítica do documento.<<strong>br</strong> />
16 LE GOFF, J. Op. cit. 2000. p.95.<<strong>br</strong> />
17 BOURDÉ, G; MARTIN, H. As escolas históricas. Lisboa: Fórum <strong>da</strong> História, 1993. p.131.
8<<strong>br</strong> />
O documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um<<strong>br</strong> />
produto <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que o fa<strong>br</strong>icou segundo suas relações <strong>de</strong> forças que<<strong>br</strong> />
aí <strong>de</strong>tinham o po<strong>de</strong>r. Só a análise do documento enquanto documento<<strong>br</strong> />
permite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo<<strong>br</strong> />
cientificamente, isto é, com ple<strong>no</strong> conhecimento <strong>de</strong> causa 18 .<<strong>br</strong> />
Com a ciência <strong>de</strong>ssas reflexões, para este estudo, arrolaram-se como fontes<<strong>br</strong> />
históricas escritos produzidos como documentos conscientes, tais como: livros <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> e <strong>da</strong> área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> época, a legislação profissional oficial e artigos<<strong>br</strong> />
publicados na Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, entre 1960 e 1986.<<strong>br</strong> />
O critério <strong>de</strong> escolha <strong>da</strong> revista foi o seu alcance geográfico e ser essa<<strong>br</strong> />
publicação <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Associação Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, refletindo,<<strong>br</strong> />
portanto, o pensamento e a prática assistencial <strong>da</strong> categoria. A importância <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
revista, <strong>no</strong>s meados do século XX, é referen<strong>da</strong><strong>da</strong> na literatura <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>:<<strong>br</strong> />
Vencendo todos os obstáculos, a Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem ain<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
é na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> o único veículo <strong>de</strong> comunicação dos profissionais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, com circulação em todo território nacional; <strong>da</strong>í a razão <strong>de</strong> sua<<strong>br</strong> />
utilização pelos profissionais <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>de</strong> todo o Brasil e sua inegável<<strong>br</strong> />
influência na formação <strong>de</strong> enfermeiros, tendo em vista sua aceitação e<<strong>br</strong> />
recomen<strong>da</strong>ção, especialmente por parte <strong>da</strong>s escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. 19<<strong>br</strong> />
Também é <strong>de</strong> parecer <strong>da</strong> mesma autora que existiam outras publicações,<<strong>br</strong> />
como, por exemplo, a Revista Paulista <strong>de</strong> Enfermagem, a Revista <strong>da</strong> Escola <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo e a Enfermagem Atual, <strong>de</strong>ntre outras,<<strong>br</strong> />
mas com circulação restrita, sem a a<strong>br</strong>angência <strong>da</strong> Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem 20 .<<strong>br</strong> />
A baliza temporal <strong>da</strong>s publicações na revista <strong>de</strong>u-se em função do início <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
publicações so<strong>br</strong>e a <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>no</strong> Brasil, o que ocorreu na déca<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> 1960 até 1986, <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> publicação <strong>da</strong> Lei 7.498/86, que dispõe so<strong>br</strong>e o exercício<<strong>br</strong> />
profissional <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, como mencionado.<<strong>br</strong> />
Na busca <strong>da</strong> documentação <strong>de</strong>ssa revista <strong>no</strong> período proposto, encontraramse<<strong>br</strong> />
acervos que permitiriam este estudo, sendo escolhido o <strong>da</strong> Biblioteca <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
Ciências <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná. Os critérios <strong>de</strong> escolha<<strong>br</strong> />
18 LE GOFF, J. Op. cit. 2000. p.102.<<strong>br</strong> />
19 GERMANO, R. M. Educação e i<strong>de</strong>ologia <strong>da</strong> Enfermagem <strong>no</strong> Brasil. São Paulo: Cortez, 1983.<<strong>br</strong> />
p.64.<<strong>br</strong> />
20 GERMANO, R. M. Op. cit. 1983. p.64.
9<<strong>br</strong> />
foram a facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso a esse acervo restrito e o estado <strong>de</strong> conservação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
coleção ou do arquivo. No que se refere a tal período, foram pesquisados 27<<strong>br</strong> />
volumes contendo 108 números do periódico, o que resultou em 47 artigos so<strong>br</strong>e o<<strong>br</strong> />
tema.<<strong>br</strong> />
Os critérios <strong>de</strong> seleção dos artigos constaram na análise do título <strong>de</strong>les, se<<strong>br</strong> />
indicavam reflexões so<strong>br</strong>e a prática assistencial <strong>da</strong> época, relatos <strong>de</strong> experiências <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
aplicação do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e os artigos <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Wan<strong>da</strong> <strong>de</strong> Aguiar<<strong>br</strong> />
Horta.<<strong>br</strong> />
A inclusão dos artigos publicados por Wan<strong>da</strong> Horta <strong>de</strong>ve-se ao fato <strong>de</strong> ter<<strong>br</strong> />
sido essa enfermeira <strong>br</strong>asileira a precursora <strong>da</strong> implementação do processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> e <strong>da</strong> utilização <strong>de</strong> teorias na prática assistencial <strong>no</strong> País, o que atribui à<<strong>br</strong> />
sua produção intelectual gran<strong>de</strong> significado para o alcance dos objetivos <strong>de</strong>sta<<strong>br</strong> />
pesquisa.<<strong>br</strong> />
A análise dos documentos permeou-se por sua contextualização histórica,<<strong>br</strong> />
feita <strong>no</strong> capítulo 1 <strong>de</strong>ste estudo, e pela legislação do exercício profissional vigente<<strong>br</strong> />
na época <strong>de</strong>limita<strong>da</strong>.<<strong>br</strong> />
O <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho permitiu a elaboração <strong>de</strong> três capítulos assim<<strong>br</strong> />
distribuídos: O primeiro capítulo abor<strong>da</strong> a contextualização histórica <strong>da</strong> prática <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil, com base nas políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a implantação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
profissão <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, até o final do século XX. O segundo capítulo analisa a<<strong>br</strong> />
legislação referente à <strong>enfermagem</strong>, particularmente, as leis que especificam o<<strong>br</strong> />
exercício profissional <strong>de</strong> 1955 e <strong>de</strong> 1986, verificando, assim, quais eram as<<strong>br</strong> />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s do profissional enfermeiro frente à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira.<<strong>br</strong> />
Finalmente, o terceiro capítulo analisa a história <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong><<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil, por meio <strong>da</strong> análise dos artigos <strong>da</strong> Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem. Seguindo or<strong>de</strong>m cro<strong>no</strong>lógica, relata o processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
implantação e sistematização <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> País, contemplando<<strong>br</strong> />
a avaliação dos profissionais <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> quanto ao reconhecimento do método<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> prática assistencial.<<strong>br</strong> />
Cabe lem<strong>br</strong>ar que não é objetivo <strong>de</strong>ste trabalho o relato histórico <strong>da</strong>s teorias<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e do processo <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Assim, privilegiando uma visão histórica, contextualiza<strong>da</strong> em seus aspectos<<strong>br</strong> />
sociais, científicos, culturais e políticos, acredito que este estudo contribua com os<<strong>br</strong> />
profissionais <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, na compreensão do processo <strong>de</strong> implementação <strong>da</strong>
10<<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência, apontando as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, resistências e os<<strong>br</strong> />
enfrentamentos <strong>da</strong> categoria em seu processo <strong>de</strong> trabalho.
11<<strong>br</strong> />
1 PROFISSIONALIZAÇÃO DA ENFERMAGEM NO BRASIL<<strong>br</strong> />
A compreensão do surgimento <strong>da</strong> profissão <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil<<strong>br</strong> />
perpassa pela historici<strong>da</strong><strong>de</strong> do contexto socioeconômico e político do País, o qual<<strong>br</strong> />
permeia-se pelos interesses e o conseqüente jogo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res <strong>de</strong>ssa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
séculos XIX e XX, pois, reconhecendo-se ou não, é o que tange ao econômico e ao<<strong>br</strong> />
político que <strong>de</strong>termina as ações dos profissionais <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
[...] para sermos profissionais produtores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e não meros<<strong>br</strong> />
comerciantes <strong>da</strong> doença, é urgente que possamos compreen<strong>de</strong>r, questionar<<strong>br</strong> />
e aju<strong>da</strong>r a transformar as relações sociais e econômicas do mundo em que<<strong>br</strong> />
vivemos e trabalhamos. 21<<strong>br</strong> />
O confronto <strong>de</strong> interesses reflete-se nas políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que revelam, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
um lado, a emergência <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> população e, <strong>de</strong> outro, a resposta do<<strong>br</strong> />
Estado a esses anseios. Os interesses dicotômicos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> direcionam a<<strong>br</strong> />
política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>:<<strong>br</strong> />
Política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> é a forma histórica mais ou me<strong>no</strong>s explícita como o<<strong>br</strong> />
Estado conduz o problema <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> sani<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> população. Esta<<strong>br</strong> />
condução varia conjunturalmente e comporta um conjunto <strong>de</strong> divergências,<<strong>br</strong> />
incoerências e mesmo oposições internas 22 .<<strong>br</strong> />
Assim, faz-se necessária uma <strong>br</strong>eve retrospectiva <strong>de</strong>sse contexto, para<<strong>br</strong> />
permitir a compreensão do momento histórico <strong>da</strong> implantação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil, pois:<<strong>br</strong> />
Quando analisamos os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> isolados do momento histórico e<<strong>br</strong> />
do <strong>de</strong>senvolvimento econômico atingido por uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
per<strong>de</strong>mos a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> incorporar a <strong>no</strong>ssa prática, a riqueza <strong>de</strong>ssa<<strong>br</strong> />
movimentação contínua <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> na direção <strong>de</strong> seu futuro, <strong>de</strong> seu<<strong>br</strong> />
progresso e <strong>de</strong> sua felici<strong>da</strong><strong>de</strong> 23 .<<strong>br</strong> />
21 JORGE, M. L. Subsídios para uma análise histórica do setor <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> Brasil. Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Estudo Unimep, Curso <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública. Módulo III. <strong>de</strong>z. 1981. p.28.<<strong>br</strong> />
22 LUZ, M. T. Saú<strong>de</strong> e Instituições médicas <strong>no</strong> Brasil. In: GUIMARÃES, R. Saú<strong>de</strong> e Medicina <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
Brasil: contribuição para o <strong>de</strong>bate. 4.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Graal, 1984. p.167.<<strong>br</strong> />
23 JORGE, M. L. Op. cit. 1981. p.28.
12<<strong>br</strong> />
No período colonial, as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> eram executa<strong>da</strong>s por barbeiros,<<strong>br</strong> />
sangradores, curiosos, benze<strong>de</strong>iras, parteiras, padres, médicos e cirurgiões. As<<strong>br</strong> />
primeiras ações compreendi<strong>da</strong>s como <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> foram protagoniza<strong>da</strong>s pelos<<strong>br</strong> />
padres jesuítas, que prestavam o cui<strong>da</strong>do em enfermarias edifica<strong>da</strong>s próximas aos<<strong>br</strong> />
colégios e às missões. A eles seguiram voluntários e escravos, que passaram a<<strong>br</strong> />
executar essas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s em Santas Casas <strong>de</strong> Misericórdia e hospitais militares 24 .<<strong>br</strong> />
A vin<strong>da</strong> <strong>de</strong> D. João VI para o Brasil, em 1808, fugindo <strong>da</strong> expansão<<strong>br</strong> />
napoleônica, imprimiu um marco histórico na então colônia portuguesa. Sua corte,<<strong>br</strong> />
composta por <strong>no</strong><strong>br</strong>es, artistas e intelectuais, trouxe ao País <strong>no</strong>vas concepções,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>terminando mu<strong>da</strong>nças na administração pública colonial, incluindo a fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
escolas médico-cirúrgicas do Rio <strong>de</strong> Janeiro e <strong>da</strong> Bahia.<<strong>br</strong> />
A assistência médica ficou restrita à elite. Para a população mais po<strong>br</strong>e, na<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
mudou, restando a eles os curan<strong>de</strong>iros negros e indígenas, que co<strong>br</strong>avam pelo<<strong>br</strong> />
tratamento preços me<strong>no</strong>res, ou os hospitais públicos e as Santas Casas. Essas<<strong>br</strong> />
instituições eram temi<strong>da</strong>s pela população, <strong>de</strong>vido à alta taxa <strong>de</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> que<<strong>br</strong> />
abarcavam, <strong>da</strong><strong>da</strong>s as precárias condições <strong>de</strong> higiene, divisão <strong>de</strong> leitos por dois<<strong>br</strong> />
pacientes e a falta <strong>de</strong> isolamento por doenças 25 .<<strong>br</strong> />
O predomínio <strong>de</strong> doenças endêmicas, como cólera, peste bubônica, fe<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />
amarela e varíola, <strong>de</strong>ntre outras, <strong>no</strong> século XIX, ameaçavam as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do<<strong>br</strong> />
comércio, propiciando a insalu<strong>br</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong>s portos <strong>br</strong>asileiros, acarretando resistência<<strong>br</strong> />
à atracação <strong>de</strong> navios e contrapondo os interesses <strong>da</strong> eco<strong>no</strong>mia exportadora<<strong>br</strong> />
cafeeira.<<strong>br</strong> />
Nesse ínterim, avanços ocorriam na área médica, <strong>no</strong> cenário mundial, como<<strong>br</strong> />
as <strong>de</strong>scobertas bacteriológicas <strong>de</strong> Pasteur e Koch, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1870 e 1880, a<<strong>br</strong> />
invenção do Raio X, por Roentgen, em 1895, <strong>da</strong> insulina, por Banting, em 1922, e <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Penicilina, por Fleming, em 1928, bem como as contribuições <strong>br</strong>asileiras: a<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>scoberta <strong>da</strong> doença <strong>de</strong> Chagas, em 1912, e a a<strong>br</strong>eugrafia, por Ma<strong>no</strong>el <strong>de</strong> A<strong>br</strong>eu<<strong>br</strong> />
em 1937 26 .<<strong>br</strong> />
O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> bacteriologia permitiu a introduzir a anti-sepsia <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
hospitais e reduziu drasticamente o número <strong>de</strong> infecções e o tempo requerido na<<strong>br</strong> />
recuperação dos enfermos. “Os hospitais mu<strong>da</strong>ram <strong>de</strong> objetivo e, em conseqüência,<<strong>br</strong> />
24 BERTOLLI FILHO, C. História <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> pública <strong>no</strong> Brasil. 4. ed. São Paulo: Ática, 2001.<<strong>br</strong> />
25 BERTOLLI FILHO, C. Op. cit. 2001.
13<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> clientela: <strong>de</strong> a<strong>br</strong>igo para os que <strong>de</strong>pendiam <strong>da</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong> pública, passaram a ser<<strong>br</strong> />
o centro on<strong>de</strong> se dispensavam cui<strong>da</strong>dos médicos” 27 .<<strong>br</strong> />
Os princípios bacteriológicos propiciaram avanços também <strong>no</strong> campo <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, que, trazidos por Florence Nightingale, instituíram o marco <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> mo<strong>de</strong>rna como profissão. Com os resultados alcançados na Guerra <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Criméia (1854-1856), ao conseguir reduzir a porcentagem <strong>de</strong> sol<strong>da</strong>dos mortos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
40% para 2% 28 , e ao constatar que as condições <strong>de</strong> higiene interferem na<<strong>br</strong> />
mortali<strong>da</strong><strong>de</strong>, Nightingale vislum<strong>br</strong>ou a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> formação especializa<strong>da</strong> para<<strong>br</strong> />
a prática <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Assim, em 1860 ela fundou a primeira escola <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em Londres,<<strong>br</strong> />
com a meta <strong>de</strong> preparo <strong>de</strong> pessoal para o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. A formação preconiza<strong>da</strong> por Florence Nightingale era fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
em preceitos que refletiam a época vitoriana: “Suas metas eram o preparo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
pessoal (nurses) para exercer os serviços usuais <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> hospitalar e<<strong>br</strong> />
domiciliar e o preparo <strong>de</strong> pessoas ‘mais qualifica<strong>da</strong>s’ para as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
supervisão, administração e ensi<strong>no</strong> (ladies-nurses)” 29 .<<strong>br</strong> />
Outro preceito eram os traços <strong>de</strong> caráter consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong>sejáveis na<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, como: so<strong>br</strong>ie<strong>da</strong><strong>de</strong>, a abnegação e a subserviência médica, os quais<<strong>br</strong> />
são explicados pela influência cristã e vitoriana e pela necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>vo juízo so<strong>br</strong>e a <strong>enfermagem</strong>, <strong>de</strong>teriora<strong>da</strong> pela Reforma Protestante, que<<strong>br</strong> />
expulsou as religiosas dos mosteiros, ficando a cargo <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>sprepara<strong>da</strong>s e<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> conduta duvidosa os cui<strong>da</strong>dos aos enfermos. Essa duali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
entre o sagrado (<strong>de</strong> vocação, abnegação) e o profa<strong>no</strong>, imposta na I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média,<<strong>br</strong> />
perpetua até os dias <strong>de</strong> hoje, <strong>no</strong> imaginário popular.<<strong>br</strong> />
Assim, <strong>no</strong> século XIX, as práticas do cui<strong>da</strong>do <strong>no</strong> Brasil estiveram a cargo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
religiosas e voluntárias que atendiam nas Santas Casas.<<strong>br</strong> />
26 SINGER, P. et al. Prevenir e curar: o controle social através dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Janeiro: Forense-Universitária, 1988.<<strong>br</strong> />
27 SINGER, P. et al. Op. cit. 1988. p.29.<<strong>br</strong> />
28 Florence Nightingale foi convi<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo ministro <strong>da</strong> Guerra <strong>da</strong> Inglaterra, seu amigo pessoal, para<<strong>br</strong> />
organizar os serviços <strong>de</strong> enfermaria dos hospitais militares ingleses instalados em Scutari e na<<strong>br</strong> />
Criméia, os quais se encontravam sem recursos huma<strong>no</strong>s e materiais, o que resultava em altos<<strong>br</strong> />
índices <strong>de</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> entre os sol<strong>da</strong>dos feridos em combate (cf. SILVA, G. B. Enfermagem<<strong>br</strong> />
Profissional: Análise Crítica. São Paulo: Cortez, 1986).<<strong>br</strong> />
29 SILVA, G. B. Op. cit. 1986. p.52
14<<strong>br</strong> />
O cui<strong>da</strong>r <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> era subalter<strong>no</strong> a todos os <strong>de</strong>mais, e como tal<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>svalorizado, por ser <strong>de</strong>sempenhado por pessoas po<strong>br</strong>es, sem nenhuma<<strong>br</strong> />
formação específica para o mesmo. Subalter<strong>no</strong> também às Irmãs <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Cari<strong>da</strong><strong>de</strong>, já que a elas era <strong>de</strong>legado também o que “não fosse <strong>de</strong>cente”<<strong>br</strong> />
realizar. O cui<strong>da</strong>r era assumido como o compromisso <strong>de</strong> uns para com os<<strong>br</strong> />
outros, muito mais como uma “doação”, <strong>de</strong> “servir ao próximo”, muito mais<<strong>br</strong> />
afim <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> religiosa, <strong>de</strong> fazer o bem, do que como uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
profissional e uma função específica. 30<<strong>br</strong> />
O início do século XX marcou a implantação <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil como<<strong>br</strong> />
profissão. Para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa trajetória, <strong>de</strong>scrita neste capítulo, optou-se<<strong>br</strong> />
pela divisão didática forneci<strong>da</strong> por Silva, ao <strong>de</strong>screver a <strong>enfermagem</strong> entre as<<strong>br</strong> />
déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 1920 a 1970: “Se as déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 20 e 30 correspon<strong>de</strong>ram à fase <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
implantação <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> profissional <strong>no</strong> Brasil e as déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 40 e 50 à fase<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> sua consoli<strong>da</strong>ção, po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar os a<strong>no</strong>s 70 como ligados a seu processo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> expansão” 31 .<<strong>br</strong> />
1.1 A IMPLANTAÇÃO DA ENFERMAGEM COMO PROFISSÃO<<strong>br</strong> />
O surgimento <strong>da</strong> medicina científica na Europa e o enriquecimento <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira que vinha ocorrendo após 1860, <strong>de</strong>vido à expansão <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica, foram fatores fun<strong>da</strong>mentais para a mu<strong>da</strong>nça na situação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> Brasil, entre o final do século XIX e o início do século XX.<<strong>br</strong> />
Os i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia, o pensamento positivista e o mercado capitalista<<strong>br</strong> />
que permeavam a história mundial forneceram base para reivindicações<<strong>br</strong> />
republicanas, que culminaram com a Proclamação <strong>da</strong> República, em 1889. O lema<<strong>br</strong> />
positivista ‘Or<strong>de</strong>m e Progresso’ <strong>da</strong> República recém-instala<strong>da</strong>, somente se<<strong>br</strong> />
concretizaria “com um povo suficientemente saudável e educado para o trabalho<<strong>br</strong> />
cotidia<strong>no</strong>, força propulsora do progresso nacional” 32 .<<strong>br</strong> />
Assim, o mundo capitalista re<strong>de</strong>finiu os trabalhadores <strong>br</strong>asileiros como capital<<strong>br</strong> />
huma<strong>no</strong>. Para manter o ci<strong>da</strong>dão saudável, era necessário implementar medi<strong>da</strong>s que<<strong>br</strong> />
sustentassem essa <strong>no</strong>va prerrogativa, num mercado escasso <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a para a<<strong>br</strong> />
prática <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>. Esse contexto possibilitou “a emergência <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> <strong>de</strong>squalifica<strong>da</strong>, mas que, pela natureza do seu objeto <strong>de</strong> trabalho,<<strong>br</strong> />
30 PADILHA, M. I. C. S. As representações <strong>da</strong> história <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> na prática cotidiana atual.<<strong>br</strong> />
Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 52, n.3, p.443-454, jul./set. 1999. p.452.<<strong>br</strong> />
31 SILVA, G. B. Op. cit. 1986. p.88.<<strong>br</strong> />
32 BERTOLLI FILHO, C. Op. cit.. 2001. p.11.
15<<strong>br</strong> />
precisa[va] <strong>de</strong> conhecimentos mínimos como saber ler, escrever e conhecer<<strong>br</strong> />
aritmética elementar” 33 .<<strong>br</strong> />
Fato ilustrativo <strong>de</strong>ssa necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a foi a criação <strong>da</strong> primeira<<strong>br</strong> />
escola <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil, a Escola Profissional <strong>de</strong> Enfermeiras e Enfermeiros<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> Hospital <strong>de</strong> Alienados, <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, pelo Decreto 791, <strong>de</strong> 1890, hoje<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>da</strong> Escola <strong>de</strong> Enfermagem Alfredo Pinto. O surgimento <strong>de</strong>ssa escola<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>veu-se à crise <strong>de</strong> pessoal qualificado <strong>no</strong> atendimento aos enfermos, so<strong>br</strong>etudo, <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
Hospital Nacional <strong>de</strong> Alienados do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Ao assumir a direção <strong>de</strong>ssa<<strong>br</strong> />
instituição, o Dr. João Carlos Teixeira Brandão fez algumas modificações, <strong>de</strong>ntre<<strong>br</strong> />
elas, <strong>de</strong>stituiu o po<strong>de</strong>r <strong>da</strong>s irmãs <strong>de</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong> que prestavam assistência aos<<strong>br</strong> />
hospitalizados. Desprestigia<strong>da</strong>s, elas abandonaram o hospital, gerando<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>scontinui<strong>da</strong><strong>de</strong> na assistência aos hospitalizados. A solução foi contratar<<strong>br</strong> />
enfermeiras européias para substituí-las 34 .<<strong>br</strong> />
A urgência na preparação <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a e a qualificação espera<strong>da</strong> <strong>de</strong> quem<<strong>br</strong> />
iria atuar na <strong>enfermagem</strong>’ está estampa<strong>da</strong> <strong>no</strong>s requisitos para matrícula <strong>de</strong>finidos <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>creto que criou essa escola, em seu artigo 4º:<<strong>br</strong> />
Art 4º Para ser admitido à matricula o preten<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>verá:<<strong>br</strong> />
1º, ter 18 an<strong>no</strong>s, pelo me<strong>no</strong>s, <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>;<<strong>br</strong> />
2º, saber ler e escrever correctamente e conhecer arithmetica elementar;<<strong>br</strong> />
3º, apresentar attestações <strong>de</strong> bons costumes. 35<<strong>br</strong> />
Entretanto, na literatura <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, vários documentos apresentam a<<strong>br</strong> />
Escola Anna Nery, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1923, como a primeira escola <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
Brasil. Isso é justificado, por ter sido essa a primeira escola a funcionar<<strong>br</strong> />
genuinamente sob a orientação e organização <strong>de</strong> enfermeiras 36 , diferentemente <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Escola <strong>de</strong> Enfermeiros e Enfermeiras, cujo quadro docente se compunha <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
médicos e supervisores do hospital a ela filia<strong>da</strong>.<<strong>br</strong> />
Em 1916, criou-se a Escola Prática <strong>de</strong> Enfermeiras <strong>da</strong> Cruz Vermelha<<strong>br</strong> />
Brasileira, com o propósito <strong>de</strong> preparar socorristas voluntárias para atendimento em<<strong>br</strong> />
33 ALVES, D. B. Mercado e condições <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>. Salvador: Gráfica Central,<<strong>br</strong> />
1987. p.22.<<strong>br</strong> />
34 MOREIRA, A. A primeira escola <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. In: GEOVANINI, T. et al. História <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem: versões e interpretações. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Revinter, 2002.<<strong>br</strong> />
35 BRASIL. Decretos do Gover<strong>no</strong> Provisório <strong>da</strong> República dos Estados Unidos do Brasil. 9º<<strong>br</strong> />
fascículo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imprensa Nacional, 1890.<<strong>br</strong> />
36 GERMANO, R. M. Educação e i<strong>de</strong>ologia <strong>da</strong> Enfermagem <strong>no</strong> Brasil. São Paulo: Cortez, 1983.
16<<strong>br</strong> />
situação <strong>de</strong> emergência, num movimento internacional para melhorar as condições<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> assistência aos feridos <strong>da</strong> Primeira Gran<strong>de</strong> Guerra 37 .<<strong>br</strong> />
A industrialização e o conseqüente aumento <strong>da</strong> população urbana, com a<<strong>br</strong> />
chega<strong>da</strong> dos imigrantes europeus <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final do século XIX, impulsionados pela<<strong>br</strong> />
eco<strong>no</strong>mia cafeeira, <strong>de</strong>terioraram as condições <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população<<strong>br</strong> />
nas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, agudizando dos casos <strong>de</strong> doenças pestilentas. Essa situação<<strong>br</strong> />
transformou-se em entrave comercial para o escoamento <strong>da</strong> safra agrícola pelos<<strong>br</strong> />
portos do País, o<strong>br</strong>igando as oligarquias <strong>da</strong> República Velha a <strong>de</strong>finir estratégias<<strong>br</strong> />
para melhorar as condições sanitárias <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<<strong>br</strong> />
A estratégia <strong>de</strong> erradicação <strong>da</strong>s doenças coube aos institutos <strong>de</strong> pesquisas,<<strong>br</strong> />
criados a partir do final do século XIX, cuja finali<strong>da</strong><strong>de</strong> era assegurar os estudos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
doenças epidêmicas e <strong>da</strong>r respaldo à tarefa dos higienistas, os quais<<strong>br</strong> />
protagonizaram uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira reurbanização na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<<strong>br</strong> />
Oswaldo Cruz, na diretoria do Departamento Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública,<<strong>br</strong> />
montou uma equipe com 50 homens vacinados, que percorriam becos, armazéns,<<strong>br</strong> />
cortiços e hospe<strong>da</strong>rias, espalhando ratici<strong>da</strong>s e man<strong>da</strong>ndo remover o lixo. Eram<<strong>br</strong> />
pagos 300 réis por rato apanhado pela população, eram <strong>de</strong>struídos cortiços para<<strong>br</strong> />
abertura <strong>de</strong> ruas (614 prédios em <strong>no</strong>ve meses) e eram expulsos moradores dos<<strong>br</strong> />
morros cariocas para terraplenagem 38 .<<strong>br</strong> />
Essas medi<strong>da</strong>s autoritárias causaram insatisfação na população, pois a<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>struição <strong>de</strong> cortiços aumentava o preço dos aluguéis e as medi<strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
intervencionistas cerceavam os direitos <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Apoia<strong>da</strong> por parcela <strong>da</strong> classe<<strong>br</strong> />
médica que não acreditava em tais medi<strong>da</strong>s preventivas, insurgiu uma revolta<<strong>br</strong> />
popular, <strong>de</strong>flagra<strong>da</strong> com a vacinação o<strong>br</strong>igatória contra a varíola.<<strong>br</strong> />
Esse período po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como “[...] <strong>da</strong> hegemonia <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
saú<strong>de</strong> pública, uma vez que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> orientava-se<<strong>br</strong> />
predominantemente para o controle <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias e generalização <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
imunização” 39 .<<strong>br</strong> />
37 GERMANO, R. M. Op. cit. 1983.<<strong>br</strong> />
SILVA, G. B. Op. cit. 1986.<<strong>br</strong> />
38 JORGE, M. L. Op. cit. 1981.<<strong>br</strong> />
39 COELHO, E. B. S.; WESTRUPP, M. H. B.; VERDI, M. Da velha à <strong>no</strong>va república: a evolução <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> Brasil. Trabalho produzido como material instrucional para o programa<<strong>br</strong> />
ESPENSUL. 1995. p.3.
17<<strong>br</strong> />
Os primeiros cursos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> surgiram em resposta a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
emergenciais <strong>de</strong>sse momento histórico <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira. O aumento <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
número <strong>da</strong> população <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s requereu atenção especial do gover<strong>no</strong>, como a<<strong>br</strong> />
implantação <strong>de</strong> saneamento básico e erradicação <strong>de</strong> doenças endêmicas. Assim,<<strong>br</strong> />
“em 1920 foi criado o Departamento Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública, pelo Decreto nº<<strong>br</strong> />
3.987, baseado <strong>no</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>, visando principalmente a profilaxia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
doenças transmissíveis, manutenção <strong>da</strong>s condições sanitárias dos portos e<<strong>br</strong> />
educação sanitária” 40 .<<strong>br</strong> />
Esse Departamento iniciou a intervenção do Estado na prestação <strong>de</strong> serviços<<strong>br</strong> />
médico-assistenciais, e “estendia sua ação ao saneamento urba<strong>no</strong> e rural, à<<strong>br</strong> />
propagan<strong>da</strong> sanitária, aos serviços <strong>de</strong> higiene infantil, higiene industrial e<<strong>br</strong> />
profissional, à supervisão <strong>de</strong> hospitais públicos e fe<strong>de</strong>rais e à fiscalização dos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mais” 41 .<<strong>br</strong> />
Carlos Chagas, em 1921, então diretor <strong>de</strong>sse serviço, interessou-se em trazer<<strong>br</strong> />
os princípios <strong>de</strong> Florence Nightingale para o Brasil. Por intermédio <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção<<strong>br</strong> />
Rockfeller, trouxe enfermeiras <strong>no</strong>rte-americanas, que fun<strong>da</strong>ram, <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro,<<strong>br</strong> />
uma escola <strong>de</strong> enfermeiras, vincula<strong>da</strong> ao Departamento Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública,<<strong>br</strong> />
por meio do Decreto 15.799, <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1922, a escola Anna Nery 42 .<<strong>br</strong> />
Então, o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil surgiu vinculado a interesses<<strong>br</strong> />
governamentais e sob influências. “Logo vemos a importância <strong>de</strong> dois grupos <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
primórdios <strong>da</strong> profissão e que a influenciam até hoje: os médicos <strong>br</strong>asileiros, que<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>cidiram a implantação <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> País e enfermeiras americanas, que a<<strong>br</strong> />
implantaram, tanto na área <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> como na <strong>de</strong> serviços” 43 .<<strong>br</strong> />
O Decreto 16.300, <strong>de</strong> 1923, trata <strong>da</strong> admissão na Escola <strong>de</strong> Enfermeiras do<<strong>br</strong> />
Departamento Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, fixando as <strong>no</strong>rmas para matrícula nessa escola 44 .<<strong>br</strong> />
Diploma <strong>de</strong> escola <strong>no</strong>rmal ou <strong>de</strong> instrução secundária era exigido, sendo permitindo<<strong>br</strong> />
às candi<strong>da</strong>tas que não pu<strong>de</strong>ssem satisfazer tal exigência o recurso <strong>de</strong> um exame<<strong>br</strong> />
preliminar, segundo as <strong>de</strong>terminações estabeleci<strong>da</strong>s pela legislação. Esse <strong>de</strong>creto<<strong>br</strong> />
40 PIZANI, M A. P. N. Os caminhos do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> graduação em <strong>enfermagem</strong> na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Curitiba, <strong>de</strong> 1953 a 1994. 1999. 220f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Setor <strong>de</strong> Educação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, Curitiba. p.43.<<strong>br</strong> />
41 JORGE, M. L. Op. cit. 1981. p.36.<<strong>br</strong> />
42 PIZANI, M. A. P. N. Op. cit. 1999.<<strong>br</strong> />
43 CASTRO, I. B. Estudo exploratório so<strong>br</strong>e a consulta <strong>de</strong> Enfermagem. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 28:76-94, 1975. p.76.<<strong>br</strong> />
44 ALCÂNTARA, G. Novas tendências na educação <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 17, n.5, p. 335-345, out. 1964. p.335.
18<<strong>br</strong> />
instaurou a formação <strong>de</strong> enfermeira em estabelecimento <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> superior,<<strong>br</strong> />
conferindo à <strong>enfermagem</strong> status <strong>de</strong> profissão liberal. Para essa mesma autora,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Escola <strong>de</strong> Enfermeiras até 1931, a<strong>no</strong> <strong>da</strong> regulamentação do<<strong>br</strong> />
exercício <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil, as educadoras <strong>no</strong>rte-americanas exerceram<<strong>br</strong> />
forte pressão para o reconhecimento do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em nível superior.<<strong>br</strong> />
O Decreto 20.109, <strong>de</strong> 1931, que regulou o exercício <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, foi<<strong>br</strong> />
escrito por Ethel Parsons, com poucas modificações <strong>no</strong> projeto original, mantendo a<<strong>br</strong> />
remuneração <strong>da</strong> enfermeira <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública fixa<strong>da</strong> em 70$00, salário <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
profissional liberal na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1920. Isso evi<strong>de</strong>ncia a intenção <strong>de</strong> incluir a<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> nesse grupo.<<strong>br</strong> />
A influência <strong>no</strong>rte-americana na <strong>enfermagem</strong> do Brasil tem suas raízes<<strong>br</strong> />
históricas na instituição do ensi<strong>no</strong> formal.<<strong>br</strong> />
As escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> dos Estados Unidos <strong>da</strong> América, fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s nas<<strong>br</strong> />
déca<strong>da</strong>s finais do século passado [XIX] e <strong>no</strong> início <strong>de</strong>ste século [XX],<<strong>br</strong> />
estavam diretamente vincula<strong>da</strong>s a hospitais particulares, servindo a seus<<strong>br</strong> />
interesses imediatos <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a e <strong>de</strong> diminuição <strong>de</strong> custos, o que<<strong>br</strong> />
redun<strong>da</strong>va na hipertrofia <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s práticas dos alu<strong>no</strong>s 45 .<<strong>br</strong> />
Em 1926, a Escola do Departamento Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública passou a<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong><strong>no</strong>minar-se Escola <strong>de</strong> Enfermeiras D. Ana Néri 46 e em 1931 houve outra<<strong>br</strong> />
modificação, passando a chamar-se Escola <strong>de</strong> Enfermeiras Anna Nery 47 . A<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong><strong>no</strong>minação <strong>de</strong>ssa primeira Escola <strong>de</strong> Enfermagem <strong>de</strong> nível superior <strong>no</strong> Brasil foi<<strong>br</strong> />
uma homenagem à <strong>br</strong>asileira Ana Justina Néri, que, em 1865, durante a guerra do<<strong>br</strong> />
Paraguai, prestou inestimáveis cui<strong>da</strong>dos aos feridos, sem contudo ser enfermeira.<<strong>br</strong> />
No intuito <strong>de</strong> reunir ex-alunas <strong>de</strong>ssa escola, em 12 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1926, criouse<<strong>br</strong> />
a Associação Nacional <strong>de</strong> Enfermeiras Diploma<strong>da</strong>s Brasileiras, iniciativa que<<strong>br</strong> />
surgiu quando essa escola formou a primeira turma, extrapolando a iniciativa <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
reunir apenas enfermeiras forma<strong>da</strong>s pela Escola Anna Nery 48 .<<strong>br</strong> />
A criação <strong>da</strong>s escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> não significou expansão profissional <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
País. As condições socioeconômicas do início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1920 constituíram<<strong>br</strong> />
45 SILVA, G. B. Op. cit. 1986. p.77.<<strong>br</strong> />
46 GERMANO, R. M. Educação e i<strong>de</strong>ologia <strong>da</strong> Enfermagem <strong>no</strong> Brasil. São Paulo: Cortez, 1983.<<strong>br</strong> />
47 BRASIL. Decreto-lei 20.109, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1931. Regula o exercício <strong>da</strong> Enfermagem <strong>no</strong> Brasil<<strong>br</strong> />
e fixa as condições para a equiparação <strong>da</strong>s Escolas <strong>de</strong> Enfermagem e Instruções Relativas ao<<strong>br</strong> />
Processo <strong>de</strong> Exame para Revali<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> Diplomas. Diário Oficial <strong>da</strong> Republica Fe<strong>de</strong>rativa do<<strong>br</strong> />
Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, 28 jun. 1931.<<strong>br</strong> />
48 GERMANO, R. M. Op. cit. 1983.
19<<strong>br</strong> />
obstáculos à expansão <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> mo<strong>de</strong>rna 49 , <strong>de</strong>vido a concepções negativas<<strong>br</strong> />
acerca <strong>da</strong> profissão, reduzido número <strong>de</strong> jovens com educação secundária e<<strong>br</strong> />
diminuto mercado <strong>de</strong> trabalho para a profissão. A industrialização e urbanização<<strong>br</strong> />
contribuíram para elevar o nível <strong>de</strong> educação feminina, porém, o julgamento dos pais<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong>s alunas – que atribuíam à <strong>enfermagem</strong> posição social logo abaixo do magistério<<strong>br</strong> />
primário, profissão feminina <strong>de</strong> prestígio tradicional – foi significativa para oposição à<<strong>br</strong> />
expansão <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, como profissão para suas filhas.<<strong>br</strong> />
A criação <strong>da</strong> Escola Anna Nery coincidiu com a promulgação <strong>da</strong> Lei Elói<<strong>br</strong> />
Chaves, <strong>de</strong> 1923, que instituiu a Caixa <strong>de</strong> Aposentadoria e Pensões (CAPs) dos<<strong>br</strong> />
ferroviários, estendi<strong>da</strong> posteriormente aos marítimos e portuários. Com a<<strong>br</strong> />
industrialização e os avanços na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, as maiores empresas começaram a<<strong>br</strong> />
instituir benefícios e auxílios previ<strong>de</strong>nciários a seus funcionários, culminando nessa<<strong>br</strong> />
Lei, a qual previa como benefícios: assistência médica curativa, medicamentos,<<strong>br</strong> />
aposentadoria por tempo <strong>de</strong> serviço, invali<strong>de</strong>z e velhice, pensões para <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<<strong>br</strong> />
e auxílio funeral 50 . Os recursos eram captados dos funcionários (3% <strong>de</strong> seus<<strong>br</strong> />
salários), pelos empregadores (1% <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> <strong>br</strong>uta <strong>da</strong>s empresas) e pelo gover<strong>no</strong>,<<strong>br</strong> />
que, com a provisão <strong>de</strong> recursos financeiros, passou a prestar serviços médicoassistenciais,<<strong>br</strong> />
em contraponto às ações exclusivas <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias até<<strong>br</strong> />
essa <strong>da</strong>ta 51 .<<strong>br</strong> />
No entanto, somente trabalhadores <strong>de</strong> sindicatos organizados, como os<<strong>br</strong> />
ferroviários e os marítimos, conseguiram tais benefícios, os <strong>de</strong>mais tinham <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
recorrer aos serviços públicos ou profissionais liberais.<<strong>br</strong> />
Neste contexto, o surgimento <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> como profissão <strong>no</strong> Brasil foi<<strong>br</strong> />
marca<strong>da</strong> por contradições. A intervenção do Estado, por exemplo, ficou evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> surgimento efetivo <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> como profissão <strong>no</strong> Brasil, porém:<<strong>br</strong> />
49 ALCÂNTARA, G. <strong>de</strong>. A <strong>enfermagem</strong> mo<strong>de</strong>rna como categoria profissional: obstáculos a sua<<strong>br</strong> />
expansão na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 26, n. 3,<<strong>br</strong> />
p.188-192, a<strong>br</strong>/jun. 1973. p. 191.<<strong>br</strong> />
50 COELHO, E. B. S.; WESTRUPP, M. H. B.; VERDI, M. Op. cit. 1995.<<strong>br</strong> />
51 JORGE, M. L. Op. cit. 1981.
20<<strong>br</strong> />
[...] em primeiro lugar buscou-se atingir o objetivo <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a problemas<<strong>br</strong> />
imediatos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> país po<strong>br</strong>e implantando-se um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
escolarização <strong>de</strong> país rico. Em segundo lugar, [...] o escopo primordial <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s primeiras escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> dos Estados Unidos foi o<<strong>br</strong> />
atendimento, a baixo custo, <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a <strong>de</strong> instituições<<strong>br</strong> />
hospitalares priva<strong>da</strong>s enquanto que, <strong>no</strong> Brasil, a sua finali<strong>da</strong><strong>de</strong> básica foi<<strong>br</strong> />
respon<strong>de</strong>r a interesses governamentais. Finalmente, estando caracterizados<<strong>br</strong> />
estes como sendo so<strong>br</strong>etudo a resolução <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública,<<strong>br</strong> />
afigura-se paradoxal o tempo dispendido pelas alunas <strong>no</strong> estágio<<strong>br</strong> />
hospitalar. 52<<strong>br</strong> />
A divisão social foi aponta<strong>da</strong> entre as características <strong>de</strong>tecta<strong>da</strong>s <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
nascimento <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> profissional <strong>no</strong> Brasil e na Inglaterra:<<strong>br</strong> />
Em ambos estes países, o processo <strong>de</strong> profissionalização na área se<<strong>br</strong> />
efetuou através <strong>da</strong> arregimentação <strong>de</strong> parcelas diversifica<strong>da</strong>s <strong>da</strong> população<<strong>br</strong> />
feminina, com vinculações <strong>de</strong> classes dicotômicas: o proletariado<<strong>br</strong> />
fornecendo os “aten<strong>de</strong>ntes” <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e, mais tar<strong>de</strong>, candi<strong>da</strong>tos aos<<strong>br</strong> />
cursos <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>; a burguesia fornecendo candi<strong>da</strong>tos para<<strong>br</strong> />
os cursos <strong>de</strong> enfermeiras. Preparando-se aqueles para ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s junto ao<<strong>br</strong> />
paciente, ti<strong>da</strong>s como dominantemente manuais e estas para as tarefas<<strong>br</strong> />
intelectualiza<strong>da</strong>s <strong>de</strong> supervisão, ensi<strong>no</strong> e administração. 53<<strong>br</strong> />
O mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> divisão social do trabalho, entre manual e intelectual, não se<<strong>br</strong> />
caracterizou como paradoxo, ao contrário, foi absorvido com gran<strong>de</strong> tranqüili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Essa reprodução contextualiza-se com a época e, por que não dizer, com os dias<<strong>br</strong> />
atuais, quando se evi<strong>de</strong>ncia a permanência <strong>da</strong> me<strong>no</strong>s valia do trabalho manual em<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>trimento <strong>da</strong> valorização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s intelectuais.<<strong>br</strong> />
A análise histórica <strong>da</strong> implementação profissional <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil,<<strong>br</strong> />
na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1920, permite compreen<strong>de</strong>r os paradoxos que permearam esse<<strong>br</strong> />
processo: o interesse governamental na saú<strong>de</strong> pública, contrapondo-se à formação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> enfermeiras curativistas; a importação do mo<strong>de</strong>lo educacional que impunha o<<strong>br</strong> />
nível universitário num país que não tinha contingente <strong>de</strong> secun<strong>da</strong>ristas,<<strong>br</strong> />
ocasionando abertura <strong>de</strong> exceções para a matrícula <strong>no</strong>s cursos; o esforço do<<strong>br</strong> />
gover<strong>no</strong> em fomentar a expansão <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, opondo-se à concepção <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
profissão não digna por parte <strong>da</strong> população.<<strong>br</strong> />
