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42<br />necessidade de um direcionamento na formação do profissional, adequando a sua<br />atuação ao contexto, com habilidades para aplicar o seu conhecimento no<br />desenvolvimento das políticas públicas propostas pelo SUS.<br />Trata-se de um momento histórico no qual o modelo curativo biologicista<br />privilegiado durante séculos encontra-se saturado. A desvalorização das formas de<br />cuidar em saúde a partir de medidas simples e preventivas desencadeou esse efeito<br />em cadeia que hoje vivenciamos, de retorno a doenças já erradicadas e convívio<br />com doenças crônicas.<br />É nesse contexto que as DCN apresentam sua valia ao propor a<br />transformação do ensino, adotando o referencial da competência, que em seu cerne<br />traduz a capacidade em mobilizar e combinar recursos pessoais e do meio para<br />transformar sua realidade.<br />Em 2001, os cursos de Enfermagem, Medicina e Nutrição foram os primeiros<br />a receber as DCN. Atualmente, são mais de 40 cursos de distintas áreas de<br />conhecimento como ciências biológicas e da saúde, ciências exatas e da terra,<br />ciências humanas e sociais, ciências sociais aplicadas, engenharias e tecnologias e<br />licenciaturas que possuem as diretrizes em seu projeto pedagógico (FRAUCHES,<br />2008).<br />As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em<br />Enfermagem (DCNENF), com a resolução CNE/CES nº 1.133, de 07 de agosto de<br />2001, apresenta como base central o reforço da articulação entre Educação Superior<br />e Saúde no sentido de propor reformulações concretas que subsidiem a qualificação<br />profissional. Nesse documento foram definidos os princípios, fundamentos,<br />condições e procedimentos na formação de enfermeiros e tem como principal<br />objetivo,<br />[...] levar os alunos dos cursos de graduação em saúde a aprender a<br />aprender que engloba aprender a ser, aprender a fazer, aprender a viver<br />juntos e aprender a conhecer, garantindo a capacitação de profissionais<br />com autonomia e discernimento para assegurar a integralidade da atenção<br />e a qualidade e humanização do atendimento prestado aos indivíduos,<br />famílias e comunidade (BRASIL, 2001).<br />O modelo de capacitação profissional por competências como atenção à<br />saúde, tomada de decisões, comunicação, liderança, administração e<br />gerenciamento e educação em saúde (BRASIL, 2001) indica que a valorização de

43<br />conhecimentos de manejo das relações sociais tornou-se fundamental para<br />implementação de ações efetivas em saúde, não se tratando apenas da execução<br />de planos emergenciais.<br />A dimensão aprender a ser integra as demais dimensões favorecendo o<br />desenvolvimento integral da pessoa. Aprender a fazer indica o fortalecimento para<br />os desafios no mundo do trabalho, saber agir em coletividades adquirindo<br />habilidades para as relações interpessoais. O aprender a viver juntos possibilita a<br />compreensão do outro e interação e aprendendo a conhecer que refere-se ao<br />aprender a pensar a realidade, da busca pela construção e reconstrução do<br />conhecimento (FERNANDES, 2006; MANFREDI, 2007).<br />A implantação das DCNENF é um processo que simboliza muitos desafios a<br />serem vencidos, principalmente os históricos, pois a maioria dos profissionais<br />enfermeiros dedicados a docência são produtos de um contexto histórico. Mais do<br />que mudanças na estrutura curricular e no projeto pedagógico, as diretrizes clamam<br />por uma inversão de paradigmas fortemente arraigados na classe profissional,<br />sinalizando que o grande “desafio na formação atual é desenvolver enfermeiros<br />competentes técnica e politicamente, capacitados para atuar em contextos de<br />incertezas e complexidade, no intuito de fortalecer o SUS" (FERNANDES, 2006,<br />p.19).<br />Desse modo, percebe-se a inevitável e contraditória adaptação das políticas<br />de educação ao contexto político e econômico do país, assim como a exigência<br />necessária da qualificação do educador para atuar nesse novo cenário. No entanto,<br />um aspecto importante a refletir é sobre a influência desse processo histórico na<br />qualidade do ensino e na função social do educador que vivencia um conflito entre a<br />produtividade exigida pelo sistema e a sua importante função reflexiva, crítica e de<br />formação de cidadãos para a sociedade.<br />Tal reflexão é comungada com Souza Filho (2006, p.175) quando analisa a<br />necessidade imposta a universidade em adequar-se ao sistema, o que influencia,<br />em alguns casos, negativamente na sua função de promoção de “reflexões teóricofilosófico-científicas<br />e críticas, da ciência como promoção da autonomia da<br />consciência, da educação em valores ético-morais voltados ao bem estar de todos”.<br />Não se trata de separar a universidade do mundo real, não se pode ignorar<br />as exigências do mercado de trabalho, mas acompanhar essas mudanças não pode<br />significar atrelar o ensino e a produção do conhecimento a interesses estranhos aos

