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anterior<br />
Sumário<br />
próxima<br />
por Doré no século XIX pode-se bem observar as diferenças do que é bem e o que o mal no<br />
imaginário da época. As gravuras de Doré m<strong>os</strong>tram o inferno escuro e sombrio, no qual as formas<br />
são difíceis de serem identificadas. De acordo <strong>com</strong> Durand (2002), a visão do negro provoca<br />
choque e angústia em quem a vê:<br />
[...] uma imagem mais escura, uma personagem vestida de negro, um ponto negro emergem<br />
subitamente na serenidade das fantasias ascensionais, formando um verdadeiro contraponto<br />
tenebr<strong>os</strong>o provocando um choque emotivo que pode chegar à crise nerv<strong>os</strong>a. Essas diferentes<br />
experiências dão fundamento à expressão popular ter idéias negras, sendo a visão tenebr<strong>os</strong>a sempre<br />
uma reação depressiva (DURAND, 2002, p. 91).<br />
Sendo um ilustrador do século XIX, época na qual predominava o Romantismo (GOMBRICH, 1999),<br />
Doré utiliza características do Barroco clássico em suas gravuras. As distinções contrastantes de<br />
claro e escuro são providenciais nas representações visuais daquilo o que é bem e o que mal nas<br />
imagens. O herói Dante, bem <strong>com</strong>o seu guia Virgílio, aparecem no inferno em localizações mais<br />
claras da imagem, enquanto <strong>os</strong> condenad<strong>os</strong>, as criaturas e demôni<strong>os</strong> ficam nas zonas escuras,<br />
provocando a intenção do medo relacionado ao mal que estes seres representam.<br />
Segundo Cappelari (2007), Gustave Doré retrata <strong>com</strong> maestria a dualidade bem e mal da obra de<br />
Dante. O artista, ao retratar o imaginário da obra acentua o aspecto moral e diminui o religi<strong>os</strong>o.<br />
As figuras humanas são retratadas de maneira clássica enquanto <strong>os</strong> anj<strong>os</strong> e demôni<strong>os</strong> são<br />
diferenciad<strong>os</strong> por ícones que celebram suas imagens <strong>com</strong>o as asas, a presença ou não de chifres<br />
e caudas, a luz em torno d<strong>os</strong> anj<strong>os</strong> e trevas em torno d<strong>os</strong> demôni<strong>os</strong>. Essa diferenciação dá-se, não<br />
de outra forma, devido ao imaginário existente em torno da temática na época em que a obra foi<br />
interpretada por Doré.<br />
Um modo de produção, uma forma de organização social, uma escala de valores, uma criação<br />
tecnológica, um estilo de moradia ou uma obra de arte nada mais são do que determinações históricas<br />
construídas pelo potencial criador do imaginário e concretizadas em cada sociedade. Desse modo,<br />
o sem fundo humano, por intermédio do imaginário, é o produtor das representações e o instigador<br />
da práxis social (RUIZ, 2003, p. 45).<br />
Porém, ao pensarm<strong>os</strong> nas imagens do jogo, observam<strong>os</strong> certas diferenças no entendimento<br />
da dualidade bem e mal mesmo nas representações visuais. Enquanto nas imagens do século<br />
XIX Dante exibe um perfil clássico de um homem renascentista, <strong>com</strong> traç<strong>os</strong> clar<strong>os</strong>, organizad<strong>os</strong>,<br />
esteticamente bel<strong>os</strong> que buscam um equilíbrio condizente <strong>com</strong> a p<strong>os</strong>tura “boa” ou “heróica”, o<br />
herói Dante do jogo traz consigo cert<strong>os</strong> paradox<strong>os</strong> em sua visualidade. O Dante do game se<br />
apresenta <strong>com</strong>o um homem forte – característica do soldado, o que já é uma diferença do Dante<br />
erudito literário –, armado e até mesmo deformado, <strong>com</strong> características grotescas e feias. A<br />
representação do protagonista do jogo acaba trazendo qualidades de imagem que remetem em<br />
cert<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong>, mais ao mal do que ao bem, construindo uma diferente leitura de herói a partir<br />
de suas imagens que a<strong>com</strong>panham as diferenças na p<strong>os</strong>tura ética e moral do personagem.<br />
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