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CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />

6CAPÍTULO<br />

Questões transversais<br />

177


1. Introdução<br />

Questões<br />

transversais<br />

6CAPÍTULO<br />

Melhorar a situação dos membros mais<br />

vulneráveis da sociedade exige que se<br />

saiba quem são, onde vivem e quais<br />

os desafios e riscos que enfrentam.<br />

Moçambique não é um país homogéneo,<br />

e crianças vivendo em áreas diferentes, e<br />

inclusivamente sob o mesmo tecto, nem<br />

sempre enfrentam os mesmos níveis de<br />

vulnerabilidade. Determinadas crianças,<br />

famílias e comunidades inteiras estão<br />

ameaçadas pela presença de perigos físicos,<br />

ambientais ou sociais com que outras não<br />

têm que se preocupar. Além disso, há uma<br />

série de factores que afectam a capacidade<br />

de certos subgrupos da população de lidar<br />

com a presença de ameaças ao seu bemestar.<br />

Questões relacionadas com género,<br />

disparidades geográficas, HIV e SIDA, falta<br />

de informação e condições ambientais<br />

tornam mais complexos e desafiam cada<br />

um dos sectores discutidos nos últimos três<br />

capítulos: sobrevivência da criança, educação<br />

e protecção. Para que as intervenções a<br />

serem projectadas e implementadas para<br />

diminuir a vulnerabilidade global sejam<br />

eficazes, é fundamental uma análise<br />

aprofundada destas questões transversais<br />

e dos sistemas institucionais e sociais que<br />

estão implantados para as abordar.<br />

Este capítulo incide sobre cinco temas<br />

transversais: género, HIV e SIDA,<br />

disparidades regionais, comunicação para o<br />

desenvolvimento e meio ambiente.<br />

179


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

2. Género<br />

<strong>Home</strong>ns e mulheres usufruírem dos direitos<br />

humanos em condições de igualdade é<br />

um princípio consagrado na Declaração<br />

Universal dos Direitos do <strong>Home</strong>m. 1 Em 1979,<br />

as Nações Unidas aprovaram a Convenção<br />

sobre a Eliminação de Todas as Formas de<br />

Discriminação contra a Mulher (CEDAW), que<br />

definiu ainda os direitos legais e humanos<br />

das mulheres. 2 O princípio da igualdade<br />

no gozo de direitos foi depois reafirmado<br />

pela Declaração de Viena, adoptada por 171<br />

Estados na Conferência Mundial sobre os<br />

Direitos Humanos em Junho de 1993. 3<br />

O <strong>UNICEF</strong> está empenhado em promover<br />

a igualdade de direitos das mulheres e<br />

meninas e apoiar a sua plena participação<br />

no desenvolvimento político, social e<br />

económico das suas comunidades. Só<br />

assegurando iguais oportunidades a<br />

homens e mulheres, raparigas e rapazes, as<br />

sociedades podem esperar criar condições<br />

para acabar com a pobreza e permitir a cada<br />

indivíduo desenvolver plenamente o seu<br />

potencial.<br />

Género e desenvolvimento de género não<br />

têm unicamente a ver com os direitos<br />

das mulheres e meninas; pelo contrário,<br />

abordam todas as formas de discriminação<br />

ou preconceitos baseados no sexo das<br />

pessoas com que nos confrontamos na<br />

realização dos direitos humanos ou nos<br />

esforços para alcançar desenvolvimento.<br />

Em muitos casos, as mulheres e meninas<br />

são mais frequentemente vítimas de<br />

discriminação de género, embora também<br />

possa haver situações de meninos ou<br />

homens serem discriminados, que deverão<br />

merecer igual consideração.<br />

Moçambique ratificou a Convenção das<br />

Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas<br />

as Formas de Discriminação contra a Mulher<br />

em 1993, que entrou em vigor em 1997, bem<br />

como o Protocolo Facultativo à Convenção.<br />

Moçambique é também signatário da Carta<br />

Africana dos Direitos do <strong>Home</strong>m e dos Povos<br />

e dos Direitos da Mulher de 2005.<br />

O Ministério da Mulher e da Acção Social foi<br />

criado em 2005. i Compete-lhe implementar<br />

e coordenar as iniciativas relativas aos<br />

direitos das mulheres e crianças. O Conselho<br />

Nacional para o Avanço da Mulher é uma<br />

plataforma de coordenação multissectorial<br />

através da qual o Ministério da Mulher e da<br />

Acção Social monitora a implementação do<br />

Plano Nacional para o Avanço da Mulher.<br />

Apesar dos progressos no quadro jurídico,<br />

a discriminação com base no género, e<br />

especialmente a discriminação contra as<br />

mulheres é uma realidade em Moçambique.<br />

Ela reflecte-se em aspectos da vida social,<br />

cultural, política e económica das mulheres,<br />

incluindo os seguintes: 4<br />

• Na família, as mulheres são discriminadas<br />

pelos seus familiares directos e não<br />

recebem o mesmo tratamento que os<br />

homens. Por exemplo, os meninos são<br />

muitas vezes favorecidos em decisões<br />

sobre que membros da família deverão<br />

beneficiar de educação formal, embora<br />

a desigualdade de género na educação<br />

tenha diminuído nos últimos anos. As<br />

decisões são muitas vezes tomadas com<br />

base em práticas costumeiras, onde os<br />

meninos e os homens são definidos<br />

como os que ganham para o sustento da<br />

família, e as meninas e mulheres como<br />

i<br />

Em 2000, foi criado o Ministério para a Coordenação da Acção Social. Em 2005, o Ministério foi reestruturado passando<br />

a ser conhecido por Ministério da Mulher e da Acção Social, nome que reflecte a elevação das questões de igualdade de<br />

género em Moçambique.<br />

180


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

donas de casa. Os maiores níveis de<br />

analfabetismo nas mulheres e a falta de<br />

conhecimento dos seus direitos significam<br />

que os casos de discriminação contra<br />

as mulheres raramente são levados a<br />

um tribunal de direito. Na área laboral,<br />

são poucas as oportunidades existentes<br />

para as mulheres no sector formal,<br />

especialmente para posições de nível<br />

sénior;<br />

• Tanto os homens como as mulheres são<br />

relutantes em resolver os seus conflitos<br />

nos tribunais judiciais formais. Nas zonas<br />

rurais, os tribunais podem ficar distantes.<br />

As vítimas de violência doméstica podem<br />

estar relutantes em levar o seu parceiro<br />

a tribunal. A violência doméstica ainda<br />

não é vista como crime, mas considerada<br />

normal nas relações entre homens e<br />

mulheres.<br />

O Plano Quinquenal do Governo 2010-2014<br />

estabelece como objectivo a promoção da<br />

igualdade de oportunidades económicas,<br />

sociais e culturais para homens e mulheres. 5<br />

2.1. Aspectos de género da<br />

pobreza em Moçambique<br />

Conforme discutido no Capítulo 1, a redução<br />

da pobreza em Moçambique entre 1996/97 e<br />

2002/03 não beneficiou todos os segmentos<br />

da população da mesma forma. A pobreza<br />

foi reduzida mais significativamente nas<br />

famílias chefiadas por homens do que nas<br />

famílias chefiadas por mulheres. Embora<br />

a pobreza tenha registado uma redução<br />

de 26 por cento nos agregados familiares<br />

chefiados por homens (passando de cerca<br />

de 70 por cento em 1996/97 para 52 por<br />

cento em 2002/03), foi apenas uma redução<br />

de 6 por cento nos agregados familiares<br />

chefiados por mulheres (de cerca de 67<br />

por cento para 63 por cento entre 1996/97<br />

e 2002/03). Desta situação podem advir<br />

implicações para as crianças órfãs, uma<br />

vez que é nos agregados chefiados por<br />

mulheres que aqueles mais frequentemente<br />

se encontram. O Inquérito à Força de<br />

Trabalho (IFTRAB) 2004/05 indicou que 54<br />

por cento do total de crianças órfãs viviam<br />

em agregados familiares chefiados por<br />

mulheres, em comparação com 46 por cento<br />

em agregados chefiados por homens. 6<br />

Estudos recentes indicam que a tendência<br />

de feminização da pobreza se deve,<br />

pelo menos parcialmente, ao facto de<br />

as mulheres estarem mais fortemente<br />

envolvidas no sector agrícola do que os<br />

homens (89 por cento comparativamente<br />

a 68 por cento). 7 Ao mesmo tempo, as<br />

mulheres têm menos acesso à educação,<br />

menos oportunidades de emprego<br />

formal, mais baixos rendimentos e menos<br />

oportunidades para diversificar suas fontes<br />

de renda. Estudos mostraram também<br />

que os agregados familiares chefiados por<br />

mulheres, além de serem mais pobres em<br />

termos monetários do que os chefiados<br />

por homens, têm reduzido acesso dos<br />

social como consequência das estruturas<br />

predominantemente patriarcais da sociedade<br />

moçambicana. 8<br />

Outra prova da feminização da pobreza<br />

provém de uma análise de três Inquéritos<br />

Nacionais Agrícolas (2002, 2005 e 2008),<br />

segundo os quais, nos três anos do<br />

inquérito, os agregados familiares chefiados<br />

por mulheres estavam sobre-representados<br />

entre os agregados mais pobres. 9 Em<br />

contrapartida, a percentagem de domicílios<br />

chefiados por homens tende a aumentar à<br />

medida que sobe o quintil de rendimento<br />

(ver figura 6.1).<br />

A tendência de feminização da pobreza<br />

é suportada pela percepção da mudança<br />

registada nos agregados familiares<br />

chefiados por homens e por mulheres,<br />

respectivamente. Uma maior percentagem<br />

de agregados chefiados por mulheres<br />

do que por homens considera que a sua<br />

situação piorou nos últimos cinco anos. Ao<br />

mesmo tempo, a percepção de deterioração<br />

das condições nos domicílios chefiados por<br />

mulheres é mais pronunciada nas zonas<br />

rurais que nas urbanas, o que pode indicar<br />

melhores oportunidades para os agregados<br />

familiares chefiados por mulheres nas áreas<br />

urbanas.<br />

181


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

Figura 6.1: Percentagem de agregados familiares chefiados por homens por quintil de riqueza, 2002, 2005 e 2008<br />

Percentagem de agregados familiares<br />

chefiados por homens<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

0%<br />

2002 2005 2008 2002 2005 2008 2002 2005 2008 2002 2005 2008 2002 2005 2008<br />

Quintil inferior Segundo Médio Quarto Quintil superior<br />

Fonte: Cunguara, Benedito e Brendan Kelly, ‘Trends in agriculture producers’ income in rural <strong>Mozambique</strong>’, study as input to Impact<br />

Evaluation Report of PARPA II, MPD, 2009<br />

Os níveis gerais de participação no mercado<br />

de trabalho são ligeiramente mais elevados<br />

nas mulheres em idade activa (15-59<br />

anos), 82 por cento, do que nos homens da<br />

mesma idade (79 por cento). A participação<br />

das mulheres na força de trabalho está<br />

principalmente concentrada na agricultura<br />

de subsistência nas zonas rurais, onde<br />

elas constituem 62 por cento da população<br />

activa, enquanto os homens predominam<br />

em todos os outros principais sectores da<br />

economia, onde mais se pode ganhar. As<br />

mulheres que se encontram na força de<br />

trabalho têm habilitações de níveis mais<br />

baixos que os homens: 15 por cento dos<br />

homens no mercado de trabalho chegaram<br />

ao segundo nível do ensino primário ou<br />

acima disso, comparados com apenas cinco<br />

por cento das mulheres participantes. 10<br />

Embora as mulheres constituam a maior<br />

parte da população economicamente activa,<br />

estão principalmente envolvidas no sector<br />

agrícola, principalmente na produção<br />

familiar com limitados excedentes. Quando<br />

existem oportunidades de geração de<br />

rendimento, os homens tendem a ter uma<br />

maior probabilidade de aceder a estas<br />

oportunidades e a delas beneficiar. Nas áreas<br />

urbanas, as mulheres são mais propensas<br />

a depender do sector informal devido aos<br />

mais baixos requisitos de ingresso e ao<br />

facto de o acesso ao emprego formal ser<br />

amplamente controlado pelo capital social<br />

(contactos sociais), que favorece os homens<br />

por ainda serem vistos como o ganha-pão da<br />

família.<br />

2.2. Desenvolvimento<br />

ajustado ao género e<br />

empoderamento com base<br />

em género<br />

No Relatório de Desenvolvimento Humano<br />

2009, Moçambique ocupa o 145º lugar em<br />

155 países, e é-lhe atribuído um Índice de<br />

Desenvolvimento Ajustado ao Género de<br />

0,395 em 2007. Em 1995, Moçambique<br />

alcançou um Índice de Desenvolvimento<br />

Ajustado ao Género (IDG) de 0,229,<br />

colocando-se em 123º lugar entre os 130<br />

países para os quais o índice foi calculado.<br />

Quer isto dizer que embora Moçambique<br />

tenha melhorado em matéria de igualdade<br />

de género em termos absolutos, não<br />

melhorou tanto quanto outros países. O<br />

IDG nas províncias do centro e do norte foi<br />

menor do que no sul.<br />

O IDG utilizado baseou-se em três<br />

indicadores a que se atribuiu peso igual:<br />

• Esperança de vida ao nascer;<br />

• Uma combinação da taxa de alfabetização<br />

de adultos com a taxa líquida de<br />

182


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

escolarização combinada nos níveis<br />

primário, secundário e terciário;<br />

• Produto Interno Bruto per capita expresso<br />

como paridade do poder de compra em<br />

dólares americanos<br />

Foi solicitado, como parte da avaliação<br />

do impacto do PARPA II 2009, 11 um estudo<br />

para actualizar o IDG do Programa de<br />

Desenvolvimento das Nações Unidas<br />

concernente a Moçambique.<br />

O IDG foi calculado de acordo com quatro<br />

cenários diferentes: três utilizando diferentes<br />

métodos de determinação da diferença<br />

salarial entre homens e mulheres, e um<br />

usando uma esperança de vida ajustada<br />

considerando o impacto da SIDA:<br />

• Cenário A: diferença salarial não agrícola<br />

calculada com base em diferentes níveis<br />

de qualificação de homens e mulheres;<br />

• Cenário B: diferença salarial global<br />

(agrícola e não agrícola), com base em<br />

diferentes níveis de qualificação de<br />

homens e mulheres;<br />

• Cenário C: diferença salarial não agrícola<br />

com base no pressuposto do Programa de<br />

Desenvolvimento das Nações Unidas de<br />

que, em média, as mulheres ganham 75<br />

por cento do salário de seus congéneres<br />

do sexo masculino;<br />

• Cenário D: usando estimativas de<br />

esperança de vida ajustadas tendo em<br />

conta a SIDA. O Cenário D fornece uma<br />

ilustração do impacto do HIV sobre o<br />

Índice de Desenvolvimento Ajustado ao<br />

Género na ausência de intervenções de<br />

prevenção e tratamento da SIDA.<br />

De acordo com os cenários A e C, a meta do<br />

PARPA II para o IDG foi atingida em 2008,<br />

resultado que o relatório atribuiu ao elevado<br />

nível de equidade de género alcançado nas<br />

matrículas na escola primária.<br />

Moçambique saiu-se muito melhor na<br />

Medida de Participação Segundo o Género<br />

(MPG) que foi calculada em 0,350, o que<br />

coloca o país em 61º lugar de entre 116<br />

países. A MPG foi mais um reflexo da<br />

percentagem relativamente elevada de<br />

assentos parlamentares ocupados por<br />

Figura 6.2: IDG baseado em diferentes métodos de determinação da diferença salarial, 2009<br />

Índice de Desenvolvimento Ajustado ao Género<br />

0.430<br />

0.410<br />

0.390<br />

0.370<br />

0.350<br />

0.330<br />

0.310<br />

0.290<br />

0.270<br />

0.250<br />

2004 2005 2006 2007 2008<br />

Ano<br />

Cenário A Cenário B Cenário C Cenário D<br />

Fonte: Ministério de Planificação e desenvolvimento, Ministério da Mulher e da Acção Social e Grupo de Coordenação de Género<br />

(GCG), ‘Calculando o Gender Development Index no Contexto da Avaliação do PARPA II (2006–2009)’, Maputo, 2009.<br />

