PolÃticas Públicas de DST/AIDS e Controle Social no Estado ... - Abia
PolÃticas Públicas de DST/AIDS e Controle Social no Estado ... - Abia
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COLEÇÃO ABIA<br />
Políticas Públicas<br />
5<br />
Políticas Públicas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong><br />
e <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> <strong>no</strong><br />
<strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
Capacitando li<strong>de</strong>ranças e promovendo a<br />
sustentabilida<strong>de</strong> das respostas frente à <strong>AIDS</strong><br />
Organizadores<br />
MARIA INÊS BRAVO, FÁTIMA ROCHA,<br />
IVIA MAKSUD E LUCIANA KAMEL
Copyright© by ABIA, 2006<br />
Associação Brasileira Interdisciplinar <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong><br />
- ABIA<br />
Rua da Can<strong>de</strong>lária, 79/10 o andar - Centro<br />
CEP: 20091-020 - Rio <strong>de</strong> Janeiro - RJ<br />
Telefone: (21) 2223-1040 Fax: (21) 2253-8495<br />
E-mail: abia@abiaids.org.br | www.abiaids.org.br<br />
DIRETORIA<br />
Diretor-Presi<strong>de</strong>nte: RICHARD PARKER<br />
Diretora Vice-Presi<strong>de</strong>nte: REGINA MARIA BARBOSA<br />
Secretária Geral: MIRIAM VENTURA<br />
Tesoureiro: JOSÉ LOUREIRO<br />
Coor<strong>de</strong>nação Geral: CRISTINA PIMENTA E VERIANO<br />
TERTO JR.<br />
ORGANIZADORES: Maria Inês Bravo, Fátima Rocha,<br />
Ivia Maksud e Luciana Kamel<br />
EQUIPE DE REDAÇÃO DO RELATÓRIO: Alcinda Maria<br />
Godói, Maria Inês Bravo, Fátima Rocha, Ivia<br />
Maksud, Luciana Kamel, Veria<strong>no</strong> Terto Jr., Cristina<br />
Pimenta, Juliana Souza Bravo <strong>de</strong> Menezes, Maria<br />
Assuncion Sole Plá, Flavia Silvia, Denise Pires,<br />
Michelle Rodrigues <strong>de</strong> Moraes, Rose Santos Pedreira<br />
e Ricardo Salles Mölnar<br />
UERJ – Maria Inês Souza Bravo, Débora <strong>de</strong> Sales<br />
Pereira, Kátia Rodrigues da Silva, Rodrigo <strong>de</strong> Oliveira<br />
Ribeiro, Andréa Gonzaga <strong>de</strong> Oliveira, Rose Santos<br />
Pedreira, Juliana Souza Bravo <strong>de</strong> Menezes, Mariana<br />
Maciel do N. Oliveira, Michelle Rodrigues <strong>de</strong> Moraes,<br />
Carolina <strong>de</strong> Barros Montanha, Elaine Junger Pelaez,<br />
Juliana Fiúza Cislaghi, Matheus Thomaz, Rosane<br />
Santos <strong>de</strong> Carvalho, Rosimere Valentim <strong>de</strong> Souza e<br />
Tássya Moura<br />
SES/RJ – Fátima Rocha, Flavia Silvia e Magda <strong>de</strong><br />
Souza Chagas<br />
CONSULTORES: Roberto Pereira e Maria Cristina<br />
Alvim Castello Branco<br />
RELATORES: Gabriela Andra<strong>de</strong> e André Nunes<br />
REVISÃO DO TEXTO: Ana Arruda Callado<br />
PROJETO GRÁFICO: Wilma Ferraz e Juan Carlos Raxach<br />
DIAGRAMAÇÃO: Estúdio Metara [estudiometara.com.br]<br />
APOIO:<br />
IMPRESSÃO: Gráfica Stamppa<br />
TIRAGEM: 1.000 exemplares<br />
EQUIPE DE TRABALHO DOS SEMINÁRIOS:<br />
ABIA - Carlos Passarelli, Ivia Maksud, Luciana<br />
Kamel, Marclei Guimarães, Ricardo Salles Mölnar e<br />
Cristina Albuquerque<br />
CIP-Brasil. Catalogação na Fonte. Sindicato Nacional dos Editores <strong>de</strong> Livros, RJ.<br />
P829<br />
Políticas públicas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> e controle social <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro : capacitando li<strong>de</strong>ranças e promovendo<br />
a sustentabilida<strong>de</strong> das respostas frente à <strong>AIDS</strong> : relatório integrado / [organizadores Maria Inês Bravo... et al.]. - Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro : ABIA, 2006<br />
il. ; . - (Coleção ABIA. Políticas públicas ; n.5)<br />
Seminários e Grupos <strong>de</strong> Trabalho <strong>de</strong> capacitação, realizados com li<strong>de</strong>ranças comunitárias, conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e<br />
gestores e coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro em 2004 e 2005<br />
Anexo<br />
Inclui bibliografia<br />
ISBN 85-88684-25-X<br />
1. <strong>AIDS</strong> (Doença) - Política governamental - Rio <strong>de</strong> Janeiro (<strong>Estado</strong>). 2. Política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> - Rio <strong>de</strong> Janeiro (<strong>Estado</strong>)<br />
- Participação do cidadão. 3. <strong>AIDS</strong> (Doença) - Política governamental - Brasil. 4. Saú<strong>de</strong> pública - Brasil.<br />
I. Bravo, Maria Inês Souza. II. Associação Brasileira Interdisciplinar <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>. III. Série.<br />
06-1333. CDD 362.196492<br />
CDU 616.98<br />
É permitida a reprodução total ou parcial do artigo <strong>de</strong>sta publicação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que citadas a fonte e os autores.<br />
2
SUMÁRIO<br />
APRESENTAÇÃO 5<br />
PARTE 1 - POLÍTICA DE <strong>AIDS</strong>, FINANCIAMENTO NA SAÚDE E CONTROLE SOCIAL 9<br />
1.1. A Política <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> Brasil 9<br />
1.2. Financiamento na Saú<strong>de</strong> e na Política <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> 13<br />
1.3. <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> na Saú<strong>de</strong> e sua Interface com a Política <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> 18<br />
1.3.1. Consi<strong>de</strong>rações Gerais sobre o <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> na Saú<strong>de</strong> 18<br />
1.3.2. As Interconexões com a Política <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> 19<br />
PARTE 2 - SAÚDE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, POLÍTICA DE <strong>AIDS</strong>,<br />
FINANCIAMENTO E CONTROLE SOCIAL 23<br />
2.1. A Saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro e A Política <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> 23<br />
2.1.1. A Saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 23<br />
2.1.1.1. Breve caracterização do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 23<br />
2.1.1.2. Alguns Indicadores 23<br />
2.1.1.3. Principais Problemas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
e Propostas para o <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 29<br />
2.1.2. A Política <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 33<br />
2.2. Financiamento da Saú<strong>de</strong> e a Política <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 36<br />
2.3. <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 37<br />
2.3.1. Os Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 37<br />
2.3.2. O Perfil dos Conselheiros <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 40<br />
2.3.3. Os Seminários <strong>de</strong> Políticas Públicas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> e <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> 41<br />
2.4. Diagnóstico e Propostas 42<br />
2.4.1. Diagnóstico Situacional da <strong>AIDS</strong> nas<br />
Regiões do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 42<br />
2.4.2. Propostas 45<br />
2.4.2.1. Relacionadas à Prevenção e Assistência às <strong>DST</strong>s/<strong>AIDS</strong> 45<br />
2.4.2.2. Referentes ao Fortalecimento do <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> 46<br />
BIBLIOGRAFIA 49<br />
ANEXOS 51<br />
3
APRESENTAÇÃO<br />
Apolítica mais recente <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização e <strong>de</strong> regionalização das<br />
ações, consubstanciada na Norma Operacional Básica (NOB) 96 e<br />
nas Normas Operacionais <strong>de</strong> Assistência à Saú<strong>de</strong> (NOAS), trouxe<br />
gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios para o Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS). Entre os muitos<br />
<strong>de</strong>safios, <strong>de</strong>staca-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar horizontalida<strong>de</strong> aos programas,<br />
alinhando-os às estratégias da atenção básica. Para o Programa Nacional<br />
<strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong>/Ministério da Saú<strong>de</strong>, esse é o principal <strong>de</strong>safio que se apresenta<br />
<strong>no</strong> momento, tanto nas instâncias estaduais como municipais, o que<br />
traz <strong>no</strong>vas questões para o nível local.<br />
Esses <strong>de</strong>safios não po<strong>de</strong>rão ser enfrentados sem a participação e o<br />
avanço do movimento social, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da epi<strong>de</strong>mia <strong>no</strong> Brasil tem<br />
contribuído <strong>de</strong> modo significativo para a construção da resposta brasileira<br />
à epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>, bem como para a adoção, implementação e aprimoramento<br />
das políticas públicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Porém, é preciso ampliar as conquistas,<br />
introduzindo a questão da <strong>AIDS</strong> em todo o SUS. Para isso, é necessário<br />
o fortalecimento da participação social na saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> um modo geral,<br />
pois só assim o projeto <strong>de</strong> Reforma Sanitária será fortalecido.<br />
É importante ressaltar que o esforço e os avanços acumulados <strong>no</strong>s<br />
últimos a<strong>no</strong>s <strong>no</strong> campo da saú<strong>de</strong> e, em especial, <strong>no</strong> combate ao HIV/<strong>AIDS</strong>,<br />
estão relacionados à construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mais <strong>de</strong>mocrática. Na<br />
saú<strong>de</strong>, as conquistas dizem respeito ao controle popular do uso do dinheiro<br />
público, do fundo <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, à <strong>de</strong>finição das priorida<strong>de</strong>s e à fiscalização<br />
dos serviços com a participação da população. Não é possível avançar nessa<br />
discussão sem incorporar os conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que são as instâncias que<br />
fazem, efetivamente, <strong>no</strong>s termos da lei, o controle social do SUS.<br />
Neste momento em que o SUS é chamado a incorporar em suas ações<br />
e serviços a problemática da <strong>AIDS</strong> e <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> outras questões que<br />
vêm com ela, como as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e os preconceitos, o uso <strong>de</strong> drogas, a<br />
violência, o trabalho com grupos estigmatizados, é preciso que os conselhos<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> estejam preparados para dar as respostas necessárias às <strong>no</strong>vas<br />
questões colocadas.<br />
Nesse contexto, a Associação Brasileira Interdisciplinar <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong><br />
(ABIA) <strong>de</strong>senvolveu um trabalho em parceria com a Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro e com a Universida<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro (UERJ), através do Projeto Políticas Públicas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Serviço <strong>Social</strong>, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> fortalecer a ação dos conselheiros <strong>de</strong><br />
5
saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> reforçar a agenda do movimento social <strong>no</strong> tocante às políticas<br />
públicas voltadas para o HIV/<strong>AIDS</strong>.<br />
Essa parceria teve como objetivos centrais promover a capacitação<br />
dos conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em assuntos relativos à epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> HIV/<strong>AIDS</strong>,<br />
gerar uma articulação entre o movimento social <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> e os conselhos <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> e sensibilizar os gestores locais para a importância da participação e<br />
controle social e para as questões relacionadas ao combate à epi<strong>de</strong>mia.<br />
Em 2004 e 2005, foram <strong>de</strong>senvolvidas ações <strong>de</strong> capacitação (através<br />
<strong>de</strong> seminários e grupos <strong>de</strong> trabalho) com li<strong>de</strong>ranças comunitárias, conselheiros<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, gestores e coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> das<br />
regiões que compõem o <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Esses seminários contaram<br />
com a colaboração do Conselho Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> seus articuladores<br />
regionais. O objetivo <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s foi sensibilizar os atores citados<br />
para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimorar as respostas locais à epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>,<br />
e, principalmente, para ouvir o que os conselheiros têm a dizer sobre essa<br />
temática 1 .<br />
Esses encontros trouxeram como tema a questão do controle social e<br />
<strong>AIDS</strong>, <strong>no</strong> contexto <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> mudança que se encontra em curso e que<br />
tem como <strong>de</strong>safio expandir a cobertura das ações em prevenção e assistência,<br />
<strong>no</strong> quadro do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização e <strong>de</strong> regionalização do SUS.<br />
Os seminários proporcionaram uma rica oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar uma<br />
reflexão coletiva sobre as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalhar a complexida<strong>de</strong> da questão<br />
do HIV/<strong>AIDS</strong>, um momento <strong>de</strong> pensar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, as políticas<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a <strong>de</strong>mocracia participativa e o próprio SUS, bem como <strong>de</strong> buscar<br />
formas efetivas para o enfrentamento dos <strong>de</strong>safios atuais. Representaram a<br />
articulação <strong>de</strong> saberes e <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> diversos atores envolvidos e comprometidos<br />
com o fortalecimento do SUS.<br />
Os resultados que apresentamos neste relatório representam o trabalho<br />
coletivo <strong>de</strong> todos que estiveram presentes às oficinas e aos seminários<br />
regionais ocorridos em 2004 e 2005. Na presente publicação, é feita uma<br />
síntese das principais discussões e propostas oriundas <strong>de</strong>sses encontros que,<br />
embora tenham retratado as especificida<strong>de</strong>s das regiões, o fizeram a partir<br />
<strong>de</strong> um mesmo formato. Inicialmente, faz-se um balanço da situação da <strong>AIDS</strong><br />
<strong>no</strong> país e <strong>no</strong> estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro e uma retrospectiva histórica do<br />
controle social <strong>no</strong> SUS. No contexto <strong>de</strong>ssa discussão, são consi<strong>de</strong>rados temas<br />
relacionados ao papel dos conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, as dificulda<strong>de</strong>s en-<br />
1<br />
Em 2004, foram realizados dois seminários com as regiões Norte e Noroeste Fluminense, dois seminários com as regiões Metropolitana<br />
I, e um seminário com as regiões Metropolitana II, Baixada Litorânea e Serrana. Em 2005, foi realizado um seminário com as<br />
regiões Médio-Paraíba, Centro Sul Fluminense e Baía da Ilha Gran<strong>de</strong>. Os seminários contaram com apoio financeiro da Fundação<br />
Ford, através do projeto Mobilização e Descentralização das Políticas Públicas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>, <strong>de</strong>senvolvido pela ABIA e, <strong>no</strong> caso dos<br />
dois últimos, também com apoio da Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
6
frentadas para o efetivo controle social e são apresentadas propostas <strong>de</strong><br />
ampliação e <strong>de</strong> aprimoramento do controle social, em particular, dos conselhos<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
Esses encontros regionais tiveram ainda como <strong>de</strong>safio i<strong>de</strong>ntificar as<br />
possibilida<strong>de</strong>s e os limites hoje existentes para que as ações <strong>de</strong> controle do<br />
HIV/<strong>AIDS</strong> sejam incorporadas <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização da saú<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>ntro do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> regionalização da atenção, para garantir o acesso integral<br />
e universal, além <strong>de</strong> discutir qual o papel dos conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
nesse processo e como aperfeiçoá-lo. O que é preciso para capacitar a re<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> serviços <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> efetivar a ampliação da cobertura e garantir o<br />
acesso aos insumos <strong>de</strong> prevenção, <strong>de</strong> diagnóstico e <strong>de</strong> tratamento, tanto<br />
para a população geral como para os grupos mais vulneráveis? A partir das<br />
muitas vozes expressas nessa publicação, convidamos os leitores à reflexão<br />
e ao <strong>de</strong>bate para a diminuição das iniqüida<strong>de</strong>s regionais.<br />
Boa leitura a todo(a)s!<br />
Veria<strong>no</strong> Terto Jr. (a) , Fátima Rocha (b) e Maria Inês Souza Bravo (c)<br />
(a)<br />
Coor<strong>de</strong>nador Geral da ABIA.<br />
(b)<br />
Coor<strong>de</strong>nadora da Assessoria <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> – SES/RJ.<br />
(c)<br />
Prof a Adjunta da FSS/UERJ; Coor<strong>de</strong>nadora do Projeto Políticas Públicas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />
7
PARTE 1<br />
POLÍTICA DE <strong>AIDS</strong>,<br />
FINANCIAMENTO NA SAÚDE<br />
E CONTROLE SOCIAL<br />
1.1. A POLÍTICA DE <strong>AIDS</strong> NO BRASIL<br />
Inicialmente, <strong>de</strong>vemos reconhecer que a<br />
<strong>AIDS</strong> não é mais a mesma. Des<strong>de</strong> o seu surgimento,<br />
ocorreram transformações significativas<br />
na epi<strong>de</strong>mia, as quais trouxeram <strong>no</strong>vas questões<br />
a serem pensadas e trabalhadas. Passou-se<br />
<strong>de</strong> uma situação on<strong>de</strong> as pessoas não tinham<br />
perspectiva <strong>de</strong> vida para uma situação em que<br />
po<strong>de</strong>m não só viver com o HIV/<strong>AIDS</strong> mas, também,<br />
ter qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Além disso, a <strong>AIDS</strong><br />
contribuiu para a conquista <strong>de</strong> direitos, ao dar<br />
mais visibilida<strong>de</strong> a certos atores sociais sobre<br />
os quais pesa o preconceito e a discriminação,<br />
como travestis, homens que fazem sexo com homens<br />
e profissionais do sexo.<br />
Des<strong>de</strong> seu início, foram construídas respostas<br />
à epi<strong>de</strong>mia que resultaram em gran<strong>de</strong>s<br />
avanços, não só para as pessoas que vivem com<br />
HIV/<strong>AIDS</strong>, mas, também, para outras áreas da<br />
saú<strong>de</strong>. A epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> fortaleceu o Sistema<br />
Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, com o aporte <strong>de</strong> recursos<br />
que reverteram em benefícios para o sistema<br />
como um todo. A <strong>AIDS</strong> provocou a introdução<br />
<strong>de</strong> formas i<strong>no</strong>vadoras <strong>de</strong> atuação <strong>de</strong>ntro dos serviços<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, como o envolvimento <strong>de</strong> pessoas<br />
que vivem com HIV/<strong>AIDS</strong> e <strong>de</strong> segmentos específicos<br />
da população enquanto agentes ativos<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou multiplicadores <strong>no</strong> trabalho <strong>de</strong><br />
prevenção, além <strong>de</strong> ter promovido uma gran<strong>de</strong><br />
mobilização e organização social que foram fundamentais<br />
para a construção das políticas públicas<br />
em saú<strong>de</strong>.<br />
É preciso lembrar que a base para o sucesso<br />
das iniciativas voltadas para o combate à epi<strong>de</strong>mia<br />
da <strong>AIDS</strong> é a existência do próprio SUS.<br />
Sem ele, não teria sido possível essa resposta.<br />
Ele é o gran<strong>de</strong> diferencial em relação a outros<br />
países, como a Argentina e os países do continente<br />
africa<strong>no</strong>. Os princípios do SUS, <strong>de</strong> acesso<br />
gratuito e universal e da integralida<strong>de</strong> da atenção,<br />
são os esteios da política adotada para a<br />
<strong>AIDS</strong>. É com essa concepção que as ações <strong>de</strong><br />
combate à <strong>AIDS</strong> foram estruturadas. A resposta<br />
brasileira integrou assistência e prevenção,<br />
num momento em que nenhum outro país adotava<br />
esse tipo <strong>de</strong> política. O Brasil, <strong>de</strong> forma<br />
pioneira, comprometeu-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro<br />
9
momento com a assistência, adotando a política<br />
<strong>de</strong> distribuição gratuita e <strong>de</strong> cobertura universal<br />
dos medicamentos antiretrovirais (ARV),<br />
contrariando e <strong>de</strong>safiando o próprio Banco<br />
Mundial, que não acreditava na estratégia econômica<br />
do tratamento das pessoas com HIV/<br />
<strong>AIDS</strong>. Ao adotar a política <strong>de</strong> acesso universal<br />
aos medicamentos, o Brasil foi questionado<br />
quanto a possíveis repercussões negativas <strong>de</strong>ssa<br />
política em âmbito internacional, <strong>no</strong> caso <strong>de</strong><br />
resistência aos antiretrovirais ou <strong>de</strong> baixa a<strong>de</strong>são<br />
ao tratamento. Felizmente, isso não se verificou.<br />
Ao contrário, os resultados da política<br />
adotada foram a diminuição da taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong><br />
e o aumento da sobrevida e da qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> vida dos portadores do HIV.<br />
Daí a importância <strong>de</strong> se trabalhar para o fortalecimento<br />
do SUS, <strong>de</strong>ntro dos preceitos constitucionalmente<br />
<strong>de</strong>finidos da universalida<strong>de</strong> da<br />
atenção, da integralida<strong>de</strong> e da eqüida<strong>de</strong>, pois foram<br />
esses princípios que <strong>no</strong>rtearam as respostas<br />
do País à epi<strong>de</strong>mia da <strong>AIDS</strong>, respostas consi<strong>de</strong>radas<br />
<strong>de</strong> bastante êxito, principalmente quando se<br />
tem por referência as projeções inicialmente feitas<br />
quanto ao avanço da <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> Brasil.<br />
As respostas dadas à epi<strong>de</strong>mia repercutiram<br />
<strong>no</strong> perfil epi<strong>de</strong>miológico da <strong>AIDS</strong>. Inicialmente,<br />
a epi<strong>de</strong>mia atingia com mais intensida<strong>de</strong><br />
grupos populacionais específicos como os<br />
homossexuais masculi<strong>no</strong>s, mulheres profissionais<br />
do sexo e usuários <strong>de</strong> drogas injetáveis, sendo,<br />
naquela época, consi<strong>de</strong>rados como “grupos<br />
<strong>de</strong> risco”. Tal concepção foi muito negativa, tendo<br />
contribuído para o aumento do preconceito<br />
e da discriminação a esses grupos já estigmatizados.<br />
A <strong>AIDS</strong> chegou a ser <strong>de</strong><strong>no</strong>minada <strong>de</strong><br />
“câncer gay”, em clara alusão à associação feita<br />
entre <strong>AIDS</strong> e homossexualida<strong>de</strong>. Nesse período,<br />
havia clara diferenciação na forma como eram<br />
vistas as pessoas infectadas pelo vírus, <strong>de</strong> acordo<br />
com a forma <strong>de</strong> transmissão. Aqueles infectados<br />
pela via das transfusões sangüíneas eram<br />
consi<strong>de</strong>rados “vítimas da <strong>AIDS</strong>”, enquanto os<br />
<strong>de</strong>mais sofriam o peso da crítica social, que os<br />
con<strong>de</strong>nava e responsabilizava pela própria doença.<br />
Esses sofriam uma verda<strong>de</strong>ira con<strong>de</strong>nação e<br />
exclusão social.<br />
Com o passar do tempo, ocorreram mudanças<br />
importantes <strong>no</strong> perfil <strong>de</strong> distribuição dos casos<br />
<strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> Brasil, em gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>correntes<br />
das políticas <strong>de</strong> prevenção adotadas. Observamse<br />
tendências <strong>no</strong> sentido da heterossexualização,<br />
feminização, pauperização e interiorização da epi<strong>de</strong>mia.<br />
A <strong>AIDS</strong> <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser problema apenas para<br />
alguns poucos grupos, passando a atingir indiscriminadamente<br />
a população.<br />
Des<strong>de</strong> 1993, a principal categoria <strong>de</strong> exposição<br />
ao vírus HIV é a sexual e o número <strong>de</strong><br />
casos vem crescendo entre os heterossexuais.<br />
Muito provavelmente, o trabalho <strong>de</strong> prevenção<br />
voltado para os grupos homossexuais e <strong>de</strong> usuários<br />
<strong>de</strong> drogas injetáveis (UDI), realizado <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
o início da epi<strong>de</strong>mia, contribuiu para a redução<br />
da incidência da doença nesses grupos, pela<br />
adoção <strong>de</strong> comportamentos sexuais mais seguros<br />
e pela adoção da política <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> da<strong>no</strong>s<br />
entre os UDI.<br />
Outra tendência importante observada é<br />
a <strong>de</strong> feminização, pois <strong>no</strong> início da epi<strong>de</strong>mia, a<br />
razão masculi<strong>no</strong>/femini<strong>no</strong> chegou a ser <strong>de</strong> 35/1.<br />
Hoje, essa relação baixou para 7/1 e, em alguns<br />
municípios, ela é <strong>de</strong> 1/1, isto é, para cada caso<br />
<strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> em homens há, igualmente, um caso<br />
entre as mulheres.<br />
A epi<strong>de</strong>mia tem-se interiorizado <strong>no</strong> país,<br />
alcançando municípios com me<strong>no</strong>r contingente<br />
populacional e se expandindo para as regiões<br />
Norte e Nor<strong>de</strong>ste, além <strong>de</strong> estar atingindo em<br />
maior proporção as populações <strong>de</strong> me<strong>no</strong>r renda<br />
e <strong>de</strong> me<strong>no</strong>r escolarida<strong>de</strong>. O fator escolarida<strong>de</strong><br />
está intimamente ligado à questão da vulnerabilida<strong>de</strong>,<br />
pois influencia o grau <strong>de</strong> informação<br />
e está fortemente associado às condições <strong>de</strong> vida<br />
da população.<br />
10
A mortalida<strong>de</strong> foi fortemente impactada pela<br />
introdução da terapia ARV, em 1996, apresentando<br />
significativo <strong>de</strong>clínio. Não se po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
vista a importância da terapia antiretroviral na<br />
redução da mortalida<strong>de</strong>, pois qualquer comprometimento<br />
em relação ao tratamento, como interrupção<br />
da distribuição gratuita dos medicamentos<br />
