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CAPÍTULO<br />
4<br />
A educação e o direito das<br />
crianças ao desenvolvimento<br />
107
A educação e<br />
o direito das<br />
crianças ao<br />
desenvolvimento<br />
4CAPÍTULO<br />
1. Introdução<br />
A educação é um direito fundamental<br />
de todas as crianças. É garantido pela<br />
constituição de Moçambique, segundo a<br />
qual “a educação constitui direito e dever de<br />
cada cidadão.” De acordo com a Convenção<br />
sobre os Direitos da Criança, o direito à<br />
educação abrange a obrigação não apenas<br />
de proporcionar acesso a educação, mas<br />
também de eliminar a discriminação a<br />
todos os níveis, definir padrões mínimos<br />
e melhorar a qualidade. Além disso,<br />
a educação constitui uma importante<br />
prioridade do desenvolvimento global. Os<br />
Objectivos de Desenvolvimento do Milénio<br />
(ODM) 2 e 3 visam, respectivamente,<br />
alcançar a educação primária universal e<br />
promover a igualdade de género, incluindo a<br />
paridade na educação.<br />
Além de necessária para a materialização<br />
dos direitos civis, políticos, económicos<br />
e sociais, a educação é um dos mais<br />
poderosos instrumentos para a promoção<br />
do desenvolvimento económico e social<br />
e na redução da pobreza, especialmente<br />
da pobreza infantil, e da desigualdade.<br />
Como observado no Capítulo 3 do presente<br />
estudo Pobreza Infantil e Disparidades em<br />
Moçambique – 2010, a educação também<br />
desempenha um papel essencial na<br />
sobrevivência e desenvolvimento da criança.<br />
Este é particularmente o caso da educação<br />
da rapariga, altamente correlacionada com<br />
a redução da mortalidade infantil e uma<br />
melhor saúde e nutrição para as próximas<br />
gerações de crianças.<br />
Este capítulo analisa o sector da educação<br />
em Moçambique. A primeira parte debruçase<br />
sobre a situação actual e tendências<br />
recentes na participação no sistema de<br />
ensino. A parte seguinte centra-se nas<br />
barreiras à participação, descrevendo as<br />
tendências recentes no financiamento do<br />
sector, e tirando algumas conclusões com<br />
base nas análises apresentadas.<br />
109
POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />
2. A actual situação e recentes tendências<br />
no sector da educação<br />
2.1 O sistema de educação em<br />
Moçambique<br />
A base jurídica do Sistema Nacional de<br />
Educação de Moçambique, que define os<br />
princípios, funções e objectivos de cada<br />
subsistema de ensino, incluindo o primário,<br />
foi definida por lei em 1992 (Lei n º 6/92).<br />
Em 2004 aboliram-se as tarifas escolares no<br />
ensino primário, que, todavia, permanecem<br />
em outros níveis de ensino.<br />
O Ministério da Mulher e da Acção Social é o<br />
principal responsável pela implementação do<br />
Desenvolvimento na Primeira Infância, que,<br />
no entanto, tem sido assegurado sobretudo<br />
por operadores privados e algumas<br />
instituições públicas. Tem uma cobertura<br />
muito limitada que se traduz em cerca de<br />
61.400 crianças. 1<br />
O sistema geral de ensino em Moçambique<br />
está dividido em ensino primário e ensino<br />
secundário. O ensino primário é composto<br />
por sete anos de escolaridade, repartidos<br />
por dois níveis. O primeiro nível do ensino<br />
primário vai da primeira à quinta classe<br />
(ensino primário do primeiro grau, ou EP1)<br />
devendo ser frequentado por crianças dos<br />
6 aos 10 anos de idade. O segundo nível<br />
do ensino primário compreende a sexta e a<br />
sétima classes (ensino primário do segundo<br />
grau, ou EP2), devendo ser frequentado por<br />
crianças com 11 a 12 anos de idade. Em<br />
2004, o Ministério da Educação (MINED)<br />
introduziu um novo currículo para o ensino<br />
básico e reformou alguns pontos críticos<br />
do sistema, incluindo a obrigatoriedade de<br />
sete anos completos e integrados de ensino<br />
primário, e as passagens semi-automáticas.<br />
Assim, os dois níveis do ensino básico estão<br />
a ser actualmente fundidos numa única série<br />
(ensino primário completo, ou EPC), que<br />
compreende um ciclo de sete anos de ensino<br />
primário.<br />
O ensino secundário é constituído por<br />
cinco anos de escolaridade, sendo também<br />
dividido em dois níveis: o primeiro nível<br />
inclui as classes 8ª a 10ª (Ensino Secundário<br />
Geral do Primeiro Grau, ou ESG1) e o<br />
segundo compreende a 11ª e a 12ª classes<br />
(Ensino Secundário Geral do Segundo<br />
Grau, ou ESG2). O primeiro nível deve ser<br />
frequentado por crianças com 13 a 15 anos<br />
de idade, e o segundo por crianças com<br />
idades entre os 16 e os 17 anos. O processo<br />
de reforma curricular do ensino secundário,<br />
introduzida em 2007, tal como a Estratégia<br />
para o Ensino Secundário elaborada em<br />
2008, pretende tornar o ensino secundário<br />
mais acessível e prático e visa desenvolver<br />
nos alunos competências para a vida.<br />
A educação técnica e profissional no sistema<br />
de ensino público é composta por três<br />
níveis: elementar, básico e médio. Esses<br />
níveis são equivalentes ao EP2, ESG1 e ESG2<br />
e decorrem em dois, três e quatro anos,<br />
respectivamente. Nos níveis básico e médio,<br />
é possível especializar-se em agricultura ou<br />
indústria e comércio.<br />
No nível superior, há mais de 30 instituições<br />
em Moçambique, duas das quais são<br />
as principais universidades públicas<br />
– a Universidade Pedagógica (UP) e a<br />
Universidade Eduardo Mondlane (UEM)<br />
– bem como uma série de outras pequenas<br />
instituições de ensino superior. Os requisitos<br />
para o ingresso nessas instituições são<br />
a conclusão da ESG2 (12ª classe) e a<br />
submissão a exames de admissão.<br />
Pretende-se que a educação especial seja<br />
sistemicamente integrada por via de uma<br />
educação inclusiva, de acordo com o<br />
objectivo definido pelo Plano Estratégico de<br />
Educação e Cultura. A educação especial tem<br />
sido oferecida principalmente em algumas<br />
escolas especiais, que são geridas pelo<br />
110
CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />
Ministério da Mulher e da Acção Social,<br />
servindo um número limitado de crianças<br />
com necessidades especiais nas áreas de<br />
deficiência auditiva, visual, mental ou física.<br />
A Educação de Adultos, que cessou durante<br />
a guerra, tem vindo a ganhar um novo<br />
impulso nos últimos anos, com novos<br />
programas, como, por exemplo, o ensino<br />
à distância pela rádio e televisão, que foi<br />
introduzido para proporcionar educação<br />
básica a adultos, particularmente a mulheres<br />
nas zonas rurais.<br />
No ensino primário as disparidades têm<br />
vindo a diminuir, mas no ensino secundário<br />
os progressos foram lentos. Cerca de 3,3<br />
milhões de 4,1 milhões de crianças em<br />
Moçambique de 6-12 anos de idade estão<br />
agora a frequentar a escola primária, 2 o que<br />
equivale a uma taxa líquida de 81 por cento<br />
em 2008. 3 A taxa líquida de frequência no<br />
ensino secundário continua baixa; apenas<br />
20 por cento das crianças com idades entre<br />
os 13 e os 17 anos estavam a frequentar o<br />
ensino secundário em 2008. Quase metade<br />
das crianças dessa idade ainda se encontram<br />
a frequentar a escola primária. 4<br />
Não há diferença significativa na frequência<br />
do ensino primário e secundário entre<br />
raparigas e rapazes. As disparidades de<br />
género no ensino primário, medidas pelo<br />
índice líquido de paridade de género (IPG),<br />
diminuíram de 0,90 em 2003 para 0,97 em<br />
2008. i No secundário, o IPG melhorou de<br />
0,80 em 2003 para 0,97 em 2008.<br />
Também foram reduzidas discrepâncias<br />
de longa data na frequência escolar das<br />
crianças das áreas urbana e rural e das<br />
famílias mais pobres e mais ricas. Apesar<br />
de continuar a haver diferenças, as crianças<br />
rurais e mais pobres registaram um maior<br />
aumento das taxas líquidas de frequência<br />
nos últimos anos do que as crianças urbanas<br />
e mais abastadas, tanto a nível primário<br />
como secundário.<br />
2.2. Crianças na escola<br />
Hoje estão a frequentar a escola mais<br />
crianças do que há cinco anos. As taxas<br />
líquidas de frequência do ensino primário<br />
aumentaram entre 2003 e 2008, de 60 para<br />
81 por cento. No ensino secundário as taxas<br />
Figura 4.1: Taxas líquidas de frequência, 2003 e 2008<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
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<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Fonte: IDS 2003 e MICS 2008.<br />
<br />
<br />
i<br />
O IPG é calculado dividindo-se a taxa líquida de escolarização feminina pela taxa líquida de escolarização masculina<br />
para um dado nível de ensino. Um IPG de 0,96 a 1,04 indica que as percentagens de rapazes e raparigas na escola<br />
são aproximadamente iguais. Um valor inferior a 0,96 indica uma menor percentagem de raparigas na escola<br />
comparativamente à dos rapazes.<br />
111
POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />
líquidas de frequência também aumentaram<br />
entre 2003 e 2008, embora de uma base<br />
extremamente baixa, de 8 para 20 por cento.<br />
Foi realizada uma análise de regressão para<br />
examinar os factores que influenciam a<br />
frequência do ensino primário de crianças de<br />
6-12 anos, com base no conjunto de dados<br />
do MICS 2008, onde a variável dependente<br />
é se a criança está a frequentar a escola<br />
primária. Pelos resultados, a escolaridade<br />
da mãe parece ser um dos mais importantes<br />
factores que afectam a frequência do ensino<br />
primário. A riqueza familiar ii tem também<br />
uma correlação positiva com a frequência.<br />
Além disso, as crianças em agregados<br />
familiares chefiados por mulheres e com<br />
um pai presente têm mais probabilidade<br />
de frequentar a escola. A idade do chefe da<br />
família e o tamanho da família não parecem<br />
tem relação com a frequência.<br />
Dada a percentagem relativamente<br />
elevada de crianças que iniciam a escola<br />
tardiamente, a idade da criança tem uma<br />
relação positiva com o frequentar a escola<br />
primária, embora se registe abandono<br />
a partir dos 10 anos de idade (ver figura<br />
4.2). O modelo também indica que uma<br />
criança portadora de deficiência tem uma<br />
probabilidade 40 por cento inferior de<br />
frequentar a escola primária que uma<br />
criança sem deficiência. O sexo da criança<br />
não tem qualquer relação estatisticamente<br />
significativa com a frequência escolar, como<br />
é também confirmado pela Figura 4.2.<br />
Em termos de diferenças geográficas, as<br />
crianças rurais têm uma probabilidade<br />
ligeiramente menor de frequentar a escola<br />
primária do que as crianças urbanas. As<br />
crianças que residem nas províncias do<br />
Norte revelam uma maior probabilidade<br />
de abandono escolar do que as crianças da<br />
Cidade de Maputo.<br />
2.3.Crianças fora da escola<br />
Em 2003, não frequentavam a escola<br />
primária 1,5 milhões de crianças. Cinco<br />
anos depois, esse número desceu para<br />
metade: 764.000 (ver Figura 4.3). Em<br />
números absolutos, porém, as disparidades<br />
de género persistem. Não estão a usufruir<br />
Figure 4.2: Probabilidade de não frequentar a escola primária, 2008<br />
Probabilidade de não frequentar<br />
a escola primária<br />
0 .1 .2 .3 .4 .5<br />
6 8 10 12<br />
Idade<br />
Masculino<br />
Feminino<br />
Fonte: Cálculos do <strong>UNICEF</strong> baseados em MICS 2008.<br />
2 Medida através de um índice de pontuação de bens com base na metodologia de Filmer e Pritchett, 2001.<br />
112
CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />
do seu direito à educação primária mais<br />
raparigas do que rapazes: 399.000 raparigas<br />
comparativamente a 364.000 rapazes. 5<br />
Nas crianças em idade de frequentar o ensino<br />
secundário que estão fora da escola, pode<br />
observar-se uma tendência oposta. O número<br />
das crianças de 13 a 17 anos de idade fora da<br />
escola parece ter aumentado ligeiramente<br />
entre 2003 e 2008, de 31 para 36 por cento. 6<br />
Mais raparigas do que rapazes (tanto do<br />
ensino primário como secundário) estão fora<br />
da escola. Isto explica-se, em parte, porque<br />
mais rapazes em idade de frequentar o ensino<br />
secundário estão matriculados em escolas<br />
primárias, isto é, estão ‘acima da idade’<br />
(49 por cento de rapazes para 38 por cento<br />
de raparigas), enquanto as raparigas estão<br />
mais fora do sistema de ensino em geral (41<br />
por cento de raparigas para 30 por cento de<br />
rapazes). 7<br />
Embora as crianças urbanas tenham taxas<br />
mais elevada que as suas congéneres rurais,<br />
as áreas rurais apresentaram um maior<br />
progresso geral nos indicadores de educação<br />
entre 2003 e 2008. As taxas líquidas de<br />
frequência primária aumentaram nas crianças<br />
rurais de 53 por cento em 2003 para 79 por<br />
cento em 2008, comparativamente a um<br />
aumento de 76 por cento para 89 por cento<br />
nas crianças urbanas no mesmo período. 8<br />
2.4. Atrasos no início da<br />
escolarização<br />
Estar acima da idade na escola é um<br />
fenómeno generalizado em Moçambique,<br />
influenciado por muitos factores. Embora<br />
o Ministério da Educação tenha vindo a<br />
promover a ideia de que as crianças devem<br />
entrar para a escola na idade certa, a<br />
concretização da entrada da criança depende<br />
de vários factores, entre os quais a sua<br />
área de residência. As crianças das zonas<br />
rurais entram na escola mais tarde que as<br />
crianças das áreas urbanas. Aos seis anos,<br />
61 por cento das crianças em áreas rurais<br />
estavam a frequentar a escola primária em<br />
2008, comparativamente a 73 por cento das<br />
crianças urbanas. A entrada para a escola no<br />
momento certo é influenciada pelo nível de<br />
escolaridade da mãe e pelo nível de riqueza<br />
do agregado familiar da criança. Em 2010,<br />
com base em estatísticas do MINED, 68,8 por<br />
cento das raparigas começaram a escola na<br />
idade certa.<br />
Embora se tenha registado progresso ao<br />
longo do tempo, mais crianças com 13-17<br />
anos estão a frequentar a escola primária do<br />
que a secundária. Em 2008, 44 por cento da<br />
população total em idade escolar secundária<br />
estava na escola primária, em comparação<br />
Figura 4.3: Percentagem de crianças de 6-12 e 13-17 anos fora da escola, por sexo, local de residência e<br />
condições socioeconómicas, 2008<br />
50%<br />
45%<br />
40%<br />
35%<br />
30%<br />
25%<br />
20%<br />
15%<br />
10%<br />
5%<br />
0%<br />
11%<br />
Fonte: MICS 2008.<br />
25%<br />
22%<br />
42%<br />
18%<br />
30%<br />
Urbana Rural Rapazes Raparigas Mais ricos Mais pobres<br />
Primário<br />
20%<br />
42%<br />
Secondário<br />
5%<br />
20%<br />
28%<br />
49%<br />
113
POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />
com 61 por cento em 2003. As disparidades<br />
de género são evidentes: entre as crianças<br />
de 17 anos, 21 por cento dos rapazes contra<br />
12 por cento das raparigas frequentavam a<br />
escola primária em 2008. 9<br />
A idade com que uma criança entra para<br />
a escola afecta claramente a percentagem<br />
de crianças acima da idade na escola. Nos<br />
últimos anos as crianças tenderam a iniciar<br />
os seus estudos mais cedo. A Figura 4.4<br />
mostra como as gerações mais jovens são<br />
mais propensas a iniciar a escola primária<br />
aos seis anos do que os grupos de mais<br />
idade.<br />
O fenómeno ‘acima da idade’ no ensino<br />
básico tem implicações significativas para<br />
os resultados de aprendizagem das crianças,<br />
uma vez que é ensinado o mesmo currículo,<br />
ao mesmo ritmo, a alunos de idades e<br />
níveis de desenvolvimento cognitivo muito<br />
diversos. Coloca também sérios desafios<br />
a programas de prevenção de HIV/SIDA<br />
direccionados para crianças de 10-14 anos<br />
nas classes 5ª a 8ª (consideradas a Janela de<br />
Esperança, pois a maior parte das crianças<br />
ainda não são sexualmente activas, ou<br />
acabam de se tornar sexualmente activas).<br />
As crianças acima da idade mais maduras<br />
requerem uma abordagem diferente nesses<br />
programas.<br />
2.5. Conclusão do ensino<br />
primário e transição para o<br />
ensino secundário<br />
A participação na escola secundária<br />
depende da conclusão da escola primária.<br />
As taxas de conclusão do ensino primário<br />
são baixas, situando-se nos 15 por cento. É<br />
significativa a disparidade existente entre<br />
as taxas urbana e rural de conclusão do<br />
ensino primário (30 por cento contra 7 por<br />
cento, respectivamente, em 2008). 10 Embora<br />
as taxas de conclusão estejam a aumentar<br />
tanto em áreas urbanas como rurais,<br />
agravou-se o fosso entre as duas, com<br />
um aumento de cinco vezes nas crianças<br />
urbanas comparativamente a duas vezes<br />
e meia nas crianças das zonas rurais. É<br />
possível que os recentes aumentos nas taxas<br />
de frequência relativas a crianças das zonas<br />
rurais se traduzam em mais elevadas taxas<br />
de conclusão nos próximos anos. Embora<br />
a maioria das crianças (73 por cento) que<br />
completam o ensino primário prossigam<br />
para o ensino secundário, as taxas de<br />
conclusão neste nível são ainda mais baixas.<br />
O Ministério da Educação estima que a taxa<br />
bruta de conclusão do ensino secundário<br />
foi de 6,5 por cento em 2009. Os rapazes<br />
têm uma maior tendência de completar o<br />
ensino secundário do que as raparigas (8 por<br />
cento contra 5 por cento, respectivamente) 11 .<br />
Figura 4.4: Distribuição da população de acordo com a idade de entrada na escola, 2008<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
41%<br />
39%<br />
37%<br />
45%<br />
50%<br />
20%<br />
25% 28% 18%<br />
10%<br />
0%<br />
3%<br />
Urbano<br />
5-9 anos<br />
Rural<br />
10-14 anos<br />
Rapazes<br />
15-19 anos<br />
17%<br />
Raparigas<br />
20-24 anos<br />
13%<br />
Mais ricos<br />
25-29 anos<br />
9%<br />
Mais pobres<br />
30-34 anos<br />
Entraram na escola aos 6 anos<br />
Entraram na escola aos 10 anos ou mais<br />
Fonte: MICS 2008.<br />
114
CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />
O ensino secundário não é grátis e não há<br />
escolas secundárias em número suficiente,<br />
especialmente nas áreas rurais.<br />
Embora tenha havido um aumento de<br />
100 por cento no número de escolas<br />
secundárias desde 2004, esse aumento<br />
ocorreu principalmente em áreas urbanas<br />
e peri-urbanas. 12 Para a grande maioria das<br />
crianças das zonas rurais que concluem<br />
o ensino básico, o acesso ao ensino<br />
secundário constitui ainda um desafio. É<br />
interessante notar, no entanto, que uma<br />
redução das taxas de matrícula cobradas<br />
às raparigas que se matriculam nas escolas<br />
secundárias fez aumentar a matrícula<br />
de raparigas no ensino secundário, não<br />
obstante as matrículas destas continuarem<br />
inferiores às dos rapazes na maioria das<br />
províncias.<br />
A conclusão do ensino primário é<br />
directamente influenciada por uma série de<br />
factores, incluindo os níveis de escolaridade<br />
das mães, a riqueza do agregado familiar<br />
e a província. iii As crianças cujas mães<br />
têm o ensino secundário ou superior<br />
têm maior probabilidade de completar o<br />
ensino na idade devida do que as crianças<br />
cujas mães não têm escolaridade (ver<br />
Figura 4.5). Quarenta e quatro por cento<br />
das crianças dos quintis mais abastados<br />
completam o ensino primário aos 12<br />
anos, comparativamente a 1 por cento do<br />
quintil mais pobre. Também persistem as<br />
desigualdades rural/urbano, pois as crianças<br />
das áreas urbanas têm quatro vezes mais<br />
probabilidade de completar a escola primária<br />
do que as crianças das áreas rurais (30 por<br />
cento contra 7 por cento). 13<br />
2.6. Progressão pelas classes<br />
As baixas taxas de conclusão do ensino<br />
primário devem-se, pelo menos em parte,<br />
à persistente incapacidade das crianças<br />
de transitar regularmente de uma classe<br />
para a seguinte. Em média, cerca de oito<br />
por cento das crianças não conseguem<br />
passar de classe cada ano, facto que se<br />
regista com considerável regularidade ao<br />
longo do ciclo primário. 14 Como a política de<br />
passagens semi-automáticas do MINED só<br />
permite que as crianças repitam a segunda,<br />
a quinta e a sétima classes, era de esperar<br />
que a não transição fosse mais acentuada<br />
a partir dessas classes. Os dados do MICS<br />
2008 mostram não ser isso o que acontece.<br />
Deve-se notar, contudo, que as taxas de<br />
reprovação registaram uma diminuição<br />
Figura 4.5: Taxas de conclusão do ensino primário e transição para o ensino secundário, 2008<br />
90%<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
75%<br />
70%<br />
75%<br />
70%<br />
78%<br />
69%<br />
73%<br />
44%<br />
30%<br />
14%<br />
17%<br />
15%<br />
7%<br />
1%<br />
Masculino Feminino Urbano Rural Mais pobre Mais rico Total<br />
Taxas de conclusão do ensino primário Taxa de transição para o ensino secundário<br />
Fonte: MICS 2008.<br />
iii Note-se que a educação da mãe, a riqueza familiar e a localização da residência (urbana/rural) podem ter alguma<br />
correlação entre si.<br />
115
POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />
muito acentuada a partir de 2003.<br />
Apenas 60 por cento das crianças chegam à<br />
última classe do ensino primário (ver Figura<br />
4.6). 15 Para alguns grupos de crianças, a taxa<br />
de transição é significativamente mais baixa:<br />
as raparigas, as crianças rurais e as mais<br />
pobres são mais propensas a não progredir<br />
através do sistema de ensino primário. As<br />
crianças que não transitam tanto podem<br />
repetir uma classe (na terceira, quinta ou<br />
sétima classe) como abandonar o sistema de<br />
ensino, pelo menos temporariamente.<br />
2.7. Equidade na Educação<br />
A desigualdade no ensino primário diminuiu<br />
entre 2003 e 2008. Como pode ser observado<br />
na Figura 4.7, os rácios de frequência escolar<br />
primária aumentaram em todos os quintis de<br />
riqueza. O aumento foi maior nas crianças<br />
mais pobres do que crianças mais ricas,<br />
reduzindo-se a diferença relativa a equidade.<br />
Os três últimos quintis de riqueza tiveram,<br />
todos eles, aumentos absolutos de cerca de<br />
27 pontos percentuais. A diferença entre os<br />
Figura 4.6: Percentagem dos que entram na primeira classe que chegam à última classe do ensino primário, por<br />
características seleccionadas, 2008<br />
90%<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
85%<br />
71%<br />
64%<br />
56%<br />
53%<br />
60%<br />
47%<br />
Masculino Feminino Urbano Rural Mais pobre Mais rico Total<br />
Fonte: MICS 2008.<br />
Figura 4.7: Rácios líquidos de frequência escolar primária por quintil de riqueza, 2003 e 2008<br />
100%<br />
90%<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
70%<br />
72%<br />
88%<br />
87%<br />
74% 80%<br />
45%<br />
48% 53% 2003<br />
2008<br />
Mais baixo Segundo Médio Quarto Mais alto<br />
95%<br />
Fonte: IDS 2003 e MICS 2008.<br />
116
CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />
quintis mais elevado e mais baixo baixou<br />
de 43 pontos percentuais em 2003 para 23<br />