183


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

mulheres em Moçambique (15 por cento<br />

em 1994) e da parcela de rendimento<br />

proporcional auferida pelas mulheres (40<br />

por cento em 1994), que foi mais elevadas<br />

do que para vários outros países nos<br />

rankings. Não é apresentada nenhuma<br />

MPG para Moçambique no Relatório do<br />

Desenvolvimento Humano 2009. Existe um<br />

elevado grau de disparidade regional na<br />

MPG, situando-se no norte do país as quatro<br />

províncias com os menores (piores) índices.<br />

Defende-se que a área em que mais<br />

progressos se têm feito em termos de<br />

igualdade de género em Moçambique é<br />

a da participação política das mulheres.<br />

Moçambique possui uma elevada<br />

percentagem de mulheres em órgãos de<br />

tomada de decisões como o Parlamento,<br />

onde, após as eleições de 2004, 36 por<br />

cento dos assentos estavam ocupados<br />

por mulheres. Antes do novo Governo<br />

anunciado em 2010, o cargo de primeiroministro<br />

era ocupado por uma mulher. 12<br />

Embora tenha havido uma redução da<br />

percentagem de mulheres no Governo<br />

na sequência das eleições de 2009, a<br />

participação política das mulheres em<br />

Moçambique é elevada para os padrões<br />

regionais. Actualmente, 18 por cento dos<br />

ministros e vice-ministros e 27 por cento dos<br />

governadores provinciais são mulheres.<br />

2.3. Disparidades de género<br />

Um estudo realizado pelo Ministério de<br />

Planificação e Desenvolvimento no âmbito<br />

da Avaliação do Impacto do PARPA II<br />

2009 não revelou nenhuma diferença na<br />

percentagem de meninas e rapazes em<br />

situação de pobreza absoluta medida pela<br />

abordagem baseada em privações (ver<br />

Capítulo 1, A pobreza em Moçambique,<br />

para uma discussão mais detalhada da<br />

pobreza baseada em privações). É mais<br />

elevada a percentagem de rapazes que sofre<br />

de deficiência nutricional severa do que<br />

a de meninas (23 por cento versus 17 por<br />

cento). São inúmeras as hipóteses sobre<br />

as razões que explicam essa diferença,<br />

incluindo diferenças nas necessidades<br />

nutricionais, hábitos alimentares, acesso a<br />

alimentos e cuidados infantis, mas não há<br />

provas suficientes para confirmar ou refutar<br />

qualquer dessas possíveis explicações.<br />

As meninas têm maior probabilidade de<br />

estar severamente privadas de educação<br />

do que os meninos (13 e 10 por cento,<br />

respectivamente). No entanto, a privação<br />

de educação reduziu-se significativamente<br />

tanto nas meninas como nos rapazes entre<br />

2003 e 2008. As taxas de conclusão e de<br />

alfabetização das meninas são também são<br />

inferiores às dos rapazes, especialmente no<br />

nível secundário.<br />

2.4. Questões de género na<br />

educação<br />

O PARPA II discute a relação entre educação,<br />

redução da pobreza e crescimento<br />

económico, dando especial ênfase ao papel<br />

da educação das raparigas. Os objectivos do<br />

PARPA II para os níveis primário, secundário<br />

e terciário do sistema de ensino referem-se<br />

explicitamente a inclusão na base de género,<br />

vulnerabilidade e necessidades especiais.<br />

São também apresentadas estratégias para<br />

aumentar a educação da rapariga, incluindo<br />

lidar com a sensível, mas fundamental<br />

questão de reduzir a incidência do abuso<br />

sexual nas escolas. O Plano Quinquenal<br />

do Governo 2010-14 também define como<br />

prioritária a paridade de género na escola<br />

primária.<br />

Baixos níveis de alfabetização,<br />

especialmente nas mulheres, têm sido,<br />

desde há muitos anos, uma característica<br />

constante da sociedade moçambicana.<br />

Por exemplo, o Inquérito Demográfico<br />

e de Saúde 2003 registou uma taxa<br />

de analfabetismo de 62 por cento nas<br />

mulheres, em comparação com 33 por<br />

cento nos homens. Os relatórios de do<br />

MICS 2008 reportam que 41 por cento dos<br />

moçambicanos com 20-24 anos de idade são<br />

alfabetizados, número que sobe para 53 por<br />

cento nas jovens de 15-19 anos. 13<br />

No período 1992-2009, o número de alunos<br />

nas escolas primárias e secundárias registou<br />

184


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

um enorme aumento tanto nos rapazes<br />

como nas meninas, mas continua a haver<br />

diferenças de género em todos os níveis da<br />

educação. A diferença absoluta de género<br />

na escolarização bruta no primeiro nível do<br />

ensino primário tem diminuído desde 1999,<br />

mas continua elevada, situando-se nos 14<br />

por cento. 14<br />

A disparidade de género no número de<br />

matrículas revela uma variação geográfica<br />

considerável, com menos meninas<br />

matriculadas nas regiões centro e norte,<br />

enquanto em algumas províncias do<br />

sul, como Maputo e Inhambane, estão<br />

matriculadas ligeiramente mais raparigas do<br />

que rapazes. Em 2007, a taxa de conclusão<br />

da primeira fase do ensino primário foi de 65<br />

por cento nas raparigas e 80 por cento nos<br />

rapazes. Este diferencial de género continua<br />

a verificar-se na segunda fase do ensino<br />

primário, com taxas de conclusão de 39<br />

por cento nas raparigas e 53 por cento nos<br />

rapazes. 15<br />

O género é um importante factor de impacto<br />

no sector da educação: é particularmente<br />

forte o seu efeito nas famílias mais pobres,<br />

nas zonas rurais e nas províncias do Centro<br />

e do Norte. A disparidade de género<br />

também está a prejudicar alguns notórios<br />

ganhos, com taxas de conclusão nas<br />

meninas substancialmente inferiores às dos<br />

rapazes. Embora a diferença de género tenha<br />

diminuído nos últimos anos, continuam a<br />

existir fortes disparidades que têm de ser<br />

examinadas contemplando a situação de<br />

pobreza, o local de residência, e práticas e<br />

tradições culturais.<br />

Para promover a educação das raparigas,<br />

o Ministério da Educação tem dado grande<br />

atenção à melhoria da segurança nas<br />

escolas, definindo inclusivamente passos<br />

básicos para reagir ao abuso sexual nas<br />

escolas. Foram também empreendidos<br />

esforços para fortalecer a capacidade da<br />

unidade do Ministério responsável pelo<br />

género a fim de melhor se integrar o género<br />

e a SIDA na planificação, implementação e<br />

monitoria de processos iniciados e trabalhar<br />

com as comunidades na prevenção da<br />

educação das raparigas, do abuso sexual<br />

precoce e da gravidez. Além disso, a<br />

capacidade das unidades de género deve<br />

ser reforçada no respeitante a monitoria<br />

e notificação de abuso sexual e violência.<br />

Focalizar a educação das meninas é tanto um<br />

meio de resolver a disparidade de género<br />

como uma estratégia para alavancar ganhos<br />

ao lidar com outras disparidades.<br />

2.5. Violência, abuso e<br />

exploração<br />

Algumas formas de violência contra as<br />

mulheres e crianças estão enraizadas<br />

em dinâmicas de género da sociedade<br />

discriminatórias e de desigualdade. 16<br />

Estudos e dados disponíveis parecem indicar<br />

que a ordem social dominada por uma<br />

cultura tradicional e patriarcal machista é<br />

forte em Moçambique. 17 Continua a haver,<br />

por exemplo, casamento infantil, apesar das<br />

disposições da Lei da Família de 1997, o que<br />

parece estar relacionado com a persistência<br />

dos papéis de género tradicionalmente<br />

atribuídos a mulheres e meninas como mães<br />

e cuidadoras na sociedade.<br />

Muitas meninas vítimas não denunciam<br />

casos de estupro ou abuso sexual às<br />

autoridades, em parte devido ao estigma<br />

que envolve a questão do abuso sexual.<br />

No seu primeiro e segundo relatórios<br />

combinados ao Comité das Nações Unidas<br />

para a Convenção sobre a Eliminação da<br />

Discriminação contra as Mulheres (CEDAW),<br />

Moçambique informou que a maioria<br />

das famílias prefere resolver os casos de<br />

abuso sexual fora dos tribunais, por via de<br />

indemnização ou casamentos. O relatório<br />

também reconhece a falta de conhecimento<br />

sobre o sistema legal e atrasos excessivos<br />

no sistema judicial como obstáculos<br />

adicionais a uma solução jurídica para esses<br />

casos. 18 Fraco acesso ao sistema de justiça,<br />

insuficiente conhecimento dos direitos das<br />

mulheres, e falta de um sistema de aplicação<br />

de penas legais agravam o problema.<br />

A violência doméstica contra as mulheres<br />

é também um sério problema em<br />

185


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

Moçambique. Embora escasseiem dados<br />

quantitativos, os dados de 2004 indicam<br />

que 54 por cento das mulheres inquiridas<br />

relataram ter sido vítimas de abuso, como<br />

discutido no Capítulo 5. Revelam também<br />

esses dados uma aceitação generalizada do<br />

uso da violência. Em 2008, a percentagem<br />

de mulheres que afirmaram que os homens<br />

tinham o direito de lhes bater em certas<br />

circunstâncias, tais como sair de casa sem<br />

informar o marido ou recusar sexo, foi de<br />

36 por cento, uma redução relativamente<br />

aos 54 por cento de 2003. As mulheres mais<br />

escolarizadas são menos propensas a aceitar<br />

a violência doméstica, tal como as mulheres<br />

que vivem em áreas urbanas (ver Capítulo<br />

5). Apesar da aparente aceitação cultural da<br />

violência doméstica, outros estudos 19 têm<br />

revelado que a violência extrema resultando<br />

em danos corporais é inaceitável para as<br />

comunidades, bem como para os homens e<br />

mulheres individualmente.<br />

A prevalência de trabalho infantil é<br />

ligeiramente maior entre as meninas (24<br />

por cento) do que entre os rapazes (21 por<br />

cento). Uma maior percentagem de meninas<br />

do que meninos trabalha em tarefas<br />

domésticas (oito por cento contra cinco por<br />

cento, respectivamente). A percentagem de<br />

crianças que trabalham para apoiar negócios<br />

familiares é a mesma para ambos os sexos<br />

(16 por cento). 20<br />

São as mulheres e meninas que<br />

tradicionalmente acarretam água para a<br />

família. O MICS constatou que em 86 por<br />

cento dos agregados familiares é uma<br />

mulher adulta que se dedica a essa tarefa,<br />

enquanto em 7 por cento dos agregados<br />

familiares é uma menina (menor de 15 anos).<br />

As fontes de água situam-se normalmente<br />

muito longe de casa, uma média de cerca<br />

de 50 minutos a pé (excluindo os agregados<br />

familiares com água nas suas instalações - 9<br />

por cento). Normalmente, são feitas várias<br />

deslocações por dia para a fonte de água. 21<br />

2.6. Sistemas de Linhagem<br />

Em Moçambique, existem os dois sistemas<br />

de linhagem, patrilinear e matrilinear. Sob<br />

o sistema patriarcal, a mulher e os filhos<br />

pertencem ao marido e sua família, e é<br />

o marido que concede ao seu cônjuge do<br />

sexo feminino acesso à terra. No sistema<br />

matriarcal, a mulher e os filhos continuam<br />

a ser considerados membros da família<br />

matrilinear da mulher. Sob o sistema<br />

matriarcal, é o tio da mulher que dá acesso<br />

à terra, enquanto as crianças pertencem<br />

a familiares consanguíneos da mãe. 22 Em<br />

ambos os sistemas, patrilinear e matrilinear,<br />

as posições das mulheres baseiam-se em<br />

submissão aos membros masculinos da<br />

família - ou seja, ao marido/pai ou irmãos,<br />

respectivamente. 23<br />

Os direitos à terra são de certa forma<br />

problemáticos em Moçambique devido à<br />

existência de dois sistemas contraditórios.<br />

Oficialmente, e em conformidade com a<br />

Constituição e a Lei de Terras, a terra é<br />

propriedade inalienável do Estado. No<br />

entanto, ao abrigo do direito consuetudinário<br />

e tradição, a terra pertence à comunidade<br />

que vive em seu redor e aos antepassados<br />

dessa comunidade. O acesso à terra é gerido<br />

por uma complexa rede de tradições sociais<br />

que se constitui em torno do casamento,<br />

como base de alianças entre as famílias.<br />

Assim, os direitos hereditários à terra<br />

dependem da idade, do sexo e da condição<br />

social, inclusive do parentesco ou outros<br />

vínculos com as famílias que foram as<br />

primeiras a povoar a região. Os títulos de<br />

propriedade da terra formais não parecem<br />

ser relevantes para fins de herança. Nas<br />

sociedades patriarcais, surgem problemas<br />

em caso de divórcio ou morte do marido,<br />

onde uma mulher corre o risco de perder<br />

as suas terras e todos os seus pertences<br />

a favor de outros membros da família<br />

do falecido marido, mesmo tendo ela a<br />

responsabilidade de cuidar dos seus filhos e<br />

outros familiares. 24<br />

2.7. HIV e género<br />

A Declaração de Compromisso de 2001<br />

sobre o HIV/SIDA reconhece que as<br />

mulheres são desproporcionalmente<br />

afectadas pela SIDA no quadro global,<br />

devendo merecer prioridade nas respostas<br />

186


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

nacionais e globais. 25 A dimensão de género<br />

do HIV e da SIDA tem uma componente<br />

biológica e uma componente social.<br />

Biologicamente, as mulheres são mais<br />

vulneráveis à infecção pelo HIV do que<br />

homens, sendo as meninas ainda mais<br />

vulneráveis. No entanto, o mais importante<br />

para determinar o diferencial na transmissão<br />

e no impacto nas mulheres é a componente<br />

social. Em Moçambique, é ensinado às<br />

mulheres que o sexo é uma estratégia de<br />

sobrevivência, pelo que é frequente elas<br />

se submeterem às decisões dos homens,<br />

tendo menos capacidade para negociar<br />

sexo seguro, fidelidade ou abstinência.<br />

Sexo coagido ou forçado e violência sexual<br />

exacerbam as vulnerabilidades biológicas e<br />

sociais das mulheres à infecção. As meninas<br />

tendem a iniciar relações sexuais regulares<br />

mais cedo do que meninos, aumentando o<br />

risco de transmissão. 26<br />

Como resultado destes dois grupos de<br />

factores, a prevalência de infecção em<br />

mulheres de 15-49 anos (13,1 por cento) é<br />

mais de um terço superior à dos homens<br />

da mesma faixa etária (9,2 por cento). Entre<br />

as mulheres na faixa etária de 15-24 anos,<br />

a prevalência do HIV é 3 vezes superior à<br />

dos homens da mesma idade. 27 28 A AIDS<br />

Accountability International preparou um<br />

Scorecard on Woman que classifica as<br />

respostas dos Governos à epidemia de SIDA<br />

a partir de uma perspectiva de género. Os<br />

seis elementos fundamentais incluídos no<br />

Scorecard são: recolha de dados, género,<br />

ambiente político e legal, programas<br />

nacionais, conhecimento, comportamento<br />

e impacto. É atribuída aos países uma<br />

classificação de A (muito bom) a E (muito<br />

fraco) para cada elemento. Ver Tabela 6.1<br />

abaixo com a pontuação de Moçambique. 29<br />

187


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

Tabela 6.1: Scorecard para a resposta do Governo de Moçambique à SIDA numa perspectiva de género<br />

Recolha de dados<br />

Integração sistemática de género<br />

Ambiente de políticas e legal<br />

Programas nacionais<br />

Conhecimento e comportamento<br />

Impacto<br />

Pontuação<br />

A – Muito bom<br />

C – Médio<br />

C – Médio<br />

B – Bom<br />

A – Muito bom<br />

C – Médio<br />

Fonte: AIDS Accountability International, ‘The AIDS Accountability Scorecard on Women 2009’, Joint United Nations Programme on<br />

HIV/AIDS, Geneva, 2009.<br />

2.8. Conclusões<br />

As mulheres têm maior probabilidade de<br />

viver em situação de pobreza do que os<br />

homens em Moçambique. A incidência<br />

da pobreza em agregados familiares<br />

chefiados por mulheres é superior à<br />

dos agregados familiares chefiados por<br />

homens. As mulheres têm menos acesso<br />

ao emprego formal do que os homens, e<br />

tendem a trabalhar em indústrias de menor<br />

remuneração. Há indícios, no entanto, de<br />

que a desigualdade entre os homens e as<br />

mulheres tem diminuído em Moçambique<br />

nos últimos anos.<br />

Existe uma clara relação entre o bemestar<br />

das mulheres e o bem-estar de<br />

seus filhos. Mães instruídas são mais<br />

propensas a ter filhos mais instruídos,<br />

mais saudáveis, menos vulneráveis. Tendo<br />

como alvo raparigas a frequentarem<br />

escolas, os programas de saúde e protecção<br />

podem não só melhorar o bem-estar das<br />

pessoas abrangidas, como também gerar<br />

significativos efeitos secundários positivos<br />

nos futuros filhos dessas meninas.<br />

A paridade de género na educação, em<br />

termos de taxas de frequência, tem vindo<br />

a melhorar. No que respeita a taxas de<br />

alfabetização e conclusão, no entanto,<br />

persistem consideráveis disparidades.<br />

Na promoção do acesso das mulheres à<br />

educação é fundamental melhorar-se a<br />

segurança nas escolas. Para isso, é preciso<br />

que se reforce a capacidade das unidades<br />

de género para monitorar e reportar abuso e<br />

violência sexual.<br />

A violência contra a mulher é comum e<br />

é considerada aceitável por uma grande<br />

percentagem de mulheres, bem como<br />

pela sociedade em geral. Para diminuir<br />

a incidência de violência de género são<br />

necessárias iniciativas de sensibilização para<br />

mudar as mentes e divulgação de melhor<br />

informação.<br />

188


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

3. Disparidades geográficas<br />

Moçambique é um país grande com uma<br />

densidade populacional relativamente baixa.<br />

Cobre uma superfície de aproximadamente<br />

802.000 km2 e tem um litoral que se estende<br />

por quase 2.500 km, desde a África do<br />

Sul, no sul, até à Tanzânia, no norte. A<br />

densidade populacional média é de cerca de<br />

26 habitantes por km2. Relacionada com a<br />

grande extensão geográfica do país está a<br />

sua diversidade linguística, cultural e étnica.<br />

São diferentes as tradições e costumes<br />

entre as várias regiões. Mais de uma dezena<br />

de línguas locais, algumas das quais com<br />

seus próprios dialectos, são faladas em<br />

Moçambique. O português é a língua oficial<br />

e da administração, mas menos de dez<br />

por cento da população o fala como língua<br />

materna, e apenas cerca de 40 por cento o<br />

aprendeu a falar. 30<br />

Os dados revelam a existência de claras<br />

disparidades na incidência da pobreza entre<br />

as províncias. Por exemplo, a incidência<br />

da pobreza no inquérito de 2008/09 varia<br />

entre 71 por cento em Inhambane e 31 por<br />

cento no Niassa. Continua a haver uma<br />

significativa demarcação urbano/rural em<br />

termos de taxas de pobreza: 57 por cento<br />

dos habitantes rurais vivem em pobreza<br />

absoluta em comparação com 50 por cento<br />

da população urbana. 31<br />

O acesso aos serviços sociais básicos é<br />

geralmente mais elevado no sul do país. As<br />

disparidades no Índice de Desenvolvimento<br />

Humano (IDH) e no IDG do Programa das<br />

Nações Unidas para o Desenvolvimento<br />

têm feito ver que as províncias do norte do<br />

país geralmente apresentam mais baixos<br />

níveis de desenvolvimento humano do que<br />

as do centro ou do sul. 32 Todas as províncias<br />

do país apresentaram melhorias nos seus<br />

IDG entre 2001 e 2006. 33 Outros indicadoreschave,<br />

incluindo o PIB per capita, também<br />

apresentam uma variação considerável entre<br />

as províncias. 34 Há alguma evidência de que<br />

as desigualdades no consumo que existem<br />

em Moçambique são frequentemente<br />

mais pronunciadas no seio das regiões e<br />

províncias do que entre elas. 35<br />

No seu primeiro Plano de Acção para a<br />

Redução da Pobreza Absoluta (PARPA I),<br />

o governo de Moçambique reconheceu a<br />

desigualdades económicas e sociais entre<br />

a área Maputo-Matola e arredores e o<br />

resto do país como sendo “a característica<br />

mais visível” do país. Essa desigualdade<br />

é atribuída a vários factores, incluindo a<br />

guerra civil. O segundo Plano de Acção para<br />

a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA<br />

II) também observou que as medidas de<br />

pobreza, tanto baseada no consumo como<br />

não baseada no rendimento variavam<br />

consideravelmente entre as províncias. Lidar<br />

com as disparidades regionais foi objectivo<br />

prioritário do PARPA I, bem como do PARPA<br />

II. A avaliação de impacto do PARPA II<br />

realizada em 2009 concluiu ter havido uma<br />

ligeira redução das disparidades, embora<br />

estas, no que respeita a agricultura, tenham<br />

aumentado, enquanto as dos sectores de<br />

saúde e educação se continuam a manter a<br />

níveis elevados. 36<br />

Também se vêm disparidades provinciais<br />

em relação às medidas da pobreza não<br />

baseadas no rendimento. Um estudo sobre a<br />

privação severa nas crianças efectuado como<br />

parte da avaliação do PARPA II (ver Capítulo<br />

1) revelou que, em 2003 e 2008, a maior<br />

percentagem de crianças com privações<br />

severas vivia na província da Zambézia, 80<br />

por cento em 2003 e 64 por cento em 2008<br />

(ver Tabela 6.2). 37 A Cidade de Maputo tem,<br />

de longe, os mais baixos níveis de pobreza<br />

infantil, como este método de medição, com<br />

apenas cerca de 4 por cento das crianças<br />

vivendo duas ou mais privações severas.<br />

Uma comparação dos níveis de pobreza<br />

em 2008, medidos utilizando a abordagem<br />

baseada no consumo e a abordagem<br />

baseada em privações severas permite<br />

189


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

Tabela 6.2: Percentagem de crianças que enfrentam duas ou mais privações severas, 2003 e 2008<br />

2003 2008<br />

Global 59% 48%<br />

Urbana 30% 22%<br />

Rural 73% 60%<br />

Província<br />

Niassa 58% 35%<br />

Cabo Delgado 62% 45%<br />

Nampula 66% 59%<br />

Zambézia 80% 64%<br />

Tete 65% 60%<br />

Manica 58% 52%<br />

Sofala 68% 53%<br />

Inhambane 48% 37%<br />

Gaza 53% 39%<br />

Maputo Província 24% 18%<br />

Maputo Cidade 11% 4%<br />

Quintil de riqueza:<br />

Mais baixo 95% 91%<br />

Segundo 87% 65%<br />

Médio 60% 41%<br />

Quarto 36% 33%<br />

Mais elevado 13% 5%<br />

Fonte: <strong>UNICEF</strong>, Trends in Child Poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivations-based approach, Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Maputo, 2009.<br />

algumas interessantes constatações. Para a<br />

maioria das províncias nas regiões norte e<br />

centro do país, os níveis de pobreza medidos<br />

com os dois métodos são bastante similares.<br />

No entanto, no sul do país, o índice de<br />

incidência da pobreza é muito maior que a<br />

percentagem de crianças com duas ou mais<br />

privações severas. Verifica-se essa diferença<br />

porque a abordagem baseada em privações<br />

incorpora uma medida de acesso aos<br />

serviços sociais básicos, incluindo saúde,<br />

educação, água e saneamento, enquanto<br />

a incidência da pobreza não captura<br />

directamente esses aspectos.<br />

Uma análise da percentagem de crianças<br />

que enfrentam cada uma das privações<br />

revela também um padrão de disparidade<br />

entre as províncias. Tais resultados são<br />

apresentados mais pormenorizadamente nos<br />

capítulos deste relatório correspondentes a<br />

cada sector, resumindo-se ao seguinte:<br />

• Os níveis de privação nutricional severa<br />

são mais elevados nas províncias do<br />

Norte, seguindo-se as do centro e, na<br />

mais baixa posição, as províncias do sul; 38<br />

• Além de disparidades entre as zonas<br />

urbanas e as rurais no acesso a serviços<br />

de saneamento, existem também grandes<br />

disparidades entre as províncias. Na<br />

Zambézia, 73 por cento das crianças<br />

vivem com privações severas de<br />

saneamento, comparativamente a menos<br />

de um por cento na Cidade de Maputo; 39<br />

• Também se podem verificar disparidades<br />

provinciais em relação à privação de<br />

saúde. Cinco por cento das crianças na<br />

Cidade de Maputo sofrem privação severa<br />

de saúde, em comparação com 19 por<br />

cento na Zambézia e em Nampula; 40<br />

190


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

• São vincadas as disparidades na<br />

prevalência do HIV e no acesso a serviços<br />

de prevenção e tratamento entre as<br />

províncias e regiões do país, havendo<br />

mais elevada prevalência e tratamento no<br />

sul. A prevalência de HIV varia entre 25<br />

por cento em Gaza, no sul, e 4 por cento<br />

em Niassa, no norte; 41<br />

• Apenas três por cento das crianças<br />

em Gaza sofreram privação severa de<br />

educação em 2008, em comparação com<br />

22 por cento em Tete, 15 por cento em<br />

Niassa e 12 por cento na Zambézia. 42<br />

3.1. Disparidades nas dotações<br />

orçamentais<br />

Em A pobreza na Infância em Moçambique:<br />

Uma Análise da Situação e das Tendências<br />

2006, de sua autoria, o <strong>UNICEF</strong> constatou<br />

ser particularmente notório que as dotações<br />

do Orçamento do Estado para sectoreschave<br />

muitas vezes não correspondem ao<br />

padrão dos indicadores de desenvolvimento<br />

infantil, recomendando a necessária revisão,<br />

baseada em evidências, dos critérios<br />

utilizados para alocar fundos do orçamento<br />

do Estado e alcançar uma distribuição mais<br />

equitativa. Um estudo recente aprofundou<br />

esta questão das províncias menos<br />

desenvolvidas receberem uma mais baixa<br />

dotação do orçamento do estado do que<br />

outras províncias mais desenvolvidas. 43<br />

O estudo confirma a percepção de<br />

desigualdade e reporta que os padrões<br />

provinciais de atribuição de financiamento<br />

observados são fortemente indicativos de<br />

uma desigual distribuição geográfica de<br />

recursos, com as províncias mais populosas<br />

de Nampula e Zambézia recebendo<br />

sistematicamente menos do que deveriam<br />

com base no tamanho das suas populações.<br />

Por exemplo, em 2008, a despesa per capita<br />

na Zambézia foi de 69 por cento da média<br />

nacional para a saúde e 73 por cento da<br />

média na educação 2008. 44<br />

As disparidades provinciais nas dotações<br />

orçamentais não se têm reduzido nos<br />

últimos anos. Como pode ser observado<br />

na Figura 6.3 abaixo, a despesa per capita<br />

aumentou de 2005 a 2008, mas as dotações<br />

provinciais relativas permaneceram<br />

razoavelmente constantes. A dotação per<br />

capita é mais elevada nas províncias do Sul<br />

Figura 6.3: Despesa per capita combinada para saúde, educação e justiça, 2005, 2006 e 2008<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Fonte: Sal e Caldeira e Ximango Consultores, ‘Análise do Impacto da Estrutura das Despesas sobre o Desenvolvimento Económico e<br />

as Condições de Vida em Moçambique,’ Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação, 2009.<br />

191


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

do que no centro e no norte do país. É de<br />

notar que o custo da prestação de serviços<br />

não é igual nas diferentes províncias.<br />

Nas áreas rurais, os custos per capita são<br />

geralmente mais elevados.<br />

Os sectores e os ministérios tendem<br />

a planificar as suas actividades e,<br />

consequentemente, a afectar os seus<br />

fundos de acordo com importantes temas,<br />

programas e projectos que abarcam<br />

várias províncias, ao invés de planificarem<br />

intervenções por província. Como resultado,<br />

os fundos administrados centralmente<br />

não são explicitamente atribuídos e<br />

contabilizados numa base provincial, o que<br />

dificulta a quantificação do total de fundos<br />

recebido a nível de província. As despesas<br />

correntes, entre as quais os salários, revelam<br />

geralmente uma estreita concordância entre<br />

as contas centrais e os relatóri os financeiros<br />

provinciais e sectoriais. Muito mais variação<br />

se observa com relação aos gastos de<br />

investimento.<br />

3.2. Disparidades na saúde<br />

Há grandes disparidades na despesa de<br />

saúde per capita por província. A Zambézia<br />

recebe a menor distribuição per capita, 60<br />

por cento da média nacional, enquanto<br />

Niassa recebe 156 por cento. A Zambézia<br />

tem o pior desempenho com relação a<br />

muitos indicadores de resultados de saúde<br />

infantil.<br />

Mortalidade infantil<br />

Existem diferenças significativas nas taxas<br />

provinciais de mortalidade de menores de<br />

cinco. As taxas mais elevadas registam-se<br />

na Zambézia (206 mortes por mil nascidos<br />

vivos) e Cabo Delgado (181 mortes por<br />

1.000 nados vivos). Tete tem a terceira mais<br />

elevada taxa de mortalidade de menores<br />

de cinco, com 175 por mil nados vivos.<br />

A Província de Maputo e a Cidade de<br />

Maputo reportam as mais baixas taxas de<br />

mortalidade de menores de cinco anos (103<br />

e 109, respectivamente. 45 Uma comparação<br />

da taxa de sobrevivência infantil com os<br />

gastos com saúde por província revela uma<br />

correlação significativa. Províncias com<br />

baixas despesas de saúde também tendem a<br />

ter baixas taxas de sobrevivência infantil (ver<br />

Figura 6.5).<br />

A cobertura de cuidados pré-natais varia<br />

entre as províncias, com um intervalo que<br />

vai de 81 por cento, na Zambézia, a uma<br />

cobertura universal em Gaza e na Cidade de<br />

Maputo. A percentagem de partos atendidos<br />

por um agente qualificado também varia<br />

entre as províncias. As províncias com<br />

Figura 6.4: Despesa de saúde per capita, percentagem da média nacional, 2008<br />

160%<br />

140%<br />

120%<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

0%<br />

Niassa<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Gaza<br />

Maputo<br />

Província<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

Fonte: Sal e Caldeira e Ximango Consultores, ‘Análise do Impacto da Estrutura das Despesas sobre o Desenvolvimento Económico e<br />

as Condições de Vida em Moçambique,’ Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação, 2009.<br />

192


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

menor percentagem de partos assistidos por<br />

um agente qualificado foram Manica (33 por<br />

cento) e Zambézia (38 por cento). 46<br />

HIV e SIDA<br />

A prevalência de HIV apresenta também<br />

fortes disparidades geográficas, com as<br />

maiores taxas registadas nas províncias<br />

do sul de Gaza e Maputo (25,1 e 19,8 por<br />

cento, respectivamente) e as menores<br />

nas províncias de Niassa, Nampula e<br />

Cabo Delgado (3,7; 4,6 e 9,4 por cento,<br />

respectivamente) (ver Figura 6.6).<br />

São grandes as disparidades geográficas na<br />

percentagem de mulheres que receberam<br />

aconselhamento sobre o HIV integrado na<br />

sua consulta pré-natal, variando de apenas<br />

28 por cento na Zambézia a 94 por cento<br />

na Cidade de Maputo. A percentagem<br />

de mulheres com teste de HIV em 2008<br />

também variou consideravelmente entre as<br />

províncias, com apenas 19 por cento das<br />

Figura 6.5: Despesa per capita na saúde (2008) e sobrevivência da criança (1998-2008)<br />

Child survival rate (10 year average)<br />

920<br />

900<br />

880<br />

860<br />

840<br />

820<br />

800<br />

780<br />

760<br />

740<br />

Niassa<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Gaza<br />

Maputo<br />

Província<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

180<br />

160<br />

140<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

Despesa per capita (Mzn)<br />

Taxa de sobrevivência infantil<br />

Despesa de saúde per capita<br />

Fonte: Sal e Caldeira e Ximango Consultores, ‘Análise do Impacto da Estrutura das Despesas sobre o Desenvolvimento<br />

Económico e as Condições de Vida em Moçambique,’ Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação, 2009 e MICS 2008.<br />

Figura 6.6: Prevalência de HIV por província, 2009<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

3% 4% 6% 3%<br />

Niassa<br />

8% 6%<br />

10% 9% 10%<br />

6%<br />

15%<br />

9%<br />

16% 15%<br />

18%<br />

13%<br />

Nampula<br />

Tete Cabo Inhambane<br />

Zambezia<br />

Manica Sofala<br />

Delgado<br />

20%20% 21% 12%<br />

Maputo<br />

Província<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

30%<br />

17%<br />

Gaza<br />

Mulheres15-49 <strong>Home</strong>ns 15-49<br />

Fonte: Instituto Nacional de Estatística, Ministério da Saúde, ‘Inquérito Nacional de Prevalência. Riscos Comportamentais e<br />

Informação sobre o HIV e SIDA em Moçambique (INSIDA), Relatório Preliminar sobre a Prevalência da Infecção por HIV, 2009.<br />

