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Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as


GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO<br />

José Serra<br />

Governador<br />

Rita Passos<br />

Secretária Estadual <strong>de</strong> Assistência e Desenvolvimento Social<br />

Nivaldo Campos Camargo<br />

Secretário Adjunto<br />

Carlos Fernando Zuppo Franco<br />

Chefe <strong>de</strong> Gabinete


Secretaria Estadual <strong>de</strong> Assistência e Desenvolvimento Social – SEADS<br />

Departamento <strong>de</strong> Comunicação Institucional – DCI<br />

Paulo José Ferreira Mesquita<br />

Coor<strong>de</strong>nador<br />

Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Gestão Estratégica – CGE<br />

Cláudio Alexandre Lombardi<br />

Coor<strong>de</strong>nador<br />

Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Ação Social – CAS<br />

Tânia Cristina Messias Rocha<br />

Coor<strong>de</strong>nadora<br />

Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Desenvolvimento Social – CDS<br />

Isabel Cristina Martin<br />

Coor<strong>de</strong>nadora<br />

Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Administração <strong>de</strong> Fun<strong>dos</strong> e Convênios – CAF<br />

Carlos Alberto Facchini<br />

Coor<strong>de</strong>nador<br />

Fundação Padre Anchieta<br />

Paulo Markun<br />

Presi<strong>de</strong>nte<br />

Fernando Almeida<br />

Vice-Presi<strong>de</strong>nte<br />

Coor<strong>de</strong>nação Executiva – Núcleo <strong>de</strong> Educação<br />

Fernando Almeida<br />

Fernando Moraes Fonseca Jr.<br />

Mônica Gar<strong>de</strong>li Franco<br />

Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Conteúdo e Qualida<strong>de</strong><br />

Gabriel Priolli<br />

Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Produção – Núcleo <strong>de</strong> Eventos e Publicações<br />

Marilda Furtado<br />

Tissiana Lorenzi Gonçalves<br />

Equipe <strong>de</strong> Produção do Projeto<br />

Coor<strong>de</strong>nação geral<br />

Áurea Eleotério Soares Barroso<br />

Seads<br />

Fernando Moraes Fonseca Jr.<br />

Fundação Padre Anchieta<br />

Desenvolvimento<br />

Seads<br />

Elaine Cristina Moura<br />

Ivan Cerlan<br />

Janete Lopes<br />

Márcio <strong>de</strong> Sá Lima Macedo<br />

Organização <strong>dos</strong> conteú<strong>dos</strong>/textos<br />

Áurea Eleotério Soares Barroso<br />

Colaboradores<br />

Clélia la Laina, Edwiges Lopes Tavares, Izildinha Carneiro,<br />

Ligia Rosa <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong> Pimenta, Maria Margareth Carpes,<br />

Marilena Rissuto Malvezzi, Paula Ramos Vismona,<br />

Renata Carvalho, Rosana Saito, Roseli Oliveira<br />

Produção editorial<br />

Maria Carolina <strong>de</strong> Araujo<br />

Coor<strong>de</strong>nação editorial<br />

Marcia Menin<br />

Copi<strong>de</strong>sque e preparação<br />

Paulo Roberto <strong>de</strong> Moraes Sarmento<br />

Revisão<br />

Projeto gráfico, arte, editoração e produção gráfica<br />

Mare Magnum Artes Gráficas<br />

Ilustrações<br />

Adriana Alves<br />

uma realização


Direitos <strong>de</strong> cópia<br />

Serão permitidas a cópia e a distribuição <strong>dos</strong> textos integrantes <strong>de</strong>sta obra sob as<br />

seguintes condições: <strong>de</strong>vem ser da<strong>dos</strong> créditos à SEADS – Secretaria Estadual <strong>de</strong> Assistência e<br />

Desenvolvimento Social do Estado <strong>de</strong> São Paulo e aos autores <strong>de</strong> cada texto;<br />

esta obra não po<strong>de</strong> ser usada com finalida<strong>de</strong>s comerciais; a obra não po<strong>de</strong> ser alterada,<br />

transformada ou utilizada para criar outra obra com base nesta;<br />

esta obra está licenciada pela Licença Creative Commons 2.5 BR<br />

(informe-se sobre este licenciamento em http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/)<br />

As imagens fotográficas e ilustrações não estão incluídas neste licenciamento.<br />

[...] nós envelheceremos um dia, se tivermos este privilégio.<br />

Olhemos, portanto, para as <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as como nós seremos no<br />

futuro. Reconheçamos que as <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as são únicas, com<br />

necessida<strong>de</strong>s e talentos e capacida<strong>de</strong>s individuais, e não um grupo<br />

homogêneo por causa da ida<strong>de</strong>.<br />

Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU.<br />

Prezado(a) leitor(a),<br />

Da<strong>dos</strong> Internacionais <strong>de</strong> Catalogação na Publicação (CIP)<br />

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)<br />

Duarte, Yeda Aparecida <strong>de</strong> Oliveira<br />

<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as / Yeda<br />

Aparecida <strong>de</strong> Oliveira Duarte ; [coor<strong>de</strong>nação geral Áurea Eleotério<br />

Soares Barroso]. -- São Paulo : Secretaria Estadual <strong>de</strong> Assistência e<br />

Desenvolvimento Social : Fundação Padre Anchieta, 2009.<br />

Bibliografia.<br />

1. Administração pública 2. Cidadania 3. Envelhecimento<br />

4. I<strong>dos</strong>os - Cuida<strong>dos</strong> 5. Planejamento social 6. Política social<br />

7. Políticas públicas 8. Qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida 9. Serviço social junto a<br />

i<strong>dos</strong>os I. Barroso, Áurea Eleotério Soares. II. Título.<br />

09-09500 CDD-362.6<br />

Índices para catálogo sistemático:<br />

1. São Paulo : Estado : I<strong>dos</strong>os : Estado e assistência e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento social : Bem-estar social 362.6<br />

2. São Paulo : Estado : Plano Estadual para a Pessoa I<strong>dos</strong>a-<br />

Futurida<strong>de</strong> : Bem-estar social 362.6<br />

Temos a grata satisfação <strong>de</strong> fazer a apresentação <strong>de</strong>ste material elaborado pela<br />

Secretaria Estadual <strong>de</strong> Assistência e Desenvolvimento Social <strong>de</strong> São Paulo (Seads)<br />

e pela Fundação Padre Anchieta – TV Cultura.<br />

Um <strong>dos</strong> objetivos do Plano Estadual para a Pessoa I<strong>dos</strong>a do Governo do Estado <strong>de</strong><br />

São Paulo – Futurida<strong>de</strong>, coor<strong>de</strong>nado pela Seads, é propiciar formação permanente<br />

<strong>de</strong> profissionais para atuar com a população i<strong>dos</strong>a, notadamente nas Diretorias<br />

Regionais <strong>de</strong> Assistência Social (Drads).<br />

No total, esta série contém <strong>de</strong>z livros e um ví<strong>de</strong>o, contemplando os seguintes<br />

conteú<strong>dos</strong>: o envelhecimento humano em suas múltiplas dimensões: biológica,<br />

psicológica, cultural e social; legislações <strong>de</strong>stinadas ao público i<strong>dos</strong>o; informações<br />

sobre o cuidado com uma pessoa i<strong>dos</strong>a; o envelhecimento na perspectiva da<br />

cidadania e como projeto educativo na escola; e reflexões sobre maus-tratos e<br />

violência contra i<strong>dos</strong>os.


Com esta publicação, <strong>de</strong>stinada aos profissionais que <strong>de</strong>senvolvem ações com<br />

i<strong>dos</strong>os no Estado <strong>de</strong> São Paulo, o Futurida<strong>de</strong> dá um passo importante ao<br />

disponibilizar recursos para uma atuação cada vez mais qualificada e uma prática<br />

baseada em fundamentos éticos e humanos.<br />

Muito nos honra estabelecer esta parceria entre a Seads e a Fundação<br />

Padre Anchieta – TV Cultura, instituição que acumula inúmeros prêmios em<br />

sua trajetória, em razão <strong>de</strong> serviços presta<strong>dos</strong> sempre com qualida<strong>de</strong>.<br />

Desejo a to<strong>dos</strong> uma boa leitura.<br />

Um abraço,<br />

Rita Passos<br />

Secretária Estadual <strong>de</strong> Assistência e Desenvolvimento Social<br />

<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as


Sumário<br />

Capítulo 1<br />

Eixos norteadores para cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong><br />

i<strong>dos</strong>as e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as.......................................... 15<br />

Formadores <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as...................................... 16<br />

I. Quem se quer formar?. ....................................................... 18<br />

II. Por que se quer ou necessita formar essas <strong>pessoas</strong>? .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26<br />

III. Quem será o formador e como se preconiza o ensino?.......................... 27<br />

IV. O que é necessário ensinar nos cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong>?.. . . . . . . . 30<br />

Cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as. .......................... 37<br />

Cursos <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38<br />

Capítulo 2<br />

A construção <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> ajuda .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41<br />

Primeiros passos. ................................................................. 42<br />

Características necessárias para construir uma relação <strong>de</strong> ajuda .. . . . . . . . . . . . . . . . . 47<br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escuta.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47<br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> clarificar. ........................................................ 49<br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respeitar-se e <strong>de</strong> respeitar o i<strong>dos</strong>o................................. 50<br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser congruente. .................................................. 52<br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser empático. .................................................... 53<br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> confrontação .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54<br />

Capítulo 3<br />

Atitu<strong>de</strong>s, mitos e estereótipos relaciona<strong>dos</strong> ao envelhecimento e ao<br />

cuidado com a pessoa i<strong>dos</strong>a.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58<br />

Atitu<strong>de</strong>s, mitos e estereótipos. ....................................................60<br />

Yeda Aparecida <strong>de</strong> Oliveira Duarte é professora livre-docente da Escola <strong>de</strong><br />

Enfermagem da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (USP), gerontóloga e criadora do primeiro<br />

curso <strong>de</strong> graduação em Gerontologia do Brasil, na Escola <strong>de</strong> Artes, Ciências<br />

e Humanida<strong>de</strong>s da USP (EACH/USP).<br />

Capítulo 4<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: sono e repouso.......68<br />

O sono como ritmo biológico....................................................... 69<br />

Padrão <strong>de</strong> sono e suas modificações com o envelhecimento .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70<br />

Recomendações quanto ao uso <strong>de</strong> medicamentos para dormir..................... 75<br />

Sugestões para um sono <strong>de</strong> melhor qualida<strong>de</strong> .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76


Capítulo 5<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: alimentação.. . . . . . . . . 79<br />

Funções <strong>dos</strong> alimentos............................................................. 81<br />

Capítulo 6<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária:<br />

higiene, vestimenta e conforto .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90<br />

Higiene corporal.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90<br />

As <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as realmente necessitam <strong>de</strong> banho diário?. ....................... 93<br />

Princípios gerais para o banho <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96<br />

Produtos para o cuidado com a pele utiliza<strong>dos</strong> no banho .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97<br />

Tipos <strong>de</strong> banho .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98<br />

Cuida<strong>dos</strong> durante o banho. .................................................... 100<br />

Cuidado com as unhas das mãos e <strong>dos</strong> pés...................................... 100<br />

Higiene oral....................................................................... 102<br />

Cuida<strong>dos</strong> com o vestuário......................................................... 103<br />

Capítulo 7<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária:<br />

administração <strong>de</strong> medicamentos .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105<br />

Aspectos gerais da aquisição <strong>de</strong> medicamentos....................................110<br />

Aspectos gerais da administração <strong>de</strong> medicamentos............................... 111<br />

Capítulo 8<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária:<br />

mecanismos corporais, mobilização e transferência .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115<br />

Movimento humano................................................................116<br />

Impacto do envelhecimento nas estruturas ligadas ao movimento humano .. . . . . . 123<br />

Mecânica corporal .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125<br />

Aplicação da mecânica corporal. ................................................. 127<br />

Mobilização e transporte <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes .. . . . . . . . . . . . . . . . . . 128<br />

Auxílio na movimentação na cama <strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. ................. 129<br />

Auxílio no transporte <strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132<br />

Referências bibliográficas. ....................................................... 135<br />

Auxiliando a pessoa i<strong>dos</strong>a<br />

em suas ativida<strong>de</strong>s cotidianas<br />

Po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar “saú<strong>de</strong>” para a pessoa i<strong>dos</strong>a a resultante da<br />

interação multidimensional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> física e mental, autonomia<br />

nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária, integração social, suporte familiar<br />

e in<strong>de</strong>pendência econômica. Qualquer <strong>de</strong>ssas dimensões, associada<br />

a outra ou não, quando comprometida, po<strong>de</strong> afetar a capacida<strong>de</strong> do<br />

indivíduo <strong>de</strong> viver <strong>de</strong> forma autônoma e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, repercutindo,<br />

por consequência, em sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Nesse grupo etário não é rara a ocorrência <strong>de</strong> múltiplas doenças simultâneas<br />

(polimorbida<strong>de</strong>), em sua maioria <strong>de</strong> natureza crônica,<br />

cujas sequelas po<strong>de</strong>m ocasionar incapacida<strong>de</strong> ou dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho<br />

das ativida<strong>de</strong>s cotidianas, gerando, muitas vezes, quadros<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência.<br />

A <strong>de</strong>pendência aumenta a <strong>de</strong>manda por serviços sociais e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Assistir o i<strong>dos</strong>o <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte po<strong>de</strong> ser uma tarefa fisicamente extenuante,<br />

pois em geral implica sobrecarga da família, que costuma ser a prin-<br />

11


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Auxiliando a pessoa i<strong>dos</strong>a em suas ativida<strong>de</strong>s cotidianas<br />

cipal provedora <strong>de</strong> atenção a i<strong>dos</strong>os portadores <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong>s.<br />

Outro fator preocupante é que muitos <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os com<br />

<strong>de</strong>pendência também são i<strong>dos</strong>os e, por essa razão, po<strong>de</strong>m ter seu<br />

potencial <strong>de</strong> auxílio reduzido.<br />

Ressaltam-se as mudanças que vêm ocorrendo na estrutura e contexto<br />

das famílias. No Brasil, a maior parte das que contam com presença<br />

<strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os é pequena, com <strong>pessoas</strong> em etapas do ciclo vital mais<br />

avançadas. Soma-se a isso o fato <strong>de</strong> mais mulheres ocuparem, hoje,<br />

a condição <strong>de</strong> chefe do núcleo familiar e estarem cada vez mais trabalhando<br />

fora <strong>de</strong> casa; tradicionalmente, era <strong>de</strong>legado a elas o papel<br />

<strong>de</strong> cuidadoras <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> doentes ou com mais <strong>de</strong>pendência. Essas<br />

mudanças têm feito com que diversos i<strong>dos</strong>os com algum grau <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pendência não sejam assisti<strong>dos</strong>, po<strong>de</strong>ndo sua condição agravar-se.<br />

Torna-se, assim, fundamental a criação <strong>de</strong> mecanismos sociais que<br />

garantam esse cuidado.<br />

Em vista da situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>samparo em que se encontram muitos<br />

i<strong>dos</strong>os mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, o treinamento e a disponibilização <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong><br />

para seu cuidado são urgentes e imprescindíveis. A a<strong>de</strong>quação<br />

das políticas públicas no atendimento <strong>de</strong> tais <strong>de</strong>mandas ainda está<br />

aquém da necessida<strong>de</strong> existente. Perante esse quadro, o <strong>de</strong>safio que<br />

se coloca é formular propostas e ações que equacionem problemas e<br />

avancem no esforço <strong>de</strong> criar uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> assistência à população<br />

i<strong>dos</strong>a mais vulnerável e fragilizada.<br />

Um <strong>dos</strong> passos nessa construção é o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um conjunto<br />

<strong>de</strong> informações padronizadas que visem a auxiliar uma capacitação<br />

mais homogênea <strong>dos</strong> <strong>cuidadores</strong> e, assim, permitir que essa ocupação<br />

evolua para profissão, com pessoal bem preparado e numericamente<br />

disponível para aten<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>mandas da socieda<strong>de</strong>. Diante disso, a<br />

Secretaria <strong>de</strong> Assistência e Desenvolvimento Social do Estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo (Seads), buscando traçar as diretrizes <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> atenção<br />

à pessoa i<strong>dos</strong>a a<strong>de</strong>quada, elaborou, como uma <strong>de</strong> suas principais<br />

linhas <strong>de</strong> atuação, um programa <strong>de</strong> capacitação global <strong>de</strong>stinado a<br />

<strong>de</strong>senvolver mão <strong>de</strong> obra qualificada para assistir os i<strong>dos</strong>os mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

segundo um eixo <strong>de</strong> orientação uniforme. Esse programa<br />

tem por objetivos:<br />

• Fornecer um “olhar gerontológico” aos profissionais que trabalham<br />

com i<strong>dos</strong>os.<br />

• Orientar os <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as e os próprios<br />

<strong>cuidadores</strong>.<br />

Tal iniciativa vem contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações planejadas<br />

e programadas que visem à construção <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção<br />

e cuida<strong>dos</strong> às <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as que lhes permita envelhecer sem temerida<strong>de</strong>,<br />

com dignida<strong>de</strong> e respeito.<br />

Este material representa parte da concretização <strong>de</strong> tais ações. Teve por<br />

base os trabalhos <strong>de</strong>senvolvi<strong>dos</strong> nessa área, associa<strong>dos</strong> às melhores<br />

práticas (evidências). Não tem, no entanto, a intenção <strong>de</strong> ser um fim<br />

em si mesmo; procura apenas fornecer um direcionamento mínimo<br />

e mais homogêneo na construção <strong>de</strong> um cuidado a<strong>de</strong>quado às <strong>de</strong>mandas<br />

assistenciais das <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as. Espera-se que seu conteúdo<br />

seja analisado e adaptado às realida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada região.<br />

12<br />

13


Capítulo 1<br />

Eixos norteadores para cursos<br />

<strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong><br />

i<strong>dos</strong>as e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

A<br />

oficina realizada em Blumenau (SC), em maio <strong>de</strong> 2007, coor<strong>de</strong>nada<br />

pela Área Técnica <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Pessoa I<strong>dos</strong>a e pelo<br />

Departamento <strong>de</strong> Gestão da Educação na Saú<strong>de</strong> (Deges) do<br />

Ministério da Saú<strong>de</strong>, tratou especificamente <strong>dos</strong> cursos<br />

<strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as e<br />

<strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as. A seguir, faremos uma<br />

síntese <strong>dos</strong> conteú<strong>dos</strong> trabalha<strong>dos</strong> nessa ocasião.<br />

Uma <strong>de</strong> suas principais discussões versou sobre a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> homogeneizar a formação <strong>de</strong> <strong>formadores</strong>,<br />

em <strong>de</strong>corrência das gran<strong>de</strong>s disparida<strong>de</strong>s entre os cursos<br />

<strong>de</strong> graduação na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> no que se refere ao<br />

ensino <strong>de</strong> tópicos relaciona<strong>dos</strong> ao envelhecimento<br />

(geriatria e gerontologia). Geralmente, os <strong>formadores</strong><br />

são das áreas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, educação ou serviço social ou<br />

estão liga<strong>dos</strong> a elas.<br />

15


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Eixos norteadores para cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Embora seja preconizada pela Política Nacional do I<strong>dos</strong>o a introdução<br />

<strong>de</strong> conteú<strong>dos</strong> específicos nos diferentes currículos <strong>de</strong> graduação, sabe-<br />

-se que isso, ainda hoje, está aquém do necessário.<br />

Na oficina, foi consenso que o formador <strong>de</strong>ve ter conhecimentos<br />

básicos sobre envelhecimento populacional e individual (nos amplos<br />

aspectos) e sobre cuida<strong>dos</strong> com <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as com vários<br />

níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, <strong>de</strong> diversas culturas e contextos sociais, e,<br />

na orientação <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong>, adaptar esses conhecimentos às realida<strong>de</strong>s<br />

locais, buscando sempre uma construção conjunta e utilizando<br />

práticas pedagógicas que problematizem o processo <strong>de</strong><br />

trabalho do cuidador.<br />

Alexan<strong>de</strong>r Raths/istockphoto<br />

Formadores <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

No que tange a esse grupo, a oficina teve por objetivos:<br />

• Assegurar a formação docente integral <strong>dos</strong> profissionais envolvi<strong>dos</strong><br />

nos processos <strong>de</strong> qualificação/formação, tendo como referência<br />

central o significado social da ação educativa no âmbito da saú<strong>de</strong><br />

pública e, especialmente, na formação do cuidador <strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os.<br />

• Constituir um docente crítico, capaz <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong><br />

trabalhar em equipe, <strong>de</strong> levar em conta a realida<strong>de</strong> social para prestar<br />

atenção humana <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />

• Estimular práticas <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong>, voltadas ao fortalecimento<br />

<strong>de</strong> ações <strong>de</strong> recuperação, promoção e prevenção, oferecendo cuidado<br />

integral e autonomia das <strong>pessoas</strong> na produção da saú<strong>de</strong>.<br />

A formação <strong>de</strong>sse profissional <strong>de</strong>ve:<br />

• Levar em conta o contexto sociopolítico, em interface com a assistência<br />

social, a saú<strong>de</strong>, a educação e o meio ambiente.<br />

• Aten<strong>de</strong>r às expectativas <strong>dos</strong> setores envolvi<strong>dos</strong> para mudanças efetivas<br />

das práticas <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> – ampliação do acesso e da<br />

cobertura para a população i<strong>dos</strong>a.<br />

Ao final <strong>de</strong> sua preparação, o formador tem <strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong>:<br />

• Desenvolver ações que busquem a integração entre as equipes <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> e a população i<strong>dos</strong>a, consi<strong>de</strong>rando as características e as<br />

finalida<strong>de</strong>s do trabalho <strong>de</strong> acompanhamento <strong>dos</strong> i<strong>dos</strong>os com<br />

<strong>de</strong>pendência.<br />

• Realizar, em conjunto com a equipe, ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> planejamento e<br />

avaliação das ações no âmbito <strong>de</strong> atuação <strong>de</strong> cada profissional.<br />

• Conduzir ações <strong>de</strong> promoção social e <strong>de</strong> proteção e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da cidadania nas áreas social e da saú<strong>de</strong>.<br />

Para a a<strong>de</strong>quação do conteúdo, <strong>de</strong>vem ser feitas as seguintes perguntas:<br />

• Quem se quer formar?<br />

• Por que se quer ou necessita formar essas <strong>pessoas</strong>?<br />

• Quem será o formador e como se preconiza o ensino?<br />

• O que é necessário ensinar nos cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong>?<br />

A seguir, apresentamos a síntese <strong>dos</strong> resulta<strong>dos</strong> <strong>de</strong>ssas discussões.<br />

16<br />

17


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Eixos norteadores para cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Os <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

<strong>de</strong>vem <strong>de</strong>senvolver<br />

ações que<br />

promovam a<br />

melhoria <strong>de</strong> sua<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

em relação a si,<br />

à família e à<br />

socieda<strong>de</strong>.<br />

I. Quem se quer formar?<br />

Cuidadores <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>fini<strong>dos</strong> como as <strong>pessoas</strong><br />

que cuidam <strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os com <strong>de</strong>pendência, <strong>de</strong>senvolvendo ações que<br />

promovam a melhoria <strong>de</strong> sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida em relação a si, à<br />

família e à socieda<strong>de</strong>. Suas ações fazem interface principalmente com<br />

a saú<strong>de</strong>, a educação e a assistência social e <strong>de</strong>vem ser pautadas pela<br />

solidarieda<strong>de</strong>, compaixão, paciência e equilíbrio emocional.<br />

istockphoto<br />

Os <strong>cuidadores</strong> po<strong>de</strong>m ser familiares, agrega<strong>dos</strong> à família ou<br />

profissionais (para atuar em domicílio ou em instituições).<br />

Os requisitos mínimos, os conteú<strong>dos</strong> e as estratégias <strong>de</strong> abordagem<br />

nos cursos a serem realiza<strong>dos</strong> diferem, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

do público-alvo.<br />

Os cursos para <strong>cuidadores</strong> familiares <strong>de</strong>stinam-se, <strong>de</strong> modo<br />

geral, a parentes disponíveis para assumir essa função. Po<strong>de</strong>-se,<br />

portanto, lidar com <strong>pessoas</strong> <strong>de</strong> diferentes níveis culturais e<br />

graus <strong>de</strong> escolarização. Não é incomum que muitos <strong>cuidadores</strong><br />

familiares tenham baixa escolarida<strong>de</strong> ou não sejam alfabetiza<strong>dos</strong>.<br />

Embora isso possa comprometer o cuidado a ser<br />

ministrado, bem como a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorver os conteú<strong>dos</strong><br />

previstos, é uma realida<strong>de</strong> com que se tem <strong>de</strong> trabalhar.<br />

De modo geral, os cursos para <strong>cuidadores</strong> familiares têm por<br />

objetivos:<br />

• Fornecer-lhes instrumentos para que cui<strong>de</strong>m da pessoa i<strong>dos</strong>a<br />

sob sua responsabilida<strong>de</strong> da melhor forma possível.<br />

• Facilitar seu dia a dia.<br />

• Minimizar sua ansieda<strong>de</strong> na realização <strong>de</strong>sse cuidado, para<br />

o qual não se sentem capazes (em to<strong>dos</strong> os aspectos, incluindo<br />

o emocional).<br />

O formador <strong>de</strong>ve lembrar que, em geral, as <strong>pessoas</strong> não esperam<br />

se tornar cuidadoras <strong>de</strong> seus parentes i<strong>dos</strong>os e não se<br />

Nikolay Mamluke/istockphoto<br />

prepararam para esse fim. Com muita frequência, assumem essa função<br />

em circunstâncias mais ou menos repentinas e veem, assim, seu<br />

mundo se transformar rapidamente (necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abandonar o<br />

trabalho, <strong>de</strong> realocar horários, <strong>de</strong> dispor <strong>de</strong> parte ou <strong>de</strong> quase toda<br />

a vida pessoal; gastos eleva<strong>dos</strong> e, quase sempre, nenhuma remuneração<br />

pela ativida<strong>de</strong>; baixa valorização e pouco reconhecimento da<br />

ativida<strong>de</strong> por outros familiares e pelo próprio i<strong>dos</strong>o assistido; conflitos<br />

familiares antes não tão evi<strong>de</strong>ntes; pouca ou nenhuma colaboração<br />

<strong>de</strong> outros membros da família).<br />

Isso costuma gerar o que se <strong>de</strong>nomina “sofrimento oculto” do cuidador,<br />

que é expresso por estresse e sofrimento, angústia, sentimento<br />

<strong>de</strong> culpa (por algumas vezes negligenciar o cuidado ou gritar com a<br />

pessoa <strong>de</strong> quem cuida), ira e agressivida<strong>de</strong> (com o i<strong>dos</strong>o e com a família),<br />

embaraço (na presença <strong>de</strong> outras <strong>pessoas</strong>, sobretudo com<br />

i<strong>dos</strong>os com <strong>de</strong>mência), fadiga física e emocional. Essas situações serão<br />

mais ou menos acentuadas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da funcionalida<strong>de</strong> familiar,<br />

ou seja, da capacida<strong>de</strong> da família <strong>de</strong> se reorganizar diante <strong>de</strong> tal imprevisto<br />

(o <strong>de</strong> contar com uma pessoa i<strong>dos</strong>a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte).<br />

18<br />

19


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Eixos norteadores para cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

1. Disponível em:<br />

.<br />

A outra linha <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> visa à capacitação profissional.<br />

Atualmente, os <strong>cuidadores</strong> aparecem na Classificação Brasileira<br />

<strong>de</strong> Ocupações (CBO) 1 na família 5162 – Cuidadores <strong>de</strong><br />

crianças, jovens, adultos e i<strong>dos</strong>os.<br />

A ocupação é <strong>de</strong>nominada “Cuidador <strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os” (código 5162-10)<br />

e tem como sinônimos “Acompanhante <strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os, Cuidador <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong><br />

i<strong>dos</strong>as e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, Cuidador <strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os domiciliar, Cuidador<br />

<strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os institucional, Gero-sitter”.<br />

Sua função primária é:<br />

Cuidar <strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os, a partir <strong>de</strong> objetivos estabeleci<strong>dos</strong> por instituições especializadas<br />

ou responsáveis diretos, zelando pelo bem-estar, saú<strong>de</strong>,<br />

alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da<br />

pessoa assistida.<br />

A CBO <strong>de</strong>ixa claro que essa ocupação não integra a família 3222 –<br />

Técnicos e auxiliares <strong>de</strong> enfermagem, minimizando quaisquer dúvidas<br />

que possam ser levantadas pelos respectivos conselhos profissionais.<br />

As condições gerais <strong>de</strong> trabalho são as seguintes:<br />

O trabalho é exercido em domicílios ou instituições cuidadoras [...] <strong>de</strong><br />

i<strong>dos</strong>os. As ativida<strong>de</strong>s são exercidas com alguma forma <strong>de</strong> supervisão, na<br />

condição <strong>de</strong> trabalho autônomo ou assalariado. Os horários <strong>de</strong> trabalho<br />

são varia<strong>dos</strong>: tempo integral, revezamento <strong>de</strong> turno ou perío<strong>dos</strong> <strong>de</strong>termina<strong>dos</strong>.<br />

No caso <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> indivíduos com alteração <strong>de</strong> comportamento,<br />

estão sujeitos a lidar com situações <strong>de</strong> agressivida<strong>de</strong>.<br />

A CBO também <strong>de</strong>screve a formação e experiência <strong>dos</strong> <strong>cuidadores</strong><br />

em geral:<br />

Essas ocupações são acessíveis a <strong>pessoas</strong> com dois anos <strong>de</strong> experiência em<br />

domicílios ou instituições cuidadoras públicas, privadas ou ONGs,<br />

em funções supervisionadas <strong>de</strong> pajem, mãe-substituta ou auxiliar <strong>de</strong><br />

cuidador, cuidando <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> das mais variadas ida<strong>de</strong>s. O acesso ao<br />

emprego também ocorre por meio <strong>de</strong> cursos e treinamentos <strong>de</strong> formação<br />

Lisa F. Young/istockphoto<br />

profissional básicos, concomitante ou após a formação mínima, que<br />

varia da quarta série do ensino fundamental até o ensino médio. Po<strong>de</strong>m<br />

ter acesso os trabalhadores que estão sendo reconverti<strong>dos</strong> da ocupação <strong>de</strong><br />

aten<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> enfermagem. No caso <strong>de</strong> atendimento a indivíduos com<br />

elevado grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, exige-se formação na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vendo<br />

o profissional ser classificado na função <strong>de</strong> técnico/auxiliar <strong>de</strong> enfermagem.<br />

A(s) ocupação(ões) elencada(s) nesta família ocupacional<br />

<strong>de</strong>manda(m) formação profissional para efeitos do cálculo do número<br />

<strong>de</strong> aprendizes a serem contrata<strong>dos</strong> pelos estabelecimentos, nos termos do<br />

artigo 429 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), exceto os casos<br />

previstos no art. 10 do Decreto 5.598/2005.<br />

As áreas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e suas especificações envolvem:<br />

a) Cuidar da pessoa i<strong>dos</strong>a:<br />

•Cuidar da aparência e higiene pessoal.<br />

•Observar os horários das ativida<strong>de</strong>s diárias.<br />

•Ajudar no banho, na alimentação, no andar e nas necessida<strong>de</strong>s<br />

fisiológicas.<br />

20<br />

21


Eixos norteadores para cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

anne <strong>de</strong> Haas/istockphoto<br />

•Estar atento às ações da pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

•Verificar as informações dadas pela pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

•Informar-se do dia a dia da pessoa i<strong>dos</strong>a no retorno <strong>de</strong> sua folga.<br />

•Relatar o dia a dia da pessoa i<strong>dos</strong>a aos responsáveis.<br />

•Manter o lazer e a recreação no dia a dia.<br />

•Desestimular a agressivida<strong>de</strong> da pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

b) Promover o bem-estar:<br />

•Ouvir a pessoa i<strong>dos</strong>a, respeitando sua necessida<strong>de</strong> individual <strong>de</strong><br />

falar.<br />

•Dar apoio psicológico e emocional.<br />

•Ajudar na recuperação da autoestima, <strong>dos</strong> valores e da<br />

afetivida<strong>de</strong>.<br />

•Promover momentos <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong>.<br />

•Estimular a in<strong>de</strong>pendência.<br />

•Auxiliar e respeitar a pessoa i<strong>dos</strong>a em sua necessida<strong>de</strong> espiritual e<br />

religiosa.<br />

c) Cuidar da alimentação da pessoa i<strong>dos</strong>a:<br />

•Participar da elaboração do cardápio.<br />

•Verificar a <strong>de</strong>spensa.<br />

•Observar a qualida<strong>de</strong> e a valida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> alimentos.<br />

•Fazer as compras conforme lista e cardápio.<br />

•Preparar a alimentação.<br />

•Servir a refeição em ambientes e em porções a<strong>de</strong>quadas.<br />

•Estimular e controlar a ingestão <strong>de</strong> líqui<strong>dos</strong> e <strong>de</strong> alimentos<br />

varia<strong>dos</strong>.<br />

•Reeducar os hábitos alimentares.<br />

d) Cuidar da saú<strong>de</strong>:<br />

•Observar temperatura, urina, fezes e vômitos.<br />

•Controlar e observar a qualida<strong>de</strong> do sono.<br />

•Ajudar nas terapias ocupacionais e físicas.<br />

•Ter cuida<strong>dos</strong> especiais com <strong>de</strong>ficiências e <strong>de</strong>pendências físicas.<br />