ou pouca a<strong>de</strong>são ao tratamento, po<strong>de</strong> fazer recru<strong>de</strong>scer<br />
a mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>corrente da <strong>AIDS</strong>.<br />
Entre 2000 e 2004, observa-se uma situação<br />
<strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> em relação ao número <strong>de</strong> casos<br />
<strong>no</strong>vos <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>. O <strong>de</strong>safio atual é sair <strong>de</strong>ssa<br />
estabilida<strong>de</strong> e promover uma efetiva redução <strong>no</strong><br />
número <strong>de</strong> casos. Essa tendência <strong>de</strong> estabilização<br />
da epi<strong>de</strong>mia é resultado da combinação <strong>de</strong><br />
diversos fatores que tornaram o programa brasileiro<br />
um dos mais bem sucedidos do mundo,<br />
como a estratégia <strong>de</strong> integrar prevenção e assistência,<br />
a participação direta da socieda<strong>de</strong> civil<br />
e, em particular, das pessoas vivendo com<br />
HIV/<strong>AIDS</strong> e dos segmentos mais vulneráveis da<br />
população.<br />
É <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto que se <strong>de</strong>vem avaliar<br />
as políticas públicas voltadas para a <strong>de</strong>scentralização<br />
das ações <strong>de</strong> combate à <strong>AIDS</strong>, consi<strong>de</strong>rando<br />
como dimensões envolvidas, <strong>de</strong>ntre<br />
outras, a prevenção, a assistência, a promoção<br />
<strong>de</strong> direitos e o <strong>de</strong>senvolvimento institucional.<br />
A prevenção sustenta-se <strong>no</strong> tripé informação,<br />
educação e comunicação. O trabalho <strong>de</strong><br />
prevenção tem como ações prioritárias a disseminação<br />
do uso do preservativo, mediante a garantia<br />
<strong>de</strong> acesso aos preservativos masculi<strong>no</strong>s e<br />
à política <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> da<strong>no</strong>s. Também envolve<br />
a disseminação <strong>de</strong> informação, com a adoção<br />
<strong>de</strong> estratégias diferenciadas que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as<br />
campanhas <strong>de</strong> massa até a educação por pares.<br />
Diversos estudos realizados na população geral<br />
e em populações específicas, como homens que<br />
fazem sexo com homens (HSH), profissionais do<br />
sexo e usuários <strong>de</strong> drogas injetáveis, atestam<br />
mudanças comportamentais importantes a partir<br />
do trabalho <strong>de</strong> prevenção, como o aumento da<br />
adoção <strong>de</strong> práticas mais seguras.<br />
Reconhecemos que houve avanços em termos<br />
da comunicação <strong>de</strong> massa, que, <strong>no</strong> início da<br />
epi<strong>de</strong>mia, foi bastante criticada pelo movimento<br />
social em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> campanhas consi<strong>de</strong>radas<br />
alarmistas e que contribuíam para aumentar o<br />
preconceito. Essas campanhas evoluíram e incorporaram<br />
a preocupação com os direitos huma<strong>no</strong>s<br />
e com a não-estigmatização das populações<br />
mais vulneráveis ou das pessoas que vivem com<br />
o HIV/<strong>AIDS</strong>. No entanto, é preciso aperfeiçoar o<br />
trabalho <strong>de</strong> comunicação e informação, melhorando<br />
as campanhas <strong>de</strong> massa, tornando-as mais<br />
freqüentes e adotando campanhas específicas voltadas<br />
para diferentes públicos.<br />
Em relação ao preservativo masculi<strong>no</strong>, em<br />
que pese as metas <strong>de</strong> ampliação da distribuição<br />
na re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, vivemos uma crise <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sabastecimento em 2004. Isso mostra que há<br />
fragilida<strong>de</strong>s <strong>no</strong> sistema <strong>de</strong> aquisição e <strong>de</strong> distribuição<br />
<strong>de</strong> insumos que precisam ser sanadas,<br />
para que não se comprometam as ações <strong>de</strong>senvolvidas<br />
na ponta da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços. Novamente,<br />
o movimento social teve participação<br />
importante na cobrança <strong>de</strong> medidas por parte<br />
do po<strong>de</strong>r público <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmalizar a<br />
distribuição dos preservativos masculi<strong>no</strong>s.<br />
Em relação às questões da assistência, há<br />
uma série <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios a serem vencidos para dar<br />
conta da universalida<strong>de</strong>, integralida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>scentralização<br />
das ações. Há dificulda<strong>de</strong>s relativas<br />
à internação, à referência e contra-referência,<br />
insuficiência <strong>de</strong> profissionais para aten<strong>de</strong>r<br />
a <strong>de</strong>manda, dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso aos exames <strong>de</strong><br />
média e alta complexida<strong>de</strong>. São apontados como<br />
problemas a reduzida assistência domiciliar, a<br />
dispensação ina<strong>de</strong>quada dos medicamentos em<br />
alguns municípios, a <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> da atenção<br />
ao pré-natal e a baixa qualida<strong>de</strong> do pré-natal<br />
ofertado. Em relação aos locais <strong>de</strong> atendimento<br />
dos serviços <strong>de</strong> atenção aos portadores <strong>de</strong> HIV/<br />
11
<strong>AIDS</strong>, por exemplo, faltam profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
em número suficiente para a <strong>de</strong>manda atualmente<br />
existente. Apesar <strong>de</strong> não haver em todos<br />
os municípios locais <strong>de</strong> atendimento ambulatorial<br />
para os pacientes com HIV/<strong>AIDS</strong>, o gran<strong>de</strong><br />
enfrentamento não é a criação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos serviços<br />
e sim gerar um pacto <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />
entre os municípios <strong>de</strong> cada região para garantir<br />
acesso à assistência ambulatorial a todos os<br />
pacientes, mesmo fora do seu domicílio.<br />
A ampliação da testagem para o HIV é uma<br />
necessida<strong>de</strong>, mas não po<strong>de</strong> ser compulsória. O<br />
teste tem que ser ofertado e os lugares on<strong>de</strong> se<br />
po<strong>de</strong> fazer o teste têm que ser divulgados. Tivemos<br />
avanços importantes em relação ao acesso<br />
da população ao teste anti-HIV. A campanha<br />
“Fique Sabendo”, lançada em 2003, procurou<br />
estimular a testagem na população geral, dando<br />
bastante visibilida<strong>de</strong> ao tema. Mas <strong>de</strong>vemos<br />
questionar até que ponto a re<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
está preparada para respon<strong>de</strong>r a essa <strong>de</strong>manda.<br />
O estímulo à testagem tem que ser precedido<br />
pela criação das condições internas dos serviços<br />
para que respondam a<strong>de</strong>quadamente à <strong>de</strong>manda<br />
gerada. A expansão da cobertura <strong>de</strong> acesso<br />
ao diagnóstico <strong>de</strong>ve ser feita <strong>de</strong> forma a se<br />
garantir o aconselhamento pré e pós-teste, a <strong>de</strong>volução<br />
do resultado em tempo a<strong>de</strong>quado, ações<br />
<strong>de</strong> assistência e <strong>de</strong> acompanhamento dos casos.<br />
Para tanto, é preciso pensar a própria estruturação<br />
dos serviços e a capacitação dos profissionais<br />
para o atendimento às pessoas com HIV/<br />
<strong>AIDS</strong>.<br />
Há questões muito específicas em relação<br />
à <strong>AIDS</strong> para as quais não se tem, ainda, respostas<br />
claras. Com certeza, a <strong>AIDS</strong> envolve aspectos<br />
que não estão presentes quando se lida com<br />
outras doenças <strong>de</strong> interesse para a saú<strong>de</strong> pública,<br />
como é o caso da tuberculose. A forma <strong>de</strong><br />
trabalhar e <strong>de</strong> abordar o paciente é muito diferente.<br />
Exemplo disso é a busca ativa <strong>de</strong> casos e<br />
<strong>de</strong> comunicantes, uma forma tradicionalmente<br />
adotada <strong>de</strong> se trabalhar em saú<strong>de</strong> pública, quando<br />
os serviços têm uma postura ativa <strong>de</strong> ir até a<br />
comunida<strong>de</strong> para fazer o controle da doença. Isso<br />
não se aplica à <strong>AIDS</strong>, pois ela envolve questões<br />
muito sensíveis do ponto <strong>de</strong> vista ético-moral.<br />
As especificida<strong>de</strong>s relacionadas à <strong>AIDS</strong> merecem<br />
uma reflexão mais aprofundada, principalmente,<br />
quando se preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralizar as<br />
ações para toda a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços básicos do<br />
SUS, o que inclui a Saú<strong>de</strong> da Família. É preciso<br />
discutir como incorporar o atendimento aos pacientes<br />
com HIV/<strong>AIDS</strong> à re<strong>de</strong> básica sem que<br />
isso implique perda da qualida<strong>de</strong> da atenção. É<br />
<strong>de</strong>sejável essa ampliação, para uma maior cobertura,<br />
mas isso não po<strong>de</strong> comprometer a prevenção<br />
e a assistência. Também, é preciso refletir<br />
sobre como incorporar a atenção aos pacientes<br />
com HIV/<strong>AIDS</strong> ao Programa Saú<strong>de</strong> da Família<br />
(PSF), pois significa trabalhar com os casos <strong>de</strong>ntro<br />
da comunida<strong>de</strong>.<br />
As casas <strong>de</strong> apoio foram concebidas para<br />
serem um espaço <strong>de</strong> acolhimento temporário<br />
para os pacientes <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>. No entanto, em muitos<br />
casos, tornam-se locais <strong>de</strong> permanência in<strong>de</strong>finida<br />
ou por toda a vida do paciente. O Ministério<br />
da Saú<strong>de</strong> estabeleceu a Portaria 1.824<br />
<strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2004, regulamentando o<br />
financiamento para casas <strong>de</strong> apoio a adultos. Esta<br />
foi uma primeira iniciativa, cujo escopo <strong>de</strong> ação<br />
<strong>de</strong>verá ser ampliado através do suporte financeiro<br />
e técnico <strong>de</strong> outras instâncias, <strong>no</strong>tadamente<br />
da área da assistência social.<br />
As ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> têm que levar em conta<br />
as especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> algumas populações, como<br />
profissionais do sexo e usuários <strong>de</strong> drogas, não<br />
só para efeito das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prevenção, mas<br />
também para o planejamento da assistência. O<br />
horário <strong>de</strong> atendimento das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
por exemplo, po<strong>de</strong> ser um obstáculo ao acesso<br />
<strong>de</strong>ssas pessoas, que têm <strong>de</strong>mandas específicas.<br />
Criar horários alternativos para esses grupos<br />
po<strong>de</strong> ser uma forma <strong>de</strong> se garantir o acesso. É<br />
12
preciso levar em conta as especificida<strong>de</strong>s culturais<br />
tanto <strong>no</strong> trabalho <strong>de</strong> prevenção quanto<br />
<strong>no</strong> <strong>de</strong> assistência.<br />
A área dos direitos está diretamente ligada<br />
ao trabalho das ONGs. As pessoas que vivem<br />
com HIV/<strong>AIDS</strong> têm direito <strong>de</strong> ser felizes,<br />
<strong>de</strong> trabalhar como quaisquer cidadãos, <strong>de</strong> ter<br />
uma vida integrada na família e na socieda<strong>de</strong>.<br />
O trabalho <strong>de</strong> combate à epi<strong>de</strong>mia mostrou que<br />
o controle da transmissão do HIV requer mais<br />
que simplesmente ações <strong>de</strong> prevenção e <strong>de</strong> assistência.<br />
É preciso superar o estigma e o preconceito<br />
e incorporar a luta pela cidadania e<br />
pelos direitos huma<strong>no</strong>s. A socieda<strong>de</strong> civil é parte<br />
imprescindível e o principal ator <strong>de</strong>ssa luta pela<br />
promoção da eqüida<strong>de</strong> e pelos direitos. Foi consensual,<br />
em todos os encontros regionais, a necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> que esses temas sejam tratados <strong>de</strong>ntro<br />
dos conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento institucional é questão-chave<br />
quando se fala em <strong>de</strong>scentralização<br />
da atenção e das ações em relação às <strong>DST</strong>s/<strong>AIDS</strong>.<br />
Qual a capacida<strong>de</strong> da re<strong>de</strong> para realizar a testagem<br />
para o HIV na população usuária dos serviços?<br />
E para promover as ações <strong>de</strong> prevenção e<br />
<strong>de</strong> assistência? A <strong>de</strong>scentralização das ações em<br />
<strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> têm que levar em consi<strong>de</strong>ração que<br />
a capacida<strong>de</strong> dos municípios é muito diferenciada.<br />
Mesmo consi<strong>de</strong>rando que alguns municípios<br />
recebem recursos específicos para serem<br />
aplicados <strong>no</strong> programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>, há problemas<br />
estruturais ligados às re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> serviços<br />
que precisam ser consi<strong>de</strong>rados, como o <strong>de</strong>saparelhamento<br />
das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a falta <strong>de</strong><br />
kits para diagnóstico <strong>de</strong> HIV, a insuficiência<br />
<strong>de</strong> leitos e até, em alguns municípios, a falta <strong>de</strong><br />
hospitais <strong>de</strong> referência. Há, ainda, insuficiência<br />
<strong>de</strong> insumos como os preservativos, principalmente<br />
o femini<strong>no</strong>, o que compromete o acesso<br />
e as ações <strong>de</strong> prevenção. Outra questão relevante<br />
diz respeito aos recursos huma<strong>no</strong>s que, além<br />
<strong>de</strong> serem escassos, muitas vezes possuem baixa<br />
capacitação e pouca atualização nas questões relacionadas<br />
ao HIV/<strong>AIDS</strong>. Há muita resistência<br />
por parte dos profissionais da atenção básica em<br />
prover a assistência aos portadores do HIV/<br />
<strong>AIDS</strong>, encaminhando-os sempre para os serviços<br />
<strong>de</strong> maior complexida<strong>de</strong>.<br />
A qualida<strong>de</strong> e o formato das capacitações<br />
também <strong>de</strong>verão ser repensados, pois apesar da<br />
gran<strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> treinamento existente – <strong>de</strong> julho<br />
<strong>de</strong> 2004 a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2005 foram treinados<br />
cerca <strong>de</strong> 2.500 profissionais pelo Programa<br />
Estadual do Rio – ainda são i<strong>de</strong>ntificados problemas<br />
<strong>no</strong> processo <strong>de</strong> acompanhamento dos pacientes<br />
com HIV/<strong>AIDS</strong>, seja <strong>no</strong> tocante à a<strong>de</strong>são<br />
ao tratamento seja na questão da qualida<strong>de</strong><br />
das prescrições. Há que se ressaltar ainda que<br />
gran<strong>de</strong> parte da assistência está centrada na<br />
atenção médica tradicional <strong>de</strong> vertente mais curativa,<br />
restringindo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um atendimento<br />
mais integral ao paciente.<br />
Quanto à intersetorialida<strong>de</strong>, é outro problema<br />
a ser enfrentado. O PSF constitui, hoje,<br />
uma estratégia <strong>de</strong> atenção básica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>ria,<br />
pela sua inserção na comunida<strong>de</strong>, ter uma<br />
atuação importante quanto à prevenção e à atenção<br />
às pessoas vivendo com o HIV/<strong>AIDS</strong>. No<br />
entanto, não é isso o que se observa na maioria<br />
dos municípios. Em geral há pouca aproximação<br />
entre o PSF e o Programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>. Da mesma<br />
forma, o Programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> não está<br />
articulado com outros programas estratégicos<br />
para a questão da <strong>AIDS</strong>, como o Programa da<br />
Saú<strong>de</strong> da Mulher e o Programa da Tuberculose.<br />
1.2. FINANCIAMENTO NA SAÚDE E NA POLÍTI-<br />
CA DE <strong>AIDS</strong><br />
Com certeza as respostas para as questões<br />
levantadas acima são diversas e bastante complexas.<br />
Uma <strong>de</strong>las, sem dúvida, diz respeito ao<br />
financiamento <strong>de</strong>stinado às ações e aos serviços<br />
13
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. É preciso conhecer quais as fontes <strong>de</strong><br />
financiamento e como ocorre a <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong> recursos<br />
para a saú<strong>de</strong> – o montante e a forma <strong>de</strong><br />
distribuição entre os entes da fe<strong>de</strong>ração.<br />
No Brasil, a principal fonte <strong>de</strong> financiamento<br />
do gasto público em saú<strong>de</strong>, <strong>no</strong> caso da<br />
União, é o orçamento da Segurida<strong>de</strong> <strong>Social</strong>, que<br />
representa 70% do orçamento do setor saú<strong>de</strong>. Os<br />
recursos para a saú<strong>de</strong>, então, são provenientes das<br />
contribuições que inci<strong>de</strong>m sobre o faturamento<br />
(Contribuição para o Financiamento da Segurida<strong>de</strong><br />
<strong>Social</strong> – COFINS) e o lucro líquido das<br />
empresas (Contribuição <strong>Social</strong> sobre o Lucro Líquido<br />
– CSLL), e sobre a movimentação bancária<br />
<strong>de</strong> pessoas físicas (Contribuição Provisória<br />
sobre a Movimentação Financeira – CPMF). Além<br />
<strong>de</strong>sses, a saú<strong>de</strong> recebe recursos fiscais originários<br />
do Tesouro Nacional. Já <strong>no</strong> âmbito dos estados e<br />
dos municípios, o financiamento da saú<strong>de</strong> é proveniente<br />
<strong>de</strong> impostos gerais e das transferências<br />
da União, em geral, via convênio.<br />
O financiamento da saú<strong>de</strong> sempre foi uma<br />
área sujeita a instabilida<strong>de</strong>s, o que <strong>de</strong>ixava o setor<br />
vulnerável a conjunturas econômicas adversas e à<br />
mercê do aporte insuficiente <strong>de</strong> recursos para garantir<br />
a efetivação das políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. A vinculação<br />
<strong>de</strong> receitas para a saú<strong>de</strong> tor<strong>no</strong>u-se uma<br />
ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> luta <strong>no</strong> processo da construção e <strong>de</strong><br />
consolidação do Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS).<br />
Para garantir o aporte <strong>de</strong> recursos estáveis<br />
<strong>no</strong> setor saú<strong>de</strong> e após longa tramitação <strong>no</strong><br />
Congresso Nacional, foi editada a Emenda Constitucional<br />
nº 29, em 13 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2000, a<br />
qual alterou a Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988,<br />
vinculando recursos para o custeio <strong>de</strong> ações e<br />
serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Foram estabelecidos percentuais<br />
mínimos a serem <strong>de</strong>stinados à saú<strong>de</strong> pela<br />
União, <strong>Estado</strong>s e Municípios, o que resultou em<br />
aumento gradual <strong>de</strong> recursos <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s<br />
e maior participação proporcional dos entes estaduais<br />
e, principalmente, municipais <strong>no</strong> custeio<br />
das ações e serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
O cálculo previsto na EC nº 29 é o seguinte:<br />
• Para a União:<br />
a) valor empenhado nas ações e serviços públicos<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> exercício financeiro anterior,<br />
acrescido <strong>de</strong> 5%, para o a<strong>no</strong> 2000;<br />
b) para os quatros a<strong>no</strong>s seguintes, o valor apurado<br />
<strong>no</strong> exercício anterior, corrigido pela variação<br />
<strong>no</strong>minal do Produto Inter<strong>no</strong> Bruto<br />
(PIB). Isso significa, <strong>no</strong> caso da União, um<br />
aumento <strong>de</strong> recursos para a saú<strong>de</strong> equivalente<br />
ao aumento real do PIB mais a inflação do<br />
a<strong>no</strong>, o que mantém a proporção <strong>de</strong> gastos fe<strong>de</strong>rais<br />
em saú<strong>de</strong> em relação ao PIB.<br />
• Para os estados e municípios:<br />
a) os percentuais <strong>de</strong> vinculação estabelecidos<br />
são <strong>de</strong> 12% e 15%, respectivamente, da receita<br />
<strong>de</strong> impostos e das transferências constitucionais,<br />
<strong>de</strong>duzindo-se, para o cálculo da<br />
base vinculável dos estados, as transferências<br />
realizadas para os municípios;<br />
b) para garantir um aumento gradual <strong>de</strong>sses<br />
recursos, os estados começariam com um percentual<br />
mínimo <strong>de</strong> 7%, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2000,<br />
chegando em 2004 a 12% e os municípios<br />
teriam que começar com um investimento<br />
mínimo <strong>no</strong> valor <strong>de</strong> 7% até 15%, em 2004.<br />
No entanto, as regras contidas na EC 29<br />
são transitórias e, a partir <strong>de</strong> 2005, esses recursos<br />
<strong>de</strong>veriam ser revistos por meio da edição <strong>de</strong><br />
uma lei complementar, <strong>de</strong> acordo com o § 3º do<br />
art. 198 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral. Na ausência<br />
<strong>de</strong> tal lei, permanecem valendo as regras estabelecidas<br />
na EC 29.<br />
Apesar dos avanços inequívocos da aprovação<br />
da EC 29, tem ocorrido, sistematicamente,<br />
a burla da aplicação dos recursos mínimos<br />
estabelecidos pela Constituição, tanto por parte<br />
<strong>de</strong> gestores estaduais quanto municipais.<br />
Exemplo <strong>de</strong>ssa prática é o que acontece <strong>no</strong> estado<br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro, com a aprovação das<br />
Leis nº 4.167, <strong>de</strong> 2003 e nº 4.179, <strong>de</strong> 2003, as<br />
14
quais permitem que o orçamento do estado para<br />
a saú<strong>de</strong> financie ações que não dizem respeito à<br />
saú<strong>de</strong> propriamente, como o restaurante popular,<br />
cheque idoso, cheque cidadão. Os recursos<br />
do Fundo Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> estão sendo utilizados<br />
para financiar tais políticas assistencialistas,<br />
com a sua inclusão <strong>no</strong> cálculo do percentual<br />
mínimo exigido pela EC 29. Assim, ficam<br />
comprometidos os recursos <strong>de</strong>stinados à saú<strong>de</strong>,<br />
o que inviabiliza a implementação da política<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do estado. Além disso, a Lei nº 4.179,<br />
<strong>de</strong> 2003, cria um conselho superior ao Conselho<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, do qual o secretário <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> é o<br />
presi<strong>de</strong>nte, o que claramente contraria os dispositivos<br />
legais fe<strong>de</strong>rais, hierarquicamente superiores,<br />
que regulam as instâncias <strong>de</strong> controle<br />
social do SUS.<br />
No sentido <strong>de</strong> coibir os <strong>de</strong>svirtuamentos<br />
observados na aplicação da EC 29, o Conselho<br />
Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CNS) aprovou a Resolução<br />
322, <strong>de</strong> 08 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2003, que apontou algumas<br />
diretrizes a serem seguidas por estados<br />
e municípios. Um dos pontos tratados nessa Resolução<br />
é justamente a <strong>de</strong>finição do que <strong>de</strong>ve<br />
ser consi<strong>de</strong>rado “ações e serviços públicos <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>”, para pôr fim às ma<strong>no</strong>bras dos gestores<br />
<strong>no</strong> cumprimento da EC 29. Ainda assim, essa<br />
prática continua, pois muitos governadores e<br />
prefeitos questionam a legitimida<strong>de</strong> da Resolução<br />
do CNS.<br />
Estão em tramitação <strong>no</strong> Congresso Nacional,<br />
três Projetos <strong>de</strong> Lei Complementar que têm<br />
por objetivo regulamentar o § 3º do Art. 198<br />
da Constituição Fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong>finindo o montante<br />
<strong>de</strong> recursos a ser <strong>de</strong>stinado para ações e serviços<br />
públicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pela União, <strong>Estado</strong>s, Distrito<br />
Fe<strong>de</strong>ral e Municípios, bem como os critérios<br />
<strong>de</strong> rateio e a fiscalização e controle <strong>de</strong>sses recursos.<br />
Além do montante <strong>de</strong> recursos a ser aplicado<br />
em saú<strong>de</strong> pelos entes da Fe<strong>de</strong>ração, tratam<br />
também <strong>de</strong> conceituar o que sejam ações e<br />
serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, na mesma linha das <strong>de</strong>finições<br />
contidas na Resolução do CNS. Com a aprovação<br />
da lei complementar, a observância das<br />
<strong>de</strong>finições do CNS passarão a ser uma exigência<br />
legal. Isso representará um avanço fundamental<br />
<strong>no</strong> campo da saú<strong>de</strong>, pois implicará o<br />
aumento <strong>de</strong> aporte <strong>de</strong> recursos, com um acréscimo<br />
da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> oito a <strong>no</strong>ve bilhões <strong>de</strong> reais<br />
ao a<strong>no</strong> (que significa um valor per capita anual<br />
em saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> 170 a 190 dólares), além <strong>de</strong> acabar<br />
com as controvérsias existentes quanto à aplicação<br />
<strong>de</strong>sses recursos.<br />
A transferência <strong>de</strong> recursos da União para<br />
<strong>Estado</strong>s e Municípios variou ao longo dos a<strong>no</strong>s.<br />
A Lei 8.080, <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1990, estabeleceu<br />
que essa transferência <strong>de</strong>ve ser feita observando-se<br />
os seguintes critérios: 1) perfil <strong>de</strong>mográfico<br />
da região; 2) perfil epi<strong>de</strong>miológico<br />
da população a ser coberta; 3) características<br />
quantitativas e qualitativas da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
na área; 4) <strong>de</strong>sempenho técnico, econômico e<br />
financeiro <strong>no</strong> período anterior; 5) níveis <strong>de</strong><br />
participação do setor saú<strong>de</strong> <strong>no</strong>s orçamentos estaduais<br />
e municipais; 6) previsão do pla<strong>no</strong> qüinqüenal<br />
<strong>de</strong> investimentos da re<strong>de</strong> e 7) ressarcimento<br />
do atendimento a serviços prestados para<br />
outras esferas <strong>de</strong> gover<strong>no</strong>. Meta<strong>de</strong> dos recursos<br />