52 SILVA, G. B. Op. cit. 1986. p.78.
21<<strong>br</strong> />
1.2 A CONSOLIDAÇÃO PROFISSIONAL<<strong>br</strong> />
A crise <strong>de</strong> 1929 acarretou mu<strong>da</strong>nças estruturais na eco<strong>no</strong>mia mundial e,<<strong>br</strong> />
conseqüentemente, na <strong>br</strong>asileira. A política agrário-exportadora ce<strong>de</strong>u lugar à<<strong>br</strong> />
industrialização, responsável pela diversificação <strong>da</strong> produção e pelo fortalecimento<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> outros grupos econômicos representados pela <strong>no</strong>va burguesia industrial. Para<<strong>br</strong> />
garantir a consoli<strong>da</strong>ção <strong>de</strong>ssa <strong>no</strong>va classe emergente e proporcionar o acúmulo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
capitais, os latifundiários cafeicultores viram-se compelidos a formar um pacto com a<<strong>br</strong> />
classe média e a dos trabalhadores. Com o apoio <strong>de</strong>ssa <strong>no</strong>va classe dominante,<<strong>br</strong> />
Getúlio Vargas assumiu o po<strong>de</strong>r em 1930, quando houve a reorganização do<<strong>br</strong> />
Estado 54 .<<strong>br</strong> />
Visando a tirar o po<strong>de</strong>r <strong>da</strong>s oligarquias regionais, Vargas promoveu ampla<<strong>br</strong> />
reforma política e administrativa, centralizando a máquina governamental e<<strong>br</strong> />
implementando medi<strong>da</strong>s populistas para mascarar o regime ditatorial. O<<strong>br</strong> />
“<strong>de</strong>senvolvimentismo, nacionalismo, populismo, são traços característicos <strong>de</strong>sse<<strong>br</strong> />
período” 55 .<<strong>br</strong> />
Nessa reforma, foi criado o Ministério <strong>da</strong> Educação e <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> Pública, que<<strong>br</strong> />
surgiu <strong>de</strong> uma ampla remo<strong>de</strong>lação dos serviços sanitários, fruto <strong>da</strong> centralização do<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>r político e administrativo imposta por Getúlio Vargas. As <strong>de</strong>cisões sanitárias<<strong>br</strong> />
eram toma<strong>da</strong>s pelos políticos e burocratas, concentra<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s direitos dos<<strong>br</strong> />
trabalhadores urba<strong>no</strong>s, buscando-se o apoio social e político para a legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
ditatorial do Estado 56 . “A revolução <strong>de</strong> 30 e a criação do Ministério <strong>da</strong> Educação e<<strong>br</strong> />
Saú<strong>de</strong> Pública <strong>no</strong> mesmo a<strong>no</strong> registrariam <strong>de</strong> fato uma profun<strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e<<strong>br</strong> />
prestígio do círculo intelectual médico-sanitário, gran<strong>de</strong>mente i<strong>de</strong>ntificado com a<<strong>br</strong> />
velha or<strong>de</strong>m republicana” 57 .<<strong>br</strong> />
Assim, a política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> foi organiza<strong>da</strong> em dois setores: saú<strong>de</strong> pública e<<strong>br</strong> />
medicina previ<strong>de</strong>nciária 58 . A primeira era representa<strong>da</strong> pelo Ministério <strong>da</strong> Educação<<strong>br</strong> />
e Saú<strong>de</strong>, que, em parceria com a Fun<strong>da</strong>ção Rockfeller, criou programas como o<<strong>br</strong> />
Serviço Nacional <strong>de</strong> Fe<strong>br</strong>e Amarela, em 1937, e o Serviço <strong>de</strong> Combate à Malária do<<strong>br</strong> />
53 SILVA, G. B. Op. cit. 1986. p.79.<<strong>br</strong> />
54 BERTOLLI FILHO, C. Op. cit. 2001.<<strong>br</strong> />
55 GERMANO, R. M. Op. cit. 1983. p.38.<<strong>br</strong> />
56 BERTOLLI FILHO, C. Op. cit. 2001.<<strong>br</strong> />
57 COSTA, N. R. Lutas urbanas e controle sanitário: origens <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> Brasil. 2. ed.<<strong>br</strong> />
Petrópolis: Vozes, 1986. p.120.<<strong>br</strong> />
58 COELHO, E. B. S.; WESTRUPP, M. H. B.; VERDI, M. Op. cit. p.1995.
22<<strong>br</strong> />
Nor<strong>de</strong>ste, em 1939; e a previ<strong>de</strong>nciária, representa<strong>da</strong> pelos Institutos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Aposentadorias e Pensões (IAPs), que substituíram as CAPs, <strong>no</strong>vamente<<strong>br</strong> />
favorecendo apenas os trabalhadores organizados.<<strong>br</strong> />
Os IAPs eram <strong>de</strong> caráter nacional e diferenciavam-se <strong>da</strong>s CAPs pela<<strong>br</strong> />
presença direta do Estado em sua administração.<<strong>br</strong> />
Essa <strong>no</strong>va estrutura previ<strong>de</strong>nciária, implementa<strong>da</strong> juntamente com a<<strong>br</strong> />
legislação trabalhista e sindical, formando o que alguns <strong>de</strong><strong>no</strong>minam “tripé”,<<strong>br</strong> />
institui[u] um padrão verticalizado <strong>de</strong> relação do Estado com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
civil e sacrament[ou] o universo do trabalho como atinente à esfera <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do Ministério do Trabalho. 59<<strong>br</strong> />
A industrialização trouxe, como conseqüência, urbanização acelera<strong>da</strong> e<<strong>br</strong> />
precárias condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e saú<strong>de</strong> aos trabalhadores. “A rápi<strong>da</strong> escala<strong>da</strong> industrial<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> país se processou através <strong>da</strong> instalação <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s complexos<<strong>br</strong> />
econômicos estrangeiros, num momento em que a produção interna e a tec<strong>no</strong>logia<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>asileira ain<strong>da</strong> não haviam atingido um grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento suficiente” 60 .<<strong>br</strong> />
Essa época é caracteriza<strong>da</strong> pela educação em saú<strong>de</strong>, cujo objetivo era a<<strong>br</strong> />
mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> hábitos <strong>de</strong> higiene que disseminavam as doenças infecto-contagiosas.<<strong>br</strong> />
Cursos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> enfermeiras sanitárias foram criados 61 , com a missão <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
percorrer os bairros mais po<strong>br</strong>es, ensinar hábitos <strong>de</strong> higiene e encaminhar enfermos<<strong>br</strong> />
graves a hospitais públicos e filantrópicos.<<strong>br</strong> />
A déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1930 caracterizou-se pela substituição <strong>da</strong>s enfermeiras <strong>no</strong>rteamericanas<<strong>br</strong> />
na direção <strong>da</strong> Escola Anna Nery, assumindo Rachel Haddock Lobo, em<<strong>br</strong> />
1931, sendo as professoras gra<strong>da</strong>tivamente também substituí<strong>da</strong>s por enfermeiras<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>asileiras 62 .<<strong>br</strong> />
Em 1931, pelo Decreto 20.109, promulgou-se a primeira Lei do Exercício<<strong>br</strong> />
Profissional <strong>da</strong> Enfermagem, <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> <strong>no</strong> segundo capítulo <strong>de</strong>ste estudo,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>terminando que a Escola <strong>de</strong> Enfermeiras Anna Nery era padrão, mo<strong>de</strong>lo a ser<<strong>br</strong> />
seguido pelas outras escolas 63 . O ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, <strong>no</strong>rteado pelos padrões<<strong>br</strong> />
america<strong>no</strong>s e conseqüentemente pelo mo<strong>de</strong>lo nightingalea<strong>no</strong>, caracterizou a<<strong>br</strong> />
59 COHN, A. e ELIAS, P. E. Op. cit. 1999. p.17.<<strong>br</strong> />
60 GEOVANINI, T. et al. História <strong>da</strong> Enfermagem: versões e interpretações. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<<strong>br</strong> />
Revinter, 2002. p.36.<<strong>br</strong> />
61 BERTOLLI FILHO, C. Op. cit.. 2001.<<strong>br</strong> />
62 Essa escola teve como primeira diretora Miss Clara Louise Kienninger, substituí<strong>da</strong> por enfermeira<<strong>br</strong> />
americana em 1925 (cf. GERMANO, R. M. Op. cit. 1983).<<strong>br</strong> />
63 ALVES, D. B. Op. cit. 1987.
23<<strong>br</strong> />
formação profissional pauta<strong>da</strong> na divisão social do trabalho, o perfil <strong>de</strong> submissão, o<<strong>br</strong> />
espírito <strong>de</strong> serviço, a obediência e a disciplina à enfermeira <strong>br</strong>asileira.<<strong>br</strong> />
Incentiva<strong>da</strong> por Miss Lílian Clayton, <strong>no</strong> Congresso do Conselho Internacional<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Enfermeiras, <strong>de</strong> 1929, em Montreal, a Associação Nacional <strong>de</strong> Enfermeiras<<strong>br</strong> />
Diploma<strong>da</strong>s Brasileiras publicou, em maio <strong>de</strong> 1932, a primeira revista <strong>da</strong> categoria:<<strong>br</strong> />
Anais <strong>de</strong> Enfermagem, cujo <strong>no</strong>me foi conservado até 1954, quando passou a<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong><strong>no</strong>minar-se Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem 64 .<<strong>br</strong> />
Os a<strong>no</strong>s 1940 caracterizaram-se pela intensificação <strong>da</strong> industrialização e <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
urbanização, com aumento <strong>no</strong>s gastos <strong>de</strong> assistência médica e previ<strong>de</strong>nciária.<<strong>br</strong> />
Surgiu o serviço Especial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública durante a Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, em<<strong>br</strong> />
convênio com os Estados Unidos, para garantir a produção <strong>de</strong> borracha para a<<strong>br</strong> />
indústria bélica.<<strong>br</strong> />
Nova fase iniciou-se com a criação do Serviço Especial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública, em<<strong>br</strong> />
1942 65 , como expressão do esforço <strong>de</strong> guerra <strong>no</strong> Brasil. Esse serviço foi organizado<<strong>br</strong> />
por enfermeiras americanas e <strong>de</strong>stinava-se, exclusivamente, ao interior do País,<<strong>br</strong> />
exigindo a criação <strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, compatível com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>asileira. Incluía, como atribuições <strong>da</strong> enfermeira, o treinamento e a supervisão <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
pessoal auxiliar.<<strong>br</strong> />
Em 1944, a Associação Nacional <strong>de</strong> Enfermeiras Diploma<strong>da</strong>s Brasileiras<<strong>br</strong> />
passou a <strong>de</strong><strong>no</strong>minar-se Associação Brasileira <strong>de</strong> Enfermeiras Diploma<strong>da</strong>s (ABED) 66 .<<strong>br</strong> />
A vitória dos Estados Unidos e aliados na Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial fez surgir<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> País o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia, o que <strong>de</strong>rrubou, em outu<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1945, Getúlio<<strong>br</strong> />
Vargas <strong>da</strong> presidência do País.<<strong>br</strong> />
Nos a<strong>no</strong>s após a guerra, a saú<strong>de</strong> pública era precária, tanto <strong>no</strong>s serviços<<strong>br</strong> />
como nas escolas 67 . Nesse cenário, a presença <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> em hospitais<<strong>br</strong> />
governamentais começou a firmar-se, já que, na esfera priva<strong>da</strong>, <strong>de</strong>vido à lógica<<strong>br</strong> />
capitalista do baixo custo, sua presença era praticamente inexistente.<<strong>br</strong> />
A escassez <strong>de</strong> enfermeiras e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> maior qualificação para o<<strong>br</strong> />
mercado <strong>de</strong> trabalho impulsionaram políticas educacionais, direcionando para a<<strong>br</strong> />
64 RESENDE, M. DE A. Histórico <strong>da</strong> Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 15, n.6, p.496-515, <strong>de</strong>z. 1962.<<strong>br</strong> />
65 CASTRO, I. B. Op. cit. 1975.<<strong>br</strong> />
66 GERMANO, R. M. Op. cit. 1983.<<strong>br</strong> />
67 CASTRO, I. B. Op. cit. 1975.
24<<strong>br</strong> />
formação <strong>de</strong> auxiliares <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, que se concretizou em 1941, na Escola<<strong>br</strong> />
Anna Nery.<<strong>br</strong> />
Em 1949, o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> foi regulamentado, pelo<<strong>br</strong> />
Decreto 27.426, que aprovou o regulamento básico para os cursos <strong>de</strong> Enfermagem<<strong>br</strong> />
e <strong>de</strong> Auxiliar <strong>de</strong> Enfermagem 68 . Em seu segundo artigo, dispõe o regulamento:<<strong>br</strong> />
Art. 2º O “Curso <strong>de</strong> Auxiliar <strong>de</strong> Enfermagem” tem por objetivo o<<strong>br</strong> />
a<strong>de</strong>stramento <strong>de</strong> pessoal capaz <strong>de</strong> auxiliar o enfermeiro em suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> assistência curativa.<<strong>br</strong> />
A Lei 775, <strong>de</strong> 06 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1949, estabeleceu como pré-requisito para<<strong>br</strong> />
matrícula a conclusão do curso colegial e o período <strong>de</strong> quatro a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> formação<<strong>br</strong> />
para enfermeiras e <strong>de</strong> 18 meses para o auxiliar <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, o que não era a<<strong>br</strong> />
meta <strong>de</strong>seja<strong>da</strong> pela ABED para o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
A escolari<strong>da</strong><strong>de</strong> secundária seria exigi<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1956, sendo<<strong>br</strong> />
posterga<strong>da</strong> para 1961 69 .<<strong>br</strong> />
A partir <strong>de</strong> então, com essa lei, <strong>de</strong>viam funcionar nas escolas oficiais dois<<strong>br</strong> />
cursos, o <strong>de</strong> Enfermagem e o <strong>de</strong> Auxiliar <strong>de</strong> Enfermagem. Ocorrendo com<<strong>br</strong> />
isso o aumento <strong>no</strong> número <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e maior interesse do<<strong>br</strong> />
gover<strong>no</strong> e <strong>de</strong> instituições religiosas quanto ao ensi<strong>no</strong> profissional. 70<<strong>br</strong> />
Nesse período, ampliou-se o número <strong>de</strong> escolas superiores <strong>no</strong> Brasil, como a<<strong>br</strong> />
escola <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas Gerais e outras, chegando, ao final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1950, em<<strong>br</strong> />
todo o Brasil, a 39 escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e 67 cursos <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> 71 .<<strong>br</strong> />
A primeira reformulação curricular <strong>da</strong> Escola Anna Nery <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1949, pelo Decreto 27.426, que dispõe so<strong>br</strong>e o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> País. Contudo,<<strong>br</strong> />
68 BRASIL. Decreto 27.426, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1949. Aprova o Regulamento Básico para os<<strong>br</strong> />
Cursos <strong>de</strong> Enfermagem e <strong>de</strong> Auxiliar <strong>de</strong> Enfermagem. Diário Oficial <strong>da</strong> República Fe<strong>de</strong>rativa do<<strong>br</strong> />
Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, 21 <strong>no</strong>v. 1949.<<strong>br</strong> />
69 ALVES, D. B. Op. cit. 1987.<<strong>br</strong> />
70 PIZANI, M. A. P. N. Op. cit. 1999.<<strong>br</strong> />
71 REZENDE, M. A. Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> Enfermagem. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<<strong>br</strong> />
v.15, n. 2, p.110-158, a<strong>br</strong>. 1961.
25<<strong>br</strong> />
Não houve a rigor mu<strong>da</strong>nça sensível entre o currículo <strong>de</strong> 1923, quando <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
implantação do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> na Escola Ana Néri, e o <strong>de</strong> 1949.<<strong>br</strong> />
Ambos privilegiavam as disciplinas <strong>de</strong> caráter preventivo, embora o<<strong>br</strong> />
mercado utilizador já apontasse forte tendência para o campo hospitalar. 72<<strong>br</strong> />
Em 21 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1954, em assembléia geral, durante o VII Congresso<<strong>br</strong> />
Nacional <strong>de</strong> Enfermagem, realizado em São Paulo, a Associação Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermeiras Diploma<strong>da</strong>s passou a <strong>de</strong><strong>no</strong>minar-se Associação Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem (ABEn).<<strong>br</strong> />
A entra<strong>da</strong> <strong>de</strong> capital estrangeiro nas déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 1950 a 60 caracterizou a<<strong>br</strong> />
interiorização <strong>da</strong> eco<strong>no</strong>mia, com a operação Nor<strong>de</strong>ste e a construção <strong>de</strong> Brasília,<<strong>br</strong> />
que impuseram os movimentos migratórios inter<strong>no</strong>s. Ocorreu a mu<strong>da</strong>nça <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
direcionamento <strong>da</strong>s ações em saú<strong>de</strong>, que já não era sanear o espaço <strong>de</strong> circulação<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong>s mercadorias para a agroexportação, e, sim, manter a saú<strong>de</strong> do trabalhador,<<strong>br</strong> />
mantendo e restaurando sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva, mola propulsora <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
industrialização. Assim, mudou-se o foco governamental na área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>: <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
priorização à saú<strong>de</strong> pública para a priorização <strong>da</strong> área hospitalar 73 .<<strong>br</strong> />
O incremento <strong>de</strong> recursos financeiros internacionais na eco<strong>no</strong>mia favoreceu a<<strong>br</strong> />
proposta <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização econômica e institucional organiza<strong>da</strong> pelo Estado,<<strong>br</strong> />
entretanto, com a concentração dos recursos nacionais para a industrialização, os<<strong>br</strong> />
serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> foram relegados.<<strong>br</strong> />
Com o <strong>de</strong>smem<strong>br</strong>amento do Ministério <strong>da</strong> Educação e Saú<strong>de</strong>, durante o<<strong>br</strong> />
segundo período <strong>de</strong> Getúlio Vargas, a Saú<strong>de</strong> ficou com a me<strong>no</strong>r parte dos impostos,<<strong>br</strong> />
e ampliou-se o quadro <strong>de</strong> enfermi<strong>da</strong><strong>de</strong>s sob seus cui<strong>da</strong>dos. “[...] a falta <strong>de</strong> dinheiro<<strong>br</strong> />
impedia que o Estado atuasse com eficácia na péssima situação <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> coletiva:<<strong>br</strong> />
faltavam funcionários especializados, equipamentos apropriados, postos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
atendimento e, so<strong>br</strong>etudo [...] ânimo aos servidores” 74 .<<strong>br</strong> />
A região rural era <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> exclusiva do ministério, as regiões<<strong>br</strong> />
industriais e ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s eram atendi<strong>da</strong>s por hospitais e clínicas próprios ou conveniados<<strong>br</strong> />
com os Institutos <strong>de</strong> Aposentadorias e Pensões, mantidos pelos trabalhadores e<<strong>br</strong> />
seus patrões, ocorrendo a expansão <strong>da</strong> área hospitalar.<<strong>br</strong> />
A movimentação <strong>de</strong> sindicatos <strong>de</strong> trabalhadores ampliou o número <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
beneficiados <strong>da</strong> previdência social, aumentaram os salários e as pensões pagas e<<strong>br</strong> />
72 GERMANO, R. M. Op. cit. 1983. p.37.<<strong>br</strong> />
73 COHN, A. e ELIAS, P. E. Op. cit. 1999.<<strong>br</strong> />
74 BERTOLLI FILHO, C. Op. cit. 2001. p.40.
26<<strong>br</strong> />
cresceu também o número <strong>de</strong> aposentados. Some-se a isso a pressão <strong>da</strong>s leis que<<strong>br</strong> />
impeliram a Previdência do Estado a assumir a prestação <strong>de</strong> assistência médicohospitalar<<strong>br</strong> />
aos trabalhadores. Como resultado, tornaram-se comuns filas em portas<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> hospitais, consultas médicas <strong>de</strong> curta duração, dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> internamento<<strong>br</strong> />
imediato 75 .<<strong>br</strong> />
Esses fatos levaram o setor privado <strong>da</strong> medicina a pressionar o gover<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
fe<strong>de</strong>ral a restringir a construção <strong>de</strong> hospitais públicos, não <strong>de</strong>vendo ele competir<<strong>br</strong> />
com a iniciativa priva<strong>da</strong>, e, sim, fazer doações e empréstimos a juros baixos para<<strong>br</strong> />
que os empresários criassem uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> hospitais que ven<strong>de</strong>riam seus serviços à<<strong>br</strong> />
população, aos Institutos <strong>de</strong> Aposentadorias e Pensões e ao próprio gover<strong>no</strong> 76 .<<strong>br</strong> />
O hospital, sendo conseqüência <strong>de</strong> fatores sociais e do <strong>de</strong>senvolvimento, não<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> sentir a repercussão <strong>da</strong>s transformações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
tec<strong>no</strong>logia dos a<strong>no</strong>s que se seguiram. Então, “Ambos os fatores aproximaram o<<strong>br</strong> />
hospital <strong>da</strong> população: os primeiros, pelo êxodo rural, facilitaram o acesso<<strong>br</strong> />
geográfico, pela Previdência Social, o acesso econômico; os segundos situaram-<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
como o centro <strong>da</strong> assistência médica” 77 .<<strong>br</strong> />
O <strong>de</strong>senvolvimento industrial, a conseqüente aceleração <strong>da</strong> urbanização e o<<strong>br</strong> />
assalariamento <strong>de</strong> parcelas crescentes <strong>da</strong> população geraram maior pressão para a<<strong>br</strong> />
assistência médica realiza<strong>da</strong> via institutos e viabilizaram o crescimento <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />
complexo médico hospitalar para prestar atendimento aos previ<strong>de</strong>nciários,<<strong>br</strong> />
respal<strong>da</strong>do em <strong>no</strong>rmas que privilegiavam a contratação <strong>de</strong> terceiros.<<strong>br</strong> />
Nesse contexto, o ensi<strong>no</strong> na área <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> expandiu-se, <strong>de</strong>vido “[...] ao<<strong>br</strong> />
aumento <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong>ssa <strong>no</strong>va categoria profissional, [...] impulsionado<<strong>br</strong> />
principalmente pelo ritmo <strong>da</strong> urbanização existente e pelo processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
mo<strong>de</strong>rnização dos hospitais” 78 .<<strong>br</strong> />
O aumento <strong>no</strong> número <strong>de</strong> hospitais repercutiu <strong>no</strong> mercado <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, direcionando as enfermeiras diploma<strong>da</strong>s para a área hospitalar em<<strong>br</strong> />
processo <strong>de</strong> expansão, em <strong>de</strong>trimento <strong>da</strong> área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, gran<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
empregadora até então. Enquanto, em 1943, <strong>de</strong> 334 enfermeiras em serviço ativo,<<strong>br</strong> />
75 BERTOLLI FILHO, C. Op. cit. 2001.<<strong>br</strong> />
76 I<strong>de</strong>m.<<strong>br</strong> />
77 GONÇALVES, E. L. et al. Administração <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> Brasil. São Paulo: Pioneira, 1988. p.114.<<strong>br</strong> />
78 SILVA, G. B. Op. cit. 1986. p.80.
27<<strong>br</strong> />
66% trabalhavam na saú<strong>de</strong> pública e 9,5%, em hospitais, em 1950, 49,4% <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
enfermeiras encontravam-se <strong>no</strong> campo hospitalar e 17,2%, na saú<strong>de</strong> pública 79 .<<strong>br</strong> />
A expansão <strong>da</strong> re<strong>de</strong> hospitalar impulsio<strong>no</strong>u a <strong>enfermagem</strong> tradicional<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>asileira <strong>da</strong>quela época para uma <strong>enfermagem</strong> laica à busca <strong>da</strong> cientifici<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em<<strong>br</strong> />
1956 80 , iniciou-se <strong>no</strong>va fase na <strong>enfermagem</strong> <strong>br</strong>asileira, com o advento <strong>da</strong> primeira<<strong>br</strong> />
pesquisa em <strong>enfermagem</strong>: o Levantamento <strong>de</strong> Recursos e Necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, em âmbito nacional, patrocinado pela Associação Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, com apoio <strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>ções Kellogg e Rockfeller.<<strong>br</strong> />
Esse estudo foi organizado em cinco partes 81 :<<strong>br</strong> />
1. Enfermeiros em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e inativos, com a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> profissionais e<<strong>br</strong> />
sua distribuição <strong>no</strong> campo hospitalar e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública;<<strong>br</strong> />
2. Enfermagem Hospitalar, contendo informações so<strong>br</strong>e os hospitais e os<<strong>br</strong> />
serviços <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>;<<strong>br</strong> />
3. Enfermagem em Saú<strong>de</strong> Pública, abor<strong>da</strong>ndo a distribuição dos<<strong>br</strong> />
profissionais <strong>no</strong>s serviços fe<strong>de</strong>rais, estaduais;<<strong>br</strong> />
4. Escolas e Cursos <strong>de</strong> Auxiliar <strong>de</strong> Enfermagem, apontando sua distribuição<<strong>br</strong> />
geográfica;<<strong>br</strong> />
5. Escolas <strong>de</strong> Enfermagem, caracterizando os estabelecimentos, que eram<<strong>br</strong> />
33 escolas, suas instalações, corpos discente e docente, com tal nível <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>talhamento, indicava até o número <strong>de</strong> livros nas bibliotecas.<<strong>br</strong> />
Dentre outros <strong>da</strong>dos, verificou-se que a força <strong>de</strong> trabalho na <strong>enfermagem</strong> era<<strong>br</strong> />
predominantemente feminina. A maior quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> era <strong>de</strong> trabalhadoras nãoqualifica<strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
e apenas 38,4% dos hospitais tinham serviço <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
organizado 82 .<<strong>br</strong> />
Já para a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> como profissão liberal, necessitava-se<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> profissionais mais preparados, o que só ocorreu em 1961, com a entra<strong>da</strong> efetiva<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> apenas alu<strong>no</strong>s secun<strong>da</strong>ristas. So<strong>br</strong>e isso, pronuncia-se Alcântara:<<strong>br</strong> />
79 ALVES, D. B. Op. cit. 1987.<<strong>br</strong> />
80 CASTRO, I. B. Op. cit. 1975.<<strong>br</strong> />
81 SECAF, V. e SANNA, M. C. Levantamento <strong>de</strong> recursos e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil –<<strong>br</strong> />
um documento <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 50 do século passado. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília,<<strong>br</strong> />
v.56, n.3, p.315-317, mai./jun. 2003.<<strong>br</strong> />
82 ALVES, D. B. Op. cit. 1987.
28<<strong>br</strong> />
Embora as condições [socioeconômicas] e culturais <strong>de</strong> <strong>no</strong>sso meio – que<<strong>br</strong> />
englobam tanto as atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sfavoráveis <strong>da</strong>s esferas universitárias em<<strong>br</strong> />
relação à educação <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, como o reduzido número <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermeiras capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar papéis <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança – expliquem a<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mora para a integração <strong>da</strong>s escolas na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>, não po<strong>de</strong>mos<<strong>br</strong> />
escapar às conseqüências. 83<<strong>br</strong> />
As conseqüências cita<strong>da</strong>s por essa autora refletem o preparo ina<strong>de</strong>quado do<<strong>br</strong> />
quadro docente, evi<strong>de</strong>nciado <strong>no</strong>s <strong>da</strong>dos do Levantamento <strong>de</strong> Recursos e<<strong>br</strong> />
Necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Enfermagem, segundo os quais 64% <strong>da</strong>s professoras enfermeiras<<strong>br</strong> />
tinham apenas o certificado <strong>de</strong> curso ginasial.<<strong>br</strong> />
Com o aumento <strong>da</strong> participação <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> mercado <strong>de</strong> trabalho,<<strong>br</strong> />
surgiu a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> disciplinar seu trabalho, o que acarretou a Lei 2.604/55, que<<strong>br</strong> />
regula o exercício profissional. Entretanto, “Essa lei prevê apenas a existência <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
enfermeira e <strong>da</strong> auxiliar <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e atribui à primeira o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s intelectuais e à segun<strong>da</strong>, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s manuais. Oficializa a divisão social e<<strong>br</strong> />
técnica <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>” 84 .<<strong>br</strong> />
O redirecionamento para a área hospitalar reflete-se na produção intelectual<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> categoria. O <strong>de</strong>créscimo <strong>de</strong> artigos referentes à saú<strong>de</strong> pública, na Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, acompanha o <strong>de</strong>clínio do mo<strong>de</strong>lo sanitarista na política<<strong>br</strong> />
geral <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do País, a partir dos a<strong>no</strong>s 1950 85 . Tal <strong>de</strong>clínio repercutiu, como era<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> se esperar, na estrutura curricular <strong>da</strong>s escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, que passou a<<strong>br</strong> />
privilegiar, <strong>de</strong> fato, os aspectos curativos em <strong>de</strong>trimento dos preventivos.<<strong>br</strong> />
Dessa forma, enquanto o currículo do curso <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>de</strong> 1949<<strong>br</strong> />
enfatizava o estudo <strong>de</strong> doenças <strong>de</strong> massa, por meio <strong>de</strong> disciplinas <strong>de</strong> cunho<<strong>br</strong> />
preventivo, o <strong>de</strong> 1962 substituiu a o<strong>br</strong>igatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> disciplina <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública do<<strong>br</strong> />
currículo mínimo anterior pela especialização e o <strong>de</strong> 1972 transformou-a em<<strong>br</strong> />
habilitação 86 .<<strong>br</strong> />
Assim, o ensi<strong>no</strong> e a prática <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, contextualizados pela expansão<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> assistência médica previ<strong>de</strong>nciária e curativista, consoli<strong>da</strong>ram-se como profissão,<<strong>br</strong> />
mostrando-se necessária a viabilização <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo curativista <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
hospitalar.<<strong>br</strong> />
83 ALCÂNTARA, G. Op. cit. 1964.<<strong>br</strong> />
84 ALVES, D. B. Op. cit. 1987. p.27.<<strong>br</strong> />
85 GERMANO, R. M. Op. cit. 1983.<<strong>br</strong> />
86 SILVA, G. B. Op. cit. 1986.
29<<strong>br</strong> />
1.3 A EXPANSÃO DA ENFERMAGEM NO BRASIL<<strong>br</strong> />
O pacto entre a burguesia e a classe média e trabalhadora promoveu<<strong>br</strong> />
articulação e intensa mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s classes subalternas, principalmente <strong>no</strong> período<<strong>br</strong> />
em que João Goulart era presi<strong>de</strong>nte (1961-1964). “O pacto populista estabelecido<<strong>br</strong> />
naquele período começou a fragmentar-se e as massas, ao não verem<<strong>br</strong> />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s reais <strong>de</strong> harmonizar suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com as <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
capital, começaram a pressionar o Estado” 87 .<<strong>br</strong> />
Essa situação levou,<<strong>br</strong> />
[...] <strong>de</strong> certa forma, a classe burguesa a temer a per<strong>da</strong> <strong>de</strong> sua hegemonia e<<strong>br</strong> />
o controle do processo reformista, tão reclamado <strong>no</strong> início dos a<strong>no</strong>s 60.<<strong>br</strong> />
Com isso o pacto anterior é rompido em 1964 e um outro aliado entra em<<strong>br</strong> />
cena – o capital mo<strong>no</strong>polista internacional, que passa a exercer a direção<<strong>br</strong> />
do processo econômico e político, sob a égi<strong>de</strong> <strong>de</strong> um estado militar<<strong>br</strong> />
autoritário. 88<<strong>br</strong> />
O <strong>de</strong>clínio econômico, a instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> política do sistema populista e a<<strong>br</strong> />
agitação <strong>da</strong> classe trabalhadora por melhores condições <strong>de</strong> salário e po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>cisório<<strong>br</strong> />
culminaram com o golpe militar <strong>de</strong> 1964, seguindo-se um período <strong>de</strong> 20 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
ditadura militar <strong>no</strong> País, com intensa centralização do po<strong>de</strong>r e repressão política.<<strong>br</strong> />
Durante a ditadura, a burocracia governamental foi domina<strong>da</strong> pelos<<strong>br</strong> />
tec<strong>no</strong>cratas, civis e militares, unidos em tor<strong>no</strong> do lema ‘segurança e<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvimento’. Alavancado pelo financiamento do capital estrangeiro, o País<<strong>br</strong> />
experimentou o ‘milagre econômico’, período <strong>de</strong> prosperi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> 1968 a 1974 89 .<<strong>br</strong> />
Esse lema <strong>no</strong>rteou o direcionamento <strong>da</strong>s verbas públicas, contemplando os<<strong>br</strong> />
ministérios que promoviam o <strong>de</strong>senvolvimento, como o dos Transportes, <strong>da</strong>s pastas<<strong>br</strong> />
Militares, <strong>da</strong> Indústria e Comércio, em <strong>de</strong>trimento dos ministérios sociais, como a<<strong>br</strong> />
Saú<strong>de</strong>. Assim, as verbas públicas <strong>de</strong>stinavam-se ao pagamento <strong>de</strong> hospitais<<strong>br</strong> />
particulares, aos serviços prestados aos po<strong>br</strong>es e a algumas campanhas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
vacinação 90 .<<strong>br</strong> />
A situação <strong>de</strong> abando<strong>no</strong> <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> pública acarretou epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue e<<strong>br</strong> />
meningite, mascara<strong>da</strong>s pelo gover<strong>no</strong>, por meio <strong>da</strong> censura aos órgãos <strong>de</strong> imprensa.<<strong>br</strong> />
87 ALVES, D. B. Op. cit..1987. p.27.<<strong>br</strong> />
88 GERMANO, R. M. Op. cit.1986. p.38.<<strong>br</strong> />
89 BERTOLLI FILHO, C. Op. cit. 2001.<<strong>br</strong> />
90 COHN, A. e ELIAS, P. E. Op. cit. 1999.
30<<strong>br</strong> />
No inver<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1974, o súbito aumento <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> meningite nas gran<strong>de</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
o<strong>br</strong>igou as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s sanitárias a reconhecer a epi<strong>de</strong>mia e a promover vacinação<<strong>br</strong> />
em massa contra essa doença 91 .<<strong>br</strong> />
O regime autoritário, aproveitando-se <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s antigas Caixas e<<strong>br</strong> />
dos Institutos <strong>de</strong> Aposentadoria, unificou todos os órgãos previ<strong>de</strong>nciários atuantes<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1930, <strong>no</strong> Instituto Nacional <strong>de</strong> Previdência Social (INPS). A contribuição<<strong>br</strong> />
tor<strong>no</strong>u-se o<strong>br</strong>igatória, estendi<strong>da</strong> a todos os assalariados, até aos que não eram<<strong>br</strong> />
beneficiados pelos IAPs. A arreca<strong>da</strong>ção ficou estabeleci<strong>da</strong> em 24% so<strong>br</strong>e o salário,<<strong>br</strong> />
sendo 8% pagos pelo trabalhador, 8% pelo empregador e 8% pela União 92 .<<strong>br</strong> />
Esse mo<strong>de</strong>lo médico constituiu <strong>no</strong>vo paradigma na saú<strong>de</strong>: a extensão <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
cobertura previ<strong>de</strong>nciária à população urbana e rural; o privilegiamento <strong>da</strong> prática<<strong>br</strong> />
curativa, individual e especializa<strong>da</strong>; organização <strong>da</strong> prática médica direciona<strong>da</strong> para<<strong>br</strong> />
a lucrativi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
[...] o próprio mecanismo <strong>de</strong> remuneração dos serviços contratados e<<strong>br</strong> />
conveniados – as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> serviço – ao ter seu valor variável segundo a<<strong>br</strong> />
complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> tec<strong>no</strong>lógica do ato médico facilitava, ao<<strong>br</strong> />
mesmo tempo, o processo <strong>de</strong> capitalização <strong>da</strong>s empresas médicas e <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
incorporação tec<strong>no</strong>lógica. 93<<strong>br</strong> />
Entretanto, esse mo<strong>de</strong>lo intensificou o caráter exclu<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> diferentes<<strong>br</strong> />
classes sociais urbanas e <strong>da</strong> população rural, <strong>no</strong> acesso aos serviços, pois, em<<strong>br</strong> />
termos qualitativos e quantitativos, as condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do povo <strong>br</strong>asileiro<<strong>br</strong> />
continuavam precárias e responsáveis por gran<strong>de</strong>s tensões sociais, que, em alguns<<strong>br</strong> />
momentos, expressavam-se, até mesmo, “por ‘que<strong>br</strong>a-que<strong>br</strong>as’ <strong>da</strong>s agências do<<strong>br</strong> />
INPS” 94 .<<strong>br</strong> />
As políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa época caracterizavam-se pela síntese <strong>de</strong> dois<<strong>br</strong> />
diferentes mo<strong>de</strong>los adotados anteriormente 95 : o do sanitarismo campanhista <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
primeira República e o curativo <strong>da</strong> atenção médica, vigente <strong>no</strong> período populista.<<strong>br</strong> />
Assim, as políticas acabavam privilegiando a prática médica curativa, individual,<<strong>br</strong> />
assistencialista e especializa<strong>da</strong>, em <strong>de</strong>trimento <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> pública, <strong>de</strong> caráter<<strong>br</strong> />
preventivo, e, em especial, <strong>da</strong>quelas <strong>de</strong> interesse coletivo.<<strong>br</strong> />
91 BERTOLLI FILHO, C. Op. cit. 2001.<<strong>br</strong> />
92 JORGE, M. L. Op. cit. 1981.<<strong>br</strong> />
93 MENDES, E. V. Distrito Sanitário: o processo social <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>s práticas sanitárias do<<strong>br</strong> />
Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. 3. ed. São Paulo – Rio <strong>de</strong> Janeiro: Hucitec- ABRASCO, 1995. p.23.<<strong>br</strong> />
94 JORGE, M. L. Op. cit. 1981.
31<<strong>br</strong> />
A criação do INPS e sua estatização eram resultantes <strong>de</strong>:<<strong>br</strong> />
[...] uma fase <strong>de</strong> fortalecimento <strong>da</strong>s classes empresariais, <strong>de</strong> fortalecimento<<strong>br</strong> />
do capital frente ao trabalho. O período populista já se havia esgotado, a<<strong>br</strong> />
fase <strong>de</strong> diálogos e barganhas com as classes produtoras já não<<strong>br</strong> />
correspondia mais às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do capital internacional. Não seria<<strong>br</strong> />
lúcido supor que somente a Previdência Social contrariasse esta tendência<<strong>br</strong> />
níti<strong>da</strong> do <strong>no</strong>vo grupo <strong>no</strong> po<strong>de</strong>r. 96<<strong>br</strong> />
As principais orientações <strong>da</strong> política sanitária <strong>de</strong>sse período impulsionaram a<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>man<strong>da</strong> social por consultas médicas como resposta às graves condições <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
saú<strong>de</strong>, proporcionando o financiamento por parte <strong>da</strong> Previdência Social <strong>de</strong> inúmeras<<strong>br</strong> />
clínicas e hospitais privados, além <strong>de</strong> estabelecer uma política <strong>de</strong> convênios com<<strong>br</strong> />
hospitais, clínicas e empresas <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços médicos, em <strong>de</strong>trimento dos<<strong>br</strong> />
recursos <strong>no</strong>rmalmente <strong>de</strong>stinados aos serviços públicos 97 . Exemplo disso é o fato <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
que, em 1967, dos 2.800 hospitais existentes <strong>no</strong> Brasil, 2.300 eram contratados pelo<<strong>br</strong> />
INPS 98 . Assim, nesse sistema, o Estado era o maior e quase absoluto comprador<<strong>br</strong> />
dos serviços médicos <strong>da</strong> iniciativa priva<strong>da</strong>.<<strong>br</strong> />
Logo, evi<strong>de</strong>nciou-se a fragili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse sistema, <strong>da</strong><strong>da</strong> a sua gran<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
a<strong>br</strong>angência, a qual acarretou a <strong>de</strong>mora <strong>no</strong> repasse <strong>da</strong>s verbas do INPS e os baixos<<strong>br</strong> />
preços pagos pelos serviços médico-hospitalares prestados.<<strong>br</strong> />
Frente a essas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>no</strong> período <strong>de</strong> 1972-1974, foi lançado o I Pla<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento (PND), que compunha a parceria entre o Estado e a<<strong>br</strong> />
iniciativa priva<strong>da</strong>, mas trouxe pouco benefício para a saú<strong>de</strong>. Com o fracasso <strong>de</strong>ssa<<strong>br</strong> />
tentativa, surgiu o II PND, que priorizava a implantação <strong>de</strong> políticas sociais,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>stacando o papel <strong>da</strong> Previdência Social e intensificando sua ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> assistencial.<<strong>br</strong> />
Em resposta às <strong>de</strong>núncias na imprensa so<strong>br</strong>e a assistência <strong>de</strong>ficitária <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do gover<strong>no</strong> e a falta <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmatização nas parcerias com o setor<<strong>br</strong> />
privado, em 1974, criou-se o Ministério <strong>da</strong> Previdência e Assistência Social (MPAS),<<strong>br</strong> />
re<strong>no</strong>vando a promessa <strong>de</strong> garantir a saú<strong>de</strong> dos segurados, o qual incorporava o<<strong>br</strong> />
INPS.<<strong>br</strong> />
95 COELHO, E. B. S.; WESTRUPP, M. H. B.; VERDI, M. Op. cit. 1995.<<strong>br</strong> />
96 JORGE, M. L. Op. cit. 1981. p.41.<<strong>br</strong> />
97 LUZ, M. T. Notas so<strong>br</strong>e as políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> Brasil <strong>de</strong> “transição <strong>de</strong>mocrática” – a<strong>no</strong>s 80.<<strong>br</strong> />
Physis – Revista <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Coletiva, Rio <strong>de</strong> janeiro, v. 1, n.1, p.77-94, 1991.<<strong>br</strong> />
