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Sumário<br />
próxima<br />
O imaginário imagético criado para o design do jogo também apresenta diferenças daquele criado<br />
para a literatura. Dentre as versões de ilustração da obra de Alighieri destacam-se as gravuras de<br />
Gustave Doré durante o século XIX que representam de forma enfática a dualidade moral entre<br />
bem e mal em suas imagens, p<strong>os</strong>tura controversa ao observar a versão contemporânea no game.<br />
Sendo assim este estudo apresenta uma análise <strong>com</strong>parativa entre as relações da moralidade e<br />
suas correspondências visuais entre o jogo digital e a obra literária.<br />
1. As diferentes moralidades<br />
A obra de Dante Alighieri (1265-1321), dentre muit<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong>, é uma obra de cunho moral.<br />
É necessário que essa afirmativa esteja logo p<strong>os</strong>ta para que n<strong>os</strong> seja p<strong>os</strong>sível entender a clara<br />
relação de contrap<strong>os</strong>ição existente ao relacionarm<strong>os</strong> o conteúdo dessa <strong>com</strong>plexa obra que é<br />
A Divina Comédia (2006) <strong>com</strong> o jogo digital O Inferno de Dante (2010). Essa contrap<strong>os</strong>ição não<br />
será aqui entendida <strong>com</strong>o partes excludentes, tão pouco será adotado uma relação hierárquica<br />
entre ambas as mídias onde um acabaria por ser erroneamente entendido <strong>com</strong>o uma variante<br />
“melhorada” do outro. Mas sim será buscado o entendimento das variantes que tornaram a obra<br />
tão diversa do game assim <strong>com</strong>o seu contrário.<br />
Dante Alighieri ao escrever a obra A Divina Comédia objetivou criticar toda estrutura polític<strong>os</strong>ocial<br />
vivida na Itália do séc. XIII – XIV. Julgando e sentenciando figuras ilustres do seu período,<br />
inclusive figuras históricas que, segundo o autor, subvertiam <strong>os</strong> ideais por eles defendid<strong>os</strong>, –<br />
algo não muito diferente d<strong>os</strong> líderes contemporâne<strong>os</strong> a ele – o autor afrontou sua época ao<br />
p<strong>os</strong>icionar em diferentes círcul<strong>os</strong> (andares) do Inferno figuras <strong>com</strong>umente retratadas, lembradas<br />
e ovacionadas pel<strong>os</strong> seus grandes feit<strong>os</strong>. Essa atitude n<strong>os</strong> revela uma p<strong>os</strong>ição subversiva do<br />
autor frente a toda uma estrutura político-social que em uma primeira instância se apresentaria<br />
virtu<strong>os</strong>a, mas que de fato, sob uma observação minuci<strong>os</strong>a, revelaria ser dotada de víci<strong>os</strong>, corrupta<br />
e desviada.<br />
O julgamento presente no primeiro tomo da obra, O Inferno, entende a virtude <strong>com</strong>o a essência<br />
presente na alma de cada indivíduo em contraponto a<strong>os</strong> víci<strong>os</strong>, que por sua vez corromperiam<br />
aquilo de essencial característico ao mesmo. O ser humano, sobre essa perspectiva é entendido<br />
<strong>com</strong>o um ser dotado de um potencial voltado para o bem claramente interpretado pelo autor<br />
<strong>com</strong>o algo p<strong>os</strong>itivo, enquanto <strong>os</strong> víci<strong>os</strong> seriam todas as coisas mundanas capazes de desviar a<br />
humanidade de seu caminho. Essa interpretação moral base do pensamento do autor reflete<br />
uma moral fundada em princípi<strong>os</strong> Católic<strong>os</strong>/Cristão onde, de maneira simplificada, podem<strong>os</strong><br />
descrever o ser humano <strong>com</strong>o naturalmente bom, mas suscetível ao desvio de sua natureza<br />
devido ao livre arbítrio que, por conseqüência, poderia o levar ao erro, isto é, ao pecado.<br />
Essa base estrutural presente no pensamento de Dante não o destacava d<strong>os</strong> demais cidadã<strong>os</strong><br />
europeus do séc. XIII – XIV, tão pouco o qualificaria enquanto “fiel” devoto a cátedra religi<strong>os</strong>a, pelo<br />
contrário, isso apenas o qualificaria enquanto cidadão Medieval, visto que, a lógica das virtudes<br />
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