•Manusear a<strong>de</strong>quadamente.<br />

•Observar alterações físicas.<br />

•Observar alterações <strong>de</strong> comportamento.<br />

•Lidar com comportamentos compulsivos e evitar ferimentos.<br />

•Controlar armazenamento, horário e ingestão <strong>de</strong> medicamentos,<br />

em domicílios.<br />

•Acompanhar a pessoa i<strong>dos</strong>a em consultas e<br />

atendimentos médico-hospitalares.<br />

•Relatar a orientação médica aos responsáveis.<br />

•Seguir a orientação médica.<br />

e) Cuidar do ambiente domiciliar e/ou institucional:<br />

•Cuidar <strong>dos</strong> afazeres domésticos.<br />

•Manter o ambiente organizado e limpo.<br />

•Promover a<strong>de</strong>quação ambiental.<br />

A CBO <strong>de</strong>screve<br />

a formação e<br />

experiência <strong>dos</strong><br />

<strong>cuidadores</strong>, <strong>de</strong>talha<br />

suas ativida<strong>de</strong>s<br />

e lista as<br />

competências<br />

pessoais.<br />

22<br />

23


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Eixos norteadores para cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

•Prevenir aci<strong>de</strong>ntes.<br />

•Fazer compras para a casa e para a pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

•Administrar finanças.<br />

•Cuidar da roupa e objetos pessoais da pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

•Preparar o leito <strong>de</strong> acordo com as necessida<strong>de</strong>s da pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

f) Incentivar a cultura e a educação:<br />

•Estimular o gosto pela música, dança e esporte.<br />

•Selecionar jornais, livros e revistas.<br />

•Ler histórias, textos e jornais para a pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

•Organizar biblioteca doméstica.<br />

g) Acompanhar em passeios, viagens e férias:<br />

•Planejar e fazer passeios.<br />

•Listar objetos <strong>de</strong> viagem.<br />

•Arrumar a bagagem.<br />

•Preparar a mala <strong>de</strong> remédios.<br />

•Preparar documentos e lista <strong>de</strong> telefones úteis.<br />

•Preparar alimentação da viagem com antecedência.<br />

•Acompanhar a pessoa i<strong>dos</strong>a em ativida<strong>de</strong> sociais e culturais.<br />

Como competências pessoais do cuidador, a CBO lista as seguintes:<br />

1. Manter capacida<strong>de</strong> e preparo físico, emocional e espiritual.<br />

2. Cuidar <strong>de</strong> sua aparência e higiene pessoal.<br />

3. Demonstrar educação e boas maneiras.<br />

4. Adaptar-se a diferentes estruturas e padrões familiares e comunitários.<br />

5. Respeitar a privacida<strong>de</strong> da pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

6. Demonstrar sensibilida<strong>de</strong> e paciência.<br />

7. Saber ouvir.<br />

8. Perceber e suprir carências afetivas.<br />

9. Manter a calma em situações críticas.<br />

10. Demonstrar discrição.<br />

11. Observar e tomar resoluções.<br />

Alexan<strong>de</strong>r Raths/istockphoto<br />

12. Em situações especiais, superar seus limites físicos e emocionais.<br />

13. Manter otimismo em situações adversas.<br />

14. Reconhecer suas limitações e quando e on<strong>de</strong> procurar ajuda.<br />

15. Demonstrar criativida<strong>de</strong>.<br />

16. Lidar com a agressivida<strong>de</strong>.<br />

17. Lidar com seus sentimentos negativos e frustrações.<br />

18. Lidar com perdas e mortes.<br />

19. Buscar informações e orientações técnicas.<br />

20. Obe<strong>de</strong>cer a normas e estatutos.<br />

21. Reciclar-se e atualizar-se por meio <strong>de</strong> encontros, palestras, cursos e<br />

seminários.<br />

22. Respeitar a disposição <strong>dos</strong> objetos da pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

23. Dominar noções primárias <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

24. Dominar técnicas <strong>de</strong> movimentação para a pessoa i<strong>dos</strong>a não se<br />

machucar.<br />

25. Dominar noções <strong>de</strong> economia e ativida<strong>de</strong> doméstica.<br />

26. Conciliar tempo <strong>de</strong> trabalho com tempo <strong>de</strong> folga.<br />

27. Doar-se.<br />

28. Demonstrar honestida<strong>de</strong>.<br />

29. Conduta moral.<br />

Cabe ressaltar que, como essas informações foram publicadas em<br />

2002, muito se evoluiu na questão <strong>dos</strong> <strong>cuidadores</strong> profissionais e será<br />

necessária uma revisão <strong>de</strong> tal <strong>de</strong>scrição.<br />

Um <strong>dos</strong> pontos principais relaciona-se à formação: apenas experiência<br />

anterior não <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada qualificação<br />

que exclua a capacitação.<br />

Quanto aos requisitos mínimos, a escolarida<strong>de</strong> é um<br />

tema controverso. Especialistas da área <strong>de</strong><br />

gerontologia preconizam que o cuidador<br />

profissional <strong>de</strong>ve ter, pelo menos, o<br />

ensino fundamental. Não se aceita<br />

24<br />

25


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Eixos norteadores para cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Britta Kasholm-Tengve/istockphoto<br />

a formação <strong>de</strong> um cuidador profissional sem escolarida<strong>de</strong> mínima,<br />

diferentemente do cuidador familiar. No projeto do Ministério da<br />

Saú<strong>de</strong>, como a formação <strong>dos</strong> <strong>cuidadores</strong> no âmbito público ficaria a<br />

cargo (mas não exclusivamente) das Escolas Técnicas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, esse<br />

requisito se elevaria para o ensino médio, dadas as características das<br />

instituições. Como a CBO ainda não foi revista e a ocupação não é<br />

regulamentada, esse tópico precisa ser mais bem discutido para que<br />

se chegue a um consenso.<br />

II. Por que se quer ou necessita formar essas <strong>pessoas</strong>?<br />

Sobretudo pelo expressivo crescimento da população i<strong>dos</strong>a, que não<br />

tem sido acompanhado por aumento similar do número <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong><br />

disponíveis – em vez disso, está <strong>de</strong>crescendo com o passar do<br />

tempo, influenciado pela queda da taxa <strong>de</strong> fecundida<strong>de</strong> e pelas composições<br />

familiares cada vez menores. Os índices <strong>de</strong> suporte e <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pendência são utiliza<strong>dos</strong> como indicadores brutos das futuras necessida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> cuida<strong>dos</strong>. Nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, em 1980, havia<br />

11 potenciais <strong>cuidadores</strong> para cada i<strong>dos</strong>o; estima-se que essa<br />

média <strong>de</strong>clinará para <strong>de</strong>z em 2010, para seis em 2030 e para<br />

quatro em 2050.<br />

Soma-se a isso a crescente entrada das mulheres no mercado<br />

<strong>de</strong> trabalho, antes as principais cuidadoras <strong>de</strong> seus<br />

parentes i<strong>dos</strong>os. Pesquisas <strong>de</strong>monstram que as<br />

norte-americanas gastam cerca <strong>de</strong> 17 anos cuidando<br />

<strong>dos</strong> filhos e 18 <strong>dos</strong> pais e que hoje elas cuidam<br />

mais <strong>dos</strong> pais que <strong>dos</strong> filhos.<br />

E ainda <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas as alterações na<br />

dinâmica <strong>de</strong> estudo e trabalho em muitos países,<br />

o que faz com que os i<strong>dos</strong>os passem a viver<br />

longe <strong>de</strong> seus parentes. Os filhos po<strong>de</strong>m trabalhar<br />

em outros locais, enquanto os pais<br />

permanecem em sua cida<strong>de</strong> natal. Estudo norte-americano constatou<br />

que pelo menos um terço <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os filhos adultos mora a pelo<br />

menos 30 minutos <strong>de</strong> distância <strong>dos</strong> pais.<br />

Em gran<strong>de</strong>s centros urbanos, <strong>de</strong>staque-se também o aumento do<br />

índice <strong>de</strong> violência, levando os filhos a falecer antes <strong>de</strong> seus pais.<br />

Esses fatores mostram que as <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as po<strong>de</strong>m estar vulneráveis<br />

ao “não cuidado” caso apresentem qualquer problema mais incapacitante,<br />

pois seus familiares, que, ainda hoje, representam a principal<br />

fonte <strong>de</strong> cuida<strong>dos</strong>, nem sempre estão facilmente disponíveis para<br />

atendê-las nessas situações <strong>de</strong> crise. Isso ten<strong>de</strong> a agravar o que seria<br />

um pequeno problema, por falta <strong>de</strong> assistência no tempo a<strong>de</strong>quado,<br />

acarretando, muitas vezes, consequências irreparáveis.<br />

É nesse contexto que urge a formação <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> habilitadas para<br />

cuidar <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as, modificando o panorama ora instalado.<br />

III. Quem será o formador e como se preconiza o ensino?<br />

O consenso é o <strong>de</strong> que sejam profissionais <strong>de</strong> nível universitário das<br />

áreas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, educação e serviço social, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que com conhecimentos<br />

gerais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com ênfase no cuidado e específicos <strong>de</strong> gerontologia.<br />

O formador também <strong>de</strong>ve ter ou <strong>de</strong>senvolver conhecimentos<br />

pedagógicos relaciona<strong>dos</strong> ao processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem, <strong>de</strong>scritos<br />

sinteticamente a seguir.<br />

Nem sempre a intenção <strong>de</strong> ensinar é traduzida em efetivação<br />

do aprendizado. Mesmo com a intenção sincera<br />

<strong>de</strong> ensinar, se o aluno não apren<strong>de</strong>u, a meta (apreensão,<br />

apropriação do conteúdo por ele) não foi atingida,<br />

ou seja, o ensino não ocorreu. A pessoa que recebe uma<br />

informação nova tem <strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> repassá-la e, para<br />

tanto, precisa apreen<strong>de</strong>r a informação, apropriando-se<br />

<strong>de</strong>sse conhecimento. Para apreen<strong>de</strong>r é necessário agir,<br />

O número <strong>de</strong><br />

<strong>cuidadores</strong><br />

disponíveis<br />

<strong>de</strong>ve acompanhar<br />

o expressivo<br />

crescimento<br />

da população<br />

i<strong>dos</strong>a.<br />

26<br />

27


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Eixos norteadores para cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

O formador po<strong>de</strong><br />

usar diferentes<br />

estratégias para<br />

facilitar a<br />

apropriação do<br />

conhecimento<br />

pelos alunos.<br />

exercitar-se, informar-se, tomar para si, apropriar-se do objeto em<br />

estudo. Apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r e significa tomar conhecimento,<br />

reter na memória mediante estudo.<br />

O processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> ações efetivadas <strong>de</strong>ntro<br />

e fora da sala <strong>de</strong> aula. É imprescindível o envolvimento compartilhado<br />

com o conhecimento, que <strong>de</strong>ve possibilitar o “pensar a situação”<br />

para que o aluno possa reelaborar as relações <strong>dos</strong> conteú<strong>dos</strong>, indo,<br />

portanto, além <strong>de</strong> “o quê?” e “como?”.<br />

Nesse processo, o professor, no caso o formador, prepara<br />

e dirige as ativida<strong>de</strong>s e ações com base em estratégias selecionadas<br />

e leva os alunos a <strong>de</strong>senvolver processos <strong>de</strong><br />

mobilização, construção e elaboração da síntese do conhecimento<br />

para assim chegarem ao que se chama “compreensão”.<br />

Com isso, eles serão capazes <strong>de</strong> reproduzir o que foi<br />

aprendido em qualquer circunstância, pois um processo<br />

<strong>de</strong> reflexão foi estabelecido conjuntamente.<br />

Compreen<strong>de</strong>r é apren<strong>de</strong>r o significado <strong>de</strong> um objeto ou <strong>de</strong> um<br />

acontecimento e visualizá-lo em suas relações com outros objetos<br />

e acontecimentos, compondo feixes <strong>de</strong> relações entrelaça<strong>dos</strong> ou<br />

re<strong>de</strong>s (construídas socialmente e em permanente estado <strong>de</strong><br />

atualização).<br />

O principal <strong>de</strong>safio é conseguir que os alunos <strong>de</strong>senvolvam a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> abstração, ou seja, <strong>de</strong> reconstrução do objeto apreendido pela<br />

concepção <strong>de</strong> noções e princípios in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do mo<strong>de</strong>lo ou<br />

exemplo estudado/apresentado.<br />

Isso po<strong>de</strong>rá ser <strong>de</strong>senvolvido pelo uso <strong>de</strong> diferentes estratégias. Estratégias<br />

são ferramentas facilitadoras <strong>de</strong>finidas pelos <strong>formadores</strong><br />

durante o processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem para que os alunos se<br />

apropriem do conhecimento. Exigem <strong>de</strong> quem as utiliza criativida<strong>de</strong>,<br />

percepção aguçada, vivência pessoal profunda e renovadora,<br />

René Mansi/istockphoto<br />

além da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pôr em prática uma i<strong>de</strong>ia valendo-se da faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> dominar o objeto trabalhado.<br />

O formador <strong>de</strong>ve utilizar estratégias que <strong>de</strong>safiem ou possibilitem<br />

que as operações <strong>de</strong> pensamento sejam <strong>de</strong>spertadas, exercitadas, construídas<br />

e flexibilizadas pelas necessárias rupturas por meio da mobilização,<br />

da construção e das sínteses – vistas e revistas. Lidar com<br />

diferentes estratégias, no entanto, não é fácil.<br />

Há predominância da exposição <strong>de</strong> conteú<strong>dos</strong> (aulas expositivas e<br />

palestras) – estratégia funcional para a passagem <strong>de</strong> informações e memorização<br />

– por ser bem-aceita tanto pelos professores como pelos<br />

alunos. Os conteú<strong>dos</strong> são passa<strong>dos</strong> prontos, acaba<strong>dos</strong> e <strong>de</strong>termina<strong>dos</strong>.<br />

Outras estratégias têm sido preconizadas na formação <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong>,<br />

entre elas: aula expositiva dialogada; portfólio; tempesta<strong>de</strong> cerebral<br />

(brainstorming); estudo dirigido; fórum <strong>de</strong> discussão; solução <strong>de</strong> pro-<br />

28<br />

29


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Eixos norteadores para cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

blemas; grupos <strong>de</strong> verbalização e <strong>de</strong> observação; dramatização; estu<strong>dos</strong><br />

<strong>de</strong> caso; oficinas <strong>de</strong> trabalho.<br />

O uso das estratégias requer habilida<strong>de</strong>, organização, preparação<br />

cuida<strong>dos</strong>a, planejamento compartilhado e mutuamente comprometido<br />

com o aluno, que, como sujeito <strong>de</strong> seu processo <strong>de</strong> aprendizagem,<br />

atuará <strong>de</strong> maneira ativa.<br />

Para a a<strong>de</strong>quada utilização <strong>de</strong> estratégias pedagógicas diferenciadas<br />

com habilida<strong>de</strong>, talvez seja necessário que os <strong>formadores</strong> participem<br />

<strong>de</strong> oficinas pedagógicas, ou seja, grupos em que os professores estudam<br />

e trabalham um tema/problema, sob a orientação <strong>de</strong> um especialista,<br />

aliando teoria e prática. Com isso, eles apren<strong>de</strong>rão a fazer melhor seu<br />

trabalho mediante a aplicação e o processamento <strong>de</strong> conceitos e conhecimentos<br />

previamente adquiri<strong>dos</strong>.<br />

IV. O que é necessário ensinar nos cursos<br />

<strong>de</strong> <strong>formadores</strong> e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong>?<br />

Para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>dos</strong> cursos, foram <strong>de</strong>fini<strong>dos</strong> alguns eixos integradores<br />

e as competências e habilida<strong>de</strong>s mínimas a eles relacionadas.<br />

Eixo 1 – Interação e comunicação<br />

Competências a serem <strong>de</strong>senvolvidas<br />

No final do curso, o cuidador <strong>de</strong>verá ser capaz <strong>de</strong>:<br />

• Desenvolver ações que estimulem o processo <strong>de</strong> interação e comunicação<br />

entre o i<strong>dos</strong>o, seus familiares e a comunida<strong>de</strong>.<br />

• Compreen<strong>de</strong>r/interpretar as mensagens verbais e não verbais do<br />

i<strong>dos</strong>o e se fazer enten<strong>de</strong>r.<br />

• Promover/fazer a inter-relação entre família-serviços-comunida<strong>de</strong><br />

(re<strong>de</strong>).<br />

• Compreen<strong>de</strong>r e reconhecer o processo <strong>de</strong> comunicação do i<strong>dos</strong>o<br />

(verbal e não verbal).<br />

Lisa F. Young/istockphoto<br />

Para aten<strong>de</strong>r a esse eixo, no final do curso, o cuidador <strong>de</strong>verá ter<br />

habilida<strong>de</strong> para:<br />

•Estimular a pessoa i<strong>dos</strong>a na manutenção do convívio familiar e<br />

social.<br />

•Propor ativida<strong>de</strong>s que estimulem o uso da linguagem oral e <strong>de</strong><br />

outras formas <strong>de</strong> comunicação pela pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

•Promover, na família, ambiente favorável à conversação com a<br />

pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

•Incentivar a socialização da pessoa i<strong>dos</strong>a por meio da participação<br />

em grupos, tais como: grupos <strong>de</strong> acompanhamento terapêutico, <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s socioculturais, <strong>de</strong> práticas corporais/físicas e outros.<br />

•I<strong>de</strong>ntificar re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio na comunida<strong>de</strong> e estimular a participação<br />

da pessoa i<strong>dos</strong>a, conforme orientações do plano <strong>de</strong> cuidado.<br />

•Apoiar a pessoa i<strong>dos</strong>a na execução das ativida<strong>de</strong>s instrumentais <strong>de</strong><br />

vida diária.<br />

30<br />

31


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Eixos norteadores para cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

32<br />

•Utilizar recursos <strong>de</strong> informação e comunicação a<strong>de</strong>qua<strong>dos</strong> à<br />

pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

•Verificar a necessida<strong>de</strong> e/ou condições <strong>de</strong> órteses (bengalas,<br />

andadores etc.) e próteses <strong>de</strong>ntárias, auditivas e oculares.<br />

•Favorecer a leitura labial pela pessoa i<strong>dos</strong>a durante as<br />

conversações.<br />

•Utilizar linguagem clara e precisa com a pessoa i<strong>dos</strong>a e seus<br />

familiares.<br />

Eixo 2 – Cuida<strong>dos</strong> em relação às ativida<strong>de</strong>s do “andar da vida”<br />

Competências a serem <strong>de</strong>senvolvidas<br />

No final do curso, o cuidador <strong>de</strong>verá ser capaz <strong>de</strong>:<br />

• I<strong>de</strong>ntificar as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cuidado.<br />

• Reconhecer a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência e a autonomia do<br />

i<strong>dos</strong>o para a realização das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária (AVDs) e, a<br />

partir daí, organizar as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suporte.<br />

Nancy Louie/istockphoto<br />

• Atuar <strong>de</strong> forma a estimular o resgate e/ou manutenção da in<strong>de</strong>pendência<br />

e autonomia do i<strong>dos</strong>o.<br />

• Conhecer/reconhecer/i<strong>de</strong>ntificar o nível/tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência do<br />

i<strong>dos</strong>o, a fim <strong>de</strong> auxiliar o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> suas AVDs na medida<br />

<strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s<br />

Para aten<strong>de</strong>r a esse eixo, no final do curso, o cuidador <strong>de</strong>verá ter<br />

habilida<strong>de</strong> para:<br />

•I<strong>de</strong>ntificar a relação entre problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

e condições <strong>de</strong> vida.<br />

•Coletar informações sobre a história <strong>de</strong> vida<br />

e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

•I<strong>de</strong>ntificar o contexto familiar e social <strong>de</strong> vida da<br />

pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

•I<strong>de</strong>ntificar valores culturais, éticos, espirituais e<br />

religiosos da pessoa i<strong>dos</strong>a e <strong>de</strong> sua família.<br />

No final do curso,<br />

o cuidador<br />

<strong>de</strong>verá ter<br />

<strong>de</strong>senvolvido<br />

uma série <strong>de</strong><br />

competências<br />

e habilida<strong>de</strong>s<br />

específicas.<br />

•Participar da elaboração do plano <strong>de</strong> cuidado para<br />

a pessoa i<strong>dos</strong>a, sua implementação, avaliação e reprogramação<br />

com a equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

•Realizar ações <strong>de</strong> acompanhamento e cuidado da pessoa i<strong>dos</strong>a com<br />

<strong>de</strong>pendência, conforme as <strong>de</strong>mandas e necessida<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ntificadas.<br />

•I<strong>de</strong>ntificar situações e hábitos presentes no contexto <strong>de</strong> vida do i<strong>dos</strong>o<br />

que são potencialmente promotores ou prejudiciais a sua saú<strong>de</strong>.<br />

•Estimular a autonomia e in<strong>de</strong>pendência da pessoa i<strong>dos</strong>a em face<br />

<strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s.<br />

•Apoiar a pessoa i<strong>dos</strong>a na execução das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária,<br />

conforme o plano <strong>de</strong> cuidado.<br />

•Apoiar a pessoa i<strong>dos</strong>a na execução das ativida<strong>de</strong>s instrumentais<br />

<strong>de</strong> vida diária.<br />

•Sensibilizar a pessoa i<strong>dos</strong>a e sua família quanto à necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> mudanças graduais e contínuas <strong>de</strong> hábitos e atitu<strong>de</strong>s, a fim <strong>de</strong><br />

facilitar a vida do i<strong>dos</strong>o.<br />

33


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Eixos norteadores para cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

•Atentar para possíveis reações in<strong>de</strong>sejadas em relação ao uso<br />

<strong>de</strong> medicamentos.<br />

•Provi<strong>de</strong>nciar suporte a<strong>de</strong>quado às necessida<strong>de</strong>s específicas da<br />

pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

•Atentar para a necessida<strong>de</strong> e/ou para as condições das próteses<br />

e órteses em uso pela pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

•Estimular a prática <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que diminuam o risco <strong>de</strong><br />

doenças crônicas, conforme orientações do plano <strong>de</strong> cuidado.<br />

•I<strong>de</strong>ntificar sinais <strong>de</strong> fragilização da pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

•I<strong>de</strong>ntificar sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão e <strong>de</strong>mência na pessoa i<strong>dos</strong>a<br />

e encaminhá-la para os cuida<strong>dos</strong> específicos.<br />

•Encaminhar o i<strong>dos</strong>o para atendimento à saú<strong>de</strong>, quando<br />

necessário.<br />

•Acompanhar o i<strong>dos</strong>o no uso da medicação.<br />

•Acompanhar a situação vacinal da pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

•Orientar a família e atuar no caso <strong>de</strong> óbito da pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

Eixo 3 – Prontidão para agir em situações imprevistas<br />

Competências a serem <strong>de</strong>senvolvidas<br />

No final do curso, o cuidador <strong>de</strong>verá ser capaz <strong>de</strong>:<br />

• Reconhecer situações <strong>de</strong> urgência e emergência e realizar os primeiros<br />

socorros e <strong>de</strong>mais ações sob orientação do profissional<br />

responsável.<br />

• Agir com prontidão e presteza em situações imprevistas <strong>de</strong>ntro do<br />

limite <strong>de</strong> suas atribuições.<br />

Para aten<strong>de</strong>r a esse eixo, no final do curso, o cuidador <strong>de</strong>verá ter<br />

habilida<strong>de</strong> para:<br />

•Reconhecer situações <strong>de</strong> urgência e emergência.<br />

•Realizar primeiros socorros.<br />

•Provi<strong>de</strong>nciar atendimento <strong>de</strong> suporte.<br />

Eixo 4 – Prevenção <strong>de</strong> riscos, aci<strong>de</strong>ntes e violência<br />

Competências a serem <strong>de</strong>senvolvidas<br />

No final do curso, o cuidador <strong>de</strong>verá ser capaz <strong>de</strong>:<br />

• I<strong>de</strong>ntificar e reconhecer situações <strong>de</strong> risco à integrida<strong>de</strong> física e<br />

psicológica da pessoa i<strong>dos</strong>a a fim <strong>de</strong> evitar situações <strong>de</strong> agravo.<br />

• Promover ambiente seguro.<br />

Para aten<strong>de</strong>r a esse eixo, no final do curso, o cuidador <strong>de</strong>verá ter<br />

habilida<strong>de</strong> para:<br />

•I<strong>de</strong>ntificar as situações <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> violência.<br />

•Prevenir, atuar e mobilizar os recursos que reduzam riscos.<br />

•Analisar os riscos sociais e ambientais à saú<strong>de</strong> da pessoa i<strong>dos</strong>a<br />

com <strong>de</strong>pendência.<br />

•Avaliar as condições <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes<br />

domésticos e propor alternativas para<br />

resolução ou minimização.<br />

•I<strong>de</strong>ntificar as situações <strong>de</strong><br />

autonegligência e promover os<br />

encaminhamentos necessários.<br />

•Reconhecer os sinais <strong>de</strong> maus-tratos<br />

e promover os encaminhamentos<br />

necessários.<br />

•I<strong>de</strong>ntificar as situações <strong>de</strong> violência<br />

intra e extrafamiliar.<br />

•Estimular a pessoa i<strong>dos</strong>a e seus<br />

familiares a participar <strong>de</strong> programas<br />

sociais locais que envolvam orientação<br />

e prevenção da violência intra e<br />

extrafamiliar, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

•Notificar caso suspeito ou confirmado<br />

<strong>de</strong> violência contra a pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

Alexan<strong>de</strong>r Raths/istockphoto<br />

34<br />

35


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Eixos norteadores para cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Eixo 5 – Direitos da pessoa i<strong>dos</strong>a<br />

Competências a serem <strong>de</strong>senvolvidas<br />

No final do curso, o cuidador <strong>de</strong>verá ser capaz <strong>de</strong>:<br />

• Conhecer a legislação e os recursos para promover a garantia <strong>dos</strong><br />

direitos.<br />

• I<strong>de</strong>ntificar espaços <strong>de</strong> reivindicação <strong>dos</strong> direitos da pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

Para aten<strong>de</strong>r a esse eixo, no final do curso, o cuidador <strong>de</strong>verá ter<br />

habilida<strong>de</strong> para:<br />

•I<strong>de</strong>ntificar as situações que apontem negligência aos direitos da<br />

pessoa i<strong>dos</strong>a e promover os encaminhamentos necessários.<br />

•Reconhecer e saber utilizar os mecanismos que asseguram os<br />

direitos <strong>dos</strong> i<strong>dos</strong>os como cidadãos.<br />

•Garantir o acesso da pessoa i<strong>dos</strong>a a seus direitos legais utilizando<br />

os meios e recursos disponíveis.<br />

•Divulgar para a pessoa i<strong>dos</strong>a, para seus familiares e para a comunida<strong>de</strong><br />

a legislação em vigência sobre os direitos <strong>dos</strong> i<strong>dos</strong>os.<br />

Alexan<strong>de</strong>r Raths/istockphoto<br />

Os conteú<strong>dos</strong> ministra<strong>dos</strong> visam a aten<strong>de</strong>r às competências e habilida<strong>de</strong>s<br />

a serem <strong>de</strong>senvolvidas. A carga horária prevista para os cursos<br />

é <strong>de</strong> 160 horas, integrando conteú<strong>dos</strong> presenciais, não presenciais e<br />

ativida<strong>de</strong>s práticas.<br />

Com base nessa proposta, a Escola <strong>de</strong> Enfermagem da Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo iniciou o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tais cursos e acrescentou<br />

que, para certificação, os participantes <strong>de</strong>veriam elaborar e executar,<br />

em grupos <strong>de</strong>, no máximo, cinco <strong>pessoas</strong>, um curso para, no mínimo,<br />

<strong>de</strong>z <strong>cuidadores</strong>. Só seriam certifica<strong>dos</strong> como <strong>formadores</strong> os que tivessem<br />

seus cursos aprova<strong>dos</strong> segundo critérios preestabeleci<strong>dos</strong> e<br />

antecipadamente divulga<strong>dos</strong>, após avaliação em todas as fases (planejamento,<br />

execução e avaliação).<br />

A seguir, apresentamos uma sugestão <strong>de</strong> conteúdo mínimo para <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>dos</strong> cursos.<br />

Cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

• Oficinas pedagógicas – Estratégias <strong>de</strong> ensino-aprendizagem voltadas<br />

ao ensino <strong>de</strong> adultos<br />

• Envelhecimento da população e da pessoa – Aspectos epi<strong>de</strong>miológicos<br />

e psicossociais<br />

• Envelhecimento da população e da pessoa – Aspectos sociais<br />

• Envelhecimento da população e da pessoa – Aspectos psicológicos<br />

• Envelhecimento da população e da pessoa – Aspectos biofisiológicos<br />

(senescência)<br />

• Aspectos funcionais do envelhecimento humano: autonomia,<br />

<strong>de</strong>pendência e in<strong>de</strong>pendência<br />

• A construção e manutenção <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte social e familiar<br />

no transcorrer da vida<br />

• Cuidadores: <strong>de</strong>finição, papéis, direitos e <strong>de</strong>veres (familiar, domiciliar,<br />

institucional, acompanhantes <strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os)<br />

36<br />

37


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Eixos norteadores para cursos <strong>de</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

• Desenvolvimento <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> ajuda<br />

• Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: nutrição<br />

e alimentação<br />

• Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: higiene,<br />

vestimenta e conforto<br />

• Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: mobilização<br />

e transferência<br />

• Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária:<br />

locomoção<br />

• Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária:<br />

continência<br />

• Cuidando <strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os com distúrbios cognitivos<br />

• Prevenindo situações <strong>de</strong> violência doméstica<br />

• Atuando em situações <strong>de</strong> urgência e emergência<br />

• Auxiliando no final da vida: processo <strong>de</strong> morrer, morte e luto<br />

Cursos <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

• Princípios da relação <strong>de</strong> ajuda<br />

• Mitos, atitu<strong>de</strong>s e estereótipos relaciona<strong>dos</strong> ao<br />

envelhecimento<br />

• Aspectos biopsicossociais do envelhecimento<br />

do ser humano<br />

• Autonomia, <strong>de</strong>pendência e in<strong>de</strong>pendência<br />

da pessoa i<strong>dos</strong>a – Aspectos conceituais<br />

e legais e sua relação com o cuidado<br />

• Compreen<strong>de</strong>ndo as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida<br />

diária (AVDs) em suas diferentes<br />

dimensões:<br />

−−básicas (ABVDs),<br />

−−instrumentais (AIVDs) e<br />

−−avançadas (AAVDs)<br />

• Organizando o cuidado relacionado ao melhor<br />

<strong>de</strong>sempenho das ativida<strong>de</strong>s cotidianas (oficinas)<br />

−−Mecanismos corporais<br />

−−Higiene pessoal e banho<br />

−−Mobilização e transferência<br />

−−Cuida<strong>dos</strong> com a alimentação<br />

−−Organização <strong>dos</strong> medicamentos<br />

−−Manejando a incontinência (urinária e fecal)<br />

−−Sono e repouso<br />

−−Repensando e organizando o dia a dia<br />

−−Direitos e <strong>de</strong>veres da pessoa i<strong>dos</strong>a (Estatuto do I<strong>dos</strong>o)<br />

• Mantendo um ambiente saudável<br />

Oficinas<br />

pedagógicas<br />

fazem parte<br />

<strong>dos</strong> cursos <strong>de</strong><br />

<strong>formadores</strong><br />

e <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong>.<br />

• O cuidado da pessoa i<strong>dos</strong>a com comprometimento <strong>de</strong> memória<br />

(ênfase em <strong>de</strong>mências)<br />

−−Enten<strong>de</strong>ndo a doença <strong>de</strong> Alzheimer (DA)<br />

a) Reagindo ao diagnóstico<br />

b) O que acontece <strong>de</strong>pois<br />

c) Contando aos familiares e amigos<br />

d) Possibilida<strong>de</strong>s e perspectivas <strong>de</strong> tratamento<br />

−−Reorganizando a vida<br />

a) Reorganizando o futuro<br />

b) Discutindo as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cuidado com a família<br />

−−Cuidando/auxiliando o portador <strong>de</strong> DA<br />

a) Comunicação<br />

b) Higiene e conforto<br />

c) Vestimenta<br />

d) Alimentação<br />

e) Programando ativida<strong>de</strong>s e exercícios<br />

f) Incontinência<br />

g) Sono e repouso<br />

h) Reconhecendo sinais e sintomas<br />

i) Atuando em urgências e emergências<br />

38<br />

39


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

−−Cuidando/auxiliando a família do portador <strong>de</strong> DA<br />

a) Lidando com alterações <strong>de</strong> comportamento<br />

b) Lidando com comportamentos agressivos<br />

c) Compreen<strong>de</strong>ndo e manejando alucinações e <strong>de</strong>lírios<br />

d) Perambulação<br />

e) Tornando o ambiente seguro<br />

f) Recebendo visitas<br />

g) Mantendo a estrutura familiar<br />

h) Lidando com o luto<br />

• I<strong>de</strong>ntificando e atuando em situações <strong>de</strong> urgência e emergência<br />

• Cuidando no final da vida (processo <strong>de</strong> morrer, morte e luto)<br />

• O papel do cuidador – Limites e possibilida<strong>de</strong>s<br />

• Cuidando do cuidador<br />

Capítulo 2<br />

A construção <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> ajuda<br />

Quando os <strong>cuidadores</strong> não forem os familiares, é fundamental<br />

que os conteú<strong>dos</strong> sobre a construção <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> ajuda<br />

sejam <strong>de</strong>senvolvi<strong>dos</strong>, pois isso vai constituir-se na base das<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses profissionais.<br />