a serem transferidos <strong>de</strong>ve ser distribuída pelo<br />
critério populacional.<br />
A Lei 8.142, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1990,<br />
regula em maior <strong>de</strong>talhe as transferências intergovernamentais.<br />
Define que os recursos para<br />
a cobertura <strong>de</strong> ações e serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> a serem<br />
implementados pelos estados e municípios <strong>de</strong>verão<br />
ser repassados <strong>de</strong> forma regular e automática,<br />
cabendo 70% <strong>de</strong>les aos municípios e o<br />
restante aos estados. Para tanto, os entes da<br />
Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong>verão ter constituídos Fundo <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong>, Conselho <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, contrapartida<br />
orçamentária, relatórios <strong>de</strong> gestão e<br />
Comissão para elaboração <strong>de</strong> Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Carreira,<br />
Cargos e Salários (PCCS). No entanto, muitas<br />
<strong>de</strong>ssas exigências não são cumpridas ou o são<br />
15
meramente para efeitos <strong>de</strong> atendimento ao requisito<br />
legal, como é o caso da criação do Fundo<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns municípios, conforme relatado<br />
pelos participantes durante os seminários.<br />
O Ministério da Saú<strong>de</strong>, <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s,<br />
editou uma série <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmas regulando a transferência<br />
<strong>de</strong> recursos para estados e municípios. A<br />
Norma Operacional Básica (NOB) 01/93 buscou<br />
promover a gestão <strong>de</strong>scentralizada do setor saú<strong>de</strong>,<br />
criando três categorias <strong>de</strong> gestão municipal<br />
e estadual: incipiente, parcial e semi-plena. Para<br />
cada categoria <strong>de</strong> gestão são diferentes o grau <strong>de</strong><br />
auto<strong>no</strong>mia dos entes na gestão dos sistemas <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> e a forma <strong>de</strong> repasse dos recursos pela<br />
União. Os entes da Fe<strong>de</strong>ração que não estivessem<br />
habilitados em qualquer das formas <strong>de</strong> gestão<br />
continuariam sendo tratados como prestadores<br />
<strong>de</strong> serviços. Essa <strong>no</strong>rma introduziu a forma<br />
<strong>de</strong> transferência fundo a fundo para os municípios<br />
e estados em gestão semi-plena, pela qual<br />
eles se responsabilizariam integralmente pela<br />
gestão da prestação da assistência.<br />
Apesar dos avanços que essa <strong>no</strong>rma trouxe,<br />
algumas dificulda<strong>de</strong>s foram encontradas: a<br />
<strong>de</strong>scentralização e a transferência dos recursos<br />
fundo a fundo foram mais lentas do que o esperado,<br />
atingindo somente 144 municípios e nenhum<br />
estado; a transferência fundo a fundo limitou-se<br />
à área da assistência (as <strong>de</strong>mais continuaram sendo<br />
através <strong>de</strong> convênios); a avaliação do <strong>de</strong>sempenho<br />
na utilização dos recursos ficou restrita<br />
ao quantitativo <strong>de</strong> procedimentos efetuados,<br />
não representando nenhum salto <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />
na consolidação do SUS. Assim, a gran<strong>de</strong> maioria<br />
dos municípios continuava com o papel <strong>de</strong><br />
meros prestadores <strong>de</strong> serviço.<br />
Para superar os limites da NOB O1/93,<br />
foi editada a NOB 01/96, que criou <strong>no</strong>vos instrumentos<br />
<strong>de</strong> ação e garantiu maior auto<strong>no</strong>mia<br />
aos estados e municípios, aprofundando o processo<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização. Essa <strong>no</strong>rma introduziu<br />
a Programação Pactuada e Integrada (PPI),<br />
a ser estabelecida nas instâncias <strong>de</strong> pactuação<br />
constituídas pelas Comissões Intergestoras Bipartite<br />
e Tripartite e que <strong>de</strong>veriam ser submetidas<br />
aos Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> para sua aprovação.<br />
A NOB 01/96 proporcio<strong>no</strong>u mudanças na<br />
organização dos sistemas locais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, criando<br />
duas formas <strong>de</strong> gestão municipal: a Gestão<br />
Plena da Assistência Básica <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e a<br />
Gestão Plena do Sistema Municipal. A primeira<br />
propõe aumento <strong>de</strong> auto<strong>no</strong>mia do município<br />
na assistência <strong>de</strong> atenção básica <strong>no</strong> seu território.<br />
A segunda, além da atenção básica, permite<br />
que os municípios sejam responsáveis pela<br />
atenção <strong>de</strong> média e alta complexida<strong>de</strong>. Para os<br />
estados foram criadas outras duas formas <strong>de</strong><br />
gestão: a Gestão Avançada do Sistema Estadual<br />
e a Gestão Plena do Sistema Estadual.<br />
Foi instituído o Piso da Atenção Básica<br />
(PAB), com dois componentes: 1) PAB fixo, cujo<br />
repasse é realizado com base em um valor per<br />
capita, <strong>de</strong> acordo com dados populacionais do<br />
Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística<br />
(IBGE), e 2) PAB variável, <strong>de</strong>stinado aos Programas<br />
<strong>de</strong> Agentes Comunitários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> da Família e <strong>de</strong> Combate às Carências<br />
Nutricionais, além <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica<br />
e Sanitária e <strong>de</strong> Atenção Farmacêutica<br />
Básica. O valor per capita inicialmente<br />
adotado para o cálculo do PAB fixo foi <strong>de</strong> R$<br />
10,00/habitante/a<strong>no</strong>. Além disso, criaram-se<br />
diversos tetos financeiros (da assistência, da vigilância<br />
epi<strong>de</strong>miológica e sanitária), os quais<br />
<strong>de</strong>veriam ser discutidos e <strong>de</strong>finidos nas instâncias<br />
<strong>de</strong> pactuação, pelos gestores.<br />
A habilitação dos municípios, <strong>de</strong> acordo<br />
com os critérios da NOB 1/96, foi surpreen<strong>de</strong>nte:<br />
90,85% dos municípios habilitaram-se em<br />
alguma das modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gestão, sendo 4.553<br />
na Gestão Plena da Assistência Básica <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
e 449 na Gestão Plena do Sistema Municipal.<br />
Em 1998, apenas 504 municípios não estavam<br />
habilitados em nenhuma condição. No estado<br />
16
do Rio <strong>de</strong> Janeiro, com 92 municípios, em<br />
1998, 72 municípios estavam habilitados na<br />
condição plena <strong>de</strong> assistência básica e 12 habilitados<br />
na condição do sistema municipal, totalizando<br />
84 municípios habilitados.<br />
Em 2001 e 2002, foram editadas, respectivamente,<br />
as Normas Operacionais <strong>de</strong> Assistência<br />
à Saú<strong>de</strong>, a NOAS 01/01 e a NOAS 01/02,<br />
que buscaram aprofundar o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização<br />
e <strong>de</strong> regionalização da saú<strong>de</strong>. Em linhas<br />
gerais, essas <strong>no</strong>rmas ampliam as responsabilida<strong>de</strong>s<br />
municipais com relação à atenção<br />
básica e dão ênfase à criação <strong>de</strong> distritos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
e microrregiões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Foi instituído o<br />
Pla<strong>no</strong> Diretor <strong>de</strong> Regionalização (PDR), o qual<br />
<strong>de</strong>ve ser um instrumento <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento do<br />
processo <strong>de</strong> regionalização da assistência em<br />
cada estado e <strong>no</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral.<br />
Todas essas <strong>no</strong>rmas trouxeram contribuições<br />
que resultaram, <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, conforme os<br />
dados sobre os montantes transferidos pela União<br />
<strong>de</strong>monstram, em uma forte tendência à <strong>de</strong>scentralização<br />
dos recursos e das ações, principalmente<br />
para a esfera municipal, que passou <strong>de</strong> 2,3<br />
bilhões, em 1996, para 7,6 bilhões, em 2000. O<br />
aumento da auto<strong>no</strong>mia na gestão dos sistemas <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> locais também é observado. O pagamento<br />
feito pelo Ministério da Saú<strong>de</strong> diretamente aos<br />
prestadores <strong>de</strong> serviços privados conveniados reduziu-se<br />
drasticamente <strong>no</strong> mesmo período.<br />
Apesar dos significativos avanços, ainda há<br />
muito o que aperfeiçoar para garantir a <strong>de</strong>scentralização<br />
<strong>de</strong> recursos com auto<strong>no</strong>mia <strong>de</strong> gestão.<br />
Não resta dúvida que houve uma tendência crescente<br />
<strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> recursos da União às<br />
<strong>de</strong>mais esferas, mas elas ocorreram com a vinculação<br />
<strong>de</strong>sses recursos a rubricas específicas. Isso limita<br />
a gestão local dos recursos, fazendo com que<br />
sejam aplicados <strong>de</strong> acordo com a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />
priorida<strong>de</strong>s estabelecida pelo nível fe<strong>de</strong>ral.<br />
Em relação à <strong>AIDS</strong>, a principal fonte <strong>de</strong><br />
financiamento foram os acordos <strong>de</strong> empréstimos<br />
negociados com o Banco Mundial, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
1993, quando se instituiu o <strong>AIDS</strong> I. Este foi<br />
um marco importante, pois com recursos oriundos<br />
<strong>de</strong>sse acordo foi garantido o repasse para os<br />
estados e para ONGs. Nessa época, já havia <strong>de</strong>scentralização<br />
para os estados, os quais tinham<br />
que elaborar os pla<strong>no</strong>s operativos anuais (POA).<br />
Logo <strong>de</strong>pois, em 1998, foi assinado o <strong>AIDS</strong> II,<br />
e em 2003 foi assinado o <strong>AIDS</strong> III.<br />
No final <strong>de</strong> 2002, foi aprovada a portaria<br />
nacional GM n° 2.313 que instituída a Política<br />
<strong>de</strong> Incentivos, para garantir a execução<br />
<strong>de</strong> ações em <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> que não estavam contempladas<br />
<strong>no</strong>s mecanismos regulares <strong>de</strong> financiamento<br />
do SUS, especialmente aquelas <strong>de</strong>senvolvidas<br />
por Organizações da Socieda<strong>de</strong><br />
Civil. Com o incentivo, o repasse para estados<br />
e municípios passou a ser por transferência<br />
automática fundo a fundo e não mais por meio<br />
<strong>de</strong> convênio.<br />
No entanto, o financiamento via Política<br />
<strong>de</strong> Incentivos ainda não inclui todos os municípios,<br />
mas apenas aqueles que preenchem<br />
certos critérios e requisitos. Os critérios para<br />
recebimento do incentivo são: o perfil epi<strong>de</strong>miológico;<br />
a base populacional; a capacida<strong>de</strong> instalada<br />
e a capacida<strong>de</strong> gerencial; e os requisitos<br />
são a existência do Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Ação <strong>de</strong> Metas<br />
(PAM) e a contrapartida do município, que <strong>de</strong>ve<br />
ser <strong>de</strong> pelo me<strong>no</strong>s 25%. A <strong>no</strong>va política procura<br />
estimular a gestão dos recursos focalizada em<br />
ações e em metas estratégicas, pactuadas em instâncias<br />
colegiadas do SUS.<br />
É necessário ampliar e consolidar a resposta<br />
nacional à epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>, garantindo<br />
a transparência e o fluxo contínuo dos<br />
recursos para os programas estaduais e municipais<br />
por meio <strong>de</strong> repasse fundo a fundo. A meta<br />
é ampliar o número <strong>de</strong> municípios aptos a receber<br />
os incentivos, pois com isso mais municípios<br />
po<strong>de</strong>rão incorporar as ações <strong>de</strong> controle da epi<strong>de</strong>mia<br />
em sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços.<br />
17
1.3. CONTROLE SOCIAL NA SAÚDE E SUA IN-<br />
TERFACE COM A POLÍTICA DE <strong>AIDS</strong><br />
1.3.1. Consi<strong>de</strong>rações Gerais sobre o <strong>Controle</strong><br />
<strong>Social</strong> na Saú<strong>de</strong> 2<br />
A socieda<strong>de</strong> brasileira, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 80, ao<br />
mesmo tempo em que vivenciou um processo<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização política superando o regime<br />
ditatorial instaurado em 1964, experimentou<br />
uma profunda e prolongada crise econômica<br />
que persiste até os dias atuais.<br />
As <strong>de</strong>cepções com a transição <strong>de</strong>mocrática<br />
ocorreram, principalmente, com seu giro<br />
conservador após 1988, não se traduzindo em<br />
ganhos materiais para a massa da população.<br />
Um aspecto importante a ser ressaltado, nesse<br />
período, foi o processo constituinte e a promulgação<br />
da Constituição <strong>de</strong> 1988, que representou,<br />
<strong>no</strong> pla<strong>no</strong> jurídico, a promessa <strong>de</strong> afirmação e extensão<br />
dos direitos sociais em <strong>no</strong>sso país frente à<br />
grave crise e às <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> enfrentamento dos<br />
e<strong>no</strong>rmes índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social.<br />
A Constituição Fe<strong>de</strong>ral introduziu avanços<br />
que buscaram corrigir as históricas injustiças<br />
sociais acumuladas secularmente, a incapacida<strong>de</strong><br />
brasileira <strong>de</strong> universalizar direitos tendo em<br />
vista a longa tradição das classes dominantes <strong>de</strong><br />
privatizar a coisa pública.<br />
Com relação à <strong>de</strong>scentralização do po<strong>de</strong>r<br />
fe<strong>de</strong>ral e da <strong>de</strong>mocratização das políticas públicas,<br />
importantes dispositivos foram <strong>de</strong>finidos <strong>no</strong><br />
sentido da criação <strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo pacto fe<strong>de</strong>rativo,<br />
sendo o município reconhecido como ente autô<strong>no</strong>mo<br />
da fe<strong>de</strong>ração, transferindo-se para o âmbito<br />
local <strong>no</strong>vas competências e recursos públicos<br />
capazes <strong>de</strong> fortalecer o controle social e a participação<br />
da socieda<strong>de</strong> civil nas <strong>de</strong>cisões políticas.<br />
2<br />
Parte do texto elaborado por BRAVO, M. I. S. Participação<br />
<strong>Social</strong> e <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong>, In: Capacitação para conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>:<br />
textos <strong>de</strong> apoio. Rio <strong>de</strong> Janeiro: UERJ, NAPE, 2001.<br />
A participação é concebida como a gestão<br />
das políticas através do planejamento e fiscalização<br />
pela socieda<strong>de</strong> civil organizada. Ou seja,<br />
a interferência política das entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong><br />
civil em órgãos, agências ou serviços do<br />
<strong>Estado</strong> responsáveis pela elaboração e gestão das<br />
políticas públicas na área social. Os Conselhos<br />
<strong>de</strong> Políticas Sociais e <strong>de</strong> Direitos são i<strong>no</strong>vações<br />
ao nível da gestão das políticas sociais que procuram<br />
estabelecer <strong>no</strong>vas bases <strong>de</strong> relação <strong>Estado</strong><br />
– Socieda<strong>de</strong>.<br />
Historicamente, a categoria controle social<br />
foi entendida apenas como controle do <strong>Estado</strong><br />
ou do empresariado sobre as massas. É essa concepção<br />
que quase sempre é usada na Sociologia<br />
para o controle social, ou seja, <strong>no</strong> seu sentido coercitivo<br />
sobre a população. Entretanto, o sentido<br />
<strong>de</strong> controle social inscrito na Constituição é<br />
o da participação da população na elaboração,<br />
implementação e fiscalização das políticas sociais.<br />
Esta última concepção <strong>de</strong> controle social tem<br />
como marco o processo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização da<br />
socieda<strong>de</strong> brasileira com o aprofundamento do<br />
<strong>de</strong>bate referente à <strong>de</strong>mocracia.<br />
O <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> na Saú<strong>de</strong> é um direito<br />
conquistado na Constituição <strong>de</strong> 1988, como forma<br />
<strong>de</strong> assegurar que o <strong>Estado</strong> atue em função<br />
da socieda<strong>de</strong>. Os Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Conferências<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> são espaços <strong>de</strong> participação da<br />
socieda<strong>de</strong> civil organizada na gestão da política<br />
pública do setor. São órgãos colegiados, garantidos<br />
pela Lei Orgânica da Saú<strong>de</strong> (LOS), <strong>de</strong><br />
caráter permanente e <strong>de</strong>liberativo, que têm a<br />
finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elaborar, formular, implementar,<br />
avaliar e fiscalizar as políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo<br />
com o interesse público.<br />
As atribuições da maioria dos Conselhos estão<br />
<strong>de</strong> acordo com a legislação do SUS. Dentre as<br />
mais importantes atribuições dos Conselhos estão:<br />
o estabelecimento <strong>de</strong> parâmetros para a Política<br />
<strong>de</strong> Recursos Huma<strong>no</strong>s, o estímulo à formação<br />
<strong>de</strong> Conselhos Gestores <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e a<br />
18
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>liberar sobre as propostas <strong>de</strong> orçamento<br />
das Secretarias Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />
Além <strong>de</strong>stes espaços garantidos em lei, há<br />
alguns órgãos que <strong>de</strong>vem ser parceiros na luta<br />
pela saú<strong>de</strong>, tais como: o Ministério Público, que<br />
atua como um advogado da socieda<strong>de</strong>; órgãos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>fesa do consumidor, como o PROCON, espaço<br />
para <strong>de</strong>nunciar o mau atendimento <strong>no</strong>s postos<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou hospitais e as condições precárias <strong>de</strong><br />
funcionamento dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; Conselhos<br />
Regionais Profissionais, para <strong>de</strong>núncias quanto<br />
ao mau atendimento e abusos ou equívocos da<br />
imprensa (empresarial e alternativa).<br />
1.3.2. As Interconexões com a Política <strong>de</strong><br />
<strong>AIDS</strong><br />
Des<strong>de</strong> o surgimento do primeiro caso <strong>de</strong><br />
<strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> Brasil, <strong>no</strong> início da década <strong>de</strong> 80,<br />
organizações da socieda<strong>de</strong> civil e movimentos<br />
sociais estiveram presentes na cena pública, reivindicando<br />
do setor saú<strong>de</strong> uma resposta institucional<br />
à epi<strong>de</strong>mia e mobilizando diferentes<br />
formadores <strong>de</strong> opinião contra o preconceito e a<br />
discriminação. O início das respostas governamentais<br />
à epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> data do a<strong>no</strong> <strong>de</strong><br />
1983, com a constituição do primeiro programa<br />
governamental <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>, <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> <strong>de</strong><br />
São Paulo, em função da pressão e mobilização<br />
<strong>de</strong> grupos gays a partir do aparecimento dos<br />
primeiros casos da doença 3 . Ao se discutir o<br />
controle social das políticas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> Brasil,<br />
<strong>de</strong>ve-se mencionar a existência <strong>de</strong> interconexões<br />
na trajetória <strong>de</strong> luta dos movimentos sociais <strong>no</strong><br />
campo da reforma sanitária e <strong>no</strong> campo da <strong>AIDS</strong>.<br />
O movimento sanitário surge como um movimento<br />
que engloba intelectuais, estudantes e<br />
profissionais do setor saú<strong>de</strong> engajados <strong>no</strong> projeto<br />
<strong>de</strong> reforma do setor saú<strong>de</strong> na sua concepção<br />
ampla. A saú<strong>de</strong> é entendida como melhores<br />
3<br />
Ver Teixeira (1997), por exemplo.<br />
condições <strong>de</strong> vida e trabalho. Posteriormente,<br />
este movimento vai estabelecer relações com os<br />
movimentos sociais organizados.<br />
O movimento social da <strong>AIDS</strong> trouxe para<br />
a cena da reforma sanitária outras questões, ampliando<br />
a dimensão política. A solidarieda<strong>de</strong>, a<br />
cidadania e os direitos huma<strong>no</strong>s passaram a compor<br />
a agenda <strong>de</strong> grupos organizados que lutavam<br />
pelos direitos das populações mais vulneráveis<br />
à epi<strong>de</strong>mia, entre os quais os homens que<br />
fazem sexo com homens, profissionais do sexo e<br />
usuários <strong>de</strong> drogas injetáveis. Essa característica<br />
tor<strong>no</strong>u-se o diferencial <strong>de</strong>sse movimento e<br />
<strong>de</strong>limitou o campo <strong>de</strong> intervenção da socieda<strong>de</strong><br />
civil <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 80. Um movimento que combinava<br />
diferentes estratégias <strong>de</strong> ação coletiva e<br />
<strong>de</strong> controle social, sem participar diretamente<br />
dos fóruns e espaços institucionais relacionados<br />
com a reforma sanitária, mas afinado com o<br />
processo político <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização do país 4 .<br />
Esse ponto foi bastante enfatizado <strong>no</strong>s encontros<br />
regionais como uma referência importante<br />
que caracterizou o campo <strong>de</strong> ação da socieda<strong>de</strong><br />
civil e que <strong>no</strong>rteou a criação das primeiras<br />
organizações não-governamentais <strong>de</strong> luta contra<br />
a <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> país. Como ilustração, po<strong>de</strong>-se<br />
lembrar que a primeira organização da socieda<strong>de</strong><br />
civil que surge, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 80, é uma instituição<br />
que mobiliza as pessoas que vivem com<br />
HIV/<strong>AIDS</strong> e familiares, o Grupo <strong>de</strong> Apoio e Prevenção<br />
à <strong>AIDS</strong> <strong>de</strong> São Paulo (GAPA), em 1985.<br />
Um a<strong>no</strong> <strong>de</strong>pois, é criada a Associação Brasileira<br />
Interdisciplinar <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> (ABIA) 5 . Em 1987,<br />
surge o GAPA/RJ e em 1989, os Grupos Pela<br />
4<br />
A década <strong>de</strong> 80 foi marcada por muitas manifestações, como<br />
campanhas contra a comercialização do sangue <strong>no</strong> Brasil, contra a<br />
discriminação <strong>de</strong> trabalhadores soropositivos e pela solidarieda<strong>de</strong>.<br />
5<br />
A ABIA reuniu em sua formação ativistas, intelectuais, profissionais<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e artistas, li<strong>de</strong>rados pelo sociólogo Herbet <strong>de</strong><br />
Souza, o Betinho, e pelo escritor Herbert Daniel, <strong>de</strong>ntre outros<br />
que partiam da concepção <strong>de</strong> que a <strong>AIDS</strong> não era apenas uma<br />
doença e/ou questão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mas um problema político e<br />
cultural que requeria respostas <strong>de</strong> vários setores da socieda<strong>de</strong>.<br />
19
Valorização, Integração e Dignida<strong>de</strong> do Doente<br />
<strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> (Pela Vidda) do Rio <strong>de</strong> Janeiro e <strong>de</strong><br />
São Paulo, e também é realizado o primeiro Fórum<br />
Nacional das ONGs/<strong>AIDS</strong> do país.<br />
É importante <strong>de</strong>stacar que o movimento<br />
pela reforma sanitária, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 80, é marcado<br />
por um conjunto <strong>de</strong> ações e iniciativas institucionais<br />
que visavam à reestruturação da Saú<strong>de</strong><br />
Pública do país. O mo<strong>de</strong>lo assistencial hegemônico<br />
era constituído por duas linhas <strong>de</strong> ação que<br />
coexistiam: a primeira, centrada na assistência<br />
hospitalar e curativa <strong>de</strong> cunho individual, ofertada<br />
pelo INAMPS para a população que contribuía<br />
para a previdência; a segunda, baseada<br />
na atenção coletiva voltada para o controle <strong>de</strong><br />
en<strong>de</strong>mias e epi<strong>de</strong>mias, mediante ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
campanhas, ofertada pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>.<br />
Esse mo<strong>de</strong>lo não atendia às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s parcelas da população, como os<br />
trabalhadores rurais, os trabalhadores informais<br />
e as camadas pobres, os quais tinham que recorrer<br />
à filantropia. A saú<strong>de</strong> não se constituía<br />
como direito <strong>de</strong> cidadania.<br />
A discussão sobre essas questões foi polarizada<br />
em duas vertentes antagônicas: 1) mo<strong>de</strong>lo<br />
seletivo <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong>, privada e corporativa,<br />
com ênfase <strong>no</strong> acesso aos serviços<br />
mediante convênios e seguros com empresas ou<br />
setor financeiro e 2) mo<strong>de</strong>lo assistencial público<br />
e unificado, <strong>de</strong> acesso universal, <strong>de</strong>scentralizado<br />
e hierarquizado.<br />
O <strong>de</strong>bate que envolveu as duas vertentes<br />
<strong>no</strong> âmbito do processo <strong>de</strong> reforma constitucional<br />
(1988) resultou em uma gran<strong>de</strong> conquista<br />
em termos do direito à saú<strong>de</strong>, pois foi criado o<br />
Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, nas bases do que o movimento<br />
sanitário propugnava: universal, gratuito<br />
e integral, mas abriu-se a possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> participação do setor privado, ainda que <strong>de</strong><br />
forma complementar. A edição da Lei nº 8.080,<br />
<strong>de</strong> 1990, corrobora e explicita as bases <strong>de</strong>sse<br />
<strong>no</strong>vo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong>.<br />
Convém salientar que a vitória do movimento<br />
sanitário foi sendo interceptada <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s<br />
90 pela política neoliberal <strong>de</strong> ajuste econômico.<br />
