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Habitação: um grande desafio - Claudio Di Mauro

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a população carente compra lotes nas áreas periféricas das cidades,<br />

onde o valor imobiliário é baixo, pois a infra-estrutura básica é<br />

precária e/ou inexistente.<br />

A população carente somente consegue adquiri-los através de<br />

financiamentos que se estendem em longas prestações. Nestes casos,<br />

é com<strong>um</strong> a assinatura dos chamados “contratos de gaveta”,<br />

assinados entre o loteador (ou seu corretor representante) e o<br />

comprador, não garantindo a este o direito do devido registro junto<br />

ao Cartório de Imóveis.<br />

Inúmeros problemas ocorrem nestas negociações, com sérios<br />

prejuízos aos compradores, em função de cláusulas contratuais<br />

abusivas por parte do vendedor. Alguns contratos prevêem que o não<br />

pagamento de 3 parcelas consecutivas por parte do comprador<br />

determina que o lote volte ao loteador, o que não é difícil acontecer<br />

na população carente, dada a instabilidade e precariedade das<br />

condições de geração de renda.<br />

Também é com<strong>um</strong> a negociação de lotes não regularizados como por<br />

exemplo a venda de meio lote sem a devida aprovação do desdobro.<br />

Neste sentido, é fundamental o poder de fiscalização da Prefeitura na<br />

tentativa de diminuir o número de construções irregulares, que<br />

representam perdas na arrecadação municipal, além de desorganizar<br />

o uso do solo pelo não c<strong>um</strong>primento do planejamento urbano.<br />

Para o pagamento do lote geralmente o comprador despende<br />

recursos que ultrapassam seu orçamento familiar, no qual já está<br />

embutido o preço do aluguel, além de outras necessidades básicas.<br />

Assim, enquanto paga o lote não pode iniciar a obra da casa.<br />

Quando o pagamento do lote é concluído, parte dos recursos é<br />

deslocado para a compra de materiais de construção, e a obra é<br />

iniciada pela própria família nos finais de semana e feriados,<br />

absorvendo <strong>grande</strong> parte do tempo de descanso e de lazer dos<br />

indivíduos. Eventualmente, pode ser contratada mão de obra<br />

especializada para conclusão de alg<strong>um</strong>a etapa específica como laje,<br />

madeiramento, hidráulica e elétrica.<br />

É com<strong>um</strong> a construção do embrião, ou seja, <strong>um</strong>a parte do projeto<br />

para que a família possa livrar-se do aluguel e passar a residir na<br />

própria construção.<br />

A autoconstrução, embora seja citada como alternativa para o<br />

problema habitacional das cidades brasileiras, na verdade é a<br />

expressão de como parte significativa da população está excluída da<br />

possibilidade de adquirir sua moradia em condições mais favoráveis.<br />

Em termos sociais, podemos afirmar que o longo período gasto por<br />

<strong>um</strong>a família na autoconstrução representa o sobretrabalho desta<br />

população que, após a jornada semanal de trabalho, se vê obrigada a<br />

empenhar esforços na construção de sua casa. A situação ainda é<br />

pior quando o trabalhador exerce suas funções profissionais no turno<br />

da noite e durante o dia; ao invés de usufruir do repouso necessário<br />

à sua saúde física e mental, dedica-se à construção.<br />

Nestas condições as possibilidades de lazer são praticamente

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