98 ALVES, D. B. Op. cit. 1987.
32<<strong>br</strong> />
O <strong>no</strong>vo Ministério [era] organizado em 3 setores: o INAMPS, responsável<<strong>br</strong> />
pela assistência médica e previdência social; o IAPAS, responsável pela<<strong>br</strong> />
arreca<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s contribuições <strong>da</strong> previdência e assistência social; e o<<strong>br</strong> />
SINPAS que é o sistema nacional <strong>de</strong> Previdência e Assistência Social. 99<<strong>br</strong> />
O Estado <strong>de</strong>termi<strong>no</strong>u também a criação <strong>da</strong> Empresa <strong>de</strong> Processamento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Dados <strong>da</strong> Previdência Social (DATAPREV), para controlar as contas hospitalares,<<strong>br</strong> />
ampliou o setor conveniado para respon<strong>de</strong>r ao aumento <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> e <strong>no</strong>rmatizou<<strong>br</strong> />
os serviços, por meio <strong>de</strong> programas administrativos.<<strong>br</strong> />
Em 1975, foi aprova<strong>da</strong> pelo Congresso Nacional a Lei 6.229, que dispõe<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e a organização do Sistema Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SNS), pela qual: coube ao<<strong>br</strong> />
Ministério <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> traçar a política nacional e promover os cui<strong>da</strong>dos com a saú<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
coletiva e a prevenção; coube ao Ministério <strong>da</strong> Previdência as ações curativas e<<strong>br</strong> />
individuais; ao Ministério <strong>da</strong> Educação e Cultura, a formação <strong>de</strong> profissionais; e, ao<<strong>br</strong> />
Ministério do Interior, o saneamento e a política habitacional 100 . Essa lei consolidou a<<strong>br</strong> />
divisão dos espaços institucionais que vinham se <strong>de</strong>lineando, <strong>de</strong>ixando as ações <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
saú<strong>de</strong> pública, não-rentáveis eco<strong>no</strong>micamente, para o Estado, e as curativas,<<strong>br</strong> />
altamente rentáveis, para o setor privado.<<strong>br</strong> />
Assim, como o Ministério <strong>da</strong> Previdência e Assistência Social tinha o maior<<strong>br</strong> />
orçamento <strong>da</strong> União, po<strong>de</strong>ria comprar os serviços <strong>da</strong> re<strong>de</strong> hospitalar priva<strong>da</strong> e<<strong>br</strong> />
financiar a medicina <strong>de</strong> mercado, ficando o Ministério <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>, com seus parcos<<strong>br</strong> />
recursos, com a prevenção e as ações coletivas.<<strong>br</strong> />
Dados <strong>de</strong>monstram com clareza a orientação para a medicina curativa: “Em<<strong>br</strong> />
1971, o orçamento previsto para o Ministério <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> foi 7,5 vezes me<strong>no</strong>r do que<<strong>br</strong> />
as <strong>de</strong>spesas com a assistência médica previ<strong>de</strong>nciária, realiza<strong>da</strong>s pelo órgão por ela<<strong>br</strong> />
responsável, o INPS. Em 1980, a <strong>de</strong>spesa do INAMPS atingiu 13,4 vezes o<<strong>br</strong> />
orçamento <strong>da</strong>quele Ministério” 101 .<<strong>br</strong> />
Então, surgiu a chama<strong>da</strong> medicina <strong>de</strong> grupo, que oferecia às empresas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
maior porte financeiro melhor atendimento aos trabalhadores e redução dos<<strong>br</strong> />
períodos <strong>de</strong> licença dos funcionários doentes, substituindo os serviços prestados<<strong>br</strong> />
pelo INPS. Assim, as empresas <strong>de</strong>ixavam <strong>de</strong> pagar a cota previ<strong>de</strong>nciária ao gover<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
e recebiam ain<strong>da</strong> subsídios do próprio gover<strong>no</strong> fe<strong>de</strong>ral.<<strong>br</strong> />
99 JORGE, M. L. Op. cit. 1981. p.42.<<strong>br</strong> />
100 JORGE, M. L. Op. cit. 1981.<<strong>br</strong> />
101 GONÇALVES, E. L. et al. Op. cit. 1981. p.135.
33<<strong>br</strong> />
Po<strong>de</strong>-se afirmar “que o convênio-empresa foi o modo <strong>de</strong> articulação entre o<<strong>br</strong> />
estado e o empresariado que viabilizou o nascimento e <strong>de</strong>senvolvimento do<<strong>br</strong> />
subsistema que viria a tornar-se hegemônico na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80: o <strong>da</strong> atenção médica<<strong>br</strong> />
supletiva” 102 .<<strong>br</strong> />
Apesar <strong>da</strong>s <strong>de</strong>ficiências, a expansão <strong>da</strong> assistência médica individual e o<<strong>br</strong> />
aumento <strong>no</strong> número <strong>de</strong> leitos hospitalares levaram à que<strong>da</strong> dos índices <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> geral: em 1960, esse índice era <strong>de</strong> 43,3 óbitos por mil habitantes; vinte<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois, caiu para 7,2. Também a expectativa <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> elevou-se para<<strong>br</strong> />
aproxima<strong>da</strong>mente 63 a<strong>no</strong>s 103 .<<strong>br</strong> />
Essa elevação <strong>da</strong> expectativa <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> é explica<strong>da</strong>, em parte, pelo aumento <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
número <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> medicina, que saltaram <strong>de</strong> 13, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1950, para 73<<strong>br</strong> />
escolas, em 1975 104 . Esse aumento não foi acompanhado pelas escolas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, que eram 39 na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1950 e foram para 41, em 1974 105 . O<<strong>br</strong> />
número <strong>de</strong> leitos disponíveis <strong>no</strong> País, que, em 1975, atingiu 3,7 por mil habitantes,<<strong>br</strong> />
duplicou em relação a 1933, <strong>de</strong>ssa forma, tendo como referência o crescimento <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
população <strong>no</strong> período, que aumentou 2,7 vezes, o número <strong>de</strong> leitos aumentou 6,4<<strong>br</strong> />
vezes 106 .<<strong>br</strong> />
Outro <strong>da</strong>do <strong>de</strong> 1969 a 1984 refere-se ao número <strong>de</strong> leitos privados <strong>no</strong> País,<<strong>br</strong> />
que acresceu em 465%, graças às políticas <strong>da</strong> Previdência Social 107 . Para Men<strong>de</strong>s,<<strong>br</strong> />
esse é um momento importante para configurar um padrão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
um setor privado <strong>de</strong> corte cartorial, que apresenta características especiais: capital<<strong>br</strong> />
fixo subsidiado, reserva <strong>de</strong> mercado e, por conseqüência, baixíssimo risco<<strong>br</strong> />
empresarial e nenhuma competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
A entra<strong>da</strong> <strong>de</strong> capital estrangeiro na área médico-hospitalar <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou a<<strong>br</strong> />
concorrência <strong>de</strong> grupos estrangeiros com as companhias nacionais, aumentando o<<strong>br</strong> />
número <strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> seguro-saú<strong>de</strong>, na qual a classe média <strong>br</strong>asileira,<<strong>br</strong> />
impulsiona<strong>da</strong> pelo ‘milagre econômico’, encontrou solução rápi<strong>da</strong> e eficiente para<<strong>br</strong> />
seus problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Entretanto, a co<strong>br</strong>ança <strong>de</strong> altas mensali<strong>da</strong><strong>de</strong>s estava fora<<strong>br</strong> />
do alcance <strong>da</strong>s classes operárias, ficando elas relega<strong>da</strong>s ao serviço <strong>de</strong>ficitário que o<<strong>br</strong> />
Estado fornecia.<<strong>br</strong> />
102 MENDES, E. V. Op. cit.1995. p.25.<<strong>br</strong> />
103 BERTOLLI FILHO, C. Op. cit. 2001.<<strong>br</strong> />
104 SINGER, P. et al. Op. cit. 1988.<<strong>br</strong> />
105 SILVA, G. B. Op. cit. 1986.<<strong>br</strong> />
106 GONÇALVES, E. L. et al. Administração <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> Brasil. São Paulo: Pioneira, 1988.
34<<strong>br</strong> />
O capital estrangeiro também foi percebido <strong>no</strong> incremento <strong>da</strong> indústria<<strong>br</strong> />
farmacêutica <strong>da</strong> época, pois ocorreu a compra <strong>de</strong> empresas nacionais por grupos<<strong>br</strong> />
internacionais. “Entre 1965 e 1975, pelo me<strong>no</strong>s 25 companhias <strong>br</strong>asileiras foram<<strong>br</strong> />
compra<strong>da</strong>s por grupos com se<strong>de</strong> <strong>no</strong>s Estados Unidos e Europa” 108 .<<strong>br</strong> />
O domínio do mercado permitiu que os laboratórios farmacêuticos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>terminassem os preços e a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos medicamentos vendidos, acarretando a<<strong>br</strong> />
criação pelo gover<strong>no</strong> <strong>de</strong> uma Central <strong>de</strong> Medicamentos (CEME), em 1971, com o<<strong>br</strong> />
objetivo <strong>de</strong> produzir medicamentos essenciais para a população carente,<<strong>br</strong> />
impossibilita<strong>da</strong> <strong>de</strong> comprá-los <strong>de</strong>vido ao seu alto custo.<<strong>br</strong> />
Esse conjunto <strong>de</strong> políticas públicas constrói, <strong>no</strong>s campos políticos, jurídicolegal<<strong>br</strong> />
e institucional, as bases que permitem a hegemonização na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
70, do mo<strong>de</strong>lo médico-assistencial privatista que se assentou num tripé:<<strong>br</strong> />
a) O estado como gran<strong>de</strong> financiador do sistema através <strong>da</strong> previdência<<strong>br</strong> />
Social;<<strong>br</strong> />
b) O setor privado nacional como o maior prestador <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
atenção médica;<<strong>br</strong> />
c) O setor privado internacional como o mais significativo produtor <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
insumos, especialmente equipamentos biomédicos e medicamentos. 109<<strong>br</strong> />
As mu<strong>da</strong>nças sociais, políticas e econômicas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira<<strong>br</strong> />
refletiram-se inevitavelmente na <strong>enfermagem</strong>, o que foi evi<strong>de</strong>nciado por alguns<<strong>br</strong> />
fatores, como: a passagem do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> para ensi<strong>no</strong> superior, em<<strong>br</strong> />
1962; o surgimento do <strong>no</strong>vo currículo mínimo, em 1972; e a implantação dos<<strong>br</strong> />
primeiros cursos <strong>de</strong> pós-graduação seguindo a reforma universitária <strong>de</strong> 1968.<<strong>br</strong> />
A criação dos cursos <strong>de</strong> pós-graduação fortaleceu a tendência vin<strong>da</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
déca<strong>da</strong> anterior, que apontava para a cientifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> categoria e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
vigente <strong>de</strong> enfermeiras especialistas, instaurando habilitações em <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
médico-cirúrgica, obstétrica e em saú<strong>de</strong> pública. Gran<strong>de</strong> ênfase foi <strong>da</strong><strong>da</strong>, nesse<<strong>br</strong> />
período, às disciplinas <strong>de</strong> administração, reafirmando o papel preconizado por<<strong>br</strong> />
Florence Nightingale.<<strong>br</strong> />
A passagem do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> para o nível universitário e o<<strong>br</strong> />
surgimento dos cursos <strong>de</strong> pós-graduação refletiram-se na produção intelectual <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
categoria, representa<strong>da</strong> pela Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem. Analisando os<<strong>br</strong> />
artigos publicados nesta revista, Silva cita que eram<<strong>br</strong> />
107 MENDES, E. V. Op. cit. 1995.<<strong>br</strong> />
108 BERTOLLI FILHO, C. Op. cit. 2001.<<strong>br</strong> />
109 MENDES, E. V. Op. cit. 1995. p.25.
35<<strong>br</strong> />
[...] visíveis aí alterações <strong>de</strong> enfoque (cui<strong>da</strong>do integral) e <strong>de</strong> linguagem,<<strong>br</strong> />
explicáveis pela passagem <strong>da</strong> categoria estu<strong>da</strong><strong>da</strong> para o ensi<strong>no</strong> superior e,<<strong>br</strong> />
conseqüentemente, pela influência marcante que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> pesquisa<<strong>br</strong> />
científica passa a exercer so<strong>br</strong>e ela, impondo-se como requisito importante<<strong>br</strong> />
para a contratação <strong>de</strong> docente e a ascensão na carreira. Mesmo quando se<<strong>br</strong> />
trata <strong>de</strong> técnicas específicas, a diferença <strong>de</strong> linguagem é gran<strong>de</strong>. 110<<strong>br</strong> />
Das matérias publica<strong>da</strong>s entre 1965-1969, 36,9% enfatizam os assuntos<<strong>br</strong> />
educacionais, contemporâneos <strong>da</strong> Reforma universitária <strong>de</strong> 1968 e passa-se, então,<<strong>br</strong> />
a questionar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos profissionais que vêm sendo formados para aten<strong>de</strong>r a<<strong>br</strong> />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em <strong>de</strong>senvolvimento, coincidindo também esse assunto ser temática<<strong>br</strong> />
central dos Congressos Brasileiros <strong>de</strong> Enfermagem <strong>de</strong>sse período 111 .<<strong>br</strong> />
Os artigos <strong>da</strong> Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem do período do regime militar<<strong>br</strong> />
sofreram mu<strong>da</strong>nças temáticas e <strong>de</strong> conteúdo, não apenas pelo aprimoramento <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
educação, direcionando-se para as especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s do cui<strong>da</strong>do, mas também<<strong>br</strong> />
refletindo a expansão <strong>da</strong> área hospitalar <strong>no</strong> contexto histórico do momento.<<strong>br</strong> />
No período <strong>de</strong> 1970-1980, houve inversão temática dos artigos publicados,<<strong>br</strong> />
que recaíram so<strong>br</strong>e áreas <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, chegando a 51,4%,<<strong>br</strong> />
predominando os aspectos médico-cirúrgicos e administrativos. Outra característica<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sse período é a publicação <strong>de</strong> artigos ditos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> do trabalho ou<<strong>br</strong> />
industrial, embora em número reduzido, os quais tratam <strong>de</strong> uma área “que em<<strong>br</strong> />
essência procura relacionar <strong>enfermagem</strong> e capital, ou seja, como a <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ve cooperar com o capital, dispensando atenção à força <strong>de</strong> trabalho para que ela<<strong>br</strong> />
produza melhor” 112 .<<strong>br</strong> />
Entretanto, apesar <strong>da</strong> busca <strong>de</strong> cientifici<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong>s especializações, o advento<<strong>br</strong> />
dos cursos <strong>de</strong> pós-graduação e o incremento <strong>da</strong> pesquisa, são conflitantes as<<strong>br</strong> />
representações so<strong>br</strong>e a <strong>enfermagem</strong> constata<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s artigos <strong>de</strong>ssa déca<strong>da</strong>. Elas<<strong>br</strong> />
mantiveram-se “inaltera<strong>da</strong>s, em seu conjunto, refletindo um conteúdo abstrato,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sistoricizado e que ig<strong>no</strong>ra as mu<strong>da</strong>nças <strong>no</strong> objeto <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong> área, resultantes<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> seu processo <strong>de</strong> profissionalização sob o capitalismo” 113 .<<strong>br</strong> />
As <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> como ‘arte, ciência e vocação’ são manti<strong>da</strong>s,<<strong>br</strong> />
numa representação abstrata, i<strong>de</strong>aliza<strong>da</strong> e irreal, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> tempo e<<strong>br</strong> />
110 SILVA, G. B. Op. cit. 1986. p.111.<<strong>br</strong> />
111 GERMANO, R. M. Op. cit. 1983.<<strong>br</strong> />
112 GERMANO, R. M. Op. cit. 1983. p.77.<<strong>br</strong> />
113 SILVA, G. B. Op. cit. 1986. p.112.
36<<strong>br</strong> />
espaço concretos, volta<strong>da</strong> para um objeto abstrato como o indivíduo, a família, a<<strong>br</strong> />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, a humani<strong>da</strong><strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Partilha <strong>da</strong> mesma percepção Germa<strong>no</strong>, quando escreve que:<<strong>br</strong> />
A idéia <strong>de</strong> que a educação, a <strong>enfermagem</strong> e a saú<strong>de</strong> ocorrem sem qualquer<<strong>br</strong> />
vinculação com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social historicamente <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> é uma<<strong>br</strong> />
constante nas publicações <strong>da</strong> Revista, com raríssimas exceções. Tudo<<strong>br</strong> />
acontece num mundo abstrato e a enfermeira <strong>de</strong>ve pautar suas ações<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um espírito cristão, com bon<strong>da</strong><strong>de</strong>, abnegação, resignação,<<strong>br</strong> />
disciplina e obediência. 114<<strong>br</strong> />
A busca <strong>da</strong> cientifici<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional, na passagem <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> préprofissional<<strong>br</strong> />
para a <strong>enfermagem</strong> mo<strong>de</strong>rna, com Florence Nightingale, acarretou uma<<strong>br</strong> />
crise <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação do seu objeto <strong>de</strong> trabalho. O cui<strong>da</strong>do direto,<<strong>br</strong> />
[...] que historicamente se constituiu <strong>no</strong> núcleo do referido objeto, fica quase<<strong>br</strong> />
que totalmente restrito às categorias diversas dos “ocupacionais”, que<<strong>br</strong> />
passam a ser supervisionados pelas enfermeiras. Ocorreu,<<strong>br</strong> />
conseqüentemente, <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, uma fragmentação <strong>de</strong> seu<<strong>br</strong> />
objeto <strong>de</strong> trabalho, constituído, agora, em linhas gerais, pelo cui<strong>da</strong>do direto<<strong>br</strong> />
e indireto ao enfermo, [...]. 115<<strong>br</strong> />
No entanto, a crise <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação profissional <strong>de</strong>correu do contexto social e<<strong>br</strong> />
econômico <strong>de</strong>ssa época e não do processo <strong>de</strong> trabalho fragmentado. A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> enfermeiras especialistas, do cui<strong>da</strong>do direto ao enfermo, justamente discute e<<strong>br</strong> />
discor<strong>da</strong> do papel administrativo <strong>da</strong> enfermeira. Contudo, a divisão social do<<strong>br</strong> />
trabalho, a dicotomia do saber e do fazer, do intelectual e do manual, sempre<<strong>br</strong> />
permearam o ensi<strong>no</strong> e a prática assistencial <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, introjetados pelos<<strong>br</strong> />
profissionais <strong>no</strong>s preceitos <strong>de</strong> Nightingale.<<strong>br</strong> />
É aqui que se instala a crise <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> seu processo <strong>de</strong> trabalho:<<strong>br</strong> />
Como aliar a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> especialista que presta o cui<strong>da</strong>do direto ao indivíduo,<<strong>br</strong> />
sem per<strong>de</strong>r o status <strong>de</strong> ladies, sem per<strong>de</strong>r o reconhecimento como profissão <strong>de</strong> nível<<strong>br</strong> />
superior, e o conseqüente <strong>de</strong>sprestigiamento profissional frente a outras profissões<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>? Era uma questão a ser resolvi<strong>da</strong> pelos profissionais.<<strong>br</strong> />
A transformação dos hospitais <strong>no</strong> núcleo <strong>da</strong> atenção à saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou o<<strong>br</strong> />
processo <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> enfermeiras em instituições hospitalares, como<<strong>br</strong> />
resultante do <strong>de</strong>clínio <strong>da</strong> política sanitarista.<<strong>br</strong> />
114 GERMANO, R. M. Op. cit. 1983. p.98.<<strong>br</strong> />
115 SILVA, G. B. Op. cit. 1986. p.86.
37<<strong>br</strong> />
A profissão <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> era a que me<strong>no</strong>s crescia na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
chegando, até 1974, à relação <strong>de</strong> 6,7 médicos para 1 enfermeiro e 8 estu<strong>da</strong>ntes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
medicina para 1 estu<strong>da</strong>nte <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> 116 . Além <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s quantitativas,<<strong>br</strong> />
havia <strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong> estrutura física, <strong>de</strong> equipamentos, <strong>de</strong> laboratórios <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, recursos huma<strong>no</strong>s (pessoal docente e administrativo) e a inexistência<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> livros didáticos nacionais para o ensi<strong>no</strong> específico <strong>de</strong> graduação em <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Outro entrave relatado pelo autor era o número insuficiente <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> nível <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
pós-graduação para enfermeiros, como limitações ao <strong>de</strong>senvolvimento e<<strong>br</strong> />
aperfeiçoamento dos docentes.<<strong>br</strong> />
Um grupo <strong>de</strong> trabalho com especialistas em <strong>enfermagem</strong>, <strong>de</strong>signado pelo<<strong>br</strong> />
Ministério <strong>da</strong> Educação e Cultura, elaborou o diagnóstico so<strong>br</strong>e os cursos <strong>no</strong> Brasil,<<strong>br</strong> />
indicando a criação <strong>de</strong> mais 11 cursos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> nas universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais,<<strong>br</strong> />
preferencialmente, em regiões ain<strong>da</strong> não atendi<strong>da</strong>s, como: Rio Branco, Belém,<<strong>br</strong> />
Aracaju, Santa Maria, Pelotas, Rio Gran<strong>de</strong>, Goiânia, Cuiabá, Curitiba e Fortaleza,<<strong>br</strong> />
com a média 40 vagas por curso. Concomitantemente a isso, a CAPES sediou, na<<strong>br</strong> />
Escola <strong>de</strong> Enfermagem <strong>da</strong> UFRJ, cursos <strong>de</strong> especialização, com o propósito <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
formar docentes para esses <strong>no</strong>vos cursos <strong>de</strong> graduação, e alguns enfermeiros<<strong>br</strong> />
freqüentaram os cursos <strong>de</strong> mestrado em <strong>enfermagem</strong> 117 .<<strong>br</strong> />
Esse ajuste foi necessário, para que o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> se a<strong>de</strong>quasse à<<strong>br</strong> />
Reforma Universitária <strong>de</strong> 1968, ocorri<strong>da</strong> pela Lei 5.540/68 e complementa<strong>da</strong> pelo<<strong>br</strong> />
Decreto-lei 454/69. Como essa reforma era basea<strong>da</strong> <strong>no</strong> sistema america<strong>no</strong>, a<<strong>br</strong> />
preocupação centrava-se em como fazer, <strong>no</strong> treinamento prático, co<strong>br</strong>ando <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
universi<strong>da</strong><strong>de</strong> a eficiência técnica, mas não o estímulo à crítica e a participação<<strong>br</strong> />
política 118 .<<strong>br</strong> />
O cerceamento à participação política e à critica estão em consonância com o<<strong>br</strong> />
contexto do regime militar que coman<strong>da</strong>va o País na época. Sendo as universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
celeiros <strong>da</strong> massa crítica nacional, o foco <strong>no</strong> saber fazer em <strong>de</strong>trimento do saber ser<<strong>br</strong> />
profissional era visto como <strong>de</strong> segurança nacional.<<strong>br</strong> />
A a<strong>de</strong>quação do ensi<strong>no</strong> impingiu a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> obter melhor qualificação<<strong>br</strong> />
acadêmica (mestrado, doutorado) para as diretoras <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, a<<strong>br</strong> />
116 CUNHA, C. Situação <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> país. Revista Gaúcha <strong>de</strong> Enfermagem, Porto Alegre,<<strong>br</strong> />
v.2, n. 1, p.1-8, jun. 1977.<<strong>br</strong> />
117 CUNHA, C. Op. cit. 1977.<<strong>br</strong> />
118 PIZANI, M. A. P. N. Op. cit. 1999.
38<<strong>br</strong> />
qual, num contexto <strong>de</strong> recentes e poucos cursos <strong>de</strong> pós-graduação, era difícil<<strong>br</strong> />
conseguir.<<strong>br</strong> />
Até aquele a<strong>no</strong>, o nível <strong>de</strong> doutoramento em <strong>enfermagem</strong> era uma aspiração<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> categoria 119 . Os doutores existentes <strong>no</strong> País, naquela época, obtiveram sua<<strong>br</strong> />
titulação por meio <strong>de</strong> concursos para livre docência, possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> essa aberta até 08<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> setem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1976, <strong>de</strong> acordo com Decreto 76.119, <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1975.<<strong>br</strong> />
A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do aumento quantitativo <strong>de</strong> trabalhadores <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> não<<strong>br</strong> />
se restringiu à categoria <strong>da</strong>s enfermeiras, criando-se, nessa déca<strong>da</strong>, o técnico em<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, que surgiu como resultado <strong>da</strong> tendência tecnicista e do fortalecimento<<strong>br</strong> />
do ensi<strong>no</strong> profissionalizante <strong>de</strong> nível médio, <strong>de</strong>corrente <strong>da</strong> pressão popular pelo<<strong>br</strong> />
aumento <strong>de</strong> vagas nas universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>br</strong>asileiras.<<strong>br</strong> />
O aumento <strong>no</strong> número <strong>de</strong> profissionais em <strong>enfermagem</strong> impôs a criação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
um órgão <strong>de</strong> fiscalização <strong>da</strong> categoria, surgindo os Conselhos Fe<strong>de</strong>ral e Estaduais,<<strong>br</strong> />
por meio <strong>da</strong> Lei 5.905/73, como órgãos disciplinadores do exercício <strong>da</strong> profissão <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermeiro e <strong>da</strong>s <strong>de</strong>mais categorias compreendi<strong>da</strong>s na <strong>enfermagem</strong> 120 .<<strong>br</strong> />
Outra característica <strong>de</strong>ssa época é o <strong>de</strong>smem<strong>br</strong>amento <strong>da</strong>s escolas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> com os campos <strong>de</strong> estágio, quer pela extinção gra<strong>da</strong>tiva do regime <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
internato, <strong>no</strong> qual os estu<strong>da</strong>ntes residiam <strong>no</strong>s hospitais, até sua extinção total em<<strong>br</strong> />
meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, quer pela substituição <strong>da</strong>s enfermeiras docentes <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
cargos <strong>de</strong> chefia dos hospitais. Em 1956, as escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> eram<<strong>br</strong> />
responsáveis pela direção do serviço <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> dos hospitais <strong>de</strong> campo<<strong>br</strong> />
prático, porém, o aumento <strong>no</strong> número <strong>de</strong> escolas, cerca <strong>de</strong> duas déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong>pois, e<<strong>br</strong> />
a passagem do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> para nível superior geraram a tendência à<<strong>br</strong> />
separação entre docência e serviço – <strong>de</strong>vido à so<strong>br</strong>ecarga <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e<<strong>br</strong> />
administrativas <strong>da</strong>s diretoras e professoras, o que a<strong>br</strong>iu espaço para as enfermeiras<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> serviço assumirem a gerência dos serviços <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> –, acarretando<<strong>br</strong> />
prejuízo ao ensi<strong>no</strong> 121 .<<strong>br</strong> />
O fomento à criação <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, <strong>de</strong>vido à escassez <strong>de</strong> mão<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> mercado hospitalar, o aumento do mercado <strong>de</strong> trabalho para o<<strong>br</strong> />
profissional e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> tec<strong>no</strong>logia hospitalar não ampliaram<<strong>br</strong> />
119 ARAGÓN, D. P. B. Enfermagem – ontem e hoje. Revista Gaúcha <strong>de</strong> Enfermagem, RS, v.1, n. 1,<<strong>br</strong> />
p.13-26, mar. 1976.<<strong>br</strong> />
120 SCHOELLER, S. D. Sindicalismo e <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil. In: GEOVANINI, T. et al. História <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem: versões e interpretações. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Revinter, 2002.<<strong>br</strong> />
121 SILVA, G. B. Op. cit. 1986.
39<<strong>br</strong> />
significativamente a porcentagem <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho especializa<strong>da</strong>, pois o<<strong>br</strong> />
contingente <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> manteve-se alto, <strong>da</strong>do o custo me<strong>no</strong>r <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
sua força <strong>de</strong> trabalho. Aten<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> eram pessoas que não tinham<<strong>br</strong> />
formação profissional para o <strong>de</strong>sempenho do cui<strong>da</strong>do <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, em sua<<strong>br</strong> />
maioria recebiam treinamento diretamente <strong>no</strong>s serviços por enfermeiras e médicos.<<strong>br</strong> />
Esse fato é comprovado numericamente, pois, em 1956, dos agentes que<<strong>br</strong> />
trabalhavam em hospitais, 70,8% eram aten<strong>de</strong>ntes e 7,5%, enfermeiros e, em 1974,<<strong>br</strong> />
esses percentuais mantiveram-se com 65% <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>ntes, 26,1% <strong>de</strong> auxiliares <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> e 6,5% <strong>de</strong> enfermeiros 122 .<<strong>br</strong> />
Assim, nas déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 1960 e 1970, houve a expansão profissional na<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> <strong>br</strong>asileira, <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> pelo Estado e pauta<strong>da</strong> em função do capital,<<strong>br</strong> />
absorvi<strong>da</strong> sem questionamentos pelos profissionais, quer por meio <strong>de</strong> suas<<strong>br</strong> />
enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe, quer por sua produção intelectual refleti<strong>da</strong> na Revista Brasileira<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Enfermagem.<<strong>br</strong> />
Essa política <strong>de</strong> Estado alijou os ganhos financeiros <strong>da</strong> categoria, pois, <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
período <strong>de</strong> sua implementação <strong>no</strong> País, a enfermeira recebia como profissional<<strong>br</strong> />
liberal e era reconheci<strong>da</strong> como tal, nas déca<strong>da</strong>s seguintes, tor<strong>no</strong>u-se assalaria<strong>da</strong>,<<strong>br</strong> />
com parcos rendimentos ditados pelo mercado capitalista, que empregava mão-<strong>de</strong>o<strong>br</strong>a<<strong>br</strong> />
me<strong>no</strong>s especializa<strong>da</strong>, assim baixando seus custos.<<strong>br</strong> />
O fim do ‘milagre econômico’ agravou a situação econômica do País,<<strong>br</strong> />
culminando com o esgotamento do mo<strong>de</strong>lo médico-assistencial privatista, <strong>no</strong> final<<strong>br</strong> />
dos a<strong>no</strong>s 1970. O mo<strong>de</strong>lo apresentava fortes ina<strong>de</strong>quações à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> sanitária<<strong>br</strong> />
nacional: as ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> curativista não modificaram os perfis <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
morbimortali<strong>da</strong><strong>de</strong>; os custos crescentes inviabilizavam sua expansão [...] 123 .<<strong>br</strong> />
Nesse contexto, houve a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver e expandir uma<<strong>br</strong> />
mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> baixo custo para contingentes populacionais excluídos pelo mo<strong>de</strong>lo<<strong>br</strong> />
médico-assistencial privatista, que fosse ao encontro <strong>da</strong> proposta internacional dos<<strong>br</strong> />
cui<strong>da</strong>dos primários, acor<strong>da</strong><strong>da</strong> em Alma-Ata, na URSS, em 12 <strong>de</strong> setem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1978.<<strong>br</strong> />
Em sua <strong>de</strong>claração, consta:<<strong>br</strong> />
122 SILVA, G. B. Op. cit. 1986.<<strong>br</strong> />
123 MENDES, E. V. Op. cit. 1995.
40<<strong>br</strong> />
I<<strong>br</strong> />
A Conferência reafirma enfaticamente que a saú<strong>de</strong> – estado <strong>de</strong> completo<<strong>br</strong> />
bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência <strong>de</strong> doença<<strong>br</strong> />
ou enfermi<strong>da</strong><strong>de</strong> – é um direito huma<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental, e que a consecução do<<strong>br</strong> />
mais alto nível possível <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> é a mais importante meta social mundial,<<strong>br</strong> />
cuja realização requer a ação <strong>de</strong> muitos outros setores sociais e<<strong>br</strong> />
econômicos, além do setor <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
II<<strong>br</strong> />
A chocante <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> existente <strong>no</strong> estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dos povos,<<strong>br</strong> />
particularmente entre os países, é política, social e eco<strong>no</strong>micamente<<strong>br</strong> />
inaceitável, e constitui com isso objeto <strong>da</strong> preocupação comum <strong>de</strong> todos os<<strong>br</strong> />
países.<<strong>br</strong> />
V<<strong>br</strong> />
Os gover<strong>no</strong>s têm pela saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus povos uma responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> que só<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong> ser realiza<strong>da</strong> mediante a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s sanitárias e sociais. Uma<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong>s principais metas sociais dos gover<strong>no</strong>s, <strong>da</strong>s organizações internacionais<<strong>br</strong> />
e to<strong>da</strong> a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> mundial na próxima déca<strong>da</strong> <strong>de</strong>ve ser a <strong>de</strong> que os<<strong>br</strong> />
povos do mundo, até o a<strong>no</strong> 2000, atinjam um nível <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que lhes<<strong>br</strong> />
permita levar uma vi<strong>da</strong> social e eco<strong>no</strong>micamente produtiva. Os cui<strong>da</strong>dos<<strong>br</strong> />
primários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> constituem a chave para que essa meta seja atingi<strong>da</strong>,<<strong>br</strong> />
como parte do <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>no</strong> espírito <strong>da</strong> justiça social. 124<<strong>br</strong> />
Assim, iniciou-se, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, a reversão do mo<strong>de</strong>lo curativista,<<strong>br</strong> />
priorizando-se a assistência preventiva e profilática como assistência primária e<<strong>br</strong> />
re<strong>de</strong>finindo-se o papel <strong>da</strong>s ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> prevenção e <strong>da</strong> hospitalização. As<<strong>br</strong> />
discussões so<strong>br</strong>e a medicina preventiva e a atenção primária à saú<strong>de</strong> culminaram,<<strong>br</strong> />
na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, com a reforma sanitária <strong>no</strong> País.<<strong>br</strong> />
O processo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização do País trouxe a crise <strong>da</strong>s políticas sociais.<<strong>br</strong> />
A expressão <strong>de</strong> uma política centralizadora, concentradora, privatizante e ineficaz<<strong>br</strong> />
estampava-se na <strong>de</strong>terioração <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> população,<<strong>br</strong> />
como hospitais em precário estado <strong>de</strong> funcionamento, dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso ao<<strong>br</strong> />
atendimento médico e epi<strong>de</strong>mias, como cólera e <strong>de</strong>ngue.<<strong>br</strong> />
Tendo em vista essa situação, o gover<strong>no</strong> buscou alternativas para reorganizar<<strong>br</strong> />
as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteção e tratamento <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> individual e coletiva, evitar frau<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
e lutar contra o mo<strong>no</strong>pólio <strong>da</strong>s empresas particulares <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Em 1980, foi criado o Programa Nacional <strong>de</strong> Serviços Básicos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
(PREV-SAÚDE), cuja base eram as proposições <strong>da</strong> Conferência <strong>de</strong> Alma-Ata:<<strong>br</strong> />
atenção primária à saú<strong>de</strong> e participação comunitária, hierarquização por níveis <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos serviços, regionalização do atendimento e o estabelecimento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
porta <strong>de</strong> entra<strong>da</strong> única pelo nível primário <strong>de</strong> atenção 125 .<<strong>br</strong> />
124 JORGE, M. L. Op. cit. 1981. p.59.<<strong>br</strong> />
125 COELHO, E. B. S.; WESTRUPP, M. H. B.; VERDI, M. Op. cit. 1995.
41<<strong>br</strong> />
Entretanto foi inviabilizado na prática, <strong>de</strong>vido à intervenção <strong>de</strong> setores como o<<strong>br</strong> />
empresarial, representado pela Fe<strong>de</strong>ração Brasileira <strong>de</strong> Hospitais e pela Associação<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Grupo. Entretanto, ele serviu <strong>de</strong> base para a elaboração<<strong>br</strong> />
do Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Reorientação <strong>da</strong> Assistência à Saú<strong>de</strong>, conhecido como Pla<strong>no</strong> do<<strong>br</strong> />
Conselho Consultivo <strong>da</strong> Administração Previ<strong>de</strong>nciária (CONASP), em 1982. Esse<<strong>br</strong> />
pla<strong>no</strong> surgiu para provocar uma reversão gradual do mo<strong>de</strong>lo médico assistencial, por<<strong>br</strong> />
meio <strong>de</strong> suas linhas <strong>de</strong> ação, era o Programa <strong>de</strong> Ações Integra<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (AIS).<<strong>br</strong> />
Este programa surgiu com o propósito <strong>de</strong> integrar e unificar os serviços <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
saú<strong>de</strong> do setor público, tendo como diretrizes a integração interinstitucional,<<strong>br</strong> />
a integrali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>finição dos mecanismos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
referência e contra-referência, além <strong>da</strong> <strong>de</strong>scentralização dos processos<<strong>br</strong> />
administrativos e <strong>de</strong>cisórios. 126<<strong>br</strong> />
Assim, o Ministério <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> investia em programas preventivos, assumindo<<strong>br</strong> />
a crítica do mo<strong>de</strong>lo vigente. O CONASP ganhou força com a mu<strong>da</strong>nça <strong>no</strong> cenário<<strong>br</strong> />
político, com a eleição <strong>de</strong> governadores <strong>de</strong> oposição ao regime militar, cujos<<strong>br</strong> />
secretários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> apoiavam essa proposta, que passou a <strong>de</strong><strong>no</strong>minar-se apenas<<strong>br</strong> />
Ações Integra<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (AIS) e foi transforma<strong>da</strong> em política oficial, em 1985.<<strong>br</strong> />
Nesse contexto, o Movimento Sanitário Brasileiro iniciava discussões so<strong>br</strong>e as<<strong>br</strong> />
relações saú<strong>de</strong>-socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e saú<strong>de</strong>-Estado, assim como <strong>de</strong>nunciava a<<strong>br</strong> />
mercantilização <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> Brasil. Em Brasília, <strong>de</strong> 17 a 20 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1986,<<strong>br</strong> />
ocorreu a VIII Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, marco histórico <strong>da</strong> “Reforma<<strong>br</strong> />
Sanitária”, cuja temática era o direito à saú<strong>de</strong> como parte <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e a<<strong>br</strong> />
reorganização do setor em um Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS). “Todo o movimento<<strong>br</strong> />
encetado pelo projeto contra-hegemônico <strong>no</strong>s campos político, i<strong>de</strong>ológico e<<strong>br</strong> />
institucional, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início dos a<strong>no</strong>s 70, vai confluir para esse acontecimento que se<<strong>br</strong> />
realiza em março <strong>de</strong> 1986, em Brasília” 127 .<<strong>br</strong> />
A reforma sanitária po<strong>de</strong> ser conceitua<strong>da</strong>:<<strong>br</strong> />
126 COELHO, E. B. S.; WESTRUPP, M. H. B.; VERDI, M. Op. cit. 1995. p.9.<<strong>br</strong> />
127 MENDES, E. V. Op. cit. 1995. p.41.
42<<strong>br</strong> />
[...] como um processo mo<strong>de</strong>rnizador e <strong>de</strong>mocratizante <strong>de</strong> transformação<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>s âmbitos político-jurídico, político-institucional e político-operativo, para<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> dos ci<strong>da</strong>dãos, entendi<strong>da</strong> como um direito universal e<<strong>br</strong> />
suporta<strong>da</strong> por um Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, constituído sob regulação do<<strong>br</strong> />
Estado, que objetive a eficiência, eficácia e equi<strong>da</strong><strong>de</strong> e que se construa<<strong>br</strong> />
permanentemente através do incremento <strong>de</strong> sua base social, <strong>da</strong> ampliação<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> consciência sanitária dos ci<strong>da</strong>dãos, <strong>da</strong> implantação <strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo<<strong>br</strong> />
paradigma assistencial, do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>va ética profissional<<strong>br</strong> />
e <strong>da</strong> criação <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> gestão e controle populares so<strong>br</strong>e o<<strong>br</strong> />
sistema”. 128<<strong>br</strong> />
Esses preceitos foram resgatados na Constituição <strong>de</strong> 1988, com a criação do<<strong>br</strong> />
Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, regulamentado posteriormente pelas Leis Orgânicas <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Saú<strong>de</strong>. Assim, consagraram-se os princípios fun<strong>da</strong>mentais – a saú<strong>de</strong> como direito<<strong>br</strong> />
do ci<strong>da</strong>dão e <strong>de</strong>ver do estado; o conceito ampliado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; a construção do<<strong>br</strong> />
Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> – com os princípios <strong>de</strong> universali<strong>da</strong><strong>de</strong>, equi<strong>da</strong><strong>de</strong> e<<strong>br</strong> />
integrali<strong>da</strong><strong>de</strong>; direito à informação so<strong>br</strong>e sua saú<strong>de</strong>; participação popular; e<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>scentralização político-administrativa.<<strong>br</strong> />
Após a reforma sanitária, a própria concepção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, antes abstrata, foi<<strong>br</strong> />
re<strong>de</strong>fini<strong>da</strong> como “resultante <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> alimentação, habitação, educação,<<strong>br</strong> />
ren<strong>da</strong>, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, acesso e<<strong>br</strong> />
posse <strong>da</strong> terra e acesso a serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>” 129 .<<strong>br</strong> />
A <strong>enfermagem</strong> <strong>br</strong>asileira atuou <strong>de</strong> maneira marcante nesse movimento,<<strong>br</strong> />
participando <strong>da</strong>s conferências nacionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, compondo comissões <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> reforma sanitária e pressionando a aprovação <strong>de</strong> <strong>no</strong>va lei <strong>de</strong> exercício<<strong>br</strong> />
profissional.<<strong>br</strong> />
A promulgação <strong>da</strong> Lei 7.498, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1986, foi a coroação <strong>de</strong> 11<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> luta, intermedia<strong>da</strong> pelo COFEN, pela ABEn e pelos Conselhos Regionais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem. A lei que regulamentava, até então, a prática <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> era <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
1955, que, <strong>no</strong> contexto dos avanços tec<strong>no</strong>lógicos, do mercado <strong>de</strong> trabalho e <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
mu<strong>da</strong>nças políticas, tornara-se incompleta e <strong>de</strong>fasa<strong>da</strong>. A <strong>de</strong>fasagem po<strong>de</strong> ser<<strong>br</strong> />
exemplifica<strong>da</strong> pela ausência do técnico em <strong>enfermagem</strong>, categoria surgi<strong>da</strong> em 1966,<<strong>br</strong> />
o que dificultava a fiscalização do COFEn quanto às atribuições <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
O mercado encaminhou a <strong>enfermagem</strong> para o final do século XX, em duas<<strong>br</strong> />
direções: a hospitalar e saú<strong>de</strong> coletiva. Esse <strong>no</strong>vo direcionamento diferia dos<<strong>br</strong> />
128 MENDES, E. V. Op. cit. 1995. p.42.<<strong>br</strong> />
129 GEOVANINI, T. et al. Op. cit. 2002. p.42.
43<<strong>br</strong> />
momentos históricos <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que, se, nas déca<strong>da</strong>s 1920 e 30,<<strong>br</strong> />
direcionavam-se para a saú<strong>de</strong> pública e, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1940 a 70, focavam a assistência<<strong>br</strong> />
curativista, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1990, uniram-se, pressiona<strong>da</strong>s pela conscientização e pelos<<strong>br</strong> />
anseios <strong>da</strong> população <strong>br</strong>asileira.<<strong>br</strong> />
O direcionamento para a formação <strong>de</strong> enfermeiros especialistas continuou <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
sentido <strong>de</strong> que atuassem nas mais diversas áreas <strong>de</strong> especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s do cui<strong>da</strong>do,<<strong>br</strong> />
acompanhando a evolução tec<strong>no</strong>lógica na área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>. Entretanto, após a<<strong>br</strong> />
reforma sanitária, a conscientização <strong>da</strong> população e dos gover<strong>no</strong>s fe<strong>de</strong>rais,<<strong>br</strong> />
estaduais e municipais, para o resgate <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> pública <strong>no</strong> Brasil, aumentou o<<strong>br</strong> />
mercado <strong>de</strong> trabalho para a <strong>enfermagem</strong> em saú<strong>de</strong> coletiva.
