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Sumário<br />

próxima<br />

Para além das ações pontuais, a relação entre o Estado e o mercado de jog<strong>os</strong> digitais na China<br />

precisa ser <strong>com</strong>preendido <strong>com</strong> uma referência mais abrangente. Analisando as medidas<br />

protecionistas e as prioridades n<strong>os</strong> incentiv<strong>os</strong> do Estado chinês, acadêmic<strong>os</strong> enquadram esse<br />

conjunto de diretrizes e ações na categoria de tecno-nacionalismo, entendido <strong>com</strong>o uma<br />

doutrina que visa a autonomia em indústrias de alta tecnologia, desenvolvendo capacidade<br />

local para galgar p<strong>os</strong>ições lucrativas em redes globais. Na China, o tecno-nacionalismo tem<br />

origem na militarização da ciência e tecnologia n<strong>os</strong> an<strong>os</strong> de Mao, continuada n<strong>os</strong> an<strong>os</strong> de Deng,<br />

e recentemente formulado <strong>com</strong>o o Programa Nacional de Desenvolvimento de Alta Tecnologia<br />

(ou Programa 863), do Ministério de Ciencia e Tecnologia. São ações que seguem <strong>os</strong> pass<strong>os</strong><br />

de Japão, Coréia do Sul e outr<strong>os</strong> NICs (newly industrialized countries). O tecno-nacionalismo<br />

envolve amplo conjunto de ações: indução de influxo tecnológico, promoção de exportações e<br />

diversificação de parcerias internacionais, assim <strong>com</strong>o proteção do mercado interno, facilitação<br />

infra-estrutural, incentivo a conglomerações, investimento em pesquisa e desenvolvimento,<br />

formação de recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong> etc. Este é o quadro geral em que a mídia recebe suas condições<br />

infra-estruturais (Jiang, 2011).<br />

juventude chinesa<br />

Os jovens do sexo masculino que <strong>com</strong>põem o perfil geral do público d<strong>os</strong> jog<strong>os</strong> digitais na China<br />

p<strong>os</strong>suem características diferenciais. O primeiro é o chamado coletivismo, <strong>com</strong>umente assinalado<br />

para caracterizar a cultura chinesa, em op<strong>os</strong>ição a um ocidente individualista. O coletivismo<br />

seria marcado pela interdependência e por valores definid<strong>os</strong> em term<strong>os</strong> de obrigações sociais,<br />

que se exprimem pelo termo guanxi, fator relevante para a <strong>com</strong>preensão da dinâmica da mídia<br />

na China (Bast<strong>os</strong> e Pinto Neto, 2008). Trata-se de um sistema de trocas sociais, que envolve as<br />

relações interpessoais mas também pode vincular duas empresas, num intercâmbio de benefício<br />

recíproco cujo grau de assimetria é objeto de polêmica. As consequências para a mídia são<br />

diversas, podendo chegar a se estabelecer <strong>com</strong>o alternativa ao controle estatal: dada a rebaixada<br />

credibilidade da mídia, que é propriedade estatal, aquelas redes de relações podem ser o caminho<br />

para empresas se <strong>com</strong>unicarem <strong>com</strong> seus públic<strong>os</strong> sem depender <strong>com</strong>pletamente d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong><br />

de <strong>com</strong>unicação. Ainda que tal distinção entre individualismo e coletivismo carregue <strong>os</strong> tons<br />

do orientalismo, note-se a existência de tantas pesquisas que observam, nas culturas chamadas<br />

individualistas, a maior importância da representação que uma pessoa faz de si, enquanto que na<br />

China importaria mais para a pessoa a representação que <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> fazem dela (Yuan, 2008:26).<br />

Um estudo feito n<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong> indica que <strong>os</strong> estadunidenses percebem que a similaridade<br />

de outr<strong>os</strong> <strong>com</strong> eles é maior do que a deles em relação a outr<strong>os</strong>: “Orientais teriam maior tendência<br />

que ocidentais a assumir a perspectiva da terceira pessoa” (Cohen e Gunz, 2002:56). É um traço a<br />

ser cautel<strong>os</strong>amente considerado.<br />

Numa sociedade em acelerada urbanização e mobilidade social, o traço do coletivismo se<br />

<strong>com</strong>bina <strong>com</strong> outr<strong>os</strong>, <strong>com</strong>o o consumismo e o pragmatismo apolítico, que <strong>com</strong>põem um segundo<br />

fator. Alguns usuári<strong>os</strong> de jog<strong>os</strong> se colocam <strong>com</strong>o consumidores exigentes, volúveis e altamente<br />

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