A aplicação <strong>de</strong> medidas conservadoras para a contenção<br />
do gasto público e da inflação provocou<br />
efeitos diretos <strong>no</strong> setor saú<strong>de</strong>, com a redução dos<br />
investimentos e com o sucateamento da re<strong>de</strong>. Os<br />
problemas relacionados com o financiamento público<br />
do setor comprometem o sistema e colocam<br />
em risco os princípios da universalida<strong>de</strong> e<br />
da integralida<strong>de</strong> da atenção, gerando um tipo<br />
<strong>de</strong> universalida<strong>de</strong> exclu<strong>de</strong>nte 6 , vinculado a um<br />
projeto privatizante. Assim, são fomentados os<br />
pla<strong>no</strong>s e seguros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> privados. Outra forma<br />
<strong>de</strong> expressão <strong>de</strong>ssa universalização exclu<strong>de</strong>nte são<br />
as estratégias alternativas, propostas em face do<br />
pouco investimento <strong>de</strong> recursos públicos para a<br />
saú<strong>de</strong>, bem como a adoção <strong>de</strong> políticas sociais<br />
focalizadas e seletivas mediante financiamentos<br />
exter<strong>no</strong>s. A garantia da saú<strong>de</strong> como direito passa<br />
pelo fortalecimento da participação popular e<br />
essa participação tem que ser aprofundada em<br />
todos os níveis <strong>no</strong> espaço dos conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
como também pelos movimentos sociais em<br />
<strong>de</strong>fesa da saú<strong>de</strong>.<br />
Dennis Altman 7 , ao estudar as respostas<br />
organizacionais e culturais à <strong>AIDS</strong>, faz menção<br />
a uma passagem que ilustra muito bem essa situação.<br />
Segundo o autor, “a década na qual a<br />
<strong>AIDS</strong> foi reconhecida, conceitualizada e <strong>no</strong>meada foi<br />
uma década na qual o mundo oci<strong>de</strong>ntal estava passando<br />
pelas racionalizações econômicas <strong>de</strong> Reagan e<br />
Thatcher”. E completa seu argumento: “Se a epi<strong>de</strong>mia<br />
se <strong>de</strong>senvolveu em um mundo <strong>de</strong> ajustes estruturais<br />
e privatizações, ela também se <strong>de</strong>senvolveu em<br />
um mundo <strong>no</strong> qual o feminismo e a afirmação da ho-<br />
6<br />
Bravo, Maria Inês Souza. Notas <strong>de</strong> Relatoria do Seminário <strong>de</strong><br />
Política Públicas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> e <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro – Capacitando li<strong>de</strong>ranças e promovendo sustentabilida<strong>de</strong> das<br />
respostas frente à <strong>AIDS</strong>. Regiões Centro-Sul, Baía da Ilha Gran<strong>de</strong><br />
e Médio-Paraíba. Vassouras - RJ, 2005.<br />
7<br />
Altman (1992).<br />
20
8<br />
Em relação ao movimento <strong>de</strong> luta contra a <strong>AIDS</strong> na década <strong>de</strong><br />
90, <strong>de</strong>stacam-se, <strong>de</strong>ntre outros fatos, a criação da Re<strong>de</strong> Nacional<br />
<strong>de</strong> Pessoas HIV+ (RNP+), a assinatura dos acordos <strong>de</strong> empréstimo<br />
com o Banco Mundial (<strong>AIDS</strong> I e <strong>AIDS</strong> II), a distribuição<br />
universal <strong>de</strong> medicamentos para pessoas vivendo com HIV/<strong>AIDS</strong>,<br />
a criação do Fórum <strong>de</strong> ONG/<strong>AIDS</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
e as primeiras manifestações das ONG/<strong>AIDS</strong> pedindo a liberação<br />
<strong>de</strong> recursos financeiros para a compra <strong>de</strong> medicamentos para<br />
<strong>AIDS</strong> (Galvão, 2002). Na década <strong>de</strong> 2000, são realizados os<br />
primeiros seminários <strong>de</strong> controle social e <strong>AIDS</strong>, articulados pelo<br />
Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong>, Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
e GAPA/RS (2002), e por essas instâncias mais as Secretarias<br />
<strong>de</strong> Vigilância em Saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> Gestão Participativa, <strong>de</strong> Ciência e<br />
Tec<strong>no</strong>logia, <strong>de</strong> Gestão do Trabalho e da Educação na Saú<strong>de</strong>, e<br />
representantes das pessoas vivendo com HIV e <strong>AIDS</strong> (2004).<br />
mossexualida<strong>de</strong> significaram a existência, pelo me<strong>no</strong>s<br />
em alguns países, <strong>de</strong> organizações e comunida<strong>de</strong>s<br />
capazes <strong>de</strong> reagir à <strong>no</strong>va crise”. Com isso, fica claro<br />
o caminho para se contrapor às propostas<br />
neoliberais que ameaçam o SUS e o direito universal<br />
à saú<strong>de</strong>.<br />
Em 1990, é aprovada a Lei 8.142, que cria<br />
os instrumentos <strong>de</strong> controle social do sistema<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong>fine a participação social 8 . A Constituição<br />
Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988 preconiza que o controle<br />
social seja exercido a partir da manifestação<br />
da socieda<strong>de</strong> em relação ao <strong>Estado</strong>, por meio<br />
<strong>de</strong> diferentes sujeitos sociais organizados que<br />
interferem e modificam a agenda política 9 . Essa<br />
ação coletiva da socieda<strong>de</strong> em direção ao <strong>Estado</strong><br />
constitui-se <strong>no</strong> alicerce necessário ao processo<br />
<strong>de</strong> construção da <strong>de</strong>mocracia, o qual não<br />
é linear nem isento <strong>de</strong> conflitos.<br />
No entanto, o conceito <strong>de</strong> controle social<br />
encerra diversas interpretações e sua concepção<br />
foi modificada historicamente. Todas as expressões<br />
do controle social são resultantes <strong>de</strong> processos<br />
históricos concretos e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do tipo <strong>de</strong><br />
gover<strong>no</strong> constituído. Gover<strong>no</strong>s populistas utilizam-<strong>no</strong><br />
como estruturas para práticas clientelistas<br />
e atenuantes <strong>de</strong> conflitos <strong>de</strong> classes, enquanto os<br />
gover<strong>no</strong>s autoritários criam estruturas burocráticas<br />
que visam conter a livre manifestação da<br />
socieda<strong>de</strong>. Atualmente, o Brasil vive a <strong>de</strong>mocracia<br />
representativa e está, ainda, em processo <strong>de</strong><br />
construção a <strong>de</strong>mocracia que pretenda ser participativa<br />
e <strong>de</strong> massas. A proposta, conforme colocada<br />
na Constituição <strong>de</strong> 1988, <strong>de</strong> haver mecanismos<br />
que viabilizem a participação social, entre<br />
eles as conferências e os conselhos – como o <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, da criança e do adolescente, <strong>de</strong> portadores<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências, <strong>de</strong> idosos etc., ou seja, uma<br />
gama <strong>de</strong> conselhos <strong>de</strong> política e <strong>de</strong> direitos – é<br />
um componente importante da luta pela <strong>de</strong>mocratização<br />
do <strong>Estado</strong>.<br />
Outro aspecto do <strong>de</strong>bate que <strong>de</strong>ve estar<br />
claro para todos é que os conselhos constituemse<br />
em espaços <strong>de</strong> disputa <strong>de</strong> interesses diversos.<br />
Nele, estão representados os movimentos sociais,<br />
o setor privado, representantes do gover<strong>no</strong><br />
e das instituições filantrópicas, trabalhadores<br />
da saú<strong>de</strong> e representantes <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> patologias<br />
específicas. Os conselhos não substituem<br />
os movimentos sociais organizados e não se<br />
constituem em espaços exclusivos para a <strong>de</strong>mo-<br />
9<br />
A Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988 criou vários instrumentos<br />
para o exercício do controle social e da participação social, entre<br />
os quais se <strong>de</strong>stacam o plebiscito, a iniciativa popular, orçamento<br />
participativo e os conselhos. Na área da saú<strong>de</strong> é importante<br />
mencionar a existência das Conferências Nacionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e<br />
os Simpósios <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> que são organizados pela Câmara dos<br />
Deputados e pelo Senado. O Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong><br />
estruturou a Comissão Nacional <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> (CN<strong>AIDS</strong>) como órgão<br />
auxiliar para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> políticas públicas setoriais. Hoje,<br />
além da Comissão Nacional, o Programa Nacional dispõe <strong>de</strong><br />
duas instâncias <strong>de</strong> caráter consultivo: o Comitê <strong>de</strong> Gestão (COGE)<br />
e a Comissão <strong>de</strong> Articulação entre Movimentos Sociais (CAMS).<br />
21
cratização do <strong>Estado</strong>. A experiência da <strong>AIDS</strong>,<br />
mais uma vez, é ilustrativa. Em quase toda parte<br />
do mundo a resposta à epi<strong>de</strong>mia foi construída<br />
a partir <strong>de</strong> iniciativas comunitárias ou <strong>de</strong><br />
re<strong>de</strong>s solidárias <strong>de</strong> voluntários, que tinham em<br />
comum o combate ao preconceito e o estigma,<br />
e isso foi possível muito antes <strong>de</strong> o <strong>Estado</strong> criar<br />
suas próprias bases e instrumentos para enfrentar<br />
a epi<strong>de</strong>mia.<br />
Nesse sentido, é importante que o movimento<br />
social organizado se faça presente <strong>no</strong>s conselhos<br />
nacional, estaduais e municipais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
pois apesar dos limites estabelecidos <strong>no</strong> arranjo e<br />
na representação dos interesses ali expressos ou<br />
do uso clientelista e corporativo que governadores<br />
e prefeitos possam fazer <strong>de</strong>sse espaço, até como<br />
máquina política para legitimar sua autorida<strong>de</strong><br />
local ou setorial, eles po<strong>de</strong>m ser instrumento <strong>de</strong><br />
participação e representação direta, uma arena <strong>de</strong><br />
disputas por direitos <strong>no</strong> campo político.<br />
No entanto, não se po<strong>de</strong> confundir movimento<br />
social com controle social; um não substitui<br />
o outro, mas <strong>de</strong>vem ser sujeitos sociais que<br />
se comunicam e que se reforçam mutuamente<br />
nas lutas que travam. O conselho só se constitui<br />
como espaço que tem força para <strong>de</strong>liberar e<br />
fazer cumprir suas <strong>de</strong>liberações em <strong>de</strong>fesa do<br />
bem público se estiver articulado com os movimentos<br />
sociais organizados. Outro equívoco é<br />
conceber os conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como o único<br />
espaço para o exercício do controle social. A<br />
<strong>AIDS</strong>, <strong>no</strong>vamente, tem muito que contribuir<br />
nesse sentido, pois, em inúmeros momentos da<br />
história da epi<strong>de</strong>mia, as organizações do movimento<br />
social da <strong>AIDS</strong> conseguiram, por meio<br />
da pressão e da mobilização social, influenciar<br />
as políticas públicas <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>cisiva.<br />
22
PARTE 2<br />
SAÚDE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,<br />
POLÍTICA DE <strong>AIDS</strong>, FINANCIAMENTO<br />
E CONTROLE SOCIAL<br />
2.1. A SAÚDE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO<br />
E A POLÍTICA DE <strong>AIDS</strong><br />
2.1.1. A Saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
2.1.1.1. Breve caracterização do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro<br />
O <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, com uma área<br />
<strong>de</strong> 43.864,3 km 2 , está dividido em 92 municípios<br />
e apresenta uma população <strong>de</strong> 14.367.083<br />
habitantes, segundo o censo <strong>de</strong>mográfico <strong>de</strong><br />
2000 (IBGE).<br />
Estes municípios, segundo o Projeto <strong>de</strong><br />
Regionalização da Secretaria Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro, estão divididos em <strong>no</strong>ve<br />
regiões geográficas: Região Metropolitana I;<br />
Região Metropolitana II; Baía da Ilha Gran<strong>de</strong>;<br />
Baixada Litorânea; Centro-Sul; Médio-Paraíba;<br />
Norte; Noroeste e Serrana (Figura 1).<br />
2.1.1.2. Alguns Indicadores<br />
Natalida<strong>de</strong> e Mortalida<strong>de</strong><br />
Verifica-se <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro –<br />
<strong>no</strong> período (1994 – 1998) – uma queda na taxa<br />
<strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> (Quadro 1). No intervalo pesquisado,<br />
tomando-se por base o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1994 (=<br />
100%), observa-se que há um <strong>de</strong>créscimo na<br />
taxa <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1995 (-0,6%) enquanto<br />
que <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s seguintes, 1996 e 1997,<br />
há um crescimento <strong>de</strong> 0,1% e 0,2%, respectivamente;<br />
já <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1998, observa-se um <strong>de</strong>créscimo<br />
consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> 4% em relação ao a<strong>no</strong><br />
<strong>de</strong> referência.<br />
O quadro 2 mostra as principais causas<br />
<strong>de</strong> óbito <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> e nas Regiões do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro. O <strong>Estado</strong> tem como principal causa<br />
<strong>de</strong> morte as doenças do aparelho circulatório (cerca<br />
<strong>de</strong> 36%), que têm relação direta com os problemas<br />
<strong>de</strong> hipertensão e suas conseqüências,<br />
como infarto, isquemias e doenças cerebrovasculares.<br />
A segunda principal causa <strong>de</strong> morte <strong>no</strong><br />
<strong>Estado</strong> são as chamadas causas externas (cerca<br />
<strong>de</strong> 17%), que estão relacionadas ao crescimento<br />
da violência social (aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />
trânsito, <strong>de</strong> trabalho e homicídios) e, em terceiro<br />
lugar, estão as neoplasias, ou tumores<br />
(cerca <strong>de</strong> 15%).<br />
23
Figura 1 – Mapa do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro dividido por Regiões<br />
Regiões e microrregiões <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> - Cenário prospectivo até 2004<br />
E - NORTE<br />
A - NOROESTE<br />
A1 - microrregião 1<br />
A2 - microrregião 2<br />
E1 - microrregião 1<br />
E2 - microrregião 2<br />
B - SERRANA<br />
A1<br />
B1 - microrregião 1<br />
B2 - microrregião 2<br />
C - CENTRO-SUL<br />
B3 - microrregião 3<br />
A2<br />
D - MÉDIO-PARAÍBA<br />
C1 - microrregião 1<br />
C2 - microrregião 2<br />
E2<br />
D1 - microrregião 1<br />
D2 - microrregião 2<br />
D1<br />
C1<br />
B2<br />
B3<br />
E1<br />
C2 B1<br />
D2<br />
H4<br />
H5<br />
H2<br />
I<br />
H1<br />
H3<br />
G3<br />
G2<br />
G1<br />
H - METROPOLITANA 1<br />
H1 - microrregião 1<br />
H2 - microrregião 2<br />
I - BAÍA DA ILHA GRANDE H3 - microrregião 3<br />
H5 - microrregião 4<br />
H5 - microrregião 5<br />
F2<br />
G4<br />
F - BAIXADA LITORÂNEA<br />
F1<br />
G - METROPOLITANA 2<br />
G1 - microrregião 1<br />
G2 - microrregião 2<br />
G3 - microrregião 3<br />
G4 - microrregião 4<br />
F1 - microrregião 1<br />
F2 - microrregião 2<br />
Fonte: www.sau<strong>de</strong>.rj.gov.br<br />
Nota: As microrregiões geográficas indicadas fazem parte da divisão regional do IBGE.<br />
24
Quadro 1 - Nascidos vivos <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> e Regiões do Rio <strong>de</strong> Janeiro (1994-1998)<br />
Nível <strong>de</strong><br />
Gover<strong>no</strong><br />
Nascimentos<br />
1994 1995 1996 1997 1998<br />
<strong>Estado</strong> 268 022 266 355 268 289 268 671 258 176<br />
Metropolitana 199 862 197 957 203 312 201 175 194 772<br />
Noroeste 5 517 5 419 5 266 5 061 4 947<br />
Norte 15 135 14 708 13 803 14 179 13 385<br />
Serrana 14 298 14 169 14 321 13 949 13 681<br />
Baixada Litorânea 10 779 11 254 9 492 11 270 9 494<br />
Médio-Paraíba 14 800 14 728 14 584 14 871 14 184<br />
Centro Sul 4 579 4 842 4 188 4 723 4 488<br />
Baía da Ilha Gran<strong>de</strong> 2 935 3 045 3 111 3 368 3 085<br />
Índice <strong>de</strong> nascidos vivos <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
1994=100%<br />
1998=-4%<br />
1996=0,1% 1995=-0,6%<br />
1997=0,2%<br />
25
Quadro 2 – Óbitos por grupo <strong>de</strong> causa <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> e Regiões do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
Nível <strong>de</strong><br />
Gover<strong>no</strong><br />
Total<br />
Doenças<br />
infecciosas/<br />
parasitárias<br />
Óbitos por grupos <strong>de</strong> causa<br />
Neoplasias<br />
(tumores)<br />
Doenças<br />
aparelho<br />
circulatório<br />
Doenças<br />
aparelho<br />
respiratório<br />
Sintomas<br />
mal <strong>de</strong>finidos<br />
Causas<br />
externas<br />
<strong>Estado</strong> 95 009 5 705 14 218 34 133 12 655 12 614 15 684<br />
Metropolitana 72 831 4 614 11 150 25 726 9 796 10 080 11 465<br />
Noroeste 1 901 98 342 797 313 174 177<br />
Norte 4 146 238 543 1 485 541 701 638<br />
Serrana 4 564 216 18 2 066 641 375 548<br />
Baixada Litorânea 2 787 134 391 979 318 454 511<br />
Médio-Paraíba 4 189 193 688 1 862 598 222 626<br />
Centro Sul 1 525 60 231 728 188 158 160<br />
Baía da Ilha Gran<strong>de</strong> 563 41 87 196 71 61 107<br />
Percentual <strong>de</strong> óbitos por grupo <strong>de</strong> causa <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> e Regiões do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
Sintomas Mal<br />
Definidos 13%<br />
Causas Externas 17%<br />
Doenças Infecciosas/<br />
Parasitárias 6%<br />
Neoplasias 15%<br />
Doenças do Aparelho<br />
Respiratório 13%<br />
Doenças do Aparelho<br />
Circulatório 36%<br />
26
Características da Re<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Atendimento à Saú<strong>de</strong><br />
Atenção Básica<br />
Os Programas <strong>de</strong> Atenção Básica – Agentes<br />
Comunitários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (PACS) e Programa<br />
Saú<strong>de</strong> da Família (PSF) – são criados na década<br />
<strong>de</strong> 1990. O Programa Agentes Comunitários <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> surge, em nível nacional, a partir <strong>de</strong> 1991.<br />
A Estratégia <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família – <strong>de</strong><strong>no</strong>minação<br />
utilizada hoje pelo Ministério da Saú<strong>de</strong> – tem<br />
sua origem em 1997 quando, a partir <strong>de</strong> experiências<br />
municipais exitosas, iniciou-se, na esfera<br />
fe<strong>de</strong>ral, o Programa Saú<strong>de</strong> da Família (PSF). Este<br />
programa tem como objetivos: prestar um atendimento<br />
<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, integral e huma<strong>no</strong> em<br />
unida<strong>de</strong>s básicas municipais, garantindo acesso<br />
à assistência e à prevenção em todo o sistema <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma a satisfazer as necessida<strong>de</strong>s da<br />
população; reorganizar a prática assistencial em<br />
<strong>no</strong>vas bases e critérios; garantir a eqüida<strong>de</strong> <strong>no</strong><br />
acesso à atenção em saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma a satisfazer<br />
as necessida<strong>de</strong>s da população do município. Atualmente,<br />
o PSF é um programa disseminado em<br />
todo o país. No estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, o programa<br />
existe em 90 municípios e há 1.835 equipes<br />
(Bravo et. alii, 2005).<br />
No <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, em abril <strong>de</strong><br />
2004, estavam cadastradas 3.535.312 pessoas<br />
<strong>no</strong> PSF pelo Sistema <strong>de</strong> Informação da Atenção<br />
Básica (Siab), representando 20% <strong>de</strong> cobertura<br />
<strong>no</strong> <strong>Estado</strong>.<br />
Percentual (%) <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong> PACS/PSF<br />
(abril/2004) – <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
4%=PACS<br />
20%=PSF<br />
Os dados abaixo apontam para o percentual<br />
<strong>de</strong> cobertura do Programa Saú<strong>de</strong> da Família<br />
por região do estado, em outubro <strong>de</strong> 2003.<br />
De acordo com o gráfico a seguir, percebe-se<br />
que a Região Metropolitana I, com aproximadamente<br />
70% da população total do <strong>Estado</strong> do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro, apresenta o me<strong>no</strong>r índice <strong>de</strong> cobertura<br />
do PSF, abaixo <strong>de</strong> 5%. Cabe <strong>de</strong>stacar<br />
que este dado impossibilita o impacto positivo<br />
na saú<strong>de</strong> da população e a ação da saú<strong>de</strong> da família<br />
como uma estratégia <strong>de</strong> transformação e<br />
reorganização da atenção à saú<strong>de</strong>. Neste sentido,<br />
<strong>de</strong>staca-se a importância <strong>de</strong> implementar a<br />
Saú<strong>de</strong> da Família na Região Metropolitana I.<br />
Percentual (%) <strong>de</strong> cobertura do PSF – RJ<br />
(outubro/2003)<br />
A<br />
B C D E F<br />
G<br />
H<br />
A - Metropolitana I - 4,80%<br />
B - Metropolitana II - 65,90%<br />
C - Noroeste - 68,30%<br />
D - Norte - 30,80%<br />
E - Serrana - 36,30%<br />
F - Litorânea - 47,30%<br />
G - Médio-Paraíba - 27,50%<br />
H - Centro-Sul - 99,80%<br />
I - Baía da Ilha Gran<strong>de</strong> - 39,50%<br />
I<br />
76%=Descoberto<br />
Fonte: Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Atenção Básica – DABS/ MS. Fonte: Secretaria Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2003.<br />
27
Re<strong>de</strong> Ambulatorial<br />
A re<strong>de</strong> ambulatorial do <strong>Estado</strong> conta com<br />
3.305 unida<strong>de</strong>s (626 Centros <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, 566 Unida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família, 343 Policlínicas, 309<br />
Postos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, 217 Clínicas Especializadas, 140<br />
Ambulatórios <strong>de</strong> Hospital Geral, 65 Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
Vigilância Sanitária, 31 Pronto Socorro), sendo a<br />
maior oferta <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para população<br />
dada através <strong>de</strong> Centros <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (18,9%) e Unida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família (17,1%).<br />
O quadro 3 aponta o predomínio <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s<br />
ambulatoriais públicas municipais<br />
(73,8%).<br />
Re<strong>de</strong> Hospitalar<br />
A re<strong>de</strong> hospitalar do <strong>Estado</strong> é composta<br />
por 18 hospitais universitários, 20 próprios<br />
Quadro 3 - Número e proporção <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s ambulatoriais<br />
por natureza – julho/2003<br />
Tipo <strong>de</strong> Prestador Unida<strong>de</strong>s %<br />
Público Fe<strong>de</strong>ral 294 8,9<br />
Público Estadual 65 2,0<br />
Público Municipal 2.438 73,8<br />
Contratado 326 9,9<br />
Filantrópico 129 5,4<br />
Outras 53 1,6<br />
Total 3.305 100<br />
Fonte: DATASUS, 2005.<br />
Nível<br />
<strong>de</strong> Gover<strong>no</strong><br />
Quadro 4 - Hospitais cre<strong>de</strong>nciados por natureza do hospital<br />
<strong>no</strong> <strong>Estado</strong> e Regiões do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
Hospitais cre<strong>de</strong>nciados por natureza<br />
Total Próprio ou Fe<strong>de</strong>ral Contratado Estadual Municipal Filantrópico Universitário<br />
<strong>Estado</strong> 397 20 165 28 86 80 18<br />
Regiões<br />
Metropolitana 253 18 121 26 48 27 13<br />
Noroeste 24 - 11 - 3 10 -<br />
Norte 22 - 5 - 7 8 2<br />
Serrana 32 - 10 1 9 11 1<br />
Baixada Litorânea 20 1 5 - 10 4 -<br />
Médio-Paraíba 28 - 8 1 5 13 1<br />
Centro Sul 14 - 5 - 2 6 1<br />
Baía da Ilha Gran<strong>de</strong> 4 1 - - 2 1 ç-<br />
Fonte: CIDE (Ministério da Saú<strong>de</strong>, DATASUS, Sistema <strong>de</strong> Informações Hospitalares - SIH/SUS).<br />
28
Percentual <strong>de</strong> hospitais cre<strong>de</strong>nciados por natureza <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
Universitário - 5%<br />
Estadual - 7%<br />
Próprio ou fe<strong>de</strong>ral - 5%<br />
Contratado - 41%<br />
Filantrópico - 20%<br />
Municipal - 22%<br />
ou fe<strong>de</strong>rais, 28 estaduais, 86 municipais, 80<br />
filantrópicos e 165 contratados.<br />
No quadro 4 e <strong>no</strong> gráfico a seguir po<strong>de</strong>se<br />
observar a predominância do setor privado<br />
na prestação dos serviços hospitalares, <strong>de</strong>tendo<br />
61% da oferta.<br />
No quadro 5 e <strong>no</strong> gráfico a seguir é possível<br />
i<strong>de</strong>ntificar que a oferta <strong>de</strong> leitos é reduzida,<br />
pois correspon<strong>de</strong> a cerca <strong>de</strong> 0,3% da<br />
população (56.092 leitos para 14.367.083 habitantes),<br />
com predominância do setor privado<br />
(64% dos leitos).<br />
O <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro apresenta<br />
como principal problema <strong>no</strong> que se refere à situação<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> a falta <strong>de</strong> investimento público<br />
em alguns <strong>de</strong> seus municípios. O setor<br />
privado – que <strong>de</strong>veria funcionar <strong>de</strong> forma complementar<br />
à re<strong>de</strong> pública, <strong>de</strong> acordo com o que<br />
estabelece a Lei nº 8.080/90 – ainda tem predominância.<br />
Outro dado preocupante é que a re<strong>de</strong><br />
hospitalar é hegemonizada pelo setor privado,<br />
<strong>de</strong>tendo este cerca 61% da oferta.<br />
Cabe <strong>de</strong>stacar também que é baixa a cobertura<br />
da Saú<strong>de</strong> da Família <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> e que a <strong>de</strong>ficiência<br />
na atenção básica é <strong>de</strong>tectada pela ocorrência<br />
<strong>de</strong> doenças e mortalida<strong>de</strong> relacionadas a problemas<br />
sócio-econômicos e à falta <strong>de</strong> prevenção.<br />
2.1.1.3. Principais Problemas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Propostas<br />
para o <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
Principais Problemas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> – Pla<strong>no</strong><br />
Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
O Pla<strong>no</strong> Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, elaborado pela<br />
Secretaria Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> em 2001, i<strong>de</strong>ntifica<br />
os principais problemas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> nas diversas<br />
regiões do <strong>Estado</strong>, que serão apresentados<br />
