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Design e Arte: aproximações através da Joalheria Contemporânea

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<strong>Design</strong> e <strong>Arte</strong>: <strong>aproximações</strong> <strong>através</strong> <strong>da</strong> <strong>Joalheria</strong><br />

<strong>Contemporânea</strong><br />

<strong>Design</strong> and Art: Approaches by Contemporary Jewellery<br />

Campos, Ana Paula de, Mestre; Unicamp<br />

dcampos.anapaula@gmail.com<br />

Resumo<br />

Com o objetivo de discutir as relações entre design, mo<strong>da</strong> e arte no campo <strong>da</strong> joalheria este<br />

artigo apresenta uma etapa <strong>da</strong> pesquisa realiza<strong>da</strong> para o desenvolvimento <strong>da</strong> tese “Cartografia<br />

<strong>da</strong> Jóia <strong>Contemporânea</strong>”. Para investigar as relações entre uma abor<strong>da</strong>gem projetual e práticas<br />

do campo artístico no desenvolvimento de jóias foram realizados dois workshops com três<br />

artistas-joalheiros convi<strong>da</strong>dos do Projeto Nova Jóia. Apresentamos uma contextualização <strong>da</strong><br />

joalheria contemporânea e descrevemos as ativi<strong>da</strong>des dos workshops realizados. Por fim<br />

analisamos os <strong>da</strong>dos e discutimos a questão <strong>da</strong> contaminação dos campos no que concerne aos<br />

processos de concepção de ornamentos.<br />

Palavras Chave: design; jóia; arte<br />

Abstract<br />

To discuss relations between design, fashion and art in the jewelry field this article presents a<br />

stage of the PhD research "Cartography of Contemporary Jewelry." To investigate the<br />

relationship between project methodology and the artistic approach to the of jewelry<br />

development were conducted two workshops with three artists-jewelers invited from the Nova<br />

Joia project. We present a contextualization of contemporary jewelry and describe the<br />

activities of the workshops. Finally we analyze the <strong>da</strong>ta and discuss the issue of<br />

contamination of fields in relation to the jewelry creation.<br />

Keywords: design, jewelry, art.


<strong>Design</strong> e arte: <strong>aproximações</strong> <strong>através</strong> <strong>da</strong> <strong>Joalheria</strong> <strong>Contemporânea</strong><br />

1. Introdução<br />

As jóias vêm sendo produzi<strong>da</strong>s desde remotos tempos, estando repletas de significados<br />

relativos à construção e transformação do pensamento individual e coletivo. Aparentemente<br />

sem utili<strong>da</strong>de, elas aportam intrinca<strong>da</strong>s relações construí<strong>da</strong>s pelos homens que as criaram,<br />

possuíram e usaram. Sua existência não pertence ao escopo dos objetos utilitários. A razão<br />

para seu uso sempre foi <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong>de a características e valores relativos aos sujeitos e a<br />

socie<strong>da</strong>de. Seu papel no entendimento <strong>da</strong>s formas de expressão <strong>da</strong> cultura tem sido revelado a<br />

partir de três aspectos principais que podem ser complementares: distinção, proteção e<br />

sedução.<br />

Seu entendimento hoje pressupõe a compreensão <strong>da</strong>s transformações sócio-culturais<br />

desde a Revolução Industrial, intensifica<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> metade do sec. XX, cujos<br />

desdobramentos configuram o cenário contemporâneo. Investigar a diversi<strong>da</strong>de de objetos<br />

atualmente descritos como jóia e compreender as relações na configuração de seus limites<br />

conceituais é o objetivo <strong>da</strong> tese “Cartografia <strong>da</strong> Jóia <strong>Contemporânea</strong>.<br />

Os procedimentos metodológicos adotados pressupõem revisão bibliográfica em<br />

design, mo<strong>da</strong> e em joalheria para uma contextualização histórica. Ancora<strong>da</strong>s em<br />

procedimentos oriundos <strong>da</strong> fenomenologia, cujos princípios consistem em “‘ir às próprias<br />

coisas’ (...) ir ao próprio fenômeno para desvendá-lo, tal como ‘se mostra em si mesmo’”<br />

(Forghieri, 1993:11) também foram realiza<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des que incluem prática de joalheria,<br />

experimentações com materiais e participação em workshops com joalheiros.<br />

Neste artigo apresentaremos os resultados <strong>da</strong> participação em dois workshops com os<br />

artistas-joalheiros convi<strong>da</strong>dos do Projeto Nova Jóia 1 (descrito no item 3). O objetivo foi<br />

investigar as relações entre a abor<strong>da</strong>gem projetual do design e as práticas do campo artístico.<br />

