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Políticas Públicas de DST/AIDS e Controle Social no Estado ... - Abia

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COLEÇÃO ABIA<br />

Políticas Públicas<br />

5<br />

Políticas Públicas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong><br />

e <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> <strong>no</strong><br />

<strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Capacitando li<strong>de</strong>ranças e promovendo a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> das respostas frente à <strong>AIDS</strong><br />

Organizadores<br />

MARIA INÊS BRAVO, FÁTIMA ROCHA,<br />

IVIA MAKSUD E LUCIANA KAMEL


Copyright© by ABIA, 2006<br />

Associação Brasileira Interdisciplinar <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong><br />

- ABIA<br />

Rua da Can<strong>de</strong>lária, 79/10 o andar - Centro<br />

CEP: 20091-020 - Rio <strong>de</strong> Janeiro - RJ<br />

Telefone: (21) 2223-1040 Fax: (21) 2253-8495<br />

E-mail: abia@abiaids.org.br | www.abiaids.org.br<br />

DIRETORIA<br />

Diretor-Presi<strong>de</strong>nte: RICHARD PARKER<br />

Diretora Vice-Presi<strong>de</strong>nte: REGINA MARIA BARBOSA<br />

Secretária Geral: MIRIAM VENTURA<br />

Tesoureiro: JOSÉ LOUREIRO<br />

Coor<strong>de</strong>nação Geral: CRISTINA PIMENTA E VERIANO<br />

TERTO JR.<br />

ORGANIZADORES: Maria Inês Bravo, Fátima Rocha,<br />

Ivia Maksud e Luciana Kamel<br />

EQUIPE DE REDAÇÃO DO RELATÓRIO: Alcinda Maria<br />

Godói, Maria Inês Bravo, Fátima Rocha, Ivia<br />

Maksud, Luciana Kamel, Veria<strong>no</strong> Terto Jr., Cristina<br />

Pimenta, Juliana Souza Bravo <strong>de</strong> Menezes, Maria<br />

Assuncion Sole Plá, Flavia Silvia, Denise Pires,<br />

Michelle Rodrigues <strong>de</strong> Moraes, Rose Santos Pedreira<br />

e Ricardo Salles Mölnar<br />

UERJ – Maria Inês Souza Bravo, Débora <strong>de</strong> Sales<br />

Pereira, Kátia Rodrigues da Silva, Rodrigo <strong>de</strong> Oliveira<br />

Ribeiro, Andréa Gonzaga <strong>de</strong> Oliveira, Rose Santos<br />

Pedreira, Juliana Souza Bravo <strong>de</strong> Menezes, Mariana<br />

Maciel do N. Oliveira, Michelle Rodrigues <strong>de</strong> Moraes,<br />

Carolina <strong>de</strong> Barros Montanha, Elaine Junger Pelaez,<br />

Juliana Fiúza Cislaghi, Matheus Thomaz, Rosane<br />

Santos <strong>de</strong> Carvalho, Rosimere Valentim <strong>de</strong> Souza e<br />

Tássya Moura<br />

SES/RJ – Fátima Rocha, Flavia Silvia e Magda <strong>de</strong><br />

Souza Chagas<br />

CONSULTORES: Roberto Pereira e Maria Cristina<br />

Alvim Castello Branco<br />

RELATORES: Gabriela Andra<strong>de</strong> e André Nunes<br />

REVISÃO DO TEXTO: Ana Arruda Callado<br />

PROJETO GRÁFICO: Wilma Ferraz e Juan Carlos Raxach<br />

DIAGRAMAÇÃO: Estúdio Metara [estudiometara.com.br]<br />

APOIO:<br />

IMPRESSÃO: Gráfica Stamppa<br />

TIRAGEM: 1.000 exemplares<br />

EQUIPE DE TRABALHO DOS SEMINÁRIOS:<br />

ABIA - Carlos Passarelli, Ivia Maksud, Luciana<br />

Kamel, Marclei Guimarães, Ricardo Salles Mölnar e<br />

Cristina Albuquerque<br />

CIP-Brasil. Catalogação na Fonte. Sindicato Nacional dos Editores <strong>de</strong> Livros, RJ.<br />

P829<br />

Políticas públicas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> e controle social <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro : capacitando li<strong>de</strong>ranças e promovendo<br />

a sustentabilida<strong>de</strong> das respostas frente à <strong>AIDS</strong> : relatório integrado / [organizadores Maria Inês Bravo... et al.]. - Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro : ABIA, 2006<br />

il. ; . - (Coleção ABIA. Políticas públicas ; n.5)<br />

Seminários e Grupos <strong>de</strong> Trabalho <strong>de</strong> capacitação, realizados com li<strong>de</strong>ranças comunitárias, conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e<br />

gestores e coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro em 2004 e 2005<br />

Anexo<br />

Inclui bibliografia<br />

ISBN 85-88684-25-X<br />

1. <strong>AIDS</strong> (Doença) - Política governamental - Rio <strong>de</strong> Janeiro (<strong>Estado</strong>). 2. Política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> - Rio <strong>de</strong> Janeiro (<strong>Estado</strong>)<br />

- Participação do cidadão. 3. <strong>AIDS</strong> (Doença) - Política governamental - Brasil. 4. Saú<strong>de</strong> pública - Brasil.<br />

I. Bravo, Maria Inês Souza. II. Associação Brasileira Interdisciplinar <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>. III. Série.<br />

06-1333. CDD 362.196492<br />

CDU 616.98<br />

É permitida a reprodução total ou parcial do artigo <strong>de</strong>sta publicação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que citadas a fonte e os autores.<br />

2


SUMÁRIO<br />

APRESENTAÇÃO 5<br />

PARTE 1 - POLÍTICA DE <strong>AIDS</strong>, FINANCIAMENTO NA SAÚDE E CONTROLE SOCIAL 9<br />

1.1. A Política <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> Brasil 9<br />

1.2. Financiamento na Saú<strong>de</strong> e na Política <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> 13<br />

1.3. <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> na Saú<strong>de</strong> e sua Interface com a Política <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> 18<br />

1.3.1. Consi<strong>de</strong>rações Gerais sobre o <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> na Saú<strong>de</strong> 18<br />

1.3.2. As Interconexões com a Política <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> 19<br />

PARTE 2 - SAÚDE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, POLÍTICA DE <strong>AIDS</strong>,<br />

FINANCIAMENTO E CONTROLE SOCIAL 23<br />

2.1. A Saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro e A Política <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> 23<br />

2.1.1. A Saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 23<br />

2.1.1.1. Breve caracterização do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 23<br />

2.1.1.2. Alguns Indicadores 23<br />

2.1.1.3. Principais Problemas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

e Propostas para o <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 29<br />

2.1.2. A Política <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 33<br />

2.2. Financiamento da Saú<strong>de</strong> e a Política <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 36<br />

2.3. <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 37<br />

2.3.1. Os Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 37<br />

2.3.2. O Perfil dos Conselheiros <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 40<br />

2.3.3. Os Seminários <strong>de</strong> Políticas Públicas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> e <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> 41<br />

2.4. Diagnóstico e Propostas 42<br />

2.4.1. Diagnóstico Situacional da <strong>AIDS</strong> nas<br />

Regiões do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 42<br />

2.4.2. Propostas 45<br />

2.4.2.1. Relacionadas à Prevenção e Assistência às <strong>DST</strong>s/<strong>AIDS</strong> 45<br />

2.4.2.2. Referentes ao Fortalecimento do <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> 46<br />

BIBLIOGRAFIA 49<br />

ANEXOS 51<br />

3


APRESENTAÇÃO<br />

Apolítica mais recente <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização e <strong>de</strong> regionalização das<br />

ações, consubstanciada na Norma Operacional Básica (NOB) 96 e<br />

nas Normas Operacionais <strong>de</strong> Assistência à Saú<strong>de</strong> (NOAS), trouxe<br />

gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios para o Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS). Entre os muitos<br />

<strong>de</strong>safios, <strong>de</strong>staca-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar horizontalida<strong>de</strong> aos programas,<br />

alinhando-os às estratégias da atenção básica. Para o Programa Nacional<br />

<strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong>/Ministério da Saú<strong>de</strong>, esse é o principal <strong>de</strong>safio que se apresenta<br />

<strong>no</strong> momento, tanto nas instâncias estaduais como municipais, o que<br />

traz <strong>no</strong>vas questões para o nível local.<br />

Esses <strong>de</strong>safios não po<strong>de</strong>rão ser enfrentados sem a participação e o<br />

avanço do movimento social, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da epi<strong>de</strong>mia <strong>no</strong> Brasil tem<br />

contribuído <strong>de</strong> modo significativo para a construção da resposta brasileira<br />

à epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>, bem como para a adoção, implementação e aprimoramento<br />

das políticas públicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Porém, é preciso ampliar as conquistas,<br />

introduzindo a questão da <strong>AIDS</strong> em todo o SUS. Para isso, é necessário<br />

o fortalecimento da participação social na saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> um modo geral,<br />

pois só assim o projeto <strong>de</strong> Reforma Sanitária será fortalecido.<br />

É importante ressaltar que o esforço e os avanços acumulados <strong>no</strong>s<br />

últimos a<strong>no</strong>s <strong>no</strong> campo da saú<strong>de</strong> e, em especial, <strong>no</strong> combate ao HIV/<strong>AIDS</strong>,<br />

estão relacionados à construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mais <strong>de</strong>mocrática. Na<br />

saú<strong>de</strong>, as conquistas dizem respeito ao controle popular do uso do dinheiro<br />

público, do fundo <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, à <strong>de</strong>finição das priorida<strong>de</strong>s e à fiscalização<br />

dos serviços com a participação da população. Não é possível avançar nessa<br />

discussão sem incorporar os conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que são as instâncias que<br />

fazem, efetivamente, <strong>no</strong>s termos da lei, o controle social do SUS.<br />

Neste momento em que o SUS é chamado a incorporar em suas ações<br />

e serviços a problemática da <strong>AIDS</strong> e <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> outras questões que<br />

vêm com ela, como as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e os preconceitos, o uso <strong>de</strong> drogas, a<br />

violência, o trabalho com grupos estigmatizados, é preciso que os conselhos<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> estejam preparados para dar as respostas necessárias às <strong>no</strong>vas<br />

questões colocadas.<br />

Nesse contexto, a Associação Brasileira Interdisciplinar <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong><br />

(ABIA) <strong>de</strong>senvolveu um trabalho em parceria com a Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro e com a Universida<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro (UERJ), através do Projeto Políticas Públicas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Serviço <strong>Social</strong>, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> fortalecer a ação dos conselheiros <strong>de</strong><br />

5


saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> reforçar a agenda do movimento social <strong>no</strong> tocante às políticas<br />

públicas voltadas para o HIV/<strong>AIDS</strong>.<br />

Essa parceria teve como objetivos centrais promover a capacitação<br />

dos conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em assuntos relativos à epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> HIV/<strong>AIDS</strong>,<br />

gerar uma articulação entre o movimento social <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> e os conselhos <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> e sensibilizar os gestores locais para a importância da participação e<br />

controle social e para as questões relacionadas ao combate à epi<strong>de</strong>mia.<br />

Em 2004 e 2005, foram <strong>de</strong>senvolvidas ações <strong>de</strong> capacitação (através<br />

<strong>de</strong> seminários e grupos <strong>de</strong> trabalho) com li<strong>de</strong>ranças comunitárias, conselheiros<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, gestores e coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> das<br />

regiões que compõem o <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Esses seminários contaram<br />

com a colaboração do Conselho Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> seus articuladores<br />

regionais. O objetivo <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s foi sensibilizar os atores citados<br />

para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimorar as respostas locais à epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>,<br />

e, principalmente, para ouvir o que os conselheiros têm a dizer sobre essa<br />

temática 1 .<br />

Esses encontros trouxeram como tema a questão do controle social e<br />

<strong>AIDS</strong>, <strong>no</strong> contexto <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> mudança que se encontra em curso e que<br />

tem como <strong>de</strong>safio expandir a cobertura das ações em prevenção e assistência,<br />

<strong>no</strong> quadro do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização e <strong>de</strong> regionalização do SUS.<br />

Os seminários proporcionaram uma rica oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar uma<br />

reflexão coletiva sobre as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalhar a complexida<strong>de</strong> da questão<br />

do HIV/<strong>AIDS</strong>, um momento <strong>de</strong> pensar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, as políticas<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a <strong>de</strong>mocracia participativa e o próprio SUS, bem como <strong>de</strong> buscar<br />

formas efetivas para o enfrentamento dos <strong>de</strong>safios atuais. Representaram a<br />

articulação <strong>de</strong> saberes e <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> diversos atores envolvidos e comprometidos<br />

com o fortalecimento do SUS.<br />

Os resultados que apresentamos neste relatório representam o trabalho<br />

coletivo <strong>de</strong> todos que estiveram presentes às oficinas e aos seminários<br />

regionais ocorridos em 2004 e 2005. Na presente publicação, é feita uma<br />

síntese das principais discussões e propostas oriundas <strong>de</strong>sses encontros que,<br />

embora tenham retratado as especificida<strong>de</strong>s das regiões, o fizeram a partir<br />

<strong>de</strong> um mesmo formato. Inicialmente, faz-se um balanço da situação da <strong>AIDS</strong><br />

<strong>no</strong> país e <strong>no</strong> estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro e uma retrospectiva histórica do<br />

controle social <strong>no</strong> SUS. No contexto <strong>de</strong>ssa discussão, são consi<strong>de</strong>rados temas<br />

relacionados ao papel dos conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, as dificulda<strong>de</strong>s en-<br />

1<br />

Em 2004, foram realizados dois seminários com as regiões Norte e Noroeste Fluminense, dois seminários com as regiões Metropolitana<br />

I, e um seminário com as regiões Metropolitana II, Baixada Litorânea e Serrana. Em 2005, foi realizado um seminário com as<br />

regiões Médio-Paraíba, Centro Sul Fluminense e Baía da Ilha Gran<strong>de</strong>. Os seminários contaram com apoio financeiro da Fundação<br />

Ford, através do projeto Mobilização e Descentralização das Políticas Públicas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>, <strong>de</strong>senvolvido pela ABIA e, <strong>no</strong> caso dos<br />

dois últimos, também com apoio da Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

6


frentadas para o efetivo controle social e são apresentadas propostas <strong>de</strong><br />

ampliação e <strong>de</strong> aprimoramento do controle social, em particular, dos conselhos<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Esses encontros regionais tiveram ainda como <strong>de</strong>safio i<strong>de</strong>ntificar as<br />

possibilida<strong>de</strong>s e os limites hoje existentes para que as ações <strong>de</strong> controle do<br />

HIV/<strong>AIDS</strong> sejam incorporadas <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização da saú<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>ntro do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> regionalização da atenção, para garantir o acesso integral<br />

e universal, além <strong>de</strong> discutir qual o papel dos conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

nesse processo e como aperfeiçoá-lo. O que é preciso para capacitar a re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> serviços <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> efetivar a ampliação da cobertura e garantir o<br />

acesso aos insumos <strong>de</strong> prevenção, <strong>de</strong> diagnóstico e <strong>de</strong> tratamento, tanto<br />

para a população geral como para os grupos mais vulneráveis? A partir das<br />

muitas vozes expressas nessa publicação, convidamos os leitores à reflexão<br />

e ao <strong>de</strong>bate para a diminuição das iniqüida<strong>de</strong>s regionais.<br />

Boa leitura a todo(a)s!<br />

Veria<strong>no</strong> Terto Jr. (a) , Fátima Rocha (b) e Maria Inês Souza Bravo (c)<br />

(a)<br />

Coor<strong>de</strong>nador Geral da ABIA.<br />

(b)<br />

Coor<strong>de</strong>nadora da Assessoria <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> – SES/RJ.<br />

(c)<br />

Prof a Adjunta da FSS/UERJ; Coor<strong>de</strong>nadora do Projeto Políticas Públicas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

7


PARTE 1<br />

POLÍTICA DE <strong>AIDS</strong>,<br />

FINANCIAMENTO NA SAÚDE<br />

E CONTROLE SOCIAL<br />

1.1. A POLÍTICA DE <strong>AIDS</strong> NO BRASIL<br />

Inicialmente, <strong>de</strong>vemos reconhecer que a<br />

<strong>AIDS</strong> não é mais a mesma. Des<strong>de</strong> o seu surgimento,<br />

ocorreram transformações significativas<br />

na epi<strong>de</strong>mia, as quais trouxeram <strong>no</strong>vas questões<br />

a serem pensadas e trabalhadas. Passou-se<br />

<strong>de</strong> uma situação on<strong>de</strong> as pessoas não tinham<br />

perspectiva <strong>de</strong> vida para uma situação em que<br />

po<strong>de</strong>m não só viver com o HIV/<strong>AIDS</strong> mas, também,<br />

ter qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Além disso, a <strong>AIDS</strong><br />

contribuiu para a conquista <strong>de</strong> direitos, ao dar<br />

mais visibilida<strong>de</strong> a certos atores sociais sobre<br />

os quais pesa o preconceito e a discriminação,<br />

como travestis, homens que fazem sexo com homens<br />

e profissionais do sexo.<br />

Des<strong>de</strong> seu início, foram construídas respostas<br />

à epi<strong>de</strong>mia que resultaram em gran<strong>de</strong>s<br />

avanços, não só para as pessoas que vivem com<br />

HIV/<strong>AIDS</strong>, mas, também, para outras áreas da<br />

saú<strong>de</strong>. A epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> fortaleceu o Sistema<br />

Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, com o aporte <strong>de</strong> recursos<br />

que reverteram em benefícios para o sistema<br />

como um todo. A <strong>AIDS</strong> provocou a introdução<br />

<strong>de</strong> formas i<strong>no</strong>vadoras <strong>de</strong> atuação <strong>de</strong>ntro dos serviços<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, como o envolvimento <strong>de</strong> pessoas<br />

que vivem com HIV/<strong>AIDS</strong> e <strong>de</strong> segmentos específicos<br />

da população enquanto agentes ativos<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou multiplicadores <strong>no</strong> trabalho <strong>de</strong><br />

prevenção, além <strong>de</strong> ter promovido uma gran<strong>de</strong><br />

mobilização e organização social que foram fundamentais<br />

para a construção das políticas públicas<br />

em saú<strong>de</strong>.<br />

É preciso lembrar que a base para o sucesso<br />

das iniciativas voltadas para o combate à epi<strong>de</strong>mia<br />

da <strong>AIDS</strong> é a existência do próprio SUS.<br />

Sem ele, não teria sido possível essa resposta.<br />

Ele é o gran<strong>de</strong> diferencial em relação a outros<br />

países, como a Argentina e os países do continente<br />

africa<strong>no</strong>. Os princípios do SUS, <strong>de</strong> acesso<br />

gratuito e universal e da integralida<strong>de</strong> da atenção,<br />

são os esteios da política adotada para a<br />

<strong>AIDS</strong>. É com essa concepção que as ações <strong>de</strong><br />

combate à <strong>AIDS</strong> foram estruturadas. A resposta<br />

brasileira integrou assistência e prevenção,<br />

num momento em que nenhum outro país adotava<br />

esse tipo <strong>de</strong> política. O Brasil, <strong>de</strong> forma<br />

pioneira, comprometeu-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro<br />

9


momento com a assistência, adotando a política<br />

<strong>de</strong> distribuição gratuita e <strong>de</strong> cobertura universal<br />

dos medicamentos antiretrovirais (ARV),<br />

contrariando e <strong>de</strong>safiando o próprio Banco<br />

Mundial, que não acreditava na estratégia econômica<br />

do tratamento das pessoas com HIV/<br />

<strong>AIDS</strong>. Ao adotar a política <strong>de</strong> acesso universal<br />

aos medicamentos, o Brasil foi questionado<br />

quanto a possíveis repercussões negativas <strong>de</strong>ssa<br />

política em âmbito internacional, <strong>no</strong> caso <strong>de</strong><br />

resistência aos antiretrovirais ou <strong>de</strong> baixa a<strong>de</strong>são<br />

ao tratamento. Felizmente, isso não se verificou.<br />

Ao contrário, os resultados da política<br />

adotada foram a diminuição da taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong><br />

e o aumento da sobrevida e da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida dos portadores do HIV.<br />

Daí a importância <strong>de</strong> se trabalhar para o fortalecimento<br />

do SUS, <strong>de</strong>ntro dos preceitos constitucionalmente<br />

<strong>de</strong>finidos da universalida<strong>de</strong> da<br />

atenção, da integralida<strong>de</strong> e da eqüida<strong>de</strong>, pois foram<br />

esses princípios que <strong>no</strong>rtearam as respostas<br />

do País à epi<strong>de</strong>mia da <strong>AIDS</strong>, respostas consi<strong>de</strong>radas<br />

<strong>de</strong> bastante êxito, principalmente quando se<br />

tem por referência as projeções inicialmente feitas<br />

quanto ao avanço da <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> Brasil.<br />

As respostas dadas à epi<strong>de</strong>mia repercutiram<br />

<strong>no</strong> perfil epi<strong>de</strong>miológico da <strong>AIDS</strong>. Inicialmente,<br />

a epi<strong>de</strong>mia atingia com mais intensida<strong>de</strong><br />

grupos populacionais específicos como os<br />

homossexuais masculi<strong>no</strong>s, mulheres profissionais<br />

do sexo e usuários <strong>de</strong> drogas injetáveis, sendo,<br />

naquela época, consi<strong>de</strong>rados como “grupos<br />

<strong>de</strong> risco”. Tal concepção foi muito negativa, tendo<br />

contribuído para o aumento do preconceito<br />

e da discriminação a esses grupos já estigmatizados.<br />

A <strong>AIDS</strong> chegou a ser <strong>de</strong><strong>no</strong>minada <strong>de</strong><br />

“câncer gay”, em clara alusão à associação feita<br />

entre <strong>AIDS</strong> e homossexualida<strong>de</strong>. Nesse período,<br />

havia clara diferenciação na forma como eram<br />

vistas as pessoas infectadas pelo vírus, <strong>de</strong> acordo<br />

com a forma <strong>de</strong> transmissão. Aqueles infectados<br />

pela via das transfusões sangüíneas eram<br />

consi<strong>de</strong>rados “vítimas da <strong>AIDS</strong>”, enquanto os<br />

<strong>de</strong>mais sofriam o peso da crítica social, que os<br />

con<strong>de</strong>nava e responsabilizava pela própria doença.<br />

Esses sofriam uma verda<strong>de</strong>ira con<strong>de</strong>nação e<br />

exclusão social.<br />

Com o passar do tempo, ocorreram mudanças<br />

importantes <strong>no</strong> perfil <strong>de</strong> distribuição dos casos<br />

<strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> Brasil, em gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>correntes<br />

das políticas <strong>de</strong> prevenção adotadas. Observamse<br />

tendências <strong>no</strong> sentido da heterossexualização,<br />

feminização, pauperização e interiorização da epi<strong>de</strong>mia.<br />

A <strong>AIDS</strong> <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser problema apenas para<br />

alguns poucos grupos, passando a atingir indiscriminadamente<br />

a população.<br />

Des<strong>de</strong> 1993, a principal categoria <strong>de</strong> exposição<br />

ao vírus HIV é a sexual e o número <strong>de</strong><br />

casos vem crescendo entre os heterossexuais.<br />

Muito provavelmente, o trabalho <strong>de</strong> prevenção<br />

voltado para os grupos homossexuais e <strong>de</strong> usuários<br />

<strong>de</strong> drogas injetáveis (UDI), realizado <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o início da epi<strong>de</strong>mia, contribuiu para a redução<br />

da incidência da doença nesses grupos, pela<br />

adoção <strong>de</strong> comportamentos sexuais mais seguros<br />

e pela adoção da política <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> da<strong>no</strong>s<br />

entre os UDI.<br />

Outra tendência importante observada é<br />

a <strong>de</strong> feminização, pois <strong>no</strong> início da epi<strong>de</strong>mia, a<br />

razão masculi<strong>no</strong>/femini<strong>no</strong> chegou a ser <strong>de</strong> 35/1.<br />

Hoje, essa relação baixou para 7/1 e, em alguns<br />

municípios, ela é <strong>de</strong> 1/1, isto é, para cada caso<br />

<strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> em homens há, igualmente, um caso<br />

entre as mulheres.<br />

A epi<strong>de</strong>mia tem-se interiorizado <strong>no</strong> país,<br />

alcançando municípios com me<strong>no</strong>r contingente<br />

populacional e se expandindo para as regiões<br />

Norte e Nor<strong>de</strong>ste, além <strong>de</strong> estar atingindo em<br />

maior proporção as populações <strong>de</strong> me<strong>no</strong>r renda<br />

e <strong>de</strong> me<strong>no</strong>r escolarida<strong>de</strong>. O fator escolarida<strong>de</strong><br />

está intimamente ligado à questão da vulnerabilida<strong>de</strong>,<br />

pois influencia o grau <strong>de</strong> informação<br />

e está fortemente associado às condições <strong>de</strong> vida<br />

da população.<br />

10


A mortalida<strong>de</strong> foi fortemente impactada pela<br />

introdução da terapia ARV, em 1996, apresentando<br />

significativo <strong>de</strong>clínio. Não se po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

vista a importância da terapia antiretroviral na<br />

redução da mortalida<strong>de</strong>, pois qualquer comprometimento<br />

em relação ao tratamento, como interrupção<br />

da distribuição gratuita dos medicamentos<br />

ou pouca a<strong>de</strong>são ao tratamento, po<strong>de</strong> fazer recru<strong>de</strong>scer<br />

a mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>corrente da <strong>AIDS</strong>.<br />