<strong>no</strong> quadro abaixo:<br />
Regiões do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />
Principais Problemas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
Metropolitana I<br />
• Insuficiente cobertura pelo Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
da Família na região;<br />
• Deficiência na atenção à saú<strong>de</strong> mater<strong>no</strong>-infantil;<br />
• Deficiência na atenção ao paciente portador<br />
<strong>de</strong> tuberculose e ao portador <strong>de</strong> hanseníase;<br />
• Prevalência elevada <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> na região;<br />
• Dificulda<strong>de</strong> para garantir o atendimento <strong>de</strong><br />
média e alta complexida<strong>de</strong> para a população;<br />
• Alta prevalência <strong>de</strong> doenças crônico-<strong>de</strong>generativas<br />
(hipertensão e diabetes);<br />
• Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> mental hospitalocêntrico;<br />
29
Nível<br />
<strong>de</strong> Gover<strong>no</strong><br />
Quadro 5 - Leitos contratados em hospitais cre<strong>de</strong>nciados por natureza<br />
do hospital <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> e Regiões do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
Leitos contratados em hospitais cre<strong>de</strong>nciados por natureza<br />
Total Próprio ou Fe<strong>de</strong>ral Contratado Estadual Municipal Filantrópico Universitário<br />
<strong>Estado</strong> 56.092 4.369 22.408 6.099 9.702 9.504 4.010<br />
Regiões<br />
Metropolitana 40.696 4.307 16.857 5.219 7.376 3.835 3.102<br />
Noroeste 2.463 - 1.289 - 107 1.067 -<br />
Norte 2.468 - 381 - 364 1.371 352<br />
Serrana 4.546 - 1.927 400 900 1.145 174<br />
Baixada Litorânea 1.686 40 781 - 526 339 -<br />
Médio-Paraíba 2.708 - 699 480 300 1.029 200<br />
Centro Sul 1.270 - 474 - 51 563 182<br />
Baía <strong>de</strong> Ilha Gran<strong>de</strong> 255 22 - - 78 155 -<br />
Fonte: CIDE, 2002.<br />
Percentual <strong>de</strong> leitos contratados <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
Universitário - 7%<br />
Próprio ou fe<strong>de</strong>ral - 8%<br />
Filantrópico - 17%<br />
Municipal - 17%<br />
Contratado - 40%<br />
Estadual - 11%<br />
• Deficiência na prestação <strong>de</strong> assistência hospitalar;<br />
• Política <strong>de</strong> Recursos Huma<strong>no</strong>s ina<strong>de</strong>quada.<br />
Metropolitana II<br />
• Insuficiência <strong>de</strong> cobertura do PSF;<br />
• Sistema <strong>de</strong> informação <strong>de</strong>ficiente;<br />
• Deficiência na assistência à saú<strong>de</strong> mater<strong>no</strong>infantil;<br />
• Deficiência na organização dos serviços <strong>de</strong> forma<br />
regionalizada, com conseqüente dificulda<strong>de</strong><br />
em garantir acesso da população a serviços<br />
<strong>de</strong> média e alta complexida<strong>de</strong>;<br />
• Deficiência <strong>no</strong> atendimento <strong>de</strong> urgência e<br />
emergência;<br />
• Deficiência na prestação <strong>de</strong> assistência hospitalar.<br />
Noroeste<br />
• Política <strong>de</strong> assistência farmacêutica básica ina<strong>de</strong>quada;<br />
• Insuficiência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong>;<br />
• Deficiência na assistência mater<strong>no</strong>-infantil;<br />
• Política <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s ina<strong>de</strong>quada;<br />
• Dificulda<strong>de</strong>s para se garantir o acesso dos pacientes<br />
da região aos serviços <strong>de</strong> alta complexida<strong>de</strong>;<br />
30
• Dificulda<strong>de</strong>s para se garantir ações integrais<br />
em saú<strong>de</strong> mental.<br />
Norte<br />
• Distribuição ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> medicamentos;<br />
• Baixa cobertura do PSF;<br />
• Ina<strong>de</strong>quada política <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s;<br />
• Insuficiência das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> promoção à saú<strong>de</strong>;<br />
• Para a região, a microrregionalização proposta<br />
apresenta problemas para o acesso ao mínimo<br />
da média;<br />
• Dificulda<strong>de</strong> em garantir acesso a serviços <strong>de</strong><br />
terapia intensiva neonatal.<br />
• Pouca oferta <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental extra-hospitalares<br />
(CAPS, NAPS, Hospital Dia,<br />
Casa Lar).<br />
Serrana<br />
• Insuficiente cobertura do Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
da Família;<br />
• Deficiência nas ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da área mater<strong>no</strong>-infantil;<br />
• Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso aos serviços <strong>de</strong> média e<br />
alta complexida<strong>de</strong> e dificulda<strong>de</strong>s para implementação<br />
da NOAS e da microrregionalização;<br />
• Deficiência <strong>no</strong> sistema <strong>de</strong> informação;<br />
• Dificulda<strong>de</strong>s na regulação dos sistemas municipais<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> por parte dos gestores municipais.<br />
Baía da Ilha Gran<strong>de</strong><br />
• Deficiência na atenção à saú<strong>de</strong> mater<strong>no</strong>-infantil;<br />
• Insuficiência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> promoção à saú<strong>de</strong>;<br />
• Deficiência <strong>no</strong> sistema <strong>de</strong> informação em saú<strong>de</strong>;<br />
• Baixa cobertura pelo PSF;<br />
• Deficiência na organização das ações <strong>de</strong> controle<br />
da tuberculose;<br />
• Estrangulamento <strong>no</strong> acesso aos serviços e procedimentos<br />
<strong>de</strong> média e alta complexida<strong>de</strong>.<br />
Baixada Litorânea<br />
• Dificulda<strong>de</strong> para se referenciar pacientes para<br />
serviços <strong>de</strong> média e alta complexida<strong>de</strong> (hospitalar)<br />
e para serviços <strong>de</strong> emergência;<br />
• Deficiência nas ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da área mater<strong>no</strong>-infantil;<br />
• Ações <strong>de</strong> controle da hipertensão e diabetes<br />
mal estruturadas;<br />
• Insuficiência <strong>no</strong> abastecimento <strong>de</strong> sangue e hemo<strong>de</strong>rivados;<br />
• Falta <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> oncologia conveniado ao<br />
SUS na região;<br />
• Política ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental na região;<br />
• Insuficiência <strong>de</strong> exames complementares (<strong>de</strong><br />
média e alta complexida<strong>de</strong>) na região.<br />
Centro-Sul<br />
• Deficiência na atenção à saú<strong>de</strong> mater<strong>no</strong>-infantil;<br />
• Insuficiência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> promoção à saú<strong>de</strong>;<br />
• Deficiência <strong>no</strong> sistema <strong>de</strong> informação em saú<strong>de</strong>;<br />
• Baixa cobertura pelo PSF;<br />
• Deficiência na organização das ações <strong>de</strong> controle<br />
da tuberculose;<br />
• Estrangulamento <strong>no</strong> acesso aos serviços e procedimentos<br />
<strong>de</strong> média e alta complexida<strong>de</strong>.<br />
Médio-Paraíba<br />
• Insuficiência gerencial <strong>no</strong> Sistema Único <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong>;<br />
• Sistema <strong>de</strong> informação em saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiente;<br />
• Baixa cobertura pelo Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da<br />
Família;<br />
• Ina<strong>de</strong>quação entre a formação <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s<br />
e as políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />
• A região acredita que a proposta <strong>de</strong> regionalização<br />
da NOAS não é compatível com o mo<strong>de</strong>lo<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização do SUS;<br />
• Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> financiamento dificultando compra<br />
<strong>de</strong> serviços.<br />
Fonte: SES – Pla<strong>no</strong> Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> – 2001.<br />
Agenda <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> para o <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro – 1° Seminário <strong>de</strong> Gestão Participativa<br />
em Saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
O Fórum <strong>de</strong> Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> das <strong>no</strong>ve<br />
Regiões do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, o Conselho<br />
Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, a Secretaria<br />
<strong>de</strong> Gestão Estratégica e Participativa do<br />
Ministério da Saú<strong>de</strong> e o Projeto Políticas Públi-<br />
31
cas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviço <strong>Social</strong> da<br />
Universida<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro realizaram<br />
o 1° Seminário <strong>de</strong> Gestão Participativa<br />
em Saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>no</strong> dia<br />
16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2005, na UERJ, com a presença<br />
<strong>de</strong> 172 participantes 10 . Foram elencadas<br />
como principais questões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que afetam<br />
todas as regiões do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />
• Baixa cobertura da Atenção Básica;<br />
• Financiamento insuficiente;<br />
• Falta <strong>de</strong> Política <strong>de</strong> Recursos Huma<strong>no</strong>s (Gestão<br />
do Trabalho);<br />
• Pouca valorização do <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> e da Participação<br />
Popular;<br />
• Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> hegemonizada pelos<br />
setores privado e filantrópico.<br />
A partir <strong>de</strong>stes problemas foram apresentadas<br />
as seguintes propostas:<br />
Com relação à Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviços e à Atenção<br />
Básica<br />
• Valorização do Setor Público;<br />
• Reorganização do SUS nas diversas regiões, a<br />
partir da ampliação da Atenção Básica com<br />
resolutivida<strong>de</strong>, prevendo-se a articulação <strong>de</strong>sta<br />
com os <strong>de</strong>mais níveis <strong>de</strong> atenção, ou seja,<br />
<strong>de</strong> média e alta complexida<strong>de</strong>;<br />
• Ampliação da cobertura da estratégia Saú<strong>de</strong><br />
da Família, a partir <strong>de</strong> indicadores sociais, na<br />
perspectiva <strong>de</strong> atingir a população <strong>de</strong> forma geral,<br />
<strong>de</strong> acordo com os princípios da integralida<strong>de</strong><br />
e universalida<strong>de</strong> do SUS, e controle social.<br />
Além disso, <strong>de</strong>staca-se a importância da<br />
preservação das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> existentes,<br />
sem <strong>de</strong>sativá-las e a ampliação da re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
serviços;<br />
• Realização <strong>de</strong> seminários regionais para avaliação<br />
da estratégia Saú<strong>de</strong> da Família em conjunto<br />
com as coor<strong>de</strong>nações municipais e estadual.<br />
10<br />
Este seminário foi precedido <strong>de</strong> seminários realizados em todas<br />
as regiões do <strong>Estado</strong> que elaboraram as principais questões<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e as principais propostas.<br />
Com relação ao Financiamento<br />
• Regulamentação da Emenda Constitucional<br />
29 e garantia do cumprimento dos seus percentuais<br />
por todas as prefeituras, pelos gover<strong>no</strong>s<br />
estadual e fe<strong>de</strong>ral;<br />
• Fomento <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates acerca da responsabilida<strong>de</strong><br />
social e sanitária com todos os segmentos<br />
que compõem o controle social;<br />
• Garantia <strong>de</strong> transparência <strong>no</strong> orçamento e auto<strong>no</strong>mia<br />
dos fundos municipais e estadual <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>;<br />
• Aprovação, pelas câmaras municipais, <strong>de</strong> orçamento<br />
para funcionamento dos conselhos;<br />
• Fortalecimento da política <strong>de</strong> financiamento<br />
da atenção básica, com a criação <strong>de</strong> teto orçamentário<br />
próprio do gover<strong>no</strong> fe<strong>de</strong>ral, modificando<br />
a política <strong>de</strong> incentivo;<br />
• Transparência com relação à discussão do Pla<strong>no</strong><br />
Diretor <strong>de</strong> Investimento (PDI) e do Pla<strong>no</strong><br />
Diretor <strong>de</strong> Regionalização (PDR).<br />
Com relação à Gestão do Trabalho<br />
• Elaboração <strong>de</strong> Política <strong>de</strong> Gestão do Trabalho<br />
e Educação em Saú<strong>de</strong> (Recursos Huma<strong>no</strong>s) <strong>no</strong>s<br />
municípios e <strong>no</strong> <strong>Estado</strong>;<br />
• Desprecarização do trabalho, através do cumprimento<br />
da <strong>de</strong>liberação 001, <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />
2005, do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, que<br />
prevê a realização <strong>de</strong> concurso público até<br />
março <strong>de</strong> 2006;<br />
• Garantia <strong>de</strong> condições a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> trabalho;<br />
• Realização imediata <strong>de</strong> concurso público para<br />
trabalhadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do SUS, inclusive para<br />
o Programa Saú<strong>de</strong> da Família;<br />
• Aprovação do Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Cargos, Carreira e Salários<br />
(PCCS) <strong>no</strong>s municípios do <strong>Estado</strong> do Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro com ampla discussão com os servidores<br />
e com aprovação do controle social;<br />
• Implantação do PCCS para os servidores do<br />
<strong>Estado</strong>;<br />
• Implantação imediata da Norma Operacional<br />
Básica <strong>de</strong> Recursos Huma<strong>no</strong>s do SUS;<br />
32
• Realização <strong>de</strong> seminários regionais e estadual<br />
para avaliação da política <strong>de</strong> gestão do trabalho<br />
e educação em saú<strong>de</strong>;<br />
• Regulamentação do vínculo empregatício dos<br />
profissionais da Saú<strong>de</strong> da Família.<br />
Com relação ao <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> e Participação<br />
Popular<br />
• Aperfeiçoamento da cooperação regional e<br />
estímulo à gestão participativa em saú<strong>de</strong>;<br />
• Revisão, discussão e avaliação dos consórcios<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> existentes nas diversas regiões do<br />
<strong>Estado</strong>, uma vez que o controle social não está<br />
presente nas <strong>de</strong>liberações das ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
regionalmente implementadas, <strong>de</strong> acordo com<br />
a lei nº 11.107/05;<br />
• Construção <strong>de</strong> Pla<strong>no</strong>s Regionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> com<br />
ampla participação dos conselhos municipais<br />
e da socieda<strong>de</strong> civil organizada, para reorganizar<br />
o SUS nas diversas regiões do <strong>Estado</strong>,<br />
com ênfase na atenção básica e garantindo referência<br />
e contra-referência, com a finalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> assegurar o efetivo direito à saú<strong>de</strong>;<br />
• Cumprimento das <strong>de</strong>liberações das conferências<br />
municipais, estaduais e da 12ª Conferência Nacional<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, com <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s;<br />
• Inserção do Po<strong>de</strong>r Judiciário como aliado na<br />
luta pela <strong>de</strong>fesa da saú<strong>de</strong> pública;<br />
• Consolidação dos Fóruns <strong>de</strong> Conselhos das<br />
diversas regiões do <strong>Estado</strong>;<br />
• Criação <strong>de</strong> conselhos gestores <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s,<br />
em todas as instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> vinculadas<br />
ao SUS, respeitando a parida<strong>de</strong>;<br />
• Cumprimento da Resolução n° 333, <strong>de</strong> 2003,<br />
do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />
O cumprimento <strong>de</strong>sta agenda é <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> todos os agentes públicos comprometidos<br />
com a construção do Sistema Único<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, em todos os municípios do <strong>Estado</strong><br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inaugurar<br />
um <strong>no</strong>vo pacto <strong>de</strong> gestão participativa tendo<br />
como base as reais necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da<br />
população.<br />
2.1.2. A Política <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
Em relação ao perfil epi<strong>de</strong>miológico da<br />
<strong>AIDS</strong>, as tendências da epi<strong>de</strong>mia <strong>no</strong> estado do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro seguem aquelas observadas <strong>no</strong><br />
nível nacional, <strong>no</strong> tocante à heterossexualização,<br />
feminização e interiorização dos casos. A<br />
análise aqui apresentada tem como referência<br />
os dados publicados <strong>no</strong> Boletim Epi<strong>de</strong>miológico<br />
<strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> da SES/RJ 11 .<br />
Há diferenças bastante marcantes entre os<br />
municípios em termos da incidência da doença.<br />
As maiores taxas <strong>de</strong> incidência encontram-se nas<br />
regiões Metropolitanas 1 e 2 e na Baía da Ilha<br />
Gran<strong>de</strong>. Apesar <strong>de</strong> os casos <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> estarem bastante<br />
concentrados na região Metropolitana 1, que<br />
respon<strong>de</strong> por 77,5% do total <strong>de</strong> casos do estado,<br />
as taxas <strong>de</strong> incidência (por 100.000 hab) da doença<br />
evi<strong>de</strong>nciam uma evolução da epi<strong>de</strong>mia para<br />
os municípios do interior, com <strong>de</strong>staque para a<br />
região Centro-Sul, que passou <strong>de</strong> uma taxa <strong>de</strong> incidência<br />
<strong>de</strong> 5,5 em 1993, para 20,1 em 2003.<br />
Observa-se o aumento proporcional <strong>de</strong><br />
casos <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> na categoria <strong>de</strong> transmissão heterossexual,<br />
em parte pelo aumento do número<br />
<strong>de</strong> casos em mulheres. Esta é <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1994 a principal<br />
via <strong>de</strong> transmissão da doença.<br />
Houve também <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> a diminuição<br />
da razão masculi<strong>no</strong>/femini<strong>no</strong>, que passou <strong>de</strong> 5,2<br />
em 1990, para 1,3 em 2005, o que acompanha<br />
a tendência nacional <strong>de</strong> feminização da epi<strong>de</strong>mia.<br />
Des<strong>de</strong> 1997, as taxas <strong>de</strong> incidência da <strong>AIDS</strong><br />
têm caído entre os homens, enquanto mantêmse<br />
estáveis entre as mulheres.<br />
Quanto à escolarida<strong>de</strong>, até 1999 verificouse<br />
um aumento <strong>no</strong> número <strong>de</strong> casos entre os<br />
me<strong>no</strong>s escolarizados (analfabetos ou com até três<br />
11<br />
Lemos, K.R.V. & Sole-Plá, M.A. Aspectos da Epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong><br />
<strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Boletim Epi<strong>de</strong>miológico <strong>de</strong><br />
<strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> 2005.<br />
33
a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> estudo). No entanto, a partir <strong>de</strong> 2000,<br />
tem-se observado discreto crescimento do número<br />
<strong>de</strong> casos entre pessoas mais escolarizadas<br />
(com doze a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> estudo ou mais), em ambos<br />
os sexos, mas com mais força entre os homens.<br />
Esse dado precisa ser mais bem estudado para<br />
se confirmar se é, <strong>de</strong> fato, uma <strong>no</strong>va tendência,<br />
pois contraria a tendência observada nacionalmente<br />
<strong>de</strong> pauperização da epi<strong>de</strong>mia, explicada<br />
pela maior vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses grupos.<br />
A taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>, <strong>no</strong> estado, cresceu<br />
até 1995, apresentando <strong>de</strong>créscimo a partir <strong>de</strong><br />
1996, quando foi instituída a terapia ARV. Entre<br />
as mulheres, a redução da mortalida<strong>de</strong> foi<br />
um pouco mais tardia, a partir <strong>de</strong> 1997. No<br />
entanto, tem-se observado discreto incremento<br />
da mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2000, particularmente nas<br />
regiões Norte e Centro-Sul Fluminense. Esses<br />
dados têm importância e merecem ser consi<strong>de</strong>rados,<br />
pois po<strong>de</strong>m sinalizar para uma situação <strong>de</strong><br />
falha dos serviços em termos <strong>de</strong> garantir, efetivamente,<br />
o acompanhamento e o tratamento da<br />
população infectada pelo vírus.<br />
É mister <strong>de</strong>stacar os dados do estudosentinela<br />
“Estimativa da prevalência <strong>de</strong> HIV na<br />
população fluminense <strong>de</strong> 15 a 49 a<strong>no</strong>s, 2004”,<br />
realizado pela Secretaria <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro. Com base em seus resultados<br />
foi estimada a taxa <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> HIV entre<br />
as parturientes, para o <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />
0,59%. Já a cobertura <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção da infecção<br />
pelo HIV na gestação, consi<strong>de</strong>rando-se todas<br />
as etapas antes do parto (pelo me<strong>no</strong>s uma<br />
consulta <strong>de</strong> pré-natal; pedido <strong>de</strong> teste <strong>de</strong> HIV;<br />
concordância da gestante; e conhecimento do<br />
resultado antes do parto), foi estimada em 74%.<br />
Na comparação com algumas regiões do País, a<br />
cobertura efetiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> infecção pelo<br />
HIV <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro é bem maior<br />
que as evi<strong>de</strong>nciadas nas regiões Norte (35%) e<br />
Nor<strong>de</strong>ste (31%) e <strong>no</strong> mesmo patamar da Su<strong>de</strong>ste.<br />
Já a cobertura <strong>de</strong> teste <strong>de</strong> HIV na gestação<br />
variou <strong>de</strong> 66%, entre as parturientes com pouco<br />
grau <strong>de</strong> instrução, a 85%, entre as que têm<br />
grau superior <strong>de</strong> instrução.<br />
Outro dado importante <strong>de</strong>ste estudo foi a<br />
estimativa <strong>de</strong> número <strong>de</strong> infectados pelo HIV<br />
na população <strong>de</strong> 15-49 a<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro. Estima-se que haja 69.445 indivíduos<br />
infectados, representando uma taxa <strong>de</strong> prevalência<br />
<strong>de</strong> 0,8%. Destes, 25.581 são mulheres<br />
(taxa=0,59%) e 43.864, homens (taxa=1,09).<br />
Quanto às <strong>de</strong>mais <strong>DST</strong>s, apesar <strong>de</strong> representarem<br />
um importante problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública<br />
<strong>no</strong> <strong>Estado</strong>, são pouco <strong>no</strong>tificadas. Um estudo<br />
realizado em 2004 pela Secretaria <strong>de</strong> <strong>Estado</strong><br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> em parturientes revelou que 1,8% são<br />
portadoras <strong>de</strong> sífilis, responsável por graves lesões<br />
em recém-nascidos com sífilis congênita. São<br />
<strong>no</strong>tificados à SES-RJ cerca <strong>de</strong> 1.500 casos por<br />
a<strong>no</strong> e cem óbitos por esta afecção.<br />
No Rio <strong>de</strong> Janeiro, a situação dos municípios<br />
é muito diversa em termos da estrutura e<br />
organização da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
o que tem implicações diretas sobre as possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> incorporarem na re<strong>de</strong> básica o<br />
atendimento aos pacientes com HIV/<strong>AIDS</strong>. Alguns<br />
municípios possuem uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
mais estruturada e integrada, enquanto outros,<br />
<strong>de</strong> me<strong>no</strong>r porte, não <strong>de</strong>têm as mesmas condições<br />
para sustentar o atendimento às pessoas<br />
com HIV/<strong>AIDS</strong>.<br />
Em relação às questões da assistência, há<br />
uma série <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios a serem vencidos para dar<br />
conta da universalida<strong>de</strong>, da integralida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>scentralização<br />
das ações. Há dificulda<strong>de</strong>s relativas<br />
à internação, à referência e contra-referência,<br />
insuficiência <strong>de</strong> profissionais para aten<strong>de</strong>r<br />
a <strong>de</strong>manda, dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso aos exames <strong>de</strong><br />
média e alta complexida<strong>de</strong>. São apontados como<br />
problemas a reduzida assistência domiciliar, a<br />
dispensação ina<strong>de</strong>quada dos medicamentos em<br />
alguns municípios, a <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> da atenção<br />
ao pré-natal e a baixa qualida<strong>de</strong> do pré-na-<br />
34
tal ofertado. Em relação aos locais <strong>de</strong> atendimento<br />
dos serviços <strong>de</strong> atenção aos portadores <strong>de</strong><br />
HIV/<strong>AIDS</strong>, por exemplo, faltam profissionais <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> em número suficiente para o atendimento<br />
da <strong>de</strong>manda atualmente existente e, apesar<br />
<strong>de</strong> não haver em todos os municípios locais <strong>de</strong><br />
atendimento ambulatorial para os pacientes<br />
com HIV/<strong>AIDS</strong>, falta pacto entre os municípios<br />
<strong>de</strong> cada região para garantir acesso à assistência<br />
ambulatorial entre os municípios.<br />
Algumas questões referentes à universalida<strong>de</strong><br />
são pertinentes, como a ampliação do acesso<br />
aos preservativos, mas sem que isso implique<br />
em perda da qualida<strong>de</strong> das ações <strong>de</strong> prevenção.<br />
O pré-natal é outro ponto a ser ampliado e qualificado:<br />
é preciso ofertar o teste anti-HIV e para<br />
sífilis para todas as gestantes. A a<strong>de</strong>são às <strong>no</strong>rmas<br />
da Portaria <strong>de</strong> Humanização do Parto e do<br />
Pré-natal e Nascimento representa um peque<strong>no</strong><br />
recurso extra, mas é importante pelo cumprimento<br />