A descrição <strong>da</strong>s propostas e processos dos workshops gerou um texto que, associado às fotos,<br />

constituíram os <strong>da</strong>dos cuja análise permitiu verificar semelhanças e diferenças entre as<br />

ativi<strong>da</strong>des organiza<strong>da</strong>s pelos artistas, bem como traçar paralelos com práticas do design.<br />

2. <strong>Joalheria</strong> <strong>Contemporânea</strong><br />

Em meados do sec. XIX o modelo aristocrático artesanal <strong>da</strong> encomen<strong>da</strong> foi<br />

transformado com o surgimento <strong>da</strong> alta-costura, por Charles Frèdèric Worth. O primeiro<br />

fenômeno decorrente dessa transformação se deu na fabricação de vestuário, com princípios<br />

<strong>da</strong> produção em série na alta-costura inicialmente como ‘série limita<strong>da</strong>’, posteriormente como<br />

prêt-à-porter e por fim como produção de massa. Esse fato constituiu uma espécie de união<br />

entre arte, artesanato e indústria, princípio que se desenvolveria na configuração do design.<br />

A mesma premissa apareceu na abertura <strong>da</strong>s casas de perfumistas como Guerlain, <strong>da</strong>s<br />

lojas de joalheiros como Cartier e Boucheron, de seleiros como Hermés e maleiros como<br />

Louis Vuitton (Roux. 2005) dentre outros fabricantes de produtos de uso pessoal e doméstico.<br />

Foi o início de uma era na qual os processos de criação e produção passaram a ocorrer à<br />

mercê de uma encomen<strong>da</strong> particular, fazendo com que o criador se destacasse. Esse processo<br />

mudou a economia, tornando a indústria <strong>da</strong> criação seu novo domínio, o que Lipovetsky<br />

(2005) aponta como primeira forma de democratização e personalização dos produtos de<br />

luxo. Surgiu um novo profissional liberal voltado para o projeto, cujo status passa de artesão a<br />

artista.<br />

O final do sec. XIX e começo XX foi marcado por muita transformação no cenário <strong>da</strong>s<br />

artes, decorrentes do advento <strong>da</strong> Revolução Industrial e <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção estética do objeto<br />

produzido pela máquina, bem como pelas novas formas de configuração do trabalho. Destacase<br />

o estilo Art Noveau, com representantes na joalheria, na arquitetura e nas artes (Pevsner,<br />

1980). Entretanto, apesar de grandes maisons como Cartier e Boucheron produzirem jóias no<br />

estilo Art Noveau, é na figura de René Lalique que teve início uma grande transformação na<br />

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joalheria, pois ele evidenciou a importância do desenho e forma <strong>da</strong> jóia em detrimento dos<br />

materiais (Heiniger, 1974).<br />

O impacto <strong>da</strong> 1ª Guerra Mundial produziu significativas transformações sócioeconômicas<br />

e culturais. Na produção de jóias estabeleceu-se uma distinção entre as grandes<br />

joalherias – e sua produção inspira<strong>da</strong> no Art Dèco - e a criação de novos desenhos por<br />

pintores e escultores tais como Dali, Braque, Picasso, Marx Ernest e Arp (Campos, 1997).<br />

Ain<strong>da</strong> nos anos 1920 teve início outro tipo de relação que transformou a joalheria: as<br />

dinâmicas <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>. A partir <strong>da</strong> influência de estilistas como Paul Poiret, Chanel e<br />

Schiaparelli surgiu a costume jewelry 2 , uma espécie de bijuteria com desenho próprio<br />

inspirado em coleções e a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> ao uso cotidiano (Campos, 1997).<br />

Nesse período também começa a se configurar o campo do design culminando com a<br />

fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Bauhaus (1919), uma escola que tinha como propósito formar profissionais<br />

capacitados para realizar uma fusão entre artes e indústria. Apesar <strong>da</strong> expressiva presença de<br />

artistas e artesãos dentre os docentes <strong>da</strong> escola, é notável sua contribuição na demarcação de<br />

territórios antagônicos entre design, arte e artesanato. A escola foi o marco na difusão do<br />

Modernismo no contexto dos objetos, <strong>através</strong> de um pensamento e de uma estética<br />

funcionalistas, de produção industrial. Esses princípios não eram entendidos como estilo, mas<br />

como resultado de uma racionali<strong>da</strong>de na função do produto e aplica<strong>da</strong> a sua fabricação, o que<br />

deveria revelar a essência dos objetos, despindo-os de qualquer outro significado (Cardoso,<br />

2004). Essa postura afastou completamente a produção joalheira de uma relação com o campo<br />

do design. Sua conotação artística era considera<strong>da</strong> pejorativa e a colocava distante <strong>da</strong>s<br />

discussões do design tanto no que diz respeito aos aspectos formais quanto ao caráter<br />

industrial <strong>da</strong> fabricação, <strong>da</strong>do seu forte vínculo de produção com o artesanal e a manufatura<br />