Entre 2000 e 2004, observa-se uma situação<br />

<strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> em relação ao número <strong>de</strong> casos<br />

<strong>no</strong>vos <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>. O <strong>de</strong>safio atual é sair <strong>de</strong>ssa<br />

estabilida<strong>de</strong> e promover uma efetiva redução <strong>no</strong><br />

número <strong>de</strong> casos. Essa tendência <strong>de</strong> estabilização<br />

da epi<strong>de</strong>mia é resultado da combinação <strong>de</strong><br />

diversos fatores que tornaram o programa brasileiro<br />

um dos mais bem sucedidos do mundo,<br />

como a estratégia <strong>de</strong> integrar prevenção e assistência,<br />

a participação direta da socieda<strong>de</strong> civil<br />

e, em particular, das pessoas vivendo com<br />

HIV/<strong>AIDS</strong> e dos segmentos mais vulneráveis da<br />

população.<br />

É <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto que se <strong>de</strong>vem avaliar<br />

as políticas públicas voltadas para a <strong>de</strong>scentralização<br />

das ações <strong>de</strong> combate à <strong>AIDS</strong>, consi<strong>de</strong>rando<br />

como dimensões envolvidas, <strong>de</strong>ntre<br />

outras, a prevenção, a assistência, a promoção<br />

<strong>de</strong> direitos e o <strong>de</strong>senvolvimento institucional.<br />

A prevenção sustenta-se <strong>no</strong> tripé informação,<br />

educação e comunicação. O trabalho <strong>de</strong><br />

prevenção tem como ações prioritárias a disseminação<br />

do uso do preservativo, mediante a garantia<br />

<strong>de</strong> acesso aos preservativos masculi<strong>no</strong>s e<br />

à política <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> da<strong>no</strong>s. Também envolve<br />

a disseminação <strong>de</strong> informação, com a adoção<br />

<strong>de</strong> estratégias diferenciadas que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as<br />

campanhas <strong>de</strong> massa até a educação por pares.<br />

Diversos estudos realizados na população geral<br />

e em populações específicas, como homens que<br />

fazem sexo com homens (HSH), profissionais do<br />

sexo e usuários <strong>de</strong> drogas injetáveis, atestam<br />

mudanças comportamentais importantes a partir<br />

do trabalho <strong>de</strong> prevenção, como o aumento da<br />

adoção <strong>de</strong> práticas mais seguras.<br />

Reconhecemos que houve avanços em termos<br />

da comunicação <strong>de</strong> massa, que, <strong>no</strong> início da<br />

epi<strong>de</strong>mia, foi bastante criticada pelo movimento<br />

social em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> campanhas consi<strong>de</strong>radas<br />

alarmistas e que contribuíam para aumentar o<br />

preconceito. Essas campanhas evoluíram e incorporaram<br />

a preocupação com os direitos huma<strong>no</strong>s<br />

e com a não-estigmatização das populações<br />

mais vulneráveis ou das pessoas que vivem com<br />

o HIV/<strong>AIDS</strong>. No entanto, é preciso aperfeiçoar o<br />

trabalho <strong>de</strong> comunicação e informação, melhorando<br />

as campanhas <strong>de</strong> massa, tornando-as mais<br />

freqüentes e adotando campanhas específicas voltadas<br />

para diferentes públicos.<br />

Em relação ao preservativo masculi<strong>no</strong>, em<br />

que pese as metas <strong>de</strong> ampliação da distribuição<br />

na re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, vivemos uma crise <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sabastecimento em 2004. Isso mostra que há<br />

fragilida<strong>de</strong>s <strong>no</strong> sistema <strong>de</strong> aquisição e <strong>de</strong> distribuição<br />

<strong>de</strong> insumos que precisam ser sanadas,<br />

para que não se comprometam as ações <strong>de</strong>senvolvidas<br />

na ponta da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços. Novamente,<br />

o movimento social teve participação<br />

importante na cobrança <strong>de</strong> medidas por parte<br />

do po<strong>de</strong>r público <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmalizar a<br />

distribuição dos preservativos masculi<strong>no</strong>s.<br />

Em relação às questões da assistência, há<br />

uma série <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios a serem vencidos para dar<br />

conta da universalida<strong>de</strong>, integralida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>scentralização<br />

das ações. Há dificulda<strong>de</strong>s relativas<br />

à internação, à referência e contra-referência,<br />

insuficiência <strong>de</strong> profissionais para aten<strong>de</strong>r<br />

a <strong>de</strong>manda, dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso aos exames <strong>de</strong><br />

média e alta complexida<strong>de</strong>. São apontados como<br />

problemas a reduzida assistência domiciliar, a<br />

dispensação ina<strong>de</strong>quada dos medicamentos em<br />

alguns municípios, a <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> da atenção<br />

ao pré-natal e a baixa qualida<strong>de</strong> do pré-natal<br />

ofertado. Em relação aos locais <strong>de</strong> atendimento<br />

dos serviços <strong>de</strong> atenção aos portadores <strong>de</strong> HIV/<br />

11


<strong>AIDS</strong>, por exemplo, faltam profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

em número suficiente para a <strong>de</strong>manda atualmente<br />

existente. Apesar <strong>de</strong> não haver em todos<br />

os municípios locais <strong>de</strong> atendimento ambulatorial<br />

para os pacientes com HIV/<strong>AIDS</strong>, o gran<strong>de</strong><br />

enfrentamento não é a criação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos serviços<br />

e sim gerar um pacto <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />

entre os municípios <strong>de</strong> cada região para garantir<br />

acesso à assistência ambulatorial a todos os<br />

pacientes, mesmo fora do seu domicílio.<br />

A ampliação da testagem para o HIV é uma<br />

necessida<strong>de</strong>, mas não po<strong>de</strong> ser compulsória. O<br />

teste tem que ser ofertado e os lugares on<strong>de</strong> se<br />

po<strong>de</strong> fazer o teste têm que ser divulgados. Tivemos<br />

avanços importantes em relação ao acesso<br />

da população ao teste anti-HIV. A campanha<br />

“Fique Sabendo”, lançada em 2003, procurou<br />

estimular a testagem na população geral, dando<br />

bastante visibilida<strong>de</strong> ao tema. Mas <strong>de</strong>vemos<br />

questionar até que ponto a re<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

está preparada para respon<strong>de</strong>r a essa <strong>de</strong>manda.<br />

O estímulo à testagem tem que ser precedido<br />

pela criação das condições internas dos serviços<br />

para que respondam a<strong>de</strong>quadamente à <strong>de</strong>manda<br />

gerada. A expansão da cobertura <strong>de</strong> acesso<br />

ao diagnóstico <strong>de</strong>ve ser feita <strong>de</strong> forma a se<br />

garantir o aconselhamento pré e pós-teste, a <strong>de</strong>volução<br />

do resultado em tempo a<strong>de</strong>quado, ações<br />

<strong>de</strong> assistência e <strong>de</strong> acompanhamento dos casos.<br />

Para tanto, é preciso pensar a própria estruturação<br />

dos serviços e a capacitação dos profissionais<br />

para o atendimento às pessoas com HIV/<br />

<strong>AIDS</strong>.<br />

Há questões muito específicas em relação<br />

à <strong>AIDS</strong> para as quais não se tem, ainda, respostas<br />

claras. Com certeza, a <strong>AIDS</strong> envolve aspectos<br />

que não estão presentes quando se lida com<br />

outras doenças <strong>de</strong> interesse para a saú<strong>de</strong> pública,<br />

como é o caso da tuberculose. A forma <strong>de</strong><br />

trabalhar e <strong>de</strong> abordar o paciente é muito diferente.<br />

Exemplo disso é a busca ativa <strong>de</strong> casos e<br />

<strong>de</strong> comunicantes, uma forma tradicionalmente<br />

adotada <strong>de</strong> se trabalhar em saú<strong>de</strong> pública, quando<br />

os serviços têm uma postura ativa <strong>de</strong> ir até a<br />

comunida<strong>de</strong> para fazer o controle da doença. Isso<br />

não se aplica à <strong>AIDS</strong>, pois ela envolve questões<br />

muito sensíveis do ponto <strong>de</strong> vista ético-moral.<br />

As especificida<strong>de</strong>s relacionadas à <strong>AIDS</strong> merecem<br />

uma reflexão mais aprofundada, principalmente,<br />

quando se preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralizar as<br />

ações para toda a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços básicos do<br />

SUS, o que inclui a Saú<strong>de</strong> da Família. É preciso<br />

discutir como incorporar o atendimento aos pacientes<br />

com HIV/<strong>AIDS</strong> à re<strong>de</strong> básica sem que<br />

isso implique perda da qualida<strong>de</strong> da atenção. É<br />

<strong>de</strong>sejável essa ampliação, para uma maior cobertura,<br />

mas isso não po<strong>de</strong> comprometer a prevenção<br />

e a assistência. Também, é preciso refletir<br />

sobre como incorporar a atenção aos pacientes<br />

com HIV/<strong>AIDS</strong> ao Programa Saú<strong>de</strong> da Família<br />

(PSF), pois significa trabalhar com os casos <strong>de</strong>ntro<br />

da comunida<strong>de</strong>.<br />

As casas <strong>de</strong> apoio foram concebidas para<br />

serem um espaço <strong>de</strong> acolhimento temporário<br />

para os pacientes <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>. No entanto, em muitos<br />

casos, tornam-se locais <strong>de</strong> permanência in<strong>de</strong>finida<br />

ou por toda a vida do paciente. O Ministério<br />

da Saú<strong>de</strong> estabeleceu a Portaria 1.824<br />

<strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2004, regulamentando o<br />

financiamento para casas <strong>de</strong> apoio a adultos. Esta<br />

foi uma primeira iniciativa, cujo escopo <strong>de</strong> ação<br />

<strong>de</strong>verá ser ampliado através do suporte financeiro<br />

e técnico <strong>de</strong> outras instâncias, <strong>no</strong>tadamente<br />

da área da assistência social.<br />

As ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> têm que levar em conta<br />

as especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> algumas populações, como<br />

profissionais do sexo e usuários <strong>de</strong> drogas, não<br />

só para efeito das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prevenção, mas<br />

também para o planejamento da assistência. O<br />

horário <strong>de</strong> atendimento das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

por exemplo, po<strong>de</strong> ser um obstáculo ao acesso<br />

<strong>de</strong>ssas pessoas, que têm <strong>de</strong>mandas específicas.<br />

Criar horários alternativos para esses grupos<br />

po<strong>de</strong> ser uma forma <strong>de</strong> se garantir o acesso. É<br />

12


preciso levar em conta as especificida<strong>de</strong>s culturais<br />

tanto <strong>no</strong> trabalho <strong>de</strong> prevenção quanto<br />

<strong>no</strong> <strong>de</strong> assistência.<br />

A área dos direitos está diretamente ligada<br />

ao trabalho das ONGs. As pessoas que vivem<br />

com HIV/<strong>AIDS</strong> têm direito <strong>de</strong> ser felizes,<br />

<strong>de</strong> trabalhar como quaisquer cidadãos, <strong>de</strong> ter<br />

uma vida integrada na família e na socieda<strong>de</strong>.<br />

O trabalho <strong>de</strong> combate à epi<strong>de</strong>mia mostrou que<br />

o controle da transmissão do HIV requer mais<br />

que simplesmente ações <strong>de</strong> prevenção e <strong>de</strong> assistência.<br />

É preciso superar o estigma e o preconceito<br />

e incorporar a luta pela cidadania e<br />

pelos direitos huma<strong>no</strong>s. A socieda<strong>de</strong> civil é parte<br />

imprescindível e o principal ator <strong>de</strong>ssa luta pela<br />

promoção da eqüida<strong>de</strong> e pelos direitos. Foi consensual,<br />

em todos os encontros regionais, a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> que esses temas sejam tratados <strong>de</strong>ntro<br />

dos conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento institucional é questão-chave<br />

quando se fala em <strong>de</strong>scentralização<br />

da atenção e das ações em relação às <strong>DST</strong>s/<strong>AIDS</strong>.<br />

Qual a capacida<strong>de</strong> da re<strong>de</strong> para realizar a testagem<br />

para o HIV na população usuária dos serviços?<br />

E para promover as ações <strong>de</strong> prevenção e<br />

<strong>de</strong> assistência? A <strong>de</strong>scentralização das ações em<br />

<strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> têm que levar em consi<strong>de</strong>ração que<br />

a capacida<strong>de</strong> dos municípios é muito diferenciada.<br />

Mesmo consi<strong>de</strong>rando que alguns municípios<br />

recebem recursos específicos para serem<br />

aplicados <strong>no</strong> programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>, há problemas<br />

estruturais ligados às re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> serviços<br />

que precisam ser consi<strong>de</strong>rados, como o <strong>de</strong>saparelhamento<br />

das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a falta <strong>de</strong><br />

kits para diagnóstico <strong>de</strong> HIV, a insuficiência<br />

<strong>de</strong> leitos e até, em alguns municípios, a falta <strong>de</strong><br />

hospitais <strong>de</strong> referência. Há, ainda, insuficiência<br />

<strong>de</strong> insumos como os preservativos, principalmente<br />

o femini<strong>no</strong>, o que compromete o acesso<br />

e as ações <strong>de</strong> prevenção. Outra questão relevante<br />

diz respeito aos recursos huma<strong>no</strong>s que, além<br />

<strong>de</strong> serem escassos, muitas vezes possuem baixa<br />

capacitação e pouca atualização nas questões relacionadas<br />

ao HIV/<strong>AIDS</strong>. Há muita resistência<br />

por parte dos profissionais da atenção básica em<br />

prover a assistência aos portadores do HIV/<br />

<strong>AIDS</strong>, encaminhando-os sempre para os serviços<br />

<strong>de</strong> maior complexida<strong>de</strong>.<br />

A qualida<strong>de</strong> e o formato das capacitações<br />

também <strong>de</strong>verão ser repensados, pois apesar da<br />

gran<strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> treinamento existente – <strong>de</strong> julho<br />

<strong>de</strong> 2004 a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2005 foram treinados<br />

cerca <strong>de</strong> 2.500 profissionais pelo Programa<br />

Estadual do Rio – ainda são i<strong>de</strong>ntificados problemas<br />

<strong>no</strong> processo <strong>de</strong> acompanhamento dos pacientes<br />

com HIV/<strong>AIDS</strong>, seja <strong>no</strong> tocante à a<strong>de</strong>são<br />

ao tratamento seja na questão da qualida<strong>de</strong><br />

das prescrições. Há que se ressaltar ainda que<br />

gran<strong>de</strong> parte da assistência está centrada na<br />

atenção médica tradicional <strong>de</strong> vertente mais curativa,<br />

restringindo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um atendimento<br />

mais integral ao paciente.<br />

Quanto à intersetorialida<strong>de</strong>, é outro problema<br />

a ser enfrentado. O PSF constitui, hoje,<br />

uma estratégia <strong>de</strong> atenção básica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>ria,<br />

pela sua inserção na comunida<strong>de</strong>, ter uma<br />

atuação importante quanto à prevenção e à atenção<br />

às pessoas vivendo com o HIV/<strong>AIDS</strong>. No<br />

entanto, não é isso o que se observa na maioria<br />

dos municípios. Em geral há pouca aproximação<br />

entre o PSF e o Programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>. Da mesma<br />

forma, o Programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> não está<br />

articulado com outros programas estratégicos<br />

para a questão da <strong>AIDS</strong>, como o Programa da<br />

Saú<strong>de</strong> da Mulher e o Programa da Tuberculose.<br />

1.2. FINANCIAMENTO NA SAÚDE E NA POLÍTI-<br />

CA DE <strong>AIDS</strong><br />

Com certeza as respostas para as questões<br />

levantadas acima são diversas e bastante complexas.<br />

Uma <strong>de</strong>las, sem dúvida, diz respeito ao<br />

financiamento <strong>de</strong>stinado às ações e aos serviços<br />

13


<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. É preciso conhecer quais as fontes <strong>de</strong><br />

financiamento e como ocorre a <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong> recursos<br />

para a saú<strong>de</strong> – o montante e a forma <strong>de</strong><br />

distribuição entre os entes da fe<strong>de</strong>ração.<br />

No Brasil, a principal fonte <strong>de</strong> financiamento<br />

do gasto público em saú<strong>de</strong>, <strong>no</strong> caso da<br />

União, é o orçamento da Segurida<strong>de</strong> <strong>Social</strong>, que<br />

representa 70% do orçamento do setor saú<strong>de</strong>. Os<br />

recursos para a saú<strong>de</strong>, então, são provenientes das<br />

contribuições que inci<strong>de</strong>m sobre o faturamento<br />

(Contribuição para o Financiamento da Segurida<strong>de</strong><br />

<strong>Social</strong> – COFINS) e o lucro líquido das<br />

empresas (Contribuição <strong>Social</strong> sobre o Lucro Líquido<br />

– CSLL), e sobre a movimentação bancária<br />

<strong>de</strong> pessoas físicas (Contribuição Provisória<br />

sobre a Movimentação Financeira – CPMF). Além<br />

<strong>de</strong>sses, a saú<strong>de</strong> recebe recursos fiscais originários<br />

do Tesouro Nacional. Já <strong>no</strong> âmbito dos estados e<br />

dos municípios, o financiamento da saú<strong>de</strong> é proveniente<br />

<strong>de</strong> impostos gerais e das transferências<br />

da União, em geral, via convênio.<br />

O financiamento da saú<strong>de</strong> sempre foi uma<br />

área sujeita a instabilida<strong>de</strong>s, o que <strong>de</strong>ixava o setor<br />

vulnerável a conjunturas econômicas adversas e à<br />

mercê do aporte insuficiente <strong>de</strong> recursos para garantir<br />

a efetivação das políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. A vinculação<br />

<strong>de</strong> receitas para a saú<strong>de</strong> tor<strong>no</strong>u-se uma<br />

ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> luta <strong>no</strong> processo da construção e <strong>de</strong><br />

consolidação do Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS).<br />

Para garantir o aporte <strong>de</strong> recursos estáveis<br />

<strong>no</strong> setor saú<strong>de</strong> e após longa tramitação <strong>no</strong><br />

Congresso Nacional, foi editada a Emenda Constitucional<br />

nº 29, em 13 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2000, a<br />

qual alterou a Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988,<br />

vinculando recursos para o custeio <strong>de</strong> ações e<br />

serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Foram estabelecidos percentuais<br />

mínimos a serem <strong>de</strong>stinados à saú<strong>de</strong> pela<br />

União, <strong>Estado</strong>s e Municípios, o que resultou em<br />

aumento gradual <strong>de</strong> recursos <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s<br />

e maior participação proporcional dos entes estaduais<br />

e, principalmente, municipais <strong>no</strong> custeio<br />

das ações e serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

O cálculo previsto na EC nº 29 é o seguinte:<br />

• Para a União:<br />

a) valor empenhado nas ações e serviços públicos<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> exercício financeiro anterior,<br />

acrescido <strong>de</strong> 5%, para o a<strong>no</strong> 2000;<br />

b) para os quatros a<strong>no</strong>s seguintes, o valor apurado<br />

<strong>no</strong> exercício anterior, corrigido pela variação<br />

<strong>no</strong>minal do Produto Inter<strong>no</strong> Bruto<br />

(PIB). Isso significa, <strong>no</strong> caso da União, um<br />

aumento <strong>de</strong> recursos para a saú<strong>de</strong> equivalente<br />

ao aumento real do PIB mais a inflação do<br />

a<strong>no</strong>, o que mantém a proporção <strong>de</strong> gastos fe<strong>de</strong>rais<br />

em saú<strong>de</strong> em relação ao PIB.<br />

• Para os estados e municípios:<br />

a) os percentuais <strong>de</strong> vinculação estabelecidos<br />

são <strong>de</strong> 12% e 15%, respectivamente, da receita<br />

<strong>de</strong> impostos e das transferências constitucionais,<br />

<strong>de</strong>duzindo-se, para o cálculo da<br />

base vinculável dos estados, as transferências<br />

realizadas para os municípios;<br />

b) para garantir um aumento gradual <strong>de</strong>sses<br />

recursos, os estados começariam com um percentual<br />

mínimo <strong>de</strong> 7%, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2000,<br />

chegando em 2004 a 12% e os municípios<br />

teriam que começar com um investimento<br />

mínimo <strong>no</strong> valor <strong>de</strong> 7% até 15%, em 2004.<br />

No entanto, as regras contidas na EC 29<br />

são transitórias e, a partir <strong>de</strong> 2005, esses recursos<br />

<strong>de</strong>veriam ser revistos por meio da edição <strong>de</strong><br />

uma lei complementar, <strong>de</strong> acordo com o § 3º do<br />

art. 198 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral. Na ausência<br />

<strong>de</strong> tal lei, permanecem valendo as regras estabelecidas<br />

na EC 29.<br />

Apesar dos avanços inequívocos da aprovação<br />

da EC 29, tem ocorrido, sistematicamente,<br />

a burla da aplicação dos recursos mínimos<br />

estabelecidos pela Constituição, tanto por parte<br />

<strong>de</strong> gestores estaduais quanto municipais.<br />

Exemplo <strong>de</strong>ssa prática é o que acontece <strong>no</strong> estado<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro, com a aprovação das<br />

Leis nº 4.167, <strong>de</strong> 2003 e nº 4.179, <strong>de</strong> 2003, as<br />

14


quais permitem que o orçamento do estado para<br />

a saú<strong>de</strong> financie ações que não dizem respeito à<br />

saú<strong>de</strong> propriamente, como o restaurante popular,<br />

cheque idoso, cheque cidadão. Os recursos<br />

do Fundo Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> estão sendo utilizados<br />

para financiar tais políticas assistencialistas,<br />

com a sua inclusão <strong>no</strong> cálculo do percentual<br />

mínimo exigido pela EC 29. Assim, ficam<br />

comprometidos os recursos <strong>de</strong>stinados à saú<strong>de</strong>,<br />

o que inviabiliza a implementação da política<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do estado. Além disso, a Lei nº 4.179,<br />

<strong>de</strong> 2003, cria um conselho superior ao Conselho<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, do qual o secretário <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> é o<br />

presi<strong>de</strong>nte, o que claramente contraria os dispositivos<br />

legais fe<strong>de</strong>rais, hierarquicamente superiores,<br />

que regulam as instâncias <strong>de</strong> controle<br />

social do SUS.<br />

No sentido <strong>de</strong> coibir os <strong>de</strong>svirtuamentos<br />

observados na aplicação da EC 29, o Conselho<br />

Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CNS) aprovou a Resolução<br />

322, <strong>de</strong> 08 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2003, que apontou algumas<br />

diretrizes a serem seguidas por estados<br />

e municípios. Um dos pontos tratados nessa Resolução<br />

é justamente a <strong>de</strong>finição do que <strong>de</strong>ve<br />

ser consi<strong>de</strong>rado “ações e serviços públicos <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>”, para pôr fim às ma<strong>no</strong>bras dos gestores<br />

<strong>no</strong> cumprimento da EC 29. Ainda assim, essa<br />

prática continua, pois muitos governadores e<br />

prefeitos questionam a legitimida<strong>de</strong> da Resolução<br />

do CNS.<br />

Estão em tramitação <strong>no</strong> Congresso Nacional,<br />

três Projetos <strong>de</strong> Lei Complementar que têm<br />

por objetivo regulamentar o § 3º do Art. 198<br />

da Constituição Fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong>finindo o montante<br />

<strong>de</strong> recursos a ser <strong>de</strong>stinado para ações e serviços<br />

públicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pela União, <strong>Estado</strong>s, Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral e Municípios, bem como os critérios<br />

<strong>de</strong> rateio e a fiscalização e controle <strong>de</strong>sses recursos.<br />

Além do montante <strong>de</strong> recursos a ser aplicado<br />

em saú<strong>de</strong> pelos entes da Fe<strong>de</strong>ração, tratam<br />

também <strong>de</strong> conceituar o que sejam ações e<br />

serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, na mesma linha das <strong>de</strong>finições<br />

contidas na Resolução do CNS. Com a aprovação<br />

da lei complementar, a observância das<br />

<strong>de</strong>finições do CNS passarão a ser uma exigência<br />

legal. Isso representará um avanço fundamental<br />

<strong>no</strong> campo da saú<strong>de</strong>, pois implicará o<br />

aumento <strong>de</strong> aporte <strong>de</strong> recursos, com um acréscimo<br />

da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> oito a <strong>no</strong>ve bilhões <strong>de</strong> reais<br />

ao a<strong>no</strong> (que significa um valor per capita anual<br />

em saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> 170 a 190 dólares), além <strong>de</strong> acabar<br />

com as controvérsias existentes quanto à aplicação<br />

<strong>de</strong>sses recursos.<br />

A transferência <strong>de</strong> recursos da União para<br />

<strong>Estado</strong>s e Municípios variou ao longo dos a<strong>no</strong>s.<br />