do protocolo e, conseqüentemente, pela melhoria<br />
da qualida<strong>de</strong> da atenção.<br />
É preciso trabalhar pela eqüida<strong>de</strong> dos serviços,<br />
priorizando as populações vulneráveis.<br />
No estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, há uma diversida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> grupos vulneráveis como trabalhadoras<br />
do sexo, usuários <strong>de</strong> drogas, além das mulheres<br />
<strong>de</strong> forma geral, que também constituem um<br />
grupo <strong>de</strong> maior vulnerabilida<strong>de</strong>. Cada município<br />
<strong>de</strong>ve <strong>de</strong>finir suas estratégias <strong>de</strong> acordo com<br />
essas populações.<br />
Pensando na <strong>de</strong>scentralização das ações<br />
voltadas para o HIV/<strong>AIDS</strong>, <strong>de</strong>vemos avaliar a<br />
sustentabilida<strong>de</strong> política, técnica e financeira<br />
<strong>de</strong>ssa política. No tocante à sustentação política<br />
e técnica, os problemas envolvem questões<br />
<strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s e <strong>de</strong> investimentos. Em<br />
geral, não há uma política <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s<br />
a<strong>de</strong>quada para o SUS, não há pessoal capacitado<br />
para gerenciar os programas e a estrutura <strong>de</strong><br />
trabalho é mínima. Necessita-se <strong>de</strong> investimento<br />
maior na capacitação gerencial. Nessa perspectiva,<br />
tem-se trabalhado para viabilizar um<br />
mestrado profissional para gestores <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<br />
<strong>AIDS</strong>. Há que se <strong>de</strong>stacar o avanço <strong>no</strong> formato<br />
da qualificação profissional através da formação<br />
<strong>de</strong> Centros <strong>de</strong> Treinamento específicos junto<br />
às Universida<strong>de</strong>s e Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Foram<br />
criados dois centros para a capacitação em abordagem<br />
sindrômica das <strong>DST</strong>s, dois para saú<strong>de</strong><br />
mental/HIV/<strong>AIDS</strong>, dois para assistência clínica<br />
em HIV e um específico na área <strong>de</strong> aconselhamento.<br />
A concepção metodológica proposta<br />
é a adoção da ferramenta pedagógica da problematização,<br />
incorporando também nestes centros<br />
a modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> treinamento em serviço.<br />
A Comissão Estadual <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> também faz<br />
parte da estratégia <strong>de</strong> sustentação política do<br />
Programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong>, tendo sido criada há<br />
quatorze a<strong>no</strong>s. Sua composição é paritária (50%<br />
<strong>de</strong> representantes da socieda<strong>de</strong> civil e 50% <strong>de</strong><br />
órgãos governamentais). E o Conselho Estadual<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1999 compõe esta instância.<br />
Já a existência <strong>de</strong> Comissões Interdisciplinares<br />
<strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> locais está restrita ao município<br />
do Campos, não havendo informação da<br />
existência <strong>de</strong> outras instâncias <strong>de</strong>ste porte em<br />
outras cida<strong>de</strong>s.<br />
É oportu<strong>no</strong> <strong>de</strong>stacar que em 2003 foram<br />
realizadas 10 conferências locais, como etapa preparatória<br />
da Conferência Estadual <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>.<br />
Foram aprovadas 169 propostas durante a Conferência<br />
e seu relatório foi incorporado na íntegra<br />
à Conferência Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> daquele a<strong>no</strong>.<br />
Como fruto <strong>de</strong>ste processo, o Programa<br />
Estadual <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> vem fomentando a criação<br />
<strong>de</strong> Fóruns Regionais dos Programas <strong>de</strong><br />
<strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>. Até a presente data, existem dois<br />
Fóruns atuantes – da Baixada Fluminense e da<br />
Metropolitana II – cujo papel tem sido articular<br />
ações conjuntas entre os programas, rea<strong>de</strong>quando<br />
principalmente o acesso à área <strong>de</strong><br />
assistência e promovendo capacitações em conjunto<br />
nas regiões.<br />
35
2.2. FINANCIAMENTO DA SAÚDE E A POLÍTICA<br />
DE <strong>AIDS</strong> NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO<br />
Em relação à sustentação financeira, houve<br />
alguns avanços na forma <strong>de</strong> financiamento<br />
dos municípios, <strong>de</strong>ntro da perspectiva da <strong>de</strong>scentralização.<br />
No Brasil, durante oito a<strong>no</strong>s, <strong>no</strong><br />
período entre 1994 e 2002, o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização<br />
das ações <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong> para estados,<br />
Distrito Fe<strong>de</strong>ral e municípios foi financiado<br />
por meio <strong>de</strong> convênios celebrados com o<br />
Ministério da Saú<strong>de</strong>, vinculados a recursos exter<strong>no</strong>s<br />
oriundos <strong>de</strong> Acordos <strong>de</strong> Empréstimo<br />
firmados entre o Gover<strong>no</strong> Fe<strong>de</strong>ral e o Banco Interamerica<strong>no</strong><br />
para Reconstrução e Desenvolvimento<br />
(BIRD) – Projetos <strong>AIDS</strong> I e II. Ao final<br />
do Projeto <strong>AIDS</strong> II (2002), o Ministério da Saú<strong>de</strong><br />
possuía convênios com 26 estados, o Distrito<br />
Fe<strong>de</strong>ral e mais 150 municípios (<strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro, 12 municípios). Em <strong>de</strong>zembro<br />
<strong>de</strong> 2002, o Ministério da Saú<strong>de</strong>, com a Portaria<br />
nº 2313, institui o recurso do incentivo para<br />
estados, Distrito Fe<strong>de</strong>ral e municípios <strong>no</strong> âmbito<br />
do Programa Nacional <strong>de</strong> HIV/<strong>AIDS</strong> e outras<br />
<strong>DST</strong>s – Projeto <strong>AIDS</strong> III.<br />
No <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, foram qualificados<br />
33 municípios para o recebimento<br />
<strong>de</strong>ste recurso. Todas as regiões do <strong>Estado</strong> foram<br />
contempladas, embora a predominância<br />
seja nas Regiões Metropolitana I, Metropolitana<br />
II e Médio-Paraíba.<br />
A qualificação dos municípios à Política<br />
do Incentivo exige uma contrapartida mínima<br />
<strong>de</strong>stes recursos financeiros próprios e<br />
se baseou <strong>no</strong>s critérios <strong>de</strong>finidos pela Portaria<br />
supracitada, ou seja, a magnitu<strong>de</strong> da epi<strong>de</strong>mia<br />
<strong>no</strong> respectivo território; a capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> planejamento das ações em HIV/<strong>AIDS</strong> e<br />
outras <strong>DST</strong>s pelas instâncias estaduais e municipais<br />
do SUS; o estabelecimento <strong>de</strong> ações<br />
e metas a<strong>de</strong>quadas e coerentes com as características<br />
da epi<strong>de</strong>mia da <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> respectivo<br />
território, elaboradas num Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Ações e<br />
Metas (PAM); e os processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização<br />
e regionalização implementados com<br />
base na NOB/96 e na NOAS/02.<br />
Cumpridos esses critérios, para que o município<br />
receba o recurso do incentivo, o Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong><br />
Ações e Metas elaborado <strong>de</strong>ve passar pelo Conselho<br />
Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e ser aprovado por este,<br />
pois o recurso só é repassado com esta aprovação,<br />
em respeito ao princípio <strong>de</strong> controle social<br />
do SUS. Vale dizer que o efetivo controle social<br />
pressupõe a participação direta do Conselho,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro momento, na elaboração do<br />
Pla<strong>no</strong> e não simplesmente <strong>no</strong> momento <strong>de</strong> sua<br />
aprovação, cumprindo um papel <strong>de</strong> simplesmente<br />
homologar o que já está elaborado.<br />
Esses recursos são repassados periodicamente<br />
pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>, do Fundo Nacional<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> para o Fundo Municipal <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong>, e <strong>de</strong>vem ser aplicados em ações e serviços<br />
para <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> (discriminados <strong>no</strong>s PAM).<br />
No entanto, em função dos entraves existentes<br />
nesse processo, há muitas dificulda<strong>de</strong>s para<br />
o seu uso e, em alguns municípios, ocorre o<br />
problema <strong>de</strong> os recursos ficarem praticamente<br />
intocáveis, impedindo o cumprimento das<br />
metas planejadas. Além dos municípios, o Programa<br />
do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro também<br />
apresentou dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gasto, ainda que<br />
me<strong>no</strong>r do que em outros a<strong>no</strong>s.<br />
Os Programas Municipais <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong><br />
qualificados à Política do Incentivo <strong>de</strong>vem ser<br />
obrigatoriamente monitorados. Em agosto <strong>de</strong><br />
2004, o Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong><br />
formaliza um Sistema <strong>de</strong> Monitoramento,<br />
instituído pela Portaria nº 1679, com periodicida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>finidas, o que permite acompanhamento<br />
da execução dos PAM, com clara <strong>de</strong>finição<br />
<strong>de</strong> penalida<strong>de</strong>s, para os casos <strong>de</strong> não<br />
cumprimento e/ou não alcance do que fora proposto<br />
<strong>no</strong> respectivo PAM, po<strong>de</strong>ndo, inclusive,<br />
36
haver bloqueio <strong>de</strong> recurso. São cinco os eixos<br />
a serem monitorados: o cumprimento das metas;<br />
o acompanhamento <strong>de</strong> indicadores elaborados<br />
pelo Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong>;<br />
o acompanhamento financeiro; o cumprimento<br />
das pactuações <strong>de</strong> medicamentos <strong>de</strong> <strong>DST</strong>,<br />
Infecções Oportunistas (IO) e preservativos<br />
masculi<strong>no</strong>s 52mm; e o acompanhamento das<br />
parcerias com as Organizações da Socieda<strong>de</strong><br />
Civil (OSC) – este último item apenas para os<br />
Programas Estaduais, já que estes recebem recursos<br />
dirigidos especificamente às OSC. Isto<br />
não impe<strong>de</strong> que os municípios possuam metas<br />
e ações em seu planejamento (PAM) relacionadas<br />
com a socieda<strong>de</strong> civil.<br />
Os conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem atuar <strong>no</strong><br />
acompanhamento e na fiscalização do cumprimento<br />
das metas para que, efetivamente,<br />
esses recursos atinjam sua finalida<strong>de</strong>.<br />
Em relação às pactuações <strong>de</strong> medicamentos<br />
<strong>de</strong> <strong>DST</strong>, Infecções Oportunistas e preservativos<br />
masculi<strong>no</strong>s 52mm, as três esferas<br />
<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r são responsáveis. No <strong>Estado</strong> do Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, a Secretaria Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> é<br />
responsável pela aquisição <strong>de</strong> um elenco composto<br />
<strong>de</strong> 24 itens <strong>de</strong> medicamentos para as<br />
Infecções Oportunistas; já a responsabilida<strong>de</strong><br />
das Secretarias Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> é a da<br />
aquisição <strong>de</strong> sete itens para medicações <strong>de</strong><br />
<strong>DST</strong>. Os preservativos masculi<strong>no</strong>s 52mm <strong>de</strong>vem<br />
ser adquiridos pelo <strong>Estado</strong>, municípios<br />
e União. A análise do cumprimento das pactuações<br />
ainda é bastante limitada, pois uma<br />
boa parte dos municípios simplesmente não<br />
fornece estes dados ao estado. No entanto, po<strong>de</strong>mos<br />
informar que, apesar <strong>de</strong> as pactuações<br />
não serem cumpridas integralmente, comprometendo<br />
o abastecimento dos serviços e a<br />
atenção prestada, um número crescente <strong>de</strong><br />
municípios vem adquirindo mais itens pactuados.<br />
O cenário, porém, ainda está muito<br />
longe do i<strong>de</strong>al.<br />
2.3. CONTROLE SOCIAL NO ESTADO DO RIO<br />
DE JANEIRO<br />
2.3.1. Os Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong><br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
No <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, existem conselhos<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em todos os 92 municípios e<br />
um total <strong>de</strong> aproximadamente 1.551 conselheiros<br />
municipais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, distribuídos <strong>no</strong>s segmentos<br />
<strong>de</strong> usuários, trabalhadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e<br />
gestores e prestadores <strong>de</strong> serviços (público e<br />
privado).<br />
Cabe <strong>de</strong>stacar a importância <strong>de</strong> conhecer a<br />
história, situação e dinâmica <strong>de</strong> funcionamento<br />
dos conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Com esse objetivo, será<br />
apresentada a caracterização dos conselhos <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro a partir <strong>de</strong><br />
quatro eixos <strong>de</strong> análise – lei e a<strong>no</strong> <strong>de</strong> criação; composição;<br />
organização interna e dinâmica <strong>de</strong> funcionamento;<br />
e conferências <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> – para daí ser <strong>de</strong>senvolvida<br />
a reflexão.<br />
A metodologia utilizada foi a coleta e análise<br />
<strong>de</strong> dados primários e secundários, através <strong>de</strong><br />
pesquisa documental, cujas principais fontes foram<br />
os Conselhos Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong><br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro; Regimentos Inter<strong>no</strong>s e Leis<br />
<strong>de</strong> Criação; Projeto Políticas Públicas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,<br />
através dos mapeamentos sobre o controle social<br />
das 9 Regiões do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro (Metropolitana<br />
I, Metropolitana II, Serrana, Baixada<br />
Litorânea, Médio-Paraíba, Centro-Sul, Baía da<br />
Ilha Gran<strong>de</strong>, Norte e Noroeste) 12 .<br />
Lei e A<strong>no</strong> <strong>de</strong> Criação<br />
A Lei 8.142, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1990,<br />
criou os conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como instância colegiada<br />
do SUS em cada esfera <strong>de</strong> gover<strong>no</strong>, re-<br />
12<br />
Pesquisa realizada pelo Projeto Políticas Públicas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,<br />
da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviço social da UERJ, coor<strong>de</strong>nado pela Professora<br />
Maria Inês Souza Bravo e financiado pela UERJ, CNPq e<br />
FAPERJ.<br />
37
gulamentando o direito da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar<br />
do controle social na saú<strong>de</strong>. A análise do<br />
espaço <strong>de</strong> tempo entre a promulgação e a regulamentação<br />
da Lei 8.142/90 po<strong>de</strong> revelar uma<br />
mobilização da socieda<strong>de</strong> civil pelo exercício da<br />
participação na formulação, implementação e<br />
fiscalização da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, isto é, na luta<br />
pela <strong>de</strong>mocratização da gestão pública.<br />
No entanto, alguns conselhos municipais<br />
só são criados por exigência legal, sem uma discussão<br />
coletiva, pois sua existência é condição<br />
para o repasse <strong>de</strong> verbas, não havendo nenhuma<br />
preocupação por parte do po<strong>de</strong>r público <strong>de</strong><br />
garantir o direito da população <strong>de</strong> participar e<br />
interferir na gestão pública.<br />
No <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, a maioria<br />
dos conselhos foi criada <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 1991 (40%)<br />
e 1993 (16%). Neste período, foram publicadas<br />
as Normas Operacionais Básicas (NOBs) 91<br />
e 93, que colocam a criação dos conselhos como<br />
critério para a transferência <strong>de</strong> recursos pelo<br />
Gover<strong>no</strong> Fe<strong>de</strong>ral.<br />
Outros conselhos foram criados tardiamente,<br />
o que po<strong>de</strong> indicar dificulda<strong>de</strong>s para a<br />
efetivação do controle social na saú<strong>de</strong>.<br />
Composição dos Conselhos<br />
A concepção <strong>de</strong> conselho como espaço contraditório,<br />
adotada neste estudo, coloca a importância<br />
<strong>de</strong> se analisar as forças políticas que o compõem,<br />
com vistas a perceber a correlação <strong>de</strong> forças<br />
presente, o que possibilita visualizar as possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>ste espaço favorecer a gestão <strong>de</strong>mocrática<br />
das políticas públicas e a conseqüente efetivação<br />
dos princípios do Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />
Visando garantir que esse possa ser um espaço<br />
<strong>de</strong> participação efetiva para a população,<br />
assim como para os <strong>de</strong>mais segmentos envolvidos<br />
com a política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, foi homologada a<br />
Resolução nº 333, <strong>de</strong> 2003, do Conselho Nacional<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, segundo a qual a composição do conselho<br />
<strong>de</strong>ve ser paritária, com 50% dos representantes<br />
do segmento dos usuários, 25% dos<br />
trabalhadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e 25% dos prestadores<br />
<strong>de</strong> serviços públicos e privados 13 .<br />
Tal resolução significa um avanço na composição<br />
das instâncias colegiadas <strong>de</strong> participação<br />
política, conselhos e conferências, favorecendo<br />
a interferência da população na gestão<br />
da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, através da participação<br />
predominante dos usuários, que é o segmento<br />
alvo das políticas, e do engajamento dos trabalhadores<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com 25%. Reforça a participação<br />
dos conselhos na proposição, <strong>de</strong>finição,<br />
fiscalização e avaliação da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
municipal, estadual e nacional.<br />
Entretanto, alguns conselhos ainda adotam<br />
como referencial, para sua composição, a Lei 8.142,<br />
<strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1990, que <strong>de</strong>termina a composição<br />
paritária apenas com relação aos usuários,<br />
consi<strong>de</strong>rando 50% <strong>de</strong> usuários e 50% dos <strong>de</strong>mais<br />
segmentos representados <strong>no</strong> conselho.<br />
Analisando a composição dos conselhos<br />
do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, constata-se que<br />
86% são paritários <strong>de</strong> acordo com a Lei 8.142,<br />
segundo a qual o número <strong>de</strong> usuários <strong>de</strong>ve correspon<strong>de</strong>r<br />
a 50% do total <strong>de</strong> conselheiros, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
da divisão da outra meta<strong>de</strong> entre<br />
os representantes dos <strong>de</strong>mais segmentos.<br />
Cabe ainda ressaltar que 43,5% dos conselhos<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, me<strong>no</strong>s<br />
da meta<strong>de</strong>, são paritários segundo a Resolução<br />
333, <strong>de</strong> 2003, do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />
A parida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>finida na Resolução 333,<br />
configura-se como uma importante conquista <strong>no</strong><br />
sentido da garantia da representação dos trabalhadores<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong>s conselhos, visto que são<br />
sujeitos fundamentais na luta por melhores condições<br />
<strong>de</strong> trabalho, pela oferta dos serviços públicos,<br />
pela efetivação e ampliação dos direitos<br />
conquistados. Neste sentido, o não cumprimento<br />
da parida<strong>de</strong> estabelecida pela referida Reso-<br />
13<br />
Esta resolução aprofunda questões já <strong>de</strong>finidas na Resolução<br />
33, do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> 1993.<br />
38
lução po<strong>de</strong> obstaculizar a participação dos trabalhadores<br />
<strong>no</strong>s rumos da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, tendo<br />
em vista que esta não é garantida apenas com<br />
a parida<strong>de</strong> <strong>de</strong>finida pela Lei 8.142/90.<br />
Organização Interna e Dinâmica <strong>de</strong> Funcionamento<br />
A análise do caráter dos Conselhos, estabelecido<br />
pela Lei 8.142/90, é fundamental <strong>no</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização<br />
da esfera pública. Sobre o caráter consultivo<br />
ou <strong>de</strong>liberativo dos Conselhos, Santos (2002)<br />
argumenta que:<br />
“Enquanto o <strong>de</strong> atribuição consultiva concebe<br />
a participação como colaboração e assessoria<br />
à gestão, conformando Conselhos do tipo<br />
técnico-<strong>no</strong>rmativo integrados por ‘técnicos <strong>de</strong><br />
<strong>no</strong>tório saber’, o <strong>de</strong> atribuição <strong>de</strong>liberativa a<br />
concebe como constituição <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r,<br />
capazes <strong>de</strong> interferir na natureza da gestão<br />
das políticas públicas” (2002: 65).<br />
De acordo com a lei n° 8142, os Conselhos<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> possuem caráter <strong>de</strong>liberativo. Esta característica<br />
possibilita a intervenção direta da socieda<strong>de</strong><br />
nas políticas públicas, uma vez que<br />
garante que as discussões travadas tenham como<br />
<strong>de</strong>sdobramento uma <strong>de</strong>liberação, que será homologada<br />
pelo chefe do po<strong>de</strong>r da esfera <strong>de</strong> gover<strong>no</strong><br />
correspon<strong>de</strong>nte e cujo cumprimento é assegurado<br />
por lei. Assim, esse não será apenas um espaço<br />
<strong>de</strong> discussão, mas <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões coletivas<br />
que po<strong>de</strong>m mudar a direção da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
O caráter consultivo, portanto, retira dos<br />
Conselhos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção direta da<br />
socieda<strong>de</strong> nas políticas públicas, sendo retrato <strong>de</strong><br />
uma distorção dos objetivos dos Conselhos, além<br />
<strong>de</strong> ferir os princípios da Lei Orgânica da Saú<strong>de</strong>.<br />
A maioria dos Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong><br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro, ou seja, quase a totalida<strong>de</strong>,<br />
tem caráter <strong>de</strong>liberativo.<br />
Os conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> foram criados como<br />
instância <strong>de</strong> participação política da socieda<strong>de</strong>,<br />
através da representação dos três segmentos<br />
envolvidos <strong>no</strong> universo da saú<strong>de</strong>. Logo, a<br />
presença <strong>de</strong>sses representantes, nas reuniões do<br />
conselho, é fundamental para que esse espaço<br />
seja representativo dos interesses coletivos; caso<br />
contrário, será enfraquecido seu papel <strong>de</strong> controle<br />
social. Por isso, o quórum estabelecido para<br />
as reuniões <strong>de</strong>monstra o grau <strong>de</strong> representativida<strong>de</strong><br />
garantido neste fórum e a possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> exercício do controle social.<br />
É importante <strong>de</strong>stacar que, para a maioria<br />
dos municípios, o quórum para <strong>de</strong>liberação correspon<strong>de</strong><br />
a 50% +1 (56,61%). A Resolução nº<br />
333/03 do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CNS)<br />
recomenda que as <strong>de</strong>cisões dos Conselhos sejam<br />
adotadas pelo voto <strong>de</strong> pelo me<strong>no</strong>s meta<strong>de</strong><br />
mais um <strong>de</strong> seus integrantes.<br />
Como já foi colocado, os conselhos são espaços<br />
on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>libera acerca da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
a partir do que se discute nas reuniões. Desse<br />
modo, a periodicida<strong>de</strong> das reuniões é<br />
garantia <strong>de</strong> que as discussões das questões levadas<br />
ao conselho terão continuida<strong>de</strong>. Da mesma<br />
forma, se possibilita a implementação das<br />
<strong>de</strong>liberações e, caso estas não sejam postas em<br />
prática pelo po<strong>de</strong>r público, o conselho irá pensar<br />
estratégias para cobrar o seu cumprimento.<br />
Partindo-se do entendimento dos conselhos<br />
como espaço <strong>de</strong> disputa, as reuniões são<br />
um momento importante <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> idéias,<br />
quando se <strong>de</strong>fine a direção política <strong>de</strong>ste fórum.<br />
Além disso, constituem-se em espaço <strong>de</strong> luta<br />
para que as <strong>de</strong>mandas das entida<strong>de</strong>s representadas<br />
sejam consi<strong>de</strong>radas, sem se afastar do interesse<br />
coletivo.<br />
A maioria dos conselhos do <strong>Estado</strong> do Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro se reúne regularmente; em 98% <strong>de</strong>les<br />
a periodicida<strong>de</strong> das reuniões é mensal. Consi<strong>de</strong>ra-se<br />
que as reuniões <strong>de</strong>vem ser periódicas<br />
para que, <strong>de</strong> fato, o Conselho <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> cumpra<br />
com o seu papel <strong>de</strong> controle social.<br />
39
Conferências <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
As Conferências <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> são fóruns periódicos<br />
on<strong>de</strong> os diversos segmentos sociais se reúnem<br />
para avaliar a situação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>finir<br />
priorida<strong>de</strong>s e estratégias <strong>de</strong> ações e propor as<br />
diretrizes da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>no</strong>s âmbitos distrital,<br />
municipal, estadual e nacional.<br />
Estes espaços são importantes para que a<br />
socieda<strong>de</strong> participe da discussão, formulação e<br />