(Annicchiarico, 2004). Além disso, o pensamento Modernista desconsiderava que “a<br />

capaci<strong>da</strong>de de evocar idéias também faz parte de qualquer proposta de design: ou seja, as<br />

funções de um objeto não podem ser reduzi<strong>da</strong>s apenas ao seu funcionamento” (Cardoso,<br />

2004: 131).<br />

Caracterizado como pós-industrial, o período após a 2ª Guerra Mundial foi marcado<br />

pela intensificação <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças promovi<strong>da</strong>s pelo desenvolvimento tecnológico e<br />

crescimento dos setores de serviços, comunicação e informação, gerando grande interesse<br />

pelas inovações e aumento do consumo (Sevcenko, 2001). O ideal modernista de que ‘forma<br />

segue a função’ não sobreviveu à lógica <strong>da</strong> produção capitalista. Os objetos passaram a<br />

estender seus significados para além <strong>da</strong>s questões funcionais e utilitárias e novos produtos<br />

começaram a ser criados de modo a gerar uma deman<strong>da</strong> apoia<strong>da</strong> em seu caráter simbólico.<br />

No que concerne à joalheria as transformações evidenciaram duas formas distintas de<br />

produção, uma vincula<strong>da</strong> à arte e outra relaciona<strong>da</strong> aos fluxos <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>. Colocando-se como<br />

uma forte reação às formas <strong>da</strong> joalheria comercial e tradicional a exposição “Modern<br />

Handmade Jewelry” – MOMA 1946 foi um marco no surgimento <strong>da</strong> arte-joalheria ao expor<br />

lado a lado “o artista como joalheiro e o joalheiro como artista” (Lewin, 1994:11). Essa<br />

joalheria artística destacou-se a partir de 1960-1970 e se caracterizou por um compromisso<br />

com a estética nos arranjos formais e, sobretudo, na expressão de individualismo (Watkins,<br />

1993). Observava-se maior liber<strong>da</strong>de em relação aos materiais e um caráter lúdico na relação<br />

entre objeto e sujeito como forma de desprendimento <strong>da</strong> “aura” e <strong>da</strong> “nobreza” <strong>da</strong> jóia<br />

tradicional. Por outro lado, com a intenção de “inserir moderni<strong>da</strong>de e desvincular a jóia <strong>da</strong><br />

estética <strong>da</strong> temática floral e romper o seu vínculo com a idéia de investimento de capital em<br />

pedras preciosas” (Annicchiarico. 2004:8) a XI Trienal de Milão/1957 foi pioneira na<br />

aproximação entre joalheria e design.<br />

Até meados do sec. XX a indústria joalheira brasileira restringia-se a (re)produzir<br />

modelos consagrados em materiais preciosos. O design era uma ativi<strong>da</strong>de insipiente no setor.<br />

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Esse cenário só se transformou a partir dos anos 1990, devido à premiação de designers<br />

brasileiros em concursos internacionais e à criação de um planejamento estratégico para o<br />

setor no Programa Brasileiro de Quali<strong>da</strong>de e Produtivi<strong>da</strong>de. Destaca-se também a criação, em<br />

1991, do 1º Premio IBGM de <strong>Design</strong> com premiação em três categorias: jóia de autor, jóias<br />

industriais e novos talentos. (Henriques, in Leal, 2002).<br />

Atualmente, num mercado globalizado, práticas do campo <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>/vestuário foram<br />

adota<strong>da</strong>s no segmento jóia com o lançamento de coleções sazonais por joalherias consagra<strong>da</strong>s<br />

e, inversamente, <strong>através</strong> <strong>da</strong> incorporação dos ornamentos como produtos <strong>da</strong>s grandes grifes<br />

mundiais. Exemplos disso podem ser vistos em coleções como “Coffret de Victoire” de<br />

Victoire de Castellane para Dior, de Elza Peretti para Tiffany, coleções <strong>da</strong> H. Stern<br />

“assina<strong>da</strong>s” por personali<strong>da</strong>des do campo <strong>da</strong> mo<strong>da</strong> (Constanza Pascolato, Diane Von<br />

Furstenberg), do design (Irmãos Campana) e <strong>da</strong>s artes (Anna Bella Geiger, Carlinhos Brown,<br />

Oscar Niemeyer, grupo Corpo) e também na parceria do estilista Alexandre Herchcovitch<br />

com a Dryzum.<br />

Porém, no que se refere às diretrizes que orientam o desenvolvimento <strong>da</strong>s peças a artejoalheria<br />

permanece distinta <strong>da</strong> joalheria comercial que tem sua produção diretamente<br />

articula<strong>da</strong> com e pelo mercado e seu discurso alinhavado à exibição de poder econômico,<br />

status e distinção social.<br />

3. Projeto Nova Jóia<br />

Iniciado em 2007, o projeto <strong>da</strong>s joalheiras Mirla Fernandes e Bettina Terepins<br />

propunha uma série de cinco exposições coletivas de <strong>Joalheria</strong> <strong>Contemporânea</strong> na galeria <strong>da</strong><br />