44<<strong>br</strong> />
2 LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL<<strong>br</strong> />
A convivência humana em grupos sociais suscitou a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
formulação <strong>de</strong> regras, direitos e <strong>de</strong>veres que padronizam e regulamentam a<<strong>br</strong> />
convivência entre pessoas, quer pertençam a gran<strong>de</strong>s civilizações ou a peque<strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
grupos. Essas regras, formaliza<strong>da</strong>s em leis, permeiam o cotidia<strong>no</strong> do ci<strong>da</strong>dão,<<strong>br</strong> />
ditando <strong>no</strong>rmas quanto a aspectos gerais, como civil, penal e constitucional, até<<strong>br</strong> />
especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s, como a legislação <strong>de</strong> profissões.<<strong>br</strong> />
A edição <strong>de</strong> leis profissionais visa a <strong>no</strong>rmatizar os direitos e <strong>de</strong>veres do<<strong>br</strong> />
profissional, bem como a especificar a execução <strong>da</strong>s atribuições que são <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
interesse <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assim, tendo em vista o objetivo <strong>de</strong>ste estudo, que é<<strong>br</strong> />
analisar a implementação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil,<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> período <strong>de</strong> 1960 a 1986, tor<strong>no</strong>u-se necessário interpretar as leis do exercício que<<strong>br</strong> />
regulamentavam a categoria <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> nesse período histórico.<<strong>br</strong> />
Essa análise permitiu avaliar a expectativa <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira em relação<<strong>br</strong> />
a esse profissional: qual era o papel <strong>de</strong>le <strong>no</strong> mercado <strong>de</strong> trabalho, quais eram as<<strong>br</strong> />
categorias existentes que compunham a equipe <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e quais eram as<<strong>br</strong> />
atribuições <strong>de</strong>lega<strong>da</strong>s ao enfermeiro na época <strong>de</strong> vigência <strong>da</strong> lei.<<strong>br</strong> />
Para tanto, fez-se necessário conceituar alguns termos jurídicos, como ‘lei’ e<<strong>br</strong> />
‘<strong>de</strong>creto’, para melhor compreensão <strong>de</strong>sses instrumentos que regulamentam o<<strong>br</strong> />
exercício profissional <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Lei é conceitua<strong>da</strong> como:<<strong>br</strong> />
[...] expressão <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> geral; vonta<strong>de</strong> <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> personaliza<strong>da</strong> <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
Estado, tendo como características essenciais a forma escrita e a publici<strong>da</strong><strong>de</strong>;<<strong>br</strong> />
característica primacial <strong>de</strong> uma lei, em só exprimir idéias, ou diretivas, sem<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>scer minúcias, consi<strong>de</strong>rando a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>br</strong>anger o discurso todos os<<strong>br</strong> />
casos concretos a que a idéia se <strong>de</strong>stina. 130<<strong>br</strong> />
Assim, o texto <strong>da</strong> lei tem forma generaliza<strong>da</strong>, cujas especificações para sua<<strong>br</strong> />
execução são <strong>de</strong>scritas por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>creto. A Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras<<strong>br</strong> />
Jurídicas <strong>de</strong>fine <strong>de</strong>creto como: “Ato administrativo editado pelo presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
130 ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS JURÍDICAS. Dicionário jurídico. 5. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<<strong>br</strong> />
Forense, 1997. p.483.
45<<strong>br</strong> />
República e referen<strong>da</strong>do por Ministro <strong>de</strong> Estado, para o fim <strong>de</strong> regulamentar uma lei<<strong>br</strong> />
ou prover disposição <strong>de</strong>la emana<strong>da</strong>” 131 .<<strong>br</strong> />
Assim, o <strong>de</strong>creto fornece especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s para a execução <strong>da</strong> lei, <strong>de</strong>termina,<<strong>br</strong> />
em aspectos práticos, como a lei será implementa<strong>da</strong>, contextualiza<strong>da</strong> com o<<strong>br</strong> />
momento histórico <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
O primeiro ato <strong>no</strong>rmativo na <strong>enfermagem</strong> foi o Decreto Fe<strong>de</strong>ral 791, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
setem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1890 132 , que se transformou <strong>no</strong> marco histórico <strong>da</strong> implantação do<<strong>br</strong> />
ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> Enfermagem <strong>no</strong> Brasil, criando a Escola Profissional <strong>de</strong> Enfermeiros e<<strong>br</strong> />
Enfermeiras, <strong>no</strong> Hospital Nacional <strong>de</strong> Alienados do Rio <strong>de</strong> Janeiro. O surgimento<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ssa escola <strong>de</strong>veu-se à crise <strong>de</strong> pessoal qualificado <strong>no</strong> atendimento aos enfermos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sse hospital, <strong>da</strong>do o abando<strong>no</strong> <strong>de</strong>sse serviço pelas irmãs <strong>de</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong> que, até<<strong>br</strong> />
então, <strong>de</strong>sempenhavam as práticas do cui<strong>da</strong>do. Posteriormente, essa escola passou<<strong>br</strong> />
a ser <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>da</strong> Escola <strong>de</strong> Enfermagem Alfredo Pinto 133 .<<strong>br</strong> />
Num contexto social <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias, a primeira escola para formação dos<<strong>br</strong> />
profissionais <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> surgiu em face <strong>da</strong> mobilização política <strong>da</strong> classe<<strong>br</strong> />
médica e <strong>da</strong> elite, para <strong>de</strong>rrotar o po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> Igreja, representado pelas irmãs <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
cari<strong>da</strong><strong>de</strong>, que <strong>de</strong>tinham autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> instituição hospitalar.<<strong>br</strong> />
Além <strong>de</strong> justificar a criação <strong>da</strong> escola para o preparo <strong>de</strong> pessoal qualificado<<strong>br</strong> />
para as funções <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, essa idéia também foi sugeri<strong>da</strong> como solução para<<strong>br</strong> />
o contingente <strong>de</strong> meninas e mulheres manti<strong>da</strong>s em orfanatos do Estado e pela<<strong>br</strong> />
filantropia. Esse aspecto po<strong>de</strong> ser observado <strong>no</strong>s comentários <strong>de</strong> José Cesário <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Faria Alvin, em sua justificativa para criação <strong>da</strong> escola, ao apontar <strong>no</strong>vos horizontes<<strong>br</strong> />
à mão <strong>de</strong> o<strong>br</strong>a feminina 134 .<<strong>br</strong> />
Apesar <strong>de</strong> o Decreto 791/1890 representar um marco histórico para a<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil, é claro o seu enfoque prioritariamente biologicista, permeado<<strong>br</strong> />
por currículo exclusivamente voltado para a assistência hospitalar, com aulas<<strong>br</strong> />
ministra<strong>da</strong>s por professores médicos do hospital, formando profissionais voltados<<strong>br</strong> />
para prestar a assistência: o cui<strong>da</strong>do com o doente e a integração <strong>no</strong> serviço.<<strong>br</strong> />
131 ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS JURÍDICAS. Op. cit. p.249.<<strong>br</strong> />
132 BRASIL. Decretos do Gover<strong>no</strong> Provisório <strong>da</strong> República dos Estados Unidos do Brasil. Crêa<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> Hospício <strong>de</strong> Alienados uma escola profissional <strong>de</strong> enfermeiros e enfermeiras. 9º fascículo. Rio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Janeiro: Imprensa Nacional, 1890.<<strong>br</strong> />
133 MOREIRA, A. A primeira escola <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. In: GEOVANINI, T. et al. História <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem: versões e interpretações. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Revinter, 2002.<<strong>br</strong> />
134 BRASIL. Op. cit. 1890.
46<<strong>br</strong> />
A seguir, foi assinado o Decreto 15.799, <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1922, que<<strong>br</strong> />
aprovou o regulamento do Hospital Geral <strong>de</strong> Assistência do Departamento Nacional<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública e a criação <strong>de</strong> outra escola <strong>de</strong> Enfermagem. Esse <strong>de</strong>creto<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>termina, em seu artigo 3º:<<strong>br</strong> />
Art. 3º. Annexo ao hospital funcionará a Escola <strong>de</strong> Enfermeiras do<<strong>br</strong> />
Departamento Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública. 135<<strong>br</strong> />
Essa escola, que, em 1926, passaria a chamar-se Escola <strong>de</strong> Enfermeiras<<strong>br</strong> />
Dona Anna Nery, é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a primeira escola <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> do País, <strong>de</strong>vido<<strong>br</strong> />
seu corpo docente ser constituído <strong>de</strong> enfermeiras.<<strong>br</strong> />
As atribuições <strong>da</strong> enfermeira diploma<strong>da</strong> estão <strong>de</strong>scritas <strong>no</strong> artigo 54º:<<strong>br</strong> />
Art. 54. A ella incumbirá a organização e distribuição dos serviços e<<strong>br</strong> />
cui<strong>da</strong>dos aos doentes, <strong>da</strong> cozinha dietética e <strong>da</strong> rouparia, cabendo-lhe a<<strong>br</strong> />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo bom an<strong>da</strong>mento <strong>de</strong>stes serviços.<<strong>br</strong> />
Os cui<strong>da</strong>dos aos doentes serão orientados pelos médicos-chefes cujas<<strong>br</strong> />
prescripções <strong>de</strong>verão ser rigorosamente cumpri<strong>da</strong>s. 136<<strong>br</strong> />
Esse artigo <strong>de</strong>ixa transparecer as questões <strong>de</strong> gênero que sempre estiveram<<strong>br</strong> />
presentes <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, outorgando-lhe tarefas do papel<<strong>br</strong> />
femini<strong>no</strong> na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>: a administração doméstica <strong>no</strong> fórum hospitalar, ficando<<strong>br</strong> />
responsável pelos serviços <strong>de</strong> hotelaria, e a subserviência ao médico, <strong>de</strong>tentor do<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>r e representante do sexo masculi<strong>no</strong>.<<strong>br</strong> />
As enfermeiras diploma<strong>da</strong>s seriam as auxiliares superinten<strong>de</strong>ntes, como<<strong>br</strong> />
enfermeiras chefe, <strong>de</strong><strong>no</strong>minação que perdurou na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> até fins do século XX.<<strong>br</strong> />
Outro <strong>da</strong>do pertinente é o que traz o artigo 56º:<<strong>br</strong> />
Art. 56. Affecto ao serviço <strong>da</strong>s alumnas <strong>da</strong> Escola <strong>de</strong> Enfermeiras o Hospital<<strong>br</strong> />
terá enfermeiras na proporção ao numero <strong>de</strong> alumnas e à capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>llas.<<strong>br</strong> />
Paragrapho único. Nessas enfermarias todo o serviço <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> ficará<<strong>br</strong> />
a cargo <strong>da</strong>s alumnas. 137<<strong>br</strong> />
135 BRASIL. Decreto-lei 15.799/22, <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1922. Approva o Regulamento do Hospital<<strong>br</strong> />
Geral <strong>de</strong> Assistência do Departamento Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública. Diário Oficial <strong>da</strong> Republica<<strong>br</strong> />
Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, 14 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1922.<<strong>br</strong> />
136 BRASIL. Decreto-lei 15.799/22, <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1922. Op. cit.<<strong>br</strong> />
137<<strong>br</strong> />
I<strong>de</strong>m.
47<<strong>br</strong> />
Esse artigo <strong>de</strong>lega às alunas <strong>da</strong> Escola todo o serviço <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
enfermarias, as quais eram utiliza<strong>da</strong>s como local <strong>de</strong> aprendizado. A falta <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>o<strong>br</strong>a<<strong>br</strong> />
na área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> explica esse artigo, pois se utilizava o serviço <strong>da</strong>s aprendizes<<strong>br</strong> />
para suprir a escassez <strong>de</strong> profissionais qualificados ao serviço.<<strong>br</strong> />
Assim, a legislação <strong>de</strong>ssa escola <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> era o reflexo do interesse<<strong>br</strong> />
do gover<strong>no</strong> <strong>da</strong>quela época: a formação <strong>de</strong> profissionais qualificados para as práticas<<strong>br</strong> />
do cui<strong>da</strong>do; a utilização <strong>da</strong>s alunas para suprir o défice <strong>de</strong>sses profissionais; a<<strong>br</strong> />
imposição dos preceitos <strong>de</strong> administradora domiciliar; e a subserviência médica.<<strong>br</strong> />
Por meio do Decreto 16.300, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1923, aprovou-se o<<strong>br</strong> />
regulamento do Departamento Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública, <strong>de</strong>terminando:<<strong>br</strong> />
Art. 221. A fiscalização do exercício profissional dos médicos,<<strong>br</strong> />
pharmaceuticos, <strong>de</strong>ntistas, parteiras, massagistas, enfermeiros e<<strong>br</strong> />
optometristas será exerci<strong>da</strong> pelo Departamento <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública, por<<strong>br</strong> />
intermédio <strong>da</strong> Inspetoria <strong>de</strong> Fiscalização do exercício <strong>da</strong> Medicina. 138<<strong>br</strong> />
Transparece, nesse artigo, a hegemonia do po<strong>de</strong>r médico <strong>de</strong>ssa época,<<strong>br</strong> />
ficando sob sua fiscalização o exercício profissional <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as categorias <strong>da</strong> área<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> saú<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
O Decreto continua regulamentando a Escola <strong>de</strong> Enfermeiras, enunciando o<<strong>br</strong> />
objetivo <strong>da</strong> escola na formação <strong>de</strong> enfermeiras profissionais, atribuições <strong>da</strong> chefia,<<strong>br</strong> />
estruturação do curso, composição do corpo docente, matrículas e exames.<<strong>br</strong> />
Ressaltam-se, <strong>de</strong>ntre os requisitos para matrícula:<<strong>br</strong> />
Art. 411. e. attestado <strong>de</strong> boa conducta, passado pelas autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s policiaes<<strong>br</strong> />
competentes ou por duas pessoas idoneas, a juízo <strong>da</strong> directora <strong>da</strong> escola e<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> superinten<strong>de</strong>nte geral do Serviço <strong>de</strong> Enfermeiras;<<strong>br</strong> />
f. Diploma <strong>de</strong> escola <strong>no</strong>rmal, ou documento, que prove ter instrucção<<strong>br</strong> />
secun<strong>da</strong>ria bastante, a criterio <strong>da</strong> directora, po<strong>de</strong>ndo na hypotese <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
recusa, ser levado o facto á <strong>de</strong>cisão do Director Geral do Departamento. 139<<strong>br</strong> />
A exigência do diploma <strong>de</strong> escola <strong>no</strong>rmal ou <strong>de</strong> instrução secundária<<strong>br</strong> />
caracteriza o esforço <strong>de</strong> transformar o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> nível<<strong>br</strong> />
superior. Entretanto, a aspiração <strong>da</strong>s enfermeiras <strong>no</strong>rte-americanas que fun<strong>da</strong>ram<<strong>br</strong> />
138 BRASIL. Decreto 16.300, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1923. Approva o regulamento do Departamento<<strong>br</strong> />
Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública. Diário Oficial <strong>da</strong> Republica Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, 1º<<strong>br</strong> />
fev. <strong>de</strong> 1924.<<strong>br</strong> />
139 BRASIL. Decreto 16.300, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1923. Op. cit.
48<<strong>br</strong> />
essa escola seria plenamente alcança<strong>da</strong> em 1961, <strong>de</strong>vido ao défice <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
secun<strong>da</strong>ristas na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira.<<strong>br</strong> />
O requisito do atestado <strong>de</strong> boa conduta mostra claramente a influência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Florence Nightingale nas enfermeiras <strong>no</strong>rte-americanas e <strong>de</strong>ixa transparecer a sua<<strong>br</strong> />
contribuição na elaboração do texto do <strong>de</strong>creto. To<strong>da</strong>via, parece compreensível que,<<strong>br</strong> />
ao fun<strong>da</strong>mentar o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> profissão <strong>no</strong> País, a intenção tenha sido transformar o<<strong>br</strong> />
estereótipo que a <strong>enfermagem</strong> tinha na época, <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> conduta duvidosa.<<strong>br</strong> />
2.1 EXERCÍCIO PROFISSIONAL – DECRETO 20.109/31<<strong>br</strong> />
A primeira legislação que regulamentou o exercício <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil<<strong>br</strong> />
foi o Decreto 20.109, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1931. Como justificativa do <strong>de</strong>creto tem-se:<<strong>br</strong> />
Consi<strong>de</strong>rando que a <strong>enfermagem</strong> é uma <strong>da</strong>s mais <strong>no</strong><strong>br</strong>es profissões às<<strong>br</strong> />
quais possa aspirar à ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> humana;<<strong>br</strong> />
Consi<strong>de</strong>rando que os seus benefícios resultam não só dos cui<strong>da</strong>dos<<strong>br</strong> />
ministrados aos doentes em domicílio ou <strong>no</strong>s hospitais, mas também <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
ação preventiva conjuntamente exerci<strong>da</strong> pela enfermeira <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública;<<strong>br</strong> />
Consi<strong>de</strong>rando que, para o exercício <strong>de</strong>ssa profissão, se vai exigindo <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
povos mais adiantados um preparo técnico ca<strong>da</strong> vez mais <strong>de</strong>senvolvido,<<strong>br</strong> />
outorgando-se mesmo às escolas que administram esse preparo as regalias<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> escolas superiores; [...]. 140<<strong>br</strong> />
O estabelecimento <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> como <strong>no</strong><strong>br</strong>e profissão <strong>de</strong>monstra<<strong>br</strong> />
mu<strong>da</strong>nças nas concepções acerca <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, inicia<strong>da</strong>s com a fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
escola Anna Nery, <strong>de</strong>monstrando que os esforços <strong>da</strong>s enfermeiras <strong>no</strong>rte-americanas<<strong>br</strong> />
surtiram efeito. Entretanto, essas mu<strong>da</strong>nças iniciaram-se <strong>no</strong>s gran<strong>de</strong>s centros<<strong>br</strong> />
urba<strong>no</strong>s, on<strong>de</strong> foram fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s as primeiras escolas. No restante do País, as<<strong>br</strong> />
concepções negativas percorreram tempo cro<strong>no</strong>lógico maior, <strong>de</strong>terminando, em<<strong>br</strong> />
conjunto com o numero reduzido <strong>de</strong> secun<strong>da</strong>ristas <strong>no</strong> País, obstáculos à expansão<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> como profissão na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1920.<<strong>br</strong> />
O reconhecimento <strong>da</strong> formação <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em nível superior <strong>de</strong>monstra<<strong>br</strong> />
o prestígio que a categoria <strong>de</strong>tinha nessa época <strong>no</strong> po<strong>de</strong>r governamental, já que<<strong>br</strong> />
essa formação estava restrita a peque<strong>no</strong> número <strong>de</strong> profissões.<<strong>br</strong> />
140 BRASIL. Decreto-lei 20.109, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1931. Regula o exercício <strong>da</strong> Enfermagem <strong>no</strong> Brasil<<strong>br</strong> />
e fixa as condições para a equiparação <strong>da</strong>s Escolas <strong>de</strong> Enfermagem e Instruções Relativas ao<<strong>br</strong> />
Processo <strong>de</strong> Exame para Revali<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> Diplomas. Diário Oficial <strong>da</strong> Republica Fe<strong>de</strong>rativa do<<strong>br</strong> />
Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, 28 jun. 1931.
49<<strong>br</strong> />
O <strong>de</strong>staque à ação preventiva, como sendo <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>lata o interesse do gover<strong>no</strong> nas ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, visto que ela foi o maior<<strong>br</strong> />
mercado empregador até a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1940. Também, mostra, mais uma vez, o<<strong>br</strong> />
antagonismo que permeou a instituição <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> como profissão, já que o<<strong>br</strong> />
currículo <strong>da</strong> Escola Anna Nery era direcionado para o cui<strong>da</strong>do hospitalar.<<strong>br</strong> />
A justificativa do Decreto 20.109/31 retrata também o po<strong>de</strong>r <strong>da</strong>s enfermeiras<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>rte-americanas que fun<strong>da</strong>ram a Escola Anna Nery, pois esse <strong>de</strong>creto<<strong>br</strong> />
sacramentaliza essa escola como padrão a ser seguido pelas <strong>de</strong>mais instituições <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
ensi<strong>no</strong> <strong>no</strong> País.<<strong>br</strong> />
Art. 2º - A Escola <strong>de</strong> Enfermeiras Anna Nery, do Departamento Nacional <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Saú<strong>de</strong> Pública, será consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a Escola oficial padrão. 141<<strong>br</strong> />
Esse <strong>de</strong>creto dispõe so<strong>br</strong>e a titulação <strong>de</strong> enfermeira diploma<strong>da</strong> a profissionais<<strong>br</strong> />
formados por escolas oficiais ou equipara<strong>da</strong>s, na forma <strong>de</strong>ssa lei, e aos diplomados<<strong>br</strong> />
por escolas estrangeiras reconheci<strong>da</strong>s <strong>no</strong> País, por meio <strong>de</strong> habilitação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> banca examinadora, presidi<strong>da</strong> pela diretoria <strong>da</strong> escola Anna<<strong>br</strong> />
Nery. Regulamenta a equiparação <strong>de</strong> instituições <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> com essa escola,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>screvendo os requisitos básicos e a formação <strong>da</strong> banca examinadora para tal<<strong>br</strong> />
equiparação e regulamentando o reconhecimento dos diplomas por escolas<<strong>br</strong> />
estrangeiras.<<strong>br</strong> />
Apesar <strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a primeira lei do exercício profissional, o texto <strong>de</strong>la<<strong>br</strong> />
não <strong>de</strong>screve as categorias <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> nem as atribuições do<<strong>br</strong> />
profissional, <strong>de</strong>ixando a lacuna dos direitos e <strong>de</strong>veres <strong>de</strong>le na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira.<<strong>br</strong> />
O foco do <strong>de</strong>creto foi a oficialização do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em nível superior e a<<strong>br</strong> />
constituição <strong>da</strong> escola padrão, <strong>de</strong>terminando o controle do ensi<strong>no</strong> para as<<strong>br</strong> />
enfermeiras <strong>no</strong>rte-americanas fun<strong>da</strong>doras <strong>da</strong> escola Anna Nery.<<strong>br</strong> />
Em 1949, foi criado o curso <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, pela Lei 775, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
agosto <strong>de</strong> 1949 142 . Em seu primeiro artigo, diz:<<strong>br</strong> />
141 BRASIL. Decreto-lei 20.109/31, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1931. Op. cit.<<strong>br</strong> />
142 BRASIL. Lei 775, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1949. Dispõe so<strong>br</strong>e o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> Enfermagem <strong>no</strong> Brasil e dá<<strong>br</strong> />
outras providências. Diário Oficial <strong>da</strong> República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, 13 ago.<<strong>br</strong> />
1949.
50<<strong>br</strong> />
Art. 1º O ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> compreen<strong>de</strong> dois cursos ordinários:<<strong>br</strong> />
a) curso <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
b) curso <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> [...].<<strong>br</strong> />
Essa lei formaliza a duração do curso <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em 36 meses e o <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
auxiliar <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em 18 meses. Dispõe so<strong>br</strong>e o reconhecimento <strong>de</strong> cursos <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
País e faz um evi<strong>de</strong>nte esforço para a expansão do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, ao<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>terminar a criação <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em ca<strong>da</strong> centro universitário ou<<strong>br</strong> />
se<strong>de</strong> <strong>de</strong> facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> medicina, que ministrasse os dois cursos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. O<<strong>br</strong> />
incentivo ao aumento <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> é revelado <strong>no</strong> seguinte texto:<<strong>br</strong> />
Art. 23. O po<strong>de</strong>r executivo subvencionará to<strong>da</strong>s as escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
que vierem a ser fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>no</strong> país e diligenciará <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> ampliar o<<strong>br</strong> />
amparo financeiro concedido às escolas já existentes.<<strong>br</strong> />
Esse artigo <strong>de</strong>monstra o interesse governamental e do mercado <strong>de</strong> trabalho<<strong>br</strong> />
em expandir o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e, conseqüentemente, o número <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
profissionais atuantes <strong>no</strong> País, que, quantitativamente, não acompanharam o<<strong>br</strong> />
aumento <strong>de</strong> instituições hospitalares <strong>no</strong> Brasil, a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1940.<<strong>br</strong> />
Esta lei, porém, não <strong>no</strong>rmatiza o ensi<strong>no</strong> nem as atribuições <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> categoria,<<strong>br</strong> />
lacuna que foi preenchi<strong>da</strong> pela publicação do Decreto 27.426, <strong>de</strong> 1949, que aprova o<<strong>br</strong> />
regulamento básico para os cursos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> 143 .<<strong>br</strong> />
Art. 1º O “Curso <strong>de</strong> Enfermagem” tem por finali<strong>da</strong><strong>de</strong> a formação profissional<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> enfermeiros, mediante ensi<strong>no</strong> em cursos ordinários e <strong>de</strong> especialização,<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>s quais serão incluídos os aspectos preventivos e curativos <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Art. 2º O “Curso <strong>de</strong> Auxiliar <strong>de</strong> Enfermagem” tem por objetivo o<<strong>br</strong> />
a<strong>de</strong>stramento <strong>de</strong> pessoal capaz <strong>de</strong> auxiliar o enfermeiro em suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> assistência curativa.<<strong>br</strong> />
Ao direcionar as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do auxiliar <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> para as práticas<<strong>br</strong> />
curativas, o <strong>de</strong>creto revela o interesse <strong>de</strong> vários setores: do setor privado, que<<strong>br</strong> />
visava à formação <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a barata, para diminuir o emprego <strong>de</strong> enfermeiras<<strong>br</strong> />
diploma<strong>da</strong>s; <strong>da</strong> classe médica, que necessitava <strong>de</strong> maior número <strong>de</strong> auxiliares para<<strong>br</strong> />
o tratamento terapêutico, <strong>de</strong>vido ao aumento <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos procedimentos;<<strong>br</strong> />
143 BRASIL. Decreto 27.426, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1949. Aprova o Regulamento Básico para os<<strong>br</strong> />
Cursos <strong>de</strong> Enfermagem e <strong>de</strong> Auxiliar <strong>de</strong> Enfermagem. Diário Oficial <strong>da</strong> República Fe<strong>de</strong>rativa do<<strong>br</strong> />
Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, 21 <strong>no</strong>v. 1949.
51<<strong>br</strong> />
para a enfermeira, também foi interessante, pois, <strong>de</strong>vido ao défice <strong>de</strong> profissionais,<<strong>br</strong> />
ela po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>legar funções a pessoal mais bem preparado do que o aten<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, <strong>no</strong>rteando suas ações para a administração, supervisão e ensi<strong>no</strong> que<<strong>br</strong> />
lhe eram atribuí<strong>da</strong>s.<<strong>br</strong> />
2.2 EXERCÍCIO PROFISSIONAL – LEI 2.604/55<<strong>br</strong> />
A segun<strong>da</strong> lei do exercício profissional <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil surgiu em 17<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> setem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1955, a Lei 2.604/55. Diferentemente <strong>da</strong> lei <strong>de</strong> 1931, ela <strong>de</strong>screve<<strong>br</strong> />
as atribuições dos profissionais <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, discorrendo so<strong>br</strong>e seis<<strong>br</strong> />
categorizações existentes na <strong>enfermagem</strong> na época vigente:<<strong>br</strong> />
Art. 2º Po<strong>de</strong>rão exercer a <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> país:<<strong>br</strong> />
1) Na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> enfermeiro:<<strong>br</strong> />
a) os possuidores <strong>de</strong> diploma expedido <strong>no</strong> Brasil, por escolas oficiais<<strong>br</strong> />
ou reconheci<strong>da</strong>s pelo Govêr<strong>no</strong> fe<strong>de</strong>ral, <strong>no</strong>s têrmos <strong>da</strong> lei nº 775, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1949;<<strong>br</strong> />
b) os diplomas por escolas estrangeiras reconheci<strong>da</strong>s pelas leis <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
seu país e que revali<strong>de</strong>m seus diplomas <strong>de</strong> acordo com a<<strong>br</strong> />
legislação em vigor;<<strong>br</strong> />
c) os portadores <strong>de</strong> diplomas <strong>de</strong> enfermeiros, expedidos pelas<<strong>br</strong> />
escolas e cursos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>da</strong>s fôrças arma<strong>da</strong>s nacionais e<<strong>br</strong> />
fôrças militariza<strong>da</strong>s, que estejam habilita<strong>da</strong>s mediante aprovação<<strong>br</strong> />
naquelas disciplinas, do currículo estabelecido na lei nº 775, <strong>de</strong> 6<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1949, que requererem o registro do diploma na<<strong>br</strong> />
Diretoria <strong>de</strong> Ensi<strong>no</strong> Superior do Ministério <strong>da</strong> Educação e Cultura.<<strong>br</strong> />
2) Na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> obstetriz:<<strong>br</strong> />
a) os possuidores <strong>de</strong> diploma expedido <strong>no</strong> Brasil, por escolas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
obstetrizes oficiais ou reconheci<strong>da</strong>s pelo Govêr<strong>no</strong> Fe<strong>de</strong>ral, <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
termos <strong>da</strong> Lei nº 775, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1949;<<strong>br</strong> />
b) os diplomados por escolas <strong>de</strong> obstetrizes estrangeiras<<strong>br</strong> />
reconheci<strong>da</strong>s pelas leis do país <strong>de</strong> origem e que revali<strong>da</strong>ram seus<<strong>br</strong> />
diplomas <strong>de</strong> acordo com a legislação em vigor.<<strong>br</strong> />
3) Na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, os portadores <strong>de</strong> certificados<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, conferidos por escola oficial ou<<strong>br</strong> />
reconheci<strong>da</strong> <strong>no</strong>s têrmos <strong>da</strong> Lei nº 775, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1949, e os<<strong>br</strong> />
diplomados pelas escolas e cursos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>da</strong>s fôrças<<strong>br</strong> />
arma<strong>da</strong>s nacionais e fôrças militariza<strong>da</strong>s que não se acham incluídos<<strong>br</strong> />
na letra c do item I do art, 2º <strong>da</strong> presente Lei.<<strong>br</strong> />
4) Na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> parteira, os portadores <strong>de</strong> certificado <strong>de</strong> parteira,<<strong>br</strong> />
conferido por escola oficial ou reconheci<strong>da</strong> pelo Govêr<strong>no</strong> fe<strong>de</strong>ral, <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
termos <strong>da</strong> Lei 775, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1949
52<<strong>br</strong> />
5) Na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> enfermeiros práticos ou práticos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>:<<strong>br</strong> />
a) os enfermeiros práticos amparados pelo Decreto nº 23.774, <strong>de</strong> 11<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1934;<<strong>br</strong> />
b) as religiosas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ampara<strong>da</strong>s pelo Decreto nº 22.257,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1932;<<strong>br</strong> />
c) os portadores <strong>de</strong> certidão <strong>de</strong> inscrição, conferi<strong>da</strong> após exame <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
que trata o Decreto-Lei nº 8.778, <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1946.<<strong>br</strong> />
6) Na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> parteiras práticas, os portadores <strong>de</strong> certidão <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
inscrição conferi<strong>da</strong> após exame <strong>de</strong> que trata o Decreto-Lei nº 8.778, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
22 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1946. 144<<strong>br</strong> />
Esse artigo <strong>de</strong>monstra como estava constituí<strong>da</strong> a equipe <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> na<<strong>br</strong> />
época. Categorias foram manti<strong>da</strong>s, como a <strong>de</strong> enfermeiro, obstetriz e auxiliar <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. Para outras, como enfermeiros práticos e parteiras práticas, a lei fixou<<strong>br</strong> />
prazo para a sua <strong>de</strong>scontinui<strong>da</strong><strong>de</strong>, revogando os Decretos 23.774 e 22.257, que<<strong>br</strong> />
amparavam legalmente essas categorias, reconhecendo os portadores <strong>de</strong>sses<<strong>br</strong> />
certificados até a <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> publicação <strong>de</strong>ssa lei.<<strong>br</strong> />
Da<strong>da</strong> essa complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> categorias em uma profissão, consi<strong>de</strong>ra-se<<strong>br</strong> />
necessário especificar as funções atribuí<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>las, o que está<<strong>br</strong> />
regulamentado na Lei 2.604/55, em seu artigo 3º:<<strong>br</strong> />
Art. 3º São atribuições dos enfermeiros, além do exercício <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>:<<strong>br</strong> />
a) direção dos serviços <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong>s estabelecimentos hospitalares<<strong>br</strong> />
e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, <strong>de</strong> acordo com o art. 21 <strong>da</strong> Lei n/ 775, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> agosto<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> 1949;<<strong>br</strong> />
b) participação do ensi<strong>no</strong> em escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>;<<strong>br</strong> />
c) direção <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>;<<strong>br</strong> />
d) participação nas bancas examinadoras <strong>de</strong> práticos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. 145<<strong>br</strong> />
Ao especificar as atribuições dos enfermeiros “além do exercício <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>”, a lei não <strong>de</strong>termina quais seriam essas funções preconcebi<strong>da</strong>s. O<<strong>br</strong> />
trabalho manual, <strong>de</strong> execução <strong>da</strong>s técnicas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, não retrataria o<<strong>br</strong> />
‘exercício <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>’ <strong>de</strong>scrito na lei? Se assim o era, refletia ele a expectativa<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> frente à enfermeira?<<strong>br</strong> />
Apesar <strong>da</strong> frase ressalta<strong>da</strong>, o texto <strong>da</strong> lei <strong>de</strong>screve claramente as funções <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
chefia, administração e <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> para a enfermeira. A ela caberia prioritariamente a<<strong>br</strong> />
li<strong>de</strong>rança, a condução do serviço <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
144 BRASIL. Lei 2.604, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> setem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1955. Regula o Exercício <strong>da</strong> Enfermagem Profissional.<<strong>br</strong> />
Diário Oficial <strong>da</strong> República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, 21 set. 1955.<<strong>br</strong> />
145 BRASIL. Lei 2.604, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> setem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1955. Op. cit.
53<<strong>br</strong> />
To<strong>da</strong>via, o cui<strong>da</strong>do direto expresso pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong> como função do<<strong>br</strong> />
enfermeiro não era assim interpretado nem permeava o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Com fun<strong>da</strong>mento <strong>no</strong> preceito <strong>da</strong> divisão social do trabalho, o foco <strong>da</strong> formação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sses profissionais era a administração e gerência do cui<strong>da</strong>do, conforme<<strong>br</strong> />
especificado na lei.<<strong>br</strong> />
Contudo, <strong>no</strong> artigo 5º, essa mesma lei reforça a divisão social do trabalho na<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>:<<strong>br</strong> />
Art. 5 ° São atribuições dos auxiliares <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, enfermeiros práticos<<strong>br</strong> />
e práticos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> profissão, excluí<strong>da</strong>s as<<strong>br</strong> />
constantes <strong>no</strong>s itens do art. 3º sempre sob orientação médica ou <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermeiro. 146<<strong>br</strong> />
Na análise <strong>da</strong>s atribuições do enfermeiro e do auxiliar e prático <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, transcritas na lei, percebem-se os preceitos <strong>da</strong> divisão social do<<strong>br</strong> />
trabalho <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>: intelectual X manual. Assim, <strong>de</strong>marcavam-se as funções<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> categoria: à enfermeira, a administração e o ensi<strong>no</strong> e ao pessoal auxiliar<<strong>br</strong> />
caberiam “to<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> profissão”.<<strong>br</strong> />
Essa lei regulamentou o exercício profissional até 1986, quando a legislação<<strong>br</strong> />
do exercício profissional foi atualiza<strong>da</strong>, portanto, o período aqui estu<strong>da</strong>do foi<<strong>br</strong> />
regulamentado pela Lei 2.604, <strong>de</strong> 1955.<<strong>br</strong> />
Com as atribuições <strong>da</strong> enfermeira claramente <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s na administração,<<strong>br</strong> />
li<strong>de</strong>rança e <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, regulamenta<strong>da</strong>s tanto na lei do<<strong>br</strong> />
exercício profissional como <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong>, surgiu na literatura <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>br</strong>asileira,<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960, o planejamento <strong>da</strong> assistência presta<strong>da</strong> ao indivíduo, a<<strong>br</strong> />
utilização <strong>de</strong> um método científico que permitisse a valorização profissional <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
mercado capitalista.<<strong>br</strong> />
Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, esses <strong>no</strong>vos conceitos <strong>no</strong>rtearam um <strong>no</strong>vo paradigma<<strong>br</strong> />
profissional, quando o trabalho manual passou a ser valorizado e co<strong>br</strong>ado pela elite<<strong>br</strong> />
intelectual <strong>da</strong> categoria.<<strong>br</strong> />
Assim, a enfermeira dos a<strong>no</strong>s 1960 viu-se pressiona<strong>da</strong> por co<strong>br</strong>anças<<strong>br</strong> />
contraditórias <strong>da</strong> aca<strong>de</strong>mia, do mercado <strong>de</strong> trabalho e <strong>da</strong> lei do exercício<<strong>br</strong> />
profissional. De um lado, o ensi<strong>no</strong> sofreu mu<strong>da</strong>nça radical, preconizando, <strong>de</strong>ntre<<strong>br</strong> />
suas atribuições, o planejamento do cui<strong>da</strong>do prestado, em dicotomia com a<<strong>br</strong> />
146 BRASIL. Lei 2.604/55, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> setem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1955. Op. cit.
54<<strong>br</strong> />
legislação profissional, que <strong>de</strong>finia como suas atribuições a administração,<<strong>br</strong> />
supervisão e ensi<strong>no</strong>. To<strong>da</strong>via, num paradoxo, o ensi<strong>no</strong> continuava formando para a<<strong>br</strong> />
administração, supervisão e a docência, perpetuando o mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong>s ladies-nurses,<<strong>br</strong> />
em dissonância do discurso do cui<strong>da</strong>do direto.<<strong>br</strong> />
Nessa mesma déca<strong>da</strong>, o gover<strong>no</strong> militar, pressionado pelo mercado <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
trabalho em conjunto com a pressão popular por mais vagas universitárias, instituiu<<strong>br</strong> />
os cursos profissionalizantes, incluindo o curso técnico em <strong>enfermagem</strong>. Esse curso<<strong>br</strong> />
profissionalizante iniciou na escola Anna Nery, por meio do Parecer 171/66 147 , que<<strong>br</strong> />
aprovava a instituição do curso Técnico <strong>de</strong> Enfermagem <strong>de</strong> nível médio e ciclo<<strong>br</strong> />
colegial, incluindo mais uma categoria na equipe. Esse documento <strong>de</strong>screve as<<strong>br</strong> />
disciplinas que seriam ministra<strong>da</strong>s, bem como as áreas <strong>de</strong> estágios, como médica,<<strong>br</strong> />
cirúrgica, psiquiátrica e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, <strong>de</strong>ntre outras.<<strong>br</strong> />
Esse parecer contém a mesma lacuna <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong> pela legislação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> em a<strong>no</strong>s anteriores, ou seja, a in<strong>de</strong>finição <strong>da</strong>s atribuições<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sempenha<strong>da</strong>s por essa <strong>no</strong>va categoria, na equipe <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. O que se<<strong>br</strong> />
percebe, na análise <strong>de</strong>sses documentos, é a criação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas categorias, a fim <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
aumentar o número <strong>de</strong> profissionais <strong>no</strong> mercado a baixo custo, entretanto, sem<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> funções.<<strong>br</strong> />
Acrescenta-se a isso a existência <strong>de</strong> mais uma categoria, aten<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, que era composta por pessoas sem formação especializa<strong>da</strong>, cuja<<strong>br</strong> />
aprendizagem <strong>da</strong>s práticas do cui<strong>da</strong>do <strong>da</strong>va-se <strong>no</strong> serviço <strong>de</strong> forma empírica. Ela<<strong>br</strong> />
não era consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> categoria legaliza<strong>da</strong>, porém, correspondia à maioria <strong>da</strong> força <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
trabalho na <strong>enfermagem</strong>, até sua extinção, prevista na lei do exercício profissional<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> 1986.<<strong>br</strong> />
Esse contexto <strong>da</strong> não-<strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> funções correspon<strong>de</strong>ntes a ca<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
categoria na equipe <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>de</strong>ve ter contribuído para as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
encontra<strong>da</strong>s pela enfermeira na aplicação do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Se existia a<<strong>br</strong> />
clareza <strong>de</strong> que competia a ela a supervisão, administração e o ensi<strong>no</strong>, isso não<<strong>br</strong> />
acontecia na <strong>de</strong>legação <strong>da</strong>s tarefas a serem executa<strong>da</strong>s.<<strong>br</strong> />
Contudo, a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> aplicação <strong>de</strong> uma <strong>metodologia</strong> científica para<<strong>br</strong> />
prestar o cui<strong>da</strong>do <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> começou a ser introjeta<strong>da</strong> na categoria, com<<strong>br</strong> />
relatos <strong>de</strong> experiência <strong>da</strong> aplicação do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, a<strong>de</strong>quações e<<strong>br</strong> />
147 SANTOS et al. Legislação em Enfermagem: atos <strong>no</strong>rmativos do exercício e do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. São Paulo: Atheneu, 2002.
55<<strong>br</strong> />
exclusões <strong>de</strong> etapas <strong>de</strong>sse método, até a formulação <strong>de</strong> outras <strong>metodologia</strong>s por<<strong>br</strong> />
diversos autores. No início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, começaram os trabalhos <strong>da</strong> North<<strong>br</strong> />
American Diag<strong>no</strong>sis Association (NANDA), que <strong>de</strong>senvolveu a taxo<strong>no</strong>mia para o<<strong>br</strong> />
diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Esse caminhar culmi<strong>no</strong>u com a publicação <strong>da</strong> Lei 7.498, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
1986, que dispunha so<strong>br</strong>e a regulamentação do exercício profissional <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, coroando os esforços empreendidos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
1960.<<strong>br</strong> />
2.3 EXERCÍCIO PROFISSIONAL – LEI 7.498/86<<strong>br</strong> />
Depois <strong>de</strong> 11 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> esforço conjunto entre a Associação Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem (ABEn), o Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Enfermagem (COFEN) e os Conselhos<<strong>br</strong> />
Regionais <strong>de</strong> Enfermagem, os enfermeiros conseguiram a aprovação <strong>de</strong> Lei 7.498,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1986, que atualizava o exercício profissional <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, e do<<strong>br</strong> />
Decreto 94.406, <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1987, que regulamentava a Lei 7.498/86. Muitos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> seus artigos foram vetados, outras emen<strong>da</strong>s surgiram, entretanto, a categoria<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>rou um gran<strong>de</strong> avanço para o <strong>de</strong>senvolvimento profissional.<<strong>br</strong> />
No texto <strong>de</strong>ssa lei, a redução <strong>da</strong>s categorias na <strong>enfermagem</strong> reflete a<<strong>br</strong> />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional, pois algumas categorias que antes figuravam na lei <strong>de</strong> 1955<<strong>br</strong> />
tinham se extinguido (enfermeiros práticos e parteiras práticas), e foi cria<strong>da</strong> a <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
técnico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. A figura do aten<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, que não constava<<strong>br</strong> />
oficialmente na lei, mas figurava como participante <strong>da</strong>s práticas <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>do <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, foi extinta oficialmente, e conce<strong>de</strong>u-se prazo <strong>de</strong> <strong>de</strong>z a<strong>no</strong>s, a partir <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>da</strong>ta <strong>da</strong> publicação <strong>da</strong> lei, para que ele buscasse a qualificação.<<strong>br</strong> />
Art. 2º Parágrafo único. A <strong>enfermagem</strong> é exerci<strong>da</strong> privativamente pelo<<strong>br</strong> />
Enfermeiro, pelo Técnico <strong>de</strong> Enfermagem, pelo Auxiliar <strong>de</strong> Enfermagem e<<strong>br</strong> />
pela Parteira, respeitados os respectivos graus <strong>de</strong> habilitação. 148<<strong>br</strong> />
O texto <strong>da</strong> lei regulamenta, como atribuições do enfermeiro:<<strong>br</strong> />
148 BRASIL. Lei 7.498, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1986. Dispõe so<strong>br</strong>e a Regulamentação do Exercício <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem e Dá Outras Providências. Diário Oficial <strong>da</strong> República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, Brasília,<<strong>br</strong> />
DF, 30 jun. 1986.