aprovação do Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, reivindicando que<br />
suas <strong>de</strong>mandas sejam contempladas <strong>no</strong> mesmo.<br />
Logo, é fundamental que a população esteja organizada<br />
para garantir a realização <strong>de</strong>sse fórum<br />
e, assim, exercer seu direito <strong>de</strong> interferir na gestão<br />
da política pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
De acordo com a Lei 8.142/90, as conferências<br />
<strong>de</strong>vem ocorrer pelo me<strong>no</strong>s a cada quatro<br />
a<strong>no</strong>s, sendo convocada pelo Po<strong>de</strong>r Executivo ou,<br />
extraordinariamente, pelo Conselho <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />
O espaço <strong>de</strong> tempo em que são realizadas<br />
as conferências po<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar o grau <strong>de</strong> organização<br />
da população e sua inserção na formulação<br />
e fiscalização da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, além<br />
<strong>de</strong> mostrar se há o compromisso do po<strong>de</strong>r público<br />
local com a gestão <strong>de</strong>mocrática das políticas<br />
públicas.<br />
Com relação ao intervalo <strong>de</strong> tempo em que<br />
ocorrem as Conferências Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
<strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, a maioria (52%)<br />
acontece a cada 2 a<strong>no</strong>s.<br />
2.3.2. O Perfil dos Conselheiros <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro 14<br />
O estudo dos perfis dos conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>no</strong>s possibilita<br />
algumas reflexões, além <strong>de</strong> ser fundamental para<br />
14<br />
Investigação realizada pelo Projeto Políticas Públicas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,<br />
da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviço <strong>Social</strong> da UERJ, coor<strong>de</strong>nado pela Professora<br />
Maria Inês Souza Bravo e financiado pela UERJ, CNPq e<br />
FAPERJ.<br />
a apreensão dos pontos em que precisamos avançar<br />
para que os conselhos sejam efetivados enquanto<br />
espaços <strong>de</strong>mocráticos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da política<br />
pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> através da presença e ação<br />
organizada dos diversos segmentos sociais, bem<br />
como para a formulação <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> ação<br />
para o fortalecimento do controle social.<br />
Os dados referentes à faixa etária dos conselheiros<br />
apontam para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> re<strong>no</strong>vação<br />
dos quadros políticos que atuam com o controle social<br />
na área da saú<strong>de</strong>, por meio do envolvimento <strong>de</strong><br />
<strong>no</strong>vos sujeitos na discussão acerca da participação<br />
popular <strong>no</strong>s rumos da política pública. A re<strong>no</strong>vação<br />
possibilitará que as ban<strong>de</strong>iras e lutas concernentes<br />
ao Movimento <strong>de</strong> Reforma Sanitária<br />
tenham continuida<strong>de</strong> e possam se realizar <strong>no</strong> presente,<br />
<strong>no</strong> sentido da construção <strong>de</strong> uma pauta <strong>de</strong><br />
reivindicações e <strong>de</strong> uma agenda <strong>de</strong> lutas que resgate<br />
este projeto na sua totalida<strong>de</strong>.<br />
Nesse sentido, consi<strong>de</strong>ramos importante<br />
a mobilização dos jovens para que se insiram<br />
na luta pela saú<strong>de</strong>. Algumas estratégias são necessárias,<br />
tais como sensibilizar estudantes universitários<br />
para esta participação através <strong>de</strong> suas<br />
entida<strong>de</strong>s, por exemplo, os Centros Acadêmicos<br />
e Executivas <strong>de</strong> Curso da área da saú<strong>de</strong>, bem<br />
como mobilizar os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> recémadmitidos<br />
nas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, e também<br />
criar comissão <strong>de</strong> jovens nas associações <strong>de</strong> moradores.<br />
Outra estratégia interessante consiste<br />
na aproximação <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s e movimentos sociais<br />
que não tenham um histórico <strong>de</strong> atuação<br />
na área da saú<strong>de</strong> ou que já tenham tido.<br />
No que tange às entida<strong>de</strong>s representantes<br />
dos três segmentos <strong>no</strong>s conselhos, <strong>de</strong>stacamos<br />
que as distorções verificadas na representação<br />
<strong>de</strong> usuários e trabalhadores configuram-se em entraves<br />
para a efetivação do controle social. A<br />
concepção dos conselhos enquanto espaços contraditórios<br />
impõe a luta pela garantia da representação<br />
<strong>de</strong> usuários e gestores por membros<br />
das entida<strong>de</strong>s vinculadas a estes segmentos, sen-<br />
40
do esse um passo fundamental para a real participação<br />
e interferência da socieda<strong>de</strong> nas <strong>de</strong>cisões<br />
referentes à política pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />
forma que as suas <strong>de</strong>mandas sejam <strong>de</strong> fato contempladas.<br />
A pouca participação dos conselheiros em partidos<br />
políticos e sindicatos é mais um fator relevante<br />
e que merece a atenção dos sujeitos que<br />
atuam <strong>no</strong> controle social, pois <strong>de</strong>monstra que a<br />
perspectiva política dos conselheiros po<strong>de</strong> estar<br />
restrita somente à saú<strong>de</strong>, e não a um projeto<br />
societário mais amplo. A maior participação<br />
nestas organizações <strong>de</strong> certo contribuiria para<br />
qualificar o <strong>de</strong>bate <strong>de</strong>sses conselheiros e potencializar<br />
a participação popular.<br />
2.3.3. Os Seminários <strong>de</strong> Políticas Públicas<br />
<strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> e <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong><br />
Nos seminários, foram apontados inúmeros<br />
problemas na constituição e na representação<br />
dos conselhos, tais como: falta <strong>de</strong> parida<strong>de</strong>;<br />
falta <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns representantes;<br />
política <strong>de</strong> clientelismo e corporativismo <strong>de</strong>ntro<br />
dos conselhos; falta <strong>de</strong> representativida<strong>de</strong><br />
efetiva dos conselheiros por estarem distantes<br />
<strong>de</strong> suas bases; o não cumprimento das <strong>de</strong>cisões<br />
dos conselhos pelos gestores; o pouco conhecimento<br />
dos conselheiros sobre o funcionamento<br />
do SUS e do próprio controle social, entre outros.<br />
No entanto, é preciso consi<strong>de</strong>rar o quanto<br />
é <strong>no</strong>va essa experiência do controle social e que<br />
a saú<strong>de</strong> é pioneira nesse processo. Ao longo do<br />
tempo, alguns instrumentos <strong>de</strong> aperfeiçoamento<br />
dos conselhos têm sido adotados, como a Resolução<br />
333 do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />
2003, já referida.<br />
O Ministério Público foi lembrado como<br />
outra instância que po<strong>de</strong> ser acionada para fazer<br />
valer os direitos à saú<strong>de</strong> e fazer com que as<br />
<strong>de</strong>liberações dos conselhos sejam cumpridas.<br />
Como a saú<strong>de</strong> é consi<strong>de</strong>rada uma ação <strong>de</strong> relevância<br />
pública, po<strong>de</strong>-se contar com a atuação<br />
do Ministério Público, a quem incumbe “a <strong>de</strong>fesa<br />
da or<strong>de</strong>m jurídica, do regime <strong>de</strong>mocrático<br />
e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”<br />
(Art. 127 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral). Na<br />
sua função <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensor dos direitos, a atuação<br />
do Ministério Público envolve a fiscalização do<br />
cumprimento das políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, do funcionamento<br />
dos conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, bem como o<br />
monitoramento <strong>de</strong> todas as ações e serviços <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> a que a população tem direito.<br />
Um outro aspecto do controle social a ser<br />
consi<strong>de</strong>rado e que foi exaustivamente discutido<br />
diz respeito à <strong>de</strong>scentralização. A Norma<br />
Operacional <strong>de</strong> Assistência em Saú<strong>de</strong> (NOAS)<br />
trouxe a proposta <strong>de</strong> regionalização da re<strong>de</strong> assistencial,<br />
procurando corrigir as distorções relacionadas<br />
ao acesso da população e à equida<strong>de</strong><br />
em relação à oferta <strong>de</strong> serviços do setor público.<br />
No que se refere à <strong>AIDS</strong>, esse processo resultou<br />
<strong>no</strong> <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> incentivo<br />
com transferência fundo a fundo e pacto com<br />
os estados e municípios em relação à aquisição<br />
<strong>de</strong> medicamentos para doenças oportunistas,<br />
para <strong>DST</strong> e preservativos. Houve consenso entre<br />
os presentes <strong>no</strong>s seminários <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>scentralização<br />
é o caminho para materializar os<br />
preceitos da universalida<strong>de</strong> e integralida<strong>de</strong> da<br />
atenção, mas que ainda está muito incipiente.<br />
Há uma série <strong>de</strong> obstáculos a serem vencidos<br />
para que os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> possam, <strong>de</strong> fato,<br />
prestar a assistência à saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma universal,<br />
integral e com qualida<strong>de</strong>. Foi lembrado que<br />
a integralida<strong>de</strong> só é alcançada com a combinação<br />
<strong>de</strong> prevenção e assistência e que, <strong>no</strong> caso da<br />
<strong>AIDS</strong>, esse processo tem sido mais forte nas ações<br />
assistenciais. As ações <strong>de</strong> prevenção continuam<br />
sendo financiadas com recursos do acordo <strong>de</strong><br />
empréstimo com o Banco Mundial e não há indicação<br />
<strong>de</strong> como será assegurada sua sustentabilida<strong>de</strong><br />
futura. Em relação à sustentabilida<strong>de</strong><br />
das organizações não-governamentais há uma<br />
41
avaliação <strong>de</strong> que se vive uma situação <strong>de</strong> incerteza<br />
quanto ao financiamento, tendo em vista<br />
que a <strong>de</strong>scentralização não tem assegurado os<br />
acordos que foram estabelecidos na Política <strong>de</strong><br />
Incentivo. O aperfeiçoamento do controle social<br />
é lembrado como uma condição essencial<br />
para o avanço das políticas públicas, como a da<br />
<strong>de</strong>scentralização da atenção à saú<strong>de</strong> e das ações<br />
voltadas para as <strong>DST</strong>s/<strong>AIDS</strong>.<br />
2.4. DIAGNÓSTICO E PROPOSTAS<br />
2.4.1. Diagnóstico Situacional da <strong>AIDS</strong> nas<br />
Regiões do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
Durante as oficinas regionais foi realizado<br />
um diagnóstico situacional da <strong>AIDS</strong> nas regiões,<br />
com o levantamento dos principais problemas<br />
que os municípios enfrentam para atuar<br />
<strong>no</strong> combate à <strong>AIDS</strong>. Na seqüência, é feita uma<br />
síntese dos principais problemas i<strong>de</strong>ntificados,<br />
por região, dando-se <strong>de</strong>staque para as<br />
questões específicas mais relevantes dos municípios.<br />
Esse diagnóstico foi feito com base<br />
na discussão dos participantes em trabalhos <strong>de</strong><br />
grupos e em dados trazidos durante as mesasredondas<br />
e painéis.<br />
Região Metropolitana I<br />
Participaram os seguintes municípios:<br />
Belford Roxo, Duque <strong>de</strong> Caxias, Itaguaí, Japeri,<br />
Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu,<br />
Queimados, Rio <strong>de</strong> Janeiro, São João do Meriti<br />
e Seropédica.<br />
Problemas comuns a todos os municípios da região:<br />
• Falta <strong>de</strong> intersetorialida<strong>de</strong> das ações para <strong>DST</strong>/<br />
<strong>AIDS</strong> com outros programas, inclusive o Programa<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família (PSF);<br />
• Falta <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s, tanto em termos<br />
quantitativos quanto em termos <strong>de</strong> qualificação<br />
para trabalhar com HIV/<strong>AIDS</strong>;<br />
• Falta <strong>de</strong> qualificação dos agentes comunitários<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> outros profissionais do<br />
PSF para trabalhar com a questão do HIV/<br />
<strong>AIDS</strong>;<br />
• Precarização do trabalho do agente comunitário<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />
• Falta ou insuficiência <strong>de</strong> insumos e <strong>de</strong> kits<br />
para diagnóstico do HIV e acompanhamento<br />
do CD4 e carga viral;<br />
• Insuficiência <strong>de</strong> preservativos, tanto masculi<strong>no</strong>s<br />
quanto femini<strong>no</strong>s;<br />
• Falta <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> política dos gestores <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>;<br />
• Gran<strong>de</strong> rotativida<strong>de</strong> dos coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong><br />
programas e <strong>de</strong> profissionais, por motivos políticos;<br />
• Falta <strong>de</strong> medicamentos <strong>de</strong> infecção oportunista<br />
em alguns municípios; a contrapartida<br />
do estado é problemática para garantir o abastecimento<br />
<strong>de</strong> medicamentos <strong>de</strong> uso contínuo;<br />
• Problemas <strong>de</strong> <strong>no</strong>tificação <strong>de</strong> casos, <strong>de</strong>correntes<br />
da migração <strong>de</strong> pacientes para outros municípios,<br />
em razão do preconceito;<br />
• Falta <strong>de</strong> divulgação do programa na região;<br />
• Materiais educativos insuficientes ou ina<strong>de</strong>quados;<br />
• Pouca ou nenhuma integração entre os diversos<br />
atores, como ONGs, comunida<strong>de</strong>, conselhos<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />
• Desconhecimento, por parte do Conselho <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong>, sobre o Programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong>;<br />
• Em muitos municípios, não é feita parceria<br />
entre o setor público e entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong><br />
civil (ONGs, pastorais etc.).<br />
Problemas específicos <strong>de</strong> alguns municípios da região:<br />
• Não criação do Fundo Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
(Seropédica);<br />
• Falta <strong>de</strong> hospital <strong>de</strong> referência para HIV/<strong>AIDS</strong><br />
(Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu e Queimados);<br />
• Problemas <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> conflitos com o tráfico<br />
(Rio <strong>de</strong> Janeiro).<br />
42
Região Metropolitana II<br />
Participaram os seguintes municípios da<br />
região: Itaboraí, Maricá, Silva Jardim, Niterói,<br />
São Gonçalo, Rio Bonito, Tanguá.<br />
Problemas comuns a todos os municípios da região:<br />
• Falta <strong>de</strong> divulgação do programa e dos pólos<br />
<strong>de</strong> atendimento;<br />
• Problemas com a assistência hospitalar;<br />
• Insuficiência <strong>de</strong> preservativos;<br />
• Recursos huma<strong>no</strong>s insuficientes e falta <strong>de</strong><br />
equipe multidisciplinar;<br />
• Falta <strong>de</strong> ambulatório para referência municipal;<br />
• Falta <strong>de</strong> qualificação dos profissionais;<br />
• Falta <strong>de</strong> capacitação dos conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
(não sabem o que é o PAM, como é a prevenção<br />
e assistência em <strong>AIDS</strong>);<br />
• Falta <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos casos;<br />
• Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acompanhamento dos casos<br />
pelas unida<strong>de</strong>s do PSF;<br />
• Falta <strong>de</strong> <strong>no</strong>tificação dos casos suspeitos e confirmados<br />
pelos profissionais <strong>de</strong> ponta;<br />
• Falta <strong>de</strong> recursos e <strong>de</strong> estrutura necessária para<br />
o atendimento;<br />
• Falta <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> referência e contrareferência;<br />
• Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionamento da coor<strong>de</strong>nação<br />
com os Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />
Problemas específicos <strong>de</strong> alguns municípios da região:<br />
• Falta <strong>de</strong> profissional enfermeiro e assistente<br />
social (Maricá);<br />
• Hospitais em precárias condições (Niterói).<br />
Região Centro-Sul<br />
Participaram os seguintes municípios da<br />
região: Areal, Men<strong>de</strong>s, Vassouras, Sapucaia, Miguel<br />
Pereira, Paracambi, Paty do Alferes, Paraíba<br />
do Sul e Comendador Levy Gasparian.<br />
Problemas comuns a todos os municípios da região:<br />
• Hegemonia do setor privado e filantrópico na região<br />
(97% dos leitos hospitalares são privados);<br />
• Problemas <strong>no</strong> sistema <strong>de</strong> informação (sub<strong>no</strong>tificações,<br />
atraso nas <strong>no</strong>tificações);<br />
• Baixa cobertura do PSF (49%);<br />
• Estrangulamento do acesso para a média e a<br />
alta complexida<strong>de</strong>;<br />
• Ausência <strong>de</strong> ações para <strong>de</strong>pendência química;<br />
• Insuficiência <strong>de</strong> ações voltadas para UTI mater<strong>no</strong>-infantil;<br />
• Problemas <strong>de</strong> referência e contra-referência;<br />
• Falta <strong>de</strong> insumos;<br />
• Falta <strong>de</strong> ações em educação em saú<strong>de</strong> (as campanhas<br />
não são regulares);<br />
• Falta <strong>de</strong> capacitação dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
para atuarem <strong>no</strong>s programas em <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>;<br />
• Rotativida<strong>de</strong> dos profissionais, não dando continuida<strong>de</strong><br />
às ações <strong>de</strong>senvolvidas (profissionais<br />
são capacitados e retirados do cargo<br />
quando ocorre troca do gover<strong>no</strong>);<br />
• Falta <strong>de</strong> capacitação para os conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />
• Não retor<strong>no</strong>, por parte dos conselheiros, à sua<br />
base (falta <strong>de</strong> comunicação);<br />
• Pouco acompanhamento por parte do Conselho<br />
Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />
• Não respeito à parida<strong>de</strong> <strong>no</strong>s conselhos;<br />
• Falta <strong>de</strong> infra-estrutura e <strong>de</strong> dotação orçamentária<br />
própria dos conselhos;<br />
• Não participação do controle social <strong>no</strong> consórcio<br />
intermunicipal.<br />
Região Médio-Paraíba<br />
Participaram os seguintes municípios da região:<br />
Porto Real, Barra Mansa, Barra do Piraí, Valença,<br />
Pinheiral, Volta Redonda, Resen<strong>de</strong> e Quatis.<br />
Problemas comuns a todos os municípios da região:<br />
• Hegemonia do setor privado e filantrópico na região<br />
(71% dos leitos hospitalares são privados);<br />
• Baixa cobertura do PSF (12%);<br />
• Sistema <strong>de</strong> informação <strong>de</strong>ficiente;<br />
• Insuficiência gerencial do SUS;<br />
• Falta <strong>de</strong> diálogo entre os programas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<br />
<strong>AIDS</strong> e os Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />
43
• Os Conselhos Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CMS)<br />
aprovam os Pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Ações e Metas (PAMs),<br />
mas não são apresentadas as programações;<br />
• Os PAMs vêm <strong>de</strong>finidos, sem possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> intervenção dos conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />
• Falta <strong>de</strong> critérios para <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s<br />
em face da escassez <strong>de</strong> recursos;<br />
• Recursos insuficientes e dificulda<strong>de</strong>s <strong>no</strong> repasse<br />
<strong>de</strong> recursos e na compra <strong>de</strong> serviços da<br />
atenção básica;<br />
• Falta <strong>de</strong> profissionais e alta rotativida<strong>de</strong> dos<br />
mesmos;<br />
• Precarização do trabalho;<br />
• Falta <strong>de</strong> capacitação dos conselheiros;<br />
• Falta <strong>de</strong> retor<strong>no</strong> dos conselheiros às suas bases.<br />
Região Baía da Ilha Gran<strong>de</strong><br />
Participaram os seguintes municípios da<br />
região: Mangaratiba, Parati e Angra dos Reis.<br />
Problemas comuns a todos os municípios da região:<br />
• Gran<strong>de</strong> participação do setor privado e filantrópico<br />
na região (40% dos leitos hospitalares<br />
são privados);<br />
• Baixa cobertura do PSF (12%);<br />
• Estrangulamento <strong>no</strong> acesso à média e à alta<br />
complexida<strong>de</strong>;<br />
• Sistema <strong>de</strong> informação <strong>de</strong>ficiente;<br />
• Deficiência na atenção mater<strong>no</strong>-infantil;<br />
• Alta incidência do HIV;<br />
• Presença <strong>de</strong> muitos fatores <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>:<br />
pólo turístico, turismo sexual, alto<br />
consumo <strong>de</strong> drogas, área portuária, rota <strong>de</strong><br />
transportes, rotativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra do<br />
parque industrial (usina-estaleiro);<br />
• Falta <strong>de</strong> recursos financeiros;<br />
• Falta <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> política do gestor;<br />
• Falta <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> contas financeira e <strong>de</strong> gestão;<br />
• Falta <strong>de</strong> capacitação continuada dos conselheiros;<br />
• Falta <strong>de</strong> estrutura física e financeira para os<br />
Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />
• Falta <strong>de</strong> retor<strong>no</strong> dos conselheiros às suas bases;<br />
• Falta <strong>de</strong> divulgação das ativida<strong>de</strong>s do CMS;<br />
• Legislação ina<strong>de</strong>quada que permite o <strong>de</strong>scumprimento<br />
das <strong>de</strong>cisões do CMS pelo gestor;<br />
• Falta <strong>de</strong> estrutura física/financeira para o funcionamento<br />
do CMS.<br />
Região Baixada Litorânea<br />
Participaram os seguintes municípios da<br />
região: Cabo Frio, Arraial do Cabo, Búzios, Araruama,<br />
Iguaba, Saquarema, Casimiro <strong>de</strong> Abreu<br />
e Rio das Ostras.<br />
Problemas comuns a todos os municípios da região:<br />
• Falta <strong>de</strong> divulgação do programa e dos locais<br />
<strong>de</strong> atendimento;<br />
• Falta <strong>de</strong> CTA e <strong>de</strong> laboratórios;<br />
• Insuficiência <strong>de</strong> preservativos e <strong>de</strong> medicamentos<br />
para infecções oportunistas;<br />
• Falta <strong>de</strong> testes rápidos;<br />
• Recursos huma<strong>no</strong>s insuficientes e falta <strong>de</strong><br />
equipe multidisciplinar;<br />
• Falta <strong>de</strong> ambulatório para referência municipal;<br />
• Falta <strong>de</strong> qualificação dos profissionais;<br />
• Falta <strong>de</strong> capacitação dos conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
(não sabem o que é o PAM, como é a prevenção<br />
e assistência em <strong>AIDS</strong>);<br />
• Falta <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos casos;<br />
• Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acompanhamento dos casos<br />
pelas unida<strong>de</strong>s do PSF;<br />
• Falta <strong>de</strong> <strong>no</strong>tificação dos casos <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>;<br />
• Falta <strong>de</strong> recursos e <strong>de</strong> estrutura necessária para<br />
o atendimento;<br />
• Falta <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> referência e contrareferência;<br />
• Baixa qualida<strong>de</strong> dos serviços, com pouca a<strong>de</strong>são<br />
ao tratamento;<br />
• Migração <strong>de</strong> pacientes para outros municípios;<br />
• Falta <strong>de</strong> comprometimento dos gestores.<br />
Região Serrana<br />
Participaram os seguintes municípios da<br />
região: Teresópolis, Petrópolis, Carmo, Canta-<br />
44
galo, Cor<strong>de</strong>iro, São José do Rio Preto e São Sebastião<br />
do Alto.<br />
Problemas comuns a todos os municípios da região:<br />
• Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> implantação do PAM;<br />
• Falta <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s para utilização dos<br />
recursos do PAM;<br />
• Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> integração com o PSF;<br />
• Falta <strong>de</strong> informações sobre o PAM <strong>no</strong> Conselho<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />
• Falta <strong>de</strong> equipes capacitadas.<br />
Problemas específicos <strong>de</strong> alguns municípios da região:<br />
• Inexistência ou <strong>de</strong>sarticulação do programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<br />
<strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> município (Traja<strong>no</strong>, Carmo, São José);<br />
• Não tem PAM (São Sebastião do Alto);<br />
• Não tem casos <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong>tificados (Traja<strong>no</strong>);<br />
• Falta <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> projetos da gestão anterior<br />
(Cantagalo).<br />
Regiões Norte e Noroeste<br />
Participaram os seguintes municípios das<br />
regiões Norte e Noroeste: Porciúncula, Nativida<strong>de</strong>,<br />
Varre-Sai, Miracema, São José <strong>de</strong> Ubá, Itaperuna,<br />
Itaocara, Italva, Macaé, Conceição <strong>de</strong><br />
Macabú, Carapebus, Quissamã, Campos, São<br />
João da Barra, São Francisco <strong>de</strong> Itabapoana,<br />
Cardoso Moreira, Santo Antônio <strong>de</strong> Pádua e<br />
Bom Jesus <strong>de</strong> Cambuci.<br />
Problemas comuns a todos os municípios das regiões:<br />
• Falta <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s, rotativida<strong>de</strong> dos<br />
profissionais e pouca qualificação técnicoprofissional;<br />
• Falta <strong>de</strong> estrutura na re<strong>de</strong> e <strong>no</strong>s programas;<br />
• Ausência <strong>de</strong> política <strong>de</strong> referência e contrareferência<br />
local e intermunicipal;<br />
• Não existência <strong>de</strong> alguns programas estratégicos;<br />
• População flutuante dificultando o planejamento<br />
das ações;<br />
• Pouca informação por parte dos usuários sobre<br />
os programas e serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> oferecidos,<br />