pontos percentuais em 2008.<br />
A desigualdade é mais acentuada no nível<br />
secundário e tem aumentado nos últimos<br />
anos. Em 2003, a grande maioria das crianças<br />
na escola secundária era das famílias mais<br />
abastadas. A maioria das crianças dos quatro<br />
quintis de riqueza inferiores não frequentava<br />
a escola secundária. Em 2008, registou-se<br />
um considerável aumento nos dois primeiros<br />
quintis, mas o acesso para crianças dos três<br />
quintis inferiores continua extremamente<br />
baixo (ver Figura 4.8). Os aumentos em<br />
termos absolutos foram significativamente<br />
superiores nas crianças mais ricas. A<br />
frequência das crianças no quintil mais pobre<br />
aumentou somente 2 pontos percentuais<br />
entre 2003 e 2008, enquanto a frequência das<br />
crianças no quintil mais rico subiu 27 pontos<br />
percentuais. O fosso entre os rácios líquidos<br />
de frequência no ensino secundário das<br />
crianças mais ricas e mais pobres aumentou<br />
de 21 pontos percentuais em 2003 para 46<br />
pontos percentuais em 2008. 16iv<br />
Devido à falta de escolas suficientes para<br />
absorver o aumento da demanda, mais<br />
graduados da 7ª classe não puderam<br />
dar continuidade aos seus estudos no<br />
ensino secundário ou primeiro ciclo do<br />
Ensino Secundário Geral (8ª classe).<br />
São de igual modo insuficientes tanto o<br />
número de professores com formação<br />
como o equipamento, obrigando as<br />
famílias a colocar as crianças em escolas<br />
particulares caso tenham meios para<br />
tal. Entretanto, uma grande maioria de<br />
crianças, e particularmente as que vivem<br />
em áreas rurais, é forçada a não prosseguir<br />
na sua escolarização. Como solução<br />
para o problema de espaço, têm surgido<br />
Escolas Primárias Expandidas (EPE), que<br />
oferecem ensino secundário mas onde<br />
são frequentemente os professores da<br />
escola primária que, apesar de não terem<br />
as qualificações necessárias, dão as aulas<br />
do Ensino Secundário Geral. Além disso, o<br />
afluxo de estudantes do ensino secundário<br />
coloca mais pressão sobre o espaço<br />
disponível nas escolas primárias. 17<br />
Figura 4.8: Rácios líquidos de frequência no ensino secundário por quintil de riqueza, 2003 e 2008<br />
50%<br />
45%<br />
40%<br />
35%<br />
30%<br />
25%<br />
20%<br />
15%<br />
10%<br />
5%<br />
0%<br />
22%<br />
21%<br />
8%<br />
6%<br />
1% 2%<br />
5%<br />
2%<br />
3%<br />
2003 2008<br />
Mais baixo Segundo Médio Quarto Mais alto<br />
49%<br />
Fonte: IDS 2003 e MICS 2008.<br />
iv As comparações entre os dados de alfabetização do IDS 2003 e do MICS 2008 devem ser interpretadas com cautela uma<br />
vez que as metodologias usadas nas duas pesquisas não são compatíveis.<br />
117
POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />
2.8. Alfabetização<br />
Na altura da independência, em 1975,<br />
Moçambique tinha uma taxa de analfabetos<br />
superior a 93 por cento, com taxas ainda<br />
mais elevadas nas mulheres, o que<br />
representou um enorme desafio para o<br />
desenvolvimento do país. Os esforços<br />
do governo e das comunidades nos anos<br />
seguintes foram bem sucedidos na redução<br />
da taxa de analfabetismo para 72 por cento<br />
em 1980. Este progresso foi, no entanto,<br />
prejudicado pelo início da guerra e da crise<br />
económica na década de 1980 e inícios de<br />
1990, tendo ficado praticamente paralisado.<br />
O trabalho foi retomado após a guerra,<br />
resultando numa redução da taxa de<br />
analfabetismo em adultos de 61 por cento<br />
em 1999 para 54 por cento em 2005. 18<br />
As taxas de alfabetização continuam baixas<br />
no respeitante a mulheres. Em 2008, apenas<br />
47 por cento das mulheres sabiam ler e<br />
escrever. É todavia maior a percentagem de<br />
mulheres jovens que sabem ler e escrever:<br />
41 por cento das de 20 a 24 anos de idade<br />
em comparação com 53 por cento das de 15<br />
a 19 anos. Não houve alteração significativa<br />
nas taxas de alfabetização de mulheres<br />
entre 2003 e 2008. 19<br />
O nível de riqueza das famílias está<br />
fortemente correlacionado com o nível de<br />
alfabetização, principalmente nas mulheres.<br />
Entre as mulheres de 15-24 anos, apenas<br />
11 por cento dos agregados familiares no<br />
quintil mais pobre sabiam ler e escrever,<br />
comparativamente a 84 por cento dos<br />
agregados familiares no quintil em melhor<br />
situação (ver Figura 4.9).<br />
2.9. Ensino superior<br />
O número de instituições de ensino superior<br />
aumentou de 9 para 38, entre 2000 e 2009.<br />
Entre elas encontram-se as duas principais<br />
universidades públicas: a Universidade<br />
Pedagógica (UP) e a Universidade Eduardo<br />
Mondlane (UEM). Os requisitos para o<br />
ingresso nessas instituições são a conclusão<br />
do ESG2 (12ª classe) e a aprovação em<br />
exames de admissão.<br />
As matrículas em instituições de ensino<br />
superior também têm vindo a aumentar. O<br />
número de instituições desse nível aumentou<br />
de 9 para 38 entre 2000 e 2009, tendo o<br />
número de estudantes que o frequentam<br />
passado de 13,592 para cerca de 80,000 em<br />
2009. 20 Houve também melhorias em termos<br />
de equidade geográfica, ora com toda uma<br />
instituição de ensino ora com a abertura de<br />
delegações em todas as províncias.<br />
Figura 4.9: Taxas de alfabetização em mulheres de 15-24 anos por quintil de riqueza, 2008<br />
90%<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
84%<br />
60%<br />
32%<br />
24%<br />
11%<br />
Mais baixo Segundo Médio Quarto Mais alto<br />
Fonte: 2008 MICS.<br />
118
CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />
3. Barreiras à participação na educação<br />
3.1. Custos directos com a<br />
educação<br />
Os custos directos do ensino primário têm<br />
sido referidos como um dos principais<br />
obstáculos ao ingresso das crianças e sua<br />
permanência na escola. 21 , 22 A abolição das<br />
tarifas escolares, introduzida em 2004,<br />
juntamente com a introdução de um novo<br />
currículo e a provisão gratuita de livros e<br />
algum material escolar básico através do<br />
programa Apoio Directo às Escolas (ADE)<br />
reduziram os obstáculos relacionados com<br />
os custos directos com o ensino primário.<br />
No entanto, o custo dos uniformes e outros<br />
materiais escolares continua a restringir<br />
o acesso no caso das famílias mais<br />
vulneráveis. Assim, para as famílias muito<br />
pobres, especialmente nas zonas rurais, a<br />
soma de todos os custos directos continua<br />
a ser um importante factor ao decidirem<br />
se, quem ou quantos filhos podem pôr na<br />
escola, sobretudo a nível secundário. 23<br />
3.2. Custos de oportunidade<br />
para as comunidades<br />
Num quadro de pobreza, o investimento em<br />
educação é uma das escolhas que as famílias<br />
devem fazer em relação a outras prioridades<br />
que afectam as suas vidas e meios de<br />
subsistência. A pobreza das famílias muitas<br />
vezes requer que as crianças ajudem nas<br />
tarefas domésticas ou que trabalhem para<br />
ganhar dinheiro para sustentar a família ou<br />
para comprar material escolar. Dados do<br />
MICS 2008 mostram que 22 por cento das<br />
crianças de 5-14 anos estão envolvidas no<br />
trabalho infantil, v mas que a maior parte<br />
delas (78 por cento) andam na escola. 24<br />
Quando as crianças não têm bom<br />
desempenho escolar, os pais podem não<br />
ver benefícios da educação em termos de<br />
retorno do seu investimento, o que pode<br />
fazer com que tirem as crianças da escola.<br />
A percepção dos benefícios da educação<br />
é também geralmente associada a outros<br />
factores, incluindo a qualidade do ensino que<br />
é ministrado às crianças, oportunidades de<br />
trabalho depois do período de escolarização,<br />
distância para a escola secundária mais<br />
próxima, disponibilidade de lugares nas<br />
escolas secundárias, competências adquiridas<br />
na escola e disponibilidade de professores<br />
qualificados. O grande aumento no número<br />
de matrículas em Moçambique indica uma<br />
demanda de educação, sem dúvida no nível<br />
primário e, de forma crescente, no nível<br />
secundário. Para além do lado da demanda,<br />
as restrições do lado da oferta agravam as<br />
barreiras à educação.<br />
3.3. Impacto de tradições e<br />
da cultura no direito das<br />
crianças à educação<br />
As tradições culturais podem funcionar<br />
como barreiras à educação. O casamento<br />
precoce das raparigas e os ritos de iniciação<br />
de rapazes e raparigas tendem a influenciar<br />
negativamente as taxas de frequência<br />
do ensino primário. Ainda ocorrem ritos<br />
de iniciação em algumas partes do país,<br />
principalmente rurais. O casamento infantil<br />
prejudica o acesso à escola, bem como a<br />
retenção e conclusão. Respondentes de um<br />
estudo do Banco Mundial realizado em 2007<br />
referiram o casamento infantil como uma<br />
razão para o não ingresso das raparigas<br />
no ensino secundário, ou para posterior<br />
abandono. 25<br />
Há uma forte correlação entre a<br />
percentagem de raparigas fora da escola<br />
secundária e a prevalência do casamento<br />
v A definição de trabalho infantil inclui crianças envolvidas em trabalho remunerado, trabalho não remunerado, trabalho<br />
para algum negócio familiar ou tarefas domésticas por 28 ou mais horas por semana.<br />
119
POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />
infantil numa província. A Figura 4.10<br />
mostra como o casamento infantil é mais<br />
comum nas províncias do norte e centro do<br />
que no sul do país. O casamento infantil tem<br />
também uma forte relação com a riqueza<br />
das famílias. As raparigas das famílias mais<br />
pobres são muito mais propensas a casar-se<br />
do que as raparigas oriundas de meios mais<br />
ricos.<br />
3.4. Impacto da violência e do<br />
abuso nas escolas<br />
A prevalência de violência, abuso e assédio<br />
sexual nas escolas afecta a frequência dos<br />
alunos, especialmente das raparigas, tendo<br />
sido identificada pelos pais como factor que<br />
influencia a decisão de retirar os seus filhos<br />
da escola. Um estudo realizado pelo MINED<br />
em 2008, de crianças, membros do conselho<br />
da escola e membros de unidades de género<br />
de direcções provinciais de educação avaliou<br />
a prevalência de todos os tipos de violência,<br />
assédio e abuso sexual nas escolas. Setenta<br />
por cento das raparigas entrevistadas<br />
afirmaram que alguns professores exigem<br />
relações sexuais para passar os alunos e<br />
que as escolas não oferecem segurança<br />
nesse aspecto, pois o acto é cometido com<br />
o conhecimento cúmplice das autoridades<br />
escolares. O estudo também observou<br />
que as vítimas e tutores não sabem que<br />
o abuso sexual é punível por lei. O medo<br />
de represálias impele frequentemente as<br />
vítimas ao silêncio. 26<br />
Em 2003, o MINED emitiu um decreto<br />
proibindo explicitamente os professores de<br />
terem relações sexuais com estudantes. O<br />
MINED declarou também uma política de<br />
‘tolerância zero’ para abusos sexuais, e no<br />
Plano Económico e Social anual de 2010 foi<br />
reforçada a capacidade dos pontos focais<br />
provinciais de género para monitorar e<br />
relatar casos de abuso sexual nas escolas.<br />
No entanto, continuam fracos tanto o<br />
seguimento do abuso nas escolas como a<br />
aplicação rigorosa do decreto e da política<br />
de tolerância zero. O Comité dos Direitos da<br />
Criança exprimiu a sua preocupação com a<br />
prevalência de abuso e assédio sexual nas<br />
escolas.<br />
3.5. Qualidade de ensino<br />
A qualidade de ensino continua a ser<br />
