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POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />
3. Violência, abuso e exploração<br />
A violência contra as crianças é uma<br />
grave violação dos direitos humanos com<br />
devastadoras consequências para a saúde<br />
física e mental a curto e longo prazo.<br />
Crianças vítimas de violência incluem<br />
crianças que foram abusadas sexualmente<br />
ou submetidas a violência como punição;<br />
crianças forçadas a trabalhar em condições<br />
deploráveis ou traficadas em condições<br />
de trabalho exploratórias, ou crianças<br />
forçadas a casamento prematuro. Tal<br />
violência ultrapassa fronteiras geográficas,<br />
atravessando culturas, classes, raças e<br />
religiões. Pode ser expressa como agressão<br />
ou abuso físico ou sexual, maus tratos<br />
psicológicos ou emocionais, privação ou<br />
negligência. O risco de violência é agravado<br />
pela pobreza, que muitas vezes anda de<br />
mãos dadas com a falta de protecção<br />
adequada por parte dos cuidadores e<br />
limitado acesso a serviços essenciais.<br />
Estatísticas do Ministério do Interior revelam<br />
terem sido reportados à polícia mais de<br />
3.500 casos de violência infantil em 2009. 3 É<br />
possível que o número de crianças vítimas<br />
de violência, abuso e exploração supere em<br />
muito o número de casos notificados.<br />
O Estudo das Nações Unidas sobre a<br />
Violência constata que a violência contra<br />
as crianças é importante em termos de<br />
escala, alcance e subnotificação, três<br />
aspectos agravados pela aceitação social<br />
do fenómeno. 4 Algumas formas de violência<br />
estão enraizadas em dinâmicas de género<br />
discriminatórias e desiguais e práticas<br />
nocivas, e Moçambique não constitui<br />
excepção. Estudos e dados disponíveis<br />
constituem uma base para se afirmar que é<br />
excepcionalmente forte em Moçambique a<br />
cultura patriarcal existente e ordem social<br />
dominada pelo sexo masculino. 5 O baixo<br />
nível de conhecimento que as vítimas<br />
possuem dos seus direitos e uma cultura<br />
de silêncio e aceitação da violência são os<br />
principais obstáculos ao lidar-se com esta<br />
questão.<br />
São limitados os dados quantitativos recentes,<br />
mas pesquisas anteriores relataram uma alta<br />
incidência de exploração e abuso sexual de<br />
crianças e mulheres no lar, no trabalho e na<br />
escola. O abuso sexual de crianças e mulheres<br />
continua a ser uma grande preocupação<br />
em Moçambique. Em 2001, o Inquérito<br />
Nacional de saúde sexual e reprodutiva e<br />
comportamento sexual dos jovens indicou que<br />
30 por cento das mulheres e 37 por cento dos<br />
homens, quando crianças ou adolescentes,<br />
tinham testemunhado directamente violência<br />
entre os seus pais, e que 15 por cento das<br />
mulheres e 20 por cento dos homens sofreram<br />
abuso físico de um parente na sua juventude. 6<br />
Um estudo realizado pelo Ministério da Mulher<br />
e da Acção Social em 2004 indicou que mais<br />
de 54 por cento das mulheres pesquisadas<br />
relataram ter sido espancadas, e 23 por cento<br />
dos inquiridos reportaram ter sido submetidos<br />
a alguma forma de abuso sexual. 7 A maioria<br />
dos infractores é conhecida das vítimas e,<br />
muitas vezes, familiares próximos e amigos.<br />
As leis para proteger crianças e adolescentes<br />
contra o abuso sexual deixam considerável<br />
margem de manobra para o sistema judiciário<br />
interpretar se uma criança foi vítima de abuso<br />
sexual. Por exemplo, apenas com crianças<br />
menores de 12 são proibidas relações sexuais<br />
em qualquer circunstância (inclusive se se<br />
tiver estabelecido consenso) e as penas<br />
criminais podem ser em qualquer lugar, de<br />
dois a oito anos. No que respeita a crianças<br />
com mais de doze anos, é conferida ao juiz<br />
autoridade para determinar se ocorreu abuso<br />
sexual, mesmo no caso de adolescentes<br />
vítimas de abuso cometido por adultos.<br />
3.1. Violência e abuso sexual nas<br />
escolas<br />
O abuso sexual nas escolas constitui uma<br />
área de particular preocupação, como<br />
observou o Comité dos Direitos da Criança. 8<br />
Um inquérito do Ministério da Educação<br />
(MINED) de 2008 revelou que 70 por cento<br />
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