Zona D, em São Paulo. Tratava-se de uma iniciativa em parceria com Andréa Elage,<br />

proprietária <strong>da</strong> loja, cujo objetivo era criar diferenciais e construir um repertório no público.<br />

Em entrevista realiza<strong>da</strong> em setembro/2007 pudemos conhecer melhor a proposta, que<br />

considerava um processo seletivo de curadoria focado na coerência entre o conceito e as peças<br />

do artista. Foram aceitas apenas coleções inéditas de peças únicas.<br />

Uma retrospectiva dos trabalhos apresentados fechou o ano e em janeiro/2008 o<br />

projeto foi suspenso por motivos financeiros. Segundo Andréa Elage o investimento era<br />

grande e o retorno comercial ficou aquém do esperado.<br />

Em 2009 o Projeto Nova Jóia assumiu um caráter cultural e educacional para<br />

divulgação <strong>da</strong> arte- joalheria no Brasil, com os primeiros Spas Criativos, workshops para<br />

intercambio entre artistas nacionais e internacionais. Segundo Mirla Fernandes dois motivos<br />

impulsionaram sua parceria com Renata Porto na criação dos Spas Criativos: a falta de um<br />

espaço de formação na joalheria artística e o isolamento do Brasil nesse cenário internacional.<br />

A proposta era de workshops no interior de São Paulo (fig. 1, 2, 3 e 4) onde um grupo seria<br />

orientado por artistas convi<strong>da</strong>dos. Os participantes não precisariam ser joalheiros, mas teriam<br />

que ter um trabalho ligado à arte e criação. “O SPA Criativo é uma proposta de atualização e<br />

reciclagem indica<strong>da</strong> para todos aqueles que buscam desenvolvimento de seu trabalho<br />

autoral” (www.njoia.com).<br />

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Fig. 1, 2,3 e 4 – imagens do local<br />

A programação considerava chega<strong>da</strong> pela manhã, almoço às 13h e inicio às 14h. Nos<br />

dias seguintes as ativi<strong>da</strong>des começariam às 9h e acabariam às 18h considerando-se intervalo<br />

para almoço às 13h, encontro final e discussões às 17h e jantar às 20h. No último dia a parti<strong>da</strong><br />

estava prevista logo após o café <strong>da</strong> manhã. Foram realizados dois Spas Criativos:<br />

OUTUBRO/2009 – Ela Bauer (www.elabauer.com).<br />

NOVEMBRO/2009 - Karin Seufert (www.karinseufert.de) e Tore Svensson<br />

(www.toresvensson.com)<br />

3.1.1 Spa Criativo I – 15 à 19/10<br />

O workshop proposto por Ela Bauer tinha como tema Mitos Pessoais, sobre o qual ela<br />

enviou um texto de orientação aos participantes:<br />

"As pessoas crescem com histórias sobre seu passado, nossas memórias <strong>através</strong> dos<br />

anos se desenvolvem em experiências intensas com cores e odores, enquanto para<br />

outros são vagas e desaparecem. Histórias conta<strong>da</strong>s pela família e pessoas que<br />

cresceram a nossa volta sobre a nossa origem, nossos antepassados, suas ações<br />

(heróicas, engraça<strong>da</strong>s, estranhas, assustadoras, etc), suas características, suas<br />

motivações. Lugares, pessoas e momentos que ficaram mitificados. Durante o<br />

workshop eu gostaria de trazer a tona alguns dos MITOS PESSOAIS que ca<strong>da</strong> um<br />

de nós carrega e examinar as relações que ca<strong>da</strong> um tem em relação a sua história e<br />

transformá-las em uma peça de joalheria. Eu gostaria de pedir a ca<strong>da</strong> um que<br />

pensasse em seus próprios mitos. Uma historia que tenha sido conta<strong>da</strong>, ou não<br />

conta<strong>da</strong>, e que foi mistifica<strong>da</strong>... ou sua própria memória. Eu pediria a ca<strong>da</strong><br />

participante que trouxesse consigo seus objetos que estão conectados com SEUS<br />