Relação <strong>de</strong> ajuda po<strong>de</strong> ser entendida como uma ligação profunda e<br />

significativa entre a pessoa que ajuda e a que é ajudada, a qual ultrapassa<br />

as simples trocas funcionais, mantendo um prisma <strong>de</strong> crescimento<br />

e evolução. Cria vínculos com a execução <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

cuidado que tenham por princípio o respeito e<br />

a liberda<strong>de</strong>, ou seja, tenham por finalida<strong>de</strong><br />

auxiliar a pessoa que é ajudada a restabelecer<br />

e manter sua autonomia.<br />

Nesse contexto, enten<strong>de</strong>-se “cuidar”<br />

como “ajudar a viver”. Esse<br />

cuidado po<strong>de</strong> ser interno<br />

Annett Vauteck/istockphoto<br />

40 41


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

A construção <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> ajuda<br />

ou externo, ou seja, posso ajudar a mim mesmo respon<strong>de</strong>ndo pessoalmente<br />

pelos cuida<strong>dos</strong> usuais (cuidar-se) ou, ainda, ser ajudado por<br />

alguém integral ou parcialmente.<br />

No transcorrer <strong>de</strong> nossa existência, vivenciamos muitas situações <strong>de</strong><br />

ajuda, nas quais ora somos ajuda<strong>dos</strong> (cuida<strong>dos</strong>), ora nos ajudamos<br />

(autocuidado), ora ajudamos (cuidamos) outras <strong>pessoas</strong>. Compreen<strong>de</strong>r<br />

isso nos remete a outro conceito, o <strong>de</strong> “ajuda compartilhada”, que<br />

envolve reciprocida<strong>de</strong> e solidarieda<strong>de</strong>, em que to<strong>dos</strong> necessitam uns<br />

<strong>dos</strong> outros e a troca referente ao cuidado prestado não gera sentimentos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência.<br />

Aquele que se propõe ajudar precisa ter adquirido experiência pes soal,<br />

relacionada ao processo <strong>de</strong> viver, às diferentes etapas da vida e a diferentes<br />

relações sociais em uma convivência com os mais diversos<br />

grupos <strong>de</strong> indivíduos. Nem sempre isso é permitido a algumas <strong>pessoas</strong>,<br />

pois às vezes elas se veem diante <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> ajuda a outros<br />

sem nem sequer terem ultrapassado algumas etapas da vida adulta<br />

que lhes possibilitariam conjugar experiência e formação.<br />

Este capítulo foi elaborado com o propósito <strong>de</strong> suscitar reflexões e<br />

discussões acerca do que se faz necessário para a construção <strong>de</strong> uma<br />

relação <strong>de</strong> ajuda, peça fundamental no <strong>de</strong>senvolvimento, com qualida<strong>de</strong>,<br />

das ativida<strong>de</strong>s <strong>dos</strong> <strong>cuidadores</strong>. Os pressupostos coloca<strong>dos</strong> a<br />

seguir basearam-se nas consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> alguns autores sobre a construção<br />

<strong>de</strong> relações <strong>de</strong> ajuda (Carkhuff, 1977; Lazure, 1994; Bérger,<br />

1996; Miranda e Miranda, 1996).<br />

Primeiros passos<br />

A primeira consi<strong>de</strong>ração a ser feita é que os <strong>cuidadores</strong> envolvi<strong>dos</strong><br />

com ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ajuda <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s específicas.<br />

Embora sejam elementos fundamentais, não são suficientes apenas<br />

o interesse e a boa vonta<strong>de</strong>. Não basta também apenas “saber” ou<br />

Mark Papas/istockphoto<br />

“saber fazer” para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um “bom” cuidado. É necessário<br />

“saber ser” para si mesmo e para a pessoa i<strong>dos</strong>a a quem se<br />

<strong>de</strong>stina seu olhar.<br />

Devemos reconhecer que, em muitas ocasiões, ajudamos porque isso<br />

nos faz bem, porque nos sentimos especialmente lisonjea<strong>dos</strong> quando<br />

sabemos que somos responsáveis pelo bem-estar <strong>de</strong> alguém ou porque<br />

utilizamos esses momentos para fortalecimento próprio, durante o<br />

qual, <strong>de</strong> alguma forma, exercemos nosso “po<strong>de</strong>r” sobre o outro, porque<br />

nos consi<strong>de</strong>ramos <strong>de</strong>tentores do saber (e, portanto, do po<strong>de</strong>r)<br />

perante aqueles que necessitam <strong>de</strong> nosso auxílio.<br />

Conhecer-se é fundamental. Compreen<strong>de</strong>r que muitas das dificulda<strong>de</strong>s<br />

que sentimos para lidar com os problemas, me<strong>dos</strong> e sofrimentos<br />

das <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as ocorrem porque, talvez, tenhamos as mesmas dificulda<strong>de</strong>s<br />

para lidar com nossos próprios me<strong>dos</strong> e com nosso próprio<br />

sofrimento.<br />

42<br />

43


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

A construção <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> ajuda<br />

Nas relações <strong>de</strong><br />

ajuda, auxiliamos<br />

as <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as a<br />

enfrentar e a<br />

superar uma<br />

situação <strong>de</strong> crise<br />

com os recursos <strong>de</strong><br />

que elas dispõem.<br />

44<br />

Saimnadir/dreamstime.com<br />

Conhecer-se não é fácil, pois isso geralmente nos coloca<br />

diante <strong>de</strong> questões que não queremos ou com as quais<br />

não gostamos <strong>de</strong> nos confrontar. Tememos ser rejeita<strong>dos</strong>,<br />

julga<strong>dos</strong>, cobra<strong>dos</strong>, pegos em situações <strong>de</strong>sfavoráveis,<br />

correr riscos ou falhar e ter <strong>de</strong> admitir as falhas. Tememos,<br />

sobretudo, tomar consciência <strong>de</strong> nosso verda<strong>de</strong>iro “eu”<br />

e <strong>de</strong>scobrir que é preciso mudar nosso comportamento e<br />

nossa vida. Somente com esse conhecimento pessoal po<strong>de</strong>mos<br />

compreen<strong>de</strong>r o outro e, então, tentar estabelecer<br />

uma relação <strong>de</strong> ajuda. É fundamental enten<strong>de</strong>r que ajudar<br />

é “dar <strong>de</strong> si”, já que envolve doação (<strong>de</strong> tempo,<br />

competência, saber, interesse), capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escuta<br />

e compreensão.<br />

Situações <strong>de</strong> emergência que possam pôr em risco a vida<br />

da pessoa i<strong>dos</strong>a e mesmo as situações <strong>de</strong> substituição, na<br />

qual o cuidador faz pelo i<strong>dos</strong>o o que ele está temporária<br />

ou permanentemente incapacitado <strong>de</strong> realizar, são exemplos<br />

<strong>de</strong> ações que não estão em conformida<strong>de</strong> com a <strong>de</strong>finição<br />

e finalida<strong>de</strong>s da relação <strong>de</strong> ajuda.<br />

Nas relações <strong>de</strong> ajuda, auxiliamos as <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as a enfrentar e a<br />

superar uma situação <strong>de</strong> crise com os recursos <strong>de</strong> que elas dispõem.<br />

Tais situações manifestam-se <strong>de</strong> diferentes maneiras, mais ou menos<br />

explícitas e/ou penosas. A capacida<strong>de</strong> e o limite <strong>de</strong> cada i<strong>dos</strong>o são<br />

inerentes ao próprio i<strong>dos</strong>o e construí<strong>dos</strong> durante suas experiências<br />

pessoais, cabendo ao cuidador a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecê-los.<br />

Embora toda relação <strong>de</strong> ajuda envolva comunicação, nem toda comunicação<br />

é obrigatoriamente uma relação <strong>de</strong> ajuda. Quando o cuidador<br />

pergunta à pessoa i<strong>dos</strong>a sobre da<strong>dos</strong> precisos (quantas vezes urinou no<br />

dia, se tomou café pela manhã etc.), ela vai lhe dar uma resposta<br />

precisa (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tenha capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvir e compreen<strong>de</strong>r). Nesse<br />

caso, ambos apenas circulam informações.<br />

A segunda consi<strong>de</strong>ração a ser feita é a compreensão <strong>de</strong> que, em uma<br />

relação <strong>de</strong> ajuda, o i<strong>dos</strong>o é o principal <strong>de</strong>tentor <strong>dos</strong> recursos para a<br />

resolução das dificulda<strong>de</strong>s ou <strong>de</strong>mandas apresentadas. O estabelecimento<br />

<strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> ajuda possibilita a ele i<strong>de</strong>ntificar, sentir,<br />

saber, escolher e <strong>de</strong>cidir sobre suas ações (autonomia). Ao profissional<br />

cuidador cabe auxiliá-lo a <strong>de</strong>scobrir ou re<strong>de</strong>scobrir capacida<strong>de</strong>s e<br />

potencialida<strong>de</strong>s próprias, redirecionando suas energias para um novo<br />

olhar sobre si mesmo, que, diante das circunstâncias, po<strong>de</strong> não existir<br />

ou estar muito <strong>de</strong>teriorado.<br />

A principal ênfase da relação <strong>de</strong> ajuda é a dimensão afetiva do problema,<br />

pois muitas das <strong>de</strong>sadaptações não ocorrem por falta <strong>de</strong> conhecimento,<br />

e sim por insatisfações emocionais. Ela busca auxiliar a<br />

pessoa i<strong>dos</strong>a a compreen<strong>de</strong>r-se, a fazer escolhas <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

e significativa e a fazer com que suas relações lhe sejam mais<br />

satisfatórias. Essa relação visa, sobretudo, à melhoria da autoestima,<br />

ao alcance da autorrealização, à promoção <strong>de</strong> conforto psicológico<br />

e ao fornecimento do apoio necessário para se confrontar com as<br />

próprias dificulda<strong>de</strong>s existenciais.<br />

Dessa forma, a relação <strong>de</strong> ajuda visa a auxiliar a pessoa i<strong>dos</strong>a a:<br />

• Ultrapassar uma situação-limite.<br />

• Resolver uma situação atual ou potencial.<br />

• Encontrar um funcionamento pessoal mais satisfatório, aumentando<br />

sua autoestima e seu sentimento<br />

<strong>de</strong> segurança e<br />

diminuindo sua ansieda<strong>de</strong><br />

ao mínimo.<br />

• Desenvolver atitu<strong>de</strong>s<br />

positivas perante<br />

suas<br />

(in)capacida<strong>de</strong>s.<br />

45<br />

Alexan<strong>de</strong>r Raths/istockphoto


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

A construção <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> ajuda<br />

Annett Vauteck/istockphoto<br />

• Melhorar sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação e suas relações com os<br />

outros.<br />

• I<strong>de</strong>ntificar o sentido para sua existência.<br />

• Manter um ambiente estimulante no que se refere aos níveis biopsicossociais.<br />

Para <strong>de</strong>senvolver uma relação <strong>de</strong> ajuda, é fundamental que o cuidador<br />

seja:<br />

• Preciso e objetivo no que lhe diz respeito e no que diz respeito aos<br />

outros.<br />

• Capaz <strong>de</strong> respeitar-se e <strong>de</strong> respeitar os outros.<br />

• Congruente consigo mesmo e com a pessoa <strong>de</strong> quem cuida.<br />

• Empático.<br />

• Capaz <strong>de</strong> confrontar-se.<br />

É importante <strong>de</strong>stacar que, para ser um cuidador, a pessoa <strong>de</strong>ve: reconhecer<br />

seus valores pessoais; ser capaz <strong>de</strong> analisar as próprias emoções;<br />

estar apta a servir <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo e a influenciar outros; ser altruísta;<br />

<strong>de</strong>senvolver alto senso <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> em relação a si mesma e<br />

aos outros; ser ética. Essas características auxiliarão<br />

a formação <strong>de</strong> interações mais abertas<br />

entre cuidador e i<strong>dos</strong>os, mantendo atitu<strong>de</strong>s<br />

positivas com o objetivo <strong>de</strong> alcançar a autonomia<br />

em vez <strong>de</strong> controle.<br />

No estabelecimento <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong><br />

ajuda, é necessário <strong>de</strong>finir os objetivos<br />

das duas partes envolvidas – cuidador<br />

e pessoa i<strong>dos</strong>a. Cabe ao cuidador:<br />

• I<strong>de</strong>ntificar com clareza os problemas<br />

vivencia<strong>dos</strong> pelo i<strong>dos</strong>o.<br />

• Estabelecer conjuntamente com<br />

i<strong>dos</strong>o/família os objetivos concretos<br />

e pertinentes.<br />

• Avaliar com o i<strong>dos</strong>o suas capacida<strong>de</strong>s e suas limitações.<br />

• Escolher os meios para ajudá-lo a atingir seus objetivos levando em<br />

conta o sistema <strong>de</strong> valores do cliente.<br />

Cabe à pessoa i<strong>dos</strong>a/família:<br />

• Participar ativamente na <strong>de</strong>finição <strong>dos</strong> objetivos.<br />

• Trabalhar um elemento <strong>de</strong> cada vez.<br />

• Iniciar pelo problema atual.<br />

Características necessárias para construir<br />

uma relação <strong>de</strong> ajuda<br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escuta<br />

“Escutar” não é sinônimo <strong>de</strong> “ouvir”. Escutar é constatar por meio<br />

do estímulo do sistema auditivo; é um processo ativo e voluntário<br />

em que o indivíduo permite-se impregnar pelo conjunto <strong>de</strong> suas<br />

percepções externas e internas. Na relação <strong>de</strong> ajuda, escutar representa<br />

um instrumento para compreen<strong>de</strong>r a pessoa i<strong>dos</strong>a <strong>de</strong> forma a<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>terminar com precisão as intervenções necessárias. Ao escutar<br />

a pessoa i<strong>dos</strong>a, o cuidador preten<strong>de</strong>: mostrar-lhe sua importância;<br />

permitir que o i<strong>dos</strong>o i<strong>de</strong>ntifique suas emoções; auxiliá-lo na<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s e na elaboração <strong>de</strong> um planejamento<br />

objetivo e eficaz para aten<strong>de</strong>r a elas. Para escutar <strong>de</strong> modo<br />

eficiente, o cuidador <strong>de</strong>ve:<br />

• Desejar estabelecer uma relação mais estreita com a pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

• Escolher um local calmo que propicie a escuta.<br />

• Manter-se a uma distância confortável do i<strong>dos</strong>o, mas que permita<br />

boa visualização <strong>de</strong> ambos.<br />

• Procurar compreen<strong>de</strong>r não só a linguagem verbal, mas principalmente<br />

a não verbal da pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

• Evitar julgamentos com base em valores pessoais.<br />

46<br />

47


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

A construção <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> ajuda<br />

• Reformular com o i<strong>dos</strong>o, porém com as próprias palavras, o que ele<br />

lhe referiu, validando sua compreensão.<br />

• Respeitar, compreen<strong>de</strong>r e interpretar o silêncio da pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

O silêncio po<strong>de</strong> traduzir a intensida<strong>de</strong> da procura da resposta consi<strong>de</strong>rando<br />

tudo o que a prece<strong>de</strong>u; po<strong>de</strong> significar o medo ou o sofrimento<br />

que impe<strong>de</strong>m a elaboração <strong>de</strong> palavras ou, ao contrário,<br />

uma alegria tão intensa que também não po<strong>de</strong> ser traduzida por<br />

palavras. É a escuta do silêncio que exige a presença mais intensa e<br />

mais verda<strong>de</strong>ira do cuidador, pois isso po<strong>de</strong> levá-lo ao encontro real<br />

do que o outro vive <strong>de</strong> mais profundo. Silêncio não é sinônimo <strong>de</strong><br />

vazio nem ausência <strong>de</strong> relação; costuma ser rico em significa<strong>dos</strong>.<br />

Para ser traduzido e transformado em instrumento <strong>de</strong> ajuda, <strong>de</strong>ve<br />

ser compreendido, respeitado, acolhido e nunca prematuramente<br />

interrompido.<br />

Escutar não é memorizar as palavras emitidas pela pessoa i<strong>dos</strong>a; é<br />

com preendê-la, ver, apreen<strong>de</strong>r e sentir o contexto e os sentimentos<br />

relaciona<strong>dos</strong> com o conteúdo das mensagens emitidas. Exige gran<strong>de</strong><br />

empenho, vigilância sensorial, intelectual e emocional, o que consome<br />

muita energia e requer preparo e amadurecimento. O cuidador<br />

que <strong>de</strong> fato escuta o i<strong>dos</strong>o reflete atentamente sobre o significado <strong>de</strong><br />

suas mensagens (verbais e não verbais), buscando o estabelecimento<br />

<strong>de</strong> intervenções apropriadas às necessida<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ntificadas.<br />

Escutas que não ajudam<br />

• Escuta ina<strong>de</strong>quada – O cuidador está mais atento às próprias reflexões<br />

que às do i<strong>dos</strong>o, está distraído, tem “pressa” em respon<strong>de</strong>r<br />

a ele ou i<strong>de</strong>ntifica a situação <strong>de</strong>scrita como familiar e faz um processo<br />

<strong>de</strong> transferência.<br />

• Escuta apreciativa – O cuidador faz juízos <strong>de</strong> valor durante a escuta.<br />

Embora normal, essa atitu<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser nociva. Para evitar isso, o<br />

cuidador precisa <strong>de</strong>senvolver a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aceitar os i<strong>dos</strong>os<br />

e escutá-los objetivamente.<br />

Pamela Moore/istockphoto<br />

• Escuta filtrada – Relaciona-se a nossa <strong>de</strong>fesa pessoal, ou seja, selecionamos<br />

<strong>de</strong> modo inconsciente o que permitimos ou não entrar<br />

em contato conosco e criamos barreiras que, mesmo involuntariamente,<br />

<strong>de</strong>formam nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escutar. Isso po<strong>de</strong> ser evitado<br />

com o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um profundo autoconhecimento.<br />

• Escuta compassiva – Refere-se ao sentimento <strong>de</strong> compaixão <strong>de</strong>senvolvido<br />

pelo cuidador em relação ao i<strong>dos</strong>o que assiste. Tal atitu<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>turpar a percepção <strong>dos</strong> fatos, gerando ações ina<strong>de</strong>quadas.<br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> clarificar<br />

“Clarificar” quer dizer tornar claro, limpo ou puro. Na relação <strong>de</strong><br />

ajuda, significa ser capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitar mais precisamente o problema<br />

em si e os envolvi<strong>dos</strong> <strong>de</strong> maneira concreta e realista. Para tanto, o<br />

cuidador <strong>de</strong>ve ser capaz <strong>de</strong> auxiliar o i<strong>dos</strong>o a refletir sobre seus problemas<br />

e a <strong>de</strong>screvê-los em toda a sua extensão, intensida<strong>de</strong> e complexida<strong>de</strong>.<br />

Após escutá-lo, <strong>de</strong>ve repetir com suas palavras a mesma<br />

questão, permitindo, assim, sua reinterpretação.<br />

48<br />

49


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

A construção <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> ajuda<br />

As perguntas “Quem?”, “O quê?”, “On<strong>de</strong>?”, Como?” e “Por quê?”<br />

auxiliam na clarificação, mas o uso indiscriminado do “por quê?”<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar no i<strong>dos</strong>o a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se justificar, geralmente<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo-se. Cada pergunta <strong>de</strong>ve ter por objetivo auxiliar o i<strong>dos</strong>o<br />

a perceber com maior clareza o problema ou suas soluções.<br />

A utilização, pelo cuidador, <strong>de</strong> generalizações, abstrações ou termos<br />

imprecisos po<strong>de</strong> estar relacionada ao medo <strong>de</strong> enfrentar o problema.<br />

Agindo <strong>de</strong>ssa forma, o problema se torna maior. O cuidador não <strong>de</strong>ve<br />

usar linguagem intelectual, abstrata, impessoal e/ou vaga, pois isso<br />

não auxilia a pessoa i<strong>dos</strong>a a clarificar e precisar seu pensamento.<br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respeitar-se e <strong>de</strong> respeitar o i<strong>dos</strong>o<br />

Alexandru Kacso/istockphoto<br />

Respeitar o<br />

i<strong>dos</strong>o significa<br />

comunicar-lhe<br />

que procuramos<br />

compreendê-lo<br />

como pessoa, com<br />

sua experiência<br />

e valores.<br />

O respeito é uma necessida<strong>de</strong> humana, uma qualida<strong>de</strong>,<br />

um valor, uma atitu<strong>de</strong> básica expressada pelo comportamento.<br />

Respeitar alguém significa acreditar em sua unicida<strong>de</strong>,<br />

em sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver <strong>de</strong> forma satisfatória.<br />

Respeitar-se significa ser verda<strong>de</strong>iro consigo mesmo e com<br />

os outros. Respeitar o i<strong>dos</strong>o significa comunicar-lhe que<br />

procuramos compreendê-lo como pessoa, com sua experiência,<br />

seus valores e a situação que está vivenciando <strong>de</strong><br />

acordo com seu ponto <strong>de</strong> vista. Significa ainda i<strong>de</strong>ntificar<br />

suas capacida<strong>de</strong>s e seu potencial remanescente e auxiliá-lo<br />

a reconhecê-los e a utilizá-los para lidar com essas situações,<br />

dando-lhe condições <strong>de</strong> resgatar o máximo <strong>de</strong> autonomia.<br />

Será o i<strong>dos</strong>o, no entanto, que <strong>de</strong>cidirá utilizá-la ou não,<br />

quer dizer, a palavra final é <strong>de</strong>le, e respeitá-lo significa<br />

compreen<strong>de</strong>r e aceitar essa <strong>de</strong>cisão mesmo que ela não<br />

corresponda à expectativa do cuidador.<br />

O respeito se manifesta por meio <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s e comportamentos,<br />

ativos ou passivos. Estar com o i<strong>dos</strong>o, querer<br />

ajudá-lo e preocupar-se com seu bem-estar; consi<strong>de</strong>rá-lo<br />

como ser único, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> suas doenças ou limitações;<br />

acreditar que ele é capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir sobre o próprio <strong>de</strong>stino e acreditar<br />

em sua boa vonta<strong>de</strong> são exemplos <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s.<br />

Os comportamentos expressam o significado e o valor do i<strong>dos</strong>o para<br />

o cuidador. Ser capaz <strong>de</strong> estabelecer uma relação que envolva escuta<br />

e presença física atentas; aceitar o i<strong>dos</strong>o incondicionalmente, evitando<br />

juízos críticos; <strong>de</strong>monstrar empatia, afeto e cordialida<strong>de</strong>; auxiliá-lo<br />

a <strong>de</strong>senvolver seus recursos pessoais, encorajando-o, motivando-o e<br />

apoiando-o e não agindo por ele; manifestar compreensão e <strong>de</strong>dicação<br />

são exemplos <strong>de</strong> comportamentos respeitosos.<br />

Enumeramos, a seguir, alguns exemplos <strong>de</strong> como o cuidador po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>monstrar respeito pelo i<strong>dos</strong>o:<br />

• Mostrar que o aprecia como pessoa, respeitando sua ida<strong>de</strong> e sua<br />

personalida<strong>de</strong>.<br />

• Não utilizar linguagem infantilizante ou <strong>de</strong>masiadamente familiar.<br />

• Chamá-lo pelo nome (nome próprio ou apelido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tenha<br />

autorização para tanto) e tratá-lo por senhor ou senhora.<br />

• Cumprimentá-lo ao chegar e sempre que ele a<strong>de</strong>ntrar o recinto em<br />

que o cuidador estiver.<br />

• Dedicar-se inteiramente a ele quando da execução <strong>de</strong> algum cuidado,<br />

procurando não se distrair com outros estímulos (televisão,<br />

rádio etc.) e evitando interrupções por telefone.<br />

• Evitar <strong>de</strong>monstrar compaixão. A pieda<strong>de</strong> não é sinal <strong>de</strong> respeito e<br />

não ajuda, sobretudo os i<strong>dos</strong>os.<br />

• Mostrar-se confiante no potencial e nas capacida<strong>de</strong>s do i<strong>dos</strong>o, valorizando-as<br />

<strong>de</strong> forma construtiva e realista.<br />

• Demonstrar apoio afetivo.<br />

• Respeitar a intimida<strong>de</strong> do i<strong>dos</strong>o e a confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> da conversa<br />

e compartilhar informações apenas com sua prévia autorização.<br />

• Aguardar as respostas e as <strong>de</strong>cisões da pessoa, que po<strong>de</strong>m ser mais<br />

<strong>de</strong>moradas, e não apressá-la.<br />

50<br />

51


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

A construção <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> ajuda<br />

52<br />

• Planejar conjuntamente com o i<strong>dos</strong>o as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cuidado,<br />

perguntando sua opinião e buscando segui-la.<br />

O respeito na relação <strong>de</strong> ajuda auxilia na elevação da autoestima e do<br />

autoconceito, que, em muitos i<strong>dos</strong>os mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, po<strong>de</strong>m estar<br />

rebaixa<strong>dos</strong>.<br />

Obstáculos ao respeito<br />

• Comportamentos punitivos e reprovadores.<br />

• Juízos <strong>de</strong> valor.<br />

• Utilização <strong>de</strong> frases feitas (<strong>de</strong>spersonalização da relação).<br />

• Escuta falsa, não centrada no i<strong>dos</strong>o.<br />

• Linguagem infantilizante (muito frequente no tratamento com<br />

i<strong>dos</strong>os).<br />

• Negação da experiência e das emoções do i<strong>dos</strong>o.<br />

• Não valorização das capacida<strong>de</strong>s do i<strong>dos</strong>o.<br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser congruente<br />

“Congruência” significa harmonia, coerência <strong>de</strong> algo com o fim a<br />

que se <strong>de</strong>stina. Possibilita ao i<strong>dos</strong>o a existência <strong>de</strong> concordância<br />

entre seu ser e sua experiência e sua expressão em seu comportamento.<br />

É, em outras palavras, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser autêntico. A<br />

pessoa que não possui essa competência separa-se <strong>de</strong> seu verda<strong>de</strong>iro<br />

“eu”, reduzindo sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> aos papéis que <strong>de</strong>sempenha. Po<strong>de</strong>,<br />

assim, sentir-se insatisfeita e dividida.<br />

A autenticida<strong>de</strong> do cuidador po<strong>de</strong> se<br />

manifestar: por sua espontaneida<strong>de</strong>;<br />

valorização <strong>de</strong> seu papel; coerência<br />

e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compartilhar<br />

experiências.<br />

Estes são os obstáculos à autenticida<strong>de</strong>:<br />

atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>fensiva; não manifestação<br />

<strong>dos</strong> próprios sentimentos;<br />

Galina Barskaya/istockphoto<br />

ser inconveniente (a relação profissional exige tato e juízo crítico);<br />

atitu<strong>de</strong>s pessimistas.<br />

Para <strong>de</strong>senvolver congruência e autenticida<strong>de</strong>, o cuidador <strong>de</strong>ve aprimorar<br />

o autoconhecimento e o autorrespeito, obter segurança interior,<br />

evitando escon<strong>de</strong>r-se atrás <strong>de</strong> um papel social, e observar atentamente<br />

seu comportamento não verbal, buscando a coerência entre o que<br />

diz e o que <strong>de</strong>monstra.<br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser empático<br />

“Empatia” é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se colocar no lugar do outro e sentir<br />

como se estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por ele<br />

sem, no entanto, per<strong>de</strong>r o próprio sistema <strong>de</strong> referência. É, portanto,<br />

a base <strong>de</strong> toda relação <strong>de</strong> ajuda. Para que o cuidador seja empático,<br />

ele <strong>de</strong>ve ser capaz <strong>de</strong>:<br />

• Aproximar-se da situação que o i<strong>dos</strong>o está vivenciando.<br />

• Desenvolver a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> colocar-se no lugar <strong>de</strong>le, buscando ver<br />

o mundo como ele vê, o que não significa fazer suas as emoções e<br />

a vivência do outro, porque a diferenciação é fundamental na relação<br />

<strong>de</strong> ajuda.<br />

• Ter consciência <strong>de</strong> que o problema é do i<strong>dos</strong>o.<br />

Só assim o cuidador será capaz <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma<br />

verda<strong>de</strong>ira o conteúdo das mensagens da pessoa i<strong>dos</strong>a, pois estará em<br />

posição <strong>de</strong> ver o mundo do mesmo prisma que ela o vê.<br />

A empatia po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>senvolvida por uma personalida<strong>de</strong> afetuosa e<br />

flexível; pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> generalizações relativas às experiências <strong>de</strong><br />

vida; pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tolerar e utilizar o silêncio na relação; por<br />

semelhanças <strong>de</strong> experiências e vivências; pela disponibilida<strong>de</strong> e escuta<br />

atenta; pela tolerância ao estresse; por experiências <strong>de</strong> vida variadas,<br />

propiciando maior flexibilida<strong>de</strong> e espontaneida<strong>de</strong>; pela autoafirmação;<br />

pelo uso <strong>de</strong> linguagem apropriada e pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r<br />

a linguagem simbólica utilizada pelo i<strong>dos</strong>o.<br />

53


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

A construção <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> ajuda<br />

54<br />

A empatia, por si só, não soluciona os problemas do i<strong>dos</strong>o como<br />

se fosse um passe <strong>de</strong> mágica; constitui-se em um meio para fazer<br />

com que ele não se sinta solitário diante <strong>de</strong>les. Ao perceber que<br />

alguém enten<strong>de</strong> a dimensão que os problemas tomam em sua vida,<br />

sente-se mais confortável e, assim, po<strong>de</strong> canalizar sua energia na<br />

resolução <strong>de</strong>les com o apoio daquele com quem mantém uma relação<br />

<strong>de</strong> ajuda.<br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> confrontação<br />

Mateusz Zagorski/istockphoto<br />

“Confrontar” significa colocar frente a frente, <strong>de</strong>frontar, comparar;<br />

não envolve disputa como “afrontar”. A confrontação origina-se na<br />

empatia e no respeito ao i<strong>dos</strong>o e é uma manifestação suplementar à<br />

congruência do cuidador. A confrontação permite ao i<strong>dos</strong>o estabelecer<br />

um contato mais profundo com seu interior, com aquilo que ele<br />

<strong>de</strong> fato é, com suas forças e seus recursos, assim como com suas fraquezas<br />

e comportamentos prejudiciais. Na relação <strong>de</strong> ajuda, a confrontação<br />

só <strong>de</strong>ve ser utilizada quando existe entre cuidador e i<strong>dos</strong>o<br />

um verda<strong>de</strong>iro clima <strong>de</strong> confiança. O cuidador que preten<strong>de</strong> utilizá-la<br />

<strong>de</strong>ve fazer uma avaliação acurada do estado geral do i<strong>dos</strong>o.<br />

A confrontação exige do cuidador habilida<strong>de</strong> e tato. Ele vai confrontar<br />

não o i<strong>dos</strong>o, mas seu comportamento, <strong>de</strong>screvendo-o sem<br />

emissão <strong>de</strong> julgamentos, pois isso, nesse momento,<br />

po<strong>de</strong>ria representar <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> <strong>de</strong>srespeito, levando<br />

a pessoa i<strong>dos</strong>a a assumir uma postura <strong>de</strong>fensiva.<br />

No entanto, nem sempre a confrontação é reconhecida<br />

como instrumento <strong>de</strong> ajuda pelo i<strong>dos</strong>o. Caso ele<br />

resista a essa forma <strong>de</strong> intervenção, convém não insistir,<br />

aguardando ocasião mais oportuna para fazê-lo.<br />

Quando a relação não é <strong>de</strong> ajuda?<br />

Muitas vezes, os <strong>cuidadores</strong> querem estabelecer uma<br />

relação <strong>de</strong> ajuda a<strong>de</strong>quada, mas se frustram com seus<br />

resulta<strong>dos</strong>. Listaremos, a seguir, algumas intervenções<br />

que costumam ser muito utilizadas, mas que normalmente<br />

não respon<strong>de</strong>m às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ajuda <strong>dos</strong><br />

indivíduos.<br />

• Dar or<strong>de</strong>ns sem avaliar o contexto que envolve as<br />

situações (po<strong>de</strong> levar o i<strong>dos</strong>o a ter <strong>de</strong> negar suas emoções<br />

traduzidas por seu comportamento).<br />

• Fazer ameaças (“Se não cumprir as orientações, não<br />

viremos mais visitá-lo...”). Em geral esse comportamento<br />

acrescenta mais um elemento, o<br />

medo, à problemática apresentada pela<br />

pessoa.<br />

• Censurar o i<strong>dos</strong>o, adverti-lo <strong>de</strong> forma<br />

contun<strong>de</strong>nte (representa uma afirmação<br />

<strong>de</strong> sua incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discernir entre<br />

Na relação <strong>de</strong><br />

ajuda, a<br />

confrontação<br />

só <strong>de</strong>ve ser<br />

utilizada<br />

quando existe<br />

entre cuidador<br />

e i<strong>dos</strong>o um<br />

verda<strong>de</strong>iro clima<br />

<strong>de</strong> confiança.<br />

55<br />

Elena Elisseeva/dreamstime.com


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

A construção <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> ajuda<br />

Julgar e criticar<br />

utilizando o<br />

próprio sistema<br />

<strong>de</strong> valores po<strong>de</strong><br />

levar o i<strong>dos</strong>o<br />

a não mais confiar<br />

no cuidador por<br />

não se sentir<br />

compreendido<br />

por ele.<br />

o certo e o errado, entre o bem e o mal, colocando-o como<br />

incapaz <strong>de</strong> resolver seus problemas).<br />

• Dar soluções (não permite ao i<strong>dos</strong>o refletir sobre seu<br />

problema e sobre sua potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação).<br />