193


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

Figura 6.7: Percentagem de mulheres que receberam informação sobre o HIV e fizeram teste em consultas de<br />

cuidados pré-natais, 2008<br />

100%<br />

80%<br />

73% 68% 85% 74% 69%<br />

79%<br />

72% 91% 86% 96% 97% 59%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

60%<br />

29%<br />

49%<br />

34%<br />

52%<br />

31% 28%<br />

19%<br />

52%<br />

39%<br />

61%<br />

47%<br />

0%<br />

Niassa<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Gaza<br />

Maputo Maputo<br />

Província Cidade<br />

Total<br />

Receberam informação sobre a prevenção do HIV em consulta pré-natal<br />

Fizeram teste de HIV em consulta pré-natal<br />

Fonte: Instituto Nacional de Estatística. ‘Inquérito de Indicadores Múltiplos 2008. Sumário’, Maputo, Moçambique, 2008.<br />

mulheres grávidas testadas na Zambézia,<br />

em comparação com 95 por cento na Cidade<br />

de Maputo. Quarenta e três por cento das<br />

mulheres receberam os seus resultados. 47<br />

Em 2006, 68 por cento do total de crianças<br />

que receberam tratamento para a SIDA viviam<br />

nas quatro províncias do sul do país, e 55<br />

por cento na Cidade de Maputo. Em 2008, as<br />

províncias do sul foram responsáveis por 56<br />

por cento de todas as crianças que receberam<br />

medicamentos anti-retrovirais, e a Cidade<br />

de Maputo por 33 por cento. A distribuição<br />

geográfica das crianças com acesso ao<br />

tratamento ainda é bastante desigual: na<br />

região sul do país, cerca de metade das que<br />

necessitam de tratamento anti-retroviral<br />

conseguem ter-lhe acesso, enquanto nas<br />

regiões centro e norte é muito maior a<br />

percentagem de necessidades não satisfeitas.<br />

3.3. Disparidades no acesso à<br />

educação<br />

Uma análise da despesa de educação per<br />

capita revela uma situação semelhante à da<br />

despesa de saúde. As províncias da Zambézia<br />

e Nampula recebem a mais baixa dotação<br />

de fundos (ver Figura 6.8). Uma vez mais<br />

as províncias do centro e do norte recebem<br />

uma dotação substancialmente menor que<br />

as províncias do sul. 48<br />

As províncias do centro e do norte recebem<br />

mais baixa dotação orçamental e têm<br />

mais baixos resultados na educação do<br />

que as províncias do sul. Os resultados<br />

educacionais em termos de alfabetização<br />

estão intimamente relacionados com as<br />

despesas per capita da educação (ver Figura<br />

6.9). As taxas de alfabetização das mulheres<br />

variam consideravelmente por província, de<br />

84 por cento na Cidade de Maputo a menos<br />

de 50 por cento em Cabo Delgado, Zambézia<br />

e Nampula. Às três últimas províncias cabem<br />

também os mais baixos níveis de despesa<br />

com a educação.<br />

Embora o rácio bruto de escolarização ii de<br />

2008 para a primeira fase do ensino primário<br />

(EP1) tenha ultrapassado os 100 por cento<br />

independentemente da região, província<br />

ou género, a taxa bruta de escolarização<br />

na segunda fase do ensino primário (EP2)<br />

revela fortes disparidades geográficas. Na<br />

ii O rácio bruto de escolarização é a percentagem de crianças de qualquer idade a frequentar a última classe de<br />

determinado nível de educação. Um rácio superior a 100 por cento indica crianças ‘acima da idade’.<br />

194


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

Figura 6.8: Despesa per capita na educação, percentagem da média nacional, 2008<br />

180%<br />

160%<br />

140%<br />

120%<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

0%<br />

Niassa<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambezia<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Gaza<br />

Maputo<br />

Province<br />

Maputo<br />

City<br />

Fonte: Sal e Caldeira e Ximango Consultores, ‘Análise do Impacto da Estrutura das Despesas sobre o Desenvolvimento Económico e<br />

as Condições de Vida em Moçambique,’ Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação, 2009 e MICS 2008.<br />

Figura 6.9: Despesa per capita na Educação e taxas de alfabetização, 2008<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Fonte: Sal e Caldeira e Ximango Consultores, ‘Análise do Impacto da Estrutura das Despesas sobre o Desenvolvimento Económico e<br />

as Condições de Vida em Moçambique,’ Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação, 2009 e MICS 2008.<br />

Cidade de Maputo e na província de Maputo,<br />

que registaram os mais elevados níveis de<br />

matrículas, o rácio bruto de escolarização<br />

das raparigas no EP2 excedeu o dos rapazes.<br />

Outras províncias registaram rácios brutos<br />

de escolarização inferiores a 100 por cento<br />

no EP2, sendo, na maioria delas, o das<br />

meninas inferiores aos dos rapazes. A nível<br />

regional, as províncias com mais baixos<br />

rácios brutos de escolarização no EP2 e as<br />

maiores diferenças de género foram as das<br />

regiões norte e centro do país.<br />

195


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

Figura 6.10: Rácio líquido de escolarização no ensino primário (EP1 & EP2) por província, 2008<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

Diferenças regionais semelhantes são<br />

observadas nos rácios de escolarização.<br />

Embora o rácio líquido de escolarização<br />

para o EP1 seja superior a 80 por cento em<br />

cada província, há diferenças provinciais<br />

significativas a nível do EP2. A Cidade de<br />

Maputo é a área com melhor desempenho,<br />

com 43 por cento de escolarização líquida no<br />

EP2 nos rapazes e 57 por cento nas raparigas.<br />

Cabo Delgado, Nampula, Niassa e Zambézia<br />

estão entre as províncias com os piores<br />

desempenhos, tendo cada uma delas um rácio<br />

de escolarização líquida inferior a 15 por cento.<br />

3.4. Disparidades na protecção<br />

da criança<br />

Há grandes disparidades geográficas no<br />

registo de nascimento. Também aqui<br />

as províncias do centro e do norte se<br />

encontram em muito pior situação do que<br />

o sul. Trinta e nove por cento das crianças<br />

menores de cinco anos tiveram seus<br />

nascimentos registados em áreas urbanas,<br />

em comparação com 28 por cento nas zonas<br />

rurais. E 47 por cento das crianças menores<br />

de cinco anos estão registadas na Cidade de<br />

Figura 6.11: Percentagem de mulheres com 15-49 anos casadas ou em união antes completarem os 15 anos, 2008<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

24%<br />

30%<br />

21% 22%<br />

19%<br />

21%<br />

19%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

Niassa<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

9% 9%<br />

Gaza<br />

6%<br />

Maputo<br />

Província<br />

4%<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

Fonte: MICS 2008<br />

196


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

Maputo, enquanto apenas 11 por cento estão<br />

registadas em Tete. 49<br />

Também existem disparidades regionais nas<br />

atitudes para com a violência doméstica.<br />

Por exemplo, a percentagem de mulheres<br />

que consideram que bater na esposa se<br />

justifica em determinadas circunstâncias<br />

varia de 10 por cento na Cidade de Maputo<br />

a quase 70 por cento em Niassa. 50 Um<br />

estudo do Ministério da Mulher e Acção<br />

Social concluiu que essas diferenças estão<br />

fortemente relacionadas com as normas<br />

e práticas socioculturais, bem como com<br />

a falta de escolarização e conhecimento<br />

sobre os direitos das mulheres e crianças na<br />

sociedade. 51 A educação é um factor-chave<br />

na redução da violência contra a criança e a<br />

mulher.<br />

Os dados do MICS 2008 mostram haver<br />

uma diferença significativa nas taxas de<br />

casamento infantil entre o sul, o centro<br />

e o norte de Moçambique. As províncias<br />

do sul – Cidade de Maputo, província de<br />

Maputo, Gaza e Inhambane – têm uma taxa<br />

de casamentos infantis inferior a 10 por<br />

cento. As províncias do centro têm uma taxa<br />

média de 20 por cento, enquanto as duas<br />

províncias mais a norte – Niassa e Cabo<br />

Delgado – têm taxas de 24 e 30 por cento,<br />

respectivamente.<br />

3.5. Conclusões<br />

São evidentes e persistentes as disparidades<br />

provinciais em quase todos os indicadores<br />

de acesso e desempenho dos serviços<br />

sociais básicos. O padrão geral é, para as<br />

províncias do centro e do norte baixas<br />

dotações orçamentais, reduzido acesso<br />

a serviços e mais baixos resultados,<br />

comparativamente às províncias do sul. A<br />

província da Zambézia é frequentemente<br />

a que se encontra em piores condições na<br />

alocação de recursos e nos resultados de<br />

desenvolvimento. Este padrão geral invertese<br />

em relação à prevalência do HIV, com<br />

197


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

as províncias do sul reportando mais altos<br />

níveis de infecção, mas, em contrapartida,<br />

beneficiando também de maior acesso a<br />

serviços de prevenção e tratamento.<br />

Estas disparidades geográficas observadas<br />

em Moçambique provêm de padrões<br />

de assentamento e colonização iniciais<br />

que resultaram em diferenças culturais,<br />

religiosas e linguísticas entre as províncias;<br />

da natureza centralizada e deliberadamente<br />

discriminatória da administração<br />

portuguesa durante o período colonial;<br />

e da falta de um sistema de alocação<br />

de recursos do Estado às províncias<br />

baseado em critérios relacionados com<br />

a situação do desenvolvimento humano.<br />

Além disso, a falta de infra-estruturas<br />

rodoviárias e ferroviárias, incluindo a<br />

ausência (até recentemente) de uma ponte<br />

sobre o rio Zambeze, bem como fraco<br />

acesso aos mercados das zonas rurais em<br />

muitas partes da região centro e norte de<br />

Moçambique também contribuíram para as<br />

diferenças socioeconómicas provinciais no<br />

desenvolvimento económico.<br />

198


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

4. HIV e SIDA<br />

A vulnerabilidade de um país aos efeitos<br />

de doenças infecciosas, incluindo HIV e a<br />

SIDA, depende em grande medida do nível<br />

de desenvolvimento humano alcançado<br />

pelo país. Os indivíduos e a sociedade<br />

como um todo estão mais capazes de se<br />

proteger contra o impacto das doenças<br />

nos países desenvolvidos, o que se explica<br />

pelos limitados recursos financeiros a<br />

nível nacional e familiar nos países em<br />

desenvolvimento, bem como pelo reduzido<br />

capital humano de que dispõem devido<br />

à falta de oportunidades de educação e<br />

falta de acesso a outros serviços sociais<br />

básicos. Nos países em desenvolvimento, as<br />

doenças endémicas afectam negativamente<br />

o desenvolvimento e impedem a realização<br />

dos direitos humanos, como se pode ver em<br />

indicadores básicos como esperança de vida<br />

ao nascer, mortalidade infantil, frequência<br />

escolar, alfabetização e rendimento familiar,<br />

entre outros. 52<br />

É ao nível da família e da comunidade que<br />

mais se fará sentir o impacto da pandemia<br />

da SIDA. Doença e morte nos principais<br />

provedores num agregado familiar terão<br />

um impacto negativo sobre toda a família,<br />

acabando por elevar o nível de dependência<br />

de toda a população, pois outros agregados<br />

familiares, incluindo os chefiados por<br />

pessoas idosas que são, elas próprias,<br />

dependentes, assumirão a responsabilidade<br />

de cuidar do crescente número de crianças<br />

órfãs e vulneráveis. Através dos seus efeitos<br />

sobre o número de professores formados,<br />

profissionais de saúde e outros provedores,<br />

a SIDA afecta também os mecanismos<br />

de geração de capital humano futuro.<br />

Prevêem-se graves implicações estruturais<br />

da mortalidade relacionada com o HIV nos<br />

serviços públicos. A mortalidade e longos<br />

períodos de doença nos funcionários<br />

reduzirão a produtividade, aumentarão o<br />

absenteísmo e obrigarão as autoridades<br />

competentes a substituir pessoal perdido ou<br />

a operar com menos funcionários.<br />

A Comissão para o HIV/SIDA e Governação<br />

em África reconhece três generalizações<br />

sobre o impacto da SIDA nas famílias e nos<br />

agregados familiares: 53<br />

• A presença da SIDA numa casa traduzse<br />

rapidamente em esgotamento da<br />

capacidade de geração de rendimento<br />

do agregado familiar e das poupanças<br />

e bens da família. Muitas famílias<br />

passam rapidamente para uma situação<br />

de pobreza: muito baixo rendimento<br />

ou posse material, dívida, redução do<br />

acesso a serviços, e ainda menos opções<br />

para conseguir alcançar segurança<br />

socioeconómica. As mulheres e as<br />

meninas tendem a ser as mais afectadas;<br />

• A SIDA agrava e é agravada por<br />

condições económicas. Não é, por si só,<br />

uma condição, mas existe num contexto<br />

socioeconómico que torna mais profunda<br />

a vulnerabilidade das famílias, das<br />

comunidades e das nações;<br />

• Os custos económicos da SIDA, o<br />

estigma em torno da doença, que leva<br />

a discriminação e afastamento, bem<br />

como a impossibilidade de acesso a<br />

serviços sociais combinam-se, ampliando<br />

as desigualdades socioeconómicas na<br />

sociedade. A SIDA não está apenas a<br />

matar pessoas, está também a dividir as<br />

sociedades nacionais.<br />

4.1. Perfil da epidemia do HIV<br />

em Moçambique<br />

De acordo com estimativas e projecções<br />

baseadas nos resultados de 2007, mais de<br />

1,7 milhões de moçambicanos viviam com<br />

HIV em 2010, cinquenta e cinco por cento<br />

dos quais eram mulheres, nove por cento<br />

(quase 150.000) eram crianças menores de<br />

15 anos, e cinco por cento eram crianças<br />

com menos de cinco anos. 54 O Governo de<br />

Moçambique deverá divulgar no último<br />

199


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

trimestre de 2010 estimativas populacionais<br />

actualizadas baseadas em dados de<br />

prevalência do Inquérito Nacional Serocomportamental<br />

do HIV/SIDA realizado em<br />

2009.<br />

A evolução da epidemia em Moçambique<br />

tem sido moldada por vários factores.<br />

Na sua fase incipiente, assumiu-se que<br />

a prevalência era menor que nos países<br />

vizinhos (embora houvesse escassez de<br />

dados na época) pelo facto de o conflito<br />

civil que teve lugar de 1975 a 1992 ter<br />

mantido Moçambique um pouco isolado<br />

dos seus vizinhos. A cessação da violência<br />

e a assinatura de um Acordo de Paz em<br />

1992 foram acompanhados por movimentos<br />

populacionais em massa, pois as pessoas<br />

regressavam de outras partes do país ou<br />

dos países vizinhos às casas de origem,<br />

aumentando a vulnerabilidade à infecção<br />

e as oportunidades de transmissão do<br />

vírus. Devido à sua localização geográfica,<br />

Moçambique é um importante eixo de<br />

transporte de mercadorias para os portos de<br />

Maputo, Beira e Nacala e em trânsito para<br />

países vizinhos sem saída para o mar.<br />

A fraca cobertura dos serviços sociais<br />

básicos, especialmente de saúde e<br />

educação, contribuiu para a propagação da<br />

epidemia no período imediatamente após<br />

a cessação das hostilidades. A pobreza, a<br />

discriminação, a opressão, o analfabetismo,<br />

a mobilidade, ou a migração de pessoas,<br />

o estatuto das mulheres, os níveis de<br />

urbanização, os níveis de violência, o acesso<br />

a cuidados de saúde, e a distribuição da<br />

riqueza, entre outros, todos estes factores<br />

podem ter contribuído para a propagação<br />

da epidemia em Moçambique. Diversos<br />

estudos não encontraram nenhuma ligação<br />

clara entre a infecção pelo HIV e a riqueza. A<br />

pobreza pode mesmo reduzir a propagação<br />

da epidemia, por exemplo se as pessoas<br />

têm menos dinheiro para gastar em<br />

relacionamentos transacionais. O Inquérito<br />

Nacional sobre o HIV de 2009 mostrou que<br />

a prevalência do HIV em Moçambique é<br />

maior entre a população, em especial entre<br />

as mulheres, do quintil mais elevado. As<br />

mulheres, especialmente as que vivem em<br />

áreas rurais, são especialmente vulneráveis<br />

por estarem legal, cultural e socialmente<br />

em desvantagem em relação aos homens.<br />

Muitas mulheres estiveram expostas ao risco<br />

de violência sexual ou estupro ou outras<br />

formas de violência. 55<br />

As relações heterossexuais continuam a ser<br />

a forma mais comum de transmissão do<br />

HIV no país. Estima-se que cerca de 90 por<br />

cento das infecções pelo HIV ocorram por<br />

esta via. Sexo entre pessoas de diferentes<br />

gerações, actividade sexual casual sem<br />

protecção, falta de circuncisão masculina,<br />

múltiplos parceiros sexuais em simultâneo<br />

e baixo uso de preservativos são hipóteses<br />

que se colocam de situações que favorecem<br />

a propagação da epidemia. 56 Estima-se, no<br />

entanto, que uma substancial percentagem<br />

(47 por cento) de novas infecções se<br />

dêem em indivíduos que relatam estar em<br />

relacionamento monogâmico. 57<br />

Estima-se que em Moçambique tenham<br />

morrido 96.000 pessoas com SIDA em<br />

2009. A SIDA está a tornar-se rapidamente<br />

uma das principais causas de morte nas<br />

crianças, calculando-se que em 2009 tenham<br />

morrido 18.000 crianças menores de cinco<br />

anos e 21 mil menores de 15 anos. 58 Dados<br />

do Estudo Nacional sobre a Mortalidade<br />

Infantil 2009 indicam que a SIDA era uma<br />

das quatro condições que mais contribuíam<br />

para a mortalidade de crianças menores de<br />

cinco anos em Moçambique, representando<br />

quase 10 por cento de todas as mortes nesse<br />

grupo. 59<br />

A SIDA é uma causa comum de morte de<br />

crianças menores de cinco anos nas áreas<br />

urbanas. 60 Estima-se que 18 por cento das<br />

mortes de crianças em Maputo e 16 por<br />

cento das mortes de crianças na província<br />

de Gaza se devam à SIDA. Estes números<br />

podem estar subestimados, já que a SIDA,<br />

em muitas situações, pode ser a causa<br />

básica de morte em casos em que outras<br />

infecções oportunistas foram registadas<br />

como causa directa de morte.<br />

O Inquérito Nacional sobre o HIV/SIDA 2009<br />

(INSIDA) revela uma prevalência nacional<br />

200


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

Figura 6.12: Distribuição de novas infecções por modo de exposição em Moçambique, 2008<br />

Um parceiro sexual 47,3%<br />

Relacionadas com<br />

comportamentos de<br />

múltiplos parceiros 24%<br />

Parceiros de<br />

pessoas<br />

com MP 18%<br />

Múltiplos parceiros<br />

(MPs) 6%<br />

Mulheres parceiras<br />

de homens que fazem<br />

sexo com homens 0,1%<br />

<strong>Home</strong>ns que<br />

fazem sexo<br />

com homens 5,1%<br />

Clientes 7%<br />

Parceiros de clientes 10%<br />

Injecções Médicas 1,7%<br />

Transfusões de sangue 0,1%<br />

Uso de drogas injectáveis (UDI) 3%<br />

Trabalhadores<br />

de sexo 2%<br />

Parceiros UDI 0,3%<br />

Relacionadas com<br />

trabalho de sexo<br />

19%<br />

Fonte: Joint United Nations Programme on HIV and SIDA, <strong>Mozambique</strong> Modes of HIV Transmission and HIV Prevention Study,<br />

UNAIDS, Geneva, 2009..<br />

de HIV de 11,5 por cento entre os 15 e os 49<br />

anos de idade. A prevalência desagregada<br />

por região confirmou a situação emergente<br />

na vigilância sentinela anterior, com maior<br />

prevalência no sul (17,8 por cento), seguida<br />

pelo centro (12,5 por cento). A região Norte<br />

apresenta uma prevalência muito mais<br />

baixa (5,6 por cento). A prevalência urbana<br />

de HIV, que se situa em 15,9 por cento, é<br />

significativamente superior à prevalência<br />

nas áreas rurais (9,2 por cento), em todas as<br />

regiões. 61<br />

O INSIDA revela também que a prevalência<br />

do HIV tanto na população masculina como<br />

na feminina aumenta com a idade, atingindo<br />

o pico nas mulheres de 25-29 anos (16,8<br />

por cento) e, nos homens, aos 35-39 anos<br />

de idade (14,2 por cento). Acresce que as<br />

raparigas têm uma prevalência três vezes<br />

superior à dos rapazes da mesma idade (11,1<br />

por cento nas raparigas com 15-25 anos de<br />

idade, contra 3,7 por cento nos rapazes da<br />

mesma idade). Esses resultados destacam<br />

a maior vulnerabilidade dos adolescentes e<br />

jovens ao HIV em Moçambique.<br />

Presentemente só é possível analisarem-se<br />

as tendências pela observação da prevalência<br />

do HIV obtida na vigilância epidemiológica de<br />

2004 e 2007, uma vez que as informações do<br />

INSIDA seguem uma metodologia diferente,<br />

não sendo, portanto, comparáveis.<br />

A prevalência do HIV caiu acentuadamente<br />

nas jovens que frequentaram cuidados prénatais<br />

entre os inquéritos epidemiológicos<br />

de 2004 e 2007, mas tal tendência<br />

decrescente não se confirmou em 2009. 62 Em<br />

países com epidemias generalizadas onde<br />

a transmissão do HIV se faz principalmente<br />

através de relações heterossexuais, como<br />

acontece com Moçambique, as tendências<br />

na prevalência em jovens do sexo feminino<br />

de15-24 anos podem ser usadas para<br />

determinar as tendências de incidência<br />

201


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

(novas infecções). iii 63 A prevalência do HIV<br />

em frequentadores de cuidados pré-natais<br />

de 15-24 anos atingiu o pico em 2004, nos<br />

16 por cento, apresentando uma diminuição<br />

significativa em 2007 para 11 por cento. Em<br />

2009, no mesmo grupo, a prevalência foi<br />

estimada em 12 por cento. 64 A nível nacional,<br />

não se verificou redução significativa na<br />

prevalência do HIV no período de 2002-2009<br />

nas mulheres de 15-24 anos. Nesta faixa<br />

etária, a região Norte apresentou a menor<br />

taxa de prevalência do país. Em 2009, as<br />

áreas urbanas registaram mais elevadas<br />

taxas de prevalência na mesma faixa etária<br />

do que as áreas rurais. 65<br />

A prevalência reflecte tanto a incidência de<br />

uma doença (ou seja, o número de novos<br />

casos), como a longa e variável incubação<br />

do HIV. Com melhorias na provisão de<br />

terapia anti-retroviral, as pessoas infectadas<br />

com o HIV conseguem ter vidas mais longas,<br />

permanecendo mais saudáveis. As taxas<br />

de prevalência podem, portanto, aumentar,<br />

mesmo estando em queda as taxas de novas<br />

infecções. Com apenas uma medida de<br />

prevalência, é difícil determinar se o número<br />

de novos casos está a aumentar, a diminuir<br />

ou se atingiu um patamar e estabilizou.<br />

Torna-se, portanto, fundamental uma análise<br />

da incidência do HIV para responder a<br />

esta questão, sabendo-se, no entanto, que<br />

todos os métodos usados para determinar a<br />

incidência do HIV têm desvantagens. iv<br />

A análise Spectrum dos dados de vigilância<br />

de 2007 estimou que a incidência anual do<br />

HIV em adultos diminuiu de cerca de 2,2 por<br />

cento em 2000 para cerca de 1,6 por cento<br />

em 2008. Isso traduz-se em 129.000 novas<br />

infecções pelo HIV em adultos em 2008. A<br />

incidência anual estimada é de cerca de 2 por<br />

cento nas regiões centro e sul e muito mais<br />

baixa no norte, rondando os 0,7 por cento.<br />

Segundo estimativas, a incidência do HIV<br />

em crianças menores de 15 anos também<br />

tem vindo a diminuir, de cerca de 38.500<br />

novas infecções em 2005 para cerca de<br />

31.000 em 2009, equivalente a cerca de<br />

85 novas infecções por dia. Esta redução<br />

é principalmente atribuída à expansão da<br />

implantação do Programa de Prevenção<br />

da Transmissão Vertical (PTV) (prevenção<br />

de infecções em recém-nascidos) e do<br />

programa de terapia anti-retroviral (redução<br />

da infecciosidade de mulheres grávidas e a<br />

amamentar em tratamento anti-retroviral). O<br />

principal fardo de novas infecções ocorre na<br />

região centro, que em 2009 representou 60<br />

por cento do total nacional de novos casos.<br />

Tal facto é devido a alta prevalência do HIV,<br />

relativamente baixa cobertura de serviços de<br />

prevenção da transmissão vertical, grande<br />

população e elevada taxa de fertilidade. 66<br />

Como a epidemia do HIV está<br />

principalmente concentrada na parcela<br />

economicamente activa da população, ou<br />

seja, nos que têm entre 15 e 49 anos, os seus<br />

efeitos são desproporcionalmente sentidos<br />

pelos grupos de idade que desempenham<br />

um papel fundamental no desenvolvimento<br />

da economia e dos sectores sociais do país.<br />

Um estudo de simulação realizado em 2002<br />

e baseado em dois cenários (um com SIDA,<br />

outro sem SIDA) concluiu que o HIV e a SIDA<br />

poderiam ter um amplo impacto económico<br />

em Moçambique, com uma visível redução<br />

no crescimento do PIB per capita. 67<br />

De acordo com projecções para o período<br />

2000-2010, a epidemia de HIV resultará<br />

numa perda de cerca de 17 por cento dos<br />

iii Como a maioria dos jovens nesse grupo de idades terão dado início à sua actividade sexual, mudanças na prevalência<br />

nesta faixa etária podem representar mudanças no número de infecções recentes.<br />

iv Obtêm-se dados de incidência reais através de estudos de coorte em grande escala. Embora os dados de incidência<br />

sejam melhores do que os dados de prevalência para monitoria da epidemia de HIV, esses estudos apresentam<br />

desvantagens, entre as quais o custo, considerações éticas, desvios de participação e/ou de selecção e o facto de os<br />

incluídos num coorte virem a ter, inevitavelmente, maior exposição às intervenções no âmbito do HIV. Outros métodos<br />

são também utilizados para estimar a incidência, nomeadamente: estimativas indirectas de incidência de HIV, métodos<br />

laboratoriais e modelação matemática da incidência do HIV.<br />

202


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

Figura 6.13: Incidência e prevalência de HIV estimada por região em Moçambique, 1998–2010<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Fonte: CNCS, UNAIDS e GAMET, ‘Draft <strong>Mozambique</strong> Analysis of Modes of HIV Transmission and National Response to HIV and SIDA,’<br />