MITOS.” 3<br />

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Por volta <strong>da</strong>s 11h chegamos (três pessoas do Rio de Janeiro e três de São Paulo) a uma<br />

agradável casa de campo em Monteiro Lobato/SP e tivemos o almoço de confraternização. À<br />

tarde iniciaram-se as apresentações dos mitos de ca<strong>da</strong> um.<br />

No dia seguinte começamos a trabalhar a partir do material trazido, que Ela analisou<br />

tentando compreender os percursos e as deman<strong>da</strong>s individuais. Por influencia do doutorado o<br />

meu material remetia a muitas linhas, conexões e um interesse por áreas indefini<strong>da</strong>s, borra<strong>da</strong>s,<br />

sem clareza. Sua sugestão foi “tente encontrar uma forma”.<br />

Desenhos, frottage (fig. 5) e fios de cobre (fig. 6) foram o ponto de parti<strong>da</strong> para uma<br />

serie de círculos contínuos e sobrepostos, derivados de um único fio, fixados num ponto.<br />

Fig. 5 e 6 - primeiros exercícios e arranjos realizados<br />

A exploração de tiras de papel vegetal e a conexão com fio de cobre produziu um<br />

resultado interessante (fig. 7 e 8). Ela Bauer disse “good work, good conexions” e sugeriu<br />

introduzir cor. A tentativa não trouxe resultados satisfatórios, mas a exploração com outros<br />

materiais abriu possibili<strong>da</strong>des de uso de lã com fio de cobre, retoma<strong>da</strong>s depois. O trabalho<br />

com o papel foi se desenvolvendo e uma pergunta surgiu: “O que era aquilo? Era uma<br />

exploração dos materiais ou um resultado em si?” Ela sugeriu deixar essa construção de lado<br />

(fig. 9).<br />

Fig. 7, 8 e 9 – etapas de desenvolvimento do exercício com papel vegetal<br />

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Os círculos com fios de cobre foram retomados e ampliados sem um objetivo prévio, o<br />

que resultou numa estrutura de círculos maiores e menores que sugeria um colar com um ar<br />

retrô, meio anos 60 (fig. 10 e 11). Na reunião final Ela Bauer sugeriu pensar em ca<strong>da</strong> detalhe,<br />

pensar em pequenas coisas que dão coerência entre as partes.<br />

Fig. 10 e 11 – etapas de desenvolvimento do colar de cobre<br />

No dia seguinte, ampliando a construção de papel (fig.12), a peça começou a ficar<br />

mais encorpa<strong>da</strong> e longa. Ela disse que era preciso assumir um compromisso com a forma,<br />

escolher a forma. A construção foi trabalha<strong>da</strong> e observa<strong>da</strong> durante todo o dia. Em paralelo o<br />

tema linha+conexão foi desenvolvido com lã rosa e cobre (fig. 13 e 14).<br />

Fig. 12, 13 e 14 – etapas de desenvolvimento/ exploração de materiais<br />

Para Ela esses materiais em si desvalorizavam as idéias tornando muito evidente as<br />

formas. Para transformar essa condição os fios foram encapados com linha de silicone branca<br />

(fig. 15) e sobre a lã foram aplica<strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s de cola branca (fig. 16 e 17).<br />

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Fig. 15, 16 e 17 - transformação <strong>da</strong>s características dos materiais<br />

No final do dia a peça de papel vegetal foi fecha<strong>da</strong> configurando um grande colar (fig.<br />

18 e 19). Na reunião Bauer retomou o fato de que é preciso escolher a forma, mas que às<br />

vezes isso pode levar certo tempo. “A coisa não precisa estar defini<strong>da</strong> a priori, ela vai<br />

surgindo, se construindo num diálogo com o artista.”<br />

Fig. 18 e 19 – colar de papel vegetal<br />

No último dia foi explora<strong>da</strong> a idéia <strong>da</strong> transparência/translucidez surgi<strong>da</strong> na peça de<br />

cobre encapado e na película de cola. Experimentos de sobreposição de cama<strong>da</strong>s de papel<br />

vegetal, durex, cristais e linhas “brancas” de diferentes tipos (metal, silicone, costura, etc.)<br />

foram realizados numa máquina de plastificação (fig. 20, 21, 22 e 23). As dificul<strong>da</strong>des<br />

encontra<strong>da</strong>s: não controlar a movimentação dos elementos durante a plastificação, a limitação<br />

de espessura e tamanho imposta pela máquina e a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> opaci<strong>da</strong>de deseja<strong>da</strong>. Para Bauer<br />

plastificar era uma solução fácil. “Até fica bonito, mas é necessário? Você deve tentar<br />

trabalhar em cama<strong>da</strong>s, mas sem plastificar, preservando/explorando o volume.”<br />

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Fig. 20, 21, 22 e 23 – experimentos com plastificação<br />

Foram feitas tentativas com sobreposição de papel vegetal e linhas fixando-as com<br />

cola (fig. 24). Também foi retomado o colar de círculos de cobre. Para criar um foco de<br />

atenção foi costurado um pe<strong>da</strong>ço de tule envolvendo os fios de um dos círculos (fig. 25 e 26).<br />