• Argumentar logicamente (“O problema voltou, obviamente,<br />

porque o(a) senhor(a) não seguiu as orientações<br />

que <strong>de</strong>i...”), pois po<strong>de</strong> colocar o i<strong>dos</strong>o em uma situação<br />

<strong>de</strong>sconfortável, fazendo-o sentir-se um tolo, incapaz <strong>de</strong><br />

seguir recomendações.<br />

• Julgar e criticar (utilizando o próprio sistema <strong>de</strong> valores),<br />

porque po<strong>de</strong> levar o i<strong>dos</strong>o a não mais confiar no cuidador<br />

por não se sentir compreendido por ele.<br />

• Aprovar, lisonjear (“Desta vez tomou a<br />

<strong>de</strong>cisão correta...”). Isso po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />

no i<strong>dos</strong>o o receio <strong>de</strong> não ser aprovado em<br />

outras situações pelo julgamento do cuidador<br />

e, caso se arrependa da <strong>de</strong>cisão<br />

tomada, não se sentirá confortável em<br />

compartilhar tal sentimento com ele.<br />

• Analisar e interpretar (“Cada vez que o(a)<br />

senhor(a) quer a atenção <strong>de</strong> seus filhos,<br />

comporta-se como se estivesse muito<br />

doente...”). Se a interpretação for verda<strong>de</strong>ira,<br />

o i<strong>dos</strong>o po<strong>de</strong> sentir-se “apanhado”,<br />

o que será insustentável; se não for correta,<br />

po<strong>de</strong> sentir-se acusado ou incompreendido.<br />

• Consolá-lo (“Não se preocupe, isso vai<br />

passar...”). O i<strong>dos</strong>o po<strong>de</strong> interpretar que o<br />

cuidador minimiza a importância <strong>de</strong> seu<br />

problema e, portanto, não haverá solução<br />

para isso.<br />

Sheryl Griffin/istockphoto<br />

• Fazer muitas perguntas fechadas (“On<strong>de</strong>?”, “Quando?”, “Como?”,<br />

“Por quê?”). O i<strong>dos</strong>o po<strong>de</strong> sentir-se interrogado.<br />

• Gracejar. O gracejo muitas vezes é colocado para minimizar uma<br />

situação tensa, ao criar um clima mais agradável. No entanto, a<br />

utilização <strong>de</strong>ve ser bem estudada pelo cuidador, pois sua ina<strong>de</strong>quação<br />

po<strong>de</strong> levar o i<strong>dos</strong>o a pensar que o cuidador não leva a sério seu<br />

problema ou suas necessida<strong>de</strong>s ou ainda que não o respeita.<br />

• Ridicularizar (“Assim o(a) senhor(a) está agindo como uma criancinha...”).<br />

Po<strong>de</strong> levar o i<strong>dos</strong>o a sentir-se <strong>de</strong>svalorizado ou <strong>de</strong>srespeitado<br />

e gerar respostas agressivas.<br />

A relação <strong>de</strong> ajuda, quando a<strong>de</strong>quadamente estabelecida, permitirá ao<br />

i<strong>dos</strong>o e a seus familiares a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> recursos próprios disponíveis<br />

para superar os problemas que estão vivenciando, fortalecendo-os para<br />

situações futuras. Esse tipo <strong>de</strong> intervenção está diretamente associado<br />

à qualida<strong>de</strong> do cuidado prestado, uma vez que procura auxiliar o<br />

i<strong>dos</strong>o em todas as suas dimensões <strong>de</strong> ser humano.<br />

“CUIDAR É AJUDAR.”<br />

56<br />

57


Capítulo 3<br />

Atitu<strong>de</strong>s, mitos e estereótipos<br />

relaciona<strong>dos</strong> ao envelhecimento e<br />

ao cuidado com a pessoa i<strong>dos</strong>a<br />

A vida segue um curso muito preciso e a natureza dota,<br />

cada ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> finalida<strong>de</strong>s próprias. Por isso, a fraqueza<br />

das crianças, o ímpeto <strong>dos</strong> jovens, a serieda<strong>de</strong> <strong>dos</strong> adultos,<br />

a maturida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> velhos são coisas naturais que <strong>de</strong>vemos<br />

apreciar cada uma a seu tempo.<br />

Cícero.<br />

Camponeses diante <strong>de</strong> um albergue, 1653, <strong>de</strong> Jan Steen (Toledo Museum of Art, EUA).<br />

Des<strong>de</strong> a Antiguida<strong>de</strong>, filósofos, como Cícero, <strong>de</strong>monstravam<br />

interesse e preocupação com o envelhecer e com os velhos.<br />

Sem dúvida, esses pensamentos acompanharam o processo<br />

histórico da civilização, sofrendo a<strong>de</strong>quações aos valores <strong>de</strong> cada<br />

época e <strong>de</strong> cada cultura em particular.<br />

Em seu livro A velhice, Simone <strong>de</strong> Beauvoir <strong>de</strong>screve as condições <strong>de</strong><br />

vida do i<strong>dos</strong>o em diversas culturas, das primitivas às contemporâneas.<br />

Segundo ela, “ao per<strong>de</strong>r a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

produção, o velho torna-se apenas um objeto sem utilida<strong>de</strong>,<br />

transforma-se em encargo, com um estatuto que lhe é<br />

imposto pelos mais jovens”.<br />

Nas socieda<strong>de</strong>s agrícolas tradicionais, a organização<br />

se fazia <strong>de</strong> acordo com as categorias<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. O fundamento <strong>de</strong>ssa organização<br />

era a ativida<strong>de</strong> econômica familiar, atri-<br />

buindo a cada indivíduo, conforme sua ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>terminada tarefa<br />

na produção. Nos grupos <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> rural existiam também funções<br />

sociais diferenciadas para cada ida<strong>de</strong>.<br />

No período pré-industrial, em que as socieda<strong>de</strong>s eram compostas<br />

essencialmente por camponeses e artesãos, o trabalhador rural vivia<br />

em seu local <strong>de</strong> trabalho, em que se confundiam as tarefas domésticas<br />

e produtivas. Entre os artesãos altamente qualifica<strong>dos</strong>, a capacida<strong>de</strong><br />

crescia com a experiência e, portanto, com o avançar <strong>dos</strong> anos. Nas<br />

profissões em que a qualificação ou a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>clinava com a<br />

ida<strong>de</strong> havia uma divisão <strong>de</strong> trabalho que permitia adaptar as tarefas<br />

às possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada um. Ao se tornar inteiramente incapaz, o<br />

velho continuava a viver no seio da família, que lhe assegurava a<br />

subsistência.<br />

Nas socieda<strong>de</strong>s tradicionais, a figura patriarcal ganhava <strong>de</strong>staque para<br />

que não <strong>de</strong>smoronasse o mito <strong>de</strong> uma velhice reverenciada. Já nas<br />

58 59


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Atitu<strong>de</strong>s, mitos e estereótipos relaciona<strong>dos</strong> ao envelhecimento e ao cuidado com a pessoa i<strong>dos</strong>a<br />

Na história da<br />

civilização, para<br />

cada época<br />

encontram-se<br />

diferentes atitu<strong>de</strong>s<br />

em relação à<br />

velhice,<br />

interferindo <strong>de</strong><br />

forma significativa<br />

no estabelecimento<br />

<strong>de</strong> relações<br />

intergeracionais,<br />

tanto no nível<br />

familiar como no<br />

comunitário.<br />

mo<strong>de</strong>rnas socieda<strong>de</strong>s urbanas e industriais, o trabalhador<br />

nem sempre mora próximo a seu local <strong>de</strong> trabalho, e a<br />

família em geral não tem relação com sua ativida<strong>de</strong> produtiva.<br />

Nessas socieda<strong>de</strong>s, a família patriarcal é substituída<br />

pela família nuclear, e o patrimônio coletivo, pelo<br />

projeto <strong>de</strong> vida individual. A perda da capacida<strong>de</strong> produtiva<br />

e o <strong>de</strong>sengajamento do mundo do trabalho constituem<br />

marcos significativos na vida do cidadão, apontando para<br />

um futuro incerto e diferenciado segundo a condição socioeconômica<br />

e <strong>de</strong> gênero.<br />

Esse processo histórico contribuiu para que a velhice, na<br />

socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, venha se caracterizando como uma<br />

fase da vida para a qual raramente existem projetos<br />

pessoais e em que se observa gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>clínio na participação<br />

social.<br />

Na história da civilização, para cada época encontram-se diferentes<br />

atitu<strong>de</strong>s em relação à velhice, interferindo <strong>de</strong> forma significativa no<br />

estabelecimento <strong>de</strong> relações intergeracionais, tanto no nível familiar<br />

como no comunitário.<br />

Embora o contingente <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as na socieda<strong>de</strong> contemporânea<br />

seja expressivo, sua experiência <strong>de</strong> vida não conta <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>cisiva<br />

para o equilíbrio e a organização social.<br />

Atitu<strong>de</strong>s, mitos e estereótipos<br />

O mito é uma representação simbólica que não se baseia na realida<strong>de</strong>.<br />

Manifesta-se por frases e expressões feitas (ex.: “ida<strong>de</strong> do condor”)<br />

ou por eufemismos que têm a ver, exclusivamente, com a ida<strong>de</strong><br />

(ex.:“ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouro”, “melhor ida<strong>de</strong>”), que muitas vezes po<strong>de</strong>m escon<strong>de</strong>r<br />

hostilida<strong>de</strong>.<br />

1. Disponível em: .<br />

O mito da aposentadoria reflete bem os novos valores<br />

da socieda<strong>de</strong> contemporânea. Na visão que ele<br />

evoca, a aposentadoria marcaria uma “nova fase da<br />

vida”, caracterizada pela “liberda<strong>de</strong> do uso do tempo”,<br />

possibilitando a fruição <strong>de</strong> bens e serviços da<br />

socieda<strong>de</strong>.<br />

Na realida<strong>de</strong>, o que se observa é que a aposentadoria<br />

não significa apenas o direito ao <strong>de</strong>sengajamento<br />

remunerado do trabalho, mas o início <strong>de</strong> um<br />

processo <strong>de</strong> isolamento social. Constata-se paradoxalmente<br />

que, ao mesmo tempo que os avanços<br />

tecnológicos permitiram o prolongamento <strong>dos</strong> anos<br />

<strong>de</strong> vida, a socieda<strong>de</strong> e o Estado retiraram das <strong>pessoas</strong><br />

quase to<strong>dos</strong> os seus papéis e funções sociais.<br />

Outro mito da socieda<strong>de</strong> contemporânea é o <strong>de</strong> que<br />

as famílias cuidam <strong>de</strong> seus i<strong>dos</strong>os mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Tanto isso é um mito que o Estatuto do I<strong>dos</strong>o passou<br />

a consi<strong>de</strong>rar a não assistência da família como<br />

“crime”. Uma pesquisa populacional que estudou<br />

as condições <strong>de</strong> vida e saú<strong>de</strong> <strong>dos</strong> i<strong>dos</strong>os resi<strong>de</strong>ntes<br />

no município <strong>de</strong> São Paulo – Estudo Sabe (Saú<strong>de</strong>,<br />

Bem-Estar e Envelhecimento) – verificou que, entre<br />

as <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as que apresentavam dificulda<strong>de</strong>s<br />

no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> vida diária<br />

e que, portanto, necessitavam <strong>de</strong> um cuidador presencial,<br />

apenas cerca <strong>de</strong> 50% recebiam auxílio em<br />

suas necessida<strong>de</strong>s, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

do tipo <strong>de</strong> arranjo consi<strong>de</strong>rado. 1<br />

Na socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, a crescente entrada das<br />

mulheres no mercado <strong>de</strong> trabalho, antes as principais<br />

cuidadoras <strong>de</strong> seus parentes i<strong>dos</strong>os, vem <strong>de</strong>sfa-<br />

Estudo da cabeça <strong>de</strong> um homem velho,<br />

1610, <strong>de</strong> Peter Paul Rubens (Museum<br />

of Art History, Viena, Áustria).<br />

Velho orando, 1881, <strong>de</strong> Julian Falat<br />

(National Museum, Varsóvia, Polônia).<br />

60<br />

61


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Atitu<strong>de</strong>s, mitos e estereótipos relaciona<strong>dos</strong> ao envelhecimento e ao cuidado com a pessoa i<strong>dos</strong>a<br />

atuais pelo seu <strong>de</strong>scaso pela velhice e, por meio <strong>de</strong>sse sentimento, estimulássemos<br />

os mais novos ao auxílio e cooperação aos mais velhos<br />

(Magalhães, 1987).<br />

Os mitos contribuem para a formação <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s e comportamentos.<br />

Atitu<strong>de</strong> é uma disposição em relação a uma pessoa ou grupo, um<br />

conjunto <strong>de</strong> juízos que conduz a um comportamento, que nos leva<br />

a agir. Po<strong>de</strong> ser favorável ou <strong>de</strong>sfavorável (<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das experiências<br />

ou informações prévias).<br />

A Escola <strong>de</strong> Atenas, 1509-1510, <strong>de</strong> Raphael, afresco, Palácio Apostólico, Vaticano.<br />

zendo o mito <strong>de</strong> imaginar que a família, centrada na figura feminina,<br />

po<strong>de</strong> sozinha cuidar <strong>de</strong> seus i<strong>dos</strong>os, sobretudo os que per<strong>de</strong>ram ou<br />

estão em via <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r a autonomia.<br />

A socieda<strong>de</strong> industrial e <strong>de</strong> serviços estimula mitos que sejam úteis<br />

à manutenção <strong>de</strong> seu equilíbrio e possam encaminhar soluções para<br />

os <strong>de</strong>safios da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Um <strong>de</strong>les é o <strong>de</strong> que em todas as socieda<strong>de</strong>s<br />

pré-industriais o i<strong>dos</strong>o era respeitado e venerado, graças a<br />

seus conhecimentos e saberes acumula<strong>dos</strong>. Esse mito tem a função<br />

<strong>de</strong> estimular a família a cuidar <strong>de</strong> seus i<strong>dos</strong>os improdutivos e<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

É como se, incentivando a i<strong>de</strong>ia mítica <strong>de</strong> que o homem vivia bem e<br />

era bem tratado na socieda<strong>de</strong> tradicional, culpabilizássemos as gerações<br />

As crenças são um conjunto <strong>de</strong> informações sobre um<br />

assunto ou pessoa(s). Determina nossas atitu<strong>de</strong>s, nossas<br />

intenções e nossos comportamentos. Formam-se com<br />

base em informações que recebemos direta ou indiretamente.<br />

Já o estereótipo é um “chavão”, uma opinião<br />

formada, em geral <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> qualquer originalida<strong>de</strong>.<br />

É uma percepção automática não adaptada à situação,<br />

reproduzida sem variantes, segundo um padrão<br />

bem <strong>de</strong>terminado, que po<strong>de</strong> ser positivo ou negativo.<br />

Embora a mídia, com frequência, abor<strong>de</strong> questões relacionadas<br />

ao envelhecimento, ela ainda o faz <strong>de</strong> maneira<br />

aureolada, distanciando-o da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossos<br />

velhos. Nossa socieda<strong>de</strong> continua tratando o envelhecimento<br />

como assunto a ser evitado. Predomina ainda<br />

a forte crença <strong>de</strong> que a velhice está associada a doença,<br />

<strong>de</strong>terioração e morte, mesmo que as pesquisas venham,<br />

insistentemente, mostrando o contrário.<br />

O envelhecimento é um processo, faz parte do ciclo <strong>de</strong><br />

vida. Tem seus problemas e dificulda<strong>de</strong>s, mas também<br />

seus aspectos positivos e compensações. Em <strong>de</strong>corrência<br />

do estereótipo social e do hábito <strong>de</strong> evitar falar sobre o<br />

envelhecimento e sobre a velhice, muitas i<strong>de</strong>ias falsas e<br />

erros <strong>de</strong> concepção sobre os i<strong>dos</strong>os ainda são divulga<strong>dos</strong>.<br />

istockphoto<br />

Predomina<br />

ainda a forte<br />

crença <strong>de</strong><br />

que a velhice<br />

está associada<br />

a doença,<br />

<strong>de</strong>terioração<br />

e morte,<br />

mesmo que<br />

as pesquisas<br />

venham mostrando<br />

o contrário.<br />

62<br />

63


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Atitu<strong>de</strong>s, mitos e estereótipos relaciona<strong>dos</strong> ao envelhecimento e ao cuidado com a pessoa i<strong>dos</strong>a<br />

Atitu<strong>de</strong>s negativas relacionadas ao envelhecimento baseiam-se parcialmente<br />

em informações equivocadas <strong>de</strong> como os i<strong>dos</strong>os realmente<br />

são. Isso é tão forte em nossa socieda<strong>de</strong> que originou o termo<br />

“ageism” (sem tradução no Brasil), que significa um processo sistemático<br />

<strong>de</strong> discriminação contra as <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as exclusivamente<br />

porque são velhas, assim como racismo e sexismo referem-se a atitu<strong>de</strong>s<br />

preconceituosas com relação à cor da pele e ao gênero. As<br />

<strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as são categorizadas como senis, rígidas em suas atitu<strong>de</strong>s,<br />

<strong>de</strong>satualizadas moral e socialmente, <strong>de</strong>vendo, portanto, ser excluídas<br />

do convívio social.<br />

Algumas i<strong>de</strong>ias preconcebidas sobre a velhice e sobre as <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

ainda predominam em nossa socieda<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>m contribuir para<br />

a formação <strong>de</strong> mitos e estereótipos que po<strong>de</strong>m se traduzir em atitu<strong>de</strong>s<br />

não a<strong>de</strong>quadas no cuidado com a pessoa i<strong>dos</strong>a (Domingues e Queiroz,<br />

2000). São elas:<br />

• A maioria <strong>dos</strong> i<strong>dos</strong>os é doente e, por ser doente, tem necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ajuda para <strong>de</strong>senvolver as ativida<strong>de</strong>s cotidianas.<br />

Muitas <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as veem a si mesmas como saudáveis. Elas têm uma<br />

vida completa e ativa. Embora muitas sejam portadoras <strong>de</strong>, pelo menos,<br />

uma doença crônica, elas apren<strong>de</strong>ram a manejar seus cuida<strong>dos</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

e a viver produtivamente <strong>de</strong>ntro das limitações impostas pela doença.<br />

Em São Paulo, o Estudo Sabe mostrou que<br />

mais <strong>de</strong> 80% das <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as são<br />

completamente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes no<br />

<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s cotidianas,<br />

mesmo possuindo uma ou mais<br />

doenças crônicas.<br />

• A maior parte <strong>de</strong>les é solitária e infeliz.<br />

Para alguns <strong>de</strong>les isso é verda<strong>de</strong>, mas isso ocorre na mesma<br />

probabilida<strong>de</strong> em que situação semelhante po<strong>de</strong> afetar os<br />

adultos jovens ou <strong>de</strong> meia-ida<strong>de</strong>. Isso quer dizer que ser solitário<br />

e infeliz não é uma característica do envelhecimento, mas<br />

walter craveiro<br />

A passagem noroeste, 1874, <strong>de</strong> John Everett Millais (Tate Gallery, Londres).<br />

sim do ser humano. Muitos i<strong>dos</strong>os são ativos, felizes e encontram<br />

prazer com os amigos e com a família. Outros, em virtu<strong>de</strong> do maior<br />

tempo livre, engajam-se em ativida<strong>de</strong>s voluntárias que lhes tragam<br />

satisfação pessoal.<br />

• Os i<strong>dos</strong>os são conservadores em seus hábitos <strong>de</strong> vida e incapazes<br />

<strong>de</strong> mudar.<br />

As <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as acumularam experiências diversas em sua vida<br />

e lidam com as situações novas com mais prudência e menos impulsivida<strong>de</strong><br />

que as gerações mais jovens. Normalmente, elas se dispõem<br />

a discutir uma proposta nova <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tenha bom embasamento e<br />

excelente argumentação.<br />

• Muitos i<strong>dos</strong>os são confusos e <strong>de</strong>sinteressa<strong>dos</strong> em relação ao mundo<br />

a sua volta.<br />

A maioria das <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as tem interesse no mundo a sua volta. Parte<br />

<strong>de</strong>las é culta, articulada e <strong>de</strong>sejosa <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r. Apenas uma pequena<br />

64<br />

65


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Atitu<strong>de</strong>s, mitos e estereótipos relaciona<strong>dos</strong> ao envelhecimento e ao cuidado com a pessoa i<strong>dos</strong>a<br />

walter craveiro<br />

Centro <strong>de</strong> Referência do I<strong>dos</strong>o José Ermírio <strong>de</strong> Moraes (Crijem).<br />

parcela <strong>de</strong>las sofre <strong>de</strong> <strong>de</strong>mência e problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que afetam a<br />

memória.<br />

• Os velhos são improdutivos e representam um segmento inútil em<br />

nossa socieda<strong>de</strong>.<br />

São incontáveis as contribuições das <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as em nossa socieda<strong>de</strong>.<br />

Muitas <strong>de</strong>scobrem talentos na ida<strong>de</strong> avançada <strong>dos</strong> quais não tinham<br />

consciência em sua juventu<strong>de</strong>. Por outro lado, os i<strong>dos</strong>os são responsáveis<br />

pela manutenção <strong>de</strong> muitas famílias atualmente. Algumas cida<strong>de</strong>s, em<br />

especial no Nor<strong>de</strong>ste, sobrevivem quase exclusivamente das aposentadorias<br />

e pensões <strong>dos</strong> i<strong>dos</strong>os.<br />

• Todo velho é “ranzinza”.<br />

Essa não é uma característica exclusiva da pessoa i<strong>dos</strong>a. O adjetivo<br />

apenas muda com o avançar da ida<strong>de</strong>. Quando se trata <strong>de</strong> um adolescente,<br />

em geral esse adjetivo é atribuído às características da ida<strong>de</strong> e,<br />

assim, aceito. As <strong>pessoas</strong> ten<strong>de</strong>m, apenas, a acentuar suas<br />

características ao envelhecer.<br />

• Todo velho é assexuado.<br />

O interesse e a ativida<strong>de</strong> sexual são importantes na vida<br />

do ser humano <strong>de</strong> qualquer ida<strong>de</strong>. Ter uma companhia e<br />

manter relações íntimas é essencial na vida das <strong>pessoas</strong>, incluindo<br />

os i<strong>dos</strong>os.<br />

A primeira<br />

abordagem <strong>dos</strong><br />

cursos <strong>de</strong><br />

<strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong>ve<br />

i<strong>de</strong>ntificar mitos,<br />

preconceitos e<br />

atitu<strong>de</strong>s que<br />

eles adotam em<br />

relação aos i<strong>dos</strong>os<br />

e à velhice.<br />

Os mitos e as crenças repercutem nas atitu<strong>de</strong>s <strong>dos</strong> profissionais<br />

e <strong>dos</strong> <strong>cuidadores</strong>. Assim:<br />

• Quem não consi<strong>de</strong>ra os i<strong>dos</strong>os diferentes entre si é<br />

incapaz <strong>de</strong> estabelecer intervenções específicas.<br />

• Quem consi<strong>de</strong>ra os i<strong>dos</strong>os intransigentes e passivos não lhes dá<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emitirem opiniões.<br />

• Quem consi<strong>de</strong>ra os i<strong>dos</strong>os conservadores e incapazes <strong>de</strong> mudanças<br />

não permite que eles se adaptem a novas situações ou tentem novos<br />

comportamentos.<br />

• Aquele que nega aos i<strong>dos</strong>os sua autonomia nega-lhe o direito a<br />

envelhecer dignamente.<br />

Assim, é fundamental que a primeira abordagem <strong>dos</strong> cursos <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong><br />

esteja relacionada à i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> mitos, preconceitos e<br />

atitu<strong>de</strong>s que eles adotam em relação aos i<strong>dos</strong>os e à velhice. Será com<br />

base nesse conhecimento – i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do grupo – que serão escolhidas<br />

as estratégias pedagógicas mais a<strong>de</strong>quadas para trabalhar as temáticas<br />

polêmicas.<br />

66<br />

67


Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: sono e repouso<br />

Capítulo 4<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: sono<br />

e repouso<br />

que inclui: eletroencefalograma, que é a avaliação das características<br />

da ativida<strong>de</strong> elétrica cerebral; eletro-oculograma, que consiste no registro<br />

<strong>de</strong> diferenças <strong>de</strong> potencial entre a retina e a córnea, geradas<br />

pelos movimentos oculares e captadas por eletro<strong>dos</strong> coloca<strong>dos</strong> ao redor<br />

<strong>dos</strong> olhos, permitindo a i<strong>de</strong>ntificação do estágio <strong>de</strong> sono paradoxal ou<br />

REM (rapid eyes movement, sono <strong>de</strong> movimentos oculares rápi<strong>dos</strong>);<br />

eletromiograma das regiões submentoniana e tibial anterior, para<br />

i<strong>de</strong>ntificar o sono paradoxal e alguns distúrbios (ex.: mioclono noturno<br />

– “chutes” durante o sono); e parâmetros como fluxo aéreo nasal<br />

e oral, esforço respiratório, eletrocardiograma e oximetria transcutânea<br />

contínua, que contribuem para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> distúrbios respiratórios<br />

que ocorrem durante o sono (ex.: apneia do sono), entre outros<br />

problemas. A polissonografia exige que a pessoa durma em um laboratório<br />

especialmente equipado para sua realização.<br />

O<br />

sono<br />

é uma necessida<strong>de</strong> básica <strong>dos</strong> seres humanos e, portanto,<br />

tem influência em sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Nesse aspecto,<br />

importante papel é atribuído à qualida<strong>de</strong> do sono.<br />

Sabe-se que a experiência <strong>de</strong> um sono insatisfatório ou insuficiente é<br />

muito <strong>de</strong>sagradável, refletindo no <strong>de</strong>sempenho da pessoa em suas<br />

ativida<strong>de</strong>s diárias, comportamento e bem-estar. Particularmente para<br />

os i<strong>dos</strong>os, as perturbações do sono também representam fatores <strong>de</strong><br />

risco liga<strong>dos</strong> à institucionalização e à mortalida<strong>de</strong>.<br />

O sono é constituído por diferentes estágios, <strong>de</strong> acordo com a frequência<br />

e a amplitu<strong>de</strong> típicas das ondas elétricas cerebrais geradas durante<br />

o fenômeno. A organização e a proporção que ocupam os vários<br />

estágios são conhecidas como arquitetura intrínseca do sono, que se<br />

modifica com o envelhecimento.<br />

Um exame que tem sido consi<strong>de</strong>rado essencial para a análise <strong>de</strong>talhada<br />

da arquitetura do sono e <strong>de</strong> distúrbios liga<strong>dos</strong> a ele é a polissonografia,<br />

O sono como ritmo biológico<br />

O mundo se organiza em torno <strong>de</strong> uma periodicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 24 horas,<br />

<strong>de</strong>terminada pelo movimento <strong>de</strong> rotação da Terra. Nossos ritmos<br />

biológicos mais conheci<strong>dos</strong> têm periodicida<strong>de</strong> semelhante e são chama<strong>dos</strong><br />

<strong>de</strong> ritmos circadianos (do latim circa diem, em torno <strong>de</strong> um<br />

dia). O ciclo vigília-sono é um ritmo circadiano.<br />

Os seres vivos organizam seus ritmos biológicos <strong>de</strong> acordo com pistas<br />

temporais, chamadas <strong>de</strong> sincronizadores, <strong>de</strong> origem geofísica<br />

ou social, provenientes do meio em que vivem. As <strong>de</strong><br />

origem geofísica são, por exemplo, a alternância entre o<br />

claro (dia) e o escuro (noite) e as estações do ano, e as<br />

<strong>de</strong> origem social são representadas, entre outros, pelos<br />

horários <strong>de</strong> diversos compromissos sociais, como trabalho<br />

e escola. Essas “pistas” contribuem para a organização<br />

da ritmicida<strong>de</strong> biológica, para a expressão <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminado padrão <strong>de</strong> sono.<br />

Paul Vasarhelyi/istockphoto<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

O ciclo vigília-sono (perío<strong>dos</strong> <strong>de</strong> sono e <strong>de</strong> vigília ao longo das 24<br />

horas) sofre importantes modificações durante o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do indivíduo. Nos bebês, o sono é fragmentado ao longo do dia e da<br />

noite; os adultos, em geral, dormem apenas durante a noite, exibindo<br />

um padrão chamado <strong>de</strong> monofásico; e as <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as costumam<br />

apresentar um padrão <strong>de</strong> sono mais fragmentado, com episódios<br />

ocorrendo durante o dia e a noite, em diferentes proporções.<br />

Lisa Kyle Young/istockphoto<br />

Padrão <strong>de</strong> sono e suas modificações<br />

com o envelhecimento<br />

Em um indivíduo adulto jovem sem problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, uma típica<br />

noite <strong>de</strong> sono po<strong>de</strong> ser dividida em ciclos que se repetem quatro ou<br />

cinco vezes e cuja duração média/ciclo é <strong>de</strong> 70 a 100 minutos. Um<br />

ciclo típico é constituído pelos vários estágios do sono sincronizado<br />

(estágios 1, 2, 3 e 4), segui<strong>dos</strong> por um período <strong>de</strong> sono paradoxal<br />

(ex.: estágios 1, 2, 3, 4, 3, 2, eventualmente estágio 1 mais uma vez<br />

e sono paradoxal).<br />

• Estágio 1 (5% do sono) – É uma transição entre a vigília e a sonolência,<br />

em que predominam ondas cerebrais <strong>de</strong> baixa amplitu<strong>de</strong> e<br />

alta frequência.<br />

• Estágio 2 (45% do sono) – Também chamado <strong>de</strong> sono superficial,<br />

apresenta ondas <strong>de</strong> frequência rápida e poucas ondas mais lentas,<br />

além <strong>de</strong> fusos <strong>de</strong> sono e os complexos K.<br />

• Estágio 3 (7% do sono) – Contém cerca <strong>de</strong> 20% a 50% <strong>de</strong> ondas<br />

<strong>de</strong>lta, ou ondas lentas, que são ondas cerebrais <strong>de</strong> baixa frequência<br />

e gran<strong>de</strong> amplitu<strong>de</strong>.<br />

• Estágio 4 (13% do sono) – São encontradas ondas <strong>de</strong>lta em proporção<br />

superior a 50%.<br />

Assim, os estágios 3 e 4 constituem o <strong>de</strong>nominado sono profundo,<br />

em que, para ser <strong>de</strong>spertado, o indivíduo necessita <strong>de</strong> um estímulo<br />

externo muito intenso. À medida que o sono progri<strong>de</strong>, diminui a<br />

ocorrência <strong>de</strong>sses estágios, que predominam na primeira<br />

meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma noite típica <strong>de</strong> sono.<br />

O sono paradoxal (sono REM), associado aos sonhos,<br />

acontece a intervalos regulares (cada 90 minutos), ocupando<br />

cerca <strong>de</strong> 20% a 30% do período total <strong>de</strong> sono.<br />

Ele e o estágio 2 predominam na segunda meta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma noite típica <strong>de</strong> sono.<br />

Com o envelhecimento, esse padrão sofre algumas<br />

modificações:<br />

• Diminuição da duração relativa e absoluta do sono<br />

<strong>de</strong> ondas <strong>de</strong>lta (sono profundo).<br />

As <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

costumam<br />

apresentar<br />

um padrão<br />

<strong>de</strong> sono<br />

fragmentado,<br />

com episódios<br />

ocorrendo<br />

durante<br />

o dia e a noite.<br />

• Aumento relativo e absoluto da duração <strong>dos</strong> estágios 1 e 2 (sono<br />

superficial).<br />

• Alterações na organização temporal do sono paradoxal e diminuição<br />

<strong>de</strong> sua duração.<br />

• Maior número <strong>de</strong> transições <strong>de</strong> um estágio para o outro, inclusive<br />

para a vigília, e maior número <strong>de</strong> interrupções no sono.<br />

A eficiência do sono é a proporção entre o tempo que uma pessoa<br />

consegue realmente dormir e o tempo <strong>de</strong>spendido na cama com esse<br />

objetivo. Constitui um parâmetro fundamental na avaliação da qualida<strong>de</strong><br />

do sono. Seu cálculo po<strong>de</strong> ser feito da seguinte maneira:<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: sono e repouso<br />

Devem-se<br />

diferenciar as<br />

mudanças<br />

relacionadas ao<br />

sono ligadas<br />

ao envelhecimento<br />

das <strong>de</strong>correntes das<br />

várias afecções<br />

associadas à ida<strong>de</strong>.<br />

consi<strong>de</strong>remos uma pessoa que se <strong>de</strong>ita às 22 horas e se levanta às<br />