uma área de grande preocupação em<br />
Moçambique. Dados recentes do Consórcio<br />
da África Austral e Oriental para a Monitoria<br />
da Qualidade de Ensino (SACMEQ)<br />
indicam que entre 2000 e 2007 os níveis de<br />
Moçambique registaram uma deterioração<br />
significativa no desempenho em leitura<br />
e matemática. 27 O SACMEQ conclui que<br />
Figura 4.10: Casamentos infantis e raparigas fora da escola secundária por província, 2008<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
42%<br />
24%<br />
50%<br />
30%<br />
46%<br />
21%<br />
42%<br />
22%<br />
56%<br />
19%<br />
21%<br />
52%<br />
19%<br />
45%<br />
34%<br />
33%<br />
27%<br />
19%<br />
10%<br />
9% 9%<br />
6%<br />
4%<br />
0%<br />
Niassa<br />
Cabo<br />
Delgado<br />
Nampula<br />
Zambezia<br />
Tete Manica Sofala Inhambane<br />
Gaza<br />
Maputo<br />
Province<br />
Maputo<br />
City<br />
Girls out of secondary school Percentage married before age 15<br />
Fonte: MICS 2008.<br />
120
CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />
Figura 4.11: Resultados dos alunos em leitura,<br />
2000 e 2007<br />
Figura 4.12: Resultados dos alunos em matemática,<br />
2000 e 2007<br />
SACMEQ<br />
511,8<br />
500<br />
SACMEQ<br />
509,5<br />
500<br />
Zimbábuè<br />
507,7<br />
504,7<br />
Zimbábuè<br />
519,8<br />
Zanzibar<br />
533,9<br />
478,2<br />
Zanzibar<br />
486,2<br />
478,1<br />
Zâmbia<br />
434,4<br />
440,1<br />
Zâmbia<br />
435,2<br />
435,2<br />
Uganda<br />
478,7<br />
482,4<br />
Uganda<br />
481,9<br />
506,3<br />
Tanzânia<br />
577,8<br />
545,9<br />
Tanzânia<br />
552,7<br />
522,4<br />
Swazilândia<br />
549,4<br />
529,6<br />
Swazilândia<br />
540,8<br />
516,5<br />
África do Sul<br />
494,9<br />
492,3<br />
África do Sul<br />
494,8<br />
486,1<br />
Seicheles<br />
575,1<br />
582<br />
Seicheles<br />
550,7<br />
554,3<br />
Namíbia<br />
496,9<br />
448,8<br />
Namíbia<br />
471<br />
430,9<br />
Moçambique<br />
476<br />
516,7<br />
Moçambique<br />
483,8<br />
530<br />
Maurícias<br />
573,5<br />
536,4<br />
Maurícias<br />
623,3<br />
584,6<br />
Malawi<br />
433,5<br />
428,9<br />
Malawi<br />
447<br />
432,9<br />
Lesoto<br />
467,9<br />
451,2<br />
Lesoto<br />
476,9<br />
447,2<br />
Quénia<br />
543,1<br />
546,5<br />
Quénia<br />
557<br />
563,3<br />
Botsuana<br />
534,6<br />
521,1<br />
Botsuana<br />
520,5<br />
512,9<br />
0 200 400 600 800<br />
0 200 400 600 800<br />
2007 2000<br />
2007 2000<br />
Source: Makuwa, D.,‘What are the levels and trends in reading and mathematics achievement?’ Southern and Eastern Africa<br />
Consortium for Monitoring Education Quality, 2010.<br />
121
POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />
o declínio de Moçambique de mais de<br />
40 pontos em leitura e matemática foi<br />
associado às rápidas mudanças estruturais<br />
no sistema de ensino no período em análise<br />
que resultaram em aumentos maciços das<br />
matrículas na 6ª classe sem que houvesse<br />
um correspondente aumento dos recursos<br />
humanos e materiais.<br />
Só se poderá alcançar qualidade de ensino<br />
quando os ambientes de aprendizagem<br />
forem amigos da criança e promoverem uma<br />
abordagem holística ao desenvolvimento da<br />
criança. Quer isto dizer que esses ambientes<br />
procuram dar resposta aos múltiplos direitos<br />
das crianças e estabelecem ligações entre<br />
a escola, a família e a comunidade. Os<br />
ambientes amigos da criança garantem às<br />
crianças espaços de aprendizagem seguros<br />
e adequados, acesso a instalações de água e<br />
saneamento, controlos de saúde regulares.<br />
A capacidade das crianças de aprender<br />
é prejudicada quando os ambientes de<br />
aprendizagem não são centrados na criança,<br />
sensíveis ao género, inclusivos, de protecção<br />
e livres de discriminação. 28<br />
Até o momento, a abordagem à garantia<br />
de qualidade na educação em Moçambique<br />
tem sido um tanto fragmentada, com<br />
investimentos direccionados principalmente<br />
para despesas correntes e para o<br />
desenvolvimento de melhores infraestruturas.<br />
Tende a ficar para trás uma maior<br />
atenção ao melhoramento do ambiente<br />
escolar.<br />
O ambiente nas escolas de Moçambique<br />
continua a não ser suficientemente<br />
favorável à promoção de uma abordagem à<br />
educação baseada em direitos que valorize<br />
as opiniões das crianças e promova o seu<br />
pensamento crítico e as suas faculdades<br />
criativas. O ensino é muitas vezes realizado<br />
em dois ou mais turnos por dia. As turmas<br />
chegam muitas vezes a ter 75 alunos<br />
(ver Disponibilidade de professores), a<br />
maioria sentados no chão, sem de livros,<br />
mesas e materiais de aprendizagem<br />
suficientes. Em muitas escolas, as aulas<br />
são ministradas debaixo de árvores ou em<br />
pátios abertos, sem acesso a instalações<br />
de água ou saneamento. Não havendo um<br />
ambiente físico de qualidade, propício à<br />
aprendizagem e um processo de ensinoaprendizagem<br />
em sala de aula centrado na<br />
criança, pouca possibilidade há de os alunos<br />
desenvolverem o seu potencial, habilidades<br />
para a vida ou as atitudes adequadas.<br />
Moçambique tem um forte currículo, que<br />
descreve as competências (conhecimentos,<br />
habilidades, atitudes e práticas para a vida<br />
diária) que os alunos devem desenvolver,<br />
que se insere num quadro baseado em<br />
direitos. No entanto, o tipo de aprendizagem<br />
que de facto se verifica nas escolas<br />
nem sempre coincide com a visão ou as<br />
expectativas estabelecidas no currículo.<br />
A aprendizagem é predominantemente<br />
orientada para a memorização, e a interacção<br />
em sala de aula não corresponde à visão ou<br />
expectativas do currículo, o que contribuiu<br />
para elevadas taxas de abandono, baixos<br />
níveis de desempenho e baixas taxas de<br />
conclusão escolar. Outros factores, tais como<br />
a falta de cuidados de saúde e nutrição,<br />
diminuem ainda mais a capacidade das<br />
crianças em Moçambique de iniciar e<br />
prosseguir os seus estudos. Um conjunto<br />
consolidado de padrões básicos e mínimos<br />
pode funcionar como normas para as escolas<br />
garantirem que se ofereça às crianças um<br />
ambiente de aprendizagem propício.<br />
É muito limitado o material didáctico<br />
disponível para o ensino. O MINED fornece<br />
gratuitamente livros às crianças da 1ª à 7ª<br />
classe com base na projecção do número<br />
de matrículas. Em 2007, 53 por cento das<br />
crianças da 6ª classe tinham uso exclusivo<br />
de um livro de leitura. Catorze por cento<br />
partilhavam um livro com um colega de<br />
turma, enquanto 25 partilhavam um livro<br />
com dois ou mais colegas. Não havia<br />
livros disponíveis em 8 por cento das<br />
salas de aula da sexta classe. 29 Embora se<br />
tenham verificado avanços na distribuição<br />
de grandes quantidades de livros após a<br />
introdução do novo currículo do ensino<br />
primário em 2004, permanecem vários<br />
desafios. Os livros escolares fornecidos pelo<br />
governo tendem a chegar muito tarde, e<br />
122
CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />
são frequentes os desvios para o mercado<br />
informal.<br />
Em média a escola em Moçambique tem<br />
um grande número de professores sem<br />
formação e instalações que precisam<br />
de ser melhoradas. A falta de fortes<br />
programas de formação de professores<br />
e formadores de professores, tanto para<br />
a formação pré-docência como para a<br />
formação em exercício, tem perpetuado<br />
uma baixa qualidade nesses profissionais.<br />
A falta de preparação dos professores<br />
para leccionarem o novo currículo, e para<br />
prepararem os alunos para a aquisição de<br />
competências básicas de aprendizagem<br />
está a contribuir para elevados níveis de<br />
abandono escolar precoce, baixos níveis de<br />
desempenho e conclusão escolar, e exclusão<br />
dos mais vulneráveis.<br />
Poucas escolas em Moçambique oferecem<br />
presentemente um rácio professor-aluno ou<br />
um espaço adequados para proporcionar e<br />
manter a aprendizagem. 30 O fenómeno do<br />
‘choque de acesso’ é generalizado, tendo<br />
um aumento maciço do número de alunos<br />
conduzido a um sistema sobrecarregado<br />
que simplesmente não satisfaz. 31 Em<br />
2008/09, mais de 40 por cento do total de<br />
adultos e crianças (não contando bebés)<br />
em áreas urbanas estavam envolvidos em<br />
algum estudo, enquanto nas zonas rurais<br />
a percentagem rondava os 33 por cento. 32<br />
Mais de 1,2 milhões de pessoas estavam<br />
no sistema de ensino em 2008/09 em<br />
comparação com 2002/03. 33 Se isto constitui<br />
um significativo aumento no acesso à<br />
educação, coloca também grande pressão<br />
sobre o sistema de ensino.<br />
O choque de acesso agrava o problema das<br />
baixas taxas de conclusão, principalmente<br />
por estar incompleta a construção de<br />
escolas, e, consequentemente, estas não<br />
estarem capazes de oferecer vagas para<br />
todos os alunos em condições de transitar<br />
para o EP2 cada ano escolar. Segundo dados<br />
do MINED, cerca de 7,000 escolas do EP1<br />
não conseguiram oferecer vagas no EP2 para<br />
todos os estudantes elegíveis em 2009 (ver<br />
Infra-estruturas escolares).<br />
Não existe um quadro básico de padrões<br />
de qualidade do ensino. Embora existam<br />
vários regulamentos procurando estabelecer<br />
um ensino de qualidade, a falta de um<br />
sistema consolidado que defina requisitos<br />
mínimos para o ensino significa que nem os<br />
professores nem a comunidade estão claros<br />
quanto aos objectivos a serem alcançados<br />
relativamente às escolas. Não existem<br />
pontos de referência ou indicadores claros<br />
para monitoria do ensino, nem é medido<br />
o progresso nem são identificadas lacunas<br />
para que se possa fazer um planeamento<br />
adequado e definir sistematicamente metas<br />
a níveis descentralizados.<br />
3.6. Infra-estruturas escolares<br />
As infra-estruturas escolares são importantes<br />
para garantir qualidade do ambiente<br />
de aprendizagem. A superlotação é um<br />
problema sério nas escolas moçambicanas.<br />
O grande aumento no número de alunos no<br />
sistema de ensino nos últimos anos agravou<br />
a superlotação nas escolas e salas de aula. A<br />
falta de mobiliário escolar adequado (mesas,<br />
cadeiras, etc.) pode afectar a capacidade dos<br />
alunos de escrever correctamente e, a longo<br />
prazo, até a sua postura e saúde física. Sendo<br />
assim, as crianças enfrentam condições<br />
não saudáveis e em que a aprendizagem<br />
se torna difícil. Além disso, a falta de<br />
instalações de água e saneamento prejudica<br />
a frequência dos alunos, nomeadamente a<br />
das raparigas (ver Capítulo 3, Sobrevivência e<br />
desenvolvimento da criança).<br />
Existem em Moçambique três tipos de<br />
espaços de ensino: a escola convencional,<br />
escolas melhoradas e escolas de construção<br />
precária (de colmo, caniço). As escolas<br />
construídas com tijolos e cobertas com<br />
chapas de zinco são do tipo convencional,<br />
construídas pelo Governo. No entanto,<br />
devido ao lento ritmo de construção, muitas<br />
escolas são construídas pelas comunidades<br />
usando materiais localmente disponíveis;<br />
são estruturas basicamente temporárias,<br />
inadequadas para a aprendizagem das<br />
crianças. Todas as escolas secundárias<br />
existentes são do tipo convencional, embora<br />
em número manifestamente insuficiente.<br />
123
POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />
Em 2005, foi lançado um programa de<br />
construção acelerada de escolas de baixo<br />
custo, com participação das comunidades.<br />