A Lei 8.080, <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1990, estabeleceu<br />

que essa transferência <strong>de</strong>ve ser feita observando-se<br />

os seguintes critérios: 1) perfil <strong>de</strong>mográfico<br />

da região; 2) perfil epi<strong>de</strong>miológico<br />

da população a ser coberta; 3) características<br />

quantitativas e qualitativas da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

na área; 4) <strong>de</strong>sempenho técnico, econômico e<br />

financeiro <strong>no</strong> período anterior; 5) níveis <strong>de</strong><br />

participação do setor saú<strong>de</strong> <strong>no</strong>s orçamentos estaduais<br />

e municipais; 6) previsão do pla<strong>no</strong> qüinqüenal<br />

<strong>de</strong> investimentos da re<strong>de</strong> e 7) ressarcimento<br />

do atendimento a serviços prestados para<br />

outras esferas <strong>de</strong> gover<strong>no</strong>. Meta<strong>de</strong> dos recursos<br />

a serem transferidos <strong>de</strong>ve ser distribuída pelo<br />

critério populacional.<br />

A Lei 8.142, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1990,<br />

regula em maior <strong>de</strong>talhe as transferências intergovernamentais.<br />

Define que os recursos para<br />

a cobertura <strong>de</strong> ações e serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> a serem<br />

implementados pelos estados e municípios <strong>de</strong>verão<br />

ser repassados <strong>de</strong> forma regular e automática,<br />

cabendo 70% <strong>de</strong>les aos municípios e o<br />

restante aos estados. Para tanto, os entes da<br />

Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong>verão ter constituídos Fundo <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong>, Conselho <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, contrapartida<br />

orçamentária, relatórios <strong>de</strong> gestão e<br />

Comissão para elaboração <strong>de</strong> Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Carreira,<br />

Cargos e Salários (PCCS). No entanto, muitas<br />

<strong>de</strong>ssas exigências não são cumpridas ou o são<br />

15


meramente para efeitos <strong>de</strong> atendimento ao requisito<br />

legal, como é o caso da criação do Fundo<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns municípios, conforme relatado<br />

pelos participantes durante os seminários.<br />

O Ministério da Saú<strong>de</strong>, <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s,<br />

editou uma série <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmas regulando a transferência<br />

<strong>de</strong> recursos para estados e municípios. A<br />

Norma Operacional Básica (NOB) 01/93 buscou<br />

promover a gestão <strong>de</strong>scentralizada do setor saú<strong>de</strong>,<br />

criando três categorias <strong>de</strong> gestão municipal<br />

e estadual: incipiente, parcial e semi-plena. Para<br />

cada categoria <strong>de</strong> gestão são diferentes o grau <strong>de</strong><br />

auto<strong>no</strong>mia dos entes na gestão dos sistemas <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> e a forma <strong>de</strong> repasse dos recursos pela<br />

União. Os entes da Fe<strong>de</strong>ração que não estivessem<br />

habilitados em qualquer das formas <strong>de</strong> gestão<br />

continuariam sendo tratados como prestadores<br />

<strong>de</strong> serviços. Essa <strong>no</strong>rma introduziu a forma<br />

<strong>de</strong> transferência fundo a fundo para os municípios<br />

e estados em gestão semi-plena, pela qual<br />

eles se responsabilizariam integralmente pela<br />

gestão da prestação da assistência.<br />

Apesar dos avanços que essa <strong>no</strong>rma trouxe,<br />

algumas dificulda<strong>de</strong>s foram encontradas: a<br />

<strong>de</strong>scentralização e a transferência dos recursos<br />

fundo a fundo foram mais lentas do que o esperado,<br />

atingindo somente 144 municípios e nenhum<br />

estado; a transferência fundo a fundo limitou-se<br />

à área da assistência (as <strong>de</strong>mais continuaram sendo<br />

através <strong>de</strong> convênios); a avaliação do <strong>de</strong>sempenho<br />

na utilização dos recursos ficou restrita<br />

ao quantitativo <strong>de</strong> procedimentos efetuados,<br />

não representando nenhum salto <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

na consolidação do SUS. Assim, a gran<strong>de</strong> maioria<br />

dos municípios continuava com o papel <strong>de</strong><br />

meros prestadores <strong>de</strong> serviço.<br />

Para superar os limites da NOB O1/93,<br />

foi editada a NOB 01/96, que criou <strong>no</strong>vos instrumentos<br />

<strong>de</strong> ação e garantiu maior auto<strong>no</strong>mia<br />

aos estados e municípios, aprofundando o processo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização. Essa <strong>no</strong>rma introduziu<br />

a Programação Pactuada e Integrada (PPI),<br />

a ser estabelecida nas instâncias <strong>de</strong> pactuação<br />

constituídas pelas Comissões Intergestoras Bipartite<br />

e Tripartite e que <strong>de</strong>veriam ser submetidas<br />

aos Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> para sua aprovação.<br />

A NOB 01/96 proporcio<strong>no</strong>u mudanças na<br />

organização dos sistemas locais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, criando<br />

duas formas <strong>de</strong> gestão municipal: a Gestão<br />

Plena da Assistência Básica <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e a<br />

Gestão Plena do Sistema Municipal. A primeira<br />

propõe aumento <strong>de</strong> auto<strong>no</strong>mia do município<br />

na assistência <strong>de</strong> atenção básica <strong>no</strong> seu território.<br />

A segunda, além da atenção básica, permite<br />

que os municípios sejam responsáveis pela<br />

atenção <strong>de</strong> média e alta complexida<strong>de</strong>. Para os<br />

estados foram criadas outras duas formas <strong>de</strong><br />

gestão: a Gestão Avançada do Sistema Estadual<br />

e a Gestão Plena do Sistema Estadual.<br />

Foi instituído o Piso da Atenção Básica<br />

(PAB), com dois componentes: 1) PAB fixo, cujo<br />

repasse é realizado com base em um valor per<br />

capita, <strong>de</strong> acordo com dados populacionais do<br />

Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística<br />

(IBGE), e 2) PAB variável, <strong>de</strong>stinado aos Programas<br />

<strong>de</strong> Agentes Comunitários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> da Família e <strong>de</strong> Combate às Carências<br />

Nutricionais, além <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica<br />

e Sanitária e <strong>de</strong> Atenção Farmacêutica<br />

Básica. O valor per capita inicialmente<br />

adotado para o cálculo do PAB fixo foi <strong>de</strong> R$<br />

10,00/habitante/a<strong>no</strong>. Além disso, criaram-se<br />

diversos tetos financeiros (da assistência, da vigilância<br />

epi<strong>de</strong>miológica e sanitária), os quais<br />

<strong>de</strong>veriam ser discutidos e <strong>de</strong>finidos nas instâncias<br />

<strong>de</strong> pactuação, pelos gestores.<br />

A habilitação dos municípios, <strong>de</strong> acordo<br />

com os critérios da NOB 1/96, foi surpreen<strong>de</strong>nte:<br />

90,85% dos municípios habilitaram-se em<br />

alguma das modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gestão, sendo 4.553<br />

na Gestão Plena da Assistência Básica <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

e 449 na Gestão Plena do Sistema Municipal.<br />

Em 1998, apenas 504 municípios não estavam<br />

habilitados em nenhuma condição. No estado<br />

16


do Rio <strong>de</strong> Janeiro, com 92 municípios, em<br />

1998, 72 municípios estavam habilitados na<br />

condição plena <strong>de</strong> assistência básica e 12 habilitados<br />

na condição do sistema municipal, totalizando<br />

84 municípios habilitados.<br />

Em 2001 e 2002, foram editadas, respectivamente,<br />

as Normas Operacionais <strong>de</strong> Assistência<br />

à Saú<strong>de</strong>, a NOAS 01/01 e a NOAS 01/02,<br />

que buscaram aprofundar o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização<br />

e <strong>de</strong> regionalização da saú<strong>de</strong>. Em linhas<br />

gerais, essas <strong>no</strong>rmas ampliam as responsabilida<strong>de</strong>s<br />

municipais com relação à atenção<br />

básica e dão ênfase à criação <strong>de</strong> distritos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

e microrregiões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Foi instituído o<br />

Pla<strong>no</strong> Diretor <strong>de</strong> Regionalização (PDR), o qual<br />

<strong>de</strong>ve ser um instrumento <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento do<br />

processo <strong>de</strong> regionalização da assistência em<br />

cada estado e <strong>no</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral.<br />

Todas essas <strong>no</strong>rmas trouxeram contribuições<br />

que resultaram, <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, conforme os<br />

dados sobre os montantes transferidos pela União<br />

<strong>de</strong>monstram, em uma forte tendência à <strong>de</strong>scentralização<br />

dos recursos e das ações, principalmente<br />

para a esfera municipal, que passou <strong>de</strong> 2,3<br />

bilhões, em 1996, para 7,6 bilhões, em 2000. O<br />

aumento da auto<strong>no</strong>mia na gestão dos sistemas <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> locais também é observado. O pagamento<br />

feito pelo Ministério da Saú<strong>de</strong> diretamente aos<br />

prestadores <strong>de</strong> serviços privados conveniados reduziu-se<br />

drasticamente <strong>no</strong> mesmo período.<br />

Apesar dos significativos avanços, ainda há<br />

muito o que aperfeiçoar para garantir a <strong>de</strong>scentralização<br />

<strong>de</strong> recursos com auto<strong>no</strong>mia <strong>de</strong> gestão.<br />

Não resta dúvida que houve uma tendência crescente<br />

<strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> recursos da União às<br />

<strong>de</strong>mais esferas, mas elas ocorreram com a vinculação<br />

<strong>de</strong>sses recursos a rubricas específicas. Isso limita<br />

a gestão local dos recursos, fazendo com que<br />

sejam aplicados <strong>de</strong> acordo com a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

priorida<strong>de</strong>s estabelecida pelo nível fe<strong>de</strong>ral.<br />

Em relação à <strong>AIDS</strong>, a principal fonte <strong>de</strong><br />

financiamento foram os acordos <strong>de</strong> empréstimos<br />

negociados com o Banco Mundial, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1993, quando se instituiu o <strong>AIDS</strong> I. Este foi<br />

um marco importante, pois com recursos oriundos<br />

<strong>de</strong>sse acordo foi garantido o repasse para os<br />

estados e para ONGs. Nessa época, já havia <strong>de</strong>scentralização<br />

para os estados, os quais tinham<br />

que elaborar os pla<strong>no</strong>s operativos anuais (POA).<br />

Logo <strong>de</strong>pois, em 1998, foi assinado o <strong>AIDS</strong> II,<br />

e em 2003 foi assinado o <strong>AIDS</strong> III.<br />

No final <strong>de</strong> 2002, foi aprovada a portaria<br />

nacional GM n° 2.313 que instituída a Política<br />

<strong>de</strong> Incentivos, para garantir a execução<br />

<strong>de</strong> ações em <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> que não estavam contempladas<br />

<strong>no</strong>s mecanismos regulares <strong>de</strong> financiamento<br />

do SUS, especialmente aquelas <strong>de</strong>senvolvidas<br />

por Organizações da Socieda<strong>de</strong><br />

Civil. Com o incentivo, o repasse para estados<br />

e municípios passou a ser por transferência<br />

automática fundo a fundo e não mais por meio<br />

<strong>de</strong> convênio.<br />

No entanto, o financiamento via Política<br />

<strong>de</strong> Incentivos ainda não inclui todos os municípios,<br />

mas apenas aqueles que preenchem<br />

certos critérios e requisitos. Os critérios para<br />

recebimento do incentivo são: o perfil epi<strong>de</strong>miológico;<br />

a base populacional; a capacida<strong>de</strong> instalada<br />

e a capacida<strong>de</strong> gerencial; e os requisitos<br />

são a existência do Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Ação <strong>de</strong> Metas<br />

(PAM) e a contrapartida do município, que <strong>de</strong>ve<br />

ser <strong>de</strong> pelo me<strong>no</strong>s 25%. A <strong>no</strong>va política procura<br />

estimular a gestão dos recursos focalizada em<br />

ações e em metas estratégicas, pactuadas em instâncias<br />

colegiadas do SUS.<br />

É necessário ampliar e consolidar a resposta<br />

nacional à epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>, garantindo<br />

a transparência e o fluxo contínuo dos<br />

recursos para os programas estaduais e municipais<br />

por meio <strong>de</strong> repasse fundo a fundo. A meta<br />

é ampliar o número <strong>de</strong> municípios aptos a receber<br />

os incentivos, pois com isso mais municípios<br />

po<strong>de</strong>rão incorporar as ações <strong>de</strong> controle da epi<strong>de</strong>mia<br />

em sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços.<br />

17


1.3. CONTROLE SOCIAL NA SAÚDE E SUA IN-<br />

TERFACE COM A POLÍTICA DE <strong>AIDS</strong><br />

1.3.1. Consi<strong>de</strong>rações Gerais sobre o <strong>Controle</strong><br />

<strong>Social</strong> na Saú<strong>de</strong> 2<br />

A socieda<strong>de</strong> brasileira, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 80, ao<br />

mesmo tempo em que vivenciou um processo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização política superando o regime<br />

ditatorial instaurado em 1964, experimentou<br />

uma profunda e prolongada crise econômica<br />

que persiste até os dias atuais.<br />

As <strong>de</strong>cepções com a transição <strong>de</strong>mocrática<br />

ocorreram, principalmente, com seu giro<br />

conservador após 1988, não se traduzindo em<br />

ganhos materiais para a massa da população.<br />

Um aspecto importante a ser ressaltado, nesse<br />

período, foi o processo constituinte e a promulgação<br />

da Constituição <strong>de</strong> 1988, que representou,<br />

<strong>no</strong> pla<strong>no</strong> jurídico, a promessa <strong>de</strong> afirmação e extensão<br />

dos direitos sociais em <strong>no</strong>sso país frente à<br />

grave crise e às <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> enfrentamento dos<br />

e<strong>no</strong>rmes índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social.<br />

A Constituição Fe<strong>de</strong>ral introduziu avanços<br />

que buscaram corrigir as históricas injustiças<br />

sociais acumuladas secularmente, a incapacida<strong>de</strong><br />

brasileira <strong>de</strong> universalizar direitos tendo em<br />

vista a longa tradição das classes dominantes <strong>de</strong><br />

privatizar a coisa pública.<br />

Com relação à <strong>de</strong>scentralização do po<strong>de</strong>r<br />

fe<strong>de</strong>ral e da <strong>de</strong>mocratização das políticas públicas,<br />

importantes dispositivos foram <strong>de</strong>finidos <strong>no</strong><br />

sentido da criação <strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo pacto fe<strong>de</strong>rativo,<br />

sendo o município reconhecido como ente autô<strong>no</strong>mo<br />

da fe<strong>de</strong>ração, transferindo-se para o âmbito<br />

local <strong>no</strong>vas competências e recursos públicos<br />

capazes <strong>de</strong> fortalecer o controle social e a participação<br />

da socieda<strong>de</strong> civil nas <strong>de</strong>cisões políticas.<br />

2<br />

Parte do texto elaborado por BRAVO, M. I. S. Participação<br />

<strong>Social</strong> e <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong>, In: Capacitação para conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>:<br />

textos <strong>de</strong> apoio. Rio <strong>de</strong> Janeiro: UERJ, NAPE, 2001.<br />

A participação é concebida como a gestão<br />

das políticas através do planejamento e fiscalização<br />

pela socieda<strong>de</strong> civil organizada. Ou seja,<br />

a interferência política das entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong><br />

civil em órgãos, agências ou serviços do<br />

<strong>Estado</strong> responsáveis pela elaboração e gestão das<br />

políticas públicas na área social. Os Conselhos<br />

<strong>de</strong> Políticas Sociais e <strong>de</strong> Direitos são i<strong>no</strong>vações<br />

ao nível da gestão das políticas sociais que procuram<br />

estabelecer <strong>no</strong>vas bases <strong>de</strong> relação <strong>Estado</strong><br />

– Socieda<strong>de</strong>.<br />

Historicamente, a categoria controle social<br />

foi entendida apenas como controle do <strong>Estado</strong><br />

ou do empresariado sobre as massas. É essa concepção<br />

que quase sempre é usada na Sociologia<br />

para o controle social, ou seja, <strong>no</strong> seu sentido coercitivo<br />

sobre a população. Entretanto, o sentido<br />

<strong>de</strong> controle social inscrito na Constituição é<br />

o da participação da população na elaboração,<br />

implementação e fiscalização das políticas sociais.<br />

Esta última concepção <strong>de</strong> controle social tem<br />

como marco o processo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização da<br />

socieda<strong>de</strong> brasileira com o aprofundamento do<br />

<strong>de</strong>bate referente à <strong>de</strong>mocracia.<br />

O <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> na Saú<strong>de</strong> é um direito<br />

conquistado na Constituição <strong>de</strong> 1988, como forma<br />

<strong>de</strong> assegurar que o <strong>Estado</strong> atue em função<br />

da socieda<strong>de</strong>. Os Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Conferências<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> são espaços <strong>de</strong> participação da<br />

socieda<strong>de</strong> civil organizada na gestão da política<br />

pública do setor. São órgãos colegiados, garantidos<br />

pela Lei Orgânica da Saú<strong>de</strong> (LOS), <strong>de</strong><br />

caráter permanente e <strong>de</strong>liberativo, que têm a<br />

finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elaborar, formular, implementar,<br />

avaliar e fiscalizar as políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo<br />

com o interesse público.<br />

As atribuições da maioria dos Conselhos estão<br />

<strong>de</strong> acordo com a legislação do SUS. Dentre as<br />

mais importantes atribuições dos Conselhos estão:<br />

o estabelecimento <strong>de</strong> parâmetros para a Política<br />

<strong>de</strong> Recursos Huma<strong>no</strong>s, o estímulo à formação<br />

<strong>de</strong> Conselhos Gestores <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e a<br />

18


capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>liberar sobre as propostas <strong>de</strong> orçamento<br />

das Secretarias Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

Além <strong>de</strong>stes espaços garantidos em lei, há<br />

alguns órgãos que <strong>de</strong>vem ser parceiros na luta<br />

pela saú<strong>de</strong>, tais como: o Ministério Público, que<br />

atua como um advogado da socieda<strong>de</strong>; órgãos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fesa do consumidor, como o PROCON, espaço<br />

para <strong>de</strong>nunciar o mau atendimento <strong>no</strong>s postos<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou hospitais e as condições precárias <strong>de</strong><br />

funcionamento dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; Conselhos<br />

Regionais Profissionais, para <strong>de</strong>núncias quanto<br />

ao mau atendimento e abusos ou equívocos da<br />

imprensa (empresarial e alternativa).<br />

1.3.2. As Interconexões com a Política <strong>de</strong><br />

<strong>AIDS</strong><br />

Des<strong>de</strong> o surgimento do primeiro caso <strong>de</strong><br />

<strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> Brasil, <strong>no</strong> início da década <strong>de</strong> 80,<br />

organizações da socieda<strong>de</strong> civil e movimentos<br />

sociais estiveram presentes na cena pública, reivindicando<br />

do setor saú<strong>de</strong> uma resposta institucional<br />

à epi<strong>de</strong>mia e mobilizando diferentes<br />

formadores <strong>de</strong> opinião contra o preconceito e a<br />

discriminação. O início das respostas governamentais<br />

à epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> data do a<strong>no</strong> <strong>de</strong><br />

1983, com a constituição do primeiro programa<br />

governamental <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>, <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> <strong>de</strong><br />

São Paulo, em função da pressão e mobilização<br />

<strong>de</strong> grupos gays a partir do aparecimento dos<br />

primeiros casos da doença 3 . Ao se discutir o<br />

controle social das políticas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> Brasil,<br />

<strong>de</strong>ve-se mencionar a existência <strong>de</strong> interconexões<br />

na trajetória <strong>de</strong> luta dos movimentos sociais <strong>no</strong><br />

campo da reforma sanitária e <strong>no</strong> campo da <strong>AIDS</strong>.<br />

O movimento sanitário surge como um movimento<br />

que engloba intelectuais, estudantes e<br />

profissionais do setor saú<strong>de</strong> engajados <strong>no</strong> projeto<br />

<strong>de</strong> reforma do setor saú<strong>de</strong> na sua concepção<br />

ampla. A saú<strong>de</strong> é entendida como melhores<br />

3<br />

Ver Teixeira (1997), por exemplo.<br />

condições <strong>de</strong> vida e trabalho. Posteriormente,<br />

este movimento vai estabelecer relações com os<br />

movimentos sociais organizados.<br />

O movimento social da <strong>AIDS</strong> trouxe para<br />

a cena da reforma sanitária outras questões, ampliando<br />

a dimensão política. A solidarieda<strong>de</strong>, a<br />

cidadania e os direitos huma<strong>no</strong>s passaram a compor<br />

a agenda <strong>de</strong> grupos organizados que lutavam<br />

pelos direitos das populações mais vulneráveis<br />

à epi<strong>de</strong>mia, entre os quais os homens que<br />

fazem sexo com homens, profissionais do sexo e<br />

usuários <strong>de</strong> drogas injetáveis. Essa característica<br />

tor<strong>no</strong>u-se o diferencial <strong>de</strong>sse movimento e<br />

<strong>de</strong>limitou o campo <strong>de</strong> intervenção da socieda<strong>de</strong><br />

civil <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 80. Um movimento que combinava<br />

diferentes estratégias <strong>de</strong> ação coletiva e<br />

<strong>de</strong> controle social, sem participar diretamente<br />

dos fóruns e espaços institucionais relacionados<br />

com a reforma sanitária, mas afinado com o<br />

processo político <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização do país 4 .<br />

Esse ponto foi bastante enfatizado <strong>no</strong>s encontros<br />

regionais como uma referência importante<br />

que caracterizou o campo <strong>de</strong> ação da socieda<strong>de</strong><br />

civil e que <strong>no</strong>rteou a criação das primeiras<br />

organizações não-governamentais <strong>de</strong> luta contra<br />

a <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> país. Como ilustração, po<strong>de</strong>-se<br />

lembrar que a primeira organização da socieda<strong>de</strong><br />

civil que surge, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 80, é uma instituição<br />

que mobiliza as pessoas que vivem com<br />

HIV/<strong>AIDS</strong> e familiares, o Grupo <strong>de</strong> Apoio e Prevenção<br />

à <strong>AIDS</strong> <strong>de</strong> São Paulo (GAPA), em 1985.<br />

Um a<strong>no</strong> <strong>de</strong>pois, é criada a Associação Brasileira<br />

Interdisciplinar <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> (ABIA) 5 . Em 1987,<br />

surge o GAPA/RJ e em 1989, os Grupos Pela<br />

4<br />

A década <strong>de</strong> 80 foi marcada por muitas manifestações, como<br />

campanhas contra a comercialização do sangue <strong>no</strong> Brasil, contra a<br />

discriminação <strong>de</strong> trabalhadores soropositivos e pela solidarieda<strong>de</strong>.<br />

5<br />

A ABIA reuniu em sua formação ativistas, intelectuais, profissionais<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e artistas, li<strong>de</strong>rados pelo sociólogo Herbet <strong>de</strong><br />

Souza, o Betinho, e pelo escritor Herbert Daniel, <strong>de</strong>ntre outros<br />

que partiam da concepção <strong>de</strong> que a <strong>AIDS</strong> não era apenas uma<br />

doença e/ou questão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mas um problema político e<br />

cultural que requeria respostas <strong>de</strong> vários setores da socieda<strong>de</strong>.<br />

19


Valorização, Integração e Dignida<strong>de</strong> do Doente<br />

<strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> (Pela Vidda) do Rio <strong>de</strong> Janeiro e <strong>de</strong><br />

São Paulo, e também é realizado o primeiro Fórum<br />

Nacional das ONGs/<strong>AIDS</strong> do país.<br />

É importante <strong>de</strong>stacar que o movimento<br />

pela reforma sanitária, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 80, é marcado<br />

por um conjunto <strong>de</strong> ações e iniciativas institucionais<br />

que visavam à reestruturação da Saú<strong>de</strong><br />

Pública do país. O mo<strong>de</strong>lo assistencial hegemônico<br />

era constituído por duas linhas <strong>de</strong> ação que<br />

coexistiam: a primeira, centrada na assistência<br />

hospitalar e curativa <strong>de</strong> cunho individual, ofertada<br />

pelo INAMPS para a população que contribuía<br />

para a previdência; a segunda, baseada<br />

na atenção coletiva voltada para o controle <strong>de</strong><br />

en<strong>de</strong>mias e epi<strong>de</strong>mias, mediante ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

campanhas, ofertada pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>.<br />

Esse mo<strong>de</strong>lo não atendia às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s parcelas da população, como os<br />

trabalhadores rurais, os trabalhadores informais<br />

e as camadas pobres, os quais tinham que recorrer<br />

à filantropia. A saú<strong>de</strong> não se constituía<br />

como direito <strong>de</strong> cidadania.<br />

A discussão sobre essas questões foi polarizada<br />

em duas vertentes antagônicas: 1) mo<strong>de</strong>lo<br />

seletivo <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong>, privada e corporativa,<br />

com ênfase <strong>no</strong> acesso aos serviços<br />

mediante convênios e seguros com empresas ou<br />

setor financeiro e 2) mo<strong>de</strong>lo assistencial público<br />

e unificado, <strong>de</strong> acesso universal, <strong>de</strong>scentralizado<br />

e hierarquizado.<br />

O <strong>de</strong>bate que envolveu as duas vertentes<br />

<strong>no</strong> âmbito do processo <strong>de</strong> reforma constitucional<br />