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conhecimentos de manejo das relações sociais tornou-se fundamental para<<strong>br</strong> />

implementação de ações efetivas em saúde, não se tratando apenas da execução<<strong>br</strong> />

de planos emergenciais.<<strong>br</strong> />

A dimensão aprender a ser integra as demais dimensões favorecendo o<<strong>br</strong> />

desenvolvimento integral da pessoa. Aprender a fazer indica o fortalecimento para<<strong>br</strong> />

os desafios no mundo do trabalho, saber agir em coletividades adquirindo<<strong>br</strong> />

habilidades para as relações interpessoais. O aprender a viver juntos possibilita a<<strong>br</strong> />

compreensão do outro e interação e aprendendo a conhecer que refere-se ao<<strong>br</strong> />

aprender a pensar a realidade, da busca pela construção e reconstrução do<<strong>br</strong> />

conhecimento (FERNAN<strong>DE</strong>S, 2006; MANFREDI, 2007).<<strong>br</strong> />

A implantação das DCNENF é um processo que simboliza muitos desafios a<<strong>br</strong> />

serem vencidos, principalmente os históricos, pois a maioria dos profissionais<<strong>br</strong> />

enfermeiros dedicados a docência são produtos de um contexto histórico. Mais do<<strong>br</strong> />

que mudanças na estrutura curricular e no projeto pedagógico, as diretrizes clamam<<strong>br</strong> />

por uma inversão de paradigmas fortemente arraigados na classe profissional,<<strong>br</strong> />

sinalizando que o grande “desafio na formação atual é desenvolver enfermeiros<<strong>br</strong> />

competentes técnica e politicamente, capacitados para atuar em contextos de<<strong>br</strong> />

incertezas e complexidade, no intuito de fortalecer o SUS" (FERNAN<strong>DE</strong>S, 2006,<<strong>br</strong> />

p.19).<<strong>br</strong> />

Desse modo, percebe-se a inevitável e contraditória adaptação das políticas<<strong>br</strong> />

de educação ao contexto político e econômico do país, assim como a exigência<<strong>br</strong> />

necessária da qualificação do educador para atuar nesse novo cenário. No entanto,<<strong>br</strong> />

um aspecto importante a refletir é so<strong>br</strong>e a influência desse processo histórico na<<strong>br</strong> />

qualidade do ensino e na função social do educador que vivencia um conflito entre a<<strong>br</strong> />

produtividade exigida pelo sistema e a sua importante função reflexiva, crítica e de<<strong>br</strong> />

formação de cidadãos para a sociedade.<<strong>br</strong> />

Tal reflexão é comungada com Souza Filho (2006, p.175) quando analisa a<<strong>br</strong> />

necessidade imposta a universidade em adequar-se ao sistema, o que influencia,<<strong>br</strong> />

em alguns casos, negativamente na sua função de promoção de “reflexões teóricofilosófico-científicas<<strong>br</strong> />

e críticas, da ciência como promoção da autonomia da<<strong>br</strong> />

consciência, da educação em valores ético-morais voltados ao bem estar de todos”.<<strong>br</strong> />

Não se trata de separar a universidade do mundo real, não se pode ignorar<<strong>br</strong> />

as exigências do mercado de trabalho, mas acompanhar essas mudanças não pode<<strong>br</strong> />

significar atrelar o ensino e a produção do conhecimento a interesses estranhos aos

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