Em Junho de 2010, tinham sido construídas<br />
4,601 salas de aula do ensino primário. 34<br />
Embora em 2010 se vá aplicar uma nova<br />
abordagem em regime experimental para<br />
a construção de escolas, a qualidade e a<br />
adequação das infra-estruturas escolares<br />
em Moçambique continua a ser um desafio,<br />
encontrando-se aquém das metas planeadas.<br />
Há uma situação de escassez de escolas<br />
secundárias. De acordo com as projecções<br />
para 2010, o número de crianças que<br />
completam a 7 ª classe deverá ultrapassar<br />
a entrada estimada para o ESG1 em quase<br />
185,000. 35 Para lidar com a falta de escolas<br />
secundárias, estão a ser ampliadas escolas<br />
primárias em algumas áreas. No entanto,<br />
como já se referiu neste relatório as aulas do<br />
ensino secundário são, por vezes, leccionadas<br />
por professores primários que não têm a<br />
formação exigida para o ensino secundário.<br />
Estão a ser construídas novas escolas<br />
secundárias, mas o ritmo de construção não<br />
tem acompanhando a demanda. Cortes no<br />
financiamento externo poderão vir a agravar<br />
este problema nos próximos anos.<br />
3.7. Disponibilidade de<br />
professores<br />
Moçambique enfrenta uma grave escassez<br />
de professores, e o rápido aumento das<br />
matrículas no ensino primário tem colocado<br />
significativa pressão sobre os professores<br />
no sistema de educação. A relação alunoprofessor<br />
deteriorou-se entre 2004 e 2006<br />
devido ao significativo aumento de alunos<br />
no sistema (ver Figura 4.13), mas melhorou<br />
entre 2006 e 2009. Não se registou melhoria<br />
do número de alunos por professor<br />
no ensino primário como resultado do<br />
número de novos professores contratados,<br />
principalmente devido a atrasos na<br />
substituição de funcionários que deixam o<br />
sector (mesmo por morte, despedimento<br />
e abandono de postos de trabalho), o que<br />
reflecte problemas na gestão de recursos<br />
humanos. 36 Em 2009, havia uma média<br />
de 68 alunos por professor na escola<br />
primária, superior a 65:1 em 2000. 37 O valor<br />
de referência internacional estabelecido<br />
pela Fast Track Initiative é de 40 alunos<br />
por professor. Existem significativas<br />
disparidades nas relações professor-aluno<br />
entre as diferentes províncias, variando de<br />
55:1 em Gaza a 91:1 na Zambézia.<br />
Tabela 4.1: Relação professor-aluno por província, 2008<br />
Província Rácio Professor-Aluno no EP1 Rácio professor-aluno no EP2<br />
Cidade de Maputo 62 59<br />
Cabo Delgado 71 37<br />
Gaza 55 44<br />
Inhambane 56 48<br />
Manica 63 45<br />
Maputo 56 48<br />
Nampula 83 45<br />
Niassa 68 41<br />
Sofala 75 58<br />
Tete 75 45<br />
Zambezia 91 44<br />
As quatro melhores<br />
As quatro médias<br />
As quatro piores<br />
Fonte: Cálculos do <strong>UNICEF</strong> com base em MEC 2008.<br />
124
CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />
Apesar de um considerável aumento<br />
no número de professoras do ensino<br />
primário, de 16,922 em 2005 para 25,947<br />
em 2008, continua baixa a percentagem<br />
de professores do sexo feminino: em 2008,<br />
apenas 37 por cento dos professores do EP1<br />
e 29 por cento dos professores do EP2 eram<br />
mulheres. Também existem significativas<br />
disparidades entre as províncias: em<br />
Cabo Delgado, apenas 17 por cento dos<br />
professores a nível do EP2 eram mulheres,<br />
contra 38 por cento na Cidade de Maputo. 38<br />
As professoras servem de modelo para as<br />
raparigas, e, ao mesmo tempo, de bom<br />
exemplo para os rapazes verem as mulheres<br />
num papel profissional. É igualmente<br />
evidente que a presença de professoras<br />
diminui a probabilidade de violência e abuso<br />
sexual nas escolas.<br />
É comum o absentismo de professores,<br />
em parte por causa do HIV e SIDA, por um<br />
lado, e, por outro, baixo moral. Os salários<br />
dos professores são muitas vezes pagos<br />
com meses de atraso, especialmente os<br />
dos professores recém-contratados, o que<br />
os leva a abandonar os seus postos ou a<br />
privilegiar actividades não docentes.<br />
3.8. Formação pré-docência<br />
e formação contínua de<br />
professores<br />
Em 2009, estavam formados e qualificados<br />
para o ensino 68 por cento dos professores<br />
do EP1 e 79 por cento dos professores<br />
do EP2. No entanto, quase 32 por cento<br />
da força de formadores de professores<br />
primários em Moçambique não tinha<br />
formação pré-docência. 39 Há dois principais<br />
tipos de instituição de formação de docentes<br />
para o ensino primário em Moçambique:<br />
os Institutos de Formação dos Professores<br />
(IFPs), administrados pelo MINED, e as<br />
Escolas de Professores do Futuro (EPF),<br />
geridas pela organização não governamental<br />
ADPP (Ajuda de Desenvolvimento de Povo<br />
para Povo).<br />
Na província da Zambézia, apenas 58<br />
por cento dos professores do EP1 eram<br />
professores qualificados. 40 O MINED está a<br />
formar um crescente número de professores<br />
por ano, chegando a 10,000 professores em<br />
2009. 41 A diminuição da percentagem de<br />
professores qualificados constitui um desafio<br />
particularmente para o nível secundário,<br />
Figura 4.13: Rácio professor-aluno, 2004-2009<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Fonte: Ministério da Educação e Cultura, Contribuição do Sector para a Reunião de Planificação do QAD, Governo de Moçambique,<br />
Maputo, 2009.<br />
125
POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />
onde 30 por cento do total de professores<br />
do primeiro ciclo do ensino não tinham<br />
formação em 2009, comparativamente<br />
a apenas oito por cento em 1992. 42 43 O<br />
sector deixou efectivamente de contratar<br />
professores sem formação a partir de 2008. 44<br />
Os números dos dois tipos de instituição<br />
de formação foram registando um aumento<br />
gradual, havendo pelo menos uma<br />
instituição de cada tipo em cada província<br />
do país. Para acelerar o recrutamento de<br />
professores com formação nas escolas<br />
primárias, o Governo, em 2007, reduziu<br />
a duração do curso de formação de<br />
professores pré-docência de dois anos para<br />
apenas um. Ambos os tipos de centro de<br />
formação estão agora a implementar cursos<br />
de formação pré-docência de um ano. Os<br />
IFPs também implementam programas de<br />
formação em exercício.<br />
O requisito de admissão ao IFPs/EPFs é<br />
um certificado de conclusão da 10ª classe.<br />
Devido à má qualidade do ensino secundário<br />
no país, muitos dos professores estagiários<br />
têm fracas competências de leitura e<br />
escrita. Um estudo realizado pelo Instituto<br />
de Formação da Matola, na província de<br />
Maputo, mostrou que quase 40 por cento<br />
dos formandos tinham adquirido a sua<br />
qualificação de 10 ª classe mais de seis<br />
anos antes da sua inscrição no programa e,<br />
consequentemente, tinham perdido a maior<br />
parte das suas competências académicas<br />
básicas e achavam difícil lidar com o<br />
conteúdo do curso, pesado, orientado para o<br />
conhecimento e altamente teórico.<br />
A mudança para um programa de um ano<br />
deu origem a problemas de qualidade<br />
e gestão dos cursos. O curso do IFP é<br />
operado de cima para baixo, com apenas<br />
uma semana estipulada para a prática<br />
docente. Como resultado, os graduados dos<br />
IFP não adquirem a experiência de ensino<br />
e as competências de gestão de aulas<br />
necessárias. Devido à falta de transporte,<br />
os formandos devem servir-se de escolas<br />
próximas dos centros de formação para sua<br />
prática docente. Isto faz com que um grande<br />
número de estagiários tente praticar as<br />
suas competências num pequeno número<br />
de escolas, reduzindo ainda mais o tempo<br />
disponível para a aquisição de experiência<br />
docente. As EPF, que foram obrigadas a<br />
encurtar as estruturas dos seus cursos de<br />
dois para um ano para se adequarem às<br />
directrizes nacionais, são comparativamente<br />
mais bem geridos, dedicando 50 por<br />
cento do curso de um ano à prática de<br />
ensino. Os formandos aprendem através<br />
de um sistema assistido por computador,<br />
de auto-aprendizagem com tutores à<br />
disposição para resolver problemas. São<br />
atribuídas aos alunos responsabilidades<br />
de gestão de determinadas funções do<br />
centro de formação, o que lhes proporciona<br />
experiência prática em gestão institucional.<br />
Apenas alguns membros do corpo docente<br />
dos IFP tem experiência como formadores<br />
de professores, pois são geralmente<br />
recrutados da área administrativa do MINED.<br />
Há também falta de formadores no sistema<br />
dos IFP, e o conteúdo dos seus cursos tem<br />
sido constantemente alterado ao longo dos<br />
últimos três anos para acomodar novas<br />
áreas. Estas mudanças resultaram num<br />
curso pré-docência muito pesado. Muitas<br />
vezes não há tempo suficiente para cobrir<br />
os temas de forma adequada. O MINED está<br />
a planear uma revisão da estrutura e do<br />
conteúdo do curso dos IFP.<br />
Para orientar os formadores dos IFP para a<br />
estrutura evolutiva do curso, os membros<br />
da equipe técnica do Departamento<br />
de Recursos Humanos do MINED são<br />
destacados para formar os formadores,<br />
apesar de muitos deles não serem<br />
necessariamente formadores de professores<br />
profissionalmente qualificados ou<br />
equipados com metodologias de formação<br />
de professores. Além disso, a afectação<br />
de recursos aos IFPs continua a ser muito<br />
desigual entre as diferentes províncias,<br />
e não são claros os critérios utilizados.<br />
Todos esses factores contribuem para uma<br />
situação crítica no sistema de formação de<br />
professores do país.<br />
Um curso em Ensino Básico, com a duração<br />
de dois anos, gerido pela Universidade<br />
126
CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />
Pedagógica destina-se principalmente a<br />
preparar os formadores de professores. Tal<br />
curso continua, no entanto, a ser teórico<br />
e a carecer de conhecimento prático e<br />
competências de formação.<br />
O principal órgão encarregado de fazer<br />
monitoria pedagógica e apoiar professores<br />
na formação em exercício é a Zona de<br />
Influência Pedagógica (ZIP). As escolas<br />
também têm tido a responsabilidade de<br />
prestar apoio em exercício a professores<br />
a nível de agrupamento. Não existe<br />
nenhum sistema estruturado ou política de<br />
formação de professores em exercício em<br />
Moçambique. A formação em exercício é<br />
geralmente executada em regime ad hoc<br />
nos IFPs, principalmente impulsionada<br />
por exigências centrais e não com base na<br />
avaliação das necessidades locais. Como<br />
resultado, há várias intervenções de formação<br />
de professores em exercício de curto prazo a<br />
serem apoiadas por parceiros, que decorrem<br />
em paralelo. Estas intervenções continuam<br />
descoordenadas e insustentáveis e têm pouco<br />
impacto institucional ou pouco impacto<br />
duradouro no desenvolvimento profissional<br />
dos professores.<br />
A ZIP é a escola principal duma localidade<br />
encarregada de fazer supervisão pedagógica<br />
de professores e directores de escola.<br />
A autoridade educacional do distrito<br />
também realiza uma ou duas visitas de<br />
supervisão por ano a um número limitado<br />
de escolas. Vários aspectos limitam o<br />
funcionamento eficaz do coordenador da<br />
ZIP, que é também o director da escola<br />
principal, com responsabilidades docentes<br />
e administrativas que limitam o tempo<br />
disponível para visitar outras escolas do<br />
grupo correspondente à ZIP. Pode haver<br />