(1988) resultou em uma gran<strong>de</strong> conquista<br />

em termos do direito à saú<strong>de</strong>, pois foi criado o<br />

Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, nas bases do que o movimento<br />

sanitário propugnava: universal, gratuito<br />

e integral, mas abriu-se a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> participação do setor privado, ainda que <strong>de</strong><br />

forma complementar. A edição da Lei nº 8.080,<br />

<strong>de</strong> 1990, corrobora e explicita as bases <strong>de</strong>sse<br />

<strong>no</strong>vo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong>.<br />

Convém salientar que a vitória do movimento<br />

sanitário foi sendo interceptada <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s<br />

90 pela política neoliberal <strong>de</strong> ajuste econômico.<br />

A aplicação <strong>de</strong> medidas conservadoras para a contenção<br />

do gasto público e da inflação provocou<br />

efeitos diretos <strong>no</strong> setor saú<strong>de</strong>, com a redução dos<br />

investimentos e com o sucateamento da re<strong>de</strong>. Os<br />

problemas relacionados com o financiamento público<br />

do setor comprometem o sistema e colocam<br />

em risco os princípios da universalida<strong>de</strong> e<br />

da integralida<strong>de</strong> da atenção, gerando um tipo<br />

<strong>de</strong> universalida<strong>de</strong> exclu<strong>de</strong>nte 6 , vinculado a um<br />

projeto privatizante. Assim, são fomentados os<br />

pla<strong>no</strong>s e seguros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> privados. Outra forma<br />

<strong>de</strong> expressão <strong>de</strong>ssa universalização exclu<strong>de</strong>nte são<br />

as estratégias alternativas, propostas em face do<br />

pouco investimento <strong>de</strong> recursos públicos para a<br />

saú<strong>de</strong>, bem como a adoção <strong>de</strong> políticas sociais<br />

focalizadas e seletivas mediante financiamentos<br />

exter<strong>no</strong>s. A garantia da saú<strong>de</strong> como direito passa<br />

pelo fortalecimento da participação popular e<br />

essa participação tem que ser aprofundada em<br />

todos os níveis <strong>no</strong> espaço dos conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

como também pelos movimentos sociais em<br />

<strong>de</strong>fesa da saú<strong>de</strong>.<br />

Dennis Altman 7 , ao estudar as respostas<br />

organizacionais e culturais à <strong>AIDS</strong>, faz menção<br />

a uma passagem que ilustra muito bem essa situação.<br />

Segundo o autor, “a década na qual a<br />

<strong>AIDS</strong> foi reconhecida, conceitualizada e <strong>no</strong>meada foi<br />

uma década na qual o mundo oci<strong>de</strong>ntal estava passando<br />

pelas racionalizações econômicas <strong>de</strong> Reagan e<br />

Thatcher”. E completa seu argumento: “Se a epi<strong>de</strong>mia<br />

se <strong>de</strong>senvolveu em um mundo <strong>de</strong> ajustes estruturais<br />

e privatizações, ela também se <strong>de</strong>senvolveu em<br />

um mundo <strong>no</strong> qual o feminismo e a afirmação da ho-<br />

6<br />

Bravo, Maria Inês Souza. Notas <strong>de</strong> Relatoria do Seminário <strong>de</strong><br />

Política Públicas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> e <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro – Capacitando li<strong>de</strong>ranças e promovendo sustentabilida<strong>de</strong> das<br />

respostas frente à <strong>AIDS</strong>. Regiões Centro-Sul, Baía da Ilha Gran<strong>de</strong><br />

e Médio-Paraíba. Vassouras - RJ, 2005.<br />

7<br />

Altman (1992).<br />

20


8<br />

Em relação ao movimento <strong>de</strong> luta contra a <strong>AIDS</strong> na década <strong>de</strong><br />

90, <strong>de</strong>stacam-se, <strong>de</strong>ntre outros fatos, a criação da Re<strong>de</strong> Nacional<br />

<strong>de</strong> Pessoas HIV+ (RNP+), a assinatura dos acordos <strong>de</strong> empréstimo<br />

com o Banco Mundial (<strong>AIDS</strong> I e <strong>AIDS</strong> II), a distribuição<br />

universal <strong>de</strong> medicamentos para pessoas vivendo com HIV/<strong>AIDS</strong>,<br />

a criação do Fórum <strong>de</strong> ONG/<strong>AIDS</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

e as primeiras manifestações das ONG/<strong>AIDS</strong> pedindo a liberação<br />

<strong>de</strong> recursos financeiros para a compra <strong>de</strong> medicamentos para<br />

<strong>AIDS</strong> (Galvão, 2002). Na década <strong>de</strong> 2000, são realizados os<br />

primeiros seminários <strong>de</strong> controle social e <strong>AIDS</strong>, articulados pelo<br />

Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong>, Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

e GAPA/RS (2002), e por essas instâncias mais as Secretarias<br />

<strong>de</strong> Vigilância em Saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> Gestão Participativa, <strong>de</strong> Ciência e<br />

Tec<strong>no</strong>logia, <strong>de</strong> Gestão do Trabalho e da Educação na Saú<strong>de</strong>, e<br />

representantes das pessoas vivendo com HIV e <strong>AIDS</strong> (2004).<br />

mossexualida<strong>de</strong> significaram a existência, pelo me<strong>no</strong>s<br />

em alguns países, <strong>de</strong> organizações e comunida<strong>de</strong>s<br />

capazes <strong>de</strong> reagir à <strong>no</strong>va crise”. Com isso, fica claro<br />

o caminho para se contrapor às propostas<br />

neoliberais que ameaçam o SUS e o direito universal<br />

à saú<strong>de</strong>.<br />

Em 1990, é aprovada a Lei 8.142, que cria<br />

os instrumentos <strong>de</strong> controle social do sistema<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong>fine a participação social 8 . A Constituição<br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988 preconiza que o controle<br />

social seja exercido a partir da manifestação<br />

da socieda<strong>de</strong> em relação ao <strong>Estado</strong>, por meio<br />

<strong>de</strong> diferentes sujeitos sociais organizados que<br />

interferem e modificam a agenda política 9 . Essa<br />

ação coletiva da socieda<strong>de</strong> em direção ao <strong>Estado</strong><br />

constitui-se <strong>no</strong> alicerce necessário ao processo<br />

<strong>de</strong> construção da <strong>de</strong>mocracia, o qual não<br />

é linear nem isento <strong>de</strong> conflitos.<br />

No entanto, o conceito <strong>de</strong> controle social<br />

encerra diversas interpretações e sua concepção<br />

foi modificada historicamente. Todas as expressões<br />

do controle social são resultantes <strong>de</strong> processos<br />

históricos concretos e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do tipo <strong>de</strong><br />

gover<strong>no</strong> constituído. Gover<strong>no</strong>s populistas utilizam-<strong>no</strong><br />

como estruturas para práticas clientelistas<br />

e atenuantes <strong>de</strong> conflitos <strong>de</strong> classes, enquanto os<br />

gover<strong>no</strong>s autoritários criam estruturas burocráticas<br />

que visam conter a livre manifestação da<br />

socieda<strong>de</strong>. Atualmente, o Brasil vive a <strong>de</strong>mocracia<br />

representativa e está, ainda, em processo <strong>de</strong><br />

construção a <strong>de</strong>mocracia que pretenda ser participativa<br />

e <strong>de</strong> massas. A proposta, conforme colocada<br />

na Constituição <strong>de</strong> 1988, <strong>de</strong> haver mecanismos<br />

que viabilizem a participação social, entre<br />

eles as conferências e os conselhos – como o <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, da criança e do adolescente, <strong>de</strong> portadores<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências, <strong>de</strong> idosos etc., ou seja, uma<br />

gama <strong>de</strong> conselhos <strong>de</strong> política e <strong>de</strong> direitos – é<br />

um componente importante da luta pela <strong>de</strong>mocratização<br />

do <strong>Estado</strong>.<br />

Outro aspecto do <strong>de</strong>bate que <strong>de</strong>ve estar<br />

claro para todos é que os conselhos constituemse<br />

em espaços <strong>de</strong> disputa <strong>de</strong> interesses diversos.<br />

Nele, estão representados os movimentos sociais,<br />

o setor privado, representantes do gover<strong>no</strong><br />

e das instituições filantrópicas, trabalhadores<br />

da saú<strong>de</strong> e representantes <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> patologias<br />

específicas. Os conselhos não substituem<br />

os movimentos sociais organizados e não se<br />

constituem em espaços exclusivos para a <strong>de</strong>mo-<br />

9<br />

A Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988 criou vários instrumentos<br />

para o exercício do controle social e da participação social, entre<br />

os quais se <strong>de</strong>stacam o plebiscito, a iniciativa popular, orçamento<br />

participativo e os conselhos. Na área da saú<strong>de</strong> é importante<br />

mencionar a existência das Conferências Nacionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e<br />

os Simpósios <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> que são organizados pela Câmara dos<br />

Deputados e pelo Senado. O Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong><br />

estruturou a Comissão Nacional <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> (CN<strong>AIDS</strong>) como órgão<br />

auxiliar para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> políticas públicas setoriais. Hoje,<br />

além da Comissão Nacional, o Programa Nacional dispõe <strong>de</strong><br />

duas instâncias <strong>de</strong> caráter consultivo: o Comitê <strong>de</strong> Gestão (COGE)<br />

e a Comissão <strong>de</strong> Articulação entre Movimentos Sociais (CAMS).<br />

21


cratização do <strong>Estado</strong>. A experiência da <strong>AIDS</strong>,<br />

mais uma vez, é ilustrativa. Em quase toda parte<br />

do mundo a resposta à epi<strong>de</strong>mia foi construída<br />

a partir <strong>de</strong> iniciativas comunitárias ou <strong>de</strong><br />

re<strong>de</strong>s solidárias <strong>de</strong> voluntários, que tinham em<br />

comum o combate ao preconceito e o estigma,<br />

e isso foi possível muito antes <strong>de</strong> o <strong>Estado</strong> criar<br />

suas próprias bases e instrumentos para enfrentar<br />

a epi<strong>de</strong>mia.<br />

Nesse sentido, é importante que o movimento<br />

social organizado se faça presente <strong>no</strong>s conselhos<br />

nacional, estaduais e municipais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

pois apesar dos limites estabelecidos <strong>no</strong> arranjo e<br />

na representação dos interesses ali expressos ou<br />

do uso clientelista e corporativo que governadores<br />

e prefeitos possam fazer <strong>de</strong>sse espaço, até como<br />

máquina política para legitimar sua autorida<strong>de</strong><br />

local ou setorial, eles po<strong>de</strong>m ser instrumento <strong>de</strong><br />

participação e representação direta, uma arena <strong>de</strong><br />

disputas por direitos <strong>no</strong> campo político.<br />

No entanto, não se po<strong>de</strong> confundir movimento<br />

social com controle social; um não substitui<br />

o outro, mas <strong>de</strong>vem ser sujeitos sociais que<br />

se comunicam e que se reforçam mutuamente<br />

nas lutas que travam. O conselho só se constitui<br />

como espaço que tem força para <strong>de</strong>liberar e<br />

fazer cumprir suas <strong>de</strong>liberações em <strong>de</strong>fesa do<br />

bem público se estiver articulado com os movimentos<br />

sociais organizados. Outro equívoco é<br />

conceber os conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como o único<br />

espaço para o exercício do controle social. A<br />

<strong>AIDS</strong>, <strong>no</strong>vamente, tem muito que contribuir<br />

nesse sentido, pois, em inúmeros momentos da<br />

história da epi<strong>de</strong>mia, as organizações do movimento<br />

social da <strong>AIDS</strong> conseguiram, por meio<br />

da pressão e da mobilização social, influenciar<br />

as políticas públicas <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>cisiva.<br />

22


PARTE 2<br />

SAÚDE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,<br />

POLÍTICA DE <strong>AIDS</strong>, FINANCIAMENTO<br />

E CONTROLE SOCIAL<br />

2.1. A SAÚDE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO<br />

E A POLÍTICA DE <strong>AIDS</strong><br />

2.1.1. A Saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

2.1.1.1. Breve caracterização do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro<br />

O <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, com uma área<br />

<strong>de</strong> 43.864,3 km 2 , está dividido em 92 municípios<br />

e apresenta uma população <strong>de</strong> 14.367.083<br />

habitantes, segundo o censo <strong>de</strong>mográfico <strong>de</strong><br />

2000 (IBGE).<br />

Estes municípios, segundo o Projeto <strong>de</strong><br />

Regionalização da Secretaria Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro, estão divididos em <strong>no</strong>ve<br />

regiões geográficas: Região Metropolitana I;<br />

Região Metropolitana II; Baía da Ilha Gran<strong>de</strong>;<br />

Baixada Litorânea; Centro-Sul; Médio-Paraíba;<br />

Norte; Noroeste e Serrana (Figura 1).<br />

2.1.1.2. Alguns Indicadores<br />

Natalida<strong>de</strong> e Mortalida<strong>de</strong><br />

Verifica-se <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro –<br />

<strong>no</strong> período (1994 – 1998) – uma queda na taxa<br />

<strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> (Quadro 1). No intervalo pesquisado,<br />

tomando-se por base o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1994 (=<br />

100%), observa-se que há um <strong>de</strong>créscimo na<br />

taxa <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1995 (-0,6%) enquanto<br />

que <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s seguintes, 1996 e 1997,<br />

há um crescimento <strong>de</strong> 0,1% e 0,2%, respectivamente;<br />

já <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1998, observa-se um <strong>de</strong>créscimo<br />

consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> 4% em relação ao a<strong>no</strong><br />

<strong>de</strong> referência.<br />

O quadro 2 mostra as principais causas<br />

<strong>de</strong> óbito <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> e nas Regiões do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro. O <strong>Estado</strong> tem como principal causa<br />

<strong>de</strong> morte as doenças do aparelho circulatório (cerca<br />

<strong>de</strong> 36%), que têm relação direta com os problemas<br />

<strong>de</strong> hipertensão e suas conseqüências,<br />

como infarto, isquemias e doenças cerebrovasculares.<br />

A segunda principal causa <strong>de</strong> morte <strong>no</strong><br />

<strong>Estado</strong> são as chamadas causas externas (cerca<br />

<strong>de</strong> 17%), que estão relacionadas ao crescimento<br />

da violência social (aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />

trânsito, <strong>de</strong> trabalho e homicídios) e, em terceiro<br />

lugar, estão as neoplasias, ou tumores<br />

(cerca <strong>de</strong> 15%).<br />

23


Figura 1 – Mapa do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro dividido por Regiões<br />

Regiões e microrregiões <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> - Cenário prospectivo até 2004<br />

E - NORTE<br />

A - NOROESTE<br />

A1 - microrregião 1<br />

A2 - microrregião 2<br />

E1 - microrregião 1<br />

E2 - microrregião 2<br />

B - SERRANA<br />

A1<br />

B1 - microrregião 1<br />

B2 - microrregião 2<br />

C - CENTRO-SUL<br />

B3 - microrregião 3<br />

A2<br />

D - MÉDIO-PARAÍBA<br />

C1 - microrregião 1<br />

C2 - microrregião 2<br />

E2<br />

D1 - microrregião 1<br />

D2 - microrregião 2<br />

D1<br />

C1<br />

B2<br />

B3<br />

E1<br />

C2 B1<br />

D2<br />

H4<br />

H5<br />

H2<br />

I<br />

H1<br />

H3<br />

G3<br />

G2<br />

G1<br />

H - METROPOLITANA 1<br />

H1 - microrregião 1<br />

H2 - microrregião 2<br />

I - BAÍA DA ILHA GRANDE H3 - microrregião 3<br />

H5 - microrregião 4<br />

H5 - microrregião 5<br />

F2<br />

G4<br />

F - BAIXADA LITORÂNEA<br />

F1<br />

G - METROPOLITANA 2<br />

G1 - microrregião 1<br />

G2 - microrregião 2<br />

G3 - microrregião 3<br />

G4 - microrregião 4<br />

F1 - microrregião 1<br />

F2 - microrregião 2<br />

Fonte: www.sau<strong>de</strong>.rj.gov.br<br />

Nota: As microrregiões geográficas indicadas fazem parte da divisão regional do IBGE.<br />

24


Quadro 1 - Nascidos vivos <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> e Regiões do Rio <strong>de</strong> Janeiro (1994-1998)<br />

Nível <strong>de</strong><br />

Gover<strong>no</strong><br />

Nascimentos<br />

1994 1995 1996 1997 1998<br />

<strong>Estado</strong> 268 022 266 355 268 289 268 671 258 176<br />

Metropolitana 199 862 197 957 203 312 201 175 194 772<br />

Noroeste 5 517 5 419 5 266 5 061 4 947<br />

Norte 15 135 14 708 13 803 14 179 13 385<br />

Serrana 14 298 14 169 14 321 13 949 13 681<br />

Baixada Litorânea 10 779 11 254 9 492 11 270 9 494<br />

Médio-Paraíba 14 800 14 728 14 584 14 871 14 184<br />

Centro Sul 4 579 4 842 4 188 4 723 4 488<br />

Baía da Ilha Gran<strong>de</strong> 2 935 3 045 3 111 3 368 3 085<br />

Índice <strong>de</strong> nascidos vivos <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

1994=100%<br />

1998=-4%<br />

1996=0,1% 1995=-0,6%<br />

1997=0,2%<br />

25


Quadro 2 – Óbitos por grupo <strong>de</strong> causa <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> e Regiões do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Nível <strong>de</strong><br />

Gover<strong>no</strong><br />

Total<br />

Doenças<br />

infecciosas/<br />

parasitárias<br />

Óbitos por grupos <strong>de</strong> causa<br />

Neoplasias<br />

(tumores)<br />

Doenças<br />

aparelho<br />

circulatório<br />

Doenças<br />

aparelho<br />

respiratório<br />

Sintomas<br />

mal <strong>de</strong>finidos<br />

Causas<br />

externas<br />

<strong>Estado</strong> 95 009 5 705 14 218 34 133 12 655 12 614 15 684<br />

Metropolitana 72 831 4 614 11 150 25 726 9 796 10 080 11 465<br />

Noroeste 1 901 98 342 797 313 174 177<br />

Norte 4 146 238 543 1 485 541 701 638<br />

Serrana 4 564 216 18 2 066 641 375 548<br />

Baixada Litorânea 2 787 134 391 979 318 454 511<br />

Médio-Paraíba 4 189 193 688 1 862 598 222 626<br />

Centro Sul 1 525 60 231 728 188 158 160<br />

Baía da Ilha Gran<strong>de</strong> 563 41 87 196 71 61 107<br />

Percentual <strong>de</strong> óbitos por grupo <strong>de</strong> causa <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> e Regiões do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Sintomas Mal<br />

Definidos 13%<br />

Causas Externas 17%<br />

Doenças Infecciosas/<br />

Parasitárias 6%<br />

Neoplasias 15%<br />

Doenças do Aparelho<br />

Respiratório 13%<br />

Doenças do Aparelho<br />

Circulatório 36%<br />

26


Características da Re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Atendimento à Saú<strong>de</strong><br />

Atenção Básica<br />

Os Programas <strong>de</strong> Atenção Básica – Agentes<br />

Comunitários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (PACS) e Programa<br />

Saú<strong>de</strong> da Família (PSF) – são criados na década<br />

<strong>de</strong> 1990. O Programa Agentes Comunitários <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> surge, em nível nacional, a partir <strong>de</strong> 1991.<br />

A Estratégia <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família – <strong>de</strong><strong>no</strong>minação<br />

utilizada hoje pelo Ministério da Saú<strong>de</strong> – tem<br />

sua origem em 1997 quando, a partir <strong>de</strong> experiências<br />

municipais exitosas, iniciou-se, na esfera<br />

fe<strong>de</strong>ral, o Programa Saú<strong>de</strong> da Família (PSF). Este<br />

programa tem como objetivos: prestar um atendimento<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, integral e huma<strong>no</strong> em<br />

unida<strong>de</strong>s básicas municipais, garantindo acesso<br />

à assistência e à prevenção em todo o sistema <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma a satisfazer as necessida<strong>de</strong>s da<br />

população; reorganizar a prática assistencial em<br />

<strong>no</strong>vas bases e critérios; garantir a eqüida<strong>de</strong> <strong>no</strong><br />

acesso à atenção em saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma a satisfazer<br />

as necessida<strong>de</strong>s da população do município. Atualmente,<br />

o PSF é um programa disseminado em<br />

todo o país. No estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, o programa<br />

existe em 90 municípios e há 1.835 equipes<br />

(Bravo et. alii, 2005).<br />

No <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, em abril <strong>de</strong><br />

2004, estavam cadastradas 3.535.312 pessoas<br />

<strong>no</strong> PSF pelo Sistema <strong>de</strong> Informação da Atenção<br />

Básica (Siab), representando 20% <strong>de</strong> cobertura<br />

<strong>no</strong> <strong>Estado</strong>.<br />

Percentual (%) <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong> PACS/PSF<br />

(abril/2004) – <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

4%=PACS<br />

20%=PSF<br />

Os dados abaixo apontam para o percentual<br />

<strong>de</strong> cobertura do Programa Saú<strong>de</strong> da Família<br />

por região do estado, em outubro <strong>de</strong> 2003.<br />

De acordo com o gráfico a seguir, percebe-se<br />

que a Região Metropolitana I, com aproximadamente<br />

70% da população total do <strong>Estado</strong> do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, apresenta o me<strong>no</strong>r índice <strong>de</strong> cobertura<br />

do PSF, abaixo <strong>de</strong> 5%. Cabe <strong>de</strong>stacar<br />

que este dado impossibilita o impacto positivo<br />

na saú<strong>de</strong> da população e a ação da saú<strong>de</strong> da família<br />

como uma estratégia <strong>de</strong> transformação e<br />

reorganização da atenção à saú<strong>de</strong>. Neste sentido,<br />

<strong>de</strong>staca-se a importância <strong>de</strong> implementar a<br />

Saú<strong>de</strong> da Família na Região Metropolitana I.<br />

Percentual (%) <strong>de</strong> cobertura do PSF – RJ<br />

(outubro/2003)<br />

A<br />

B C D E F<br />

G<br />

H<br />

A - Metropolitana I - 4,80%<br />

B - Metropolitana II - 65,90%<br />

C - Noroeste - 68,30%<br />

D - Norte - 30,80%<br />

E - Serrana - 36,30%<br />

F - Litorânea - 47,30%<br />

G - Médio-Paraíba - 27,50%<br />

H - Centro-Sul - 99,80%<br />

I - Baía da Ilha Gran<strong>de</strong> - 39,50%<br />

I<br />

76%=Descoberto<br />

Fonte: Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Atenção Básica – DABS/ MS. Fonte: Secretaria Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2003.<br />

27


Re<strong>de</strong> Ambulatorial<br />

A re<strong>de</strong> ambulatorial do <strong>Estado</strong> conta com<br />

3.305 unida<strong>de</strong>s (626 Centros <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, 566 Unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família, 343 Policlínicas, 309<br />

Postos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, 217 Clínicas Especializadas, 140<br />

Ambulatórios <strong>de</strong> Hospital Geral, 65 Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Vigilância Sanitária, 31 Pronto Socorro), sendo a<br />

maior oferta <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para população<br />

dada através <strong>de</strong> Centros <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (18,9%) e Unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família (17,1%).<br />

O quadro 3 aponta o predomínio <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s<br />

ambulatoriais públicas municipais<br />

(73,8%).<br />

Re<strong>de</strong> Hospitalar<br />

A re<strong>de</strong> hospitalar do <strong>Estado</strong> é composta<br />

por 18 hospitais universitários, 20 próprios<br />

Quadro 3 - Número e proporção <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s ambulatoriais<br />

por natureza – julho/2003<br />

Tipo <strong>de</strong> Prestador Unida<strong>de</strong>s %<br />

Público Fe<strong>de</strong>ral 294 8,9<br />

Público Estadual 65 2,0<br />

Público Municipal 2.438 73,8<br />

Contratado 326 9,9<br />

Filantrópico 129 5,4<br />

Outras 53 1,6<br />

Total 3.305 100<br />

Fonte: DATASUS, 2005.<br />

Nível<br />

<strong>de</strong> Gover<strong>no</strong><br />

Quadro 4 - Hospitais cre<strong>de</strong>nciados por natureza do hospital<br />

<strong>no</strong> <strong>Estado</strong> e Regiões do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Hospitais cre<strong>de</strong>nciados por natureza<br />

Total Próprio ou Fe<strong>de</strong>ral Contratado Estadual Municipal Filantrópico Universitário<br />

<strong>Estado</strong> 397 20 165 28 86 80 18<br />

Regiões<br />

Metropolitana 253 18 121 26 48 27 13<br />

Noroeste 24 - 11 - 3 10 -<br />

Norte 22 - 5 - 7 8 2<br />

Serrana 32 - 10 1 9 11 1<br />

Baixada Litorânea 20 1 5 - 10 4 -<br />

Médio-Paraíba 28 - 8 1 5 13 1<br />

Centro Sul 14 - 5 - 2 6 1<br />

Baía da Ilha Gran<strong>de</strong> 4 1 - - 2 1 ç-<br />

Fonte: CIDE (Ministério da Saú<strong>de</strong>, DATASUS, Sistema <strong>de</strong> Informações Hospitalares - SIH/SUS).<br />