Maputo, 2009.<br />

funcionários do sector de educação. É<br />

possível que a SIDA leve consigo cerca<br />

de 9.200 professores, de todos os níveis.<br />

Por cada trabalhador perdido no sector<br />

da educação, serão perdidos cerca de 18<br />

meses de tempo de trabalho produtivo. 68 A<br />

epidemia do HIV também tem consequências<br />

negativas para outros sectores dada a<br />

necessidade de se substituir e renovar força<br />

de trabalho qualificada.<br />

O sistema de saúde enfrenta dificuldades<br />

na resposta à crescente demanda dos seus<br />

serviços, agravada pelo efeito da epidemia<br />

do HIV nos seus trabalhadores. O HIV/SIDA<br />

fará provavelmente piorar os já precários<br />

rácios trabalhador de saúde por paciente<br />

e médico por paciente em Moçambique. O<br />

elevado número de pacientes em hospitais<br />

e unidades de saúde requerendo tratamento<br />

relativamente caro para a SIDA e infecções<br />

relacionadas representará também uma<br />

considerável factura para o sector da saúde.<br />

4.2. Acções prioritárias em prol<br />

das crianças no âmbito do<br />

HIV e da SIDA<br />

Moçambique adoptou a Declaração de<br />

Compromisso da Sessão Especial das<br />

Nações Unidas para o HIV e a SIDA de<br />

2001, que inclui acções prioritárias relativas<br />

a crianças e SIDA, depois designadas na<br />

campanha Juntos pelas Crianças, Juntos<br />

contra a SIDA de Quatro Ps: 69<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

P1 – Prevenção primária<br />

P2 – Prevenção da transmissão vertical<br />

(PTV)<br />

P3 – SIDA pediátrico (Paedriatic AIDS)<br />

P4 – Protecção de crianças órfãs e<br />

vulneráveis (COV)<br />

Abordam-se nesta secção cada um dos<br />

quatro Ps.<br />

203


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

4.3. P1 – Prevenção primária<br />

Os dados do MICS 2008 mostram uma<br />

tendência global positiva em conhecimento<br />

e consciência da transmissão e prevenção<br />

do HIV, em comparação com dados<br />

anteriores a partir do Inquérito Demográfico<br />

e de Saúde 2003. Melhor conhecimento,<br />

consciência e adopção de práticas seguras<br />

estão correlacionados com viver em área<br />

urbana, ter níveis de ensino mais elevados<br />

e pertencer a um mais elevado quintil de<br />

riqueza. Por exemplo, os dados demonstram<br />

uma melhoria no conhecimento que as<br />

mulheres têm sobre a SIDA e como o HIV<br />

é transmitido. Oitenta e um por cento das<br />

mulheres conhecem pelo menos uma das<br />

três principais formas de prevenção da<br />

infecção pelo HIV, e 13 por cento conhecem<br />

as três principais formas. Embora esse<br />

conhecimento seja geralmente baixo, é<br />

maior entre as mulheres que vivem em áreas<br />

urbanas (17 por cento) do que entre as que<br />

vivem em áreas rurais (10 por cento). Quase<br />

65 por cento das mulheres de 15-49 anos<br />

sabe que o uso do preservativo é uma forma<br />

de evitar a infecção pelo vírus. 70<br />

A percentagem de mulheres de 15-49<br />

anos que não aceitam as três principais<br />

concepções erróneas sobre o HIV e a SIDA<br />

tem crescido nos últimos anos. Quase três<br />

em cada quatro mulheres de 15-49 anos<br />

(72 por cento) sabe que o HIV não pode ser<br />

transmitido através de partilha de alimentos<br />

e que uma pessoa que pareça saudável pode<br />

estar infectada com o vírus, enquanto em<br />

2003 os números eram de 63 por cento e 45<br />

por cento, respectivamente. Da mesma forma,<br />

a percentagem de mulheres que sabem que<br />

o HIV não pode ser transmitido por picada de<br />

mosquito aumentou de 37 por cento em 2003<br />

para 64 por cento em 2008. 71<br />

Embora o conhecimento geral sobre o<br />

HIV e seus modos de transmissão tenha<br />

registado uma evolução positiva nos<br />

últimos cinco anos, muita margem ainda<br />

há para melhorias na prevenção real. Mais<br />

conhecimento não é prova de mudança de<br />

atitudes e comportamentos. Um exemplo<br />

é a discrepância entre saber onde se pode<br />

fazer um teste de HIV, 77 por cento das<br />

mulheres entrevistadas, e ter um teste de<br />

HIV, 31 por cento do mesmo grupo (ver<br />

Figura 6.14). As diferenças geográficas entre<br />

o conhecimento da disponibilidade de testes<br />

e a testagem real podem estar relacionadas<br />

com a disponibilidade de serviços de<br />

aconselhamento e testagem em todo o país,<br />

com maior disponibilidade no sul, seguido<br />

pelas regiões centro e norte. 72<br />

Figura 6.14: Identificação de concepções erróneas sobre o HIV, mulheres de 15-49 anos, 2008<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

47%<br />

1997<br />

72%<br />

72%<br />

63%<br />

64%<br />

45%<br />

37%<br />

2003 2008<br />

Uma pessoa aparentemente saudável não pode ter HIV<br />

O HIV não pode ser transmitido por partilha de comida<br />

O HIV não pode ser transmitido por picada de mosquito<br />

Fonte: IDS 1997 e 2003, MICS 2008.<br />

204


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

As mulheres em Moçambique tendem<br />

começar a ter relações sexuais numa idade<br />

relativamente precoce. A nível global, 29 por<br />

cento das mulheres de 15-19 anos teve a sua<br />

primeira relação sexual antes de completar<br />

os 15 anos, e 77 por cento das de 20-24 anos<br />

tiveram a primeira relação sexual antes de<br />

atingir os 18. A percentagem de mulheres<br />

entre os 15 e os 19 anos que referiram ter<br />

começado a ter relações sexuais antes dos<br />

15 anos é maior nas zonas rurais, situando-se<br />

em 32 por cento, do que nas áreas urbanas<br />

(24 por cento). Cerca de 16 por cento das<br />

mulheres sexualmente activas relataram ter<br />

tido relações sexuais com um homem 10 ou<br />

mais anos mais velho que elas nos 12 meses<br />

anteriores à entrevista. Estudos na África<br />

Austral constataram sistematicamente que, a<br />

uma maior disparidade de idade corresponde<br />

uma menor probabilidade de sexo seguro. 73<br />

Portanto, as relações sexuais entre homens<br />

mais velhos e mulheres mais jovens são uma<br />

possível explicação das diferentes taxas de<br />

infecção em adolescentes do sexo masculino<br />

e do sexo feminino.<br />

O uso do preservativo continua a ser<br />

relativamente baixo em Moçambique,<br />

especialmente nas áreas rurais e em<br />

mulheres menos instruídas. Apenas 44<br />

por cento das mulheres de 15-24 anos que<br />

tiveram nos últimos 12 meses relações<br />

sexuais com um parceiro não regular ou com<br />

que não coabitam usaram preservativo na<br />

última relação sexual. A percentagem foi<br />

mais elevada nas mulheres do quintil mais<br />

abastado (64 por cento) que nas mulheres<br />

das famílias mais pobres (12 por cento).<br />

Foi efectuada uma análise multivariada<br />

de regressão probabilística (utilizando o<br />

modelo probit) para examinar os factores<br />

correlacionados com a exposição das<br />

mulheres a comportamento sexual de risco.<br />

A variável dependente foi se tinha sido<br />

usado preservativo na última relação sexual<br />

da mulher com um parceiro com que não<br />

coabitava, uma vez que tal se considera<br />

um bom representante (proxy) de atitudes<br />

em relação a comportamento sexual de<br />

risco. A razão básica é que as mulheres<br />

que têm relações sexuais protegidas com<br />

um parceiro com que não coabitam estão<br />

menos dispostas a expor-se ao HIV e outras<br />

doenças de transmissão sexual.<br />

As mulheres que têm o ensino secundário<br />

ou superior são menos propensas a<br />

expor-se a riscos; este grupo apresenta<br />

uma probabilidade quase 50 por cento<br />

inferior de comportamentos de risco que<br />

as mulheres sem instrução. Ter apenas<br />

o ensino primário não parecem estar<br />

correlacionado com atitudes das mulheres<br />

em relação a comportamento sexual de<br />

risco. Surpreendentemente, o modelo<br />

mostra que as mulheres com conhecimento<br />

Figura 6.15: Probabilidade de não uso de preservativo em relação sexual, mulheres de 15-24 anos, 2008<br />

Probabilidade de não uso de preservativo<br />

1<br />

-75<br />

-5<br />

15 17<br />

19 21 23 24<br />

age<br />

Poligâmica<br />

Monogâmica<br />

Fonte: Cálculos do <strong>UNICEF</strong> baseados no MICS 2008.<br />

205


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

correcto sobre a transmissão do HIV são<br />

tão propensas a ter relações sexuais<br />

desprotegidas como as mulheres que não<br />

estão cientes dos canais de transmissão<br />

do HIV. Outro resultado interessante é<br />

que a probabilidade de actividade de alto<br />

risco aumenta com a idade no que respeita<br />

a mulheres em relações monogâmicas,<br />

enquanto diminui para as mulheres em<br />

relações poligâmicas (ver Figura 6.15).<br />

Em termos de características do agregado<br />

familiar e do local, a riqueza parece ter uma<br />

relação positiva com o uso do preservativo,<br />

enquanto viver em áreas rurais está<br />

positivamente associado a alto risco de<br />

comportamento sexual.<br />

Curiosamente, estes indicadores<br />

comportamentais parecem não corresponder<br />

ao perfil de prevalência do HIV que<br />

recentemente se constatou a partir dos<br />

resultados preliminares do INSIDA:<br />

Tanto nos homens como nas mulheres,<br />

a prevalência foi maior no mais elevado<br />

quintil de riqueza, e maior entre os<br />

indivíduos com instrução do que entre os<br />

que não têm instrução. O relatório final do<br />

INSIDA trará certamente mais luz sobre as<br />

possíveis correlações entre as constatações<br />

comportamentais e a seroprevalência.<br />

4.4. P2 – Prevenção da<br />

transmissão vertical do HIV<br />

Em todo o mundo, 700.000 crianças menores<br />

de 15 anos são infectadas anualmente com<br />

o HIV, e mais de 90 por cento das infecções<br />

pediátricas por HIV resultam da transmissão<br />

do vírus da mãe para a criança. 74 Chegam<br />

a dois terços as infecções de crianças que<br />

se verificam durante o parto, o nascimento<br />

e a gestação, ocorrendo um terço durante<br />

o aleitamento. 75 Sem medidas preventivas,<br />

as taxas de transmissão são de15 a 40 por<br />

cento, mas, com tratamento anti-retroviral<br />

eficaz e cuidados, podem ser reduzidas até<br />

dois por cento, como se verifica nos países<br />

desenvolvidos. 76<br />

Em 2008, estimava-se que as intervenções<br />

de PTV em Moçambique tivessem evitado<br />

cerca de 5.820 novas infecções por HIV<br />

em crianças menores de 15 anos, o que<br />

se traduz numa redução de 15,6 por cento<br />

a nível nacional. 77 O programa de PTV foi<br />

introduzido em Moçambique em 2002. Desde<br />

a criação do programa nacional, o número de<br />

unidades de saúde que oferecem serviços de<br />

prevenção tem-se expandido rapidamente,<br />

de oito em 2002 para mais de 800 no final<br />

de 2009. v No início, a maioria dos serviços<br />

estavam concentrados e em torno das capitais<br />

provinciais, mas em 2009, as intervenções de<br />

prevenção estavam integradas em serviços<br />

de cuidados pré-natais em todos os distritos,<br />

incluindo várias unidades de saúde periféricas.<br />

A cobertura populacional da PTV e as<br />

intervenções de terapia anti-retroviral<br />

pediátrica foram revistas em 2010, com<br />

base em estimativas mais precisas da<br />

população a partir dos dados do INSIDA. 78<br />

As estimativas revistas indicam que<br />

estudos anteriores haviam sobrestimado<br />

a população de mulheres HIV positivas.<br />

Estima-se que a percentagem de mulheres<br />

seropositivas que estão a receber serviços<br />

de PTV (cobertura da população) tem,<br />

portanto, aumentado significativamente.<br />

Estimativas prévias 79 indicavam que cerca<br />

de 46 por cento das mulheres grávidas<br />

estavam a receber a profilaxia necessária<br />

para reduzir a transmissão vertical do HIV.<br />

Estimativas revistas indicam que 70 por<br />

cento das mulheres estão realmente a<br />

receber tratamento. 80 A Figura 6.16 mostra<br />

o número absoluto de mulheres grávidas<br />

que recebem tratamento de PTV e a<br />

percentagem de mulheres que recebem antiretrovirais<br />

para PTV com base em estimativas<br />

populacionais anteriores e mais recentes.<br />

Embora as estimativas de tratamento<br />

revistas sejam encorajadoras, é de notar<br />

que o tratamento se distribui de forma<br />

desigual. As mulheres grávidas no sul do<br />

país têm significativamente maior acesso ao<br />

tratamento que as suas congéneres do norte.<br />

v Dados do Relatório da UNGASS.<br />

206


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

Figura 6.16: Tendências na cobertura de PTV entre 2002 e 2009<br />

Número de mulheres grávidas seropositivas<br />

a receber profilaxia de PTV<br />

80.000<br />

70.000<br />

60.000<br />

50.000<br />

40.000<br />

30.000<br />

20.000<br />

10.000<br />

0<br />

253<br />

877<br />

3,182<br />

7,690<br />

8.9%<br />

12,150<br />

13.7%<br />

24,320<br />

26.4%<br />

16.0%<br />

46,848<br />

49.3%<br />

32.0%<br />

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />

68,248<br />

70.4%<br />

45.8%<br />

100%<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0<br />

Percentagem de necessidades de PTV satisfeitas<br />

Número de mulheres grávidas seropositivas a receber profilaxia de ARV<br />

Percentagem do total estimado de mulheres grávidas seropositivas que receberam PTV (novas estimativas)<br />

Percentagem de mulheres grávidas seropositivas a receber profilaxia de ARV (estimativa da UNGASS)<br />

Fonte: Ministry of Health, Annual Report, National Laboratory Services, Maputo, 2009.<br />

Políticas de PTV em Moçambique<br />

Em Novembro de 2006, o Ministério da<br />

Saúde emitiu uma directiva 81 introduzindo<br />

várias políticas-chave: testagem por<br />

iniciativa do provedor (testagem `opt-out’),<br />

oferecida tanto nos cuidados pré-natais<br />

como em locais de maternidade; amostras<br />

de sangue para contagem de células<br />

CD4 nas instalações de atendimento prénatal;<br />

testagem da reacção em cadeia da<br />

polimerase (RCP) do ADN para crianças<br />

expostas ao HIV com menos de 18 meses.<br />

Foi introduzido oficialmente o uso de terapia<br />

de combinação para profilaxia (dose única<br />

de nevirapina [NVP] durante o parto, mais<br />

zidovudina [AZT] a partir de 28 semanas), e<br />

o início do tratamento com nevirapina em<br />

mulheres grávidas foi antecipado das 36<br />

semanas para as 28 semanas. Foi reforçada<br />

a integração dos serviços de PTV nos<br />

serviços de saúde materno-infantil, visando<br />

aumentar a adesão à terapia anti-retroviral<br />

por mulheres grávidas. Foi recomendado<br />

que se restaurasse a prática de Consultas<br />

para Crianças em Risco para fortalecer o<br />

seguimento das crianças nascidas de mães<br />

seropositivas.<br />

A criação pelas unidades de saúde de grupos<br />

de apoio às mães também foi incluída nas<br />

directiva como um passo necessário para<br />

ajudar as mulheres grávidas e a amamentar<br />

a aderirem a intervenções de PTV e posterior<br />

acompanhamento dos seus filhos expostos<br />

ao HIV. As directrizes sobre os grupos de<br />

apoio às mães foram desenvolvidas na<br />

sequência de um mapeamento nacional<br />

desta intervenção em 2008. A versão final<br />

das directrizes aguarda aprovação.<br />

Recentes mudanças nas orientações<br />

globais para a prevenção da transmissão<br />

vertical requerem uma abordagem mais<br />

abrangente e mais agressiva. Estas<br />

alterações incluem: terapia anti-retroviral<br />

vitalícia para as mulheres seropositivas que<br />

necessitam de tratamento; antecipação do<br />

início de regimes de profilaxia eficazes; e<br />

manutenção desses regimes durante o pós-<br />

207


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

parto e o aleitamento. 82 No início de 2010,<br />

a política do Ministério da Saúde mudou<br />

para reflectir algumas das indicações<br />

internacionais revistas da OMS, incluindo<br />

o aumento dos níveis em que as mulheres<br />

grávidas com baixas contagens de CD4 são<br />

consideradas elegíveis para Terapia Antiretroviral<br />

Altamente Activa (HAART), 83 o<br />

início precoce da profilaxia para mulheres, e<br />

o prosseguimento de nevirapina pela criança<br />

até ao desmame do seio materno.<br />

O sucesso de um programa de PTV depende<br />

de uma complexa cascata de intervenções,<br />

integrada com os serviços de saúde<br />

materno-infantil, como adiante se descreve.<br />

Conhecimento da prevenção da<br />

transmissão vertical do HIV<br />

O nível de conhecimento sobre a<br />

transmissão vertical do HIV na população<br />

moçambicana tem vindo a aumentar. O<br />

Inquérito Demográfico e de Saúde revelou<br />

que apenas 44 por cento das mulheres e<br />

43 por cento dos homens de 15-49 anos<br />

sabia que o HIV podia ser transmitido de<br />

mãe para filho durante a gravidez, o parto<br />

e a amamentação. Os dados do MICS 2008<br />

revelam que nas mulheres da mesma faixa<br />

etária, esse conhecimento aumentou para<br />

78 por cento. Os níveis de conhecimento<br />

são mais elevados nas áreas urbanas (89<br />

por cento) do que nas rurais (72 por cento).<br />

Além disso, os dados mostram que 70 por<br />

cento das mulheres entrevistadas sabem<br />

que o vírus pode ser transmitido através da<br />

amamentação (em comparação com 50 por<br />

cento das mulheres em 2003). Apenas pouco<br />

mais de metade (55 por cento) das mulheres<br />

conhecem os três principais métodos de<br />

transmissão do HIV (MICS 2008).<br />

Aconselhamento e testagem como<br />

parte dos cuidados pré-natais<br />

Apesar de o aconselhamento sobre o<br />

HIV para mulheres grávidas durante as<br />

consultas pré-natais ter aumentado de 51<br />

por cento em 2003 para 57 por cento em<br />

2008, continua a ser baixo. As disparidades<br />

geográficas na percentagem de mulheres<br />

que receberam aconselhamento sobre o HIV<br />

como parte das suas consultas pré-natais<br />

são grandes, variando de 28 por cento na<br />

província da Zambézia (27 em 2003) para 94<br />

por cento na Cidade de Maputo (81 por cento<br />

em 2003). 84<br />

A percentagem de mulheres que foram<br />

testadas em termos de HIV como parte do<br />

seu atendimento pré-natal tem registado<br />

grande aumento. Em 2008, 46 por cento<br />

das mulheres grávidas de 15-49 anos<br />

Figura 6.17: Testagem e aconselhamento em consultas pré-natais, 2003 e 2008<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

51%<br />

57%<br />

46%<br />

0%<br />

Fonte: IDS 2003, MICS 2008.<br />

Receberam informação sobre a prevenção<br />

do HIV em consulta pré-natal*<br />

2003 2008<br />

3%<br />

Fizerem teste de HIV em consulta pré-natal<br />

208


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

foram submetidos a um teste de HIV no<br />

âmbito das suas consultas pré-natais, em<br />

comparação com apenas 3 por cento em<br />

2003. A percentagem de mulheres testadas<br />

em termos de HIV varia entre as diferentes<br />

províncias, com apenas 19 por cento<br />

testadas na província da Zambézia em 2008,<br />

em comparação com 95 por cento na Cidade<br />

de Maputo. 85 Quarenta e três por cento das<br />

mulheres receberam os seus resultados.<br />

Entre as mulheres grávidas que receberam<br />

aconselhamento em matéria de HIV, 82 por<br />

cento fizeram teste de HIV, de acordo com<br />

o MICS 2008, o que resulta provavelmente<br />

de testagem por iniciativa do provedor e de<br />

aconselhamento nos serviços de cuidados<br />

pré-natais, bem como da progressiva<br />

normalização da inclusão de um teste de HIV<br />

nos serviços pré-natais.<br />

O acesso a informação sobre o HIV e<br />

testagem nas consultas pré-natais está<br />

altamente correlacionado com a riqueza da<br />

mulher. Apenas 26 por cento das mulheres<br />

mais pobres foram testados em termos de<br />

HIV, em comparação com 86 por cento das<br />

mulheres mais abastadas (ver Figura 6.18).<br />

Profilaxia anti-retroviral para mulheres<br />

grávidas<br />

Para reduzir a transmissão vertical do vírus,<br />

bem como para o seu próprio tratamento,<br />

quando elegíveis, as mulheres seropositivas<br />

grávidas recebem medicamentos antiretrovirais<br />

para profilaxia. O acesso à terapia<br />

anti-retroviral tem vindo a aumentar desde<br />

o início do programa em 2002. A cobertura<br />

de profilaxia anti-retroviral para a população<br />

global de mulheres grávidas seropositivas<br />

(testadas e não testadas) foi de 0,2 por cento<br />

em 2002, aumentando para 30 por cento em<br />

2007, 32 por cento em 2008 e 45,8 por cento<br />

em 2009. 86 vi É importante referir que estes<br />

números se referem apenas à cobertura dos<br />

serviços prestados durante os cuidados prénatais,<br />

excluindo as mulheres que acedem<br />

a terapia anti-retroviral em maternidades.<br />

Esta abordagem foi adoptada pelo Ministério<br />

Figura 6.18: Testagem e aconselhamento de HIV em consultas pré-natais, por quintil de riqueza, 2008<br />

90%<br />

80%<br />

87%<br />

86%<br />

70%<br />

72%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

41%<br />

48%<br />

33%<br />

58%<br />

41%<br />

64%<br />

20%<br />

26%<br />

10%<br />

0%<br />

Mais baixo Segundo Médio Quarto Mais elevado<br />

Receberam informação sobre a prevenção<br />

do HIV em consulta pré-natal<br />

Fizeram o teste de HIV em consulta pré-natal<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

vi Note-se que a cobertura populacional da PTV e das intervenções anti-retrovirais pediátricas será revista, na última parte<br />

de 2010, com base em estimativas mais precisas da população no INSIDA<br />

209


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

da Saúde para evitar a dupla contagem de<br />

mulheres com acesso tanto a serviços prénatais<br />

como a maternidades, mas resulta em<br />

sub-notificação. Espera-se que, num futuro<br />

próximo, o novo Cartão de Cuidados Pré-<br />

Natais, em vias de finalização, torne mais<br />

clara a notificação e permita uma recolha<br />

de informações fiáveis sobre a cobertura da<br />

PTV.<br />

É fundamental que se dê prioridade ao<br />

acesso das mulheres grávidas a TARV. A<br />

HAART minimiza o risco de transmissão<br />

pós-natal em mães a amamentar com<br />

baixa contagem de CD4 e elevada carga<br />

viral, as quais enfrentam desafios na<br />

implementação das opções de alimentação<br />

infantil recomendadas. As mulheres com<br />

CD4 inferior a 200 células /microlitro (µL)<br />

têm cinco vezes mais probabilidade de<br />

transmitir o HIV durante o aleitamento do<br />

que as mulheres com CD4 acima de 500<br />

células /µL. 87 A HAART pode reduzir o risco<br />

de transmissão para aproximadamente<br />

dois por cento, em comparação com outras<br />

intervenções, como, por exemplo, dose única<br />

de nevirapina, que reduz o risco para 10-15<br />

por cento.<br />

Em 2009, de todas as mulheres grávidas<br />

que receberam intervenções de PTV, 48 por<br />

cento receberam dose única de nevirapina,<br />

40 por cento uma combinação de nevirapina<br />

e AZT (biterapia), e 11 por cento HAART para<br />

sua própria saúde. O número de mulheres<br />

seropositivas grávidas que receberam<br />

HAART para sua própria saúde foi de 53<br />

em 2003, aumentando para 3.647 em 2007,<br />

6.388 em 2008 e 7.791 em 2009 (equivalente<br />

a 5 por cento do total estimado de mulheres<br />

seropositivas grávidas no país).<br />

Embora se esteja a registar progresso, o<br />

número de mulheres grávidas que recebem<br />

anti-retrovirais para a sua própria saúde<br />

permanece abaixo das expectativas.<br />

A HAART em 2010 é oferecida apenas<br />

em serviços de saúde seleccionados,<br />

denominados postos de Tratamento Antiretroviral.<br />

Quer isto dizer que as mulheres<br />

grávidas, ao invés de poderem aceder a<br />

HAART como parte integrante dos serviços<br />

de PTV, são encaminhadas principalmente<br />

para postos de Tratamento Anti-retroviral,<br />

que podem localizar-se numa outra unidade<br />

sanitária. Isto interfere com o acesso,<br />

nomeadamente com a triagem para<br />

elegibilidade.<br />

Figura 6.19: Partos assistidos, 1997, 2003 e 2008<br />

100%<br />

56%<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

52%<br />

55%<br />

50%<br />

40%<br />

44%<br />

48%<br />

45%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

1997 2003 2008<br />

Parteiras tradicionais/outros/ninguém<br />

Pessoal qualificado<br />

Source: DHS 1997 and 2003, MICS 2008.<br />

210


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

Profilaxia anti-retroviral para bebés<br />

De acordo com as directrizes internacionais<br />

de PTV e o protocolo revisto da Terapia Anti-<br />

Retroviral para mulheres grávidas (opção<br />

A), 88 todas as crianças expostas nascidas<br />

de mães seropositivas devem receber<br />

profilaxia anti-retroviral com nevirapina<br />

no prazo de 72 horas após o parto, e<br />

prosseguir com nevirapina até que deixem<br />

de ser amamentadas. Dados do Ministério<br />

da Saúde revelam, porém, que apenas<br />

uma estimativa de 40-50 por cento das<br />

mulheres grávidas seropositivas dão à luz<br />

em unidades sanitárias em Moçambique. O<br />

facto de os partos institucionais constituírem<br />

apenas cerca de metade dos partos é um<br />

claro nó de estrangulamento na prestação<br />

de profilaxia anti-retroviral para recémnascidos<br />

nas primeiras 72 horas de vida.<br />

Apesar desta restrição, o número de crianças<br />

que receberam profilaxia anti-retroviral<br />

passou de 328 em 2002 para 41.266 em 2009,<br />

correspondendo a 58 por cento de todas<br />

as crianças que se estima terem nascido<br />

de mães seropositivas e 83 por cento das<br />

mulheres grávidas que receberam qualquer<br />

tipo de anti-retrovirais para PTV no mesmo<br />

período. O aumento pode ser atribuível,<br />

em parte, à crescente taxa de partos<br />

institucionais de mulheres seropositivas<br />

envolvidas em PTV, bem como ao facto de<br />

os recém-nascidos serem por vezes levados<br />

a serviços de maternidade até 72 horas após<br />

o nascimento para receber tratamento antiretroviral.<br />

Cobertura de Cotrimoxazole para<br />

crianças expostas ao HIV<br />

Directrizes internacionais recomendam<br />

a administração de profilaxia de<br />

Cotrimoxazole a crianças nascidas de<br />

mães seropositivas ou crianças a viver<br />

com HIV. 89 Esta é uma intervenção com<br />

boa relação custo-benefício que pode ser<br />

amplamente aplicada, mesmo em ambientes<br />

com parcos recursos. Directrizes nacionais<br />

indicam que, para as crianças expostas, a<br />

profilaxia deve começar às quatro semanas.<br />

Evidência anedótica de visitas de supervisão<br />

às unidades de saúde indica que essa<br />

intervenção é amplamente implementada no<br />

Figura 6.20: Cascata de PTV pré-natal e pós-natal, 2009<br />

1.000.000<br />

900.000<br />

800.000<br />

888.861<br />

700.000<br />

600.000<br />

649.820<br />

500.000<br />

400.000<br />

300.000<br />

200.000<br />

100.000<br />

150.000<br />

0<br />

Grávidas<br />

aconselhadas<br />

e testadas<br />

Grávidas<br />

frequentando<br />

cuidados<br />

pré-natais<br />

Estimativa<br />

de grávidas<br />

seropositivas<br />

70.289 68.248 41.266<br />

Seropositivas<br />

Grávidas<br />

a receber<br />

profilaxia ARV<br />

Crianças<br />

a receber<br />

profilaxia ARV<br />

Fonte: Ministry of Health, Annual Report, National Laboratory Services, Maputo, 2009.<br />