mais de 20 escolas num grupo, podendo<br />
estas localizar-se a 25 km ou mais da escola<br />
principal. As excessivas demandas não<br />
académicas que se fazem sentir sobre os<br />
coordenadores das ZIPs têm impedido<br />
o desenvolvimento de um sistema mais<br />
estruturado de apoio aos professores a<br />
esse nível. Experiências de outros países<br />
mostram uma utilização bem sucedida<br />
das ZIPs como canal para a realização de<br />
sessões regulares de aprendizagem mútua<br />
para desenvolvimento dos professores,<br />
planificação conjunta de aulas e resolução<br />
de problemas.<br />
Ao mesmo tempo, as condições actuais de<br />
trabalho dos professores (baixos salários,<br />
falta de habitações nas zonas rurais, falta<br />
de transporte) terão de ser melhoradas<br />
para se conseguir chegar a um sistema de<br />
supervisão e apoio ao professor a nível local<br />
que funcione.<br />
3.9. Gestão escolar<br />
As deficiências no sistema de formação<br />
de professores e a fraca qualidade dos<br />
professores no país que daí resulta tornam<br />
a gestão escolar ainda mais importante na<br />
obtenção de resultados. A gestão não é,<br />
no entanto, uma área isenta de problemas.<br />
Em primeiro lugar, não há nenhum curso<br />
de formação de directores de escola em<br />
Moçambique e, portanto, todos os directores<br />
de escola são apenas professores que foram<br />
considerados aptos para desempenhar essa<br />
função. Muitos directores de escola não têm,<br />
inclusivamente, formação docente. Além<br />
disso, todos os directores de escola são<br />
obrigados a leccionar, dando, muitas vezes,<br />
aulas em dois turnos ou fazendo horas<br />
extras (no EP2), o que reduz o tempo de que<br />
dispõem para realizar a gestão e supervisão<br />
escolar.<br />
3.10. Falta de enfoque em saúde<br />
escolar<br />
Os programas de saúde escolar e nutrição<br />
são formas de baixo custo de manter<br />
as crianças na escola e promover uma<br />
educação de qualidade. Moçambique tem<br />
um programa de saúde escolar que faz<br />
parte do programa nacional integrado<br />
do sector da saúde, o qual principiou no<br />
início de 1980. O Ministério da Saúde e o<br />
MINED implementaram conjuntamente o<br />
programa de saúde escolar no âmbito de<br />
um memorando de entendimento que define<br />
os papéis e as responsabilidades de ambos<br />
os sectores e estabelece o mecanismo<br />
127
POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />
de coordenação. É, no entanto, grande<br />
o fosso existente entre a política e a sua<br />
implementação.<br />
Problemas de saúde crónicos continuam<br />
a ser um grande desafio, podendo minar<br />
as conquistas obtidas no aumento do<br />
acesso à educação. Uma saúde deficiente<br />
- especialmente devido a malária - a<br />
desnutrição e a cólera são os factores<br />
subjacentes ao absentismo, ao fraco<br />
desempenho escolar e ao abandono escolar.<br />
Consulte o Capítulo 3 para mais informações<br />
sobre os desafios de saúde enfrentados por<br />
crianças moçambicanas.<br />
3.11. Impacto da língua nos<br />
resultados educacionais<br />
A língua de ensino em todo o país é o<br />
Português, a língua oficial de Moçambique.<br />
No entanto, Moçambique tem 19 línguas<br />
locais. A maioria das comunidades fala<br />
na sua língua local, ou uma mistura de<br />
português e uma língua local, em casa.<br />
O primeiro contacto da criança com o<br />
português geralmente ocorre quando a<br />
criança começa a frequentar a escola. Isso<br />
pode afectar negativamente a aprendizagem<br />
das crianças. 45 Alguns professores nunca<br />
ficam plenamente qualificados para o<br />
ensino de português, porque o português<br />
é para eles uma segunda língua. O uso do<br />
português como meio predominante de<br />
ensino pode atrasar a entrada na escola de<br />
crianças que provêm de subgrupos culturais<br />
e falam línguas diferentes, podendo conduzir<br />
a mais baixos resultados educacionais,<br />
como, por exemplo, baixos níveis de literacia<br />
em português.<br />
Com a reforma do ensino, foi incorporado<br />
ao novo currículo o ensino bilingue, estando<br />
a ser actualmente aplicadas em regime<br />
experimental, num pequeno número de<br />
escolas, duas abordagens alternativas. Na<br />
primeira, o Português é a língua principal<br />
de ensino, e o idioma local é usado como<br />
recurso adicional de ensino e aprendizagem;<br />
no segundo, a língua local é usada como<br />
língua de ensino até à segunda classe,<br />
enquanto o português é estudado como<br />
uma disciplina formal independente.<br />
Esta iniciativa ainda se encontra numa<br />
fase piloto e está a ser implementada em<br />
apenas algumas escolas em todo o país. Há<br />
indicações de que, embora extremamente<br />
limitada, a iniciativa começa a apresentar<br />
resultados positivos, pelo que o Ministério<br />
pretende expandi-la gradualmente ao resto<br />
do país a partir de 2011. A produção de<br />
material escolar para acomodar todas as<br />
línguas locais constitui um desafio.<br />
128
CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />
4. Outras questões no sector da educação<br />
4.1. Estratégia de habilidades<br />
para a vida visando<br />
combater a SIDA<br />
Desde 2002 que o MINED tem vindo a<br />
implementar programas educacionais de<br />
combate ao HIV. Esses programas estão<br />
em sintonia com o plano estratégico<br />
nacional de combate ao HIV e SIDA e<br />
guiam-se pela estratégia do sector para o<br />
HIV, 46 que tem em vista reduzir o impacto<br />
do HIV e SIDA nos trabalhadores através<br />
de políticas para locais de trabalho e, nos<br />
estudantes, através do desenvolvimento<br />
de programas de habilidades para a vida<br />
nas escolas, da integração de HIV e saúde<br />
sexual e reprodutiva no currículo escolar,<br />
e proporcionando kits de informação<br />
sobre o HIV e SIDA. Com a ajuda de vários<br />
parceiros, o programa Geração Biz, apoiado<br />
pelo FNUAP e agora pelo MINED como um<br />
programa nacional, promove a educação<br />
para a vida através do seu pacote básico<br />
para a faixa etária 15-18 anos. O <strong>UNICEF</strong><br />
promove um programa de habilidades para<br />
a vida que combina conhecimento com<br />
estratégias de comunicação para a faixa<br />
etária Janela de Esperança (10 a 14 anos de<br />
idade). O programa, que foi implementado<br />
em 86 distritos em todas as províncias<br />
de Moçambique, ajuda as crianças a<br />
melhorarem as suas habilidades para a vida<br />
e a adquirirem conhecimentos e informações<br />
para se protegerem de comportamentos de<br />
risco. O programa também inclui a criação<br />
de um sistema de apoio à comunidade<br />
através de programas de rádio.<br />
Importantes desafios destas abordagens<br />
são a sustentabilidade no desenvolvimento<br />
de parcerias com organizações não<br />
governamentais, a capacitação de<br />
professores para difundir a educação<br />
baseada em habilidades para a vida e a<br />
alocação de recursos, pois estes programas<br />
continuam a ser financiados com ajuda<br />
externa.<br />
O MINED adoptou uma política de local<br />
de trabalho para reduzir o impacto do<br />
HIV e SIDA nos trabalhadores. Em 2009,<br />
o Ministério iniciou a implementação de<br />
um programa para monitorar e reduzir<br />
gradualmente a prevalência de infecções<br />
de transmissão sexual nos funcionários.<br />
O programa também inclui controlos<br />
periódicos de saúde dos trabalhadores.<br />
4.2. Participação das crianças<br />
O sistema educativo, ao invés de centrado<br />
na criança, continua a ser centrado no<br />
professor. As crianças só falam em resposta<br />
a questões colocadas pelos professores e<br />
são incentivadas a responder em uníssono.<br />
Estão a ser feitos esforços para incentivar<br />
a participação das crianças na escola. Uma<br />
dessas iniciativas é a sua participação no<br />
sistema dos conselhos da escola. Estes<br />
são compostos por representantes de<br />
estudantes, pais, professores e outros<br />
membros da comunidade. Os representantes<br />
dos alunos são eleitos pelos seus pares. Os<br />
conselhos da escola discutem e promovem<br />
soluções para os problemas que afectam<br />
as suas escolas. O desafio desta iniciativa é<br />
assegurar que a participação das crianças<br />
não seja unicamente simbólica e darlhes<br />
uma voz activa na gestão da escola.<br />
Em suas observações finais no segundo<br />
relatório periódico de Moçambique, o<br />
Comité dos Direitos da Criança expressou<br />
a sua preocupação por “as opiniões da<br />
criança em Moçambique por vezes não<br />
serem solicitadas nem consideradas em<br />
vários ambientes que lhe dizem respeito...<br />
inclusivamente em matéria de administração<br />
escolar e educação...”. 47<br />
Desporto e actividades recreativas são<br />
direitos da criança, como prevê o artigo 31<br />
da Convenção sobre os Direitos da Criança.<br />
Embora o desporto seja uma componente<br />
vital do bem-estar da criança e a educação<br />
física parte integrante do currículo do ensino<br />
129
POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />
primário, as escolas em Moçambique,<br />
sobretudo a nível primário, não têm<br />
qualquer actividade recreativa organizada<br />
ou actividades em equipa. A maior parte dos<br />
professores das escolas não têm formação<br />
formal em educação física e gestão<br />
desportiva. Nem sempre se pode dispor de<br />
equipamento ou instalações recreativas,<br />
especialmente em escolas em áreas rurais.<br />
Há no entanto no país uma forte cultura<br />
desportiva informal a nível da comunidade,<br />
mas não é muito comum a participação<br />
de raparigas e crianças portadoras de<br />
deficiência.<br />
4.3. Educação para crianças<br />
com necessidades especiais<br />
De acordo com o plano estratégico nacional<br />
do sector da educação, a educação especial<br />
está integrada na educação inclusiva. As<br />
escolas especiais geridas pelo Ministério da<br />
Mulher e da Acção Social são as instituições<br />
de educação especial predominantes. Em<br />
2009, havia cerca de 62,000 crianças com<br />
necessidades especiais matriculadas em<br />
escolas normais. Em 2008, foram formados<br />
apenas 3,127 professores para servir<br />
crianças com necessidades especiais, e<br />
havia apenas 98 escolas a oferecer educação<br />
inclusiva. 48<br />
4.4. Financiamento e alocação<br />
orçamental do sector da<br />
educação<br />
593 milhões de dólares americanos foram<br />
afectados ao sector da educação em 2010,<br />
o que representa um aumento de 10 por<br />
cento em 2009 (ver Figura 4.14). A despesa<br />
total com a educação do sector público<br />
aumentou substancialmente entre 2005 e<br />
2009 (20-37 por cento ao ano). 49 A execução<br />
orçamental no sector da educação é muitas<br />
vezes superior à dotação orçamental, pois<br />
durante o ano são feitos frequentes top-ups<br />
ao orçamento.<br />
Nos últimos anos, foram atribuídos ao<br />
sector da educação 18 a 22 por cento do<br />
orçamento. Em termos de despesa efectiva,<br />
a percentagem tem sido sistematicamente<br />
acima da marca dos 20 por cento (em 2009,<br />
a parcela da educação foi de cerca de 22<br />
por cento). A meta do PARPA II é 19 por<br />
cento. O sector da educação aumentou os<br />
seus gastos em cerca de 68 por cento entre<br />
2004 e 2008. Em geral, a taxa de execução<br />
do sector da educação tem sido razoável<br />
(90 por cento) em comparação com outros<br />
sectores, o que poderia explicar a maior<br />
parcela percentual na execução em relação à<br />
dotação orçamental. 50<br />
Figura 4.14: Dotação orçamental para a educação em milhões de meticais, 2009 e 2010<br />