28


Percentual <strong>de</strong> hospitais cre<strong>de</strong>nciados por natureza <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Universitário - 5%<br />

Estadual - 7%<br />

Próprio ou fe<strong>de</strong>ral - 5%<br />

Contratado - 41%<br />

Filantrópico - 20%<br />

Municipal - 22%<br />

ou fe<strong>de</strong>rais, 28 estaduais, 86 municipais, 80<br />

filantrópicos e 165 contratados.<br />

No quadro 4 e <strong>no</strong> gráfico a seguir po<strong>de</strong>se<br />

observar a predominância do setor privado<br />

na prestação dos serviços hospitalares, <strong>de</strong>tendo<br />

61% da oferta.<br />

No quadro 5 e <strong>no</strong> gráfico a seguir é possível<br />

i<strong>de</strong>ntificar que a oferta <strong>de</strong> leitos é reduzida,<br />

pois correspon<strong>de</strong> a cerca <strong>de</strong> 0,3% da<br />

população (56.092 leitos para 14.367.083 habitantes),<br />

com predominância do setor privado<br />

(64% dos leitos).<br />

O <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro apresenta<br />

como principal problema <strong>no</strong> que se refere à situação<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> a falta <strong>de</strong> investimento público<br />

em alguns <strong>de</strong> seus municípios. O setor<br />

privado – que <strong>de</strong>veria funcionar <strong>de</strong> forma complementar<br />

à re<strong>de</strong> pública, <strong>de</strong> acordo com o que<br />

estabelece a Lei nº 8.080/90 – ainda tem predominância.<br />

Outro dado preocupante é que a re<strong>de</strong><br />

hospitalar é hegemonizada pelo setor privado,<br />

<strong>de</strong>tendo este cerca 61% da oferta.<br />

Cabe <strong>de</strong>stacar também que é baixa a cobertura<br />

da Saú<strong>de</strong> da Família <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> e que a <strong>de</strong>ficiência<br />

na atenção básica é <strong>de</strong>tectada pela ocorrência<br />

<strong>de</strong> doenças e mortalida<strong>de</strong> relacionadas a problemas<br />

sócio-econômicos e à falta <strong>de</strong> prevenção.<br />

2.1.1.3. Principais Problemas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Propostas<br />

para o <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Principais Problemas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> – Pla<strong>no</strong><br />

Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

O Pla<strong>no</strong> Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, elaborado pela<br />

Secretaria Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> em 2001, i<strong>de</strong>ntifica<br />

os principais problemas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> nas diversas<br />

regiões do <strong>Estado</strong>, que serão apresentados<br />

<strong>no</strong> quadro abaixo:<br />

Regiões do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Principais Problemas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

Metropolitana I<br />

• Insuficiente cobertura pelo Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

da Família na região;<br />

• Deficiência na atenção à saú<strong>de</strong> mater<strong>no</strong>-infantil;<br />

• Deficiência na atenção ao paciente portador<br />

<strong>de</strong> tuberculose e ao portador <strong>de</strong> hanseníase;<br />

• Prevalência elevada <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> na região;<br />

• Dificulda<strong>de</strong> para garantir o atendimento <strong>de</strong><br />

média e alta complexida<strong>de</strong> para a população;<br />

• Alta prevalência <strong>de</strong> doenças crônico-<strong>de</strong>generativas<br />

(hipertensão e diabetes);<br />

• Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> mental hospitalocêntrico;<br />

29


Nível<br />

<strong>de</strong> Gover<strong>no</strong><br />

Quadro 5 - Leitos contratados em hospitais cre<strong>de</strong>nciados por natureza<br />

do hospital <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> e Regiões do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Leitos contratados em hospitais cre<strong>de</strong>nciados por natureza<br />

Total Próprio ou Fe<strong>de</strong>ral Contratado Estadual Municipal Filantrópico Universitário<br />

<strong>Estado</strong> 56.092 4.369 22.408 6.099 9.702 9.504 4.010<br />

Regiões<br />

Metropolitana 40.696 4.307 16.857 5.219 7.376 3.835 3.102<br />

Noroeste 2.463 - 1.289 - 107 1.067 -<br />

Norte 2.468 - 381 - 364 1.371 352<br />

Serrana 4.546 - 1.927 400 900 1.145 174<br />

Baixada Litorânea 1.686 40 781 - 526 339 -<br />

Médio-Paraíba 2.708 - 699 480 300 1.029 200<br />

Centro Sul 1.270 - 474 - 51 563 182<br />

Baía <strong>de</strong> Ilha Gran<strong>de</strong> 255 22 - - 78 155 -<br />

Fonte: CIDE, 2002.<br />

Percentual <strong>de</strong> leitos contratados <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Universitário - 7%<br />

Próprio ou fe<strong>de</strong>ral - 8%<br />

Filantrópico - 17%<br />

Municipal - 17%<br />

Contratado - 40%<br />

Estadual - 11%<br />

• Deficiência na prestação <strong>de</strong> assistência hospitalar;<br />

• Política <strong>de</strong> Recursos Huma<strong>no</strong>s ina<strong>de</strong>quada.<br />

Metropolitana II<br />

• Insuficiência <strong>de</strong> cobertura do PSF;<br />

• Sistema <strong>de</strong> informação <strong>de</strong>ficiente;<br />

• Deficiência na assistência à saú<strong>de</strong> mater<strong>no</strong>infantil;<br />

• Deficiência na organização dos serviços <strong>de</strong> forma<br />

regionalizada, com conseqüente dificulda<strong>de</strong><br />

em garantir acesso da população a serviços<br />

<strong>de</strong> média e alta complexida<strong>de</strong>;<br />

• Deficiência <strong>no</strong> atendimento <strong>de</strong> urgência e<br />

emergência;<br />

• Deficiência na prestação <strong>de</strong> assistência hospitalar.<br />

Noroeste<br />

• Política <strong>de</strong> assistência farmacêutica básica ina<strong>de</strong>quada;<br />

• Insuficiência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong>;<br />

• Deficiência na assistência mater<strong>no</strong>-infantil;<br />

• Política <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s ina<strong>de</strong>quada;<br />

• Dificulda<strong>de</strong>s para se garantir o acesso dos pacientes<br />

da região aos serviços <strong>de</strong> alta complexida<strong>de</strong>;<br />

30


• Dificulda<strong>de</strong>s para se garantir ações integrais<br />

em saú<strong>de</strong> mental.<br />

Norte<br />

• Distribuição ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> medicamentos;<br />

• Baixa cobertura do PSF;<br />

• Ina<strong>de</strong>quada política <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s;<br />

• Insuficiência das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> promoção à saú<strong>de</strong>;<br />

• Para a região, a microrregionalização proposta<br />

apresenta problemas para o acesso ao mínimo<br />

da média;<br />

• Dificulda<strong>de</strong> em garantir acesso a serviços <strong>de</strong><br />

terapia intensiva neonatal.<br />

• Pouca oferta <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental extra-hospitalares<br />

(CAPS, NAPS, Hospital Dia,<br />

Casa Lar).<br />

Serrana<br />

• Insuficiente cobertura do Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

da Família;<br />

• Deficiência nas ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da área mater<strong>no</strong>-infantil;<br />

• Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso aos serviços <strong>de</strong> média e<br />

alta complexida<strong>de</strong> e dificulda<strong>de</strong>s para implementação<br />

da NOAS e da microrregionalização;<br />

• Deficiência <strong>no</strong> sistema <strong>de</strong> informação;<br />

• Dificulda<strong>de</strong>s na regulação dos sistemas municipais<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> por parte dos gestores municipais.<br />

Baía da Ilha Gran<strong>de</strong><br />

• Deficiência na atenção à saú<strong>de</strong> mater<strong>no</strong>-infantil;<br />

• Insuficiência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> promoção à saú<strong>de</strong>;<br />

• Deficiência <strong>no</strong> sistema <strong>de</strong> informação em saú<strong>de</strong>;<br />

• Baixa cobertura pelo PSF;<br />

• Deficiência na organização das ações <strong>de</strong> controle<br />

da tuberculose;<br />

• Estrangulamento <strong>no</strong> acesso aos serviços e procedimentos<br />

<strong>de</strong> média e alta complexida<strong>de</strong>.<br />

Baixada Litorânea<br />

• Dificulda<strong>de</strong> para se referenciar pacientes para<br />

serviços <strong>de</strong> média e alta complexida<strong>de</strong> (hospitalar)<br />

e para serviços <strong>de</strong> emergência;<br />

• Deficiência nas ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da área mater<strong>no</strong>-infantil;<br />

• Ações <strong>de</strong> controle da hipertensão e diabetes<br />

mal estruturadas;<br />

• Insuficiência <strong>no</strong> abastecimento <strong>de</strong> sangue e hemo<strong>de</strong>rivados;<br />

• Falta <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> oncologia conveniado ao<br />

SUS na região;<br />

• Política ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental na região;<br />

• Insuficiência <strong>de</strong> exames complementares (<strong>de</strong><br />

média e alta complexida<strong>de</strong>) na região.<br />

Centro-Sul<br />

• Deficiência na atenção à saú<strong>de</strong> mater<strong>no</strong>-infantil;<br />

• Insuficiência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> promoção à saú<strong>de</strong>;<br />

• Deficiência <strong>no</strong> sistema <strong>de</strong> informação em saú<strong>de</strong>;<br />

• Baixa cobertura pelo PSF;<br />

• Deficiência na organização das ações <strong>de</strong> controle<br />

da tuberculose;<br />

• Estrangulamento <strong>no</strong> acesso aos serviços e procedimentos<br />

<strong>de</strong> média e alta complexida<strong>de</strong>.<br />

Médio-Paraíba<br />

• Insuficiência gerencial <strong>no</strong> Sistema Único <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong>;<br />

• Sistema <strong>de</strong> informação em saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiente;<br />

• Baixa cobertura pelo Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da<br />

Família;<br />

• Ina<strong>de</strong>quação entre a formação <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s<br />

e as políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />

• A região acredita que a proposta <strong>de</strong> regionalização<br />

da NOAS não é compatível com o mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização do SUS;<br />

• Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> financiamento dificultando compra<br />

<strong>de</strong> serviços.<br />

Fonte: SES – Pla<strong>no</strong> Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> – 2001.<br />

Agenda <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> para o <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro – 1° Seminário <strong>de</strong> Gestão Participativa<br />

em Saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

O Fórum <strong>de</strong> Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> das <strong>no</strong>ve<br />

Regiões do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, o Conselho<br />

Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, a Secretaria<br />

<strong>de</strong> Gestão Estratégica e Participativa do<br />

Ministério da Saú<strong>de</strong> e o Projeto Políticas Públi-<br />

31


cas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviço <strong>Social</strong> da<br />

Universida<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro realizaram<br />

o 1° Seminário <strong>de</strong> Gestão Participativa<br />

em Saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>no</strong> dia<br />

16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2005, na UERJ, com a presença<br />

<strong>de</strong> 172 participantes 10 . Foram elencadas<br />

como principais questões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que afetam<br />

todas as regiões do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

• Baixa cobertura da Atenção Básica;<br />

• Financiamento insuficiente;<br />

• Falta <strong>de</strong> Política <strong>de</strong> Recursos Huma<strong>no</strong>s (Gestão<br />

do Trabalho);<br />

• Pouca valorização do <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> e da Participação<br />

Popular;<br />

• Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> hegemonizada pelos<br />

setores privado e filantrópico.<br />

A partir <strong>de</strong>stes problemas foram apresentadas<br />

as seguintes propostas:<br />

Com relação à Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviços e à Atenção<br />

Básica<br />

• Valorização do Setor Público;<br />

• Reorganização do SUS nas diversas regiões, a<br />

partir da ampliação da Atenção Básica com<br />

resolutivida<strong>de</strong>, prevendo-se a articulação <strong>de</strong>sta<br />

com os <strong>de</strong>mais níveis <strong>de</strong> atenção, ou seja,<br />

<strong>de</strong> média e alta complexida<strong>de</strong>;<br />

• Ampliação da cobertura da estratégia Saú<strong>de</strong><br />

da Família, a partir <strong>de</strong> indicadores sociais, na<br />

perspectiva <strong>de</strong> atingir a população <strong>de</strong> forma geral,<br />

<strong>de</strong> acordo com os princípios da integralida<strong>de</strong><br />

e universalida<strong>de</strong> do SUS, e controle social.<br />

Além disso, <strong>de</strong>staca-se a importância da<br />

preservação das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> existentes,<br />

sem <strong>de</strong>sativá-las e a ampliação da re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

serviços;<br />

• Realização <strong>de</strong> seminários regionais para avaliação<br />

da estratégia Saú<strong>de</strong> da Família em conjunto<br />

com as coor<strong>de</strong>nações municipais e estadual.<br />

10<br />

Este seminário foi precedido <strong>de</strong> seminários realizados em todas<br />

as regiões do <strong>Estado</strong> que elaboraram as principais questões<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e as principais propostas.<br />

Com relação ao Financiamento<br />

• Regulamentação da Emenda Constitucional<br />

29 e garantia do cumprimento dos seus percentuais<br />

por todas as prefeituras, pelos gover<strong>no</strong>s<br />

estadual e fe<strong>de</strong>ral;<br />

• Fomento <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates acerca da responsabilida<strong>de</strong><br />

social e sanitária com todos os segmentos<br />

que compõem o controle social;<br />

• Garantia <strong>de</strong> transparência <strong>no</strong> orçamento e auto<strong>no</strong>mia<br />

dos fundos municipais e estadual <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>;<br />

• Aprovação, pelas câmaras municipais, <strong>de</strong> orçamento<br />

para funcionamento dos conselhos;<br />

• Fortalecimento da política <strong>de</strong> financiamento<br />

da atenção básica, com a criação <strong>de</strong> teto orçamentário<br />

próprio do gover<strong>no</strong> fe<strong>de</strong>ral, modificando<br />

a política <strong>de</strong> incentivo;<br />

• Transparência com relação à discussão do Pla<strong>no</strong><br />

Diretor <strong>de</strong> Investimento (PDI) e do Pla<strong>no</strong><br />

Diretor <strong>de</strong> Regionalização (PDR).<br />

Com relação à Gestão do Trabalho<br />

• Elaboração <strong>de</strong> Política <strong>de</strong> Gestão do Trabalho<br />

e Educação em Saú<strong>de</strong> (Recursos Huma<strong>no</strong>s) <strong>no</strong>s<br />

municípios e <strong>no</strong> <strong>Estado</strong>;<br />

• Desprecarização do trabalho, através do cumprimento<br />

da <strong>de</strong>liberação 001, <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

2005, do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, que<br />

prevê a realização <strong>de</strong> concurso público até<br />

março <strong>de</strong> 2006;<br />

• Garantia <strong>de</strong> condições a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> trabalho;<br />

• Realização imediata <strong>de</strong> concurso público para<br />

trabalhadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do SUS, inclusive para<br />

o Programa Saú<strong>de</strong> da Família;<br />

• Aprovação do Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Cargos, Carreira e Salários<br />

(PCCS) <strong>no</strong>s municípios do <strong>Estado</strong> do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro com ampla discussão com os servidores<br />

e com aprovação do controle social;<br />

• Implantação do PCCS para os servidores do<br />

<strong>Estado</strong>;<br />

• Implantação imediata da Norma Operacional<br />

Básica <strong>de</strong> Recursos Huma<strong>no</strong>s do SUS;<br />

32


• Realização <strong>de</strong> seminários regionais e estadual<br />

para avaliação da política <strong>de</strong> gestão do trabalho<br />

e educação em saú<strong>de</strong>;<br />

• Regulamentação do vínculo empregatício dos<br />

profissionais da Saú<strong>de</strong> da Família.<br />

Com relação ao <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> e Participação<br />

Popular<br />

• Aperfeiçoamento da cooperação regional e<br />

estímulo à gestão participativa em saú<strong>de</strong>;<br />

• Revisão, discussão e avaliação dos consórcios<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> existentes nas diversas regiões do<br />

<strong>Estado</strong>, uma vez que o controle social não está<br />

presente nas <strong>de</strong>liberações das ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

regionalmente implementadas, <strong>de</strong> acordo com<br />

a lei nº 11.107/05;<br />

• Construção <strong>de</strong> Pla<strong>no</strong>s Regionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> com<br />

ampla participação dos conselhos municipais<br />

e da socieda<strong>de</strong> civil organizada, para reorganizar<br />

o SUS nas diversas regiões do <strong>Estado</strong>,<br />

com ênfase na atenção básica e garantindo referência<br />

e contra-referência, com a finalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> assegurar o efetivo direito à saú<strong>de</strong>;<br />

• Cumprimento das <strong>de</strong>liberações das conferências<br />

municipais, estaduais e da 12ª Conferência Nacional<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, com <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s;<br />

• Inserção do Po<strong>de</strong>r Judiciário como aliado na<br />

luta pela <strong>de</strong>fesa da saú<strong>de</strong> pública;<br />

• Consolidação dos Fóruns <strong>de</strong> Conselhos das<br />

diversas regiões do <strong>Estado</strong>;<br />

• Criação <strong>de</strong> conselhos gestores <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s,<br />

em todas as instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> vinculadas<br />

ao SUS, respeitando a parida<strong>de</strong>;<br />

• Cumprimento da Resolução n° 333, <strong>de</strong> 2003,<br />

do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

O cumprimento <strong>de</strong>sta agenda é <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> todos os agentes públicos comprometidos<br />

com a construção do Sistema Único<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, em todos os municípios do <strong>Estado</strong><br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inaugurar<br />

um <strong>no</strong>vo pacto <strong>de</strong> gestão participativa tendo<br />

como base as reais necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da<br />

população.<br />

2.1.2. A Política <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Em relação ao perfil epi<strong>de</strong>miológico da<br />

<strong>AIDS</strong>, as tendências da epi<strong>de</strong>mia <strong>no</strong> estado do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro seguem aquelas observadas <strong>no</strong><br />

nível nacional, <strong>no</strong> tocante à heterossexualização,<br />

feminização e interiorização dos casos. A<br />

análise aqui apresentada tem como referência<br />

os dados publicados <strong>no</strong> Boletim Epi<strong>de</strong>miológico<br />

<strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> da SES/RJ 11 .<br />

Há diferenças bastante marcantes entre os<br />

municípios em termos da incidência da doença.<br />

As maiores taxas <strong>de</strong> incidência encontram-se nas<br />

regiões Metropolitanas 1 e 2 e na Baía da Ilha<br />

Gran<strong>de</strong>. Apesar <strong>de</strong> os casos <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> estarem bastante<br />

concentrados na região Metropolitana 1, que<br />

respon<strong>de</strong> por 77,5% do total <strong>de</strong> casos do estado,<br />

as taxas <strong>de</strong> incidência (por 100.000 hab) da doença<br />

evi<strong>de</strong>nciam uma evolução da epi<strong>de</strong>mia para<br />

os municípios do interior, com <strong>de</strong>staque para a<br />

região Centro-Sul, que passou <strong>de</strong> uma taxa <strong>de</strong> incidência<br />

<strong>de</strong> 5,5 em 1993, para 20,1 em 2003.<br />

Observa-se o aumento proporcional <strong>de</strong><br />

casos <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> na categoria <strong>de</strong> transmissão heterossexual,<br />

em parte pelo aumento do número<br />

<strong>de</strong> casos em mulheres. Esta é <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1994 a principal<br />

via <strong>de</strong> transmissão da doença.<br />

Houve também <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> a diminuição<br />

da razão masculi<strong>no</strong>/femini<strong>no</strong>, que passou <strong>de</strong> 5,2<br />

em 1990, para 1,3 em 2005, o que acompanha<br />

a tendência nacional <strong>de</strong> feminização da epi<strong>de</strong>mia.<br />

Des<strong>de</strong> 1997, as taxas <strong>de</strong> incidência da <strong>AIDS</strong><br />

têm caído entre os homens, enquanto mantêmse<br />

estáveis entre as mulheres.<br />

Quanto à escolarida<strong>de</strong>, até 1999 verificouse<br />

um aumento <strong>no</strong> número <strong>de</strong> casos entre os<br />

me<strong>no</strong>s escolarizados (analfabetos ou com até três<br />

11<br />

Lemos, K.R.V. & Sole-Plá, M.A. Aspectos da Epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong><br />

<strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Boletim Epi<strong>de</strong>miológico <strong>de</strong><br />

<strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> 2005.<br />

33


a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> estudo). No entanto, a partir <strong>de</strong> 2000,<br />

tem-se observado discreto crescimento do número<br />

<strong>de</strong> casos entre pessoas mais escolarizadas<br />

(com doze a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> estudo ou mais), em ambos<br />

os sexos, mas com mais força entre os homens.<br />

Esse dado precisa ser mais bem estudado para<br />

se confirmar se é, <strong>de</strong> fato, uma <strong>no</strong>va tendência,<br />

pois contraria a tendência observada nacionalmente<br />

<strong>de</strong> pauperização da epi<strong>de</strong>mia, explicada<br />

pela maior vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses grupos.<br />

A taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>, <strong>no</strong> estado, cresceu<br />

até 1995, apresentando <strong>de</strong>créscimo a partir <strong>de</strong><br />

1996, quando foi instituída a terapia ARV. Entre<br />

as mulheres, a redução da mortalida<strong>de</strong> foi<br />

um pouco mais tardia, a partir <strong>de</strong> 1997. No<br />

entanto, tem-se observado discreto incremento<br />

da mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2000, particularmente nas<br />

regiões Norte e Centro-Sul Fluminense. Esses<br />

dados têm importância e merecem ser consi<strong>de</strong>rados,<br />

pois po<strong>de</strong>m sinalizar para uma situação <strong>de</strong><br />

falha dos serviços em termos <strong>de</strong> garantir, efetivamente,<br />

o acompanhamento e o tratamento da<br />

população infectada pelo vírus.<br />

É mister <strong>de</strong>stacar os dados do estudosentinela<br />

“Estimativa da prevalência <strong>de</strong> HIV na<br />

população fluminense <strong>de</strong> 15 a 49 a<strong>no</strong>s, 2004”,<br />

realizado pela Secretaria <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro. Com base em seus resultados<br />

foi estimada a taxa <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> HIV entre<br />

as parturientes, para o <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

0,59%. Já a cobertura <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção da infecção<br />

pelo HIV na gestação, consi<strong>de</strong>rando-se todas<br />

as etapas antes do parto (pelo me<strong>no</strong>s uma<br />

consulta <strong>de</strong> pré-natal; pedido <strong>de</strong> teste <strong>de</strong> HIV;<br />

concordância da gestante; e conhecimento do<br />

resultado antes do parto), foi estimada em 74%.<br />

Na comparação com algumas regiões do País, a<br />

cobertura efetiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> infecção pelo<br />

HIV <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro é bem maior<br />

que as evi<strong>de</strong>nciadas nas regiões Norte (35%) e<br />

Nor<strong>de</strong>ste (31%) e <strong>no</strong> mesmo patamar da Su<strong>de</strong>ste.<br />

Já a cobertura <strong>de</strong> teste <strong>de</strong> HIV na gestação<br />

variou <strong>de</strong> 66%, entre as parturientes com pouco<br />

grau <strong>de</strong> instrução, a 85%, entre as que têm<br />

grau superior <strong>de</strong> instrução.<br />

Outro dado importante <strong>de</strong>ste estudo foi a<br />

estimativa <strong>de</strong> número <strong>de</strong> infectados pelo HIV<br />

na população <strong>de</strong> 15-49 a<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro. Estima-se que haja 69.445 indivíduos<br />

infectados, representando uma taxa <strong>de</strong> prevalência<br />

<strong>de</strong> 0,8%. Destes, 25.581 são mulheres<br />

(taxa=0,59%) e 43.864, homens (taxa=1,09).<br />

Quanto às <strong>de</strong>mais <strong>DST</strong>s, apesar <strong>de</strong> representarem<br />

um importante problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública<br />

<strong>no</strong> <strong>Estado</strong>, são pouco <strong>no</strong>tificadas. Um estudo<br />

realizado em 2004 pela Secretaria <strong>de</strong> <strong>Estado</strong><br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> em parturientes revelou que 1,8% são<br />

portadoras <strong>de</strong> sífilis, responsável por graves lesões<br />

em recém-nascidos com sífilis congênita. São<br />

<strong>no</strong>tificados à SES-RJ cerca <strong>de</strong> 1.500 casos por<br />

a<strong>no</strong> e cem óbitos por esta afecção.<br />

No Rio <strong>de</strong> Janeiro, a situação dos municípios<br />

é muito diversa em termos da estrutura e<br />

organização da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

o que tem implicações diretas sobre as possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> incorporarem na re<strong>de</strong> básica o<br />

atendimento aos pacientes com HIV/<strong>AIDS</strong>. Alguns<br />

municípios possuem uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

mais estruturada e integrada, enquanto outros,<br />

<strong>de</strong> me<strong>no</strong>r porte, não <strong>de</strong>têm as mesmas condições<br />

para sustentar o atendimento às pessoas<br />

com HIV/<strong>AIDS</strong>.<br />

Em relação às questões da assistência, há<br />

uma série <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios a serem vencidos para dar<br />

conta da universalida<strong>de</strong>, da integralida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>scentralização<br />

das ações. Há dificulda<strong>de</strong>s relativas<br />

à internação, à referência e contra-referência,<br />

insuficiência <strong>de</strong> profissionais para aten<strong>de</strong>r<br />

a <strong>de</strong>manda, dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso aos exames <strong>de</strong><br />

média e alta complexida<strong>de</strong>. São apontados como<br />

problemas a reduzida assistência domiciliar, a<br />

dispensação ina<strong>de</strong>quada dos medicamentos em<br />

alguns municípios, a <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> da atenção<br />

ao pré-natal e a baixa qualida<strong>de</strong> do pré-na-<br />

34


tal ofertado. Em relação aos locais <strong>de</strong> atendimento<br />

dos serviços <strong>de</strong> atenção aos portadores <strong>de</strong><br />