Fig. 24 – experimento com cama<strong>da</strong>s<br />

Fig. 25 e 26 – direcionamento final do colar de cobre<br />

Ela Bauer comentou como a intervenção definia melhor a forma <strong>da</strong> peça. O material<br />

disponível não era suficiente para terminá-la, mas havia sido <strong>da</strong><strong>da</strong> uma direção para sua<br />

finalização.<br />

3.1.2 Spa Criativo II – 07 a 11/11<br />

O tema do workshop de Karin Seufert e Tore Svensson relacionava materiais e<br />

identi<strong>da</strong>de.<br />

"O que os materiais dizem sobre identi<strong>da</strong>de e como se apropriar deles! Será um<br />

workshop em que o foco recairá sobre as proprie<strong>da</strong>des e historias dos materiais. Nós<br />

traremos materiais de nossos países e contaremos as historias que existem por trás<br />

deles: de onde vêm, seus significados, em que circunstancias foram usados.<br />

Descobriremos como um material estrangeiro se torna seu. Será que ele ganha um<br />

jeito latino-americano ao ser usado aqui, mesmo que venha <strong>da</strong> Europa? Qual a<br />

diferença de uma expressivi<strong>da</strong>de européia e latino-americana em relação ao<br />

material? Há uma identi<strong>da</strong>de do material e o que ele nos conta sobre sua origem?<br />

Quando é usado ele tem uma história própria? Ca<strong>da</strong> participante receberá um saco<br />

com 4 peças <strong>da</strong> Suécia e 4 <strong>da</strong> Alemanha. Misturaremos os materiais europeus e<br />

brasileiros. Nesse processo você poderá adicionar coisas como cola, fios, agulhas,<br />

adesivos, etc, todo tipo de material para conectar as peças e as conectar ao corpo. 4<br />

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Diferente do workshop anterior, após o almoço não houve uma apresentação dos<br />

participantes nem dos artistas, apenas uma exposição dos materiais. O grupo era formado por<br />

quatro pessoas de São Paulo. Karin trouxe <strong>da</strong> Alemanha uma lata de creme Nívea (vazia),<br />

Playmobil (um kit para ca<strong>da</strong> um), mini tampas de porcelana branca e borrachas para ve<strong>da</strong>ção<br />

de conservas. Tore trouxe <strong>da</strong> Suécia uma lata de anchovas (vazia), pe<strong>da</strong>ços de chifre de rena,<br />

placas de Fórmica em padronagem tradicional e uma bola de plástico usa<strong>da</strong> num esporte<br />

popular no país (fig. 28).<br />

Fig. 27 – materiais brasileiros<br />

Fig. 28 – materiais alemães e suecos<br />

A primeira proposta era produzir - em 2 horas - duas peças com apenas dois dos<br />

materiais que eles haviam trazido, podendo ser utilizados juntos ou separados. Após separálos<br />

em dois grupos: coloridos (playmobil, latas, borrachas) e brancos (bola de plástico,<br />

fórmica, chifre, porcelana), a idéia foi partir <strong>da</strong>s latas, material com o qual um joalheiro<br />

possui mais intimi<strong>da</strong>de. Porém, dispor de um único exemplar de ca<strong>da</strong> tipo provocou uma<br />

atitude cautelosa de minha parte: “tenho que definir o que fazer e não experimentar”. Brincar<br />

com as borrachas foi interessante, pois a flexibili<strong>da</strong>de permitia uma ação do tipo tentativa e<br />

erro. Algumas partes conecta<strong>da</strong>s com linha de costura indicaram um caminho. Karin<br />

comentou: “very simple, very clear”. Ain<strong>da</strong> faltavam algumas conexões para ter a primeira<br />

peça finaliza<strong>da</strong>, um anel (fig. 29), quando decidi “deixar um pouco de lado”.<br />

A segun<strong>da</strong> peça foi realiza<strong>da</strong> com a lata de anchovas, muito colori<strong>da</strong> com ilustrações<br />

em rosa, vermelho, amarelo e doura<strong>da</strong>, o que foi ponto de parti<strong>da</strong> cujo resultado foi<br />

descartado. Optei por um detalhe estrutural, uma dobradura-reforço que se via melhor pelo<br />

lado de dentro. Foram recortados dois retângulos de partes distintas, arranjados de modo que<br />

o dentro (dourado) e o fora (colorido) fossem compostos considerando a relação entre as<br />

estruturas. A conexão foi feita com linha preta formando dois pontos na parte frontal (fig. 30).<br />

Um alfinete no verso completou o broche e em segui<strong>da</strong> pude finalizar o anel. Ao observar os<br />

resultados percebi que a solução do anel remetia ao colar de papel vegetal do workshop <strong>da</strong> Ela<br />