como o PSF;<br />
• Recursos financeiros mal distribuídos e reduzidos;<br />
• Ausência <strong>de</strong> intersetorialida<strong>de</strong> nas ações;<br />
• Forma <strong>de</strong> cálculo para distribuição da verba (repasse<br />
para cada município segundo população);<br />
• Falta <strong>de</strong> capacitação dos conselheiros;<br />
• Forma <strong>de</strong> escolha dos conselheiros;<br />
• Falta <strong>de</strong> representativida<strong>de</strong> dos conselheiros<br />
(falta <strong>de</strong> comunicação com a base).<br />
Problemas específicos <strong>de</strong> alguns municípios das regiões:<br />
• Falta <strong>de</strong> equipamento para atendimento <strong>de</strong><br />
urgência e emergência (Porciúncula);<br />
• Não funcionamento do consórcio (Bom Jesus<br />
do Itabapoana);<br />
• Falta <strong>de</strong> hospital (São José <strong>de</strong> Ubá, Miracema,<br />
Itaocara);<br />
• Teto financeiro insuficiente para o atendimento<br />
da <strong>de</strong>manda, pois é município-pólo (Campos);<br />
• Difícil acesso da população rural ao atendimento<br />
na se<strong>de</strong> (São João da Barra).<br />
2.4.2. Propostas<br />
Os grupos realizaram um diagnóstico situacional<br />
sobre a <strong>AIDS</strong> e o controle social em<br />
sua região, particularmente em relação aos conselhos<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. A partir da i<strong>de</strong>ntificação dos<br />
principais problemas, foram feitas sugestões ou<br />
propostas com o objetivo <strong>de</strong> superar os pontos<br />
críticos relacionados com a assistência às <strong>DST</strong>s/<br />
<strong>AIDS</strong> e para fortalecer o controle social.<br />
2.4.2.1. Relacionadas à Prevenção e Assistência às<br />
<strong>DST</strong>s/<strong>AIDS</strong><br />
As propostas enfatizaram quatro eixos:<br />
Recursos Huma<strong>no</strong>s; Estrutura dos Serviços;<br />
Mo<strong>de</strong>lo Assistencial/ Programas e Financiamento<br />
das Ações.<br />
Recursos Huma<strong>no</strong>s<br />
• Política <strong>de</strong> valorização profissional;<br />
• Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Carreira, Cargos e Salários;<br />
45
• Capacitação <strong>de</strong> profissionais em relação às<br />
<strong>DST</strong>s/<strong>AIDS</strong>;<br />
• Articulação com as Universida<strong>de</strong>s (PEP) para<br />
capacitação dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />
• Sensibilização dos profissionais para a <strong>no</strong>tificação<br />
<strong>de</strong> casos;<br />
• Contratação <strong>de</strong> mais profissionais do PSF (ampliação<br />
das equipes), com recursos do fundo<br />
<strong>de</strong> participação do estado;<br />
• Contratação <strong>de</strong> profissionais por meio <strong>de</strong> concurso<br />
público;<br />
• Contratação <strong>de</strong> profissionais para formação <strong>de</strong><br />
equipes multiprofissionais;<br />
• Exigência do cumprimento <strong>de</strong> carga horária.<br />
Estrutura dos Serviços<br />
• Criação <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vigilância epi<strong>de</strong>miológica;<br />
• Garantia <strong>de</strong> assistência à <strong>de</strong>pendência química;<br />
• Desconcentração das referências laboratoriais<br />
para CD4 e Carga Viral (ou seja, ”<strong>de</strong>safogar”<br />
a <strong>de</strong>manda ainda reprimida <strong>de</strong> atendimento);<br />
• Criação <strong>de</strong> CTA volante;<br />
• Criação do 3º tur<strong>no</strong> em CTA;<br />
• Construção <strong>de</strong> espaço exclusivo para o SAE;<br />
• Estruturação da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> exames laboratoriais;<br />
• Criação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> referência para internação<br />
pediátrica <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>;<br />
• Melhoria da assistência pré-natal;<br />
• Garantia do aporte <strong>de</strong> insumos como preservativos<br />
masculi<strong>no</strong> e femini<strong>no</strong>;<br />
• Garantia da distribuição <strong>de</strong> medicamentos <strong>de</strong><br />
uso continuado.<br />
Mo<strong>de</strong>lo Assistencial/Programas<br />
• Formação <strong>de</strong> consórcios intermunicipais para<br />
controle das <strong>DST</strong>s/<strong>AIDS</strong>;<br />
• Promoção da instersetoralida<strong>de</strong> das ações <strong>de</strong><br />
prevenção e tratamento da <strong>AIDS</strong>;<br />
• Promoção da educação em saú<strong>de</strong>, com campanhas<br />
regulares;<br />
• Desenvolvimento do Projeto Saú<strong>de</strong> e Prevenção<br />
nas Escolas;<br />
• Criação <strong>de</strong> fórum regional intersetorial permanente<br />
(educação, saú<strong>de</strong>, turismo, ação social);<br />
• Promoção da integração dos programas <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> com os diversos atores sociais;<br />
• Instituição dos programas estratégicos como<br />
o PSF e <strong>de</strong> controle das <strong>DST</strong>s/<strong>AIDS</strong> <strong>no</strong>s municípios<br />
on<strong>de</strong> eles não estão estruturados;<br />
• Exigência do compromisso das Secretarias <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> com o trabalho <strong>de</strong> prevenção às <strong>DST</strong>s/<br />
<strong>AIDS</strong>, mesmo on<strong>de</strong> o programa não estiver<br />
implantado;<br />
• Rediscussão dos pólos <strong>de</strong> referência;<br />
• Discussão da central <strong>de</strong> regulação, para garantir<br />
seu funcionamento;<br />
• Criação <strong>de</strong> pólos com equipe multiprofissional,<br />
para o atendimento <strong>de</strong> pacientes HIV nas<br />
unida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />
• Criação <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s regionais para aten<strong>de</strong>r as<br />
necessida<strong>de</strong>s dos municípios que não contam<br />
com serviços <strong>de</strong> maior complexida<strong>de</strong> e rediscussão<br />
<strong>de</strong> alguns pólos regionais;<br />
• Definição <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> referência e contra-referência<br />
locais e intermunicipais.<br />
Financiamento das Ações<br />
• Aumento do financiamento pelo estado e pelo<br />
po<strong>de</strong>r público local;<br />
• Prestação <strong>de</strong> contas dos gastos dos Programas<br />
e ONG, trimestralmente, <strong>no</strong>s Conselhos Municipais<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />
• Auto<strong>no</strong>mia na gerência do fundo da saú<strong>de</strong><br />
pela Secretaria Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, com fiscalização<br />
do Conselho Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />
• Auto<strong>no</strong>mia da coor<strong>de</strong>nação do Programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong><br />
e <strong>AIDS</strong>, em relação à utilização das verbas do PAM.<br />
2.4.2.2. Referentes ao Fortalecimento do <strong>Controle</strong><br />
<strong>Social</strong><br />
Com relação ao <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong> as proposições<br />
enfatizaram quatro eixos: Composição e<br />
Representativida<strong>de</strong> <strong>no</strong>s Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />
Estrutura e Organização dos Conselhos <strong>de</strong> Saú-<br />
46
<strong>de</strong>; Outras Instâncias <strong>de</strong> <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong>; Ativida<strong>de</strong>s<br />
a serem Realizadas pelos Conselhos<br />
Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CMS).<br />
Composição e Representativida<strong>de</strong> <strong>no</strong>s Conselhos<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
• Garantia da parida<strong>de</strong> <strong>no</strong> CMS, <strong>de</strong> acordo com a<br />
Resolução 333, do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />
• Garantia da livre escolha das entida<strong>de</strong>s que<br />
irão representar os distintos segmentos;<br />
• Mobilização dos movimentos sociais para re<strong>no</strong>vação<br />
dos quadros do conselho;<br />
• Capacitação permanente dos conselheiros;<br />
• Capacitação para conselheiros em fiscalização<br />
e monitoramento dos programas;<br />
• Capacitação dos conselheiros em questões relacionadas<br />
às <strong>DST</strong>s/<strong>AIDS</strong>;<br />
• Promoção da articulação dos conselhos com o<br />
movimento social organizado (Igrejas, Associações<br />
<strong>de</strong> Moradores, Sindicatos etc.);<br />
• Aumento da articulação dos movimentos sociais<br />
que já atuam <strong>no</strong>s conselhos com as suas<br />
bases, para que os conselhos não substituam<br />
sua atuação <strong>no</strong>s movimentos;<br />
• Divulgação do trabalho dos conselhos, facilitando<br />
o acesso às informações referentes aos<br />
conselhos, utilizando a mídia local, rádios comunitários,<br />
seminários, reuniões <strong>de</strong> grupos<br />
<strong>no</strong>s serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> etc.;<br />
• Ampla divulgação das reuniões dos conselhos<br />
e da pauta, utilizando a imprensa local;<br />
• Conhecimento prévio, por parte dos conselheiros,<br />
da pauta da reunião;<br />
• Elaboração <strong>de</strong> um manual básico informativo<br />
para o <strong>no</strong>vo conselheiro (Manual do Conselheiro<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>) <strong>de</strong> acordo com a realida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> cada município;<br />
• Criação <strong>de</strong> um site e um informativo para<br />
divulgação dos atos dos conselhos.<br />
Estrutura e Organização dos Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
• Criação <strong>de</strong> comissão permanente interdisciplinar<br />
<strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong>s conselhos;<br />
• Criação <strong>de</strong> comissão para a construção do Fórum<br />
Regional <strong>de</strong> Conselhos;<br />
• Reformulação da legislação do Conselho Municipal<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />
• Criação <strong>de</strong> ouvidoria <strong>de</strong>ntro do CMS;<br />
• Garantia <strong>de</strong> assessoria técnica e jurídica ao CMS;<br />
• Criação <strong>de</strong> um quadro <strong>de</strong> informes dos conselhos<br />
em cada unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />
• Formulação <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> comunicação<br />
e marketing dos conselhos.<br />
Outras Instâncias <strong>de</strong> <strong>Controle</strong> <strong>Social</strong><br />
• Criação <strong>de</strong> Conselhos Gestores <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> e<br />
fortalecimento dos já existentes;<br />
• Criação <strong>de</strong> fóruns regionais;<br />
• Acionar o Ministério Público em caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>scumprimento<br />
das <strong>de</strong>liberações;<br />
• Articulação com a comissão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do legislativo;<br />
• Realização <strong>de</strong> pré-conferências (preparação<br />
para conferências, discussão sobre saú<strong>de</strong> e escolha<br />
dos conselheiros);<br />
• Estabelecimento <strong>de</strong> parcerias com outros conselhos:<br />
educação, assistência social, da criança<br />
e do adolescente, do idoso, dos portadores<br />
<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s especiais;<br />
• Maior articulação com o Conselho Estadual<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />
Ativida<strong>de</strong>s a serem Realizadas pelos Conselhos<br />
Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
• Fiscalizar a aplicação das verbas <strong>de</strong> acordo com<br />
o PAM e informar ao órgão repassador a má<br />
utilização das verbas;<br />
• Conhecer e acompanhar as pactuações e os repasses<br />
para o FMS;<br />
• Participar do consórcio intermunicipal <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />
• Participar da elaboração do orçamento municipal<br />
para a saú<strong>de</strong> (audiências públicas);<br />
• Participar e influenciar a <strong>de</strong>finição dos tetos<br />
orçamentários dos municípios (nas Bipartites);<br />
• Realizar planejamento estratégico anual para<br />
ações do Conselho Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, com<br />
a participação da população;<br />
47
• Garantir a elaboração e a implantação do<br />
PAM;<br />
• Realizar reuniões <strong>de</strong>scentralizadas dos conselhos<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em todas as suas áreas <strong>de</strong> abrangência;<br />
• Fiscalizar a política <strong>de</strong> Recursos Huma<strong>no</strong>s exigindo<br />
complementação dos quadros (concursos<br />
públicos);<br />
• Rediscutir a legislação que rege os Conselhos<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (estrutura e composição);<br />
• Promover mobilização contra o ato médico.<br />
Quadro-síntese do Diagnóstico Situacional da <strong>AIDS</strong><br />
<strong>no</strong> <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro – 2005<br />
Situação Geral<br />
(na maioria dos municípios)<br />
Específica<br />
(em alguns municípios)<br />
Estrutura dos Serviços<br />
Mo<strong>de</strong>lo Assistencial<br />
e Programas<br />
Recursos Huma<strong>no</strong>s<br />
Recursos Financeiros<br />
Planejamento<br />
<strong>Controle</strong> <strong>Social</strong><br />
• Hegemonia do setor privado;<br />
• Estrangulamento da atenção <strong>de</strong> média<br />
e alta complexida<strong>de</strong>;<br />
• Insuficiência <strong>de</strong> insumos, medicamentos<br />
e testes para HIV;<br />
• Insuficiência <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> testagem para HIV.<br />
• Falta <strong>de</strong> intersetorialida<strong>de</strong> das ações e programas;<br />
• Inexistência <strong>de</strong> mecanismos efetivos <strong>de</strong><br />
referência e contra-referência local e<br />
intermunicipal;<br />
• Baixa cobertura do PSF;<br />
• Baixa a<strong>de</strong>são ao tratamento;<br />
• Demora na <strong>de</strong>volução dos resultados<br />
para HIV e sífilis.<br />
• Falta <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s e alta rotativida<strong>de</strong>;<br />
• Falta <strong>de</strong> equipes multidisciplinares;<br />
• Não qualificação dos profissionais em <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>;<br />
• Precarização do trabalho, principalmente<br />
dos agentes comunitários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
• Falta <strong>de</strong> recursos;<br />
• Recursos mal distribuídos;<br />
• Forma <strong>de</strong> cálculo do montante a ser<br />
distribuído (critério populacional).<br />
• Sub-<strong>no</strong>tificações <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>, <strong>DST</strong> e <strong>de</strong> sífilis em<br />
gestantes;<br />
• Populações flutuantes;<br />
• Migração <strong>de</strong> casos para outros municípios;<br />
• Dados insuficientes para o planejamento das ações.<br />
• Falta <strong>de</strong> capacitação dos conselheiros;<br />
• Pouca representativida<strong>de</strong> (não se comunicam<br />
com as suas bases);<br />
• Não conhecem as questões relacionadas com a<br />
atenção à <strong>AIDS</strong>;<br />
• Pouca participação dos Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> na<br />
elaboração do PAM.<br />
• Ausência <strong>de</strong> serviços como: laboratório,<br />
CTA, ambulatórios e hospitais <strong>de</strong> referência<br />
para <strong>AIDS</strong>.<br />
• Inexistência <strong>de</strong> programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong>;<br />
• Inexistência do PSF;<br />
• Problemas na atenção à saú<strong>de</strong> da mulher<br />
e da criança;<br />
• Problemas <strong>no</strong> controle da tuberculose;<br />
• Ausência <strong>de</strong> ações para <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />
químicos.<br />
• Inexistência <strong>de</strong> Fundo <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />
• Teto financeiro insuficiente (município-pólo).<br />
• Inexistência <strong>de</strong> PAM<br />
• Falta <strong>de</strong> parida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro dos conselhos.<br />
48
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Setembro <strong>de</strong> 1990. Dispõe sobre as condições<br />
para a promoção, proteção e recuperação da saú<strong>de</strong>,<br />
a organização e o funcionamento dos serviços<br />
correspon<strong>de</strong>ntes e trata <strong>de</strong> outras providências.<br />
Brasília - DF, 1990.<br />
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Dezembro <strong>de</strong> 1990. Dispõe sobre a participação<br />
da comunida<strong>de</strong> na gestão do Sistema Único<br />
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<strong>de</strong> recursos financeiros na área<br />
da saú<strong>de</strong> e trata <strong>de</strong> outras providências. Brasília<br />
- DF, 1990.<br />
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RA, P. A. (orgs.). Política <strong>Social</strong> e Democracia. São<br />
Paulo: Cortez; Rio <strong>de</strong> Janeiro: UERJ, 2001.<br />
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Centro-Sul, Baía da Ilha Gran<strong>de</strong> e Médio-<br />
Paraíba. Vassouras - RJ, 2005.<br />
BRAVO et. alii. A Política <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> sob a Ótica dos<br />
Agentes Comunitários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>: análise da capacitação<br />
realizada <strong>no</strong> município <strong>de</strong> Belford<br />
Roxo – Baixada Fluminense – RJ. In: Saú<strong>de</strong> da<br />
Família: pa<strong>no</strong>rama, avaliação e <strong>de</strong>safios. Ministério<br />
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Brasília - DF: Ministério da Saú<strong>de</strong>, 2005.<br />
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução nº<br />
333. Brasília-DF, 2003.<br />
GALVÃO, J. Uma cro<strong>no</strong>logia da epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> HIV/<br />
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PARKER, R (org.). Políticas, Instituições e <strong>AIDS</strong>: enfrentando<br />
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ABIA na virada do milênio. Rio <strong>de</strong> Janeiro: ABIA,<br />
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Departamento <strong>de</strong> Informação e Informática do SUS –<br />
DATASUS: http://www.datasus.gov.br<br />
Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE):<br />
http://www.ibge.gov.br<br />
Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong>: www.aids.gov.br<br />
Secretaria <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do <strong>Estado</strong> do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro: http://www.sau<strong>de</strong>.rj.gov.br<br />
49
ANEXOS<br />
Quadro I - Datas importantes relacionadas à epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> HIV/<strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> Brasil<br />
1980 - Boletim Epi<strong>de</strong>miológico reporta o primeiro<br />
caso <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> Brasil (masculi<strong>no</strong> e <strong>de</strong><br />
transmissão sexual).<br />
1981 - O Boletim Epi<strong>de</strong>miológico do Brasil não reporta<br />
nenhum caso <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>.<br />
1982 - O Boletim Epi<strong>de</strong>miológico reporta 10 casos<br />
<strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>, todos entre homens. 10 óbitos.<br />
1983 - OMS reporta 4.000 casos <strong>no</strong> mundo (Caraíbas<br />
e África).<br />
1983 - Início das respostas não-governamentais.<br />
1983 - Criação em São Paulo, do 1º programa <strong>de</strong><br />
<strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> Brasil (SES/SP).<br />
1985 - Fundação da primeira ONG/<strong>AIDS</strong> –<br />
GAPA/SP.<br />
1985 - Fundação da primeira casa <strong>de</strong> apoio para<br />
pessoas com HIV/<strong>AIDS</strong> – Casa <strong>de</strong> Apoio<br />
Brenda Lee.<br />
1985 - Criação do Programa <strong>de</strong> <strong>Controle</strong> <strong>de</strong> Síndrome<br />
<strong>de</strong> Imu<strong>no</strong><strong>de</strong>ficiência Adquirida – Divisão<br />
Nacional <strong>de</strong> Dermatologia Sanitária – MS.<br />
1986 - Criação da Comissão <strong>de</strong> Assessoramento em<br />
<strong>AIDS</strong>, atual Comissão Nacional <strong>de</strong> <strong>AIDS</strong>.<br />
1986 - A <strong>AIDS</strong> passa a ser uma doença <strong>de</strong> <strong>no</strong>tificação<br />
compulsória.<br />
1986 - Fundação da ABIA.<br />
1988 - Criação do SUS e do COAS-CTA. Início da<br />
distribuição <strong>de</strong> medicamentos para infecções<br />
oportunistas pelo Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />
1988 - Primeira campanha do PN/MS (Quem vê<br />
cara não vê <strong>AIDS</strong>).<br />
1989 - 1º Encontro Nacional <strong>de</strong> ONGs/<strong>AIDS</strong> (atual<br />
ENONG).<br />
1989 - Fundação do 1º Grupo Pela Vidda.<br />
1989/90 - Re<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Solidarieda<strong>de</strong> à <strong>AIDS</strong>.<br />
1990 - Fundação do GIV (1º grupo <strong>de</strong> ajuda-mútua<br />
para pessoas soropositivas).<br />
1991 - Realização do 1º Encontro Nacional <strong>de</strong> Pessoas<br />
Vivendo com HIV/<strong>AIDS</strong> (“Vivendo” – RJ).<br />
1991 - Início da distribuição do AZT <strong>no</strong> SUS.<br />
1993 - Assinatura do I Acordo <strong>de</strong> Empréstimo<br />
(<strong>AIDS</strong> I).<br />
1993 - Início da concorrência <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> ONGs<br />
(<strong>de</strong> início centralizadamente, a partir <strong>de</strong><br />
2001 <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>scentralizada para alguns<br />
<strong>Estado</strong>s).<br />
1994 - Criação da Re<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Pessoas HIV+<br />
(RNP+).<br />
1994 - Vigência do <strong>AIDS</strong> I até 1998.<br />
1996 - Distribuição universal <strong>de</strong> medicamentos<br />
para pessoas vivendo com HIV/<strong>AIDS</strong>.<br />
1997 - Criação do Fórum <strong>de</strong> ONGs/<strong>AIDS</strong> do <strong>Estado</strong><br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
1998 - Assinatura do II Acordo <strong>de</strong> Empréstimo com<br />
o Banco Mundial (<strong>AIDS</strong> II).<br />
1999 - Manifestação nacional das ONGs/<strong>AIDS</strong> pedindo<br />
liberação <strong>de</strong> recursos financeiros para<br />
compra <strong>de</strong> medicamentos para <strong>AIDS</strong>.<br />
2000 - Manifestação nacional pedindo a compra <strong>de</strong><br />
anti-retrovirais para o SUS.<br />
2000 - I Concorrência Pública <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong><br />
ONGs <strong>no</strong> <strong>Estado</strong> <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
2001 - José Serra, ex-Ministro da Saú<strong>de</strong>, ameaça quebrar<br />
a patente dos medicamentos Nelfinavir<br />
(Roche) e Efavirenz (Merck).<br />
2002 - 1º Seminário <strong>de</strong> controle social e <strong>AIDS</strong> (Brasília,<br />
2002).<br />
2002 - Iniciou-se o processo <strong>de</strong> implementação do<br />
Fórum Mercosul <strong>de</strong> ONGs/<strong>AIDS</strong>.<br />
51
2002 - O gover<strong>no</strong> brasileiro assi<strong>no</strong>u a Portaria Ministerial<br />
n o 2.314 que instituiu uma Política<br />
<strong>de</strong> Incentivo para <strong>Estado</strong>s e Municípios<br />
na área <strong>de</strong> <strong>DST</strong> por meio da transferência automática<br />
do Fundo Nacional da Saú<strong>de</strong> para<br />
os fundos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> estaduais e municipais.<br />
2003 - Campanha Fique Sabendo com o objetivo<br />
oferecer gratuitamente à população testes <strong>de</strong><br />
HIV e <strong>DST</strong>s em geral.<br />
2003 - Assinatura do III Acordo com o Banco Mundial<br />
- <strong>AIDS</strong> III<br />
2003 - Publicação do I edital <strong>de</strong> concorrência pública<br />
<strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> ONG pelo recurso da<br />
Lei <strong>de</strong> Incentivo.<br />
2003 - I Conferência Estadual <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>AIDS</strong> <strong>no</strong> <strong>Estado</strong><br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
2004 - 2º Seminário <strong>de</strong> controle social e <strong>AIDS</strong> (Brasília,<br />
2004).<br />
Fontes: Galvão (2002), Teixeira (1997), mídia e outros.<br />
Quadro II - Diretrizes e Priorida<strong>de</strong>s do Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong><br />
Diretrizes:<br />
1. Fortalecer, implementar e ampliar a institucionalização das ações <strong>de</strong> prevenção, promoção e assistência às<br />
<strong>DST</strong>, HIV e <strong>AIDS</strong> na re<strong>de</strong> do SUS, <strong>de</strong> forma integral e equânime, conforme os princípios do SUS.<br />
2. Promover a <strong>de</strong>fesa dos direitos huma<strong>no</strong>s e reduzir o estigma e a discriminação.<br />
Priorida<strong>de</strong>s:<br />
1. Ampliação da cobertura e garantia <strong>de</strong> acesso: a) aos insumos <strong>de</strong> prevenção para a população em geral,<br />
priorizando as populações sob maior risco e vulnerabilida<strong>de</strong>; b) ao diagnóstico para a população em geral,<br />
priorizando gestantes e populações sob maior risco e vulnerabilida<strong>de</strong>; c) universal e gratuito ao tratamento<br />
com ARV, para IO e sífilis; d) à informação sobre <strong>DST</strong> e HIV/<strong>AIDS</strong> para a população em geral;<br />
e) às ações educativas para crianças e adolescentes nas escolas.<br />
2. Redução da transmissão vertical do HIV e sífilis.<br />
3. Redução das ineqüida<strong>de</strong>s regionais <strong>no</strong> que concerne às respostas ao HIV/<strong>AIDS</strong> e sífilis.<br />
4. Ampliação da capacida<strong>de</strong> nacional para produção <strong>de</strong> medicamentos ARV.<br />
5. Instalação da fábrica <strong>de</strong> preservativos.<br />
6. Aprimoramento, ampliação e qualificação da informação sobre <strong>AIDS</strong>, sífilis na gestação e sífilis congênita.<br />
7. Promoção <strong>de</strong> mecanismos para a sustentabilida<strong>de</strong> das ações da socieda<strong>de</strong> civil.<br />
8. Promoção <strong>de</strong> mecanismos para melhoria da qualida<strong>de</strong> do atendimento às pessoas vivendo com HIV/<br />
<strong>AIDS</strong> e outras <strong>DST</strong>s.<br />
9. Aprimoramento <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> gestão que promovam a eficiência das ações e o exercício dos direitos<br />
<strong>de</strong> cidadania.<br />
10. Institucionalização do Monitoramento e da Avaliação como ferramentas para melhoria do programa.<br />
11. Redução da ineqüida<strong>de</strong> racial <strong>no</strong> acesso à informação, ao diagnóstico e ao tratamento.<br />
12. Combate à homofobia e promoção do respeito à diversida<strong>de</strong>.<br />
Fonte: PN <strong>DST</strong> e <strong>AIDS</strong> (2006).<br />
52