6 horas da manhã seguinte; ela terá 100% <strong>de</strong> eficiência do sono se<br />

dormir oito horas (oito horas <strong>de</strong> sono divididas por oito horas no<br />

leito), 75% se dormir seis horas (seis horas <strong>de</strong> sono divididas por<br />

oito horas no leito), e assim por diante.<br />

As <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as apresentam redução da eficiência do sono para<br />

cerca <strong>de</strong> 70% a 80%, variando conforme o sexo e a ida<strong>de</strong> (em adultos<br />

jovens esse valor é da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 90%). Isso se <strong>de</strong>ve, em parte, à<br />

dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> manutenção do sono noturno. Tipicamente, observa-se<br />

que o i<strong>dos</strong>o acorda muito fácil durante a noite, mesmo com estímulos<br />

leves e sons <strong>de</strong> pequena intensida<strong>de</strong>.<br />

O “componente restaurador” do sono está relacionado às ondas <strong>de</strong>lta,<br />

mas não existem evidências <strong>de</strong> que a diminuição do sono profundo<br />

traga consequências negativas para a saú<strong>de</strong> da pessoa<br />

ou contribua, por exemplo, para o envelhecimento.<br />

Devem-se diferenciar, na pessoa i<strong>dos</strong>a, as mudanças relacionadas<br />

ao sono ligadas ao processo <strong>de</strong> envelhecimento<br />

das <strong>de</strong>correntes das várias afecções associadas à ida<strong>de</strong> (doenças<br />

crônicas, dores, quadros <strong>de</strong>menciais etc.), que po<strong>de</strong>m<br />

contribuir, direta ou indiretamente, para sua perturbação,<br />

não sendo, no entanto, distúrbios primários <strong>de</strong>le.<br />

No processo <strong>de</strong> envelhecimento, o sono sofre mudanças<br />

quantitativas e qualitativas que são percebidas<br />

pelo i<strong>dos</strong>o como perturbações e po<strong>de</strong>m ser<br />

apresentadas na forma <strong>de</strong> queixas. São elas:<br />

• Dificulda<strong>de</strong> em manter o sono noturno<br />

(os i<strong>dos</strong>os <strong>de</strong>moram para adormecer e<br />

acordam várias vezes durante a noite).<br />

• Percepção do sono como mais leve e<br />

menos satisfatório (menor eficiência do<br />

sono).<br />

istockphoto<br />

• Despertar muito precoce. Alguns estu<strong>dos</strong> sugerem que, com o envelhecimento,<br />

torna-se necessário um avanço no sistema circadiano<br />

para que o organismo se ajuste à periodicida<strong>de</strong> do ambiente e da<br />

organização social (como se um “relógio interno” fosse adiantado),<br />

o que <strong>de</strong>terminaria a escolha <strong>de</strong> horários precoces para o início do<br />

sono e para o <strong>de</strong>spertar, por exemplo.<br />

• Maior tendência a dormir durante o dia, intencionalmente ou não<br />

(sesta e cochilos). Parte <strong>dos</strong> i<strong>dos</strong>os já não está sob a influência <strong>de</strong><br />

pistas temporais importantes, como horários <strong>de</strong> trabalho, e, assim,<br />

po<strong>de</strong> não ter interesse, motivação ou necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter horários<br />

regulares para levantar-se, <strong>de</strong>itar-se, alimentar-se ou executar quaisquer<br />

outras ativida<strong>de</strong>s, o que contribui para acentuar ainda mais a<br />

fragmentação do sono.<br />

Tais modificações, quando muito acentuadas, po<strong>de</strong>m trazer alguns<br />

problemas:<br />

• Distúrbio do início e manutenção do sono (DIMS), que é a exacerbação<br />

da dificulda<strong>de</strong> em conciliar e em manter o sono noturno,<br />

queixa frequente entre as <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as.<br />

• Despertar muito precoce (em torno das 3 ou 4 horas da manhã),<br />

que po<strong>de</strong> ser indício <strong>de</strong> um quadro <strong>de</strong>pressivo.<br />

• Sonolência diurna excessiva, resultante <strong>de</strong> síndrome da apneia do<br />

sono, mioclono noturno ou outros distúrbios.<br />

Atualmente, consi<strong>de</strong>ra-se que a necessida<strong>de</strong> quantitativa <strong>de</strong> sono, ou<br />

seja, sua duração a<strong>de</strong>quada, não diminui com o envelhecimento.<br />

Nesse caso, questiona-se por que os i<strong>dos</strong>os parecem ter, em geral, um<br />

sono noturno <strong>de</strong> menor duração e pior qualida<strong>de</strong> que os adultos<br />

jovens. Isso po<strong>de</strong>ria estar relacionado à redução da capacida<strong>de</strong> para<br />

dormir e não da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sono entre os i<strong>dos</strong>os, a qual seria<br />

satisfeita com sua distribuição em mais <strong>de</strong> um episódio ao longo das<br />

24 horas do dia. As frequentes interrupções do sono noturno e a<br />

presença <strong>de</strong> episódios <strong>de</strong> sono durante o dia (cochilo) parecem indicar,<br />

72 73


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: sono e repouso<br />

A qualida<strong>de</strong><br />

percebida do<br />

sono é uma<br />

experiência<br />

subjetiva; portanto,<br />

não cabe ao<br />

cuidador afirmar<br />

que a pessoa<br />

i<strong>dos</strong>a “dormiu<br />

muito bem” e<br />

está se<br />

“queixando à toa”.<br />

além <strong>de</strong> diminuição da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sono, sua redistribuição,<br />

caracterizando-o com um padrão fragmentado, ou<br />

sono polifásico.<br />

A qualida<strong>de</strong> percebida do sono é uma experiência subjetiva;<br />

portanto, não cabe ao cuidador afirmar que a pessoa<br />

i<strong>dos</strong>a “dormiu muito bem” e está se “queixando à toa”,<br />

apenas por ter observado que ela dormiu uma noite inteira,<br />

<strong>de</strong> forma aparentemente profunda e tranquila. A observação<br />

contínua ao longo da noite não é o habitual; o<br />

que se costuma fazer são observações intermitentes, entre<br />

as quais po<strong>de</strong>m ocorrer episódios <strong>de</strong> interrupção do sono<br />

que passam <strong>de</strong>spercebi<strong>dos</strong> pelo observador.<br />

O cuidado com o sono requer, inicialmente, uma avaliação <strong>de</strong> seu<br />

padrão habitual, existam ou não queixas. Para isso, <strong>de</strong>vem ser anota<strong>dos</strong>:<br />

horários <strong>de</strong> dormir e <strong>de</strong>spertar; latência estimada para o<br />

início do sono (“quanto tempo <strong>de</strong>morou para pegar no sono”);<br />

número, duração e motivo das interrupções do sono; número e<br />

duração <strong>de</strong> sestas ou cochilos; queixas relatadas pelo companheiro<br />

<strong>de</strong> leito ou outras <strong>pessoas</strong> próximas; satisfação do i<strong>dos</strong>o com a qualida<strong>de</strong><br />

do sono, bem como sensação <strong>de</strong> bem-estar ao <strong>de</strong>spertar; e<br />

sonolência ou fadiga durante o dia. Observações que indiquem<br />

a presença <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong>vem ser investigadas mais <strong>de</strong>talhadamente<br />

por um profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

É preciso verificar se o i<strong>dos</strong>o possui uma rotina que prece<strong>de</strong> o ato <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>itar-se para dormir (ex.: tomar banho ou fazer outro tipo <strong>de</strong> higiene,<br />

rezar o terço, fazer uma refeição), sua regularida<strong>de</strong> e sua possível influência<br />

na qualida<strong>de</strong> do sono. O ambiente físico em que o i<strong>dos</strong>o dorme<br />

também tem <strong>de</strong> ser observado quanto a temperatura, iluminação, sons,<br />

presença <strong>de</strong> outrem, características da cama e segurança do local.<br />

Além disso, <strong>de</strong>ve-se analisar a qualida<strong>de</strong> da vigília, pois alguns fatores,<br />

típicos <strong>de</strong> quando se está acordado, po<strong>de</strong>m contribuir <strong>de</strong>cisivamente<br />

Jane norton/istockphoto<br />

para a qualida<strong>de</strong> do sono, bem como sofrer a influência <strong>de</strong>sta (realização<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer, prática <strong>de</strong> exercícios físicos, presença <strong>de</strong><br />

interação social, qualida<strong>de</strong> da alimentação do i<strong>dos</strong>o, entre outros).<br />

O cuidador precisa estar orientado sobre as modificações que ocorrem<br />

com o padrão <strong>de</strong> sono do i<strong>dos</strong>o e suas queixas, avaliar a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> encaminhá-lo a um exame criterioso para afastar distúrbios do sono<br />

liga<strong>dos</strong> a outros problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e conhecer algumas intervenções<br />

não farmacológicas que po<strong>de</strong>m auxiliar na melhoria <strong>de</strong>sse quadro.<br />

Recomendações quanto ao uso <strong>de</strong><br />

medicamentos para dormir<br />

Infelizmente, as <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as costumam ser responsáveis por gran<strong>de</strong><br />

parte do consumo <strong>de</strong> medicamentos para dormir (<strong>de</strong> diversos tipos),<br />

levadas pela sensação <strong>de</strong> não dormirem bem ou o suficiente durante<br />

a noite. A utilização <strong>de</strong> medicamentos, no entanto, não assegura um<br />

sono <strong>de</strong> melhor quali da<strong>de</strong>. Modificações metabólicas e funcionais<br />

próprias do envelhecimento tornam a pessoa i<strong>dos</strong>a mais vulnerável<br />

aos efeitos colaterais <strong>de</strong>sses medicamentos e a uma in<strong>de</strong>sejável sonolência<br />

durante o dia, que po<strong>de</strong> aumentar, entre outros riscos, a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> quedas e suas consequentes complicações.<br />

A prescrição <strong>de</strong> medicação <strong>de</strong> efeito sedativo ou hipnótico é <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

exclusiva do médico após minuciosa avaliação <strong>de</strong><br />

to<strong>dos</strong> os fatores que possam estar resultando em prejuízo para o sono<br />

do i<strong>dos</strong>o. O cuidador <strong>de</strong>ve ficar atento aos efeitos<br />

colaterais in<strong>de</strong>sejáveis que<br />

o medicamento venha a<br />

ocasionar e nunca, em hipótese<br />

alguma, aumentar a<br />

<strong>dos</strong>e prescrita sem consulta<br />

médica prévia.<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: sono e repouso<br />

Sugestões para um sono <strong>de</strong> melhor qualida<strong>de</strong><br />

Não existem “receitas” <strong>de</strong> como dormir melhor, e sim alternativas <strong>de</strong><br />

tratamento não farmacológico para a obtenção <strong>de</strong> sono <strong>de</strong> melhor<br />

qualida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>m ser utilizadas e a<strong>de</strong>quadas às peculiarida<strong>de</strong>s do<br />

sono daquele indivíduo, com resulta<strong>dos</strong> que variam bastante <strong>de</strong> uma<br />

pessoa para outra.<br />

Cabe ao cuidador atuar na promoção da <strong>de</strong>nominada higiene do<br />

sono, conjunto <strong>de</strong> hábitos e comportamentos que auxiliam a melhorar<br />

ou manter a qualida<strong>de</strong> do sono. Envolve hábitos regulares, <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s físicas e ambiente físico a<strong>de</strong>quado para<br />

dormir.<br />

A manutenção <strong>de</strong> hábitos regulares contribui para um sono menos<br />

fragmentado e <strong>de</strong> melhor qualida<strong>de</strong>. I<strong>dos</strong>os com sono muito interrompido<br />

e sonolência diurna excessiva <strong>de</strong>vem estabelecer horários e<br />

rotinas regulares para <strong>de</strong>itar-se e <strong>de</strong>spertar, além <strong>de</strong> horários <strong>de</strong> refeições,<br />

lazer, realização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> física e outros. Hábitos que sinalizem<br />

a aproximação do horário <strong>de</strong> dormir (preparo do leito, roupa<br />

apropriada, banho morno) são especialmente importantes. Os cochilos<br />

ou a sesta (que resultam em maior sensação <strong>de</strong> bem-estar) po<strong>de</strong>m<br />

ser inseri<strong>dos</strong> em horário regular como parte da rotina diária, o que<br />

não vai interferir na fragmentação do sono noturno.<br />

A ingestão <strong>de</strong> alimentos leves antes <strong>de</strong> dormir não costuma ser prejudicial<br />

para o i<strong>dos</strong>o, especialmente se é um hábito antigo e se ele não<br />

possui disfunções do trato alimentar, como refluxo gastroesofageano,<br />

caso em que <strong>de</strong>ve ser contraindicada, pelo maior risco <strong>de</strong> aspiração.<br />

A ingestão <strong>de</strong> líqui<strong>dos</strong> <strong>de</strong>ve ser restrita a algumas horas antes <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>itar-se, sobretudo na presença <strong>de</strong> noctúria (levantar à noite para<br />

urinar) ou <strong>de</strong> incontinência urinária. Recomenda-se que os diuréticos<br />

sejam toma<strong>dos</strong> pela manhã. Não há comprovação <strong>de</strong> que o leite auxilie<br />

a conciliar o sono. Bebidas com cafeína (café, chá-preto e mate,<br />

achocolata<strong>dos</strong> e refrigerantes à base <strong>de</strong> cola), por suas proprieda<strong>de</strong>s<br />

estimulantes, precisam ser evitadas em horários próximos ao <strong>de</strong> dormir.<br />

O mesmo se aplica a cigarros (efeito estimulante) e álcool (provoca<br />

sonolência inicial, mas prejudica a qualida<strong>de</strong> do sono).<br />

A crença <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> exercícios físicos influencia positivamente<br />

a qualida<strong>de</strong> do sono relaciona-se à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> compensação<br />

das energias perdidas; portanto, maiores níveis <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> física<br />

resultariam em aumento na profundida<strong>de</strong> e duração do sono. Os<br />

efeitos fisiológicos <strong>dos</strong> exercícios sobre o sono ainda não são bem<br />

conheci<strong>dos</strong>, porém os efeitos psicológicos são positivos e <strong>de</strong>vem ser<br />

valoriza<strong>dos</strong>.<br />

A ativida<strong>de</strong> física tem <strong>de</strong> ser a<strong>de</strong>quada às condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do<br />

i<strong>dos</strong>o e <strong>de</strong>senvolvida com regularida<strong>de</strong> e critério. Embora o período<br />

da manhã seja tradicionalmente recomendado para sua prática, vários<br />

estu<strong>dos</strong> têm evi<strong>de</strong>nciado que é nesse período que ocorrem os mai ores<br />

valores da pressão arterial, da viscosida<strong>de</strong> sanguínea e da agregabilida<strong>de</strong><br />

plaquetária. Tais fatores, em conjunto com o esforço <strong>de</strong>s pendido<br />

no exercício e a perda <strong>de</strong> líqui<strong>dos</strong>, aumentam o risco<br />

<strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> eventos cerebrais (AVC) e cardíacos<br />

isquêmicos (infarto), especialmente nas primeiras horas<br />

da manhã. Sugere-se, assim, a rea lização <strong>de</strong> exercícios<br />

<strong>de</strong> leve ou mo<strong>de</strong>rada intensida<strong>de</strong> no final da manhã<br />

ou da tar<strong>de</strong>, mas não logo antes <strong>de</strong> dormir, pois po<strong>de</strong>riam<br />

prejudicar a qualida<strong>de</strong> do sono. A exposição à<br />

luminosida<strong>de</strong> solar contribui para a regularização do<br />

ritmo circadiano <strong>de</strong> secreção da melatonina e para a<br />

consolidação do padrão <strong>de</strong> sono do i<strong>dos</strong>o.<br />

O ambiente físico <strong>de</strong>ve proporcionar conforto, segurança<br />

e permitir o contraste entre o dia e a noite.<br />

Conforto envolve a avaliação das condições do mobiliário<br />

(bom estado <strong>de</strong> conservação), colchões, travesseiros<br />

marcia alves<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Não existem<br />

“receitas” <strong>de</strong> como<br />

dormir melhor, e<br />

sim alternativas <strong>de</strong><br />

tratamento não<br />

farmacológico para<br />

a obtenção <strong>de</strong> sono<br />

<strong>de</strong> melhor<br />

qualida<strong>de</strong><br />

a<strong>de</strong>quadas às<br />

peculiarida<strong>de</strong>s do<br />

sono do indivíduo.<br />

e roupas <strong>de</strong> cama (macias e bem esticadas), iluminação<br />

(indireta, <strong>de</strong> baixa intensida<strong>de</strong>), temperatura do ambiente<br />

(temperaturas muito baixas ou muito elevadas são fatores<br />

<strong>de</strong> perturbação do sono) e presença <strong>de</strong> ruí<strong>dos</strong> (ambientes<br />

rui<strong>dos</strong>os provocam redução da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sono <strong>de</strong><br />

ondas lentas, respostas cardiovasculares, como taquicardia<br />

e vasoconstrição, e interrupção do sono).<br />

Segurança envolve a tranquilização da pessoa i<strong>dos</strong>a contra<br />

a ocorrência <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> violência (ex.: assaltos). Uso<br />

<strong>de</strong> gra<strong>de</strong>s nas janelas (casas térreas) e revisão <strong>de</strong> portas e<br />

fechaduras po<strong>de</strong>m contribuir para amenizar o problema.<br />

O estabelecimento <strong>de</strong> contrastes entre o dia e a noite<br />

auxilia o sistema <strong>de</strong> temporização circadiana (responsável<br />

pela organização <strong>dos</strong> ritmos circadianos) do i<strong>dos</strong>o a distingui-los.<br />

Esse sistema historicamente adaptou o organismo humano a dormir<br />

em um ambiente escuro e quieto, à noite. Além das recomendações<br />

mencionadas quanto ao conforto, é importante aumentar os estímulos<br />

ofereci<strong>dos</strong> durante o dia e diminuí-los à noite (minimização<br />

<strong>de</strong> ruí<strong>dos</strong> e iluminação no quarto do i<strong>dos</strong>o).<br />

A pessoa i<strong>dos</strong>a <strong>de</strong>ve procurar <strong>de</strong>itar-se apenas para dormir e, <strong>de</strong> preferência,<br />

quando sentir sono, evitando uma permanência longa e<br />

<strong>de</strong>snecessária na cama, sobretudo durante o dia. I<strong>dos</strong>os institucionaliza<strong>dos</strong><br />

ou acama<strong>dos</strong> ten<strong>de</strong>m a apresentar um sono noturno muito<br />

fragmentado e pouco satisfatório, aumentando a sonolência diurna<br />

e criando um círculo vicioso.<br />

A experiência subjetiva do sono é particular e complexa, e elevar a<br />

qualida<strong>de</strong> do sono significa melhorar a qualida<strong>de</strong> da vigília e, consequentemente,<br />

a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

Capítulo 5<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: alimentação<br />

A<br />

alimentação é fundamental na promoção, manutenção e/ou<br />

recuperação da saú<strong>de</strong> em qualquer fase da vida. As necessida<strong>de</strong>s<br />

nutricionais, no entanto, variam <strong>de</strong> acordo com o sexo, a ida<strong>de</strong>,<br />

a ativida<strong>de</strong> física e a presença <strong>de</strong> doenças.<br />

Com o envelhecimento, algumas alterações no organismo costumam<br />

modificar as necessida<strong>de</strong>s nutricionais, o que po<strong>de</strong> ser ainda mais<br />

acentuado pela presença <strong>de</strong> doenças, pelo uso <strong>de</strong> medicamentos ou<br />

por problemas sociais e psicológicos.<br />

Ocorre uma mudança na composição corporal, com diminuição da<br />

massa magra (músculos e ossos), aumento da massa gordurosa, diminuição<br />

do metabolismo basal e tendência à inativida<strong>de</strong> física. Essas<br />

transformações interferem na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia necessária diariamente<br />

à pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

Já as alterações sensoriais (visão, paladar, olfato, audição e tato) po<strong>de</strong>m<br />

levar à perda <strong>de</strong> apetite e, consequentemente, a uma menor ingestão<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: alimentação<br />

<strong>de</strong> alimentos. A ausência parcial ou total <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes, o uso <strong>de</strong> próteses<br />

(parciais ou totais) ina<strong>de</strong>quadas, a presença <strong>de</strong> doenças periodontais<br />

e cáries e a diminuição da secreção salivar (xerostomia) são fatores<br />

que, em geral, provocam dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mastigação e <strong>de</strong>glutição,<br />

propiciando hábitos alimentares ina<strong>de</strong>qua<strong>dos</strong>, entre eles a diminuição<br />

do consumo <strong>de</strong> alimentos como carnes, frutas, verduras e legumes<br />

crus. Isso é ainda mais acentuado quando o i<strong>dos</strong>o apresenta limitações<br />

físicas que o impe<strong>de</strong>m <strong>de</strong> sair para fazer compras, o que, por vezes,<br />

compromete seu padrão alimentar.<br />

Alterações gástricas e metabólicas po<strong>de</strong>m dificultar a digestão e favorecer<br />

a obstipação intestinal (prisão <strong>de</strong> ventre).<br />

mentos utiliza<strong>dos</strong> para o controle <strong>de</strong>ssas doenças interagem entre si e<br />

com os nutrientes <strong>dos</strong> alimentos, prejudicam o processo <strong>de</strong> alimentação<br />

e nutrição e, consequentemente, o estado nutricional do i<strong>dos</strong>o.<br />

Com o envelhecimento, as <strong>pessoas</strong> po<strong>de</strong>m ainda per<strong>de</strong>r o interesse<br />

para preparar e ingerir as refeições, ou porque moram sozinhas e não<br />

têm motivação para a realização <strong>de</strong>ssas tarefas, ou porque, mesmo<br />

acompanhadas, vivem em permanente conflito, e isso se reflete na<br />

recusa <strong>dos</strong> alimentos.<br />

Os hábitos alimentares são fixa<strong>dos</strong> na infância e ten<strong>de</strong>m a se perpetuar<br />

ao longo da vida, tornando-se cada vez mais arraiga<strong>dos</strong> e difíceis<br />

<strong>de</strong> modificar. Soma-se a isso a existência <strong>de</strong> crenças e tabus, basea<strong>dos</strong><br />

em informações incorretas que po<strong>de</strong>m levar a prejuízos nutricionais.<br />

Assim, alguns alimentos ou preparações são consi<strong>de</strong>ra<strong>dos</strong> “leves”,<br />

“pesa<strong>dos</strong>”, “quentes”, “frios”, “impróprios” para o consumo em conjunto<br />

com outros (ex.: leite com manga) ou em <strong>de</strong>termina<strong>dos</strong> horários<br />

(à noite) ou, ainda, “milagrosos”, embora não haja nenhuma<br />

comprovação científica (ex.: suco <strong>de</strong> laranja com berinjela crua pela<br />

manhã, em jejum, para baixar o colesterol sanguíneo).<br />

É comum que o padrão alimentar <strong>dos</strong> i<strong>dos</strong>os seja comprometido pela<br />

aposentadoria e pela escassez <strong>de</strong> recursos financeiros, uma vez que<br />

gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>stes é utilizada na aquisição <strong>de</strong> medicamentos, ti<strong>dos</strong><br />

como prioritários. Um pouco do que resta é gasto na aquisição <strong>de</strong><br />

alimentos mais baratos (pão, bolacha) e <strong>de</strong> mais fácil preparo, em<br />

<strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> alimentos mais caros (carnes, leite e queijos).<br />

É frequente entre as <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as a presença simultânea <strong>de</strong> várias<br />

doenças (diabetes melito, hipertensão arterial, aterosclerose, osteoporose<br />

etc.), que, associadas ou isoladamente, po<strong>de</strong>m afetar suas necessida<strong>de</strong>s<br />

nutricionais, por alterarem os processos metabólicos, a digestão,<br />

a absorção, a utilização e a excreção <strong>de</strong> nutrientes. Quando os medicawalter<br />

craveiro<br />

Funções <strong>dos</strong> alimentos<br />

Nosso organismo recebe <strong>dos</strong> alimentos todas as substâncias necessárias<br />

a seu bom funcionamento. Estes são constituí <strong>dos</strong> por elementos chama<strong>dos</strong><br />

nutrientes, indispensáveis à vida humana. Os nutrientes são:<br />

água, carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas, minerais e fibras.<br />

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Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: alimentação<br />

Cada alimento possui vários nutrientes em diferentes quantida<strong>de</strong>s<br />

e cada nutriente exerce uma função específica no organismo. Com<br />

exceção do leite materno, nenhum outro alimento é completo do<br />

ponto <strong>de</strong> vista nutricional. Dessa forma, <strong>de</strong> acordo com a quan tida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> nutrientes presentes nos alimentos, bem como a função que<br />

exercem no organismo, os alimentos po<strong>de</strong>m ser classifica<strong>dos</strong> em três<br />

grupos: energéticos, construtores e reguladores. O que <strong>de</strong>termina<br />

em qual grupo um alimento se enquadra é o nutriente que nele está<br />

presente em maior quantida<strong>de</strong> e a função que este exerce, predominantemente,<br />

no organismo.<br />

Os alimentos energéticos são aqueles que têm a função primordial<br />

<strong>de</strong> fornecer energia para que o organismo possa <strong>de</strong>senvolver suas<br />

ativida<strong>de</strong>s internas (metabolismo basal) e externas (andar, correr,<br />

trabalhar, jogar etc.). São constituí<strong>dos</strong> sobretudo por carboidratos<br />

(simples e complexos) e lipídios.<br />

Os alimentos ricos em carboidratos complexos são representa<strong>dos</strong><br />

especialmente pelo amido (cereais, farinhas <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> cereais, massas,<br />

feculentos e <strong>de</strong>riva<strong>dos</strong>); os ricos em carboidratos simples, pelos<br />

açúcares (doces em geral, mel e refrigerantes comuns).<br />

istockphoto<br />

Os alimentos ricos em lipídios (gorduras), além <strong>de</strong> fornecer energia,<br />

veiculam áci<strong>dos</strong> graxos essenciais e vitaminas lipossolúveis (solúveis<br />

na gordura) e auxiliam na regulação térmica do organismo (óleos,<br />

margarinas e gordura intrínseca <strong>de</strong> carnes, leite, queijos, iogurtes).<br />

Po<strong>de</strong>m ser subdividi<strong>dos</strong> em: <strong>de</strong> origem vegetal (óleos vegetais, azeite<br />

<strong>de</strong> oliva, azeite <strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê, gordura vegetal hidrogenada, margarinas,<br />

halvarinas, cremes vegetais) e <strong>de</strong> origem animal (manteiga, banha,<br />

toucinho, bacon, creme <strong>de</strong> leite e gordura intrínseca <strong>de</strong> carnes, leite,<br />

queijos, iogurtes, requeijão).<br />

Existem, ainda, as gorduras saturadas (gordura <strong>de</strong> carnes,<br />

leite, queijos, manteiga, creme <strong>de</strong> leite e requeijão,<br />

banha, toucinho, ovo, gordura vegetal hidrogenada,<br />

azeite <strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê, gordura <strong>de</strong> coco, leite <strong>de</strong> coco, óleos<br />

vegetais superaqueci<strong>dos</strong> e reutiliza<strong>dos</strong> várias vezes e<br />

margarinas duras) e as insaturadas (as monoinsatu radas<br />

do azeite <strong>de</strong> oliva e as poli-insaturadas <strong>dos</strong> óleos vegetais<br />

e margarinas cremosas).<br />

A ingestão <strong>de</strong> alimentos ricos em lipídios é importante,<br />

mas seu consumo <strong>de</strong>ve ser controlado, por causa da alta<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> energética e <strong>de</strong> sua relação com algumas<br />

doenças (obesida<strong>de</strong>, diabetes e cardiovasculares).<br />

Os alimentos construtores têm a função <strong>de</strong> prover<br />

substâncias para a construção, manutenção e/ou<br />

recuperação das diversas partes do organismo.<br />

Fornecem, principalmente, proteínas, cálcio<br />

e ferro.<br />

Os alimentos ricos em proteínas po<strong>de</strong>m ter<br />

origem animal (carnes <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os tipos,<br />

vísceras, ovos, leites, queijos, iogurtes, coalhadas)<br />

ou vegetal (feijões <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os tipos,<br />

soja, lentilha, grão-<strong>de</strong>-bico, ervilha seca).<br />

Os alimentos<br />

energéticos<br />

fornecem energia<br />

para que o<br />

organismo possa<br />

<strong>de</strong>senvolver suas<br />

ativida<strong>de</strong>s internas<br />

e externas.<br />

Anne Clark/istockphoto<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: alimentação<br />

Os ricos em cálcio são representa<strong>dos</strong> por leite, queijos, iogurtes e<br />

coalhada. Em sua forma integral, têm gordura saturada e colesterol.<br />

Já os alimentos ricos em ferro são as carnes, vísceras (fígado, rins) e<br />

leguminosas secas. O ferro presente nas carnes é bem assimilado pelo<br />

organismo, mas o das leguminosas secas, para ser aproveitado, tem <strong>de</strong><br />

ser ingerido com alimentos que contenham vitamina C (laranja,<br />

mexerica, acerola, caju e outros, ao natural ou como suco). Os ovos são<br />

ricos em proteínas, porém não constituem boa fonte <strong>de</strong> ferro; assim,<br />

não é recomendável fornecer gema <strong>de</strong> ovo como fonte <strong>de</strong> ferro.<br />

Os alimentos reguladores contribuem para a elevação da resistência<br />

do organismo às infecções, auxiliam na proteção da pele e da visão e<br />

ajudam na regulação do funcionamento intestinal. Fornecem, principalmente,<br />

vitaminas, minerais e fibras, e são representa<strong>dos</strong> pelas<br />

frutas, hortaliças e cereais integrais.<br />

Carme Balcells/dreamstime.com<br />

O teor <strong>de</strong> fibras da alimentação aumenta quando as<br />

frutas são consumidas com casca e bagaço. As frutas<br />

ricas em vitamina C (acerola, maracujá, goiaba, caju,<br />

laranja, mexerica, limão) <strong>de</strong>vem ser ingeridas diariamente,<br />

pois nosso organismo necessita <strong>de</strong>las to<strong>dos</strong><br />

os dias e não as armazena. As frutas têm <strong>de</strong> ser bem<br />

lavadas em água corrente antes do consumo e po<strong>de</strong>m<br />

ser ingeridas ao natural, em salada <strong>de</strong> frutas, como<br />

sucos ou vitaminas (leite batido com frutas).<br />

As hortaliças são subdivididas em verduras (alface,<br />

agrião, rúcula, repolho, couve, escarola, espinafre,<br />

brócolis, almeirão e outras) e legumes (pepino,<br />

tomate, quiabo, jiló, berinjela, pimentão, abobrinha,<br />

chuchu, cenoura, abóbora madura, beterraba<br />

e outros). Algumas vitaminas po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>struídas<br />

com a cocção (cozimento) das hortaliças, portanto<br />

esses alimentos <strong>de</strong>vem ser consumi<strong>dos</strong> preferente-<br />

mente crus. Quando for necessário refogá-los, fazê-lo<br />

em fogo baixo, panela tampada, sem adição <strong>de</strong> água e<br />

em tempo a<strong>de</strong>quado.<br />

É preferível comprar as frutas e as hortaliças no período<br />

<strong>de</strong> safra, porque, além <strong>de</strong> mais baratas, são mais<br />

nutritivas.<br />

Os cereais integrais e <strong>de</strong>riva<strong>dos</strong> (arroz integral, aveia,<br />

pão <strong>de</strong> trigo integral, biscoitos integrais, farinhas integrais)<br />

fornecem vitaminas, minerais e fibras em maior<br />

quantida<strong>de</strong> do que seus correspon<strong>de</strong>ntes refina<strong>dos</strong>.<br />

Os i<strong>dos</strong>os, em geral, apresentam diminuição do peristaltismo<br />

intestinal, ocorrendo frequentemente obstipação<br />

(prisão <strong>de</strong> ventre). Assim, é fundamental que se<br />

forneça a quantida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> frutas, hortaliças e/<br />

ou cereais integrais, para a minimização <strong>de</strong>sse problema.<br />

Os construtores<br />

auxiliam na<br />

construção,<br />

manutenção e/ou<br />

recuperação<br />

do organismo,<br />

e os reguladores,<br />

na elevação da<br />

resistência às<br />

infecções, na<br />

proteção da pele<br />

e da visão e na<br />

regulação<br />

do funcionamento<br />

intestinal.<br />

Deve-se, ainda, garantir o consumo diário <strong>de</strong> seis a oito copos <strong>de</strong> água<br />

ou outros líqui<strong>dos</strong> (ex.: chás, sucos) para facilitar o funcionamento<br />

do intestino.<br />

A alimentação saudável é importante para o bem-estar físico, mental<br />

e social das <strong>pessoas</strong>, para a prevenção <strong>de</strong> agravos à saú<strong>de</strong> e para o<br />

controle <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas doenças, contribuindo, <strong>de</strong>sse modo, para<br />

melhorar sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Uma alimentação saudável é a equilibrada<br />

do ponto <strong>de</strong> vista nutricional. Significa que <strong>de</strong>ve fornecer<br />

energia (calorias) e to<strong>dos</strong> os nutrientes em quantida<strong>de</strong> suficiente para<br />

o bom funcionamento do organismo. Essa quantida<strong>de</strong> varia <strong>de</strong> pessoa<br />

para pessoa, <strong>de</strong> acordo com o sexo, a ida<strong>de</strong>, o peso, a altura, a ativida<strong>de</strong><br />

física, o estado fisiológico ou a presença <strong>de</strong> doenças. Portanto, a<br />

necessida<strong>de</strong> nutricional é individual.<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> auxiliar na orientação nutricional quanto a uma<br />

alimentação saudável para indivíduos i<strong>dos</strong>os, o Grupo <strong>de</strong> Estu<strong>dos</strong> <strong>de</strong><br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: alimentação<br />

Água/líqui<strong>dos</strong>:<br />

8 ou mais porções<br />

Vegetais<br />

3 a 5 porções<br />

Leite, iogurte, queijo<br />

3 porções<br />

Pirâmi<strong>de</strong> alimentar<br />

Gorduras, óleos e açúcar<br />

use pouco<br />

Feijão, peixe, aves, carnes e ovos<br />

2 a 3 porções<br />

Frutas<br />

2 a 5 porções<br />

Pão, cereais, arroz, macarrão<br />

6 a 9 porções<br />

Nutrição na Terceira Ida<strong>de</strong> (Genuti), formado por nutricionistas,<br />

elaborou um guia alimentar, baseado no Food Gui<strong>de</strong> Pyramid (1992),<br />

consi<strong>de</strong>rando as recomendações nutricionais do National Research<br />