Bauer, pois os princípios eram os mesmos (tira e conexão).<br />

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Fig. 29 – anel<br />

Fig. 30 – broche<br />

No dia seguinte o desafio foi fazer um colar com no máximo três materiais, sendo dois<br />

deles e um meu. A opção foi pela bola de plástico e chifre de rena deles e uma jarina 5 minha.<br />

A idéia era algo mais elaborado. “Take the hole <strong>da</strong>y...” disseram. Após fragmentar em partes<br />

os materiais selecionados foram trabalha<strong>da</strong>s diferentes composições (fig. 31, 32, 33 e 34) até<br />

a definição do arranjo ideal.<br />

Fig. 31, 32, 33 e 34 – processo de desenvolvimento do colar<br />

Também foram explora<strong>da</strong>s as linhas que conectariam as partes o que sugeriu um novo<br />

colar (fig. 35 e 36).<br />

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Fig. 35e 36 – processo de desenvolvimento do segundo colar<br />

Karen comentou que os resultados (fig.37 e 38) remetiam a seres do mar e redes. Na<br />

reunião do final do dia Tore comentou sobre a importância de trabalhar repetindo a mesma<br />

técnica e também a mesma temática para se tornar expressivo.<br />

Fig. 37e 38 – colares (resultado final)<br />

Começamos o terceiro dia com a apresentação de artistas que trabalhavam com<br />

materiais industrializados, com o intuito de discutir a importância <strong>da</strong> ampliação de repertório<br />

tanto para novas idéias como para autocrítica. O exercício proposto foi o desenvolvimento de<br />

um broche com até três materiais brasileiros e apenas um estrangeiro. O desafio era “explorar<br />

aonde a peça se conectará ao corpo”. Dentre os meus materiais havia couro, lâminas de<br />

madeira e sementes <strong>da</strong> Amazônia. A cor foi novamente ponto de parti<strong>da</strong>, numa associação<br />

entre sementes e borrachas vermelhas, evitando utilizá-las como contas por ser este o modo<br />

mais usual. Para esconder os furos usei tiras <strong>da</strong> borracha, o que resultou numa série de<br />

broches tipo pin (fig. 39).<br />

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Fig. 39 – broches tipo pin<br />

Durante esse processo foi feito outra proposta com a jarina. Porém ele trazia um<br />

desafio na conexão com o corpo devido ao peso/volume do material. Tentativas para<br />

solucionar a questão levaram à lata de Nívea. O sistema tampa/pote poderia funcionar como<br />

conexão, mas observei que um pe<strong>da</strong>ço <strong>da</strong> bola de plástico se encaixava como tampa na base<br />

<strong>da</strong> lata. Renata notou que já era um sistema completo ao ser fechado tendo o tecido <strong>da</strong> roupa<br />

entre as partes (fig. 40, 41 e 42). A lata foi lixa<strong>da</strong> preservando parte do azul. O mesmo<br />

princípio foi transportado para a jarina (fig. 43, 44 e 45).<br />

Fig. 40,41 e 42 – broche reversível<br />

Fig. 43,44 e 45 – broche com jarina<br />

Havia três soluções interessantes para apresentar como resultado. Após organizar o<br />

material sentei na rede com um pe<strong>da</strong>ço de fio vermelho enrolando-o aleatoriamente nos<br />

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dedos. Em <strong>da</strong>do momento a forma me chamou a atenção e decidi fixá-la com cola quente<br />

(fig.46). Mirla comentou: “está tudo aí, suas linhas, emaranhados, transparências...”<br />

Fig. 46 – anel vermelho<br />

No último dia a proposta era mais livre, com o tema “uma cor, uma forma”, que foi<br />

trabalhado numa série de experimentos com linhas, papel vegetal e cola quente. Dentre os<br />

resultados estavam alguns anéis (fig. 47 e 48) e uma série de módulos circulares (fig. 49 e 50).<br />

Fig. 47, 48, 49 e 50 – experimentações <strong>da</strong> proposta livre<br />

Karin comentou que “parecia gelo”. Tore sugeriu pensar num colar com “módulos”<br />

em diferentes tamanhos conectados por um fio invisível, pois assim se manteria certo mistério<br />

em torno <strong>da</strong> cor e <strong>da</strong> forma.<br />

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4. Aproximações e distinções: reflexões sobre arte e design<br />

Analisando as experiências extraí<strong>da</strong>s desses workshops podemos identificar<br />

semelhanças e diferenças relevantes no modo como foram abor<strong>da</strong>dos o tema, a vivencia dos<br />

participantes, a administração do tempo, as peças produzi<strong>da</strong>s e o processo de criação.<br />

No que se refere à temática, ao partir dos Mitos Pessoais/Spa I o foco foi colocado<br />

sobre o sujeito e considerou conteúdos de natureza íntima enquanto que Identi<strong>da</strong>de e<br />