56<<strong>br</strong> />
Art. 10º. O <strong>de</strong>sempenho <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> constitui o objeto <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
profissão liberal <strong>de</strong> enfermeiro, ao qual é assegura<strong>da</strong> auto<strong>no</strong>mia técnica <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
planejamento, organização, execução e avaliação dos serviços <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Art. 11º O enfermeiro exerce to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, cabendolhe:<<strong>br</strong> />
1) Privativamente:<<strong>br</strong> />
a) direção do órgão <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> integrante <strong>da</strong> estrutura básica <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Instituição <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública ou priva<strong>da</strong>, e chefia <strong>de</strong> serviço e <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>;<<strong>br</strong> />
b) Organização e direção <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e <strong>de</strong> suas<<strong>br</strong> />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras <strong>de</strong>sses<<strong>br</strong> />
serviços;<<strong>br</strong> />
c) Planejamento, organização, coor<strong>de</strong>nação, execução e avaliação<<strong>br</strong> />
dos serviços <strong>de</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>;<<strong>br</strong> />
d) VETADO<<strong>br</strong> />
e) VETADO<<strong>br</strong> />
f) VETADO<<strong>br</strong> />
g) VETADO<<strong>br</strong> />
h) Consultoria, auditoria e emissão <strong>de</strong> parecer so<strong>br</strong>e matéria <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>;<<strong>br</strong> />
i) Consulta <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>;<<strong>br</strong> />
j) Prescrição <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>;<<strong>br</strong> />
l) Cui<strong>da</strong>dos diretos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> a pacientes graves com risco <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
vi<strong>da</strong>;<<strong>br</strong> />
m) Cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>de</strong> maior complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> técnica e que<<strong>br</strong> />
exijam conhecimento <strong>de</strong> base científica e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tomar<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>cisões imediatas; [...]. 149<<strong>br</strong> />
Nesse artigo, as atribuições <strong>de</strong> administração e supervisão <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> permanecem, <strong>da</strong>ndo continui<strong>da</strong><strong>de</strong> às atribuições <strong>de</strong>lega<strong>da</strong>s à<<strong>br</strong> />
enfermeira, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a implantação <strong>da</strong> profissão <strong>no</strong> Brasil.<<strong>br</strong> />
To<strong>da</strong>via, algumas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> administração <strong>de</strong>senvolveram-se e outras<<strong>br</strong> />
foram cria<strong>da</strong>s, <strong>no</strong> período compreendido entre as duas leis do exercício profissional,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> 1955 e 1986, como consultoria, auditoria e emissão <strong>de</strong> pareceres, que, já na<<strong>br</strong> />
déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, figuravam <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> trabalho dos enfermeiros, advin<strong>da</strong>s <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos seguros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e medicina <strong>de</strong> grupo <strong>de</strong> fiscalizar as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
presta<strong>da</strong>s a essas instituições.<<strong>br</strong> />
A regulamentação <strong>da</strong> prescrição <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e a consulta <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, que foi conquista <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> e é <strong>de</strong> interesse do presente estudo,<<strong>br</strong> />
coroa a trajetória <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> inicia<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> 1960, <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> com esforços, reflexões, críticas e indiferenças, com a<<strong>br</strong> />
inclusão <strong>da</strong> sistematização <strong>da</strong> assistência nessa lei. A aprovação <strong>de</strong>sses<<strong>br</strong> />
149 BRASIL. Lei 7.498, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1986. Dispõe so<strong>br</strong>e a Regulamentação do Exercício <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem e Dá Outras Providências. Diário Oficial <strong>da</strong> República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, Brasília,<<strong>br</strong> />
DF, 30 jun. 1986.
57<<strong>br</strong> />
instrumentos retratou o reconhecimento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
implantação do método científico <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> trabalho do enfermeiro.<<strong>br</strong> />
Prossegue o artigo, agora <strong>de</strong>terminando as funções <strong>da</strong> enfermeira na equipe<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>:<<strong>br</strong> />
2) Como integrante <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>:<<strong>br</strong> />
a) participação <strong>no</strong> planejamento, execução e avaliação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
programação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<<strong>br</strong> />
b) participação na elaboração, execução e avaliação dos pla<strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
assistenciais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<<strong>br</strong> />
c) prescrição <strong>de</strong> medicamentos estabelecidos em programas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
saú<strong>de</strong> pública e em rotina aprova<strong>da</strong> pela instituição <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<<strong>br</strong> />
d) participação em projetos <strong>de</strong> construção ou reforma <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
internação;<<strong>br</strong> />
e) prevenção e controle sistemático <strong>da</strong> infecção hospitalar e <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
doenças transmissíveis em geral;<<strong>br</strong> />
f) prevenção e controle sistemático <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>no</strong>s que possam ser<<strong>br</strong> />
causados à clientela durante a assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>;<<strong>br</strong> />
g) assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> à gestante, parturiente e puérpera;<<strong>br</strong> />
h) acompanhamento <strong>da</strong> evolução e do trabalho <strong>de</strong> parto;<<strong>br</strong> />
i) execução <strong>de</strong> parto sem distócia;<<strong>br</strong> />
j) educação visando a melhoria <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> população; [...]. 150<<strong>br</strong> />
A participação <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> na elaboração e avaliação dos programas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
saú<strong>de</strong> já era reali<strong>da</strong><strong>de</strong> na prática assistencial. Mais uma vez, a lei vem a reboque <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
prática, conseqüentemente, regulamenta o que já acontece na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Também a participação <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> em programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> coletiva foi<<strong>br</strong> />
impulsiona<strong>da</strong> pela reforma sanitária, quando os profissionais <strong>da</strong> área redirecionaram<<strong>br</strong> />
a lógica <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para a prevenção <strong>de</strong> doenças, que tanto assolavam<<strong>br</strong> />
a população <strong>br</strong>asileira, e promoção <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Outra atribuição à enfermeira, que não aparecia na lei do exercício <strong>de</strong> 1955,<<strong>br</strong> />
era o controle <strong>de</strong> infecção hospitalar. Essa função também já era exerci<strong>da</strong> pelo<<strong>br</strong> />
enfermeiro, como integrante <strong>da</strong>s Comissões <strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Infecção Hospitalar, foco<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> atenção <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s e dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
A lei também <strong>de</strong>screve as atribuições do técnico e do auxiliar <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>:<<strong>br</strong> />
150 BRASIL. Lei 7.498, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1986. Op. cit.
58<<strong>br</strong> />
Art. 12º O Técnico <strong>de</strong> Enfermagem exerce ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> nível médio,<<strong>br</strong> />
envolvendo orientação e acompanhamento do trabalho <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em<<strong>br</strong> />
grau auxiliar, e participação do planejamento <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>:<<strong>br</strong> />
a) participar <strong>da</strong> programação <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>;<<strong>br</strong> />
b) executar ações assistenciais <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, exceto as privativas do<<strong>br</strong> />
enfermeiro, observado o disposto <strong>no</strong> parágrafo único do art. 11 <strong>de</strong>sta Lei;<<strong>br</strong> />
c) participar <strong>da</strong> orientação e supervisão do trabalho <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em<<strong>br</strong> />
grau auxiliar;<<strong>br</strong> />
d) participar <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Art. 13º O Auxiliar <strong>de</strong> Enfermagem exerce ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> nível médio, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
natureza repetitiva, envolvendo serviços auxiliares <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> sob<<strong>br</strong> />
supervisão, bem como a participação em nível <strong>de</strong> execução simples, em<<strong>br</strong> />
processos <strong>de</strong> tratamento, cabendo-lhe especialmente:<<strong>br</strong> />
a) observar, reconhecer e <strong>de</strong>screver sinais e sintomas;<<strong>br</strong> />
b) executar ações <strong>de</strong> tratamento simples;<<strong>br</strong> />
c) prestar cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> higiene e conforto do paciente;<<strong>br</strong> />
d) participar <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; [...]. 151<<strong>br</strong> />
A promulgação <strong>de</strong>sses artigos permitiu a <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong>s funções <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
categorias envolvi<strong>da</strong>s, que, até então, entrelaçavam-se, e isso dificultava a toma<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> por parte dos profissionais envolvidos.<<strong>br</strong> />
No entanto, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>ssas atribuições não foi, e ain<strong>da</strong> não é, consenso<<strong>br</strong> />
na categoria. Para Lorenzetti:<<strong>br</strong> />
A <strong>de</strong>finição <strong>da</strong>s atribuições <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um dos exercentes <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> é<<strong>br</strong> />
um dos pontos mais importantes <strong>da</strong> problemática atual e que i<strong>de</strong>ntificamos<<strong>br</strong> />
como polêmico, porque a versão final aprova<strong>da</strong> conta com enfermeiros que<<strong>br</strong> />
discor<strong>da</strong>m e têm uma forte oposição e indignação aos auxiliares <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. 152<<strong>br</strong> />
Essa insatisfação é reflexo do excessivo número <strong>de</strong> categorias numa mesma<<strong>br</strong> />
profissão, divisão ímpar entre as profissões liberais, acresci<strong>da</strong>s por interesses<<strong>br</strong> />
governamentais e do mercado <strong>de</strong> trabalho. Trata-se do gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio a ser<<strong>br</strong> />
enfrentado ain<strong>da</strong> pela categoria, ou seja, a a<strong>de</strong>quação e redução do número <strong>de</strong>ssas<<strong>br</strong> />
divisões contextualiza<strong>da</strong>s com as práticas do cui<strong>da</strong>do, <strong>no</strong>s dias <strong>de</strong> hoje.<<strong>br</strong> />
Apesar <strong>de</strong>ssa polêmica, a promulgação <strong>da</strong> lei foi um gran<strong>de</strong> avanço para a<<strong>br</strong> />
profissão <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, pois <strong>de</strong>limitou o campo <strong>de</strong> ação dos profissionais,<<strong>br</strong> />
impulsionando-os para a apropriação <strong>da</strong>s funções que lhe foram atribuí<strong>da</strong>s.<<strong>br</strong> />
151 BRASIL. Lei 7.498, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1986. Op. cit.<<strong>br</strong> />
152 LORENZETTI, J. A “<strong>no</strong>va” Lei do exercício profissional <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>: uma análise crítica. In:<<strong>br</strong> />
SANTOS et al. Legislação em Enfermagem: atos <strong>no</strong>rmativos do exercício e do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. São Paulo: Atheneu, 2002. p.317.
59<<strong>br</strong> />
No caso <strong>da</strong> execução <strong>da</strong> prescrição e <strong>da</strong> consulta <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, sua<<strong>br</strong> />
regulamentação reflete os esforços que a categoria já vinha <strong>de</strong>senvolvendo para<<strong>br</strong> />
obter a visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e a credibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sses instrumentos, mostrando à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> a<<strong>br</strong> />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do embasamento científico <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> trabalho do enfermeiro. A<<strong>br</strong> />
regulamentação na lei <strong>da</strong> execução <strong>da</strong> prescrição e <strong>da</strong> consulta <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> do<<strong>br</strong> />
exercício profissional <strong>de</strong>spertou a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apropriação <strong>de</strong>sses instrumentos<<strong>br</strong> />
por parte dos enfermeiros.<<strong>br</strong> />
Assim, as déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 1980 e 1990 caracterizaram-se por <strong>no</strong>vo impulso na<<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Esforços acadêmicos e na prática<<strong>br</strong> />
assistencial visaram à aplicação do diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e <strong>da</strong> sistematização<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> assistência presta<strong>da</strong>.<<strong>br</strong> />
Estudos <strong>no</strong> Brasil trouxeram o referencial <strong>de</strong> pesquisas internacionais, como a<<strong>br</strong> />
taxo<strong>no</strong>mia <strong>da</strong> North American Nurses Diag<strong>no</strong>sis Association (NANDA) e a<<strong>br</strong> />
Classificação Internacional <strong>da</strong> Prática <strong>de</strong> Enfermagem (CIPE), <strong>de</strong>ntre outras. A<<strong>br</strong> />
NANDA foi resultado <strong>de</strong> pesquisas <strong>no</strong>rte-americanas, que elaboraram uma<<strong>br</strong> />
taxo<strong>no</strong>mia para o diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, unificando termos e <strong>de</strong>terminando as<<strong>br</strong> />
características <strong>de</strong>finidoras e os fatores relacionados a ca<strong>da</strong> diagnóstico levantado.<<strong>br</strong> />
A primeira versão <strong>da</strong> CIPE surgiu em 1996, oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />
classificação internacional para <strong>de</strong>terminar as práticas <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> contexto<<strong>br</strong> />
mundial. A partir <strong>de</strong>ssa classificação, a ABEn Nacional, a pedido do Conselho<<strong>br</strong> />
Internacional <strong>de</strong> Enfermeiros, <strong>de</strong>senvolveu a Classificação Internacional <strong>da</strong> Prática<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Enfermagem em Saú<strong>de</strong> Coletiva (CIPESC).<<strong>br</strong> />
Os estudos para implementação <strong>de</strong>ssas duas e outras taxo<strong>no</strong>mias e<<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong>s para a sistematização <strong>da</strong> assistência buscam a<strong>de</strong>quar essas<<strong>br</strong> />
pesquisas internacionais ao contexto <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil. Percebe-se um<<strong>br</strong> />
movimento na contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong>, por parte <strong>da</strong> ABEn Nacional, para que sejam<<strong>br</strong> />
empenhados esforços para o <strong>de</strong>senvolvimento e a vali<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> CIPESC, por tratarse<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> uma taxo<strong>no</strong>mia <strong>br</strong>asileira e, portanto, a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do País.<<strong>br</strong> />
Dessa exposição, compreen<strong>de</strong>-se que a aprovação, na lei, <strong>da</strong> prescrição e <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
consulta <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> representou <strong>no</strong>vo impulso à <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência. Os<<strong>br</strong> />
profissionais, ao verem estampa<strong>da</strong>s em lei suas atribuições, sentiram-se<<strong>br</strong> />
responsabilizados pela busca <strong>de</strong> subsídios que fornecessem o referencial para sua<<strong>br</strong> />
implementação, que permeia os dias atuais na categoria.
60<<strong>br</strong> />
Assim, a lei do exercício profissional e a prática têm relação <strong>de</strong> cumplici<strong>da</strong><strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
A lei reflete a prática, <strong>no</strong>rmatizando as atribuições que a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> necessita e que<<strong>br</strong> />
são evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong>s por essa prática, a qual também se modifica, ao a<strong>de</strong>quar-se aos<<strong>br</strong> />
anseios <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> expressas na lei.<<strong>br</strong> />
Essa constatação faz-se necessária para que se contextualize a história <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
implantação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, cuja análise <strong>de</strong>verá<<strong>br</strong> />
estar permea<strong>da</strong> pelos aspectos legais que regulamentavam a prática <strong>da</strong> época<<strong>br</strong> />
estu<strong>da</strong><strong>da</strong>, permitindo compreen<strong>de</strong>r as atribuições <strong>de</strong>lega<strong>da</strong>s e os anseios <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>no</strong> que se refere ao profissional enfermeiro.
61<<strong>br</strong> />
3 A METODOLOGIA DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO<<strong>br</strong> />
BRASIL<<strong>br</strong> />
Mu<strong>da</strong>nças profun<strong>da</strong>s permearam a prática assistencial <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
Brasil, a partir dos primórdios do século XX. A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a <strong>no</strong> setor<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> saú<strong>de</strong>, para <strong>de</strong>belar as doenças pestilentas que afligiam as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s portuárias,<<strong>br</strong> />
impulsio<strong>no</strong>u a criação <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> País, fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s sob a<<strong>br</strong> />
orientação <strong>de</strong> enfermeiras <strong>no</strong>rte-americanas, que introduziram os preceitos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Florence Nightingale, nas práticas do cui<strong>da</strong>do profissional. O cui<strong>da</strong>do passou a ter<<strong>br</strong> />
embasamento científico, requerendo formação específica, com o objeto e o processo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>finidos. Nesse contexto, surgiu a enfermeira como profissional liberal,<<strong>br</strong> />
alcançando prestígio e remuneração, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1920.<<strong>br</strong> />
As práticas do cui<strong>da</strong>do, até então a cargo <strong>de</strong> religiosas e voluntários,<<strong>br</strong> />
passaram a ser executa<strong>da</strong>s por profissionais leigos, com formação específica,<<strong>br</strong> />
remuneração e com a divisão social do trabalho. Assim, o objeto <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
modificou-se:<<strong>br</strong> />
[...] transformou-se historicamente: <strong>de</strong> um lado, tor<strong>no</strong>u-se mais complexo e<<strong>br</strong> />
se fragmentou; <strong>de</strong> outro, transfigurou-se, pois se o que contava para o<<strong>br</strong> />
feu<strong>da</strong>lismo europeu era a salvação <strong>da</strong>s almas (dos doentes e <strong>de</strong> quem os<<strong>br</strong> />
tratava), para o capitalismo, o que conta é a salvação dos corpos<<strong>br</strong> />
necessários ao sistema produtivo. 153<<strong>br</strong> />
A fase <strong>de</strong> implantação profissional <strong>no</strong> Brasil, a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1920,<<strong>br</strong> />
caracteriza-se pelo foco na profissionalização, <strong>no</strong> aprendizado <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, preparo <strong>de</strong> futuras administradoras institucionais e lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> equipe,<<strong>br</strong> />
com base <strong>no</strong>s preceitos <strong>de</strong> Florence <strong>de</strong> abnegação e subserviência médica. Outro<<strong>br</strong> />
preceito, a divisão do trabalho em intelectual, executado pelas enfermeiras<<strong>br</strong> />
diploma<strong>da</strong>s (ladies) e manual, <strong>da</strong>s auxiliares do serviço <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> (nurses),<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>limitou claramente o papel a ser <strong>de</strong>sempenhado pelas duas categorias. À<<strong>br</strong> />
enfermeira caberiam as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> administração e organização dos serviços <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, vincula<strong>da</strong> às instituições, e o ensi<strong>no</strong> profissional, <strong>de</strong>sempenhando o<<strong>br</strong> />
153 SILVA, G. B. Enfermagem Profissional: Análise Crítica. São Paulo: Cortez, 1986. p.117.
62<<strong>br</strong> />
papel <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r <strong>da</strong> equipe, e ao pessoal auxiliar caberiam as medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> conforto e <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
reabilitação, enfim, o cui<strong>da</strong>do direto ao enfermo.<<strong>br</strong> />
A partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1950, profissionais impulsionados pelo positivismo, pela<<strong>br</strong> />
lógica do sistema capitalista e pelo avanço <strong>da</strong> ciência buscaram a introdução dos<<strong>br</strong> />
princípios científicos, como <strong>no</strong>rteadores <strong>da</strong>s ações <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Assim, a<<strong>br</strong> />
construção <strong>de</strong> um conhecimento próprio, por meio <strong>da</strong> elaboração <strong>de</strong> várias teorias,<<strong>br</strong> />
forneceu o referencial teórico necessário à implementação <strong>da</strong> prática assistencial,<<strong>br</strong> />
trazendo respaldo científico ao processo <strong>de</strong> trabalho do enfermeiro, <strong>no</strong>rteando suas<<strong>br</strong> />
ações.<<strong>br</strong> />
A busca <strong>da</strong> cientifici<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional passou por alguns aspectos, como:<<strong>br</strong> />
[...] o caráter tardio do ensi<strong>no</strong> regular na área <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, para o<<strong>br</strong> />
caráter tardio <strong>de</strong> sua transformação em ocupação remunera<strong>da</strong> e,<<strong>br</strong> />
finalmente, para o caráter tardio <strong>da</strong> constituição <strong>da</strong> (mo<strong>de</strong>rna) categoria<<strong>br</strong> />
profissional <strong>da</strong>s enfermeiras. Este tríplice retar<strong>da</strong>mento reflete-se, por sua<<strong>br</strong> />
vez, <strong>no</strong> respectivo processo <strong>de</strong> cientifização, que se apresenta permeado<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> equívocos e contradições. 154<<strong>br</strong> />
No Brasil, a introdução <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> científica <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
enfermeira iniciou-se na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960. Para que fosse possível a análise histórica<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ssa implementação, utilizaram-se como fonte os artigos publicados na Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, <strong>no</strong> período <strong>de</strong> 1960 a 1986, buscando nelas a<<strong>br</strong> />
contextualização histórica <strong>da</strong> época <strong>de</strong>limita<strong>da</strong>.<<strong>br</strong> />
3.1 PRIMEIRAS REFERÊNCIAS SOBRE A METODOLOGIA DA ASSISTÊNCIA<<strong>br</strong> />
O primeiro artigo publicado na Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />
sistematização <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, <strong>no</strong> período proposto, é <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Wan<strong>da</strong> <strong>de</strong> Aguiar Horta, intitulado Consi<strong>de</strong>rações so<strong>br</strong>e o diagnóstico <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, <strong>de</strong> 1967. Esse fato confirma a autora como precursora <strong>da</strong> aplicação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> científica <strong>no</strong> Brasil e a forte influência <strong>de</strong>la durante as déca<strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
seguintes.<<strong>br</strong> />
A introdução <strong>de</strong> uma sistematização científica <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
enfermeira encontrou resistências, pois, como relata Horta, embora o termo<<strong>br</strong> />
estivesse em uso há alguns a<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s Estados Unidos, e mesmo lá levantasse
63<<strong>br</strong> />
controvérsias, somente naquela época, ocorria a utilização tími<strong>da</strong> do termo<<strong>br</strong> />
‘diagnóstico’ <strong>no</strong> Brasil. Horta <strong>de</strong>fine que “[...] diag<strong>no</strong>sticar é, em síntese, aplicar o<<strong>br</strong> />
método científico, isto é, a utilização dos processos lógicos pelo pensamento, na<<strong>br</strong> />
busca <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> ou na sua exposição. Os processos gerais <strong>de</strong> pensamento são<<strong>br</strong> />
utilizados <strong>de</strong> modo sistemático e refletido na procura do diagnóstico” 155 .<<strong>br</strong> />
Eis o <strong>no</strong>vo paradigma <strong>da</strong> época: sistematizar o pensamento, o raciocínio, para<<strong>br</strong> />
levantar os problemas do paciente, elaboração que as enfermeiras já realizavam,<<strong>br</strong> />
porém, <strong>de</strong> forma intuitiva e sem registros.<<strong>br</strong> />
Para Horta, o enfermeiro estaria capacitado a fazer o diagnóstico <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, pois <strong>de</strong>tém conhecimentos <strong>da</strong>s ciências básicas, na aprendizagem,<<strong>br</strong> />
relaciona a teoria com a prática e tem a experiência resultante <strong>da</strong> vivência <strong>de</strong> 24<<strong>br</strong> />
horas em contato com os problemas do paciente. Horta apresenta três justificativas<<strong>br</strong> />
para a aplicação do diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Eis a primeira:<<strong>br</strong> />
1º - O peque<strong>no</strong> número <strong>de</strong> enfermeiros, assoberbados com a so<strong>br</strong>ecarga<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong>s tarefas administrativas, além <strong>de</strong> seus encargos <strong>de</strong> chefia e<<strong>br</strong> />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança, impe<strong>de</strong> que os mesmos dêem cui<strong>da</strong>dos<<strong>br</strong> />
pessoais <strong>de</strong> cabeceira aos pacientes so<strong>br</strong>e sua guar<strong>da</strong>: <strong>de</strong>sta situação<<strong>br</strong> />
resulta a <strong>de</strong>legação <strong>de</strong> inúmeras atribuições ao pessoal auxiliar. Essa<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>legação não é e nem <strong>de</strong>ve ser arbitrária, o enfermeiro é o<strong>br</strong>igado a<<strong>br</strong> />
planejar to<strong>da</strong>s aquelas tarefas para que o pessoal, sob sua direção, as<<strong>br</strong> />
execute. Mas, como é possível planejar o tratamento <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> sem<<strong>br</strong> />
antes diag<strong>no</strong>sticar as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do paciente? 156<<strong>br</strong> />
A constatação feita por Wan<strong>da</strong> Horta <strong>de</strong> que o enfermeiro <strong>de</strong>legava os<<strong>br</strong> />
cui<strong>da</strong>dos diretos do paciente ao pessoal auxiliar parece não ter suscitado qualquer<<strong>br</strong> />
questionamento na categoria, inclusive sendo esse fato utilizado como justificativa<<strong>br</strong> />
para o planejamento do cui<strong>da</strong>do prestado ao paciente. Entretanto, não o era, <strong>de</strong>vido<<strong>br</strong> />
ao défice <strong>de</strong> profissionais enfermeiros, que impingia à prática assistencial a lógica <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>legação <strong>de</strong> funções. Portanto, o preceito <strong>da</strong> divisão social do trabalho, encontrado<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> e na prática assistencial, era incorporado ao processo <strong>de</strong> trabalho do<<strong>br</strong> />
enfermeiro, consi<strong>de</strong>rando o cui<strong>da</strong>do indireto como objeto <strong>de</strong> suas funções<<strong>br</strong> />
assistenciais.<<strong>br</strong> />
154 SILVA, G. B. Op. cit. p.126.<<strong>br</strong> />
155 HORTA, W. A. Consi<strong>de</strong>rações so<strong>br</strong>e o diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 20, n.1, p.7-13, jan./fev. 1967. p.7.<<strong>br</strong> />
156 HORTA, W. A. Op. cit. 1967. p.9.
64<<strong>br</strong> />
2º - Fatores sócio-econômicos o<strong>br</strong>igam a que problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do<<strong>br</strong> />
indivíduo, grupo ou comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, sejam solucionados <strong>no</strong> mais curto prazo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> tempo; é absolutamente anti-econômico o uso <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s empíricas,<<strong>br</strong> />
ensaios <strong>de</strong> êrro e acêrto; cabe ao enfermeiro o diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
e aplicar o tratamento específico. 157<<strong>br</strong> />
Estampa-se nesse comentário a lógica do mercado <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
capitalista <strong>de</strong> então. A produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> estava intimamente liga<strong>da</strong> à<<strong>br</strong> />
rotativi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos indivíduos hospitalizados, acarretando, na <strong>enfermagem</strong>, inseri<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
nesse mercado, a lógica <strong>da</strong> otimização do tempo.<<strong>br</strong> />
3º - O progresso <strong>da</strong>s ciências do Homem em especial <strong>da</strong>s ciências médicas<<strong>br</strong> />
exige do enfermeiro maior soma <strong>de</strong> conhecimentos, maior capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
reflexão, análise e síntese, levando-o, em suma, a utilizar estes processos<<strong>br</strong> />
na resolução dos problemas dos indivíduos, grupos ou comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s sob<<strong>br</strong> />
sua orientação profissional. 158<<strong>br</strong> />
Os avanços tec<strong>no</strong>lógicos na área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> e o mercado <strong>de</strong> trabalho<<strong>br</strong> />
competitivo impulsionaram a <strong>enfermagem</strong> para as especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s do cui<strong>da</strong>do<<strong>br</strong> />
terapêutico, exigindo <strong>de</strong>sse profissional conhecimentos e habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s condizentes<<strong>br</strong> />
com o contexto capitalista. Para sua inserção nesse mercado, a <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
precisaria i<strong>de</strong>ntificar qual seria seu papel na equipe multiprofissional <strong>da</strong> área <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
saú<strong>de</strong>. Horta já vislum<strong>br</strong>ava essa necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao recomen<strong>da</strong>r a postura crítica e<<strong>br</strong> />
reflexiva do profissional enfermeiro, tomando para si a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
resolução dos problemas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> do indivíduo sob seus cui<strong>da</strong>dos.<<strong>br</strong> />
Para tal <strong>de</strong>sempenho, o diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> era o instrumento capaz<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> subsidiar o raciocínio clínico nesse processo, embasado nas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
humanas básicas. Nesse artigo, Horta fun<strong>da</strong>menta seu referencial teórico, o <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas básicas <strong>de</strong> Maslow, que permeou to<strong>da</strong> sua produção<<strong>br</strong> />
intelectual.<<strong>br</strong> />
A resistência <strong>de</strong> outros profissionais <strong>da</strong> área quanto ao termo diagnóstico <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, que, <strong>no</strong>s dias atuais, ain<strong>da</strong> suscita questionamentos <strong>da</strong> classe médica,<<strong>br</strong> />
já aparecia naquela época, quando havia a preocupação <strong>de</strong> distingui-lo do<<strong>br</strong> />
diagnóstico médico, tendo este a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar a doença do indivíduo e<<strong>br</strong> />
aquele, i<strong>de</strong>ntificar suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<<strong>br</strong> />
157 HORTA, W. A. 1967. Op. cit. p.9.<<strong>br</strong> />
158 I<strong>de</strong>m.
65<<strong>br</strong> />
A taxo<strong>no</strong>mia utiliza<strong>da</strong> por Wan<strong>da</strong> Horta <strong>no</strong> artigo difere <strong>da</strong> utiliza<strong>da</strong> hoje. Ela<<strong>br</strong> />
exemplifica o diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> a um paciente comatoso, como:<<strong>br</strong> />
“Deficiência total <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> relação e <strong>de</strong>ficiência parcial <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> vegetativa”. Essa <strong>de</strong><strong>no</strong>minação é altera<strong>da</strong> pela própria autora em<<strong>br</strong> />
suas publicações posteriores.<<strong>br</strong> />
Segue ela propondo o pla<strong>no</strong> para o tratamento <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, conhecido<<strong>br</strong> />
como pla<strong>no</strong> assistencial ou <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, focado em: cui<strong>da</strong>dos<<strong>br</strong> />
higiênicos, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicas, observação e controle <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s vitais,<<strong>br</strong> />
alimentação, cui<strong>da</strong>dos psicológicos, sociais e espirituais, cui<strong>da</strong>dos com a<<strong>br</strong> />
medicação, ambiente e proteção contra infecções e aci<strong>de</strong>ntes. Um <strong>da</strong>do que chama<<strong>br</strong> />
a atenção é a preocupação <strong>da</strong> autora com o aspecto preventivo e <strong>de</strong> reabilitação,<<strong>br</strong> />
além do curativo, que <strong>de</strong>veriam <strong>no</strong>rtear o pla<strong>no</strong> assistencial.<<strong>br</strong> />
Ain<strong>da</strong> em 1967, Wan<strong>da</strong> Horta et al. publicaram o artigo O ensi<strong>no</strong> do Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Cui<strong>da</strong>dos em Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Enfermagem 159 . A experiência foi realiza<strong>da</strong> pelas<<strong>br</strong> />
autoras na cita<strong>da</strong> disciplina, Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Enfermagem, em 1963, como tarefa<<strong>br</strong> />
facultativa na escola <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (USP) e, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> seguinte,<<strong>br</strong> />
incorporou-se o pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos como requisito básico do estágio prático, do<<strong>br</strong> />
curso <strong>de</strong> graduação <strong>de</strong>ssa universi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Essa disciplina fornecia a apresentação do<<strong>br</strong> />
planejamento global <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do alu<strong>no</strong> em relação ao paciente, na forma <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. A constatação do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong>sse pla<strong>no</strong>, apenas<<strong>br</strong> />
três a<strong>no</strong>s após a publicação do artigo <strong>no</strong>s Estados Unidos so<strong>br</strong>e o processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, <strong>de</strong>monstra o pioneirismo <strong>da</strong>s enfermeiras docentes <strong>br</strong>asileiras, o<<strong>br</strong> />
preparo intelectual e o grau <strong>de</strong> comprometimento com a categoria, fomentando o<<strong>br</strong> />
intercâmbio internacional para fortalecimento <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>br</strong>asileira.<<strong>br</strong> />
O ensi<strong>no</strong> do pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos tinha, como estrutura, roteiro <strong>de</strong> aulas teóricas<<strong>br</strong> />
compostas <strong>de</strong>: Anamnese <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> com exame físico; Diagnóstico <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>; Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Cui<strong>da</strong>do <strong>de</strong> Enfermagem, que era subdividido em Significado<<strong>br</strong> />
e Características; Pessoas relaciona<strong>da</strong>s à elaboração e execução do pla<strong>no</strong>;<<strong>br</strong> />
Objetivos gerais e específicos; e Fonte <strong>de</strong> informações e elaboração do pla<strong>no</strong>.<<strong>br</strong> />
Percebe-se, nesse artigo, o início dos estudos <strong>da</strong> autora so<strong>br</strong>e a elaboração<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> uma sistematização científica para a assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, que, mais tar<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
159 HORTA, W. A. O ensi<strong>no</strong> do Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Cui<strong>da</strong>dos em Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Enfermagem. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 20, n.4, p.249-263, ago. 1967.
66<<strong>br</strong> />
ela chamaria <strong>de</strong> ‘processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>’. Revelam-se, <strong>no</strong> instrumento utilizado<<strong>br</strong> />
para o pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos, algumas etapas que, posteriormente, a autora incorporou<<strong>br</strong> />
ao processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, como a anamnese e o exame físico, o diagnóstico e o<<strong>br</strong> />
pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos.<<strong>br</strong> />
A complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse primeiro instrumento é reconheci<strong>da</strong> pelas próprias<<strong>br</strong> />
autoras, quando fazem a ressalva <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aperfeiçoamento do método<<strong>br</strong> />
didático e <strong>da</strong> simplificação do pla<strong>no</strong> para sua utilização. No entanto, vislum<strong>br</strong>am a<<strong>br</strong> />
importância do pla<strong>no</strong> assistencial e, nesse artigo, <strong>de</strong>legam para a categoria<<strong>br</strong> />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, recomen<strong>da</strong>ndo:<<strong>br</strong> />
[...] que as escolas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> adotem sistematicamente o ensi<strong>no</strong> do<<strong>br</strong> />
pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos, iniciando-se <strong>no</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>da</strong> graduação; a<<strong>br</strong> />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do preparo dos docentes para o ensi<strong>no</strong> do pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos e<<strong>br</strong> />
que as enfermeiras o tomem como uma <strong>de</strong> suas responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s[?]; a<<strong>br</strong> />
utilização <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos e que esforços sejam emitidos <strong>no</strong> sentido<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> i<strong>de</strong>alizar pla<strong>no</strong>s simples e acessíveis a todo o pessoal <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. 160<<strong>br</strong> />
A relevância <strong>da</strong> aplicação <strong>de</strong> uma sistematização já era indica<strong>da</strong> em 1968,<<strong>br</strong> />
por Clarice Oliveira e Hye<strong>da</strong> Rigaud, quando apontaram o pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>do integral:<<strong>br</strong> />
Se a <strong>enfermagem</strong> assume seu papel <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rar a orientação <strong>da</strong> assistência<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> ao paciente, se mantém a sua equipe orienta<strong>da</strong> quanto ao<<strong>br</strong> />
que <strong>de</strong>ve ser feito com o paciente, se mostrar a sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
sintetizar o atendimento <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do paciente, num<<strong>br</strong> />
planejamento bem feito e eficiente, por certo será este o maior testemunho<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> sua possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar o seu papel na equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>r caracterizar-se como profissional liberal, porque terá a sua área <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
trabalho bem <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>. 161<<strong>br</strong> />
O pla<strong>no</strong> assistencial elaborado pelas enfermeiras até essa época resumia-se<<strong>br</strong> />
em a<strong>no</strong>tações <strong>no</strong> Kar<strong>de</strong>x 162 , que auxiliavam as enfermeiras na passagem <strong>de</strong> plantão<<strong>br</strong> />
e <strong>no</strong> planejamento do cui<strong>da</strong>do. Pesquisa <strong>de</strong> Oliveira e Rigaud 163 , realiza<strong>da</strong> <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
Hospital <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Bahia, so<strong>br</strong>e a opinião <strong>de</strong> enfermeiras quanto à<<strong>br</strong> />
160 HORTA, W. A. O ensi<strong>no</strong> do Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Cui<strong>da</strong>dos em fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Enfermagem. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 20, n.4, p.249-263, ago. 1967.<<strong>br</strong> />
161 OLIVEIRA, C.; RIGAUD, H. M. Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>do integral <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> ao paciente hospitalizado.<<strong>br</strong> />
Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.21, n.5, p.458-470, out. 1968. p.462.<<strong>br</strong> />
162 Kar<strong>de</strong>x são impressos <strong>de</strong> papel cartão (fichas), com 5x8 polega<strong>da</strong>s (cf. MARIA, V. L. R. et al.<<strong>br</strong> />
Evolução do paciente: a<strong>no</strong>tações <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Kar<strong>de</strong>x e passagem <strong>de</strong> plantão com equipe<<strong>br</strong> />
multiprofissional. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v.30, n.3, p.237-243, jul./set. 1977.<<strong>br</strong> />
p.238).<<strong>br</strong> />
163 OLIVEIRA, C.; RIGAUD, H. M. Op. cit. 1968.
67<<strong>br</strong> />
utilização do pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>do para a melhoria <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, relata<<strong>br</strong> />
as resistências a esse método, pois, embora 90% <strong>da</strong>s enfermeiras pertencentes à<<strong>br</strong> />
amostra reconhecessem o seu indiscutível valor <strong>no</strong> planejamento <strong>da</strong> assistência ao<<strong>br</strong> />
paciente, elas faziam ressalvas quanto ao seu funcionamento <strong>no</strong>s mol<strong>de</strong>s em que<<strong>br</strong> />
era feito; 60% opinavam pela necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> revisão do sistema <strong>de</strong> a<strong>no</strong>tações e<<strong>br</strong> />
comunicações internas, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> torná-lo mais objetivo; e 80% apontavam a<<strong>br</strong> />
insuficiência quantitativa e qualitativa <strong>de</strong> pessoal, prejudicando o an<strong>da</strong>mento dos<<strong>br</strong> />
trabalhos. Contudo, as idéias <strong>da</strong> sistematização <strong>da</strong> assistência basea<strong>da</strong> em<<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> científica começaram a <strong>da</strong>r frutos, pois o artigo propunha um pla<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
escrito <strong>de</strong> assistência integral <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> a pacientes hospitalizados, visando à<<strong>br</strong> />
melhoria <strong>no</strong> padrão <strong>de</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Contrapondo-se à falta <strong>de</strong> questionamento quanto ao processo <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, transparecido <strong>no</strong>s artigos, o editorial <strong>da</strong> Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem <strong>de</strong> 1968 faz enfático apelo à categoria:<<strong>br</strong> />
Lançamos como classe um <strong>br</strong>ado <strong>de</strong> alerta. Se aos auxiliares <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> e aos aten<strong>de</strong>ntes estiverem cabendo as funções que mais<<strong>br</strong> />
importam para a cura dos internados há um grave êrro <strong>de</strong> ética profissional<<strong>br</strong> />
praticado pelos enfermeiros diplomados. Não se <strong>br</strong>inca com reali<strong>da</strong><strong>de</strong> dêste<<strong>br</strong> />
setor. A ABEn tomará providência, doa a quem doer, caso os enfermeiros<<strong>br</strong> />
não tomem, por si mesmo, o caminho apontado pelo nível <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social que seu diploma <strong>de</strong> nível universitário lhes<<strong>br</strong> />
assegura. 164<<strong>br</strong> />
A re<strong>da</strong>ção <strong>de</strong>sse editorial revela a preocupação com a <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> funções<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> equipe e a busca do cui<strong>da</strong>do direto, que já suscitava questionamentos na massa<<strong>br</strong> />
crítica <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>br</strong>asileira, representa<strong>da</strong> pela re<strong>da</strong>tora chefe, Hay<strong>de</strong>é Guanais<<strong>br</strong> />
Dourado, e pela editora, Anay<strong>de</strong> Correa <strong>de</strong> Carvalho.<<strong>br</strong> />
Entretanto, se o trabalho manual sempre fora atribuição do pessoal auxiliar <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios profissionais, por que a enfermeira tomava agora<<strong>br</strong> />
para si essas ações? Quais seriam os <strong>de</strong>terminantes que direcionavam essa<<strong>br</strong> />
atitu<strong>de</strong>?<<strong>br</strong> />
Essas in<strong>da</strong>gações quanto à <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> não aparecem repentinamente, pois já figuravam em estudos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<<strong>br</strong> />
início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960, coincidindo com a constatação, na literatura <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
164 EDITORIAL. Funções <strong>de</strong> enfermeiros. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 21,<<strong>br</strong> />
n. 1/2/3, jan./fev./a<strong>br</strong>./jun. 1968.