211


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

país, mas que ainda não estão disponíveis<br />

números fiáveis sobre a cobertura nacional.<br />

Uma significativa percentagem de mulheres<br />

abandona os serviços em cada fase de uma<br />

cascata de serviços pré-natais e pós-natais<br />

(ver Figura 6.20). Nem todas as mulheres<br />

grávidas que frequentam cuidados pré-natais<br />

receberam aconselhamento e testagem, e<br />

menos ainda receberam a profilaxia antiretroviral.<br />

Da mesma forma, apesar do<br />

crescente número de crianças expostas<br />

ao HIV que podem de aceder a profilaxia<br />

anti-retroviral, são relativamente poucas as<br />

que acabam por ter a sua seropositividade<br />

confirmada através de testes.<br />

Futuros planos e metas<br />

A redução da transmissão vertical do HIV há<br />

vários anos que tem sido uma importante<br />

prioridade do governo. O segundo plano<br />

nacional estratégico para combater o HIV/<br />

SIDA, que cobre 2005-2009, estabeleceu<br />

uma meta de cobertura da PTV de 90 por<br />

cento até ao ano de 2009, com base na meta<br />

do Ministério da Saúde de 60 por cento de<br />

cobertura até ao ano 2008. 90 Moçambique<br />

comprometeu-se também, para a meta de<br />

acesso universal, a alcançar pelo menos<br />

80 por cento das mulheres grávidas e seus<br />

bebés com as intervenções de PTV em 2010.<br />

As metas definidas em 2009 continuam<br />

abaixo do necessário para se atingir a meta<br />

do acesso universal, com a justificação de<br />

que o país não tem capacidade para atingir<br />

metas mais ambiciosas. As metas foram<br />

revistas em alta em Julho de 2010 dados os<br />

muito positivos progressos alcançados nos<br />

anos anteriores, nomeadamente em 2009<br />

(altura em que o país já tinha alcançado o<br />

que fora inicialmente planeado como meta<br />

para 2011). A meta revista do Ministério da<br />

Saúde visa atingir o valor de referência de<br />

90% de cobertura de serviços de PTV em<br />

mulheres grávidas seropositivas o mais<br />

tardar até ao ano 2015.<br />

4.5. P3 – SIDA Pediátrica<br />

Estima-se que houvesse cerca de 148.000<br />

crianças menores de 15 anos a viver com<br />

HIV em Moçambique em 2009, número que<br />

deverá aumentar para mais de 150.000 mil<br />

em 2010. 91 Mais de metade das crianças<br />

Figura 6.21: Número estimado de crianças com menos de 15 anos vivendo com HIV, menores de 5 vivendo com<br />

HIV, número de novas infecções em menores de 15, e número de crianças com menos de 15 anos a necessitar de<br />

tratamento/terapia anti-retroviral, 2006–2010<br />

180.000<br />

160.000<br />

140.000<br />

120.000<br />

100.000<br />

80.000<br />

60.000<br />

40.000<br />

20.000<br />

0<br />

2006<br />

2007<br />

2008 2009<br />

2010<br />


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

infectadas vivem nas quatro províncias<br />

do centro do país. Entre as infectadas,<br />

ligeiramente acima de metade têm menos de<br />

cinco anos. Estimativas mostram que, após<br />

um aumento inicial das novas infecções em<br />

crianças no período 2002-2005, o número<br />

de novas infecções, parece ter começado<br />

a diminuir depois de 2006 (possivelmente<br />

devido ao impacto do programa de PTV, bem<br />

como à progressão natural da epidemia),<br />

embora ainda permaneça extremamente<br />

elevado. Calcula-se que tenha havido<br />

mais de 30.941 novas infecções em 2009,<br />

representando cerca de 85 novas infecções<br />

por dia (ver Figura 6.21). 92<br />

É provável que mais de metade das<br />

crianças vivendo com HIV em Moçambique<br />

morram antes de completar o seu segundo<br />

aniversário, a menos que sejam tratadas<br />

de infecções oportunistas e comecem<br />

precocemente a terapia anti-retroviral. A<br />

SIDA começa a tornar-se uma das principais<br />

causas de mortalidade nas crianças,<br />

estimando-se que tenha provocado 19.000<br />

mortes de crianças em 2008. 93 O Estudo<br />

sobre a Mortalidade Infantil Nacional 2008<br />

estima em 10 por cento a percentagem de<br />

óbitos por SIDA em crianças menores de<br />

cinco anos. 94 A SIDA ameaça reverter os<br />

ganhos obtidos por Moçambique na redução<br />

da mortalidade infantil nos últimos anos,<br />

representando um dos maiores obstáculos à<br />

consecução da meta dos ODM de reduzir em<br />

dois terços a mortalidade infantil até 2015.<br />

As crianças infectadas pelo HIV por<br />

transmissão vertical por via da mãe,<br />

no parto ou durante a amamentação,<br />

necessitam de tratamento com antiretrovirais<br />

mais cedo do que os adultos<br />

infectados por contacto sexual. As<br />

directrizes pediátricas nacionais abordam<br />

esta questão pondo todas as crianças<br />

seropositivas (com menos de 12 meses)<br />

imediatamente em tratamento anti-retroviral.<br />

O Ministério da Saúde estima que em 2009<br />

eram 47.500 as crianças menores de 15 anos<br />

a necessitar de tratamento anti-retroviral,<br />

total que deveria aumentar para ligeiramente<br />

acima de 50 mil em 2010. 95<br />

O número de crianças menores de 15<br />

anos a receber tratamento no país subiu<br />

de menos de 500 em 2004 para 9.393 em<br />

2008 e para 13.510 em todo país no final de<br />

Dezembro de 2009. Este valor representa<br />

19 por cento das crianças consideradas<br />

elegíveis pelo Ministério da Saúde, com<br />

base na aplicação do modelo Spectrum<br />

actualizado. 96 Embora represente uma<br />

melhoria significativa partindo dos três por<br />

cento de cobertura registada em 2005, a<br />

cobertura de tratamento das crianças ainda<br />

está longe de ser satisfatória. Apesar do<br />

aumento do número absoluto de crianças<br />

em tratamento anti-retroviral, a cobertura<br />

revela uma tendência de redução devido ao<br />

maior número de crianças elegíveis como<br />

resultado da aplicação das orientações<br />

pediátricas re vistas acima referidas.<br />

De igual modo, rápido tem sido o aumento<br />

no número de postos oferecendo terapia<br />

anti-retroviral. Em 2009, prestavam serviços<br />

de terapia anti-retroviral 220 unidades de<br />

saúde, 173 das quais (78 por cento) tratavam<br />

crianças seropositivas, comparativamente a<br />

32 dos 150 postos em 2006 (21 por cento).<br />

Em 2009, 95 por cento de todos os postos<br />

proporcionando tratamento anti-retroviral<br />

estavam a tratar também crianças, embora<br />

muitos deles ainda não estivessem a<br />

funcionar a plena capacidade. 97<br />

O diagnóstico infantil precoce continua a ser<br />

fundamental para garantir acesso oportuno<br />

a cuidados pediátricos e tratamento para<br />

crianças, uma vez que a SIDA progride<br />

rapidamente em lactentes e crianças com<br />

menos de cinco anos de idade. 98 De acordo<br />

com orientações da OMS, todas as crianças<br />

nascidas de mães seropositivas devem ser<br />

submetidas a um teste de reacção em cadeia<br />

da polimerase (RCP) do ADN às 4-6 semanas.<br />

A OMS recomenda também que as crianças<br />

com desnutrição grave e crescimento<br />

comprometido devem ser submetidas a uma<br />

avaliação clínica que inclua o teste de HIV.<br />

Quando o teste de RCP não está disponível,<br />

a criança deve ser submetida a testes de<br />

anticorpos após os 9 meses e novamente<br />

aos 18 meses.<br />

213


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

Todas as crianças com menos de 24 meses<br />

com diagnóstico confirmado de infecção por<br />

HIV devem começar a fazer o tratamento antiretroviral,<br />

independentemente do estágio<br />

clínico ou imunológico, de acordo com as<br />

recomendações internacionais e directrizes<br />

nacionais emitidas em Outubro de 2008. 99 Em<br />

2009, o teste de RCP estava a ser realizado em<br />

dois laboratórios, em Maputo e Nampula, com<br />

um terceiro na Beira que se previa começar<br />

a efectuar testes em 2010. A partir de 2009,<br />

dados relativos ao acesso universal nacional 100<br />

reportaram pelo menos 287 pontos de colecta<br />

de amostras de gotas de sangue seco em<br />

unidades sanitárias a nível periférico para<br />

análise de RCP em laboratórios de referência.<br />

Uma série de constrangimentos dificultam<br />

uma testagem eficaz da RCP, incluindo longos<br />

atrasos devido ao transporte das amostras<br />

e à sistemática falta de materiais utilizados<br />

nos testes. Uma inovação positiva foi a<br />

introdução em 2009, numa base experimental,<br />

de tecnologia de impressão do serviço de<br />

mensagens escritas (sms) para dar feedback<br />

dos resultados da RCP às unidades sanitárias.<br />

Foi planeado para 2010 o lançamento a nível<br />

nacional desta tecnologia, esperando-se que<br />

melhore substancialmente o diagnóstico<br />

infantil precoce no país.<br />

Em 2005, o Governo fez da expansão do<br />

tratamento pediátrico uma prioridade na<br />

luta contra a SIDA e a pobreza. No PARPA<br />

II, foi estabelecida uma meta de tratamento<br />

para 33.000 crianças até 2009, que, no<br />

entanto, não foi atingida; a avaliação do<br />

PARPA II mostra que apenas 11.000 crianças<br />

estavam a receber tratamento em 2009. Em<br />

2008, o Ministério da Saúde decidiu reduzir<br />

drasticamente as metas anuais para 11.500<br />

crianças em tratamento em 2008, quando<br />

no PARPA II a meta era de 20.826. Esta<br />

meta foi revista com base numa análise<br />

do progresso e nas projecções do número<br />

de novas crianças que iniciaram cada mês<br />

a terapia anti-retroviral no ano anterior.<br />

Depois de intensa acção de advocacia,<br />

e após a adopção por Moçambique das<br />

novas normas para a terapia anti-retroviral<br />

pediátrica vii e a expansão do diagnóstico<br />

infantil precoce através da instalação de<br />

duas máquinas de RCP nas regiões norte e<br />

centro do país, o Ministério da Saúde, em<br />

colaboração com os seus parceiros, decidiu<br />

rever as metas em 2009 (ver Tabela 6.3).<br />

Embora representem uma melhoria, estas<br />

metas revistas continuam muito abaixo dos<br />

objectivos originais do PARPA II e ainda<br />

mais do compromisso de acesso universal.<br />

Tabela 6.3: Metas relativas ao HIV pediátrico, 2009<br />

Meta do<br />

Modelo de<br />

Projecção para<br />

crianças em<br />

TARV (limite<br />

inferior)<br />

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014<br />

Crianças com ARV 6.451 9.393 13.500 18.817 23.818 29.058 34.258 39.743<br />

Crianças com ARV<br />

como percentagem<br />

do total<br />

7,1% 7,3% 8,5% 9,9% 10,7% 11,4% 11,9% 12,3%<br />

Cobertura 21% 28% 37% 45% 52% 58% 64%<br />

Fonte: Ministry of Health, Departamento Nacional de Assistência Médica, HIV Programme Report, Ministério da Saúde, Maputo, 2009.<br />

vii Iniciar a terapia anti-retroviral para todas as crianças seropositivas com 0-1 anos de idade; testagem da RCP para todas<br />

as crianças de 0-9 meses, usando testes rápidos; alterações às normas de contagem de células CD4; utilização das quatro<br />

etapas da Organização Mundial da Saúde, em vez de três; e introdução de comprimidos solúveis em lugar de xaropes.<br />