HIV/<strong>AIDS</strong>, por exemplo, faltam profissionais <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> em número suficiente para o atendimento<br />

da <strong>de</strong>manda atualmente existente e, apesar<br />

<strong>de</strong> não haver em todos os municípios locais <strong>de</strong><br />

atendimento ambulatorial para os pacientes<br />

com HIV/<strong>AIDS</strong>, falta pacto entre os municípios<br />

<strong>de</strong> cada região para garantir acesso à assistência<br />

ambulatorial entre os municípios.<br />

Algumas questões referentes à universalida<strong>de</strong><br />

são pertinentes, como a ampliação do acesso<br />

aos preservativos, mas sem que isso implique<br />

em perda da qualida<strong>de</strong> das ações <strong>de</strong> prevenção.<br />

O pré-natal é outro ponto a ser ampliado e qualificado:<br />

é preciso ofertar o teste anti-HIV e para<br />

sífilis para todas as gestantes. A a<strong>de</strong>são às <strong>no</strong>rmas<br />

da Portaria <strong>de</strong> Humanização do Parto e do<br />

Pré-natal e Nascimento representa um peque<strong>no</strong><br />

recurso extra, mas é importante pelo cumprimento<br />

do protocolo e, conseqüentemente, pela melhoria<br />

da qualida<strong>de</strong> da atenção.<br />

É preciso trabalhar pela eqüida<strong>de</strong> dos serviços,<br />

priorizando as populações vulneráveis.<br />

No estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, há uma diversida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> grupos vulneráveis como trabalhadoras<br />

do sexo, usuários <strong>de</strong> drogas, além das mulheres<br />

<strong>de</strong> forma geral, que também constituem um<br />

grupo <strong>de</strong> maior vulnerabilida<strong>de</strong>. Cada município<br />

<strong>de</strong>ve <strong>de</strong>finir suas estratégias <strong>de</strong> acordo com<br />

essas populações.<br />

Pensando na <strong>de</strong>scentralização das ações<br />

voltadas para o HIV/<strong>AIDS</strong>, <strong>de</strong>vemos avaliar a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> política, técnica e financeira<br />

<strong>de</strong>ssa política. No tocante à sustentação política<br />

e técnica, os problemas envolvem questões<br />

<strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s e <strong>de</strong> investimentos. Em<br />

geral, não há uma política <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s<br />

a<strong>de</strong>quada para o SUS, não há pessoal capacitado<br />

para gerenciar os programas e a estrutura <strong>de</strong><br />

trabalho é mínima. Necessita-se <strong>de</strong> investimento<br />

maior na capacitação gerencial. Nessa perspectiva,<br />

tem-se trabalhado para viabilizar um<br />

mestrado profissional para gestores <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<br />

<strong>AIDS</strong>. Há que se <strong>de</strong>stacar o avanço <strong>no</strong> formato<br />

da qualificação profissional através da formação<br />

<strong>de</strong> Centros <strong>de</strong> Treinamento específicos junto<br />

às Universida<strong>de</strong>s e Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Foram<br />

criados dois centros para a capacitação em abordagem<br />

sindrômica das <strong>DST</strong>s, dois para saú<strong>de</strong><br />

mental/HIV/<strong>AIDS</strong>, dois para assistência clínica<br />

em HIV e um específico na área <strong>de</strong> aconselhamento.<br />

A concepção metodológica proposta<br />

é a adoção da ferramenta pedagógica da problematização,<br />

incorporando também nestes centros<br />

a modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> treinamento em serviço.<br />

A Comissão Estadual <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> também faz<br />

parte da estratégia <strong>de</strong> sustentação política do<br />

Programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong>, tendo sido criada há<br />

quatorze a<strong>no</strong>s. Sua composição é paritária (50%<br />

<strong>de</strong> representantes da socieda<strong>de</strong> civil e 50% <strong>de</strong><br />

órgãos governamentais). E o Conselho Estadual<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1999 compõe esta instância.<br />

Já a existência <strong>de</strong> Comissões Interdisciplinares<br />

<strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> locais está restrita ao município<br />

do Campos, não havendo informação da<br />

existência <strong>de</strong> outras instâncias <strong>de</strong>ste porte em<br />

outras cida<strong>de</strong>s.<br />

É oportu<strong>no</strong> <strong>de</strong>stacar que em 2003 foram<br />

realizadas 10 conferências locais, como etapa preparatória<br />

da Conferência Estadual <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>.<br />

Foram aprovadas 169 propostas durante a Conferência<br />

e seu relatório foi incorporado na íntegra<br />

à Conferência Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> daquele a<strong>no</strong>.<br />

Como fruto <strong>de</strong>ste processo, o Programa<br />

Estadual <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> vem fomentando a criação<br />

<strong>de</strong> Fóruns Regionais dos Programas <strong>de</strong><br />

<strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>. Até a presente data, existem dois<br />

Fóruns atuantes – da Baixada Fluminense e da<br />

Metropolitana II – cujo papel tem sido articular<br />

ações conjuntas entre os programas, rea<strong>de</strong>quando<br />

principalmente o acesso à área <strong>de</strong><br />

assistência e promovendo capacitações em conjunto<br />

nas regiões.<br />

35


2.2. FINANCIAMENTO DA SAÚDE E A POLÍTICA<br />

DE <strong>AIDS</strong> NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO<br />

Em relação à sustentação financeira, houve<br />

alguns avanços na forma <strong>de</strong> financiamento<br />

dos municípios, <strong>de</strong>ntro da perspectiva da <strong>de</strong>scentralização.<br />

No Brasil, durante oito a<strong>no</strong>s, <strong>no</strong><br />

período entre 1994 e 2002, o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização<br />

das ações <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong> para estados,<br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral e municípios foi financiado<br />

por meio <strong>de</strong> convênios celebrados com o<br />

Ministério da Saú<strong>de</strong>, vinculados a recursos exter<strong>no</strong>s<br />

oriundos <strong>de</strong> Acordos <strong>de</strong> Empréstimo<br />

firmados entre o Gover<strong>no</strong> Fe<strong>de</strong>ral e o Banco Interamerica<strong>no</strong><br />

para Reconstrução e Desenvolvimento<br />

(BIRD) – Projetos <strong>AIDS</strong> I e II. Ao final<br />

do Projeto <strong>AIDS</strong> II (2002), o Ministério da Saú<strong>de</strong><br />

possuía convênios com 26 estados, o Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral e mais 150 municípios (<strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, 12 municípios). Em <strong>de</strong>zembro<br />

<strong>de</strong> 2002, o Ministério da Saú<strong>de</strong>, com a Portaria<br />

nº 2313, institui o recurso do incentivo para<br />

estados, Distrito Fe<strong>de</strong>ral e municípios <strong>no</strong> âmbito<br />

do Programa Nacional <strong>de</strong> HIV/<strong>AIDS</strong> e outras<br />

<strong>DST</strong>s – Projeto <strong>AIDS</strong> III.<br />

No <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, foram qualificados<br />

33 municípios para o recebimento<br />

<strong>de</strong>ste recurso. Todas as regiões do <strong>Estado</strong> foram<br />

contempladas, embora a predominância<br />

seja nas Regiões Metropolitana I, Metropolitana<br />

II e Médio-Paraíba.<br />

A qualificação dos municípios à Política<br />

do Incentivo exige uma contrapartida mínima<br />

<strong>de</strong>stes recursos financeiros próprios e<br />

se baseou <strong>no</strong>s critérios <strong>de</strong>finidos pela Portaria<br />

supracitada, ou seja, a magnitu<strong>de</strong> da epi<strong>de</strong>mia<br />

<strong>no</strong> respectivo território; a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> planejamento das ações em HIV/<strong>AIDS</strong> e<br />

outras <strong>DST</strong>s pelas instâncias estaduais e municipais<br />

do SUS; o estabelecimento <strong>de</strong> ações<br />

e metas a<strong>de</strong>quadas e coerentes com as características<br />

da epi<strong>de</strong>mia da <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> respectivo<br />

território, elaboradas num Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Ações e<br />

Metas (PAM); e os processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização<br />

e regionalização implementados com<br />

base na NOB/96 e na NOAS/02.<br />

Cumpridos esses critérios, para que o município<br />

receba o recurso do incentivo, o Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong><br />

Ações e Metas elaborado <strong>de</strong>ve passar pelo Conselho<br />

Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e ser aprovado por este,<br />

pois o recurso só é repassado com esta aprovação,<br />

em respeito ao princípio <strong>de</strong> controle social<br />

do SUS. Vale dizer que o efetivo controle social<br />

pressupõe a participação direta do Conselho,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro momento, na elaboração do<br />

Pla<strong>no</strong> e não simplesmente <strong>no</strong> momento <strong>de</strong> sua<br />

aprovação, cumprindo um papel <strong>de</strong> simplesmente<br />

homologar o que já está elaborado.<br />

Esses recursos são repassados periodicamente<br />

pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>, do Fundo Nacional<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> para o Fundo Municipal <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong>, e <strong>de</strong>vem ser aplicados em ações e serviços<br />

para <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> (discriminados <strong>no</strong>s PAM).<br />

No entanto, em função dos entraves existentes<br />

nesse processo, há muitas dificulda<strong>de</strong>s para<br />

o seu uso e, em alguns municípios, ocorre o<br />

problema <strong>de</strong> os recursos ficarem praticamente<br />

intocáveis, impedindo o cumprimento das<br />

metas planejadas. Além dos municípios, o Programa<br />

do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro também<br />

apresentou dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gasto, ainda que<br />

me<strong>no</strong>r do que em outros a<strong>no</strong>s.<br />

Os Programas Municipais <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong><br />

qualificados à Política do Incentivo <strong>de</strong>vem ser<br />

obrigatoriamente monitorados. Em agosto <strong>de</strong><br />

2004, o Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong><br />

formaliza um Sistema <strong>de</strong> Monitoramento,<br />

instituído pela Portaria nº 1679, com periodicida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>finidas, o que permite acompanhamento<br />

da execução dos PAM, com clara <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> penalida<strong>de</strong>s, para os casos <strong>de</strong> não<br />

cumprimento e/ou não alcance do que fora proposto<br />

<strong>no</strong> respectivo PAM, po<strong>de</strong>ndo, inclusive,<br />

36


haver bloqueio <strong>de</strong> recurso. São cinco os eixos<br />

a serem monitorados: o cumprimento das metas;<br />

o acompanhamento <strong>de</strong> indicadores elaborados<br />

pelo Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong>;<br />

o acompanhamento financeiro; o cumprimento<br />

das pactuações <strong>de</strong> medicamentos <strong>de</strong> <strong>DST</strong>,<br />

Infecções Oportunistas (IO) e preservativos<br />

masculi<strong>no</strong>s 52mm; e o acompanhamento das<br />

parcerias com as Organizações da Socieda<strong>de</strong><br />

Civil (OSC) – este último item apenas para os<br />

Programas Estaduais, já que estes recebem recursos<br />

dirigidos especificamente às OSC. Isto<br />

não impe<strong>de</strong> que os municípios possuam metas<br />

e ações em seu planejamento (PAM) relacionadas<br />

com a socieda<strong>de</strong> civil.<br />

Os conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem atuar <strong>no</strong><br />

acompanhamento e na fiscalização do cumprimento<br />

das metas para que, efetivamente,<br />

esses recursos atinjam sua finalida<strong>de</strong>.<br />

Em relação às pactuações <strong>de</strong> medicamentos<br />

<strong>de</strong> <strong>DST</strong>, Infecções Oportunistas e preservativos<br />

masculi<strong>no</strong>s 52mm, as três esferas<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r são responsáveis. No <strong>Estado</strong> do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, a Secretaria Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> é<br />

responsável pela aquisição <strong>de</strong> um elenco composto<br />

<strong>de</strong> 24 itens <strong>de</strong> medicamentos para as<br />

Infecções Oportunistas; já a responsabilida<strong>de</strong><br />

das Secretarias Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> é a da<br />

aquisição <strong>de</strong> sete itens para medicações <strong>de</strong><br />

<strong>DST</strong>. Os preservativos masculi<strong>no</strong>s 52mm <strong>de</strong>vem<br />

ser adquiridos pelo <strong>Estado</strong>, municípios<br />

e União. A análise do cumprimento das pactuações<br />

ainda é bastante limitada, pois uma<br />

boa parte dos municípios simplesmente não<br />

fornece estes dados ao estado. No entanto, po<strong>de</strong>mos<br />

informar que, apesar <strong>de</strong> as pactuações<br />

não serem cumpridas integralmente, comprometendo<br />

o abastecimento dos serviços e a<br />

atenção prestada, um número crescente <strong>de</strong><br />

municípios vem adquirindo mais itens pactuados.<br />

O cenário, porém, ainda está muito<br />

longe do i<strong>de</strong>al.<br />

2.3. CONTROLE SOCIAL NO ESTADO DO RIO<br />

DE JANEIRO<br />

2.3.1. Os Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong><br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

No <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, existem conselhos<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em todos os 92 municípios e<br />

um total <strong>de</strong> aproximadamente 1.551 conselheiros<br />

municipais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, distribuídos <strong>no</strong>s segmentos<br />

<strong>de</strong> usuários, trabalhadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e<br />

gestores e prestadores <strong>de</strong> serviços (público e<br />

privado).<br />

Cabe <strong>de</strong>stacar a importância <strong>de</strong> conhecer a<br />

história, situação e dinâmica <strong>de</strong> funcionamento<br />

dos conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Com esse objetivo, será<br />

apresentada a caracterização dos conselhos <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro a partir <strong>de</strong><br />

quatro eixos <strong>de</strong> análise – lei e a<strong>no</strong> <strong>de</strong> criação; composição;<br />

organização interna e dinâmica <strong>de</strong> funcionamento;<br />

e conferências <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> – para daí ser <strong>de</strong>senvolvida<br />

a reflexão.<br />

A metodologia utilizada foi a coleta e análise<br />

<strong>de</strong> dados primários e secundários, através <strong>de</strong><br />

pesquisa documental, cujas principais fontes foram<br />

os Conselhos Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong><br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro; Regimentos Inter<strong>no</strong>s e Leis<br />

<strong>de</strong> Criação; Projeto Políticas Públicas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,<br />

através dos mapeamentos sobre o controle social<br />

das 9 Regiões do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro (Metropolitana<br />

I, Metropolitana II, Serrana, Baixada<br />

Litorânea, Médio-Paraíba, Centro-Sul, Baía da<br />

Ilha Gran<strong>de</strong>, Norte e Noroeste) 12 .<br />

Lei e A<strong>no</strong> <strong>de</strong> Criação<br />

A Lei 8.142, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1990,<br />

criou os conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como instância colegiada<br />

do SUS em cada esfera <strong>de</strong> gover<strong>no</strong>, re-<br />

12<br />

Pesquisa realizada pelo Projeto Políticas Públicas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,<br />

da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviço social da UERJ, coor<strong>de</strong>nado pela Professora<br />

Maria Inês Souza Bravo e financiado pela UERJ, CNPq e<br />

FAPERJ.<br />

37


gulamentando o direito da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar<br />

do controle social na saú<strong>de</strong>. A análise do<br />

espaço <strong>de</strong> tempo entre a promulgação e a regulamentação<br />

da Lei 8.142/90 po<strong>de</strong> revelar uma<br />

mobilização da socieda<strong>de</strong> civil pelo exercício da<br />

participação na formulação, implementação e<br />

fiscalização da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, isto é, na luta<br />

pela <strong>de</strong>mocratização da gestão pública.<br />

No entanto, alguns conselhos municipais<br />

só são criados por exigência legal, sem uma discussão<br />

coletiva, pois sua existência é condição<br />

para o repasse <strong>de</strong> verbas, não havendo nenhuma<br />

preocupação por parte do po<strong>de</strong>r público <strong>de</strong><br />

garantir o direito da população <strong>de</strong> participar e<br />

interferir na gestão pública.<br />

No <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, a maioria<br />

dos conselhos foi criada <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 1991 (40%)<br />

e 1993 (16%). Neste período, foram publicadas<br />

as Normas Operacionais Básicas (NOBs) 91<br />

e 93, que colocam a criação dos conselhos como<br />

critério para a transferência <strong>de</strong> recursos pelo<br />

Gover<strong>no</strong> Fe<strong>de</strong>ral.<br />

Outros conselhos foram criados tardiamente,<br />

o que po<strong>de</strong> indicar dificulda<strong>de</strong>s para a<br />

efetivação do controle social na saú<strong>de</strong>.<br />

Composição dos Conselhos<br />

A concepção <strong>de</strong> conselho como espaço contraditório,<br />

adotada neste estudo, coloca a importância<br />

<strong>de</strong> se analisar as forças políticas que o compõem,<br />

com vistas a perceber a correlação <strong>de</strong> forças<br />

presente, o que possibilita visualizar as possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>ste espaço favorecer a gestão <strong>de</strong>mocrática<br />

das políticas públicas e a conseqüente efetivação<br />

dos princípios do Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

Visando garantir que esse possa ser um espaço<br />

<strong>de</strong> participação efetiva para a população,<br />

assim como para os <strong>de</strong>mais segmentos envolvidos<br />

com a política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, foi homologada a<br />

Resolução nº 333, <strong>de</strong> 2003, do Conselho Nacional<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, segundo a qual a composição do conselho<br />

<strong>de</strong>ve ser paritária, com 50% dos representantes<br />

do segmento dos usuários, 25% dos<br />

trabalhadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e 25% dos prestadores<br />

<strong>de</strong> serviços públicos e privados 13 .<br />

Tal resolução significa um avanço na composição<br />

das instâncias colegiadas <strong>de</strong> participação<br />

política, conselhos e conferências, favorecendo<br />

a interferência da população na gestão<br />

da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, através da participação<br />

predominante dos usuários, que é o segmento<br />

alvo das políticas, e do engajamento dos trabalhadores<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com 25%. Reforça a participação<br />

dos conselhos na proposição, <strong>de</strong>finição,<br />

fiscalização e avaliação da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

municipal, estadual e nacional.<br />

Entretanto, alguns conselhos ainda adotam<br />

como referencial, para sua composição, a Lei 8.142,<br />

<strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1990, que <strong>de</strong>termina a composição<br />

paritária apenas com relação aos usuários,<br />

consi<strong>de</strong>rando 50% <strong>de</strong> usuários e 50% dos <strong>de</strong>mais<br />

segmentos representados <strong>no</strong> conselho.<br />

Analisando a composição dos conselhos<br />

do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, constata-se que<br />

86% são paritários <strong>de</strong> acordo com a Lei 8.142,<br />

segundo a qual o número <strong>de</strong> usuários <strong>de</strong>ve correspon<strong>de</strong>r<br />

a 50% do total <strong>de</strong> conselheiros, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

da divisão da outra meta<strong>de</strong> entre<br />

os representantes dos <strong>de</strong>mais segmentos.<br />

Cabe ainda ressaltar que 43,5% dos conselhos<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, me<strong>no</strong>s<br />

da meta<strong>de</strong>, são paritários segundo a Resolução<br />

333, <strong>de</strong> 2003, do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

A parida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>finida na Resolução 333,<br />

configura-se como uma importante conquista <strong>no</strong><br />

sentido da garantia da representação dos trabalhadores<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong>s conselhos, visto que são<br />

sujeitos fundamentais na luta por melhores condições<br />

<strong>de</strong> trabalho, pela oferta dos serviços públicos,<br />

pela efetivação e ampliação dos direitos<br />

conquistados. Neste sentido, o não cumprimento<br />

da parida<strong>de</strong> estabelecida pela referida Reso-<br />

13<br />

Esta resolução aprofunda questões já <strong>de</strong>finidas na Resolução<br />

33, do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> 1993.<br />

38


lução po<strong>de</strong> obstaculizar a participação dos trabalhadores<br />

<strong>no</strong>s rumos da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, tendo<br />

em vista que esta não é garantida apenas com<br />

a parida<strong>de</strong> <strong>de</strong>finida pela Lei 8.142/90.<br />

Organização Interna e Dinâmica <strong>de</strong> Funcionamento<br />

A análise do caráter dos Conselhos, estabelecido<br />

pela Lei 8.142/90, é fundamental <strong>no</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização<br />

da esfera pública. Sobre o caráter consultivo<br />

ou <strong>de</strong>liberativo dos Conselhos, Santos (2002)<br />

argumenta que:<br />

“Enquanto o <strong>de</strong> atribuição consultiva concebe<br />

a participação como colaboração e assessoria<br />

à gestão, conformando Conselhos do tipo<br />

técnico-<strong>no</strong>rmativo integrados por ‘técnicos <strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>tório saber’, o <strong>de</strong> atribuição <strong>de</strong>liberativa a<br />

concebe como constituição <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r,<br />

capazes <strong>de</strong> interferir na natureza da gestão<br />

das políticas públicas” (2002: 65).<br />

De acordo com a lei n° 8142, os Conselhos<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> possuem caráter <strong>de</strong>liberativo. Esta característica<br />

possibilita a intervenção direta da socieda<strong>de</strong><br />

nas políticas públicas, uma vez que<br />

garante que as discussões travadas tenham como<br />

<strong>de</strong>sdobramento uma <strong>de</strong>liberação, que será homologada<br />

pelo chefe do po<strong>de</strong>r da esfera <strong>de</strong> gover<strong>no</strong><br />

correspon<strong>de</strong>nte e cujo cumprimento é assegurado<br />

por lei. Assim, esse não será apenas um espaço<br />

<strong>de</strong> discussão, mas <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões coletivas<br />

que po<strong>de</strong>m mudar a direção da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

O caráter consultivo, portanto, retira dos<br />

Conselhos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção direta da<br />

socieda<strong>de</strong> nas políticas públicas, sendo retrato <strong>de</strong><br />

uma distorção dos objetivos dos Conselhos, além<br />

<strong>de</strong> ferir os princípios da Lei Orgânica da Saú<strong>de</strong>.<br />

A maioria dos Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong><br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro, ou seja, quase a totalida<strong>de</strong>,<br />

tem caráter <strong>de</strong>liberativo.<br />

Os conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> foram criados como<br />

instância <strong>de</strong> participação política da socieda<strong>de</strong>,<br />

através da representação dos três segmentos<br />

envolvidos <strong>no</strong> universo da saú<strong>de</strong>. Logo, a<br />

presença <strong>de</strong>sses representantes, nas reuniões do<br />

conselho, é fundamental para que esse espaço<br />

seja representativo dos interesses coletivos; caso<br />

contrário, será enfraquecido seu papel <strong>de</strong> controle<br />

social. Por isso, o quórum estabelecido para<br />

as reuniões <strong>de</strong>monstra o grau <strong>de</strong> representativida<strong>de</strong><br />

garantido neste fórum e a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> exercício do controle social.<br />

É importante <strong>de</strong>stacar que, para a maioria<br />

dos municípios, o quórum para <strong>de</strong>liberação correspon<strong>de</strong><br />

a 50% +1 (56,61%). A Resolução nº<br />

333/03 do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CNS)<br />

recomenda que as <strong>de</strong>cisões dos Conselhos sejam<br />

adotadas pelo voto <strong>de</strong> pelo me<strong>no</strong>s meta<strong>de</strong><br />

mais um <strong>de</strong> seus integrantes.<br />

Como já foi colocado, os conselhos são espaços<br />

on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>libera acerca da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

a partir do que se discute nas reuniões. Desse<br />

modo, a periodicida<strong>de</strong> das reuniões é<br />

garantia <strong>de</strong> que as discussões das questões levadas<br />

ao conselho terão continuida<strong>de</strong>. Da mesma<br />

forma, se possibilita a implementação das<br />

<strong>de</strong>liberações e, caso estas não sejam postas em<br />

prática pelo po<strong>de</strong>r público, o conselho irá pensar<br />

estratégias para cobrar o seu cumprimento.<br />

Partindo-se do entendimento dos conselhos<br />

como espaço <strong>de</strong> disputa, as reuniões são<br />

um momento importante <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> idéias,<br />

quando se <strong>de</strong>fine a direção política <strong>de</strong>ste fórum.<br />

Além disso, constituem-se em espaço <strong>de</strong> luta<br />

para que as <strong>de</strong>mandas das entida<strong>de</strong>s representadas<br />

sejam consi<strong>de</strong>radas, sem se afastar do interesse<br />

coletivo.<br />

A maioria dos conselhos do <strong>Estado</strong> do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro se reúne regularmente; em 98% <strong>de</strong>les<br />

a periodicida<strong>de</strong> das reuniões é mensal. Consi<strong>de</strong>ra-se<br />

que as reuniões <strong>de</strong>vem ser periódicas<br />

para que, <strong>de</strong> fato, o Conselho <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> cumpra<br />

com o seu papel <strong>de</strong> controle social.<br />

39


Conferências <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

As Conferências <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> são fóruns periódicos<br />

on<strong>de</strong> os diversos segmentos sociais se reúnem<br />

para avaliar a situação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>finir<br />

priorida<strong>de</strong>s e estratégias <strong>de</strong> ações e propor as<br />

diretrizes da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong>s âmbitos distrital,<br />

municipal, estadual e nacional.<br />

Estes espaços são importantes para que a<br />

socieda<strong>de</strong> participe da discussão, formulação e<br />

aprovação do Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, reivindicando que<br />

suas <strong>de</strong>mandas sejam contempladas <strong>no</strong> mesmo.<br />