Council (1989), os inquéritos alimentares realiza<strong>dos</strong> com i<strong>dos</strong>os no<br />

Brasil, mais especificamente em São Paulo, e a experiência profissional<br />

<strong>dos</strong> membros do Genuti.<br />

A pirâmi<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimentos foi escolhida como forma <strong>de</strong> orientação para<br />

uma alimentação saudável, porque sua estrutura dá a conotação exata<br />

<strong>de</strong> equilíbrio e proporcionalida<strong>de</strong>. Ela se divi<strong>de</strong> em sete grupos, <strong>de</strong><br />

acordo com as funções que exercem no organismo.<br />

Cada um <strong>dos</strong> grupos fornece alguns nutrientes, porém não to<strong>dos</strong> <strong>de</strong><br />

que o organismo necessita. Assim, para que a alimentação seja equilibrada,<br />

é preciso consumir alimentos <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os grupos. Nenhum<br />

<strong>de</strong>les é mais importante do que os outros, mas <strong>de</strong>vem ser observadas<br />

as porções recomendadas. Essas porções foram estabelecidas com base<br />

Angelo Shuman<br />

Anna Bryukhanova/istockphoto<br />

em uma quantida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rada padrão (ou habitual)<br />

para cada grupo <strong>de</strong> alimentos e seus equivalentes. Há<br />

um número mínimo e um máximo <strong>de</strong> porções para cada<br />

grupo, visando a contemplar dietas com diferentes valores<br />

calóricos e necessida<strong>de</strong>s específicas <strong>de</strong> nutrientes.<br />

• Grupo 1 – Constitui a base da pirâmi<strong>de</strong> e é composto<br />

por alimentos energéticos, ricos em carboidratos<br />

complexos. É o grupo que representa a maior parcela<br />

<strong>de</strong> contribuição da alimentação.<br />

• Grupo 2 – É formado pelas hortaliças (verduras e<br />

legumes), alimentos reguladores, <strong>de</strong>vendo compor a<br />

alimentação com três a cinco porções.<br />

A alimentação<br />

equilibrada do<br />

ponto <strong>de</strong> vista<br />

nutricional é<br />

aquela que fornece<br />

energia e to<strong>dos</strong> os<br />

nutrientes em<br />

quantida<strong>de</strong><br />

suficiente para o<br />

bom funcionamento<br />

do organismo.<br />

• Grupo 3 – É constituído pelas frutas, alimentos reguladores, recomendando-se<br />

que pelo menos uma <strong>de</strong>las seja rica em vitamina C.<br />

• Grupo 4 – É composto pelo leite, queijos e iogurtes, alimentos<br />

construtores.<br />

• Grupo 5 – É formado pelas carnes, ovos e leguminosas secas,<br />

alimentos construtores.<br />

• Grupo 6 – É constituído pelos açúcares e doces em geral, alimentos<br />

energéticos, mas que fornecem, principalmente, carboidratos<br />

simples.<br />

• Grupo 7 – É composto pelos lipídios, alimentos<br />

energéticos.<br />

As <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as portadoras <strong>de</strong> diabetes, obesida<strong>de</strong> ou<br />

hipertrigliceri<strong>de</strong>mia (triglicéri<strong>de</strong> sanguíneo elevado)<br />

<strong>de</strong>vem evitar ou controlar o consumo <strong>de</strong> alimentos<br />

<strong>dos</strong> grupos 6 e 7. Os produtos diet po<strong>de</strong>m não conter<br />

açúcar, mas apresentar gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

gordura, o que seria igualmente contraindicado<br />

para esses indivíduos.<br />

86 87


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: alimentação<br />

A água é um<br />

nutriente<br />

importantíssimo<br />

na alimentação<br />

<strong>dos</strong> i<strong>dos</strong>os, mas<br />

costuma ser<br />

negligenciada.<br />

Alguns autores<br />

afirmam que eles<br />

são <strong>de</strong>sidrata<strong>dos</strong><br />

crônicos.<br />

Cabe ressaltar que, <strong>de</strong>ntro do mesmo grupo, os alimentos<br />

se equivalem em termos nutricionais, po<strong>de</strong>ndo, assim, ser<br />

substituí<strong>dos</strong> uns pelos outros sem prejuízo da qualida<strong>de</strong><br />

nutricional da alimentação.<br />

Os alimentos <strong>dos</strong> grupos 6 e 7 estão no topo da pirâmi<strong>de</strong><br />

e, portanto, são proporcionalmente os menores grupos,<br />

o que significa que <strong>de</strong>vem ser consumi<strong>dos</strong> em pequena<br />

quantida<strong>de</strong>, mesmo porque os nutrientes que eles fornecem<br />

estão presentes, naturalmente ou adiciona<strong>dos</strong>, nos<br />

alimentos <strong>dos</strong> outros grupos da pirâmi<strong>de</strong>. O fato <strong>de</strong> estarem<br />

no topo da pirâmi<strong>de</strong> não quer dizer que sejam os<br />

mais importantes.<br />

A água é um nutriente importantíssimo na alimentação <strong>dos</strong> i<strong>dos</strong>os,<br />

mas costuma ser negligenciada. Alguns autores afirmam que o i<strong>dos</strong>o é<br />

um <strong>de</strong>sidratado crônico e, ao ser questionado sobre seu consumo diário,<br />

sua resposta costuma ser: “Não sinto se<strong>de</strong>” ou “Não me lembro <strong>de</strong><br />

Dr. Heinz Linke/istockphoto<br />

beber água”. É preciso ingerir <strong>de</strong> seis a oito copos <strong>de</strong> água ou líqui<strong>dos</strong><br />

(chás, sucos) por dia. Popularmente, há a falsa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que não se <strong>de</strong>ve<br />

beber durante as refeições. Na realida<strong>de</strong>, não se po<strong>de</strong> exagerar na<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> líquido consumido (um copo por refeição), evitando<br />

refrigerantes e bebidas al coólicas. Esse hábito facilita a mastigação e a<br />

<strong>de</strong>glutição e auxilia na formação do bolo alimentar e do bolo fecal, no<br />

bom funcionamento do intestino e na hidratação do organismo. A água<br />

exerce ainda outras funções importantes no organismo, como: participa<br />

na regulação da temperatura corporal e em suas reações químicas;<br />

lubrifica as partes móveis do corpo; auxilia no funcionamento a<strong>de</strong>quado<br />

<strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os órgãos, na digestão e absorção <strong>dos</strong> alimentos, na circulação<br />

e excreção <strong>de</strong> nutrientes; conduz nutrientes e catabólitos através<br />

do corpo.<br />

É fundamental que em cada uma das refeições pelo menos um alimento<br />

energético, um construtor e um regulador estejam presentes.<br />

Devem ser feitas <strong>de</strong> três a cinco refeições por dia (café da manhã,<br />

lanche, almoço, lanche, jantar), com pouca quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimentos<br />

em cada uma <strong>de</strong>las, o que facilitará a digestão, e em horários regulares.<br />

As refeições têm <strong>de</strong> ser agradáveis a to<strong>dos</strong> os órgãos <strong>dos</strong> senti<strong>dos</strong>,<br />

<strong>de</strong>spertando o apetite e o prazer <strong>de</strong> comer.<br />

Há a crença equivocada <strong>de</strong> que o i<strong>dos</strong>o não <strong>de</strong>ve jantar, mas apenas<br />

fazer um lanche à noite. Cientificamente, nada contraindica essa<br />

prática. O importante é observar a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimentos<br />

a serem consumi<strong>dos</strong> à noite e o horário da refeição.<br />

Em algumas ocasiões será preciso modificar o preparo <strong>dos</strong><br />

alimentos (picá-los bem, amassá-los ou liquidificá-los) para<br />

que o i<strong>dos</strong>o possa se alimentar a<strong>de</strong>quadamente, permitindo<br />

a mastigação e a <strong>de</strong>glutição e facilitando a digestão.<br />

Em outras, será necessário o uso <strong>de</strong> sondas nasogástricas<br />

ou enterais e <strong>de</strong> dietas especiais, normalmente<br />

preparadas por laboratórios especializa<strong>dos</strong>.<br />

88 89<br />

istockphoto


Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: higiene, vestimenta e conforto<br />

Capítulo 6<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: higiene,<br />

vestimenta e conforto<br />

Provérbios holan<strong>de</strong>ses, 1559, <strong>de</strong> Pieter Bruegel<br />

(Staatliche Museen zu Berlin, Gemal<strong>de</strong>galerie, Berlim).<br />

Usina <strong>de</strong> ferro, 1872-1875, <strong>de</strong> Adolph von Menzel<br />

(Alte Nationalgalerie, Berlim).<br />

A<br />

higiene pessoal, cuidado básico para a saú<strong>de</strong> e bem-estar do ser<br />

humano, é uma ativida<strong>de</strong> incorporada na rotina diária <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

infância e difere entre culturas e épocas. Enten<strong>de</strong>-se por higiene<br />

pessoal a corporal e íntima, a oral e a do couro cabeludo.<br />

Higiene corporal<br />

A cultura do asseio ou da limpeza do corpo veio com a Revolução<br />

Industrial. Antes, as <strong>pessoas</strong> que trabalhavam no campo traziam esse<br />

registro em seu corpo e em suas roupas. Mulheres <strong>de</strong> pescadores<br />

cheiravam a peixe e camponeses, a gado.<br />

A sujeira era vista como positiva. Não tomar banho com frequência<br />

era <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> força, pois indicava que a pessoa não sentia frio<br />

tão facilmente. Acreditava-se que a sujeira e as secreções que saíam<br />

do corpo lhe forneciam proteção adicional.<br />

O asseio, o autocontrole e a disciplina foram importantes ferramentas<br />

passadas <strong>de</strong> mão em mão em um processo histórico comumente<br />

referido como <strong>de</strong> “domesticação da classe trabalhadora”, que adotava<br />

os valores da classe média por meio das i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> higiene. As “novas”<br />

normas preconizavam que as <strong>pessoas</strong> sujas eram rebel<strong>de</strong>s e difíceis,<br />

enquanto as limpas e saudáveis representavam organização. A guerra<br />

contra a sujeira, impurezas e a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m constituía um clássico esforço<br />

contra o caos.<br />

O asseio passou, então, a diferenciar a classe média da trabalhadora<br />

e os camponeses da burguesia, esta reconhecida como classe social<br />

emergente. O asseio tornou-se moda. Um mundo sem cheiros era<br />

elegante e aristocrático (“mundo longe <strong>dos</strong> currais”). Os papéis domésticos<br />

foram redistribuí<strong>dos</strong>, valorizando mais aqueles que, <strong>de</strong> alguma<br />

maneira, administravam o trabalho <strong>dos</strong> outros em <strong>de</strong>trimento<br />

<strong>dos</strong> que realizavam serviços pesa<strong>dos</strong>.<br />

Os textos relaciona<strong>dos</strong> ao cuidado escritos nessa época falam da necessida<strong>de</strong><br />

<strong>dos</strong> “banhos <strong>de</strong> limpeza”. Para retirar a sujeira pesada, su-<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: higiene, vestimenta e conforto<br />

Após o banho, 1883, <strong>de</strong> Edgar Degas<br />

(Sammlung Durand-Ruel, Nova York).<br />

O auxílio à higiene<br />

corporal é uma<br />

das principais<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>dos</strong><br />

<strong>cuidadores</strong>.<br />

Isso ocorre<br />

quando a pessoa<br />

não consegue<br />

banhar-se sozinha.<br />

geria-se adicionar amônia à água e, para<br />

remover graxa, acrescentar álcool quente<br />

ou éter e benzina. As <strong>pessoas</strong> submetidas<br />

a esses banhos, <strong>de</strong>nomina<strong>dos</strong><br />

“banhos <strong>de</strong> admissão”, reclamavam do<br />

cheiro da mistura e <strong>de</strong> como se sentiam<br />

<strong>de</strong>sconfortáveis com ele.<br />

O lema adotado para a higienização<br />

<strong>dos</strong> doentes dizia: “Pessoas acamadas<br />

po<strong>de</strong>m não parecer sujas, mas elas necessitam<br />

<strong>de</strong> banho tanto quanto as que<br />

estão em pé”.<br />

A explicação fisiológica passou a ser a<br />

seguinte: a pele é um órgão <strong>de</strong> excreção,<br />

que secreta gordura e água pela<br />

transpiração, juntamente com substâncias<br />

orgânicas. Se essas substâncias não<br />

forem removidas da pele no banho, elas<br />

provocarão odor <strong>de</strong>sagradável e, por<br />

vezes, lesões na pele.<br />

A partir daí, em algumas culturas, o banho começou a ter<br />

utilização terapêutica nas formas <strong>de</strong> hidroterapia, banho<br />

frio, banho quente, banho a vapor, ou seja, as <strong>pessoas</strong> os<br />

procuravam para tratar <strong>de</strong> suas doenças. Ainda hoje, muitas<br />

buscam banhos terapêuticos em spas ou estações <strong>de</strong><br />

água para melhorar suas condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Em outras culturas, no entanto, o banho não é visto como<br />

procedimento <strong>de</strong> conforto para <strong>pessoas</strong> doentes ou <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<br />

mas como risco <strong>de</strong> torná-las ainda mais doentes,<br />

por ficarem expostas ao frio.<br />

Quando os <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong>pararem com resistência do i<strong>dos</strong>o para o<br />

banho, o primeiro passo <strong>de</strong>ve ser tentar <strong>de</strong>scobrir o porquê. Ele po<strong>de</strong><br />

ter receio <strong>de</strong> sofrer uma queda no banheiro, estar apresentando algum<br />

tipo <strong>de</strong> dor ou simplesmente estar muito cansado.<br />

As <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as realmente necessitam <strong>de</strong> banho diário?<br />

O banho é, normalmente, realizado mais para agradar a quem cuida<br />

(senso <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>) do que para aten<strong>de</strong>r a uma real necessida<strong>de</strong><br />

ou <strong>de</strong>sejo da pessoa cuidada.<br />

O banho diário não se baseia tanto em requerimentos clínicos, e sim<br />

em normas culturais. Algumas <strong>de</strong>las valorizam o asseio e acreditam<br />

que o banho é incompleto se não houver o uso <strong>de</strong> vários xampus,<br />

sabonetes ou <strong>de</strong>sodorantes; outras, porém, consi<strong>de</strong>ram o banho semanal<br />

suficiente, não vendo sentido em “mascarar” o próprio odor<br />

com produtos perfuma<strong>dos</strong>.<br />

A frequência do banho <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das necessida<strong>de</strong>s apresentadas pelas<br />

<strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as. Em algumas circunstâncias, ele po<strong>de</strong> ser dado apenas,<br />

por exemplo, duas vezes por semana. É o caso <strong>dos</strong> i<strong>dos</strong>os com sério<br />

ressecamento <strong>de</strong> pele, <strong>dos</strong> muito enfraqueci<strong>dos</strong> ou <strong>dos</strong> que, por problemas<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, cansam-se facilmente.<br />

Embora o banho seja muito importante, a rotina <strong>de</strong> seu uso diário<br />

não po<strong>de</strong> ser legitimamente resguardada. Se um banho por dia<br />

já é difícil <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, o que dirá dois. No entanto, esse é o<br />

hábito <strong>de</strong> alguns hospitais, instituições, <strong>cuidadores</strong><br />

domiciliares etc.<br />

O auxílio à higiene corporal é, geralmente, uma das principais<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas pelos <strong>cuidadores</strong>. Isso<br />

ocorre quando a pessoa i<strong>dos</strong>a apresenta dificulda<strong>de</strong>s para<br />

banhar-se sozinha. Várias são as razões que po<strong>de</strong>m gerar<br />

essa necessida<strong>de</strong>, entre elas: efeitos das<br />

Elena Korenbaum/istockphoto<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: higiene, vestimenta e conforto<br />

Joseph Jean Rolland Dubé/istockphoto<br />

doenças existentes; diminuição <strong>de</strong> força e energia; presença<br />

<strong>de</strong> dor ou <strong>de</strong>sconforto; incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acessar <strong>de</strong>terminadas<br />

partes do corpo (ex.: pés, pernas, costas); medo<br />

<strong>de</strong> se ferir durante o procedimento (insegurança pessoal);<br />

presença <strong>de</strong> confusão mental, dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão,<br />

esquecimento do que <strong>de</strong>ve ser realizado e como.<br />

Essa dificulda<strong>de</strong> em <strong>de</strong>sempenhar a higiene pessoal<br />

po<strong>de</strong> ser classificada como temporária, permanente ou<br />

progressiva. O cuidador precisa ser alertado sobre a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estimular a pessoa i<strong>dos</strong>a a realizar, durante<br />

o banho, aquilo que conseguir, pois os princípios<br />

<strong>de</strong> autonomia e in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>vem ser sempre<br />

preserva<strong>dos</strong>.<br />

O banho tem muitos objetivos, incluindo: limpar a pele;<br />

remover as bactérias; eliminar e prevenir os odores corporais;<br />

estimular a circulação e a movimentação articular; prevenir as<br />

úlceras <strong>de</strong> pressão; promover o conforto e a sensação <strong>de</strong> bem-estar.<br />

A pele é o maior órgão <strong>de</strong> nosso organismo, constituindo uma barreira<br />

física contra os micro-organismos e substâncias estranhas. Por<br />

conter inúmeras terminações nervosas, permite-nos reconhecer informações<br />

sobre o meio exterior.<br />

Com o envelhecimento, ocorrem: diminuição da renovação epidérmica<br />

e da espessura da <strong>de</strong>rme por perda <strong>de</strong> tecido subcutâneo;<br />

diminuição da tonicida<strong>de</strong> da pele por perda <strong>de</strong> elastina; perda da<br />

elasticida<strong>de</strong> da pele por redução do colágeno; alteração da barreira<br />

epidérmica; atrofia <strong>dos</strong> capilares da pele; perda <strong>de</strong> tecido adiposo<br />

subcutâneo e modificação em sua distribuição (menos em braços<br />

e pernas e mais na região abdominal); atrofia do tecido glandular<br />

da mama; aparecimento <strong>de</strong> rugas e <strong>de</strong> manchas na epi<strong>de</strong>rme; diminuição<br />

da ativida<strong>de</strong> das glândulas sebáceas; atrofia das glândulas<br />

sudoríparas.<br />

Também se verificam alterações nos <strong>de</strong>nomina<strong>dos</strong><br />

“tegumentos” (pelos, cabelos, unhas): diminuição<br />

<strong>dos</strong> pelos; perda e redução da espessura <strong>dos</strong> cabelos;<br />

embranquecimento; <strong>de</strong>saceleração do<br />

crescimento; espessamento das unhas (por diminuição<br />

da circulação periférica).<br />

Com o avançar da ida<strong>de</strong>, há redução em to<strong>dos</strong><br />

os processos que mantêm nossa pele umectada,<br />

com perda <strong>de</strong> seu suprimento sanguíneo, o que<br />

contribui para a diminuição da secreção sebácea.<br />

As glândulas sebáceas secretam sebo para a superfície<br />

da pele pelo folículo piloso. Este age<br />

como emoliente, mantendo a umida<strong>de</strong> da pele;<br />

sua diminuição resulta em pele e cabelos mais<br />

resseca<strong>dos</strong>.<br />

O primeiro objetivo do cuidado com a pele da pessoa<br />

i<strong>dos</strong>a é a manutenção <strong>de</strong> sua hidratação; a umida<strong>de</strong><br />

auxilia na prevenção da formação <strong>de</strong> feridas, pois permite<br />

que a pele seja mais resistente e tenha recuperação<br />

mais rápida quando lesada.<br />

Os queratinócitos constituem 95% da epi<strong>de</strong>rme e são<br />

capazes <strong>de</strong> absorver gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água. É por<br />

essa razão que, quando ficamos muito tempo em contato<br />

com a água, parecemos uma “ameixa seca”. Portanto, o momento<br />

i<strong>de</strong>al para hidratar a pele é logo após o banho, quando os queratinócitos<br />

retêm, na pele, a maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água possível. A<br />

aplicação <strong>de</strong> cremes, emolientes e loções auxilia na prevenção da<br />

evaporação da água, aumentando a umida<strong>de</strong> da camada mais superficial<br />

da pele e, consequentemente, sua proteção. Pensando no mesmo<br />

princípio, os óleos <strong>de</strong> banho não <strong>de</strong>vem ser adiciona<strong>dos</strong> à água antes<br />

<strong>de</strong> 15-20 minutos <strong>de</strong> imersão.<br />

Jason Lugo/istockphoto<br />

O cuidador precisa<br />

ser alertado sobre<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

estimular o i<strong>dos</strong>o<br />

a realizar, no<br />

banho, aquilo<br />

que conseguir.<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: higiene, vestimenta e conforto<br />

Banheiros com itens <strong>de</strong> segurança.<br />

walter craveiro istockphoto Lisa F. Young/istockphoto<br />

Qualquer produto que diminua a umida<strong>de</strong> da pele tem<br />

<strong>de</strong> ser evitado; assim, <strong>de</strong>ve-se dar preferência àqueles que<br />

contenham emolientes e evitar os que sejam à base <strong>de</strong><br />

álcool.<br />

Talco e maisena não <strong>de</strong>vem ser utiliza<strong>dos</strong>; o primeiro porque<br />

absorve o óleo e po<strong>de</strong> ser inalado e o segundo porque,<br />

na presença <strong>de</strong> umida<strong>de</strong>, quebra-se, liberando glicose e<br />

levando à formação <strong>de</strong> um “meio <strong>de</strong> cultura” que facilita<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> micro-organismos e a instalação <strong>de</strong><br />

um processo infeccioso.<br />

O momento do banho também é indicado para uma observação<br />

mais <strong>de</strong>talhada da pele da pessoa i<strong>dos</strong>a (inspeção),<br />

permitindo i<strong>de</strong>ntificar lesões, rachaduras, <strong>de</strong>scamação,<br />

mudanças <strong>de</strong> coloração (<strong>de</strong>scorada, avermelhada, azulada),<br />

presença <strong>de</strong> regiões quentes ao toque, e<strong>de</strong>mas, hematomas<br />

e/ou tumorações.<br />

Princípios gerais para o banho<br />

<strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

• Organização: preparar previamente o banho, <strong>de</strong>ixando<br />

separado tudo o que será utilizado.<br />

• Privacida<strong>de</strong>: não expor o i<strong>dos</strong>o <strong>de</strong>snecessariamente.<br />

• Manutenção do aquecimento da pessoa: mantê-la coberta<br />

com uma toalha sempre que possível e evitar as correntes<br />

<strong>de</strong> ar, fechando portas e janelas.<br />

• Sequência: iniciar o banho pelas áreas mais limpas,<br />

seguindo para as mais sujas.<br />

• Segurança: prevenir aci<strong>de</strong>ntes utilizando procedimentos<br />

<strong>de</strong> segurança como banho sentado, instalação <strong>de</strong> barras <strong>de</strong><br />

apoio, uso <strong>de</strong> tapetes anti<strong>de</strong>rrapantes, checagem da temperatura<br />

da água etc.<br />

• Ergonomia: empregar os princípios <strong>de</strong> uso <strong>dos</strong><br />

mecanismos corporais.<br />

• Autonomia e in<strong>de</strong>pendência: encorajar o i<strong>dos</strong>o a<br />

se ajudar no banho o máximo que sua condição<br />

física/mental permitir.<br />

• Conforto: proce<strong>de</strong>r à higienização da pele com<br />

<strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za, principalmente naquelas lesionadas<br />

ou ressecadas.<br />

Produtos para o cuidado com a pele<br />

utiliza<strong>dos</strong> no banho<br />

Muitos são os produtos disponíveis. A escolha <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

da necessida<strong>de</strong>, da a<strong>de</strong>quação e da preferência<br />

da pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

• Sabão – Serve para a limpeza da pele. Po<strong>de</strong> ser<br />

comum, medicamentoso, perfumado ou umectante.<br />

Os sabões/sabonetes comuns ressecam a pele<br />

e não <strong>de</strong>vem ser utiliza<strong>dos</strong> to<strong>dos</strong> os dias. Recomenda-se que as <strong>pessoas</strong><br />

i<strong>dos</strong>as que apresentarem ressecamento da pele em <strong>de</strong>corrência<br />

do envelhecimento usem sabonetes que contenham hidratantes ou<br />

lubrificantes. O i<strong>de</strong>al é utilizar o sabão/sabonete preferencial da<br />

pessoa i<strong>dos</strong>a, a menos que seja indicado o uso <strong>de</strong> produto especial.<br />

• Óleo <strong>de</strong> banho – Geralmente é colocado na água do banho para<br />

<strong>de</strong>ixar a pele mais macia e prevenir o ressecamento. Seu uso, no<br />

entanto, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar o local do banho escorregadio, aumentando<br />

o risco <strong>de</strong> quedas. É recomendado que óleos <strong>de</strong> banho sejam evita<strong>dos</strong><br />

e troca<strong>dos</strong> por lubrificantes <strong>de</strong> pele, aplica<strong>dos</strong> após o banho.<br />

• Cremes e loções – Deixam a pele mais macia e previnem o ressecamento.<br />

Os <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong>vem estimular as <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as a autoaplicarem<br />

essas substâncias, auxiliando-as apenas nas regiões do<br />

corpo que elas têm dificulda<strong>de</strong> para alcançar. A aplicação tem <strong>de</strong><br />

IDRUTU/dreamstime.com<br />

Banheiro com itens <strong>de</strong> segurança.<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: higiene, vestimenta e conforto<br />

ser feita <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>licada e gentil (não esfregar vigorosamente) e<br />

ser precedida pelo aquecimento do produto nas próprias mãos.<br />

Deve-se utilizar uma pequena quantida<strong>de</strong> e remover o excesso do<br />

creme com uma toalha, pois a aplicação em excesso <strong>de</strong>ixará a pele<br />

escorregadia e pegajosa, o que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sagradável e <strong>de</strong>sconfortável<br />

para o i<strong>dos</strong>o.<br />

• Talco – Os i<strong>dos</strong>os, geralmente, têm o hábito <strong>de</strong> utilizá-lo para refrescar<br />

a pele e prevenir a fricção entre duas superfícies que ficam<br />

em contato (entre as coxas e abaixo das mamas, por exemplo); no<br />

entanto, não é recomendado. Se não for possível persuadir a pessoa<br />

i<strong>dos</strong>a a não usá-lo, alguns cuida<strong>dos</strong> são necessários: aplicar apenas<br />

uma fina camada na superfície da pele; não associá-lo a cremes,<br />

porque isso propiciará a formação <strong>de</strong> uma crosta que se solidificará<br />

sobre a pele, causando irritação e aumentando o risco <strong>de</strong> infecção;<br />

não espalhá-lo no ar, pois a inalação <strong>de</strong> partículas po<strong>de</strong> irritar o<br />

trato respiratório, provocando espirros.<br />

• Desodorante – É aplicado na região axilar após o banho, para prevenir<br />

o odor corporal. Seu uso <strong>de</strong>ve ser evitado em peles irritadas<br />

ou machucadas. Recomendam-se os <strong>de</strong>sodorantes sem perfume,<br />

pois os perfuma<strong>dos</strong> po<strong>de</strong>m provocar sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto na<br />

pessoa i<strong>dos</strong>a. O cuidador <strong>de</strong>ve sempre lhe perguntar qual o <strong>de</strong>sodorante<br />

<strong>de</strong> sua preferência e procurar utilizá-lo.<br />

Tipos <strong>de</strong> banho<br />

• Banho <strong>de</strong> aspersão (chuveiro) – As <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as po<strong>de</strong>m tomar<br />

banho <strong>de</strong> chuveiro em pé ou sentadas, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> sua condição<br />

física. Algumas medidas <strong>de</strong> segurança <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas pelo<br />

cuidador: sempre colocar um tapete anti<strong>de</strong>rrapante no interior do<br />

boxe antes <strong>de</strong> a pessoa i<strong>dos</strong>a entrar no recinto; ter certeza <strong>de</strong> que o<br />

piso do banheiro está seco, para impedir escorregões e quedas; não<br />

aplicar óleo <strong>de</strong> banho na pele da pessoa durante o banho, para evitar<br />

que o piso fique escorregadio; certificar-se <strong>de</strong><br />

que a temperatura da água do banho está apropriada,<br />

usando, para tanto, o dorso da mão ou<br />

braço, e proce<strong>de</strong>r aos ajustes necessários antes<br />

<strong>de</strong> iniciar o banho; se a pessoa i<strong>dos</strong>a for capaz<br />

<strong>de</strong> se banhar sozinha, ficar próximo ao banheiro<br />

enquanto ela o faz; evitar correntes <strong>de</strong> ar, fechando<br />

a porta do banheiro e a do boxe; a<br />

instalação <strong>de</strong> barras <strong>de</strong> apoio no interior do<br />

boxe aumenta a segurança da pessoa i<strong>dos</strong>a<br />

durante o banho, e ela <strong>de</strong>ve ser orientada a<br />

nunca se apoiar no toalheiro ou na sabone teira,<br />

pois estes não estão prepara<strong>dos</strong> para suportar<br />

seu peso e po<strong>de</strong>m se quebrar, ocasionando<br />

aci<strong>de</strong>ntes (quedas, traumas, lesões).<br />

• Banho <strong>de</strong> leito – É a<strong>de</strong>quado para os i<strong>dos</strong>os<br />

que não são capazes <strong>de</strong> se banhar sozinhos e<br />

não po<strong>de</strong>m ou têm muita dificulda<strong>de</strong> em se<br />

dirigir ao banheiro. Pessoas inconscientes,<br />

incapacitadas (física ou mentalmente) ou<br />

muito enfraquecidas são potencialmente candidatas<br />

a esse tipo <strong>de</strong> banho. O banho <strong>de</strong> leito po<strong>de</strong> ser constrangedor<br />

para a pessoa, pois aumenta seu sentimento<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, diminui sua autonomia e rompe<br />

com sua privacida<strong>de</strong>. Garantir a privacida<strong>de</strong> do i<strong>dos</strong>o,<br />

executar o procedimento rápida e eficientemente e<br />

conversar com ele enquanto proce<strong>de</strong> ao banho po<strong>de</strong><br />

minimizar esses sentimentos.<br />

• Banho parcial – Nesse tipo <strong>de</strong> banho, dado na cama<br />

ou no banheiro, face, mãos, axilas, pescoço, ná<strong>de</strong>gas<br />

e genitália são, normalmente, as áreas higienizadas. A<br />

higiene oral po<strong>de</strong> ser feita nesse momento.<br />

Lisa Kyle Young/istockphoto<br />

O i<strong>dos</strong>o po<strong>de</strong><br />

tomar banho <strong>de</strong><br />

chuveiro em pé<br />

ou sentado,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> sua<br />

condição física, e<br />

o cuidador <strong>de</strong>ve<br />

consi<strong>de</strong>rar algumas<br />

medidas <strong>de</strong><br />

segurança.<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: higiene, vestimenta e conforto<br />

Cuida<strong>dos</strong> durante o banho<br />

• Dirigir-se ao i<strong>dos</strong>o usando seu nome preferido, <strong>de</strong>monstrando respeito<br />

e reforçando sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pessoal.<br />

• Nunca utilizar apeli<strong>dos</strong> sem autorização ou termos <strong>de</strong>masiadamente<br />

afetuosos (“minha querida”, “meu coração”, “minha linda”, “meu<br />

fofo”) ou ainda diminutivos que infantilizam (“lindinha”, “queridinho”,<br />

“mãozinha”, “boquinha”).<br />

• Conversar com a pessoa i<strong>dos</strong>a antes do banho, explicando o que<br />

será feito e como.<br />

• Preparar o ambiente do banho, separando os materiais necessários,<br />

fechando as portas e janelas e aquecendo o ambiente.<br />

• Permitir que o i<strong>dos</strong>o escolha os artigos a serem utiliza<strong>dos</strong> no banho,<br />

assim como as roupas que vestirá <strong>de</strong>pois.<br />

• Ajudá-lo na medida <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s.<br />

• Tranquilizá-lo e confortá-lo com contato físico gentil e <strong>de</strong>licado,<br />

principalmente se ele apresentar <strong>de</strong>ficits sensoriais.<br />

• Respeitar sua intimida<strong>de</strong> e sua privacida<strong>de</strong> (fechar a porta, o boxe,<br />

a cortina).<br />

• Evitar interrupções (nem as mais breves) durante a execução do<br />

banho (aten<strong>de</strong>r telefones ou outras <strong>pessoas</strong>, sair do local do banho<br />

<strong>de</strong>ixando a pessoa i<strong>dos</strong>a sozinha).<br />

Cuidado com as unhas das mãos e <strong>dos</strong> pés<br />

O cuidado com as unhas <strong>de</strong>ve ser realizado, preferencialmente, após<br />

o banho, pois elas estarão mais hidratadas e amolecidas. Caso sejam<br />

muito espessas, endurecidas e quebradiças, colocá-las, por cerca <strong>de</strong> 10<br />

minutos, imersas em uma solução <strong>de</strong> água bicarbonatada ou água<br />

morna com sabão neutro ou umectante. Isso facilitará o corte, que<br />

<strong>de</strong>ve ser em linha reta (para que não encravem) e não muito rente à<br />

walter craveiro<br />

pele (evitando lesões, que po<strong>de</strong>m originar processos inflamatórios ou<br />

infecciosos). Após o corte, lixá-las e enxaguá-las. Finalizar secando<br />

cuida<strong>dos</strong>amente as regiões interdigitais. As cutículas não <strong>de</strong>vem ser<br />

retiradas, para evitar ferimentos e infecções.<br />

Os pés merecem atenção especial, pois são os responsáveis pela sustentação<br />

do corpo, postura e marcha, fundamentais para a maior<br />

in<strong>de</strong>pendência da pessoa i<strong>dos</strong>a. Inicialmente, <strong>de</strong>vem ser cuida<strong>dos</strong>amente<br />

inspeciona<strong>dos</strong> (temperatura, estado da pele, sensibilida<strong>de</strong>,<br />

circulação, presença <strong>de</strong> <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s – joanetes, calosida<strong>de</strong>s etc. –,<br />

micoses interdigitais e onicomicoses).<br />

Algumas precauções simples são recomendadas: secá-los cuida<strong>dos</strong>amente,<br />

sem esfregar, especialmente as regiões interdigitais, para evitar<br />

a contaminação por fungos; exercitá-los, para prevenir contratura e<br />

atrofias musculares, e estimular a circulação realizando movimentos<br />

<strong>de</strong> rotação e extensão; auxiliar na colocação <strong>de</strong> meias limpas e folgadas<br />