214


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

4.6. P4 – Proteger as crianças<br />

órfãs e vulneráveis<br />

afectadas pela SIDA<br />

Estima-se que haja 1,8 milhões de órfãos em<br />

Moçambique, dos quais 510.000 devido à<br />

SIDA. 101 Este número deverá aumentar, com<br />

a SIDA como causa provável de orfandade<br />

na maioria dos casos, não sendo aqui<br />

consideradas outras crianças eventualmente<br />

vulneráveis devido ao impacto do HIV na<br />

sua família. Uma criança é considerada<br />

órfã ou vulnerável (COV) se um ou ambos<br />

os seus pais naturais tiverem morrido, se<br />

pelo menos um dos seus progenitores está<br />

cronicamente doente, se tiver morrido um<br />

adulto no agregado familiar nos últimos<br />

12 meses após doença prolongada, ou se<br />

houver um adulto cronicamente doente no<br />

agregado familiar.<br />

As crianças órfãs estão mais expostas a<br />

riscos do que as que não órfãs. Estes riscos<br />

incluem: aumento de agregados familiares<br />

chefiados por irmãos ou crianças, mais fraco<br />

ingresso e desempenho escolar, maior risco<br />

de abuso sexual e infecção pelo HIV, risco<br />

de trabalho infantil perigoso, actividade<br />

sexual e casamento precoces, aumento do<br />

risco de graves problemas psicossociais<br />

e problemas de saúde e nutrição. 102 Além<br />

disso, o estigma e a discriminação contra<br />

as pessoas infectadas ou afectadas pelo<br />

HIV/SIDA continuam a ser uma questão<br />

desafiadora. As crianças e os jovens com<br />

familiares doentes ou moribundos estão<br />

particularmente expostos ao estigma.<br />

Podem ser ostracizados pelas suas<br />

comunidades e receber um apoio mínimo<br />

das suas famílias devido à vergonha e<br />

ao estigma presentemente associados a<br />

uma morte relacionada com a SIDA. Nas<br />

escolas, a discriminação contra a criança<br />

exprime-se por provocação e intimidação.<br />

Em alguns casos, as crianças evitam seus<br />

pares seropositivos devido ao receio de<br />

que possam ser infectadas. Um estudo<br />

participativo sobre os mecanismos das<br />

famílias e comunidades para fazer face<br />

às dificuldades no contexto da SIDA,<br />

realizado em todo o país pelo <strong>UNICEF</strong>, em<br />

colaboração com o Ministério da Mulher e<br />

da Acção Social, em 2004, constatou que<br />

cerca de metade dos agregados familiares<br />

pesquisados consideravam que as crianças<br />

órfãs devido à SIDA eram susceptíveis de ser<br />

estigmatizadas. 103<br />

4.7. Nutrição e HIV<br />

A desnutrição, a insegurança alimentar,<br />

a infecção pelo HIV e a SIDA reforçamse<br />

mutuamente. As pessoas que vivem<br />

com HIV têm acrescidas necessidades<br />

energéticas, mas a infecção pelo HIV ou<br />

infecções oportunistas conectas podem<br />

reduzir a sua capacidade de absorver<br />

nutrientes e diminuir o apetite, o que as<br />

pode levar a perder peso e enfraquecer.<br />

Pode seguir-se um ciclo vicioso em que elas<br />

estão menos capazes de trabalhar, manter<br />

um emprego e cuidar de si, tornando-se<br />

assim ainda mais fracas. Além disso, se não<br />

recebem tratamento, ficam mais propensas a<br />

infecções oportunistas e acabam por evoluir<br />

para SIDA. Os membros da sua família<br />

também podem ser afectados se, para a<br />

sua alimentação, despesas e assistência,<br />

dependerem da pessoa com HIV.<br />

Relativamente a crianças, que precisam de<br />

energia e nutrientes para crescer, pode ser<br />

ainda mais severo o impacto da infecção<br />

pelo HIV no seu estado nutricional. As<br />

COV são especialmente vulneráveis à<br />

desnutrição, dependendo de viverem ou<br />

não em ambiente familiar e do seu acesso<br />

aos recursos necessários. O estudo da<br />

pobreza baseada em privações analisou as<br />

COV como grupo, tendo constatado que<br />

22 por cento tinham privação nutricional<br />

severa (acentuada baixa altura para a idade,<br />

insuficiência de peso ou baixo peso para a<br />

altura). 104<br />

O tratamento anti-retroviral pode ajudar a<br />

melhorar o estado nutricional de pessoas<br />

vivendo com HIV, uma vez que melhora o<br />

seu estado de saúde. Ao mesmo tempo,<br />

no entanto, os medicamentos podem ter<br />

efeitos colaterais, que podem ser agravados<br />

quando o consumo de alimentos não é o<br />

adequado. O apetite das pessoas geralmente<br />

215


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

aumenta quando a sua saúde melhora, o<br />

que, em ambiente de insegurança alimentar<br />

e pobreza, pode constituir um desafio.<br />

Evidências pontuais sugerem que a falta de<br />

alimentos pode ser uma importante razão<br />

para abandonar o tratamento.<br />

Uma análise do estado nutricional e da<br />

vulnerabilidade de 920 pessoas vivendo<br />

com HIV e recebendo anti-retrovirais em<br />

33 distritos 105 constatou que um quarto<br />

delas estavam desnutridas (índice de massa<br />

corporal inferior a 18,5 kg/m2). Um quinto<br />

recebeu apoio alimentar. A segurança<br />

alimentar e a vulnerabilidade foram medidos<br />

com base no consumo de alimentos e no uso<br />

de estratégias de sobrevivência. O estudo<br />

concluiu que dois terços dos entrevistados<br />

eram vulneráveis e viviam em situação de<br />

insegurança alimentar.<br />

4.8. Conclusões<br />

Estima-se que em 2010 mais de 1.7 milhões<br />

de Moçambicanos estejam a viver com o<br />

HIV, incluindo cerca de 150.000 crianças<br />

menores de 15 anos. Nas áreas urbanas<br />

tais como a cidade de Maputo, a SIDA<br />

está a tornar-se uma causa comum de<br />

morte de crianças menores de cinco anos.<br />

Concentrados na população entre os 15 e 49<br />

anos, o HIV e a SIDA estão a ter um amplo<br />

impacto social e económico. A força de<br />

trabalho qualificada necessária tanto para<br />

o crescimento económico e a provisão de<br />

serviços sociais tais como cuidados de saúde<br />

e educação está a reduzir. Moçambique<br />

está a responder à epidemia do HIV através<br />

da campanha dos Quatro “P”: Prevenção<br />

primária, PTV, SIDA Pediátrico e Protecção<br />

de crianças órfãs e vulneráveis.<br />

Apesar do progresso feito na implementação<br />

do programa de PTV, a falta de seguimento<br />

das mães e das crianças continua um sério<br />

constrangimento. O sistema de saúde faz<br />

face a escassez de recursos humanos que<br />

tem comprometido o acesso a e provisão<br />

de serviços de qualidade. Por outro lado, o<br />

estigma e a discriminação associados com<br />

o HIV podem prevenir que muitas mulheres<br />

grávidas e seus recém-nascidos acedam e<br />

adiram às intervenções de PTV. As mães<br />

receiam que possam perder suas famílias<br />

como resultado de serem testadas ou<br />

comunicarem o seu estado serológico de HIV<br />

aos seus parceiros.<br />

O sistema de saúde em Moçambique<br />

necessita desenvolver estratégias para<br />

criar um ambiente propício que encoraje<br />

o envolvimento activo de parceiros e<br />

famílias na saúde materno-infantil (p.e.<br />

aconselhamento e testagem de casais,<br />

partos assistidos por pessoal qualificado,<br />

etc.). O programa de PTV deve ser tornado<br />

mais abrangente e aceitável à participação<br />

masculina e deveria estar ligado às<br />

intervenções de saúde na comunidade<br />

para facilitar seguimento activo das mães<br />

e crianças que actualmente desistem. A<br />

experiência do Ruanda mostra que quando<br />

os parceiros estão envolvidos e informados,<br />

uma mulher sente-se mais propensa a<br />

participar nos serviços de PTV e procura<br />

activamente outros serviços de saúde<br />

materna e HIV.<br />

216


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

5. Questões ambientais e mudança<br />

climática<br />

Crianças de todo o mundo, e<br />

particularmente dos países em<br />

desenvolvimento, estão entre os menos<br />

responsáveis pela degradação ambiental e<br />

pela mudança climática. Da mesma forma,<br />

as crianças não são o principal foco da<br />

maioria das avaliações de impacto ambiental<br />

ou estudos de mudança climática, nem são<br />

os principais alvos da maioria das políticas<br />

e intervenções relacionadas com questões<br />

ambientais ou mudança climática.<br />

As crianças estão entre os mais vulneráveis<br />

aos devastadores impactos de muitos tipos<br />

de riscos ambientais. Mesmo as catástrofes<br />

naturais de duração relativamente curta<br />

podem ter efeitos duradouros sobre o<br />

desenvolvimento das crianças. Os desafios<br />

de saúde, nutrição, água e saneamento<br />

são muitas vezes causados ou agravados<br />

por condições ambientais desfavoráveis,<br />

enquanto as áreas de educação, protecção<br />

da criança e outras também enfrentam<br />

desafios como consequências indirectas<br />

de questões ambientais. Com a mudança<br />

climática ameaçando agravar a incidência e<br />

gravidade de muitos riscos ambientais em<br />

Moçambique, é particularmente importante<br />

centrar a atenção em como as crianças<br />

podem ser poupadas dos seus efeitos<br />

negativos.<br />

Os riscos ambientais afectam as crianças<br />

seja como parte de um agregado familiar<br />

mais vasto seja de formas que lhes são<br />

peculiares. As crianças estão sob maior<br />

risco de muitos potenciais efeitos na saúde<br />

simplesmente devido à sua fisiologia: seus<br />

órgãos, sistemas imunológicos e sistema<br />

nervoso ainda em desenvolvimento;<br />

seus mais rápidos metabolismos e taxas<br />

respiratórias; e sua mais elevada área<br />

superficial com relação à massa corporal<br />

comparativamente aos adultos. O seu<br />

comportamento e a sua curiosidade naturais<br />

também as colocam em maior risco de<br />

contrair certas doenças e ferimentos porque<br />

a sua propensão para explorar o mundo<br />

em redor as leva frequentemente a uma<br />

maior exposição a contaminantes, poluentes<br />

(em especial devido à falta de espaços não<br />

poluídos para brincar em áreas urbanas). As<br />

crianças são mais susceptíveis de apanhar<br />

e mascar terra, pedaços de lixo e minas<br />

terrestres. A sua menor estatura e relativa<br />

falta de força e velocidade também as torna<br />

particularmente vulneráveis em situações<br />

de emergência como inundações, ciclones e<br />

deslizamentos de terra. As crianças têm ainda<br />

maior probabilidade de estar perto das mães<br />

quando estas estão a cozinhar, aumentando<br />

a sua exposição a poluentes provenientes<br />

da queima de combustíveis fósseis. Alguns<br />

pesquisadores afirmam que as alterações<br />

climáticas, devido ao seu impacto de longo<br />

alcance e intersectorial, representam a maior<br />

ameaça para as crianças do mundo. 106<br />

5.1. Questões ambientais<br />

em Moçambique<br />

As 13 maiores bacias hidrográficas do país<br />

são densamente povoadas e caracterizamse<br />

por níveis relativamente elevados de<br />

fertilidade do solo, mas são também áreas<br />

vulneráveis a inundações, secas e intrusão<br />

salina, bem como aos efeitos da demanda de<br />

água, chuvas e poluição nos países vizinhos<br />

em que a maioria dos rios nasce. A região<br />

centro, caracterizada por um delta de um<br />

grande rio (Zambeze) e uma extensa planície<br />

costeira, é particularmente vulnerável a<br />

riscos ambientais, por ser a região com<br />

a maior população costeira e os maiores<br />

riscos de ciclones e inundações. A região<br />

norte é caracterizada por moderada a baixa<br />

fertilidade do solo e uma estreita planície<br />

costeira. A fertilidade do solo é menor e<br />

o risco de seca mais elevado na região<br />

sul, particularmente nas regiões áridas do<br />

interior. 107<br />

217


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

Mais de 60 por cento da população vive ao<br />

longo da costa, uma bio-região susceptível a<br />

ciclones, pesca excessiva, erosão e intrusão<br />

salina nos sistemas fluviais. Moçambique<br />

pode ser dividido em bio-regiões com<br />

base na latitude (norte, centro e sul) e em<br />

características geográficas (costeira, planície<br />

de cheia e interior).<br />

O estado físico do meio ambiente não<br />

está sujeito apenas a eventos climáticos<br />

incontroláveis, como ciclones e secas, mas<br />

também a efeitos de actividade humana,<br />

tais como uso insustentável, exploração e<br />

poluição do solo, da água e dos recursos<br />

naturais.<br />

Esta secção apresenta as condições<br />

ambientais naturais e os desafios e previsões<br />

para o futuro de Moçambique, seguindo-se<br />

o quadro institucional do país para a gestão<br />

ambiental e de desastres. Neste contexto,<br />

analisa-se a vulnerabilidade transversal<br />

das crianças de Moçambique aos riscos<br />

ambientais, concluindo a secção com as<br />

áreas prioritárias a serem abordadas.<br />

5.2. O desenvolvimento<br />

sustentável em<br />

Moçambique<br />

Diz-nos a teoria económica que existe uma<br />

forte ligação entre alterações na riqueza e<br />

na sustentabilidade do desenvolvimento: se<br />

uma família (ou uma nação) vê depreciaremse<br />

os seus activos, não está a seguir um<br />

caminho sustentável. No capítulo 1 deste<br />

estudo, foram apresentadas análises da<br />

pobreza usando medidas baseadas no<br />

consumo e baseadas em privações. No<br />

entanto, quando se discute a riqueza<br />

de uma criança ou uma nação, também<br />

podemos considerar o acesso a recursos<br />

não renováveis, recursos renováveis e terras<br />

agrícolas. Um estudo de 2009 108 mediu a<br />

riqueza per capita de Moçambique usando<br />

uma definição ampliada de riqueza. Além<br />

dos resultados económicos, os autores<br />

incluíram nos seus cálculos a acumulação de<br />

outros activos: capital humano, o ambiente e<br />

recursos naturais.<br />

Esse estudo constatou que 49 por cento<br />

da riqueza de Moçambique é derivada<br />

de capital natural, designadamente<br />

recursos minerais, terra agrícola, florestas<br />

e reservas marinhas. Esse valor é muito<br />

superior à média subsaariana de 24 por<br />

cento, implicando uma forte dependência<br />

de recursos naturais. O estudo também<br />

constatou que a degradação natural do<br />

capital de Moçambique custa ao país 360<br />

milhões de dólares americanos por ano, ou<br />

cerca de 6 por cento do PIB. A poluição da<br />

água (abastecimento de água, saneamento<br />

e higiene inseguros) constitui o maior<br />

custo ambiental em Moçambique (ver<br />

Figura 6.22). Apesar de a redução de capital<br />

natural se ter revelado relativamente baixa<br />

em Moçambique em geral, viii poderão ser<br />

elevados os efeitos das alterações climáticas.<br />

O desenvolvimento sustentável é uma<br />

questão inerentemente intergeracional e<br />

intrageracional. A realização dos direitos<br />

humanos por parte dos adultos hoje<br />

(por exemplo, o direito à alimentação e<br />

alojamento) afecta a habilidade das crianças<br />

de hoje e das gerações futuras de satisfazer<br />

os seus direitos humanos no futuro.<br />

Padrões de consumo por parte dos adultos<br />

de hoje que destroem o ambiente (por<br />

exemplo, pesca excessiva, sobre-exploração<br />

madeireira, conservação de solos pobres)<br />

terão um sério impacto na capacidade das<br />

gerações futuras de satisfazer seus direitos<br />

humanos.<br />

viii O estudo observou, no entanto, que os números nacionais incluem muitas áreas com muito baixa densidade<br />

populacional, podendo obscurecer algumas das práticas de exploração agrícola que se verificam a nível local.<br />

218


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

5.3. O impacto da degradação<br />

ambiental e das situações<br />

de emergência nas crianças<br />

em Moçambique<br />

Poluição<br />

O estudo acima referido constatou serem<br />

consideráveis os custos da poluição ix em<br />

termos ambientais, de saúde e de economia<br />

do país. Só os efeitos provocados por<br />

abastecimentos de água poluída na saúde<br />

foram estimados em cerca de 3 por cento do<br />

PIB em 2008, x enquanto os da poluição do<br />

ar de interiores (principalmente resultante<br />

do monóxido de carbono libertado pela<br />

queima de combustíveis fósseis) custam<br />

mais 1 por cento. 109 Apenas 10 por cento<br />

da população moçambicana se encontrava<br />

conectada à rede de electricidade em 2008, 110<br />

o que tem um duplo impacto ambiental: em<br />

primeiro lugar, aumenta a poluição do ar<br />

por se cozinhar com combustíveis fósseis, e,<br />

em segundo lugar, aumenta a utilização de<br />

recursos naturais para a lenha.<br />

Ambientes marinhos poluídos e sobreexploração<br />

da pesca têm-se tornado um<br />

problema crescente em muitas áreas<br />

costeiras para as comunidades que<br />

dependem da diminuição das reservas de<br />

peixes para sua subsistência. 111 O PARPA<br />

II destacou explicitamente a importância<br />

económica das pescas, reconhecendo que a<br />

pesca excessiva, a poluição e a degradação<br />

do habitat têm vindo a diminuir a capacidade<br />

das comunidades costeiras de manter<br />

os seus modos de subsistência. O plano<br />

identificou várias acções para promover a<br />

sustentabilidade ambiental, aumentando<br />

simultaneamente a produtividade<br />

económica, 112 mas o relatório de avaliação do<br />

PARPA II indicou que esses objectivos não<br />

foram totalmente satisfeitos. 113<br />

Saúde<br />

Um relatório de 2006 encomendado pela<br />

OMS constatou que, embora 23 por cento<br />

de todas as mortes prematuras tenham<br />

sido atribuíveis a factores ambientais<br />

Figura 6.22: Custo da degradação ambiental por ano, 2009<br />

180<br />

160<br />

140<br />

120<br />

$US (millions)<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

Degradação<br />

do solo<br />

Custos da<br />

desflorestação<br />

Poluição<br />

da água<br />

Poluição do ar Seca Inundações<br />

Fonte: Ollivier, T, et al, Natural Resources, Environment, and Sustainable Growth in <strong>Mozambique</strong>, Agência Francesa de<br />

Desenvolvimento, 2009.<br />

ix Poluição inclui poluição do ar livre, poluição do ar dentro de casa e poluição da água.<br />

x Como discutido no Capítulo 3, menos de metade dos agregados familiares têm acesso a água potável.<br />

219


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

modificáveis, esse número subiu para<br />

36 por cento nas crianças menores de 15<br />

anos. Pesquisadores e profissionais de<br />

saúde têm observado há muito tempo a<br />

relação entre factores ambientais, como a<br />

poluição do ar, e efeitos na saúde, como<br />

a asma, mas recentemente começaram a<br />

tocar o alarme com mais urgência. Entre<br />

aqueles cuja saúde está ameaçada por<br />

riscos ambientais, as crianças constituem<br />

o maior grupo. As crianças pequenas são<br />

ainda mais vulneráveis: o número de anos<br />

de vida saudável per capita perdidos devido<br />

a factores ambientais foi cerca de cinco<br />

vezes maior em crianças menores de cinco<br />

anos do que na população total. A malária e<br />

infecções respiratórias, as principais causas<br />

de mortalidade infantil em Moçambique (ver<br />

Capítulo 3), encontram-se também entre as<br />

doenças mais fortemente ligadas a factores<br />

ambientais modificáveis. A diarreia, uma das<br />

principais causas subjacentes à mortalidade<br />

infantil, tem um fardo de doença ambiental<br />

na ordem dos 94 por cento. 114<br />

Os desastres naturais, interrompendo o<br />

acesso aos serviços de saúde, afectam a<br />

saúde das crianças, interrompendo o acesso<br />

a unidades sanitárias. Ciclones e inundações,<br />

em particular, podem danificar infraestrutura<br />

sanitária e estradas, o que pode<br />

dificultar ou impossibilitar o fornecimento<br />

de suprimentos médicos. As famílias<br />

deslocadas de suas casas devido a situações<br />

de emergência ficam frequentemente<br />

incapazes de aceder a cuidados de saúde ou<br />

de dar continuidade a tratamentos regulares,<br />

como, por exemplo, para o HIV.<br />

Água e saneamento<br />

O stress hídrico faz com que aumentem as<br />

ameaças à saúde. Um deficiente saneamento<br />

é frequentemente agravado por condições<br />

ambientais como inundações e secas,<br />

conduzindo geralmente as primeiras a<br />

um aumento das doenças de veiculação<br />

hídrica, como a cólera, e as segundas, ao<br />

aumento das doenças resultantes de falta de<br />

higiene (water-washed diseases), como, por<br />

exemplo, o tracoma. 115 Outro risco de saúde<br />

relacionado com a água que por vezes surge,<br />

sobretudo no norte de Moçambique, é o de<br />

maiores níveis de cianeto se concentrarem<br />

na raiz da mandioca em épocas de seca.<br />

Altas concentrações da toxina são uma<br />

causa de paraparesia espástica (também<br />

conhecida como konzo ou mantakassa),<br />

especialmente em crianças e mulheres que<br />

podem já se encontrar desnutridas. 116 117<br />

A maior parte da vulnerabilidade do país a<br />

riscos ambientais está directamente ligada<br />

à água, seja à falta seja ao excesso. Tanto<br />

as secas como as inundações podem ter<br />

efeitos devastadores sobre o acesso das<br />

crianças a água potável e saneamento. Os<br />

poços pouco profundos que, normalmente,<br />

sustentam as comunidades podem<br />

secar em épocas de seca, colocando<br />

pressão excessiva sobre quaisquer poços<br />

mais profundos que possam existir. As<br />

inundações podem contaminar a água<br />

potável, especialmente em áreas que<br />

também tenham fraco saneamento. Uma<br />

fraca infraestrutura de água e saneamento<br />

pode ser facilmente danificada por cheias e<br />

ciclones, e áreas com drenagem deficiente<br />

podem aumentar o risco de cólera e<br />

outras doenças de veiculação hídrica, bem<br />

como tornar-se locais de reprodução de<br />

mosquitos transmissores de malária e<br />

outras doenças transmitidas por vectores. 118<br />

Como observado anteriormente, as crianças,<br />

devido à sua fisiologia e porque o seu<br />

comportamento muitas vezes as coloca em<br />

maior contacto com água contaminada,<br />

são particularmente vulneráveis a doenças<br />

relacionadas com o saneamento. 119<br />

Nutrição<br />

A segurança alimentar e a nutrição em<br />

Moçambique estão fortemente ligadas<br />

às condições ambientais. Tanto as<br />

inundações como a seca causam amplas<br />

perdas agrícolas às famílias dependentes<br />

da agricultura de subsistência. Mais de<br />

70 por cento da população depende da<br />

agricultura de sequeiro, o que torna o<br />

país particularmente vulnerável ao stress<br />

hídrico que regularmente se verifica,<br />

220


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

embora nem sempre nos mesmos lugares<br />

ao mesmo tempo. Por exemplo, em 2001-<br />

2002, as secas no sul de Moçambique<br />

provocaram a perda de cerca de um terço<br />

da safra, levando o Governo a pedir ajuda<br />

internacional adicional para alimentar cerca<br />

de 650.000 pessoas. No mesmo ano, no<br />

entanto, a parte norte do país conheceu<br />

uma produção de alimentos excedentária,<br />

tendo havido muitas vendas através de<br />

mercados informais para o vizinho Malawi. 120<br />

Em 2006, o Secretariado Técnico de<br />

Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN)<br />

determinou que cerca de 35 por cento da<br />

população se encontrava em situação de<br />

insegurança alimentar crónica, 121 embora<br />

o número de pessoas com insegurança<br />

alimentar grave em determinado momento<br />

varie; a cifra de Outubro de 2009 publicada<br />

pelo SETSAN era 281.300, isto é, menos<br />

de 2 por cento da população a necessitar<br />

de assistência imediata. 122 Em média, os<br />

agregados familiares rurais só têm uma<br />

cultura suficientemente estável durante 6-8<br />

meses. 123<br />

Uma segurança alimentar reduzida muitas<br />

leva frequentemente as famílias de fracos<br />

recursos a adoptarem mecanismos para<br />

fazer face a dificuldades que não são no<br />

melhor interesse da nutrição infantil. Os<br />

efeitos da desnutrição em crianças podem<br />

ser graves e permanentes. As principais<br />

estratégias utilizadas por agregados<br />

familiares rurais em situação de insegurança<br />

alimentar são comer alimentos de menos<br />

preferência, reduzir o número de refeições<br />

por dia, e comer a totalidade ou parte das<br />

reservas de sementes para a campanha<br />

seguinte (ver Tabela 6.4). Se os adultos<br />

podem conseguir adaptar-se a essas<br />

mudanças na sua dieta, pelo menos no<br />

curto prazo, os efeitos sobre as crianças<br />

são mais graves devido às suas diferentes<br />

necessidades nutricionais.<br />

O esgotamento e a erosão do solo também<br />

afectam a segurança alimentar em<br />

Moçambique. Sem suficiente fertilizante<br />

para sustentar a terra, os níveis de nutrientes<br />

no solo e, por consequência, a produção<br />

Tabela 6.4: Estratégias para fazer face a dificuldades usadas anualmente na época seca no Moçambique rural,<br />

2009, percentagem<br />

Agregados familiares com carência de alimentos (%)<br />

Estratégias usadas para<br />

enfrentar a situação<br />

durante a estação seca<br />

(%)<br />

Campanha agrícola<br />

2005 2006 2007 2008<br />

38 37 27 31<br />

Comer alimentos de menor preferência 88 90 87 87<br />

Reduzir o número de refeições 82 85 82 82<br />

Comer a totalidade ou parte da semente 54 49 41 54<br />

Incrementar as actividades de geração de<br />

rendimento 38 51 50 41<br />

Partilhar alimentos com a família/os vizinhos 40 38 47 39<br />

Vender bens de maneira fora do comum 18 26 19 18<br />

Pedir dinheiro emprestado 11 17 15 12<br />

Procurar assistência governamental, de igrejas<br />

e ONGs 4 5 4 3<br />

Mandar crianças para outros agregados<br />

familiares 3 3 4 3<br />

Tirar as crianças da escola 2 2 2 2<br />

Outras 2 2 3 2<br />

Fonte: Cunguara, Benedito e Brendan Kelly, ‘Trends in agriculture producers’ income in rural <strong>Mozambique</strong>’, estudo contributivo para<br />

o Impact Evaluation Report of PARPA II, MPD, 2009.<br />

221


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

agrícola, decrescem rapidamente. Os<br />

produtores devem, em seguida, limpar e<br />

cultivar novas terras, em detrimento da vida<br />

selvagem e das florestas. Em Moçambique,<br />

por tradição, os agricultores limpam a terra,<br />

cultivam-na e depois mudam de lugar para<br />

limpar mais terra, deixando a anterior em<br />

pousio para recuperar a fertilidade. Em<br />

áreas de maior densidade populacional, no<br />

entanto, os agricultores cultivam colheita<br />

após colheita, minando ou esgotando<br />

os nutrientes do solo sem nada que os<br />

compense. Com pouco acesso a fertilizantes,<br />

os agricultores são obrigados a produzir em<br />

solos menos férteis em terras marginais, em<br />

detrimento da vida selvagem e das florestas.<br />

Desastres ambientais de curto prazo em<br />

áreas que anteriormente tinham sido de<br />

relativa segurança alimentar podem levar a<br />

maiores taxas de subnutrição aguda entre<br />

as crianças, enquanto as crises de longo<br />

prazo são passíveis de aumentar o número<br />

de crianças com insuficiência de peso e<br />

baixa altura para a idade.<br />

Educação<br />

A educação das crianças é outra área que<br />

é afectada por condições ambientais tanto<br />

a longo como a curto prazo. Escolas mal<br />

construídas são muitas vezes danificadas<br />

ou destruídas por tempestades e ciclones.<br />

Em 2008, por exemplo, o ciclone Jokwe<br />

interrompeu as aulas a mais de 38.000<br />

alunos. 124 Desastres de longo prazo, como as<br />

secas, por exemplo, muitas vezes fazem as<br />

crianças abandonarem a escola, seja porque<br />

devem dedicar-se a tarefas adicionais,<br />

como acarretar água, por exemplo, seja<br />

simplesmente porque lhes falta energia<br />

para se concentrarem nos estudos, como<br />

resultado da desnutrição.<br />

A poluição ambiental e a gestão dos<br />

recursos naturais afectam o sucesso das<br />

intervenções do governo na educação.<br />

Doenças causadas por factores ambientais<br />

como a poluição do ar e da água<br />

influenciam as taxas de frequência escolar.<br />

A desnutrição, provocada tanto pelo<br />

esgotamento dos solos como pela perda de<br />

colheitas, afectará a capacidade das crianças<br />

de assimilar as lições. A desflorestação e a<br />

falta de água potável perto dos agregados<br />

familiares também podem afectar as taxas<br />

de participação das crianças, uma vez que<br />

passam mais tempo acarretando lenha<br />

e água. Estas situações podem também<br />

afectar os professores e os seus índices de<br />

assiduidade.<br />

Crianças que tenham sido deslocadas<br />

devido a desastres naturais enfrentam<br />

desafios adicionais na sua escolarização. O<br />

impacto de situações climáticas extremas<br />

e da crescente escassez de água devido<br />

às alterações climáticas é susceptível de<br />

aumentar o número de pessoas deslocadas<br />

em Moçambique. A migração temporária<br />

pode fazer com que as crianças faltem à<br />

escola, bem como causar superlotação<br />

em locais que recebem muitos refugiados<br />

ambientais. Tem sido utilizada a expressão<br />

caos ambiental para descrever situações<br />

com elevados níveis de ruído e acumulação<br />

de pessoas e falta de estrutura ou de<br />

rotinas diárias, que é a situação em que se<br />

encontram muitas crianças em contextos<br />

pós-desastre. Tem-se constatado que<br />

este tipo de caos afecta negativamente a<br />

aprendizagem das crianças e as interacções<br />

sociais. 125<br />

Desflorestação<br />

O corte de madeira para fins comerciais<br />

aumentou drasticamente e, muitas<br />

vezes, ilegalmente, nos últimos anos.<br />

Alguns analistas estimam que madeiras<br />

duras tropicais, de florestas tropicais de<br />

crescimento lento, semi-áridas e secas têm<br />

vindo a diminuir a uma taxa que poderá<br />

fazer com que o recurso se esgote em<br />

5/10 anos. 126 Um estudo de 2006 conclui<br />

que compradores de madeira asiáticos,<br />

homens de negócios locais e membros do<br />

Governo de Moçambique e seus serviços<br />

florestais estão a agir em conluio para tirar<br />

madeiras tropicais preciosas,” 127 estando<br />

a ser exportadas grandes quantidades de<br />

madeiras duras ilegais não processadas<br />

através do porto de Nacala, no norte de<br />

Moçambique. O mesmo estudo estima que<br />

222


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

se está a fazer exploração ilegal de madeiras<br />

pelo menos em tão grande escala como a<br />

actividade madeireira legal.<br />

Quase metade da perda florestal de<br />

África é resultado de as pessoas cortarem<br />

árvores para lenha ou carvão. 128 Estimase<br />

que o carvão seja a principal fonte de<br />

combustível de 80 por cento da população<br />

de Moçambique, 129 e que tenha um efeito<br />

ainda maior sobre a desflorestação do que o<br />

corte comercial de madeira. A desflorestação<br />

pode fazer com que as crianças faltem à<br />

escola pois é necessário mais tempo para<br />

colectar lenha para cozinhar. Pode ser<br />

eficaz no combate à desflorestação em<br />

Moçambique uma abordagem baseada em<br />

direitos. Quando os direitos individuais e da<br />

comunidade sobre uma determinada área<br />

são contabilizados e exercidos, as pessoas<br />

podem agir para salvaguardar parte do<br />

seu valor de conservação. É necessária<br />

uma abordagem baseada em direitos<br />

não apenas para a conservação e gestão<br />

sustentável das florestas, mas também para<br />

responsabilização e retorno económico<br />

equitativo no sector.<br />

Protecção da criança<br />

A protecção das crianças é um desafio<br />

particular em situações de emergência,<br />

uma vez que as crianças estão expostas<br />

a maiores riscos de separação da família,<br />

exploração sexual e trauma psicológico.<br />

A interrupção dos serviços sociais afecta<br />

particularmente as crianças órfãs e<br />

vulneráveis no acesso aos serviços básicos.<br />

Embora tenha havido pouca pesquisa sobre<br />

o impacto das situações de emergência<br />

em questões de protecção da criança<br />

em Moçambique, relatórios de uma<br />

missão do comité estatal de avaliação<br />

da vulnerabilidade de 2005 levantou<br />

preocupação para com o uso de estratégias<br />

Caixa 6.2. Preparação para Emergências<br />

No início de 2000, graves inundações devastaram cinco províncias em Moçambique. Além de<br />

cerca de 700 pessoas terem perdido a vida nas enchentes, quase dois milhões de pessoas ficaram<br />

de outras formas gravemente afectadas e necessitando de ajuda externa.130 2001 trouxe novas<br />

cheias, que causaram danos adicionais e pressionaram ainda mais muitas áreas que ainda não<br />

tinham recuperado do desastre do ano anterior. Num seminário financiado pela Representação<br />

da Organização das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA)<br />

realizado em Julho de 2001, cerca de 130 delegados - incluindo governadores e administradores<br />

distritais das províncias afectadas, e outros representantes do Governo, agências das Nações<br />

Unidas, doadores bilaterais e organizações não governamentais - reuniram-se para tirar as lições<br />

das operações de salvamento e socorro. Diversas recomendações e conclusões do grupo incidiram<br />

sobre a preparação, a eficiência e a coordenação. Uma recomendação importante foi a de maior<br />

integração das actividades das diversas partes envolvidas na resposta a emergências. 131<br />

Uma medida-chave do progresso nesta área é a plena integração dos planos sectoriais no plano<br />

de contingência do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC). Em várias secções do<br />

plano de contingência é dada atenção especial às necessidades das crianças em situações de<br />

emergência. Mais recentemente, o INGC, juntamente com a Save the Children, a ONUSIDA, o<br />

FNUAP e o <strong>UNICEF</strong>, desenvolveu e aprovou o Código de Conduta para Trabalhadores Humanitários<br />

no contexto de Moçambique, com base no Boletim do Secretário-Geral das Nações Unidas<br />

sobre Medidas Especiais de Protecção contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual (Outubro de<br />

2003).132 Este esforço tem por base a experiência adquirida durante a resposta de emergência em<br />