Materiais/Spa II revelou características de representação coletiva evidenciando aspectos de<br />

caráter nacional dos países envolvidos. Justamente por isso a vivencia proposta aos<br />

participantes deu-se de maneira igualmente oposta. Ela Bauer sugeriu uma “busca interna” e<br />

sua estratégia se baseou numa abor<strong>da</strong>gem intimista com dinâmicas orienta<strong>da</strong>s para acessar o<br />

“particular” de ca<strong>da</strong> um. Já Karin e Tore estruturaram uma seqüência de exercícios para<br />

destacar diferentes modos de apropriação dos materiais a partir de repertórios construídos<br />

coletivamente.<br />

O modo de administrar e controlar, ou não, o tempo revelou diferenças importantes<br />

entre os dois percursos. Estipular o período dedicado a ca<strong>da</strong> produção (Spa II) impôs um<br />

roteiro mais dirigido que obrigava o desapego de idéias mal sucedi<strong>da</strong>s levando à busca<br />

imediata por novas soluções. De forma diferente, quando ca<strong>da</strong> trabalho podia “tomar o tempo<br />

necessário” (Spa I), aguar<strong>da</strong>ndo os freqüentes percursos de ir e vir, exercitou-se o foco no<br />

processo.<br />

Por fim destacamos a definição a priori <strong>da</strong> peça deseja<strong>da</strong> (broche, colar, etc.) por<br />

Karin e Tore, o que levou a adoção de estratégias ancora<strong>da</strong>s em conhecimentos prévios e<br />

familiari<strong>da</strong>de com os recursos disponíveis. Ela Bauer, por outro lado, deixou livre o tipo de<br />

peça que se produziria, ampliando as possibili<strong>da</strong>des no universo <strong>da</strong> joalheria.<br />

Apesar <strong>da</strong>s diferenças encontra<strong>da</strong>s, as duas abor<strong>da</strong>gens aproximam-se por tomar a<br />

poética artística como viés para a criação, o que permitiu compreender que a jóia não precisa<br />

necessariamente resultar de um processo de projeto em design, transformando minha<br />

concepção de joalheria. Com base nessas mu<strong>da</strong>nças podemos entender e ampliar os limites<br />

que definem a jóia na contemporanei<strong>da</strong>de.<br />

1<br />

Projeto coordenado atualmente pelas joalheiras Mirla Fernandes e Renata Porto.<br />

2 O significado considerado neste artigo refere-se a peças confeccionados com intenção de<br />

novi<strong>da</strong>de e vinculo com tendências de mo<strong>da</strong>.<br />

3<br />

Tradução livre do autor<br />

4 Tradução livre do autor<br />

5 Semente nobre <strong>da</strong> Amazônia, cuja amêndoa é conheci<strong>da</strong> como marfim vegetal.<br />

Referências<br />

ALEXANDRE HERCHCOVITCH (site) Disponível em <br />

ANNICCHIARICO, Silvana; CAPPELLIERI, Alba; ROMANELLI, Marco (Ed.). Il design<br />

della gioia fra progetto e ornamento. Itália: Triennale di Milano, 2004 (Collezione<br />

Permanente Del <strong>Design</strong> Italiano).<br />

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CAMPOS, Ana Paula de. Jóia <strong>Contemporânea</strong> Brasileira: reflexões sob a ótica de alguns<br />

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1997.<br />

CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher,<br />

2004.<br />

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DRYZUN (site). Disponível em <br />

ELA BAUER (site). Disponível em <br />

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São Paulo: Pioneira, 1993.<br />

HEINIGER, Jeanne e Ernest A. Le Grand Livre des Bijoux. Paris: Editora Lousaune, 1974.<br />

HENRIQUES, Héclinton. A arte do design. In LEAL, Joice, Joppert. Um Olhar sobre o<br />

design brasileiro. São Paulo: Objeto Brasil; Instituto Uniemp; Imprensa Oficial do Estado,<br />

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1981.<br />

NOVA JÓIA (site). Disponível em <br />

PEVSNER, Nicolau. Os pioneiros do desenho moderno. São Paulo: Martins Fontes, 1980.<br />

RENATA PORTO (site). Disponível em <br />

SEVCENKO, Nicolau. A corri<strong>da</strong> para o século XXI: No loop <strong>da</strong> montanha-russa. São<br />

Paulo: Companhia <strong>da</strong>s Letras, 2001.<br />

TORE SVENSSON (site). Disponível em <br />

WAGNER, Renato. Jóia <strong>Contemporânea</strong> Brasileira. São Paulo: [s.ed.] 1980.<br />

WATKINS, David. Joyeria Contemporanea. Londres: Rotovision, 1993.<br />

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