(sem furos ou remendadas com costuras duras), para mantê-los aqueci<strong>dos</strong>,<br />

proporcionando sensação <strong>de</strong> conforto; ajudar na colocação <strong>de</strong><br />

calça<strong>dos</strong>, verificando sua adaptação aos pés (para evitar lesões). Pessoas<br />

i<strong>dos</strong>as com diabetes requerem cuidado especial com os pés. Nesses<br />

casos, o encaminhamento para um podólogo po<strong>de</strong> ser necessário.<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: higiene, vestimenta e conforto<br />

Higiene oral<br />

A higiene oral tem por finalida<strong>de</strong>s: prevenir afecções <strong>de</strong>ntárias, periodontais<br />

e infecções; eliminar restos alimentares e micro-organismos;<br />

estimular a circulação sanguínea local; evitar mau hálito; proporcionar<br />

sensação agradável <strong>de</strong> limpeza e conforto. Sua falta ou sua <strong>de</strong>ficiência,<br />

geralmente, po<strong>de</strong>m ocasionar problemas como: cáries; acúmulo<br />

<strong>de</strong> placas bacterianas (mau hálito, sangramentos da gengiva);<br />

hipersensibilida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> <strong>de</strong>ntes (dificultando a alimentação e a hidratação);<br />

infecções.<br />

Preconiza-se que a higiene oral seja realizada ao acordar, pela manhã,<br />

após as refeições e antes <strong>de</strong> dormir. Essa recomendação é aplicada a<br />

<strong>de</strong>ntes naturais ou não (próteses<br />

parciais ou totais). No caso do uso<br />

<strong>de</strong> próteses (<strong>de</strong>ntaduras, pontes ou<br />

coroas), po<strong>de</strong>m ser utilizadas para<br />

higiene escovinhas <strong>de</strong> unhas (sem<br />

uso anterior), pois tornam a limpeza<br />

mais fácil e eficiente.<br />

O i<strong>dos</strong>o que não pu<strong>de</strong>r proce<strong>de</strong>r à<br />

higiene oral no banheiro <strong>de</strong>ve estar<br />

posicionado sentado (ângulo <strong>de</strong><br />

45°) ou <strong>de</strong>itado com a cabeça lateralizada.<br />

A escovação <strong>dos</strong> <strong>de</strong>ntes<br />

naturais é realizada com movimentos<br />

firmes, <strong>de</strong> varredura, em um<br />

ângulo <strong>de</strong> 45° entre as cerdas da<br />

escova e a gengiva, tanto na arcada<br />

superior como na inferior, com o<br />

intuito <strong>de</strong> limpá-los e massagear a<br />

gengiva. A língua e a mucosa oral<br />

também <strong>de</strong>vem ser higienizadas.<br />

Els van <strong>de</strong>r Gun/istockphoto<br />

Existem, no mercado, dispositivos próprios para a higienização<br />

da língua; em seu lugar, porém, po<strong>de</strong> ser<br />

utilizada a escova <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes ou uma espátula envolvida<br />

em gaze. Os movimentos <strong>de</strong>vem ser suaves em um único<br />

sentido (<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro para fora) para evitar náuseas<br />

(vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> vomitar). Após a escovação, a boca tem <strong>de</strong><br />

ser enxaguada com água limpa, que <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>sprezada<br />

em recipiente próprio. Repetir esse procedimento quantas<br />

vezes forem necessárias, até que os <strong>de</strong>ntes, a língua<br />

e a mucosa oral estejam limpos.<br />

Durante a realização do procedimento, <strong>de</strong>vem ser observadas a cor,<br />

sensibilida<strong>de</strong> e integrida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> lábios, língua, gengiva, <strong>de</strong>ntes e mucosa<br />

oral, presença ou não <strong>de</strong> mau hálito e adaptação <strong>de</strong> próteses.<br />

Com o envelhecimento, costumam ocorrer perda da elasticida<strong>de</strong> da<br />

mucosa oral, diminuição do fluxo salivar e reabsorção óssea, dificultando<br />

a adaptação das próteses <strong>de</strong>ntárias, o que po<strong>de</strong> provocar lesões<br />

nem sempre percebidas pela pessoa i<strong>dos</strong>a. Recomenda-se o uso <strong>de</strong> fio<br />

<strong>de</strong>ntal para complementar a limpeza <strong>dos</strong> espaços inter<strong>de</strong>ntais, não<br />

permitida pela escova. Ao final do procedimento, os lábios <strong>de</strong>vem ser<br />

lubrifica<strong>dos</strong>, evitando ressecamento e rachaduras.<br />

Cuida<strong>dos</strong> com o vestuário<br />

O vestuário é um hábito pessoal que po<strong>de</strong> ser modificado com o<br />

avançar da ida<strong>de</strong> pela presença <strong>de</strong> disfunções físicas ou cognitivas.<br />

A higiene oral<br />

<strong>de</strong>ve ser realizada<br />

ao acordar, pela<br />

manhã, após<br />

as refeições e antes<br />

<strong>de</strong> dormir, sejam<br />

os <strong>de</strong>ntes naturais<br />

ou não.<br />

As roupas da pessoa i<strong>dos</strong>a <strong>de</strong>vem ser acondicionadas em local <strong>de</strong> fácil<br />

acesso, especialmente na presença <strong>de</strong> limitações motoras (uso <strong>de</strong><br />

bengala, andador ou ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas). O estilo preferencial do i<strong>dos</strong>o<br />

tem <strong>de</strong> ser preservado sempre que possível, mantendo sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

e evitando constrangimentos. As mudanças, quando necessárias,<br />

<strong>de</strong>vem ser feitas com sua participação; em geral, elas são indicadas<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

quando há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reduzir o <strong>de</strong>sconforto e o cansaço na hora<br />

<strong>de</strong> se vestir e <strong>de</strong> andar. Recomenda-se o uso <strong>de</strong> teci<strong>dos</strong> macios, antialérgicos<br />

e que não amassem.<br />

Se a pessoa i<strong>dos</strong>a for mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte fisicamente ou apresentar limitação<br />

articular (sobretudo nas mãos), os zíperes po<strong>de</strong>m ser substituí<strong>dos</strong><br />

por elásticos e os botões por velcro. Fechamentos frontais <strong>de</strong><br />

roupas e peças íntimas facilitam a maior in<strong>de</strong>pendência do i<strong>dos</strong>o na<br />

realização <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>.<br />

Os calça<strong>dos</strong> <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong> fácil colocação, confecciona<strong>dos</strong> com material<br />

macio, porém firme, e possuir solado anti<strong>de</strong>rrapante, adaptação<br />

aos pés a<strong>de</strong>quada e confortável e, preferencialmente, <strong>de</strong> salto baixo.<br />

Isso evitará o surgimento ou a piora <strong>de</strong> <strong>de</strong>formações (joanetes e calos)<br />

e/ou lesões (por má adaptação). Chinelos não são recomenda<strong>dos</strong><br />

(principalmente os <strong>de</strong> <strong>de</strong>do), pois facilitam a ocorrência <strong>de</strong> quedas.<br />

Sapatos fecha<strong>dos</strong> e sem cadarço são mais a<strong>de</strong>qua<strong>dos</strong>.<br />

O cuidador também <strong>de</strong>ve estar atento à manutenção da higiene do vestuário<br />

e a sua organização, pois, além <strong>de</strong> proporcionar sensação <strong>de</strong><br />

conforto, segurança e bem-estar ao i<strong>dos</strong>o, auxilia na manutenção <strong>de</strong> sua<br />

in<strong>de</strong>pendência para a execução <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> por mais tempo.<br />

Manter a autonomia da pessoa i<strong>dos</strong>a constitui o princípio básico na<br />

execução <strong>de</strong>sse cuidado. O cuidador <strong>de</strong>ve auxiliá-la e não <strong>de</strong>cidir por<br />

ela o que vai ou não vestir.<br />

walter craveiro<br />

Capítulo 7<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária:<br />

administração <strong>de</strong> medicamentos<br />

Os i<strong>dos</strong>os representam o principal grupo <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> que usam<br />

medicamentos, muitas vezes sem receita médica. Eles pa<strong>de</strong>cem<br />

<strong>de</strong> doenças crônicas como diabetes, artrite, hipertensão,<br />

doenças cardíacas e articulares, entre outras, necessitando <strong>de</strong>sses agentes<br />

por longo prazo.<br />

Medicamento é uma substância química que produz efeitos sobre os<br />

organismos vivos, composta por um princípio ativo,<br />

que contém a proprieda<strong>de</strong> terapêutica, e excipientes,<br />

que, em geral, dão sabor e cor ao produto.<br />

Os medicamentos apresentam nomes<br />

distintos, os quais <strong>de</strong>vem ser conheci<strong>dos</strong><br />

para evitar problemas, especialmente<br />

quando há necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> comprar produtos com preços<br />

mais baixos. O nome genérico é<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: administração <strong>de</strong> medicamentos<br />

aquele que foi registrado em órgão oficial e o nome comercial, o dado<br />

pela indústria que fabricou o medicamento. Por exemplo, paracetamol<br />

é o nome genérico <strong>dos</strong> produtos que são vendi<strong>dos</strong> por empresas diferentes<br />

com os seguintes nomes comerciais: Acetofen®, Dôrico®,<br />

Parador®, Tylenol®.<br />

Hoje, os medicamentos representam um <strong>dos</strong> principais recursos terapêuticos.<br />

Todavia, entre os i<strong>dos</strong>os, sobretudo os que são trata<strong>dos</strong><br />

em domicílio ou em instituições <strong>de</strong> longa permanência, eles são consi<strong>de</strong>ra<strong>dos</strong><br />

os agentes mais envolvi<strong>dos</strong> na ocorrência, por exemplo, <strong>de</strong><br />

quedas, fraturas e sangramentos do trato gastrintestinal. Por essa<br />

razão, é importante que os responsáveis pelo acompanhamento <strong>de</strong><br />

i<strong>dos</strong>os (<strong>cuidadores</strong>, familiares) conheçam alguns aspectos acerca <strong>dos</strong><br />

medicamentos, no intuito <strong>de</strong> prevenir adversida<strong>de</strong>s e reduzir problemas<br />

frequentemente i<strong>de</strong>ntifica<strong>dos</strong>, como quedas durante a noite,<br />

David Sucsy/istockphoto<br />

quando o i<strong>dos</strong>o precisa levantar várias vezes para urinar porque tomou<br />

um diurético antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>itar.<br />

A administração correta <strong>dos</strong> medicamentos, que vai além <strong>dos</strong> cinco<br />

certos clássicos (medicamento certo, <strong>dos</strong>e certa, via certa, horário<br />

certo, paciente certo), e o seguimento das recomendações médicas<br />

são essenciais para a obtenção do efeito terapêutico <strong>de</strong>sejado.<br />

Os medicamentos não criam funções no organismo,<br />

mas interferem nas existentes. Por não apresentarem<br />

seletivida<strong>de</strong> total em relação às moléculas-alvo (locais<br />

que se ligam no organismo), produzem reações conhecidas<br />

como adversas. Estas po<strong>de</strong>m ser leves (ex.: prurido,<br />

ou coceira, na ponta do nariz), mo<strong>de</strong>radas (ex.: dor<br />

<strong>de</strong> estômago, prurido generalizado) ou graves (ex.: sangramento<br />

gástrico, e<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> glote, impedindo a respiração).<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da gravida<strong>de</strong>, o aparecimento<br />

<strong>de</strong> uma reação <strong>de</strong>ve ser comunicado ao médico<br />

que acompanha a pessoa i<strong>dos</strong>a.<br />

A administração<br />

<strong>dos</strong> medicamentos<br />

vai além <strong>dos</strong><br />

cinco certos<br />

clássicos:<br />

medicamento<br />

certo, <strong>dos</strong>e certa,<br />

via certa,<br />

horário certo,<br />

paciente certo.<br />

Os medicamentos são administra<strong>dos</strong> em <strong>dos</strong>es distintas, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

da ida<strong>de</strong>, peso e condição clínica (<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> problemas cardíacos,<br />

renais e hepáticos). Dose é <strong>de</strong>terminada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medicamento<br />

administrada ao i<strong>dos</strong>o para produzir efeito terapêutico em seu organismo.<br />

Essa quantida<strong>de</strong> tem <strong>de</strong> ser rigorosamente a indicada. O cuidador<br />

nunca <strong>de</strong>ve aumentar ou diminuir as <strong>dos</strong>es sem orientação ou<br />

conhecimento do médico.<br />

Tendo em vista que o envelhecimento causa alterações importantes<br />

nos processos <strong>de</strong> absorção, distribuição, metabolização e excreção <strong>dos</strong><br />

medicamentos, predispondo a pessoa i<strong>dos</strong>a ao risco <strong>de</strong> toxicida<strong>de</strong>, é<br />

fundamental que os responsáveis pelo cuidado, além <strong>de</strong> administrar<br />

a <strong>dos</strong>e exatamente como prescrita, conheçam algumas reações adversas<br />

que são frequentes. O quadro 1 ilustra medicamentos usa<strong>dos</strong> por<br />

i<strong>dos</strong>os e envolvi<strong>dos</strong> em reações adversas importantes.<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: administração <strong>de</strong> medicamentos<br />

Quadro 1: Medicamentos e respectivas reações adversas<br />

Classe terapêutica/<br />

medicamentos<br />

Anti-inflamatórios<br />

não esteroidais<br />

Anticolinérgicos<br />

Benzodiazepínicos<br />

Betabloqueadores<br />

Neurolépticos<br />

Reações adversas<br />

Irritação e úlcera gástrica, nefrotoxicida<strong>de</strong>.<br />

Redução da motilida<strong>de</strong> do trato gastrintestinal, boca seca,<br />

hipotonia vesical, sedação, hipotensão ortostática, visão borrada.<br />

Hipotensão, fadiga, náusea, visão borrada, rash cutâneo.<br />

Redução da contratilida<strong>de</strong> miocárdica, da condução elétrica<br />

e da frequência cardíaca, sedação leve, hipotensão ortostática.<br />

Sedação, discinesia tardia, boca seca, hipotensão ortostática,<br />

visão borrada.<br />

Adicionalmente, é importante lembrar que tanto os medicamentos<br />

prescritos pelo médico como aqueles compra<strong>dos</strong> sem receita ou<br />

indica<strong>dos</strong> por <strong>pessoas</strong> conhecidas do i<strong>dos</strong>o, como vitaminas, laxantes<br />

e fitoterápicos (Ginkgo biloba, erva-<strong>de</strong>-são-joão, confrei, entre<br />

outros), po<strong>de</strong>m causar problemas graves, sobretudo quando associa<strong>dos</strong><br />

com outros. Por exemplo, a Ginkgo biloba não po<strong>de</strong> ser usada<br />

por <strong>pessoas</strong> que fazem tratamento com aspirina, paracetamol<br />

(Tylenol®, Dôrico®) ou anticoagulantes, para não aumentar o risco<br />

<strong>de</strong> sangramento.<br />

Os medicamentos administra<strong>dos</strong> por via oral apresentam formas<br />

farmacêuticas (líquida e sólida) que têm por finalida<strong>de</strong> facilitar sua<br />

administração e promover a eficácia terapêutica (melhor resultado<br />

possível).<br />

Os medicamentos na forma líquida são comercializa<strong>dos</strong> como soluções,<br />

suspensões, xaropes e aerossóis:<br />

• Solução – Tem aparência homogênea e límpida; po<strong>de</strong> ser administrada<br />

em sua forma original sem cuidado prévio específico.<br />

• Suspensão – É composta por partículas sólidas dispersas em<br />

líquido e, antes <strong>de</strong> administrada, <strong>de</strong>ve ser agitada para sua<br />

homogeneização.<br />

• Xarope – Trata-se <strong>de</strong> uma solução com alta concentração <strong>de</strong> açúcar<br />

associada a aromáticos. Por essa razão, <strong>de</strong>ve ser usado por pacientes<br />

diabéticos apenas com prescrição médica.<br />

• Aerossol – É o medicamento acondicionado em recipiente<br />

pressurizado.<br />

As formas sólidas incluem comprimi<strong>dos</strong>, cápsulas, drágeas, pastilhas<br />

etc. O quadro 2 ilustra suas características e algumas precauções relacionadas<br />

a seu uso, pois po<strong>de</strong>m “per<strong>de</strong>r” parte <strong>de</strong> suas proprieda<strong>de</strong>s<br />

terapêuticas caso não sejam administradas <strong>de</strong> modo correto.<br />

Quadro 2: Características das formas sólidas farmacêuticas <strong>dos</strong><br />

medicamentos<br />

Forma<br />

Comprimido<br />

Cápsula<br />

Drágea<br />

Pastilha<br />

Características<br />

O medicamento em pó é misturado, comprimido e moldado por máquinas.<br />

Normalmente, apresenta um sulco no meio, o que facilita sua divisão<br />

quando a <strong>dos</strong>e prescrita é menor que a apresentada pelo medicamento.<br />

Po<strong>de</strong> ser macerado (“esmagado”).<br />

O medicamento, na forma <strong>de</strong> pó, óleo ou líquida, encontra-se no interior<br />

<strong>de</strong> uma cápsula, ou seja, <strong>de</strong> um revestimento digerível. O i<strong>de</strong>al é evitar a<br />

abertura da cápsula, uma vez que seu conteúdo po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>struído pelo<br />

suco gástrico antes <strong>de</strong> chegar ao local on<strong>de</strong>, <strong>de</strong> fato, <strong>de</strong>veria ser liberado<br />

(ex.: intestino).<br />

O medicamento apresenta uma capa <strong>de</strong> revestimento colorida (parecida<br />

com um esmalte), o que dificulta sua divisão. Um <strong>dos</strong> objetivos <strong>de</strong>ssa capa<br />

é proteger o medicamento da ação do suco gástrico presente no estômago<br />

(como nas cápsulas). As drágeas não <strong>de</strong>vem ser maceradas ou repartidas.<br />

O medicamento é misturado com açúcar em partes iguais. Seu uso por<br />

<strong>pessoas</strong> diabéticas <strong>de</strong>ve ser cauteloso. Não é possível macerar uma<br />

pastilha, pois suas partes (parecidas com pequenos cristais) po<strong>de</strong>m<br />

provocar lesões na boca por a<strong>de</strong>rência na mucosa oral.<br />

Todas as formas sólidas <strong>de</strong>vem ser administradas com cuidado,<br />

tendo em vista que a pessoa i<strong>dos</strong>a po<strong>de</strong> engasgar, principalmente<br />

quando forem gran<strong>de</strong>s, como ocorre com os antibióticos e complexos<br />

vitamínicos.<br />

É imprescindível que o i<strong>dos</strong>o, durante a administração do medicamento,<br />

fique sentado ou, caso esteja acamado, seja assim posicionado.<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: administração <strong>de</strong> medicamentos<br />

A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> líquido que vai auxiliar a ingestão do medicamento<br />

<strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> pelo menos 100 ml (meio copo). No caso <strong>de</strong> restrição <strong>de</strong><br />

líqui<strong>dos</strong> (ex.: <strong>pessoas</strong> com problemas renais), é preciso perguntar ao<br />

médico que volume po<strong>de</strong> ser dado em cada administração.<br />

Para o i<strong>dos</strong>o, tomar vários medicamentos sozinho po<strong>de</strong> não ser tarefa<br />

fácil. A diminuição da acuida<strong>de</strong> visual dificulta a leitura <strong>dos</strong> rótulos<br />

<strong>dos</strong> medicamentos; o comprometimento da acuida<strong>de</strong> auditiva<br />

interfere na compreensão das orientações e recomendações feitas pelo<br />

médico durante a consulta; a presença <strong>de</strong> problemas articulares, principalmente<br />

nas mãos, impe<strong>de</strong>, muitas vezes, a abertura <strong>dos</strong> frascos,<br />

bem como a colocação correta do número <strong>de</strong> gotas <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado<br />

medicamento no copo ou na colher.<br />

Há situações em que a pessoa i<strong>dos</strong>a completamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte tem<br />

<strong>de</strong> tomar, ao mesmo tempo, vários comprimi<strong>dos</strong> e acaba por engasgar<br />

ou vomitar. É importante que o cuidador esteja muito bem orientado<br />

sobre as limitações <strong>de</strong>correntes do processo <strong>de</strong> envelhecimento e<br />

seja capaz <strong>de</strong> auxiliá-la sem <strong>de</strong>squalificar sua participação, mesmo que<br />

pequena. Por exemplo, durante as consultas médicas, ainda que o<br />

i<strong>dos</strong>o apresente dificulda<strong>de</strong>s em ouvir e compreen<strong>de</strong>r bem, ele <strong>de</strong>seja<br />

fazer perguntas ao médico. Nessas situações, cabe ao cuidador<br />

anotar ou guardar as recomendações feitas pelo médico e perguntar<br />

outros aspectos que porventura o i<strong>dos</strong>o não tenha questionado.<br />

Aspectos gerais da aquisição <strong>de</strong> medicamentos<br />

Ao adquirir um medicamento na farmácia, é preciso lembrar que<br />

somente o farmacêutico conhece sua composição e sua finalida<strong>de</strong>,<br />

encontrando-se, <strong>de</strong>sse modo, habilitado a dar as orientações acerca <strong>de</strong><br />

seu uso correto. O balconista da farmácia não tem os conhecimentos<br />

necessários para indicar um medicamento e, por essa razão, não <strong>de</strong>ve<br />

ser consultado quando ocorrerem problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, ainda que sejam<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>dos</strong> pelo próprio i<strong>dos</strong>o ou cuidador sintomas<br />

leves, como “dor <strong>de</strong> barriga” ou “dor <strong>de</strong> cabeça”.<br />

Antes da compra, é importante observar se o nome do<br />

medicamento correspon<strong>de</strong> ao receitado pelo médico,<br />

pois muitos têm nomes pareci<strong>dos</strong>. Se houver necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> substituição por outro – por exemplo, quando<br />

o preço é muito alto ou o produto não é encontrado<br />

nas farmácias –, <strong>de</strong>ve-se entrar em contato com o médico<br />

e nunca aceitar as sugestões do balconista.<br />

O cuidador <strong>de</strong>ve<br />

anotar o nome<br />

<strong>de</strong> cada<br />

medicamento,<br />

do médico que o<br />

receitou, a <strong>dos</strong>e,<br />

o horário e como<br />

<strong>de</strong>ve ser tomado.<br />

Quando os medicamentos forem manipula<strong>dos</strong>, verificar se na embalagem<br />

ou frasco constam o nome do farmacêutico responsável, o número<br />

do conselho profissional (CRF), a fórmula, a <strong>dos</strong>e e o período<br />

<strong>de</strong> valida<strong>de</strong>. Nunca adquira uma forma farmacêutica diferente daquela<br />

prescrita pelo médico. Por exemplo, se foi prescrita dipirona na<br />

forma líquida para ser administrada em gotas, ela não <strong>de</strong>ve ser substituída<br />

por comprimi<strong>dos</strong>, pois as <strong>dos</strong>es serão diferentes.<br />

Aspectos gerais da administração <strong>de</strong> medicamentos<br />

Para facilitar o cuidado com o i<strong>dos</strong>o relativo à administração <strong>de</strong> medicamentos<br />

e evitar problemas, algumas condutas são fundamentais.<br />

Inicialmente, é importante manter um registro<br />

diário <strong>dos</strong> medicamentos usa<strong>dos</strong> por ele, incluindo<br />

os receita<strong>dos</strong> pelo médico e os utiliza<strong>dos</strong><br />

sem receita (mas que também <strong>de</strong>vem<br />

ser <strong>de</strong> conhecimento do médico).<br />

O cuidador precisa ser orientado a<br />

anotar o nome <strong>de</strong> cada medicamento,<br />

do médico que o receitou,<br />

a <strong>dos</strong>e, o horário e como <strong>de</strong>ve<br />

ser tomado (ex.: com um copo<br />

Kirby Hamilton/istockphoto<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: administração <strong>de</strong> medicamentos<br />

O cuidador <strong>de</strong>ve<br />

ficar atento a<br />

aspectos como ler<br />

a bula, manter o<br />

medicamento na<br />

embalagem<br />

original e verificar<br />

o prazo <strong>de</strong><br />

valida<strong>de</strong>.<br />

<strong>de</strong> água, suco, chá) e <strong>de</strong>ixar essas informações em local <strong>de</strong><br />

fácil visualização.<br />

Os medicamentos <strong>de</strong>vem ser manti<strong>dos</strong> em local fresco,<br />

seco, abriga<strong>dos</strong> da luz e guarda<strong>dos</strong> em caixa com tampa,<br />

sempre na embalagem original. Assim, não po<strong>de</strong>m ser<br />

guarda<strong>dos</strong> no armário da cozinha ou banheiro.<br />

Quando for necessário administrar vários medicamentos<br />

<strong>de</strong> diferentes formas farmacêuticas simultaneamente, recomenda-se<br />

utilizar a seguinte sequência: primeiro administram-se<br />

os comprimi<strong>dos</strong> ou cápsulas; em seguida, os<br />

líqui<strong>dos</strong>; e, por último, o comprimido sublingual.<br />

Outros aspectos também merecem <strong>de</strong>staque:<br />

• Ler a bula do medicamento, prestando atenção aos itens relativos<br />

à <strong>dos</strong>e, contraindicações, reações adversas, precauções, interações<br />

com outros medicamentos e conservação.<br />

• Manter o medicamento na embalagem original, mesmo após sua<br />

abertura (para verificar o prazo <strong>de</strong> valida<strong>de</strong>, o lote e não misturar<br />

com outros comprimi<strong>dos</strong>); no caso <strong>dos</strong> medicamentos em cartela<br />

(geralmente os distribuí<strong>dos</strong> pelas farmácias do governo), não<br />

<strong>de</strong>scartá-la, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> retirada a maioria <strong>dos</strong> comprimi<strong>dos</strong>,<br />

pois o nome, a <strong>dos</strong>e e o lote po<strong>de</strong>m estar conti<strong>dos</strong> na parte da<br />

cartela que seria <strong>de</strong>scartada.<br />

• Jogar fora medicamentos com prazo <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> vencido.<br />

• Conservar o medicamento fora do alcance <strong>de</strong> crianças e <strong>pessoas</strong> com<br />

comprometimento <strong>de</strong> memória ou problemas <strong>de</strong> alteração <strong>de</strong><br />

comportamento.<br />

• Evitar que o medicamento receitado pelo médico (nome, substância)<br />

seja trocado por outro; sempre que houver necessida<strong>de</strong>, falar<br />

com o médico.<br />

• Orientar o i<strong>dos</strong>o e a família sobre os efeitos colaterais <strong>dos</strong> medicamentos,<br />

pois muitos pacientes abandonam o tratamento por falta<br />

<strong>de</strong> esclarecimento a esse respeito.<br />

• Utilizar água na administração <strong>dos</strong> medicamentos, sempre que<br />

possível. No entanto, gelatina, purê ou cremes po<strong>de</strong>m ser usa<strong>dos</strong><br />

caso o paciente não aceite o comprimido.<br />

• A<strong>de</strong>quar o horário <strong>de</strong> administração do medicamento <strong>de</strong> acordo<br />

com a finalida<strong>de</strong> terapêutica e a necessida<strong>de</strong> do doente. Por exemplo:<br />

administrar antiemético (medicamento para impedir náusea e<br />

vômito) 45-60 minutos antes das refeições principais; administrar<br />

diurético durante o dia, no máximo às 16 horas, para evitar que o<br />

i<strong>dos</strong>o tenha <strong>de</strong> levantar durante a noite.<br />

• Não administrar o medicamento no escuro, pois po<strong>de</strong> haver equívoco<br />

em relação ao medicamento e à <strong>dos</strong>e.<br />

• Procurar não administrar vários medicamentos no mesmo horário;<br />

essa prática po<strong>de</strong> resultar na alteração <strong>dos</strong> efeitos <strong>dos</strong> medicamentos.<br />

• Evitar administrar vários medicamentos macera<strong>dos</strong> por sonda<br />

enteral.<br />

• Administrar os antiáci<strong>dos</strong> <strong>de</strong> modo isolado ou obe<strong>de</strong>cer a intervalos<br />

<strong>de</strong> aproximadamente duas horas entre o antiácido e outro<br />

medicamento.<br />

• Se, ao administrar o medicamento, o paciente apresentar algum<br />

sintoma estranho (coceira, náusea, vômito, palpitação, inchaço etc.),<br />

comunicar-se imediatamente com o médico.<br />

• Cuidado: a <strong>dos</strong>e <strong>de</strong> um medicamento consi<strong>de</strong>rada normal para<br />

um adulto po<strong>de</strong> causar intoxicação e sérios danos à saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

criança, i<strong>dos</strong>o ou paciente que apresenta doença cardíaca, hepática<br />

ou renal.<br />

• Assegurar-se <strong>de</strong> que o i<strong>dos</strong>o não pratique automedicação.<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

• Nunca recomendar um medicamento a outra pessoa. As características<br />

<strong>de</strong> cada indivíduo, bem como as indicações, <strong>de</strong>vem levar em<br />

consi<strong>de</strong>ração vários fatores para os quais somente os médicos estão<br />

habilita<strong>dos</strong>.<br />

• Não interromper o tratamento por conta própria; antes <strong>de</strong> fazê-lo,<br />

sempre consultar o médico.<br />

• Evitar misturar álcool e medicamento. Alguns medicamentos, como<br />

diazepam, morfina e haldol, quando mistura<strong>dos</strong> com álcool, po<strong>de</strong>m<br />

causar reações graves e até morte, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da <strong>dos</strong>e e da ida<strong>de</strong><br />

do paciente.<br />

• Sempre que o i<strong>dos</strong>o receber uma receita médica, perguntar:<br />

−−Qual o nome do medicamento e por que será usado?<br />

−−Qual o nome da doença que trata este medicamento?<br />

−−Quantas vezes por dia o medicamento <strong>de</strong>ve ser administrado?<br />

−−Quando e como tomar (horário, antes ou após as refeições, usar com<br />

água ou leite)?<br />

−−Por quanto tempo <strong>de</strong>ve ser utilizado (até a próxima consulta, por<br />

15 dias)?<br />

−−Quanto tempo o medicamento <strong>de</strong>mora para fazer efeito?<br />

−−Se o paciente se esquecer <strong>de</strong> tomar o medicamento, o que <strong>de</strong>ve ser<br />

feito?<br />

−−Quais os efeitos in<strong>de</strong>seja<strong>dos</strong> que po<strong>de</strong>m aparecer? Caso apareçam, o<br />

que <strong>de</strong>ve ser feito?<br />

−−Durante o tratamento, o paciente po<strong>de</strong> ingerir álcool? Po<strong>de</strong> usar outros<br />

tipos <strong>de</strong> medicamentos? Po<strong>de</strong> tomar banho sozinho?<br />

−−Por quanto tempo o medicamento será utilizado?<br />

−−Essas orientações po<strong>de</strong>m contribuir para que o uso do medicamento<br />

possa ser mais seguro.<br />

Capítulo 8<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: mecanismos<br />

corporais, mobilização e transferência<br />

P<br />

ara o ser humano, o movimento é um aspecto essencial da vida.<br />

Depen<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>le para caminhar, correr, brincar, procurar e<br />

comer alimentos, conversar, enfim, sobreviver. As pes soas<br />

saudáveis mantêm um nível a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> movimentação,<br />

esperando que seus sistemas musculoesquelético e nervoso<br />

(muito complexos) trabalhem em conjunto no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tais ativida<strong>de</strong>s. De modo geral,<br />

no entanto, elas não costumam cuidar corretamente,<br />

durante a vida, <strong>dos</strong> sistemas que promovem e<br />

coor<strong>de</strong>nam o movimento “saudável” até que o<br />

<strong>de</strong>suso, o trauma ou a doença interfiram nesse<br />

<strong>de</strong>sempenho.<br />

Níveis a<strong>de</strong>qua<strong>dos</strong> <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong> e equilíbrio<br />

