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Sumário<br />
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Na contemporaneidade se enxerga a quebra da dualidade, o retorno do mal. A mudança do<br />
pensamento moderno, no qual estava calcado Doré no século XIX, para uma condição pósmoderna<br />
exigiu certa mobilidade das categorias d<strong>os</strong> estatut<strong>os</strong> sociais – classes, família, escola,<br />
política etc. – assim modificando também a maneira de relacionar-se <strong>com</strong> <strong>os</strong> códig<strong>os</strong> morais.<br />
Antes o trabalho supervalorizado, era o grande objetivo do indivíduo, que se reduzia à produção<br />
e geração de capital objetivando uma produtividade cada vez maior. O tempo passa e o sujeito<br />
vê a necessidade de fuga do status quo, buscando brechas na moralidade. “No pós-moderno,<br />
Deus e o Diabo não estão mais no além mundo, estão no cerne do homem enquanto faces de<br />
sua personalidade” (CAPPELARI, 2007, p. 233).<br />
O que Maffesoli (2004) chama de uma “mística da violência” nada mais é que a aceitação do<br />
mal, da imoralidade, <strong>com</strong>o parte da vida: o hedonismo, o excesso, a loucura... uma <strong>com</strong>unhão<br />
entre vida e morte. “Aí estão o excesso, o demonismo e as variadas efervescências de diferentes<br />
ordens, afirmando que Dionísio é efetivamente o ‘rei clandestino’” (MAFFESOLI, 2004, p. 16). Não<br />
se consegue mais limitar-se a uma vida reta extremamente racionalista e de abstenção, torna-se<br />
necessária a construção de valores maleáveis e mais ric<strong>os</strong> capazes de pensament<strong>os</strong> polissêmic<strong>os</strong>.<br />
Constata-se uma volta do mal <strong>com</strong> toda a força. Refiro-me à face obscura de n<strong>os</strong>sa natureza. Aquela<br />
mesma que a cultura pode em parte domesticar, mas que continua a animar n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> desej<strong>os</strong>, n<strong>os</strong>s<strong>os</strong><br />
med<strong>os</strong>, n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> sentiment<strong>os</strong>, sem suma, <strong>tod<strong>os</strong></strong> <strong>os</strong> afet<strong>os</strong>. Esta volta <strong>com</strong> toda força talvez seja aquilo<br />
mesmo a que n<strong>os</strong> referim<strong>os</strong> há algumas décadas, de maneira bastante incerta, <strong>com</strong>o “a crise”.<br />
Fantasma que assombra a consciência d<strong>os</strong> dirigentes da sociedade, e que nada mais faz além de<br />
expressar o que eles haviam negado, mas que continuava existindo naquela memória imemorial que<br />
é o inconsciente coletivo (MAFFESOLI, 2004, p. 29).<br />
Reconhecer a imperfeição é aceitar o retorno do mal. Porém isso não significa dizer que busca<br />
agir <strong>com</strong> o mal, este ainda é uma força a se lutar contra muitas vezes. De um lado tem<strong>os</strong> o pecado,<br />
o qual se pode evitar e agir sobre ele, de outro lado tem-se aquilo que nem sempre se pode evitar<br />
<strong>com</strong>o a doença, a poluição etc. Ainda que se aceite o mal, não se nega o bem, não se procura<br />
fazer sofrer, mas sim a liberação de amarras morais e sociais, a subversão de valores.<br />
Assim o design do herói Dante do jogo segue estas características contemporâneas, onde o<br />
grotesco, o feio, o deformado – apesar de também representar o mal e o pecado do personagem<br />
que é moralmente imperfeito – são também aceit<strong>os</strong> <strong>com</strong>o qualidades estéticas válidas de belo,<br />
não seguindo cânones estabelecid<strong>os</strong> para uma representação dualista. Rahde e Cauduro (2005)<br />
afirmam que as imagens contemporâneas carregam em si essas características, de poderem<br />
ser imperfeitas, sujas, poluídas, grotescas e subversivas, sem perder deixarem de serem belas,<br />
aceitando novas p<strong>os</strong>sibilidades de hibridism<strong>os</strong> visuais.<br />
Não só o design do herói do jogo apresenta essas deformações de p<strong>os</strong>suir qualidades relativas<br />
ao mal, sendo um personagem a princípio bom. O guia Virgilio também demonstra uma<br />
visualidade monstru<strong>os</strong>a, <strong>com</strong> r<strong>os</strong>to deformado e detalhes grotesc<strong>os</strong>, enquanto nas imagens<br />
de Doré é representado <strong>com</strong>o uma figura de estética clássica greco-romana, remetendo à<br />
origem do próprio personagem. Provavelmente, a mudança na visualidade de Virgílio se dá para<br />
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