27.11.2014 Views

A escrita de sujeitos portadores de fissura lábio-palatina

A escrita de sujeitos portadores de fissura lábio-palatina

A escrita de sujeitos portadores de fissura lábio-palatina

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

46<br />

A <strong>escrita</strong> <strong>de</strong> <strong>sujeitos</strong> <strong>portadores</strong> <strong>de</strong> <strong>fissura</strong> lábio-<strong>palatina</strong><br />

e reelaborações e não apenas reproduzir mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

<strong>escrita</strong> formalizada. Através da <strong>escrita</strong> espontânea<br />

englobam-se valores, representações, usos e domínios da<br />

linguagem <strong>escrita</strong>. Em outras palavras como é concebida,<br />

vivenciada, valorizada e significada pela criança. E é a<br />

partir <strong>de</strong>ssa significação que será possível o exercício<br />

da autoria. Para exercer a autoria, o domínio das regras<br />

convencionais não é um pré-requisito, pois a autoria é<br />

marcada pelo modo que um texto produz sentido e não<br />

pelo modo como nele são resolvidas questões gramaticais<br />

e ortográficas. Assim, é possível que as produções infantis<br />

apresentem autoria, ou indícios <strong>de</strong>sta, mesmo que não<br />

estejam <strong>de</strong> acordo com a convenção ortográfica. O uso<br />

não convencional <strong>de</strong> regras gramaticais e ortográficas<br />

<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um obstáculo para a produção do discurso<br />

escrito. Afinal, apren<strong>de</strong>r a escrever corretamente não é<br />

um processo passivo, <strong>de</strong> simples estocagem <strong>de</strong> palavras<br />

corretas. Para a constituição e produção <strong>de</strong> sentido, é<br />

preciso posicionar-se como autor do próprio discurso.<br />

De acordo com Kristensen e Freire (8) “[...] autor é aquele<br />

que, ao produzir um texto, se representa em sua origem,<br />

produzindo-o com unida<strong>de</strong>, coerência, progressão, não<br />

contradição e fim, promovendo assim efeitos <strong>de</strong> sentido<br />

no leitor.”<br />

Nessa perspectiva, a partir da elaboração <strong>de</strong> um texto,<br />

a criança vai, implícita ou explicitamente, dominando<br />

aspectos mecânicos e estruturais da <strong>escrita</strong>. Desse modo,<br />

o caminho torna-se inverso, visto que se subverte a or<strong>de</strong>m<br />

dos acontecimentos, ou seja, propõe-se que as práticas<br />

discursivas <strong>escrita</strong>s, interpretadas pelo outro, são capazes<br />

<strong>de</strong> levar a criança ao uso <strong>de</strong> regras <strong>de</strong>terminadas pela<br />

língua (8).<br />

Por isso, enten<strong>de</strong>r que a aquisição da <strong>escrita</strong> se dá<br />

em função do reconhecimento por parte do aprendiz<br />

<strong>de</strong> regras ortográficas e gramaticais integra uma visão<br />

reducionista do processo <strong>de</strong> apropriação da <strong>escrita</strong>. O<br />

domínio da <strong>escrita</strong> envolve outros aspectos, os quais<br />

remetem a discussões que vêm sendo realizadas em torno<br />

do conceito <strong>de</strong> letramento, uma vez que tal conceito,<br />

conforme coloca Rojo (9), “[...] implica a adoção <strong>de</strong><br />

pressupostos teóricos (sociológicos, etnográficos) on<strong>de</strong><br />

a interação social tem peso <strong>de</strong>cisivo na construção da<br />

<strong>escrita</strong> pela criança”.<br />

Nesse sentido, perspectivas teórico-práticas referentes<br />

ao processo <strong>de</strong> construção da <strong>escrita</strong> <strong>de</strong>vem consi<strong>de</strong>rar a<br />

participação da oralida<strong>de</strong> na apropriação da <strong>escrita</strong>, o que<br />

não significa consi<strong>de</strong>rar tal relação a partir da transposição<br />

<strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s sonoras em gráficas. O papel da oralida<strong>de</strong><br />

no processo <strong>de</strong> aquisição da <strong>escrita</strong> é fundamental, pois<br />

a partir da participação da criança nas práticas discursivas<br />

orais, as práticas <strong>de</strong> leitura e <strong>escrita</strong> ganham sentido. A fim<br />

<strong>de</strong> nos aproximarmos do conceito <strong>de</strong> letramento, ou seja,<br />

a priorização <strong>de</strong> questões sócio-históricas relacionadas<br />

aos processos <strong>de</strong> leitura e <strong>escrita</strong>, apontamos que a<br />

Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 39, p. 41-62, Curitiba, 2008.<br />

tcc_39_fcbs.indd 46 13/08/2008 16:01:59

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!