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28<br />2 REVISÃO DA LITERATURA<br />“Os homens fazem sua própria história, mas<br />não a fazem sob circunstâncias de sua<br />escolha e sim, sob aquelas com que se<br />defrontam diretamente,legadas e transmitidas<br />pelo passado [...]”<br />Karl Marx<br />A presente revisão busca refletir sobre a dinâmica do mundo do trabalho em<br />saúde e contextualizar o trabalho de Enfermagem a partir das perspectivas de<br />qualificação profissional para século XXI. Pretende-se, uma aproximação<br />fundamentada na complexidade das relações humanas e de trabalho que mobilizam<br />as práticas profissionais.<br />O capítulo está organizado em seis sub-capítulos que discutem<br />sequencialmente as questões do mundo do trabalho em saúde, as políticas públicas<br />de saúde como um dos principais cenários nas quais as diferentes práticas<br />profissionais se desenvolvem, o trabalho do profissional da Enfermagem nesse<br />contexto político e social, as políticas públicas de educação e sua influência na<br />qualidade da formação profissional, um recorte histórico da formação, e a prática<br />docente diante dos desafios apresentados pela sociedade contemporânea.<br />2.1 O MUNDO DO TRABALHO EM SAÚDE<br />O trabalho passou por diferentes formas de significação e organização ao<br />longo da história da humanidade. Com a Revolução Industrial na Inglaterra em<br />meados do século XVIII, o conceito do trabalho manual voltou-se para a<br />racionalização e produtividade estimuladas pelo capitalismo, gerando novas<br />tecnologias principalmente na indústria. Na segunda Revolução Industrial, no final do<br />século XIX, novas formas de organização do trabalho são originadas seguindo o<br />modelo de Taylor com o tecnicismo, racionalização e hierarquização do trabalho e,<br />posteriormente de Ford, com fins capitalistas, assumia características de produção

29<br />em massa, redução do tempo e estruturação do trabalho de forma fragmentada.<br />Essas formas de organização do trabalho influenciaram outros setores além da<br />indústria, como a prestação de serviços (MATOS, 2002; VALADARES; VIANA,<br />2005).<br />Esse modelo encontrou seu declínio nos anos de 1970 e 1980, advindo de<br />uma reestruturação econômica e social promovida pelo crescimento do trabalho em<br />setores de serviços, assim como a terceirização dos mesmos. A consequente<br />flexibilização 6 dos mercados e de setores de produção e a revolução tecnológica<br />exigiram novas formas de trabalho, como o temporário e em tempo parcial, além da<br />qualificação profissional para atender as novas demandas (RIBEIRO, 2006).<br />Em pleno século XXI, a sociedade ainda enfrenta um processo de<br />reestruturação no mundo do trabalho. Inserida na chamada revolução tecnológica ou<br />terceira revolução industrial 7 , vivencia um período de transição, em que busca a<br />conformação das contradições na forma de organização do trabalho. São<br />encontrados setores estruturados tecnologicamente, enquanto outros ainda<br />sobrevivem com sua base nos modelos taylorista-fordista ensaiando uma<br />reestruturação de seus paradigmas. O trabalho em saúde encontra-se nesse<br />processo, mas com uma crescente influência da estrutura capitalista e tecnológica<br />(VALADARES; VIANA, 2005).<br />O trabalho manual realizado por profissionais da saúde ainda é<br />caracterizado pela sistematização, própria do modelo taylorista. Esse modelo ainda<br />encontra reflexo significativo nas práticas de Enfermagem, nas quais se realiza o<br />controle do trabalho e da equipe por meio de normas e rotinas que visam o<br />atendimento às exigências da instituição, por sua estrutura hierarquizada (MATOS,<br />2002).<br />Em saúde, como em outros trabalhos, tem-se a necessidade<br />individual/coletiva como geradora de uma ação transformadora. Esta se<br />desencadeará a partir do estabelecimento de um projeto direcionado para uma<br />finalidade e com o poder de transformação de um objeto, utilizando-se de<br />ferramentas/instrumentos, saberes/conhecimento, recursos tecnológicos e força de<br />6 Desenvolvimento de conhecimentos e habilidades para atuar em diferentes funções/setores, visando<br />a produtividade e qualidade do serviço (VALADARES; VIANA, 2005).<br />7 Processo de implantação e difusão de novas tecnologias como a eletrônica, a informática e a<br />telemática. Iniciou-se entre a década de 1950 e 1970 com o forte movimento do Toyotismo.