25,000<br />
20,000<br />
20,771<br />
15,000<br />
10,000<br />
5,000<br />
0<br />
16,167<br />
13,720<br />
9,433<br />
6,734<br />
7,051<br />
2009<br />
Componente Investimento Componente Recorrente<br />
2010<br />
Total<br />
Fonte: FDC e <strong>UNICEF</strong>, O Que Diz A Proposta de Orçamento do Estado 2010 Sobre a Previsão de Recursos no Sector da Educação?,<br />
Resumo do Orçamento, <strong>UNICEF</strong> Moçambique, Maputo, 2010.<br />
130
CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />
O financiamento externo directo destinado<br />
ao sector tem sido 35-40 por cento da<br />
despesa total (cerca de 230 milhões de<br />
dólares em 2009). Cerca de 60 por cento do<br />
financiamento externo é canalizado através<br />
do fundo comum do sector da educação. O<br />
financiamento externo financia a maior parte<br />
dos custos de investimento e correntes não<br />
relacionados com salários. 51<br />
Embora a estrutura do orçamento actual<br />
não desagregue a informação por nível de<br />
ensino, estima-se que o ensino primário<br />
(EP1 e EP2) recebeu a maior parcela de<br />
fundos, cerca de 48-54 por cento da despesa<br />
total. Prevê-se que o ensino secundário<br />
receba cerca de 20 por cento do orçamento<br />
(ES1 e ES2). 52 Salários e remunerações<br />
representaram cerca de metade do<br />
orçamento total em 2010. 53<br />
Os fundos são alocados às províncias com<br />
base em tendências históricas directamente<br />
relacionadas com a estrutura da educação a<br />
nível provincial. Estão a ser tomadas algumas<br />
medidas correctivas para combater as<br />
desigualdades entre as províncias, como, por<br />
exemplo, a afectação de novos professores<br />
com base no rácio professor/aluno. No<br />
entanto, os fundos atribuídos por aluno em<br />
Nampula são pouco mais de um quarto dos<br />
atribuídos por aluno na província de Niassa, e<br />
um terço dos fundos atribuídos per capita na<br />
Cidade de Maputo. 54<br />
Apesar dos ganhos de eficiência resultantes<br />
da existência de um plano estratégico<br />
nacional do sector, é necessário que, com a<br />
crescente procura de lugares, se mantenham<br />
investimentos acrescidos no sistema de<br />
ensino pós-primário (isto é, nas escolas<br />
secundárias e técnicas). Também é necessário<br />
investimento nos níveis de ensino secundário<br />
e superior para que se consiga produzir um<br />
número suficiente de professores qualificados<br />
para munir o crescente número de escolas<br />
primárias e secundárias.<br />
4.5. Financiamento externo<br />
A crise financeira global e o Código de<br />
Conduta da UE sobre a Divisão de Trabalho<br />
podem ter efeitos negativos sobre o<br />
financiamento externo para o sector da<br />
educação nos próximos anos. Para 2010,<br />
os compromissos externos foram menos<br />
22 por cento que em 2009. Embora o<br />
orçamento geral da educação para 2010 tenha<br />
Caixa 4.1: Educação para Todos – Fast Track Initiative<br />
A Educação para Todos – Fast Track Initiative (EFA-FTI) foi lançada em 2002 como parceria<br />
global entre doadores e países em desenvolvimento para assegurar um progresso acelerado<br />
na prossecução dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio de educação primária universal<br />
até 2015. Todos os países de baixo rendimento que demonstrem um compromisso sério na<br />
materialização do ensino primário universal podem receber apoio da FTI.<br />
A FTI assenta em compromissos mútuos. Os países parceiros têm colocado o ensino primário<br />
na vanguarda dos esforços nacionais e desenvolvido fortes planos nacionais de educação,<br />
enquanto os doadores fornecem apoio financeiro e técnico coordenado e acrescido de<br />
forma transparente e previsível. A Fast Track Initiative administra dois fundos que podem<br />
conceder apoio financeiro para os objectivos de educação nos países de baixa renda: o Fundo<br />
Catalítico para a Educação, com um total de US$ 1,5 mil milhões de dólares americanos em<br />
compromissos (2003-2009), e o Fundo de Desenvolvimento do Programa de Educação, EUA,<br />
com 92 milhões de dólares em compromissos (2005-2009).<br />
Os recursos internos do sector têm sido prioritariamente canalizados para: (i) manutenção do<br />
sistema de apoio existente, (ii) melhoramento da qualidade da educação primária, e (iii) reforço<br />
da capacidade de implementação a nível distrital. 56 É a expansão do ensino pós-primário que<br />
mais afectada fica com a redução dos recursos externos para 2010.<br />
131
POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />
aumentado em cerca de 10 por cento, devido<br />
a um financiamento interno acrescido em 36<br />
por cento, a perda de financiamento externo<br />
tem afectado directamente o financiamento<br />
das actividades do programa do sector,<br />
uma vez que o aumento do financiamento<br />
interno é principalmente orientado para<br />
o financiamento de novos contratos de<br />
professores e a reforma salarial. Moçambique<br />
tem, no entanto, solicitado fundos adicionais<br />
ao abrigo do Fundo Catalítico da Fast Track<br />
Initiative (ver Caixa 4.1) após o termo da fase<br />
I em 2010, e conseguiu obter 90 milhões de<br />
dólares para o período 2011-2013. 55<br />
4.6. Programa Apoio Directo às<br />
Escolas<br />
O Apoio Directo às Escolas (ADE) transfere<br />
fundos directamente para as escolas<br />
de acordo com o número de alunos<br />
matriculados para superar barreiras de custo<br />
através de um processo de descentralização.<br />
O ADE aumentou a sua assistência financeira<br />
às escolas cinco vezes entre 2003 e 2009. 57<br />
58 De acordo com um estudo de avaliação<br />
realizado em 2007/08, foi sentimento geral<br />
das partes interessadas que o ADE contribui<br />
para a redução de problemas nas escolas<br />
(através do fornecimento de materiais<br />
necessários e melhor funcionamento das<br />
escolas), melhora o processo de ensino e<br />
aprendizagem e, portanto, a qualidade da<br />
educação, e apoia crianças carentes. 59 No<br />
entanto, apesar de serem fornecidos alguns<br />
materiais escolares através do ADE, são<br />
muitas vezes insuficientes em quantidade,<br />
fazendo com que os pais tenham de comprar<br />
consumíveis adicionais.<br />
Em Março de 2006, foi criado um programa<br />
piloto - Apoio Directo às Escolas - Crianças<br />
Órfãs e Vulneráveis (ADE-COV) - para<br />
apoiar a matrícula escolar e a retenção<br />
de crianças órfãs e vulneráveis em quatro<br />
distritos, aumentando para 12. vi Duplicou<br />
os fundos disponíveis de ADE por criança<br />
para o fornecimento de materiais e reduziu<br />
as principais barreiras à escolarização<br />
e retenção associadas a custos de<br />
oportunidade. Em dois distritos, este regime<br />
experimental foi também complementado<br />
por medidas de redução de outras barreiras<br />
dentro e fora da escola. vii Dados disponíveis viii<br />
indicam que o número de crianças órfãs<br />
e vulneráveis matriculadas aumentou nos<br />
distritos-alvo do ADE-COV em 56 por cento,<br />
quando o aumento médio nacional foi de 21<br />
por cento.<br />
vi Os quatro distritos foram: Angónia, província de Tete, Búzi, província de Sofala, Chókwè, província de Gaza, e Mocímboa<br />
da Praia, província de Cabo Delgado. Foram escolhidos com base nas taxas de prevalência do HIV, taxas de matrícula<br />
escolar, densidade populacional, meios de vida e vulnerabilidade, e sua situação geral de governação e administrativa.<br />
vii Ou seja, o fornecimento de registo de nascimento, um programa de extensão para identificar crianças órfãs e<br />
vulneráveis fora da escola e monitorar a sua participação, e prestação de apoio psicossocial às crianças órfãs e<br />
vulneráveis, consoante as necessidades. O Ministério da Mulher e da Acção Social e a Direcção Nacional dos Registos e<br />
Notariado orientam-nos na colaboração com os conselhos da escola.<br />
viii A província de Sofala, de que faz parte o distrito do Búzi, não tinha dados oficiais sobre as crianças órfãs e vulneráveis<br />
relativos a 2007.<br />
132
CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />
5. Conclusões<br />
Nos últimos anos registou-se um<br />
significativo progresso na expansão da<br />
participação no ensino primário. No entanto,<br />
continuam baixas as taxas de conclusão<br />
do ensino primário, bem como as taxas<br />
de frequência no nível secundário. Apesar<br />
de subsistirem diferenças, também foram<br />
reduzidas discrepâncias de longa data na<br />
frequência escolar das crianças entre as<br />
áreas urbana e rural e entre as famílias mais<br />
pobres e mais ricas. Têm sido eliminadas as<br />
disparidades entre rapazes e raparigas nas<br />
taxas líquidas de frequência.<br />
A qualidade da educação é um desafio<br />
fundamental para o sector, indicando<br />
dados recentes do SACMEQ que têm<br />
vindo a agravar-se nos últimos anos. É<br />
necessária uma abordagem abrangente<br />
para melhorar a qualidade de ensino<br />
através de: (i) desenvolvimento de padrões<br />
de qualidade escolar, (ii) criação de um<br />
quadro nacional de avaliação dos resultados<br />
da aprendizagem, e (iii) integração de<br />
vários esforços de formação, motivação e<br />
supervisão de professores, especialmente<br />
para supervisão pedagógica em exercício<br />
e apoio aos professores. A implementação<br />
da nova política de livros escolares deverá<br />
ter um impacto positivo na qualidade do<br />
ensino. Uma política nacional de expansão<br />
do ensino bilingue deverá também contribuir<br />
para a melhoria de qualidade.<br />
Num quadro de redução do financiamento<br />
externo, é necessária uma alocação<br />
estratégica de recursos para evitar que se<br />
percam ganhos já alcançados, como o apoio<br />
à iniciativa Apoio Directo a Crianças Órfãs<br />
e Vulneráveis (ADE-COV). Para garantir<br />
equidade, é necessário reconsiderar-se o uso<br />
do ADE para diferentes níveis de ensino.<br />
É necessário um significativo e sustentado<br />
investimento para fortalecer a capacidade<br />
institucional do Governo aos níveis<br />
nacional e subnacional. Deveriam ser<br />
implementados em regime experimental<br />
mecanismos que fossem projectados para<br />
proporcionar incentivos visando a redução<br />
de determinados constrangimentos-chave<br />
(inclusive relacionados com a colocação em<br />
locais remotos) e reforçar mecanismos de<br />
responsabilização. É ainda necessário que<br />
se realize e implemente um amplo processo<br />
de revisão e reforma salarial em que se dê<br />
prioridade à concessão de apoio adequado a<br />
trabalhadores da ‘linha da frente’.<br />
Para se efectuarem melhorias na qualidade<br />
de ensino, será necessário que se<br />
profissionalize o programa de formação<br />
de professores, tanto na componente prédocência<br />
como na componente em exercício<br />
a todos os níveis. Uma área que requer<br />
muita atenção é a do desenvolvimento de<br />
metodologias de formação e ensino que<br />
deixem de ser autoritárias e orientadas<br />
para a exposição para se tornarem práticas<br />
centradas no aluno e de aprendizagem<br />
independente que favoreçam as faculdades<br />
de pensamento crítico e criatividade. Uma<br />
racionalização do processo de selecção<br />
de formandos pré-docência garantirá a<br />
qualidade dos recursos humanos na profissão<br />
docente.<br />
É necessário que se descentralizem os<br />
programas de formação em exercício<br />
concebidos com base na avaliação<br />
das necessidades em professores.<br />
Isto promoverá o desenvolvimento de<br />
profissionalismo, confiança e motivação do<br />
professor. O desenvolvimento de um sistema<br />
estruturado e não ameaçador de apoio e<br />
supervisão ao professor tendo as ZIPS como<br />