2008, a qual revelou que as agências e os trabalhadores humanitários (tanto estatais como não<br />

estatais) a trabalhar no campo têm pouco conhecimento e não tinham desenvolvido mecanismos<br />

ou abordagens para combater o abuso e a exploração sexual cometidos contra mulheres e<br />

crianças pelos seus próprios funcionários.<br />

223


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

negativas usadas por crianças para<br />

enfrentar dificuldades em zonas afectadas<br />

por secas, como, por exemplo, ‘sexo de<br />

sobrevivência’ por dinheiro, que aumenta a<br />

sua vulnerabilidade ao HIV e outras infecções<br />

de transmissão sexual.<br />

Minas terrestres<br />

As minas terrestres representam um<br />

desafio ambiental em Moçambique. Apesar<br />

de os esforços de desminagem terem<br />

prosseguido regularmente desde 1993,<br />

e de quatro províncias (Cabo Delgado,<br />

Niassa, Nampula e Zambézia) terem sido<br />

recentemente declaradas livres de minas, o<br />

Instituto Nacional de Desminagem estima<br />

que ainda houvesse mais de dez quilómetros<br />

quadrados de áreas minadas no final de<br />

2008, representando 386 locais espalhados<br />

por 59 distritos nas outras seis províncias. 133<br />

No PARPA II, a desminagem juntou-se a<br />

catástrofes naturais e problemas ambientais<br />

como um tema transversal que deve ser<br />

tratado a fim de se alcançar a redução da<br />

pobreza; a avaliação de 2009 constatou que<br />

têm sido feitos progressos neste domínio,<br />

diminuindo significativamente os riscos<br />

colocados por minas terrestres. 134 O plano de<br />

acção contra minas do governo tem como<br />

objectivo eliminar todos os campos minados<br />

conhecidos antes do prazo de Março de 2014<br />

da extensão do Tratado de Banimento de<br />

Minas.<br />

Mudança climática<br />

Um amplo relatório realizado pelo Instituto<br />

Nacional de Gestão de Calamidades<br />

(INGC) dá um quadro sombrio das<br />

condições ambientais que se esperam<br />

caso se mantenham as actuais tendências<br />

climáticas. 135 Foram usados dados<br />

recolhidos ao longo de várias décadas<br />

para gerar previsões através da aplicação<br />

de sete diferentes modelos de mudança<br />

climática. Têm sido registados em todo o<br />

país aumentos nas temperaturas médias,<br />

temperaturas máximas e duração das ondas<br />

de calor, tendência que deverá continuar a<br />

verificar-se. Prevê-se que as temperaturas<br />

médias aumentem 1,8 a 3,2 °C em 2075. As<br />

chuvas também diminuirão 2 a 9 por cento,<br />

especialmente entre Novembro e Maio, a<br />

época-chave de cultivo. Dados concernentes<br />

a precipitação indicam que já se registam<br />

no país crescentes atrasos no início da<br />

estação das chuvas. Os modelos de mudança<br />

climática antevêem que a precipitação se<br />

torne ainda menos previsível nas próximas<br />

décadas, esperando-se um aumento de<br />

precipitação na maior parte do país de<br />

Dezembro a Maio, superado por aumentos<br />

ainda maiores na evapotranspiração nos<br />

restantes meses do ano.<br />

O aumento do nível do mar constitui um<br />

outro desafio. Devido à falta de dados fiáveis<br />

no passado é difícil saber-se precisamente<br />

em que medida o aumento do nível do<br />

mar já terá afectado Moçambique, mas as<br />

projecções discutidas no relatório do INGC<br />

mostram que este resultado específico da<br />

mudança climática terá necessariamente<br />

graves consequências. Mesmo em cenário<br />

de baixa subida do nível do mar, os ciclones<br />

tropicais apresentarão um maior risco para a<br />

costa, contribuindo para uma maior erosão<br />

costeira. Os centros urbanos sofrerão danos<br />

nas infra-estruturas devido a inundações mais<br />

frequentes e, num cenário de grande subida<br />

do nível do mar, muitos portos e habitações<br />

ao longo da costa estarão completamente<br />

submersos no final do século. Espera-se que a<br />

Beira, Maputo e Quelimane sejam fortemente<br />

afectados mesmo por baixos aumentos do<br />

nível do mar; no cenário de elevada subida do<br />

nível do mar, a Beira actual tornar-se-á uma<br />

ilha, enquanto as áreas do porto de Maputo,<br />

da estação dos caminhos-de-ferro e da Costa<br />

do Sol desaparecerão debaixo de água.<br />

Prevê-se um agravamento de muitos riscos<br />

de saúde relacionados com o ambiente nos<br />

países em desenvolvimento, como resultado<br />

do aquecimento global. Um relatório<br />

da Comissão Lancet de 2009 qualificou<br />

as mudanças climáticas como a maior<br />

ameaça à saúde global do século XXI.” 136<br />

Em Moçambique, uma das consequências<br />

previstas do aumento de temperatura e das<br />

mudanças na precipitação observadas no<br />

estudo do INGC é um aumento na gama e<br />

224


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

sazonalidade de doenças transmitidas por<br />

vectores, incluindo a malária e a doença<br />

do sono africana. 137 Outras doenças que<br />

podem aumentar em Moçambique como<br />

resultado de alterações climáticas são a febre<br />

chikungunya, a meningite meningocócica, a<br />

cólera e outras diarreias, bem como doenças<br />

transmitidas por roedores. O aumento da<br />

temperatura e da perda gradual de árvores<br />

de sombra também pode aumentar os efeitos<br />

do stress térmico sobre as crianças. Porque<br />

as crianças (e os idosos) transpiram menos<br />

e têm maiores rácios de área superficial por<br />

massa corporal do que os adultos, tendem a<br />

sofrer maiores efeitos na saúde resultantes<br />

de stress térmico. 138<br />

5.4. O contexto institucional<br />

As questões ambientais em Moçambique<br />

não entraram na agenda nacional até que<br />

terminassem os piores anos da guerra civil.<br />

O Artigo 90 da Constituição confere aos<br />

cidadãos moçambicanos o direito de viver<br />

num ambiente equilibrado, bem como o<br />

dever de o defender. O artigo estabelece<br />

ainda que as autoridades estatais e locais<br />

devem adoptar políticas destinadas a<br />

proteger o meio ambiente e a promover o<br />

uso racional dos recursos naturais. 139 Em<br />

1990 foi formada a Comissão Nacional do<br />

Meio Ambiente, seguindo-se-lhe, em 1994,<br />

a criação do Ministério da Coordenação da<br />

Acção Ambiental. O novo ministério, por sua<br />

vez, desenvolveu o quadro jurídico para a<br />

gestão ambiental, que inclui uma vasta gama<br />

de políticas, legislação, estratégias e planos<br />

de acção. 140<br />

Em 1999, foi criado outro órgão<br />

governamental especificamente para lidar<br />

com a vulnerabilidade do país a crises<br />

ambientais: o INGC. O INGC é separado do<br />

MICOA, embora o Banco Mundial tenha<br />

observado em 2009 que as questões de<br />

coordenação pendentes entre o INGC e o<br />

MICOA” 141 constituem um grande desafio<br />

para a capacidade de Moçambique de<br />

reagir a catástrofes naturais. As questões de<br />

coordenação com outros ministérios estão<br />

a ser gradualmente resolvidas, pelo menos<br />

em termos de como lidar com situações de<br />

emergência; por exemplo, o INGC publica<br />

agora um plano de contingência 142 anual<br />

que inclui actividades específicas de sector<br />

para nove diferentes ministérios executarem<br />

antes, durante e depois de um desastre<br />

natural. A iminente ameaça de mudança<br />

climática, que começou a despertar mais<br />

atenção nos últimos anos, também envolveu<br />

tanto o MICOA como o INGC; por exemplo,<br />

em 2007 o ministério desenvolveu um<br />

plano de acção nacional para adaptação a<br />

alterações climáticas, 143 enquanto em 2009<br />

o INGC produziu um relatório abrangente<br />

detalhando os efeitos previstos das<br />

mudanças climáticas no país. 144<br />

A avaliação do PARPA II 2009 foi em geral<br />

favorável à componente ambiental. A análise<br />

observou que diversas novas estratégias<br />

e políticas foram desenvolvidas durante o<br />

período abrangido pelo PARPA II, e que a<br />

gestão ambiental fora integrada em alguns<br />

dos planos de desenvolvimento urbano.<br />

Enfrentar os desafios colocados pelas<br />

alterações climáticas, pela degradação<br />

ambiental e pela gestão sustentável dos<br />

recursos naturais foi identificado como uma<br />

alta prioridade para o desenvolvimento<br />

de planos do Governo a médio prazo<br />

subsequentes. A avaliação foi complementar<br />

à atenção do Governo à componente do<br />

PARPA II de catástrofes naturais, observando<br />

nomeadamente o reforço do INGC, ao qual<br />

reconheceu a manutenção de um mínimo<br />

de perdas nas cheias de 2007-2008. Entre as<br />

realizações reportadas na avaliação figuram o<br />

incremento de acções de formação junto das<br />

comunidades e outros sectores envolvidos<br />

na redução do risco de desastres, a criação<br />

de comités locais de gestão de risco e o<br />

reassentamento de 44.000 famílias de áreas<br />

de alto risco. Desafios que persistem são a<br />

integração da gestão de desastres nos Planos<br />

Económicos e Sociais e a atribuição de fundos<br />

mais adequados às províncias e distritos. 145<br />

5.5. Conclusões<br />

As questões ambientais afectam as crianças<br />

de inúmeras formas, e os efeitos da<br />

degradação ambiental deverão intensificar-se<br />

nos próximos anos. A degradação ambiental<br />

225


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

afecta negativamente o desenvolvimento<br />

de Moçambique como país e tem<br />

profundos efeitos negativos sobre cada<br />

criança. As crianças são particularmente<br />

vulneráveis a situações de emergência nos<br />

domínios de saúde, educação e segurança.<br />

As situações de emergência poderão<br />

intensificar-se à medida que a mudança<br />

climática for aumentando a ocorrência de<br />

ciclones em Moçambique.<br />

O ambiente é considerado pelo Governo<br />

de Moçambique um tema transversal.<br />

No entanto, as acções para abordar as<br />

alterações climáticas, o ambiente e a gestão<br />

de desastres não têm sido suficientemente<br />

integradas nos diversos sectores. Têm<br />

sido atribuídos insuficientes fundos para<br />

lidar com a degradação ambiental, tanto por<br />

parte do Governo de Moçambique como<br />

dos seus parceiros, possivelmente devido<br />

ao demorado retorno desses investimentos.<br />

Sem esses investimentos, no entanto, a<br />

degradação ambiental pode vir a reduzir<br />

significativamente ou até mesmo a reverter<br />

os progressos realizados na sobrevivência<br />

infantil, na educação e na protecção. É<br />

urgente agir-se no sentido de sensibilizar<br />

as comunidades para a necessidade de<br />

se reduzirem as práticas nocivas para o<br />

ambiente e de se garantir que as iniciativas<br />

públicas e privadas sejam conduzidas<br />

de forma ambientalmente sustentável. A<br />

mudança climática é uma questão que deve<br />

ser abordada em cooperação com parceiros<br />

regionais e internacionais de Moçambique.<br />

226


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

6. Comunicação para o Desenvolvimento<br />

Na Assembleia Geral da ONU de 1996,<br />

foi aprovada uma resolução salientando<br />

a necessidade de apoiar sistemas<br />

de comunicação bidireccional que<br />

permitam diálogo e que as comunidades<br />

falem, expressem as suas aspirações e<br />

preocupações e participem nas decisões<br />

concernentes ao seu desenvolvimento”. 146<br />

Estes sistemas de comunicação e o<br />

domínio emergente da comunicação para o<br />

desenvolvimento (C4D – Communication for<br />

Development) estão a ser alvo de crescente<br />

reconhecimento em Moçambique por todo<br />

o papel que podem desempenhar para fazer<br />

avançar a situação dos direitos humanos das<br />

crianças e das comunidades.<br />

Desde a adopção de uma nova constituição<br />

em 1990 que Moçambique tem assistido a um<br />

crescimento, em amplitude e profundidade,<br />

do seu sector dos media. Têm proliferado os<br />

meios de comunicação privados, os estatais<br />

têm estado a trabalhar para adoptar o formato<br />

de serviço público, e um número crescente<br />

de estações de rádio comunitárias servem<br />

as áreas rurais. Embora ainda incipiente, o<br />

crescimento da informação, da comunicação<br />

e das indústrias de entretenimento tem<br />

criado um importante ambiente propício<br />

para actividades de comunicação para o<br />

desenvolvimento. A crescente organização<br />

e capacidade de organismos da sociedade<br />

civil, incluindo os que se especializam em<br />

comunicação para o desenvolvimento,<br />

promoção da saúde, prevenção do HIV e<br />

defesa dos direitos humanos da criança,<br />

tem facilitado uma coerente - e cada vez<br />

mais descentralizada - planificação e<br />

implementação da comunicação.<br />

6.1. Desenvolvimento dos<br />

órgãos de comunicação<br />

social em Moçambique<br />

O desenvolvimento do sector dos media<br />

em Moçambique tem vindo a desempenhar<br />

um papel crucial no apoio à governação,<br />

ao desenvolvimento e à divulgação<br />

de informação desde a fundação, em<br />

1975, da Rádio Moçambique (RM), e da<br />

agência nacional de notícias, a Agência<br />

de Informação de Moçambique (AIM),<br />

detidas pelo estado. O surgimento de uma<br />

imprensa livre e independente foi permitido<br />

pela Constituição 147 , que prevê a liberdade<br />

de expressão e o direito do cidadão à<br />

informação. O artigo 74 da Constituição<br />

estabelece que os meios de comunicação<br />

desempenham um papel importante na<br />

implementação destes direitos, bem como<br />

valorizando outros direitos individuais e<br />

colectivos consagrados na Constituição.<br />

Uma ampla Lei de Imprensa, 148 aprovada<br />

em 1991 e em fase de revisão em 2009,<br />

promove ainda mais a liberdade de<br />

imprensa, cobrindo a maior parte dos<br />

aspectos dos meios de comunicação e<br />

da actividade jornalística. O regulamento<br />

da comunicação social de Moçambique<br />

está sob tutela do Gabinete de Informação<br />

(GABINFO), o órgão estatal encarregado do<br />

registo administrativo de todos os meios de<br />

comunicação. O GABINFO também emite<br />

licenças para novos órgãos de imprensa,<br />

rádio e televisão, embora as licenças<br />

para a utilização das frequências de rádio<br />

sejam passadas pelo Instituto Nacional das<br />

Comunicações de Moçambique (INCM), que<br />

faz parte do Ministério dos Transportes e<br />

Comunicações. 149<br />

Reconhecendo que as intervenções<br />

focadas na informação e comunicação são<br />

fundamentais para atrair a participação<br />

de todos os cidadãos, atendendo as suas<br />

necessidades de informação e ouvindo as<br />

suas vozes, o Plano de Acção para a Redução<br />

da Pobreza Absoluta (PARPA II) deu especial<br />

atenção ao acesso à informação e ao<br />

conhecimento como instrumento essencial<br />

para aumentar a participação e o diálogo,<br />

envolvendo os cidadãos na luta contra a<br />

pobreza. Esta aposta estratégica, combinada<br />

com a Constituição e a Lei de Imprensa, tem<br />

facilitado a rápida melhoria do acesso geral<br />

227


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

à informação em Moçambique, estando<br />

o país a expandir-se de limitadas redes<br />

públicas para um sector de comunicação<br />

social mais pluralista que inclui a rádio,<br />

a imprensa escrita, canais de televisão,<br />

internet e serviços móveis, pertencentes a e<br />

operados por diversos organismos estatais,<br />

comunitários, de base religiosa e privados.<br />

A rádio continua a ser o meio de<br />

comunicação de massas com maior<br />

cobertura. A emissora pública nacional,<br />

a Rádio Moçambique, chega a 80% da<br />

população, transmitindo através de 11<br />

delegações, em 21 línguas, incluindo<br />

português e inglês no serviço nacional e<br />

línguas locais em noticiários e programas<br />

provinciais. De acordo com um estudo de<br />

2005 realizado pelo Iniciativa Africana para<br />

Desenvolvimento dos Media (Africa Media<br />

Development Initiative), 98 por cento da<br />

população urbana tinha escutado rádio<br />

nos últimos 12 meses, sendo que 91 por<br />

cento dessa percentagem tinham escutado<br />

rádio nos últimos sete dias. 150 Embora a<br />

Rádio Moçambique controle as estações<br />

de rádio mais amplamente escutadas nas<br />

áreas urbanas, o Fórum Nacional de Rádios<br />

Comunitárias (FORCOM), criado em 2004,<br />

registou mais de 60 rádios comunitárias<br />

em todo o país, partindo de apenas<br />

uma em 1994. 151 As rádios comunitárias<br />

cobrem quase metade dos 128 distritos<br />

de Moçambique 152 e transmitem em<br />

português e nas línguas locais. A maioria<br />

são estações de rádio comunitárias sem fins<br />

lucrativos, muitas das quais criadas com<br />

a participação do Projecto dos Média da<br />

UNESCO; outras pertencem a organizações<br />

religiosas (principalmente à Igreja Católica),<br />

às autoridades municipais ou ao Instituto da<br />

Comunicação Social (ICS), um departamento<br />

do estado subordinado ao GABINFO com<br />

a responsabilidade de desenvolver a<br />

comunicação nas zonas rurais.<br />

Num país onde apenas 40 por cento da<br />

população fala português (e apenas 6<br />

por cento como língua materna), 153 estas<br />

estações de rádio baseadas na comunidade<br />

com programação em línguas locais são um<br />

veículo fundamental para mobilizar líderes<br />

comunitários e promover a participação de<br />

crianças, jovens e mulheres nos debates<br />

da comunidade. Uma avaliação de 2006<br />

do impacto de oito estações de rádio<br />

comunitárias revelou que quase 100 por<br />

cento dos entrevistados reportaram ouvir<br />

a rádio comunitária local; muitos foram de<br />

opinião que a rádio pertence à comunidade,<br />

uma vez que fornece informação local, dá<br />

oportunidades para as pessoas expressarem<br />

as suas opiniões e preocupações, e promove<br />

a cultura local. 154<br />

No sector da imprensa escrita, o número<br />

de jornais, revistas, folhetos e boletins<br />

informativos registados cresceu para 254 em<br />

2006. 155 Existem três principais jornais diários<br />

(Notícias, Diário de Moçambique e O País),<br />

e estabeleceram-se vários outros periódicos<br />

no mercado nos últimos anos, incluindo<br />

o primeiro jornal gratuito, @ Verdade.<br />

Apesar do aumento da imprensa escrita, as<br />

questões de disponibilidade e preço a que<br />

se juntam taxas de analfabetismo de 48 por<br />

cento na população com 15 ou mais anos de<br />

idade 156 - resulta em baixo acesso, de modo<br />

que apenas um por cento da população faz<br />

uso dos órgãos impressos. 157<br />

A nível da transmissão televisiva,<br />

existem quatro estações, nas redes de<br />

televisão pública e privada. A Televisão<br />

de Moçambique (TVM), a rede estatal que<br />

começou a funcionar em 1981, continua a<br />

dominar, chegando agora à maior parte do<br />

país graças à instalação de retransmissores<br />

em 1992, a que se seguiu passagem para<br />

satélite. As televisões privadas têm vindo<br />

a ganhar força económica e visibilidade e<br />

estão a dar início ao processo de criação de<br />

delegações e repetidores nas províncias.<br />

Embora a posse de televisão familiar tenha<br />

passado de cinco para dez por cento entre<br />

os anos de 1997 a 2007 158 159 e os padrões<br />

de visualização em grupo signifiquem que,<br />

mesmo quem não tem televisor pode, por<br />

vezes, assistir a transmissões, a televisão<br />

continua fora do alcance da maioria dos<br />

moçambicanos: o acesso à televisão<br />

depende do acesso à electricidade e da<br />

penetração do serviço, e, como tal, continua<br />

confinado aos centros urbanos.<br />

228


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

A penetração e o número de assinantes do<br />

serviço móvel em Moçambique aumentou<br />

significativamente durante a primeira<br />

década do novo século, com dois operadores<br />

de rede móvel, a mCel (pertencente à<br />

Telecomunicações de Moçambique) e a<br />

Vodacom, dividindo o mercado. Em 2000,<br />

menos de um por cento da população tinha<br />

acesso a um telefone móvel, número que<br />

aumentou para cerca de 23 por cento 160<br />

em menos de dez anos, com um total de<br />

assinantes calculado em 4,2 milhões em<br />

2008. 161 O acesso à Internet, por outro lado,<br />

é quase inteiramente restrito aos centros<br />

urbanos e continua ainda mais limitado<br />

que a televisão. Dados de 2006 indicam que<br />

havia mais de 18 provedores de Internet<br />

a nível nacional. Apenas dois por cento<br />

da população tem acesso à Internet. 162 No<br />

entanto, a Internet é cada vez mais utilizada<br />

pelo sector dos media, representado<br />

por vários sites de notícias on-line e um<br />

crescente número de blogues e fóruns de<br />

discussão.<br />

6.2. O papel de mudança dos<br />

media: comunicação para<br />

o desenvolvimento e<br />

mobilização da comunidade<br />

Não só se expandiu o alcance dos media<br />

ao longo dos anos, mas também o<br />

conteúdo e o objectivo da programação.<br />

Além do uso tradicional dos meios de<br />

comunicação como um meio de divulgação<br />

de informação ao público e de transmissão<br />

de música, a rádio e outras formas de<br />

comunicação social incluem também<br />

agora programas de educação social e<br />

desenvolvimento comunitário destinados a<br />

levar as pessoas a adoptarem e manterem<br />

comportamentos saudáveis. Têm sido<br />

desenvolvidas actividades e estratégias dos<br />

media para sensibilizar para as questões<br />

de desenvolvimento audiências de massas<br />

e formadores de opinião, para influenciar<br />

atitudes e comportamentos a nível<br />

individual e colectivo, para fortalecer grupos<br />

marginalizados e vulneráveis, incluindo<br />

crianças e jovens.<br />

Este tipo de apoio dos media também tem<br />

recebido atenção especial como factor<br />

fundamental para garantir a participação,<br />

apropriação (ownership) e responsabilidade<br />

necessárias para alcançar os ODM. 163 Nesta<br />

perspectiva, a comunicação para estratégias<br />

e abordagens de desenvolvimento relativas<br />

a intervenções-chaves para a sobrevivência<br />

da criança (como as Semanas de Saúde<br />

da Criança e a Campanha Nacional de<br />

Saneamento), e a promoção dos direitos da<br />

criança (tais como o registo de nascimento e<br />

a prevenção da violência e do abuso) estão a<br />

ser actualmente desenvolvidas e promovidas<br />

a nível nacional. Têm como objectivo munir<br />

os cuidadores e os membros da comunidade<br />

de informações essenciais para desenvolver<br />

habilidades e auto-confiança para tomar<br />

decisões informadas sobre questões que<br />

afectam as suas vidas e o bem estar das<br />

suas crianças.<br />

6.3. Iniciativas promissoras nos<br />

media moçambicanos<br />

Além das formas mais convencionais de<br />

rádio, televisão e imprensa escrita, várias<br />

modalidades alternativas de comunicação<br />

social têm vindo a ganhar uma crescente<br />

popularidade em Moçambique. Ao utilizar<br />

uma abordagem que combina vários tipos<br />

de meios de comunicação e diálogo, estas<br />

iniciativas têm um enorme potencial para<br />

envolver mais pessoas, principalmente<br />

jovens, em actividades educativas, diálogo<br />

e debate públicos. Entre elas, encontramse<br />

Centros Multimedia Comunitários<br />

(CMC), Unidades Móveis Multimedia, Rádio<br />

Criança para Criança, e programas de Teatro<br />

Comunitários.<br />

Os Centros Multimedia Comunitários<br />

combinam rádio comunitária com outras<br />

formas de Tecnologia da Informação e<br />

Comunicação (TIC). Por terem um ‘Telecentro’<br />

físico com computadores, serviço de<br />

internet, telefones, faxes, fotocopiadoras<br />

e impressoras, as pessoas e organizações<br />

da comunidade podem fazer melhor uso<br />

da informação e dos media. Os Centros<br />

Multimedia Comunitários também<br />

229


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

proporcionam oportunidades de formação<br />

e permitem que as organizações da<br />

comunidade que os operam obtenham um<br />

pequeno rendimento de taxas cobradas para<br />

formação, utilização da internet, ou outros<br />

serviços. Em 2007, 18 Centros Multimedia<br />

Comunitários estavam operacionais em<br />

todo o país, havendo pelo menos um em<br />

cada província. 164 O quadro institucional dos<br />

Centros Multimedia Comunitários é ainda<br />

fraco 165 ; a sua utilidade e a possibilidade de<br />

serem bem sucedidos dependerão de maior<br />

propriedade e investimento do sector público.<br />

Uma segunda iniciativa promissora, gerida<br />

pelo Instituto da Comunicação Social, faz<br />

uso das Unidades Móveis Multimedia.<br />

As doze unidades estando cada viatura<br />

equipada com um projector de vídeo, um<br />

ecrã gigante de projecção de filmes, um<br />

rádio, uma tenda e materiais para testes<br />

de HIV, e materiais educativos desloca-se<br />

às comunidades rurais, onde normalmente<br />

permanece quatro dias de cada vez. Lá<br />

se encontrando, a equipe da unidade<br />

móvel mobiliza a comunidade em torno<br />

de questões-chave usando apresentações<br />

audiovisuais para envolver os participantes<br />

em diálogo e debate. As actividades são<br />

concebidas com a participação de líderes<br />

locais e, quando disponíveis, membros de<br />

associações de jovens. As unidades também<br />

oferecem uma oportunidade de testagem e<br />

aconselhamento sobre o HIV e a SIDA.<br />

Para estimular o engajamento e a<br />

participação de crianças e jovens na<br />

área dos media e proporcionar-lhes uma<br />

plataforma mais regular para exprimirem<br />

as suas opiniões, a Rádio Moçambique<br />

criou o programa Criança para Criança,<br />

que compreende transmissões de rádio<br />

comunitária feitas por crianças e destinadas<br />

a crianças. O programa Criança para<br />

Criança facilita o vínculo e a comunicação<br />