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em massa, redução do tempo e estruturação do trabalho de forma fragmentada.<<strong>br</strong> />

Essas formas de organização do trabalho influenciaram outros setores além da<<strong>br</strong> />

indústria, como a prestação de serviços (MATOS, 2002; VALADARES; VIANA,<<strong>br</strong> />

2005).<<strong>br</strong> />

Esse modelo encontrou seu declínio nos anos de 1970 e 1980, advindo de<<strong>br</strong> />

uma reestruturação econômica e social promovida pelo crescimento do trabalho em<<strong>br</strong> />

setores de serviços, assim como a terceirização dos mesmos. A consequente<<strong>br</strong> />

flexibilização 6 dos mercados e de setores de produção e a revolução tecnológica<<strong>br</strong> />

exigiram novas formas de trabalho, como o temporário e em tempo parcial, além da<<strong>br</strong> />

qualificação profissional para atender as novas demandas (RIBEIRO, 2006).<<strong>br</strong> />

Em pleno século XXI, a sociedade ainda enfrenta um processo de<<strong>br</strong> />

reestruturação no mundo do trabalho. Inserida na chamada revolução tecnológica ou<<strong>br</strong> />

terceira revolução industrial 7 , vivencia um período de transição, em que busca a<<strong>br</strong> />

conformação das contradições na forma de organização do trabalho. São<<strong>br</strong> />

encontrados setores estruturados tecnologicamente, enquanto outros ainda<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>evivem com sua base nos modelos taylorista-fordista ensaiando uma<<strong>br</strong> />

reestruturação de seus paradigmas. O trabalho em saúde encontra-se nesse<<strong>br</strong> />

processo, mas com uma crescente influência da estrutura capitalista e tecnológica<<strong>br</strong> />

(VALADARES; VIANA, 2005).<<strong>br</strong> />

O trabalho manual realizado por profissionais da saúde ainda é<<strong>br</strong> />

caracterizado pela sistematização, própria do modelo taylorista. Esse modelo ainda<<strong>br</strong> />

encontra reflexo significativo nas práticas de Enfermagem, nas quais se realiza o<<strong>br</strong> />

controle do trabalho e da equipe por meio de normas e rotinas que visam o<<strong>br</strong> />

atendimento às exigências da instituição, por sua estrutura hierarquizada (MATOS,<<strong>br</strong> />

2002).<<strong>br</strong> />

Em saúde, como em outros trabalhos, tem-se a necessidade<<strong>br</strong> />

individual/coletiva como geradora de uma ação transformadora. Esta se<<strong>br</strong> />

desencadeará a partir do estabelecimento de um projeto direcionado para uma<<strong>br</strong> />

finalidade e com o poder de transformação de um objeto, utilizando-se de<<strong>br</strong> />

ferramentas/instrumentos, saberes/conhecimento, recursos tecnológicos e força de<<strong>br</strong> />

6 Desenvolvimento de conhecimentos e habilidades para atuar em diferentes funções/setores, visando<<strong>br</strong> />

a produtividade e qualidade do serviço (VALADARES; VIANA, 2005).<<strong>br</strong> />

7 Processo de implantação e difusão de novas tecnologias como a eletrônica, a informática e a<<strong>br</strong> />

telemática. Iniciou-se entre a década de 1950 e 1970 com o forte movimento do Toyotismo.

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