os centros de recursos locais irá garantir o<br />
apoio necessário e contínuo, crucial para o<br />
desenvolvimento do professor.<br />
É necessário um sistema de identificação<br />
das competências essenciais do aprendiz e o<br />
acompanhamento do progresso das crianças<br />
através de avaliação contínua. Monitorar o<br />
nível e a aquisição de competências pelas<br />
crianças é uma componente integrante do<br />
133
POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />
sistema de passagens semi-automáticas.<br />
Isso exigirá o desenvolvimento de<br />
programas de formação de professores,<br />
tanto pré-docência como em exercício, que<br />
incidam sobre metodologias de ensino em<br />
torno de competências básicas e avaliação<br />
dessas competências por meio de métodos<br />
não ameaçadores. O desenvolvimento de um<br />
sistema nacional de avaliação (que o INDE<br />
tem presentemente em vista) terá de ser<br />
feito através de um processo consultivo que<br />
assegure apropriação e responsabilização.<br />
Deverão ser reforçadas as unidades de<br />
género a nível nacional e descentralizado<br />
para sensibilizar todas as autoridades<br />
escolares e membros de conselhos da escola<br />
sobre a prevenção e denúncia de abuso<br />
sexual; que o Ministério do Interior, em<br />
colaboração com o M inistério da Mulher<br />
e da Acção Social, reveja o seu Despacho<br />
39/GM/2003 para garantir que se puna quem<br />
cometa actos de abuso e violência.<br />
A sociedade civil continuará a<br />
desempenhar um importante papel não<br />
só na criação de procura, promovendo<br />
mudança de comportamento, mas também<br />
apoiando a expansão do acesso e da<br />
qualidade dos serviços básicos. Como<br />
muitas organizações da sociedade civil<br />
estão estabelecidas a nível da comunidade,<br />
elas estão também frequentemente em<br />
boas condições para garantir que os<br />
programas de desenvolvimento atinjam<br />
as populações mais vulneráveis e para<br />
defender a materialização dos direitos<br />
humanos. Deverão ser reforçadas<br />
as capacidades das organizações<br />
da sociedade civil a todos os níveis,<br />
devendo implementar-se mecanismos de<br />
coordenação para promover coerência e<br />
partilha de informação em abordagens<br />
lideradas e globalmente dirigidas por<br />
contrapartes governamentais de nível<br />
nacional e subnacional.<br />
134
CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />
Referências<br />
1 Da Costa, Maria Raquel ‘Relatório da<br />
Assistência Técnica na Área da Primeira<br />
Infância’ (inédito), 2009.<br />
2 Cálculos dos autores com base em ‘MICS<br />
2008, Relatório Final’, Instituto Nacional de<br />
Estatística, Governo de Moçambique, Maputo,<br />
2010, e no Censo de 2007.<br />
3 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />
Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />
Maputo, 2010.<br />
4 Ibid.<br />
5 Cálculos dos autores com base em ‘MICS<br />
2008, Relatório Final’, Instituto Nacional de<br />
Estatística, Governo de Moçambique, Maputo,<br />
2010, e no Censo de 2007.<br />
6 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />
Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />
Maputo, 2010.<br />
7 Ibid<br />
8 Ibid<br />
9 Ibid<br />
10 Ibid<br />
11 Ministério da Educação, Reunião<br />
de planificação, 2010. Balanço do<br />
aproveitamento escolar, 2009. Governo de<br />
Moçambique, Maputo, 2010.<br />
12 Ministry of Education and Culture, Education<br />
Statistics: Annual school results, Governo de<br />
Moçambique, Maputo, 2008.<br />
13 Instituto Nacional de Estatística,’MICS 2008,<br />
Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />
Maputo, 2010.<br />
14 Cálculos dos autores com base em Instituto<br />
Nacional de Estatística, ‘MICS 2008, Relatório<br />
Final,’ Governo de Moçambique, Maputo,<br />
2010<br />
15 Ibid<br />
16 Ibid<br />
17 World Bank, ‘PSIA II – Follow up Study of<br />
Primary Education and Baseline Study of<br />
Secondary Education, <strong>Mozambique</strong>’, Maputo,<br />
2007.<br />
18 Ministério de Educação e Cultura, ‘Plano<br />
Estratégico de Educação e Cultura 2006-2011,’<br />
Governo de Moçambique, Maputo, 2006.<br />
19 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />
Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />
Maputo, 2010.<br />
20 Ministério da Educação e Cultura, Balanço<br />
do Plano Quinquenal do Governo Educação<br />
e Cultura, Governo de Moçambique, Maputo,<br />
2009.<br />
21 Instituto Nacional de Estatística, ‘Inquérito<br />
aos Agregados Familiares sobre o Orçamento<br />
Familiar 2002/3,’ Relatório Final, Governo de<br />
Moçambique, Maputo, 2003.<br />
22 Justiniano, M., et al., ‘Multifaceted Challenges:<br />
A study on the barriers to girls´ education,<br />
Zambézia province’, <strong>UNICEF</strong> <strong>Mozambique</strong>,<br />
Maputo, 2005.<br />
23 World Bank, ‘PSIA II – Follow up Study of<br />
Primary Education and Baseline Study of<br />
Secondary Education, <strong>Mozambique</strong>’, World<br />
Bank, Maputo, 2007.<br />
24 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />
Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />
Maputo, 2010.<br />
25 World Bank, ‘PSIA II – Follow up Study of<br />
Primary Education and Baseline Study of<br />
Secondary Education, <strong>Mozambique</strong>’, World<br />
Bank, Maputo, 2007.<br />
26 Ministério da Educação e Cultura, Relatório<br />
da Auscultação Através das Unidades de<br />
Género, dos Conselhos das Escolas, e Jovens<br />
Raparigas sobre Que Mecanismo a Adoptar<br />
para Prevenção, Combate, Denúncia e<br />
Encaminhamento de Casos de Assédio e Todo<br />
o Tipo de Abuso, Incluindo o Abuso Sexual na<br />
Escola, Governo de Moçambique, Maputo, 2008.<br />
27 Makuwa, D. ‘What are the levels and trends<br />
in reading and mathematics achievement?’<br />
Southern and Eastern Africa Consortium for<br />
Monitoring Education Quality, 2010.<br />
28 United Nations Educational, Scientific and<br />
Cultural Organisation, ‘Booklet 5: Effective<br />
Learning. Good Policy and Practice in HIV &<br />
AIDS and Education (booklet series),’ UNESCO,<br />
Paris, 2008.<br />
135
POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />
29 Ross, K., ‘How successful are textbook<br />
provision programmes?’ Southern and<br />
Eastern Africa Consortium for Monitoring<br />
Education Quality, 2010.<br />
30 Swedish Development Agency, ‘Education<br />
Sector in <strong>Mozambique</strong>’, (inédito), Setembro<br />
de 2004.<br />
31 Ministério de Educação e Cultura, ‘Plano<br />
Estratégica de Educação e Cultura 2006–2011’,<br />
Governo de Moçambique, Maputo, 2006.<br />
32 Ministry of Planning and Development.<br />
‘Poverty and Wellbeing in <strong>Mozambique</strong>: Third<br />
National Poverty Assessment.’ Governo de<br />
Moçambique, Maputo, Setembro de 2010.<br />
33 Authors calculations based on: Ministry<br />
of Planning and Development. ‘Poverty<br />
and Wellbeing in <strong>Mozambique</strong>: Third<br />
National Poverty Assessment. ’ Governo de<br />
Moçambique, Maputo, Setembro de 2010 e<br />
Censo 2007<br />
34 Ministério da Educação, ‘Programme<br />
Document for the funding request to the<br />
Catalytic Fund-FTI’, Governo de Moçambique,<br />
Maputo, Setembro de 2010.<br />
35 Cálculos do <strong>UNICEF</strong> baseados em: Ministério<br />
da Educação “Plano de efectivos escolares”,<br />
2010 e Ministry of Education, ‘Programme<br />
Document for the funding request to the<br />
Catalytic Fund-FTI’, Governo de Moçambique,<br />
Maputo, Setembro de 2010.<br />
36 Ministério da Educação e Cultura,<br />
‘Contribuição do Sector Para a Reunião<br />
de Planificação do QAD’, Governo de<br />
Moçambique, Maputo, 2009.<br />
37 Ibid<br />
38 Ministry of Education and Culture, ‘Education<br />
Statistics: Annual school results’, Governo de<br />
Moçambique, Maputo, 2008.<br />
39 Ibid<br />
40 Ibid<br />
41 Ministry of Education, ‘Programme Document<br />
for the funding request to the Catalytic Fund-<br />
FTI’, Governo de Moçambique, Maputo,<br />
Setembro de 2010.<br />
42 Ministry of Education and Culture, ‘Education<br />
Statistics: Annual school results’, Governo de<br />
Moçambique, Maputo, 2008.<br />
43 Arndt, Channing, Sam Jones and Finn Tarp,<br />
‘Aid and Development: The Mozambican<br />
case’, University of Copenhagen, Discussion<br />
Paper series no. 06-13, 2006.<br />
44 Ministério da Educação e Cultura,<br />
Contribuição do Sector Para a Reunião<br />
de Planificação do QAD, Governo de<br />
Moçambique, Maputo, 2009.<br />
45 Instituto Nacional do Desenvolvimento da<br />
Educação, Avaliação do Impacto do Ensino<br />
Bilingue no Novo Currículo do Ensino Básico,<br />
Governo de Moçambique, Maputo, 2007.<br />
46 <strong>Mozambique</strong> National AIDS Council,<br />
Universal Declaration of Commitment on HIV<br />
and AIDS: <strong>Mozambique</strong> progress report for<br />
the United Nations General Assembly Special<br />
Session on HIV and AIDS, 2006–200’, Maputo,<br />
January 2008.<br />
47 Ministério da Educação e Cultura, Balanço do<br />
Plano Quinquenal do Governo - Educação e<br />
Cultura, Maputo, 2009<br />
48 United Nations Childrens Fund, O Que<br />
Diz a Proposta de Orçamento do Estado<br />
2010 Sobre a Previsão de Recursos no<br />
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<strong>Mozambique</strong>, Maputo, 2010.<br />
49 Sal e Caldeira e Ximango Consultores,<br />
‘Análise do Impacto da Estrutura das<br />
Despesas sobre o Desenvolvimento<br />
Económico e as Condições de Vida em<br />
Moçambique.’ Agência Suíça para o<br />
desenvolvimento e Cooperação, Maputo,<br />
2009.<br />
50 Fundo das Nações Unidas para a Infância, O<br />
Que Diz a Proposta de Orçamento do Estado<br />
2010 sobre a Previsão de Recursos no Sector<br />
de Educação?, Resumo do Orçamento,<br />
<strong>UNICEF</strong> Moçambique, Maputo, 2010.<br />
51 Bartholomew, Ann, T. Takala and Z. Ahmed,<br />
‘Mid-Term Evaluation of the EFA Fast Track<br />
Initiative Country Case Study: <strong>Mozambique</strong>’,<br />
Cambridge Education, Mokoro Ltd., e Oxford<br />
Policy Management, Cambridge/Oxford, UK,<br />
versão preliminar, Setembro de 2009.<br />
52 Fundo das Nações Unidas para a Infância, O<br />
Que Diz a Proposta de Orçamento do Estado<br />
2010 sobre a Previsão de Recursos no Sector<br />
de Educação?, Resumo do Orçamento,<br />
<strong>UNICEF</strong> Moçambique, Maputo, 2010.<br />
136
CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />
53 Fundo das Nações Unidas para a Infância, O<br />
Que Diz a Proposta de Orçamento do Estado<br />
2010 sobre a Previsão de Recursos no Sector<br />
de Educação?, Resumo do Orçamento,<br />
<strong>UNICEF</strong> Moçambique, Maputo, 2010.<br />
54 Fast Track Initiative Secretariat, ‘News release:<br />
Education Fast Track Initiative Announces<br />
US$ 180 Million to Educate Children Around<br />
the World,’ retrieved from: http://www.<br />
educationfasttrack.org/news/171/177/EFA-<br />
FTI-Announces-US-180-Million-to-Educate-<br />
Children-Around-the-World/d,Whats%20New,<br />
2010.<br />
55 Ministry of Education and Culture, Financing<br />
Education in <strong>Mozambique</strong>: Analysis 2009–<br />
2010, Governo de Moçambique, Maputo,<br />
Setembro de 2009.<br />
56 Ministério da Educação e Cultura, Apoio<br />
Directo às Escolas: Situação actual e<br />
perspectivas, Governo de Moçambique,<br />
Maputo, 2007<br />
57 Ministério da Educação e Cultura, Programa<br />
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Maputo, 2009.<br />
58 Ministério da Educação e Cultura, Avaliação<br />
do Programa de Apoio Directo às Escolas (7ª<br />
e 8ª fase), Governo de Moçambique, Maputo,<br />
2009.<br />
137