68<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> método científico sistematizado,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>legando à enfermeira a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do planejamento <strong>da</strong>s ações presta<strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
ao enfermo. Porém, essa constatação traz alguns questionamentos relacionados à<<strong>br</strong> />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> prática profissional <strong>da</strong> época: Como fazê-lo, se o défice <strong>de</strong> profissionais<<strong>br</strong> />
e o fato <strong>de</strong> estarem assoberba<strong>da</strong>s <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s administrativas dificultavam o<<strong>br</strong> />
cui<strong>da</strong>do direto? Como prestar o cui<strong>da</strong>do direto ao indivíduo, se em sua formação os<<strong>br</strong> />
‘trabalhos manuais’ tinham me<strong>no</strong>s valia? Como prestar o cui<strong>da</strong>do direto sem per<strong>de</strong>r<<strong>br</strong> />
o prestígio <strong>da</strong>s outras categorias <strong>da</strong> área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>?<<strong>br</strong> />
Um artigo publicado em 1968, so<strong>br</strong>e as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em<<strong>br</strong> />
hospital governamental, permite clara i<strong>de</strong>ntificação do processo <strong>de</strong> trabalho do<<strong>br</strong> />
enfermeiro, naquela época:<<strong>br</strong> />
De <strong>no</strong>sso convívio com os problemas hospitalares sabemos <strong>de</strong> queixas<<strong>br</strong> />
constantes referentes à escassez <strong>de</strong> pessoal, a qual seria responsável por<<strong>br</strong> />
um serviço <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>de</strong>ficiente. A essa escassez é atribuí<strong>da</strong> a<<strong>br</strong> />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s enfermeiras <strong>de</strong>legarem a pessoas <strong>de</strong> formação inferior<<strong>br</strong> />
muitas <strong>da</strong>s tarefas que lhes competem. Sabemos que êste problema não é<<strong>br</strong> />
característico dêste hospital, nem <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira e que países muito<<strong>br</strong> />
mais avançados que o Brasil tem-se <strong>de</strong>frontado com situação<<strong>br</strong> />
semelhante. 165<<strong>br</strong> />
A referi<strong>da</strong> pesquisa parece respon<strong>de</strong>r ao editorial, reconhecendo a <strong>de</strong>legação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> funções. Entretanto, discorre quantitativamente so<strong>br</strong>e as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> em um hospital público, fornecendo <strong>da</strong>dos <strong>de</strong>talhados, como horário <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
trabalho distribuído em três tur<strong>no</strong>s: manhã, <strong>da</strong>s 7 às 15h; tar<strong>de</strong>, <strong>da</strong>s 15 às 22h; e o<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>tur<strong>no</strong>, <strong>da</strong>s 22 às 7h. A porcentagem do cui<strong>da</strong>do direto era <strong>de</strong> 40,3%, na parte <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
manhã, e 12,6%, à tar<strong>de</strong>. Os cui<strong>da</strong>dos organizacionais computavam 59,7% pela<<strong>br</strong> />
manhã e 87,4% à tar<strong>de</strong>. Na clínica médica, <strong>no</strong> período <strong>da</strong> manhã, a enfermeira<<strong>br</strong> />
dispunha <strong>de</strong> 8,22 minutos para ca<strong>da</strong> paciente, sendo efetivamente <strong>de</strong>spendido 0,9<<strong>br</strong> />
minuto <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>do direto e 2,46 minutos <strong>no</strong> trabalho indireto.<<strong>br</strong> />
Assim, essa pesquisa confirma o discurso <strong>da</strong> categoria até então, <strong>de</strong> que<<strong>br</strong> />
“quem mais li<strong>da</strong> com o paciente é o aten<strong>de</strong>nte; segue-se o auxiliar e, em segui<strong>da</strong>, a<<strong>br</strong> />
enfermeira” 166 . Em suas conclusões, as autoras afirmam:<<strong>br</strong> />
165 SANTOS, C. F.; MINZONI, M. A. Estudo <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em quatro uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
um hospital governamental. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.21, n.5, p.396-<<strong>br</strong> />
442, out. 1968. p.396.<<strong>br</strong> />
166 SANTOS, C. F.; MINZONI, M. A. Op.cit. 1968. p.422.
69<<strong>br</strong> />
5 – As enfermeiras estão <strong>de</strong> maneira geral muito ausentes <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<<strong>br</strong> />
sendo que à tar<strong>de</strong> essas ausências são quase o do<strong>br</strong>o, em média <strong>de</strong> tempo,<<strong>br</strong> />
para to<strong>da</strong>s as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, em relação às do período <strong>da</strong> manhã.<<strong>br</strong> />
6 – A eleva<strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> ausência <strong>no</strong> período <strong>da</strong> tar<strong>de</strong> se explica pela<<strong>br</strong> />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> que as enfermeiras têm sô<strong>br</strong>e outras uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Isto é um<<strong>br</strong> />
índice patente <strong>de</strong> escassez <strong>de</strong> enfermeiras <strong>no</strong> hospital.<<strong>br</strong> />
8- Dentre as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s indiretas as enfermeiras trabalham<<strong>br</strong> />
predominantemente na área <strong>de</strong> organização. São baixos os valôres<<strong>br</strong> />
percentuais <strong>da</strong> área técnica e me<strong>no</strong>res ain<strong>da</strong> os valores <strong>da</strong> área básica.<<strong>br</strong> />
17- As secretárias trabalham <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seus próprios níveis, mas po<strong>de</strong>riam<<strong>br</strong> />
receber algumas <strong>da</strong>s tarefas <strong>de</strong> organização que estão sendo executa<strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
por enfermeiras. 167<<strong>br</strong> />
Elas apontam como <strong>de</strong>terminantes <strong>da</strong> escassez <strong>de</strong> enfermeiros na instituição<<strong>br</strong> />
salário insuficiente e número reduzido <strong>de</strong> vagas <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s a esse profissional.<<strong>br</strong> />
Ain<strong>da</strong>, sustentam que “O conhecimento <strong>de</strong>stas razões <strong>de</strong>veria ser suficiente pelo<<strong>br</strong> />
me<strong>no</strong>s para que a culpa <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong>ficientes <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> não [continuasse]<<strong>br</strong> />
recaindo apenas so<strong>br</strong>e as enfermeiras, que muito pouco [po<strong>de</strong>riam] fazer nas<<strong>br</strong> />
condições atuais <strong>de</strong> trabalho” 168 .<<strong>br</strong> />
O défice <strong>de</strong> profissionais o<strong>br</strong>igava a <strong>de</strong>legação <strong>de</strong> funções in<strong>de</strong>vi<strong>da</strong>s, fazendo<<strong>br</strong> />
com que a enfermeira <strong>de</strong>spen<strong>de</strong>sse 20% <strong>de</strong> seu tempo em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> outros<<strong>br</strong> />
níveis, principalmente, <strong>de</strong> secretaria. Isso evi<strong>de</strong>ncia certa <strong>de</strong>sorganização na<<strong>br</strong> />
distribuição <strong>da</strong>s funções <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> nível.<<strong>br</strong> />
As autoras suscitam questionamentos quanto ao cui<strong>da</strong>do integral versus<<strong>br</strong> />
enfermeira administrativa. As enfermeiras estavam sendo forma<strong>da</strong>s para o cui<strong>da</strong>do<<strong>br</strong> />
integral, <strong>de</strong>vendo conceber o indivíduo como ser biopsicossocial, distante <strong>da</strong> prática<<strong>br</strong> />
observa<strong>da</strong> na pesquisa. Elas formulam perguntas instigantes, que orientam ain<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
hoje a prática assistencial <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>:<<strong>br</strong> />
Por que preparar tão bem as enfermeiras se elas não vão cui<strong>da</strong>r dos<<strong>br</strong> />
pacientes? Para o tipo <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que vêm predominantemente<<strong>br</strong> />
executando não estará faltando um Curso <strong>de</strong> Administração <strong>de</strong> Empresas?<<strong>br</strong> />
Precisamos é saber para o que <strong>de</strong>vemos preparar as futuras enfermeiras e<<strong>br</strong> />
prepará-las para isto. Se se <strong>de</strong>sejar realmente manter como i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> o cui<strong>da</strong>do integral do paciente, que se treinem as futuras<<strong>br</strong> />
profissionais para esta função mas lutem por po<strong>de</strong>r <strong>da</strong>r este cui<strong>da</strong>do. Na<<strong>br</strong> />
medi<strong>da</strong> em que esses cui<strong>da</strong>dos estão sendo <strong>da</strong>dos por pessoal não<<strong>br</strong> />
preparado, estão reconhecendo que não há necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a<<strong>br</strong> />
preparação técnico-científica que as escolas vêm ministrando. 169<<strong>br</strong> />
167 SANTOS, C. F.; MINZONI, M. A. Op. cit. 1968. p.425.<<strong>br</strong> />
168 SANTOS, C. F.; MINZONI, M. A. Op. cit. 1968. p.426.<<strong>br</strong> />
169<<strong>br</strong> />
I<strong>de</strong>m.
70<<strong>br</strong> />
Ao analisar a prática <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> século XX, numa perspectiva<<strong>br</strong> />
histórica, constata-se que, se a <strong>enfermagem</strong> não tinha <strong>de</strong>limitado concretamente seu<<strong>br</strong> />
objeto <strong>de</strong> trabalho, o cui<strong>da</strong>do direto e integral, como po<strong>de</strong>ria implementar uma<<strong>br</strong> />
sistematização em seu processo <strong>de</strong> trabalho que priorizasse esse cui<strong>da</strong>do?<<strong>br</strong> />
3.2 DIVULGAÇÃO DO PROCESSO DE ENFERMAGEM<<strong>br</strong> />
Wan<strong>da</strong> Horta continuou propagando a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do planejamento <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
assistência, publicando, em 1971, três artigos.<<strong>br</strong> />
O primeiro é O ensi<strong>no</strong> dos instrumentos básicos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> 170 , <strong>de</strong> Horta,<<strong>br</strong> />
Hara e Paula, <strong>no</strong> qual consi<strong>de</strong>ram como funções <strong>da</strong> enfermeira a <strong>de</strong>terminação do<<strong>br</strong> />
diagnóstico e a elaboração e execução do pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos. As autoras<<strong>br</strong> />
preconizam alguns conhecimentos e algumas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s como instrumentos<<strong>br</strong> />
indispensáveis ao <strong>de</strong>senvolvimento profissional do estu<strong>da</strong>nte. Os instrumentos<<strong>br</strong> />
básicos relatados são: comunicação, planejamento, avaliação, método científico,<<strong>br</strong> />
observação, trabalho em equipe, <strong>de</strong>streza manual e criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, ain<strong>da</strong> hoje<<strong>br</strong> />
ensinados <strong>no</strong>s cursos <strong>de</strong> graduação em <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
O segundo artigo publicado, A observação sistematiza<strong>da</strong> como base para o<<strong>br</strong> />
diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> 171 , <strong>de</strong>screve e conceitua o histórico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>,<<strong>br</strong> />
pontuando-o como o primeiro passo do método científico para a elaboração do<<strong>br</strong> />
diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
O terceiro artigo publicado, A <strong>metodologia</strong> do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>” 172 , é<<strong>br</strong> />
um marco na história <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil. Coroa<<strong>br</strong> />
e agrupa a produção anterior <strong>da</strong> autora, quando conceitua e estrutura as etapas do<<strong>br</strong> />
processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Nele, ela discorre so<strong>br</strong>e o referencial america<strong>no</strong> que<<strong>br</strong> />
embasou seus estudos, como os conceitos <strong>de</strong> ‘prognóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>’,<<strong>br</strong> />
‘histórico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>’, ‘pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos’, entretanto, Horta esclarece que havia<<strong>br</strong> />
divergências quanto à termi<strong>no</strong>logia e à <strong>metodologia</strong> utiliza<strong>da</strong>s pelas enfermeiras,<<strong>br</strong> />
especialmente <strong>no</strong>s Estados Unidos.<<strong>br</strong> />
170 HORTA, W. A.; HARA, Y.; PAULA, N. S. O ensi<strong>no</strong> dos instrumentos básicos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 24, n. 3/4, p.159-169, a<strong>br</strong>/jun. 1971.<<strong>br</strong> />
171 HORTA, W. A observação sistematiza<strong>da</strong> como base para o diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 24, n. 5, p.46-52, jul./set. 1971b.<<strong>br</strong> />
172 HORTA, W. A. A <strong>metodologia</strong> do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem,<<strong>br</strong> />
Brasília, v. 25, n. 6, p.81-95, out./<strong>de</strong>z. 1971c.
71<<strong>br</strong> />
Um <strong>da</strong>do curioso, não comumente encontrado na literatura <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, é<<strong>br</strong> />
o relato <strong>de</strong> Horta so<strong>br</strong>e o trabalho publicado que fun<strong>da</strong>mentou seus estudos na<<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> científica:<<strong>br</strong> />
Berggren e Zagornik, em artigo publicado em julho <strong>de</strong> 1968, em “Nursing<<strong>br</strong> />
Outlook”, falam em “processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>” e aí o esquematizam. Este<<strong>br</strong> />
trabalho serviu <strong>de</strong> inspiração ao <strong>no</strong>sso próprio mo<strong>de</strong>lo esquemático. Aí<<strong>br</strong> />
citam I<strong>da</strong> Orlando como introdutora do termo ”processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>”<<strong>br</strong> />
porém com significado diferente do <strong>no</strong>sso”. 173<<strong>br</strong> />
O trabalho <strong>de</strong> Horta foi a unificação <strong>de</strong> conceitos <strong>da</strong> termi<strong>no</strong>logia e a<<strong>br</strong> />
estruturação completa <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong>, cita<strong>da</strong> por ela como ‘processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>’.<<strong>br</strong> />
Horta <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a <strong>enfermagem</strong> se <strong>de</strong>senvolver técnica e<<strong>br</strong> />
cientificamente e ressalta que a priorização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s administrativas <strong>de</strong>lega o<<strong>br</strong> />
cui<strong>da</strong>do aos aten<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, feito <strong>de</strong> modo empírico. Se <strong>no</strong>s Estados<<strong>br</strong> />
Unidos já aparecia o elemento técnico em administração <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> hospitalar, ela<<strong>br</strong> />
questiona: O que restaria ao enfermeiro? e respon<strong>de</strong>:<<strong>br</strong> />
A meu ver o enfermeiro <strong>de</strong>verá voltar às suas origens profissionais, isto é,<<strong>br</strong> />
assistir o indivíduo, família ou comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>no</strong> atendimento <strong>de</strong> suas<<strong>br</strong> />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas, mas agora utilizando-se <strong>de</strong> método próprio baseado<<strong>br</strong> />
na <strong>metodologia</strong> científica, não mais fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> <strong>no</strong> empirismo, <strong>no</strong> “eu<<strong>br</strong> />
acho”, <strong>no</strong> atendimento somente <strong>da</strong> execução <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns médicas, ou <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
cui<strong>da</strong>dos rotineiros; sem perspectiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, e, o que é mais<<strong>br</strong> />
grave, sem aten<strong>de</strong>r realmente às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do paciente, família ou<<strong>br</strong> />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. 174<<strong>br</strong> />
Horta preconiza, assim, a que<strong>br</strong>a <strong>da</strong> divisão social do trabalho na<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>; o retor<strong>no</strong> às origens profissionais cita<strong>da</strong>s por ela, do cui<strong>da</strong>do direto ao<<strong>br</strong> />
indivíduo, contrapondo-se aos preceitos <strong>de</strong> Florence Nightingale; e que a visão <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
possível falta <strong>de</strong> função do enfermeiro na área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>, com o surgimento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>vas categorias, seria o propulsor para o cui<strong>da</strong>do direto ao indivíduo.<<strong>br</strong> />
Ela conceitua e <strong>de</strong>fine as etapas do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> 175 : 1. Histórico<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>; 2. Análise dos <strong>da</strong>dos, com a i<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
humanas básicas; 3. Diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>; 4. Avaliação do diagnóstico diante<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong>s observações feitas na execução do pla<strong>no</strong> terapêutico; 5. Pla<strong>no</strong> terapêutico <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
173 HORTA, W. A. Op. cit. 1971c. p.82.<<strong>br</strong> />
174 I<strong>de</strong>m, p.84.<<strong>br</strong> />
175 HORTA, W. A. Op. cit. 1971c.
72<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, englobando todos os cui<strong>da</strong>dos necessários, enquanto o paciente<<strong>br</strong> />
estiver sob os cui<strong>da</strong>dos do profissional; 6. Implementação do pla<strong>no</strong> e avaliação, com<<strong>br</strong> />
o pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos diário; 7. Evolução <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, a<strong>no</strong>tação diária <strong>de</strong> tudo que<<strong>br</strong> />
ocorre com o paciente e 8. Prognóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Essa proposta foi um marco na história <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
Brasil, corrobora<strong>da</strong> por vários autores na déca<strong>da</strong> seguinte 176 , que relataram em<<strong>br</strong> />
artigos publicados a aplicação e o ensi<strong>no</strong> do mo<strong>de</strong>lo preconizado por Wan<strong>da</strong> Horta.<<strong>br</strong> />
O referencial <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas básicas, ain<strong>da</strong> hoje, fun<strong>da</strong>menta o ensi<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
e a prática assistencial <strong>da</strong> categoria, conforme relatos <strong>de</strong> pesquisas <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> 177 .<<strong>br</strong> />
Com a publicação do livro <strong>de</strong> Wan<strong>da</strong> Horta em 1979 178 , houve a redução <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
etapas do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, restando apenas: Histórico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>;<<strong>br</strong> />
Diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>; Pla<strong>no</strong> assistencial; Prescrição <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>;<<strong>br</strong> />
Evolução e prognóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
176 CIANCIARULLO, T. I.; KOIZUMI, M. S.; FERNANDES, R. A. Q. Prescrição <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Experiências <strong>de</strong> sua aplicação em hospital particular. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Janeiro, v. 27, n. 2, p.144-149, a<strong>br</strong>./jun. 1974.<<strong>br</strong> />
DUARTE, A. B.; REIS, I. E. M. dos. Importância <strong>da</strong>s a<strong>no</strong>tações dos cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 29, n. 3, p.83-91, jul./set. 1976.<<strong>br</strong> />
CALDAS, N. P.; PEREIRA, A. C.; ALVAREZ, L. H. Instrumentos <strong>de</strong> registro <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 29, n. 3, p.92-102, jul./set. 1976.<<strong>br</strong> />
CAMPOS, E.; MACHADO, M. H.; MORIYA, T. M. Tentativa <strong>de</strong> um diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
família. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 29, n. 4, p.25-27, out./<strong>de</strong>z. 1976.<<strong>br</strong> />
KOCH, R. M. e OKA, L. N. Processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> – avaliação feita por alu<strong>no</strong>s do Departamento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem <strong>da</strong> UCP. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 30, n.3, p.274-285, jul./set.<<strong>br</strong> />
1977.<<strong>br</strong> />
NOGUEIRA, M. J. C. Uma experiência com consultas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> para crianças. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v.30, n. 3, p.294-306, jul./set. 1977.<<strong>br</strong> />
PAULA, N. S. <strong>de</strong> P. et al. Processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> orientado para os problemas do paciente:<<strong>br</strong> />
iniciação <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> em fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília,<<strong>br</strong> />
v. 31, n. 1, p.101-113, jan./mar. 1978.<<strong>br</strong> />
ARAÚJO, O. M. M. Consulta <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> a gestante. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem,<<strong>br</strong> />
Brasília, v.32, n. 3, p.259-270, jul./set. 1979.<<strong>br</strong> />
LUCKESI, M. A. V. Aplicação do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> hospital Ana Nery. Revista Brasileira<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 31, n. 2, p.141-156, a<strong>br</strong>./jun. 1978.<<strong>br</strong> />
RESENDE, L. B. <strong>de</strong>; ANDRADE, V. R. O.; IMBIRIBA, C. E. Implantação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> assistencial<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> IASERJ. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 34, n. 2, p.123-137, a<strong>br</strong>./jun. 1981.<<strong>br</strong> />
177 CARRARO, T. E.; KLETEMBERG, D. F.; GONÇALVES, L. M. O ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
assistência <strong>de</strong> Enfermagem <strong>no</strong> Paraná. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 56, n.5,<<strong>br</strong> />
p.499-501, set./out. 2003.<<strong>br</strong> />
DELL’ACQUA, M. C. Q.; MIYADAHIRA, A. M. K. Ensi<strong>no</strong> do processo <strong>de</strong> Enfermagem nas escolas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
graduação em Enfermagem do Estado <strong>de</strong> São Paulo. Revista lati<strong>no</strong>-americana <strong>de</strong> Enfermagem,<<strong>br</strong> />
Ribeirão Preto (SP), v. 10, n. 2, p.185-191, mar./a<strong>br</strong>. 2002.<<strong>br</strong> />
178 HORTA, W. <strong>de</strong> A. Processo <strong>de</strong> Enfermagem. São Paulo: EPU, 1979.
73<<strong>br</strong> />
3.3 VALIDAÇÃO DO PROCESSO DE ENFERMAGEM<<strong>br</strong> />
Em 1972, publicou-se <strong>no</strong>vo artigo so<strong>br</strong>e a aplicação do diagnóstico <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, questionando a sua prática:<<strong>br</strong> />
Finalmente, tendo em vista as consi<strong>de</strong>rações feitas quanto aos aspectos<<strong>br</strong> />
relevantes e pontos críticos <strong>de</strong> uma problemática como a do diagnóstico <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, temos que convir que se acreditamos realmente que a<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> é o que há <strong>de</strong> melhor para o indivíduo e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, porque<<strong>br</strong> />
então não conseguimos validá-la, <strong>de</strong>finitivamente, na prática profissional? 179<<strong>br</strong> />
Constata-se que inquietações percebi<strong>da</strong>s ain<strong>da</strong> hoje na prática <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, quanto a sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional, sua vali<strong>da</strong>ção e valorização na<<strong>br</strong> />
área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>, tiveram seus primórdios há 40 a<strong>no</strong>s.<<strong>br</strong> />
A percepção <strong>de</strong> que a cientifici<strong>da</strong><strong>de</strong> e a sistematização <strong>da</strong> assistência<<strong>br</strong> />
presta<strong>da</strong> são imprescindíveis para a auto<strong>no</strong>mia profissional é aponta<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
aquela época, como fica explicitado <strong>no</strong> artigo <strong>de</strong> Carvalho, quanto ao diagnóstico <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>:<<strong>br</strong> />
Só teria propósito se fosse substanciado por um corpo <strong>de</strong> conhecimentos<<strong>br</strong> />
que pu<strong>de</strong>sse garantir para a <strong>enfermagem</strong> uma posição <strong>de</strong>finitivamente<<strong>br</strong> />
conceitua<strong>da</strong> <strong>no</strong> âmbito <strong>da</strong>s profissões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, e que pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>fini-la,<<strong>br</strong> />
explicitativamente, em termos <strong>de</strong> ciência e utili<strong>da</strong><strong>de</strong> prática [...]. 180<<strong>br</strong> />
O diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>de</strong>u <strong>no</strong>va dimensão às práticas do cui<strong>da</strong>do,<<strong>br</strong> />
esten<strong>de</strong>ndo as perspectivas profissionais ao âmbito <strong>da</strong> investigação científica,<<strong>br</strong> />
avançando para a estruturação <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong> uma ciência <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
No entanto, a etapa do histórico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> proposta por<<strong>br</strong> />
Wan<strong>da</strong> Horta foi alvo <strong>de</strong> voz discor<strong>da</strong>nte, a exemplo do artigo <strong>de</strong> Amália C.<<strong>br</strong> />
Carvalho 181 . Discorrendo so<strong>br</strong>e o histórico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, ela aponta os direitos do<<strong>br</strong> />
paciente. Para a autora, a profissão <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, bem como <strong>de</strong> outras áreas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
saú<strong>de</strong>, preocupa<strong>da</strong> em estabelecer rotinas para facilitar seu trabalho, alcançar maior<<strong>br</strong> />
produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, relega as reais necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e os anseios do paciente internado.<<strong>br</strong> />
179 CARVALHO, V. <strong>de</strong>. A problemática do diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 25, n. 1/2, p.114-125, jan/a<strong>br</strong>. 1972. p.123.<<strong>br</strong> />
180 CARVALHO, V. <strong>de</strong>. Op. cit. p.118.<<strong>br</strong> />
181 CARVALHO, A. C. Consi<strong>de</strong>rações so<strong>br</strong>e o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> campo na <strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 25, n. 5, p.149-153, out./<strong>de</strong>z. 1972.
74<<strong>br</strong> />
Será do seu agrado submeter-se a tantos interrogatórios? Não po<strong>de</strong>rá<<strong>br</strong> />
esquivar-se <strong>da</strong> anamnese do médico e, muitas vezes, <strong>de</strong> um ou muitos<<strong>br</strong> />
estu<strong>da</strong>ntes <strong>de</strong> medicina; terá que aceitar também que enfermeiras e<<strong>br</strong> />
estu<strong>da</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> o o<strong>br</strong>iguem a tão fastidioso processo?<<strong>br</strong> />
Compreen<strong>de</strong>rá ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente a intenção <strong>de</strong>sses interrogatórios? Saberá<<strong>br</strong> />
em que consiste, e fará mesmo questão <strong>de</strong> receber o cui<strong>da</strong>do integral, se<<strong>br</strong> />
isso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> ter <strong>de</strong> abdicar <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong> particular? Será<<strong>br</strong> />
que isso é o que realmente espera do pessoal <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>? 182<<strong>br</strong> />
Esse questionamento está presente até hoje, entre os alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong> graduação,<<strong>br</strong> />
que consi<strong>de</strong>ram o histórico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> longo e exaustivo para o indivíduo<<strong>br</strong> />
internado.<<strong>br</strong> />
Wan<strong>da</strong> Horta <strong>de</strong>u continui<strong>da</strong><strong>de</strong> ao seu estudo so<strong>br</strong>e diagnóstico <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> publicando o artigo Estudo básico <strong>da</strong> <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, em 1972 183 , teorizando que, ao <strong>de</strong>terminar o diagnóstico, a<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> precisaria <strong>de</strong>terminar o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência do atendimento em<<strong>br</strong> />
natureza e extensão. O critério <strong>de</strong> natureza divi<strong>de</strong>-se em total e parcial, consistindo<<strong>br</strong> />
em ações <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>r (A), orientar (O), supervisionar (S) e encaminhar (E); e, em<<strong>br</strong> />
extensão, atribui-se um número para o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, dispondo-se<<strong>br</strong> />
numeração <strong>de</strong> 1 a 5, conforme a <strong>de</strong>pendência do indivíduo com relação aos<<strong>br</strong> />
cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> necessários para a satisfação <strong>de</strong> suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Em<<strong>br</strong> />
sua conclusão, a autora incentiva realização <strong>de</strong> estudos clínicos experimentais para<<strong>br</strong> />
vali<strong>da</strong>ção dos preceitos teóricos e <strong>de</strong> pesquisas para <strong>de</strong>terminar o grau <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> básica afeta<strong>da</strong>.<<strong>br</strong> />
A aplicação <strong>de</strong>sse critério para elaboração do diagnóstico está em <strong>de</strong>suso<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>s dias atuais, tendo sido <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s outras taxo<strong>no</strong>mias, a partir <strong>de</strong> conceitos<<strong>br</strong> />
iniciados naquela época, por enfermeiras que buscavam a auto<strong>no</strong>mia e a<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>limitação do espaço <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> na área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Após a publicação dos artigos <strong>de</strong> Horta so<strong>br</strong>e sua <strong>metodologia</strong>, seguiram<<strong>br</strong> />
publicações <strong>de</strong> relatos <strong>da</strong> aplicação do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e sua vali<strong>da</strong>ção<<strong>br</strong> />
como instrumento <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> trabalho do enfermeiro, <strong>de</strong>monstrando os<<strong>br</strong> />
problemas que essa <strong>metodologia</strong> enfrentaria.<<strong>br</strong> />
182 CARVALHO, A. C. Op. cit. p.151.<<strong>br</strong> />
183 HORTA, W. A. Estudo básico <strong>da</strong> <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 25, n. 4, p.267-273, jul./set. 1972.
75<<strong>br</strong> />
A aplicação <strong>da</strong> prescrição <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> é relata<strong>da</strong> em artigo publicado em<<strong>br</strong> />
1974, por Cianciarullo, Koizumi e Fernan<strong>de</strong>s 184 . As autoras já apontavam, nessa<<strong>br</strong> />
época, resistência à aplicação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> científica, representa<strong>da</strong> por período<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> dois a<strong>no</strong>s e meio, para conseguir implementá-la. Comentam elas:<<strong>br</strong> />
No entanto, quando tentamos racionalizar a assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
hospital particular, encontramos barreiras, já consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s comuns e até<<strong>br</strong> />
agora aparentemente insolúveis, tais como: enfermeiras em número<<strong>br</strong> />
insuficiente e pouco prepara<strong>da</strong>s para enfrentar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do hospital<<strong>br</strong> />
particular e pessoal subalter<strong>no</strong> que, mesmo sendo suficiente na quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
é <strong>de</strong>ficitário <strong>no</strong> seu preparo.<<strong>br</strong> />
O planejamento <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> que nas escolas e hospitaisescola<<strong>br</strong> />
está se tornando um componente natural <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mais transforma-se em “tabu” ou simplesmente é ig<strong>no</strong>rado. 185<<strong>br</strong> />
A <strong>de</strong>ficiência quantitativa <strong>no</strong> número <strong>de</strong> enfermeiras, principalmente em<<strong>br</strong> />
hospitais não-governamentais, é relata<strong>da</strong> pelas enfermeiras do INPS Oguisso e<<strong>br</strong> />
Schmidt, em artigo publicado em 1976. Responsáveis pela avaliação do serviço <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> prestado a esse instituto, elas fazem um relatório <strong>da</strong> assistência<<strong>br</strong> />
hospitalar dos enfermeiros cre<strong>de</strong>nciados por ele.<<strong>br</strong> />
Embora o i<strong>de</strong>al seja, realmente, a prestação <strong>da</strong> assistência direta e pessoal<<strong>br</strong> />
ao paciente pela enfermeira, a não ser em Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Terapia Intensiva e<<strong>br</strong> />
em alguns poucos hospitais governamentais que contam em seu quadro <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
pessoal com enfermeiras em número até razoável, a gran<strong>de</strong> maioria ou a<<strong>br</strong> />
quase totali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos hospitais não governamentais não dispõe, ain<strong>da</strong>, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermeiras para <strong>da</strong>r cobertura assistencial direta. 186<<strong>br</strong> />
Dessa forma, a tônica <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> a baixo custo ain<strong>da</strong> era forte na<<strong>br</strong> />
déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, pois as enfermeiras concentravam-se <strong>no</strong>s hospitais públicos, <strong>da</strong><strong>da</strong><<strong>br</strong> />
a escassez <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s na iniciativa priva<strong>da</strong>.<<strong>br</strong> />
As enfermeiras ficavam em cargos diretivos do serviço <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> do<<strong>br</strong> />
hospital, ou em chefia <strong>de</strong> centro cirúrgico ou obstétrico, ou na supervisão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
áreas, às vezes, isso extrapolava o próprio serviço <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e elas<<strong>br</strong> />
responsabilizavam-se por setores outros, como nutrição e lavan<strong>de</strong>ria. Quanto às<<strong>br</strong> />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s administrativas, elas não se restringiam apenas à previsão e requisição<<strong>br</strong> />
184 CIANCIARULLO, T. I.; KOIZUMI, M. S.; FERNANDES, R. A. Q. Prescrição <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Experiências <strong>de</strong> sua aplicação em hospital particular. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Janeiro, v. 27, n. 2, p.144-149, a<strong>br</strong>./jun. 1974.<<strong>br</strong> />
185 CIANCIARULLO, T. I.; KOIZUMI, M. S.; FERNANDES, R. A. Q. Op. cit. p.144.<<strong>br</strong> />
186 OGUISSO, T.; SCHMIDT, M. J. Problemas assistenciais <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong>s hospitais e clínicas<<strong>br</strong> />
particulares. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 29, n. 1, p.24-37, fev. 1976. p.25.
76<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> materiais, equipamentos, aparelhos e medicamentos para a uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas<<strong>br</strong> />
também se relacionavam com a elaboração <strong>da</strong>s próprias contas hospitalares dos<<strong>br</strong> />
pacientes 187 .<<strong>br</strong> />
Essas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s administrativas distanciavam a enfermeira do cui<strong>da</strong>do direto,<<strong>br</strong> />
acarretando nela receio <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar esse papel, quando solicitado:<<strong>br</strong> />
[...] algumas enfermeiras quando entrevista<strong>da</strong>s, após vistoria, confessavam<<strong>br</strong> />
simplesmente não ter segurança para executar esta ou aquela técnica.<<strong>br</strong> />
Entre estas técnicas <strong>de</strong>stacamos a son<strong>da</strong>gem gástrica, vesical,<<strong>br</strong> />
enteroclisma, certos curativos e até aplicação <strong>de</strong> venóclise. Conseqüência<<strong>br</strong> />
direta <strong>de</strong>sta insegurança, será, por certo, a fuga <strong>de</strong>stas situações, em<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>trimento <strong>da</strong> supervisão e orientação <strong>de</strong> funcionários, função específica<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong>s enfermeiras nesses hospitais. 188<<strong>br</strong> />
Essa confissão revela a dicotomia entre a teoria e a prática assistencial.<<strong>br</strong> />
Enquanto aquela pregava o retor<strong>no</strong> ao cui<strong>da</strong>do integral, essa mostrava as<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ficiências e inseguranças dos profissionais em prestar a assistência direta. Assim,<<strong>br</strong> />
a enfermeira que prestaria o cui<strong>da</strong>do direto ao paciente <strong>de</strong>veria também se ocupar<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong>s tarefas administrativas, o que retirava sua <strong>de</strong>streza na execução <strong>da</strong> técnica,<<strong>br</strong> />
expondo-a a avaliação por parte do pessoal auxiliar. Isso evi<strong>de</strong>ncia a ina<strong>de</strong>quação<<strong>br</strong> />
do ensi<strong>no</strong> à prática <strong>da</strong>s enfermeiras, um <strong>de</strong>scompasso entre o fazer e o saber.<<strong>br</strong> />
Outro problema <strong>de</strong>scrito pelas autoras do artigo em suas vistorias era o<<strong>br</strong> />
‘empréstimo’ do <strong>no</strong>me <strong>da</strong> enfermeira a instituições que não a empregavam, o que<<strong>br</strong> />
era explicado pelo fato <strong>de</strong> o INPS condicionar os convênios com hospitais à<<strong>br</strong> />
existência <strong>da</strong> profissional ‘enfermeira’ em seus quadros. “É lamentável que muitas<<strong>br</strong> />
colegas não compreen<strong>da</strong>m ain<strong>da</strong> suas responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s como profissionais e dêem<<strong>br</strong> />
apenas seu <strong>no</strong>me a algumas <strong>de</strong>ssas enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s, em troca <strong>de</strong> uma gratificação ínfima<<strong>br</strong> />
sem maior atenção ao trabalho que lhes competiria executar nessas Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s” 189 .<<strong>br</strong> />
Mais uma vez, a lógica <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> a baixo custo faz-se presente. O que<<strong>br</strong> />
constituiria gran<strong>de</strong> avanço <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong> trabalho e reconhecimento <strong>da</strong> categoria<<strong>br</strong> />
não foi entendido por parcela dos profissionais, que se sujeitavam a esse papel em<<strong>br</strong> />
troca <strong>de</strong> ínfimos ganhos financeiros. Esse fato ilustra a hipótese apresenta<strong>da</strong> por<<strong>br</strong> />
Alves 190 <strong>de</strong> que o mercado <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>termina o comportamento <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
187 OGUISSO, T.; SCHMIDT, M. J. Op. cit.<<strong>br</strong> />
188 OGUISSO, T.; SCHMIDT, M. J. Op. cit. p.33.<<strong>br</strong> />
189 OGUISSO, T.; SCHMIDT, M. J. Op. cit. p.34.<<strong>br</strong> />
190 ALVES, D. B. Mercado e condições <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>. Salvador: Gráfica Central,<<strong>br</strong> />
1987.
77<<strong>br</strong> />
trabalhadoras <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Ela complementa dizendo que o comportamento <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
trabalhadoras <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> também influencia o comportamento do mercado <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
trabalho.<<strong>br</strong> />
Levantamento realizado em 1985, em Salvador, Bahia, por Alves 191 ,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>monstrou que o mercado público previ<strong>de</strong>nciário prefere a mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
enfermeira (42,8%) e <strong>da</strong> auxiliar, enquanto o mercado privado privilegia a mão-<strong>de</strong>o<strong>br</strong>a<<strong>br</strong> />
não-qualifica<strong>da</strong>, isto é, a <strong>da</strong> aten<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, com 45,3%. Nas 65<<strong>br</strong> />
empresas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, o setor curativo absorve 87,8% <strong>da</strong>s trabalhadoras <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, enquanto as empresas do setor <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública <strong>de</strong>têm 12,2% <strong>de</strong>ssas<<strong>br</strong> />
trabalhadoras.<<strong>br</strong> />
Corroboram essa visão Oguisso e Schmidt:<<strong>br</strong> />
Esta é, portanto, uma <strong>da</strong>s primeiras características <strong>de</strong> hospital não<<strong>br</strong> />
governamental, isto é, a carência permanente <strong>de</strong> profissional enfermeira.<<strong>br</strong> />
Esse problema é consi<strong>de</strong>rado por muitas enfermeiras como insolúvel, pois a<<strong>br</strong> />
primeira preocupação <strong>de</strong> qualquer empresário, assim consi<strong>de</strong>rados também<<strong>br</strong> />
os proprietários ou sócios e o diretor do hospital, é obter o máximo <strong>de</strong> ren<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
ou receita com o mínimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas. O aumento <strong>da</strong> receita é, em geral,<<strong>br</strong> />
obtido mediante eco<strong>no</strong>mia na contratação <strong>de</strong> pessoal qualificado. Por ser<<strong>br</strong> />
mais onerosa a contratação <strong>de</strong> enfermeiras, estas são substituí<strong>da</strong>s por<<strong>br</strong> />
auxiliares <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e até por aten<strong>de</strong>ntes, a quem são entregues<<strong>br</strong> />
atribuições e responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s que <strong>de</strong>veriam caber somente às<<strong>br</strong> />
enfermeiras. 192<<strong>br</strong> />
Esses <strong>da</strong>dos evi<strong>de</strong>nciam a lógica do mercado capitalista, que, para baixar os<<strong>br</strong> />
custos, contrata prioritariamente pessoal <strong>de</strong> me<strong>no</strong>r qualificação, acrescentando a<<strong>br</strong> />
seus quadros profissionais graduados apenas para a administração e chefia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
equipes <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. “A posição <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> mercado <strong>de</strong> trabalho é<<strong>br</strong> />
agrava<strong>da</strong> pelo débil po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> participação em processos <strong>de</strong>cisórios, que além <strong>de</strong> ser<<strong>br</strong> />
limitado é <strong>de</strong> âmbito exclusivo <strong>da</strong>s enfermeiras, e, fun<strong>da</strong>mentalmente, que assumem<<strong>br</strong> />
cargos <strong>de</strong> chefia” 193 .<<strong>br</strong> />
Essa falta <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> participação em processos <strong>de</strong>cisórios também é<<strong>br</strong> />
reflexo do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Os preceitos <strong>de</strong> abnegação e subserviência<<strong>br</strong> />
refletem-se na prática, quando os profissionais enten<strong>de</strong>m ser essa a lógica do<<strong>br</strong> />
processo <strong>de</strong> trabalho na área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
191 ALVES, D. B. Op. cit. 1987.<<strong>br</strong> />
192 OGUISSO, T.; SCHMIDT, M. J. Op. cit. 1976. p.24.<<strong>br</strong> />
193 ALVES, D. B. Op. cit. 1987. p.54.
78<<strong>br</strong> />
A dicotomia teoria-prática foi aponta<strong>da</strong>, quando, em pesquisa so<strong>br</strong>e a<<strong>br</strong> />
aplicação <strong>da</strong> prescrição <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, constatou-se que “O planejamento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> que nas escolas e hospitais-escola está se tornando um<<strong>br</strong> />
componente natural <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, <strong>no</strong>s <strong>de</strong>mais se transforma em ‘tabu’ ou<<strong>br</strong> />
simplesmente é ig<strong>no</strong>rado” 194 .<<strong>br</strong> />
Esse relato expõe a restrição <strong>da</strong> aplicação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência à<<strong>br</strong> />
teoria. A prática ain<strong>da</strong> não havia incorporado a sistematização <strong>da</strong> assistência em seu<<strong>br</strong> />
processo <strong>de</strong> trabalho, fato presente, ain<strong>da</strong> na hoje, pois a resistência à aplicação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> científica é percebi<strong>da</strong> nas instituições <strong>br</strong>asileiras.<<strong>br</strong> />
Em sua tese <strong>de</strong> doutorado, publica<strong>da</strong> em 1974 195 , Wan<strong>da</strong> Horta i<strong>de</strong>ntifica,<<strong>br</strong> />
como resultado <strong>de</strong> sua pesquisa:<<strong>br</strong> />
[...] que a <strong>enfermagem</strong> hospitalar encontra-se volta<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> para os<<strong>br</strong> />
cui<strong>da</strong>dos clínicos (or<strong>de</strong>ns médicas) dos pacientes, pois aqueles problemas<<strong>br</strong> />
i<strong>de</strong>ntificados se referiam principalmente à verificação dos sinais vitais,<<strong>br</strong> />
controle <strong>de</strong> diurese, curativos, son<strong>da</strong> vesical, venóclise, oxigênio-terapia,<<strong>br</strong> />
jejum, son<strong>da</strong> naso-gástrica, controle <strong>de</strong> vômitos e evacuações e a queixas<<strong>br</strong> />
dos pacientes relaciona<strong>da</strong>s às dores. 196<<strong>br</strong> />
Poucos foram os problemas i<strong>de</strong>ntificados em áreas específicas <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, como: condições <strong>de</strong> limpeza corporal, condições dos locais para<<strong>br</strong> />
medicação parenteral, cui<strong>da</strong>dos com o revestimento cutâneo-mucoso, locomoção,<<strong>br</strong> />
so<strong>no</strong> e repouso.<<strong>br</strong> />
Esse enfoque <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong>s cui<strong>da</strong>dos clínicos é explicado, em parte,<<strong>br</strong> />
pela introdução <strong>da</strong> alta tec<strong>no</strong>logia <strong>no</strong> cenário hospitalar <strong>de</strong>ssa déca<strong>da</strong>, tornando as<<strong>br</strong> />
ações <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> mais complexas, <strong>da</strong>ndo ênfase na eficiência em administrar<<strong>br</strong> />
tratamentos sofisticados e em <strong>no</strong>vos medicamentos.<<strong>br</strong> />
A preocupação <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s consiste, portanto, na eficácia <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
competência técnica como meta a ser persegui<strong>da</strong> por todos os profissionais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
194 CIANCIARULLO, T. I.; KOIZUMI, M. S.; FERNANDES, R. A. Q. Prescrição <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Experiências <strong>de</strong> sua aplicação em hospital particular. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Janeiro, v. 27, n. 2, p.144-149, a<strong>br</strong>./jun. 1974. p.144.<<strong>br</strong> />
195 HORTA, W. A. A observação sistematiza<strong>da</strong> na i<strong>de</strong>ntificação dos problemas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em<<strong>br</strong> />
seus aspectos físicos. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 27, n. 2, p.214-219,<<strong>br</strong> />
a<strong>br</strong>./jun. 1974.<<strong>br</strong> />
196 HORTA, W. A. Op. cit. 1974. p.217.
79<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, com vistas a contribuir com o avanço tec<strong>no</strong>lógico, com o<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvimento 197 .<<strong>br</strong> />
O mo<strong>de</strong>lo tecnicista, o culto à eficiência, trouxe prestígio às ações <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, que retor<strong>no</strong>u ao cui<strong>da</strong>do direto em uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> alta especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
porém, acarretou o distanciamento entre a enfermeira e o ser huma<strong>no</strong>, interpondo<<strong>br</strong> />
entre eles a máquina e sacramentando a sua condição <strong>de</strong> auxiliar médico.<<strong>br</strong> />
Nesse sentido, torna-se importante ressaltar que esse é um período (1970-<<strong>br</strong> />
75) em que se registra uma acentua<strong>da</strong> tendência à privatização do<<strong>br</strong> />
atendimento médico. Em conseqüência, a formação <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> teria <strong>de</strong> refletir a mercantilização que avançava ca<strong>da</strong> vez mais<<strong>br</strong> />
na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. E isto <strong>de</strong> fato ocorreu, segundo se po<strong>de</strong> verificar pela<<strong>br</strong> />
última legislação do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> – Parecer 163/72 –CFE, que<<strong>br</strong> />
consolidou a exclusão <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> pública, conforme já estabelecia a<<strong>br</strong> />
legislação anterior (Parecer 271/62 – CFE); e assim privilegiou ca<strong>da</strong> vez<<strong>br</strong> />
mais as disciplinas curativas, pois são essas que requerem um maior<<strong>br</strong> />
consumo <strong>de</strong> equipamentos médicos e medicamentos, conforme as<<strong>br</strong> />
exigências do capital. 198<<strong>br</strong> />
Corrobora essa percepção Alves:<<strong>br</strong> />
À medi<strong>da</strong> que o capital foi aumentando houve um crescimento <strong>no</strong> mercado<<strong>br</strong> />
hospitalar curativo, com subseqüente simplificação e <strong>de</strong>squalificação <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
ocupações <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e criação do seu trabalhador coletivo. O sistema<<strong>br</strong> />
educacional foi legitimando essa situação, legitimando a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> na<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, ao preparar trabalhadoras parciais <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> para<<strong>br</strong> />
aten<strong>de</strong>r o mercado <strong>de</strong> trabalho. 199<<strong>br</strong> />
Essa preparação parcial, volta<strong>da</strong> exclusivamente para o atendimento<<strong>br</strong> />
hospitalar, atendia ao mercado <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970. É fato ilustrativo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sse foco na educação a criação dos primeiros cursos <strong>de</strong> pós-graduação voltados<<strong>br</strong> />
preferencialmente para as áreas médica e cirúrgica, que ofereciam maior número <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
vagas <strong>no</strong> mercado <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong> época.<<strong>br</strong> />
Concomitantemente a isso, a publicação <strong>de</strong> artigos so<strong>br</strong>e a <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
assistência prosseguia, em artigo publicado por Lygia Paim 200 , em 1976, ressaltando<<strong>br</strong> />
a importância <strong>da</strong> prescrição <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, como: “[...] ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> principal do<<strong>br</strong> />
enfermeiro e, portanto, [que] correspon<strong>de</strong> àquela uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho que, uma vez<<strong>br</strong> />
197 GERMANO, R. M. Educação e i<strong>de</strong>ologia <strong>da</strong> Enfermagem <strong>no</strong> Brasil. São Paulo: Cortez, 1983.<<strong>br</strong> />
p.104.<<strong>br</strong> />
198 GERMANO, R. M. Op. cit. p.95.<<strong>br</strong> />
199 ALVES, D. B. Op. cit. 1987. p.95.<<strong>br</strong> />
200 PAIM, L. Sistema <strong>de</strong> registros <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, pla<strong>no</strong> assistencial e prescrições <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 29, n. 3, p.66-82, jul./set. 1976.