Logo, é fundamental que a população esteja organizada<br />

para garantir a realização <strong>de</strong>sse fórum<br />

e, assim, exercer seu direito <strong>de</strong> interferir na gestão<br />

da política pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

De acordo com a Lei 8.142/90, as conferências<br />

<strong>de</strong>vem ocorrer pelo me<strong>no</strong>s a cada quatro<br />

a<strong>no</strong>s, sendo convocada pelo Po<strong>de</strong>r Executivo ou,<br />

extraordinariamente, pelo Conselho <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

O espaço <strong>de</strong> tempo em que são realizadas<br />

as conferências po<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar o grau <strong>de</strong> organização<br />

da população e sua inserção na formulação<br />

e fiscalização da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, além<br />

<strong>de</strong> mostrar se há o compromisso do po<strong>de</strong>r público<br />

local com a gestão <strong>de</strong>mocrática das políticas<br />

públicas.<br />

Com relação ao intervalo <strong>de</strong> tempo em que<br />

ocorrem as Conferências Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

<strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, a maioria (52%)<br />

acontece a cada 2 a<strong>no</strong>s.<br />

2.3.2. O Perfil dos Conselheiros <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 14<br />

O estudo dos perfis dos conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>no</strong>s possibilita<br />

algumas reflexões, além <strong>de</strong> ser fundamental para<br />

14<br />

Investigação realizada pelo Projeto Políticas Públicas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,<br />

da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviço <strong>Social</strong> da UERJ, coor<strong>de</strong>nado pela Professora<br />

Maria Inês Souza Bravo e financiado pela UERJ, CNPq e<br />

FAPERJ.<br />

a apreensão dos pontos em que precisamos avançar<br />

para que os conselhos sejam efetivados enquanto<br />

espaços <strong>de</strong>mocráticos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da política<br />

pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> através da presença e ação<br />

organizada dos diversos segmentos sociais, bem<br />

como para a formulação <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> ação<br />

para o fortalecimento do controle social.<br />

Os dados referentes à faixa etária dos conselheiros<br />

apontam para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> re<strong>no</strong>vação<br />

dos quadros políticos que atuam com o controle social<br />

na área da saú<strong>de</strong>, por meio do envolvimento <strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>vos sujeitos na discussão acerca da participação<br />

popular <strong>no</strong>s rumos da política pública. A re<strong>no</strong>vação<br />

possibilitará que as ban<strong>de</strong>iras e lutas concernentes<br />

ao Movimento <strong>de</strong> Reforma Sanitária<br />

tenham continuida<strong>de</strong> e possam se realizar <strong>no</strong> presente,<br />

<strong>no</strong> sentido da construção <strong>de</strong> uma pauta <strong>de</strong><br />

reivindicações e <strong>de</strong> uma agenda <strong>de</strong> lutas que resgate<br />

este projeto na sua totalida<strong>de</strong>.<br />

Nesse sentido, consi<strong>de</strong>ramos importante<br />

a mobilização dos jovens para que se insiram<br />

na luta pela saú<strong>de</strong>. Algumas estratégias são necessárias,<br />

tais como sensibilizar estudantes universitários<br />

para esta participação através <strong>de</strong> suas<br />

entida<strong>de</strong>s, por exemplo, os Centros Acadêmicos<br />

e Executivas <strong>de</strong> Curso da área da saú<strong>de</strong>, bem<br />

como mobilizar os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> recémadmitidos<br />

nas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, e também<br />

criar comissão <strong>de</strong> jovens nas associações <strong>de</strong> moradores.<br />

Outra estratégia interessante consiste<br />

na aproximação <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s e movimentos sociais<br />

que não tenham um histórico <strong>de</strong> atuação<br />

na área da saú<strong>de</strong> ou que já tenham tido.<br />

No que tange às entida<strong>de</strong>s representantes<br />

dos três segmentos <strong>no</strong>s conselhos, <strong>de</strong>stacamos<br />

que as distorções verificadas na representação<br />

<strong>de</strong> usuários e trabalhadores configuram-se em entraves<br />

para a efetivação do controle social. A<br />

concepção dos conselhos enquanto espaços contraditórios<br />

impõe a luta pela garantia da representação<br />

<strong>de</strong> usuários e gestores por membros<br />

das entida<strong>de</strong>s vinculadas a estes segmentos, sen-<br />

40


do esse um passo fundamental para a real participação<br />

e interferência da socieda<strong>de</strong> nas <strong>de</strong>cisões<br />

referentes à política pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

forma que as suas <strong>de</strong>mandas sejam <strong>de</strong> fato contempladas.<br />

A pouca participação dos conselheiros em partidos<br />

políticos e sindicatos é mais um fator relevante<br />

e que merece a atenção dos sujeitos que<br />

atuam <strong>no</strong> controle social, pois <strong>de</strong>monstra que a<br />

perspectiva política dos conselheiros po<strong>de</strong> estar<br />

restrita somente à saú<strong>de</strong>, e não a um projeto<br />

societário mais amplo. A maior participação<br />

nestas organizações <strong>de</strong> certo contribuiria para<br />

qualificar o <strong>de</strong>bate <strong>de</strong>sses conselheiros e potencializar<br />

a participação popular.<br />

2.3.3. Os Seminários <strong>de</strong> Políticas Públicas<br />

<strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> e <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong><br />

Nos seminários, foram apontados inúmeros<br />

problemas na constituição e na representação<br />

dos conselhos, tais como: falta <strong>de</strong> parida<strong>de</strong>;<br />

falta <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns representantes;<br />

política <strong>de</strong> clientelismo e corporativismo <strong>de</strong>ntro<br />

dos conselhos; falta <strong>de</strong> representativida<strong>de</strong><br />

efetiva dos conselheiros por estarem distantes<br />

<strong>de</strong> suas bases; o não cumprimento das <strong>de</strong>cisões<br />

dos conselhos pelos gestores; o pouco conhecimento<br />

dos conselheiros sobre o funcionamento<br />

do SUS e do próprio controle social, entre outros.<br />

No entanto, é preciso consi<strong>de</strong>rar o quanto<br />

é <strong>no</strong>va essa experiência do controle social e que<br />

a saú<strong>de</strong> é pioneira nesse processo. Ao longo do<br />

tempo, alguns instrumentos <strong>de</strong> aperfeiçoamento<br />

dos conselhos têm sido adotados, como a Resolução<br />

333 do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

2003, já referida.<br />

O Ministério Público foi lembrado como<br />

outra instância que po<strong>de</strong> ser acionada para fazer<br />

valer os direitos à saú<strong>de</strong> e fazer com que as<br />

<strong>de</strong>liberações dos conselhos sejam cumpridas.<br />

Como a saú<strong>de</strong> é consi<strong>de</strong>rada uma ação <strong>de</strong> relevância<br />

pública, po<strong>de</strong>-se contar com a atuação<br />

do Ministério Público, a quem incumbe “a <strong>de</strong>fesa<br />

da or<strong>de</strong>m jurídica, do regime <strong>de</strong>mocrático<br />

e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”<br />

(Art. 127 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral). Na<br />

sua função <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensor dos direitos, a atuação<br />

do Ministério Público envolve a fiscalização do<br />

cumprimento das políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, do funcionamento<br />

dos conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, bem como o<br />

monitoramento <strong>de</strong> todas as ações e serviços <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> a que a população tem direito.<br />

Um outro aspecto do controle social a ser<br />

consi<strong>de</strong>rado e que foi exaustivamente discutido<br />

diz respeito à <strong>de</strong>scentralização. A Norma<br />

Operacional <strong>de</strong> Assistência em Saú<strong>de</strong> (NOAS)<br />

trouxe a proposta <strong>de</strong> regionalização da re<strong>de</strong> assistencial,<br />

procurando corrigir as distorções relacionadas<br />

ao acesso da população e à equida<strong>de</strong><br />

em relação à oferta <strong>de</strong> serviços do setor público.<br />

No que se refere à <strong>AIDS</strong>, esse processo resultou<br />

<strong>no</strong> <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> incentivo<br />

com transferência fundo a fundo e pacto com<br />

os estados e municípios em relação à aquisição<br />

<strong>de</strong> medicamentos para doenças oportunistas,<br />

para <strong>DST</strong> e preservativos. Houve consenso entre<br />

os presentes <strong>no</strong>s seminários <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>scentralização<br />

é o caminho para materializar os<br />

preceitos da universalida<strong>de</strong> e integralida<strong>de</strong> da<br />

atenção, mas que ainda está muito incipiente.<br />

Há uma série <strong>de</strong> obstáculos a serem vencidos<br />

para que os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> possam, <strong>de</strong> fato,<br />

prestar a assistência à saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma universal,<br />

integral e com qualida<strong>de</strong>. Foi lembrado que<br />

a integralida<strong>de</strong> só é alcançada com a combinação<br />

<strong>de</strong> prevenção e assistência e que, <strong>no</strong> caso da<br />

<strong>AIDS</strong>, esse processo tem sido mais forte nas ações<br />

assistenciais. As ações <strong>de</strong> prevenção continuam<br />

sendo financiadas com recursos do acordo <strong>de</strong><br />

empréstimo com o Banco Mundial e não há indicação<br />

<strong>de</strong> como será assegurada sua sustentabilida<strong>de</strong><br />

futura. Em relação à sustentabilida<strong>de</strong><br />

das organizações não-governamentais há uma<br />

41


avaliação <strong>de</strong> que se vive uma situação <strong>de</strong> incerteza<br />

quanto ao financiamento, tendo em vista<br />

que a <strong>de</strong>scentralização não tem assegurado os<br />

acordos que foram estabelecidos na Política <strong>de</strong><br />

Incentivo. O aperfeiçoamento do controle social<br />

é lembrado como uma condição essencial<br />

para o avanço das políticas públicas, como a da<br />

<strong>de</strong>scentralização da atenção à saú<strong>de</strong> e das ações<br />

voltadas para as <strong>DST</strong>s/<strong>AIDS</strong>.<br />

2.4. DIAGNÓSTICO E PROPOSTAS<br />

2.4.1. Diagnóstico Situacional da <strong>AIDS</strong> nas<br />

Regiões do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Durante as oficinas regionais foi realizado<br />

um diagnóstico situacional da <strong>AIDS</strong> nas regiões,<br />

com o levantamento dos principais problemas<br />

que os municípios enfrentam para atuar<br />

<strong>no</strong> combate à <strong>AIDS</strong>. Na seqüência, é feita uma<br />

síntese dos principais problemas i<strong>de</strong>ntificados,<br />

por região, dando-se <strong>de</strong>staque para as<br />

questões específicas mais relevantes dos municípios.<br />

Esse diagnóstico foi feito com base<br />

na discussão dos participantes em trabalhos <strong>de</strong><br />

grupos e em dados trazidos durante as mesasredondas<br />

e painéis.<br />

Região Metropolitana I<br />

Participaram os seguintes municípios:<br />

Belford Roxo, Duque <strong>de</strong> Caxias, Itaguaí, Japeri,<br />

Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu,<br />

Queimados, Rio <strong>de</strong> Janeiro, São João do Meriti<br />

e Seropédica.<br />

Problemas comuns a todos os municípios da região:<br />

• Falta <strong>de</strong> intersetorialida<strong>de</strong> das ações para <strong>DST</strong>/<br />

<strong>AIDS</strong> com outros programas, inclusive o Programa<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família (PSF);<br />

• Falta <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s, tanto em termos<br />

quantitativos quanto em termos <strong>de</strong> qualificação<br />

para trabalhar com HIV/<strong>AIDS</strong>;<br />

• Falta <strong>de</strong> qualificação dos agentes comunitários<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> outros profissionais do<br />

PSF para trabalhar com a questão do HIV/<br />

<strong>AIDS</strong>;<br />

• Precarização do trabalho do agente comunitário<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />

• Falta ou insuficiência <strong>de</strong> insumos e <strong>de</strong> kits<br />

para diagnóstico do HIV e acompanhamento<br />

do CD4 e carga viral;<br />

• Insuficiência <strong>de</strong> preservativos, tanto masculi<strong>no</strong>s<br />

quanto femini<strong>no</strong>s;<br />

• Falta <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> política dos gestores <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>;<br />

• Gran<strong>de</strong> rotativida<strong>de</strong> dos coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong><br />

programas e <strong>de</strong> profissionais, por motivos políticos;<br />

• Falta <strong>de</strong> medicamentos <strong>de</strong> infecção oportunista<br />

em alguns municípios; a contrapartida<br />

do estado é problemática para garantir o abastecimento<br />

<strong>de</strong> medicamentos <strong>de</strong> uso contínuo;<br />

• Problemas <strong>de</strong> <strong>no</strong>tificação <strong>de</strong> casos, <strong>de</strong>correntes<br />

da migração <strong>de</strong> pacientes para outros municípios,<br />

em razão do preconceito;<br />

• Falta <strong>de</strong> divulgação do programa na região;<br />

• Materiais educativos insuficientes ou ina<strong>de</strong>quados;<br />

• Pouca ou nenhuma integração entre os diversos<br />

atores, como ONGs, comunida<strong>de</strong>, conselhos<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />

• Desconhecimento, por parte do Conselho <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong>, sobre o Programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong>;<br />

• Em muitos municípios, não é feita parceria<br />

entre o setor público e entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong><br />

civil (ONGs, pastorais etc.).<br />

Problemas específicos <strong>de</strong> alguns municípios da região:<br />

• Não criação do Fundo Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

(Seropédica);<br />

• Falta <strong>de</strong> hospital <strong>de</strong> referência para HIV/<strong>AIDS</strong><br />

(Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu e Queimados);<br />

• Problemas <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> conflitos com o tráfico<br />

(Rio <strong>de</strong> Janeiro).<br />

42


Região Metropolitana II<br />

Participaram os seguintes municípios da<br />

região: Itaboraí, Maricá, Silva Jardim, Niterói,<br />

São Gonçalo, Rio Bonito, Tanguá.<br />

Problemas comuns a todos os municípios da região:<br />

• Falta <strong>de</strong> divulgação do programa e dos pólos<br />

<strong>de</strong> atendimento;<br />

• Problemas com a assistência hospitalar;<br />

• Insuficiência <strong>de</strong> preservativos;<br />

• Recursos huma<strong>no</strong>s insuficientes e falta <strong>de</strong><br />

equipe multidisciplinar;<br />

• Falta <strong>de</strong> ambulatório para referência municipal;<br />

• Falta <strong>de</strong> qualificação dos profissionais;<br />

• Falta <strong>de</strong> capacitação dos conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

(não sabem o que é o PAM, como é a prevenção<br />

e assistência em <strong>AIDS</strong>);<br />

• Falta <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos casos;<br />

• Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acompanhamento dos casos<br />

pelas unida<strong>de</strong>s do PSF;<br />

• Falta <strong>de</strong> <strong>no</strong>tificação dos casos suspeitos e confirmados<br />

pelos profissionais <strong>de</strong> ponta;<br />

• Falta <strong>de</strong> recursos e <strong>de</strong> estrutura necessária para<br />

o atendimento;<br />

• Falta <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> referência e contrareferência;<br />

• Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionamento da coor<strong>de</strong>nação<br />

com os Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

Problemas específicos <strong>de</strong> alguns municípios da região:<br />

• Falta <strong>de</strong> profissional enfermeiro e assistente<br />

social (Maricá);<br />

• Hospitais em precárias condições (Niterói).<br />

Região Centro-Sul<br />

Participaram os seguintes municípios da<br />

região: Areal, Men<strong>de</strong>s, Vassouras, Sapucaia, Miguel<br />

Pereira, Paracambi, Paty do Alferes, Paraíba<br />

do Sul e Comendador Levy Gasparian.<br />

Problemas comuns a todos os municípios da região:<br />

• Hegemonia do setor privado e filantrópico na região<br />

(97% dos leitos hospitalares são privados);<br />

• Problemas <strong>no</strong> sistema <strong>de</strong> informação (sub<strong>no</strong>tificações,<br />

atraso nas <strong>no</strong>tificações);<br />

• Baixa cobertura do PSF (49%);<br />

• Estrangulamento do acesso para a média e a<br />

alta complexida<strong>de</strong>;<br />

• Ausência <strong>de</strong> ações para <strong>de</strong>pendência química;<br />

• Insuficiência <strong>de</strong> ações voltadas para UTI mater<strong>no</strong>-infantil;<br />

• Problemas <strong>de</strong> referência e contra-referência;<br />

• Falta <strong>de</strong> insumos;<br />

• Falta <strong>de</strong> ações em educação em saú<strong>de</strong> (as campanhas<br />

não são regulares);<br />

• Falta <strong>de</strong> capacitação dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

para atuarem <strong>no</strong>s programas em <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>;<br />

• Rotativida<strong>de</strong> dos profissionais, não dando continuida<strong>de</strong><br />

às ações <strong>de</strong>senvolvidas (profissionais<br />

são capacitados e retirados do cargo<br />

quando ocorre troca do gover<strong>no</strong>);<br />

• Falta <strong>de</strong> capacitação para os conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />

• Não retor<strong>no</strong>, por parte dos conselheiros, à sua<br />

base (falta <strong>de</strong> comunicação);<br />

• Pouco acompanhamento por parte do Conselho<br />

Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />

• Não respeito à parida<strong>de</strong> <strong>no</strong>s conselhos;<br />

• Falta <strong>de</strong> infra-estrutura e <strong>de</strong> dotação orçamentária<br />

própria dos conselhos;<br />

• Não participação do controle social <strong>no</strong> consórcio<br />

intermunicipal.<br />

Região Médio-Paraíba<br />

Participaram os seguintes municípios da região:<br />

Porto Real, Barra Mansa, Barra do Piraí, Valença,<br />

Pinheiral, Volta Redonda, Resen<strong>de</strong> e Quatis.<br />

Problemas comuns a todos os municípios da região:<br />

• Hegemonia do setor privado e filantrópico na região<br />

(71% dos leitos hospitalares são privados);<br />

• Baixa cobertura do PSF (12%);<br />

• Sistema <strong>de</strong> informação <strong>de</strong>ficiente;<br />

• Insuficiência gerencial do SUS;<br />

• Falta <strong>de</strong> diálogo entre os programas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<br />

<strong>AIDS</strong> e os Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />

43


• Os Conselhos Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CMS)<br />

aprovam os Pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Ações e Metas (PAMs),<br />

mas não são apresentadas as programações;<br />

• Os PAMs vêm <strong>de</strong>finidos, sem possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> intervenção dos conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />

• Falta <strong>de</strong> critérios para <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s<br />

em face da escassez <strong>de</strong> recursos;<br />

• Recursos insuficientes e dificulda<strong>de</strong>s <strong>no</strong> repasse<br />

<strong>de</strong> recursos e na compra <strong>de</strong> serviços da<br />

atenção básica;<br />

• Falta <strong>de</strong> profissionais e alta rotativida<strong>de</strong> dos<br />

mesmos;<br />

• Precarização do trabalho;<br />

• Falta <strong>de</strong> capacitação dos conselheiros;<br />

• Falta <strong>de</strong> retor<strong>no</strong> dos conselheiros às suas bases.<br />

Região Baía da Ilha Gran<strong>de</strong><br />

Participaram os seguintes municípios da<br />

região: Mangaratiba, Parati e Angra dos Reis.<br />

Problemas comuns a todos os municípios da região:<br />

• Gran<strong>de</strong> participação do setor privado e filantrópico<br />

na região (40% dos leitos hospitalares<br />

são privados);<br />

• Baixa cobertura do PSF (12%);<br />

• Estrangulamento <strong>no</strong> acesso à média e à alta<br />

complexida<strong>de</strong>;<br />

• Sistema <strong>de</strong> informação <strong>de</strong>ficiente;<br />

• Deficiência na atenção mater<strong>no</strong>-infantil;<br />

• Alta incidência do HIV;<br />

• Presença <strong>de</strong> muitos fatores <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>:<br />

pólo turístico, turismo sexual, alto<br />

consumo <strong>de</strong> drogas, área portuária, rota <strong>de</strong><br />

transportes, rotativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra do<br />

parque industrial (usina-estaleiro);<br />

• Falta <strong>de</strong> recursos financeiros;<br />

• Falta <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> política do gestor;<br />

• Falta <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> contas financeira e <strong>de</strong> gestão;<br />

• Falta <strong>de</strong> capacitação continuada dos conselheiros;<br />

• Falta <strong>de</strong> estrutura física e financeira para os<br />

Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />

• Falta <strong>de</strong> retor<strong>no</strong> dos conselheiros às suas bases;<br />

• Falta <strong>de</strong> divulgação das ativida<strong>de</strong>s do CMS;<br />

• Legislação ina<strong>de</strong>quada que permite o <strong>de</strong>scumprimento<br />

das <strong>de</strong>cisões do CMS pelo gestor;<br />

• Falta <strong>de</strong> estrutura física/financeira para o funcionamento<br />

do CMS.<br />

Região Baixada Litorânea<br />

Participaram os seguintes municípios da<br />

região: Cabo Frio, Arraial do Cabo, Búzios, Araruama,<br />

Iguaba, Saquarema, Casimiro <strong>de</strong> Abreu<br />

e Rio das Ostras.<br />

Problemas comuns a todos os municípios da região:<br />

• Falta <strong>de</strong> divulgação do programa e dos locais<br />

<strong>de</strong> atendimento;<br />

• Falta <strong>de</strong> CTA e <strong>de</strong> laboratórios;<br />

• Insuficiência <strong>de</strong> preservativos e <strong>de</strong> medicamentos<br />

para infecções oportunistas;<br />

• Falta <strong>de</strong> testes rápidos;<br />

• Recursos huma<strong>no</strong>s insuficientes e falta <strong>de</strong><br />

equipe multidisciplinar;<br />

• Falta <strong>de</strong> ambulatório para referência municipal;<br />

• Falta <strong>de</strong> qualificação dos profissionais;<br />

• Falta <strong>de</strong> capacitação dos conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

(não sabem o que é o PAM, como é a prevenção<br />

e assistência em <strong>AIDS</strong>);<br />

• Falta <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos casos;<br />

• Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acompanhamento dos casos<br />

pelas unida<strong>de</strong>s do PSF;<br />

• Falta <strong>de</strong> <strong>no</strong>tificação dos casos <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>;<br />

• Falta <strong>de</strong> recursos e <strong>de</strong> estrutura necessária para<br />

o atendimento;<br />

• Falta <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> referência e contrareferência;<br />

• Baixa qualida<strong>de</strong> dos serviços, com pouca a<strong>de</strong>são<br />

ao tratamento;<br />

• Migração <strong>de</strong> pacientes para outros municípios;<br />

• Falta <strong>de</strong> comprometimento dos gestores.<br />

Região Serrana<br />

Participaram os seguintes municípios da<br />

região: Teresópolis, Petrópolis, Carmo, Canta-<br />

44


galo, Cor<strong>de</strong>iro, São José do Rio Preto e São Sebastião<br />

do Alto.<br />

Problemas comuns a todos os municípios da região:<br />

• Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> implantação do PAM;<br />

• Falta <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s para utilização dos<br />

recursos do PAM;<br />

• Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> integração com o PSF;<br />

• Falta <strong>de</strong> informações sobre o PAM <strong>no</strong> Conselho<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />

• Falta <strong>de</strong> equipes capacitadas.<br />

Problemas específicos <strong>de</strong> alguns municípios da região:<br />

• Inexistência ou <strong>de</strong>sarticulação do programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<br />

<strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> município (Traja<strong>no</strong>, Carmo, São José);<br />

• Não tem PAM (São Sebastião do Alto);<br />

• Não tem casos <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong>tificados (Traja<strong>no</strong>);<br />

• Falta <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> projetos da gestão anterior<br />

(Cantagalo).<br />

Regiões Norte e Noroeste<br />

Participaram os seguintes municípios das<br />

regiões Norte e Noroeste: Porciúncula, Nativida<strong>de</strong>,<br />

Varre-Sai, Miracema, São José <strong>de</strong> Ubá, Itaperuna,<br />

Itaocara, Italva, Macaé, Conceição <strong>de</strong><br />

Macabú, Carapebus, Quissamã, Campos, São<br />

João da Barra, São Francisco <strong>de</strong> Itabapoana,<br />

Cardoso Moreira, Santo Antônio <strong>de</strong> Pádua e<br />

Bom Jesus <strong>de</strong> Cambuci.<br />

Problemas comuns a todos os municípios das regiões:<br />

• Falta <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s, rotativida<strong>de</strong> dos<br />

profissionais e pouca qualificação técnicoprofissional;<br />

• Falta <strong>de</strong> estrutura na re<strong>de</strong> e <strong>no</strong>s programas;<br />