entre pais e filhos ao nível da comunidade<br />

sobre importantes questões dos direitos<br />

da criança. O programa também contribui<br />

para o cumprimento dos artigos 12, 13 e 14<br />

da Convenção dos Direitos da Criança, que<br />

estabelece os direitos da criança a liberdade<br />

de expressão, liberdade de procurar e<br />

transmitir informações e liberdade de<br />

pensamento, consciência e religião. Mais<br />

de mil crianças e adolescentes na faixa<br />

dos 11 a 18 anos 60 por cento das quais<br />

do sexo feminino 166 estão activamente<br />

envolvidas no desenvolvimento, produção<br />

e apresentação de programas de rádio. Em<br />

2007, o programa da Rádio Moçambique<br />

Criança para Criança ganhou o concurso<br />

do Dia Internacional da Criança na Rádio e<br />

Televisão na categoria ‘Excelência em Rádio’,<br />

em reconhecimento do papel central que<br />

as crianças desempenham na abordagem<br />

das questões dos direitos da criança,<br />

desenvolvendo, produzindo e apresentando<br />

programas de rádio para os seus pares.<br />

Em todo o país, mas especialmente em áreas<br />

com mais limitado acesso a tecnologia, o<br />

teatro comunitário tem provado ser um meio<br />

de comunicação interpessoal eficaz para<br />

fortalecer o conhecimento da comunidade<br />

e estimular e incentivar o debate sobre<br />

assuntos de interesse social, especialmente<br />

respeitantes a crianças e jovens. A Rede de<br />

Teatro Comunitário, com mais de 100 grupos<br />

de teatro a nível nacional, usa a abordagem<br />

Teatro do Oprimido na representação teatral<br />

em palco, abordagem essa que convida<br />

os membros do público a participarem<br />

activamente na representação. Através<br />

das suas representações, sensibilizam e<br />

promovem atitudes e comportamentos<br />

positivos 167 nas áreas de sobrevivência<br />

infantil, educação da rapariga, género e<br />

prevenção do HIV. No final de cada peça,<br />

estabelece-se um diálogo entre os actores e<br />

a plateia.<br />

6.4. Redes e parcerias amigas<br />

da criança<br />

Além das iniciativas que se estão a realizar<br />

a nível local, as redes e parcerias nacionais<br />

com os principais intervenientes na indústria<br />

dos media e da comunicação começam a<br />

mostrar o seu potencial como veículos para<br />

difundir mensagens sobre os direitos das<br />

crianças em todo o país.<br />

230


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

Para informar sobre a situação dos<br />

direitos da criança em Moçambique, a<br />

organização não governamental Instituto de<br />

Comunicação Social da África Austral (Media<br />

Institute of Southern Africa) criou uma Rede<br />

de Comunicadores Amigos da Criança) em<br />

2007, envolvendo mais de 300 jornalistas<br />

de todo o país. A rede utiliza os órgãos de<br />

comunicação para publicar artigos sobre os<br />

direitos da criança, divulgar informações e<br />

conhecimentos sobre questões da infância, e<br />

denunciar violações dos direitos da criança.<br />

Além disso, a rede promove acções de<br />

formação para capacitação de jornalistas,<br />

publica análises e recomendações regulares<br />

para os media sobre como cobrir as<br />

questões relacionadas com as crianças,<br />

participa em debates públicos com<br />

especialistas sobre temas relacionados<br />

com os direitos da criança, e participa em<br />

campanhas de sensibilização para a adopção<br />

e implementação de políticas e legislação<br />

amigas da criança. 168<br />

Em termos de parcerias com o sector<br />

privado, têm-se aproveitado os provedores<br />

de serviços de telefonia móvel para divulgar<br />

mensagens pró-sociais ocasionais. A<br />

Mcel, que reivindica mais de 3 milhões de<br />

assinantes e uma quota de mercado de 70<br />

por cento, tem vindo a apoiar actividades<br />

em prol do bem-estar das crianças em<br />

Moçambique. Em 2008, uma parceria para<br />

os Direitos da Criança em Moçambique<br />

conseguiu servir-se do poder de marketing<br />

da Mcel utilizando os seus canais de<br />

distribuição para divulgar mensagens sobre<br />

os direitos da criança. Foram impressas em<br />

mais de 10 milhões de cartões de recarga<br />

da Mcel informações relacionadas com a<br />

Lei da Criança e mensagens gerais sobre<br />

os direitos da criança. Esta colaboração<br />

desenvolveu-se em campanha nacional, com<br />

spots televisivos e de rádio, anúncios de<br />

jornal e órgãos de comunicação externos.<br />

6.5. Privação de informação<br />

Infelizmente, o recente crescimento do<br />

sector dos media ainda tem que reduzir a<br />

incidência de crianças moçambicanas com<br />

privação severa de informação, definida<br />

como a percentagem de crianças com 5<br />

a 18 anos de idade sem posse de ou sem<br />

acesso a uma televisão, rádio ou jornal<br />

no lar. Uma análise da pobreza infantil<br />

de 2009 169 solicitada para a Avaliação do<br />

Impacto do PARPA II, usando uma medida<br />

de pobreza baseada em privações inspirada<br />

nos Indicadores de Bristol 170 revelou que 40<br />

por cento das crianças estavam em situação<br />

de privação severa de informação em 2008.<br />

Não havia nenhuma evidência de qualquer<br />

mudança na percentagem de crianças com<br />

privação severa de informação entre o<br />

Inquérito Demográfico e de Saúde 2003 e<br />

o MICS 2008, em que se baseou a análise<br />

de 2009. A análise também deu a conhecer<br />

que a privação severa de informação está<br />

altamente correlacionada com a riqueza do<br />

agregado familiar da criança. As crianças dos<br />

agregados mais pobres têm quase sete vezes<br />

mais probabilidade de sofrer de privação<br />

severa de informação do que as crianças das<br />

famílias mais ricas.<br />

6.6. Conclusões<br />

Apesar dos progressos realizados no sector<br />

da comunicação, ainda não foi realizado o<br />

pleno potencial dos meios de comunicação<br />

para divulgar informações, envolver<br />

comunidades no debate e contribuir para<br />

um melhor ambiente para as crianças. Em<br />

geral, o alcance dos media e a sua utilidade<br />

na implementação de mudanças no bemestar<br />

da criança são ainda limitados no país,<br />

especialmente no que respeita à imprensa<br />

escrita, à televisão e à internet. O reforço da<br />

liberdade de expressão e a sustentabilidade<br />

das iniciativas mais recentes estão entre os<br />

maiores desafios para o sector dos media.<br />

O elevado e imutável nível de privação<br />

de informação indica que as mensagens<br />

transmitidas através de formas convencionais<br />

de comunicação social podem não atingir um<br />

grande número de crianças. Maior atenção,<br />

portanto, deve ser dada a formas alternativas<br />

de media e comunicação que estão a ganhar<br />

força em Moçambique, especialmente<br />

nas zonas rurais. As estratégias de<br />

comunicação para o desenvolvimento<br />

231


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

centrado nas crianças têm de envolver<br />

mais nas intervenções os líderes locais, os<br />

mobilizadores sociais e os activistas.<br />

A Rede de Comunicadores Amigos da<br />

Criança mostra que os jornalistas de todo<br />

o país podem unir-se sob as questões da<br />

infância, mas é ainda preciso que se integre<br />

mais trabalho nas línguas locais usando os<br />

meios de comunicação social e os meios<br />

comunitários para divulgar as mensagens<br />

de comunicação de uma forma mais intensa.<br />

Também podem ser reforçadas parcerias<br />

com o sector privado. Como comprovado<br />

pela campanha Mcel 2008, há espaço para<br />

se explorar o uso sistemático de telefonia<br />

móvel para resultados de desenvolvimento e<br />

orientados para os direitos; outras parcerias<br />

podem também ser de grande potencial se<br />

estrategicamente desenvolvidas.<br />

Um último desafio é que a monitoria e<br />

avaliação das intervenções de comunicação<br />

para o desenvolvimento continuam<br />

dispendiosas e, portanto, limitadas,<br />

dependendo fortemente de dados qualitativos<br />

que são difíceis de aplicar nos vários<br />

programas e localizações geográficas. Esta<br />

situação deverá mudar nos próximos anos<br />

com o crescente reconhecimento de que<br />

a realização dos objectivos do Governo de<br />

redução da pobreza - assim como dos ODM<br />

- dependerão significativamente da expansão,<br />

consolidação e alinhamento dos esforços de<br />

comunicação nos vários sectores, público,<br />

privado e da sociedade civil.<br />

232


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

Referências<br />

1 Assembleia Geral das Nações Unidas,<br />

Declaração Universal dos Direitos do <strong>Home</strong>m,<br />

Nações Unidas, Nova Iorque, 1948.<br />

2 Assembleia Geral das Nações Unidas,<br />

Convenção sobre a Eliminação de Todas as<br />

Formas de Discriminação contra a Mulher,<br />

Nações Unidas, Nova Iorque, 1979.<br />

3 United Nations General Assembly, Vienna<br />

Declaration and Programme of Action, World<br />

Conference on Human Rights, Vienna, 14-25<br />

June 1993, A/CONF.157/23, 13 de Julho de<br />

1993.<br />

4 Ministério do Plano e Finanças, Plano de<br />

Acção para a Redução da Pobreza Absoluta,<br />

2001–2005, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2001<br />

5 Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

Proposta de Programa do Governo para<br />

2010–2014, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 17 de Fevereiro de 2010.<br />

6 Ibid<br />

7 Tvedten, Inge, Margarida Paulo e Georgina<br />

Montserrat, Gender Policies and Feminization<br />

of Poverty in <strong>Mozambique</strong>, CMI Report, Chr.<br />

Michelsen Institute, Bergen, 2008.<br />

8 Cruzeiro do Sul, ‘Análise multidimensional<br />

da pobreza em três aldeias do norte de<br />

Moçambique, Relatório Final’, Maputo, 2007.<br />

9 Cuangara, Benedito e Brendan Kelly,<br />

‘The impact of the PARPA II in promoting<br />

the agricultural sector in <strong>Mozambique</strong>,’<br />

descarregado de: http://www.open.ac.uk/<br />

technology/mozambique/pics/d119369.pdf,<br />

2009.<br />

10 Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

Plano de Acção para a Redução da<br />

Pobreza Absoluta, 2006–2009, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2006.<br />

11 Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

Ministério da Mulher e da Acção Social e<br />

Grupo de Coordenação de Género, Gender<br />

Development Index no Contexto da Avaliação<br />

do PARPA II, 2006–2009), Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2009.<br />

12 Tvedten, Inge, Margarida Paulo e Georgina<br />

Montserrat, Gender Policies and Feminisation<br />

of Poverty in <strong>Mozambique</strong>, CMI Report, Chr.<br />

Michelsen Institute, Bergen, 2008.<br />

13 Instituto Nacional de Estatística , ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

14 Ministry of Education and Culture, Education<br />

Statistics: Annual school survey, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2004, 2005, 2006, 2007,<br />

2008.<br />

15 Ibid<br />

16 Pinheiro, Paulo Sérgio, World Report on<br />

Violence Against Children, Estudo do<br />

Secretário Geral das Nações Unidas sobre a<br />

Violência contra a Criança, Genebra, 2006.<br />

17 Tvedten, Inge, Margarida Paulo e Georgina<br />

Montserrat, Gender Policies and Feminisation<br />

of Poverty in <strong>Mozambique</strong>, CMI Report, Chr.<br />

Michelsen Institute, Bergen, 2008.<br />

18 United Nations Committee on the Elimination<br />

of Discrimination against Women,<br />

‘Consideration of reports submitted by States<br />

Parties under article 18 of the Convention on<br />

the Elimination of All Forms of Discrimination<br />

against Women, Combined initial and<br />

second periodic reports of States Parties<br />

– <strong>Mozambique</strong>,’ CEDAW/C/MOZ/1-2, Nações<br />

Unidas, Genebra, 14 de Novembro de 2005.<br />

19 Tvedten, Inge, Margarida Paulo e Carmeliza<br />

Rosário, “Opitanha”: Social relations of rural<br />

poverty in northern <strong>Mozambique</strong>, CMI Report<br />

2006:16, Chr. Michelsen Institute, Bergen,<br />

Noruega, 2006.<br />

20 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

21 Ibid<br />

22 Tvedten, Inge, Margarida Paulo e Carmeliza<br />

Rosário, “Opitanha”: Social relations of rural<br />

poverty in northern <strong>Mozambique</strong>, CMI Report<br />

2006:16, Chr. Michelsen Institute, Bergen,<br />

Noruega, 2006.<br />

233


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

23 Tvedten, Inge, Margarida Paulo e Georgina<br />

Montserrat, Gender Policies and Feminisation<br />

of Poverty in <strong>Mozambique</strong>, CMI Report, Chr.<br />

Michelsen Institute, Bergen, 2008.<br />

24 United Nations Committee on the Elimination<br />

of Discrimination against Women,<br />

‘Consideration of reports submitted by States<br />

Parties under article 18 of the Convention on<br />

the Elimination of All Forms of Discrimination<br />

against Women, Combined initial and<br />

second periodic reports of States Parties<br />

– <strong>Mozambique</strong>’, CEDAW/C/MOZ/1-2, Nações<br />

Unidas, Genebra, 14 de Novembro de 2005.<br />

25 United Nations, Declaration of Commitment<br />

on HIV/AIDS, Sessão Especial da Assembleia<br />

Geral das Nações Unidas sobre o HIV/SIDA,<br />

25–27 de Julho 2001.<br />

26 Southern African Research and<br />

Documentation Centre, Instituto Superior de<br />

Relações Internacionais, National Institute<br />

of Statistics e United Nations Development<br />

Programme, <strong>Mozambique</strong> National Human<br />

Development Report 2007, UNDP, Maputo,<br />

2007.<br />

27 Instituto Nacional de Estatística e Ministério<br />

da Saúde, Inquérito Nacional de Prevalência.<br />

Riscos Comportamentais e Informação sobre<br />

o HIV e SIDA em Mocambique (INSIDA),<br />

Relatório Preliminar sobre a Prevalência da<br />

Infecção por HIV, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2009.<br />

28 Instituto Nacional de Estatística, Ministério<br />

da Saúde, Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Centro de Estudos<br />

Africanos da Universidade Eduardo Mondlane,<br />

Conselho Nacional de Combate ao HIV/SIDA e<br />

Faculdade de Medicina, Impacto Demográfico<br />

do HIV/SIDA em Moçambique, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, Setembro de 2008.<br />

29 AIDS Accountability International, ‘The AIDS<br />

Accountability Scorecard on Women 2009’,<br />

Joint United Nations Programme on HIV/<br />

AIDS, Genebra, 2009.<br />

30 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos 2008. Sumário,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2008.<br />

31 Ministry of Planning and Development,<br />

‘Poverty and Wellbeing in <strong>Mozambique</strong>: Third<br />

National Poverty Assessment.’ Governo de<br />

Moçambique, Setembro de 2010.<br />

32 Fox, Louise, Beating the Odds: Sustaining<br />

inclusion in <strong>Mozambique</strong>’s growing economy,<br />

The World Bank, Washington, D.C., 2008.<br />

33 United Nations Development Programme,<br />

<strong>Mozambique</strong> National Human Development<br />

Report 2007, UNDP, Maputo, 2007.<br />

34 Ibid.<br />

35 James, Robert C., Channing Arndt and<br />

Kenneth R. Simler, ‘Has Economic Growth<br />

in <strong>Mozambique</strong> Been Pro-Poor?’ Relatório<br />

de Discussão E8, Moçambique Ministério<br />

do Plano e Finanças, Direcção Nacional<br />

de Estudos e Análise de Políticas, Purdue<br />

University e International Food Policy and<br />

Research Institute, Maputo, 2005.<br />

36 Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

Relatório de Avaliação de Impacto do PARPA<br />

II, 30 Outubro de 2009, para. 108, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2009.<br />

37 <strong>UNICEF</strong>, Trends in Child Poverty in<br />

<strong>Mozambique</strong>. A deprivations-based approach,<br />

Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2009.<br />

38 <strong>UNICEF</strong>, Trends in Child Poverty in<br />

<strong>Mozambique</strong>. A deprivations-based approach,<br />

Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2009.<br />

39 Ibid<br />

40 Ibid<br />

41 Instituto Nacional de Estatística e Ministério<br />

da Saúde, Inquérito Nacional de Prevalência.<br />

Riscos Comportamentais e Informação sobre<br />

o HIV e SIDA em Mocambique (INSIDA),<br />

Relatório Preliminar sobre a Prevalência da<br />

Infecção por HIV, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2009.<br />

42 <strong>UNICEF</strong>, Trends in Child Poverty in<br />

<strong>Mozambique</strong>. A deprivations-based approach,<br />

Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2009.<br />

43 McCoy, Simon, and ImarcianaCunamizana,<br />

Provincial Budget Allocations in the Health,<br />

Education and Water Sectors: An analysis<br />

2003–2006, Discussion paper no. 58E,<br />

<strong>UNICEF</strong> Moçambique e Direcção Nacional de<br />

Estudos e Análises de Políticas, Ministério<br />

de Planificação e Desenvolvimento, Maputo,<br />

Janeiro de 2008.<br />

234


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

44 Sal e Caldeira e Ximango Consoltores, Análise<br />

do Impacto da Estrutura das Despesas sobre o<br />

Desenvolvimento Económico e as Condições<br />

de Vida em Moçambique, Agência Suíça para<br />

o Desenvolvimento e Cooperação, 2009.<br />

45 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final’, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

46 Ibid.<br />

47 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final’, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

48 Sal e Caldeira e Ximango Consultores, Análise<br />

do Impacto da Estrutura das Despesas sobre o<br />

Desenvolvimento Económico e as Condições<br />

de Vida em Moçambique, Agência Suíça para<br />

o Desenvolvimento e Cooperação, 2009.<br />

49 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

50 Ibid<br />

51 Ministério da Mulher e da Acção Social,<br />

Inquérito sobre Violência Contra a Mulher,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2004.<br />

52 Centro de Documentação e Pesquisa para<br />

a África Austral, Instituto Superior de<br />

Relações Internacionais, Instituto Nacional<br />

de Estatística e Programa das Nações Unidas<br />

para o Desenvolvimento, Relatório Nacional<br />

de Desenvolvimento Humano de Moçambique<br />

2007, PNUD, Maputo, 2007.<br />

53 Commission on HIV/AIDS and Governance in<br />

Africa, ‘The Impacts of HIV/AIDS on Families<br />

and Communities in Africa,’ Comissão<br />

Económica para África, Adis Abeba, 2004.<br />

54 Instituto Nacional de Estatística, Ministério<br />

da Saúde, Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Centro de Estudos<br />

Africanos da Universidade Eduardo<br />

Mondlane, Conselho Nacional de Combate<br />

ao HIV/SIDA e Faculdade de Medicina,<br />

Impacto demográfico do HIV/SIDA em<br />

Moçambique: Actualização - Ronda de<br />

vigilância epidemiológica 2007, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2008.<br />

55 Centro de Documentação e Pesquisa para<br />

a África Austral, Instituto Superior de<br />

Relações Internacionais, Instituto Nacional<br />

de Estatística e Programa das Nações Unidas<br />

para o Desenvolvimento, Relatório Nacional<br />

de Desenvolvimento Humano de Moçambique<br />

2007, PNUD, Maputo, 2007.<br />

56 Ibid.<br />

57 Joint United Nations Programme on HIV/AIDS,<br />

<strong>Mozambique</strong> Modes of HIV Transmission and<br />

HIV Prevention Study, UNAIDS, Genebra,<br />

2009<br />

58 Instituto Nacional de Estatística, Ministério<br />

da Saúde, Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Centro de Estudos Africanos<br />

da Universidade Eduardo Mondlane, Conselho<br />

Nacional de Combate ao HIV/SIDA e<br />

Faculdade de Medicina, Impacto demográfico<br />

do HIV/SIDA em Moçambique. Actualização:<br />

Ronda de vigilância epidemiológica 2007,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2008.<br />

59 <strong>Mozambique</strong> National Institute of Health,<br />

London School of Hygiene and Tropical<br />

Medicine, and <strong>UNICEF</strong>, <strong>Mozambique</strong> National<br />

Childhood Mortality Study 2009, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2009.<br />

60 Ibid.<br />

61 Instituto Nacional de Estatística e Ministério<br />

da Saúde, Inquérito Nacional de Prevalência.<br />

Riscos Comportamentais e Informação sobre<br />

o HIV e SIDA em Mocambique (INSIDA),<br />

Relatório Preliminar sobre a Prevalência da<br />

Infecção por HIV, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2009.<br />

62 Government of <strong>Mozambique</strong> and National<br />

AIDS Council, Progress Report to the United<br />

Nations General Assembly Special Session<br />

on HIV and AIDS, 2008–2009, Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

63 Ghys, P.D., E. Kufa and M.V. George,<br />

‘Measuring trends in prevalence and incidence<br />

of HIV infection in countries with generalized<br />

epidemics,’Sexually Transmitted Infections,<br />

vol. 82, supplement 1, pp. i52–i56.<br />

64 Government of <strong>Mozambique</strong> and National<br />

AIDS Council, Progress Report to the United<br />

Nations General Assembly Special Session<br />

on HIV and AIDS, 2008–2009, Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

65 Ibid.<br />

235


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

66 Conselho Nacional de Combate ao HIV/SIDA,<br />

UNAIDS and Global AIDS Monitoring and<br />

Evaluation Team, Mocambique: Modos de<br />

Transmissão do HIV e estudo de prevenção do<br />

HIV, Maputo, 2009.<br />

67 Arnt, Channing, ‘HIV/AIDS, Human Capital and<br />

Economic Prospects for <strong>Mozambique</strong>,’ Trade<br />

and Macroeconomic Division, International<br />

Food Policy Research Institute, Purdue<br />

University, Washington, DC, USA, 2002.<br />

68 Verde Azul Consultant Lda, for the Ministry of<br />

Education, Assessment of the Impact of HIV/<br />

AIDS on the Education Sector in <strong>Mozambique</strong>,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2000.<br />

69 United Nations, Declaration of Commitment<br />

on HIV/AIDS, United Nations General<br />

Assembly Special Session on HIV and AIDS,<br />

Genebra, 25–27 Junho de 2001.<br />

70 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

71 Ibid<br />

72 Ibid<br />

73 Leclerc-Madlala, Suzanne, ‘Intergenerational/<br />

age-disparate sex,’ policy and programme<br />

action brief from the technical meeting<br />

on young women in HIV hyper-endemic<br />

countries of southern Africa, descarregado<br />

de http://www.unaidsrstesa.org/userfiles/file/<br />

womenGirls_AgeDisparate.pdf,2010.<br />

74 Duerr, Ann, Stacey Hurst, Athena P. Kourtis,<br />

Naomi Rutenberg and Denise J. Jamieson,<br />

‘’Integrating family planning and prevention of<br />

mother-to-child HIV transmission in resourcelimited<br />

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78 Estimativas da ONUSIDA, Junho de 2010<br />

79 Conselho Nacional de Combate de HIV/SIDA<br />

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2009’ Ministério da Saúde, Governo de<br />

Moçambique, 2010.<br />

80 Estimativas da ONUSIDA, Junho de 2010.<br />

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Novembro de 2006.<br />

82 World Health Organisation, Rapid Advice: Use<br />

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83 Ministry of Health, National ART guidelines<br />

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Governo de Moçambique, Maputo, 2009.<br />

84 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos 2008. Sumário,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2008.<br />

85 Government of <strong>Mozambique</strong>, Multiple<br />

Indicator Cluster Survey 2008, Maputo, 2008.<br />

86 Instituto nacional de Estatística, Ministério<br />

da Saúde, Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Centro de Estudos<br />

Africanos da Universidade Eduardo<br />

Mondlane, Conselho Nacional de Combate<br />

ao HIV/SIDA e Faculdade de Medicina,<br />

Impacto demográfico do HIV/SIDA em<br />

Moçambique. Actualização - Ronda de<br />

Vigilância Epidemiológica 2007, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2008.<br />

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88 Ministry of Health, National ART guidelines<br />

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89 World Health Organisation, Use of<br />

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Moçambique, Maputo, 2004.<br />

236


CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

91 Instituto nacional de Estatística, Ministério<br />

da Saúde, Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Centro de Estudos Africanos<br />

da Universidade Eduardo Mondlane, Conselho<br />

Nacional de Combate ao HIV/SIDA e<br />

Faculdade de Medicina, Impacto demográfico<br />

do HIV/SIDA em Moçambique. Actualização<br />

- Ronda de Vigilância Epidemiológica 2007,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2008.<br />

92 Ibid<br />

93 Ibid<br />

94 National Institute of Health, London School of<br />

Hygiene and Tropical Medicine and <strong>UNICEF</strong>,<br />

<strong>Mozambique</strong> National Child Mortality Study,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2009.<br />

95 Instituto Nacional de Estatística, Ministério<br />

da Saúde, Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Centro de Estudos Africanos<br />

da Universidade Eduardo Mondlane, Conselho<br />

Nacional de Combate ao HIV/SIDA e<br />

Faculdade de Medicina, Impacto demográfico<br />

do HIV/SIDA em Moçambique. Actualização<br />

- Ronda de Vigilância Epidemiológica 2007,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2008.<br />

96 Conselho Nacional de Combate de HIV/SIDA,<br />

‘UNGASS Relatório de Progresso, 2008-<br />

2009’ Ministério da Saúde, Governo de<br />

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98 World Health Organisation, Use of<br />

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238


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240

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