80<<strong>br</strong> />
assumi<strong>da</strong>, projetará to<strong>da</strong> <strong>no</strong>ssa auto<strong>no</strong>mia <strong>de</strong> enfermeiros <strong>no</strong> <strong>de</strong>sempenho<<strong>br</strong> />
profissional” 201 .<<strong>br</strong> />
Ela aponta, em seu artigo, que, embora <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1965 o Congresso Brasileiro<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Enfermagem recomen<strong>da</strong>sse a utilização <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>,<<strong>br</strong> />
isso não foi assumido pelos profissionais como prioritário <strong>no</strong> <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> suas<<strong>br</strong> />
ações. Nessa pesquisa realiza<strong>da</strong> com enfermeiros <strong>de</strong> escolas e <strong>de</strong> hospitais-escola,<<strong>br</strong> />
Lygia Paim aponta como impedimentos a isso: 1. relativos às escolas – défice<<strong>br</strong> />
qualitativo do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos, <strong>da</strong> aprendizagem <strong>de</strong> conceitos chave<<strong>br</strong> />
para elaboração do pla<strong>no</strong> e défice <strong>de</strong> aproximação com as instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>; 2. relativos às instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> – sistema centrado em tarefas<<strong>br</strong> />
(produção), défice <strong>de</strong> participação <strong>de</strong> administradores na provisão <strong>de</strong> condições<<strong>br</strong> />
para a realização <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong>ssa natureza, por enfermeiros, défice <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
aproximação com as escolas; 3. relativos a falta <strong>de</strong> consenso <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> – défice <strong>de</strong> estudos em grupo so<strong>br</strong>e aspectos qualitativos do cui<strong>da</strong>do,<<strong>br</strong> />
défice <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança dos próprios enfermeiros em sua área <strong>de</strong> auto<strong>no</strong>mia; 4.<<strong>br</strong> />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s na composição <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> – défice <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> equipe<<strong>br</strong> />
e <strong>de</strong> pessoal auxiliar qualificado; 5. imposição <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s inespecíficas ao<<strong>br</strong> />
enfermeiro.<<strong>br</strong> />
Paim consi<strong>de</strong>ra, ain<strong>da</strong>, que o ensi<strong>no</strong> do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> parece ter<<strong>br</strong> />
ficado <strong>no</strong> nível <strong>de</strong> idéia geral, mais preocupado em informar so<strong>br</strong>e o pla<strong>no</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
cui<strong>da</strong>dos, sem ensinar a elaborar a prescrição <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Assim, ela propõe o<<strong>br</strong> />
contrário, enten<strong>de</strong>r a prescrição como uni<strong>da</strong><strong>de</strong> valorativa do pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos,<<strong>br</strong> />
estando, para ela, aí, a compreensão <strong>da</strong> não-utilização do pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos. O<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>staque feito por Paim à prescrição <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> concretizou-se na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
1980, quando o pla<strong>no</strong> assistencial foi substituído pela prescrição <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Fazendo alusão futurista, a autora discorre so<strong>br</strong>e a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
programar as prescrições em computadores, visando à auditoria em <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Na contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong>, a prescrição <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> informatiza<strong>da</strong> é reali<strong>da</strong><strong>de</strong> em<<strong>br</strong> />
várias instituições hospitalares e em uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, o que contribui para<<strong>br</strong> />
a visualização quantitativa <strong>da</strong>s ações <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
assistência presta<strong>da</strong> e controle <strong>de</strong> auditorias.<<strong>br</strong> />
201 PAIM, L. Op. cit. 1976. p.67.
81<<strong>br</strong> />
A prescrição unifica<strong>da</strong> dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que, <strong>no</strong>s dias atuais, ain<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
é uma aspiração, já era aponta<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, quando Lygia Paim escrevia,<<strong>br</strong> />
em seu artigo so<strong>br</strong>e prescrição <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, que “Os enfermeiros precisam estar<<strong>br</strong> />
preparados e, <strong>no</strong> mais <strong>br</strong>eve tempo possível, partirem para outros estudos <strong>de</strong> formas<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> registro conjunto em equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>” 202 .<<strong>br</strong> />
Os registros <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> foram também tema <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> Duarte, Reis e<<strong>br</strong> />
Santos 203 , em 1976. So<strong>br</strong>e isso, <strong>da</strong>do significativo a ser resgatado é a citação, pela<<strong>br</strong> />
primeira vez, <strong>da</strong> expressão ‘<strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>’, <strong>no</strong>s artigos<<strong>br</strong> />
analisados <strong>da</strong> revista, <strong>no</strong> período proposto. Em sua pesquisa, elas verificaram que o<<strong>br</strong> />
problema não estava na forma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>da</strong> <strong>de</strong> a<strong>no</strong>tar ou em o que a<strong>no</strong>tar, e sim, na<<strong>br</strong> />
ausência <strong>de</strong> a<strong>no</strong>tações <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Havia <strong>de</strong>fasagem entre o que era<<strong>br</strong> />
preconizado <strong>no</strong> dimensionamento <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> e o que era encontrado <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
exercício <strong>da</strong> profissão. As autoras apontam que os serviços <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>veriam <strong>de</strong>senvolver programas <strong>de</strong> atualização e treinamento do grupo.<<strong>br</strong> />
Essas informações apontam as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s encontra<strong>da</strong>s na prática<<strong>br</strong> />
assistencial para implantação <strong>da</strong> sistematização <strong>da</strong> assistência, como a falta <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
conhecimento <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> por parte dos profissionais, <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
atualização <strong>de</strong>les e a dicotomia teoria-prática.<<strong>br</strong> />
A não-utilização <strong>da</strong> sistematização <strong>da</strong> assistência também é relata<strong>da</strong> por<<strong>br</strong> />
Cal<strong>da</strong>s, Pereira e Alvarez, em artigo <strong>de</strong> 1976 204 . Essas autoras <strong>de</strong>monstram que<<strong>br</strong> />
esses instrumentos não estavam padronizados nem visavam à racionalização do<<strong>br</strong> />
trabalho, e restringiam-se a folha única <strong>de</strong> a<strong>no</strong>tações, balanço hídrico e gráfico <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
sinais vitais. Os instrumentos do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> não eram utilizados nem<<strong>br</strong> />
havia outro que os substituíssem, em que a <strong>enfermagem</strong> registrasse suas<<strong>br</strong> />
observações.<<strong>br</strong> />
Foi <strong>de</strong>clarado não existir competência expressa, <strong>no</strong> momento, para os<<strong>br</strong> />
registros relativos ao <strong>de</strong>senvolvimento do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Em<<strong>br</strong> />
situação i<strong>de</strong>al sugerem os informantes que seja competência do enfermeiro<<strong>br</strong> />
(56,4%) porém a opinião divi<strong>de</strong>-se com as abstenções a esta resposta<<strong>br</strong> />
(43,58 %). Este fato po<strong>de</strong> ser atribuído ao <strong>de</strong>sconhecimento por parte dos<<strong>br</strong> />
enfermeiros <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rna <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. 205<<strong>br</strong> />
202 PAIM, L. Op. cit. 1976. p.74.<<strong>br</strong> />
203 DUARTE, A. B.; REIS, I. E. M. dos.; SANTOS, V. O. Importância <strong>da</strong>s a<strong>no</strong>tações dos cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 29, n. 3, p.83-91, jul./set. 1976.<<strong>br</strong> />
204 CALDAS, N. P.; PEREIRA, A. C.; ALVAREZ, L. H. Instrumentos <strong>de</strong> registro <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 29, n. 3, p.92-102, jul./set. 1976.<<strong>br</strong> />
205 CALDAS, N. P.; PEREIRA, A. C.; ALVAREZ, L. H. Op. cit. 1976. p.99.
82<<strong>br</strong> />
Novamente, o relato do <strong>de</strong>sconhecimento <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência por<<strong>br</strong> />
parte <strong>da</strong> categoria evi<strong>de</strong>ncia que o método ain<strong>da</strong> não estava socializado ou ain<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
não era compreendido. Esse fato parece ser corroborado pelo curto espaço<<strong>br</strong> />
temporal, entre a divulgação <strong>de</strong>sse método, em 1971, e o a<strong>no</strong> <strong>da</strong> pesquisa publica<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
nesse artigo.<<strong>br</strong> />
Em artigo publicado, em 1976, Campos, Machado e Moriya 206 fazem um<<strong>br</strong> />
relato <strong>de</strong> experiência, formulando diagnósticos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>da</strong> família.<<strong>br</strong> />
Realizaram-se visitas domiciliares, com o objetivo <strong>de</strong> pesquisar o streptococcus, e<<strong>br</strong> />
emergiram <strong>da</strong>dos que propuseram diagnósticos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>da</strong> família. Esse<<strong>br</strong> />
diagnóstico limitou-se ao levantamento <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas afeta<strong>da</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Wan<strong>da</strong> Horta, seguindo o referencial <strong>da</strong> época <strong>da</strong> pesquisa. Entretanto, <strong>de</strong>monstra<<strong>br</strong> />
um avanço em termos <strong>de</strong> pesquisa, pois relata a tentativa <strong>da</strong>s autoras <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar<<strong>br</strong> />
os problemas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> na família e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, os quais eram restritos, até<<strong>br</strong> />
então, <strong>de</strong> forma individualiza<strong>da</strong>, ao paciente hospitalizado.<<strong>br</strong> />
Há, entretanto, relatos <strong>de</strong> registros sistematizados, como escrevem Maria et<<strong>br</strong> />
al. 207 , <strong>de</strong> uma experiência <strong>de</strong> cinco a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> utilização <strong>da</strong> ficha Kar<strong>de</strong>x. Essa<<strong>br</strong> />
iniciativa <strong>de</strong>monstra que a teoria <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência foi vali<strong>da</strong><strong>da</strong> na<<strong>br</strong> />
prática assistencial, pois as autoras relatam a experiência <strong>da</strong>s a<strong>no</strong>tações <strong>de</strong> forma<<strong>br</strong> />
sistematiza<strong>da</strong>, para facilitar seu processo <strong>de</strong> trabalho.<<strong>br</strong> />
É curiosa a revelação <strong>da</strong>s autoras <strong>de</strong> que as a<strong>no</strong>tações eram primeiramente<<strong>br</strong> />
escritas a lápis e, posteriormente, a tinta, por incentivo <strong>da</strong> médica que compunha a<<strong>br</strong> />
equipe, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> guardá-las como documentação e pesquisa, pois não faziam<<strong>br</strong> />
parte do prontuário do paciente. Os registros eram compostos por: ficha <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
entrevista (i<strong>de</strong>ntificação, condições gerais, queixas e observações do enfermeiro); a<<strong>br</strong> />
ficha <strong>de</strong> recomen<strong>da</strong>ções (em que eram a<strong>no</strong>ta<strong>da</strong>s as ocorrências durante a<<strong>br</strong> />
internação); e a ficha <strong>de</strong> internação (preenchi<strong>da</strong> na admissão e envia<strong>da</strong> à uni<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> internação).<<strong>br</strong> />
206 CAMPOS, E.; MACHADO, M. H.; MORIYA, T.M. Tentativa <strong>de</strong> um diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
família. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 29, n. 4, p.25-27, out./<strong>de</strong>z. 1976.<<strong>br</strong> />
207 MARIA, V. L. R. et al. Evolução do paciente: a<strong>no</strong>tações <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Kar<strong>de</strong>x e passagem <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
plantão com equipe multiprofissional. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 30, n. 3, p.237-<<strong>br</strong> />
243, jul./set. 1977.
83<<strong>br</strong> />
É através do kar<strong>de</strong>x que temos uma visão geral <strong>de</strong> todos os pacientes<<strong>br</strong> />
internados e conseqüentemente do seu estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> (diagnóstico), po<strong>de</strong>-se então fazer o planejamento <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos funcionários, revertendo numa melhor assistência com me<strong>no</strong>r<<strong>br</strong> />
esforço. 208<<strong>br</strong> />
Percebe-se, <strong>no</strong> entanto, que o <strong>de</strong>senvolvimento dos registros sistematizados<<strong>br</strong> />
visavam à solução <strong>de</strong> problemas administrativos e não a favorecer o planejamento<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> assistência, tendo a enfermeira <strong>de</strong> buscar melhoria na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do serviço<<strong>br</strong> />
prestado.<<strong>br</strong> />
3.4 O ENSINO DO PROCESSO DE ENFERMAGEM<<strong>br</strong> />
A dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> aplicação do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> gera questionamentos<<strong>br</strong> />
quanto ao seu processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>-aprendizagem na graduação. Os artigos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Wan<strong>da</strong> Horta já traziam o relato do ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência.<<strong>br</strong> />
A percepção do alu<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> so<strong>br</strong>e o processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> está<<strong>br</strong> />
relata<strong>da</strong> <strong>no</strong> artigo <strong>de</strong> Koch e Oka 209 (1977), <strong>no</strong> qual evi<strong>de</strong>nciam que a maioria dos<<strong>br</strong> />
discentes não acreditava em sua aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> prática, <strong>de</strong>vido principalmente à sua<<strong>br</strong> />
complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>, que exigia muito tempo para execução. As opiniões quanto ao<<strong>br</strong> />
processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> foram assim con<strong>de</strong>nsa<strong>da</strong>s pelas autoras:<<strong>br</strong> />
Para o paciente – o processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> aju<strong>da</strong> em todos os aspectos,<<strong>br</strong> />
individualizando-o, porque ele se sente mais seguro e tratado como pessoa.<<strong>br</strong> />
A equipe <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> – acharam que foi difícil a colaboração <strong>da</strong> equipe,<<strong>br</strong> />
embora se <strong>no</strong>te um melhor entrosamento com aqueles que tem boa<<strong>br</strong> />
vonta<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
A equipe médica – não participou muito, talvez mais por não terem<<strong>br</strong> />
conhecimento do assunto do que por resistência à modificação.<<strong>br</strong> />
Quanto à própria atuação – muito teórico, mas <strong>de</strong>u para motivar a<<strong>br</strong> />
modificação.<<strong>br</strong> />
Quanto à viabili<strong>da</strong><strong>de</strong> na prática profissional – infelizmente a maioria não<<strong>br</strong> />
acreditou muito na sua viabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido principalmente à sua<<strong>br</strong> />
complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>, exigindo muito tempo para sua execução. 210<<strong>br</strong> />
208 MARIA, V. L. R. et al. Op. cit. 1977. p.240.<<strong>br</strong> />
209 KOCH, R. M. e OKA, L. N. Processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> – avaliação feita por alu<strong>no</strong>s do Departamento<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Enfermagem <strong>da</strong> UCP. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 30, n. 3, p.274-285, jul./set.<<strong>br</strong> />
1977.<<strong>br</strong> />
210 KOCH, R. M. e OKA, L. N. Op. cit. 1977. p.280.
84<<strong>br</strong> />
Esse artigo talvez forneça subsídios para compreen<strong>de</strong>r como o alu<strong>no</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
graduação modificava a prática assistencial, ao levar o aprendizado <strong>da</strong> aca<strong>de</strong>mia<<strong>br</strong> />
para a prática. Se ele, ao graduar-se, não se motivara com o processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, como implementá-lo em seu processo <strong>de</strong> trabalho?<<strong>br</strong> />
Corroboram essa constatação Sanchéz et al.: “É <strong>no</strong>tória a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
aprendizagem do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> pelos alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong> graduação. Dificul<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
esta, <strong>de</strong>monstra<strong>da</strong> pela atuação não significativa <strong>de</strong>stes egressos como agentes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
mu<strong>da</strong>nça quando profissionais” 211 .<<strong>br</strong> />
Elas apontam causas para essas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s:<<strong>br</strong> />
Po<strong>de</strong>mos ain<strong>da</strong> referenciar que a dissociação teórico-prática <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, <strong>no</strong> campo, pelos alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
graduação, vem sendo evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong> pela ina<strong>de</strong>quação dos campos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
ensi<strong>no</strong> clínico que por sua vez ain<strong>da</strong> não operacionalizam um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> sistematiza<strong>da</strong>. 212<<strong>br</strong> />
A falta <strong>de</strong> motivação dos alu<strong>no</strong>s foi provoca<strong>da</strong> também pela não<<strong>br</strong> />
implementação <strong>de</strong>ssa <strong>metodologia</strong> <strong>no</strong>s campos <strong>de</strong> estágio, pois não vivenciavam o<<strong>br</strong> />
processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, percebiam-<strong>no</strong> como mais um conteúdo acadêmico, sem<<strong>br</strong> />
aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> trabalho do enfermeiro.<<strong>br</strong> />
No artigo <strong>de</strong> Koch e Oka, revela-se a relutância <strong>da</strong> aplicação do processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> por enfermeiros que trabalhavam em escolas ou em hospitais, por<<strong>br</strong> />
motivos que ain<strong>da</strong> estão presentes <strong>no</strong> discurso <strong>da</strong> categoria, como: falta <strong>de</strong> tempo,<<strong>br</strong> />
falta <strong>de</strong> pessoal, pouco resultado positivo. Entretanto, ao discorrer so<strong>br</strong>e a aplicação<<strong>br</strong> />
do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, elas fazem um alerta: ”É necessário lem<strong>br</strong>ar, ain<strong>da</strong>,<<strong>br</strong> />
que, com a <strong>no</strong>va legislação so<strong>br</strong>e o exercício profissional, esta será a função<<strong>br</strong> />
específica do enfermeiro em futuro próximo” 213 .<<strong>br</strong> />
Esse trecho revela que a categoria já havia reconhecido a sistematização <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> como importante instrumento em seu processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
trabalho, fato comprovado pela sua inclusão <strong>no</strong> projeto <strong>da</strong> <strong>no</strong>va lei do exercício<<strong>br</strong> />
profissional <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, que foi promulga<strong>da</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> publicação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sse artigo.<<strong>br</strong> />
211 SANCHÉZ, S. et al. Fatores que influenciam na implementação <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> assistência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> – uma proposta alternativa. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 37, n. 3/4,<<strong>br</strong> />
p.195-204, jul./<strong>de</strong>z. 1984. p.197.<<strong>br</strong> />
212 SANCHÉZ, S. et al Op. cit. 1984. p.198.<<strong>br</strong> />
213 KOCH, R. M. e OKA, L. N. Op. cit. p.281.
85<<strong>br</strong> />
Elas terminam seu artigo apostando nessa <strong>metodologia</strong>:<<strong>br</strong> />
Cremos que, com a aplicação <strong>de</strong> assistência sistematiza<strong>da</strong>, po<strong>de</strong> ser<<strong>br</strong> />
diminuído o número <strong>de</strong> funcionários, e além disso, o enfermeiro<<strong>br</strong> />
aproximando-se mais do paciente, retoma seu lugar <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. O tempo que se per<strong>de</strong> na elaboração do pla<strong>no</strong> e coleta <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>da</strong>dos é ganho na prestação <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos previamente estabelecidos e<<strong>br</strong> />
a<strong>de</strong>quados. 214<<strong>br</strong> />
A aproximação ao paciente e o cui<strong>da</strong>do direto são utilizados como argumento<<strong>br</strong> />
para a valorização <strong>da</strong> categoria e <strong>da</strong> li<strong>de</strong>rança e para a diminuição <strong>de</strong> funcionários<<strong>br</strong> />
necessários, acompanhando o contexto <strong>da</strong> época, ou seja, os avanços tec<strong>no</strong>lógicos,<<strong>br</strong> />
a valorização do cui<strong>da</strong>do direto e a diminuição <strong>de</strong> custos.<<strong>br</strong> />
Outro relato <strong>da</strong>s resistências é fornecido por artigo que discorre so<strong>br</strong>e a<<strong>br</strong> />
implantação do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> fun<strong>da</strong>mentado <strong>no</strong> referencial teórico <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Wan<strong>da</strong> Horta:<<strong>br</strong> />
Dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s foram encontra<strong>da</strong>s na implantação do Processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem <strong>no</strong> Hospital Ana Nery e continuam a estar presentes em sua<<strong>br</strong> />
execução. Em primeiro lugar por ser uma <strong>metodologia</strong> <strong>no</strong>va <strong>de</strong> trabalho e,<<strong>br</strong> />
em segundo, porque em to<strong>da</strong> e qualquer mu<strong>da</strong>nça metodológica ocorrem<<strong>br</strong> />
resistências. 215<<strong>br</strong> />
Apesar <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> implementação aponta<strong>da</strong>s, as autoras relatam<<strong>br</strong> />
mais uma vez a relevância profissional <strong>de</strong>ssa sistematização na fala dos<<strong>br</strong> />
enfermeiros: “Assim, <strong>no</strong> geral, as enfermeiras sentem que o processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> [...] dá um cunho científico e eficiente à sua ação; proporciona maior<<strong>br</strong> />
auto<strong>no</strong>mia profissional; facilita a assistência específica ao paciente” 216 .<<strong>br</strong> />
Outras autoras, além <strong>de</strong> Wan<strong>da</strong> Horta, propuseram uma <strong>metodologia</strong> para<<strong>br</strong> />
sistematizar as ações <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, como Lygia Paim, Rosal<strong>da</strong> Paim e Liliana<<strong>br</strong> />
Daniel 217 .<<strong>br</strong> />
Na análise dos artigos <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 1960 e 1970, <strong>da</strong> Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, observou-se plurali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> termos utilizados com o mesmo<<strong>br</strong> />
significado, como: planejamento <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos, pla<strong>no</strong> assistencial e pla<strong>no</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
214 KOCH, R. M. e OKA, L. N. Op. cit. p.281.<<strong>br</strong> />
215 LUCKESI, M. A. V. et al. Aplicação do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> hospital Ana Nery. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 31, n. 2, p.141-156, a<strong>br</strong>./jun. 1978. p.151.<<strong>br</strong> />
216 LUCKESI, M. A. V. et al. Op. cit. p.151.<<strong>br</strong> />
217 PAULA, N. S. <strong>de</strong>, et al. Assistência <strong>de</strong> Enfermagem sistematiza<strong>da</strong> – experiência <strong>de</strong> aprendizado.<<strong>br</strong> />
Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 37, n. 1, p. 65-71, jan./mar. 1984.
86<<strong>br</strong> />
cui<strong>da</strong>dos; a<strong>no</strong>tações e registros; sistematização <strong>da</strong> assistência, processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> e <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência.<<strong>br</strong> />
Essa diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> termi<strong>no</strong>lógica foi observa<strong>da</strong> também por Simões 218 que,<<strong>br</strong> />
revisando publicações na REBEn, entre 1974 e 1978, observou a inexistência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
uma linguagem homogênea na comunicação entre os enfermeiros.<<strong>br</strong> />
Há excesso <strong>de</strong> termos com significado semelhante, o uso <strong>de</strong> certas palavras<<strong>br</strong> />
não é uniforme, multiplicam-se as palavras para <strong>de</strong>signar a mesma coisa,<<strong>br</strong> />
dificultando a interpretação do pensamento do autor, como: ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, atendimento <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, citados<<strong>br</strong> />
segundo a autora com significados diferentes. “A <strong>enfermagem</strong> necessita <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />
termi<strong>no</strong>logia própria para que possa <strong>de</strong>senvolver-se como ciência. E esta dificul<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
explica-se por estar a <strong>enfermagem</strong> em um estágio incipiente na estruturação <strong>de</strong> suas<<strong>br</strong> />
bases científicas” 219 .<<strong>br</strong> />
Essa diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> ter contribuído para dificultar a socialização do<<strong>br</strong> />
conhecimento, especialmente num país <strong>de</strong> dimensões continentais como o Brasil.<<strong>br</strong> />
Assim, a plurali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>menclaturas para <strong>de</strong>signar a <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência<<strong>br</strong> />
também contribuiu para que profissionais não se apropriassem <strong>de</strong>sse método<<strong>br</strong> />
científico em seu processo <strong>de</strong> trabalho.<<strong>br</strong> />
A análise <strong>de</strong>ssa corrente <strong>de</strong> pensamento, do final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, levou<<strong>br</strong> />
ao reconhecimento do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> como instrumento para a melhoria<<strong>br</strong> />
na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> assistência presta<strong>da</strong> ao paciente, pois permite individualização <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
assistência, melhor avaliação do cui<strong>da</strong>do prestado e proporciona auto<strong>no</strong>mia,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>limitando a área <strong>de</strong> ação do enfermeiro; e facilita a relação enfermeiro-paciente e<<strong>br</strong> />
o roteiro <strong>de</strong> trabalho para os auxiliares com cui<strong>da</strong>dos pre<strong>de</strong>terminados a<strong>de</strong>quados a<<strong>br</strong> />
ca<strong>da</strong> situação.<<strong>br</strong> />
Chama a atenção na análise documental a quase unanimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> autoria dos<<strong>br</strong> />
artigos, que é <strong>de</strong> docentes que relatam experiências em hospitais-escola, os quais,<<strong>br</strong> />
apesar <strong>de</strong> reconhecerem o processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, apontam as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
sua aplicação.<<strong>br</strong> />
Assim, percebe-se que, apesar dos profissionais reconhecerem a relevância<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência para sua prática laboral, sua utilização e pesquisas<<strong>br</strong> />
218 SIMÕES, C. Consi<strong>de</strong>rações so<strong>br</strong>e o uso e a semântica <strong>de</strong> algumas palavras emprega<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
textos <strong>da</strong> REBEn <strong>no</strong> período <strong>de</strong> 1974-1978. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 33, n. 3,<<strong>br</strong> />
p.305-309, jul./set. 1980.
87<<strong>br</strong> />
relativas ao tema estão restritas à aca<strong>de</strong>mia e aos hospitais-escola, palco <strong>da</strong>s aulas<<strong>br</strong> />
práticas <strong>da</strong> graduação. O enfermeiro assistencial tinha resistência à aplicação <strong>de</strong>ssa<<strong>br</strong> />
sistematização, principalmente, pelo <strong>de</strong>sconhecimento <strong>de</strong>sta <strong>no</strong>va <strong>metodologia</strong>, fato<<strong>br</strong> />
relativizado a partir <strong>da</strong> criação dos cursos <strong>de</strong> pós-graduação na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970,<<strong>br</strong> />
que permitiram a maior socialização do saber em <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
O referencial teórico unanimemente utilizado nessas déca<strong>da</strong>s foi o <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas básicas, como se constatou em pesquisa com 100<<strong>br</strong> />
enfermeiros que atuavam em hospitais, universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, Previdência Social e re<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
municipal <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, que aponta esse referencial sendo utilizado<<strong>br</strong> />
por 77% dos entrevistados. 220<<strong>br</strong> />
3.5 A METODOLOGIA DA ASSISTÊNCIA NA DÉCADA DE 1980<<strong>br</strong> />
A déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980 inaugurou <strong>no</strong>va proposta <strong>de</strong> trabalho para o Sistema <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, basea<strong>da</strong> na Alma-Ata, os Cui<strong>da</strong>dos Primários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Assim,<<strong>br</strong> />
o foco do cui<strong>da</strong>do que outrora fora predominantemente curativista foi contestado,<<strong>br</strong> />
iniciando-se o movimento <strong>de</strong> prevenção e extensão <strong>da</strong> cobertura <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
saú<strong>de</strong> à população. A <strong>enfermagem</strong> inseri<strong>da</strong> nesse contexto conceituava cui<strong>da</strong>dos<<strong>br</strong> />
primários, que:<<strong>br</strong> />
Consistem <strong>no</strong>s cui<strong>da</strong>dos prestados ao nível periférico do sistema. Esses<<strong>br</strong> />
cui<strong>da</strong>dos são realizados pelo médico geral, por outros profissionais como a<<strong>br</strong> />
(o) enfermeira (o), o <strong>de</strong>ntista, etc. e pelo pessoal técnico, auxiliar e<<strong>br</strong> />
elementar.<<strong>br</strong> />
Este nível <strong>de</strong> assistência serve como ponto <strong>de</strong> entra<strong>da</strong>, primeiro contato,<<strong>br</strong> />
triagem e referência para os <strong>de</strong>mais níveis do sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. 221<<strong>br</strong> />
O conceito <strong>de</strong> Cui<strong>da</strong>dos Primários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> levou a discussões na área <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
saú<strong>de</strong>, durante to<strong>da</strong> a déca<strong>da</strong>, culminando com a promulgação, na Constituição <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
1988, do Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e o redirecionamento do mercado <strong>de</strong> trabalho<<strong>br</strong> />
para a saú<strong>de</strong> pública.<<strong>br</strong> />
A implementação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> prosseguiu,<<strong>br</strong> />
nessa déca<strong>da</strong>, com a publicação <strong>de</strong> artigos <strong>de</strong> relato <strong>de</strong> experiências <strong>de</strong> enfermeiras<<strong>br</strong> />
219 SIMÕES, C. Op. cit.1980. p.309.<<strong>br</strong> />
220 SANCHÉZ, S. et al. Op. cit.1984.<<strong>br</strong> />
221 ADAMI, N. P. Aspectos teóricos dos cui<strong>da</strong>dos primários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Brasília, v. 34, n. 1, p.8-14, jan./mar. 1981. p.11.
88<<strong>br</strong> />
na aplicação do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, com a<strong>de</strong>quações. Algumas relatam a<<strong>br</strong> />
aplicação <strong>de</strong> forma mais sucinta. A percepção na análise é <strong>de</strong> que algumas etapas<<strong>br</strong> />
vão sendo excluí<strong>da</strong>s, como pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos e prognóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, com<<strong>br</strong> />
base principalmente na viabili<strong>da</strong><strong>de</strong> prática do processo.<<strong>br</strong> />
Outra característica dos a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 1980 é a diversificação <strong>da</strong>s Teorias <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem que fornecem o embasamento teórico para a prática assistencial, como<<strong>br</strong> />
a publicação so<strong>br</strong>e a aplicação <strong>da</strong> teoria <strong>de</strong> Myra Levine, <strong>no</strong> processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> na saú<strong>de</strong> comunitária 222 . Soma-se a isso a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação<<strong>br</strong> />
multidisciplinar, com o surgimento <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas profissões na área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
O foco <strong>da</strong> área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> também se modificou, pois não se limitava mais à<<strong>br</strong> />
reabilitação, mas também incluía a promoção <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> e maior cobertura<<strong>br</strong> />
populacional, contextualiza<strong>da</strong> pelas <strong>no</strong>vas diretrizes formula<strong>da</strong>s na Alma-Ata <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
1978, que modificava to<strong>da</strong> a lógica assistencial, propondo os cui<strong>da</strong>dos primários <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
saú<strong>de</strong>. Exigia-se do profissional enfermeiro, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980: “uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, seja <strong>no</strong> hospital, <strong>no</strong> domicílio ou na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, o que <strong>de</strong>la<<strong>br</strong> />
requer uma função mais completa com características multidisciplinares e uma linha<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>finitória diante dos problemas sociais existentes” 223 .<<strong>br</strong> />
A <strong>enfermagem</strong> inseri<strong>da</strong> nesse contexto procurava seu caminho, diversificando<<strong>br</strong> />
seu foco <strong>de</strong> assistência. Permea<strong>da</strong> pelas discussões so<strong>br</strong>e a prevenção <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
por meio dos cui<strong>da</strong>dos primários, continuava prestando assistência curativista nas<<strong>br</strong> />
instituições hospitalares.<<strong>br</strong> />
A constatação <strong>da</strong> ausência <strong>de</strong> reflexões por parte <strong>da</strong> categoria foi aponta<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
por Germa<strong>no</strong> 224 . Ao analisar artigos publicados na Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, <strong>no</strong> período <strong>de</strong> 1955 a 1980, ela conclui que a formação <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />
consciência crítica em educação e saú<strong>de</strong> não tem sido objeto <strong>de</strong> reflexão, por parte<<strong>br</strong> />
dos intelectuais <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, e continua:<<strong>br</strong> />
222 FAGUNDES, N. C. O processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em saú<strong>de</strong> comunitária a partir <strong>de</strong> Myra Levine.<<strong>br</strong> />
Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, RS, v. 36, n. 3/4, p.265-273, jul./<strong>de</strong>z. 1983.<<strong>br</strong> />
223 SANCHÉZ, S. et al Op. cit. 1984. p.196.<<strong>br</strong> />
224 GERMANO, R. M. Educação e i<strong>de</strong>ologia <strong>da</strong> Enfermagem <strong>no</strong> Brasil. São Paulo: Cortez, 1983.
89<<strong>br</strong> />
Enfim, a direção intelectual que a ABEn imprime através <strong>da</strong> Revista e que é<<strong>br</strong> />
difundi<strong>da</strong> para professores, enfermeiros e estu<strong>da</strong>ntes <strong>de</strong> todo Brasil consiste<<strong>br</strong> />
essencialmente: em primeiro lugar, em conceber o social e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
forma abstrata, <strong>de</strong>spojados <strong>de</strong> conteúdo histórico e <strong>de</strong> conflitos sociais,<<strong>br</strong> />
como algo em permanente harmonia ou ain<strong>da</strong> como sinônimo <strong>de</strong> relações<<strong>br</strong> />
interpessoais. Em segundo lugar, o Estado concebido como uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
paternal, inquestionável, afinal como um autêntico guardião do bem<<strong>br</strong> />
comum e não como uma instância <strong>de</strong> dominação; por isso mesmo a ABEn<<strong>br</strong> />
mantém com o Estado relação <strong>de</strong> colaboração irrestrita e também <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
subordinação. Em terceiro lugar, a <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> educação e <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> se<<strong>br</strong> />
pauta por conceber a primeira, como ensi<strong>no</strong> rígido, autoritário, elitista e<<strong>br</strong> />
pouco criativo; enquanto a segun<strong>da</strong> é concebi<strong>da</strong>, ao mesmo tempo, sob o<<strong>br</strong> />
prisma do espírito cristão, <strong>da</strong> obediência e do tecnicismo. 225<<strong>br</strong> />
A aparente falta <strong>de</strong> reflexão crítica e a subordinação do ensi<strong>no</strong> em<<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> é também foco <strong>de</strong> atenção <strong>de</strong> outros autores como Alves (1987). Essa<<strong>br</strong> />
autora propõe repensar a educação como instrumento <strong>de</strong> conscientização,<<strong>br</strong> />
atribuindo à escola uma auto<strong>no</strong>mia relativa em relação à estrutura social. “A opção<<strong>br</strong> />
por uma educação que interessa ao mercado <strong>de</strong> trabalho ou que aten<strong>da</strong> às<<strong>br</strong> />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> população é uma opção política. Em qualquer situação, as<<strong>br</strong> />
trabalhadoras <strong>de</strong>vem estar prepara<strong>da</strong>s para assumi-la criticamente para, ao<<strong>br</strong> />
enfrentá-la, po<strong>de</strong>rem barganhar em favor do que é justo e, portanto, mais<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mocrático”. 226<<strong>br</strong> />
Para compreen<strong>de</strong>r a prática assistencial <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, é necessário<<strong>br</strong> />
i<strong>de</strong>ntificar qual papel cabe à categoria na prestação <strong>de</strong> serviços à população. A<<strong>br</strong> />
in<strong>de</strong>finição <strong>da</strong> finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seu trabalho, cui<strong>da</strong>do direto e indireto, permeia to<strong>da</strong> a<<strong>br</strong> />
reflexão so<strong>br</strong>e seu processo <strong>de</strong> trabalho.<<strong>br</strong> />
A i<strong>de</strong>ntificação do papel <strong>da</strong> enfermeira passa pela i<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong>s raízes<<strong>br</strong> />
históricas <strong>de</strong>sta categoria profissional e pela i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> suas<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>terminações estruturais <strong>no</strong> Brasil <strong>de</strong> hoje, separando-se os níveis i<strong>de</strong>al e<<strong>br</strong> />
real e trabalhando-se com os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> concreta <strong>de</strong> um momento<<strong>br</strong> />
histórico <strong>de</strong>terminado. Isto significa reconhecer as transformações por que<<strong>br</strong> />
passou a <strong>enfermagem</strong> do pré-capitalismo ao capitalismo e <strong>de</strong>tectar suas<<strong>br</strong> />
características básicas na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira atual. Nesta, está reservado<<strong>br</strong> />
um lugar para as enfermeiras na divisão social do trabalho, que diz respeito,<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>etudo, ao <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s administrativas e <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>. Em<<strong>br</strong> />
outras palavras, estas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s constituem o objeto <strong>de</strong> trabalho, por<<strong>br</strong> />
excelência, <strong>da</strong>s enfermeiras <strong>de</strong> hoje <strong>no</strong> Brasil e não é negando-o que a<<strong>br</strong> />
categoria se preservará. 227<<strong>br</strong> />
225 GERMANO, R. M. Op. cit. 1983. p.105.<<strong>br</strong> />
226 ALVES, D. B. Op. cit. 1987. p.96.<<strong>br</strong> />
227 SILVA, G. B. Enfermagem Profissional: Análise Crítica. São Paulo: Cortez, 1986. p.123.
90<<strong>br</strong> />
Assim, compreen<strong>de</strong>r a divisão social do trabalho que constou historicamente<<strong>br</strong> />
tanto <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> como na prática assistencial e a in<strong>de</strong>terminação <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
profissional é fun<strong>da</strong>mental para a análise <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Neste período, 1960 a 1980, o universo <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
modificou-se. A enfermeira foi bombar<strong>de</strong>a<strong>da</strong> por exigências antagônicas: o mercado<<strong>br</strong> />
que exigia maior complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimentos e especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s do cui<strong>da</strong>do,<<strong>br</strong> />
para acompanhar o avanço tec<strong>no</strong>lógico na área médica; a aca<strong>de</strong>mia, conclamando<<strong>br</strong> />
para o cui<strong>da</strong>do direto ao paciente e o planejamento <strong>da</strong>s ações <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, contrapondo-se ao ensi<strong>no</strong> que perpetuava a divisão social do trabalho<<strong>br</strong> />
na <strong>enfermagem</strong>; o défice <strong>de</strong> profissionais, acarretando número expressivo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermos sob seus cui<strong>da</strong>dos; as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s administrativas co<strong>br</strong>a<strong>da</strong>s pelas<<strong>br</strong> />
instituições empregadoras; a falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>streza na execução <strong>de</strong> algumas técnicas,<<strong>br</strong> />
que a colocavam sob avaliação <strong>da</strong> equipe quanto a sua competência.<<strong>br</strong> />
A implantação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> está inseri<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
nesse contexto, portanto, as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e resistências experiencia<strong>da</strong>s não<<strong>br</strong> />
couberam apenas à vonta<strong>de</strong> dos profissionais, mas, sim, permearam-se pelos<<strong>br</strong> />
interesses antagônicos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira.