• Ausência <strong>de</strong> política <strong>de</strong> referência e contrareferência<br />

local e intermunicipal;<br />

• Não existência <strong>de</strong> alguns programas estratégicos;<br />

• População flutuante dificultando o planejamento<br />

das ações;<br />

• Pouca informação por parte dos usuários sobre<br />

os programas e serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> oferecidos,<br />

como o PSF;<br />

• Recursos financeiros mal distribuídos e reduzidos;<br />

• Ausência <strong>de</strong> intersetorialida<strong>de</strong> nas ações;<br />

• Forma <strong>de</strong> cálculo para distribuição da verba (repasse<br />

para cada município segundo população);<br />

• Falta <strong>de</strong> capacitação dos conselheiros;<br />

• Forma <strong>de</strong> escolha dos conselheiros;<br />

• Falta <strong>de</strong> representativida<strong>de</strong> dos conselheiros<br />

(falta <strong>de</strong> comunicação com a base).<br />

Problemas específicos <strong>de</strong> alguns municípios das regiões:<br />

• Falta <strong>de</strong> equipamento para atendimento <strong>de</strong><br />

urgência e emergência (Porciúncula);<br />

• Não funcionamento do consórcio (Bom Jesus<br />

do Itabapoana);<br />

• Falta <strong>de</strong> hospital (São José <strong>de</strong> Ubá, Miracema,<br />

Itaocara);<br />

• Teto financeiro insuficiente para o atendimento<br />

da <strong>de</strong>manda, pois é município-pólo (Campos);<br />

• Difícil acesso da população rural ao atendimento<br />

na se<strong>de</strong> (São João da Barra).<br />

2.4.2. Propostas<br />

Os grupos realizaram um diagnóstico situacional<br />

sobre a <strong>AIDS</strong> e o controle social em<br />

sua região, particularmente em relação aos conselhos<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. A partir da i<strong>de</strong>ntificação dos<br />

principais problemas, foram feitas sugestões ou<br />

propostas com o objetivo <strong>de</strong> superar os pontos<br />

críticos relacionados com a assistência às <strong>DST</strong>s/<br />

<strong>AIDS</strong> e para fortalecer o controle social.<br />

2.4.2.1. Relacionadas à Prevenção e Assistência às<br />

<strong>DST</strong>s/<strong>AIDS</strong><br />

As propostas enfatizaram quatro eixos:<br />

Recursos Huma<strong>no</strong>s; Estrutura dos Serviços;<br />

Mo<strong>de</strong>lo Assistencial/ Programas e Financiamento<br />

das Ações.<br />

Recursos Huma<strong>no</strong>s<br />

• Política <strong>de</strong> valorização profissional;<br />

• Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Carreira, Cargos e Salários;<br />

45


• Capacitação <strong>de</strong> profissionais em relação às<br />

<strong>DST</strong>s/<strong>AIDS</strong>;<br />

• Articulação com as Universida<strong>de</strong>s (PEP) para<br />

capacitação dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />

• Sensibilização dos profissionais para a <strong>no</strong>tificação<br />

<strong>de</strong> casos;<br />

• Contratação <strong>de</strong> mais profissionais do PSF (ampliação<br />

das equipes), com recursos do fundo<br />

<strong>de</strong> participação do estado;<br />

• Contratação <strong>de</strong> profissionais por meio <strong>de</strong> concurso<br />

público;<br />

• Contratação <strong>de</strong> profissionais para formação <strong>de</strong><br />

equipes multiprofissionais;<br />

• Exigência do cumprimento <strong>de</strong> carga horária.<br />

Estrutura dos Serviços<br />

• Criação <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vigilância epi<strong>de</strong>miológica;<br />

• Garantia <strong>de</strong> assistência à <strong>de</strong>pendência química;<br />

• Desconcentração das referências laboratoriais<br />

para CD4 e Carga Viral (ou seja, ”<strong>de</strong>safogar”<br />

a <strong>de</strong>manda ainda reprimida <strong>de</strong> atendimento);<br />

• Criação <strong>de</strong> CTA volante;<br />

• Criação do 3º tur<strong>no</strong> em CTA;<br />

• Construção <strong>de</strong> espaço exclusivo para o SAE;<br />

• Estruturação da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> exames laboratoriais;<br />

• Criação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> referência para internação<br />

pediátrica <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>;<br />

• Melhoria da assistência pré-natal;<br />

• Garantia do aporte <strong>de</strong> insumos como preservativos<br />

masculi<strong>no</strong> e femini<strong>no</strong>;<br />

• Garantia da distribuição <strong>de</strong> medicamentos <strong>de</strong><br />

uso continuado.<br />

Mo<strong>de</strong>lo Assistencial/Programas<br />

• Formação <strong>de</strong> consórcios intermunicipais para<br />

controle das <strong>DST</strong>s/<strong>AIDS</strong>;<br />

• Promoção da instersetoralida<strong>de</strong> das ações <strong>de</strong><br />

prevenção e tratamento da <strong>AIDS</strong>;<br />

• Promoção da educação em saú<strong>de</strong>, com campanhas<br />

regulares;<br />

• Desenvolvimento do Projeto Saú<strong>de</strong> e Prevenção<br />

nas Escolas;<br />

• Criação <strong>de</strong> fórum regional intersetorial permanente<br />

(educação, saú<strong>de</strong>, turismo, ação social);<br />

• Promoção da integração dos programas <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> com os diversos atores sociais;<br />

• Instituição dos programas estratégicos como<br />

o PSF e <strong>de</strong> controle das <strong>DST</strong>s/<strong>AIDS</strong> <strong>no</strong>s municípios<br />

on<strong>de</strong> eles não estão estruturados;<br />

• Exigência do compromisso das Secretarias <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> com o trabalho <strong>de</strong> prevenção às <strong>DST</strong>s/<br />

<strong>AIDS</strong>, mesmo on<strong>de</strong> o programa não estiver<br />

implantado;<br />

• Rediscussão dos pólos <strong>de</strong> referência;<br />

• Discussão da central <strong>de</strong> regulação, para garantir<br />

seu funcionamento;<br />

• Criação <strong>de</strong> pólos com equipe multiprofissional,<br />

para o atendimento <strong>de</strong> pacientes HIV nas<br />

unida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />

• Criação <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s regionais para aten<strong>de</strong>r as<br />

necessida<strong>de</strong>s dos municípios que não contam<br />

com serviços <strong>de</strong> maior complexida<strong>de</strong> e rediscussão<br />

<strong>de</strong> alguns pólos regionais;<br />

• Definição <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> referência e contra-referência<br />

locais e intermunicipais.<br />

Financiamento das Ações<br />

• Aumento do financiamento pelo estado e pelo<br />

po<strong>de</strong>r público local;<br />

• Prestação <strong>de</strong> contas dos gastos dos Programas<br />

e ONG, trimestralmente, <strong>no</strong>s Conselhos Municipais<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />

• Auto<strong>no</strong>mia na gerência do fundo da saú<strong>de</strong><br />

pela Secretaria Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, com fiscalização<br />

do Conselho Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />

• Auto<strong>no</strong>mia da coor<strong>de</strong>nação do Programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong><br />

e <strong>AIDS</strong>, em relação à utilização das verbas do PAM.<br />

2.4.2.2. Referentes ao Fortalecimento do <strong>Controle</strong><br />

<strong>Social</strong><br />

Com relação ao <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> as proposições<br />

enfatizaram quatro eixos: Composição e<br />

Representativida<strong>de</strong> <strong>no</strong>s Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />

Estrutura e Organização dos Conselhos <strong>de</strong> Saú-<br />

46


<strong>de</strong>; Outras Instâncias <strong>de</strong> <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong>; Ativida<strong>de</strong>s<br />

a serem Realizadas pelos Conselhos<br />

Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CMS).<br />

Composição e Representativida<strong>de</strong> <strong>no</strong>s Conselhos<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

• Garantia da parida<strong>de</strong> <strong>no</strong> CMS, <strong>de</strong> acordo com a<br />

Resolução 333, do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />

• Garantia da livre escolha das entida<strong>de</strong>s que<br />

irão representar os distintos segmentos;<br />

• Mobilização dos movimentos sociais para re<strong>no</strong>vação<br />

dos quadros do conselho;<br />

• Capacitação permanente dos conselheiros;<br />

• Capacitação para conselheiros em fiscalização<br />

e monitoramento dos programas;<br />

• Capacitação dos conselheiros em questões relacionadas<br />

às <strong>DST</strong>s/<strong>AIDS</strong>;<br />

• Promoção da articulação dos conselhos com o<br />

movimento social organizado (Igrejas, Associações<br />

<strong>de</strong> Moradores, Sindicatos etc.);<br />

• Aumento da articulação dos movimentos sociais<br />

que já atuam <strong>no</strong>s conselhos com as suas<br />

bases, para que os conselhos não substituam<br />

sua atuação <strong>no</strong>s movimentos;<br />

• Divulgação do trabalho dos conselhos, facilitando<br />

o acesso às informações referentes aos<br />

conselhos, utilizando a mídia local, rádios comunitários,<br />

seminários, reuniões <strong>de</strong> grupos<br />

<strong>no</strong>s serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> etc.;<br />

• Ampla divulgação das reuniões dos conselhos<br />

e da pauta, utilizando a imprensa local;<br />

• Conhecimento prévio, por parte dos conselheiros,<br />

da pauta da reunião;<br />

• Elaboração <strong>de</strong> um manual básico informativo<br />

para o <strong>no</strong>vo conselheiro (Manual do Conselheiro<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>) <strong>de</strong> acordo com a realida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> cada município;<br />

• Criação <strong>de</strong> um site e um informativo para<br />

divulgação dos atos dos conselhos.<br />

Estrutura e Organização dos Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

• Criação <strong>de</strong> comissão permanente interdisciplinar<br />

<strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong>s conselhos;<br />

• Criação <strong>de</strong> comissão para a construção do Fórum<br />

Regional <strong>de</strong> Conselhos;<br />

• Reformulação da legislação do Conselho Municipal<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />

• Criação <strong>de</strong> ouvidoria <strong>de</strong>ntro do CMS;<br />

• Garantia <strong>de</strong> assessoria técnica e jurídica ao CMS;<br />

• Criação <strong>de</strong> um quadro <strong>de</strong> informes dos conselhos<br />

em cada unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />

• Formulação <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> comunicação<br />

e marketing dos conselhos.<br />

Outras Instâncias <strong>de</strong> <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong><br />

• Criação <strong>de</strong> Conselhos Gestores <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> e<br />

fortalecimento dos já existentes;<br />

• Criação <strong>de</strong> fóruns regionais;<br />

• Acionar o Ministério Público em caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>scumprimento<br />

das <strong>de</strong>liberações;<br />

• Articulação com a comissão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do legislativo;<br />

• Realização <strong>de</strong> pré-conferências (preparação<br />

para conferências, discussão sobre saú<strong>de</strong> e escolha<br />

dos conselheiros);<br />

• Estabelecimento <strong>de</strong> parcerias com outros conselhos:<br />

educação, assistência social, da criança<br />

e do adolescente, do idoso, dos portadores<br />

<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s especiais;<br />

• Maior articulação com o Conselho Estadual<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

Ativida<strong>de</strong>s a serem Realizadas pelos Conselhos<br />

Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

• Fiscalizar a aplicação das verbas <strong>de</strong> acordo com<br />

o PAM e informar ao órgão repassador a má<br />

utilização das verbas;<br />

• Conhecer e acompanhar as pactuações e os repasses<br />

para o FMS;<br />

• Participar do consórcio intermunicipal <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />

• Participar da elaboração do orçamento municipal<br />

para a saú<strong>de</strong> (audiências públicas);<br />

• Participar e influenciar a <strong>de</strong>finição dos tetos<br />

orçamentários dos municípios (nas Bipartites);<br />

• Realizar planejamento estratégico anual para<br />

ações do Conselho Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, com<br />

a participação da população;<br />

47


• Garantir a elaboração e a implantação do<br />

PAM;<br />

• Realizar reuniões <strong>de</strong>scentralizadas dos conselhos<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em todas as suas áreas <strong>de</strong> abrangência;<br />

• Fiscalizar a política <strong>de</strong> Recursos Huma<strong>no</strong>s exigindo<br />

complementação dos quadros (concursos<br />

públicos);<br />

• Rediscutir a legislação que rege os Conselhos<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (estrutura e composição);<br />

• Promover mobilização contra o ato médico.<br />

Quadro-síntese do Diagnóstico Situacional da <strong>AIDS</strong><br />

<strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro – 2005<br />

Situação Geral<br />

(na maioria dos municípios)<br />

Específica<br />

(em alguns municípios)<br />

Estrutura dos Serviços<br />

Mo<strong>de</strong>lo Assistencial<br />

e Programas<br />

Recursos Huma<strong>no</strong>s<br />

Recursos Financeiros<br />

Planejamento<br />

<strong>Controle</strong> <strong>Social</strong><br />

• Hegemonia do setor privado;<br />

• Estrangulamento da atenção <strong>de</strong> média<br />

e alta complexida<strong>de</strong>;<br />

• Insuficiência <strong>de</strong> insumos, medicamentos<br />

e testes para HIV;<br />

• Insuficiência <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> testagem para HIV.<br />

• Falta <strong>de</strong> intersetorialida<strong>de</strong> das ações e programas;<br />

• Inexistência <strong>de</strong> mecanismos efetivos <strong>de</strong><br />

referência e contra-referência local e<br />

intermunicipal;<br />

• Baixa cobertura do PSF;<br />

• Baixa a<strong>de</strong>são ao tratamento;<br />

• Demora na <strong>de</strong>volução dos resultados<br />

para HIV e sífilis.<br />

• Falta <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s e alta rotativida<strong>de</strong>;<br />

• Falta <strong>de</strong> equipes multidisciplinares;<br />

• Não qualificação dos profissionais em <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>;<br />

• Precarização do trabalho, principalmente<br />

dos agentes comunitários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

• Falta <strong>de</strong> recursos;<br />

• Recursos mal distribuídos;<br />

• Forma <strong>de</strong> cálculo do montante a ser<br />

distribuído (critério populacional).<br />

• Sub-<strong>no</strong>tificações <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>, <strong>DST</strong> e <strong>de</strong> sífilis em<br />

gestantes;<br />

• Populações flutuantes;<br />

• Migração <strong>de</strong> casos para outros municípios;<br />

• Dados insuficientes para o planejamento das ações.<br />

• Falta <strong>de</strong> capacitação dos conselheiros;<br />

• Pouca representativida<strong>de</strong> (não se comunicam<br />

com as suas bases);<br />

• Não conhecem as questões relacionadas com a<br />

atenção à <strong>AIDS</strong>;<br />

• Pouca participação dos Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> na<br />

elaboração do PAM.<br />

• Ausência <strong>de</strong> serviços como: laboratório,<br />

CTA, ambulatórios e hospitais <strong>de</strong> referência<br />

para <strong>AIDS</strong>.<br />

• Inexistência <strong>de</strong> programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>;<br />

• Inexistência do PSF;<br />

• Problemas na atenção à saú<strong>de</strong> da mulher<br />

e da criança;<br />

• Problemas <strong>no</strong> controle da tuberculose;<br />

• Ausência <strong>de</strong> ações para <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

químicos.<br />

• Inexistência <strong>de</strong> Fundo <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />

• Teto financeiro insuficiente (município-pólo).<br />

• Inexistência <strong>de</strong> PAM<br />

• Falta <strong>de</strong> parida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro dos conselhos.<br />

48


BIBLIOGRAFIA<br />

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Setembro <strong>de</strong> 1990. Dispõe sobre as condições<br />

para a promoção, proteção e recuperação da saú<strong>de</strong>,<br />

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correspon<strong>de</strong>ntes e trata <strong>de</strong> outras providências.<br />

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da comunida<strong>de</strong> na gestão do Sistema Único<br />

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da saú<strong>de</strong> e trata <strong>de</strong> outras providências. Brasília<br />

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Paraíba. Vassouras - RJ, 2005.<br />

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Brasília - DF: Ministério da Saú<strong>de</strong>, 2005.<br />

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333. Brasília-DF, 2003.<br />

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<strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Boletim<br />

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ABIA na virada do milênio. Rio <strong>de</strong> Janeiro: ABIA,<br />

2001.<br />

PASSARELLI, C. e MAKSUD, I. Políticas públicas <strong>de</strong><br />

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Boletim ABIA. Rio <strong>de</strong> Janeiro, n. 53, ago.2005.<br />

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SANTOS, Mauro Rego Monteiro dos. Conselhos Municipais:<br />

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Editor/ABIA, 1997.<br />

Sites pesquisados:<br />

Centro <strong>de</strong> Informações e Dados do Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

http://www.ci<strong>de</strong>2.rj.gov.br<br />

Departamento <strong>de</strong> Informação e Informática do SUS –<br />

DATASUS: http://www.datasus.gov.br<br />

Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE):<br />

http://www.ibge.gov.br<br />

Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong>: www.aids.gov.br<br />

Secretaria <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: http://www.sau<strong>de</strong>.rj.gov.br<br />

49


ANEXOS<br />

Quadro I - Datas importantes relacionadas à epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> HIV/<strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> Brasil<br />

1980 - Boletim Epi<strong>de</strong>miológico reporta o primeiro<br />

caso <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> Brasil (masculi<strong>no</strong> e <strong>de</strong><br />

transmissão sexual).<br />

1981 - O Boletim Epi<strong>de</strong>miológico do Brasil não reporta<br />

nenhum caso <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>.<br />

1982 - O Boletim Epi<strong>de</strong>miológico reporta 10 casos<br />

<strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>, todos entre homens. 10 óbitos.<br />

1983 - OMS reporta 4.000 casos <strong>no</strong> mundo (Caraíbas<br />

e África).<br />

1983 - Início das respostas não-governamentais.<br />

1983 - Criação em São Paulo, do 1º programa <strong>de</strong><br />

<strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> Brasil (SES/SP).<br />

1985 - Fundação da primeira ONG/<strong>AIDS</strong> –<br />

GAPA/SP.<br />

1985 - Fundação da primeira casa <strong>de</strong> apoio para<br />

pessoas com HIV/<strong>AIDS</strong> – Casa <strong>de</strong> Apoio<br />

Brenda Lee.<br />

1985 - Criação do Programa <strong>de</strong> <strong>Controle</strong> <strong>de</strong> Síndrome<br />

<strong>de</strong> Imu<strong>no</strong><strong>de</strong>ficiência Adquirida – Divisão<br />

Nacional <strong>de</strong> Dermatologia Sanitária – MS.<br />

1986 - Criação da Comissão <strong>de</strong> Assessoramento em<br />

<strong>AIDS</strong>, atual Comissão Nacional <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>.<br />

1986 - A <strong>AIDS</strong> passa a ser uma doença <strong>de</strong> <strong>no</strong>tificação<br />

compulsória.<br />

1986 - Fundação da ABIA.<br />

1988 - Criação do SUS e do COAS-CTA. Início da<br />

distribuição <strong>de</strong> medicamentos para infecções<br />

oportunistas pelo Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

1988 - Primeira campanha do PN/MS (Quem vê<br />

cara não vê <strong>AIDS</strong>).<br />

1989 - 1º Encontro Nacional <strong>de</strong> ONGs/<strong>AIDS</strong> (atual<br />

ENONG).<br />

1989 - Fundação do 1º Grupo Pela Vidda.<br />

1989/90 - Re<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Solidarieda<strong>de</strong> à <strong>AIDS</strong>.<br />

1990 - Fundação do GIV (1º grupo <strong>de</strong> ajuda-mútua<br />

para pessoas soropositivas).<br />

1991 - Realização do 1º Encontro Nacional <strong>de</strong> Pessoas<br />

Vivendo com HIV/<strong>AIDS</strong> (“Vivendo” – RJ).<br />

1991 - Início da distribuição do AZT <strong>no</strong> SUS.<br />

1993 - Assinatura do I Acordo <strong>de</strong> Empréstimo<br />

(<strong>AIDS</strong> I).<br />

1993 - Início da concorrência <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> ONGs<br />

(<strong>de</strong> início centralizadamente, a partir <strong>de</strong><br />

2001 <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>scentralizada para alguns<br />

<strong>Estado</strong>s).<br />

1994 - Criação da Re<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Pessoas HIV+<br />

(RNP+).<br />

1994 - Vigência do <strong>AIDS</strong> I até 1998.<br />

1996 - Distribuição universal <strong>de</strong> medicamentos<br />

para pessoas vivendo com HIV/<strong>AIDS</strong>.<br />

1997 - Criação do Fórum <strong>de</strong> ONGs/<strong>AIDS</strong> do <strong>Estado</strong><br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

1998 - Assinatura do II Acordo <strong>de</strong> Empréstimo com<br />

o Banco Mundial (<strong>AIDS</strong> II).<br />

1999 - Manifestação nacional das ONGs/<strong>AIDS</strong> pedindo<br />

liberação <strong>de</strong> recursos financeiros para<br />

compra <strong>de</strong> medicamentos para <strong>AIDS</strong>.<br />

2000 - Manifestação nacional pedindo a compra <strong>de</strong><br />

anti-retrovirais para o SUS.<br />

2000 - I Concorrência Pública <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong><br />

ONGs <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

2001 - José Serra, ex-Ministro da Saú<strong>de</strong>, ameaça quebrar<br />

a patente dos medicamentos Nelfinavir<br />

(Roche) e Efavirenz (Merck).<br />

2002 - 1º Seminário <strong>de</strong> controle social e <strong>AIDS</strong> (Brasília,<br />

2002).<br />

2002 - Iniciou-se o processo <strong>de</strong> implementação do<br />

Fórum Mercosul <strong>de</strong> ONGs/<strong>AIDS</strong>.<br />

51


2002 - O gover<strong>no</strong> brasileiro assi<strong>no</strong>u a Portaria Ministerial<br />

n o 2.314 que instituiu uma Política<br />

<strong>de</strong> Incentivo para <strong>Estado</strong>s e Municípios<br />

na área <strong>de</strong> <strong>DST</strong> por meio da transferência automática<br />

do Fundo Nacional da Saú<strong>de</strong> para<br />

os fundos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> estaduais e municipais.<br />

2003 - Campanha Fique Sabendo com o objetivo<br />

oferecer gratuitamente à população testes <strong>de</strong><br />

HIV e <strong>DST</strong>s em geral.<br />

2003 - Assinatura do III Acordo com o Banco Mundial<br />

- <strong>AIDS</strong> III<br />

2003 - Publicação do I edital <strong>de</strong> concorrência pública<br />

<strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> ONG pelo recurso da<br />

Lei <strong>de</strong> Incentivo.<br />

2003 - I Conferência Estadual <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong><br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

2004 - 2º Seminário <strong>de</strong> controle social e <strong>AIDS</strong> (Brasília,<br />

2004).<br />

Fontes: Galvão (2002), Teixeira (1997), mídia e outros.<br />

Quadro II - Diretrizes e Priorida<strong>de</strong>s do Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong><br />

Diretrizes:<br />

1. Fortalecer, implementar e ampliar a institucionalização das ações <strong>de</strong> prevenção, promoção e assistência às<br />

<strong>DST</strong>, HIV e <strong>AIDS</strong> na re<strong>de</strong> do SUS, <strong>de</strong> forma integral e equânime, conforme os princípios do SUS.<br />

2. Promover a <strong>de</strong>fesa dos direitos huma<strong>no</strong>s e reduzir o estigma e a discriminação.<br />

Priorida<strong>de</strong>s:<br />

1. Ampliação da cobertura e garantia <strong>de</strong> acesso: a) aos insumos <strong>de</strong> prevenção para a população em geral,<br />

priorizando as populações sob maior risco e vulnerabilida<strong>de</strong>; b) ao diagnóstico para a população em geral,<br />

priorizando gestantes e populações sob maior risco e vulnerabilida<strong>de</strong>; c) universal e gratuito ao tratamento<br />

com ARV, para IO e sífilis; d) à informação sobre <strong>DST</strong> e HIV/<strong>AIDS</strong> para a população em geral;<br />

e) às ações educativas para crianças e adolescentes nas escolas.<br />

2. Redução da transmissão vertical do HIV e sífilis.<br />

3. Redução das ineqüida<strong>de</strong>s regionais <strong>no</strong> que concerne às respostas ao HIV/<strong>AIDS</strong> e sífilis.<br />

4. Ampliação da capacida<strong>de</strong> nacional para produção <strong>de</strong> medicamentos ARV.<br />

5. Instalação da fábrica <strong>de</strong> preservativos.<br />

6. Aprimoramento, ampliação e qualificação da informação sobre <strong>AIDS</strong>, sífilis na gestação e sífilis congênita.<br />

7. Promoção <strong>de</strong> mecanismos para a sustentabilida<strong>de</strong> das ações da socieda<strong>de</strong> civil.<br />

8. Promoção <strong>de</strong> mecanismos para melhoria da qualida<strong>de</strong> do atendimento às pessoas vivendo com HIV/<br />

<strong>AIDS</strong> e outras <strong>DST</strong>s.<br />

9. Aprimoramento <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> gestão que promovam a eficiência das ações e o exercício dos direitos<br />

<strong>de</strong> cidadania.<br />

10. Institucionalização do Monitoramento e da Avaliação como ferramentas para melhoria do programa.<br />

11. Redução da ineqüida<strong>de</strong> racial <strong>no</strong> acesso à informação, ao diagnóstico e ao tratamento.<br />

12. Combate à homofobia e promoção do respeito à diversida<strong>de</strong>.<br />

Fonte: PN <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong> (2006).<br />

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