<strong>de</strong> força muscular são importantes para a eficácia<br />

na execução <strong>dos</strong> movimentos envolvi<strong>dos</strong> na<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: mecanismos corporais, mobilização e transferência<br />

realização das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida<br />

diária (AVDs). Com a diminuição<br />

da funcionalida<strong>de</strong> e o avançar<br />

da ida<strong>de</strong>, o <strong>de</strong>sempenho das<br />

AVDs po<strong>de</strong> ser comprometido<br />

parcial ou completamente, acarretando<br />

maior <strong>de</strong>pendência do<br />

i<strong>dos</strong>o, com sério prejuízo <strong>de</strong> sua<br />

qua lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

As alterações fisiológicas no envelhecimento<br />

são progressivas e,<br />

muitas vezes, acompanhadas pelo<br />

aumento da prevalência <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>s<br />

agudas e crônicas. Dentre<br />

as mudanças que ocorrem nessa<br />

fase da vida, aqui será dado <strong>de</strong>staque<br />

à perda da força muscular,<br />

principal responsável pela <strong>de</strong>terioração<br />

da mobilida<strong>de</strong> e da capacida<strong>de</strong><br />

funcional do indivíduo que<br />

está envelhecendo.<br />

O movimento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do sistema nervoso central, que vai organizar<br />

os músculos e as articulações para realizar ativida<strong>de</strong>s funcionais e<br />

coor<strong>de</strong>nadas.<br />

Movimento humano<br />

O movimento humano po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito como uma combinação<br />

complexa <strong>de</strong> movimentos <strong>de</strong> translação (todo o corpo se move <strong>de</strong><br />

forma única) e rotação (o corpo ou seus segmentos se movem em<br />

torno <strong>de</strong> um eixo instantâneo, normalmente situado em um centro<br />

marcia alves<br />

articular). Sua execução envolve ações coor<strong>de</strong>nadas e<br />

integradas <strong>dos</strong> sistemas musculoesquelético e nervoso.<br />

O sistema esquelético (ossos e cartilagens) tem por<br />

funções: proteger os órgãos internos do organismo;<br />

manter a forma e a postura corporal; prover áreas <strong>de</strong><br />

armazenamento para sais minerais e gorduras; produzir<br />

células sanguíneas e fornecer superfície para a fixação<br />

<strong>de</strong> músculos, tendões e ligamentos que tracionam<br />

os ossos individuais e produzem o movimento.<br />

As alterações<br />

fisiológicas no<br />

envelhecimento<br />

são progressivas<br />

e, muitas vezes,<br />

acompanhadas<br />

pelo aumento<br />

da prevalência <strong>de</strong><br />

enfermida<strong>de</strong>s<br />

agudas e crônicas.<br />

Os ossos são estruturas muito rígidas que não po<strong>de</strong>m<br />

se curvar (como é necessário para a movimentação)<br />

sem dano. Para que o movimento ocorra, eles são interliga<strong>dos</strong><br />

por articulações. Os ligamentos (unem ossos e cartilagem),<br />

os tendões (unem músculos e ossos) e a cartilagem (tecido conjuntivo<br />

não vascular encontrado nas articulações) dão força e flexibilida<strong>de</strong><br />

ao sistema esquelético.<br />

O sistema musculoesquelético (tecido muscular esquelético + tecido<br />

conjuntivo) envolve órgãos musculares individuais (ex.: bíceps). O<br />

movimento resulta da contração <strong>de</strong>sse músculo e da força aplicada<br />

sobre o tendão, que, por sua vez, puxa o osso. A excitabilida<strong>de</strong>, a<br />

contratilida<strong>de</strong>, a extensibilida<strong>de</strong> e a elasticida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> músculos permitem<br />

a realização do movimento, a manutenção da postura e a produção<br />

<strong>de</strong> calor. Tônus muscular refere-se ao estado <strong>de</strong> ligeira contração<br />

em que se encontra o músculo esquelético. Ele po<strong>de</strong> ser muito prejudicado<br />

quando do repouso ou imobilida<strong>de</strong> prolongada, incorrendo<br />

no risco do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> contraturas (contração permanente<br />

do músculo).<br />

Os sistemas esquelético e muscular não po<strong>de</strong>m produzir o movimento<br />

intencional sem a ação do sistema nervoso, uma vez que é ele o<br />

responsável pelo estímulo <strong>de</strong> contração <strong>dos</strong> músculos.<br />

116 117


<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: mecanismos corporais, mobilização e transferência<br />

Para compreen<strong>de</strong>r o movimento, o corpo<br />

humano é didaticamente dividido em planos<br />

(figura 1). Cada plano divi<strong>de</strong> o corpo humano<br />

em duas meta<strong>de</strong>s iguais, sendo o ponto<br />

comum <strong>de</strong> intersecção o centro <strong>de</strong> massa do<br />

corpo:<br />

a) Plano sagital: divi<strong>de</strong> o corpo verticalmente<br />

em duas meta<strong>de</strong>s – direita e esquerda.<br />

b) Plano frontal: divi<strong>de</strong> o corpo verticalmente<br />

em duas meta<strong>de</strong>s – anterior e posterior.<br />

Angelo Shuman<br />

A rotação <strong>de</strong> um segmento anatômico é <strong>de</strong>signada <strong>de</strong> acordo com a<br />

direção do movimento e medida como o ângulo entre a posição atual<br />

e a posição <strong>de</strong> referência. Os três principais movimentos que ocorrem<br />

no plano sagital são: flexão, extensão e hiperextensão (figura 3).<br />

c) Plano transverso: divi<strong>de</strong> o corpo horizontalmente<br />

em duas meta<strong>de</strong>s – superior e<br />

inferior.<br />

Figura 1 – Planos anatômicos <strong>de</strong> referência.<br />

O movimento <strong>dos</strong> segmentos anatômicos<br />

ocorre em torno <strong>de</strong> um eixo <strong>de</strong> rotação imaginário que passa pela<br />

articulação à qual esses segmentos estão liga<strong>dos</strong>. Três são os eixos<br />

básicos utiliza<strong>dos</strong> na <strong>de</strong>scrição do movimento humano: mediolateral,<br />

anteroposterior e longitudinal (figura 2).<br />

Flexão<br />

Extensão<br />

Figura 3 – Movimentos no plano sagital.<br />

Hiperextensão<br />

No plano frontal, os movimentos mais importantes são: abdução,<br />

adução e flexão lateral – direita e esquerda (figura 4).<br />

Eixo mediolateral<br />

Eixo anteroposterior<br />

Figura 2 – Eixos liga<strong>dos</strong> ao<br />

movimento humano.<br />

Eixo longitudinal<br />

Abdução Adução Flexão lateral direita e esquerda<br />

Figura 4 – Movimentos no plano frontal.<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: mecanismos corporais, mobilização e transferência<br />

Com relação aos movimentos <strong>de</strong> mãos e ombros, temos: elevação e<br />

<strong>de</strong>pressão, <strong>de</strong>svio radial e <strong>de</strong>svio cubital (figura 5).<br />

No plano transversal, os movimentos são, em sua maioria, <strong>de</strong> rotação<br />

em torno do eixo longitudinal <strong>dos</strong> segmentos anatômicos. Os principais<br />

são: rotação direita e esquerda (cabeça, pescoço e tronco); rotação<br />

média e lateral (pernas e braços); supinação e pronação (antebraços);<br />

adução e abdução horizontal (braços e coxas); protracção e<br />

retracção (omoplata, também chamada escápula); circundação (<strong>de</strong><strong>dos</strong>)<br />

e oposição (polegares) (figura 7).<br />

Elevação Depressão Desvio cubital<br />

Desvio radial<br />

Figura 5 – Movimentos no plano frontal: mãos e ombros.<br />

E os movimentos <strong>dos</strong> pés são: dorsiflexão e flexão plantar; eversão e<br />

inversão; abdução e adução; pronação e supinação (figura 6).<br />

Rotação direita/esquerda<br />

(cabeça, pescoço, tronco)<br />

Dorsiflexão<br />

Rotação medial<br />

Rotação lateral<br />

Neutro<br />

Adução horizontal<br />

Flexão plantar<br />

Eversão<br />

Neutro<br />

Inversão<br />

Pronação<br />

Supinação<br />

Abdução horizontal<br />

Abdução<br />

Neutro<br />

Adução<br />

Supinação<br />

Neutro<br />

Pronação<br />

Protracção<br />

Retracção<br />

Oposição<br />

Circundação<br />

Figura 6 – Movimentos no plano frontal: pés.<br />

Figura 7 – Movimentos no plano transversal.<br />

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Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: mecanismos corporais, mobilização e transferência<br />

walter craveiro<br />

Os movimentos voluntários obe<strong>de</strong>cem a princípios psicofísicos.<br />

O processamento motor começa com uma<br />

representação interna do estado do corpo: o objetivo<br />

<strong>de</strong>sejado (à diferença do processamento sensório). Na<br />

realização <strong>dos</strong> movimentos voluntários, o encéfalo faz a<br />

representação <strong>dos</strong> atos motores, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do<br />

efetor utilizado (equivalência motora). A amplitu<strong>de</strong><br />

do movimento é especificada antes <strong>de</strong> ele se iniciar (programa<br />

motor).<br />

Os movimentos<br />

voluntários serão<br />

comprometi<strong>dos</strong><br />

se os sistemas<br />

sensórios ou<br />

motores envolvi<strong>dos</strong><br />

estiverem<br />

altera<strong>dos</strong>.<br />

O tempo gasto para respon<strong>de</strong>r a um estímulo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> informações que precisam ser processadas para a execução da tarefa.<br />

Há uma relação <strong>de</strong> troca entre velocida<strong>de</strong> do movimento e sua<br />

precisão. O tempo <strong>de</strong> reação aumenta com o número <strong>de</strong> escolhas<br />

possíveis e diminui com a aprendizagem.<br />

Os movimentos voluntários, <strong>dos</strong> mais simples aos mais complexos,<br />

serão comprometi<strong>dos</strong> se os sistemas sensórios ou motores envolvi<strong>dos</strong><br />

estiverem altera<strong>dos</strong>. O controle do movimento pelo sistema nervoso<br />

é organizado <strong>de</strong> forma hierárquica: níveis mais eleva<strong>dos</strong> controlam<br />

aspectos mais complexos.<br />

Os movimentos po<strong>de</strong>m se apresentar <strong>de</strong> três formas:<br />

• Reflexos: involuntários – contrações musculares <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas<br />

por estímulos periféricos, presentes no controle <strong>dos</strong> movimentos<br />

voluntários.<br />

• Cíclicos: rítmicos e repetitivos (ex.: parte da mastigação e<br />

locomoção).<br />

• Voluntários: direciona<strong>dos</strong> a um objetivo, melhoram com a prática<br />

por causa da previsão e correção mais acuradas por mecanismos <strong>de</strong><br />

controle <strong>de</strong> feedforward e feedback.<br />

Impacto do envelhecimento nas estruturas<br />

ligadas ao movimento humano<br />

Com o envelhecimento, ocorrem: perda <strong>de</strong> 10-20% da<br />

força muscular; diminuição da habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter<br />

a força estática; maior fadiga muscular; menor<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hipertrofia; diminuição<br />

do tamanho e número <strong>de</strong> fibras<br />

musculares; redução da ativida<strong>de</strong><br />

da ATPase miofibrilar; diminuição<br />

<strong>de</strong> enzimas glicolíticas e oxidativas;<br />

diminuição <strong>dos</strong> estoques<br />

<strong>de</strong> a<strong>de</strong>nosina trifosfato (ATP), creatina<br />

fosfato (CP), glicogênio e proteína<br />

mitocondrial; diminuição da<br />

velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> condução; aumento<br />

Frances Twitty/istockphoto<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: mecanismos corporais, mobilização e transferência<br />

Nancy Louie/istockphoto<br />

do limiar da excitabilida<strong>de</strong> da membrana<br />

e diminuição da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

regeneração.<br />

Essas alterações interferem no <strong>de</strong>sempenho<br />

<strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s motoras <strong>de</strong><br />

forma eficiente e po<strong>de</strong>m tornar a pessoa<br />

i<strong>dos</strong>a cada vez mais limitada em<br />

sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar as ativida<strong>de</strong>s<br />

do dia a dia, como levantar-se <strong>de</strong><br />

uma ca<strong>de</strong>ira, varrer o chão, jogar o<br />

lixo fora, tomar banho etc., em razão<br />

<strong>de</strong> equilíbrio precário, resistência<br />

dimi nuída, fraqueza generalizada ou<br />

quedas repetidas. O que não se sabe<br />

é se essas alterações <strong>de</strong>correm do próprio<br />

processo <strong>de</strong> envelhecimento ou<br />

se são consequência da inativida<strong>de</strong>,<br />

muito comum nessa fase da vida.<br />

Diver sas alterações fisiológicas atribuídas<br />

ao envelhecimento são semelhantes<br />

às induzidas pela inativida<strong>de</strong><br />

forçada, e, assim, acredita-se que possam ser atenuadas ou até mesmo<br />

revertidas com a realização <strong>de</strong> exercícios.<br />

Também acontecem importantes alterações na composição corporal,<br />

com aumento <strong>de</strong> gordura, especialmente abdominal, e diminuição<br />

<strong>de</strong> massa magra (massa musculoesquelética), <strong>de</strong>nominada “sarcopenia”.<br />

Com a perda muscular, há redução do metabolismo basal, da força<br />

muscular e do nível <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, resultando na diminuição da necessida<strong>de</strong><br />

energética.<br />

Tais alterações aumentam o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> doenças<br />

crônicas e <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong>s que reduzem substancialmente as ati-<br />

vida<strong>de</strong>s do i<strong>dos</strong>o, causando perda <strong>de</strong> massa muscular<br />

e acúmulo <strong>de</strong> gordura. Fecha-se, assim, um ciclo <strong>de</strong><br />

balanço energético negativo que culmina com a instalação<br />

<strong>de</strong> quadros <strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong>, gerando maior<br />

<strong>de</strong>pendência.<br />

Muitas das ativida<strong>de</strong>s assistenciais <strong>dos</strong> <strong>cuidadores</strong> envolvem<br />

a mobilização (mudança <strong>de</strong> posição) e a transferência<br />

da pessoa i<strong>dos</strong>a <strong>de</strong> um local para outro. Quando<br />

<strong>de</strong>senvolvidas sem a utilização <strong>de</strong> princípios <strong>de</strong><br />

ergonomia, há gran<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrerem agressões<br />

e danos à coluna vertebral, <strong>de</strong>ntre os quais a lombalgia<br />

é a queixa mais frequente. Oficinas <strong>de</strong> orientação<br />

sobre movimentação e transporte <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> com maior<br />

<strong>de</strong>pendência, assim como sobre a a<strong>de</strong>quada utilização<br />

<strong>de</strong> equipamentos especiais e auxílios mecânicos, contribuem<br />

para a minimização da incidência <strong>de</strong> problemas<br />

articulares em <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os.<br />

O primeiro passo para isso é a compreensão <strong>dos</strong> mecanismos<br />

corporais.<br />

Mecânica corporal<br />

A mecânica corporal representa o uso eficiente do corpo<br />

como máquina e como meio <strong>de</strong> locomoção. Sua utilização<br />

<strong>de</strong> forma correta (em ativida<strong>de</strong> ou repouso) permite<br />

a prevenção <strong>de</strong> lesões e dores musculares e/ou<br />

articulares.<br />

Os <strong>cuidadores</strong> necessitam ser muito bem orienta<strong>dos</strong><br />

quanto à utilização da mecânica corporal para o melhor<br />

<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s e para a manutenção<br />

<strong>de</strong> sua saú<strong>de</strong> e bem-estar. Importante parcela <strong>de</strong> suas<br />

Instrumentos <strong>de</strong> transporte<br />

e mobilida<strong>de</strong> para i<strong>dos</strong>os.<br />

Alistair Forrester Shankie/istockphoto<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: mecanismos corporais, mobilização e transferência<br />

A mecânica<br />

corporal representa<br />

o uso eficiente<br />

do corpo como<br />

máquina e<br />

como meio <strong>de</strong><br />

locomoção.<br />

Sua utilização <strong>de</strong><br />

forma correta<br />

permite a<br />

prevenção <strong>de</strong><br />

lesões e dores<br />

musculares e/ou<br />

articulares.<br />

ativida<strong>de</strong>s (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> mudar uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> lugar até auxiliar<br />

o i<strong>dos</strong>o a levantar da cama) exige a compreensão e o uso<br />

<strong>de</strong>sses princípios. Eles precisam ser constantemente lembra<strong>dos</strong><br />

<strong>de</strong> que a prevenção <strong>de</strong> problemas na coluna é mais<br />

eficiente que seu tratamento.<br />

A mecânica corporal envolve:<br />

a) Alinhamento do corpo ou postura – É o alinhamento<br />

entre as partes do corpo, possibilitando o equilíbrio musculoesquelético<br />

e seu funcionamento fisiológico saudável,<br />

pois não permite o esforço in<strong>de</strong>vido <strong>de</strong> articulações,<br />

músculos, tendões e ligamentos.<br />

b) Equilíbrio – Um corpo alinhado está em equilíbrio,<br />

porque seu centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> (ponto central da massa<br />

corporal) está próximo <strong>de</strong> sua base <strong>de</strong> apoio (fundação<br />

que dá estabilida<strong>de</strong> ao corpo) e a linha <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong><br />

passa por ela (linha reta imaginária que passa pelo centro<br />

<strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>). Quanto mais ampla a base <strong>de</strong> apoio e mais baixo<br />

o centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>, maior a estabilida<strong>de</strong>. Assim, o equilíbrio<br />

aumenta quando o indivíduo afasta os pés (ampliando a base<br />

<strong>de</strong> apoio) e flexiona o quadril e os joelhos (reduzindo o centro <strong>de</strong><br />

gravida<strong>de</strong>). Essas duas manobras são importantes princípios que<br />

po<strong>de</strong>m reduzir o esforço musculoesquelético que frequentemente<br />

ocorre com o excessivo alongamento ou a superextensão <strong>de</strong> um<br />

músculo ou músculo-tendão.<br />

c) Movimento coor<strong>de</strong>nado – Refere-se ao uso coor<strong>de</strong>nado <strong>dos</strong> principais<br />

grupos musculares, das alavancas e apoios naturais do corpo<br />

na realização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s assistenciais para evitar <strong>de</strong>masiado esforço<br />

musculoesquelético e lesões. Os <strong>cuidadores</strong> precisam utilizá-los<br />

quando, por exemplo, posicionam, viram ou levantam a pessoa<br />

i<strong>dos</strong>a mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />

Angelo Shuman<br />

Aplicação da mecânica corporal<br />

Figura 8a – Alinhamento postural<br />

com estabilização da pelve.<br />

É fundamental que os <strong>cuidadores</strong> sejam orienta<strong>dos</strong> em relação às<br />

técnicas utilizadas na prevenção do estresse da musculatura das costas<br />

(lombalgia é sua principal queixa) no bom <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s.<br />

Isso envolve:<br />

• Desenvolver o hábito <strong>de</strong> manter a postura ereta e, quando necessário,<br />

antes <strong>de</strong> iniciar uma ativida<strong>de</strong>, ampliar a base <strong>de</strong> apoio e baixar<br />

o centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>.<br />

• Utilizar os músculos mais longos <strong>dos</strong> braços e pernas nas ativida<strong>de</strong>s<br />

que exijam maior força (os músculos das costas são mais fracos e mais<br />

facilmente lesionáveis quando usa<strong>dos</strong> <strong>de</strong> forma inapropriada).<br />

• Estabilizar a pelve para proteção das vísceras utilizando a “cintura<br />

interna” (contração simultânea <strong>dos</strong> glúteos para baixo e <strong>dos</strong> músculos<br />

abdominais para cima) e o diafragma quando inclinar, levantar,<br />

puxar ou tentar alcançar um objeto ou pessoa (figuras 8a e 8b).<br />

Figura 8b – Alinhamento postural correto para erguer um objeto.<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: mecanismos corporais, mobilização e transferência<br />

Antes <strong>de</strong> iniciar<br />

os procedimentos<br />

<strong>de</strong> mobilização e<br />

transporte <strong>de</strong><br />

<strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<br />

é necessário<br />

fazer um<br />

cuida<strong>dos</strong>o<br />

planejamento.<br />

• Posicionar-se o mais próximo possível do objeto ou<br />

pessoa a ser levantado ou posicionado.<br />

• Balançar os pés ou inclinar-se para a frente e para<br />

trás, <strong>de</strong> modo a utilizar o peso do próprio corpo<br />

como força para puxar ou empurrar algo, o que reduz<br />

o esforço <strong>dos</strong> braços e das costas.<br />

• Em vez <strong>de</strong> levantar um objeto pesado ou uma pessoa,<br />

usar outros mecanismos, como escorregá-lo, rolá-lo,<br />

empurrá-lo ou puxá-lo, reduzindo a energia necessária<br />

para <strong>de</strong>slocá-lo contra a força da gravida<strong>de</strong> (que<br />

o puxa para baixo).<br />

Mobilização e transporte <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as mais<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

Antes do início, esses procedimentos <strong>de</strong>vem ser cuida<strong>dos</strong>amente<br />

planeja<strong>dos</strong>. Esse planejamento envolve:<br />

a) Avaliação e preparo da pessoa i<strong>dos</strong>a – Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão<br />

e colaboração; presença <strong>de</strong> artefatos (ex.: sondas); explicação prévia<br />

do procedimento; medidas <strong>de</strong> segurança (colocação <strong>de</strong> sapatos com<br />

solado anti<strong>de</strong>rrapante em vez <strong>de</strong> chinelos ou apenas meias).<br />

b) Preparo do ambiente e <strong>dos</strong> equipamentos – Verificação da a<strong>de</strong>quação<br />

do tamanho do espaço físico para não restringir os movimentos,<br />

da disposição do mobiliário e remoção <strong>de</strong> obstáculos e das<br />

condições <strong>de</strong> segurança do piso (encerado, molhado, irregular). A<br />

colocação e/ou uso <strong>de</strong> equipamentos auxiliares (barras <strong>de</strong> apoio em<br />

banheiros, ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas própria para banho e higiene – ca<strong>de</strong>ira<br />

<strong>de</strong> banho) e a adaptação <strong>de</strong> certas condições ambientais (elevação<br />

da altura do vaso sanitário, substituição <strong>de</strong> <strong>de</strong>graus por rampas)<br />

po<strong>de</strong>m ser necessárias.<br />

c) Preparo do cuidador – Conhecer e aplicar a mecânica<br />

corporal (exposta anteriormente) na execução <strong>de</strong><br />

suas ativida<strong>de</strong>s; usar sempre movimentos sincrônicos;<br />

trabalhar com segurança e calma; utilizar roupa que<br />

permita liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentos e sapatos apropria<strong>dos</strong><br />

(sem salto, com solado anti<strong>de</strong>rrapante); saber<br />

que, em muitas ocasiões, não será possível executar<br />

os procedimentos, com segurança, sozinho e, nessas<br />

situações, solicitar auxílio.<br />

Auxílio na movimentação na cama <strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os<br />

mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

a) Em duas <strong>pessoas</strong> – Ambas ficam do mesmo lado, <strong>de</strong><br />

frente para a pessoa i<strong>dos</strong>a, com uma das pernas à<br />

frente e os joelhos e quadril fleti<strong>dos</strong>, <strong>de</strong>ixando os<br />

braços ao nível da cama: a primeira pessoa coloca<br />

um <strong>dos</strong> braços sob a cabeça do i<strong>dos</strong>o e o outro sob a<br />

região lombar; a segunda põe um braço também sob<br />

a região lombar e o outro na região posterior da coxa.<br />

As duas <strong>pessoas</strong> <strong>de</strong>vem sincronizar seu movimento<br />

<strong>de</strong> modo a trazer o i<strong>dos</strong>o para o lado da cama em que<br />

estão <strong>de</strong> forma coor<strong>de</strong>nada (figura 9).<br />

b) Em uma única pessoa – A pessoa <strong>de</strong>ve realizar a ativida<strong>de</strong><br />

em etapas, utilizando o peso corporal como<br />

contrapeso e o lençol dobrado no sentido vertical e<br />

posicionado no meio da cama, abaixo do i<strong>dos</strong>o (lençol<br />

móvel): colocar os braços do i<strong>dos</strong>o sobre o corpo<br />

<strong>de</strong>le, prevenindo traumas na movimentação; trazer os<br />

membros inferiores para o lado em que está posicionada<br />

e segurar o lençol móvel firmemente; aproximá-lo<br />

<strong>de</strong> seu corpo; reorganizar o i<strong>dos</strong>o na nova posição.<br />

Figura 9 – Movimentando o i<strong>dos</strong>o<br />

mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte na cama, em<br />

duas <strong>pessoas</strong>.<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: mecanismos corporais, mobilização e transferência<br />

c) Colocação em <strong>de</strong>cúbito lateral (1) – Colocar-se do<br />

lado para o qual o i<strong>dos</strong>o vai virar; cruzar o braço e a<br />

perna <strong>de</strong>le no sentido em que será virado (atenção<br />

para o posicionamento do outro braço); posicionar<br />

a cabeça da pessoa na direção em que vai virar; rolar o<br />

i<strong>dos</strong>o para o lado <strong>de</strong>sejado <strong>de</strong> forma gentil, utilizando<br />

ombro e joelho como alavancas (figura 10).<br />

Figura 10 – Posicionando a<br />

pessoa i<strong>dos</strong>a lateralmente.<br />

Figura 11 – Posicionando a<br />

pessoa i<strong>dos</strong>a lateralmente<br />

com auxílio do lençol móvel.<br />

Figura 12 – Subindo a pessoa<br />

i<strong>dos</strong>a na cama com auxílio do<br />

lençol móvel.<br />

d) Colocação em <strong>de</strong>cúbito lateral (2) – Esse procedimento<br />

também po<strong>de</strong> ser feito com auxílio do lençol<br />

móvel. Ficar do lado oposto ao que o i<strong>dos</strong>o vai virar;<br />

puxar o lençol móvel <strong>de</strong> modo a trazer a pessoa em<br />

sua direção (para a beira da cama), mantendo as costas<br />

eretas e utilizando o peso do próprio corpo; elevar<br />

o lençol cuida<strong>dos</strong>amente, fazendo com que o i<strong>dos</strong>o<br />

vire para o lado oposto. É recomendável que no lado<br />

oposto exista uma gra<strong>de</strong> ou que a cama seja aproximada<br />

da pare<strong>de</strong>, para evitar que o i<strong>dos</strong>o caia no chão<br />

(figura 11).<br />

e) Subir o i<strong>dos</strong>o na cama – Preferencialmente, executar<br />

essa manobra em duas <strong>pessoas</strong>, uma <strong>de</strong> cada lado da<br />

cama. Tirar o travesseiro da cabeça do i<strong>dos</strong>o e colocá-lo<br />

na cabeceira da cama (para proteger <strong>de</strong> traumas);<br />

utilizar o lençol móvel para realizar o movimento;<br />

segurar firmemente o lençol com as duas mãos e, em<br />

movimento ritmado, movimentar o i<strong>dos</strong>o no sentido<br />

da cabeceira (figura 12).<br />

f) Sentar na cama (1) – Se o i<strong>dos</strong>o pu<strong>de</strong>r ajudar parcialmente,<br />

posicionar-se <strong>de</strong> frente para ele colocando<br />

um <strong>de</strong> seus joelhos no nível do quadril do i<strong>dos</strong>o e<br />

sentando-se sobre o próprio tornozelo; segurar no<br />

cotovelo do i<strong>dos</strong>o, que também se apoia no cotovelo<br />

Figura 13 – Auxiliando a pessoa i<strong>dos</strong>a a se sentar na cama (1).<br />

do cuidador; <strong>de</strong> modo sincronizado, i<strong>dos</strong>o e cuidador<br />

fazem força para aproximar-se, permitindo que o<br />

i<strong>dos</strong>o sente; colocar em suas costas travesseiros<br />

<strong>de</strong> apoio (figura 13).<br />

g) Sentar na cama (2) – Quando o i<strong>dos</strong>o for incapaz <strong>de</strong><br />

colaborar, o i<strong>de</strong>al é executar essa manobra em duas<br />

<strong>pessoas</strong>, uma <strong>de</strong> cada lado da cama, olhando em direção<br />

à cabeceira. Elas <strong>de</strong>vem colocar um <strong>de</strong> seus<br />

joelhos no nível do quadril do i<strong>dos</strong>o e sentar-se sobre<br />

o próprio tornozelo; utilizar o lençol móvel ou uma<br />

toalha resistente sob as costas do i<strong>dos</strong>o e puxá-lo <strong>de</strong><br />

forma sincronizada, elevando-o (figura 14).<br />

h) Sentar na cama (3) – Quando o i<strong>dos</strong>o, apesar <strong>de</strong> limitado,<br />

é capaz <strong>de</strong> executar a manobra sozinho,<br />

po<strong>de</strong>m-se utilizar materiais simples, fixa<strong>dos</strong> nos pés<br />

da cama, para auxiliá-lo, como uma corda mais grossa<br />

com nós ou uma escada <strong>de</strong> cordas. Esse tipo <strong>de</strong><br />

material ajuda o i<strong>dos</strong>o a erguer-se gradativamente,<br />

minimizando o esforço exigido pela manobra e proporcionando-lhe<br />

maior in<strong>de</strong>pendência (figura 15).<br />

Figura 14 – Ajudando a pessoa<br />

i<strong>dos</strong>a a se sentar na cama (2).<br />

Figura 15 – Auxiliando a<br />

pessoa i<strong>dos</strong>a a se sentar<br />

na cama (3).<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

Facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária: mecanismos corporais, mobilização e transferência<br />

Auxílio no transporte <strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os mais<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

Para o transporte <strong>de</strong> i<strong>dos</strong>os, <strong>de</strong>vem ser utiliza<strong>dos</strong> dispositivos<br />

auxiliares, como cinto <strong>de</strong> transporte, pranchas<br />

<strong>de</strong> transferência, discos giratórios e auxílios mecânicos<br />

(bengalas e andadores).<br />

a) Levantar <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ira ou poltrona – Deve-se utilizar<br />

um cinto <strong>de</strong> transferência e, conforme o caso, solicitar<br />

auxílio <strong>de</strong> outra pessoa. Posicionar o i<strong>dos</strong>o para a frente<br />

da ca<strong>de</strong>ira ou poltrona, puxando-o alternadamente<br />

pelo quadril; permanecer ao lado da ca<strong>de</strong>ira/poltrona<br />

olhando na mesma direção que ele; o i<strong>dos</strong>o <strong>de</strong>ve<br />

apoiar uma das mãos no braço da poltrona ou assento<br />

da ca<strong>de</strong>ira e a outra na mão do cuidador; com o<br />

outro braço, o cuidador circunda a cintura do i<strong>dos</strong>o,<br />

segurando-o pelo cinto, e o levanta <strong>de</strong> forma coor<strong>de</strong>nada<br />

com movimentos <strong>de</strong> balanço (figura 16).<br />

Figura 18a – Auxiliando a pessoa i<strong>dos</strong>a a se sentar na cama.<br />

tronco do i<strong>dos</strong>o e girá-lo até que se sente (figura 18a); com o i<strong>dos</strong>o<br />

sentado na cama, calçá-lo com sapatos ou chinelos anti<strong>de</strong>rrapantes;<br />

segurá-lo pelo cinto <strong>de</strong> transferência, auxiliando-o a levantar-se,<br />

virar-se e sentar-se na ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas (figura 18b).<br />

Figura 16 – Auxiliando a pessoa<br />

i<strong>dos</strong>a a se levantar.<br />

Figura 17 – Ajudando a pessoa<br />

i<strong>dos</strong>a a se locomover.<br />

b) Locomoção – Deve-se utilizar um cinto <strong>de</strong> transferência.<br />

Se o i<strong>dos</strong>o pu<strong>de</strong>r e conseguir andar, o cuidador<br />

posiciona-se bem próximo a ele, do lado em que ele<br />

apresenta alguma limitação/<strong>de</strong>ficiência, colocando<br />

um braço em volta <strong>de</strong> sua cintura e o outro apoiando<br />

sua mão (figura 17).<br />

c) Transferência da cama para a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas/poltrona<br />

(1) – Posicionar a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas ao lado da<br />

cama com a frente voltada para o cuidador; travar as<br />

rodas e erguer os apoios <strong>de</strong> pés e pernas; sentar o<br />

i<strong>dos</strong>o na cama; virá-lo para o lado em que vai sair da<br />

cama; colocar os membros inferiores para fora da<br />

cama próximos à beira do leito; elevar a cabeça e o<br />

Figura 18b – Ajudando a pessoa i<strong>dos</strong>a a se transferir da cama para a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas.<br />

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<strong>Manual</strong> <strong>dos</strong> <strong>formadores</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong> i<strong>dos</strong>as<br />

d) Transferência da cama para a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas/poltrona (2) – Se o<br />

i<strong>dos</strong>o tiver condições <strong>de</strong> executar essa manobra sozinho, ele po<strong>de</strong><br />

ser orientado a utilizar uma prancha/tábua <strong>de</strong> transferência. O cuidador<br />

coloca a ca<strong>de</strong>ira ao lado da cama (ca<strong>de</strong>ira e cama <strong>de</strong>vem ter<br />

a mesma altura), trava a ca<strong>de</strong>ira e a cama (se necessário), remove o<br />

braço da ca<strong>de</strong>ira e eleva o apoio <strong>dos</strong> pés e posiciona a prancha/tábua<br />

apoiada seguramente entre a cama e a ca<strong>de</strong>ira. O i<strong>dos</strong>o, então, <strong>de</strong>sliza<br />

pela prancha/tábua até a cama (figura 19).<br />

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Domingues, M. A. R.; Queiroz, Z. V. Atitu<strong>de</strong>s, mitos e estereótipos relaciona<strong>dos</strong><br />

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1987.<br />

Miranda, C. F.; Miranda, M. L. Construindo a relação <strong>de</strong> ajuda. 10. ed. Belo<br />

Horizonte: Crescer, 1996.<br />

Figura 19 – Transferência da pessoa i<strong>dos</strong>a da cama para a ca<strong>de</strong>ira com prancha/tábua <strong>de</strong> transferência.<br />

A utilização <strong>de</strong>ssas manobras, além <strong>de</strong> preservar a saú<strong>de</strong> do cuidador,<br />

auxilia na construção <strong>de</strong> um vínculo positivo com o i<strong>dos</strong>o ao<br />

fornecer-lhe segurança.<br />

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