91<<strong>br</strong> />
CONCLUSÃO<<strong>br</strong> />
O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> esteve<<strong>br</strong> />
contextualizado <strong>no</strong>s caminhos percorridos para a profissionalização <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong><<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> Brasil, que foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> sob interesses do gover<strong>no</strong>, mercado <strong>de</strong> trabalho e do<<strong>br</strong> />
ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Esses interesses refletem-se nas políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que, nas déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
1960 e 1970, privilegiavam a prática curativa, individual e especializa<strong>da</strong> e a<<strong>br</strong> />
assistência previ<strong>de</strong>nciária, acarretando a lógica <strong>da</strong> expansão na área hospitalar,<<strong>br</strong> />
direcionando o mercado <strong>de</strong> trabalho e o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>. Foi nesse período<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> expansão hospitalar, <strong>da</strong> ênfase nas práticas curativas, <strong>da</strong> procura pela<<strong>br</strong> />
valorização profissional, que se inseriu o planejamento <strong>da</strong> assistência, buscando o<<strong>br</strong> />
embasamento científico <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> trabalho do enfermeiro.<<strong>br</strong> />
A implementação <strong>de</strong>ssa <strong>no</strong>va proposta, <strong>no</strong> entanto, foi resultado <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />
toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> consciência dos profissionais <strong>da</strong> área, pois, o que <strong>de</strong>terminava o senso<<strong>br</strong> />
comum na categoria – que o processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> teria ficado <strong>no</strong> passado, e<<strong>br</strong> />
após um período <strong>de</strong> estagnação ressurgido com o advento <strong>da</strong> taxo<strong>no</strong>mia <strong>de</strong> NANDA<<strong>br</strong> />
– não se mostrou ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro.<<strong>br</strong> />
As déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 1970 e 1980 caracterizaram-se pela vali<strong>da</strong>ção <strong>de</strong>sse<<strong>br</strong> />
instrumento pela categoria e por os esforços culminarem com a Lei 7.498, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
junho <strong>de</strong> 1986, que regulamentou a prescrição <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> e a consulta <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> como atribuições do enfermeiro.<<strong>br</strong> />
Outra constatação a ser salienta<strong>da</strong> é a respeito dos diferentes termos<<strong>br</strong> />
utilizados na área para <strong>de</strong>signar algo único. Apesar <strong>de</strong> esta pesquisa buscar a<<strong>br</strong> />
história <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong> ‘<strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>’, esse<<strong>br</strong> />
termo foi encontrado em apenas um artigo <strong>de</strong> 1976 e não se repetiu. Então, concluise<<strong>br</strong> />
que, <strong>no</strong> período proposto, entre 1960 e 1986, o termo vigente era ‘processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>’. A <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>sse termo é facilmente explica<strong>da</strong> pela influência<<strong>br</strong> />
dos estudos <strong>de</strong> Wan<strong>da</strong> Horta, na época. Nos dias atuais, migrou-se para<<strong>br</strong> />
‘<strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência’ e ‘sistematização <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>’.<<strong>br</strong> />
A diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> termos nas pesquisas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> dificulta a<<strong>br</strong> />
socialização do conhecimento na prática assistencial. Tendo-se em mente a
92<<strong>br</strong> />
importância <strong>da</strong> uniformização <strong>de</strong> termos, principalmente para a execução <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência, esforços vêm sendo feitos, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> obter uma<<strong>br</strong> />
unificação mundial <strong>de</strong> termos para o diagnóstico e as ações <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Outro termo que caracteriza a época estu<strong>da</strong><strong>da</strong> é ‘assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>’,<<strong>br</strong> />
sendo ela presta<strong>da</strong> ao indivíduo, buscando aten<strong>de</strong>r às suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<<strong>br</strong> />
Evi<strong>de</strong>ncia-se, mais um vez, a repercussão dos estudos <strong>de</strong> Wan<strong>da</strong> Horta na categoria<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> período estu<strong>da</strong>do, quando seu referencial <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas básicas foi<<strong>br</strong> />
amplamente utilizado.<<strong>br</strong> />
Após essas constatações, percorre-se o cenário <strong>da</strong> implementação <strong>de</strong>ssa<<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong>.<<strong>br</strong> />
As concepções <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, <strong>no</strong> início do século XX, quanto à me<strong>no</strong>s valia<<strong>br</strong> />
do trabalho manual, sua formação restrita aos gran<strong>de</strong>s centros urba<strong>no</strong>s e o peque<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
número <strong>de</strong> secun<strong>da</strong>ristas <strong>no</strong> País acarretaram défice <strong>de</strong> profissionais nesse período.<<strong>br</strong> />
Em 1956, havia apenas 4.517 enfermeiras <strong>no</strong> Brasil 228 .<<strong>br</strong> />
A política <strong>de</strong> gover<strong>no</strong> nas déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 1960 e 1970 para expansão profissional<<strong>br</strong> />
fez diminuir os ganhos financeiros <strong>da</strong> categoria, que, se na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1920, era<<strong>br</strong> />
reconheci<strong>da</strong> como profissão liberal, passou a ser assalaria<strong>da</strong>, com ganhos ditados<<strong>br</strong> />
pelo mercado <strong>de</strong> trabalho.<<strong>br</strong> />
O preparo dos docentes e discentes até a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960 era <strong>de</strong>ficitário, o<<strong>br</strong> />
que foi comprovado por <strong>da</strong>dos estatísticos, pois, em 1956, 64% <strong>da</strong>s professoras <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> tinham apenas o certificado ginasial. A carreira <strong>de</strong> nível superior,<<strong>br</strong> />
anseio <strong>da</strong> categoria <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a implementação do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, somente foi<<strong>br</strong> />
consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1961, com o ingresso efetivo <strong>de</strong> secun<strong>da</strong>ristas. Esse fato também<<strong>br</strong> />
foi <strong>de</strong>terminante <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> expansão do ensi<strong>no</strong>, o que também foi<<strong>br</strong> />
comprovado por números, pois, em 1950, havia 39 escolas, e, em 1974, eram<<strong>br</strong> />
apenas 41, com a efetivação <strong>da</strong> pós-graduação somente após a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970 229 .<<strong>br</strong> />
Entretanto, a publicação do artigo <strong>de</strong> Wan<strong>da</strong> Horta so<strong>br</strong>e o processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, em 1971, coincidiu com o processo <strong>de</strong> qualificação docente imposto<<strong>br</strong> />
pela reforma universitária, provocando na aca<strong>de</strong>mia o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong>s pe<strong>da</strong>gógicas para seu ensi<strong>no</strong> e sua vali<strong>da</strong>ção em hospitais-escola.<<strong>br</strong> />
Esse fato é comprovado em artigos <strong>da</strong> época e na constatação <strong>de</strong> que os 47 artigos<<strong>br</strong> />
analisados, unanimemente, são <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> docentes ou <strong>de</strong> profissionais ligados a<<strong>br</strong> />
228 SILVA, G. B. Enfermagem Profissional: Análise Crítica. São Paulo: Cortez, 1986.<<strong>br</strong> />
229 SILVA, G. B. Op. cit. 1986.
93<<strong>br</strong> />
centros acadêmicos, <strong>de</strong>stacando-se, quantitativamente, escolas <strong>de</strong> São Paulo e do<<strong>br</strong> />
Rio <strong>de</strong> Janeiro. Soma-se à falta <strong>de</strong> preparo docente a existência <strong>de</strong> apenas um<<strong>br</strong> />
periódico <strong>de</strong> a<strong>br</strong>angência nacional na área, nas déca<strong>da</strong>s estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, a Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, que socializava conhecimento e experiências <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
implementação a to<strong>da</strong> a categoria.<<strong>br</strong> />
Esse período também coinci<strong>de</strong> com a ditadura militar <strong>no</strong> País, que<<strong>br</strong> />
estabeleceu a centralização do po<strong>de</strong>r e uma rigorosa repressão política, por meio <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
censura aos meios <strong>de</strong> comunicação e forte repressão policial. Portanto, a população,<<strong>br</strong> />
na qual se insere a categoria <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>, foi alija<strong>da</strong> <strong>de</strong> vários direitos e<<strong>br</strong> />
exacerba<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>veres para com a pátria. Aliam-se a isso os preceitos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
abnegação e obediência em que se fun<strong>da</strong>mentava sua formação em <strong>enfermagem</strong> e<<strong>br</strong> />
o número reduzido <strong>de</strong> profissionais, que contribuíram para a falta <strong>de</strong> critici<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
aponta<strong>da</strong> por autoras 230 que proce<strong>de</strong>ram à análise dos artigos na Revista Brasileira<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Enfermagem, <strong>no</strong> mesmo período.<<strong>br</strong> />
Outro fator apontado neste estudo é a dicotomia <strong>da</strong> aca<strong>de</strong>mia, que pregava o<<strong>br</strong> />
planejamento <strong>da</strong> assistência, o retor<strong>no</strong> ao cui<strong>da</strong>do direto, em dissonância com o<<strong>br</strong> />
mercado <strong>de</strong> trabalho e a lei do exercício profissional vigente, a qual atribuía ao<<strong>br</strong> />
profissional enfermeiro a administração, supervisão e o ensi<strong>no</strong>.<<strong>br</strong> />
A aca<strong>de</strong>mia vislum<strong>br</strong>ava a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apropriar-se do objeto <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, como sendo o cui<strong>da</strong>do direto, to<strong>da</strong>via, essa atribuição não era <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
interesse do mercado <strong>de</strong> trabalho, que, para o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>ssas tarefas, tinha<<strong>br</strong> />
mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a barata, personifica<strong>da</strong> pelos aten<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Assim, criou-se na categoria a crise <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional, que está<<strong>br</strong> />
presente ain<strong>da</strong> <strong>no</strong>s dias atuais, entre o cui<strong>da</strong>do indireto e o cui<strong>da</strong>do direto. Em<<strong>br</strong> />
contraponto, a própria aca<strong>de</strong>mia continuou formando ladies-nurses, isto é, formando<<strong>br</strong> />
a enfermeira para a supervisão, o ensi<strong>no</strong> e a administração, <strong>de</strong>legando ao pessoal<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong>s categorias auxiliares o trabalho manual, o cui<strong>da</strong>do direto.<<strong>br</strong> />
A aplicação do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> encontrou outra barreira: o<<strong>br</strong> />
cumprimento <strong>da</strong>s ações prescritas pelo enfermeiro, <strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>spreparo dos<<strong>br</strong> />
aten<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, representantes majoritários <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
período. Dados <strong>de</strong>monstram que, em 1974, a força <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> era<<strong>br</strong> />
230<<strong>br</strong> />
SILVA, G. B. Enfermagem Profissional: Análise Crítica. São Paulo: Cortez, 1986; e<<strong>br</strong> />
GERMANO, R. M. Educação e i<strong>de</strong>ologia <strong>da</strong> Enfermagem <strong>no</strong> Brasil. São Paulo: Cortez, 1983.
94<<strong>br</strong> />
composta por 65% <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, 21,5% <strong>de</strong> auxiliares <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> e apenas 6,5% <strong>de</strong> enfermeiras 231 .<<strong>br</strong> />
O ensi<strong>no</strong> do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> foi foco <strong>de</strong> diversos artigos <strong>da</strong> déca<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> 1970, explicitando a <strong>metodologia</strong> pe<strong>da</strong>gógica aplica<strong>da</strong> aos alu<strong>no</strong>s. Entretanto,<<strong>br</strong> />
essas mesmas pesquisas mostram que a percepção do docente era <strong>de</strong> que o alu<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
reconhecia a importância <strong>da</strong> aplicação do método científico, porém, consi<strong>de</strong>rava-o<<strong>br</strong> />
extenso e <strong>de</strong> difícil implementação.<<strong>br</strong> />
Assim, o pressuposto <strong>de</strong>ste estudo, <strong>de</strong> que houve falhas na implementação<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>no</strong> Brasil, não foi confirmado. Os achados históricos<<strong>br</strong> />
confirmam as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s encontra<strong>da</strong>s na implementação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> científica,<<strong>br</strong> />
entretanto, apontam para a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> compreensão do momento histórico<<strong>br</strong> />
correlacionando às políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> época.<<strong>br</strong> />
O planejamento <strong>da</strong> assistência em <strong>enfermagem</strong>, pregado pela aca<strong>de</strong>mia na<<strong>br</strong> />
déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960, foi reconhecido como relevante para a prática assistencial <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, tanto que foi regulamentado em lei, em 1986.<<strong>br</strong> />
As dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s na implantação <strong>da</strong> sistematização <strong>da</strong> assistência ocorreram<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>vido ao número insuficiente <strong>de</strong> enfermeiras e ao contexto <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> época, conseqüentemente, do mercado <strong>de</strong> trabalho. O cui<strong>da</strong>do direto e o<<strong>br</strong> />
planejamento <strong>da</strong> assistência não interessavam às instituições, e, sim, o bom<<strong>br</strong> />
an<strong>da</strong>mento do serviço <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
O mérito <strong>da</strong> aca<strong>de</strong>mia foi vislum<strong>br</strong>ar a futura crise <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional,<<strong>br</strong> />
alertando a categoria para o retor<strong>no</strong> ao cui<strong>da</strong>do direto, contrapondo-se à lógica do<<strong>br</strong> />
mercado <strong>de</strong> trabalho. Essa crise realmente aconteceu, advin<strong>da</strong> dos avanços<<strong>br</strong> />
tec<strong>no</strong>lógicos que impuseram a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> formação especializa<strong>da</strong>, do que<<strong>br</strong> />
surgiram os primeiros cursos <strong>de</strong> pós-graduação na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970. Contudo, na<<strong>br</strong> />
época, esse retor<strong>no</strong> ao cui<strong>da</strong>do direto não foi compreendido pelos profissionais,<<strong>br</strong> />
pois, em sua formação e na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, havia a me<strong>no</strong>s valia do trabalho manual.<<strong>br</strong> />
Talvez seja esta a crítica que cabe à aca<strong>de</strong>mia. O cui<strong>da</strong>do direto não foi<<strong>br</strong> />
incorporado ao ensi<strong>no</strong>, quando os preceitos <strong>da</strong> divisão social do trabalho foram<<strong>br</strong> />
mantidos na formação, antagonicamente ao <strong>no</strong>vo objeto <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>. Assim, a<<strong>br</strong> />
aca<strong>de</strong>mia pregava o cui<strong>da</strong>do direto, entretanto, continuou formando ladies-nurses,<<strong>br</strong> />
com as atribuições <strong>de</strong> supervisão, administração e ensi<strong>no</strong>.<<strong>br</strong> />
231 SILVA, G. B. Op. cit. 1986.
95<<strong>br</strong> />
O discurso dos profissionais em pesquisas recentes, apontam como<<strong>br</strong> />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> implantação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, <strong>no</strong>s dias<<strong>br</strong> />
atuais: escassez <strong>de</strong> tempo; instrumentalização insuficiente na aca<strong>de</strong>mia; e falta <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
apoio institucional. Estes argumentos encontraram fun<strong>da</strong>mentação histórica na<<strong>br</strong> />
análise <strong>da</strong> implementação <strong>de</strong>sta <strong>metodologia</strong>, entretanto, não po<strong>de</strong>m ser<<strong>br</strong> />
transpostas para a atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois contextualiza<strong>da</strong>s com as políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
vigentes, não encontram fun<strong>da</strong>mentação, já que o mercado <strong>de</strong> trabalho do século<<strong>br</strong> />
XXI, agora direciona para o cui<strong>da</strong>do direto ao paciente.<<strong>br</strong> />
To<strong>da</strong>via, esse retor<strong>no</strong> ao cui<strong>da</strong>do direto, <strong>de</strong>ve ser acompanhado por reflexões<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> categoria, pois, se, por um lado, a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional é alcança<strong>da</strong>, por outro,<<strong>br</strong> />
a administração do serviço na uni<strong>da</strong><strong>de</strong> não po<strong>de</strong>rá ser <strong>de</strong>lega<strong>da</strong> a outrem, sob pena<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> subjugação a outra categoria profissional.<<strong>br</strong> />
Aponta-se aqui que a análise histórica <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> não consegue respon<strong>de</strong>r por si como ela vem<<strong>br</strong> />
influenciando o processo <strong>de</strong> trabalho do enfermeiro. Essa questão exigirá <strong>no</strong>vos<<strong>br</strong> />
estudos a partir <strong>de</strong>ste, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r como o processo <strong>de</strong> trabalho vem<<strong>br</strong> />
se modificando na prática assistencial <strong>da</strong> categoria, a partir <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960.<<strong>br</strong> />
Esses estudos <strong>de</strong>verão contextualizar-se com as mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
ensi<strong>no</strong> e, conseqüentemente, <strong>no</strong> currículo dos cursos <strong>de</strong> graduação, após a<<strong>br</strong> />
melhoria <strong>da</strong> qualificação dos docentes na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980. Outro fator a ser<<strong>br</strong> />
relevado é o aumento do número <strong>de</strong> periódicos, a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990, que<<strong>br</strong> />
fomentaram a pesquisa e a publicação <strong>de</strong> relatos <strong>de</strong> experiência so<strong>br</strong>e a aplicação<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência, facilitando a socialização do conhecimento.<<strong>br</strong> />
A compreensão <strong>da</strong> influência <strong>da</strong> <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>no</strong>s dias atuais<<strong>br</strong> />
perpassa pela contextualização do mercado <strong>de</strong> trabalho. Numa época <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
globalização, <strong>da</strong> busca <strong>de</strong> trabalhadores reflexivos, o apoio ao planejamento <strong>de</strong>ssa<<strong>br</strong> />
assistência tem impulsionado os enfermeiros a implementar a sistematização <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
assistência, quer em hospitais ou uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
As reflexões vindouras <strong>de</strong>verão ser embasa<strong>da</strong>s na consciência <strong>de</strong> que a<<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência é instrumento para a cientifici<strong>da</strong><strong>de</strong>, auto<strong>no</strong>mia e<<strong>br</strong> />
visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do trabalho do enfermeiro.<<strong>br</strong> />
Dessa forma, para que as atribuições <strong>da</strong> prescrição do cui<strong>da</strong>do <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>, regulamenta<strong>da</strong>s em lei do exercício profissional, sejam efetivamente
96<<strong>br</strong> />
implementa<strong>da</strong>s na prática assistencial, a luta inicia<strong>da</strong> há 40 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>verá ter<<strong>br</strong> />
continui<strong>da</strong><strong>de</strong>, respeitando-se e reconhecendo-se as conquistas efetiva<strong>da</strong>s, posto<<strong>br</strong> />
que, apesar <strong>da</strong> contrarie<strong>da</strong><strong>de</strong> constata<strong>da</strong>, elas vislum<strong>br</strong>aram, <strong>no</strong> planejamento <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, o instrumento consagrador <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
auto<strong>no</strong>mia profissional.
97<<strong>br</strong> />
REFERÊNCIAS<<strong>br</strong> />
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS JURÍDICAS. Dicionário jurídico. 5. ed. Rio<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Janeiro: Forense, 1997.<<strong>br</strong> />
ALCÂNTARA, G. Novas tendências na educação <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, v. 27 (5): 335-345, out. 1964.<<strong>br</strong> />
______. A <strong>enfermagem</strong> mo<strong>de</strong>rna como categoria profissional: obstáculos a sua<<strong>br</strong> />
expansão na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Janeiro, v. 26, n. 3, p.188-192, a<strong>br</strong>./jun. 1973.<<strong>br</strong> />
ALFARO-LEFREVE, R. Aplicação do processo <strong>de</strong> Enfermagem: um guia passo a<<strong>br</strong> />
passo. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.<<strong>br</strong> />
ALVES, D. B. Mercado e condições <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>. Salvador:<<strong>br</strong> />
Gráfica Central, 1987.<<strong>br</strong> />
ARAGÓN, D. P. B. Enfermagem – ontem e hoje. Revista Gaúcha <strong>de</strong> Enfermagem,<<strong>br</strong> />
Porto Alegre, v.1, n. 1, p.13-26, mar. 1976.<<strong>br</strong> />
BENJAMÍN, W. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1986.<<strong>br</strong> />
BERTOLLI FILHO, C. História <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> pública <strong>no</strong> Brasil. 4. ed. São Paulo: Ática,<<strong>br</strong> />
2001.<<strong>br</strong> />
BOURDÉ, G; MARTIN, H. As escolas históricas. Lisboa: Fórum <strong>da</strong> História, 1993.<<strong>br</strong> />
BRASIL. Decretos do Gover<strong>no</strong> Provisório <strong>da</strong> República dos Estados Unidos do<<strong>br</strong> />
Brasil. Crêa <strong>no</strong> Hospício <strong>de</strong> Alienados uma escola profissional <strong>de</strong> enfermeiros e<<strong>br</strong> />
enfermeiras. 9º fascículo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imprensa Nacional, 1890.<<strong>br</strong> />
______. Decreto-lei 15.799/22, <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1922. Approva o<<strong>br</strong> />
Regulamento do hospital Geral <strong>de</strong> Assistência do Departamento Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Pública. Diário Oficial <strong>da</strong> Republica Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, 14<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1922.<<strong>br</strong> />
______. Decreto 16.300, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1923. Approva o regulamento do<<strong>br</strong> />
Departamento Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública. Diário Oficial <strong>da</strong> Republica Fe<strong>de</strong>rativa<<strong>br</strong> />
do Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, 1 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1924.<<strong>br</strong> />
______. Decreto-lei 20.109/31, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1931. Regula o exercício <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem <strong>no</strong> Brasil e fixa as condições para a equiparação <strong>da</strong>s Escolas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem e Instruções Relativas ao Processo <strong>de</strong> Exame para Revali<strong>da</strong>ção <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Diplomas. Diário Oficial <strong>da</strong> Republica Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, 28<<strong>br</strong> />
jun. 1931.
98<<strong>br</strong> />
BRASIL. Lei 775, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1949. Dispõe so<strong>br</strong>e o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
Brasil e dá outras providências. Diário Oficial <strong>da</strong> República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil,<<strong>br</strong> />
Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, 13 ago., 1949.<<strong>br</strong> />
BRASIL. Decreto 27.426, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1949. Aprova o Regulamento<<strong>br</strong> />
Básico para os Cursos <strong>de</strong> Enfermagem e <strong>de</strong> Auxiliar <strong>de</strong> Enfermagem. Diário Oficial<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, 21 <strong>no</strong>v., 1949.<<strong>br</strong> />
_______. Lei 2.604, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> setem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1955. Regula o Exercício <strong>da</strong> Enfermagem<<strong>br</strong> />
Profissional. Diário Oficial <strong>da</strong> República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ,<<strong>br</strong> />
21 set. 1955.<<strong>br</strong> />
_______. Lei 7.498, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1986. Dispõe so<strong>br</strong>e a regulamentação do<<strong>br</strong> />
exercício <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> e dá outras providências. Diário Oficial <strong>da</strong> República<<strong>br</strong> />
Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, Brasília, DF, 30 jun., 1986.<<strong>br</strong> />
CALDAS, N. P.; PEREIRA, A. C.; ALVAREZ, L. H. Instrumentos <strong>de</strong> registro <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v.29, p.92-<<strong>br</strong> />
p.102, 1976.<<strong>br</strong> />
CAMPOS, E.; MACHADO, M. H.; MORIYA, T. M. Tentativa <strong>de</strong> um diagnóstico <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> <strong>da</strong> família. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v.29, p.25-27,<<strong>br</strong> />
1976.<<strong>br</strong> />
CARRARO, T. E. Da <strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> Enfermagem: sua elaboração e<<strong>br</strong> />
implementação na prática. In: CARRARO, T. E. e WESTPHALEN, M. E. A.<<strong>br</strong> />
Metodologias para a assistência <strong>de</strong> Enfermagem: teorizações, mo<strong>de</strong>los e<<strong>br</strong> />
subsídios para a prática. Goiânia: AB Editora, 2001.<<strong>br</strong> />
CARRARO, T. E.; KLETEMBERG, D. F.; GONÇALVES, L. M. O ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> <strong>da</strong> assistência <strong>de</strong> Enfermagem <strong>no</strong> Paraná. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Brasília, v. 56, n.5, p.499-501, set./out. 2003.<<strong>br</strong> />
CARVALHO, A. C. Consi<strong>de</strong>rações so<strong>br</strong>e o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> campo na <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v.25, n.5, p.149-153, out./<strong>de</strong>z. 1972.<<strong>br</strong> />
CARVALHO, V. <strong>de</strong>. A problemática do diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 25, n. 1/2, p.114-125, jan./a<strong>br</strong>. 1972.<<strong>br</strong> />
CASTRO, I. B. Estudo exploratório so<strong>br</strong>e a consulta <strong>de</strong> Enfermagem. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 28, n 4, p.76-94, out./<strong>de</strong>z.1975.<<strong>br</strong> />
CIANCIARULLO, T. I.; KOIZUMI, M. S.; FERNANDES, R. A. Q. Prescrição <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. Experiências <strong>de</strong> sua aplicação em hospital particular. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 27, n. 2, p.144- 149, a<strong>br</strong>./jun. 1974.<<strong>br</strong> />
COELHO, E. B. S.; WESTRUPP, M. H. B.; VERDI, M. Da velha à <strong>no</strong>va república: a<<strong>br</strong> />
evolução <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> Brasil. Trabalho produzido como material<<strong>br</strong> />
instrucional para o programa ESPENSUL. 1995.
99<<strong>br</strong> />
COHN, A. e ELIAS, P. E. Saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> Brasil: políticas e organização <strong>de</strong> serviços. 3.<<strong>br</strong> />
ed. São Paulo: Cortez, 1999.<<strong>br</strong> />
COMITÊ DE CONSULTA DE ENFERMAGEM. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem,<<strong>br</strong> />
Brasília, v. 32, p.407-408, 1979.<<strong>br</strong> />
COSTA, N. R. Lutas urbanas e controle sanitário: origens <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> Brasil. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1986.<<strong>br</strong> />
CUNHA, C. Situação <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> país. Revista Gaúcha <strong>de</strong> Enfermagem,<<strong>br</strong> />
Porto Alegre, v. 2, n. 1, p.1-8, jun. 1977.<<strong>br</strong> />
DELL’ACQUA, M. C. Q.; MIYADAHIRA, A. M. K. Ensi<strong>no</strong> do processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem nas escolas <strong>de</strong> graduação em Enfermagem do Estado <strong>de</strong> São Paulo.<<strong>br</strong> />
Revista lati<strong>no</strong>-americana <strong>de</strong> Enfermagem, Ribeirão Preto (SP), v. 10, n. 2: p.185-<<strong>br</strong> />
191, mar./a<strong>br</strong>. 2002.<<strong>br</strong> />
DUARTE, A. B.; REIS, I. E. M. dos. Importância <strong>da</strong>s a<strong>no</strong>tações dos cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 29, p.83-91, 1976.<<strong>br</strong> />
EDITORIAL. Funções <strong>de</strong> enfermeiros. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Janeiro, v. 21, n. 1/2/3, jan./fev./a<strong>br</strong>./jun. 1968.<<strong>br</strong> />
FRIEDLANDER, M. R. O processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> ontem, hoje e amanhã. Revista<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> Escola <strong>de</strong> Enfermagem <strong>da</strong> USP, 15 (2):129-134, 1981.<<strong>br</strong> />
GERMANO, R. M. Educação e i<strong>de</strong>ologia <strong>da</strong> Enfermagem <strong>no</strong> Brasil. São Paulo:<<strong>br</strong> />
Cortez, 1983.<<strong>br</strong> />
GEOVANINI, T. et al.. História <strong>da</strong> Enfermagem: versões e interpretações. 2. ed.<<strong>br</strong> />
Rio <strong>de</strong> Janeiro: Revinter, 2002.<<strong>br</strong> />
GONÇALVES, E. L. et al. Administração <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> Brasil. São Paulo: Pioneira,<<strong>br</strong> />
1988.<<strong>br</strong> />
HORTA, W. <strong>de</strong> A. Processo <strong>de</strong> Enfermagem. São Paulo: EPU, 1979.<<strong>br</strong> />
HORTA, W. A.; NARA, Y.; PAULA, N. S. Ensi<strong>no</strong> do pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos em<<strong>br</strong> />
fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Enfermagem. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 20,<<strong>br</strong> />
n.4, p.249-263, ago. 1967.<<strong>br</strong> />
HORTA, W. A. Consi<strong>de</strong>rações so<strong>br</strong>e o diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 20, p.7-13, jan./fev. 1967.<<strong>br</strong> />
______. O ensi<strong>no</strong> dos instrumentos básicos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Brasília, v. 24, n. 3/4, p.159-169, a<strong>br</strong>./jun. 1971.<<strong>br</strong> />
______. A observação sistematiza<strong>da</strong> como base para o diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 25, n.5, p.46-53, jul./set. 1971.
100<<strong>br</strong> />
______. A <strong>metodologia</strong> do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Brasília, v. 25, n. 6, p.81-95, out./<strong>de</strong>z. 1971.<<strong>br</strong> />
______. Estudo básico <strong>da</strong> <strong>de</strong>terminação <strong>da</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 25, n. 4, p.267-271, jul./set. 1972.<<strong>br</strong> />
JORGE, M. L. Subsídios para uma análise histórica do setor <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> Brasil.<<strong>br</strong> />
Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Estudo – Unimep. Curso <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública. Módulo III. <strong>de</strong>z.1981.<<strong>br</strong> />
KOCH, R. M. e OTA, L. N. Processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> – avaliação feita por alu<strong>no</strong>s do<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>da</strong> UCP. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem,<<strong>br</strong> />
Brasília, v. 30, p.274-285, 1977.<<strong>br</strong> />
LE GOFF, J. Enciclopédia Enaudi. Lisboa: Casa <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong>, 2000.<<strong>br</strong> />
LORENZETTI, J. A “<strong>no</strong>va” Lei do exercício profissional <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>: uma análise<<strong>br</strong> />
crítica. In: SANTOS et al. Legislação em Enfermagem: atos <strong>no</strong>rmativos do<<strong>br</strong> />
exercício e do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. São Paulo: Atheneu, 2002.<<strong>br</strong> />
LUZ, M. T. Medicina e or<strong>de</strong>m política <strong>br</strong>asileira. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Graal, 1982.<<strong>br</strong> />
______. Saú<strong>de</strong> e Instituições médicas <strong>no</strong> Brasil. In: GUIMARÃES, R. Saú<strong>de</strong> e<<strong>br</strong> />
Medicina <strong>no</strong> Brasil: contribuição para o <strong>de</strong>bate. 4. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Graal, 1984.<<strong>br</strong> />
______. Notas so<strong>br</strong>e as políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> Brasil <strong>de</strong> “transição <strong>de</strong>mocrática” -<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong>s 80. Physis – Revista <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Coletiva, Rio <strong>de</strong> janeiro, v.1, n.1, p.77-94,<<strong>br</strong> />
1991.<<strong>br</strong> />
MEIER, M. J. Técnica e tec<strong>no</strong>logia mediando o saber-fazer na Enfermagem.<<strong>br</strong> />
1998. 89f. Dissertação (Mestrado em Tec<strong>no</strong>logia) – Pós-graduação do Centro<<strong>br</strong> />
Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação Tec<strong>no</strong>lógica do Paraná (CEFET), Curitiba.<<strong>br</strong> />
MENDES, E. V. Distrito Sanitário: o processo social <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>s práticas<<strong>br</strong> />
sanitárias do Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. 3. ed. São Paulo/Rio <strong>de</strong> Janeiro: Hucitec-<<strong>br</strong> />
ABRASCO, 1995.<<strong>br</strong> />
MENDES, M. A.; BASTOS, M. A. R. Processo <strong>de</strong> Enfermagem: seqüências <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
cui<strong>da</strong>r, fazem a diferença. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 56, n. 3,<<strong>br</strong> />
p.271-276, mai./jun. 2003.<<strong>br</strong> />
MOREIRA, A. A primeira escola <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. In: GEOVANINI, T. et al. História<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> Enfermagem: versões e interpretações. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Revinter, 2002.<<strong>br</strong> />
OGUISSO, T.; SCHMIDT, M. J. Problemas assistenciais <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
hospitais e clínicas particulares. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 29,<<strong>br</strong> />
n. 1, p.24-37, fev. 1976.<<strong>br</strong> />
PADILHA, M. I. C. S. As representações <strong>da</strong> história <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong> na prática<<strong>br</strong> />
cotidiana atual. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 52, n. 3, p.443-454,<<strong>br</strong> />
jul./set. 1999.
101<<strong>br</strong> />
PAIM, L. Sistema <strong>de</strong> registros <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, pla<strong>no</strong> assistencial e prescrições <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v.29, p.66-82, 1976.<<strong>br</strong> />
PEDUZZI, M; ANSELMI, M. L. O processo <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>: a cisão entre<<strong>br</strong> />
o planejamento e execução do cui<strong>da</strong>do. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem,<<strong>br</strong> />
Brasília, v. 55, n. 4, p.392-398, jul./ago. 2002.<<strong>br</strong> />
PINHEIRO, M. R. A <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil e em São Paulo. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 15, n. 5, p.433-441, out. 1962.<<strong>br</strong> />
PIZANI, M. A. P.N. Os caminhos do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> graduação em <strong>enfermagem</strong> na<<strong>br</strong> />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba, <strong>de</strong> 1953 a 1994. 1999. Dissertação <strong>de</strong> Mestrado, programa <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Pós-graduação em Educação, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, Curitiba, Paraná.<<strong>br</strong> />
RESENDE, M. <strong>de</strong> A. Histórico <strong>da</strong> Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 15, n.6, p.496-515, <strong>de</strong>z.1962.<<strong>br</strong> />
REZENDE, M. A. Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> Enfermagem. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Janeiro, v.15, n. 2, p.110-158, a<strong>br</strong>. 1961.<<strong>br</strong> />
SANTOS, C. A. F. A <strong>enfermagem</strong> como profissão. São Paulo: Pioneira, 1973.<<strong>br</strong> />
SANTOS, E. F. dos. et al. Legislação em <strong>enfermagem</strong>: Atos <strong>no</strong>rmativos do<<strong>br</strong> />
exercício e do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. São Paulo: Atheneu, 1997.<<strong>br</strong> />
SILVA, G. B. Enfermagem Profissional: Análise Crítica. São Paulo: Cortez, 1986.<<strong>br</strong> />
SCHOELLER, S. D. Sindicalismo e <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil. In: GEOVANINI, T. et al.<<strong>br</strong> />
História <strong>da</strong> Enfermagem: versões e interpretações. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Revinter,<<strong>br</strong> />
2002.<<strong>br</strong> />
SECAF, V. e SANNA, M. C. Levantamento <strong>de</strong> recursos e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil - um documento <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 50 do século passado. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 56, n. 3, p.315-317, mai./jun. 2003.<<strong>br</strong> />
SILVA, G. B. Enfermagem Profissional: Análise Crítica. São Paulo: Cortez, 1986.<<strong>br</strong> />
SINGER, P. et al. Prevenir e curar: o controle social através dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense-Universitária, 1988.<<strong>br</strong> />
THOFEHRN, M. B. et al. O processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>de</strong> acadêmicos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem e enfermeiros. Revista Gaúcha <strong>de</strong> Enfermagem, Porto Alegre, v. 20,<<strong>br</strong> />
n. 1, p.69-79, Jan. 1999.
102<<strong>br</strong> />
FONTES HISTÓRICAS<<strong>br</strong> />
REVISTA BRASILEIRA DE ENFERMAGEM<<strong>br</strong> />
1961<<strong>br</strong> />
REZENDE, M. A. Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> Enfermagem. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Janeiro, v.15, n. 2, p.110-158, a<strong>br</strong>. 1961.<<strong>br</strong> />
1962<<strong>br</strong> />
ROCHA, J. A. O que um diretor <strong>de</strong> hospital espera <strong>de</strong> um serviço <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.15, n. 4, p.298-304, ago.<<strong>br</strong> />
1962.<<strong>br</strong> />
PINHEIRO, M. R. A <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil e em São Paulo. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 15, n. 5, p.433-441, out. 1962.<<strong>br</strong> />
RESENDE, M. DE A. Histórico <strong>da</strong> Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 15, n.6, p.496-515, <strong>de</strong>z.1962.<<strong>br</strong> />
1964<<strong>br</strong> />
MELLO, C. G. A <strong>enfermagem</strong> como profissão na atual conjuntura social. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 17, n.1/2, p.56-61, fev./a<strong>br</strong>. 1964.<<strong>br</strong> />
HORTA, W. A. Aspectos do conforto do paciente em hospitais. Revista Brasileira<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 17, n.3/4, p.114-118, jun./ago.1964.<<strong>br</strong> />
ALCÂNTARA, G. Novas tendências na educação <strong>da</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 17, n. 5, p.335-345, out. 1964.<<strong>br</strong> />
ALCÂNTARA, G. Formação e aperfeiçoamento <strong>da</strong> enfermeira em face <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
exigências mo<strong>de</strong>rnas. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 17,<<strong>br</strong> />
n.6, p.408-419, <strong>de</strong>z. 1964.<<strong>br</strong> />
BARRETT, J. A enfermeira-chefe do futuro. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Janeiro, v. 17, n. 6, p.510-524, <strong>de</strong>z. 1964.<<strong>br</strong> />
1967<<strong>br</strong> />
ALVIM, E. <strong>de</strong> F. A formação profissional <strong>no</strong> mundo atual. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 20, n.4, p.231-233, ago. 1967.<<strong>br</strong> />
HORTA, W. A. Consi<strong>de</strong>rações so<strong>br</strong>e o diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 20, n.1, p.7-13, jan./fev. 1967.<<strong>br</strong> />
1968<<strong>br</strong> />
EDITORIAL. Funções <strong>de</strong> enfermeiros. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Janeiro, v. 21, n. 1/2/3, jan./fev./a<strong>br</strong>./jun. 1968.
103<<strong>br</strong> />
HORTA, W. A. et al. Re<strong>no</strong>vação dos métodos e técnicas <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> em “fun<strong>da</strong>mentos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>” na escola <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.21, n. 4, p.231-244, ago. 1968.<<strong>br</strong> />
OLIVEIRA, C.; RIGAUD, H. M. Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>do integral <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> ao<<strong>br</strong> />
paciente hospitalizado. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.21,<<strong>br</strong> />
n.5, p.458-470, out. 1968.<<strong>br</strong> />
SANTOS, C. F.; MINZONI, M. A. Estudo <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em quatro<<strong>br</strong> />
uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> um hospital governamental. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Janeiro, v.21, n. 5, p.396-442, out. 1968.<<strong>br</strong> />
1971<<strong>br</strong> />
HORTA, W. A.; HARA, Y.; PAULA, N. S. O ensi<strong>no</strong> dos instrumentos básicos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 24, n. 3/4,<<strong>br</strong> />
p.159-169, a<strong>br</strong>./jun. 1971.<<strong>br</strong> />
HORTA, W. A observação sistematiza<strong>da</strong> como base para o diagnóstico <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 24, n. 5, p.46-<<strong>br</strong> />
52, jul./set. 1971.<<strong>br</strong> />
1972<<strong>br</strong> />
CARVALHO, V. <strong>de</strong>. A problemática do diagnóstico <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 25, n. 1/2, p.114-125, jan./a<strong>br</strong>. 1972.<<strong>br</strong> />
HORTA, W. A. Estudo básico <strong>da</strong> <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 25, n. 4, p.267-273, jul./set.<<strong>br</strong> />
1972.<<strong>br</strong> />
HORTA, W. A. Observação: <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> método para <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta<<strong>br</strong> />
habili<strong>da</strong><strong>de</strong> em estu<strong>da</strong>ntes, na disciplina fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 25, n. 4, p.179-184, jul./set. 1972.<<strong>br</strong> />
CARVALHO, A. C. Consi<strong>de</strong>rações so<strong>br</strong>e o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> campo na <strong>enfermagem</strong>.<<strong>br</strong> />
Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem. Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 25, n. 5, p.149-153, out./<strong>de</strong>z.<<strong>br</strong> />
1972.<<strong>br</strong> />
1973<<strong>br</strong> />
ABDELLAH, F. G. Critérios <strong>de</strong> avaliação em <strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 26, n. 1/2, p.17-32, jan./fev. 1973.<<strong>br</strong> />
ALCÂNTARA, G. <strong>de</strong>. A <strong>enfermagem</strong> mo<strong>de</strong>rna como categoria profissional:<<strong>br</strong> />
obstáculos a sua expansão na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 26, n. 3, p.188-192, a<strong>br</strong>./jun. 1973.<<strong>br</strong> />
1974<<strong>br</strong> />
CIANCIARULLO, T. I.; KOIZUMI, M. S.; FERNANDES, R. A. Q. Prescrição <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. Experiências <strong>de</strong> sua aplicação em hospital particular. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 27, n. 2, p.144-149, a<strong>br</strong>./jun. 1974.
104<<strong>br</strong> />
HORTA, W. A. A observação sistematiza<strong>da</strong> na i<strong>de</strong>ntificação dos problemas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> em seus aspectos físicos. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Janeiro, v. 27, n. 2, p.214-219, a<strong>br</strong>./jun. 1974.<<strong>br</strong> />
1975<<strong>br</strong> />
26. CASTRO, I. B. e. Estudo exploratório so<strong>br</strong>e a consulta <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 28, n. 4, p.76-94, out./<strong>de</strong>z. 1975.<<strong>br</strong> />
1976<<strong>br</strong> />
OGUISSO, T.; SCHMIDT, M. J. Problemas assistenciais <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
hospitais e clínicas particulares. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 29,<<strong>br</strong> />
n., p.24-37, fev. 1976.<<strong>br</strong> />
PAIM, L. Sistema <strong>de</strong> registros <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, pla<strong>no</strong> assistencial e prescrições <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 29, n. 3, p.66-82,<<strong>br</strong> />
jul./set. 1976.<<strong>br</strong> />
DUARTE, A. B.; REIS, I. E. M. dos; SANTOS, V. O. Importância <strong>da</strong>s a<strong>no</strong>tações dos<<strong>br</strong> />
cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 29, n. 3,<<strong>br</strong> />
p.83-91, jul./set. 1976.<<strong>br</strong> />
CALDAS, N. P.; PEREIRA, A. C.; ALVAREZ, L. H. Instrumentos <strong>de</strong> registro <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 29, n. 3,<<strong>br</strong> />
p.92-102, jul./set. 1976.<<strong>br</strong> />
CAMPOS, E.; MACHADO, M. H.; MORIYA, T.M. Tentativa <strong>de</strong> um diagnóstico <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> <strong>da</strong> família. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 29, n. 4,<<strong>br</strong> />
p.25-27, out./<strong>de</strong>z. 1976.<<strong>br</strong> />
HORTA, W. A. et al. Significado psicológico <strong>da</strong> dor para enfermeiras e médicos.<<strong>br</strong> />
Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 29, n. 4, p.96-99, out./<strong>de</strong>z. 1976.<<strong>br</strong> />
1977<<strong>br</strong> />
KOCH, R. M. e OKA, L. N. Processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> – avaliação feita por alu<strong>no</strong>s do<<strong>br</strong> />
Departamento <strong>de</strong> Enfermagem <strong>da</strong> UCP. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem,<<strong>br</strong> />
Brasília, v. 30, n. 3, p.274-285, jul./set. 1977.<<strong>br</strong> />
MARIA, V. L. R. et al. Evolução do paciente: a<strong>no</strong>tações <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Kar<strong>de</strong>x e<<strong>br</strong> />
passagem <strong>de</strong> plantão com equipe multiprofissional. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Brasília, v. 30, n. 3, p.237-243, jul./set. 1977.<<strong>br</strong> />
NOGUEIRA, M. J. C. Uma experiência com consultas <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> para crianças.<<strong>br</strong> />
Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v.30, n. 3, p.294-306, jul./set. 1977.<<strong>br</strong> />
1978<<strong>br</strong> />
PAULA, N. S. <strong>de</strong> P. et al. Processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> orientado para os problemas do<<strong>br</strong> />
paciente: iniciação <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> em fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 31, n. 1, p.101-113, jan./mar. 1978.
105<<strong>br</strong> />
LUCKESI, M. A. V. et al. Aplicação do processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> hospital Ana<<strong>br</strong> />
Nery. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 31, n. 2, p.141-156, a<strong>br</strong>./jun.<<strong>br</strong> />
1978.<<strong>br</strong> />
1979<<strong>br</strong> />
ARAÚJO, O. M. M. Consulta <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> a gestante. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Brasília, v. 32, n. 3, p.259-270, jul./set. 1979.<<strong>br</strong> />
Comitê <strong>de</strong> consulta <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v.<<strong>br</strong> />
32, n. 4, p.407-408, out./<strong>de</strong>z. 1979.<<strong>br</strong> />
1980<<strong>br</strong> />
SIMÕES, C. Consi<strong>de</strong>rações so<strong>br</strong>e o uso e a semântica <strong>de</strong> algumas palavras<<strong>br</strong> />
emprega<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s textos <strong>da</strong> REBEn <strong>no</strong> período <strong>de</strong> 1974-1978. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Brasília, v. 33, n. 3, p.305-309, jul./set. 1980.<<strong>br</strong> />
1981<<strong>br</strong> />
ADAMI, N. P. Aspectos teóricos dos cui<strong>da</strong>dos primários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 34, n. 1, p.8-14, jan./mar. 1981.<<strong>br</strong> />
RESENDE, L. B. <strong>de</strong>; ANDRADE, V. R. O.; IMBIRIBA, C. E. Implantação <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>metodologia</strong> assistencial <strong>no</strong> IASERJ. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília,<<strong>br</strong> />
v. 34, n. 2, p.123-137, a<strong>br</strong>./jun. 1981.<<strong>br</strong> />
1982<<strong>br</strong> />
CASTRO, I. B.; CARVALHO, V. <strong>de</strong>; BORGES, M. V. Reflexões so<strong>br</strong>e a prática <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfermagem</strong> <strong>no</strong> Brasil e na América Latina – implicações educacionais. Revista<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, RS, v. 35, n. 2, p.185-191, a<strong>br</strong>./jun. 1982.<<strong>br</strong> />
1983<<strong>br</strong> />
SILVA PINTO, S. M. P. e colaboradora. Metodologia <strong>da</strong> assistência – uma <strong>no</strong>va<<strong>br</strong> />
estratégia <strong>de</strong> educação em saú<strong>de</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, RS, v. 36,<<strong>br</strong> />
n. 2, p.177- 182, a<strong>br</strong>./jun. 1983.<<strong>br</strong> />
FAGUNDES, N. C. O processo <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em saú<strong>de</strong> comunitária a partir <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Myra Levine. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, RS, v. 36, n. 3/4, p.265-273,<<strong>br</strong> />
jul./<strong>de</strong>z. 1983.<<strong>br</strong> />
1984<<strong>br</strong> />
PAULA, N. S. <strong>de</strong> et al. Assistência <strong>de</strong> Enfermagem sistematiza<strong>da</strong> – experiência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
aprendizado. Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem, Brasília, v. 37, n.1, p.65-71,<<strong>br</strong> />
jan./mar. 1984.<<strong>br</strong> />
SANCHÉZ, S. et al. Fatores que influenciam na implementação <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> – uma proposta alternativa. Revista Brasileira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfermagem, Brasília, v. 37, n. 3/4, p.195-204, jul./<strong>de</strong>z. 1984.